POPULARITY
A banda desenhada “Uma História Popular do Futebol”, de Mickaël Correia, Jean-Christophe Deveney e Lelio Bonaccorso, retrata as lutas operárias, anticoloniais, feministas e revolucionárias que também marcaram o desporto-rei. Afinal, “a história do passe é também uma história política”, o “drible” nasceu para fintar a violência racista e o Campeonato Africano das Nações foi “um laboratório do pan-africanismo”, contou-nos Mickaël Correia. A BD, que mostra o futebol como “uma arma de emancipação”, é lançada a 22 de Janeiro, em França. Eis uma história diferente do desporto-rei, da Idade Média até aos dias de hoje, uma narrativa mais subversiva, em que a bola se se joga no campo social e político. Aqui, o futebol vive ao ritmo de lutas contestatárias, é terreno de resistências e de emancipação, dá voz a operários de bairros pobres, a movimentos anticoloniais, feministas e revolucionários. Esta é uma outra história do futebol, distante dos brilhos das bolas de ouro, das transferências milionárias e dos contratos chorudos de publicidade. Afinal, o futebol foi e pode ser “uma arma de emancipação”, conta-nos Mickaël Correia a propósito da banda desenhada "Une Histoire Populaire du Football", que é publicada a 22 de Janeiro, em França, a partir do livro com o mesmo título que ele publicou em 2018, em França, e que foi editado em Portugal em 2020. RFI: Como é que esta banda desenhada apresenta o futebol?Mickaël Correia, autor de “Uma História Popular do Futebol”: “O tema desta banda desenhada é que o futebol não é só uma indústria capitalista, não é só o Mundial, não é só o Cristiano Ronaldo. É igualmente uma arma de emancipação para os povos colonizados, para os operários, para as mulheres igualmente. Há também uma história social do futebol que é igualmente uma cultura popular.”Como é que o futebol foi - e aparentemente é - essa tal ferramenta de contestação e de emancipação? “Há muitas coisas a dizer sobre isso, mas talvez a primeira coisa que possamos dizer é que o início da história do futebol é uma história operária. O futebol nasceu nas comunidades operárias de Inglaterra. Quando havia muitos operários, era uma maneira para eles de fazerem comunidade porque eram pessoas que fugiram das pequenas aldeias da Inglaterra para trabalhar nas grandes fábricas das grandes cidades operárias e industriais de Inglaterra e necessitavam de fazer comunidade. Haver um clube de futebol de bairro e apoiar os jogadores das suas fábricas era uma maneira de fazer essa comunidade. Podemos dizer igualmente que a história do passe tem uma história mesmo política. São os operários que começaram a passar a bola entre eles e era sinónimo de cooperação nas fábricas e solidariedade operária. Passar a bola era sinónimo desta solidariedade."No século XIX?"No século XIX, sim. Como desporto moderno, o futebol foi criado em 1873, no final do século XIX.”Confere ao futebol essa capacidade de emancipar determinados grupos, nomeadamente as mulheres. Fala no caso das “munitionettes”, as mulheres chamadas para trabalhar nas fábricas de armamento durante a Primeira Guerra Mundial, quando os homens estavam na frente de batalha. Como é que elas foram pioneiras no futebol feminino e como é que depois acabaram por ser banidas pelos homens? “É uma história mesmo incrível e foi a história mais difícil de investigar porque não havia muita documentação. Durante a Primeira Guerra Mundial, todos os homens foram para a guerra e nas fábricas havia mulheres que estavam a trabalhar. O patronato foi dizer às mulheres:‘O que é que vocês querem fazer depois do trabalho?' E elas disseram: ‘Os nossos pais, os nossos primos, os nossos irmãos já estão a jogar futebol e nós queremos igualmente fazer partidas de futebol'. A partir de 1917, houve um campeonato