Querido Eu é um espaço de compartilhar afeto na forma de áudio-cartas. Seja bem vindo ao centro da minha gratidão!
"O primeiro que eu gostei de você foi do seu sobrenome, Brasil. Nunca tinha conhecido ninguém, nem sequer escutado na tv alguém de sobrenome Brasil. Achei diferente e também super legal, naquela época, 2016, o Brasil era outro e eu ainda me orgulhava de ser brasileira. Agora sinto um pouco de vergonha para ser bem sincera. Até hoje eu ainda acho que a carta mais bonita que eu escrevi na vida foi para você. Você me apresentou Los Hermanos, banda que eu morro de amores ainda em pleno ano de 2021. Acho que na época era sua banda favorita e eu te escrevi uma carta que cada frase era um trecho de alguma música, numa sequência incrivelmente delicada e com sentido. Senti a super escritora quando terminei a cartinha escrita a mão numa folha colorida de fichário! Eu queria essa carta emoldurada na minha parede. Nunca disse isso olhando no seu olho, mas até hoje eu acho que te devo desculpas por ter rompido nosso namoro da maneira como fiz. Por telefone. Um único telefonema. Sumi e nunca mais te vi..."
A gente se conheceu quando tínhamos 13 anos. Na sétima série, não me lembro o ano certinho porque nessa idade, a gente não contava o tempo passar dessa maneira. Não fazia muito sentido marcar o tempo pelo passar dos anos. Na adolescência tudo é um grande evento de um longo ano! Mas sei que na rádio tocava cpm22. Que a Pitty aparecia pela primeira vez na cena musical, e era o único tipo de rock que eu suportava escutar. Ao contrário de vc, que nessa época sabia tocar quase todas as suas músicas preferidas na sua bateria. Mas hoje, olhando pra gente, com o olhar de uma pessoa mais madura. De uma mulher que já amou a vários outros homens, de uma pessoa que está feliz com a sua vida e com os caminhos que construiu para si. Eu sinto sinto é uma puta satisfação de olhar pra gente e perceber o quão maravilhoso é esse outro tipo de relação que construímos eu e você! Ver você tomando cerveja com meu marido, enquanto eu falo mal do governo com a sua esposa, enquanto a gente vigia meu filho morrendo de rir na beira da praia e uma das cenas que mais enche meu coração de alegria e fé no que nós mesmos fizemos questão de construir.
A vida é assim mesmo. O tempo todo, todo tempo um tudo de novo diferente. E eu que já sou velejador experiente neste quesito, me pego mais uma vez embarcada em uma viagem mar-imensidão a dentro. Nesse trilhar descobri certas coisas: conviver com a vulnerabilidade, espantar a autossabotagem e desativar o medo. Me cercar de informações e relatos de gente que já chegou lá tem me feito mais forte. Tem botado pra escanteio as vozes que às vezes me dizem que eu estou viajando ou que to procurando sarna para eu me coçar. Uma das positividades deste nosso viver atual é que a digitalidade da vida me trouxe novos professores, e de mentoria em mentoria, cursos após aulas tenho me abastecido não só de conteúdo (palavra da moda) mas de combustível para correr uns quilómetros a mais nessa maratona.
Episodio que marca minha entrada neste canal. Primeira audio-carta escrita e gravada. Um pedaço de recordação de um impulso de criatividade. De uma vontade de ser feliz e ligar o foda-se para a insegurança de botar a cara no Sol! Ben-vindos!
Esta noite, mas uma vez, sonhei com você. Toda vez que isso acontece eu fiquei querendo não acordar, admito! Em todos os sonhos que eu tenho contigo a gente passa tentando se beijar, ou eu passo tentando te beijar! E nunca dá. Passa alguma coisa ou eu acordo. Esse beijo nunca tinha acontecido. Até o sonho de hoje! Bom, meu paquera platônico, como eu costumava te apresentar as minhas amigas quando comentavam algo sobre você, meu eterno crush. Fica aqui o agradecimento pelas doces lembranças e pelo constante revisitar ao meu inconsciente tão cheio de mistérios. Me sinto viva toda vez penso em ti. Você me visita em sonhos para me lembrar que ainda existe uma mulher que deseja com o corpo. E que tá tudo bem se contaminar com essa vontade de desejo, de vez em quando, ainda que eu tenha algumas fraldas para lavar, um companheiro amado para mimar. Tá tudo bem ser essa que conquistou o sonho da família quadradinha e ao mesmo tempo ser quem morre de vontade de dar uma escapulida! Quem nunca, não é mesmo?!
