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Eu já tinha falado que estava virando moda os pais levarem filhos para correr provas que não preenchem o requisito da CBAt. Claro que muitas das vezes é para colocar nas mídias sociais. Caso vc não saiba, vc precisa ter 14 anos para correr uma prova de 5 km no Brasil, mas é bom ouvir de quem entende bem do assunto. Para falar sobre esse assunto, eu entrevistei Everton Santana, membro do canal, psicólogo do esporte, especialista em Ciências da Performance Humana e mestrando em Educação Física pela UFRJ. Membro do Grupo de Trabalho da infância e adolescência no esporte da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (ABRAPESP). Nossos links - https://linktr.ee/corridanoarO Corrida no Ar News é produzido diariamente e postado por volta das 6 da manhã.
Crescer, mudar e perder-se fazem parte do caminho. Mariana Ribeiro fala sobre saúde mental e a importância de criar espaço para conversas honestas numa geração que raramente admite as suas dúvidas.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Representar ou brincar? Entre novelas e a escola, como é ser um ator de sucesso aos nove anos? Neste Alta Definição em podcast, Rodrigo Costa partilha de forma descontraída com Daniel Oliveira a sua experiência no mundo das novelas, anúncios e teatro. O jovem ator fala sobre os desafios de conciliar a carreira com a escola e a infância, revela curiosidades dos bastidores, a importância da família e amigos, e reflete sobre o que é ser criança e crescer também no mundo da televisão. Rodrigo mostra-se sensível, determinado e apaixonado pela arte de representar, inspirando outras crianças a seguirem os seus sonhos com dedicação, alegria e equilíbrio entre trabalho e diversão. Sem nunca esquecer os estudos, claro. O Alta Definição foi emitido a 20 de dezembro na SIC.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Quando Avatar chegou aos cinemas em 2009, não foi apenas um sucesso de bilheteria, foi um divisor de águas na história do cinema. Entre os profissionais responsáveis por dar vida ao universo azul está Mel Quintas, uma brasileira que trabalhou por oito anos diretamente na construção dos efeitos visuais de Avatar 2 e Avatar 3. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles O filme de James Cameron não apenas se tornou o mais lucrativo de todos os tempos – tendo alcançado quase US$ 3 bilhões em bilheteria –, mas também redefiniu os limites dos efeitos visuais e da tecnologia cinematográfica. Agora, com a estreia de Avatar: Fogo e Cinzas, o público volta a Pandora sabendo que, por trás de uma história, há também um espetáculo visual, criado por Cameron e, claro, com o apoio de toda uma equipe criativa que põe em prática as ideias do gênio. Para Mel, tudo começou em 2009, quando ela viu o primeiro filme da saga: “Eu falei, literalmente, ‘é nesse tipo de filme que eu quero trabalhar, nesse tipo de universo'. Eu queria viver naqueles mundos, poder criá-los e trazer entretenimento também para as pessoas”, revelou Mel em entrevista exclusiva à RFI, direto de Hollywood. Na época, ela tinha 18 anos, vivia em Santos e estava se formando no ensino médio. Mesmo ouvindo de professores que deveria “fazer um teste vocacional para seguir um sonho realista e se inscrever no vestibular no Brasil”, a jovem arrumou as malas e partiu para a faculdade de Animação em Orlando. Cidade que logo também ficou pequena para os planos dela, que queria chegar a Hollywood. “Eu sabia que era o lugar certo para estar se eu quisesse seguir nessa carreira. E, graças a Deus, deu tudo muito certo. Uma coisa foi levando à outra coisa. Tive muita sorte mesmo”, conta. Currículo impressionante da brasileira Em Hollywood, logo o primeiro filme em que Mel trabalhou, Invocação do Mal (2013), já foi sucesso de bilheteria, em seguida foi uma superprodução atrás da outra. “No início, eu trabalhei mais na parte de conversão dos filmes para 3D. Na época, era o grande boom. Todo mundo queria fazer todos os filmes em 3D. Eles filmavam em 2D e aí convertíamos para 3D. Trabalhei em Homem de Ferro 3, Guardiões da Galáxia, Star Trek, Star Wars, Planeta dos Macacos, X-Men”, enumera Mel. Mas a lista é bem mais longa. Em 13 anos em Hollywood, a santista já acumula impressionantes 40 filmes no currículo, entre eles alguns dos campeões de bilheteria da última década, e a jornada a Pandora, da qual ela participou nos últimos oito anos. “O mais importante é acreditar. Não deixe que digam para você ser mais realista. Para sair da realidade em que você está, primeiro você precisa acreditar que pode viver em outra”, afirma. Avatar e James Cameron Em Avatar, Mel integrou a equipe responsável por criar as sequências do filme. Na prática, isso significa participar da construção do longa desde a pré-produção. “No nosso caso, era um negócio bem abrangente, porque a gente tinha que fazer de tudo. Estávamos montando o filme, literalmente montando o escopo do filme para ele se tornar alguma coisa. Esse processo começa desde a pré-produção, que a gente chama de pré-visualização de algumas cenas do filme, imaginando como vai ser essa sequência de ação. Uma animação mais rápida, não uma renderização final. Isso inclui capturar os atores no set para ver se estava dando certo, montar as cenas e gravar com câmeras virtuais”, explica. As filmagens começaram em 2017, com regravações, ajustes e trabalho contínuo no departamento do qual Mel fez parte até julho de 2025. A brasileira trabalhou em grande parte das sequências do longa, que tem 3h17min de duração, e acompanhou de perto cada detalhe. Ela fez parte de uma equipe de cerca de 30 pessoas dentro da Lightstorm Entertainment, produtora de James Cameron. E estar nos projetos de Avatar 2 e 3 também significou conviver de perto com o cineasta, considerado um dos mais importantes e visionários da atualidade. “Ele é um gênio. Mais do que isso: ele explica tudo o que está fazendo. Ele gosta de ensinar”, diz Mel. “É uma aprendizagem que vale mais do que qualquer faculdade. Estar perto de uma pessoa assim é surreal. Foi como uma faculdade diária.” Do sonho adolescente ao Oscar O sonho que virou realidade já veio acompanhado de um Oscar. Avatar: O Caminho da Água (2022) venceu o prêmio de Melhores Efeitos Visuais. “No dia seguinte ao prêmio, eu fui dar parabéns ao meu supervisor, que foi quem recebeu o Oscar, e ele me disse: ‘Esse prêmio é de todos nós; não existe esse prêmio sem vocês'. Acho que a gente não recebe esse reconhecimento em todos os lugares; aqui tem muito disso”, diz a brasileira. E tudo indica que a equipe vai estar, de novo, na festa do Oscar em 15 de março de 2026. O filme que estreou nesta semana nos cinemas brasileiros acaba de aparecer na lista dos dez pré-selecionados para disputar - novamente - na categoria de Melhores Efeitos Visuais. “Eu estou feliz que faço parte de algo tão grandioso com uma história sobre família e que a gente pode celebrar juntos todos esses anos de trabalho. Sempre tem momentos altos e baixos, mais altos. Mas é bom poder ser recompensada de alguma forma. Não é nem sobre ganhar o prêmio, mas saber que a gente fez parte disso e chegamos lá”, conclui Mel Quintas.
Quando Avatar chegou aos cinemas em 2009, não foi apenas um sucesso de bilheteria, foi um divisor de águas na história do cinema. Entre os profissionais responsáveis por dar vida ao universo azul está Mel Quintas, uma brasileira que trabalhou por oito anos diretamente na construção dos efeitos visuais de Avatar 2 e Avatar 3. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles O filme de James Cameron não apenas se tornou o mais lucrativo de todos os tempos – tendo alcançado quase US$ 3 bilhões em bilheteria –, mas também redefiniu os limites dos efeitos visuais e da tecnologia cinematográfica. Agora, com a estreia de Avatar: Fogo e Cinzas, o público volta a Pandora sabendo que, por trás de uma história, há também um espetáculo visual, criado por Cameron e, claro, com o apoio de toda uma equipe criativa que põe em prática as ideias do gênio. Para Mel, tudo começou em 2009, quando ela viu o primeiro filme da saga: “Eu falei, literalmente, ‘é nesse tipo de filme que eu quero trabalhar, nesse tipo de universo'. Eu queria viver naqueles mundos, poder criá-los e trazer entretenimento também para as pessoas”, revelou Mel em entrevista exclusiva à RFI, direto de Hollywood. Na época, ela tinha 18 anos, vivia em Santos e estava se formando no ensino médio. Mesmo ouvindo de professores que deveria “fazer um teste vocacional para seguir um sonho realista e se inscrever no vestibular no Brasil”, a jovem arrumou as malas e partiu para a faculdade de Animação em Orlando. Cidade que logo também ficou pequena para os planos dela, que queria chegar a Hollywood. “Eu sabia que era o lugar certo para estar se eu quisesse seguir nessa carreira. E, graças a Deus, deu tudo muito certo. Uma coisa foi levando à outra coisa. Tive muita sorte mesmo”, conta. Currículo impressionante da brasileira Em Hollywood, logo o primeiro filme em que Mel trabalhou, Invocação do Mal (2013), já foi sucesso de bilheteria, em seguida foi uma superprodução atrás da outra. “No início, eu trabalhei mais na parte de conversão dos filmes para 3D. Na época, era o grande boom. Todo mundo queria fazer todos os filmes em 3D. Eles filmavam em 2D e aí convertíamos para 3D. Trabalhei em Homem de Ferro 3, Guardiões da Galáxia, Star Trek, Star Wars, Planeta dos Macacos, X-Men”, enumera Mel. Mas a lista é bem mais longa. Em 13 anos em Hollywood, a santista já acumula impressionantes 40 filmes no currículo, entre eles alguns dos campeões de bilheteria da última década, e a jornada a Pandora, da qual ela participou nos últimos oito anos. “O mais importante é acreditar. Não deixe que digam para você ser mais realista. Para sair da realidade em que você está, primeiro você precisa acreditar que pode viver em outra”, afirma. Avatar e James Cameron Em Avatar, Mel integrou a equipe responsável por criar as sequências do filme. Na prática, isso significa participar da construção do longa desde a pré-produção. “No nosso caso, era um negócio bem abrangente, porque a gente tinha que fazer de tudo. Estávamos montando o filme, literalmente montando o escopo do filme para ele se tornar alguma coisa. Esse processo começa desde a pré-produção, que a gente chama de pré-visualização de algumas cenas do filme, imaginando como vai ser essa sequência de ação. Uma animação mais rápida, não uma renderização final. Isso inclui capturar os atores no set para ver se estava dando certo, montar as cenas e gravar com câmeras virtuais”, explica. As filmagens começaram em 2017, com regravações, ajustes e trabalho contínuo no departamento do qual Mel fez parte até julho de 2025. A brasileira trabalhou em grande parte das sequências do longa, que tem 3h17min de duração, e acompanhou de perto cada detalhe. Ela fez parte de uma equipe de cerca de 30 pessoas dentro da Lightstorm Entertainment, produtora de James Cameron. E estar nos projetos de Avatar 2 e 3 também significou conviver de perto com o cineasta, considerado um dos mais importantes e visionários da atualidade. “Ele é um gênio. Mais do que isso: ele explica tudo o que está fazendo. Ele gosta de ensinar”, diz Mel. “É uma aprendizagem que vale mais do que qualquer faculdade. Estar perto de uma pessoa assim é surreal. Foi como uma faculdade diária.” Do sonho adolescente ao Oscar O sonho que virou realidade já veio acompanhado de um Oscar. Avatar: O Caminho da Água (2022) venceu o prêmio de Melhores Efeitos Visuais. “No dia seguinte ao prêmio, eu fui dar parabéns ao meu supervisor, que foi quem recebeu o Oscar, e ele me disse: ‘Esse prêmio é de todos nós; não existe esse prêmio sem vocês'. Acho que a gente não recebe esse reconhecimento em todos os lugares; aqui tem muito disso”, diz a brasileira. E tudo indica que a equipe vai estar, de novo, na festa do Oscar em 15 de março de 2026. O filme que estreou nesta semana nos cinemas brasileiros acaba de aparecer na lista dos dez pré-selecionados para disputar - novamente - na categoria de Melhores Efeitos Visuais. “Eu estou feliz que faço parte de algo tão grandioso com uma história sobre família e que a gente pode celebrar juntos todos esses anos de trabalho. Sempre tem momentos altos e baixos, mais altos. Mas é bom poder ser recompensada de alguma forma. Não é nem sobre ganhar o prêmio, mas saber que a gente fez parte disso e chegamos lá”, conclui Mel Quintas.
O Museu Guimet apresenta em Paris a exposição “Mangá. Uma arte completa!”, uma imersão nas origens e na evolução do mangá. A mostra reúne obras raras, revistas históricas e peças das coleções japonesas para revelar tradições, influências ocidentais e a força criativa de mestres dos séculos 20 e 21 — uma viagem ao universo que transformou o mangá em verdadeiro fenômeno global. Márcia Bechara, da RFI em Paris Em vitrines e painéis, visitantes percorrem séculos de narrativas gráficas japonesas, do teatro nô às primeiras experiências com animação, passando pelo humor satírico da imprensa e pela explosão de gêneros que marcou o século 20. A curadoria é assinada por Estelle Bauer, que sublinha o ineditismo da iniciativa. “Eu acho que é a primeira vez que mangás são expostos em um museu de Belas Artes, numa instituição parisiense. Eles estão muito curiosos no Japão com os resultados dessa exposição”, refletiu. A declaração resume o impacto institucional dessa entrada definitiva do mangá no circuito das artes visuais da capital francesa. Especialista em arte japonesa, Bauer explica como buscou evidenciar a profunda ligação entre os mangás contemporâneos e a iconografia ancestral do Japão. “Eu sou historiadora da arte japonesa, então olho os mangás com essa referência e esse conhecimento da arte antiga do país. Isso era uma evidência, existe uma imensidão de relações entre o Japão antigo e os personagens do mangá que usam, por exemplo, máscaras de teatro antigas", exemplificou. "Há cenas que são tiradas diretamente de lendas japonesas. Foi umpouco isso que tentamos mostrar.” A exposição revela esse diálogo ao aproximar obras do acervo tradicional do museu — esculturas, máscaras, pinturas — das narrativas visuais dos mangakás modernos", destaca. Conexões estruturais dos mangás Para Bauer, essas conexões não são apenas estilísticas, mas estruturais para o trabalho de criação dos autores. “Os mangakás se inspiraram muito de sua tradição, de sua cultura visual, e foi isso que tentamos mostrar na exposição, criando uma espécie de diálogo entre as obras do museu, as obras de coleções patrimoniais e os mangás.” Em um dos núcleos mais comentados da mostra, uma escultura rara exemplifica essa relação direta com o imaginário pop. “Acho que o autor de Dragon Ball se inspirou de aspectos variados da tradição japonesa, mas uma das referências possíveis é o dragão que caça a Pérola da Sabedoria. Apresentamos, durante a exposição, uma escultura que faz referência a isso, e que, na verdade, foi um presente do antepenúltimo Shogun do Japão ao imperador Napoleão 3° em 1864.” Um olhar complementar sobre a mostra é o de Valentin Paquot, especialista em mangás e consultor do catálogo da exposição. Ele chama atenção para a dimensão industrial e econômica desse universo, frequentemente esquecida em debates artísticos. “Houve uma abordagem realmente industrial e não somente artística na criação dos mangás. É claro que se trata de um gênero artístico legítimo, mas, por trás dos mangás, existe também muito dinheiro... Apenas em 2024, esse mercado gerou 704 bilhões de yens somente no Japão, ou seja, um total equivalente a € 4 bilhões, é uma soma colossal. Nós adoraríamos dispor de um orçamento igual para os quadrinhos na França”, compara. Leia tambémDiva do mangá, japonesa é segunda mulher a vencer o Festival Internacional de HQ da França Paquot lembra que o boom editorial japonês, impulsionado pelo pós-guerra e pelo baby boom, foi decisivo para a consolidação de um mercado de larga escala. “É um segmento muito mercantilizado, com um volume enorme de revistas. Essa explosão começou na época do baby boom japonês, com mais de 80 revistas mensais na época. E, além disso, o mangá também foi muito usado como veículo de publicidade.” Paquot também destaca a presença marcante dos yōkai, seres sobrenaturais do folclore japonês que atravessam tanto mangás quanto animes. “Se nos voltarmos ao que chamamos de yokais, ou seja, aos monstros japoneses, que estão muito bem sublinhados nessa exposição, podemos ver o incrível bestiário presente nesse repertório japonês, e, na verdade, trata-se de uma gramática muito conhecida lá. Isso quer dizer que, se usamos um determinado personagem, sabemos com antecedência a mensagem que se quer passar...” Segundo ele, essa gramática visual não impede liberdade criativa — ao contrário. “E se o mangaká tiver vontade de brincar, ele pode criar o que chamamos de ‘gap', uma surpresa, ou seja, ele vai utilizar um monstro do qual é esperado um determinado comportamento, mas que vai fazer exatamente o oposto. Os mangakás adoram nos surpreender desse jeito...” Tradição e cultura pop em diálogo “Manga. Tout un art!” ocupa três andares do Museu Guimet e foi concebida para apresentar o mangá em paralelo às coleções asiáticas da instituição — de máscaras do teatro Nô, vestes de samurais e katanas a desenhos originais de Dragon Ball, One Piece, Naruto e Astro Boy. A curadoria apostou em uma montagem dinâmica que atrai o público jovem sem perder densidade histórica. Um dos pontos altos é a sala dedicada à Grande Onda, um clássico de Katsushika Hokusai (1830/1831), onde se discute como o “traço claro e estruturado” do mestre "antecipa códigos narrativos dos quadrinhos modernos" — e como essa iconografia segue influenciando autores e estilistas. A mostra também destaca o papel de Osamu Tezuka, cujas séries Astro Boy e A Princesa e o Cavaleiro ajudaram a revolucionar linguagem e formatos, abrindo caminho para gêneros como o shōjo (voltado originalmente para meninas) e para movimentos mais adultos como o gekiga. Como gesto de ponte com novas gerações, o cartaz da exposição foi encomendado ao mangaká francês Reno Lemaire (Dreamland), reforçando o diálogo entre tradição japonesa e produção contemporânea. De onde vem o mangá: raízes, encontros e viradas Embora o termo “mangá” tenha sido popularizado por Hokusai no século XIX e hoje seja associado às HQs japonesas, suas raízes remetem aos emaki (rolos narrativos) da era medieval e ao repertório do ukiyo‑e. A exposição em Paris parte exatamente dessa genealogia para ler o mangá como herdeiro de séculos de visualidade. O encontro com o Ocidente, no fim do século XIX, incorporou a tradição de caricatura e sátira dos jornais europeus, catalisando o nascimento do mangá moderno com autores como Kitazawa Rakuten. Já na primeira metade do século 20, o kamishibai — o “teatro de papel” de rua — refinou a narrativa seriada e a relação direta com o público, elementos que migram depois para as revistas e, mais tarde, para o anime televisivo. O kamishibai tem raízes nos emaki e em práticas de narração pictórica (etoki); sua “era de ouro”, nas décadas de 1930–50, antecede a popularização da TV — não à toa apelidada de “kamishibai elétrico”. Muitos artistas transitaram do kamishibai para o mangá e o anime, sedimentando técnicas e modos de contar histórias que hoje são marca do quadrinho japonês. Uma paixão brasileira? O Brasil tem uma relação de longa data com o mangá e o anime. Lobo Solitário chegou ao país em 1988, e a consolidação do formato “de trás para frente” se deu de forma massiva com Dragon Ball, no início dos anos 2000. A partir daí, editoras especializadas e selos de grandes grupos aceleraram a oferta e profissionalizaram a distribuição. O resultado aparece nas vendas: entre julho de 2023 e julho de 2024, 71% dos 100 quadrinhos mais vendidos em livrarias brasileiras foram mangás — com liderança da Panini, seguida pela JBC (adquirida pela Companhia das Letras em 2022), entre outros selos. Em outro recorte, os mangás concentraram 46,7% das vendas do mercado de quadrinhos no país, confirmando o apelo da cultura pop japonesa. Esse interesse transborda para eventos e streaming. A CCXP, maior festival de cultura pop do mundo em público, reuniu 287 mil pessoas em 2023; e a Crunchyroll anunciou, em 2024, que o Brasil já é seu segundo maior mercado de assinantes globais — impulsionando dublagens, estreias em cinema e ativações de grande porte. Mesmo num cenário em que o hábito de leitura geral encolheu — o país perdeu cerca de 6,7 milhões de leitores em quatro anos, segundo a pesquisa Retratos da Leitura 2024, organizada pelo Instituto Pró‑Livro (IPL) — o mangá mantém tração ao se apoiar em uma cadeia multimídia (animes, games, produtos licenciados) e em comunidades de fãs muito engajadas. Números, gêneros e linguagem do mangá Para além do rótulo “quadrinho japonês”, o mangá se organiza por segmentação etária e temática (shōnen, shōjo, seinen, josei etc.) e por gêneros que vão do épico de ação à introspecção psicológica, passando por romance escolar e ficção científica — uma diversidade que facilita identificação e renovação de leitores. A transposição para anime e o modelo em formato de série na publicação ajudam a sustentar fidelização e vendas recorrentes. No Brasil, essa dinâmica se reflete em listas de mais vendidos dominadas por franquias como One Piece, Demon Slayer e Jujutsu Kaisen, ao lado dos clássicos nacionais infantis — um arranjo que mostra coexistência de perfis geracionais e explica o espaço dos mangás nas prateleiras e nos eventos.
O Flamengo enfrenta o PSG nesta quarta-feira (17), em Al Rayyan, no Catar, na disputa pelo título da Copa Intercontinental 2025. Além da imensa torcida de mais de 45 milhões de rubro-negros no Brasil, o clube contará com um grupo de torcedores em Paris, casa da equipe adversária — incluindo um francês apaixonado pelo time carioca. Confiantes na vitória, eles esperam pintar a Torre Eiffel e o mundo de vermelho e preto. Renan Tolentino, da RFI em Paris “A gente vai com tudo, o Flamengo tem tudo para ser campeão. Não será surpresa se levarmos esse título e comemorarmos dentro de Paris. Vai ser a coisa mais linda”, projeta Cidel Cavalcante, um dos criadores da FlaParis. Consulado oficial de torcedores do Flamengo na França, a FlaParis é pé-quente. Foi fundada há seis anos, quando o clube carioca iniciou a atual era de conquistas históricas, que já soma 19 troféus. “Começou em 2019, naquele ano mágico, após o time viver um jejum de títulos expressivos. Nessa época, eu me mudei para Paris e fui buscar outros rubro-negros como eu aqui. Tive a sorte de achar um francês apaixonado pelo Flamengo, não só pelo Flamengo, mas pelo futebol brasileiro também. Daí em diante, a gente reúne os torcedores rubro-negros que estão aqui em Paris para ver os jogos”, conta Cidel. Naquela temporada de 2019, o time carioca venceu a Copa Libertadores da América e o Brasileirão. De lá para cá, acostumou-se a empilhar troféus. Em 2025, repetiu os mesmos feitos de seis anos atrás, conquistando seu nono campeonato nacional e sua quarta Libertadores, tornando-se o clube brasileiro com mais títulos na competição. Agora, o desafio é ser campeão mundial pela segunda vez na história — um feito que esta geração de torcedores sonha ver. Como o carioca Danilo Fernandes, que vive na França desde 2019 e é um dos diretores da FlaParis. “É a realização de um sonho e a gente, como torcedor, está podendo participar disso. Para nós aqui, vai ser uma sensação diferente, por estar morando em Paris e ver o Flamengo enfrentar o time da cidade. Vamos ver o que vai dar... Mas estamos bem esperançosos”, diz Danilo. Caminho para o bi mundial Para conquistar o bicampeonato mundial, o Rubro-Negro precisa superar o poderoso PSG, campeão da Liga dos Campeões neste ano e que conta com o francês Dembélé, vencedor da Bola de Ouro 2025. Para chegar à decisão do Intercontinental, o clube carioca passou por duas etapas: primeiro, superou o Cruz Azul, do México, no Dérbi das Américas; depois, venceu o Pyramids, do Egito, pela Copa Challenger, que no formato atual equivale à semifinal da competição. “Acho que o Flamengo vai para cima. É uma partida difícil, o jogo do ano. Vamos enfrentar um time ótimo, campeão da Champions League, que vem tendo um bom desempenho neste ano. Mas o Flamengo também trabalhou bastante para chegar até aqui. Então, a gente como torcedor acredita que dá para realizar esse sonho”, reflete Danilo. O confronto contra os franceses promete ser duríssimo. Apesar do histórico recente indicar certo desinteresse de clubes europeus pela competição, o jogo será no Catar, país dos proprietários do PSG — que não deve querer fazer feio diante dos donos. Os torcedores rubro-negros em Paris reconhecem o cenário difícil e as qualidades do adversário, mas isso não abala a confiança e o otimismo deles. “O time tem que manter a defesa alta, fazer aquela marcação-pressão e arriscar, entrar com garra, força de vontade e disposição para sair com a vitória”, analisa Danilo. Na final da Libertadores 2025, em 29 de novembro, a FlaParis mobilizou centenas de torcedores em um restaurante no norte da capital francesa. Na ocasião, os rubro-negros celebraram o Tetra do Flamengo na competição, com a vitória por 1 a 0 sobre o Palmeiras. “Foi uma loucura, mais de 600 rubro-negros reunidos para torcer na decisão da Libertadores. Foi uma festa fantástica, que vai se prolongar até a final dessa jornada no Mundial. Tem tudo para ser uma grande festa”, comenta Cidel. "Allez, Flamengô!" Entre esses rubro-negros está o francês Marcelin Chamoin, de 33 anos. Apaixonado pelo Flamengo e pelo futebol brasileiro, ele já transformou esse amor em um livro de crônicas sobre o clube carioca. “Minha primeira lembrança relacionada ao futebol é da Copa do Mundo de 1998, quando a França ganhou do Brasil na final. Mas, apesar de eu ser francês, no Brasil tinha o Ronaldo, então me apaixonei pela seleção brasileira. Depois, comecei a torcer pelo Flamengo, por conta da torcida imensa e do amor único que os flamenguistas têm pelo time. Meu primeiro ídolo nessa época foi o Obina. Depois, foi um sentimento que só cresceu”, recorda. Marcelin admite que tem uma admiração pelo PSG, mas confirma que seu clube de coração é mesmo o Rubro-Negro da Gávea. Ele garante que, na final, não vai ficar dividido. “Na França, eu torço pelo PSG, por morar aqui e também pela ligação que o clube sempre teve com jogadores brasileiros. Vibrei com a conquista da Champions, por exemplo… mas, na final desta quarta-feira, vou ser 100% Flamengo. Para mim, o Flamengo é diferente do PSG e da seleção brasileira. O Flamengo é mais importante”, garante Marcelin. Palpites e candidatos a heróis Com um misto de ansiedade e otimismo, os torcedores confiam na vitória do Flamengo e já projetam o placar e como vai ser a festa em plena Paris. “2 a 0, para o Flamengo, claro. Como o Arrascaeta tem 98 gols pelo Flamengo, seria lindo se ele marcasse dois contra o PSG e chegasse ao centésimo na final do mundial”, palpita o francês Marcelin. Já o brasileiro Danilo aposta em um “2 a 1, com gols de Arrascaeta e Brunho Henrique”. “Eu diria 2 a 1, mas sem sofrimento. Os gols podem ser de Arrascaeta e Brunho Henrique, mas se o Pedro tiver condições de jogo, arrisco um 3 a 1 com ele marcando também”, diz Cidel, otimista. E o candidato a herói é quase unânime: “Arrascaeta sempre”, resumem os rubro-negros. Flamengo e Paris Saint-Germain se enfrentam nesta quarta-feira, às 14h (horário de Brasília) no Estádio Ahmad Bin Ali, em Al Rayyan, no Catar. Se vencer, o PSG conquista o Intercontinental pela primeira vez em sua história. Já se o Rubro-negro for campeão, vai garantir seu segundo mundial e fará mais de 45 milhões de torcedores felizes. Inclusive em Paris.
Quando a comunicação deixa de ser talento e passa a ser trabalho Há pessoas que parecem ter nascido com presença. Quando falam, o silêncio organiza-se à volta delas. Quando entram numa sala, sentimos qualquer coisa mudar. A tentação é chamar a isso carisma. Ou talento. Ou dom. A conversa com Diogo Infante desmonta essa ideia logo à partida. Antes da presença houve timidez. Antes da voz segura houve dificuldade em falar. Antes do palco houve desajuste, deslocação, a sensação de não pertencer completamente ao sítio onde se estava. O teatro não surgiu como ambição, mas como solução. Uma forma de aprender a comunicar quando comunicar não era natural. Um lugar onde a palavra podia ser ensaiada, onde o corpo podia ganhar confiança, onde o erro não era um fim — era parte do processo. Talvez por isso a noção de presença apareça nesta conversa de forma tão concreta. Não como algo abstrato, mas como um estado físico e relacional. Presença é perceber se o outro está connosco. Presença é sentir quando uma frase chega — ou quando cai no vazio. E esse vazio, quando acontece, dói. Não por vaidade. Mas porque revela uma falha de ligação. Há um momento particularmente revelador: quando fala do silêncio do público. Não o silêncio atento, mas aquele silêncio inesperado, quando uma deixa cómica não provoca riso. “Aquilo dói na alma”, diz. E nessa frase está tudo o que importa saber sobre comunicação: falar é sempre um risco. O outro não é cenário. É parte ativa do que está a acontecer. A conversa avança e entra na exposição pública. Aqui, Diogo Infante faz uma distinção interessante: entre a pessoa privada e a figura pública. Não como máscara, mas como responsabilidade. Há um “chip” que se ativa — uma disciplina interna que permite aguentar expectativas, projeções, rótulos. A maturidade está em não confundir esse papel com a verdade interior. É uma ideia útil num tempo em que confundimos visibilidade com autenticidade. Falamos também de televisão, cinema, teatro. Dos ritmos diferentes. Das exigências técnicas. Mas a ideia central mantém-se: a verdade não depende do meio. Depende da intenção. Comunicar para milhões não dispensa rigor. Simplificar não é empobrecer. Outro ponto forte da conversa é a vulnerabilidade. Num espaço público cada vez mais dominado por certezas rápidas e discursos blindados, assumir fragilidade continua a ser um gesto arriscado. Mas aqui a vulnerabilidade surge como força tranquila. Como forma de aproximação. Como autoridade que não precisa de se impor. Quando a conversa entra no território da família, tudo ganha outra densidade. Dizer “amo-te”. Pedir desculpa. Estar disponível. A comunicação íntima aparece como o verdadeiro teste. Se falhamos aí, o resto é técnica. E só técnica não chega. No plano mais largo, surge a pergunta maior: para que serve a arte num tempo acelerado, ruidoso, polarizado? A resposta não vem em tom grandioso. Vem simples: para nos salvar. Não salvar o mundo. Salvar-nos a nós. Da pressa. Do cinismo. Da incapacidade de escutar. No fim, fica uma conclusão exigente: a presença não é talento — é trabalho. A comunicação não é performance — é relação. E a verdade, quando existe, dá sempre algum trabalho a dizer. Talvez seja por isso que esta conversa não é apenas sobre teatro. É sobre como falamos, como ouvimos e como estamos uns com os outros. E isso, hoje, é tudo menos simples. LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO Esta transcrição foi gerada automaticamente. A sua exatidão pode variar. 0:00 Abertura do Episódio e a Angústia do Impostor Muitos de nós temos o síndroma de um impostor. Achamos sempre que que somos uma fraude, que na verdade, estamos só a replicar uma mentira. Não estamos a ser suficientemente verdadeiros ou estamos a repetir um padrão de comportamento que já fizemos. Achamos sempre que não estamos à altura do desafio. 0:15 É muito doloroso. É por isso que as pessoas acham que isso ser ator é. É maravilhoso, mas é um processo de grande angústia, angústia criativa, porque estamos perante a expetativa. Tu já estás a pensar aí, a peça do do clube dos poetas mortos, e eu e eu começo a pensar, AI, meu Deus, se aquilo for uma merda, o que é que eu faço, não é? 0:44 Pessoa 2 Ora, digam bem vindos ao pergunta simples, o vosso podcast sobre comunicação? Hoje conversamos com alguém que encontrou no palco não apenas uma profissão, mas uma espécie de casa interior. Diogo Infante contou me que na infância começou pela timidez e pelo desajuste, por aquela sensação de ser observado, de ser o lisboeta gozado no Algarve, de não ter ainda um lugar onde a voz encaixasse e que foi o teatro que lhe deu essa linguagem, a presença e, nas palavras dele, uma forma de se adaptar ao mundo. 1:13 À medida que foi crescendo como artista, veio uma outra descoberta. É de que existe um chip, uma espécie de mecanismo, um parafuso que se ativa quando ele entra no modo figura pública. Um mecanismo de responsabilidade, de expectativa e, às vezes, de peso. 1:30 Mas o mais interessante veio quando falou do silêncio do público, do que acontece quando diz uma frase que ele sabe que devia provocar o riso. E ninguém reage. Esta frase diz tudo sobre a comunicação. O público não é cenário, é organismo vivo, é uma reação em tempo real, é a energia que mexe connosco. 1:48 E é essa conversão entre a técnica e a vida, palco, intimidade, presença e vulnerabilidade que atravessa a conversa de hoje. Falamos do medo de falhar, daquele perfeccionismo que vive colado na pele dos artistas e que o Diogo conhece tão bem. Falamos da comunicação dentro de casa, da importância de dizer. 2:06 Gosto de ti ao filho do valor de pedir desculpa do que se aprende ao representar os outros e do que se perde quando acreditamos demasiado na imagem que o público tem de nós. E falamos dessa ideia luminosa que ele repete com ternura. A arte no fim existe para nos salvar da dureza do mundo, da dureza dos outros e, às vezes, da dureza que guardamos para nós próprios. 2:28 Esta é, portanto, uma conversa sobre teatro, mas não só. É, sobretudo uma conversa sobre. Comunicação humana sobre como nos mostramos, como nos escondemos, como nos ouvimos e como nos reconstruímos. Se eu gostar desta conversa, partilhe, deixe o comentário e volte na próxima semana. 2:44 E agora, minhas senhoras e meus senhores. Diogo Infante, Diogo Infante, ponto. Não tem mais nada para dizer. UI é só isto, Diogo Infante. 2:56 Como a Timidez Moldou o Caminho para o Palco Diogo Infante, ator, encenador. Quando eu disse que que IA conversar contigo, que IA ter o privilégio de conversar contigo, uma minha amiga disse, Ah, diz lhe que eu gostei muito do do sirano de bergerak. E eu pensei, mas isso já passou algum tempo? Sim, sim, mas eu continuo. Adorei aquela peça, deixar a marca das pessoas. 3:13 É isso que tu fazes todos os dias. 3:15 Pessoa 1 É isso que eu tento, se consigo umas vezes mais, outras vezes menos, antes mais. Olá, como estás? Muito obrigado por este convite. Sim, eu, eu, eu tento comunicar. Se é esse o tema. Acho que percebi cedo que tinha dificuldade em comunicar. 3:35 Era muito tímido, tinha dificuldade em em em fazer me ouvir, tu sabes. 3:41 Pessoa 2 Que ninguém acredita nisso? 3:42 Pessoa 1 Mas é verdade, é verdade, é absolutamente verdade. 3:44 Pessoa 2 Como é que é isso? Como é que tu tens? Como é que tu tens? 3:47 Pessoa 1 Dificuldade porque era talvez filho único, porque fui muito cedo para o Algarve e era um meio que me era estranho com um. Um linguajar diferente e eu sentia me deslocado. Eu tinha para aí 11 anos e no início foi difícil e eles olhavam, achavam que eu era Beto e não era nada Beto. 4:03 E falava a lisboeta, e eles gozavam comigo e depois, à medida, fui crescendo. Foi uma adaptação e percebi que representar era algo natural em mim, porque era uma forma de me adaptar ao meio e de conseguir encontrar plataformas de comunicação. 4:20 E quando finalmente expressei que queria ser ator, a minha mãe sorriu porque pensou, estás lixado e pronto. E vim para o conservatório EE. Foi. Foi me natural representar, ou seja, esta ideia de eu assumir um Alter Ego que não sou eu é me fácil. 4:42 Às vezes é mais difícil ser eu própria. 4:45 Pessoa 2 Tu criaste uma capa no fundo que resolve o teu problema, que pelo menos que tu imaginavas como sendo 11 não comunicador, não era um mau comunicador, um não comunicador 11 alguém que tem timidez para para conseguir falar e então toca a pôr a capa de super herói e eu vou superar. 5:00 Todavia, quando eu vejo os teus trabalhos, a última coisa do mundo que o se me ocorre é que tu estás a fingir, porque é que ele tresanda à verdade? Bom, esse é o truque. 5:11 Pessoa 1 Não é? É acreditarmos tão tanto na mentira que ela se torna verdade. Estou a brincar, claro, mas hoje em dia acho que já ultrapassei a minha timidez, mas sempre que tenho que estar aqui, por exemplo, ou tenho que assumir uma persona pública, eu meto um chip. 5:27 É o Diogo Infante que está a falar, não é o Diogo, é o Diogo Infante, é a figura, é pessoa com responsabilidade, com uma carreira, diretor de um teatro que tem. Há uma expectativa, não é? 5:37 Pessoa 2 Isso pesa? 5:38 Pessoa 1 Claro que pesa, claro que pesa. Eu quero dizer a coisa certa. Quer? Quer corresponder às expectativas? Não quer desiludir? Quer que gostem de mim? Bem, isso parece uma terapia. 5:46 Pessoa 2 Estamos todos a fazer isso, não é um. 5:47 Pessoa 1 Bocadinho, acho que sim, então. 5:49 Pessoa 2 E quando é que tu és, Diogo? Só Diogo. 5:51 Pessoa 1 Bom, olha, quando acordo, quando lá ando lá por casa e digo umas asneiras. E quando me desanco com os cães e quando me desanco com o meu filho e não estou a brincar. Ou seja, eu acho que sou eu quando baixo A guarda, quando estou muito à vontade, quando estou rodeado de pessoas que me querem bem, os amigos, a família. 6:08 Não quero com isto dizer que eu seja uma construção. Eu digamos que tornei me uma versão mais polida de mim próprio, porque tenho que passar uma impressão. Tenho que comunicar EE quero controlar o veículo da comunicação. 6:23 Pessoa 2 E controlar a narrativa? Imagino que sim. 6:25 Desafios de Interpretar um Ícone e a Pressão Artística Estás agora, neste exato momento, disse me um passarinho azul a preparar uma peça cujo o título é. O clube dos poetas mortos, ou pelo menos é inspirado nos clubes dos poetas mortos. Não sei se é este o título, é mesmo esse o título? 6:38 Pessoa 1 É o título. 6:39 Pessoa 2 E tu és o professora. 6:40 Pessoa 1 Vou ser o professor ainda. 6:43 Pessoa 2 Há bilhetes para isso? 6:44 Pessoa 1 Sim, o espetáculo só vai estrear no final de abril. Portanto, mas está a voar. Os bilhetes estão a voar a. 6:50 Pessoa 2 Verdade. Como é que é isso? Como é que como é que tu fazes essa personagem mítica do. Do professor que inspira os seus alunos para sair da banalidade e que o sonho é, no fundo, infinito e que devemos conquistá lo? 7:03 Pessoa 1 Olha, eu eu sinto muita empatia por essa personagem, porque eu tento fazer isso na minha esfera de trabalho diária no seja no teatro, seja na televisão. Eu eu acho que é quase uma obrigação. E hoje em dia. Esta mensagem que o filme integra incorpora talvez faça mais sentido do que nunca, num momento em que estamos a assistir a comportamentos extremados na nossa sociedade, em que estamos a regredir relativamente a algumas conquistas EE direitos adquiridos e portanto, esta ideia de não sigas não sejas mais um não sigas, não sejas 11 Carneirinho no meio da manada. 7:43 Assume, te vive a tua verdade faz todo o sentido. E o personagem é tão inspiradora aqui, a dificuldade se quiseres é distanciar me da interpretação icónica do do do Kevin, não é Kevin, AI meu Deus, do Robin Williams, do Robin Williams, coitadinho. 8:00 EE encontrar a personagem em mim, portanto, tenho que fazer a minha própria versão. 8:04 Pessoa 2 Como é que isso se faz? Tu reescreves o texto que te pegas no texto? 8:07 Pessoa 1 Não, não, não. 8:08 Pessoa 2 Não, o texto é aquele. 8:09 Pessoa 1 Não o texto Oo filme faz 30 anos. EOO, argumentista para celebrar os 30 anos, fez uma versão para teatro. Normalmente há peças de teatro que dão filmes. Aqui foi ao contrário, ele próprio escreveu o guião, neste caso, a peça para teatro e Ela Foi feita nos Estados Unidos, em Washington, já foi feita em Paris e Lisboa. 8:30 Vai ser o terceiro país onde ela vai ser interpretada e já teve, já fizemos audições, já temos um elenco de miúdos fantástico e o espetáculo está em preparação e nem sequer estamos em ensaios. Mas a verdade é que já está a gerar imensa expetativa e imensa procura. 8:44 Pessoa 2 Como é que se prepara o que é que até porque tu tens que tocar estes instrumentos todos, não é? Quer dizer, tens, tens que tocar OOO instrumento de de encenador Oo de fazer o casting. Imagino que tenhas também esse tenhas aí uma mão nisso de de ator EE tu dizes me, que já está em preparação, mas ainda não começaram os ensaios. 9:02 Pessoa 1 Os ensaios ainda não começaram, é só só estreia em em abril do ano que vem e. 9:05 Pessoa 2 Começa se a ensaiar quando? 9:06 Pessoa 1 2 meses antes? Neste momento, o que está em preparação foi as audições, foi feito um cartaz, entretanto, já tivemos reuniões com o cenógrafo, com o figurinista, com está se a preparar toda a logística para depois o espetáculo seja montado no fundo é juntar as peças. 9:22 A parte dos ensaios propriamente dita acaba por ser mais divertido para os atores. Mas eu não vou encenar o espetáculo, vou apenas representar, quem vai encenar é o Elder Gamboa. Antes disso, vou eu encenar um espetáculo que começo os ensaios para a semana que é a gaivota do shakhov. 9:37 Que vamos estrear, entretanto, No No Trindade. Com quem? Com o Alexandre lencastre a fazer AA arcadina. Porque está de volta. Está de volta, claro. O teatro, sim, sim. 9:45 Pessoa 2 Bem, isso é 111 grande, uma grande sorte. 9:49 Pessoa 1 Sobretudo depois dela, há 30 anos atrás, ter feito a Nina, que é outro personagem icónico da gaivota, bastante mais novo, a jovem atriz. E ela agora vai fazer a Diva do teatro a arcadina num numa interpretação que eu tenho a certeza que vai ser memorável. 10:03 Pessoa 2 Como é que se encena uma Diva? Como é que se ajudam? 10:05 Pessoa 1 Com muito amor, com muito amor. Não se ensina nada, não é porque ela sabe tudo. Mas é no fundo, instigando, instigando confiança, apoio, dando ânimo. Porque os atores, seja Alexandre ou outro, qualquer grande ator tem muitas dúvidas, tem muitas angústias. 10:24 Pessoa 2 Precisa de mimo? 10:25 Pessoa 1 Sim, muito, até porque nós somos assaltados por. Muitos de nós temos o síndroma de um impetor. Achamos sempre que que somos uma fraude, que na verdade estamos só a replicar uma mentira, não estamos a ser suficientemente verdadeiros ou estamos a repetir um padrão de comportamento que já fizemos. 10:42 Achamos sempre que não estamos à altura do desafio. Eu trabalhei com o Eunice Muñoz e ela também tinha dúvidas, ela também se questionava e, portanto, todos nós passamos por esse processo. Mas isso é doloroso ou não é muito doloroso? É por isso que as pessoas acham que isso ser ator é. É maravilhoso, mas é um processo de grande angústia, angústia criativa, porque estamos perante a expectativa. 11:03 Tu já estás a pensar aí, a peça do do clube dos poetas mortos já está cá em cima. E eu começo a pensar, AI, meu Deus, se aquilo for uma merda, o que é que eu faço? 11:09 Pessoa 2 Não é, mas, mas, mas, mas é legítimo, não é? Quer dizer, repara, eu vi o filme, adorei o filme, claro, eu vejo te a ti. Eu gosto muito do teu trabalho. Juntar estas 2 coisas. Eu digo, não, não pode falhar. 11:19 Pessoa 1 É evidente que não é inocente AA junção desses fatores, mas isso não alivia a responsabilidade que eu sinto nos ombros, eu? E Alexandra e outros atores que têm sentem esse peso. 11:29 Pessoa 2 Mas tu, quando as pessoas entram no teatro, tu já estás ali a ganhar 10 zero. Quer dizer isto, isto não, não é um processo. Virgem eu, não, eu, eu, eu, eu, eu já, eu sentei, me na minha, no meu lugar do teatro, com essa expectativa, mas. Mas. Mas também tem um lado bom que, é claro, tens créditos, claro. 11:47 Pessoa 1 Obviamente, e. E estes anos todos de trabalho e de reconhecimento, dão nos essa, esse crédito e essa confiança. O público compra muitas vezes o bilhete sem saber o que vai. Confia nas nossas escolhas. EE, essa pressão é boa. E repare, eu muitas vezes comparo nos a atletas de alta competição. 12:04 Nós temos que ter aquela performance naquele momento, naquele segundo. É agora que toca, dá o gong e vai. EEE tens que o que é que? 12:13 Pessoa 2 Se sente nesse nesse momento? 12:14 Pessoa 1 Um choque de adrenalina brutal é das coisas que mais nos faz sentir vivos, o momento, a responsabilidade. Mas também bebemos dessa adrenalina e alimentamo nos para poder encarar um espetáculo com 2 horas e chegar ao fim com uma energia vital brutal e o público sair de lá arrebatado preferencialmente. 12:32 Pessoa 2 E não se cansasse no fim. 12:34 Pessoa 1 Passado 1 hora, quando aquilo começa a baixar e chegas a casa. E Tomas um copo de vinho e olhas assim para a televisão e aí dá a quebra. 12:41 Pessoa 2 E que e dói te músculos, dói ou não? 12:43 Pessoa 1 Não, às vezes dói mais a alma, Oo músculo da. 12:46 Pessoa 2 Calma, porquê? 12:47 Pessoa 1 Porque falhaste naquela frase? Porque hesitaste a respiração? Porque não deste a deixa se calhar no timing certo? Nós somos muito críticos. Eu acho que todas as pessoas que têm uma responsabilidade pública, não é? 12:59 A Dinâmica com o Público e Diferenças de Meio Se tu fizeres uma apresentação e te enganares, vais. 13:01 Pessoa 2 É uma, é uma. 13:02 Pessoa 1 Dor é uma dor, sim. Lá está é a mesma coisa. É uma. 13:04 Pessoa 2 Dor, mas é tu és muito perfeccionista na. 13:06 Pessoa 1 Muito, muito, muito. É por isso que eu trabalho com muita antecedência. Sou muito chato. Quero o quero garantir que tudo está preparado para quando o momento, se der, não há. Não há falhas, EEEE. 13:17 Pessoa 2 E esse diálogo com o público, porque tu estás em cima de um palco, mas tu estás a respirar com o mesmo público. Como é que é? Como é que é essa comunicação? Porque ela não flui só. Do palco para o lado de cá, não é? Quer dizer. Para o outro lado também também a maneira como nós nos rimos, como como aplaudimos, como nos distraímos, sim. 13:36 Pessoa 1 Sim, tudo interfere. E é por isso que nós dizemos, cada cada dia é um dia diferente. Cada espetáculo é diferente conforme o público. O público muda e é o público. Esse coletivo, naquele dia, forma uma espécie de um organismo. Como pulsar próprio com uma respiração própria, umas vezes são mais agitados, outras vezes são mais calmos, umas vezes são mais reativos, outras vezes são mais introspectivos e eles emanam uma energia e nós estando no palco, sentimo la mas mas física é palpável, é algo que dizemos bem, isto hoje UI não estão a sentir e às vezes é uma carga. 14:09 Pessoa 2 Mas isso é uma angústia, essa que deve ser uma angústia. 14:11 Pessoa 1 Sim, às vezes é boa, às vezes é. É uma expectativa. 14:14 Pessoa 2 Boa agora é que vai ser agora é que eu vos vou mostrar. 14:17 Pessoa 1 Que nós começamos logo por sentir Oo bruá na sala antes do espetáculo começar. A Carmen de Loures dizia me, quando eles falam muito é porque vêm para gostar. Se um público estiver muito calado, muito silencioso. UI. Isto hoje eles vêm para para cortar na casa. 14:31 Pessoa 2 Hoje vai ser difícil, hoje é o tipo júri do do festival da canção e, portanto, tem que ser. 14:34 Pessoa 1 Conquistado profissional está muito habituado. EEE apropria. Se EE absorve essas energias e transforma as sejam elas boas ou más. Agora nós não somos indiferentes a elas e às vezes isso contamina. Eu já parei um espetáculo mais do que uma vez para pedir às pessoas. 14:50 Se acalmarem, ou para deixarem de olhar para o telemóvel ou ou para deixarem de escrever já. 14:55 Pessoa 2 Isso é uma falta de respeito também, não é bom. 14:56 Pessoa 1 Infelizmente, é um prato desde que há 20 anos, apareceram os telemóveis e agora com os com os smartphones, para além dos toques, as luzes, as pessoas escrevem. 15:05 Pessoa 2 Tu vês na cara das pessoas? 15:06 Pessoa 1 Claro, no meio de uma plateia, às escutas acendes, um telemóvel é um é um. É um clarão não só incomodativo para nós, mas como também é incomodativo para todos os outros que estão à volta, não é? É evidente que há toda uma lógica. Nós anunciamos no anúncio de sala, pedimos encarecidamente, explicamos os anúncios, até que testa um bocadinho cada maiores e mas invariavelmente acontece. 