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Con Ignacio Vacchiano, country manager en Iberia de Leverage Shares, analizamos la actualidad del mercado, donde destaca sobre todo ese acuerdo comercial entre Reino Unido y Estados Unidos. Sobre esto, el analista opina que “el acuerdo con Reino Unido era relativamente fácil, ahora vienen los más difíciles”. Además, sobre las posibles acuerdos que pueda tener la administración Trump con Reino Unido, el economista opina que “espero que el la Unión Europea negocie en bloque”. Todas estas noticias afectan y mucho al movimiento y a las cotizaciones de todas las divisas. En este caso, Vacchiano destaca que “el dólar se revalorizó sobre la libra y sobre el euro”. También le ayudó la decisión de tipos del Banco de Inglaterra y el comportamiento del Banco Central Europeo, cuyas previsiones pasan por seguir bajando tipos. En una semana repleta de resultados, hay un nombre que destacó sobre el resto en el día de ayer: Coinbase. La plataforma estadounidense de criptomonedas llegó a un acuerdo para adquirir el grupo dubaití Deribit por 2.900 millones de dólares. Es la mayor operación dentro del mundo digital. A pesar de esto presentó resultados por debajo de lo previsto. Sobre esto, el analista piensa que “el mercado al final con la noticia de la compra solventaba un poco el tema”.
O novo livro de Domingos da Cruz, "Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura", foi bloqueado no aeroporto de Luanda, em Angola, pelos serviços de segurança do Estado. Trata-se de uma versão mais radical da obra que levou à detenção dos 15+2 activistas em 2015 e que seria agora apresentada em Angola. Domingos da Cruz defende a desobediência civil como caminho para mudar Angola, critica a censura ao seu livro e denuncia a dependência da oposição ao regime. RFI: Como interpreta este bloqueio do seu livro no aeroporto por parte das autoridades angolanas? Estava à espera que isto acontecesse?Domingos da Cruz: Nunca esperei nada que fosse, digamos, de acordo com a lei, com a ética, com o que é normal numa sociedade onde aqueles que estão no poder agem de acordo com os interesses dos cidadãos. Portanto, eu esperava que isso acontecesse, até porque estamos perante uma atitude que revela coerência: é mais uma vez o regime a afirmar a sua própria natureza. Seria de uma grande ingenuidade esperar o contrário. Imagine que estivéssemos em Cuba ou na Coreia do Norte e se esperasse liberdade de imprensa, direito à manifestação, liberdade de pensamento, liberdade académica e científica, seria uma contradição. E o mesmo se aplica a Angola. Portanto, tudo o que fizeram revela tão somente a natureza do próprio regime. Para mim, é perfeitamente expectável.Gostaria de esclarecer que não falo com a imprensa sobre o assunto com a intenção de me apresentar como vítima ou de fazer qualquer denúncia. Não estou a denunciar absolutamente nada. Estou simplesmente a aproveitar a oportunidade que me é concedida para informar o que sucedeu. Se estivesse a denunciar, seria ingénuo e seria contraproducente, até porque ao longo de mais de três décadas se vão fazendo denúncias e nada melhora. Pelo contrário, o país só piora em quase todos os aspectos. Na realidade, quando se vive numa ditadura, num regime autoritário, a denúncia não funciona. O que se deve fazer é construir um plano estratégico de modo a remover a ditadura. Este é o caminho certo e não o caminho do vitimismo e da denúncia.Vamos falar disso e também do seu livro, mas antes pergunto-lhe: O que pretende ao disponibilizar o livro gratuitamente em PDF do seu livro e como é que esta decisão está a ser recebida pelo público?As pessoas estão satisfeitas pelo facto de eu ter disponibilizado o PDF. A razão que me levou a tomar esta decisão tem única e exclusivamente a ver com a minha pretensão de contribuir para esse processo de libertação, para que possamos sair do cativeiro. Eu acredito na força das ideias, na capacidade criativa e transformadora que as ideias têm. Espero que as pessoas adoptem as ideias e as pratiquem, porque me parece ser o caminho para a nossa libertação. E gostaria, mais uma vez, de aproveitar este momento para dizer que estamos numa sociedade onde, cada vez mais, a situação piora. Não vejo outro caminho que não seja, de facto, a mobilização popular para a transformação de Angola de uma ditadura para uma democracia.Essa mobilização é precisamente o que apresenta no seu livro, que inclui 168 técnicas de desobediência civil, baseadas no trabalho do intelectual e activista norte-americano Gene Sharp, considerado o maior teórico da resistência não violenta. Quais considera mais aplicáveis ao contexto actual de Angola e porquê?No contexto actual, parece-me que as técnicas de subversão do ponto de vista económico são adequadas, porque estamos num momento de grande crise, o que limita o regime financeiramente para comprar o maior número possível de pessoas, como tem sido prática. Se houver, por exemplo, indisponibilidade dos cidadãos para pagar impostos, para fazer depósitos bancários, se forem retirando o dinheiro dos bancos, isso aprofundará a crise e, de alguma maneira, limitará o regime na compra de pessoas. Essa é uma técnica perfeitamente adequada ao contexto actual.Por outro lado, as pessoas podem permanecer em casa, podem fazer abaixo-assinados, podem parar de colaborar com as instituições. Aqueles que trabalham em instituições públicas podem fingir que estão a trabalhar e não trabalharem. Tudo isso viabilizará o colapso das instituições e, perante esse colapso, chegará um momento em que as pessoas se levantarão em grande número, sem dúvida.Aproveito também para dizer que a diferença entre a edição que nos levou à prisão em 2015 e esta é que esta é uma edição crítica. Por edição crítica entende-se um texto comentado por vários pesquisadores. Temos o conteúdo da edição anterior, com algumas ideias novas, mas agora associado a comentários de vários estudiosos do Brasil, de Angola, de Moçambique, da Itália, que tornam o texto muito mais rico. Essa é a grande diferença entre a [edição] anterior e esta.Trata-se de uma reedição que acontece 10 anos depois daquela que talvez tenha sido a sua obra mais falada e conhecida, pelo menos em Angola.Sim, sim. Dez anos depois. Por acaso, não obedeceu a nenhum cálculo. Depois de tudo o que aconteceu, muitos já sabem, eu não tinha qualquer motivação para voltar ao livro. Mas, tendo em conta a degradação em que o regime se encontra e a situação geral do país, do ponto de vista económico e social, levou-me a pensar que é oportuno reeditar a obra. Ela afirma uma convicção profunda que tenho: acho que o caminho da luta não violenta, da desobediência civil, que sintetiza todas as técnicas que acabou de referir, parece-me ser efectivamente o caminho mais adequado para Angola.Se optássemos pela violência, de alguma forma estaríamos a contradizer a ética, por um lado, e a democracia que desejamos construir, por outro. Além disso, colocar-nos-íamos na mesma posição daqueles que estão no poder: seríamos todos violentos, do mesmo nível moral. Quem luta por uma democracia deve colocar-se numa posição de diferença, não só do ponto de vista ético, mas também discursivo. É óbvio que existem vários caminhos para a libertação, mas a violência colocar-nos-ia numa posição de grande desvantagem e haveria pouca possibilidade de vitória. Acho que a luta não violenta é o caminho mais adequado. Continuo a acreditar profundamente nisso, embora reconheça outras possibilidades.Domingos da Cruz, decorreram 10 anos desde o caso que levou à prisão dos 15+2 activistas, de que fez parte. Este julgamento terá sido provavelmente o mais mediático, ou um dos mais mediáticos, em Angola. O que mudou no país desde então? Considera que o actual regime de João Lourenço representa uma continuidade ou houve mudança em relação à repressão do tempo de José Eduardo dos Santos?Relativamente à repressão, houve continuidade, claramente. Não há dúvidas quanto a isso. Gostava de apresentar alguns exemplos simples. Tal como José Eduardo dos Santos fazia, qualquer tentativa de protesto é hoje reprimida pelo seu sucessor. E quando digo “seu sucessor”, baseio-me no que diz o nosso quadro legal. De acordo com a Constituição da República de Angola, o responsável pelos serviços de defesa e segurança é o Presidente da República. O ministro do Interior, da Defesa, os serviços secretos, todos agem a mando do Presidente. Aliás, temos uma das constituições que confere poderes excessivos ao Presidente.E não se trata apenas de reprimir. No caso de João Lourenço, ele aprofundou algo inédito: matar à luz do dia. Tivemos a morte de um activista numa manifestação em Luanda, por exemplo. E depois houve o caso das Lundas, onde foram assassinadas mais de 100 pessoas. Há um relatório publicado por organizações da sociedade civil angolana que descreve claramente esse drama.Falando de outros direitos; políticos, económicos e sociais, os indicadores mostram que a situação do país se degrada a cada dia. Houve também oportunidade para a sociedade civil fazer uma autocrítica e perceber que o método da denúncia é um erro, até mesmo do ponto de vista histórico. Imagine, na época colonial, se os nossos antepassados se limitassem a denunciar, provavelmente ainda estaríamos sob colonização. O que se deve fazer, na verdade, é tomar uma posição para pôr fim ao regime. E as técnicas de luta não violenta adequam-se perfeitamente para pôr fim ao nosso cativeiro. Mais de três décadas de denúncias não resolveram absolutamente nada. Os indicadores estão ali, quando se olha para os relatórios de instituições como as Nações Unidas, a Freedom House, Repórteres Sem Fronteiras, Mo Ibrahim Foundation, entre outras, todos demonstram que não saímos do mesmo lugar.Fala da sociedade civil e da oposição. Qual deve ser, a seu ver, o papel da oposição política, da sociedade civil e da juventude angolana na luta contra a repressão e na construção de uma democracia real?É preciso estabelecer uma diferença clara entre a oposição partidária e a luta cívica feita pela sociedade civil e pela juventude, como acaba de referir. A minha única esperança sincera está no povo. Primeiro, o povo deve tomar consciência de que está sozinho no mundo, literalmente abandonado. Vivemos num país com uma elite conectada ao capitalismo internacional, às grandes corporações, às potências ocidentais. É um regime que viabiliza a extração de recursos e beneficia o Ocidente.Internamente, o regime também beneficia a oposição partidária, o que significa que o povo é a única vítima disto tudo. A sociedade é que deve levantar-se. Não vejo um milímetro, não vejo um centímetro de esperança vindo da política partidária. Dou-lhe um exemplo simples: não conheço parte alguma do mundo onde se possa fazer oposição dependendo financeiramente do regime contra o qual se luta. A nossa lei dos partidos políticos confere financiamento vindo do Orçamento Geral do Estado aos partidos da oposição. E como, em Angola, o MPLA se confunde com o Estado, porque o capturou, significa que os partidos da oposição dependem literalmente do MPLA para sobreviverem. Para terem arroz e feijão na mesa, para cuidarem da sua saúde, para mandarem os filhos à escola ou comprarem um bilhete de avião, dependem do regime. Não é possível fazer oposição assim.Como dizia Thomas Sankara: quem te alimenta, controla-te, manipula-te. Por outro lado, temos uma oposição viciada, corrupta e envelhecida. Psicologicamente, não se pode esperar muito de velhos. Não é dos velhos que virá a revolução.
