Áudios de espiritualidade católica dos autores mais significativos, para você ouvir durante suas atividades. Útil, também, para quem tem limitações visuais.
Continuamos com as reflexões de Benedikt Baur, em "A vida espiritual". Para baixar o livro completo: https://drive.google.com/file/d/1wpgd1trcdeaHo_AdCvQmv0jY8Xd8k1dA/view?usp=sharing
Estou compartilhando aqui uma leitura comentada da obra "A vida espiritual", de Benedikt Baur.Ouça a introdução, no primeiro episódio da série. Na descrição do primeiro episódio, você também vai encontrar o link para ter acesso à obra escrita. Acesse:https://www.spreaker.com/user/11365412/novos-episodios-do-podcast-a-vida-espiri
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Vou compartilhar com vocês, em uma longa série de episódios, uma leitura comentada da obra "A vida espiritual", de Benedikt Baur. Acesse o texto original: https://drive.google.com/file/d/1wpgd1trcdeaHo_AdCvQmv0jY8Xd8k1dA/view?usp=sharing
Se não tivéssemos os olhos vendados pelo orgulho, veríamos que todo homem é infinitamente miserável e pecador. Compreenderíamos, na prática, que toda criatura depende de Deus sob todos os pontos de vista, quanto à sua essência, existência, duração e todas as condições de seu desenvolvimento. Nos lembraríamos de nossos inúmeros pecados, duplicados pelas ingratidões atuais sempre renovadas.Perceberíamos as nossas torpezas atuais: esses apegos, essas fraquezas, essa inconstância, esses perpétuos retornos a nós mesmos envolvidos na perturbação e na irritação. Óh, Jesus! Como somos tão corrompidos sem nem percebermos. Tende piedade de mim, bom Mestre, tenho medo do vício do orgulho.O bom Jesus sabe muito bem de que barro somos formados e de que loucas pretensões é feita a nossa natureza. Ele se contenta e nos ama quando nos vê confundidos diante de nossa miséria, sempre confiantes na sua bondade e sempre resolvidos a reconquistar a humildade.Mas, até conquistar a humildade, é preciso acreditar que se é orgulhoso, mesmo sem provas. E acreditar que o orgulho infestou as ideias, os desejos e os menores atos, criou raízes até nas menores fibras, nos hábitos mais remotos do ser humano. Quem achar que isso é exagerado não mais se corrigirá.É preciso desaprovar constantemente, diante de Deus, as milhares de pretensões injustificadas que se elevam do íntimo do coração, pedir-lhe perdão por sermos tão sórdidos a seus olhos, agradecer-lhe por não nos ter abandonado no abismo do orgulho. É preciso sempre pedir luzes para nos reconhecer tal como somos, força para amar essa abjeção e a coragem de nos deixarmos tratar como merecemos.Quanto mais a alma se conhece, tanto mais se despreza e se humilha; e quanto mais se humilha, mais Deus a eleva a si mesmo.Por Joseph Schrivers.
Minha querida mãezinha . Eu posso lhe dizer que quando eu vivia com a senhora, eu não sabia que lhe amava tanto assim. Parece que o meu coração, ao qual o Senhor deu tanta capacidade de amar, se dilatou desde que se fechou atrás das grades do Carmelo, em contato permanente com aquele que São João chama de "Charitas" - amor.Quem dera que a senhora soubesse como é doce viver em comunhão com Ele. A senhora não ia mais querer deixar essa divina companhia, porque ele está sempre junto de você. Ele ficaria tão contente se a senhora quisesse fazer dele o seu amigo, seu confidente. Mãezinha, quanto mais vivemos com este Hóspede divino, mais felizes nos sentimos, mais fortaleza temos para nos entregar ao sacrifício. Eu entrego a senhora para Ele a cada instante. Confio a Ele todo o amor que ele colocou no meu coração para essa mãe tão boa que ele me deu.Por Santa Elisabete da Trindade.
O que motiva uma pessoa a se conformar com a vontade de Deus diante das contrariedades? O motivo pode ser o amor puro, ou pode ser alguma outra causa sobrenatural.Na opinião de São Bernardo, os principiantes geralmente possuem a simples resignação, que é uma conformidade que vem do temor; os proficientes levam a cruz com gosto, e essa conformidade tem por causa a esperança; os perfeitos abraçam a cruz com ardor, e essa perfeita conformidade é o fruto do amor divino.É fácil perceber que o temor é suficiente para produzir a simples resignação. Mas para que a submissão à vontade de Deus cresça em generosidade, para que suba até o nível da exultação, é necessário um desprendimento mais completo, uma fé mais viva, uma confiança em Deus mais firme. Entretanto, essa generosidade pode ainda não ser fruto do puro amor, já que o desejo dos bens eternos (ou seja, a esperança) pode muito bem nos elevar a tais alturas. Uma alma ansiosa do céu terá por grande sorte as pequenas provas e ainda as grandes tribulações, conforme esteja penetrada pelas sedutoras palavras do Apóstolo Paulo, que dizia: "Os sofrimentos da vida presente não se comparam com a futura glória que se manifestará em nós. Nossas tribulações tão breves e ligeiras nos produzem o eterno peso de uma sublime e incomparável glória".E existe, enfim, a conformidade por puro amor, que é a mais perfeita, porque não há nada mais elevado, delicado, generoso e perseverante do que o amor sobrenatural. Pois bem, já que a caridade é um mandamento para todos, não existe nenhum fiel que não possa praticar, pelo menos de vez em quando, um ato de conformidade por amor, atos que ele vai produzir melhor e com mais gosto na medida em que for crescendo em caridade. Assim como a alma adiantada pode se elevar continuamente no santo amor, assim também poderá crescer sem cessar na conformidade que nasce do amor.Por Vital Lehodey.
Por Gabriel de Santa Maria Madalena.Para chegar à santidade, é importante que nossa adequação à vontade de Deus seja total. Portanto, é necessário que não haja na alma a menor discordância com a vontade divina e que nas suas ações ela seja unicamente movida por essa vontade.O motor de todas as nossas ações é sempre o amor. Mas esse amor pode ser amor por nós mesmos, amor pelas criaturas ou amor por Deus. Enquanto existir na alma qualquer coisa contrária à divina vontade, ou seja, qualquer apego desordenado ao próprio eu ou às criaturas, nossa vontade muitas vezes acabará agindo não por amor a Deus, mas pelo desejo da satisfação própria ou pelo amor desordenado pelas criaturas. Assim, andará fora da vontade de Deus. Não só o pecado, mas também a mais pequena imperfeição consciente ou apego deliberado são contrários à vontade de Deus e impedem a alma de agir movida unicamente pela divina vontade.Pelo contrário, quando a alma não tem nenhum apego e, totalmente livre do seu amor próprio e do amor pelas criaturas, se apega a Deus, então é levada a agir movida pela vontade dele; e vive assim, momento a momento, conforme o beneplácito divino. Essa alma foi transformada, mergulhou a sua vontade na vontade de Deus; de agora em diante está perfeitamente unida ao próprio Deus: isso é a essência e o máximo da santidade.Ó meu Deus, Vós me fizestes compreender que a Vossa santa vontade é a única coisa necessária, é a minha única riqueza. O que pode existir de mais belo e seguro, de mais perfeito e de mais santo do que fazer a Vossa vontade? Vós me destes uma vontade livre, e não posso usá-la melhor do que em aderir ao Vosso divino querer. Ainda que eu pudesse realizar as maiores obras, as mais belas conquistas, se não coincidissem plenamente com a Vossa divina vontade não teriam valor eterno e estariam, por causa disso, destinadas a perecer. Ao passo que as mais insignificantes ações realizadas segundo a Vossa vontade têm um valor imperecível.