15:26 Mas é uma, vai se ir tocando? É um, é um processo. 15:29 Pessoa 2 Olha, fazer isto no teatro. Tu tens pessoas à tua frente e, portanto, tu consegues. Ouvi Los. Tu consegues interagir com eles. Tu sabes seguramente. Táticas e técnicas para ora para desposterizar, ora para aumentar o interesse, enfim, ora para os acalmar. 15:47 Se aquilo estiver muito, muito complicado. A tua outra experiência é das telenovelas, onde tu também apareces muito apareces, como como como um das personagens principais. Aí não há público e aquilo é suspeito. 16:04 Uma carga de trabalhos muito grande, uma carga de trabalho muito grande para para fazer cena, pôr cena, para a cena, pôr cena, pôr cena. Como? Como é que é essa experiência aí? Bom, é menos criativa. 16:14 Pessoa 1 São técnicas diferentes, ou seja, na essência, tudo é representar, não é? Quando estamos num palco, é evidente, tu tens essa consciência que estás perante uma plateia? EE, há uma relação viva, dinâmica, EEE, que tu, da qual tu tens a responsabilidade de tentar controlar. 16:31 Em televisão ou em cinema, é diferente, porque o há o corte, há, há o take, podes repetir, podes fazer um pick up. EE no fundo, o que é que é um picape? O picape é. Se estás a fazer uma cena e há um engano, vamos pegar ali. EE vais e. 16:45 Pessoa 2 Depois dá para montar. 16:45 Pessoa 1 Sim, porque depois as templeiras de corte e, portanto, podemos ir salvar a cena com pick up. Normalmente o que se diz é tens que olhar a pensar na Câmara como o público. Eles estão a ver te a através da lente, mas tu? 17:00 Pessoa 2 Relacionas te com a lente com a Câmara, não. 17:01 Pessoa 1 Diretamente. Mas tu sabes que ela está ali. Eu também. Eu também não olho para o público quando estou no palco ou tento. Mas eu sei que eles estão lá, portanto, essa consciência permanente que está ali, um interlocutor que está, mas. 17:13 Pessoa 2 Não é frio, lá está a Câmara, é uma coisa fria. 17:15 Pessoa 1 É, é, mas ao mesmo tempo bom, há os camerman. Há toda uma equipa que está ali a acompanhar te e tu imaginas sempre que há uma grande intimidade, porque efetivamente a Câmara permite essa proximidade. E, portanto, tu adequas Oo teu registo, quer de voz, quer até de expressão, a um plano que é necessariamente mais próximo. 17:35 No teatro, tens aquela amplitude toda e, portanto, tens. Sabes que tens que projetar a voz? O gesto tem que ser mais amplo. A energia com que pões nas frases tem que chegar à à velhinha que é surda, que está na última fila, na. 17:46 Pessoa 2 Televisão? Não. Na televisão, não muito. 17:48 Pessoa 1 Ampliada na televisão, tu trabalhas para um plano médio apertado e, portanto, tens é que ser mais subtil, tens que conter mais em em termos de traços gerais, é isto. 17:55 Pessoa 2 Porque senão se tu fizeres, fores mais histriónico ou falares mais alto do que ficas. 17:58 Pessoa 1 Esquisito não é? Fica muito, super expressivo. EE fica, lá está. Fica muito teatral. Não é do mau sentido. 18:04 Pessoa 2 E o que é EEE? É as telenovelas, tanto quanto eu consigo perceber elas. Estão a ser escritas ao mesmo tempo que vocês estão a representar? Não necessariamente. Não necessariamente pode. Portanto, podes ser o guião. 18:12 Pessoa 1 Todo sim, há. Sim, há guiões que já estão acabados e, portanto, às às vezes são adaptações de outros formatos que se importam, outras vezes são abertas, ou seja, estão a ser escritas à medida que estão a ser feitas, às vezes com uma frente de 101520 episódios e, portanto, tu próprio não sabes para onde é que aquilo vai. 18:28 Ritmo Intenso das Novelas e a Eternidade de Shakespeare E conforme e se estiver no ar, então. Pode haver até 111 dinâmica com o público. O público está a gostar muito daquele casal. Lá está a gostar muito daquele conflito e isso é explorado. 18:38 Pessoa 2 Vamos pôr mais fermento aqui, vamos pôr, criar mais cenas depois. 18:41 Pessoa 1 Varia, varia. 18:42 Pessoa 2 Estás a gravar o quê agora? 18:43 Pessoa 1 Neste momento, estou AA gravar uma novela na TVI que se chama amor à prova e é um lá está é uma adaptação de um formato chileno ou venezuelano, portanto, adaptado à realidade portuguesa. 19:00 É, é mais pequena do que habitualmente. Tem apenas 100 episódios, apenas 100 apenas. Mas efetivamente tem uma carga de gravação muito intensa. Nós chegamos, eu gravo tranquilamente 12 cenas de só da parte da manhã. 19:13 Pessoa 2 12 cenas só. 19:14 Pessoa 1 Em 3. 19:14 Pessoa 2 Horas e 1 e 1 cena normalmente demora quê 2 minutos? 19:17 Pessoa 1 5 minutos. A cena pode ter 223 páginas, portanto estamos a falar de 234 minutos. Mas multiplicas isto por 10. Estás a ver, não? 19:25 Pessoa 2 É só para decorar o texto, como é que? 19:26 Pessoa 1 Sim. 19:27 Pessoa 2 Como é que eu? 19:27 Pessoa 1 Eu decoro na hora. 19:29 Pessoa 2 Na hora, como é que? 19:30 Pessoa 1 Isso se faz? 19:31 Pessoa 2 Espera lá. Isto aqui vai ser uma ótima explicação para os alunos do secundário, que é. Como é que se decora na hora, é? 19:36 Pessoa 1 Diferente é uma coisa, é decorares 11 conteúdos em que tens que dominar a matéria e saber do que é que estás a falar ali. O que eu faço é, eu leio a cena na véspera para perceber o que é que se passa e quando chego lá, passo com o colega, Bora lá e em vez de decorar as palavras, eu decoro as ideias. 19:51 Pessoa 2 O sentido, o sentido. 19:53 Pessoa 1 Que é, se eu souber o que estou a dizer, é mais fácil replicar, e mesmo que eu não diga aquela palavra, digo outra, parecida. E a coisa dá se. 20:00 Pessoa 2 E os realizadores não são muito aborrecidos, não querem, não é? 20:03 Pessoa 1 Shakespeare não é, não é, não é propriamente mulher. Portanto, o que interessa aqui é. Lá está a semelhança, a verdade, a fluidez e a sinceridade. EE se ficares muito agarrada à palavra, porque aquela que. 20:15 Pessoa 2 Pronto, vai soar a falso, vai soar péssima. Olha o que é que Shakespeare tem de interessante e de extraordinária para continuarmos todos AA ver e a e a gostar daquilo que os atores a fazerem. 20:25 Pessoa 1 Ele é um génio. Ele conseguiu captar na sua obra de 30 e tal peças mais não sei quantos contos, mais poemas mais. Eu diria que o essencial da natureza humana. Considerando que ele escreveu no século 15, é incrível pensar que ele tem esta esta capacidade de de de nos identificar e perpetuar. 20:51 E eu acho que estão estão está lá tudo. A Shakespeare ensina a ser, ensina a humanidade, mas. 20:58 Pessoa 2 Aquilo que é extraordinário é que depois aquele texto parece muito simples, bom, muito, muito simples, no sentido em que eu entendo aquilo. O que é que ele está a? 21:06 Pessoa 1 Dizer isso é um trabalho difícil, difícil. 21:09 Pessoa 2 Fazer o mais fácil ou mais? 21:10 Pessoa 1 Difícil? Exatamente no original. Em em inglês, o texto é inverso e, portanto, e usa uma série de terminologia que já está em desuso. Portanto, os próprios ingleses têm dificuldade muitas vezes. Em acompanhar aquilo que é dito, eles percebem o sentido mais do que todas as palavras. 21:29 Pessoa 2 E como é que tu fazes para para? 21:30 Pessoa 1 Para quando é pensar nisso, o que acontece é, há várias abordagens à tradução. Há uns que são mais académicos e que tentam ser fiéis ao verso EEE, à estrutura EEE. As traduções ficam muito pouco dizíveis. E depois há alguns tradutores, felizmente, que se. 21:49 Traduzem em prosa, portanto, EE tentam é captar AA ideia e menos AO verso, e então torna se mais fluido em português. Na tradução tu podes simplificar para facilitar o entendimento. 22:00 Pessoa 2 Fica lá a poesia no fundo, sempre sem, sem aparecer necessariamente inverso. 22:04 Pessoa 1 Sempre que é necessário, até se pode ir ir buscar um verso ou outro. Mas a prosa é poética também. EEEA essência do texto não se perde. 22:13 O Que Distingue a Presença e o Talento Bruto Olha o que é. 22:13 Pessoa 2 Que distingue? A presença, aquilo que nós sentimos como uma presença ali de uma mera performance. Há bocadinho que estavas a falar aqui do do síndrome do impostor. Que que que é essa nossa relação com a verdade? De de, do, do que é, da da, de quem está a fingir ou de quem está a interpretar uma verdade, apesar de estar a ser teatralizada? 22:33 Como é que se treina, no fundo, uma voz para dizer a verdade? 22:37 Pessoa 1 Não sei, sinceramente, não sei. Ainda me debato com isso. Não tanto no meu próprio processo, mas, sobretudo quando estou a dirigir atores e quando estou a tentar explicar como é que se consegue chegar lá. O que tenha testemunhado ao longo dos anos é que há pessoas que entram num palco sem abrir a boca e algo acontece. 22:56 Elas transportam uma energia. 11, confiança. 11. Aura. 23:01 Pessoa 2 O que é que é isso? Algo acontece? 23:05 Pessoa 1 Chama a tua atenção. Tu queres olhar para aquela pessoa? Tu precisas de olhar para aquela pessoa. E ela ainda não abriu sequer a boca. E isso é muito claro. Por exemplo, quando estou a fazer audições, estou a fazer audições em teatro, tens 20 atores a fazer o mesmo texto e há um ou 2 de repente. 23:20 Pessoa 2 Brilha. 23:20 Pessoa 1 Brilha. Às vezes é. É a maneira como se proporiam do texto, como o tornam seu, como conseguem escavar uma leitura muito original. Outras vezes é meramente 11 atitude, uma postura. 23:35 E isto não se codifica porque é é muito difícil de EE, nem sempre acontece, ou seja, o mesmo ator. Noutro contexto, se calhar pode não ter o mesmo efeito ou com as mesmas pessoas, mas as pessoas que normalmente são brilhantes. 23:51 Olha, há pouco falávamos da Alexandra. A Alexandra é uma atriz para quem a conhece bem, muito insegura, com muitos anseios, muitos temores. Mas lembro me quando fizemos o quem tem medo de Virgínia woolf? Também no teatro da Trindade. Há 8 anos atrás, quando era hora de entrar, nós entrávamos os 2 em cena na nossa casa. 24:13 Fora de cena, Alexandre estava a dizer, não quero, não quero, não quero, tenho medo, tenho medo, tenho medo de ir assim, Ah, não quero depois entrava e mal ela entrava, explodia algo acontecia, era incrível, ela mudava, ela mudava assim de um do dia para a noite. EE aquilo que era um temor, ela transformava numa arma. 24:30 Pessoa 2 Transformar uma fragilidade numa força. 24:32 Pessoa 1 Sim, claro, Oo meu medo? Há há pessoas que com o medo, atacam, não é? E portanto, é. Eu acho que é isso que ela fazia e que ela faz, que é quando tem temor, ela vai para cima de um palco e seduz. EE abraça, nos abraça, nos com o público. 24:46 Pessoa 2 Arrebata nos no fundo, arrebata nos e leva nos quando ela quiserem. 24:49 Pessoa 1 E algo não, não se explica. Tu podes tentar dizer e um ator vê lá, se consegues fazer isto. Mas isto às vezes é inato. 24:56 Pessoa 2 É, não dá para treinar. 24:57 Pessoa 1 É uma natureza? Não. O que dá para treinar é todo o lado técnico. É a postura, é a maneira como lanças, a voz, a maneira como. Como tu atacas uma cena, a energia que colocas, a vitalidade, e isso trabalha se agora, depois de fatores que nos escapam, muitas vezes é, é o subtexto, não é, é aquilo que não é dito, é, é, é uma essência, é uma natureza. 25:16 Porque é que numa multidão nós passamos por 50 pessoas e há uma a quem, onde, onde o nosso olhar pára e não é necessariamente porque é mais bonito, é qualquer coisa que nos faz olhar para aquela. 25:27 Pessoa 2 Pessoa é um fator x, é um carisma. 25:28 Pessoa 1 Sim, claro, claro. Qualquer coisa que impacta a toca comove. 25:35 Pessoa 2 E nós conseguimos correlacionarmos logo com essa pessoa, apesar de não a conhecermos, apesar. 25:38 Pessoa 1 Eu diria que sim. Eu, eu sou. Eu adoro talento. Sou muito sensível ao. 25:44 Pessoa 2 Talento, não é? 25:45 Pessoa 1 Certo, mas digamos que eu estou treinado por via da da minha profissão para ver talento. E quando eu vejo o talento no seu estado bruto, como um Diamante é, é normalmente é muito comovente. Porque tu vês todo o potencial e a pessoa às vezes só está só, só é e tu dizes me meu Deus, como é que esta pessoa às vezes eu vejo jovens atores acabaram de sair do conservatório, pisa, vão para cima de um palco, uma maturidade, uma energia, uma luz e eu disse, como é que se ensina isto? 26:18 Onde é que tu estás, onde é que tu aprendeste isto e não se aprendeu? Eles trazem com eles, trazem da vida, trazem de outra, não sei de. 26:24 Pessoa 2 Outras vidas há bocadinho falavas da Eunice. Ou ou o Rui de Carvalho, por exemplo. Oo que é que o que é que estes 2 atores que juntam longevidade EE lá está e essas coisas todas, o que é que eles têm de verdadeiramente especial? 26:39 Pessoa 1 Ah, olha, eu, Rui, conheço menos. Bem, eu trabalhei muito com a Eunice e com a Carmen de Loures. O que o que eu sinto é é uma entrega total AAA, uma arte que amam eles amam aquilo que fazem. 26:56 E há um sentido de ética e de paixão, de rigor e profissionalismo, tudo isso. Mas depois há algo que é transcendente, que é é a maneira como como estão Oo Rui conta se que no início da sua carreira sofreu muito nas mãos do ribeirinho que o maltratava e que o dirigiu e o isso. 27:16 E o Rui é um ator que se foi construindo, foi foi dominando 11 técnica e uma. E uma presença invulgar por causa da escultura sim, a inicia Carmen. A história é diferente. A Carmen era uma mulher de uma beleza plácida, começou por fazer cinema, a Eunice mal apareceu com miúda 18 anos, era logo um furacão toda a gente não falava de outra coisa no conservatório, ela já era a melhor aluna nota 19 aos 12 anos, quando estreou No No teatro nacional, dona Maria segunda, perceberam logo que ela era um bicho de palco. 27:51 Pessoa 2 Saiam da frente. 27:51 Pessoa 1 E saiam da frente. E pronto, EE foi assim até à sua morte, aos 94. 27:55 Pessoa 2 Anos e há agora novas das destas novas geração? Já há, há há atrizes e atores que tenham também. 28:01 Pessoa 1 Isso assim, há gente muito boa, há gente muito boa. 28:03 Pessoa 2 O que é que tu fazes com essas? 28:04 Pessoa 1 Epifanias para ti, guardo as registo verbalizo. 28:10 Pessoa 2 És mais exigente com eles? 28:11 Pessoa 1 Não, não, não. Eu tento é aprender. Aprender, sim. Ou seja, porque eles têm uma frescura e têm um olhar tão novo perante situações que, para mim, já são recorrentes. E eu penso. Como é que eu nunca vi isto antes? Como é que eu nunca olhei para isto desta maneira? 28:25 Pessoa 2 Eles trazem uma frescura do ponto de vista, sim. 28:27 Pessoa 1 E. 28:28 Pessoa 2 Isso também e isso ensina te. 28:29 Pessoa 1 Há uma audácia, não tem Nada a Perder. Arriscam sem medo. E isso aprende se claro que sim. 28:35 Pessoa 2 Isso é absolutamente EE pode se estimular ou, pelo contrário, esvaziar. 28:39 Pessoa 1 Bom, sim, tu podes fazer todo um trabalho psicológico, pois que os demova. Espero bem que não. Isso seria de uma enorme crueldade. O que eu tento fazer é fomentar, alimentar, beber e estimular EE, aprender. 28:52 Pessoa 2 Olha, estamos no momento das redes sociais, onde? Temos coisas muito interessantes, como a propagação da mensagem, como a proximidade. Imagino que até para a promoção do teu trabalho as coisas sejam mais fáceis. Mas, por outro lado, temos tudo, todo o lixo que vem por aí, não é o ruído, a toxicidade, a pressão para se ter uma opinião, sobretudo, e sou contrário anão aceitação da opinião do outro. 29:17 Navegar o Digital e Lições da Comunicação Familiar Como é que? Como é que tu vais gerindo isto? 29:20 Pessoa 1 Tento gerir com alguma prudência, alguma parcimónia. Tento não, não. Não viver totalmente dependente destas plataformas e desta esta necessidade de extravasar opiniões a torto e direito ou até dispor uma intimidade. 29:36 Eu sempre fui recatado e, portanto, sou muito criterioso naquilo. 29:40 Pessoa 2 Que como é que te protege, lá está? 29:42 Pessoa 1 Com critério, com selecionando bem aquilo que me interessa partilhar e faço com parcimónia. É sobretudo isto. É sobretudo um instrumento de trabalho. De há uns anos para cá, eu sinto que tornei me mais. 29:58 Não diria acessível, mas tive mais vontade de partilhar alguns aspetos da minha vida. 30:04 Pessoa 2 O que é que mudou quando foste pai? Sim, isso foi muito público. Adotaste uma criança, agora um homem. 30:11 Pessoa 1 Desde que fui pai Oo meu olhar mudou necessariamente EEE. Portanto, as escolhas. Todas as escolhas que fiz. Pensava sempre também nele e naquilo que eu acho que poderia ser bom para ele. Mas, portanto, tento não não ficar escravo nem nem nem pôr me a jeito para me magoar, fruto de qualquer reação da bisbilhotice, da bisbilhotice ou dos comentários ou do que for AA verdade é que tenho tido sorte. 30:40 Bom, eu também não ando sempre AA ver tudo o que escrevem, mas normalmente tenho reações muito positivas e. Muito agradáveis àquilo que publico, seja pessoal ou profissional, mas tento não levar nada disto muito a Sério porque acho perverso. 30:57 Pessoa 2 Olha, eu não quero entrar muito na tua intimidade, mas tenho uma curiosidade só na tua relação com o teu filho. Como é que são os diálogos? Porque isso interessa me tu, tu que és 11 cativador de de jovens talentos no mundo. Quando ele apareceu na tua vida, como é que foi? 31:13 O que é que, o que é que, como é que, como é que é esse, como é que é esse diálogo? Com, com, com uma, com uma pessoa que já que tem capacidade de pensar e de dizer e de desafiar. 31:25 Pessoa 1 Olha, eu basicamente repliquei o modelo de educação e que tive na minha vida e que implicava essencialmente 2 coisas, uma muito amor, muito amor. Todos os dias, agora menos, mas todos os dias lhe dizia que o amava e todos os dias falamos ao telefone. 31:46 Quando não estamos fisicamente perto, falamos, falamos várias vezes ao dia e a segunda coisa é precisamente isso, é a comunicação, é proximidade, é para o bem, para o mal. Eu disse, lhe tu podes me podes me contar tudo, podes falar comigo de tudo e, portanto, eu também promovo isso que é, falo com ele, se mesmo que se estou chateado, se discordo, promovo um diálogo, vamos tentar perceber porque é que o que é que está mal ou o que é que está bem? 32:11 O que é que tu achas? O que é que eu acho? E isso criou, entre nós 11, franqueza que me parece saudável e que nos permite falar de assuntos que possam ser mais ou menos delicados, mais ou menos sensíveis, sempre com a certeza que queremos Oo bem e o melhor do outro. 32:26 Pessoa 2 Que é uma definição de amor. Mas como qualquer pai e filho, deve haver momentos em que vocês socam. Sim, tem pontos de vista completamente radicais, mas uma. 32:32 Pessoa 1 Uma coisa que eu aprendi com o meu filho foi a pedir desculpa, ou seja, aprendeste com ele porque ele tinha dificuldade em fazê lo ele pequenino. Ficava muito nervoso, se fazia uma asneira e eu percebi, OK, se tu não consegues. 32:50 Então eu comecei a pedir desculpa quando errava ou quando fazia alguma coisa mal. E como quem para lhe dizer não faz mal nenhum, assumir que falhamos ou ou ou que estamos arrependidos ou que queremos melhorar. E foi um processo EE. Eu hoje também peço mais vezes desculpa e ele falo já de uma forma muito mais tranquila, já sem dramas sem, mas não os nossos confrontos. 33:11 São muito desta natureza. Eu às vezes sou mais impulsivo, emocional, EEE. Depois ele olha assim para mim e diz, porque é que estás a falar assim e tens razão? Desculpa, estou irritado, mas tens que perceber isto, tens razão, pá, eu percebo também peço desculpa, mas tens que perceber que eu pensei assim e a minha ideia foi esta, disse, é OK, então vá, está cá, um abraço e vamos. 33:29 Pessoa 2 Portanto, tenho um efeito calmante em ti, no. 33:31 Pessoa 1 Fundo sim, absolutamente. EE agora já está numa fase em que se é 11 jovem adulto. Tem 22 anos e já posso falar com ele de outras coisas. Posso falar das minhas angústias, dos meus sonhos, das minhas ambições. Ele dá me conselhos. Ele vai ver tudo o que eu faço. 33:46 Ele gosta muito de teatro e, portanto, tem um olhar crítico, tem um olhar sustentado, tem opiniões formadas. É muito giro falar de política, falar de do que, do que seja. 33:56 Pessoa 2 O que é o maravilhoso da da vida? 33:58 Enfrentar Desafios Sociais e o Sonho de Salvar Olha, estamos num tempo em que a ética, a responsabilidade e a empatia parece que tiraram férias durante algum tempo. Coisas que nós considerávamos como normais, nomeadamente direitos civis, coisas que são normais e banais, parecem agora estar sob ameaça. 34:14 O que é que fazemos a isto? Ignoramos ou combatemos? Com toda a formação, tenho sempre essa dúvida que é quando quando alguém defende alguma coisa completamente absurda e que nós temos a sensação de que não faz sentido. 34:28 Pessoa 1 Eu, eu percebo a pergunta, podemos dar? 34:29 Pessoa 2 Gás. 34:30 Pessoa 1 Porque às vezes sinto que quanto mais combatemos ou quanto mais damos visibilidade a esse tipo de posturas e. 34:35 Pessoa 2 Estamos a ajudar, não é? 34:36 Pessoa 1 Exatamente, estamos AAA divulgá las a fomentá las. Às vezes é evidente que ignorar silenciosamente também não é uma boa política. Eu acho que temos que encarar isto enquanto sociedade, enquanto coletivo, enquanto e perceber quais é que são os limites. Oo que é que é razoável. 34:53 Vivendo nós em democracia e admitindo que há pessoas com opiniões diferentes e respeitando essa diferença. Ainda assim há limites. Há limites para aquilo que é passível de ser dito quando isso incita o crime, a violência, o ódio. 35:10 AA os extremismos. EE portanto, eu acho que temos que olhar para os políticos que têm responsabilidade legislativa. Temos que olhar para a justiça. Que seja mais eficaz, seja mais célere. Quando assistimos na própria casa da democracia, no parlamento, a comportamentos, bom que não se não aceitaríamos numa escola, por exemplo, então algo que está profundamente mal e isso tem que ser balizado. 35:35 Pessoa 2 Olha, EE, quando essas discussões começam a contaminar a nossa bolha, dos nossos amigos, que nós até dizemos, mas porque é que tu estás a dizer 11? Coisa daquele passa um efeito de contágio, não é? É como os. 35:47 Pessoa 1 Vírus com os amigos. 35:50 Pessoa 2 Amigos ou próximos? 35:51 Pessoa 1 Eu. 35:51 Pessoa 2 Vou não vou largar um bocadinho o. 35:52 Pessoa 1 Círculo eu quero acreditar que o que as a escolha a minha escolha de amigos. 35:57 Pessoa 2 Te protege. 35:58 Pessoa 1 Protege me. Mas se ouvir pessoas a dizerem coisas que a mim me agridem, porque são absolutamente idiotas, eu não vou entrar nesse, nesse, nesse, nessa discussão, nesse diálogo. Não vou gastar essa energia. Um amigo SIM. 1 conhecido não. 36:14 Pessoa 2 Pois deixas deixas passar, olha, há bocadinho estavas a falar dos teus, dos teus medos, das tuas vulnerabilidades que vem de onde, que, que tipo de medos são? 36:23 Pessoa 1 Esses os normais, ou como qualquer pessoa, o medo de morrer, o medo de falhar, o medo de desiludir, o medo de sofrer, o medo de não ser suficiente, o medo de. São muitos, mas é assim, eu, eu, eles existem. 36:40 Mas eu não sou uma pessoa medrosa. Eu não sou um pessimista da entende. 36:44 Pessoa 2 Que és um otimista? 36:45 Pessoa 1 Sim, sim, eu, eu, eu vejo o copo meio cheio. Eu, eu não me escudo a uma luta, a um embate. Eu posso tremer, mas vou, eu vou lá, eu vou à eu vou à luta. 36:57 Pessoa 2 Então, EE do lado otimista, do lado solar, onde é que? Onde é que estão os teus sonhos? O que é que, o que é que tu, o que é que tu projetas como? OK, aqui eu tenho que pôr mesmo as minhas fichas e que isto tem que acontecer mesmo. 37:07 Pessoa 1 Bom, eu estou numa fase. Da minha vida, em que eu o que procuro é acolher um bocadinho, os frutos daquilo que semeai ao longo da vida. 37:15 Pessoa 2 O que já acontece, o que já acontece? 37:17 Pessoa 1 E, portanto, os meus sonhos agora são, se calhar, de outra natureza. Já não tenho ambições profissionais, não quero ir para Hollywood, não quero ganhar um óscar. Não, não, não, porque isso implicava uma outra vida que eu não tenho. Já não tenho e não tenho nem energia, nem vontade. 37:33 Adoro o meu país, adoro viver aqui. Tenho 111, carreira longa, já fiz muita coisa. Sinto me muito reconhecido pelo meu trabalho. Sinto que tenho um espaço de ação, de intervenção, tenho responsabilidades. Portanto, eu, eu, no essencial, sinto me um privilegiado. 37:51 Os meus sonhos são em garantir que a minha família está bem, saudável, que tenho condições para poder continuar a trabalhar e a fazer os textos que. Gosto que quero trabalhar me e relacionar me com os públicos que me acompanham há muitos anos. 38:07 Este trabalho tem vindo a desenvolver há 8 anos no Trindade, que me deixa cheio de de orgulho. 38:12 Pessoa 2 Que é um teatro especial, não? 38:13 Pessoa 1 É. É muito especial. Não só porque foi lá que me estreei como encenador há muitos, muitos anos. Mas tem 11. Bom, é um belíssimo exemplo. Do teatro palco à italiana, neste país muitíssimo bem preservado. E depois tem 11. Relação plateia, palco fantástica. 38:29 E tenho me permitido levar a cena espetáculos de que tenho muito orgulho. É uma proximidade também? Sim, sim, também essa proximidade física, energética, EE é um teatro onde me sinto bem e sinto me acarinhado. Sinto, me sinto me em casa. 38:42 Pessoa 2 Exatamente, há bocadinho usavas a palavra casa. Disseram me que tu cuidas de todos os detalhes que vão desde a bilheteira, no sentido de quem é que é? A pessoa que acolhe na bilheteira, a pessoa que leva as pessoas até até se sentar isto tudo isto faz parte do espetáculo. 39:00 Pessoa 1 Sim. Ou seja, eu diria que um projeto artístico, que foi isso que eu desenhei para a Trindade não se esgota apenas na programação. É um conceito. Que é um conceito de fruição. É uma experiência que começa desde que a gente liga para o para o Trindade a pedir uma informação, desde que compramos um bilhete. 39:16 Como somos, a maneira como somos recebidos na sala, como somos acolhidos no fundo, eu trato Oo Trindade e este projeto como uma empresa cultural que tem que ter uma relação privilegiada com o seu público, tem que acarinhar os seus funcionários e que tem que ter resultados. 39:32 E, portanto, eu não acho que seja nada de novo, de nem transcendente, é apenas um cuidado que eu imprimo em todas as Vertentes que têm que ver com o espetáculo, seja no palco ou fora dele. 39:42 Pessoa 2 Que é isso que nos faz depois sentir bem num determinado sítio e acolhidos. 39:44 Pessoa 1 É o que eu desejo. É assim que eu gosto, é assim que eu me sinto quando eu me sinto bem num num sítio, num espaço, enquanto utente público, seja o que for, eu volto. E é isso que eu quero proporcionar, proporcionar às pessoas com autoridade. 39:55 Pessoa 2 Olha, o que é que a arte pode fazer por nós? Por estes tempos mais conturbados. 39:59 Pessoa 1 Olha, se eu tivesse que reduzir uma única palavra, diria salvar nos. 40:02 Pessoa 2 Assim, logo uma coisa simples. 40:04 Pessoa 1 Simples, porque, na verdade, para que é que vivemos? Não é? Não pode ser só para comer e para procriar e para. Ou seja. 40:11 Pessoa 2 Fazem os animais. 40:12 Pessoa 1 Pronto, exatamente, quer dizer. 40:13 Pessoa 2 Os animais, mas os outros? 40:14 Pessoa 1 Distinguem nos não é. A arte eleva, nos eleva nos a um nível de sofisticação intelectual, espiritual. É É Ela que nos permite. Encarar OA vida OA essência da vida, o sentido da vida EE podermos ao mesmo tempo mergulhar em nós próprios, os nossos sentimentos, na nossa história. 40:34 Portanto, eu acho que esse legado é algo essencial. Acho que todas as pessoas que de uma forma ou de outra têm um contacto com expressões artísticas, eles não têm que ser artistas, mas as pessoas que na vida têm contacto com experiências artísticas. 40:50 São necessariamente mais felizes, mais completas, mais preenchidas. 40:54 Pessoa 2 Mas estamos numa cidade onde gastamos AA vida e a formação dos nossos, das nossas crianças, mais a ter matemática e física e afins do que ir ao teatro, ver uma exposição, ir passear no parque. 41:07 Pessoa 1 Isso é outra discussão, não é? Ou seja. 41:08 Pessoa 2 A nossa matriz está a criar na realidade autómatos e não e não. 41:13 Pessoa 1 Certo, é por isso que já há muitos métodos a serem desenvolvidos e explorados de ensino. Que não passam necessariamente por essa essa compilação de conhecimento, essa aquisição, essa quantificação de de conhecimento que depois, na verdade fica muito pouco, não é quantos nós nos lembramos das coisas que aprendemos na escola? 41:31 Já nem dos rios eu me lembro, entre entre outras coisas. Matemática nem pensar. Felizmente temos as calculadoras, mas o que eu quero dizer é, sabem, matemática é evidente. Eu acho que a educação pela arte podia ser um caminho muito interessante. 41:48 Ou seja, pôr precocemente jovens em contacto com as expressões artísticas ajuda não só a desenvolver a fruição e o sentido crítico, mas e o sentido estético, mas também a desenvolver competências do ponto de vista da imaginação, da criatividade, que são coisas que nós podemos usar em todas as áreas da nossa existência. 42:07 E isso torna nos seres mais sensíveis, mais atentos, mais empáticos e menos e mais generosos também. 42:14 Ferramentas Essenciais para uma Comunicação Eficaz Olha, eu quero aprender. Quero tomar a tua experiência, aprender EE, partilhar com quem nos ouve. O que é que nós precisamos de fazer para nos tornarmos melhores comunicadores? Tu tens uma caixa cheia de ferramentas para nos para, para nos ajudar a comunicar melhor. 42:32 O que é que nós podemos fazer? Vamos, vamos lá. Podemos fazer 11 lista ou ou ou ir ou ir por um caminho para nos tornar melhores comunicadores. 42:40 Pessoa 1 Olha, eu, eu não tenho isto sistematizado, não é? Mas eu diria. 42:44 Pessoa 2 Também não precisamos de todas. Pronto, isso são 2. Quer dizer, podemos começar pela voz, por exemplo. 42:47 Pessoa 1 Eu diria que para para comunicarmos melhor, é muito importante começar por saber o que é que queremos dizer, o que é que queremos comunicar? O problema é que se as pessoas não têm bem a certeza do que querem comunicar. 43:00 Pessoa 2 Sai propaganda, sai propaganda. 43:02 Pessoa 1 Ou sai, envie usado. Não é ou, ou a comunicação perde. Se algures eu, eu começaria por aí, que é termos convicções, termos valores, termos opiniões estruturadas. Vai facilitar. Depois eu diria sermos económicos, concisos. 43:18 Pessoa 2 Não gastar, não gastar o tempo da Malta. 43:20 Pessoa 1 Nem o tempo da Malta, nem a voz, nem nem nem nem o vocabulário. Porque às vezes diz se muita coisa para, às vezes é uma coisa tão simples, não é? Portanto, eu acho que a simplicidade é um bom artifício. 43:30 Pessoa 2 Estamos a falar e à procura do que vamos a dizer. 43:32 Pessoa 1 Exatamente. 43:34 Pessoa 2 Dá, me dá me um sujeito, dá me dá, me dá me um predicado que é para a gente conseguir perceber do que é que estás a. 43:40 Pessoa 1 Falar shakhov já defendia isso. Ser conciso é muito importante. Bom se estivermos a falar da comunicação oral. A articulação é fundamental, não é? Ou seja, porque quando a gente. 43:53 Pessoa 2 Ninguém entende nada. 43:54 Pessoa 1 Entende nada. Portanto, eu acho que falam para dentro a capacidade de falar para fora no sentido de comunicar EEE. Porque nós quando falamos, não falamos só com a voz. Para além de falarmos com a voz de lançarmos as palavras de as articularmos, depois falamos com a energia que pomos na. 44:11 Pessoa 2 E lá está a nossa caixa pulmonar também, não é? 44:13 Pessoa 1 Torácica, EE as nossas expressão. EEE aquilo que não dizemos também é muito importante, não é toda o toda a linguagem que fica. 44:20 Pessoa 2 Isso aprendemos logo com as mães quando elas estão zangadas. 44:22 Pessoa 1 Connosco e não, não precisam de muito. 44:26 Pessoa 2 Não é? 44:27 Pessoa 1 E depois, eu acho que sermos sinceros também ajuda. 44:29 Pessoa 2 Não é sempre? 44:31 Pessoa 1 Bom. 44:31 Pessoa 2 Ou uma mentirinha piedosa também pode caber neste neste. 44:35 Pessoa 1 Se a intenção é que ela pessoa perceba, tens é que. 44:38 Pessoa 2 Circular não é? Olha, e a arte de escutar, porque isto de dizer depois de pensar ou não pode ser uma coisa mais visceral, a arte de ouvir. 44:48 Pessoa 1 Olha, no teatro é fundamental. Aliás, na arte de representação, há mesmo workshops que se chama escuta ouvir, saber ouvir. 44:56 Pessoa 2 Como é que se ensina isso? 44:57 Pessoa 1 Ouvindo. Que é que é? O que é que acontece? Muitas vezes um ator sabe as suas falas, não é? EE sabe a tua deixa e só está à espera da deixa para dizer a dele, portanto, tu dizes chapéu a chapéu é a minha deixa. 45:11 Pessoa 2 Isso fica artificial, não é claro. 45:13 Pessoa 1 Fica. Tu estás à espera da deixa. Mas se tu estiveres a ouvir tudo aquilo que tu estás a dizer, tem um sentido EOAAA. Minha fala é uma reação à tua. 45:22 Pessoa 2 E tu entras no comboio? 45:23 Pessoa 1 Obviamente, tens que ouvir, tens que ouvir, tens que processar e tens que integrar. E isso tudo tem tempos e às vezes OAA, Malta nova, muitas vezes com a ansiedade. Precipita um bocadinho e tu dizes. Calma, calma, ouve, ouve o que ele está a dizer, ouve, ouves, retens. 45:39 Ah, e reages. E isso pressupõe um tempo, pressupõe uma respiração, pressupõe jogo, jogo. 45:44 Pessoa 2 O timing conta. 45:45 Pessoa 1 Muito. Timing é tudo. Timing é tudo em em representação, em comédia. Então é fundamental, se tu falhas o timing, a piada já foi. A maneira como lança se aquele tempo de suspensão. 45:56 Pessoa 2 Há uma aceleração, há uma suspensão e depois consegues fazer que a piada aconteça. 46:01 Pessoa 1 Em em teoria, sim, mas é uma coisa que se sente mais do que se explica, não é? É aqui, cuidado, estás a correr, estás a assim, não tem graça. Tens que tens que fazer o punchline, tens que fazer a chamada e depois lanças a eu estou te a ouvir. 46:12 Pessoa 2 Estou a pensar no ralo solnado lá está que que, independentemente do texto e tudo o que fosse, havia não só maneira de dizer, mas depois também aquela tu quase antecipavas que ali IA acontecer alguma. Coisa e ele trocava te as. 46:24 Pessoa 1 Voltas e tu? 46:25 Pessoa 2 Ias tu ias te embora logo rapidamente, o que é que te falta fazer? 46:30 Pessoa 1 Olha bom o jantar. 46:33 Pessoa 2 Logo tu cozinhas. 46:35 Pessoa 1 Pouco, felizmente, tenho. Tenho em casa quem cozinho muito bem, mas. 46:38 Pessoa 2 Gostas de comer. 46:39 Pessoa 1 Eu gosto muito de comer, pronto. Gosto da sou, sou, sou. Sou um bom garfo. Não sei. Não sei se me falta fazer assim tanta coisa. Eu tenho 11 gaveta cheia de peças que quero fazer. Gostava de fazer um bocadinho mais de cinema, mas é algo que não depende só de mim. 46:55 Pessoa 2 É difícil fazer cinema em Portugal, não é? É fazer no sentido de produzir. 46:59 Pessoa 1 Sim, é muito, é muito difícil, não é porque. 47:00 Pessoa 2 É caro? 47:01 Pessoa 1 É muito caro, não é? Um filme custará à volta de meio milhão, meio milhão de euros, pelo menos. E. 47:08 Pessoa 2 Depois, depende do que é que se venda daquele filme, não é? 47:10 Pessoa 1 Nem tanto, porque não há. Não temos indústria, portanto, este dinheiro é, é. São apoios do estado. Muitas vezes ARTP também participa. Às vezes vêm da Europa, da euro imagens ou de outros organismos que consegues uma co produção, mas eu não tenho capacidade nem tempo para montar esse tipo de coisas. 47:29 Estou aqui empenhado em tentar escrever uma série que propusemos. De resto, ou ou o ica, para ver se conseguimos desenvolver uma ideia. Portanto, eu gostava também de realizar. É uma coisa que já fiz, já já realizei uma curta metragem, mas gostava de realizar a uma série a uma longa metragem. 47:47 No fundo, é um prolongamento natural do facto de eu já ensinar os espetáculos há muitos anos. 47:51 Pessoa 2 E mesmo com com os netflixs desta vida e afins, esse processo não se tornou melhor? Quer dizer, houve o rabo de peixe, obviamente. 47:56 Pessoa 1 É muito competitivo, há muita gente boa a competir por esse nicho e, portanto, para alguém como eu, que vem da área mais do teatro. 48:03 Pessoa 2 E o mercado é pequeno, é muito. 48:05 Pessoa 1 Eficiente, mas eu não, eu não, não vou desistir e se surgir a oportunidade, falo way, mas perguntavas me o que é que eu gostava de fazer? Gostava ainda de realizar um filme ou uma série. 48:14 Pessoa 2 Diogo Infante, muito obrigado. Estou obviamente ansioso e com uma elevadíssima expetativa. Desculpa, como já aqui cá em cima, para para ver esse professor do clube dos poetas mortos. Não sei o que é que vais fazer da tua vida, mas mas isto está a correr bem. 48:32 Pessoa 1 Não vai correr bem? 48:33 As Seis Lições Essenciais para uma Melhor Comunicação Quantos espetáculos é que é que é que são, quantas? Quantas? Então, eu fico sempre frustrado quando aparece um grande espetáculo. Que que eu às vezes que eu tenho a sorte de ir ver. E me dizem isto agora só tem mais mais 3, 3 sessões e eu digo, mas por? 48:48 Pessoa 1 Nós, no Trindade, é ponto, assente. Não fazermos espetáculos menos de 2 meses e meio. Mínimo que luxo. Sim, a gavolta vai estar 2 meses e meio em cena, mas o clube dos poetas mortos. Vai estar bastante mais. 49:00 Pessoa 2 Há conversas que nos deixam marca e esta é uma delas, o Diogo Infante lembro nos que comunicar não é despejar palavras, é estar inteiro, é estar presente, é saber escutar. Mostrou me que a presença não é talento, é uma construção e que a vulnerabilidade, quando não é usada como arma, torna se uma força e que a verdade vive sempre na tensão entre técnica e alma. 49:19 Aqui ficam as lições que eu tirei desta conversa, 5 lições principais a primeira é que a presença constrói se todos fomos tímidos de algum momento. A diferença está no trabalho que fazemos para lidar com isso e para ultrapassar essa timidez e para reforçar a presença. 49:35 A segunda é que a vulnerabilidade é um ativo e não um risco. Quando alguém assume fragilidade com clareza, cria proximidade e não fraqueza. A terceira lição é que a comunicação começa sempre na escuta. Diogo mostrou isso sempre. Escutar é parte da presença, escutar é parte da ética, escutar é parte do ofício quarto. 49:55 A expetativa pesa, mas pode ser transformada. O chip público pode ser disciplina, sem deixar de ser a verdade. A quinta é que, em família, comunicar é amar, é dizer gosto de ti, é pedir desculpa, é estudar o tom e tudo isso molda vínculos. 50:12 A sexta pode ser a arte. A arte salva porque nos baixa, a guarda, porque nos dá um espelho, porque nos dá respiração, e a sétima é que a verdade implica sempre risco e ainda assim. É sempre melhor do que viver dentro do papel. Errado. 50:27 Obrigado ao Diogo Infante pela generosidade, pela coragem desta conversa e obrigado a quem nos está a escutar. Se este episódio vos compartilhem com alguém que precisa de comunicar melhor ou simplesmente ouvir uma boa conversa, podem seguir o pergunta simples, no YouTube, no Spotify, no Apple podcast e em perguntasimples.com e até para a semana.
Com a conquista do título da Copa do Mundo feminina de futsal, o Brasil é a única seleção do planeta a ter o direito a bordar na camisa uma estrela – simbologia que representa a conquista de título mundial. A competição, disputada em Manila, nas Filipinas, foi organizada pela Fifa pela primeira vez na história. Marcio Arruda, da RFI em Paris O título veio depois da vitória por três a zero na final contra Portugal, no dia 7 de dezembro. Emily, atual melhor jogadora do mundo, Amandinha, eleita oito vezes a melhor, e Débora Vanin fizeram os gols da partida. Emily foi a artilheira da competição, com sete gols. A espanhola Irene Córdoba também balançou as redes sete vezes, mas a brasileira ficou com a chuteira de ouro por ter dado mais assistências durante o torneio. A ala brasileira também foi eleita a melhor jogadora da Copa do Mundo feminina. Após o título, Emily lembrou sua trajetória até ser campeã mundial. “Aquela criança que saiu de casa com 14 anos, estudou, treinou, trabalhou dentro e fora do futsal, nunca deixou de sonhar. Nunca deixe de sonhar, porque o sonho vira realidade", disse. "Eu quero deixar essa ideia para a galera que vem por aí. As mães devem acreditar em seus filhos. Coloquem na escolinha, acreditem nos sonhos de seus filhos, porque isso aqui é real. A gente vai botar uma estrelinha aqui [na camisa]. Nós somos campeãs da Copa do Mundo”, comemorou Emily, que atua na liga espanhola de futsal. A goleira Bianca ficou visivelmente emocionada depois do título. “Por mais que a gente tenha sonhado com isso, descrever esse momento não é fácil. Não tem como, é muita emoção. Chorei muito, mas agora estou muito feliz, e descrever isso para mim é difícil, porque como vou descrever uma coisa que eu tenho um mix de sensações, né? Mas eu estou muito feliz", afirmou Bianca, que ainda disse: "Ganhamos de seleções muito importantes e eu acho que a gente escreveu o nosso nome na história por gerações. O Brasil merece essa primeira estrela, principalmente da maneira como foi conquistada." Seleção campeã com 100% de aproveitamento O Brasil fez uma campanha invicta na Copa do Mundo, com 100% de aproveitamento, tendo conquistado seis vitórias em seis jogos. No torneio, a seleção brasileira mostrou um ataque poderoso: marcou 32 gols e foi o segundo melhor do torneio, atrás apenas de Portugal, que fez 37. O Brasil também apresentou uma defesa sólida, que só levou quatro gols, e ao lado da Polônia foi a menos vazada da competição. O diferencial entre estas duas seleções é que a polonesa foi eliminada na primeira fase, depois de ter jogado apenas três partidas. Já o Brasil foi campeão após disputar seis jogos. O técnico da seleção brasileira, Wilson Sabóia, elogiou o grupo. “Eu nunca trabalhei com um elenco tão compromissado, capaz, inteligente e sábio. É lógico que o relacionamento é difícil, porque foram 52 dias juntos de preparação e competição. Tem momentos de desequilíbrio da comissão e das atletas, mas isso é normal", apontou. "O importante é a gente entender que o objetivo foi alcançado e agora somos campeões mundiais. O Brasil é o primeiro campeão mundial e isso vai ficar na história, na minha história e, principalmente, na história destas atletas maravilhosas”, disse o treinador, que está há dez anos no comando técnico da seleção. Depois da vitória na final contra as portuguesas, a fixo Taty foi a primeira a erguer o troféu da Copa do Mundo ainda em quadra. A capitã da seleção brasileira disse que a conquista vai estimular mais meninas a começarem a jogar futsal. “A gente sempre sonhou em jogar uma competição oficial da Fifa. O Brasil, conquistando esse título, dá esperança e faz com que as próximas gerações possam sonhar, porque agora elas conseguem ver esse sonho se materializar", comentou. "Isso é muito importante, para que elas continuem nesse caminho e que o esporte dê uma vida digna para elas. Desejo que elas se tornem boas cidadãs, afinal o esporte também tem esse papel fundamental. Eu acho que a gente vem abrindo espaço para que as próximas gerações cheguem com um pouquinho mais de facilidade e consigam alcançar os seus sonhos também”, opinou Taty, que atua no futsal italiano. Masculino e feminino A capitã da seleção ressalta, mesmo com esse título, ainda há um caminho a ser percorrido rumo à igualdade entre as modalidades feminina e masculina de futsal. “Acho que a gente vem buscando o nosso espaço. Penso que não temos que comparar o feminino com o masculino, pois a gente tem uma visibilidade ainda diferente. Nós temos patrocinadores com investimentos diferentes, mas a gente está buscando o nosso próprio espaço", observou. "Acho que isso é importante: a gente está caminhando na direção correta e esperamos que o feminino seja cada vez mais valorizado, com melhores salários e melhores condições”, afirmou a capitã Taty. "Penso que é difícil fazer essa comparação entre gêneros porque eles já estão há alguns anos à nossa frente, até mesmo em competições. Mas eu acho que a gente está no caminho certo. Acho que a gente está começando a mostrar que o produto futsal feminino é um belo espetáculo." Leia tambémFutsal: Brasil e Argentina fazem final inédita do Mundial e dividem favoritismo para o título Com o título das rainhas do salão na Copa do Mundo feminina de futsal, o Brasil coloca mais um troféu em sua extensa galeria. No feminino ou no masculino, o país dominou e foi campeão em cada uma das últimas Copas do Mundo de futsal. A conquista do título dos homens no torneio mundial foi no Uzbequistão, no ano passado. Agora, chegou a vez das mulheres serem campeãs nas Filipinas. O presente animador inspira o futuro, já que o Brasil, sob o comando do técnico Carlo Ancelotti, vai disputar a Copa do Mundo masculina de futebol de campo no ano que vem nos Estados Unidos, México e Canadá, e com o treinador Arthur Elias vai jogar o torneio feminino da modalidade em 2027, no Brasil. A campanha da seleção brasileira na Copa do Mundo feminina de futsal foi assim: Grupo D Brasil 4x1 Irã Brasil 6x1 Itália Panamá 0x9 Brasil Quartas de final Brasil 6x1 Japão Semifinais Espanha 1x4 Brasil Final Portugal 0x3 Brasil
Hour 4 - NBA History, Faddies on the Phone, Matt Barns and Acho Beef full 2508 Fri, 12 Dec 2025 04:08:48 +0000 IduNv2Tj87rUjR6mnTOgHZIFbUXgZunx sports The Fan After Dark sports Hour 4 - NBA History, Faddies on the Phone, Matt Barns and Acho Beef The Fan After Dark includes a rotation of hosts offering a truth-telling sports entertainment experience that gets listeners right on the biggest sports topics in and around DFW, across the country, and around the world. Focusing on the Cowboys, Rangers, Mavericks, etc., The Fan After Dark airs M-F from 7-11 PM and is the only live and local sports radio show in the MetroplexCome 'Get Right' with Reg on The Fan, and be prepared for sports talk on a whole new level. You can follow Reg on Twitter @regadetula © 2024 Audacy, Inc. Sports False https://player.amperwave
Thursday at 11:15 PM ET. Hosted by Emmanuel Acho with LeSean “Shady” McCoy and "Carebear" Kieran, the show brings hot takes, cold truths, and culturally forward conversations that connect sports and culture in real time. YouTube Twitter Instagram TikTok Facebook PrizePicks x Speakeasy Pick MORE or LESS. Win cash. Talk your talk. Play $5, get $50 in lineups → PrizePicks | America's #1 Fantasy Sports App Learn more about your ad choices. Visit megaphone.fm/adchoices
En este episodio del podcast de ACHO hematología, el Dr. Mauricio Jaramillo Restrepo, médico internista y hematólogo, docente y consultor clínico en Medellín, guía una conversación dedicada a la evolución de las terapias para la hemofilia. La dinámica se centra en explorar, de manera clara y actualizada, las innovaciones terapéuticas que buscan restaurar la generación de trombina, abarcando desde tratamientos clásicos hasta las más recientes estrategias de reemplazo, terapias no sustitutivas y avances en terapia génica.Durante la discusión, el Dr. Jaramillo repasa la historia del manejo de la hemofilia desde los años 50 hasta la actualidad, describiendo hitos como los concentrados plasmáticos, los factores recombinantes de distintas generaciones, los productos de vida media extendida y la irrupción de medicamentos como emicizumab, fitusiran, concizumab y marstacimab. También profundiza en el estado actual y los retos de la terapia génica para hemofilia A y B, sus implicaciones clínicas, criterios de selección, costos y duración esperada. Finalmente, enfatiza que, aunque la innovación terapéutica es extraordinaria, el autocuidado del paciente continúa siendo un componente irremplazable para lograr resultados óptimos.Dentro de su conversación, se plantearon las siguientes preguntas:¿Cuál es el papel principal de las nuevas terapias en hemofilia en la recuperación de la generación de trombina?¿Cómo ha evolucionado históricamente el tratamiento de la hemofilia desde los años 50 hasta la actualidad?¿Qué ventajas y riesgos ofrecen los medicamentos no sustitutivos como emicizumab, fitusiran y concizumab?¿Cuál es el estado actual de la terapia génica para hemofilia A y B y quiénes son candidatos adecuados?¿Qué limitaciones, efectos adversos y consideraciones económicas deben tenerse en cuenta en estas terapias?¿Por qué el autocuidado sigue siendo un componente esencial incluso con terapias avanzadas? Fecha de grabación: 06 de octubre de 2025.Referencia:Este contenido se basa en la interpretación crítica de la evidencia científica disponible, así como en la experiencia clínica del o los ponentes como profesionales de la salud en instituciones de referencia.Para profundizar en los conceptos discutidos, se recomienda al profesional de la salud consultar literatura científica vigente, guías clínicas internacionales y la normatividad aplicable en su país.
