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Carlos Rittl, diretor de Políticas Públicas para Florestas e Mudanças Climáticas da WCS, conversa com o jornalista Eduardo Geraque sobre a semana final da Conferência do Clima da ONU, em Baku. Há um ano, na Cúpula do Clima (COP), 197 países concordaram pela primeira vez com uma redução gradual da exploração dos combustíveis fósseis. O anúncio surpreendeu aos mais desesperançosos à época, com uma conferência ambiental sediada em um dos maiores produtores de petróleo, os Emirados Árabes. Foi um momento histórico, embora considerado insuficiente por especialistas diante da piora da emergência climática e, principalmente, porque a mudança não tem sido vista na prática. Um cenário igualmente desafiador é esperado para este ano na COP-29. Novamente, o evento será sediado em um “petroestado”, desta vez o Azerbaijão, em que ao menos um terço do Produto Interno Bruto (PIB) vem dos combustíveis fósseis. Mais do que isso, a capital do país do Cáucaso, Baku, é considerada “berço” da indústria petroleira. A cobertura da COP é patrocinada por Eletrobras Assine o Estadão: https://ofertas.estadao.com.br/_digital/See omnystudio.com/listener for privacy information.
Com o fim do governo de Jair Bolsonaro, a retomada do Fundo Amazônia desperta o interesse de outros potenciais doadores para o mecanismo, além da Noruega e da Alemanha. Estados Unidos e França sinalizaram a intenção de contribuir para o programa, o mais importante para a proteção da floresta. Ao mesmo tempo, estes países têm em comum um passivo ambiental deplorável – estão entre os que mais exploram ou usam energias fósseis no mundo, as maiores responsáveis pelo aquecimento do planeta. Lúcia Müzell, da RFIA Noruega, de longe a maior contribuidora do fundo, com mais de R$ 3,18 bilhões de 2008 até agora, é também a 12ª maior produtora de petróleo do globo. Já a Alemanha pena a se livrar da dependência do gás natural na sua matriz energética e, sobretudo, do carvão – o maior vilão das emissões de gazes de efeito estufa, à frente do petróleo. Quase um terço da luz consumida no país ainda vem de centrais a carvão.Neste contexto, a participação no Fundo Amazônia pode ser vista como uma forma de compensar esses e outros esqueletos no armário de noruegueses e alemães, mas também de americanos, os maiores emissores históricos de CO2 e outros gases nocivos, e franceses, oitavos no ranking mundial, na contagem a partir da Revolução Industrial. Mas, na visão de Carlos Rittl, especialista em políticas públicas da ONG Rainforest Foundation da Noruega e ex-secretário-executivo do Observatório do Clima, do Brasil, a responsabilidade histórica é justamente a principal razão para esses países bancarem a preservação do que restou de florestas tropicais no mundo.“Essas contradições precisam ser enfrentadas, precisam ser discutidas e os países têm que ser pressionados a cumprirem aquilo com o que se comprometeram nos fóruns globais. Mas há algumas obrigações internacionais desses países desenvolvidos no âmbito, por exemplo, das Nações Unidas, de apoio a países em desenvolvimento para promoverem um desenvolvimento sustentável”, lembra.“Então, o fato de a gente ter recursos vindos para o Fundo Amazônia, que a gente tenha segurança de que vão gerar impacto positivo seja para a proteção do meio ambiente como para redução de emissões, não pode ser visto como sendo o que a gente chamaria de ‘maquiagem verde'.”‘Fins justificam os meios'O cientista político François Gemenne, pesquisador da geopolítica do clima na Sciences Po de Paris, ressalta que, nos mecanismos de compensação desenhados na diplomacia internacional, é preciso estar sempre atento para que não se transformem em "instrumentos de greenwashing" pelos países ricos.“Com frequência, a questão das compensações de emissões é envolvida por fraudes climáticas, como dupla contagem de corte de emissões para ambos os países. Esses mecanismos às vezes servem para os países evitarem enfrentar a redução das suas próprias emissões nacionais”, salienta. “Mas, ao mesmo tempo, existe um desafio crucial que é compensar financeiramente os países florestais pela queda ou o fim do desmatamento, já que hoje as florestas primárias são uma fonte considerável de recursos para esses países. Precisamos ajudá-los a encontrar outras alternativas econômicas”, observa.Para o pesquisador belga, iniciativas como o Fundo Amazônia fazem parte do que ele considera ser uma responsabilidade global de salvar a maior floresta tropical do planeta. "Poderíamos acusar a Noruega de ser hipócrita ao continuar a aproveitar os benefícios da indústria petrolífera. Mas o fato é que hoje estamos numa situação de urgência e acho que temos que ser absolutamente pragmáticos, olhar para as soluções que nos permitam baixar já as nossas emissões de gases de efeito estufa, incluindo a queda do desmatamento”, constata."É claro que os países vão fazer isso por diversas razões: uns por grandeza, por se preocuparem com os nosso bem comum, o planeta; outros por lucros ou interesses. Mas acho que estamos um pouco numa situação na qual os fins justificam os meios. Acho que devemos evitar fazer julgamentos morais”, avalia Gemenne. Pressões internasEssas contradições são alvo de pressões crescentes dentro desses países ricos. A Alemanha enfrenta uma onda de protestos contra a expansão de uma mina de carvão em Lützerath, no oeste do país. Já a Noruega promoveu a eletrificação em massa da sua rede de transportes, tornando-se o país com a maior proporção de carros elétricos por habitante no mundo. Entretanto, ambientalistas e políticos de esquerda acusam Oslo de ter atingido esse objetivo graças os recursos do petróleo – que apesar de estar com a produção em declínio, permanece a coluna vertebral da economia norueguesa.“É importante que os recursos que hoje existem, ainda da economia do petróleo e dos combustíveis fósseis, promovam a transição energética. O que é necessário é que a gente tenha clareza de qual é o caminho que cada país vai adotar para a sua própria transição, para a eliminação da produção e consumo de combustíveis fósseis, assim como a transição para uma agricultura pecuária sustentável, a redução do desmatamento e outras ações fundamentais”, compara Rittl.O cientista e ambientalista brasileiro lembra que Noruega e Alemanha têm metas de cortes de gases de efeito estufa de 50 e 55% até 2030, em relação aos índices de 1990, e atingir a neutralidade de carbono em 2050 e 2045, respectivamente.Futuros contribuidoresDesde que foi criado, em 2008, o Fundo Amazônia já bancou mais de 100 projetos dos governos federal e estaduais, além de organizações ambientais. O mecanismo é gerenciado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento).Na recente visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos Estados Unidos, Joe Biden formalizou a intenção dos americanos de contribuir para o fundo, no valor inicial de US$ 50 milhões, conforme a agência Reuters. “O fato de a maior economia do mundo demonstrar confiança na governança do fundo é muito significativo e pode estimular outros países”, comentou Rittl.A chanceler francesa Catherine Colonna, por sua vez, aproveitou a viagem que fez ao Brasil no começo do mês para ressaltar que Paris “estuda” a entrada no instrumento, assim como a União Europeia.
