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Confira aqui as análises, entrevistas e repercussões de notícias que você pode ouvir e baixar. As reportagens +RFI propõem a cobertura de eventos importantes no mundo inteiro feita pelos repórteres e correspondentes da Rádio França Internacional.

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    • Jan 8, 2023 LATEST EPISODE
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    Gustavo Petro e Nicolás Maduro voltam a se encontrar em Caracas

    Play Episode Listen Later Jan 8, 2023 2:07


    O segundo encontro entre Gustavo Petro e Nicolás Maduro, na tarde deste sábado (07), no Palácio Presidencial de Miraflores, em Caracas, terminou com uma declaração bilateral, após mais de três horas de conversas. O presidente colombiano voltou à Venezuela para uma conversa à portas fechadas com o venezuelano.    Por Elianah Jorge, de Caracas De acordo com o documento, os presidentes colombiano e venezuelano abordaram as negociações de paz com o ELN (a guerrilha do Exército de Libertação Nacional), o comércio bilateral e questões fronteiriças, além da formulação de projetos de conexão entre o Mar do Caribe e o Pacífico.   A visita de Gustavo Petro foi anunciada de surpresa, no início da manhã deste sábado, através das redes sociais do embaixador colombiano em Caracas, Armando Benedetti. O primeiro encontro entre Petro e Maduro aconteceu em Caracas, em primeiro de novembro passado. De acordo com fontes do Palácio de Nariño, a sede da presidência colombiana, a agenda seguia três temas definidos na primeira reunião Petro-Maduro: os problemas relativos à abertura da fronteira - entre eles a criminalidade na região fronteiriça; o comércio bilateral; as negociações com o Exército de Libertação Nacional e a suspensão do cessar-fogo. Ministros de ambos os países participaram da reunião. Houve hermetismo e a imprensa não teve acesso a fontes durante o encontro bilateral. A última guerrilha em ação A chegada de Petro a Caracas aconteceu dias após um mal-estar com integrantes do ELN. A guerrilha anunciou uma trégua de fim de ano, expirada em dois de janeiro. No entanto o presidente colombiano anunciou que o cessar-fogo seria ampliado por seis meses. Membros da guerrilha bateram o pé e afirmaram que só cumpririam o discutido e definido na mesa de diálogos.   A primeira etapa de negociações de paz entre a última guerrilha colombiana em ação foi concluída em 12 de dezembro, em Caracas. Na ocasião a guerrilha informou que na segunda etapa de conversa, prevista para acontecer ainda este mês no México, estará disposta a discutir a possibilidade de um cessar-fogo. Desde o início dos diálogos de paz, mediados por Noruega, Cuba e Venezuela, surgiram dúvidas se outras frentes do ELN acatariam as decisões da cúpula negociadora. Félix Arellano, profesor de Relações Internacionais da Universidade Central da Venezuela, descata que “Petro tem razão quando diz que a paz da Colombia depende muito da Venezuela. Depende da participação ativa, séria, responsável e que exista verdadeira vontade política para que a negociação [com o ELN] progrida, e para que os acordos pactuados sejam cumpridos. Esse é o tema fundamental que o presidente Petro parece dar maior relevância, mas também está o tema econômico. Neste ponto da relação bilateral, vemos que os temas estão muito lentos". A Venezuela ocupa lugar de importância nos diálogos de paz entre o ELN e o governo da Colômbia. Além de espalhada em 22 dos 32 departamentos colombianos, a última guerrilha ativa no país de Gustavo Petro também está presente em alguns estados da Venezuela. ONGs venezuelanas apontam que a guerrilha mantém estreita relação com o governo de Maduro. Por isso a figura do presidente venezuelano é vista como imprescindível na tentativa de estabelecer a paz na Colômbia.  

    Guerras e manifestações marcam cenário político internacional em 2022

    Play Episode Listen Later Dec 26, 2022 15:03


    Uma guerra que vem desconcertando o mundo, governos repressores diante de manifestantes corajosos e irredutíveis, guinadas eleitorais para a esquerda e para a direita, a morte de uma rainha eterna. Vamos lembrar alguns fatos marcantes de 2022. Será que Volodymyr Zelensky, ator popular que se tornou presidente da Ucrânia em 2019, um dia teria imaginado que se transformaria em um estadista com fama e prestígio internacional, com direito a capa da revista Time como personalidade do ano? Esse papel teve início em 24 de fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu o território ucraniano. No primeiro de muitos vídeos, já com uniforme de soldado, Zelensky fala aos ucranianos e ao mundo: “O que estamos ouvindo hoje? Não são apenas explosões de foguetes, batalhas, o rugir de aviões. É o som de uma nova cortina de ferro bloqueando a Rússia do mundo civilizado. O exército ucraniano, nossas forças de fronteira, polícia e serviços especiais detiveram os ataques inimigos.” Zelensky continua, fazendo apelo ao mundo ocidental: “Conversei com muitos líderes, do Reino Unido, Turquia, França, Alemanha, União Europeia, Estados Unidos, Suécia, Romênia, Polônia Áustria e outros. Se vocês, caros líderes europeus, caros líderes mundiais, líderes do mundo livre, se vocês não nos ajudarem hoje, amanhã a guerra vai bater em suas portas.” Já o presidente russo, Vladimir Putin, apostava em uma ofensiva curta diante de um inimigo frágil e se explicava: "Decidi lançar uma operação militar especial. Seu objetivo é proteger as pessoas que foram submetidas a abusos e genocídio pelo regime de Kiev por oito anos. E, para isso, trabalharemos para desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia e também para levar à justiça aqueles que cometeram numerosos crimes sangrentos contra civis, incluindo cidadãos da Federação Russa. Nossos planos não incluem a ocupação de territórios ucranianos. Não pretendemos impor nada a ninguém pela força." É o início de um conflito anunciado, que impressiona pela duração e pelas consequências – perdas humanas, deslocamento de ucranianos, crise energética mundial. Diante de rumores de que teria fugido, Zelensky grava vídeos em que aparece em Kiev e vira celebridade. Sempre de uniforme militar, ele recebe pessoas famosas, como o ator americano Sean Penn, e é convidado, por videoconferência, a eventos internacionais para reiterar seu apelo por mais fundos e armamentos.   A guerra deflagra o medo de uma crise alimentar mundial, devido ao bloqueio marítimo imposto pela Rússia no Mar Negro. Em julho, um acordo permite à Ucrânia retomar suas abundantes exportações de grãos. O gás e o petróleo entram na guerra; Rússia reage a boicotes e ameaça cortar o fornecimento de energia. As tensões geradas pelo conflito fazem a inflação disparar no mundo todo, ainda mal recuperado dos efeitos da pandemia. Em setembro, Putin decreta a mobilização de cerca de 300 mil reservistas e assina a anexação de quatro territórios ucranianos total ou parcialmente ocupados, após "referendos" denunciados pela comunidade internacional. Os ucranianos conseguem retomar territórios, mas a retaliação é imediata. A Rússia lança centenas de ataques à rede de energia ucraniana, deixando milhões de ucranianos no escuro, às vésperas do inverno europeu. Crise se alastra A crise de energia e inflacionária também bate à porta na França. Em uma entrevista no começo de dezembro, em viagem aos Estados Unidos, o presidente Emmanuel Macron mandou um recado aos franceses, diante das repercussões a respeito de eventuais apagões para conter o consumo de eletricidade: "Nada de pânico. Isso é inútil. Estamos trabalhando nisso, o governo estâ se preparando para casos extremos que é de fato a necessidade de cortar a eletricidade por algumas horas durante o dia se faltar energia. Depende de nós. E então minha mensagem é de responsabilidade, mas pânico de forma alguma," disse o presidente francês, reeleito no mês de abril para um segundo mandato.  No entanto, os franceses voltaram às urnas para renovar o parlamento e inflingiram uma derrota ao partido de Macron, que perdeu maioria no poder legislativo.  Ultraconsevadores avançam na Europa Na Europa, os ultraconservadores obtiveram vitórias importantes nas eleições legislativas de vários países, como a Hungria, França, Suécia e Itália. Na Itália, Giorgia Meloni conquistou uma vitória histórica em setembro com seu partido pós-fascista Irmãos da Itália ("Fratelli d'Italia") e assumiu como chefe de governo em outubro. Ela cumpre ao pé da letras as promessas de campanhas, principalmente sobre impedir a entrada de imigrantes ilegais. Em novembro, a Itália recusou que o navio humanitário Ocean Viking atracasse em suas costas, com mais de 230 imigrantes resgatados no Mar Mediterrâneo a bordo. Instabilidade política no Reino Unido Após uma sucessão de escândalos e de demissões em seu governo, o primeiro-ministro britânico, o conservador Boris Johnson, apresentou sua renúncia em julho. Liz Truss substitui Johnson por apenas 44 dias. Em seguida os conservadores escolhem o milionário Rishi Sunak para Downing Street. Sunak é o primeiro premiê britânico de origem indiana. O ex-banqueiro e ex-ministro das Finanças, de 42 anos, enfrenta desafios gigantescos. Entre eles, uma inflação de 10%, greves pelo aumento do custo de vida e um sistema de saúde pública em crise. No dia 8 de setembro, dois dias após Liz Truss tomar posse, aconteceu a morte mais marcante do ano, a da rainha Elizabeth II, aos 96 anos. Os súditos britânicos fizeram, sem tumultos, uma fila que durou dias para um último adeus à soberana que reinou por 70 anos. O Reino Unido ganha na sequência um novo rei, Charles III. Outra morte chocou o Japão e o mundo. No dia 8 de julho, quando o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe foi assassinado enquanto fazia campanha para o seu partido. O assassino, de 42 anos, denunciava as ligações do governo com a seita Igreja da Unificação, do reverendo Moon, da Coreia do Sul. Abe foi abatido por tiros de uma arma caseira. Irã se revolta Em 16 de setembro, a curdo-iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, morre em um hospital três dias depois de ser detida pela polícia moral. Ela foi acusada de violar o código de vestimenta do Irã para mulheres, que as obriga a cobrir o cabelo em público e usar roupas discretas. Sua morte provocou uma onda de manifestações em todo país, a maior desde a Revolução Islâmica de 1979. As jovens lideram os protestos. Muitas delas tiram e queima seus véus, como mostram vários vídeos que viralizaram nas redes sociais. As manifestações pela liberdade das mulheres se transformam, progressivamente, em um movimento mais amplo dirigido contra o regime islâmico e se estendem às universidades e escolas, apesar da repressão. As autoridades relatam mais de 300 mortes, enquanto uma ONG com sede na Noruega contabiliza pelo menos 448. A repressão avança, com enforcamento público de manifestantes Vírus sem controle O líder chinês Xi Jinping conquista um terceiro mandato consecutivo à frente do Partido Comunista em outubro e se cerca de figuras leais para se tornar o líder mais poderoso da China moderna. As tensões no Estreito de Taiwan atingem seu nível mais alto em décadas, após a visita à ilha da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, em agosto. Em represália, a China faz manobras militares terrestres e marítimas de uma amplitude sem precedentes desde meados dos anos 1990. E o presidente americano, Joe Biden, diz que suas tropas defenderão a ilha autônoma, se ela for invadida pela China comunista, que a considera parte de seu território. A estratégia "Covid zero" do país, que implica confinamentos de bairros ou cidades inteiras logo que um caso aparece, provoca manifestações no final de novembro de uma magnitude inédita há décadas. As autoridades reagem reprimindo, mas também decidem flexibilizar sua política sanitária. O número de contaminações explode em dezembro. Retrocesso americano Os Estados Unidos marcam o ano com um retrocesso jurídico histórico. Em junho, a Suprema Corte dos Estados Unidos devolveu a cada estado da União o poder de proibir o aborto em seu território, deixando de ser um direito constitucional – arduamente conquistado em 1973 no caso conhecido como “Roe contra Wade”. Depois dessa mudança, cerca de 20 estados proíbem totalmente ou limitam seriamente o direito ao aborto. O assunto se impõe entre os temas mais importantes da campanha das eleições de meio de mandato ("midterms") de novembro. Os resultados das eleições não geram a onda conservadora que os simpatizantes do ex-presidente Donald Trump esperavam. Os democratas mantêm o controle do Senado, e os republicanos têm uma apertada maioria na Câmara dos Representantes. Apesar de tudo, Trump anuncia sua candidatura à eleição presidencial de 2024. A disputa pela indicação dos republicanos deve ser dura, em particular com o governador da Flórida, Ron DeSantis, uma nova estrela da direita americana. Esquerda, volver Enquanto isso, a Colômbia dá uma guinada histórica para a esquerda, com a eleição do ex-guerrilheiro Gustavo Petro para a presidência. Em entrevista exclusiva à RFI, a vice-presidente Francia Marquez falou sobre a nova gestão: “No nosso governo está sendo construída uma institucionalidade para o povo que o Estado nunca representou, ou quando marcou presença, foi apenas em termos de presença militar. Essa institucionalidade para os ninguéns e as ninguéns, como dizia Eduardo Galeano, não estou disposta a fazer concessões no que diz respeito a isso. A elite que vinha governando este país nunca se dispôs a fazer concessões sobre a justiça social para o afrodescendente e indígenas”.   Depois de quatro anos no poder, o líder de extrema direita do Brasil, Jair Bolsonaro, é derrotado por estreita margem pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno da eleição presidencial em 30 de outubro. Lula voltará ao poder no Brasil, em 1º de janeiro. (Com AFP)

    Natal com turistas anima israelenses e palestinos na Terra Santa

    Play Episode Listen Later Dec 24, 2022 7:06


    Após dois anos de pandemia, que levou ao fechamento de fronteiras e uma queda drástica no turismo para a Terra Santa, israelenses e palestinos festejam a volta de peregrinos cristãos e turistas em geral para as celebrações do Natal. Daniela Kresch, correspondente da RFI em Tel Aviv O Ministério do Turismo de Israel acredita que cerca de 120 mil peregrinos devem chegar ao país no período de Natal, com a grande maioria visitando Jerusalém e Nazaré, em Israel, e Belém, no território palestino da Cisjordânia. Esse número é só 20% menor do que os 150 mil que visitaram a região no Natal de 2019, ano que bateu todos os recordes de visitantes – prova de que há uma retomada do turismo pós-Covid. Com base no ritmo até o momento, estima-se que o turismo receptivo em 2022 chegará a 2,6 milhões de turistas em Israel. O governo espera que o país volte, em breve, ao nível de 2019, quando recebeu 4,5 milhões de turistas. Turistas brasileiros Entre os visitantes, estão muitos brasileiros, como conta a consultora de viagens carioca Mônica Asif, que monta roteiros personalizados de viagens para Israel. “O turista do Brasil está voltando, eu senti um aumento do movimento, de trabalho, de pedidos. Então está bem mais movimentado. Eu acho que a gente já pode dizer que está bem parecido ao que era”, diz Mônica. “Acho que, sempre com o turismo aqui em Israel, na Terra Santa, não tem nada que se compare, então mesmo os preços estando mais altos, as pessoas não deixam de fazer essa viagem”. Em Israel, a cidade que mais se beneficia da volta dos peregrinos é certamente Jerusalém, que oferece uma mistura única de locais religiosos, históricos e culturais, além de uma cena gastronômica e de entretenimento vibrante. Este ano, os hotéis da cidade estão praticamente lotados. Papai Noel O Papai Noel local, Issa Kassissieh, desembarcou na Cidade Velha de balão na última terça-feira, dia 21. E árvores de Natal e luzes coloridas enfeitam a cidade, principalmente locais religiosos como a Via Dolorosa e a Igreja do Santo Sepulcro. Fora isso, este ano a festa judaica de Chanucá também está sendo celebrada na época do Natal, de 18 a 26 de dezembro. Isso ajuda no turismo local. Mas não é só Jerusalém que se beneficia. Os cristãos são só 2% da população de Israel, mas muitos judeus (74% da população) também gostam de aproveitar o clima natalino em cidades bíblicas como Nazaré e Jerusalém. Outra cidade muito visitada é Haifa, que têm populações mistas e celebra festividades em comunhão. “Haifa, que é a cidade das três religiões, que tem muçulmanos, católicos e também judeus, sempre foi um grande exemplo, eu acho, de coexistência”, diz Mônica Asif. Boa notícia para palestinos A retomada do turismo é uma excelente notícia também para os palestinos. Dos estrangeiros que chegam ao Aeroporto Internacional de Israel para o Natal, a grande maioria visita obviamente Belém, na Cisjordânia, onde, segundo a tradição cristã, Jesus nasceu. Como em Belém, a economia é baseada no turismo religioso, a ausência dos turistas durante a Covid criou uma situação considerada dramática. Mas, este ano, as lojas de lembrancinhas na Praça da Manjedoura, onde fica a tradicional Árvore de Natal de Belém, estão novamente repletas de clientes. Os hotéis e restaurantes estão lotados de visitantes dos quatro cantos do Planeta. “Belém é onde Jesus nasceu e onde tem a Missa do Galo no Natal. Tem uma árvore (de Natal) grande lá. É bem perto de Jerusalém, então as pessoas voltam a ir para Belém, a visitar Belém e dar uma aquecida no turismo e isso ajuda a população local de lá”, acredita a consultora de viagens brasileira. Sem conflito maior Outro motivo para otimismo no setor turístico é o fato de que, apesar das tensões, não há, no momento, um conflito maior entre israelenses e palestinos. Em anos anteriores, muitos peregrinos evitaram visitar a Terra Santa no Natal por temer a violência regional. Mas, neste dezembro de 2022, parece haver uma espécie de calmaria, mesmo que o ano tenha sido complexo. Cerca de 150 palestinos e 31 israelenses foram mortos em confrontos desde janeiro, tornando 2022 o ano mais sangrento desde 2006. Mas os setores turísticos dos dois lados estão fazendo de tudo para evitar que a tensão atrapalhe as festas de fim de ano.