El Dr. Sergio Cifuentes, oncólogo clínico del Instituto de Cancerología Clínica Las Américas Auna en Medellín, Colombia, compartió las sesiones clave que no pueden perderse rumbo a San Antonio 2025, especialmente útiles para residentes y oncólogos en Latinoamérica. Su intervención se llevó a cabo durante el 9° Congreso Nacional de Actualización en Hematología y Oncología de la ACHO, realizado del 14 al 16 de noviembre de 2025 en Cartagena de Indias, Colombia. Fecha de grabación: 16 de noviembre de 2025 Referencia:Este contenido se basa en la interpretación crítica de la evidencia científica disponible, así como en la experiencia clínica del o los ponentes como profesionales de la salud en instituciones de referencia.Para profundizar en los conceptos discutidos, se recomienda al profesional de la salud consultar literatura científica vigente, guías clínicas internacionales y la normatividad aplicable en su país.
O álbum "Elementos" da banda de jazz Sapocaya é um projeto conceitual mais ambicioso que o EP de estreia do grupo lançado no ano passado. Desta vez, os jovens músicos persistem na temática da natureza, mas ampliam o repertório com a introdução de novas influências, instrumentos, sons eletrônicos e arranjos inéditos com a participação de cantores. "Elementos" foi divulgado no dia 28 de novembro e o show de lançamento está marcado para a próxima terça-feira (9), na casa de shows New Morning, em Paris. O novo álbum da banda reflete o trabalho que começou há cerca de um ano e evoca os quatro elementos da natureza: terra, ar, fogo e água. A ideia dos jovens é surpreender, tanto no que diz respeito ao conceito do projeto quanto às composições, como disse à RFI o fundador da banda Jamayê Viveiros, flautista e trompetista. “O álbum traz muita coisa, é um projeto bem maior. O primeiro EP tinha seis títulos, nesse já são 12. A concepção do álbum foi realmente fazer transições, com três músicas por elemento, já que o álbum é ‘Elementos'. Cada elemento vai crescendo”, explica o músico, que destacou que o elemento ar, por exemplo, é apresentado nas composições "Brisa", "Vendaval" e "Furacão", o elemento ar se manifesta, enquanto a água é revelada em "Chuva", "Ribeirão" e "Enchente". O mesmo vale para o elemento terra, que abre o álbum gradativamente com "Raízes", passa pela "Floresta" e culmina em "Terremoto". Já o fogo é evocado pelas faixas "Brasa", "Chama" e "Incêndio". Intercâmbio musical França-Brasil Este novo trabalho é resultado de um intenso intercâmbio cultural e musical entre a França e o Brasil, que permitiu à banda gravar com renomados músicos brasileiros. Este novo trabalho é resultado de um intenso intercâmbio cultural e musical entre a França e o Brasil. As viagens permitiram à banda gravar com renomados músicos brasileiros e franceses, inspirados por um dos maiores nomes da música instrumental brasileira e reconhecido internacionalmente por sua genialidade e inovação sonora: Hermeto Pascoal. “A gente teve a sorte de gravar com Carlos Malta, multi-instrumentista brasileiro que tocou com Hermeto Pascoal durante muitos anos, com o Bernardo Aguiar, com o Frederico Heliodoro, e com os cantores Matu Miranda e Thais Motta, todos músicos excelentes que a gente conseguiu gravar lá no Brasil. Foi uma experiência mágica para a gente. Conseguimos gravar com amigos aqui na França e também com esses músicos incríveis no Brasil”, enfatiza Jamayê, destacando a presença de samba e ritmos afro-caribenhos nas novas músicas. Introdução de novas sonoridades Enquanto o trabalho anterior do grupo era fortemente influenciado por ritmos do Nordeste, ‘Elementos' demonstra uma maior abertura musical, incorporando novos sons. O compositor e percussionista Tristan Boulanger, também fundador do Sapocaya, fala que se inspirou ainda em ritmos indígenas e usou referências de manifestações religiosas como o candomblé, após ter tido aulas de percussão com Luizinho Indiano (Aluísio Lúcio Ferreira) em Ilhéus, Bahia. “É essa mistura que representa nossa música. Essa terceira vez que fui ao Brasil foi diferente. Acho que dessa vez eu estava um pouco mais livre para falar com as pessoas. Eu falo um pouco português agora e foi a oportunidade também de gravar com músicos brasileiros no Brasil. É uma experiência incrível de trabalhar realmente com músicos dessa tradição”, diz Tristan. Uma das mais recentes integrantes do Sapocaya, Charlotte Isenmann foi ao Brasil — assim como a maioria dos demais músicos — para se aproximar dos ritmos que fundaram a banda. A flautista compartilhou os detalhes do que mais a inspirou após voltar do Brasil. “Para mim, foi especialmente um concerto do Hermeto Pascoal que ouvimos e que me inspirou para a música, porque, através de elementos super primários como a água, flautas de bambu e brinquedos, ele conseguia transmitir uma energia muito grande, além de expressividade e muita emoção. Eu sentia essa energia até mesmo no público. É verdade que isso me inspirou bastante ao retornar, depois de ter encontrado todos esses músicos, ouvido essa música, porque foi realmente algo novo e intenso”, revela Charlotte. Vozes no álbum ‘Elementos' Os jovens inicialmente não tinham intenção de usar vozes no repertório do grupo, mas os rumos mudaram após conhecerem Matu Miranda, cantor de MPB que se apresentou em Paris em 2024. Juntos gravaram o single ‘Avante', que não faz parte do novo álbum, mas rendeu uma segunda colaboração na composição da faixa ‘Brisa' em ‘Elementos'. Já a cantora Thais Motta participou em ‘Ribeirão', uma mistura inédita para a banda de jazz, com o uso de pandeiro e voz em uma composição pela primeira vez. Além do show de lançamento de ‘Elementos' na casa de shows New Morning, no 10º distrito de Paris, o Sapocaya já tem datas para outras apresentações pela França a partir de 2026, com divulgação pelo Instagram da banda.
Você é do tipo de pessoa que pede coisas demais pra Deus?Posso afirmar que somos pedintes por natureza. Desde pequenos pedimos, pedimos e pedimos. Aprendemos logo cedo a expressar a nossa vontade.Mas veja o que diz o Salmo 27 no verso 4: "Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na Casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo."Olho para esse verso e penso em pelo menos duas coisas: 1) a quantidade de coisas que peço; 2) as coisas que peço.Puxa, ele só pede uma coisa ? Acho que em cada oração temos no mínimo uns 5 pedidos. Será que não nos acostumamos a pedir demais? Temos necessidade de pedir tudo o que pedimos?A outra questão apontada pelo salmista é a qualidade do pedido. O salmista quer apenas estar com Deus, esse é o seu pedido. Será que isso também não nos constrange? Até mesmo na história do gênio da lâmpada a pessoa tem apenas 3 pedidos a realizar, o que seria uma boa lição sobre pedir bem.O fato é que a gente pede demais e pede coisas que nem sempre nos aproximam de Deus. O ideal seria aprender a não pedir nada, porque Deus conhece todas as nossas necessidades, mas isso parece ser muito difícil. Então, que pelo menos seus pedidos sejam mais sábios e só sobre aquilo que é realmente necessário.
El Dr. Mauricio Lema, hemato-oncólogo adscrito a la Clínica de Oncología Astorga en Medellín, Colombia, presentó una actualización integral sobre los avances más relevantes en oncología para 2025, con énfasis en cáncer de mama y cáncer de pulmón. Su intervención destacó los resultados de los estudios DESTINY-Breast09, DESTINY-Breast05 y DESTINY-Breast11 en enfermedad HER2 positiva, así como los avances en enfermedad luminal con biomarcación por ESR1 y el papel emergente de camizestrant y nuevos SERD. En cáncer de pulmón de células no pequeñas, subrayó la madurez del CheckMate 816 con beneficio claro en supervivencia global a 5 años, además de los resultados de supervivencia global de los estudios FLAURA2 y MARIPOSA en EGFR mutado, y el impacto de nuevas terapias dirigidas como sacituzumab tiromutecán, cefavertinib y zongertinib. Finalmente, abordó la revolución terapéutica en cáncer de pulmón de células pequeñas con el estudio DeLLphi-304 y el uso de tarlatamab, así como datos preliminares del estudio IMforte. Su intervención se llevó a cabo durante el 9° Congreso Nacional de Actualización en Hematología y Oncología de la ACHO, realizado del 14 al 16 de noviembre de 2025 en Cartagena de Indias, Colombia.Fecha de grabación: 15 de noviembre de 2025Referencia:Este contenido se basa en la interpretación crítica de la evidencia científica disponible, así como en la experiencia clínica del o los ponentes como profesionales de la salud en instituciones de referencia.Para profundizar en los conceptos discutidos, se recomienda al profesional de la salud consultar literatura científica vigente, guías clínicas internacionales y la normatividad aplicable en su país.
O Corpo, o Erro e a Imaginação: Uma Conversa Aberta Sobre o Que Nos Torna Humanos Há conversas que não vivem apenas na superfície; conversas que abrem espaço para respirar, repensar e reorganizar o que levamos por dentro. A conversa de Jorge Correia com um dos atores mais intensos e inquietos da ficção portuguesa é uma dessas. Ao longo de quase uma hora, falámos de corpo, erro, infância, imaginação, afeto, tecnologia, masculinidade e do que significa estar vivo com alguma atenção. O episódio gira em torno de uma ideia simples, mas transformadora: a vida é uma negociação permanente entre o que sentimos e o que conseguimos colocar no mundo. E é isso que o convidado pratica — no teatro, no cinema, e na forma como se relaciona com os outros. Essa reflexão nos leva a perguntar: O que nos torna ainda humanos num mundo de máquinas? Albano Jerónimo O corpo como primeiro lugar de comunicação Uma das ideias que atravessa toda a conversa é o papel do corpo — não como acessório do trabalho, mas como a sua raiz. É através da respiração, do gesto, da postura e do ritmo que se organiza a verdade de uma cena. Antes da palavra, antes da técnica, antes da intenção, está o corpo. O que nos torna ainda humanos num mundo de máquinas? Albano Jerónimo Fala-se disso com uma clareza rara: o corpo não mente, não adorna, não otimiza. O corpo não tem discurso — tem presença. E na era da comunicação acelerada, onde tudo é mediado por filtros, algoritmos e versões de nós mesmos, esta é uma ideia que nos devolve ao essencial. Comunicar não é impressionar; é estar presente. O erro como método e como espaço seguro A segunda grande linha desta conversa é o erro — não como desgraça, mas como ferramenta. E aqui há um ponto forte: ao contrário da ideia dominante de que falhar é perigoso ou condenável, o convidado assume o erro como ponto de partida. É no erro que se descobrem novas possibilidades, que se afinam gestos, que se encontra o tom certo. O erro é uma espécie de laboratório emocional. E esta visão não se aplica só à arte. É também um modelo de liderança. No teatro e nas equipas, defende que o ensaio deve ser um lugar onde se pode falhar sem medo — porque a criatividade só existe quando não estamos a proteger-nos o tempo todo. Criar espaço para o erro é criar espaço para a coragem. Infância pobre, imaginação rica A conversa revisita ainda as origens do convidado — um contexto de escassez que se transformou numa máquina de imaginação. Um tapete laranja, bonecos de bolo de anos, uma casa pequena que exigia inventar mundos alternativos. “Há quem estude para aprender a imaginar. Há quem imagine para sobreviver.” Esta frase resume bem o impacto da infância na sua forma de estar. A imaginação não é um escape — é uma estrutura vital. E quando mais tarde se interpretam personagens duras, frágeis ou moralmente difíceis, não se parte de conceitos abstratos; parte-se dessa memória de observar o mundo com atenção e curiosidade. Entrar num personagem é entrar num corpo que podia ter sido o nosso. A relação com a tecnologia e o palco: carne.exe e o confronto com a Inteligência Artificial Uma das partes mais inesperadas e ricas da conversa é a reflexão sobre a peça carne.exe, em que o convidado contracena com um agente de inteligência artificial criado especificamente para o espetáculo. Uma “presença” que responde, improvisa e interage — mas que não sente, não cheira, não erra. A conversa revela uma inquietação legítima: o que acontece ao humano quando se retira o corpo da equação? Quando a imaginação é substituída pela otimização? Quando a falha desaparece? Há uma frase que se tornou icónica: “Uma máquina pode descrever um cheiro… mas não o sente.” É aqui que a arte se torna também crítica do seu tempo: o perigo não está na tecnologia em si, mas na possibilidade de nos esquecermos do que nos diferencia dela. Masculinidade, vulnerabilidade e o lado feminino O episódio toca ainda num tema essencial: as masculinidades contemporâneas. Fala-se de dúvidas, fragilidades, contradições — de como fomos educados para esconder sentimentos e de como isso nos limita. E há uma admissão honesta e importante: a presença de um lado feminino forte — não no sentido identitário, mas sensorial. Esse lado que observa, que cuida, que escuta, que sente. É talvez a parte mais desarmante da conversa: a vulnerabilidade não diminui; amplia. A sensibilidade não fragiliza; afina. A mãe, a sobrevivência e aquilo que nos organiza por dentro Um dos momentos mais humanos surge quando se fala da mãe — do que ela ensinou, do que ficou, do que ainda ressoa. A conversa entra aqui num registo íntimo, afetivo, não sentimentalista, mas cheio de verdade. É um lembrete de que, por muito que avancemos na vida, há sempre uma pergunta que nos organiza: como é que sobrevivi até aqui e quem me segurou? Cuidar dos outros: uma ética para a vida e para o palco A conversa termina com uma ideia simples e luminosa: cuidar é uma forma de estar no mundo. Cuidar do colega, da equipa, do público, de quem está ao nosso lado. Não é um gesto heroico; é uma prática diária. E é a base de qualquer comunicação que queira ser mais do que um conjunto de palavras. Albano Jerónimo está em cena entre 12 e 14 de dezembro, no CAM – Gulbenkian, com o espetáculo carne.exe, de Carincur e João Pedro Fonseca, onde contracena com AROA, um agente de inteligência artificial desenvolvido especificamente para a peça. O projeto explora as fronteiras entre corpo, tecnologia, imaginação e presença — um prolongamento direto dos temas que atravessam esta conversa. LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO Esta transcrição foi gerada automaticamente. A sua exatidão pode variar. 0:12 Por vivam bem vindos ao pergunta simples, o vosso podcast sobre a comunicação hoje com o ator e encenador albane Jerónimo, alguém que procura o erro para se fertilizar, que acha que tudo começa no corpo, numa respiração, no momento. 0:29 Albano Jerónimo, que fala neste programa, não é só o ator, é uma pessoa que aparece ora com uma simplicidade radical, ora com uma complexidade e a profundidade que nos obriga a seguir atrás. 0:51 Hoje vamos falar do corpo, da imaginação, do erro, do cuidado, do afeto e dessa coisa difícil que é ser pessoa. Porque, sejamos honestos, há dias em que não sabemos comunicar, não sabemos ouvir, não sabemos lidar, connosco e mesmo assim continuamos a tentar. 1:06 É isso que nos salva, é isso que nos torna humanos. O convidado de hoje viu exatamente nesse território onde as palavras às vezes não chegam para ele. Tudo começa numa frase, num gesto, num olhar, numa respiração, na forma como se ocupa um espaço, como se sente o chão. 1:22 Há quem passe anos a tentar treinar a dicção, mas ele comunica da maneira como está e isso, muitas vezes explica mais do que qualquer discurso. Ao longo desta conversa, percebe que o trabalho dele não é só interpretar personagens, é observar o mundo como quem escuta. 1:37 É absorver o que acontece à volta e devolver sem couraça, sem esconder o que é frágil. E no meio disto tudo, há ali sempre um cuidado discreto, uma preocupação em não ferir, em não atropelar, em não roubar espaço ao outro. Ele fala muito de afeto, não como romantismo, mas como ética, e percebe se que para ele comunicar é isso, é cuidar. 1:58 E depois há o erro, o tema que atravessa toda a conversa. Há quem fuja dele e ele corre na direção contrária. Ele procura o erro. Não porque queira provocar, mas porque percebeu que é no erro que acontece qualquer coisa. O erro obriga nos a parar, a ajustar, a aprender outra vez. 2:15 É o momento em que a máscara cai e vemos quem somos e, no fundo, é o lugar onde ficamos mais próximos uns dos outros. Ele diz isso como a simplicidade desarmante, falhar não é cair. Falhar é encontrar. Quer sempre experimentar coisas diferentes. Agora, por exemplo, está a criar uma peça a carne ponto EXEA, peça onde contracena com uma inteligência artificial criada só para estar em palco com ele. 2:40 E aqui abre se uma porta grande, o que é a presença, o que é a relação, o que é que um corpo humano consegue fazer? Ele disse uma frase que me ficou na cabeça, uma máquina pode escrever e bem, um cheiro, mas não o consegue sentir. E percebemos que este confronto com a inteligência artificial. 2:55 Não é só teatro, é uma reflexão sobre o mundo que estamos a construir, onde tudo é rápido, mas muito pouco sentido. Falamos também de masculinidade, não a do peito feito, mas a das dúvidas e contradições. E aqui acontece uma coisa bonita. E ela admite, sem qualquer agitação, que tem um lado feminino muito forte, que contracena quase a tal masculinidade e que a sensibilidade feminina e masculina é uma ferramenta. 3:18 Ainda é uma ameaça. No fim, falamos deste tempo em que vivemos, da pressa da polarização. Do cansaço e de empatia. E eu aprendi 3 coisas principais. A primeira é que comunicar começa no corpo, antes da palavra. Há sempre uma respiração que diz tudo. Um gesto aparece no corpo antes de aparecer dentro da nossa cabeça. 3:37 A segunda? É que o erro não É o Fim, é o princípio, é o lugar onde crescemos e onde nos encontramos com os outros também da comunicação. E a terceira é que a sensibilidade não é um luxo, é uma forma de sobreviver, sim, mas muitas vezes é a única forma de percebermos quem temos à frente. 3:54 Se esta conversa o fizer, aprendar um pouco ou simplesmente respirar fundo já valeu a pena. Viva Albano Jerónimo. Apresentar te é sempre um desafio ou fácil ator? Canhoto, estamos aqui 2 canhotos, portanto já estamos aqui. 4:13 Como é que tu te apresentas? Quando, quando, quando quando aparece alguém que não te que não te conhece, EE tu chegas lá e dizes. Eu, eu sou o Albano. Normalmente nós definimos sempre pela pela profissão, habitualmente não é? Não sei com não sei se é da idade, mas digo o meu nome, Albano. 4:29 Digo que sou pai, sou irmão, sou amigo e que calha ser também ator e às vezes encenador. E às vezes encenador, já gostas mais de ser ator ou encenador, imagino que. São zonas diferentes, zonas de comunicação diferentes. 4:47 Ser ator tenho o privilégio de ser ator e consigo estar por dentro, de certa forma, do processo, junto dos corpos dos atores ou de quem eu convidar para fazer um determinado trabalho e teres uma perspetiva de todo que é construíres um objeto artístico. 5:03 Que é outra perspetiva. Isso enquanto encenador, enquanto encenador, o trabalho do encenador é muito o estimular que os atores façam uma determinada coisa. Como é que funciona o processo mesmo porcas e parafusos, como eu costumo dizer. É, é. É um pouco no sentido em que, no fundo, eu tenho que gerir escutas e sensibilidades em torno de uma determinada zona de ação, ou um momento específico, ou um texto. 5:28 E então, para mim, passa muito por uma gestão quase pessoal. E emocional e obviamente, muito técnica também, muitas vezes. Como a técnica quer dizer o quê diz isto desta maneira dá mais ênfase que eu ou não é preciso, porque tu quer dizer, quando trabalhas com profissionais, eu lembro me sempre mal comparado com com os treinadores de futebol. 5:47 Estava sempre a pensar no Mourinho, por exemplo, que é não se ensina nada um jogador de futebol profissional de topo. Suspeito que no caso de 1/01/1 ator profissional de topo, também há muito pouca coisa que se possa ensinar em termos técnicos ou não. De certa forma, acho que podemos sempre aprender qualquer coisa uns com os outros. 6:05 Mas é um bocado a imagem do pastor. O pastor não muda AA ovelha, por mais que se esforce, e nessa uma teimosa sim, também se apanha. Mas no fundo, aquilo que eu tenho, a minha função central como encenador, é, é, é escolher o pasto onde as ovelhas podem comer. 6:23 E nessa lógica também me permite ter um afastamento e divertir me. Ter uma perspetiva, uma posição de tal forma afastada que me permite olhar e divertir me com esse processo todo. És uma espécie de primeiro espectador. Sim, e sou. 6:39 Tento sempre criar uma zona confortável, uma zona de segurança, uma zona segura de trabalho, onde nós estamos aqui é uma espécie de comunhão em torno de uma coisa concreta. E então isso é uma zona segura. É um safe SPACE, como se costuma dizer, o. Que é que é o que é que é o espaço seguro? Ou ou podemos, ou, pelo contrário, o que é que é um espaço inseguro? 6:57 É um espaço onde tu podes um inseguro. É um espaço onde tu existes com limitações, pelo menos aquilo que eu pretendo no teatro nacional 21, que é a estrutura profissional que eu tenho e não só eu. A Claudia lucaschew e o Francisco Leon tentamos sempre desenvolver zonas de Liberdade, zonas onde tu podes existir, contudo, em pleno, ou seja, com erros, porque é isso que nos interessa. 7:18 No fundo, é quase trazer à superfície. Essas falhas, porque é isso que nos torna de facto mais interessantes. E depois o erro é para aperfeiçoar e para apagar ou para assumir? Não sei como é que eu. Acho um bocadinho disso tudo, mas tendencialmente é para assumir, porque o erro. Eu costumo costumo dizer que o erro é o nosso melhor amigo de facto, porque é o momento onde tu deixas de pensar e te conectas com o momento. 7:40 Não há cá, digamos, preconceitos de qualquer coisa, ideias feitas à partida. Há um erro, há uma falha. Paras a narrativa, a tua própria. E então estás em conexão total com o momento e, de certa forma, na falha. 7:55 Existe uma proximidade com o espectador, com esta coisa de estarmos vivos. A falha tira te essas defesas, dá te corpo. A vulnerabilidade, sem dúvida, então, mas para um ator como tu, com, com, com a capacidade, com o talento e com os anos que tens de profissão, esta ideia de de de falhar não é uma coisa que te perturba. 8:15 Não é mesmo o oposto, eu quero falhar. Eu tento sempre muito, falhar muito, porque é aí que eu me sinto numa espécie de de vertigem qualquer, neste Salto de fé que é um bocado. Aquilo que nós fazemos também é uma vertigem qualquer próxima do corpo. 8:33 EE fazer coisas que eu desconheço, no fundo é pôr me a jeito numa escuta ativa, para aquilo que eu não sei. E fazes isso de uma forma deliberada. Sim, faço como trabalhando imenso, sei lá, no caso específico de um filme, decorar, quando digo decorar é mesmo decorar total a totalidade do guião, as minhas dessas, as tuas deixas para depois em plateau, eu poder destruir tudo e não pensar no texto. 9:03 O texto é o corpo. Portanto, é é mais ou menos como quando nós estamos a conduzir um carro pela primeira vez, em que temos que pensar nas mudanças e nos pedais e fins. O que tu estás a dizer é que tu absorves o texto, o teu e da das outras, da da, da, dos outros atores com quem tu estás a contracenar, para depois ter a Liberdade de dançar sobre sobre esse texto. 9:21 Precisamente. E aí vem o erro. E o erro é o momento de descoberta as pessoas, não sei porque há uma tendência de associar o erro. Não é o erro, é uma coisa má. Na vida, no dia a dia, digo, obviamente há casos e casos, não é? 9:38 Mas o erro é sem dúvida nenhuma a coisa mais interessante, então, nomeadamente nos tempos que hoje correm com tecnologias onde com instagrams, onde temos uma espécie de best of das nossas pessoas e tudo é perfeito. Tudo é bonito, o ângulo perfeito, a luz perfeita. 9:55 O erro é urgente. É trazer me quase um elogio do erro ou o elogio da falha acho que é mesmo necessário. Há uma plasticidade falsa nesse nesse mundo perfeito. Com certeza, há umas personas todos nós representamos. Quando saímos de casa, dizemos, OK, eu sou esta persona e, portanto, vou, vou fazer, vou fazer uma coisa qualquer, mas isso é uma coisa. 10:16 Provavelmente intuitiva, uma inconsciente sequer inconsciente, não é? Sim, sim, sim. Bom, tu com esta vontade de te pores a jeito, porque na realidade eu acho que é quando eu te olho como espectador, eu vejo te como o comunicador que se põe a jeito que é. Ele meteu, se ele meteu, se noutra alhada é sempre aquilo que eu estou à pena, estou bom. 10:34 Princípio. Ele meteu se noutra alhada, como é que como é que ele se vai desenrascar disso? EEE quando quando nós combinamos esta esta conversa? Um passarinho disse me que tu estavas a fazer a montar uma peça AA encenar uma a ensinar não. Neste caso, tu vais ser o ator da peça em que decidiste falar com uma máquina, ó diabo, tu és o novo kasparov. 10:57 Neste caso, na sua versão, o homem vai bater a máquina, não é porque kasparov foi aquele que tentou, tentou, na realidade conseguiu. Depois há dúvidas sobre se havia alguma batota naquela máquina na primeira vez que a máquina bateu kasparov. O que é que se fala com uma máquina? 11:14 É um é um projeto, um espetáculo, uma performance. O que for do coletivo zabra, o coletivo zabra já agora faço aqui uma nota que é é um coletivo que eu gosto imenso do trabalho que tem feito, nomeadamente numa zona experimental de vídeo de som. 11:30 Tem objetos artísticos muito interessantes, na minha ótica, onde são sempre muito próximos da filosofia de uma perspetiva existencialista. Juntando isso com uma tecnologia que eu acho isso Superinteressante, aqui há uma otimização desse discurso onde o homem versus máquina surge em cena e, de facto, foi desenvolvido um modelo de inteligência artificial. 11:50 Estamos a falar do espetáculo carne, ponto EXE, que vai estrear agora na gulbenkian, a 1213 e 14, no centro, no cam, no centro de artes modernas, só 3 dias, só 3 dias e já está esgotado. É verdade, mas isto para te dizer o que é que é este diálogo? 12:06 Onde é que nós nos situamos? E é um projeto experimental, nunca feito até hoje em Portugal, pelo menos que eu saiba onde nos colocamos, digamos, frente a frente com uma máquina. O que é que prevalece, o quais é, quais é que são as valências de uma inteligência artificial versus uma inteligência humana? 12:25 E vamos jogar um bocadinho o nosso diálogo por aí com uma dose de improvisação total. Eu posso dizer literalmente o que quero. Perguntar o que quiser à máquina e a máquina vai me responder literalmente o que ela quiser. Quer dizer que tu não vais fazer um ensaio em que as tuas falas estão definidas e a máquina também tem falas definidas? 12:43 Não, não queres este livro? É tudo livre? É tudo livre? Sim. Eu. Não quero estragar o espetáculo, mas o que é que tu perguntas à máquina? O que é que tu queres saber da máquina? Vou deixar isso à consideração do espectador, convido vos sim a irem à sala, mas as? Pessoas vão poder também também ajudar te nesta nesta conversa com a máquina. 13:01 Não sei. Podemos abrir aqui agora essa caixa de Pandora. Podemos abrir aqui 111 espécie de sugestões de perguntas que as pessoas achariam interessantes para para perguntar à máquina. Eu acho que isso é um grande exercício. Como é? Como é que tu te dás com os com os chat GPTS cá da vida? Eu tento não usar ou não uso de todo. 13:17 Eventualmente usei uma vez para desenvolver. Lá está um guião, numa questão dramatúrgica e de possibilidades várias. Então, e se esta personagem fosse assim? Então e se esta trama fosse, ele não tivesse uma relação com esta pessoa, fosse com outra, para perceber as ramificações de um possível outro, guião à volta daquilo que me é dado, não é? 13:36 Assusta te essa ideia. Achas que te que te pode retirar criatividade ou que nos pode pode nos transformar todos no fundo, na linguagem da máquina? Susta me um bocadinho, porque se perde aqui não só a questão do erro que falávamos há pouco, esta otimização do ser humano não é perde. 13:53 Se aqui um bocadinho, é como a caligrafia. Nós hoje em dia já muito pouca gente escreve EE, esse exercício da caligrafia é absolutamente fundamental, não só te define enquanto pessoa através do tipo de letra que tu usas, como escreves da forma como escreves. Então aquilo que eu tenho de certa forma pena ou receio, se quiseres, é que se perca um bocadinho esta. 14:15 Este este usa esta experimentação de se ser humano que é das coisas mais fascinantes que existe, que está intimamente porque ligado com a questão do erro que falávamos há pouco também. Olha, e outra coisa que é profundamente humana é, é a relação tal e qual relação entre pessoas, a relação entre atores que tu estavas a dizer, mas tu neste aqui tens que te relacionar com com aroan, que é que é o nome da precisamente, que é o nome. 14:38 Não sei se lhe posso chamar personagem, não sei o que é que lhe posso chamar. Como é que tu te relacionas lá está com uma máquina, sabendo que a máquina não tem inteligência? Chamo lhe inteligência artificial, mas não tem uma inteligência, não tem seguramente uma sensibilidade, é um modelo. 14:55 Como é que é essa relação? É uma descoberta também em tempo real. Nós estamos estamos a ensaiar, mas existe uma espécie de diálogo com uma ideia de quase de de de uma biblioteca de uma Alexandria. Imagina como é que tu falas com uma coisa destas? 15:12 Sendo que nós temos corpo, o corpo de uma aroa é outra coisa. Digamos que a minha realidade é o meu corpo, como é que eu contraponho a uma realidade toda ela? Informática, de certa forma quase bélica. Como é que tu começas um diálogo em setas, uma conversa, um imaginário, com uma máquina? 15:33 Então um bocadinho estes limites até receios que nós hoje temos. Há pessoas, muitos. Conhecidos e amigos que eu tenho que têm um certo receio desta evolução quase de bruto. Não é brutal, é? Não é. É cavalar da da tecnologia, ou seja, que nos está a colocar numa zona que nós ainda não sabemos qual é. 15:53 Então, o espetáculo também se propõe um pouco AAAA mexer a trazer à superfície estas questões. Porque é uma fala sem rede no fundo não é porque a máquina lá está por um lado, é muito rápida, por outro lado é muito dócil, vai, vai sempre tentar encontrar uma solução, nem que a tenha que inventar ou ou alucinar. 16:09 E nós começamos a perder o controlo de perceber onde é que está ali a Fronteira entre entre a verdade ou ou ou entre o que é que em em que é que nós podemos explorar melhor a máquina ou ou em que é que a gente devia dizer não, obrigado, máquina, eu agora vou escrever aqui o meu texto à mão. Sim, mas que digamos que há uma tendência para ir diminuindo. 16:28 O papel de estarmos aqui vivos não é da tua criatividade, da tua, digamos, o teu trabalho intelectual, emocional. Uma máquina não tem cheiro. Quanto muito pode descrever um cheiro? Esse cheiro é queimado, não é bom. 16:44 Exato. Agora nós podemos sentir esse cheiro. A própria máquina não sente esse cheiro, é queimado, pode detetar, uma falha qualquer. Algures. Portanto, é um bocadinho este diálogo entre aquilo que tu de facto valorizas no fundo, aquilo que me tem dado. Assim, de uma forma muito resumida e não querendo levantar o véu, é que o privilégio das coisas simples e a importância que elas têm no teu dia a dia e. 17:08 Isso é uma necessidade para ti? Sem dúvida, sem dúvida é, é vital. Olha, eu tinha. Eu estava a falar do corpo. EE num dos tópicos desta conversa, tinha tinha escrito aqui o corpo. Que quando te vejo como instrumento político, poético e comunicacional, o teu corpo fala antes da voz, antes de tu dizeres qualquer coisa num palco ou num 7 filmagens. 17:30 É pá, eu espero que sim, porque estou. Eu estou estava aqui a pensar no estávamos a falar bocadinho do do Arruda, da da da série rabo de peixe. Aquele Arruda ainda não disse nada. EEE isso. EE só. Eu estou a olhar a tua testa AA boca. 17:48 E eu já disse, eu não quero, eu não quero encontrar esta pessoa à noite. Quer dizer, porque ele quer dizer, fiquei estendido. Não, não sei o que é que acontece, como é que se compõe isso, como é que se faz isso? Como é que tu usas isso? Como é que tu usas o teu corpo? Acho que é um pouco isso que estavas a dizer há bocado, que é o corpo tem que falar. E a memória do corpo é algo que não engano. 18:06 É um pouco como a memória dos sapatos. Os sapatos nunca mentem. Podes ter uma máscara, mas os teus sapatos? Vão te denunciar no andar que tu tens. Portanto, o corpo imprime uma impressão digital no chão, que se traduz num sapato à partida. 18:22 Portanto, eu tento sempre que o corpo seja um bocadinho. Essa alavanca tem tudo que passar pelo corpo, por mais cerebral que seja um trabalho mais intelectual que seja, mas o corpo tem que lá estar, porque a minha realidade é o meu corpo, não é dentro dessa lógica que falei há pouco. 18:37 E então? Respondendo de outra forma, a melhor definição de um ator que eu ouvi foi esta que é um ator, é um cerco que respira e só isto. E então o respirar vem do corpo, passa pelo teu corpo. 18:54 E se te focares nesses impulsos primários que eu acho que aquilo que eu faço é um elogio, é uma espécie quase Bárbara de existir aos impulsos básicos de vida, de vida, de existência. Procuro sempre que o corpo venha sempre em primeiro lugar, até às vezes faço um exercício que é, como é que eu poderia comunicar isto sem palavras, porque o corpo tem que lá estar primeiro, porque atrás vem tudo. 19:19 Eu posso não saber o meu texto, mas se eu adquirir esta posição que agora adquiri, se calhar aqui neste gesto está associado a 11 solilóquio e eu não sabia. E eu, AI verdade está aqui, esta é a parte que eu ponho aqui a mão, pois é. Um exemplo básico, mas a verdade é que o corpo tem que ser a alavanca de tudo, para mim, pelo menos. 19:37 Que instintos básicos são esses? Quais são esses, essa paleta de cores que tu trabalhas? São os sentidos básicos. É uma coisa meio de sobrevivência. Eu venho do meio pobre também. Importante referir isto neste sentido, e sempre me habituei a gerir aquilo que tinha e não aquilo que gostaria de ter. 19:57 Então, para mim, pequenas coisas eram mundos. Como é que é? Foi essa tua experiência na tua infância? Sim, sim, eu lembro me perfeitamente. Eu brincava imenso no tapete laranja que tinha em casa, que tinha os cantos arredondados, era um tapete assim mesmo, pequeno, e via aqueles bonecos de futebol que vinham nos bolos de anos. 20:13 E pelos tubotios. Exatamente. E eu tinha uma série deles e passava horas, mas horas mesmo, a jogar naquele tapete. E aquilo para mim era o mundo sem fim. Pegando nesse exemplo. Eu amplio para o meu dia a dia e tento que a minha vida seja exatamente que exista diariamente em pequenos mundos, onde um plano apertado em cinema para mim é o mundo muitos atores sentem se enclausurados. 20:37 Mas não. Isto aqui é tão pequenino que eu posso viver nisto tudo. Não é arriscado esses planos de lá? Está da tua cara muito fechado. Não ampliando o conceito também de saber o lugar que tu ocupas, que é muito importante na vida. Num plano apertado em cinema, também é saber o lugar onde tu existes e os olhos são uma arma absolutamente brutal. 20:58 Eu posso ter um olhar aqui contigo, mas se abaixar, sei lá, umas pálpebras. Até metade do meu olhar já é outra coisa. E. Denuncia nos logo porque nós conseguimos ler. Automaticamente qualquer um de nós lê o outro de uma forma parece que viemos com essa programação. No fundo, está a fazer me a dizer, tu vens? De um meio economicamente pobre agarraste a que, mestres, onde é que, onde é que, como é que como é que tu transformaste no fundo, essa escassez em abundância? 21:25 À minha mãe, aos meus irmãos, à capacidade de trabalho, ao conceito de família, ao amor EEA, importância do outro se quiseres em comunidade. 21:41 Como é que tu sobrevives? O que te disse, o que te disse à tua mãe? O que te disse à tua? Mãe disse me muitas coisas, mas destaco aquilo que disse há pouco, saber o lugar que tu ocupas. Se queres alguma coisa, tens de trabalhar para ela. E se não te respeitares a ti, ninguém te vai respeitar. 21:59 Portanto, são princípios que eu hoje ainda uso e tento passar à às minhas filhas e ao meu filho. Olha como é que se constrói? E eu acho que tu és um bom exemplo disso. EE, há bocado estavas a falar da vulnerabilidade e da falha num tempo em que estamos a discutir ou a reorganizar um bocadinho o universo feminino e masculino. 22:18 EE todas as diversidades que cabem aqui, nesta, nesta paleta, como é que se constrói diferentes masculinidades corporais, se quisermos? Onde tu tens que demonstrar isso, lá está desde a fragilidade até à violência, desde a intensidade até à suavidade. 22:39 Eu acho que vêm todas do meu lado feminino. Do teu lado feminino? Sim, eu tenho um lado feminino, tu sentes te. Feminino. Sim, muitas vezes sim. E acho que é dos lados mais interessantes que eu tenho. Pode vir da minha mãe, pode vir do convívio com a minha mulher, com as minhas filhas, dos meus colegas, os meus amigos, colegas atores, o que seja. 22:56 Mas eu sou um homem feminino. Gosto de pensar em mim dentro dessa lógica do sentir ou de absorver aquilo que está à minha volta, porque não gosto de reduzir aquilo que faço ao meu corpo masculino, biologicamente falando. 23:13 Gosto de ampliar o meu espetro de entendimento das coisas e de mim próprio, através do meu ser feminino. Acho que é muito mais fértil, se calhar. Dando te outro exemplo, o meu trabalho é político. No que diz respeito à minha atitude pessoal, tenho obviamente, as minhas tendências ou preferências ou crenças, o que seja. 23:35 Mas o que é interessante não é fechar. Me outro exemplo, eu não fecho. Eu não gosto de pensar em personagens. Acho que me fecha o leque de possibilidades. Eu fecho sozinho quê? Em momentos, momentos que imagina, entrava agora aqui um homem com uma metralhadora neste estúdio. 23:51 A forma como tu reagias ao mesmo acontecimento é que te poderia eventualmente definir como uma possível pessoa ou possível personalidade, portanto, uma vez mais, é no sentido de abrir o meu leque de opressões, aumentar o meu alfabeto de comunicação. E estás sempre a tentar fazer isto. Tento, tento, porque eu gosto muito de viver. 24:10 EEE ficar fechado numa só leitura, no só corpo, numa só pele. Aqui me cria me aqui uma espécie de toiro toiro enraivecido, citando aqui Martin score César. Lá está, mas é curioso tu a definires te como eu quero ir à procura do meu eu feminino, mas o teu corpo e até muito da tua atuação, da tua fórmula, da tua, da tua marca na nos trabalhos que fazes eu eu defino desde já como um, como um ator profundamente masculino também nessa afirmação. 24:40 Nem que seja pelo contraste. Ir buscar o meu lado feminino para fazer o oposto. E dá para misturar? Completamente, completamente. Eu gosto dessa desse menu de degustação, desse melting POT que pode ser por estarmos aqui. 25:00 E acho que é também importante. Por outro lado, hoje em dia, quando se fala em conceitos como masculinidade tóxica, por exemplo, acho muito pertinente e interessante que se fale. Que há homens que não têm receio de assumir uma certa fragilidade, um certo lado feminino, um certo espectro de sensibilidade de outro. 25:23 Porque acho que é importante uma vez mais um homem esta ideia de que homem macho, alfa, branco, o que seja, acho que tudo tão redutor ao mesmo tempo. Foi uma armadilha que nos montaram. Há várias armadilhas sociais que nos catalogam de determinada forma e que nos marcam os comportamentos, quer dizer. 25:43 As mulheres levaram a fatura. Pior não é? Quer dizer, é isso, mas, mas provavelmente agora, nos últimos anos e tempos, as coisas estão estão a mover se mas o que tu estás a dizer é que para os homens também é uma fatura, que é que é uma menor? Permissão de de de estar também nesse espectro da familiaridade. 25:59 Sim, acho que sim. Se não, vejamos os últimos exemplos que temos de jovens vários jovens AA terem opiniões extremadas, nomeadamente de direita, não só de direita, mas também de esquerda, mas os vários casos agora, recentemente no Instagram, 111 espécie de associação, eu não quero dizer o nome de propósito, mas que se pauta exatamente por valores ultramasculinos. 26:19 O que é que é isso? Repressão feminina total, portanto, acho que. Na base de tudo isto, uma das coisas que existe, não tenho dúvidas, é o receio. É o receio de existir de outra forma, porque o que é que há depois deste desta embalagem de masculina tóxica, forte, super bombada, proteína style. 26:39 O que é que há? Não sabem? E então eu proponho exatamente a fazer um exercício oposto, não tenho a coragem de tirar essas máscaras de. De não corresponder a um estereótipo, o. Que torna cada vez mais difícil. Lá está estava estava a falar da polaridade da polarização. 26:56 Não, não citando, eu também estou contigo. Acho que há coisas que a gente não deve citar que é para não as propagar. Acho que é. Acho que é uma boa, uma boa estratégia. Aliás, agora que o quando o Nuno markl ficou doente e houve. Algumas probabilidades, uma em particular, mas houve outras que tenta porque perceberam obviamente o carrinho que isso dava de popularidade e fizeram uma declaração profundamente imbecil e infeliz EEE, eu e eu apanho Montes de amigos meus, pessoas de quem eu gosto, a dizer, já viste o que está a acontecer? 27:24 E eu alguns ligo e diz, e tu já viste o que é que estás a fazer quando estás AAA propagar na tua rede aquilo que é uma coisa imbecil, quer dizer, mostra vasos de flores, quer dizer, é preferível quem estás a fazer uma coisa, é a melhor gato a tocar piano, será a fazer qualquer coisa. Menos, menos dar esse esse Lastro a é o que está a acontecer. 27:42 Como é que num mundo tão polarizado e onde tudo está a ficar muito extremado, à esquerda e à direita, mas não só com as pessoas todas cheias de grandes certezas. Oo papel da arte, isto é, quando tu arriscas coisas no Na Na arte, o que é que levas como reação? 27:58 OK, os teus fãs obviamente vão aparecer a dizer que tu és extraordinário e o fel levas com muito fel. Nas re erguesinas, sim, eu espero que sim. Eu costumo dizer que um bom espetáculo é quando algum algum espectador sai, porque acho que um objeto artístico não tem que forçosamente agradar a todos. 28:19 Aliás, até sou da opinião que se não agradar a todos é mais interessante, porque isso significa, entre muitas outras coisas, que está a provocar aqui alguma reação, que alguém está em desacordo, completo e não gosta de tal forma que sai de uma sala de espetáculos. Eu acho isso extremamente interessante e útil. Porque estamos a apelar a um espectador emancipado no sentido em que ele tem que se chegar à frente com uma atitude, tem que tomar uma decisão sobre aquilo que está a haver. 28:41 E se sair, a gente diz, OK, esta pessoa teve esta opinião, não está a gostar disto? Ótimo. O que 11 dos objetivos daquilo que eu faço é que, de facto, aquilo que se constrói, trabalha com todo o amor e profissionalismo e por aí fora, que provoque reações e que as pessoas tenham a coragem de se inscrever nessa reação, nesse gesto que é preciso ter coragem também para se inscrever numa ação tão. 29:03 Barulhenta, como sair de uma sala? Portanto, que a arte surge, surge para exatamente estimular uma atitude em quem recebe, seja ela qual for, seja ela qual for. Eu gosto imenso de fazer espetáculos onde estão escolas, por exemplo. A maior parte dos meus colegas detesta fazer espetáculos. 29:21 As. Crianças são cruéis, não é? Elas são muito viscerais e muito dizem te logo. O que é que pensam sobre aquilo? Eu adoro isso, adoro isso porque não há filtros no sentido em que é um espectador super justo, porque nos coloca ali. Perante aquilo que estamos a fazer de forma justa, muitas vezes cruel e desnecessária e grata até ou gratuita. 29:40 Mas o que é interessante aqui, uma vez mais, é que estamos AA estimular uma reação, um pensamento sobre e acho que uma das funções da arte é, sem dúvida, estimular o pensamento, o pensamento crítico, o pensamento pessoal, questionas te no fundo. Estamos a perder esse essa veia do do pensamento crítico, sem dúvida. 30:00 Porque há uma, há uma higienização, há uma ingenuidade de tudo, do gosto, do sentir. Esta educação do gosto dá muito trabalho. E a cultura tem um papel fundamental nessa nessa perspetiva sobre as coisas e o mundo, não só sobre os objetos artísticos, mas sobre a vida, sobre tudo. 30:16 E a cultura vem exatamente para estimular essa capacidade de reação, de ter a coragem de dizer, não me tocou, não acho interessante porque no fundo, é que há uma ausência de pensamento crítico. E de discurso em si, posso dizer, não gosto nada daquela pessoa XYEZE. 30:35 Porquê vemos isso em debates políticos, quando se prende e se vive em chavões, vamos mandar fora do país determinadas pessoas, mas porquê? Desenvolva com que base baseie, se em quê factos, números, venha. 30:51 Temos OINE que é tão útil muitas vezes, mas. Nós está, mas depois entramos numa discussão que é uma discussão de propaganda e uma discussão de. Naturalista barata, não. É sim, e é. E é o aquele chavão. E eu ponho aquele chavão repetindo a mentira 1000 vezes. Se calhar ela transforma se numa numa verdade EE esta até estamos todos a discutir coisas sem ter esse cuidado até de ir verificar se aquela fonte faz sentido ou se aquela declaração faz sentido. 31:15 Mas, em princípio, se essas coisas deveriam ser até. Relativamente fáceis de parar. A minha sensação é que estamos todos cansados, não é? E quando ficamos frustrados com determinada coisa, uma boa solução populista, apesar de mentirosa, se calhar é aquela que a gente se agarra, porque porque estamos a sentir que que não conseguimos fazer nada. 31:35 No fundo, não. É, acho que uma das coisas que este desenvolvimento agora fala de uma forma geral, não é do desenvolvimento da tecnologia, não querendo empacotar tudo no mesmo saco. Mas as redes sociais, por exemplo, acho que contribuem para, de certa forma, a nossa empatia. 31:52 Está cansada? O algoritmo me deu cabo disto. Acho que é um pouco isso. Acho que estamos um bocadinho anestesiados. Estamos cansados. Ouve lá, temos uma revista que eu costumo comprar, que tinha uma publicação, um número muito interessante que. Exatamente dentro desta lógica que estamos a falar aqui da imagem do cansaço, que isso já deposita numa espécie de anestesíaco geral, que era uma edição sem fotografias e no lugar da fotografia tinha a descrição daquilo que estaria lá, e isso provoca te isso, só esse simples mecanismo. 32:23 Quase um irritante, não é? É irritante, mas é. Foi muito interessante porque, de facto, estimula o teu exercício de imaginar e não sei hoje em dia o que é que é mais horrível. Tu imaginas uma imagem concreta ou imaginares dentro do teu horror. Da tua história, cultura e educação, o que seja imaginares o possível horror através daquela descrição. 32:40 Portanto, no fundo, acho que temos que baralhar aqui o jogo e voltar a dar e ter a clara noção que, de facto, a empatia e os mecanismos de comunicação, de receção, de escutas são outros. O tempo é outro. Sim, porque se nós estivermos num mercado ou se estivermos num num não quer dizer num jogo de futebol, se calhar é um péssimo exemplo. 32:58 Mas Nenhum de Nós, ou a maioria de nós não diz as barbaridades que a gente lê. Nas caixas de comentários dos instagrams e dos facebooks quer dizer de pessoas que estão a dizer coisas completamente horríveis, verdadeiramente um insulto aos outros. Sem dúvida são montras de de disfarce, não é? 33:18 As pessoas escondem se atrás dessas matrículas. Tecnológicas para existirem de formas completamente grotescas. E aproveitam e aproveitam isso no tempo em que nós deixamos praticamente de ir ao cinema. Eixos que aparece uma série chamada rabo de peixe, filmada nos Açores, que para mim 11 série absolutamente fabulosa. 33:42 Onde tu entras? Desempenhando um tal de Arruda. Não sei se podemos descrever te nessa série como o pequeno meliante, o pequeno traficante OOOO pequeno mal, mas na realidade que sabe mais do que os outros no dia em que aparece droga, em que aparece cocaína em rabo de peixe, uma das freguesias mais mais pobres do do país e faz se o rabo de peixe, essa série, o que é que esta série teve de tão? 34:13 Extraordinário. Acho que a história em si é de facto, logo o ponto de partida é é absolutamente brutal e único, não é Na Na Na freguesia mais pobre da Europa, rabo de peixe da Acosta, fardos e fardos de cocaína e logo isso logo só esta. 34:30 Este enquadramento já é suficiente quase e depois passa se nos Açores não é Açores uma ilha que também é muito importante, pelo menos para mim, foi na construção desta deste possível Arruda. Tudo isto acho que traz à superfície para mim, no final do dia, o que é que tu fazes para sobreviver? 34:53 E que mecanismos são esses? E a que é que tu te agarras? E o que é que é mais fácil? O que é que tu optas por um bocado? Se tens a coragem ou não de quebrar os moldes de educação com que tu cresceste. É uma discussão moral interna. Eu acho que também passa por aí, sem dúvida nenhuma. 35:09 Que é uma vida desgraçada. E o que é que a gente faz para sobreviver? O que é que o que é que tens que fazer qualquer coisa? Eu acho que sem dúvida, se queres sobreviver, sim, claro, tens que fazer qualquer coisa e às vezes não é a coisa mais correta de todo, não é? Mas acho que o que é que faz de rap de peixe? 35:26 Acho que é o facto de ser isto que já mencionei ser feito em Portugal. A Geografia também, para mim é absolutamente fundamental. E depois tem esta questão que é universal, que é esta esta necessidade de te reinventares e de repente toma lá fartos de cocaína, o que é que tu fazes com isto? 35:47 Tem o teu euromilhões em cocaína. É para muitas pessoas, alguns sabiam ou muito pouca gente sabia quando de facto, chegou à ilha. E depois, toda a forma como o conceito, a ideia, o conhecimento se propaga é super fascinante para mim. Como é para mim é das coisas mais interessantes. 