Podcasts about houve

  • 834PODCASTS
  • 1,978EPISODES
  • 30mAVG DURATION
  • 1DAILY NEW EPISODE
  • Jul 16, 2025LATEST

POPULARITY

20172018201920202021202220232024

Categories



Best podcasts about houve

Show all podcasts related to houve

Latest podcast episodes about houve

Arauto Repórter UNISC
Fomos ricos, e não sabíamos

Arauto Repórter UNISC

Play Episode Listen Later Jul 16, 2025 7:16


Houve um tempo em que o silêncio era permitido. Um tempo sem notificações, sem a ditadura da resposta imediata, sem a angústia de estar sempre acessível. Se alguém queria nos encontrar, ligava para o telefone fixo. E se não estivéssemos?Paciência. O mundo continuava girando sem a necessidade de estarmos sempre conectados.Fomos a última geração a sentir o cheiro de um livro antes de escolher lê-lo. A última a rebobinar fitas, a soprar cartuchos de videogame, a gravar músicas da rádio com aquele inconfundível atraso no "REC". Fomos os últimos a experimentar a espera como uma forma de desejo e não de frustração.Havia um ritual na forma como consumíamos cultura. Assistir a um filme não era um ato impulsivo, mas um evento. Íamos até a locadora, caminhávamos entre prateleiras repletas de possibilidades, líamos as sinopses e, por fim, fazíamos uma escolha definitiva. Sem trailers automáticos, sem algoritmos nos dizendo o que gostaríamos de ver. Era preciso confiar na própria intuição.As músicas também exigiam compromisso. Comprar um CD era um ato de fé. Apreciávamos o encarte, decorávamos as letras, aceitávamos as faixas ruins porque elas faziam parte do conjuntoNão existia a impaciência de pular para a próxima. A arte tinha tempo para respirar, e nós, para senti-la.Crescemos sem GPS, mas aprendemos a encontrar o caminho. Usávamos mapas, perguntávamos aos desconhecidos, confiávamos na memória. Hoje, seguimos trajetos ditados por vozes robóticas e, ironicamente, estamos cada vez mais perdidos.As fotografias eram objetos reais, impressões de um tempo que não podia ser deletado. Guardávamos retratos em caixas, álbuns, molduras. E quando as encontrávamos anos depois, havia uma mágica intocável naquele instante congelado.Agora, as imagens flutuam na nuvem, imateriais, condenadas a serem esquecidas entre milhares de outras.Brincávamos na rua até que o céu anunciasse a noite. Não havia localização em tempo real, apenas a confiança de que sabíamos o caminho de volta.Andávamos de bicicleta sem capacete, corríamos sem medo de joelhos ralados, trocávamos figurinhas, subíamos em árvores, éramos donos do nosso próprio tempo.Hoje, as crianças têm tablets e uma infância programada, com horários cronometrados e diversões que cabem em telas.E então, veio a revolução digital. O mundo ficou menor, mais rápido, mais acessível.Perdemos a espera, mas também a paciência. Ganhamos a conexão constante, mas nos tornamos mais solitários. Temos infinitas opções de entretenimento, mas cada vez menos capacidade de nos encantar.Byung-Chul Han alertou: "Hoje, a existência está marcada pela aceleração, pelo excesso de positividade e pelo cansaço. O tempo não se desenrola, ele colapsa."É isso que vivemos. Um tempo esmagado, sem pausas, sem espaço para a nostalgia se transformar em aprendizado.Fomos ricos, e não sabíamos. Mas talvez ainda haja tempo.Talvez possamos resgatar algo desse passado que não tinha pressa. Não para rejeitar o presente, mas para lembrar que a vida pode ser mais do que apenas um fluxo infinito de informações.No fim, não é a tecnologia que nos aprisiona. Somos nós que escolhemos ser prisioneiros dela.

Assunto Nosso
Fomos ricos, e não sabíamos

Assunto Nosso

Play Episode Listen Later Jul 16, 2025 7:16


Houve um tempo em que o silêncio era permitido. Um tempo sem notificações, sem a ditadura da resposta imediata, sem a angústia de estar sempre acessível. Se alguém queria nos encontrar, ligava para o telefone fixo. E se não estivéssemos?Paciência. O mundo continuava girando sem a necessidade de estarmos sempre conectados.Fomos a última geração a sentir o cheiro de um livro antes de escolher lê-lo. A última a rebobinar fitas, a soprar cartuchos de videogame, a gravar músicas da rádio com aquele inconfundível atraso no "REC". Fomos os últimos a experimentar a espera como uma forma de desejo e não de frustração.Havia um ritual na forma como consumíamos cultura. Assistir a um filme não era um ato impulsivo, mas um evento. Íamos até a locadora, caminhávamos entre prateleiras repletas de possibilidades, líamos as sinopses e, por fim, fazíamos uma escolha definitiva. Sem trailers automáticos, sem algoritmos nos dizendo o que gostaríamos de ver. Era preciso confiar na própria intuição.As músicas também exigiam compromisso. Comprar um CD era um ato de fé. Apreciávamos o encarte, decorávamos as letras, aceitávamos as faixas ruins porque elas faziam parte do conjuntoNão existia a impaciência de pular para a próxima. A arte tinha tempo para respirar, e nós, para senti-la.Crescemos sem GPS, mas aprendemos a encontrar o caminho. Usávamos mapas, perguntávamos aos desconhecidos, confiávamos na memória. Hoje, seguimos trajetos ditados por vozes robóticas e, ironicamente, estamos cada vez mais perdidos.As fotografias eram objetos reais, impressões de um tempo que não podia ser deletado. Guardávamos retratos em caixas, álbuns, molduras. E quando as encontrávamos anos depois, havia uma mágica intocável naquele instante congelado.Agora, as imagens flutuam na nuvem, imateriais, condenadas a serem esquecidas entre milhares de outras.Brincávamos na rua até que o céu anunciasse a noite. Não havia localização em tempo real, apenas a confiança de que sabíamos o caminho de volta.Andávamos de bicicleta sem capacete, corríamos sem medo de joelhos ralados, trocávamos figurinhas, subíamos em árvores, éramos donos do nosso próprio tempo.Hoje, as crianças têm tablets e uma infância programada, com horários cronometrados e diversões que cabem em telas.E então, veio a revolução digital. O mundo ficou menor, mais rápido, mais acessível.Perdemos a espera, mas também a paciência. Ganhamos a conexão constante, mas nos tornamos mais solitários. Temos infinitas opções de entretenimento, mas cada vez menos capacidade de nos encantar.Byung-Chul Han alertou: "Hoje, a existência está marcada pela aceleração, pelo excesso de positividade e pelo cansaço. O tempo não se desenrola, ele colapsa."É isso que vivemos. Um tempo esmagado, sem pausas, sem espaço para a nostalgia se transformar em aprendizado.Fomos ricos, e não sabíamos. Mas talvez ainda haja tempo.Talvez possamos resgatar algo desse passado que não tinha pressa. Não para rejeitar o presente, mas para lembrar que a vida pode ser mais do que apenas um fluxo infinito de informações.No fim, não é a tecnologia que nos aprisiona. Somos nós que escolhemos ser prisioneiros dela.

Convidado
Escolher e arriscar, a programação do festival de Avignon com Magda Bizarro

Convidado

Play Episode Listen Later Jul 14, 2025 15:00


Nos bastidores do Festival de Avignon, um dos mais importantes palcos do teatro do mundo, há uma programadora que observa, escolhe e molda. Magda Bizarro, programadora internacional do festival e braço direito de Tiago Rodrigues, é uma arquitecta do invisível. Trabalha na escuta e acredita que programar é arriscar. Nesta entrevista, Magda Bizzaro, levanta o véu sobre o que é fazer curadoria num lugar onde a arte é feita para estremecer, deslocar e revelar. Quando lhe perguntamos o que faz com que um espectáculo mereça estar no Festival de Avignon, Magda Bizarro responde sem hesitação: “Uma coisa muito importante para nós é sempre o público”. Antes de construir o programa, dedicou-se a entender quem o vê: “Passei o festival de 2022 inteiro a pisar cada espaço para perceber o que é que o público procura, mas também o que é que ele não está à espera de ver”. Essa escuta inicial marca toda a sua abordagem curatorial: “A programação é pensada tanto para o público habitual como para aquilo que pode desafiá-lo”. Não se trata de agradar, mas de propor. “Queremos trazer artistas que o público conhece bem, mas também outros que nunca viu. Propostas arriscadas, que o fazem descobrir”, conta. A linha que define o ADN do festival é esse cruzamento entre reconhecimento e surpresa. A escolha dos espectáculos é um processo longo e exigente: “Vejo mais de 300 espetáculos por ano”. Não se trata apenas do que está pronto porque "muitas vezes, o espectáculo que eu vejo não é o que vai ser apresentado - é o próximo”. A programação não se baseia em produtos finalizados, mas em relações, em processos. “É um trabalho que se constrói ao longo do tempo", conta. Um exemplo claro é o caso de Thomas Ostermeier: “Comecei um diálogo com ele em 2023, e agora, em 2025, apresentamos o espetáculo 'O pato selvagem'”. Mesmo com todas as conversas e acompanhamento, a programadora portuguesa só o viu completo no momento da estreia. “Descobri o espectáculo ao mesmo tempo que o público", diz. Essa partilha do risco é uma das marcas do festival: “É um festival de criação, muitas vezes não sabemos o que vamos ver. E isso é extraordinário”. Nem sempre os projectos chegam ao palco. “Houve um espectáculo que não conseguimos estrear este ano porque o artista perdeu o teatro onde ensaiava, vivia numa zona de conflito”, recorda. Questionada se existem enganos na escolha da programação, Magda Bizzaro sublinha que “não é engano. Às vezes, simplesmente, as condições não se reúnem. E isso faz parte do nosso trabalho: reunir tempo, apoios e espaço para que as criações possam existir”. É nesse contexto que surge La FabricA, espaço de residência artística ao serviço de quem mais precisa: “Muitos dos artistas que recebemos em residência vêm de regiões onde os governos não os apoiam”. Este ano, por exemplo, “a Marlène Monteiro Freitas esteve duas semanas e meia connosco, para ensaiar o seu espectáculo num espaço com as condições que ela precisava” A estreia do espectáculo, no grande recinto que é o pátio de honra do Palácio dos Papas, foi um sucesso, mas só o foi porque houve escuta e propostas práticas. O festival também reflecte uma visão política da linguagem. Desde 2023, há uma língua convidada. Depois do inglês e do espanhol, este ano é a vez do árabe. “Queríamos desassociar o árabe da ideia de conflito e religião”. O objectivo é outro: “Mostrar a sua diversidade, a sua viagem pelo mundo e as formas como se transformou e foi transformando outras línguas”, descreve a programadora portuguesa. Dois espectáculos mostram essa pluralidade. “Temos o "Laaroussa Quartet" de Selma e Sofiane Ouissi, sobre as mulheres de Sejnane, no norte da Tunísia e temos "When I Saw the Sea" de Ali Chahrour, com três mulheres vindas da Etiópia e do Sudão para viver no Líbano”. São abordagens completamente diferentes, “com sonoridades distintas, dois árabes diferentes, mas que falam da mesma urgência”, defende. Magda Bizarro insiste que o festival é desenhado como uma viagem para o espectador: “Pensamos o dia completo: pode ver-se teatro de texto de manhã, à tarde dança, e depois algo sem palavras. O objectivo é um percurso rico e pleno”. E, para isso, a programação precisa ser feita em articulação com os espaços: “Temos 22 locais em Avignon. Cada um tem as suas especificidades. Há espectáculos que não podem acontecer ao ar livre, por exemplo”. A complexidade da operação exige uma equipa gigantesca: “Durante o ano, somos 34. Em Julho, passamos a ser 750. Com os artistas, somos cerca de 1500”, descreve. Mas essa força não é só logística: “É uma equipa que sabe adaptar-se às necessidades dos artistas. E isso torna o festival mais rico". Magda Bizarro fala com carinho dessa máquina invisível que sustenta o brilho do palco. Quando se fala em reinvenção, a programadora admite: “É muito difícil reinventar cada edição. O festival tem um passado pesado, uma história densa”. E isso obriga a pensar em múltiplos equilíbrios: “Não é só diversidade geográfica ou estética. É também equilíbrio geracional, financeiro, técnico”. No mesmo cartaz, convivem mestres como Christoph Marthaler e estreantes como Mário Banushi: “Esse encontro entre gerações é o segredo da reinvenção”. Por fim, perguntamos-lhe se o facto de ser portuguesa afecta o seu olhar como programadora. A resposta vem com a nitidez de quem já viu e viveu muito: “Sim, há uma diferença. Eu sei o que é trabalhar com quase nada. Já paguei cenários do meu bolso. Já fiz espectáculos em garagens com luzes de velas". E isso dá-lhe uma escuta particular, uma atenção ao que ainda está a nascer: “Se calhar, vou a Buenos Aires ver um espectáculo numa garagem porque já fiz um espectáculo numa garagem. É aí que se descobrem pérolas”. Quando lhe pedimos uma palavra para resumir o Festival de Avignon, não hesita: “Aventura”. Mas no seu olhar percebe-se que essa aventura não é feita de impulso, antes de persistência. Não é o desvario de quem salta no escuro, mas de quem aposta no que ainda não se viu, de quem arrisca sem espetáculo e trabalha para que outros possam estar em cena. Magda Bizarro está no silêncio atento das grandes decisões deste que não é apenas um festival: é um território de possibilidades, onde o teatro continua a ser um dos lugares mais íntimos e bonitos.

A Música do Dia
No dia 14 de julho de 1789 houve a Revolução Francesa. Também é o Dia Mundial da Liberdade do Pensamento

A Música do Dia

Play Episode Listen Later Jul 14, 2025


Colunistas Eldorado Estadão
Eliane: "Se Trump 'ameaça soberania do Brasil', Lula também o fez na Argentina"

Colunistas Eldorado Estadão

Play Episode Listen Later Jul 8, 2025 18:05


As críticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao processo contra Jair Bolsonaro (PL), no Supremo Tribunal Federal (STF), são “irrelevantes” para o julgamento do ex-presidente brasileiro, na ação penal da tentativa de golpe. A avaliação é de magistrados da Suprema Corte, que falaram com a Coluna do Estadão. O tema também não vai gerar nenhuma reação do STF, que manterá silêncio sobre as declarações do governante norte-americano. A decisão foi deixar o a resposta para o ambiente político, da mesma forma como surgiu. "Houve uma espécie de acordo de que, como foi um chefe de Estado, o STF não se manifestaria. Não é uma questão Jurídica, mas Política e de Estado a Estado. A resposta brasileira foi do presidente Lula, que reafirmou que o Brasil é um país soberano. Só tem um problema: Lula acaba de ir à Argetina e visitou a Cristina Kirchner, além de se deixar fotogravar com um cartaz 'Cristina libre'. Se Trump está 'ameaçando a soberania do Brasil', o presidente brasileiro também o está na Argentina. É uma ingerência de Lula no Judiciário argentino", diz Cantanhêde.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Eliane Cantanhêde responde
"Se Trump 'ameaça soberania do Brasil', Lula também o fez na Argentina"

Eliane Cantanhêde responde

Play Episode Listen Later Jul 8, 2025 18:05


As críticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao processo contra Jair Bolsonaro (PL), no Supremo Tribunal Federal (STF), são “irrelevantes” para o julgamento do ex-presidente brasileiro, na ação penal da tentativa de golpe. A avaliação é de magistrados da Suprema Corte, que falaram com a Coluna do Estadão. O tema também não vai gerar nenhuma reação do STF, que manterá silêncio sobre as declarações do governante norte-americano. A decisão foi deixar o a resposta para o ambiente político, da mesma forma como surgiu. "Houve uma espécie de acordo de que, como foi um chefe de Estado, o STF não se manifestaria. Não é uma questão Jurídica, mas Política e de Estado a Estado. A resposta brasileira foi do presidente Lula, que reafirmou que o Brasil é um país soberano. Só tem um problema: Lula acaba de ir à Argetina e visitou a Cristina Kirchner, além de se deixar fotogravar com um cartaz 'Cristina libre'. Se Trump está 'ameaçando a soberania do Brasil', o presidente brasileiro também o está na Argentina. É uma ingerência de Lula no Judiciário argentino", diz Cantanhêde.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Gabinete de Guerra
“Houve uma reafirmação da aproximação dos EUA e Israel”

Gabinete de Guerra

Play Episode Listen Later Jul 8, 2025 7:33


Bruno Cardoso Reis admite que há um intensificar de ataques aéreos da guerra na ucrânia. O historiador diz que Israel está longe de aceitar um cessar fogo contra o Hamas. See omnystudio.com/listener for privacy information.

israel hamas houve aproxima bruno cardoso reis
Jogo Político
Eleição do PT e como nova configuração define rumo de 2026: Jogo Político #442

Jogo Político

Play Episode Listen Later Jul 7, 2025 54:16


O Partido dos Trabalhadores (PT) realizou a escolha das novas direções, de olho nas eleições do ano que vem. Houve processos disputados e turbulências internas. O episódio #442 do Jogo Político analisa o que muda para o PT com a nova configuração e as perspectivas para as eleições de 2026, quando o partido quer reeleger Elmano e Lula. O Jogo Político vai ao ar às segundas-feiras, 14 horas, e às sextas, às 13 horas#noticias #política #politico #pt #brasil #ceará #fortaleza #brasilia #governador #presidente #governo #lula deputados #lula #eleição #liveNosso programa também está disponível do O POVO+, e se você não é assinante, você pode assinar do Streaming do O POVO em https://mais.opovo.com.br/

A Música do Dia
No dia 2 de julho de 1967 houve um incêndio que destruiu a TV Record

A Música do Dia

Play Episode Listen Later Jul 2, 2025


Saúde
Como os resíduos dos medicamentos afetam o meio ambiente e a nossa saúde?

Saúde

Play Episode Listen Later Jul 1, 2025 5:14


A presença de resíduos de medicamentos nos esgotos tem sido objeto de estudos e de monitoramento há cerca de 50 anos. Com o desenvolvimento de novas tecnologias e aparelhos que permitem detectar e analisar com precisão as moléculas, tornou-se possível mapear as consequências desse tipo de poluição e seus riscos para o meio ambiente.   Pesquisas mostram que o impacto da presença de resíduos de anticoncepcionais, antibióticos, antidepressivos, analgésicos e outras drogas no meio ambiente afeta diversas regiões do mundo. A origem dessa poluição provocada pelo despejo de medicamentos na natureza é variada, explica o especialista francês Yves Lévi, professor da Faculdade de Farmácia da Universidade Paris-Saclay e membro da Academia Nacional de Medicina e da Academia de Tecnologias. “Houve alguns episódios no passado, protagonizados por grandes indústrias. Descobrimos que elas despejavam grandes quantidades de medicamentos no meio ambiente, o que ainda ocorre em vários países", analisa. Mas existe também a poluição provocada pelo uso cotidiano das moléculas, lembra o especialista. "Quando ficamos doentes, tomamos um medicamento e vamos ao banheiro, o eliminamos e ele acaba no esgoto, passando por todo o sistema de saneamento”, diz. A questão de os produtos serem ou não biodegradáveis sempre foi, acrescenta, secundária, diante de outras prioridades. Quando os cientistas descobrem uma molécula capaz de combater uma doença, “o mais importante é que ela possa tratar o paciente”, ressalta. “O ideal é que, graças à química moderna, possamos fazer com que essa substância se degrade mais facilmente. Mas essa questão nunca esteve entre as principais preocupações dos pesquisadores. Espero que, aos poucos, isso esteja mudando.” Nos últimos 15 anos, foram realizadas diversas campanhas de análise nos sistemas de tratamento de esgoto na França, diz. De acordo com o especialista, elas mostram que, quando a água é tratada, entre 80% e 90% da maioria dos resíduos dos medicamentos são eliminados. “Quando as estações de tratamento de água potável atuam sobre os poluentes, ficam apenas traços ínfimos na água”, afirma. Acúmulo de poluentes A preocupação, segundo Lévi, é o risco potencial do acúmulo de poluentes, conhecido como expossoma, que representa o conjunto de todas as exposições ambientais capazes que podem servir de gatilho para pessoas predispostas geneticamente a desenvolver certas doenças, por exemplo. “São todos os poluentes ao nosso redor, produzidos pela química moderna, que geram essas consequências”, diz. Essas consequências, afirma, dependem da molécula. Na maioria dos casos, quanto maior a dose, mais significativo será o impacto. No entanto, o especialista francês alerta que pequenas quantidades de resíduos de medicamentos também podem ter efeitos nocivos. Os disruptores endócrinos, por exemplo, podem causar sérios danos a longo prazo, mesmo em doses muito baixas. Ele lembra que algumas substâncias, como os antibióticos, atuam principalmente sobre micro-organismos, o que pode levar ao aumento da quantidade de bactérias nas plantações. Outros produtos, diz, afetam mais os insetos ou os peixes. Em todos os casos, afirma o especialista, o risco e os efeitos envolvidos no descarte desses resíduos devem continuar sendo acompanhados de perto e monitorados. “Alguns dirão que as concentrações são baixas e que o debate é inútil. Mas podemos observar os efeitos nos animais e na natureza. Outros dirão que é uma catástrofe e que todos vamos morrer, o que também é um extremo inaceitável. Precisamos ser capazes de fazer uma análise de risco, dependendo do caso, de acordo com o tipo de molécula.”

