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Paris foi palco esta semana de um bate-bola que uniu no mesmo time esporte e inclusão social. Jovens franceses e brasileiros participaram de um encontro promovido pela fundação Gol de Letra, criada pelos ex-jogadores Raí e Leonardo, ambos ídolos do PSG, do São Paulo e da Seleção Brasileira. O evento foi realizado em parceria com a associação Sport dans La Ville, que também dá suporte a crianças e adolescentes carentes na França. Por Renan Tolentino, de Paris Um dos objetivos é promover o intercâmbio entre alunos apoiados por cada projeto. Ao todo, 16 jovens vieram do Brasil para participar do evento, que aconteceu na última quarta-feira (9), na sede da prefeitura de Paris, como parte do 3° Encontro Sobre Inserção Social Através do Esporte. “O esporte é uma linguagem transversal. Quando se fala em esporte, todo mundo pensa nos atletas de alto rendimento, medalhas, mas a gente vê o esporte como um modo de expressão, uma maneira de se desenvolver, de trabalhar o desenvolvimento humano, a educação (...) E nesses intercâmbios, a gente aproveita para fazer seminários e discutir temas sobre como o esporte se relaciona com o racismo, com questões de gênero, com o direito de todos, com a democracia. A gente aproveita o esporte também para desenvolver melhores práticas, de uma maneira mais impactante na sociedade”, detalha Raí. Além de promover debates e a inclusão dos jovens, esta edição também faz parte da programação do Ano do Brasil na França, que celebra a boa relação diplomática entre os dois países. “Na França, a gente tem parceiros, associações, principalmente a associação Sport dans la Ville, que participou do intercâmbio, e com a qual a gente acaba trocando muita metodologia, ensinamentos, conhecimentos, para melhorar mutuamente. Então, também é uma colaboração franco-brasileira”. Golaço fora dos gramados A fundação Gol de Letra foi criada em 1998 por Raí e Leonardo, visando "contribuir com a educação de crianças e jovens de comunidades socialmente vulneráveis, para que tenham mais oportunidades e perspectivas de vida", como descreve o próprio site da instituição. “A Gol de Letra começou há 26 anos, já com essa ideia de dar oportunidades às novas gerações de se formarem, de crescerem, se desenvolverem e de serem elas mesmas os agentes de transformação social", diz Raí. "Começamos em São Paulo, com um grande centro cultural, esportivo e educativo, com 100 crianças, lá atrás (em 1998). Hoje são quase 6 mil crianças e jovens atendidos todos os dias, com um resultado que nos deixa bastante orgulhosos. Muitos dos quase 35 mil jovens que já passaram pela Gol de Letra (ao longo desses anos) hoje são empreendedores, estudantes, estão nas universidades. Se não fosse a oportunidade que a gente oferece nessas comunidades, talvez isso não teria acontecido”, relembra o ex-jogador. Para Raí, a educação e o esporte jogam juntos. No ano passado, o ex-atleta do São Paulo e Seleção Brasileira se formou em Políticas Públicas na SciencesPo, universidade em Paris especializada nas áreas de Ciências Humanas e Sociais. “Durante a minha carreira, procurei sempre o conhecimento. Enquanto jogador não tinha tanto tempo assim, mas depois de encerrar a carreira fiz dois mestrados, voltei para a vida acadêmica, além da Gol de Letra. Tive um exemplo na minha família e procuro passar adiante. É como a gente fala na Gol de Letra, encontrar o prazer pelo conhecimento, o prazer de aprender”, pondera Raí. Vidas transformadas Conhecimento aliado ao esporte, ferramentas poderosas para transformar vidas. Como a da francesa Mouná, de apenas 16 anos, que faz parte dos mais de 12 mil jovens atendidos pela Sport dans la Ville, parceiro da Gol de Letra na França. "Participar do Sport dans la Ville abriu muitas portas para mim, tanto a nível profissional quanto pessoal. Fizemos muitos amigos novos. E, desde então, surgiram oportunidades, por exemplo, de ir ao Brasil com a associação. Isso nunca teria sido possível sem a ajuda do Sport dans la Ville. Tem sido ótimo e sou muito grata a esse projeto", conta a francesa. Do lado brasileiro, o jovem Maurício, também de 16 anos, já viu sua vida transformada pela Gol de Letra. Ele começou como aluno da instituição e hoje é um dos monitores na unidade que atende comunidades do Rio de Janeiro. “É muito gratificante de participar de um projeto como esse, porque eu sou um jovem negro periférico... cada vez mais a fundação vem me ajudando, tanto com viagens, como essa aqui para Paris, e no meu desenvolvimento como pessoa. Já fui um aluno do projeto e hoje em dia estou aqui (em Paris) como monitor. Então, teve uma mudança e muitas conquistas para mim”, relata Maurício. Raí teve uma carreira vitoriosa, marcada por gols e títulos importantes, como o tetra da Copa do Mundo de 1994, mas o apoio a jovens carentes através do esporte é certamente uma das principais conquistas de sua trajetória. “A Gol de Letra existe por conta dessa minha inquietude de querer novas experiências e, claro, de oferecer algum retorno para a sociedade. Mas, principalmente, vem dessa inquietude de buscar conhecimento, de buscar oportunidade, de como eu posso crescer. E é isso que a gente tenta passar para as crianças, jovens e todos os envolvidos na Gol de Letra”, conclui o tetracampeão mundial.
No Brasil, em 2023 cada cidadão descartou, em média, 21 quilos de têxteis, couros e borrachas por ano, segundo levantamento da S2F Partners, hub especializado em gestão de resíduos e economia circular. Na Europa, o cenário também é preocupante: de acordo com a Agência Europeia do Meio Ambiente, cada habitante da União Europeia gera cerca de 16 quilos de resíduos têxteis anualmente. Diante deste quadro, impulsionado pelo mercado fast fashion, iniciativas como a moda circular e o upcycling de tecidos ganham força para promover uma economia mais sustentável. O objetivo é reduzir o impacto ambiental do setor têxtil e promover práticas que valorizem a reutilização das peças e a responsabilidade ambiental. Somente na França, a Refashion, organização de gestão e prevenção de resíduos têxteis, calcula que os franceses joguem fora em média 700 mil toneladas de roupas todos os anos – e os números vem aumentando, estimulados pelo alto consumo a baixos custos, facilitado pelas compras online. Novas formas de consumo e redução do lixo têxtil Em Paris, a estilista franco-brasileira Márcia de Carvalho está por trás da Chaussettes Orphelines, associação que oferece uma segunda vida às meias e outras peças pelo reaproveitamento de fios. As peças rejeitadas são transformadas em fios para bordados e costura. Márcia destaca a importância de marcas, agências do governo, associações e instituições “comunicarem e criarem uma pedagogia em volta do desse assunto”, para alertar o consumidor final sobre o descarte de roupas e calçados. “É super importante porque é uma mudança de comportamento. A gente tenta fazer isso comunicando através das coletas e explicando que tem outras formas de tratar o lixo, que começa já pela triagem", explica. "Não é apenas jogar fora, mas procurar lugares que vão transformar. É um primeiro gesto de para redução desse lixo têxtil. Outra coisa é a pedagogia do conserto, do reparo, de customizar a peça, que é um jeito bem legal de reduzir esse lixo”, defende a estilista. Em Paris, a Chaussettes Orphelines divulga oficinas para encorajar o conserto de roupas e a criatividade para transformar peças antigas ou com algum defeito. A iniciativa também já capacitou centenas de mulheres para o mercado de trabalho, desde 2008. Márcia enfatiza ainda a coletas de materiais que a associação realiza em empresas e que cofinanciam as iniciativas de upcycling. Ressignificar os resíduos têxteis industriais No Brasil, dados de 2023 indicam um descarte de 4,6 milhões de toneladas de lixo têxtil por ano pela população. Mas os números são mais impressionantes na indústria, que jogam fora cerca de 37 vezes mais, mesmo que o país tenha uma série de leis que regulamentam a reciclagem de resíduos industriais, salienta Ariane Santos, fundadora da empresa paranaense Badu Design, que atua no upcycling socioambiental. “São mais de 170 milhões de toneladas de material residual por ano. Tem a regulamentação, mas não tem a fiscalização, então o número hoje de material residual industrial é bem maior. A gente fala que é só a ponta do iceberg. São materiais que devem durar mais de 500 anos no meio ambiente”, aponta Ariane. O trabalho da Badu Design é dar uma nova vida aos resíduos industriais têxteis das empresas e também de gerar empregos, já tendo formado mais de 1,5 mil mulheres periféricas em design circular de transformação residual, no Paraná, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, e, em breve, em Minas Gerais. “O que a gente faz hoje é oferecer para as indústrias um serviço que visa ressignificar esse material. Algumas empresas fornecem toneladas de materiais. Formamos mulheres em periferias e favelas para fazer toda uma produção de produtos que têm design mais contemporâneos e que venham agregar valor. Depois, essa empresa faz a recompra”, diz, à RFI. Ariane Santos conta que a capacitação gera uma mudança econômica para as mulheres que estão na periferia e favela. “A gente também faz com que a indústria não veja [o descarte de resíduos têxteis] como mais uma ação social, mas sim como uma responsabilidade que ainda agrega valor para ela em dois pontos: na questão da imagem da empresa sobre riscos ambientais, evitando multas, mas também trazendo uma possibilidade de ser rentável”, esclarece. As duas empresárias, com atuação no Brasil e na França, acreditam que a adaptação econômica por meio da transformação dos resíduos pode movimentar uma mudança cultural no setor têxtil, um dos setores da indústria que mais poluem o planeta.
O artista brasileiro Cildo Meireles expõe “Cruzeiro do Sul” na Orangerie do Senado, em Paris, de 3 a 17 de Julho. Trata-se de uma peça de 9 milímetros capaz de “incendiar consciências” devido a todo o significado que carrega, explica a comissária Sívia Guerra. A RFI leva-o até à exposição para ouvir Cildo Meireles, Sílvia Guerra e o realizador Tiago Hespanha. Um cubo de 9 milímetros num espaço mínimo de 200 metros quadrados. Uma obra de arte no chão a desafiar a atenção do visitante que pisa milhares de pedrinhas até chegar ao Cruzeiro do Sul. Assim se chama a peça, concebida em 1969-1970 e apresentada pela primeira vez em França, no espaço Orangerie do Senado, em Paris. “Cruzeiro do Sul” está patente de 3 a 17 de Julho. O autor é um dos mais importantes artistas brasileiros contemporâneos, Cildo Meireles, que nos deu algumas pistas sobre a obra. “A peça partiu de uma premissa que era uma relação com o espaço onde ela está, mas foi acrescentada uma espécie de simbolismo que era uma negação daquilo que você vê. Então, ela se funda numa história, numa cosmogonia dos índios brasileiros, cuja divindade era Tupã, deus do fogo e do trovão, e que os jesuítas, quando chegaram, reduziram. A peça faz referência ao atrito entre uma madeira pouco densa como i pinho e uma muito densa como carvalho, porque era friccionando uma haste de pinho numa peça de carvalho que você obtinha um fogo que era uma espécie de materialização dessa entidade central na cosmogonia tupi”, explica Cildo Meireles. A fragilidade de uma peça de tão pequena escala deixa-a ainda mais exposta ao público e carrega simbolicamente o peso de todo o processo de colonização e da resiliência dos saberes e mitos indígenas brasileiros. O pequeno cubo é feito de pinho e de carvalho, uma combinação que convoca imagens ancestrais da descoberta do fogo e que comporta a promessa de “incendiar consciências”, conta Sílvia Guerra, co-comissária da exposição. “O espaço de 200 metros quadrados não está vazio. Está repleto de lendas e de histórias de um dos povos originários do Brasil, que é o povo tupi que esfregava o pinho e o carvalho para fazer o fogo (...) É uma peça que nos fala da História, fala-nos de invasões, fala-nos de relação ao espaço, fala de pessoas mais humildes, fala daqueles que não tinham um nome próprio (...) Esta peça, além do fogo, fala da preservação e que o fogo pode ser benigno ou maligno. De uma certa forma é um incêndio, como diz o meu colega Laurent Fiévet, nas nossas consciências também”, explica a comissária. A obra é acompanhada pela projeção do documentário “Cruzeiro do Sul” de Tiago Hespanha, criado para a exposição. “Cruzeiro do Sul”, de Cildo Meireles, está patente de 3 a 17 de Julho na Orangerie do Senado, em Paris, no âmbito da temporada cultural Brasil-França 2025.
O teatro do Châtelet em Paris acolhe sábado (5) e domingo (6) o fim de semana temático Ancien Brésil – Brésil Nouveau (Antigo Brasil-Brasil Novo), com dois concertos que misturam vozes e músicas antigas e contemporâneas de compositores brasileiros, dentro da temporada França-Brasil 2025. A proposta é fazer o público viajar entre memória e modernidade. A iniciativa é liderada pela orquestra Americantiga, sob a direção musical do maestro curitibano radicado em Portugal, Ricardo Bernardes. No sábado, no concerto Alma Brasileira, a pianista Cristina Ortiz dialoga com Mozart e compositores do Brasil do século 20 como Harry Crowl, João Guilherme Ripper, Camargo Guarnieri e Fructuoso Vianna. No domingo, é a vez dos cantores Bruno de Sá e Luanda Siqueira prestarem homenagem a duas grandes figuras líricas afro-brasileiras no espetáculo Marias do Brasil, que mescla ópera, canção e narrativa visual, com direção de Ligiana Costa. Dois programas muito diferentes entre si, como explicou à RFI Ricardo Bernardes, mas ambos com o objetivo de mostrar a música brasileira na França. Em Alma Brasileira, Cristina Ortiz interpreta Mozart, sua especialidade, e depois compositores contemporâneos brasileiros não muito conhecidos na França. “Um programa mais tradicional, mas muito original ao mesmo tempo”, revela Bernardes. O segundo programa, “mais desafiador”, mistura música clássica com popular. “A gente tem desde modinhas do século 18 a árias de ópera, a tango brasileiro, a maxixe”, explica o maestro. Misturando composições de Chiquinha Gonzaga e Villa Lobos, entre outros, Marias do Brasil é uma homenagem à Maria Joaquina Lapinha e à Maria d'Apparecida. Esta última morou a maior parte de sua vida em Paris e foi a primeira afro-brasileira e interpretar Carmen, do compositor francês Georges Bizet. “O desafio era criar uma dramaturgia que fizesse um cruzamento entre a vida dessas duas mulheres e que respeitasse, de alguma forma, um pouco o repertório que elas cantaram”, explica a diretora artística Ligiana Costa. “A gente tem um espectro de repertório brasileiro muito amplo, desde a música do século 18, modinhas, áreas de padre José Maurício, música erudita, até Villa Lobos, Waldemar Henrique, Francisco Mignone, chegando até Baden Powell”, explica. “Então, eu e a Sophia Boito, que trabalhou comigo, fomos criando uma espécie de dramaturgia de cruzamento entre essas duas mulheres que têm muito em comum, apesar de tantos séculos que as separam”, conta Ligiana Costa sobre as duas cantoras que fizeram carreira na Europa e foram esquecidas pela história. Ela define o espetáculo como “concerto, poético, documental”. “Porque ele tem forma de um documentário, de certa forma, que apresenta essas duas mulheres, mas de uma forma muito poética e livre também”. O roteiro do espetáculo se baseou no trabalho da jornalista e escritora Mazé Torquato Chotil sobre Maria d'Apparecida e da pesquisadora e especialista em história da música, Rosana Orsini Brescia, sobre Maria Joaquina Lapinha. A partir dos documentos sobre as duas cantoras, a diretora artística criou textos, narrados pela atriz Camila Pitanga, que fazem parte do espetáculo em forma de peças sonoras. Repertório brasileiro O sopranista (homem que canta com voz de soprano) Bruno de Sá e a soprano Luanda Siqueira dão voz às duas Marias. “Já tive o prazer de fazer desde Mozart, Bellini, até Wagner e outros compositores contemporâneos. Então essa outra possibilidade que se abre dentro do repertório colonial, para mim é um grande desafio”, conta Bruno de Sá, que atualmente vive na Europa e já se apresentou em diversos palcos do continente. Dono de uma voz excepcional, o sopranista diz que pode “contar nos dedos de uma mão” às vezes que teve a “oportunidade de cantar repertório brasileiro de verdade”. “Porque morando aqui na Europa, (a gente) se concentra mais no repertório italiano e séculos XVII, XVIII e XIX. Então cantar algo em português é sempre um desafio porque minha língua estava acostumada e treinada a cantar em outro idioma. Mas, ao mesmo tempo, voltar para as origens, especialmente neste ano, voltar ao repertório português, repertório brasileiro, tem sido muito significativo”, explica, se referindo aos diversos eventos comemorativos da Temporada do Brasil na França. Em 14 de julho, festa nacional da França, ele vai cantar as Bachianas Brasileiras de Villa Lobos no concerto de Paris. O evento de música clássica, reúne a Orquestra Nacional da França, o coro da Rádio França e solistas internacionais e acontece aos pés da Torre Eiffel, antes da tradicional queima de fogos. Luanda Siqueira concorda que o ano “está sendo maravilhoso”. “Eu participo de vários projetos em torno da música, do repertório brasileiro e também projeto em torno da música em língua portuguesa. Então, eu adoro, não só pelo fato de cantar na minha língua, mas também por abordar toda esse ritmo que a tão característico da nossa música”, conta. A soprano diz que conheceu Maria Lapinha através de Ricardo Bernardes. “Quando você vê as partituras da Lapinha são obras muito virtuosas. É uma partitura mais escrita, virtuosa, porque ela tem uma coisa muito lírica, muito específica que é uma voz lírica. É um trabalho, que você vê na partitura dela, que devia ser uma excelente cantora, uma excelente musicista, com bastante maestria”, diz. “Eu conheci recentemente a Maria d'Aparecida. E eu fiquei tão triste de saber que tinha uma cantora maravilhosa brasileira aqui que eu não conheci, porque ela faleceu em 2017. Eu só fiquei sabendo da existência dela em 2023”, afirma a soprano que vive na França há 25 anos. Após ver imagens de arquivo de Maria d'Apparecida, Luanda Siqueira diz que ficou “impressionada também de ver a força dessa mulher, no olhar dela, na maneira de falar”. Uma força que a cantora transmite no concerto em homenagem às Marias do Brasil.