36:04 Como é que o conceito de que que é isto? Ah, isto é uma caneca, dá para beber coisas, Ah, dá para beber isto já não sabia. E isto e esta descoberta para mim é das coisas mais fascinantes. Eu acho que é das coisas mais inocentes, que eu acho que prende o espectador. Portanto, houve 11. No fundo, uma aprendizagem em rede que é mostrada nessa série. 36:21 Que é, eu não sei se isto é farinha para fazer bolos. Isto é uma coisa que nos vai aditivar a vida ou que vai matar alguém, porque depois também ouve esses esses fenómenos. Como é que se faz a composição desse mauzão, desse, desse Arruda, que contrasta muito com o personagem principal da série, mas nem tanto EE que e que aparece ali um bocadinho, como entre, por um lado, o ameaçador, por outro lado, Oo protetor e acolhedor. 36:46 Quer dizer, há ali, há ali muitos sentimentos que que aparecem no meio de no meio desta desta série. Então, como é que se cria? Eu tento sempre criar algo incompleto, algo que necessita de público. A Sério? Sim, tento sempre criar objetos coxos, objetos que carecem de um outro olhar para serem confirmados de alguma forma como. 37:07 É que é isso? Ou seja, o que é interessante para mim é quando tens 111 personagem ou um ou uma pessoa ou uma ideia de de uma pessoa que é o Arruda e que é 11 aliante como disseste 11 dealer um pequeno dealer. Interessa te só fazer isso ou interessa te que seja, de facto um ser incompleto, que tenha, que tenha essa capacidade de proteger a família, que é perfeitamente legítimo, que goste genuinamente da da sua filha à sua maneira, ou seja, que não seja declaradamente mau. 37:36 Acho que isso tão pouco interessante, uma vez mais, é tão redutor. Então temos que criar coisas incompletas, coisas abrangentes e nessa abrangência, detetas falhas. E é exatamente aí que eu, que eu trabalho, eu tento sempre criar. Objetos que é pá, que que carecem, que estão mal se quiseres ou que estão com falhas ou com rachas e que precisam de alguém para ficar completo, precisa do teu olhar para tu absorveres aquilo que viste do rabo de peixe e de certa forma sintetizar este Arruda. 38:08 Isso cria uma dinâmica de comunicação, sem dúvida. Sem dúvida. E a próxima? Esse sim e aproxima e aproxima das pessoas. Acho que Humaniza de certa forma. Porque a minha pergunta é, porque é que eu gosto deste mau? É um bocado isso. Não era suposto, não é? Quer dizer, então, mas ele é assim. Ele faz bullying ao resto dos seus amigos e ali à comunidade, ele trafica. 38:29 Em princípio, eu devia pôr te uma Cruz em cima e dizer por amor da Santa. Quer dizer, tira, tira me esta pessoa daqui, mas não, a gente tem essa empatia em relação a. Essa não há nada mais fascinante do que isso. Como é que tu tens empatia por um ser abjeto? E isso é fascinante. Como é que tu é quase grotesco? 38:46 E eu acho que é isso. Isso é que é fascinante. Acho que isso revela em parte, a matéria daquilo que nós somos feitos esta quase quase absurda em que vivemos, esta vida com que que é violentíssima? Como é que tu tens empatia por um ser violento? Eu acho isso fascinante em. 39:02 Princípio eu não devia acontecer. Pois. Mas, mas empatia, imagina? Tens um arco incrível para seres altamente violento ou altamente brutal. E isso é que eu acho que é interessante. É fascinante teres numa mesma cena, uma empatia com o público, uma comicidade até se quiseres e de repente acabares essa cena com uma violência Extrema. 39:21 Acho isso super fascinante, porque isso é que é destabilizador para mim enquanto espectador, é uma coisa que não é óbvia. Olha como é que foi a construção da série? Porque tu tu contracenas com? Atores muito jovens que que lá estão e que e que são, quer dizer, e para mim, ainda mais surpreendentes, porque não porque não conhecia o trabalho deles. 39:38 É tão simples como isso é pura ignorância. Mas como é que, como é que tu os ajudas? Como é que tu? Como é que tu? Há muitas cenas em que, em que se sente claramente que tu és o motor daquele. Provavelmente o realizador obviamente escolhe te também por isso. Como é que tu, como é que tu os ajudas? 39:54 Como é que tu, como é que tu os ajudas? Ou como é que tu lhes dás cabo da cena, não faço a mínima ideia se se tu, nesse afã de criar um desequilíbrio que crie comunicação, se os se os se os questionas, se os, se os, se os passas, eletricidade. 40:09 Não, não faço a mínima ideia. Como é que? Como é que é esse movimento? A melhor forma de os ajudar é é ser o mais competente possível. Na minha, na minha função, é a melhor forma que eu posso ter. Eu, eu não. Eu não sou muito de. De dar conselhos, porque não me coloco nessa posição. Obviamente, se alguém me perguntar alguma coisa, estarei sempre cá para isso. 40:27 Mas a melhor forma de os ajudar é eu ser altamente competitivo numa forma saudável. Ser competitivo, literalmente. Eu vou fazer isto muito bem. Se quiseres agora não, eu vou trabalhar tanto. Eu vou trabalhar tanto que eu parto sempre do princípio que eles sabem mais do que eu, isto de uma forma transversal no cinema, teatro, televisão. 40:48 Quem está ao meu lado, à minha volta, sabe mais do que eu. Portanto, eu, para os acompanhar, tenho que trabalhar muito e trabalho, de facto, muito, para quando for a jogo ter alguma coisa a dizer. E se eu for, se eu tiver focado naquilo que trabalhei e acho que o meu desempenho vai ser fiel àquilo que eu trabalhei, acho que é. 41:07 Estou a ser justo, não estou cá como bolshet para ninguém. E é a melhor forma de eu ser colega ou de dar na ideia de conselhos se quiseres. Portanto, não é uma ideia paternalista nesta tua relação com eles. De todo eu vou ser bom, vou trabalhar para ser muito bom e para que este produto seja extraordinário. 41:22 Exatamente isto é, deve criar uma pressão do catano em em em atores mais jovens e que estão a começar a sua carreira ou não. Eu espero que sim. É é difícil contracenar contigo. Eu acho que não. Eu sou muito lá está. Eu trabalho muito numa escuta e eu quero muito quem está ao meu lado. 41:41 Que que esteja no seu, na sua melhor versão, e então eu vou fazer tudo para que isso aconteça. Somos melhores, os outros são melhores também. Sem dúvida nenhuma isso eu espero sempre que os meus colegas sejam muito bons mesmo. E digo muito bons de propósito, sejam mesmo bons naquilo que sejam atores iluminados em estado de graça, porque é a única forma de eu também me quase educar, de de melhorar, de me potenciar naquilo que faço. 42:07 Porque se não for assim, é mesmo desinteressante aquilo que eu faço. Portanto, tu tens um poder secreto verdadeiramente, não é que acabas de confessar aqui que é na realidade, esse é o teu segredo, é conseguir potenciar no outro. Esse esse vislumbre de excelência é, é, é, é não conceder, não dar qualquer concessão a que o nível tem que ser muito elevado. 42:28 É pá sim, numa premissa de que eles sabem mais do que eu. Isso é o contrário da inveja portuguesa? Ah, eu não tenho nada disso, não tenho nada disso. Acho que isso é uma coisa que não não faz parte do meu alfabeto. Acho isso um sentimento horrível de transportar. 42:43 Não te acrescenta rigorosamente nada e sempre experiência. E o ego, o que é que tu fazes ao ego? O ego está sempre de férias. Tu não, tu és vaidoso. Eu olho para ti, quer dizer, tu pela pela maneira como estás. Como tu és vaidoso ou não? 42:58 Ou ou queres um desmentir já. Obrigado. Pela maneira como te cuidas, pela maneira, pela maneira como entraste no estúdio, pela. Maneira, palavra certa, cuidar. E a minha mãe sempre dizia uma das coisas que a minha mãe dizia não me ensinei há pouco, que é o afeto, o afeto, afeto, o afeto tens dúvidas, afeto e eu parto sempre deste princípio. 43:21 Eu não sei como é que as pessoas estão à minha volta e acho que a narrativa da vida muda quando tu és confrontado com a dor, não é? Portanto, ao saboreares essa experiência da dor, tu, o corpo, a realidade das outras pessoas, daquilo que tu desconheces do estrangeiro, ganha outra sensibilidade em ti. 43:41 Portanto, eu tenho sempre que cuidar das pessoas que estão à minha volta. E digo isto de uma forma transversal e de. Eliminar a sala, porque quando tu entraste aqui no estúdio, tu cruzaste com 34 pessoas e todas as pessoas com quem tu te cruzaste sorriram. É das melhores coisas que me podem dizer porque. 44:00 O meu trabalho passa por aí se quiseres a minha vida passa por aí, que é nesse cuidar do dia a dia de todas as pessoas. E sinceramente, se eu tiver se acabar um dia de trabalho e tiver feito 2 ou 3 pessoas, quebrar a narrativa do seu dia, já tenho o dia a ganho. 44:19 E digo te isto com todo o carinho e com toda a sensibilidade, porque é isso, cuidar, cuidar daquilo que tu desconheces é tão importante e isto é tão importante. EE, ou seja, no fundo, ainda a pergunta que fizeste há pouco em relação aos meus colegas e aquilo que eu faço é através do afeto. 44:39 Esta palavra é mesmo muito importante todos os dias. Cultivar isso em ti é uma espécie de nutrição? Sem dúvida, é a nutrição interessante para mim é essa foi assim que me relacionei com o Augusto Fraga, foi assim que me relacionei com o André schenkowski, que é uma peça absolutamente fundamental para a temporada, um que não esteve na segunda, segunda temporada, nem na terceira. 45:00 Foi assim que eu me é assim que eu me. Ou seja, no fundo, como é que eu posso ser fiel a uma visão de um realizador, de um encenador, o que seja de um colega meu, se eu não cuidar dessa pessoa, se eu, porque através do cuidar eu consigo entrar melhor nessa pessoa, consigo confiar, porque estamos a falar daqui de uma coisa que é basilar, que é a confiança que tu estabeleces com alguém. 45:23 Nem sempre isso é possível. Trabalhas lá fora, não estabeleces, às vezes, muita relação com quem te dirige ou por aí fora. Mas eu tento sempre deixar aberto esse canal da confiança, porque quanto mais eu confiar, mais consigo espreguiçar me naquilo que é a tua ideia sobre um texto. 45:41 Como é que tu lidas com as tuas neuras? É pá que é o contrário disso, não é que é o contrário da da nutrição. Quer dizer, quando tu estiveres solar, quando tu estiveres presente, quando tu acreditas que mudas a vida dos outros, Eu Acredito que tu estás em expansão, mas imagino o dia em que tu acordas ou que tu vais deitar. 46:00 EEE, tu EEEEE, te drenaram energia. E eu tenho muitas vezes essa sensação de quando a gente está com algumas pessoas que por alguma razão não interessa, mas que que que a única coisa que fizeram na nossa vida durante aquele dia foi drenar a nossa energia. EEE geralmente, e essa é a boa notícia, é que são são pessoas que são que que nem sequer são muito significativas para nós. 46:22 O que ainda é mais ainda me leva AO que é que como é que tu? Como é que o que é que tu fazes? Fechas te na conchinha? Não. Começas AAAA restaurar te. Já houve tempos em que me fechava, mas acho que me fechava por inexperiência ou por medo, e depois acho que está intimamente ligado com com esta coisa que te falei há pouco, da dor. 46:43 A dor acho que te devolve o corpo e devolve te o corpo. Numa consciência do agora. E nessa lógica, como é que eu vou gerindo estas estas coisas? Eu tento o facto de ser pai também te limpa muito a porcaria, porque os teus filhos são, podes vir e chegar a casa, todo partido, mas um filho é uma realidade tão forte, pelo menos para mim, e contagiosa. 47:11 Totalmente, que te obriga rapidamente AA ser altamente seletivo. E o hiper foco aí vem. Ou seja, o que é que é o que é que é completamente adereço, o que não é relevante. Tu tiras automaticamente tu limpas. Então tento exercitar me nessa autogestão, em tentar perceber o que é que de facto importa e aí filtrar aquilo que eu posso capitalizar em prol do meu trabalho, em prol do meu dia a dia. 47:37 E tento que não contamine muito aqui outras coisas, porque acho que é pouco interessante. E a no dia seguinte seguramente desaparece. Olha, nós estamos praticamente AA puxar, mas eu quero falar do estamos em tempo de ruído e para mim é muito interessante. E ri me muito a ver a série do Bruno Nogueira, onde tu, onde tu apareces que é? 47:54 Na realidade, é um conjunto de Sketch, mas que é completamente distópico. Em primeiro lugar, nós, quer dizer, estamos num mundo completamente em que é proibido rir. Não sei se é distopia ou se a realidade já está mais próxima. Aquilo é completamente louco, é completamente incongruente, é completamente absurdo e é absolutamente mágico. 48:15 Ali, eu tenho a certeza, apanho as minhas fichas, que houve ali uma comunhão geral na naquela, naquela tribo. Sem dúvida, é uma tribo falaste bem todas essas esses adjetivos que usaste para definir este ruído. 48:30 É, é. Passa tudo por aí que disseste, mas a confiança, a forma como nos conhecemos. A relação que temos já de vários anos, acho que tem ganho ali outra expressão, a expressão através de uma coisa que nos une ainda mais, que é aquilo que fazemos, o amor que sentimos por aquilo que fazemos, juntamente com aquela ideia de de Recreio, não é que é um Recreio? 48:52 Aquilo é um Recreio mesmo, não é? Portanto, vocês devem se ter rido à brava para fazer aquelas coisas. É muito livre, é muito solto e o Bruno tem essa, tem essa característica que é criar objetos soltos, livres, onde? A diferença existe e não só existe como eu. 49:08 É o motor central de tudo isto é o que nos alimenta é sermos tão diferentes e ali encontrarmos 11 ilha onde podemos coexistir em prol de quem está em casa. O que é que aquilo, o que a narrativa é, que aquilo tem de de de especial é, é, quer dizer, porque é que aquela aquela série, por um lado é deprimente, é opressiva. 49:29 Por outro lado, lembro me sempre da Rita cabaço com a mandar calar os os seus entrevistados já completamente fora assim. Quer dizer, há há ali coisas aquilo está escrito, aquelas coisas todas ou ou vocês têm têm essa possibilidade e capacidade de reinterpretar aquilo. Temos a capacidade de ajustar, mas obviamente 9590 a 95%. 49:50 Aquilo que lá está é escrito, como é óbvio, mas tentamos sempre expandir um bocadinho também, não fechar aquilo ao momento. Sei lá as exigências de um decore às vezes, mas há um momento como tu estás, como o meu colega está, como é que eu reajo a uma roupa que eu tenho e depois passas por processos de criação? 50:07 Make up guarda roupa que também são camadas de criatividade. Como é que tu no final desse bolo? Consegues existir, então, nesse momento ajustas sempre uma coisa à outra. Consegues sempre ir levar ou ir levar o discurso e ver onde é que, onde é que se tentar de ver, onde é que o público pode agarrar, o que é que se pode? 50:24 Eu espero que seja elevar. Porque? Porque muitas vezes muita coisa que sugere não é, não é, não é interessante, ponto. Mas sim, tentamos sempre potenciar aquilo que lá está, que por si só ganha. E depois aquilo, aquilo consegue, obviamente consegue, claro, respirar. 50:42 Mesmo nas coisas profundamente obsessivas. Quer dizer, porque há há momentos em que a gente sente até quase quase vergonha alheia, não é? Estamos a ver aqui uma coisa até até se pôr assim, uma Mona cara e outras. E outros momentos em que há momentos de expansão e que nós é é mais fácil fazer rir ou fazer chorar. Então a perguntar, me mais mais clichê do mundo, mas. 50:58 Não, não é. Não é o meu percurso todo. Estou. Estou mais habituado a fazer coisas ditas dramáticas ou sérias, ou o que seja. Mas a comédia também é séria, mas mais dramáticas. A comédia tem sido 111, registo que eu tenho vindo a descobrir nos últimos anos, sobretudo EE. 51:16 Eu acho que é igualmente difícil. Ainda não tenho experiência suficiente para te responder de forma clara que o drama, por assim dizer, é mais difícil que a comédia. Aquilo que eu sei é que exige existências diferentes. Numa zona cómica ou numa zona mais dita dramática, mas o cómico e o trágico está sempre muito junto. 51:37 O dramático está sempre junto com o com o cómico e a comédia com o trágico, portanto. Podemos nos rir de uma de uma boa desgraça? Claro. Então não é essa das coisas mais fantásticas que a evita nos dá. Portanto, não te consigo dar uma resposta certa, porque para mim, está tudo num Horizonte comum. 51:53 Há, há. Há uma atmosfera que se toca inevitavelmente. Olha o que é que tu nos podes oferecer a nós? Cidadãos comuns que ainda por cima não temos como ferramenta a comunicação. Não somos atores para na nossa vida aprender um bocadinho dessa tua arte para comunicarmos melhor. 52:12 É pá. Posso partilhar? Aquilo que eu fui aprendendo ao longo da vida? Nunca tomarem nada como garantido. Não há nada que seja garantido, pelo menos para mim. Acetuando o amor pelos meus filhos, acho que. 52:28 Para já na experiência que eu tenho digo te isto, daqui a uns anos pode ser diferente, mas para já digo te isto não tomar nada como garantido, não te levares a Sério saber o lugar que tu ocupas e esta ideia do pastor que eu te falei ao início. Isto aplica se a muitas coisas, nomeadamente a filhos, por exemplo, os filhos. 52:47 Se tu olhares para eles como ovelhas de um rebanho que não consegues mudar, não consegues, fazer com que pronto uma ovelha seja outra ovelha seja um cão, não dá. Portanto, a única facto, a única coisa que podes fazer é, de facto, escolher o pasto onde elas vão comer. E isso isto para focar o quê? 53:03 Esta posição de de curtires, de apreciares, o crescimento, a vida a acontecer. Ou seja, no fundo, o que é que eu te estou a dizer? Não se esqueçam que viver é uma coisa boa. Às vezes, no stress do dia a dia, isto é tão complicado uma pessoa parar e meteres isto na tua cabeça. 53:23 Mas sim. Eu falo por mim às vezes, não tenho essa capacidade, mas de facto, estar aqui há um prazer nas pequenas coisas e de facto, viver é um privilégio. E é quase uma espécie de não sendo religioso, um milagre. No final desta conversa, fica claro que o trabalho do Albano Jerónimo está encorado numa ideia simples, compreender o mundo através do corpo e da relação com os outros. 53:45 Falamos de infância, da construção de personagens. De direção de atores e desse novo território, um duro humano contracena com inteligência artificial. A forma como ele articula estes temas mostra um criador atento às mudanças do seu tempo, mas firme na importância do que não se pode digitalizar. 54:03 Há um tópico principal desta conversa, que é o erro, não como falha, mas como método. O Albano Jerónimo descreve o erro como um lugar de descoberta, onde se ajusta, se afina e se encontra. Uma voz acerta para cada momento. Até para a semana.
A cantora portuguesa Lina tem um novo disco intitulado “O Fado”, criado em cumplicidade e parceria com o pianista Marco Mezquida. Este é um álbum só com voz e piano, um instrumento que tão bem se acorda com a poesia e com o fado. Este é também um trabalho que homenageia o piano que, no percurso de Lina, sempre foi "um instrumento muito presente, quase como uma mãe". Em entrevista à RFI, Lina descreve o disco como “uma dança de borboletas” por ser “tão livre, tão espontâneo, tão orgânico” e simplesmente “genuíno”. Fado e poesia são notas maiores no trabalho que Lina vem desenvolvendo nos últimos anos, com “Lina_Raül Refree” (2020), "Fado Camões" (2024), “Terra Mãe” (2025) e “O Fado”. Em todos, Lina abraça uma forma livre de sentir o Fado, despojada de espartilhos, aberta e atenta ao mundo de hoje. Lina e Marco Mezquida passaram por Paris para a promoção do disco “O Fado” e estiveram na RFI a falar connosco e a interpretar dois temas ao vivo. RFI: O disco “O Fado” que fez com Marco Mezquida é um disco de fado só com voz e piano, sem guitarra portuguesa. Porquê? Lina: “Não é só um disco de fado. Tem outras músicas. Tem uma música brasileira, vai também para a América do Sul com a língua espanhola. No fundo, o que nós quisemos foi encontrar pontos semelhantes em algumas músicas do nosso conhecimento que tivessem relacionadas com o fado. Mas sim, eu considero que seja um disco de fado, apesar de não ter os instrumentos tradicionais do fado, mas a própria Amália também cantou ao som do piano do Alain Oulman nos anos 60. Chama-se ‘O Fado' pelo facto de eu ter feito a música para esta letra da Florbela Espanca que se intitula ‘O Fado', não é necessariamente um carimbo ou dizer que isto é o fado, não é isso. Chama-se ‘O Fado' precisamente porque nó lançámos um EP antes de Setembro, com quatro músicas, e na altura o single foi ‘O Fado'. Então, achámos que para manter a coerência, para não fazer aqui grandes confusões, mantivemos o nome, o mesmo nome da música, ‘O Fado'.” Até que ponto o piano é um instrumento que melhor se acorda com a poesia? “Eu acho que o piano é um instrumento que é muito bom de sentir em qualquer área musical, em qualquer estilo musical. Eu comecei a cantar desde muito pequenina, com dez anos, ao piano, portanto, o piano sempre foi aquele instrumento que esteve sempre ao meu lado nas aulas de canto. É sempre o piano que nos acompanha nas aulas de coro e de formação musical. O piano está sempre lá, portanto, sempre foi um instrumento muito presente, quase como uma mãe.” Sempre a acompanhar... “Exactamente.” Como se deu esse encontro com o Marco Mezquida? “Nós conhecíamo-nos através das redes sociais. Conhecíamos o trabalho um do outro, mas nunca tínhamos estado juntos e houve um dia que eu estava a cantar no Clube de Fado e está uma mesa na primeira fila com três pessoas. Era um casal e uma criança muito pequenina e chamou-me imenso a atenção porque estavam muito admirados e super embevecidos com o fado e com aquilo que se estava a passar com os músicos, com a guitarra portuguesa, o Ângelo Freire ( era ele que estava a tocar também). Sentia-se essa admiração. Depois, mais tarde, vi que alguém tinha colocado na sua página e que tinha que tinha identificado o Clube de Fado. E por acaso vi e me apercebi que era o Marco Mezquida. O Marco em seguida escreve nos comentários: ‘Noutra vida gostava de ser fadista'. Depois, mandei uma mensagem, estivemos juntos no dia porque ele tinha ido a um festival em Lisboa, eu fui também assistir a este concerto e falámos. Dissemos que gostaríamos de trabalhar em conjunto e esta oportunidade surgiu em Janeiro deste ano.” Foi “o fado”? “O fado, foi o destino.” [Risos] Como imaginaram este trabalho? “Na verdade, eu comecei a tentar perceber que músicas é que eram justas para a forma de tocar do Marco, que fados é que poderiam se encaixar na forma dele tocar. É que ele é muito virtuoso e é muito sensível. Aliás, vão poder ver depois a forma como ele toca, como ele abraça o piano, os dedos dele são a extensão do instrumento, é como se ele fizesse parte. E eu ia-lhe mostrando... Eu também lhe pedi para mandar uma lista de músicas que ele gostava que eu cantasse. E foi assim que nós chegámos a um acordo de 12 músicas, 12 fados, 12 canções que estão neste neste álbum. Fizemos a gravação do EP em Janeiro, numa tarde. Todas as músicas foram gravadas sem edição, ao vivo, sem cortes e depois metade do álbum gravámos em Setembro, também em duas tardes.” Ou seja, foi um processo relâmpago e o próprio lançamento também foi muito rápido, não é? “Sim, foi porque na altura em que lançámos o EP eram só quatro músicas. A Galileu, que é a editora, propôs-se gentilmente a lançar, a editar logo o EP e depois correu tão bem que decidimos fazer um álbum inteiro.” “Vamos então aos temas. Por exemplo, em termos de repertório tradicional, se não estou em erro, têm uma nova leitura do “Fado da Defesa” ou de “Gota de Água”. Que significam para si estes fados? Foi a Lina que escolheu? “Fui eu que escolhi o ‘Fado da Defesa'. É muito especial para mim porque é um fado tradicional. Aliás, é o único fado tradicional que existe neste álbum. Eu quando digo fado tradicional, para as pessoas que não percebem, há vários fados tradicionais onde se pode encaixar uma nova poesia. Ou seja, eu posso fazer um poema para aquela melodia daquele fado tradicional, por exemplo, o ‘Estranha Forma de Vida' que é um fado que quase toda a gente conhece é o nome do poema, mas o fado tradicional é o fado bailado. Portanto, eu agora fui encontrar uma letra para o fado bailado e vou cantar aquele poema, como foi o caso do ‘Labirinto' do ‘Fado Camões'. É exactamente a mesma melodia, o fado tradicional do fado bailado, mas com outra poesia. É esta a particularidade dos fados tradicionais que normalmente não têm refrão e os que tem refrão chamam-se fado-canção. Aí a distinção entre o fado tradicional e o fado-canção. ‘Gaivota' é um fado-canção, é um hit, mas, na verdade não é um fado tradicional. A melodia é de um fado-canção.” Porquê, então, a escolha destes dois fados, o “Fado da Defesa” e o “Gota de Água”? “O ‘Fado da Defesa' é criação da Maria Teresa de Noronha. Na altura, quando foi gravado em disco, a última estrofe não cabia porque eram as rotações, não sei especificamente explicar essa parte, mas o fado era tão comprido que tiveram de cortar a última estrofe. Então, o meu padrinho do fado, o meu padrinho de coração José Pracana, guitarrista que eu tive a oportunidade de conhecer e de estar com ele em concertos e ter sido convidada por ele para estar na casa dele nos Açores, ofereceu-me esta última estrofe e eu decidi colocá-la aqui neste álbum. A ‘Gota de Água', do Flávio Gil, que eu já tinha gravado na minha outra vida, como Carolina porque, como sabem, eu comecei com dois álbuns editados pela Sony, mas com outro nome, Carolina. Na verdade, o meu nome é Lina, mas há pessoas que ainda me continuam a chamar Carolina porque acham que é diminutivo. Lina é mesmo o meu nome de nascença.” A Lina também assina composições de Florbela Espanca, Miguel Torga... Há pontes e histórias entre esses diferentes poemas? “Na verdade, eu vou guardando, eu vou lendo alguns poemas e há um que eu gosto e guardo. ‘O Fado' fui encontrá-lo por acaso, nas minhas notas do telefone, naqueles dias em que uma pessoa olha para apagar umas quantas notas. E fui vendo, vendo e encontrei, deparei-me com este poema, já nem me lembrava dele. Não sei, não há coincidências, não é? Quando vi este poema, pensei porque não musicá-lo? Decidi então fazer a melodia. O mesmo aconteceu para o Miguel Torga. Eu acho que quando encontro poemas de que gosto e os fados tradicionais não se encaixam no poema, eu decido fazer a melodia. O Marco Mezquida faz os arranjos, também ajudou na parte melódica do ‘Confidencial' de Miguel Torga, sobretudo na parte instrumental e na parte do solo, o que obviamente elevou a música que estava numa fase embrionária, mas sim, partem de mim essas criações.” Também temos textos em castelhano. O que é que fez que “El Rosario de Mi Madre” e “No Volveré” tivessem o seu espaço e a sua alma dentro deste disco? “No fundo, como eu estava a gravar um álbum com um músico que não é português - ele é menorquino, mas vive em Barcelona - estar ao lado de alguém que está a tocar e que não é português e que provavelmente há expressões e frases que não entende ou não percebe exactamente aquilo que eu digo enquanto canto, achei muito bonito poder também cantar algo na língua dele para haver essa partilha, essa comunicação também. Foram essas as minhas duas escolhas. A ‘No Volveré' foi o Marco Mezquida que me enviou umas quantas, mas eu só consegui escolher essa porque eu tinha que encontrar algo que se assemelhasse ao fado, algo na sua composição ou na sua estrutura, no seu tema, como ‘El Rosario de Mi Madre', ‘Devolve-me o terço da minha mãe, leva tudo, mas devolve-me o terço...' É muito do fado, não é?” Quando ouvimos o disco, passamos por “Algemas”, “Ausência em Valsa”, “Não é fácil o Amor”, “Fado da Defesa”, “No volveré” ... A melancolia é uma força que varre o disco. O fado tem mesmo de ser triste? “É um estado de espírito que nós todos gostamos muito de ter. Gostamos de estar tristes, de nos sentir tristes e chorar. Somos muito saudosistas e nós gostamos desse estado de espírito. Acho que nós somos um bocadinho assim.” É entao mesmo uma linha de força do disco? “A melancolia é universal. Eu acho que não é só portuguesa. Eu acho que melancolia é universal. Todas as pessoas entendem este estado de espírito, há povos que são mais do que outros, mas não quer dizer que todos saibam sentir a melancolia.” Melancolia, fado... Se tivesse de definir em poucas palavras o disco, o que diria? “É interessante porque eu canto fado há mais mais de 25 anos e com o Marco Mezquida não tenho de pensar se é fado, se não é fado, se estou a fazer bem ou se estou a fazer mal. É tão livre e tão espontâneo e tão orgânico que vamos atrás um do outro. É quase uma dança de borboletas. Não sei explicar. É tão genuíno. É tão fácil. É fácil trabalhar com o Marco. Portanto, para mim é um disco fácil.” Lançou este álbum no mesmo ano em que lançou também "Terra Mãe", uma parceria com o músico irlandês Jules Maxwell. No ano passado, lançava "Fado Camões” e, em 2020, Lina_Raül Refree… Todos eles têm em comum uma outra maneira de encarar o fado, com paisagens sonoras mais contemporâneas, mais livres. Como é que a Lina descreve o trabalho que tem feito nestes últimos anos? “Eu gosto de explorar e gosto, sobretudo, de fazer parcerias, de conhecer novos músicos, novas formas de fazer música, novas visões musicais, mas também encontrar aqui pontos comuns ao fado e influências sobre ele. Encontrei, obviamente, no ‘Terra Mãe', que não é um disco de fado, mas que vai buscar um pouco à forma de cantar irlandesa das senhoras que se chama Sean-nós e é muito identico ao fado essa instrumentação. No fundo, são canções só com voz e é muito idêntico. O Jules Maxwell foi também ao Clube de Fado que é uma casa de fados onde eu canto há 19 anos.” E que nunca deixou... “Que nunca deixei. O Jules Maxwell identificou essas senhoras que cantavam antigamente, esse estilo musical da Irlanda e que é muito semelhante, também cheio de melancolia e com coloraturas na voz, mas sem instrumentação, sem guitarra portuguesa.” Tem feito essa volta ao mundo com estes projectos novos, em que realmente consegue desprender-se de convenções mais associadas ao fado, mas continua - e isso é muito bonito - fiel ao Clube de Fado. “É verdade.” Porquê? “Para já é um lugar onde eu me sinto confortável, em casa, exactamente como a minha segunda casa. Depois, o ambiente que nós temos entre colegas fadistas e músicos... A toda a hora encontramos vários colegas que estão nas outras casas de fado e que passam e dizem boa noite e estão lá um bocadinho connosco. Assistem-nos, assistem ao fado, trocam ideias e mostram músicas uns aos outros. Acho isto bastante natural. Uma tertúlia quase. E depois também acho interessante, por exemplo, ainda ontem e anteontem estive lá e estavam dois casais, um que tinha estado no concerto em Roterdão e que tinha ido ver o concerto do ‘Fado Camões' em Roterdão e outros de Dortmund que também tinham estado no concerto. É curioso, é muito interessante. Ou então perguntam onde é que eu vou estar? E eu também pergunto de onde é que é... Há, assim, esta comunicação...” É uma casa de encontros também? Onde encontra as parcerias musicais? “Sim. Não há melhor sítio que o Clube de Fado que é onde eu estou a cantar. Obviamente que para mim é muito bom poder manter-me ali no Clube de Fado há tantos anos.” Eu ia-lhe perguntar se tem um novo projecto na manga, mas tendo em conta que este ano já lançou dois, se calhar a pergunta é demasiado ousada... “Por acaso tenho! Até tenho dois! Mas não posso falar, não posso dizer nada ainda. Aproveitem estes dois. O que nós queremos também fazer é saborear estes dois projectos, explorar também porque é completamente diferente quando se grava em estúdio e depois quando se passa para o palco e para o público.” Até porque há toda uma cenografia nos seus concertos, bastante minimalista e muito pensada, não é? “Sim, mas neste caso com o Marco Mezquida é eu e ele e nada mais. Houve um jornalista do ‘El País' que lhe chamou ‘Fado Câmara'. E é. Simples, o mais mais acústico possível e sem grandes adornos. Cru, basicamente. Piano e voz.”
A peça “The Brotherhood”, da encenadora brasileira Carolina Bianchi, foi apresentada em Paris, no final de Novembro, no âmbito do Festival de Outono. Este é o segundo capítulo de uma trilogia teatral em torno dos feminicídios e violências sexuais e mostra como uma inquebrantável força masculina tem dominado a história da arte e do teatro, engendrando simultaneamente violência e amor quase incondicional pelos “grandes génios”. “The Brotherhood” é o segundo capítulo de uma obra sísmica, uma trilogia teatral em torno da violência contra as mulheres em que Carolina Bianchi e a sua companhia Cara de Cavalo mostram como o misterioso poder das alianças masculinas tem dominado a história da arte, do teatro e das próprias mulheres. Em 2023, no Festival de Avignon, a encenadora, actriz e escritora brasileira quebrou fronteiras e despertou o teatro europeu para a sua obra com o primeiro capítulo da trilogia “Cadela Força”, intitulado “A Noiva e o Boa Noite Cinderela”. Nessa peça, arrastava o público para o inferno dos feminicídios e violações, a partir da sua própria história, e ingeria a droga da violação, ficando inconsciente durante grande parte do espectáculo. Agora, em “The Brotherhood”, Carolina Bianchi volta a trazer consigo as 500 páginas da sua tese e expõe incontáveis histórias de violência contra as mulheres, glorificadas por Shakespeare, Tchekhov e também tantos dramaturgos e encenadores contemporâneos. Ao mesmo tempo que questiona toda a complexidade que gera a deificação dos “génios” masculinos na história da arte e no teatro, Carolina Bianchi demonstra, com brilhantes laivos de ironia, que os deuses têm pés de barro e que as musas têm uma espada numa mão, mas também uma mão atrás das costas porque - como ela - têm um amor incondicional pelos “mestres”. Este segundo capítulo volta a abrir com uma citação de “A Divina Comédia” de Dante, situando-nos no purgatório e antecipando o inferno. Talvez por isso, uma das primeiras questões colocadas pela actriz-escritora-encenadora é “o que fazemos com esse corpo que sobrevive a um estupro?”, a essa “morte em vida que é um estupro”? O teatro de Carolina Bianchi ajuda a pensar o impensável ao nomear a violência e ao apontar todos os paradoxos intrínsecos ao teatro e à arte: afinal, não é o próprio teatro quem perpetua a “brotherhood”, esse tal sistema que se autoalimenta de impunidade e violência, mas que também se mantém porque “somos todos brotherhood”? Em “A Noiva e o Boa Noite Cinderela”, a principal inspiração de Carolina Bianchi era a artista italiana Pippa Bacca, violada e assassinada. Em “The Brotherhood”, é a poetisa Sarah Kane quem mais a inspira pelo seu amor à poesia e à própria violência. Quase como uma fatalidade, Carolina recorda que Sarah Kane dizia que “não há amor sem violência”. Uma violência que atravessa toda a peça, como um tornado, porque “a violência é uma questão infinita para mim” - explica a encenadora à RFI. Resta saber quanto tempo as placas tectónicas da “brotherhood” no teatro vão conseguir resistir ao tornado Carolina Bianchi. “The Brotherhood” foi apresentado no Festival de Outono de Paris, de 19 a 28 de Novembro, na Grande Halle de La Villette, onde conversámos com a artista. “O que significa situar-se no teatro depois de voltar do inferno?” RFI: O que é “The Brotherhood” e porque é que lhe consagrou a segunda parte da trilogia “Cadela Força”? Carolina Bianchi, Autora de “The Brotherhood”: “‘Brotherhood' vem de uma expressão da Rita Segato, que é uma antropóloga argentina, que quando eu estava estudando para o primeiro capítulo ‘A Noiva e o Boa Noite Cinderela', eu cheguei a essa nomenclatura. Ela diz ‘brotherhood' para essa essa fraternidade entre homens, em que o estupro é parte de uma linguagem, de uma língua falada entre esses pares. Então, ela coloca o estupro como algo que é uma questão da linguagem com que essa fraternidade conversa, é uma consequência dessa conversa e isso para mim foi muito interessante de pensar porque tem esses aspectos dessa protecção. Fazer parte dessa fraternidade tem coisas maravilhosas e tem coisas terríveis e também acho que o espectáculo revela isso. Essa fraternidade é extremamente nociva, extremamente daninha para os membros dessa fraternidade também, para aqueles que são excluídos da fraternidade, e para aqueles que também fazem parte ela pode ser muito cruel. Acho que a peça busca trazer essa complexidade, é uma situação complexa de como olhar para esse amor que nós temos por essas grandes figuras da arte que se manifestam nesses homens que foram importantes, que são influenciadores, por exemplo, do teatro e em toda parte. O que é que atribui essa fascinação, esse poder e a complexidade que isso tem, as coisas terríveis que isso traz. Acho que é um grande embate com todas as coisas e eu não estou excluída desse embate, dessa contradição. O amor que eu sinto por esses grandes génios também é colocado ali numa posição bastante complexa e vulnerável.” O que faz desse amor que tem pelos “grandes génios”? Como é que, enquanto artista mulher, o mostra e, ao mesmo tempo, o denuncia? Diz que a peça “não é uma denúncia”, mas o que é que se faz com todo esse amor? “Eu acho que essa é uma das grandes perguntas da peça. O que é que a gente faz com todo esse amor? Eu não sei porque continuo habitando esse ponto de sombra, de contradição que é um ponto que me interessa habitar dentro da arte, dentro do teatro. Para mim, é mais sobre essa grande pergunta. Eu não tenho essa resposta. Eu não sei o que a gente faz com esse amor, mas eu acho que poder nomear que esse amor existe e que ele é complexo e que é difícil e que tem consequências e coisas que são dolorosas a partir desse amor foi uma coisa importante para mim. Como eu digo em cena, não é uma peça de denúncia, não é esse o lugar da peça, mas levantar essas questões e olhar do que é feita também essa história da arte. A trilogia toda traz muito essa pergunta: como a arte tem representado ou tem sido um espelho de coisas que, de facto, acontecem na sociedade e mesmo a arte, com toda a sua história de vanguarda e com toda a sua liberdade de certos paradigmas, ela consegue também ainda se manter num lugar de prosseguir com certos tipos de violência.” Em 2023, quando falámos do primeiro capítulo, “A Noiva e o Boa Noite Cinderela”, disse que era “uma antecâmara do inferno, já com um pé no inferno”. Agora abre novamente com uma citação da Divina Comédia. Continuamos no inferno ou estamos antes no purgatório? “Sim. Nesta peça já estamos num purgatório, é acordar no purgatório. Tem uma frase da peça que é: “O que significa situar-se no teatro depois de voltar do inferno?”. Acho que essa frase resume um pouco essa busca de um posicionamento. Eu descreveria a peça como uma grande crise de identidade. Ela parte de uma crise de identidade, como uma jornada nesse purgatório, seguindo um mestre – como Dante segue Virgílio nesse purgatório. O mestre aqui seria um grande encenador de teatro, um grande artista, esses reconhecidos génios como a gente se refere. Acho que seria isso, seria uma jornada dessa tentativa de se situar num contexto do teatro. O teatro não é só um assunto da peça, o teatro é uma forma, é a linguagem como esta peça opera a sua discussão, a sua conversa.” Ao mesmo tempo que o teatro consegue pôr em palavras o que a Carolina descreve como a “fenda” que é a violação, o teatro também perpetua esse sistema de “brotherhood”, o qual alimenta a impunidade e a violência. Por que é que o teatro contribui para a continuação desse sistema e como é que se pode travá-lo? “Aí tem uma pergunta que eu não tenho resposta mesmo e que acho que nem existe: travar uma coisa dessas. Eu acho que sou pessimista demais para conseguir dizer que isso vai acabar. O facto de estar tão imersa nos estudos dessa trilogia vai mostrando que isso, para mim, está longe de terminar. Acho que a gente tem vivido transformações bastante importantes, contundentes, em termos de mudanças mesmo, mas acho que talvez a maior mudança que a gente tem aprendido, falando numa questão de corpos que não estão dentro dessa masculinidade que tem o poder, eu acho que é a questão da autodefesa que a escritora Elsa Dorlin aponta muito bem. Então, acho que uma das estratégias de autodefesa também é conseguir falar sobre certas coisas, é conseguir articular, talvez através da escrita, talvez através desta arte que é o teatro, nomear mesmo certas coisas, trazer esse problema para um lugar de debate. Para mim, a questão das respostas é impossível, é impossível, é impossível. Eu acho que o teatro tem essa história como parte de uma questão da própria sociedade. O teatro começa com esse actor que se destaca do coro, a gente tem a tragédia, a gente tem essa perpetuação dessa jornada heroica, os grandes encenadores, os grandes dramaturgos que eram parceiros dos grandes génios. A gente tem uma história que é feita muito por esses grandes mestres.” Mas, se calhar, as placas tectónicas do teatro podem começar a mudar, nomeadamente com o que a Carolina faz… Um dos intérpretes diz “Somos todos Brotherhood”. A peça e, por exemplo, a parte da entrevista que faz ao encenador “génio” não é a demonstração de que, afinal, não somos todos “brotherhood”? “Aí é que está. Eu acho que não. Eu acho que tem uma coisa que é menos purista nesse sentido do bem e do mal, do lado certo, do lado errado. Eu acho que é justamente isso. Tudo aqui neste trabalho está habitando esse lugar de complexidade, esse lugar de que as coisas são difíceis, é esse pathos que está manchado nesta peça. Então, a questão sobre o reconhecimento, sobre a empatia e também sobre a total distância de certas coisas, ela fica oscilando. Eu acho que a peça traz essa negociação para o público. A gente habita todos esses lugares de contradições. Eu acho que quando aparece esse texto, no final da peça, “tudo é brotherhood”, também se está dizendo muito de onde a sociedade tem as suas bases fincadas e como apenas o facto de ser mulher não me exclui de estar, às vezes, compactuando com esse sistema.” É por isso que se apropria dessa linguagem da “brotherhood”, por exemplo, na forma como conclui a entrevista do encenador “génio”? “Para mim, fazer uma peça sobre a ‘brotherhood', sobretudo usando o teatro como a linguagem principal, tinha a ver também com abrir um espaço para que essa ‘brotherhood' pudesse falar dentro da peça, pudesse se infiltrar dentro da peça e governar a peça. Por isso, essa coisa de uma outra voz que narra a história. Então, para mim, a peça precisava trazer essa ‘brotherhood' como guia, de facto, e não eu tentando lutar contra isso, porque senão acho que isso também revelaria pouco dessa complexidade, desse movimento que a ‘brotherhood' traz. É uma força e uma linguagem e eu precisava falar essa língua, ou melhor, tentar falar essa língua dentro da peça. Acho que isso também revela muito da complexidade minha que aparece ali, não como uma heroína que está lutando contra alguma coisa, mas alguém que está percebendo algumas coisas, mas também se está percebendo a si própria no meio dessa confusão.” Leva para palco essa complexidade, essa confusão. Admite ter sido vítima dessa violência, mas continua atraída por ela e dá a ideia que a violência engendra a violência. Porquê insistir nessa violência que alguém chama de “tornado” dentro da peça? “Porque não tenho outra opção neste momento. Acho que tem uma coisa de uma obsessão com o mal, que combina talvez uma questão para mim de temer muito esse mal, de já ter, em algumas vezes na minha vida, sentido essa força, essa presença, esse mal. Acho que esse mal é algo que temo e, por isso, também me obceca muito. É a linguagem com a qual agora eu consigo articular parte da minha expressão, parte da minha escrita, parte da minha presença. Acho que essa questão da violência é uma questão infinita para mim. Tem uma frase do ‘Boa Noite Cinderela' que é:‘Depois que você encontra a violência, que você sofre uma violência, enfim, você fica obcecada por isso”. Tem uma frase também na própria ‘Brotherhood', quando os meninos estão lendo uns trechos das 500 páginas que me acompanham ali em cena sobre a pesquisa da trilogia, e eles dizem: ‘Bom, então ela escreve: eu não superei o meu encontro com a violência. Eu sou a sua filha'. É impossível. Você fica obcecada.” A Carolina diz, em palco, que já não pode com a palavra violação, com a palavra estupro, que já não pode falar isso… Não pode, mas não consegue parar. É mais uma contradição? “Completamente. Mas isso é muito o jeito que eu opero, é nessa contradição e, ao mesmo tempo, dizendo que se a palavra agora não está carregando essa violência dessa forma, se eu não posso dizer a palavra estupro porque eu estou cansada de me ouvir dizer isso, vem a poesia com a sua forma. E aí a forma do poema é violenta e é isso que eu também estou debatendo ali. Então, é mudar uma forma de escrita e ir para um outro lugar onde essa violência apareça de outras maneiras.” Mas que apareça na mesma? “Não sei porque, para mim, por exemplo, a violência poética é uma outra forma de violência. Se a gente for pensar em termos de linguagem, a forma de um poema tem uma outra maneira de as coisas aparecerem, de a gente descrever as coisas, delas existirem, delas saírem, que é diferente de quando você está trazendo, por exemplo, um material documental para o seu trabalho. São maneiras diferentes de expressar certas coisas. Eu acho que é isso que eu estou debatendo ali no final da peça.” Aí diz que “o melhor caminho para a poesia é o teatro”, citando T.S. Eliot. Porém, também diz que o amor que você precisa não é o teatro que lho pode dar, nem a vida. Gostaria que me falasse sobre o terceiro capítulo da trilogia. Há esperança no terceiro capítulo? “O terceiro capítulo vai falar sobre poesia e escrita que, para mim, são coisas que estão muito perto do meu coração e isso já está apontado no final de ‘Brotherhood'. Sobre a esperança, eu não sei. Eu não sei porque o terceiro capítulo tão pouco vem para concluir qualquer coisa. Vem para ter a sua existência ali. Não sei se, na trilogia, se pode esperar um “grand final”, entende? Acho que a questão da esperança para mim, não sei nem se ela é uma questão aqui. Eu acho que é mais entender o que o teatro pode fazer? O que é que essas linguagens artísticas podem fazer? E, às vezes, elas não fazem muito e outras vezes elas fazem pequenas coisas que também já parecem grandes coisas.” Em si, o que fez? Há uma mudança? “Completamente, Completamente. Acho que a cada espectáculo dessa trilogia é uma mudança enorme porque você fica ali mergulhada em todas essas questões durante muito tempo e vendo a transformação dessas questões dentro da própria peça à medida que a vai repetindo. Porque demanda um tempo para você olhar para aquilo que você fez e ver o que essa coisa faz nas outras pessoas porque você, como directora, pode pensar ‘Ok, eu quero que a peça tenha essas estratégias de comunicação com o público, mas você não sabe, você não tem como saber o que aquilo vai fazer nas pessoas, que sinapses ou que desejos ou que repulsa ou que sensações aquilo vai trazer nas pessoas. Isso, para mim, é um momento interessante do teatro, bonito, essa espécie de ritual em que estamos todos ali, convivendo durante esse tempo, em muitos tempos diferentes - o teatro tem isso, o tempo da plateia, o tempo do palco, são tempos completamente diferentes - e vendo o que acontece.” Uma das questões principais da peça, que anuncia no início, é “o que é que fazemos com esse corpo que sobrevive a um estupro? Essa morte em vida que é um estupro?”. Até que ponto o teatro é, para si, a resposta? “Eu acho que o teatro é uma maneira de se formular a pergunta. Quando a gente vê na peça a pergunta colocada, transmitida por uma pessoa que sou eu, para eu chegar até essa pergunta é muito tempo e é muita elaboração a partir do pensamento do teatro. Então, acho que o teatro me ajuda a conseguir elaborar esses enunciados, essas perguntas, esses enigmas. Eu vejo o teatro como o lugar do enigma, onde o enigma pode existir, onde há coisas que não têm respostas, onde essa complexidade pode existir e pode existir na forma de enigma, de uma forma que não apresenta a solução. Então, acho que o teatro me ajuda a formular as perguntas e isso, para mim, é uma coisa que é muito bonita do teatro, é um lugar de uma honestidade muito profunda, como fazer para se chegar nas perguntas. O teatro é, para mim, o lugar dessa formulação, esse laboratório de formulação dessas perguntas, essas grandes perguntas.” Outra grande pergunta que se ouve na peça é: “Se a brotherhood no teatro desaparece, o teatro que amamos morre com ela? Estamos preparados para ficar sem esse teatro?” A Carolina não está a abrir uma porta para que esse teatro venha a existir? “Não sei se estou abrindo essa porta, mas ao formular essas perguntas, elas também ficam ali, nesse espaço, e agora elas habitam todas essas pessoas que estiveram aqui nestes dias assistindo a este espectáculo. Isso o teatro faz, esse compactuar, essas perguntas, tornar essas perguntas um processo colectivo. Agora essas perguntas deixam de ser perguntas que me assombram e passam a ser perguntas que talvez assombrem algumas pessoas que estiveram aqui. Isso é muito interessante. Mais do que acreditar que você está operando uma grande transformação, eu gosto de pensar num outro ponto, acho que só o facto de abrir essa pergunta, de fazê-la existir agora, colectivamente, isso é um trabalho, esse é o trabalho. Para onde ela vai a partir daqui, nem sei determinar, é um ponto bem nevrálgico do teatro, deixar as coisas ficarem com as pessoas. Eu busco muito esse lugar de não infantilizar o público, de deixar o público ficar com essas perguntas, de deixar o público ficar confuso, perdido. Acho que a gente às vezes ganha muito com isso, ganha muito com a confusão, quando ela é colocada. A gente pode permanecer com o trabalho mais tempo na gente quando ele consegue apontar esses enigmas, quando ele consegue manifestar as coisas de um jeito que a gente precisa pensar, que a gente precisa se debruçar. Nem tudo precisa de estar num tempo de uma velocidade lancinante, onde todas as questões são colocadas e imediatamente resolvidas, até porque essas resoluções, não sei se elas vão ser, de facto, resoluções.”
