POPULARITY
Categories
Do Dragão aos Balaídos são 140 km. Para mim foram três dias. Estive nos dois estádios e falei da experiência de ver um jogo europeu e um de La Liga neste episódio, sem esquecer a atualidade, onde os SL Benfica, FC Porto e Sporting CP venceram com 'confortos' diferentes.Houve ainda espaço para o tema retro sobre o homem que entrou para o Guiness pelo nº de clubes que representou.
Aprofunde sua devoção a Deus em fiel.in/devocionalA vergonha triunfante da cruzNem ainda para se oferecer a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio. Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado. (Hebreus 9.25-26)Não deve se considerar como garantido que haverá um acolhimento para pecadores no céu.Deus é santo, puro, perfeitamente justo e reto. Contudo, toda a história da Bíblia é sobre como um Deus tão grande e santo pode receber e recebe pessoas sujas como você e eu em sua presença. Como é possível?Hebreus 9.25 diz que o sacrifício de Cristo pelo pecado não foi como os sacrifícios dos sumos sacerdotes judeus. Eles entravam no Santo dos santos anualmente com sacrifícios de animais para expiar os pecados do povo. Mas esses versículos dizem que Cristo não entrou no céu para “oferecer a si mesmo muitas vezes... neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo” (Hebreus 9.26).Se Cristo tivesse seguido o modelo dos sacerdotes, precisaria morrer anualmente. E como os pecados a serem cobertos incluiriam os pecados de Adão e Eva, ele precisaria começar sua morte anual na fundação do mundo. Mas o escritor trata isso como impensável.Por que isso é impensável? Porque faria a morte do Filho de Deus parecer fraca e ineficaz. Se precisasse ser repetida ano após ano durante séculos, onde estaria o triunfo? Onde veríamos o valor infinito do sacrifício do Filho? O valor desapareceria na vergonha de um sofrimento e morte anuais.Houve vergonha na cruz, mas foi uma vergonha triunfante. “[Jesus] não fez caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus” (Hebreus 12.2).Esse é o evangelho da glória de Cristo, a imagem de Deus (2 Coríntios 4.4). Oro para que, por mais sujo com o pecado que você seja, você veja a luz dessa glória e creia.--Devocional Alegria Inabalável, por John Piper | Editora Fiel.Conteúdo oferecido em parceria entre Desiring God e Ministério Fiel.
A saída de Umaro Sissoco Embaló para Dacar não prova qualquer golpe, defende o analista político Armando Lona, que garante tratar-se de “uma farsa” montada por um Presidente "derrotado nas urnas". Sem ruptura militar real, o coordenador da Frente Popular defende que o país aguarda pelo anúncio dos resultados eleitorais e que o povo guineense “derrubou a ditadura nas urnas”, exigindo agora que a ordem constitucional seja restaurada. O antigo Presidente da Guiné-Bissau, deposto por um grupo de militares chegou, ontem à noite, a Dacar num avião fretado pelo governo senegalês. Nos próximos dias, é esperada em Bissau uma missão de mediação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), anunciada depois da cimeira de emergência entre os líderes regionais. O analista político guineense e coordenador da Frente Popular, Armando Lona, rejeita a leitura de que esteja em curso um golpe militar, descrevendo a situação como “uma farsa” atribuída a um Presidente “derrotado nas urnas”. Armando Lona começa por contrariar a interpretação de que exista uma crise institucional na Guiné-Bissau: “Nós não temos nenhuma crise. O que estamos a viver é uma farsa provocada por Umaro Sissoco Embaló, candidato derrotado nas eleições de 23 de Novembro”. Para o analista, a instabilidade das últimas semanas resulta de uma estratégia recorrente: “Ele perdeu as eleições. Ciente disso, voltou à sua técnica privilegiada. Ele é especialista na invenção de golpes. Inventou há três semanas um golpe e inventou outro há dois dias.” Segundo Armando Lona, Umaro Sissoco Embaló terá procurado manipular as comissões regionais de eleições e, posteriormente, a Comissão Nacional de Eleições (CNE). “Tentou (…) forjar resultados falsos e, com o fracasso, avançou para esse plano de golpe de Estado”, descreve. Contudo, rejeita que tenha havido qualquer tomada de poder por parte das Forças Armadas: “Como é possível falar em golpe de Estado de um Presidente que tem um exército atrás de si e um contingente de centenas de homens da CEDEAO, como se faz um golpe nesta situação?” Para Armando Lona, a explicação é simples: “Quem o derrotou não foram os militares, mas sim o povo da Guiné-Bissau.” Os membros da CEDEAO estiveram reunidos de emergência, esta quinta-feira ao final do dia, e anunciaram o envio de uma missão de mediação composta pelos presidentes de Serra Leoa, Senegal, Cabo Verde e Togo. Armando Lona reconhece que a organização actua em conformidade com o protocolo, mas acusa-a de falhar sistematicamente no país: “É uma obrigação da CEDEAO, que falhou várias vezes. (…) A força da CEDEAO está no país apenas para proteger o Presidente agora derrotado, Umaro Sissoco Embaló.” E questiona: “Como se pode permitir que chegássemos a este ponto com uma força incapaz de cumprir a sua função?” Apesar das críticas, considera necessária a decisão anunciada pelos líderes regionais: “A posição é clara: retorno à ordem constitucional, retomada do processo eleitoral e anúncio dos resultados da eleição de domingo, cujo vencedor já é conhecido.” Para Armando Lona, tudo depende agora da formalização dos resultados: “As missões de observação internacional têm os resultados. A CNE tem os resultados. Falta apenas anunciá-los para que o Presidente eleito tome posse.” “O povo guineense derrotou a ditadura nas urnas, derrotou o autoritarismo e derrotou o culto de personalidade”, acrescentando que “o povo guineense está disposto a novos sacrifícios para fazer respeitar a sua vontade. Não vamos permitir mais fintas”. Sobre a saída de Umaro Sissoco Embaló para Dacar, Armando Lona não exclui a hipótese de apoio internacional. “É uma suspeição legítima, tendo em conta o papel dúbio da França em relação à Guiné-Bissau”, observa, recordando que não seria a primeira vez que Paris actuaria nos bastidores de crises africanas. No entanto, distingue a França do Senegal: “Do Senegal não acredito. O Senegal tem uma opinião pública esclarecida (…) e uma consciência africana que não permite jogos obscuros.” Armando Lona rejeita a narrativa de perseguição apresentada pelo Presidente deposto: “O que ele fez foi para procurar proteção. Não teve coragem de abandonar o país reconhecendo a derrota e criou um quadro de vitimização, quando, na verdade, se tratou de um golpe fabricado por ele.” E recorda que tais episódios seriam recorrentes: “Toda a gente sabe. Não é a primeira vez; será a quinta ou sexta vez que inventa golpes.” Para o analista, a comunidade internacional tem agora um papel determinante: “Saudamos o posicionamento firme das missões de observação internacional, da CPLP, da União Africana e da CEDEAO.” Segundo o coordenador da Frente Popular, existe um alinhamento claro: “Encorajamos essas organizações a prosseguir para que sejam criadas condições para o anúncio dos resultados e a tomada de posse do novo Presidente.” Quanto à missão da CEDEAO que deve chegar a Bissau nos próximos dias, Armando Lona considera adequada a composição: “As pessoas envolvidas conhecem profundamente o país. Não são estranhas à Guiné-Bissau", reforçando que o país aguarda apenas o passo final: “Houve uma eleição transparente. Um candidato venceu. Resta criar condições para que a entidade competente anuncie os resultados.”
Há criadores que operam dentro das fronteiras técnicas do seu ofício. E há outros que as redesenham. Manuel Pureza pertence à segunda categoria — a dos artistas que não apenas produzem obras, mas insinuam uma forma diferente de olhar para o mundo. Ao longo da última década, Pureza foi aperfeiçoando um dialeto visual singular: um equilíbrio improvável entre humor e melancolia, entre disciplina e improviso, entre ironia e empatia. Cresceu no ritmo acelerado das novelas, onde se aprende a filmar com pressão, velocidade e um olho permanentemente aberto para a fragilidade humana. Dali trouxe algo raro: um olhar que recusa o cinismo fácil e que insiste que até o ridículo tem dignidade. Na televisão e no cinema, a sua assinatura tornou-se evidente. Ele filma personagens como quem observa amigos de infância. Filma o quotidiano com a delicadeza de quem sabe que ali mora metade das grandes histórias. Filma o absurdo com a ternura de quem reconhece, nesse absurdo, o lado mais honesto do país que habita. Um humor que pensa Pureza não usa humor para fugir — usa humor para iluminar. Em “Pôr do Sol”, o fenómeno que se transformou num caso sério de análise cultural, a comédia deixou de ser apenas entretenimento. Tornou-se catarse colectiva. Portugal riu-se de si próprio com uma frontalidade rara, quase terapêutica. Não era paródia para diminuir; era paródia para pertencer. “O ridículo não é destrutivo”, explica Pureza. “É libertador.” Essa frase, que poderia ser um manifesto, resume bem o seu trabalho: ele leva o humor a sério. Independentemente do género — seja melodrama acelerado ou ficção introspectiva — há sempre, no seu olhar, a ideia de que rir pode ser um acto de lucidez. Num país onde o comentário público tantas vezes se esconde atrás da ironia amarga, Pureza faz o contrário: usa a ironia para abrir espaço, não para o fechar. A ética do olhar Filmar alguém é um exercício de confiança. Pureza opera com essa consciência. Não acredita em neutralidade — acredita em honestidade. Assume que cada plano é uma escolha e que cada escolha implica responsabilidade. Entre atores, essa postura cria um ambiente invulgar: segurança suficiente para arriscar, liberdade suficiente para falhar, humanidade suficiente para recomeçar. Num set regido pelo seu método, a escuta é tão importante quanto a técnica. E talvez por isso os seus actores falem de “estar em casa”, mesmo quando as cenas são emocionalmente densas. A câmara de Pureza não vigia: acompanha. É aqui que a sua realização se distingue — não por uma estética rigorosa, mas por uma ética clara. Filmar é expor vulnerabilidades. E expor vulnerabilidades exige cuidado. Portugal, esse laboratório emocional O país que surge nas obras de Pureza não é apenas cenário: é personagem. É o Portugal das contradições — pequeno mas exuberante, desconfiado mas carente de pertença, irónico mas sentimental, apaixonado mas contido. É um país onde a criatividade nasce da falta e onde o improviso se confunde com identidade. Pureza conhece esse país por dentro. Viu-o nos sets frenéticos das novelas, nos estúdios apressados da televisão generalista, nas equipas improváveis de produções independentes. E filma-o com um olhar feito de amor e lucidez: nunca subserviente, nunca destructivo, sempre profundamente humano. Há nele uma capacidade rara de observar sem desistir, de criticar sem amargar, de rir sem ferir. Infância, imaginação e paternidade Numa das passagens mais íntimas desta conversa, Pureza regressa à infância — não como nostalgia decorativa, mas como território de formação. A infância, para ele, é o sítio onde nasce a imaginação, mas também o sítio onde se aprende a cair, a duvidar, a arriscar. Esse lugar continua a acompanhar o seu trabalho como uma espécie de bússola emocional. Falar de infância leva inevitavelmente a falar de paternidade. Pureza rejeita a figura do pai iluminado, perfeito, imune ao erro. Fala antes da paternidade real: aquela onde se erra, se tenta, se repara, se adia, se volta a tentar. A paternidade que implica fragilidade. A paternidade que obriga a abrandar num mundo que exige velocidade. Talvez seja por isso que, quando dirige, recusa o automatismo: a vida, lembra, é sempre mais complexa do que aquilo que conseguimos filmar. Escutar como acto político Se há uma frase que atravessa toda a conversa, é esta: “Nós ouvimos pouco.” No contexto de Pureza, ouvir é um verbo político. Num país saturado de ruído, opiniões rápidas e indignações instantâneas, escutar tornou-se quase um acto contracultural. Ele trabalha nesse espaço de atenção — aquele que permite às pessoas serem pessoas, antes de serem personagens, headlines ou caricaturas. É por isso que o seu trabalho ressoa: porque devolve humanidade ao que, tantas vezes, o discurso público reduz. O que fica No final, a impressão é clara: Manuel Pureza não realiza apenas obras. Realiza ligações. Realiza espelhos que não humilham. Realiza pontes entre o ridículo e o sublime. Realiza histórias que, ao invés de nos afastarem, nos devolvem uns aos outros. Há artistas que acrescentam ao mundo um conjunto de imagens. Pureza acrescenta uma forma de ver. E num tempo em que olhar se tornou um acto cada vez mais acelerado — e cada vez menos profundo — isso não é apenas uma qualidade artística. É um serviço público da imaginação. LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO Esta transcrição foi gerada automaticamente. A sua exatidão pode variar. 0:12 Ora, vivam bem vindos ao pergunta simples, o vosso podcast sobre comunicação? Hoje recebemos alguém que não apenas realiza séries e filmes, mas realiza no sentido mais profundo do termo, a forma como olhamos para nós próprios, a maneira como nos espelhamos. 0:28 Manuel pureza é daqueles criadores que trabalham com rigor e com leveza, com inteligência, com humor, com disciplina e com um caos. Ele cresceu nas novelas, aprendeu a filmar sob pressão, descobriu um olhar que combina ternura com ironia e tornou se uma das vozes mais originais da ficção portuguesa. 0:46 E é capaz de pegar no ridículo e transformá lo em verdade, de pegar no quotidiano e transformá lo em drama, de pegar no drama e transformá lo em riso. Tudo sem perder a humanidade, o coração e a ética de quem sabe que filmar é escolher, ter um ponto de vista e que escolher é sempre um ato moral. 1:06 Neste episódio, abrimos as portas ao seu processo criativo, às dúvidas e às certezas, às dores e às gargalhadas, às memórias da infância e às inquietações da idade adultam. Falamos de televisão como um espaço de comunhão. Das novelas como um ginásio, do humor, como o pensamento crítico da arte de ouvir e de ser pai no mundo acelerado, da vulnerabilidade que existe por detrás de uma Câmara e, claro, de Portugal, este país pequeno, cheio de afetos e de feridas, onde tudo é simultaneamente muito absurdo e muito verdadeiro. 1:38 Pureza fala com profundidade e como honestidade às vezes. Desconcertante é uma dessas conversas em que senti que estamos a ver para além do artista, estamos a ver a pessoa, a sensibilidade das dúvidas, a Esperança e a inquietação de alguém que pensa o mundo através das histórias que nos conta. 2:05 Ao longo desta conversa, percebemos como as histórias, para Manuel pureza, não são apenas entretenimento. São uma estrutura emocional de uma forma de organizar o caos, uma linguagem antiga que herdamos mesmo antes de sabermos ler ou escrever. Falamos do poder das narrativas para dar sentido à vida, mas também do seu lado perigoso, porque todas as histórias têm um ponto de vista, todas têm escolhas e omissões, todas moldam a forma como vemos o que é real. 2:33 E ele, pureza. Assume isto sem medo. Assume que filma com olhar assumidamente subjetivo e que essa subjetividade é precisamente a sua assinatura. Não procura parecer neutro, procura ser honesto. Também exploramos a sua relação com o humor. 2:49 O humor que nunca é cínico, nunca é cruel, nunca é gratuito. O ridículo não é uma arma para diminuir os outros. É uma maneira de libertar, de expor o que há de comum entre nós, de desmontar o que é pomposo e de aliviar o peso de viver. 3:04 Diz na própria conversa que tudo pode ser ridículo e isso é uma forma de Redenção. O riso organiza o pensamento, afia o espírito, desarma o mundo e, talvez por isso, o pôr do sol. A série tem sido mais do que um fenómeno cômico, foi um fenómeno emocional quase terapêutico. 3:20 Um espelho carinhoso onde Portugal se reviu e se perdoou, um bocadinho. Falamos da ética, da ética, do olhar, de como se almar alguém. É sempre um ato de intimidade. De como se cria confiança dentro de um set de filmagens, como se dirige atores diferentes, como se acolhe fragilidades? 3:38 Várias. E falamos da amizade e esse tema que atravessa todo o trabalho de pureza, porque para ele, realizar não é apenas uma técnica, é uma escuta, uma presença, um cuidado. Ouvimos muitas vezes ao longo deste episódio, uma afirmação quase simples. Nós ouvimos pouco. 3:55 E quando alguém é capaz de. A olhar tanto e nos diz que ouvimos pouco. Vale a pena parar para escutar. E, claro, falamos de Portugal, um país pequeno, por vezes cínico, com uma profunda tendência para desconfiar do sucesso alheio. Um país que pureza filma com ironia, amor e lucidez. 4:14 E da inveja. Claro que falamos da inveja no país das novelas, do improviso, da criatividade teimosa, das personagens maiores que a vida. O país que ele conhece por dentro e por fora, e que aprende a amar com o humor, mesmo quando o humor é a única forma de suportá lo. Num dos momentos mais belos da conversa, falamos da infância, esse lugar de Liberdade, de curiosidade, de imaginação que pureza tenta manter vivo dentro de si. 4:39 E falamos também do que é ser pai, dos medos que isso acende, da responsabilidade que isso traz. Da paternidade iluminada, mas da paternidade real, onde se falha, se tenta, se repara, se ama e se recomeça. É um episódio cheio de emoções, pontos de vista e algumas surpresas. 5:01 Viva. Manuel pureza, olá, nós encontramo nos e na realidade, temos que dizer às pessoas desde já que há 2 características que nos unem na vida OKA primeira, gostar de pessoas. A segunda, sermos hipocondríacos. Ah, poças? 5:17 Bom, estou em casa sim, sim, sim. Poça altamente hipocondríaco? Sim. Olha, fala me das pessoas, para quem? Para quem não te conhece. Tu és realizador, és um dos mais originais e interessantes realizadores da ficção portuguesa, nomeadamente essa telenovela que subitamente se transformou num objeto de culto, uma coisa chamada pôr do sol. 5:40 Já agora digo te eu, a primeira vez que vi o pôr do sol, o primeiro episódio foi dos enganados. Achavas que era verdade. Pensei assim, é pá, mas o que é isto? Mas o que é que isto está? Mas, mas, mas, mas que coisa tão. EE depois. Lá está à terceira cena. 5:56 É aquela parte do ainda bem que ninguém ouviu o meu pensamento, claro, fala, me fala me desse fenómeno. Então esse fenómeno foi. Uma pulga, uma pulga, uma pulga, várias pulgas. Aliás, eu, eu, enquanto realizador, antes de começar a assinar as minhas séries, fiz 10 anos de telenovelas e fi Los numa lógica de ginásio. 6:22 Eu costumo dizer isto, ou seja, é uma tarefa difícil. É uma tarefa que luta contra. Vários tipos de preconceitos, não só meus, como de quem vê. É uma fábrica? É uma fábrica, sim. Aliás, será a coisa mais próxima de uma indústria audiovisual que nós temos em Portugal. 6:39 É, é, são as novelas. Não é? E isso filma se de que, de, de, de, de que horas? Até que horas? Filma se em horários que AACT se funcionasse não IA não preço, iria sim, iria tudo preço, não em boa verdade, até até podemos falar sobre isso mais à frente que é, eu estive envolvido nalgumas lutas laborais em relação à Malta, que faz novelas em Portugal. 6:58 Porque é pá, chega se a trabalhar trabalhava, se na altura 11 horas mais uma, quer dizer, IA receber colegas meus a receberem me francamente pouco, numa lógica de fazer 40 minutos diários de ficção útil, que é uma enormidade, uma alarvidade e que e que muitas vezes depois tem um efeito nefasto de das pessoas em casa. 7:17 Dizer assim é pá, isto é uma novela, isto não vale nada, mas o esforço das pessoas que estão a fazê la é hercúleo, é desumano. Não tem de ser forçosamente 11. Não tem furiosamente de levar as pessoas a apreciarem esse esforço como sinónimo de qualidade, porque muitas vezes as novelas não têm essa qualidade. 7:35 Portanto, não há tempo no fundo para respirar, para o tédio, para a repetição, para o prazer. Não, nem nem nem. Então por acaso que seja essa a função das novelas, até um certo ponto. As novelas historicamente são feitas para serem ouvidas, não para serem vistas, não é? Ou seja, não em países, não só Portugal, mas outros países machistas, em que as mulheres ficavam a tomar conta da casa e dali da casa, e não tinham trabalho. 7:57 Tinha uma televisão ligada para irem ouvindo. Por isso é que a novela é repetitiva. A novela é. Reiterativa há uma há uma métrica de comunicação. De comunicação, sim. E, portanto, se temos avançado tecnicamente e até qualitativamente nas novelas nos últimos 20 anos, porque temos? 8:13 Ainda estamos nos antípodas do que? Do que uma novela pode ser? A novela pode ser uma arma de educação fantástica. A novela pode ser um retrato. Quase numa perspetiva arqueológica do que é ser português em 2025. E não é disso que estamos a falar. Em quase nenhuma novela falamos disso, não é? 8:30 Talvez tenhamos 2 ou 32 ou 3 casos honestos de portugalidade nas novelas recentes. Ainda estou a falar, por exemplo, de uma novela que eu, eu não, eu não, não sou consumidor de novelas, confesso que não sou. Mas há uma novela que da qual me lembro da premissa que me pareceu interessante, que é uma coisa chamada golpe de sorte. 8:46 Uma mulher numa aldeia que ganhou o euromilhões. Isso pode ser bastante português. Parece me bem. Pode ser bom e tive um sucesso bastante grande e foi uma coisa honesta. Não era de repente alguém que é salvo por uma baleia no ataque de 2 tubarões e sobrevive porque foi atirada? Espera, enfim, ainda vou continuar, porque isso é uma realidade que acontece. Olha, porque é que nós, seres humanos, precisamos tanto de histórias para compreender o mundo? 9:08 Olha, eu acho que as histórias são o que nos estrutura, são aquilo que nos garante a sobrevivência. Até um certo.eu falo disto com os meus alunos. Eu às vezes dou uns workshops para atores e não só é só a palavra workshop dá me logo aqui, carrega me logo aqui umas chinetas um bocado estranhas. 9:24 O workshop downshoising downgraving assim não interessa estamos. Todos AAA praticar o inglês. O inglês neologisticamente falamos. A bom, a bom notícia é que nós, como falamos mal inglês, damos uns pontapés no inglês também terríveis, não é? Sim, sim, sim, mas sim, mas está o inglês. O inglês passou a ser uma espécie de língua Franca, exato, EEA. 9:41 Gente tem palavras bonitas para dizer. EEEEE não, diz. Voltamos às histórias, as histórias. E costumo falar disso com os meus alunos, que é que que passa por nós. Nós não nascemos com direitos humanos, não é? Não nascemos dentro do nosso, do nosso corpo. Não há aqui 11, saca com direitos humanos. 9:56 Houve alguém que inventou essa história e a escreveu numa numa carta universal dos direitos humanos e, portanto, a partir dessa narrativa de que as pessoas têm direito a ser felizes, direito a ter uma casa feliz, direito a ter uma família, direito a ser. A ter um trabalho, et cetera, essa narrativa e estou estou a, estou a, estou AA alargar Oo conceito, evidentemente essa narrativa salva nos todos os dias mais a uns do que a outros, infelizmente. 10:20 Então os dias correm, isso é muito frequente. Há há há zonas do mundo em que essa história não chega, não é? Essas histórias não chegam. A fantasia não chega. A fantasia, sobretudo, é essa coisa mais prática de, de, de, de nos regermos por aquela célebre história do Mello Brooks, não é? A Mello Brooks faz a história mais louca do mundo. 10:36 E o Moisés sobe ao sobe ao ao Monte e Deus dá lhe 15 mandamentos. Só que há uma das pedras que se parte. Ele diz, bom, ele deu me só 10. Inventou um bocado. Isto inventou mas 10 por acaso até um número melhor do que 15. Sim, 15 não dava. Jeito o marketing, ele lá da altura, o homem do marketing, disse disse 15. 