Global Canopy, the not for profit targeting the market forces destroying nature, brings you a podcast looking at the future of the Amazon rainforest now Brazil has a new President. After 4 years of record levels of deforestation, how can President Lula fulfill his pledge to end the destruction?Hosted by Global Canopy's Christiane Fontes and Carlos Rittl from the Rainforest Foundation Norway, the podcast brings you the highlights from our COP27 event The Amazon on the Verge of New Future.You'll hear from Joênia Wapichana, Brazil's First-Ever Indigenous Congresswoman and the President of FUNAI; Mauro O' de Almeida, Environment Secretary of the State of Pará; Márcio Astrini, executive director of the Climate Observatory and Txai Suruí, coordinator of the Movement of Indigenous Youth of Rondônia State as they look at what's next for Brazil and what help the nation needs from the international community.
Nesta terça-feira (15), a RFI aborda a questão da energia em sua programação e em entrevistas especiais. O assunto também ganhou destaque nas reuniões do G20, em Bali, e na COP 27, no Egito. Nessa segunda reportagem, a redação brasileira aprofunda a radiografia dos projetos de fontes renováveis no Brasil e explora o potencial do país para atrair investimentos. Maria Paula Carvalho da RFI Dentre as economias mais relevantes do mundo, o Brasil já ocupa uma posição de destaque na produção de energia limpa por causa da matriz 60% hídrica. Porém, mudanças do regime pluvial e a emergência climática apontam as vulnerabilidades do setor hidrelétrico, que vem perdendo espaço, a cada dia, para a produção de energia fotovoltaica e eólica, projetos que se aproveitam da abundante e perene incidência solar e de ventos no país. Um dos países que mais investem na produção de energia eólica no mundo, sendo considerado uma potência no setor, o Brasil ocupa o sexto lugar no Ranking de Capacidade Instalada do GWEC, o Conselho Global de Energia Eólica. A importância desse tipo de energia para a geração de empregos e investimentos no Brasil foi apontada em um estudo elaborado pelo economista Braúlio Borges, pesquisador associado do FGV-IBRE e economista-sênior da LCA Consultores. Os dados mostram que, entre 2011 e 2020, as eólicas movimentaram R$ 321 bilhões na economia nacional (R$ 110,5 bilhões de investimentos diretos na construção de parques eólicos e R$ 210,5 bilhões como efeitos indiretos). Os especialistas apontam que cada real investido em parques eólicos elevou o PIB brasileiro em cerca de R$ 2,90. "Nós ainda temos muito potencial a explorar", analisa Carlos Rittl, especialista em política internacional da Rain Forest Foundation da Noruega. "O Brasil pode ampliar muito a geração de energia eólica, inclusive fala-se do potencial de aproveitamento que o Brasil tem offshore. No oceano, como a gente vê em países da Europa, esse potencial pode ser ampliado e muito bem aproveitado", completa. Histórico A primeira turbina eólica foi instalada no Brasil em 1992, no arquipélago de Fernando de Noronha, resultado de uma parceria entre o Centro Brasileiro de Energia Eólica (CBEE) e a Companhia Energética de Pernambuco (CELPE), com financiamento do instituto de pesquisas dinamarquês Folkecenter. Durante os dez anos seguintes, a energia eólica pouco cresceu no país, em parte pela falta de políticas públicas, mas principalmente pelo alto custo da tecnologia. Durante a crise energética de 2001, houve uma tentativa de incentivar a contratação de empreendimentos de geração de energia eólica no Brasil. O apoio institucional abriu caminho para a fixação de uma indústria de componentes local, com exigências de conteúdo nacional nos projetos de aerogeradores. Hoje, o Brasil tem pelo menos seis fabricantes de turbinas, fábricas de pás e torres eólicas e centenas de empresas que trabalham em outros componentes, além de transporte, consultorias e planejamento das obras. Camila Ramos, consultora e diretora da CELA (Clean Energy Latin America), explica que as fontes de energia alternativa servem como complementos à geração das hidrelétricas. "O ideal é usar o máximo de renovável que conseguir no tempo real que você gerou. Agora, no momento em que a gente chega num patamar, em que não estamos hoje ainda no Brasil, quando a gente gera tanta energia renovável que não temos como usar, o ideal é ter armazenamento de energia, que são as baterias. Que é a novidade que está sendo instalada hoje no Brasil e no mundo, um setor que cresce bastante", observa. Hidrogênio verde Além de recorrer às baterias, o Brasil pode entrar na produção do chamado "hidrogênio verde", explica Gil Maranhão, diretor de Comunicação e Sustentabilidade da Engie Brasil, empresa controlada pelo grupo francês Engie, líder global na produção independente de energia, que tem atividades em mais de 70 países. "Não só para armazenar, mas também você pode desenvolver novas usinas eólicas e solares para produzir hidrogênio verde, o combustível que vai possibilitar que indústrias e setores que não estão ligados em redes possam comprar e consumir energia renovável. Por exemplo, o transporte marítimo e aéreo", indica. “O hidrogênio verde produzido através de eletrólise que consome no seu processo energia renovável é um bom exemplo de como você pode usar a energia renovável que não seja usada no momento”, explica Maranhão. “O mundo inteiro está estudando a viabilidade de armazenamento via baterias, é um futuro sim, mas ainda está um pouco distante”, avalia. Outra questão a ser debatida são os incentivos ao setor. A consultora Camila Ramos alerta que a atual redução de incentivos do governo para os setores renováveis vai na contramão do que o mundo espera. "O Brasil tem uma matriz energética muito limpa, mas isso não pode deixar com que a gente se acomode", diz. "O que é feito hoje no Brasil de energia renovável é muito pela iniciativa privada, por conta das renováveis serem as fontes mais baratas. Nenhuma fonte concorre mais com a eólica e solar em preço. Em termos de políticas, a gente está retirando todos os incentivos que havia", diz. "Por outro lado, o Brasil tem contratado muita termelétrica a gás recentemente, o que não é positivo. Estamos indo na direção contrária da transição energética", acrescenta. Para Gil Maranhão, "isso é controverso, porque enquanto alguns dizem que o incentivo é bom para estimular, outros dizem que os incentivos que foram dados no passado, no início dos anos 2000, já cumpriram o seu papel", diz o executivo da Engie do Brasil. "Eles já chegaram em uma curva de preço competitivo no mercado", completa. Com faturamento de € 57,9 bilhões em receitas em 2021, o grupo francês Engie é a maior geradora eólica e solar da França e aposta nos projetos no Brasil. Maranhão destaca que o país pode pensar em uma reindustrialização baseada no potencial de novos projetos em solo nacional. "Se nós formos considerar todos os projetos que hoje estão prontos para começar a ser construídos apenas de solar e eólica, a estimativa é que haja um Brasil inteiro de capacidade instalada que é 170 GW pronto para iniciar construção, só aguardando por mercado, financiamento ou finalização de licenciamento ambiental", calcula. "O potencial é enorme. Mas para aproveitar tudo isso, o Brasil precisa crescer, ou seja, ter desenvolvimento econômico para gerar demanda", explica o executivo. "Você quando vê um potencial enorme desses, olhando para o futuro, vemos que não vai haver mercado, dada a população e economia brasileira. Mas essa é uma oportunidade que o Brasil tem de trazer investimentos para cá de indústrias de países que não vão ter condições de cumprir as suas NDCs, do Acordo de Paris, por vários motivos", diz. "Por que não o Brasil ser um foco de investimento de várias indústrias que precisam buscar energia renovável para cumprir suas metas e compromissos de redução de carbono e se tornar um polo de investimento numa reindustrialização do Brasil?", questiona. "É uma oportunidade única que o Brasil está tendo e precisa aproveitar", conclui.