Conversas com as Entidades sobre temas diversos
Acho que você vai gostar de conhecer o Bar Europa, o novo bar restaurante do Ipê Moraes.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Foi nomeado neste sábado, 29 de Novembro, o novo Governo de transição da Guiné-Bissau, liderado por Ilídio Vieira Té, antigo ministro das Finanças do executivo deposto. O analista político guineense Rui Jorge Semedo, denuncia “a encenação golpista” e espera que a missão de alto nível da CEDEAO, que deve chegar ao país em breve, "faça cumprir a legitimidade das urnas". Que comentário lhe merece este novo governo de transição? É a confirmação dessa encenação golpista e que está fortemente ligado com as estratégias do ex-Presidente Umaro Sissoco Embaló para continuar a controlar o poder. A começar pelo primeiro-ministro Ilídio Vieira Té- que foi director de campanha do Sissoco Embaló- e alguns membros desse governo de transição, além de figuras também ligadas ao sector castrense. Portanto, isso na verdade, não é um governo legítimo. Como todos sabem, é um governo imposto que não cumpre com a legitimidade, nem com a vontade saída das urnas. Portanto, eu acho que os guineenses defensores da democracia e dos direitos humanos estão a acompanhar impávidos e serenos, convictos de que a situação será revertida. Obviamente com o esforço dos próprios guineenses, mas também com o apoio da comunidade internacional. Este que esse governo simboliza a encenação em que os guineenses foram colocados desde o dia 26 de Novembro. Um governo sem credibilidade? Sem credibilidade e sem legitimidade. Acabamos de sair do processo eleitoral na votação do dia 23 de Novembro e os guineenses merecem ter um governo que não seja imposto pela vontade das armas, mas sim pela vontade popular. Eu acho que mais tarde ou mais cedo, os guineenses terão essa oportunidade de reverter esta situação vergonhosa e grave. Estamos perante um atentado grave contra a democracia. Como é que vê esta nomeação do João Bernardo Vieira para a pasta dos Negócios Estrangeiros? O João [Bernardo Vieira] sempre suportou as agendas autoritárias do Presidente Sissoco Embaló. Portanto, é um prémio que ganhou e está muito feliz, contente. Porém, é um prémio sem legitimidade. A meu ver, ele acabou por cometer um grande erro da sua vida. Porque sendo um político, formado na área do direito, talvez deveria ser o primeiro a defender a legitimidade democrática. Ele sabe quem ganhou as eleições. mas como o interesse dele, como outras figuras, é chegar sempre ao poder, então o importante é pensar em si e não no bem comum dos guineenses. João Bernardo Vieira, enquanto responsável pela diplomacia, não terá nenhuma influência junto da comunidade internacional. Então, estamos diante de um governo de fachada e a contribuição de João Bernardo Vieira será insignificante, tanto ele como os restantes membros do executivo. Este governo -e as pessoas que ali estão, não tem pernas para andar. CEDEAO adiou para segunda-feira a chegada a Bissau, o que é que se espera desta missão de alto nível? Que faça cumprir a legitimidade das urnas. É o mínimo que se espera. Na verdade, chegámos onde chegámos pela cumplicidade da comunidade internacional. É preciso ser honesto e frontal. Umaro Sissoco Embalá e toda a sua equipa desrespeitarm a Constituição da República da Guiné-Bissau, acabarão com a legitimidade democrática arruinaram o Supremo Tribunal, o Parlamento e o Executivo. Durante todos esses anos, nenhuma governou sem considerar a questão da República. A comunidade internacional, com as suas representações aqui na Guiné-Bissau, nunca fiez nada; particularmente, a CEDEAO. Portanto, chegámos onde chegámos por desleixo da comunidade internacional e agora nós esperamos uma contribuição valiosa, não uma contribuição irresponsável, uma contribuição contundente para poder contornar esta situação. Este novo executivo ou vai continuar a ser comandado por Umaro Sissoco Embaló a partir do Congo Brazzaville, como especula alguma imprensa guineense? A própria classe castrense está a ser comandada por Umaro Sissoco Embaló. Quem deu as ordens para colocar o Domingos Simões Pereira na cadeia? E as outras pessoas? Então, se ele está a comandar os militares, porque não faria o mesmo com o executivo de transição? Outro grande erro da CEDEAO foi preocupar-se com Embaló, mesmo sabendo que foi ele quem fez toda essa encenação, então deveria estar num lugar seguro, onde as suas comunicações iriam ser controladas, mas lhe deixaram-no ir para um país onde também não se respeita o Estado de direito democrático. Então ele está à vontade para fazer e continuar a fazer aquilo que ele tem feito com o povo guineense. A posição do antigo Presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, e a do primeiro-ministro senegalês, Ousmane Sonko, que falaram em encenação de golpe de Estado na Guiné-Bissau, acha que pode mudar o xadrez político? Acho que podem influenciar essas posições. Podem influenciar a percepção da comunidade internacional, relativamente ao que está a acontecer na Guiné-Bissau. Os guineenses gostaram muito da frontalidade e da transparência, mas sobretudo da coragem que estes dois dirigentes tiveram para denunciar o que está a acontecer na Guiné-Bissau. Portanto, esperamos que com estas duas declarações, estes dois posicionamentos, possam ter uma acção mais responsável, mais humana, perante aquilo que está a acontecer neste momento. Aliás, de acordo com a imprensa senegalesa, foram mesmo as palavras do Ousmane Sonko que levaram à saída do país do Umaro Sissoco Embaló…. Também não duvido. Acho que deve ser isso mesmo, porque Sonko, com as suas declarações assumiu, que é um defensor da democracia e dos direitos humanos. Mas que peso tem o Congo Brazzaville? O Congo não e um Estado democrático. Denis Sassou-Nguesso, no poder há mais de duas décadas, é o modelo de Sissoco Embaló. Como também os outros ditadores que se espalham pelo continente africano. Sissoco Embaló revê-se no comportamento dessas pessoas para poder aplicar o mesmo na Guiné-Bissau. E foi o que ele fez durante todo esse tempo. Por isso, talvez o Congo é o melhor refúgio para ele, para continuar a comandar de longe os militares e os políticos e a açambarcar os nossos direitos. Na sua opinião, qual é a solução para o país? A solução é respeitar a vontade das urnas, permitindo que a CNE anuncie os resultados eleitorais. Ficou claro, para todos nós, que o vencedor foi o Fernando Dias da Costa. Deve-se permitir que o Fernando Dias da Costa assuma as suas responsabilidades e contribua para a reorganização e revitalização dos órgãos da soberania. Só assim, os guineenses poderão começar a sentir-se mais seguros e poderão sonhar com um amanhã [melhor]. Acredita que as actas eleitorais continuam intactas, longe das mãos dos militares? Os homens da Comissão Executiva da CNE estão todos sob custódia dos militares, assim como alguns magistrados da Procuradoria-Geral da República que trabalharam no processo de fiscalização do processo eleitoral. Portanto, segundo algumas informações oficiais, os dados estão seguros. Esperemos que assim seja, para que se possa, quando se consiga fazer, reunir todas as condições, para que os resultados possam ser lidos e validados.
Madureira, na zona norte do Rio de Janeiro, sediou a Flup 2025 como centro simbólico da diáspora negra, palco de literatura e resistência. A curadora do festival, Mame-Fatou Niang, evocou a urgência de “reencantar o mundo” mesmo diante do massacre causado pela operação policial que antecedeu o evento, enquanto Anne Louyot, responsável pela temporada cultural francesa no Brasil, lembrou que “o Brasil não conhecia essa parte das culturas francesas” e celebrou o legado dos encontros. Márcia Bechara, enviada especial da RFI ao Rio de Janeiro No último fim de semana de programação, a curadora da Flup2025, Mame-Fatou Niang, trouxe uma reflexão que marcou o festival. Ela lembrou a cena de corpos estendidos depois da operação policial no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, vistos de cima por um drone, e a "suspensão daquele instante". "Eu vejo exatamente a cena: aquele drone passando por cima de um objeto difícil de identificar, uma linha muito longa. Eu me lembro de ter visto algo que parecia um tapete se desenrolando. E quando o drone se aproxima, eu percebo que cada ‘desenho' daquele tapete era, na verdade, um corpo deitado, colocado entre outros de forma intercalada”, rememorou à RFI. A curadora se perguntou sobre o sentido de propor o reencantamento diante da tragédia, mas não hesitou em manter o tema de 2025: Ideias para reencantar o mundo. “Eu não hesitei. Nós não hesitamos. Ficamos em suspensão… Eu sei que prendi a respiração e me fiz imediatamente uma pergunta: o que significa querer reencantar o mundo estando a menos de dois quilômetros do lugar onde esses corpos estão? O que significa, para uma mãe que perdeu um filho dessa maneira, ouvir que é possível reencantar o mundo? Estar dentro de um ônibus, olhar pela janela e ver nossos cartazes falando sobre ideias que querem reencantar o mundo?” A reposta, segundo ela, foi multiplicar a vontade de afirmar a vida. "Se isso teve algum efeito em mim, foi o de multiplicar minha vontade de fazer, e de afirmar que, apesar de tudo isso, a vida continua.” Niang recordou ainda as crianças presentes na cena: "havia dezenas de crianças, crianças muito pequenas, ao redor daqueles corpos. Eu me lembro de duas coisas: as moscas sobre os corpos e aquelas crianças tão pequenas", disse. Leia tambémFlup celebra diáspora negra e traz literatura como 'aquilombamento' para 'reencantar' o debate decolonial "Então pensei: nós temos objetos, temos uma proposta visual, uma comunicação muito doce, muito pop, muito rosa… E eu queria que as crianças fossem atraídas para dentro do ônibus, que não pensassem nas moscas sobre os corpos, mas que olhassem os peixes, os búzios, as flores. E que, mesmo sem saber ler, fossem atraídas por aquelas formas. Talvez perguntassem para a mãe: ‘O que está escrito aqui?' E que a mãe respondesse: ‘Ah, tem um ou dois loucos que acham que podem encantar o mundo.'”, avaliou. Para ela, a Flup é um "quilombo de utopistas": "Utopia não é aquilo que não pode ser realizado — é aquilo que ainda não foi realizado.” Niang destacou as conexões já existentes entre Senegal e Brasil, entre outras diásporas negras. Leia também'Brasil é acontecimento antropológico': autor premiado da experiência pós-colonial lança 4 obras na Flup “Não se trata exatamente de criar pontes. Não é isso. É revelar as pontes que já existem. Elas já estão aqui. Ontem mesmo eu estava assistindo a uma roda de tambor. Minha família vem do Senegal. As pessoas aqui do bairro, em Madureira, me lembram profundamente de onde eu venho. Eu reconheci todos os gestos da minha avó. Essas coisas permanecem nas palavras, na língua, na comida, na dança, na forma de se mover, no corpo. Então, para nós, a ideia não é inventar nada novo, mas reacender essas conexões, mostrar os caminhos, os desvios, as surpresas, enxergar como essas práticas foram se transformando aqui. A gente não precisa criar nada — tudo já existe", destacou. Diversidade No encerramento, a curadora da temporada cultural francesa no Brasil, a curadora, Anne Louyot, reforçou a importância da Flup como espaço de revelação da diversidade. “Acho que o Brasil não conhece essa parte das culturas francesas, essa parte negra, afrodescendente. E a Flup é o evento ideal para mostrar ao público brasileiro que nós também temos essa diversidade cultural e racial.” Leia tambémConceição Evaristo evoca heroísmo das mulheres negras e direito inalienável da literatura na Flup “O legado é que todos esses encontros possam seguir, que vão finalmente escapar do nosso domínio e vão continuar. Eu já sei que várias pessoas que se encontraram durante a temporada já estão pensando na etapa seguinte. O legado é que esse encontro siga no nível da diversidade das duas sociedades”, ressaltou. A Flup 2025 se despede neste domingo (30) com um show gratuito do Olodum no Viaduto de Madureira — território que reafirma sua vocação como reduto da resistência da cultura negra carioca.
La Dra. Isabel Matilde Chinchía, Hematóloga y Oncóloga Clínica del Grupo de Linfomas de la ACHO en Colombia, en conjunto con el Dr. José Sandoval, Hematólogo Oncólogo del MOFFITT Cancer Center en Estados Unidos, compartieron las actualidades en linfoma no Hodgkin (LNH) B difuso de células grandes.Su intervención se llevó a cabo durante el 9° Congreso Nacional de Actualización en Hematología y Oncología de la ACHO, realizado del 14 al 16 de noviembre de 2025 en Cartagena de Indias, Colombia.Fecha de grabación: 15 de noviembre de 2025 Referencia:Este contenido se basa en la interpretación crítica de la evidencia científica disponible, así como en la experiencia clínica del o los ponentes como profesionales de la salud en instituciones de referencia.Para profundizar en los conceptos discutidos, se recomienda al profesional de la salud consultar literatura científica vigente, guías clínicas internacionales y la normatividad aplicable en su país.Material exclusivo para profesionales de la salud. Este material ha sido desarrollado únicamente con fines educativos e informativos y no tiene la intención de sustituir el juicio clínico de los profesionales de la salud. Las opiniones y declaraciones presentadas en este contenido son responsabilidad exclusiva de los ponentes y no reflejan necesariamente la postura institucional de ScienceLink ni de terceros mencionados. La información presentada se basa en el conocimiento y la experiencia profesional de los ponentes. La veracidad, exactitud y actualidad científica de los datos son de su exclusiva responsabilidad. Así mismo garantizan que el contenido utilizado no infringe derechos de autor de terceros y asumen toda responsabilidad por su uso. Se deberán de revisar las indicaciones aprobadas en el país con estricto apego al marco regulatorio aplicable para cada uno de los tratamientos y medicamentos comentados.
Você já parou pra pensar quem traduz os livros que você lê e como esse trabalho molda a forma como entende o mundo? Neste episódio, Lívia Mendes e Lidia Torres irão nos conduzir em uma viagem no tempo para entendermos como os textos gregos e latinos chegam até nós. Vamos descobrir por que traduzir é sempre também interpretar, criar e disputar sentidos. Conversamos com Andrea Kouklanakis, professora permanente na Hunter College, Nova York, EUA, e Guilherme Gontijo Flores, professor da Universidade Federal do Paraná. Eles compartilharam suas trajetórias no estudo de línguas antigas, seus desafios e descobertas com o mundo da tradução e as questões políticas, históricas e estéticas que a prática e as teorias da tradução abarcam. Esse episódio faz parte do trabalho de divulgação científica que a Lívia Mendes desenvolve no Centro de Estudos Clássicos e Centro de Teoria da Filologia, vinculados ao Instituto de Estudos da Linguagem e ao Instituto de Estudos Avançados da Unicamp, financiado pelo projeto Mídia Ciência da FAPESP, a quem agradecemos pelo financiamento. O roteiro foi escrito por Lívia Mendes e a revisão é de Lidia Torres e Mayra Trinca. A edição é de Daniel Rangel. Se você gosta de literatura, história, tradução ou quer entender novas formas de aproximar o passado do presente, esse episódio é pra você. __________________________________________________________________ ROTEIRO [música, bg] Lívia: Quem traduziu o livro que você está lendo? Lívia: E se você tivesse que aprender todas as línguas dos clássicos que deseja ler? Aqueles livros escritos em russo, alemão ou qualquer outra língua diferente da sua? Lívia: E aqueles livros das literaturas que foram escritas em línguas que chamamos antigas, como o latim e o grego? Lidia: A verdade é que, na maioria das vezes, a gente não pensa muito sobre essas questões. Mas, no Brasil, boa parte dos livros que lemos, tanto literários quanto teóricos, não chegaria até a gente se não fossem os tradutores. Lidia: Essas obras, que fazem parte de todo um legado social, filosófico e cultural da nossa sociedade, só chegaram até nós por causa do trabalho cuidadoso de pesquisadores e tradutores dessas línguas, que estão tão distantes, mas ao mesmo tempo, tão próximas de nós. [música de transição] Lívia: Eu sou a Lívia Mendes. Lidia: E eu sou a Lidia Torres. Lívia: Você já conhece a gente aqui do Oxigênio e no episódio de hoje vamos explorar como traduzimos, interpretamos e recebemos textos da Antiguidade greco-romana. Lidia: E, também vamos pensar por que essas obras ainda hoje mobilizam debates políticos, culturais e estéticos. Lívia: Vem com a gente explorar o mundo da antiguidade greco-romana que segue tão presente na atualidade, especialmente por meio da tradução dos seus textos. [vinheta O2] Andrea [1:05-2:12]: Então, meu nome é Andrea Kouklanakis e, eu sou brasileira, nasci no Brasil e morei lá até 21 anos quando eu emigrei para cá. Lívia: O “cá” da Andrea é nos Estados Unidos, país que ela se mudou ainda em 1980, então faz um tempo que ela mora fora do Brasil. Mas mesmo antes de se mudar, ela já tinha uma experiência com o inglês. Andrea Kouklanakis: Quando eu vim pra cá, eu não tinha terminado faculdade ainda, eu tinha feito um ano e meio, quase dois anos na PUC de São Paulo. Ah, e mas chegou uma hora que não deu mais para arcar com a responsabilidade financeira de matrícula da PUC, de mensalidades, então eu passei um tempo trabalhando só, dei aulas de inglês numa dessas escolas assim de business, inglês pra business people e que foi até legal, porque eu era novinha, acho que eu tinha 18, 19 anos e é interessante que todo mundo era mais velho que eu, né? Os homens de negócios, as mulheres de negócio lá, mas foi uma experiência legal e que também, apesar de eu não poder estar na faculdade daquela época, é uma experiência que condiz muito com o meu trabalho com línguas desde pequena. Lívia: Essa que você ouviu é a nossa primeira entrevistada no episódio de hoje, a professora Andrea Kouklanakis. Como ela falou ali na apresentação, ela se mudou ainda jovem pros Estados Unidos. Lidia: E, como faz muito tempo que ela se comunica somente em inglês, em alguns momentos ela acaba esquecendo as palavras em português e substitui por uma palavra do inglês. Então, a conversa com a Andrea já é um início pra nossa experimentação linguística neste episódio. Andrea Kouklanakis: Eu sou professora associada da Hunter College, que faz parte da cidade universitária de Nova York, City University of New York. E eles têm vários campus e a minha home college é aqui na Hunter College, em Manhattan. Eh, eu sou agora professora permanente aqui. Lívia: A professora Andrea, que conversou com a gente por vídeo chamada lá de Nova Iorque, contou que já era interessada por línguas desde pequena. A mãe dela trabalhava na casa de uma professora de línguas, com quem ela fez as primeiras aulas. E ela aprendeu também algumas palavras da língua materna do seu pai, que é grego e mais tarde, estudou francês e russo na escola. Lidia: Mas, além de todas essas línguas, hoje ela trabalha com Latim e Grego.Como será que essas línguas antigas entraram na vida da Andrea? Andrea Kouklanakis: Então, quando eu comecei aqui na Hunter College, eu comecei a fazer latim porque, bom, quando você tem uma língua natal sua, você é isenta do requerimento de línguas, que todo mundo tem que ter um requerimento de língua estrangeira na faculdade aqui. Então, quando eu comecei aqui, eu fiquei sabendo, que eu não precisava da língua, porque eu tinha o português. Mas, eu falei: “É, mas eu peguei pensando a língua é o que eu quero, né?” Então, foi super assim por acaso, que eu tava olhando no catálogo de cursos oferecidos. Aí eu pensei: “Ah, Latim, OK. Why not?. Por que não, né? Uma língua antiga, OK. Lívia: A professora Andrea, relembrando essa escolha por cursar as disciplinas de Latim, quando chegou na Hunter College, percebeu que ela gostou bastante das aulas por um motivo afetivo e familiar com a maneira com que ela tinha aprendido a língua portuguesa aqui no Brasil, que era diferente da forma como seus colegas estadunidenses tinham aprendido o inglês, sem muita conexão com a gramática. Lidia: Ela gostava de estudar sintaxe, orações subordinadas e todas essas regras gramaticais, que são muito importantes pra quem quer estudar uma língua antiga e mais pra frente a gente vai entender bem o porquê. [som de ícone] Lívia: sintaxe, é a parte da gramática que estuda como as palavras se organizam dentro das frases pra formar sentidos. Ela explica quem é o sujeito, o que é o verbo, quais termos completam ou modificam outros, e assim por diante. [som de ícone]: Lívia: Oração subordinada é uma frase que depende de outra para ter sentido completo. Ela não “anda sozinha”: precisa da oração principal pra formar o significado total. [música de transição] Lidia: E, agora, você deve estar se perguntando, será que todo mundo que resolve estudar língua antiga faz escolhas parecidas com a da professora Andrea? Lidia: É isso que a gente perguntou pro nosso próximo entrevistado. Guilherme Gontijo: Eu sou atualmente professor de latim na UFPR, no Paraná, moro em Curitiba. Mas, eu fiz a minha graduação em letras português na UFES, na Federal do Espírito Santo. E lá quando eu tive que fazer as disciplinas obrigatórias de latim, eu tinha que escolher uma língua complementar, eu lembro que eu peguei italiano porque eu estudava francês fora da universidade e eu tinha que estudar o latim obrigatório. Estudei latim com Raimundo Carvalho. Lívia: Bom, parece que o Guilherme teve uma trajetória parecida com a da Andrea e gostar de estudar línguas é uma das premissas pra se tornar um estudioso de latim e de grego. Lidia: O professor Raimundo de Carvalho, que o Guilherme citou, foi professor de Latim da Federal do Espírito Santo. Desde a década de 80 ele escreve poesias e é um importante estudioso da língua latina. Ele quem traduziu a obra Bucólicas, do Vírgílio, um importante poeta romano, o autor da Eneida, que talvez você já deva ter ouvido falar. O professor Raimundo se aposentou recentemente, mas segue trabalhando na tradução de Metamorfoses, de outro poeta romano, o Ovídio. Lívia: O Guilherme contou o privilégio que foi ter tido a oportunidade de ser orientado de perto pelo professor Raimundo. Guilherme Gontijo: Eu lembro que eu era um aluno bastante correto, assim, eu achava muito interessante aprender latim, mas eu estudei latim pensando que ele teria algum uso linguístico pras pessoas que estudam literatura brasileira. E quando ele levou Catulo pra traduzir, eu lembro de ficar enlouquecido, assim, foi incrível e foi a primeira vez na minha vida que eu percebi que eu poderia traduzir um texto de poema como um poema. E isso foi insistivo pra mim, eu não tinha lido teoria nenhuma sobre tradução. Lívia: Um episódio sobre literatura antiga traz esses nomes diferentes, e a gente vai comentando e explicando. O Catulo, que o Guilherme citou, foi um poeta romano do século I a.C.. Ele é conhecido por escrever odes, que são poemas líricos que expressam admiração, elogio ou reflexão sobre alguém, algo ou uma ideia. A obra do Catulo é marcada pelos poemas que ele dedicou a Lésbia, figura central de muitos dos seus versos. Guilherme Gontijo: Eu fiz as duas disciplinas obrigatórias de latim, que é toda a minha formação oficial de latim, acaba aí. E passei a frequentar a casa do Raimundo Carvalho semanalmente, às vezes duas vezes por semana, passava a tarde inteira tendo aula de latim com ele, lendo poetas romanos ou prosa romana e estudava em casa e ele tirava minhas dúvidas. Então, graças à generosidade do Raimundo, eu me tornei latinista e eu não tinha ideia que eu, ainda por cima, teria ali um mestre, porque ele é poeta, é tradutor de poesia. Lidia: Essa conexão com a língua latina fez o Guilherme nunca mais abandonar a tradução. Ele disse que era uma forma natural de conseguir conciliar o seu interesse intelectual acadêmico e o lado criativo, já que desde o início da graduação ele já era um aspirante a poeta. Lívia: É importante a gente lembrar que o Guilherme tem uma vasta carreira como autor, poeta e tradutor e já vamos aproveitar pra deixar algumas dicas dos livros autorais e dos autores que ele traduziu. Lívia: Guilherme é autor dos poemas de carvão :: capim (2018), Todos os nomes que talvez tivéssemos (2020), Arcano 13 em parceria com Marcelo Ariel. Ele também escreveu o romance História de Joia (2019) e os livros de ensaios Algo infiel: corpo performance tradução (2017) em parceria com Rodrigo Gonçalves e A mulher ventriloquada: o limite da linguagem em Arquíloco (2018). Se aventurou pelo infanto-juvenil com os livros A Mancha (2020) e o Coestelário (2021), ambos em parceria com Daniel Kondo. E traduziu autores como Safo, Propércio, Catulo, Horácio, Rabelais e Whitman. Lidia: Os poetas Rabelais e Whitman são autores modernos, viveram nos séculos XVI e XIX, já os outros poetas são da antiguidade romana, aquele período aproximadamente entre o século IV a.C. e o século V d.C. Lívia: Então, o Guilherme traduz tanto textos de línguas modernas quanto de línguas antigas. E, a gente perguntou pra ele se existe alguma diferença no trabalho do tradutor quando vai traduzir um texto de uma língua moderna, que está mais próxima de nós no tempo, e quando vai traduzir do latim ou do grego, que são línguas mais distantes temporalmente. Lívia: O Guilherme falou que quando ele vai traduzir de uma língua moderna pra outra língua moderna existem duas possibilidades: traduzir diacronicamente, que é quando o tradutor escreve o texto na língua produzida como se fosse da época mesmo que ele foi escrito. E a outra possibilidade é traduzir deslocando o autor temporalmente, e fazendo a linguagem do texto conversar com a linguagem contemporânea. Lidia: Pode parecer um pouco confuso de início, mas ouve só o exemplo do Guilherme da experiência de tradução que ele teve com o Rimbaud, que é um autor francês. Guilherme Gontijo: Por exemplo, fui traduzir Rimbaud, o Rimbaud do século XIX. Quando eu vou traduzir, eu posso tentar traduzir pensando diacronicamente e aí eu vou tentar traduzir o Rimbaud pra ele parecer um poeta do século XIX em português. E aí eu vou dar essa sensação de espaço temporal pro leitor contemporâneo agora. É, o Guilherme de Almeida fez um experimento genial assim, traduzindo o poeta francês François Villon para uma espécie de pastiche de galego-português, botando a linha temporal de modo que é isso, Villon é difícil para um francês ler hoje, que a língua francesa já sofreu tanta alteração que muitas vezes eles leem numa espécie de edição bilíngue, francês antigo, francês moderno. A gente também tem um pouco essa dificuldade com o galego-português, que é a língua literária da Península ali pra gente, né? Ah, então essa é uma abordagem. Outra abordagem, eu acho que a gente faz com muito menos frequência, é tentar deslocar a relação da temporalidade, ou seja, traduzir Rimbaud, não para produzir um equivalente do Rimbaud, século XIX no Brasil, mas pra talvez criar o efeito que ele poderia criar nos seus contemporâneos imediatos. Lívia: Ou seja, a ideia aqui seria escrever um texto da maneira como se escreve hoje em dia, meio que transpondo a história no tempo. Lidia: Pra quem não conhece, fica aqui mais uma dica de leitura: o poeta francês Arthur Rimbaud, que o Guilherme citou, viveu entre 1854 e 1891 e escreveu quase toda sua obra ainda adolescente. Ele renovou a poesia moderna com imagens ousadas, experimentação formal e uma vida marcada pela rebeldia. Abandonou a literatura muito jovem e passou o resto da vida viajando e trabalhando na África. Lívia: Mas, e pra traduzir da língua antiga, será que esse dois caminhos também são possíveis? Guilherme Gontijo: Quando eu vou traduzir do latim, por exemplo, eu não tenho esse equivalente. Não existe o português equivalente de Propércio. O português equivalente de Propércio como língua literária é o próprio latim. Lívia: Ou seja, o que o Guilherme quis dizer é que não existe uma possibilidade de traduzir um texto latino como ele soava na antiguidade, porque o latim é a língua que originou as línguas modernas latinas, e a língua portuguesa é uma delas, junto com o espanhol, o francês e o italiano. Lidia: Mas, o que pode acontecer é uma classicização dos textos antigos e o Guilherme enfatizou que acontece muito nas traduções que a gente tem disponível do latim pro português. A classicização, nesses casos, é traduzir os textos da antiguidade com o português do século XVIII ou XIX, transformando esses textos em clássicos também pra nós. Guilherme Gontijo:Curiosamente, a gente, quando estuda os clássicos, a gente sempre fala: “Não, mas isso é moderno demais. Será que ele falaria assim?” Acho curioso, quando, na verdade, a gente vendo que os clássicos tão falando sobre literatura, eles parecem não ter esses pudores. Aliás, eles são bem menos arqueológicos ou museológicos do que nós. Eles derrubavam um templo e botavam outro templo em cima sem pensar duas vezes enquanto nós temos muito mais pudores. Então, a minha abordagem atual de traduzir os clássicos é muito tentar usar as possibilidades do português brasileiro, isso é muito marcado pra mim, uma das variedades do português brasileiro, que é a minha, né? De modo ativo. Lívia: Só pra dar um exemplo do que faz a língua soar clássica, seria o uso do pronome “tu” ao invés de “você”, ou, os pronomes oblíquos como “eu te disse” ou “eu te amo”, porque ninguém fala “eu lhe amo” no dia a dia. Lidia: E esse é justamente o ponto quando a gente fala de tradução do texto antigo. Eles não vão ter um equivalente, e a gente não tem como traduzir por algo da mesma época. Guilherme Gontijo: Então, a gente precisa fazer um exercício especulativo, experimental, pra imaginar os possíveis efeitos daqueles textos no seu mundo de partida, né? A gente nunca vai saber o sabor exato de um texto grego ou romano, porque por mais que a gente tenha dicionário e gramática, a gente não tem o afeto, aquele afeto minucioso da língua que a gente tem na nossa. Lívia: Essas questões de escolhas de tradução, que podem aproximar ou afastar a língua da qual vai se traduzir pra língua que será traduzida se aproximam das questões sociais e políticas que são intrínsecas à linguagem. [música de transição] Lidia: Assim como qualquer outro texto, os escritos em latim ou grego nunca serão neutros. Mesmo fazendo parte de um mundo tão distante da gente, eles reproduzem projetos políticos e identitários tanto da antiguidade quanto dos atuais. Andrea Kouklanakis: Eu acho que esse aspecto político e histórico dos estudos clássicos é interessante porque é uma coisa quando você tá fazendo faculdade, quando eu fiz pelo menos, a gente não tinha muita ideia, né? Você tava completamente sempre perdida no nível microscópico da gramática, né? De tentar a tradução, essas coisas, você tá só, completamente submersa nos seus livros, no seu trabalho de aula em aula, tentando sobreviver ao Cícero. Lívia: Como a Andrea explicou, os estudos que chamamos de filológicos, soam como uma ciência objetiva. Eles tentam achar a gênese de um texto correto, como uma origem e acabam transformando os estudos clássicos em um modelo de programa de império ou de colonização. Andrea Kouklanakis: Então, por exemplo, agora quando eu dou aula sobre o legado dos estudos clássicos na América Latina Agora eu sei disso, então com os meus alunos a gente lê vários textos primários, né, e secundários, que envolvem discurso de construção de nação, de construção de império, de construção do outro, que são tecidos com os discursos clássicos, né, que é essa constante volta a Atenas, a Roma, é, o prestígio dos estudos clássicos, né? Então, a minha pesquisa se desenvolveu nesse sentido de como que esses latino afro brasileiros, esses escritores de várias áreas, como que eles lidaram na evolução intelectual deles, na história intelectual deles, como que eles lidaram com um ramo de conhecimento que é o centro do prestígio. Eles mesmo incorporando a falta de prestígio completa. O próprio corpo deles significa ausência total de prestígio e como que eles então interagem com uma área que é o centro do prestígio, sabe? Lidia: Então, como você percebeu, a Andrea investiga como os escritores afro-latino-americanos negociaram essa tradição clássica, símbolo máximo de prestígio, com suas histórias incorporadas a um lugar sem prestígio, marcadas em seus corpos pelo tom de pele. Lívia: Esse exercício que a professora Andrea tem feito com seus alunos na Hunter College tem sido uma prática cada vez mais presente nos Estudos Clássicos da América Latina e aqui no Brasil. É um exercício de colocar um olhar crítico pro mundo antigo e não apenas como uma forma de simplesmente celebrar uma antiguidade hierarquicamente superior a nós e a nossa história. Lidia: Nesse ponto, é importante a gente pontuar que a professora Andrea fala de um lugar muito particular, porque ela é uma mulher negra, brasileira, atuando em uma universidade nos Estados Unidos e em uma área de estudos historicamente tradicional. Lívia: Ela relatou pra gente um pouco da sua experiência como uma das primeiras mulheres negras a se doutorar em Estudos Clássicos em Harvard. Andrea Kouklanakis: Eu também não queria deixar de dizer que, politicamente, o meu entendimento como classista foi mais ou menos imposto de fora pra mim, sobre mim como uma mulher de cor nos estudos clássicos, porque eu estava exatamente na década de final de 90, meio final de 90, quando eu comecei a fazer os estudos clássicos na Harvard e foi coincidentemente ali quando também saiu, acho que o segundo ou terceiro volume do Black Athena, do Bernal. E, infelizmente, então, coincidiu com eu estar lá, né? Fazendo o meu doutorado nessa época. E na época existiam esses chat rooms, você podia entrar no computador e é uma coisa estranha, as pessoas interagiam ali, né? O nível de antipatia e posso até dizer ódio mesmo que muitas pessoas expressavam pela ideia de que poderia existir uma conexão entre a Grécia e a África, sabe? A mera ideia. Era uma coisa tão forte sabe, eu não tinha a experiência ou a preparação psicológica de receber esse tipo de resposta que era com tantos ânimos, sabe? Lidia: Com esse relato, a professora Andrea revelou pra gente como o preconceito com a população negra é tão explícita nos Estados Unidos e como ela, mesmo tendo passado a infância e a adolescência no Brasil, sentiu mais os impactos disso por lá. Lívia: Mas, fora o preconceito racial, historicamente construído pelas nossas raízes de colonização e escravização da população negra, como estudiosa de Estudos Clássicos, foi nessa época que a Andrea percebeu que existia esse tipo de discussão e que ainda não estava sendo apresentada pra ela na faculdade. Andrea Kouklanakis: Depois que eu me formei, eu entrei em contato com a mulher que era diretora de admissão de alunos e ela confirmou pra mim que é eu acho que eu sou a primeira pessoa de cor a ter um doutorado da Harvard nos Estudos Clássicos. E eu acho que mesmo que eu não seja a primeira pessoa de cor fazendo doutorado lá, provavelmente eu sou a primeira mulher de cor. Lidia: Vamos destacar agora, alguns pontos significativos do relato da professora Andrea. [som de ícone] Lívia: O livro que ela citou é o Black Athena, do estudioso de história política Martin Bernal. A teoria criada pelo autor afirmava que a civilização clássica grega na realidade se originou de culturas da região do Crescente Fértil, Egito, Fenícia e Mesopotâmia, ao invés de ter surgido de forma completamente independente, como tradicionalmente é colocado pelos historiadores germânicos. [som de ícone] Lívia: Ao propor uma hipótese alternativa sobre as origens da Grécia antiga e da civilização clássica, o livro fomentou discussões relevantes nos estudos da área, gerando controvérsias científicas, ideológicas e raciais. [som de ícone] Lidia: Em contrapartida às concepções racistas vinda de pesquisadores, historiadores e classicistas conservadores, a professora Andrea citou também um aluno negro de Harvard, o historiador e classicista Frank Snowden Jr.. [som de ícone] Lívia: Entre seus diversos estudos sobre a relação de brancos e negros na antiguidade, está o livro Before Color Prejudice: The Ancient View of Black, em português, Antes do Preconceito Racial: A Visão Antiga dos Negros. Um aprofundamento de suas investigações sobre as relações entre africanos e as civilizações clássicas de Roma e da Grécia e demonstra que os antigos não discriminavam os negros por causa de sua cor. [som de ícone] Lidia: O livro lança luz pra um debate importantíssimo, que é a diferença de atitudes dos brancos em relação aos negros nas sociedades antigas e modernas, além de observar que muitas das representações artísticas desses povos se assemelham aos afro-americanos da atualidade. Andrea Kouklanakis: Mas, então é isso, então essa coisa política é uma coisa que foi imposta, mas a imposição foi até legal porque aí me levou a conhecer e descobrir e pesquisar essa área inteira, que agora é uma coisa que eu me dedico muito, que é olhar qual que é a implicação dos estudos clássicos na política, na raça, na história e continuando dando as minhas aulas e traduzindo, fazendo tradução, eu adoro tradução, então, esse aspecto do estudo clássico, eu sempre gostei. [música de transição] Lívia: O Guilherme também falou pra gente sobre essa questão política e histórica dos Estudos Clássicos, de que ficar olhando pro passado como objeto desvinculado, nos impede de poder articular essas discussões com a política do presente. Guilherme Gontijo: E acho que o resultado quando a gente faz isso é muitas vezes colocar os clássicos como defensores do status quo, que é o que o um certo império brasileiro fez no período de Dom Pedro, é o que Mussolini fez também. Quer dizer, vira propaganda de estado. Lidia: Mas, ao contrário, quando a gente usa os clássicos pra pensar as angústias do presente, a gente percebe que é uma área de estudos que pode ser super relevante e super viva pra qualquer conversa do presente. Lívia: E, na tradução e na recepção desses textos antigos, como será que essas questões aparecem? O Guilherme deu um exemplo pra gente, de uma tradução que ele fez do poeta romano Horácio. [som de ícone] Lidia: Horácio foi um poeta romano do século I a.C., famoso por escrever poesias nos formatos de Odes, Sátiras e Epístolas, e defendia a ideia do “justo meio” — evitar excessos e buscar a medida certa na vida. Guilherme Gontijo: Tô lembrando aqui de uma ode de Horácio, acho que esse exemplo vai ser bom. Em que ele termina o poema oferecendo um vai matar um cabrito pra uma fonte, vai oferendar um cabrito para uma fonte. E quando eu tava traduzindo, vários comentadores lembravam de como essa imagem chocou violentamente o século XIX na recepção. Os comentadores sempre assim: “Como assim, Horácio, um homem tão refinado vai fazer um ato tão brutal, tão irracional?” Quer dizer, isso diz muito mais sobre a recepção do XIX e do começo do XX, do que sobre Horácio. Porque, assim, é óbvio que Horácio sacrificaria um cabrito para uma fonte. E nisso, ele não está escapando em nada do resto da sua cultura. Agora, é curioso como, por exemplo, o nosso modelo estatal coloca a área de clássicas no centro, por exemplo, dos cursos de Letras, mas acha que práticas do Candomblé, que são análogas, por exemplo, você pode oferecer animais para divindades ou mesmo para águas, seriam práticas não não não racionais ou não razoáveis ou sujas ou qualquer coisa do tipo, como quiserem. Né? Então, eu acho que a gente pode e esse é o nosso lugar, talvez seja nossa missão mesmo. Lívia: Como o Guilherme explicou, nós no Brasil e na América Latina temos influência do Atlântico Negro, das línguas bantas, do candomblé, da umbanda e temos um aporte, tanto teórico quanto afetivo, pra pensar os clássicos, a partir dessas tradições tão próximas, que a própria tradição europeia tem que fazer um esforço gigantesco pra chegar perto, enquanto pra gente é natural. Lidia: E não podemos nos esquecer também da nossa convivência com várias etnias indígenas, que possuem comparações muito fortes entre essas culturas. Guilherme Gontijo: Eu diria, eu entendo muito melhor o sentido de um hino arcaico, grego, ouvindo uma cantiga de terreiro no Brasil, do que só comparando com literatura. Eu acho que é relevante para a área de clássicas, não é uma mera curiosidade, sabe? Então, eu tenho cada vez mais lido gregos e romanos à luz da antropologia moderna, contemporaneíssima, sabe? Eu acho que muitos frutos aparecem de modo mais exemplar ou mais óbvio quando a gente faz essa comparação, porque a gente aí tira de fato os clássicos do lugar de clássicos que lhes é dado. [música de transição] Lívia: Pra além dessas discussões teóricas e políticas, a tradução é também um ato estético e existem algumas formas de repensar a presença da poesia antiga no mundo contemporâneo a partir de uma estética aplicada na linguagem e nos modos de traduzir. Lidia: No caso do Guilherme, ele vem trabalhando há um tempo com a tradução como performance. Guilherme Gontijo: E aí eu pensei: “Não, eu poderia traduzir Horácio para cantar”. Eu vou aprender a cantar esses metros antigos e vou cantar a tradução na mesmíssima melodia. Quer dizer, ao invés de eu pensar em metro no sentido do papel, eu vou pensar em metro no sentido de uma vocalidade. E foi isso que eu fiz. Foi o meu o meu doutorado, isso acabou rendendo a tradução de Safo. Lívia: Além das traduções publicadas em livros e artigos, o Guilherme também coloca essas performances na rua com o grupo Pecora Loca, que desde 2015 se propõe a fazer performances de poemas antigos, medievais e, às vezes, modernos, como um modo de ação poética. Lidia: Inclusive a trilha sonora que você ouviu ali no início deste trecho é uma das performances realizada pelo grupo, nesse caso do poema da Ode 34 de Horácio, com tradução do próprio Guilherme e música de Guilherme Bernardes, que o grupo gentilmente nos passou. Guilherme Gontijo: Isso pra mim foi um aprendizado teórico também muito grande, porque você percebe que um poema vocal, ele demanda pra valorizar a sua ou valorar a sua qualidade, também a performance. Quer dizer, o poema não é só um texto no papel, mas ele depende de quem canta, como canta, qual instrumento canta. Lívia: O Guilherme explicou que no início eles usavam instrumentos antigos como tímpano, címbalo, lira e até uma espécie de aulos. Mas, como, na verdade, não temos informações precisas sobre como era a musicalidade antiga, eles resolveram afirmar o anacronismo e a forma síncrona de poesia e performance, e, atualmente, incorporaram instrumentos modernos ao grupo como a guitarra elétrica, o baixo elétrico, o teclado e a bateria. Guilherme Gontijo: Então, a gente tem feito isso e eu acho que tem um gesto político, porque é muito curioso que a gente vai tocar num bar e às vezes tem alguém desavisado e gosta de Anacreonte. Olha, caramba, adorei Anacreonte. É, é, e ela percebe que Anacreonte, ela ouviu a letra e a letra é basicamente: “Traga um vinho para mim que eu quero encher a cara”. Então ela percebe que poesia antiga não é algo elevado, para poucos eleitos capazes de depreender a profundidade do saber grego. Ó, Anacreonte é poema de farra. Lidia: A partir da performance as pessoas se sentem autorizadas a tomar posse dessa herança cultural e a se relacionar com ela. O que cria uma forma de divulgar e difundir os Estudos Clássicos a partir de uma relação íntima, que é a linguagem musical. Guilherme Gontijo: E a experiência mais forte que eu tive nisso, ela é do passado e foi com o Guilherme Bernardes. Lembro que dei uma aula e mostrei a melodia do Carpe Diem, do Horácio. Da Ode. E tava lá mostrando o poema, sendo bem técnico ali, como é que explica o metro, como é que põe uma melodia, etc, etc. E uns três dias depois ele me mandou uma gravação que ele fez no Garage Band, totalmente sintética. De uma versão só instrumental, quer dizer, o que ele mais curtiu foi a melodia. E a gente às vezes esquece disso, quer dizer, um aspecto da poesia arcaica ou da poesia oral antiga romana é que alguém poderia adorar a melodia e nem prestar tanta atenção na letra. E que continuariam dizendo: “É um grande poeta”. Eu senti uma glória quando eu pensei: “Caraca, um asclepiadeu maior tocou uma pessoa como melodia”. A pessoa nem se preocupou tanto que é o poema do Carpe Diem, mas a melodia do asclepiadeu maior. [som de ícone] Lívia: Só por curiosidade, “asclepiadeu maior” é um tipo de verso poético greco-latino composto por um espondeu, dois coriambos e um iambo. Você não precisa saber como funcionam esses versos na teoria. Essa forma poética foi criada pelo poeta lírico grego Asclepíades de Samos, que viveu no século III a.C., por isso o nome, o mais importante é que foi o verso utilizado por Horácio em muitas de suas odes. [música de transição] Lidia: Agora, já encaminhando para o final do nosso episódio, não podemos ir embora sem falar sobre o trabalho de recepção e tradução realizado pela professora Andrea, lá na Hunter College, nos EUA. Lívia: Além do seu projeto sobre a presença dos clássicos nas obras de escritores afro-latino-americanos, com foco especial no Brasil, de autores como Lima Barreto, Luís Gama, Juliano Moreira e Auta de Sousa. A professora também publicou o livro Reis Imperfeitos: Pretendentes na Odisseia, Poética da Culpa e Sátira Irlandesa, pela Harvard University Press, em 2023, e as suas pesquisas abarcam a poesia homérica, a poética comparada e as teorias da tradução. Lidia: A professora Andrea faz um exercício muito importante de tradução de autores negros brasileiros pro inglês, não somente das obras literárias, mas também de seus pensamentos teóricos, pra que esses pensamentos sejam conhecidos fora do Brasil e alcance um público maior. Lívia: E é muito interessante como a relação com os estudos da tradução pra professora Andrea também tocam em um lugar muito íntimo e pessoal, assim como foi pro Guilherme nas suas traduções em performances. Lidia: E ela contou pra gente um pouco dessa história. Andrea Kouklanakis: Antes de falar da língua, é eu vou falar que, quando eu vejo a biografia deles, especialmente quando eu passei bastante tempo com o Luiz Gama. O que eu achei incrível é o nível de familiaridade de entendimento que eu tive da vida corriqueira deles. Por exemplo, Cruz e Souza, né? A família dele morava no fundo lá da casa, né? Esse tipo de coisa assim. O Luiz Gama também quando ele fala do aluno lá que estava na casa quando ele foi escravizado por um tempo, quando ele era criança, o cara que escravizou ele tinha basicamente uma pensão pra estudantes, que estavam fazendo advocacia, essas coisas, então na casa tinham residentes e um deles ensinou ele a ler, a escrever. O que eu achei interessantíssimo é que eu estou há 100 anos separada desse povo, mas a dinâmica social foi completamente familiar pra mim, né? A minha mãe, como eu te falei, ela sempre foi empregada doméstica, ela já se aposentou há muito tempo, mas a vida dela toda inteira ela trabalhou como empregada doméstica. E pra mim foi muito interessante ver como que as coisas não tinham mudado muito entre a infância de alguém como Cruz e Souza e a minha infância, né? Obviamente ninguém me adotou, nada disso, mas eu passei muito tempo dentro da casa de família. que era gente que tinha muito interesse em ajudar a gente, em dar, como se diz, a scholarship, né? O lugar que a minha mãe trabalhou mais tempo assim, continuamente por 10 anos, foi, aliás, na casa do ex-reitor da USP, na década de 70 e 80, o Dr. Orlando Marques de Paiva. Lívia: Ao contar essa história tão íntima, a Andrea explicou como ela tenta passar essa coincidência de vivências, separada por cem anos ou mais no tempo, mas que, apesar de todo avanço na luta contra desigualdades raciais, ainda hoje refletem na sua memória e ainda são muito estáticas. Lidia: Essa memória reflete na linguagem, porque, como ela explicou, esses autores utilizam muitas palavras que a gente não usa mais, porque são palavras lá do século XVIII e XIX, mas o contexto chega pra ela de uma forma muito íntima e ainda viva, por ela ter vivenciado essas questões. Andrea Kouklanakis: Eu não sou poeta, mas eu tô dando uma de poeta, sabe? E quando eu percebo que tem algum estilo assim, a Auta de vez em quando tem um certo estilo assim, ambrósia, não sei do quê, sabe? Eu sei que ela está querendo dizer perfume, não sei o quê, eu não vou mudar, especialmente palavras, porque eu também estou vindo da minha perspectiva é de quem sabe grego e latim, eu também estou interessada em palavras que são em português, mas são gregas. Então, eu preservo, sabe? Lívia: Então, pra Andrea, no seu trabalho tradutório ela procura mesclar essas duas questões, a sua relação íntima com os textos e também a sua formação como classicista, que pensa a etimologia das palavras e convive com essa multiplicidade de línguas e culturas, caminhando entre o grego, o latim, o inglês e o português. [música de transição] [bg] Lidia: Ao ouvir nossos convidados de hoje, a Andrea Koclanakis e o Guilherme Gontijo Flores, percebemos que traduzir textos clássicos é muito mais do que passar palavras de uma língua pra outra. É atravessar disputas políticas, revisitar o passado com olhos do presente, reconstruir memórias coloniais e imaginar novos modos de convivência com as tradições antigas. Lívia: A tradução é pesquisa, criação, crítica e também pode ser transformação. Agradecemos aos entrevistados e a você que nos acompanhou até aqui! [música de transição] [créditos] Livia: O roteiro desse episódio foi escrito por mim, Lívia Mendes, que também fiz a locução junto com a Lidia Torres. Lidia: A revisão foi feita por mim, Lidia Torres e pela Mayra Trinca. Lidia: Esse episódio faz parte do trabalho de divulgação científica que a Lívia Mendes desenvolve no Centro de Estudos Clássicos e Centro de Teoria da Filologia, vinculados ao Instituto de Estudos da Linguagem e ao Instituto de Estudos Avançados da Unicamp, financiado pelo projeto Mídia Ciência da FAPESP, a quem agradecemos pelo financiamento. Lívia: Os trabalhos técnicos são de Daniel Rangel. A trilha sonora é de Kevin MacLeod e também gentilmente cedida pelo grupo Pecora Loca. A vinheta do Oxigênio foi produzida pelo Elias Mendez. Lidia: O Oxigênio conta com apoio da Secretaria Executiva de Comunicação da Unicamp. Você encontra a gente no site oxigenio.comciencia.br, no Instagram e no Facebook, basta procurar por Oxigênio Podcast. Lívia: Pra quem chegou até aqui, tomara que você tenha curtido passear pelo mundo da antiguidade greco-romana e entender um pouco de como os textos antigos chegam até nós pela recepção e tradução. Você pode deixar um comentário, na sua plataforma de áudio favorita, contando o que achou. A gente vai adorar te ver por lá! Até mais e nos encontramos no próximo episódio. [vinheta final]
La Dra. Claudia Casas, hematóloga del Centro Infantil Colbsubsidio en Colombia, explica las nuevas guías publicadas en 2025 por la Federación Mundial de Hemofilia sobre el uso de la terapia génica para hemofilia A y B. Su intervención se llevó a cabo durante el 9° Congreso Nacional de Actualización en Hematología y Oncología de la ACHO, realizado del 14 al 16 de noviembre de 2025 en Cartagena de Indias, Colombia.Fecha de grabación: 16 de noviembre de 2025 Referencia:Este contenido se basa en la interpretación crítica de la evidencia científica disponible, así como en la experiencia clínica del o los ponentes como profesionales de la salud en instituciones de referencia.Para profundizar en los conceptos discutidos, se recomienda al profesional de la salud consultar literatura científica vigente, guías clínicas internacionales y la normatividad aplicable en su país.
