Conversas do Grupo de Leitura "Mulheres que correm com os lobos" Participantes: Camila Muniz Camila Thiers Carla Farias Carol Pazos Monteiro Evelin Nunes Luciana D Costa Kátia Kruschewsky Luzi Pereira Malu Villela Mause Ramalho Patrícia Phoenix Silvana Budde
"...acrescente à sua coleção de medicamentos essas história típicas de Baubo. Essa forma diminuta de história é um remédio poderoso. A história engraçada e "suja" pode não só acabar com a depressão como arrancar da raiva o coração irado, deixando a mulher mais feliz do que antes. Experimente e verá."
Muito apropriado gravar este conto, sobre Deméter, Perséfone e Baubo, em Setembro, mês de prevenção ao suicídio. A depressão nas mulheres não é do mesmo tipo da dos homens e a tristeza de Deméter, com o desaparecimento de Perséfone, nos conta sobre este deprimir do feminino. Vamos desenvolver mais esta ideia no Episódio seguinte. Por ora, ouçamos o conto e paremos pra pensar na importância de Baubo, e sua "lascívia astuta", para a cura da dor de Deméter. O que você acha que Baubo teria dito a Deméter?
Baubo é uma deusa grega considerada como "deusa da obscenidade".
O capítulo 11 se entitula: "O cio: a recuperação de uma sexualidade sagrada" - "No riso, a mulher pode começar a respirar de verdade e, ao fazê-lo, ela talvez comece a ter sentimentos censurados. E quais poderiam ser esses sentimentos?"
Se você se sente exausta e acha que isto não combina com o arquétipo da mulher poderosa - ideia que se impõe a todas as mulheres - pare agora e escute este episódio. "...Essa perda de energia é o que é. Ela faz parte da natureza. (...) Todos por natureza precisam de uma trégua para recuperar as forças. O modus operandi da natureza da vida-morte-vida é cíclico e se aplica a todo mundo e a todas as coisas."
"...para se tornar o brilhante sol da manhã."
"O quê? Depois de todo o esforço, ainda poderíamos perder nosso rumo? (...) Muitas mulheres conseguem ter uma perfeita noção de rumo mas, quando perdem contato com ela, ficam dispersas como um colchão de penas aberto que se espalhou por todo campo." Por isso, " é importante ter um repositório para tudo o que sentimos e ouvimos da natureza selvagem. (...) "os repositórios são a solução para toda a perda de energia." Espero que este podcast seja uma espécie de repositório para muitas mulheres que acham ter perdido o rumo ou estão prestes a perdê-lo.
"...é muito melhor curar nossa dependência da fantasia do que aguardar, com desejo e esperança, que sejamos ressuscitadas dos mortos."
O que seria um "animus esfaimado"? No contraponto temos o "cuidado e o carinho, que levam a mulher de um lado para o outro. Eles são como cereais matinais psíquicos."
"...ninguém parava e ninguém prestava a mínima atenção a ela."
"Nos tempos árduos precisamos ter sonhos fortes." Lembrei agora de "Divino maravilhoso": "é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte." Ah, e como isto ressoa com estes tempos de pandemia, novas cepas, novos "predadores naturais"...
Quer reassumir o rio da vida criativa? Ora, parafraseando o Cristo: tende bom animus! Como "instalar um novo animus"? Dizendo: "Amo a minha vida criativa mais do que amo cooperar com a minha própria opressão." Este episódio vem a calhar neste Dia dos Pais, 08/08/2021. Um "animus positivo" na psique de uma mulher é o arquétipo do pai que cuida da alma feminina e a nutre. É ele quem limpa e deixa fluir o rio da vida criativa de uma mulher.
Este é um dos trechos do livro que mais empodera uma mulher. O tema é o conceito de animus e de como na psicologia analítica tradicional ele está associado à força da alma nas mulheres como sendo masculina. "No entanto, muitas psicanalistas, entre as quais me incluo [Clarissa Pinkola se inclue], através de suas próprias observações, chegaram a uma conclusão contrária ao ponto de vista clássico e afirmam, em vez disso, que a fonte da revitalização da mulher não é masculina e alheia a ela, mas feminina e bem conhecida." (p. 388)
O complexo abafa o impulso criativo. O animus negativo: o Hidalgo do Conto "La Llorona".
