POPULARITY
O filme “Salazar - Le Portugal à quitte ou double”, de Bruno Lorvão e Christiane Ratiney, que vai ser difundido no canal France 5, a 22 de Dezembro, recorda o papel de Portugal durante a Segunda Guerra Mundial e como é que Salazar mantinha relações diplomáticas e comerciais tanto com Winston Churchill quanto com Adolf Hitler. Bruno Lorvão falou-nos sobre "o país esquecido na Segunda Guerra Mundial" e como o conflito permitiu a Salazar consolidar a ditadura que viria a ser a mais longa da Europa. RFI: O filme chama-se “Salazar - Le Portugal à quitte ou double”. Queria que nos explicasse o título e a partir daí fizesse um pequeno resumo do filme...Bruno Lorvão, Realizador: "O título está ligado ao póquer, ao jogo de cartas, e em português pode-se-ía traduzir por tudo ou nada. A situação de Portugal era uma situação rara no continente europeu, era um país que conseguiu ter relações comerciais e políticas com os dois blocos que se enfrentavam. É um país esquecido na história da Segunda Guerra Mundial e esse papel de neutralidade teve alguma importância no decorrer da guerra."Porque decidiu fazer um filme sobre Salazar, o homem que implementou a ditadura mais longa da Europa? Não é, de certa forma, dar palco a um ditador?"É dar chaves de compreensão sobre o que se passou naqueles anos em Lisboa e em Portugal. É uma história desconhecida fora de Portugal e muito pouco conhecida em Portugal. Por isso, são duas boas razões para contar essa história e para sabermos mais sobre o nosso país e sobre a história de Salazar também."Contou-me, nos bastidores, que é um dos primeiros filmes que fala especificamente sobre este tema. Quer explicar-nos?"Exacto. Há um filme documentário só de arquivos chamado “Fantasia Lusitana” que é um filme muito bonito que fala de Lisboa durante a Segunda Guerra Mundial e, de alguma forma, também de Salazar. O nosso é inédito pelo facto de, pela primeira vez, um filme ir buscar o trabalho histórico feito pelos historiadores e tenta sintetizar esses cinco anos de história de Lisboa durante a Segunda Guerra Mundial, que é uma história de diplomacia, uma história de relações económicas, uma história complexa que não foi nada fácil de sintetizar em 52 minutos com a Christiane Ratiney. É um filme que vale a pena quando nos interessamos pela Segunda Guerra Mundial. Vale a pena descobrir."O filme tem imagens de arquivo, ilustração, fotografias… Sabendo que Salazar era conhecido como um ditador austero que fugia das câmaras, de onde vêm estas imagens e como é que construíram este documentário?"Grande parte dos arquivos vêm da Cinemateca Portuguesa e das produções do Estado Novo, dos boletins informativos que eram da propaganda. E aí encontramos as poucas imagens de Salazar, de Carmona, que era o Presidente da República na época, e fomos buscar alguns arquivos à BBC, e alguns arquivos privados.É um filme feito com 100% de arquivos, mas tivemos que recorrer à animação para entrar no escritório de Salazar, no Palácio de São Bento, a residência oficial dos primeiro-ministros. E aí desenhámos um Salazar, inventámos um Salazar, um escritório como era naquela época, para podermos contar aquela pressão que Salazar teve durante estes três, quatro anos e que são chaves para perceber a duração de Salazar nos 30 anos que se seguiram. Ou seja, se Salazar chegou até ao fim dos anos 60 ileso, foi graças, em grande parte, ao papel que ele teve na Segunda Guerra Mundial."Quais são os principais factos que vocês contam no documentário e que, como dizia, não são assim tão conhecidos? Como é que Salazar conseguiu fazer este jogo duplo com os Aliados e com a Alemanha nazi?"Factos há vários. Há fases. A primeira fase é a fase dos refugiados, várias dezenas de milhares de refugiados que chegaram a Portugal e a Lisboa, que tiveram um impacto forte, muitos deles judeus. Um outro facto é que Portugal tinha volfrâmio, que era um mineral importante para a indústria militar alemã, e as minas mais importantes de volfrâmio na Europa do Oeste eram em Portugal. A partir daí, a Alemanha precisava de Salazar e de ter relações económicas com Salazar. Depois houve outro tema que era que Franco ameaçou invadir Portugal. Salazar foi jogando aquele jogo, sendo Portugal o mais velho aliado dos ingleses e o regime sendo de cultura fascista - que tinha relações com Franco, Mussolini e Hitler - ele foi ali tendo relações com as duas frentes."No início do filme, a narradora conta que em Junho de 1940 Salazar sabe que a independência de Portugal está ameaçada porque o país é só um peão no tabuleiro das grandes potências, numa altura em que a Europa está a ferro e fogo e só Churchill resiste ainda a Hitler. Salazar, ditador fascista mas aliado histórico de Inglaterra, acaba por transformar esta fragilidade numa força…"Também vemos que Lisboa é a única capital do mundo onde temos alemães e ingleses e onde se pode apanhar um avião - se as pessoas tiverem boas relações, claro - de Berlim até Lisboa, passando por Barcelona e depois apanhar um avião de Lisboa até Londres."Como é que isso acontece e até que ponto é que realmente Portugal foi neutro? Que neutralidade era esta? "A neutralidade é muito relativa, mas Salazar percebeu que nem os Aliados nem o Eixo queriam abrir uma nova frente militar porque abrir uma frente militar na Península Ibérica era pedir um esforço a mais às estruturas militares de cada uma das frentes. A partir daí, Salazar sabia que tinha ali um espaço de negociação com Hitler e com Churchill. A única preocupação que ele teve foi com Franco nos primeiros meses. Salazar não deixa de