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Antonio Salazar spends his post-war years helping the CIA learn how to torture people and starting a disastrous war with a large portion of Africa. Then he dies! Hooray! Sources:Antonio Salazar de Oliveira of Portugal and his Estado Novo Antonio Salazar: A Quiet Autocrat Who Held Power in Portugal for 40 Years - The New York Times Did Salazar have a love life? Part 2 – Portugal Resident https://www.lemonde.fr/en/history/article/2024/04/25/50-years-ago-the-carnation-revolution-ended-portugal-s-dictatorship-in-one-night_6669464_157.html 50 years ago, the Carnation Revolution ended Portugal's dictatorship in one night Portugal: End of the Salazar Era | TIME Portugal’s secret police – Portugal Resident The PIDE and Portuguese Society under the Salazar Dictatorship 1945-1974: Fear, SelfPolicing, Accommodation. | ICS Portugal’s Dictatorship: Salazar’s Estado Novo - Portugal.com Sci-Hub | Framing Sexual Violence in Portuguese Colonialism: On Some Practices of Contemporary Cultural Representation and Remembrance. Violence Against Women, 25(13), 1558–1577 | 10.1177/1077801219869547 The war that tears Estado Novo down | NewsMuseum friedheim_pub - salazar - leaders of europe 1995.ashx Sci-Hub | | 10.2307/180995 Colonialism and Genocide in Portuguese Africa Three graphics that explain Portuguese colonialism · Global Voices 118979704.pdf Portugal, declassified – POLITICO Acousmatic and Acoustic Violence and Torture in the Estado Novo: The Notorious Revelations of the PIDE/DGS Trial in 1957 SalazarandBritish.pdf Acousmatic and Acoustic Violence and Torture in the Estado Novo: The Notorious Revelations of the PIDE/DGS Trial in 1957 Sci-Hub | Framing Sexual Violence in Portuguese Colonialism: On Some Practices of Contemporary Cultural Representation and Remembrance. Violence Against Women, 25(13), 1558–1577 | 10.1177/1077801219869547 Sci-Hub | | 10.2307/180995 Françafrique: A brief history of a scandalous word Sci-Hub | | 10.2307/180995See omnystudio.com/listener for privacy information.
Irene Flunser Pimentel: historiadora, antifascista, defensora da democracia, a liberdade é o que a move. Estudou a PIDE, o Estado Novo, as manhas do regime de Salazar, ganhou o Prémio Pessoa e é criticada por muitos por ser demasiado assertiva. Neste episódio do podcast Um Género de Conversa, fala sobre a possibilidade de já estarmos a viver uma terceira guerra mundial, pasma-se com o estado ”enlouquecido” da política nacional e internacional, aponta o dedo ao discurso anti-imigração e relembra como era a vida das mulheres na ditadura.
Nos 50 anos da independência de Cabo Verde, a RFI publica uma série de reportagens em torno deste tema. Neste quinto episódio, fomos à procura de algumas memórias sobre Amílcar Cabral, o líder da luta de libertação da Guiné e de Cabo Verde, descrito como estratega, poeta, pensador, visionário e “pai” para muitos. É na fachada de um liceu, na Achada Frente Grande, na cidade da Praia, que se vê um retrato gigante de Amílcar Cabral, com os seus óculos e a sua sumbia, esculpido pelo artista português Vhils. Esta é mais uma homenagem ao ‘homi grandi' [‘grande homem'] que ficou na memória dos seus compatriotas como o pai das nacionalidades cabo-verdiana e bissau-guineense. Líder incontestável da luta pela independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, Amílcar Cabral é uma figura do panafricanismo e uma das personalidades mais importantes da luta anticolonial e do pensamento revolucionário no século XX. É, ainda, considerado como o motor da queda do Império Português e da viragem pós-colonial do mundo contemporâneo. Foi, também, um estratega militar e político e um pensador que continua a ser uma referência nas lutas contemporâneas contra o imperialismo, o racismo e o neocolonialismo. O historiador e sociólogo António Correia e Silva, co-autor dos três volumes da História Geral de Cabo Verde, diz que o revolucionário é, antes de mais, um filho de Cabo Verde e da Guiné-Bissau e que herdou combates de gerações anteriores, sintetizando e canalizando toda a cultura de protesto que se foi cimentando numa história ritmada pela tragédia cíclica das fomes e do colonialismo. “Amílcar Cabral, incontestavelmente, é o homem que, num determinado momento, sintetiza uma cultura de protesto, uma incomodidade cabo-verdiana que está no ar e ele dá-lhe uma direção. É o líder não só que pensa a independência, mas que a operacionaliza e é uma figura que tem um peso individual, o tal poder carismático. É, também, o homem que não só pensa, mas mobiliza, estrutura, gere um processo não só para Cabo Verde e Guiné, mas ele é fundamental na criação de um nacionalismo independentista das colónias portuguesas”, começa por explicar António Correia e Silva. O historiador vai mais longe e considera que as preocupações de Amilcar Cabral “são mais amplas” porque além de militante de uma causa nacionalista, “o seu pensamento busca a emancipação enquanto tal”. “Ele vê para lá da missão do Estado, Amílcar Cabral tem preocupações do que ele chamava o projecto da humanidade e de povos africanos e, no caso concreto, cabo-verdiano e guineense, dentro desse projecto de humanidade. Aliás, ele tem uma expressão extremamente ambiciosa, ambígua e utópica, que diz que mesmo na condição de escravatura e do colonialismo, podemos trazer para a humanidade as especificidades da nossa cultura e enriquecemos o património comum da humanidade. Então, na liberdade e independentes estaríamos plenos para esse projecto de humanidade”, descreve o professor António Correia e Silva. Amílcar Cabral nasceu em Bafatá, na Guiné-Bissau, a 12 de Setembro de 1924, filho de cabo-verdianos. Estuda em Cabo Verde, primeiro em Santiago, depois no Liceu Gil Eanes, em São Vicente. Aluno brilhante, consegue uma bolsa para o ensino superior em Portugal. Em Lisboa concretiza o pensamento nacionalista, particularmente na Casa dos Estudantes do Império, da qual chegou a ser vice-presidente em 1951. Foi cofundador e colaborador do seu boletim Mensagem e criou o Centro de Estudos Africanos com Mário de Andrade e Agostinho Neto. A partir da Casa dos Estudantes do Império, ele e colegas de outras colónias começam a apoiar-se na luta pela independência dos seus países. Ainda nessa altura, ele conhece Maria Helena Rodrigues, ao lado da qual vai iniciar a luta. Formado em engenharia agrónoma, Amílcar Cabral trabalha entre 1952 e 1955 em Pessubé, na Guiné, onde dirige o Posto Agrícola Experimental e faz o recenseamento agrícola de todo o território, com viagens que lhe serão úteis para a luta posterior. A 19 de Setembro de 1956, de acordo com a historiografia oficial do PAIGC, funda o partido do qual é o primeiro Secretário-Geral. Em Dezembro de 1957, participa na fundação do Movimento Anticolonialista (MAC), depois na Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional e na Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, ao lado de camaradas das outras colónias. A sua primeira conferência de imprensa em que denuncia o colonialismo português é em Março de 1960, mês em que vai para Conacry, onde passa a viver e que passa a ser a sede do partido e da luta. É em Conacri que, mais tarde, instala a Escola-Piloto para os filhos e órfãos de combatentes. Amélia Araujo, a locutora mais conhecida da Radio Libertação e que também trabalhava no secretariado, conheceu-o de perto. “O Amílcar era uma pessoa fora de série. Era uma pessoa extraordinária, que se preocupava com todos nós e que adorava as crianças. Ele dizia: ‘As crianças são a razão da nossa luta e as flores da nossa revolução'. Bonito, não é? Ele dava muita atenção às crianças. Todos os dias, de manhã cedo, ele ia à Escola-Piloto, sentava-se lá com os meninos, contava histórias, ensinava jogos, fazia competições entre rapazes e raparigas, na corrida, por exemplo. A minha filha ganhava sempre!”, conta, com orgulho, Amélia Araújo, ao lado da filha, a cantora Teresa Araújo, numa conversa em casa delas, na cidade da Praia, na ilha de Santiago. A partir de Conacri, Amílcar Cabral implementa todo um sistema de ensino pioneiro nas chamadas zonas libertadas na Guiné-Bissau, assim como hospitais, tribunais, assembleias populares, lojas do povo e são organizadas várias formações no exterior para preparar os futuros quadros dos dois países independentes. Maria Ilídia Évora, “Tutu”, tem retratos de Amílcar Cabral logo à entrada da sua casa, no Mindelo, na ilha de São Vicente. Para ela, "nunca mais África terá um líder assim". Conta que foi ele quem a convenceu a ir para Cuba, em meados dos anos 60, para se preparar para a guerrilha em Cabo Verde, mas a luta armada nunca se fez nas ilhas e Amílcar Cabral decide que Tutu vai fazer uma formação em enfermagem na antiga RDA. “Amílcar era uma pessoa muito humana, uma pessoa muito responsável, uma pessoa muito honesta e uma pessoa amiga. Todas as vezes que a gente se encontrava, ele punha-me ao lado dele para sentar na mesa e a gente falava depois. Ele tinha a atenção de dizer: ‘Vou ter um pequeno espaço para ti para falarmos da tua filha'. Portanto, para além de ser o meu líder, também foi como se fosse um pai. Você está a ver a estima que eu tenho por ele? Ele até está na minha entrada para toda a gente ver que eu sou Amílcar Cabral. Eu apoiei Amílcar Cabral. Foi o melhor líder que nós podíamos ter. Melhor não vai aparecer nunca”, sentencia Tutu. A antiga combatente recorda também que quando a motivação esmorecia, o líder do PAIGC tinha sempre as palavras certas: “Tu sabes porque é que estás aqui, filha. Estamos a lutar. É um comboio que viaja, alguns descem, outros sobem. Mas tu não vais deixar esse comboio porque eu penso que sabes por que é que tu estás cá. Não vieste à toa.” Só depois de frustradas todas as tentativas de diálogo com o poder colonial português, é que se passa da ação diplomática à luta armada em 1963. Amílcar Cabral foi, por isso, um estratega militar e muito mais, descreve o comandante Silvino da Luz. “Amílcar era um ser humano, antes de mais, extremamente humano, extremamente humanista. Mas o Amílcar tinha várias facetas. Amílcar era engenheiro, mas foi um chefe militar, um estratega inconfundível. Amílcar foi simultaneamente poeta e foi um visionário”, afirma Silvino da Luz, sublinhando que “a sua inovação da proclamação do Estado [da Guiné-Bissau] durante a luta foi uma coisa brilhante”. Silvino da Luz diz que seria preciso um livro para descrever Amílcar Cabral, mas vai avançando com mais algumas pistas: “É um teórico, um pensador das ciências sociais e políticas inconfundível. As suas grandes armas, seus grandes textos que ele deixou, por exemplo, 'O Papel da Cultura na Libertação Nacional', 'A arma da teoria', etc, etc, etc, que o tornaram célebre. Ainda hoje é lembrado e festejado e é comemorado nos diversos continentes. Portanto, era um homem de muitas facetas, um homem invulgar, profundamente humano. Ele dizia: ‘Se tivesse de mandar matar alguém dentro dos meus quadros da luta, então eu deixaria nessa mesma altura de ser dirigente e nunca mais seria dirigente desta terra''. Amílcar Cabral era, de facto, um “pensador e um grande líder”, resume a filha Iva Cabral, que também nos abre as portas de sua casa, na Praia, para nos falar do líder africano. “Ele é um grande líder. Conseguia levar as pessoas atrás dele. conseguia formar equipas. Era uma pessoa honestíssima porque ele dizia-me que ‘o problema de África não é a falta de recursos, o problema da África é a falta de honestidade, a elite africana não é honesta'. E é a realidade, diga-se de passagem. Nós traímos os nossos ideais. E ele dizia que o processo revolucionário não é uma ambição que ele tinha para a nossa juventude porque o que nós devemos é ser honestos conosco, honestos com o povo”, lembra a historiadora Iva Cabral. A pedra angular do ideário político de Amílcar Cabral era o princípio da “unidade e luta”, acrescenta. Os militantes da Guiné e Cabo Verde deveriam lutar juntos pela independência e contra o inimigo comum: o colonialismo português. Mas havia ecos de queixas de nacionalistas guineenses que se consideravam preteridos em detrimento de elementos da ala cabo-verdiana na ocupação de escalões superiores da estrutura do partido. Algo que viria a ser usado e instrumentalizado por parte da PIDE/DGS que tudo tinha a ganhar com a divisão entre os dois povos. O comandante Osvaldo Lopes da Silva chegou a confrontar Amílcar Cabral sobre a questão da unidade e a alertar para a necessidade de mostrar que os cabo-verdianos não queriam mandar na Guiné e queriam estar a par da evolução das coisas no que toca à luta pela independência também nas ilhas. “Devia-se vincar - até para sossegar os guineenses - que o cabo-verdiano não queria ir mandar na Guiné, que o cabo-verdiano quer mandar em Cabo Verde e o guineense que mande na Guiné. Vincar, chamar a atenção mesmo para o facto da História não nos aproximar. A História podia ser até um factor de maior separação porque a Guiné esteve durante muito tempo subordinada ao governo de Cabo Verde e isso cria movimentos de rejeição da parte da Guiné. E tínhamos que compreender”, explica o antigo comandante de artilharia. No regresso de uma formação de marinha de guerra no Mar Negro, Osvaldo Lopes da Silva e o grupo de cabo-verdianos que dirigia sentiram a hostilidade de elementos guineenses na Marinha, alguns dos quais estariam envolvidos no futuro complô que levaria à morte de Amílcar Cabral. A 23 de Janeiro de 1973, Amílcar Cabral era assassinado. Ana Maria Cabral, a esposa, estava com ele nessa noite. Diz que “não houve nenhuma justiça” e que “toda a verdade ainda não foi dita”. “Não houve nenhuma justiça. Não houve nenhuma justiça. Já se escreveu muita coisa sobre isso, mas toda a verdade ainda não foi dita. Eu pensei que depois da morte do Spínola, a verdade saísse. Falta esclarecer quem foram realmente - além de Spínola - quem foram todos os intelectuais que trabalharam nisso. Uma vez li uma entrevista de Spínola em que ele dizia, mais ou menos isso: ‘Eu não dei a ordem, eu não disse para matar. Eu não dei ordem para matar.' Mas como é que se vai distribuir armas a alguém e se diz para não utilizar as armas?", questiona Ana Maria Cabral, numa conversa em frente à praia, na capital de Cabo Verde. Até que ponto as divergências em relação à unidade não estiveram na origem do assassínio de Amílcar Cabral, a 23 de Janeiro de 1973? O líder do PAIGC foi assassinado em Conacri, em frente à sua residência, por um grupo que pretendia prender e eliminar os dirigentes do partido, pouco mais de dois anos depois da fracassada Operação Mar Verde, em que o exército português invadiu Conacri para tentar acabar com a direcção do PAIGC (22 de Novembro de 1970). Inocêncio Kany foi o homem que disparou a matar contra Amílcar Cabral, mas os mais próximos apontam a responsabilidade do então governador na Guiné, António de Spinola. O único cabo-verdiano presente nos interrogatórios aos assassinos de Amílcar Cabral foi Alcides Évora, conhecido como “Batcha”. Uma vez, na cantina do secretariado, ele conta ter ouvido Amílcar Cabral dizer que “quem o havia de matar eram os próprios camaradas do PAIGC”. Porém, “ele tinha uma confiança ilimitada nos camaradas”, acrescenta. Sobre os interrogatórios, em que serviu de intérprete, ele recorda que “estavam sempre a dizer mal dos cabo-verdianos e achavam que Cabral estava a beneficiar os cabo-verdianos em