"Como pode a vida criativa da mulher ser poluída?" Ouçamos o que conta Clarissa Pinkola sobre a "Síndrome das Harpias".
A vida criativa da mulher é atingida. Ocorre "a destruição do feminino fecundo". (p. 379)
"Ela e o mar". Lóri, a personagem central de "Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres", de Clarice Lispector, entra no mar. Ela, sua coragem de agir sem se conhecer e sua descoberta sobre as oposições que o amor e o ato de amar encerram, marcaram minha trajetória. A menina/adolescente engoliu aquela água salagada, na surpresa da onda, e a mulher que fui me tornando foi se iniciando também por esta mãe selvagem: Clarice, em seu mar de Lóri. Mergulhemos, caminhemos por entre estas águas, isto também é correr com os lobos...
Este episódio, com o poema de Adélia Prado: "A Serenata", invocamos dois temas marcantes na iniciação de uma mulher: - Ser doida (puta) ou santa; - o envelhecimento feminino como algo mais acirrado que o masculino. Ouçamos!
Neste mês de maio, mês das mães, vamos homenagear as "mães" escritoras, cantoras... que foram e são importantes no nosso processo de iniciação feminina. Para dar início a esta série de homenagens, entitulada "Mães Selvagens", entoando o canto da mulher selvagem, aqui temos um bom "Motivo", um poema de Cecília Meireles.
"A criatividade não é um movimento solitário. Nisso reside seu poder. O que quer que seja tocado por ela e quem quer que a ouça, que a veja, que a sinta, que a conheça serão alimentados. É por isso que a observação da ideia, da imagem, da palavra criadora de outra pessoa, nos preenche e nos inspira para o nosso próprio trabalho criativo."
Ser boazinha demais e ingênua é muito perigoso. Ah, essa "maldita perspicácia nossa"... Quem quer segurar uma caveira incandescente? Quem quer ser como Vasalisa? Chegamos ao fim do #3 e chegamos como quem segura a caveira incandescente da Baba Yaga. O que isto significa?
Este episódio é uma homenagem selvagem ao dias das mães. Trata da transmissão matrilinear, o momento de transmissão da força selvagem das ancestrais, processo que ocorre na psique feminina, convocando uma mulher a assumir seu poder. Vasilsa "tendo recebido o legado das mães - a intuição do lado humano de sua natureza e um conhecimento selvagem do lado da psique ligado a La Que Sabe - ela está bem preparada. Segue adiante na vida, com os pés firmes, um atrás do outro, como uma mulher. Ela aglutinou todo o seu poder e agora vê o mundo e sua vida através desse novo enfoque. Vejamos o que acontece quando a mulher se comporta desse modo."
Você já se viu numa situação de encruzilhada, em que apenas sabe que não pode seguir, que não adianta perguntar o porquê, que você não saberá desvendar o mistério de passar por aquilo ou não ter aquilo? Pois bem, você tocou no numinoso e, assim como a Vasalisa, você intui que não deve mais perguntar para querer entender o mistério. Sabe que é momento de sair daquela situação, você já tem o calor e a iluminação que foi buscar. Não sabe o que será depois, apenas sabe que é o ponto de basta. Se você já viveu isto ou está vivendo, mas ainda não tem coragem de seguir adiante, vem comigo neste episódio...
O mistério, o numinoso: aquilo que "só a Deus pertence", o saber demais que envelhece as pessoas. Por que Vasalisa intui que não deve perguntar sobre as misteriosas mãos que aparecem e desaparecem? Clarice Pinkola diz que este saber é uma espécie de "budismo dos lobos". Ouçamos a leitura da 7a tarefa e reflitamos mais sobre isso.
"Os ciclos das mulheres de acordo com as tarefas da Vasalisa são os seguintes: limpar nosso pensamento, renovando nossos valores com regularidade; eliminar da nossa psique as insignificâncias, varrê-las, purificar nossos estados de pensamento e sentimento com regularidade. Acender a fogueira criativa e cozinhar ideias num ritmo sistemático e especialmente cozinhar muito para alimentar o relacionamento entre nós mesmos e a natureza selvagem."