Sobre a generosidade com que a alma se adapta ao querer de Deus, existem três graus:O primeiro grau é quando o homem não deseja e nem ama as contrariedades, foge delas, mas prefere sofrer tais coisas do que pecar. Esse é o estado mais baixo de generosidade, e é um dever. De maneira que, ainda que um homem sinta pena, dor ou tristeza com os males que ocorrem, e ainda que gema quando está enfermo e dê gritos com a veemência das dores, e ainda que chore pela morte de parentes, pode com tudo isso ter essa conformidade mínima com a vontade de Deus.O segundo grau de generosidade com a qual a alma se adapta à vontade de Deus ocorre quando o homem, ainda que não deseje as contrariedades, as aceita de boa vontade por ser da vontade e do beneplácito de Deus. De maneira que esse segundo grau acrescenta alguma boa vontade e algum amor ao sofrimento por Deus. A pessoa quer sofrer porque isso agrada a Deus. Enquanto o primeiro grau leva as contrariedades com paciência, este segundo grau acrescenta a prontidão e a facilidade.O terceiro grau de generosidade diante das contrariedades ocorre quando o servo de Deus, pelo grande amor que tem pelo Senhor, não somente sofre e aceita de boa vontade as contrariedades que o Senhor envia, mas também as deseja e se alegra muito com elas, por ser aquela a vontade de Deus. É assim que os Apóstolos se regozijavam por ter sido julgados dignos de padecer ultrajes pelo nome de Jesus. E São Paulo exultava de gozo no meio das tribulações.São Bernardo utiliza essa classificação da generosidade diante das contrariedades, relacionando-a com as clássicas três vias: dos principiantes, dos proficientes e dos perfeitos. Ele diz: "O principiante, impulsionado pelo temor, sofre a cruz de Cristo com paciência; o proficiente, impulsionado pela esperança, leva a cruz com gosto; e aquele que já está consumado na caridade, abraça a cruz com amor".Por Vital Lehodey.
A condição do orgulhoso tem qualquer coisa de terrível. Deus e todas as criaturas lutam contra ele. A ordem universal, que ele perturba, protesta contra a sua pretensão insensata, e na sua insolência ele enfrenta esta oposição.O orgulhoso tem traços de semelhança com Satanás. Dizia Santo Afonso de Ligório: "Quando vejo uma alma pretensiosa, que se julga mais sábia, mais entendida, mais ajuizada, mais virtuosa que as outras, eu estremeço, pois me parece estar diante de um demônio encarnado".O que é mais interessante e terrível é que o soberbo não se julga orgulhoso. É raro encontrar uma alma que avalie o seu justo valor; mais raro ainda encontrar uma que regule seus sentimentos e sua vida conforme essa apreciação. É necessária uma luz interior intensa para uma pessoa se ver tal como é na realidade: só os santos não se iludem sobre o seu valor. Quem não se aflige com uma falta de afeição, com um mau êxito, com uma humilhação? Quem não gosta de ser louvado, aprovado, apreciado, procurado? Quem não teme a censura, o esquecimento ou a ironia?A alma humana, mesmo a mais sincera, sente uma profunda oposição contra a humildade, uma contradição permamente entre a boa opinião que faz de si mesma e o juízo que a eterna Verdade faz sobre ela.Se os homens que julgamos ser os melhores se examinarem, eles mesmos hão de reconhecer que em quase todos os seus atos livres, há sempre uma busca desordenada do próprio eu. Eles mesmos se constituem, até certos limites, o centro de suas aspirações, de seus pensamentos e de toda a sua vida.Que homem ponderado não se sentiria assustado, considerando uma desordem tão fundamental e tão permanente, produzida pelo orgulho?Por Joseph Schrivers.
Junto com a Virgem, o Senhor já pode entoar o seu "Magnificat" e sobressaltar-se de júbilo em Deus seu Salvador, porque o Todo-Poderoso opera no senhor grandes coisas, e eterna é a sua misericórdia.Como Maria, "conserve todas estas coisas no seu coração". Coloque seu coração junto ao coração dela porque esta Virgem sacerdotal é também "Mãe da divina graça", e com ímpetos de seu amor, quer preparar o senhor para que se torne "aquele sacerdote fiel que procederá conforme o coração de Deus", de que se fala na Sagrada Escritura. Pela santa unção, o senhor se tornará uma pessoa que já não pertence mais à terra. Se tornará o mediador entre Deus e as almas, chamado a fazer "resplandecer a glória de sua graça", "participando da extraordinária grandeza do seu poder para nós". Jesus, o sacerdote eterno, dizia ao seu Pai, ao entrar neste mundo: "Eis-me aqui; eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade". No meu entender, esta deve ser também a oração nesta hora solene do seu ingresso no sacerdócio. E eu me comprazo de repetir esta oração com o senhor.Sexta-feira, no altar sagrado, quando pela primeira vez em suas mãos consagradas, Jesus vier se encarnar na humilde hóstia, não se esqueça de mim, que Ele conduziu ao Carmelo para ser o louvor de sua glória. E peça-lhe que Ele me sepulte na profundidade de seu mistério e que me consuma com o fogo de seu amor. Depois, ofereça-me ao Pai, junto com o Cordeiro divino.Por Santa Elisabete da Trindade.
Para o que diremos a seguir, considere a distinção entre obras de obrigação e obras de superrogação. Obras de obrigação são aquelas que cumprem um dever, por exemplo, jejuar nos dias prescritos pela Igreja. Obras de superrogação são aquelas feitas voluntariamente, sem que haja obrigação, por exemplo, jejuar em dias não prescritos pela Igreja. A vontade de Deus significada consiste, em primeiro lugar, nos mandamentos de Deus e da Igreja, e nossos deveres de estado. Tais coisas devem ser objeto de nossa contínua e vigilante fidelidade, pois são a base da vida espiritual.Alguém poderia pensar que as obras de superrogação, ou seja, aquelas obras que vão além do dever santificariam mais do que as obras de obrigação. Mas nada é mais falso. Santo Tomás ensina que a perfeição consiste, antes de tudo, no fiel cumprimento da lei. Por outra parte, Deus não poderia aceitar favoravelmente nossas obras super-rogatórias, executadas em detrimento do dever, pois nesse caso estaríamos substituindo a vontade de Deus pela nossa própria vontade.A vontade significada abraça, em segundo lugar, os conselhos. Quanto mais os sigamos em conformidade com nossa vocação e nossa codição, mais semelhantes nos farão ao nosso divino Mestre, que é agora o nosso amigo e o Esposo da nossa alma, e que há de ser um dia o nosso Soberano Juiz. Os conselhos nos farão praticar as virtudes mais agradáveis ao seu divino coração, tais como a doçura, a humildade, a obediência de espírito e de vontade, a castidade virginal, a pobreza voluntária, a renúncia de si mesmo, a abnegação levada até o sacrifício e esquecimento de nós mesmos. Nesses conselhos, também encontraremos a consequente riqueza de méritos e santidade. Observando esses conselhos com fidelidade, afastaremos os principais obstáculos ao fervor da caridade. Os conselhos são a proteção dos preceitos. "O que basta não é bastante. A pessoa que quer fazer tudo o que é permitido, logo fará também o que não é permitido. Aquele que só faz o estritamente obrigatório, rapidamente não estará cumprindo suas obrigações".A vontade significada abraça, enfim, as inspirações da graça. "Essas inspirações são raios divinos que projetam luz e calor na alma, para lhes mostrar o bem e para animá-las a praticá-lo; são presentes da divina predileção com infinita variedade de formas. Conforme as circunstâncias, são atrações, impulsos, repreensões, remorsos, medos saudáveis, suavidades celestiais, disparos do coração, doces e fortes convites ao exercício de alguma virtude. As almas puras e interiores recebem com frequência essas divinas inspirações, e convém muito que as sigam com reconhecimento e fidelidade". O apoio que essas inspirações nos dão é muito valioso.Por Vital Lehodey.
O arrependimento basta para alcançarmos o perdão dos nossos pecados. Mas eles também acarretaram perdas de graças preciosas. É por isso que precisamos pedir a graça de reparar as nossas faltas e nos esforçar por expiá-las. O que torna a expiação mais necessária ainda é que, sem ela, não somente deveremos lamentar a perda das graças passadas, como também a privação de preciosas graças futuras que Deus nos tinha destinado se tivéssemos sido fiéis.O Deus de toda a santidade se encanta com a pureza da alma humana. Por isso, Ele derrama suas graças na alma em proporção de sua pureza. Ora, as faltas não reparadas deixam vestígios na alma, tornam a alma menos bela e menos agradável aos olhos de Deus.Todas as faltas cometidas ocasionam uma diminuição da luz e um enfraquecimento na vontade. Tendo se afastado do bem e se aproximado do mal, a alma vê diminuir a atração que sentia ao bem e vê aumentar a inclinação para o mal. Pela simples reprovação das faltas cometidas, a inteligência recupera parte de suas luzes e a vontade parte de sua atração para a virtude. Mas essas duas potências não podem reaver tudo o que perderam, a não ser por atos generosos que contrabalancem os efeitos do pecado e restituam à alma o vigor anterior.A expiação torna Deus mais favorável, atrai graças muito mais poderosas, afasta os obstáculos que o pecado deixara na alma e que impediriam a prática das virtudes perfeitas. Assim, não somente a expiação repara as faltas anteriores, mas permite também à alma se elevar mais alto na virtude do que se não tivesse pecado, e assim se verifica a palavra audaciosa de Santo Agostinho, completando outra de São Paulo: "Tudo coopera ao bem daqueles que amam a Deus, até mesmo os seus pecados".Por Auguste Sudreau.