destas ‘munitionettes' que foi mesmo muito popular na Inglaterra e houve mesmo 50.000 pessoas num estádio em Liverpool para apoiar estas mulheres. O problema foi quando os homens voltaram para as fábricas depois do fim da guerra. Eles disseram: ‘Bom, isto foi uma brincadeira e agora vocês têm que ir para casa fazer bebés' porque houve grande problemas de natalidade depois da guerra. Consideraram que o papel da mulher não era trabalhar nas fábricas, era fazer bebés para repovoar o país. Estas mulheres disseram: ‘Não, não é possível, queremos continuar a praticar o futebol' e até mais ou menos 1920, 1921, elas continuaram o futebol, mas depois a Federação de Futebol Inglesa fez uma proibição porque estava com medo. Eles estavam mesmo com medo.”Medo de quê?“Medo porque ver uma mulher de calções era tabu, ver as pernas de uma rapariga. Para eles, era inadmissível ver estas raparigas a jogarem assim. Foi mesmo um grande pânico moral. Então, eles proibiram o futebol feminino em 1921. As mulheres tiveram que esperar 50 anos para poder outra vez jogar futebol em Inglaterra e até no resto da Europa.” A BD apresenta as lutas das jogadoras no campo da guerra contra o sexismo e também contra a homofobia. Como é que o futebol feminino sobrevive ainda hoje? Como é que se bate contra o patriarcado desportivo? Quando é que as mulheres mostraram, ou será que ainda não mostraram, um cartão vermelho ao patriarcado no sector? “Claro que hoje ainda há muitas lutas no futebol feminino porque ainda há grandes diferenças de salário, por exemplo, com uma grande estrela do futebol, como a Megan Rapinoe, que é campeã do mundo de futebol nos Estados Unidos. A equipa dos Estados Unidos até fez uma greve no fim dos anos 2020 para reclamar os mesmos salários que os homens. Para trabalho igual, salário igual. Vimos igualmente esta história de sexismo e de agressão sexual com a equipa feminina de Espanha, em que o presidente da Federação deu um beijo a uma das jogadoras de Espanha. Isto foi igualmente uma grande luta para elas. Neste campo do salário, neste campo da luta contra o sexismo e contra as violências sexuais, podemos ver que o futebol feminino é igualmente uma arma contra o sexismo e contra estas violências.”O livro também confere ao futebol a capacidade de engendrar revoluções. Eu queria saber qual foi o papel dos Ashlawys, os adeptos do clube egípcio Al Ahly, na ocupação da Praça Tahrir e na Primavera Árabe? “Houve um papel muito importante dos adeptos de futebol na Primavera Árabe. Na banda desenhada, falo do que se passou no Egipto, mas houve igualmente o mesmo na Tunísia e na Turquia. Houve - ainda há agora - muitas organizações de adeptos que têm uma cultura do anonimato e da autogestão, que faz com que a polícia política das ditaduras não se possa infiltrar porque são grupos auto-geridos. Eles podiam organizar-se e fazer canções ou manifestações contra o governo logo nos anos 2010, 2011. Quando houve a revolução no Egipto, já há alguns anos que os grupos de adeptos estavam a manifestar, no estádio, contra o governo, a cantar canções mesmo poderosas de crítica à ditadura. E já tínhamos igualmente algumas práticas de luta contra a repressão da polícia. Na Praça Tahrir, no Egipto, eles ajudaram o movimento revolucionário a incutir estas práticas de luta contra a polícia e de luta no anonimato.”Mas foram reprimidos…“Claro, houve uma repressão mesmo terrível no Egipto e muitas pessoas destes grupos despareciam, foram para a prisão e alguns foram mortos.”Vocês contam mesmo um episódio, falam do massacre de Port Saïd…“O massacre de Port Saïd foi em 2012. Foi uma vingança de uma batalha que houve em 2011, um ano antes, em que os adeptos de futebol ganharam uma batalha na Praça Tahrir contra a repressão da polícia. Um ano depois, a polícia