No dia 26 de março de 1988 você nasceu muito querido. Desde antes de vc despontar nesse encontro entre famosos óvulos e espermatozóide você já era muito desejado. A historia da sua familia é essa: a busca de um varón, depois de três meninas, a tentativa de completar a familia. O Desejo de uma mãe persistente que sonhava com seu menino. O menino Antonio. É muito bonito já chegar no mundo cheio de si. Sabendo no fundo da alma, essa que vc acredita nao existir, que aqui, do lado de fora da barriga da sua mãe, mais do que esperado você foi conquistado. Filho após filho, ate que chegou você. Jutando a esse tremendo desejo esta o fato de você se chamar Antonio, que significa valente, cheio de coragem. Imagine como seria potente se todo e cada ser humano dessa terra nascesse querido e desejado, como você foi. E com o nome que você leva. Talvez nao criamos inconformados nesse mundo. E ele estaria repleto de seres assim: vivos que nem você. Eu não tenho muito como dizer o quão impactante sua chegada foi a vida de cada pessoa que você percorreu, mas posso rememorar os 180graus que você deu na minha vida, a partir de sua chegada.
Antes mesmo de você aparecer na minha historia nossos caminhos tortos nos levariam a nos conhecer nesta vida! Nossa historia começa no ano de 2018, quando eu passei no processo seletivo do doutorado em ciências sociais da universidade do Chile. Eu nem acreditava! Pois bem, o milagre não aconteceu e não há bom aluno que valha 45 mil reais no ano para um professor universitário. Então depois destes 2 meses eu acabei desistindo uma vez que entendi que a tal da bolsa não ia rolar. O maior presente, no entanto, não foi o doutorado em si. As coisas importantes da vida nunca são sobre títulos e números. São sobre relacionamentos e conexões. Você, Dani, junto com Roxana, Kary, Roccio, Cata, Osvaldo e Cristian são mais que meus colegas de profissão e desesperos acadêmicos. Foram meus primeiros amigos 100 por cento meu. Mas mais que tudo isso, Dani, mais que todos eles, tem você no meio dessa história...
Hola, beleza?!Como esta você? Desculpe a pergunta, mas é que eu ainda estou me acostumando a te reconhecer em mim. Ainda custa me reconhecer como uma. Como uma mulher. E embora pareça estranho essa estranheza, sou obrigada a admitir que Simone de Beauvoir tinha razao: Não se nasce mulher, se torna. E mesmo que desde sempre me identifique como uma, faz bem pouco tempo que com segurança abro a boca para dizer que é isso que sou. Uma mulher. Eu nasci menina, cresci e fui educada como uma. Mas como a gente tá cansada de saber, mulheres existem várias. Nem se quer nosso sexo, ventre, útero, seios e menstruação são suficientes para juntarmos numa única e uníssona categoria. Minha mãe conta que quando descobriu que a pessoinha que tava morando dentro da sua barriga era menina, sofreu uma leve desilusão. Ela já havia sonhado em gestar um menino, a criança que ia trazer alegria e orgulho ao meu pai, que ia acompanhá-lo ao Ipatingão nas tardes de domingo. Que ia desfilar pela escola com a camisa do galão da massa...Mas ai, era eu. Uma menina. E agora?
Você tem 32 anos e está sentada na frente do computador tentando escrever essa carta em meio a um bloqueio mental por estar falando de você! Típico. Logo você que tem tanta opinião para dar, tantas coisas para dizer. E ai, quando se trata explicitamente de você o silêncio vem e se instaura. Eu sei que toda essa preocupação se resolve na palavra equilíbrio. Mas não é atoa que a gente passa toda uma vida nessa corda bamba. Então você fica aí experimentando com as mais diversas coisas encontrar um jeito de encaixar essa peça no seu quebra-cabeça. Ser leve na vida, neste mundo rápido e louco nao é tarefa fácil. E da mesma maneira que você tem aprendido a dizer muitos Naos. Os seus sim, estão cada vez mais deliciosos. Parabéns Querida Bárbara !
A primeira lembrança que eu tenho de você, é um flash de memória, quando eu tinha por volta de uns 5 anos. Ainda morávamos em Ipatinga, Minas Gerais, e numa cidade interiorana ardendo em asfalto num calor de fevereiro e falta de entretenimento, faziam com que o único carnaval possível fosse pular e dançar num galpão do clube que frequentávamos. Lembro de tons de verde, serpentina e confetes de papel. Uma banda em cima do palco e eu girando minha saia havaiana colorida feita destes plásticos fininhos, prestes a rasgar a qualquer momento. Para gente que mora fora do Brasil, é um classico a pergunta sobre o carnaval no nosso país... Dai que agora, escrevendo essa carta, por primeira vez me deu vontade de saber como é que essa brincadeira começou pelos lados de cá. A gente tá tão acostumado a esse furdunço que é tao internalizado nas nossas vidas, que a gente acha que desde que o Brasil é Brasil, existe o carnaval. Isso poderia ate ser verdade. Mas como foi que você começou? Você Sempre foi assim?