Você é o tipo de mulher "boa demais"? O tipo que suporta tudo com medo de desagradar e se tornar "desnecessária"? Mas você quer se tornar uma mulher forte, uma mulher selvagem? Então, a 4a. tarefa desempenhanda pela Vasalisa vem bem a calhar. Você precisa encarar a megera selvagem (a Baba Yaga) para aprender o que significa ser forte. ;)
Uau! Este longo episódio do Clube das Lobas é também o mais profundo, rico e simbólico. Esta parte do #1 é onde podemos encontrar a melhor tradução do significado de "arquétipo da Mulher Selvagem" e de "arquétipo da vida-morte-vida". Estamos falando de algo morto que renasce de uma mulher, La Loba, que canta sobre os ossos de algo que morreu na nossa psique. Clarissa Pinkola Estés assemelha La Loba ao Cristo e a Isis em suas funções de trazer à vida algo ou alguém que está no mundos dos mortos. Este é o trabalho da Psicanálise: recolher ossos, curar, trazer à vida algo perdido. O espaço entre o mundo da vida e da morte, o inconsciente, que pode ser, para Jung, o coletivo, é o lugar de La Loba. É lá que nos encontramos com ela quando estamos perdidas, enlutadas, feridas, mortas no sentido metafórico. É neste deserto entre os mundos que ressuscitaremos através de um processo de autoconhecimento, que pode ser acessado pela oração, pela psicanálise, pela terapia, pela arte (pintura, escultura, dança, canto, escrita...) pelo tarô, pelo I Ching... como nos diz Clarissa Pinkola Estés. Para ter acesso a isto é preciso atravessar os "501 Km" de deserto em busca da "flor vermelha" do cacto. Em busca de quem somos, de quem nos tornaremos sempre após nossas mortes simbólicas, após La Loba ter cantado sobre nossos ossos.
Seja seu Crush #1. Deixe que La Loba use a voz da alma para chamar sua autoestima. Se você vive um momento de crise em qualquer área da sua vida, cante pra você mesma "Tua Cantiga", de Chico Buarque. Cante sempre e deixe que isso encha de carne a sua alma, se empodere, se valorize em qualquer relacionamento que estiver.
"...essa função feminina de descobrir e cantar o hino da criação é um trabalho solitário, um trabalho realizado no deserto da psique."
"La Loba pode simpatizar com você e lhe ensinar algo - algo da alma."
Em plena Páscoa 2021, na transição do Sábado de Aleluia para o Domingo da Ressurreição, é bem sugetivo começar a ler sobre o arquétipo da Mulher Selvagem como uma ressurreição na psique feminina, a partir de La Loba. "Osso a osso, fio a fio de cabelo, a Mulher Selvagem vem voltando." Feliz Páscoa, Lobas! Uma Páscoa marcada por tanta dor e tanta perda, pela Covid-19, o que se renova na nossa psique? A ressurreição do Cristo mostra a vitória do espírito e da alma, que segue vivendo sem o corpo. A imortalidade da essência do ser. Metaforicamente, muitas vezes, morremos, e o arquétipo da Vida-morte-vida nos mostra que ressurgimos, como o Cristo, inclusive mais fortes e mais sábias. Que La Loba cante sobre nossos ossos e que ampliemos nossa consciência a respeito de quem somos e do que nos mata a alma, a fim de encontrarmos o Self profundo, a Velha La que Sabé, a Mulher Selvagem. Em tom de oração peço que saibamos nos libertar de tudo que nos oprime, que deixemos no deserto, com La Loba, tudo o que mata nossa vida criativa!
"É a contadora de histórias propiciando o fazer-se da alma." (...) Este livro de histórias de mulheres, apresentadas como marcos ao longo do caminho. Elas são para você ler, refletir e prosseguir na direção da sua própria liberdade natural e conquistada, do seu carinho para consigo mesma, para com os animais, a terra, as crianças, as irmãs, os amantes e os homens. Já vou lhe avisar: as portas para o mundo da Mulher Selvagem são poucas, porém valiosas."
"Ela é a origem do feminino." "Onde ela está presente? (...) "Onde vive a Mulher Selvagem?"
"Quais os sintomas associados aos sentimentos de um relacionamento interrompido com a força selvagem da psique? (...) De que maneira a Mulher Selvagem afeta as mulheres? (...) E então, o que é a Mulher Selvagem?"
Sem a Mulher Selvagem... "Sem ela, as mulheres não têm ouvidos para ouvir o discurso da sua alma ou para registrar a melodia dos seus próprios ritmos interiores. Sem ela, a visão íntima das mulheres é impedida pela sombra de uma mão, e grande parte dos seus dias é passado num tédio paralisante ou então em pensamentos ilusórios. Sem ela, as mulheres perdem a segurança do apoio da sua alma."