Do luminoso Grand Palais à galeria impressionista do Musée d'Orsay, vários artistas brasileiros apresentam as suas obras em Paris. No Grand Palais, as exposições Horizontes e Nosso Barco Tambor Terra oferecem cores, luz e uma convidativa instalação sonora onde o público toca instrumentos de percussão. Já no quinto piso do museu d'Orsay, Lucas Arruda surpreende com paisagens imaginadas entre Monet e Cézanne. Ao atravessar a entrada do Grand Palais, somos imediatamente envolvidos não só por uma obra de grande dimensão, mas também pela luz natural que entra pelo telhado de vidro. Essa luz cruza o espaço de exposição, reveste os painéis de madeira onde repousam textos descritivos e expõe as obras com uma luminosidade natural. As instalações de Ernesto Neto convidam-nos a mergulhar num universo sensorial: tecido, formas orgânicas, cores suaves e, sobretudo, instrumentos de percussão aos quais o público pode dar vida, criando a própria música. “Nosso Barco Tambor Terra” usa mais de 5,7 quilómetros de tecido brasileiro. O som ecoa no espaço, e de repente cada um de nós é parte integrante da obra, transformando a contemplação em participação activa. “O tambor originalmente é feito de um tronco de árvore com uma pele de animal. É a mistura do vegetal com o animal. Acho isso uma coisa muito linda”, descreve Ernesto Neto à jornalista Patrícia Moribe, acrescentando que o "nosso corpo tem um tambor que é o coração. Tum tum, tum tum. É ele que está a bater aqui". Mais do que uma instalação, a obra de Ernesto Neto parece representar um ritual. Os visitantes percorrem a obra como se percorressem uma clareira ancestral. Não há distância entre arte e corpo, há presença. O artista brasileiro lembra que a floresta “é a multi-natureza, é a vida, é ela que limpa o universo” e sublinha que "somos filhos de mães indígenas, de mães africanas que chegaram escravizadas. Somos frutos de uma transformação. E o conhecimento que nos resta é colectivo: é afro-indígena, é sabedoria de bem viver", conclui. Na exposição "Horizontes", lemos o nome de Marina Perez Simão, nascida em 1980 e residente em São Paulo. A artista brasileira partilha um ensaio visual, onde revela pinturas de cor intensa, cenários interiores. A exposição ocupa um recanto de luz diáfana, onde os campos de cor parecem pulsar, multiplicando-se sob o efeito dos raios solares que atravessam o telhado envidraçado. A entrada gratuita da exposição apresenta-se como um gesto de democratização: basta entrar e estar presente. Atravessamos Paris, do outro lado do rio Sena, chegamos ao Musée d'Orsay. Subindo o elevador, passando pelos corredores. No quinto piso, surgem quadros de Lucas Arruda. Não apenas expostos, mas estrategicamente posicionado no meio da galeria impressionista, ao lado de Monet, Cézanne, Corot, grandes nomes do impressionismo que imprimiram o imaginário da pintura de paisagem. O trabalho de Lucas Arruda, rotulado “Qu'importe le paysage”, que importa a paisagem, não retrata lugares reais: são paisagens que se revelam pela névoa, pelo mistério, por horizontes indefinidos. As obras parecem “familiares”, embora sejam imaginadas. “Fiquei muito feliz, mas também ansioso. Tive medo de parecer pretensioso”, confessa Lucas Arruda questionado por Patricia Moribe quanto à preparação da exposição. “Aos poucos fui entendendo que não se tratava de confronto, mas de continuidade. E isso trouxe-me alegria. A ideia de que alguém hoje ainda olha para a luz, para a paisagem, e continua a construir”, descreve. Lucas Arruda escolheu cada tela com cuidado. Algumas vieram da sua própria colecção, outras foram pensadas como espelhos invertidos das obras à sua volta. “Coloquei cinco ‘matas' em resposta às cinco catedrais. Pensei no monocromo como lugar sem centro, só sensação, só luz. E procurei criar pontes, como com as obras de Théodore Rousseau, que eu sinto tão próximas do que faço", explicou. Neste altar pictórico, o impacto é imediato e Lucas Arruda surge como uma nova voz, uma voz que questiona, que dialoga e reorganiza. Num museu dedicado ao tempo, a presença do artista brasileiro é travessia: de um Brasil interno, poético, contido, a um legado europeu secular. No final destas duas atmosferas: a travessia é física, sensorial e poética. Trata-se de um convite do Brasil a Paris para revisitar a paisagem, a memória, o ritmo e o toque. Nos dois museus, a arte brasileira revela-se como presença viva e capaz de iluminar não apenas os olhos dos visitantes, mas também os espaços históricos da cidade.
No episódio de hoje, Janina Ester fala sobre um edifício emblemático da capital francesa: o Centro Pompidou. Confira!See omnystudio.com/listener for privacy information.
Até ao final do mês de Junho, o espaço POUSH, em Aubervilliers, arredores de Paris, acolhe o trabalho da artista moçambicana Lizette Chirrime, que desenvolveu a instalação “Lost Identity”. O feminino é um eixo central no trabalho de Lizette Chirrime que vê a mulher como a “magia do mundo”, mas acredita que lhe falta espaço para se expressar e para libertar essa força. Até ao final do mês de Junho, o espaço POUSH, acolhe o trabalho da artista moçambicana Lizette Chirrime. Uma residência artística em Paris, no âmbito da iniciativa Gulbenkian & Thanks for Nothing – Criação e Compromisso, promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela associação francesa Thanks for Nothing e que conta com a parceria do Centre Pompidou e da KADIST (organização dedicada à arte contemporânea). A iniciativa distingue artistas cujas práticas abordam temáticas sociais e ambientais, incentivando ainda a inclusão de públicos afastados da cultura. Na capital francesa, a artista moçambicana desenvolveu a instalação “Lost Identity” (“Identidade Perdida”) criada a partir de materiais reutilizados dos workshops que conduziu no Centre Pompidou com mulheres em situação de vulnerabilidade – vítimas de violência doméstica, com doenças crónicas –, jovens com síndrome de Down e estudantes. O exercício consistia em criar dois corações: um para depositar tudo o que é negativo, outro para encher de energia positiva. “Havia mensagens muito assustadoras”, contou à RFI Lizette Chirrime, que decidiu reaproveitar todo esse material e transformá-lo numa instalação agora patente no POUSH, onde se podem ver os tubos que contêm todas as mensagens recolhidas, formando casulos, numa alusão ao processo de transformação das larvas em borboletas, como “uma forma de começo da cura”. Embora nascida de um processo colectivo, a obra é também autobiográfica: “É minha, é das senhoras, é de muita gente. É um problema global: a perda da identidade. O facto de permitirmos que nos abusem ou nos maltratem é porque, em algum momento, nos esquecemos de quem somos”, afirma. A instalação é, assim, uma espécie de espelho partilhado, onde a dor, a cura e a transformação coexistem. Sobre a residência artística em Paris, Lizette Chirrime acredita que “foi o universo que conspirou a meu favor e mandou esta luz para o meu túnel.” Para pagar as contas, Chirrime tem de conciliar o lado artístico com o design de moda: “Sou mãe solteira e vivo num país onde a arte não é reconhecida. Faço muito esforço para continuar. Mal consigo pagar as contas. Já estive muito doente, mas recuperei.” O feminino é um eixo central no trabalho de Lizette Chirrime que vê a mulher como a “magia do mundo”, mas acredita que lhe falta espaço para se expressar e para libertar essa força. “Uso a minha voz para dar voz a essas mulheres sem voz”, explica. Mas não é só na questão social que se centra: o seu trabalho também incorpora uma forte consciência ambiental. “Nós sujamos o planeta com o nosso consumismo. Eu decidi fazer a minha parte.” Ser artista e mulher em Moçambique continua a ser um desafio imenso. Apesar de avanços, as condições continuam precárias: “Muitas desistem porque é muito doloroso. Às vezes considero-me uma maluca em continuar, mas não tenho escolha, porque a arte me escolheu.”
Giovanna Casimiro é o tipo de profissional que enxerga o futuro antes de todo mundo, e arregaça as mangas pra construí-lo. Desde 2010 ela vem conectando moda, cultura e tecnologia. Foi Produtora Líder de Metaverso na Decentraland Foundation, onde idealizou a Metaverse Fashion Week, colocando marcas e criativos dentro de experiências imersivas que vão muito além da passarela. Hoje, a Gigi é professora no Institut Français de la Mode (IFM), em Paris, onde pesquisa e ensina sobre realidade estendida (XR), luxo e tecnologias imersivas. Doutora pela FAU-USP, ela mergulha em temas como memória digital, open source e o futuro do patrimônio cultural. Ao longo da carreira, liderou projetos para marcas como Adidas, Red Bull, Diesel, DKNY, Coach, JPMorgan e muitas outras, sempre com o olhar voltado para inovação, acessibilidade e impacto. Neste episódio, falamos sobre o papel da moda nos mundos digitais, os desafios de traduzir cultura no metaverso, e o que realmente importa quando pensamos em futuro.convidada: https://www.instagram.com/ggcasimiro/ Masterclass FASHION TECHs - https://www.modanamochila.com/masterclass-fashion-tech newsletter: https://modanamochila.substack.com/about Ig: https://www.instagram.com/modanamochila/
Organizada dentro da temporada cultural do Brasil na França, o Museu Picasso, em Paris recebe a exposição "Anna Maria Maiolino: Je suis là - Estou Aqui”, a primeira mostra individual na França da artista brasileira de origem italiana. Após cursar Belas Artes em Caracas, na Venezuela, foi no Rio de Janeiro, nos anos 1960, que ela desenvolveu plenamente a sua expressão artística. A influência dos trópicos é uma das marcas de seu trabalho, em que explora o sentimento de pertencimento e de imigração. Maria Paula Carvalho, de Paris A mostra é uma coletânea das principais obras da artista nascida na Calábria, em 1942, que cresceu na Venezuela, antes de se instalar no Brasil. Ao longo de 65 anos de carreira, Anna Maria Maiolino explora múltiplas linguagens artísticas, como disse em entrevista à RFI Fernanda Brenner, que divide a curadoria da exposição com o francês Sébastien Delot. “A ideia é fazer uma amostragem da complexidade e da coerência do trabalho dela", explica a curadora. "Esta exposição não é cronológica, não é montada em eixos temáticos de acordo com as décadas ou as mídias que ela trabalha, mas busca apresentar para o público como a Anna tem um vocabulário muito coeso, muito coerente e, ao mesmo tempo, absolutamente experimental em todas as mídias que ela resolve trabalhar", diz. "Pode ser esculturas em argila, desenhos, pinturas, vídeo, fotografia, performances. Ela transitou por todas as mídias possíveis em arte contemporânea, mas sempre com um vocabulário muito específico e muito ligado com a própria origem dela, como corpo feminino migrante", continua. "Ela que saiu da Itália no pós-guerra, quando o país vivia uma situação de precariedade, de fome. Chegou primeiro na Venezuela, ao fim da infância, e depois no Brasil, aos 20 anos, [onde] encontra a cena brasileira e se faz artista a partir desse encontro com o Brasil”, pontua. Parte de sua formação Anna Maria Maiolino cursou na escola Nacional de Belas Artes Cristóbal-Rojas, em Caracas. Em 1960, ela se mudou com os pais para o Rio de Janeiro, onde continuou sua formação artística, estudando pintura com Henrique Cavalleiro e xilogravura com Adir Botelho. Em paralelo, ela frequentou o curso de estética de Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna. A artista diz que não trabalha com a intuição, mas pensa e repensa cada passo de sua criação. Em entrevista à RFI, Anna Maria explicou o título da mostra parisiense: 'Estou aqui'. “Você busca um discurso próprio, diferente, mas isso é uma grande mentira, porque você vem do passado, com todas as culturas do passado. Isso é uma coisa muito forte para mim, porque eu era imigrante no Brasil", lembra. "Ao chegar no Rio de Janeiro, que é uma cidade incrível, eu percebi a liberdade que a arte brasileira tinha", completa. Em 1968, Maiolino obteve a cidadania brasileira. Durante a ditadura, ela e o marido, Rubens Gerchman, se mudaram para Nova York, onde ela realizou parte das obras expostas em Paris. Nos Estados Unidos, a dificuldade por não falar inglês também acabou virando objeto de pesquisa, especialmente em desenhos e poemas. "Eu estive em vários países, em vários lugares. E sempre quando você muda de fronteira, o que existe é a sua presença no lugar. Então, para mim, este título significa que, mais uma vez, eu estou atravessando a fronteira, eu estou na França, estou em Paris, no Museu Picasso, que para mim é mais um território, pois sou uma andarilha, com alma de imigrante", define. Coração brasileiro A artista retornou ao Brasil em 1972, se instalando primeiro no Rio de Janeiro, antes de se mudar para São Paulo, após o divórcio. Suas obras são inspiradas em diferentes línguas, culturas e contextos políticos em que viveu. "Voltar a Paris é voltar para aquilo que eu sou. Eu nasci na Itália, sou uma europeia do Mediterrâneo, mas pertenço a várias camadas dos países onde vivi", afirma. "Meu coração é brasileiro, é carioca. São Paulo não tem linha do horizonte, então me sinto prisioneira em São Paulo", diz. Leão de Ouro em Veneza Em 2024, a artista foi recompensada com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza pelo conjunto de sua carreira. Na ocasião, Anna Maria Maiolino dedicou o prêmio à arte brasileira e ao país que a acolheu. "Uma das coisas básicas da minha obra é a memória. A memória física e emocional", diz. "É óbvio que a minha chegada ao Brasil me ajudou a encontrar um discurso particular meu", continua. "Porque o brasileiro começa a sua arte com o Barroco, que é modernidade, não tem uma arte do passado. Tem a arte dos negros africanos, tem a arte dos índios e grande parte da arte brasileira carrega em si um ritual", observa. No Museu Picasso, no bairro do Marais, a exposição de Anna Maria Maiolino dialoga com a obra do artista espanhol. Ela mesma traça semelhanças com ele. “Qual é a minha relação com o Picasso? Mesmo sendo de épocas diferentes, ele sendo homem e eu uma mulher, nós temos em comum uma coisa: a curiosidade, pois mudamos de suporte", compara. "Picasso experimentou e 'comeu' a arte de todo o mundo e 'defecou' Picasso", analisa. "Picasso foi um grande comilão, antropófago das culturas dos outros, mas transformou tudo em Picasso", reforça. "Eu acho que eu e ele, com a diferença de idade e de séculos, temos a curiosidade de nos movermos de um suporte a outro, do desenho para a pintura, para a escultura, isso que eu tenho em comum”, afirma. A exposição "Anna Maria Maiolino: Estou Aqui” fica em cartaz no Museu Picasso, em Paris, até 21 de setembro.
Trabalho levou um ano e meio para ficar pronto.Esse conteúdo é uma parceria entre RW Cast e RFI.
Um designer francês e um fotógrafo brasileiro se uniram, em 2009, para um projeto focado na Amazônia brasileira. Como resultado, as fotos, que registram populações diversas dessa região, ganharam as páginas de um livro e agora, pela ocasião do Ano do Brasil na França, uma exposição na Avenida Champs-Élysées, uma das mais famosas do mundo. A exposição nasceu do encontro entre o francês Antoine Olivier e o brasileiro J.L. Bulcão. Juntos, eles fotografaram os seringueiros de Xapuri, os índios Sateré-Mawé, os catadores de açaí e os quebradores de coco babaçu, documentando como cada uma dessas populações, por meio de seus conhecimentos tradicionais e de suas lutas, representa uma forma de resistência ecológica. Eles mostram que a preservação do bioma está diretamente ligada à sobrevivência de seus povos. "Esse projeto, inicialmente, foi parte de um concurso europeu para apoiar uma ONG e fazer um projeto de comunicação. Eu e o Bulcão nos juntamos para fazer um trabalho de fotografia para falar das pessoas que vivem e trabalham na floresta, e sobretudo que sustentam a floresta e a si mesmos. Ele foi feito em 2009 e o tempo de fotografia foi de dois meses. Depois teve toda a parte de preparação porque esse grande trabalho fotográfico foi transformado em um livro" contou Antoine Olivier. "A gente decidiu fotografar os povos da floresta, que era o nome dado pelo Chico Mendes (seringueiro e líder militante, morto em 1988) às pessoas que moram na Amazônia. Fizemos uma pesquisa grande e decidimos dar uma volta na região. Começamos no Acre, no seringal Cachoeira, terra do Chico Mendes, depois fomos para o Médio-Amazonas, na terra dos Sateré-Mawé, que são os índios que têm como símbolo maior o guaraná; de lá fomos a Belém, pegamos o barco e fomos até Abaetetuba, uma das cidades principais produtoras de açaí; e a quarta etapa foi com as quebradeiras de coco babaçu, que estão localizadas num território entre Tocantins, Pará e Maranhão. São pessoas que estão lá há muitos anos e lutam pelo direito à terra para voltar a poder catar esses babaçus nas propriedades que não são delas", explicou J.L. Bulcão, completando que todo o processo durou mais de um ano. "A pré-produção foi grande, o Antoine morava no Rio de Janeiro e eu aqui na França. Nos reunimos, programamos a viagem e contactamos as associações, porque cada tema destes tem uma associação que nos ajudou a entrar em contato. E foi a Autres Brésils que reagrupou essas quatro associações", explicou Bulcão. Antoine Olivier contou ainda como foi o processo de escolha das fotos que compõem a exposição em Paris. "Só eu fiz 10 mil fotos e foi feito um trabalho gigantesco de edição para escolher as que achávamos mais importantes e mais representativas de cada assunto. São quatro temáticas e a gente escolheu o que as representava mais para o público em geral, para tentar trazer um pouco de cada elemento", disse. Ano do Brasil na França A exposição foi inaugurada oficialmente no último dia 11 de junho e, além dos fotógrafos, contou com a presença de representantes da embaixada do Brasil, da prefeitura de Paris, da associação Autres Brésils, de patrocinadores e do curador Emilio Kalil, que também é o curador geral da temporada do Ano do Brasil na França. "Quando vi o projeto, me encantei. É uma exposição pronta, que veio para Paris. Me pediram autorização para incluir na temporada e eu achei mais do que correto, porque ela representa um pouco das três vertentes da saison. Uma delas é o meio ambiente. Ali está claro que é um pouco dessa Amazônia que a gente quer proteger, que quer salvar", destacou ele, afirmando ainda que a sua grande preocupação para essa temporada é mostrar "um Brasil que os franceses normalmente não veem".
Está planejando uma viagem para Paris? Então este episódio é pra você! Vou te guiar com calma por tudo que você precisa saber na hora de pedir um café na França — da escolha do tipo até a famosa dúvida da gorjeta.Com dicas práticas e explicações culturais, você vai se sentir mais confiante para viver esse momento tão típico da vida francesa. Aperta o play e vem comigo descobrir como aproveitar ao máximo sua pausa no café sem cometer gafes!