10:53 Não dá jeito nada de ser mais redondo que não podem ser 17 nem 13. Não, não. Nem convém, não é para a enologia? Acho que não, não, não, não te ajuda nisso, mas eu acho que sim. As as histórias, sobretudo acima de tudo. Eu sou pai de 3 crianças. Uma criança mais velha que tem 14 anos e outra que tem 3 e outra que tem 11 ano e meio. 11:10 Já tens bom treino de conta histórias. Voltei a recuperá lo, não é? Ou seja, eu sempre andei sempre a treiná lo, porque esta é a minha profissão e é isso que me me entusiasma, não é? Ou seja, mais do que ter um ator que diz bem o texto que lá está e que o diz ipsis verbis como lá está, interessa me um ator que perceba o que é que quer ser dito e que o transforma numa história compreensível e emotiva. 11:29 Ou seja, no limite, é o que o Fellini diz, Oo Fellini diz. Oo cinema serve para para emocionar, seja para eu rir ou para chorar, serve para emocionar. EEO emocionar tem a ver com essa coisa das histórias. Quantas vezes é que tu não vês um é pá, o testemunho de alguém, uma carta que tu descobres 11 texto bonito, um poema simples ou soberbo, ou ou ou o que é que? 11:50 O que é que é uma boa história para mim, sim. Uma boa história é aquela que me lança perguntas, que te provoca sim, que me provoca perguntas, eu faço isso aos meus alunos lhe perguntar, qual é a tua história? E regregelas, confundem, qual é a tua história, qual é que é o meu bilhete de identidade? Então começam, Ah, nasci na amadora, depois foi não sei quê, depois não sei quantos, depois não sei quê, EEA mim, não me interessa, não me interessa mesmo saber se eles vieram da amadora ou não interessa me mais saber. 12:14 No outro dia, uma aluna dizia uma coisa fantástica, eu estou, eu estou aqui porque o meu irmão lê mal, é incrível, uau. E eu disse, então porquê? Eu já quero saber tudo sobre. Essa tua aluna? Queres ver o próximo episódio? Como é? A lógica é essa. Ou seja, eu acho que quando os miúdos estão a ler uma história como a Alice, querem saber quando é que ela cai no fundo do poço que nunca mais acaba. 12:31 Porque é que o poço nunca mais acaba? Porque é que no meio do poço se vão descobrindo retratos e coisas. E que poço é este? Que que coelho é este? Que coelho é que apareceu aqui a correr? E em princípio, não faz sentido nós, mas depois nós, nós nós entramos e embarcamos nesta história. E somos nós que a que a que a construímos. 12:47 Não é na nossa cabeça. Sim, sim. Na nossa cabeça, no nosso coração, de alguma maneira. Quer dizer, pensando, por exemplo, a minha experiência, a minha primeira experiência, aliás, a experiência que definiu a minha. Vontade de ir para para cinema e para o conservatório, et cetera. Conta te quando é que tu descobriste? 13:02 Foi haver uma lodon drive do David Lynch, eu tinha 15 anos. Que é um filme. Estranhíssimo, para filme extraordinário. Eu, eu não o entendo, lá está. Mas estás a ver? Portanto, mudou a tua vida e eu estou a sentir me aqui, o tipo mais perdido do mundo. Não, eu nem entendi o que é que eles estavam a falar. Não. A coisa fantástica desse filme é que é um filme absolutamente clássico, mas não está montado de maneira normal. 13:21 Ou seja, não há princípio, meio e fim por essa ordem. Mas ele é absolutamente clássico. É sobre a cidade dos sonhos, não é? É sobre um sonho. Sobre um sonho de uma mulher que desceu ao mais, mais mais horrível dos infernos de de Hollywood. E, portanto, aí eu vi me obrigado a participar nessa história. 13:39 Estás a ver? Tiveste que montar a história conforme estás a ver. Sim, e acho que isso é isso, é o que determina o que o que é uma boa história e o que é mero, no pior sentido de entretenimento. Podemos estabelecer aqui a diferença entre o que é que é uma. Uma história mais funcional, de uma história que nos que nos expande, porque todos nós, todos nós, temos a história. 14:01 Então, mas como é que foi? Olha o meu dia, eu vim para aqui, trabalhei, sentei, me e escrevi ao computador. E eu digo assim, não quero saber nada dessa história, quero mudas de canal, já não quero saber em cada muda de canal, às vezes mudamos até de conversa. Há há 27 páginas da literatura portuguesa que são muito características e toda a gente se lembra que é AAA caracterização da frente de uma casa chamada ramalhete. 14:24 E na altura, quando tínhamos 1415 anos, a dor achámos que era uma dor. Mas se se recuperarmos isso é provavelmente as coisas mais brilhantes, porque mistura precisamente o que tu estás a dizer, ou seja, uma coisa meramente funcional, não é? É. Esta era a casa e são 27 páginas e, ao mesmo tempo, essa casa é metáfora para o que se vai para o que se vai passar nos capítulos à frente é o. 14:47 Cenário. É EE, mais do que o cenário. É um personagem, não é aquela casa, é uma personagem. Porque os objetos podem ser personagens. Podem? Então não podem? Claro que sim. A Sério? Para mim, sim, claro que sim. Sem falar. Sem falar às vezes, eu prefiro atores que não falam do que com. Atores que? Não, eu digo isto muito dos meus atores. 15:03 É, prefiro filmar te a pensar do que a falar, porque. Porque isso é uma regra antiga do do cinema e da televisão, da ficção para televisão que é mostra me não me digas, não é? As as novelas são reiterativas, porque tem de ser tudo dito. A pessoa entra, diz, faz e pensa a mesma coisa. 15:19 E também não há muito dinheiro para para mostrar com com a qualidade e com é, dá. Há, não há é tempo. Talvez isso seja um sinónimo. Não havendo, se se houvesse mais dinheiro, haveria mais tempo e, portanto, eu acho que ainda assim seria absolutamente impossível alguém humano e mesmo desconfio que o site GPT também não é capaz de o fazer de escrever 300 episódios de uma história. 15:38 Eu estou. Eu estou a pensar aqui. Eu. Eu ouvi alguém a dizer, não me recordo agora quem, infelizmente, que era. Quando quando se faz um roteiro, aquilo que está escrito para se filmar uma determinada coisa, que todos os adjetivos que que lá estão escritos têm que ser mostrados, porque não adianta nada dizer. 15:55 Então entrou agora na cena, EEEE salvou a velhinha, certo? Está bem, mas isso não chega, não é? Sim, eu até te digo, eu, eu prefiro. Regra geral, os argumentos até nem são muito adjetivos, os argumentos, ou seja, o script nem é muito adjetivado. É uma coisa mais prática. Eu acho que essa descoberta está. 16:13 Não sei. Imaginem, imaginem a leres Oo estrangeiro do camus, não é? Tem Montes de possibilidades dentro daquele não herói, dentro daquela vivência, daquela existência problemática. Não é porque não se emociona, et cetera e tudo mais. 16:29 Como é que tu imagina que tinhas um argumento ou um script sobre sobre Oo estrangeiro? Eu acho que seria importante discuti lo profundamente com os atores. Tu fazes isso porque queres ouvir a opinião deles? Quero sempre eu acho que os atores que se os atores e as atrizes que são atores e atrizes, não são meros tarefeiros. 16:52 Qual é o fator x deles? O fator x? Deles, sim. O que é? Eu estou. Eu tive aí uma conversa aqui Na Na, neste, exatamente neste estúdio com com a Gabriela Batista, com a com a com a com a Gabriela Barros. E eu não preciso de saber e não sei nada sobre técnica, mas. 17:09 Eu, eu, eu imagino que qualquer munição que se dei àquela mulher, que ela vai transformar aquilo noutra coisa completamente diferente. O Woody Allen dizia uma coisa muito interessante que Era Eu sempre odiei ler e depois percebi que para conhecer mulheres interessantes, precisava de ler 2 ou 3 livros. 17:27 Para ser um pronto atual à certa. O que é que acontece com a Gabriela? A Gabriela é uma pessoa interessante. Os atores e as atrizes que são atores e atrizes são pessoas interessantes porque são inquietas, porque são atentas, porque percebem, porque conseguem. Conseguem ler não só uma cena, mas as pessoas que estão em cena com elas conseguem ler um realizador, conseguem ler uma história e, sobretudo, perceber. 17:50 Imagina se pensares no rei leão? Muitas vezes a pergunta sobre o que é que é O Rei Leão? As pessoas menos, menos levadas para as histórias dizem, Ah, é sobre um leãozinho. Que sofre? Não, não, não é sobre isso, é sobre família, é sobre herança, é sobre poder, é sobre legado, é sobre. No fundo, é sobre todos os conceitos que qualquer drama shakespeariano ou tragédia shakespeariana também é. 18:14 E, portanto, eu acho que quando tu encontras atores e atrizes a Sério, o fator x é serem interessantes porque têm ideias e porque pensam. Não se limitam a fazer pá. Um ator que se limita a fazer e diz o textinho muito, muito, muito certinho. É um canastal enerva me enerva, me dá vontade de lhes bater. 18:30 Não, não gosto disso, não me interessa. E isso não é sinónimo de desrespeito pelo argumento. É sublimar o argumento ou sublimar o scripta, a outra coisa que não é lida. É fermentar aquilo? Sim, eu diria que sim. É regar? Sim. Olha, eles oferecem te obviamente maneiras de fazer e a interpretação do texto, mas. 18:50 E tu tens a tua parte e a tua parte é aquilo que eu posso te chamar a ética do olhar, que é o teu ponto de vista o ponto de vista como eu queria dizer, como é que tu defines o ponto de vista? Como é que tu escolhes? Se queres fazer uma coisa mais fechada, mais aberta, de cima, de lado, o que é esse? E tu pensas nisso para além da técnica. 19:09 Sim, penso eu acho que o meu trabalho, Oo trabalho do realizador, no geral, é essa filtragem da realidade. Para, para encaminhar. Para encaminhar a história e encaminhar quem a vê ou quem, quem está a ver, para uma determinada emoção ou para uma determinada pergunta ou para determinada dúvida. 19:31 Para lançar de mistério. Enfim, eu, eu tenho. Eu sinto que eu tenho 41 anos, tenho já alguns anos de de realização, mas sinto que estou sempre não só a aprimorar, mas a encontrar melhor. Qual é a minha linguagem. 19:47 O pôr do sol não tem qualquer espécie de desafio do ponto de vista da linguagem. Ele é a réplica de uma de uma linguagem televisiva chata de de planos abertos, o plano geral. E agora vem alguém na porta, plano fechado na porta, plano fechado na reação, plano fechado na EE. Isso para mim, enquanto realizador, não foi um desafio maior. 20:05 Talvez tenha sido o desafio do corte, o desafio. Do ritmo da cena, da marcação da cena. Para, por exemplo. Há uma coisa que eu digo sempre e que é verdade no pôr do sol, sempre que as pessoas pensam, vão para o pé das janelas. Porque é uma cena de novela, não é? Eu vou aqui passar ao pé de uma janela e põem, se encostadas às janelas a pensar, não é pronto. 20:21 Isso tem muita. Influência olhando para o Horizonte? Horizonte longico não é essa aquelas coisas. Portanto, isso tem muita influência dos Monty Python, tem muita influência dos dos dos Mel Brooks, da vida, et cetera, porque eu, porque eu sou fã incondicional de tudo o que surge dessas pessoas. Mas, por exemplo, se me perguntares em relação à série que eu fiz sobre o 25 de abril, o sempre já é outra coisa, já não tem, já não há brincadeira nesse sentido. 20:45 E como é que eu conto? Como é que eu conto a história das pessoas comuns do dia mais importante para mim enquanto português, da nossa história recente para mim? E, portanto, essa filtragem, essa escolha, essas decisões têm a ver com. 21:03 Eu, eu. Eu sinto que sou um realizador hoje, em 2025, final de 2025, sinto que sou um realizador que gosta que a Câmara esteja no meio das personagens. No meio, portanto, não como uma testemunha afastada. Exato, não como uma testemunha, mas como uma participante. 21:18 Pode ser um, pode ser um personagem da minha Câmara. Pode, pode. Eu lembro me quando estava a discutir com o meu diretor de fotografia com o Vasco Viana, de quem? De quem sou muito amiga e que é uma pessoa muito importante para mim. Lembro me de estar a discutir com ele. Como é que íamos abordar a Câmara na primeira série que nós assinámos coiote vadio em nome próprio que se chama, até que a vida nos cepare era uma série sobre uma família que organizava casamentos e eram eram 3 visões do amor, os avós dessa desse casal que tinha essa quinta de casamentos, que vivia também nessa quinta, esse casal de avós, para quem o amor era para sempre o casal principal nos seus cinquentas, para quem o amor está a acabar por razão nenhuma aparente. 21:56 Desgaste, talvez. O amor às vezes acaba e é normal, e em baixo os filhos. Para ela, o amor às vezes, e para ele o amor é um lugar estranho, ou seja, repara. São uma série de aforismos sobre o amor que eu vou ter de filtrar com a minha Câmara. 22:11 Portanto, a maneira como eu filmo uso a voz em que o amor é para sempre está dependente de toque da mão que se dá da dança que se surge no Jardim dele, acordar a meio da noite, sobressaltado porque ela está junto à janela, porque está a começar a sofrer. De uma doença neurológica e, portanto, ele está a sarapantado e vai ter com ela e cobra com um cobertor. 22:31 Portanto, todos estes toques diferentes. No caso do casal principal que se estava a separar, eles nunca param muito ao pé um do outro e, portanto, a Câmara tem de correr atrás de um para alcançar o outro e nunca lá chega. Há uma tensão. Sim, há sempre uma tensão. E depois nos no. No caso dos mais novos, ainda era o mais específico. Mas diria que o Vasco sugere me e se falemos os 2 sobre isto. 22:51 E se a Câmara não for entre pé? E for respirada, não é, não é não é Câmara mão agitada, mas é eu sentir que há uma respiração Na Na lente que ela está um ligeiramente abanada. É o suficiente para, se eu estiver a esta distância da personagem e a Câmara estiver mais ou menos a respirar, eu sinto que eu próprio o espetador. 23:10 Estou sentado naquele sofá a olhar para aquela pessoa, a olhar para aquele, para aquela pessoa, para aquela realidade, para aquela família, para para aquelas ideias, não é? E para essa ideia? Que se tenta explanar, em 3 gerações, o que é o amor? A pergunta mais inútil que eu tenho para te fazer é, o que raio faz um diretor de fotografia num? 23:28 Filme, então o diretor de fotografia, para quem não sabe, é é Quem é Quem. No fundo, comigo decide a estética. Da imagem, a luz, a luz acima de tudo. Eu trabalhei já com vários direitos da sociografia, de quem gosto muito. O Vasco Viana é um deles, o Cristiano Santos é outro, porque é uma porque é. 23:44 Que se gosta de um e não se gosta tanto de outro? Não. Às vezes não tem a ver com isso. Eu não me lembro de um. Talvez em novelas que tenham trabalhado com diretos de sociografia, que, enfim, que foram bons, outros nem tanto. Mas eles constroem uma estética, constroem uma luz, um ambiente. Nas séries, sim. Não é no cinema, sim. 24:00 Na televisão. Acho que é muito complicado porque. Porque se obedece a critérios, sobretudo dos canais. Que vêm com uma frase, quando eu comecei a fazer novelas, ainda estávamos a discutir se a coisa havia de serem 16:9 ou 4 por 3. Portanto, parecia que ainda estávamos a quase na Roménia dos anos 60. 24:16 EEE não estávamos e, ao mesmo tempo, estávamos muito próximos disso. EEE. No fundo, o que o diretor da fotografia faz é essa escolha da cor, da luz, do enquadramento, claro que em concordância com aquilo que eu pensei, mas é a primeira pessoa que consegue consubstanciar. 24:35 A minha visão sobre a história é isso. Olha, OOA, escolha de um plano para filmar é uma escolha moral. Também estava te a ouvir, agora a falar do 25 de abril e de e, portanto, 11. A ideia que tu tens sobre as coisas depois interfere também na maneira como tu escolhes um plano. 24:51 O que é que vais filmar ou como é que vais? Filmar, eu acho que, sobretudo, tem a ver com o eco que a história tem em ti. Não é uma coisa acética nem agnóstica. É uma coisa implicada, não é uma coisa implicada, isto é, se há uma ideia tua enquanto autor. Sobre a história, que vais esmiuçar em imagens, é mais ou menos a mesma coisa. 25:11 Que tu sabes que a Sophia de Mello breyner aprendeu gramática na escola. Eventualmente português teve aulas de português. Suspeitamos que. Sim, pronto. Aprendeu a escrever, mas ninguém a ensinou a fazer poemas. Vem dela. E essa implicação na escolha das palavras, da métrica do soneto ou do verso, et cetera, ou da ou da Quadra, ou, enfim, seja o que for. 25:30 É uma coisa que lhe vem de uma decisão. Não é de uma decisão, nem que seja do espírito, não é? Eu acho que o realizador tem a mesma função quando quando se permite e, acima de tudo, quando se assume como realizador e não um tarefeiro a mesma coisa que o ator. 25:46 Olha, como é que tu estás a falar de ficção? Obviamente, mas a ficção tem um poder secreto que é alterar a realidade ou a nossa perspetiva sobre a realidade ou não. Quando eu vejo, quando eu vejo que tu filmas uma determinada coisa num determinado prisma, com uma determinada ideia, eu, eu já quase não consigo ver a realidade como a realidade é eu, eu, eu já já tenho mais uma camada de tu vais me pondo umas lentes, não é? 26:15 Quer dizer, olha para aqui, olha para acolá. Sim, mas repara, os livros têm o mesmo poder, não é? Desde que tu te deixes contagiar com uma ideia, a arte. A arte, seja ela. Seja ela sobre a forma de uma Mona lisa ou de uma comédia, não é é essa reconfiguração do real para ser percecionada pelo outro. 26:40 E o outro pode se deixar contagiar ou não se deixar contagiar. Imagina que tu não achavas piada nenhuma ao pôr do sol? Há pessoas que não acharam piadinha nenhuma ao pôr do. Sol desligas te não vais ver? Sequer. Mas não vais ver isso? O teu real continua, ou seja, a minha. A minha pretensão com o pôr do sol não é mudar o mundo. Não é mudar, é divertir, me em primeiro lugar e achar que isto pode pode divertir. 27:02 Pessoas pode fazer umas cócegas à moda? Pode fazer cócegas à moda, aliás, pode pôr o dedo na ferida até rir. Estás a ver. Sim, porque depois tu é assim aqui. A história obviamente é engraçada. EE aquilo dá vontade de rir, mas tu gozas com todo o tipo de preconceitos e mais algum que lá estão em cima da mesa. 27:17 Claro. E esse EE aí também se tem de fazer jus ao ao texto que me chega do Henrique dias. Ou seja. Eu, o Rui e o Henrique discutimos a ideia. Eu e o Rui tínhamos uma lista extensa de tudo o que se passa em novelas, quem é a esta hora, quem é que Há de Ser no meu telemóvel, beber copos, partir, copos, cavalos, bem, famílias ricas, et cetera. 27:36 Mas depois o Henrique tem esse condão de agarrar nessas ideias e de algumas de algumas storylines que nós vamos lançando, é pá. E fazer aqueles diálogos que são absolutamente fabulosos, não é? Quer dizer, lembro, me lembrei, me. Lembro me sempre de vários, mas há uma, há um, há um apidar no na primeira temporada, que é talvez o meu plano favorito, que é um dos membros da banda que vem a correr desde o fundo do plano e que cai em frente à Câmara e diz, não, não, eu estou bem. 27:59 Dê me um panado e um local que eu fico logo bué, pronto. Isto é uma coisa muito nossa, muito proximidade, que tem graça porque tu já ouviste alguém dizer isto e pronto. E quando se tem essa, quando se tem essa junção porreira de de sentidos, de humor. 28:17 A tendência é que isso crie, crie qualquer coisa de reconhecimento. O que nós encontrámos com o pôr do sol foi um reconhecimento, é pá, surpreendeu, me surpreendeu me ao máximo e depois açambarcou nos a todos e foi a Suburbano a sobrevoou me de uma maneira assustadora, foi, imagina, eu tive um acidente de Mota pouco tempo depois da primeira temporada acabar, fui ao chão e fiquei, fiquei magoado e fiz me nada de especial, estava no hospital. 28:46 E o enfermeiro chefe dizia, sistema anel, pureza, agora vou pôr aqui um megaze, não sei quê. Ou sistema anel, pureza, não sei quê, mas assim. 11 trato espetacular. Uma coisa muito, muito solene, muito solene, e é. Pá e nas tantas ele estava a fazer o tratamento e disse assim, é pá e vê lá se tens cuidado e eu, espera aí, houve aqui qualquer coisa, houve aqui um problema na Matrix ou então não sei o que é que aconteceu e o gajo diz, desculpe, desculpa, é que eu sou de massamá e eu sei o que é que é cheirar AIC 19, todos os dias que é uma tirada do pôr do sol posso chamar os meus colegas assim? 29:12 O que é que se passa? Entraram para aí 5 ou 6 enfermeiros. Dizer é pá, obrigado. Pelo pôr do sol, por isso é convidada, portanto, Na Na enfermaria. Todo todo arrebentado. E eles todos quando em dia e eu percebi pronto, isto bateu, bateu a um nível de podemos reconciliar a televisão com uma certa cultura pop que teve alguns exemplos extraordinários na comédia ao longo da nossa história. 29:34 Temos o Raul solnado, temos o Herman José, temos Oo Ricardo Araújo Pereira e o gato fedorento, o Bruno Nogueira. Esses. Esse, atualmente, o Bruno Nogueira e o Ricardo Araújo Pereira continuarão a? Fazer são fundações, no fundo, são coisas que a gente olha e diz assim, uou. Eu acho que experimentei um bocadinho disso. Ele experimentava esta equipa, experimentou um bocadinho disso, quando de repente temos pá, um Coliseu de Lisboa cheio para ver uma banda que está a fazer playback. 29:56 Nós fizemos isso com Jesus Cristo, não é? A banda do pôr do sol foi tocar, não tocou nada, ninguém deles. Nenhum dos tocou, não sabem tocar e. Esgotámos OOO Coliseu para ouvirmos uma cassete em conjunto e as pessoas foram. Para participar num episódio ao vivo que não era episódio, não estava a ser. Filmado sequer tu vendeste, tu vendeste uma fantasia que toda a gente sabe que não existia, mas a ideia de comunhão. 30:16 Foi nessa narrativa e eu acho que isto é uma coisa que nos anda a faltar cada vez mais, não é? Nós nós não temos essas comunhões. Tu vês uma série? Ou melhor, é mais frequente teres um diálogo com um amigo e diz assim, pá, tens de ver aquela série, não sei quê, é espetacular, não sei quê quantos episódios, viste? Vi meio, mas é espetacular. 30:32 E já não é aquela coisa de Bora fazer um? Serão lá em casa, em que juntamos amigos e vemos um filme? Como aconteceu antigamente, antes da televisão se alinear? Antes de antes da da televisão te permitir uma ilusão de poder da escolha, não é? Eu agora escolho o que vejo. E a televisão morreu? Nada, não. 30:49 Nem vai morrer. É como a rádio morreu, não é? Quer dizer, a gente volta e meia a rádio a. Rádio a rádio tem mais vidas que um gato. Não é pronto porque a rádio foi ver o apagão, não é? O apagão foi uma. O apagão foi um delírio. Apagou tudo para. Os da rádio? Claro, claro. Evidentemente, isso era o que havia. E isso é extraordinário, porque isso faz, nos faz nos perceber que a volatilidade das das novas tecnologias etcétera, pá, é porreiro, é óbvio. 31:11 Então agora temos aqui 2 telemóveis, estamos anão é? Estamos aqui a filmar. Temos boa parafernália, mas mas. No limite. Naquele momento em que achávamos todos que a Rússia atacar e não era nada disso, o que queríamos era ouvir alguém a falar. Connosco o fenómeno dos podcasts como este é eu, eu dou por mim assim que é. 31:30 Eu gosto de ouvir pessoas à conversa, porque me acalma e me baixa o ritmo do scroll. Há uma. Música, não é? E é EEEE, aprendes qualquer coisa. E por isso é que eu gosto de pessoas. Estás a ver quando eu, eu houve uma vez 11 coisa que me aconteceu que eu acho que que é pá, que eu nunca mais me esqueci, que foi um amigo meu. 31:48 Que, entretanto, nunca mais falámos, é um facto. As histórias foram para os sítios diferentes, mas um dia entrou me para casa, à dentro. Eram para aí 10 da noite e diz me assim, preciso de conversar. E perguntei, lhe mas o Gonçalo de quê? Não, pá de nada, preciso só de conversar. Tens tempo para conversar e eu fiquei. 32:07 Isso é uma grande declaração, isto é. Extraordinário. Pouco tempo depois, estava em Angola a fazer uma série, uma novela. Perdão, uma. A melhor novela que eu fiz na vida é que foi uma novela para Angola, uma coisa chamada jikounisse. E há um assistente meu, Wilson, que chega 2 horas atrasado ao trabalho, é pá e era um assistente de imagem, fazia me falta. 32:25 Ele chega, Ah, presa, peço desculpa, cheguei atrasado e tal só para o Wilson 2 horas atrasado, o que é que aconteceu? Tive um amigo que precisou de falar e eu juro te que me caiu tudo, eu não lhe. Eu quero ter um amigo assim, eu não. Posso, sim. Eu não me lembro disto acontecer em Portugal. 