    Na Turquia, as celebrações de Natal acontecem durante o Ano-Novo

    Play Episode Listen Later Dec 23, 2022 6:13


    Atualmente com maioria muçulmana, a Turquia, antigo centro do Império Romano do Oriente, deixa para o Réveillon a troca de presentes e a árvore decorada. Mas as minorias cristãs ainda mantêm suas tradições na ex-Constantinopla. Fernanda Castelhani, correspondente da RFI em Istambul O país é a Turquia, mas o idioma na casa de Vassiliki Papadopoulou é o grego. E é com canções como Noite Feliz, no idioma dos seus ancestrais, que ela transmite à filha Elizabeth, de 6 anos, um pouco de seus antepassados, mesmo não se considerando religiosa. “Minha filha é ‘internacional', vivendo diferentes culturas, mas ela precisa conhecer suas raízes também. Eu não sou restrita, mente fechada. Mas eu quero dar algo de nós para nossa criança”, explica. Vassi, 55, nasceu em Istambul. Em seu documento de identidade, ela, assim como o marido, é uma cidadã turca. Mas eles também carregam, como grande parte da minoria ortodoxa, uma outra nacionalidade. No caso deles, a grega. “Os católicos fazem o jantar de 24 de dezembro e vão para a igreja. Ao passo que os ortodoxos gregos vão para a igreja na manhã de 25 de dezembro e voltam para a grande refeição. Nós fazemos a grande celebração com a família no almoço do dia 25”, ela explica. Passado cristão Entre as comunidades de cristãos residentes em território turco estão os ortodoxos gregos, armênios e sírios, assim como comunidades protestantes e católicas. Até 1914, os cristãos representavam 20% da população da Turquia. Agora, o número não chega a 0,2%. Após massacres, deportações e deslocamentos forçados no início do século XX, acredita-se que hoje restem só 100 mil no país de 82 milhões de habitantes. A maior igreja católica da Turquia fica na avenida de comércio mais visitada por turistas, a Istiklal. Sent Antuan Kilisesi, nome turco da Igreja de Santo Antonio, teve seu projeto inicial erguido quase três séculos atrás para atender às famílias de franceses e italianos que trabalhavam para o Império Otomano. Com missas em turco, polonês, italiano e inglês, a igreja fica lotada no Natal. Era nesta igreja que a filipina Cherilyn Bi-ay, residente em Istambul há 5 anos, vinha celebrar o nascimento de Jesus Cristo. Mas há dois anos é numa casa alugada especialmente para os dias 24 e 25 de dezembro que ela compartilha com as amigas a emoção de se estar com a própria comunidade.  “Você não pode nem imaginar como é o sentimento. Não dá para descrever a emoção de estar junto das pessoas do seu país. É incrível! ”, descreve Cherilyn. Natal no Ano-Novo Com mais de 90% da população muçulmana, parte da Turquia transferiu para o Ano-Novo os rituais nos moldes como conhecemos no Natal. O empresário Huseyin Buyukyurtsever, da cidade de Adana, na costa mediterrânea do país, diz que, atualmente, janta fora com os filhos e troca presentes em casa. Mas, quando seus pais eram vivos, toda a família seguia estes passos, conta Huseyin: “Com certeza, era servido o peru, mas nós preferíamos frango recheado com arroz e condimentos. Ficávamos à mesa por mais de duas horas. Até que, à meia-noite, nos abraçávamos e trocávamos presentes. Ali, festejávamos e só voltávamos para casa umas 3h da manhã”. Pinheiros iluminados, enfeites pendurados, estrelas no topo, pisca-pisca nas janelas. Tudo isso está presente em centros comerciais, fachadas de casas e entradas de escolas das grandes cidades turcas. As lojas incentivam as compras com anúncios que convocam o momento em família e as trocas de presentes. Mas, na prática, essa é uma estratégia de vendas para uma época mais fraca para o comércio local. Tradicionalmente, os períodos em que os turcos mais se presenteiam são nos feriados islâmicos, os chamados Bayram. As crianças ganham lembranças e todos vestem roupas novas.  Alper Deniz, que é diretor de compras e logística de uma das maiores indústrias têxteis do país, alfineta a interferência externa. “Para mim, as festas de fim de ano são uma pressão do Ocidente para movimentar a economia. Ainda assim, esse período representa um momento em que as pessoas esperam e desejam coisas boas para o ano que virá”, acredita Alper. Esta é a ideia também no sudeste turco, na cidade de Kahramanmaras, onde não se encontram nem a decoração nem um festejo específico. “Não tem Réveillon aqui. Mas, nesta passagem, a gente pensa: novo ano, novas oportunidades”, reforça Ertugrul Tanriverdi, morador da cidade. Origem das festas Foi Constantino, o primeiro imperador romano convertido ao Cristianismo, que se apropriou das festas pagãs para trazer à Bizâncio, depois chamada de Constantinopla, hoje Istambul, o nascimento de Cristo para este período do ano. A brasileira Vivian Faria conta que, quando veio morar na Turquia, achou triste não ter nada nos dias 24 e 25 de dezembro. Mas, desde que o filho nasceu, monta a árvore a apresenta a ele o calendário do advento.“O calendário mostra, por exemplo, os cuidados com a casa, com o ambiente. Cada dia tem uma inspiração para que algo seja feito. Para que estes sentimentos, para que estes valores sejam despertados e trabalhados”, exemplifica. Mãe do turco-brasileiro Ali Gael, de 6 anos, Vivian, que é educadora parental, reforça seu desejo de que ele esteja conectado com a parte da identidade cultural brasileira dele. “É uma data que faz muito sentido no Brasil, que é um país cristão. Então, eu trago para que ele tenha mais uma referência do ritual que a gente faz quando está no Brasil”, afirma Vivian. Independentemente da religião, a festividade do Natal tem mais de 10 mil anos e está ligada ao solstício de inverno no Hemisfério Norte. Tempo de enaltecer a luz para a agricultura que leva comida à mesa: Mutlu Noeller, Merry Christmas, Feliz Natal.

    Aposta na loteria e doces típicos são tradições do Natal e Ano-Novo na Espanha

    Play Episode Listen Later Dec 22, 2022 11:53


    No mês de dezembro, em Madri, como acontece em outras cidades espanholas, as luzes e os mercados natalinos presentes no centro lembram que as festas estão chegando, com as suas tradições típicas de cada país. Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI na Espanha O primeiro motivo para comemorar o nascimento de Cristo é representado por presépios de todos os tipos. Eles estão nas lojas, em diversos designs diferentes, e em versões "gigantes" em várias regiões do país. Em Alicante, por exemplo, fica o maior presépio do planeta, que integra o Guinness Book desde 2019. De acordo com o periódico El Mundo, a representação do menino Jesus mede 3,25 metros, a da Virgem Maria, 10 e a de São José, 17.   Quem estiver na Espanha pode descobrir muitas outras curiosidades da maneira espanhola de viver o período de festas. As tradições são variadas, como os “dulces navideños” (ou doces de natal, em tradução livre), que podem ser vistos nas prateleiras dos supermercados já a partir de outubro. Um dos clássicos é o “turrón”. A espanhola María Bosch trabalha na Jijonenca, fábrica que produz o doce e agora está a todo vapor. "Como a produção é sazonal e concentrada em poucos meses do ano, a partir de junho podemos ver muitos mais turnos de produção e  mais pessoas trabalhando nas fábricas, aumentando o ritmo de trabalho", diz. Apesar de ser principalmente natalino, em muitos lugares é possível comer “turrón” o ano inteiro. Segundo María, os principais ingredientes do doce são amêndoa, açúcar e mel. E, apesar de os “turrones” serem consumidos por toda a Espanha, algumas regiões são mais famosas pela fabricação. "Existem muitos tipos diferentes de ‘turrón' no mercado e novos sabores aparecem todos os anos. Mas os ‘turrones' mais tradicionais são o ‘turrón' de Jijona e o ‘turrón' de Alicante, feitos com as melhores matérias primas e os processos mais artesanais". Loteria Outra tradição típica desta época, na Espanha, é apostar na loteria, conhecida como "El Gordo". Sim, os espanhóis têm uma espécie de versão da “Mega da Virada” brasileira. A venda de bilhetes para a loteria de “navidad” chega a gerar filas quilométricas nas casas de aposta mais tradicionais.  O sorteio do primeiro prêmio, que vale € 400 milhões, acontece no dia 22 de dezembro e reúne multidões que o acompanham por rádio, televisão ou internet. O brasileiro, Rafael Silva mora na Espanha há 5 anos e sempre faz sua aposta. “Eu jogo em vários lugares, como todo mundo aqui, mas eu não  vou comprar, não pego as filas, mas eu jogo. Primeiro, porque todo mundo joga. Imagina se alguém do trabalho ganha e eu não ganho, eu vou ser o único que vou ficar no trabalho, né? Segundo, porque eu gosto. Eu sempre jogo a loteria. Eu acho que aqui é um pouco mais levado a sério que a Mega da Virada, mas você pode comparar, sim. Seria a nossa Mega da Virada”, conta. “Nochevieja” para celebrar um ano novo Dias depois que os vencedores da loteria já foram anunciados e com todos já tendo comido seus respectivos pedaços de “turrón” após a ceia de Natal, chega o momento de celebrar o Ano Novo. Na Espanha, a última noite do ano leva o nome de “nochevieja”. Enquanto, no Brasil, parte da população está pulando 7 ondinhas para atrair sorte, na cultura espanhola, o que se faz é comer uma uva por cada badalada do sino que anuncia a meia-noite. Ou seja, no total, uma dúzia. Muitos acompanham o momento com as uvas já preparadas e de frente para a televisão, para poder comê-las assistindo ao soar do sino da Puerta del Sol, no centro de Madri. No supermercado, é possível encontrar, inclusive, embalagens com 12 uvas fabricadas especialmente para a ocasião.  O costume, que atravessa gerações, cria uma demanda comercial. O mercado, por sua vez, traça estratégias para supri-la. Maite Sirvent, que trabalhou a vida inteira com a uva, passou os últimos 10 anos como responsável de controle de qualidade.  Ela conta que este período do ano não é o ideal para a colheita da fruta, mas há técnicas que possibilitam que a tradição, que é ligada a um tipo específico da uva, continue sendo posta em prática. “Nem todas são adequadas, existem diferentes variedades, que são colhidas muito mais cedo. A variedade adequada para estas datas é chamada ‘aledo'. Conseguimos atrasar a colheita graças à técnica de ensacamento. Cada grupo é embrulhado num saco de papel, o que garante uma excelente qualidade nesta época do ano”, explica. Doce surpresa Fernanda Chaves se mudou do Rio de Janeiro para Madri em 2021, ano em que viveu, pela primeira vez, as festas de fim e início de ano no estilo espanhol. Para a carioca, o clima frio e a super decoração madrilenha dão a sensação de viver um Natal “de filme”. Ao mesmo tempo, ela diz que o calor humano do Brasil fez falta na hora de festejar. Tanto que, neste ano, ela voou para a cidade maravilhosa para virar o ano ao lado da família.  Mas, antes de ir, aproveitou para comer uma sobremesa tipicamente espanhola: “Eu comi o ‘roscón' de Reis. Eu comi desde novembro este doce típico e pra mim é o melhor que tem de natal na Espanha. Inclusive, eles começaram a vender este ano já em agosto. Como eu já sabia que viria para o Brasil, queria comer antes”. O “roscón de reyes” é consumido, principalmente, nos festejos de reis, entre o dia 5 de janeiro e o dia 6, que é a data propriamente dita. Além de ser feito em um formato que faz referência a uma coroa, o doce também vem, literalmente, recheado de símbolos. É tradição que, na parte de dentro do roscón, sejam postas figuras, estatuetas em miniatura. Uma fava também costuma ser inserida na sobremesa. Neste caso, com um objetivo específico. Representante de uma das confeitarias mais icônicas de Madri, “La Mallorquina”, que tem mais de 128 anos de história, José Laguna detalha que, tradicionalmente, deve-se colocar um pequeno ornamento ou um símbolo dentro do ‘roscón'. Algumas pessoas até põem dinheiro e a imagem da fava. A função que tem é a de que quem cortar o pedaço de ‘roscón' com a fava tem que pagar pelo doce. Alegra as pessoas, especialmente as crianças. Isso as deixa felizes quando cortam o ‘roscón' e (dizem) ‘ah, eu tenho a estatueta'. É uma coisa engraçada”. Presente duplicado Comer o roscón não é a única tradição do dia dos reis magos. Na Espanha, a data é levada muito a sério e há quem diga que o ano só começa depois do dia 6 de janeiro. Algumas instituições, inclusive, fecham as portas de antes do Natal até depois da celebração de reis.  Nas ruas de Madri, um desfile que acontece no dia 5, também chamado de cavalgada de reis, atrai milhares de espectadores. Outra característica desta data é que muitas crianças recebem presentes. Segundo a tradição, assim como se pede ao papai Noel, se pode pedir a Baltazar, Gaspar e Melchior. Letícia Pereira se mudou de São Paulo para Madri há 4 anos. Na casa em que vivem ela, o marido, Guilherme, e os dois filhos, Lucas e Stella, o costume de presentear em dia de reis é seguido à risca. “Acho que a tradição que a gente introduziu aqui foi essa questão de comemorar os reis, né? Que as crianças colocam leite, biscoitinho, debaixo da árvore, deixam a cartinha antes”, diz. Com a manutenção da entrega de presentes feita também pelo Papai Noel, o período de festas está saindo mais caro. “O bolso sentiu um pouco, porque a gente compra o presente e eles abrem no dia 6. Os amiguinhos da escola perguntam, quando voltam das férias, o que eles ganham de reis. Então foi uma coisa que a gente quis integrar até para eles também se sentirem parte da comunidade aqui, né? Mas, como, no Brasil, os primos também ganham presente do Papai Noel, a gente tinha que dar um jeito. Então a gente fez um pouco isso, eles fazem cartinhas para os dois. Este ano, eles fizeram cartinha. Uma só. Eu falei ‘faz uma só endereçada para Papai Noel e Reis' para facilitar a vida”, relembra rindo.