Notícia no Seu Tempo
Preço fez 69% desistirem de algum item no supermercado

Notícia no Seu Tempo

Play Episode Listen Later Jun 30, 2025 8:53


No podcast ‘Notícia No Seu Tempo’, confira em áudio as principais notícias da edição impressa do jornal ‘O Estado de S.Paulo’ desta segunda-feira (30/06/2025): Desde o início do ano, 69% dos consumidores brasileiros deixaram de levar para casa algum item por causa da inflação, informa Márcia De Chiara. Entre as alternativas para conseguir cumprir minimamente a lista de compras, 44% trocaram marcas caras por mais baratas, de acordo com levantamento Ipsos-Ipec feito a pedido do C6 Bank. Houve também corte nos volumes comprados, com 35% dos consumidores reduzindo as quantidades de café e 24% deixando de levar para casa iogurte. No caso de proteína animal, 35% trocaram carne bovina de primeira, porco ou frango por carne de segunda. Apesar de a inflação da comida começar a dar sinais de trégua, a pesquisa mostra que essa mudança nos preços ainda não foi sentida pela população em geral. Em 12 meses, a inflação de alimentos e bebidas acumula alta de 6,94%, segundo o IPCA-15. E mais: Economia: Ovo volta para o carrinho do consumidor após forte alta Política: Bolsonaro faz menor ato na Paulista desde que deixou o governo Metrópole: Cidades brasileiras fazem corrida para ter sua ‘Times Square’ Esportes: Flamengo abusa dos erros e sucumbe diante do Bayern See omnystudio.com/listener for privacy information.

Pausa Técnica
O rescaldo do Draft

Pausa Técnica

Play Episode Listen Later Jun 28, 2025 93:39


No episódio de hoje, o Cyrille Aloísio e o Cristiano Pinto receberam o António Dias, comentador da FPBtv e analista de Draft para falar de tudo o que se passou na noite do Draft da NBA.Falou-se das principais surpresas e destaques da primeira ronda do Draft, bem como dos vencedores e derrotados desta noite.Houve ainda espaço para comentar a troca de Porzingis para os Atlanta Hawks, sendo que desta maneira os Boston Celtics saíram da second apron, algo muito importante para o longo prazo da franquia de Boston.

Vamos Falar de FUm
Vamos Falar de Wrestling: December (not) to Remember

Vamos Falar de FUm

Play Episode Listen Later Jun 28, 2025 169:05


O Bruno Tomás, o Gonçalo Ferreira, o Gil Caçoilo, e o Francisco "Kiko" Duarte, analisaram a semana da WWE com destaque para a pipebomb do John Cena. Houve ainda espaço para a revisão do December to Dismember 2006 (sugestão da comunidade) e previsões para o Night of Champions. Onde falamos apaixonadamente de Wrestling! Podem participar no Grupo do WhatsApp do Vamos Falar de Wrestling aqui: https://chat.whatsapp.com/BqunYaY9WCPBmAV8PdtVAE Podcast: https://linktr.ee/VFF1 Patreon: https://www.patreon.com/vff1 Twitter: https://twitter.com/VamosFalardeFum Instagram: https://www.instagram.com/vamosfalardefum Substack Vamos Escrever de FUm: https://vff1.substack.com/ Canal de WhatsApp: https://whatsapp.com/channel/0029VaDuq7KId7nTEUhbWq3R Grupo de WhatsApp: https://chat.whatsapp.com/JrIbkrCcvvr4WLbYyhdKoO Subscreve o canal e apoia o Vamos Falar de FUm: https://www.youtube.com/channel/UCWgzFlfQqhYlRxfATnL2cjg/join Subscreve o canal e apoia o Vamos Falar de FUm: https://www.youtube.com/channel/UCWgzFlfQqhYlRxfATnL2cjg/join

Convidado
As histórias dos que combateram na Guiné pela independência também em Cabo Verde

Convidado

Play Episode Listen Later Jun 26, 2025 20:17


Nos 50 anos da independência de Cabo Verde, a RFI publica e difunde várias reportagens sobre este tema. Neste terceiro episódio, fomos à procura de antigos combatentes que agarraram nas armas na Guiné para obter a independência dos dois territórios: Guiné e Cabo Verde. As armas, as formações, as viagens, as frentes de batalha e os momentos históricos decisivos, como a tomada de Guilege, são aqui contados por Pedro Pires, Silvino da Luz, Osvaldo Lopes da Silva e Amâncio Lopes. A 5 de Julho de 1975, no Estádio da Várzea, na cidade da Praia, era hasteada a primeira bandeira de Cabo Verde. O país obtinha a sua independência, sem ter tido luta armada nas suas ilhas. Houve planos para o fazer, mas acabaram por não se concretizar, o que levou os cabo-verdianos a agarrarem em armas e a irem lutar pela independência nacional a partir do continente africano, contribuindo também para a libertação do povo guineense. O combate foi liderado por Amílcar Cabral, sob a bandeira da “unidade e luta”, no seio do PAIGC, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde. Foi esta aliança que se revelou determinante para escrever a história contemporânea de Cabo Verde, considera o comandante e destacado dirigente político-militar do PAIGC, Pedro Pires, lembrando, por exemplo, o papel decisivo dos artilheiros cabo-verdianos nas matas da Guiné. “Sem o PAIGC ou sem essa aliança entre Guiné e Cabo Verde, a independência de Cabo Verde seria complicada. Isso, em certa medida, permitiu as vitórias ou a vitória final, se quiser dizer isso, na Guiné. A introdução dos artilheiros cabo-verdianos acrescentaram um pouco, melhoraram a capacidade da artilharia que era a arma que fustigava mais os quartéis e podia destruir os quartéis. Essa chegada e introdução dos artilheiros cabo-verdianos foi um factor de mudança. Um factor de mudança favorável à melhoria das capacidades das Forças Armadas do PAIGC”, testemunha Pedro Pires. A guerra na Guiné tinha começado em 1963. Nesse ano, esboça-se um projecto para desencadear também a luta armada em Cabo Verde, mas perante a suspensão do desembarque de guerrilheiros treinados em Cuba e depois de mais formação militar na antiga União Soviética, os cabo-verdianos entram realmente em cena na Guiné em 1969 e vários participam na tomada de Madina do Boé. O comandante de artilharia Osvaldo Lopes da Silva considera que “o quadro se altera completamente” com a entrada da artilharia nas mãos dos cabo-verdianos. Ele estava a estudar na Universidade de Coimbra, quando, em 1961, juntamente com Pedro Pires e tantos outros, fugiu de Portugal para se ir juntar a Amílcar Cabral e à luta independentista. Continuou os estudos em Moscovo e ingressou na luta armada como comandante de artilharia, depois de se ter formado em manejo de mísseis terra-terra GRAD. “Um guerrilheiro podia facilmente transportar o tripé, um outro transportava o tubo e mesmo o míssil era decomposto: a parte explosiva e a parte propulsora. Até 1968, a manobra da parte inimiga foi ocupar o terreno, ou seja, dispersou as suas forças e a missão principal do dispositivo português era garantir os quartéis. Já com o general Spínola, um militar mais evoluído, ele cria forças de intervenção. Já não era só a defesa dos quartéis, mas forças que tentaram recuperar o terreno. É nessa altura que foi importante a presença de mísseis para neutralizar a acção do Spínola, com grande utilização de helicópteros, maior mobilidade, mas o quadro alterou-se completamente com a entrada da artilharia já nas mãos dos cabo-verdianos”, conta Osvaldo Lopes da Silva. O governador António de Spínola tinha entrado na Guiné em fins de Maio de 1968 para conter o avanço do PAIGC e, de facto, dificultou muito as coisas. O PAIGC estava numa fase de desgaste militar e psicológico, algo que se vai arrastar até ao assassínio do seu líder, Amílcar Cabral, em Janeiro de 1973. Spínola utiliza meios militares e psico-sociais, consegue um aumento do efectivo militar e acentua a africanização da tropa com a incorporação de elementos guineenses nas fileiras do exército português. Além disso, acentuou as manobras de acção psicológica contra os guerrilheiros e a população ao contra-atacar a aceitação do PAIGC junto da população com o plano que chamou “Por uma Guiné melhor” e que consistiu em tentar conquistar o apoio dos habitantes com postos sanitários, escolas, apoio aos camponeses, Congressos do Povo, etc. Amâncio Lopes fez parte do grupo de 31 cabo-verdianos formado em Cuba, entre 1967/68, para um desembarque em Cabo Verde, mas perante o adiamento do projecto, acaba por ir para a União Soviética formar-se em artilharia e vai participar na luta armada na Guiné. Ele recorda-se do poder dissuasivo dos mísseis GRAD soviéticos e sublinha que o objectivo era levar o seu compromisso até ao fim, sabendo que o contributo na Guiné seria também para a libertação de Cabo Verde. “Cabral dizia: ‘Nós vamos utilizar essa arma para demonstrar ao inimigo que podemos fazer mal, mas não vamos fazer mal porque os portugueses estão no meio da nossa população e se procurarmos fazer mal aos portugueses vamos fazer mal também à nossa população'. Para ver o conceito do homem, o pensador, o dirigente, ele dizia: ‘Nós vamos tomar a nossa terra e ser nação com a nossa gente e, portanto, não vamos destruir a nossa gente”, conta Amâncio Lopes. Questionado sobre se não era estranho estar a combater em solo estrangeiro pela independência de Cabo Verde, o combatente responde que depois de ter sido mobilizado na emigração e de ter perdido o estatuto de emigrante, tinha de cumprir o “compromisso até ao fim” e que esteve na Guiné “por convicção, não por valentia”. Por maior que seja a convicção, a guerra deixa marcas para sempre. O comandante Silvino da Luz não esquece os horrores da luta armada. Por exemplo, na sua primeira missão na Guiné, em que foi “encarregado de continuar o fustigamento à volta do quartel de Madina Boé”, viu três companheiros “amputados para vida” num terreno minado. Noutra altura, viu um camarada morrer ao ser atingido por uma bala na cabeça mesmo ao seu lado… Arriscar a vida era o preço a pagar para ver Cabo Verde e a Guiné livres do jugo colonial. A chegada dos cabo-verdianos correspondeu à passagem da luta armada “a uma fase superior” na Guiné, considera também Silvino da Luz, que tinha tido formação em guerrilha na Argélia, depois nova preparação na China e, em 1966, foi incluído no grupo de cabo-verdianos que em Cuba se preparou para um eventual desembarque em Cabo Verde. Conta que, depois, continuou formação militar na antiga União Soviética e entrou na Guiné. “Entrámos na luta armada para a passagem da luta na Guiné a uma fase superior que viria a terminar com o que originou grandemente o afastamento de Spínola, o governador da Guiné. Caíram três campos fortificados em operações dirigidas na artilharia por cabo-verdianos. Os portugueses chamam a isso “os três G”: Guilege, Gadamael e Guidage”, acrescenta Silvino da Luz. Guilege foi determinante na história da luta de libertação, confirma Osvaldo Lopes da Silva. Ele tinha frequentado um curso de marinha para uma tripulação de cabo-verdianos na Escola Naval de Odessa. Depois, liderou um grupo de militantes na Marinha Nacional Popular que aí se sentiram hostilizados por elementos guineenses e o projecto de formar uma marinha de guerra com cabo-verdianos não se concretizou. O grupo foi disperso e Osvaldo Lopes da Silva confrontou o secretário-geral do PAIGC, Amílcar Cabral, sobre o que pretendia fazer relativamente a Cabo Verde. “Esse grupo que veio já não foi utilizado na Marinha. Fomos dispersos e eu era um quadro qualificado da artilharia e Cabral põe-me o problema: ‘Tu, o que é que queres, ao fim e ao cabo?' E eu digo: ‘Eu quero é regressar ao mato, não quero ficar em Conacri. Para mim é a artilharia, se não é possível trabalhar na Marinha e a Marinha como está não é possível.' Ele traz o mapa e diz: “Estás a ver esse quartel? Esse é o quartel mais fortificado da Guiné.' Eu digo que ‘sou capaz de destruir qualquer quartel que ele me indicar.' E ele: ‘Podes destruir Guilege? É mesmo fortificado, é rodeado por uma mata densa'. Eu disse: ‘Posso destruir. Desde que eu tenha tempo e meios suficientes, eu destruo', afirma. Osvaldo Lopes da Silva sublinha que depois de Guilege “surge o movimento do 25 de Abril porque havia a ameaça de derrocada militar”. A tomada de Guilege, em Maio de 1973, foi realmente um momento decisivo graças à utilização de misseis antiaéreos portáteis Strella 2. No fundo, ditaram o fim da supremacia aérea das Forças Armadas Portuguesas, resume Pedro Pires, responsável pela logística da operação, sublinhando que outro momento importante no conflito armado foi a visita do Comité de Descolonização da ONU às regiões libertadas, em Abril de 1972.  “Um sucesso político extraordinário, num quadro de guerra, em que o próprio sucesso foi uma operaçao mais ou menos militar foi a missão das Nações Unidas à Guiné em Abril de 1972. Ao realizar ou permitir a realização dessa missão com sucesso, abriram-se possibilidades políticas enormes”, descreve Pedro Pires que, entre 1968 e 1974, esteve integrado nas estruturas político-militares do PAIGC, na frente da Guiné, e exerceu elevadas responsabilidades nos planos político e militar, como membro do Comité Executivo da Luta e do Conselho de Guerra e como Comandante de Região Militar. “A possibilidade militar que veio facilitar tudo isso começou quando pudemos utilizar os mísseis antiaéreos portáteis Strella 2. Isso teria sido o momento decisivo de facto, em Abril, Maio de 1973. Foi o momento decisivo em que as nossas forças abateram três ou quatro aviões MiG, os melhores que a aviação portuguesa possuía na Guiné. E dos momentos mais terríveis para as Forças Armadas Portuguesas foi quando foi derrubado o avião do chefe de Estado-Maior da aviação ou comandante da aviação militar na Guiné. A mudança que teve lugar é a seguinte: se antes era lançar o ataque e fugir para não ser surpreendido pela aviação, a partir daí passámos a lançar o ataque e a permanecer porque a aviação já não tinha capacidade para liquidar ou provocar baixas às nossas forças. E os aviadores passaram a ter medo da arma. O aviador tinha medo da arma, os pilotos de helicóptero tinham medo da arma, era impossível fazer a evacuação de feridos de helicóptero. A situação ficou complicada porque limitou grandemente, ou de sobremaneira, a mobilidade e a capacidade aérea das Forças Armadas Portuguesas”, acrescenta o comandante que viria a ser Presidente de Cabo Verde entre 2001 e 2011. Esta foi uma importante vitória política e militar, pouco tempo depois do assassínio de Amílcar Cabral, a 20 de Janeiro de 1973, em Conacri. Em Fevereiro de 1973, os membros do Conselho Executivo da Luta e do Conselho Superior da Luta do PAIGC tinham intensificado a luta armada em todas as frentes e avançado com a Operação Amílcar Cabral, tendo justamente um dos momentos culminantes sido a tomada de Guilege, em Maio de 1973, e a proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau, a 24 de Setembro de 1973. Embalado pelas vitórias de 1973, o PAIGC sabia que tinha conseguido o fim do domínio aéreo e da liberdade de acção portuguesas. Marcello Caetano não aceitava qualquer cedência política e deu ordens para “resistir até à exaustão de meios”, o que levaria à Revolução dos Cravos. Para Amâncio Lopes, a melhor missão foi a 25 de Abril de 1974. “Para mim, a maior missão que eu tive na Guiné foi o 25 de Abril porque fomos lá com GRAD, nessa altura já fazíamos missão durante o dia porque já tínhamos recebido os Strella. Eram 11 horas, lembro-me. Quando voltávamos, recebemos a notícia que os portugueses tinham dado golpe de Estado. Isso não nos disse nada porque com os portugueses ninguém fazia cálculo de nada, mas tivemos mais ou menos uma percepção porque foi dado um golpe de Estado. Enquanto a guerra está andando, o combatente, principalmente o artilheiro, não tem percepção de qual é a melhor missão, pode considerar a missão que fez mais estragos, mas não prevê o fim. Por isso, a melhor missão é aquela que é feita no fim”, conclui Amâncio Lopes.   Esse “fim” seria o início da abertura das negociações para a independência de Cabo Verde que resultaria na proclamação da “República de Cabo Verde como Nação Independente e Soberana”, a 5 de Julho de 1975.   Pode ouvir aqui as entrevistas integrais feitas aos diferentes convidados.

Zoom
Onde Pára o Caso. Guru do Yoga em preventiva há quase dois anos por crimes sexuais

Zoom

Play Episode Listen Later Jun 26, 2025 23:23


Georgian Bivolaru era procurado pela Interpol e foi apanhado em Paris. Autoridades dizem ao Observador que investigação ainda decorre. Mais de 40 pessoas foram presas. Houve vítimas portuguesas.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Reportagem Observador
Guru do Yoga em preventiva há quase dois anos por crimes sexuais

Reportagem Observador

Play Episode Listen Later Jun 26, 2025 23:23


Georgian Bivolaru era procurado pela Interpol e foi apanhado em Paris. Autoridades dizem ao Observador que investigação ainda decorre. Mais de 40 pessoas foram presas. Houve vítimas portuguesas.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Entrevistas Jornal Eldorado
Base de Lula no Congresso ajuda a derrubar aumento do IOF: como fica o governo? Ouça análise

Entrevistas Jornal Eldorado

Play Episode Listen Later Jun 26, 2025 18:23


A Câmara e o Senado derrubaram ontem o decreto do governo que elevava alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Na Câmara, a sustação da medida passou com 383 votos a favor e 98 contra. O Palácio do Planalto foi pego de surpresa pelo anúncio do presidente da Casa, Hugo Motta, de que colocaria o tema em votação. Pouco mais de uma hora depois, o Senado também aprovou o projeto, em votação simbólica. Ainda na noite de ontem, senadores e deputados concluíram a apreciação da proposta que aumenta o número de deputados federais de 513 para 531. O projeto vai à sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A expansão do número de cadeiras na Câmara vai resultar em uma despesa anual extra de R$ 64,8 milhões, além de gerar efeito cascata nas Assembleias Legislativas. Em entrevista à Rádio Eldorado, o cientista político Bruno Silva, um dos diretores do Movimento Voto Consciente, apontou um maior nível de dificuldades na relação do governo Lula com o Congresso, apesar da liberação de pagamentos de emendas parlamentares. “Houve mudança nas moedas de troca. É um Congresso fortalecido, que avança sobre fatias cada vez mais expressivas do Orçamento”, afirmou.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Convidado
50 anos da independência: Por que não houve luta armada em Cabo Verde?

