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Triangulação do Círculo
Ep. 258 - O novo Papa; Greves selvagens da CP; Cartaz do Chega; A parada de Putin

Triangulação do Círculo

Play Episode Listen Later May 11, 2025 46:21


A nomeação do Papa foi política? Será pró-LGBT? Ou esta questão não faz sentido, pelo maniqueísmo que transporta? Não terão sido os Papas mais recentes políticos? No limite, as greves da CP não serão contraproducentes? A privatização resolveria o problema? Ao ter deixado passar o cartaz, os tribunais portugueses permitem que o Chega suba mais patamares? A presença de Lula em Moscovo gera vergonha alheia?

Ideias Feitas
Paulo Raimundo gosta do Ideias Feitas

Ideias Feitas

Play Episode Listen Later May 9, 2025 6:25


Alberto Gonçalves comenta os comentários de Paulo Raimundo ao Ideias Feitas e o encontro de ditaduras em Moscovo.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Convidado
Dia da Vitória: "Objectivo é mostrar que a Rússia controla a agenda do conflito" com a Ucrânia

Convidado

Play Episode Listen Later May 9, 2025 11:51


Neste dia 9 de Maio, a Rússia assinala os 80 anos da vitória das tropas da antiga URSS sobre os Nazis durante a Segunda Guerra Mundial. Uma data celebrada com pompa e circunstância por Vladimir Putin, com um desfile militar em Moscovo com tropas vindas de diversos países próximos do Kremlin e na presença dos chefes de Estado da China, das antigas Repúblicas soviéticas, do Brasil ou ainda da Guiné-Bissau.  Estas comemorações acontecem numa altura em que a Rússia tem estado a ser pressionada no sentido de negociar com a Ucrânia, mas até agora as únicas aparentes cedências do Kremlin têm sido tréguas declaradas unilateralmente na Páscoa e agora por ocasião do 'Dia da Vitória'. Tréguas que não chegaram a ser efectivas segundo Kiev que, por seu lado, tentou introduzir algum ruído na agenda de comunicação de Putin, com bombardeamentos de drones esta semana contra Moscovo.Afinal a guerra não se faz só com as armas, mas também com mensagens, sendo que para Maria Ferreira, professora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas da Universidade de Lisboa, a presença de tropas e de dirigentes estrangeiros nas celebrações desta sexta-feira na Praça Vermelha pretende reforçar a ideia de que Putin não está tão isolado quanto o afirma o campo ocidental.RFI: Para além de transmitir um ideia de força militar, as cerimónias do dia 9 de Maio também estão a ser uma ocasião para Putin de fazer passar a ideia de que tem aliados e que está designadamente a reforçar os elos com a China?Maria Ferreira: Eu penso que é de notar a solidariedade que é, na minha perspectiva, tanto estratégica como ideológica por parte dos líderes dos chamados BRICS, que pretendem marcar a agenda internacional. Nota-se, por um lado, uma solidariedade ideológica entre regimes autocráticos, sendo que neste momento o espectro direita e esquerda está a ser substituído pela divisão entre países autocráticos e democráticos. E, nesse sentido, há uma afinidade ideológica entre, por exemplo, a China, Cuba e Rússia. Aliás, sempre foi um objectivo estratégico de Vladimir Putin substituir esta divisão esquerda-direita por uma divisão entre países autocráticos, independentemente de serem regimes autocráticos de direita e de esquerda. Neste sentido, por exemplo, a presença de Lula da Silva na parada militar significa também que há aqui um conjunto de Estados que se incluem nos BRICS que querem sobretudo afirmar uma narrativa sobre a Ucrânia distinta da narrativa ocidental. E por isso, nós vemos o Presidente Lula da Silva em sintonia ideológica, mas também em sintonia estratégica com Putin e com a China de Xi Jinping. E isso leva a, curiosamente, até a uma certa confusão entre os movimentos populistas, quer na Europa, quer nos Estados Unidos, que ficam um pouco divididos entre a solidariedade populista a regimes de direita e a solidariedade populista a regimes de esquerda. É claro que o facto de os Estados Unidos estarem agora a apoiar claramente a Rússia veio ainda mais estabelecer uma confusão de apoios estratégicos e de aliados ideológicos entre os países que está, por exemplo, a colocar a Europa numa posição bastante incómoda na sua posição de apoio tradicional à Ucrânia. RFI: Também fala da mensagem que Vladimir Putin pretende disseminar junto da sua própria população, numa altura em que transparece algum cansaço no seio da população relativamente ao conflito com a Ucrânia e também relativamente à situação económica russa que é difícil. Maria Ferreira: Sim, aliás, Putin propôs agora um cessar-fogo com a Ucrânia, um cessar-fogo que coincidisse com o aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial. Mas, curiosamente, Volodymyr Zelensky já veio considerar que este autodeclarado cessar-fogo por parte da Rússia é sobretudo um espectáculo de teatro. A proposta norte-americana era de um cessar-fogo 30 dias. Essa proposta foi aceite pela Ucrânia e recusada pela Rússia, que não aceitou a proposta de cessar-fogo de Putin. Aliás, disse que a presença de efectivos internacionais na própria parada militar pode ser considerada como uma extensão da responsabilidade pela guerra na Ucrânia a esses países. Esta proposta de cessar-fogo, penso que pode ser considerada sobretudo como um exercício de propaganda por parte de Moscovo e como mais uma demonstração de força. No fundo, a tentativa russa de enquadrar discursivamente e simbolicamente, segundo a sua própria agenda o 'Dia da Vitória', fazendo a tal articulação entre o 'Dia da Vitória' e o próprio conflito na Ucrânia e de tentar representar esta data de acordo com a agenda política russa. Este gesto está a ser compreendido fundamentalmente como um gesto para consumo interno. Mas também, isto é importante, como um gesto para consumo dos Estados Unidos e da Europa, sinalizando que a Rússia tem a sua própria agenda, tem o seu próprio timing relativamente ao conflito na Ucrânia e que é, de alguma forma, imune a pressões, mesmo a pressões vindas da administração Trump. O objectivo é mostrar que a Rússia controla a agenda do conflito, tem solidariedade internacional em relação à prossecução do conflito. E isto é importante numa altura em que o conflito parece estar num impasse. A Rússia não faz efectivamente grandes avanços territoriais, apesar da grande diferença de capacidades militares que tem em relação a Ucrânia. E isso é claro, que gera descontentamento na população russa e, portanto, Putin está fundamentalmente a tentar mobilizar os russos, mostrando aqui a existência desse tal paralelismo histórico entre o 'Dia da Vitória' e o conflito na Ucrânia, tentando mostrar também que não está sozinho no conflito. RFI: Houve dois sinais enviados por Kiev esta semana. Um primeiro sinal foi o envio de drones, inclusivamente contra Moscovo. Não será uma mensagem directa para os russos para fazê-los provar do próprio veneno e mostrar que eles também não estão em segurança? Maria Ferreira: Sim, mas isso é um objectivo de Volodymyr Zelensky que, desde os princípios do conflito, tenta de alguma forma mobilizar a própria população russa contra o regime russo e demonstrar à população russa os eventuais efeitos negativos do apoio ao regime de Putin. E é bom relembrar que a população russa não tem sido passiva em relação ao apoio à presença russa na Ucrânia e, portanto, tem tudo a ganhar ao provocar uma certa instabilidade em território russo. Provar aos russos que esta guerra, que, segundo Putin, tem sobretudo uma legitimidade ideológica e normativa, porque Putin considera que a Ucrânia pertence ao grande espaço cultural e ideológico russo e que tem o objectivo de provar aos russos que esta narrativa tem falhas e que a guerra pode custar muito à população russa. RFI: Outro sinal enviado também esta semana por Kiev é a ratificação do famoso acordo com os Estados Unidos sobre os minérios. Julga que isto pode também servir de escudo para Zelensky mostrar aos russos que também pode ter Trump como aliado?Maria Ferreira: É muito difícil de fazer uma análise sobre aquilo que pode vir ou não acontecer em relação ao acordo com os Estados Unidos. Aliás, esta semana soube-se que os Estados Unidos pretendem forçar a Ucrânia a receber deportados e imigrantes ilegais que sejam expulsos dos Estados Unidos. Portanto, é muito difícil nós termos uma ideia daquilo que os Estados Unidos pretendem efectivamente fazer em relação ao conflito russo-ucraniano. Parece haver aqui uma visão claramente estratégica e instrumental do conflito, no sentido de beneficiar apenas os interesses estratégicos norte-americanos. E não sei como é que isso vai necessariamente se traduzir em mais apoio para a Ucrânia, se bem que Washington tenha já desbloqueado mais apoio militar. Mas é difícil saber a médio e a longo prazo, como é que Donald Trump vai gerir o seu apoio por um lado, a Putin, de quem é um aliado estratégico e ideológico e, por outro lado, à Ucrânia em relação a quem tem já um histórico de conflito de há vários anos. Por isso é muito difícil fazer previsões sobre qual efectivamente vai ser o apoio norte-americano à Ucrânia, sabendo nós que, neste momento, o Congresso está claramente ao lado de Donald Trump e é, portanto, muito reticente em fazer um 'commitment'. RFI: E a Europa no meio disto tudo? Esta semana foi eleito um novo chanceler alemão. Julga que a chegada de Merz no jogo político vai mudar alguma coisa para a Ucrânia?Maria Ferreira: A própria eleição de Merz foi complexa e, portanto, aquilo que parecia ser um dia de afirmação da força alemã através da eleição de Merz acabou por ser nublada pela questão da não-eleição logo no primeiro acto eleitoral. Portanto, aquilo que poderia ser uma afirmação de força foi temperado pelo facto de se ter que fazer uma segunda votação, o que mostra que os deputados alemães estarão com algumas dúvidas sobre a própria figura de Merz e, portanto, Merz não começa bem enquanto líder alemão. Em relação à Europa e independentemente da eleição mais ou menos atribulada de Merz na Alemanha, é de realçar o facto de neste momento, a Comissão Europeia ter um comissário específico para a Defesa e para o Espaço. É de realçar o facto de a União Europeia ter já um 'Livro Branco' sobre a defesa, em que claramente se apela à construção de uma indústria europeia de defesa e ao fim da dependência estratégica em relação aos Estados Unidos no que toca à aquisição de materiais de defesa. Mais do que a eleição de Merz na Alemanha, isso sim, penso que são boas notícias para Zelensky, porque o 'Livro Branco' sobre a defesa faz uma identificação muito clara das lacunas ao nível das capacidades militares da União Europeia, como a questão dos drones, a questão da artilharia, a questão da mobilização de tropas e de capacidades militares entre os Estados-Membros. O 'Livro Branco' sobre a defesa faz claramente uma alusão à necessidade de haver uma colaboração e dividendos da colaboração entre os Estados-Membros no campo da defesa. E isso, eu penso que são boas notícias para Zelensky, porque qualquer aumento de capacidades por parte da União Europeia poder-se-ia traduzir num aumento de capacidades, por exemplo, no campo da artilharia para a própria Ucrânia. 

Gabinete de Guerra
“Ucrânia depende dos EUA para continuar a resistir"

Gabinete de Guerra

Play Episode Listen Later Apr 29, 2025 17:38


Pedro Nascimento garante que EUA são única hipótese de salvação da Ucrânia a curto prazo. O historiador afirma que cedência de terrenos será maior obstáculo a acordo entre Kiev e Moscovo.See omnystudio.com/listener for privacy information.

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Gabinete de Guerra. “Ucrânia depende dos EUA para continuar a resistir"

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Play Episode Listen Later Apr 29, 2025 17:38


Pedro Nascimento garante que EUA são única hipótese de salvação da Ucrânia a curto prazo. O historiador afirma que cedência de terrenos será maior obstáculo a acordo entre Kiev e Moscovo.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Gabinete de Guerra
"Francisco lembrou sempre zonas de conflito esquecidas"

Gabinete de Guerra

Play Episode Listen Later Apr 21, 2025 19:11


Bruno Cardoso Reis lembra os apelos à paz que Francisco sempre fez. Considera pouco provável que a morte do Papa suspenda ataques russos porque Moscovo resiste a uma aproximação ao Vaticano.See omnystudio.com/listener for privacy information.

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Gabinete de Guerra. "Francisco lembrou sempre zonas de conflito esquecidas"

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Play Episode Listen Later Apr 21, 2025 19:11


Bruno Cardoso Reis lembra os apelos à paz que Francisco sempre fez. Considera pouco provável que a morte do Papa suspenda ataques russos porque Moscovo resiste a uma aproximação ao Vaticano.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Gabinete de Guerra
Pacote de sanções. "Vai claramente causar problemas"

Gabinete de Guerra

Play Episode Listen Later Apr 15, 2025 10:16


Francisco Pereira Coutinho admite que os EUA estão divididos entre acordos com Moscovo. O especialista em Direito Internacional acredita que o pacote de sanções causará choque entre Hungria e EUA. See omnystudio.com/listener for privacy information.

Expresso - O mundo a seus pés
“O discurso económico em África é o discurso europeu na defesa: maior autonomia dos Estados Unidos”

Expresso - O mundo a seus pés

Play Episode Listen Later Apr 14, 2025 33:11


As tarifas de Donald Trump têm levado muitos governos africanos a reorientar ou consolidar as suas parcerias estratégicas com a China e a Rússia. O vazio deixado pelos Estados Unidos é assim ocupado por Pequim e Moscovo, há muito apostadas na “desdolarização do mercado”, diz Raúl M. Braga Pires, politólogo, arabista e professor no Instituto Piaget de Almada. Mas este também “pode ser um momento de reaproximação de África à Europa”, defende.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Visão Global
Conversações entre os EUA e a Rússia

Visão Global

Play Episode Listen Later Mar 30, 2025 45:20


Continuam as negociações entre Washington e Moscovo sobre o restabelecimento de relações bilaterais e sobre a Ucrânia. Os repatriamentos para o Afeganistão. As manifestações na Turquia. Edição de Mário Rui Cardoso.

Guerra Fria
Putin quer mesmo tudo da Ucrânia. Vai conseguir?

Guerra Fria

Play Episode Listen Later Mar 30, 2025 20:56


No Guerra Fria em podcast, José Milhazes e Nuno Rogeiro analisam os recuos no acordo de paz para a Ucrânia. O que é negociável? O que está fora de questão? No entanto, a Rússia continua interessada em prolongar a guerra. Trump, descontente, ameaça avançar com sanções sobre o petróleo russo. Moscovo exigiu publicamente que quer a ONU a governar Kiev, para existirem eleições livres, mas a organização rejeitou intrometer-se na democracia ucraniana. Enquanto não há acordo, a União Europeia aprovou despesas até 205 milhões para apoio militar à Ucrânia. Ouça aqui o programa emitido a 30 de março na SIC. Para ver este episódio em vídeo clique aquiSee omnystudio.com/listener for privacy information.