O mundo enfrenta uma crise energética que levou vários países a adotarem medidas de emergência, com políticas de redução de consumo e busca de novos parceiros estratégicos. Nesta terça-feira (15), quando o assunto é tema de discussões na COP27, em Sharm el-Sheikh, e na reunião de cúpula do G20, em Bali, a redação brasileira da RFI aborda em reportagens especiais a questão das energias renováveis e o papel do Brasil nesse contexto. Maria Paula Carvalho, da RFI Ventos estáveis e intensos. Sol durante o ano inteiro. Enquanto outros países precisam gerenciar a escassez de recursos naturais limpos, o desafio do Brasil é aproveitar a sua abundância de matéria-prima para produção de energia renovável. "O Brasil é sem dúvida uma Arábia Saudita das renováveis", compara Camila Ramos, consultora e diretora da CELA (Clean Energy Latin America). Isso explica, em parte, o sucesso dos projetos de energia eólica e solar no país nos últimos anos, analisa a consultora. "Não só para produzir energias renováveis, seja eólica e solar, suficiente para abastecer toda a demanda do setor elétrico brasileiro se a gente quisesse, e de qualidade. E a gente também tem o potencial para exportar essa energia", acrescenta a especialista, ouvida pela RFI Brasil. Quando falamos em produção de energia a partir do vento, o Brasil conta com 827 parques eólicos e uma potência instalada de 22,5 GW, o que representa 12,1% da matriz elétrica brasileira. É o suficiente para abastecer 36,2 milhões de residências por mês, de acordo com dados da ABEEólica, a Associação Brasileira de Energia Eólica. Mas o potencial é ainda maior, estimado em 700 GW só em terra, sem falar nas novas oportunidades que estão surgindo na exploração offshore, em alto mar, ainda iniciante. Já quando falamos de energia solar, condições climáticas favoráveis permitiram que o Brasil ultrapassasse a marca histórica 21,1 gigawatts (GW) de potência instalada de fonte solar fotovoltaica, somando as usinas de grande porte e os sistemas de geração própria de energia elétrica em telhados, fachadas e pequenos terrenos. Isso equivale a 10,5 % da matriz elétrica do país, de acordo com dados da Absolar, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica. Os cinco estados com maior geração desse tipo de energia, em 2021, foram: Rio Grande do Norte (21,23 TWh), Bahia (21,15 TWh), Piauí (9,10 TWh), Ceará (7,91 TWh) e Rio Grande do Sul (5,63 TWh). Enquanto o mundo luta contra as mudanças climáticas, a produção de energia a partir de painéis solares evitou emissões na atmosfera equivalentes a mais de 28,7 milhões de toneladas de CO2 (gás carbônico), ou a emissão anual de 28 milhões de carros de passeio. Para base de comparação, a cidade de São Paulo tem uma frota de cerca de 19 milhões de automóveis desse tipo. Novos empregos Desde 2012, a fonte solar já trouxe ao Brasil cerca de R$ 103 bilhões em novos investimentos, mais de R$ 27,2 bilhões em arrecadação aos cofres públicos, gerando mais de 600 mil empregos. Carlos Rittl, especialista em política internacional da Rain Forest Foundation da Noruega, analisa como esses dois setores se tornaram atrativos ao longo do tempo. "O que aconteceu foi que a energia solar se expandiu naturalmente porque os preços foram caindo, os equipamentos foram se tornando mais eficientes e acabou se tornando economicamente viável para muita gente, para empresas, para famílias, mesmo sem a gente ter as melhores políticas", destaca. As condições climáticas do Brasil são um grande atrativo para investimentos no setor. "Eu resido na Alemanha, um dos países com a maior capacidade instalada de energia solar. O melhor lugar de incidência de sol na Alemanha é pelo menos 30% pior do que o pior lugar no Brasil, onde o Brasil tem menos incidência de energia solar, que são áreas de Santa Catarina, onde você tem muita cobertura de nuvens. Então o Brasil pode expandir muito mais", compara Rittl. Ele lembra que nos momentos de crise econômica recente, a energia eólica foi um setor que gerou empregos e retorno para o investimento. "Quando tivemos recessão econômica em 2015, 2016 e 2017, a energia eólica continuou se expandindo, os investidores continuaram aumentando a geração de energia dessa fonte e foi um setor que gerou muitos empregos no momento em que a nossa economia estava se encolhendo", observa. Maior geradora independente de eletricidade do mundo, com 104 GW de capacidade instalada, a francesa Engie tem como meta sair das operações de carvão até 2027 e descarbonizar totalmente as atividades até 2045. E o Brasil faz parte dos planos companhia, presente no país desde 1996, e onde o faturamento chegou a RS 13,5 bilhões, no ano passado. A Engie do Brasil explora 5 conjuntos eólicos, 4 usinas solares, além de 12 hidrelétricas e 3 usinas de biomassa, sendo líder no setor de energia renovável no Brasil, com 10 GW de capacidade instalada de fontes renováveis, em 77 plantas operadas pela companhia. "Com relação à energia solar, esse é um boom que está acontecendo no Brasil, porque como não há barreira tecnológica, não precisa ser uma grande empresa e com expertise, um grupo de engenheiros experiente pode fazer, contanto que tenha capital. Houve uma proliferação muito grande de novos projetos no país todo", explica Gil Maranhão, diretor de Comunicação e Sustentabilidade da companhia. O executivo cita outra vantagem dos projetos solares. "Uma vez que são projetos que podem ocupar um espaço mais reduzido, eles podem estar próximos dos centros de carga, dos centros de consumo, e têm custos reduzidos de transmissão", completa.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, assumirá a Casa Branca com a promessa de trazer o país "de volta ao jogo” das lideranças mundiais e colocou o combate às mudanças climáticas no foco da sua futura gestão. Mas, para além dos discursos, dá para esperar milagres em um tema em que os Estados Unidos sempre atuaram na defensiva? Para o biólogo Carlos Rittl, pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados em Sustentabilidade de Potsdam, na Alemanha, a resposta é sim. Biden se comprometeu não apenas em reverter a decisão de Donald Trump de retirar o país do Acordo de Paris sobre o Clima, como pretende “ir muito além”. “Os Estados Unidos voltam à mesa de negociações e isso é muito significativo. Na sua plataforma de governo, Biden aponta para a neutralidade de carbono até a metade do século, algo que já foi anunciado pela União Europeia e outros países”, diz. "A China pode se encaminhar para isso em meados desse século e outros grandes países estão fazendo o mesmo”, complementa Rittl, um dos maiores especialistas do país em negociações climáticas internacionais. No plano doméstico, o primeiro passo será revogar as mais de uma centena de medidas de desregulamentação ambiental adotadas por Trump. Em resumo, os decretos diminuíram limites de emissões de gases de efeito estufa, prejudicaram avanços para a redução da poluição dos veículos e reativaram a nociva indústria fóssil, como o carvão. Maioria republicana no Senado pode atrapalhar Mas Biden não deve se limitar em apenas voltar à estaca zero dos anos pré-Trump. Rittl ressalta que o presidente democrata vai contar com muito mais apoio de Estados, empresas e da sociedade em geral para emplacar uma agenda ambiental mais ambiciosa do que a do ex-presidente Barack Obama. "Com estímulo, ele poderia levar a um boom muito grande de determinados setores, como a energia soltar e a fabricação de carros elétricos, e ser um passo importante para uma recuperação