Convidado

Play Episode Listen Later Jun 26, 2025 24:30


Nos 50 anos da independência de Cabo Verde, a RFI publica e difunde várias reportagens sobre este tema. Neste segundo episódio, falámos com antigos combatentes que se prepararam para a luta armada em Cabo Verde através de formações político-militares na Argélia, em Cuba e na antiga União Soviética. Foi planeado um desembarque no arquipélago, mas Cabo Verde acabaria por chegar à independência sem guerrilha no seu território e os cabo-verdianos foram lutar para as frentes de combate na Guiné e também na clandestinidade. Participaram, ainda, em batalhas políticas, de saúde, de formação e de informação. Nesta reportagem, ouvimos Pedro Pires, Silvino da Luz, Osvaldo Lopes da Silva, Maria Ilídia Évora, Amâncio Lopes e Alcides Évora. A 5 de Julho de 1975, depois de cinco séculos de dominação portuguesa, às 12h40, era oficialmente proclamada a independência de Cabo Verde por Abílio Duarte, presidente da Assembleia Nacional Popular, no Estádio Municipal da Várzea, na Praia.   A luta tinha começado há muito e acabaria por ser o PAIGC, Partido Africano da Independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, a consolidar os anseios nacionalistas e a conduzir o arquipélago à independência, quase dois anos depois de a Guiné-Bissau se ter autoproclamado independente. O líder da luta e do partido, Amílcar Cabral, nascido em Bissau e filho de cabo-verdianos, não pôde assistir nem a uma nem a outra por ter sido assassinado em Janeiro de 1973. Considerado como o pai das duas independências, Amílcar Cabral defendeu, desde o princípio, o lema da “unidade e luta”: unir esforços para combater o inimigo comum que era o colonialismo português. No programa, ancorado numa concepção pan-africana de unidade política para o continente, estava a luta pela independência da Guiné e de Cabo Verde e a futura união dos dois Estados, separados por mar alto. Mas ao contrário da Guiné, em Cabo Verde a luta nunca chegou a ser armada, ainda que a intenção tenha estado em cima da mesa. Foi em Julho de 1963, na cidade de Dacar, numa reunião de quadros nacionalistas do PAIGC, que Pedro Pires chegou a dizer não ter cabimento “falar em luta de libertação nacional sem falar em luta armada”. O comandante e destacado dirigente político-militar do PAIGC tinha "dado o salto" em 1961 quando integrou o grupo de dezenas de jovens africanos que abandonou, clandestinamente, Portugal, rumo à luta pela independência.  Mais de meio século depois, com 91 anos, o comandante da luta de libertação recebe a RFI no Instituto Pedro Pires para a Liderança, na cidade da Praia, e recorda-nos o contexto em que se decidiu que o recurso à luta armada “era obrigatório” e como é que ele esteve ligado à preparação da luta em Cabo Verde. “A questão da luta armada, colocámos a seguinte questão: ‘Será obrigatório?' Chegámos à conclusão que era obrigatório. Tinha que se ir nessa direcção por causa daquilo que já tinha acontecido porque não é uma questão de qualquer coisa por acontecer, mas a violência já tinha acontecido em Angola, no Congo Kinshasa, na Argélia, de modo que estávamos obrigados a pensar nessa via. É assim que nós abraçamos o projecto do PAIGC de prepararmo-nos e organizarmos o recurso à violência armada. As tarefas que me foram conferidas no PAIGC estiveram, até 1968, sempre ligadas a Cabo Verde e à preparação da possibilidade da luta armada em Cabo Verde”, conta Pedro Pires [que se tornaria o primeiro primeiro-ministro de Cabo Verde (1975-1991) e, mais tarde, Presidente do país (2001-2011)]. E era assim que, meses depois do anúncio do início das hostilidades pelo PAIGC contra o exército português no território da Guiné, se desenhava a intenção de desencadear também a luta armada em Cabo Verde. A Pedro Pires foi confiado o recrutamento e a preparação política dos combatentes. A ajudá-lo esteve Silvino da Luz que, meses antes, tinha desertado do exército português e sido preso em Kanu, na Nigéria. Aos 86 anos, Silvino da Luz recebe a RFI em sua casa, na cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente e explica-nos por que é que a acção militar em Cabo Verde era necessária. “A grande decisão tomada em 1963, nessa reunião de Dacar, da qual eu saio como um dos responsáveis militares, era a criação de condições para desencadear a luta armada em Cabo Verde porque estávamos absolutamente seguros que os colonialistas, e Salazar em particular, não aceitariam nunca largar as ilhas que já estavam nos radares da NATO que considerava Cabo Verde e Açores como os dois pontos cruciais para a defesa do Ocidente e no Atlântico Médio eram indispensáveis”, explica Silvino da Luz que foi, depois, comandante das Forças Armadas Revolucionarias do Povo (FARP), ministro da Defesa e Segurança (1975-1980) e dos Negócios Estrangeiros (1980-1991) e depois deputado até 1995. Começou a pensar-se num desembarque de elementos do PAIGC no arquipélago e houve preparação de combatentes na Argélia, em Cuba e na antiga União Soviética. O grupo dos militantes nacionalistas, encabeçado por Pedro Pires, preparou-se na clandestinidade total em Cuba, durante dois anos, e é aqui que nascem as Forças Armadas cabo-verdianas, a 15 de Janeiro de 1967, data em que os cabo-verdianos prestam, perante Amílcar Cabral, o juramento de fidelidade à luta de libertação de Cabo Verde. No grupo de Cuba, havia apenas uma mulher, Maria Ilídia Évora, conhecida como Tutu. Aos 89 anos, recebe a RFI em sua casa, no alto de São Nicolau, no Mindelo. À entrada, destacam-se duas fotografias de Amílcar Cabral, mas há ainda muitas fotografias que ela nos mostra dos tempos da formação político-militar em Cuba. Foi em Dacar, onde estava emigrada, que Tutu conheceu Amílcar Cabral e aderiu logo à luta.  “Foi ideia de Cabral. Disse que eu tinha de participar. Em Cuba, os treinos eram de tiro, esforço físico, correr, fazer ginástica, fazer marchas, aprender a lidar com a arma, limpar as armas, e escola também. Tinhamos aulas de matemática e várias aulas porque no grupo havia estudantes que tinham fugido da universidade, eles tinham mais conhecimento do que nós e partilhavam os conhecimentos deles com quem tinha menos”, revela, acrescentando que um camarada lhe disse um dia que “muitas vezes os homens queriam desistir, mas tinham vergonha porque tinham uma mulher no grupo”. Também Alcides Évora, conhecido como “Batcha”, esteve no grupo de Cuba. Entrou na luta pela mão do comandante Pedro Pires, depois de ter estado emigrado em França durante pouco mais de um ano. Viajou para a Argélia e, passados uns meses, seguiu para o treino militar em Cuba. É na Fundação Amílcar Cabral, na Praia, que, aos 84 anos, ele recorda essa missão à RFI. “Nós tivemos uma preparação político-militar intensa. Tivemos aulas militares e também havia aulas de política para complementar o nosso curso. A nossa preparação era para desencadear a luta em Cabo Verde, mas não se efectivou o nosso desembarque porque com a morte do Che Guevara na Bolívia, os americanos passaram a controlar todos os barcos que saíam de Cuba. Então, o Fidel mandou chamar o Amílcar e eles depois chegaram à conclusão que realmente não era aconselhável esse desembarque”, afirma Alcides Évora depois de nos fazer a visita guiada às salas da fundação, onde também se vê uma fotografia dele no escritؚório do PAIGC em Conacri. O desembarque estava a ser preparado no maior dos segredos e estava tudo pronto. Amâncio Lopes, hoje com 86 anos, era também um dos membros do grupo. Tinha sido recrutado junto dos emigrantes cabo-verdianos da região francesa de Moselle, onde se encontrava a trabalhar como operário na siderurgia. Amâncio Lopes começou por receber formação em Argel e depois foi para Cuba. “Era um grupo de 31 que foi maioritariamente recrutado na Europa, em Moselle, no seio da emigração. De lá, recebi preparação militar em Argel, depois fomos reunidos em Cuba porque havia dois grupos. Passados os seis meses de instrução, fomos reunidos todos em Cuba. Foram uns dois anos. Era uma preparação inicial e depois recebíamos ajuda para desembarcar em Cabo Verde. Quando já estávamos preparados para desembarcar em Cabo Verde, Cabral fez uma visita e nessa visita fizemos o juramento em 1967”, recorda Amâncio Lopes, quando recebe a RFI na sua casa, na periferia de Mindelo. Ao fim de quase dois anos de treinos e formação político-militar, o grupo de Cuba encontrava-se pronto para a operação de desembarque. Amílcar Cabral desloca-se a Havana para dar instruções e procede-se ao juramento solene da bandeira, a 15 de Janeiro de 1967, mas a morte de Che Guevara na Bolívia, a 8 de Outubro de 1967, é uma das razões que leva à suspensão da operação. Silvino da Luz recorda que estava tudo a postos. “O assunto foi tratado sempre no máximo sigilo, as informações não escapavam. Tínhamos desaparecido do mundo, as pessoas não sabiam, vivíamos em plena clandestinidade em Cuba, lá pelas montanhas interiores da ilha, em acampamentos com bastante segurança. Recebemos preparação militar bastante avançada. Depois, já tínhamos terminado a preparação, Fidel já se tinha despedido de nós, tinha oferecido uma espingarda a cada um de nós, Amílcar já se tinha despedido, mas houve uma série de desastres que aconteceram, como a queda do Che [Guevara] na Bolívia, uma tentativa de infiltração de revolucionários na Venezuela (…) Nós já estávamos no barco à espera da ordem de partida, mas cai o Che, houve essas infelicidades, o cerco à volta de Cuba aumentou, os americanos quase fecharam a ilha e não havia possibilidade de nenhum barco sair sem ser registado. Naturalmente que, para nós, sair era quase que meter a cabeça na boca do lobo”, relembra Silvino da Luz. Também o comandante Pedro Pires admite que “quando se é jovem se pensa em muitas coisas, algumas impossíveis” e o desembarque era uma delas, pelo que se optou por um “adiamento” e por "criar as condições políticas para continuar a luta". “Quando se é jovem, pensa-se em muitas coisas, algumas possíveis e outras impossíveis. Concebemos um projecto, pusemos em marcha a criação das condições para a concretização do projecto, mas verificou-se que era complicado de mais. Uma das características das lutas de libertação e, sobretudo, das guerrilhas, é a problemática da retaguarda estratégica. Em relação a Cabo Verde, em pleno oceano, não há retaguarda estratégica e você vai desenrascar-se por si. É preciso analisar as condições reais de sustentabilidade dessa ideia, se era possível ou não possível. O nosso apoiante mais entusiasta ficava nas Caraíbas, a milhares de quilómetros de distância, não serve de retaguarda, a não ser na preparação, mas o apoio à acção armada ou possivelmente outro apoio pontual era muito difícil. Por outro lado, o que nos fez reflectir bastante sobre isso foi o fracasso do projecto de Che Guevara para a Bolívia”, explica. Adiado o projecto inicial, os cabo-verdianos continuaram a formação e foram para a União Soviética onde receberam formação de artilharia, algo que viria a ser decisivo para a entrada deles na luta armada na Guiné. Amâncio Lopes também foi, mas admite que sentiu “uma certa tristeza” por não ver concretizado o desembarque em Cabo Verde. “Éramos jovens e todos os jovens ao entrarem numa aventura destas querem ver o programa cumprido. Mas o programa tem de ser cumprido sem risco suicida. Em Cuba fizemos preparação política e de guerrilha mas, depois, na União Soviética, já fizemos preparação semi-militar. (…) Os soviéticos foram taxativos: vocês têm um bom grupo, grande grupo, consciente do que quer, mas metê-los em Cabo Verde é suicidar esse grupo. Então, ali avisaram-nos que já não íamos desembarcar em Cabo Verde. Aí ficámos numa certa tristeza porque em Cuba tínhamos a esperança de desembarcar, na União Soviética durante quase um ano também tínhamos essa esperança, mas depois perdemos a esperança de desembarcar em Cabo Verde”, diz Amâncio Lopes. Entretanto, entre 1971 e 1972, houve também um curso de marinha para uma tripulação de cabo-verdianos que deveria vir a constituir a marinha de guerra do PAIGC. O grupo era chefiado por Osvaldo Lopes da Silva que considera que se o projecto tivesse avançado, teria sido decisivo, mas isso não foi possível devido à animosidade que se sentia da parte de alguns militantes guineenses contra os cabo-verdianos. “Da mesma maneira que os cabo-verdianos entraram para a artilharia e modificaram o quadro da guerra, Cabral pensou: ‘Vamos criar uma unidade com cabo-verdianos, aproveitar os cabo-verdianos que havia, concentrá-los na marinha para ter uma marinha de guerra. Eu estive à frente desse grupo. Esse grupo se tivesse entrado em acção seria para interceptar as ligações entre a metrópole e Cabo Verde e a Guiné e as outras colónias. Seria uma arma letal. Da mesma maneira que a entrada dos mísseis anti-aéreos imobilizou completamente a aviação, a entrada dos cabo-verdianos na marinha com as lanchas torpedeiras teria posto em causa a ligação com a metrópole. Podíamos mesmo entrar em combate em território da Guiné e afundar as unidades que os portugueses tinham que não estavam ao nível do armamento que nós tínhamos”, explica. Então porque não se avançou? A resposta de Osvaldo Lopes da Silva é imediata: “As unidades estavam ali, as lanchas torpedeiras, simplesmente não havia pessoal qualificado. Nós é que devíamos trazer essa qualificação. Quando esse meu grupo regressa em 1972, o ambiente na marinha estava completamente degradado. O PAIGC tinha uma marinha e é nessa marinha que foi organizado todo o complô que veio dar lugar à morte de Cabral.”  A análise retrospectiva é feita em sua casa, no bairro do Plateau, na Praia, onde nos mostra, aos 88 anos, muitas das fotografias dos tempos da luta, quando também foi comandante das FARP, e imagens de depois da independência, quando foi ministro da Economia e Finanças (1975-1986) e ministro dos Transportes, Comércio e Turismo (1986-1990). Houve, ainda, outras tentativas de aproximação de guerrilheiros a Cabo Verde. O historiador José Augusto Pereira, no livro “O PAIGC perante o dilema cabo-verdiano [1959-1974]”, recorda que a URSS, em 1970, cedeu ao PAIGC um navio de pesca de longo alcance, o 28 de Setembro, que reunia todo o equipamento necessário ao transporte e desembarque de homens e armamento. A luta armada no arquipélago não estava esquecida e no final de 1972 foram enviados a Cuba dois militantes provenientes de Lisboa que deveriam ser preparados para desencadear, em Cabo Verde, ações de guerrilha urbana. Um deles era Érico Veríssimo Ramos, estudante de arquitectura em Lisboa e militante do PAIGC na clandestinidade, que sai de Portugal em Dezembro de 1972 em direcção a Cuba. “Em Dezembro de 1972, saio de Portugal com um passaporte português, vou para Cuba receber preparação para regressar para a luta. Não estava ainda devidamente estruturada essa participação para depois dessa formação. Fui eu e mais um outro colega e mais um elemento que veio da luta da Guiné-Conacri. Quando Amílcar Cabral foi assassinado, nós estávamos em Cuba e, logo a seguir, tivemos de regressar”, conta. De facto, o assassínio de Amílcar Cabral a 20 de Janeiro de 1973 levou à saída da ilha dos activistas por ordem das autoridades de Havana. Entretanto, combatentes cabo-verdianos tinham integrado as estruturas militares da luta armada na Guiné, mas sem abandonarem a ideia de um lançamento futuro da luta armada em Cabo Verde. Porém, isso acabaria por não acontecer. Apesar de a luta armada não se ter concretizado em Cabo Verde, a luta política na clandestinidade continuou nas ilhas e a PIDE apertou bem o cerco aos militantes. Muitos foram parar ao Tarrafal e a outras prisões do “Império”, onde também houve resistência. Os cabo-verdianos destacaram-se na luta armada na Guiné, mas também noutras frentes de batalha como a propaganda, a educação, a saúde, a diplomacia e muito mais. Sobre alguns desses temas falaremos noutros episódios desta série. Pode também ouvir aqui as entrevistas integrais feitas aos nossos convidados.

Fact Check
Onde Pára o Caso. Guru do Yoga em preventiva há quase dois anos por crimes sexuais

Fact Check

Play Episode Listen Later Jun 26, 2025 23:23


Georgian Bivolaru era procurado pela Interpol e foi apanhado em Paris. Autoridades dizem ao Observador que investigação ainda decorre. Mais de 40 pessoas foram presas. Houve vítimas portuguesas.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Convidado
Clandestinidade: a frente esquecida na luta de libertação de Cabo Verde?