Convidado
Cimeira de Paris quis “fortalecer Ucrânia à mesa das negociações” com a Rússia

Convidado

Play Episode Listen Later Mar 28, 2025 12:58


A cimeira que juntou líderes de 31 países em Paris, esta quinta-feira, pretendeu “fortalecer a Ucrânia à mesa das negociações” com a Rússia. A explicação é dada pelo professor de Relações Internacionais José Palmeira que comentou à RFI as conclusões da reunião, nomeadamente a proposta do envio de uma força de dissuasão para a Ucrânia depois de alcançado um cessar-fogo e o não levantamento de sanções contra Moscovo. RFI: Esta manhã, o Presidente russo Vladimir Putin pediu uma “administração transitória” na Ucrânia, sob a égide da ONU, para organizar o que chamou de “eleições presidenciais democráticas”, antes de qualquer negociação de paz. Como avalia esta proposta?José Palmeira, Professor de Relações Internacionais da Universidade do Minho: “Essa proposta é uma interferência na soberania da Ucrânia. Naturalmente que compete aos ucranianos determinarem, de acordo com as suas próprias regras, designadamente a Constituição, quando é que se realizam as eleições. O que está a acontecer é que a Ucrânia está debaixo de uma lei marcial e, portanto, não há condições, do ponto de vista jurídico, para realizar um acto eleitoral.”Podemos olhar para a proposta como uma tentativa de afastar à força o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky?“Sim, há desde logo um propósito de afastar o actual Presidente. É verdade que a Rússia estará convencida de que, se ele se recandidatar, poderá perder as eleições. Há aqui, de certa forma, um convencimento que as sondagens internas não estão a comprovar, antes pelo contrário. Sobretudo a partir do encontro com Donald Trump na Sala Oval, Zelensky acabou por obter um maior apoio internamente. A questão que se coloca é como é possível realizar um acto eleitoral se a Federação Russa não interromper os ataques à Ucrânia.”Seria mais uma condição para adiar o cessar-fogo? “A não ser que a Rússia garanta que durante o processo eleitoral, quer na campanha, quer nas eleições, não faz qualquer ataque à Ucrânia, não há condições para haver eleições. Um país não pode ir a votos debaixo de fogo, debaixo de bombas.” Esta quinta-feira, na cimeira de Paris, que reuniu 30 países aliados da Ucrânia, não estavam os Estados Unidos. Eram os Aliados, mas sem os Estados Unidos. O que é que representa esta imagem?“Representa, desde logo, que nós não sabemos se vamos poder continuar a usar a palavra Aliados quando falamos dos Estados Unidos e dos países europeus porque aquilo que tem acontecido é que os Estados Unidos se estão a demarcar completamente dos europeus, pondo em causa até a própria continuidade da NATO. A NATO tem um artigo 5° de defesa mútua e o Presidente dos Estados Unidos já disse que poderia não garantir a defesa dos países europeus. Nesse sentido, eu diria que a palavra Aliados pode ser excessiva se os Estados Unidos continuarem a considerar a União Europeia e o Reino Unido não como aliados, mas como adversários, quer no plano económico, quer agora também no plano político.” É uma nova aliança liderada pela França e pelo Reino Unido? O que é que une estes países? “O que une estes países são propósitos que remontam há 80 anos. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial que os países europeus, mais os Estados Unidos e o Canadá, criaram uma aliança para defender os valores da democracia, o respeito pelos direitos humanos, a integridade das fronteiras. O que acontece é que, neste momento, há um Estado, os Estados Unidos da América, que não está alinhado com esse posicionamento. E, portanto, é natural que quem se reúna sejam os países que querem proteger a Ucrânia porque consideram que o ataque à Ucrânia é um ataque à Europa, é um ataque aos valores que o Ocidente defende. Aquilo que mudou foi a posição dos Estados Unidos. Os outros países estão precisamente na mesma situação que estavam desde há 80 anos.”O que é que saiu desta cimeira que tinha como objectivo finalizar as garantias de segurança da Ucrânia, incluindo uma possível mobilização militar europeia? “O principal sinal que os países presentes deram é que continuarão a apoiar a soberania da Ucrânia. Aquilo que está em cima da mesa é a Ucrânia perder território, ora, essa perda de território não pode ser reconhecida porque, caso contrário, abre-se um precedente gravíssimo, uma violação do direito internacional. O que esses países vieram dizer é que nunca levantarão as sanções que aplicam à Federação Russa enquanto a Federação Russa não se retirar dos territórios ocupados. Ora, isto é uma posição diferente dos Estados Unidos, que admitem um levantamento, ainda que não total, mas um levantamento das sanções, um aliviar das sanções. A Europa não. E mais do que isso, a Europa está disponível para também militarmente, apoiar a Ucrânia.”Mas essa mobilização não reúne, aparentemente, consenso. Seria uma força de dissuasão para depois de um cessar-fogo. Que força é essa e quem é que está unido em torno dessa força que seria liderada pela França e pelo Reino Unido? “Os contornos dessa força não estão ainda muito claros porque nós ainda estamos numa situação de guerra aberta. O que acontece é que há países europeus que dizem: ‘Nós vamos procurar aqui uma concertação de posições.' Aquilo que a Federação Russa tem dito é que não quer países da NATO presentes no território ucraniano depois de um cessar-fogo ser estabelecido. A posição de França e do Reino Unido é diferente, diz o seguinte: ‘A Ucrânia é um país soberano, se a Ucrânia quiser, nós enviamos forças para lá, independentemente da vontade do Kremlin'. É essa nuance que existe entre os países europeus que estiveram reunidos em Paris.”Até lá, Vladimir Putin poderia continuar a guerra?“Uma coisa é ceder completamente àquilo que Vladimir Putin pretende. Outra coisa é, neste momento, ter uma posição de força. Dado que o mediador, os Estados Unidos, tem sido forte com a Ucrânia e fraco com a Rússia, aquilo que os países europeus querem é fortalecer a posição ucraniana e não fazer, de imediato - uma vez que estamos numa fase de negociações - cedências a tudo aquilo que Vladimir Putin reivindica. Portanto, é uma posição a favor do fortalecimento da Ucrânia à mesa das negociações.”No final da cimeira, o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse lamentar que haja sempre “muitas questões” e “poucas respostas” sobre uma eventual mobilização de um contingente europeu no solo ucraniano. Há um ano, ele pedia tropas para o terreno…“Exacto. É natural que a Ucrânia, que é o país atacado, procure o máximo de apoio, tenha uma posição maximalista para defender os seus interesses. Agora, também é legítimo que os países europeus não atendam necessariamente a esse maximalismo, mas procurem aqui algum equilíbrio. Isto é, se há um objectivo de chegar à paz, tem que haver aqui algum equilíbrio. Nesse sentido, a posição mais ponderada poderá ser a que os países europeus têm defendido que é continuar a apoiar a Ucrânia e depois ver em que quadro é que se estabelece um cessar-fogo e uma paz. Então aí, manifestam a sua disponibilidade para cooperar com esse processo, para dar as tais garantias de segurança que a Ucrânia pretende.”Falou da vontade de fortalecer a Ucrânia, mas até que ponto é que esta cimeira não foi uma tentativa de fortalecer ou despertar a própria Defesa da União Europeia?“Uma coisa está ligada à outra. De facto, é verdade que a Europa, para proteger a Ucrânia, tem também que criar condições para se proteger a si própria. Isto é, tem que haver aqui uma visão integrada e, nesse sentido, aquilo que se pretende é que a Europa desenvolva uma capacidade militar que poderá vir a ser autónoma dos Estados Unidos - essa não é a vontade dos europeus, mas se tiver que assim ser, que seja. Portanto, tem que ter uma autonomia estratégica e para ter autonomia estratégica tem que ter força, tem de ter capacidades militares e é isso que está a acontecer. É verdade que é um processo que não se concretiza de um dia para o outro. A Europa tem também outras necessidades no plano económico. Nesse sentido, aquilo que se procura é, de certa forma, desenvolver a indústria de defesa porque a indústria de defesa também pode ajudar ao crescimento económico da Europa.”A que custo? Mobilizar os fundos para a defesa não implica desviar fundos de outras áreas dos orçamentos nacionais?“É verdade que aqui temos os patamares nacionais e o europeu. A nível nacional, os Estados têm autonomia nos planos da saúde, por exemplo, nos planos sociais, para continuar a desenvolver essas políticas. Aquilo que alguns Estados-Membros têm pedido à União Europeia é que flexibilize as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento para que os países possam dispender mais com a defesa e não serem penalizados a nível europeu por esse investimento. Por outro lado, a própria União Europeia pode criar mecanismos especiais, uma espécie de um PRR, que é um Plano de Recuperação e Resiliência criado a seguir à pandemia, neste caso aplicada a defesa. Portanto, há aqui uma visão integrada. Por outro lado, porventura terá que se chegar ainda mais longe, ao tal exército europeu ou às Forças Armadas Europeias, com o intuito de dar à Europa um comando unificado no plano militar. Tudo vai depender também daquilo que seja o novo Chanceler alemão, que parece estar também ele próprio, bastante virado, digamos assim, para uma Europa da defesa e da segurança. No passado, não foi possível esse entendimento. Hoje, dado o conflito na Ucrânia, se calhar estão criadas as condições para esse passo ser dado.”A Comissão Europeia propôs que os cidadãos europeus tenham um “kit de sobrevivência” de 72 horas. O que pensa destes kits? Estamos a alarmar a população?“Eu não diria alarmar, mas estamos a consciencializar a população de que os dias que vivemos hoje são diferentes dos do passado recente. Isto é, a Europa nunca imaginou que pudesse, no plano militar, vir a ser objecto de uma ameaça externa. Essa ameaça existe, de facto, e, portanto, há que preparar os europeus, desde logo, no plano psicológico. Mais do que testar a eficácia do kit, eu acho que existe essa preocupação de criar o ambiente psicológico, até para os europeus perceberem que, se calhar, vão ter que cortar noutras áreas para canalizar mais meios para a defesa. E isso passa também pelas elites políticas que têm que ser capazes de passar essa mensagem, o que em termos eleitorais, não é fácil...”Não poderia até dar jeito em termos eleitorais?“Não, porque os eleitores podem não querer cortar na segurança social ou na saúde para se gastar mais na defesa…”Mas as guerras não podem criar um certo sentimento de nacionalismo ou união?“Ajudam, mas eu não sei se a opinião pública europeia está suficientemente sensível, sobretudo a do sul da Europa, que vê o conflito na Ucrânia como mais longínquo. Eu diria que isto tem um objectivo, desde logo político, de criar um clima propício para que se avance mais e se invista mais na defesa.” É uma forma de capitalizar o apoio das pessoas para esse investimento e não tanto uma ameaça real?“Ora bem, nós nunca sabemos se a ameaça é real ou não, mas temos que estar preparados para ela. A melhor forma de evitarmos que a ameaça se concretize é fazer ver ao potencial agressor que o custo de abrir um conflito é muito elevado. Se ele tiver a percepção que a Europa está melhor preparada para se defender, naturalmente que, se calhar, não desencadeará essa agressão. No fundo é: se queres a paz, prepara-te para a guerra.”

Convidado
Cessar-fogo no Mar Negro: "Um passo diplomático sem garantias de segurança"

Convidado

Play Episode Listen Later Mar 26, 2025 8:45


Os Estados Unidos anunciaram esta terça-feira, 25 de Março, um acordo entre a Rússia e a Ucrânia para um cessar-fogo marítimo no Mar Negro, após negociações na Arábia Saudita. O Kremlin condiciona o cessar-fogo ao fim das sanções ocidentais sobre cereais e fertilizantes russos. Apesar de a Casa Branca celebrar o acordo, não há garantias de uma trégua efectiva, uma vez que a Rússia continua os ataques terrestres. Sandra Dias Fernandes, especialista da Rússia ligada à Universidade do Minho, afirma que embora este acordo represente "um passo diplomático", não prevê "garantias de segurança". RFI: Quais são as motivações da Rússia ao condicionar o acordo de cessar-gogo ao fim das sanções. Trata-se de uma estratégia para ganhar tempo ou de uma tentativa de enfraquecer a posição ocidental?Sandra Dias Fernandes: De facto, devemos olhar para este aparente resultado negocial no contexto da pressão exercida pela diplomacia da administração norte-americana, liderada por Donald Trump, sobre um cessar-fogo ou, pelo menos, sobre a redução das hostilidades. Temos visto tanto a Rússia como a Ucrânia a tentar não desagradar à diplomacia de Trump e, ao mesmo tempo, não há qualquer alteração na grande desconfiança mútua que existe entre russos e ucranianos.Este é um passo, mas, como sublinhou, não é um passo concreto do ponto de vista da sua implementação. Acontece precisamente neste contexto: dar a Trump a possibilidade de dizer que está a liderar um processo negocial que está a avançar. Mas, ao mesmo tempo, este aparente acordo — ou, pelo menos, a intenção de realizar um acordo — não tem quaisquer garantias de segurança. Ou seja, não há qualquer sanção ou consequência prevista caso uma das partes viole o acordo após a sua entrada em vigor.As condições que a Rússia coloca são, na verdade, as mesmas que levaram ao fim do chamado "Acordo dos Cereais", que vigorou entre o verão de 2022 e o verão de 2023. Esse tipo de acordo já existiu e, aliás, foi um processo bem conduzido diplomaticamente, pois conseguiu pegar num tema em que era possível apresentar resultados, uma vez que já tinha sido praticado no passado: a liberdade de navegação no Mar Negro para que o comércio de cereais pudesse decorrer com mais normalidade.Apesar de a Rússia se ter retirado do acordo dos cereais, no qual a Turquia e as Nações Unidas actuaram como mediadores na altura, os navios ucranianos têm conseguido circular. Ou seja, tem havido capacidade militar para proteger os navios e permitir a sua circulação. Contudo, apesar do sinal político que este novo acordo representa, não há qualquer perspectiva de concretização efectiva, até porque as exigências russas são muito elevadas. A Rússia quer o levantamento de sanções e alega restrições que já tinha alegado em 2023, mas que não estão provadas como existentes de facto. Este é um sinal muito duvidoso.Como é que a União Europeia e outros países ocidentais devem responder a esta negociação? Ceder às exigências russas pode abrir um precedente perigoso?Eu não diria que se trata de um precedente perigoso, mas sim de analisar as condições que estão em cima da mesa e que possam pressionar a Rússia a cessar as hostilidades e a entrar em compromissos para um cessar-fogo.Se retirarmos elementos que são essenciais para pressionar a liderança russa — nomeadamente sanções que limitam a sua capacidade de obter recursos financeiros e materiais para conduzir esta guerra — então, obviamente, estaremos a dar vantagens ao lado russo. O levantamento das sanções representaria uma alteração significativa nas relações de força, algo que a administração Trump já veio modificar, de forma considerável, em desfavor dos ucranianos.Qual é o papel que os Estados Unidos estão a desempenhar neste processo? A administração de Donald Trump está a agir mais a favor da Rússia do que da Ucrânia, como sugerem alguns analistas ?Não se trata apenas de uma sugestão de analistas, mas sim de analisar os factos. A administração americana normalizou as relações com a Rússia e iniciou um processo de finalização da guerra na Ucrânia que não impõe qualquer condição ao lado russo.Mais do que isso, se ouvirmos as palavras do enviado especial de Trump, Sr. Whitcoff, que é um amigo pessoal do Presidente Trump e não um diplomata de carreira, percebemos claramente esta tendência. Numa entrevista que deu há poucos dias à Fox News, ficou evidente que a actual administração americana apropriou-se do discurso da propaganda russa sobre o conflito ucraniano. Ou seja, tem adoptado a perspectiva russa que levou à invasão da Ucrânia e que legitimiza as acções de Moscovo no território ucraniano.Neste momento, a administração americana tem um claro pendor pró-russo, não assumindo uma posição de neutralidade nem defendendo os princípios internacionais de soberania, não agressão territorial ou de não alteração de fronteiras pelo uso da força.Que impacto pode ter a cimeira europeia em Paris nas negociações de paz para a Ucrânia que vai decorrer amanhã na capital francesa. A Europa conseguirá afirmar uma posição autónoma ou continuará a seguir a linha estratégica dos Estados Unidos?A Europa já se posicionou claramente, nomeadamente através de um novo programa político e económico: o programa "Rearmar Europa", anunciado há cerca de duas semanas.O papel da Europa tem sido fundamental para evitar que a Ucrânia entre em isolamento diplomático. Havia esse risco, mas Zelensky tem sido hábil em manter o diálogo com os americanos, mesmo após o incidente na Casa Branca, no encontro presidencial de 28 de Fevereiro.Os europeus estão a preparar-se para desempenhar um papel activo na implementação do cessar-fogo, garantindo a segurança da Ucrânia. O que ainda não está claro é o peso efectivo que conseguirão ter na definição dos termos do cessar-fogo. No entanto, o facto de a Europa estar a organizar-se para desempenhar um papel central nesse processo já é um sinal evidente da sua vontade de acção.Se esse acordo não for implementado devido às condições impostas por Moscovo? Quais podem ser as possíveis consequências para as futuras negociações de paz?A sua questão é difícil de responder porque os acontecimentos internacionais têm evoluído a um ritmo acelerado e há transformações profundas nos alinhamentos geopolíticos.A única resposta possível neste momento é que tudo dependerá do tipo de apoio que a Ucrânia continuar a receber para resistir à invasão russa e também do apoio que a própria Rússia continuar a obter para manter o seu esforço de guerra.Infelizmente, o cerne da questão parece centrar-se na Europa e no risco de um escalamento da guerra no continente.