    Prato tradicional, hallaca é o símbolo do Natal na Venezuela

    Play Episode Listen Later Dec 21, 2022 7:02


    O presidente Nicolás Maduro voltou a antecipar o Natal na Venezuela. De acordo com o governo, as celebrações começaram já em 1º de outubro. Mas na prática, não é bem assim. É quando o comércio coloca à venda os ingredientes para a preparação da ceia natalina, além dos enfeites alusivos à data, que o venezuelano percebe a chegada da época mais esperada do ano. Elianah Jorge, correspondente da RFI Brasil em Caracas Outro marco importante, segundo Derbys López, diretor da Fundhea, fundação dedicada à transmissão oral da História venezuelana, é o som da gaita. “O mais típico, o mais tradicional na Venezuela são as gaitas. Quando começamos a escutar a gaita, que é uma música da região de Zulia (no oeste do país e fronteiriço com a Colômbia), começamos a dizer: 'Estamos perto de dezembro'. Há gaitas que são tradicionais e outras que são muito natalinas”, explica. "Os venezuelanos sempre estão entoando uma melodia", conta López. "O povo ama todo tipo de música", completa. Logo, é amplo o repertório para este período do ano. Porém, uma delas, 100% venezuelana, ultrapassou fronteiras. Foi gravada até em português. A obra foi incluída pela revista musical Billboard na lista de 100 melhores músicas natalinas de todos os tempos.  “É o “Burrito Sabanero”, uma canção típica venezuelana que deu a volta ao mundo e tem sido cantada em diferentes idiomas. É sobre o menino que sobe em um burrinho rumo a Belém. É como se ele estivesse buscando o espírito do Natal”, explica Derbys. A grande estrela Embalados pelas músicas natalinas, aqui chamadas de villancicos, os venezuelanos se dedicam à preparação das comidas da ceia, e em especial à elaboração da hallaca – a grande estrela das noites de 24 e 31 de dezembro.  Mais que um sabor, a hallaca evoca memórias, tradições e sensações que vão além do paladar. É o que explica Ocarina Castillo, antropóloga e criadora do curso de Antropologia Gastronômica da Universidade Central da Venezuela.  “Do ponto de vista identitário, emocional e subjetivo, a hallaca faz parte de nossas memórias. Todos temos lembranças das primeiras hallacas que comemos na infância, do cheiro que enche toda a casa quando começam a cozinhá-la. Só de sentir o cheiro da folha de bananeira fervendo na água, já temos consciência de que estamos no Natal. Então, para um venezuelano, a hallaca é algo importantíssimo”. A hallaca parece um presente ao comensal: chega ao prato embrulhada em folhas de bananeira. Em geral as famílias se reúnem dias antes das festas, para se dedicarem ao preparo do alimento, que é feito em várias etapas.  “A hallaca possui quatro partes, cada uma delas essencial para garantir a qualidade do todo. Em primeiro lugar, vem o cozimento da folha de bananeira, que garante a qualidade, o aroma e a textura necessária para ser a melhor embalagem do alimento. Em segundo, o preparo da massa, que é cozida, amassada e temperada com gordura, urucum e, no nosso caso, com ají dulce, que confere aroma e cor particulares. A textura, para que seja uma massa de boa qualidade, é muito particular”, detalha Ocarina. Difícil dizer qual a parte mais importante deste prato. Só com a massa, não existe hallaca. Entra a elaboração do ensopado para o recheio. A professora dá detalhes: "Em terceiro lugar, está o ensopado, que é muito complicado. Só ele leva um dia para cozinhar. É preciso picar todos os ingredientes com antecedência. Gasta-se não sei quantas horas cozinhando o ensopado. Nele, tem carne de boi, de porco e de frango, além de uma infinidade de ingredientes. Em muitas áreas do país, o ensopado tem um toque doce, porque nós venezuelanos gostamos muito da combinação doce-salgado. Em algumas regiões, colocam um toque picante, ou seja, a hallaca tem todos os sabores”, explica. Mas não pense que já acabou: ainda faltam os adornos da hallaca, que variam de acordo com a região do país. Em Caracas, por exemplo, a hallaca ganha uma amêndoa em seu interior. A amarração da hallaca também é de suma importância. Imagina se depois dessa trabalheira toda e por causa de um nó mal feito a mistura saia da embalagem de folhas de bananeira e tudo vire uma gororoba dentro da panela? Mas de onde surgiu a hallaca? Profunda estudiosa da gastronomia venezuelana, a professora Ocarina tem a resposta: “A hallaca não era necessariamente um prato de Natal, mas sim um prato especial consumido nas casas venezuelanas em diferentes épocas do ano. Mas, no final do século 18, parecia que, pelo enorme trabalho envolvido, pela dedicação, pelo tempo que leva a obter os ingredientes e a processá-los, pouco a pouco, a hallaca tornou-se um prato extraordinário para celebrar o Natal”. A miscigenação em um prato “Neste ponto gostaria de agregar que a hallaca é uma metáfora do que tem sido nosso processo sociocultural. Na hallaca nossas matrizes socioculturais estão perfeitamente representadas: a matriz indígena, através do milho e da massa de milho; a matriz europeia, através de uma série de ingredientes como a carne de porco e de vaca, mas também alguns temperos (passas, amêndoas, alcaparras, azeitonas, até vinho de cozinha). E o ventre africano que também tem sua influência no fato de ser a hallaca envolta em folha de bananeira”, Ocarina detalha a miscigenação que colaborou para o surgimento do acepipe e de outras tradições natalinas. A Venezuela, ao virar um país petroleiro, atraiu muitos imigrantes do sul da Europa, sobretudo espanhóis, portugueses e italianos.  “Essas imigrações também aportaram suas tradições natalinas ao nosso povo. Não é de estranhar que nas mesas de Natal existam panetones, ao estilo italiano, e diferentes tipos de torrões ao melhor estilo espanhol”, descreve a professora. Riqueza à mesa  “No século 20, a hallaca passou a ser acompanhada de uma salada bem típica da Venezuela, a salada de galinha. Junto a isso, também costumamos comer presunto grelhado ou pernil suíno”, agrega a decana. De sobremesa tem o tradicional doce de mamão. “É um dos nossos doces mais antigos da época colonial, quando muitos doces eram comidos em calda”, diz Castillo.  Já o rum, produzido no país, misturado com baunilha, açúcar, leite e gema de ovos dá vida ao “ponche crema”, uma bebida consumida por toda a família, explica a professora:  “O ponche crema é bebido, principalmente, pelo setor feminino da população: as avós de 80 anos bebem enquanto fazem e quando vão comer as hallacas. De velhinhas a adolescentes. Nesse país todo mundo em algum momento brindacom um copo de ponche de creme gelado e delicioso”.    Saborosa e cara A ceia de Natal venezuelana é cara. A união familiar aparece não apenas na hora do preparo, mas também naquela ajudinha financeira na hora de comprar os ingredientes. Neste momento, uma dúvida paira sobre sua cabeça: como os venezuelanos fazem diante da crise que ainda assola boa parte do país?  “Após cerca de 10 anos de uma terrível crise agroalimentar como a que vivemos, é um grande sucesso poder fazer uma hallaca no Natal. Todos nós tivemos que fazer ajustes, porque essa hiperinflação é inimiga da hallaca. Aqueles que nos anos mais críticos não conseguiram prepará-la estão se esforçando para fazê-lo novamente”, conta Ocarina. A economia venezuelana teve leve recuperação em 2022. Organismos internacionais previram que o PIB do país teria uma alta de 10% este ano. Embora a população sinta certo alívio em relação aos anos anteriores, a inflação ainda está presente no dia a dia.  De acordo com o site Expansión Datos Macro, a variação do Índice de Preços ao Consumidor em outubro deste ano foi de 155,8%. Há pessoas que fazem hallacas para vender. Os preços da unidade podem variar entre U$3 (R$15) e U$10 (R$50). Mais que um alimento De tão querida e tradicional, a hallaca virou música gravada pelo grupo venezuelano Serenata Guayanesa, em exaltação ao ambiente festivo no esse prato sinônimo de Venezuela é consumido. E existem até ditados usando o alimento como recurso, explica Castillo: “São frases que têm a ver com a cultura popular venezuelana e nas quais as hallacas simbolizam e metaforizam o fechamento da vida, o fechamento do ano, o fechamento dos processos e também dos ciclos históricos”.  A hallaca é mais que um alimento. A professora Ocarina explica o significado de dar ou receber esse saboroso presente envolto em folhas de bananeira.  “Esta é uma tradição muito venezuelana: a troca de hallacas entre os familiares, entre os amigos mais próximos, entre as pessoas que mais se ama. Como todos sabemos o que a hallaca significa sentimentalmente, em algum momento, todos compartilhamos uma hallaca. Todos nós já convidamos para nossa casa alguém que não tinha o suficiente para comer, todos nós já fizemos de uma hallaca algo mais do que uma refeição, para transformá-la em um abraço”, finaliza.

    Natal dinamarquês tem duentes e elfos e poucas referências ao nascimento de Jesus

    Play Episode Listen Later Dec 20, 2022 6:40


    Nas ruas, nas instituições de ensino, nas empresas, em todos os lugares durante todo o mês de dezembro o Natal é celebrado neste pequeno país Nórdico de quase 6 milhões de habitantes. Fernanda Melo Larsen, correspondente da RFI em Copenhague O Jul, Natal em dinamarquês, é anterior à celebração de Natal do mundo cristão. Antes do cristianismo, Jul era festejado pelos dinamarqueses e escandinavos na lua cheia mais fria do ano. O cristianismo foi introduzido na Dinamarca por volta do ano de 965, e a partir disso, o Natal cristão e as tradições pagãs dinamarqueses se fundiram. O primeiro dia do advento, que acontece quatro domingos antes do Natal, marca o início da temporada natalina. É quando muitas famílias vão para a floresta escolher o próprio pinheiro que será cortado e ficará no quintal esperando a semana do Natal para ser decorado e colocado na sala de estar. Dentro de casa a vela do advento é acesa todos os dias, e outras velas iluminam o ambiente. A decoração natalina é feita com corações de papel, com muitos duendes e elfos. Já os anjos e os presépios com a figura do menino Jesus são raros por aqui. De acordo com Marie Nielsen, professora associada e vice-diretora da Escola de Cultura e Sociedade do Departamento de Estudos de Religião da Universidade de Aarhus, a maioria dos dinamarqueses vê suas próprias práticas como algo relacionado às tradições familiares e nacionais. “Umas das coisas que nós vemos na atualidade no país é que muitos muçulmanos que vivem na Dinamarca celebram o Natal, porque o Natal é algo grandioso na Dinamarca. Você não tem como evitar, é celebrado nas escolas, as crianças nos jardins de infância visitam as igrejas. É impossível não viver o Natal na Dinamarca, ele está nas lojas, no trabalho, na mídia, em todos os lugares”, explica Marie Nilsen. Celebração em sociedade Nas ruas, os mercados de Natal são um convite para quem passa tomar um Gløgg, uma bebida feita com vinho misturado a amêndoas e passas, que é servido quente. Nos cafés de todo o país é possível consumir o æbleskiver, um bolinho de maçã que se come com geleia e açúcar de confeiteiro. Já no ambiente de trabalho dinamarquês, o Julefrokost – almoço de Natal – pode durar o dia todo começando na hora do almoço com muita comida e bebida. Discretos e silenciosos no cotidiano, nestes eventos regados a muito álcool os dinamarqueses desfrutam o momento numa atmosfera – hyggeligt – que significa aconchegante em tradução livre. As instituições de ensino celebram o mês natalino com canções tradicionais deste período do ano.   As crianças recebem também um calendário do Advento, que contém 24 presentes simbólicos. A brasileira Miriam Jakobsen, casada com um dinamarquês e mãe de duas filhas, diz gostar do estilo de celebração de Natal do país que ela escolheu para viver há 12 anos. “Hoje com as meninas eu acho maravilhoso porque a gente vive aqui, porque mais que elas tenham muita coisa do Brasil aqui em casa, a gente faz muita coisa brasileira, mas o que pega mesmo é a cultura dinamarquesa, porque é aqui que elas vivem. É o que elas compartilham na escola, é o que elas conversam com as amiguinhas, e elas adoram dançar ao redor da árvore, é um momento divertido, eu gosto também” conclui Miriam Jakobsen. Feriado de Natal Lojas, estabelecimentos comerciais, empresas encerram as atividades nos dias 24, 25 e 26 de dezembro. Até mesmo o transporte público funciona com capacidade reduzida no dia 24, parando às 22h para que todas as pessoas tenham a chance de participar do jantar em família. A Ceia de Natal neste país escandinavo é o ponto mais tradicional da festa, a comida é servida depois das cinco da tarde. No cardápio o pato assado, o Flæskesteg – o lombo de porco assado com torresmo crocante e ameixas, batatas cozidas, com um molho escuro, batatas caramelizadas, e repolho vermelho em conserva. O jantar é seguido pela sobremesa. Ris a l'Amande - um tipo de arroz doce feito com creme de leite, molho de cereja e amêndoas. Depois do jantar e antes da troca de presentes, é o momento de adultos e crianças dançarem de mãos dadas ao redor da árvore de Natal e cantarem canções natalinas como Noite Feliz. O dia de Natal é um momento muito tranquilo para a maioria das famílias, pois as visitas mais formais e outras atividades só são agendadas a partir do dia 26 de dezembro.