Convidado

Play Episode Listen Later Jun 26, 2025 20:03


Nos 50 anos da independência de Cabo Verde, a RFI publica e difunde várias reportagens sobre este tema. Neste quarto episódio, fomos à procura de pessoas que se dedicaram à luta na clandestinidade, algo que continua a ser uma das frentes menos visíveis na luta de libertação de Cabo Verde. Para conhecermos o trabalho feito nas ilhas, mas também na diáspora, as técnicas para ludibriar a polícia política, assim como as experiências daqueles que a PIDE prendeu nos "cárceres do Império", conversámos com Óscar Duarte, Gil Querido Varela, António Pedro da Rosa, Marline Barbosa Almeida, Adão Rocha e Manuel Faustino. Foi no ano 2000, na cidade da Praia, que os Tubarões Azuis conquistaram a X Edição da Taça Amílcar Cabral, talvez a mais importante vitória da selecção de Cabo Verde. A prova, com o nome do líder da luta pela independência, foi conquistada quando os jogadores eram treinados por Óscar Duarte, um nome que ficou conhecido no futebol português nos finais da década de 70: foi campeão pelo FC Porto em 1979 e chegou a vestir a camisola das Quinas no Parque dos Príncipes, em Paris, em 1978. Antes disso, Óscar Duarte tinha travado uma outra luta, a da libertação de Cabo Verde, o que o levou a estar preso quase dois anos no campo de São Nicolau em Angola, depois de ter passado pelo Tarrafal, da ilha de Santiago, e por Caxias, em Portugal. “Era das piores prisões que havia na era colonial. Quando a pessoa - para eles - cometesse qualquer erro, surravam nas pessoas. A mim também me bateram. Eu sou técnico agrícola e ao trabalhar na agricultura, se tirasse qualquer produto da agricultura batiam-me. Utilizavam esses dois utensílios: palmatória e chicote. Sabe o que é uma pessoa levar às vezes 200 palmatoadas na mão? Quando a mão incha, as veias ficam ensanguentadas. E batiam no rabo com a palmatória. Portanto, houve muita gente que morreu assim. Eu, durante o tempo que lá estive, uma vez houve um problema qualquer e - como era uma prisão natural, não havia prisão lá dentro - eu estive quase três meses numa cela com cinco palmos de comprido, três de largo. Eu sentava-me, esticava a perna e ocupava aquilo tudo. Era sempre escuro, onde fazia as minhas necessidades é que tinha de abrir a torneira também para beber e havia uma refeição por dia”, conta. Essa cela era a “frigideira durante o verão” e “frigorífico na época de cacimbo que é o frio”. “Durante esse tempo que estive na frigideira ou no frigorífico, era uma refeição por dia. Era só o pequeno almoço, fuba, um bocadinho de amendoim e uma chávena de café preto. Depois a pessoa ia perdendo peso. Houve muita gente que foi à loucura. Eu aguentei, mas houve muita gente que morreu por lá. E depois havia uma outra agravante, que era que quando iam buscar uma pessoa à noite, dificilmente apareciam. Matavam-nas”, recorda Óscar Duarte. Era preciso resistir para sobreviver. Resistir à "frigideira" ou "frigorífico", aos espancamentos, à fome, aos trabalhos forçados, à loucura. Óscar Duarte viu muita gente morrer. Um dia, um prisioneiro que tinha tentado fugir foi crucificado para todos verem. Mas Óscar Duarte resistiu. A dada altura, foi transferido do Campo de São Nicolau para o Campo da Foz do Cunene e também aí continuou a resistir e até a jogar à bola, entre lacraus, cobras e jacarés. “Tínhamos de trabalhar todos os dias, era deserto e tal, a temperatura era quase de 50 graus. Hoje, abríamos vala, amanhã tapávamos. Cortávamos pedra, depois arrumávamos. Só para ocupar tempo. Era um castigo. E depois tínhamos muito receio porque não tínhamos sequer uma aspirina, um vidro de álcool. Nada disso. E havia lá muito lacrau, se o lacrau picar uma pessoa é terrível porque tem veneno. Havia lacrau, havia cobras, havia tudo isso. Havia lá um rio e nós fizemos lá alguma agricultura com o limo do rio, misturámos com a terra e tirávamos sempre qualquer coisa. Às vezes íamos para o rio jogar a nossa bola e  jacarés com quatro metros e tal! Uma pessoa se se distrai, até podia ser apanhado pelo jacaré!”, lembra. Criado em 1962, o Campo de Recuperação de São Nicolau situava-se num território desértico no litoral angolano, a norte da então Moçâmedes (Namibe). Para lá eram enviados guerrilheiros suspeitos de actividades subversivas, por vezes acompanhados da família. Em 1964, estavam lá presas 651 pessoas. Em 1972, eram 1.123 prisioneiros. Óscar Duarte foi desterrado para lá por fazer parte da rede clandestina de militantes do PAIGC em Cabo Verde. “Eu fui para São Nicolau porque tínhamos um núcleo e trabalhávamos na clandestinidade. Na altura, a PIDE tinha a coisa muito bem controlada e por cada informação que a pessoa desse, eles pagavam 500 escudos. E nessa altura já era algum dinheiro. Deitámos uns panfletos em São Vicente e houve um indivíduo que pertencia ao nosso núcleo, que foi deitar panfletos no cinema, foi apanhado e depois torturaram-no. Inclusive ele falou-nos de um alicate nos testículos. Portanto, ele teve que 'cantar', teve que dizer tudo”, acrescenta. Óscar foi preso na cidade da Praia e submetido a tortura nos interrogatórios: uma semana virado para uma parede sem dormir e a ter alucinações da mãe a chorar. No Tarrafal da ilha de Santiago, em Cabo Verde, também era preciso resistir. Numa primeira fase, entre 1936 e 1956, ali estiveram presos portugueses que contestavam o regime fascista e o local ficou conhecido como “Campo da Morte Lenta”. Em 1962, passou a chamar-se “Campo de Trabalho de Chão Bom” e foi então que se tornou na cadeia de militantes nacionalistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Em Cabo Verde, a luta na clandestinidade começou a ser forjada, em 1959, por nomes como Abílio Duarte, do PAIGC, e José Leitão da Graça, ligado ao partido UPICV, que são obrigados a deixar o país devido à polícia política. Depois, vários militantes do PAIGC fizeram trabalho político para mobilizar a população em torno da causa independentista e para criar um ambiente favorável ao desembarque no arquipélago de guerrilheiros armados. Isso acabaria por não acontecer, mas foi minuciosamente preparado. A polícia política portuguesa também não permitiu o desenvolvimento da rede clandestina porque foi prendendo, ao longo do tempo, vários dos responsáveis nas ilhas. Foi o caso de Carlos Lineu Miranda, Fernando dos Reis Tavares, Jaime Schofield, Luís Fonseca e vários outros. Gil Querido Varela foi preso em 1968, interrogado e torturado pela polícia no Plateau, transferido para a Cadeia Civil da Praia e entra no Tarrafal em Abril de 1970. Sai em Janeiro de 71. Era suspeito de prática de “crime contra a segurança interior e exterior do Estado”. Gil Querido Varela era militante do PAIGC e fazia a luta política na clandestinidade. “Nós trabalhávamos, visitávamos amigos. Eu, por exemplo, ia à Ribeira da Barca, aproveitava no momento em que estava trabalhando no campo e lá ia fazer o trabalho político, [dizer] que devíamos entrar no PAIGC para libertar a terra. Quem já tinha visto a fome de 1947 - que eu vi uma parte - não ficava sem fazer nada. Vi crianças morrerem de fome, com o corpo inflamado de fome. Mães com crianças mortas nas costas que não tiravam para poderem achar esmola. Os colonialistas troçando da fome do povo. Eu já estava farto deles e entrei rápido no PAIGC. Quem viu aquela fome era impossível não lutar. Só quem não tem sentimento”, afirma Gil Querido Varela, aos 90 anos, enquanto nos mostra o Tarrafal ao lado do camarada António Pedro da Rosa, de 76 anos. O amigo, António Pedro da Rosa, também lutava na clandestinidade e foi detido em Agosto de 1970, interrogado e torturado, transferido para a Cadeia Civil da Praia e enviado para o Tarrafal em Fevereiro de 1971, de onde saiu a 1 de Maio de 1974. “A luta na clandestinidade nós fazíamos da seguinte forma: Eu tinha um colega, Ivo Pereira, que trazia sempre jornais, panfletos e líamos para os rapazes colegas. E tínhamos um livro também que era “Luta Armada”, líamos e explicávamos a alguns rapazes sobre esta situação. Por isso é que fazíamos este trabalho na clandestinidade, através de panfletos e livros que íamos estudar com os rapazes colegas. Íamos sentar aqui num sítio qualquer porque também já sabíamos que havia alguns rapazes que eram informantes da PIDE, porque cada informação que eles levavam para a PIDE eram 500 escudos e 500 escudos na altura era muito dinheiro. Por isso fizemos todo esse trabalho, mas com muito cuidado”, recorda António Pedro da Rosa, na biblioteca do campo de concentração do Tarrafal que vai ser candidato a Património Mundial da UNESCO. Voltaremos ao Tarrafal guiados por Gil Querido Varela e António Pedro da Rosa no oitavo episódio desta série, mas concentremo-nos, por agora, na luta clandestina que se fazia em Cabo Verde. Havia quem fingisse ser namorada de um dos presos do Tarrafal para levar mensagens do exterior. Foi o que fez Marline Barbosa Almeida que trabalhava na célula clandestina do PAIGC na Praia, criada em 1968, sob direcção de Jorge Querido, o coordenador das actividades clandestinas do PAIGC em Cabo Verde, entre 1968 e 1974. Foi assim que ela conseguiu levar para a prisão informação e mensagens, incluindo dentro de tubos de pasta dos dentes. “Nós tínhamos alguns guardas, conseguíamos conversar, então mandávamos bilhetes através de pastas de dentes que nós abríamos com aquela dobrinha. Então nós tirávamos a maioria da pasta, metíamos as informações num plástico, tornávamos a meter lá e mandávamos. Depois, o director da cadeia era cunhado da minha irmã e sabia no que é que eu andava. Mas como ele era católico, presumidamente democrata, eu arranjei “namoro” com um dos presos. E ia lá e nós éramos obrigados a ir com ele assistir à missa e depois eu ia ver o meu noivo. Foi assim que nós tínhamos informações do que se passava na cadeia e transmitíamos informações aos presos”, recorda. Além da pasta de dentes, as mensagens também circularam dentro de bíblias, acrescenta Marline, quando conversa com a RFI em sua casa, na cidade da Praia. “Houve até um caso interessante de um angolano que tinha sido liberto. Eu tinha ido à praia e ao regressar a casa, eu vi-o a sair da igreja do Nazareno com uma Bíblia na mão. Ele dirigiu-se a minha casa e eu estava precisamente a entrar. ‘É a senhora fulana de tal?' ‘Sim.' ‘Eu sou fulano de tal, saí do Tarrafal ontem e vim com mensagens dos seus amigos. E eu ‘Sim, sim, como é que eles estão? Há muito que não os vejo', enrolando porque eu não sabia quem era. Até que ele abriu a Bíblia, descolou as páginas, tirou o bilhete do Carlos Tavares e mostrou-me para certificar que era uma pessoa de confiança”, recorda. Marline Barbosa Almeida chegou a ser presa e a sofrer tortura. A luta na clandestinidade “era um trabalho difícil” porque “numa ilha não havia onde fugir, não há mato, não há onde esconder”. Por isso, serviam-se de “festas, bailes, piqueniques” para trocar informações e atrair mais pessoas para a causa. Depois, procuravam dar informações à sede do PAIGC, em Conacri, sobre as condições dos presos no Tarrafal. No livro “O PAIGC perante o dilema cabo-verdiano [1959-1974]”, o historiador José Augusto Pereira conta que a PIDE/DGS instalou-se em Cabo Verde em 1959 com a criação da subdelegação da cidade da Praia. Em 1961, são criados os postos da PIDE no Mindelo e no aeroporto do Sal. Em 1965 o posto de Chão Bom, na vila de Tarrafal, em Santiago, em 1968 o posto de São Filipe na ilha do Fogo. Teria 33 efectivos em 1973. Em 1974 a cidade da Praia albergava a sede da DGS e no resto da ilha haviam postos em Santa Catarina e Tarrafal. Depois, havia postos nas ilhas de São Vicente, Sal, Santo Antão, Fogo e Boa Vista. Um dos principais golpes da PIDE/DGS acabaria por ser a detenção de Jorge Querido em Janeiro de 1974, depois de anos a fintar a apertada vigilância da polícia política. O elemento básico da luta clandestina eram as células, cada uma tinha um responsável e o conjunto de responsáveis formava uma secção. Por sua vez, os responsáveis de secção formavam um sector e os responsáveis de sector formavam zonas. O trabalho político clandestino em Cabo Verde consistia em fazer agitação política e em capitalizar em prol da causa nacionalista todas as carências, como a pobreza, a fome e as injustiças sentidas pela população. Por outro lado, havia que acicatar o espírito de revolta, predispor as massas para o apoio a acções armadas, recolher e enviar informação para a direcção do PAIGC em Conacri e dar apoio logístico aos guerrilheiros nacionalistas quando se desse o desembarque no arquipélago. O que não viria a acontecer, como já explicámos noutros episódios desta série de reportagens. Havia, ainda, mobilização junto da diáspora cabo-verdiana. Adão Rocha fazia parte do grupo de Lovaina, na Bélgica, e o trabalho político era também essencial. “Tínhamos várias frentes de luta. A frente diplomática, que Amílcar Cabral prezava muito, ele achava que era uma parte importante da luta mesmo. Ele mesmo se distinguiu como um exímio diplomata. No fundo, era tentar contactar as autoridades dessa zona e sensibilizá-las para a justeza da luta de libertação das ex-colónias e, particularmente de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. Também tínhamos uma frente de apoios, mobilização para a luta, o que se conseguia através de organizações não governamentais ali dessa zona, da Bélgica e também da Holanda, que na altura apoiavam as lutas de libertação. Também alguns governos, poucos, já apoiaram a luta ainda antes da independência. Tínhamos, ainda, a frente de divulgação da luta junto da sociedade europeia para sensibilizá-la mais uma vez sobre a questão da repressão colonial, a questão do fascismo em Portugal e criar um ambiente propício para que os seus governos também tivessem uma posição mais favorável em relação à luta. Mas o essencial da nossa luta prendia-se com a mobilização das comunidades emigradas”, conta. Na conversa com a RFI na Fundação Amílcar Cabral, na Praia, onde é membro do Conselho de Administração, Adão Rocha destaca que é preciso que a juventude saiba que, naquela altura, em muitos países, várias pessoas abandonaram os estudos para se juntarem à luta armada ou clandestina. Em Portugal, também havia luta clandestina e a cantiga também foi uma arma para os cabo-verdianos. Manuel Faustino era estudante de medicina em Coimbra quando compôs a primeira música, “Ca bo ba pa tropa”, em 1968, que era um apelo à fuga ao serviço militar. Em 1973, é lançado o LP “Música Cabo-Verdiana-Protesto e Luta”, gravado na Holanda e editado pelo PAIGC, em que aparece outra composição de Manuel Faustino. Chamava-se “Nho Queiton” e era uma denúncia directa à política de Marcello Caetano e à miséria no arquipélago. “Nho Queiton era uma referência a Marcello Caetano que tinha feito uma viagem a Cabo Verde e, então, era uma música que denunciava os propósitos políticos, demagógicos da visita dele. A visita dele inscrevia-se num contexto de tentar seduzir as pessoas, tentar aparecer como um rosto diferente de Salazar. E essa música que vem nesse ‘Long Play' era uma denúncia dessa visita, tentando desmascarar, dizendo que era uma manobra política que serve para nada e que a solução aos problemas era a independência”, conta Manuel Faustino, lembrando que o seu nome não aparece no disco “senão ia preso”.  A historiadora Ângela Benoliel Coutinho, autora de “Os Dirigentes do PAIGC: da fundação à ruptura: 1956-1980” admite que tenham havido algumas centenas de pessoas na luta clandestina, mas diz que é preciso um centro de pesquisa histórica sobre Cabo Verde para se poder estudar todas as temáticas da história contemporânea do país. “Há uma Associação dos Combatentes pela Liberdade da Pátria em Cabo Verde, que tem várias pessoas inscritas. Portanto, serão centenas. Pelas entrevistas que tenho feito, tenho presente o facto de que há pessoas que participaram e alguns até que tiveram um papel importante em dados momentos e não se inscreveram nessa associação. Já pude ter essa conversa com alguns dirigentes e penso que terão sido - entre os que integraram as células - algumas centenas. E depois há todo este apoio por parte da população, não só em Cabo Verde”, sublinha. Em Cabo Verde, em Portugal, na Guiné-Bissau, em Angola, mas também na Bélgica, na Holanda, no Senegal e noutros países para além das fronteiras do então Império Colonial Português, foram muitos os militantes e nacionalistas que lutaram na clandestinidade. Um número ainda não calculado de pessoas foram presas, torturadas e mortas, depois de perseguidas pela PIDE/DGS. Porém, mais de meio século depois, a acção na clandestinidade continua a ser uma das frentes menos visíveis na luta pela independência de Cabo Verde. Se quiser aprofundar este assunto, pode ouvir aqui as entrevistas integrais feitas aos diferentes convidados.

TIAGOL! com Tiago Leifert
O QUE HOUVE, PALMEIRAS? E BOTAFOGO AGUENTOU QUASE 3H CONTRA EUROPEUS

TIAGOL! com Tiago Leifert

Play Episode Listen Later Jun 24, 2025 59:48


Falamos da Copa de Clubes e da performance do Palmeiras contra a jovem promessa argentina Lionel Messi

Convidado
O Balanço dos herdeiros da independência de Moçambique

Convidado

Play Episode Listen Later Jun 24, 2025 22:29


Moçambique assinala neste 25 de Junho de 2025, os 50 anos da sua independência. Por esta ocasião, a RFI propõe-vos um percurso pela história do país e a sua luta pela liberdade. No décimo quarto episódio desta digressão, evocamos o balanço que é feito hoje pelos herdeiros da luta de libertação. Neste dia 25 de Junho, Moçambique recorda os 50 anos da sua independência. Um aniversário que coincide com um momento político ainda marcado pelas recentes manifestações pós-eleitorais e a sua severa repressão. Num país cuja metade da população tem menos de 15 anos mas onde os recursos económicos não têm sido suficientes para responder a todas as necessidades, aumenta a frustração. Um sentimento que é tanto mais agudo que existe uma percepção nítida de que a corrupção, designadamente o caso das ‘dividas ocultas', tem condicionado o desenvolvimento do país. Uma questão que a RFI abordou com Teresa Boene, pesquisadora do Centro de Integridade Pública. "O nível de corrupção no país tem vindo a crescer. O Índice de Percepção da corrupção indica que de 2014 a 2024, o país regrediu em cerca de seis pontos. E este caso das ‘dívidas ocultas' é um dos maiores casos de corrupção no país, que teve repercussões internacionais e impactos severos na economia moçambicana. Impactos que foram evidentes na dívida pública, que cria uma pressão nas finanças públicas. Nós recentemente também lançamos um artigo que fala sobre o nível da dívida pública no país, que já supera um trilhão de meticais. E a descoberta das ‘dívidas ocultas' também minou a confiança dos credores internacionais, tendo cortado o apoio externo que Moçambique tinha. E isto levou para que o Governo tivesse que financiar o seu défice fiscal através de empréstimos internos, sendo que os encargos associados a esses são maiores. E isso cria uma pressão sobre as finanças públicas", constata a pesquisadora. "Para superar ou ultrapassar a situação que o país está a passar, há uma necessidade de se garantir a segurança e estabilidade. Qualquer economia não prospera em um ambiente de instabilidade e insegurança. Por outro lado, há uma necessidade de se lutar contra a corrupção, que também é um mal que deteriora a economia", preconiza Teresa Boene ao referir que o CIP também insiste na necessidade de se investir na indústria transformadora em Moçambique de modo a impulsionar "uma mais-valia" para os recursos de que o país dispõe. A insegurança que se faz sentir sob diversas formas e nomeadamente em Cabo Delgado, no extremo norte do país, tem condicionado a economia mas igualmente o próprio processo político do país, constata João Feijó, Investigador do Observatório do Meio Rural. "Esse conflito não tem fim à vista. Já passou por várias fases. Houve aquela fase inicial de expansão, depois houve o ataque a Palma, numa altura em que a insurgência controlava distritos inteiros de Mocímboa da Praia, grande parte de Macomia. Depois, a entrada dos ruandeses significou uma mudança de ciclo. Passaram a empurrar a insurgência de volta para as matas. Conseguiram circunscrevê-los mais ou menos em Macomia, mas não conseguiram derrotá-los. A insurgência consegue-se desdobrar e fazer ataques isolados. (…) Ali é preciso reformas políticas, mas que o governo insiste em negar. E então continuamos há quase oito anos neste conflito, neste impasse", lamenta o estudioso. Dércio Alfazema, activista moçambicano dos Direitos Humanos, considera que o país tem tido dificuldade em abstrair-se dos efeitos de 50 anos quase contínuos de conflitos e crises. "É muito difícil nós nos colocarmos como um exemplo do respeito dos Direitos Humanos num contexto em que estamos há 50 anos em ciclos permanentes de violência e violência extrema » refere o activista para quem « a questão dos Direitos Humanos ainda é um desafio. Constitucionalmente está estabelecido. Os políticos, sobretudo o Presidente da República, o actual, têm estado recorrentemente a chamar a atenção, mesmo para os militares, nas zonas de conflito, como Cabo Delgado, onde temos a situação de terrorismo. Ele tem estado a chamar a atenção para se respeitar a questão dos Direitos Humanos, mas assegurar que na íntegra, são preservados, é difícil não só para Moçambique como também para outras partes do mundo onde nós temos e temos estado a acompanhar essas situações de conflito", diz Dércio Alfazema. Questionado sobre a desconfiança induzida no seio da sociedade moçambicana por processos eleitorais marcados por suspeitas e fraude e violências, o activista considera que "ainda não há uma estrutura que garanta a confiança tanto dos actores políticos, do cidadão, da população, como também das próprias instituições. As instituições também têm documentado e nós vimos nessas últimas eleições o Conselho Constitucional a reportar que alguns partidos trouxeram editais falsos, mas reivindicavam o resultado com base nesses editais falsos. Então, ainda há muita falta de sensibilidade em relação aos processos políticos eleitorais e como é que estes processos contribuem para a forma como a gente se relaciona e para a estabilidade do país". Na óptica de João Feijó, assiste-se nestes últimos anos a uma tentativa de centralização do poder e o diálogo político em curso é uma miragem. "Desde o novo milénio até hoje, estamos a acelerar novamente as tentativas de centralização, de partidarização do Estado por via a garantir aquilo que se chama, na linguagem sociológica, de acumulação primitiva do capital", considera o estudioso que ao recordar que frequentemente surge a interrogação "se a oposição está preparada para governar". Na verdade, diz João Feijó, "a questão que se deve colocar é ao contrário : se a Frelimo está preparada para sair do poder. Neste momento que estamos agora a ter é um momento de fim de ciclo, de ilegitimidade crescente da Frelimo, em virtude das políticas que foram desencadeadas nos últimos anos, que fizeram aumentar a pobreza que de 2014-2015 passou de 47% para 60%. E estamos a falar de cerca de 20 milhões de pobres neste país". Céptico, o sociólogo também o é relativamente ao processo de diálogo encaminhado nestes últimos meses pelo partido no poder com restantes forças de oposição. "Isto é um teatrinho. É uma encenação para dar a ideia de que existe diálogo. Porque o principal actor que deveria participar no diálogo é o candidato mais votado pela oposição, que era Venâncio Mondlane, que está literalmente excluído deste acordo e nem sequer tem lá alguém que o represente. Então qualquer tentativa de diálogo alargado que não inclua este actor, aos olhos da população, é um acto ridículo. Em segundo lugar, porque ao mesmo tempo que se fala em diálogo, há toda uma perseguição política em relação a Venâncio Mondlane, com vista a fragilizá-lo politicamente", denuncia João Feijó. No mesmo sentido, a activista social Quitéria Guirengane não esconde a sua preocupação e considera que o país "dorme sobre uma bomba-relógio". "Assusta-me o facto de nós dormirmos por cima de uma bomba relógio, ainda que seja louvável que as partes todas estejam num esforço de diálogo. Também me preocupa que ainda não se sinta esforço para a reconciliação e para a reparação. Nós precisamos de uma justiça restauradora. E quando eu olho, eu sinto um pouco de vergonha e embaraço em relação a todas as famílias que dia e noite ligavam desde Outubro à procura de socorro", considera a militante feminista que ao evocar o processo de diálogo, diz que "criou algum alento sob o ponto de vista de que sairiam das celas os jovens presos políticos. No entanto, continuaram a prender mais. Continua a caça às bruxas nocturna". "Não é este Moçambique que nós sonhamos. Por muito divididos que a gente esteja, precisamos de pensar em construir mais pontes do que fronteiras. Precisamos pensar como nós nos habilitamos, porque nos últimos meses nos tornamos uma cidade excessivamente violenta", conclui a activista que esteve muito presente nestes últimos meses, prestando apoio aos manifestantes presos e seus familiares. Aludindo igualmente à frustração que se expressou nas marchas no final do ano passado e no começo de 2025, o antropólogo Omar Ribeiro Thomaz da Universidade de Campinas no Brasil recorda as palavras que ouviu de um jovem estudante da cidade da Beira, aquando de uma pesquisa de terreno em 2015. "Quando os portugueses estavam aqui, eles diziam que o colonialismo era para sempre. Aí veio a revolução e acabou com o colonialismo. Aí a revolução diz que o socialismo era para sempre. Mas aí morreu o Samora, veio o plano de reajuste estrutural e aí veio o fim do socialismo e começou o liberalismo. Aí o liberalismo virou neoliberalismo. Conta para mim, professor, quando é que o liberalismo acaba e o que vem depois?", cita o professor universitário rematando que "existe uma percepção na população moçambicana de que essa situação de degradação não pode ser para sempre e que isso vai ter que mudar". Podem ouvir os nossos entrevistados na íntegra aqui:     A RFI conclui com uma palavra de agradecimento a todas as pessoas que participaram com o seu testemunho e as suas sugestões na elaboração desta série. Um grande obrigada também ao correspondente da RFI em Maputo, Orfeu Lisboa, a Osvaldo Zandamela e a Erwan Rome que nos acompanharam nesta digressão.