Apesar de sua importância para o planeta e paras as populações, a água é um recurso vital ameaçado pela poluição e pela falta de políticas de manejo. Ainda que a retirada de água doce tenha aumentado 14% nas últimas duas décadas, atualmente 2,2 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável em todo o mundo. Os dados são destaque na comemoração de 50 anos do Programa Hidrológico Intergovernamental da UNESCO (IHP), que foi aberto nesta quarta-feira (11) e reúne em Paris, até a sexta-feira (13), representantes de 170 países. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris O aquecimento global intensifica eventos extremos como secas e enchentes, interferindo na qualidade e disponibilidade desse recurso natural, destacou a secretária executiva da Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (UNECE), Tatiana Molcean, na abertura da sessão. E já que esse é um assunto que interfere no futuro das próximas gerações, a Unesco selecionou oito projetos para serem apresentados no 1º Diálogo da Juventude Pela Água. Entre os convidados, está um jovem brasileiro que sentiu na pele a dificuldade de quem não tem água limpa em casa. Erleyvaldo Bispo nasceu e cresceu no interior de Sergipe e é o fundador do Instituto Águas Resilientes, que ele veio apresentar na capital francesa. "Eu fui uma criança que tive contato com água contaminada, porque a gente pegava água no chafariz e não sabia se era uma água de qualidade, e eu brinquei no esgoto, literalmente", diz em entrevista à RFI. "Essa falta de educação é uma coisa que a gente nota. Hoje em dia, eu percebo que eu sou um sobrevivente e assim como vários outros jovens no Brasil que, infelizmente, vivem essa realidade. São todos sobreviventes, porque a gente sabe que a água contaminada pode matar, há doenças de veiculação hídrica", continua. "Então, no momento que eu chego aqui em Paris e participo desse evento, eu me sinto de fato como um sobrevivente", reitera. Erley é um dos Jovens Embaixadores pelas Águas, programa que tem apoio do Fundo Socioambiental e que envolveu 60 jovens em todo o Brasil. "Nós temos alguns pilares de atuação. Um deles é desenvolver soluções tecnológicas para o acesso à água, pensando em comunidades que estão em situação de vulnerabilidade, como as do semiárido, as favelas e periferias, comunidades indígenas", afirma. "E temos outro projeto mais voltado à educação e também para treinar, mobilizar e engajar os jovens brasileiros", continua. O jovem veio a Paris apresentar os resultados de suas ações, na expectativa de motivar outras pessoas. "Inspirar outros jovens para que eles façam ações locais, porque a gente sabe que o desafio é muito grande. Atualmente, no Brasil, 33 milhões de pessoas, aproximadamente, não têm acesso à água potável e aproximadamente 90 milhões não têm acesso a um saneamento adequado, segundo dados recentes do IBGE", pontua. "São dados muito alarmantes. Aproveitando que esse ano teremos a COP 30 em Belém, essa é uma forma de mobilizar esses jovens, a partir desse programa, para que a gente consiga avançar ainda mais, seja em soluções locais, seja a partir de influências em políticas públicas", completa. Brasil tem água em abundância, mas precisa cuidar de seus recursos hídricos Dono da maior bacia hidrográfica do mundo, a bacia do Rio Amazonas, que se estende por vários países da América do Sul, o Brasil não está livre de se preocupar com a falta d'água. "A nossa maior bacia é a bacia Amazônica, que tem aproximadamente mais de 70% da água doce do Brasil, mas que nesses últimos anos vem passando por uma seca histórica", destaca o engenheiro florestal formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). "É importante pensar sobre as nossas águas. Nós temos um grande problema de fato de gestão, de não valorizar a água como ela deve ser valorizada", aponta. Para o ativista, a população precisa entender a importância da água e saber que ela está ligada ao desenvolvimento da sociedade. "Se a gente fala sobre comunidades sem conflito, comunidades saudáveis, comunidades com habitação, com escolaridade, nós falamos em locais que tenham acesso à água de qualidade e a um saneamento adequado", pontua. Ao longo das últimas décadas, o Brasil viveu um verdadeiro êxodo de áreas secas do Nordeste para as capitais do Sudeste. Porém, a migração climática continua sendo uma ameaça do futuro, ele explica. "Nesse último século, nós tivemos uma migração em massa de nordestinos fugindo da seca, que é o que chamamos de migração climática. Ou seja, muitas pessoas saíram do Nordeste e foram para grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo para viver em áreas periféricas. Pensando em outros cenários, isso já vem acontecendo e preocupa porque vai trazer uma maior pressão para outras localidades que, na maioria das vezes, não estão adaptadas para receber essa quantidade de pessoas", continua. "E quando a gente fala sobre contexto de países, isso acaba tendo outro aspecto, porque envolve questões diplomáticas", analisa. O Brasil segue um modelo de gestão de recursos hídricos copiado da França: a Lei 9.433, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. "É um mecanismo participativo que foi influenciado pela gestão de recursos hídricos aqui na França. Só que a gente percebe que é necessário um avanço nessa política, pois apesar de ela ter mais de 20 anos, não é tão conhecida pela sociedade e ainda se baseia em um debate muito técnico", lamenta. "É mais do que necessário a gente pensar como ampliar a discussão, incluir mais pessoas e, de fato, priorizar a agenda da água como ponto central para a tomada de decisões", conclui. Especialistas presentes à conferência da Unesco em Paris lembram que mais do que uma fonte de disputa ou conflito, a água tem sido, historicamente, objeto de cooperação entre países. Um desafio que se torna cada vez mais atual.
Confira na edição do Jornal da Record desta sexta (6): Censo do IBGE revela que número de evangélicos triplica em 30 anos e já passa de 47 milhões de brasileiros. Em Paris, Lula reforça importância do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. E ainda encontra disposição para interagir com artistas diante de Macron. Americanos se arriscam para registrar tornados à beira da estrada. Donald Trump diz que não pretende fazer as pazes com Elon Musk. Quase 80% dos brasileiros defendem que as plataformas sejam responsabilizadas pelas postagens. No futebol, confira os clubes da série a que aproveitam a pausa no Brasileirão para contratar reforços.
Ucrânia "vai acabar perdendo território", diz Lula em ParisEsse conteúdo é uma parceria entre RW Cast e RFI.
Narrativas analisa os acontecimentos do Brasil e do mundo sob diferentes perspectivas. Com apresentação de #MadeleineLacsko, o programa desmonta discursos, expõe fake news e discute os impactos das narrativas na sociedade. Abordando temas como geopolítica, comunicação e mídia, traz uma visão aprofundada e esclarecedora sobre o mundo atual. Ao vivo de segunda a sexta-feira às 17h. Apoie o jornalismo Vigilante: 10% de desconto para audiência do Narrativas https://bit.ly/narrativasoa Siga O Antagonista no X: https://x.com/o_antagonista Acompanhe O Antagonista no canal do WhatsApp. Boletins diários, conteúdos exclusivos em vídeo e muito mais. https://whatsapp.com/channel/0029Va2SurQHLHQbI5yJN344 Leia mais em www.oantagonista.com.br | www.crusoe.com.br
Trump diz estar decepcionado com o Elon Musk, enquanto o bilionário acusa o presidente de "ingratidão", dizendo quesem sua ajuda Trump teria perdido a eleição e sugere a fundação de um novo partido. E mais:- Trump e Xi Jinping tiveram seu primeiro diálogo por telefone desde a posse de Trump e concordaram em concordaram em retomar as negociações sobre tarifas e comércio depois de semanas de tensão envolvendo exportações de minerais estratégicos e restrições a estudantes chineses- Lula pede a Macron apoie o acordo de livre comércio entreque Mercosul e União- Netanyahu, reconheceu que está armando milícias palestinas no sul de Gaza, numa tentativa de enfraquecer o Hamas Ouçam Pedro Antonio e Zé Alexanddre no Spotify Notícias em tempo real nas redes sociais Instagram @mundo_180_segundos e Linkedin Mundo em 180 Segundos Fale conosco através do mundo180segundos@gmail.com
Depois de uma viagem ao "lugar onde os sonhos se realizam", estamos de regresso, com baguetes e sardinhas para todos.(00:00) Intro / Viagem a Paris(21:55) Conversa sobre o filme "Mountainhead"(32:50) Conversa sobre o filme "Sinners"(44:26) Conversa sobre o filme "The Assessment"(01:03:37) Sardinhas(01:04:21) Box Office Português / DespedidaA Sala Azul nas redes sociais:https://letterboxd.com/SalaAzulPodcasthttps://youtube.com/@SalaAzulPodcasthttps://instagram.com/SalaAzulPodcasthttps://facebook.com/SalaAzulPodcastTemas "The Strip", "Free Time" e "Horrible" interpretados por Mela Collective sob licença CC BY-SA 4.0.https://www.melacollective.comhttps://melagroup.bandcamp.comhttps://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0/
Reuniões bilaterais já começam nesta quinta-feira. Na pauta, investimentos em transição energética.Esse conteúdo é uma parceria entre RW Cast e RFI.
A artista leiriense Inês Condeço inaugurou, no passado dia 20 de Maio, o ciclo “Mardis en Musique”, na Casa de Portugal André Gouveia, na cidade Universitária de Paris. A sua performance foi mais do que um concerto: foi uma viagem sensorial onde se cruzam piano, voz e electrónica, guiada por uma forte componente de improvisação e uma procura por novas sonoridades. Natural de Leiria, Inês Condeço tem vindo a construir um percurso singular, assente na improvisação e na experimentação sonora. “A música começa nas emoções”, explica. “Tento transpor isso para o som, não só através do piano, que me é mais familiar, mas também da electrónica e da minha voz, que comecei a explorar na pandemia", acrescenta.Foi durante esse período de isolamento que Inês Condeço se aproximou da eletrónica: “Comecei a ouvir muita música electrónica e a experimentar com sintetizadores. A improvisação já fazia parte de mim desde criança, e essa curiosidade levou-me a uma sonoridade que, ao início, nem me parecia óbvia, mas que acabou por se tornar muito minha”.A fusão de linguagens; do clássico à eletrónica, não é um exercício de rótulos, mas uma forma de escuta e de expressão. A identidade artística, para Inês Condeço, não se constrói com a intenção de ser diferente, mas com autenticidade: “O mais interessante é fazermos algo com o qual nos identificamos genuinamente. Se isso nos diferencia ou não, já não é o mais importante”, defende.Essa autenticidade sente-se nos seus concertos, muitas vezes compostos por peças improvisadas, moldadas pelo ambiente e pela energia do público: “O que tenho feito nos últimos concertos é uma viagem que 90% é improvisada. Tento perceber a sala, a cidade, a atmosfera. Em Paris, levo também o que estou a absorver daqui”.Improvisar em palco é, para Inês, tanto um desafio como uma necessidade. “Gosto mesmo dessa folha em branco”, afirma. “Estar em palco já é um risco por si só, mas gosto de aproveitar estas oportunidades entre álbuns para explorar e treinar a forma de estar em cena, resolver problemas em tempo real”, descreve.Sobre a relação com o público e a perceção de que a electrónica pode parecer distante ou fria, Inês é clara: “A voz é o elemento mais humano que podemos utilizar. Cria uma ponte entre o mundo electrónico e algo mais orgânico, como o piano. Eu não vejo a eletrónica como fria, vejo-a como muito rica e expressiva”.Os seus concertos são descritos como “viagens sonoras” por quem os presencia, mesmo por quem não está habituado a ouvir música electrónica. “O importante é que haja uma disponibilidade emocional para seguir essa viagem”, diz, sem esconder o entusiasmo por um género que considera essencial ao seu caminho criativo.A actuação em Paris representou um passo importante na sua internacionalização, algo que vê com naturalidade e entusiasmo. “Tocar numa cidade como Paris é uma oportunidade incrível. Estar em contacto com outras culturas e experiências enriquece sempre: a nós e à nossa música”, explicou.O futuro inclui um segundo álbum já em desenvolvimento, que promete acentuar ainda mais o contraste e a expressividade da sua estética sonora. “Sinto que agora tenho mais recursos, mais ideias. O próximo álbum vai ter mais electrónica, mais piano e a voz manipulada de uma forma diferente. Vai ser ainda mais contrastante e, acima de tudo, ainda mais meu”, concluiu.
Com uma atuação de gala, o Paris Saint-Germain goleou a Inter de Milão por 5 a 0, neste sábado (31), em Munique, e conquistou o título da Liga dos Campeões da Europa pela primeira vez em sua história. O time do técnico Luis Enrique mostrou sua força coletiva característica e não deu chances ao adversário. Foi a maior goleada em finais do torneio. Tiago Leme, de MuniqueEm sua 12ª temporada no PSG, o zagueiro brasileiro Marquinhos, capitão da equipe desde a saída de Thiago Silva em 2020, não escondeu a emoção e chorou após o apito final. Ele é o segundo jogador brasileiro a levantar a taça da Champions como capitão de um clube. O primeiro foi o ex-lateral Marcelo, pelo Real Madrid, em 2022.Após a final na Alemanha, Marquinhos relembrou as dificuldades vividas com o clube desde que chegou a Paris, em 2013. Mas, desta vez, o final foi feliz para o ídolo da torcida.“Acho que foi uma emoção que eu não consegui segurar, não consegui conter. Antes mesmo do apito final já estava muito difícil de segurar a emoção. Porque todos aqueles anos que eu passei aqui, os anos difíceis, muitas entrevistas que tive que dar para explicar o inexplicável, depois de uma derrota feia. Falhei em momentos também, tive culpa em alguns. Então, acho que tudo isso passou na minha cabeça naquele momento, por isso aquela emoção. Mas uma emoção muito boa, uma emoção de alegria”, afirmou o brasileiro.Decepções do passado até a glória em MuniqueAntes de conquistar o principal torneio do continente europeu neste sábado, o PSG acumulou algumas decepções. Na única final disputada anteriormente, em 2020, durante a pandemia de Covid-19, a equipe perdeu para o Bayern de Munique por 1 a 0, em Lisboa. Outras eliminações precoces também marcaram a trajetória do clube, como contra o Real Madrid nas oitavas de final em 2022, contra o Manchester United nas oitavas em 2019, e ao sofrer a virada histórica do Barcelona, também nas oitavas, em 2017.A nova geração brilha na finalApós a saída de estrelas do clube, como Neymar, Messi e Mbappé, os jovens jogadores do PSG brilharam mais uma vez na final contra o time italiano. O atacante Desiré Doué, de 19 anos, fez dois gols e deu uma assistência. Contratado no início desta temporada junto ao Rennes, ele foi eleito pela UEFA o melhor em campo na decisão.No primeiro tempo, aos 12 minutos, Hakimi abriu o placar após passe de Doué. Aos 20, Doué balançou as redes. Na segunda etapa, o jovem marcou seu segundo gol na noite, aos 18 minutos. O atacante georgiano Kvaratskhelia, reforço contratado no meio da temporada, ampliou aos 28. E o garoto Mayulu, que saiu do banco de reservas, fechou o placar aos 41 minutos: 5 a 0.Homenagem aos brasileiros que ficaram pelo caminhoJogador mais experiente da equipe, com 31 anos, Marquinhos elogiou os jovens e também relembrou nomes de jogadores brasileiros que atuaram pelo Paris, mas saíram sem conquistar o tão sonhado título.“Eu fico muito feliz, penso também em todos aqueles que passaram antes de mim, e jogaram comigo também. Grandes jogadores, Thiago (Silva), Ney (Neymar), Lucas (Moura), Maxwell, grandes jogadores que mereciam muito ganhar esse título, infelizmente não conseguiram com o Paris Saint-Germain. Então, eles merecem também, eles estão nessa história, foram eles também que fizeram esse clube crescer. Hoje é celebrar com todos os parisienses, celebrar todas aquelas pessoas que estiveram com a gente durante todos esses anos, é celebrar bastante, porque a gente merece”, disse o camisa cinco.PSG mira novos títulos: Mundial, Supercopa e maisDepois da comemoração neste fim de semana e dos jogos das seleções nacionais na sequência, o PSG ainda tem um compromisso importante neste mês de junho. A equipe francesa estreia no Mundial de Clubes, nos Estados Unidos, em 15 de junho, contra o Atlético de Madri, pelo Grupo B. Depois, enfrenta o Botafogo no dia 20 e encerra a primeira fase diante do Seattle Sounders, no dia 23. Com a conquista da Champions, o Paris também disputará o título da Supercopa da Europa, contra o Tottenham, campeão da Liga Europa, no dia 13 de agosto, em Udine, na Itália. No fim do ano, o time ainda terá a Copa Intercontinental pela frente, podendo enfrentar na final o vencedor da Libertadores de 2025.“Não é a linha de chegada”: ambição e futuroCom uma equipe jovem e média de 23 anos de idade, o Paris Saint-Germain tem um futuro promissor e vai em busca de mais troféus nas próximas competições.“Acho que agora é dar tempo ao tempo para saborear essa vitória. Mas hoje a gente mostrou a real capacidade dessa equipe. A gente tem um treinador que é muito exigente, que com certeza vai querer, quando tiver o próximo jogo, quem estiver em campo e disponível, vai ter que fazer o seu melhor. Então foi um treinador muito exigente que nos trouxe aqui”, disse Marquinhos, que completou.“Nesse momento a gente tem que festejar hoje e amanhã. Depois tem dois jogos com a seleção (contra Equador e Paraguai), jogos importantes. Depois, temos um Mundial de Clubes contra grandes clubes, que vão estar com certeza mais descansados que a gente. Mas o clube tem ambições grandes. Ganhamos a Champions, mas não é a linha de chegada. Eu acho que isso era um grande objetivo do clube, sem ser uma obsessão. A gente conseguiu e agora vamos continuar lutando pelos outros títulos que vão vir.”Neste domingo, a festa continua em Paris. Está previsto um desfile em carro aberto com os atletas na famosa avenida Champs-Élysées, seguido por um evento no estádio Parque dos Príncipes.