organizou este massacre. Na partida entre o Cairo e Port Saïd, a polícia autorizou os adeptos do Port Saïd a entrarem com facas e, no final da partida, a polícia fechou o estádio e houve um massacre. Os adeptos do Port Saïd sacaram as facas e as armas e mataram dezenas de adeptos deste grupo que são os adeptos da equipa do Cairo. Isto foi mesmo uma vingança da vitória dos adeptos sobre a polícia em 2011.”Falam também da lição "decolonial" e de “drible social” que os brasileiros Pelé e Garrincha deram ao mundo. Quer contar-nos? “O futebol é uma religião no Brasil. Tem igualmente uma dimensão decolonial para mim. A própria história do drible é, para mim, uma história decolonial. O drible nasceu no Brasil nos anos 1920, mais ou menos, e foi um jogador negro que era sempre atacado pelos jogadores brasileiros brancos - porque neste período era proibido aos jogadores negros jogarem futebol. Arthur Friedenreich, de pai alemão e mãe brasileira, começou a meter pó de arroz sobre a sua pele para parecer mais branco. Mas no campo de futebol tinha sempre muitos ataques dos jogadores brancos porque era um período mesmo muito racista. Uma vez, Arthur Friedenreich, quando ia atravessar a rua, um carro ia atropelá-lo, ele desviou-se e fez um movimento de anca. Foi assim que o drible nasceu. Ele mesmo disse: ‘Como não posso lutar contra a violência dos brancos no campo, a melhor maneira de lutar contra a violência é desviar a violência. Então isto é mesmo uma coisa de uma luta decolonial. Quer dizer, não posso fazer nada contra as pessoas que têm este monopólio desta violência do Estado, então a melhor maneira é desviá-la. O Pelé e o Garrincha fizeram-no de uma maneira artística. Foi mesmo arte.”Na BD, chamam-lhe “o jogo bonito”. “Sim, jogo bonito ou “Futebol Arte” é outro termo que se usa no Brasil que é fazer desta arte uma identidade afro-brasileira, com este desvio da anca que tem esta história de como lutar contra esta violência do colonizador.” Outra noção na BD é justamente o futebol como um campo de resistências. Como é que o futebolista austríaco Matthias Sindelar, conhecido como “o Mozart do futebol”, se tornou num símbolo de resistência face ao regime nazi? “O Matthias Sindelar, em 1938, era mais ou menos o Cristiano Ronaldo deste período. Em 1938, a Alemanha invadiu a Áustria e quis fazer uma grande cena de propaganda nazi com um jogo entre a Áustria e a Alemanha nazi. A propaganda era dizer que o povo da Áustria e o povo alemão eram o mesmo povo e que apoiavam o III Reich e o seu líder Adolf Hitler. Antes da partida, os diferentes chefes nazis foram ver o Matthias Sindelar para lhe dizer ‘vamos fazer um jogo de propaganda e tem que acabar com um zero zero'. O problema é que quando a partida começou, a equipa da Alemanha jogava mesmo muito mal e a Áustria, que era uma das melhores equipas da Europa, teve que fingir não jogar bem. O problema é que no final da partida, Sindelar já não podia fingir jogar mal e marcou um golo. No final da partida, toda a gente estava a dizer que o Sindelar ia ser morto, enviado para um campo de concentração ou algo assim. Como Sindelar era tão famoso, era uma celebridade desta época, os nazis não o quiseram matar. Durante mais ou menos um ano ou dois, ele entrou na clandestinidade porque era contra o regime nazi e a mulher dele era judia. Foram encontrados mortos no seu apartamento, em 1939, e ninguém sabe o que se passou. Ninguém sabe se foi a Gestapo que assassinou o Matthias Sindelar. O que sabemos é que quando ele morreu, houve nas ruas de Viena mais ou menos 15.000 pessoas e, neste período, todas as manifestações públicas eram interditas pelo regime nazi, o que foi visto, na época, como a primeira resistência civil da Áustria contra o regime de Adolf Hitler.” Outra história