Escolhemos vários temas que nos ajudam a pensar os próximos dez anos. Da inteligência artificial à televisão, passando pelo humor, envelhecimento ou imigração. No 20/30 trazemos para a conversa as perguntas que nos vão dar que pensar esta década.
Tem havido "muito burburinho à volta da inteligência artificial", mas estamos longe de uma "supremacia robótica" em que o humano corre o risco de ser dominado pela máquina. Mas as preocupações estão lá — e ainda bem. Esta é a primeira revolução que somos chamados a discutir em tempo real e as possibilidades comparam bem com os medos e anseios. É essa reflexão que Pedro Saleiro traz ao 20/30. Diz-se otimista (como não?), mas assume que o risco de manipulação é real porque o algoritmo só escala aquilo que lhe ensinam e os humanos são... humanos. E quando olha para a frente a pergunta que não o deixa dormir descansado é esta: o que vamos fazer quando a Inteligência Artificial não for capaz de nos explicar as decisões que toma?
"Os bancos tradicionais estão ensanduíchados entre as fintech e as bigtech", que é como quem diz entre as novas plataformas de serviços financeiros — mais leves, mais ágeis, que depressa conquistam (grandes) nichos, como aconteceu com a Revolut — e as gigantes tecnologias como a Apple, a Google ou o Facebook. Se pensarmos que notas e moedas serão tão distantes quanto os telefones de disco, é imperativo pensar o dinheiro a dez anos. Ou não fizesse ele o mundo girar.
Simples. O humor pode mudar mentalidades, mas não é o seu primeiro objetivo. Tem graça? É para avançar. Mas vale tudo? "Acho que se pode procurar ter uma sociedade mais justa sem que o humor deixe de existir", responde Manuel Cardoso. Isso não é censura? "A comédia é tudo menos uma torrente direta do subconsciente para o exterior", replica. Uma conversa sobre humor, sobre liberdade de expressão e sobre essa coisa de ser woke (sem cair no exagero).
As pessoas veem muito mais televisão tradicional do pensam (ou assumem). Há uma "trepidação, uma alegria" que a Netflix não consegue replicar. Esse é o segredo da sobrevivência, diz-nos Pedro Boucherie Mendes. Sim, há novos players no mercado e o futuro pode passar também por um "abasteça aqui o seu depósito e ganhe um mês grátis de HBO". Certo é que nunca teremos tempo de ver todas as séries fantásticas que o futuro trará, mas que isso não seja motivo de angústia. E quanto a uma grande série internacional com selo português? É uma questão de tempo e de sorte.
Aos cinco anos eles já dominam as plataformas tecnológicas como ninguém, mas "ainda tenho pais a dizer que o computador e o telemóvel são para estudar. Isso é um mito”, sentencia Ivone Patrão, psicóloga, especialista em dependências online. A tecnologia não nos faz mal à cabeça: entretém, aproxima, mas também pode isolar, ferir. E não é só um problema dos mais novos. Quando falamos de saúde mental a dez anos, temos de mudar o chip e ver a sua promoção como algo tão normal quanto manter uma boa alimentação ou fazer exercício físico. Mente sã, corpo são.
Imaginar o futuro do futebol sem "o melhor jogador de todos os tempos" não será fácil, mas não falta talento em Portugal e — por maiores que sejam os sapatos a calçar (ou as chuteiras) — João Félix está em linha para ser a próxima grande marca, diz Pedro Pinto. Mas não chega, os clubes "têm de parar de destruir o seu próprio produto” e discutir à séria a centralização dos direitos desportivos. E sobre o VAR? “Não faz sentido tu em casa poderes ver a verdade do jogo e o árbitro não”.
A igualdade no acesso à saúde é "inegociável" para Céu Mateus, professora catedrática da Universidade de Lancaster e especialista de Economia da Saúde. Mas que saúde será essa? Implicará escolhas, não começa na sala de espera do hospital e será definida mais pelos valores que defendemos do que pelo dinheiro que temos disponível. "Vamos todos morrer", isso é certo, seja com 80 ou com 120 anos, a grande questão é o quão bem vamos viver (ou envelhecer).
Eu confio porque amo. A premissa é sempre a mesma, face a face ou à frente de um ecrã. Mas as famílias já não são iguais, há novas formas de viver a intimidade, o consentimento é palavra-chave ou palavra-travão e a violência também assume outros contornos. Não há problema nenhum em cair de amores nas redes sociais, diz Daniel Cotrim, psicólogo da APAV, mas é preciso estar informado e fechar menos os olhos ao que se passa aqui ao lado.