32:42 Para mim, disse. Para mim mesmo, eu não me lembro. De. De. De dar prioridade a um amigo em detrimento do trabalho. Porque o trabalho me paga as contas e os filhos e não sei quê. E o ritmo e a carreira. E eu reconheci me e de repente há um amigo meu que precisa de conversar. 32:58 Estamos a ouvir pouco. Então, não estamos eu acho que estamos. Estamos mesmo muito. Temos mesmo muito a ouvir, a ouvir muito pouco, acho mesmo, acho mesmo. Isso isso aflige me sobretudo porque há um, há um é pá. Eu estou sempre a dizer referências, porque eu, de repente, nestas conversas, lembro me de coisas. O Zé Eduardo agualusa assina 11 crónica, creio no público há, há uns anos, largos da importância de, de, de, de de fazer mais bebés, porque o mundo está tão perdido que só trazendo gente boa, muita gente boa de uma vez em catadupa. 33:29 É que isto melhora e eu acho, essa visão. Uma chuva de. Bebés uma chuva de bebés, mas de, mas de bebés bons, de bebés, inquietos, de bebés que fazem birras pelas melhores razões de bebés, que brincam sem computadores, sem coisas que que se que chafurdam na, na lama, et cetera, fazem asneiras. 33:45 Sim, sim, eu, eu, eu gosto muito de ser pai, mais até do que ser realizador, gosto muito de ser pai e acho que isso é é precisamente por essas, pelos meus filhos, claro que são os meus, mas se tivesse, se houvesse outras crianças. De que eu tomasse conta? Acho que era isso que é. 34:01 Tu perceberes que até uma certa idade nós não temos de nos armar noutra coisa que não ser só crianças. E acho que eu pessoalmente, acho que tenho 41 anos e às vezes sinto uma criança perdida até dizer chega EE, acho que pronto. 34:18 Enfim, o tempo vai adicionando, adicionando te camadas de responsabilidade. Agora temos temos de saber mexer microfones, inverter a água, et cetera, e meter fones, et cetera. Mas, no fundo, somos um bocado miúdos perdidos a quem? A quem se chama pessoas adultas porque tem de ser, porque há regras, porque há responsabilidades e coisas a cumprir. 34:35 Acho que só o Peter Pan é que se conseguiu livrar dessa ideia de poder. Crescer, coitado. Já viste? Pois é mesmo o Peter Pan sem andar com aquelas botas ridículas também. Exato. EE, qual é? Sabemos. E o capitar, não é? Pensando bem, a história dramática é o que quando estás com neuras a tua vida é um drama refugias te na comédia fechas te de ti próprio. 34:55 Não queres falar com ninguém? Quando estou com. Que é frequente é. Frequenta é? Então, o que é que te bate? O que é que te faz o. Que me bate é nos dias que correm e não só não conseguir tocar à vontade na minha função enquanto artista. 35:15 Isto eu vou te explicar o que é. Os artistas não precisam de ser de um quadrante político ou de outro. Eu eu sou de esquerda, assumidamente de esquerda. EEE, defenderei até à última este esses ideais. Ainda à esquerda, direita. Há, há, há. Eu acho que há, há. É cada vez menos gente com quem se possa falar de um lado e de outro. 35:32 Há uma. Polarização sim, sim, porque porque, enfim, isso são são outras conversas, mas o os artistas, no meu entender, estão a perder a sua perigosidade isso enerva me, ou seja, eu às vezes sinto que não estou anão, não estou a transgredir. 35:49 Não estou a ser perigoso, não estou a questionar, não estou. Estou a ir ao sabor de uma coisa terrível, que é ter de pagar as minhas contas. É o rame. Rame mais do que isso é eu deixar me levar pela corrida que é. Tenho de ter mais dinheiro, tenho de conseguir a casa, tenho de conseguir a escola dos putos tenho, não sei quê. 36:07 Devias ser mais um moscado, aquele que que dava umas picadelas aqui à. Eh pá devia questionar. Devia. Os artistas são se nasceram para isso e eu se me se eu me considero artista e às vezes isso é difícil. Dizer isso de mim, de mim para comigo. Eu imagina o Tiago Pereira, o Tiago Pereira que anda AA fazer um acervo da música portuguesa, a gostar dela própria, pelo pelo país todo, com gente antiga, com gente nova, com com gente toda ela muito interessante. 36:36 A importância de um Tiago Pereira no nosso, no nosso país, é é inacreditável. Quantas pessoas é que conhecem o Tiago Pereira? E, pelo contrário, não estamos focados Na Na última Estrela do ou do TikTok ou do big Brother ou de outra coisa qualquer. 36:51 Até podia ser uma coisa boa, estás a ver? Ou seja. Complementar uma coisa e outra. Sim, ou seja, eu, eu. A coisa que mais me interessa é saber quem é que com 20 anos, neste momento está a filmar em Portugal e há muita gente boa. Tu vês os projetos da RTP play e da RTP lab? E é gente muito interessante. Então, e porque é que? 37:06 Nós não estamos a estornar essa gente? E a e a potencial? Porque, porque a corrida? É mais importante, ou seja, tu queres a. Corrida dos ratos Na Na roda. É e é coisa de chegar primeiro, fazer primeiro, ganhar mais que o outro, não a solidariedade é uma, é uma fraqueza AA generosidade é uma fraqueza aplaudires alguém que é teu par é mais, é mais um penso para a tua inveja do que propriamente uma coisa de quem é que ganhamos? 37:34 Todos vamos lá. OOOO rabo de peixe, por exemplo, é um é um caso lapidar nesse sentido. Que é o rapaz? É extraordinário. É extraordinário neste sentido, eu? Posso? A primeira série é uma pedrada No No charco, que é uma coisa mágica o. 37:50 O Augusto Fraga, que é uma pessoa que eu, de quem eu gosto bastante e conheço o mal, mas gosto bastante, assina uma série que a primeira coisa que foi vista sobre essa série, ainda que estivéssemos a com 35000000 de horas ou 35000000 de horas, sim, vistas por todo o mundo. 38:08 Ah, não sei quantas pessoas, minhas colegas, tuas colegas, enfim, colegas de várias pessoas que estão a ver este mote caso dizem assim, ó, mas eles nem sequer fizeram o sotaque açoriano. Ah, e aquela e aquela ideia de não contrataram só atores açorianos? Pronto, sim, vamos ver uma coisa, porque porque é que vamos sempre para essa zona precisamente por causa da corrida, porque isto é importante. 38:32 A inveja é lixada? Nada. Fraga sim, a inveja é lixada e mais do que isso, esta inveja. É patrocinada pelo sistema, o sistema, o sistema sublima. Quando nós achamos que quem, quem, quem é nosso inimigo é quem faz a mesma coisa do que nós, nós temos menos de 1% para a cultura neste país. 38:50 E quando há dinheiro, quando há dinheiro, nós andamos a tentar queimar o outro para conseguirmos chegar ao dinheiro, ou seja, perante as migalhas. Nós não nos organizamos, a dizer assim. Pá a mão que está a dar as migalhas é que está errada. 39:05 Não. O que acontece é não. Mas eu já discutimos isso. Primeiro eu preciso de de amoedar as migalhas para mim e depois então discutimos, é uma. Corrida mal comparado de esfomeados. É, mas em vários. Mas é. Não estou a ver só na cultura, não é? Não é só na cultura. E. Já dizia o Zé Mário branco, arranja me um emprego. 39:22 O Zé Mário branco dizia tanta coisa tão mais importante, tão tão tão importante nos dias que correm, o Zé Mário branco, enfim. Mas eu até diria que isto, que este país que é pequeno. Que é pequeno em escala. Que é pequeno, que é pequena escala. 39:39 Podia ver nisso uma vantagem. Podíamos ver nisso uma vantagem, porque eu acho que o país somos nós e acho que as pessoas não. Não temos essa noção, não é EE essa e essa noção de que não dedicamos tempo suficiente a estarmos uns com os outros e de ligarmos as peças boas e de tornar isto uma coisa mais interessante, claro. 39:57 Interessa me, interessa me. Muito há uma cultura de mediocridade, não? Isso eu acho que não, o que eu acho é que há. Ou melhor, como é que se compatibiliza esse essa corrida dos ratos na roda, em busca da última migalha com coisas de excelência que subitamente aparecem? 40:13 Eu acho que quando tu sentes que isso é um acidente, rapaz, isso é um acidente, não é? É um acidente. Antes tinha tinha havido o Glória e nós tínhamos achado. Tio Glória era a primeira coisa da Netflix. Parece um bocado aquela coisa de o ator que é pá. 40:29 Eu sou um grande ator. Eu fiz uma formação no Bahrain para aprender a ser a fazer de post. Foi uma formação de meia hora, chega cá e dentro e vai dizer assim, é pá. Este gajo é bom meu. O gajo esteve no barrain. Vende-se bem este. Gajo é bom, não é? E de repente não. Ele esteve no barém a fazer de post e é melhor do que um puto que veio da PTC ou 11 miúda que veio da STCE está a tentar vingar. 40:50 Eu tive agora uma conversa por causa da da dos encontros da GDA para para o qual foi foi gentilmente convidado e foi foi incrível estar à conversa com Malta nova. Não é assim tão nova quanto isso, mas Malta entre os 25 e os 35 anos, atores e atrizes, em 4 mesas redondas em que IA assaltando eu, o António Ferreira, a Soraia chaves e a Anabela Moreira, é pá EEAEA dúvida é a mesma de que se houvesse uma mesas redondas de veterinários, de veterinários ou de médicos, ou de ou de assistentes sociais, que é como é que eu começo isto? 41:20 Como é que eu faço isto? Qual é o percurso, onde é que está? O repente GDA faz uma coisa incrível que é, vamos pôr as pessoas a conversar. É um bom início, pá, é um. Excelente início. E nós não andamos a fazer isso, não andamos a fazer isso, por mais associações que haja, por mais coisas, et cetera. E há gente a fazer este, a tentar fazer este trabalho. 41:38 Não há um sindicato da minha área que funcione. O sindicato dos criativos pode ser então? O sindicato, o Sena, o sindicato Sena. As pessoas queixam se que não é um sindicato, mas não estão nele. Quando eu digo que não há um sindicato, é o sindicato, existe. As pessoas é que não vão para lá e queixam se das pessoas que lá estão. 41:55 Isto não faz sentido nenhum. Ou seja, nós estamos sempre à espera que nos dêem. Mas é aquela coisa velha, essa coisa que foi o Kennedy, que disse não é não, não perguntes. O que é que o teu país pode fazer por ti? Pergunta te, o que é que tu podes fazer pelo teu? Portanto, não temos uma mecânica por um lado de devolução à sociedade daquilo que nós estamos AA receber e, por outro lado, de de agregação, num interesse comum, ou numa imaginação comum, ou em alguma coisa que podemos fazer juntos. 42:17 Eu, eu acho que, sobretudo, tem a ver com celebramos? Não, acho que não. Até porque é tudo uma tristeza, não? É, não, não, não. Eu acho que é assim. Eu acho é que é tudo muito triste porque não nos celebramos. Porque há razões enormes para nos celebrarmos, há razões mesmo boas, para nos celebrarmos. Bom, mas eu não quero deprimir te mas um tipo que chuta 11 coisa redonda de couro e que acerta numa Baliza é mais valorizado do que um poeta que escreveu o poema definitivo sobre o amor ou sobre a vida? 42:43 Mas isso, pão e circo? Isso pão e circo. E isso a bola também é importante. E está tudo bem? Eu sou. Mas tão importante. Não é? Porque eu eu gosto de futebol, gosto. Eu gosto de futebol, sou um, sou um. Sou um fervoroso adepto da académica de Coimbra e do. Falibana do Benfica, da da académica, sou da académica. 43:00 Está péssima, não é? A académica está terrível, mas é isso. Ou seja. Eu acho que tem, Maura continua, tem? Maura, claro. E terá sempre. Eu sou, sou, sou da briosa até morrer, mas. Mas de qualquer das maneiras, sinto que essa coisa que é, há espaço para tudo. Eu acho que eu o que faz falta? E animar a Malta? 43:17 É educar a Malta? É educar a Malta. Faz muita falta. Eu acho que faz muita falta a educação neste país. E isso tem a ver com política, tem a ver com escolhas, tem a ver com coragem. EAAA educação não tem sido muito bem tratada nos últimos tempos. 43:35 Se há gente que se pode queixar são os professores e os. Alunos, porque nós só descobrimos daqui a 10 anos ou 20 que isto não correu bem. Claro, mas já estamos a descobrir agora, não é? Depois, já passaram algum tempo sim. Quais é que são as profissões de algumas das pessoas que estão no hemiciclo que tu reconheces profissões não é? 43:52 De onde é que vêm? Vêm das jotas vêm. São juristas, normalmente economistas, certo? Mas um médico. Há um ou 2? Há um ou 2, há alguém que tu, um professor? Deixa de ser atrativo. A política devia ser essa coisa de eu reconhecer. 44:10 Figuras referenciais. Os melhores entre nós que que escolhidos para liderarmos, sim. Escolhidos por nós. Ou seja, porque é que eu acho isto? Mas eu acho isto desde sempre, sempre, sempre. Eu sei isto. Aliás, eu venho de uma casa que é bastante politizada. A minha casa, a minha família é bastante politizada. O apelido. 44:27 De pureza não engana. Pois não engana. Às vezes acham que ele é meu irmão, mas é meu pai. EE pá é um gajo novo. De facto, é um gajo novo. Mas é isso que é caneco. Quem são estas pessoas? Porque é que eu vou votar nestas pessoas, estas pá. A prova agora de Nova Iorque não é 11 Mayer de 34 anos, chamado zoranmandani, que de repente ganha as eleições sem os mesmos apoios, que teve outro candidato. 44:50 Não houve Bloomberg, não houve Trump, não houve nada. Houve um tipo que veio falar para as pessoas e dizer lhes o que é que vocês precisam, de que é que precisam, o que é que vos aflige, de que é que têm medo, que sonhos é que vocês têm? Isso é tão importante e tão raro. 45:06 Afinal, o método que funciona sempre não é fala com pessoas, conta uma história ou houve cria uma expectativa? Olha, porque é que o humor explica tão bem o mundo? Eu sei, também há o choro, porque é que o humor explica tão bem? Porque tudo pode ser ridículo. E é e é tão ameaçador, não é? 45:22 Claro, claro, claro. Olha o Rio, vai nu. Exatamente tal e qual tem a ver com isso, não é? E mais do que isso, é eu, eu acho. Eu sinto que nós vivemos num país que não tem assim tanto sentido de humor. E explico porquê nós não nos rimos tanto de nós. Rimos mais dos outros quando nos rimos de nós? 45:39 É é tipo, Ah, então, mas mas estão a falar de mim. Rimos de escárnio. Sim, os os melhores, as melhores pessoas, as melhores pessoas portuguesas a terem sentido humor são os alentejanos. Porque são eles que têm as melhores notas sobre eles. Que eles próprios contam? Exatamente quando tu tens um. 45:54 Eu não sou lisboeta, portanto, posso dizer mal à vontade de vocês todos que estão a ouvir. Quando o lisboeta disse assim também. Sou alto minhoto, portanto, já estamos. Estás à vontade, não é pronto quando o lisboeta disse. Tudo que seja abaixo, abaixo, ali do cavado é soul. É soul? Exatamente. Está resolvido, pá. A minha cena é coisa do quando o lisboeta diz, tenho aqui uma nota sobre alentejana dizer, Hum. 46:11 A minha família toda alentejana, pá. Não, não acho que acho que não é bem a coisa eu diria isso, ou seja, porque é que o amor explica tão bem o mundo, explica no sentido em que, de facto, isto esta frase não é minha, é do Henrique dias. E ele acho que acho que ressintetiza isto muitíssimo bem. O argumentista do pôr do sol, que é tudo, pode ser ridículo. 46:28 O gajo da bola de couro, um círculo de de de couro que é chutado para uma Baliza, é tão ridículo como é eventualmente alguma. De algum ponto de vista sobre a religião, sobre a política, sobre a economia, sobre os cultos? 46:46 Não é os cultos pessoalizados em líderes que de repente parece que vêm resolver isto tudo e são ridículos. Quer dizer, são ridículos acima de tudo. O mito do Salvador da pátria. O mito do Salvador da pátria não é? Depois ficou substanciado em 60 fascistas. Isso é para mim. Era expulsos ao ridículo. 47:02 Incomoda os imensos. Mas a gente já viu isto em vários momentos, desde momentos religiosos até momentos políticos que é. E este vem lá ao Messias, vem lá ao Messias. E o cinema português também. O próximo filme vem sempre salvar isto tudo. E é só um filme percebes o que eu estou a dizer? Ou seja, não. 47:18 Este é que é o filme que toda a gente vai ver e vai rebentar com as Caldas. Não, não tem de ser assim, é só um filme. Só me lembro da Branca de Neve, do João César Monteiro, não é que filmou uma coisa para preto, para negro? Sim, mas mais do que isso, estava a falar de termológica comercial que é, os exibidores estão sedentos? 47:35 Que venham um filme que faça muitos números e que salve o cinema, et cetera. A pressão que se coloca, se fosse fácil fazer um filme desses, até eles próprios administradores teriam ideias. Sim, faz mesmo. A campanha viral lembro me sempre é. Faz uma coisa que vai ocupar toda a gente vai falar exatamente e que vai ser uma coisa. 47:51 Extraordinária. Um escândalo, no melhor sentido. Não sei quê, não sei quê e depois não acontece porque não é assim que as coisas não é, as pessoas não vão, não vão. Nessas modas, aliás, as pessoas estão cada vez mais dentro. O paradoxo é que as pessoas estão cada vez mais exigentes. O que é bom? Sim, mas dentro desta lógica que temos falado, que é tiktoks, et cetera, volatilidade é uma coisa superficial e de repente já nem tudo cola. 48:12 O humor repara o humor. O Bruno Nogueira, por exemplo, é um bom exemplo disso que é o Bruno Nogueira faz 111 programa extraordinário vários. Faz os contemporâneos, faz o último a sair, depois faz o princípio meio e fim, que é uma coisa arrojadíssima. Sim, ele faz coisas sempre diferentes. 48:28 Não é ele. Ele. Ele quebra os padrões sempre. Mas se reparares agora, neste, no, no, no ruído, ele já não é a mesma coisa. É um programa de Sketch que tem lá uma história que num tempo distópico em que. Sim, mas aquilo resolve se a um conjunto de de Sketch e as. 48:45 Pessoas aderiram massivamente, portanto, eu acho que isto é assim. A roda vai dando voltas. Depois voltamos um bocado à mesma coisa. O Herman, por exemplo, o Herman que é um dos meus heróis da televisão. O Herman andou por todas essas ondas e agora está numa onda de conversa e tudo mais. 49:04 E continua a ter imensa. Graça mas ele pode fazer tudo o que? Quiser, não é? Pode. Chegou este mundo do mundo para poder fazer tudo. Sim, talvez não chegue a todas as gerações como chegava. Não é dantes. Eu lembro me, por exemplo, No No no célebre Sketch da da última ceia, não é? 49:20 Ele chegou a todas as gerações, houve umas gerações que odiaram isso foi incrível, eu adorei, eu adorei esse momento iá, e ele é também um dos meus heróis por causa desse momento, porque, porque, enfim, porque qual que lá está transgressor, perigoso artista? 49:38 O Herman é tudo isso sim. Pode a qualquer momento fazer dinamitar isto olha fora o humor, tu tens, posso chamar lhe maturidade emocional entre o felps e os infanticidas. O que, o que muda no teu olhar quando quando tu transpassas da comédia para, para, para o drama, o humor e a dor são são irmãos. 49:58 O sim, diria que sim, mas mais do que isso, é há coisas que me que me inquietam, não é? Eu com 41 anos e 3 filhos, EEE uma história já muito porreira. O que? É que te inquieta. Várias coisas. Olha esta coisa da do dos artistas, esta coisa da sociedade portuguesa, esta coisa de o que é que é ser português em 2025, o que é que é ter 41 anos em 2025? 50:21 A amizade, a amizade inquieta me há amigos que desaparecem e não é só porque morrem, há há. Há outros que desaparecem porque. Perdemos lhe o rasto. Ou isso, ou porque nos zangamos EEA coisa vai de vela e é assim. E a vida é dinâmica e. E às vezes questiono, me, não é? 50:37 Questiono me sobre quanto é que vale uma amizade, por exemplo, os enfatisídeos é sobre isso, não é? Ou seja, 22 amigos de 2 amigos de infância que aos 17 anos dizem, se aos 30 anos não estivermos a fazer aquilo que queremos fazer, matamo nos daquelas promessas adolescentes e de repente um deles apaixona se e casa se. 50:57 E ele às vezes não quer morrer e a amizade vai à vida. E aquele que ficou para sempre com 17 anos, que sou um bocado eu, não é? Porque eu acho os problemas aos 17 anos é que são os verdadeiros problemas da existência humana. Os outros são chatices da EDPE da epal estás a ver isso? São outros chatices pagar as contas, pagar contas é só isso, porque tudo o resto é só o que é que eu estou aqui a fazer? 51:17 Porque é que eu me apaixonei, porque é que ninguém gosta de mim, porque é que essas coisas são tão ricas, são tão boas de testemunhar eu tenho. Tenho um exemplo incrível de ter 11 filho extraordinário chamado Francisco, que tem 14 anos e que tem umas inquietações muito. 51:34 Muito boas pá, muito, muito poéticas, muito. É uma idade difícil. E boa. E tão boa. E tenho. Tenho muita sorte. Francisco é um miúdo incrível. Mas mesmo que não fosse, eu diria assim. Para ele e tu e tu estimulas ou acalmas as ânsias dele. Eu eu acho que sou eu e a mãe dele, acho que somos estimuladores da sua, das suas várias consciências, social, política, artística. 52:02 Mas temos uma, o respaldo que encontrámos naquele naquele ser humano, foi maior do que qualquer um incentivo que nós pudéssemos dar. Ou seja, nós lançámos um bocadinho, as paisadas para os pés dele e ele de repente floresceu. E é hoje em dia uma pessoa é um ser humano extraordinário e pronto. 52:19 E eu costumo dizer aos meus amigos que o primeiro filho muda a nossa vida, o segundo acaba com ela, uma terceira. Esta turística, sim, é pá. Eu acho que os 3 deram um cabo da minha vida. É uma dinâmica diferente, não é? 3. É, é ainda por cima estão os passados, não é? Um tem 14, outro tem 3, outro tem 1 ano e meio e para o ano provavelmente quero ter mais um filho, porque acho que é lá está eu estou com água, luz a tatuar aqui, algures, portanto, tu. 52:43 Vais salvar o nosso problema de de de naturalidade e demográfico. Eu espero que sim, eu já sou Oo chamado povoador dos olivais. Portanto, vão para sim, sim, olha o que é que te falta fazer para fecharmos o que é que anda o que é que andas a escrever o que é que anda, o que é que te anda a inquietar o que é que te anda aí a. 53:01 Debaixo do teu olho. Olha, estou concorri a uma bolsa para escrever um livro. Pode saber sobre o quê? Sim, sim, é um filme que eu não, que eu não tenho dinheiro para fazer e, portanto, vou fazer o livro. E depois pode ser que o livro reúna. E os bons livros dão sempre grandes filmes. 53:17 Ao contrário, os maus livros, eu sei que eu sei que vou ser fraquinha e, portanto, os maus livros dão bons filmes, os bons livros. Portanto, a tua expectativa é que o livro seja mau que é um grande filme? Sim, sim, não. Mas pelo menos seja seja livro. Isso é importante. Eu gosto imenso de livros. Gosto imenso de ler. É das coisas que eu mais gosto de fazer, é de ler. Fiz isso candidatei me EE. 53:33 Entretanto, estou a preparar uma série de outro género, completamente diferente, que é uma série de de fantástico de terror, escrita por 5 amigos, de que eu tenho muita estima. Por quem tenho muita estima, o Tiago r Santos Oo Artur, o Artur Ribeiro, o Luís Filipe Borges, o Nuno Duarte e o Filipe homem Fonseca. 53:51 Que é uma série chamada arco da velha, que terá estreia na RTPE, que se passa entre Portugal e a galiza e também vai ter uns toques de Brasil. E estou também a preparar outro projeto lá mais para a frente, que é provavelmente os projetos que eu mais quero fazer na vida até hoje, que estou a desenvolver com a Ana Lázaro, com a Gabriela Barros e com o Rui Melo. 54:13 É impossível falhar, já ganhaste. Completamente impossível falhar porque esta ideia original é da Gabriela e do Rui. Ei, e eles vieram ter comigo. E eu fiquei para já muito conten
Depois de uma semana de pausa internacional, estamos de regresso com tudo para atacar a 2.ª volta da Fase Regular da Liga 3 e discutir todos os temas da atualidade da Briosa!Falámos da última Assembleia Geral e das novidades que esta trouxe, do estrondoso resultado da Académica no jogo amigável frente ao Vizela desta semana e de nomes míticos que levaram o losango ao peito.Houve ainda tempo para lançar a visita da Briosa à terra dos Torricados, onde vai defrontar o União local, e para uma experiência "omnitemporal" para falar do jogo entre a equipa feminina da Académica e do Sporting, em jogo a contar para a Taça de Portugal.
