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Gabriel Ferrandini estreou-se a solo no Théâtro de la Ville, em Paris, partilhou com o público uma experiência de improvisação, explorando a liberdade sonora da bateria. Compositor e baterista, Ferrandini combina ritmo, textura e harmonia de forma inovadora. Nascido na Califórnia, filho de pai moçambicano e mãe brasileira, vive em Lisboa, onde se destacou em grupos como RED Trio e Rodrigo Amado Motion Trio. Colaborou com artistas como Thurston Moore (Sonic Youth), Evan Parker e Hilary Woods. RFI: Durante o concerto que relação sentiu com o público?Gabriel Ferrandini: Nesta coisa das vibrações e dos feedbacks há qualquer coisa de meio medo e aquela coisa impressionante que quase que nos junta um bocado a todos e as dinâmicas de ir para um muito alto ou muito baixo e trazer esse silêncio para dentro da sala, algo muito poderoso. Às vezes dá para sentir o público e neste concerto acho que sim. Estávamos todos juntos.Há intervenções do público nos seus concertos. Houve um momento em que quase que havia impulsos para as pessoas baterem palmas, por exemplo. Isso acontece?Às vezes acontece. A malta acha que são falsos fins, mas às vezes até as pessoas tossem ou há coisas a cair na sala. Eu gosto dessa parte porque há qualquer coisa que pode entrar e, como estou a improvisar, posso agarrar em qualquer coisa. Um sentimento que vem do nada por causa de uma coisa exterior. E eu gosto de trabalhar em cima disso. Tenho uma estrutura fechada, mas a coisa é toda muito aberta e inevitavelmente estou num sítio, num espaço e não consigo controlar tudo. E tudo pode ser música. De certa maneira.Tudo é música, até mesmo o tossir das pessoas e qualquer ruído que venha do público, como dizia John Cage e tantos outros, não é? Gabriel tocou durante uma hora a solo. Foi pura improvisação ?Sim, é uma peça que não conseguiria repetir. Há uma narrativa, há uma estrutura. Mas não é uma composição clássica no sentido em que tudo o que eu estou a tocar está escrito, com a estrutura e um arco narrativo. Eu sei como é que vou começar, sei o que vai acontecer no meio, sei o que vai acontecer no final e o resto são gavetas minhas. São coisas da minha linguagem com as quais convivo diariamente. Portanto, às vezes pode entrar um bocadinho depois, ou um bocadinho antes, ou bem mais tarde, ou antecipar. Mas lá está, começámos com o gongo. Havia toda uma introdução do gongo. Havia um som de uma pandeireta com o gongo que eu trouxe para o final. Portanto, há toda uma estrutura, mas é bastante aberto, sim.Qual é essa narrativa? Em que é que pensa? Porque cada instrumento conta uma história e cada instrumento parece assumir uma personagem...Sim. A percussão e a bateria têm essa coisa incrível de infinito, não é? Há muitos instrumentos que são o que são, um saxofone, um violino, trompete e na percussão; temos aqui um gongo gigantesco, até uma peça meio rara de se ter acesso. Os amplificadores gigantescos, depois a bateria em si e as percussões todas de mão. Eu, a mim, interessa-me mexer nestas coisas, nestas matérias e, depois, com o tempo, talvez até com os anos, essas matérias começam a ter ligações emocionais comigo. Porque uma pessoa, quando toca um piano, um acorde, ou um acorde numa guitarra, ou uma melodia de um instrumento melódico, é algo mais clara, emocionalmente. A bateria, a clareza da bateria tem a ver com o ritmo. É algo primordial, rítmico. Mas a questão da emoção, às vezes, é difícil de pintar as cores. Esta coisa dos feedbacks e de conseguir ter coisas longas, é o que sustém. É por aí que eu tenho tentado explorar um bocado a coisa.E há países ou há públicos mais receptivos a essa exploração e ao tempo de ouvir? Sim, eu acho que cada país, cada sítio ou continente... Mas acho que isto tem sempre a ver com a disponibilidade do público. A música é algo muito universal e esta coisa mais experimental e do jazz são línguas absolutamente... Qualquer pessoa pode tocar em qualquer sítio e é uma coisa unificadora da linguagem e das ferramentas da música experimental. Eu acho que, no fim, é um bando de nerds ou pessoas muito disponíveis e abertas, e isso encontra-se em qualquer lado. As pessoas que querem coisas novas, ou a malta nova que tem muita sede. Mas eu não consigo dizer que haja um sítio em que haja mais disponibilidade. Acho que tenho tido surpresas um pouco por todo o lado.Fez parte de vários trios como com o Rodrigo Amado. É pouco comum ver percussionistas ou bateristas a solo e perguntei-lhe porquê?Sim, por excelência, a bateria é um instrumento de acompanhamento, não é? Há papéis... Os instrumentos também têm papéis nas suas constelações, nos trios, nos quartetos ou nas orquestras. E o papel da bateria é esse: manter o ritmo, manter a pressão sonora, o pulso, e também ajudar os outros a soarem melhor. Não é um solista. Está a fazer um solo, seja qual for o instrumento. E o baterista está a acentuar os sítios que são importantes ou a criar tensão onde tem que ser, criando uma coisa de "release". E isso é a história do instrumento agora. Há alguns malucos que gostam de fazer isto sozinhos e isso não é muito comum. Mas há alguma história de bateria a solo.Porquê malucos?Não é uma coisa usual e acho que quando contrariamos a natureza do instrumento... Eu conto como uma banda, eu estou em casa e é fácil para mim, porque estou um bocadinho mais lá atrás. Mesmo que eu possa ter uma importância grande, sou um "team player", não é? Não estou no foco, no spotlight. E eu digo "maluco" mais nisto, nesta coisa de abraçar essa questão de não posso ir pela estrutura normal deste instrumento e mergulhar, sabe-se lá para onde.Em 1914, Igor Stravinsky mudou a estrutura da música tradicional e colocou o ritmo no topo da pirâmide da "Sagração da Primavera". Ele já era, na altura, vanguardista e maluco.Com certeza. Claro, só podia, não é? Mas também um grande virtuoso. Devia ser doido, de certeza.Para mudar a estrutura musical nacional, inevitavelmente fala das luzes, as luzes que ocupam um espaço muito importante neste seu espetáculo a solo. Como é que foi trabalhado? Tenho tido a sorte de trabalhar com o Rui Monteiro e acho que não só o trabalho dele é incrível, mas todo este trabalho que tenho feito... A bateria tem aquele perigo de ser um meio de exibição, um showcase, e estar a mostrar os virtuosismos de cada coisa que sabemos fazer. E aquilo que tenho tentado fazer é pensar numa narrativa ou numa história, num arco. E eu acho que a luz ajuda muito nisso. E em vez de ser aquela coisa mais clássica, há aqui uma luz em cima do instrumento e que pode mudar um bocadinho, conforme o que está a acontecer. É muito diferente de haver uma coisa mais completa, que está sincronizada com a estrutura. A luz também é muito aberta, abstrata, mas é bastante clara. E acho que isso oferece espaço às pessoas, de repente, dois ou três minutos só faziam uma linha contínua de graves, não há realmente muito a acontecer, mas se houver também uma componente visual, talvez aí cada pessoa possa viajar para onde quiser. E eu gosto quando há esse espaço em que as pessoas podem pôr o que quiserem ali, no que está a acontecer, e não ser só aquela coisa de absorver apenas o momento musical. Acho que é fixe as pessoas irem para onde têm que ir também.A música, que também cria imagem, além de ser