Começa neste domingo (25) a disputa pelas chaves principais de Roland-Garros. Segundo Grand Slam da temporada de tênis internacional, o torneio francês é o único disputado no saibro e reúne, até 8 de junho, 128 tenistas em cada chave de simples, tanto na masculina quanto na feminina. Maria Paula Carvalho, de Roland-GarrosEstarão em quadra os grandes nomes do tênis mundial, como o sérvio Novak Djokovic – atual campeão olímpico dos jogos de Paris 2024 –, que sonha vencer o seu 25° torneio de Roland-Garros, e o bicampeão espanhol Carlos Alcaraz. Após vencer o aberto de Roma, no último dia 18 de maio, o espanhol diz estar confiante. "Tem sido uma ótima temporada de saibro até agora, estamos aqui no torneio mais importante e estou muito animado, relembrando as emoções do ano passado", disse o atleta no momento do sorteio de chaves do campeonato. "É ótimo sentir isso de novo. Minha confiança está muito alta", acrescentou Alcaraz. Brasil marca presença com três tenistasJoão Fonseca é o principal nome e o melhor ranqueado, na 65ª posição do ranking mundial da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP). Aos 18 anos, sensação do tênis mundial atualmente, o carioca tem conquistado resultados expressivos no circuito internacional. "[Sobre] Paris, a gente sempre ouve falar do Guga [Kuerten]. E foi o meu primeiro Grand Slam como juvenil, então eu acho esse torneio maravilhoso, o mais tradicional, o mais bonito e no saibro, que é a minha origem", disse aos jornalistas. "Paris realmente é diferente", reiterou. Em sua estreia na chave principal do torneio francês, Fonseca vai enfrentar na primeira rodada o polonês Hubert Hurkacz em confronto inédito no circuito internacional. "O jogo contra o Hurkacz vai ser bem difícil, um jogador com quem eu nunca treinei, vai ser uma experiência nova. Ele é um jogador experiente no tour, não é a melhor superfície dele [saibro], mas é um jogador top 30, que já foi top 10 e então vai ser muito difícil", acredita o jovem carioca.A torcida mal pode esperar para vê-lo no torneio francês, que este ano espera receber 675 mil espectadores para quase 900 partidas. Daniela Campostrini, médica do Espírito Santo, veio conhecer o tradicional complexo esportivo, localizado na zona oeste de Paris. "É a minha primeira vez, estou achando incrível a organização", diz. "O Brasil está todo empolgado com o João Fonseca, já o compara com grandes atletas ganhadores de Grand Slam, o pessoal está empolgado", afirma. "Eu também adoro ver os jogos da Bia [Haddad]. Ela vem tendo umas quedas no rendimento, mas a gente tem esperança que ela vai superar", completa a torcedora. Outro brasileiro na chave principal é Thiago Monteiro, atualmente na posição 93 do ranking. Ele estreia contra o tcheco Vit Kopriva, 85º. "É um jogo duro, como todos. O Kopriva vem num grande ano, primeira vez que ele está no top 100, e vai ser um jogo parelho", diz o atleta sobre o primeiro adversário. "Sem dúvida a gente quer ir o mais longe possível, esse é sempre o objetivo. A gente vem se preparando bem apesar de não ter tido uma sequência de bons resultados nas últimas semanas, mas a gente sabe que no tênis um dia muda tudo, então tem que estar preparado para quando a oportunidade aparecer e conseguir agarrar e estar bem da melhor forma fisicamente", conta Thiago Monteiro.No feminino, Bia Haddad, 23ª do mundo, é a única representante brasileira. Ela começa a campanha diante da americana Hailey Baptiste, número 70 do ranking mundial. A polonesa Iga Swiatek vai brigar pelo quinto título em Roland-Garros. E uma recompensa ainda maior. Este ano, a premiação aos vencedores do torneio vai ultrapassar os € 56 milhões (mais de R$ 369 milhões), um acréscimo de mais de 5% em comparação à edição de 2024. Nas duplas, o Brasil tem cinco representantes na disputa. Os principais nomes na competição são o mineiro Marcelo Melo e o gaúcho Rafael Matos. Homenagem à NadalNeste domingo, Roland-Garros prestará uma homenagem ao tenista espanhol Rafael Nadal, vencedor 14 vezes em Paris e que se aposentou do esporte no ano passado. Em entrevista à RFI, a diretora do torneio, Amélie Mauresmo, guarda segredo sobre a cerimônia. "O pedido dele é de que seja algo simples, como Rafael Nadal sempre foi nos jogos e como se comportava com os torcedores", observa. "Ele não gosta de estar no centro da atenção, mas após a sua história em Roland-Garros, o seu torneio favorito, ele queria que a homenagem fosse aqui. Faremos algo simples e autêntico", revela. Uma exposição dedicada a Nadal está em cartaz no Tenniseum, o museu do tênis de Roland-Garros. O público pode ver raquetes, tênis, fotografias e objetos que contam a trajetória do multicampeão. "É uma bela história no tênis, sobretudo aqui em Roland-Garros, a segunda casa dele. Ganhar 14 vezes é impressionante", avalia o canadense Carl Bernard. O turista disse ter ficado emocionado com o que viu. "Quero saber quem vai assumir o lugar de Nadal entre os mais jovens. Vai ser um bom momento, de fortes emoções", aposta. Além de Nadal, dois tenistas franceses serão homenageados: Richard Gasquet, que vai se aposentar após sua última partida nesta edição, e Mary Pierce, a última francesa a vencer Roland-Garros, em 2000, cuja conquista completa 25 anos. Tribuna Concorde O torneio de Roland-Garros será transmitido para 220 países. Este ano, numa parceria entre a Federação Francesa de Tênis e a Cidade de Paris, a partir da quarta-feira (4), uma área de entretenimento gratuita será montada na Praça da Concórdia. Uma conquista que Amélie Mauresmo celebra. A "Tribuna Concorde é uma chance para turistas e parisienses aproveitarem a experiência de Roland-Garros", explica. "Eu estou muito contente. Eu queria um espaço em Paris onde as pessoas pudessem se reunir em torno de Roland-Garros, sem precisar vir até aqui e pagar ingresso. Haverá arquibancadas, lanches, animações, será uma festa fora de Roland-Garros e isso é uma ótima novidade", conclui. O local terá capacidade para receber até 5 mil espectadores. Os visitantes poderão assistir às partidas em dois telões em arquibancadas ou espreguiçadeiras, no coração da capital, com DJs e apresentação dos troféus.
Na mostra paralela ACID, dedicada ao cinema independente, à margem do Festival de cinema de Cannes está em cartaz a longa metragem Nuit obscure : Ain't a child ? do francês Sylvain George.Trata-se do terceiro e derradeiro capítulo da trilogia dedicada aos menores que, a partir do enclave espanhol de Melilla, no norte de Marrocos, acabam por tentar sobreviver nas ruas de Paris.A obra tem co-produção da Kintop, produtora baseada em Portugal. Ansgar Schäeffer contou à RFI o porquê do envolvimento da Kintop neste projecto.
Uma exposição em Paris reúne obras de artistas brasileiros traçando um paralelo da arte nacional e da arquitetura modernista no Brasil com o arquiteto e urbanista franco-suíço Le Corbusier. A mostra "Aberto" está em sua quarta edição e acontece fora do país pela primeira vez, numa proposta cultural que integra as ações da Temporada França-Brasil 2025. "Aberto" 4 está em cartaz na Maison La Roche, no 16º arrondissement de Paris. Cerca de 35 obras estão expostas na casa de Le Corbusier, um prédio tombado como Patrimônio Mundial da Unesco, e que foi idealizada pelo próprio arquiteto.Filipe Assis, fundador do projeto, diz que teve a ideia de unir arte e arquitetura. “Escolhemos a casa do Le Corbusier, e esta não é qualquer casa, mas uma das mais importantes da produção dele como arquiteto. E por ele ter essa relação rica com o Brasil, contamos aqui um pouco da história da arquitetura brasileira, da relação que Corbusier teve com Lúcio Costa, com Oscar Niemeyer e a influência que ele teve posteriormente na arte brasileira”, contou, já adiantando que o plano é levar o projeto para outros países.“Geralmente a gente tem um núcleo em torno da figura do arquiteto que projetou a casa que estamos ocupando", explica Kiki Mazzucchelli, uma das curadoras da exposição. "Em cada uma das edições tivemos sessões um pouco mais biográficas, que contavam um pouco da história da casa e do arquiteto. E aqui não foi diferente”, detalhou.Arte e arquitetura integradasA curadora comentou que houve um trabalho minucioso para integrar a arte aos espaços existentes. “Quando fazemos a curadoria do 'Aberto', pensamos muito no espaço. Como usamos espaços inusitados, que não são feitos para serem expositivos, levamos muito em consideração a arquitetura. O que temos aqui nessa exposição da Maison La Roche é uma grande mistura. Então, na grande galeria do monsieur La Roche, que era um grande colecionador, e que tinha as próprias obras expostas nesse espaço, fizemos uma seleção de obras de artistas históricos, ligados ao concretismo e ao neoconcretismo. Mas a maioria das obras contemporâneas foi de obras comissionadas, ou seja, foram diálogos com cada artista que respondeu a algum aspecto da prática do Le Corbusier", conta. "Alguns optaram por dialogar com as cores que ele escolheu para essa casa, outros com o pensamento da arquitetura moderna que ele introduziu no Brasil. Enfim, são vários olhares distintos em relação a essa figura do Le Corbusier, menos como uma grande influência, mas mais com a criação de diálogos com essa obra vasta, que perpassa a arquitetura e a arte”, disse. Le Corbusier e o BrasilLauro Cavalcanti é pesquisador e especialista nas obras de Le Corbusier e de Lúcio Costa, tendo escrito três livros sobre as ligações do arquiteto francês com o Brasil. Ele, que também integra o grupo de curadores da mostra, conta que a relação de Le Corbusier com o país se deu ao longo de toda sua vida e que foi muito importante também para um outro grande nome da arquitetura brasileira.“Nos anos 20, Le Corbusier percorreu a América do Sul fazendo conferências, nessa ocasião fez um esboço de um plano de cidade para o Rio e se apaixonou. Sete anos depois, Lúcio Costa, a quem tinha sido encomendado o Ministério da Educação (atual Edifício Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro), chamou Le Corbusier para ser consultor. E junto a uma equipe de jovens arquitetos brasileiros, eles fizeram esse prédio que entrou para a história da arquitetura mundial. E a solução final foi dada por Oscar Niemeyer. Então, Le Corbusier deu ao Brasil muito, recebeu muito também, porque foi a oportunidade dele provar que não era só um teórico. Mas ainda nos deu Oscar Niemeyrer, porque ele se revelou em um trabalho com ele. Ninguém achava que Niemeyer fosse o gênio que foi”, contou.Do Paraná para a EuropaUm dos artistas a expor na "Aberto", Sidival Fila falou sobre a importância da experiência, a primeira vez em que participa de uma exposição coletiva com grandes artistas brasileiros. Ele, que trabalha com tecidos antigos, é de Arapongas, no Paraná, mas vive e atua em um convento de irmãos franciscanos em Roma, na Itália, há 20 anos.“Meu trabalho é criar essas formas internas construindo e reconstruindo a superfície e elaborando uma imagem, criando a tridimensionalidade, volume, luz, integração entre fios e fundo”, explicou ele, monstrando um quadro comporto por um tecido em seda, feito à mão, datando de meados de 1800, um material "raro e precioso", ressalta. A "Aberto 4", na Maison La Roche, fica em cartaz até o dia 8 de junho e os ingressos, que custam €10, podem ser adquiridos diretamente na entrada da instituição.
As imagens chocaram a França e viralizaram no mundo inteiro: uma violenta tentativa de sequestro à luz do dia em uma rua de Paris, gravada por moradores. Três dias após o incidente que envolveu a filha de um pioneiro do setor das criptomoedas, o governo francês anunciou uma série de medidas para tentar conter um tipo de crime que vem se repetindo no país. “Me larguem!”, grita uma mulher caída em uma calçada, enquanto dois homens encapuzados tentam arrastá-la para dentro de uma van. Agarrado a ela, o marido, com o rosto ensanguentado, tenta segurá-la e é agredido por um terceiro homem. A mulher consegue pegar a arma de um dos encapuzados e jogá-la para um pedestre que se aproxima, enquanto um morador sai de um prédio segurando um extintor de incêndio e ameaça o grupo. Assustado, o trio embarca na van e foge.A cena poderia constar de um filme policial, mas aconteceu por volta das 8h da manhã de terça-feira (13), no 11° distrito de Paris. Os registros, feitos por dois moradores do alto de dois prédios da rua Pache, mostram uma situação incomum no local, um bairro calmo e seguro ao leste da capital francesa.Desde o início deste ano, esse é o quarto incidente deste tipo, visando empresários do setor das criptomoedas ou familiares. O modus operandi é o mesmo: sequestro seguido de extorsão.O último caso antes do violento incidente nesta semana em Paris, ocorreu no início deste mês, quando o pai de um proprietário de uma sociedade que gerencia criptomoedas foi sequestrado no 14° distrito de Paris, outro bairro seguro da capital francesa. A vítima teve um dedo mutilado, na tentativa de extorsão de uma quantia entre € 5 milhões e € 7 milhões. A polícia descobriu o paradeiro do refém e o resgatou. Cinco homens, com idades entre 27 e 20 anos, foram presos.Antes desses dois casos, outros três sequestros já haviam sido registrados, também visando personalidades do universo financeiro virtual na França. Em janeiro, o cofundador da empresa Ledger, David Balland, e sua companheira foram feitos de reféns no centro do país contra um pedido de resgate de € 10 milhões em bitcoins. Dez pessoas foram detidas.Alguns dias mais tarde, no leste da França, quatro pessoas foram detidas por sequestro de um operador de criptomoedas exigindo uma grande quantidade de dinheiro. Ainda em janeiro, o pai de um influenciador de moedas virtuais baseado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, foi encontrado no porta-malas de um carro em Mans, no oeste.Pai de vítima denuncia “mexicanização” da FrançaA vítima da tentativa de sequestro na terça-feira em Paris não teve sua identidade divulgada. A polícia francesa apenas indicou que ela tem 34 anos e está grávida de cinco meses. O filho de dois anos do casal teria presenciado as violências, mas ele não aparece nos vídeos feitos pelos moradores.A mulher é filha de um pioneiro do setor das criptomoedas na França, Pierre Noizat, de 59 anos, diretor da empresa Paymium. Em entrevista ao canal BFMTV nesta sexta-feira (16), ele informou que a filha e o marido passam bem.Noizat também fez uma série de críticas ao governo francês, que segundo ele, não protege suficientemente “as empresas e os ricos”. De acordo com o empresário, a França está em um processo de “mexicanização”, afirmou, referindo-se ao crime organizado no México."Estamos mergulhados nisso, a violência da qual minha filha foi vítima é cotidiana para muitas pessoas na França", lamentou. Noizat também acusou os poderes públicos de laxismo, uma situação que, segundo ele "coloca todos em perigo".Governo francês anuncia medidasO ministro francês do Interior, Bruno Retailleau, se reuniu nesta sexta-feira com os grandes empresários do setor das criptomoedas na França, entre eles, Pierre Noizat, e prometeu que seriam tomadas medidas para proteger as empresas do ramo e que os responsáveis pelas ações criminosas serão encontrados e serão punidos.Logo depois, um comunicado do Ministério do Interior detalhou algumas iniciativas, como uma colaboração entre as forças de segurança e profissionais do setor. Esses empresários também terão um acesso prioritário no acionamento da polícia.Além disso, agentes do Estado inspecionarão as residências de dirigentes do ramo das criptomoedas para conferir a segurança das moradias. Os profissionais do setor, além das famílias, serão instruídos sobre como se proteger desse tipo de crime.O Ministério do Interior da França ainda promete um trabalho “aprofundado” com o setor das criptomoedas para criação de novas medidas de dissuasão a esse tipo de crime.
Aos 87, David Hockney, um dos artistas britânicos mais influentes dos séculos 20 e 21, continua ativo como nunca. Prova disso é a exposição “David Hockney, 25”, em cartaz na Fundação Louis Vuitton, em Paris, dedicada à sua produção dos últimos 25 anos. Patrícia Moribe, em ParisPela primeira vez no imponente prédio projetado por Frank Gehry, um artista ainda vivo ganha as honras da casa. As filas de entrada são longas, mas uma vez dentro do museu, os visitantes se espalham pelas onze salas em três andares, sem a sensação de acotovelamento diante das obras.São mais de 400 trabalhos expostos, geralmente de grandes proporções, entre pinturas, desenhos, fotografias, colagens, projeções e a sua paixão dos últimos anos – as pinturas feitas no telefone celular e tablet. “Não se trata de uma retrospectiva, embora apresentemos uma espécie de prelúdio com obras célebres, como a famosa pintura da piscina, A Bigger Splash” (1967), explica Magdalena Gemra, da equipe de curadoria da fundação, entrevistada por Muriel Maloouf, da RFI, referindo-se ao quadro da fase californiana de Hockney, com muita luminosidade e referências à água. Outra pérola dessa época, também na mostra, é “Retrato de um Artista”, de 1972, arrematado em leilão em 2018 por US$ 90 milhões, valor recorde na época para um quadro de um artista ainda em vida.Mas o foco da exposição em Paris, explica Gemra, foi especialmente para as obras dos últimos 25 anos, incluindo quatro anos passados na Normandia, isolado durante a Covid, quando Hockney mergulhou na paisagem local e nos retratos das pessoas próximas a ele.A exposição começa com um grande letreiro de neon na parede: Remember you cannot cancel spring (“Lembre-se de que não se pode cancelar a primavera”), uma frase que Hockney escreveu para um grupo de amigos durante a pandemia, em 2020. “É uma mensagem alegre e esperançosa que queremos transmitir com a exposição. Mesmo diante das tragédias que todos vivemos, a obra de David transmite uma alegria que permanece”, disse Magdalena Gemra.O irrequieto Hockney participou ativamente de todas as etapas da montagem da exposição, passando pelas cores das paredes, até o catálogo. A equipe da fundação o visitou várias vezes em seu ateliê em Londres e o artista veio a Paris três vezes, sempre acompanhado de familiares e amigos.Sempre rebeldeDavid Hockney nasceu em 9 de julho de 1937, em Bradford, Inglaterra. Estudou na Royal Academy of Arts e foi apontado como um dos pioneiros da arte pop na Grã-Bretanha. Mudou-se nos anos 1960 para Los Angeles, também com temporadas em Londres e Paris.Na virada do século, ele voltou seus olhos e paletas para a Yorkshire natal, retratando o que via e sentia com aquarelas e óleos.Hockney sempre explorou técnicas diferentes, das tintas, passando pela foto, até a imagem digital, na qual virou referência.Influência“Em 2010, eu vi na Fundação Pierre Bergé e Yves Saint Laurent, em Paris, seus primeiros desenhos feitos no iPhone e fiquei muito impressionado”, diz o artista visual Fernando Barata, radicado em Paris e que também trabalha com imagens digitais. “Enquanto muitos artistas pop usavam a tecnologia como comentário sobre a cultura de massa e reprodução, mecânica, Hockney a incorporou em seu processo criativo. Para ele, um iPad não é apenas uma referência cultural, mas um suporte legítimo, um novo meio expressivo que merece a mesma seriedade da pintura tradicional”, apontou o artista. “Foi uma verdadeira alavanca para meus primeiros trabalhos digitais em iPad. A difusão instantânea das obras digitais criou um novo paradigma que desafia o modelo tradicional de galerias, marchands e leilões. Essa democratização dos meios de distribuição transformou a relação entre artistas e público, permitindo conexões diretas sem os intermediários tradicionais de sistema artístico”, diz Fernando Barata.A exposição também traz as paisagens grandiosas da natureza americana e muitos retratos, principalmente de amigos e pessoas próximas, como o companheiro e braço-direito Jean-Pierre Gonçalves de Lima. O rebelde Hockney chegou a recusar uma condecoração e uma encomenda para pintar o retrato da rainha Elizabeth II.Na última sala, imersiva, suas criações para óperas passeiam pelas paredes. Os visitantes podem ficar onde quiserem, mas os locais mais disputados são as almofadas espalhadas pelo chão.Homossexual assumido e fumante inveterado, sempre com roupas coloridas e um sorriso no rosto, Hockney não para de se reinventar."David Hockney 25" fica em cartaz na Fundação Louis Vuitton, em Paris, até 31 de agosto de 2025.