Appleton Podcast
Episódio 163 – “O curador que faz exposições para escrever sobre artistas” - Conversa com Pedro Lapa

Appleton Podcast

Play Episode Listen Later Mar 24, 2025 123:52


Pedro Lapa é professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi diretor artístico do Museu Coleção Berardo entre 2011 e 2017 e diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, entre 1998 e 2009. Foi também curador da Ellipse Foundation entre 2004 e 2009. É doutorado em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É autor de muitas publicações no domínio da arte moderna e contemporânea, de entre as quais se destacam André Romão. Fauna (2019); Joaquim Rodrigo, a contínua reinvenção da pintura (2016); História e Interregnum. Três obras de Stan Douglas (2015); Arte Portuguesa do Século XX (1910-1960), James Coleman. Mediaespectrologias (2005).Comissariou muitas exposições, das quais se destacam Amadeo de Souza-Cardoso (Museu Pushkin, Moscovo), James Coleman (MNAC-MC), Stan Douglas, Interregnum (Museu Coleção Berardo, Lisboa), Alexandre Estrela. Star Gate (MNAC-MC) ou as coletivas More Works About Buildings and Food (Hangar K7, Oeiras), João Maria Gusmão e Pedro Paiva. Intrusão: The Red Square (MNAC-MC), Disseminações (Culturgest, Lisboa), Ângela Ferreira. Em sítio algum (MNAC-MC) Cinco Pintores da Modernidade Portuguesa (Fundació Caixa Catalunya, Barcelona; Museu de Arte Moderna, São Paulo). Em 2001 foi o curador da representação portuguesa à 49ª Bienal de Veneza com o artista João Penalva. Foi co-autor, em 1999, do primeiro catálogo raisonné realizado em Portugal, dedicado à obra de Joaquim Rodrigo. O Grémio Literário atribuiu-lhe o Grande Prémio de 2008 pelo seu ensaio Columbano Bordalo Pinheiro, uma arqueologia da modernidade. Em 2010 o Ministro da Cultura de França, Frédéric Mitterrand, concedeu-lhe a distinção de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras.Os projetos atuais em realização consistem num livro sobre arte moderna em Portugal, bem como um livro sobre Alexandre Estrela, um artista cujo trabalho acompanha desde os primeiros anos de emergência da sua obra. Links: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/pedro-lapa-2/ https://www.youtube.com/watch?v=-HJgEnCUWeQ https://www.artecapital.net/entrevista-143-pedro-lapa http://www.museuartecontemporanea.gov.pt/pt/museu/historia https://arquivos.rtp.pt/conteudos/pedro-lapa/ https://www.rtp.pt/noticias/cultura/pedro-lapa-e-o-novo-diretor-artistico_n427481 https://sicnoticias.pt/cultura/2011-03-25-pedro-lapa-e-o-novo-director-artistico-do-museu-berardo3 https://www.publico.pt/2017/04/06/culturaipsilon/noticia/pedro-lapa-saiu-da-direccao-artistica-do-museu-coleccao-berardo-1767946 https://www.publico.pt/2022/06/21/culturaipsilon/opiniao/bem-desde-coleccao-ellipse-futuro-2010661 https://www.dn.pt/arquivo/diario-de-noticias/colecoes-de-arte-ellipse-e-do-bpp-passam-para-a-tutela-do-estado-15355564.html https://www.publico.pt/2015/03/23/culturaipsilon/noticia/stan-douglas-expoe-em-outubro-no-museu-berardo-1690029 Episódio gravado a 18.03.2025 Créditos introdução: David Maranha - Flauta e percussão Créditos música final: Steve Reich, Music for a Large Ensemble http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / A2P / MyStory Hotels Apoio:Câmara Municipal de Lisboa Financiamento:República Portuguesa – Cultura / DGArtes – Direcção Geral das Artes © Appleton, todos os direitos reservados

Guerra Fria
Qual é nova estratégia da Europa para a Ucrânia? “Nem tudo vai ser revelado”

Guerra Fria

Play Episode Listen Later Mar 23, 2025 22:47


José Milhazes e Nuno Rogeiro juntam-se em mais uma edição da noite para avaliar os projetos de paz na Ucrânia em discussão. “Os ucranianos não partem com qualquer tipo de esperança”, explicam os comentadores agora que as novas rondas de negociação entre Washington, Kiev e Moscovo começaram. Sergey Beseda, um dos atores responsável pelas invasões, estará presente nas reuniões. “São mas notícias para os ucranianos, mas também são boas esta pessoa mostrou-se extremamente incompetente”. Face a este cenário, onde fica a Europa? Qual vai ser a sua estratégia? “Nem todas as informações vão ser reveladas”, garante. Ouça aqui o programa emitido na noite de 23 de março na SIC. See omnystudio.com/listener for privacy information.

Diplomatas
Acordo entre Trump e Putin ao telefone: “Não gostam da UE, não gostam da NATO e odeiam Zelensky”

Diplomatas

Play Episode Listen Later Mar 20, 2025 28:41


A muito aguardada chamada telefónica entre Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, e o seu homólogo russo, Vladimir Putin, na terça-feira, não trouxe nada de significativamente novo sobre o desenrolar da guerra na Ucrânia, sobre a estratégia militar de Moscovo ou sobre as prioridades da diplomacia da nova Administração norte-americana. A Rússia “aceitou” não atacar a infra-estrutura energética ucraniana durante 30 dias, mas mesmo essa “cedência” traz-lhe vantagens no campo de batalha: se Kiev fizer o mesmo, Moscovo pode reforçar as suas linhas e para impedir que os drones ucranianos bombardeiem as suas reservas de petróleo. “O resultado do telefonema foi muito simples: não há cessar-fogo. Quem acha que isto é um acordo ou é louco, ou está claramente a fazer o jogo de Putin. Trump reserva a pressão máxima para [Volodymyr] Zelensky e a pressão mínima ou ausência de pressão para Putin”, resume a Teresa de Sousa. “Há de facto um entendimento entre Trump e Putin”, acrescenta. “Não gostam da União Europeia e querem dividi-la; não gostam da NATO e querem dividi-la; aceitam ambos a ideia de um mundo dividido em zonas de influência pelas grandes potências internacionais – EUA, Rússia e China – (…) e ambos odeiam Zelensky, pela razão simples de que este lhes faz frente”. No episódio desta semana do podcast Diplomatas também conversámos sobre a aprovação da reforma do travão da dívida alemão, em vésperas do Conselho Europeu, que se realiza esta quinta-feira em Bruxelas. Segundo o Carlos Gaspar, trata-se de “sinal muito forte” de Berlim para a UE, para Putin “e para Trump”, já que permite que a Alemanha “ocupe o seu lugar no centro da concertação estratégica com a França e a Grã-Bretanha, que vai ser mais importante nos próximos tempos do que a UE a NATO.” Da Europa, passámos para o Médio Oriente: o regresso da guerra israelita na Faixa de Gaza, assume Carlos Gaspar, também tem uma “dimensão interna” – a necessidade de aprovação do Orçamento do Estado e de reforço da maioria do Governo de Benjamin Netanyahu –, mas enfatiza, sobretudo, que é “absolutamente indispensável que haja uma força internacional que garanta a segurança em Gaza e que impeça o Hamas de restaurar o reino de terror sobre os palestinianos.” Teresa de Sousa traça ainda um “paralelismo impressionante entre a lógica de actuação de Putin e de Netanyahu”, primeiro-ministro de Israel. “Netanyahu quer redesenhar um mapa do Médio Oriente a favor de Israel; e é esse o grande objectivo da sua ofensiva. Putin quer redesenhar um mapa de segurança europeia; é o principal objectivo da guerra da Ucrânia”, considera. “Ambos têm, de alguma maneira, o beneplácito da Administração americana; ambos têm como principal instrumento a guerra. Para os dois a guerra é fundamental; para os dois a guerra não vai parar”.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Gabinete de Guerra
Putin "jogador de xadrez" aproveita-se de Trump

Gabinete de Guerra

Play Episode Listen Later Mar 19, 2025 17:15


Luís Tomé analisa o telefonema "muito bom" entre Trump e Zelensky. Acredita que a Casa Branca tem um "alinhamento" claro com Moscovo. Trump é "falso mediador e pacifista".See omnystudio.com/listener for privacy information.

Convidado
"A Ucrânia está completamente dependente dos Estados Unidos"

Convidado

Play Episode Listen Later Mar 19, 2025 9:14


Depois de uma longa conversa telefónica, esta terça-feira, 18 de Março, o Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou um entendimento com o homólogo russo, Vladimir Putin, para um cessar-fogo parcial na Ucrânia. Trata-se de uma trégua de 30 dias que suspende ataques contra recintos energéticos e se os europeus deixarem de armar a Ucrânia.  Putin e Trump concordaram em iniciar "imediatamente" negociações, que terão lugar no Médio Oriente, sobre uma possível trégua gradual na guerra. Todavia, no terreno, os combates continuam, pouco depois do fim do telefone entre os dois estadistas, ouviram-se explosões em Kiev. A Rússia, por seu lado, afirmou ter evitado várias tentativas de incursão terrestre do exército ucraniano na região russa de Belgorod, na fronteira com a Ucrânia.Para Vítor Gabriel Oliveira, secretário-geral da SEDES Europa - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social - este telefonema entre a Casa Branca e o Kremlin mostra que Trump “terá ajustado muita coisa para aquilo que Putin pretende, para realmente dizer: ‘Eu consegui quebrar a guerra na Ucrânia, eu consegui negociar 30 dias de cessar-fogo na Ucrânia. Fui eu consegui'”, ou seja, uma medalha para “consumo interno”, uma vez que o actual presidente norte-americano está focado na política interna, “mesmo que para isso os Estados Unidos se coloquem por debaixo de Putin, o que para alguns sectores norte-americanos não está a ser muito bem visto.”Moscovo aceitou suspender os ataques contra infra-estruturas energéticas na Ucrânia durante 30 dias, no entanto, o presidente russo exigiu, para o efeito, o fim do "rearmamento" da Ucrânia e o cessar da ajuda ocidental a Kiev.Em reacção, o chanceler alemão Olaf Scholz e o Presidente francês Emmanuel Macron garantiram que a ajuda militar à Ucrânia vai continuar: "Continuamos a apoiar o exército ucraniano na sua guerra de resistência contra a agressão russa", afirmou Emmanuel Macron."A União Europeia e o Reino Unido, a partir do momento em que Trump tomou posse, foram completamente excluídos. Portanto, a União Europeia passou a ser um pilar isolado deste cinturão de forças tripartido: China, Rússia e Estados Unidos. Portanto, o objectivo dos Estados Unidos foi não só militarmente, mas também com a aplicação de taxas, isolar a União Europeia. Portanto, a União Europeia, de certa forma, na relação com os Estados Unidos, está fragilizada, mas também tem dado boas respostas como é este programa do rearmamento", explica Vítor Gabriel Oliveira.O analista político acrescenta que “é muito importante que os líderes dentro da União Europeia e do Reino Unido comecem a pensar na pedagogia de guerra”, não apenas no sentido da mobilização de recursos humanos para a guerra, mas no sentido de explicar aos seus cidadãos a necessidade de alocar verbas para defesa europeia, financiamento esse que vai fazer falta noutro sítio. Entretanto, para esta tarde está prevista uma conversa telefónica entre o Presidente norte-americano Donald Trump e o homólogo ucraniano Volodymyr Zelensky, na qual serão discutidas “as próximas etapas” segundo Kiev. Zelensky disse ainda esperar obter de Donald Trump esclarecimentos sobre a conversa que este manteve na terça-feira com Vladimir Putin.Questionado sobre o que se pode esperar deste telefonema, o secretário-geral da SEDES Europa é peremptório: “é que ele [Zelensky] seja informado do que se passou e Donald Trump dir-lhe-á ainda o que é que vai acontecer no futuro. Porque a Ucrânia está completamente dependente dos Estados Unidos. (...) Provavelmente, Zelensky tentará negociar em termos comunicacionais, para consumo interno na Ucrânia - porque sabemos que provavelmente irá a eleições - o porquê de aceitar aquilo que Donald Trump irá impor.” 

Expresso - Expresso da Manhã
Vai a Europa impor a paz na Ucrânia contra a vontade dos russos? E Portugal alinha?