apoiada pela luminosidade. E depois há esta questão da exploração e do trabalho do som, que em inglês chamamos "noise", o ruídoTem a ver com o timbre que estamos mais habituados ou texturas que estamos mais habituados. E sim, acho que plasticamente, esteticamente, há aqui coisas que têm a ver com esse barulho estranho, que, de certa maneira, é também um monstro que eu estou aqui a querer controlar. E, às vezes, eu deixo que esse monstro tome controle e às vezes estou eu a tentar apanhar as rédeas. E esse monstro é noise, de certeza.Como é que de repente sabe o que está a criar, a interpretar, a improvisar? Como é que todas estas sonoridades acontecem, naturalmente? Dá ideia que, no final do espetáculo, está em transe? Sim. Eu não estou completamente em controlo. Lá está e a concentração é a única coisa que me pode ajudar, a estar ali focado e perceber o que vai acontecer. Mas eu nunca sei o que vai acontecer. E, por mais que eu queira controlar, eu também gosto de não estar completamente sob controlo. Mas isso só me obriga a estar mais atento porque, se fosse uma estrutura ou uma competição cerrada, mesmo, poderia ter as suas dificuldades. É uma coisa mais segura, de certa maneira.Se uma pessoa souber o que fazer, aquilo sai. Eu gosto desta novidade: De repente, há uma coisa que me cai, de repente, há um som... Como já fiz muita força na pele, ela já mudou de nota... há muitas coisas. Às vezes é um bocado infeliz, porque pode levar os sons para sítios que não são tão interessantes. Mas o incrível é que, quando essas pequenas mudanças que não controlo são coisas boas, é como se houvesse música dentro da música. O que tento fazer é estar só preparado para isso. Eu estou com estes sons. Mais estranho que isso pareça, eu convivo com isto, não é? É estar pronto para qualquer coisa que possa acontecer.Já esteve aqui em Paris com o espectáculo "Dans la mesure de l'impossible", de Tiago Rodrigues, cuja música é sua. Aqui, é, mais uma vez, uma forma de representar?Ali eu estava a tocar música e houve uma criação e havia uma história, não é? E eu estou a tocar para aquilo, estou a tocar para a história. É uma banda sonora. Aqui, não estou a tocar para nada. De certa forma, estou livre. Estou completamente livre, mas não consigo pôr um nome nisto, dar uma estética definida. Há materiais que trago e esses materiais têm uma presença e aquilo que tento é mexer com essa presença. No caso do teatro, tudo o que levo para ali é para a peça e para aquela história.Nasceu nos Estados Unidos, os seus pais tem origem brasileira e moçambicana. Tem ligações a Itália, a Espanha.. vive em Portugal. Esta multiculturalidade à sua volta também ascende na música que faz e com a qual cresceu?Sim, eu acho que a bateria apareceu aí. Esta coisa de não ter bem uma nação, de não ter bem uma linguagem que seja mesmo minha e ser um pouco de todo o lado não ser de lado nenhum. Acho que a bateria tem um bocado essa coisa. A bateria é uma coisa universal e que não tem bem a palavra, não tem bem a nota. E apesar de ser um instrumento claro, é muito abstracto. E eu acho que talvez tenha sido por isso que vim aqui parar à bateria e depois, ainda dentro disso, vim parar aqui a este outro sítio. Portanto, acho que isto tem a ver, talvez com esta minha, esta minha confusão criativa e a estrutura da minha família e por onde eu andei e talvez apanhei um bocadinho de cada sítio, mas à minha maneira.O que é que sentiu esta noite? Não sei se penso mesmo, mais é uma coisa de delivery. É uma coisa de querer que aquilo que que aparece ali a qualquer momento que aquilo resulte é fazer aquilo soar. O grande objectivo é pôr um instrumento a cantar. Posso ir por aqui, posso ir por ali. Há muitas coisas, como pudeste ver, que podem acontecer, mas a minha preocupação é o meu corpo, é a minha cabeça estarem no sítio certo para eu poder agarrar essas janelas de oportunidades que surgem. Eu acho que é só isso. Estou sempre só à procura de um som que possa agarrar e que possa espremer.Gabriel Ferrandini nasceu na Califórnia, é filho de pai moçambicano e mãe brasileira com origens italianas e espanholas. Vive em Lisboa onde construiu uma carreira de destaque na música, sendo parte central de grupos como RED Trio e Rodrigo Amado Motion Trio. Colaborou com artistas renomados, como Thurston Moore (Sonic Youth), Evan Parker, Hilary Woods e Peter Evans.
Albert Cirera és un dels músics de la península Ibèrica més versàtils i actius en l'àmbit europeu, dins l'escena del free jazz i la música improvisada. En els últims deu anys ha participat en nombroses gravacions (més de cinquanta) amb músics com, Andy Moor, Barry Guy, Olie Brice, Marcelo dos Reis, Carlos Zingaro, Ramon Prats o Agustí Fernández. I ha actuat a festivals europeus com Jazz em Agosto a Lisboa (Portugal), Jazz A Lúz, a Luz-Saint-Sauveur (França) o Spontaneous Music Festival a Poznan (Polonia), i més internacionals com el Festival de Jazz de Buenos Aires (Argentina), així com a diferents clubs d'Europa, Argentina, Cuba, Rússia i Japó.Va viure deu anys a Barcelona, on va créixer com a músic tocant amb Agustí Fernández, Ramon Prats, Vasco Trilla, Núria Andorrà, Pablo Rega, Dani Dominguez, David Mengual o Massa Kamaguchi. Després, cinc anys a Lisboa, on es va consolidar com el músic creatiu, inventiu i versàtil que és, tocant amb músics com João Lencastre, Carlos Zingaro, Gabriel Ferrandini, Herânin Faustino o Abdul Moaimem. I finalment, dos anys a Copenhagen on va estudiar un màster al RMC i va tocar amb Kresten Osgood, Henrik Olsson, Valeria Miracapillo, Hakon Berre o Aurelijus Uzamackis. També ha compartit escenaris amb Barry Guy, Andy Moor (the Ex), Joe Morris, Ernesto Rodrigues, Jordina Millà, Nicolas Field, Florian Stoffner, Silvia Bologniesi, Hugo Antunes, David Mengual, Paula Chocron, Don Malfon, Witold Olszak, Nuno Rebelo, Rafal Mazur, Ferran Fages, etc.Lidera els seus projectes com A.C. I Tres Tambors, amb qui ha editat dos discos “Els encants” (FSNT, 2012) i “Suite Salada” (Underpool, 2017); A.C i Kamarilla, amb qui ha editat “Aquella Cosa” (Underpool, 2022); i finalment, CIREROT, el seu projecte a saxo sol, que el passat 2022 va estar presentant, per tot Europa, el seu últim treball “ÂMAGO” (MuMu, 2021) amb 30 concerts a més de 5 països diferents. Durant més de quinze anys forma part, ininterrompudament, de DUOT, juntament amb el bateria Ramon Prats. També cultiva la formació de duo amb grans músics per tot Europa com N. Field, F. Stoffner, W. Oleszac o F. Fages.Així mateix, forma part de projectes com Joao Lencastres Comunion, Fragoso Quinteto, Fail Better o Dissection Room, a Portugal; Granular Bastards o The Moms a Dinamarca, així com Agustí Fernández Líquid Trio/Quintet o Clara Lai Quartet, a Catalunya. A més a més s'ha interessat per les performances interdisciplinàries: en els últims anys ha actuat amb les ballarines Jenny Nocedo (Cuba), Juliette Louste (Islandia), Tura Gomez Coll o Sonia Sanchez; els pintors Antoni Carné i Xavier Gabriel o l'artista visual Artur Tort.És part activa en l'organització de L'Estival de Jazz d'Igualada així com del “Cicle Cuir deMúsiques Inclassificables” de la mateixa capital de l'Anoia on actualment resideix. Des de 2024 és creador i organitzador, juntament amb Ramon Prats, del CIMIC (Circuit Itinerant de Música Improvisada de Catalunya).