Olhei pra frente da escada da piscina e vi a horta que levantamos numa de suas bordas desaproveitadas. E feliz em ver como os pés de acelga vão muito bem obrigada, acabei me dando conta que em uns meses mais a gente já vai poder comer, ou seja colher essa gostosidade. Isso… significa arrancar da raiz essa moita de planta comestível. Sabe cortar o mal pela raiz? Então, exatamente isso, so que neste caso, comer o bom pela raiz. Igual que com as batatas, mandiocas, o nosso amado cheiro verde, o espinafre, a melancia, melão, abóbora….e por ai vai! Essa magica toda que acontece no nosso mundo, essa relação entre animais de todas as expecies, devorando uns aos outros, se nutrindo de energia, proteínas e minerais, nao é só um encantamento. É parte de um Proceso cabuloso de complexo que vem sendo construído e trabalhado por milhões de anos, por essa mãe de benevolência gigante e sem fim: a terra. Nossa madre Terra...
Para deixar de ser tão medonha, resolvi botar pra fora, a dica de ouro do curso que eu fiz recentemente: mantenha um caderninho com seus agradecimentos diários. Bastam três coisas ao acordar, e se você conseguir, estrelinha dourada para mais três coisas antes de dormir. Mas essa coisa de agradecer, desperta na gente um olhar cirúrgico sobre as bençaos, mesmo que elas sejam invisíveis aos olhos de quem está justo ao seu lado. E por causa desse exercício, diariamente me forço a estar agradecida. Nem sempre funciona. Mais a maioria das vezes sim. E sim, é preciso estar no flow para perceber. To descubrindo que a poesia da vida nao se faz apenas através do acaso, mas da consistencia de quereres escolhidos a dedo . Somado a isso, força de vontade trabalhada dia-a-dia. E se tem uma coisa que eu faço bem, alem de encher o saco quando eu to com a pá virada, é coragem de me entregar a conselhos de desconhecidos: mantenha seu caderninho do agradecimento! Esse foi um dos últimos que recebi. E recomendo.
Pra gente que nem a gente, estranhas pessoas que botam fé no poder e resultado das palavras. A transformação do que se almeja começa com a maneira como as usamos. Por isso que uma frase não eh nunca só uma frase, que uma palavra no lugar da outra não é só coincidência. É uma questão de escolha. Aprendi com a sua amizade e parceria que nao adianta apenas circular nos alrredores das minorias. Nao adianta apenas a paquera. Nesse relacionamento de empatia e perceber o outro o compromisso é um imperativo. E lutar pela causa, no meu caso, requer comprometimento, no mínimo, na maneira como vou transmitindo minhas ações ao meu filho. Neste momento, muito mais que qualquer coisa das muitas outras coisas que faço, educar, sem sombra de duvidas é minha responsabilidade maior. E se eu quero que este mundo saia do lugar, que caminhe para frente e para os lados, tenho que começar é dentro da minha cabeça, observando meus pensamentos e cuidado das minhas palavras.
"De vez em quando, em dias como hoje, me pego perguntando sobre mim. Sobre mim e sobre o que faz parte de mim mas que não sou eu… Hoje acabei me dando conta que sei muito pouco sobre a história das mulheres da minha família cheia de mulheres.... Hoje é dia das avós, essas pessoas que estão para nos ensinar o amor sem compromisso. São lembranças de que antes de nós sempre existiu o mundo. São a prova de que somos ciclo…eternos recomeços de um mesmo lugar sem fim. Hoje me deu de ser grata, por todos, sobretudo, todas, que vieram antes de mim. As agradeço, as reconheço, as perdoo e as carrego comigo."
Eu hoje acordei e depois das mil atividades que tenho que dar conta logo de manhã, abri o zap e através de uma foto publicada em um grupo que faço parte li sua história na página da coluna que vc ilustra. Acho que foi por isso que seu texto mexeu tanto comigo. Me senti identificada com a vida que vocês levam aí. Parabéns pelo seu trabalho e pela beleza das suas palavras. Eles fizeram eu enxergar com mais carinho meu próprio lar! Obrigada por me conduzir a frente deste espelho simétrico e oposto, como diria um professor de antropologia! a sua historia, me fez reflexionar sobre mais um capitulo bonito da minha própria jornada. Fica o desejo de que mais gente te descubra, se descubra, descubra o bonito que é apaixonar-se pelo presente, e reconhecer nele o presente que é se maravilhar com a vida que se leva no agora. escreve mais!