O novo livro de Domingos da Cruz, "Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura", foi bloqueado no aeroporto de Luanda, em Angola, pelos serviços de segurança do Estado. Trata-se de uma versão mais radical da obra que levou à detenção dos 15+2 activistas em 2015 e que seria agora apresentada em Angola. Domingos da Cruz defende a desobediência civil como caminho para mudar Angola, critica a censura ao seu livro e denuncia a dependência da oposição ao regime. RFI: Como interpreta este bloqueio do seu livro no aeroporto por parte das autoridades angolanas? Estava à espera que isto acontecesse?Domingos da Cruz: Nunca esperei nada que fosse, digamos, de acordo com a lei, com a ética, com o que é normal numa sociedade onde aqueles que estão no poder agem de acordo com os interesses dos cidadãos. Portanto, eu esperava que isso acontecesse, até porque estamos perante uma atitude que revela coerência: é mais uma vez o regime a afirmar a sua própria natureza. Seria de uma grande ingenuidade esperar o contrário. Imagine que estivéssemos em Cuba ou na Coreia do Norte e se esperasse liberdade de imprensa, direito à manifestação, liberdade de pensamento, liberdade académica e científica, seria uma contradição. E o mesmo se aplica a Angola. Portanto, tudo o que fizeram revela tão somente a natureza do próprio regime. Para mim, é perfeitamente expectável.Gostaria de esclarecer que não falo com a imprensa sobre o assunto com a intenção de me apresentar como vítima ou de fazer qualquer denúncia. Não estou a denunciar absolutamente nada. Estou simplesmente a aproveitar a oportunidade que me é concedida para informar o que sucedeu. Se estivesse a denunciar, seria ingénuo e seria contraproducente, até porque ao longo de mais de três décadas se vão fazendo denúncias e nada melhora. Pelo contrário, o país só piora em quase todos os aspectos. Na realidade, quando se vive numa ditadura, num regime autoritário, a denúncia não funciona. O que se deve fazer é construir um plano estratégico de modo a remover a ditadura. Este é o caminho certo e não o caminho do vitimismo e da denúncia.Vamos falar disso e também do seu livro, mas antes pergunto-lhe: O que pretende ao disponibilizar o livro gratuitamente em PDF do seu livro e como é que esta decisão está a ser recebida pelo público?As pessoas estão satisfeitas pelo facto de eu ter disponibilizado o PDF. A razão que me levou a tomar esta decisão tem única e exclusivamente a ver com a minha pretensão de contribuir para esse processo de libertação, para que possamos sair do cativeiro. Eu acredito na força das ideias, na capacidade criativa e transformadora que as ideias têm. Espero que as pessoas adoptem as ideias e as pratiquem, porque me parece ser o caminho para a nossa libertação. E gostaria, mais uma vez, de aproveitar este momento para dizer que estamos numa sociedade onde, cada vez mais, a situação piora. Não vejo outro caminho que não seja, de facto, a mobilização popular para a transformação de Angola de uma ditadura para uma democracia.Essa mobilização é precisamente o que apresenta no seu livro, que inclui 168 técnicas de desobediência civil, baseadas no trabalho do intelectual e activista norte-americano Gene Sharp, considerado o maior teórico da resistência não violenta. Quais considera mais aplicáveis ao contexto actual de Angola e porquê?No contexto actual, parece-me que as técnicas de subversão do ponto de vista económico são adequadas, porque estamos num momento de grande crise, o que limita o regime financeiramente para comprar o maior número possível de pessoas, como tem sido prática. Se houver, por exemplo, indisponibilidade dos cidadãos para pagar impostos, para fazer depósitos bancários, se forem retirando o dinheiro dos bancos, isso aprofundará a crise e, de alguma maneira, limitará o regime na compra de pessoas. Essa é uma técnica perfeitamente adequada ao contexto actual.Por outro lado, as pessoas podem permanecer em casa, podem fazer abaixo-assinados, podem parar de colaborar com as instituições. Aqueles que trabalham em instituições públicas podem fingir que estão a trabalhar e não trabalharem. Tudo isso viabilizará o colapso das instituições e, perante esse colapso, chegará um momento em que as pessoas se levantarão em grande número, sem dúvida.Aproveito também para dizer que a diferença entre a edição que nos levou à prisão em 2015 e esta é que esta é uma edição crítica. Por edição crítica entende-se um texto comentado por vários pesquisadores. Temos o conteúdo da edição anterior, com algumas ideias novas, mas agora associado a comentários de vários estudiosos do Brasil, de Angola, de Moçambique, da Itália, que tornam o texto muito mais rico. Essa é a grande diferença entre a [edição] anterior e esta.Trata-se de uma reedição que acontece 10 anos depois daquela que talvez tenha sido a sua obra mais falada e conhecida, pelo menos em Angola.Sim, sim. Dez anos depois. Por acaso, não obedeceu a nenhum cálculo. Depois de tudo o que aconteceu, muitos já sabem, eu não tinha qualquer motivação para voltar ao livro. Mas, tendo em conta a degradação em que o regime se encontra e a situação geral do país, do ponto de vista económico e social, levou-me a pensar que é oportuno reeditar a obra. Ela afirma uma convicção profunda que tenho: acho que o caminho da luta não violenta, da desobediência civil, que sintetiza todas as técnicas que acabou de referir, parece-me ser efectivamente o caminho mais adequado para Angola.Se optássemos pela violência, de alguma forma estaríamos a contradizer a ética, por um lado, e a democracia que desejamos construir, por outro. Além disso, colocar-nos-íamos na mesma posição daqueles que estão no poder: seríamos todos violentos, do mesmo nível moral. Quem luta por uma democracia deve colocar-se numa posição de diferença, não só do ponto de vista ético, mas também discursivo. É óbvio que existem vários caminhos para a libertação, mas a violência colocar-nos-ia numa posição de grande desvantagem e haveria pouca possibilidade de vitória. Acho que a luta não violenta é o caminho mais adequado. Continuo a acreditar profundamente nisso, embora reconheça outras possibilidades.Domingos da Cruz, decorreram 10 anos desde o caso que levou à prisão dos 15+2 activistas, de que fez parte. Este julgamento terá sido provavelmente o mais mediático, ou um dos mais mediáticos, em Angola. O que mudou no país desde então? Considera que o actual regime de João Lourenço representa uma continuidade ou houve mudança em relação à repressão do tempo de José Eduardo dos Santos?Relativamente à repressão, houve continuidade, claramente. Não há dúvidas quanto a isso. Gostava de apresentar alguns exemplos simples. Tal como José Eduardo dos Santos fazia, qualquer tentativa de protesto é hoje reprimida pelo seu sucessor. E quando digo “seu sucessor”, baseio-me no que diz o nosso quadro legal. De acordo com a Constituição da República de Angola, o responsável pelos serviços de defesa e segurança é o Presidente da República. O ministro do Interior, da Defesa, os serviços secretos, todos agem a mando do Presidente. Aliás, temos uma das constituições que confere poderes excessivos ao Presidente.E não se trata apenas de reprimir. No caso de João Lourenço, ele aprofundou algo inédito: matar à luz do dia. Tivemos a morte de um activista numa manifestação em Luanda, por exemplo. E depois houve o caso das Lundas, onde foram assassinadas mais de 100 pessoas. Há um relatório publicado por organizações da sociedade civil angolana que descreve claramente esse drama.Falando de outros direitos; políticos, económicos e sociais, os indicadores mostram que a situação do país se degrada a cada dia. Houve também oportunidade para a sociedade civil fazer uma autocrítica e perceber que o método da denúncia é um erro, até mesmo do ponto de vista histórico. Imagine, na época colonial, se os nossos antepassados se limitassem a denunciar, provavelmente ainda estaríamos sob colonização. O que se deve fazer, na verdade, é tomar uma posição para pôr fim ao regime. E as técnicas de luta não violenta adequam-se perfeitamente para pôr fim ao nosso cativeiro. Mais de três décadas de denúncias não resolveram absolutamente nada. Os indicadores estão ali, quando se olha para os relatórios de instituições como as Nações Unidas, a Freedom House, Repórteres Sem Fronteiras, Mo Ibrahim Foundation, entre outras, todos demonstram que não saímos do mesmo lugar.Fala da sociedade civil e da oposição. Qual deve ser, a seu ver, o papel da oposição política, da sociedade civil e da juventude angolana na luta contra a repressão e na construção de uma democracia real?É preciso estabelecer uma diferença clara entre a oposição partidária e a luta cívica feita pela sociedade civil e pela juventude, como acaba de referir. A minha única esperança sincera está no povo. Primeiro, o povo deve tomar consciência de que está sozinho no mundo, literalmente abandonado. Vivemos num país com uma elite conectada ao capitalismo internacional, às grandes corporações, às potências ocidentais. É um regime que viabiliza a extração de recursos e beneficia o Ocidente.Internamente, o regime também beneficia a oposição partidária, o que significa que o povo é a única vítima disto tudo. A sociedade é que deve levantar-se. Não vejo um milímetro, não vejo um centímetro de esperança vindo da política partidária. Dou-lhe um exemplo simples: não conheço parte alguma do mundo onde se possa fazer oposição dependendo financeiramente do regime contra o qual se luta. A nossa lei dos partidos políticos confere financiamento vindo do Orçamento Geral do Estado aos partidos da oposição. E como, em Angola, o MPLA se confunde com o Estado, porque o capturou, significa que os partidos da oposição dependem literalmente do MPLA para sobreviverem. Para terem arroz e feijão na mesa, para cuidarem da sua saúde, para mandarem os filhos à escola ou comprarem um bilhete de avião, dependem do regime. Não é possível fazer oposição assim.Como dizia Thomas Sankara: quem te alimenta, controla-te, manipula-te. Por outro lado, temos uma oposição viciada, corrupta e envelhecida. Psicologicamente, não se pode esperar muito de velhos. Não é dos velhos que virá a revolução.
João Galamba, antigo ministro socialista, admite que recuperação do apagão foi rápida, mas critica comissão apresentada por Montenegro: "é desnecessária".See omnystudio.com/listener for privacy information.
João Galamba, antigo ministro socialista, admite que recuperação do apagão foi rápida, mas critica comissão apresentada por Montenegro: "é desnecessária".See omnystudio.com/listener for privacy information.
Foi divulgado nesta terça-feira o novo relatório anual da Amnistia Internacional sobre os Direitos Humanos em todo o mundo. A publicação deste documento coincide com o período em que Donald Trump cumpre os 100 dias do seu segundo mandato na Casa Branca, um marco simbólico relativamente aos Direitos Humanos, cuja situação, segundo esta ONG, vem se degradando ainda mais nestes últimos meses. Neste documento, em que se observa uma degradação das liberdades civis, em particular a liberdade de manifestação em Angola e Moçambique, a Amnistia Internacional denuncia também a indiferença mundial perante as graves violações dos Direitos Humanos e, em particular, as violências sexuais que ocorrem no conflito no Sudão.No seu relatório, a ONG torna a acusar Israel de "genocídio" na guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza e denuncia igualmente a política do Presidente Trump no que tange, designadamente, ao tratamento reservado aos migrantes ou ainda o corte de financiamentos às Nações Unidas e outras entidades que apoiam as faixas mais fragilizadas da sociedade.Neste sentido, Miguel Marujo, porta-voz e director da Comunicação da Secção portuguesa da Amnistia Internacional, começa por referir que Donald Trump "demonstrou um desprezo total pelos Direitos Humanos".RFI: A publicação do vosso novo relatório coincide com os 100 dias de Trump na Casa Branca. Qual é a avaliação que se pode fazer destes primeiros dias do mandato do Presidente americano em termos de Direitos Humanos?Miguel Marujo: A avaliação é muito negativa. Aquilo que a Amnistia Internacional constata é que o Presidente Trump demonstrou um desprezo absoluto pelos Direitos Humanos universais. O governo americano atacou muito rapidamente e deliberadamente instituições vitais para os Estados Unidos, mas também instituições internacionais vitais para o funcionamento de muitos aspectos, de dimensão comunitária e de solidariedade a nível internacional que tinham sido exactamente concebidas para tornar o mundo mais seguro e mais justo. O ataque total aos próprios conceitos de multilateralismo do asilo na questão da migração, na questão da justiça racial e de género, da saúde global, da acção climática exacerba também os danos significativos e encoraja ainda mais outros líderes a juntarem-se a este ataque na questão das migrações. É muito mais visível e muito mais palpável essa situação, até pela conivência depois de outros governos, como o caso do governo de Salvador.RFI: Outro foco de preocupação enunciado pela Amnistia Internacional no seu relatório anual é a questão do Médio Oriente e, mais especificamente, o conflito na Faixa de Gaza.Miguel Marujo: Sim, aquilo que a Amnistia Internacional recorda é que, em 2024, os acontecimentos tidos na Faixa de Gaza, na região do Médio Oriente, vieram ainda mais colocar o mundo numa situação muito complicada. A Amnistia Internacional, já em Dezembro, tinha denunciado aquilo a que chamou o genocídio dos palestinianos em Gaza, que está a ser transmitido em directo, sem que Israel ouça o mundo a protestar contra aquilo que vai acontecendo. Mas estes acontecimentos na Faixa de Gaza mostraram também até que ponto os Estados mais poderosos rejeitaram o Direito Internacional e ignoraram instituições multilaterais. No caso, os Estados Unidos, por exemplo, invocaram mesmo sanções agora para o Tribunal Penal Internacional. Portanto, todo este caso, digamos assim, tem levado a que a situação dos palestinianos em Gaza esteja, cada dia que passa mais desumana e cruel. E isso tem sido particularmente defendido e notado pela Amnistia Internacional.RFI: Relativamente aos ataques tanto verbais como também concretos nos actos contra os Direitos Humanos, também evocam a Rússia. É uma espécie de banalização da violência.Miguel Marujo: Sim, aquilo que assistimos é que há essa disseminação crescente de práticas autoritárias. E muitos destes líderes sejam aspirantes a líderes, sejam líderes eleitos, actuam voluntariamente como motor de destruição. Temos notado uma proliferação de leis, de políticas e práticas que visam directamente a liberdade de expressão, de associação e de reunião pacífica. E aquilo que temos notado é que a repressão pelas forças de segurança tem sido cada vez mais violenta e mais arbitrária. Notamos detenções arbitrárias em massa, desaparecimentos forçados e frequentemente o uso de força excessiva, por vezes também letal, como podemos, por exemplo, verificar em Moçambique para reprimir a desobediência civil. Portanto, aquilo que temos notado, não só pela invasão da Ucrânia pela Rússia e depois, mesmo dentro de muitos países, é que as dissidências, as vozes dissidentes, as vozes opositoras, são vítimas de repressões muito violentas e muito excessivas por parte das autoridades.RFI: Mencionou o caso de Moçambique. Relativamente aos países da África lusófona, observaram que efectivamente os Direitos Humanos conheceram algum recuo nestes últimos meses, tanto em Moçambique como também em Angola.Miguel Marujo: Sim, aquilo que a Amnistia Internacional tem vindo a denunciar, quer em Moçambique desde as eleições de Outubro, quer em Angola, é que tem existido uma cada vez maior repressão de vozes que muitas vezes se manifestam pacificamente contra as políticas dos governos. Temos, e isso é muito evidente na parte de Moçambique, relativamente àquilo que foi a repressão pós-eleitoral e com todos os confrontos violentos entre polícias e forças de segurança e até mesmo tropas nas ruas contra os manifestantes, que muitas vezes estavam a manifestar-se pacificamente contra os resultados eleitorais. Contra aquilo que se passou em torno das eleições gerais de Outubro. E ao mesmo tempo, também em Angola, temos notado um acréscimo de prisão e detenção de activistas da sociedade civil, de jornalistas, apenas por exercerem os seus direitos à liberdade de expressão e de reunião pacífica. A Amnistia Internacional acompanhou o caso em concreto de cinco activistas que estavam detidos e alguns deles tinham sido negados cuidados de saúde necessários durante a sua detenção nas cadeias. São cinco casos, em particular, que tiveram um final feliz porque acabaram libertados no início deste ano de 2025. Mas, na verdade, aquilo que temos ouvido, os relatos que nos têm chegado de Angola, é que também há cada vez uma maior repressão daquilo que são as opiniões contrárias ao Governo de Luanda.RFI: Também em África mencionaram o conflito relativamente esquecido do Sudão, que também dá azo a atropelos aos Direitos Humanos.Miguel Marujo: Sim, aquilo que Amnistia tem denunciado é a extrema violência sexual generalizada contra mulheres e raparigas no Sudão, nomeadamente protagonizadas por milícias das Forças de Apoio Rápido sudanesas. E são práticas que equivalem a Crimes de Guerra e possíveis Crimes contra a Humanidade. O número de pessoas deslocadas internamente pela guerra civil que já dura há dois anos no Sudão aumentou para 11 milhões. É mais do que em qualquer outro lugar do mundo. E, no entanto, este conflito tem suscitado uma indiferença global quase total. Aquilo que temos ouvido são manifestações -muito cínicas até- sobre aquilo que se passa no Sudão, enquanto que muitos desses países continuam a violar o embargo às armas no Darfur, vendendo armas a forças que estão envolvidaesta guerra civil. De facto, há que pôr termo a essa venda de armas e ao mesmo tempo tentar levar a que as diferentes partes em conflito se possam entender à mesa das negociações.