Se queres agradar a Jesus, apoderar-te do coração dele, obrigá-lo a fazer prodígios em ti, sê como uma criança, sem pretensão, sem apoio algum em ti mesma.Quando uma alma é chamada ao diálogo íntimo com Deus, ela deve se revestir de humildade, como Deus é revestido de glória. Sem a humildade, Jesus não pode trabalhar em nossa alma. Ele aceita apenas visitá-la. Como poderia ele se apoderar da inteligência e fazê-la servir, quando essa inteligência é imbuída de ideia exagerada da sua própria importância ? Como poderia ele reinar na vontade e se fazer centro de todas as aspirações dessa faculdade, quando a mesma vontade se constitui um centro de toda a vida?Óh, não. Jesus não vive com o orgulho. Ele deseja viver apenas com os humildes. Ele disse a seu Pai: "Eu vos dou graças, porque escondestes estas coisas dos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequenos".Se alguém é pequeno, venha a mim, disse Jesus. Na verdade, vos digo que se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, não entrareis no reino dos céus. Sede meus discípulos, pois sou manso e humilde de coração.A companhia do orgulhoso não é agradável a nenhum homem. A presença do soberbo causa mal-estar. Ora, o coração de Jesus é feito como o nosso.Por Joseph Schrivers.
Os santos, alinhando sua vontade com a de Deus, começaram a participar da felicidade do céu já aqui na terra. Os padres do deserto, por exemplo, gozavam de uma grande paz interior, porque consideravam como vindas das mãos de Deus todas as coisas que lhes sucediam.É verdade que a virtude não nos torna insensíveis e que as contrariedades ocasionam sempre certa apreensão, mas isso só se dá na parte inferior da alma, ao passo que na parte superior reina a paz e a tranquilidade, contanto que nossa vontade se conforme com a de Deus. "Ninguém vos roubará a vossa alegria", disse o Salvador aos seus apóstolos. E ainda: "Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa". Aquele que sempre tem por objetivo executar a vontade de Deus usufrui de uma felicidade completa e constante, porque possuirá tudo o que deseja e porque ninguém lhe poderá roubar essa felicidade, visto que ninguém pode impedir que se realize a vontade de Deus.Como é grande a loucura daqueles que não querem se submeter à vontade de Deus! Não sofrerão menos por causa disso, pois ninguém pode impedir os desígnios de Deus. Se Deus nos envia tribulações, é em vista de um bem supeior e porque isso é melhor para nós. Como escreveu São Paulo: "Para os que amam a Deus, todas as coisas cooperam para o bem". A virtuosa Judite nos atesta que o Senhor não nos castiga com a intenção de nos perder, mas de nos corrigir e tornar felizes. Disse ela, "devemos pensar que os flagelos do Senhor devem servir para a correção e não para a punição". Para nos preservar das penas eternas, Deus nos protege com a sua boa vontade como se fosse um escudo. Deus não só deseja a nossa salvação, mas cuida seriamente disso. Se ele nos deu seu próprio Filho, o que nos poderia negar?Assim, devemos nos colocar à disposição da divina providência com toda a confiança, visto que todas as suas determinações procuram o nosso bem. Portanto, digamos em tudo o que nos acontecer: "Dormirei e descansarei em paz, porque vós, Senhor, me confirmas a esperança". Entreguemo-nos em seus braços, ele cuidará carinhosamente de nós. Disse São Pedro, "lançai nele toda a vossa preocupação, porque ele cuida de vós".Pensemos somente em Deus e no cumprimento de sua vontade, que ele pensará em nós e cuidará do nosso bem. Um dia, o Senhor disse a Santa Catarina de Sena: "Minha filha, pensa sempre em mim, que eu pensarei sem cessar em ti". Digamos sempre, como a Esposa do Cântico dos Cânticos: "Meu amado é meu e eu sou do meu amado". Meu amado se ocupa do meu bem-estar e eu quero me ocupar em agradá-lo e em me conformar em tudo à sua santa vontade. "Não devemos pedir a Deus que ele faça a nossa vontade, mas que ele nos conceda a graça de fazer o que ele deseja". Se nos acontecer alguma coisa incômoda, recebamos isso das mãos de Deus, não só com paciência, mas mesmo com alegria, seguindo o exemplo dos apóstolos, que se julgavam felizes porque padeciam pelo nome de Jesus.Certamente, Deus se satisfaz com o desejo de sofrermos por amor a ele. Mas, segundo os mestres da vida espiritual, ele prefere aqueles que não desejam nem alegria nem sofrimento, mas que se entregam inteiramente à sua divina vontade, não desejando outra coisa que praticá-la em todos os seus atos.Alma cristã, se desejas agradar verdadeiramente a Deus e gozar de uma vida feliz, permanece então sempre e em tudo unida à sua santa vontade. Considera que todos os teus pecados vieram unicamente de te ter desviado da vontade de Deus. De agora em diante, procura exclusivamente agradar o Senhor. E toda vez que te acontecer algum mal, repete: "Assim se faça, ó Pai, porque foi de teu agrado".Por Santo Afonso Maria de Ligório.
Por Gabriel de Santa Maria Madalena.O caminho que conduz a Deus não pode ser traçado, a não ser por Ele mesmo, pela sua vontade. Jesus proclamou isso com energia: "Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus; mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus". E para mostrar que as almas que lhe estão mais unidas e que Ele mais ama são justamente aquelas que fazem a vontade de Deus, Ele não hesita em afirmar: "Todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã, e minha mãe".Foi na escola de Jesus que os santos se inspiraram. Santa Teresa de Jesus, depois de ter experimentado as mais sublimes comunicações místicas, não tinha receio de afirmar: "É claro que a suma perfeição não está nos dons interiores, nem nos grandes êxtasis, nem nas visões, nem no espírito de profecia. A maior perfeição está, isto sim, em ter a nossa vontade tão sitonizada com a de Deus, que assim que percebemos que Ele quer alguma coisa, nós também a queiramos com toda a nossa vontade, e o assumamos alegremente, sendo saboroso ou amargo". Santa Terezinha do Menino Jesus fala no mesmo sentido: "A perfeição coniste em fazer a vontade do bom Deus, em sermos o que Ele quer que sejamos".O verdadeiro amor a Deus consiste em aderir perfeitamente à Sua santa vontade, não querendo fazer nem ser nada na vida, senão aquilo que o Senhor quiser de cada um de nós, a ponto de nos tornarmos, por assim dizer, uma vontade de Deus viva. Assim, a santidade é acessível a toda a alma de boa vontade. Uma alma que leva vida humilde e escondida, pode se alinhar com a vontade divina tanto ou até melhor do que o grande santo que tenha de Deus uma missão exterior e tenha sido enriquecido de graças místicas. Quanto mais as almas fazem a vontade de Deus e se alegram em cumpri-la, tanto mais perfeitas são.