Vamos combinar, nem tão querido assim. Já temos quase 1 ano de convivência. Vc mexeu muito com minha vida e do mundo inteiro No começo você me trouxe medo, insegurança e incerteza. Eu nunca vou esquecer da televisão ligada passando os caminhões de mortos nas estreitas ruas da Itália... Depois você me trouxe aceitação, quando sentada na minha cama após o jornal das 9, iam apresentando de forma traumatizante as contagens de mortos por todo planeta. Em seguida você me despertou adaptação. Me impôs um novo padrão de vida e virou de cabeça pra baixo a minha lista de prioridades e desejos Aí veio com você o aprendizado. Eu nunca fiz tanto curso, vi tantas palestras e escutei tanto livro e podcast como este ano. Daí, um pouco depois você me trouxe a gratidão. O reconhecimento do poder do meu privilégio. De seguir tendo uma casa e um trabalho. Aí então você trouxe o cansaço. O saco cheio de fazer parte desta história, deste esquema que a gente sempre acha que nunca está envolvido por completo. Agora você vem e me reapresenta a saudade. Essa que parece ser destinada a mim. Uma pessoa de muitas andanças está fadada a conviver com esse vazio bom no peito. Enfim, você chegou chegando. Causou seu rebuliço e te agradeço por isso. Mas na boa, já deu!Ta no hora do seu descanse em paz…
"Parabéns, nem acredito você esta no ensino fundamental!!Como você cresceu! Eu nos últimos anos não tenho tido o privilegio de ver vc crescer em cada micro centímetro de altura. Mas Antes de sair ai de Bh, a dindinha te acompanhou muito. E foi feliz vendo você desenvolver. Nossa historia começa antes mesmo de você nascer. Eu conheci sua mãe num processo seletivo de trabalho. Éramos muitos e como sempre, sua mãe desbancou quase todos. Esse bico ela nao consegui. Mas foi o suficiente pro destino fazer a gente se juntar..."
"Todo ano um Natal diferente, e mesmo assim sempre os mesmos rituais. Tirando jesus da história. Nas nossas próprias historias, ao redor de cada pequena família, estamos nos enchendo da presença de nascimentos de pequenos seres chamados bebês. Por onde nasce um, están nascendo pessoas muito especiais. O natal está aí para gente celebrar esses recomeços. Essas coisas que nascem e renascem fazendo a nossa vida reabastecer de luz!"
Eu gostaria de te pedir desculpas... Eu deveria ter começado meu posicionamento com essa frase: Qual é o plano? Como iriamos fazer para trazê-lo ate aqui caso seria possível? Espero que você me desculpe. E entenda que as situaçoes dificeis fazem que tomemos decisoes nem sempre acertadas. Mas eu continuo tentando. Ao final nao é disso que se trata?
Já parou pra imaginar o quão revolucionário seria se a gente tivesse a mesma motivação, força de vontade e capacidade de se adaptar aos nossos mais profundos desejos, na mesma medida como fazemos e nos dedicamos a esses caras?! Ainda que não estejamos no mesmo barco, estamos sim no mesmo mar. Quantas vezes em minha vida eu naveguei nestas mesmas águas? Só eu sei. Sei que dói. Mas deixa eu te contar uma coisa: o amor mais bonito, o amor mais transcendente e até mesmo o mais descoladinho, é aquele que a gente nutre por a gente mesmo. Independente de tudo e de todos.
Por isso sou grata a você, Madre. Grata por saber que constantemente as suas orações estao sendo dedicadas ao meu filho. E mesmo você as ache muito simples, como vc me confessou uma vez, tenho certeza que são muito poderosas. Quem é que tem uma madre superiora dedica a rezar para o maior tesouro da sua vida? Acho que muito poucas. Me sinto afortunada por isso. O que mais posso pedir?
Essa noite sonhei com vc. Aliás, com as nossas famílias! Passamos um dia delicioso, embreagandonos de vida boa, sol quentinho, mar maravilhoso e desfrutando muito nossa cia. Conversamos sobre tudo, mas principalmente sobre nossas aventuras quando solteiras. O quanto éramos bacanas e descoladas num tempo não tao distante assim. Me emocionei. Olhei para vc de novo, não me contive e te abracei sussurrando: acho que eu to pronta!
"Se os nossos tempos estão constantente ocupados de quase nada que nos faz querer ter mais tempo, eu fico aqui me perguntando: de nada vale não estar aproveitando o tempo para fazer absolutamente nada, não é mesmo?!"
Querida Gata, "Nunca vou esquecer de uma mensagem sua quando eu estava fazendo 30 anos: Continue aproveitando a vida como vc faz, até os 30 a agente tá neste mundo para descobrir mesmo" E aqui estou eu com 31 anos e meio cumpridos. Com essa sensação de que vc tinha razão e que bom! Tenho sentido esse ventinho começando a soprar a favor. E por primeira vez eu aceito isso. Sem constrangimentos: eu mereço!