A COP30 encerrou, neste sábado, 22 de Novembro, com um acordo modesto sobre a acção climática e sem plano para abandonar as energias fósseis. O Brasil, que acolheu a cimeira do clima em plena Amazónia, esperava mostrar que a cooperação climática não estava morta e “infligir uma nova derrota aos negacionistas”, como prometeu o presidente basileiro José Inácio Lula da Silva no início da conferência, mas não conseguiu convencer os países petrolíferos do Norte e do Sul, nem as economias emergentes, a enviarem uma mensagem colectiva ambiciosa para acelerar o abandono das energias fósseis. O texto adoptado por consenso pelos 194 países membros do Acordo de Paris e pela União Europeia faz apenas uma referência não explícita à saída das energias fósseis, recordando a decisão da COP28 no Dubai, Emirados Árabes Unidos. Os países em desenvolvimento obtiveram um apelo para triplicar a ajuda financeira destinada à adaptação a um clima mais violento até 2035. “Não vencemos em todas as frentes, mas obtivemos o triplo dos financiamentos para a adaptação até 2035. Era a nossa prioridade, tínhamo-la estabelecido como linha vermelha”, declarou Evans Njewa, representante do grupo dos 44 países menos avançados do mundo. O presidente brasileiro da COP30, André Corrêa do Lago, anunciou entretanto a intenção de lançar uma iniciativa própria sobre o abandono gradual das energias fósseis, bem como outra contra a desflorestação, para os países voluntários. Todavia, não se trata de uma decisão geral dos países da COP. Acho que uma das grandes coisas que vai nos animar nos próximos meses vai ser esse exercício de desenvolver um mapa do caminho sobre a redução da dependência de combustíveis fósseis e também de como é que nós vamos acelerar o combate ao desmatamento. A presidente da delegação do Parlamento Europeu à 30.ª Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, Lídia Pereira, saudou o acordo alcançado, sublinhou que a "Europa conseguiu garantir avanços concretos e evitou um não-acordo, que seria desastroso para o clima e para o multilateralismo a nível global". A União Europeia voltou a enfrentar um bloco muito coeso, os BRICS, o grupo do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e, também, dos países árabes e, ao mesmo tempo, uma presidência brasileira pouco diligente em propor ou aceitar novas propostas em particular na área da mitigação, ou seja, nos compromissos de redução das emissões de gases com efeito de estufa. Que, aliás, foi sempre a nossa prioridade número um. Apesar de tudo, a União Europeia conseguiu alguns resultados importantes. Por exemplo, no pilar da mitigação houve finalmente um reconhecimento claro do défice que existe entre aquilo que está prometido e acordado e o que é realmente necessário para manter 1,5°C, dentro do quadro do Acordo de Paris. O texto final inclui uma referência ao Consenso dos Emirados Árabes Unidos da COP28, no Dubai. Foi também lançada uma iniciativa bilateral para a transição no abandono dos combustíveis fósseis. Não é a solução ideal. Não é aquilo que pretendíamos, mas é um passo relevante no pilar da adaptação. O financiamento fica protegido dentro daquilo que foi definido nas COP's anteriores. E há uma novidade é que os países recomendaram, pelo menos, triplicar o financiamento até 2035. ONG ambientalistas denunciaram a ausência de um roteiro concreto para a saída dos combustíveis fósseis, “mais uma vez continuou a falhar o essencial”, referem as ong's portuguesas Zero, Oikos e FEC - Fundação Fé e Cooperação. Francisco Ferreira, presidente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, sublinha que a conferência ficou “muito aquém daquilo que aqui se esperava”. Esta era, supostamente, a COP da verdade e da implementação. E no que diz respeito à verdade, continuamos, infelizmente, numa trajectória de aquecimento de 2,5°C em relação à era pré-industrial. No que respeita à implementação, aí é talvez a maior desilusão, porque a queima de combustíveis fósseis - onde está a principal responsabilidade pelo aquecimento da atmosfera - e daqui tinha que sair um roteiro, que agora é apenas uma promessa fora da convenção por parte da presidência brasileira para os próximos meses. Quando a mitigação é crucial para garantir que alteramos esta trajectória de aquecimento, esta conferência está longe realmente da acção da implementação prometida. Como balanço final feito pela ZERO, Oikos e FEC, termos aqui, em Belém, conseguido aprovar textos e o Mutirão, o grande documento-chave com um conjunto de linhas orientadoras, nomeadamente um acelerador global de implementação, são avanços, mas esta COP30 falhou naquilo que era essencial. Acabou por valer a pena, sem dúvida, mas é sempre triste chegarmos ao fim e percebermos que as necessidades do planeta e dos compromissos, principalmente dos países desenvolvidos, ficaram muito aquém daquilo que aqui se esperava. A Amnistia Internacional acusa os líderes mundiais de serem “incapazes de colocar as pessoas à frente dos lucros”. André Julião, Coordenador Editorial e Assessor de Imprensa da Amnistia Internacional Portugal mostra-se ainda chocado com a presença e participação dos lobistas do sector petrolífero no encontro. Houve aqui questões que ficaram muito abaixo das expectativas. Desde logo, porque os líderes da COP30 não conseguiram chegar a um acordo para colocar as pessoas acima dos lucros. Houve uma enorme falta de unidade, responsabilidade e transparência. Isso prejudicou a implementação de medidas climáticas urgentes. A principal decisão da COP30 evitou qualquer menção aos combustíveis fósseis, que são, como se sabe, o principal motor das alterações climáticas. Como agravante, houve um número recorde de lobistas de combustíveis fósseis. Esses lobistas tiveram acesso às negociações, nomeadamente através dos Estados que os representam e, portanto, deixaram a humanidade à mercê das consequências mortais dos seus planos de continuar a expansão dos combustíveis fósseis. O Brasil, porém, cumpriu a palavra: a sua COP30 foi a COP “dos povos”. Dezenas de milhares de militantes do clima, indígenas, sindicalistas e outros simpatizantes manifestaram-se pacificamente nas ruas de Belém. A sociedade civil não o fazia desde Glasgow, em 2021.
O dia de voto na Guiné-Bissau decorreu num clima de calma relativa, apesar dos múltiplos relatos de irregularidades. Alguns eleitores queixam-se de ter "desaparecido" das listas eleitorais ou de terem visto o seu local de voto alterado. Os resultados oficiais ainda não foram divulgados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que diz fazê-lo na quinta-feira, 27 de Novembro. O dia de votação decorreu sem incidentes relevantes. A CNE, em conferência de imprensa este domingo à noite, afirmou que o processo de votação tinha decorrido "sem irregularidades relevantes". No entanto, circulam denúncias de irregularidades, intimidações e tentativas de detenção de quadros políticos. A missão de observação da sociedade civil foi impedida de estar no terreno. Analisamos o decorrer do dia de votação com o investigador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP), de Bissau, Mamadu Jao. RFI: Como analisa o decorrer do dia da votação de ontem? Mamadu Jao: Acho que foi tranquilo no geral. A votação começou às 07h00 e terminou às 17h00. Havia muita gente nas mesas de voto já antes das 07h00. Porque houve uma participação quase jamais vista nas eleições da Guiné-Bissau. Há dados? Sim, há dados preliminares que apontam para cerca de 68%, mas ainda não são oficiais. Houve participação, houve tranquilidade e não houve sobressaltos que comprometessem o processo. Podemos considerar o processo, até aqui, muito positivo. A Comissão Nacional de Eleições (CNE) disse que não houve irregularidades relevantes, apesar de relatos de problemas, como pessoas que não encontraram o seu nome nas listas. O que pensa disso? Na minha zona não constatei isso. Fui votar ao meio-dia, sem problemas. Mas se há motivos para reclamação, as pessoas têm direito de reclamar, e as reclamações devem ser atendidas. Temos pouca informação sobre como decorreu o processo. Podemos concluir isso? Não. Houve observadores credenciados que puderam circular. É preciso ouvir estas entidades independentes que estiveram no terreno. As missões da CPLP, CEDEAO e União Africana darão os primeiros resultados apenas na terça-feira, em princípio. Este ano não há missão da União Europeia. Já os observadores da sociedade civil tiveram as acreditações retiradas. Trata-se de uma observação parcial? As regras democráticas são regidas por normas. É preciso ver se a lei permite que a sociedade civil faça observação eleitoral. O próprio presidente da sociedade civil disse: não foram aceites porque não estavam cobertos pela lei. Mas até agora houve sempre missões da sociedade civil? É preciso ver a lei. Não posso afirmar exactamente o que ela diz sobre observação nacional. Há relatos de ameaças contra membros da coligação PAI-Terra Ranka. Como interpreta isto? Ouvi isso pela rádio. É preciso saber porquê. Nenhum cidadão deve ser perseguido sem motivo. A oposição é um direito. Se for perseguir só por perseguir, condeno. O Presidente Umaro Sissoco Embaló foi visto em comícios rodeado de militares com distintivos de apoio. O que pensa disso? A segurança é crucial, mas isso não dá direito aos militares de exibirem símbolos de apoio político. Que mensagem quer deixar? A Guiné-Bissau precisa de tranquilidade. A CNE é a única entidade autorizada a publicar resultados. As pessoas devem aguardar com calma e aceitar resultados justos e transparentes para o bem do país.
A COP30 terminou sem incluir o Mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis e do desmatamento, mas avançou em financiamento climático, adaptação e transparência e aprovou mecanismos para uma transição energética justa. Houve o reconhecimento oficial de povos afrodescendentes e o direito à consulta livre e informada dos povos indígenas, incluindo grupos isolados, um marco histórico para esses movimentos.Marina Silva foi aplaudida de pé no encerramento da COP30 e destacou que o Brasil seguirá trabalhando até a COP31, reconheceu avanços modestos e reforçou o compromisso com a agenda climática.O Giro COP30 é uma produção da RW Cast.Texto e apresentação: Késsy Balog. Edição: Alexandre Cavalcante.
Nossos sócios Luiz Eduardo Portella, Tomás Goulart e Sarah Campos debatem, no episódio de hoje, os principais acontecimentos da semana no Brasil e no mundo. No cenário internacional, o payroll surpreendeu com aceleração na criação de vagas nos EUA, e com aumento da taxa de participação. Apesar disso, a taxa de desemprego subiu, e os salários seguiram desacelerando. A divisão entre membros do Fed segue, mas o presidente do Fed de NY, John Williams, reforçou a visão de que há espaço para cortes em breve, fortalecendo a expectativa de afrouxamento em dezembro. Na Europa, o PMI da Zona do Euro ficou estável, com indústria fraca e serviços sustentando a atividade. No Reino Unido, os dados de atividade vieram piores e os dados de preços indicaram o menor nível do repasse em cinco anos. No Brasil, o cenário foi dominado pela política. Houve reação negativa do Senado à indicação de Jorge Messias ao STF. O mercado tambem reagiu à possível retirada de despesas com segurança pública do limite de despesas, mencionada por Ricardo Lewandowski, atual ministro da Justiça e Segurança Pública. Foi anunciada a retirada das tarifas americanas sobre produtos brasileiros. Nos EUA, o juro de 5 anos fechou 11 bps, e as bolsas tiveram desempenho negativo – S&P 500 -1,95%, Nasdaq -3,07% e Russell 2000 -0,78%. No Brasil, o jan/29 abriu 4 bps, o Ibovespa caiu 1,88% e o real desvalorizou 1,96%. Na próxima semana, haverá divulgação das vendas no varejo nos EUA e, no Brasil, dados de crédito, mercado de trabalho e inflação. Não deixe de conferir!
Confira nesta edição do JR 24 Horas: Um incêndio atingiu um pavilhão da COP30, em Belém (PA), na tarde desta quinta-feira (20). Houve muita correria e os participantes foram retirados às pressas por ordem da segurança do evento. As chamas foram na zona azul, no pavilhão dos países. E ainda: Lula indica advogado-geral da União, Jorge Messias, para vaga no STF.
Aos cinquenta, a mulher brasileira vive no centro da tempestade. Assume o papel típico da Geração Sanduíche, dividida entre pais que envelhecem depressa e filhos que demoram a assumir a própria vida. Carrega trabalho, casa, expectativas e um corpo que pede cuidado. Nesse turbilhão, olha para o parceiro e encontra alguém parado no tempo. É nesse contraste que o Divórcio Prateado floresce.O Brasil registrou 440.827 divórcios em 2023. Foram 77.725 separações envolvendo mulheres acima dos cinquenta, quase um quarto do total. Houve alta de 4,9 por cento em relação ao ano anterior, além de 47,4 divórcios para cada 100 casamentos. O tempo médio de união caiu para 13,8 anos. Trinta por cento das separações acontecem justamente nessa faixa etária, e a iniciativa parte delas em cerca de 70 por cento dos casos.Lá fora, o cenário ecoa. Nos Estados Unidos, o divórcio entre pessoas com mais de sessenta e cinco anos triplicou desde 1990. Entre os cinquenta mais, dobrou. Uma onda global que revela um padrão claro.A vida inteira pode ser vista em quatro blocos de 8 mil dias. Infância e juventude somam o primeiro. A fase adulta jovem vai até quarenta e sete. A adulta tardia chega aos sessenta e cinco. Depois vem a longevidade, até os oitenta e cinco ou mais. Aos cinquenta, ela está no início do terceiro bloco, com mais dezesseis mil dias pela frente. É quase uma segunda vida adulta, e ela sente esse chamado.A psicanálise explica bem essa virada. Quando ela diz que ele a aborrece, fala da morte simbólica do desejo. É ausência de troca, de conversa viva, de projeto conjunto. A sexualidade feminina depois dos cinquenta não se apaga. Fica mais consciente e intensa. Ela quer presença emocional e mental. Quer alguém que caminhe ao lado. Quando ele não se move, o desejo dela perde lugar.Ela pensa no futuro. Ele vive no passado. Ela se reinventa. Ele repousa na ideia de fim de estrada. O casamento vira pouso forçado. E ela, que já sustenta meio mundo, não aceita sustentar também a inércia emocional dele.Então olha para os próximos 8 mil dias e escolhe. O divórcio não é ruptura. É reorganização. É a mulher dizendo que não vai sobreviver à vida que resta. Vai vivê-la.