Grande infelicidade é o abuso das graças divinas. Mas é possível reparar esse mal. Em uma oração espalhada em certas comunidades, é formulado esse tríplice pedido: "Meu Deus, tende a misericórdia e a generosidade de me fazer reparar, antes da minha morte, todos os abusos de graças que eu tenha tido a infelicidade de cometer. Fazei-me chegar ao grau de mérito e de perfeição ao qual desejáveis me conduzir, segundo a vossa primeira intenção, e que eu tive a desgraça de frustrar por minhas infidelidades. Tende também a bondade de reparar nos outros os abusos de graças que cometeram por minha culpa".Nada mais justo do que esse pedido. Deus pode, se pedirmos, aumentar as graças que destinava à nossa alma. Se nos mostrarmos fiéis aos novos convites de Deus, esse aumento de graças pode reparar as perdas anteriores. A quem não soube se aproveitar de uma provação, o Senhor poderá dobrar as provações subsequentes, mandando-lhe aquelas que teria suportado se tivesse sido sempre fiel, e outras mais, destinadas a substituir as que não produziram frutos. As ocasiões de sacrifícios podem ser igualmente duplicadas para suprir os sacrifícios recusados. As graças de esclarecimento podem ser dadas com maior abundância, a vontade pode receber maior energia, um amor mais intenso e mais puro pode ser comunicado à nossa alma. Essas substituições não são impossíveis para Deus e nem são contrárias à sua justiça. Portanto, pela oração nós podemos conseguir essas substituições, pois Deus prometeu atender nossas orações.É isso o que explica a grande santidade daqueles que tinham sido grandes pecadores. Suas faltas passadas foram ocasiões de maior virtude, por causa do arrependimento. Diz São Clemente que Pedro chorou a vida inteira pela traição que ele fez a Jesus. Essa infeliz traição foi transformada em ocasião para muitos atos de amor praticados por Pedro ao longo de sua vida.Por Auguste Sudreau.
A humildade é uma virtude tão agradável, que Jesus derrama toda a abundância de suas graças sobre a alma humilde. Esforça-te, então, por aumentar em teu coração um grande desejo de humildade.Para ser humilde, a alma deve, antes de tudo, se apreciar em seu justo valor. Assim fazendo, terá a humildade de espírito. Nesse sentido, dizia Santa Teresa: "A humildade é a verdade".Ver-se tal como se é diante de Deus em toda a extensão de sua vida, com toda a malícia da vontade e todos os germes do mal que a nossa natureza oculta. Ver ao mesmo tempo, sem atribuir a si mesmo, todo o bem que Deus depositou em nós, todas as graças que nos concedeu, todas as qualidades naturais com as quais nos gratificou. Eis o primeiro elemento da humildade, ou seja, a humildade do entendimento.Depois, a tua vontade aceita, ratifica e ama esse juízo. A alma se acha bem, ao se sentir tão pequena e infinitamente miserável diante de Deus. Regozija-se por se apresentar a essa bondade infinita a ocasião de preencher tal abismo. É a humildade da vontade.Enfim, a alma deseja se considerar e ser considerada pelos outros conforme o conhecimento que tem de si mesma. Como ela nada é, e nada tem de si mesma, não se crê digna de alguma estima, não exige dos outros nenhuma atenção, nem deferências especiais. Ela se crê sempre tratada com atenções que não merece.Por consequência, ela toma a seu encargo tudo o que é difícil e penoso. Não sendo nada e nada possuindo por si mesma, não é possível que uma criatura lhe seja inferior em merecimentos.Por Joseph Schrivers.
Ninguém nos ama mais do que Deus. Ele faz com que a honra ao Seu Nome consista em nos fazer felizes. Ele é totalmente bom e o bem tende a difundir-se. Por isso, Deus tem um infinito desejo de fazer as almas se tornarem participantes de sua bondade e bem-aventurança. Sendo ele infinitamente feliz, sendo ele a própria perfeição, quanto mais intimamente uma pessoa se unir a ele, tanto mais perfeita e feliz se tornará. A perfeição a tornará feliz nesta vida, na morte e sobretudo na eternidade.Vejamos como a perfeição nos torna verdadeiramente felizes nesta vida.Como já vimos, a perfeição consiste na adequação da nossa vontade à vontade de Deus. Nessa conformidade, baseia-se também nossa felicidade, enquanto se pode falar de felicidade neste vale de lágrimas. A pessoa que se atém à vontade de Deus recebe tudo como um presente de sua mão, seja agradável ou desagradável. Está sempre contente, porque sente prazer em executar a vontade de Deus, mesmo em coisas que a contrariam. Até os sofrimentos lhe oferecem motivo de alegria, porque ela sabe que suportá-los com paciência agrada ao seu Senhor. Portanto, nada impede a sua felicidade.Poderia haver maior felicidade para alguém do que ver realizados todos os seus desejos? Ora, quem deseja só o que Deus quer, vê realizarem-se todos os seus desejos, visto que tudo o que acontece é por vontade de Deus. Quando as almas que amam a Deus são humilhadas, recebem elas o que desejam; quando são pobres, amam a pobreza e assim se contentam com tudo o que lhes acontece e isso as torna felizes. Quando faz frio ou calor, quando chove ou venta, estão satisfeitas porque Deus assim o quer. Vem a pobreza, a perseguição, a doença, a morte, elas se contentam com a vontade de Deus. Desejam tudo isso porque descobrem nisso a vontade de Deus.Essa é a santa liberdade de que gozam os filhos de Deus. Essa é a paz bem-aventurada, prerrogativa das almas puras, que excede todo o entendimento. Essa divina paz merece ser preferida a todas as festas, aos esplêndidos banquetes, às honras e alegrias terrestres de toda espécie. Ela supera imensamente todas aquelas satisfações que por frações de segundo satisfazem os sentidos, mas que afligem o espírito por serem vazias e passageiras e não trazerem verdadeiro contentamento.Quem não ama a vontade de Deus, vive instável. Hoje ri, amanhã chora; neste momento mostra grande mansidão, daqui a pouco está furioso como um tigre. E por que tudo isso? Só porque seu humor depende de seu bem ou mal-estar. O justo, pelo contrário, permanece imutável, aconteça o que acontecer, porque acha seu contentamento em se acomodar em tudo à vontade de Deus.Por Santo Afonso Maria de Ligório
Que palavra poderá verdadeiramente descrever os dons de Deus? São tantos dons que não conseguimos enumerar. São de tal grandeza que um só deles bastaria para merecer toda a nossa gratidão para com o Doador.Há um que nós não podemos esquecer. Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Honrou o homem com a capacidade de pensar. Concedeu-lhe o gozo da indizível beleza do paraíso e o constituiu rei de toda a terra. Enganado o homem pela serpente, caído no pecado e pelo pecado na morte e nos sofrimentos que a acompanham, nem por isto Deus o abandonou. Mas pela lei, que lhe serviria de auxílio no princípio, colocou anjos para guardá-lo e dele cuidar. Enviou profetas para denunciarem os vícios e ensinarem a virtude. Impediu o ímpeto dos maus através de ameaças, e estimulou por promessas a prontidão para o bem. Não poucas vezes, declarou antecipadamente, em relação a várias pessoas, qual o fim dos bons e o dos maus a fim de advertir os outros. Mas a tantos benefícios respondemos com a nossa rebeldia. Ele, contudo, não se afastou de nós.A bondade do Senhor não nos abandonou. Nem mesmo pela estupidez com que desprezamos seus dons conseguimos destruir seu amor em nós, embora desdenhássemos do nosso benfeitor. Ao contrário, fomos libertos da morte e chamados de novo à vida por nosso Senhor Jesus Cristo. Maior motivo ainda de admiração por tanta bondade é o seguinte. Sendo ele de condição divina não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo assumindo a forma de escravo.E não só isso, mas tomou sobre si nossas misérias, carregou nossas fraquezas, por nós foi ferido para curar-nos por suas chagas. E mais ainda, redimiu-nos da maldição, fazendo-se a si mesmo maldição por nós, sofrendo morte extremamente infame para nos reconduzir à vida gloriosa. Não se contentou em chamar os mortos à vida, quis ainda conceder-nos a glória de sua divindade e nos preparar um descanso eterno cuja imensa alegria supera qualquer imaginação.O que então retribuiremos ao Senhor por tudo quanto nos deu? Ele é tão bom que não cobra remuneração, mas se satisfaz com ser amado em vista de seus dons. Quando penso em tudo isto, para dizer o que sinto, fico horrorizado e cheio de espanto. Pois por minha leviandade e preocupação com coisas vazias, posso perder o amor de Deus e ser uma vergonha para Cristo.Por São Basílio Magno.