muito comovente, ainda na parte das resistências, é a dos irmãos Starostine. Quer resumir-nos a história destes irmãos e como é que, graças ao futebol, eles sobreviveram ao Gulag? “Há uma equipa muito famosa que se chama o Spartak Moscovo, que é a grande equipa popular da capital da Rússia. Nos anos 30, 40, quando o regime de Estaline era muito poderoso e muito repressivo sobre a população, a maneira de dizer não do povo de Moscovo era não apoiar a equipa do partido que era o Dínamo de Moscovo, a equipa oficial da polícia política, mas antes apoiar o Spartak Moscovo, que era a equipa do povo e pertencia a dois irmãos que se chamavam os irmãos Starostine. Estes irmãos eram mesmo muito populares junto da população operária da Rússia. O problema é que a polícia política não gostava que estes irmãos fossem muito populares e que uma grande parte da população russa não apoiasse a equipa da polícia política. Então, em 1940, enviou os dois irmãos para o campo de trabalho, o Gulag. Quando os irmãos chegaram ao Gulag, todos os presos tiveram uma grande solidariedade com os irmãos Starostine, o que fez com que eles sobrevivessem durante quase cinco anos.”A BD aponta ainda o futebol como um terreno de contestação anticolonialista. Contam que na colonização em África, por exemplo, o futebol começou por ser visto como uma forma de dominar o corpo da pessoa colonizada. Quando é que isso muda? “Isso muda depois da Segunda Guerra Mundial. Antes foi a Igreja e os diferentes E stados colonizadores que usaram o futebol para dominar o corpo do colonizado, era mesmo para prender, para domesticar o corpo da pessoa colonizada. Durante a guerra, nas tropas de libertação da França, igualmente por toda a Europa, havia muitas pessoas da Guiné, dos Camarões ou do Senegal e a França para lhes agradecer deu-lhes liberdade de associação. A partir de 1946, 47, 48, houve uma explosão dos clubes de futebol organizados por estes povos colonizados. Estes clubes autogeridos pelos colonizados foram lugares para falar de política e se se podia gerir clubes de futebol e campeonatos de futebol, podia-se igualmente gerir o país. Então, os clubes de futebol, autogeridos pela colonizados, foram um laboratório político, um laboratório de auto-gestão e político. Houve muitos líderes da independência na Argélia, no Senegal ou na Nigéria que foram presidentes de clubes de futebol nesses países.”O próprio nascimento do Campeonato Africano das Nações acaba por ser um instrumento do pan-africanismo, não é?“Sim, claro. A primeira Taça de África das Nações foi igualmente um laboratório do pan-africanismo. Foi uma maneira de dizer à Federação Internacional de Futebol: ‘Podemos organizar a nossa própria taça de futebol no nosso continente'. E foi uma forma igualmente de propaganda para dizer que o continente africano tem de ficar unido na política e o futebol era mesmo uma boa maneira de mostrar esta unidade no mundo inteiro.”Nesta “História Popular do Futebol”, não fala directamente de uma das maiores estrelas de futebol contemporâneas, o Cristiano Ronaldo, a não ser em alguns desenhos e algumas falas indirectas. Porquê?“O Cristiano Ronaldo é desenhado no princípio da banda desenhada, mas é mais para mostrar que esse jogador é um grande símbolo da indústria capitalista que é hoje o futebol. É uma pessoa muito conhecida,é uma pessoa que representa Portugal, mas é igualmente uma pessoa que representa o melhor da indústria do capitalismo futebolístico hoje.”Que é o contrário da mensagem que transmite o livro…“Sim, é o contrário da mensagem. A mensagem do livro é dizer que, claro, o futebol é uma indústria, mas dentro desta indústria podemos ver algumas práticas de resistentes. Como estamos em França, para muitos lusodescendentes, para muitas pessoas que vêm da emigração