En Capital Intereconomía, Álvaro Fernández, co-director de desarrollo de negocio de Capital Group Iberia, comenta las oportunidades que surgen a raíz la volatilidad que nos deja el mercado estas últimas semanas. Con respecto a esta situación Álvaro Fernández indica que “siempre intentamos aportar un poco de luz y evitar los ruidos externos”. Además, el invitado recalca que “Aunque la situación parezca una catástrofe, realmente estamos viendo caídas relativamente normales”.
Ouça o que movimentou o mercado e a economia nesta quinta-feira.
Ouça o que movimentou o mercado e a economia nesta quarta-feira.
Antes de irmos ao caos da América, damos um passo de dança no Campeonato do Mundo de Superbikes, que passou por Portimão. Relativamente ao MotoGP, ainda estamos um pouco confusos com tudo o que aconteceu na corrida de domingo, mas tentamos colocar todos os cenários em cima da mesa. Em uma coisa concordamos, Marc Márquez é um mestre. Contudo, no final das contas, Pecco Bagnaia deu sinais de vida e Álex Márquez continuou com uma consistência inabalável.
Está actualmente disponível nas livrarias em Portugal o livro "O Petróleo de Angola - Uma História colonial (1881-1974)" de Franco Tomassoni, doutorado em estudos sobre globalização e investigador do Laboratório Colaborativo para o Trabalho, o Emprego e a Protecção Social em Lisboa, cuja obra que vem na sequência de várias pesquisas anteriormente feitas sobre o ouro negro em Angola. Ao folhearmos este livro, esboça-se um império colonial português que vê na exploração de petróleo de Angola uma janela para consolidar a sua posição política e económica num mundo em que convive com potências muito mais fortes e concentradas, como o império francês ou britânico.Contudo, em vez de ser uma oportunidade para a administração de Lisboa, o petróleo angolano acaba por cair quase por completo nas mãos de interesses privados que vão acabar por ditar a própria existência do império.Esta é a história que nos conta o investigador Franco Tomassoni na entrevista que concedeu à RFI, uma história que começa em finais do século XIX, com as primeiras missões de geólogos no interior de territórios praticamente desconhecidos, e que termina com os movimentos anticoloniais sustentados nomeadamente por boicotes às companhias que apoiam o regime colonial português, em finais da década de 60 e início dos anos 70.RFI: Quando e como começa a história da prospecção de petróleo em Angola?Franco Tomassoni: Já no final do século XIX começa a estruturar-se aquilo que eu defino como um programa extractivista para as colónias portuguesas. Esse programa é um programa que emerge num espaço geográfico bastante amplo, como eu reconstruo no livro. Esse programa deve-se muito à missão que foi feita nos Estados Unidos por um geólogo português que, voltando depois a Lisboa, dá uma conferência na Sociedade de Geografia e começa a estruturar um programa pela exploração das terras e dos recursos minerais de Angola. Estamos, grosso modo, em 1880. E este interesse avança já rapidamente, chegando a formular-se a primeira lei das minas, que também inclui a exploração de todo o subsolo angolano em 1906, que é depois actualizada com uma lei sobre a exploração petrolífera em 1909. E logo de seguida, começam um conjunto de explorações do território que envolvem várias companhias petrolíferas internacionais, designadamente belgas, francesas, britânicas e americanas. Trata-se da primeira fase de prospecção, porque nunca se chega, no fundo, a encontrar poços economicamente sustentáveis. Mas os primeiros projectos de exploração, vasta do ponto de vista petrolíferos, mas não só de Angola, começam mesmo no início do século XX.RFI: O que é também interessante nesses primórdios da prospecção do petróleo em Angola é que efectivamente fala nas missões de geólogos. Muitas dessas missões não são propriamente financiadas pelo próprio Estado, mas por companhias privadas. E coloca se, no fundo, já uma questão que continua muito actual, que é o uso da ciência para funções práticas, ou seja, a prospecção de recursos e não simplesmente pela ciência, pelo conhecimento, nunca é uma coisa gratuita.Franco Tomassoni: Sim, exactamente. Esta é uma coisa que é recorrente até aos anos 70, que é onde depois a minha investigação pára. Ou seja, nós observamos que grandes missões de geólogos no território angolano são financiadas por empresas privadas às quais o Estado português garantia essa concessão. E o que é que acontecia? Acontecia que essas grandes missões de prospecção do território adquiriam um conjunto de informações sobre as riquezas minerais do território angolano, que não partilhavam com o seu concessionário, o Estado português, mas antes pelo contrário, era o Estado português a pagar os custos de defesa porque havia vários geólogos que foram mortos nessas missões exactamente pela revolta das populações locais que não se queriam submeter a este processo de colonização. Portanto, o Estado português pagava os custos de defesa. Mas estes geólogos, estas grandes empresas, mantinham o conhecimento do território em posse privada, sem, pois, transmitir as informações essenciais do Estado. É um processo de acumulação, de dominação do conhecimento que depois tem um desenvolvimento e um paradigma que depois se estende até aos anos 70.RFI: Para além de não ter propriamente pessoal qualificado para saber exatamente o que é que existe em termos de recursos minerais e de petróleo em Angola, também não há absolutamente ninguém para fiscalizar as actividades dessas empresas em Angola, enquanto outras potências têm um número infinito de pessoas qualificadas para vigiar e para ter completamente sob controlo essas actividades.Franco Tomassoni: Exatamente. Ou seja, o que nós observamos das fontes, dos arquivos e em particular, no Arquivo Ultramarino é exactamente isso. Nós temos na administração portuguesa uma ausência de figuras importantes que dispunham do conhecimento. Mais uma vez, a dominação privada do conhecimento, que é das partes técnicas, quer das dimensões de mercadorização do próprio petróleo por parte dos agentes privados. A administração portuguesa não tinha, por exemplo, engenheiros que conseguissem ler os relatórios que as empresas privadas enviavam. Já no final dos anos 60, para a administração colonial portuguesa. Portanto, a administração colonial portuguesa não dispunha dos conhecimentos para a gestão autónoma da indústria e não dispunha dos conhecimentos para fiscalizar a actividade dessas empresas. Ou, dito de outra forma, o que existia nos contratos de concessão entre as empresas e o poder metropolitano, simplesmente, em muitos casos não se dava porque o governo não tinha capacidade, não tinha conhecimento, não tinha uma malha administrativa suficientemente capilar e capaz de poder fiscalizar esta actividade. Isso teve depois impacto a nível do território colonial de várias maneiras. Vale a pena assinalar, por exemplo, o facto de que representantes do poder colonial de Angola se opõe a um certo tipo de complacência chamada mesmo "complacência" do governo metropolitano perante estas empresas. Ou, por exemplo, como o Governo português, por influência destas companhias, orientava a sua relação com organizações internacionais como a Organização Internacional do Trabalho. É bastante interessante notar como, desde a segunda metade dos anos 60, a Comissão de Petróleo da Organização Internacional do Trabalho pedia ao Governo português informações sobre qual é que eram as condições de trabalho ou os contratos em vigor no sector petrolífero. O Governo português não dava essa resposta porque dizia "se nós damos informações a estas instituições internacionais, poderíamos, por exemplo, comprometer a nossa relação com grandes interesses petrolíferos na colónia". Portanto, é interessante ver também que papel os investimentos petrolíferos em Angola tiveram no posicionamento nas instituições internacionais do Governo metropolitano de Lisboa.RFI: Recuando um pouco no tempo, quando é que começa exactamente a exploração de petróleo em Angola e aonde?Franco Tomassoni: A exploração petrolífera economicamente sustentável começa em 1955 na zona do Congo Interior, do Kwanza e nos arredores de Luanda. É uma exploração pouco significativa pelos volumes de exploração da altura à escala mundial. É uma exploração que já no início dos anos 60, começa a ser significativa no contexto angolano, porque pode tornar a colónia autosuficiente. E rapidamente também todo o conjunto das colónias e do Império. Mas digamos que o chamado "Eldorado do petróleo angolano" dá-se no enclave de Cabinda. No enclave de Cabinda, a exploração petrolífera como actividade económica começa no final dos anos 60, em Novembro de 1967 e tem um desenvolvimento muito, muito rápido e é um aumento muito rápido dos volumes extraídos e comercializado. E é em Cabinda que nós observamos todo um conjunto de impactos efectivos desse território. Acho que vale a pena aqui sublinhar dois impactos. Já observamos um pouco uma dimensão "macro", que tem a ver o impacto desses investimentos no posicionamento internacional. Se quisermos, num nível intermédio, podemos observar, por exemplo, como esses investimentos em Cabinda são relevantes ao ponto de alterar mesmo a divisão administrativa do território. A nível "micro" são ainda mais interessantes porque há um conjunto de relatórios da PIDE que, por exemplo, demonstram o impacto dos trabalhadores expatriados, portanto americanos, canadianos, noruegueses e britânicos que trabalhavam na indústria petrolífera em Cabinda no final dos anos 60. Esses relatórios recolhem um conjunto de informações, por exemplo, uma dificuldade de integração entre esses "expats" e a população local. Os relatórios descrevem, por exemplo, rixas nocturnas ou o aparecimento em Cabinda de um fluxo migratório que vem de Luanda, de prostituição branca, que servia, exactamente essas comunidades de expatriados. São elementos bastante interessantes, porque tem a ver com a transformação da paisagem social e económica. Por exemplo, um outro impacto desses grandes investimentos, é uma subida -faz um pouco lembrar os tempos presentes em Lisboa - mas é uma subida abrupta dos preços da habitação, de aluguer. O custo de habitação torna-se também insustentável para boa parte da população em Cabinda, porque o mercado começa a orientar-se exactamente para essa comunidade de "expats".RFI: Entretanto, o que é também interessante no caso de Cabinda é que Portugal, entrega a exploração do petróleo de Cabinda, praticamente de mão beijada para os americanos, para a companhia Gulf. Como é que se poderia explicar o facto de Portugal, no fundo, ter dado aquilo praticamente ao desbarato?Franco Tomassoni: Explica-se por várias razões. Portugal tinha um grande interesse, obviamente, em encontrar aliados internacionais no contexto económico. É uma coisa que na minha investigação procuro frisar: é esta ideia de um império fechado e de um governo metropolitano que faz algo pelos interesses económicos dos grandes grupos portugueses, é uma ideia coxa. Não é uma ideia que corresponde totalmente à verdade. O Governo português, já depois da Segunda Guerra Mundial, começa a perceber que existe um conjunto de reivindicações anticoloniais à escala global, que não apenas reivindica uma independência política, mas reivindica uma independência económica. E, nesse sentido, vê de bom grado a possibilidade de entregar a exploração dos seus recursos a interesses internacionais. Exactamente em oposição ao aparecimento de um conjunto de reivindicações anticoloniais que também procura um reequilíbrio nos mecanismos de distribuição da riqueza. Portanto, há, digamos assim, uma aliança de facto daquilo que eu chamo o "campo conservador", que é composto por essas potências coloniais e por grandes interesses económicos à escala internacional que se opõe ao processo de descolonização. Depois, há um factor relevante de que já falamos: a incapacidade do Estado português de adquirir conhecimento e de formar os seus quadros para uma gestão autónoma dos recursos petrolíferos. Uma incapacidade também de direccionar o investimento para essas mesmas explorações. E depois, há um contexto em que a burocracia imperial é facilmente cooptada por esses grandes interesses. Relativamente a isto, gostava aqui de dar dois exemplos. Como disse antes, a Lei de Minas é uma lei de 1906 que nunca foi alterada substantivamente. O que acontece é que na segunda metade dos anos 60, Rui Patrício, então secretário do Fomento Ultramarino, dá uma entrevista numa comissão interna que se ocupava da exploração mineira na colónia. Diz "Temos que actualizar esta lei". Poucos meses depois, com a Gulf declarar a exploração económica da colónia, Rui Patrício, que tinha dito que essa lei era desadequada à época, dá uma entrevista no "Diário Popular" a dizer no fundo que "a Lei de Minas de 1906 não tem que ser tocada, porque é uma lei que permite uma certa flexibilidade de mercado". Portanto, muda radicalmente esta posição. Do outro lado temos o Vasco Garin, o Vasco Garin, que tinha sido o embaixador português junto das Nações Unidas e depois junto da embaixada nos Estados Unidos. E depois torna-se administrador na Cabinda Gulf Oil, que é a subsidiária da empresa Gulf, que se ocupa da exploração petrolífera em Cabinda. E Vasco Garin consegue negociar com o Governo português um conjunto de preços e medidas económicas que são muito mais convenientes para a companhia privada de que aquelas que se aplicavam à escala internacional. Portanto, Vasco Garin, um representante do Estado, do aparelho estatal português, da diplomacia portuguesa, da grande burocracia pública, passa a ser director de uma empresa privada e a negociar condições mais favoráveis para essa empresa face ao governo português do que aquelas que se aplicavam internacionalmente.RFI: O que também condicionou o próprio império português, no fundo, foram as pressões internacionais e o boicote à própria Gulf nos Estados Unidos, as reivindicações das populações negras nos Estados Unidos, que também incidiam sobre os próprios direitos à autodeterminação das populações ainda sob o regime colonial. O que é que nos pode dizer sobre esse aspecto?Franco Tomassoni: Era exatamente esse aspecto que eu queria colocar, porque acho que esse é um aspecto interessantíssimo. É um caso aliás nada conhecido. E eu reconstruo no detalhe nesse livro. E, no fundo, reflecte como a internacionalização dos interesses económicos no Império português correspondia também a uma coordenação internacional da luta contra o colonialismo português. Acontecem várias iniciativas de boicote à Gulf nos Estados Unidos pelo seu apoio ao governo português em vários territórios dos Estados Unidos. Mas o caso mais interessante é, eventualmente, aquilo que acontece na Universidade de Harvard. A Universidade de Harvard detinha acções da companhia petrolífera Gulf. E o que acontece é que há vários pedidos por parte de estudantes e professores para a Universidade de Harvard para retirar e vender as suas acções na Gulf, exactamente porque a Gulf apoiava o colonialismo português em Angola. Então a Universidade de Harvard decide organizar uma missão para verificar a situação no terreno e os resultados da missão, claramente, são favoráveis à manutenção da Universidade de Harvard como accionista da Gulf. Então começa um conjunto de mobilizações que chegam à ocupação da reitoria da Universidade de Harvard, exactamente em solidariedade com a luta anticolonial. Nesse mesmo contexto, emerge um conjunto de figuras bastante importante. Uma delas, Randall Robinson, que participa do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos que também estão cansados com determinadas coisas. Achavam que esses movimentos não eram suficientemente radicais ou pelo menos não respeitavam um conjunto de reivindicações. E vai à procura de outros tipos de relações e de orientações políticas em África e vai, designadamente a Tanzânia. A Tanzânia, naqueles anos, entre finais dos anos 60 e princípio dos anos 70, a sua capital, Dar Es Salaam, é uma cidade extremamente interessante, porque o Randall Robinson vai lá a encontrar líderes dos movimentos anticoloniais portugueses, quer da luta anticolonial em Moçambique, quer da luta anticolonial na Guiné, quer da luta anticolonial em Angola. Mas encontra também outro conjunto de figuras. Por exemplo, estavam o Giovanni Arrighi, o Clyde Mitchell, o Wallerstein, que eram professores na Rodésia e depois da declaração unilateral da independência da Rodésia, da declaração da supremacia branca, são expulsos do país e também de lá. Portanto, Dar Es Salaam torna-se, um contexto atravessado exactamente por esses diferentes grupos que se encontram, que se unem e produzem grandes elaborações teóricas que, ainda hoje, formam e interessam a realidade e, do outro lado, os vários projectos de construção do socialismo no chamado socialismo africano e a mobilização estudantil na Tanzânia que se opunha ao governo independente para não ser suficientemente consequente. Portanto, é a versão de um retrato da luta anticolonial profundamente internacionalizada. E, sobretudo, a reconstrução de um facto que ninguém conhecia, que é exatamente a acção dos estudantes de Harvard. Uma acção à qual a embaixada portuguesa nos Estados Unidos se opõe, levando à frente uma campanha mediática muito forte que eu descrevo ao pormenor no livro.