    Na Etiópia, o Natal é em janeiro e o Réveillon em setembro

    Play Episode Listen Later Dec 19, 2022 6:43


    Não se escuta, em dezembro, música natalina no comércio de Adis Abeba nem se vê luzes coloridas e enfeites com este tema pelas principais ruas da agitada cidade, ao contrário de várias outras capitais pelo mundo. A Etiópia é um dos países onde a população, de maioria cristã ortodoxa, celebra o nascimento de Jesus Cristo no dia 7 de janeiro. O calendário local é diferente do gregoriano, o mais usado no mundo. Vinícius Assis, correspondente da RFI na África No segundo país mais populoso do continente africano (são cerca de 120 milhões de habitantes), esta é uma data sem muito apelo comercial, bem mais voltada para a simbologia religiosa. “Os etíopes realmente celebram o nascimento de Jesus, mesmo que seja em datas totalmente diferentes”, afirma a brasileira Luana Michele Alves da Cunha, que há 12 anos vive na Etiópia. Mas ela conta que o marido, etíope, também “já se acostumou com a celebração do nosso Natal”. O feriado neste país, em janeiro, também marca o fim de 43 dias de jejum, que muitos fiéis costumam seguir à risca, todo ano, desde 25 de novembro. Durante este período de preparação para a data, espera-se que eles não consumam alimentos de origem animal nem bebidas alcoólicas. Alguns fazem apenas uma refeição por dia. Assim como no Brasil, é um dia para, pelo menos em tese, se estar com a família. Quem vive na capital do país costuma voltar para a região de origem nesta época. Peregrinos visitam as monumentais igrejas escavadas em rochas na cidade de Lalibela, um dos destinos turísticos mais procurados, mas a ida ao templo mais próximo é um programa sagrado para muitos. Vigília nas igrejas A vigília nas igrejas espalhadas pelo país começa na noite anterior ao dia em que se celebra o nascimento de Cristo por aqui. As mulheres precisam cobrir os cabelos com uma espécie de echarpe branca com as pontas bordadas chamada netele, peça tradicional no guarda-roupa das etíopes. Os homens costumam estar com o dorso envolvido em uma vestimenta tradicional branca chamada gabi, também feita de algodão, porém bem mais grossa e maior que a netele. Morando na Etiópia há quatro anos, a professora brasileira Eliene Nogueira já presenciou essas cerimônias em locais públicos. “Geralmente não são dentro das igrejas, porque não tem espaço para todo mundo. São distribuídas velas e eles as acendem para comemorar, como se fosse a estrela de Belém”, contou. Tradições São tradições que marcam o Natal etíope, retratadas em imagens que sempre correm o mundo, mas não são seguidas por todos, principalmente os mais jovens. Em Adis Abeba também há os que aproveitam a noite de Natal, em janeiro, em bares e boates. “Depende do quão religiosa a pessoa é”, esclarece a médica etíope Hermela Maru. Ela se considera flexível quando o assunto é tradição. Mesmo sendo cristã ortodoxa, não faz o jejum nos 43 dias que antecedem o Natal no país dela, por exemplo. A médica lembra que a data aqui também é sinônimo de ter a família reunida em torno da mesa, especialmente para saborear um dos pratos mais emblemáticos dos feriados etíopes: doro wat, uma espécie de guisado feito com frango, cebola, ovos cozidos, (bastante) óleo e temperos, como o tradicional berbere. O prato leva mais de 10 horas para ficar pronto e costuma ser preparado no dia anterior. Quem tem melhores condições financeiras compra um cordeiro ou um boi para o brunch de Natal. “Normalmente a família se reúne na casa dos avós ou do parente mais idoso ainda vivo”, contou Hermela. Não há Papai Noel nem troca de presentes em janeiro na Etiópia. “A menos que você vá visitar alguém, aí pode até levar algo para a família, mas não existe isso de árvore de Natal cheia de presentes, como no Ocidente”, completou a médica etíope. A brasileira Rafaela de Costa Carvalho, gerente de contratos, também é casada com um etíope, há dez anos. Atualmente o casal mora nos Estados Unidos com as duas filhas. Ela lembrou de um detalhe que o Natal etíope tem em comum com a celebração brasileira. “A única semelhança que tem entre o Natal etíope e o brasileiro é que algumas famílias, que têm acesso, gostam de comer panetone. Acho que é essa pequena influência italiana que teve aí”, disse. A Etiópia é considerada o único país da África que não foi colonizado, apesar de a ocupação por tropas italianas ter durado cinco anos (de 1936 até 1941). Seis semanas atrás, a finlandesa Enna koskelo se mudou para Adis Abeba. Ela trabalha para a ONU Mulher, com projetos ligados a mulheres, paz e segurança. Por conta do trabalho, não conseguirá passar o Natal com a família na capital finlandesa, Helsinque. Enna cresceu como membro da Igreja Evangélica Luterana, como a maioria da população da Finlândia. “Mas não sou praticante”, destaca. Ela diz claramente que gosta de comemorar o Natal, como sempre fez. “É a celebração dos valores que eu trago da minha cultura, como a família. É também um jeito de lembrar de onde eu venho”, disse. A finlandesa mostrou à reportagem fotos e vídeos enviados nos últimos dias pela família. Enquanto nas recentes noites de Adis Abeba a temperatura tem ficado em torno dos 16 graus Celsius, os termômetros têm marcado - 9 graus Celsius na capital da Finlândia, onde as ruas estão cobertas de neve, o que rende cenários dignos de filmes natalinos de Hollywood. No ano passado ela passou o Natal em Nova Iorque com o namorado, pela primeira vez celebrando a data em outro país. Por conta das restrições impostas pela pandemia, conta que não comemoraram com festa. Mas, desta vez, está organizando uma celebração para a noite do próximo dia 24 com as pessoas que vivem na mesma casa em Adis Abeba e não viajarão. Quando era criança, Enna diz que nesta época se empolgava mais com os presentes que receberia do Papai Noel, que - diz a lenda - seria da Lapônia, norte da Finlândia. Mas hoje não. “Conexão entre as pessoas nesta data para mim é melhor do que presente e decoração de Natal”, diz. Estima-se que os cristãos ortodoxos representem pouco mais de 1% da população finlandesa. A maioria é descendente de russos. Mas Enna conta que não se lembra de ver celebrações natalinas entre eles como na Etiópia. “Eu também estou muito curiosa para saber mais sobre o Natal daqui, mas não acredito que eu tenha a chance de participar, porque me parece que é mesmo algo mais religioso e bem restrito às famílias”, disse. Normalmente quem se movimenta em dezembro em Adis Abeba por conta dos preparativos deste período, que no Ocidente é conhecido como o de festas de fim de ano, são os estrangeiros que vivem em uma das principais capitais da África, onde ficam a sede da União Africana, dezenas de embaixadas e organizações de diversos países. Estrangeiros Na maior cidade da Etiópia, no saguão de um luxuoso hotel que pertence a uma rede internacional, a reportagem encontrou uma grande árvore natalina decorada exatamente como se costuma ver com frequência em dezembro em praticamente todas as casas e empresas no Brasil. É algo raro na Etiópia. No local também havia um pequeno bazar, com pessoas vendendo livros e artesanatos sobre algumas mesas. A referência ao Natal neste ambiente é por conta da grande circulação de turistas estrangeiros. Por mais que etíopes também frequentem a piscina e os restaurantes do hotel “isso não representa a cultura da maioria local”, de acordo com Hermela Maru. Hermela Maru disse que, particularmente, não vê com maus olhos o fato de pessoas aqui celebrarem essas datas como no Ocidente, mas ao mesmo tempo ela diz que se preocupa, porque acha importante ressaltar a cultura do próprio país. "Adis Abeba está ficando mais moderna, internacional, mas as crianças etíopes precisam aprender nossas próprias músicas e brincadeiras tradicionais para se celebrar o Natal e o Ano Novo e temos que ter quem as ensine isso”, concluiu a médica etíope. No último fim de semana aconteceu, na capital etíope, o Bazar Diplomático de Caridade, depois de uma pausa de dois anos, que reuniu representantes de cerca de 40 embaixadas e comerciantes locais na sede da Comissão Econômica das Nações Unidas para a África (UNECA, na sigla em inglês). Os organizadores garantem que o dinheiro arrecadado vai para obras de caridade no país. Só no bazar de 2019, foram levantados com o evento cerca de 6 milhões de Birr (moeda etíope), o equivalente a quase R$ 600 mil, segundo a UNECA. Eles estão no ano de 2015 Na última semana de dezembro, a cidade deve ficar vazia. A maioria dos estrangeiros que vivem em Adis Abeba deve viajar para passar o Natal e o Réveillon fora da Etiópia, país onde o calendário tem 13 meses (são 12 com 30 dias e 1 com 5 dias) e a virada do ano é dia 11 de setembro (ou dia 12, no caso de anos bissextos). Atualmente o calendário etíope está no ano de 2015. É em setembro também que se celebra aqui o fim do tradicional período de chuvas, embora algumas regiões do país estejam enfrentando a pior seca em 40 anos, o início da primavera e das colheitas nas áreas rurais. Na véspera do Réveillon etíope, vitrines de lojas e fachadas de shoppings são decoradas com as cores amarela e marrom, uma referência à adey abeba, flor endêmica que só se colhe naquela época do ano. Pelas ruas também se vê a venda de acessórios dessas cores. Em setembro, há luxuosas festas pela cidade no Réveillon etíope. Também acontecem algumas festas dessas no dia 31 de dezembro. “O nosso ano novo nunca passamos aqui, porém há muitos hotéis que fazem festas”, disse Luana, se referindo ao dia 31 de dezembro. “Mas, no dia seguinte, todo mundo tem que estar no trabalho. É um dia normal, como outro qualquer”, destaca Rafaela.

    "O Brasil, país mais desigual do mundo, precisa enfrentar este dilema", diz economista

    Play Episode Listen Later Dec 14, 2022 6:10


    Octavio de Barros foi economista-chefe do Bradesco por 14 anos e assessor do Ministério da Fazenda. Doutor em Economia pela Universidade Paris 10, atualmente é vice-presidente da Câmara de Comércio França-Brasil e fundador do think tank República do Amanhã no Brasil e na França. Após conferência em Paris, ele falou com exclusividade à RFI sobre os maiores desafios do terceiro governo de Lula e sobre por que é urgente investir na diminuição da desigualdades no país. Paloma Varón, da RFI Neste evento organizado pela Câmara de Comércio do Brasil na França (CCBF), o economista falou a um público francês sobre como ele vê a política econômica no Brasil a partir de 2023. Para ele, num país onde 46% das crianças estão abaixo da linha de pobreza e 29% dos jovens entre 18 e 24 anos não estudam nem trabalham, é preciso ter ousadia na política econômica para a questão social. "O risco de não agir na área social é muito maior do que o eventual risco de ter algum pequeno aumento na relação da despesa pública sobre o PIB, que eu acho realmente não vai ser nada muito significativo. Mas o Brasil precisa enfrentar esse dilema. Tornou-se insustentável a situação social do Brasil, que é o país mais desigual do mundo - aqui eu me refiro a países importantes", analisa. O economista clama por o que ele chama de "radicalidade democrática responsável": "As externalidades dessa desigualdade são muito negativas no plano social e também no plano empresarial. E ao Brasil, dado o nível de desenvolvimento que o país já tem, não nos é dado o direito de não olhar com ousadia essa questão da desigualdade. É preciso uma certa radicalidade democrática responsável. A palavra 'responsável' não está aí por acaso; é possível, sim, conferir um papel de protagonismo para a questão da desigualdade na política econômica, e na política em geral, com muita responsabilidade macroeconômica na área fiscal", acredita.  Bolsa para jovens "Vai ser necessária ousadia, inclusive com aquela proposta da senadora Simone Tebet de conferir uma bolsa para os estudantes ficarem na escola, não precisarem trabalhar. O grande desafio não é só de continuar as políticas de médio e longo prazo para melhorar a educação, mas também sustentar com uma certa ousadia políticas emergenciais de curto prazo para dar um caráter mais emancipador a segmentos que estão muito penalizados no Brasil", completa.  Para isso, Barros considera que é preciso acabar com o teto de gastos, inclusive na Constituição, e que "é muito mais razoável ter leis como a Lei de Responsabilidade Fiscal ou algum outro critério para crescimento da dívida pública, com proporção do PIB".  Otimista com o futuro do Brasil, o economista considera boa a escolha de Fernando Haddad para a Fazenda. "O Fernando Haddad é uma pessoa extraordinariamente competente e muito maduro. É uma pessoa que ouve muito bem e vai montar uma equipe de gente muito qualificada. Ele não é um técnico no sentido clássico de macroeconomia, mas ele é um político. E a gente aprendeu, ao longo da história, que o ministro da Fazenda no Brasil tem que ter uma relação muito próxima do presidente da República". "Acho que nós não teremos nenhum tipo de surpresa negativa no plano fiscal. Acho que é exatamente o oposto: vamos ter uma surpresa positiva, e os agentes econômicos vão reconhecer que hoje ninguém mais brinca com a área fiscal, ninguém corre risco na área fiscal. É uma área muito delicada e que abala muito os mercados, particularmente, e pode gerar aumento de taxa de juros de longo prazo e reduzir o crescimento. Então, o fiscal, no governo Lula, vai ser tratado com responsabilidade", disse ele, lembrando que o Brasil tem a maior taxa de juros reais do mundo (8%). Mercado financeiro versus social? Octavio de Barros, que trabalhou durante 25 anos no mercado financeiro, acha que o setor não tem motivos para preocupação. "É evidente que o mercado financeiro gostaria de ver pessoas ligadas a eles no comando da Economia. Isso aí é comum, é normal. Mas eu acho que vão se surpreender. Eu acho que não vão ter nenhum tipo de risco, muito pelo contrário. E acho que o mercado financeiro em algum momento vai reconhecer a necessidade do Brasil de focar no social - com responsabilidade, obviamente". Em meio à inflação e crise energética mundial, o economista vê oportunidades para o Brasil, tanto interna quanto externamente. "As oportunidades poderiam se resumir no fato de o Brasil produzir uma energia limpa e de passar a ter uma uma atitude totalmente diferente do governo precedente em relação à questão climática, a Amazônia, em particular, e o Cerrado". Economia verde "Eu acho que, se o Brasil for de fato capaz de mostrar para o mundo que nós temos esse desafio  - como um desafio nosso e não apenas um desafio que interessa a outros países - de fazer da economia verde e da redução da desigualdade novos drivers de crescimento, o país tem um belo cartão de visitas para o mundo, com oportunidades que poucos outros países têm", analisa. "Os países emergentes que produzem energia limpa e sustentável e, ao mesmo tempo estão fora do circuito mais tenso da geopolítica mundial, têm um potencial de atração de investimentos e de negócios maior do que os outros. Então eu vejo um cenário internacional que pode ser muito favorável ao Brasil", sublinha.  O presidente da Câmara de Comércio do Brasil na França, Philippe Lecourtier, que já foi embaixador da França no Brasil e abriu a conferência de Octavio de Barros, concorda com o economista e se mostra bastante esperançoso com os rumos que as relações entre França e Brasil devem tomar a partir de 2023. "O quadro político é importante para criar um clima  favorável e, incontestavelmente, haverá, no plano político, uma grande retomada das relações entre os dois governos. Se o clima econômico e social no Brasil melhorar, como é bastante provável, nossos investidores ficarão ainda mais inclinados a estarem presentes no Brasil, com ainda mais possibilidades de desenvolvimento", acredita o antigo embaixador da França no Brasil. "O Brasil é um país pacífico, com energia abundante e barata e tem ativos maravilhosos para investimentos franceses. E, para as empresas brasileiras que se beneficiarão desta cooperação, o ano de 2023 será auspicioso. Eu acredito que vai ser um ótimo ano para que nós - brasileiros e franceses - retomemos a fundo nossas relações políticas e econômicas", conclui Lecourtier.

    Franceses celebram a inscrição da baguete como Patrimônio Cultural da Unesco

    Play Episode Listen Later Nov 30, 2022 5:51


    Basta visitar uma “boulangerie”, o nome dado às padarias em francês, que você encontra muitos fãs da baguete e todos orgulhosos que esta iguaria finalmente tenha entrado para a lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco. Mais do que os ingredientes que a compõem (farinha, água, sal e fermento), a distinção foi dada pelo “savoir-faire”, a forma particular de preparar, amassar e assar esse tipo de pão.  Todos os dias, a técnica de informática Virginie faz fila para comprar baguete. Ela diz que não existe igual no mundo. “A baguete é algo que só se encontra na França, já viajei para muitos lugares e não existe como a nossa, que se vende em todas as cidades, mesmo nos vilarejos. Ela não tem imitação”, afirma. “Casca crocante por fora e por dentro um pouco úmida e mole”, descreve. “Eu compro duas por dia e nós somos dois em casa”, completa.  Símbolo do cotidiano francês, quem nunca viu um parisiense andando nas ruas com a sua baguete debaixo do braço? Não raro, eles comem um pedaço na rua, assim que saem da padaria. Lionel explica o porquê. “O bom é quando ela está quente e crocante", diz. “Sim, estamos orgulhosos porque consagra uma tradição centenária e permite reconhecer esse conhecimento que existe há muito tempo”, acrescenta este parisiense.  A votação aconteceu nesta quarta-feira (30), em Rabat, no Marrocos. A Unesco reconheceu o conhecimento dos padeiros artesanais e a escolha celebra uma arte de viver "à francesa". Afinal, a baguete é um ritual diário, um elemento estruturante da refeição e um sinônimo de partilha, destaca Lionel. “É um hábito francês, todos os dias termos o nosso pão. Minha filha fica muito contente de comer e eu também. Estou muito contente que a baguete seja conhecida”, comemora. Tradição histórica Imortalizada nos filmes, a baguete é um produto relativamente recente, surgido no início do século 20, em Paris. Porém, há outras versões para a sua origem. Há quem diga que a baguete de pão branco remonta à época de Napoleão. Diz-se que seus padeiros inventaram um pão alongado para ser mais fácil de transportar pelos soldados. Já naquela época, o pão era sagrado! A massa da baguete deve descansar entre 15 e 20 horas a uma temperatura entre 4 e 6°C. Todos os dias, 12 milhões de consumidores franceses vão atrás dessa iguaria nas padarias do país, que produzem seis bilhões de baguetes por ano. Para os franceses, ir comprar o pão é um verdadeiro hábito social. E por aqui ninguém teme os estereótipos. “Eu vou deixar crescer o bigode agora, para fazer realmente o parisiense com a boina e a baguete”, brinca Daniel, outro ávido consumidor. O reconhecimento acontece em um momento em que este saber tradicional francês está ameaçado pela industrialização e pela diminuição do número de padarias artesanais no país. Elas passaram de 55.000 em 1970 (uma para 790 habitantes) a 35.000 atualmente (uma para cada 2.000 habitantes). Wafa diz que começa o dia sempre com uma tartine, o que seria o pão na chapa no Brasil. E prefere a baguete tradicional. “Há alguns que guardam o modo de fazer tradicional, que amam essa profissão de padeiro e de fazer baguete. Há outros que fazem em grande quantidade e não prestam tanta atenção na qualidade”, lamenta. “A baguete é indispensável na nossa mesa. Eu sou casada com um tunisiano que come muita baguete e a gente adora. Estamos contentes que ela faça parte do patrimônio cultural da Unesco”, acrescenta. O pão comprido, vendido em todas as padarias e também em supermercados, é um dos símbolos do país no exterior. O próprio presidente, Emmanuel Macron, deu seu apoio ao dossiê de candidatura da baguete, descrevendo-a como "250 gramas de magia e perfeição". A sua escolha para representar a França no concurso da Unesco foi feita em 2021, desbancando outros candidatos como os telhados de zinco de Paris e a Festa do Vinho de Arbois, no leste da França.  Todos os anos, a prefeitura de Paris realiza o Grande Prêmio da melhor baguete da Cidade. O ganhador se torna o fornecedor oficial de pães do Palácio do Eliseu, a sede do governo presidencial na França.  Quem conhece o país sabe que é normal o pessoal fazer uma longa fila na frente da boulangerie do bairro, só para esperar uma boa fornada de baguetes. Mas se ela é boa fresquinha, não pense que os franceses desperdiçam aquele resto que sobra. Por aqui, todo mundo tem uma receita para aproveitar o chamado “pão dormido”, acrescenta a consumidora que passa a receita do que seria quase a rabanada no Brasil. “Podemos fazer o ‘pain perdu', uma receita que fazemos no fim de semana, com o pão da véspera que ficou duro", diz Wafa. "Você coloca no leite, ovo e um pouco de açúcar e vai para panela. Assim não se perde o pão”, ensina.  Além da expertise da baguete, o Comitê do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco examinou este ano 56 pedidos de inscrição. Entre eles o harissa, um molho picante típico da Tunísia e a cultura do chai (chá) no Azerbaijão e na Turquia. A França tem cerca de 20 elementos já inscritos na lista de patrimônio imaterial da Unesco, alguns deles divididos com outros países. É o caso do alpinismo, que os franceses compartilham com os suíços e os italianos.