A peça “Na Medida do Impossível”, de Tiago Rodrigues, leva ao Festival de Avignon, até 22 de Julho, histórias de guerra, violência e catástrofes contadas por trabalhadores em ajuda humanitária. Em palco, quatro actores, um baterista e uma tenda relatam um mundo que parece impossível aos olhos de quem assiste. A RFI falou com a actriz Beatriz Brás e o músico Gabriel Ferrandini. A peça “Na Medida do Impossível”, de Tiago Rodrigues, volta a estar em palco em França, desta vez na 77ª edição do Festival de Avignon, dirigida pelo encenador português. O espectáculo está em cena até 22 de Julho na Opéra Grand Avignon e foi incluído na programação depois do cancelamento de “Os Emigrantes”, de Krystian Lupa, que estava em construção na Comédie de Genève. “Na Medida do Impossível – Dans la Mesure de L'Impossible” foi justamente criada em 2022, na Comédie de Genève, e surge de três dezenas de entrevistas de trabalhadores em ajuda humanitária. É um manifesto político e poético, que põe a nu um mundo impossível onde a guerra, a fome, a violência são a regra, bem distante do mundo possível onde o espectador assiste, em segurança e confortavelmente instalado.RFI: E no final fica a música... Começa com vagas e transforma-se num tsunami. Que final é este? Gabriel Ferrandini, Músico: É uma viagem grande todo o espectáculo, as histórias e as sensações e a questão toda emocional. A ideia base do último solo era uma coisa incrível que o Tiago pensou, que parece uma coisa simples mas que tem um impacto incrível. O som tem uma presença, no espectáculo todo com eles, mas está a servir muito as histórias e a ideia do Tiago era que o último solo tinha que ser tão arrebatador ou violento ou de ter uma presença quase solitária que as pessoas podiam durante aqueles minutos esquecer. Porque é muita coisa para digerir, não é? São muitas histórias, é tudo pesado e era uma oportunidade, quase, para as pessoas poderem esquecer aquilo que se está a passar e quando o solo acaba poderem revisitar finalmente aquilo que se passou porque o último solo é bastante físico, não tem só a ver com bateria, tem a ver com as frequências graves e estas coisas que tu sentes no corpo, não é uma coisa que tem só a ver com os ouvidos. Mas, do meu lado, é sempre uma incógnita. Eu tenho a minha estrutura, mas nunca sei muito bem o que é que vai acontecer.Pode improvisar? Há uma estrutura, há uma coisa que eu tenho que seguir, há um início e há um fim, mas há espaço para improvisar e cada sala é uma sala e os públicos mudam e os nossos mundos mudam. Às vezes, até pode haver problemas e eu tenho que andar à volta disso e podes encontrar a musicalidade também dentro dos imprevistos.Uma das personagens diz: “Pode pedir ao público para imaginar, mas não se pode imaginar, é impossível imaginar. Impossível.” Quando as palavras não chegam, é mesmo a bateria que conta o indizível?Talvez. É uma coisa mais abstracta, não é? Eu acho que todas as pessoas podem retirar ou encontrar o que quiserem dentro dos sons. O que é que cada um sente com a percussão é uma coisa bastante... não é uma coisa tão estável como um instrumento harmónico, melódico e há pessoas que ouvem o coração, há pessoas que ouvem as bombas, há pessoas que ouvem os terramotos e esse é o lado engraçado desse indizível, as pessoas encontram o que quiserem.Até porque a personagem da Beatriz diz: “Deveria mostrar que a explosão de uma bomba faz exactamente o mesmo barulho que um coração que bate, só que é mais forte”. A bateria também faz isto?Sim, talvez, está tudo muito misturado, acho que isto foi uma grande sorte podermos trabalhar como trabalhámos e como tivemos muito tempo juntos e fizemos a criação juntos. Para nós, é engraçado porque isto é uma questão que existe, esta conversa que estamos a ter agora, mas para nós foi sempre uma coisa... Somos cinco, não quatro e mais um, somos mesmo cinco. Então tudo se mistura.A Beatriz Brás canta um fado que deixa uma textura densa de emoção no teatro. Porquê este fado?Beatriz Brás , Actriz: O Tiago [Rodrigues] sabia que eu gostava de cantar e já me tinha ouvido cantar fado e estávamos uma vez em Genebra - onde foi a criação, na Comédia de Genève - estamos uma vez a beber uns copos na casa do Gabriel e o Tiago quis muito que eu cantasse para o Gabriel ouvir. Foi aí que se decidiu que este fado fazia sentido de ser integrado no espectáculo. Este fado foi integrado numa história que é real, mas as duas coisas não se ligam na realidade. Foi uma ligação fictícia que o Tiago fez, tal como outras coisas no espectáculo, outras narrativas, e penso que, tal como a bateria, dá uma outra dimensão, uma outra textura ao espectáculo, e dá também uma outra componente através de uma outra língua, de uma outra cultura que, neste caso, é a portuguesa. Eu não falo em português no espectáculo, falo em inglês, mas acho que através deste fado podemos adicionar mais outra língua que acho que também é uma coisa que interessa ao espectáculo, esta multiculturalidade. Portanto, acho que é um momento também abstracto porque é musical, mas também sobre o medo. O conteúdo do fado fala sobre o medo e, portanto, está relacionado com o espectáculo e sobre os desafios que estes humanitários atravessaram.O que quer dizer “Na medida do impossível?”Eu acho que isto brinca um pouco com a expressão “na medida do possível” e o Tiago pegou nesta expressão e faz aqui o paralelo entre o mundo possível e o impossível. Sendo que no próprio espectáculo ele próprio comenta este lado redutor do lado binário das coisas. Não é só os opressores e as vítimas. Não é só o possível e o impossível, as coisas não são preto ou branco. Mas podemos brincar com estes conceitos e ao brincar com eles podemos ver que, se calhar, há lugares em que temos um conforto como este aqui - estamos em Avignon a ver um espectáculo, confortáveis - e temos lugares em que as coisas parecem de um mundo mais distante do nosso, um bocado um mundo impossível, em que faltam os bens necessários, em que as catástrofes acontecem no dia a dia com uma regularidade que não é a nossa, numa realidade que não é a nossa. Então, acho que há este paralelo entre o mundo possível e o impossível, sendo que o possível se pode tornar impossível muito facilmente.E a qualquer momento...E a qualquer momento, sim.Descrevem situações limite e conflitos muito para além do que os olhares do mundo ocidental estão habituados a ver. Quais é que foram os maiores desafios neste trabalho de actor?Manter a simplicidade que o espectáculo exige. O desafio para mim é manter-me com as histórias, ouvir a história que estou a fazer, ao mesmo tempo estes textos não têm um lugar sagrado. Nós pegamos em relatos reais de trabalhadores humanitários mas isto é um espectáculo e há que ter também a liberdade para jogar, para dar outras texturas, dar outra força, brincar com os tons e podermo-nos distanciar daquilo que vivemos que foram as entrevistas com estes trabalhadores, com todo o respeito. Para mim, o desafio é o equilíbrio entre manter a simplicidade, dizer só esta história, mas também poder encontrar-me através disto. Ou seja, o que eu quero dizer é: eu tenho esta imagem desta personagem que estou a fazer mas, entretanto, já não é sobre esta pessoa, eu tenho estas palavras e agora como é que eu me relaciono com estas palavras sendo que é uma realidade que não é minha, eu nunca vou poder saber, mas como é que isto ecoa em mim.Apesar de a distância ser supostamente o seguro de saúde mental do actor quando representa algo impossível, como é que se sai de uma peça destas enquanto pessoa?Eu acho que me empresta um distanciamento aos meus problemas - que são legítimos, mas são os meus problemas - e poder revisitar estas histórias de cada vez que fazemos este espectáculo é como ganhar outra perspectiva. Eu não deixo de ter os meus problemas, mas sei que há outras coisas a acontecer no mundo. Isso é importante para ganhar outra dimensão.Quando houve as entrevistas aos humanitários, vocês participaram todos ou foi só o Tiago Rodrigues? Não, não. Participámos todos. Sim. Inclusive o Gabriel.Como é que foi esse processo? Também deve ter sido muito duro...Gabriel Ferrandini: Pois, é impossível ficar indiferente, não é? Nós, na altura, acho que foram duas ou três semanas só de entrevistas, e teve o seu lado quase meio jornalístico incrível e também teve um lado meio horrível porque ou são pessoas a explodir ou crianças a morrer... Lá está, nós tocamos neste material e estamos à procura de nós mesmos, mas eu acho que de certa forma também mudou-me um bocado. As pessoas que nós conhecemos, as histórias que nós ouvimos e a responsabilidade agora de ... Porque não é uma apropriação, ou pelo menos estamos a tentar que não seja, mas é uma responsabilidade muito grande porque estas pessoas, muitas delas, não têm voz e nós vimos o quão disponíveis e fascinadas elas estavam de finalmente haver pessoas que querem ouvir. E a própria peça fala disto. Como aquela história da família, eles estão a beber copos e, de repente, quando conta uma história, a festa acaba. E estávamos ali nós super disponíveis para ouvir estas histórias. De repente, agora, vens aqui, e isto tem um peso brutal e esse peso foi-nos transmitido, não é?Falou da responsabilidade. A peça insiste na ideia de que “Vou salvar o mundo; não posso salvar o mundo; o mundo não pode ser salvo”. A peça, em si, pode salvar alguma coisa?Isso acho que é a grande questão sempre da arte e desta coisa de - eu nem sei se isso existe - de salvar ou não salvar. Porque o salvar o mundo é uma coisa demasiado gigantesca e abstracta. Só que aqui, de repente, não é. Realmente estamos num palco, estamos duas horas num palco e eu estou em palco. E as pessoas estão aqui e esse momento de troca é mesmo real. E não há volta a dar e é aí que vem a responsabilidade. Eu estou aqui a falar sobre isto e eu tenho mesmo que falar sobre isto. Eu lembro-me das caras das pessoas com quem estivemos e lembro-me da cara da Beatriz quando ouviu uma história. Todos nós estávamos