portuguesa, o Cristiano Ronaldo é uma maneira de dizer ao povo francês e aos outros povos europeus que somos um povo de emigração, somos um povo trabalhador que não se ouve muito em França, mas podemos ter este orgulho de ter um jogador como o Cristiano Ronaldo. O Cristiano Ronaldo é a oposição do estereótipo do português em França porque é um jogador que se vê muito, é um jogador que tem muito orgulho. Isso vem contra este estereotipo do português que é muito invisível, que não diz nada, que só está aqui [França] para trabalhar.”Então, também o Cristiano Ronaldo se emancipou?“Isso é a contradição do futebol: pode ser uma mensagem muito capitalista, é um mercado, mas pode ter igualmente uma mensagem muito política. É isto mesmo que gosto nesta história do futebol: é uma coisa que está sempre em contradição entre um espectáculo muito capitalista, onde há muito dinheiro, mas é igualmente um desporto muito popular e onde há muitas resistências.” Em contrapartida, vocês dedicam um capítulo a Diego Maradona, que era visto como um deus. Como é que se explica a divinização deste jogador com aspectos tão controversos, nomeadamente as drogas, os excessos? “Na Argentina, este jogador é um deus porque ele vem de um bairro muito popular e aprendeu a jogar na rua. Isto é uma coisa muito importante para o povo da Argentina que se pode identificar com ele. Houve uma partida muito conhecida em 1986 contra a Inglaterra. Ele pôs a…”A “mão de Deus”…“A mão de Deus, ele marcou um golo com a sua mão. Para o povo argentino, era uma coisa tipicamente do povo argentino. Quer dizer, não podemos lutar contra os ingleses, que eram igualmente um povo colonizador, mas vamos fazer esta coisa que é mais do âmbito da cultura do malandro, da cultura de rua, em que para sobreviver tens de roubar, para ganhar contra o dominante tens de fazer batota. O que se passou quando Maradona foi para Nápoles foi a mesma coisa. O povo de Nápoles é um povo que vive muito na rua e gostou muito deste jogador. A divinização é igualmente muito importante porque na maneira de falar dos napolitanos, ‘Maronna' quer dizer a Virgem Maria. Então Marona é muito próximo do Maradona. Há igualmente um aspecto muito crístico porque Diego Maradona tomou muita droga, o corpo dele estava, no fim da sua vida, muito gordo. Houve mesmo uma exposição do corpo dele, um pouco como o Cristo que mostrou as suas feridas e o corpo martirizado. Então, o povo argentino dizia que este jogador era mesmo uma pessoa do povo, que estava a mostrar um corpo martirizado e houve uma aproximação entre o Maradona e a sua parte mais crística.”Acaba o livro com uma personagem, mulher, no café com os amigos, a dizer que “nos relvados, nas tribunas e nas ruas, uma outra história do futebol continua a ser escrita”. Os campos de futebol ainda são um terreno de luta?“Podemos vê-lo diariamente. Nos campos de futebol, nas tribunas, vimos apoio à Palestina, por exemplo, na Escócia, e até aqui em Paris. Em Paris, houve uma grande manifestação dos adeptos a favor da Palestina. Há igualmente muitas lutas antirracistas. Estamos a ver muitos jogadores que estão a dizer que eles não são racistas. E estamos a ver igualmente alguns jogadores na luta contra a LGTBfobia. O futebol é um espelho do que se está a passar na sociedade e isso pode ver-se no campo de futebol todos os dias.”Em 2018, em França, publicou esta “História Popular do Futebol” sob a forma de um ensaio. Em 2020, editou-a em Portugal. Por que é que decidiu adaptar a obra ao formato BD? “Era para ser mais popular. O livro tem mais de 500 páginas e pode ser um bocadinho difícil para algumas pessoas que não têm o hábito de ler muito. Fazer esta adaptação para banda desenhada é uma maneira de os jovens também conhecerem esta história de resistência.”