Expresso - Expresso da Manhã

Play Episode Listen Later Mar 18, 2025 16:01


Putin fala esta terça-feira com Trump e o receio europeu é que a paz na Ucrânia seja uma cedência em toda a linha aos interesses de Moscovo. A Europa, com destaque para Starmer e Macron, estão empenhados em não deixar que o jogo se faça apenas entre o presidente russo e o presidente norte-americano e estão já a trabalhar, contra a vontade do Kremlin, para criar uma força de paz que garante a segurança da Ucrânia. Não seria uma força de manutenção de paz, mas de imposição de paz que podia não durar muito. Neste episódio, falamos com o coronel Carlos Mendes Dias, comentador da SIC.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Expresso - Expresso da Manhã
Europa mostra-se disposta a mandar tropas para a Ucrânia, enquanto Putin quer resolver tudo com Trump

Expresso - Expresso da Manhã

Play Episode Listen Later Mar 17, 2025 14:13


As negociações entre a Casa Branca e o Kremlin avançaram durante o fim-de-semana e uma conversa entre Vladimir Putin e Donald Trump ficou agendada para esta semana. A Europa mantém-se firme na defesa da Ucrânia e tanto a França como o Reino Unido anunciaram a disponibilidade para enviar tropas para a Ucrânia, de modo a garantir a paz. Moscovo diz que não aceita, mas Emmanuel Macron avisa que a autorização de Putin não é precisa para nada porque a Ucrânia é um país soberano. Neste episódio, conversamos com Rui Cardoso, comentador de internacional na SIC.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Convidado
"A Europa não é um espectador e é fundamental para manter a Ucrânia a funcionar"

Convidado

Play Episode Listen Later Mar 17, 2025 9:02


Para Licínia Simão, “é importante que os 27 consigam traduzir este apoio numa posição política que reforce o interesse dos europeus neste conflito às nossas portas”. A professora de Relações Internacionais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra é a Convidada desta segunda-feira. Esta pode ser uma semana decisiva para o fim da guerra na Ucrânia, com uma cimeira em Bruxelas e uma conversa entre Donald Trump e Vladimir Putin. Desta forma, União Europeia e Estados Unidos reforçam posições para ocupar um papel de destaque na solução do conflito e na reconstrução do pós-guerra.Em declarações à RFI, Licínia Simão, professora da Relações Internacionais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e investigadora do Centro de Estudos Sociais da mesma instituição, analisa a situação da guerra na Ucrânia à luz da actualidade.Licínia Simão  - "Parece-me que esta é uma semana onde decisões importantes vão continuar a ser tomadas. Não sabemos ao certo se daqui resultará algo tangível e relevante para o conflito na Ucrânia, ou para a defesa europeia. Vamos ter que acompanhar algumas destas decisões que possam estar em cima da mesa, nomeadamente, as condições para o cessar fogo de 30 dias, que é, neste momento, um dos grandes objectivos do Presidente Trump".RFI - Para amanhã está marcada uma conversa entre Donald Trump e Vladimir Putin. Há cerca de duas semanas, assistimos ao encontro na Casa Branca entre o presidente da Ucrânia e o presidente dos Estados Unidos. Os 27 parecem espectadores dos passos do governo norte-americano…"A abordagem do presidente Trump para a Guerra da Ucrânia mudou significativamente a política norte-americana para este conflito e, portanto, aquilo que nós temos assistido nas últimas semanas é uma adaptação por parte dos líderes europeus a estas circunstâncias. O desejo do presidente Trump de negociar directamente com o presidente Putin, muitas vezes quase à revelia da própria Ucrânia, deixa os europeus numa circunstância mais complicada. Eu penso que nas últimas semanas, em particular, e depois da visita muito controversa do presidente ucraniano à Casa Branca, e à forma como foi recebido nessa audiência, fez com que os europeus tomassem uma série de decisões. Essas decisões podem fazer com que efectivamente tenham uma palavra a dizer naquilo que é o futuro da Ucrânia, nomeadamente, naquilo que tem a ver com uma missão no terreno que possa garantir que o cessar fogo é implementado ou que possa vir a acompanhar o regresso da Ucrânia à paz e à normalização das relações com a Rússia. Não sei, no entanto, se isso é algo aceitável para Moscovo, tendo em conta a retórica que continua a sair da Europa e os esforços europeus para rearmar. Estes esforços podem ser vistos por Moscovo como algo que não é do seu interesse e que pode ser contrário a uma paz mais durável na Europa".Falou nesta diferença de posição dos Estados Unidos no que diz respeito ao conflito entre a Ucrânia e a Rússia. A União Europeia preparou-se para esta mudança entre a relação com Joe Biden e a relação com Donald Trump?"Eu diria que não. Ou seja, eu diria que parecemos muito surpreendidos com esta mudança. E isso é que é surpreendente. O presidente Trump sempre disse ao que vinha e, obviamente, que deveria haver um plano e conversas até com a Casa Branca na administração anterior. Seria importante para perceber como é que os europeus poderiam ter um papel mais relevante na definição da sua própria segurança. Isso é algo que nos parece a todos desejável. O que é muito importante também é entender que, apesar de politicamente ser sempre difícil à Europa falar a uma só voz, nós temos mesmo que fazer o esforço de concertar posições entre os Estados-Membros. No entanto, e vale a pena dizer isto ao nível das instituições europeias, a Comissão  von der Leyen fez o seu trabalho de preparação daquilo a que chamam de  “mercado europeu de defesa” e de uma resposta cada vez mais continuada de apoio militar à Ucrânia. E apoio ao nível do processo de integração da Ucrânia na União Europeia, que implica suporte, por exemplo, financeiro e macroeconómico ao país, ao seu governo e às suas estruturas. Portanto, a Europa não é só um espetador. A Europa, neste momento, tem um papel muito significativo em termos do apoio que dá no terreno ao governo ucraniano e que mantém o país a funcionar em larga medida. É importante que consiga traduzir isso numa posição política que reforce o interesse dos europeus neste conflito às nossas portas".À entrada para o encontro de hoje em Bruxelas, a Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, pediu aos Estados-Membros para fazerem “mais de forma urgente e imediata” para colocar a Ucrânia numa posição de força. O que é que os 27 podem fazer? Falar a uma só voz, por exemplo, como acabou de dizer?"A Alta Representante está naturalmente a dar eco de todos estes movimentos e iniciativas que estão a decorrer ao nível das instituições europeias para afirmar a Europa e para criar condições para os europeus não só poderem apoiar a Ucrânia num primeiro momento, caso o apoio norte americano falte, mas também para poderem pensar a sua segurança e a sua defesa de forma mais integrada. Nós temos assistido a várias iniciativas desse ponto de vista. Vimos o plano  ReArm Europe, da presidente Ursula von der Leyen, que foi apresentado há uma semana. Espera-se o Livro Branco da Defesa, preparado pelo colégio de comissários, e pelo comissário com a pasta da Defesa em particular. A própria Alta Representante Kaja Kallas também deverá discutir com os Estados-Membros alguns elementos do seu plano para aumentar o investimento imediato na defesa. Portanto, nós temos um colégio de comissários muito ativo. Temos um Conselho Europeu que parece estar plenamente alinhado no apoio imediato à Ucrânia e na vontade de avançar com a defesa. Depois, há aqui questões ainda significativas que têm que ser discutidas, sobre como é que todos estes mecanismos de financiamento estão a ser articulados. Como é que se paga tudo isto? De onde é que vem o dinheiro? O que deixamos de fazer quando investimos na defesa? Esta é uma conversa muito importante, espero eu, para os cidadãos europeus. E também, como é que este impulso para a criação de um mercado único de defesa joga com as decisões políticas que ainda estão muito fragmentadas ao nível nacional".E não podemos esquecer que nem todos os Estados-Membros pensam da mesma forma."Sim. As posições mais notoriamente desalinhadas são as da Hungria e da Eslováquia. Mas eu penso que a Europa tem que reconhecer que vive um momento politicamente muito sensível. Nós falamos de rearmar a Europa no mesmo momento em que olhamos para as forças de extrema direita com grande poder em muitos dos nossos Estados-Membros, e isso deve preocupar-nos. Reconhecemos os desafios estratégicos que são reais e que devem ser confrontados, mas precisamos de fazer este caminho de rearmar a Europa, ao mesmo tempo que reforçamos as questões da democracia e as questões de transparência e de responsabilização dos governos europeus. Este equilíbrio entre estes dois aspectos é fundamental. É importante envolver os cidadãos, apesar de toda a pressa e toda a urgência que temos nestas matérias". 

Noticiário Nacional
15h António Costa: Moscovo tem de mostrar que quer cessar-fogo

Noticiário Nacional

Play Episode Listen Later Mar 15, 2025 10:08


Noticiário Nacional
23h Trump acredita que Moscovo vai aceitar acordo de cessar-fogo

Noticiário Nacional

Play Episode Listen Later Mar 14, 2025 9:55


A Arte da Guerra
“Moscovo não parece considerar a proposta de paz como positiva”

A Arte da Guerra

Play Episode Listen Later Mar 13, 2025 33:28


As negociações entre os Estados Unidos e a Ucrânia para encontrarem, uma plataforma de favorecimento do fim dos combates pode não ser exatamente aquilo que Moscovo quer. Estes e outros temas serão analisados pelo embaixador Francisco Seixas da Costa.

DW em Português para África | Deutsche Welle
12 de Março de 2025 - Jornal da Noite

DW em Português para África | Deutsche Welle

Play Episode Listen Later Mar 12, 2025 19:59


Influência de João Lourenço abre portas a cessar-fogo no leste da RDC, diz analista. Amnistia Internacional exige investigação a tiroteios contra oposição moçambicana. UNITA distancia-se da detenção do seu secretário provincial. Moscovo equaciona cessar-fogo na Ucrânia.

Convidado
Ucrânia e Estados Unidos encetaram diálogo sobre cessar-fogo com Rússia