ser uma personagem intrigante na maneira como ele conseguiu organizar este papel bem particular de Portugal durante a Segunda Guerra Mundial."Voltemos aos cerca de 20.000 refugiados europeus que chegam a Portugal. No filme, contam que Lisboa era “uma sala de espera a céu aberto” de milhares de pessoas que esperavam ir para a América. Lisboa era mesmo considerada “o último porto livre da Europa”, mesmo com os portugueses sob o jugo fascista? "Sim, era, e o que foi interessante foi o encontro desses dois mundos: um Portugal ainda com dois pés no século XIX e uma burguesia - porque muitos dos refugiados eram pessoas que tinham dinheiro - com senhoras que tinham o cabelo desfeito, umas saias um bocado curtas. Houve ali um encontro de dois mundos... E essas questões de moralidade foram de alguma preocupação para o regime conservador de Salazar."Isso não foi um “murro no estômago” para os portugueses que, de repente, viram aquele outro mundo mais aberto? Como é que isso não abalou a ordem social e moral em Portugal?"Salazar conseguiu porque tinha a polícia política ao seu lado e tinha a Legião Portuguesa também e os militares, de alguma forma, com ele. Mas não deixa de ser verdade que nestes anos de guerra, graças aos refugiados, pela questão cultural e, de certo modo, pela liberdade que trouxeram à cidade de Lisboa, as pessoas descobriram o que era ser moderno. Houve também revoltas de fome no país, no fim da guerra, ou seja, os anos de guerra em Portugal que aparecem como anos de estabilidade, afinal foram anos de grande tensão e de alguma instabilidade para o regime de Salazar."No filme contam que Lisboa era considerada “a nova cidade-luz”. Porquê? "Nessa altura havia actores alemães, havia actores americanos, franceses, escritores ingleses que vinham passar férias em Portugal. As pessoas ligadas a Hollywood para irem para Londres tinham que passar por Lisboa. Ou seja, apanhavam um avião transatlântico que fazia uma escala nos Açores. Depois paravam em Lisboa e em Lisboa apanhavam outro avião. Então Lisboa era o centro nevrálgico que ligava Londres aos Estados Unidos e, a partir daí, todas as vedetas do mundo do cinema europeu e do cinema americano, muitas, passaram por Lisboa."Queria que voltássemos ao alegado projecto de invasão espanhola de Portugal, apoiado por Hitler para enfraquecer Churchill. Que plano foi este e como é que Salazar o consegue contornar? "Havia a chamada “Operação Félix”, que era uma operação para pôr a mão no estreito de Gibraltar, onde havia uma base britânica. Mas entrar em Gibraltar implicava invadir Portugal, mesmo Portugal sendo um país fascista. A partir daí, alguns membros do governo de Franco pensaram seriamente em invadir Portugal e foram para Berlim ver se Hitler apoiava o projecto. Não foi por muito que escapámos a uma nova invasão dos nossos queridos irmãos ibéricos…"Qual foi a estratégia de Salazar? "Salazar conhecia muito bem a situação em Espanha e explicou a Churchill que os espanhóis estavam a passar fome e que Franco estava à rasca, não tinha como alimentar a população, mas que se lhe desse trigo, safava-se com a Península Ibérica e com Franco. Enquanto desse trigo, Franco não podia ir contra Portugal e como Hitler não ajudou Franco como Franco queria, a partir daí a situação estabilizou."Vocês abordam, ainda, a batalha do Atlântico e o papel dos Açores. Qual foi o papel dos Açores e como é que os Açores serviram de moeda de troca para assegurar a sobrevivência da ditadura portuguesa depois da guerra?"Os Açores foram o trunfo final de Salazar e a carta maior de Salazar durante a Segunda Guerra Mundial, aquela que ele usou mesmo no último instante da guerra. Ele sabia que os Aliados precisavam dos Açores para estabilizar o Atlântico Norte, com os u-boots alemães que afundavam barcos aliados e precisavam dos Açores para fazer uma ponte aérea para fornecer Inglaterra em homens e armamento, etc. Ele negociou esta carta durante três anos e só autorizou os ingleses e depois os americanos instalarem uma base nos Açores nos momentos finais da guerra, quando Salazar ainda negociava volfrâmio com Hitler e fazia comércio com Hitler.Depois, houve ali um momento em que os Estados Unidos já não podiam com Salazar, ameaçaram depô-lo e contactaram a filha do Presidente Carmona para ver se havia uma maneira. Então, Salazar percebeu que já não podia esticar a corda e autorizou a instalação dos britânicos e depois dos americanos nos Açores. Hitler morre, a guerra acaba e ele sai completamente ileso dessa Segunda Guerra Mundial e até sai reforçado. Ou seja, a guerra permitiu a Salazar instalar de vez o Estado Novo."Este é o seu segundo filme difundido este ano na televisão francesa, no ano do cinquentenário da Revolução dos Cravos. O primeiro foi “La Révolution des Oeillets”, agora este sobre Salazar e a Segunda Guerra Mundial. Porquê apostar na história portuguesa contemporânea para um público francófono?O meu combate é sempre o mesmo. Somos um país pequenino, com uma produção audiovisual que produz coisas, mas que não tem os meios da produção francesa, a qual tem alguma abertura que permite contar histórias que não são histórias unicamente francesas. Com os mais de um milhão de franco-portugueses que há neste país, há um espaço para falar da história de Portugal aqui em França e também para os portugueses. Haverá outros projectos, com certeza, e agradeço à France Télévisions e ao sistema audiovisual francês por nos permitir produzir este tipo de projectos, porque projectos feitos só de arquivos são complicados e só se podem fazer em boas condições.