Por Santo Afonso Maria de Ligório.Poucos cristãos entendem o que é a verdadeira piedade. A maior parte segue suas inclinações. Quando são melancólicos, procuram a solidão. Quando se sentem atraídos por uma vida ativa, se dedicam apenas às obras da salvação das almas. Quando inclinados a uma vida austera, se entregam à penitência e mortificação. Quando dispostos à generosidade, não poupam esmolas. Todos estão profundamente enganados. As obras exteriores são de fato frutos do amor a Jesus, mas não são a essência da caridade. A caridade está inteiramente na sintonia com a vontade de Deus. Ela requer que se renuncie a si mesmo, e em tudo se busque aquilo que mais agrada a Deus, e mesmo assim apenas porque Deus quer e merece.A consequência disso é a seguinte. Se quisermos nos tornar santos, devemos empregar todas as nossas forças em executar a vontade de Deus e não a nossa própria, pois todos os mandamentos e conselhos de Deus têm por finalidade nos mover a fazer e sofrer tudo o que Deus quiser, e do modo como ele quiser. Logo, toda a perfeição pode ser resumida nas seguintes palavras: fazer tudo o que Deus quer, querer tudo o que Deus faz, com a única intenção de contentá-lo.Óh meu Deus, eu vos agradeço porque o caminho da perfeição é tão fácil. De agora em diante, estou resolvido a caminhar por ele, ajudado pela vossa graça. Com essa intenção, me uno sem reserva à vossa vontade, que é toda santa, toda boa, toda bela, toda perfeita, toda amável. Óh vontade de meu Deus, como tu és querida! Unido a ti, quero viver e morrer. O que te agrada deve também me agradar, teus desejos devem ser também os meus desejos. Meu Deus, óh meu Deus, ajudai-me, fazei que de agora em diante eu só viva para querer o que vós quereis, para executar apenas a vossa amável vontade. Eu deploro os dias em que fiz a minha vontade, e vos dei desgosto. Amo-te, óh vontade de meu Deus, amo-te tanto quanto ao próprio Senhor, pois na verdade tu és mesmo o próprio Deus.
Existem profundas diferenças entre a vontade divina significada e a vontade divina de beneplácito.Primeira diferença. A vontade significada já nos é conhecida de antemão, geralmente de maneira claríssima. Desta maneira, conhecemos o Evangelho, as leis da Igreja, os conselhos, etc. De maneira muito conatural, podemos entender a vontade de Deus, confiá-la à nossa memória e meditá-la. As inspirações só parecem desconhecidas de antemão, mas na verdade elas têm por objeto aquilo que já é conhecido. Ao contrário, a vontade de beneplácito quase nunca se conhece com antecedência, mas sim durante o próprio acontecimento ou só depois dele. Dizemos quase, porque há exceções. O que Deus fará mais tarde, podemos conhecê-lo de antemão, se a Deus lhe apraz dizê-lo. Também se pode pressentir, conjecturar, adivinhar, seja pelo rumo atual dos fatos, seja pelas escolhas feitas anteriormente. Mas, em geral, o beneplácito divino é descoberto na medida em que os acontecimentos vão se desenvolvendo. Ainda no próprio momento em que ocorrem, muitas vezes a vontade de Deus permanece muito obscura. Por exemplo, Ele nos envia uma enfermidade, ou uma secura interior, ou outras provas. No momento em que isso ocorre, já sabemos que é essa a sua vontade, mas não sabemos se será longa ou curta, ignoramos o resultado, muita coisa ainda fica desconhecida.Segunda diferença entre a vontade divina significada e a vontade divina de beneplácito. Nós podemos obedecer ou desobedecer a vontade de Deus significada. Ele quer colocar em nossas mãos a vida e a morte, nos deixando o poder de escolher entre obedecer sua lei ou desrespeitá-la. Essa nossa liberdade dura apenas até o dia da justiça. Ao contrário, pela sua vontade de beneplácito, Deus dispõe de nós como Soberano. Não nos consulta, e às vezes atua até mesmo contra nossos desejos. Ele nos coloca na situação que nos preparou, e nela nos propõe o cumprimento dos deveres. Fica dependente de nossa liberdade o cumprir ou não esses deveres, submetermo-nos ao beneplácito ou nos comportarmos como rebeldes; mas é preciso aguentar os acontecimentos, queiramos ou não, não havendo poder no mundo que possa deter seu curso. Por esse caminho, como governador e como supremo juiz , Deus restabelece a ordem e castiga o pecado; como Pai e Salvador, nos recorda nossa dependência e procura nos fazer entrar nos caminhos do dever, quando tivermos nos emancipado e extraviado.Terceira diferença entre a vontade divina significada e a vontade divina de beneplácito. Deus nos pede a obediência à sua vontade significada, como consequência de nossa escolha e de nossa própria determinação. Para seguir um preceito, para produzir atos de virtude teologal ou moral, certamente precisamos de uma graça secreta que nos precede e nos ajuda, graça que nós podemos alcançar sempre pela oração e pela fidelidade. Mas ainda quando a vontade divina nos seja claramente significada, a cumprimos por nossa própria liberdade de escolha. Não precisamos esperar um movimento sensível da graça, nem uma moção especial do Espírito Santo. Pelo contrário, na vontade divina de beneplácito, é necessário esperar que Deus a declare mediante os acontecimentos. Sem essa declaração, não sabemos o que Ele espera de nós. Com ela, conhecemos o que Ele deseja de nós: primeiro, a submissão à sua vontade; depois, o cumprimento dos deveres peculiares a tal ou qual situação que Ele nos tenha dado.São Francisco de Sales faz uma observação muito correta. Há situações em que é preciso juntar a vontade divina significada com a vontade divina de beneplácito. E cita como exemplo o caso da enfermidade. Além da submissão à Divina Providência, será preciso cumprir os deveres de um bom doente, como a paciência e a abnegação, e permanecer fiel aos mandamentos da vontade significada, nos limites da doença. O santo Doutor insiste muito que nessa concorrência de vontades, enquanto o beneplácito divino nos seja desconhecido, é necessário nos aderir o mais fortemente possível à vontade de Deus significada, cumprindo cuidadosamente tudo quanto a ela se refere. Mas, tão logo se manifeste o beneplácito de sua divina Majestade, é preciso se render amorosamente em sua obediência, dispostos sempre a nos submeter tanto às coisas desagradáveis quanto agradáveis, na morte e na vida, enfim, em tudo quanto não seja manifestamente contrário à vontade de Deus significada, pois esta está acima de tudo. Essas noções são um tanto áridas, mas é importante entendê-las bem e não esquecê-las, porque derramam muita luz para vivermos o santo abandono à divina Providência.Por Vital Lehodey.