Há criadores que operam dentro das fronteiras técnicas do seu ofício. E há outros que as redesenham. Manuel Pureza pertence à segunda categoria — a dos artistas que não apenas produzem obras, mas insinuam uma forma diferente de olhar para o mundo. Ao longo da última década, Pureza foi aperfeiçoando um dialeto visual singular: um equilíbrio improvável entre humor e melancolia, entre disciplina e improviso, entre ironia e empatia. Cresceu no ritmo acelerado das novelas, onde se aprende a filmar com pressão, velocidade e um olho permanentemente aberto para a fragilidade humana. Dali trouxe algo raro: um olhar que recusa o cinismo fácil e que insiste que até o ridículo tem dignidade. Na televisão e no cinema, a sua assinatura tornou-se evidente. Ele filma personagens como quem observa amigos de infância. Filma o quotidiano com a delicadeza de quem sabe que ali mora metade das grandes histórias. Filma o absurdo com a ternura de quem reconhece, nesse absurdo, o lado mais honesto do país que habita. Um humor que pensa Pureza não usa humor para fugir — usa humor para iluminar. Em “Pôr do Sol”, o fenómeno que se transformou num caso sério de análise cultural, a comédia deixou de ser apenas entretenimento. Tornou-se catarse colectiva. Portugal riu-se de si próprio com uma frontalidade rara, quase terapêutica. Não era paródia para diminuir; era paródia para pertencer. “O ridículo não é destrutivo”, explica Pureza. “É libertador.” Essa frase, que poderia ser um manifesto, resume bem o seu trabalho: ele leva o humor a sério. Independentemente do género — seja melodrama acelerado ou ficção introspectiva — há sempre, no seu olhar, a ideia de que rir pode ser um acto de lucidez. Num país onde o comentário público tantas vezes se esconde atrás da ironia amarga, Pureza faz o contrário: usa a ironia para abrir espaço, não para o fechar. A ética do olhar Filmar alguém é um exercício de confiança. Pureza opera com essa consciência. Não acredita em neutralidade — acredita em honestidade. Assume que cada plano é uma escolha e que cada escolha implica responsabilidade. Entre atores, essa postura cria um ambiente invulgar: segurança suficiente para arriscar, liberdade suficiente para falhar, humanidade suficiente para recomeçar. Num set regido pelo seu método, a escuta é tão importante quanto a técnica. E talvez por isso os seus actores falem de “estar em casa”, mesmo quando as cenas são emocionalmente densas. A câmara de Pureza não vigia: acompanha. É aqui que a sua realização se distingue — não por uma estética rigorosa, mas por uma ética clara. Filmar é expor vulnerabilidades. E expor vulnerabilidades exige cuidado. Portugal, esse laboratório emocional O país que surge nas obras de Pureza não é apenas cenário: é personagem. É o Portugal das contradições — pequeno mas exuberante, desconfiado mas carente de pertença, irónico mas sentimental, apaixonado mas contido. É um país onde a criatividade nasce da falta e onde o improviso se confunde com identidade. Pureza conhece esse país por dentro. Viu-o nos sets frenéticos das novelas, nos estúdios apressados da televisão generalista, nas equipas improváveis de produções independentes. E filma-o com um olhar feito de amor e lucidez: nunca subserviente, nunca destructivo, sempre profundamente humano. Há nele uma capacidade rara de observar sem desistir, de criticar sem amargar, de rir sem ferir. Infância, imaginação e paternidade Numa das passagens mais íntimas desta conversa, Pureza regressa à infância — não como nostalgia decorativa, mas como território de formação. A infância, para ele, é o sítio onde nasce a imaginação, mas também o sítio onde se aprende a cair, a duvidar, a arriscar. Esse lugar continua a acompanhar o seu trabalho como uma espécie de bússola emocional. Falar de infância leva inevitavelmente a falar de paternidade. Pureza rejeita a figura do pai iluminado, perfeito, imune ao erro. Fala antes da paternidade real: aquela onde se erra, se tenta, se repara, se adia, se volta a tentar. A paternidade que implica fragilidade. A paternidade que obriga a abrandar num mundo que exige velocidade. Talvez seja por isso que, quando dirige, recusa o automatismo: a vida, lembra, é sempre mais complexa do que aquilo que conseguimos filmar. Escutar como acto político Se há uma frase que atravessa toda a conversa, é esta: “Nós ouvimos pouco.” No contexto de Pureza, ouvir é um verbo político. Num país saturado de ruído, opiniões rápidas e indignações instantâneas, escutar tornou-se quase um acto contracultural. Ele trabalha nesse espaço de atenção — aquele que permite às pessoas serem pessoas, antes de serem personagens, headlines ou caricaturas. É por isso que o seu trabalho ressoa: porque devolve humanidade ao que, tantas vezes, o discurso público reduz. O que fica No final, a impressão é clara: Manuel Pureza não realiza apenas obras. Realiza ligações. Realiza espelhos que não humilham. Realiza pontes entre o ridículo e o sublime. Realiza histórias que, ao invés de nos afastarem, nos devolvem uns aos outros. Há artistas que acrescentam ao mundo um conjunto de imagens. Pureza acrescenta uma forma de ver. E num tempo em que olhar se tornou um acto cada vez mais acelerado — e cada vez menos profundo — isso não é apenas uma qualidade artística. É um serviço público da imaginação. LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO Esta transcrição foi gerada automaticamente. A sua exatidão pode variar. 0:12 Ora, vivam bem vindos ao pergunta simples, o vosso podcast sobre comunicação? Hoje recebemos alguém que não apenas realiza séries e filmes, mas realiza no sentido mais profundo do termo, a forma como olhamos para nós próprios, a maneira como nos espelhamos. 0:28 Manuel pureza é daqueles criadores que trabalham com rigor e com leveza, com inteligência, com humor, com disciplina e com um caos. Ele cresceu nas novelas, aprendeu a filmar sob pressão, descobriu um olhar que combina ternura com ironia e tornou se uma das vozes mais originais da ficção portuguesa. 0:46 E é capaz de pegar no ridículo e transformá lo em verdade, de pegar no quotidiano e transformá lo em drama, de pegar no drama e transformá lo em riso. Tudo sem perder a humanidade, o coração e a ética de quem sabe que filmar é escolher, ter um ponto de vista e que escolher é sempre um ato moral. 1:06 Neste episódio, abrimos as portas ao seu processo criativo, às dúvidas e às certezas, às dores e às gargalhadas, às memórias da infância e às inquietações da idade adultam. Falamos de televisão como um espaço de comunhão. Das novelas como um ginásio, do humor, como o pensamento crítico da arte de ouvir e de ser pai no mundo acelerado, da vulnerabilidade que existe por detrás de uma Câmara e, claro, de Portugal, este país pequeno, cheio de afetos e de feridas, onde tudo é simultaneamente muito absurdo e muito verdadeiro. 1:38 Pureza fala com profundidade e como honestidade às vezes. Desconcertante é uma dessas conversas em que senti que estamos a ver para além do artista, estamos a ver a pessoa, a sensibilidade das dúvidas, a Esperança e a inquietação de alguém que pensa o mundo através das histórias que nos conta. 2:05 Ao longo desta conversa, percebemos como as histórias, para Manuel pureza, não são apenas entretenimento. São uma estrutura emocional de uma forma de organizar o caos, uma linguagem antiga que herdamos mesmo antes de sabermos ler ou escrever. Falamos do poder das narrativas para dar sentido à vida, mas também do seu lado perigoso, porque todas as histórias têm um ponto de vista, todas têm escolhas e omissões, todas moldam a forma como vemos o que é real. 2:33 E ele, pureza. Assume isto sem medo. Assume que filma com olhar assumidamente subjetivo e que essa subjetividade é precisamente a sua assinatura. Não procura parecer neutro, procura ser honesto. Também exploramos a sua relação com o humor. 2:49 O humor que nunca é cínico, nunca é cruel, nunca é gratuito. O ridículo não é uma arma para diminuir os outros. É uma maneira de libertar, de expor o que há de comum entre nós, de desmontar o que é pomposo e de aliviar o peso de viver. 3:04 Diz na própria conversa que tudo pode ser ridículo e isso é uma forma de Redenção. O riso organiza o pensamento, afia o espírito, desarma o mundo e, talvez por isso, o pôr do sol. A série tem sido mais do que um fenómeno cômico, foi um fenómeno emocional quase terapêutico. 3:20 Um espelho carinhoso onde Portugal se reviu e se perdoou, um bocadinho. Falamos da ética, da ética, do olhar, de como se almar alguém. É sempre um ato de intimidade. De como se cria confiança dentro de um set de filmagens, como se dirige atores diferentes, como se acolhe fragilidades? 3:38 Várias. E falamos da amizade e esse tema que atravessa todo o trabalho de pureza, porque para ele, realizar não é apenas uma técnica, é uma escuta, uma presença, um cuidado. Ouvimos muitas vezes ao longo deste episódio, uma afirmação quase simples. Nós ouvimos pouco. 3:55 E quando alguém é capaz de. A olhar tanto e nos diz que ouvimos pouco. Vale a pena parar para escutar. E, claro, falamos de Portugal, um país pequeno, por vezes cínico, com uma profunda tendência para desconfiar do sucesso alheio. Um país que pureza filma com ironia, amor e lucidez. 4:14 E da inveja. Claro que falamos da inveja no país das novelas, do improviso, da criatividade teimosa, das personagens maiores que a vida. O país que ele conhece por dentro e por fora, e que aprende a amar com o humor, mesmo quando o humor é a única forma de suportá lo. Num dos momentos mais belos da conversa, falamos da infância, esse lugar de Liberdade, de curiosidade, de imaginação que pureza tenta manter vivo dentro de si. 4:39 E falamos também do que é ser pai, dos medos que isso acende, da responsabilidade que isso traz. Da paternidade iluminada, mas da paternidade real, onde se falha, se tenta, se repara, se ama e se recomeça. É um episódio cheio de emoções, pontos de vista e algumas surpresas. 5:01 Viva. Manuel pureza, olá, nós encontramo nos e na realidade, temos que dizer às pessoas desde já que há 2 características que nos unem na vida OKA primeira, gostar de pessoas. A segunda, sermos hipocondríacos. Ah, poças? 5:17 Bom, estou em casa sim, sim, sim. Poça altamente hipocondríaco? Sim. Olha, fala me das pessoas, para quem? Para quem não te conhece. Tu és realizador, és um dos mais originais e interessantes realizadores da ficção portuguesa, nomeadamente essa telenovela que subitamente se transformou num objeto de culto, uma coisa chamada pôr do sol. 5:40 Já agora digo te eu, a primeira vez que vi o pôr do sol, o primeiro episódio foi dos enganados. Achavas que era verdade. Pensei assim, é pá, mas o que é isto? Mas o que é que isto está? Mas, mas, mas, mas que coisa tão. EE depois. Lá está à terceira cena. 5:56 É aquela parte do ainda bem que ninguém ouviu o meu pensamento, claro, fala, me fala me desse fenómeno. Então esse fenómeno foi. Uma pulga, uma pulga, uma pulga, várias pulgas. Aliás, eu, eu, enquanto realizador, antes de começar a assinar as minhas séries, fiz 10 anos de telenovelas e fi Los numa lógica de ginásio. 6:22 Eu costumo dizer isto, ou seja, é uma tarefa difícil. É uma tarefa que luta contra. Vários tipos de preconceitos, não só meus, como de quem vê. É uma fábrica? É uma fábrica, sim. Aliás, será a coisa mais próxima de uma indústria audiovisual que nós temos em Portugal. 6:39 É, é, são as novelas. Não é? E isso filma se de que, de, de, de, de que horas? Até que horas? Filma se em horários que AACT se funcionasse não IA não preço, iria sim, iria tudo preço, não em boa verdade, até até podemos falar sobre isso mais à frente que é, eu estive envolvido nalgumas lutas laborais em relação à Malta, que faz novelas em Portugal. 6:58 Porque é pá, chega se a trabalhar trabalhava, se na altura 11 horas mais uma, quer dizer, IA receber colegas meus a receberem me francamente pouco, numa lógica de fazer 40 minutos diários de ficção útil, que é uma enormidade, uma alarvidade e que e que muitas vezes depois tem um efeito nefasto de das pessoas em casa. 7:17 Dizer assim é pá, isto é uma novela, isto não vale nada, mas o esforço das pessoas que estão a fazê la é hercúleo, é desumano. Não tem de ser forçosamente 11. Não tem furiosamente de levar as pessoas a apreciarem esse esforço como sinónimo de qualidade, porque muitas vezes as novelas não têm essa qualidade. 7:35 Portanto, não há tempo no fundo para respirar, para o tédio, para a repetição, para o prazer. Não, nem nem nem. Então por acaso que seja essa a função das novelas, até um certo ponto. As novelas historicamente são feitas para serem ouvidas, não para serem vistas, não é? Ou seja, não em países, não só Portugal, mas outros países machistas, em que as mulheres ficavam a tomar conta da casa e dali da casa, e não tinham trabalho. 7:57 Tinha uma televisão ligada para irem ouvindo. Por isso é que a novela é repetitiva. A novela é. Reiterativa há uma há uma métrica de comunicação. De comunicação, sim. E, portanto, se temos avançado tecnicamente e até qualitativamente nas novelas nos últimos 20 anos, porque temos? 8:13 Ainda estamos nos antípodas do que? Do que uma novela pode ser? A novela pode ser uma arma de educação fantástica. A novela pode ser um retrato. Quase numa perspetiva arqueológica do que é ser português em 2025. E não é disso que estamos a falar. Em quase nenhuma novela falamos disso, não é? 8:30 Talvez tenhamos 2 ou 32 ou 3 casos honestos de portugalidade nas novelas recentes. Ainda estou a falar, por exemplo, de uma novela que eu, eu não, eu não, não sou consumidor de novelas, confesso que não sou. Mas há uma novela que da qual me lembro da premissa que me pareceu interessante, que é uma coisa chamada golpe de sorte. 8:46 Uma mulher numa aldeia que ganhou o euromilhões. Isso pode ser bastante português. Parece me bem. Pode ser bom e tive um sucesso bastante grande e foi uma coisa honesta. Não era de repente alguém que é salvo por uma baleia no ataque de 2 tubarões e sobrevive porque foi atirada? Espera, enfim, ainda vou continuar, porque isso é uma realidade que acontece. Olha, porque é que nós, seres humanos, precisamos tanto de histórias para compreender o mundo? 9:08 Olha, eu acho que as histórias são o que nos estrutura, são aquilo que nos garante a sobrevivência. Até um certo.eu falo disto com os meus alunos. Eu às vezes dou uns workshops para atores e não só é só a palavra workshop dá me logo aqui, carrega me logo aqui umas chinetas um bocado estranhas. 9:24 O workshop downshoising downgraving assim não interessa estamos. Todos AAA praticar o inglês. O inglês neologisticamente falamos. A bom, a bom notícia é que nós, como falamos mal inglês, damos uns pontapés no inglês também terríveis, não é? Sim, sim, sim, mas sim, mas está o inglês. O inglês passou a ser uma espécie de língua Franca, exato, EEA. 9:41 Gente tem palavras bonitas para dizer. EEEEE não, diz. Voltamos às histórias, as histórias. E costumo falar disso com os meus alunos, que é que que passa por nós. Nós não nascemos com direitos humanos, não é? Não nascemos dentro do nosso, do nosso corpo. Não há aqui 11, saca com direitos humanos. 9:56 Houve alguém que inventou essa história e a escreveu numa numa carta universal dos direitos humanos e, portanto, a partir dessa narrativa de que as pessoas têm direito a ser felizes, direito a ter uma casa feliz, direito a ter uma família, direito a ser. A ter um trabalho, et cetera, essa narrativa e estou estou a, estou a, estou AA alargar Oo conceito, evidentemente essa narrativa salva nos todos os dias mais a uns do que a outros, infelizmente. 10:20 Então os dias correm, isso é muito frequente. Há há há zonas do mundo em que essa história não chega, não é? Essas histórias não chegam. A fantasia não chega. A fantasia, sobretudo, é essa coisa mais prática de, de, de, de nos regermos por aquela célebre história do Mello Brooks, não é? A Mello Brooks faz a história mais louca do mundo. 10:36 E o Moisés sobe ao sobe ao ao Monte e Deus dá lhe 15 mandamentos. Só que há uma das pedras que se parte. Ele diz, bom, ele deu me só 10. Inventou um bocado. Isto inventou mas 10 por acaso até um número melhor do que 15. Sim, 15 não dava. Jeito o marketing, ele lá da altura, o homem do marketing, disse disse 15. 10:53 Não dá jeito nada de ser mais redondo que não podem ser 17 nem 13. Não, não. Nem convém, não é para a enologia? Acho que não, não, não, não te ajuda nisso, mas eu acho que sim. As as histórias, sobretudo acima de tudo. Eu sou pai de 3 crianças. Uma criança mais velha que tem 14 anos e outra que tem 3 e outra que tem 11 ano e meio. 11:10 Já tens bom treino de conta histórias. Voltei a recuperá lo, não é? Ou seja, eu sempre andei sempre a treiná lo, porque esta é a minha profissão e é isso que me me entusiasma, não é? Ou seja, mais do que ter um ator que diz bem o texto que lá está e que o diz ipsis verbis como lá está, interessa me um ator que perceba o que é que quer ser dito e que o transforma numa história compreensível e emotiva. 11:29 Ou seja, no limite, é o que o Fellini diz, Oo Fellini diz. Oo cinema serve para para emocionar, seja para eu rir ou para chorar, serve para emocionar. EEO emocionar tem a ver com essa coisa das histórias. Quantas vezes é que tu não vês um é pá, o testemunho de alguém, uma carta que tu descobres 11 texto bonito, um poema simples ou soberbo, ou ou ou o que é que? 11:50 O que é que é uma boa história para mim, sim. Uma boa história é aquela que me lança perguntas, que te provoca sim, que me provoca perguntas, eu faço isso aos meus alunos lhe perguntar, qual é a tua história? E regregelas, confundem, qual é a tua história, qual é que é o meu bilhete de identidade? Então começam, Ah, nasci na amadora, depois foi não sei quê, depois não sei quantos, depois não sei quê, EEA mim, não me interessa, não me interessa mesmo saber se eles vieram da amadora ou não interessa me mais saber. 12:14 No outro dia, uma aluna dizia uma coisa fantástica, eu estou, eu estou aqui porque o meu irmão lê mal, é incrível, uau. E eu disse, então porquê? Eu já quero saber tudo sobre. Essa tua aluna? Queres ver o próximo episódio? Como é? A lógica é essa. Ou seja, eu acho que quando os miúdos estão a ler uma história como a Alice, querem saber quando é que ela cai no fundo do poço que nunca mais acaba. 12:31 Porque é que o poço nunca mais acaba? Porque é que no meio do poço se vão descobrindo retratos e coisas. E que poço é este? Que que coelho é este? Que coelho é que apareceu aqui a correr? E em princípio, não faz sentido nós, mas depois nós, nós nós entramos e embarcamos nesta história. E somos nós que a que a que a construímos. 12:47 Não é na nossa cabeça. Sim, sim. Na nossa cabeça, no nosso coração, de alguma maneira. Quer dizer, pensando, por exemplo, a minha experiência, a minha primeira experiência, aliás, a experiência que definiu a minha. Vontade de ir para para cinema e para o conservatório, et cetera. Conta te quando é que tu descobriste? 13:02 Foi haver uma lodon drive do David Lynch, eu tinha 15 anos. Que é um filme. Estranhíssimo, para filme extraordinário. Eu, eu não o entendo, lá está. Mas estás a ver? Portanto, mudou a tua vida e eu estou a sentir me aqui, o tipo mais perdido do mundo. Não, eu nem entendi o que é que eles estavam a falar. Não. A coisa fantástica desse filme é que é um filme absolutamente clássico, mas não está montado de maneira normal. 13:21 Ou seja, não há princípio, meio e fim por essa ordem. Mas ele é absolutamente clássico. É sobre a cidade dos sonhos, não é? É sobre um sonho. Sobre um sonho de uma mulher que desceu ao mais, mais mais horrível dos infernos de de Hollywood. E, portanto, aí eu vi me obrigado a participar nessa história. 13:39 Estás a ver? Tiveste que montar a história conforme estás a ver. Sim, e acho que isso é isso, é o que determina o que o que é uma boa história e o que é mero, no pior sentido de entretenimento. Podemos estabelecer aqui a diferença entre o que é que é uma. Uma história mais funcional, de uma história que nos que nos expande, porque todos nós, todos nós, temos a história. 14:01 Então, mas como é que foi? Olha o meu dia, eu vim para aqui, trabalhei, sentei, me e escrevi ao computador. E eu digo assim, não quero saber nada dessa história, quero mudas de canal, já não quero saber em cada muda de canal, às vezes mudamos até de conversa. Há há 27 páginas da literatura portuguesa que são muito características e toda a gente se lembra que é AAA caracterização da frente de uma casa chamada ramalhete. 14:24 E na altura, quando tínhamos 1415 anos, a dor achámos que era uma dor. Mas se se recuperarmos isso é provavelmente as coisas mais brilhantes, porque mistura precisamente o que tu estás a dizer, ou seja, uma coisa meramente funcional, não é? É. Esta era a casa e são 27 páginas e, ao mesmo tempo, essa casa é metáfora para o que se vai para o que se vai passar nos capítulos à frente é o. 14:47 Cenário. É EE, mais do que o cenário. É um personagem, não é aquela casa, é uma personagem. Porque os objetos podem ser personagens. Podem? Então não podem? Claro que sim. A Sério? Para mim, sim, claro que sim. Sem falar. Sem falar às vezes, eu prefiro atores que não falam do que com. Atores que? Não, eu digo isto muito dos meus atores. 15:03 É, prefiro filmar te a pensar do que a falar, porque. Porque isso é uma regra antiga do do cinema e da televisão, da ficção para televisão que é mostra me não me digas, não é? As as novelas são reiterativas, porque tem de ser tudo dito. A pessoa entra, diz, faz e pensa a mesma coisa. 15:19 E também não há muito dinheiro para para mostrar com com a qualidade e com é, dá. Há, não há é tempo. Talvez isso seja um sinónimo. Não havendo, se se houvesse mais dinheiro, haveria mais tempo e, portanto, eu acho que ainda assim seria absolutamente impossível alguém humano e mesmo desconfio que o site GPT também não é capaz de o fazer de escrever 300 episódios de uma história. 15:38 Eu estou. Eu estou a pensar aqui. Eu. Eu ouvi alguém a dizer, não me recordo agora quem, infelizmente, que era. Quando quando se faz um roteiro, aquilo que está escrito para se filmar uma determinada coisa, que todos os adjetivos que que lá estão escritos têm que ser mostrados, porque não adianta nada dizer. 15:55 Então entrou agora na cena, EEEE salvou a velhinha, certo? Está bem, mas isso não chega, não é? Sim, eu até te digo, eu, eu prefiro. Regra geral, os argumentos até nem são muito adjetivos, os argumentos, ou seja, o script nem é muito adjetivado. É uma coisa mais prática. Eu acho que essa descoberta está. 16:13 Não sei. Imaginem, imaginem a leres Oo estrangeiro do camus, não é? Tem Montes de possibilidades dentro daquele não herói, dentro daquela vivência, daquela existência problemática. Não é porque não se emociona, et cetera e tudo mais. 16:29 Como é que tu imagina que tinhas um argumento ou um script sobre sobre Oo estrangeiro? Eu acho que seria importante discuti lo profundamente com os atores. Tu fazes isso porque queres ouvir a opinião deles? Quero sempre eu acho que os atores que se os atores e as atrizes que são atores e atrizes, não são meros tarefeiros. 16:52 Qual é o fator x deles? O fator x? Deles, sim. O que é? Eu estou. Eu tive aí uma conversa aqui Na Na, neste, exatamente neste estúdio com com a Gabriela Batista, com a com a com a com a Gabriela Barros. E eu não preciso de saber e não sei nada sobre técnica, mas. 17:09 Eu, eu, eu imagino que qualquer munição que se dei àquela mulher, que ela vai transformar aquilo noutra coisa completamente diferente. O Woody Allen dizia uma coisa muito interessante que Era Eu sempre odiei ler e depois percebi que para conhecer mulheres interessantes, precisava de ler 2 ou 3 livros. 17:27 Para ser um pronto atual à certa. O que é que acontece com a Gabriela? A Gabriela é uma pessoa interessante. Os atores e as atrizes que são atores e atrizes são pessoas interessantes porque são inquietas, porque são atentas, porque percebem, porque conseguem. Conseguem ler não só uma cena, mas as pessoas que estão em cena com elas conseguem ler um realizador, conseguem ler uma história e, sobretudo, perceber. 17:50 Imagina se pensares no rei leão? Muitas vezes a pergunta sobre o que é que é O Rei Leão? As pessoas menos, menos levadas para as histórias dizem, Ah, é sobre um leãozinho. Que sofre? Não, não, não é sobre isso, é sobre família, é sobre herança, é sobre poder, é sobre legado, é sobre. No fundo, é sobre todos os conceitos que qualquer drama shakespeariano ou tragédia shakespeariana também é. 18:14 E, portanto, eu acho que quando tu encontras atores e atrizes a Sério, o fator x é serem interessantes porque têm ideias e porque pensam. Não se limitam a fazer pá. Um ator que se limita a fazer e diz o textinho muito, muito, muito certinho. É um canastal enerva me enerva, me dá vontade de lhes bater. 18:30 Não, não gosto disso, não me interessa. E isso não é sinónimo de desrespeito pelo argumento. É sublimar o argumento ou sublimar o scripta, a outra coisa que não é lida. É fermentar aquilo? Sim, eu diria que sim. É regar? Sim. Olha, eles oferecem te obviamente maneiras de fazer e a interpretação do texto, mas. 18:50 E tu tens a tua parte e a tua parte é aquilo que eu posso te chamar a ética do olhar, que é o teu ponto de vista o ponto de vista como eu queria dizer, como é que tu defines o ponto de vista? Como é que tu escolhes? Se queres fazer uma coisa mais fechada, mais aberta, de cima, de lado, o que é esse? E tu pensas nisso para além da técnica. 19:09 Sim, penso eu acho que o meu trabalho, Oo trabalho do realizador, no geral, é essa filtragem da realidade. Para, para encaminhar. Para encaminhar a história e encaminhar quem a vê ou quem, quem está a ver, para uma determinada emoção ou para uma determinada pergunta ou para determinada dúvida. 19:31 Para lançar de mistério. Enfim, eu, eu tenho. Eu sinto que eu tenho 41 anos, tenho já alguns anos de de realização, mas sinto que estou sempre não só a aprimorar, mas a encontrar melhor. Qual é a minha linguagem. 19:47 O pôr do sol não tem qualquer espécie de desafio do ponto de vista da linguagem. Ele é a réplica de uma de uma linguagem televisiva chata de de planos abertos, o plano geral. E agora vem alguém na porta, plano fechado na porta, plano fechado na reação, plano fechado na EE. Isso para mim, enquanto realizador, não foi um desafio maior. 20:05 Talvez tenha sido o desafio do corte, o desafio. Do ritmo da cena, da marcação da cena. Para, por exemplo. Há uma coisa que eu digo sempre e que é verdade no pôr do sol, sempre que as pessoas pensam, vão para o pé das janelas. Porque é uma cena de novela, não é? Eu vou aqui passar ao pé de uma janela e põem, se encostadas às janelas a pensar, não é pronto. 20:21 Isso tem muita. Influência olhando para o Horizonte? Horizonte longico não é essa aquelas coisas. Portanto, isso tem muita influência dos Monty Python, tem muita influência dos dos dos Mel Brooks, da vida, et cetera, porque eu, porque eu sou fã incondicional de tudo o que surge dessas pessoas. Mas, por exemplo, se me perguntares em relação à série que eu fiz sobre o 25 de abril, o sempre já é outra coisa, já não tem, já não há brincadeira nesse sentido. 20:45 E como é que eu conto? Como é que eu conto a história das pessoas comuns do dia mais importante para mim enquanto português, da nossa história recente para mim? E, portanto, essa filtragem, essa escolha, essas decisões têm a ver com. 21:03 Eu, eu. Eu sinto que sou um realizador hoje, em 2025, final de 2025, sinto que sou um realizador que gosta que a Câmara esteja no meio das personagens. No meio, portanto, não como uma testemunha afastada. Exato, não como uma testemunha, mas como uma participante. 21:18 Pode ser um, pode ser um personagem da minha Câmara. Pode, pode. Eu lembro me quando estava a discutir com o meu diretor de fotografia com o Vasco Viana, de quem? De quem sou muito amiga e que é uma pessoa muito importante para mim. Lembro me de estar a discutir com ele. Como é que íamos abordar a Câmara na primeira série que nós assinámos coiote vadio em nome próprio que se chama, até que a vida nos cepare era uma série sobre uma família que organizava casamentos e eram eram 3 visões do amor, os avós dessa desse casal que tinha essa quinta de casamentos, que vivia também nessa quinta, esse casal de avós, para quem o amor era para sempre o casal principal nos seus cinquentas, para quem o amor está a acabar por razão nenhuma aparente. 21:56 Desgaste, talvez. O amor às vezes acaba e é normal, e em baixo os filhos. Para ela, o amor às vezes, e para ele o amor é um lugar estranho, ou seja, repara. São uma série de aforismos sobre o amor que eu vou ter de filtrar com a minha Câmara. 22:11 Portanto, a maneira como eu filmo uso a voz em que o amor é para sempre está dependente de toque da mão que se dá da dança que se surge no Jardim dele, acordar a meio da noite, sobressaltado porque ela está junto à janela, porque está a começar a sofrer. De uma doença neurológica e, portanto, ele está a sarapantado e vai ter com ela e cobra com um cobertor. 22:31 Portanto, todos estes toques diferentes. No caso do casal principal que se estava a separar, eles nunca param muito ao pé um do outro e, portanto, a Câmara tem de correr atrás de um para alcançar o outro e nunca lá chega. Há uma tensão. Sim, há sempre uma tensão. E depois nos no. No caso dos mais novos, ainda era o mais específico. Mas diria que o Vasco sugere me e se falemos os 2 sobre isto. 22:51 E se a Câmara não for entre pé? E for respirada, não é, não é não é Câmara mão agitada, mas é eu sentir que há uma respiração Na Na lente que ela está um ligeiramente abanada. É o suficiente para, se eu estiver a esta distância da personagem e a Câmara estiver mais ou menos a respirar, eu sinto que eu próprio o espetador. 23:10 Estou sentado naquele sofá a olhar para aquela pessoa, a olhar para aquele, para aquela pessoa, para aquela realidade, para aquela família, para para aquelas ideias, não é? E para essa ideia? Que se tenta explanar, em 3 gerações, o que é o amor? A pergunta mais inútil que eu tenho para te fazer é, o que raio faz um diretor de fotografia num? 23:28 Filme, então o diretor de fotografia, para quem não sabe, é é Quem é Quem. No fundo, comigo decide a estética. Da imagem, a luz, a luz acima de tudo. Eu trabalhei já com vários direitos da sociografia, de quem gosto muito. O Vasco Viana é um deles, o Cristiano Santos é outro, porque é uma porque é. 23:44 Que se gosta de um e não se gosta tanto de outro? Não. Às vezes não tem a ver com isso. Eu não me lembro de um. Talvez em novelas que tenham trabalhado com diretos de sociografia, que, enfim, que foram bons, outros nem tanto. Mas eles constroem uma estética, constroem uma luz, um ambiente. Nas séries, sim. Não é no cinema, sim. 24:00 Na televisão. Acho que é muito complicado porque. Porque se obedece a critérios, sobretudo dos canais. Que vêm com uma frase, quando eu comecei a fazer novelas, ainda estávamos a discutir se a coisa havia de serem 16:9 ou 4 por 3. Portanto, parecia que ainda estávamos a quase na Roménia dos anos 60. 24:16 EEE não estávamos e, ao mesmo tempo, estávamos muito próximos disso. EEE. No fundo, o que o diretor da fotografia faz é essa escolha da cor, da luz, do enquadramento, claro que em concordância com aquilo que eu pensei, mas é a primeira pessoa que consegue consubstanciar. 24:35 A minha visão sobre a história é isso. Olha, OOA, escolha de um plano para filmar é uma escolha moral. Também estava te a ouvir, agora a falar do 25 de abril e de e, portanto, 11. A ideia que tu tens sobre as coisas depois interfere também na maneira como tu escolhes um plano. 24:51 O que é que vais filmar ou como é que vais? Filmar, eu acho que, sobretudo, tem a ver com o eco que a história tem em ti. Não é uma coisa acética nem agnóstica. É uma coisa implicada, não é uma coisa implicada, isto é, se há uma ideia tua enquanto autor. Sobre a história, que vais esmiuçar em imagens, é mais ou menos a mesma coisa. 25:11 Que tu sabes que a Sophia de Mello breyner aprendeu gramática na escola. Eventualmente português teve aulas de português. Suspeitamos que. Sim, pronto. Aprendeu a escrever, mas ninguém a ensinou a fazer poemas. Vem dela. E essa implicação na escolha das palavras, da métrica do soneto ou do verso, et cetera, ou da ou da Quadra, ou, enfim, seja o que for. 25:30 É uma coisa que lhe vem de uma decisão. Não é de uma decisão, nem que seja do espírito, não é? Eu acho que o realizador tem a mesma função quando quando se permite e, acima de tudo, quando se assume como realizador e não um tarefeiro a mesma coisa que o ator. 25:46 Olha, como é que tu estás a falar de ficção? Obviamente, mas a ficção tem um poder secreto que é alterar a realidade ou a nossa perspetiva sobre a realidade ou não. Quando eu vejo, quando eu vejo que tu filmas uma determinada coisa num determinado prisma, com uma determinada ideia, eu, eu já quase não consigo ver a realidade como a realidade é eu, eu, eu já já tenho mais uma camada de tu vais me pondo umas lentes, não é? 26:15 Quer dizer, olha para aqui, olha para acolá. Sim, mas repara, os livros têm o mesmo poder, não é? Desde que tu te deixes contagiar com uma ideia, a arte. A arte, seja ela. Seja ela sobre a forma de uma Mona lisa ou de uma comédia, não é é essa reconfiguração do real para ser percecionada pelo outro. 26:40 E o outro pode se deixar contagiar ou não se deixar contagiar. Imagina que tu não achavas piada nenhuma ao pôr do sol? Há pessoas que não acharam piadinha nenhuma ao pôr do. Sol desligas te não vais ver? Sequer. Mas não vais ver isso? O teu real continua, ou seja, a minha. A minha pretensão com o pôr do sol não é mudar o mundo. Não é mudar, é divertir, me em primeiro lugar e achar que isto pode pode divertir. 27:02 Pessoas pode fazer umas cócegas à moda? Pode fazer cócegas à moda, aliás, pode pôr o dedo na ferida até rir. Estás a ver. Sim, porque depois tu é assim aqui. A história obviamente é engraçada. EE aquilo dá vontade de rir, mas tu gozas com todo o tipo de preconceitos e mais algum que lá estão em cima da mesa. 27:17 Claro. E esse EE aí também se tem de fazer jus ao ao texto que me chega do Henrique dias. Ou seja. Eu, o Rui e o Henrique discutimos a ideia. Eu e o Rui tínhamos uma lista extensa de tudo o que se passa em novelas, quem é a esta hora, quem é que Há de Ser no meu telemóvel, beber copos, partir, copos, cavalos, bem, famílias ricas, et cetera. 27:36 Mas depois o Henrique tem esse condão de agarrar nessas ideias e de algumas de algumas storylines que nós vamos lançando, é pá. E fazer aqueles diálogos que são absolutamente fabulosos, não é? Quer dizer, lembro, me lembrei, me. Lembro me sempre de vários, mas há uma, há um, há um apidar no na primeira temporada, que é talvez o meu plano favorito, que é um dos membros da banda que vem a correr desde o fundo do plano e que cai em frente à Câmara e diz, não, não, eu estou bem. 27:59 Dê me um panado e um local que eu fico logo bué, pronto. Isto é uma coisa muito nossa, muito proximidade, que tem graça porque tu já ouviste alguém dizer isto e pronto. E quando se tem essa, quando se tem essa junção porreira de de sentidos, de humor. 28:17 A tendência é que isso crie, crie qualquer coisa de reconhecimento. O que nós encontrámos com o pôr do sol foi um reconhecimento, é pá, surpreendeu, me surpreendeu me ao máximo e depois açambarcou nos a todos e foi a Suburbano a sobrevoou me de uma maneira assustadora, foi, imagina, eu tive um acidente de Mota pouco tempo depois da primeira temporada acabar, fui ao chão e fiquei, fiquei magoado e fiz me nada de especial, estava no hospital. 28:46 E o enfermeiro chefe dizia, sistema anel, pureza, agora vou pôr aqui um megaze, não sei quê. Ou sistema anel, pureza, não sei quê, mas assim. 11 trato espetacular. Uma coisa muito, muito solene, muito solene, e é. Pá e nas tantas ele estava a fazer o tratamento e disse assim, é pá e vê lá se tens cuidado e eu, espera aí, houve aqui qualquer coisa, houve aqui um problema na Matrix ou então não sei o que é que aconteceu e o gajo diz, desculpe, desculpa, é que eu sou de massamá e eu sei o que é que é cheirar AIC 19, todos os dias que é uma tirada do pôr do sol posso chamar os meus colegas assim? 29:12 O que é que se passa? Entraram para aí 5 ou 6 enfermeiros. Dizer é pá, obrigado. Pelo pôr do sol, por isso é convidada, portanto, Na Na enfermaria. Todo todo arrebentado. E eles todos quando em dia e eu percebi pronto, isto bateu, bateu a um nível de podemos reconciliar a televisão com uma certa cultura pop que teve alguns exemplos extraordinários na comédia ao longo da nossa história. 29:34 Temos o Raul solnado, temos o Herman José, temos Oo Ricardo Araújo Pereira e o gato fedorento, o Bruno Nogueira. Esses. Esse, atualmente, o Bruno Nogueira e o Ricardo Araújo Pereira continuarão a? Fazer são fundações, no fundo, são coisas que a gente olha e diz assim, uou. Eu acho que experimentei um bocadinho disso. Ele experimentava esta equipa, experimentou um bocadinho disso, quando de repente temos pá, um Coliseu de Lisboa cheio para ver uma banda que está a fazer playback. 29:56 Nós fizemos isso com Jesus Cristo, não é? A banda do pôr do sol foi tocar, não tocou nada, ninguém deles. Nenhum dos tocou, não sabem tocar e. Esgotámos OOO Coliseu para ouvirmos uma cassete em conjunto e as pessoas foram. Para participar num episódio ao vivo que não era episódio, não estava a ser. Filmado sequer tu vendeste, tu vendeste uma fantasia que toda a gente sabe que não existia, mas a ideia de comunhão. 30:16 Foi nessa narrativa e eu acho que isto é uma coisa que nos anda a faltar cada vez mais, não é? Nós nós não temos essas comunhões. Tu vês uma série? Ou melhor, é mais frequente teres um diálogo com um amigo e diz assim, pá, tens de ver aquela série, não sei quê, é espetacular, não sei quê quantos episódios, viste? Vi meio, mas é espetacular. 30:32 E já não é aquela coisa de Bora fazer um? Serão lá em casa, em que juntamos amigos e vemos um filme? Como aconteceu antigamente, antes da televisão se alinear? Antes de antes da da televisão te permitir uma ilusão de poder da escolha, não é? Eu agora escolho o que vejo. E a televisão morreu? Nada, não. 30:49 Nem vai morrer. É como a rádio morreu, não é? Quer dizer, a gente volta e meia a rádio a. Rádio a rádio tem mais vidas que um gato. Não é pronto porque a rádio foi ver o apagão, não é? O apagão foi uma. O apagão foi um delírio. Apagou tudo para. Os da rádio? Claro, claro. Evidentemente, isso era o que havia. E isso é extraordinário, porque isso faz, nos faz nos perceber que a volatilidade das das novas tecnologias etcétera, pá, é porreiro, é óbvio. 31:11 Então agora temos aqui 2 telemóveis, estamos anão é? Estamos aqui a filmar. Temos boa parafernália, mas mas. No limite. Naquele momento em que achávamos todos que a Rússia atacar e não era nada disso, o que queríamos era ouvir alguém a falar. Connosco o fenómeno dos podcasts como este é eu, eu dou por mim assim que é. 31:30 Eu gosto de ouvir pessoas à conversa, porque me acalma e me baixa o ritmo do scroll. Há uma. Música, não é? E é EEEE, aprendes qualquer coisa. E por isso é que eu gosto de pessoas. Estás a ver quando eu, eu houve uma vez 11 coisa que me aconteceu que eu acho que que é pá, que eu nunca mais me esqueci, que foi um amigo meu. 31:48 Que, entretanto, nunca mais falámos, é um facto. As histórias foram para os sítios diferentes, mas um dia entrou me para casa, à dentro. Eram para aí 10 da noite e diz me assim, preciso de conversar. E perguntei, lhe mas o Gonçalo de quê? Não, pá de nada, preciso só de conversar. Tens tempo para conversar e eu fiquei. 32:07 Isso é uma grande declaração, isto é. Extraordinário. Pouco tempo depois, estava em Angola a fazer uma série, uma novela. Perdão, uma. A melhor novela que eu fiz na vida é que foi uma novela para Angola, uma coisa chamada jikounisse. E há um assistente meu, Wilson, que chega 2 horas atrasado ao trabalho, é pá e era um assistente de imagem, fazia me falta. 32:25 Ele chega, Ah, presa, peço desculpa, cheguei atrasado e tal só para o Wilson 2 horas atrasado, o que é que aconteceu? Tive um amigo que precisou de falar e eu juro te que me caiu tudo, eu não lhe. Eu quero ter um amigo assim, eu não. Posso, sim. Eu não me lembro disto acontecer em Portugal. 32:42 Para mim, disse. Para mim mesmo, eu não me lembro. De. De. De dar prioridade a um amigo em detrimento do trabalho. Porque o trabalho me paga as contas e os filhos e não sei quê. E o ritmo e a carreira. E eu reconheci me e de repente há um amigo meu que precisa de conversar. 32:58 Estamos a ouvir pouco. Então, não estamos eu acho que estamos. Estamos mesmo muito. Temos mesmo muito a ouvir, a ouvir muito pouco, acho mesmo, acho mesmo. Isso isso aflige me sobretudo porque há um, há um é pá. Eu estou sempre a dizer referências, porque eu, de repente, nestas conversas, lembro me de coisas. O Zé Eduardo agualusa assina 11 crónica, creio no público há, há uns anos, largos da importância de, de, de, de de fazer mais bebés, porque o mundo está tão perdido que só trazendo gente boa, muita gente boa de uma vez em catadupa. 33:29 É que isto melhora e eu acho, essa visão. Uma chuva de. Bebés uma chuva de bebés, mas de, mas de bebés bons, de bebés, inquietos, de bebés que fazem birras pelas melhores razões de bebés, que brincam sem computadores, sem coisas que que se que chafurdam na, na lama, et cetera, fazem asneiras. 33:45 Sim, sim, eu, eu, eu gosto muito de ser pai, mais até do que ser realizador, gosto muito de ser pai e acho que isso é é precisamente por essas, pelos meus filhos, claro que são os meus, mas se tivesse, se houvesse outras crianças. De que eu tomasse conta? Acho que era isso que é. 34:01 Tu perceberes que até uma certa idade nós não temos de nos armar noutra coisa que não ser só crianças. E acho que eu pessoalmente, acho que tenho 41 anos e às vezes sinto uma criança perdida até dizer chega EE, acho que pronto. 34:18 Enfim, o tempo vai adicionando, adicionando te camadas de responsabilidade. Agora temos temos de saber mexer microfones, inverter a água, et cetera, e meter fones, et cetera. Mas, no fundo, somos um bocado miúdos perdidos a quem? A quem se chama pessoas adultas porque tem de ser, porque há regras, porque há responsabilidades e coisas a cumprir. 34:35 Acho que só o Peter Pan é que se conseguiu livrar dessa ideia de poder. Crescer, coitado. Já viste? Pois é mesmo o Peter Pan sem andar com aquelas botas ridículas também. Exato. EE, qual é? Sabemos. E o capitar, não é? Pensando bem, a história dramática é o que quando estás com neuras a tua vida é um drama refugias te na comédia fechas te de ti próprio. 34:55 Não queres falar com ninguém? Quando estou com. Que é frequente é. Frequenta é? Então, o que é que te bate? O que é que te faz o. Que me bate é nos dias que correm e não só não conseguir tocar à vontade na minha função enquanto artista. 35:15 Isto eu vou te explicar o que é. Os artistas não precisam de ser de um quadrante político ou de outro. Eu eu sou de esquerda, assumidamente de esquerda. EEE, defenderei até à última este esses ideais. Ainda à esquerda, direita. Há, há, há. Eu acho que há, há. É cada vez menos gente com quem se possa falar de um lado e de outro. 35:32 Há uma. Polarização sim, sim, porque porque, enfim, isso são são outras conversas, mas o os artistas, no meu entender, estão a perder a sua perigosidade isso enerva me, ou seja, eu às vezes sinto que não estou anão, não estou a transgredir. 35:49 Não estou a ser perigoso, não estou a questionar, não estou. Estou a ir ao sabor de uma coisa terrível, que é ter de pagar as minhas contas. É o rame. Rame mais do que isso é eu deixar me levar pela corrida que é. Tenho de ter mais dinheiro, tenho de conseguir a casa, tenho de conseguir a escola dos putos tenho, não sei quê. 36:07 Devias ser mais um moscado, aquele que que dava umas picadelas aqui à. Eh pá devia questionar. Devia. Os artistas são se nasceram para isso e eu se me se eu me considero artista e às vezes isso é difícil. Dizer isso de mim, de mim para comigo. Eu imagina o Tiago Pereira, o Tiago Pereira que anda AA fazer um acervo da música portuguesa, a gostar dela própria, pelo pelo país todo, com gente antiga, com gente nova, com com gente toda ela muito interessante. 36:36 A importância de um Tiago Pereira no nosso, no nosso país, é é inacreditável. Quantas pessoas é que conhecem o Tiago Pereira? E, pelo contrário, não estamos focados Na Na última Estrela do ou do TikTok ou do big Brother ou de outra coisa qualquer. 36:51 Até podia ser uma coisa boa, estás a ver? Ou seja. Complementar uma coisa e outra. Sim, ou seja, eu, eu. A coisa que mais me interessa é saber quem é que com 20 anos, neste momento está a filmar em Portugal e há muita gente boa. Tu vês os projetos da RTP play e da RTP lab? E é gente muito interessante. Então, e porque é que? 37:06 Nós não estamos a estornar essa gente? E a e a potencial? Porque, porque a corrida? É mais importante, ou seja, tu queres a. Corrida dos ratos Na Na roda. É e é coisa de chegar primeiro, fazer primeiro, ganhar mais que o outro, não a solidariedade é uma, é uma fraqueza AA generosidade é uma fraqueza aplaudires alguém que é teu par é mais, é mais um penso para a tua inveja do que propriamente uma coisa de quem é que ganhamos? 37:34 Todos vamos lá. OOOO rabo de peixe, por exemplo, é um é um caso lapidar nesse sentido. Que é o rapaz? É extraordinário. É extraordinário neste sentido, eu? Posso? A primeira série é uma pedrada No No charco, que é uma coisa mágica o. 37:50 O Augusto Fraga, que é uma pessoa que eu, de quem eu gosto bastante e conheço o mal, mas gosto bastante, assina uma série que a primeira coisa que foi vista sobre essa série, ainda que estivéssemos a com 35000000 de horas ou 35000000 de horas, sim, vistas por todo o mundo. 38:08 Ah, não sei quantas pessoas, minhas colegas, tuas colegas, enfim, colegas de várias pessoas que estão a ver este mote caso dizem assim, ó, mas eles nem sequer fizeram o sotaque açoriano. Ah, e aquela e aquela ideia de não contrataram só atores açorianos? Pronto, sim, vamos ver uma coisa, porque porque é que vamos sempre para essa zona precisamente por causa da corrida, porque isto é importante. 38:32 A inveja é lixada? Nada. Fraga sim, a inveja é lixada e mais do que isso, esta inveja. É patrocinada pelo sistema, o sistema, o sistema sublima. Quando nós achamos que quem, quem, quem é nosso inimigo é quem faz a mesma coisa do que nós, nós temos menos de 1% para a cultura neste país. 38:50 E quando há dinheiro, quando há dinheiro, nós andamos a tentar queimar o outro para conseguirmos chegar ao dinheiro, ou seja, perante as migalhas. Nós não nos organizamos, a dizer assim. Pá a mão que está a dar as migalhas é que está errada. 39:05 Não. O que acontece é não. Mas eu já discutimos isso. Primeiro eu preciso de de amoedar as migalhas para mim e depois então discutimos, é uma. Corrida mal comparado de esfomeados. É, mas em vários. Mas é. Não estou a ver só na cultura, não é? Não é só na cultura. E. Já dizia o Zé Mário branco, arranja me um emprego. 39:22 O Zé Mário branco dizia tanta coisa tão mais importante, tão tão tão importante nos dias que correm, o Zé Mário branco, enfim. Mas eu até diria que isto, que este país que é pequeno. Que é pequeno em escala. Que é pequeno, que é pequena escala. 