não só a ouvir isto, mas também a ter estas coisas dentro de nós e isto depois é este tal jogo de como ser mais ou menos fiel à realidade. Mas, de repente, isto é uma cena completamente humana. Estamos a falar de hipocrisia, de desespero, de esperança, de depressão. Isto não é só deles, dos humanitários. Isto é uma coisa comum a todos nós, não é?Até que ponto é finalmente ético fazer um espectáculo sobre o sofrimento dos outros?Esse é o lado perverso da arte, não é? Ou pode ser. No fim estamos a ser aplaudidos. Na sociedade do espectáculo é um bocado impossível fugir ao aplauso. Este um espectáculo. É importante ter esse pudor, esse respeito, sem ter a questão “Coitadinhos, são os humanitários, temos de ter um respeito e não se pode brincar com isto ou não podemos ter a liberdade para também a partir daqui extravasar para outros sítios”. Claro que sim. Eu acho que é assumir que essa perversidade existe. Há pessoas que estão confortáveis a ver um espectáculo. Nós não estamos a viver a catástrofe do outro, mas podemos ter compaixão, podemos ouvir, podemos escutar outras realidades, ter acesso a elas sem, por isso, ser perversos, sem por isso desejar mal ao outro ou lucrar com isso no sentido mau da palavra.Também podemos sair transformados de um espectáculo...Beatriz Brás: Claro que sim, mas isso aí não está no nosso controlo.Gabriel Ferrandini: Estamos a tentar, não é?Beatriz Brás: Sim, isso é discutível, mas sim, claro.Gabriel Ferrandini: É uma questão interessante e, se calhar, não respondendo directamente, mas há uma coisa que o Tiago é de uma inteligência fora do normal e esta coisa do Impossível tem um bocado a ver com isso, que é: se nós dissermos a guerra aqui ou a catástrofe ali ou os coitadinhos dali ou os corajosos dali... O Tiago põe o carimbo do Impossível: nós fomos ao Impossível, nós viemos do Impossível e esse jogo é, na verdade, a dizer que estamos todos a sofrer, eu acho que a peça está a tentar falar disso. Isto, no fim do dia, até pode nem ser sobre os humanitários. Estamos a falar sobre desespero humano porque ele diz “há crianças”, mas crianças de onde? O que é que aconteceu? Não estamos a dizer a geografia. Quando o Tiago, de uma forma incrível e muito elegante, agarra nesta coisa do Impossível, eu acho que está a aproximar em vez de nos estar a afastar. Não deixa de ser uma coisa política, mas sem falar sobre as ferramentas muito exactas, está a falar do “backstage”.Como é que se transporta todo esse desespero, toda essa desilusão para a música? Como é que compôs para este espectáculo?Para ser sincero, eu hei-de ter uma coisa que há-de ser a minha linguagem. E as coisas que eu opto por usar e não usar e, no final, foi só uma espécie de adaptação de uma parte do que eu faço com este tipo de material. O mais incrível e a grande lição que eu tive aqui - porque é sempre um grande medo de cair numa coisa muito estética porque se pode cair num vazio - aquilo que a mim ajudou mesmo para fazer aquilo que viste hoje são as histórias. Portanto, é o lado emocional de como é que eu me senti e não precisa de ser uma coisa tipo: “Ah, estão a falar de uma bomba e eu faço um som de uma bomba.” Não. Como hoje, foi um espectáculo que eu acho que correu-nos bem e saímos, pelo menos eu, meio emocionado, electrificado porque são estes momentos raros, são estes pequenos milagres de perceber que realmente isto vem tudo do mesmo sítio, aquelas pessoas com quem nós falámos, a música que eu quero fazer, as coisas que o Tiago está a tentar falar, o fado a falar sobre o medo. A Amália Rodrigues já escreveu isto há... Isto está tudo ligado, não é? E, para mim, foi mesmo muito natural chegar a este sítio que viste hoje.
A 77ª edição do Festival de Avignon arranca esta quarta-feira e decorre até 25 de Julho com uma programação que tem como “fio invisível” a capacidade dos artistas transformarem a vulnerabilidade humana em invenção de outras formas de se viver. A descrição é feita pelo seu director, o português Tiago Rodrigues, para quem Avignon representa o “combate pela liberdade artística”. Tiago Rodrigues é o director artístico do mais icónico festival de teatro da Europa, o Festival de Avignon, cuja 77ª edição arranca esta quarta-feira e decorre até 25 de Julho. O encenador, actor, dramaturgo português é o primeiro artista não francês aos comandos do festival e a sua primeira programação tem a língua inglesa como convidada. No cartaz, há 44 espectáculos franceses e internacionais, 55% são assinados ou co-assinados por mulheres, nomeadamente o que abre o evento na mítica Cour d'Honneur do Palácio dos Papas da encenadora francesa Julie Deliquet, a segunda mulher encenadora a fazê-lo depois de Ariane Mnouchkine. Tiago Rodrigues defende e repete que “é urgente a liberdade artística”, que se deve “oferecer aquilo que está no código genético do Festival de Avignon que é uma grande pluralidade de estéticas” e que cabe a Avignon criar “pontes de diálogo artístico e cultural”.RFI: Desde 1947, a encenadora francesa Julie Deliquet é apenas a segunda mulher a abrir o festival na Cour d'Honneur do Palácio dos Papas. Porque decidiu fazê-lo? Tiago Rodrigues, Director do Festival de Avignon: A primeira escolha foi abrir o festival com o trabalho da Julie Deliquet que é um trabalho absolutamente formidável por duas características fundamentais. Uma é a singularidade do seu trabalho com as actrizes e com os actores. É uma grande directora de actores e de actrizes que trabalha sempre experimentando, mudando a cada noite a ordem das cenas, reinventando, o que dá uma frescura vital à interpretação das actrizes e dos actores absolutamente notável. Depois, a sua capacidade de se alimentar do cinema para fazer teatro. Trata o cinema como se fosse a sua biblioteca de reportório teatral e transforma cinema em teatro, mas num teatro que é esse teatro singular das pessoas, das actrizes e dos actores, da palavra, muito próximo de um teatro de uma grande acessibilidade popular e muito íntimo com o público mesmo num espaço tão grande como a Cour d'Honneur. Foi depois dessa escolha e do projecto “Welfare”, a partir do filme documentário de Frederick Wiseman, que nos demos conta, felizes, que era a segunda encenadora – segunda mulher francesa encenadora - a abrir o festival na Cour d'Honneur desde 1947, sucedendo a Ariane Mnouchkine, apesar de ter havido coreógrafas francesas e outras, Mathilde Monnier, Pina Bausch, Anne Teresa De Keersmaeker, que apresentaram o seu trabalho na Cour d'Honneur, mas no caso do teatro apenas duas mulheres desde 1947, o que nos dá uma medida do trabalho que ainda está por fazer. Mas não a convidámos por ser uma mulher. Ficámos foi muito felizes que a nossa escolha artística coincidisse com uma visão que é também política, com princípios e valores que defendemos.Nesta edição, fala-se, em palco, de feminicídios e violências contra as mulheres com Carolina Bianchi e Mathilde Monnier; de racismo com os Elevator Repair Service e Rebeca Chaillon; de escravatura com Emilie Monnet; de violência sobre os Sem Terra na Amazónia com Milo Rau; de guerra e mundos impossíveis consigo… Qual é a ambição e a linha de força?Eu julgo que nós seguimos os artistas. Esse é um dos combates do Festival de Avignon. É o combate pela criação, pela liberdade artística e seguir as ideias e os desejos e as urgências dos artistas. Portanto, não havia um tema, à partida, que procurássemos. Hoje, olhando para esta programação, há uma espécie de estrutura que emerge, um fio invisível que atravessa toda a programação, que é a capacidade que têm os artistas e as artistas de observar a vulnerabilidade humana, seja a vulnerabilidade colectiva, social, económica ou a vulnerabilidade individual, íntima, emocional, biológica, e transformar essa vulnerabilidade em criação. Olhar para a fragilidade, para a dificuldade, para a complexidade e ver aí um território fértil para a invenção e, muitas vezes, a invenção de uma fantasia, de um imaginário de outras formas de vivermos. Encara o teatro como uma grande utopia popular, um lugar de assembleia, de união e reunião, que deve fazer pensar e agir. No seu cartaz tem espectáculos que são murros na mesa e um apelo à resistência. Que marca quer deixar o Tiago Rodrigues nesta sua primeira edição? O Festival de Avignon de Tiago Rodrigues é a afirmação de que é urgente um teatro de intervenção e contar histórias da desobediência? Eu acho que é urgente a liberdade artística e eu acho que há artistas que têm um compromisso político, social que exprimem através da sua criação artística. Mas também há enormes artistas, muitos deles presentes também nesta programação, que não têm um discurso explícito sobre o seu compromisso artístico, embora o possam ter, mas não fazem aquilo que nós chamaríamos um teatro político. Eu penso no coreógrafo japonês Michikazu Matsune que trabalha com Martine Pisani - grande coreógrafa francesa que está pela primeira vez no Festival de Avignon - sobre a escrita coreográfica das suas primeiras peças, agora que o seu corpo já não pode dançá-las. Por exemplo, este trabalho sobre a passagem do tempo é um trabalho que também tem uma dimensão política, mas é sobretudo poético. Penso, por exemplo, no espectáculo “Paysages Partagés”, um espectáculo com sete espetáculos dentro, um grande passeio de sete horas na natureza, onde estão aliás, porque falamos em português, artistas portugueses. Vítor Roriz e Sofia Dias assinam uma das peças deste projeto de sete peças que não é necessariamente explicitamente político, mas obviamente que ao colocarmos a paisagem e o mundo natural no centro de um espectáculo há um compromisso com a sociedade, com o mundo, ecológico, poético que quer ser proposto ao público. É essa grande diversidade de olhares para o mundo, alguns mais explicitamente políticos, outros mais poéticos e outros ambos poéticos e políticos que nós queremos propor ao público. Nem só de teatro é feito o Festival de Avignon. Há dança e concertos de homenagem a Lou Reed, David Bowie e Neil Young... Há