Em quase 50 anos acompanhando o Vaticano, testemunhei uma ruptura sem precedentes: a substituição sistemática do Papa-intelectual pelo Papa-gestor.Neste episódio, analiso três arquétipos que revelam uma metamorfose institucional profunda:
Na contradição entre o tempo que passa e a eternidade que perdura, não devemos desapontar aqueles que nos procuram para nos encher de ouro a boca, vindos com outro balanço e outra razão, e que tantas vezes aproveitam algum enredo tempestuoso, sendo certo, como notou Borges, que a chuva é uma coisa que sem dúvida ocorre no passado. Devemos então definir uma resistência a partir desse espanto de que o tempo, a nossa substância, possa ser partilhado. Contra a obscenidade da evidência, e o próprio mundo, que hoje não parece existir senão em função da publicidade que lhe pode ser feita num outro mundo, o cinema propõe-se como uma arte da exploração do tempo, sendo capaz de reinstaurar o presente, e procura, assim, superar as imagens que não estão já do lado da verdade dialéctica do "ver" e do "mostrar", mas que se passaram inteiramente para o lado da promoção e da publicidade, ou seja, do poder. "O nosso trabalho será mostrar como os indivíduos, reunidos como povos na escuridão, punham a arder o seu imaginário para aquecer o seu real", escreve Godard, exaltando a era do cinema mudo. "E como acabaram por deixar apagar a chama ao ritmo das conquistas sociais, contentando-se em mantê-la em lume brando – é então o cinema sonoro e a televisão num canto da sala." Baudrillard espantou-se com essa espécie de fantasmagoria técnica, esse ritual de protecção daqueles que buscam por todos os meios afastar o silêncio e a noite, num receio de virem à superfície de si mesmos, e fala-nos da "televisão programada vinte e quatro horas sobre vinte e quatro horas, e que muitas vezes funciona de uma forma alucinante nas salas vazias da casa ou nos quartos de hotel por ocupar". Dá o exemplo dessa sinistra espectralidade que encontrou em hotéis de beira de estrada por toda a América, e de um cujas "cortinas estavam rasgadas, a água cortada, as portas a bater; mas no ecrã fluorescente de cada quarto o locutor descrevia a subida da nave espacial". E depois acrescenta: "Nada há de mais misterioso do que uma televisão a funcionar num quarto vazio, é bastante mais estranho do que um homem a falar sozinho ou uma mulher a sonhar em frente das caçarolas. Dir-se-ia que outro planeta nos fala, de repente a televisão revela-se pelo que é: vídeo de um outro mundo, não se dirigindo no fundo a ninguém, libertando indiferentemente as suas imagens, e indiferente às suas próprias mensagens (é facilmente imaginável a funcionar ainda depois do desaparecimento do homem)." Num mundo sem as investigações e o labor que são próprios do cinema, das artes que resistem ao abandono da substância temporal, essas sínteses, cortes, montagens e extensões dolorosas que constituem um modo de fazer o seu próprio atraso, para se "refazer" e para se fazer, como nos diz Serge Daney, num mundo em que não somos já capazes de mostrar o acontecimento a suceder enquanto acontecimento, o real torna-se apenas essa indústria de tudo o que nos escapa, continuando a engrossar os elementos alucinatórios e a trivialidade das fantasias que nos atravessam e degradam todo o processo de consciência. Assim, estamos absorvidos num loop de uma realidade que, na forma como abunda em reflexos e em interpolações, estende uma distância intransponível, esse desfasamento que produz o fantasma. "Hoje em dia, nenhuma performance pode prescindir de um ecrã de controlo não para se ver ou para se reflectir, como a distância e a magia do espelho, não: como refracção instantânea e em profundidade", assinala Baudrillard. "O vídeo, em toda a parte, serve apenas para isso: ecrã de refracção extática que já não tem nada da imagem, da cena ou da teatralidade tradicional, que já não serve de modo algum para jogo ou para contemplação, serve para se estar ligado a si próprio. Sem esta ligação circular, sem esta rede breve e instantânea que um cérebro, um objecto, um acontecimento, um discurso criam ligando-se a si próprios, sem este vídeo perpétuo, nada tem hoje sentido. O estádio vídeo substituiu o estádio do espelho." Todas as ligações se destinam a conduzir uma energia que possa alastrar superficialmente, e isto a um ponto tal que os ecrãs estabelecem uma cadeia de reflexos ininterrupta, congelandoa realidade, não ficando dependente do acontecimento, substituindo-o ao gerar esse imenso circuito que já não se deixará demover do seu frenesim constante e que alcança uma des-sublimação espectacular de todos os nexos, das causas e até do próprio pensamento. Trata-se de um abandono da corporeidade, dos limites e das tensões físicas, da relação biológica, instaurando um tempo sem tempo, que já não obedece aos ciclos da mortalidade e regeneração. Assim, os pólos e as oposições dissolvem-se e o que força esse efeito de design total, que apaga qualquer atrito ou resistência, é a lógica da ligação. "Não se trata de ser, nem mesmo de ter um corpo, mas de estar ligado ao próprio corpo. Ligado ao sexo, ligado ao próprio desejo. Conectados às próprias funções como a diferença de energia ou a ecrãs vídeo. Hedonismo em ligação directa: o corpo é um enredo cuja curiosa melopeia higienista corre entre os inumeráveis estúdios de reculturação, de musculação, de estimulação e de simulação que vão de Venice a Tupanga Canyon, e que descrevem uma obsessão colectiva e assexuada." Neste quadro de elisões que se concertam, a própria relação sexual torna-se um ritual arcaico, uma relíquia de um mundo em que as tensões ainda se definiam pelo gozo que se tirava em provar a diferença que se encontrava no outro, no campo do desconhecido. Num mundo em que tudo se converte ao mesmo, o circuito já não tropeça, não falha. E isto, num plano íntimo, acaba po corresponder a esse desejo de afastar toda a dor, todo o embate entre modos ou "ficções" defendidas por esse diferencial energético. "Houve um tempo em que as coisas levavam tempo para existir, através de processos lentos, penosos, dolorosos: era preciso tempo para construir, e esse tempo tinha valor", nota Daney. Mas hoje, pelo contrário, a urgência vai no sentido de alcançar imediatamente os benefícios, e isto significa destruir o campo artístico na sua capacidade de reaver um acontecimento, apossar-se dele por meio de uma linguagem, reapreciá-lo, produzir uma transformação do sentido. Há um princípio de sobrevivência que, ao ser levado a um extremo, põe em causa até o real, aplanando tudo. Baudrillard rejeita inscrever todo este fenómeno como expansão narcísica, alertando para o erro de se abusar deste termo na definição deste tipo de efeitos. "Não é um imaginário narcísico que se desenvolve em torno do vídeo ou da estéreo-cultura, é um efeito de auto-referência ilimitada, é um curto-circuito que liga imediatamente o mesmo ao mesmo, e portanto sublinha simultaneamente a sua intensidade à superfície e a sua insignificância em profundidade." Neste episódio, e no rescaldo de mais uma edição do DocLisboa, Cíntia Gil fez uma acostagem corsária para nos ajudar a encontrar um fio e uma razão mais funda nesse esforço de densificação do real que o cinema assume enquanto um dos seus processos de forma a integrar em nós o mundo enquanto experiência. Tendo dirigido aquele festival de cinema entre 2012 e 2019, esta programadora continua a reclamar esse papel de quem engendra e articula percursos como um modo de intervir e fazer cinema, procurando refundar um espaço crítico, que indaga e desassossega, precisamente para que o tempo possa ser reclamado de novo como essa substância difícil e que, mais do que ligações, nos fornece as possibilidades de resgatar a presença e essa zona activa, comum.
Dez anos depois dos atentados que mataram 130 pessoas e fizeram mais de 400 feridos em Paris e Saint-Denis, o filho de uma das vítimas mortais denuncia a exploração da emoção em torno dos ataques e pede “pensamento crítico e analítico sobre o que aconteceu”. Michaël Dias afirma que não se procuraram respostas sobre as causas e o financiamento dos ataques e alerta que não foi feito “um trabalho para lutar contra a polarização da sociedade” de modo a “evitar que pessoas nascidas em França atentem contra o próprio país”. O filho do português que morreu no Stade de France questiona “como é que “um país como a França não foi capaz de antecipar uma operação terrorista desta dimensão” e não acredita que hoje a situação esteja melhor. Foi há dez anos que três comandos de homens armados mataram 130 pessoas e fizeram mais de 400 feridos em Paris e Saint-Denis. Primeiro, no Stade de France, depois em bares e restaurantes e na sala de concertos Bataclan. Os ataques de 13 de Novembro de 2015 foram, então, reivindicados pelo autodenominado Estado Islâmico. Dez anos depois, como contar e lembrar o que aconteceu e como estão os familiares das vítimas? Para falar sobre o assunto, convidámos Michaël Dias, filho de Manuel Dias, a primeira vítima mortal daquela noite junto ao Stade de France, em Saint-Denis, nos arredores de Paris. RFI: Dez anos depois, como é que está o Michaël Dias e a sua família? É possível reconstruir-se dos atentados? Michaël Dias, filho de Manuel Dias: “Enquanto estamos vivos, é sempre possível reconstruir-se e continuar a viver, mas acho que isso é bastante universal em todos os lutos. Não me parece que este luto seja muito diferente de outro. As circunstâncias podem ser mais inesperadas, mas o ser humano passa por um luto que é seu, que é íntimo, que é pessoal e todos os ouvintes um dia passarão por isso.” Que memórias é que ainda guarda daquela noite? “É uma noite de espera até termos a confirmação. Não guardo nada para além dessa lembrança, mas não traz nada à reflexão sobre o assunto, o sofrimento das vítimas ou da família das vítimas. A gente vimo-lo na televisão e na rádio nos últimos dez anos, várias vezes. Não há nada que seja muito útil ao explorar esse sentimento, nem vejo uma grande utilidade de fazer um tutorial sobre como fazer o luto em circunstâncias excepcionais.” Mas se houver alguma coisa que tenha falhado, por exemplo, a forma como as autoridades comunicaram com as famílias, seria bom tirar lições. Ou não? “Não acho que houvesse um protocolo que tenha falhado ou que fosse importante fazer alguma coisa na altura. Soube-se quando tinha que se saber e não é por aí. Não acho que seja um ponto que tenha falhado em particular, é muito mais o facto de um país como a França não ter sido capaz de antecipar uma operação terrorista desta dimensão e coordenada e sincronizada desta forma.” Mas, por exemplo, a sua irmã disse-nos [numa entrevista em 2021] que o número de emergência não funcionou e ela estava em Portugal... “Sim, mas se não somos capazes de antecipar um acto terrorista ou vários numa mesma noite, quanto mais as questões puramente logísticas de números de telefone e de quem centraliza a informação, etc. Desde então, certamente com o número de atentados que já houve em França, eles hão-de ter criado um processo bastante mais eficaz.” Dez anos depois, diz que não houve antecipação. Como é que está a França hoje? “Quando isso acontece, a gente sempre espera que seja o último, que não haja mais, como é óbvio. Mas depois eles foram-se multiplicando, chegando a uma banalização. Acho que ninguém saberia listar o número de atentados que houve em França, de pequena ou grande dimensão, nos últimos dez anos. Portanto, não só não anteciparam esse, como falharam em vários outros níveis. Certamente que também terão evitado outros atentados, mas não acredito que estejamos numa melhor situação hoje do que há dez anos, com muito mais ameaças, com um sentimento de insegurança que foi sempre crescendo. Estamos longe de termos melhorado em qualquer um dos aspectos.” O que é que falha concretamente? O que é que é preciso fazer para antecipar? “Esse é o trabalho de quem zela pela segurança da população, é um trabalho da Inteligência, um trabalho de procura das causas de quem pode estar a financiar, quem pode estar a dar apoio logístico, etc. E todo o outro trabalho que tem que ser feito para lutar contra a polarização da sociedade e para evitar que pessoas nascidas no próprio país atentem contra outros cidadãos que não têm nada a ver com o assunto.” Como é que a memória colectiva deve recordar estes momentos sem que eles sejam, digamos, politicamente utilizados para fracturar uma sociedade que já está polarizada há muito? “Essa questão do dever de memória, eu acho acho curioso. Relembrar o quê? Relembrar que não foram capazes de evitar vários atentados que fizeram mais de 120 mortos numa mesma noite? Não esquecer tudo o que está por trás disso e como nunca fomos capazes de pensar nas origens, de fazer essa genealogia dos acontecimentos, saber quem financiou, quem deu apoio logístico? Continuamos com essa historinha de que três ou quatro parvos num kebab terão imaginado um dia fazer um atentado sozinhos. Isso é absurdo. Forçosamente houve quem financiou e quem deu apoio, mas em nenhum dos momentos a gente pensa essas causas, em nenhum momento o julgamento pensou essas causas profundas e continuamos com a mesma moralização de sempre nos ‘media' e a tentar sempre entrar no acontecimento pela emoção, em vez de pensar isso de forma crítica.” Além do luto individual, os atentados deixaram uma marca indelével na sociedade francesa. Foram os piores atentados na história de França. Até que ponto é que não se poderiam tirar lições, mesmo em termos políticos, do ocorrido e também lembrar das pessoas? No julgamento, a sua irmã disse-nos que pouca gente sabe que houve uma vítima no Stade de France. Como é que se devem lembrar estas pessoas? “Lembrarão essas pessoas quem sente a falta delas. De forma colectiva, ficarão na História pelo que se viveu naquela noite, mas não tem grande interesse tentar personificar um atentado porque isso não traz nada ao debate político, não diz nada sobre a sociedade. O luto é uma coisa completamente individual, pessoal e essa reflexão incapacita as pessoas de pensar de forma crítica, vamos falar de como dói perder uma pessoa sem pensar porque é que isto aconteceu e quem são as pessoas que poderiam ser responsabilizadas por isso de forma política e não só. De resto, é uma questão de luto pessoal. Um dia seremos só uma foto numa estante e no dia a seguir não seremos mais nada.” O seu pai não é apenas uma foto numa estante. O seu pai tem uma placa de homenagem a lembrar o nome dele junto ao Stade de France... “Sim, mas certamente ela um dia será tirada de lá. Não serve de grande coisa pensarmos em toda esta questão de uma forma emocional porque esse trabalho foi feito a vários níveis. Foi feito naquela noite para quem viu na televisão aqueles atentados em directo e sentiu essa emoção, portanto não precisa de voltar a senti-la hoje. Viveu também de forma muito sofrida todas as pessoas que perderam alguém ou estiveram lá naquelas noites e, portanto, não precisamos de mais emoção para perceber o assunto. A gente percebeu bem o que é viver aquilo. Agora, precisamos é de pensamento crítico e analítico sobre o que aconteceu e a emoção impede que isso aconteça.” Foi convidado para as cerimónias de homenagem? O que está previsto? “Acho que há várias comemorações, como sempre, em todos os sítios onde aconteceu, e depois acho que há a inauguração do Jardim da Memória, algo assim.” Lá está, a memória... “Sim, mas essa memória é a memória emocional de quanto se sofreu que vai impedir de pensar de forma crítica ou é a memória de não termos sido capazes de antecipar isto, de não termos sido capazes de gerir isto, de termos obrigado as vítimas a submeterem-se a um processo longo e indecente de responder a todos os inquéritos para poder aceder, possivelmente, a uma indemnização?” Como assim? O que é que aconteceu? Como é que foi esse processo, o acompanhamento para terem as ajudas terapêuticas e financeiras? “As vítimas, na sua maioria, tiveram de esperar quase dez anos para serem, em parte, ressarcidas e terem acesso, às vezes, a apoios psicológicos e a outras compensações. Para isso, muitas delas tiveram de se submeter a todo um processo que incluía encontros com médicos e outros profissionais e todo um inquérito sobre questões muito pessoais que roça a indecência só para se poder provar quase o que se sofreu e a dificuldade em reconstruir-se. Isso é muito absurdo e se temos que ter um dever de memória é para com isso. É para com a incapacidade de antecipar vários atentados e com a incapacidade de gerir de forma digna as compensações que iriam surgir.” Convosco também foi o caso? “Não porque eu não me quis submeter a nada disso, ms conheço pessoas que sim.” Um ano depois dos atentados, durante uma homenagem francesa ao seu pai, na qual foi colocada uma placa com o seu nome no Stade de France, o Michaël fez um discurso em que disse que os que perpetraram os atentados eram apenas “carne para canhão ao serviço de interesses obscuros”. Na altura, também deixou a mensagem – que dizia que herdada do pai – de que “para viver sem medo e em liberdade é preciso parar de estigmatizar o outro”. Esse seu discurso ecoou de alguma forma? Ou nada mudou? “Não acho que tenha mudado seja o que for. Em dez anos, se mudou foi para pior. Temos uma sociedade muito mais polarizada hoje em dia em França do que tínhamos em 2015. De resto, eu não sei se ecoou, não tenho essa pretensão, mas é uma questão que já referi várias vezes que é: como é que pessoas que nascem em França são capazes de realizar atentados ou de se virar contra outros cidadãos que não têm nada a ver com a temática? É preciso pensar como é que chegámos a este ponto, como é que pessoas que nascem em França não se vão identificar como franceses ao ponto de poder realizar algo contra o próprio país supostamente. Nesse sentido, até é muito estranho porque, sim, são carne para canhão porque eles estão a defender interesses que são, às vezes, interesses políticos, interesses mafiosos, interesses que eles nem conhecem e só o fazem por ideologia, neste caso. Mas é sempre curioso perceber como é que pessoas que nascem num mesmo sítio crescem de forma tão diferente.” Numa conversa que tivemos em 2017, criticou o Presidente francês, Emmanuel Macron, pela supressão do Secretariado de Estado de Ajuda às Vítimas. Na altura, falou-me numa “vontade explícita” de fazer cair as vítimas e as famílias num certo “esquecimento”. Teve uma posição bastante crítica com o Presidente. Mantém-na? “Quando ele foi eleito e acabou com a Secretaria de Estado, ele disse que queria acabar com essa cultura de vítimas porque na altura ainda era algo muito presente. Isso não é muito relevante no sentido em que depois houve outros atentados e ele teve que voltar a falar sobre o assunto, etc, mas é mais que o pesou na relação das vítimas com o Estado, no sentido de todas as indemnizações e da ajuda que era suposto vir. Tudo foi complicado e várias vezes tiveram que falar com os ministros e o governo para pedir uma série de coisas que deviam ter acontecido muito mais rápido. Então, o que eu observo é o que eu estava a falar há bocado, é que todo o processo do pedido de ajudas e indemnizações foi muito mais demorado, muito mais complicado do que certamente teria sido com o governo anterior.” Como é que olha para o julgamento? Houve alguma forma de reparação? “Eu fiquei bastante à margem do julgamento pessoalmente. É o que eu sempre disse: vamos julgar as pessoas que estiveram envolvidas directamente nesse atentado e está muito bem fazê-lo, mas eu procurava respostas que nunca chegaram a aparecer porque são questões políticas muito mais profundas e não há interesse sequer em encontrar ligações políticas e económicas a esses atentados. Então é melhor falar das três ou quatro pessoas que pudermos julgar, mas isso não responde em nada às perguntas que eu teria.” Que perguntas são essas concretamente? “São perguntas simples. Quem acredita que três ou quatro desgraçados são capazes de organizar um atentado desta dimensão ou outros atentados que aconteceram depois é ingénuo porque forçosamente há uma complexidade económica e logística que não são acessíveis de forma fácil. Mas nunca sequer essa questão é feita. Quando eu faço essa questão, a maior parte dos jornalistas responde: ‘Ah, não, mas é que a gente não pode na nossa rádio ou televisão falar desse tipo de assuntos. A gente não pode fazer essas perguntas...” Mas eu estou-lhe a pedir essa pergunta. “Sim, mas eu não tenho a resposta. A minha questão é: por que é que nunca se fala de quem poderá ter financiado isto e por que é que sempre que eu faço essa pergunta, os jornalistas me respondem que não podem falar disso? É muito curioso, não chamo a isso censura, mas é curioso.”
Neste episódio a solo, o Cyrille Aloísio falou um pouco sobre os principais acontecimentos do basquetebol feminino em Portugal.De destacar os primeiros jogos da Liga Betclic Feminina e das jogadoras que se perfilam para o prémio de MVP da liga. Houve ainda tempo para falar da convocatória da seleção feminina, que terá um duplo confronto na qualificação para o EuroBasket feminino.
A vitória de um candidato socialista democrático na maior cidade dos EUA chamou a atenção do mundo. Zohran Mamdani indicou uma estratégia populista que não consiste em moderar discursos, mas em mobilizar os invisíveis. Thomás Zicman de Barros, analista político Na última semana, o mundo voltou os olhos para Nova York. A vitória de Zohran Mamdani nas eleições municipais da cidade foi destaque internacional. E o debate não girou apenas em torno das consequências para a política americana, mas também sobre as lições que sua campanha oferece. Há algo de curioso em ver o mundo acompanhar a contagem de votos em bairros de uma cidade estrangeira – por maior que seja. Mamdani virou a coqueluche no Brasil, mas não só. Aqui na França, todos os políticos de esquerda reivindicaram para si a sua mensagem. Há certa sabujice nisso tudo. Afinal, o mundo não dedica esse tipo de atenção a eleições em grandes cidades da América Latina, da Ásia ou mesmo da Europa. Essa exceção se explica, em grande parte, pela figura de Mamdani: um jovem de 34 anos nascido em Uganda, muçulmano e abertamente socialista. E, de fato, talvez haja lições a aprender. Mobilização em duas frentes Mamdani chamou atenção pela campanha que conduziu – autenticamente populista. Essa palavra, tão maldita, precisa ser desestigmatizada. Foi justamente nos Estados Unidos que ela surgiu, ainda no século XIX, com o Partido do Povo, uma legenda de esquerda, popular e antirracista que se reivindicava “populista” na luta dos debaixo contra as elites. Mas o populismo não se reduz à oposição entre “povo” e “elites”. Populismo é, antes de tudo, trazer para dentro da política aqueles que estavam fora – os invisíveis. É a capacidade de mobilizar os excluídos. E Mamdani venceu porque soube mobilizar. Essa mobilização ocorreu em duas frentes. Por um lado, o foco em questões que afetam diretamente o bolso dos cidadãos: ele propôs congelar aluguéis para combater o alto custo de vida na cidade, além de expandir o transporte público e o sistema de creches.Por outro, abraçou causas feministas, antirracistas e queer. Em seu discurso de vitória, destacou que deve haver solidariedade entre os trabalhadores precários que não conseguem pagar suas contas e os também precários vítimas de discriminação por gênero ou cor. Tudo isso, é claro, foi amplificado por um uso inteligente das mídias digitais e por uma mobilização impressionante: 90 mil voluntários bateram de porta em porta para registrar eleitores — lembrando que, nos EUA, o voto não é obrigatório. Houve quem dissesse que a vitória de Mamdani foi fácil porque ele concorreu em Nova York, e que esse discurso não funcionaria em outros lugares. Ezra Klein, colunista do The New York Times, argumentou — com seu tom sempre muito razoável, mas enfadonho — que o Partido Democrata deveria usar todas as estratégias disponíveis para vencer: lançar candidatos populistas em regiões progressistas, mas, em estados conservadores, apresentar democratas pró-armas e contra o aborto – quase “trumpistas moderados”. Essa estratégia tem problemas éticos e estratégicos. Eticamente, de que vale vencer uma eleição para barrar a extrema direita se o custo é adotar o discurso da extrema direita, normalizando-o? E, do ponto de vista estratégico, a verdade é que quase nunca se ganha assim. Diante de duas opções conservadoras, o eleitor conservador sempre preferirá o candidato “raiz”. Estratégia populista O que vimos nos últimos anos foi o colapso da ideia do eleitor mediano. Se ainda havia dúvidas, Kamala Harris as dissipou. No ano passado, Harris conduziu uma campanha – curta, é verdade – em que não apenas evitou explorar o fato de ser mulher, negra e asiática, como também não prometeu mudança alguma.Encarnou o establishment político, adotou um discurso conservador para conquistar supostos republicanos “democráticos”, e acreditou que a rejeição a Donald Trump seria suficiente para vencer. De fato, muita gente votou contra Trump, mas, enquanto ele manteve a proporção de votos de 2020, os democratas perderam milhões de eleitores entre um ciclo e outro – pessoas desencantadas da política que simplesmente não viram motivo para ir às urnas. Mamdani mostra que a estratégia populista é, antes de tudo, uma estratégia de mobilização. Sim, Nova York é uma cidade cosmopolita que, nos últimos anos, tende a votar à esquerda. Mas Mamdani produziu a maior mobilização eleitoral da cidade em mais de meio século – e quebrou todos os recordes, com mais de um milhão de votos. Como se diz em inglês, Mamdani foi 'unapologetic': não pediu desculpas, não moderou suas posições, não fez concessões. Recusou-se a ficar na defensiva. Quando uma campanha de difamação o acusou de antissemitismo e de proximidade com grupos muçulmanos extremistas, sua resposta à islamofobia foi gravar um vídeo em árabe. Sobretudo, ele prometeu um mundo – ou, no caso, uma cidade – diferente. Se há algo a aprender com sua vitória, é que o desafio das forças democráticas – não apenas do Partido Democrata americano, mas de todos os que acreditam na democracia ao redor do mundo – é reacender a imaginação.