Deus nos faz conhecer a sua vontade de dois modos. O primeiro, é chamado de vontade de Deus significada, e podemos conhecê-la pelos mandamentos que Deus nos deu. O segundo modo é chamado de vontade de beneplácito, e podemos conhecê-la em todos os acontecimentos que Deus nos envia.A vontade significada nos indica, de maneira clara e com antecedência, todas as verdades que Deus quer que nós creiamos, todos os bens que ele quer que nós esperemos, as penas que temamos, as coisas que amemos, os mandamentos que observemos e os conselhos que sigamos. Nós a chamamos de vontade significada porque nos indica explicitamente tudo o que Deus quer que nós creiamos, esperemos, temamos, amemos e pratiquemos. A adequação de nosso coração à vontade significada consiste em que queiramos tudo quanto a divina bondade nos manifesta ser de sua intenção; crendo segundo sua doutrina, esperando segundo suas promessas, temendo segundo suas ameaças, amando e vivendo segundo seus mandamentos e recomendações.Essa vontade significada abraça quatro partes, que são as seguintes: os mandamentos da lei de Deus e da Igreja, os conselhos, as inspirações, e as Regras e Constituições da vida consagrada. Vamos tratar de cada um deles.Os mandamentos da lei de Deus e da Igreja. É necessário que cada um obedeça os mandamentos de Deus e da Igreja, porque é vontade de Deus absoluta, que quer que os obedeçamos, se desejamos nos salvar.Os conselhos. É vontade de Deus que guardemos os seus conselhos, que existem para favorecer a caridade. Mas não é imperativa e absoluta como os mandamentos. Assim, quando deixamos de cumprir os conselhos, sem menosprezá-los, mas porque acreditamos que não temos força suficiente para obedecer a tais conselhos, nós não perdemos a caridade nem nos separamos de Deus. Além disso, nem é possível que sigamos todos, mas só aqueles mais conformes à nossa vocação.As inspirações. Nas inspirações, Deus nos indica suas vontades sobre cada um de nós de maneira mais pessoal. Santa Maria Egípcia se sentiu inspirada ao contemplar uma imagem de Nossa Senhora; Santo Antônio, ao ouvir o Evangelho da Missa; São Pacômio, vendo um exemplo de caridade; Santo Inácio de Loyola, lendo a vida dos santos. Ou seja, recebemos as inspirações pelos mais diversos meios. Algumas inspirações, que chamamos ordinárias, apenas nos conduzem a praticar algo que já praticamos de costume, mas com um novo fervor. Outras inspirações, chamadas de extraordinárias, nos levam a praticar ações que não seriam esperadas.Regras e Constituições da vida consagrada. Para os que se consagraram na vida religiosa, elas explicitam a vivência dos conselhos, e da vida em comunidade.Essas são as quatro partes da vontade de Deus significada. Além dela, também temos a vontade de beneplácito de Deus. Ela se manifesta em todos os acontecimentos, em tudo aquilo que acontece. Na enfermidade e na morte, na aflição e na consolação, na adversidade e na prosperidade. Em uma palavra, tm todas as coisas que não são previstas. Essa vontade de beneplácito pode ser vista facilmente em tudo o que vem diretamente de Deus e das criaturas que não são livres, como chuvas, terremotos, doenças, a beleza da natureza. O mais importante é ver a vontade de Deus principalmente nas tribulações, que por mais que Ele não as ame em si mesmas, as quer empregar, como excelente recurso para satisfazer a ordem, reparar nossas faltas, curar e santificar as almas.Mais ainda, deve-se ver a vontade de beneplácito inclusive em nossos pecados e nos pecados do próximo, e aqui falamos mais especificamente da chamada vontade permissiva. Deus não concorre na forma do pecado, que é o que constitui sua malícia: ele detesta infinitamente o pecado e faz de tudo para nos afastar dele. Ele o reprova e o castigará. Mas, para não nos privar da liberdade que nos concedeu, como nós nada podemos fazer sem o concurso de Deus, que é o primeiro motor de tudo, ele nos concede tudo o que é material no ato pecaminoso, o que, aliás, nada mais é que o exercício natural de nossas faculdades.Por outro lado, Deus quer tirar o bem do mal, e para isso faz que nossas faltas e as faltas do próximo sirvam para a santificação das almas, pela penitência, pela paciência, pela humildade, pela mútua tolerância, etc. Ele quer também que mesmo cumprindo o dever da correção fraterna, suportemos o próximo, que lhe obedeçamos quando ele tiver autoridade sobre nós, enxergando os instrumentos de Deus até mesmo em suas exigências e falta de razão, pois Deus se serve de tudo para nos exercitar na virtude. Por tal motivo, São Francisco de Sales não tinha medo em dizer que por meio de nosso próximo é como Deus especialmente nos manifesta o que Ele deseja de nós.Por Vital Lehodey.
A oblação da Igreja é sacrifício puro e aceito por Deus, tal como o Senhor lhe ensinou a oferecer em todo o mundo. Não porque Deus necessite de nosso sacrifício, mas porque nós nos enchemos de glória quando nosso dom é aceito. Pela oferenda dada a um rei manifesta-se a homenagem e afeição que se tem por ele. Querendo o Senhor que, com simplicidade e inocência, oferecêssemos nossos dons, deu-nos o preceito: Se estás para fazer tua oferta diante do altar e te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa diante do altar a tua oferta e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então, vem fazer a tua oferta. Então, é necessário oferecer a Deus as primícias de suas criaturas, como Moisés também já dissera: Não te apresentarás de mãos vazias diante do Senhor, teu Deus. Quando o homem quer manifestar a Deus sua gratidão, oferece-lhe os próprios dons por ele mesmo dados e recebe a honra que dele provém. Nenhuma das oblações feitas pelos homens é rejeitada. Mas a forma de oferecer os sacrifícios mudou, pois já não são mais oferecidos por servos, mas por filhos. O Senhor é um só e o mesmo; mas existe o caráter próprio da oblação dos filhos, de modo que as oblações são sinal da liberdade possuída. Para Deus não há nada vão, nem sem significado ou motivo. Por isto, o seu povo lhe consagrava os dízimos. Mas depois, aqueles que receberam a graça da liberdade põem à disposição do Senhor tudo quanto possuem, dando com alegria e generosidade e não apenas as coisas de menor valor. E fazem isso por causa da esperança que têm de receber coisas maiores; como aquela viúva tão pobre que pôs no cofre de Deus tudo o que tinha.Então, temos que fazer oblações a Deus e em tudo sermos gratos ao Criador, com mente pura e fé sincera, na firme esperança, na caridade fervorosa, oferecendo-lhe as primícias da criação, criação que lhe pertence. E a Igreja é a única a fazer ao Criador esta oblação pura, que provém de sua criação, oferecendo-a em ação de graças. Pois lhe oferecemos o que já é seu, proclamando a comunhão e a unidade e confessando a ressurreição da carne e do espírito. O pão que vem da terra, ao receber a invocação de Deus, já não é mais pão comum mas eucaristia, feita de dois elementos, o terreno e o celeste; do mesmo modo, por receberem a eucaristia, nossos corpos já não são corruptíveis; possuem a esperança da ressurreição.Por Santo Irineu.
Por Gabriel de Santa Maria Madalena. . . . .A Caridade é essencial na vida sobrenatural. A tal ponto que a sua presença ou a sua ausência é questão de vida ou morte. Quem não tem Caridade, também não possui a graça santificante, pois ambas são inseparáveis.Diz São João, em sua primeira carta: "Aquele que não ama, permanece na morte". Pelo contrário, quem possui a Caridade, possui a graça, e então participa da vida de Deus: "quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus nele". E como ensina Santo Tomás, "a Caridade une de tal maneira o afeto do homem a Deus, que o homem já não vive para si mesmo, mas para Deus".Três são as virtudes teologais infundidas em nós junto com a graça santificante: a Fé, a Esperança e a Caridade. As três têm por objetivo a Deus mesmo, mas destas três a maior é a Caridade, como lembra São Paulo em sua primeira carta aos coríntios. Ela é maior, porque sem Caridade não pode existir vida cristã; maior porque a Caridade jamais desaparecerá, visto ser a força unitiva que nos une a Deus, pois é uma participação daquela Caridade infinita que é o próprio Deus. Por isso, ao fariseu que lhe perguntava qual era o primeiro mandamento da lei, Jesus respondeu: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e com toda a tua alma, com todo o teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento".Quando a Caridade for perfeita em nós, nos manterá plenamente unidos a Deus, e orientará para Ele todas as nossas atividades. Porque na medida em que uma alma é dominada pela Caridade, nessa medida atinge a maturidade da vida sobrenatural. Quanto maior ou menor for a Caridade, tanto maior ou menor será a santidade.
Às vezes, eu receio de que terei um longo purgatório, ao pensar que muito será pedido de quem muito recebeu. Ele encheu essa sua esposinha com seus dons mas ela se abandona ao seu amor e já neste mundo canta o hino de suas misericórdias.Querida senhora, se todos os dias fizermos com que Deus cresça na nossa alma, isto nos dará uma grande segurança para um dia comparecermos diante de sua infinita santidade. Creio que a senhora encontrou esse segredo. Só pelo caminho da renúncia é que chegamos a essa meta divina. É deste modo que morremos para nós mesmos e deixamos o lugar livre somente para ele, em nosso coração. Lembre-se muito bem daquela linda página do Evangelho, onde Nosso Senhor diz a Nicodemos: "Quem não nascer do alto, não pode ver o Reino de Deus".Então, vamos nos renovar no interior de nossa alma, "despojando-nos do homem velho com as suas práticas e nos revestindo do homem novo, que se renova para o conhecimento segundo a imagem de seu Criador".Tudo isto deve ser operado com tranquilidade e simplicidade, separando-se de tudo o que não é Deus. Agindo assim, a alma não terá mais nem temores nem desejos e a sua vontade se acha totalmente perdida na vontade de Deus. E é isso que faz a união. Assim, pode exclamar: "Eu vivo, mas já não sou eu, pois é Cristo que vive em mim".Por Santa Elisabete da Trindade.