Escutando mulheres, a partir da minha experiência pessoal e observando como tanto tem se falado do comportamento evasivo, narcisista, dos homens e do rogativo das mulheres, cheguei a uma conclusão que quero compartilhar com vocês. Cada vez mais se confirma pra mim que uma mulher mostra que reencontrou a mulher selvagem na sua psique, quando ela descobre o poder do NÃO. Estas negativas são, por exemplo: "agora NÃO posso", "ainda NÃO dá pra me entregar de corpo e alma nesta relação ou nesta empreitada", "você NÃO merece minha atenção, meus carinhos, meu sexo, ou minha dedicação, faça por merecer", "NÃO hoje, tenho compromissos marcados" etc. Quando uma mulher, cega sobre seu próprio valor e ávida por ser aceita e amada, passa a aceitar tudo que lhe propõem como se aquilo fosse a oportunidade de ouro, que tanto quer, a última bolacha do pacote, seja no campo das relações afetivas, de amizade ou profissionais, ela está se entregando a predadores. Fatalmente, desta forma, serão desamadas e desvalorizadas: maltratadas e rejeitadas. Prosseguirão se ajoelhando e implorando pela atenção dos homens que vão seguir as ignorando, por exemplo, nos WhatsApp da vida. Vão se sentir exploradas por patrões que usarão e abusarão de sua docilidade e necessidade. Serão usadas por amigos que as têm para servir às suas conveniências. Elas continuarão a dizer que estão fazendo tudo e vão se perguntar por que não foram amadas e respeitadas. Ora, justamente por fazerem tudo, por concederem, por consentirem, por serem "daquelas mulheres que só dizem sim", que correm atrás, que ficam em cima, mandam mensagens, paparicam, atendem e se desculpam sempre e não deixam nada a desejar. Mulheres selvagens não correm atrás de homens, nem seguem amarguradas em relações amorosas ou profissionais que lhes deixam com "fome de alma", que as fazem "trivializar o anormal", como nos adverte Clarissa Pinkola Estés em "Mulheres que correm com os lobos". Mulheres poderosas correm com os lobos. O que isto significa? Que uma mulher é tanto mais interessante e valorosa quanto sabe negar com categoria e firmeza. Negar é saber impor limites, não estar disponível sempre. Quando uma mulher se reencontra com a mulher selvagem, ela vai aprendendo, intuitiva e instintivamente, a dizer NÃO e o mundo ao seu redor vai saber bem seus limites e seu valor. Se você ainda não aprendeu o valor do NÃO, hoje mesmo corra com os lobos no encalço da mulher selvagem. Quer parar com a sofrência nos seus relacionamentos, que sempre dão errado, e com seus insucessos profissionais? Diga não a uma proposta qualquer, a um qualquer. Se você se sente insegura para fazer isto, busque ajuda, faça uma terapia, procure se conhecer, entender seu padrão afetivo. Se você perceber que está em relações tóxicas, considere que pode ser uma dependente química de afeto. Vá em busca da sua cura. Toda relação de abuso, como em qualquer outra, tem dois lados. Só existe o abusador, o que ignora, explora, se há quem permita ser abusado, ignorado e explorado. Com isso, tenha nas suas mãos o poder do NÃO! Tome isto como verdade. Tenha coragem, a mulher selvagem em você, não me deixará mentir. Por quê? Vejam o que acontece quando vocês se reencontram com a mulher selvagem. "Uma vez que as mulheres a tenham perdido e a tenham recuperado, elas lutarão com garra para mantê-la, pois, com ela suas vidas criativas florescem; seus relacionamentos adquirem significado, produndidade e saúde; seus ciclos de sexualidade, criatividade, trabalho e diversão são restabelecidos; elas deixam de ser alvos para as atividades predatórias dos outros; segundo as leis da natureza, elas têm igual direito a crescer e vicejar. Agora, seu cansaço do final do dia tem como origem o trabalho e esforços satisfatórios, não o fato de viverem enclausuradas num relacionamento, num emprego ou num estado de espírito pequeno demais. Elas sabem instintivamente quando as coisas devem morrer e quando devem viver; elas sabem como ir embora e como ficar." (C. ESTÉS)
Clarissa Pinkola apresenta a Mulher Selvagem, afirmando que este arquétipo precisa ser entendido para solucionar as limitações da Psicologia traditional no tocante à compreensão da psique feminina. Sobre a força do reencontro com a mulher selvagem: "Uma vez que as mulheres a tenham perdido e a tenham recuperado, elas lutarão com garra para mantê-la, pois, com ela suas vidas criativas florescem; seus relacionamentos adquirem significado, produndidade e saúde; seus ciclos de sexualidade, criatividade, trabalho e diversão são restabelecidos; elas deixam de ser alvos para as atividades predatórias dos outros; segundo as leis da natureza, elas têm igual direito a crescer e vicejar. Agora, seu cansaço do final do dia tem como origem o trabalho e esforços satisfatórios, não o fato de viverem enclausuradas num relacionamento, num emprego ou num estado de espírito pequeno demais. Elas sabem instintivamente quando as coisas devem morrer e quando devem viver; elas sabem como ir embora e como ficar."