Esta sexta-feira e sábado, decorre, na Tanzânia, uma cimeira sobre o conflito no leste da República Democrática do Congo, que vai reunir líderes da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) e da EAC (Comunidade da África Oriental). O que pode a diplomacia e que impacto tem e terá o conflito na região? Régio Conrado, professor de Ciência Política e de Direito na Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, diz que “não acredita numa solução diplomática urgente” e que “não vê uma solução rápida” para uma situação que descreve como “profundamente complicada” e intrinsecamente ligada à “geopolítica dos recursos naturais”. Esta quarta-feira à tarde, o grupo M23 e as tropas ruandesas lançaram uma nova ofensiva no leste da RDC e tomaram uma nova cidade na província do Kivu Sul, retomando a progressão para a capital provincial de Bukavu. A ofensiva acontece cerca de uma semana depois de terem conquistado Goma, a capital do Norte Kivu e um dia depois de ter entrado em vigor o cessar-fogo unilateral decretado pelo M23. Um porta-voz do governo da RDC afirmou, hoje, que esta ofensiva mostra que o cessar-fogo era "um logro". A notícia surgiu depois da entrevista, esta manhã, com o investigador Régio Conrado, quando ainda vigorava o "cessar-fogo". RFI: Como está hoje a situação no leste da RDC?Régio Conrado, Professor de Ciência Política e de Direito na Universidade Eduardo Mondlane: É preciso dizer duas coisas preliminares. A situação no leste do Congo não está numa situação de calma, particularmente em Goma, porque para além do M23 que está profundamente envolvido no conflito naquela região, nós temos praticamente acima de 130 grupos que também estão profundamente activos. Por outro lado, nós temos a ADF [Forças Democráticas Aliadas], que é também um movimento que surge do Uganda, que também é profundamente activo naquela região do Congo. Agora, o que neste momento nós podemos dizer - pelo menos das notícias que nos chegam - é que, por causa desta moratória que foi dado pelo movimento M23, a situação ficou relativamente calma. Mas também continuamos a ter notícias de algumas exacções naquela região. Mesmo que haja um comando para que a situação se acalme sob o manto de conversações em curso, não se pode dizer que a situação em Goma está completamente controlada.O movimento M23, apoiado pelo Ruanda, anunciou o cessar-fogo unilateral na terça-feira, a poucos dias da cimeira na Tanzânia, onde os líderes da SADC e da EAC, ou seja, África Austral e África Oriental, se vão reunir para tentar acabar com o conflito no leste da RDC. Quais são as expectativas desta cimeira? A situação na região é profundamente complicada porque nós sabemos que há interesses que ultrapassam estas duas regiões [África Austral e a África Oriental]. Nós temos implicações de França, dos Estados Unidos da América, da Turquia, de Israel, até de países como a China, porque - na economia política desta guerra - muitas vezes explora-se a questão étnica, mas eu penso que a geopolítica dos recursos naturais é a tese mais vincada. O que deve suceder é que, por um lado, o Ruanda - apoiado certamente pela França, mas também pelos Estados Unidos da América e pelos países a que fiz referência - tem interesses estratégicos naquela região toda, mas por detrás dos interesses do Ruanda estão os interesses dos americanos e dos franceses. Para além dos países aqui referenciados, potências como a Rússia também estão envolvidas naquela região e sabemos que aprioristicamente há uma contenda profundamente importante entre o entendimento que os ruandeses têm da intervenção sul-africana, que não é entendida como uma intervenção que visa a paz na região, mas é entendida como a intervenção que visa debelar ou ir contra os interesses ruandeses. Por outro lado, a África do Sul e o Ruanda estão num outro teatro de conflito que é Moçambique porque a África do Sul não olha com olhos muito positivos a presença do Ruanda porque é considerado como um lugar de influência imediata das fronteiras exteriores da África do Sul e é por esta razão que nós vimos aquelas posições todas. Das negociações que já houve naquela região, o Presidente angolano João Lourenço esteve implicado na tentativa de aproximação entre o Presidente da República Democrática do Congo e o Presidente ruandês e o resultado foi praticamente mínimo. Eu penso que Angola conseguiu muito proteger as suas fronteiras Norte, que fazem fronteira com a República Democrática do Congo, mas não conseguiu, em nenhuma circunstância, colocar fim a este conflito.A cimeira vai servir para obter uma solução diplomática? Qual é a solução possível a curto termo? Uma solução diplomática urgente para este conflito não acredito muito, tendo em conta o histórico das conversações e, sobretudo, porque o fundo dos desentendimentos são tão graves e profundos que não vejo uma solução rápida. Para além daquilo que é a geopolítica dos recursos naturais na região, o Ruanda entende que a sua intervenção naquela região da República Democrática do Congo é uma questão de segurança nacional porque há muitos hutus que até hoje ainda querem fazer incursões dentro do Ruanda e o Ruanda entende que deve controlar dentro do território do Congo.Mas o Presidente de Ruanda nega e diz que não há provas de apoio ao M23. Claro, essa é uma posição pública. O Ruanda nunca aceitou, em nenhuma circunstância, que fosse apoiante do M23, mas todos os países que fazem “guerra por proxy” nunca assumem a responsabilidade. Até o próprio relatório das Nações Unidas veio mostrar de forma muito contundente a intervenção do Ruanda, o apoio de Ruanda, apoio militar, técnico, táctico, estratégico.Estamos perante uma guerra aberta entre a RDC e o Ruanda? Não diríamos uma guerra aberta, diríamos uma guerra por proxy [por procuração] porque o Ruanda nunca faz intervenções directas, mas utiliza um dispositivo ou um veículo operativo, que é o M23 para responder aos seus interesses que são duplos. Um é responder ao processo de exploração de recursos naturais que estão naquela região porque ele não tem recursos no seu território. Por outro lado, conter os movimentos potencialmente perigosos para a segurança interna do Ruanda.O Ruanda diz que a sua existência está em risco. Está mesmo?A existência do Ruanda tem que ser vista duplamente. Primeiro, ela está em risco na perspectiva de que há vários grupos rebeldes que foram compostos pelos antigos grupos que faziam parte dos que cometeram o genocídio no Ruanda. Isto não se pode negar. E que têm grandes interesses em derrubar o regime de Kagamé no Ruanda. Isto é um facto. Há esses movimentos que estão lá presentes e estão profundamente activos e se alimentam da exploração ilegal de recursos naquela região. Por outro lado, nós sabemos perfeitamente que o Ruanda, para a sua sobrevivência, depende fundamentalmente do apoio francês e americano para que essa sobrevivência se prolongue através de outros movimentos que são capazes de actuar fora das suas fronteiras imediatas. Isto faz com que ela tenha uma zona tampão.Mas a França pediu para que as tropas ruandesas saíssem do leste da RDC. Qual a possibilidade de sanções para o Ruanda?É impossível que haja sanções para o Ruanda porque há um outro conflito que é preciso trazer. A França e os americanos não estão necessariamente a jogar na mesma proporção. Não interessa para os americanos a presença ou a influência francesa naquela região porque foram os americanos que praticamente tudo fizeram para que a França perdesse a sua influência naquela região central de África, apoiando o Ruanda, apoiando massivamente o Uganda como dois pólos fundamentais da intervenção americana naquela região, e apoiando o governo da República Democrática do Congo, mas sem apoiar profundamente, para não ser tão forte que não permitisse que alguns recursos estratégicos, como os minérios, o urânio, fosse feito sem o controlo rigoroso daquele país. Tenho a percepção de que entre os americanos e os franceses, neste momento em que nos encontramos, não são capazes de impor qualquer sanção que seja. Não nos esqueçamos que França teria muita dificuldade de colocar sanções ao Ruanda porque o Ruanda é praticamente o veículo com o qual a França intervém militarmente no contexto de Moçambique, ou pelo menos, apoia para proteger os seus interesses estratégicos na Bacia do Rovuma. Ao mesmo tempo, os franceses não poderiam punir o Ruanda porque o seu projecto depende do financiamento de um dos bancos americanos e, neste momento, Donald Trump está numa posição muito dubitativa em relação aos interesses estratégicos americanos, com a intervenção dos franceses no contexto da exploração do gás em Moçambique.Estas situações todas vão complicar imensamente as sanções. Aliás, como bem viu, o Conselho de Segurança da ONU não conseguiu posicionar-se de forma contundente ou firme em relação à presença das tropas ruandeses na República Democrática do Congo, assim como o apoio directo quase explícito ao movimento M23.Perante os avanços no terreno, perante a conquista de Goma, o M23 não se impõe directamente na mesa de negociações? Não será esse o caminho para a paz? Eu penso que o caminho para paz depende, sobretudo, do Ruanda. O Ruanda e os congoleses, obviamente com os seus parceiros estratégicos, é que devem decidir porque é quase a mesma coisa do que imaginar que a Ucrânia é capaz de trazer a paz no seu conflito com a Rússia. Neste conflito, o M23 está sob tutela de um actor militar extremamente importante, que já provou ser um dos exércitos ou forças armadas das mais brilhantes do continente africano que é o exército ruandês. Qualquer discurso é um discurso que vem muito a vez do Estado Maior General das Forças de Defesa e Segurança do Ruanda porque o M23 é apenas um dispositivo. Há uma parte de congoleses que estão directamente implicados com interesses financeiros económicos muito grandes, mas também sabemos que, do ponto de vista da logística, da estratégia, da tática e do fornecimento da inteligência militar e da contrainteligência militar, isso é feito com o apoio directo do Ruanda, porque nós vimos inclusivamente um dos altos generais do exército ruandês presente em Goma. Isso significa que o M23 “per se” não tem a capacidade de decisão autónoma que não seja sempre articulada com o Estado ruandês. É diferente com a ADF porque a ADF é um movimento que actua na República Democrática do Congo, mas que não está sob o controlo do Estado ugandês, está contra o Estado ugandês. Aqui, provavelmente diríamos que há um pouco mais de autonomia, mas também sabemos que há outros interesses por trás. Esta cimeira, que não é a primeira cimeira, vai ser num ambiente de grande tensão e conflito entre os principais actores. Recorde se que 14 soldados sul-africanos, morreram.E que são hoje repatriados para a África do Sul. Isto é uma questão muito sensível porque para a África do Sul quem é responsável pela morte daqueles soldados não é o M23, é o Ruanda que se pronunciou publicamente a desafiar a África do Sul.E a exigir a retirada da missão da SADC também. Sim porque para o Ruanda é considerado como um dispositivo de ataque e não dispositivo de paz. Em relação ao Quénia, onde vai ser o palco das negociações, o Quénia mandou forças para o Congo, cujo resultado é quase mínimo e as relações entre o Quénia e Ruanda também não são assim tão pacíficas. Tenho o entendimento de que uma das pessoas que consegue aproximar os dois tem sido o Presidente angolano João Lourenço. Mas esta situação, tal como ela evoluiu ao extremo, tem muitos interesses em jogo.O Ruanda está a dizer que o seu Estado está em risco, que a sua segurança está em risco. O que é que a RDC pode oferecer para garantir que o Ruanda não se sinta ameaçado? Como é que fica a dependência que os ruandeses têm no que concerne à exploração de recursos naquela região? Porque os ruandeses são exportadores de matérias-primas que não existe no território ruandês. Essas matérias beneficiam o Ruanda e as empresas que compram e isso não se limita à França ou aos americanos, mas até a China beneficia desta situação toda.Relativamente ao impacto nos outros países da região: o Burundi tem receio de uma agressão de Ruanda, depois de o Ruanda acusar o Burundi de apoiar a RDC. O Presidente do Burundi advertiu que o conflito corre o risco de se transformar numa guerra regional. Quais é que são os riscos eminentes? O primeiro risco eminente é a fragilização da situação já frágil de segurança na Região dos Grandes Lagos porque nós sabemos que nem o Burundi está numa situação de segurança ou de paz, ou de tranquilidade, nem o Ruanda e o Uganda. Os únicos países que conseguem manter uma certa segurança, mas também relativa, são países como a Tanzânia, mais a leste, e Angola, mais a sul. Para além disto, nós sabemos que toda a fragilização completa do Estado congolês seria profundamente perigoso até para países como Moçambique, Quénia, Tanzânia e até para países que já estão em situação gravíssima em termos de segurança, como a República Centro-Africana. Porquê? Porque muitos dos quase 130 movimentos armados que actuam na região do leste do Congo poderiam expandir as suas ambições para outros territórios. A terceira coisa é que nós poderíamos aprofundar aquilo que são os laivos ou os riscos da penetração do islamismo de que a ADF é um dos potentados na tal província oriental islâmica que engloba inclusivamente Moçambique, com fortes riscos de até deflagrar na Tanzânia. O Quénia já se está a debater com essas formas há muitos anos, o Congo não tanto, mas já devem estar lá profundamente activas. E há um outro aspecto que é profundamente importante que é de termos uma confrontação por interposição de outras potências por causa dos recursos naturais que estão ali presentes. O que nós temos que entender é que a história da gestão e da exploração dos recursos e patrulhamento naquela região, já tivemos situações em que as grandes potências já esqueceram regras básicas de direitos humanos, respeito da integridade territorial, soberania dos países por causa dos seus interesses estratégicos que, muitas vezes, vão para além das questões de moralidade. Então, se nós tivéssemos um conflito regional, isto não era só na Região dos Grandes Lagos, na região central de África, isto ia também criar sérios problemas para os países da África Austral e, principalmente, países como Moçambique e Malawi porque provavelmente iria facilitar a descida de outros grupos islamistas, como vimos alguns deles, no caso de Moçambique, que vinham da República Democrática do Congo ou, pelo menos, tinham treino naquela região. Então, tudo isto, é uma situação que criaria graves problemas. Não é por acaso o grande interesse da África do Sul de estar naquela região. Se cai a República Democrática do Congo, alguns interesses económicos da África do Sul também ficam complicados, mas também porque isto iria criar problemas muito grandes para países como Moçambique que são uma espécie de tampão para muitos países da África Austral. Algo que a África do Sul não quer que aconteça de forma nenhuma.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reúnem-se esta terça-feira, 4 de Fevereiro, em Washington. Em causa está a segunda fase do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza e a sobrevivência do actual executivo de Israel. Sónia Sénica, investigadora integrada do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, fala da importância desta visita, sublinhando que Israel emerge como um parceiro privilegiado na administração de Donald Trump. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, é o primeiro líder estrangeiro a ser recebido na Casa Branca desde a tomada de posse de Donald Trump. Que mensagem se pretende enviar com este encontro?Demonstra uma mensagem muito clara, em termos de política externa, com Israel a emergir como um parceiro muito relevante e privilegiado para a administração de Donald Trump. Estão em curso dinâmicas de conflitualidade, quer na Europa, quer no Médio Oriente, e Trump já deixou muito claro que em qualquer uma das duas, terá de haver uma resolução — nomeadamente no Médio Oriente — reiterando o apoio a Israel.Obviamente, isso passará por criar uma nova arquitectura de segurança regional, mantendo o reforço da posição de Israel, tentando, com isso, dissuadir e conter aquilo que é a influência, sobretudo, de Teerão. E, nesse sentido, fica aqui muito vincada nesta primeira deslocação de um líder estrangeiro a Washington para se encontrar com Trump. No fundo, essa linha permanente de política externa norte-americana que- comTrump- privilegia muito mais a dimensão bilateral do que propriamente o multilateralismo.Esta cimeira Trump-Netanyahu marca o arranque das conversações com vista à concretização da segunda fase da trégua entre Israel e o Hamas. Esta segunda fase começa bem? Quando se sabe que Israel continua com a operação militar na Cisjordânia…Começar por dizer que este é um cessar-fogo que foi alcançado ao longo de muitos meses de intensas negociações sob mediação internacional, também norte-americana, e com muita dificuldade de se conseguir concertar a posição das duas partes. Ainda assim, foi importante que o efeito Trump conseguisse, no fundo, pressionar [as partes]. Eu creio que, sobretudo para Israel, aceitar as condições do Hamas - relativamente àquilo que são os objectivos e a dificuldade de se avançar com a implementação deste acordo - mostra claramente essa fragilidade.Por outro lado, também mostra, do meu ponto de vista, que é Washington quem está a ditar a cadência dos eventos da parte de Israel. Eu relembro que este acordo — proposta de acordo — foi avançada pelo então Presidente Joe Biden e, obviamente, foi dada a entender que seria um acordo de proposta da liderança de Netanyahu. Rapidamente se percebeu que havia aqui uma estreita articulação entre Israel e Washington para, no fundo, se conseguir esta paragem das hostilidades militares, sobretudo por causa de uma crítica muito grande em termos internacionais.Neste momento, claramente, Netanyahu desloca-se, do meu ponto de vista, a Washington para mostrar que é um país que conta com o apoio dos Estados Unidos. É absolutamente vital para alavancar a credibilidade e o prestígio internacional de Israel - quer na região, quer em termos internacionais - que estava a ser minimizada.Depois, de alguma forma, não há credibilidade da parte de Israel face ao Hamas, no cumprimento do acordo, nem dos seus procedimentos, e por isso é preciso articular novamente com o parceiro norte-americano. Acrescenta-se a contínua pressão, sobretudo interna - das famílias dos reféns - para se alcançar a libertação dos mesmos ou a restituição, entendamos, dos presídios às suas famílias, para encerrar aqui, digamos, um ciclo de trauma colectivo da sociedade israelita.Esta segunda fase prevê a libertação dos restantes reféns, a declaração de uma calma sustentável no território e a retirada total das tropas israelitas da Faixa de Gaza do corredor de Filadélfia, na fronteira com o Egipto. Esta questão do corredor de Filadélfia é uma questão muito sensível para Israel, que já veio dizer que não vai querer abrir mão dela…É sensível e muito ambiciosa. Naturalmente, é exigível pelo Hamas, mas não vai ao encontro daquilo que são as garantias de segurança exigidas por Israel. E, portanto, a dificuldade de conseguir cumprir com as exigências de parte a parte remete, desde logo, para a falta de confiança mútua que várias vezes tem posto em causa a implementação deste acordo. Remete, igualmente, para a necessidade de que os mediadores internacionais, sobretudo os Estados Unidos, se empenhem para que os restantes parceiros - mediadores -consigam obrigar as partes a cumprirem com o estipulado.Todavia, não é garantido, do meu ponto de vista, que se consiga essa segurança de parte a parte para alavancar o cumprimento total deste cessar-fogo. São várias fases, indiciando claramente uma grande fragilidade, sendo que a fase seguinte remete para a necessária implementação da fase anterior. Tudo isto exige aqui um grande traquejo, na dimensão das diligências político-diplomáticas, mas creio que Netanyahu, com esta visita a Washington, quer mostrar força, algo que nesta fase não estava a conseguir projectar. Nomeadamente, para o próprio Hamas. Benjamin Netanyahu, que tinha prometido erradicar o Hamas, mas não o conseguiu fazer, está também muito fragilizado, mesmo no seio da própria coligação. Quais são os interesses de Netanyahu com esta visita?Temos aqui várias questões com esta conflitualidade que têm minado aquilo que é a legitimidade política da liderança de Netanyahu, com dificuldades na própria gestão. Mas há uma coisa que me parece vincada: Netanyahu, ao ceder às exigências de Trump com este cessar-fogo, acabou por, em certa medida, colocar em causa ou perigar a própria preservação na governação de Israel. E, aliás, notou-se pelas diversas fragilidades dentro da coligação governamental e por aquilo que foram algumas saídas de ministros importantes que apoiavam Netanyahu. Obviamente que, nesta fase, só poderá tentar alavancar a dimensão externa para se reforçar também internamente, porque a maneira de afastar as críticas e a falta de legitimidade internamente é, no fundo, projectar essa ideia de força enquanto liderança, conseguindo gerir um difícil dossier, que é, por exemplo, a restituição e a libertação dos reféns que ainda estão nas mãos do Hamas.Relativamente às ambições de Netanyahu, desde o princípio, eu creio que, de alguma forma, a preservação da sua liderança. A desresponsabilização pelo ataque perpetrado pelo Hamas no dia 7 de Outubro, o não conseguir que Israel seja um Estado que garante segurança aos seus cidadãos, é, obviamente, o que está a ser julgado ao longo destes vários meses de conflitualidade e de liderança política de Netanyahu.O que é que procura Donald Trump? No plano diplomático, a normalização das relações, por exemplo, de Israel com a Arábia Saudita?Sim, em certa medida, será também essa normalização que, aliás, já estava em curso. Donald Trump quer muito emergir, foi dito pelo próprio na tomada de posse, com uma liderança pacificadora em termos internacionais. Um Estado com grande poder em termos internacionais, sob a sua liderança, que consegue, por um lado, a protecção do interesse nacional norte-americano, mas, por outro, projectar essa imagem de pacificador em termos internacionais. Ou seja, terminando com as dinâmicas de conflitualidade que põem em causa os próprios interesses norte-americanos e as exigências, em termos do fornecimento de equipamento militar ou o financiamento, de alguns países aliados, até agora, que têm necessitado desse mesmo apoio.Há também uma ambição de Donald Trump querer ser nomeado, por exemplo, para o Prémio Nobel da Paz, com este alcançar da pacificação, quer no Médio Oriente, quer até na própria Ucrânia.Donald Trump, que, de resto, cometeu uma gafe quando falou na transferência de palestinianos de Gaza para o Egipto e para a Jordânia. Na semana passada, o Egipto, Jordânia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e o Qatar divulgaram uma posição conjunta, rejeitando quaisquer planos para transferir populações palestinianas.Eu creio que terá sido uma comunicação pouco cautelosa da parte do Presidente norte-americano que podia pôr em causa a continuidade do cessar-fogo, a eventual retoma de negociações para a criação de dois Estados e o reconhecimento do próprio Estado palestiniano por Israel e em termos internacionais. Este tipo de declaração mina, obviamente, o chamado processo de pacificação - a estabilidade do Médio Oriente - e não é abonatório para a posição de Israel. Porém, também não é abonatório para a posição de Washington, que quer emergir como um pacificador.Obviamente, foi completamente descartada essa possibilidade, sobretudo pelos países de acolhimento - a Jordânia e o Egipto - que não querem continuar a ser países receptores de fluxos migratórios. E, neste caso, até seria uma deslocação forçada por parte dos palestinianos. Esta declaração não vai ao encontro da necessidade da causa palestiniana, nem daquilo que são os países da região que, de alguma forma, acalentam uma nova arquitetura de segurança no Médio Oriente. Uma arquitectura que seja estável e abonatória para qualquer um dos lados.
Clara Raposo é a convidada de Conversas com CEO.A vice-governadora do Banco de Portugal aborda o impacto da gestão dos riscos climáticos nas taxas de juro, afirmando que “quem expõe mais os bancos ao risco climático terá de sofrer uma diferenciação em relação a quem menos os expõe”. Relativamente às remunerações praticadas pelo Banco de Portugal, identifica a necessidade de a instituição se manter competitiva e, no caso da administração, destaca as regras existentes, comparando-as com as práticas da banca que supervisiona.
Depois da trégua em Gaza, Israel lançou uma operação na Cisjordânia. Pelo menos oito pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas num ataque israelita ao campo de refugiados de Jenin. Kamel Abu Rab, governador de Jenin, fala em "invasão" do campo de refugiados. Já o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirma que se tratou de uma operação antiterrorista contra o "eixo iraniano". Vítor Ramon Fernandes, professor auxiliar na Universidade Lusíada de Lisboa e professor adjunto da Sciences Po Aix en Provence, afirma que devido à fragilidade do cessar-fogo, Israel está a manter pressão para tirar partido das negociações que vão ser extremamente difíceis. O que procura o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, com esta operação na Cisjordânia?Toda a questão palestiniana é uma questão que continua a ser importante para Israel. Ou seja, no sentido de manter a pressão e também tirar partido da posição de força, em que Israel se considera, para as negociações que vão ser extremamente difíceis. Estamos na presença de um cessar-fogo em Gaza, que não é na Cisjordânia, extremamente frágil. Vamos ver como é que termina toda esta situação.Benjamin Netanyahu pode estar também a tentar salvaguardar a coligação, que o mantém no poder, após a saída dos três ministros da extrema-direita?Esse aspecto é muito importante. Está ligado a toda esta questão, não só da Cisjordânia, mas mesmo da Faixa de Gaza. Muito do que vai acontecer, relativamente à primeira fase do acordo de cessar-fogo, vai depender da política interna de Israel.O primeiro-ministro israelita tem de facto aqui umas fragilidades internas. Por um lado, há uma ameaça por parte da coligação dos elementos mais extremistas, já tivemos aqui a demissão de três ministros, que ainda não põem em causa a manutenção do Governo, mas a prazo pode acontecer. Por outro lado, isto é uma forma do primeiro-ministro, no fundo, demonstrar que está a pôr uma pressão na questão de Gaza e da Palestina, mostrando-se de alguma forma fiel aos elementos da coligação e às suas preocupações.Em Telavive, quatro pessoas ficaram feridas num ataque com uma arma branca nesta terça-feira, 21 de Janeiro. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse estar preocupado e pediu a Israel para exercer a máxima contenção, usando a força letal apenas quando for absolutamente inevitável para proteger vidas. Estes episódios, na Cisjordânia e em Telavive, podem pôr em causa o cessar-fogo?Claramente. O cessar-fogo já está muito frágil, não só pelas questões ligadas a Gaza, mas todos estes elementos - que acabou de referir- são elementos adicionais. A primeira fase do acordo de cessar-fogo tem uma parte muito importante que tem a ver com a retirada das tropas de Israel de Gaza. Este vai ser um elemento fundamental. Porque, de facto, neste momento, temos um Hamas enfraquecido, mas que não está acabado. O Hamas vai aprovisionar-se e a retirada de tropas israelitas pode, de alguma, forma facilitar isto, em particular na parte sul de Gaza.Relativamente à retirada das tropas israelitas de Gaza, porque não acredito na retirada do corredor de Filadélfia [exigências dos palestinianos] isso colocaria em causa e fragilizaria os objectivos estratégicos de Israel. Israel nunca vai abandonar estes objectivos e de certeza que vai ter a mesma postura no que se refere a Gaza. Porém, estes factores podem, com toda a probabilidade, pôr em causa o cessar-fogo e o acordo está na primeira fase. Ainda não chegamos à segunda.Todos os acontecimentos que se passem no interior de Israel, no fundo, são elementos que são mais próximos ao povo israelita e, portanto, que dão a justificação ao Governo de Israel e ao primeiro-ministro para que se tomem determinadas acções. A questão da política interna e das acções que ocorrem em Israel é também determinante para o que venha a acontecer no futuro, relativamente a este acordo.Até mesmo na libertação de reféns. O Hamas vai libertar quatro reféns israelitas, no próximo sábado, na segunda troca de prisioneiros com Israel, ao abrigo do acordo de tréguas. Há aqui uma questão que eu gostaria de abordar. Nas imagens divulgadas vimos os reféns israelitas, mas não vimos o estado de saúde em que estão os prisioneiros que estavam nas mãos de Israel…Foi uma opção de imagens dos media israelitas. Tivemos uma aposta nas imagens dos reféns israelitas, porque o que está relacionado com os ataques de 7 de Outubro é a tomada de reféns, para além dos mortos, naturalmente. A libertação de prisioneiros palestinianos, que são numa proporção muito maior, leva menos atenção. São pessoas que estão lá, alguns deles há anos. De alguma forma, é pena porque seria também interessante ver o estado em que estão os prisioneiros palestinianos. Certamente não estão em muito bom estado, não deve ser muito agradável passar cinco, dez às vezes 15 anos numa prisão israelita, sendo tido como terroristas. E não esqueçamos que muitos desses prisioneiros não são só supostamente combatentes. Muitos deles são mulheres e às vezes crianças ou jovens.Após 15 meses de guerra contra Israel em Gaza, o Hamas está longe de ser erradicado. Benjamin Netanyahu tinha prometido destruir o Hamas. Netanyahu falhou?O Hamas não foi destruído, mas está enfraquecido, naturalmente. Uma das questões fundamentais que se coloca aqui - que está relacionada também com as questões que referi - é a retirada das tropas israelitas da Faixa de Gaza, em particular, da parte sul e do corredor de Filadélfia. O Hamas vai ter que se aprovisionar e, portanto, este aspecto é fundamental. Porquê? Porque o Hamas - neste momento - não quer dar parte fraca. Eles até apareceram com uniformes novos e muito bem equipados [na troca dos reféns israelitas]Até em termos bélicos, o Hamas apareceu reforçado…Exactamente. Portanto, querem mostrar que estão aqui, que não acabaram e que querem ser tidos em consideração nas negociações. Agora vamos ver como é que as coisas acontecem. O Hamas é mais do que um grupo militar. É uma ideia, um movimento que tem o apoio, como nós sabemos, da Irmandade Muçulmana. Está aqui uma tensão e um conflito que perdurará certamente.No entanto, é preciso ter em consideração que há uma questão fundamental que é a Cisjordânia e que não se pode pensar em paz na região, sem haver um tratamento adequado - para além de Gaza. A questão da Cisjordânia tem de ser acautelada, tem que ser tida em consideração. Aquilo que têm sido os colonatos israelitas e a situação em que está Cisjordânia. Tudo isto tem de se enquadrar para pôr termo a isto, se é que é possível. É urgente uma discussão séria sobre as questões relacionadas com a autonomia palestiniana.A solução de dois Estados?Não sei se passa pela criação de dois Estados. Eu não sou crente na situação dos dois Estados. A maior parte da comunidade internacional pensa que essa é a solução, nomeadamente a União Europeia. Eu tenho grandes dificuldades em ver a possibilidade da existência de uma solução de dois Estados, porque Israel, enfim, não tem muita vontade nisto. Não é só este Governo.Não sou um crente nessa solução, mas tem que haver alguma solução séria e que seja aceite por ambas as partes. Agora, a autonomia é uma parte que não pode ser deixada de lado em qualquer acordo de paz e em qualquer cessar-fogo, para que seja durável ou tenha a possibilidade de ser durável.