Shockingly fun time in NYC despite miserable weather (or due to?). Port Sa'id, Via Carota, Purlie Victorious, MOMA, Mezzrow, and Central Park. Quirky German New Year's Tradition (Dinner for One). Check Fraud! Floating Pool. Paul Giamatti. Happy 50th to Goldbug! Credits: Talent: Tamsen Granger and Dan Abuhoff Engineer: Ellie Suttmeier Art: Zeke Abuhoff
durée : 00:24:52 - Le Feuilleton - Alors qu'il vogue vers Port-Saïd en compagnie de son brave Milou, Tintin fait la rencontre de Philémon Siclone, un extravagant égyptologue parti à la recherche du tombeau du Pharaon Kih-Oskh.
durée : 00:24:06 - Le Feuilleton - Alors qu'il vogue vers Port-Saïd en compagnie de son brave Milou, Tintin fait la rencontre de Philémon Siclone, un extravagant égyptologue parti à la recherche du tombeau du Pharaon Kih-Oskh.
durée : 00:25:19 - Le Feuilleton - Alors qu'il vogue vers Port-Saïd en compagnie de son brave Milou, Tintin fait la rencontre de Philémon Siclone, un extravagant égyptologue parti à la recherche du tombeau du Pharaon Kih-Oskh.
durée : 00:24:17 - Le Feuilleton - Alors qu'il vogue vers Port-Saïd en compagnie de son brave Milou, Tintin fait la rencontre de Philémon Siclone, un extravagant égyptologue parti à la recherche du tombeau du Pharaon Kih-Oskh.
durée : 00:21:18 - Le Feuilleton - Alors qu'il vogue vers Port-Saïd en compagnie de son brave Milou, Tintin fait la rencontre de Philémon Siclone, un extravagant égyptologue parti à la recherche du tombeau du Pharaon Kih-Oskh.
No one has ever accused Port San Antonio CEO Jim Perschbach of playing it safe. Since taking over, he and his team have implemented a strategic, innovative vision to transform the former Air Force base into an innovation and transportation hub. In this episode, SABJ Editor-in-Chief Sam Boykin hosts an update with the region's visionary leader.
L'économie mondiale a cette année encore été largement impactée par la pandémie de Covid-19. Le continent africain n'a pas fait exception, même s'il a su rebondir. Une image sur le continent restera sans doute dans les mémoires, celle du porte-conteneurs Ever Given bloquant le Canal de Suez et paralysant l'économie mondiale. C'est sans doute l'une des photos les plus marquantes de l'année. Pendant près d'une semaine au mois de mars 2021, l'Ever Given porte-conteneurs de 400 mètres de long, plus de 200 000 tonnes, a bloqué le canal égyptien si stratégique pour le commerce international. Quatre cent millions de dollars s'envolaient chaque heure, forçant les navires à s'entasser. C'est que, quotidiennement, cinquante bateaux - en moyenne - traversent le canal de Suez, soit environ 10% du commerce maritime mondial. Des biens d'une valeur de plusieurs milliards de dollars circulent chaque jour par cette voie qui est l'une des plus fréquentée du monde. Très vite, les prix du pétrole s'affolent, en Europe on craint les ruptures de stocks de biens manufacturés et notamment de papier toilette. L'Ever Given n'a pas été le seul événement du secteur du transport maritime sur le continent : les tarifs du fret se sont envolés. Avant la crise, le coût du fret pour un conteneur depuis la Chine vers l'Afrique était d'environ 1 400 dollars. Il a aujourd'hui plus que triplé. Les chaînes d'approvisionnement sont désorganisées, l'offre est supérieure à la demande. Conséquence, la pénurie de conteneurs et des embouteillages sur les routes maritimes. D'après l'Association internationale des ports (IAPH), en juillet 2021, 116 ports faisaient face à des problèmes de congestion et 328 navires attendaient devant des ports à travers le monde. En Afrique, les ports de Tanger, Port-Saïd, Durban, Lomé, Lagos et Mombasa sont particulièrement concernés. Au Nigeria, les exportateurs auraient ainsi perdu plus de 200 millions de dollars en