Convidado

Play Episode Listen Later Mar 11, 2025 18:58


Começaram esta terça-feira na Arábia Saudita negociações consideradas cruciais entre os Estados unidos e a Ucrânia para encetar um eventual processo de paz com a Rússia. Em cima da mesa, está o acordo sobre os minerais ucranianos que Donald Trump pretende obter em compensação do apoio dado pelos estados Unidos a Kiev durante os três anos de guerra com a Rússia. Por seu lado, Kiev espera obter garantias de segurança e preconiza um cessar-fogo aéreo e marítimo. Estas negociações acontecem poucos dias depois de as relações entre a Ucrânia e o seu -outrora- principal aliado, os Estados Unidos se terem consideravelmente degradado, com a violenta discussão entre Trump e Zelensky na Casa Branca no passado dia 28 de Fevereiro.Isto acontece também num contexto em que a Ucrânia conhece dificuldades no terreno, dificuldades acrescidas pela suspensão na semana passada da ajuda militar e das informações estratégicas americanas.Por outro lado, isto sucede igualmente numa altura em que Kiev lançou ontem à noite uma série de drones contra o território russo e em particular contra Moscovo, um ataque que a Rússia afirma ter interceptado, mas com o qual o executivo de Zelensky procura fazer inflectir Putin sobre o princípio de um cessar-fogo parcial.Dados que analisamos com Álvaro Vasconcelos, antigo director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia.RFI: O que se pode dizer, para já, do contexto em que decorrem estas negociações?Álvaro Vasconcelos: São negociações entre os Estados Unidos e a Ucrânia. No fundo, os russos estão a ver o que se passa. Os russos estão a deixar ser o Trump a fazer pressão máxima sobre a Ucrânia para conseguirem aquilo que Putin terá dito a Trump que queria para um cessar-fogo. E portanto, é essa situação paradoxal que vivemos, em que não há uma negociação entre a Ucrânia e a Rússia para um cessar-fogo e depois para um acordo de paz, que são duas coisas completamente diferentes. Mas há uma negociação entre os Estados Unidos e a Ucrânia.RFI: Antes destas negociações, não se chega a perceber muito bem qual é a posição dos Estados Unidos. Enquanto Donald Trump diz que, a priori, não tenciona restabelecer a ajuda militar a Kiev, o chefe da diplomacia, Marco Rubio, não fecha completamente a porta ao restabelecimento desse apoio e também não fecha a porta a um cessar-fogo parcial no ar e no mar.Álvaro Vasconcelos: Como se dizia em Portugal durante o tempo da ditadura, há o PIDE mau e o PIDE bom. Trump e Vance fazem o papel do PIDE mau. E Marco Rubio faz um bocadinho, quanto pode, quando o deixam fazer, o papel do PIDE bom. Mas na realidade, o que nós assistimos desde o 12 de Fevereiro, quando Trump falou ao telefone com Putin, é que Trump incorporou toda a narrativa do Putin sobre a guerra da Ucrânia, ou seja, que quem começou a guerra foram os ucranianos, que Zelensky é um Presidente mal eleito, até um ditador. E toda essa pressão extraordinária sobre a Ucrânia foi completada pela retirada do apoio militar americano. Como nós sabemos, o que também foi dramático para a evolução da situação na guerra, foi a retirada das informações que os serviços de informação americanos davam aos ucranianos, o que permitiu alguns avanços significativos da Rússia nas regiões de Kursk, regiões russas que os ucranianos tinham conquistado. Toda essa pressão extraordinária sobre a Ucrânia, é aquilo que Putin queria, dá uma negociação extremamente difícil. É verdade que, entretanto, os europeus acordaram. Os europeus manifestaram como possivelmente nós não esperaríamos, porque nunca tínhamos visto isto, uma unidade significativa face aos Estados Unidos. Se nós nos lembramos, quando foi a guerra do Iraque, só a França e a Alemanha e um ou outro pequeno país se opuseram à invasão do Iraque pelos Estados Unidos. Havia a velha Europa e Nova Europa. A Europa estava profundamente dividida porque eram os Estados Unidos que estavam em causa. Hoje, a Europa está unida, no essencial, contra Trump e contra a política de Trump de obrigar os ucranianos a capitular perante exigências russas.RFI: Mas não será um pouco ilusório a Europa pensar que pode pesar sobre essas negociações, dado que, como o próprio Trump tem dito várias vezes, não têm as cartas?Álvaro Vasconcelos: Esta história das cartas, como Zelensky disse bem na conversa com Trump -se podemos chamar aquilo conversa- não se trata de um jogo de cartas. Como disse antes, trata-se é da guerra, da morte de pessoas e das perspectivas a longo prazo para a estabilidade e a segurança na Europa. E, nesse sentido, nunca é tarde para a União Europeia acordar. E evidentemente que, neste momento imediato, o seu peso nas negociações não é o que poderá ser daqui a uns meses ou daqui a uns anos, se estiver a criar os meios militares suficientes para apoiar a Ucrânia. Mas ponha a situação diferente, que a União Europeia não teria declarado a continuidade do seu apoio à Ucrânia, que o novo chanceler alemão não tinha mostrado tanta determinação em apoiar a Ucrânia, que a Europa não tinha continuado a dar o apoio militar à Ucrânia, e apesar de tudo o que diz o Donald Trump, o apoio financeiro europeu é superior ao dos Estados Unidos, a Ucrânia tinha colapsado. Portanto, apesar de a Europa não ter ainda os meios necessários para dar o apoio todo que a Ucrânia precisa, o apoio é decisivo para a Ucrânia ter alguma margem de manobra, senão não teria nenhuma. E repare-se que a pressão americana tremenda sobre Ucrânia é acompanhada por um redobrar da intervenção militar russa, pelo bombardeamento das cidades, etc. E que a Ucrânia respondeu ontem à noite, bombardeando também com drones várias cidades russas, incluindo Moscovo. Portanto, estamos num momento de negociação. E se quisermos voltar à história das cartas, cada um mostra quais são os trunfos que tem. E a Ucrânia continua a ter os trunfos de defender a sua terra, de ter resistido durante três anos com -é verdade- o apoio significativo americano, de ter do seu lado a União Europeia, o direito internacional e de ter o seu lado, de facto, a opinião pública europeia, também não é só os governos da União Europeia, e também a opinião pública europeia.RFI: Relativamente, lá está, àquilo que mencionou, o ataque durante esta noite contra o território russo e nomeadamente contra Moscovo. Kiev diz abertamente que isto deveria servir para os russos também pensarem na eventualidade de aceitar um cessar-fogo pelos ares e também a nível do mar. Julga que esse tipo de ataques, que aliás a própria Rússia diz ter interceptado, podem pesar nessas negociações?Álvaro Vasconcelos: Nas negociações com os russos, se calhar pesa pouco. Nas negociações com os americanos, pesam alguma coisa. Porque se Trump estava convencido que ao retirar o apoio aos ucranianos, estes últimos ficavam numa situação de completa vassalagem em relação a Trump -porque Trump vê-se como um imperador- e queria que Zelensky dobrasse a espinha e se apresentasse como vassalo, Zelensky quer mostrar uma prova de força e que ainda tem capacidade para atacar a Rússia e apresentar uma proposta de cessar-fogo. Porque isto do cessar-fogo parece que é simples e que amanhã acabou a guerra. Mas é muito mais complicado, porque é preciso definir as posições, é preciso verificar que nenhuma das partes utiliza o cessar-fogo para avançar, há toda uma série de questões, é preciso criar condições para a verificação do cessar-fogo. Há todo um conjunto de questões para garantir um cessar-fogo que dure. E depois é preciso iniciar negociações de paz, porque o cessar-fogo não é paz, é apenas uma pausa no conflito. A Ucrânia o que está a mostrar, não é aos russos, mas sim aos americanos. E é isso que é paradoxal, como eu disse desde o início, que a negociação não é entre a Ucrânia e a Rússia, é entre a Ucrânia e os Estados Unidos. E os europeus têm tido um papel importante também em apoiar a Ucrânia na negociação com os Estados Unidos. Mesmo que não pesem tanto como nós gostaríamos que pesassem na negociação com a Rússia. Pesam alguma coisa na negociação com os Estados Unidos.RFI: O que também interessa, aliás é o que está em cima da mesa pelo menos para os Estados Unidos, é a questão dos minerais, que é o ponto central para Donald Trump. Zelensky terá condições para de facto negociar um acordo que não seja demasiado prejudicial para a Ucrânia no que tange, por exemplo, à exploração e aos lucros que os minerais podem gerar?Álvaro Vasconcelos: Os americanos ligam a questão dos minerais ao apoio à Ucrânia para resistir à invasão russa e evidentemente que, nessa circunstância a negociação é difícil. Mas Zelensky tem continuado e os ucranianos têm continuado a dizer -e percebe-se completamente a lógica disso- que não há resultado final de negociações, ou seja, negociações sobre os minerais e negociações sobre o acordo de paz, ou seja, o cessar-fogo e o acordo de paz estão absolutamente ligados, para os ucranianos e também, de certa forma, para os americanos, à necessidade de haver garantias de segurança para a Ucrânia. E nesse sentido, até hoje não vimos mudança da posição da Ucrânia. Ou seja, aquilo que levou à situação que nós todos assistimos em directo na Casa Branca foi a recusa em aceitar um acordo sobre os minerais sem garantias de segurança para a Ucrânia. Eu não sei se para os americanos ou para Trump é mais importante os minerais ou apresentar-se aos americanos e ao mundo como o homem que impôs o cessar-fogo e a paz. Mas sei que Zelensky até agora não recuou naquilo que é absolutamente essencial. 'Ok, nós fazemos os acordos que os americanos querem, mas na condição de que os americanos dêem garantias de segurança'. Os detalhes do acordo sobre os minerais, ou seja, qual vai ser a parte ucraniana no controlo das suas próprias riquezas, qual vai ser a parte americana, como é que as empresas ucranianas serão envolvidas, que empresas americanas, quando é que isto começará a ter resultados, parece que demora muito tempo, segundo os especialistas. Tudo isso nós não conhecemos os detalhes, só conheceremos possivelmente no fim das negociações. Mas sabemos que a questão das garantias de segurança está absolutamente na agenda.RFI: Parece já estar assente para os Estados Unidos que, de qualquer forma, para haver paz entre a Rússia e a Ucrânia, deverá haver cedências territoriais por parte da Ucrânia e também que a Ucrânia desista da ideia de aderir à NATO.Álvaro Vasconcelos: Começamos, talvez pela primeira parte, que é a questão das cedências territoriais por parte da Ucrânia. Isso aí, os ucranianos vão aceitar uma situação de facto, acho eu, que é haver um cessar-fogo e um acordo de paz posteriormente. Mas começamos pelo cessar-fogo, porque os contornos do acordo de paz é difícil discuti-los hoje. Um cessar-fogo nas linhas actuais da guerra, possivelmente com um rearranjo aqui e acolá. E depois, continuarão as negociações para o acordo de paz. E é aí que as questões territoriais vão colocar-se. Mas na situação, digamos, de reconhecimento da ocupação de parte do território ucraniano pela Rússia, acho que nunca nenhum Presidente ucraniano, nenhum governo ucraniano aceitará. Ou seja, eles aceitarão uma situação de facto, mas continuarão a dizer que a reunificação da Ucrânia é um direito garantido pela comunidade internacional, pelas Nações Unidas, várias votações da Assembleia Geral das Nações Unidas e pelos tratados que foram assinados internacionalmente, inclusive pela Rússia, no fim da Guerra Fria. E, portanto, essa integridade territorial da Ucrânia vai continuar a ser defendida pelos ucranianos, ao mesmo tempo que eles farão concessões para um cessar-fogo e iniciarão uma negociação para um acordo de paz. Aliás, nos últimos dias houve esse aspecto interessante, que foi os ucranianos que estavam sempre na defensiva perante Trump, terem feito essa proposta, como já referiu, de um cessar-fogo parcial no ar e no mar, que foi no fundo também tomarem a iniciativa de serem eles a fazerem propostas e obrigarem agora os americanos a negociar com os russos. Até agora, os americanos não negociavam com os russos. Só negociavam com os ucranianos. Agora têm que negociar com os russos. Vamos ver se o Trump tem alguma capacidade ou quer ter alguma capacidade de pressão sobre a Rússia. O que não me parece ser o caso porque ele embarcou completamente na agenda do Putin.RFI: Outro aspecto que talvez possa pesar nas negociações -um aspecto que foi aliás mencionado pelo próprio Zelensky- que é a sua saída de cena. Isto foi também mencionado por outros responsáveis e pelo próprio Donald Trump que não esconde que gostaria de ver outra pessoa a dirigir a Ucrânia. Julga que isto pode ser também um elemento a ter em conta nas negociações?Álvaro Vasconcelos: Se eu não perdi nenhuma declaração do Zelensky sobre a questão- e posso ter perdido- o Zelensky diz que aceitaria sair de cena se a Ucrânia aderisse à NATO. Ou seja, se a garantia de segurança máxima que a Ucrânia pode ter, ser membro da NATO, porque até hoje nenhum membro da NATO foi atacado, não sabemos o que acontecerá amanhã com os Estados Unidos cada vez menos presentes e dando cada vez menos garantias de segurança no quadro da NATO. Mas até hoje, nenhum membro da NATO foi atacado. E o Zelensky disse que se Ucrânia entra na NATO, eu saio. Isso Evidentemente que a Rússia não vai aceitar, porque não quer que a Ucrânia tenha garantias de segurança, não aceita essas garantias de segurança máxima, não aceita as garantias de segurança que os europeus querem dar, com a presença militar europeia que tenha algum respaldo americano. Os russos e, pelos vistos, também Trump, querem sacrificar Zelensky. Mas o que é que significa sacrificar Zelensky? Significa tentar pôr no poder na Ucrânia alguém que seja dócil em relação a Trump e, logo, dócil em relação a Putin. E é no fundo, quando se fala de substituir Zelensky, que quando se diz que não é um Presidente eleito porque não houve eleições em Maio do ano passado dada a situação de guerra, o que se está a dizer? Ponham lá um homem pró-russo. Há vários. Lembremo-nos da França durante a Segunda Guerra Mundial. Acabou por chegar ao poder Pétain, que era um homem que aceitou a capitulação. Portanto, procurar um homem na Ucrânia que aceite a capitulação é o que estão a fazer russos e americanos. Mas evidentemente que isso enfrenta uma enorme dificuldade, que é a popularidade de Zelensky que aumentou desde a conversa da Casa Branca e o empenho dos ucranianos em protegerem a sua própria terra e os ucranianos terem criado nos últimos três anos um exército poderoso. Hoje a Ucrânia tem um exército poderoso, armado pelos americanos, mas também pelos europeus, e tem a sua própria indústria de armamento. Portanto, os ucranianos, apesar de todas as perdas e todas as mortes, continuam a querer defender a sua pátria. E nesse sentido, qualquer Presidente que capitula perante os russos, terá muita dificuldade de continuar no poder.RFI: No cômputo geral, o que é que se pode esperar desta primeira ronda negocial?Álvaro Vasconcelos: No fundo, isso são cenários. Não conhecemos os bastidores. Só sabemos aquilo que se passa à sua volta, os ataques ucranianos sobre as cidades russas, os ataques russos em curso, as declarações públicas de uns e de outros. Mas um cenário possível é que Donald Trump, querendo tanto a paz, consiga neste momento, que a delegação russa diga 'Ok, nós vamos fazer um primeiro passo nessa direcção', convencidos que têm Trump pelo seu lado e que Trump vai garantir os interesses russos. Ou seja, os russos vão dizer 'nós queremos uma Ucrânia desmilitarizada' e o Trump dirá 'sim a prazo'. E, entretanto, sairiam de uma negociação com a Ucrânia, aparentemente teriam conseguido alguma coisa, mas na realidade, o essencial estaria na mesma. Ou seja, Trump a apoiar o projecto russo de uma capitulação da Ucrânia e a prazo a sua desmilitarização e neutralização, o que criaria uma situação de altíssima vulnerabilidade para a Ucrânia e a Ucrânia, a prazo, seria conquistada pela Rússia. É possivelmente um cenário que permitiria a Trump dizer que teve algum sucesso nesta negociação. Mas a verdadeira negociação acontecerá quando ucranianos e russos se sentarem à mesma mesa e negociarem o que será um acordo de paz e um cessar-fogo -para começar- entre ambas as partes. E não me parece que isso vá acontecer agora na Arábia Saudita. Um outro cenário que é talvez o mais provável, é que a gente tenha a notícia de que as negociações fracassaram. Que os negociadores regressaram e marcaram outra data da negociação porque não conseguiram chegar a um acordo. Que a Ucrânia manteve a exigência de garantias de segurança e os Estados Unidos ainda não declararam, e não me parece que vão declarar, que deram essas garantias de segurança.

Convidado
Síria: "A violência está a ser perpetrada de ambos os lados"

Convidado

Play Episode Listen Later Mar 10, 2025 9:29


Mais de 1000 pessoas foram mortas após os confrontos entre as forças de segurança sírias e os apoiantes do Presidente deposto, Bashar al-Assad. O Presidente da Síria, Ahmed Sharaa, garantiu que todos aqueles que atentarem contra o Estado e os dissidentes serão punidos, alertando também para a possibilidade de uma nova guerra civil eclodir no país. Calton Cadeado  especialista em Relações Internacionais, reconhece as fragilidades do novo Governo, contudo, refere que a violência está a ser perpetrada de ambos os lados. Esta violência entre as forças de segurança sírias e os apoiantes do presidente deposto, Bashar al-Assad, era previsível?Neste momento, há informações que ainda não estão claras e há uma disputa de narrativas, uma que é a pró-governamental e a outra que é a anti-governamental, se assim quisermos dizer. Para todos os efeitos, existe um facto que não pode ser negado e que já era esperado Refiro-me às pessoas leais a Bashar al-Assad que estão a contestar esta transição de poder por via da força. Quanto tempo isso vai levar? É uma incógnita. Mas, de todas as formas, estamos a assistir a uma contestação violenta, sendo que a resposta também é violenta e condenável. Mas, no jogo político, é preciso entrar na cabeça do novo regime para perceber porque é que eles estão a reagir desta forma. Vamos lá pensar de forma especulativa, mas com factos: estes companheiros – que tomaram o poder pela força – foram vítimas de repressão do regime de Bashar al-Assad e pensam que é legítimo, agora, fazer a vingança.Não compete à Justiça responder a esse tipo de situações?O que todos nós gostaríamos é que a Justiça funcionasse, mas neste momento existe uma resposta violenta, uma vingança violenta ao que eles não conseguiram fazer [no passado].As forças de segurança do novo Governo anunciaram a detenção de vários autores de violência contra civis nas províncias costeiras da Síria. Esta resposta parece-lhe a mais sensata?A detenção é a melhor opção, a mais ideal, pois permite às pessoas responderem perante um tribunal sobre esta situação. Mas, repito, o que se está a verificar é a ideia da vingança, também pode ser a ideia de utilização do medo como factor de imposição da autoridade. É preciso lembrar que este Governo ainda está numa fase de instalação.O Presidente sírio, Ahmed Sharaa, disse - num discurso à nação - que o país enfrenta um novo perigo, representado pelos apoiantes do antigo regime de Bashar al-Assad e pelas forças externas que procuram arrastar o país para uma guerra civil com o objetivo de o dividir, destruindo a unidade e a estabilidade. É disso que se trata? Há essa ameaça?A ameaça está lá porque a tomada de poder ainda não está consolidada na ocupação real do território. Também não sabemos quais são as pretensões destes grupos que se uniram para derrubar Bashar al-Assad. O grupo dos curdos, por exemplo, não esconde a sua pretensão de criar o tal grande Curdistão, com a Síria, a Turquia e o Iraque. Actualmente, não há garantias da efectividade do controle do território por este novo regime. Então, tudo o que vier é motivo de medo, servindo de pretexto para o uso da força, inclusive num nível extremo. Pode eventualmente ser uma situação dessas, mas também é preciso desconfiar que o Governo pode estar a usar este assunto como pretexto para justificar o excesso de violência contra qualquer um que tente pôr em causa o poder instalado, porque o poder instalado definitivamente ainda não está consolidado.Foi ainda anunciado um comité superior para preservar a paz civil, que será encarregue, em nome do presidente da República, de comunicar diretamente com o povo da costa síria, ouvi-lo e prestar-lhe o apoio necessário. Qual é a importância deste comité superior para preservar a paz civil?É uma boa iniciativa e dá um sinal de que é preciso reconhecer que a Síria precisa de paz. Pode também ser um sinal de que é preciso incluir todos os actores da paz civil. Porém, essa expressão "paz civil" pode ser um sintoma de exclusão de qualquer força armada associada a Bashar al-Assad. Pode ser uma forma de dizer, inclusive aos leais a Bashar al-Assad: “Vocês têm um espaço aqui desde que deponham as armas e façam um jogo político na Síria”. Mas o medo vai ser sempre a tónica dominante e que vai influenciar a efectivação deste comité.Dezenas de pessoas reuniram-se, no dia 7 de março,  na Síria para pedir protecção de Moscovo. Bashar al-Assad, vive em Moscovo desde que deixou a Síria, a Rússia afirmou que Moscovo está a coordenar estreitamente os esforços com os parceiros estrangeiros no interesse de um rápido desanuviamento da situação…Eu tenho grande dificuldade em tratar deste assunto como um assunto puramente identitário de minorias ou maiorias. Neste caso, é claramente um assunto político entre grupos rivais políticos. Acontece, infelizmente, esta associação ao grupo da minoria alauíta [minoria da qual Bashar al-Assad faz parte]. Mas esta não é uma luta entre alauítas e xiitas, ou alauítas e sunitas. Esta é uma luta de poder entre actores políticos. Então, a protecção que vai ser dada neste momento é à população civil, sob pena de se correr o risco de estar a falar apenas de alauítas. Todavia, naquela zona, podem estar a morrer pessoas que não são alauítas. São os civis que têm de ser protegidos. Aliás, a informação que está a circular é que há gente que foi refugiar-se na base russa. Neste momento, qualquer tentativa de associar este problema à minoria alauíta é uma forma de diminuir o verdadeiro problema, instrumentalizando a identidade alauíta para fins políticos. Em todo o caso, a Rússia deve proteger todos os civis.A Turquia, que apoiou os rebeldes quando Assad ainda estava no poder, avisou que os atuais combates representam uma ameaça séria para o novo governo. O novo Governo está, de facto, ameaçado?Sem dúvida, este é um Governo que ainda está na fase de instalação, não controla todo o território. Este grupo que chegou ao poder com um elevado nível de legitimidade, por ter derrubado Bashar al-Assad, esconde as divisões internas. Uma das divisões internas, que o próprio grupo já reconheceu, é o medo da influência que o Estado Islâmico pode desempenhar neste novo xadrez político. Refiro-me ao controlo territorial, com propostas para a federalização da Síria e entregar o controlo de território a cada um destes grupos, diminuindo o peso do Estado no controlo territorial na sua globalidade. Num cenário de presença do Estado Islâmico a controlar o território, quais seriam as consequências para a Síria, Turquia ou Israel? Então, há esse medo, e é um medo real.Que papel poderá desempenhar a Turquia?A Turquia pode ser um elemento de protecção do novo regime para não dar espaço para que os grupos actuem, por exemplo, na zona norte. A Turquia pode bloquear as intervenções, sobretudo dos grupos leais a Bashar al-Assad.  Na minha análise deste cenário, estes grupos leais – que estão a tentar pôr em causa o novo regime – não têm pernas para andar, pelo menos na zona norte, porque não têm uma retaguarda segura no mar .A Europa mostrou-se chocada com esta escalada de violência. Apelou a todos para que procurem soluções pacíficas para a unidade nacional, um diálogo político inclusivo e justiça transitória. Há aqui o risco de a Europa voltar atrás na intenção de levantar as sanções contra a Síria com esta situação?Neste momento, tudo está em aberto e é possível que isso venha a acontecer. Agora, vamos ver quais são as discussões que a Europa faz com o novo regime, porque a Europa quer preservar os direitos humanos, mas o novo regime quer preservar o poder e a integridade territorial. O que vem primeiro? Se formos a usar a teoria liberal, são os valores dos seres humanos que vêm primeiro, mas se formos usar a teoria realista, o que vem primeiro é o Estado. Podiam-se fazer as duas coisas ao mesmo tempo; seria o mais desejável, mas estamos a falar de duas perspetivas de grupos diferentes.