detrimento dos guineenses”. “Havia um certo ódio contra Cabral”, lamenta o homem que trabalhou bem perto do líder do PAIGC, no secretariado em Conacri, como nos mostra numa das fotografias em exposição na Fundação Amílcar Cabral. A morte de Amílcar Cabral não impediu que se cumprisse o seu objectivo: libertar a Guiné e Cabo Verde das garras do colonialismo. O comandante Pedro Pires, que depois do 25 de Abril de 1974 liderou a delegação cabo-verdiana nas negociações da independência, recorda que “sem o PAIGC ou sem essa aliança entre Guiné e Cabo Verde, a independência de Cabo Verde seria complicada”. “Isso, em certa medida, permitiu as vitórias ou a vitória final, se quiser dizer isso, na Guiné. A introdução dos artilheiros cabo-verdianos que melhoraram a capacidade da artilharia que era a arma que fustigava mais os quartéis e podia destruir os quartéis. Essa chegada e a introdução dos artilheiros cabo-verdianos foi um factor de mudança favorável à melhoria das capacidades das Forças Armadas do PAIGC”, testemunha Pedro Pires, acrescentando que essa aliança Guiné-Cabo Verde também abriu as portas às negociações para a independência depois da queda do Estado Novo em Portugal. Também a historiadora Ângela Benoliel Coutinho, autora de “Os dirigentes do PAIGC: da fundação à rutura: 1956-1980”, considera, em entrevista por telefone, que a “unidade e luta” foi uma “fórmula brilhante” que resultou na libertação e independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, mas também no fim da ditadura em Portugal. “A aposta em unidade e luta da direcção do PAIGC foi uma aposta brilhante que deu excelentes resultados, que permitiu libertar a Guiné-Bissau e Cabo Verde e que deu um forte contributo para libertar os portugueses da ditadura fascista, visto que desde há décadas tinha havido diversas tentativas de golpes de Estado, todas falhadas contra o regime do Estado Novo em Portugal, e esta tentativa foi bem sucedida”, resume a investigadora. Por sua vez, José Vicente Lopes, jornalista e autor do livro pioneiro sobre a história contemporânea do país “Cabo Verde - Os Bastidores da Luta pela Independência”, considera que o principio de “unidade e luta” foi “uma das utopias de Amílcar Cabral”, simultaneamente uma força e o ponto fraco do PAIGC. “Quando Amílcar falava em unidade, ele falava em várias unidades e querer ver uma população tão heterogénea como a guineense ou mesmo como a cabo-verdiana, chega a ser quase uma espécie de utopia ou então uma unidade imposta a martelo que também não funciona. Aliás, a história vem mostrar isso. A tal unidade pretendida pelo Amílcar era ao mesmo tempo força e, ao mesmo tempo, o ponto fraco do PAIGC ou daquele processo. Daí que foi uma das utopias do Amílcar que não se realizou por razões mais diversas, na medida em que a unidade nunca é feita por decreto, nem por força. Então, logo as coisas tiveram o fim que tiveram e, do meu ponto de vista, isto hoje é passado e não sei até que ponto vale a pena gastar mais tinta com isto”, considera José Vicente Lopes, também ao telefone com a RFI, a partir dos Estados Unidos, onde em Maio foi convidado pela diáspora a falar sobre o livro “Cabo Verde - Um corpo que se recusa a morrer”. A independência de Cabo Verde chegaria mais de dois anos depois da autoproclamada pela Guiné-Bissau, com o PAIGC a negociar com Lisboa os termos da independência cabo-verdiana, na sequência da queda da ditadura portuguesa, a 25 de Abril de 1974. Alguns anos depois, o golpe militar de 14 de Novembro de 1980 na Guiné-Bissau desfez o sonho de Amílcar Cabral de uma união política entre a Guiné-Bissau e Cabo Verde e ditou a cisão do PAIGC e a fundação, em Cabo Verde, do PAICV. Meio século depois, o legado de Amílcar Cabral persiste e o homem que é considerado como um dos maiores líderes africanos de sempre, continua a ser símbolo de resistência, unidade, luta e panafricanismo. Pode ouvir aqui as entrevistas integrais a Ana Maria Cabral e Iva Cabral:
Moçambique assinala neste 25 de Junho de 2025, os 50 anos da sua independência. Por esta ocasião, a RFI propõe-vos um percurso pela história do país e a sua luta pela liberdade. No décimo segundo episódio desta digressão, evocamos a luta de libertação e a independência de Moçambique vista a partir de Portugal. A guerra de libertação e a proclamação da independência foram um sismo na História de Moçambique mas também de Portugal que a partir de 1975 reintegrou as suas fronteiras iniciais, na periferia da Europa. Membro eminente da diáspora moçambicana em Lisboa, o artista Lívio de Morais viveu boa parte da sua vida nesse Portugal já sem império. Chegado em 1971 para estudar Belas-Artes, ele fundou a sua família e foi docente na zona de Lisboa. Em entrevista à RFI, ele começou por contar os seus primeiros tempos difíceis, como líder estudantil e militante independentista, enfrentando o racismo e o medo de ser preso pela PIDE, a polícia política. "Eu estava na associação como um dos dirigentes da Associação da Escola de Belas Artes e nós éramos rebeldes. E através da arte é possível fazer política. Eu desconfiava. Tive colegas, um de Cabo Verde, outro não sei de onde que fugiram. Foram para a Holanda, porque o ambiente não estava nada bom. Os professores tinham tendência a querer chumbar-nos. Sentia se o racismo dentro da faculdade e nós normalmente não comíamos dentro da faculdade e íamos andando de um lado para o outro. Procurávamos onde havia sossego e paz. Juntávamo-nos e falávamos sempre da política", começa por contar o artista. "O que era incómodo era poder se falar na luta de libertação. Porque aqui a Frelimo era considerada terrorista. Portanto, eu não podia declarar-me ‘terrorista', ou seja, da Frelimo. E, portanto, era apolítico por fora. Mas entre nós, africanos, não tínhamos outra linguagem" recorda o antigo professor que ao lembrar-se da atmosfera vivenciada aquando do 25 de Abril de 1974, fala de um sentimento de "inebriamento". "Estivemos a tocar tambores -e eu ainda tenho o meu tambor que andei a tocar- contentes, confiantes que estava tudo bem e que tudo ia resultar. Claro, havia uma certa dúvida sobre o fim da guerra, se até ao ano seguinte, na independência, se não teria um retorno, porque conforme a História, as coisas podem dar em golpe de estado", recorda Lívio de Morais referindo contudo nunca ter pensado em regressar ao seu país por considerar ser mais útil permanecendo no seio da Diáspora. Olhando para o seu país de longe, o pintor e escultor mostra-se algo crítico relativamente às escolhas que têm sido feitas. "Às vezes fico baralhado. Não sei se tenho que falar ou não, porque coisas absurdas acontecem. Todo o mal de Moçambique tem a ver com a administração da economia. Tem a ver com a distribuição da riqueza. Tem a ver com o desenvolvimento regional, porque há uma concentração em Maputo. A primeira coisa que Moçambique deveria fazer era efectivamente espalhar esse desenvolvimento, essa riqueza de norte a sul, com certo equilíbrio", considera Lívio de Morais. Relativamente a Portugal e à forma como é encarado, o artista que é muito activo na vida da zona onde reside, nas imediações de Lisboa, fala dos preconceitos que ainda podem subsistir. "O racismo é camuflado, está na mente das pessoas, não é aberto como era no tempo que eu estava como estudante. Quando eu estava a namorar, em 1976. Eram palavrões de todo o lado, como se tivesse cometido algum erro. Mas agora é normal, porque Portugal tem muitas culturas. Eu, pelo menos procuro lapidar logo que aparece uma cena dessas. A ideia que há sobre o africano na Europa. Os meus filhos são portugueses, mas têm a mistura da cor da mãe portuguesa e a mistura da cor do pai, que é moçambicano. O mundo tem que ser assim", diz Lívio de Morais que sobre o crescimento da extrema-direita em Portugal considera que "é uma vitória do racismo", mas que ele não vai prevalecer. "Não vão conseguir acabar com os africanos, com os indianos ou com os cidadãos do Bangladeche. Como nós, em Moçambique, não estamos interessados em acabar com os que nos querem. Quem vai a Moçambique, sendo portugueses, ingleses, franceses, etc, nós aceitamos porque é um meio de investimento, de desenvolvimento, de turismo, de bom conviver, da paz e vai ao encontro dos Direitos Humanos. O que dizem os Direitos Humanos? O ser humano é livre de escolher onde se sente seguro, onde se sente melhor para sua sobrevivência e vivência. Queiramos ou não queiramos, vamos nos aperceber que dentro de dez, 20, 30 anos, não haverá essa diferença que existia no passado dos pretos, dos brancos, dos amarelos", lança Lívio de Morais. 50 anos depois de Moçambique e de outros países de África Lusófona acederem à independência, falta ainda mudar a percepção desse passado em Portugal, apesar de ter existido um consenso contra a guerra colonial no seio da população portuguesa, diz Bernardo Pinto da Cruz, investigador especializado nesse período ligado à Universidade Nova de Lisboa. "Os estudos que existem acerca da opinião pública no último período do imperialismo português apontam que havia, de facto, um consenso contra a guerra colonial. Consenso esse que se refletia na composição das Forças Armadas e, depois do Movimento das Forças Armadas, que vieram a dar o 25 de Abril de 1974. Todavia, nós sabemos que grande parte da população era analfabeta e a iliteracia pesava muito num contexto em que a censura era recorrente, quotidiana", começa por constatar o estudioso. Sobre a forma como se apresenta a narrativa em torno da descolonização após o 25 de Abril, o investigador considera que "há duas fases distintas". "Até 1994-95, há uma espécie de cristalização de um tabu acerca da guerra colonial. Um tabu marcado sobretudo por um imaginário da esquerda. E, portanto, aqui temos um duplo legado. Portanto, o legado da descolonização é o legado da transição para a democracia. Depois, em 1994-95, dá-se uma explosão da memória. Pelo menos é assim que os historiadores e os cientistas políticos falam acerca desse período. Explosão da memória, em que a esse imaginário de esquerda começa a ser contraposto um imaginário de direita em que se começa a reequacionar a bondade da descolonização, o próprio processo de descolonização. E essa fase segue, grosso modo, uma desmobilização do tema da descolonização como um tema quente que era debatido no Parlamento português", diz o especialista em ciência política. Questionado sobre alguns dos efeitos da descolonização em Portugal, nomeadamente o regresso dos chamados ‘retornados' ao país dos seus antepassados, Bernardo Pinto da Cruz baseia-se nas conclusões de um livro recente da autoria do investigador João Pedro Jorge. "Foram encarados com suspeição por parte dos portugueses, também por parte de uma certa esquerda que temia que os ‘retornados' viessem engrossar as fileiras de apoio aos movimentos reacionários. Mas o que nós hoje sabemos é que foram uma força muitíssimo importante para a consolidação do Estado providência português, isto é, medidas assistencialistas de bem-estar. Os ‘retornados' foram uma força viva que permitiu ao Estado português reorientar-se de uma ditadura para a democracia", diz o universitário ao referir que o preconceito que existia em relação a essa categoria da população portuguesa tende agora a diluir-se. Sobre os militares que combateram nas diversas frentes na Guiné, em Moçambique e Angola, o pesquisador dá conta das contradições às quais ele e seus pares têm de fazer frente. "Temos aqui um problema para fazer investigação. Por um lado, honrar a memória é também honrar as necessidades que esses veteranos de guerra têm hoje em dia. (…) Por outro lado, nós temos de encarar de frente o problema dos crimes de guerra. E quando queremos encarar de frente os crimes de guerra, nós sabemos que eventualmente vamos estar a mexer não só com as memórias dessas pessoas, mas também com as suas famílias. Acabaremos sempre por contribuir também para a estigmatização dessas pessoas", refere Bernardo Pinto da Cruz. Evocando o caso ainda mais delicado dos africanos que combateram sob bandeira portuguesa, o especialista da descolonização diz que a única forma de lidar com com esse "dualismo em que se quer encerrar as pessoas é, talvez recuperarmos o papel do Estado português, das Forças Armadas portuguesas no aliciamento, no recrutamento forçado dessas pessoas". Por fim, ao comentar a crescente tentação que existe em Portugal de "branquear" o seu passado colonial, Bernardo Pinto da Cruz refere que "a visão mais corrente dentro da academia portuguesa é a da necessidade de descolonizar as mentes. E isso é sobretudo verbalizado por sociólogos do Centro de Estudos Sociais de Coimbra, que fizeram um trabalho importantíssimo acerca do que se costuma chamar de ‘amnésia histórica'. Essa ‘amnésia histórica ‘a propósito do colonialismo seria, no entender desses investigadores, um resultado do enorme impacto da ideologia oficial do Estado Novo que é o luso-tropicalismo. E esse luso-tropicalismo ainda hoje perdura nas mentes dos portugueses e, portanto, nós precisamos de descolonizar as mentes dos portugueses. Eu sou muito céptico a respeito disso. Eu reconheço o importantíssimo trabalho destes investigadores, mas eu sou muito céptico acerca do impacto que uma ideologia pode ter na prática para acreditarem a despeito de toda a prova empírica em contrário, de que Portugal não era um país racista. As últimas sondagens, por exemplo, do ano passado, a respeito dos 50 anos do 25 de Abril, mostram justamente isso : mais de metade dos portugueses acredita que o desenvolvimento dos povos foi a característica-chave do colonialismo português. Eu não discuto isso. Agora, dizer que isso está correlacionado a uma ‘amnésia histórica', eu não acredito. As pessoas sentem-se mais à vontade para falar, até porque têm uma oferta partidária hoje que lhes permite falar muito mais abertamente desse tópico", considera o estudioso acerca do racismo em Portugal. Podem ouvir os nossos entrevistados na íntegra aqui: Podem também ver aqui algumas das obras do artista moçambicano Lívio de Morais, recentemente expostas no Centro Cultural Lívio de Morais, na zona de Sintra, no âmbito da celebração dos 50 anos da independência de Moçambique:
