Poesia em baixa-fidelidade. ~ {Música: «Strange Movies» (half cocked, 2019)}
http://arquivopessoa.net/textos/3364
http://arquivopessoa.net/textos/2543
https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=28000186
https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=28000186
https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=28000038
Oh eu! Oh vida!... das questões de estas recorrendo; Dos infindáveis comboios dos descrentes — de cidades atestadas com os tolos; De eu próprio continuamente recriminando a mim próprio, (pois quem mais tolo que eu, e quem mais descrente?) De olhos que debalde anseiam a luz — dos objectos vis — da luta sempre renovada; Dos pobres resultados de tudo — das multidões arrastadas e sórdidas que vejo ao meu redor; Dos vazios e inúteis anos dos restantes — com os restantes eu irmanado; A questão, Oh eu! tão triste, recorrendo — Que bem no meio destes, Oh eu, Oh vida? Resposta. Que tu estás aqui — que a vida existe, e a identidade; Que o poderoso drama continua, e tu contribuirás um verso. (trad. João Inácio de Paiva, 2012)
http://arquivopessoa.net/textos/4360
http://arquivopessoa.net/textos/2528
A minha consciência é um lago límpido, informe, infinito, intocável, imperturbável. Eu sou a minha atenção. Eu sou a condição de haver mundo. Mas vou acabar por morrer.
http://arquivopessoa.net/textos/553
https://viciodapoesia.com/2013/01/17/viver-sempre-tambem-cansa-diz-nos-jose-gomes-ferreira/
Mágoa fresca. Mágoa das Pedras. Mágoa com gás. Mágoa tónica. Mágoa mineral. Mágoa-de-côco. Mágoas-furtadas. Tinta de mágoa. Mágoa-mel. Mágoa-ardente. Mágoa de Luso. Mágoa doce. Mágoa salgada. Mágoa potável. Mágoas Livres. Mágoa de rosas. Mágoa oxigenada. Mágoa micelar. Mágoas correntes. Mágoas paradas. Mágoas pluviais. Mágoa com limão. Mágoa a ferver. Magoinha das malvas. Mágoa natural. Ciclo da mágoa. Mágoa canalizada. Mágoas passadas não movem moinhos. Mágoa de beber. Mágoa-forte. Mágoas de bacalhau. Dar mágoa aos cavalos. Dar mágoa pelas barbas. Mágoa benta. Mágoa de Todo o Ano. Estação de Tratamento de Mágoas Residuais. Mágoas de Mafra. Mágoas de Março. Abril, mágoas mil. Mágoarela. Bolachas de mágoa e sal. Não dizer mágoa vai. Nunca digas desta mágoa não beberei. Mágoa do Vidago. Mágoa lisa. Mágoa engarrafada. Contador da mágoa. Mágoa é vida. Crescer mágoa na boca. Mágoa destilada. Mágoa choca. Mágoadilha. Mágoa-viva. Claro como mágoa. Mágoa-tinta. Verter mágoas. Ir por mágoa abaixo. Trazer mágoa no bico. Magoarrás. Mágoa tépida. Mágoa-pé. Mágoa não controlada. Mágoa-mãe. Mágoa a perder de vista. 60% do corpo humano adulto é mágoa. 71% da superfície da Terra é coberta de mágoa.
Sob anestesia local com lidocaína a 2% com adrenalina fez-se excisão com encerramento por retalho de deslizamento de basalioma dorso nariz. A peça operatória segue para exame histopatológico. Operando prossegue no presente sem uma peça. Sem intercorrências a assinalar excepto os gemidos reprimidos do ajudante cortante. Repouso e aplicação tópica de gelo; se dor respirar como um sábio hemodinamicamente estável. Penso, logo mudo. Não baixar a cabeça. Curar a ferida. Gostar da cicatriz.