econômica acelerar. Essa indústria já gera milhares de novos empregos nos Estados Unidos”, frisa. "A indústria do carvão não acabou por causa da regulação do Obama, mas por forças de mercado." O desenvolvimento de uma economia verde é a cereja do bolo do programa do democrata, um plano de desenvolvimento sustentável de US$ 2 trilhões. Para este objetivo, porém, será necessário o apoio do Congresso, salienta Philip Fearnside, pesquisador americano do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), radicado há mais de 40 anos em Manaus. "Tem a eleição na Geórgia, em janeiro, que vai decidir quem controla o Senado. Me parece importante porque se os republicanos continuarem controlando o Senado, e se continuarem negando o aquecimento global, como vêm fazendo, será um impedimento grande. Mas, mesmo sem isso, dá para fazer bastante coisa, embora sempre exista o perigo de haver outras prioridades na frente – e, no momento, é o coronavírus”, ressalta. Influência mundial – e no Brasil A mudança de posicionamento dos Estados Unidos exerce um papel decisivo no cenário mundial – historicamente, o país sempre foi um dos mais avessos a compromissos globais para limitar as mudanças climáticas. A devastação da Amazônia também entrou no radar do democrata, que ameaçou o Brasil de sanções comerciais se os índices de desmatamento continuarem em alta. "É muito mais sensato do ponto de vista brasileiro não desmatar a floresta amazônica e limpar a cadeia da produção exportada. É do interesse do país manter a floresta amazônica”, constata Fearnside. "Não é que o resto do mundo esteja tentando enganar o Brasil e fazer alguma coisa contra os interesses do país.” Em Brasília, os comentários de Biden foram mal recebidos – o presidente Jair Bolsonaro insiste em evocar a soberania nacional na gestão do problema. Mas para Carlos Rittl, apesar da retórica de confronto, o governo brasileiro não ficará indiferente ao aperto que virá dos Estados Unidos. "Eu não tenho dúvida disso, porque todo posicionamento adotado pelo presidente Jair Bolsonaro anticlimático antiambiental tinha o respaldo no seu ídolo do norte. Essa mensagem do Bolsonaro, que mais parece uma conversa de churrasco, não vai funcionar com a maior economia do mundo”, sublinha o especialista brasileiro. "Se o Brasil quer ter ainda um espaço significativo no mundo e no mundo dos negócios, ele vai ter que se ajustar." Philip Fearnside destaca ainda que a pressão do agronegócio e dos demais parceiros comerciais do Brasil tende a se tornar cada vez mais insustentável. "Não é só os Estados Unidos: os países da Europa têm a mesma preocupação. A grande questão é a China, que até agora tinha tido pouquíssima preocupação com o meio ambiente, principalmente fora da China”, lembra. "Mas, nos últimos tempo, tem ficado bem mais séria em relação ao problema climático. Se eles passarem a colocar alguma condicionante sobre o desmatamento, seria um outro jogo”, adverte.
O tamanho da área da Amazônia sob alerta de desmatamento bateu recorde no mês de junho. O Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), usado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apontou uma área de 1.034 km². Para especialistas ouvidos pela RFI, a linha de desmatamento é ascendente e sem sinais de reversão. O resultado é 10% maior do que o registrado no mesmo mês do ano passado e 24% maior do que em maio, que já havia sido um recorde para o período. Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, uma iniciativa de entidades encarregadas de analisar os alertas de desmatamento gerados por satélite, destaca a constância dos avisos. “Todos os meses, desde maio do ano passado, têm havido desmatamentos superiores ao mesmo período do ano anterior. Então, estamos num período de aceleração do desmatamento que não acontecia de forma contínua, assim, desde o final dos anos 1990, início dos anos 2000”, calcula. “Os 1.034 km² que tivemos no mês de junho equivalem a cem mil campos de futebol em apenas um mês, ou um pouco mais de cem campos de futebol por hora que foram desmatados nesse período. É uma quantidade muito grande de desmatamento e ele ocorre, basicamente, para a conversão da floresta para uso agropecuário”, completa. O problema é que, depois de usadas, muitas dessas áreas acabam sendo desprezadas. “86% daquilo que foi destruído e desmatado na Amazônia foi abandonado ao longo dos últimos 30 anos ou ocupado por pastagens de baixíssima produtividade”, explica Carlos Rittll, pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados em Sustentabilidade de Potsdam, na Alemanha. “Quem desmata tem um lucro imediato, depois abandona aquela área e fica um passivo para sociedade, pois ela não é aproveitada. Há casos de menos de um boi por hectare, um boi num campo de futebol”, compara. No acumulado do semestre, os alertas do INPE indicam sinais de devastação em 3.069,57 km² da Amazônia. Isso equivale a um aumento de 25%, em comparação com o primeiro semestre de 2019. Atividade especulativa O sistema Deter indica às equipes de fiscalização onde pode estar havendo crime ambiental. “Quando a gente cruza esses dados com as autorizações, áreas protegidas, vemos que a vasta maioria desse desmatamento está acontecendo de forma ilegal. Aproximadamente de 95 a 99% têm fortes elementos de ilegalidade”, afirma Tasso Azevedo, acrescentando que, como toda atividade ilegal e especulativa, o desmatamento também vive de expectativas. “Se eu tiver uma perspectiva baixa de ser pego e de sofrer consequências, ser penalizado, e eu tenho uma expectativa alta de me beneficiar daquele ato ilegal, ou seja, eu consigo vender o meu produto, consigo regularizar a terra, eu estou criando condições para que o desmatamento aumente”, afirma. “Se eu quiser parar o desmatamento, eu tenho de parar as expectativas. Eu tenho de gerar expectativas de que você será pego e levado às consequências, pagar multa, recuperar os danos etc., e que você não vai conseguir se beneficiar; não vai receber créditos, nem vender o seu produto”, acrescenta. “E por que não está acontecendo isso agora no Brasil? Porque todos os elementos que existem montados para fazer com que esse final seja dado, no sentido correto, foram sendo, de diferentes formas, contidos ou colocados na direção contrária”, conclui. Carlos Rittl acredita que o aumento da área em alerta de desmatamento tem relação com os sinais emitidos pelo Planalto, através de suas políticas públicas. “O desmatamento continua em alta. A gente tem dois meses de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), com soldados do Exército, em tese, combatendo crime ambiental, ao custo de R$ 60 milhões por mês - e diga-se, entre parênteses, que dois meses deste custo seriam suficientes para pagar os salários de mil agentes ambientais do Ibama por um ano. Mesmo com a GLO, mesmo com Exército, o desmatamento continua subindo”, diz. Para Rittll, o governo brasileiro não tem demonstrado um compromisso de combate ao crime ambiental. “Há um incentivo, ou pelo menos no discurso do governo, quando o presidente constrange os órgãos ambientais, quando o ministro do Meio Ambiente demite o chefe de fiscalização do Ibama e outros agentes que estavam combatendo a invasão de terras indígenas e o desmatamento provocado pelo garimpo ilegal; quando se reúnem com madeireiros ilegais, quando recebem pressão da bancada ruralista e mandam para o Congresso projetos de lei para tornar o que é ilegal em legal, eles estão dando uma mensagem muito clara. Quem comete crime ambiental se sente