Moçambique assinala neste 25 de Junho de 2025, os 50 anos da sua independência. Por esta ocasião, a RFI propõe-vos um percurso pela história do país e a sua luta pela liberdade. No nono episódio desta digressão, debruçamo-nos sobre o estatuto da mulher durante a luta de libertação, até aos dias de hoje em Moçambique. Quando se fala das mulheres nos tempos da luta é inevitável lembrar a figura de Josina Machel, primeira mulher do Presidente Samora Machel e também heroína da guerra de libertação. Nascida em 1945 em Vilankulos, no sul do país, no seio de uma família que se opõe ao colonialismo, Josina Machel ingressa na resistência em 1964. Envolvida em actividades de formação na Tanzânia, a jovem activista rejeita uma proposta de bolsa de estudos na Suíça para se alistar em finais dos anos 60 no recém-criado destacamento feminino da Frelimo, Josina Machel militando para que as mulheres tenham um papel mais visível na luta de independência. Ela não terá contudo oportunidade de ver o seu país livre. Dois anos depois de casar com Samora Machel com quem tem um filho, ela morre vítima de cancro aos 26 anos no dia 7 de Abril de 1971, uma data que hoje é celebrada como o dia da mulher moçambicana. Símbolo de resistência no seu país, Josina Machel ficou na memória colectiva como a encarnação do destacamento feminino. Óscar Monteiro, membro sénior da Frelimo, recorda as circunstâncias em que ele foi criado em 1966. "No processo político que nós vivemos em Moçambique, houve um momento em que as pessoas pensavam ‘nós temos uma linha política clara, justa, avançada'. E uma das questões muito importantes, era a atitude em relação às mulheres. Era normal, pela tradição que as mulheres fossem consideradas disponíveis como amantes. Quando Samora assume a direção, ainda me recordo de uma frase e se formos procurar esse documento, está lá a frase. Nós tínhamos criado o destacamento feminino em 1966, Samora tinha sido o instrumento disso. Então há uma frase que ele medita nessa altura. E a frase está lá. ‘Não criamos o destacamento feminino para fornecer amantes aos comandantes'. Estava só nesta frase. Já está aqui todo um programa que nós chamamos de emancipação da mulher, mas que é, no fundo, de igualdade de qualidade política da vida. Quer dizer, tu estás a fazer a luta de libertação. Isso não te permite fazer não importa o quê. Tu tens que ser uma pessoa diferente, uma pessoa melhor", explicita o responsável político. As mulheres que combateram foram uma faceta da condição feminina durante os anos de luta. Outros rostos, menos conhecidos e bem menos valorizados, são aqueles das chamadas ‘madrinhas de guerra'. Para dar alento aos soldados portugueses que partiam para a guerra sem saber se haveria regresso, o Estado Novo promoveu a correspondência entre milhares de mulheres e militares. Numerosas relações epistolares acabaram em casamento. Em Portugal, houve muitas. O que não se sabe tanto, é que em Moçambique também houve ‘madrinhas de guerra'. Um jovem antropólogo e fotojornalista moçambicano, Amilton Neves, conheceu-as e retratou as duras condições de vida que conheceram depois da independência. "Comecei a trabalhar sobre as ‘madrinhas de guerra' em 2016. Isso porque já pesquisava e encontrei um discurso do Presidente Samora que dizia que as ‘madrinhas de guerra' são ‘meninas retardadas'. Interessei-me por isso. Porquê as ‘madrinhas de guerra'? Que é isto? Então fui ao Arquivo Histórico, até à Torre do Tombo, em Lisboa, para perceber melhor. Porque as ‘madrinhas de guerra' não começam aqui. Começam em 1916 com a Grande Guerra em Portugal. E descobri que algumas ‘madrinhas de guerra' viviam aqui em Maputo, numa zona só. (…) Então, quem eram as ‘madrinhas de guerra'? Eram miúdas que eram recrutadas para escrever cartas para os militares de forma a incentivá-los e dizer que ‘não te preocupes, quando voltares da guerra, nós vamos casar. O Estado português sempre vai ganhar.' Então, neste exercício de troca de cartas, quando houve a independência, em 1975, as madrinhas de guerra foram perseguidas pelo novo regime. Então eu fui atrás dessas senhoras. Consegui identificá-las. Levou tempo porque elas estavam traumatizadas", refere o jovem fotojornalista. "As motivações dessas mulheres eram de fazer parte da classe alta naquela altura. Porque elas tinham acesso aos bailes, ao centro associativo dos negros, nesse caso, ao Centro associativo dos Mulatos, às festas que davam na Ponta Vermelha. Elas faziam parte da grande sociedade. Não era algo que poderíamos dizer que tinham algo benéfico em termos de remuneração. Acredito que não ", considera o estudioso referindo-se às razões que levaram essas pessoas a tornarem-se ‘madrinhas de guerra' que doravante, diz Amilton Neves, "vivem traumatizadas. Algumas se calhar foram a Portugal porque tinham uma ligação. Casaram. Mas a maioria ficou em Maputo" e sofreram uma "perseguição" que "não foi uma perseguição física, foi mais uma questão psicológica". Hoje em dia, muitas heroínas esquecidas de forma propositada ou não, ficam por conhecer. A activista política e social moçambicana, Quitéria Guirengane, considera que a condição das mulheres tem vindo a regredir em Moçambique. "Quando nós dizemos que há mulheres invisibilizadas pela História, vamos ao Niassa e vemos histórias como da Rainha Achivangila. Mulheres que na altura do tráfico de escravos conseguiram se opor, se posicionar, salvar, resgatar escravos e dizer ‘Ninguém vai escravizar o meu próprio povo'. Mas nós não colocamos nos livros da nossa história essas rainhas. Nós precisamos de ir ao Niassa descobrir que afinal, há mulheres que foram campeãs neste processo de luta. Estas histórias têm que ser resgatadas. Depois começamos a falar da Joana Simeão. Ninguém tem coragem de falar sobre isso. É um tabu até hoje. E você é visto como um leproso se tenta levantar este tipo de assuntos. E não estamos a dizer com isto que vamos esquecer a luta histórica de Eduardo Mondlane, que vamos esquecer a luta histórica de Samora Machel. Não. Eu não sou por uma abordagem de dizer que a história toda está errada. Todo o povo tem a sua história e tem a sua história oficial. Mas esta história oficial tem que se reconciliar, para reconciliar o povo, trazer as mulheres invisibilizadas pela história, mas também trazer todos os outros", diz a activista. Olhando para o desempenho das mulheres durante a luta de libertação, Quitéria Guirengane considera que elas "têm um papel incrível. Tiveram, tem e sempre terão um papel na luta de libertação. Terão um papel sempre activo no ‘peace building', no ‘peace making' no ‘peace keeping'. E é preciso reconhecer desde a mulher que está na comunidade a cozinhar para os guerrilheiros, desde a mulher que está na comunidade a informar os guerrilheiros, à mulher que está na comunidade a ser usada como isca para armadilhas, a mulher que está na comunidade a ser sequestrada, a ser alvo até de violações sexuais. Essas mulheres existem. Mas também aquelas mulheres que não são vítimas, não são sobreviventes, são as protagonistas do processo de libertação. E o protagonismo no processo de libertação, como eu disse, começa pelas rainhas míticas da nossa história, que não são devidamente abordadas. O reconhecimento deriva do facto de que, em momentos em que era tabu assumir um papel forte como mulher, elas quebraram todas essas narrativas e se posicionaram em frente à libertação. Depois passamos para esta fase da luta de libertação, em que se criam os famosos destacamentos femininos em que mulheres escolhem a linha da frente, escolhem a esperança em vez do medo e se posicionam", refere a também militante feminista. Volvidos 50 anos sobre a luta de libertação, apesar de ter formulado naquela época a vontade de fazer evoluir o papel da mulher na sociedade, Quitéria Guirengane considera que "se continua a travar as mesmas lutas". "A mulher ainda tem que reivindicar um espaço. É verdade que nós temos consciência que as liberdades, tal como se ganham, também se perdem. E que nenhum poder é oferecido, que nós temos que lutar. Mas é tão triste que as mulheres tenham sempre que lutar para fazer por merecer e os homens não tenham que fazer a mesma luta. Nós não só temos que lutar para chegar, mas também temos que lutar para manter e muitas das vezes colocadas num cenário de mulheres a lutarem contra mulheres", lamenta a activista. "Quando fazemos uma análise, uma radiografia, vamos perceber que a maior parte dos processos de paz foram dominados por homens. Quando nós tivemos no processo de paz, em 2016, finalmente duas mulheres na mesa, isso foi fruto do barulho que a sociedade civil fez naquela altura. A sociedade civil fez muito barulho e resultou numa inclusão de duas mulheres, uma da parte da Renamo, uma da parte do governo. Na mesa negocial entre uma dezena de homens que fez com que elas fossem apenas 12,58% de todo o aparato negocial do processo da paz. O que é que isto implica? Quando passamos para o processo de DDR, as comissões de negociação de DDR eram masculinas, todas elas homens. A desmilitarização foi entendida como um assunto de homens. A comissão sobre assuntos legais também era de homens, não havia mulheres. Quando nós olhamos para o processo de desmilitarização e ressocialização, nós percebemos que tínhamos 253 mulheres militares a serem desmobilizadas. E nesse processo, notava-se que foi pensado numa perspectiva de homens, não de compreender as especificidades e necessidades particulares", diz. Em jeito de conclusão, a activista muito presente na defesa dos Direitos das mulheres e liberdades cívicas, mostra-se "preocupada com as realidades da mulher com deficiência, da mulher na área de extractivismo, da mulher deslocada de guerra, da mulher deslocada por exploração mineira, da mulher rural, da mulher na agricultura, da mulher no sector informal, da mulher empresária. São realidades diferentes. Então não podemos meter num pacote de ‘one size fits all' e achar que as demandas são iguais. (…) Pior ainda : nos últimos seis meses da tensão social, a vida deixou de ser o nosso maior valor. Mulheres foram mortas, mulheres perderam os seus maridos, seus pais, seus filhos. Têm que acompanhar, levar comida para o hospital ou para as cadeias, sem nenhum apoio. E ninguém pensa nesta reparação. Então voltamos muito atrás. Eu diria que regredimos", afirma Quitéria Guirengane. Podem ouvir os nossos entrevistados na íntegra aqui: Vejam aqui algumas das fotos de Amilton Neves:
Nuno Duarte passou de desconhecido do público leitor a vencedor do Prémio LeYa. Em 2024, foi o escolhido pelo júri com o seu primeiro livro, “Pés de Barro”, em que ficciona a construção da Ponte sobre o Tejo - hoje Ponte 25 de Abril -, a partir de um pátio em Alcântara, onde vive Victor, que vem trabalhar na ponte, e Dália, a muda que cheira a chocolate.A que chegou a ser Ponte Salazar era, para o escritor, o “símbolo máximo do Estado Novo”. E, nesta entrevista a Magda Cruz, deixa um ponto assente: não podia escrever um livro passado durante o Estado Novo que não batesse no regime. Nuno Duarte nasceu anos antes da Revolução dos Cravos, detesta a ditadura e sublinha que é um tempo a que não quer voltar, apesar de sentir algum saudosismo, nos dias de hoje, vindo de algumas pessoas.Neste episódio do “Ponto Final, Parágrafo”, Nuno Duarte reflete sobre a importância do Prémio LeYa, sobre se tornar escritor e sobre como não sente pressão do mercado editorial para escrever um novo romance. Aliás, já escrevia o segundo livro quando nem sabia da atribuição do prémio, e ideias para três ou quatro livros não lhe faltam, garante.Considera apoiar o podcast no Patreon: patreon.com/pontofinalparagrafoContacto do podcast: pontofinalparagrafo.fm@gmail.comSegue o Ponto Final, Parágrafo nas redes sociais: Instagram, Twitter e FacebookProdução, apresentação e edição: Magda CruzGenérico: Nuno ViegasLogótipo: Gonçalo Pinto com fotografia de João Pedro Morais
Em 1933, a construção do Estádio Nacional e do Complexo do Jamor foi anunciada para ocupar os jovens que passavam os domingos nos cafés "discutindo os mistérios e problemas de baixa política". Saiba como as "merendas suaves" idealizadas pelo Estado Novo se transformaram nos piqueniques com porco no espeto de hoje em dia.
A caça ao homem e aos culpados de uma Guerra Civil; as mulheres na pop e o Estado Novo em objetos; sozinhos na arena e no meio dos discos: estas são as sugestões da semana do Pop Up.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Maj roku 2025 jest bez wątpienia miesiącem wielu wyborczych emocji. W Rumunii odbyła się pierwsza tura wyborów prezydenckich, wybrano kolejnego następcę św. Piotra, a 18 maja odbędą się wybory w aż trzech europejskich krajach – w Rumunii, Polsce i Portugalii. Warto zwrócić uwagę na te ostatnie, o których najmniej słyszymy w mediach. To już trzecie wybory parlamentarne w ciągu czterech lat, które odbywają się w tym iberyjskim kraju. Czy także Portugalię, przez dekady po upadku salazarowskiego Estado Novo zdominowaną przez lewicę, może czekać zmiana?Pozostałe artykuły możesz czytać na
O Manhã Brasil desta quinta (15), com o jornalista Mauro Lopes como âncora, tem os seguintes destaques: 1) Lula deve formalizar convite a Boulos para o Ministério. Boulos quer, diz que abrirá mão de candidatura em 2026, mas há oposição no PSOL; 2) Em entrevista ao UOL, apesar das tergiversações, Bolsonaro jogou a toalha em relação a 2026 e, pela primeira vez, acenou com o nome de Michelle; 3) Governo fará mais cortes no orçamento ainda este mês, sufocando o Estado brasileiroPessoas convidadas:João Claudio Pitillo, doutor em história pela UNIRIO, mestre em história comparada pela UFRJ. Historiador e professor de história especializado em história militar, com destaque para a participação soviética na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e na política externa do Estado Novo brasileiro durante o conflito.Fernanda Melchionna, deputada federal (PSOL-RS)
Há 51 anos o povo português libertava-se das amarras da ditadura. Numa madrugada histórica, a rádio foi o primeiro sinal de que algo estava a mudar. Às 22h55 do dia 24 de abril de 1974, “E Depois do Adeus” dava início à revolução. Momentos depois, já no dia 25, a “Grândola, Vila Morena” tirava as dúvidas aos mais céticos: o golpe de estado estava em curso. Foi pelas ondas da rádio que o Movimento das Forças Armadas recebeu a luz verde para derrubar o Estado Novo e devolver a liberdade aos portugueses. João Paulo Diniz, Nelson Ribeiro, Pedro Leal e Celeste Silva partilham a memória coletiva do 25 de abril e um gosto pela rádio. Desde o jornalismo sujeito à censura até à escolha simbólica das músicas que serviram como senha, destacam a influência deste meio de comunicação na defesa pela liberdade. Nesta reportagem, produzida pela ESCS FM em parceria com o PÚBLICO, os estudantes Ana Bárbara Duarte, Marta Nobre, Nuno Grave e Teresa Freire traçam o percurso da rádio antes, durante e depois da Revolução dos Cravos. Reportagem de Ana Bárbara Duarte, Marta Nobre, Nuno Grave e Teresa Freire. Coordenação de Marta Pinto. Genérico de Luís Batista e design de Carlota Real e Cláudia Martina.
Hoje é o Dia da Liberdade. O que fazemos com ela? O que fizemos com ela de 1974 até agora? Que perigos a rodeiam num tempo em que a extrema-direita cresce em toda a Europa, impulsionada pela vitória de Donald Trump. Se são os que no exercício do poder mais violentam a liberdade de quem pensa diferente, como Bolsonaro ou Trump, a usar o território democrático para se apresentarem como defensores de todas as liberdades, pode acontecer que a Liberdade esteja a precisar de quem a defenda de si própria? Temos de saber antes demais o que falhou. O que define liberdade? Que expectativas criamos à volta do que ela nos podia dar e não foi cumprido. Para que os extremismos, a que José Gil chama neofascismos, cresçam é preciso que as relações de uns com os outros não floresçam num mundo harmonioso, como prometia a modernidade, diz-nos o filósofo e ensaísta com quem fizemos uma viagem à procura de perceber a liberdade, conversa que vamos poder ouvir na integra no dia 1 de Maio. Por agora, neste 25 de abril, propomos que escute um pequeno trecho dessa viagem. Um espaço onde José Gil fala da decência que é posta em causa pela grosseria e brutalidade, porque a vocação dos neofascistas é rebentar com aquilo que a liberdade prometia.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Foi a primeira revista de culinária portuguesa e uma referência durante o Estado Novo. Mas acabou logo a seguir ao 25 de Abril. Conheça a história da Banquete, a revista que nasceu para vender fogões a gás.