Vale a pena com Mariana Alvim
T3 #47 Elisabeth Strout

Vale a pena com Mariana Alvim

Play Episode Listen Later Feb 25, 2025 33:01


What a privilege to be able to interview one of my favorite authors and introduce her to fans and potential readers. And also to learn about some of her favorite readings. If you enjoy it even half as much as I did, it will have been worth it.Que privilégio poder entrevistar uma das minhas autoras favoritas e dá-la a conhecer aos fãs e potenciais leitores. E conhecer também algumas das suas leituras favoritas. Se gostarem metade do que gostei, já valeu a pena.4 books Elisabeth chose/4 livros que escolheu:The Collected Stories of William Trevor;The Magic Mountain/A Montanha Mágica, Thomas Mann;Anna Karenina, Tolstoy;Mrs. Dalloway, Virginia Woolf.Other recommendations/Outras referências:William Trevor:Mrs Silly;Felicia's Journey/A Viagem de Felicia;My house in Umbria.Some of the books Elisabeth wrote/Alguns dos livros que escreveu:Amy and Isabelle;Olive Kitteridge;Olive, Again/A 2ª vida de Olive Kitteridge;My Name Is Lucy Barton/O Meu Nome é Lucy Barton;Anything is possible/Tudo é possível;Oh William!Lucy by the Sea/Lucy à Beira Mar;Tell Me everything/Conta-me tudo.I recommended/Recomendei:The selected Poems: Devotions, Mary Oliver;Marriage Portrait/O Retrato de Casamento, Maggie O'Farrel;The convenant of water/O pacto da água, Abraham Verghese;Shrines of Gaiety/Templos da Alegria, Kate Atkinson;The Secret History/A História Secreta, Donna Tartt;Amor Towles:Lincoln Highway;A Gentleman in Moscow/Um Gentleman em Moscovo.I gave her/Ofereci-lhe:Demon Copperhead, Barbara Kingsolver.Os livros aqui:www.wook.pt

A História do Dia
Até onde pode chegar a aliança Trump/Putin?

A História do Dia

Play Episode Listen Later Feb 24, 2025 18:18


Três anos depois da invasão russa, Trump aponta culpas a Kiev e aproxima-se de Moscovo. O que acontece se a Ucrânia não ceder? Conversa com João Diogo Barbosa, especialista em assuntos internacionais.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Expresso - O mundo a seus pés
Ucrânia: três anos após invasão, ucranianos estão “com medo de terem de voltar a ser russos”

Expresso - O mundo a seus pés

Play Episode Listen Later Feb 24, 2025 37:32


A frase do título é um forma de expressão. Nenhum ucraniano é russo e por isso não pode voltar a ser o que nunca foi. Mas é assim que o medo se expressa nas ruas do país, agora que o novo inquilino na Casa Branca parece ter passado a bola para as mãos de Putin. “Voltar a ser russos” é voltar a ter políticos alinhados com Moscovo, voltar a viver sob jugo ditatorial como na altura da URSS, para mencionar apenas o mais recente período de domínio russo sobre a Ucrânia. Neste podcast falamos com o repórter André Luís Alves, que vive na Ucrânia, e com a investigadora Cátia Moreira de Carvalho que visitou recentemente várias start-ups de Defesa na UcrâniaSee omnystudio.com/listener for privacy information.

Convidado
Guerra na Ucrânia: "Estamos em risco de passar de um mundo democrático para um mundo de ditadura"

Convidado

Play Episode Listen Later Feb 24, 2025 14:26


Nesta segunda-feira, assinalam-se os três anos da invasão russa do território ucraniano, 2025 marcando igualmente os 11 anos do início da ofensiva de Moscovo contra o leste do país. Anos de incerteza recordados hoje em Kiev pelo Presidente Volodymyr Zelensky na presença de líderes europeus, seus aliados, nomeadamente a Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, e também o Presidente do Conselho Europeu, António Costa. Três anos depois da invasão da Ucrânia, a situação no terreno continua difícil para as tropas ucranianas que enfrentam a falta de meios para combater. No aspecto político, o regresso de Donald Trump à Casa Branca marcou também uma viragem completa do posicionamento dos Estados Unidos relativamente ao conflito, com o Presidente americano a dialogar com Vladimir Putin sobre um possível processo de paz, na ausência da Ucrânia e do resto da Europa.Para além destes aspectos, o dia 24 de Fevereiro de 2022 também marca o começo do exílio para muitos ucranianos que a guerra empurrou para fora do seu país.De acordo com as Nações Unidas, desde o início da invasão russa e até sensivelmente Julho do ano passado, a Europa acolheu mais de 6 milhões de refugiados ucranianos que se repartiram maioritariamente nos países circundantes.Em França, chegaram quase 67.000 e Portugal acolheu um pouco mais de 63.000 ucranianos, sendo que esta comunidade abrange actualmente mais de 117.000 pessoas de norte a sul de Portugal.Abraão Veloso fundou o Centro Social e Cultural Luso-Ucraniano em Braga em 2015 pouco depois da invasão do leste da Ucrânia. "Esta associação nasceu em resposta à invasão do Donbass. Um amigo ucraniano, um dia, veio pedir-nos ajuda porque o país dele estava em dificuldade e nós dissemos que estávamos disponíveis para mobilizar a sociedade e depois surgiu esta associação, porque sem uma associação não é possível fazer nada", conta o líder associativo."Havia muitos deslocados, sobretudo do Donbass. E nós procuramos, na medida do possível, enviar ajuda. Nesse tempo era muito mais difícil, uma vez que a sociedade não estava muito virada para a questão ucraniana. Era uma questão lateral. Mas nós, nesse período, fizemos isso. Trabalhámos muito com a comunicação social para alertar que havia ali uma guerra que estava a consumir muitas vidas. Naqueles anos antes da invasão, fala-se em cerca de 15.000 mortos, portanto um número muito elevado", refere Abraão Veloso.Ao evocar o acolhimento de refugiados ucranianos no extremo norte de Portugal, o activista social diz que "em Braga foram acolhidos excelentemente, porque houve aqui um acordo entre as diversas instituições a Câmara, a Cruz Vermelha e outros e a associação. Um hotel foi colocado ao serviço da chegada desses ucranianos refugiados. Foram diversos autocarros, nomeadamente a Cracóvia, buscar refugiados. E quando chegaram a Portugal tinham um hotel todo por sua conta para os acolher. E depois foi feito o encaminhamento uns para as famílias, outros para os amigos. (...) Um técnico fez o primeiro embate dos ucranianos com as instituições para terem um acolhimento temporário. Iam com eles a Segurança Social, ao Centro de Emprego, aos diferentes organismos aqui da região, às escolas".Desde 2015 e sobretudo, nestes últimos três anos, chegaram milhares de ucranianos a Portugal, o líder associativo recordando ter chegado a apoiar duzentas pessoas ao mesmo tempo. "Neste momento, o número é muito menor, porque eles, tal qual os portugueses, têm vontade de voltar à sua terra."O regresso à Ucrânia é, de facto, o horizonte de muitos refugiados que se encontram em Portugal, constata também Roman Grymalyuk que vive no Algarve hà vinte anos e que contrariamente aos seus compatriotas, pretende prosseguir o seu caminho em terras lusas.Contudo, isto não significa que se tenha desligado do seu país de origem, Roman Grymalyuk tendo criado há dois anos e meio a Oranta, Associação de Apoio à Comunidade Ucraniana no Algarve. Para além de apoiar os refugiados que chegam a Portugal, esta associação também fornece algum apoio logístico à Ucrânia."Nós estamos a trabalhar com vários batalhões e com várias instituições médicas na Ucrânia. Estamos a transformar vários tipos de veículos, principalmente veículos 4X4 para carrinhas de resgate dos feridos da zona de combate, tanto como os carros para transportar os feridos do centro de estabilização para hospitais", explica o activista que ao regozijar-se com o facto de "muitos municípios do Algarve entenderem o que está a acontecer no país", refere ter tido "a possibilidade de ajudar os ucranianos -para já- na tradução da língua porque nem todos os que vão (a Portugal) têm a mínima ideia da língua portuguesa. Começámos a falar com escolas, começámos a falar com municípios. Tivemos muita sorte porque tivemos muitas respostas positivas"."Até não há muito tempo atrás, nós estivemos a fazer algumas contas da quantidade de coisas que aconteceram só no município de Lagos. Por exemplo, tivemos mais de 740 pessoas que receberam apoio aqui na nossa zona", constata ainda o líder associativo ucraniano que não deixa de observar, tal como Abraão Veloso que a tendência é frequentemente tentar regressar ao país"No fim do primeiro ano da invasão russa na Ucrânia, voltaram mais ou menos à volta de 20% das pessoas que chegaram nos primeiros tempos da invasão. Claro que temos várias pessoas que já se sentem muito bem em Portugal, porque já é o terceiro ano. Há algumas pessoas que já tomaram a decisão que vão continuar a viver em Portugal, gostaram do sítio ou até algumas já montaram famílias aqui em Portugal. Mas também temos ainda muito pessoas que têm a esperança de que isto acabe o mais rápido possível, porque querem voltar para a Ucrânia", constata Roman Grymalyuk.Questionado sobre a sua recente estadia na Ucrânia no ano passado, depois de um longo período de ausência, o activista social dá conta da sua dor."Para mim foi um bocado complicado, porque foi por um caso muito triste para mim, pelo falecimento do meu pai. Foi por isso que eu voltei à Ucrânia. Mas, como já durante os últimos três anos, estava completamente envolvido nos apoios e em contacto com militares e com médicos, tinha tomado a decisão de fazer a minha viagem para a linha de frente, para ver tudo lá no sítio, para falar como eles mesmo lá no sítio, para perceber melhor o que é que falta", recorda Roman Grymalyuk."Quando cheguei, vou dizer a verdade, fui a algumas zonas que não foram afectadas pela guerra. Fiquei muito surpreendido porque o país ficou muito mais evoluído nalgumas partes, mas também fiquei muito triste ao ver em vilas e cidades, onde as pessoas mesmo assim tentavam fazer uma vida normal. E houve momentos em que me vieram lágrimas, porque não podia perceber como é possível crianças crescerem com este barulho, a ouvir os disparos, os bombardeamentos e estar tão tranquilo", conta o responsável associativo."Hoje em dia, estamos numa situação muito grave. Não é só para a Ucrânia. Estamos numa situação muito perigosa, tanto para a Europa, como para o futuro mundial, porque hoje estamos em risco de passar de um mundo democrático para um mundo de ditadura", conclui Roman Grymalyuk.

Economia dia a dia
Três anos depois, como a invasão da Ucrânia pela Rússia impactou a economia dos dois países?

Economia dia a dia

Play Episode Listen Later Feb 24, 2025 4:24


Em 2022, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia ucraniana caiu 28,8%, a maior descida desde 1991, (o ano em que o país se tornou independente). Já do lado da Rússia, nesse mesmo ano, o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 1,2%See omnystudio.com/listener for privacy information.