Além da oração da manhã e da noite, exorto que você destine um tempo dedicado à meditação de algum livro espiritualou de doutrina, como por exemplo: a Imitação de Cristo, a Filotéia de São Francisco de Sales, a Preparação para a Morte de Santo Afonso, a vida dos santos e outras obras semelhantes. A leitura desses livros fornecerá grande proveito para a tua alma. E será duplo o seu mérito diante de Deus se você ensinar aos outros, ou mesmo ler para eles, tudo quanto aprendeu com essas boas obras.Mas ao mesmo tempo em que recomendo as boas leituras, aconselho que fuja dos maus livros. Todo livro, jornalou folhetoque ataca a Igreja e seus ministros, ou que contenham imoralidades, são extremamente perigosos para a formação. Afaste-se disso, como se fosse de um copo de veneno.Nisto devemos imitar os cristãos de Éfeso, quando ouviram São Paulo pregar sobre o dano que causam os maus livros. Aqueles fervorosos fiéisos carregaram para a praça pública e fizeram uma fogueira, achando melhor queimar todos os livros do mundo do que expor a alma ao perigo de cair no fogo do inferno.A nossa alma é como o corpo. Sem alimento, ela definha. Por isso, recomendo que participe de cursos e palestras. A alma também necessita todos os dias do alimento da palavra de Deus.Cuidado para não cair na armadilha do demônio, quando sugere este pensamento: "Isso serve para os outros, mas não para mim". Não, meu caro, aquilo que não servir para corrigir coisas passadas, servirá para te preservar de algum erro futuro.Ouvindo a pregação, procure guardá-la na memória e meditá-la ao longo do dia, especialmente antes de dormir. Se fizer assim, você obterá grandes graças.Por São João Bosco.
Chama-nos a atenção que na conclusão das orações, dizemos sempre: “por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho”. Nunca dizemos: “pelo Espírito Santo”. Não é sem motivo que a Igreja católica faz assim, por causa do mistério do mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem, sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, que com seu próprio sangue entrou uma vez por todas no santuário do próprio céu, onde está à direita de Deus e intercede por nós.Contemplando esta função pontifical de Cristo, por ele ofereçamos sempre o sacrifício de louvor, o fruto dos lábios daqueles que confessam seu nome. Por conseguinte, por ele oferecemos o sacrifício de louvor e da prece, pois, mediante a sua morte, fomos reconciliados, nós que éramos inimigos de Deus. Por ele, que se dignou tornar-se sacrifício em nosso favor, o nosso sacrifício pode ser bem aceito diante de Deus. São Pedro adverte-nos, dizendo: E vós, quais pedras vivas, entrais na edificação deste edifício espiritual, no sagrado sacerdócio, oferecendo vítimas espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo. É esta a razão que nos faz dizer: “Por nosso Senhor Jesus Cristo”.Quando se menciona o sacerdote, logo vem à mente o mistério da encarnação do Senhor. Mistério do Filho de Deus que embora de condição divina, aniquilou-se a si mesmo, assumindo a forma de escravo. Em sua humilhação, fez-se obediente até à morte. O Filho se diminuiu, permanecendo igual ao Pai, porque se dignou assemelhar-se aos homens. Tornou-se o menor, quando se aniquilou a si mesmo, tomando a forma de servo. A diminuição de Cristo é seu aniquilamento, mas o aniquilamento consiste na aceitação da forma de servo.Cristo, permanecendo na forma de Deus o unigênito de Deus, a quem juntamente com o Pai oferecemos sacrifícios, tomou a forma de servo, tornando-se sacerdote. Assim, por ele, podemos oferecer um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Nunca nos seria possível oferecer tal sacrifício se Cristo não se houvesse tornado, ele mesmo, sacrifício para nós. Nele, a própria natureza do gênero humano é o verdadeiro sacrifício de salvação.Com efeito, quando nos apresentamos para oferecer nossas orações, mediante nosso eterno sacerdote e senhor, afirmamos que ele possui a verdadeira carne de nossa raça. O Apóstolo já tinha dito: Todo pontífice é escolhido dentre os homens e é constituído a favor dos homens para as coisas que dizem respeito a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Quando, porém, dizemos: “Vosso Filho”, e acrescentamos: “que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo”, comemoramos aquela unidade naturalmente existente entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Daí se deduz que Cristo é quem exerce a função sacerdotal para nós, e ao mesmo tempo, a Ele pertence a unidade com o Pai e com o Espírito Santo.Por São Fulgêncio de Ruspe.
Por Santo Afonso Maria de Ligório.Jesus nos ensina a pedir a graça de cumprir a vontade de Deus aqui na terra, como os anjos a cumprem no céu: "Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu".A coisa mais preciosa que possuímos é a nossa vontade própria. Entregá-la a Deus é a coisa mais agradável que podemos oferecer ao Senhor. É o que Deus pede, no livro da Sabedoria: "Meu filho, dá-me o teu coração", ou seja, a tua vontade. Santo Agostinho diz: "A coisa mais agradável que podemos oferecer a Deus é dizer-lhe sinceramente: tomai posse de nós, a vós consagramos toda a nossa vontade. Dai-nos conhecer o que de nós quereis: estamos prontos para fazer tudo". Quando consagramos a Deus a nossa vontade, então tudo entregamos. Quem lhe entrega seus bens dando esmolas, quem lhe dá seu sangue pelas disciplinas, quem lhe entrega seu sustento através do jejum, dá a ele apenas uma parte do que é seu. Mas quem a Deus entrega sua vontade, lhe dá tudo o que possui, e pode dizer-lhe: "Senhor, eu sou pobre, mas vos dou tudo o que tenho para dar. Entregando-vos a minha vontade, nada mais me fica de que eu possa dispor".Mas para que esse sacrifício seja completo, deve ter duas propriedades: deve ser inteiro e, além disso, constante. Há pessoas que dão a Deus a sua vontade, mas com certa restrição. Tal oferta não agrada muito a Nosso Senhor. Outros lhe consagram sua vontade para depois retomá-la: estes se expõem ao perigo de serem abandonados por Deus. Para afastar de nós essa infelicidade, todos os nossos esforços, todas as nossas aspirações e orações, devem visar à perserverança, para que sempre queiramos o que Deus quer. Renovemos cada dia a consagração de todo o nosso ser a Deus, e guardemo-nos de desejar qualquer coisa contrária aos desejos dele. Desta maneira, nos livraremos de toda a paixão, de todo o desejo, de todo o temor, e de toda afeição desregrada. Um único ato de adequação perfeita com a vontade de Deus basta para nos elevar à santidade.
Caríssima Senhora. Compreendo a sua inquietação, diante da expectativa de uma cirurgia. Peço a Deus que ele mesmo suavize o seu sofrimento. O apóstolo São Paulo diz que "tudo acontece segundo um ato deliberado de sua vontade". Portanto, devemos aceitar as coisas como se nos viessem diretamente da mão do Pai, que nos ama e se serve de todas as coisas para chegar ao seu objetivo. E esse objetivo é nos unir mais intimamente com ele.Querida senhora, lance sua alma nas ondas da confiança e do abandono. Lembre-se de que tudo o que a inquieta e atemoriza não vem de jeito nenhum de Deus. Ele é o "Príncipe da paz". Sempre que se sinta invadida pelo medo de ter abusado de suas graças, como a senhora me confidenciou, então é o momento de redobrar a confiança. Pois também o Apóstolo assim se expressa: "Onde abundou o pecado, a graça superabundou". E diz mais ainda: "Com todo ânimo, eu prefiro me gloriar das minhas fraquezas, para que pouse sobre mim a força de Cristo". Deus é rico em misericórdia. Por isso, não tenha medo daquele momento pelo qual todos nós temos que passar. A morte, querida senhora, não é nada mais que o sono da criança que adormece no colo da mãe. Finalmente, a noite do desterro terminará para sempre, e nós entraremos na posse da herança dos santos na luz. São João da Cruz diz que "seremos julgados no amor". E isso corresponde às palavras que Jesus disse a Madalena: "Seus numerosos pecados lhe estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor".Por Santa Elisabete da Trindade.