    Sem Neymar, vitória da seleção sobre a Suíça confirma força da nova geração de jogadores

    Play Episode Listen Later Nov 28, 2022 6:03


    A vitória da seleção brasileira contra a Suíça, que selou a classificação da equipe para a próxima fase de maneira antecipada, foi a primeira nesta Copa conquistada sem a presença de Neymar. O craque fez falta, na opinião da comissão técnica, jogadores e torcedores, mas a equipe soube mostrar que tem uma reserva de talentos para superar a ausência de sua maior referência dentro de campo. Elcio Ramalho, enviado especial em Doha O treinador Tite, após a partida, confirmou que a seleção sente falta de seu camisa 10, que se recupera de uma lesão no tornozelo: “Sente, sim, a falta do Neymar. Ele tem o poderio criativo, mas também tem atletas que, como aconteceu hoje no início ou no transcurso, dão conta do recado”, avaliou. “A equipe faz a estrela. Claro que Neymar tem atributos diferentes. Num momento mágico, ele finta um, dribla e clareia, tem essa capacidade. Outros jogadores estão nesse processo para atingir esse nível e espero que atinjam”, acrescentou. Apesar de não citar nomes, Tite mostra que aposta no talento de jogadores como Vinicius Jr., Raphinha e Richarlison, titulares nas duas partidas da Copa, mas também de Rodrygo e Lucas Guimarães, que entraram na etapa final da partida.   Ao comentar o resultado de 1 a 0, que deixa a equipe em uma situação confortável para o próximo jogo contra Camarões, Tite fez questão de atribuir a vitória ao trabalho que vem sendo realizado há quatro anos. “Quem venceu hoje foi o processo, o tempo de utilização de quatro anos de atletas para que eles possam desenvolver, ter a naturalidade, mesmo jovens. O processo venceu hoje, fora o trabalho todo, mas ele consolida, e aí estão as qualidades técnicas individuais”, argumentou. O papel de Casemiro O treinador falou logo após Casemiro, autor do gol da vitória contra a Suíça e vencedor do prêmio de melhor jogador em campo. Na entrevista, o volante falou sobre sua maior preocupação em campo, que não é a de marcar gols. “Meu primeiro objetivo é ajudar o sistema defensivo, a linha de quatro, o meio de campo, os laterais. Porém, se tiver oportunidade de dar uma ‘beliscadinha' ali na frente, também é importante, mas não acostuma. O meu pensamento é estar sempre bem posicionado”, disse. Um dos jogadores mais experientes da seleção, Casemiro também atribui a qualidade e força coletiva da equipe ao trabalho que vendo sendo feito há vários anos, além do amplo número de jovens  talentos, principalmente no setores de ataque e de meio de campo.   “O leque de opções este ano está sendo bem maior que da última Copa. Podemos até trocar os jogadores sem mudar o estilo de jogo. A garotada que vem entrando está dando conta do resultado.  A linha defensiva está mais experiente, é importantíssimo destacar que foi outro jogo sem sofrer gol”, reforçou.   Estreias dos novatos Um dos jogadores da nova geração que estreou na Copa foi o volante Lucas Guimarães, que entrou no segundo tempo no lugar de Fred. “Apesar de jovens, todos já temos mais de 200 jogos na carreira e jogamos diversos tipos de competição. Para ser sincero, estava ansioso para entrar, para fazer minha estreia na Copa do Mundo. Foi importante e, agora, é dar continuidade ao trabalho”, ressaltou. Alex Telles, que também entrou pela primeira vez na Copa ao substituir Alex Sandro, comentou a orientação do treinador Tite para chegar à vitória. “Paciência, rodar a bola e deixar eles abrirem algum espaço para a gente poder entrar. E isso foi trabalhado, ter paciência, trabalhar, trabalhar, jogar de um lado para o outro e saber que em algum momento ou outro eles iriam abrir. Fomos inteligentes de ter paciência e fazer um gol no final”, disse. Torcedores opinam Boa parte dos torcedores que compareceram ao estádio 974 saíram satisfeitos com o desempenho da nova formação de Tite, embora destaquem a falta que faz Neymar para essa equipe. "Foi fantástico, deu aquele frio na barriga no primeiro tempo, mas (o time) não decepcionou. O Neymar faz falta, nem que seja para desviar a atenção dos marcadores. Mas a equipe mandou super bem, mesmo sem o Neymar”, disse Alan Moraes, torcedor que veio de São Paulo. O baiano Juraci Fonseca foi crítico em relação ao desempenho do ataque sem o camisa 10, substituído na equipe titular por Fred. “Estou contente, porque ganhamos, mas o time mostrou que é muito dependente de Neymar. Caiu a produção de ataque. A defesa é excelente e hoje salvou. Mas infelizmente ainda somos dependentes de Neymar porque não temos substituto para ele. No nível dele, não temos”, afirma.  Já na percepção de Alexandre Bertaglia, de Marília, “o time está encaixado, jogando leve”. Ele gostou do poderio ofensivo com a nova formação e as mudanças feitas por Tite no decorrer da partida. “A equipe jogou para frente. A Suíça estava na cara que estava travada, jogava pelo empate. Mas o Brasil está bom, esperando Neymar, que faz a diferença. E espero que ele volte para os próximos jogos”, finalizou.

    Vitória da Argentina leva multidão às ruas, mas alívio é apenas momentâneo

    Play Episode Listen Later Nov 27, 2022 1:08


    Foi apenas o segundo jogo da primeira fase, mas para a Argentina foi uma partida decisiva. Para continuar viva na Copa do Mundo era necessário ganhar. Se perdesse, seria eliminada prematuramente e teria o pior desempenho do país na história dos Mundiais de Futebol. A explosão de alegria neste sábado (26) estendeu-se ao longo da noite, mas a classificação ainda corre risco. Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires O jogo contra o México era uma final antecipada, depois da histórica derrota para a Arábia Saudita na terça-feira (22). Só cabia a vitória para evitar o que seria o maior papelão da Argentino na história: ser eliminada logo no segundo jogo, depois de ter chegado ao Catar como candidata ao título. E o triunfo chegou no segundo tempo, por 2 a 0, levando uma multidão noite adentro pelo centro de Buenos Aires. "Sabemos que foi apenas um passo e que falta o adversário mais forte do grupo, mas tiramos a corda do pescoço e isso é motivo para comemorar neste país movido a futebol. Depois, vamos sofrer novamente porque tudo neste país é sofrido", desabafa à RFI Maximiliano Ferraro, de 32 anos. Na próxima quarta-feira (30), Argentina e Polônia se enfrentam pela terceira e última rodada da fase de grupos. Para se classificar, a Argentina agora pode até empatar, desde que mantenha a vantagem de gols sobre o México. Alívio momentâneo Se a pressão por ganhar levou nervosismo ao campo, aqui dentro de casa, a angústia foi o sentimento entre os torcedores até os 19 minutos do segundo tempo, quando Messi abriu o placar. A calma só chegou mesmo aos 42 minutos, com o gol de Enzo Fernández. "Foi muita incerteza. Precisávamos de um milagre, um milagre de São Diego que ajudasse a empurrar a bola. O milagre aconteceu e estou muito aliviado mas, pelo visto, vamos precisar dessa ajuda do deus do futebol em todos os jogos. Que Diego nos ajude lá de cima para vermos a Argentina na final", pede Nicolás Adi, de 29 anos, em referência a Diego Maradona, santificado pelos fanáticos. A Argentina se confirmou no papel de maior carrasco do México nas Copas do Mundo. Foi a quarta vitória, depois das de 1930, 2006 e 2010. Se no primeiro jogo contra a Arábia Saudita, os argentinos foram da euforia à decepção, nesta segunda partida contra o México, ganhou a esperança. 1990 ou 2002? Mas estamos diante de uma Argentina de 1990 ou de uma Argentina de 2002? Em 1990, a Argentina começou a Copa com uma derrota diante de Camarões, mas depois se recuperou e chegou à final. Em 2002, a franca favorita Argentina não passou da primeira fase, sendo eliminada logo no terceiro jogo. Segundo uma pesquisa da Universidade San Andrés, oito de cada 10 argentinos acreditam que o desempenho da seleção no Catar terá influência no humor social. E 91% consideram que a Copa do Mundo é importante para a sociedade argentina. Brasileiros na torcida argentina O gigantesco Fan Fest, organizado pela cidade de Buenos Aires, foi o ponto de encontro de torcedores. No meio de milhares de argentinos era comum a presença de brasileiros, devido aos 10 mil estudantes de Medicina em Buenos Aires. A curiosidade é que esses brasileiros torciam para a Argentina continuar na Copa. "O meu sentimento é de alegria porque a gente, como brasileiro, quer que aconteça um embate entre Brasil e Argentina. Então, é uma alegria até determinado ponto porque quando a Argentina se cruzar com a gente, a alegria será só nossa. Não tem para ninguém", explica à RFI o estudante Rafael Nardy, de 29 anos, pondo as coisas no seu devido lugar. 

    Como tirar alguém da bolha do extremismo político? Programas de combate à radicalização dão pistas

    Play Episode Listen Later Nov 25, 2022 6:21


    “Perdi meu pai para o bolsonarismo”. “Passei de orgulho da família com doutorado e virei a ‘comunista safada doutrinadora'”. “Eu não aceito. Eu vou morrer! Nós vamos morrer! Mas não vamos entregar [o país] aos comunistas e acabou!”. Se há 20 anos, a palavra radicalização era tida como sinônimo de terrorismo islâmico, agora discursos de ódio, contra direitos humanos e apelos antidemocráticos podem ser ouvidos diariamente nas ruas e em vídeos difundidos em grupos de mensagem. Cristiane Capuchinho, da RFI “O que temos hoje não é mais a polarização [de opiniões], é a radicalização. São pessoas dentro de um sistema de crenças extremistas, no qual há uma rejeição forte do sistema de governo democrático e liberal. Há uma rejeição e uma vontade de romper com esse modelo de governo”, diz Michele Prado, autora do livro “Tempestade Ideológica – A alt-right e o populismo iliberal no Brasil”. A receita dessa radicalização política não difere muito da já usada para a radicalização religiosa, como explica o especialista em prevenção do extremismo e professor da universidade Sciences Po, Elyamine Settoul. “Às vezes são pessoas muito bem integradas na sociedade que começam a se interessar por uma ideologia e, pouco a pouco, se desconectam de suas famílias. É conhecido que incidentes da vida como a perda de um emprego, uma morte, um divórcio podem dar início a um caminho de radicalização. São uma abertura cognitiva para a busca de explicações paralelas a um problema”, assinala Settoul. O pesquisador afirma que o extremismo político, sobretudo da ultradireita, tem ganhado força em diferentes partes do mundo, capturando variados perfis de pessoas, de jovens a idosos. A maior parte delas nunca chegará a cometer um ato de violência, mas o crescimento dessa comunidade radicalizada cria bases para que alguns indivíduos cheguem a ações extremas. Apenas na França, seis atentados planejados por grupos de extrema direita foram desmantelados pela polícia antiterrorismo nos últimos cinco anos. Descolamento da realidade Mas como alguém passa a defender posições extremas? O fenômeno, muitas vezes, pode ser resultado de uma radicalização digital. O contato com conteúdos extremistas acontece seja em redes sociais como o Facebook e o Instagram, nas quais os algoritmos trabalham para dar maior visibilidade a mensagens similares criando bolhas de informação, seja em aplicativos de mensagem como WhatsApp ou Telegram. “A radicalização funciona como um túnel, você vai entrando e vai chegando cada vez mais longe. O primeiro passo é quando você começa a só consumir o conteúdo que está ali dentro daquela câmara de eco em que você está inserida. Então você não tem mais o contato com a voz dissonante, com o divergente. E o tempo inteiro você recebe confirmações [ainda que falsas] daquilo que os influenciadores disseminam”, descreve Michele Prado. Uma vez dentro da engrenagem de grupos extremistas, os indivíduos entram em contato com um universo que mistura informações verdadeiras e falsas com o objetivo de construir narrativas simplistas para explicar problemas complexos, por vezes se descolando completamente da realidade. Essa trajetória não acontece por acaso, ela depende da existência de uma grande quantidade de vozes influenciadoras para reafirmar a mensagem que se deseja passar e da supressão da possibilidade de divergência. O pesquisador João Cézar de Castro Rocha, autor do livro “Guerra cultural e cultura do ódio” e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), chama a atenção para grupo digitais em que os indivíduos entram por vontade própria mas que ali acabam isoladas do mundo. “As pessoas que voluntariamente se submetem à midiosfera extremista estabelecem um pacto: somente se informar na midiosfera extremista; nunca aceitar outra fonte. Então, não há mais possibilidade objetiva de se demonstrar que há erro nessas informações, porque todas as outras fontes de informação foram desqualificadas e vedadas”, explicou o professor, ao jornal Estado de Minas. Muita escuta e conversa Em países europeus como Alemanha, Reino Unido e França, programas de prevenção e combate à radicalização estão estabelecidos há anos. O foco na maioria dos casos é o jihadismo, mas cresce a importância dada ao combate da ultradireita. Esses programas dão pistas de como o avanço do extremismo político deve ser tratado pela sociedade e pelo Estado. A rede de vigilância para o combate ao extremismo passa pela sensibilização de profissionais da educação, de serviços públicos e da comunidade para o tema. Os primeiros sinais podem ser notados na escola, por colegas de trabalho ou mesmo por familiares. “A radicalização não é percebida pelas roupas ou coisas assim. É conversando com as pessoas que é possível constatar alguns indícios, por exemplo, essa pessoa se mostra longe da realidade, ela tem um discurso montado dentro de um sistema de pensamento fechado, não leva em consideração nada que venha de fora do seu universo, ela acredita em informações falsas e não aceita qualquer contestação, cita teorias de conspiração, esses são alguns sinais que podem indicar um certo nível de radicalização”, explica Settoul. A partir da identificação do problema, os indivíduos devem receber o apoio adequado para que seja possível tirá-lo da bolha de radicalização. O especialista francês explica que o primeiro passo para tirar uma pessoa da radicalização é tentar entender de onde vem o extremismo. “É preciso compreender a natureza da radicalização, se é um fator religioso, se é de ordem psiquiátrica, se é uma questão pessoal”, enumera. Para cada um dos casos, a forma de combater o extremismo deve ser diferente. “Se o fundo é religioso, podemos colocar essa pessoa em contato com alguém de sua religião que possa ajudá-lo a desconstruir o discurso extremista partindo das mesmas bases de crença”, explica Settoul. “Se a radicalização é de ordem psiquiátrica, essa pessoa deve ser enviada a um terapeuta ou um psicólogo. Se for uma radicalização mais superficial, conversar com um mediador pode ser suficiente.” Embate não adianta O pesquisador francês salienta que indivíduos que fazem parte de comunidades radicalizadas na maior parte das vezes consideram seu grupo como vítima de ataques de outras comunidades. É este discurso que legitima a busca pela defesa própria a todo custo, mesmo pela violência. Essa narrativa de grupo sob ataque é uma barreira na hora de tentar mostrar a uma pessoa exposta a conteúdos extremistas que, por exemplo, a informação é falsa ou radical. Treinadas para o embate, essas pessoas não se mostram abertas a ouvir o que vai contra o seu discurso, mesmo quando isso vem de alguém próximo como um parente ou amigo. O embate provoca a reatância psicológica, diz Michele Prado, “essa pessoa tem a impressão que a liberdade dela de escolha está sendo retirada” quando suas crenças ou suas informações são colocadas em xeque. Nesse caso, é preciso ouvir e tentar despertar na pessoa a dúvida para que ela possa por si só buscar informações que a levem para fora do espiral da desinformação. “Uma pessoa que acredita em teorias conspiratórias, não adianta chegar nela dizendo que aquilo é uma teoria conspiratória, é preciso chegar pelas beiradas e fazer ela por si mesma, com seu próprio espírito crítico, descobrir que aquilo ali é uma falácia”, exemplifica Prado. Por isso a participação de pessoas que já estiveram em grupos extremistas na desradicalização de outros membros é de grande interesse. Settoul cita a participação de antigos neonazistas em rodas de conversa para a prevenção ou o combate ao extremismo em programas da Alemanha. Ao trocar experiências com alguém com quem compartilha pontos de vista, os indivíduos radicalizados estão mais propícios a colocar em perspectiva suas certezas. Material de combate ao extremismo O rápido avanço dos conteúdos extremistas no mundo tem levado à criação de diversos materiais para a prevenção contra o discurso de ódio. No ano passado, a associação norte-americana Southern Poverty Law Center publicou uma série de guias gratuitos para orientar pais, educadores e profissionais de saúde a lidarem com a radicalização. O material está disponível no site da associação e tem uma versão em português, mas tem como centro os problemas de radicalização norte-americanos. Finalizando um livro sobre a radicalização misógina, Michele Prado promete trabalhar no próximo ano em um material de combate ao extremismo voltado para o caso brasileiro.