respaldado por Brasília”, observa. Em resposta aos dados publicados, o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, que comanda o Conselho da Amazônia, disse em entrevista que o recorde de alerta de desmatamento na região, em junho, ocorreu porque as ações do governo federal começaram “tarde”. O mercado cobra Em encontro recente com empresários, Mourão criticou o que considera ser uma campanha difamatória contra o agronegócio do país. Brasília enfrenta pressão de investidores para reduzir a devastação da floresta, enquanto empresários cobram ações concretas que garantam a melhoria nos indicadores de desmatamento e queimadas. No mês passado, um grupo de fundos internacionais de investimento, que gerenciam cerca de R$ 20 trilhões em recursos, enviou carta aberta às embaixadas brasileiras de oito países (Estados Unidos, Japão, Noruega, Suécia, Dinamarca, Reino Unido, França e Holanda) para tratar da questão ambiental. No texto, eles manifestaram preocupação com o aumento do desmatamento no Brasil e apontaram uma incerteza generalizada sobre as condições para investir e fornecer recursos financeiros ao país. O movimento aconteceu depois da divulgação da gravação de uma reunião ministerial do governo Bolsonaro, ocorrida no dia 22 de abril. Nela, o ministro brasileiro de Meio Ambiente, Ricardo Salles, sugere ao presidente que, com a atenção da imprensa voltada para a Covid-19, o momento seria propício para passar reformas. “Nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, declarou Salles. “Existe um total descontrole do desmatamento e todo e qualquer discurso do governo dizendo que está agindo é mera retórica diante dos fatos e dos dados, porque os satélites não mentem”, observa Carlos Rittll. “É preciso reconhecer que esse não é um problema de direita e de esquerda. Não é um problema político, ideológico. É um problema prático”, adverte Tasso Azevedo. O coordenador do MapBiomas explica que “o Brasil é um país dependente desses recursos naturais, seja para a geração de energia, com sua dependência das hidroelétricas, seja para o motor da economia atual, o agronegócio, ou seja, ainda, pela economia como um todo, pois mesmo fatores que não têm relação direta com a floresta estão sendo afetados”. Para Carlos Rittll, o que está em jogo é a imagem do Brasil. “O desmatamento vem muito associado à violência contra comunidades extrativistas, povos indígenas, pequenos produtores e agricultores familiares. Tudo isso, associado ao desmatamento, aos dados e as imagens de queimadas e destruição, é muito prejudicial para a imagem do Brasil e para a reputação das empresas brasileiras que estão exportando”, afirma. “Ninguém quer que o seu negócio acabe gerando lucro e leve para prateleiras europeias produtos ligados à devastação da Amazônia, violência contra povos indígenas e aumento de emissões de gases de efeito estufa. E é isso que o governo Bolsonaro tem gerado”, acrescenta. Acordo UE-Mercosul Há um ano, a União Europeia e os países do Mercosul fecharam o maior acordo entre blocos econômicos da história, e que deveria impulsionar fortemente o comércio entre as duas regiões. Carlos Rittll destaca que “nesse acordo está o compromisso de não retrocesso ambiental, de combate ao desmatamento, de respeito aos povos indígenas e implementação do acordo de Paris. Mas estamos na contramão desse caminho”. “É por isso que eurodeputados do parlamento europeu se manifestaram de forma crítica, após o vídeo da reunião ministerial em que o ministro Ricardo Salles fala, de maneira imoral, de aproveitar a pandemia e atenção da mídia aos mortos para ‘passar a boiada’, ou seja, para enfraquecer leis e desregulamentar muita coisa. Os parlamentares disseram que há um risco para a implementação do acordo por causa do Brasil”, analisa Rittll. “A imagem do Brasil já vinha péssima no ano passado e ela se consolida, cada vez mais, como a de um país que é um pária ambiental no mundo, um dos grandes inimigos do meio ambiente no planeta”, observa. Taxa anual deve ser mais alta A estimativa é de que a taxa oficial de desmatamento, medida de agosto de 2019 a julho deste ano, seja ainda maior do que a registrada no período encerrado no ano passado, até então a maior em 11 anos. “No período que consideramos o período anual do desmatamento, em que se contabilizam os dados anuais e que vai de agosto até julho do outro ano, o crescimento projetado, atualmente, gira em torno de 60%. Então, quando forem divulgados os dados do desmatamento entre 2019 e 2020, deveremos ter um desmatamento bem superior ao desmatamento de 2019, que já foi bem superior ao de 2018. Estamos, infelizmente, num processo de aceleração do desmatamento sem sinais de retração”, diz. O Brasil já fez melhor Quem defende o meio ambiente no Brasil fortalece sua esperança no fato de que o país já conseguiu ter melhores resultados na proteção às florestas antes, mesmo em tempos de crise, e sem detrimento da economia e do agronegócio. “A taxa caiu, entre 2004 e 2012, em mais de 80% com ações de comando, controle e fiscalização. E neste período, a economia do Brasil cresceu, inclusive o PIB agrícola do país cresceu, demonstrando que existe uma dissociação entre o desmatamento e o benefício econômico que esse desmatamento traz para o país”, observa Carlos Rittll, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados em Sustentabilidade. “Da mesma forma como a gente aprendeu a controlar a inflação, lá em 1990, e até hoje a gente usa os instrumentos que foram implementados de controle fiscal, de ajuste fiscal e controle da moeda, a mesma coisa a gente sabe fazer para o desmatamento”, completa Tasso Azevedo. Potência ambiental Atualmente, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking do desmatamento mundial. Os dados de 2019 mostram que o país devastou mais florestas do que a área desmatada pelos outros dois países que o acompanham no topo da lista, Congo e Indonésia, juntos. Isso ocorre no momento em que poderia estar aproveitando seus ativos naturais para se tornar uma superpotência ambiental do século 21, frisa Azevedo. “No momento em que o mundo está preocupado com a questão ambiental, era o momento de o Brasil brilhar”, diz o coordenador do MapBiomas. “Mas se a gente destrói aquilo que é o nosso ativo, nossa bandeira e a posição do Brasil no mundo, isso vai contra os nossos interesses”, acrescenta. “Quando o desmatamento vira uma ameaça para as atividades em geral, isso acaba se cristalizando nas palavras dos investidores internacionais que fizeram a sua carta, nas palavras dos CEOS das empresas brasileiras que se colocaram contra e até dos ex-ministros da economia e gestores do Banco Central pedindo que o Brasil pense a sua economia de forma mais sustentável”, conclui.
O biólogo e ambientalista Carlos Rittl conversa com Manuel da Costa Pinto sobre o aquecimento global e seus impactos ambientais. O convidado ainda fala sobre questões como a distribuição das terras indígenas, reflete sobre o desmatamento da floresta Amazônica e comenta a situação hídrica do país.
Neste episódio, Paulina Chamorro conversa com o Carlos Rittl, do Observatório do Clima, para fazer uma retrospectiva ambiental de 2019 e os principais pontos para entender a emergência climática. Também ouvimos, diretamente da Espanha, a Natalie Unterstell, da Think Tank Talanoa, sobre a importância dos oceanos na discussão do clima. No episodio 126, ficamos por dentro do que esperar da COP 25 e as questões ambientais que a permeiam. Para harmonizar, um pouco de Caetano no final.