Toda a nossa perfeição, diz Santo Afonso de Ligório, consiste no amor por nosso Deus. E toda a perfeição do amor divino consiste, por sua vez, na união de nossa vontade com a dele. Assim, se desejamos agradar e comprazer o coração de Deus, trataremos não só de nos conformar em tudo com a sua santa vontade, mas nos unificar com ela, de modo que não sejam mais duas vontades, mas uma só. Os santos sempre tiveram como único objetivo fazer a vontade de Deus, persuadidos de que nisso consiste toda a perfeição de uma alma. A divina Mãe, Maria Santíssima, foi a criatura mais perfeita porque foi a que mais perfeitamente cumpriu a vontade de Deus. E o mesmo Jesus, o Santo por excelência, o modelo de toda perfeição, foi todo amor e obediência. Pela abnegação que professa por seu Pai e pelos homens, substitui os holocaustos estéreis e se faz a Vítima universal. A vontade de seu Pai o conduzirá por todo tipo de sofrimentos e humilhações, até a morte e morte de cruz. Jesus o sabe, mas precisamente para isso desceu do céu, para cumprir essa vontade, que se converterá em fonte de vida. Desde sua entrada no mundo, Ele declara que plantou a vontade do Pai no meio de seu coração para amá-la, e em suas mãos para executá-la fielmente. Essa amorosa obediência será seu alimento, resumirá sua vida oculta, inspirará sua vida pública, até o ponto de Ele dizer: "Eu faço sempre o que agrada ao meu Pai". E no momento da morte, lançará bem alto seu triunfante "tudo está consumado". Meu Pai, eu os amei até o último limite, terminei minha obra de Redenção, porque fiz vossa vontade, sem omitir um único ponto.Unificar a nossa vontade com a de Deus, eis aí o cume de toda perfeição, diz Santo Afonso. Devemos aspirar a isso continuamente, essa deve ser a finalidade de todas as nossas obras, de todos os nossos desejos, de todas as nossas meditações, de todas as nossas preces. Seguindo o exemplo de nosso amado Jesus, só tenhamos olhos para a vontade de Deus em todas as coisas. Que nossa única ocupação seja cumpri-la com fidelidade sempre crescente, com infatigável generosidade e por motivos totalmente sobrenaturais. Esse é o modo de seguirmos ao Nosso Senhor dando grandes passos e subir com Ele na glória.Por Vital Lehodey.
Esforçai-vos por vos reunir mais frequentemente para dar graças a Deus e louvá-lo. Pois quando vos congregais com maior frequência, as forças de Satanás são abaladas e pela concórdia de vossa fé é vencida a morte que ele traz consigo. Nada é melhor do que a paz que acaba com toda guerra, seja celeste ou terrena. Nada vos faltará, se tiverdes perfeita fé e caridade em Jesus Cristo, que são o princípio e a finalidade da vida. O princípio da vida é a fé. A finalidade da vida é a caridade. As duas, bem unidas, são o próprio Deus. Tudo o mais que diga respeito à perfeição humana está ligado à fé e à caridade.Ninguém que professe a fé pode pecar, nem o que possui a caridade consegue odiar. Conhece-se a árvore por seus frutos. Igualmente, a pessoa que diz que é de Cristo, será reconhecida por suas obras. Não se trata agora de declarações, mas de perseverança na virtude da fé até o fim. Melhor é calar-se e ser do que falar e não ser. Coisa boa é ensinar, se quem ensina o pratica. Pois só um é o mestre que disse e tudo foi feito. Mas tudo o que ele fez também em silêncio é digno do Pai. Na verdade, quem possui a palavra de Jesus pode ouvir o seu silêncio, a fim de ser perfeito, agir como fala e ser conhecido quando silencia. Ao Senhor nada se esconde, até nossos segredos mais íntimos estão diante dele. Então, façamos todas as coisas em sua presença, visto que somos os seus templos. Que ele seja em nós o nosso Deus, ele que é e aparecerá a nossos olhos na justa medida do nosso amor.Não vos enganeis meus irmãos, os perturbadores da família não herdarão o reino de Deus. Se pereceram aqueles que assim agiam, segundo a carne, quanto mais aquele que corromper a fé em Deus com doutrinas falsas, pela qual Jesus Cristo foi crucificado? Este tal, tornado impuro, irá para o fogo inextinguível, juntamente com quem o escutar. Na cabeça o Senhor recebeu a unção do óleo para que a Igreja espalhe o perfume da incorrupção. Não aceiteis a unção de péssimo odor da doutrina do príncipe deste mundo. Que não aconteça levar-vos cativos para longe da vida prometida! Meu espírito está pregado na cruz, escândalo para os incrédulos, salvação e vida eterna para nós.Por Santo Inácio de Antioquia.
Por Santo Afonso Maria de Ligório.É feliz aquele que conseguir falar, como a esposa do Cântico dos Cânticos: "a minha alma se derreteu quando ele falou". Como o líquido não tem forma própria, mas assume a forma do vaso em que está colocado, assim as almas que amam a Deus não possuem mais vontade própria, mas se ajustam em tudo à vontade do seu amado. Elas possuem um coração dócil, disposto a fazer tudo o que agrada a seu Senhor, em contraste com aqueles que a ele se opõem, por terem um coração duro e resistente.Como poderão nossas obras, honrar a Deus, se não forem feitas segundo a sua santa vontade? Por acaso, o senhor deseja holocaustos e vítimas? Não. O que ele quer é que se obedeça à sua voz. A maior honra que podemos prestar a Deus é cumprir sua vontade em todas as coisas. Foi também o que quis ensinar o Salvador, com sua vida neste mundo, onde veio estabelecer a glória do Pai, dizendo: as vítimas que os homens vos ofereciam, vós as rejeitastes. Quereis que eu vos sacrifique o corpo que me destes. Eis-me aqui, pronto para cumprir a vossa vontade. Nosso divino Salvador declarou repetidas vezes que tinha vindo ao mundo somente para fazer a vontade de seu Pai. Eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. Além disso, disse que é seu irmão, aquele que fizer a vontade de seu Pai: "Todo aquele que cumprir a vontade do meu Pai celeste, esse é meu irmão". . . Os santos, seguindo o exemplo de seu divino Mestre, não tinham outro objetivo em todas as suas ações, senão executar a vontade de Deus, sabendo que nisso consistia toda a perfeição. O Beato Henrique Suso dizia: "Deus não exige que tenhamos abundantes luzes, mas que nos sujeitemos em tudo à sua santa vontade". Santa Teresa de Jesus afirmava: "Na meditação, não se deve procurar outra coisa a não ser alinhar a nossa vontade com a de Deus. Quem mais progredir nesse ponto, receberá de Deus as maiores graças, e fará os maiores progressos na vida interior". A Beata Estefânia de Soncino, dominicana, tendo sido uma vez elevada em espírito ao céu, viu diversas almas santas que tinha conhecido, entre os serafins. E foi revelado a ela que tais almas alcançaram tamanha glória por terem alinhado perfeitamente a sua vontade de Deus.
Por Santa Elisabete da Trindade.Minha querida Germana. Meu coração compartilhou profundamente a dor que aflige o coração de vocês. Peço a você que seja a minha intérprete junto à sua querida mãe nesta dolorosa circunstância. Na oração, tenho presente o seu querido falecido para que Deus, que é rico em misericórdia, o introduza quanto antes na herança dos santos na luz. Rezo também por aqueles que continuam nesta vida, porque são justamente eles que têm que carregar o fardo da dor.Sim, minha querida Germaninha, a vida é uma corrente contínua de sofrimento e creio que as criaturas felizes deste mundo são aquelas que escolheram a cruz como sua porção de herança, agindo por amor a Cristo. Por Ele, que nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como escreveu São Paulo. Parece-me que toda a doutrina do amor, daquele amor verdadeiro e forte, sintetiza-se nestas poucas palavras. Nos dias de sua vida mortal, Nosso Senhor dizia: "Eu amo o Pai, e por isso sempre faço o que lhe agrada". "Por isso - acrescenta ele - não me deixou só, pois está sempre comigo". Também nós, Germana, devemos manifestar a ele o nosso amor em todos os nossos atos, fazendo sempre o que lhe agrada. Ele jamais nos deixará sozinhas, mas permanecerá no centro de nossa alma para ser ele próprio a nossa fidelidade. Por nós mesmas, não somos senão nada e pecado. Mas ele é o Santo que mora dentro de nós com a finalidade de nos salvar, nos purificar e nos transformar nele. Lembre-se do maravilhoso desafio do Apóstolo: "Quem nos separará do amor de Cristo?" Ele havia penetrado profundamente no coração de seu divino Mestre e conhecia os tesouros de misericórdia que nele se encerravam. Por isso, num ímpeto de confiança, exclamava: "Com toda determinação, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por causa de Cristo, para que pouse sobre mim a força de Cristo".Ame sempre a oração, querida Germaninha. Quando lhe aconselho a oração, não pretendo com isto impor-lhe uma quantidade de orações vocais para serem rezadas diariamente. Entendo, isto sim, aquela elevação da alma a Deus em todas as coisas, que nos coloca numa espécie de contínua comunhão com a Santíssima Trindade. Agindo assim, faremos tudo com simplicidade sob o seu olhar.