    "Fotografia foi a minha forma de vida”, diz Sebastião Salgado em Paris sobre 50 anos de carreira

    Play Episode Listen Later Nov 24, 2022 5:42


    Às vésperas de completar 79 anos, Sebastião Salgado diz estar pronto para “dar lugar aos jovens”. Nesta entrevista exclusiva à RFI Brasil, em Paris, um dos maiores fotógrafos do mundo explica que não pensa em aposentadoria tão cedo, mas quer dedicar mais tempo à edição do vasto material acumulado em mais de 50 anos de carreira. O franco-brasileiro participou de um evento sobre fotojornalismo na Academia de Belas Artes, na noite de quarta-feira (23). Maria Paula Carvalho, da RFI “Eu já estou velhinho, vou fazer 79 anos em fevereiro. Eu acho que está na hora de eu deixar lugar para os jovens fotografarem. O que eu estou fazendo é editar o meu trabalho de mais de 50 anos como fotógrafo. Há muita coisa que eu nunca escolhi, nunca editei e acho que chegou o momento”, disse, momentos antes de compartilhar com o público momentos marcantes de sua longa experiência atrás das câmeras. “A diferença da fotografia para outro tipo de informação é que se o fotógrafo não estiver lá onde a coisa está acontecendo, ele não tem a imagem. Ele busca a informação na fonte e isso leva você a ter um conhecimento bem vasto do mundo”, afirma. Ao longo desse tempo, Salgado viajou por mais de 130 países registrando pessoas, paisagens e diferentes culturas. “A fotografia documentária é a forma de vida da pessoa que a realiza”, explica. “De uma maneira geral, tudo me marcou porque dificilmente eu posso dizer que um país ou algo que aconteceu na minha vida seja mais importante do que outro. Pois o que eu fiz em fotografia na vida foi a minha vida, foi a minha forma de vida”. O mineiro Sebastião Salgado é "imortal" da sessão de fotografia da prestigiada Academia de Belas Artes francesa desde 2016, uma das honrarias culturais mais importantes do país. O debate sobre fotojornalismo lotou o auditório do Instituto de France e reuniu outros grandes nomes da fotografia francesa, como o cineasta Raymond Depardon e Pascal Maître. “É um evento que eu não faço só, nós somos 4 fotógrafos, e falamos da preparação, de tudo que é preciso para montar uma reportagem”, explica Sebastião Salgado. “Eu acabo de fazer uma reportagem sobre a Amazônia brasileira, em que passei 7 anos na Amazônia e fiz dezenas de viagens e tudo isso exige produção, autorizações e uma preparação interna”, ensina. Testemunha de como vivem os homens e do estado atual do planeta, Sebastião Salgado falou à RFI sobre a importância do fotojornalismo em tempos de guerra e de fake news. “Em mais de 50 anos que eu faço fotografia, o que acontece hoje, não é muito diferente do que sempre aconteceu. A única diferença é que hoje está acontecendo muito mais perto do núcleo principal do planeta, que é onde você domina a informação e as finanças, no centro do imperialismo do planeta. Então temos a impressão de que hoje é mais importante do que foi, mas sempre foi a mesma coisa”, compara. Um novo Brasil O fotógrado premiado também comentou o resultado das eleições presidenciais no Brasil. “Eu espero que o Brasil agora mude. Nós tivemos um governo profundamente predador, que destruiu as instituições. Não é um problema de ser de direita ou de esquerda, é de um governo que destruiu instituições centenárias”, observa. “Por exemplo, desmontou-se a Funai, que era o filtro de penetração nos territórios indígenas, era a proteção das comunidades indígenas e a proteção desses territórios. Mas esse filtro deixou de existir. E o território ficou aberto a invasões. Temos hoje invasão de mais de 20 mil garimpeiros no território Ianomâmi”, revela. “Houve uma destruição do Ibama e houve uma destruição massiva da floresta amazônica”, lamenta Salgado. “Espero que o governo que chega respeite as instituições, respeite a cultura, as comunidades, as minorias e seja menos violento. Esse atual governo trouxe uma violência brutal para a Amazônia que não existia”, acrescenta. A exposição mais recente de Salgado em Paris, "Aqua Mater", lançava um novo alerta à crise climática, convidando o público a uma experiência estética e sensorial em torno de um dos assuntos mais sensíveis da atualidade: os recursos hídricos. Vivendo em Paris, com viagens frequentes ao Brasil, o fotógrafo nomeado Cavaleiro da Legião de Honra na França comenta sobre a forma como o Brasil tem sido percebido no estrangeiro. “O Brasil hoje é percebido de uma forma muito especial no exterior. Os brasileiros eram vistos como um povo razoável, um povo pacífico, mas o que acontece no Brasil hoje choca profundamente o resto do mundo”, destaca. “Eu acho que uma nação a gente tem que trabalhar de forma pacífica, humana e não violenta. Eu tenho grande esperança que o Brasil vai funcionar de outra forma”, conclui.

    Copa do Catar está seduzindo torcedores do Brasil e de outros países

    Play Episode Listen Later Nov 22, 2022 5:48


    Músicas nas ruas, uma profusão de cores e estrangeiros de todas as partes do mundo nos pontos turísticos e nos estádios. Em três dias, a Copa do Mundo mudou o dia a dia e a paisagem de Doha, capital do Catar. Elcio Ramalho, enviado especial ao Catar O país se preparou durante doze anos e a transformação foi notada por quem vive de perto. A fotógrafa brasileira Alessandra Ribeiro, que vive há 13 no Catar, é só elogios para a transformação da capital, antes e durante o Mundial. “Esse país se transformou para receber essa festa. E não estou falando apenas de estádios ou de metrô. Estou falando de estradas, viadutos. Melhorou muito para quem vive aqui. A palavra de ordem que eu aprendi aqui no Catar é respeito. A gente respeita a cultura deles e é feliz aqui”, desabafou. “Eu espero que essa galera que esteja vindo ao Catar aproveite a oportunidade de abraçar essa cultura e respeitá-la, assim vai dar tudo certo”, declarou. A Corniche, uma imensa faixa para pedestres à beira-mar que liga um dos estádios da Copa ao imenso espaço ocupado pela pela Fan Fest da Fifa, virou uma passarela de encontros de várias culturas. Um grupo de equatorianos fez questão de passear com as bandeiras enroladas no corpo para mostrar o orgulho com a vitória da seleção no jogo de estreia contra o anfitrião do evento. Mesmo assim, os torcedores não se sentiram nem um pouco hostilizados. “Estamos muito emocionados. É a primeira vez que viemos de tão longe e o ambiente é espetacular. O povo é muito simpático e está sendo melhor do que esperávamos. Estamos muito felizes”, declarou Tatiana Murillo em meio ao grupo de amigos e familiares que gritavam o nome do país pelas ruas. No passeio, eles encontraram a ruidosa torcida mexicana em direção ao estádio. Com os vistosos sombreros e com muitas fantasias, os mexicanos fizeram uma grande marcha colorindo de verde a praça onde estão as bandeiras de todos os países da Copa até a entrada do estádio 974, onde a equipe estreou na competição.    “Viemos aqui para fazer festa”, resumiu um torcedor mexicano à RFI. A marroquina Salma veio exclusivamente ao Catar para ver de perto o Mundial e torcer para seu país. “A Copa está magnífica, muito bem organizada. Para nós é um orgulho”, declarou. Sua amiga, também marroquina, que vive há dez anos no Catar, usando o véu islâmico integral preto, é só elogios para a festa. “É um orgulho ver um país como o Catar organizar esse evento grandioso. É muito interessante ver todas essas culturas juntas. O futebol é capaz de unir essas pessoas. Todo mundo está feliz aqui”, afirmou Samar, que irá ver a partida de estreia do Marrocos contra a Croácia. No final da tarde, o local mais badalado de Doha durante o Mundial vai mudando a paisagem. Reunidos pelo Movimento Verde Amarelo, dezenas de torcedores brasileiros se aproximam dos ensaios em ritmo de batucada com as músicas que vão embalar a seleção na Copa. Aos poucos o grupo vai aumentando com a chegada de torcedores de todos os cantos do país. Herbert Thomazella Zacate, gerente de logística em São Paulo, já veio vestido com o mascote na Copa na cabeça. “A gente já chegou meio assim, [pensando] no que pode fazer e o que não pode. Aí vai percebendo, vai conversando com os locais, mostrando que a gente é diferente, um pouco mais quente e um povo animado, e aí fica mais fácil”, constatou. “Eles são um pouco mais fechados, mas aos poucos estão se abrindo, vêm tirar foto, e está boa essa interação”, acrescentou. "Estamos trazendo alegria" Rodrigo Tito, gerente de vendas, preparou uma túnica típica árabe, mas com as cores verde e amarela. “É minha primeira Copa, foram quatro anos de muito planejamento. Eu quis estar próximo da cultura deles, aprender com essa riqueza. É uma maneira de eu me sentir mais em casa. E está sendo muito bonito, eles elogiaram a roupa e dizem que estamos trazendo a alegria”, afirma. Ele acrescenta que a recepção do povo local tem sido muito positiva: “Até agora não tive nenhum problema e estou me sentindo muito tranquilo de estar aqui”. No meio da festa, Renata Coelho, gerente de mídia de Ribeirão Preto, lembra que o Catar foi muito criticado, mas tem mudado sua opinião e se adaptado à realidade local. “Eu não deixo o ombro de fora, evito saia curta. É você entender onde está, se adequar e aí não tenho problema”, relata. “O país foi criticado por várias coisas, desde a escolha do lugar, da construção, da cultura, mas quando você está em um lugar e respeita a cultura, não tem nenhum problema. Eu fui muito bem tratada, não aconteceu nada comigo aqui e estou respeitando todo mundo”, diz.   De Natal, Emidio Mamede diz estar sentindo o ambiente de Copa de Mundo: “Está muito bom, os árabes são muito legais, o clima está muito gostoso”. No comando dos ensaios e agitando sem parar a bandeira do Brasil em meio aos brasileiros, um dos organizadores do Movimento Verde Amarelo, Cacau Jacob, já disse estar totalmente à vontade no Catar desde a chegada. “Antes de embarcar para cá a gente tinha muitas dúvidas, se podia fazer festa, se pode ou não beber cerveja, se as festas vão ser legais ou não. Nesses três dias que estamos aqui as festas estão acontecendo e agora é rumo ao hexa”, diz antes de puxar mais uma sessão de batucada.

    Confira os melhores momentos dos 40 anos da RFI Brasil

    Play Episode Listen Later Nov 19, 2022 19:57


    Em 40 anos de existência, a RFI transmitiu cerca de 25 mil horas de programação em português para o Brasil. Nessas quatro décadas, o noticiário pulsou no compasso dos acontecimentos do mundo, da Guerra da Malvinas e do massacre de palestinos nos campos de refugiados de Sabra et Chatila no Líbano, em 1982, até a Guerra na Ucrânia em 2022, passando pela queda do Muro de Berlim, pela Guerra ao Terror e pelas primaveras Árabes, sem esquecer da pandemia de Covid-19. No momento da criação da redação brasileira da RFI, o mundo dançava ao som de Thriller de Michael Jackson, que viria a ser o LP mais vendido no mundo. Na Europa, Helmut Kohl chegava ao poder na Alemanha. O novo líder alemão e o socialista francês François Mitterrand, eleito em 1981, seriam os artesãos da reconciliação europeia. No Brasil, as primeiras eleições diretas para governador desde o golpe militar consolidavam a abertura política e o fim da ditadura, três anos depois. Maria Emília Alencar foi escalada para ir ao Brasil em março de 1985 para a cobertura da posse de Tancredo Neves, que não aconteceu. A jornalista ficou dez dias cobrindo a doença do presidente eleito. “Quando eu peguei o avião para voltar foi o dia que ele morreu. Eu fiquei sabendo que ele tinha morrido ao chegar em Paris e não pude cobrir a morte do Tancredo”, lembra. FHC, Lula e Dilma Rousseff Com a redemocratização brasileira, as relações entre a França, a Europa e o Brasil se reaqueceram. Fernando Henrique Cardoso em 1996, Lula em 2005 e Dilma Rousseff em 2012 vieram a Paris para visitas de Estado e foram destaque na programação da RFI. Em vários momentos, a RFI conseguiu entrevistas exclusivas com esses e outros líderes brasileiros, que também eram traduzidas e complementavam o noticiário sobre o Brasil das outras redações da Rádio França Internacional. A presidente Dilma Rousseff enfrentava o processo de impeachment e já estava afastada há dois meses e meio do Palácio do Planalto, quando foi entrevistada por Marcia Bechara e denunciou que “junto com o impeachment sem crime, há componente misógino”. Provavelmente o líder brasileiro mais entrevistado pela RFI é o cacique Raoni, que foi o único recebido por todos os presidentes franceses desde François Mitterrand até Emmanuel Macron. Em 2015, aos 85 anos, ele participou da COP21 de Paris para “fazer a Aliança do Guardiães da Mãe Terra, falar sobre o ecocídio e pedir uma lei mundial para a proteção da natureza”. Noticiário internacional Na cobertura do noticiário internacional da RFI Brasil, cada jornalista, colaborador ou ouvinte tem seus momentos inesquecíveis. Milton Blay, um dos pioneiros e segundo editor-chefe da redação brasileira, recorda de dois acontecimentos que mudaram o curso da história recente: a queda do Muro de Berlim, em 1989, e os atentados de 11 de setembro de 2001. A eleição de Barack Obama, o primeiro presidente negro da história do país, foi coberta por Maria Emilia Alencar. Em Nova Orleans, a enviada especial aos Estados Unidos, foi abordada por uma mulher negra. “Ela me perguntou você está contente? Foi um momento de muita emoção e positivo.” Para muitos ouvintes e rádios parceiras da RFI, acontecimentos em Paris, como os atentados de 2015, na França ou na Europa, noticiados ao vivo pelos jornalistas da redação brasileira são os mais memoráveis. Oziris Marins, diretor de jornalismo do grupo Bandeirantes do Rio Grande do Sul e apresentador do Jornal Gente destaca o Brexit, um evento recente de grandes consequências para a Europa. “A RFI nos traduzia isso tudo para que pudéssemos entender o que estava acontecendo”, diz Marins. Cobertura cultural  Um dos pontos altos da programação da RFI é a cobertura cultural, com entrevistas com artistas brasileiros de passagem ou radicados em Paris. Paulo Antonio Paranagua, que é um grande especialista de cinema brasileiro e latino-americano, fez centenas de gravações nos 20 anos em que trabalhou na RFI, mas ainda se emociona com a lembrança da entrevista que fez no estúdio da rádio em Paris com o Grande Otello. “Foi um prazer extraordinário porque todo mundo criticava o Grande Otello, mas quando ele estava na frente do microfone ele se transformava. Esse momento para mim foi fantástico”, garante Paranaguá. Nesses 40 anos da RFI, franceses que admiram a cultura brasileira e falam português também integraram a programação como o músico Bernard Lavilliers, que viveu um tempo no Brasil, ou a editora Anne Marie Métaillié, uma das mais importantes divulgadoras da literatura brasileira na França. Entrevistas com os músicos Tom Jobim, Gilberto Gil, Gal Costa e Alceu Valença; o arquiteto Oscar Niemeyer, o fotógrafo brasileiro, radicado na França desde os anos 1960, Sebastião Salgado; o cineasta Cacá Diegues; o pintor Cícero Dias, compadre de Picasso, que além de seus quadros entrou para a história pelo ato de resistência de divulgar o poema Liberdade de Paul Éluard durante a Segunda Guerra; e o escritor Jorge Amado, que a partir de 1985 passava uma parte do ano em seu apartamento de Paris, onde tinha tranquilidade para escrever, estão entre as gravações memoráveis preservadas no arquivo da RFI. Para ouvir todas essas entrevistas, clique no botão áudio. Acompanhe a série de podcasts sobre os 40 anos da RFI