Neste episódio, Paulina Chamorro conversa com Daniel Venturin, do WWF Brasil sobre o importante relatório PLANETA VIVO 2018. Lançado a cada dois anos, atualiza os dados alarmantes sobre a biodiversidade no mundo. No Minuto do Clima, Claudio Angelo recebe um convidado especial: Carlos Rittl, do Observatório do Clima.
“A gente não pode mais tratar os eventos extremos como algo raro. Porque toda semana falamos sobre isso. O clima já mudou!” foi o que disse Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima neste episódio, que trata sobre mudanças climáticas e as cidades brasileiras. No Minuto do Clima, Claudio Angelo comenta os 100 dias de governo na temática ambiental.
A conferência do clima terminou com negociações travadas e com as discussões adiadas para 2020. Ao fim do evento, o ministro do Meio Ambiente do Brasil, Ricardo Salles, afirmou que a COP 'deu em nada'. Para entender as discussões e o tamanho do fracasso, Renata Lo Prete conversa com duas pessoas que acompanharam o evento de perto, em Madri: a repórter do jornal Valor Econômico Daniela Chiaretti e o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl.
As organizações não-governamentais que atuam nas questões ambientais no Brasil desfrutam de um protagonismo raro na Conferência do Clima de Madri, a COP 25. A lacuna deixada pelo governo brasileiro no evento, que sequer organizou um stand oficial do país, é ocupada pelas entidades da sociedade civil. Enviada especial da RFI a Madri O papel das organizações, especialistas e observadores sempre foi crucial nas COPs - mas, desta vez, tem ainda mais relevância. A delegação brasileira é chefiada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles - porém ele até agora não realizou coletiva de imprensa sobre o andamento das negociações da COP, nem autorizou a equipe técnica que o acompanha a se pronunciar. Nas conferências anteriores, os chamados briefings à imprensa ocorriam praticamente todos os dias do evento, durante duas semanas. Carlos Rittl é um dos especialistas mais reconhecidos do Brasil neste complexo assunto que são as negociações climáticas, acompanhadas por ele há 14 anos. O secretário-executivo do Observatório do Clima nota que, desta vez, Brasília cortou as credenciais de participantes que costumavam ser oferecidas a especialistas externos ao governo. "A sociedade civil criou o próprio espaço para debate e diálogo, que em outras COPs era oferecido pelo Brasil: uma sala de seminários onde você debate assuntos relacionados às negociações e outras agendas das políticas domésticas, como florestas, energia e onde o Brasil está progredindo em ação climática”, afirma Carlos. "Na ausência de ação, de espaço e de diálogo, a sociedade civil - que é parte deste processo e reconhecida como tal pela Convenção e as Nações Unidas - está aqui." Indígenas respondem pela proteção da Amazônia Por conta do desmatamento na Amazônia, que tomou as manchetes do mundo por semanas, as cobranças ao Brasil não são poucas nesta conferência. Do lado de fora da plenária, tem cabido às entidades responder aos questionamentos sobre as políticas ambientais do país - com um viés nada favorável ao governo. Os indígenas circulam a caráter pelos corredores da COP 25 e recebem atenção especial da imprensa internacional. A presidente da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, Nara Baré, trouxe um discurso firme contra Brasília. "Estamos aqui para fazer um alerta para todos os que estão na COP, levar a nossa voz a todo o mundo e mostrar a real situação do que os povos indígenas do Brasil estão vivenciando hoje. Há um genocídio institucionalizado, que está matando os povos indígenas”, acusou. "Nós aqui reafirmamos: ao contrário do que disse o governo, a Amazônia é nosso patrimônio sim, é um bem comum de todos que ajuda a manter o equilíbrio do clima em todo o planeta.” Mercado de carbono: Brasil na mira Além da Amazônia, a palavra brasileira também está no foco das atenções por seu posicionamento no assunto mais controverso desta COP: a definição dos mecanismos para a comercialização de créditos de carbono. Na COP de 2018, na Polônia, o país bloqueou um acordo sobre o tema, ao defender um sistema que resultaria em dupla contagem de redução de emissões de gases de efeito estufa, tanto pelo país que compra como pelo que vende os créditos. Em Madri, Brasília também quer que créditos adquiridos na última década possam ser utilizados no futuro - um projeto que enfraqueceria ainda mais o esforço global por reduzir as emissões. É por isso que os ambientalistas pressionam para que essas propostas sejam barradas, como explica Carlos Rittl. "A gente já está numa trajetória de emissões completamente incompatível com os objetivos de longo prazo do Acordo de Paris. Se a gente trouxer essa redução por créditos de carbono, que representam alguns bilhões de toneladas de gases de efeito estufa já contabilizados no passado, corremos o risco seríssimo de não apenas jamais conseguirmos atingir o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C até o fim do século”, analisa. As ONGs estão impacientes com o andamento da conferência: na véspera do fim das negociações, os sinais de avanços até o momento são fracos. A ativista sueca Greta Thunberg, escolhida personalidade do ano pela revista Time, conclamou a sociedade civil a não esperar mais pela ação dos políticos. "As mudanças necessárias ainda estão ausentes. As políticas necessárias ainda não existem hoje, apesar do que ouvimos dos nossos líderes”, declarou, em um discurso na quarta-feira (11). "Na verdade, todas as grandes mudanças do mundo vieram das pessoas. Não temos que esperar. Podemos começar as mudanças agora mesmo. Nós, as pessoas.” A COP 25 se encerra oficialmente nesta sexta-feira (13), mas a prolongação das negociações por mais um ou dois dias, já é dada como certa, para a conclusão de um acordo. A próxima conferênia será em Glasgow, na Escócia.