A Universidade Sorbonne Nouvelle, em Paris, acolhe, até Dezembro, um ciclo de cinema intitulado “A Revolução das Imagens – Revolução e Descolonização em Portugal (1974-1977)”. A programação conta com filmes feitos por colectivos de cineastas que registaram os primeiros dias da revolução, mas também acompanharam as lutas operárias e as ocupações de fábricas, a reforma agrária e as campanhas de dinamização cultural e alfabetização, entre outras lutas. As escolhas mostram como “o cinema representou a revolução”, mas também como “os modos de representação foram transformados pelo próprio processo revolucionário”, resume Raquel Schefer, co-organizadora do evento e professora na Sorbonne Nouvelle. É um salto no tempo a um tempo de lutas. São histórias que fizeram história e esperanças que ficaram, para sempre, em película. Alguns desses filmes estão a ser exibidos na Universidade Sorbonne-Nouvelle, em Paris num ciclo de cinema intitulado “A Revolução das Imagens – Revolução e Descolonização em Portugal (1974-1977)”. A iniciativa começou a 7 de Novembro e vai ter sessões até 19 de Dezembro.A programação conta com obras feitas por colectivos de cineastas que viveram os primeiros dias da revolução [“As Armas e o Povo”], que acompanharam as lutas operárias e as ocupações de fábricas durante o Período Revolucionário em Curso, [“Applied Magnetics”, “O Caso Santogal” e “Candidinha”], que deram voz aos trabalhadores rurais que protagonizaram a reforma agrária [“A Lei da Terra”] e que acompanharam campanhas de alfabetização [“A Luta do Povo: Alfabetização de Santa Catarina”].Há, ainda, filmes experimentais como “Revolução” de Ana Hatherly, “Destruição” de Fernando Calhau, “Paredes Pintadas da Revolução Portuguesa” de António Campos e “O Parto” de José Celso Martinez Corrêa e Celso Lucas.O ciclo aborda, também, as guerras de libertação, com “Adeus, Até ao meu regresso”, de António-Pedro Vasconcelos, e recorda a figura central do capitão, Salgueiro Maia, com “Capitães de Abril” de Maria de Medeiros, o único filme do ciclo que não foi realizado entre 1974 e 1977.O programa foi organizado pelos investigadores Raquel Schefer, Fernando Curopos e Teresa Castro em colaboração com a Cinemateca Portuguesa e o Instituto Camões. As escolhas dos filmes mostram como “o cinema representou a revolução” e como “os modos de representação foram transformados pelo próprio processo revolucionário”, explica Raquel Schefer.“Tentámos, de alguma forma, oferecer um panorama da diversidade estilística, mas também da diversidade dos modos de produção. Há bastantes filmes produzidos por colectivos de cinema, cooperativas de cinema que foram fundadas durante esse período em Portugal. Portanto, o ciclo procura restituir um pouco toda essa heterogeneidade do cinema revolucionário português e, ao mesmo tempo, reflectir ou propor uma reflexão sobre a maneira como o cinema representa a revolução. Mas, ao mesmo tempo, os seus modos de representação são transformados pelo próprio processo revolucionário”, conta a professora de cinema na Sorbonne-Nouvelle.A investigadora sublinha que “o cinema de Abril é, antes de mais, um cinema que procura documentar a revolução”, mas que também vai “reinventar os modos de produção” e “revolucionar as formas cinematográficas”. O impacto é tão forte que “a revolução continua a ter repercussões formais no cinema português até hoje”, acrescenta Raquel Schefer.O realizador Fernando Matos Silva foi um dos protagonistas dessa revolução no cinema. Começou por trabalhar com Paulo Rocha e Fernando Lopes, ainda sob a ditadura, e o seu primeiro filme, “O Mal Amado” (1974) foi o último filme português a ser proibido pela censura e o primeiro a ser estreado depois do 25 de Abril.A 25 de Abril de 1974, Fernando Matos Silva estava na rua às primeiras horas da manhã para filmar imagens que ficaram na história e nunca parou. Com o colectivo Cinequipa, documentou os dias da revolução, da multidão no Largo do Carmo às lutas dos trabalhadores durante o período revolucionário. A Universidade Sorbonne-Nouvelle convidou-o a apresentar os documentários “Applied Magnetics” e “O Caso Sogantal”.“Eu tinha uma grande amizade com a Maria Antónia Palla, jornalista, lutadora. Ela ligou-me e disse: ‘Os homens vão aparecer na televisão todos a falar de política e as mulheres não vão aparecer. Não queres fazer comigo uma coisa chamada ‘Nome Mulher”? Eu disse: ‘Quero! Vou já!' Entretanto, a gente já tinha um programa sobre a juventude para fazer. É que os jovens e as mulheres iam ser esquecidos. Decidimos ir à procura do trabalho feminino que era o mais mal pago, o mais sacrificado porque as mulheres eram quase escravizadas », recordou à RFI o cineasta que teve, este ano, uma retrospectiva dos 60 anos de carreira na Cinemateca Portuguesa. [A RFI vai difundir, em breve, um trabalho sobre Fernando Matos Silva no âmbito dos retratos de Abril que difundimos nos 50 anos da Revolução dos Cravos.]Foram muitos os filmes feitos por este colectivo de cineastas e o posicionamento foi claro desde o princípio, recorda Fernando Matos Silva: « Decidimos avançar com essa luta e pusemo-nos ao lado dos trabalhadores. »Entre 1974 e 1977 viveram-se anos de “cinema revolucionário, militante e muito radical”, resume o historiador de cinema português Mickaël Robert-Gonçalves, que moderou a conversa com Fernando Matos Silva na sessão desta quinta-feira.“Houve um cinema revolucionário, que, na sua maioria, foi um cinema muito radical. Foi um cinema feito pelos cineastas que estavam a fazer o Novo Cinema português nos anos 70. Desde o 25 de Abril, eles decidiram fazer um cinema radical, um cinema militante de forma diferente porque houve um cinema - como os filmes aqui do Fernando Matos Silva – que foi feito para a televisão também e que falava sobre os movimentos sociais, sobre os movimentos de luta das mulheres… Houve também um cinema mais clássico, que era feito para as salas de cinema, um cinema documentário que era mais sobre os eventos e de como o cinema podia acompanhar o que se estava a passar em Portugal”, explica.O ciclo “A Revolução das Imagens – Revolução e Descolonização em Portugal (1974-1977)” começou a 7 de Novembro e decorre até 19 de Dezembro na cinemateca da Universidade Sorbonne-Nouvelle e no cinema l'Ecran Saint-Denis.