Mais de meio século depois da publicação do livro que abalou a ditadura portuguesa, “Novas Cartas Portuguesas”, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, há uma nova edição em francês. “Nouvelles Lettres Portugaises” é uma tradução de Ilda Mendes dos Santos e Agnès Levécot e espera fazer redescobrir a intemporalidade de uma obra que foi revolucionária. A RFI conversou com Agnès Levécot neste programa. “Eu acho que, naquela altura, em Portugal, não era nada estranho que este livro tivesse esse efeito de bomba”, contava à RFI, há um pouco mais de um ano, Maria Teresa Horta, uma das autoras das “Novas Cartas Portuguesas”, que nos recebeu, em sua casa, em Lisboa, nas vésperas dos 50 anos da Revolução dos Cravos e que nos deixou em Fevereiro de 2025, aos 87 anos.A obra de Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, publicada em 1972, foi uma revolução literária e feminista que denunciou ao mundo o regime fascista português, o colonialismo, o racismo, o machismo, a violência sobre as mulheres, ao mesmo tempo que subvertiam as noções de autoria e de género na literatura.A ditadura do Estado Novo considerou o livro como “insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública”, abrindo um processo judicial contra as escritoras que ficaram ameaçadas com uma pena entre seis meses a dois anos de prisão. Seguiu-se uma onda de solidariedade internacional e o livro chegou a todo o mundo, incluindo a França, onde em 1974 é publicada a tradução de Monique Wittig e Evelyne Le Garrec.Mais de meio século depois, e perante uma edição há muito esgotada, surge agora nova tradução, “Nouvelles Lettres Portugaises”, de Ilda Mendes dos Santos e Agnès Levécot, editado pela Ypsilon, que chega às livrarias francesas a 7 de Maio e que é apresentada esta sexta-feira, 25 de Abril, em Paris.Fomos conversar com Agnès Levécot para perceber “o que podem [ainda] as palavras” das Três Marias.“Essa é uma pergunta complicada porque as próprias escritoras, as três, no fim do livro, ainda fazem a pergunta. Realmente um dos aspectos literários desta obra é o questionamento do acto da escrita e até ao fim, nas últimas cartas, elas continuam a pôr a questão ‘o que podem as palavras?' Quanto a nós, como tradutoras, chegámos à conclusão também que todos os aspectos políticos e históricos que são denunciados nas cartas continuam actuais. Esse é o problema. A questão do colonialismo continua actual. A questão da repressão continua. A questão feminista também. Estamos a ver, no mundo actual, um retrocesso em relação a esse aspecto. Portanto, continua completamente actual”, explica Agnès Levécot.Em plena ditadura, “Novas Cartas Portuguesas” era uma obra literária inédita que esbatia noções de autoria e de género e que era assinada colectivamente por três autoras que escreviam, sem tabus, sobre o corpo, o desejo, mas também sobre a violência de que eram vítimas as mulheres. Denunciavam, ainda, a guerra colonial, a pobreza, a emigração, a violação sexual, o incesto, o aborto clandestino. O livro era, assim, um perigo para o regime repressivo, retrógrado e fascista português. Pouco após o seu lançamento, em 1972, os exemplares foram recolhidos pela censura e o Estado português movia um processo judicial contra as “Três Marias”. Perante as ameaças de prisão e a tentativa de silenciamento das autoras, nasce um movimento de solidariedade internacional. Meses depois de ter sido publicado, em 1972, o livro chega às mãos da escritora francesa Christiane Rochefort e, através dela, ao grupo feminista Movimento de Libertação das Mulheres. Seguem-se várias acções de luta, nomeadamente em França, e que envolvem nomes como Simone de Beauvoir e Marguerite Duras. Há distribuição de panfletos, recolha de assinaturas para um abaixo-assinado entregue na Embaixada de Portugal em Paris e uma procissão de velas diante da Catedral de Notre-Dame. Outro momento emblemático é a leitura-espectáculo “La Nuit des Femmes”, a 21 de Outubro de 1973, no Palais de Chaillot, em Paris, que deu origem ao documentário “Les Trois Portugaises”, de Delphine Seyrig (1974).“Monique Wittig e Evelyne Le Garrec pegaram no texto e fizeram uma primeira tradução que foi publicada em 1974. Entretanto, tinha havido excertos traduzidos para artigos e espectáculos porque houve uma série de espectáculos e movimentações de apoio às Três Marias quando estavam no julgamento. Houve uma noite que ficou muito famosa que foi ‘La Nuit des Femmes' em que leram alguns excertos”, relembra Agnès Levécot, sublinhando que “o aspecto literário quase não foi abordado na altura”.O aspecto literário é precisamente “uma coisa fora do comum”, acrescenta a especialista em literatura lusófona. Três mulheres escrevem colectivamente uma obra literária e política, depois de terem publicado livros que não agradaram à ditadura patriarcal portuguesa. Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno tinham lançado, em anos anteriores, livros que denunciavam a opressão e a secundarização da mulher: Maina Mendes (1969) e Os Legítimos Superiores (1970). Em 1971, Maria Teresa Horta também publicava Minha Senhora de Mim e escrevia abertamente sobre o desejo, algo considerado escandaloso pelos fascistas.“São três mulheres que já eram escritoras, que já tinham publicado obras bastante feministas, que se juntaram e decidiram escrever um livro a três. Começaram a reunir-se todas as semanas num restaurante em Lisboa. Todas as semanas traziam um texto que elas tinham escrito e trocavam ideias a propósito dos textos, mas não os modificavam. A certa altura, começaram a pensar na figura de Mariana Alcoforado, a religiosa portuguesa, e começaram a escrever cartas. Globalmente, são chamadas cartas, mas não são só cartas, tem vários géneros: poesia, ensaios, supostos artigos de jornal, textos teóricos... Elas escreveram cartas a uma Mariana, mas são as descendentes de Mariana, ou seja, as várias Marianas que vieram depois. Portanto, têm cartas de vários séculos a acompanhar o percurso de uma suposta Mariana”, acrescenta Agnès Levécot.No posfácio de “Nouvelles Lettres Portugaises”, Agnès Levecot e Ilda Mendes dos Santos recordam, justamente, a importância da figura de Mariana Alcoforado, suposta autora das “Cartas Portuguesas”, de 1669, “apresentada por alguns como o arquétipo da mulher portuguesa” e a partir da qual “as Três Marias trabalham a questão da autoridade e do poder, o exercício da violência e da dominação, assim como, o poder da palavra”.Agnès Levecot, que já tinha participado no livroNovas Caras Portuguesas entre Portugal e o Mundo, que foi publicado depois de uma pesquisa internacional sobre a recepção das "Novas Cartas Portuguesas" no mundo, foi convidada por llda Mendes dos Santos para se juntar a ela na tarefa de traduzir a obra. “As principais dificuldades estavam no facto de serem textos completamente diferentes do ponto de vista do género, da tonalidade, da língua usada. Portanto, temos textos a imitar o estilo do século XVII ou XVIII, e aí a Ilda teve um papel muito importante porque ela trabalha muito sobre esses séculos. Foi sobretudo adaptar-se, tentar encontrar um estilo para cada momento e cada época. Depois, nós íamos oferecer uma tradução francesa a franceses e forçosamente tínhamos que encontrar uma maneira de passar certos elementos históricos, geográficos, políticos para o público francês perceber, porque são textos que estão muito impregnados de referências intertextuais portuguesas e internacionais de textos muito conhecidos e outros muito menos conhecidos, mas bem conhecidos dos portugueses. Referências políticas, nomes também, ou seja, elementos que nos levaram a acrescentar 200 e tal notas no fim do livro”, acrescenta.“Nouvelles Lettres Portugaises” chega às livrarias francesas a 7 de Maio e é apresentada esta sexta-feira, 25 de Abril, na livraria Les Nouveautés, em Paris. Uma data simbólica para Agnès Levécot que estava em Portugal no 25 de Abril de 1974 e ainda guarda, em casa, um cravo desses tempos revolucionários que marcariam, para sempre, o seu percurso pessoal e profissional.
Neste episódio especial, gravado ao vivo na Biblioteca Nacional, exploramos as raízes intelectuais que moldaram a Revolução de 25 de Abril de 1974. Com a moderação de Victor Pereira, o debate reúne os ilustres convidados João Leal, Jorge Pedreira, Maria de Lurdes Rosa e Miriam Halpern Pereira para discutir as influências e inovações historiográficas que desafiaram o regime ditatorial do Estado Novo. O ponto de partida é o manifesto de Ernesto Melo Antunes, lido em Cascais a 5 de março de 1974, onde se defende que a solução para o problema ultramarino é política e não militar. Esta ideia, também expressa por António de Spínola em "Portugal e o Futuro", reflete os verdadeiros interesses do povo português e os seus ideais de justiça e paz. Durante o Estado Novo, muitos cientistas sociais, tanto em Portugal como no exílio, desafiaram a visão imposta pela ditadura. Eles investigaram a história e a sociedade portuguesa, desvendando os bloqueios e desigualdades, e desconstruindo a propaganda do regime. Apesar das adversidades, as suas obras circularam amplamente, influenciando o pensamento crítico e preparando o terreno para a revolução. Neste episódio, discutimos as contribuições de António Borges Coelho, António Henrique de Oliveira Marques, Miriam Halpern Pereira e Vitorino Magalhães Godinho, e como as suas pesquisas moldaram a compreensão da história de Portugal durante um período de grandes mudanças sociais e económicas. Também exploramos a recepção dessas obras nas vésperas do 25 de Abril e o impacto duradouro que tiveram na sociedade portuguesa. Oiça aqui o debate gravado na Biblioteca Nacional.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Norte de Portugal, 1 de marzo de 1942. Antonio Roquete, uno de los principales torturadores de la dictadura de António de Oliveira Salazar, dirige una redada contra opositores al régimen. Entre ellos se cuenta un viejo conocido suyo. Porque Roquete, antes que esbirro del Estado Novo, ha sido jugador. Y quien queda detenido, expuesto a abusos y encerrado en un campo de concentración en Cabo Verde no es otro que Cândido, su antiguo entrenador. Nacido cerca de la frontera con Badajoz, Cândido de Oliveira lo ha sido todo en el el fútbol portugués: capitán en el debut histórico de la selección, cronista, técnico campeón de liga e incluso seleccionador. Pero además es un ciudadano comprometido con la democracia en plena Segunda Guerra Mundial. Sus contactos con el fútbol inglés le sirven para entrar como agente del espionaje británico a las órdenes de Ian Fleming. Esas noches de cócteles, póker y enigmas en el Casino de Estoril le servirán a Fleming para construir un personaje de ficción llamado Bond, James Bond. Miguel Lourenço Pereira, periodista y escritor portugués, nos guía por las rendijas biográficas de Cândido de Oliveira, una de las figuras más apasionantes del fútbol europeo en uno de los momentos más tenebrosos de la historia. Accede a contenido exclusivo sobre este capítulo en nuestra newsletter: www.brazaletenegro.com Youtube: https://www.youtube.com/@brazaletenegro Twitter: https://twitter.com/brazaletenegro Instagram: https://instagram.com/brazaletenegropodcast Brazalete Negro, el true crime del fútbol. Y, recuerda, Bill Shankly no tenía razón.
O documentário “As Fado Bicha”, realizado por Justine Lemahieu, chega às salas de cinema em Portugal a 17 de Abril. O filme acompanha Lila Tiago e João Caçador, a dupla do projecto musical e activista que revolucionou o fado nos últimos anos e o devolveu às suas próprias raízes dissidentes. A RFI falou com Justine Lemahieu, Lila Tiago e João Caçador sobre o documentário descrito como “um suspiro de utopia” e “uma possibilidade de estender pontes”. O projecto Fado Bicha inscreveu no património da canção portuguesa as vivências de uma comunidade LGBTQIA+ invisibilizada, quebrando e questionando barreiras e normas musicais, de género, de sexualidade e de linguagem. Ao filmar os bastidores, os ensaios, as sessões de maquilhagem, as performances e os momentos de reflexão de Lila Tiago e João Caçador, Justine Lemahieu retrata também o impacto estético, social e político das Fado Bicha. Tudo começou quando a realizadora franco-portuguesa, a viver em Lisboa há vinte anos e que trabalha sobre lutas e formas de resistência, assistiu a um concerto de Fado Bicha, no seu bairro, e soube que queria fazer um filme sobre o que estava a ver e a sentir.“Tudo isto começou porque assisti a um concerto das Fado Bicha no meu bairro, num pequeno bar. Foi assim que eu conheci a banda. Fiquei muito cativada pelo trabalho delas. Fiquei bastante emocionada pela música, pela performance. Senti uma beleza e senti vontade de partilhar essa emoção e a beleza que encontrei. Também senti que essas artistas estavam a fazer um trabalho importante relativamente à reflexão, ao questionamento sobre as normas de género. Também gosto muito de fado e senti que elas estavam a mexer num lugar muito complexo da cultura portuguesa, que estavam a quebrar barreiras e a fazer um trabalho bastante subversivo, politicamente muito forte”, explica a realizadora.Justine Lemahieu ficou particularmente sensibilizada com a canção “Crónica do Maxo Discreto”, na qual encontrou, pela primeira vez, “pessoas que quebravam o tabu das sexualidades escondidas”. Admirativa dessa “coragem de quebrar tabus” e de trazer para cima do palco tantos temas silenciados, não faltaram à cineasta mais razões para querer conhecer e filmar o projecto. Outro motivo com o qual se identificou foi o facto de as artistas cruzarem questões políticas de género com discriminações ligadas à classe social. Depois, a realizadora deixou-se levar pela própria ligação com a cultura portuguesa e quis reflectir sobre o espaço que o fado aí ocupa.“Ocupação” foi justamente o título do disco de estreia, editado em 2022, no qual as Fado Bicha resgataram um espaço queer no Fado. Essa ocupação chega agora ao cinema e quando questionadas sobre o que isso representa, Lila responde que é “estender pontes de identificação”, enquanto João fala em “suspiro de utopia”.“Representa um suspiro de utopia. Nos dias que correm - e no tempo todo que já vivemos, não só nós enquanto pessoas, mas a nossa ancestralidade - poder ver, numa sala de cinema, alguma representação mais pessoal, um olhar mais íntimo sobre a nossa existência, eu acho que traz um rasgo de utopia e também de olhar para o futuro. É, finalmente, também estarmos nesses lugares e sermos representados. A mim deixa-me muito comovido”, conta João Caçador.“É também uma possibilidade de estender pontes. Não é só estender pontes para outras pessoas queer como nós, é estender pontes de identificação, estender pontes de comunidade, de entendimento, a pessoas que não têm qualquer relação connosco, que não tem qualquer relação com a arte queer, com o pensamento queer, que não vêem isso à sua volta, que acham que é uma ficção do estrangeiro. A Justine tem esse lado muito conciliador, muito intimista, muito de nos entender a nós, enquanto pessoas, as nossas inquietações, aquilo que nos move. Então, também permite a pessoas que não têm, se calhar, sensibilidade, porque nunca conheceram ou acham que nunca conheceram ninguém queer. É também estender uma ponte, dizer: ‘Consegues encontrar-te na nossa humanidade também? Se calhar também consegues.' E isso é muito potente”, diz Lila Tiago.O documentário começa com a realizadora a perguntar: “Dizemos as Fado Bicha e não os Fado Bicha. Porquê?” Lila responde: “Dizemos o Fado Bicha ou as Fado Bicha. Usamos o plural feminino como forma alternativa, reparação histórica.” Esta é a chave com a qual entramos no filme, o que nos leva ao peso simbólico da “reparação histórica” através da arte, da música e da língua.“É entender como a linguagem e a língua portuguesa - e qualquer outra - encerra uma série de enigmas que nem sequer estão visíveis a uma pessoa que não queira procurar por eles. Um deles, por exemplo, é a forma como o género está inscrito na língua, temos coisas como o masculino universal, tanto no plural como no singular. Então começámos a usar o plural feminino. Eu utilizo pronomes femininos também e o João utiliza pronomes neutros ou masculinos. Essa noção de reparação histórica é um bocadinho isso, tem um lado recreativo, tem um lado provocador, mas também tem um lado intelectual muito particular, que é de olharmos para a língua e percebermos que, durante séculos, para estes dois corpos - o meu e do João ou quaisquer outras combinações de corpos em que houvesse pelo menos um homem - seria utilizado o plural masculino, por mais que fossem mil mulheres e um homem apenas. Então, nós utilizamos o plural feminino como uma provocação para fazer as pessoas pensar e criar uma disrupção”, explica.A disrupção passa também pela transformação da palavra “bicha”, carregada durante décadas de conotações pejorativas e discriminatórias. No filme, a dada altura, vemos a mão tatuada de Lila e lemos a palavra “bicha”. Ela diz: “A palavra bicha é super importante para mim. É tatuar no corpo de uma forma visível a minha identidade e que ela faça parte da forma como sou vista e lida”. João também tem a palavra tatuada no corpo e explica-nos como é que se trata de mais um gesto artivista.“A palavra bicha passou muito tempo nas nossas vidas como uma identidade que nós tentámos esconder durante muito tempo e, de muitas formas, tivemos vergonha dela e foi usada contra nós de muitas formas. Ao escrevê-la no nosso corpo, é uma espécie de fim de uma negação e de um compromisso social e pessoal porque mesmo que nós queiramos esconder, ela está visível. A Lila tem-na inscrita na sua mão, a minha está inscrita num braço e eu senti que era importante não haver espaço para dúvidas da minha identidade e deixá-la inscrita e visível”, resume.O projecto “Fado Bicha” tatuou também a história recente do Fado, um espaço onde sempre existiram pessoas queer - artistas, fadistas, letristas, poetas - mas sem que isso se reflectisse, por exemplo, nas letras das canções. Com Fado Bicha, isso mudou.“O fado carrega, ainda hoje em dia, 51 anos depois do 25 de Abril, o peso e o impacto que o Estado Novo teve no género do fado. O fado tem uma tradição antes do Estado Novo, até antes mesmo da ditadura militar e até antes mesmo da implantação da República em Portugal, que foi em 1910. Tem uma tradição de dissidência e de intervenção social muito forte, que é uma coisa que a maioria das pessoas não sabe, mesmo na viragem do século XIX para o século XX. Há uma tradição muito forte de fado republicano, de fado anarquista, mesmo durante o século XIX. Tendemos a pensar que o fado sempre foi sobre saudade e marinheiros, mas no século XIX era um fado contra a miséria, contra a Igreja, contra o abuso laboral. Portanto, quando nos acusam que estamos a corromper as bases fundamentais do fado, na verdade, nós estamos a honrá-las porque estamos a ir buscar outra vez esse lado de denúncia e de intervenção social”, sublinha Lila Tiago.Porém, “Fado Bicha” causa ainda “muito desconforto a uma série de pessoas”, acrescenta a artista. A ilustrar isso mesmo foi o facto de Justine Lemahieu ter sido obrigada a retirar uma sequência do filme relativa ao videoclip “Lila Fadista”, uma adaptação do fado “Júlia Florista”. Os herdeiros de um dos autores deste fado recusaram ver o documentário e não licenciaram os direitos da canção. Lila e João são várias vezes confrontadas com este tipo de situações, ainda que faça parte da própria tradição do fado a interpretação de canções que já existem.O documentário “As Fado Bicha” chega aos cinemas portugueses a 17 de Abril, depois de ter passado nos festivais IndieLisboa e no Queer Porto em 2024 e no Thessaloniki Documentary Festival este ano.[Além da entrevista a propósito do filme, pode ouvir, abaixo, outra das entrevistas que as Fado Bicha deram à RFI, em Maio de 2022, na qual tocaram, por exemplo, “Crónica do Maxo Discreto”.]