Jones Manoel
Trump anuncia cessar-fogo e Irã vence Israel | Coragem iraniana é exemplo para os povos | 24.6

Jones Manoel

Play Episode Listen Later Jun 24, 2025 241:03


O Manhã Brasil desta terça (24), com o jornalista Mauro Lopes como âncora, tem o seguinte destaque: 1) O Irã reagiu ao ataque dos EUA do sábado atacando a base militar estadunidense no Catar. Houve aviso prévio iraniano, o que minimizou os prejuízos dos EUA. Na sequência, Trump anunciou um cessar-fogo entre o Irã e Israel. Se confirmado, configurará uma vitória histórica do Irã, o primeiro país do Oriente Médio a derrotar e humilhar Israel, acabando com o mito da invencibilidade sionista.

JR 15 Minutos com Celso Freitas
Celulares fora da sala: impactos reais na educação brasileira

JR 15 Minutos com Celso Freitas

Play Episode Listen Later Jun 24, 2025 15:28


O primeiro semestre do ano letivo chega ao fim com uma mudança visível em muitas escolas do país: a restrição ao uso de celulares em sala de aula. Seis meses após a sanção da medida pelo governo federal, os resultados começam a surgir. Uma pesquisa nacional com estudantes aponta que mais da metade deles deixou de levar o celular para a escola. E em algumas instituições, o hábito da leitura aumentou em até 25%. Como os alunos estão reagindo a essa nova rotina? Houve melhora na atenção, no convívio e no desempenho? E qual o papel das famílias nesse processo de adaptação? Luiz Fara Monteiro e a repórter Gabriela Dias conversam com Janine Schultz, diretora executiva da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (RBAC), sobre os efeitos e os desafios dessa transformação. 

Enterrados no Jardim
Assalto à Biblioteca Nacional com a bandeira pirata de Luiz Pacheco

Enterrados no Jardim

Play Episode Listen Later Jun 23, 2025 143:35


Num mundo coagulado, num tempo viscoso, em que só se podia andar aos tropeções, isto quando outros marchavam, cercavam, se punham em cima para que ninguém deixasse de se sentir deglutido, embrutecido, sem conseguir fazer outra ideia da vida, e ao menor esforço logo se sentisse ofegante, assim mesmo ainda houve um que outro a recusarem viver esse pesadelo da lentidão e da impotência, esse enfado dos órgãos. Houve quem fosse capaz de ver as coisas através da sua fadiga, e escavar à unha o seu penhasco. A ele ainda lhe ouvimos o passo nervoso, aquele seu canto de sereia roufenha, experimentada, abusiva. Aquela voz de miúdo, reinando com tudo e todos. Conhecemos muito bem o perfil, mesmo que não nos tenhamos chegado a cruzar pelas ruas com esse bicho escarolado, ficou-nos um rastro que não perdeu nada do seu calor. Quanto ao meio literário como ele o viu e mostrou, desde a sua morte fechou-se ainda mais nos seus cálculos e apostas, e, por estes dias, ao homem de letras já nem se pede que seja minimamente consequente, que pense alguma coisa, nem que procure dar testemunho do seu quinto dos infernos. Tudo refocila na mesmice, e assim, no limite, como assinalava Le Clezio, “toleram-se no escritor, no artista certos desvios, apenas na condição de poderem ser recuperados, e de essa liberdade jactanciosa poder ser confundida no interior da totalidade literária: simples concessões à moda, ao espírito do público, que é preciso saberem fazerem-se sob pena de se ser ignorado”. “E o que vem a ser um escritor que não seja lido?”, interroga ele. A suprema habilidade de Pacheco foi ter sabido dizer tudo o que queria e como queria, num pacto incerimonioso em que deixou que o tomassem por esse delinquente que serve só o consumo quotidiano do mal que o bem se autoriza. A verdade é que ao colaborar nesse número, foi ganhando margem, gozando o prato como um escritor excluído da ordem beneditina, e que, se passou mal, e tantas vezes se viu condenado a encarnar esse mal que o bem social inventa e de que necessita para a sua autopurificação, à medida que os anos foram passando, quase todos os grandes vultos, os santarrões que se acotovelavam nos nossos altares, foram caindo e desfazendo-se em cacos, e ele, com aquela sua biografia desabusada, em tantos momentos particularmente amarga, passou a representar essas noções que se aguentam de pé, acabando mesmo por se ver engolido pela ordem cultural que tanto fez por esbarrondar. O seu imenso romance desbocado ainda anima e arrepia, continua a dar lições sobre o atrevimento e essa força de quem não deixa nada por dizer, e mesmo se o fez a partir de um ângulo de absoluta subjectividade, hoje os seus juízos tendem a converter-se em denominador. Possui um nome que não deixa de ser repetido com uma frequência assombrosa em todo o lado, um nome que serve como uma praga. Mais do que um maldito, Pacheco ganhou entre nós o estatuto de uma maldição. E, no entanto, está longe de se ter convertido num desses grandes nomes, não se regenerou, por mais que algumas almas cândidas pretendam extrair-lhe à força uma moral, vendendo a banha da cobra subversora, como se a própria literatura não pudesse ser senão uma instituição redentora. Pelo contrário, para aqueles que se viram para ele buscando o raro alento que anima a insolência, sabem que a seriedade desta escrita se mede pela forma como incita o género de ataques que lixam a fulanada, a dos fornicoques justiceiros que temem ainda um regime de crónica cruel e rude, deixando a mula beletrista pela fúria rumorosa que cresce de um desabafo. Ora, o Pacheco não pedia desculpa de estar vivo e a escrever, como também nunca quis dar ele a missa, mesmo se admitia que a sua “memória regressiva tanto dava para o torto (as sacanagens) como para o actos de cristandade laica”. E agora, num momento em que mais do que ordenar, exaltar e autopsiar, o mais premente mesmo era trazê-lo por junto de volta ao nosso convívio regular, depois de lhe termos cosido pedaços das muitas partes, num volume que, antes de mais, o que quer é ter-se de pé sem apoio de espécie alguma, até para fazer de tijolo e estar apto a quebrar janelas, lá subimos à torre, fomos directamente ao buffet com o nosso prato deslavado, e se não deu para encher o bandulho, tentámos capturar a bandeira deixando, para a troca, umas enormes cuecas que levassem o vento por cima da Biblioteca Nacional a fazer caretas de todo o tamanho. Fica aqui o registo da apresentação que teve lugar esta tarde, e segue assim como um episódio extra, com as participações de Marta Félix, João Pedro George e Diogo Ramada Curto, entre outros.  

Noticiário Nacional
23h Houve pedido dos EUA para utilização da Base das Lajes

Noticiário Nacional

Play Episode Listen Later Jun 22, 2025 7:50


Convidado
Os campos de Reeducação e a condição dos dissidentes

Convidado

Play Episode Listen Later Jun 22, 2025 20:32


Moçambique assinala neste 25 de Junho de 2025, os 50 anos da sua independência. Por esta ocasião, a RFI propõe-vos um percurso pela história do país e a sua luta pela liberdade. No décimo episódio desta digressão, evocamos os campos de reeducação. Ainda antes da independência, durante o período de transição em que Moçambique foi governado por uma autoridade híbrida luso-moçambicana, foram instituídos campos de reeducação, essencialmente na distante província do Niassa. O objectivo declarado desses campos era formar o homem novo, reabilitar pelo trabalho, as franjas da sociedade que eram consideradas mais marginais ou dissidentes. Foi neste âmbito que pessoas consideradas adversárias políticas foram detidas e mortas em circunstâncias que até agora não foram esclarecidas. Isto sucedeu nomeadamente com Uria Simango, Joana Simeão e Adelino Guambe, figuras que tinham sido activas no seio da Frelimo e que foram acusadas de traição por não concordarem com a linha seguida pelo partido. Omar Ribeiro Thomaz, antropólogo ligado à Universidade de Campinas no Brasil que se debruçou de forma detalhada sobre os campos de reeducação, conta em que circunstâncias começou a estudar este aspecto pouco falado da História recente de Moçambique. "Eu comecei a interessar-me porque eu comecei a conhecer pessoas que tinham sido objecto desse tipo de expediente autoritário, por um lado, e por outro lado, porque eu via uma grande ansiedade da população no que diz respeito ao desaparecimento de algumas pessoas que foram pessoas-chave no período tardio colonial moçambicano ou no período de transição do colonialismo para a independência. São figuras como Uria Simango, a Joana Simeão, o Padre Mateus, enfim, são pessoas que sumiram e que havia uma demanda para essas pessoas", começa por relatar o investigador. "Os campos de reeducação são pensados ainda no período de transição. Então, isso é algo que ainda deve ser discutido dentro da própria história portuguesa, porque no período de transição, o Primeiro-ministro era Joaquim Chissano, mas o governador-geral era português. Então, nesse momento, começam expedientes que são os campos de reeducação. Você começa a definir pessoas que deveriam ser objecto de reeducação, ao mesmo tempo em que você começa a ter uma grande discussão em Moçambique sobre quem são os inimigos e esses inimigos, eles têm nome. Então essas são pessoas que de alguma maneira não tiveram a protecção do Estado português. Isso é muito importante. Não conseguiram fugir. São caçadas literalmente, e são enviadas para um julgamento num tribunal popular. Eu estou a falar de personagens como a Joana Simeão, o Padre Mateus, Uria Simango, que são condenados como inimigos, como traidores. Esses são enviados para campos de presos políticos. A Frelimo vai usar uma retórica de que esses indivíduos seriam objecto de um processo de reeducação. Mas o que nós sabemos a partir de relatos orais e de alguns documentos que nós conseguimos encontrar ao longo do tempo, é que essas pessoas foram confinadas em campos de trabalho forçado, de tortura, de imenso sofrimento e que chega num determinado momento que não sabemos exactamente qual é, mas que nós podemos situar mais ou menos ali, por 1977, elas são assassinadas de forma vil", diz o antropólogo. "Quando você tem a Operação Produção, que é a partir de 1983, que é uma operação para você retirar de maneira forçada todos aqueles indivíduos classificados ou acusados de vagabundagem, de serem inimigos da revolução ou de prostituição, no caso das mulheres, são recolhidos e são enviados não só para o Niassa, mas no país inteiro, mas particularmente no Niassa, porque tem um subtexto moral, ou seja, a ideia de que o trabalho seria uma componente moral fundamental para a formação do ‘Homem novo'. Mas havia a ideia também por parte do Samora em particular, mas de muitas pessoas que constituíam a elite da Frente de Libertação de Moçambique, de que o Niassa seria a província mais fértil do país e que poderia se transformar numa espécie de local de produção de alimentos para o país como um todo. Então, isso vai perdurar em Moçambique por um período bastante significativo", refere o universitário. "A primeira grande operação chamada ‘Operação Limpeza' é de Outubro de 1974, que é justamente você limpar a Rua Araújo, que era a rua da prostituição. Mais ou menos 300 mulheres foram acusadas de prostituição e foram enviadas para campos de trabalho agrícola. Boa parte delas morre. E esse tipo de expediente se mantém em Moçambique entre os anos 70 até meados dos anos 80, quando, na verdade, a guerra civil inviabiliza o próprio empreendimento. Porque o campo, no contexto moçambicano, não é um lugar fechado, com muros de onde as pessoas não podem fugir. As pessoas eram jogadas em áreas rurais. Muitas delas não tinham nenhum tipo de experiência rural e não são campos onde o próprio Estado garantisse a chegada de alimentos. Então você gera uma situação de conflito muito pouco estudada ainda. Eu trabalhei numa região específica na província de Inhambane, em que as pessoas eram despejadas e muitas delas não tinham muito o que fazer. Ou você acaba estabelecendo uma relação de troca entre essas pessoas que vêm da cidade e camponeses do local, como é muito bem descrito num romance magnífico do escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho, ‘Campo de Trânsito'. Ou você tem -o que me foi dito por camponeses da região- um medo terrível, porque os reeducandos eram entregues a uma situação de abandono. Então eles acabavam roubando os camponeses, porque eles não tinham outra alternativa. E ao mesmo tempo, nós temos essa guerra que muito tardiamente vai ser definida como guerra civil. E é importante dizer que parte dos que vão alimentar esse exército de oposição à Frelimo, eram pessoas insatisfeitas destes próprios campos de trabalhos forçados", refere Omar Ribeiro Thomaz. O antigo Presidente moçambicano Joaquim Chissano, Primeiro-ministro durante o período de transição e em seguida chefe da diplomacia moçambicana depois da independência, justifica a instauração desses campos. "Reeducar era um princípio que nós tínhamos durante a própria luta de libertação. Se houvesse indisciplina, tínhamos formas de isolar as pessoas. Reeducar é reeducar mesmo, para voltar a reintegrá-los no nosso seio. Não era, como se costuma dizer aí, campos de concentração, etc", diz o antigo dirigente. "Houve pessoas que eram marginais, que era preciso encontrar uma forma de lhes dar uma formação. Isso inclui mesmo pessoas que até estavam nas cadeias. Criaram-se os centros de reeducação para esses indivíduos. Também houve o caso das prostitutas, que também se criou um campo para reabilitação porque sabia-se que faziam isto, porque é uma maneira de viver. Isso é claro que foi mal visto por muita gente que não compreendia a nossa visão e que pensavam que eram campos de castigo apenas. Mas eu tive uma boa experiência nesse capítulo porque quando eu era ministro dos Negócios Estrangeiros, convidei um grupo de diplomatas estrangeiros acreditados em Moçambique e fomos visitar o principal campo de reeducação de ex-reclusos. E os diplomatas que estiveram comigo nessa altura disseram me o seguinte ‘Ó senhor ministro, vocês deviam ter chamado isto prisões abertas e nós teríamos compreendido melhor'", declara Joaquim Chissano. Óscar Monteiro, membro sénior da Frelimo, recorda o que guiou inicialmente a instalação dos campos, mas reconhece que houve excessos. "Devo dizer que a escolha do nome é uma escolha infeliz. A reeducação fazia-se ali, dentro de nós, um bocado com esta ideia de que o trabalho regenera", refere o responsável político que ao ser questionado sobre o destino reservado aos dissidentes políticos como Uria Simango ou Joana Simeão, diz que "de facto isso aconteceu e que (os membros da Frelimo) não estão orgulhosos disso". Lutero Simango, líder do partido de oposição Movimento Democrático de Moçambique (MDM), perdeu o pai, Uria Simango, um dos membros-fundadores da Frelimo, mas igualmente a mãe. Ambos foram detidos e em seguida executados, Lutero Simango pedindo esclarecimentos ao poder. "O meu pai foi uma das peças-chaves na criação da Frente de Libertação de Moçambique. Ele nunca foi imposto. Os cargos que ele assumiu dentro da organização foram na base da eleição. Ele e tantos outros foram acusados de serem neocolonialistas. Foram acusados de defender o capitalismo. Foram acusados de defenderem a burguesia nacional. Toda aquela teoria, aqueles rótulos que os comunistas davam a todos aqueles que não concordassem com eles. Mas se olharmos para o Moçambique de hoje, se perguntarmos quem são os donos dos nossos recursos, vai verificar que são os mesmos aqueles que ontem acusavam os nossos pais", diz o responsável político de oposição. Questionado sobre as informações que tem acerca das circunstâncias em que os pais foram mortos, Lutero Simango refere continuar sem saber. "Até hoje ninguém nos disse. E as famílias, o que pedem é que se indique o local em que foram enterrados para que todas as famílias possam prestar a última homenagem. O governo da Frelimo tem a responsabilidade de indicar às famílias e também assumir a culpa, pedindo perdão ao povo moçambicano, porque estas pessoas e tantas outras foram injustamente mortas neste processo", reclama Lutero Simango. Neste processo, Sam Malema Guambe também perdeu e nunca conheceu o pai -Adelino Guambe-, fundador da UDENAMO, uma das organizações independentistas que estiveram na raíz da fundação da Frelimo. "Eu não cheguei a conhecê-lo. Eu de facto nem vi a cara dele. A minha avó nos contava aquela história. A minha mãe não queria tocar mais nesse assunto de Guambe, essa pessoa já não existe, Vamos deixar. Mas a minha avó sempre nos ensinava, nos dizia que nosso pai, as coisas que ele fazia", diz Sam Malema Guambe ao apelar a um diálogo, a "falar para a gente pôr todos mãos à obra, para fazer um Moçambique melhor, porque os nossos pais contribuíram muito para esse país". Inicialmente militante da Frelimo, Joana Simeão, entra em linha de colisão com o partido por discordar do monopartidarismo instaurado depois da independência. Acusada de ser agente da PIDE, será, como Uria Simango e Adelino Guambe, executada em circunstâncias por esclarecer. A filha, Emíade Chilengue, era um bebé. "Eu pessoalmente não tenho nenhuma memória de vivência com a minha mãe, uma vez que na altura dos acontecimentos eu era bebé. Tudo o que eu sei é através de notícias dos órgãos de comunicação social. (…) Por volta dos sete, oito anos, eu constantemente perguntava sobre a minha mãe e eles um dia vieram até mim com um recorte de jornal, creio que sobre a ação que determinou o fuzilamento dela e das outras pessoas que fizeram parte do grupo, e mostraram-me. E foi assim que eu fiquei a saber que a minha mãe já não estava entre os vivos", conta Emíade Chilengue. Ao dizer que também procurou ter mais informações, sem sucesso, a filha de Joana Simeão refere esperar que, no âmbito da celebração dos 50 anos da independência de Moçambique, que haja "alguma explicação para que haja, de facto, uma reconciliação nacional. No meu entender, não podemos, de forma alguma, comemorar 50 anos sem que esses dossiers sejam de alguma forma tratados com a devida atenção e respeito que é merecido". Podem ouvir os nossos entrevistados na íntegra aqui:      