uma vontade de “desierarquizar” as artes de palco?Há uma vontade de oferecer aquilo que está no código genético do Festival de Avignon que é uma grande pluralidade de estéticas e acho que hoje, pensando numa programação para um público que também desejamos muito diverso, temos que ter a riqueza de diversidade em palco. Não podemos esperar ter uma grande diversidade de público - e quando falo de diversidade, falo de diversidade cultural, diversidade social, diversidade de origens étnicas, por exemplo - não podemos ter essa diversidade na plateia completamente se não a tivermos também no palco. A riqueza da diversidade em palco é muito importante e aí entram as estéticas - algumas mais acessíveis, outras mais complexas - entram os temas dos trabalhos, entram os intérpretes, os corpos, a representatividade dos corpos. É muito importante também que quem está na plateia se veja, de alguma forma, em palco e se possa identificar e se possa relacionar, não se sinta a observar o outro o tempo todo, que se possa também observar a si mesma ou a si mesmo. E esse jogo de diversidades na plateia e no palco é um jogo que implica um pensamento sobre a inclusão, sobre a acessibilidade que é muito importante para nós e que toca também a programação artística. E o lado político mais uma vez... A anulação do espectáculo “Os Emigrantes” de Krystian Lupa levou-o a apresentar o seu “Dans la mesure de l'impossible”, que também descreve situações limite na escala da experiência humana. Porquê esta peça?Esta peça porque, em primeiro lugar, era preciso ocupar, à última da hora, um espaço deixado vazio pela anulação de um espectáculo que não conseguimos tornar possível depois de ter sido anulado na sua estreia e porque não existia. E por um motivo, para já, de ser um espectáculo que está a circular presentemente. “Na medida do impossível” em português, “Dans la mesure de l'impossible” foi mesmo agora apresentado na Roménia no Festival de Sibiu. Vai estar no Festival de Edimburgo em Agosto e, entre digressão, havia esta possibilidade de o apresentar em Avignon. Achei que, enquanto director, convidar artistas ou companhias à última da hora para uma substituição é, de alguma forma, expor esse artista, essa companhia, a encontrar o público embora não fosse a primeira escolha. É uma substituição à última da hora. É, como nós diríamos em Portugal, para desenrascar. E se é para desenrascar, prefiro expor-me a mim a ocupar este lugar e correr o risco de ser olhado como uma escolha de última hora.E também porque sempre disse que, uma vez que é para resolver um problema do festival, impedindo que o festival tenha um grande prejuízo financeiro ao não ter nenhum espectáculo nessas datas, eu sempre disse desde o início que o meu trabalho artístico estaria ao serviço do festival de Avignon e nunca ao contrário e, portanto, já desde a primeira edição, graças a um imprevisto infelizmente, tenho a oportunidade de o provar. “Não basta representar o mundo, é preciso mudá-lo”, diz um dos encenadores que convidou, Milo Rau. Dá ideia que o teatro radical de Milo Rau também inspira de certa forma o teatro de Tiago Rodrigues. “Dans la mesure de l'impossible” conta situações brutais e cenas, digamos, impossíveis de ver mas que aconteceram. Um dos trabalhadores humanitários conta: “Há coisas que vemos no nosso trabalho, coisas tão obscenas, tão horríveis, que não deveriam ser mostradas em palco”… Como é que se representa o que não é representável e que impacto espera que isso tenha no espectador?Julgo que a capacidade de evocação, de poesia, que existe no teatro permite mostrar, mas também permite fazer imaginar. Muitas vezes, nos ensaios desta peça “Na medida do Impossível – Dans la mesure de l'impossible” estávamos face, precisamente, ao impossível. Havia histórias que achávamos que não podíamos contar, mas o poder da evocação, o poder de fazer imaginar o público às vezes é mais forte do que a descrição ou mostrar uma cena. Aí entra, por exemplo, mais um português, Gabriel Ferrandini, enorme baterista, músico português, que muitas vezes está lá para nos dar em música aquilo que nós não temos palavras para descrever: muitas vezes o horror, a violência.O festival termina consigo em palco, frente a frente com o público, com o “By Heart”, em que lhe vai ensinar, de cor, um soneto de Shakespeare. A dada altura ouve-se “A resistência são homens e mulheres que aprendem de cor livros proibidos”... Num mundo em que a memória se vai perdendo, que peso tem esta peça na sua primeira edição?É uma peça que é talvez a minha peça mais pessoal. Eu costumo dizer que se alguém me quiser conhecer, melhor do que passar 15 dias comigo, é ver o “By Heart” durante uma hora e meia e fica a conhecer-me. É o meu cartão-de- visita, uma espécie de passaporte artístico, mas também pessoal. E é uma peça que conta a minha história também com a França. Eu criei-a há dez anos, em Lisboa, no Teatro Maria Matos, mas depois apresentei em Paris, no Théâtre de la Bastille. Desde essa altura, comecei a estar muito mais presente em França e, de alguma forma, terá contribuído, terá sido um dos trampolins que fez com que eu emigrasse o ano passado e agora viva em França e trabalhe na direcção do Festival de Avignon. Para mim, era uma possibilidade de um encontro poético, mas palpável, muito real, com o público deste festival para me dar a conhecer não apenas como director, mas também enquanto ser humano e enquanto artista.Este ano, é a língua inglesa a convidada. Mas há apontamentos lusófonos muito fortes, como « A Noiva e o Boa Noite Cinderela” da brasileira Carolina Bianchi, o “Antígona na Amazónia” de Milo Rau, o “Black Lights” de Mathilde Monnier com Isabel Abreu e Carolina Passos Sousa. Também tem duas peças suas. Ou seja, a língua inglesa - dominante, de modo geral, - domina mesmo esta edição ou é só uma forma de contrariar a separação do Brexit e de alargar fronteiras num festival francês?Acho que as duas coisas. Por um lado sim, a escolha da língua inglesa é uma resposta contra o Brexit, dizer que nas artes, na cultura, não aceitamos essa separação e que essas muralhas políticas serão contrariadas com pontes - mesmo que em Avignon não sejamos geniais a construir pontes porque há séculos que temos uma incompleta - mas pontes de diálogo artístico, cultural, que vamos continuar a construir com a língua inglesa, não apenas com o Reino Unido, mas com os países de língua inglesa e acho que há uma grande presença da língua inglesa, muito maior do que nas últimas décadas no Festival de Avignon. São sete espectáculos falados em língua inglesa no festival, mas também muitos artistas franceses que se inspiram de Shakespeare, de Virginia Woolf, de Wiseman, para criar os seus espectáculos e, depois, também a presença de grandes protagonistas da língua inglesa: a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie vai estar connosco para entrevistas públicas, leituras dos seus romances, para participar numa criação radiofónica da France Culture. Há todo um universo de presença da língua inglesa que me parece bem palpável, bem real e muito importante para o público do festival, para afirmarmos este festival cada vez mais como um festival poliglota, um festival do mundo, que convida o mundo, mas que também constrói o mundo. Para construir esse mundo, como é que Avignon pode ser uma utopia de teatro popular quando tudo fica tão caro, quando os bilhetes são tão caros e quando o próprio alojamento em Avignon é caro? Os bilhetes não são caros em Avignon. Os bilhetes têm tarifas altamente democráticas. Por dez euros, um jovem com menos de 26 anos ou uma pessoa dos grupos mais vulneráveis em termos económicos pode aceder a um espectáculo. Isso significa que em Avignon, por exemplo, comparando com esse grande espectáculo que eu também gosto muito que é o futebol, esse grande espectáculo popular, em Avignon nós podemos ver oito a dez espetáculos em vez de um bilhete para ficarmos mal sentados num estádio de futebol. Isso é uma prova da dimensão democrática em termos de tarifário do Festival de Avignon.Uma das coisas que reconhecemos é que efectivamente é difícil o alojamento em Avignon e mesmo a viagem, embora 40% do nosso público seja local. É uma ilusão dizer-se que em Avignon é uma invasão parisiense porque há mais público local do que vindo de Paris em Avignon. Mas, mesmo sabendo que mais de metade do nosso público se desloca para vir a Avignon, isso levou-nos, por exemplo, a antecipar a bilheteira em mais de dois meses. Em vez de abrirmos a bilheteira em Junho, agora abrimos em Abril, o que permitiu a muitos milhares de pessoas alojarem-se mais barato, mais cedo, comprarem bilhetes de comboio ou de avião mais cedo e, portanto, mais baratos também.Há estratégias, embora não possamos controlar o mercado, nós estamos mais do lado do serviço público porque somos uma associação sem fins lucrativos, mas tentamos compensar com estratégias isso que é uma economia com um nível de especulação bastante assustador. Mas também estamos em conversa com a cidade de Avignon, com o poder local, com o Estado e também com os privados para encontrar modos de regulação que permitam que o Festival de Avignon continue a ser acessível ao maior número de pessoas e que, sobretudo, a questão económica não seja um travão. Foi a razão pela qual criámos o projecto, pela primeira vez, que permite que 5.000 jovens venham este Julho a Avignon com viagens, alojamento, organizados em grupo, para ver 19 espectáculos dos 44 da programação, encontrar artistas, participar em ateliers, participar em actividades de moderação cultural. Esses 5.000 jovens vão ser uma espécie de exército pacífico de descoberta deste festival porque virão pela primeira vez e se este projecto não existisse, aí sim, efectivamente, os travões económicos não permitiriam que esses jovens estivessem no festival, descobrissem este festival e descobrissem também aquilo que é vivê-lo pela primeira vez e poder ser transformado como eu fui quando o vivi pela primeira vez.