O documentário “La Révolution des Œillets” [“A Revolução dos Cravos”], de Bruno Lorvão e Paul Le Grouyer, conta a história e os bastidores da “Revolução dos Cravos”, recorrendo inteiramente a imagens de arquivo. O filme sai no mês em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril de 1974 e faz um retrato de Portugal sob a ditadura, recorda a conspiração do Movimento dos Capitães e mostra como foi o dia do golpe militar que derrubou 48 anos de ditadura. O filme “La Révolution des Œillets” [“A Revolução dos Cravos”], de Bruno Lorvão e Paul Le Grouyer, é exibido, esta segunda-feira, em Sciences-Po, o Instituto de Estudos Políticos de Paris, seguido de um debate com o historiador francês Yves Léonard a propósito dos 50 anos do 25 de Abril. O documentário, de 52 minutos, da produtora francesa Cinétévé e com o apoio da France Télévisions, já foi difundido, este sábado, no canal belga RTBF, e vai passar, em Abril, no canal francês France 5 e no canal português História.Em entrevista à RFI, Bruno Lorvão sublinha que “o 25 de Abril é um momento bonito e é um legado universal”, por isso, “é uma história muito bonita que vale a pena ser contada, não só na Europa, mas fora do continente”. RFI: Qual é o ângulo deste filme, em poucas linhas.Bruno Lorvão, Realizador: "Em poucas linhas, fala da conspiração, de como é que essa conspiração aconteceu e por que razões é que os capitães decidiram derrubar o regime de Estado Novo."Porque é que decidiu fazer este documentário? "Como franco-português, tenho-me esforçado ultimamente em utilizar os meios franceses de produção audiovisual para contar histórias portuguesas, sabendo que em Portugal é mais complicado. Filmes de História, feitos a cem por cento de arquivos, são filmes que custam, que são complicados a montar e, por essa razão, chegando os 50 anos do 25 de Abril, não havia outra opção senão escrever e financiar a história."No ano passado também já realizou um documentário sobre Salazar e a Segunda Guerra Mundial…"Exacto e é uma história desconhecida de muitos, da maior parte dos portugueses, saber o que aconteceu exactamente durante meses."Dos portugueses ou dos franceses?"Dos franceses e portugueses, não conhecem a história de Portugal durante a Segunda Guerra Mundial, do que aconteceu exactamente. O discurso oficial é dizer que Salazar nos salvou. A questão do filme é saber se ele se salvou a si próprio ou ao povo português."Relativamente a este filme, “Revolução dos Cravos”, o filme conta, antes de mais, como era Portugal antes do golpe militar que derrubou a ditadura. Como é que era esse Portugal que reconstituem no documentário?"Portugal era um país pobre. Não era um país livre, simplesmente. Era um país pobre, com pouca formação, pouca educação..."Vocês dizem que um português em cada três não sabia ler. "Sim. Exacto. E Portugal era realmente o último país implicado numa guerra colonial."Falam do último grande império colonial também. Como é que era esse império? Vocês falam do lado real e do lado da propaganda…"Segundo a propaganda, sem as colónias, Portugal não podia sobreviver e Portugal não podia ser uma nação forte. Na realidade, o Império era feito com pouco mais de 150 mil soldados. Não havia muitos portugueses nas colónias e o Império português gastava mais do que rendia."Além do dia da Revolução dos Cravos, o filme reconstitui, como dizíamos, o que era viver em Portugal e nas antigas colónias. Fala das guerras de libertação, dos bairros de lata em Lisboa, do analfabetismo, da emigração em massa, de como era viver na ditadura. Tudo isto é contado com imagens da altura e há imagens que espantam porque parece que nunca as vimos ou muito pouco. De onde é que saem estas imagens? "Saem da Cinemateca Portuguesa, algumas da RTP e saem também de media estrangeiros, da televisão belga. Encontrámos coisas na televisão belga, particularmente no que toca a combates militares. As imagens de violência da guerra são imagens do estrangeiro e depois os testemunhos e as fotografias vêm de um trabalho de pesquisa feito durante a produção para ir buscar testemunhos inéditos. E, muitas vezes, os filmes de história ficam no nível da história oficial. E nós queríamos dar a palavra aos portugueses. E acho que conseguimos."E porquê esta opção de não entrevistar pessoas agora e de só recorrerem a imagens de arquivo, nomeadamente uma entrevista bastante forte de uma pessoa que tinha estado presa e que, na altura, dá uma entrevista a um meio francófono? "Um filme de História é levar o público até 50 anos atrás - falando do 25 de Abril. Queríamos mergulhar 50 anos atrás sem ter recurso a testemunhos de hoje. Por isso é que não há nenhum testemunho contemporâneo e havia material suficiente para contar a história, mesmo se não foi fácil, mas conseguimos."Quanto tempo é que demorou essa pesquisa? Porque há muitas imagens que foram censuradas na altura... "Graças a duas documentaristas. O trabalho de documentarista é um trabalho que existe na televisão francesa, que é um trabalho que implica encontrar imagens para produzir um filme. Havia uma documentarista francesa, Anahi Ubal Retamozo, e uma historiadora portuguesa, Margarida Ramalho, que graças ao seu conhecimento do território português, conseguimos em pouco tempo muitos testemunhos."Quanto tempo? "Foram três meses loucos, Outubro, Novembro, Dezembro, porque o filme tinha que ser acabado. Foram três a quatro meses de procura constante e graças à energia da Anahi e da Margarida e claro, do Paul [Le Grouyer], conseguimos juntar essas imagens todas e esses testemunhos."Em relação a essas imagens, há por exemplo, imagens da repressão que se seguiu ao congresso da oposição em Aveiro, na primavera de 1973, em que vemos a polícia a carregar nos