Convidado
As negociações e a proclamação da independência de Moçambique

Convidado

Play Episode Listen Later Jun 21, 2025 20:46


Moçambique assinala neste 25 de Junho de 2025, os 50 anos da sua independência. Por esta ocasião, a RFI propõe-vos um percurso pela história do país e a sua luta pela liberdade. No quinto episódio desta digressão, evocamos a independência de Moçambique. Após vários anos em várias frentes de guerra, capitães das forças armadas portuguesas derrubam a ditatura no dia 25 de Abril de 1974. A revolução dos cravos levanta ondas de esperança em Portugal mas também nos países africanos. A independência pode estar por perto, mas é ainda preciso ver em que modalidades. Óscar Monteiro, militante sénior da Frelimo e um dos membros da delegação que negociou os acordos de Lusaka juntamente com Portugal, recorda como recebeu a notícia. “No dia 25 de Abril, tenho a primeira notícia sobre o golpe de Estado em Portugal, quando procurava ouvir a Rádio França Internacional. Nós estávamos num curso político e eu estava à procura do noticiário da RFI quando ouço ‘Cette fois, c'est pour de bon' (desta vez, é a valer). Então parece que houve mesmo qualquer coisa em Portugal e a partir daí começamos a procurar informações. No dia 27, nós produzimos uma declaração que eu acho que foi dos mais bonitos documentos políticos em que participei. Continuamos a dar aulas porque era a nossa tarefa. A luta não termina só assim. Mas à tarde o Samora chamou-nos, nós tínhamos um telefone de campanha daqueles com manivela. ‘Venham cá porque a coisa parece ser séria'. Então fomos para lá e começamos a produzir. Devo dizer que estávamos num muito bom momento politicamente e por isso que não ficamos perturbados. Dissemos ‘Sim senhor, muito bem. Felicitamo-nos por esta vitória do povo português, mas a nossa luta é pela independência.' (...) Sabe que o Manifesto das Forças Armadas tinha só uma linha, a linha final, que dizia depois de 20 e tal pontos sobre a democratização de Portugal, dizia que ‘a solução do problema do Ultramar é política e não militar.' Quer dizer, foi agarrados nessa linha que nós começámos as primeiras conversações. Aí devo dizer e relevar que nós nunca falamos suficientemente do papel do Dr. Mário Soares, que propõe logo conversações com os movimentos de libertação. E, portanto, estamos a falar logo no dia 5 de Maio por aí. Ele vem a Lusaka. Nós ensaiamos esse momento. Então vamos para lá, mas como é que cumprimentamos? Então dissemos ‘Não vamos cumprimentar, dizendo o seguinte -até me recordo da frase- Apertamos a mão porque o senhor representa um Portugal novo'. Sabe que para evitar intimidades excessivas, até pedimos aos zambianos, porque as conversações foram em Lusaka para não os forçar a vir a Dar-es-Salaam, que era muito conotado com o apoio aos movimentos de libertação. E ele surpreendeu-nos quando nós começamos com a nossa expressão ‘saudamos o novo Portugal'. Ele disse ‘deixe-me dar-lhe um abraço' e atravessou a mesa que nós tínhamos posto para separar e dá um abraço ao Presidente Samora. Eu acho que isso foi de uma grande generosidade humana, porque a opinião pública portuguesa não estava preparada para aceitar a independência. Nós éramos os ‘terroristas', nós éramos ‘os pretos', nós éramos ‘os incapazes.' Como é que eles vão ser capazes de governar? O que explica depois o abandono em massa dos colonos. Portanto, nós começamos este período de negociações com muitos factores contra nós. Eu acho que foi a qualidade e a generosidade dos moçambicanos que permitiu que este processo tivesse andado bem. (...) Eu sei que a solidariedade da opinião pública portuguesa, não da classe política mais avançada, não do Movimento das Forças Armadas, foi mais para com os colonos do que para connosco. E houve a ideia de que nós, intimidamos os colonos. Não. Os colonos, intimidaram-se com o seu próprio passado. Quer dizer, cada um deles pensava como tinha tratado o seu empregado doméstico, como tinha tratado o negro no serviço e fugia, fugia de si-próprio, não fugia de perseguições. Nessa altura, e honra seja feita ao Presidente Samora, ele desdobrou-se em declarações até que, a um certo ponto algumas pessoas disseram Mas olha lá, vocês estão sempre a falar da população portuguesa que não deve sair, que são tratados como iguais. Vocês já nem falam muito a nós moçambicanos negros. Mas era deliberado, era deliberado porque nós sabíamos que a reconstrução do país só com moçambicanos negros ia ser muito difícil. E felizmente -é um ponto que vale a pena neste momento focar- houve muitos jovens, a nova geração, brancos, mulatos, indianos que eram estudantes da universidade, que tinham criado um movimento progressista e que foram eles, naquela fase em que era preciso pessoas com alguma qualificação, que foram os directores, os colaboradores principais dos ministros. E é momento também de prestar homenagem a essa nova geração. Foi um grupo progressista que se pôs declaradamente ao lado da independência. Também tiveram as suas cisões. Houve outros que foram embora. São transições sociais muito grandes. Nós próprios estamos a passar transições muito grandes”, diz Óscar Monteiro. Pouco depois do 25 de Abril, as novas autoridades portuguesas e a Frelimo começaram a negociar os termos da independência de Moçambique. O partido de Samora Machel foi reconhecido como interlocutor legítimo por Portugal e instituiu-se um período de transição num ambiente de incerteza, recorda o antigo Presidente Joaquim Chissano. “A nossa delegação veio com a posição de exigir uma independência total, completa e imediata. Mas pronto, tivemos que dar um conteúdo a esse ‘imediato'. Enquanto a delegação portuguesa falava de 20 anos, falávamos de um ano e negociamos datas. Deram então um consenso para uma data que não feria ninguém. Então, escolhemos o 25 de Junho. Daí que, em vez de um ano, foram nove meses. E o que tínhamos que fazer era muito simples Era, primeiro, acompanhar todos os preparativos para a retirada das tropas portuguesas com o material que eles tinham que levar e também em algumas partes, a parte portuguesa aceitou preparar as nossas forças, por exemplo, para se ocupar das questões da polícia que nós não tínhamos. Houve um treino rápido. Depois, na administração, nós tínhamos que substituir os administradores coloniais para os administradores indicados pela Frelimo. Falo dos administradores nos distritos e dos governadores nas sedes das províncias. Nas capitais provinciais, portanto, havia governadores de província e administradores de distritos e até chefes de posto administrativo, que era a subdivisão dos distritos. E então, fizemos isso ao mesmo tempo que nos íamos ocupando da administração do território. Nesses nove meses já tivemos que tomar conta de várias coisas: a criação do Banco de Moçambique e outras organizações afins, seguros e outros. Então houve uma acção dos poderes nesses organismos. Ainda houve negociações que foram efectuadas em Maputo durante o governo de transição, aonde tínhamos uma comissão mista militar e tínhamos uma comissão para se ocupar dos Assuntos económicos. Vinham representantes portugueses em Portugal e trabalhavam connosco sobre as questões das finanças, etc. E foi todo um trabalho feito com muita confiança, porque durante o diálogo acabamos criando a confiança uns dos outros”, lembra-se o antigo chefe de Estado moçambicano. Joaquim Chissano não deixa, contudo, de dar conta de algumas apreensões que existiam naquela altura no seio da Frelimo relativamente a movimentos contra a independência por parte não só de certos sectores em Portugal, mas também dos próprios países vizinhos, como a África do Sul, que viam com maus olhos a instauração de um novo regime em Moçambique. “Evidentemente que nós víamos com muita inquietação essa questão, porque primeiro houve tentativas de dividir as forças de Moçambique e dar falsas informações à população. E no dia mesmo em que nós assinamos o acordo em Lusaka, no dia 7 de Setembro, à noite, houve o assalto à Rádio Moçambique por um grupo que tinha antigos oficiais militares já reformados, juntamente com pessoas daquele grupo que tinha sido recrutado para fazer uma campanha para ver se desestabilizava a Frelimo”, diz o antigo lider politico. A 7 de Setembro de 1974, é assinado o Acordo de Lusaka instituindo os termos da futura independência de Moçambique. Certos sectores politicos congregados no autoproclamado ‘Movimento Moçambique Livre' tomam o controlo do Rádio Clube de Moçambique em Maputo. Até serem desalojados da emissora no dia 10 de Junho, os membros do grupo adoptam palavras de ordem contra a Frelimo. Na rua, edificios são vandalizados, o aeroporto é tomado de assalto, um grupo armado denominado os ‘Dragões da Morte' mata de forma indiscriminada os habitantes dos bairros do caniço. O estudioso moçambicano Calton Cadeado recorda esse momento. “Foi notório, naquela altura, que havia uma elite branca colonial que percebeu que ia perder os seus privilégios e ia perder poder. Isto é mais do que qualquer coisa, poder, influência, que eles tinham aqui, poder económico. Não estavam predispostos a negociar com a nova elite dirigente do Estado e temiam que eles fossem subalternizados. Então construíram toda uma narrativa de demonização da independência e das futuras lideranças, a tal ponto que criou um certo ódio dentro da sociedade portuguesa. E vale dizer que este ódio não era generalizado. Podemos ir ver nos jornais de 1974, temos o retrato de pessoas que vivenciaram abraços entre militares da Frelimo e militares portugueses que estavam a combater juntos e que diziam que não percebiam o motivo de tanta matança que existia entre eles, mas fizeram um abraço e estavam dispostos a fazer a reconciliação. Mas a elite branca e económica que tinha perdido e sentia que ia perder os privilégios, os benefícios, criou esta narrativa e esta narrativa foi consumida por algumas pessoas também dentro do círculo de defesa e segurança. Estou a falar da PIDE e da DGS a seguir. Não é toda a gente. Houve alguns círculos que conseguiram mobilizar algumas pessoas para fazer a desordem que aconteceu a seguir ao dia 7 de Setembro, que é a tomada do Rádio Clube. Depois tivemos o dia 21 de Outubro, que foi um dia sangrento, violento na história aqui em Moçambique. E quem estiver aqui em Maputo e for visitar a Praça 21 de Outubro e conversar com as pessoas que viviam naquelas zonas, percebem a violência que foi gerada. Infelizmente, essa foi uma violência que tomou conotações de cor de pele. Que era matar o branco, matar o negro. Mas foi uma coisa localizada, de curta duração, que não foi para além daqueles dias, porque a euforia da preparação e da visão da independência que vinha ali era mais forte do que o contágio de ódio que foi gerado entre estes grupos. Entretanto, não podemos menosprezar esse ódio que foi gerado. Essas perdas foram geradas porque as pessoas que perderam os privilégios não se resignaram, não se conformaram e, por causa disso, saíram de Moçambique. Foram se juntar a outros e fizeram o estrago que fizeram com a luta de desestabilização de 1976 a 1992, que aconteceu aqui”, conta Calton Cadeado. Vira-se uma página aos solavancos em Moçambique. Evita-se por pouco chacinas maiores. Antigos colonos decidem ficar, outros partem. Depois de nove meses de transição em que a governação é assegurada por um executivo hibrido entre portugueses e moçambicanos, o país torna-se oficialmente independente a 25 de Junho de 1975. Doravante, Moçambique é representado por um único partido. Uma escolha explicada por Óscar Monteiro. “Pouco depois do 25 de Abril. Começam a pulular pequenos movimentos. Há sempre pessoas que, à última hora, juntam algumas iniciais e criam um partido político. Houve quantidades de organizações e uma parte poderia até ser genuína, mas nós sentimos que essa era a forma de tentar frustrar a independência. Isso foi a primeira fase. Depois, houve outra coisa. Agora é fácil falar dessa época, mas naquele momento, nós estávamos a cravar um punhal no coração da África branca, e essa África branca ia reagir. Portanto, tínhamos a oeste, à Rodésia, tínhamos a África do Sul, Angola tinha Namíbia e África do Sul. Então, é neste contexto que nós temos que preparar uma independência segura, uma independência completa, Porque esta coisa de querermos ser completamente independentes é um vício que nos ficou mesmo agora. Nós queremos ser independentes”, explica o membro sénior da Frelimo ao admitir que ao optarem pelo monopartidarismo os membros da sua formação demonstraram “um bocado de autoconfiança excessiva e mesmo uma certa jactância”.

Novus Capital
NovusCast - 20 de Junho 2025

Novus Capital

Play Episode Listen Later Jun 20, 2025 14:35


Nossos sócios Gabriel Abelheira, Sarah Campos e Yara Cordeiro debatem, no episódio de hoje, os principais acontecimentos da semana no Brasil e no mundo. No cenário internacional, o foco foi a reunião do Fed: a decisão foi por manter os juros inalterados, como amplamente esperado, mas o SEP revelou um comitê dividido. Houve revisão para cima nas projeções de inflação, e o Powell adotou tom cauteloso, destacando a resiliência da economia e os riscos associados às tarifas. A comunicação dos dirigentes seguiu heterogênea: o Waller defendeu corte já em julho, enquanto o Barkin reforçou a necessidade de prudência. Ainda por lá, os dados de varejo de maio vieram mistos, apesar do headline mais fraco. No cenário geopolítico, o conflito entre Israel e Irã segue ocorrendo, e as atenções estão voltadas para a decisão americana de envolvimento ou não na guerra, com o Trump alegando preferir seguir pelo caminho da diplomacia. No Brasil, o Copom subiu a Selic em 0,25%, mantendo o balanço de riscos e as projeções de 2026 inalteradas. O comunicado sinalizou o fim do ciclo, mas reforçou a necessidade de manter os juros contracionistas por bastante tempo. No Congresso, a Câmara aprovou a urgência do projeto que suspende os efeitos do decreto do IOF; foram derrubados diversos vetos presidenciais; e foi criada a CPMI para investigação das fraudes no INSS. Nos EUA, os juros tiveram movimentos pouco expressivos (vértice de 2 anos fechando 4 bps), assim como as bolsas - S&P 500 -0,15%, Nasdaq -0,02% e Russell 2000 +0,42%. No Brasil, o jan/26 abriu 12 bps, enquanto o jan/35 fechou 15 bps; o Ibovespa caiu 0,07% e o real valorizou 0,48%. Na próxima semana, será importante acompanhar a comunicação dos membros do Fed, os dados de atividade na Europa e, por aqui, a ata do Copom, o Relatório de Política Monetária, dados de inflação (IPCA-15), crédito, mercado de trabalho e confianças – além do projeto de corte linear dos benefícios tributários a ser apresentado pela equipe econômica. Não deixe de conferir!

Convidado
O conflito entre Israel e o Irão, uma semana depois

Convidado

Play Episode Listen Later Jun 20, 2025 6:50


O conflito entre Israel e o Irão entrou hoje na sua segunda semana, sem que haja para já solução à vista. O Presidente americano disse que vai tomar uma decisão nestas duas próximas semanas sobre uma eventual participação do seu país no conflito do lado de Israel. Paralelamente, nesta sexta-feira, decorrem duas reuniões, uma do Conselho de Segurança da ONU para analisar a situação, e outra a nível europeu, com Paris, Berlim e Londres a pretenderem convencer Teerão a desistir do seu programa nuclear. João Henriques, vice-presidente do Observatório do Mundo Islâmico em Lisboa, considera que a solução pode apenas ser encontrada a nível diplomático e que o agressor objectivo, neste caso, é Israel. RFI: Qual é o balanço preliminar que se pode fazer, uma semana depois do inicio do conflito entre Israel e o Irão? João Henriques: Enquanto objectivamente não houver por parte de Israel uma interrupção dos ataques, naturalmente, eles desencadeiam a resposta, desencadeiam uma contra-ofensiva por parte do Irão. Os problemas existenciais que recorrentemente são referidos pelo Estado de Israel são iguais quando falamos de outro país qualquer. Neste caso, portanto, esta situação não vai ter uma solução próxima enquanto não houver entendimento entre as partes, com ou sem mediação no domínio da diplomacia. Vai ser através da diplomacia que o problema vai ser resolvido. Donald Trump anunciou um hiato, um interregno de duas semanas para que as partes se entendam naturalmente, e os Estados Unidos vão ter que mediar. Porque se houver a intervenção militar dos Estados Unidos através do lançamento de cargas de profundidade, naturalmente, isso vai pôr em causa a soberania iraniana e vai desencadear, com toda a certeza, um alastramento, uma escalada do conflito com a intervenção já avisada, embora não tenha sido explícita sob o ponto de vista da intervenção bélica, mas com intervenção, da China e da Rússia também. RFI: Há uma série de encontros que estão previstos nesta sexta feira, do Conselho de Segurança da ONU e também uma reunião aqui a nível europeu para tentar mediar o conflito. Há também apelos muito fortes aqui da Europa para que o Irão desista do nuclear militar. Julga que pode haver alguns avanços no domínio diplomático? João Henriques: Israel está a partir do princípio que o Irão tem armamento nuclear. Ora, clara e objectivamente, no Médio Oriente, o único país que tem armamento nuclear, embora não o reconheça, é precisamente Israel. E os ataques têm sido desencadeados a partir de território israelita. Portanto, quem está a ser atacado é o Irão. Quem tem de se defender é o Irão. Quem tem de ripostar é o Irão e não Israel. Israel não tem razão nenhuma porque está a partir do pressuposto que o enriquecimento do urânio é para produzir armamento nuclear. É legítimo que eles o pensem, mas não podem é recorrer a ataques preventivos. Estes ataques preventivos, de acordo com a lei internacional, só devem ter lugar na iminência de um ataque de outro país, o que não está a acontecer. Não há iminência de um ataque. Portanto, Israel está a fazer aquilo que à distância lhe convém, que é ir eliminando todos os focos de oposição. Fê-lo e continua a fazê-lo na Faixa de Gaza, alastrou depois para o Líbano, alastrou depois para a Síria, faz ataques à distância e em resposta, naturalmente, às iniciativas de solidariedade por parte dos Huthis do Iémen. E tudo isto está a criar uma situação, não é de descontrolo porque isso ainda não aconteceu. Mas se houver um atrevimento por parte dos Estados Unidos em avançar com cargas de profundidade, que os Estados Unidos são o único país que tem essas cargas de profundidade -embora a Rússia também as possa ter- que vão atingir as profundidades das estações de enriquecimento de combustível que o Irão tem, vai ser impossível. Embora Netanyahu tenha dito que 'não', que com ou sem o apoio dos Estados Unidos vai conseguir atingir os seus objectivos. Não vai conseguir, com toda a certeza neste domínio, de largar cargas de 3000 quilos, cargas de profundidade, porque não tem esse armamento, não tem essas soluções. Portanto, vamos confiar que estas conversações irão ter lugar. A Europa, finalmente está a colocar-se de novo do lado do agressor. Entre 1939 e 1945, a maioria dos países, a generalidade dos países que compõem a actual União Europeia deram apoio ao regime nazi de Adolf Hitler. Houve algum alheamento, mas depois, quando chega a altura de levantarem a voz, estou a falar da União Europeia, para promoverem um apoio, vão cair sempre do mesmo lado. A Europa deveria ser pragmática e dizer que a situação que está a decorrer é por culpa remota de Israel, porque é Israel o agressor nesta altura. RFI: Trump diz que poderia tomar uma decisão nestas duas próximas semanas. Israel tem condições para continuar a guerra contra o Irão sem o apoio dos Estados Unidos? João Henriques: Não. Aliás, Israel nunca teria chegado onde chegou sem o apoio incondicional dos Estados Unidos. Apoio em dinheiro, apoio em armamento, apoio junto da comunidade internacional. Não era possível. E no caso presente, retomando aquilo que eu referi há pouco, não há hipótese nenhuma de desmantelamento das plataformas de enriquecimento de urânio que o Irão tem objectivamente. Agora partir do princípio que elas, e se calhar até é verdade, têm finalidades bélicas, acho isso legítimo por parte de um país que se sente agredido, mas não pode tomar a dianteira, no pressuposto de que os ataques do Irão são iminentes. Não está a dar razão ao comportamento de Telavive. E sem dúvida que, face ao apoio que o Estado de Israel está a obter, nomeadamente dos Estados Unidos, isso naturalmente que vai contribuir para que haja uma manutenção desta agressão aos países e aos grupos quando combatem um grupo terrorista. É normal. Qualquer Estado deve ter condições e tem legitimidade para combater um grupo terrorista. Agora, envolver uma nação inteira porque há um grupo terrorista de 30 ou 40.000 efectivos que está a causar destruição, a causar angústia na sociedade israelita, isso é tomar a floresta pela árvore.

Mensagens do Meeting Point
87 com paixão

Mensagens do Meeting Point

Play Episode Listen Later Jun 20, 2025 2:33


devocional Lucas leitura bíblica Nesse momento, alguns fariseus disserem-lhe: “Retira-te daqui se queres continuar vivo, porque Herodes anda à tua procura!” Ao que Jesus respondeu: “Digam a essa raposa que continuarei a expulsar demónios e a operar curas milagrosas hoje e amanhã; e no terceiro dia chegarei ao meu destino. Sim, hoje, amanhã e depois de amanhã devo prosseguir o meu caminho! Porque não ficaria bem a um profeta de Deus ser morto noutro local que não em Jerusalém! Jerusalém, Jerusalém, cidade que mata os profetas de Deus e apedreja todos aqueles que ele lhe envia! Quantas vezes quis juntar os teus filhos como uma galinha junta os pintainhos debaixo das asas, mas vocês não me deixaram. Agora a vossa casa fica ao abandono. Lembrem-se do que vos digo: nunca mais me tornarão a ver senão quando disserem, ‘bendito aquele que vem em nome do Senhor!'” Lucas 13.31-35 devocional Jesus jamais se quis pôr a salvo. Salvar a Sua pele nunca Lhe passou pela cabeça, pois estava inteiramente focado em resgatar a nossa. As piores ameaças terrenas não O travaram. Nem o poder político, militar e religioso O fizeram mudar de ideias. Houve até quem com a melhor das intenções O quisesse poupar da morte e tentasse arranjar-Lhe uma escapatória. A questão é que aquilo que Lhe propunham que evitasse era justamente a Sua meta. Daí que tenha sinalizado que as Suas maravilhas estavam prestes a cessar já que “ao terceiro dia” tudo culminaria na cruz. Sim, disse-o com todas as letras: “É preciso que Eu siga o Meu caminho” para morrer em Jerusalém. Mais, cumpriu-o até ao fim. Ofereceu-Se por amor para nos unir ao Pai, “como uma galinha junta os pintainhos debaixo das asas.” Muitos não quiseram e outros tantos insistem nessa rebeldia. Não admira que se sintam sós até que venham a dizer: “Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor.” - jónatas figueiredo Oramos para que este tempo com Deus te encoraje e inspire.  Dá a ti próprio espaço para processar as tuas notas e a tua oração e sai apenas quando te sentires preparado.