"A atividade predatória contra os lobos e contra as mulheres por parte daqueles que não os compreendem é de uma semelhança surpreendente."
"Ressuscita-me!" Ressuscita na nossa psique, nos faz chegar à consciência o que amamos em quem amamos. Parece que as mulheres têm amado seu próprio sintoma, ao se entregarem a "predadores naturais da psique", como o fazem as personagens contadas em Mulheres que correm com os lobos. Estamos, no Grupo, no #10, e até aqui vimos a mulher que foi deixada para morrer no deserto, a esposa do Barba-azul, Vasalisa, O Patinho Feio, A menina dos Sapatinhos Vermelhos, A mulher da pele de foca, La Llorona, A Menininha dos Fósforos e o Velho exausto do Conto Os Três Cabelos de Ouro, lutarem contra seu próprio sintoma, aquilo que os levariam a uma destruição do Self, de si mesmos. Este sintoma da mulher, penso que se trata da dependência afetiva, é o que faz a mulher não reconhecer no "mutante" o "predador natural da psique". Em "O Amor", de Vladimir Maiakóvski e na versão deste poema, na canção de Caetano Veloso, na voz de Gal Costa, podemos encontrar o pedido que fazemos a La Loba, a Velha La Que Sabé, esta versão da Mulher Selvagem que habita a nossa psique: que ressuscite, nos traga à luz, à consciência, o que de nosso sintoma ainda nos faz amar o que nos destrói. "RESSUSCITA-ME! PARA QUE NÃO MAIS EXISTAM AMORES SERVIS." Assim, voltamos à Introdução: Cantando sobre os ossos.
Numa referência à ressurreição empreendida por La Loba, lemos aqui "O Amor", um poema de Vladimir Maiakóvski. La Loba, a Mulher Selvagem, a Velha La que Sabé, que vai habitando nossa psique, a cada ossada de lobos que monta, ressuscita-os, cantando, como faz com a mulher que foi deixada para morrer no deserto; esta mulher que representa cada uma de nós, nas muitas travessias do nosso processo de iniciação. "O amor" "Um dia, quem sabe, ela, que também gostava de bichos, apareça numa alameda do zôo, sorridente, tal como agora está no retrato sobre a mesa. Ela é tão bela, que, por certo, hão de ressuscitá-la. Vosso Trigésimo Século ultrapassará o exame de mil nadas, que dilaceravam o coração. Então, de todo amor não terminado seremos pagos em inumeráveis noites de estrelas. Ressuscita-me, nem que seja só porque te esperava como um poeta, repelindo o absurdo quotidiano! Ressuscita-me, nem que seja só por isso! Ressuscita-me! Quero viver até o fim o que me cabe! Para que o amor não seja mais escravo de casamentos, concupiscência, salários. Para que, maldizendo os leitos, saltando dos coxins, o amor se vá pelo universo inteiro. Para que o dia, que o sofrimento degrada, não vos seja chorado, mendigado. E que, ao primeiro apelo: – Camaradas! Atenta se volte a terra inteira. Para viver livre dos nichos das casas. Para que doravante a família seja o pai, pelo menos o Universo, a mãe, pelo menos a Terra." Vladimir Maiakóvski (1923).. {tradução de Haroldo de Campos}. do livro “Poemas de Maiakóvski”. [tradução, notas e organização de Boris Schnaiderman, Augusto de Campos e Haroldo de Campos]. São Paulo: Editora Perspectiva, 9ª ed., 2013.