Direto ao Assunto
"Trump é maior ameaça à Ucrânia que a Rússia"

Direto ao Assunto

Play Episode Listen Later Feb 24, 2025 18:57


Ex-MNE Santos Silva considera "obscena" ideia de Trump meter a mão a recursos da Ucrânia e que EUA ameaçam mais segurança do país do que Moscovo. E elogia "cautela" de Portugal sobre envio de tropas.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer
Calafrios e segredos mal guardados

Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer

Play Episode Listen Later Feb 22, 2025 50:42


Há o dentro e o fora. As pequenas causas e as grandes cousas. Nestas últimas, enfrentamos o “blitzTrump”: um mês de presidência por decreto em que a Casa Branca até já publicou uma fotografia do Presidente com uma coroa de monarca. O mundo mudou e na Europa, por entre calafrios, não há dúvidas de que terá mudado para pior. Trump, ao mesmo tempo que chama ditador a Zelensky, combina visitar Moscovo para um abraço a Putin. Enquanto estas cousas se passam no mundo, o parlamento português debate a primeira moção de censura a Montenegro. Com ela, durante uns dias não se falou de malas roubadas nem de prostituição de menores por 20 euros. Ao mesmo tempo, Marques Mendes revela as suas causas presidenciais e Gouveia e Melo põe por escrito o seu programa de uma candidatura que é o segredo mais mal guardado da política portuguesa.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Diplomatas
Há uma nova ordem mundial e quem manda nela é Trump, Putin e Xi Jinping

Diplomatas

Play Episode Listen Later Feb 21, 2025 42:26


Na última terça-feira, EUA e Rússia restabeleceram, em Riade, na Arábia Saudita, contactos bilaterais e anunciaram a criação de equipas para negociarem um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Um dia depois, Donald Trump reagiu às críticas do presidente ucraniano, por ter estado ausente deste encontro. Trump disse que Volodymyr Zelensky poderia ter alcançado um acordo mais cedo, sugeriu que Kiev é responsável pelo início da invasão russa e repetiu um argumento russo, o de que Zelensky não tem legitimidade para negociar, porque o seu mandato presidencial já terminou. Pior do que isso, disse que Zelensky é um ditador, que arrastou os EUA para a guerra. O presidente ucraniano respondeu que Trump está a viver "num espaço de desinformação" e que resgatou Moscovo do isolamento internacional. O mal-estar entre os dois presidentes é evidente. Este roteiro negocial privilegia a posição russa, a quem são concedidas concessões antes do início do próprio processo. A realização de eleições presidenciais na Ucrânia, neste momento, gera preocupações de que a Rússia possa utilizar o voto para destituir Zelensky e instalar um candidato pró-Putin, que concordaria com termos de paz mais favoráveis a Moscovo. Razão para dizer que a agressão compensa. Neste episódio, Teresa de Sousa, jornalista, e Carlos Gaspar, investigador do IPRI, explicam que os EUA deixaram de ter uma aliança com a Ucrânia e passaram a ter uma aliança com a Rússia. Em suma, há uma nova ordem mundial e quem manda nela é Trump, Putin e Xi Jiping. Texto de Amílcar CorreiaSee omnystudio.com/listener for privacy information.

Convidado
Cimeira do G20: "Estamos a caminhar para um desmantelamento da ordem liberal"

Convidado

Play Episode Listen Later Feb 21, 2025 12:57


Esta sexta-feira marca o segundo e último dia da cimeira dos chefes da diplomacia do G20 em Joanesburgo, no âmbito daquela que é a primeira presidência do bloco a ser assegurada pela África do Sul.  Neste encontro, não compareceu o secretário de Estado americano Marco Rubio cujo país pretende sublinhar a sua rejeição da lei sul-africana autorizando a expropriação de terras de Afrikaners, os Estados Unidos querendo também de certa forma "sancionar" Pretória pelo seu apoio à causa palestiniana face a Israel, grande aliado de Washington.Nesta cimeira cuja agenda oficial também previa discussões em torno do clima e de uma maior integração no bloco do G20, também se abordou a situação da Ucrânia. Ao anunciar ter convidado o seu homólogo ucraniano para efectuar muito em breve uma visita à África do Sul, o Presidente Cyril Ramaphosa, defendeu nesta cimeira um processo de paz "que inclua todas as partes", inflectindo ligeiramente a sua política em relação à Rússia, seu tradicional parceiro. Por sua vez, a China, também presente na cimeira, disse que as discussões directas mantidas recentemente entre Moscovo e Washington sobre a Ucrânia, mas na ausência das suas autoridades, representam "uma janela para a paz".Assuntos sobre os quais reflectimos com o economista guineense Carlos Lopes, antigo secretário executivo da Comissão Económica para África e professor na Universidade do Cabo, que começa por evocar a mensagem enviada pelos Estados Unidos ao não comparecer em alto nível na cimeira de Joanesburgo.RFI: Qual era a mensagem dos Estados Unidos ao não participar nesta cimeira do G20?Carlos Lopes: Eu acho que a mensagem é de facto, mais do que a África do Sul, eu acho que os Estados Unidos estão a demonstrar uma grande hesitação em relação ao multilateralismo em geral e, portanto o G20, faz parte de uma dinâmica de contestação de tudo o que seja negociação multilateral. E os Estados Unidos estão, de facto, a demonstrar que o G20 não vai ter a importância que tinha. Há uma erosão da força do G20 que vem até do facto de ter sido vítima um pouco do seu sucesso. Era uma estrutura mais ou menos adormecida em 2008, 2009. Houve a crise financeira internacional que obrigou a que se saísse do quadro do G8 na altura, para se poder responder às dificuldades da economia mundial. Isso acabou por dar grande força ao G20. Mas, depois disso, vítima justamente desse sucesso, multiplicaram-se os apelos para que o G20 interviesse em tudo quanto é coisa. Neste momento, é um conglomerado de reuniões, cerca de 300 por ano, que cada presidência tem que organizar, quase uma por dia. E, portanto, acaba por ser uma perda de foco. E essa perda de foco levou também a uma perda de importância. E agora, com estas decisões por parte da administração Trump, está-se a ver que talvez esteja a chegar ao fim de um ciclo. RFI: Independentemente da posição americana, o que está a dizer, no fundo, é que o G20, com essas reuniões todas, acaba por ter menos impacto nas decisões mundiais. Carlos Lopes: Exacto. E vê-se que, por não ter sido capaz de resolver os grandes problemas da macroeconomia mundial, por exemplo, não houve concertação em relação à resposta pós-pandemia. Os problemas de inflação foram perturbados por falta de capacidade de coordenação macroeconómica mundial. A regulação sobre questões fiscais está neste momento muito tensa. Há um desmantelamento do regime comercial que foi construído à volta da OMC. E, portanto, o G20, em cada uma destas áreas, que são áreas da economia para o qual o seu foco devia ser o mais importante, não está a ter a intervenção que tinha antes e, portanto, acaba por falar de tudo quanto é coisa, mas não daquilo que era, digamos, o seu objectivo principal. RFI: No fundo, o G20, como várias outras entidades formais ou informais a nível internacional, não estará também a ser uma "vítima colateral" da agenda de Trump? Estou a referir-me, por exemplo, ao caso das Nações Unidas, que é o mais flagrante. Carlos Lopes: Sem dúvida. Eu acho que nós estamos a caminhar para um desmantelamento da ordem liberal que vigorou durante bastante tempo e que serviu de base à construção do que é a arquitectura do sistema multilateral e, portanto, a administração Trump neste momento, está a dar demonstrações muito claras de que não quer continuar com essa ordem e, portanto, não sabemos muito bem o que vai emergir. Mas o que é facto é de que, digamos, a pauperização do sistema em termos financeiros vai ser ainda maior e, portanto, a influência destas diferentes agências do sistema internacional e, sobretudo, o papel do Banco Mundial e do FMI vão estar no centro das atenções da administração Trump. Não me admirava nada que nós chegássemos a uma situação de paralisia sobre uma série de programas e uma série de iniciativas que faziam parte do programa ou das intenções de reforma das instituições de Bretton Woods. RFI: O que estamos a observar, por exemplo, é a paralisação da ajuda directa dos Estados Unidos. Estou a pensar nomeadamente na USAID, mas também na ajuda indirecta dada através das instituições da ONU. Isto, no fundo, não será uma espécie de arma de arremesso para fazer com que os parceiros dos Estados Unidos acabem por ceder perante as suas exigências? Carlos Lopes: Eu acho que não funciona. Acho que, antes pelo contrário, a ajuda internacional, ela é sobretudo importante para África, porque nas outras regiões perdeu força. E na África ela foi também descendo em termos de importância, porque nós passamos para um patamar em que representava quase 3 a 4% do PIB africano para, neste momento, cerca de 1%. Portanto, isto são indicações de que a ajuda não tem o peso que tinha antes. Mas mais importante do que isso, temos uma série de novos actores que são agora responsáveis pela principal plataforma de investimentos do continente. Por exemplo, a China é o principal investidor em termos de volume, mas ultimamente foi ultrapassado até por países do Golfo. Nós temos ainda os países europeus que têm a maioria do stock de investimentos, mas não os novos investimentos. Enfim, todas as indicações são de que a ajuda ao desenvolvimento tem perdido também força. O que os Estados Unidos decidiram com praticamente a abolição do seu programa de ajuda ao desenvolvimento tem implicações muito grandes no sistema multilateral, porque a ajuda bilateral vai afectar sobretudo a área da saúde, que era onde estava a grande concentração da ajuda. Portanto, a saída da OMS é uma indicação de que não se vai mais aceitar o que era, digamos, o consenso mundial sobre as questões de saúde. E nós sabemos quais são as posições do secretário de Saúde que acaba de ser nomeado, Robert Kennedy, que é muito céptico sobre a regulação em matéria de saúde, incluindo vacinas. E nós depois temos, digamos, o impacto da saída dos Estados Unidos em termos financeiros das várias agências da ONU. Mas, como eu dizia antes, também a possibilidade de não contribuir para o reforço que foi aprovado há pouco tempo da "arma constitucional" do Banco Mundial. E se isso vier a acontecer -e eu acho que vai acontecer- ou seja, não fazer a contribuição que estava prevista, nós temos um "efeito ricochete", que é do custo de capital para os países africanos ser muito mais elevado por causa do aumento do risco. E, portanto, as consequências acabam por ser importantes, mais do ponto de vista colateral do que do ponto de vista da ajuda directa que era fornecida até agora. RFI: Entretanto, no âmbito desta cimeira, também se falou muito da Ucrânia. Apesar da sua proximidade com Moscovo, a África do Sul defendeu uma solução negociada que "inclua a Ucrânia". A China, por sua vez, considerou que se abriu "uma janela" para negociações, referindo-se ao diálogo directo entre os Estados Unidos e a Rússia. Como é que se podem interpretar estes dois sinais? Carlos Lopes: São sinais de que os países dos BRICS não têm um entendimento comum sobre a geopolítica internacional. Têm interesses comuns, mas também têm diferenças. E, portanto, quando acontecem estas oportunidades de poder mostrar essas diferenças, é importante para assinalar uma certa independência. E penso que foi isso que fez a África do Sul e é isso que faz a China, para não parecer que está todo o mundo no seio dos BRICS, num alinhamento perfeito, o que não é o caso. RFI: Como é que fica a agenda da África do Sul nesta cimeira? Também havia na ementa a questão climática e também uma maior integração no grupo do G20. Carlos Lopes: É evidente que a África do Sul estava a contar com esta presidência, primeiro para pôr a voz da África muito mais vibrante, porque é a primeira ocasião de participação completa integral da União Africana, que foi admitida o ano passado do ponto de vista formal. Segundo, porque queria que as questões que são particularmente prementes para o continente estivessem, digamos, no topo das preocupações mundiais. E daí, portanto, o slogan de ser uma cimeira que deve se concentrar sobre a solidariedade, a igualdade e a sustentabilidade. Era o slogan que a África do Sul escolheu. E atrás desse slogan, as prioridades são de tentar conseguir uma resiliência do ponto de vista da resposta aos desastres climáticos, de conseguir que os minerais críticos sejam objecto de uma "approach" que põe os países africanos no centro também da transformação da cadeia de valor. Ou seja, não mais fazer a exportação de matérias-primas sem transformação local e, portanto, as outras questões que têm a ver também com, digamos, a taxação. As questões da igualdade têm a ver um pouco com a taxação, que foi um tema introduzido pela presidência brasileira quando se deu esta. E eu acho que vai haver linguagem no comunicado final, que vai seguramente nesta direcção, ou seja, dar importância às questões do clima, dar importância às questões da estruturação de uma resposta ao problema da desigualdade e de aumentar a solidariedade que é, digamos, uma linguagem codificada para dar mais atenção a África. Mas eu penso que não vai haver consensos. Normalmente os comunicados são adoptados por consenso. Não sabemos muito bem qual vai ser a reacção dos Estados Unidos porque eles têm dificuldades com este tipo de linguagem e, portanto, é muito provável que haja uma aprovação com uma qualificação de voto, como se faz muitas vezes, onde o aquilo que não está de acordo deixa passar, mas depois faz uma qualificação, fica registado de que não está de acordo. RFI: Mais atenção a África também significa mais atenção aos conflitos que estão neste momento a decorrer em África. Estou a pensar no Sudão, estou a pensar também na RDC, sobre os quais o mundo permanece mudo. Carlos Lopes: Pois, porque nós temos agora uma diminuição muito grande dos meios de intervenção e temos, digamos, uma espécie de abertura para que a lei do mais forte impere. Porque é isto que as relações internacionais nos estão a demonstrar por parte dos países mais poderosos. E, portanto, acaba por ser uma contestação da ordem tradicional. Não há muitas possibilidades de chegar a acordos no seio do Conselho de Segurança e, portanto, as indicações que vêm do Conselho de Segurança das Nações Unidas é de que há divisão. Portanto, quando há divisão, as partes em conflito aproveitam-se dessa divisão para poderem fazer imperar a sua própria interpretação do conflito. E, portanto, nós estamos provavelmente no princípio de uma curva de deterioração das questões de segurança, porque as doutrinas de manutenção da paz estão completamente ultrapassadas com os desenvolvimentos actuais e as novas tecnologias, porque os protagonistas dos vários cenários políticos se sentem um pouco mais à vontade para poder fazer imperar a força. E também porque há um desinteresse e um desengajamento em relação aos conflitos que se consideram serem mais marginais e que não perturbam, digamos, os interesses principais dos grandes países. Então, alguns dos países africanos que estão em conflito não têm muita importância para os grandes e, portanto, acaba por se deixar um pouco acontecer o que tiver que acontecer.