Os Capitão Fausto tocaram em Paris, a 8 de Maio, num “Point Ephémère” onde o público entoou, em coro e em português, várias canções da banda pop portuguesa. Antes da estreia em França, no âmbito de uma digressão europeia, a RFI falou com Tomás Wallenstein e Domingos Coimbra que nos contaram a história de um grupo de amigos que nos últimos 15 anos tem também feito história na cena musical independente portuguesa. RFI: Apresentam-se em Paris a um público essencialmente francês. Para quem não vos conhece, como é que descreveriam a banda, o som e a vossa filosofia? Tomás Wallenstein: “Já era um desejo antigo nosso virmos aqui e, portanto, estarmos a concretizar é uma grande alegria. Acho que, em poucas palavras, somos um grupo de amigos muito antigo, que tem sobrevivido ao teste do tempo e que se continua a gramar, a querer estar juntos e a fazer coisas juntas e que gostamos de ouvir música juntos e acho que isso define-nos. Concordas?”Domingos Coimbra: “Concordo, concordo e acho que, com os anos, temos tido a felicidade das coisas e das decisões que tomámos nos terem corrido progressivamente bem e também com esse crescimento que tivemos. Somos amigos desde os 13, 14 anos e amigos de liceu e desde essa altura também foram mudando as nossas ambições e o nosso empenho, o nosso trabalho, e passámos, de certa forma, de amadores a profissionais, um grupo de amigos que viveu tudo isso de forma muito intensa, ao ponto até de, às vezes, num determinado momento, viverem todos na mesma casa. Portanto, é todo o imaginário que isso acarreta.”E como é que escolheram a playlist para Paris? Domingos Coimbra: “Eu acho que, em primeiro lugar, a 'Subida Infinita', o último álbum que lançámos, tem sido uma constante nos últimos dois anos. É o foco. Temos noção que também é não só tocar para franceses, mas também para um público português que está fora de Portugal. Também tínhamos a noção que tínhamos de fazer um concerto que passasse um bocado pela discografia da banda. Então, de certa forma, o concerto acaba por fazer um apanhado destes anos.”Há músicas assim, mais emblemáticas e mais acarinhadas pelo público, em geral, e pelo público internacional, em particular, que vocês agora têm vindo a conhecer?Tomás Wallenstein: “É difícil dizer porque os vários concertos que já aconteceram tiveram reações muito específicas de cada sítio e nós fomos descobrindo também as salas e as pessoas e conversávamos um bocadinho no final. Mas acho que, como o Domingos estava a dizer, este apanhado geral foi também uma espécie de uma filtragem que nós fizemos para esta digressão e talvez se possa definir como um bom cartão de visita: o que é que foram estes últimos anos. Deixámos, na verdade, um disco de fora que é ‘Pesar o Sol'."Porquê? Tomás Wallenstein: “Por questões de escolha. Por não querermos deixar outras de fora. Acabámos por deixar estas neste espectáculo. Eu acho que todas as músicas têm lugar em cada espectáculo específico. Este que é em clubes e para pessoas em pé, acho que nos levou a escolher este conjunto de canções.”Também tem a ver com a transformação da banda de quinteto para quatro pessoas?Domingos Coimbra: “Isso também e também pela própria natureza dos álbuns e do som dos álbuns. E o 'Pesar o Sol', se calhar, é um bocado mais distante do que muita da música que estamos a fazer agora, embora seja interessante em termos de alinhamento e nós fazemos isso muitas vezes que é passar um bocado por todos os álbuns, é um desafio interessante para o concerto ficar a fazer parte de uma mesma narrativa. Mas por acaso, o ‘Pesar o sol' não entrou. Algumas canções do nosso primeiro álbum, o ‘Gazela', nesta coisa de como preparar o alinhamento e as canções e quais escolher, algumas destas, com os anos, tornaram-se muito queridas das pessoas que nos seguem e, portanto, elas têm figurado nos concertos. 'Santana', que é uma música que eu acho que no disco não tem propriamente muita graça nem muita cor, é uma canção que com os anos vai crescendo cada vez mais e hoje em dia fecha o concerto. Portanto, esse lado é engraçado.”Em relação à própria transformação em palco por causa da saída de um elemento do grupo, como é que tem sido? Domingos Coimbra: “Foi um processo. Nós, com a saída do Francisco [Ferreira] na 'Subida Infinita', todo o álbum foi composto também por ele e foi um álbum pensado para ser tocado por cinco. Na altura, tínhamos acabado a 'Subida Infinita' e tínhamos duas semanas para acabar o álbum e duas semanas depois começava a digressão e nós ainda não sabíamos muito bem - no ano passado - como é que íamos montar o espectáculo. Então, a decisão que tomámos, foi convidar dois amigos, músicos da nossa editora Cuca Monga, o Fernão Biu, dos Zarco, e o Miguel Marôco para se juntarem a nós. Cinco passaram a seis e dividíamos as vozes. Depois, tivemos sempre um bocado esta ideia de irmos falando, eventualmente, temos de tentar perceber como é que passamos o formato para quatro e a responsabilidade da passagem do formato a quatro acabou por estar muito centrada no Tomás e no Manuel, que são autênticos polvos e agora tocam teclados e guitarras e mudam de microfones.”Tomás Wallenstein: “E foi um exercício interessante também porque voltámos a ouvir as músicas todas para perceber quais é que são as partes essenciais, porque menos mãos conseguem fazer menos coisas. E, de certa forma, foi surpreendente como às vezes elementos que nos discos são essenciais e são ornamentos ou são camadas que tornam a escuta mais interessante, ao vivo, nem sempre são, até podem ser contraproducentes e, portanto, começarmos a despir um bocadinho as camadas todas e a perceber do que é que a canção é feita, a sua essência mesmo. Foi muito interessante e deu resultados muito engraçados. Isso também é evidente que contribuiu para a escolha das músicas que trazemos para os concertos e até porque isto agora vai ser um processo que vamos continuar a fazê-lo devagarinho e nem conseguimos passar por todo o nosso repertório, mas vamos fazê-lo.”Domingos Coimbra: “E conseguimos aprender 15, 16 músicas no espaço de duas, três semanas muito intensas.”Tocam em Paris depois de Amesterdão, Madrid, Barcelona. Como é que tem sido esta descoberta do público europeu e não apenas lusófono? Tomás Wallenstein: “Tivemos a sorte de ter muitos portugueses, em todas as datas, que levam os amigos, que mostram a música e, portanto, acho que essa parte também nos beneficia. As pessoas que vão ao concerto também são nossas embaixadoras e também estão a ajudar a nossa música a ser ouvida. Portanto, as reacções são curiosas de muita gente que tinha vindo ao concerto para descobrir a banda também, que não conhecia a música e que, se calhar, vai passar a ouvir. Acho que tem corrido muito bem.”Domingos Coimbra: “Em Barcelona, sentimos um público maioritariamente português, mas em Madrid havia muito público espanhol e, como o Tomás estava a dizer, curiosos. Algumas pessoas que tinham, por exemplo, estudado em Portugal, que tinham cruzado de uma maneira ou de outra com Capitão Fausto e que com os anos a passarem, fomos levando os vários álbuns a centenas de sítios e depois esse alcance foi aumentando. Também no Melkweg, em que também tocámos, sentimos o público português, mas também curiosos holandeses.”O que representa Paris para vocês? Tomás Wallenstein: “É uma cidade mítica, não é? Eu, pessoalmente, também tenho uma ligação muito forte à cultura francesa, porque estudei no Liceu Francês, tenho muitos amigos de infância franceses e eu acho que é um sítio que nós vamos querer voltar muitas vezes e que é uma cidade muito vibrante. Também já tive a oportunidade de vir aqui ver concertos e acho que tem muita coisa a acontecer e, portanto, nós conseguirmos ser inseridos nesta variedade é muito desafiante. Vamos ver o que é que vai acontecer nos próximos anos.”O disco Subida Infinita fala muito em despedidas, em desconsolo, em “nuvens negras”, “festas que são fachadas desta nossa tristeza”. Também já tinham morrido na praia, prometido que “amanhã estou melhor”, avisado que os Capitão Fausto têm os dias contados. As melodias são solares, mas as letras parecem ter algum desconsolo. Como é que vocês estão e o que é que contam todas estas músicas, sobretudo do último disco, que é o que mais levam agora a palco? Tomás Wallenstein: “Eu acho que o último disco tem umas características que os outros acabam sempre por ter, que eu acho que agora vou começando a reparar, que são as músicas que acabam por ser um bocadinho catárcticas sempre e nós talvez através das músicas consigamos encontrar emoções ou raciocínios que estavam mais escondidos dentro do nosso grupo. Nós como amigos, nós individualmente, eu como escritor e como voz também, às vezes, esses sentimentos, esses raciocínios são descobertos quando as músicas também acontecem, quando de repente elas começam a ter a sua própria vida. E nós vamos começar a pensar ‘ok, o que é que de facto quer dizer esta música?' Porque os significados também nem sequer sempre estão no momento da composição. Nós não estamos a querer almejar um certo ambiente, ou uma tristeza, ou uma melancolia, ou um entusiasmo. Estamos entusiasmados com a música e com o quadro que aquilo está a pintar e com as letras a mesma coisa. Estamos um bocadinho à procura do som e estamos a ir pelo ouvido. Quando as coisas estão acabadas, então aí nós damos dois passos atrás e começamos a descobrir um bocadinho do que é que elas são feitas. Eu acho que são figuras das nossas vidas, momentos, paisagens e fotografias que vão aparecendo e que brotam da nossa memória.”Ao fim de 15 anos neste retrato de grupo, qual é o balanço que fazem? Domingos Coimbra: “Como começou a entrevista e começámos a falar sobre como é que nós nos definimos, eu acho que o facto de nós, passados estes anos todos, ainda estarmos centrados na nossa amizade - se calhar até acima das nossas ambições profissionais - e como o facto de centrarmos a amizade no centro tem resultados profissionais bons, embora seja sempre um equilíbrio muito difícil quando se dorme em carrinhas e em viagem e fora de casa, essa é uma verdade que eu acho que nos define. E outra também, acho que temos tido a felicidade e a alegria, desde o princípio, obviamente com muita sorte envolvida, de estar nos sítios certos, na hora certa.Os concertos correram bem, mas a nossa carreira tem sido uma escada constante e parece que a cada álbum e a cada concerto que damos e a cada novo objectivo, felizmente tem sido uma subida, não querendo parecer “cheesy”, nós temos noção que aquilo que nós temos e aquilo que temos vindo a fazer, até pessoalmente, em termos de amizade, é uma coisa rara e, portanto, estamos a fazer todos os esforços para preservar isso e através disso também escrever canções que retratam os períodos pelos quais vamos passando.”Estão a preparar novo álbum, novas canções? Vi que têm também um grande projecto para 2026, em Lisboa, numa grande sala, talvez a maior de Portugal...Tomás Wallenstein: “É verdade. Isso é assim a próxima grande coisa que nos vai acontecer. Vamos ter uma grande celebração também de carreira em Lisboa, na maior maior sala que nós já alguma vez ambicionámos encher. Para esse espectáculo vamos querer trabalhar com muita antecedência e com muita preparação. Vai-nos ocupar muito tempo do próximo ano. Temos em vista começar a fazer música nova, canções em breve. Não sabemos para sair quando, mas sabemos que o início, pelo menos, está próximo. Estamos também a trabalhar noutras coisas, noutros projectos sobre os quais ainda não podemos desvendar muito, mas que poderão interessar-vos e isso também são novidades para o ano de 2026.”
Os Capitão Fausto tocaram em Paris, a 8 de Maio, num “Point Ephémère” onde o público entoou, em coro e em português, várias canções da banda pop portuguesa. Antes da estreia em França, no âmbito de uma digressão europeia, a RFI falou com Tomás Wallenstein e Domingos Coimbra que nos contaram a história de um grupo de amigos que nos últimos 15 anos tem também feito história na cena musical independente portuguesa. RFI: Apresentam-se em Paris a um público essencialmente francês. Para quem não vos conhece, como é que descreveriam a banda, o som e a vossa filosofia? Tomás Wallenstein: “Já era um desejo antigo nosso virmos aqui e, portanto, estarmos a concretizar é uma grande alegria. Acho que, em poucas palavras, somos um grupo de amigos muito antigo, que tem sobrevivido ao teste do tempo e que se continua a gramar, a querer estar juntos e a fazer coisas juntas e que gostamos de ouvir música juntos e acho que isso define-nos. Concordas?”Domingos Coimbra: “Concordo, concordo e acho que, com os anos, temos tido a felicidade das coisas e das decisões que tomámos nos terem corrido progressivamente bem e também com esse crescimento que tivemos. Somos amigos desde os 13, 14 anos e amigos de liceu e desde essa altura também foram mudando as nossas ambições e o nosso empenho, o nosso trabalho, e passámos, de certa forma, de amadores a profissionais, um grupo de amigos que viveu tudo isso de forma muito intensa, ao ponto até de, às vezes, num determinado momento, viverem todos na mesma casa. Portanto, é todo o imaginário que isso acarreta.”E como é que escolheram a playlist para Paris? Domingos Coimbra: “Eu acho que, em primeiro lugar, a 'Subida Infinita', o último álbum que lançámos, tem sido uma constante nos últimos dois anos. É o foco. Temos noção que também é não só tocar para franceses, mas também para um público português que está fora de Portugal. Também tínhamos a noção que tínhamos de fazer um concerto que passasse um bocado pela discografia da banda. Então, de certa forma, o concerto acaba por fazer um apanhado destes anos.”Há músicas assim, mais emblemáticas e mais acarinhadas pelo público, em geral, e pelo público internacional, em particular, que vocês agora têm vindo a conhecer?Tomás Wallenstein: “É difícil dizer porque os vários concertos que já aconteceram tiveram reações muito específicas de cada sítio e nós fomos descobrindo também as salas e as pessoas e conversávamos um bocadinho no final. Mas acho que, como o Domingos estava a dizer, este apanhado geral foi também uma espécie de uma filtragem que nós fizemos para esta digressão e talvez se possa definir como um bom cartão de visita: o que é que foram estes últimos anos. Deixámos, na verdade, um disco de fora que é ‘Pesar o Sol'."Porquê? Tomás Wallenstein: “Por questões de escolha. Por não querermos deixar outras de fora. Acabámos por deixar estas neste espectáculo. Eu acho que todas as músicas têm lugar em cada espectáculo específico. Este que é em clubes e para pessoas em pé, acho que nos levou a escolher este conjunto de canções.”Também tem a ver com a transformação da banda de quinteto para quatro pessoas?Domingos Coimbra: “Isso também e também pela própria natureza dos álbuns e do som dos álbuns. E o 'Pesar o Sol', se calhar, é um bocado mais distante do que muita da música que estamos a fazer agora, embora seja interessante em termos de alinhamento e nós fazemos isso muitas vezes que é passar um bocado por todos os álbuns, é um desafio interessante para o concerto ficar a fazer parte de uma mesma narrativa. Mas por acaso, o ‘Pesar o sol' não entrou. Algumas canções do nosso primeiro álbum, o ‘Gazela', nesta coisa de como preparar o alinhamento e as canções e quais escolher, algumas destas, com os anos, tornaram-se muito queridas das pessoas que nos seguem e, portanto, elas têm figurado nos concertos. 'Santana', que é uma música que eu acho que no disco não tem propriamente muita graça nem muita cor, é uma canção que com os anos vai crescendo cada vez mais e hoje em dia fecha o concerto. Portanto, esse lado é engraçado.”Em relação à própria transformação em palco por causa da saída de um elemento do grupo, como é que tem sido? Domingos Coimbra: “Foi um processo. Nós, com a saída do Francisco [Ferreira] na 'Subida Infinita', todo o álbum foi composto também por ele e foi um álbum pensado para ser tocado por cinco. Na altura, tínhamos acabado a 'Subida Infinita' e tínhamos duas semanas para acabar o álbum e duas semanas depois começava a digressão e nós ainda não sabíamos muito bem - no ano passado - como é que íamos montar o espectáculo. Então, a decisão que tomámos, foi convidar dois amigos, músicos da nossa editora Cuca Monga, o Fernão Biu, dos Zarco, e o Miguel Marôco para se juntarem a nós. Cinco passaram a seis e dividíamos as vozes. Depois, tivemos sempre um bocado esta ideia de irmos falando, eventualmente, temos de tentar perceber como é que passamos o formato para quatro e a responsabilidade da passagem do formato a quatro acabou por estar muito centrada no Tomás e no Manuel, que são autênticos polvos e agora tocam teclados e guitarras e mudam de microfones.”Tomás Wallenstein: “E foi um exercício interessante também porque voltámos a ouvir as músicas todas para perceber quais é que são as partes essenciais, porque menos mãos conseguem fazer menos coisas. E, de certa forma, foi surpreendente como às vezes elementos que nos discos são essenciais e são ornamentos ou são camadas que tornam a escuta mais interessante, ao vivo, nem sempre são, até podem ser contraproducentes e, portanto, começarmos a despir um bocadinho as camadas todas e a perceber do que é que a canção é feita, a sua essência mesmo. Foi muito interessante e deu resultados muito engraçados. Isso também é evidente que contribuiu para a escolha das músicas que trazemos para os concertos e até porque isto agora vai ser um processo que vamos continuar a fazê-lo devagarinho e nem conseguimos passar por todo o nosso repertório, mas vamos fazê-lo.”Domingos Coimbra: “E conseguimos aprender 15, 16 músicas no espaço de duas, três semanas muito intensas.”Tocam em Paris depois de Amesterdão, Madrid, Barcelona. Como é que tem sido esta descoberta do público europeu e não apenas lusófono? Tomás Wallenstein: “Tivemos a sorte de ter muitos portugueses, em todas as datas, que levam os amigos, que mostram a música e, portanto, acho que essa parte também nos beneficia. As pessoas que vão ao concerto também são nossas embaixadoras e também estão a ajudar a nossa música a ser ouvida. Portanto, as reacções são curiosas de muita gente que tinha vindo ao concerto para descobrir a banda também, que não conhecia a música e que, se calhar, vai passar a ouvir. Acho que tem corrido muito bem.”Domingos Coimbra: “Em Barcelona, sentimos um público maioritariamente português, mas em Madrid havia muito público espanhol e, como o Tomás estava a dizer, curiosos. Algumas pessoas que tinham, por exemplo, estudado em Portugal, que tinham cruzado de uma maneira ou de outra com Capitão Fausto e que com os anos a passarem, fomos levando os vários álbuns a centenas de sítios e depois esse alcance foi aumentando. Também no Melkweg, em que também tocámos, sentimos o público português, mas também curiosos holandeses.”O que representa Paris para vocês? Tomás Wallenstein: “É uma cidade mítica, não é? Eu, pessoalmente, também tenho uma ligação muito forte à cultura francesa, porque estudei no Liceu Francês, tenho muitos amigos de infância franceses e eu acho que é um sítio que nós vamos querer voltar muitas vezes e que é uma cidade muito vibrante. Também já tive a oportunidade de vir aqui ver concertos e acho que tem muita coisa a acontecer e, portanto, nós conseguirmos ser inseridos nesta variedade é muito desafiante. Vamos ver o que é que vai acontecer nos próximos anos.”O disco Subida Infinita fala muito em despedidas, em desconsolo, em “nuvens negras”, “festas que são fachadas desta nossa tristeza”. Também já tinham morrido na praia, prometido que “amanhã estou melhor”, avisado que os Capitão Fausto têm os dias contados. As melodias são solares, mas as letras parecem ter algum desconsolo. Como é que vocês estão e o que é que contam todas estas músicas, sobretudo do último disco, que é o que mais levam agora a palco? Tomás Wallenstein: “Eu acho que o último disco tem umas características que os outros acabam sempre por ter, que eu acho que agora vou começando a reparar, que são as músicas que acabam por ser um bocadinho catárcticas sempre e nós talvez através das músicas consigamos encontrar emoções ou raciocínios que estavam mais escondidos dentro do nosso grupo. Nós como amigos, nós individualmente, eu como escritor e como voz também, às vezes, esses sentimentos, esses raciocínios são descobertos quando as músicas também acontecem, quando de repente elas começam a ter a sua própria vida. E nós vamos começar a pensar ‘ok, o que é que de facto quer dizer esta música?' Porque os significados também nem sequer sempre estão no momento da composição. Nós não estamos a querer almejar um certo ambiente, ou uma tristeza, ou uma melancolia, ou um entusiasmo. Estamos entusiasmados com a música e com o quadro que aquilo está a pintar e com as letras a mesma coisa. Estamos um bocadinho à procura do som e estamos a ir pelo ouvido. Quando as coisas estão acabadas, então aí nós damos dois passos atrás e começamos a descobrir um bocadinho do que é que elas são feitas. Eu acho que são figuras das nossas vidas, momentos, paisagens e fotografias que vão aparecendo e que brotam da nossa memória.”Ao fim de 15 anos neste retrato de grupo, qual é o balanço que fazem? Domingos Coimbra: “Como começou a entrevista e começámos a falar sobre como é que nós nos definimos, eu acho que o facto de nós, passados estes anos todos, ainda estarmos centrados na nossa amizade - se calhar até acima das nossas ambições profissionais - e como o facto de centrarmos a amizade no centro tem resultados profissionais bons, embora seja sempre um equilíbrio muito difícil quando se dorme em carrinhas e em viagem e fora de casa, essa é uma verdade que eu acho que nos define. E outra também, acho que temos tido a felicidade e a alegria, desde o princípio, obviamente com muita sorte envolvida, de estar nos sítios certos, na hora certa.Os concertos correram bem, mas a nossa carreira tem sido uma escada constante e parece que a cada álbum e a cada concerto que damos e a cada novo objectivo, felizmente tem sido uma subida, não querendo parecer “cheesy”, nós temos noção que aquilo que nós temos e aquilo que temos vindo a fazer, até pessoalmente, em termos de amizade, é uma coisa rara e, portanto, estamos a fazer todos os esforços para preservar isso e através disso também escrever canções que retratam os períodos pelos quais vamos passando.”Estão a preparar novo álbum, novas canções? Vi que têm também um grande projecto para 2026, em Lisboa, numa grande sala, talvez a maior de Portugal...Tomás Wallenstein: “É verdade. Isso é assim a próxima grande coisa que nos vai acontecer. Vamos ter uma grande celebração também de carreira em Lisboa, na maior maior sala que nós já alguma vez ambicionámos encher. Para esse espectáculo vamos querer trabalhar com muita antecedência e com muita preparação. Vai-nos ocupar muito tempo do próximo ano. Temos em vista começar a fazer música nova, canções em breve. Não sabemos para sair quando, mas sabemos que o início, pelo menos, está próximo. Estamos também a trabalhar noutras coisas, noutros projectos sobre os quais ainda não podemos desvendar muito, mas que poderão interessar-vos e isso também são novidades para o ano de 2026.”