Quatro províncias angolanas, Luanda, Bengo, Icolo e Bengo, e Malanje estão afectadas pelo surto de cólera, declarado no passado dia 7 de Janeiro, em Luanda, no município do Cacuaco. De acordo com o Ministério angolano da Saúde, mais de 600 casos foram registados, com 29 óbitos. O médico especialista em saúde pública, Jeremias Agostinho, admite que a debilidade do saneamento básico de Luanda terá contribuído para o surto de cólera. Em menos de duas semanas, o surto de cólera - que começou no bairro do paraíso - já se alastrou por quatro províncias angolanas. Foram registados mais de 600 infectados e 29 óbitos. Como se explica este cenário? Na verdade, este surto não nos apanhou de surpresa. Em finais de 2023, início de 2024, o Ministério angolano da Saúde e a Organização Mundial da Saúde - OMS- notaram um aumento do número de casos de doenças diarreicas, a nível da nossa população, e em função do deficiente saneamento básico que termos, associado à agudização da pobreza, do acesso à economia e da alimentação - 90% da economia é informal - o risco de cólera era muito grande.Sem esquecer que países vizinhos, como a Zâmbia, Zimbabwe e Moçambique - cujo trânsito aéreo é muito frequente - já estavam a registar casos [ de cólera]. Em 2024, a Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde definiram um plano de contingência para casos de cólera, com a formação de profissionais de saúde, a partir de Abril e, infelizmente, em 2025 confirmou-se e começou o surto de cólera em Angola.Se já havia um plano de contingência, profissionais preparados, este alastramento não poderia ter sido evitado?Os últimos dados governamentais apontam que em cada dez angolanos, cinco não têm acesso a água potável. É um número bastante elevado e depois também temos que referir que em cada dez angolanos, cinco fazem defecação ao ar livre, uma vez que o acesso ao sistema de saneamento, principalmente a nível da capital, é muito restrito.As pessoas não têm acesso aos sistemas de drenagem comuns para as águas residuais ou as águas dos quartos de banho. Neste período, na capital e nas províncias, estamos a ter chuvas muito intensas e tudo isso levou a que o surto se instalasse.Por exemplo, no bairro do Paraíso, município de Cacuaco, onde tivemos os primeiros casos, essa zona que possui outros factores agravantes. As habitações são muito precárias e habitualmente por metro quadrado, residem cerca de 4 a 7 pessoas.São residências precárias, onde não há latrinas. Já falou aqui da época de chuvas, todos estes factores prepararam o terreno para este surto?Exactamente, com as chuvas que se vão abatendo pela cidade, o sistema de drenagem não está a funcionar e há muitas inundações. Então, quando juntamos aglomerados populacionais, enchentes, defecação ao ar livre, falta de acesso à água potável, cria-se um cenário propício para o alastramento da doença.Há ainda a questão do tratamento do lixo que é feito na capital…O tratamento do lixo aqui na capital é um problema crónico. Há bastante atraso na recolha do lixo e o lixo que é depositado no aterro sanitário, próximo dessa zona afectada pela cólera, não é um aterro sanitário, porque não se faz tratamento de lixo. A única coisa que se faz no aterro é a incineração de alguma parte do lixo. Depois a outra é invadida pela população que aproveita esse lixo para se alimentar.Por norma, por causa da falta de contentores para depositar o lixo, depositam o lixo nas valas de drenagem. A água das chuvas enche as valas e acaba por arrastar todo o lixo para as praias. Isto faz com que o risco de contaminação pela doença aumente ainda mais. Todo esse conjunto de situações faz com que a doença cresça rapidamente.Acabando por ter um impacto, também, nos alimentos que são consumidos?Na urbanização Nova Vida, que é mais ou menos uma urbanização para a classe média, o sistema de fossas está sempre a abarrotar e a verter água repleta de fezes. Essa água vai desaguar no rio Camba. Na zona ribeirinha desse rio é praticada a agricultura familiar, cuja rega é feita com a água composta por restos de fezes e lixo dos moradores da urbanização. Nas zonas afetadas pela cólera, é justamente a mesma coisa que acontece.A Empresa Pública de Águas de Luanda- EPAL- já veio afirmar que está com dificuldade em distribuir água para a população….Dizer que está com dificuldade de distribuir água seria minimizar o problema. Na verdade, nunca houve uma adequada distribuição de água para a população. A água que chega até aos cidadãos é uma água que, infelizmente, tem cloro, tem sabor e não cumpre os requisitos da chamada água potável. Agora que está a chover bastante e as populações precisam de água, por causa do surto de cólera, não há distribuição adequada, nem produtos para fazer a desinfecção da água.Quais são os sintomas de cólera? E quando é que os pacientes se devem dirigir a uma unidade hospitalar?São quadros de diarreia aguda bastante abundante, cãimbras, vómitos, fraqueza, muita sede e fome. São os sinais e sintomas que estão a ser apresentados pelos utentes.É neste quadro que os pacientes se devem dirigir ao hospital?Nós temos estado a aconselhar a todas as pessoas que possuem quadros de diarreia e vómito, abundante ou não, a se dirigirem às unidades de saúde. No caso da cólera, 80% das pessoas que serão infectadas não terão sinais e sintomas, mas transmitem a doença, uma vez que a bactéria se encontra nas fezes.O Governo está a fazer um bom serviço. Na principal zona afectada, montou uma área para internamento dos doentes, uma área para distribuição de água e outra de distribuição de meios para desinfectar a água. Esse processo tem que ser só mais abrangente para ver se, pelo menos, antes de Abril conseguimos acabar com o surto de cólera.Que recomendações deixa às autoridades e à população?As autoridades têm estado a trabalhar bem no quesito da informação, nomeadamente sobre o estado do surto e as medidas preventivas para a população. Esse trabalho tem de continuar. Deu-se início agora à distribuição dos soros de água, também é um trabalho que deve continuar a ser feito.Relativamente à população, o que recomendamos, nesta altura, são cuidados com a água que ingere, que usa para higiene pessoal e para a lavagem dos alimentos. A água deve ser tratada ou fervida. Também se deve ter cuidado com o lixo. Deve ser colocado em sacos para que as moscas, ou as baratas não tenham acesso. Estes animais também são transmissores da doença. E pelo menos durante esse período, devem ser construídas latrinas para não haver defecação ao ar livre.Também se devem evitar as idas à praia. A chuva leva o lixo e as águas residuais para as principais praias da capital.E os pequenos gestos como a lavagem das mãos e a lavagem dos alimentos…Exactamente, com água tratada, principalmente os alimentos que não vão passar pelo fogo. Deve-se consumir alimentos, de preferência, que se tem garantia que foram bem preparados. Fora de casa, aconselho as pessoas a não consumirem alimentos que não passem pelo fogo, como por exemplo, a salada, entre outros, por causa desse risco de transmissão.A lavagem das mãos, quando não é possível - nem sempre temos água - vamos passar álcool- gel. E isto fica sob responsabilidade das autoridadesque devem distribuírem esses meios para a população mais carente.
Cristina Siza Vieira é a convidada de Conversas com CEO.A vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal partilha a sua experiência de serviço público no setor do turismo e os desafios que enfrenta atualmente. Defende que seria importante descongestionar as áreas mais sobrecarregadas, nomeadamente Lisboa e Porto, criando novos circuitos e aproveitando o património existente.Relativamente à importância da imigração para o setor, espera que o modelo da manifestação de interesse seja retomado, mas com as devidas condições.No que diz respeito à diretiva europeia de reporte de sustentabilidade, esta irá afetar indiretamente as pequenas e médias empresas, incluindo as do setor hoteleiro.
Hemos estado con los vecinos del aeropuerto de Loiu....
Reformas atuais, em média, são "relativamente generosas", embora as mais baixas devam ser aumentadas. Gabriel Bernardino diz que "vai ter de haver, mais tarde ou mais cedo, uma limitação ao valor" das pensõesSee omnystudio.com/listener for privacy information.