JORNAL DA RECORD
19/06/2025 | 1ª Edição: Irã atinge hospital de Israel com míssil; ao menos 30 pessoas ficaram feridas

JORNAL DA RECORD

Play Episode Listen Later Jun 19, 2025 3:46


Confira nesta edição do JR 24 Horas: O conflito entre Israel e Irã entra em seu sétimo dia com um ataque iraniano a um hospital israelense. Mais de 30 pessoas ficaram feridas com o míssil que atingiu o hospital em Berseba, no sul de Israel. Houve correria nos corredores do local e três feridos estão em estado grave. Mísseis iranianos também foram lançados em Tel Aviv e alguns foram interceptados pela defesa aérea, mas a queda de um deles feriu ao menos 25 pessoas, entre elas uma criança. Já Israel afirmou que atingiu um local de desenvolvimento de armas nucleares, na região de Natanz, no Irã. E ainda: Defesa Civil emite alerta de risco muito alto de inundações em cidades gaúchas.

Convidado
Israel e Irão entram em confronto directo e violam o direito internacional

Convidado

Play Episode Listen Later Jun 16, 2025 14:01


O confronto directo entre Israel e o Irão marca uma viragem na longa guerra na sombra entre os dois países. Segundo o investigador do IPRI-Instituto Português de Relações Internacionais e professor do ISCET-Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo, José Pedro Teixeira Fernandes, Israel procura travar o programa nuclear iraniano, enquanto os dois países violam o direito internacional. O conflito reflecte rivalidades estratégicas profundas e agrava a instabilidade na região. RFI: Como é que chegámos a este conflito militar directo entre Israel e o Irão? José Pedro Teixeira Fernandes: É um processo que, no fundo, se tem agravado nos últimos meses ou anos. Contextualizando a conflitualidade que hoje estamos a ver importa referir o seguinte. Até há cerca de um ano, ou um ano e meio, ou até um pouco menos, o que existia era o que se chamava uma guerra na sombra. Tratava-se de confrontos não assumidos abertamente entre o Irão e Israel, ligados fundamentalmente à enorme inimizade entre os dois Estados. Esta resultava de acções e também declarações, muitas vezes bastante agressivas dos dirigentes iranianos e da reacção de Israel. Nesse contexto, houve todo um conjunto de operações, desde sabotagens a atentados. No entanto, raramente víamos ali pistas que nos permitissem afirmar abertamente a autoria. Até aí sabia-se que havia uma guerra travada na sombra, mas ambos os lados não pareciam querer subir esse patamar. Tudo se começou a alterar gradualmente a partir do ataque a Israel em 7 de Outubro, que é um ponto de viragem óbvio quando vemos o que está agora a acontecer no Médio Oriente. O Irão, com os seus aliados (desde logo o Hamas, o Hezbollah, os Houthis e grupos e milícias pró-iranianas na Síria), julgou que tinha encontrado uma situação ideal para pressionar ao máximo Israel e causar o máximo dano a Israel. E, realmente, a convicção existente início do conflito, quando recuamos a finais de 2023, era largamente, a nível internacional, de que o Irão tinha sido um dos grandes ganhadores do ataque do Hamas de 7 de Outubro e que estava numa posição de força. Os acontecimentos do ano passado vieram gradualmente a alterar essa realidade e a percepção sobre ela. Há um primeiro momento de um confronto indirecto, em Abril de 2024, na sequência de um bombardeamento feito na Síria, em Damasco, que atingiu anexos consulares iranianos. Apesar de tudo, esse primeiro bombardeamento feito directamente, que quebrou as regras anteriores porque foi assumido, foi de certa forma um prenúncio. Mas a retaliação iraniana foi pré-anunciada, o que permitiu, também, uma preparação defensiva de Israel e dos seus aliados. Houve uma acção liderada pelos Estados Unidos que ajudou à intercepção dos mísseis e drones iranianos pela primeira vez, de forma assumida,  disparados sobre Israel. A partir daí a situação continuou a agravar-se. Tivemos em Outubro de 2024 novamente um confronto directo entre os dois Estados, muito mais violento do que o primeiro. E a situação deteriorou-se ainda mais, o que nos leva até hoje. Parte disto está relacionada, certamente - e provavelmente a parte mais importante -, com a forma como Israel conseguiu largamente anular os grupos pró-iranianos na sua envolvente regional. O Hezbollah é um caso muito claro. Também a Síria, com a queda de Assad, trouxe outra transformação muito significativa. Quanto ao Hamas, provavelmente neste momento apenas tem capacidades militares residuais e não poderá montar qualquer ataque de envergadura contra Israel. Aliás, a questão em Gaza é agora fundamentalmente um drama humanitário imenso da população palestiniana, não um problema de ameaça militar a Israel. Mas, neste ambiente estratégico, onde o Irão tem um programa nuclear avançado que não só para fins pacíficos - isso parece-me  claro, apesar  do  Irão fazer um jogo ambíguo à volta do respeito pelo direito internacional -, a questão palestiniana fica, mais um vez, na sombra. Isto levou Netanyahu a ver aqui uma oportunidade estratégica para avançar com a possibilidade de eliminar ou tentar eliminar o programa nuclear do Irão. O que nos leva até hoje e esta situação crítica que estamos a ver. É evidente que esta actuação de Israel é censurável do ponto de vista do direito internacional. Mas também é censurável a posição do Irão de, no fundo, estar na teoria a respeitar a legalidade internacional mas na prática a violá-la, infringindo, desde logo, as regras do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TPI), embora de uma forma mais dissimulada. Indubitavelmente que um programa como o do Irão, com instalações nucleares subterrâneas defendidas militarmente - e outras mantidas secretas -, não é apenas para fins pacíficos. Assim, temos todo este cenário extraordinariamente crítico no Médio Oriente. Esta é uma guerra na sombra que existe há décadas, não começou na semana passada. O 7 de Outubro foi um ponto de viragem e talvez um pretexto para uma estratégia que Israel já tinha pensada, pergunto-lhe. Por que razão é que Israel vê o Irão como uma ameaça existencial? Qual é o projecto político de Benjamin Netanyahu? Porquê uma vitória não se limita ao campo de batalha? Claro, é um conflito - agora guerra aberta - com um longo e complexo historial. Penso temos aqui uma situação estratégica, como referia, estranha e curiosa ao mesmo tempo. Até 7 de Outubro e nos desenvolvimentos pelo menos imediatos, e utilizando aqui uma analogia com o xadrez, era o Irão que tinha uma estratégia de avanços no Médio Oriente e era o Irão que provavelmente imaginava poder dar, de alguma forma, uma espécie de xeque-mate a Israel, ou, pelo menos, colocar Israel numa situação particularmente aflitiva em termos de segurança e numa debilidade óbvia. Para isso, o Irão apostou numa estratégia, montada ao longo de vários anos, décadas até, de criar guardas avançadas no Líbano, no Iémen, em Gaza, na Síria e no Iraque. O que acontece é que a resposta de Israel, que também já estaria preparada, sobretudo no caso do Hezbollah, como vimos no ano passado, alterou a relação de forças existente. O que aconteceu com o Hezbollah e a forma como Israel conseguiu realmente eliminar militarmente as lideranças políticas do Hezbollah, certamente denota um plano que já existia há anos. Aí percebemos que Israel tinha feito uma preparação estratégica para esse cenário. O que parece também foi que as próprias contingências da guerra e os seus desenvolvimentos, tornaram, sobretudo o Primeiro-Ministro israelita Benjamin Netanyahu - um político que era relativamente prudente na prática, apesar de fazer sempre declarações muito contundentes e também agressivas - a assumir cada vez mais riscos. E isto também se liga, certamente, com a situação interna de Israel, porque a guerra também é uma forma de o governo de Netanyahu, que assenta numa coligação com partidos radicais de direita, se manter no poder. Há uma situação permanente de emergência. O próprio Netanyahu tem casos pendentes internamente e também no Tribunal Penal Internacional, que ajudam eventualmente a tomar este tipo de medidas mais arriscadas. Quanto à inimizade dos dois Estados tem um ponto de nascimento tão antigo quanto a actual República Islâmica do Irão. Até 1979, quando o Xá estava no poder, ambos eram aliados dos Estados Unidos. As relações eram normais e até de alguma proximidade estratégica. A partir daí, a revolução islâmica no Irão, que levou o Ayatollah Khomeini ao poder, assumiu uma dimensão religiosa e ideológica, passando o Irão a ver quer os Estados Unidos, quer Israel, como os seus maiores inimigos. O Irão, tal como o conhecemos nesta versão da República Islâmica, sempre olhou para Israel como o inimigo maior no Médio Oriente. Na terminologia da sua propaganda político-religiosa, é o pequeno Satã, sendo os Estados Unidos o grande Satã. Portanto, trata-se de uma hostilidade enraizada, de tonalidades religioso-políticas, que nunca se dissipou. Pelo contrário, teve até momentos de grande acentuação, como emergir da ambição nuclear do Irão, em especial durante a presidência de Ahmadinejad.   Quanto a tentar obter armamento nuclear, até se pode compreender que, do ponto de vista de um Estado como o Irão, que é xiita e mal aceite no Médio Oriente, maioritariamente árabe e sunita, se possa sentir ameaçado na sua segurança. Há também outros Estados - estou a pensar na Índia e no Paquistão -, que seguiram o caminho nuclear à margem do TPI. Israel é um outro caso, tudo indica, de um Estado com armas nucleares, precisamente por  se sentir num ambiente hostil e rodeado de inimigos. Mas o facto do Irão construir o programa nuclear sempre com ameaças dirigidas a Israel, as quais sobretudo durante a presidência Ahmadinejad (2005-2013), eram muito explícitas agressivas, toda essa retórica constante anti-Israel,  alimentou uma ideia, correcta ou incorrecta - estamos no domínio de percepções sobre intenções, mas num ambiente de desconfiança máxima - de que um Irão nuclear seria uma ameaça existencial e de que Israel se arriscaria ao desaparecimento com um Irão com armas nucleares.  Tudo isso leva-nos também ao ponto onde estamos hoje. Segundo alguns analistas, Israel leva a cabo uma limpeza étnica em Gaza, acelera a colonização na Cisjordânia, bombardeia o Líbano e a Síria com total impunidade, e quer redesenhar as fronteiras da região. Estamos perante uma mudança de era geopolítica no Médio Oriente. E pergunto-lhe: há risco de uma guerra regional ou as potências regionais e internacionais ainda procuram evitar uma conflagração total? O risco existe, e agora acentuou-se, mas apesar de tudo até agora tem sido gerido. Mas em relação à questão que me coloca, acho nós temos de distinguir as diversas situações onde Israel está envolvido. Há casos de conflitos mais convencionais, a intervenção militar de Israel na Síria ou no Líbano, apesar de o Hezbollah não ser propriamente o Estado libanês e já ser um produto da anomalia do Líbano - um Estado que, na realidade, teoricamente tem um governo e um exército, mas, na prática, quem detinha o maior poder era o Hezbollah. Quanto à Síria, estava em guerra civil, mas Assad parecia ter reconquistado o controlo do poder no país, embora se soubesse, também que continuava uma luta interna de facções e não controlava todo o território. No final de 2024, acabou por ocorrer a queda Assad, muito pelo enfraquecimento do Hezbollah (e do Irão) e também pela diminuição da presença da Rússia no país devido à guerra na Ucrânia - aqui vê-se a interligação dos assuntos. Outra questão é Gaza. Obviamente que Gaza é um problema  maior, envolvendo o crónico conflito de Israel com os palestinianos, tendo ainda conexões com os conflitos anteriormente referidos. Gaza mistura razões objectivas de necessidades de segurança israelitas - como o ataque do Hamas de  7 de Outubro mostrou - com  ambições territoriais, nada compreensíveis ou aceitáveis. Ou seja, aí fica claramente a ideia de que Israel acabou por ir longe demais, em termos de uma operação que já nem se percebe muito bem qual é o  objectivo e valor militar, e que está a provoca uma imensa catástrofe humanitária e sofrimento dos palestinianos. É verdade, como referido, que todas estas situações têm ligação entre si, não são peças soltas ou isoladas. Mas, ao mesmo tempo, para uma adequada análise, não podemos, eu diria, “meter tudo no mesmo saco”, como se estivéssemos no mesmo plano de confrontação militar. Agora, tudo isto levou Israel e em particular Netanyahu, o governo de Netanyahu, a ver aqui uma oportunidade de reconfigurar as relações de força no Médio Oriente a seu favor. Isso parece-me claro. Libertou-se da ameaça do Hezbollah, pelo menos temporariamente, no Líbano. Quanto à Síria, está a tentar recuperar da guerra civil e tem outras preocupações maiores que não são o Estado de Israel. Além disso, Israel também eliminou grande parte das capacidades militares do exército sírio. O Hamas em Gaza está numa posição também militarmente muito fraca. Os Houthis no Iémen vão mantendo alguma capacidade de causar alguns danos e perturbação, mas também não têm o poder de infligir danos militares de envergadura a Israel. Tudo isto, conjugado com a presença de um Presidente nos Estados Unidos que é um apoiante forte do Estado de Israel, como é Donald Trump, embora se perceba, também, que não há propriamente um encaixe perfeito nas linhas de actuação de ambos no Médio Oriente, cada um tem a sua agenda própria. Mas isto levou Netanyahu, conjugando também as circunstâncias internas que referi, a assumir riscos muito mais elevados e a convencer-se de que pode reconfigurar as relações de poder no Médio Oriente à sua maneira. Esta escalada de conflito vai enfraquecer ainda mais o Hamas? O Hezbollah está mais enfraquecido. Este pode ser o golpe de misericórdia no Hamas? Pode, mas, sobretudo, mais do que enfraquecer o Hamas, eu diria que, mais uma vez, os palestinianos ficam completamente perdidos nesta conflitualidade do Médio Oriente. Um dos efeitos laterais desta guerra aberta entre o Irão e Israel foi secundarizar o problema de Gaza, bem com o as conversações que existiam ao nível internacional para levar à criação de um Estado palestiniano. Portanto, existindo um conflito militar aberto entre Israel e o Irão, ainda por cima envolvendo um programa nuclear, o problema de Gaza passa para segundo plano. Não é a primeira prioridade política da diplomacia no Médio Oriente.  O Hamas também é um perdedor, mas tudo dependerá do resultado final deste conflito entre Israel e o Irão, que ainda é incerto. Quanto Irão - apesar dos elevados danos que sofreu provocados pelos ataques israelitas -, devo aqui também dizer, está a mostrar, provavelmente, capacidades de retaliação que eventualmente terão também surpreendido os israelitas. Embora, indiscutivelmente, o audacioso ataque israelita da passada semana tenha surpreendido, e de que maneira, o Irão, pelo menos no dia inicial, pelos efeitos devastadores que teve. Mas o resultado desta guerra também é ainda incerto, não é? A ser assim, diria que, mais do que o Hamas, os palestinianos serão, mais uma vez, perdedores maiores nisto.

Esportes
Brasil garante vaga no mundial de 2026 e país segue como único a disputar todas as Copas do Mundo

Esportes

Play Episode Listen Later Jun 15, 2025 8:10


Desta vez não teve drama. E foi com espetáculo! A vitória da seleção brasileira sobre o Paraguai na rodada das eliminatórias sul-americanas disputada na terça-feira (10) garantiu ao Brasil uma vaga na Copa do Mundo de 2026, que será disputada no Canadá, México e Estados Unidos entre os dias 11 de junho e 19 de julho do ano que vem. Maior campeão da história das Copas, com cinco títulos, o Brasil segue como a única seleção a participar de todas as 23 edições do torneio desde 1930. Marcio Arruda, da RFI em Paris A classificação para o mundial de 2026 com três rodadas de antecedência é um alívio para uma seleção que oscilava bastante nestas eliminatórias para a Copa. Neste período pós-Copa do Catar, o Brasil colecionou fracos desempenhos e três técnicos: Ramon Menezes, Fernando Diniz e Dorival Junior, que não conseguiram se firmar na seleção. Há menos de um mês, a Confederação Brasileira de Futebol anunciou o novo treinador: Carlo Ancelotti. O italiano, com um currículo vitorioso no comando de grandes clubes europeus, fez o Brasil voltar a sorrir; e o mais importante: jogando bem! A apresentação diante do Paraguai encheu os olhos de quem assistiu ao jogo disputado em São Paulo. Seleção brasileira em debate na Radio Foot Internationale A classificação do Brasil para a Copa do Mundo foi destaque no programa Radio Foot Internationale, da RFI. A apresentadora Annie Gasnier lembrou que o Brasil jamais esteve ausente de uma edição de Copa do Mundo. O programa, que exibiu a narração em francês do gol de Vini Jr contra o Paraguai, debateu a classificação do Brasil para a Copa do Mundo do ano que vem. O comentarista Dominique Baillif elogiou o atacante Vini Jr. “Vimos um excelente Vinicius. Um Vinicius que parece ter encontrado, agora com Carlo Ancelotti na seleção, o equilíbrio mental e do futebol. Ele cometia muitos erros nos últimos meses e nas últimas competições com o Brasil. Talvez a pressão fosse um pouco forte e ele não conseguia assumir o protagonismo. Desde que Carlo Ancelotti chegou, mesmo contra o Equador, ele passou a fazer esforços para os outros jogadores. E isso é uma coisa que não se via antes”, afirmou. Na sequência da mesa redonda da RFI, o comentarista Bruno Constant disse que não vê o atacante do Real Madrid como um líder em campo. “Quando você defende as cores do Real Madrid e vence a Liga dos Campeões, você faz parte ou deveria fazer parte dos líderes, mas eu não acho que ele (Vini Jr) seja um líder. Não é alguém que demonstre ser exemplo, não é alguém que tem o caráter ou a atitude de um líder. Eu vejo isso muito mais no Raphinha, o que me surpreendeu, especialmente quando ele jogou na França, no Rennes, e na Inglaterra, no Leeds. No Barça, ele se tornou capitão e assumiu a responsabilidade”. No programa, o comentarista Nabil Djellit resumiu o sentimento do técnico italiano Carlo Ancelotti. “Eu acho que ser campeão do mundo como o Brasil, não há coisa melhor no futebol. Simplesmente porque estamos falando do melhor país da história do futebol. Provavelmente, na média, dos melhores jogadores da história também porque, quando você retrata um pouco o caminho da história, se você tem de escolher os 20 melhores jogadores da história, provavelmente escolherá 4 ou 5 brasileiros, sem dificuldade”, opinou o comentarista.   Era Carlo Ancelotti Após a vitória por um a zero, com gol de Vini Jr, atacante do Real Madrid, o técnico Ancelotti, que comandou o brasileiro no clube espanhol até o mês passado, revelou a mentalidade da seleção para o duelo contra o Paraguai. “O futebol moderno é intensidade. Intensidade com a bola, também intensidade sem a bola. A pressão é muito importante porque não permite que o rival tenha tempo de jogar como queira. Então há um problema. Para ter pressão, é preciso correr. E se sacrificar, e ter compromisso e atitude; coisa que o time teve nestes dois jogos. Você pode fazer menos pressão, como fizemos contra o Equador, porque queríamos fazer menos pressão, ou fazer mais pressão porque queríamos mostrar uma versão diferente nesta partida; e fizemos bem. Mas a chave é essa: pressionar é muito importante, mas tem de correr”. O volante Casemiro, que ficou um ano e meio sem vestir a camisa da seleção, foi convocado por Ancelotti para esta rodada dupla das eliminatórias e foi um dos destaques da partida contra o Paraguai. Casemiro saiu de campo feliz com a classificação do Brasil. “Importante. Outra vez, um a zero. Mas foi importantíssimo”, disse o volante de 33 anos. O técnico Carlo Ancelotti destacou o rendimento do volante na partida diante do Paraguai. “Casemiro é uma segurança para a equipe. Obviamente, com sua posição, sua experiência, sua qualidade e sua liderança. Temos uma equipe com muitos jogadores que têm uma liderança muito forte, como ele, o Danilo, Marquinhos, Alisson. Estou muito satisfeito com esta equipe, não só pela qualidade, mas também pela atitude”, disse o treinador italiano. O goleiro Alisson, titular da seleção nas duas últimas Copas, também estava satisfeito com a classificação para o mundial de 2026. “Muito feliz pela classificação e pelo desempenho da equipe. Todo mundo está de parabéns. Houve muita entrega. Agora é seguir trabalhando. Vamos, Brasil!”, afirmou o goleiro de 32 anos. Classificado para a Copa e campeão da Champions Campeão da Champions League com o Paris Saint-Germain, o zagueiro Marquinhos estava vibrante com a classificação do Brasil para a Copa do Mundo de 2026. “Estamos na Copa, estamos na Copa. Mais uma! Chegamos na Copa! O primeiro objetivo foi alcançado. Agora é daqui para melhor. Melhorar para chegar nessa Copa. Primeiro objetivo conquistado com esta classificação para Copa do Mundo. É o começo do nosso sonho, é o começo do nosso objetivo. É muito bom. É muito bom estar em uma Copa do Mundo. Para quem foi, já experimentou isso aí. Para quem não foi, então aproveita bastante. E parabéns para todo mundo e é daqui para melhor, gente!” Carlo Ancelotti também falou do outro brasileiro campeão da última edição da Champions. O treinador da seleção destacou a versatilidade de Lucas Beraldo. “Beraldo pode jogar como zagueiro central e como lateral esquerdo. Ele é um jogador muito inteligente, que tem um toque de bola fantástico, como tem o Leo (Ortiz). Como zagueiro central, obviamente, estes jogadores fazem a saída de bola ser mais simples”, afirmou Ancelotti. Paixão verde e amarela Depois da classificação matemática para a Copa do Mundo, o técnico Carlo Ancelotti disse que vai extrair o melhor que a seleção tem: a paixão pelos torcedores. “Eu acho bom que a seleção do Brasil se mova pelas cidades e que todo país tenha a oportunidade de ver a seleção. Isso alimenta a paixão que precisamos ter de um país apaixonado como o Brasil será com a seleção durante o mundial. Isso é uma coisa que queremos fazer. E o que faremos é tentar trazer todo o país para nosso lado e isso vai nos ajudar a fazermos um bom mundial”, revelou o treinador da seleção. A classificação revigora a esperança pelo hexa em 2026. A chegada de Carlo Ancelotti deixou toda a torcida brasileira preparada para bordar a sexta estrela na mais tradicional camisa de futebol do planeta.