O Collège de France, uma das instituições de ensino superior e pesquisa científica mais prestigiosas da França, recebeu nesta terça-feira (29) o único imortal indígena da Academia Brasileira de Letras, o escritor Ailton Krenak. O filósofo emocionou a plateia de acadêmicos com uma visão singular sobre a crise climática e a destruição dos recursos naturais do planeta – e criticou a realização da próxima Conferência do Clima da ONU na Amazônia, em novembro (COP30). O escritor alertou que, diante das evidências científicas sobre o impacto das ações humanas sobre o clima, como o uso combustíveis fósseis, a humanidade “está experimentando a imensa perda da qualidade da experiência de estar vivo”. Segundo ele, “não estamos só ameaçados pelo clima, mas pela imobilidade”.Depois do evento, a jornalistas, Krenak foi mais direto sobre os projetos do governo brasileiro de abrir novas frentes de petróleo na foz do rio Amazonas. "É uma espécie de divórcio da realidade o governo brasileiro, ou qualquer outro governo regional, insistir na exploração de fósseis, de petróleo”, afirmou.O filósofo lembrou que, na última Conferência do Clima, no Azerbaijão, o presidente do país anfitrião considerou que o gás e o petróleo são “um presente de Deus”. "Enquanto a gente viver essa ideia simplória e oportunista de recursos naturais que Deus deu, nós vamos entrar pelo cano”, disse Krenak.O escritor lamentou que os acordos relacionados à proteção do meio ambiente "estejam todos derretendo”, e criticou a decisão do Brasil e a ONU de fazer a próxima COP em uma cidade amazônica."Eu acho que a COP30 vai ser um ônus. Ela vai exigir muito investimento, vai gastar muita coisa para promover uma conferência que podia acontecer online. Não precisava ser na Amazônia”, alegou. "Como é que vai você dizer que uma conferência vai ser boa se o legado imediato que ela deixa é a perda da qualidade de vida dos habitantes e da liberdade desses habitantes de se organizarem?”, avaliou, antes de afirmar que, com a ausência dos Estados Unidos na mesa de negociações, a conferência "vai ser um grande evento de empresários". "Corporações e empresários vão ganhar muito com a COP30, e populações locais vão perder tudo”, comentou.Cogitar 'outros mundos'Na sua palestra, Krenak incitou os presentes a "cogitarem outros mundos, além dessa experiência quase terminal que nós passamos a experimentar no século 21". Segundo ele, “estamos provocando o colapso do mundo que nós habitamos, o seu empobrecimento, e não estamos sendo capazes de cogitar outros”.Nestes outros mundos, que o escritor reporta da floresta, o modo de vida e os hábitos de consumo dos centros urbanos não são mais o foco. "Nós somos a presença mais efêmera da Terra, e estamos causando um dano irreparável a outras formas de vida, como se nós tivéssemos a Terra à nossa disposição”, constatou.Para atender à cada vez mais consumo e ocupação de espaços “vazios” do planeta, a humanidade passou a “comer a Terra”, disse Krenak, parafraseando seu colega yanomami Davi Kopenawa."Se nós olharmos para o desaparecimento de rios, de florestas, nós vamos ver que a escala é suficientemente grande para incomodar e nos por diante da pergunta de quanto nós ainda podemos comer da Terra”, insistiu.'Florestania' e 'floricidade'O filósofo brasileiro, nascido em Minas Gerais e eleito imortal em 2023, trouxe ao público seus conceitos de "florestania" (da junção de “floresta” com "cidadania") e "floricidade" ("floresta" e “cidade”). Em plena capital francesa, erguida sobre pedras e concreto e que hoje briga para devolver os espaços verdes aos seus moradores, as palavras de Krenak inspiram."Na maioria das cidades, jazem os rios debaixo das calçadas e estruturas que vão erigindo essa paisagem tão atraente que são as cidades. Como pensar uma floricidade? Como pensar num lugar onde um rio e uma floresta possam conviver com essa nossa disposição para nos socializarmos e reunirmos em espaços tão acolhedores e seguros que são as cidades?”, indagou.
O projeto da exposição "Le Brésil illustré. L'héritage postcolonial de Jean-Baptiste Debret" (Brasil Ilustrado. O legado pós-colonial de Jean-Baptiste Debret, em tradução livre) surgiu de pesquisas que basearam o livro "Rever Debret", do curador suíço Jacques Leenhardt. A obra foi lançada pela Editora 34, em São Paulo, em 2023. Luiza Ramos, da RFI em ParisA exibição reúne o trabalho de 15 artistas brasileiros e traz uma releitura das obras de Debret, na Maison de L'Amérique Latine, em Paris, até o dia 4 de outubro, no âmbito da temporada do Ano do Brasil na França 2025. Jacques Leenhardt, especialista da obra de Jean-Baptiste Debret (1768-1848) na França e no Brasil, conta que observou várias exposições entre os anos 2020 e 2022 – época de comemoração do Bicentenário da Independência do Brasil –, de artistas brasileiros respondendo e reinterpretando a iconografia de Debret.“Chamou a atenção porque de uma certa maneira constitui um movimento de relação com o passado brasileiro e com a história da dificuldade de construir a nação brasileira. Através das várias populações, várias culturas, das populações indígenas, afrodescendentes e europeias", explica o professor."Então me pareceu interessante, juntar tudo isso numa exposição para tomar consciência desse movimento e da necessidade de integração dessas culturas em um diálogo”, completa.O olhar europeu na formação da nação brasileira Muito conhecido pelos brasileiros pelas suas ilustrações da época, difundidas em livros escolares e até calendários e tapeçaria, presentes na exposição, Debret é pouco conhecido pelos franceses.O artista viveu no Brasil por mais de uma década, quando integrou a Missão Artística Francesa enviada ao Brasil no começo do século 19, para documentar a primeira corte europeia a reinar a partir dos trópicos.Jacques Leenhardt conta que a ideia central é trazer uma releitura da obra do pintor, desenhista e professor francês, e acrescenta que o trabalho dos artistas na exposição é um trabalho de “diálogo com uma iconografia que não vem da sua própria cultura, mas da cultura branca e europeia da época”.Para ele, a obra de Debret fornece ao mesmo tempo uma existência ao que não tinha imagem. “Falta imagem do escravo negro trabalhando e construindo o Brasil. E é isso que Debret faz. Ele dá realmente uma visibilidade a esse trabalho e para ele é fundamental para a criação da nação. A nação se faz através do trabalho", explica. "E quem trabalha no Brasil, e ele [Debret] escreve isso no seu livro 100 vezes: quem trabalha é o escravo. Para a nova geração de hoje é importante recuperar essa visão”, destaca o pesquisador.Ano do Brasil na FrançaA partir da ideia de contextualizar a obra de um pintor francês sobre o Brasil, o projeto de reunir as reinterpretações do Brasil através olhos de artistas brasileiros nasceu com mais força. A curadora brasileira Gabriela Longman reitera a ideia de Jacques Leenhardt no livro ‘Rever Debret', onde ele investiga a fundo o fenômeno da proliferação de obras citando Debret.Ela foi editora do livro, que ao ficar pronto, imediatamente instaurou nela a ideia de mostrar o mapeamento de Leenhardt em outro formato. “A gente começou a trabalhar muito lentamente em construir essa passagem de uma pesquisa livresca por uma pesquisa plástica e espacial. A gente descobriu que teria o ano do Brasil na França e o ano da França no Brasil e foi uma coincidência feliz”, disse Gabriela Longman.A jornalista e curadora brasileira acredita que a exposição tem objetivos diferentes na França e no Brasil, pelo fato de Debret ser pouco conhecido na França. “No Brasil é o contrário, Debret é ultraconhecido, a gente viu a vida inteira. Os brasileiros entendem melhor sobre o contexto ao qual a gente está se referindo. A coisa contemporânea e os problemas que isso coloca hoje ganham muita força, porque estão no nosso dia a dia”, completa. Redescobrimento do Brasil sem ódioO artista plástico Heberth Sobral, mineiro que vive no Rio de Janeiro, é um dos 15 participantes da 'Le Brésil illustré'. Ele veio a Paris para falar de seu trabalho, que utiliza miniaturas de bonecos Playmobil na releitura da obra de Debret, reforçando a figura da população negra escravizada. “Eu me peguei olhando para o passado, mas não olhando com raiva, e sim como um fato histórico que infelizmente aconteceu”, relata ele. Sobral destaca que a intenção de suas obras é criticar sem repassar o sentimento de ódio.“O passado eu não posso mudar, mas o presente e o futuro dependem de mim. Então eu faço [arte] de uma forma mais leve, eu passo uma mensagem que é crítica, mas com o cuidado de não repassar o ódio. Eu sempre falo que meus antepassados iam para o Brasil para serem escravizados e que a melhor formar de honrá-los é ver meu trabalho sendo bem remunerado e bem aceito. É um redescobrimento do Brasil e do próprio europeu”, conclui o artista.Livia Melzi, artista plástica e visual, foi a última convidada a integrar a exposição. Ela criou um vídeo-arte que dialoga com a temática da releitura de Debret, a partir da redescoberta do original do livro 'Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil' de Debret, na Biblioteca Nacional da França, onde ela teve acesso ao microfilme da reprodução do livro. “Eu tive pouquíssimo tempo para realizar essa obra, mas a parte bacana foi que eu tive essa distância. Eu tinha a imagem de todas as outras obras para poder construir a minha de forma complementar”, explica.Além de Livia e Hebertth, a exibição conta com os artistas Denilson Baniwa, Isabel Löfgren&Patricia Gouvêa, Anna Bella Geiger, Tiago Gualberto, Claudia Hersz, Jaime Lauriano, Valerio Ricci Montani, Eustáquio Neves, Dalton Paula, Tiago Sant'Ana e Gê Viana.‘Le Brésil illustré. L'héritage postcolonial de Jean-Baptiste Debret' fica em cartaz na Maison de L'Amérique Latine, em Paris, até o dia 4 de outubro, e tem entrada gratuita. A exposição deve ser transferida para São Paulo em novembro.
“Feu Noir – Fogo Negro” é a nova exposição do artista visual Rodrigo Braga em Paris. As obras mostram a relação tensa entre humanos, natureza e meio ambiente. Para ele, a natureza é um território poderoso, mas ferido, e por isso questiona o comportamento humano em relação a ela. A mostra fica em cartaz na galeria Salon H, em Paris, até 13 de julho de 2025. Patrícia Moribe, em ParisRodrigo Braga trabalha a natureza como tema não somente porque é um assunto em voga ou apenas pelo seu caráter urgente. Nascido em Manaus, ele é filho de biólogos ambientalistas e por isso fala com conhecimento de causa. “Desde a minha primeira exposição, em 1999, eu já trazia essa questão socioambiental, porque não é só sobre a natureza, mas é a nossa relação homem, natureza, nosso meio, é a nossa atuação no mundo enquanto ser”, explica. “É um tema que me é muito caro e que hoje está na moda, que precisa ser discutido com muita urgência e firmeza."A exposição “Fogo Preto” faz parte de uma série maior chamada “Ponto Zero”, que Braga começou em 2018 e segue até hoje. O conceito de "Ponto Zero" vem da física, referindo-se à falta de energia em um sistema ou matéria. Ou um ponto de inflexão, especificamente o colapso das cadeias biológicas causado por ações humanas nocivas. Braga usa esse termo metaforicamente para discutir um limite, a partir de elementos naturais como pedra, carvão, cal e fogo, todos com poder simbólico forte.Inspirado por KrajcbergBraga utiliza desenhos, pinturas sobre tecido, painéis e fotografias. Ele emprega materiais arcaicos como carvão vegetal e argila, além de crayon e pastel. O artista conta que a exposição marca uma volta ao desenho, linguagem que não usava há algum tempo, inspirado por imagens do artista polonês-brasileiro Franz Krajcberg.“A utilização das fotografias do Krajcberg para me inspirar a realização desses desenhos é para justamente fazer um link temporal sobre algo que ele registrava 40, 30 anos atrás, que continua acontecendo igualmente e na verdade acontecia muito antes. É uma questão secular no Brasil e é contemporânea também. Somos dois artistas de gerações diferentes trabalhando sobre esse tema de uma maneira muito clara. Isso é reforçar o tema."Fogo, ovos e olhosO fogo é um símbolo recorrente nas obras de Braga. Embora o fogo represente destruição, ele também é apresentado como um sinal de regeneração. Ele aparece como uma força ameaçadora, mas efêmera. Ovos e olhos são outros instrumentos simbólicos do artista, perpassando noções de observação, cautela e eclosão.Rodrigo Braga trabalha na cena artística há 25 anos. Depois de ter morado no Recife e no Rio de Janeiro, ele se mudou para a França há seis anos. A mudança foi estimulada após uma exposição no Palais de Tokyo, em Paris, em 2016. Seu trabalho faz parte de diversas coleções públicas e privadas, incluindo a Maison Européenne de la Photographie (MEP), em Paris, e os Museus de Arte Moderna de São Paulo e Rio de Janeiro.Hoje o artista está baseado em Paris, mas com circulando muito, principalmente entre a França e o Brasil. “Feu Noir – Fogo Preto” é a quadragésima exposição individual de Rodrigo Braga.
A sete meses da próxima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a embaixada do Brasil em Paris e a Central Única das Favelas (Cufa) na França realizaram, na quarta-feira (23), a mesa redonda "A caminho da COP30: Justiça Climática e Mobilização por Belém". O encontro – parte da programação da Temporada França Brasil 2025 – propôs um debate sobre o impacto das mudanças climáticas para as populações desfavorecidas, fazendo a ponte entre os dois países. Colocar a favela e os territórios marginalizados no centro do debate sobre as mudanças climáticas: esse foi o objetivo do evento, que teve a participação de Karim Bouamrane, prefeito de Saint-Ouen, na periferia de Paris; Ricardo Neiva Tavares, embaixador do Brasil na França; e de representantes de organizações francesas e brasileiras. Assim como no Brasil, as populações periféricas da França também são as que mais sofrem com as mudanças climáticas. "Periferia é periferia em qualquer lugar, já dizia Mano Brown", lembra diretora da Cufa na França, Karina Tavares, referindo-se ao icônico rapper brasileiro. "A periferia está sempre longe do centro, mas sempre prestando serviço para o centro. Então o que a gente está trazendo aqui é essa conexão com a França por meio dessa metodologia que a gente criou para reduzir a desigualdade por meio da base da pirâmide, dando visibilidade para essa população", diz. A iniciativa de unir o Brasil e a França em prol da justiça climática é aplaudida pelo superintendente geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Virgilio Viana, um dos convidados do encontro. "Esse debate afeta todas as sociedades de todos os países no mundo inteiro. Nós temos desigualdades em todos os países, infelizmente. Isso não ocorre apenas nos países em desenvolvimento e mais pobres. Na Europa há desigualdade também, que vem aumentando", aponta. Viana afirma que o debate sobre o tema tem duas dimensões: a ética e a econômica. "As pessoas mais afetadas são as que menos causaram problemas, pois gastaram menos combustíveis fósseis. E são as mais vulneráveis, porque suas contas bancárias são menores e moram em lugares mais atingidos por eventos climáticos extremos", descreve."Quanto custa e quem paga para tornar essas comunidades mais resilientes? Esse é outro debate. É preciso superar um histórico de exploração, de desigualdades e injustiças", reitera Virgilio Viana.O superintendente geral da FAS acredita que o Brasil vem ganhando protagonismo dentro deste debate. Ele destaca que o país "tem desenvolvido soluções para superar a pobreza, tanto por parte de políticas governamentais, quanto por parte de soluções apresentadas pela sociedade". Parceria entre pesquisadores brasileiros e franceses Na abertura do evento, a porta-voz da associação Ghett'up para a Justiça Climática, Rania Daki, apresentou o estudo "(In)jutice Climatique", realizado por duas pesquisadoras francesas, Sarah-Maria Hammou e Sophia Arouche. Durante dois anos e meio, elas fizeram entrevistas com uma centena de jovens em toda a França, oriundos de bairros populares, e com cerca de 30 especialistas e militantes de periferias francesas. O trabalho também incluiu uma pesquisa do instituto Ipsos sobre a exclusão de jovens periféricos na questão ecológica na França. "Compreendemos que essa situação foi exacerbada por causa das desigualdades sociais e raciais que existem. Então, o objetivo é encontrar soluções por meio de ecossistemas associativos sobre o clima e de representantes políticos para poder incluir esses jovens e criar políticas adaptadas", detalha Rania Daki.Uma das autoras do estudo, Sarah-Maria Hammou, explicou à RFI que o estudo contribuiu para a criação de parcerias. "O Brasil está muito avançado no que diz respeito ao que chamamos na França de 'pesquisa pirata', ou seja, estudos fora do âmbito universitário, respeitando todos os códigos acadêmicos. É por isso que nos aproximamos de pesquisadores brasileiros, para compartilhar as boas práticas e criar uma espécie de comunidade franco-brasileira para evoluirmos juntos", concluiu.