    Das ondas curtas à era digital, ouvintes estão conectados com a RFI Brasil há 40 anos

    Play Episode Listen Later Nov 18, 2022 18:18


    O que seria uma rádio sem seus ouvintes? O programa Correio dos Ouvintes da RFI Brasil ficou no ar até 2015, após o fim das transmissões em ondas curtas, com grande participação do público. Atualmente, os ouvintes acompanham a programação pela internet ou rádios parceiras no Brasil e muitos deles continuam enviando seus comentários por e-mail ou pelas redes sociais. No momento da criação da redação brasileira da Radio França Internacional, em 1982, não foi previsto inicialmente na grade um programa para o diálogo entre os jornalistas da emissora em Paris e os ouvintes no Brasil. A audiência era desconhecida, mas o grande número de cartas que chegava mensalmente à redação indicava que a RFI era ouvida e apreciada. “Era muito grande o número de rádio amadores que escutavam, mandavam cartas e nós começamos a fazer o programa Correio dos Ouvintes”, se recorda Milton Blay, um dos jornalistas pioneiros da RFI Brasil. Como o restante da programação da RFI na época, o Correio dos Ouvintes era longo, durava 40 minutos e ia ao ar sempre aos domingos. Dois ou três jornalistas e a responsável pelo programa liam e respondiam ao vivo as cartas enviadas pelos ouvintes. A partir de 1993 e até 2015, quando o programa foi extinto, o cargo foi ocupado por Adriana de Freitas, que é hoje uma das colaboradoras mais antigas da RFI Brasil. Ela lembra que chegavam entre 200 a 300 cartas por mês, enviadas de vários lugares do Brasil, mas também de outros países. “A maioria dos nossos ouvintes eram homens. Não havia todos esses métodos de hoje e para saber como eles escutavam nossos programas, a gente enviava um cartão postal, chamado QSL, que eles respondiam indicando os programas que tinham ouvido, o horário e a frequência. Várias pessoas escreviam para receber esses cartões postais e nós enviamos uns brindes para eles”, detalha Adriana de Freitas. Elo entre a França e o Brasil A maioria dos ouvintes queria saber curiosidades sobre a França e a cultura francesa. Assim como o restante da programação brasileira da RFI, o Correio dos Ouvintes fazia o elo entre os dois países. José Alberto de Andrade, jornalista da rádio Gaúcha conheceu a Rádio França Internacional pelas ondas curtas nos anos 1980, durante sua juventude, e diz que a RFI está na sua “memória afetiva” de ouvinte de rádio. “Na Europa o serviço da Rádio França era uma das nossas bases de audição para saber das notícias do que acontecia na Europa em relação ao Brasil”, diz. O ouvinte Cassiano Macedo, de Aparecida, considera que “apesar da distância que nos separa, a RFI é a nossa ponte”. Osias Oliveira Bispo, ouvinte desde 1998, ressalta a “credibilidade” e as “informações dinâmicas”. Pouco a pouco, com a evolução da tecnologia e assim como o restante da programação da RFI Brasil, o Correio dos Ouvintes também evoluiu até a sua extinção em 2015. Apesar do fim das transmissões em ondas curtas, no início dos anos 2000, muitos rádios amadores continuaram acompanhando a programação e são ouvintes até hoje. Alguns deles, como Jailton Amaral, sonham com adoção pela RFI das ondas curtas digitais que são, segundo ele, "o futuro das ondas curtas”. Concurso de contos Guimarães Rosa Na época do Correio dos Ouvintes, um outro canal de contato com o público era o Concurso de contos Guimarães Rosa, criado em 1992, baseado no concurso Juan Rulfo em espanhol, que já exista. A seleção era realizada anualmente e aberta a obras originais de autores de todos os países em língua portuguesa. A iniciativa foi de Ramón Chao, então chefe do serviço da RFI para a América Latina, que englobava a redação brasileira, e da jornalista Eugênia Fernandes. O “sucesso” foi imediato, garante Giselda Akaishi, que implementou o concurso de contos. Segundo ela, “já no primeiro ano houve uma avalanche de respostas”. O Concurso de contos Guimarães Rosa tinha três prêmios: o Rádio França Internacional, de um valor de € 2.286,74, o União Latina, de € 1.524,49; e o Casa da América Latina, também de 1.524,49 €, que só contemplava autores de nacionalidade brasileira. Além disso, eram atribuídas Menções Honrosas para outras obras de relevância. O júri era composto por escritores, críticos e tradutores, tanto brasileiros e portugueses quanto franceses. Por exemplo, Márcio de Souza e Luiz Fernando Veríssimo foram jurados durante muito tempo. O concurso durou cerca de 10 anos. Otávio Henrique Rodrigues Meloni foi um dos últimos vencedores. Ele levou o prêmio máximo em 2003 com o conto “Os desditos e os dos-de-fora”, escolhido entre os 3.125 participantes. O escritor, que hoje é professor de literatura do Instituto Federal de Educação e Tecnologia do Rio de Janeiro em Volta Redonda, guarda o certificado até hoje. O dinheiro garantiu a conclusão em boas condições do curso de Letras e a premiação abriu muitas portas. “Publiquei em antologias, comecei a ser chamado para participar de bancas, publiquei dois livros de poesia, mas até hoje nunca publiquei um livro de contos. Mas esse conto (vencedor) muita gente leu”, afirma. Audiência Saber a audiência exata da RFI no Brasil é complexo. Os programas em português para o Brasil são transmitidos principalmente pelas 180 rádios parceiras em todo o país e é a audiência dessas emissoras que dá uma ideia do alcance da Rádio França Internacional. Mas a visibilidade e a escuta podem ser medidas com mais facilidade na internet e nas redes sociais. O site em português para o Brasil é o segundo mais acessado de todas as redações em língua estrangeira da RFI, ficando atrás somente dos chineses. Entre os conteúdos mais populares, está a crônica de política internacional “O Mundo Agora”, assinada até 2021 por Alfredo Valladão. Em 26 anos na RFI, o professor do Instituto de Ciências Políticas de Paris escreveu e apresentou mais de três mil textos, mas uma de suas lembranças inesquecíveis data do início de sua colaboração nos anos 1990, quando uma de suas crônicas sobre o aquecimento global foi citada na música “Mentira”, de Manu Chao. Acompanhe a série de podcasts sobre os 40 anos da RFI

    RFI Brasil 40 anos: adaptação à evolução tecnológica garantiu a longevidade da rádio

    Play Episode Listen Later Nov 17, 2022 13:42


    Desde a sua criação em 1982, a redação brasileira da RFI passou por várias etapas. A transmissão inicial por ondas curtas foi completamente abandonada no início dos anos 2000 e, atualmente, os programas em português para o Brasil são distribuídos por satélite às cerca de 180 rádios parceiras no país, mas principalmente pela internet. Nessas quatro décadas, a adaptação à evolução tecnológica garantiu a longevidade da redação brasileira da RFI, avalia Carlos Aciari, do serviço técnico da emissora, responsável pela instalação de antenas parabólicas e de receptores para as emissoras parceiras no Brasil. Segundo ele, o fim das ondas curtas, “que ninguém escutava” e o início da transmissão via satélite “foi o que salvou” as redações em línguas estrangeiras da RFI. “Havia plano de fechar as redações”, lembra Aciari. Questões tecnológicas, mas também geopolíticas, como o fim da Guerra Fria, o fortalecimento da União Europeia e a redemocratização de vários países, como o Brasil, levaram a uma mudança de estratégia da RFI. Várias redações em línguas estrangeiras, principalmente direcionadas aos países do ex-bloco soviético, foram fechadas. Mas a RFI Brasil, que conseguiu se adaptar às novas tecnologias, foi mantida. Adaptações e reformas A redação brasileira da RFI reformulou progressivamente a sua programação. As duas horas noturnas iniciais foram diminuindo até chegar atualmente ao programa de 30 minutos, que vai ao ar pela manhã (6h30 pelo horário de Brasília). Temas como Meio Ambiente, Multimídia, uma crônica de política internacional e, mais recentemente, programas dedicados à comunidade brasileira pelo mundo, passaram a integrar definitivamente a grade. A RFI passou a fazer parte do grupo France Médias Monde (FMM) que reúne também o canal de TV internacional France 24 e a rádio Monte Carlo Doualiya, em árabe. A RFI se mudou da emblemática Maison da la Radio para um novo local, em Issy-les-Moulineaux, nos arredores da capital.  Em 2005, ano do Brasil na França, a redação brasileira foi a primeira das línguas estrangeiras da RFI a inaugurar sua página na internet. Desde então, a produção de conteúdos digitais em português para o Brasil foi reforçada e a rádio está presente nas redes sociais, e graças a novas parcerias, nas principais plataformas de notícias brasileiras. A RFI (como outras rádios) se transformou em um veículo multimídia. Para Paulo Antonio Paranaguá, que trabalhou na RFI Brasil durante 20 anos, a rádio soube se adaptar e hoje é um bom instrumento para lutar contra as fake news. “Evoluir, conquistar novos meios de chegar aos ouvintes, telespectadores e leitores, isso é a obrigação de todo jornalista hoje em dia para lutar contra as fake news”, ressalta Paranaguá. "Incontornável" O site da RFI Brasil é o segundo de maior audiência das redações em línguas estrangeiras da Rádio França Internacional. “Hoje em dia, a RFI tem uma visibilidade tal no Brasil que ela se torna incontornável”, pondera Maria Emília Alencar, que começou a trabalhar na RFI em 1983 e chefiou a redação brasileira da RFI durante quase 13 anos, até se aposentar em 2021. O potencial para o aumento dessa visibilidade ainda é grande, principalmente devido ao boom do podcast no mundo. “O Brasil é um dos países que tem mais rádios em seu território, mais de 13 mil rádios”, informa Pompeyo Pino, diretor de distribuição de conteúdos para as Américas da RFI, reforçando que a “potencialidade para novas parcerias é enorme”. Acompanhe a série de podcasts sobre os 40 anos da RFI

    RFI Brasil completa 40 anos com 180 rádios parceiras

    Play Episode Listen Later Nov 16, 2022 13:12


    Até o início dos anos 1990, a redação brasileira da RFI, fundada em 1982, integrava um serviço único para a América Latina, que produzia programas em espanhol e em português e era chefiado pelo jornalista espanhol Ramón Chao. Quase dez anos depois de sua fundação, a redação ganhou autonomia e iniciou uma estratégia de parcerias com rádios no Brasil. Com a separação do serviço latino-americano em duas redações, foi criado o cargo de editor-chefe para a RFI Brasil. Os programas iam ao ar todas as noites, sete dias por semana, e a transmissão era feita exclusivamente por ondas curtas, o que limitava a audiência. Para aumentar a visibilidade dos programas em português, surge então a ideia de parcerias com rádios brasileiras. A primeira parceria no Brasil foi feita com a Bandeirantes de Porto Alegre. Milton Blay, na época editor-chefe da redação, diz que “a RFI foi a primeira rádio internacional a ter parcerias com rádios brasileiras”. Oziris Marins, hoje diretor de jornalismo do grupo Bandeirantes do Rio Grande do Sul e apresentador do jornal Gente, ainda não trabalhava na Band, mas lembra do início dessa parceria que “era inédita no país”. Ele diz que “sempre me chamou muito atenção a qualidade da produção, das vozes de uma equipe que não é a maior, mas tem um conteúdo fora de série”. Depois vieram outras parcerias com a Rádio Itatiaia de Minas Gerais, o canal de televisão Globonews, a EBC ou a CBN, emissora para a qual a RFI continua até hoje fazendo entradas ao vivo quase todos os dias. Essa parceria é considerada “fundamental” por Pedro Dias Leite, diretor de jornalismo da CBN. “A RFI traz um olhar importante e interessante sobre o que acontece na França e também um olhar mais amplo sobre o que acontece na Europa”, afirma Dias Leite. Transmissões via satélite e fim das ondas curtas Nos anos 1990, além das ondas curtas, a RFI começa a transmitir a sua programação em português para o Brasil via satélite. A mudança representou um salto de qualidade na recepção dos programas. Emanuel Carneiro, presidente da Rádio Itatiaia de 1994 até 2021, garante que “a qualidade era tão boa que muita gente até duvidava que aquilo era uma informação vinda de Paris”. As transmissões via satélite representaram também uma multiplicação dos parceiros da RFI no Brasil e na América Latina. O brasileiro Carlos Aciari começou a trabalhar na RFI há 22 anos, época em que a empresa iniciou a instalação de antenas parabólicas e de receptores para as rádios parceiras que recebiam não só a programação em português, mas também em francês. “Foi um boom. Foi uma revolução a antena parabólica, aquele som estéreo que chegava da França, foi muito lindo”, descreve Aciari. As ondas curtas foram abandonadas no início dos anos 2000. Hoje a RFI tem 180 rádios parceiras no Brasil e está presente em todos os estados do país. As novas tecnologias favoreceram essa expansão. “Um parceiro importante que é a (plataforma) Agência Radioweb que tem mais de duas mil rádios parceiras, das quais mais de mil pegam conteúdos da RFI, todos os dias”, detalha Pompeyo Pino, diretor de distribuição de conteúdos da RFI para o continente americano. A RFI tem ainda parcerias com pacotes das TVs a cabo da Sky, Net e Oi, que tem uma audiência potencial de 12 milhões de assinantes. Acompanhe a série de Podcasts sobre os 40 anos da RFI Brasil

    RFI Brasil 40 anos: “Rádio França Internacional é uma janela para o mundo”, diz Alfredo Valladão

    Play Episode Listen Later Nov 15, 2022 13:14


    A Rádio França Internacional, conhecida pela sigla RFI, é uma rádio pública francesa, que emite, além do francês, programas em 16 línguas estrangeiras, entre elas o português. A redação brasileira completa 40 anos informando sobre as principais notícias do mundo, com prioridade para o que acontece na França, na Europa, e, no caso da redação brasileira, para notícias sobre o Brasil, seu público alvo. “RFI Brasil é uma janela para o mundo”, diz Alfredo Valladão, que assinou a crônica de política internacional da rádio durante 26 anos. A Rádio França Internacional teve vários nomes até ser batizada de RFI em 1975. A redação brasileira foi criada em 1982 e é atualmente composta por 11 jornalistas. Como a maioria das outras redações em línguas estrangeiras, ela emite e é baseada em Paris, mas conta com uma importante rede de correspondentes em todo o mundo. A prioridade da programação da RFI é a notícia e ao vivo, somente os programas temáticos e reportagens são gravados. Mas qual é a linha editorial dessa rádio que fala da França para o mundo? Ela é porta-voz da França e de seu governo ou tem autonomia editorial? Milton Blay, segundo editor-chefe da redação brasileira, defende que, ao contrário de uma rádio estatal, a RFI “representa uma visão da sociedade (...) a voz de toda a França, da pluralidade francesa e europeia”. Alfredo Valladão, ex-jornalista do jornal Libération e da RFI, cientista político e professor do Instituto de Ciências Políticas de Paris, responsável pela cátedra Mercosul, diz que os programas em português “são importantes porque a França precisa de se mostrar para o mundo”. Já para o Brasil, que segundo ele “é um país fechado em si mesmo”, a RFI “é sempre uma janela para o mundo. Era a única janela que existia, aliás”, afirma Valladão, que assinou a crônica "O Mundo Agora" até 2021. Liberdade editorial Os jornalistas que protagonizaram o início da redação brasileira da RFI ressaltam a liberdade total que tinham para escolher os assuntos que iam tratar. Paulo Antonio Paranaguá, que trabalhou na RFI durante 20 anos antes de ir para o jornal Le Monde, concorda que estar aberto para o mundo enriquece a informação e garante que os jornalistas da redação brasileira sempre foram “extremamente livres, não só no noticiário. Não havia nenhuma imposição, nenhuma censura”. Maria Emilia Alencar, que chegou à RFI em 1983 e foi editora-chefe da redação durante 13 anos, acha que a linha editorial não mudou muito nesses 40 anos. Para ela, o diferencial, da RFI continua sendo “falar do mundo com uma visão aprofundada e do Brasil com uma visão distanciada”. O técnico de áudio Pierre Zanutto, que trabalha na rádio desde 1985 e hoje é o colaborador mais antigo da redação ainda na ativa, resume dizendo que a “RFI é uma ilha brasileira na França”. Acompanhe a série de Podcasts sobre os 40 anos da RFI Brasil