A Conferência do Clima da ONU (COP-25), que se inicia na semana que vem em Madri (Espanha), deve marcar uma das metamorfoses mais flagrantes da diplomacia brasileira: o país sai da posição de exemplo a ser seguido e passa a ser um dos vilões internacionais. Em matéria de combate às mudanças climáticas, o Brasil só terá decepções a apresentar. Para começar, é pouco provável que leve um plano para conter o avanço do desmatamento da Amazônia, um tema que atraiu a atenção mundial nos últimos meses. Ninguém espera tampouco que o governo divulgue metas de desmatamento para o ano que vem.No entanto, a redução da devastação da floresta representa a maneira mais eficaz de o Brasil fazer a sua parte no esforço global para diminuir as emissões de gases de efeito estufa, que provocam a elevação da temperatura do planeta. Em conversa com jornalistas promovida pelo ClimaInfo, o coordenador de políticas do Greenpeace Brasil, Márcio Astrini, avaliou que desde que o país entrou na mira das críticas pelo desmatamento recorde de 2019, Brasília recorre a bons exemplos do passado para se defender. “Eu não sei exatamente qual vai ser o comportamento nessa conferência, mas a gente já sabe que, a princípio, o corpo diplomático coloca em dúvida a própria existência das mudanças climáticas. Isso faz parte do discurso do [chanceler] Ernesto Araújo, evidenciado em diversas ocasiões”, frisa Astrini. “É obvio que esse tipo de comportamento retira o país daquela situação de grande negociador e, em alguns momentos, de exemplo a ser seguido.” Hidrelétricas e Amazônia Desde que o combate ao efeito estufa e o aquecimento global entraram de vez na agenda internacional, o Brasil era colocado no grupo dos “bonzinhos” do clima. Com uma matriz energética limpa graças às hidrelétricas e dono da maior floresta tropical do mundo, o país sediou a Rio+92 e, a partir de então, assumiu um papel protagonista no assunto. Nesta COP-25, a última antes do início da implementação do Acordo de Paris, a maior expectativa é que os 197 países signatários do tratado aumentem a ambição das suas metas de redução de emissões. Por enquanto, apenas 68 demonstraram a intenção de melhorar os seus compromissos – mas a maioria são “pequenos poluidores”, que respondem por 8% das emissões mundiais, explica Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Se todos os países fizessem um esforço proporcional ao do Brasil, em relação à parte que lhe cabe na conta do clima, nós caminharíamos para entre 2,5°C e 3°C de aquecimento global até o final desse século, o que é bem acima do objetivo do Acordo de Paris, que determinava abaixo dos 2°C, se possível 1,5°C”, relembra Rittl. “Ou seja, o Brasil teria de fazer mais, e desde o início.” Renovação das metas a partir de 2030 Mark Lutes, especialista em negociações internacionais da organização WWF, também destaca que esta Conferência do Clima deve determinar o ritmo de atualização das metas de cada país daqui para frente. “Agora, não tem nenhum acordo sobre como vão ser as próximas rodadas de compromissos para além de 2030. Não sabemos se será a cada 5 anos, 10 anos ou uma outra combinação”, afirma Lutes. “Este é um assunto muito importante que o Brasil já colocou na mesa. O Brasil está mais silencioso sobre isso recentemente, mas esperamos que continuará batalhando por isso.” Em linhas gerais, a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira, ou seja, o compromisso assumido pelo país no Acordo de Paris, estipula uma diminuição de 37% das emissões em 2025, em relação aos índices de 2005, e a intenção de reduzir em 43% em 2030. O objetivo estava sendo cumprido – mas o governo Bolsonaro rompeu com essa dinâmica, ressalta Rittl. Mercado de carbono Outro tema no qual a postura brasileira gera expectativa é sobre as negociações de mercado de carbono. Na última COP, na Polônia, o país causou surpresa ao se opôr ao artigo 6 do Acordo de Paris, que regulamenta essas transações. “Se espera muito um acordo sobre o artigo 6 pelo Brasil. O novo governo ainda está tentando saber qual é a sua posição em relação a isso”, destaca Ana Toni, diretor-executiva do Instituto Clima e Sociedade. “E a segunda questão é a Amazônia. O tema da integridade nacional brasileira e sua NDC, se o Brasil vai ou não cumprir as suas metas, está muito na agenda política internacional.” Ana Toni lembra ainda que os negociadores em Madri deverão se pronunciar sobre o futuro do financiamento dos países ricos para os pobres, para ajudá-los a combater as mudanças climáticas. A meta prometida em Paris era chegar a US$ 100 bilhões em 2020 – mas, até agora, esse valor não ultrapassa os US$ 60 bilhões.
A agenda ambiental do presidente
O governo brasileiro desistiu de sediar dois eventos sobre mudanças climáticas que aconteceriam este ano. O mais importante, e que havia sido costurado pela gestão anterior, a conferência climática da ONU, COP-25, gerou ruídos, pois obrigou a entidade procurar outro país para receber o evento. A questão envolvendo o clima é tema sensível ao presidente Jair Bolsonaro e sua equipe, que inclusive, ameaçou deixar o Acordo de Paris, onde as nações se comprometeram a reduzir emissões de gases que facilitam o aumento do efeito estufa. Por outro lado, o mercado tem exigido uma postura mais cuidadosa com a questão ambiental para fazer negócios. Conversamos com autoridades no assunto, como o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil e a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva.See omnystudio.com/listener for privacy information.
O clima nunca esteve tão intenso. Com apenas 1 grau Celsius de aquecimento médio do planeta desde a Revolução Industrial, nosso planeta está com febre, e esses calafrios são sentidos na forma de ventos extremos como tufões, nevascas, longas secas e tempestades que batem recordes de destruição ao redor do mundo, cada vez com mais frequência e afetando milhões de pessoas. Por trás deles, as mudanças climáticas que foram causadas principalmente por nós, humanos, quando desmatamos para plantar e criar gado, quando queimamos combustíveis fósseis em nossos carros, aviões e para gerar eletricidade. O que fazer agora então, quando isso ameaça nossa própria sobrevivência? Existe uma solução? Para discutir esse tema no As Árvores Somos Nozes, chamamos o professor e pesquisador da USP Paulo Artaxo, um dos mais influentes cientistas do mundo na área de clima; Carlos Rittl, coordenador do Observatório do Clima; e Fabiana Alves, especialista da campanha de Clima do Greenpeace Brasil. Neste episódio debatemos a urgência de se tomar medidas sérias que revertam essa situação, o atual contexto político no Brasil para isso no governo Bolsonaro, e o qual o rumo será dado para o futuro do nosso planeta na Conferência de Clima da ONU, que acontece nestes próximos dias na Polônia. Ouça já!
Malu Gaspar e Bernardo Esteves conversam agora com o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, sobre os retrocessos anunciados por Bolsonaro na área de meio-ambiente.
Malu Gaspar e Bernardo Esteves conversam agora com o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, sobre os retrocessos anunciados por Bolsonaro na área de meio-ambiente.