Ein Lied, das im Radio gespielt wird, gibt das Zeichen zum Aufstand. Am 25.04.74 stürzen Militärs die grausame Diktatur des Estado Novo. Die Straßen von Lissabon füllen sich mit Zehntausenden Menschen, die die Freilassung der politischen Gefangen fordern und den aufständischen Soldaten rote Nelken schenken.Doch hat die Revolution erst an jenem Morgen begonnen, oder bereits über zehn Jahre zuvor, mit den antikolonialen Aufständen in Mosambik, Angola und Guineau-Bissau? Und ist die Nelkenrevolution mit dem Sturz der Diktatur schon vorbei, oder hat sie gerade erst angefangen?Quellen:Urte Sperling: Die Nelkenrevolution in Portugal.Phil Mailer: Portugal – Die unmögliche Revolution?Support the showSchickt uns Feedback an hallo-gkw@riseup.net Abonniert unseren Telegram-Kanal @linkegeschichte um die Fotos zu sehen und keine Folge zu verpassen. t.me/linkegeschichte Unterstützt diesen Podcast mit einer Spende: https://steadyhq.com/de/linkegeschichte/about
Em meados do século XX, a construção da Nova Cidade Universitária de Coimbra implicou a demolição da Alta de Coimbra. Três mil pessoas foram distribuídas por vários bairros da cidade dos estudantes. Mas a memória dos habitantes da Alta – os chamados salatinas – permaneceu nas novas comunidades e vive hoje os momentos mais evocativos das últimas décadas. O que resta desse tempo de Coimbra? Que futuro tem este património afetivo da cidade? Rafael Vieira, o autor do livro «Os Salatinas, Coimbra da Saudade», junta-se à conversa com Maria de Lurdes Dias, uma das sobreviventes dos salatinas do século XX.O Da Capa à Contracapa é uma parceria da Fundação com a Renascença.
A Ficção como História - este é o título e a premissa do livro de Dorothée Boulanger agora publicado em português, depois de uma primeira edição em inglês. A académica francesa analisou mais de 20 romances de autores angolanos como Pepetela, Manuel dos Santos Lima, Ondjaki, José Eduardo Agualusa ou Sousa Jamba, todos publicados no período pós-colonial. O objectivo era tentar perceber o papel da literatura na formação da identidade nacional nos primeiros anos da independência. O trabalho é o resultado de uma investigação durante o doutoramento na Universidade de Oxford, onde continua como professora. O que levou a Dorothée a viver e a trabalhar em Angola e como é que esse período influenciou esta investigação? Eu morei em Angola de 2009 a 2011, na cidade de Lobito. Foi, primeiro, uma oportunidade pessoal e familiar, mas, anteriormente, tinha-me formado em relações internacionais e estudos de género, especializando-me no assunto dos conflitos armados em África e em assuntos de pós-conflito, reconstrução, reconciliação. Por isso, o contexto angolano era muito interessante para mim. A guerra civil parou menos de uma década antes da minha chegada em Lobito. Morar mais de dois anos nessa cidade foi uma oportunidade preciosa para o meu trabalho, porque eu quero pensar a literatura como uma intervenção estética e política num contexto específico. A minha leitura das obras fez-se a partir da situação do país. Deu-me a possibilidade de ver a especificidade do discurso literário angolano e os desafios que a população enfrentava acerca da liberdade de expressão e da memória da guerra.O que faz de Angola especial para que a literatura de ficção seja útil como fonte da história do país?O papel de muitos escritores angolanos durante a guerra anticolonial, a sua participação na luta armada e dentro do MPLA, tornou-os atores políticos importantes e também testemunhas privilegiadas deste período. Por isso, as narrativas que eles fizeram têm um valor histórico. Também gozavam de um grande prestígio social. O primeiro presidente, Agostinho Neto, era chamado presidente-poeta. E a União dos Escritores Angolanos foi a primeira associação criada pelo Estado independente. Dentro do primeiro governo Neto, havia muitos escritores com função de ministros na saúde, como o Uanhenga Xitu, na cultura, como o António Jacinto. Então, realmente, os escritores estavam dentro do aparelho do poder.O que é que os romances de ficção angolanos ensinam sobre Angola que não está nos manuais de história? Uma das contribuições da literatura angolana é de oferecer um discurso angolano sobre a história do país. Um discurso angolano que se distancia do discurso oficial do regime, que fala das tensões dentro do MPLA, do oportunismo das elites pós-coloniais, das purgas. É importante ter vozes angolanas para contar esta história, centrando perspectivas autóctonas e referências culturais e linguísticas angolanas. Os escritores nem sempre concordam na sua maneira de contar ou analisar certos eventos históricos. Ver estes desacordos e estes conflitos é importante para deixar a história aberta e evitar mistificações. A literatura de ficção permite também transmitir de maneira clara, muito pedagógica, trajetórias históricas complexas, influências múltiplas que construíram a sociedade angolana desde o período da escravidão até hoje. A literatura torna-se um arquivo precioso do período revolucionário angolano. Estou pensando nas histórias de infância do Ondjaki, em Luanda, nos anos 1980, quando a cidade e o país eram fechados ao mundo. O romance de Pepetela, "O Planalto e a Estepe", por exemplo, fala das redes revolucionárias dos anos 1960 e 1970, de Cuba à Argélia e à União Soviética. Por outro lado, às vezes, é nos seus silêncios que a literatura angolana nos ensina muito sobre o papel dos intelectuais. A dificuldade, por exemplo, de falar da tentativa de golpe de Estado do 27 de maio de 1977 por parte dos escritores mais próximos do poder, mostra a dificuldade dos intelectuais em pensar também na sua cumplicidade com a violência do Estado.O que é que descobriu que não estava à espera? Tive várias surpresas. Eu acho que a primeira surpresa foi durante a minha primeira leitura dos romances, num contexto em que a população angolana não se sentia à vontade para falar da guerra ou do governo. Pelo contrário, os escritores contavam histórias difíceis, complexas, faziam acusações a propósito do papel das elites, também sobre a herança da escravidão, a falta de integridade ideológica e ética de muitos líderes políticos ou religiosos. Havia esta liberdade de tom dentro da literatura. A segunda surpresa foi realizar, mais tarde, após ler muitos romances, a centralidade das perspectivas masculinas e a falta de substância de muitos personagens femininos, sobretudo com os escritores da geração da independência. Os seus romances eram anticoloniais, anti-racistas, que denunciam a dominação portuguesa e a propaganda do Estado Novo. Por isto, não pensava que adotariam com tamanha facilidade estereotipos sexistas. Ademais, o MPLA tinha um discurso de inclusão das mulheres na luta. Mas era só isso, discurso. Os romances angolanos revelam que a emancipação das mulheres e o privilégio masculino são pontos cegos para estes autores, todos homens. Estou pensando em "Sim Camarada!", de Manuel Rui, ou "Mayombe", de Pepetela, que são obras sexistas. Mas o que é muito interessante é que parece que estes autores depois tentaram corrigir um pouco esta propensão. "Lueji: O Nascimento de um Império", de Pepetela, "Rioseco", de Manuel Rui, tentam celebrar o papel das mulheres nas lutas e nas guerras em Angola. Mas até hoje há muito pouco mulheres escritoras no país, o que sublinha, eu acho, a persistência de uma atmosfera masculina acerca da literatura.Há aqui um modelo para analisar a história de outros países da África lusófona da perspetiva da literatura? Sim, a literatura africana sempre teve essa vontade de responder ao discurso colonial, de contar a história na perspectiva dos africanos e das africanas. Um dos aspectos do discurso colonial era negar a história africana, dizendo que a sua história começou com a chegada dos europeus. Muitos escritores africanos - Yvonne Vera, Ngugi wa Thiong'o, Assia Djebar e muitos outros - escreveram para contar a sua própria história e revelar a violência e a regressão histórica que constituiu a ocupação europeia do continente africano. Isto sendo dito, eu acho que o caso angolano tem as suas especificidades. No contexto do Estado Novo, a censura política, a propaganda portuguesa deram à literatura um papel importante para fazer ressoar o discurso anticolonial e nacionalista. Daqui, os escritores angolanos, que por razões sociais, familiares, tinham laços fortes com o MPLA, participaram fortemente na luta anticolonial, como escritores e como militantes, às vezes como guerreiros. Esta proximidade com a luta e depois com o aparelho de Estado dá este valor histórico à literatura angolana e à sua especificidade. Analisou a literatura pós-colonial, de 1960 a 2010. A literatura angolana, ou africana em geral, é hoje menos ativista politica e socialmente? É uma pergunta interessante, mas é uma pergunta difícil, porque, como eu expliquei, a literatura africana, de forma geral, tem esta dimensão política. Não se reduz a este discurso político, mas tem essas preocupações com o poder, as desigualdades, a dominação histórica. Eu acho que hoje esta dimensão combativa da literatura africana pode encarnar-se em outras lutas de género ou ambientais. Mas, no caso da literatura angolana, acho que é verdade que não encontramos o mesmo dinamismo, a mesma criatividade que há 30 anos. Angola teve uma geração excepcional de escritores desde os anos 60. É indisputável. Hoje em dia, não são tantos, e a luta encarna-se em outras formas de arte, como o hip-hop, por exemplo. A expressão crítica e criativa faz-se através das redes sociais. E temos também que dizer que a negligência do Estado angolano com a educação e a cultura não permitiu um forte desenvolvimento da leitura e da literatura dentro das gerações mais jovens.O livro "A Ficção como História - Resistência e Cumplicidades na Literatura Angolana Pós-Colonial" publicado pela editora Mercado de Letras vai estar à venda em Angola a partir de Março e vai ficar disponível mais tarde em versão digital graças a uma parceria com a editora francesa Africae.
Após o 25 de Abril, o novo regime democrático preferiu exilar as principais figuras do Estado Novo, e a transição de poder acabou por se fazer sem julgamentos de ministros. A que se deveu essa opção?See omnystudio.com/listener for privacy information.