manifestantes. Quando eu digo que há imagens que quase nunca vimos, falo, por exemplo, destas…"Essas foram imagens descobertas, por acaso, pelo Paul [Le Grouyer] na internet. Tínhamos as fotografias e, de repente, ele encontrou o vídeo que estava na internet. E isso tem a ver também com, apesar de já terem passado 50 anos, nenhuma instituição ter feito de maneira apropriada a lista de todos os conteúdos que foram produzidos antes do 25 de Abril e durante o 25 de Abril. Por isso é que ainda há muito conteúdo escondido, entre aspas. Por isso é que conseguimos encontrar muito conteúdo que as pessoas não conheciam."Há outras imagens, concretamente do dia 25 de Abril, filmadas por uma pessoa que estava junto ao Terreiro do Paço e que mostra a chegada dos tanques comandados por Salgueiro Maia. Quem era a pessoa que as filmou? Como chegaram a estas imagens? "Isso é um grande ponto de interrogação porque essas imagens são conhecidas de todos. O que fizemos foi juntar as imagens porque havia um bocadinho na Cinemateca Portuguesa, havia um bocadinho na RTP, havia outros bocadinhos em fundos europeus e nós juntámos tudo. Por isso é que aquela passagem está, em parte, a cores e a preto e branco e não se sabe quem é que filmou isso. Nós sabemos que são as primeiras imagens filmadas de 25 de Abril, mas este senhor, esta senhora, ninguém sabe quem é."E em termos de direitos autorais? "Pertence a fundos. Tivemos que pagar na mesma."O filme conta o contexto que leva ao golpe militar de 25 de Abril de 1974 e depois conta esse dia. O personagem principal, digamos assim, do documentário é Salgueiro Maia, o capitão sem medo, que nem sequer teve funeral de Estado, assim como Otelo Saraiva de Carvalho, que é outro dos protagonistas. Porquê estes dois capitães? Para recordar, simplesmente, que sem eles não teria havido o derrube da ditadura a 25 de Abril de 1974?"Sem eles e outros mais. É sempre difícil, num filme de 52 minutos, contar toda a história. É uma síntese, mas, com certeza, sem estes militares de profissão, sem a coragem, sem a visão política e a generosidade desses homens, a história teria sido outra."E depois a história tratou-os bem? "Parece que não pois tem a ver com o que foi a política portuguesa logo depois do 25 de Abril. É preciso perguntar à viúva do capitão Maia. Acho que o Otelo também teve uma vida um bocado complicada por sua própria escolha. O Salgueiro Maia queria viver fora dessas complicações. Se calhar, somos de alguma forma ingratos. E agora vem uma expressão em francês 'On prend pour argent comptant ce qu'ils ont fait'…"É como se fosse garantido aquilo que nos deram?"Exactamente. E este filme de História está aqui para contar e para explicar às novas gerações que não foi assim tão fácil e que as coisas não caem do céu."Uma reparação histórica? "De certa forma, sim. Por enquanto, 75% dos portugueses acham que 25 de Abril foi uma boa coisa. Enquanto não baixarmos, continua a ser uma boa coisa."O filme diz, a dada altura, que “nem tudo se fez num dia, mas desde a Revolução dos Cravos, a liberdade nunca mais foi contestada”. Como é que vê o facto de, 50 anos depois do 25 de Abril, 50 deputados da extrema-direita terem entrado no Parlamento? "Eu acho que isso tem mais a ver com a crise profunda da democracia ocidental do que propriamente com Portugal. Quando se ouvem os discursos do Chega e do senhor Ventura, é uma cópia de [Donald] Trump, é uma cópia de [Javier] Milei. São personagens que estão a contaminar as democracias ocidentais e acho que o problema não é só português. O facto de eles só chegarem hoje a Portugal é porque Portugal é um país, por enquanto, bastante unido, onde a política não era assim tão feia. Não deixa de ser política, mas acho que é preciso separar as águas."O documentário também fala do general Spínola, de Francisco da Costa Gomes e, ainda, de Marcello Caetano que substitui Salazar. No fim, lembram que, depois de ter sido poupado pelos capitães de Abril, Marcello Caetano esteve exilado no Brasil, onde volta a ser professor de Direito, mas escapa a qualquer condenação judiciária. Este comentário factual subentende o quê? Que a revolução portuguesa foi demasiado branda com o ditador e com toda a estrutura do Estado Novo?"Isso é a parte cinzenta da revolução dos capitães. Foi uma revolução feita por militares em guerra. Ou seja, eles ajudaram-nos a passar para a democracia, mas depois lá se arranjaram entre eles. Mas acho que afinal não foi uma má coisa, ajudou a democracia a chegar de maneira mais pacífica porque tivemos aqueles dois anos mais complicados com a tentativa de golpe de Estado de Spínola e outros eventos. Se em cima disso puséssemos o julgamento de todo o sistema do Estado Novo, o Estado Novo era uma instituição que existia há quase 50 anos, ou seja, era fazer o exame de consciência de todo um povo, não só do Caetano. O Caetano era o representante de um sistema e esse sistema tinha sido inventado pelo Salazar, que faleceu."No filme, ouvimos que “os Capitães de Abril escreveram uma das mais belas páginas da história portuguesa. Ao conseguirem derrubar pacificamente uma ditadura, mostraram que nada era impossível, ate nos piores momentos”. O que é que foi, para si, o 25 de Abril de 1974? "Eu cresci em Lisboa e vi os murais todos com as pinturas do MFA e todos os partidos, aqueles muros políticos que agora desapareceram quase. Em miúdo, eu não sabia o que esses muros representavam. Eu, via era cravos, via soldados nos muros, via cores, muitas cores. Eu nasci em 1976, então a minha primeira representação do 25 de Abril são as ruas de Lisboa com esses murais e quando cresci, percebi o que eles representavam."O que é que percebeu? "Percebi que a vida antes era complicada, que antes não tínhamos