GE Grêmio
GE Grêmio #375 - Empate com altos e baixos aponta tema de casa nas férias

GE Grêmio

Play Episode Listen Later Jun 13, 2025 48:45


Eduardo Moura, Rafael Favero e Queki, da Voz da Torcida, discutem o empate com o Corinthians na Arena. Time de Mano Menezes sai na frente, mas cede empate e tem sequência de vitórias interrompida. Por que o time não conseguiu repetir o padrão de atuação da vitória sobre o Juventude? Houve alguma evolução após uma semana inteira de treinos? O que será preciso priorizar na parada do calendário? Aperte o play!

Reconversa
Juca Kfouri com Reinaldo e Walfrido: um goleador de placa da ética jornalística - Reconversa 96

Reconversa

Play Episode Listen Later Jun 12, 2025 109:06


O bate-papo fascinante com um dos maiores jornalistas do país, que dirigiu dois ícones das revistas da Abril: a “Placar” e a “Playboy”. Nesta última, Juca, formado em sociologia, mudou os padrões da publicação nos EUA e onde quer que fosse editada mundo afora. E a questão central dizia respeito à ética. Ele tem história, mas não é passado. Colunista do UOL, com programa na TVT, está presente nos mais importantes debates que há no país. Estrela do jornalismo esportivo, nunca se negou a tratar o futebol por aquilo que também é: um discurso político. No UOL Prime, em companhia de Pedro Lopes, fez o podcast “Neymar”. Houve tentativa de censura prévia, que, felizmente, não prosperou. E, claro, falamos sobre a CBF. Ainda que pareça surrealismo, a questão tem a cara do Brasil — no caso, de um Brasil que precisa mudar. Imperdível.

Presente Diário
"Aparências"

Presente Diário

Play Episode Listen Later Jun 12, 2025 3:24


Devocional do dia 12/06/2025 com o Tema: "Aparências" Lembro-me do meu casamento. Houve um bom período de relacionamento, entre namoro e noivado. E, como creio que acontece com todo jovem casal, parecia que todas as surpresas já haviam sido expostas. Leitura bíblica: Cantares 1.5-7 Versículo Chave: Não julguem de acordo com as aparências, mas julguem de maneira justa (Jo 7.24, NVT).See omnystudio.com/listener for privacy information.

Notícias Agrícolas - Podcasts
Em missão na China, Abramilho discutiu atualização de biotecnologias aprovadas para exportação aos chineses

Notícias Agrícolas - Podcasts

Play Episode Listen Later Jun 5, 2025 9:09


Houve avanço também nas tratativas para exportação do DDG, que pode começar entre 6 e 12 meses

E o Resto é História
Por que não houve uma guerra fria após 1918?

E o Resto é História

Play Episode Listen Later Jun 4, 2025 55:08


Após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, uma cortina de ferro separou a Europa ocidental da Europa oriental durante 40 anos. Porque é que não aconteceu uma Guerra Fria parecida após a Primeira Guerra?See omnystudio.com/listener for privacy information.

Economia do Futuro
O fim do mercado voluntário de carbono?

Economia do Futuro

Play Episode Listen Later May 22, 2025 40:01


A ideia dos créditos de carbono é poderosa: ao se colocar preços nas emissões e permitir o seu comércio, é possível oferecer incentivos para a descarbonização de vários setores da economia e para a criação de projetos que absorvam ou evitem gases de efeito estufa.Mas essa também é uma história de expectativas frustradas. Na primeira grande fase dos mercados de carbono, no início dos anos 2000, um esquema de comércio internacional foi estruturado e cresceu. Cerca de 1 bilhão de toneladas de emissões foram compensadas por meio do chamado MDL, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Mas também houve uma enxurrada de projetos de baixa qualidade, uma crise financeira global e a falta de compromisso dos países para dar continuidade a esse mecanismo.Mais recentemente, com o esforço de empresas para atingir o net zero, os créditos de carbono ganharam novo fôlego, dessa vez em um mercado voluntário. Bom, o resto da história você deve se lembrar. Houve um pico em 2021 e quedas desde então, por conta de uma grave crise de credibilidade.Ok, e agora? O episódio de hoje tenta responder a essa pergunta. Meu convidado é um pioneiro em mercados de carbono. Pedro Moura Costa esteve envolvido nos primeiros projetos de créditos de carbono do mundo e fundou a EcoSecurities, empresa que abriu capital na Bolsa de Londres e liderou o setor de compensações em sua primeira fase (sob o Protocolo de Kyoto). Pedro também fundou a ONG BVRio, Bolsa Verde do Rio de Janeiro e, como autor principal do IPCC – o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU – foi um dos pesquisadores reconhecidos pelo Prêmio Nobel da Paz de 2007, concedido ao IPCC como um todo. Hoje, Pedro é membro do conselho consultivo da Oxford Climate Policy e da Voluntary Carbon Markets Integrity Initiative (VCMI) – ou seja, continua absolutamente envolvido na evolução dos mercados de carbono.Eu já vou adiantar aqui a parte mais importante dessa conversa: Pedro não vê futuro para o mercado voluntário. Pelo contrário, ele acredita numa substituição por outro sistema, de compliance. Support the showO Economia do Futuro é publicado quinzenalmente às quintas. Para apoiar, envie este episódio para um amigo por Whatsapp. Para entrar em contato, escreva para podcast@economiadofuturo.com

Trip FM
Qual o valor da arte brasileira?

Trip FM

Play Episode Listen Later May 16, 2025


Vilma Eid vive e estuda a arte popular há 40 anos. A galerista fala de talento, preconceito e o deslumbramento recente da "elite" Com uma das maiores defensoras da arte popular brasileira, Vilma Eid nunca pensou em desistir – nem mesmo quando passou quatro anos tocando uma galeria sem vender uma única obra. “Nunca me ocorreu dizer: não vou mais trabalhar com isso", disse a diretora artística e fundadora da Galeria Estação, em São Paulo. No Trip FM, ela conta como resistiu ao preconceito do mercado ao valorizar obras de estilos artísticos sub-representados no país. “A SP-Arte, principal feira de arte da América Latina, levou quatro anos para me aceitar. Diziam: ‘Os outros galeristas não querem uma galeria de arte popular'. Nunca levei para o lado pessoal. Mas, pra mim, o que mais doía era ver meu trabalho e, principalmente, os meus artistas, sendo colocados de lado.” No papo com Paulo Lima, ela também relembra momentos inusitados – como a vez em que andou com uma tela de Marc Chagall, um dos pintores mais importantes do Surrealismo, no porta-malas do carro, sem seguro ou embalagem. Hoje, parte da coleção pessoal de Vilma está em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, na exposição "Em cada canto", que reúne mais de cem obras e propõe um diálogo entre a arte popular, a moderna e a contemporânea, desafiando as classificações tradicionais – exatamente como Vilma sempre defendeu. "Às vezes eu mesma me pergunto como é que eu soube que esse era o caminho, não foi uma escolha racional. Era uma necessidade minha”, disse. O programa fica disponível no Spotify e no site da Trip! [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/05/68273e255712c/vilma-eid-galerista-arte-popular-brasileira-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=] Você já pensou em desistir da arte em algum momento? Vilma Eid. Nunca me ocorreu dizer: “Não, eu não vou mais trabalhar com isso, vou procurar outra coisa”. Não me ocorreu. Eu sofri muito preconceito, assim como esses artistas sempre sofreram. Mas não era uma escolha racional. Era uma necessidade minha. Às vezes eu me pergunto como é que eu soube que esse era o caminho... Mas é porque era o que eu precisava fazer. Houve um período difícil no começo da galeria? A gente passou quatro anos sem vender nada. As pessoas vinham aqui porque tinham ouvido falar que a galeria era bonita, um espaço novo e tal. Entravam e perguntavam: “Isso aqui é do município? É do estado?” A SP-Arte levou quatro anos para me aceitar. As desculpas eram várias: “Os outros galeristas não querem uma galeria de arte popular”. Nunca levei isso pro lado pessoal. Mas, pra mim, o mais dolorido era pelo meu trabalho, pelos meus artistas. Como você enxerga o mercado de arte hoje? As pessoas estão usando muito o termo... Não é mais arte, é commodities. Outro dia, um jovem virou pra mim e disse: “Esse mercado que você está descrevendo, Vilma, não existe mais”. Pois é. Eu não fui preparada para o mercado de hoje. Eu vejo com muita ressalva essa euforia, que nem sempre é verdadeira. Parece que a gente tem que dizer que a exposição foi um sucesso, que vendeu não sei quantas obras, que faturou não sei quanto... Senão o cliente não acredita. E o reconhecimento internacional? Como você vê esse movimento recente? O Sul Global virou 'moda' e, de certa forma, a gente ganha com isso. Há um entendimento crescente nos EUA e na Europa de que é preciso olhar além do próprio umbigo. Mas ainda é um fenômeno mais geopolítico do que artístico. Mesmo Tarsila do Amaral, com toda a sua relevância, só teve sua primeira grande exposição na Europa recentemente.

Noticiário Nacional
15h Não houve problemas de segurança no Hospital de Faro

Noticiário Nacional

Play Episode Listen Later May 15, 2025 12:37


Noticiário Nacional
17h Nunca antes houve tantos inscritos em voto antecipado

Noticiário Nacional

Play Episode Listen Later May 15, 2025 11:28


GE Vasco
GE Vasco #395 - O que mudou na estreia de Diniz?

GE Vasco

Play Episode Listen Later May 14, 2025 79:17


Episódio analisa a atuação vascaína na derrota para o Lanús. Houve evolução com Fernando Diniz? Por que o time caiu tanto no segundo tempo? É preciso mexer na escalação? Dá o play!

No pé do ouvido
Após reunião, China e EUA dizem que houve acordo sobre tarifaço

No pé do ouvido

Play Episode Listen Later May 12, 2025 26:34


Hoje, ‘No Pé do Ouvido, com Yasmim Restum, você encontra essas e outras notícias: STF forma maioria para condenar Zambelli e hacker por invasão aos sistemas do CNJ. Julgamento sobre proteção a Ramagem abre nova crise entre Câmara e STF, avaliam líderes. Quilombolas vivem majoritariamente em áreas rurais no Brasil, mostra IBGE. Indígenas Pataxós transformam antiga fazenda com modelo agroecológico. Papa Leão XIV pede paz duradoura em regiões castigadas por conflitos. E a produção brasileira ‘Irmão do Jorel’ vence Prêmio Quirino de melhor série.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer

Houve quem tivesse tido um calafrio. A notícia de que o colégio cardinalício escolheu um norte-americano para suceder a Francisco ocorreu no final da semana em que a página oficial da Casa Branca publicou uma imagem de Donald Trump como Papa. Afinal era fumo (branco) sem fogo. Robert Prevost, daqui em diante Leão XIV, até já publicou nas redes sociais palavras pouco meigas acerca de J.D. Vance. Enquanto isso, a imigração e a lei da greve entraram na campanha eleitoral por iniciativa da AD e sob forte contestação da esquerda. Montenegro e Gouveia e Melo foram desautorizados judicialmente, em dois processos que perderam. Enquanto no mundo, em pano de fundo, está em curso um crime contra a humanidade quase em surdina: Israel acelerou a ocupação militar da Faixa de Gaza e mantém um cerco que está a matar palestinianos à fome. O novo Papa tem muito por quem rezar.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer
Apagão, discussão e comunicação

Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer

Play Episode Listen Later May 3, 2025 49:40


O combate dos chefes teve de ser adiado. Só na quarta-feira os dois candidatos ao cargo de primeiro-ministro estiveram frente-a-frente. O país pôde finalmente ouvi-los desentenderem-se. Já havia energia para isso. Dois dias antes, o país parou. Houve quem visse no apagão um momento bucólico. A família da mulher do Cacém que morreu é capaz de não estar de acordo com esta perspectiva romântica. A gestão comunicacional do governo também não saiu incólume do incidente. Ao contrário do que disse um ministro, o problema não aconteceu por toda a Europa. E ao contrário do que aventou outro, não foram terroristas informáticos que nos desligaram da ficha durante dez horas. A vida lá se recomopôs com mais ou menos jerricãs durante o período crítico. E o 25 de Abril, adiado pelo governo para o primeiro de Maio, viria a tornar-se num inédito “São Bento em Família”, onde o primeiro-ministro se juntou a um piquenicão com “sonhos de menino”. Emitido na SIC Notícias a 2 de maio. Para ver a versão vídeo deste episódio, clique aquiSee omnystudio.com/listener for privacy information.

GameFM » Debug Mode – Podcast
O PÂNICO SATÂNICO NOS GAMES - Debug Mode #532 - Podcast

GameFM » Debug Mode – Podcast

Play Episode Listen Later Apr 16, 2025 217:35


Hoje teremos um episódio "polêmico". Houve um momento em que a mídia e imprensa simplesmente piraram e tudo o que envolvia jogos, cards e RPG era "obra do demônio". Nesse episódio, falamos sobre algumas dessas histórias bizarras e acontecimentos do Brasil e no mundo, além de nossas experiências pessoais. Confira!

Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer
As tarifas, o sentido de Estado e o rabo

Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer

Play Episode Listen Later Apr 12, 2025 50:40


Foi uma semana de Feira Popular. O público não tirou os olhos do poço da morte, antecipando o desastre iminente. Houve quem se visse obrigado a engolir facas. O carrossel bolsista esteve imparável. E o prestidigitador-mor teve de interromper parte do truque a meio da actuação. Em traje de gala e linguagem de taberna, anunciou que havia muitos países a quererem beijar-lhe o rabo. A marca de um estadista. Ainda assim, a maior parte das tarifas está suspensa por 90 dias. É caso para perguntar quem terá metido o rabo entre as pernas. Em todo o caso, a guerra comercial com a China mantém-se e está ao rubro. Com um resultado digno de jogo de basquetebol: 145-125. Na comezinha realidade nacional, ao fim da primeira semana de frente-a-frente, já se começam a debater os debates. Coisa para que muitos portugueses não terão tempo nem paciência. Como levar-lhes a mal? Pois se até o presidente do Benfica foi confessar a tribunal que lhe falta disponibilidade para ler os contratos que assina!See omnystudio.com/listener for privacy information.

Mamilos
Me apaixonei por uma IA, e agora?

Mamilos

Play Episode Listen Later Apr 1, 2025 57:38


Relacionamentos entre humanos e máquinas já renderam personagens icônicos na ficção científica. A babá robô dos Jetsons, os carismáticos C3PO e R2D2 de Star Wars, a assistente virtual no filme HER, até os androides autoconscientes de Westworld. O ponto é que isso não é mais só imaginação. Com a evolução e popularização das IAs generativas com memória, como o Replika ou o Character.AI, essas relações já fazem parte da realidade.​ Em 2018, o japonês Akihiko Kondo casou-se com uma cantora holográfica chamada Hatsune Miku, numa cerimônia com direito a convidados, vestido de noiva (holográfico) e votos personalizados. Kondo se tornou uma espécie de símbolo daquilo que muitos ainda encaram com estranhamento: relações afetivas com entidades artificiais. Desde então, ele tem aparecido em documentários, dado entrevistas e defendido publicamente o direito de amar quem — ou o que — quiser. No outro pólo da discussão temos o caso do adolescente de 14 anos com Síndrome de Asperger cometeu suicídio, em 2024, após desenvolver uma relação intensa com um chatbot baseado na personagem Daenerys Targaryen, de Game of Thrones. A família processou a plataforma Character.AI, levantando debates sobre responsabilidade emocional, vulnerabilidade e os limites desse tipo de vínculo. O que essas notícias causam na gente? Na maioria das vezes, estranhamento, julgamento moral e medo. É possível ver de outra forma? Eu tive a oportunidade de assistir um painel reunindo três professores que pesquisam sobre o tema, e apresentaram uma abordagem muito provocativa. A professora Jamie Banks, especialista em relações humano-máquina e cognição social da Universidade de Syracuse falou que na prática, sempre humanizamos objetos. Quem nunca deu nome a um carro ou sentiu carinho por um utensílio antigo? Quando essa relação se transfere para um chatbot com rosto e memória, é natural que o vínculo pareça ainda mais real. Ela quebra estereótipos afirmando que as pessoas que se envolvem com essas IAs não estão confusas: sabem que não há ninguém do outro lado. Mas afirmam com convicção que os sentimentos vividos são reais.​ Jessica Szczuka, faz pesquisa com foco em sexualidade, afeto e dados empíricos sobre interações com tecnologia na NYU, e apresentou dados quantitativos com pessoas que dizem estar em relacionamentos românticos com bots. A grande surpresa? A solidão não aparece como fator determinante. O que se destaca é a capacidade de fantasiar. Gente que consegue imaginar cenas, jantares, passeios e até uma vida a dois com um agente artificial. O filósofo Neil McArthur, é diretor do Centro de Ética Aplicada da Universidade de Manitoba, no Canadá, convidou para uma mudança de paradigma.. Em vez de partir do “por que alguém faria isso?”, talvez seja mais interessante perguntar “por que não?”. Para ele, o estranhamento diante desses vínculos artificiais não é novo — é o mesmo ciclo que já aplicamos a qualquer afeto considerado fora da norma: primeiro julgamos, estigmatizamos, ferimos. Só depois, aos poucos, reconhecemos, ouvimos, entendemos e trabalhamos para quebrar o tabu. Ele questiona se não podemos mudar o ciclo dessa vez, e abordar essas relações com mais interesse, curiosidade e empatia. Claro, o painel não foi ingênuo. Houve alertas sobre o uso de dados sensíveis, os riscos de manipulação emocional e até o impacto de empresas encerrarem serviços abruptamente, como no caso do Replika, que, após uma atualização em dezembro de 2024, removeu a funcionalidade de role play erótico, causando uma sensação de perda e luto em muitos usuários que mantinham relações íntimas com seus companheiros virtuais. É a partir dessas provocações que a gente quer propor uma conversa hoje. e estamos em boa companhia: Luiz Joaquim Nunes: Consultor e professor de inteligência artificial, dados, psicologia ambiental e ética, com formação em matemática aplicada e em psicologia social. Dora Kaufman: Professora e pesquisadora dos impactos éticos e sociais da IA na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Anuncie no Mamilos ou contrate a consultoria Milos: mamilos@mamilos.me Saiba mais em Mamilos.me