“O fim do mundo é um tema aparentemente interminável – pelo menos, é claro, até que ele aconteça”. As consequências do aquecimento global já observado são muito severas. De acordo com o Fundo Global para Redução de Desastres e Recuperação (GFDRR), o impacto dos desastres naturais ligados ao clima equivalem a uma perda anual de mais de US$ 500 bilhões em consumo - e, principalmente, representam um enorme retrocesso contra os esforços globais de redução de desigualdades, pois forçam cerca de 26 milhões de pessoas em direção à pobreza a cada ano. 2017 provavelmente deve encerrar como o 3° mais quente do registro histórico, atrás de 2016 e 2015, anos influenciados pelo segundo mais intenso evento de El Niño já registrado. Tivemos também três furacões desastrosos: O furacão Harvey deixou um rastro de 91 mortes e prejuízos de impressionantes 198,6 bilhões de dólares, quase o dobro do furacão mais "caro" da história dos EUA até então (o Katrina); com 295 km/h, o Irma foi o segundo furacão mais intenso já registrado na Bacia do Atlântico e um dos maiores em extensão e energia cinética gerada. Irma foi o mais potente. Harvey, o que produziu a chuva mais concentrada. Mas nenhum furacão em 2017 foi tão mortífero quanto o Maria, que chegou a um total de 547 fatalidades. Porto Rico concentrou a maioria das mortes (499) e foi deixado em destroços, privando praticamente toda sua população de água potável e energia. Nossos melhores cientistas insistentemente nos falam que uma calamidade está se desenvolvendo, que os sistemas que suportam nossa vida na Terra estão sendo danificados de formas que ameaçam a nossa sobrevivência. Mas apesar disso, mesmo frente a tantos dados, seguimos nossas vidas como se nada de extraordinário estivesse acontecendo. As livrarias estão repletas de livros sobre o futuro escritos pelos nossos mais ilustres intelectuais, tanto de esquerda, quanto de direita, nos quais a crise ecológica mal é citada. Eles escrevem sobre a ascensão da China, o choque de civilizações e de máquinas dominando o mundo, e criam cenários em que os cientistas do clima nem existem. São futurologistas presos em um passado obsoleto. É um grande silêncio, e hoje a maior ameaça é a falta do senso de tragédia. É inegável que grandes líderes contribuem para a nossa apatia, como o presidente dos Estados Unidos que já afirmou que “O conceito de aquecimento global foi criado pelos e para os chineses de forma a tornar a manufatura americana não-competitiva.” (Donald Trump, 2016). Precisamos, mais do que nunca, falar sobre aquecimento global. E é sobre isso que o Mamilos irá tratar no episódio de hoje com o auxílio de Delcio Rodrigues, físico e diretor executivo do Instituto ClimaInfo, e Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. Abre a mente e o coração e taca-lhe o play neste Mamilos! FALE CONOSCO . Email: mamilos@b9.com.br . Facebook: aqui . Twitter: aqui CONTRIBUA COM O MAMILOS Quem apoia o Mamilos ajuda a manter o podcast no ar e ainda recebe toda semana um apanhado das notícias mais quentes do jeito que só o Mamilos sabe fazer. É só R$9,90 por mês! Corre ler, quem assina tá recomendando pra todo mundo. www.padrim.com.br/mamilos EQUIPE MAMILOS Edição - Caio Corraini Redes sociais - Guilherme Yano, Raphael Primos e equipe Apoio a pauta - Jaqueline Costa e grande elenco Transcrição dos programas - Lu Machado e Mamilândia CAPA A capa dessa semana foi feita por Fernanda Casas (contato: fegcasas@gmail.com) FAROL ACESO Carlos - Livro "A Espiral da Morte" Delcio - Disco "B-Sides and Rarities", da banda Cake Cris - Livro "Minhas Plantas: Jardinagem para todos" Ju - Stand-up "Humanity", de Ricky Gervais; e 2° temporada de "The Crown"
No Podcast Rio Bravo desta semana, conversamos com Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. Na entrevista, Rittl fala sobre a recente decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, que, cumprindo uma promessa de campanha, decidiu pela retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Para o secretário-executivo do Observatório do Clima, a decisão do presidente norte-americano não somente vai de encontro à temática da sustentabilidade, mas, também está na contramão da história. “A substituição de fontes fosseis por energias renováveis não é só uma tendência, mas uma realidade no mundo inteiro”. Para Carlos Rittl, o Brasil, em especial o segmento do agronegócio, tem de ficar atento com os eventuais retrocessos no tocante às conquistas relacionadas à sustentabilidade. Para um mercado exigente como o europeu, por exemplo, não interessa consumir produtos que estejam relacionados com a destruição florestal, comenta Rittl. Entrevista gravada em 09 de junho de 2017.
No Podcast Rio Bravo desta semana, conversamos com Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. Na entrevista, Rittl fala sobre a recente decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, que, cumprindo uma promessa de campanha, decidiu pela retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Para o secretário-executivo do Observatório do Clima, a decisão do presidente norte-americano não somente vai de encontro à temática da sustentabilidade, mas, também está na contramão da história. “A substituição de fontes fosseis por energias renováveis não é só uma tendência, mas uma realidade no mundo inteiro”. Para Carlos Rittl, o Brasil, em especial o segmento do agronegócio, tem de ficar atento com os eventuais retrocessos no tocante às conquistas relacionadas à sustentabilidade. Para um mercado exigente como o europeu, por exemplo, não interessa consumir produtos que estejam relacionados com a destruição florestal, comenta Rittl. Entrevista gravada em 09 de junho de 2017.
A ONU anunciou na manhã desta sexta-feira (30) que, se depender das promessas de redução de emissões de gases de efeito estufa feitas até agora, não será possível limitar o aumento da temperatura global a 2°C, o que ocasionaria consequências dramáticas para o planeta. Esse é o principal objetivo da Conferência do Clima de Paris (COP21), que se inicia em um mês. Para que o evento não seja um fracasso, a inclusão de um mecanismo de revisão periódica das metas de poluição é essencial – mas essa é uma hipótese que, por enquanto, a China não quer ouvir falar. O problema é que os chineses são os maiores poluidores do mundo, responsáveis por 25% das emissões de CO2. Pequim já avisou que o pico da sua poluição ainda está por vir: vai acontecer por volta de 2030. A secretária-geral da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (UNFCCC), Christiana Figueres, apresentou um balanço das promessas feitas pelos países até o momento – as chamadas INDCs, sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas. Ela afirmou não ter dúvidas de que haverá um acordo na COP21. “O acordo precisa ter dois componentes importantes: a definição e a implementação das INDCs e o caminho a ser percorrido a longo prazo. Ponto. Haverá um acordo”, ressaltou. “Haverá um acordo porque eu só vejo a vontade política aumentar, da parte de todos os governos, para chegarmos a um entendimento. Se, no entanto, Paris só considerar a primeira parte da minha equação, o acordo de Paris não resolveria a questão do limite de 2°C.” Poluição em alta por mais 15 anos Os compromissos assumidos até agora gerariam um aumento da temperatura do planeta de “provavelmente 2,7°C” em 2100. Por enquanto, 147 participantes já apresentaram as suas propostas, ou seja, 80% dos países que virão à capital francesa para a Conferência do Clima. Do documento apresentado pela ONU, o dado que mais preocupa o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, é o de que as emissões de CO2 vão continuar em alta até 2030. “Isso demonstra que, apesar de um engajamento grande dos governos, no sentido de demonstrar a intenção de reduzir as emissões, esse compromisso é, até agora, insuficiente – e muito. A gente já deveria estar, em 2015, fazendo essa inflexão na curva global de emissões”, afirma Rittl. “Direito” a emissões Os países em desenvolvimento serão os maiores responsáveis por esse cenário: eles se encontram no auge dos esforços para atingir um grau de industrialização que as economias avançadas já conseguiram. A poluição vem, principalmente, da combustão das energias fósseis, como o carvão. É por isso que o governo chinês rejeita qualquer tipo de "punição" pelas emissões. “As economias em desenvolvimento vão continuar aumentando as suas emissões. Não é o caso do Brasil, que propôs uma meta de redução e, na sua INDC, deixa claro que a trajetória entre 2025 e 2030 já seria de redução de emissões”, explica. “Quanto à grande maioria dos países desenvolvidos, eles estão se comprometendo a diminuir as suas emissões, embora em um nível de ambição bem menor do que o necessário.” Diminuição de expectativas Apesar do enorme desafio que se aproxima, na Conferência do Clima de Paris, Rittl destaca que é cedo para falar em fracasso das negociações internacionais da COP21. Mais de 80 líderes mundiais já confirmaram presença no evento, inclusive os presidentes da China, Xi Jinping, e dos Estados Unidos, Barack Obama. “Eu acho que a gente tem que dosar a nossa expectativa em relação à COP21 e entender que ela não será um novo Big Bang. Já houve essa expectativa em 2009, em Copenhague”, comenta o secretário-executivo do Observatório do Clima, que reúne 35 ONGs ambientalistas brasileiras. “Paris não será o final de um processo de negociação, mas o início de um novo momento da agenda global de clima, a partir de um acordo que inclui compromissos de todos os países, que terão que crescer ao longo do tempo.” Todos os países industrializados apresentaram as suas propostas para as negociações, um marco histórico em relação às conferências anteriores. Entre os países em desenvolvimento, 75% já se comprometeram com planos nacionais, o que também é um recorde.