liberdade de expressão, que as mulheres não tinham os mesmos direitos, que o divórcio não existia. Sem falar do aborto e de outras questões. Graças aos capitães e graças ao 25 de Abril, Portugal hoje é um país mais…"Democrático. "Vamos pôr essa palavra que é mais simples, sim."Contaram com a supervisão histórica do historiador francês especializado no Estado Novo, Yves Léonard. Como é que foi esse trabalho de colaboração? "Muito bom. Ele tem aquela paixão do estrangeiro que gosta de Portugal e tem aquela coisa que nós, quando somos de lá, já não vemos. E ele tem aquele recuo e essa paixão por Portugal e um conhecimento enorme sobre a história do nosso país. E foi uma boa colaboração."O filme sai em França, mas também vai ser difundido em Portugal e noutros países. Qual é que é no fundo, o objectivo deste filme? Mostrar a história e deixar um alerta do que foram os anos da ditadura para que essa ditadura não volte?"Sim, os objectivos são muitos. É falar à comunidade lusodescente, a um milhão de portugueses e franco- portugueses em França que, se calhar, não conhecem a história do 25 de Abril. É por isso que tenho muito orgulho em lhes dar a oportunidade de ver em França o filme. Depois, fora do país, também para os portugueses terem orgulho na própria história, terem orgulho do que são. Somos o que somos e temos os nossos defeitos, as nossas qualidades. O 25 de Abril é um momento bonito na nossa história e é um legado universal, ou seja, que militares tenham oferecido a democracia, entre aspas, ao povo. Acho que é uma história muito bonita, que vale a pena ser contada, não só na Europa, mas fora do continente."
A Rede de Cine Teatros do País vai receber centenas de filmes da Cinemateca Portuguesa.
O Festival Lumiére, em Lyon, o mais importante festival dedicado ao património do cinema decorre até ao dia 22 de outubro e nesta edição, o segmento Tesouros e Curiosidades, conta com o filme “As Ilhas Encantadas”, de 1965, da autoria do realizador luso-francês Carlos Vilardebó. Nesta longa-metragem, a única de Vilardebó, participam actores franceses como Pierre Clémenti, conhecido pelo seu papel no filme "O Leopardo", ou Pierre Vaneck, assim como Amália Rodrigues, num papel muito diferente daquele que a fadista interpretava no cinema português tradicional, o que inquietou a crítica em terras lusas e acabou por selar o destino do filme."É um filme que durante muitos anos foi considerado maldito, foi muito mal recebido na altura da estreia em Portugal, apesar de que em França ter havido críticas que elogiam o dasassombro de Carlos Vilardebó e não sublinham a figura da Amália fixada na ideia da fadista, coisa que a críticas em Portugal apontavam. Foi um falhanço de bilheiteira porque ia ao arrepio de tudo aquilo que era um cinema novo que estava a ser desafiante para o regime porque era um filme de época, com a maior estrela da altura, que de maneira nenhuma se comportava", explicou Tiago Bartolomeu Costa, coordenador do programa FilMAR, da Cinemateca Portuguesa, responsável pelo restauro deste filme.Uma cópia recuperada pela Cinemateca Portuguesa faz parte das 450 sessões de cinema espalhadas um pouco por toda a cidade de Lyon e a selecção para o Festival Lumiéres permite "É um prazer gigantesco e uma surpresa que este filme possa ter sido escolhido para integrar a secção Lumiere Classiques. Nós vamos te rum conjunto de encontros com distribuidores e exibidores para que a esta nova vida do filme não siga o que foi o seu destino em 1965. Este +e o mais importante festival de restauro na cidade onde o cinema nasceu e é a possibilidade deste filme pertencer à história do cinema mundial e já não só à história do cinema em Portugal", concluiu Tiago Bartolomeu Costa.
O cineasta António Campos é ainda hoje a maior referência portuguesa do documentarismo etnográfico. Durante os anos 60 e 70 percorreu solitariamente o país com uma câmara de filmar e a vontade de registar a ruralidade e os costumes. Hoje destacamos "Vilarinho das Furnas", que nos mostra as últimas imagens de uma aldeia minhota prestes a extinguir-se com a construção de uma barragem.Este e outros trabalhos têm estado em destaque na programação da Cinemateca Portuguesa e foi recentemente restaurado graças ao programa FILMar, dirigido pelo nosso convidado Tiago Bartolomeu Costa.
Luísa Veloso prossegue a sua caminhada e após nos ter apresentado os seus vizinhos (habitantes rurais) passa a expor quais os outros “ocupantes” da região que vão desde proprietários de monte (estrangeiros e portugueses, não residentes), proprietários escolarizados e imigrantes (brasileiros e orientais) muitos destes a trabalharem em cultura intensiva, associada à economia selvagem ou de esgotamento. Luísa mostra-nos que os ocupantes do espaço rural são extremamente heterógeneos e com formas de vida e de definir o valor, muito diferentes. Luísa e João (seu marido) aprenderam, com os vizinhos, uma forma completamente diferente de avaliar os bens, através da troca não monetária. Quanto vale um sobreiro, os ovos, um molhe de coentros? Quanto vale? O que é o valor? BIOGRAFIA Luísa Veloso é socióloga e nasceu em Vila Nova de Famalicão. Mora em Grândola. Professora no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa e investigadora do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia da mesma instituição. Tem desenvolvido pesquisa nos domínios do trabalho, das profissões e da economia. Tem colaborado com instituições diversas da esfera artística, tais como a Cinemateca Portuguesa, a Fundação de Serralves ou o Alkantara. Tem várias publicações, de entre as quais o livro, O trabalho no ecrã: memórias e identidades sociais através do cinema, em parceria com Frédéric Vidal, publicado em 2016 pelas Edições 70.