Edição de 22 Dezembro 2022
O encenador e dramaturgo português, Tiago Rodrigues, assumiu a direcção do festival de Avignon no passado dia 1 de Setembro. Em entrevista à RFI, Tiago Rodrigues confidencia que ainda hoje fazer teatro para combater a solidão: "Fazer teatro é uma forma de combater a solidão, participar do mundo, mas participar do mundo com o outro". RFI: Qual é a sua primeira memória de teatro ou de ir ao teatro, Tiago? Tiago Rodrigues: Julgo que a memória mais antiga que tenho é de ir ao Parque Mayer e acho que foi com o Fernando Mendes, que é a figura popular que todos conhecemos em Portugal, que era um dos meus heróis de infância. O parque Mayer era esse lugar de maravilha, de plumas, de dança e de música. Acho que em criança fui levado várias vezes ao parque Mayer e isso animou em mim uma admiração pelos artistas de teatro, com uma particularidade interessante que era depois de encontrarmos, no parque Mayer, esses mesmos artistas já sem figurinos, sem maquilhagem no restaurante ao lado ou no café, na esplanada e de podermos ver que eles eram reais. E a primeira vontade de fazer teatro? A minha vontade de fazer teatro, talvez ainda hoje seja a mesma, foi quando no liceu da Amadora, com 14 anos, quis juntar-me ao grupo de teatro. Não porque gostasse particularmente de teatro, mas porque gosto muito de ouvir contar histórias e de contar histórias. E porque não queria estar sozinho. Ainda hoje penso que faço teatro para não estar sozinho. Fazer teatro é uma forma de combater a solidão, participar do mundo, mas participar do mundo com o outro. Quando escrevo, quero escrever para actores, para estarmos a discutir aquele texto antes de o público o descobrir. Mas não penso em escrever para mim ou para um livro que outros lerão quando eu não estou lá. Gosto de escrever ou de imaginar um espectáculo porque é uma forma de criar condições de estar com o outro e participar do mundo colectivamente. Portanto, diria que, talvez ainda hoje, como aos 14 anos quando decidi ir pela primeira vez participar de um ensaio do grupo amador ' teatro a dançando', dirigido pelo professor de sociologia Jorge Pité, foi um gesto de 'olha, assim não passo o sábado sozinho e talvez vou encontrar ali malta interessante, fascinante, estranha'. E correu bem? Sim, correu bem. Mas não sei se para o teatro correu. Não sei se o teatro é feliz comigo, mas eu sou muito feliz com o teatro. Apresenta quatro espectáculos em Paris. O que é que estas quatro peças têm em comum? As pessoas? É esse o ponto de partida e de chegada quando escreve e encena? Um encontro entre as pessoas que estão no placo com as pessoas que estão na plateia. Embora goste de muitos tipos de teatro diferente, sou um espectador muito curioso de outras formas de fazer [teatro]. Mas quando eu trabalho, inevitavelmente- mesmo quando penso que vou fazer as coisas de forma diferente- acabo por fazer um teatro onde coloca as pessoas em primeiro plano. Não é o texto, não é o lado visual, não é a música, não é o movimento. O que está em primeiro plano são aquelas pessoas, especificamente aquelas, porque no teatro, que não pode ser reproduzido mecanicamente, é um momento ao vivo, singular, único dessa noite, imperfeito com o risco de poder haver um erro. É esse momento que me anima. O momento do teatro e esse momento só existe porque são pessoas mesmo a sério que estão ali, ao contrário do cinema, que é a memória de algo que já aconteceu. O teatro está mesmo a acontecer e isso é o que o torna perigoso, no bom sentido. É o momento em que nos interpela, estamos a viver aquilo enquanto espectadores, como público, com aquelas pessoas que estão ali em palco. É das pessoas que quero falar e é por isso que escrevo e faço espectáculos para que as pessoas possam estar juntas à volta desse mistério que é uma peça de teatro. Na peça "Na medida do impossível" entrevistou, com a sua equipa artística, cerca de 30 humanitários. É uma peça documentada com quatro actores em palco, aos quais se junta o percussionista Gabriel Ferrandini. É um espectáculo sobre a fragilidade e sobre os limites de dois mundos; o mundo possível e o mundo impossível. Esta peça aborda esta fronteira de que o que hoje é possível poderá deixar de o ser dentro de minutos, horas ou anos.. É sobre a fragilidade da condição humana? É sim. É sobre a forma como trabalham os humanitários que nós entrevistamos. Falámos com cerca de trinta trabalhadores em ajuda humanitária, que trabalham no Comité Internacional da Cruz Vermelha e nos Médicos Sem Fronteiras. Como esses trabalhadores têm uma experiência particular do mundo, porque estão entre esses dois mundos; o do possível, onde temos acesso aos direitos humanos e aos bens essenciais, e o do impossível, onde falta tudo e onde há conflito, violência, catástrofe. São mundos que estão sempre a mudar, como infelizmente nós vemos com esta guerra criminosa e inaceitável na Ucrânia. Um país que estava no possível e agora está a viver o impossível. Nós perguntávamos se estes trabalhadores em ajuda humanitária se, ao viver entre estes dois mundos, não teriam uma visão do mundo que seria interessante o teatro partilhar. Essa visão do mundo é de uma complexidade muito interessante é de uma grande emoção também. É isso que nós tentamos apresentar ao pública através das ferramentas do teatro, mas também atras da ficção, partindo destas histórias e destas entrevistas que recolhemos com cerca de três dezenas de trabalhadores em ajuda humanitária. Emoção é uma palavra muito forte nesta peça. O público sente emoções quer seja através das histórias narradas, mas também da própria emoção que os quatro artistas transmitem, do músico em palco e do fado cantado pela actriz Beatriz Brás. Sim. A peça é sobretudo em francês, mas também em inglês e depois com algumas partes noutras línguas, nomeadamente, em português. Existe um momento na peça que é absolutamente fundamental, momento em que essa maravilhosa actriz, que é a Beatriz Brás, que é também uma notável cantora, canta um fado, celebrizado pela Amália Rodrigues 'O Medo'. Foi um fado que, curiosamente, entrou na peça pelo facto de um dia estarmos a entrevistar um trabalhador em ajuda humanitária, e ele nos contar histórias particularmente difíceis. Foram muitas horas de entrevista e depois ficámos todos juntos a beber um copo, entre portugueses e suíços, porque estávamos em Genebra a preparar aquele espetáculo, e começámos a falar de algumas histórias, que achávamos demasiado duras, demasiado difíceis para partilhar em palco. Para as quais o nosso pudor não permitia que as usássemos, por explorar sentimentalmente histórias de sofrimento, histórias que eram quase indescritíveis. No meio daquela situação agridoce, num ambiente um pouco pesado, depois de um dia de trabalho difícil em que ouvimos histórias muito duras, pensando 'como é que vamos tratar isto juntos', disse à Beatriz: 'Beatriz canta aí um fado - não era para animar, porque um fado nem sempre anima, mas põe-nos em contacto com a nossa profundidade, com a nossa humanidade- e eu sei que a Beatriz canta muito bem. A meio do fado, consegui ver nos olhos dela e na expressão de todos que esse fado contava as histórias todas que nós podemos contar. Ainda hoje, só de dizer isto fico emocionado. "Catarina e a beleza de matar fascistas" estreia esta noite em Paris e não numa sala qualquer, estreia no teatro do saudoso Peter Brook. O espectáculo foi aclamado em Portugal. É uma peça que decorre temporalmente em 2028, combater extremismo é também uma luta do teatro ? Penso que o teatro que me interessa fazer é um teatro que o coloca questões. Não é um teatro panfletário, mas é um teatro que tem, inevitavelmente, uma dimensão política que já tinha o teatro em Atenas, quando os atenienses se reuniam à volta de histórias antigas para pensar a sociedade através da arte. Interessa-me um teatro que coloque questões ao público e a questão que é colocada neste espetáculo é uma questão sobre a democracia: como é que vamos defender a democracia face à ameaça: do crescimento dos extremismos, da extrema-direita, dos populistas, de inspiração fascista que observamos na Europa e no mundo? Aliás, o paradoxo, o famoso paradoxo da tolerância reside no facto de sermos tolerantes em relação aos intolerantes, permanecendo democráticos, mas arriscando que a democracia desapareça. Ou, por outro lado, temos que ser intolerantes em relação aos intolerantes? Aí arriscamos a ser violentos, ser ilegais e jogar fora do campo da democracia, mesmo que queiramos defendê-la. Essa dúvida, esse dilema está no centro deste espetáculo. É uma questão política, mas neste espetáculo é também uma questão íntima, pessoal de uma das personagens, que afecta toda uma família e que põe em causa a vida de um dos personagens da peça. É o teatro a ligar a política e o íntimo, não para fazer manifesto político, mas para colocar questões que nos interpelam na nossa vida,mas também na nossa vida colectiva.