Convidado para expor no templo dos impressionistas, o Museu d'Orsay, em Paris, o artista plástico Lucas Arruda concebeu “Que importa a paisagem” como parte da Temporada França-Brasil 2025. Em suas paisagens, ele fala através de luzes, pinceladas, gestos e memória. Patrícia Moribe, em Paris“Fiquei muito feliz pelo convite”, conta Lucas Arruda, o primeiro artista brasileiro contemporâneo a exibir no Orsay. “Acho que também tive uma certa ansiedade, um certo nervosismo, um certo medo de ter algum aspecto pretensioso em estar aqui. Mas aí, aos poucos, eu fui achando essas relações [entre os quadros] e percebendo que daria para construir algo que não confrontasse, mas que sim, respeitasse e continuasse.”A ideia de trabalhar com Lucas Arruda já estava em pauta há algum tempo, conta o co-curador Nicolas Gausserrand. "Quando estamos diante de uma tela de Lucas Arruda, temos a impressão de que ela nos é familiar, e é o poder da paisagem de nos dar a sensação de que já a vimos", observa."Seja na realidade ou na pintura, as pinturas de Lucas Arruda parecem se inserir perfeitamente nessa continuidade, que é importante no Museu d'Orsay, ao mesmo tempo, trazendo uma contribuição nova, que é o fato de que ele não pinta, ao contrário dos impressionistas, diante da cena que vê. Todas essas telas são imaginadas e são totalmente ideais de paisagens feitas em sua mente.”“Há algo bastante didático na progressão da exposição, falando primeiro sobre paisagens, em um encontro que não é conflituoso, mas organizado de maneira bastante elegante, tanto para as obras das coleções - Rousseau, Corot, Boudin, Pissarro – como para as obras de Lucas Arruda”, explica Gausserrand.“Há também um deslocamento bastante excepcional do Mar Tempestuoso, de Courbet, para a galeria impressionista. E a conversa acontece de maneira bastante fluida com a paisagem como tema”, acrescenta Gausserrand.“Que importa a paisagem”, frase tirada de um poema de Manuel Bandeira, trafega por três salas. A primeira, com vários expoentes do impressionismo; depois, uma ala só com as séries de Arruda, que funciona como uma quebra e a continuidade do diálogo.Há mais de 15 anos, Lucas Arruda vem trabalhando paisagens em quadros de pequeno formato, da série Deserto-Modelo. O formato reduzido parece concentrar e, ao mesmo tempo, aumentar essa realidade virtual. O visitante precisa auscultar traços e matizes, guiado pelas luzes e memórias de Arruda.Depois, na sala de Claude Monet, cinco versões da catedral de Rouen inspiraram Arruda a buscar cinco imagens de florestas.“Tentei achar cinco matas que tivessem luzes diferentes, construções diferentes. Então foi tudo um pouco pensado, com o entorno, com algumas limitações”, explica.Ele fala sobre a influência dos impressionistas, mas sua obra vai além, com imagens que remetem a outras gerações de artistas, como William Turner, Joseph Constable, Mark Rothko, ou ainda as fotografias de Hiroshi Sugimoto.O artista explica ainda a admiração pelo trabalho de Alfredo Volpi, um dos grandes nomes do modernismo brasileiro. “A luz que vem de trás da têmpera do Volpi tem essa transparência, essa pincelada aberta, que não fecha, que não sela. É uma pincelada que, ao mesmo tempo em que ela deposita, ela também abre luz de trás.”“Que importa a paisagem”, de Lucas Arruda, fica em exposição no Museu d'Orsay, em Paris, até 20 de julho de 2025.
Convidada: Queila Sales (Artista)
Para essa edição do podcast, o Balada Musical foi até a prestigiada sala de espetáculos Le Grand Rex, em Paris, onde Seu Jorge realizou dois shows neste mês. Com exclusividade, ele conversou com o programador musical da RFI Hugo Casalinho sobre seu novo álbum, "Baile à la Baiana", e suas inspirações para concretizar esse fenomenal trabalho. "Eu queria juntar as minhas influências de carioca com as influências dos meus amigos baianos", contou Seu Jorge. Entre suas referências para a realização deste álbum, o artista lista a Banda Black Rio, Tim Maia, Jorge Ben, além do Ilê Aiyê, Luiz Caldas e Carlinhos Brown. "Eu achava que esses elementos das nossas influências poderiam conversar em simultâneo, poderiam estar juntos e, por isso, o Baile à la Baiana", explica.Antes de subir no palco do Grand Rex, Seu Jorge ainda avaliou a nova geração de músicos do Brasil e disse porque acredita que o país continua sendo um laboratório diversificado de artistas e estilos. "O Brasil continua sendo o país que ainda produz sua música folclórica, o frevo, o forró, o xaxado, o baião, o maracatu, a sua própria música. Apesar de uma indústria muito imperativa e potente que é a indústria americana, de uma forma geral, a gente consegue se refazer e se reinventar", destaca.Confira a entrevista com Seu Jorge na íntegra clicando no player ou ouça o podcast nas plataformas Spotify e Deezer.
Léa Freire - compositora, flautista, pianista, arranjadora e criadora do selo Maritaca - está comemorando 50 anos de carreira. Para homenagear a artista, um documentário sobre seu trabalho e uma apresentação de flauta e piano estão previstos nesta quinta-feira (3), em Paris. O evento faz parte da Temporada França Brasil 2025. Em “A Música Natureza de Léa Freire”, o diretor Lucas Weglinski desenha o percurso da artista, um talento burilado desde cedo, começando com aulas de piano erudito aos 7 anos. Aos 16, Léa Freire passou para o violão popular ao conhecer a escola CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical), dirigida pelo Zimbo Trio, a quatro quadras de onde ela morava. Na sequência, ela adotou a flauta transversal como instrumento de predileção.Um encontro inusitado dentro de um Fusca selou a amizade de Léa Freire com Filó Machado, instrumentista, compositor, cantor e compositor. “A gente começou a tocar junto e ficava andando de flauta e violão pela madrugada em São Paulo. Imagina, hoje em dia nem pensar, né? E a gente tocava nas escadarias da [avenida] 9 de Julho, que hoje virou um banheiro público, na Praça Roosevelt”, conta Léa. “Tinha uns mendigos que ficavam dormindo ali de dia, de noite, quando a gente estava tocando. E tinha uns que gostavam, outros que mandavam a gente parar”, ri a artista. A dupla ensaiava na praça porque a quitinete de Filó era pequena demais. “Tinha que abrir a janela para trocar de camisa, de tão pequena”, conta.O mundo de Léa Freire naquela época, entre a rua Augusta e praça Rossevelt, era de bares de música ao vivo, toda noite, das 22h às 4h da manhã. Outro encontro chave foi com Alaíde Costa, que acolheu Léa em sua casa durante algum tempo, pois a família da flautista não aceitava esse estilo de vida. Com Alaíde e Filó, Léa tocou para crianças da Febem, um sistema carcerário para menores extinto em 2006. “As crianças ficavam abandonadas, sem pai nem mãe, e não podiam sair, ficando à mercê de todo tipo de abuso”, lembra.No começo dos anos 1980, Léa também foi beber na fonte americana, estudar na mítica escola Berklee, de Boston. Também foi ver os mestres ao vivo, como Wayne Shorter e McCoy Tyner, entre outros, nos bares de Nova York, ouvindo na plateia ou mesmo do lado de fora. Mas o rigor do inverno afugentou Léa, que fez a mochila e foi descendo pela América do Sul.MisoginiaTanto Léa quanto outras artistas entrevistadas no documentário de Weglinski falam sobre o machismo no mundo da música. Como era desbravar a selva de bares paulistanos durante a madrugada? “Meu apelido era sargento Freire, não à toa, sou imune a essas violências”, explica. "Não que não tenha sido vítima." Ela conta que sofreu todos os tipos de abusos misóginos, desde mãos apalpando suas pernas enquanto tocava até cantadas abusadas.Ela acha que hoje a situação está melhor para as mulheres, pois elas são mais numerosas no meio musical. “É uma profissão muito competitiva, então com mais mulheres, fica mais leve. Em São Paulo, tem até uma big band só de mulheres que se chama Jazzmin's e que é muito legal”, conta.Uma virada de chave aconteceu com um hiato na carreira durante 11 anos. Depois de ter o segundo filho, foi informada de que tinha direito a quatro meses de licença no bar onde trabalhava. “Fiquei dois. Voltei. Já estava despedida. Aí cansei." Léa resolveu estudar administração de empresas e virou diretora de uma grande empresa. Mas o estresse desse mundo acabou levando a artista a um burnout.Seguindo conselhos médicos de fazer o que lhe dava prazer, Léa voltou-se para o piano e à composição. E criou o selo Maritaca. "Tem cantor, tem estrangeiro, tem tudo. É uma avacalhação, mas tudo bem, desde que o foco seja a música instrumental”, explica.Léa tem vários projetos em curso, mas revela um desejo, “o de tocar em um puteiro”. Por quê? “Porque eu ia ficar só observando, tocando, ensaiando, ninguém prestando atenção, já pensou?”.DocumentárioEm "A Música Natureza de Léa Freire", lançado em 2022, Lucas Weglinski trabalha com imagens de arquivo da artista e depoimentos de colegas, como Filó Machado e Alaíde Costa. "Eu comecei a trabalhar com a Léa no primeiro disco de piano solo dela, chamado 'Cine Poesia'. E daí eu comecei a filmar as apresentações musicais dela e cenas do cotidiano", conta o diretor. "E isso começou a me dar uma vontade enorme de fazer um filme sobre ela, principalmente vendo ela fazendo um sucesso enorme na Europa, no Japão, nos Estados Unidos e tendo ainda que ser apresentada na própria cidade que a gente vive", explica Weglinski, que está acompanhando a artista em Paris. Em Paris, Léa Freire se apresenta no Théatre de la Concorde. Ela faz um pocket show tocando flauta, acompanhada pelo maestro e compositor Felipe Senna no piano.
Num mundo onde se multiplicam os conflitos e há cada vez mais um impacto das catástrofes naturais, a nutrição é uma preocupação essencial para as políticas de desenvolvimento. Em Paris, mais de uma centena de países reuniram-se para debater soluções para combater a fome - mas também a obesidade - no Mundo e unir esforços para melhorar o que comemos. A Cimeira Nutrition for Growth (N4G) ou Nutrição para o Crescimento decorreu na semana passada em Paris e juntou 120 delegações de diferentes países de forma a fazer face aos problemas de nutrição no mundo. Esta cimeira acontece sempre no ano a seguir aos Jogos Olímpicos no país que acolheu o evento.Este ano, apesar da ausência dos Estados Unidos que decidiram parar a ajuda internacional ao desenvolvimento, tendo essa decisão de Donald Trump um grande impacto em programas que tinham como finalidade acabar com a fome no mundo, os decisores políticos reunidos em Paris conseguiram mesmo assim arrecadar cerca de 28 mil milhões de dólares para que se coma mais, melhor e de forma mais equilibrada em todo o Mundo.O embaixador francês Brieuc Pont, enviado especial para a Nutrição e secretário geral desta cimeira, explicou à RFI como vão ser utilizados estes fundos."Nós arrecadámos nesta cimeira de Paris 28 mil milhões dólares que têm como objectivo apoiar as políticas de desenvolvimento pela nutrição, ou seja, por exemplo, a adaptação das sementes, a luta contra a degradação dos solos ou a luta também contra as desigualdades de género que têm um real impacto económico em matéria de alimentação e de segurança alimentar. Estas verbas vão também servir para lutar contra as consequências das múltiplas crises que a humanidade enfrenta. Quer sejam crises políticas ou geopolíticas, guerras ou crises ligadas às catástrofes naturais. O que sabemos é que no mundo 50% das mortes de crianças são devidas à malnutrição e só em África, a cada ano, morrem mais de 800.000 crianças deste problema", explicou o diplomata.Com a invisibilização dos Estados Unidos no quadro da ajuda humanitária internacional, a França apelou aos bancos de desenvolvimento para aumentarem as suas contribuições e, por exemplo, o Banco Africano para o Desenvolvimento repsondeu com uma doação de 9,5 mil mihões de dólares. Já a União Europeia prometeu mobilizar 6,5 mil milhões de euros e a França 750 milhões de euros.Estes fundos são ainda mais importantes já que para além do fim das ajudas norte-americanas, os conflitos no Mundo multiplicam-se, assim como as catástrofes naturais afectando directamente por um lado a agricultura e, por outro, as populações com mais necessidades."A situação que enfrentamos hoje, não é somente devido à suspensão da ajuda dos Estados Unidos. Ela deve-se também à invasão da Ucrânia, que gerou uma crise alimentar muito importante que induziu uma crise financeira ainda maior. Isso faz que, com a inflação, o dinheiro que poderia ser dedicado ao desenvolvimento se evaporou. E a carência de recursos financeiros que muitos países, preocupados com as consequências dessa invasão imperialista da Ucrânia pela Rússia, resolveram também apostar na defesa. Então há uma consequência directa e vemos países realmente reinvidicando o facto que estão a dar prioridade à defesa, o que é absolutamente lógico e compreensível. Mas nós também acreditamos que não existe segurança sem defesa e sem desenvolvimento. Então é por isso que a França se mobiliza para a paz e a segurança internacional, mas também pelo desenvolvimento", explicou o embaixador francês.Também nesta cimeira foram apresentadas soluções inovadoras para melhorar a nutrição a nível mundial desde avanços tecnológicos ligados à inteligência artificial até aulas de cozinha para as crianças."Podemos usar a inteligência artificial para prever eventos climáticos, para prever a degradação dos solos, para antecipar quais podem ser as melhores culturas a ser desenvolvidas em cada país. Existem muitas soluções tecnológicas que podem ser utilizadas e coisas muito mais simples. Por exemplo, a introdução de aulas sobre a arte de cozinhar no currículo das crianças. Há alguns países que já estão a fazer isso. Isto ajuda a sensibilizar as crianças a não desperdiçar comida, a preparar e a conhecer os produtos que eles precisam utilizar. Eu pessoalmente conheci experiências em missões de terreno onde pude realmente ver como isso impacta uma comunidade, inclusive em termos de género, porque isso permite aos meninos entender o valor, a contribuição da mãe e muitas vezes, das irmãs", concluiu Brieuc Pont.
A escritora e socióloga cabo-verdiana Miriam Medina apresentou no fim-de-semana, 29 e 30 de Março seu livro Filhas da Violência em Paris. A obra trata da violência entre familiares, revela os impactos profundos nas vítimas e defende a necessidade de ações concretas contra a violência baseada no género. A autora iniciou o trabalho sobre o tema em 2017, dando palestras em escolas e ouvindo relatos de meninas e adolescentes vítimas de agressão e de violência dentro de casa. RFI: O seu livro não só denuncia a realidade dessas jovens, mas também dá voz e tenta sensibilizar a sociedade sobre o problema?Miriam Medina: Sim. Desde 2017, tenho vindo a trabalhar a questão da violência contra meninas e mulheres. Já escrevi três livros. O meu primeiro livro foi sobre a violência no namoro, que se chama Se causa dor não é amor, e relata a violência nos relacionamentos de meninas na faixa dos 14, 15 anos. Depois, escrevi o segundo livro, Uma dor além do parto, que aborda a violência obstétrica em Cabo Verde. E este terceiro, cuja apresentação pública fiz no mês de Novembro de 2024, primeiramente em Cabo Verde, e em Março comecei a apresentação em alguns países da Europa, como Luxemburgo e Paris. Agora estou em Lisboa para a apresentação na sexta-feira, e no dia 12 de Abril será em Madrid.O que a levou a transformar os relatos das vítimas num livro?O primeiro livro que escrevi foi motivado pelo facto de uma amiga minha ter sofrido violência no namoro em Portugal. Eu estava em Cabo Verde quando ela entrou em contacto comigo. Quando fui fazer a minha licenciatura no Brasil, fiz um estágio numa favela e trabalhei exactamente essa questão da violência nos relacionamentos. Muitas meninas estavam em relacionamentos abusivos. Em Cabo Verde, falamos muito sobre a violência baseada no género, que normalmente ocorre quando a mulher já mora com um homem, tem filhos, etc. Mas no namoro, que muitas vezes é onde essa violência começa, eu não ouvia nada. No dia seguinte, entrei em contacto com as câmaras municipais do país e solicitei uma parceria para ir às escolas secundárias e ministrar palestras, a fim de entender melhor a realidade do amor na vida dos nossos jovens.Já na primeira palestra que realizei, na Escola Secundária Pedro Gomes, em Achada Santo António, falei para 25 meninas de 14 e 15 anos e fiquei estupefacta ao perceber que todas já tinham sofrido algum tipo de violência no relacionamento, seja ela física, psicológica ou sexual. À medida que fazia as palestras, sentia a necessidade de dar a conhecer essa realidade à sociedade, não só através das minhas entrevistas, mas também colocando tudo por escrito para dar uma ideia real do que estava acontecendo diante dos olhos de todos. Mas parecia que ninguém queria ver. E foi assim que comecei a escrever. É uma leitura indigesta, mas necessária. Quando escrevi o primeiro livro, jurei que nunca mais escreveria sobre violência. Mas acho que é uma missão que tenho, porque já estou a escrever o quarto. E é sobre violência também. Acho que isso se deve, em grande parte, ao impacto que o meu trabalho tem tido, não só para essas meninas, mas na sociedade como um todo.Como é que a sociedade pode criar um ambiente mais seguro para que as vítimas de violência familiar consigam falar?A violência acontece dentro da própria casa. Acho que é necessário promover uma mentalidade de sensibilização por parte dos pais e encarregados de educação. No contexto intrafamiliar, há meninas são abusadas sexualmente pelo pai, padrasto, irmão, tio, primo. Ficam em silêncio porque essa violência acontece dentro do próprio lar, e a família muitas vezes inibe as vítimas de denunciarem. Elas são ameaçadas e enfrentam a vergonha de expor o que aconteceu. Se o abuso for cometido por um pai ou padrasto, por exemplo, há um receio enorme do julgamento da sociedade. Isso faz com que essas meninas acabem por se sentir culpadas. Portanto, é fundamental trabalhar também com as famílias.De que forma o seu livro Filhas da Violência tem sido recebido pelo público em Cabo Verde?Não só em Cabo Verde, mas também aqui na Europa, senti um grande impacto. Mesmo antes de apresentar o livro em certos países, ele já chegou a esses lugares. Por exemplo, na Suíça, no último fim de semana, houve um evento sobre o Dia da Mulher Cabo-Verdiana, e o livro já está a causar impacto sem que eu tenha estado presente. Isso deixa-me muito feliz, porque significa que a mensagem está a sensibilizar homens e mulheres. Em Paris, fiz duas apresentações que foram das mais impactantes que já realizei. Senti que as mulheres, as vítimas, precisavam de um espaço para falar. Foi muito poderoso. Muitas mulheres partilharam as suas histórias, algumas com 50 anos, relatando abusos sofridos quando tinham 11, 14 anos. E claro, esse trauma ainda persiste nas suas vidas.Porque ao ouvir falar deste tipo de violência, há uma identificação que cria uma abertura para falar?Sim, está a acontecer isso. Como disseram em Paris, foi uma revolução. Pedi ao público presente que eles mesmos, enquanto comunidade cabo-verdiana, criassem esses espaços de fala e partilha. O abuso também acontece dentro dessa comunidade, porque são questões transversais. Não sou eu que preciso estar lá para falar desses temas, mas a própria comunidade pode criar esses espaços.E por que foi uma revolução?Porque eu não esperava tantos testemunhos. O ambiente ficou tenso e muito emocionante. Acho que as mulheres se inspiraram nas que começaram a partilhar no início do evento. Foi um efeito dominó. Uma começou a falar, depois outra e outra, e assim sucessivamente. Tivemos vários depoimentos naquele dia. Para teres uma noção, o evento deveria terminar às 15h00, mas saímos de lá às 18h00.Nunca se falou tanto sobre a luta contra a violência sexual como hoje. Enquanto escritora e socióloga que acompanha essa temática há anos, sente que houve uma transformação? Sim, eu sinto isso. Quando faço palestras, percebo que os jovens são grandes agentes de transformação e mudança. Sempre os desafio a criar espaços de interajuda e partilha nas escolas, e isso já está a acontecer, inclusive no Brasil. Em Niterói, por exemplo, criaram uma sala específica para esses diálogos, porque há muitos problemas que os jovens trazem de casa para a escola. Acredito que essa transformação está a acontecer. É preciso incentivar e sensibilizar não só a comunidade educativa, mas a sociedade como um todo. Cada um deve fazer a sua parte e ser um agente de mudança. Se não tivermos um pulso firme nessa problemática da violência, daqui a pouco não teremos sociedade, porque a situação está gravíssima.As escolas podem e devem desempenhar um papel activo na prevenção e no apoio às vítimas de violência?As escolas, as igrejas... Todos nós somos chamados a essa causa. Homens e mulheres, todos devemos actuar nesse sentido.Há muitos casos de violência contra mulheres em Cabo Verde? Existem registos do número de casos de violência?Sim, há registos. De vez em quando, os números parecem baixar, mas surgem logo novos casos de feminicídio. Fico, por vezes, frustrada, porque tenho feito muitas palestras, não só nas escolas, mas também nas comunidades e em empresas. Dou entrevistas e informação não falta.Mas o silêncio continua...Sim, ainda há um silêncio ensurdecedor. Precisamos ser incansáveis, insistir nesta questão. Se cada um fizer a sua parte, poderemos mudar essa realidade. Mas essa mudança deve começar dentro das nossas próprias casas.