Luísa Veloso, socióloga nascida no Minho e a residir em Grândola, faz uma caminhada acompanhada por 15 caminhantes, contando histórias dos seus vizinhos e relacionando-as com a composição social e laboral de Grândola. Ao longo do percurso somos apresentados ao Nuno corticeiro, ao Matias que tem uma mulher muito magrinha, ao Manuel que é pastor, à Dona idália que faz limpezas, à Dona Dulce, à filha do Beto, entre outros. Aconteceu no dia 6 de Junho de 2021. BIOGRAFIA Luísa Veloso é socióloga e nasceu em Vila Nova de Famalicão. Mora em Grândola. Professora no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa e investigadora do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia da mesma instituição. Tem desenvolvido pesquisa nos domínios do trabalho, das profissões e da economia. Tem colaborado com instituições diversas da esfera artística, tais como a Cinemateca Portuguesa, a Fundação de Serralves ou o Alkantara. Tem várias publicações, de entre as quais o livro, O trabalho no ecrã: memórias e identidades sociais através do cinema, em parceria com Frédéric Vidal, publicado em 2016 pelas Edições 70.
O diretor de acervo da Cinemateca Portuguesa é convidado a compartilhar suas reflexões sobre as ações de sua instituição no mundo digital. Reconhecida internacionalmente, tanto por sua programação quanto pela excelência de seu laboratório fotoquímico, a presença digital da Cinemateca Portuguesa foi construída de forma gradual e consistente nos últimos anos. A pandemia de Covid-19 obrigou o fechamento temporário das salas de cinema e aprofundou este processo. O enfoque desta masterclass incide sobre os desafios para conjugar a nova dimensão do acesso digital com as missões de uma cinemateca – sobretudo em propiciar uma compreensão e uma experiência ampla do cinema. Tiago Baptista é diretor do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento, o centro de conservação da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema. Doutorado em Film and Screen Media pela Universidade de Londres (Birkbeck College), é investigador integrado do Instituto de História Contemporânea-NOVA FCSH (Lisboa) e docente da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (Lisboa). Membro do Comité Executivo da Federação Internacional de Arquivos de Filmes (FIAF). Mediação: • Ines Aisengart Menezes – curadora da Temática Preservação | SP • José Quental – curador da Temática Preservação | RJ
Neste episódio conversamos com Manuel Mozos sobre o passado, o presente e o futuro do que significa fazer, documentar e divulgar o cinema a que chamamos português.Manuel Mozos, cineasta, nasceu em Lisboa em 1959 e terminou o curso de Cinema em 1984, no Antigo Conservatório Nacional, atual Escola Superior de Teatro e Cinema. Montador, argumentista e assistente de realização de vários realizadores portugueses, realizou o seu primeiro filme, "Um passo, outro passo, e depois...”, em 1989, e com ele venceu o prémio de Melhor Filme Estrangeiro em Entrevues - Festival Internacional de Cinema de Belfort de 1990.Desde então, realizou mais de vinte filmes, entre ficção e documentário, curtas e longas-metragens entre os quais se destacam as longas-metragens “Quando Troveja” (1999), “Xavier” (2002), “4 Copas” (2002) e “Ramiro” (2018) bem como os documentários “Lisboa no Cinema” (1994), “Cinema Português - Diálogos com João Pedro Bénard da Costa” (1997), “Censura: Alguns Cortes” (1999), “Ruínas” (2009), “João Bénard da Costa - Outros amarão as coisas que eu amei” (2014) e “Sophia, na primeira pessoa” (2019).Colaborador assíduo de publicações, escolas, institutos, universidades, associações culturais e de cinema, cineclubes e festivais, trabalha desde 2002 no Arquivo Nacional da Imagem em Movimento da Cinemateca Portuguesa, onde identifica, preserva, restaura cópias em película do nosso património cinematográfico.O nosso podcast "O Lugar da Mediação", produzido em parceria com a Companhia Mascarenhas-Martins, vai receber uma nova voz todos os meses, explorando as visões e as experiências que diferentes criadores, artistas e profissionais da cultura investem na sua acção de mediação cultural todos os dias. Todos os episódios estão disponíveis em olugardamediacao.buzzsprout.comPode ser subscrito no Apple Itunes em apple.co/2QD94g3 para além do Spotify, Stitcher e TuneIn.