Morreu Rogério Samora. Pedro Santo recorda o trabalho com o ator n«O Filme do Bruno Aleixo»; concertos de Nitin Sawhney em Portugal, em abril, Gabriel Ferrandini programa três noites de jazz na ZdB, em Lisboa.
Rodrigo AmadoNomeado, pelo sétimo ano consecutivo, pela prestigiada El Intruso International Critics Poll como um dos cinco melhores saxofonistas tenor em actividade, ao lado de Evan Parker, Joe Lovano, Ken Vandermark, Jon Irabagon, Ivo Perelman, James Brandon Lewis, Chris Potter ou Ingrid Laubrock, Rodrigo Amado acaba de editar "Let The Free Be Men" (Trost), o terceiro álbum do quarteto que mantém com três das mais importantes figuras do jazz livre actual - Joe McPhee, Kent Kessler e Chris Corsano. Ainda este ano, editou também “The Field” (No Business), o sétimo álbum do seu celebrado Motion Trio, aqui com a participação do lendário pianista alemão Alexander von Schlippenbach. O ano de 2021 anuncia-se intenso, com a realização prevista de uma extensa tour Europeia dos Humanization Quartet e ainda inúmeros concertos um pouco por toda a Europa. Com o seu quarteto americano, à frente dos Motion Trio, com Miguel Mira e Gabriel Ferrandini, ou integrado nos Humanization Quartet, Amado realizou nos últimos anos inúmeras tournées na Europa e nos Estados Unidos, tendo passado por salas de referência como o Snug Harbor em New Orleans, Hideout em Chicago, The Stone em Nova Iorque, Bimhuis em Amsterdão, DOM em Moscovo, Jazz House em Copenhaga, Cafe Oto em Londres, Pardon To Tu em Varsóvia, De Singer em Antuérpia, Manufaktur em Estugarda ou a State Philharmony Hall em Oradea, vendo o seu trabalho aclamado em publicações internacionais de referência como a revista The Wire, ou os jornais El País e Folha de São Paulo. Com uma série de novas tours previstas para 2021 e 2022, Amado afirma-se, cada vez mais, como um dos mais destacados improvisadores Europeus. Como refere o crítico e escritor norte-americano Stuart Broomer nas liner notes que escreveu para "This Is Our Language", "Amado is an emerging master of a great tradition, more apparent with each new recording or performance." Amado desenvolve ainda intensa actividade como fotógrafo, tendo realizado inúmeras exposições individuais (Maus Hábitos, Porto; Museu da Electricidade, Fundação EDP, Lisboa; Museu da Imagem, Braga; Galeria Módulo, Lisboa; Quase Galeria, Porto; Kameraphoto, Lisboa) e colectivas. Editou em 2012 o livro “Um Certain Malaise” (Documenta), com imagens suas e textos de Gonçalo M Tavares. Links:https://www.rodrigoamado.com/https://rodrigoamado.bandcamp.com/https://www.culturgest.pt/pt/programacao/RodrigoAmado-JoeMcPhee-KentKessler-ChrisCorsano/https://www.publico.pt/2015/09/08/video/rodrigo-amado-joe-mcphee-kent-kessler-e-chris-corsano-20150908-132231https://www.rimasebatidas.pt/rodrigo-amado-toco-um-instrumento-que-tem-o-sopro-da-liberdade/https://www.fundacaoedp.pt/pt/noticias/un-certain-malaisehttps://www.publico.pt/2018/06/15/culturaipsilon/noticia/para-rodrigo-amado-e-tempo-de-ir-mais-fundo-nas-raizes-1834127https://jazz.pt/ponto-escuta/2018/06/08/rodrigo-amado-history-nothing-trost/ https://www.timeout.pt/lisboa/pt/musica/cinco-saxofonistas-de-jazz-portugueses-que-precisa-de-ouvirhttps://www.youtube.com/watch?v=uxCYGdxkamchttps://www.youtube.com/watch?v=3Rwf5qql4Ac Episódio gravado a 29.07.2021 http://www.appleton.ptMecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando CabralFinanciamento:República Portuguesa - Cultura / DGArtesApoio:Câmara Municipal de Lisboa
Na sua crónica desta semana, Patrícia Portela viaja pela programação que acolhemos esta semana e de como nos podemos apaixonar por ela. Fala-nos de “Cordyceps” que sobe já hoje ao nosso palco, mas também do lançamento mundial do novo álbum do baterista Gabriel Ferrandini. "Boca a Boca" é o magazine radiofónico semanal do Teatro Viriato para ouvir em todo o lado, na Rádio Jornal do Centro (à quarta-feira, às 08h45 com repetição às 12h00 e às 18h10) e para ler também no site do Jornal do Centro e no Blogue do Teatro Viriato. A voz de um Teatro que vai à montanha porque não pode esquecer a mais elementar premissa de uma casa de espetáculos: a partilha. Boca a Boca podcast do Teatro Viriato Crónica "Boca a Boca": Patrícia Portela Jingles: Nuno Veiga e Virgílio Oliveira Edição: Tomás Pereira Parceria: Rádio Jornal do Centro Apoio: BPI - Fundação “la Caixa” Produção: Teatro Viriato O Teatro Viriato é uma estrutura financiada pela República Portuguesa - Cultura/Direção Geral das Artes e pelo Município de Viseu
Na crónica desta semana, Patrícia Portela lança um conjunto de questões sobre a comunicação da humanidade com a natureza. A reflexão que propõe surge a partir da programação conjunta do Teatro Viriato e do FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica que tem início já este fim-de-semana com o espetáculo “Estado Vegetal”, da encenadora e dramaturga chilena Manuela Infante. Na rubrica “Na Boca do Mundo”, entrevistamos Sérgio Hydalgo, programador musical, que na companhia da Galeria Zé dos Bois programou um ciclo de música especial para o Teatro Viriato, no qual já foi possível assistir ao concerto de Ricardo Toscado Double Trio. Em breve, ao abrigo desta parceria iremos ainda apresentar os concertos de B Fachada e de Gabriel Ferrandini. Mas são muitas as sugestões que, ao longo da próxima semana, ocupam o Teatro Viriato. Na rubrica “À Boca da Bilheteira” partilhamos todos os pormenores das mesmas. "Boca a Boca" é o magazine radiofónico semanal do Teatro Viriato para ouvir em todo o lado, na Rádio Jornal do Centro (à quarta-feira, às 08h45 com repetição às 12h00 e às 18h10) e para ler também no site do Jornal do Centro e no Blogue do Teatro Viriato. A voz de um Teatro que vai à montanha porque não pode esquecer a mais elementar premissa de uma casa de espetáculos: a partilha. Fique à escuta. Boca a Boca podcast do Teatro Viriato Crónica "Boca a Boca": Patrícia Portela "Na Boca do Mundo": Ana Filipa Rodrigues entrevista Sérgio Hydalgo "À Boca da Bilheteira": Liliana Rodrigues Apresentação: Ana Filipa Rodrigues Jingles: Nuno Veiga e Virgílio Oliveira Edição: Tomás Pereira Parceria: Rádio Jornal do Centro Apoio: BPI - Fundação “la Caixa” Produção: Teatro Viriato O Teatro Viriato é uma estrutura financiada pela República Portuguesa - Cultura/Direção Geral das Artes e pelo Município de Viseu
Num episódio gravado na Cerveteca Lisboa na semana passada, falei com o Gabriel Ferrandini, que é baterista, sobre jazz, improvisação, o trabalho dele, telenovelas, cinema, o Miles Davis, o Whiplash, cerveja e vários outros tópicos.