denrées périssables ou autres autres produits endommagés en raison de l'engorgement du port d'Apapa. Côté trafic aérien, quelles sont les perspectives ? L'Association du transport aérien international précise que le niveau des pertes enregistrées dans l'industrie aérienne en Afrique devrait se redresser en 2021, mais plus lentement que d'autres régions du monde. Les pertes estimées par les compagnies aériennes sur le continent sont estimées à près de 2 milliards de dollars en 2021 et évaluées à 1,5 milliards pour l'année prochaine. La faible vaccination en Afrique expliquerait en partie la lente reprise. Si le continent a vu le retour progressif des voyageurs, il a surtout constaté une augmentation du volume du fret : +33,9% en août 2021. Retour de voyageurs et donc de touristes… Mais malgré une reprise comparée à l'année passée les arrivées touristiques en Afrique ont néanmoins baissé de 74% au troisième trimestre, par rapport à 2019, l'avant pandémie. La découverte en cette fin d'année du variant Omicron a amené à de nouvelles mesures et restrictions et créé un nouveau sujet de craintes et d'incertitudes pour le secteur. Bonne nouvelle cependant pour l'Afrique subsaharienne qui devrait sortir de la récession en 2021 Selon la Banque mondiale, l'Afrique subsaharienne devrait sortir de la récession causée par la pandémie de Covid-19 avec un niveau de croissance attendu à 3,3 % pour 2021. Une bonne nouvelle après une année 2020 tristement record. Pour la première fois en 30 ans elle était entrée en récession. Une reprise qui s'appuie notamment sur le prix élevé des matières premières, l'assouplissement des mesures pour lutter contre le Covid-19 et la reprise du commerce international.
Vsevolod Bobrov peux etre un joueur inconnu il a comme même un parcours assez particulier qui mérite d'être regarder par les adorée du foot.
Sudamérica: Argentina sería inicialmente la única sede que tendrá la Copa América 2021; pese al anunció que se realizó en Colombia de postergar el evento, en suelo argentino aseguran que ellos asumirán la competencia.Italia: Venezia y Citadella, son los finalistas del Playoff del ascenso en la Serie B, el ganador se sumará a Empoli y Salernitana, para participar la próxima temporada en la máxima categoría.La Máquina del Tiempo:Leonardo Estrada emprendió un nuevo viaje en la Máquina del Tiempo. Su radar lo ubicó nuevamente en África y esta vez, sobre un dromedario recorrió las arenas del Sahara para llegar hasta Port Saíd, Egipto. El epicentro: el estadio Al-Masry, escenario que en 2012 vivió la tragedia más grande en un coloso del fútbol del continente africano. Más de 70 muertos y 200 heridos fue el saldo de la nefasta noche de ese 01 de febrero.
The first class of students have begun their training at a free new training center at Port San Antonio.We first told you about Port San Antonio’s plan to transform a former Air Force fitness center into a training hub in August. In this update episode of Commerce Street, a business podcast from KENS 5, we heard from the organizations making the dream a reality and some of the students working toward a better future.Read more: https://www.kens5.com/article/syndication/podcasts/commerce-street/first-wave-of-students-begin-free-training-program-at-new-port-sa-training-center-commerce-street-update/273-d038efe8-b87f-458b-adfb-2d810338e9c9
Mi-décembre 2002. Le voilier de Portes d'Afrique arrive à Port-Saïd, porte du canal de Suez sur la Méditerranée. Pour cette première étape, Vladimir Cagnolari, notre reporter embarqué, rencontre de vieux Port-saïdiens nostalgiques de l'époque cosmopolite de la ville, avant Nasser. Il prend ainsi connaissance de l'histoire de la cité et de ses vicissitudes.Le premier écrivain invité à bord est le prix Nobel de littérature, Jean-Marie Gustave Le Clézio. Il descend le canal de Suez sur le voilier. Le paysage et ce voyage lui rappellent l'histoire de sa famille…