39:39 Podia ver nisso uma vantagem. Podíamos ver nisso uma vantagem, porque eu acho que o país somos nós e acho que as pessoas não. Não temos essa noção, não é EE essa e essa noção de que não dedicamos tempo suficiente a estarmos uns com os outros e de ligarmos as peças boas e de tornar isto uma coisa mais interessante, claro. 39:57 Interessa me, interessa me. Muito há uma cultura de mediocridade, não? Isso eu acho que não, o que eu acho é que há. Ou melhor, como é que se compatibiliza esse essa corrida dos ratos na roda, em busca da última migalha com coisas de excelência que subitamente aparecem? 40:13 Eu acho que quando tu sentes que isso é um acidente, rapaz, isso é um acidente, não é? É um acidente. Antes tinha tinha havido o Glória e nós tínhamos achado. Tio Glória era a primeira coisa da Netflix. Parece um bocado aquela coisa de o ator que é pá. 40:29 Eu sou um grande ator. Eu fiz uma formação no Bahrain para aprender a ser a fazer de post. Foi uma formação de meia hora, chega cá e dentro e vai dizer assim, é pá. Este gajo é bom meu. O gajo esteve no barrain. Vende-se bem este. Gajo é bom, não é? E de repente não. Ele esteve no barém a fazer de post e é melhor do que um puto que veio da PTC ou 11 miúda que veio da STCE está a tentar vingar. 40:50 Eu tive agora uma conversa por causa da da dos encontros da GDA para para o qual foi foi gentilmente convidado e foi foi incrível estar à conversa com Malta nova. Não é assim tão nova quanto isso, mas Malta entre os 25 e os 35 anos, atores e atrizes, em 4 mesas redondas em que IA assaltando eu, o António Ferreira, a Soraia chaves e a Anabela Moreira, é pá EEAEA dúvida é a mesma de que se houvesse uma mesas redondas de veterinários, de veterinários ou de médicos, ou de ou de assistentes sociais, que é como é que eu começo isto? 41:20 Como é que eu faço isto? Qual é o percurso, onde é que está? O repente GDA faz uma coisa incrível que é, vamos pôr as pessoas a conversar. É um bom início, pá, é um. Excelente início. E nós não andamos a fazer isso, não andamos a fazer isso, por mais associações que haja, por mais coisas, et cetera. E há gente a fazer este, a tentar fazer este trabalho. 41:38 Não há um sindicato da minha área que funcione. O sindicato dos criativos pode ser então? O sindicato, o Sena, o sindicato Sena. As pessoas queixam se que não é um sindicato, mas não estão nele. Quando eu digo que não há um sindicato, é o sindicato, existe. As pessoas é que não vão para lá e queixam se das pessoas que lá estão. 41:55 Isto não faz sentido nenhum. Ou seja, nós estamos sempre à espera que nos dêem. Mas é aquela coisa velha, essa coisa que foi o Kennedy, que disse não é não, não perguntes. O que é que o teu país pode fazer por ti? Pergunta te, o que é que tu podes fazer pelo teu? Portanto, não temos uma mecânica por um lado de devolução à sociedade daquilo que nós estamos AA receber e, por outro lado, de de agregação, num interesse comum, ou numa imaginação comum, ou em alguma coisa que podemos fazer juntos. 42:17 Eu, eu acho que, sobretudo, tem a ver com celebramos? Não, acho que não. Até porque é tudo uma tristeza, não? É, não, não, não. Eu acho que é assim. Eu acho é que é tudo muito triste porque não nos celebramos. Porque há razões enormes para nos celebrarmos, há razões mesmo boas, para nos celebrarmos. Bom, mas eu não quero deprimir te mas um tipo que chuta 11 coisa redonda de couro e que acerta numa Baliza é mais valorizado do que um poeta que escreveu o poema definitivo sobre o amor ou sobre a vida? 42:43 Mas isso, pão e circo? Isso pão e circo. E isso a bola também é importante. E está tudo bem? Eu sou. Mas tão importante. Não é? Porque eu eu gosto de futebol, gosto. Eu gosto de futebol, sou um, sou um. Sou um fervoroso adepto da académica de Coimbra e do. Falibana do Benfica, da da académica, sou da académica. 43:00 Está péssima, não é? A académica está terrível, mas é isso. Ou seja. Eu acho que tem, Maura continua, tem? Maura, claro. E terá sempre. Eu sou, sou, sou da briosa até morrer, mas. Mas de qualquer das maneiras, sinto que essa coisa que é, há espaço para tudo. Eu acho que eu o que faz falta? E animar a Malta? 43:17 É educar a Malta? É educar a Malta. Faz muita falta. Eu acho que faz muita falta a educação neste país. E isso tem a ver com política, tem a ver com escolhas, tem a ver com coragem. EAAA educação não tem sido muito bem tratada nos últimos tempos. 43:35 Se há gente que se pode queixar são os professores e os. Alunos, porque nós só descobrimos daqui a 10 anos ou 20 que isto não correu bem. Claro, mas já estamos a descobrir agora, não é? Depois, já passaram algum tempo sim. Quais é que são as profissões de algumas das pessoas que estão no hemiciclo que tu reconheces profissões não é? 43:52 De onde é que vêm? Vêm das jotas vêm. São juristas, normalmente economistas, certo? Mas um médico. Há um ou 2? Há um ou 2, há alguém que tu, um professor? Deixa de ser atrativo. A política devia ser essa coisa de eu reconhecer. 44:10 Figuras referenciais. Os melhores entre nós que que escolhidos para liderarmos, sim. Escolhidos por nós. Ou seja, porque é que eu acho isto? Mas eu acho isto desde sempre, sempre, sempre. Eu sei isto. Aliás, eu venho de uma casa que é bastante politizada. A minha casa, a minha família é bastante politizada. O apelido. 44:27 De pureza não engana. Pois não engana. Às vezes acham que ele é meu irmão, mas é meu pai. EE pá é um gajo novo. De facto, é um gajo novo. Mas é isso que é caneco. Quem são estas pessoas? Porque é que eu vou votar nestas pessoas, estas pá. A prova agora de Nova Iorque não é 11 Mayer de 34 anos, chamado zoranmandani, que de repente ganha as eleições sem os mesmos apoios, que teve outro candidato. 44:50 Não houve Bloomberg, não houve Trump, não houve nada. Houve um tipo que veio falar para as pessoas e dizer lhes o que é que vocês precisam, de que é que precisam, o que é que vos aflige, de que é que têm medo, que sonhos é que vocês têm? Isso é tão importante e tão raro. 45:06 Afinal, o método que funciona sempre não é fala com pessoas, conta uma história ou houve cria uma expectativa? Olha, porque é que o humor explica tão bem o mundo? Eu sei, também há o choro, porque é que o humor explica tão bem? Porque tudo pode ser ridículo. E é e é tão ameaçador, não é? 45:22 Claro, claro, claro. Olha o Rio, vai nu. Exatamente tal e qual tem a ver com isso, não é? E mais do que isso, é eu, eu acho. Eu sinto que nós vivemos num país que não tem assim tanto sentido de humor. E explico porquê nós não nos rimos tanto de nós. Rimos mais dos outros quando nos rimos de nós? 45:39 É é tipo, Ah, então, mas mas estão a falar de mim. Rimos de escárnio. Sim, os os melhores, as melhores pessoas, as melhores pessoas portuguesas a terem sentido humor são os alentejanos. Porque são eles que têm as melhores notas sobre eles. Que eles próprios contam? Exatamente quando tu tens um. 45:54 Eu não sou lisboeta, portanto, posso dizer mal à vontade de vocês todos que estão a ouvir. Quando o lisboeta disse assim também. Sou alto minhoto, portanto, já estamos. Estás à vontade, não é pronto quando o lisboeta disse. Tudo que seja abaixo, abaixo, ali do cavado é soul. É soul? Exatamente. Está resolvido, pá. A minha cena é coisa do quando o lisboeta diz, tenho aqui uma nota sobre alentejana dizer, Hum. 46:11 A minha família toda alentejana, pá. Não, não acho que acho que não é bem a coisa eu diria isso, ou seja, porque é que o amor explica tão bem o mundo, explica no sentido em que, de facto, isto esta frase não é minha, é do Henrique dias. E ele acho que acho que ressintetiza isto muitíssimo bem. O argumentista do pôr do sol, que é tudo, pode ser ridículo. 46:28 O gajo da bola de couro, um círculo de de de couro que é chutado para uma Baliza, é tão ridículo como é eventualmente alguma. De algum ponto de vista sobre a religião, sobre a política, sobre a economia, sobre os cultos? 46:46 Não é os cultos pessoalizados em líderes que de repente parece que vêm resolver isto tudo e são ridículos. Quer dizer, são ridículos acima de tudo. O mito do Salvador da pátria. O mito do Salvador da pátria não é? Depois ficou substanciado em 60 fascistas. Isso é para mim. Era expulsos ao ridículo. 47:02 Incomoda os imensos. Mas a gente já viu isto em vários momentos, desde momentos religiosos até momentos políticos que é. E este vem lá ao Messias, vem lá ao Messias. E o cinema português também. O próximo filme vem sempre salvar isto tudo. E é só um filme percebes o que eu estou a dizer? Ou seja, não. 47:18 Este é que é o filme que toda a gente vai ver e vai rebentar com as Caldas. Não, não tem de ser assim, é só um filme. Só me lembro da Branca de Neve, do João César Monteiro, não é que filmou uma coisa para preto, para negro? Sim, mas mais do que isso, estava a falar de termológica comercial que é, os exibidores estão sedentos? 47:35 Que venham um filme que faça muitos números e que salve o cinema, et cetera. A pressão que se coloca, se fosse fácil fazer um filme desses, até eles próprios administradores teriam ideias. Sim, faz mesmo. A campanha viral lembro me sempre é. Faz uma coisa que vai ocupar toda a gente vai falar exatamente e que vai ser uma coisa. 47:51 Extraordinária. Um escândalo, no melhor sentido. Não sei quê, não sei quê e depois não acontece porque não é assim que as coisas não é, as pessoas não vão, não vão. Nessas modas, aliás, as pessoas estão cada vez mais dentro. O paradoxo é que as pessoas estão cada vez mais exigentes. O que é bom? Sim, mas dentro desta lógica que temos falado, que é tiktoks, et cetera, volatilidade é uma coisa superficial e de repente já nem tudo cola. 48:12 O humor repara o humor. O Bruno Nogueira, por exemplo, é um bom exemplo disso que é o Bruno Nogueira faz 111 programa extraordinário vários. Faz os contemporâneos, faz o último a sair, depois faz o princípio meio e fim, que é uma coisa arrojadíssima. Sim, ele faz coisas sempre diferentes. 48:28 Não é ele. Ele. Ele quebra os padrões sempre. Mas se reparares agora, neste, no, no, no ruído, ele já não é a mesma coisa. É um programa de Sketch que tem lá uma história que num tempo distópico em que. Sim, mas aquilo resolve se a um conjunto de de Sketch e as. 48:45 Pessoas aderiram massivamente, portanto, eu acho que isto é assim. A roda vai dando voltas. Depois voltamos um bocado à mesma coisa. O Herman, por exemplo, o Herman que é um dos meus heróis da televisão. O Herman andou por todas essas ondas e agora está numa onda de conversa e tudo mais. 49:04 E continua a ter imensa. Graça mas ele pode fazer tudo o que? Quiser, não é? Pode. Chegou este mundo do mundo para poder fazer tudo. Sim, talvez não chegue a todas as gerações como chegava. Não é dantes. Eu lembro me, por exemplo, No No no célebre Sketch da da última ceia, não é? 49:20 Ele chegou a todas as gerações, houve umas gerações que odiaram isso foi incrível, eu adorei, eu adorei esse momento iá, e ele é também um dos meus heróis por causa desse momento, porque, porque, enfim, porque qual que lá está transgressor, perigoso artista? 49:38 O Herman é tudo isso sim. Pode a qualquer momento fazer dinamitar isto olha fora o humor, tu tens, posso chamar lhe maturidade emocional entre o felps e os infanticidas. O que, o que muda no teu olhar quando quando tu transpassas da comédia para, para, para o drama, o humor e a dor são são irmãos. 49:58 O sim, diria que sim, mas mais do que isso, é há coisas que me que me inquietam, não é? Eu com 41 anos e 3 filhos, EEE uma história já muito porreira. O que? É que te inquieta. Várias coisas. Olha esta coisa da do dos artistas, esta coisa da sociedade portuguesa, esta coisa de o que é que é ser português em 2025, o que é que é ter 41 anos em 2025? 50:21 A amizade, a amizade inquieta me há amigos que desaparecem e não é só porque morrem, há há. Há outros que desaparecem porque. Perdemos lhe o rasto. Ou isso, ou porque nos zangamos EEA coisa vai de vela e é assim. E a vida é dinâmica e. E às vezes questiono, me, não é? 50:37 Questiono me sobre quanto é que vale uma amizade, por exemplo, os enfatisídeos é sobre isso, não é? Ou seja, 22 amigos de 2 amigos de infância que aos 17 anos dizem, se aos 30 anos não estivermos a fazer aquilo que queremos fazer, matamo nos daquelas promessas adolescentes e de repente um deles apaixona se e casa se. 50:57 E ele às vezes não quer morrer e a amizade vai à vida. E aquele que ficou para sempre com 17 anos, que sou um bocado eu, não é? Porque eu acho os problemas aos 17 anos é que são os verdadeiros problemas da existência humana. Os outros são chatices da EDPE da epal estás a ver isso? São outros chatices pagar as contas, pagar contas é só isso, porque tudo o resto é só o que é que eu estou aqui a fazer? 51:17 Porque é que eu me apaixonei, porque é que ninguém gosta de mim, porque é que essas coisas são tão ricas, são tão boas de testemunhar eu tenho. Tenho um exemplo incrível de ter 11 filho extraordinário chamado Francisco, que tem 14 anos e que tem umas inquietações muito. 51:34 Muito boas pá, muito, muito poéticas, muito. É uma idade difícil. E boa. E tão boa. E tenho. Tenho muita sorte. Francisco é um miúdo incrível. Mas mesmo que não fosse, eu diria assim. Para ele e tu e tu estimulas ou acalmas as ânsias dele. Eu eu acho que sou eu e a mãe dele, acho que somos estimuladores da sua, das suas várias consciências, social, política, artística. 52:02 Mas temos uma, o respaldo que encontrámos naquele naquele ser humano, foi maior do que qualquer um incentivo que nós pudéssemos dar. Ou seja, nós lançámos um bocadinho, as paisadas para os pés dele e ele de repente floresceu. E é hoje em dia uma pessoa é um ser humano extraordinário e pronto. 52:19 E eu costumo dizer aos meus amigos que o primeiro filho muda a nossa vida, o segundo acaba com ela, uma terceira. Esta turística, sim, é pá. Eu acho que os 3 deram um cabo da minha vida. É uma dinâmica diferente, não é? 3. É, é ainda por cima estão os passados, não é? Um tem 14, outro tem 3, outro tem 1 ano e meio e para o ano provavelmente quero ter mais um filho, porque acho que é lá está eu estou com água, luz a tatuar aqui, algures, portanto, tu. 52:43 Vais salvar o nosso problema de de de naturalidade e demográfico. Eu espero que sim, eu já sou Oo chamado povoador dos olivais. Portanto, vão para sim, sim, olha o que é que te falta fazer para fecharmos o que é que anda o que é que andas a escrever o que é que anda, o que é que te anda a inquietar o que é que te anda aí a. 53:01 Debaixo do teu olho. Olha, estou concorri a uma bolsa para escrever um livro. Pode saber sobre o quê? Sim, sim, é um filme que eu não, que eu não tenho dinheiro para fazer e, portanto, vou fazer o livro. E depois pode ser que o livro reúna. E os bons livros dão sempre grandes filmes. 53:17 Ao contrário, os maus livros, eu sei que eu sei que vou ser fraquinha e, portanto, os maus livros dão bons filmes, os bons livros. Portanto, a tua expectativa é que o livro seja mau que é um grande filme? Sim, sim, não. Mas pelo menos seja seja livro. Isso é importante. Eu gosto imenso de livros. Gosto imenso de ler. É das coisas que eu mais gosto de fazer, é de ler. Fiz isso candidatei me EE. 53:33 Entretanto, estou a preparar uma série de outro género, completamente diferente, que é uma série de de fantástico de terror, escrita por 5 amigos, de que eu tenho muita estima. Por quem tenho muita estima, o Tiago r Santos Oo Artur, o Artur Ribeiro, o Luís Filipe Borges, o Nuno Duarte e o Filipe homem Fonseca. 53:51 Que é uma série chamada arco da velha, que terá estreia na RTPE, que se passa entre Portugal e a galiza e também vai ter uns toques de Brasil. E estou também a preparar outro projeto lá mais para a frente, que é provavelmente os projetos que eu mais quero fazer na vida até hoje, que estou a desenvolver com a Ana Lázaro, com a Gabriela Barros e com o Rui Melo. 54:13 É impossível falhar, já ganhaste. Completamente impossível falhar porque esta ideia original é da Gabriela e do Rui. Ei, e eles vieram ter comigo. E eu fiquei para já muito conten
Termina esta terça-feira, 25 de Novembro, em Luanda, a 7.ª Cimeira União Africana–União Europeia, sob o lema “Promover a Paz e a Prosperidade através do Multilateralismo Eficaz”. Sérgio Calundungo, Coordenador do Observatório Político e Social de Angola, afirma que esta reunião de alto nível “é o palco ideal para se fazer um reset, dado o seu simbolismo pós-colonial, e criar uma parceria mais justa e equilibrada”. A cimeira de Luanda marca os 25 anos da parceria estratégica União Europeia–União Africana. Que balanço se pode fazer desta parceria? Devia haver o reconhecimento de que o modelo anterior, muito assente na ajuda dos países da União Europeia África, está esgotada do ponto de vista moral e político. Acredito que a cimeira de Luanda é o palco ideal para se fazer um reset, dado o seu simbolismo pós-colonial. Um reset para uma parceria mais justa, mais equilibrada? Sim. Eu acho que o sucesso desta cimeira, ao contrário do que se fazia anteriormente, já não se mede pelo volume de fundos prometidos, mas pela demonstração de que há uma clara mudança de mentalidade. Ou seja, há uma predisposição do lado da União Europeia para abordar a relação não mais como aquele projecto de caridade, como o grande doador, mas como um investimento estratégico, num parceiro que é fundamental para os desafios globais. Estamos a falar da segurança climática, do problema das migrações e da inovação digital. Há aqui uma clara tendência de mudança que deve evoluir de um instrumento de influência para um mecanismo de corresponsabilidade, porque muitas vezes a ajuda que era prestada a esses países era vista sobretudo como um instrumento de influência. E aí poderá estar o ponto de viragem. Esta reunião acontece numa altura em que a União Europeia tenta impor-se face a concorrentes como a China, a Rússia e outros países. Exactamente. Eu creio que deve haver um novo paradigma. Em vez de a União Europeia chegar com soluções ou com a sua agenda de interesses, a cimeira deve lançar bases para o diálogo permanente sobre temas específicos: transições energéticas; quais são os interesses dos países africanos? Quais são os interesses da União Europeia para haver uma transição energética justa? Criação de emprego jovem, governação em termos de assuntos globais. Penso que europeus e africanos, independentemente de depois virem os asiáticos, os norte-americanos ou outros povos, deviam estar nesta fase a desenhar juntos políticas e investimentos cujo objectivo final é uma parceria perceptível e benéfica para cidadãos comuns que estão em Luanda, em Paris, em Lisboa. Que as pessoas pensem que, desta parceria, os cidadãos dos diferentes Estados europeus e africanos sintam melhorias concretas. No centro da agenda está o mecanismo Global Gateway. Este mecanismo poderá contribuir para uma parceria mais justa? A expectativa é que este mecanismo global signifique também uma mudança não só de narrativa, mas sobretudo de mentalidade na interacção entre os povos. Mas, por enquanto, por mais queiramos ser optimistas, a prudência ensina-nos a dizer: “Está lançada uma base. Vamos ver como é que isto se materializa”. A presidente da Comissão Europeia afirmou que a economia global está mais politizada do que nunca, com tarifas e barreiras comerciais utilizadas de forma agressiva. Ursula von der Leyen admitiu que, face a este cenário, a resposta está numa parceria mais forte entre o continente africano e a Europa. O ponto de partida é o comércio. Acredita que esta é a melhor solução para os dois continentes? O comércio foi sempre o grande mote que impulsionou a interacção entre os povos. Quando os navegadores europeus se lançaram pelos mares e tiveram contacto com outros povos, foi exactamente o comércio a mola impulsionadora. Agora é urgente um outro tipo de comércio que assente em vantagens mútuas, dos vários países. Um comércio feito com corresponsabilidade de ambos os povos e assente noutras bases. É preciso que o continente africano também ganhe com este comércio? Eu acredito que há aqui elementos que têm de ser tidos em conta. O primeiro é que esta prosperidade gerada pelo comércio não foi partilhada historicamente - e esta é a grande queixa dos países africanos, ainda que também haja responsabilidades próprias. Não podemos culpar apenas os outros povos. A prosperidade rendeu para alguns povos e para algumas pessoas de ambos os lados; não foi é justamente partilhada. Portanto, a prosperidade partilhada, a responsabilidade com as questões ambientais e sociais inerentes ao comércio e aos projectos é essencial. Ou temos a capacidade de transformar o peso histórico das relações comerciais, que teve muitas vezes um peso negativo, ou não avançamos. É preciso uma parceria comercial entre entes verdadeiramente iguais - e isto nem sempre foi assim. A grande queixa de África é precisamente essa. Reconhecer as mais-valias do continente em termos de recursos minerais, energias renováveis e até também o seu papel nas questões de segurança. É isso a que se refere? Exactamente. É importante incluir abordagens como a capacitação humana. Os nossos recursos naturais são importantes, mas mais importantes ainda são os africanos, as pessoas, e as pessoas contam. É importante trazer ao debate a sustentabilidade, a igualdade de género. Mais do que recursos minerais, mais do que recursos naturais, importa considerar a implicação da exploração desses recursos na sustentabilidade. Que cada negócio com África tenha em conta, no mínimo, três elementos: se é economicamente viável, se é socialmente justo e se é ambientalmente sustentável. A questão migratória está também no centro desta cimeira. O que se pode esperar da política migratória da União Europeia para com o continente africano? A política migratória é incontornável. Há uma crise do paradigma da política migratória europeia. África está num impasse porque a migração foi sempre tratada como uma questão de segurança e controlo, e não como uma questão de desenvolvimento humano, de oportunidades. A nível da União Europeia, sobretudo na ala mais conservadora, o tema é movido pelo pânico político interno. Isto não é apenas uma questão de segurança e controlo de fronteiras; é uma questão de desenvolvimento humano e de oportunidades para os africanos. Há africanos retirados das condições básicas no seu próprio território, o que os obriga a migrar. E era importante deixarmos de olhar para isto com hipocrisia. Temos de debater as causas profundas. Que levam os africanos a deixar o país? Sim. As guerras em África têm uma dimensão internacional muito grande, com vários tipos de interesses. Muitas vezes podem não ser muitos Estados, mas há instituições e empresas ligadas à União Europeia com interesses… Ganham com a instabilidade no continente? Exactamente. Veja o que acontece na RDC, a exploração do Congo. Eu acredito que os países têm de olhar para isto sem grandes complexos e apontar as causas. E dar as respostas certas? Dar as respostas certas, sim. Acho que é isso. A cimeira é também uma oportunidade para se falar desses aspectos. O chefe de Estado de Angola, que lidera a presidência rotativa da União Africana, apelou a mecanismos de reestruturação da dívida mais justos e a uma reforma da arquitectura financeira mundial, dando mais peso aos países africanos nas instituições financeiras internacionais. O apelo de João Lourenço será levado em conta? Eu acredito que o Presidente esteve muito assertivo e corporiza muito do que várias vozes africanas têm defendido. E, antes de falar da reforma da arquitectura financeira internacional, fala-se já da reforma dos grandes sistemas - como o sistema das Nações Unidas. Não faz sentido termos um sistema montado desde 1945 ou 1947 pelos vencedores da Segunda Guerra Mundial. A União Europeia tem vários países membros do Conselho de Segurança. Sem hipocrisias, poderia ser a primeira a dar o empurrão para que essa reforma ocorra. A segunda reforma necessária é claramente a do sistema financeiro internacional. Os africanos já perceberam que aquilo que recebem, como ajuda ou doação, é muitas vezes inferior ao que sai dos seus países, por vezes de forma ilícita. Há uma fuga enorme de capitais. Há um sistema internacional que, por vezes de forma ilegal, facilita isso. É uma hemorragia de recursos financeiros do nosso continente. Faz sentido, portanto, repensar. E há ainda a questão da Ajuda Internacional ao Desenvolvimento. Eu acho que o Presidente da República de Angola assume aqui um posicionamento que tem sido defendido por muitas vozes em África e também, embora minoritárias, na Europa. Ou seja, que seja reconhecido o peso do continente africano? Que seja reconhecido o peso e que seja reconhecida a necessidade de uma nova arquitectura financeira. No fim destas cimeiras fazem-se grandes promessas, renova-se a esperança e o compromisso. Mas, com este sistema financeiro, não chegamos lá. Há que o renovar. O sistema financeiro é um instrumento fundamental para materializar aquilo a que nos comprometemos neste tipo de cimeiras. A FLEC-FAC instou a União Europeia e a União Africana a tomarem medidas práticas para garantir o processo de descolonização de Cabinda, permitindo ao povo de Cabinda exercer o direito à autodeterminação. Acha que esta questão estará em cima da mesa? Tenho muitas dúvidas de que esta seja uma questão que estará em cima da mesa, até porque imagino que Angola, nesta cimeira, está reunida entre pares e, até onde sei, todos os países reconhecem o território angolano como uno e indivisível. Portanto, não vejo como poderá ser acolhida. Entendo que, para a FLEC, é sempre uma boa oportunidade para lançar ao público a sua reivindicação histórica. Mas não acredito que os líderes presentes nesta cimeira dediquem tempo a discutir isso, até porque este é um tema tabu e muitos entenderiam esta discussão como ingerência em assuntos internos do nosso país.
A COP30 encerrou, neste sábado, 22 de Novembro, com um acordo modesto sobre a acção climática e sem plano para abandonar as energias fósseis. O Brasil, que acolheu a cimeira do clima em plena Amazónia, esperava mostrar que a cooperação climática não estava morta e “infligir uma nova derrota aos negacionistas”, como prometeu o presidente basileiro José Inácio Lula da Silva no início da conferência, mas não conseguiu convencer os países petrolíferos do Norte e do Sul, nem as economias emergentes, a enviarem uma mensagem colectiva ambiciosa para acelerar o abandono das energias fósseis. O texto adoptado por consenso pelos 194 países membros do Acordo de Paris e pela União Europeia faz apenas uma referência não explícita à saída das energias fósseis, recordando a decisão da COP28 no Dubai, Emirados Árabes Unidos. Os países em desenvolvimento obtiveram um apelo para triplicar a ajuda financeira destinada à adaptação a um clima mais violento até 2035. “Não vencemos em todas as frentes, mas obtivemos o triplo dos financiamentos para a adaptação até 2035. Era a nossa prioridade, tínhamo-la estabelecido como linha vermelha”, declarou Evans Njewa, representante do grupo dos 44 países menos avançados do mundo. O presidente brasileiro da COP30, André Corrêa do Lago, anunciou entretanto a intenção de lançar uma iniciativa própria sobre o abandono gradual das energias fósseis, bem como outra contra a desflorestação, para os países voluntários. Todavia, não se trata de uma decisão geral dos países da COP. Acho que uma das grandes coisas que vai nos animar nos próximos meses vai ser esse exercício de desenvolver um mapa do caminho sobre a redução da dependência de combustíveis fósseis e também de como é que nós vamos acelerar o combate ao desmatamento. A presidente da delegação do Parlamento Europeu à 30.ª Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, Lídia Pereira, saudou o acordo alcançado, sublinhou que a "Europa conseguiu garantir avanços concretos e evitou um não-acordo, que seria desastroso para o clima e para o multilateralismo a nível global". A União Europeia voltou a enfrentar um bloco muito coeso, os BRICS, o grupo do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e, também, dos países árabes e, ao mesmo tempo, uma presidência brasileira pouco diligente em propor ou aceitar novas propostas em particular na área da mitigação, ou seja, nos compromissos de redução das emissões de gases com efeito de estufa. Que, aliás, foi sempre a nossa prioridade número um. Apesar de tudo, a União Europeia conseguiu alguns resultados importantes. Por exemplo, no pilar da mitigação houve finalmente um reconhecimento claro do défice que existe entre aquilo que está prometido e acordado e o que é realmente necessário para manter 1,5°C, dentro do quadro do Acordo de Paris. O texto final inclui uma referência ao Consenso dos Emirados Árabes Unidos da COP28, no Dubai. Foi também lançada uma iniciativa bilateral para a transição no abandono dos combustíveis fósseis. Não é a solução ideal. Não é aquilo que pretendíamos, mas é um passo relevante no pilar da adaptação. O financiamento fica protegido dentro daquilo que foi definido nas COP's anteriores. E há uma novidade é que os países recomendaram, pelo menos, triplicar o financiamento até 2035. ONG ambientalistas denunciaram a ausência de um roteiro concreto para a saída dos combustíveis fósseis, “mais uma vez continuou a falhar o essencial”, referem as ong's portuguesas Zero, Oikos e FEC - Fundação Fé e Cooperação. Francisco Ferreira, presidente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, sublinha que a conferência ficou “muito aquém daquilo que aqui se esperava”. Esta era, supostamente, a COP da verdade e da implementação. E no que diz respeito à verdade, continuamos, infelizmente, numa trajectória de aquecimento de 2,5°C em relação à era pré-industrial. No que respeita à implementação, aí é talvez a maior desilusão, porque a queima de combustíveis fósseis - onde está a principal responsabilidade pelo aquecimento da atmosfera - e daqui tinha que sair um roteiro, que agora é apenas uma promessa fora da convenção por parte da presidência brasileira para os próximos meses. Quando a mitigação é crucial para garantir que alteramos esta trajectória de aquecimento, esta conferência está longe realmente da acção da implementação prometida. Como balanço final feito pela ZERO, Oikos e FEC, termos aqui, em Belém, conseguido aprovar textos e o Mutirão, o grande documento-chave com um conjunto de linhas orientadoras, nomeadamente um acelerador global de implementação, são avanços, mas esta COP30 falhou naquilo que era essencial. Acabou por valer a pena, sem dúvida, mas é sempre triste chegarmos ao fim e percebermos que as necessidades do planeta e dos compromissos, principalmente dos países desenvolvidos, ficaram muito aquém daquilo que aqui se esperava. A Amnistia Internacional acusa os líderes mundiais de serem “incapazes de colocar as pessoas à frente dos lucros”. André Julião, Coordenador Editorial e Assessor de Imprensa da Amnistia Internacional Portugal mostra-se ainda chocado com a presença e participação dos lobistas do sector petrolífero no encontro. Houve aqui questões que ficaram muito abaixo das expectativas. Desde logo, porque os líderes da COP30 não conseguiram chegar a um acordo para colocar as pessoas acima dos lucros. Houve uma enorme falta de unidade, responsabilidade e transparência. Isso prejudicou a implementação de medidas climáticas urgentes. A principal decisão da COP30 evitou qualquer menção aos combustíveis fósseis, que são, como se sabe, o principal motor das alterações climáticas. Como agravante, houve um número recorde de lobistas de combustíveis fósseis. Esses lobistas tiveram acesso às negociações, nomeadamente através dos Estados que os representam e, portanto, deixaram a humanidade à mercê das consequências mortais dos seus planos de continuar a expansão dos combustíveis fósseis. O Brasil, porém, cumpriu a palavra: a sua COP30 foi a COP “dos povos”. Dezenas de milhares de militantes do clima, indígenas, sindicalistas e outros simpatizantes manifestaram-se pacificamente nas ruas de Belém. A sociedade civil não o fazia desde Glasgow, em 2021.
Esta segunda-feira, começa a 11ª edição da Bienal de Dança Contemporânea - KINANI, que vai decorrer até 30 de Novembro, em Maputo. O festival arranca com a estreia do novo espectáculo de Ídio Chichava e vai mostrar que “a dança está a borbulhar em Moçambique”, conta à RFI Quito Tembe, o director artístico da KINANI. Aos palcos sobem, também, obras de Edna Jaime, Janeth Mulapha, Mai-Júli Machado, Pak Ndjamena, Osvaldo Passarivo, entre muitos outros. A 11ª edição da Bienal de Dança Contemporânea – KINANI, em Maputo, decorre de 24 a 30 de Novembro, numa altura em que “a dança está a borbulhar em Moçambique”, conta à RFI Quito Tembe, o seu director artístico. Nesta vitrina da dança moçambicana, em que também há criadores internacionais, “todas as obras estão no mesmo diapasão”, a de “abordar o corpo como uma ferramenta política de intervenção”, descreve o curador, com quem conversámos sobre a programação e o dinamismo da dança moçambicana. A bienal arranca esta segunda-feira com “Dzudza”, uma peça inspirada no bairro do Xiquelene que mistura tradição, migração e cidade e que é a mais recente criação de Ídio Chichava. O bailarino e coreógrafo moçambicano tem estado em destaque nos palcos internacionais, como, por exemplo, em Setembro, na Bienal de Dança de Lyon, em França. Chichava também venceu o Salavisa European Dance Award 2024 ao lado de Dorothée Munyaneza. Esta terça-feira, 25 de Novembro, está agendada a peça “In-Between” da moçambicana Mai-Júli Machado que continua a sua pesquisa em torno de temas relacionados com a mulher, a sua força e aos ritos a ela associados. Mai-Júli Machado passou pelo Festival de Avignon, em França, em 2023, como uma das intérpretes da peça “Black Lights”, de Mathilde Monnier e, desde então, tem dado os seus primeiros passos como coreógrafa. Também esta terça-feira estreia a peça “Why”, de Osvaldo Passarivo, um dos bailarinos que recentemente correu mundo com a companhia do espectáculo “Vagabundus” de Ídio Chichava. No mesmo dia, sobe ao palco “Homem Novo” do moçambicano Yuck Miranda. Ainda esta terça-feira, há o espectáculo “360º” da espanhola Raquel Gualtero e “Sutra” do mauriciano Stephen Bongarçon. Na quarta-feira, 26 de Novembro, os artistas brasileiros Davi Pontes & Wallace Ferreira apresentam “REPERTÓRIO N.3”, depois de terem participado na Bienal de Dança de Lyon, no âmbito do programa curatorial em que participou Quito Tembe. No mesmo dia, a francesa Gwen Rakotovao apresenta “Mitsangana”, a tanzaniana Dorine Mugishe apresenta “Akanana:Sweet Banana”, uma performance autobiográfica, e o sul-africano Vusi Mdoyi leva a palco “Izithuthuthuku”. Na quinta-feira, 27 de Novembro, a bailarina e coreógrafa moçambicana Janeth Mulapha estreia a sua criação “Nzula – Filhas do Índico”, em que imagina a dança tradicional do tufo numa linguagem mais contemporânea. Janeth Mulpapha também tem outra peça em cartaz, “(In) Visible”, agendada para 28 de Novembro. Ainda na quinta-feira, sobem a palco os espectáculos de duas outras moçambicanas: “As Substitutas” de Isabel Jorge e “Nzualo – A Maratona 7/7” de Edna Jaime.Também nesse dia, a brasileira Maria Emília Gomes apresenta “Eco, Oco Preso no Peito”. Por sua vez, a norueguesa Iselin Brogeland leva a Maputo “When Birds Sing of Loss”. Na sexta-feira, 28 de Novembro, além de “(In) Visible”, de Janeth Mulapha, há outro nome da dança moçambicana, Pak Ndjamena, que estreia “Rituais do Corpo”. Também a 28 de Novembro, a artista portuguesa Teresa Fabião apresenta “UNA”, a angolana Bibiana Figueiredo revela “Vidas de Pedra” e o iraniano-canadiano Mohammadreza Akrami apresenta “Tanha”. No domingo, 30 de Novembro, é a vez de “The Herd/Less Walking On Tin-Shells”, da sul-africana Mamela Nyamza, e de “Confluence” da checa Angela Nwagbo. Há ainda amostras de propostas experimentais de vários artistas, incluindo os moçambicanos Vasco Sitoe, Lulu Sala, Silke, Mário Forjaz Secca, Francisca Mirine e Diogo Amaral no chamado “4° Andar”. Quito Tembe: “A dança está a borbulhar em Moçambique” RFI: Qual é o tema que atravessa esta edição? Quito Tembe, Director artístico da KINANI - Plataforma Internacional de Dança Contemporânea de Maputo: “Para nós, é este lugar de abordarmos a questão do corpo político, o corpo de intervenção, este corpo de resistência. É esta questão do corpo como uma arma, como uma ferramenta politica de intervenção. É esta abordagem: corpo de resistência, corpo político.” Resistência a quê? Quais são as linhas contra as quais é preciso resistir? “Todas as obras, de uma ou de outra forma, estão no mesmo diapasão. Temos aqui, desde este corpo negro que resiste, que são as obras vindas do Brasil, este corpo negro interventivo politicamente, que é o “REPERTÓRIO N.3”. Tens também esta abordagem das obras como do Ídio Chichava que transcende o lugar do corpo poético, mas um corpo interventivo que desconstrói as linguagens prédefinidas da dança, sobretudo quando a gente diz dança clássica para este corpo que se assume, para este corpo que resiste e fala estando em cena, despido de qualquer tipo de padrões estéticos ou regras estéticas do corpo em cena. Toda esta é uma abordagem, uma curadoria que, de alguma forma, teve este cuidado de pôr no mesmo programa obras que trazem esta questão da intervenção, esta questão do uso do corpo não somente para a concepção ou para uma abordagem um bocado mais poética, mas para este corpo que resiste e que se manifesta por sua vez.” Quais são os nomes da dança moçambicana que vão estar presentes? “De Moçambique, nós temos praticamente toda a nata dos activos que estão na dança. Desde a Janeth Mulpha que vai estrear a peça do grupo; a Edna Jaime, que vai mostrar uma peça do seu repertório; o Pak Ndjamena que vai mostrar, também em estreia, o seu novo trabalho, que é uma peça do grupo; e temos o Ídio Chichava igualmente que vai mostrar a sua nova criação. Depois temos a Mai-Júli Machado, que também é uma jovem artista moçambicana que está-se a destacar muito na dança, estando em trabalhar a partir de França e mostrar este trabalho é de muita significância. Temos também pequenas formas, que é o que a gente chama do “4° Andar”, que é a ocupação de um prédio cuja construção está em suspenso desde a independência. Dentro deste prédio, a gente põe pequenos formatos, 15 minutos cada e o público vai deambulando. Teremos oito propostas, das quais seis são moçambicanas.” Há mais nomes moçambicanos. Por exemplo, Osvaldo Passarivo que é um dos bailarinos que recentemente correu o mundo com a trupe do espectáculo “Vagabundus” de Ídio Chichava... “Exactamente. São estreias, vamos assim dizer. O Osvaldo Passarivo mostra, pela primeira vez, o seu trabalho individual que para nós também é de muita significância, sendo que ele não só esteve em tournée com Ídio Chichava, mas esteve também a trabalhar na peça do Victor Hugo Pontes. Para nós, depois de toda esta experiência que ele teve com estes coreógrafos, mostrar o trabalho dele é também apresentar ao mundo este jovem coreógrafo.” O festival arranca a 24 de Novembro com a estreia de “Dzuza", que é a mais recente criação do moçambicano Ídio Chichava. Porquê abrir com Ídio Chichava? “Acho que é óbvio. O Ídio Chichava é para nós, actualmente, uma grande referência em Moçambique e no continente africano, sendo que ele veio romper com vários padrões de se estar no mundo da dança e na criação da dança contemporânea no continente africano. Ele emergiu há muitos anos, mas há três anos é que ele começa a fazer-se sentir no mundo e através da sua peça, ‘Vagabundus', que está ainda em digressão - vai fazer agora mais de dois anos em digressão. Ele sempre me disse que, durante as tournées, todos os momentos que se pensava que eram momentos mortos, eram momentos de criação. Então, é esse trabalho que ele nos vai mostrar pela primeira vez aqui em Moçambique.” Apesar de ser uma Bienal de dança moçambicana, vocês abrem a criadores estrangeiros. Quem são os nomes estrangeiros escolhidos e porquê? “Todos os artistas que aqui estão e que foram selecionados representam tudo o que é esta Bienal. Primeiro, queríamos fazer desta Bienal uma espécie de uma janela da região. Convidámos alguns artistas aqui da região, como é o caso do Stephen Bongarçon, que é uma das referências das Maurícias. Também temos uma artista espanhola, a Raquel Gualtero, que traz a peça “360°”, que é um espectáculo muito simples, mas muito impactante que vamos fazer num museu para abrir para outros públicos e porque queremos contribuir para a discussão de trabalhos fora da caixa negra, isto é, fora do teatro. Então, trazer um trabalho impactante como este é levantar esta discussão e estas conversas que precisamos ter aqui em Moçambique. Depois temos uma artista, Dorine Mugisha, da Tanzânia, e quando descobrimos este trabalho foi quase automático ter este solo da Dorine aqui em Moçambique. Vamos ter também um grande trabalho que é do Vusi Mdoyi, “Izithuthuthuku”, que é um trabalho que mistura muito o teatro e a dança, mas é sobretudo o lugar da performance, e narra este momento do Apartheid através das sonoridades feitas com as máquinas de escrever e o som das máquinas de coser. Temos, também, o “REPERTÓRIO N.3”, de que já falámos. Enfim, vamos abrindo e tocamos um bocadinho mais este lugar de não só tornar a Bienal focada em Moçambique ou focada somente para o continente africano. Convidámos a Maria Emília Gomes, brasileira, que é uma excelente performer, que reivindica o espaço do corpo negro nas artes no Brasil. Também temos a Iselin Brogeland, que nos traz um performance que vamos fazer pela primeira vez num cemitério e toda a gente pergunta-se ‘mas porquê?' É sairmos das caixas negras e irmos provocar outros lugares, outros espaços que normalmente não recebem a arte. Temos a Bibiana Figueiredo que estreia o trabalho que nos mostrou, em pequeno formato, na edição passada no 4° Andar. Também temos de Portugal a Teresa Fabião, que tem um espectáculo que temos vindo a discutir há três, quatro anos e estamos muito contentes de ter esta trabalho ‘UNA' entre nós.” Esta edição não é só dança. “Esta edição decidiu abrir-se um pouco mais também para o teatro e para a performance. Temos uma peça importante da Isabel Jorge que vai ser mostrada na Casa Velha. E também vamos ter o Yuck Miranda, que é uma performance, ele vem do teatro, mas começa a experimentar outras formas de estar na arte, sobretudo na dança. Achamos que é de extrema importância mostrar artistas que vão experimentando outras formas. Pusemos também, durante quatro dias, uma conferência “Cenas Abertas”, que é pôr artistas do teatro, artistas da dança, artistas das artes visuais juntos para discutir e reflectir sobre a arte contemporânea. Temos também intervenção da arte visual, uma instalação em fotografia que envolve este prédio do 4° Andar, que vai ser a primeira exposição que a gente vai inaugurar, mesmo antes de iniciar o Kinani, que é do Mário Forjaz, um fotógrafo que também vai tocando outras áreas. Para além desta instalação, vamos ter umas instalações na Casa Velha, uma delas que é em memória ao Domingos Bié, que foi um jovem bailarino que já não está entre nós, e também vamos ter uma instalação de Walter Verdin que vai contar nos através das suas lentes, através da sua câmara, o percurso do que foram os 20 anos da história da dança em Moçambique, sendo que ele andou a acompanhar, filmando, documentando.” Relativamente à dança moçambicana, esta Bienal de dança moçambicana acaba por ser a vitrina da criação que se faz em Moçambique e que está a dar cartas cá fora, nomeadamente com Ídio Chichava, como se viu na Bienal de Dança de Lyon deste ano. Como é que está a dança moçambicana? “Por conhecer um pouco o continente e por estar a trabalhar em vários festivais no nosso continente, isso permite-me, de alguma forma, olhar de uma forma holística o continente. Digo que Moçambique está muito para a frente, isto é, o sentido criativo e o sentido da dança em Moçambique é uma coisa impressionante. A dança está a borbulhar em Moçambique. A dança está viva e os artistas estão muito ávidos deste lugar criativo, deste lugar de trazer novas propostas para o mundo. Moçambique, sem sombra de dúvida, é incontornável para o que está se a fazer no continente hoje.” Há alguma ligação, nesta edição, com os 50 anos da independência de Moçambique? “O espectáculo do Yuck Miranda é sobre este corpo da independência porque ele aborda este lugar da história de Moçambique, mas leva por uma outra vertente que é este lugar desconhecido, a comunidade que sempre existiu, mas nunca se falou dela, LGBQTI+, antes da independência. Então, ele fez uma pesquisa sobre este lugar, este corpo que não podia se expressar porque não tinha espaço para se expressar como homossexual, etc. Para nós, a bandeira dos 50 anos da Independência está justamente neste performance.”
En este episodio del podcast de ACHO hematología, el Dr. Juan Carlos Serrano, médico internista y hematólogo de la Clínica Cancerológica del Norte de Santander en Cúcuta, Colombia, comparte su experiencia en el manejo práctico de la enfermedad tromboembólica venosa. A partir de su participación en el desarrollo de guías latinoamericanas de la ASH, el Dr. Serrano aborda la importancia de una adecuada clasificación inicial del evento trombótico, así como la relevancia del enfoque individualizado para definir la duración de la anticoagulación y las estrategias diagnósticas en distintos escenarios clínicos. Su objetivo se centra en destacar decisiones clave, buenas prácticas y actualizaciones en el manejo de la enfermedad tromboembólica venosa con base en evidencia y guías actuales.Durante la conversación, el Dr. Serrano profundiza en la diferencia entre eventos trombóticos provocados y no provocados, resaltando cómo esta distinción guía la duración del tratamiento anticoagulante. Aborda herramientas para estimar el riesgo de recurrencia, la utilidad real de los estudios de trombofilia y el papel fundamental del perfil antifosfolipídico. También revisa criterios para manejo ambulatorio o intrahospitalario del embolismo pulmonar, el uso preferente de anticoagulantes directos, y consideraciones especiales en pacientes mayores, con comorbilidades o con enfermedad renal avanzada. Concluye enfatizando la necesidad de una evaluación dirigida, costo-efectiva y alineada con las guías contemporáneas.Dentro de su conversación, se plantearon las siguientes preguntas:¿Cómo debe clasificarse inicialmente un evento trombótico para orientar adecuadamente el tratamiento?¿Qué diferencia al evento provocado del no provocado y cómo influye en la duración de la anticoagulación?¿Qué herramientas existen para estimar el riesgo de recurrencia trombótica?¿Cuándo es realmente útil solicitar paneles de trombofilia?¿Qué importancia tiene estudiar el síndrome antifosfolipídico en pacientes jóvenes o con ciertos fenotipos clínicos?¿En qué casos un embolismo pulmonar puede manejarse de forma ambulatoria?¿Qué ventajas ofrecen los anticoagulantes orales directos según las guías actuales?¿Cómo manejar a pacientes de edad avanzada o con falla renal bajo anticoagulación? Fecha de grabación: 23 de septiembre de 2025. Referencia:Este contenido se basa en la interpretación crítica de la evidencia científica disponible, así como en la experiencia clínica del o los ponentes como profesionales de la salud en instituciones de referencia.Para profundizar en los conceptos discutidos, se recomienda al profesional de la salud consultar literatura científica vigente, guías clínicas internacionales y la normatividad aplicable en su país.