Várias histórias começaram assim: de empate em empate até... Em 2016 foi até ao título europeu conquistado por Portugal, em 2025 foi até ao quinto lugar que deixou a Académica à beira do apuramento para a fase de apuramento de campeão da liga 3. Tentámos perceber o porquê de mais uma repartição de pontos com uma equipa do fundo da tabela e qual a influência de António Barbosa e a suas escolhas neste resultado que deixa a Académica praticamente equidistante quer do topo quer do fundo da tabela, mas agora com uma vantagem de apenas 2 pontos relativamente ao quinto classificado. Houve ainda tempo para analisar os resultados da jornada da Liga 3, comunicar os resultados dos sub-15 e da equipa feminina, e fazer a antevisão da visita a Santarém dentro e fora do campo. Fechámos como habitualmente com o Zandinga, a liga de apostas, onde o pecúlio de pontos somados tem sido diminuto nas últimas semanas.
No episódio desta semana, o Cyrille Aloísio e o Gonçalo Ferreira juntaram-se para comentar os principais acontecimentos da NBA.Falou-se de algumas notícias da semana, das equipas com arranques bons e arranques menos bons, da novela Ja Morant e do futuro do jogador nos Memphis Grizzlies, bem como o que Memphis poderá fazer nos próximos capítulos deste episódio.Houve ainda tempo para comentar mais uma jornada da Liga Betclic Masculina, Liga Betclic Feminina e das prestações portuguesas nas competições europeias.
A Amazon anunciou, na semana passada, a eliminação de 14 mil postos de trabalho. A empresa alegou que as demissões foram motivadas pelo desenvolvimento da inteligência artificial (IA). O anúncio reacendeu os piores temores sobre as consequências dessa tecnologia no mercado de trabalho. Pesquisadores entrevistados pela RFI analisam o que se pode esperar nos próximos anos. As demissões foram apresentadas pela Amazon como as primeiras de uma série de cortes que deve atingir 30 mil pessoas no grupo, que conta com 1,5 milhão de empregados em todo o mundo. Mas a empresa não é a única a reduzir sua força de trabalho em razão da IA. Embora o fenômeno ainda ocorra de forma gradual, os efeitos do avanço dessa tecnologia já são perceptíveis, sobretudo nos Estados Unidos. Na consultoria Accenture, 12 mil postos foram eliminados nos últimos três meses. Segundo a direção do grupo, tratava-se de funcionários “que não conseguiriam adquirir as habilidades necessárias para utilizar a IA”. Outros empregados foram alertados de que aqueles que não se adaptarem à nova tecnologia poderão ter o mesmo destino. A Microsoft, por sua vez, demitiu 15 mil funcionários neste ano, e muitos analistas associam essa redução à adoção da inteligência artificial. Mas quantos empregos estão realmente em risco? De acordo com um relatório de 2023 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de 2,3% dos empregos no mundo — e até 5% nos países desenvolvidos — poderiam, teoricamente, ser totalmente automatizados pela IA. Questão de produtividade Malo Mofakhami, economista e professor da Universidade Sorbonne Paris Norte, lembra que a chegada de novas tecnologias sempre levantou questionamentos sobre o emprego ao longo da história da sociedade industrial. No entanto, segundo o pesquisador, o desemprego gerado por essas inovações tende a ser menor do que o previsto. “Não vimos a extensão das perdas de empregos que os pesquisadores anteciparam. Houve um artigo muito famoso em 2017 que previa a eliminação de 40% dos postos de trabalho nos dez anos seguintes, nos Estados Unidos. Mas essa perda não se concretizou”, observa. “Para que ocorram perdas significativas de emprego, é preciso haver um aumento expressivo da produtividade. E, na verdade, o que os economistas observam agora é que não estamos vendo ganhos massivos de produtividade. Algumas empresas estão, de fato, se beneficiando dessa onda tecnológica e a Amazon é uma delas. Estamos observando ganhos econômicos, mas eles estão mais ligados ao aumento da participação de mercado do que a melhorias na produtividade”, explica. “Na realidade, a redução de empregos nos Estados Unidos está amplamente relacionada a uma conjuntura econômica menos favorável no período de recuperação pós-Covid. As empresas estão, consequentemente, diminuindo seus quadros de pessoal.” As possibilidades e potencialidades da IA, contudo, ainda não são plenamente conhecidas ou exploradas pelas empresas. Por isso, o impacto sobre a produtividade permanece limitado. Martha Gabriel, futurista e autora do best-seller Inteligência Artificial – Do Zero a Superpoderes, explica que o mercado tende a demorar para reagir ou compreender as perspectivas do futuro. "Tem um cenário bonito mais para frente? Tem, porque a gente começa a transferir os humanos para partes de trabalhos mais adequadas para o nosso cérebro, para o nosso tipo de atividade, por exemplo, pensamento crítico, análise de cenários, pensamento mais complexo, mas num primeiro momento, a tendência é o que está acontecendo com a Amazon”, diz. "Vão surgir empregos? Vão, mas muito rapidamente vão desaparecer e em uma velocidade nunca vista." Alguns especialistas comparam a revolução da IA à chegada da internet no mundo do trabalho. Para Martha Gabriel, os dois momentos são comparáveis, mas com velocidades diferentes. "A gente pode fazer a comparação, sim, porque realmente a gente teve bolha, teve muita mudança de trabalho, surgiram várias profissões e várias outras acabaram desaparecendo", analisa. "A diferença agora é que a gente tem uma tecnologia inteligente. As outras tecnologias a gente mandava nelas, eram ferramentas. Essa não. E a segunda coisa é a velocidade. A velocidade que a gente tem em transformação no mercado, ela nunca foi vista antes. Então, a dificuldade aqui não é lidar com a transformação em si, se ela fosse ao longo do tempo, a gente conseguiria, como fizemos nas anteriores. O problema agora é a potência muito alta numa velocidade muito alta." Empregos afetados A tradução é uma das áreas mais afetadas pelo avanço da IA. No entanto, segundo Lucília Willaume, intérprete e tradutora com 20 anos de experiência, a tecnologia chega a um mercado já deteriorado pelo surgimento da internet. “Começou primeiro bom para nós, porque era uma ferramenta de pesquisa excelente, que nós precisávamos, mas aí abriu a porta para tantas outras coisas que escaparam ao nosso controle, ao controle da profissão. Mas agora o choque é maior”, explica. “A arte do bem escrever é secundária. O que as pessoas querem agora é que exista uma mensagem passada da forma 'menos pior' possível ao menor preço possível. Antigamente nós achávamos que a inteligência artificial fosse fazer a parte mais técnica, mais mecânica da tradução e que depois nós viríamos para revisar, redigir de novo. Só que isso leva tempo e tem que ser pago e a tendência não foi essa. A tendência foi sendo cada vez menos valorizar o trabalho humano”, lamenta Willaume, que se afastou da tradução e se concentra em trabalhos de interpretação. “A gente foi vendo essa evolução dos dicionários, dos tradutores online. Mas aí, quando as IAs chegam, foi outro nível de qualidade da tradução. Pouco a pouco, esse mercado vai se modificando, as empresas contratam menos para traduzir e acabam contratando mais para revisar. As IAs fazem a tradução”, conta a tradutora Emily Bandeira, lembrando que para o trabalho de revisão, a remuneração é menor. “Vários colegas que trabalhavam com tradução passaram a ser revisores. Enfim, é uma mudança que vai ocorrendo aos poucos, mas ela é perene”, diz a tradutora, que também passou a trabalhar como intérprete. Na Amazon, os empregos afetados concentram-se principalmente nos escritórios, e não nos armazéns. Entre as profissões mais vulneráveis estão, naturalmente, aquelas baseadas em processamento de dados e tarefas digitais facilmente automatizáveis, como análise de dados, contabilidade, suporte de TI, atendimento ao cliente e compras. Mesmo quando as demissões não resultam diretamente da automação, os cortes de pessoal podem ser um efeito indireto da inteligência artificial: as empresas precisam ajustar suas estruturas para recuperar os altos investimentos em infraestrutura exigidos por essa tecnologia. Após essa onda de demissões, a Amazon anunciou um investimento de US$ 5 bilhões na Coreia do Sul, destinado principalmente à construção de centros de dados de IA até 2031.
O "Ulrich Responde" é uma série de vídeos onde respondo perguntas enviadas por membros do canal e seguidores, abordando temas de economia, finanças e investimentos. Oferecemos uma análise profunda, trazendo informações para quem quer entender melhor a economia e tomar decisões financeiras mais informadas.00:00 – Nesse episódio…01:15 - Brasil perdeu com acordo EUA–China?05:03 - Reservas de US$340 bi impedem destruição do real em 2–3 anos?07:18 - Agenda anti-imigração do Trump já está precificada na bolsa americana?09:50 - Crise de segurança pode afetar investimentos no Brasil?13:08 - Ainda há espaço de alta para a bolsa argentina?14:47 - Retomada de liquidez do Fed já começou?16:47 - Ouro e bolsa em máximas ao mesmo tempo: o que isso indica?18:28 - Milei vai iniciar privatizações?19:14 - Por que a Argentina ainda não liberou o câmbio/dolarizou?21:34 - A alta em IA (Nvidia) é bolha?22:03 - Quando o dashboard da OBTC3 estará disponível?22:22 - A OBTC3 vai oferecer curso sobre Bitcoin?22:42 - Qual é o múltiplo MNAV atual da OranjeBTC?23:24 - Houve falha de estratégia no IPO da OranjeBTC?26:29 - Você zerou a posição em CCJ?28:34 - Ouro subiu muito: é hora de realizar?29:14 - Vídeo sobre o aumento do spread entre SOFR e FFR no canal?29:36 - Em que fase do ciclo econômico estamos?30:45 - Como seriam os EUA sem Bretton Woods/petrodólares?31:32 - Stablecoins e seu impacto na inflação americana.32:06 - Morando em Portugal, invisto na Europa, Brasil ou EUA?32:37 - Vale a pena migrar para os EUA hoje?34:07 - Quem é o GOAT do tênis?
“Houve uma migração da vigilância e censura nas redes sociais para a vida”, alertam Catarina Rôlo Salgueiro e Isabel Costa, que defendem a liberdade de expressão na peça “Burn Burn Burn”See omnystudio.com/listener for privacy information.
O Opinião desta semana, apresentado por Rita Lisauskas, reflete sobre adolescência.A adolescência, assim como a infância, não é apenas um dado biológico, mas também uma construção social. Houve um tempo em que adolescentes eram vistos como adultos em preparação, quase sem espaço para existir por si mesmos. Hoje, essa etapa é reconhecida como um período fundamental do ciclo da vida, com identidade própria, desafios e potenciais. Mas que lugar os adolescentes ocupam na sociedade atual? Para falar sobre o assunto, receberemos a educadora e psicanalista da adolescência Carolina Delboni, autora do livro "Desafios da adolescência na contemporaneidade: uma conversa com pais e educadores" e o médico hebiatra Benito Lourenço. Conversamos, também, de maneira remota, com a diretora de projetos especiais da Safernet Juliana Cunha.#SomosCultura #TVCultura #Jornalismo #Adolescência
'Baía dos Tigres' é a mais recente longa-metragem de Carlos Conceição. O realizador aclamado em festivais de cinema como Cannes, Berlinale ou Locarno, decidiu apresentar 'Baia dos Tigres', em estreia mundial, recentemente, no festival DocLisboa. Nas palavra de Carlos Conceição, “o filme tenta ir atrás dessa ideia que está a ser gravada uma nova existência por cima de uma existência prévia, mas estão lá fantasmas abstratos, sobrespostos, ruidosos, e que são fantasmas da história do século XX transversais a várias culturas.” Baia dos Tigres foi inteiramente rodado em Angola, país onde Carlos Conceição nasceu e que serviu de fonte de inspiração. A RFI falou com o realizador na capital portuguesa. Carlos Conceição começa por explicar como surgiu o filme 'Baia dos Tigres'. Carlos Conceição: O filme surgiu numa fase que eu, agora, já considero ultrapassada da minha carreira. Uma fase em que eu não tinha grandes perspectivas de como subsidiar o meu trabalho e que, por isso, apostava em ideias que eu conseguisse concretizar com pouco, com elementos que fossem reduzidos, mas intensos, como uma boa malagueta, que é capaz de fazer o melhor por um prato, só aquela malagueta. E a Baía dos Tigres sempre foi um mito para mim. Eu ouvia falar na Baía dos Tigres enquanto sítio desde que era criança. E por volta de 2015, 2016, provavelmente, fiquei, por portas e travessas, familiarizado com duas histórias que acabaram por ter uma grande ressonância na minha vida, ambas japonesas. Uma é o significado da palavra johatsu, que significa evaporação. É uma prática que acontece exclusivamente no Japão e, muitas vezes, com a ajuda de empresas especializadas. Consiste na pessoa eclipsar-se da sociedade, desaparecer. Essa empresa trata do desaparecimento total desta personagem, desta pessoa que os contrata. Isto acaba por ter um contorno que talvez seja comparável aos programas de proteção de testemunhas, porque todas estas pessoas acabam por assumir uma nova identidade, uma nova vida, uma nova história, um novo passado. Escolhem desaparecer pelas mais diversas razões, uma relação fracassada, dívidas de jogo, dívidas ao banco. Aquela coisa muito asiática que é a honra e que nós, na Europa, perdemos no século XV. Parece-me um conceito que, não estando completamente disseminado, não sendo exterior à cultura japonesa, parece-me um conceito interessante para os tempos de hoje. Não me interessa a mim como cidadão, interessa-me como leitor, como espectador, fazer uma história sobre uma pessoa que faz isso, que resolve desaparecer, que organiza o seu desaparecimento. E, paralelamente a isso, a descoberta da história verdadeira do soldado Hiroo Onoda, que foi um soldado japonês que esteve 30 anos perdido numa ilha das Filipinas, convencidíssimo por não ter contato nenhum com ninguém, aliás, inicialmente ele não estava sozinho, mas acabou por ficar, porque os dois companheiros com quem ele estava acabaram por morrer, e ele sozinho permaneceu 30 e tal anos nessa ilha selvagem, nas Filipinas, convencido que a guerra (2ª Guerra Mundial) continuava, e completamente fiel aos seus propósitos e àquilo que tinha sido formado para fazer. Foi uma grande dificuldade convencer o Onoda, quando ele foi descoberto, de que o assunto da Guerra Mundial já tinha acabado, e que aqueles credos todos dele estavam ultrapassados há 30 anos. Isto também é uma ideia que me interessa, como é que uma personagem percebe o tempo quando está isolada. Uma, no caso de uma das personagens do filme, é o desejo que o tempo pare, e, no caso da outra personagem, o desejo que o tempo ande mais depressa. Portanto, acho que o filme é sobre essa diferença, a diferença entre querer que o tempo pare e querer que ele ande mais depressa. RFI: A Baia dos Tigres é em Angola, no sudoeste de Angola. O que é que levou o Carlos Conceição a escolher ir filmar em Angola? Qual é a linha que se constrói que liga Angola a esta personagem? Ou a estes personagens, pois são dois personagens. Carlos Conceição: Podem ser, ou duas versões da mesma personagem. Eu filmo em Angola da mesma maneira que o Woody Allen filma Manhattan, ou o João Rosas filma Lisboa. É natural para mim, porque foi onde eu cresci. É mais fácil para mim filmar em Angola, em particular no sul, em particular no deserto, do que filmar em Lisboa. Para mim é mais difícil enquadrar em Lisboa. Ali sinto que estou muito seguro e, para onde quer que eu olhe, eu sei como é que o plano deve acontecer. E as narrativas que a maioria das vezes me surgem para contar são de alguma forma relacionadas com a minha própria vivência e, como tal, Angola está sempre envolvida de alguma maneira. Portanto, os meus filmes têm tido essa relação com Angola pelo menos os últimos três. O Serpentário, que é a minha primeira longa, e o Nação Valente, acima de tudo, e este filme. Que seria logo seguinte ao Serpentário, mas que estreia depois do Nação Valente, porque a vida dá muita volta, porque as coisas atrasam-se e metem-se pandemias e metem-se prazos e coisas do género. Mas acho que são dois filmes que são feitos num só gesto, de certa forma. Acho que a questão da Baía dos Tigres tem a ver com misticismo. Desde criança que eu ouvia falar da Baía dos Tigres como sendo uma ilha deserta, uma aldeia abandonada, uma cidade fantasma, como algumas que se vê nos westerns, relativamente perto, mas muito inacessível, muito difícil de lá chegar. Sempre foi uma ambição minha conhecer o sítio em si. E quando conheci, a primeira coisa que senti foi ... isto é um filme inteiro, este sítio é um filme. Eu já sei qual é o filme e tenho-o dentro de mim, tenho de o fazer e se não fizer vou morrer. Foi assim que o filme surgiu. Curiosamente, houve duas fases de rodagem. Na primeira nós não chegámos a conseguir ir à Baía dos Tigres. Estivemos na Floresta do Maiombe, em Cabinda. Estivemos no Uige, estivemos em Malanje, nas Quedas de Calandula, as Cataratas de Calandula. Depois filmámos muitas coisas à volta da zona onde eu cresci, que foi no Lubango, na Comuna da Huíla, na zona do ISPT, que é o Instituto Superior Politécnico de Tundavala e que tem uma mata enorme atrás, usámos como backlot. Obviamente, só depois disso é que conseguimos, numa segunda viagem, organizar a chegada à Baía dos Tigres, que envolve toda uma logística complicadíssima. Entre muitas aventuras possíveis, chegar à Baía dos Tigres, à Ilha dos Tigres, que tem cerca de 30 km de comprimento por uns 11 Km de largura, mas que tem construções concentradas... chegar de barco implicava sair da povoação mais próxima, num barco, que provavelmente seria uma traineira, que levaria 6 a 7 horas a chegar à ilha. Fazer um percurso longitudinal desde o Parque Nacional da Reserva Natural do Iona até ao embarcadouro, que se usa para ir para a Ilha dos Tigres, seria impensável porque a costa continental é toda cheia de poços de areia movediça. Então, a única maneira de chegar ao embarcadouro, sem ser engolido pelas areias movediças, é fazê-lo a uma certa hora da manhã, quando durante cerca de 50 minutos a maré está baixa. Temos de ir quase em excesso de velocidade, em veículos 4x4, pela zona molhada de areia, a partir da cidade do Tômbua, e fazer um percurso que demora mais de uma hora a fazer dentro daquela janela temporal. Caso contrário, ficamos ou atolados pelas ondas ou atolados na areia, onde, aliás, se conseguem ver muitos destroços de experiências fracassadas neste género. Ao chegar ao tal embarcadouro, que é um sítio muito tosco, muito improvisado, está lá alguém com quem nós marcamos. É uma pessoa que se contrata com um barco, uma espécie de lancha. Depois fazemos um percurso de quase uma hora de barco por entre bancos de areia, num mar muito, muito agressivo, cheio de fauna, orcas, focas que espreitam da água a olhar para nós, pássaros que passam rasantes, chuva constante, até que, de repente, começa no horizonte a surgir aquela cidade fantasma, assim, meio embrulhada no nevoeiro. Vê-se logo uma igreja amarela, uma coisa assim … , parece uma aparição. Há um misticismo à volta da experiência de lá chegar que o meu filme nunca conseguirá mostrar, por mais que eu me esforce, e que é muito difícil de captar. Eu tento, no filme, captar esse misticismo e essa fantasmagoria de maneiras diferentes. Criando alegorias, como o filme tem esta ideia da memória que se apaga. Eu imagino o filme um bocadinho como uma cassete ou uma bobina daquelas antigas, que tem de ser desmagnetizada, mas às vezes não fica completamente desmagnetizada, e, por isso, quando vamos gravar algo em cima, sobram restos de fantasmas de gravações passadas. Fisicamente, o filme tenta ir atrás dessa ideia que está a ser gravada uma nova existência por cima de uma existência prévia, mas estão lá fantasmas abstratos, sobrespostos, ruidosos, e que são fantasmas da História do século XX, transversais a várias culturas. RFI: São fantasmas do período em que a Angola estava colonizada por Portugal? São fantasmas da Guerra da Libertação? Carlos Conceição: É impossível não serem também esses fantasmas. Mas eu acho que são fantasmas do mundo contemporâneo, são fantasmas de 2025, são fantasmas do que está a acontecer em Gaza, do que está a acontecer na Ucrânia, são fantasmas deste ressurgimento da extrema-direita, são fantasmas do novo espaço que as ditaduras estão a ganhar, são fantasmas de coisas que deviam estar enterradas e não estão, e são fantasmas com várias origens. O filme tem, em certos momentos, elementos sonoros que vêm de discursos do Hitler, de Mussolini, de Oliveira Salazar, o Savimbi, a voz da Hanoi Hannah, que era uma vietnamita que transmitia mensagens aos soldados americanos a dizer, “vão-se embora, porque vocês vão morrer, o vosso governo traiu-vos”, e ela também aparece como um fantasma neste filme. Portanto, são esses fantasmas todos que, vindos do passado, constroem o presente. O momento presente que nós estamos a viver no mundo, é todo feito desses restos, na minha opinião, mal enterrados. RFI: O cinema é uma ferramenta para lidar com esses fantasmas? Carlos Conceição: Há uma certa obrigação antropológica em algum cinema, há uma responsabilidade histórica que o cinema deve atentar, mas eu não creio que o cinema deva ser uma arte utilitária exclusivamente. Acho que o cinema é mais interessante quanto mais livre for, e se calhar quanto mais fútil for. Eu vejo o cinema como uma espécie daqueles discos que se gravam e se mandam para o espaço, e acredito que daqui a uns anos, quando nós já cá não estivermos, vai aparecer uma espécie alienígena qualquer, ou uma espécie mais inteligente que nós, que tem estado aí escondida, que não aparece por nossa causa, e que vai descobrir uma carrada de filmes, e vai dizer, olha que interessante que era esta espécie que se autodestruiu. E é para isso que eu acho que o cinema serve. Eu vejo cada filme que faço como uma espécie de filho, até porque fazer um filme é uma espécie de gestação, dura o tempo de uma gestação, alguns mais, alguns trazem as minhas dores de cabeça comparáveis. E às vezes nós perguntamos para quê. Para mim essa é a resposta: é para deixar qualquer coisa, para deixar um legado, para deixar uma marca. Para deixar qualquer coisa que ajude a perceber como é que as coisas eram, como é que deviam ter sido, como é que não foram, por aí fora. RFI: Os primeiros filmes do Carlos Conceição foram curtas-metragens, os últimos três trabalhos foram longas-metragens. Não há uma vontade, não pode haver um desejo de voltar às curtas? Carlos Conceição: Eu penso que o universo das curtas, a existência cultural das curtas, é interessante, mas limitada. Eu fui muito feliz a fazer curtas-metragens, cheguei a dizer que me apetecia fazer curtas para sempre. O meu penúltimo filme, na verdade, não é uma longa-metragem, é uma média-metragem, tem 59 minutos, e eu tenho outro filme com 59 minutos para lançar em 2026. Esse formato de uma hora, para mim, é perfeito. Permite-se uma estrutura de curta-metragem em que nem tudo precisa