"La Loba canta mais e a criatura-lobo começa a respirar" (#1, O uivo: A ressurreição da Mulher Selvagem. p.23) MULHERES QUE CANTAM COM LOBOS se expressam através do "vento sagrado para o canto". Com a "força estranha" de "uma voz tamamha" do feminino selvagem. Temos cantado, a cada capítulo, canções da MPB que estão associadas ao texto de Clarissa Pinkola Estés. Neste episódio, @Brighid nos presenteia com o uivo de La Loba, entoando "Força Estranha", de Caetano Veloso. Escute e sinta o poder da ressurreição do feminino sagrado.
Neste episódio, na voz de @LaHuesera, se faz ressoar que "qualquer coisa que possa acontecer a um jardim pode acontecer à alma e à psique." O ciclo da vida-morte-vida é visto no jardim e na psique. Aprender a separar a vida da morte é algo que sempre fazemos inconscientemente, mas um dia isto chega à consciência. Vasalisa, usando a intuição, aprendeu esta lição, separando isto daquilo na prática, foi sua 6a tarefa. Baba Yaga, iniciando Vasalisa, pede a esta jovem mulher que separe um agente medicinal do outro, o que vai atuar terapeuticamente na psique que vai amadurecendo. E você, o que pode aprender, como pode utilizar isso no seu processo de iniciação?
"Sabemos que não podemos viver uma vida confiscada". Esta frase ressoa dentro de nós como o chamado da Mais Velha, a velha foca nos chama do fundo das águas da alma e nos lembra de vivermos na superfície como anfíbios, mediais que somos. Esta é nossa "ecologia inata": temos nosso lar da alma e nos sustentamos no mundo objetivo. Vamos nos lembrar sempre disto: na superfície, no mundo objetivo, sempre podemos voltar ao lar da alma e ouvir o chamado da Mais Velha, da que sabe. A iniciação feminina se fortalece com este retorno constante ao próprio Self. Isto se faz, por exemplo, lendo mulheres como Clarissa Pinkola Estés que, numa transmissão matrilinear, nos inicia no feminino sagrado, selvagem. Clarissa é uma das nossas mães, a Mais Velha que nos chama no meio da escura da alma ou mesmo num dia ensolarado, basta abrir seu texto e conversaremos com ela, correremos com os lobos...
Tempo Para Mergulhar - TPM. Estar "num estado de solidão - aloneness - no sentido mais antigo do termo". All one: estar inteiramente em si. Clarissa Pinkola, neste trecho, fala da TPM (tensão pré-menstrual) e da própria menstruação como um período necessário para a "prática da solidão voluntária". Interessante, porque estes dias estava pensando em como fico com a percepção alterada nestes momentos menstruais e como preciso ter cuidado para não me criar problemas com aqueles que amo, principalmente com meu namorado e com minha filha. Então, eis que me deparo com esta afirmação de Clarissa Pinkola: "Durante este período, a mulher está muito mais próxima de autoconhecimento do que o normal. A membrana que separa a mente consciente da inconsciente fica, então, consideravelmente mais fina. Sentimentos, recordações e sensações que normalmente são impedidos de atingir a consciência chegam ao conhecimento sem muita resistência. Quando a mulher procura a solidão durante este período, ela tem mais material a examinar." Ler isto me fez refletir sobre como agir ou como não agir neste período pré e menstrual. Refletir sobre a TPM como a "prática da solidão voluntária" pode nos fazer acessar nosso autoconhecimento e também isto pode nos ajudar nos nossos relacionamentos mais próximos. Penso que este autoconhecimento que podemos acessar na TPM, não é um saber irrefutável sobre o outro e uma verdade plena a ser atiçada na cara do outro, como um saber superior, o que, muitas vezes, fazemos, movidas por uma raiva que nos toma desde as entranhas. Quem sabe se nos escrevermos lembretes antes da TPM, para lermos neste período, nos dizendo que precisamos da prática da solidão voluntária, nestes momentos, eles serão mais proveitosos e menos problemáticos. Podemos escrever num postic ou no antebraço: "TPM - Tempo Para Mergulhar na alma e refletir sobre nossas verdades." Quem sabe se, com isso, poderemos ouvir a voz do nosso inconsciente com mais atenção, mas não vociferar isto para os demais. A prática da solidão voluntária também se estende a outras situações, ela é um exercício de escuta da alma, que fazemos como Ooruk faz com sua mãe foca: debruçado sobre a rocha do mar. O estado de contemplação pode existir de fato ou simplesmente ser imaginado por nós quando precisamos estar inteiramente a sós (all one). Clarissa diz que isto pode ser feito ainda que estejamos cercadas por uma multidão de gente. Escapar para a rocha do mar pode ser tudo o que precisamos para saber melhor sobre nós mesmas e nos relacionarmos melhor com os outros, fico com esta reflexão. E você?