A Síria vive um momento histórico com a queda de Bashar al-Assad, o homem que governou com mão de ferro durante 24 anos, depois de ter herdado o poder do pai, Hafez al-Assad, que tinha tomado o poder em 1970. O regime autocrático foi declarado oficialmente derrubado, após uma ofensiva das forças da oposição, que tomaram o controlo de Damasco nas primeiras horas de domingo. Ivo Sobral, coordenador de mestrado em Relações Internacionais na Universidade de Abu Dabi, falou-nos sobre os cenários em cima da mesa, as esperanças e os desafios do país perante o fim "de mais de 50 anos de família al-Assad no poder”. RFI: A queda de Bashar al-Assad ocorreu menos de duas semanas depois do início da ofensiva da oposição. Ficou surpreendido? O que é que fez com que a sua queda acontecesse agora? Ivo Sobral, coordenador de mestrado em Relações Internacionais na Universidade de Abu Dabi, nos Emirados Árabes Unidos: De facto, foi um avanço surpreendente, super rápido, que ninguém esperava. Movimentações militares nos últimos três, quatro dias, muitas pessoas de exércitos do Médio Oriente a deslocarem-se para a Jordânia, a deslocarem-se até para Israel para observarem o que é que estava a acontecer para fazer os relatórios de volta para os seus países. Toda a gente ficou surpreendida com esta rápida expansão das forças populares da Síria.O que aconteceu foi que, de facto, o regime de Bashar al-Assad estava minado logisticamente por dentro, foi uma batalha de atrito, uma batalha que durou muitos anos e que parecia eterna, mas afinal não, porque os relatórios recentes falam de um exército ao lado de Bashar al-Assad muito fraco, muito debilitado, muito dependente de mercenários e de forças externas, como o próprio Hezbollah libanês que estava quase terminalmente enfraquecido com os ataques de Israel e também as forças do Irão, assim como as forças proxys iranianas que são originárias do Iraque.Ou seja, de certa forma, foi a própria fragilização do Hezbollah e do Irão que teria levado a que isto pudesse acontecer agora?Exactamente. É essa a parte decisiva desta mudança enorme no Médio Oriente. As forças russas eram à volta de mil soldados, no máximo, portanto, nada de transcendental, alguns meios aéreos, mas que não poderiam fazer absolutamente nada quanto a esta ofensiva que foi super rápida. O próprio exército de Bashar al Assad, apesar de ter à volta de 20.000 homens, pelo menos até Damasco, também não teria recebido nem sequer os seus salários nos últimos meses, havia falta crónica de munições, falta de comida para as forças de Bashar al-Assad, uma situação que estava já a descer bastante em termos de apoio para Bashar al-Assad. Ele já não era popular na Síria, o problema agora é que as suas próprias forças mais fiéis estavam já a abandonar as posições, como aconteceu em Homs, quase no início.A queda de Bashar al Assad simboliza o quê? É o fim de uma era de opressão e de violência, mas também poderá ser o início de uma fase de incertezas? Qual é o principal cenário neste momento em cima da mesa? É difícil falar de um cenário. Podemos falar de vários cenários. É uma era que se acaba, uma era de mais de 50 anos de família al-Assad no poder. A Síria dominou o Médio Oriente e foi um bastião de alguma estabilidade com mais de 50 anos e que agora desaparece. Quando desaparece qualquer coisa - isto não é de hoje, já vimos o que aconteceu no Iraque - um vácuo do poder transforma-se sempre numa situação extremamente perigosa. Isso é o apanágio de qualquer revolução, mas no Médio Oriente ainda é pior, em particular numa zona tão volátil como onde está a Síria e o Iraque. A Síria é particularmente complexa a situação porque temos não só os jogadores internacionais todos presentes, como existe uma multitude de forças internas da Síria, que tornam todos os cálculos cada vez mais difíceis.O vazio de poder ocorre normalmente após a queda de regimes autoritários e pode ser explorado por grupos extremistas, como aconteceu no Iraque e na Líbia. Essa possibilidade acontece aqui?Exactamente. Fortemente.Temos que compreender bem qual é a lógica destas organizações radicais. Numa situação de caos completo, de falta de ordem, de falta de infraestruturas básicas, de completo colapso institucional do governo, uma força consegue trazer uma estabilidade, usando as táticas mais ferozes que podem acontecer, normalmente isso acontece com grupos religiosos fundamentalistas. O fundamentalismo islâmico é uma arma muito potente para a estabilização. As visões radicais baseadas em leituras do Corão radicalizadas trazem esta estabilidade. A estabilidade é muito simples: quem roubar perde uma mão; quem cometer qualquer outro tipo de crime basicamente é brutal o tipo de opressão.Mas isto pode acontecer na Síria? Quem é que lidera a oposição que fez cair Bashar Al Assad? Quem é Abu Mohammed Al-Jolani? É uma personalidade muito curiosa. Nasceu na Arábia Saudita, teve uma educação mais conservadora saudita de estilo wahabi tradicional, rumou para o Iraque como um combatente com a Al-Qaida e depois ficou preso cinco anos ou seis anos numa prisão iraquiana. Depois foi para a Síria, onde iniciou este movimento contra o governo. Portanto, é um indivíduo que nas últimas duas semanas se tem desdobrado numa campanha curiosa que é demonstrar que não é um radical, ou seja, uma espécie de campanha de PR - “Public Relations Stunt” - para ter um pouco ao seu lado o Ocidente e outros. Ou seja, não fazendo os erros que outros movimentos mais radicais, como o Daesh ou ISIS no Iraque e na Síria, fizeram e foram isolados e quase destruídos.Abu Mohammed Al-Jolani prometeu respeitar as minorias, disse que a Síria seria um país para todos os sírios. As minorias religiosas, afinal, não devem ter medo?O problema são as minorias étnicas também, como são os curdos. Ao mesmo tempo que vemos esta tomada de Damasco, temos também uma ofensiva no Norte do país contra as forças curdas. Obviamente, também não podemos ser demasiado rápidos na análise porque temos que deixar tempo ao tempo, a situação é demasiado volátil e incandescente para termos este tipo de certezas. Existem muitas Sírias agora em movimento, um pouco o cenário que aconteceu em termos de milícias na Líbia, mas desta vez temos toda esta variedade étnico-religiosa da Síria que torna-se bastante difícil para nós fazer esta análise simples porque não sabemos quem está realmente a controlar as ruas de Damasco neste momento, qual é a força, quais são as forças, qual é a conjugação de forças. Portanto, temos que deixar um pouco, pelo menos semana, para começarmos a observar a situação acalmar para fazermos este tipo de análises.Foram 50 anos de ditadura. Não há aqui uma esperança, um novo amanhecer para um povo reprimido por esta autocracia brutal? Sem dúvida, sem dúvida. Tenho vários colegas da Síria e foi muito interessante as conversas que eu tive hoje de manhã. Os meus colegas estão muito felizes com o que aconteceu e alguns deles, inclusive que trabalharam para Bashar Al Assad e outros não, todos são unânimes numa coisa: é que a mudança tinha que ser feita. Pior que a situação na Síria não existia. Estamos a falar de um país que sofreu o que se chama uma detonação social, ou seja, metade da população teve de desaparecer do país. Ficou refugiada, emigrou. Portanto, a Síria perdeu metade da população e os que fugiram não podiam voltar sequer.Sem contar todos os milhares que estavam em prisões, não é?Exactamente, há várias décadas, portanto, o que acontecia é que a Síria, como estava, não era positiva para ninguém, muito menos para qualquer facção da Síria. Isso é um facto. Agora, o que vemos para o futuro? O que eles diziam, rindo um pouco, é que não podia ser pior que isto, portanto, alguma coisa tinha que ser feita. O futuro terá que ser sempre melhor. Um regime autocrático como o do governo de Bashar al-Assad e do seu pai, com milhares - nós nem sabemos a quantidade de prisioneiros políticos que existirão na Síria, estamos a saber agora, lentamente, o que acontecia - é algo que não pode acontecer nos anos 2000 e tinha que terminar. O que aconteceu, o que acontece com estes regimes sempre, é que eles apodrecem por dentro. Foi o que aconteceu e temos que só pensar positivamente para o futuro. Temos de dar uma chance a todas as forças. Existem muitos riscos, sem dúvida, muitos jogadores.Esta saída de Bashar al-Assad marca uma das mudanças mais significativas no Médio Oriente nas últimas décadas. Que impacto para a região? À partida, quem ganha é a Turquia e Israel e quem perde é a Rússia e o Irão? Quem é que ganha e quem é que perde no tabuleiro geopolítico? Aparentemente quem perde imediatamente é o Irão. O maior derrotado desta crise será o Irão porque Bashar al-Assad - de uma minoria xiita, os alauítas, muito similar em termos religiosos com o Irão - com o apoio maciço do Irão, com muitos meios empenhados, muitas forças operacionais dentro da Síria, que fazia conexão às forças pró-iranianas do Iraque. Portanto, há aqui uma estrada, uma ligação de Teerão, Bagdad e Damasco, que é agora cortada completamente, e essa estrada ia para Beirute, que foi cortada completamente. O Irão é o grande perdedor.E a Rússia?A Rússia basicamente perde prestígio internacional porque se dizia que Putin nunca iria deixar os seus regimes pró-russos caírem no mundo. Bem, a questão é que caiu. Perde prestígio internacional, perde poder geopolítico no Médio Oriente e perde duas bases, as únicas bases que ainda existem da Rússia no Mediterrâneo, portanto, uma base aérea e uma base naval. Muito provavelmente os russos já estão neste momento a evacuar o material mais sofisticado para não cair nas mãos dos rebeldes ou dos seus inimigos. E a Rússia também perde, sem dúvida.Relativamente a Israel, há aqui alguma vitória no sentido em que Bashar al-Assad era um inimigo de Israel. No entanto, também é um desequilíbrio do “status quo” porque é melhor combater com o inimigo que se conhece do que um inimigo que não se conhece. Ele agora poderá ter que estabilizar um pouco a área, o que é como no passado, em que todas as forças fundamentalistas, mais cedo ou mais tarde, unem-se contra Israel. Aqui, é essa a grande incógnita do futuro. Israel está a monitorizar tudo o que está a acontecer na Síria e pode ser um novo inimigo. Esta instabilidade pode criar um novo inimigo para Israel.E a Turquia?Toda esta operação, que começou há mais de duas semanas, tem um cunho muito forte da Turquia, um cunho logístico, de "leadership", muito provavelmente de "intelligence", existem várias imagens, fotografias que mostram vários indivíduos que não correspondem ao perfil de um combatente sírio e Erdogan joga aqui outra cartada para debilitar o governo de Bashar al-Assad e, ao mesmo tempo, também controlar a zona mais próxima da fronteira com a Turquia. Portanto, há aqui também alguma vitória por parte da Turquia, sem dúvida.Agora, há outros jogadores à volta: a Jordânia, o próprio Golfo. O Golfo estava relutantemente a ter algumas relações com Bashar al-Assad porque não existia mais ninguém e agora vê na queda de Damasco uma oportunidade, talvez para o futuro, uma oportunidade para investir na Síria, criar e estabilizar a Síria e transformar a Síria num país que seja pró- Golfo, como está a acontecer um pouco no Iraque. Eu tenho certeza de que a Arábia Saudita, o Kuwait, os Emirados Árabes Unidos não querem uma Síria fraca porque uma Síria fraca seria um Iraque fraco, um país desestabilizado que poderia trazer bastantes perigos para esses mesmos países.E depois muito perto temos sempre a Jordânia. A Jordânia é um país fulcral de estabilização ali no Médio Oriente. A Jordânia está a olhar muito atentamente tudo o que está a acontecer na Síria por causa da sua enorme fronteira comum, assim como que tipo de xadrez poderá se jogar ali tão perto das suas casas. Basicamente, a Jordânia é o país ali com mais coisas em risco.E depois há o Líbano…O Líbano é outra incógnita. Líbano e Síria estiveram sempre juntos no passado. A Síria teve sempre um poder superior ao projectar a sua força para dentro do Líbano, os seus serviços secretos a usarem o Líbano. Se calhar, esta pressão agora vai aliviar-se e o Líbano talvez será deixado aos libaneses.A única coisa em que existe um perigo muito grande é que a Síria, nos últimos sete anos, transformou-se um pouco no chamado "narcopaís", um país que vendia drogas, em particular, e onde o próprio governo de Bashar al-Assad estava implicado. Portanto, para os seus inimigos e para os seus amigos em toda a volta, a Síria transformou-se basicamente num grande produtor de estupefacientes bastante baratos e que eram exportados para toda a zona. Este é um perigo que veremos agora, com a queda deste regime, o que poderá acontecer. Poderá ser como aconteceu no Afeganistão, que mudou para os Taliban, mas a primeira coisa que eles fizeram foi cortar na produção de heroína e pode ser que estes mesmos governos, que sejam mais conservadores também, optem por essa mesma política. O Islão não é compatível com estupefacientes, portanto, há aqui outra questão em aberto.
Na Pensilvânia está tudo empatado nas sondagens entre Kamala Harris e Donald Trump. Quem tiver mais votos consegue 19 votos para o Colégio Eleitoral que decide o Presidente. De todos os estados de desfecho incerto é o que vale o maior número de votos. O jornalista José Pedro Frazão esteve no clube português mais antigo da Pensilvânia onde encontrou as mesmas divisões que existem no país. Com 94 anos, o mais antigo clube de portugueses da Pensilvânia ainda é um local de encontro da comunidade, mas a política fica fora das conversas, mas não por falta de interesse destes imigrantes."Nós, tentamos, especialmente amigos, nós tentamos sempre manter os políticos um bocadinho à parte aqui, porque senão havia até, se calhar, havia aqui barulho. O nosso clube sempre foi bom nisso. O nosso clube sempre manteve um pouco de silêncio", diz Mário Fernandes, 76 anos.Este cidadão luso radicado nos Estados Unidos conta que o regulamento do Clube Português de Bethlehem tem mesmo uma regra que proíbe a instituição de expressar apoio a políticos. A conversa junta também José Carlos, o presidente que mais tempo esteve à frente do clube, numa zona tradicionalmente democrata. Hoje, a comunidade portuguesa reflecte a divisão do país entre os dois campos políticos."Eu penso que é 'metade-metade'. Às vezes eu penso que é um bocadinho talvez de maioria republicanos, mas outras vezes eu penso que não", diz Mário Fernandes."Eu penso que é o contrário. Eu penso que até recentemente tem sido a maioria. Os democratas, são maioria. Agora estou a começar a ver mais republicanos", considera José Carlos.Foi Donald Trump que começou a dar a volta às preferências dos portugueses. Quem apoia o antigo Presidente diz que a sua passagem pela Casa Branca deixou saudades, explica Ana Viçoso, que também presidiu ao clube."Quando ele foi Presidente, a América correu melhor. As pessoas puderam guardar dinheiro. Pudemos comprar casas. Hoje, as casas, tudo está tão caríssimo", queixa-se Ana Viçoso que passou o testemunho a Arnaldo Jorge, de 52 anos, um apoiante declarado de Donald Trump. As contas feitas em casa tornaram a sua decisão muito fácil de tomar."Porque a minha mulher tem um salão de cortar cabelo e o Trump estava na Casa Branca naqueles quatro anos que ele esteve lá. A gente nunca teve que subir os nossos preços, porque o nível de vida está mais barato. E agora, estes quatro anos agora passados, já tivemos três aumentos dos preços, porque tudo está mais caro. A electricidade, a água, o produto que ela tem, lá no salão, para pintar o cabelo das mulheres", diz o dirigente do clube.Relativamente à questão da imigração. Uma das maiores críticas dos apoiantes de Trump, como José Carlos, passa por uma alegada facilitação da entrada de imigrantes por parte da administração Biden, onde Camila Harris foi peça-chave."É totalmente errado o que esta o que esta presidência fez. Totalmente errado abrir as portas das fronteiras. (...) Isto é difícil. Nós também fomos imigrantes. Nós viemos legalmente e tem muita gente em Portugal e noutras partes do mundo que, precisam de ter um visto. Você tem que esperar dez, 15 anos. Portanto, eu não sou contra a imigração, mas não da maneira como está", diz José Carlos. A forma de Trump se expressar é, apesar de tudo, um problema para muitos eleitores, mesmo se não for o próprio a ir longe nas palavras. Nesta zona da Pensilvânia caiu muito mal a crítica aos porto-riquenhos num comício de Trump. Ana Viçoso é a prova de que são sobretudo as mulheres que não aceitam a forma como o candidato a elas se dirige. "Ele talvez seja bom para a nação. Mas a língua dele estraga tudo. Eu não aguento a língua dele. Ninguém gosta da maneira de ele falar, como ele fala sobre mulheres", diz Ana Viçoso. A maioria das mulheres apoia Kamala Harris. Apesar de ser democrata desde sempre, Ana permanece indecisa. Admite, contudo, que talvez acabe por votar a favor de Kamala Harris. "Não sei. Eu vou votar para ela quando chegar a hora. Eu penso para mim que vai ser o melhor. E vou pedir que ela faça o melhor que pode para mudar a nação para melhor", conclui Ana Viçoso.