A Cinemateca Portuguesa criou um ciclo online e gratuito com filmes portugueses, entre clássicos do cinema mudo ou dos anos 1930 a 1950, a obras do Cinema Novo. A programação vai ter outros conteúdos para os mais jovens e também para os mais cinéfilos. O objectivo é “levar a Cinemateca para casa das pessoas numa altura em que as pessoas não podem sair de casa”, afirma José Manuel Costa, director da Cinemateca Portuguesa, que espera um "sobressalto colectivo em torno da arte e do cinema" depois do confinamento. "O que quisemos foi levar a Cinemateca para a casa das pessoas nesta altura em que as pessoas não podem e não devem sair de casa. Quanto aos filmes é, de facto, uma novidade. Quem nos conhece sabe que nós privilegiamos em absoluto a experiência do cinema em sala de cinema, temos uma programação muito intensa e consideramos que é sempre importante realçar que a verdadeira experiência de cinema, a única que achamos completa e aquela para a qual os filmes foram pensados é a experiência da sala. Mas, numa altura em que as pessoas estão em casa, que não podem ter acesso às salas de cinema - no mundo inteiro - achámos que devíamos também fazer um esforço para levar filmes do património português, que estão preservados e digitalizados pela Cinemateca, para que as pessoas possam aceder a eles", explica José Manuel Costa, director da Cinemateca Portuguesa. Entre as longas-metragens disponíveis gratuitamente online estão, esta semana, “Os Verdes Anos” (1963), de Paulo Rocha, e “Lisboa, Crónica Anedótica” (1930), de Leitão de Barros. O ciclo chama-se ‘Gestos & Fragmentos’, um nome inspirado num filme de Alberto Seixas Santos, e inclui outros conteúdos, desde espectáculos de Lanterna Mágica, a ensaios de cinema e peças do museu do cinema. Esta semana, também há “O Fabuloso Espetáculo de Lanterna Mágica do Professor Mervyn Heard”, os escritos “I Was Interrupted” de Nicholas Ray e a possibilidade de ver um conjunto de vidros para Lanterna Mágica. Depois, vai haver filmes dedicados à revolução de 25 de Abril de 1974 e outros marcos do cinema português, como “A Canção de Lisboa” (1933), de Cottinelli Telmo, “Brandos Costumes” (1974) de Alberto Seixas Santos, “O Mal-Amado” (1973) de Fernando Matos Silva, “Os Lobos” (1924), de Rino Lupo, “A Revolução de Maio” (1937), de António Lopes Ribeiro, “Gestos & Fragmentos” de Alberto Seixas Santos, entre muitos outros. A programação vai durar, pelo menos, até ao final de Maio, em função do confinamento. Quando o confinamento acabar, José Manuel Costa promete a retoma da programação suspensa pela pandemia de Covid-19, com a retrospectiva integral dedicada a Federico Fellini, os ciclos dos cineastas Raoul Ruiz e Ousmane Sembene, e uma homenagem ao músico José Mário Branco. "A minha esperança é que, com todas as incógnitas que possa haver, também venha a haver um sobressalto positivo. Ou seja, depois de tanto confinamento, de tanto isolamento, que as pessoas venham a sentir - ainda mais do que estavam a sentir antes - o prazer, o gosto de voltarem a estar juntas em torno da arte, no cinema como nas outras artes. Mas, em particular, no cinema porque o cinema vive uma época histórica de transformações grandes em que cada vez mais produzimos e acedemos às obras através das novas tecnologias (...) A minha esperança é que quando não podemos ter, talvez nos lembremos mais do que perdemos quando não temos, e talvez pensemos mais nessas emoções que podemos viver juntos e que agora não podemos viver", afirma José Manuel Costa. Oiça a entrevista nesta edição de ARTES.
Em Junho, a Cinemateca Portuguesa dedica um ciclo a Elaine May e Warren Beatty, com filmes de, com e escritos por anos. Para assinalar isso, falei com o Francisco Valente, com quem costumo falar em episódios especiais sobre cinema, que por acaso foi o programador do ciclo.
O ciclo de cinema A Experiência Afro-Brasileira na Tela vai decorrer entre os dias 10 e 15 de dezembro na Cinemateca Portuguesa e na Casa Independente. Tem um programa diversificado que gira em torno das representações e da representatividade da comunidade afro-brasileira no cinema do Brasil. A organização deste ciclo está por conta do Queer Lisboa em colaboração com a EGEAC - Galerias Municipais/Africa.Cont. E nós vamos falar com João Ferreira diretor do Queer Lisboa...
Esta semana temos connosco Pedro Mexia. Licenciado em Direito, construiu a sua reputação no meio cultural português como crítico literário, poeta e cronista. Colaborou com o 'Diário de Notícias' e o 'Público', mas neste momento escreve semanalmente no 'Expresso'. Cinéfilo de longa data, foi subdirector e director interino da Cinemateca Portuguesa. Tem uma rubrica sobre cinema na Antena 3 e é co-autor de 'PBX', um programa da rádio Radar (ambos podem ser ouvidos em podcast). Coordena a colecção de poesia da editora Tinta da China. Faz ainda parte do 'Governo Sombra', na TSF/TVI24. Publicou oito livros de poesia, seis de crónica e quatro volumes de diários, extraídos dos seus vários blogues. Há poucas semanas, foi escolhido pelo novo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, como consultor para a área da Cultura. Trouxe para a nossa mesa: A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock - T. S. Eliot Ofício de Viver - Cesare Pavese A Última Gravação de Krapp - Samuel Beckett
O Plano Nacional de Cinema – Um projeto partilhado entre instituições da cultura e da educação Visando a valorização do cinema enquanto arte, o Plano Nacional de Cinema está previsto como um programa de literacia para o cinema e de divulgação de obras cinematográficas nacionais junto do público escolar, que é implementado pela Direção-Geral da Educação, pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual e pela Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema. Neste webinar procuramos divulgar o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido por duas das três instituições supracitadas, o Instituto do Cinema e do Audiovisual e a Cinemateca Portuguesa, e dar mais visibilidade à articulação de práticas entre organismos tutelados pelas áreas da cultura e da educação.
O Queer Lisboa, Festival Internacional de cinema Queer , o mais antigo festival de cinema de Lisboa, realiza-se de 19 a 27 de Setembro e, este ano, tem África na sua secção Queer Focus. Os filmes serão exibidos no cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa. O nosso convidado é Pedro Marum, programador de cinema, responsável, juntamente com Ricke Merighi, por programar o Queer Focus on Africa 2014, para a décima oitava edição do Festival Queer Lisboa. Mas o que quer dizer Cinema Queer? É o que vamos saber através da conversa com Pedro Marum.