Expresso - Expresso da Manhã
A Rússia já está a colonizar a Geórgia. Uma realidade confirmada pela reportagem da SIC

Expresso - Expresso da Manhã

Play Episode Listen Later Feb 20, 2025 14:34


Na capital da Geórgia, quem luta pela liberdade sai todas as noites para se manifestar. A SIC enviou uma equipa de reportagem a Tbilissi e vai mostrar no Jornal da Noite desta quinta-feira como os georgianos resistem a um destino traçado e como os russos estão a ocupar parte do país e as melhores zonas da capital. Neste episódio, conversamos com a jornalista Susana André.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Convidado
"Donald Trump não reconhece UE como potência, favorecendo regimes autocráticos"

Convidado

Play Episode Listen Later Feb 19, 2025 10:59


As delegações norte-americana e russa estiveram esta terça-feira, 18 de Fevereiro, reunidas em Riad, capital da Arábia Saudita, a discutir sobre o destino da Ucrânia, sem presença ucraniana. "A política externa de Donald Trump rompe com o internacionalismo liberal que guiou os Estados Unidos da América (EUA) nos últimos 125 anos", lembra a professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, Maria Ferreira, sublinhando que "Trump não reconhece a União Europeia como potência regional preferindo favorecer regimes autocráticos". RFI: De que forma olha para esta recente postura de Donald Trump em relação à Rússia, para o futuro da geopolítica internacional. Este pode ser um ponto de viragem nas relações entre os Estados Unidos e a Rússia. O que está a acontecer entre a Rússia e os Estados Unidos?Está a acontecer o total romper de expectativas em relação à política externa norte-americana. Nas Relações Internacionais, há uma diferença entre anarquia e anomia. Até aqui, existia anarquia internacional, mas havia algumas expectativas em relação ao comportamento dos Estados. O que Donald Trump está a fazer é pôr fim ao internacionalismo liberal que guiou a política externa norte-americana nos últimos 125 anos, desde Theodore Roosevelt. E está a substituir o internacionalismo liberal pela adopção de um realismo absolutamente ofensivo que se baseia na ideia de que os Estados, mesmo as democracias, têm um direito natural à expansão geográfica. Colocando-se ao lado de Putin, Donald Trump solidifica a sua aliança de autocracias, legitima a sua pretensão à Gronelândia, quebrando com aquelas que foram as premissas da política externa norte-americana desde o início do século, ou seja, com as constantes linhas de força da política externa norte-americana nos últimos 125 anos.O que Trump está a mostrar é que só reconhece grandes potências no plano internacional e a União Europeia não é considerada como uma potência regional na Europa. Até porque, como o vice-presidente dos Estados Unidos afirmou em Munique, a Europa não se encaixa na visão ideológica da administração Trump, que favorece autocracias e não democracias. Trump, no fundo, o que quer é um espaço pós-soviético nas mãos de Vladimir Putin. Faz lembrar a citação de Tucídides: "Os fortes fazem o que querem, e os fracos sofrem o que têm que sofrer".Mas há também aqui a questão da China. A prioridade de Trump será, a seu ver, conter a China, que apoia a Rússia e não a resolução da questão ucraniana?Não me parece. Parece-me que, neste momento, e antes de se tratar da questão chinesa, Donald Trump está muito interessado em criar um conflito na Europa pela hegemonia regional, e os Estados Unidos estão a favorecer a Rússia à custa da União Europeia e da Ucrânia. Aliás, existe aquilo a que Thomas Gomart, director do Instituto Francês de Relações Internacionais, descreve como uma espécie de convergência ideológica entre Washington e Moscovo. E, portanto, há aqui uma espécie de prenda estratégica que foi dada a Vladimir Putin, mesmo sem qualquer concessão por parte de Moscovo em relação ao futuro da Ucrânia. O problema é que a União Europeia se encontra profundamente dividida. Este modus operandi das reuniões que excluem os Estados europeus e incluem outros mostra essa profunda divisão da Europa, que acontece porque poucos Estados europeus querem efectivamente enviar tropas para a Ucrânia, designadamente da Polónia ou Alemanha. Portanto, há aqui uma falta de posição da União Europeia quanto às garantias de segurança que podem ser dadas à Ucrânia. Face a esta acção e esta convergência ideológica entre a Rússia e os Estados Unidos, que, para quem acompanha as relações internacionais há muitas décadas, é absolutamente inusitada.O que ganha a Rússia com esta aproximação, o facto de os Aliados europeus não enviarem tropas, por exemplo, para a Ucrânia?A Rússia quer criar no espaço pós-soviético, e é preciso dizer que, para a Rússia, o espaço pós-soviético inclui, por exemplo, os Estados bálticos, que já são membros da União Europeia e da NATO. Quer criar no espaço pós-soviético uma espécie de zona tampão, que, na retórica de Putin, iria proteger a Rússia de um eventual ataque da NATO, que, desde o fim da Guerra Fria, tem-se naturalmente expandido para leste, porque os Estados veem a NATO como o único mecanismo de segurança colectiva que podem ter face a uma Rússia que nunca se democratizou e que manteve as suas tendências autocráticas.Portanto, o que Putin faz é criar um inimigo no Ocidente e legitimar, através de diversas estratégias discursivas, a ideia de que a NATO continua a ser um perigo para a autonomia territorial russa e legitima, assim, a vontade de criar um espaço de segurança alargado na Ucrânia e que vai atingir outros Estados, os Estados do espaço pós-soviético. Isto é, no fundo, um conflito pela hegemonia regional da Europa, um conflito ideológico entre o modelo democrático, simbolizado pela União Europeia, e o modelo autocrático, simbolizado pela Rússia. E quando, nos Estados Unidos, acontece o impensável, ou seja, temos uma administração mais autocrática ou ideologicamente muito conservadora, muito próxima dos valores da extrema-direita, é claro que essa convergência ideológica, que seria impensável há dez anos entre Washington e Moscovo, agora parece real.Qual seria a estratégia de Trump para garantir um cessar-fogo eficaz entre a Rússia e a Ucrânia? Isto é uma ilusão? Ele está disposto a fazer concessões territoriais para enfraquecer a Europa, como a entrega da Crimeia ou do Donbass à Rússia para garantir uma suposta paz. É realista esperar, nesta altura, que a Rússia se comprometa a não invadir novos territórios e deixar de ser uma ameaça concreta?Não. Eu penso que aquilo que Trump pretende é fortalecer a Rússia. E aqui, a questão da relação com a China não é despiciente, porque, criando uma potência regional no espaço euro-asiático, de certa forma vai criar um rival geopolítico capaz de enfrentar a China. Infelizmente, para a Ucrânia e para a União Europeia, aquilo que Putin vai provavelmente fazer está como está a fazer com Israel em relação à Palestina e à Faixa de Gaza: satisfazer as pretensões territoriais de Vladimir Putin. Quais são elas? Nós não sabemos, neste momento, e nesse sentido, fortalecer a Rússia como pilar da segurança na Europa e como contrapoder no espaço euro-asiático.Donald Trump retoma a estratégia de pivot para a Ásia que tinha sido iniciada por Barack Obama. De que forma é que esta estratégia do pivot para a Ásiapode ter impacto na posição dos Estados Unidos em relação à Europa, e concretamente, porque estamos a falar disso? Da Ucrânia?As estratégias de Barack Obama e Donald Trump divergem ideologicamente. Barack Obama nunca quis criar na Europa Central e de Leste uma potência regional com tendências claramente autocráticas. Barack Obama sempre teve uma excelente relação com os líderes da União Europeia. Portanto, o que nós agora estamos a assistir é a uma mudança de sinal ideológico nos Estados Unidos e ao empoderamento de um novo pivot no espaço europeu e asiático, que é claramente um pivot autocrático. Aquilo que várias administrações norte-americanas tentaram ao longo do período que se seguiu ao fim da Guerra Fria foi tentar contribuir para a democratização da Rússia. E eu penso que Barack Obama ainda teve algumas ilusões em relação às intenções ofensivas de Putin. Donald Trump não tem qualquer ilusão quanto a essas intenções ofensivas, até porque reparemos que ele tem intenções ofensivas em relação a outros territórios na Europa.Portanto, o objetivo não é tentar contribuir para a mudança do regime na Rússia, criando um pivot regional mais democrático do que autocrático. O objetivo é afirmar a ideia neorrealista ofensiva de que mesmo as democracias, tal como as autocracias, têm o mesmo direito à expansão natural do seu território, se isso satisfizer os seus interesses. E, portanto, os Estados mais fracos ficam na mão desta ideia ofensiva de que Estados como a Rússia ou os Estados Unidos têm este direito natural, essa legitimidade natural, à sua expansão geográfica, o que coloca em questão todos os pilares da segurança colectiva, regional e universal que foram definidos após a Segunda Guerra Mundial.Para defender essas questões de segurança, como e quem pode travar as intenções ofensivas, quer dos Estados Unidos, quer da Rússia? Como não existe um superestado nas relações internacionais. Neste momento, a Europa não consegue emergir nem como uma potência militar, nem sequer como uma potência moral que, de alguma forma, pudesse ser um contraponto normativo, quer ao modelo autocrático de Trump, quer ao modelo autocrático de Vladimir Putin. Não estou a ver como é que alguém ou alguma força pode ser um contraponto a esta vontade ofensiva e a esta hegemonia universal e regional, russa e norte-americana.É muito interessante que, nos últimos dias, estamos a assistir à degradação da saúde do Papa Francisco. O Papa Francisco tem sido aquilo que a União Europeia não consegue ser em relação à guerra na Ucrânia e à interação entre Putin e Trump. Ou seja, o Papa Francisco tem sido a voz moral da Europa e do mundo. Se ele desaparecer nos próximos dias, vai-se calar provavelmente a única voz normativa de oposição e de contra-discurso a esta estratégia de poder pelo poder e esta estratégia ofensiva de duas grandes potências.

Expresso - Expresso da Manhã
Negoceia-se a paz mas o que se ouve são os tambores da guerra. Moscovo e Washington discutem em Riade o futuro da Europa

Expresso - Expresso da Manhã

Play Episode Listen Later Feb 18, 2025 14:55


Na cimeira de Paris estiveram os países mais importantes da Europa para falar de segurança, mas a paz na Ucrânia é discutida a dois, entre Estados Unidos e Rússia. Europa e Ucrânia já disseram não aceitar um diktat, mas pouco podem fazer. Neste episódio, conversamos com Pedro Cordeiro, editor de internacional do jornal Expresso.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Guerra Fria
Paz, mas a que custo: onde vão parar as fronteiras da Ucrânia?

Guerra Fria

Play Episode Listen Later Feb 16, 2025 21:41


As negociações pela paz na Ucrânia começaram sem Zelensky e sem a Europa. Putin e Trump falaram ao telefone, mas os líderes europeus não querem ficar de fora de futuras chamadas. Reúnem-se esta segunda-feira em Paris para discutir questões de segurança, após o fim da Conferência de Segurança de Munique. Zelensky aproveitou o evento para afirmar que o melhor membro da NATO parece ser Putin, já que decide quem pode ou não entrar na organização Kiev não quer negociar só com Trump e Putin e está disposta a continuar a combater com outras armas, que não as americanas. No entanto, o líder russo já se prepara para as negociações e já decidiu que incondicionais apoiantes vai enviar para representar Moscovo. Oiça a análise de Nuno Rogeiro e José Milhazes no Guerra Fria em podcast. O programa foi emitido na SIC a 16 de fevereiro.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Expresso - Eixo do Mal
As negociações sem a Ucrânia, a perceção da corrupção e as remodelações no governo

Expresso - Eixo do Mal

Play Episode Listen Later Feb 14, 2025 51:22


Trump ligou a Putin para e combinaram encontros para negociar a paz, ou um cessar-fogo, na Ucrânia. E se parecia que a Ucrânia iria ficar à porta, afinal parece que vai estar à mesa. Agora, o Secretário da Defesa americano disse esta semana que não era realista imaginar-se uma Ucrânia com as fronteiras pré-2014. E, só isto, é capaz de ser a jogada diplomática pré-negociação, mais inusitada de sempre, para não dizer outra coisa. Admitir ceder antes de começar a negociar. Será que isto quer dizer que já está tudo decidido? É sobre estes temas que vai girar o Eixo do Mal, com Clara Ferreira Alves, Luís Pedro Nunes, Daniel Oliveira e Pedro Marques Lopes. Oiça em podcast o programa emitido na SIC Notícias, dia 13 de fevereiro.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Direto ao Assunto
Arquitetura de segurança da Europa está em causa

Direto ao Assunto

Play Episode Listen Later Feb 12, 2025 14:52


É a opinão de Francisco Pereira Coutinho na sequência do telefonema de Donald Trump ao Presidente Russo. O especialista em direito internacional deixa um alerta: Trump não vê Moscovo como um inimigo.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Economia dia a dia
Quão dependente está Portugal do fornecimento de gás natural pela Rússia?

Economia dia a dia

Play Episode Listen Later Feb 6, 2025 3:41


Em 2024, deram entrada em Sines três navios de gás russo, menos um do que no ano anteriorSee omnystudio.com/listener for privacy information.

Gabinete de Guerra
"Não há dúvidas: a Ucrânia vai perder a guerra"

Gabinete de Guerra

Play Episode Listen Later Dec 18, 2024 12:24


José Filipe Pinto salienta a atividade dos serviços secretos russos, numa altura em que os ganhos de Moscovo são "pontuais". Conseguirá a Ucrânia sair da guerra sem perdas territoriais como diz Trump?See omnystudio.com/listener for privacy information.

Noticiário Nacional
18h00 Bashar Al Assad em Moscovo

Noticiário Nacional

Play Episode Listen Later Dec 8, 2024 10:11


Gabinete de Guerra
“Consequências práticas para Putin serão nulas”

Gabinete de Guerra

Play Episode Listen Later Dec 5, 2024 11:53


Francisco Pereira Coutinho diz que investigação sobre crianças raptadas na Ucrânia não trará consequências para Moscovo. No Médio Oriente, pode ainda não haver caminho para uma paz duradoura.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Expresso - Eixo do Mal
Números da semana: 1000 dias de guerra, 10 anos de Operação Marquês e 1 Orçamento do Estado a sair do forno

Expresso - Eixo do Mal

Play Episode Listen Later Nov 22, 2024 51:00


Neste episódio de Eixo do Mal em podcast, Clara Ferreira Alves, Luís Nunes, Daniel Oliveira e Pedro Marques Lopes analisam o marco dos mil (e três) dias de guerra na Ucrânia, um conflito que redefiniu o cenário geopolítico global. Quais os próximos passos para Kiev e Moscovo? Será que vai fazer alguma diferença o facto de Kiev poder usar os tais mísseis de longo alcance em território russo, oferta de Biden, ou, com Trump, o destino da Ucrânia está traçado: fim da guerra e perda de território? E entre arquivamentos e lentidão nos processos, a Operação Marquês faz 10 anos. Que lições se podem retirar após uma década de processos judiciais? O Eixo do Mal teve emissão na SIC Notícias a 21 de novembro.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Noticiário Nacional
11h Moscovo adverte EUA e Ucrânia

Noticiário Nacional

Play Episode Listen Later Nov 18, 2024 10:58


Expresso - Expresso da Manhã
Putin canta vitória ao levar os BRICS à Rússia. Guterres vai mesmo aparecer?

Expresso - Expresso da Manhã

Play Episode Listen Later Oct 23, 2024 14:15


Ao longo de três dias, Vladimir Putin junta numa cimeira dos BRICS mais de 30 países e mostra que a ideia de que está isolado por causa da guerra na Ucrânia é uma ficção. Moscovo anunciou ter agendada uma reunião bilateral do presidente russo com o secretário-geral das Nações Unidas. O gabinete de António Guterres não confirmou oficialmente. Estará a ponderar os prós e os contras. Neste episódio, conversamos com Raquel Vaz Pinto, comentadora da SIC, professora da Universidade Nova e investigadora no IPRI.See omnystudio.com/listener for privacy information.

DW em Português para África | Deutsche Welle
12 de agosto de 2024 - Jornal da Noite

DW em Português para África | Deutsche Welle

Play Episode Listen Later Aug 12, 2024 20:00


Moçambique: Eliminação da competência dos tribunais distritais de ordenar a recontagem de votos coloca em causa a transparência das eleições? RENAMO defende-se das críticas.A Ucrânia diz que está há 7horas da capital russa, Moscovo. Angola: Quem é líder do partido CIDADANIA? Guiné-Bissau: Jovens futebolistas sem condições para realizarem sonhos.