Nos anos 2010, em pleno boom da conscientização ambiental, a moda “ecologicamente correta” da apicultura urbana invadiu as grandes cidades europeias. Uma certa competição entre grandes empresas e monumentos que tinham ou não produção de mel nos seus telhados chegou até a se criar. Mas, hoje, a tendência se inverteu: prefeituras chegam a proibir a instalação de novas colmeias. Lúcia Müzell, da RFI em ParisEstudos indicam que a expansão desmedida da prática é prejudicial à biodiversidade – não apenas afeta a variedade de espécies de abelhas, como também a das flores e outras plantas polinizadas por elas. Em Paris, por exemplo, o número de colmeias amadoras ou semiprofissionais disparou em uma década, passando de uma centena para mais de 2,2 mil, segundo dados de 2021 do Ministério da Agricultura.A bióloga Isabelle Dajoz, pesquisadora do Instituto de Ecologia e Ciências Ambientais de Paris, estudou o impacto desta multiplicação das colônias. "As pessoas acreditam que a abelha é um símbolo da biodiversidade e do bom funcionamento dos ecossistemas, mas ela é apenas uma espécie de polinizador entre outras. Quando dizem que vamos salvar as abelhas colocando colmeias por todo o lado, é como se disséssemos que 'para salvar os pássaros, vamos espalhar galinhas em todos os lugares'”, compara.Só na França, existem mais de 1.000 espécies de abelhas – o problema é que apenas uma, a Apis mellifera, também conhecida como abelha europeia, é usada em massa na apicultura, pela sua alta resistência e produtividade."Quanto mais densidade de colmeias de abelhas europeias temos, menos haverá polinizadores selvagens, incluindo outras espécies de abelhas, mas também borboletas, moscas e outros insetos. Isso sugere uma competição pelo acesso às flores, portanto acesso à comida: o pólen e o néctar”, afirma a pesquisadora. "Se tudo, ou quase, for devorado pelas abelhas europeias, podemos supor que teremos um efeito na densidade das populações de abelhas selvagens."Superpopulação de uma única espécie de abelhaDa Ópera de Paris ao Grand Palais, passando por restaurantes chiques e grandes lojas de departamento, todo mundo passou a produzir o seu mel exclusivo, com a desculpa fazer um gesto pelo planeta – um argumento que revolta Hugues Mouret, diretor científico da organização Anthropologia, que sensibiliza sobre a proteção dos insetos."Três ou quatro colmeias em um dado espaço não tem problema. Com 50, todo o alimento disponível naquela área é capturado”, lamenta ele, ao explicar que apenas uma colônia de abelhas europeia consome em três meses o equivalente ao que comem 100 mil abelhas selvagens. A existência de mais de três colmeias por quilômetro quadrado já atrapalha a atividade polinizadora dos insetos. Hoje, a média francesa é de 17 colônias, segundo ele."Mas nada disso importa para as pessoas que tentam vender esse modelo econômico de ‘vejam, agora temos colmeias aqui, estamos salvando a biodiversidade e você tem a chance de ter um mel local'. Os preços podem ser indecentes, chegam a 150 euros o quilo, o que é um completo delírio”, salienta.Paris queria ser a 'capital das abelhas'Diante dos alertas de cientistas e organizações naturalistas, prefeituras começaram a recuar. Lyon e Nantes acabaram com as novas autorizações de colmeias urbanas e têm buscado diminuir o número das já instaladas – com o apoio de entidades de apicultores profissionais, preocupados com a qualidade inferior do mel devido à queda da diversidade de polinizadores.Paris – que em 2016 havia lançado um plano para transformar na “capital das abelhas” – parou simplesmente de comunicar sobre o assunto."É de bom senso que precisamos. Não é uma questão de proibir nem de dizer que não gostamos das abelhas melíferas – eu mesmo sou apicultor amador. Mas se nós continuamos a só ver as coisas pelo prisma da produção alimentar, vamos destruir os espaços que nos rodeiam – e dos quais dependem as nossas produções alimentares, que precisam de diversidade”, indica Mouret.“Quando compreendermos isso e deixarmos um espaço decente para a vida selvagem, ao abrigo das atividades humanas, as coisas serão bem diferentes. Todos ganharemos."Maior ameaça são agrotóxicosO naturalista ressalta, entretanto, que a apicultura urbana está longe de ser o maior problema das abelhas: as verdadeiras ameaças à sua sobrevivência é a poluição, em especial por agrotóxicos, e a destruição dos seus habitats naturais.Neste sentido, a "pausa" decidida pelo governo francês para a adoção do plano de redução de produtos fitossanitários, sob pressão dos principais sindicatos agrícolas, representa um retrocesso importante para a conservação dos insetos. O plano visa o corte pela metade do uso de agrotóxicos no país até 2030 e a aceleração das pesquisas por soluções alternativas na agricultura, menos prejudiciais ao meio ambiente. Mas, em meio a sucessivas revoltas de agricultores, o governo cedeu e suspendeu o projeto.Os recuos também têm ocorrido em nível europeu, por medidas da Comissão Europeia, em meio à ascensão da extrema direita no bloco.Leia tambémAgrotóxicos proibidos na UE voltam à França em alimentos importados de países como o Brasil
Carlos Reis (PSD) afirma que a Europa tem de ser capaz de oferecer garantias de segurança à Ucrânia. Uma urgência, sublinha Luís Dias (PS), que cabe aos líderes europeus dar voz.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Mais de uma centena de líderes debatem governança e partilha de recursos; secretário-geral abordará risco de ampliação de desigualdades globais e aprofundamento das divisões geopolíticas; chefe da OIT falou de preocupações e oportunidades para o futuro do trabalho.
Confira nesta edição do JR 24 Horas: O Museu do Louvre, em Paris, vai entrar em reforma nos próximos seis anos, criando uma sala exclusiva para a Mona Lisa. O objetivo é reduzir a superlotação e oferecer uma apreciação mais tranquila do quadro. Para isso, o museu pretende cobrar um ingresso à parte para quem deseja admirar a obra-prima de Leonardo da Vinci. Aproximadamente 10 milhões de pessoas visitam a mona lisa todo ano. E ainda: Homem morre durante incêndio em apartamento no Rio.
É inesquecível a memória daquele extraordinário sobressalto. Todos os corações pareciam juntos a bater em uníssono: Je suis Charlie, Nous sommes Charlie. Todos éramos Charlie. Em Paris, em França, pela Europa. Em muitos lugares de liberdade pelo mundo irrompeu a união – a vontade de estar juntos.
Saúde e meio ambiente estão diretamente ligados. Medidas de urbanismo que contribuem para a preservação do planeta também salvam vidas, mostra um estudo francês. O aumento das áreas verdes, a diminuição da poluição atmosférica e do barulho dos transportes e o estímulo à mobilidade ativa são algumas das iniciativas que impactam na taxa de mortalidade de uma cidade, indica o relatório da Agência de Saúde Pública da França. Lúcia Müzell, da RFI em ParisA expansão das áreas verdes gera um efeito cascata em favor da saúde física e mental dos habitantes, constata a pesquisa, que fez estimativas para três metrópoles do país, de diferentes tamanhos: Rouen, com 481 mil habitantes, Montpellier, com 492 mil, e Lille, onde moram 1,17 milhões de pessoas."Os estudos mostram que quanto mais tem vegetação numa cidade, qualquer que seja ela, inclusive só mais arvores ao longo de uma rua, mais o risco de mortalidade diminui para as pessoas que moram nesta zona. São vários benefícios, mas para começar, a vegetação diminui a exposição a fatores desfavoráveis, como o calor ou a poluição do ar, já que algumas árvores conseguem absorver alguns dos poluentes do ar”, explica Mathilde Pascal, coordenadora científica do projeto. Assim, se todos os bairros tivessem a mesma área verde daqueles que mais são vegetalizados, considerando a densidade populacional, haveria uma queda de 3% a 7% da mortalidade anual nestas cidades. A presença de vegetação reduz a sensação térmica durante picos de calor e estimula as interações sociais, com efeito positivo na saúde mental dos moradores – benefícios já documentados por uma série de evidências científicas, que baseiam recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a redução da mortalidade nas zonas urbanas. Impacto do barulho dos transportesFrequentar espaços verdes diminuir o estresse e melhora a regeneração mental, enumera ainda Pascal. Além disso, a arborização contribui para limitar o barulho dos transportes rodoviário e ferroviário, que pode abalar a qualidade do sono das pessoas afetadas."Se reduzíssemos a quantidade de barulho, permitiríamos a milhares de pessoas dormirem melhor nas cidades – e uma pessoa que dorme melhor tem uma melhor saúde, riscos cardiovasculares menores, melhor capacidade de aprendizagem. O que a literatura também mostra é que, no sentido contrário, os sons ligados à natureza, como do vento nas árvores ou o canto dos pássaros, são muito positivos para a saúde”, observa Pascal. Leia tambémModa tóxica: como os químicos das roupas afetam a saúde e poluem o meio ambienteAbrir espaços verdes também significa facilitar hábitos saudáveis das populações, como caminhadas e corridas, com efeitos positivos comprovados para a saúde. Nas grandes cidades, a prática de esportes pelos adultos é insuficiente e uma das razões alegadas é falta de tempo, constata a pesquisa. A Agência de Saúde Pública recomenda medidas de estímulo à mobilidade ativa: favorecer os deslocamentos do cotidiano a pé, bicicleta ou ao menos de transporte público, que resulta em mais atividade física do que simplesmente pegar o carro."No nosso estudo, percebemos que muita gente ainda usa o carro para trajetos curtos, de até um quilômetro. Concluímos que se 80% destes deslocamentos curtos fossem feitos a pé, teríamos uma redução de 2% a 3% da mortalidade a cada ano nas cidades que analisamos, o que significa de 100 a 200 mortes a menos por ano”, comenta a pesquisadora. "Também estimamos que se cada adulto da cidade fizesse 10 minutos de bicicleta a mais por dia, a queda da mortalidade seria de 6%, ou entre 200 e 600 mortes por ano.” Decisões urbanísticas que salvam vidasImplementar essa transformação necessita impulso político dos governos, salienta Mathilde Pascal: não se trata apenas de uma mudança de hábito das pessoas, mas de promover a reorganização dos espaços urbanos para que elas aconteçam."Sabemos o quanto, em alguns lugares, é complicado não usar o carro: lugares onde não é agradável andar de bicicleta ou caminhar, ou é perigoso, ou porque não tem transporte público eficiente. A nossa mensagem, então, é incitar os gestores a criarem políticas favoráveis às mobilidades ativas”, destaca a coordenadora da pesquisa.O estudo se limitou a identificar os efeitos concretos das decisões de urbanismo sobre as saúde das pessoas, mas não apresenta recomendações sobre como os governos devem fazê-las. O documento não menciona, por exemplo, a pertinência da redução da velocidade máxima dos veículos sobre a poluição atmosférica. A medida é cada vez mais comum nas cidades francesas, diante do dado que a poluição do ar mata 400 mil pessoas por ano no país.Em Paris, a prefeitura realizou uma verdadeira transformação neste sentido, na última década: delimitou ou construiu mais de 1.000 quilômetros de ciclovias, baixou a velocidade para 30 quilômetros por hora em quase toda a cidade e, em novembro, também proibiu a entrada de carros de não residentes em uma zona central da cidade.
A Notre-Dame de Paris reabre no domingo, 8 de dezembro. Foi escolhido o 8 de dezembro – dia religioso da Imaculada Conceição e abre após 5 anos e meio de aventura humana a restaurar e reconstruir tal como foi pensada no tempo medieval e modernizada há 160 anos.
Um fotógrafo brasileiro está desaparecido em Paris, na França, há uma semana. Amigos de Flávio de Castro dizem que ele chegou a dar entrada em um hospital. O Ministério das Relações Exteriores informou que está em contato com as autoridades locais e presta assistência consular aos familiares do brasileiro. Veja também: STF forma maioria de votos para liberar o pagamento das emendas parlamentares.
- Klopp no grupo Red Bull; - Paris FC com planos ambiciosos; - Aposentadoria de Iniesta; - Brasil com quarteto ofensivo contra o Chile em crise; - Caso Bielsa rouba a cena na América do Sul; - De Bruyne e Lukaku pedindo um tempo na Bélgica; - Entrevista: Raí Lopes (Dinamo Minsk). Learn more about your ad choices. Visit podcastchoices.com/adchoices
Filho de um diplomata, em sua infância ele morou em diversos países. Nasceu em Bruxelas, deu seus primeiros passos na antiga Iugoslávia. Em Montevidéu aprendeu a andar de bicicleta. Aqui no Brasil jogou futebol. Em Paris, quando tinha 11 anos de idade descobriu que era diabético do tipo I. A prescrição médica foi praticar esportes pelo resto da vida. Representando sua escola, jogou rúgbi durante dois anos e vestindo a camisa 9 chegou a ser campeão do torneio de Paris. Ainda lá, comprou sua primeira bicicleta de corrida. De volta ao Brasil, continuou praticando esportes, jogando futebol e pedalando ao redor do Lago Paranoá, em Brasília. Ele, que teve contato com a música clássica desde muito jovem ouvindo seu pai tocar piano, aprendeu as flautas doce e transversal. Depois foi para o violão e finalmente a guitarra. Influenciado pelos amigos e a cena musical de Brasília, criou sua primeira banda, que durou apenas um show. No início de 1983, foi convidado a integrar a Legião Urbana. Conosco aqui o guitarrista, cantor, produtor, cavaleiro, corredor, ávido ciclista há 25 anos, um dependente do esporte, Eduardo Dutra Villa-Lobos, mais conhecido como Dado. Inspire-se! SIGA e COMPARTILHE o Endörfina através do seu app preferido de podcasts. Contribua também com este projeto através do Apoia.se. LIQUIDZ é uma bebida de hidratação em pó inovadora, criada e desenvolvida por atletas e profissionais da saúde. Produto único no mercado brasileiro. Cada sachê possui: - Zero açúcar. - 3 x mais eletrólitos do que outras bebidas de hidratação. - Composta por 43% de água de coco orgânica. - Livre de corantes, sem glúten e vegano. - Baixíssimo em calorias e low carb Compre no site e ganhe 10% de desconto com o cupom ENDORFINA10. liquidz.com.br @liquidz_br Combinando desempenho e design há 40 anos, a Technogym apresenta as soluções de treino mais inovadoras do mercado. Um dos exemplos é a Technogym Ride, bicicleta que nasceu a partir da experiência da marca como fornecedora oficial de equipamentos das últimas nove edições dos Jogos Olímpicos, incluindo Paris 2024. Concebida em conjunto com os principais campeões de ciclismo, a TG Ride oferece uma vivência realista e completa de treinamento outdoor tanto para ciclistas profissionais quanto amadores. Com tela touch de 22” e resolução Full HD, ela proporciona a realização de um treino imersivo e interativo, visando a alta performance. Com a possibilidade de realizar todos os ajustes de acordo com o tamanho do usuário, incluindo as variações do pé de vela, a TG Ride oferece STI eletrônicos e integrados, a partir dos quais é possível fazer trocas de marchas e ter uma experiência completa de gestão de potência, resistência, inclinação, velocidade em subidas e porcentagem de FTP de forma precisa. Além disso, através do Pedal Printing™ é possível acompanhar a cadência, a simetria e a órbita das pedaladas. A Technogym Ride também conta com aplicativos integrados ou compatíveis, através dos quais o atleta tem, a um toque, ferramentas como Rouvy, Zwift, Bkool, TrainingPeaks, Strava, Eurosport, entre outros. As sessões de treinamento oferecidas pela Technogym Ride desafiam o atleta a alcançar as zonas de potência adequadas e a pedalar em dezenas de rotas virtuais, incluindo os destinos mais lendários do mundo. https://www.technogym.com/pt-BR/ @technogym_brazil Um oferecimento de @BOVEN_ENERGIA. Quando a paixão pelo esporte encontra a energia transformadora, nascem histórias inspiradoras e uma nova etapa do seu negócio está para começar! Sabia que no Mercado Livre de Energia, você está livre das Bandeiras Tarifárias e pode economizar até 40% na conta de energia? É uma alternativa inteligente para empresas que procuram eficiência energética, economia e compromisso com a sustentabilidade, contribuindo com a redução de emissões de carbono em nosso planeta. Com a Boven, você migra com segurança e tranquilidade, aproveitando todas as vantagens desse modelo. Descubra quanto o seu negócio pode economizar com o gerenciamento da Boven. De energia, a Boven entende! boven.com.br
O governo Lula gastou R$ 83.600 com o rolê da primeira-dama, Janja, em Paris, para acompanhar o início da Olimpíada deste ano, segundo a Folha de S. Paulo.A primeira-dama viajou sob a justificativa de representar o petista no evento.Janta visitou a Vila Olímpica, fez fotos com alguns atletas e teve uma audiência com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e com o presidente da França, Emmanuel Macron.Procurada pelo jornal, a Secom do governo Lula afirmou: “As passagens foram adquiridas em aviação comercial (sem uso de aeronaves da FAB), seguindo os preços de mercado, que estavam elevados em razão dos Jogos Olímpicos. A primeira-dama viajou de classe executiva, conforme autoriza a legislação vigente.”Felipe Moura Brasil e Carlos Graieb comentam:Você também pode assistir ao Papo Antagonista na BM&C, nos canais de TV 579 da Vivo, ou 563 da Claro, além do SKY+. Que tal presentear seu pai com a assinatura de O Antagonista+Crusoé? 10% desc. no combo anual. https://bit.ly/papoantagonista Acompanhe O Antagonista no canal do WhatsApp. Boletins diários, conteúdos exclusivos em vídeo e muito mais. https://whatsapp.com/channel/0029Va2S... Ouça O Antagonista | Crusoé quando quiser nos principais aplicativos de podcast. Leia mais em www.oantagonista.com.br | www.crusoe.com.br