A escritora Maria Teresa Horta, uma das “Três Marias” do livro revolucionário “Novas Cartas Portuguesas”, morreu esta terça-feira, aos 87 anos. Há um ano, Maria Teresa Horta recordava à RFI como essa obra fez tremer a ditadura, num programa que aqui voltamos a publicar. O livro “Novas Cartas Portuguesas”, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, foi uma revolução que, em 1972, ajudou a denunciar o regime ditatorial português ao mundo. A obra foi apreendida e as “Três Marias” foram para tribunal. A 5 de Fevereiro de 2024, aos 86 anos, Maria Teresa Horta recebeu a RFI na sua casa em Lisboa e falou-nos sobre os tempos em que as suas palavras tiveram um “efeito de bomba” sobre o fascismo. Um programa feito no âmbito dos 50 anos do 25 de Abril, em que a RFI falou com vários resistentes ao Estado Novo. “Eu acho que, naquela altura, em Portugal, não era nada estranho que este livro fosse tivesse esse efeito de bomba”, começa por dizer Maria Teresa Horta. E, de facto, o livro Novas Cartas Portuguesas, escrito por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, teve o “efeito de uma bomba” durante o Estado Novo. Foi uma revolta sem armas que ajudou a denunciar o regime fascista português ao mundo.A obra foi publicada em 1972 e, pouco depois do lançamento, a primeira edição foi recolhida e destruída pela censura, dando origem ao processo judicial das “Três Marias”, movido pelo Estado português. A ditadura considerou o livro como “insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública” e as autoras estavam ameaçadas com uma pena entre seis meses a dois anos de prisão.Em causa, uma obra literária em que as mulheres falavam sem tabus do seu corpo, do desejo, mas também da violência e do estatuto social e político inferior de que eram vítimas. Denunciavam, também, a guerra colonial, a pobreza, a emigração, a violação sexual, o incesto, o aborto clandestino. O livro era, por isso, um perigo para o regime repressivo, retrógrado e fascista português e fez tremer o tecido político e social do país.Este livro, para mim, continua a ter o efeito da claridade. Naquela altura, num país fascista em que, na realidade, todos nós tínhamos uma tristeza intrínseca, uma revolta interior imensa, e exterior, nós só demos por que este livro até poderia ser perigoso, entre aspas, para nós, depois de ele ter sido proibido e ter havido aquilo tudo.As autoras de Novas Cartas Portuguesas já tinham publicado livros que considerados ousados no que toca àquilo que era esperado das mulheres. Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno tinham lançado, em anos anteriores, livros que denunciavam a opressão e a secundarização da mulher: Maina Mendes (1969) e Os Legítimos Superiores (1970). Em 1971, Maria Teresa Horta também publicava Minha Senhora de Mim e desafiava a moral e os bons costumes do regime fascista com uma escrita revolucionária e erótica. Por causa da sua poesia, Maria Teresa Horta foi perseguida pela PIDE, violentamente espancada por três homens e foi parar ao hospital. Em vez de a calar, o episódio bárbaro foi um motor de revolta e incitou a escrita de Novas Cartas Portuguesas. “É um livro político, essencialmente político, feito num país fascista"“Quanto mais me proíbem, mais eu faço”, resume Maria Teresa Horta na sua sala estofada de livros, em Lisboa. O livro “parte de uma realidade horrível” que foi simplesmente esta: “No tempo do fascismo, eu fui espancada na rua pelos fascistas”. Depois, no encontro semanal com as amigas Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno, ela contou-lhes o que aconteceu e, na semana seguinte, surge o primeiro texto de Novas Cartas Portuguesas. Assim começava a aventura literária e política desta obra escrita a seis mãos.A partir daqui partem as ‘Novas Cartas Portuguesas'. O começo é este. É muito importante. Não é um começo intelectual. É, na realidade, aquilo que o livro tem de mais interessante porque é realmente um livro de ficção, porque é realmente um livro intelectual, mas se for ver bem - e não é preciso vasculhar muito - é um livro político, essencialmente político, feito num país fascista.Em Maio de 1971 começa o processo de escrita do livro que durará nove meses. Em Abril de 1972 eram publicadas as Novas Cartas Portuguesas, pela editora Estúdios Cor, sob a direcção literária de Natália Correia, a escritora que em 1966 tinha sido condenada a três anos de prisão com pena suspensa pela publicação da Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, considerada “ofensiva dos costumes”. Ou seja, a obra que faz tremer o regime é escrita por três mulheres e editada por outra mulher. “Se a mulher se revolta contra o homem, nada fica intacto”, lê-se numa das cartas...“O livro foi feito por três mulheres e publicado por outra mulher e, naquela altura, estamos a falar de fascismo. Era fascismo puro e não havia mais ninguém que fosse capaz de fazer uma coisa dessas [publicar o livro] a não ser uma mulher”, acrescenta Maria Teresa Horta, lembrando que “as mulheres eram consideradas perigosas” se fugissem ao que se esperava delas socialmente.Recuemos no tempo: naquela altura [passaram pouco mais de 50 anos], na escola, a quarta classe apenas era obrigatória para os rapazes e os conteúdos curriculares reproduziam a lógica de submissão da mulher à esfera do lar e ao marido. Várias profissões estavam vedadas às mulheres, como a magistratura, a aviação e as forças de segurança. As discriminações salariais estavam consagradas na lei e o marido podia ficar com o ordenado da mulher e até proibi-la de trabalhar. Em 1946, o direito de voto foi alargado às mulheres chefes de família, mas retirado às mulheres casadas; o Código Civil de 1967 definia a família como chefiada pelo marido; era proibido o divórcio no casamento católico; a mulher precisava de autorização do marido para pedir passaporte e sair do país e a violência sobre as mulheres e as crianças não era criminalizada.Não espanta, por isso, que a censura se tenha apressado a retirar e a proibir Novas Cartas Portuguesas pouco depois da publicação. A seguir, “foi uma loucura”. Maria Teresa Horta recorda-se de ter sido surpreendida, na televisão, pelas palavras do presidente do Conselho, Marcello Caetano, no programa “Conversa em Família”. A poeta estava, precisamente, em família e ficou incrédula com o que ouviu.Marcello Caetano estava a fazer a ‘Crónica em Família', como se chamava e, de repente, diz: ‘Mas hoje tenho outra coisa a dizer: há três mulheres que não são dignas de ser portuguesas, Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa, que publicaram um livro que é uma vergonha para qualquer português'... Extremamente indignada, foi aí que Maria Teresa Horta percebeu que “isto vai dar um sarilho desgraçado”. Mas foi muito mais do que um sarilho. Foi a tal bomba contra o regime e respondeu a uma das perguntas que as autoras deixam no livro “O que podem as palavras?” Vitória literária e política contra a ditaduraDepois da censura, da proibição e do processo judicial instaurado contra Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa, surgiu uma enorme solidariedade que ultrapassou fronteiras e desencadeou protestos em vários países. Depois de banido, o livro foi imediatamente traduzido em França, Itália, Alemanha, Estados Unidos e é, até hoje, uma das obras portuguesas mais traduzidas em todo o mundo.Em França, Simone de Beauvoir, Marguerite Duras e Christiane Rochefort promoveram várias acções de luta, como a distribuição de panfletos, recolha de assinaturas para um abaixo-assinado entregue na Embaixada de Portugal em Paris e uma procissão das velas diante da Catedral de Notre-Dame. Também nos Estados Unidos e na Suécia se realizaram manifestações de apoio às “Três Marias”, e, nos Países Baixos, houve mulheres a ocuparem a Embaixada de Portugal. Em Junho de 1973, em Boston, na Conferência Internacional da National Organization of Women, em que participaram cerca de 400 mulheres, a luta das “Três Marias” constituiu-se como “a primeira causa feminista internacional”. Outro momento emblemático foi a leitura-espectáculo, a 21 de Outubro de 1973, “La Nuit des Femmes”, no Palais de Chaillot, em Paris, que deu origem ao documentário “Les Trois Portugaises” Delphine Seyrig (1974).A primeira sessão do julgamento decorreu no Tribunal da Boa Hora, em Lisboa, em Julho de 1973. No dia seguinte, começavam as férias judiciais, por isso, durante três meses as escritoras não voltaram ao tribunal. O início oficial ficou marcado para 25 de Outubro e a imprensa internacional estava de olhos postos nas “Três Marias”.Após sucessivos incidentes e adiamentos, o julgamento acabou por não acontecer graças à Revolução dos Cravos. Poucos dias depois do 25 de Abril de 1974, a 7 de Maio, a sentença foi lida, determinando a absolvição das “Três Marias”. O juiz Acácio Lopes Cardoso defendeu, então, que “o livro não é pornográfico, nem imoral” mas sim “obra de arte, de elevado nível, na sequência de outros que as autoras já produziram”.Para a história, ficou uma vitória literária e política de um livro escrito por três mulheres, com textos que cruzam poesia, romance, ensaio, contos e cartas, esbatendo noções de autoria e géneros literários e denunciando todos os temas censurados em plena ditadura.
“Em Silêncio” é uma banda desenhada de Adeline Casier que ilustra o que foi o “salto”, ou seja, a emigração clandestina para França de milhares de portugueses durante a ditadura do Estado Novo. Entre 1957 e 1974, 900 mil portugueses foram para França e milhares atravessaram as fronteiras sem passaporte. Foi o caso do avô da autora, cuja viagem clandestina para França é retratada na obra e mostra que os dramas da imigração ilegal continuam, só mudaram as nacionalidades dos protagonistas. A história de “Em Silêncio” começa com disparos sobre homens que caminham em fila algures nas montanhas dos Pirinéus. Estamos em Novembro de 1962 e a miséria, a falta de trabalho e a ameaça de mobilização para a guerra colonial obrigam João a deixar as filhas e a esposa na aldeia de Arnozela, no norte de Portugal, para procurar sustento em França. João vai à procura de uma vida melhor e mergulha numa viagem para o desconhecido depois de pagar a um passador. A sua história ecoa com as de tantos milhares de portugueses que a viveram e com as de tantos outros que hoje a repetem a partir de outros países.“Através da história do meu avô, espero que os leitores se possam identificar com uma história mais universal que é a da imigração ilegal”, conta a autora, que nos começa por explicar o porquê do título “Em Silêncio”. Esta história é baseada no testemunho do meu avô, mas eu criei uma parte. Há uma personagem que eu inventei e que não fez parte do seu testemunho. Existem também cenas que acrescentei para fins narrativos e para o argumento. De qualquer forma, no seu testemunho, o que aparecia muito era que nesta travessia que ele fez, havia esta coisa de se esconder sempre, de não fazer barulho, como se tivéssemos de ser um pouco transparentes... Esconder-se nas granjas, nas rochas, na natureza. E tudo porque ele atravessou a Espanha a pé.E depois, ‘Em Silêncio' porque, na minha história, o meu avô teve uma espécie de vergonha em relação ao que viveu e há toda uma reflexão em torno do facto de ter passado por tudo aquilo para chegar a um país onde não se sentia necessariamente confortável ou não foi bem-vindo como esperava. É como um sonho desfeito. Esperávamos encontrar logo um trabalho, ter dinheiro, ter uma vida confortável e acaba por ser um pouco mais complicado do que isso. Também noutros testemunhos de migrações, ouvi muito sobre o medo de contar à família tudo por que se passou, tudo o que se viveu e que quando lá se chegou, foi difícil e houve uma espécie de desilusão. Foi aos 23 anos que Adeline pediu ao avô para lhe contar o que viveu e agora, com 27, publica a BD. O objectivo não é fazer do avô um herói, mas mostrar a dimensão universal e intemporal da emigração. Desde pequena, ela sempre ouviu os relatos da mãe, de onde sobressaía a imagem do avô a entrar em França escondido numa carrinha carregada de porcos que iam para o matadouro. Esta é a história do meu avô. Pedi-lhe para me contar a sua história, como chegou a França. Tudo começou porque a minha mãe me contava uma pequena parte dessa história que é o momento em que o meu avô teve de atravessar a fronteira entre Espanha e França. Como havia o risco de controlos da alfândega, ele escondeu-se num camião de porcos com outras pessoas que emigravam. Tiveram que se esconder porque isso evitava que a alfândega revistasse os camiões e também porque conseguiam estar no quentinho porque era no inverno.Por isso, sempre tive esta história na cabeça, desde a minha infância, e quis saber mais. Então, pedi ao meu avô que me contasse a sua história e decidi fazer um livro. É preciso ver que as histórias de imigração ilegal são muito contemporâneas. Ainda que esta história conte momentos vividos que podem ser muito diferentes de alguém que hoje migre de um país africano para França, penso que se encontram imensas dificuldades para se chegar a este país e para se ser acolhido como se deve, com respeito. Há, ainda, um certo "silêncio" em torno da história da emigração portuguesa para França durante a ditadura do Estado Novo. Nos últimos anos, o tema começou a ser mais tratado em filmes, livros, estudos académicos e isso contribuiu para se começar a falar mais no seio das próprias famílias, até graças à curiosidade das gerações mais novas que procuram as raízes. Foi o que aconteceu, também, com Adeline. Antigamente, tinha-se medo de falar. Não era bem medo, eu diria que não nos atrevíamos a falar das dificuldades da vida, de quando chegávamos ao país de destino e vivíamos na pobreza ou não era o que esperávamos. Talvez tivéssemos medo do olhar dos outros, que dissessem “foi para isso que saíram do país”…. E depois há muitos portugueses que tiveram a impressão de que essas pessoas que partiram traíram o país. Bem, foi o que ouvi, não é o que penso, mas foi o que ouvi. Acho que isso também deve ter contribuído para o facto de não se querer contar esta história.Além disso, em França ouvi muito a frase ‘Ah, os portugueses são mesmo bons trabalhadores, nunca dizem nada, nunca se queixam'. Mas acho super hipócrita dizer-se isto porque mostra que os portugueses não tinham meios para falar e dizer o que sentem ou não podiam porque se o fizessem o patrão poderia dizer-lhes: "Então amanhã não venha trabalhar' e se não houver emprego, não há papéis. Isso colocava as pessoas em situações muito complexas e em que não tinham voz. Fazer este livro foi também uma forma de dar voz ao meu avô, de o homenagear e de lhe dar a voz que ele talvez não tenha tido naquela altura.Ele saiu de Portugal porque havia a ditadura salazarista e porque houve mobilizações para levar pessoas para Angola, para Moçambique. Depois, a França beneficiou bastante porque houve muitos portugueses que vieram para França sabendo que o país tinha de ser reconstruído depois da guerra e que encontrariam trabalho imediatamente. Este foi também o caso dos italianos durante um período e os patrões beneficiaram porque tinham mão-de-obra barata que podia realizar trabalhos difíceis. A história do avô e dos seus companhieros de viagem é uma longa travessia que dura noites e dias. São quilómetros e quilómetros e quilómetros a caminhar imenso a pé, a dormir ao relento e em granjas, sempre escondidos, à mercê do frio, dos passadores e da eventual solidariedade de quem cruzassem. Pelo caminho, perde-se a noção de tempo e espaço, há fome, sapatos rotos, encontros e desencontros. Os contrastes dos desenhos, a preto e branco, acentuam as paisagens interiores e exteriores que acompanham as personagens. Gosto muito de trabalhar a preto e branco. Tentei trabalhar com cor, mas não funcionava. O preto e branco e os contrastes que posso obter com o meu lápis também me permitem usar esses ambientes cinzentos como uma ferramenta para contar histórias. Na verdade, não é só dar a atmosfera de uma cena, a luz, é também a forma como conto uma história, como posso intensificar a emoção de uma personagem, por exemplo, ou destacar um elemento graficamente para reforçar algo. Na verdade, o meu preto e branco, os meus contrastes são uma ferramenta gráfica da narrativa.Como o meu avô me contou a sua história, eu quis conseguir transcrever pela narração os seus sentimentos. A certa altura, havia realmente uma noção de perda de tempo porque ele tinha constantemente de atravessar caminhos de montanhas, vales, e esconder-se… Por vezes podia ser recuperado por um passador a meio da noite ou a horas completamente aleatórias porque era perigoso e talvez fosse melhor atravessar à noite porque havia menos risco de se encontrarem pessoas ou porque os passadores só podiam chegar nessa altura - muitas vezes eram pessoas que faziam outras coisas em paralelo.O meu avô contou-me que, quando ele fez a travessia, houve pessoas que não chegaram ao fim. Há, ainda, os ecos da “fotografia rasgada” a recordar a forma como se pagava aos passadores e em homenagem ao trabalho do cineasta que mais retratou a emigração portuguesa em França, José Vieira. Também se vê a pobreza dos bairros de lata desenhados a partir das imagens de Gérald Bloncourt, o fotógrafo franco-haitiano que também escreveu um capítulo da história dessa emigração.Através da história do meu avô, espero que os leitores se possam identificar com uma história mais universal que é a da emigração ilegal (…) Espero que isto possa criar uma reflexão sobre as migrações e sobre a visão que temos em relação às pessoas que consideramos estrangeiras no nosso país. Bem, não tenho a certeza que a palavra ‘estrangeiro' seja uma boa palavra porque podemos não ter exactamente as mesmas culturas, mas somos todos seres humanos que sentem coisas, que experienciam coisas e somos, um pouco, todos iguais.Há pouco mais de 50 anos, milhares de pessoas fugiam de Portugal, onde estavam privadas de tudo, incluindo das necessidades mais básicas como o pão, a saúde, a educação e a liberdade. A BD “Em Silêncio” recorda-nos que ontem eram os portugueses a atravessarem fronteiras sem documentos e que hoje são tantos outros povos a entregarem-se a passadores e a rotas desconhecidas para tentarem, simplesmente, uma vida melhor.