El Dr. Andrés Yepes, oncólogo clínico y Director Científico del Centro Oncológico de Antioquia en Colombia, explica cómo la oncología integrativa influye en la atención de los pacientes con cáncer. Su intervención se llevó a cabo durante el 9° Congreso Nacional de Actualización en Hematología y Oncología de la ACHO, realizado del 14 al 16 de noviembre de 2025 en Cartagena de Indias, Colombia.Fecha de grabación: 15 de noviembre de 2025 Referencia:Este contenido se basa en la interpretación crítica de la evidencia científica disponible, así como en la experiencia clínica del o los ponentes como profesionales de la salud en instituciones de referencia.Para profundizar en los conceptos discutidos, se recomienda al profesional de la salud consultar literatura científica vigente, guías clínicas internacionales y la normatividad aplicable en su país.
De uma equipe que não passava confiança aos torcedores, com tropeços e resultados vergonhosos, Carlo Ancelotti transformou e melhorou a seleção brasileira em apenas seis meses de trabalho à frente da comissão técnica. Desde que assumiu, o Brasil fez oito jogos e teve quatro vitórias, dois empates e duas derrotas. O treinador italiano tem quase 60% de aproveitamento. E mais do que isso: fez o Brasil voltar a jogar como o Brasil. Marcio Arruda, da RFI em Paris Apesar de os números de Carlo Ancelotti à frente da equipe brasileira não serem espetaculares até agora, jornalistas especializados apontam uma melhora assustadora no futebol apresentado pela seleção. A mídia espanhola, que conhece de perto o trabalho de Ancelotti, que conquistou 15 títulos em seis temporadas pelo Real Madrid, escreveu após uma vitória brasileira: “O despertar de um monstro”. “Normalmente, você tem medo do monstro. E isso é importante”, disse um bem-humorado Ancelotti. “Não despertamos nada. Estamos trabalhando para chegar à melhor condição possível na Copa do Mundo. Acredito que estamos num bom caminho”, afirmou o treinador. O atacante Rodrygo, que trabalhou com Ancelotti no Real Madrid, garantiu que agora os jogadores têm um entendimento mais claro do que fazer em campo. “A gente sabe o que fazer para atacar e se defender. Vamos guardar as coisas positivas e, o que a gente fez de negativo, iremos trabalhar para melhorar. Eu fico feliz porque agora eu vejo que a gente tem uma ideia para colocar em prática em campo; temos um plano”, revelou. Esquema tático pode mudar conforme adversário O plano mudou o panorama da equipe. O esquema tático da seleção brasileira tem dado certo, mas pode ser flexível conforme o adversário. “O Ancelotti acertou esse esquema 4-2-4, que deu muito certo contra a Coreia do Sul e Senegal. Mas é um esquema que eu já percebi, nas entrelinhas, que ele não acredita que dê certo contra França ou Espanha, por exemplo. E aí o Ancelotti fala em encontrar um plano B para ser um pouco mais defensivo”, opinou o correspondente internacional da Band, Felipe Kieling. “O Ancelotti deu uma cara para a seleção brasileira. Até a chegada dele, a gente não sabia para onde o Brasil estava indo." "Está claro o caminho que o Ancelotti começou a seguir. Ele trouxe jogadores que muita gente criticava, como o Casemiro, que hoje ninguém contesta”, completou Kieling. A jornalista Julia Guimarães, da TV Globo, considera que agora o Brasil, que já garantiu vaga na próxima Copa do Mundo, tem uma nova cara em campo. Leia tambémBrasil garante vaga no mundial de 2026 e país segue como único a disputar todas as Copas do Mundo “O mais importante é que hoje a gente pode dizer que o Brasil tem um time com estilo de jogo. O Ancelotti encontrou nesse esquema de 4-2-4 uma maneira de jogar e ele consegue fazer com que os jogadores de ataque voltem para marcar e ajudem o sistema defensivo também”, disse a correspondente internacional da TV Globo. Se por um lado o esquema 4-2-4 tem agradado, por outro é preciso que todos joguem pelo grupo. “Ele encontrou um sistema de jogo interessante com quatro atacantes, mas alguns deles terão de se sacrificar para recompor e ajudar o meio de campo, que só tem dois volantes. Aliás, são dois excelentes volantes, mas que vão precisar de ajuda. Então, o jogo precisa ser coletivamente defensivo”, explicou o jornalista Alexandre Oliveira, da TV Record, que já trabalhou como correspondente internacional. Sem posição fixa Voltar para fazer marcação e abrir mão da posição de origem não incomoda, por exemplo, o atacante Matheus Cunha. “Eu acho que tenho tido bastante oportunidades com o Mister Ancelotti. Eu me sinto muito bem nessa posição que ataca e ajuda na marcação. Acaba que o protagonismo fica um pouco de lado, mas é para ajudar o grupo a fazer coisas boas. Eu me sinto muito bem para continuar ajudando desta forma”, contou o atacante Matheus Cunha. A pouco mais de seis meses do início da Copa do Mundo, o técnico Carlo Ancelotti ainda não fechou a lista dos 26 jogadores que vão disputar o mundial. “O treinador ainda tem dúvidas nas laterais, tanto que no jogo contra Senegal ele colocou o Eder Militão, que foi muito bem. Outra posição vaga é o camisa 9. O Vitor Roque talvez tenha oportunidade e muita gente fala do Pedro. Também acho que o terceiro goleiro não foi escolhido. Eu diria que o Ancelotti já deve ter na cabeça dele uns 20 nomes. Acho que faltam dois nomes para as laterais, um para goleiro e outro para o ataque. O Neymar é sempre um ponto de interrogação”, disse Felipe Kieling. Com bagagem de três Copas do Mundo pela Globo, Julia Guimarães disse que os jogadores abraçaram a ideia do treinador. “Acho que ele já conseguiu colocar uma cara na seleção, faltando pouco tempo para a Copa do Mundo. O Ancelotti trouxe a mentalidade de um grande campeão para os jogadores da seleção. Dá para ver nas entrevistas coletivas que todos os jogadores falam sobre a importância de ter um cara como Ancelotti na seleção. Isso, claro, aumenta a confiança de todo mundo. É só ver como o Estêvão está jogando. O caçula da seleção está jogando muito”, afirmou Julia. Talento genuinamente brasileiro Aliás, Carlo Ancelotti rasgou elogios ao jovem atacante Estêvão, de apenas 18 anos. “Estêvão tem um talento incrível. Eu fico surpreso como um jogador tão jovem tem esse tipo de talento. Com ele, o Brasil tem um futuro assegurado”, declarou o treinador da seleção. A chegada de Carlo Ancelotti ao comando da seleção animou a torcida brasileira. Os torcedores que foram a Lille na terça-feira (18) para assistir ao amistoso do Brasil contra a Tunísia mostraram empolgação. “Está começando aquele calor no coração. Todo ano de Copa é a mesma coisa, mas eu acho que a esperança está maior para 2026. Enquanto formos o único penta, a gente sempre vai ser a seleção a ser batida” contou Sean Bryan Dias Medeiros, brasileiro que mora na Irlanda. O brasileiro Guilherme Rodrigues, que mora na Bélgica e atravessou a fronteira para acompanhar o jogo, disse que confia no sexto título do Brasil em Copas do Mundo. “A gente sonha há um tempo com isso e acho que vai se tornar realidade”, apostou Guilherme. "Pode ser que fique muito mais caro" E se o hexa realmente vier em 2026, será que Ancelotti continua como técnico da seleção depois da Copa? “Estou muito bem aqui na seleção. Não penso em sair. É claro que depois da Copa eu e a CBF vamos negociar uma renovação. Não tenho pressa em decidir e não há problema para mim em permanecer no cargo”, revelou Ancelotti. “A verdade é que o contrato antes do mundial foi barato, mas depois da Copa pode ser que fique muito mais caro”, brincou Ancelotti sobre a renovação.
A presença brasileira voltou a estremecer Hollywood nesta semana. Depois que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgou nas redes sociais uma foto de Wagner Moura no Governors Awards, o público fez história, novamente: foram mais de 156 mil comentários, um número que superou, de longe, as reações dedicadas a outras grandes estrelas da noite. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles Esse mar de engajamento, que havia acontecido também no ano passado com a foto de Fernanda Torres, marcou simbolicamente o início da campanha “para valer” de Moura nos Estados Unidos. Um dia antes de ir à festa, ele conversou com a RFI e já falava do poder dos brasileiros nas redes sociais. “Eu estava com a Nanda [Fernanda Torres] no Governors Awards ano passado. Eu lembro da gente conversando ali e lembro dela falando assim: 'eu não tirei a foto ainda, vou lá tirar'. A foto da Nanda teve um milhão de likes. As fotos de todas as estrelas americanas que estavam lá não tiveram nem um milésimo do que ela teve. Eu acho maravilhoso!", lembrou o protagonista de “O Agente Secreto”. Wagner Moura agora vê a história se repetir no engajamento e no favoritismo do filme de Kleber Mendonça Filho na categoria de produção internacional. Após finalizar uma temporada teatral no Brasil, o ator desembarcou em Los Angeles e já iniciou uma agenda intensa de campanha para o Oscar. Paralelamente, como é padrão na temporada, ele também faz campanha para o Globo de Ouro, Critics' Choice e demais premiações dos sindicatos que moldam o rumo da corrida. “Fiquei um tempo afastado dessa parte. Kleber Mendonça Filho viajou muito, e agora estou totalmente comprometido com isso. É muito bom, porque você senta com os outros atores, escuta seus colegas também de outros lugares, que fizeram outros filmes maravilhosos esse ano. Isso é uma troca muito boa. Você poder ouvir outras pessoas, de outras latitudes no mundo, falando do seu filme. Estamos aqui nos Estados Unidos, e depois vou para muitos países europeus, Inglaterra, Itália, Espanha, França. É campanha, é isso, é viajar e falar do filme pelo mundo”, diz. A perna cabeluda Nesta última semana, Wagner Moura participou da primeira sessão paga de “O Agente Secreto” em território americano. No dia 26 o filme entra em circuito comercial nos Estados Unidos. O ator também comentou quais são as conversas mais frequentes após as sessões. “Eu acho muito engraçadas as perguntas sobre a perna cabeluda. A primeira vez que eu ouvi falar da perna cabeluda foi na música de Chico Science, que inclusive é a música que eu botei na abertura do Marighella, que diz que 'Galeguinho do Coque não tinha medo da perna cabeluda'. Só agora, trabalhando com o Kleber, fui entender que a perna cabeluda virou uma lenda urbana no Recife porque jornalistas, para driblar a censura, em vez de denunciar a brutalidade policial, diziam que quem tinha feito aquelas coisas havia sido essa perna saltitante. Ela virou notícia no jornal e as pessoas trancavam a porta da casa por medo da perna cabeluda", explicou o ator. “É muito bom isso, você ver um pedaço do seu país sendo mostrado. Acho muito importante que o público fora do Brasil veja aquilo, mas acho mais importante que nós brasileiros também vejamos. Não consigo entender ainda a lógica de quem não acha que o governo deveria apoiar a cultura, de que a cultura não é uma coisa importante para o desenvolvimento do país. Fico querendo ver algum argumento", reitera. Favoritismo Wagner não é apenas favorito nas redes: as listas iniciais de possíveis indicados a melhor ator ao Oscar 2026 já colocam o ator brasileiro ao lado de nomes como Ethan Hawke (Blue Moon), Leonardo DiCaprio (Uma Batalha Após a Outra), Timothée Chalamet (Marty Supreme) e Michael B. Jordan (Pecadores). Mas foi a atualização mais recente do The Hollywood Reporter que surpreendeu até os fãs mais otimistas. Wagner Moura aparece como o número 1 entre os favoritos. “Mostra que você está num momento muito bonito da trajetória como artista, tendo esse tipo de reconhecimento. Essa indicação ainda não veio e não gosto de ficar falando disso, mas é maravilhoso. É um filme brasileiro, um ator brasileiro. Eu acho maneiro. Na Bahia, o pessoal tem orgulho”, brinca. O filme "O Agente Secreto" não nasceu para entrar na corrida do Oscar, mas do desejo de entregar um filme sólido, impactante, com identidade brasileira e potência universal. Quando um trabalho é feito com essa qualidade, o Oscar deixa de ser um objetivo distante e passa a ser uma consequência possível. Mas envolve muitas camadas, entre elas a de ter um distribuidor poderoso, como a Neon, que aposta na campanha nos Estados Unidos. “Já fiz tanto filme. Fiz muito filme ruim, sempre com o intuito de fazer bem, mas é difícil. Quando vem um bom, você fica querendo que aquilo esteja nas discussões, nas conversas, como 'O Agente Secreto' está. Não digo que o Oscar é um sonho, mas é claro que às vezes você pensa que o filme poderia estar ali. Já fiz alguns filmes em que pensei nisso, como o próprio 'Tropa de Elite', o 'Guerra Civil', que foi um filme que fiquei muito surpreso de ter passado batido, no ano passado, na premiação dos Oscars”, lamenta. O reconhecimento crítico, o carinho do público e a empolgação dos brasileiros que têm um engajamento sem igual em qualquer lugar do mundo, apenas aceleraram um movimento que já está em curso, apesar de ter ainda muito chão pela frente e muita coisa pode acontecer no meio do caminho. A festa do Oscar acontece em 15 de março. “Eu gostei tanto de fazer 'O Agente Secreto', foi uma coisa tão importante para mim, e as pessoas gostam dele. Então, para mim, para Kleber, é incrível a gente poder estar falando, viajando o mundo, conversando com as pessoas, ouvindo o tipo de pergunta que as pessoas fazem sobre o filme em diferentes partes do mundo, sobre a cultura brasileira, de Pernambuco, do Recife, do Nordeste. É maravilhoso", resume Wagner Moura.
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Bio: Jenny - Co-Host Podcast (er):I am Jenny! (She/Her) MACP, LMHCI am a Licensed Mental Health Counselor, Somatic Experiencing® Practitioner, Certified Yoga Teacher, and an Approved Supervisor in the state of Washington.I have spent over a decade researching the ways in which the body can heal from trauma through movement and connection. I have come to see that our bodies know what they need. By approaching our body with curiosity we can begin to listen to the innate wisdom our body has to teach us. And that is where the magic happens!I was raised within fundamentalist Christianity. I have been, and am still on my own journey of healing from religious trauma and religious sexual shame (as well as consistently engaging my entanglement with white saviorism). I am a white, straight, able-bodied, cis woman. I recognize the power and privilege this affords me socially, and I am committed to understanding my bias' and privilege in the work that I do. I am LGBTQIA+ affirming and actively engage critical race theory and consultation to see a better way forward that honors all bodies of various sizes, races, ability, religion, gender, and sexuality.I am immensely grateful for the teachers, healers, therapists, and friends (and of course my husband and dog!) for the healing I have been offered. I strive to pay it forward with my clients and students. Few things make me happier than seeing people live freely in their bodies from the inside out!Danielle (00:10):Welcome to the Arise Podcast with my colleague Jenny McGrath and I today Jenny's going to read a part of a presentation she's giving in a week, and I hope you really listen in The political times are heavy and the news about Epstein has been triggering for so many, including Jenny and myself. I hope as you listen, you find yourself somewhere in the conversation and if you don't, I hope that you can find yourself with someone else in your close sphere of influence. These conversations aren't perfect. We can't resolve it at the end. We don't often know what we need, so I hope as you listen along that you join us, you join us and you reach out for connection in your community with friends, people that you trust, people that you know can hold your story. And if you don't have any of those people that maybe you can find the energy and the time and the internal resources to reach out. You also may find yourself activated during this conversation. You may find yourself triggered and so this is a notice that if you feel that that is a possibility and you need to take a break and not listen to this episode, that's okay. Be gentle and kind with yourself and if you feel like you want to keep listening, have some self-care and some ways of connecting with others in place, go ahead and listen in. Hey Jenny, I'd love to hear a bit about your presentation if you don't even mind giving us what you got.Jenny (01:41):Yeah, absolutely. I am very honored. I am going to be on a panel entitled Beyond Abstinence Only Purity Culture in Today's Political Moment, and this is for the American Academy of Religion. And so I am talking about, well, yeah, I think I'll just read a very rough draft version of my remarks. I will give a disclaimer, I've only gone over it once so far, maybe twice, so it will shift before I present it, but I'm actually looking forward to talking about it with you because I think that will help me figure out how I want to change it. I think it'll probably just be a three to five minute read if that evenOkay. Alright. I to look at the current political moment in the US and try to extract meaning and orientation from purity culture is essential, but if we only focus on purity culture in the us, we are naval gazing and missing a vital aspect of the project that is purity culture. It is no doubt an imperialist project. White women serving as missionaries have been foot soldiers for since Manifest Destiny and the creation of residential schools in North America and even before this, yet the wave of white women as a force of white Christian nationalism reached its white cap in the early two thousands manifest by the power of purity culture. In the early 1990s, a generation of young white women were groomed to be agents of empire unwittingly. We were told that our value and worth was in our good pure motives and responsibility to others.(03:31):We were trained that our racial and gender roles were pivotal in upholding the white, straight, heteronormative, capitalistic family that God designed and we understood that this would come at us martyring our own body. White women therefore learned to transmute the healthy erotic vitality that comes from an awakening body into forms of service. The transnational cast of white Christian supremacy taught us that there were none more deserving more in need than black and brown bodies in the global south pay no attention to black and brown bodies suffering within the us. We were told they could pull themselves up by their bootstraps, but not in the bodies of color. Outside the membrane of the US white women believed ourselves to be called and furthermore trusted that God would qualify us for the professional roles of philanthropists, medical service providers, nonprofit starters and adoptive mothers of black and brown children in the global south.(04:30):We did not blanc that often. We did not actually have the proper training, much less accountability for such tasks and neither did our white Christian communities. We were taking on roles of power we would have never been given in white spaces in the US and in doing so we were remaining compliant to our racial and gendered expectations. This meant among many other things, giving tacit approval to international states that were being used as pawns by the US Christian. Right among these states, the most prominent could arguably be Uganda. Uganda was in the zeitgeist of white Christian youth, the same white Christian youth that experienced life altering commitments given in emotionally evocative abstinence rituals. We were primed for the documentary style film turned organization invisible Children, which found its way into colleges, youth groups, and worship services all over the country. Many young white women watched these erotically charged films, felt a compulsion to do something without recognizing that compulsion came from the same tendrils of expectations, purity, culture placed on our bodies.(05:43):Invisible children's film was first released in 2004 and in their release of Kony 2012 reached an audience of a hundred million in its first week of release. Within these same eight years, Ugandan President Veni who had a long entangled relationship with the US Christian right signed into law a bill that made homosexuality the death penalty in certain cases, which was later overturned. He also had been responsible for the forced removal of primarily acho people in Northern Uganda from their lands and placed them into internally displaced people's camps where their death T tolls far exceeded those lost by Coney who musevini claimed to be fighting against as justification for the violent displacement of Acho people. Muny Musevini also changed the Ugandan constitution to get reelected despite concerns that these elections were not truly democratic and has remained president of Uganda for the last 39 years. Uganda was the Petri dish of American conservative laboratory of Christo fascism where whiteness and heteronormative racialized systems of purity culture were embalmed. On November 5th, 2, 20, 24, we experienced what am termed the boomerang of imperialism. Those who have had an eye on purity cultures influence in countries like Uganda are not surprised by this political moment. In fact, this political moment is not new. The only thing new about it is that perhaps for the first time the effects are starting to come more thoroughly to white bodies and white communities. The snake has begun to eat its own tail.Scary. Okay. It feels like poking an already very angry hornet's nest and speaking to things that are very alive and well in our country right now. So I feel that and I also feel a sense of resolve, you might say that I feel like because of that it feels imperative to speak to my experience and my research and this current political moment. Do you mind if I ask what it was like to hear it?Danielle (08:30):It is interesting. Right before I hopped on this call, I was doing mobility at my gym and at the end when my dear friend and I were looking at our DNA, and so I guess I'm thinking of it through the context of my body, so I was thinking about that as you're reading it, Jenny, you said poking the bear and before we shift too fast to what I think, what's the bear you believe you're poking?Jenny (09:08):I see it as the far right Christian nationalist ideology and talking about these things in the way that I'm talking about them, I am stepping out of my gender and racial expectations as a white cis woman where I am meant to be demure and compliant and submissive and not calling out abuse of power. And so I see that as concerning and how the religious right, the alt religious right Christian, religious right in the US and thankfully it was not taken on, but even this week was the potential of the Supreme Court seeing a case that would overturn the legalization of gay marriage federally and that comes out of the nuclear focus of the family that James stops and heralded was supposed to be the family. It's one man and it's one woman and you have very specific roles that you're supposed to play in those families.Danielle (10:35):Yeah, I mean my mind is just going a thousand miles a minute. I keep thinking of the frame. It's interesting, the frame of the election was built on economy, but after that it feels like there are a few other things like the border, which I'm including immigration and migrants and thoughts about how to work with that issue, not issue, I don't want to say it's an issue, but with that part of the picture of what makes up our country. The second thing that comes to mind after those two things is there was a huge push by MAGA podcasters and church leaders across the country, and I know I've read Cat Armas and a bunch of other people, I've heard you talking about it. There's this juxtaposition of these people talking about returning to some purity, the fantasy of purity, which you're saying you're talking about past and present in your talk while also saying, Hey, let's release the Epstein files while voting for this particular person, Donald Trump, and I am caught. If you look at the statistics, the amount of folks perpetrating violent crime that are so-called migrants or immigrants is so low compared to white men.(12:16):I am caught in all those swirling things and I'm also aware that there's been so many things that have happened in the last presidency. There was January 6th and now we have, we've watched ICE in some cases they've killed people in detention centers and I keep thinking, is sexual purity or the idea of the fantasy that this is actually a value of the Christian? Right? Is that going to be something that moves people? I don't know. What do you think?Jenny (12:54):I think it's a fair question. I think it is what moved bodies like mine to be complicit in the systems of white supremacy without knowing that's what I was doing. And at the same time that I myself went to Uganda as a missionary and spent the better part of four years there while saying and hearing very hateful and derogatory things about migrants and the fact that signs in Walmart were in Spanish in Colorado, and these things that I was taught like, no, we need to remain pure IE white and heteronormative in here, and then we take our good deeds to other countries. People from Mexico shouldn't be coming up here. We should go on Christmas break and build houses for them there, which I did and it's this weird, we talk a lot about reality. It is this weird pseudo reality where it's like everything is upside down and makes sense within its own system.(14:13):I had a therapist at one point say, it's like you had the opposite of a psychotic break when I decided to step out of these worlds and do a lot of work to come into reality because it is hard to explain how does talking about sexual purity lead to what we're seeing with ice and what we're seeing with detention. And I think in reality part of that is the ideology that the body of the US is supposed to primarily be white, straight Christian heteronormative. And so if we have other bodies coming in, you don't see that cry of immigrants in the same way for people that came over from Ukraine. And I don't mean that anything disparagingly about people that needed to come over from Ukraine, but you see that it's a very different mindset from white bodies entering the US than it is black and brown bodies within this ideological framework of what the family or the body of individuals and the country is supposed to look like.I've been pretty dissociated lately. I think yesterday was very tough as we're seeing just trickles of emails from Epstein and that world and confirmation of what any of us who listened to and believed any of the women that came forward already knew. But it just exposes the falseness that it's actually about protecting anyone because these are stories of young children, of youth being sexually exploited and yet the machine keeps powering on and just keeps trying to ignore that the man they elected to fight the rapists that were coming into our country or the liberals that were sex child trafficking. It turns out every accusation was just a confession.Danielle (16:43):Oh man. Every accusation was a confession. In psychological terms, I think of it as projection, like the bad parts I hate about me, the story that criminals are just entering our country nonstop. Well, the truth is we elected criminals. Why are we surprised that by the behavior of our government when we voted for criminality and I say we because I'm a participant in this democracy or what I like to think of as a democracy and I'm a participant in the political system and capitalism and I'm a participant here. How do you participate then from that abstinence, from that purity aspect that you see? The thread just goes all the way through? Yeah,Jenny (17:48):I see it as a lifelong untangling. I don't think I'm ever going to be untangled unfortunately from purity culture and white supremacy and heteronormative supremacy and the ways in which these doctrines have formed the way that I have seen the world and that I'm constantly needing to try to unlearn and relearn and underwrite and rewrite these ways that I have internalized. And I think what's hard is I, a lot of times I think even in good intentions to undo these things in activist spaces, we tend to recreate whiteness and we tend to go, okay, I've got it now I'm going to charge ahead and everyone follow me. And part of what I think we need to deconstruct is this idea of a savior or even that an idea is going to save us. How do we actually slow down even when things are so perilous and so immediate? How do we kind of disentangle the way whiteness and capitalism have taught us to just constantly be churning and going and get clearer and clearer about how we got here and where we are now so that hopefully we can figure out how to leave less people behind as we move towards whatever it looks like to move out of this whiteness thing that I don't even honestly have yet an imagination for.(19:26):I have a hope for it, but I can't say this is what I think it's going to look like.Danielle (20:10):I'm just really struck by, well, maybe it was just after you spoke, I can't remember if it was part of your talk or part of your elaboration on it, but you were talking about Well, I think it was afterwards it was about Mexicans can't come here, but we can take this to Mexico.Yeah. And I wonder if that, do you feel like that was the same for Uganda?Jenny (20:45):Absolutely. Yeah. Which I think it allows that cast to remain in place. One of the professors that I've been deeply influenced by is Ose Manji, and he's a Kenyan professor who lives in Canada who's spent many years researching development work. And he challenges the idea that saviors need victims and the privilege that I had to live in communities where I could fundraise thousands of dollars for a two week or a two month trip is not separate from a world where I'm stepping into communities that have been exploited because of the privileges that I have,(21:33):But I can launder my conscience by going and saying I helped people that needed it rather than how are the things that I am benefiting from causing the oppression and how is the government that I'm a part of that has been meddling with countries in Central America and Africa and all over the globe creating a refugee crisis? And how do I deal with that and figure out how to look up, not that I want to ignore people that are suffering or struggling, but I don't want to get tunnel vision on all these little projects I could do at some point. I think we need to look up and say, well, why are these people struggling?Speaker 1 (22:26):Yeah, I don't know. I don't have fully formed thoughts. So just in the back, I was thinking, what if you reversed that and you said, well, why is the American church struggling?(22:55):I was just thinking about what if you reversed it and I think why is the American church struggling? And we have to look up, we have to look at what are the causes? What systems have we put in place? What corruption have we traded in? How have we laundered our own conscience? I mean, dude, I don't know what's going on with my internet. I need a portable one. I just dunno. I think that comment about laundering your own conscience is really beautiful and brilliant. And I mean, it was no secret that Epstein had done this. It's not a secret. I mean, they're release the list, but they know. And clearly those senators that are releasing those emails drip by drip, they've already seen them. So why did they hang onto them?Jenny (24:04):Yeah. Yeah. I am sad, I can't remember who this was. Sean was having me listen to a podcast the other day, just a part of it talking about billionaires. But I think it could be the same for politicians or presidents or the people that are at the top of these systems we've created. That's like in any other sphere, if we look at someone that has an unsatiable need for something, we would probably call that an addiction and say that that person needs help. And actually we need to tend to that and not just keep feeding it. And I think that's been a helpful framework for me to think about these people that are addicted to power that will do anything to try to keep climbing that ladder or get the next ring that's just like, that is an unwell person. That's a very unwell person.Speaker DanielleI mean, I'm not surprised, I think, did you say you felt very dissociated this past week? I think I've felt the same way because there's no way to take in that someone, this person is one of the kings of human trafficking. The all time, I mean great at their job. And we're hearing Ghislaine Maxwell is at this minimum security prison and trading for favors and all of these details that are just really gross. And then to hear the Republican senator or the speaker of the house say, well, we haven't done this because we're thinking of the victims. And literally the victims are putting out statements saying, get the damn files out. So the gaslighting is so intense to stay present to all of that gaslighting to stay present to not just the first harm that's happened, but to stay present to the constant gaslighting of victims in real time is just, it is a level of madness. I don't think we can rightfully stay present in all of it.(26:47):I don't know. I don't know what we can do, but Well, if anybody's seen the Handmaid's Tale, she is like, I can't remember how you say it in Latin, but she always says, don't let the bastards grind you down. I keep thinking of that line. I think of it all the time. I think connecting to people in your community keep speaking truth, it matters. Keep telling the truth, keep affirming that it is a real thing. Whether it was something at church or like you talked about, it was a missionary experience or abstinence experience, or whether you've been on the end of conversion therapy or you've been a witness to that and the harm it's done in your community. All of that truth telling matters, even if you're not saying Epstein's name, it all matters because there's been such an environment created in our country where we've normalized all of this harm. I mean, for Pete's sake, this man made it all the way to the presidency of the United States, and he's the effing best friend of Epstein. It's like, that was okay. That was okay. And even getting out the emails. So we have to find some way to just keep telling truth in our own communities. That's my opinion. What about yours?Jenny (28:17):Yeah, I love that telling The truth matters. I feel that, and I think trying to stay committed to being a safe person for others to tell the truth too, because I think the level, as you use the word gaslighting, the level of gaslighting and denial and dismissal is so huge. And I think, I can't speak for every survivor, but I think I take a guess to say at least most survivors know what it's like to not be believed, to be minimized, to be dismissed. And so I get it when people are like, I'm not going to tell the truth because I'm not going to be believed, or I'm just going to get gaslit again and I can respect that. And so I think for me, it's also how do I keep trying to posture myself as someone that listens and believes people when they tell of the harm that they've experienced? How do I grow my capacity to believe myself for the harm that I've experienced? And who are the people that are safe for me to go to say, do you think I'm crazy? And they say, no, you're not. I need those checkpoints still.First, I would just want to validate how shit that is and unfortunately how common that is. I think that it's actually, in my experience, both personally and professionally, it is way more rare to have safe places to go than not. And so I would just say, yeah, that makes sense for me. Memoirs have been a safe place. Even though I'm not putting something in the memoir, if I read someone sharing their story, that helps me feel empowered to be like, I believe what they went through. And so maybe that can help me believe what I've gone through. And then don't give up looking, even if that's an online community, even if that's a community you see once a month, it's worth investing in people that you can trust and that can trust you.Danielle (30:59):I agree. A thousand percent don't give up because I think a lot of us go through the experience of when we first talk about it, we get alienated from friends or family or people that we thought were close to us, and if that's happened to you, you didn't do anything wrong. That sadly is something very common when you start telling the truth. So just one to know that that's common. It doesn't make it any less painful. And two, to not give up, to keep searching, keep trying, keep trying to connect, and it is not a perfect path. Anyway. Jenny, if we want to hear your talk when you give it, how could we hear it or how could we access it?Jenny (31:52):That's a great question. I dunno, I'm not sure if it's live streamed or not. I think it's just in person. So if you can come to Boston next week, it's at the American Academy of Religion. If not, you basically heard it. I will be tweaking things. But this is essentially what I'm talking about is that I think in order to understand what's going on in this current political moment, it is so essential that we understand the socialization of young white women in purity culture and what we're talking about with Epstein, it pulls back the veil that it's really never about purity. It's about using white women as tropes for Empire. And that doesn't mean, and we weren't given immense privilege and power in this world because of our proximity to white men, but it also means that we were harmed. We did both. We were harmed and we caused harm in our own complicity to these systems. I think it is just as important to hold and grow responsibility for how we caused harm as it is to work on the healing of the harm that was caused to us. Kitsap County & Washington State Crisis and Mental Health ResourcesIf you or someone else is in immediate danger, please call 911.This resource list provides crisis and mental health contacts for Kitsap County and across Washington State.Kitsap County / Local ResourcesResourceContact InfoWhat They OfferSalish Regional Crisis Line / Kitsap Mental Health 24/7 Crisis Call LinePhone: 1‑888‑910‑0416Website: https://www.kitsapmentalhealth.org/crisis-24-7-services/24/7 emotional support for suicide or mental health crises; mobile crisis outreach; connection to services.KMHS Youth Mobile Crisis Outreach TeamEmergencies via Salish Crisis Line: 1‑888‑910‑0416Website: https://sync.salishbehavioralhealth.org/youth-mobile-crisis-outreach-team/Crisis outreach for minors and youth experiencing behavioral health emergencies.Kitsap Mental Health Services (KMHS)Main: 360‑373‑5031; Toll‑free: 888‑816‑0488; TDD: 360‑478‑2715Website: https://www.kitsapmentalhealth.org/crisis-24-7-services/Outpatient, inpatient, crisis triage, substance use treatment, stabilization, behavioral health services.Kitsap County Suicide Prevention / “Need Help Now”Call the Salish Regional Crisis Line at 1‑888‑910‑0416Website: https://www.kitsap.gov/hs/Pages/Suicide-Prevention-Website.aspx24/7/365 emotional support; connects people to resources; suicide prevention assistance.Crisis Clinic of the PeninsulasPhone: 360‑479‑3033 or 1‑800‑843‑4793Website: https://www.bainbridgewa.gov/607/Mental-Health-ResourcesLocal crisis intervention services, referrals, and emotional support.NAMI Kitsap CountyWebsite: https://namikitsap.org/Peer support groups, education, and resources for individuals and families affected by mental illness.Statewide & National Crisis ResourcesResourceContact InfoWhat They Offer988 Suicide & Crisis Lifeline (WA‑988)Call or text 988; Website: https://wa988.org/Free, 24/7 support for suicidal thoughts, emotional distress, relationship problems, and substance concerns.Washington Recovery Help Line1‑866‑789‑1511Website: https://doh.wa.gov/you-and-your-family/injury-and-violence-prevention/suicide-prevention/hotline-text-and-chat-resourcesHelp for mental health, substance use, and problem gambling; 24/7 statewide support.WA Warm Line877‑500‑9276Website: https://www.crisisconnections.org/wa-warm-line/Peer-support line for emotional or mental health distress; support outside of crisis moments.Native & Strong Crisis LifelineDial 988 then press 4Website: https://doh.wa.gov/you-and-your-family/injury-and-violence-prevention/suicide-prevention/hotline-text-and-chat-resourcesCulturally relevant crisis counseling by Indigenous counselors.Additional Helpful Tools & Tips• Behavioral Health Services Access: Request assessments and access to outpatient, residential, or inpatient care through the Salish Behavioral Health Organization. Website: https://www.kitsap.gov/hs/Pages/SBHO-Get-Behaviroal-Health-Services.aspx• Deaf / Hard of Hearing: Use your preferred relay service (for example dial 711 then the appropriate number) to access crisis services.• Warning Signs & Risk Factors: If someone is talking about harming themselves, giving away possessions, expressing hopelessness, or showing extreme behavior changes, contact crisis resources immediately.Well, first I guess I would have to believe that there was or is an actual political dialogue taking place that I could potentially be a part of. And honestly, I'm not sure that I believe that.Well, first I guess I would have to believe that there was or is an actual political dialogue taking place that I could potentially be a part of. And honestly, I'm not sure that I believe that. Well, first I guess I would have to believe that there was or is an actual political dialogue taking place that I could potentially be a part of. 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A vida e a carreira de Joaquim de Almeida fez-se de altos e baixos. O ator mais internacional de Portugal conta com mais de uma centena de filmes no seu curriculum mas diz que “a culpa de estar longe dos filhos nunca desaparece”. No Alta Definição, o ator fala da infância difícil e aborda a dor da perda dos pais, especialmente da mãe, que faleceu com Alzheimer. Joaquim de Almeida reflete ainda sobre o estado do mundo atual e deixa um alerta: “Acho que estamos à beira de qualquer coisa má. Eu espero que os meus olhos estejam a vejam mal. Temos que ter cuidado” O Alta Definição foi conduzido por Daniel Oliveira e emitido na SIC a 1 de novembro.See omnystudio.com/listener for privacy information.
In this episode of The Deal, Alex Rodriguez and Jason Kelly talk to the former football player and award-winning producer Emmanuel Acho about why he rejected the NFL and rebranded as a media influencer. In this conversation, they discuss the business of the NFL, why Acho’s “Uncomfortable Conversations with a Black Man” video series became a viral success and how he’s revitalizing sports media with his new show “Speakeasy.”See omnystudio.com/listener for privacy information.
Thiago Menezes é o único dançarino brasileiro e latino-americano na temporada do clássico Aida, na Ópera de Paris, em cartaz até 4 de novembro. Ele começou sua carreira ainda criança no subúrbio do Rio de Janeiro, passou por companhias de dança, se formou como ator e viveu intensas experiências profissionais. Desde 2016, o carioca fixou residência na França, onde atuou por várias companhias de teatro e dança e, agora, alcança seu ápice profissional aos 38 anos, ao passar pela entrada de artistas da consagrada Ópera Bastille. Thiago sempre se percebeu como artista: “Eu sempre quis dançar, desde pequeno. Sempre quis fazer algo com arte. Eu amava o mundo da televisão. Lembro de muito pequeno já ver os programas infantis e querer estar ali dentro”, recorda. Criado no bairro de Quintino, aos 16 anos Thiago precisou trabalhar para apoiar sua família, mas conseguiu continuar sonhando com a carreira de artista. “Eu comecei a fazer cursos de teatro, de dança. Tudo com bolsa, porque eu não podia pagar. Era uma época em que não tinha muito meninos e os cursos davam bolsa para homens”, explica. Ele passou por inúmeras escolas de dança como o Centro de Dança Rio, no Méier, a Cia Nós da Dança, a Petite Danse, e se tornou ator na Escola de Teatro da Faetec, no Rio, antes de fazer seu caminho no exterior. No entanto, o bailarino e ator considera as ruas do Rio de Janeiro como o lugar que o moldou para ser hoje um artista “plural”. “Eu tive a experiência da rua, das companhias de dança, o que me formou como artista, a ter disciplina e ideia de grupo. Mas sou um bailarino de danças urbanas, de jazz que vem do subúrbio do Rio de Janeiro. Eu ensaiava no MAM (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro) ou no baile do viaduto de Madureira. A gente ia se formar ali na rua. Dos bailarinos que conheço que estão no Brasil ou no mundo, a gente teve essa pluralidade de formação”, aponta. Carreira entre Brasil e França Mas as poucas oportunidades para artistas e dançarinos negros na TV e teatro fizeram com que Thiago, que sentia sua carreira estagnada no Brasil, olhasse para fora no ano de 2012. “Surgiu uma audição para vir para o circo na França como bailarino. A base do circo era em Toulouse, mas a gente viajava. Eu conheci a França inteira, gente!", relembra o carioca. "Fiquei um ano aqui, não quis renovar o contrato, quis voltar para o Brasil”, disse em entrevista à RFI. Durante esse breve retorno ao Brasil, Thiago Menezes fez teatro, participação em novela e até musicais, e permaneceu alguns anos trabalhando com o grupo Nós do Morro. Mas em 2016 decidiu voltar à França visando construir uma carreira sólida na dança. Dez anos de carreira na França O artista destaca que não poderia haver melhor momento para estar trabalhando em uma das instituições mais importantes do cenário cultural europeu e mundial. “Aida é uma das minhas óperas preferidas e é um sonho realizar esta ópera agora, porque faz 10 anos que estou aqui. Comemorar os 10 anos fazendo uma ópera na Ópera de Paris”, celebra Thiago. Aida é uma obra clássica italiana criada em 1871 por Giuseppe Verdi. Com mais de 3 horas e meia de duração, entre cenas épicas, árias e a famosa marcha triunfal, a ópera conta a história de uma princesa etíope escravizada no Egito, que enfrenta a rivalidade de Amneris, filha do faraó, que ama o mesmo homem que ela, Radamés. Thiago Menezes detalhou o processo para conquistar sua vaga no espetáculo que está em cartaz até o dia 4 de novembro na Ópera de Paris: “Fiz uma audição com mais de 60 pessoas, bem complicada. A gente teve várias fases, mas começou com a dança porque eles precisavam de bailarinos de universos diferentes. Desde acrobatas, dançarinos de hip hop, balé clássico, contemporâneo e jazz. Foram cinco horas de audição”, explica. Apesar da seleção intensa, que também contou com uma fase de testes de interpretação, Thiago revela que teve um pressentimento positivo sobre conseguir a oportunidade. “Nesse dia eu falei: 'Eu vou pegar!'. Joguei para o universo. Recebi a resposta por e-mail uma semana depois, e fiquei muito feliz. Estou muito feliz!”, festeja. Representando o Brasil Para Thiago, o caminho para chegar onde está sempre foi solitário, enquanto único brasileiro em diversas produções das quais já participou. Entretanto, ele se mostra esperançoso para um futuro com mais jovens sonhadores dos subúrbios sonhando alto e chegando longe. “Eu fico muito orgulhoso de ser o único brasileiro nessa produção, em mais de cem pessoas, sem contar a parte técnica, numa ópera desse tamanho. Eu fui muitas vezes o único latino-americano e único brasileiro em vários projetos. Infelizmente ainda é a minha realidade. Eu gostaria que houvesse mais brasileiros, mas vai ter. Isso vai acontecer!”, projeta Thiago Menezes. “Ser o único brasileiro é trazer essa leveza que a gente tem, trazer também o riso, levar a galera para ir comer comida brasileira, levar a galera para um samba depois do palco. Acho que a gente também é conhecido pela nossa alegria, pela nossa espontaneidade. Eu trago não só eu, Thiago, mas o Brasil comigo nessa leveza e alegria que a gente tem e que a gente emana muito para o mundo!”, aposta o bailarino.
Hollywood recebe neste final de semana uma estreia histórica para o teatro brasileiro. A peça “EAT” teve o lançamento nesta sexta (24) e segue com apresentação também neste sábado (25). No primeiro dia as atuações foram em português e no segundo em inglês, reforçando a presença da nossa língua na capital mundial do entretenimento. O palco é o do lendário Marilyn Monroe Theatre, do Lee Strasberg Film Institute. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles A trama acompanha dois imigrantes indocumentados presos em um frigorífico abandonado. Na atuação estão os atores Thales Corrêa e Jorge Gaspar. A peça foi escrita por Alex Tietre, dirigida por ele e por Bruna Fachetti. “Eat é sobre dois homens que estão presos dentro de um frigorífico abandonado, onde eles já estavam aprisionados em trabalho escravo. Há uma denúncia e uma fiscalização por conta desse trabalho escravo e esses dois homens, ao se esconderem, acabaram ficando presos de fato lá dentro. Só resta agora uma peça de carne. Um deles, ironicamente, ainda é vegetariano. Eles têm personalidades completamente diferentes. E a peça é sobre isso, sobre o relacionamento desses dois homens nos seus últimos dias de vida. Será? Não sabemos. Vão ser resgatados? Não vão? Vão se matar? Não vão? A peça é sobre isso. Explora a condição humana dentro de condições extremas, não só físicas, como psicológicas”, conta Bruna. Em Los Angeles, a diversidade linguística é uma das maiores do mundo. Segundo dados do U.S. Census Bureau e do Departamento de Planejamento da cidade, estima-se que sejam faladas entre 185 e 220 línguas diferentes no condado. Mas a cidade respira espanhol, presente em vitrines, rádios, canais de TV e programas locais, refletindo a grande comunidade hispânica da região. Também há produções e transmissões em línguas como coreano, mandarim, cantonês e armênio, atendendo às múltiplas comunidades de imigrantes. No entanto, apesar de existir uma comunidade brasileira significativa, o português ainda é praticamente invisível na cena cultural e midiática da cidade, tornando iniciativas como a estreia de “EAT” uma verdadeira novidade e um marco de representatividade. “A comunidade brasileira aqui é muito grande. A gente até se assusta com o tanto de gente brasileira que tem. Mas de fato, a maior diversidade que existe são peças em espanhol. Então, a gente está fazendo uma coisa muito inovadora, botando o pé na porta. Vamos falar em português. E eu acredito que desde o ano passado, principalmente com 'Ainda Estou Aqui' e o Oscar, a gente começou a se ver mais enquanto uma comunidade, a se unir e a entender o tamanho do nosso potencial, da nossa força", avalia Bruna Fachetti. "E parte dessa força está na língua portuguesa. Então, faz sentido a gente fazer em português. Acho que muita gente aqui sente falta também de ter alguma coisa na língua materna”, diz a atriz e diretora. Mais representatividade Bruna Fachetti vive um momento intenso em Hollywood. Em outubro, ela estreou na série “Monstro: A História de Ed Gein”, uma produção de Ryan Murphy para a Netflix. Ela entra em cena no quinto episódio. “Foi um desafio muito gostoso porque é um true crime story, baseado em fatos, com um elenco completamente estrangeiro. Eu falando alemão, representando uma judia na época do Holocausto. Foi um desafio muito grande como brasileira, mas me abriu novas portas e espero que também acrescente na questão da diversidade brasileira nas telas americanas.” Essa experiência reflete também uma dificuldade recorrente para atores brasileiros: encontrar papéis que reconheçam a identidade e a língua. Muitas vezes, ao buscar perfis latinos ou internacionais, os castings acabam privilegiando características de outros países da América Latina, deixando os brasileiros em um espaço de indefinição. “Ainda é um desafio, mas a gente está chegando lá. Enquanto latinos, a gente ainda não é parte da comunidade completamente por conta do português. Também tem uma questão étnica nossa, de que não veem a gente como latinos. Eles ainda trabalham dentro de um estereótipo do que é um latino. Então, para a gente é um desafio muito grande", detalha. "Quando eles fazem um casting para um latino, estão buscando gente da Colômbia, do México, de todos os lugares da América Latina. Mas em relação aos brasileiros, eles ainda não sabem muito bem como nos encaixar, eu mesma tenho enfrentado esse desafio e encontrado mais oportunidades como europeia do que como brasileira de fato", finaliza.
Acho que você ainda não percebeu, mas já quer apertar o play…
Acho with LeSean “Shady” McCoy and "Carebear" Kieran, the show brings hot takes, cold truths, and culturally forward conversations that connect sports and culture in real time. YouTube Twitter Instagram TikTok Learn more about your ad choices. Visit megaphone.fm/adchoices
Acho with LeSean “Shady” McCoy and "Care Bear" Kieran, the show brings hot takes, cold truths, and culturally forward conversations that connect sports and culture in real time. YouTube Twitter Instagram TikTok Learn more about your ad choices. Visit megaphone.fm/adchoices
¡El Haus of Mala is BAAAAACK! Venimos ready pa' analizar esta premiere de Drag Race España como se supone. Estaremos enfocados en todos los detalles porque este elenco comenzó pisando fuerte el escenario. Estamos listos para todo lo que el transformismo español nos puede dar. ¡OLÉ!Mala Patreonhttps://patreon.com/DragaMalaLinkTreehttps://linktr.ee/dragamalaBrock by Joséhttps://www.instagram.com/brockbyjose/https://www.tiktok.com/@brockbyjoseMala VoiceMailhttps://www.speakpipe.com/dragamalaBlue Skyhttps://bsky.app/profile/dragamalapod.bsky.socialInstagramDraga Mala
O bolsonarismo volta às ruas nesta terça-feira, 7, para defender o perdão ao ex-presidente Jair Bolsonaro, mas em um ato considerado modesto. A escolha foi por uma caminhada em Brasília, em dia útil e sem protestos na Avenida Paulista, em São Paulo, e em Copacabana, no Rio. O motivo foi que o tamanho das manifestações contra a PEC da Blindagem e a anistia em setembro pegou de surpresa a oposição, que agora evita comparações para não passar a imagem de que reúne menos gente que a esquerda. "Essa manifestação vai confirmar como o bolsonarismo está definhando. Silas Malafaia, o pastor que está menos cuidando da suas ovelhas que cuidando de salvar a pele de Bolsonaro, é o organizador e já mudou a expressão, o que mostra que estão sem força de mobilização. Acho que nem o ex-presidente acredita mais em anistia", diz Eliane.See omnystudio.com/listener for privacy information.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) defendeu na quinta-feira, 2, sua candidatura à Presidência da República em 2026. Eduardo afirmou o seguinte em entrevista ao SBT: “Eu acho que há um espaço, há robustez numa candidatura com o sobrenome Bolsonaro.Acho que estou no meu terceiro mandato, que sou uma pessoa que é conhecida da sociedade, coloco sempre as minhas opiniões à disposição do escrutínio público. [...] Acredito que nós estamos no momento em que estou maduro o suficiente. A única coisa que me fará não ser candidato é a candidatura do presidente Jair Bolsonaro.”Felipe Moura Brasil e Ricardo Kertzman comentam:Papo Antagonista é o programa que explica e debate os principais acontecimentos do dia com análises críticas e aprofundadas sobre a política brasileira e seus bastidores. Apresentado por Felipe Moura Brasil, o programa traz contexto e opinião sobre os temas mais quentes da atualidade. Com foco em jornalismo, eleições e debate, é um espaço essencial para quem busca informação de qualidade. Ao vivo de segunda a sexta-feira às 18h. Apoie o jornalismo Vigilante: 10% de desconto para audiência do Papo Antagonista https://bit.ly/papoantagonista Siga O Antagonista no X: https://x.com/o_antagonista Acompanhe O Antagonista no canal do WhatsApp. Boletins diários, conteúdos exclusivos em vídeo e muito mais. https://whatsapp.com/channel/0029Va2SurQHLHQbI5yJN344 Leia mais em www.oantagonista.com.br | www.crusoe.com.br
Yo amo PR, tú amas PR, pero ¿qué piensan los first-timers de PR? Hoy tengo un invitado de HONOOOOR a mi lado hablando sobre su experiencia en el lugar que más amo, Puerto Rico. Ustedes le tenían mil preguntas - y él se las contesta todasss.Volver al calentón este verano ha sido una experiencia distinta al 100%, entre la Residencia de Bad Bunny, el verano, la playita y la energía tan espectacular que se siente—fue un 10. Acompañanos en este recuento (y este special treat para mi) ⭐️#LaResidencia #PeErre #turista #entrevista #PrimeraVezEnPR #BadBunny #PuertoRico #Boricua #NoMeQuieroIr
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