http://arquivopessoa.net/textos/3367
O quê, o Axl Rose e o Billy Corgan ainda dão concertos? Antes queria ver um épico de quatro horas em que o Dantas aparecesse nu em todas as cenas. Ou a transmissão televisiva de uma prova de decatlo só com o Dantas todo nu. O Dantas nu é vintage. O Dantas administrando-me a vacina da COVID-19 em pelota. O Dantas nu e horroroso em vez da dona Lurdes janota e cheirosa a limpar o pó no meu escritório. O Dantas nu a fazer ovos mexidos prà gente de manhãzinha. O Dantas nu a pintar o meu retrato horrorizado. O Dantas todo nu a trazer-me o pernil com batatinhas e ervilhas no Coelho, e também o Molotov. Mas como é que o Dantas foi parar a Gafanhotos todo nu? Terá o Dantas tido a pouca vergonha de ir com elas à mostra comprar vinho a um pequeno produtor de Fernandinho? O Dantas nuzinho a tirar bicas ou a servir bolinhos finos às mesas da Versailles. O Dantas nu a dançar o cancã ou o vira da Madeira! O Dantas a jogar golfe nu. O Dantas a jogar bowling nu. O Dantas a jogar voleibol nu. O Dantas a dispor papinos naqueles preparos. O Dantas nu a dizer a missa. O Dantas nu prostrado a rezar. O Dantas nu a fazer lindos arranjos de flores à entrada da praça. O Dantas descascado a amanhar peixe, a entoar piropos aos surfistas. O Dantas desfardado a dar a instrução aos magalas. O Dantas à comando a surfar um tubo. O Dantas como veio ao mundo no Preço Certo a mangar com o Fernando Mendes magrinho. O Dantas sem máscara nem nada a distribuir desinfectante à porta do hospital. O Dantas a escrever romances nu. O Dantas com tudo pendente a mandar parar um táxi na Rua Coelho da Rocha. O Dantas a receber a grã-cruz de não sei quê envergando só gravata. E onde é que o Dantas enfia o cravo? O Dantas nu a fotografar casalinhos estupefactos ao pôr-do-sol. O Dantas nu a fotografar rododendros que nunca mais acabam na América. O Dantas à fresca a fazer moches em Algés. O Dantas pinu a gritar golo no Restelo. O Dantas nu a dar barro aos pombos. O Dantas nu a comer pipocas escanchado, recostado contra a tela num multiplex. O Dantas especado a olhar prò Big Ben a badalar. O Dantas empertigado a dizer baboseiras na assembleia, só que todo nu. Disse. O Dantas nu a assar castanhas no Rossio. O Dantas fechado em casa duas quarentenas sempre, sempre todo nu. PIM, PAM, PUM. O Dantas a tocar maracas nu em Machu Picchu. O Dantas nu a fazer uma vénia de todo o tamanho ao Francisco José Viegas. O Dantas a avançar gingante de braços abertos e nus como tudo para o Pedro Mexia. O Dantas todo nu, e porco, flácido, medonho, a fazer tudo o que se possa imaginar. Tudo mas tudo é preferível a ver o Axl Rose ou o Billy Corgan a fazer figuras.
Eis um ossinho exemplar, de perfeitos contornos, rechonchudo, pele morena, perfume de osmazoma que entontece do tanto que apetece. — Paiva, diga lá a estas bestas o que é a osmazoma. Osmazoma. Do grego osmé, cheiro, mais zomós, sumo. Substância nutritiva da carne que dá ao caldo o seu aroma. Deve-se-lhe o tostado do assado e o costume dos antigos de mergulhar no molho o pão. Foi o meu professor de Comunicação e Difusão e de Psicologia que me ensinou a usurpar o dicionário. Outros mestres que não tive me ensinaram a fisiologia do gosto e a orogenia do apetite. — Paiva, explique lá a estes broncos. Orogenia. ... Não, meu capitão, deixai-os comer sem saber e aprender como ordinário a usurpar o dicionário. Eis as palavras, fritinhas, douradas, salgadas, sequinhas. Calha bem uma salada e uma bebida fresca. De picles, ainda não gostas. Só faltam azeitoninhas. Não as tivesses comido todas ao pequeno-almoço!
Se eu fosse bicéfalo teria bicefaleias teria melhores ideias duas vezes mais quistos? Se a minha avó tivesse asas ter-se-ia despenhado e não morrido? O meu pai pode ser mau mas é meu. Comprei em Utreque um pente-pássaro. Os bigodes foram oferta. Se a minha avó tivesse asas era um gavião sem caixa negra p r e c i p i t a n d o- -s e carinhosamente sobre as minhas pernas para me esticar as meias. Este poema escrito em 2020 não tem rei nem roque nem COVID-19. .................. (avestruz) Oh, bolas.
http://arquivopessoa.net/textos/1120
Eu não sirvo para este mundo. Hoje a mana vai a enterrar e depois vamos todos almoçar recomeçar a contar os nossos dias escolher uma garrafa de vinho ter medo aspirar o chão entender perfeitamente a diferença entre auto-confiança e auto-estima (levar o carro à Auto Cambota) beber chá verde para abrandar o cancro compor poemas de lego fotografar mais um sol-pôr que não cansa nem descansa e arrefece mais que aquece desgostar a mulher com nada fazer ser inútil devagar e observar A vida é uma bonita estupidez.
https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=28000189
https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=28000324
http://arquivopessoa.net/textos/1032
http://www.livroscotovia.pt/catalogo/detalhes_produto.php?id=33
http://www.livroscotovia.pt/catalogo/detalhes_produto.php?id=33
http://arquivopessoa.net/textos/1128
https://iwp.uiowa.edu/whitmanweb/en/writings/song-of-myself/section-20
http://arquivopessoa.net/textos/2969
http://arquivopessoa.net/textos/3349
http://arquivopessoa.net/textos/153
http://arquivopessoa.net/textos/2224