One of the first things that Luca turned up was this rarity, which features the father of Jamiroquai's Jay Kay….but which one of those masked men is he?The Businesses* 8mm Records itself is all over Instagram, but you can see their Discogs page HERE. * Fiasco Porto is a Tokyo Jazz Kissaten in the Heroismo quarter of Porto. HERE is an article from a Portuguese lifestyle magazine, which has some great photos.* HERE is the Discogs page for 8mm records, the label.* 8mm in Barcelona can be located through their instagram 8mm_bcn. * From Jan 1st the new website should be up. Link HEREThe MusicWe talked a lot of Music with Luca and it would be impractical to list everything, but there are some highlights to point out…* HERE is a long dissertation about New Music during the Estado Novo, which we touched upon during our conversation.* * Miles plays Cascais…* …then Charlie Haden plays Cascais with Ornette Coleman and runs in to a little problem with the PIDE…* We also mentioned Sonoscopia, which has done a lot for “Outsider” Music. Link HERE* A record from the Quarteto Smoog turned up in a crate……and this one is planned as a reissue.Other Record Shops in PortoAside from Luca's operation, the invincible city has much to offer the record collector. Here are some of Gav's favourites…* Porto Calling. A great city centre shop tucked into a 60's era arcade. Good selection of second hand and new vinyl, which changes regularly. Great website with a full mail order catalogue available HERE. * Discos do Bau. Not far from the Miquel Bombarda gallery quarter. Good selection of Rock, Pop, Jazz and even some Classical; all second hand. Full website available HERE.* Louie Louie, also city centre location. I have yet to go into this shop without coming out with something. Website HERE.* Away from Porto, we also mentioned this combination of Air bnb and Record shop in London, HERE.Subscribe to Gas GiantsRSS https://api.substack.com/feed/podcast/311033.rss This is a public episode. If you would like to discuss this with other subscribers or get access to bonus episodes, visit gasgiants.substack.com
Em Portugal, toda a gente come bacalhau na Consoada. A não ser uma pequena região no Norte do país que insiste em comer polvo. Mesmo quando tinha de o trazer em contrabando para fugir às proibições do Estado Novo. Saiba como surgiu e como se manteve a tradição do polvo no Minho, durante o Natal.
Nuno Palma é Professor Catedrático no Departamento de Economia da Universidade de Manchester, no Reino Unido, e Diretor do Arthur Lewis Lab for Comparative Development, da mesma universidade. Investigador do Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa, e do Centre for Economic Policy Research, Londres. Galardoado com vários prémios internacionais, incluindo o Prémio Stiglitz, atribuído pela International Economic Association. Licenciado pela Universidade de Lisboa e doutorado pela London School of Economics. -> Apoie este podcast e faça parte da comunidade de mecenas do 45 Graus em: 45grauspodcast.com -> Deixe o seu email aqui para ser informado(a) do lançamento do Curso de Pensamento Crítico. _______________ Índice: (0:00) Introdução (4:13) Início | Livro do convidado: «As Causas do Atraso Português» | Evolução do PIB per capita de Portugal nos últimos séculos (8:36) A importância das instituições no desenvolvimento. | Prémio Nobel Economia 2024: Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson (13:42) Período entre 1640 e as Invasões Francesas de 1808-14 | Artigo sobre capacidade orçamental do Estado (26:01) O puzzle do fiasco da Monarquia Liberal (40:06) Primeira República | A. H. de Oliveira Marques (48:18) Estado Novo (1:03:50) Como é que uma ditadura pôde gerar desenvolvimento? (1:19:46) Transição para a democracia | O efeito do PREC (1:26:48) A Democracia | Worldwide Governance Indicators | O problema da Justiça | Evolução do nr de alunos no ensino secundário (1:46:37) Como é que o aumento da escolarização não tem gerado crescimento? | Literacia financeira 1:53:46 Desigualdade | Maldição dos Fundos Europeus? ______________ Esta conversa foi editada por: DBF Estúdio
O Fronteiras no Tempo: Giro Histórico em seu 33º episódio conta e analisa a história dos impactos, resistências e transformações políticas no Estado de Santa Catarina na Revolução de 1930, que deu início a chamada Era Vargas. Quem conta essa história para nós é o historiador Willian Spengler, o camisa 10 da nossa equipe! Nova campanha de financiamento coletivo: https://apoia.se/fronteirasnotempo Artes do episódio: Augusto Carvalho Mencionado no Episódio Vídeo: Combate na Serra da Garganta - 1930 Trilogia de 5 episódios sobre a Era Vargas Fronteiras no Tempo #41 A Era Vargas parte 1: A Revolução de 1930 Fronteiras no Tempo #48 A Era Vargas parte 2: 1930-1937 Fronteiras no Tempo #50 A Era Vargas parte 3: O Estado Novo (1937-1945) Fronteiras no Tempo #56 A Era Vargas parte 4: o fim do Estado Novo e a redemocratização Fronteiras no Tempo #57 A Era Vargas parte 5: o segundo governo (1950-1954) Fronteiras no Tempo: Historicidade #29 Ação Integralista Brasileira Financiamento Coletivo Existem duas formas de nos apoiar Pix recorrente – chave: fronteirasnotempo@gmail.com Apoia-se – https://apoia.se/fronteirasnotempo INSCREVA-SE PARA PARTICIPAR DO HISTORICIDADE O Historicidade é o programa de entrevistas do Fronteiras no Tempo: um podcast de história. O objetivo principal é realizar divulgação científica na área de ciências humanas, sociais e de estudos interdisciplinares com qualidade. Será um prazer poder compartilhar o seu trabalho com nosso público. Preencha o formulário se tem interesse em participar. Link para inscrição: https://forms.gle/4KMQXTmVLFiTp4iC8 Selo saberes históricos Agora o Fronteiras no Tempo tem o selo saberes históricos. O que é este selo? “O Selo Saberes Históricos é um sinal de reconhecimento atribuído a:● Práticas de divulgação de saberes ou produções de conteúdo histórico ou historiográfico● Realizadas em redes sociais ou mídias digitais, voltadas para públicos mais amplos e diversificados● Comprometidas com valores científicos e éticos.”Saiba mais: https://www.forumsabereshistoricos.com/ Redes Sociais Twitter, Facebook, Youtube, Instagram Contato fronteirasnotempo@gmail.com Como citar esse episódio Fronteiras no Tempo: Giro Histórico #32 A Revolução de 1930 em Santa Catarina. Locução Cesar Agenor Fernandes da Silva e Willian Spengler. [S.l.] Portal Deviante, 13/11/2024. Podcast. Disponível em: https://www.deviante.com.br/?p=63826&preview=true Expediente Produção Geral, Host e Edição: C. A. Arte do Episódio: Augusto Carvalho Trilha sonora utilizada Birds – Corbyn Kites Wolf Moon – Unicorn Heads Madrinhas e Padrinhos Apoios a partir de 12 de junho de 2024 Alexsandro de Souza Junior, Aline Silva Lima, André Santos, André Trapani, Andréa Gomes da Silva, Andressa Marcelino Cardoso, Augusto Carvalho, Carolina Pereira Lyon, Charles Calisto Souza, Elisnei Menezes de Oliveira, Erick Marlon Fernandes da Silva, Flávio Henrique Dias Saldanha, Gislaine Colman, Iara Grisi, João Ariedi, João Luiz Farah Rayol Fontoura, Juliana Zweifel, Klaus Henrique de Oliveira, Manuel Macias, Marlon Fernandes da Silva, Pedro Júnior Coelho da Silva Nunes, Rafael Henrique Silva, Raul Sousa Silva Junior, Renata de Souza Silva, Ricardo Orosco, Rodrigo Mello Campos, Rubens Lima e Willian SpenglerSee omnystudio.com/listener for privacy information.
O Fronteiras no Tempo: Giro Histórico em seu 33º episódio conta e analisa a história dos impactos, resistências e transformações políticas no Estado de Santa Catarina na Revolução de 1930, que deu início a chamada Era Vargas. Quem conta essa história para nós é o historiador Willian Spengler, o camisa 10 da nossa equipe! Nova campanha de financiamento coletivo: https://apoia.se/fronteirasnotempo Artes do episódio: Augusto Carvalho Mencionado no Episódio Vídeo: Combate na Serra da Garganta - 1930 Trilogia de 5 episódios sobre a Era Vargas Fronteiras no Tempo #41 A Era Vargas parte 1: A Revolução de 1930 Fronteiras no Tempo #48 A Era Vargas parte 2: 1930-1937 Fronteiras no Tempo #50 A Era Vargas parte 3: O Estado Novo (1937-1945) Fronteiras no Tempo #56 A Era Vargas parte 4: o fim do Estado Novo e a redemocratização Fronteiras no Tempo #57 A Era Vargas parte 5: o segundo governo (1950-1954) Fronteiras no Tempo: Historicidade #29 Ação Integralista Brasileira Financiamento Coletivo Existem duas formas de nos apoiar Pix recorrente – chave: fronteirasnotempo@gmail.com Apoia-se – https://apoia.se/fronteirasnotempo INSCREVA-SE PARA PARTICIPAR DO HISTORICIDADE O Historicidade é o programa de entrevistas do Fronteiras no Tempo: um podcast de história. O objetivo principal é realizar divulgação científica na área de ciências humanas, sociais e de estudos interdisciplinares com qualidade. Será um prazer poder compartilhar o seu trabalho com nosso público. Preencha o formulário se tem interesse em participar. Link para inscrição: https://forms.gle/4KMQXTmVLFiTp4iC8 Selo saberes históricos Agora o Fronteiras no Tempo tem o selo saberes históricos. O que é este selo? “O Selo Saberes Históricos é um sinal de reconhecimento atribuído a:● Práticas de divulgação de saberes ou produções de conteúdo histórico ou historiográfico● Realizadas em redes sociais ou mídias digitais, voltadas para públicos mais amplos e diversificados● Comprometidas com valores científicos e éticos.”Saiba mais: https://www.forumsabereshistoricos.com/ Redes Sociais Twitter, Facebook, Youtube, Instagram Contato fronteirasnotempo@gmail.com Como citar esse episódio Fronteiras no Tempo: Giro Histórico #32 A Revolução de 1930 em Santa Catarina. Locução Cesar Agenor Fernandes da Silva e Willian Spengler. [S.l.] Portal Deviante, 13/11/2024. Podcast. Disponível em: https://www.deviante.com.br/?p=63826&preview=true Expediente Produção Geral, Host e Edição: C. A. Arte do Episódio: Augusto Carvalho Trilha sonora utilizada Birds – Corbyn Kites Wolf Moon – Unicorn Heads Madrinhas e Padrinhos Apoios a partir de 12 de junho de 2024 Alexsandro de Souza Junior, Aline Silva Lima, André Santos, André Trapani, Andréa Gomes da Silva, Andressa Marcelino Cardoso, Augusto Carvalho, Carolina Pereira Lyon, Charles Calisto Souza, Elisnei Menezes de Oliveira, Erick Marlon Fernandes da Silva, Flávio Henrique Dias Saldanha, Gislaine Colman, Iara Grisi, João Ariedi, João Luiz Farah Rayol Fontoura, Juliana Zweifel, Klaus Henrique de Oliveira, Manuel Macias, Marlon Fernandes da Silva, Pedro Júnior Coelho da Silva Nunes, Rafael Henrique Silva, Raul Sousa Silva Junior, Renata de Souza Silva, Ricardo Orosco, Rodrigo Mello Campos, Rubens Lima e Willian SpenglerSee omnystudio.com/listener for privacy information.
Convidados: Paulo Almeida Alexandre Sarmento Francisco Peixoto ENTRA AGORA NA NOSSA COMUNIDADE NO WHATSAPP: https://chat.whatsapp.com/KLtGO6FntdKKk4i5Tdc1fe TORNA-TE MEMBRO E TEM ACESSO A LIVES EXCLUSIVAS: https://www.youtube.com/channel/UCPvHjnk3mt4jrGSvQkUSBWA/join LOJA DO ZUGA: https://loja.zugatv.com/ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Se desejas contribuir para o canal podes fazê-lo utilizando uma das opções abaixo: Muito obrigado pela tua ajuda! PIX: 11716796709 MBWAY: +351 915 681 634 Paypal: https://www.paypal.com/donate?hosted_button_id=H6PFSR9EE9T5L Bitcoin Address: 15LCdXiRWBZGVFtFLU2Riig7poZKDQ35L3 Ethereum Address: 0x69f7f2732CB0111c249765ea5631fC81dFF23dB4 _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ANFITRIÕES: Rodrigo: https://www.instagram.com/rodrigofront Marco: https://www.instagram.com/marcoacpinheiro Luís: https://www.instagram.com/iamalfaia/ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ CONTATO: zugapodcast@gmail.com _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ O Zuga Podcast é uma produção original Estúdio Zuga Produções Audiovisuais. Estamos em Vila Nova de Famalicão - Braga - Portugal. Para maiores informações: E-mail: estudiozuga@gmail.com Telemóvel/Whatsapp: +351 914374850
VISITÁ NUESTRA WEB: https://www.historiaenpodcast.com.ar/ Abril de 1974, Portugal, primavera; renacer de la naturaleza, de los claveles y también de la vida política. La dictadura del Estado Novo llegaba a su fin después de más de cuatro décadas en el poder, con su líder omnipresente: Antonio de Oliveira Salazar. Esta revolución, con claveles en la boca de los fusiles, representó un hecho clave en la historia política del siglo XX. Que lo disfrutes... Learn more about your ad choices. Visit megaphone.fm/adchoices
Muito antes de se tornar Vera Lagoa, Maria Armanda Falcão participou em várias ações de oposição contra a ditadura do Estado Novo. Apoiou a campanha do general Humberto Delgado à Presidência da República, que iria abalar o regime em 1958. A casa de Maria Armanda era um centro de atividades subversivas, que passavam também por esconder dissidentes perseguidos pela ditadura. É casada com José Manuel Tengarrinha, jornalista e opositor ao regime. E uma enorme tragédia vai abalar a família. See omnystudio.com/listener for privacy information.
Muito antes de se tornar Vera Lagoa, Maria Armanda Falcão participou em várias ações de oposição contra a ditadura do Estado Novo. Apoiou a campanha do general Humberto Delgado à Presidência da República, que iria abalar o regime em 1958. A casa de Maria Armanda era um centro de atividades subversivas, que passavam também por esconder dissidentes perseguidos pela ditadura. É casada com José Manuel Tengarrinha, jornalista e opositor ao regime. E uma enorme tragédia vai abalar a família. See omnystudio.com/listener for privacy information.
Muito antes de se tornar Vera Lagoa, Maria Armanda Falcão participou em várias ações de oposição contra a ditadura do Estado Novo. Apoiou a campanha do general Humberto Delgado à Presidência da República, que iria abalar o regime em 1958. A casa de Maria Armanda era um centro de atividades subversivas, que passavam também por esconder dissidentes perseguidos pela ditadura. É casada com José Manuel Tengarrinha, jornalista e opositor ao regime. E uma enorme tragédia vai abalar a família. See omnystudio.com/listener for privacy information.
Olá, ouvintes! Neste episódio, vamos falar sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. Como o Brasil saiu da neutralidade inicial para uma declaração de guerra ao Eixo? Como se deu o alistamento dos combatentes durante o período ditatorial do Estado Novo? O governo autoritário foi ou não foi bem sucedido nas suas pretensões? E como foi a participação das forças brasileiras nos combates contra os nazistas na Itália? Encontraram muitas dificuldades guerreando em terras estrangeiras? Conseguiram cumprir os seus objetivos? Se você ficou interessado em saber as respostas para essas perguntas, bote o seu fone e dê o play neste novo episódio do Estação Brasil. Se você gostar do conteúdo do episódio, considere tornar-se um apoiador e/ou contribuir de alguma forma para manter o Estação no ar. Pix: estacaobrasilfm@gmail.com Ou torne-se membro em: apoia.se/estacaobrasilfm
Get the worksheets & complete show notes for this episode at https://cariocaconnection.comIn this episode of Carioca Connection, Alexia discusses an important historical event with her father Marco Antonio - the Carnation Revolution that ended Portugal's dictatorship in 1974.Through their engaging conversation, you'll learn fascinating details about this peaceful transition to democracy. Pay close attention as they use authentic Brazilian Portuguese to describe the military's role, the oppressive Estado Novo regime, and the struggles faced by women at that time.This is an excellent opportunity to hear natural speech filled with slang, idioms and cultural insights. Whether you're studying Portuguese or simply love history, this educational yet entertaining episode is not to be missed!E agora em português...Nesse Carioca Connection, Alexia conversa com o pai Marco Antônio sobre um evento histórico importante - a Revolução dos Cravos que encerrou a ditadura em Portugal em 1974.Através do papo divertido dos dois, você vai aprender detalhes fascinantes sobre essa transição pacífica para a democracia. Fique ligado ao português autêntico enquanto eles descrevem o papel dos militares, o regime opressivo do Estado Novo e as dificuldades enfrentadas pelas mulheres naquela época.Uma ótima oportunidade de ouvir a fala natural, repleta de gírias, expressões e insights culturais. Seja você estudante de português ou apenas amante da História, este episódio educativo não pode ser perdido! Ready to massively improve your Brazilian Portuguese in 2024?