    Energia eólica e solar são as mais baratas; mercado estimula a transição energética no Brasil

    Play Episode Listen Later Nov 15, 2022 6:48


    Nesta terça-feira (15), a RFI aborda a questão da energia em sua programação e em entrevistas especiais. O assunto também ganhou destaque nas reuniões do G20, em Bali, e na COP 27, no Egito. Nessa segunda reportagem, a redação brasileira aprofunda a radiografia dos projetos de fontes renováveis no Brasil e explora o potencial do país para atrair investimentos. Maria Paula Carvalho da RFI Dentre as economias mais relevantes do mundo, o Brasil já ocupa uma posição de destaque na produção de energia limpa por causa da matriz 60% hídrica. Porém, mudanças do regime pluvial e a emergência climática apontam as vulnerabilidades do setor hidrelétrico, que vem perdendo espaço, a cada dia, para a produção de energia fotovoltaica e eólica, projetos que se aproveitam da abundante e perene incidência solar e de ventos no país. Um dos países que mais investem na produção de energia eólica no mundo, sendo considerado uma potência no setor, o Brasil ocupa o sexto lugar no Ranking de Capacidade Instalada do GWEC, o Conselho Global de Energia Eólica. A importância desse tipo de energia para a geração de empregos e investimentos no Brasil foi apontada em um estudo elaborado pelo economista Braúlio Borges, pesquisador associado do FGV-IBRE e economista-sênior da LCA Consultores. Os dados mostram que, entre 2011 e 2020, as eólicas movimentaram R$ 321 bilhões na economia nacional (R$ 110,5 bilhões de investimentos diretos na construção de parques eólicos e R$ 210,5 bilhões como efeitos indiretos). Os especialistas apontam que cada real investido em parques eólicos elevou o PIB brasileiro em cerca de R$ 2,90. "Nós ainda temos muito potencial a explorar", analisa Carlos Rittl, especialista em política internacional da Rain Forest Foundation da Noruega. "O Brasil pode ampliar muito a geração de energia eólica, inclusive fala-se do potencial de aproveitamento que o Brasil tem offshore. No oceano, como a gente vê em países da Europa, esse potencial pode ser ampliado e muito bem aproveitado", completa. Histórico A primeira turbina eólica foi instalada no Brasil em 1992, no arquipélago de Fernando de Noronha, resultado de uma parceria entre o Centro Brasileiro de Energia Eólica (CBEE) e a Companhia Energética de Pernambuco (CELPE), com financiamento do instituto de pesquisas dinamarquês Folkecenter. Durante os dez anos seguintes, a energia eólica pouco cresceu no país, em parte pela falta de políticas públicas, mas principalmente pelo alto custo da tecnologia. Durante a crise energética de 2001, houve uma tentativa de incentivar a contratação de empreendimentos de geração de energia eólica no Brasil. O apoio institucional abriu caminho para a fixação de uma indústria de componentes local, com exigências de conteúdo nacional nos projetos de aerogeradores. Hoje, o Brasil tem pelo menos seis fabricantes de turbinas, fábricas de pás e torres eólicas e centenas de empresas que trabalham em outros componentes, além de transporte, consultorias e planejamento das obras.  Camila Ramos, consultora e diretora da CELA (Clean Energy Latin America), explica que as fontes de energia alternativa servem como complementos à geração das hidrelétricas. "O ideal é usar o máximo de renovável que conseguir no tempo real que você gerou. Agora, no momento em que a gente chega num patamar, em que não estamos hoje ainda no Brasil, quando a gente gera tanta energia renovável que não temos como usar, o ideal é ter armazenamento de energia, que são as baterias. Que é a novidade que está sendo instalada hoje no Brasil e no mundo, um setor que cresce bastante", observa. Hidrogênio verde Além de recorrer às baterias, o Brasil pode entrar na produção do chamado "hidrogênio verde", explica Gil Maranhão, diretor de Comunicação e Sustentabilidade da Engie Brasil, empresa controlada pelo grupo francês Engie, líder global na produção independente de energia, que tem atividades em mais de 70 países. "Não só para armazenar, mas também você pode desenvolver novas usinas eólicas e solares para produzir hidrogênio verde, o combustível que vai possibilitar que indústrias e setores que não estão ligados em redes possam comprar e consumir energia renovável. Por exemplo, o transporte marítimo e aéreo", indica. “O hidrogênio verde produzido através de eletrólise que consome no seu processo energia renovável é um bom exemplo de como você pode usar a energia renovável que não seja usada no momento”, explica Maranhão. “O mundo inteiro está estudando a viabilidade de armazenamento via baterias, é um futuro sim, mas ainda está um pouco distante”, avalia.  Outra questão a ser debatida são os incentivos ao setor. A consultora Camila Ramos alerta que a atual redução de incentivos do governo para os setores renováveis vai na contramão do que o mundo espera. "O Brasil tem uma matriz energética muito limpa, mas isso não pode deixar com que a gente se acomode", diz. "O que é feito hoje no Brasil de energia renovável é muito pela iniciativa privada, por conta das renováveis serem as fontes mais baratas. Nenhuma fonte concorre mais com a eólica e solar em preço. Em termos de políticas, a gente está retirando todos os incentivos que havia", diz. "Por outro lado, o Brasil tem contratado muita termelétrica a gás recentemente, o que não é positivo. Estamos indo na direção contrária da transição energética", acrescenta. Para Gil Maranhão, "isso é controverso, porque enquanto alguns dizem que o incentivo é bom para estimular, outros dizem que os incentivos que foram dados no passado, no início dos anos 2000, já cumpriram o seu papel", diz o executivo da Engie do Brasil. "Eles já chegaram em uma curva de preço competitivo no mercado", completa.   Com faturamento de € 57,9 bilhões em receitas em 2021, o grupo francês Engie é a maior geradora eólica e solar da França e aposta nos projetos no Brasil. Maranhão destaca que o país pode pensar em uma reindustrialização baseada no potencial de novos projetos em solo nacional. "Se nós formos considerar todos os projetos que hoje estão prontos para começar a ser construídos apenas de solar e eólica, a estimativa é que haja um Brasil inteiro de capacidade instalada que é 170 GW pronto para iniciar construção, só aguardando por mercado, financiamento ou finalização de licenciamento ambiental", calcula. "O potencial é enorme. Mas para aproveitar tudo isso, o Brasil precisa crescer, ou seja, ter desenvolvimento econômico para gerar demanda", explica o executivo.  "Você quando vê um potencial enorme desses, olhando para o futuro, vemos que não vai haver mercado, dada a população e economia brasileira. Mas essa é uma oportunidade que o Brasil tem de trazer investimentos para cá de indústrias de países que não vão ter condições de cumprir as suas NDCs, do Acordo de Paris, por vários motivos", diz. "Por que não o Brasil ser um foco de investimento de várias indústrias que precisam buscar energia renovável para cumprir suas metas e compromissos de redução de carbono e se tornar um polo de investimento numa reindustrialização do Brasil?", questiona.  "É uma oportunidade única que o Brasil está tendo e precisa aproveitar", conclui. 

    "O Brasil é uma Arábia Saudita das renováveis", diz especialista sobre potencial energético do país

    Play Episode Listen Later Nov 15, 2022 5:42


    O mundo enfrenta uma crise energética que levou vários países a adotarem medidas de emergência, com políticas de redução de consumo e busca de novos parceiros estratégicos. Nesta terça-feira (15), quando o assunto é tema de discussões na COP27, em Sharm el-Sheikh, e na reunião de cúpula do G20, em Bali, a redação brasileira da RFI aborda em reportagens especiais a questão das energias renováveis e o papel do Brasil nesse contexto. Maria Paula Carvalho, da RFI Ventos estáveis e intensos. Sol durante o ano inteiro. Enquanto outros países precisam gerenciar a escassez de recursos naturais limpos, o desafio do Brasil é aproveitar a sua abundância de matéria-prima para produção de energia renovável. "O Brasil é sem dúvida uma Arábia Saudita das renováveis", compara Camila Ramos, consultora e diretora da CELA (Clean Energy Latin America). Isso explica, em parte, o sucesso dos projetos de energia eólica e solar no país nos últimos anos, analisa a consultora. "Não só para produzir energias renováveis, seja eólica e solar, suficiente para abastecer toda a demanda do setor elétrico brasileiro se a gente quisesse, e de qualidade. E a gente também tem o potencial para exportar essa energia", acrescenta a especialista, ouvida pela RFI Brasil. Quando falamos em produção de energia a partir do vento, o Brasil conta com 827 parques eólicos e uma potência instalada de 22,5 GW, o que representa 12,1% da matriz elétrica brasileira. É o suficiente para abastecer 36,2 milhões de residências por mês, de acordo com dados da ABEEólica, a Associação Brasileira de Energia Eólica. Mas o potencial é ainda maior, estimado em 700 GW só em terra, sem falar nas novas oportunidades que estão surgindo na exploração offshore, em alto mar, ainda iniciante. Já quando falamos de energia solar, condições climáticas favoráveis permitiram que o Brasil ultrapassasse a marca histórica 21,1 gigawatts (GW) de potência instalada de fonte solar fotovoltaica, somando as usinas de grande porte e os sistemas de geração própria de energia elétrica em telhados, fachadas e pequenos terrenos. Isso equivale a 10,5 % da matriz elétrica do país, de acordo com dados da Absolar, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica. Os cinco estados com maior geração desse tipo de energia, em 2021, foram: Rio Grande do Norte (21,23 TWh), Bahia (21,15 TWh), Piauí (9,10 TWh), Ceará (7,91 TWh) e Rio Grande do Sul (5,63 TWh). Enquanto o mundo luta contra as mudanças climáticas, a produção de energia a partir de painéis solares evitou emissões na atmosfera equivalentes a mais de 28,7 milhões de toneladas de CO2 (gás carbônico), ou a emissão anual de 28 milhões de carros de passeio. Para base de comparação, a cidade de São Paulo tem uma frota de cerca de 19 milhões de automóveis desse tipo. Novos empregos Desde 2012, a fonte solar já trouxe ao Brasil cerca de R$ 103 bilhões em novos investimentos, mais de R$ 27,2 bilhões em arrecadação aos cofres públicos, gerando mais de 600 mil empregos.   Carlos Rittl, especialista em política internacional da Rain Forest Foundation da Noruega, analisa como esses dois setores se tornaram atrativos ao longo do tempo. "O que aconteceu foi que a energia solar se expandiu naturalmente porque os preços foram caindo, os equipamentos foram se tornando mais eficientes e acabou se tornando economicamente viável para muita gente, para empresas, para famílias, mesmo sem a gente ter as melhores políticas", destaca.  As condições climáticas do Brasil são um grande atrativo para investimentos no setor. "Eu resido na Alemanha, um dos países com a maior capacidade instalada de energia solar. O melhor lugar de incidência de sol na Alemanha é pelo menos 30% pior do que o pior lugar no Brasil, onde o Brasil tem menos incidência de energia solar, que são áreas de Santa Catarina, onde você tem muita cobertura de nuvens. Então o Brasil pode expandir muito mais", compara Rittl. Ele lembra que nos momentos de crise econômica recente, a energia eólica foi um setor que gerou empregos e retorno para o investimento. "Quando tivemos recessão econômica em 2015, 2016 e 2017, a energia eólica continuou se expandindo, os investidores continuaram aumentando a geração de energia dessa fonte e foi um setor que gerou muitos empregos no momento em que a nossa economia estava se encolhendo", observa. Maior geradora independente de eletricidade do mundo, com 104 GW de capacidade instalada, a francesa Engie tem como meta sair das operações de carvão até 2027 e descarbonizar totalmente as atividades até 2045. E o Brasil faz parte dos planos companhia, presente no país desde 1996, e onde o faturamento chegou a RS 13,5 bilhões, no ano passado. A Engie do Brasil explora 5 conjuntos eólicos, 4 usinas solares, além de 12 hidrelétricas e 3 usinas de biomassa, sendo líder no setor de energia renovável no Brasil, com 10 GW de capacidade instalada de fontes renováveis, em 77 plantas operadas pela companhia. "Com relação à energia solar, esse é um boom que está acontecendo no Brasil, porque como não há barreira tecnológica, não precisa ser uma grande empresa e com expertise, um grupo de engenheiros experiente pode fazer, contanto que tenha capital. Houve uma proliferação muito grande de novos projetos no país todo", explica Gil Maranhão, diretor de Comunicação e Sustentabilidade da companhia. O executivo cita outra vantagem dos projetos solares. "Uma vez que são projetos que podem ocupar um espaço mais reduzido, eles podem estar próximos dos centros de carga, dos centros de consumo, e têm custos reduzidos de transmissão", completa.   

    RFI Brasil 1982-2022: quatro décadas reforçando os laços entre França e América Latina

    Play Episode Listen Later Nov 14, 2022 12:40


    A redação brasileira da Rádio França Internacional completa 40 anos. A RFI Brasil foi criada em 1982 e integrava uma redação maior que produzia programa para a América Latina. A iniciativa foi do presidente socialista François Mitterrand que queria reaproximar a França dos países latino-americanos. Em 1982, a França era governada há um ano por François Mitterrand, o primeiro socialista eleito presidente da história do país. O Brasil vivia os últimos anos da ditadura militar e o general João Batista Figueiredo estava no poder. A União Soviética ainda existia e o mundo estava dividido entre os blocos, capitalista e comunista. Nessa polarização, as rádios internacionais, financiadas pelas principais potências mundiais, tinham um papel relevante. A RFI, uma rádio pública, herdeira da Rádio Colonial francesa fundada em 1931, já emitia em várias línguas, mas não produzia ainda programas específicos para a América Latina, continente do qual o novo francês François Mitterrand queria se reaproximar. Milton Blay, um dos protagonistas do início da redação brasileira da RFI, lembra que “Mitterrand queria reatar laços com a América Latina, que estavam esgarçados, e queria aproveitar o veículo rádio para levar a palavra da França para a região”. Mitterrand teve que validar contratação dos brasileiros A redação foi criada em agosto de 1982 e o primeiro programa foi ao ar no dia dois de outubro. Para escolher os jornalistas que iriam integrar a nova equipe foi feito um concurso. O interesse foi grande e o número de participantes superior às quatro vagas propostas. A maioria dos vencedores não tinha autorização para trabalhar na França e a contratação dependeu da “anuência do próprio presidente da República. Imagina foi até o Mitterrand!”, conta Milton Blay. Paulo Antonio Paranaguá, que chegou na França em 1977 como exilado político, foi um dos jornalistas contratados. Ele diz que conheceu o “verdadeiro internacionalismo” na RFI, com suas redações em mais de 15 línguas estrangeiras e centenas de jornalistas de várias nacionalidades. Maison de la Radio A RFI funcionava na mítica Maison de la Radio, prédio arredondado no décimo sexto distrito de Paris, às margens do rio Sena. A redação brasileira integrava o serviço para a América latina, chefiada pelo jornalista e escritor espanhol Ramón Chao. “Eu não tinha experiência em rádio e me impressionou os estúdios da Rádio França. A Maison de la Radio, que era gigantesca, com cinco rádios estatais, um lugar muito emblemático em frente a Torre Eiffel”, recorda Maria Emília Alencar, que passou a fazer parte da equipe a partir de 1983 e foi editora-chefe da redação durante quase 13 anos. No início, o programa em português, com notícias do mundo, da Europa e da França para o Brasil, durava uma hora e ia ao ar duas vezes, sempre à noite, sete dias por semana. As transmissões eram feitas exclusivamente por ondas curtas, o que limitava a visibilidade. Por isso, nos anos 1990 nasceu a estratégia de selar parcerias entre a RFI rádios brasileiras. Para Emmanuel Carneiro, ex-presidente da Rádio Itatiaia de Minas Gerais, uma das parceiras históricas da RFI, considera que “essas vozes falando português, chegando de Paris, fizeram uma história muito importante no radio brasileiro, no jornalismo brasileiro”. Acompanhe a série de Podcasts sobre os 40 anos da RFI Brasil