« La Classe américaine», le film culte de Michel Hazanavicius et Dominique Mézerette, l'un des premiers mash-up made in France, sort dans la collection « Les Grands Classique » chez Allary. Des extraits de films de la Warner Bros sont montés et doublés à "leur manière" par des acteurs français, pour former des situations loufoques et suivre une enquête abracadabrantesque... Deux minutes d'exercice avec au moins six fois le mot "beauté" : Olivier Gourmet. Le réalisateur, scénariste, producteur, monteur et acteur français Michel Hazanavicius pour "Les Grand Classiques : La Classe américaine" avec Dominique Mézerette (Allary), qui sort ce jeudi 28 mai. Œuvre clandestine depuis sa sortie en 1993, La Classe américaine entre enfin dans la collection Les Grands Classiques. Découvrez les dialogues complets du film culte de Michel Hazanavicius et Dominique Mézerette, accompagnés d'un appareil critique et enrichis d'illustrations originales d'un des auteurs. Celui qui est vivant. L'autre dessinait mieux, mais il est mort. Monde de merde. Des extraits des films Warner Bros sont montés et doublés à "leur manière" par des acteurs français : George Abitbol, "l'homme le plus classe du monde" meurt en prononçant les mystérieux mots "Monde de merde". Les journalistes Dave, Peter et Steven mènent l'enquête... La chronique de Michel Dufranne : Sébastien Gendron, "Fin de siècle", Gallimard/Série Noire. 2024, Bassin méditerranéen : depuis une dizaine d'années, les ultra-riches se sont concentrés là, le seul endroit où ne sévissent pas les mégalodons, ces requins géants revenus, de façon inexplicable, du fond des âges et des océans. À Gibraltar et à Port Saïd, on a construit deux herses immenses. Depuis, le bassin est clos, sans danger. Alors que le reste du monde tente de survivre, ici, c'est luxe, calme et volupté pour une grosse poignée de privilégiés. Mais voilà! l'entreprise publique qui gérait les herses vient d'être vendue à un fonds de pension canadien. L'entretien laisse à désirer, la grille de Gibraltar vient de céder, le carnage se profile... La « Bagarre » s'agrandit au cinéma, à la littérature et aux jeux... Une Bagarre dans la Ludothèque, Vidéothèque, Cinémathèque, Bibliothèque... pour vous donner des idées de livres à lire ou redécouvrir, de films à voir en famille... et aussi pour vous apporter un peu de légèreté pendant cette période de confinement. Avec Michel Dufranne et Guillermo Guiz.
durée : 00:21:18 - Fictions / Le Feuilleton - "Alors qu’il vogue vers Port-Saïd en compagnie de son brave Milou, Tintin fait la rencontre de Philémon Siclone, un extravagant égyptologue parti à la recherche du tombeau du Pharaon Kih-Oskh".
durée : 00:24:52 - Fictions / Le Feuilleton - "Alors qu’il vogue vers Port-Saïd en compagnie de son brave Milou, Tintin fait la rencontre de Philémon Siclone, un extravagant égyptologue parti à la recherche du tombeau du Pharaon Kih-Oskh".
durée : 00:24:06 - Fictions / Le Feuilleton - "Alors qu’il vogue vers Port-Saïd en compagnie de son brave Milou, Tintin fait la rencontre de Philémon Siclone, un extravagant égyptologue parti à la recherche du tombeau du Pharaon Kih-Oskh".
durée : 00:25:19 - Fictions / Le Feuilleton - "Alors qu’il vogue vers Port-Saïd en compagnie de son brave Milou, Tintin fait la rencontre de Philémon Siclone, un extravagant égyptologue parti à la recherche du tombeau du Pharaon Kih-Oskh".
durée : 00:24:17 - Fictions / Le Feuilleton - "Alors qu’il vogue vers Port-Saïd en compagnie de son brave Milou, Tintin fait la rencontre de Philémon Siclone, un extravagant égyptologue parti à la recherche du tombeau du Pharaon Kih-Oskh".