Neste 8 de março de 2021, fica registrado, neste episódio, o que estamos fazendo no nosso Grupo "Mulheres que correm com os lobos": cantamos, relacionamos "canções poderosas" com as palavras de Clarissa Pinkola Estés, nas quais nos reconhecemos e nos transformamos. Somos Mulheres que CANTAM com os lobos. Fazemos isto, aqui, relacionando trechos do #9 - no item "A volta à superfície" - com duas canções de Caetano Veloso: "Vaca Profana" e "Muito Romântico". Com isso, desejamos, a todas nós, que "a mulher medial" cresça e apareça "na voz de uma mulher sagrada", "com todo mundo podendo brilhar num cântico", num "vento sagrado para o canto". Vamos, assim, rumo a "vicejar e não apenas sobreviver"!
À semelhança de Ooruk, a criança espiritual, filho do Homem solitário (o Ego) com a Mulher da pele de foca (a Alma), um mulher não pode ficar todo tempo no mundo subaquático. Esta metáfora serve para nos alertar sobre a importância de assumir nosso lugar no mundo objetivo, para poder fazer uma conexão com a materialidade da vida, mas também para assegurar que podemos usar nossas habilidades subjetivas quando estamos fora do lar da alma. Como? Afirma Clarissa Pinkola Estés, de forma poética, que isso se dá pelo insight, pela paixão e pelo vínculo com a natureza selvagem; entoando nosso canto com a voz do feminino sagrado, tocando nosso tambor, contando histórias, por exemplo. "É essa poesia e esse canto sagrados o que procuramos. Queremos palavras e canções poderosas que possam ser ouvidas em terra firme e debaixo d'água." (#9, p. 218) Na voz de @Brighid, ouçamos, com nossa natureza medial, este belo trecho do #9.
Respirar debaixo d'água e voltar à superfície: a mulher selvagem que habita nossa psique é esta "mulher medial" - como dizia a Psicanalista junguiana Toni Wolffe - um ser de dois mundos, "que existe no âmago de todas mulheres" . "A mulher selvagem é uma combinação de bom senso e senso da alma", afirma Clarissa Pinkola, quando fala do ser medial como uma das características da mullher selvagem. O que seria este "senso da alma"? Como isto se relaciona com ser medial? O que significa ser medial pra você? Como você tem feito para poder transitar entre os mundos objetivo e subjetivo? Após ouvir a leitura deste trecho do #9, você poderá refletir sobre este "senso de alma" e sobre sua própria transição entre o mundo objetivo e o mundo subjetivo.
O lar é um lugar interno onde "a mulher se sinta inteira", afirma Clarissa, e nos diz que o mais importante sobre o momento certo do mergulho, da volta ao lar, é que "quando está na hora, está na hora." Ouçamos esta parte do #9 para refletirmos sobre como e onde cada uma de nós encontra seu lar.
O que significa, pra você, "voltar ao lar da alma"? Nesta parte do #9, Clarissa nos dá alguns exemplos de volta ao lar, sugeridos por suas pacientes, ressaltando que embora algumas destes exemplos pareçam simples, isto exige muito de uma mulher. Vemos, no conto, que a demora em voltar ao lar provoca o ressecamento da pele da mulher-foca, a perda de sua visão e seu definhamento progressivo, deixando-a "vesga de cansaço". Neste sentido, Clarissa nos pinta um quadro "brutal": o de "amamentar uma ninhada morta"... Sem mais, vamos à escuta deste item do #9.
O chamado, uma voz na escuridão nos chama, a voz da alma vem nos buscar. Este é um dos mais belos e profundos trechos do livro Mulheres que correm com os lobos. Estamos no terreno da "noite escura da alma" e existe uma voz que chama, a voz de um certo alguém. No final deste episódio, @Phoenix, por associação, canta "Alguém Cantando", canção de Caetano Veloso.