de lá estar, de ser causa e efeito, nem de estar pejado de consequências, nem hiper-explicado, e ao mesmo tempo também não abusa das boas-vindas que recebe do público.Portanto, gosto de filmes que contêm esse universo mais curto, de certa forma. Para além do filme de 59 minutos que quero estrear para o ano que vem, se tiver sorte, também tenho uma ideia para uma curta-metragem que é toda feita com material que eu já tenho filmado, e que tem a ver com Angola também, curiosamente. Mas é uma curta muito mais sensorial e vai ser como música visual, vai ser baseado em ritmos de planos, e tempos e durações de planos, e o que é que corta para onde. Isso é um exercício que eu sinto que me agrada e que é uma coisa que eu quero fazer, que eu consigo fazer sozinho também. Até porque acho que estou precisando tirar umas férias depois desta maratona que têm sido os últimos três anos, talvez. RFI: Fazer sozinho é? Carlos Conceição: Quando eu digo fazer sozinho, às vezes refiro-me a ser só eu com uma câmera na mão, por exemplo, mas isso não quer dizer que depois a montagem vá ser eu sozinho. Eu gosto de pedir opinião às pessoas e depois já me aconteceu em determinados projetos eu saber exatamente como é que a montagem tende a acontecer, e seria eu dizer à pessoa que está comigo a montar que devíamos fazer assim, devíamos fazer assado, de forma a ir ao encontro da minha ideia. Já me aconteceu, como também acontece em particular no filme Baía dos Tigres, eu ter uma ideia e ficar à espera de ver o que é que a Mariana Gaivão tem para propor dentro da mesma ideia, enquanto montadora o que é que ela me vai contra-propor. E ela diz-me, dá-me dez minutos e volta daqui a dez minutos. E eu volto e ela tem uma proposta para fazer. A maioria das vezes estamos completamente síncronos. Acho que é muito importante essa parceria. Portanto, nós nunca estamos realmente sozinhos. Quando eu digo que posso fazer essa curta sozinho, eu acho que é material que eu fui juntando de outras rodagens, de outras coisas que não utilizei no Nação Valente, de coisas que não utilizei neste filme, e que eu acho que consigo sozinho em casa juntar e criar algo interessante com aquilo. É nesse sentido que digo fazer sozinho. Mas a verdade é que eu dependo sempre, obviamente, do meu colega Marco Amaral, que é o colorista que vai depois pôr aquilo com bom aspecto porque eu não sou diretor de fotografia, por isso ele tem de me salvar, de certa forma. Dependo, obviamente, de quem vai ajudar a fazer a montagem de som e a mistura de som. E, normalmente, eu trabalho com um núcleo muito duro, quase sempre a mesma família. Portanto, quando digo sozinho, às vezes posso estar a dizer que estou a autoproduzir, ou posso estar a dizer que é algo que eu consigo, se calhar, manufaturar, fazer de uma forma menos comunitária, menos convencional, menos industrial. RFI: O Carlos Conceição gosta de trabalhar com um núcleo duro, um núcleo próximo, o ator João Arraias faz parte desse núcleo. O que é que o faz investir nessa relação? Carlos Conceição: Há duas, três dimensões na resposta que eu posso dar. Em primeiro lugar, o João é um ator com capacidades únicas, que eu reconheço como muito valiosas e isso para um realizador é ouro. Pedir a um ator uma ação com meia dúzia de palavras e ele dar-nos exatamente aquilo ou, se calhar, melhor, não acontece todos os dias. Portanto, quando um ator tem esse super poder, nós agarramos nele e nunca mais o deixamos ir. A segunda questão tem a ver com o facto que eu me revejo imenso no João. Ele tem menos de 15 anos do que eu, quase 16, e houve uma altura, quando ele tinha 16, 17, era impossível, para mim, olhar para ele e não me estar a ver a mim. Houve vários filmes que surgiram por causa disso, nomeadamente o Versalhes, o Coelho Mau, e o Serpentário sem dúvida nenhuma. A terceira coisa é que nós somos muito amigos e trabalhar com amigos é o maior prazer do mundo. RFI: Baía dos Tigres teve a estreia mundial no Festival Internacional de Cinema DocLisboa, na origem dedicada aos documentários. Podemos identificar a Baía dos Tigres como um documentário? Carlos Conceição: O Godard dizia que todos os filmes são documentários sobre a sua rodagem, o seu processo de serem feitos. O Baía dos Tigres é uma ficção filmada segundo alguns credos do documentário. É tudo quanto posso dizer. Por ser o realizador do filme e o argumentista do filme, talvez não seja a pessoa mais indicada para o definir nesse sentido. Aliás, os filmes, normalmente, e é uma ideia que eu costumo tentar vender, os filmes não são como são por acidente ou por ingenuidade ou porque a pessoa que os fez não soube fazer melhor. Os filmes são normalmente resultado de um período de deliberação que é longo, ardo, obsessivo e desgastante para o seu realizador. Portanto, não há filme nenhum que seja como é porque o realizador não sabia fazer melhor. Isso quer dizer que, de certa forma, cada filme dita a sua própria gramática. E eu acho que é muito interessante que possa haver fusões entre os sistemas clássicos narrativos e as formas do documentário, o cinema mais contemplativo. Eu gosto, por exemplo, do cinema do Andy Warhol. Eu nunca me sentei a ver o Empire State Building durante oito horas, mas só saber que existe … Eu já vi aos bocados, não é? Mas saber que este filme existe e que pode ser visto dessa maneira, para mim, é uma fonte de inspiração enorme. Da mesma maneira, o James Benning, vários filmes da Chantal Akerman, tudo isso são manifestações cinematográficas de fusão que eu considero que quebram todas as gaiolas e acho que importante, se calhar, para lutar contra o mainstream. Eu acho o mainstream um bocadinho o inimigo principal do crescimento da arte. O mainstream obriga a fazer comparações, obriga a manuais. Acho que não há nada melhor para quebrar com essas gaiolas do que revisitar estes filmes de que eu estava a falar. RFI: Em relação a novos projetos, o que é que está a acontecer? Em off, tinham-me falado de um projeto sobre ópera. O que é que está para vir? Carlos Conceição: Eu tenho, neste momento, três projetos para serem lançados. Um é uma media-metragem de 59 minutos, do qual já tínhamos falado há pouco. O outro é um filme, uma longa-metragem que é uma experiência em linguagem mainstream, por assim dizer, que se chama Bodyhackers. E o terceiro projeto. que é o mais recente, ao qual eu dediquei os últimos 14 meses da minha vida, é um projeto para televisão e para cinema que envolve ópera. São narrativas separadas, autónomas, todas elas com um compositor português, algumas baseadas em fontes literárias, algumas dessas óperas, mas são essencialmente segmentos operáticos que resultarão simultaneamente num filme e numa série de televisão. RFI: O Carlos Conceição nasceu em Angola, viveu em Angola até hoje 22 anos, vai frequentemente a Angola. Qual é a imagem que tem do cinema produzido em Angola? Como é que olha para aquilo que acontece em Angola a nível da produção cinematográfica? Carlos Conceição: Gostava de ver mais, gostava de ver em mais sítios e gostava de ver mais pluralidade. Acho que estamos num momento perfeito para que se revelem novos talentos e comecem a aparecer mais pessoas e mais pessoas arrisquem. Qualquer pessoa com um telemóvel, neste momento, consegue fazer um filme e acho que não deve haver o medo de partir para essa aventura. Hoje em dia temos o HD disponível nos nossos telemóveis, nos smartphones, até nos mais corriqueiros. O que eu acho é que o cinema mais interessante, às vezes, surge daí, surge justamente daquela recusa à inércia. Há um filme dentro de nós, ele pode sair de qualquer maneira e sai. Basta nós queremos que ele saia e ele vem cá para fora. RFI: Já teve oportunidade de visionar algum produto assim feito, feito em Angola? Carlos Conceição: Sim, em particular um filme que eu comprei num semáforo em DVD e que me parece que não era uma versão final de montagem porque tinha a voz do realizador a dar instruções aos atores. Era um filme absolutamente inacreditável sobre uma mãe e umas filhas à procura de vingança por uma coisa que lhes tinha acontecido. Uma mulher que tinha sido injuriada a vida inteira, que usava uma pala no olho e as filhas quando tinham um desgosto morriam com uma hemorragia através da pele. O filme é de tal maneira incrível na sua imaginação que eu fiquei absolutamente estarrecido, senti-me uma formiga perante aquele filme que foi feito num subúrbio de Luanda para ser consumido num subúrbio de Luanda. Eu senti que a genialidade por trás daquilo era uma coisa que devia ser descoberta e valorizada. Ou seja, isso existe em Angola, por isso acho muito importante ir à descoberta disso.
A semana política foi marcada pela repercussão das mortes na operação policial no Rio de Janeiro. E terminou com episódio, em menor escala, no Ceará. Houve também movimentações de Ciro Gomes (PSDB) e André Fernandes (PL), além da eleição de Joel Barroso (PSB) em Santa Quitéria.#operação #riodejaneiro #cirogomes #andrefernandes #governo #ceará #aovivo #2026 #política #noticias #live #joel #psb #oposição #aliados #bolsonaro #lula #candidatos #psdb #crime #mortes #jogo #politico Em Fortaleza, o Plano Diretor chegou à Câmara Municipal. O Jogo Político #474 faz o balanço da semana e escolhe quem foi o personagem da política cearense. O Jogo Político vai ao ar às segundas-feiras, 14 horas, e às sextas, às 13 horas.Nosso programa também está disponível do O POVO+, e se você não é assinante, você pode assinar do Streaming do O POVO em https://mais.opovo.com.br/
Debate entre Rui Costa e Noronha Lopes teve de tudo, mas há que defenda que foi pouco explicativo. Abel Ferreira, no Brasil, somou nova noite para recordar para sempre.See omnystudio.com/listener for privacy information.
No cenário dinâmico do marketing digital e das vendas, a busca pela previsibilidade e eficiência tornou-se uma obsessão. Empresas de todos os portes anseiam por transformar o processo de vendas de uma “arte” intuitiva e, por vezes, caótica, em uma “ciência” replicável e escalável. Mas, seria essa transição meramente técnica? Ou há um profundo embate cultural e psicológico em jogo? O episódio do podcast Growth Diaries, com a participação de Daniel Lestinge, fundador da Blue Forecast, desvenda as complexidades dessa jornada, expondo a tensão entre a natureza humana dos vendedores e a frieza implacável dos dados. Mais do que um mero relatório de vendas, o que emerge é um manifesto sobre como a gestão de dados pode, paradoxalmente, humanizar e otimizar a máquina de receita, desde que se compreenda a intrincada dança entre pessoas, processos e algoritmos.A Evolução da Gestão Comercial: Do Grito ao AlgoritmoA história da gestão comercial é uma jornada fascinante, pontuada por transformações radicais. Houve um tempo em que o sucesso em vendas era sinônimo de carisma, persuasão e, muitas vezes, de uma boa dose de “gritos e motivação” por parte dos gestores. Era uma era onde a intuição reinava soberana, e a performance individual era celebrada, mas dificilmente replicável ou escalável. Max Weber, o sociólogo alemão, já observava no início do século XX a tendência da sociedade moderna à racionalização, onde a eficiência e a calculabilidade suplantariam a tradição e a emoção (Weber, 1978). Essa racionalização, que ele via nas burocracias, hoje se manifesta na busca incessante por métricas e processos no universo das vendas.Daniel Lestinge, com sua trajetória que migra de vendas para dados, é um testemunho vivo dessa evolução. Ele representa a nova guarda, que entende que a paixão e a motivação continuam sendo cruciais, mas precisam ser ancoradas em um arcabouço de dados e processos. O modelo artesanal, onde o “feeling” do vendedor era o KPI supremo, cede lugar a uma gestão que busca transformar a operação de vendas em uma “fábrica de receita” previsível. Não se trata de desumanizar, mas de otimizar. Como argumenta Peter Drucker, “o que não pode ser medido, não pode ser gerenciado” (Drucker, 1954). E no mundo das vendas, gerenciar significa entender o que funciona, por que funciona, e como replicar esse sucesso em escala.O Calcanhar de Aquiles Humano: Vendedores e o CRMApesar da inegável lógica por trás da gestão de vendas baseada em dados, o maior desafio reside, ironicamente, no elemento humano. Vendedores, por sua própria natureza, são movidos pela emoção, pela conexão pessoal e pela liberdade de ação. A ideia de preencher meticulosamente um CRM, seguir roteiros rígidos ou aderir a processos padronizados pode soar como uma camisa de força para muitos. Essa resistência não é meramente uma questão de preguiça ou má vontade; é um reflexo de vieses cognitivos e da aversão à perda, conceitos explorados por Daniel Kahneman e Amos Tversky em sua Teoria da Perspectiva (Kahneman & Tversky, 1979). A mudança de um método familiar para um novo, mesmo que comprovadamente mais eficiente, é percebida como uma perda de autonomia ou de um “jeito de fazer” que já trouxe resultados.A Blue Forecast, ao se deparar com essa realidade, precisou desenvolver uma abordagem que não apenas implementasse ferramentas de dados, mas que também promovesse uma profunda mudança cultural. A solução não está em impor, mas em demonstrar o valor. Quando os vendedores percebem que o CRM não é um instrumento de controle, mas uma ferramenta que os ajuda a fechar mais negócios, a gerenciar melhor seu pipeline e a identificar oportunidades que antes passariam despercebidas, a resistência diminui. É uma questão de traduzir a linguagem dos dados para a linguagem dos resultados tangíveis na vida do vendedor. Como Lestinge aponta, a gestão comercial precisa de visibilidade e controle, especialmente em ambientes remotos, e essa visibilidade só é alcançada com dados confiáveis, gerados por processos bem definidos.Data as a Service: O Modelo Blue Forecast e a Democratização da AnáliseA complexidade de montar e manter uma equipe de dados interna é um obstáculo significativo para muitas empresas, especialmente as de médio porte que faturam acima de 10 milhões por ano, mas que ainda não possuem a maturidade para um departamento de dados robusto. É nesse vácuo que o modelo “time de dados por assinatura” da Blue Forecast se posiciona como uma solução estratégica. Esse modelo reflete uma tendência econômica mais ampla: a “economia de serviços” ou “as-a-service” (SaaS, PaaS, IaaS), onde empresas podem acessar expertise e infraestrutura de ponta sem os custos fixos e os desafios de recrutamento e retenção de talentos.Ao oferecer times de dados por assinatura, a Blue Forecast democratiza o acesso à inteligência de negócios avançada. Empresas como Embracon e Ser Ronda, que talvez hesitassem em investir em uma estrutura de dados própria, podem agora alavancar análises sofisticadas para otimizar suas operações de vendas. Isso permite que se concentrem em seu core business, enquanto especialistas gerenciam a complexidade dos dados. É uma terceirização estratégica que não apenas reduz custos, mas também acelera a curva de aprendizado e a implementação de melhores práticas, conforme o conceito de vantagem competitiva de Michael Porter (Porter, 1985).A “Fábrica de Receita”: Previsibilidade em um Mundo IncertoA visão de transformar a operação de vendas em uma “fábrica de receita” é o cerne da proposta da Blue Forecast e um conceito poderoso para o marketing digital. Em um mercado cada vez mais volátil e competitivo, a previsibilidade é um ativo inestimável. Uma “fábrica de receita” implica um sistema onde as entradas (leads, atividades de vendas) são processadas de forma consistente para gerar saídas (vendas, receita) com uma taxa de conversão conhecida e gerenciável. Isso exige a aplicação de princípios de gestão de processos, como os popularizados pelo Lean Manufacturing e Six Sigma na indústria, adaptados para o universo das vendas (Womack & Jones, 2003).A chave para essa previsibilidade é a definição clara de processos e a medição constante de KPIs. Sem dados confiáveis, a “fábrica” operaria no escuro, sujeita a flutuações e ineficiências. Com eles, é possível identificar gargalos, otimizar etapas e prever resultados com maior acurácia. A previsibilidade não elimina a necessidade de inovação ou de adaptação a mudanças de mercado, mas fornece uma base sólida para a tomada de decisões, permitindo que as empresas reajam de forma proativa, e não apenas reativa.Governança de Dados: O Alicerce InvisívelUm dos pontos cruciais levantados por Lestinge é a necessidade de homologação dos dados. Em muitos casos, as empresas sequer possuem uma definição clara do que constitui uma “venda” ou um “lead qualificado”. Sem essa padronização, qualquer análise de dados será falha, construída sobre areia movediça. A governança de dados, portanto, torna-se o alicerce invisível sobre o qual toda a “fábrica de receita” é construída.A homologação envolve alinhar critérios, criar campos padronizados no CRM e garantir que todos os membros da equipe compreendam e sigam esses padrões. É um trabalho minucioso, mas essencial. Filosoficamente, pode-se traçar um paralelo com a busca pela verdade e consistência na epistemologia. Para que o conhecimento (neste caso, os insights de dados) seja válido, ele precisa ser fundamentado em premissas claras e consistentes. Dados inconsistentes levam a conclusões equivocadas e, consequentemente, a decisões de negócios erradas. Como alertam Davenport e Dyché, sem uma boa governança, os dados podem se tornar um passivo, não um ativo (Davenport & Dyché, 2013).Além dos Dashboards: A Cultura Data-Driven na PráticaTer dashboards bonitos é um bom começo, mas a verdadeira transformação acontece quando os dados permeiam a cultura organizacional. Daniel Lestinge destaca como as reuniões se transformam após a implementação das soluções da Blue Forecast. De debates improdutivos focados em atribuição de culpa, elas evoluem para sessões focadas em soluções e acompanhamento de iniciativas, utilizando ferramentas como PDCA (Plan-Do-Check-Act) e 5W2H.Essa mudança de cultura é um desafio sociológico e psicológico complexo. Requer que os líderes modelem o comportamento desejado, que a equipe seja treinada para interpretar e agir com base nos dados, e que haja um ambiente de segurança psicológica onde os erros sejam vistos como oportunidades de aprendizado, não de punição. Edgar Schein, renomado teórico da cultura organizacional, enfatiza que a cultura é moldada por artefatos, valores e pressupostos básicos, e que a mudança cultural é um processo lento e deliberado (Schein, 2017). Ao transformar a forma como as reuniões são conduzidas, a Blue Forecast está, de fato, reescrevendo os rituais e as normas que sustentam a cultura de vendas de seus clientes.O Dilema da Imagem vs. Entrega: Lições do Ecossistema DigitalUm dos insights mais provocadores do episódio do Growth Diaries foi a reflexão sobre a influência das redes sociais e os “influenciadores corporativos”. Daniel e Victor observaram que, muitas vezes, há um foco excessivo na imagem dos fundadores e na retórica inspiradora, em detrimento da entrega real de valor estruturado. Essa crítica ressoa com a teoria da “sociedade do espetáculo” de Guy Debord, que descrevia uma sociedade onde as relações sociais são mediadas por imagens e o consumo de representações se sobrepõe à experiência direta e autêntica (Debord, 1994).No contexto do marketing digital e da educação corporativa, essa tendência pode ser perigosa. Empresas e indivíduos que constroem sua reputação apenas na imagem, sem a substância de processos sólidos e resultados concretos, correm o risco de se tornar “castelos de areia”. A mensagem de Daniel é clara: a entrega de resultados tangíveis e a transformação contínua são o que realmente fidelizam o cliente. Em uma era de excesso de informação e de “gurus” instantâneos, a autenticidade e a capacidade de gerar valor real são os diferenciais competitivos mais poderosos.A Autonomia do Cliente: Infraestrutura e FlexibilidadeUm aspecto técnico, mas de grande impacto estratégico, é a decisão da Blue Forecast de implantar todas as soluções na infraestrutura do cliente. Essa abordagem, que pode parecer mais trabalhosa à primeira vista, é fundamental para garantir a autonomia do cliente e evitar a chamada “dependência de fornecedor” (vendor lock-in). Ao hospedar os dados e as ferramentas na própria infraestrutura do cliente (seja AWS, GCP ou outra), a Blue Forecast assegura que o cliente mantém a posse e o controle de seus ativos digitais.Essa estratégia reflete uma compreensão profunda do valor a longo prazo para o cliente. Não se trata apenas de entregar uma solução, mas de capacitar o cliente. Em um mundo onde a segurança e a soberania dos dados são cada vez mais críticas, essa escolha técnica se traduz em um benefício estratégico, reforçando a confiança e a parceria. Além disso, a flexibilidade em adaptar-se à stack tecnológica do cliente demonstra uma abordagem centrada no cliente, um pilar fundamental para o sucesso de qualquer empresa de serviços, como ressaltado por autores como Frederick Reichheld sobre a lealdade do cliente (Reichheld, 1996).O ROI da Transparência: Casos de Sucesso e RetençãoO valor da análise de dados em vendas é mais bem ilustrado pelos casos de sucesso. Lestinge citou o exemplo de uma empresa de Telecom do Espírito Santo que, após a implementação de dashboards e processos estruturados, viu sua retenção (Customer Success) saltar de 27% para 54%. Esse é um testemunho poderoso do ROI da transparência e da governança de dados. A retenção de clientes é, muitas vezes, mais lucrativa do que a aquisição de novos, um princípio econômico bem estabelecido no marketing.O aumento da retenção não é um resultado mágico; é a consequência direta de uma melhor compreensão do cliente, da identificação proativa de riscos de churn e da capacidade de agir com base em insights. Quando a equipe de CS tem acesso a dados confiáveis sobre o comportamento do cliente, o uso do produto e o histórico de interações, ela pode intervir de forma mais eficaz, oferecendo soluções personalizadas e fortalecendo o relacionamento. Esse é o poder de transformar dados em ações estratégicas que impactam diretamente o resultado final.O Caminho à Frente: Priorizando o EssencialA mensagem final de Daniel Lestinge é um lembrete valioso em um mundo saturado de informações e soluções complexas: comece simples. Ele orienta focar inicialmente em construir processos claros, definir poucos KPIs essenciais e garantir que o time de vendas funcione de forma coesa, antes de buscar soluções excessivamente complexas. Essa abordagem minimalista e pragmática ecoa o Princípio de Pareto (80/20), onde a maioria dos resultados advém de um número limitado de causas (Koch, 1998).No contexto do marketing digital e da gestão de vendas, isso significa resistir à tentação de implementar todas as ferramentas e métricas disponíveis de uma vez. Em vez disso, a prioridade deve ser estabelecer uma base sólida de dados confiáveis e processos operacionais eficientes. A jornada é gradual, e o principal é progredir com foco e “mão na massa”. É um convite à ação deliberada e estratégica, em vez de uma corrida desenfreada por todas as inovações tecnológicas.Conclusão: A Sinfonia de Dados e HumanidadeO bate-papo no Growth Diaries com Daniel Lestinge transcendeu a mera discussão sobre análise de dados e vendas. Ele nos convidou a uma reflexão profunda sobre a natureza do trabalho, a psicologia humana e a evolução da gestão na era digital. A “fábrica de receita” não é um ideal frio e desumano; é a materialização da busca por eficiência e previsibilidade, que, quando bem implementada, pode liberar os vendedores para se concentrarem no que fazem de melhor: conectar-se com pessoas.A verdadeira maestria reside em orquestrar a sinfonia entre a precisão dos algoritmos e a intuição humana, entre a rigidez dos processos e a flexibilidade da criatividade. O futuro das vendas e do marketing digital não é apenas sobre coletar dados, mas sobre interpretá-los com sabedoria, aplicar essa sabedoria com propósito e, acima de tudo, lembrar que, no final das contas, estamos lidando com pessoas. A jornada é contínua, os desafios são constantes, mas a promessa de uma operação de receita mais eficiente e previsível, que respeita e amplifica o potencial humano, é um horizonte que vale a pena perseguir. É hora de salvar, reparar e decidir: vamos construir fábricas de receita que nutrem a alma humana ou nos perderemos na busca incessante por métricas vazias? A escolha é nossa.Referências (Estilo MLA)Davenport, Thomas H., and Jill Dyché. The New IT: How Technology Leaders Are Shaping the Digital Future. McGraw-Hill Education, 2013.Debord, Guy. The Society of the Spectacle. Translated by Donald Nicholson-Smith, Zone Books, 1994.Drucker, Peter F. The Practice of Management. Harper & Row, 1954.Kahneman, Daniel, and Amos Tversky. “Prospect Theory: An Analysis of Decision under Risk.” Econometrica, vol. 47, no. 2, 1979, pp. 263–91.Koch, Richard. The 80/20 Principle: The Secret to Achieving More with Less. Doubleday, 1998.Porter, Michael E. Competitive Advantage: Creating and Sustaining Superior Performance. Free Press, 1985.Reichheld, Frederick F. The Loyalty Effect: The Hidden Force Behind Growth, Profits, and Lasting Value. Harvard Business School Press, 1996.Schein, Edgar H. Organizational Culture and Leadership. 5th ed., Wiley, 2017.Weber, Max. Economy and Society: An Outline of Interpretive Sociology. Edited by Guenther Roth and Claus Wittich, University of California Press, 1978.Womack, James P., and Daniel T. Jones. Lean Thinking: Banish Waste and Create Wealth in Your Corporation. Free Press, 2003. To hear more, visit victormignone.substack.com