Na terceira parte da nossa série para comemorar os 50 anos do 25 de Abril falamos com Irene Pimentel, investigadora do Instituto de História Contemporânea (FCSH-NOVA), sobre o próprio dia da Operação Fim-Regime de 25 de Abril de 1974. Procuramos compreender as anteriores tentativas de derrube do Estado Novo, o surgimento do Movimento das Forças Armadas e quais as suas reivindicações, como é que planearam o golpe militar e como se deu a queda do regime. Sugestões de leitura 1. José Medeiros Ferreira - A Revolução do 25 de Abril. Ensaio histórico. Lisboa: Shantarin, 2023. 2. Hannah Arendt - As Origens do Totalitarismo. Lisboa: Dom Quixote, 2024. 3. Susan Neiman - A Esquerda Não é Woke. Lisboa: Editorial Presença, 2024. 4. Irene Pimentel - Do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975 - Episódios menos Conhecidos. Lisboa: Temas e Debates, 2024. 5. Irene Pimentel - O Essencial sobre a PIDE. Lisboa: INCM, 2024, disponível online: https://imprensanacional.pt/?w3n_livros_pdf=o-essencial-sobre-a-pide ----- Obrigado aos patronos do podcast: Andrea Barbosa, Bruno Ricardo Neves Figueira, Isabel Yglesias de Oliveira, Joana Figueira, NBisme, Oliver Doerfler; Alessandro Averchi, Alexandre Carvalho, Daniel Murta, David Fernandes, Francisco, Hugo Picciochi, João Cancela, João Pedro Tuna Moura Guedes, Jorge Filipe, Manuel Prates, Patrícia Gomes, Pedro Almada, Pedro Alves, Pedro Ferreira, Rui Roque, Vera Costa; Adriana Vazão, André Abrantes, André Chambel, Andre Mano, André Marques, André Silva, António Farelo, Beatriz Oliveira, Carlos Castro, Carlos Martinho, Diogo Freitas, Fernando Esperança, Filipe Paula, Gn, Hugo Vieira, João Barbosa, João Canto, João Carlos Braga Simões, João Diamantino, João Félix, João Ferreira, Joel José Ginga, José, José Santos, Luis, Miguel Gama, Miguel Gonçalves Tomé, Miguel Oliveira, Nuno Carvalho, Nuno Esteves, Pedro Cardoso, Pedro L, Pedro Oliveira, Pedro Simões, Ricardo Santos, Rúben Marques Freitas, Rui Magalhães, Rui Rodrigues, Simão Ribeiro, Sofia Silva, Thomas Ferreira, Tiago Matias, Tiago Sequeira, tope steffi. ----- Ouve e gosta do podcast? Se quiser apoiar o Falando de História, contribuindo para a sua manutenção, pode fazê-lo via Patreon: https://patreon.com/falandodehistoria ----- Música: “Five Armies” e “Magic Escape Room” de Kevin MacLeod (incompetech.com); Licensed under Creative Commons: By Attribution 4.0 License, http://creativecommons.org/licenses/by/4.0 Edição de Marco António.
Donderdag 25 april is het vijftig jaar geleden sinds in Portugal de Anjerrevolutie plaatsvond. Op deze dag maakte een militaire staatsgreep een einde aan 48 jaar dictatuur onder het bewind van het Estado Novo-regime. Bijzonder genoeg gebeurde dit zonder bloedvergieten. Vertaalster en literatuurwetenschapper Leonor Raven woonde in Lissabon tijdens deze revolutie, en is te gast.
Na primeira parte da nossa série especial para comemorar os 50 anos do 25 de Abril falamos com Yves Léonard, professor na Sciences Po (Paris), sobre o regime que Abril derrubou: o Estado Novo. Tentamos compreender, entre outros, como surgiu, qual o papel do ditador António de Oliveira Salazar, e como é que o regime evoluiu até 1974. Sugestões de leitura 1. António Costa Pinto (coord) - O Estado Novo de Salazar - Uma Terceira Via na Era do Fascismo. Lisboa: Edições70, 2022. 2. Fernando Rosas - Salazar e o Poder. A Arte de Saber Durar. Lisboa: Tinta da China, 2013. 3. Victor Pereira - A ditadura de Salazar e a emigração. O Estado português e os seus migrantes (1957-1974). Lisboa: Temas e debates, 2014. 4. Yves Léonard - Salazar. Lisboa: Edições70, 2023. ----- Obrigado aos patronos do podcast: Andrea Barbosa, Bruno Ricardo Neves Figueira, Isabel Yglesias de Oliveira, Joana Figueira, NBisme, Oliver Doerfler; Alessandro Averchi, Alexandre Carvalho, Daniel Murta, Francisco, Hugo Picciochi, João Cancela, João Pedro Tuna Moura Guedes, Jorge Filipe, Manuel Prates, Patrícia Gomes, Pedro Almada, Pedro Alves, Pedro Ferreira, Rui Roque; Adriana Vazão, André Abrantes, André Chambel, Andre Mano, André Marques, André Silva, António Farelo, Beatriz Oliveira, Carlos Castro, Carlos Martinho, Diogo Freitas, Fernando Esperança, Filipe Paula, Gn, Hugo Vieira, João Barbosa, João Canto, João Carlos Braga Simões, João Diamantino, João Félix, João Ferreira, Joel José Ginga, José, José Santos, Luis, Miguel Gama, Miguel Gonçalves Tomé, Miguel Oliveira, Nuno Carvalho, Nuno Esteves, Pedro Cardoso, Pedro L, Pedro Oliveira, Pedro Simões, Rúben Marques Freitas, Rui Magalhães, Rui Rodrigues, Sofia Silva, Thomas Ferreira, Tiago Matias, Tiago Sequeira, tope steffi. ----- Ouve e gosta do podcast? Se quiser apoiar o Falando de História, contribuindo para a sua manutenção, pode fazê-lo via Patreon: https://patreon.com/falandodehistoria ----- Música: “Five Armies” e “Magic Escape Room” de Kevin MacLeod (incompetech.com); Licensed under Creative Commons: By Attribution 4.0 License, http://creativecommons.org/licenses/by/4.0 Edição de Marco António.
Para comemorar os 50 anos do 25 de Abril de 1974, preparámos um conjunto de vários episódios, consecutivos, a partir da próxima semana, inteiramente dedicados a este tema, onde falaremos com convidados sobre o Estado Novo (1933-1974), a Guerra Colonial (1961-1974), o próprio 25 de Abril de 1974, o PREC (1974-1975) e a Descolonização (1974-1975). Não percam! ----- Ouve e gosta do podcast? Se quiser apoiar o Falando de História, contribuindo para a sua manutenção, pode fazê-lo via Patreon: https://patreon.com/falandodehistoria ----- Música: 'Grândola Vila Morena' de José Afonso, do álbum 'Cantigas de Maio, 1971. Edição de Marco António.
Onde está a verdade? Há quatro versões diferentes da obscura Operação Papagaio que chegaram até aos dias de hoje. Em duas delas, o conhecido surrealista Mário-Henrique Leiria é apresentado como o cabecilha do plano. Leiria era declaradamente anti-regime, já tinha sido detido pela PIDE anos antes, e efetivamente participou em reuniões conspirativas na Parede, numa casa que ficava mesmo ao lado da de “Gavroche”. Mas qual a fronteira entre os mitos e a realidade? Os documentos da polícia política do Estado Novo escondidos até hoje na Torre do Tombo desmontam os vários mitos associados nos últimos 64 anos à Operação Papagaio. Perante as desistências de operacionais à medida que a data combinada para o assalto ao Rádio Clube Português se aproxima, novos elementos têm de ser recrutados à última hora para pôr a operação em marcha. Um deles vai ter o nome de código "Júnior". Vai ser um erro de casting mas, como se verá, nem sequer vai ser o único. Certo é que os boatos já correm pelos cafés de Lisboa: "os surrealistas andam a brincar aos cowboys".See omnystudio.com/listener for privacy information.
Onde está a verdade? Há quatro versões diferentes da obscura Operação Papagaio que chegaram até aos dias de hoje. Em duas delas, o conhecido surrealista Mário-Henrique Leiria é apresentado como o cabecilha do plano. Leiria era declaradamente anti-regime, já tinha sido detido pela PIDE anos antes, e efetivamente participou em reuniões conspirativas na Parede, numa casa que ficava mesmo ao lado da de “Gavroche”. Mas qual a fronteira entre os mitos e a realidade? Os documentos da polícia política do Estado Novo escondidos até hoje na Torre do Tombo desmontam os vários mitos associados nos últimos 64 anos à Operação Papagaio. Perante as desistências de operacionais à medida que a data combinada para o assalto ao Rádio Clube Português se aproxima, novos elementos têm de ser recrutados à última hora para pôr a operação em marcha. Um deles vai ter o nome de código "Júnior". Vai ser um erro de casting mas, como se verá, nem sequer vai ser o único. Certo é que os boatos já correm pelos cafés de Lisboa: "os surrealistas andam a brincar aos cowboys".See omnystudio.com/listener for privacy information.
A imagem do ditador humilde e sem posses faz parte da mitologia do Estado Novo. Mas até que ponto corresponde ela à verdade? Uma viagem pela história do compadrio e da troca de favores em PortugalSee omnystudio.com/listener for privacy information.
Abril de 1960. “Gavroche” entra em pânico quando descobre que os antigos companheiros da “organização secreta” a que pertencia foram presos e confessaram o homicídio de um dos membros do grupo, responsável pela obscura “Operação Papagaio”. Desde a adolescência que Gavroche — alcunha pela qual Henrique dos Santos Carvalho é conhecido — está envolvido em movimentos de oposição ao Estado Novo. Mas é só depois das eleições de 1958, em que o General Humberto Delgado desafia o regime, que tem a ideia para um plano mirabolante para pôr fim à ditadura. É no Café Gelo, ao Rossio, um conhecido pouso de artistas surrealistas por aquela altura, que vai recrutar militantes para um movimento que pretende derrubar Salazar. Até que aparece uma loura misteriosa para dar a volta ao plano.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Abril de 1960. “Gavroche” entra em pânico quando descobre que os antigos companheiros da “organização secreta” a que pertencia foram presos e confessaram o homicídio de um dos membros do grupo, responsável pela obscura “Operação Papagaio”. Desde a adolescência que Gavroche — alcunha pela qual Henrique dos Santos Carvalho é conhecido — está envolvido em movimentos de oposição ao Estado Novo. Mas é só depois das eleições de 1958, em que o General Humberto Delgado desafia o regime, que tem a ideia para um plano mirabolante para pôr fim à ditadura. É no Café Gelo, ao Rossio, um conhecido pouso de artistas surrealistas por aquela altura, que vai recrutar militantes para um movimento que pretende derrubar Salazar. Até que aparece uma loura misteriosa para dar a volta ao plano.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Abril de 1960. “Gavroche” entra em pânico quando descobre que os antigos companheiros da “organização secreta” a que pertencia foram presos e confessaram o homicídio de um dos membros do grupo, responsável pela obscura “Operação Papagaio”. Desde a adolescência que Gavroche — alcunha pela qual Henrique dos Santos Carvalho é conhecido — está envolvido em movimentos de oposição ao Estado Novo. Mas é só depois das eleições de 1958, em que o General Humberto Delgado desafia o regime, que tem a ideia para um plano mirabolante para pôr fim à ditadura. É no Café Gelo, ao Rossio, um conhecido pouso de artistas surrealistas por aquela altura, que vai recrutar militantes para um movimento que pretende derrubar Salazar. Até que aparece uma loura misteriosa para dar a volta ao plano.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Abril de 1960. “Gavroche” entra em pânico quando descobre que os antigos companheiros da “organização secreta” a que pertencia foram presos e confessaram o homicídio de um dos membros do grupo, responsável pela obscura “Operação Papagaio”. Desde a adolescência que Gavroche — alcunha pela qual Henrique dos Santos Carvalho é conhecido — está envolvido em movimentos de oposição ao Estado Novo. Mas é só depois das eleições de 1958, em que o General Humberto Delgado desafia o regime, que tem a ideia para um plano mirabolante para pôr fim à ditadura. É no Café Gelo, ao Rossio, um conhecido pouso de artistas surrealistas por aquela altura, que vai recrutar militantes para um movimento que pretende derrubar Salazar. Até que aparece uma loura misteriosa para dar a volta ao plano.See omnystudio.com/listener for privacy information.
O Estado Novo aqui no Brasil só teve esse nome por causa do Estado Novo que António de Oliveira Salazar teve em Portugal! Separe trinta minutos do seu dia e aprenda com o professor Vítor Soares (@profvitorsoares) sobre a vida de Salazar mas principalmente sobre o Salazarismo. - COSME, Leonel, A separação das águas (Angola 1975-1976), Porto: Campo das Letras, 2007. - CARVALHO, Nogueira e, Era tempo de morrer em África: Angola guerra e descolonização 1961-1975, Lisboa: Prefácio, 2004. - LOUÇÃ, António. Hitler e Salazar: Comércio em tempos de guerra, 1940-1944. Lisboa, Terramar, 2000. - PINTO, António Costa Pinto. Os camisas azuis: ideologia, elite e movimentos fascistas em Portugal, 1914-1945. Lisboa, Editorial Estampa, 1994
Há 70 anos, a 26 de janeiro de 1954, foi encerrada a mais mortífera prisão do Estado Novo: o campo do Tarrafal, em Cabo Verde, inaugurado em 1936 e onde morreram 34 pessoas. Esta é a sua históriaSee omnystudio.com/listener for privacy information.
Em 1934, poucos meses após o nascimento do Estado Novo, vários sindicatos portugueses tentaram organizar uma greve geral que parasse o país. Sem sucesso. A Revolta da Marinha Grande foi há 90 anosSee omnystudio.com/listener for privacy information.
For almost fifty years, Portugal was ruled by a right-wing dictatorship. There was a military coup against Portuguese democracy in 1926. Antonio Salazar became the leader of the so-called Estado Novo in the same year Franklin Roosevelt entered the White House. His successor Marcelo Caetano was still in power when Richard Nixon was re-elected four decades later.Then, in April 1974, a group of junior army officers made a plan to overthrow the dictatorship. The Carnation Revolution brought down the Estado Novo and kick started a period of intense political upheaval. Its legacy can still be felt in Europe half a century later.Raquel Varela, professor of history at the New University in Lisbon and author of several books, including A People's History of the Portuguese Revolution, joins Long Reads for a discussion about the upheaval and its legacy.Read Raquel's 2019 interview with Jacobin: https://jacobin.com/2019/04/portugal-carnation-revolution-national-liberation-aprilLong Reads is a Jacobin podcast looking in-depth at political topics and thinkers, both contemporary and historical, with the magazine's longform writers. Hosted by features editor Daniel Finn. Produced by Conor Gillies, music by Knxwledge. Hosted on Acast. See acast.com/privacy for more information.