I dette afsnit har jeg talt med taiwanesisk/canadiske Alex Zhang Hungtai, der tidligere har udgivet musik bl.a. under navnene Dirty Beaches og Last Lizard. Senest har han tourneret sammen med de to portugisiske improvisationsmusikere David Maranha og Gabriel Ferrandini med deres fælles udgivelse Âncora. Lyt med mens Alex fortæller om at improvisere, om inspiration og samtidig drager paralleller mellem udviklingen af sig selv som musiker og som menneske. På Alex Zhang Hungtai’s bandcamp kan du finde meget af den musik han har udgivet gennem tiden, både som Dirty beaches, Last Lizard og under eget navn. Adressen hedder http://alexzhanghungtai.bandcamp.com. Undervejs bliver der spillet klip fra Dirty Beaches’ Night Walk og Displaced.
Triple sesión de improvisación libre para el programa 215 de HDO, del 30 de diciembre de 2016, que sirve para cerrar un año (y únicamente para eso). Suenan as the wind (Psi, 2016) de Evan Parker, Mark Nauseef, Toma Gouband; In Cahoots (Clean Feed, 2016) de Ned Rothenberg, Mark Feldman, Sylvie Couvoisier; finaliza con la primera cara del LP, la extensa “One For Adam”, de Salao Brazil (NoBusiness Records, 2016) de John Dikeman, Luis Vicente, Hugo Antunes, Gabriel Ferrandini, magnífico ejemplo de los objetivos, desarrollos y formulación de la libre improvisación en vivo y en directo. © Pachi Tapiz, 2016 HDO es un podcast editado, presentado y producido por Pachi Tapiz Toda la información de HDO 215 en http://www.tomajazz.com/web/?p=28408 Toda la información de HDO en http://www.tomajazz.com/web/?cat=13298
Rodrigo Amado es uno de los músicos más reputados de la escena portuguesa de jazz. En esta edición de 'Club de Jazz' del 14 de diciembre de 2016, conversamos con el saxofonista con motivo de la publicación de "Desire & Freedom", nuevo trabajo de su Motion Trio, que comparte desde 2009 con Miguel Mira (chelo) y Gabriel Ferrandini (batería). El trío ha grabado con anterioridad con invitados como el trompetista Peter Evans y el trombonista Jeb Bishop, y además Rodrigo presentó el año pasado "This is our language", un disco en el que compartió espacio con Joe McPhee, Chris Corsano y Kent Kessler. Toda la información y derechos: http://www.elclubdejazz.com
Rodrigo Amado es uno de los músicos más reputados de la escena portuguesa de jazz. En esta edición de 'Club de Jazz' del 14 de diciembre de 2016, conversamos con el saxofonista con motivo de la publicación de "Desire & Freedom", nuevo trabajo de su Motion Trio, que comparte desde 2009 con Miguel Mira (chelo) y Gabriel Ferrandini (batería). El trío ha grabado con anterioridad con invitados como el trompetista Peter Evans y el trombonista Jeb Bishop, y además Rodrigo presentó el año pasado "This is our language", un disco en el que compartió espacio con Joe McPhee, Chris Corsano y Kent Kessler. Toda la información y derechos: http://www.elclubdejazz.com
A special edition of the Spanish Jazz radio show 'Club de Jazz' where we conducted an interview with Rodrigo Amado. Rodrigo Amado (Lisbon, 1964) is one of the most renowned jazz musicians in the Portuguese jazz scene. In 2009 he formed the Motion Trio along with Miguel Mira (chelo) and Gabriel Ferrandini (drums), with whom he has just released "Desire & Freedom". Along the years, Rodrigo has played with Peter Evans, Jeb Bishop, Joe McPhee and Paal Nilssen-Love, among others. Besides his jazz musician role, Rodrigo is also a photographer and also writes about jazz for a Portuguese newspaper. The interview was originally broadcasted on December, 14th 2016. All rights reserved: http://www.elclubdejazz.com
A special edition of the Spanish Jazz radio show 'Club de Jazz' where we conducted an interview with Rodrigo Amado. Rodrigo Amado (Lisbon, 1964) is one of the most renowned jazz musicians in the Portuguese jazz scene. In 2009 he formed the Motion Trio along with Miguel Mira (chelo) and Gabriel Ferrandini (drums), with whom he has just released "Desire & Freedom". Along the years, Rodrigo has played with Peter Evans, Jeb Bishop, Joe McPhee and Paal Nilssen-Love, among others. Besides his jazz musician role, Rodrigo is also a photographer and also writes about jazz for a Portuguese newspaper. The interview was originally broadcasted on December, 14th 2016. All rights reserved: http://www.elclubdejazz.com
En la entrega 203 hincamos el diente, a tema por CD, a cinco novedades discográficas: “The” de Before The Silence (del siempre interesante sello lituano NoBusiness Records) del cuarteto formado por Albert Cirera, Hernâni Faustino, Gabriel Ferrandini, Agustí Fernández –anunciado inicialmente como Albert Cirera Lisbon Trio + Agustí Fernández-, en una grabación realizada en la Jazz Cava de Vic, que ya pudimos disfrutar en Tomajazz en forma de Instantzz de Joan Cortès; “Et la roue de la vie”, un tema clásico de Valentin Clastrier suena en la versión recogida en el CD Fabuloseries (Home Records), grabada por este maestro de la zanfoña y el clarinetista y saxofonista Steven Kamperman; el tercer tema es “Liberty” de Desire & Freedom (Not Two), del Rodrigo Amado Motion Trio formado por Miguel Mira, Gabriel Ferrandini y el propio Rodrigo Amado; el cuarto ingrediente del programa es “Hobby Lobby Horse” del CD Sedimental You (Clean Feed) de Mark Dresser Seven, formación en la que participan Nicole Mitchell, Marty Ehrlich, David Morales Boroff, Michael Dessen, Joshua White y Jim Black; finaliza la entrega con el tema que da título a The Joy Of Being (NoBusiness Records) de François Carrier, Michel Lambert, Rafal Mazur. © Pachi Tapiz, 2016 HDO es un podcast editado, presentado y producido por Pachi Tapiz. Toda la información de HDO 203 en http://www.tomajazz.com/web/?p=27850 Toda la información de HDO en http://www.tomajazz.com/web/?cat=13298
El saxofonista Albert Cirera se presentó en el Festival de Jazz de Vic (Catalunya) con su Lisbon Trio, el que comparte con el contrabajista Hernani Faustino y el baterista Gabriel Ferrandini, e invitó a quien fuera su profesor, el pianista Agustí Fernández. En esta edición de 'Club de Jazz' del 16 de mayo de 2015 conversamos con ambos y escuchamos la actuación que ofrecieron el pasado 9 de mayo en Vic, además de grabaciones del Liquid Trío, Free Art Ensemble, Duot y Malson, así como un directo del Lisbon Trio junto a Pablo Rega. Además, "desde mi cadiera" Jesús Moreno presenta una grabación en directo de 1970 del saxofonista Joe McPhee. Toda la información y derechos: http://www.elclubdejazz.com
El saxofonista Albert Cirera se presentó en el Festival de Jazz de Vic (Catalunya) con su Lisbon Trio, el que comparte con el contrabajista Hernani Faustino y el baterista Gabriel Ferrandini, e invitó a quien fuera su profesor, el pianista Agustí Fernández. En esta edición de 'Club de Jazz' del 16 de mayo de 2015 conversamos con ambos y escuchamos la actuación que ofrecieron el pasado 9 de mayo en Vic, además de grabaciones del Liquid Trío, Free Art Ensemble, Duot y Malson, así como un directo del Lisbon Trio junto a Pablo Rega. Además, "desde mi cadiera" Jesús Moreno presenta una grabación en directo de 1970 del saxofonista Joe McPhee. Toda la información y derechos: http://www.elclubdejazz.com