Houve replantio em algumas áreas e bolsões mais secos apresentam problemas de desenvolvimento
Em Portugal foi aprovada a 28 de Outubro a Lei da Nacionalidade, com 157 votos "a favor" dos partidos de direita, e 64 votos "contra" de todos os partidos de esquerda. A lei altera as regras para os estrangeiros obterem cidadania portuguesa e complexifica os critérios para quem não tem origem portuguesa. A proposta tem ainda que ser promulgada pelo Presidente da República, que poderá optar por remetê-la para o Tribunal Constitucional. RFI: Professor José Palmeira, politólogo e investigador na Universidade do Minho, antes de mais, quais são as motivações de quem pretende obter a nacionalidade portuguesa? José Palmeira: As motivações são as mais diversas. Se um cidadão imigrante vem para Portugal e se instala em Portugal, constitui família, tem o seu emprego em Portugal, naturalmente poderá ter o desejo de obter a nacionalidade portuguesa, sobretudo se for um cidadão de fora da União Europeia. Ao obter a cidadania portuguesa, obtém também a cidadania europeia, na medida em que os cidadãos dos Estados-Membros da União Europeia beneficiam de um conjunto de prerrogativas que lhes permitem circular pela Europa e ter acesso a um conjunto de regalias. Têm também obrigações, é verdade. Portanto, desde logo, tem essa vantagem de maior estabilidade do ponto de vista profissional, e do ponto de vista familiar. RFI: Com esta nova Lei, para pedir a nacionalidade portuguesa será necessário ser residente em Portugal há dez anos, em vez dos cinco anos actuais, para os estrangeiros de todos os países. Serão exigidos sete anos de residência para cidadãos dos países de língua portuguesa e da União Europeia. Como interpreta esta distinção em função da origem? José Palmeira: Eu diria que há um objectivo de fazer uma discriminação positiva. No caso dos cidadãos de países de língua portuguesa, têm desde logo, conhecimentos da língua. Por outro lado, esses países de língua portuguesa foram antigas colónias portuguesas. Houve também uma interligação cultural forte com esses países. Nesse sentido, cria-se esta proximidade. E no caso da União Europeia, terá a ver com o facto de que existe a cidadania europeia, isto é, já existe uma proximidade maior entre os cidadãos portugueses e os cidadãos dos outros países da União Europeia. Há então também um objectivo de dar um tratamento de favor a esses cidadãos quando requerem a nacionalidade portuguesa. RFI: Para além destes critérios sobre os prazos de residência, passam a existir novas exigências. Por exemplo: o conhecimento da língua portuguesa, o conhecimento da cultura, organização política e valores democráticos. Os candidatos à nacionalidade portuguesa deverão também assinar uma "declaração solene de adesão aos princípios da República". Isto quer dizer que, por exemplo, um ucraniano, um búlgaro ou um moçambicano que queira pedir a nacionalidade portuguesa terá que a conhecer de cor os nomes de todos os rios portugueses ou, por exemplo, o nome dos reis de Portugal? José Palmeira: O critério vai ser definido pelos autores da regulamentação da lei. Agora, não me parece que seja de exigir a quem vem de fora mais do que aquilo que se exige aos nacionais. Mas por outro lado, se o país precisa - e isso está reconhecido - de imigrantes para alcançar todos os seus objectivos e particularmente os objectivos económicos, então há um objectivo de bem integrar essas pessoas. Devemos criar condições favoráveis a essa integração. RFI: A integração passa pelo conhecimento dos valores democráticos, da organização política e da cultura portuguesa? José Palmeira: No entendimento do legislador, sim. Esses valores não têm que ser assimilados. Isto é, ninguém vai ter que mudar de religião ou mudar de um conjunto de princípios para obter a nacionalidade portuguesa, mas deverá respeitá-los. Aquilo que o legislador pretende é que essa identidade portuguesa não seja colocada em causa, ainda que essa identidade não signifique, como é óbvio, que haja uma única cultura. Hoje as sociedades são multiculturais. Hoje, os países são cosmopolitas e, portanto, depende depois do critério das tais provas de acesso à nacionalidade portuguesa. RFI: A política migratória portuguesa está a evoluir. A Lei de Estrangeiros já está em vigor. A Lei da Nacionalidade foi aprovada a 28 de Outubro. Está em preparação a Lei de Retorno e afastamento de estrangeiros. E foi também recentemente aprovada a lei que proíbe o uso da burca no espaço público. Está Portugal a viver uma ofensiva anti-imigração? José Palmeira: É verdade que é um pouco o ar dos tempos. Portugal e a Europa em geral estão a virar à direita em termos político-partidários. E aquilo que estamos a assistir no caso português é evidentemente um reforço desses valores. Convém também referir que é bom que haja legislação para contemplar situações como, por exemplo, o repatriamento de cidadãos estrangeiros. Muitas vezes isso é efectuado sem que haja respeito pela situação do cidadão que vai ser repatriado. E, portanto, o facto de existir uma lei é muitas vezes para proteger as condições em que acontece. RFI: Falemos agora dos cartazes do Chega. André Ventura, o líder do partido de extrema-direita, tem-se avistado em cartazes eleitorais, com vista às presidenciais de 2026, com mensagens como "Ciganos têm de cumprir a lei" e "Isto não é o Bangladesh". Este tipo de cartaz deve ser considerado como crime ou como liberdade de expressão? José Palmeira: Ora bem, estamos aí numa fronteira que não é fácil definir. Eu diria que compete às entidades judiciais, ao Ministério Público, avaliar até que ponto isso cai numa situação de crime. No passado já tivemos um caso relativamente a cartazes do Chega que acusavam os líderes do PS e do PSD de "corruptos" e o Ministério Público considerou que isso estava dentro do foro político, e que não cabia no foro criminal. RFI: Mas este caso não implicava a existência de um potencial racismo, punível pela lei. José Palmeira: Claro que pode haver, agora esse julgamento compete ao tribunal. Do ponto de vista da política, é inaceitável que haja candidatos ou partidos que discriminem países ou etnias. Não é aceitável do ponto de vista político, numa sociedade que deve ser integradora e não, pelo contrário, afastar pessoas. Agora, o julgamento político é feito pelos eleitores em actos eleitorais e cabe também, se for o caso, um julgamento judicial, se os tribunais entenderem que isso viola leis da República Portuguesa. RFI: Ainda há alguns anos Portugal era visto, nomeadamente por Bruxelas (UE), como uma excepção num panorama de ascensão de partidos de extrema direita e de ideologias racistas. Já não é o caso. Em 2019, pela primeira vez desde o fim da ditadura salazarista, foi criado um partido de extrema direita. Em apenas seis anos o Chega conseguiu eleger 60 deputados e tornar-se o segundo partido na Assembleia da República. Paralelamente, os discursos e actos de racismo têm vindo a ganhar visibilidade na sociedade portuguesa. O racismo não existia antes em Portugal ou estava simplesmente invisibilizado? José Palmeira: O racismo sempre existiu. Aqui a novidade é haver um partido político, um candidato presidencial que utiliza uma linguagem que permite que haja esse tipo de julgamento relativamente às suas opiniões políticas. Por outro lado, essas posições têm registado um crescimento eleitoral muito significativo. Por exemplo, estamos numa pré-campanha para as presidenciais e admite-se a possibilidade de André Ventura chegar à segunda volta destas eleições. Isto de facto não era expectável há poucos anos, como referiu, mas hoje é uma possibilidade que existe, sem dúvida.
O estrategista de investimentos do BB Private, Allan Fukumoto, CFP®, analisa os principais fatos da última semana e reflete sobre as expectativas para a semana atual no Brasil e no mundo para te ajudar a tomar as melhores decisões de investimento: "Nesta semana, os mercados globais operaram em compasso de espera diante do prolongado shutdown nos EUA, enquanto dados de inflação abaixo do esperado reforçaram a percepção de desaceleração econômica. Houve avanços nas negociações comerciais entre EUA e China, além de iniciativas estratégicas em minerais críticos e restrições tecnológicas. No Brasil, o governo sinalizou compromisso com o equilíbrio fiscal após a queda da MP 1.303, o que trouxe alívio à curva de juros e valorizou o real. A prévia do IPCA-15 veio abaixo das expectativas, reforçando a tendência de descompressão inflacionária. A agenda da próxima semana inclui decisões de juros, dados de PIB e emprego, com potencial de movimentar os mercados."Confira agora o BB Private Highlights. Conheça também outros conteúdos produzidos por nossos premiados especialistas no hub BB Private Lounge: bb.com.br/lounge
Neste episódio, gravado a quente após o golo tardio do Amora, analisamos o empate a três golos da Académica na jornada 8.O que correu bem, o que correu mais ou menos e o que falhou redondamente - tudo abordado com a frieza possível, numa conversa acalorada na Bancada.Houve ainda tempo para antever a receção ao Caldas, olhar para a tabela classificativa da Liga 3, para os resultados das equipas de formação da Briosa e para levantar possíveis futuras chatices dentro do balneário da Académica.
No seu habitual espaço de comentário no Jornal Nacional da TVI, Paulo Portas começou por identificar o “obstáculo dentro da Europa” para a Ucrânia se financiar com ativos russos e considera que “a Europa, na Hora H, falhou àquele que é o seu principal problema de segurança”. Houve ainda espaço para uma homenagem a Francisco Pinto Balsemão e para levantar “dúvidas” sobre o tão falado assalto ao Louvre.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Comentário de Ralph de Carvalho: A Produtividade do Atacante Ciel: O primeiro assunto trata da contratação e longevidade do jogador Ciel, atualmente com 43 anos de idade. Apesar da idade que geralmente marca o fim da vida útil no futebol (cerca de 35 a 38 anos) Ciel é artilheiro e entrega em campo o que se espera, sendo disputado por várias equipes. Ele está no CSA de Alagoas, onde a direção busca um contrato mais longo (até dezembro de 2026), e recentemente ele foi emprestado ao Tirol do Ceará para disputar a Taça Fares Lopes, demonstrando sua eficiência e produtividade. O Processo Eleitoral no Náutico: O segundo tema foca no processo eleitoral do Clube Náutico Capibaribe, com atenção ao prazo de inscrição das chapas. A chapa de situação, que deve ser liderada por Bruno Becker para presidente e Ricardo Malta para vice, está consolidada. Houve uma possibilidade de chapa de oposição com Plínio Albuquerque e Roberto Selva, mas essa ideia não vingou, indicando que o clube pode ter uma chapa única. O atual presidente, Bruno Becker, é esperado para oficializar sua candidatura no momento da inscrição. Débitos e SAF no Santa Cruz: O terceiro assunto é a situação do Santa Cruz, que passou a ser cobrado publicamente, com ameaças de inclusão dos débitos na Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD). A entrada do débito no CNRD pode causar punições severas, como a impossibilidade de inscrever novos atletas. O Vila Nova de Goiás, através do presidente Hugo Jorge Bravo, cobra R$ 700.000 referentes à venda do meia João Pedro. Além disso, o presidente do Tubarão de Santa Catarina cobra valores devidos pelo empréstimo do atacante Geovani. Questiona-se se os débitos são responsabilidade do Santa Cruz ou da futura SAF, a Cobra Coral Participações, sendo estranho que uma SAF comece a ser instalada já gerando ou assumindo um passivo. Apesar das cobranças, o Santa Cruz continua contratando jogadores, como Andrei, Ianson e Pedro Costa.
O vice-presidente do PSD, Carlos Coelho acredita que não deve existir uma extrapolação nacional se houver eventuais entendimentos autárquicos com o Chega. Dá o exemplo de acordos no passado com o PCP.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Com 2707 freguesias apuradas de 3259, às 22h45 da noite eleitoral autárquica, Daniel Oliveira e Martim Silva analisam os primeiros resultados confirmados das Câmaras. "O Chega não tem um salto, não é uma força autárquica", afirma o comentador da SIC Daniel Oliveira. Já o diretor-adjunto de Informação da SIC, Martim Silva, sublinha que "o Chega é a grande notícia da noite", porque "ganhou terreno", o que revela implantação autárquica. "É muito relevante o conjunto de câmaras conseguidas", diz. A moderação deste painel coube a Rodrigo Guedes de Carvalho.See omnystudio.com/listener for privacy information.
A proporção de domicílios em insegurança alimentar grave caiu de 4,1% para 3,2% em apenas dois anos de governo Lula. Houve redução da fome nas áreas rurais e urbanas e em todas as regiões do país. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (10) pelo IBGE.Sonoras:
No episódio desta semana do podcast Diplomatas, Teresa de Sousa e Carlos Gaspar (IPRI-Nova) analisaram a crise política em França, desencadeada pelo pedido de demissão do primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, na segunda-feira. A jornalista e o investigador assinalaram ainda o segundo ano dos ataques do Hamas contra Israel no dia 7 de Outubro de 2023 e discutiram as negociações directas entre o movimento islamista palestiniano e o Governo israelita em curso, no Cairo, sobre o conflito na Faixa de Gaza. Houve ainda espaço para um comentário sobre a eleição de Sanae Takaichi como líder do Partido Liberal Democrático e provável próxima primeira-ministra do Japão. No final do programa, Carlos Gaspar respondeu a uma pergunta de um ouvinte do podcast sobre o conceito de “multilateralismo bilateralizado”, que consta no programa do Governo de Luís Montenegro para explicar a sua estratégia para a política externa de Portugal. Texto de António Saraiva LimaSee omnystudio.com/listener for privacy information.
Bob Fernandes - A operação da CIA no Brasil - programa 20 Minutos
No Fórum Onze e Meia de hoje: Encontro de Lula e Trump deixa bolsonaristas em pânico. O que Lula dirá a Trump sobre Bolsonaro: houve até plano de ass4ssinato; Ciro Nogueira humilhado? Convidados do programa de hoje: Cynara Menezes e Antonio DonatoApresentação de Dri Delorenzo e comentários de Renato Rovai.Become a supporter of this podcast: https://www.spreaker.com/podcast/forum-onze-e-meia--5958149/support.
Confira nesta edição do JR 24 Horas: Um dos chefes da facção criminosa Terceiro Comando Puro morreu durante uma operação da Polícia Civil no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. A ação era para impedir a invasão dos traficantes dessa facção a comunidades vizinhas, dominadas por grupos rivais. Houve tiroteio na chegada dos agentes. No confronto, Edmilson Marques de Oliveira foi morto. Contra ele, havia três mandados de prisão em aberto. Helicópteros e blindados deram apoio à ação. O trânsito teve que ser interditado em duas das principais linhas expressas da cidade. Na Linha Amarela, motoristas deitaram no chão para se proteger. E ainda: Influenciador com sinais de embriaguez causa acidente com carro de luxo.
Os debates arrancaram, as sondagens prometem lutas disputadas. Neste episódio, analisamos o arranque da última eleição do ano — que se multiplica por 308 concelhos. Houve debate com os candidatos ao Porto, também já em Lisboa. As sondagens publicadas em Lisboa, Porto, Sintra, Faro, mas também em Gaia e Setúbal indicam vantagens curtas e algumas possíveis surpresas. A dias do arranque da campanha oficial, fazemos um ponto de situação. Com Eunice Lourenço, Paula Varela e Margarida Coutinho e moderação de David Dinis. A sonoplastia é de Salomé Rita e a ilustração de Carlos Paes.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Confira nesta edição do JR 24 Horas: Dois suspeitos morreram durante uma operação policial na zona norte do Rio de Janeiro. A ação foi realizada no Complexo do Lins. Agentes das tropas de elite das Polícias Civil e Militar buscavam localizar integrantes de uma quadrilha especializada em roubos de veículos. Houve confronto na chegada dos policiais; três suspeitos foram baleados e dois deles não resistiram. O outro foi encaminhado para um hospital da região. Um ônibus foi sequestrado e atravessado no meio da rua. Por conta da operação, quatro escolas suspenderam as aulas e três unidades de saúde paralisaram as visitas domiciliares. E ainda: Suspeito de matar Charlie Kirk é preso.
A CPMI do INSS ouviu nesta quinta-feira, 4, a diretora de Auditoria de Previdência da Controladoria-Geral da União (CGU), Eliane Viegas Mota.Eliane prestou depoimento como testemunha, a fim de esclarecer auditorias feitas pela CGU sobre descontos indevidos. Houve confusão na entre lulistas e bolsonaristas após o relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil - AL) interromper a depoente.Felipe Moura Brasil, Duda Teixeira e Ricardo Kertzman comentam:Papo Antagonista é o programa que explica e debate os principais acontecimentos do dia com análises críticas e aprofundadas sobre a política brasileira e seus bastidores. Apresentado por Felipe Moura Brasil, o programa traz contexto e opinião sobre os temas mais quentes da atualidade. Com foco em jornalismo, eleições e debate, é um espaço essencial para quem busca informação de qualidade. Ao vivo de segunda a sexta-feira às 18h. Apoie o jornalismo Vigilante: 10% de desconto para audiência do Papo Antagonista https://bit.ly/papoantagonista Siga O Antagonista no X: https://x.com/o_antagonista Acompanhe O Antagonista no canal do WhatsApp. Boletins diários, conteúdos exclusivos em vídeo e muito mais. https://whatsapp.com/channel/0029Va2SurQHLHQbI5yJN344 Leia mais em www.oantagonista.com.br | www.crusoe.com.br
A CPMI do INSS, teve uma sessão bastante movimentada na segunda-feira, 1 de setembro.A Comissão aprovou pedido de prisão preventiva do “Careca do INSS” e outros 20 nomes. Houve confusão entre a senadora Leila do Vôlei (PDT-DF) e a deputada federal Coronel Fernanda (PL-MT) durante a aprovação do requerimento. Em outro momento, o advogado Eli Cohen, responsável por apurações que ajudaram a PF, afirmou que, para ele, “o irmão de Lula é um laranja” — referindo-se a Frei Chico, que está na mira da CPMI. Felipe Moura Brasil, Duda Teixeira e Ricardo Kertzman comentam:Papo Antagonista é o programa que explica e debate os principais acontecimentos do dia com análises críticas e aprofundadas sobre a política brasileira e seus bastidores. Apresentado por Felipe Moura Brasil, o programa traz contexto e opinião sobre os temas mais quentes da atualidade. Com foco em jornalismo, eleições e debate, é um espaço essencial para quem busca informação de qualidade. Ao vivo de segunda a sexta-feira às 18h. Apoie o jornalismo Vigilante: 10% de desconto para audiência do Papo Antagonista https://bit.ly/papoantagonista Siga O Antagonista no X: https://x.com/o_antagonista Acompanhe O Antagonista no canal do WhatsApp. Boletins diários, conteúdos exclusivos em vídeo e muito mais. https://whatsapp.com/channel/0029Va2SurQHLHQbI5yJN344 Leia mais em www.oantagonista.com.br | www.crusoe.com.br
Após dois dias de obstrução protagonizada pela oposição na Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Hugo Motta, retomou a cadeira para abrir a sessão plenária proposta para a noite de ontem. Houve resistência por parte dos bolsonaristas que, inicialmente, não queriam deixar o presidente iniciar os trabalhos. A sessão foi iniciada e encerrada após discurso de Motta que deu um recado aos oposicionistas: “País deve estar em primeiro lugar e não projetos pessoais”. "O que a gente viu ontem foi uma total falta de liderança de Hugo Motta na Câmara - tanto que a expectativa hoje é que os líderes partidários desviem seu foco dele para o ex-presidente da Casa, Arthur Lira, grande patrocinador da eleição do atual. Este episódio mostra que o bolsonarismo é capaz de qualquer coisa; me parecia um novo 8 de janeiro. Tem hora que não tem diálogo, tem que bater na mesa. A única coisa importante nessa história é que, assim como Hugo Motta ficou isolado de um lado, os bolsonaristas o ficaram de outro. O Centrão não quer se envolver com essa história, mas é quem vai resolver", afirma Eliane.See omnystudio.com/listener for privacy information.