Osvaldo Mboco, especialista em Relações Internacionais ligado à Universidade Técnica de Angola e voz conhecida da RFI pelas suas análises, lança no próximo dia 6 de Novembro, o seu novo livro, "Política externa de Angola, Principais marcos, desafios e perspectivas". Nesta obra que vem no seguimento de outros livros como “Os desafios de África no século XXI – um continente que procura se reencontrar”, publicado em 2021 ou ainda "As eleições em Angola, de 1992 até aos nossos dias" lançado em 2022, Osvaldo Mboco evoca designadamente a evolução das relações do seu país com os seus parceiros nos Estados Unidos, Rússia, China ou ainda França, passando em revista os momentos-chave da diplomacia angolana desde a independência, em 1975, até aos dias de hoje.RFI: Relativamente aos marcos históricos da diplomacia angolana de 1975 até aos dias de hoje, como é que poderíamos resumir em poucas palavras a evolução da diplomacia angolana nesses anos? Partimos de um país recém-independente de cariz socialista, para um país que agora multiplica as parcerias com países que até são antagónicos no plano internacional. Osvaldo Mboco: Nós, neste livro, entendemos dividir a política externa de Angola em seis épocas importantes. De 1975 até 1979, marca, ao nosso entender, a primeira fase da política externa de Angola. Depois de 1979 a 1989: porque aqui em 79, estava a entrar um novo Presidente que é o Presidente Eduardo dos Santos e de facto não alterou em grande medida aquilo que eram os pilares estruturais da política externa de Angola, porque nós tínhamos uma política externa voltada neste período ao marxismo-leninismo. A nossa relação era muito mais próxima para os países comunistas ou socialistas nesta época. Esse período termina em 89 e é a queda do Muro de Berlim. O país começa a fazer reformas importantes do ponto de vista da abertura da economia de mercado, mas ainda um país que tinha assente pilares naquilo que era a ideologia marxista-leninista. E depois há o terceiro período, que é de 1989 até 1992. Nesse período, onde também o país foi obrigado, até certo ponto, a abrir-se para o multipartidarismo e começar também a se relacionar com outros Estados. Depois de 92 até 2002, que é um período marcado fortemente pelo conflito civil, onde a estratégia da política externa de Angola era muito mais voltada para o objectivo de encurtar as linhas de apoios e abastecimento que a Unita tinha. É uma política de boa vizinhança também com os países vizinhos, no sentido de a Unita ser entendida não como um grupo de guerrilha, mas como um grupo rebelde. Esse foi um trabalho também da nossa diplomacia. Depois, teve o quinto período, que é de 2002 até 2017. Nesse período, um período pós-guerra, um período em que o país se abriu, vai buscar novas perspectivas. Depois, o outro período é de 2017 até aos nossos dias, que já é um período marcado pela presidência do Presidente João Lourenço. Agora, claramente que nós também trouxemos aqui neste livro o nosso actual reposicionamento no sistema internacional, enquanto país que hoje vai buscando várias alianças, até com aqueles países que no passado eram antagónicos. Tudo indica que está a existir uma mudança da política externa de Angola do eixo Pequim-Moscovo para o eixo Bruxelas-Washington. E isto tem estado de facto a criar muitos debates, também ao nível da Academia. E olhando para esta reconfiguração da política externa angolana, onde condena actos nas Nações Unidas, por exemplo, a anexação das quatro províncias da Ucrânia pela Rússia, a intenção que o Estado angolano tem também de adquirir equipamento militar americano. Quando olhamos para grande parte do equipamento militar angolano hoje que é do Pacto de Varsóvia, arrisco-me a dizer que em Angola não existem cinco generais, pelo menos um, que têm estudos ou formação na Rússia. E como é que fica a descontinuidade disto? Quanto tempo levaria, quais são os gastos que nós teríamos? E os treino, etc. Agora, os Estados, no sistema internacional, eles competem e há uma demonstração clara que existe um grande interesse dessas grandes potências, nomeadamente a China, a Rússia e os Estados Unidos em Angola. E isto faz com que houvesse um termo para identificar o que Angola tem estado a fazer: a "diplomacia de jogo de cintura". RFI: Falou, Lá está, da "diplomacia do jogo de cintura". Foi um termo que utilizou, nomeadamente há poucos meses, quando Angola se voltou decididamente para uma parceria mais aprofundada com os Estados Unidos, correndo o risco de se afastar um pouco mais das suas parcerias com a China. No que é que consiste exactamente essa "diplomacia do jogo de cintura"? Osvaldo Mboco: É um termo utilizado para descrever a posição cuidadosa da política externa de Angola, para evitar "irritantes" políticos ou diplomáticos com as grandes potências, face aos acontecimentos que dominam o cenário internacional, e não pôr em causa os interesses nacionais. Ou seja, independentemente desses países serem antagónicos, têm interesse em Angola. Angola tem estado a demonstrar que não é "terra de nenhum senhor" e não sendo "terra de nenhum senhor", adopta uma postura de alguma cautela, mas que consegue também fazer convergir no Estado angolano, determinados interesses, que é com base nos nossos interesses nacionais e com base nos interesses desses Estados que são antagónicos e que muitas vezes chocam. E aqui podemos trazer a questão do corredor do Lobito também. Mas ainda assim, nós conseguimos nos posicionar e claramente pode existir algum mal-estar. Mas depois, tendencialmente, esse mal-estar pode ser ultrapassado pelos canais diplomáticos. O que nós fizemos no livro é dizer que essa "diplomacia do jogo de cintura", uma posição ponderada, calculada também dos riscos e as ameaças das decisões que nós vamos tomando e fazendo uma viabilidade de qual decisão beneficia melhor e defende melhor os interesses do Estado angolano. E isto foi notável pelas peças do jogo de xadrez do Presidente João Lourenço que conseguiu ir para os Estados Unidos, provavelmente tudo indica que o Presidente Joe Biden, em Dezembro, realmente estará em Angola, mas ainda assim, os interesses chineses e russos continuam a ser discutidos e a ter espaço também no Estado angolano. E eu penso que nós, Angola, temos que definir o que é que nós queremos com as grandes potências, porque eles sabem o que eles querem de nós. Nós agora temos que pegar nos nossos interesses nacionais, traçar uma estratégia que vai de encontro na defesa dos nossos interesses que traçámos inicialmente. Então, é essa a diplomacia de equilíbrio, de "jogo de cintura", que é uma posição cuidadosa que a diplomacia angolana vem adoptando para não criar "irritantes" políticos, mas ao mesmo tempo defender os seus próprios interesses. RFI: Relativamente às relações de Angola com a França, também reservou um capítulo a esta temática. Como é que estão as relações neste momento? Do seu ponto de vista? Osvaldo Mboco: A França, naquilo que nós fizemos referência no livro, é o país que mais investe em Angola, claramente no sector petrolífero. E isso nos dá um indicador que são relações que são boas. O presidente Emmanuel Macron esteve em Angola não simplesmente para tratar de questões ligadas a aspectos económicos, mas também para tratar de aspectos em volta daquilo que é a crispação político-diplomática que a França vem sofrendo nos últimos tempos em África, principalmente nas antigas colónias onde existiram golpes de Estado e de que a França foi obrigada a sair de forma atabalhoada em função daquilo que tem sido a posição dos Estados. E eu também trago aqui, numa perspectiva que a aproximação quer da França, quer dos Estados Unidos em Angola, também é resultante dos últimos acontecimentos na região do Sahel, com os golpes de Estado, de mudanças incondicionais e a necessidade de identificar novos "players". Angola é um país que tem saída para o mar, tem posição geográfica, tem expressão no continente africano e parece que um dos grandes aliados dos Estados Unidos, que é a África do Sul, está-se a aproximar muito mais para o Sul global, está-se a aproximar muito mais dos BRICS. Então, há toda a necessidade do Ocidente encontrar um "player" a nível do continente africano que possa, até certo ponto, contrabalançar a posição da China e da Rússia no continente africano, em interesse do próprio Ocidente. E penso que Angola está dentro desta equação, desses Estados quer da França e quer também dos Estados Unidos. Daí diria, a importância que Angola hoje tem a nível do contexto africano e os interesses crescentes por parte desses Estados para com o Estado angolano. RFI: Não podíamos também deixar de mencionar a República Democrática do Congo, que é um dos "dossiers" sobre os quais Angola tem estado a trabalhar ultimamente. Chama a RDC de "quebra cabeças". Como é que poderíamos analisar o que está em curso neste momento relativamente à RDC e à mediação angolana? Osvaldo Mboco: RDC é o "quebra-cabeça" da diplomacia preventiva de Angola. Não é de hoje que Angola tenta mediar várias situações na região dos Grandes Lagos e também na República Democrática do Congo. Isto já vem desde o Presidente Eduardo dos Santos. Claramente que nós tivemos uma outra forma de abordagem, uma outra dinâmica, um novo engajamento com o Presidente João Lourenço. Mas tudo indica que os resultados alcançados até agora não são os melhores resultados, porque nós temos estado a assistir, mesmo com o cessar-fogo, ao M23 a ocupar novas vilas, a desrespeitar o acordo de cessar-fogo que nós já fizemos. Refiro-me também ao facto de o M23 não ter sido chamado neste acordo de cessar-fogo, não se revia nos acordos. Por outro lado, o Presidente Kagame tem estado a dar sinais de que as negociações não têm estado a ir na direcção que ele pretende. Daí que várias vezes não esteve em Luanda na cimeira de alto nível de chefes de Estado e de Governo e mandatou representantes também como forma de pressão. Há também aquilo que têm sido as acusações mútuas entre os dois Presidentes, o Presidente Kagame e o Presidente Félix Tshisekedi, que têm estado a minar o processo de mediação de Angola. Mas Angola tem continuado e continua (a mediar). Neste momento, existem reuniões ministeriais entre os ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois Estados sob a condução de Angola. Os peritos também têm estado a trabalhar. Angola apresentou uma proposta aos dois chefes de Estado sobre a paz duradoura. Nós não conhecemos o conteúdo que aí está, mas penso que quando temos essas reuniões cá em Angola, onde também participam os peritos, é com o objectivo de se discutir ao máximo os pontos divergentes que lá estão. Penso que as discussões têm estado a andar nesta direcção do lado angolano. Cabe a Angola continuar a mediar o conflito. E eu vou aqui dizer isto. O discurso político do Presidente Kagame e do Presidente Felix Tshisekedi ainda demonstra que o Presidente João Lourenço é um interlocutor válido. Mas depois a actuação dos dois Presidentes nas acusações mútuas mina o processo de mediação de Angola. Sem sombra de dúvida. Agora é importante também aqui dizer que nós temos estado a assistir a alguns recúos do ponto de vista de resultados, não de acções, do ponto de vista do resultado para aquilo que tem sido a acção da diplomacia angolana. Daí que eu dizia que é o "quebra-cabeça" da diplomacia angolana. A situação da República Democrática do Congo é uma das peças importantes, mas existem outras peças também que devem ser montadas na região dos Grandes Lagos. Continua a ser também uma das regiões que é pilhada de forma grosseira dos recursos minerais que aí estão. Mas o interesse da Angola, ao mediar, na minha perspectiva, e é o que nós trouxemos no livro, não é simplesmente a vontade de querer ter um prestígio internacional, de resolver um problema daquela dimensão que é o Leste da República Democrática do Congo. Mas também é uma questão de interesse e de segurança. Ou seja, o conflito está no leste da República Democrática do Congo, mas numa situação em que o conflito se alastra por todo o território da República Democrática do Congo, Angola pode sofrer com as consequências desse conflito. Tem campos de refugiados em algumas províncias de Angola que vêm da República Democrática do Congo. As fronteiras ficam muito mais porosas para os crimes transnacionais, nomeadamente tráfico de droga, tráfico de seres humanos, contrabando de combustível que já existe. Então há aqui uma maior porosidade e, por consequência, da transposição do conflito, pelo menos até às fronteiras do Estado angolano. Ou seja, a República Democrática do Congo não é simplesmente uma zona de influência do Estado angolano. A República Democrática do Congo é o espaço vital do Estado angolano, porque toda a operação securitária, política e económica que acontece na República Democrática do Congo tem implicações para o Estado angolano. Daí que o Congo, na minha perspectiva, é o "quebra-cabeça" da diplomacia angolana em termos internacionais.RFI: Outro dos dossiers nos quais Angola tem estado bastante activo é tentar obter reformas nas Nações Unidas e, nomeadamente, obter um lugar captivo no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Quais são as perspectivas, a seu ver? Osvaldo Mboco: Na obra, nós não trouxemos essa discussão de Angola sobre a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Relativamente à pergunta que me coloca, eu penso que Angola junta-se ao grupo de países que entendem que a actual configuração no Conselho de Segurança das Nações Unidas já não atende aos actuais desafios. E daí que Angola é um daqueles países que apela à reforma dos órgãos do Conselho de Segurança das Nações Unidas e também entende que há uma posição de injustiça, digamos, do sistema internacional para com o continente africano, que é um dos continentes com maior índice de população e é o continente com mais estados no mundo e não tem nenhuma representação permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Agora, a grande discussão será no futuro, qual dos Estados africanos deverá preencher este lugar. Penso que quer a nível das Nações Unidas e quer a nível das geografias onde se identificaram a necessidade do alargamento e a entrada de um "player", claramente não é um assunto para hoje. Mas ainda assim é um assunto no qual devemos começar a reflectir, porque provavelmente um dia a ordem mundial vai se alterar e isto poderá acontecer, claramente. Não há vontade política neste momento das grandes potências, mas pensamos nós que isto um dia pode vir a acontecer. Angola, penso eu, quanto a esta matéria, tem estado a se posicionar da melhor forma possível sobre a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. RFI: Na conclusão da sua obra, Osvaldo Mboco preconiza que se conceptualize o pensamento político estratégico da política externa de Angola, ou seja, um documento diagnóstico e programático da política externa do país. Poderia explicar-nos no que é que consistiria esse documento e a sua importância sobretudo? Osvaldo Mboco: Eu penso que o pensamento político estratégico na política externa de Angola deve ser um seguimento daquilo que é a agenda do Estado angolano, Ou seja, nós, Angola, precisamos de uma agenda de Estado. E nessa agenda de Estado devem estar definidas quais são as metas que nós pretendemos alcançar, os objectivos e os timings que nós queremos cumprir. A perspectiva de termos uma agenda de Estado é dizer o seguinte: que o nosso objectivo central é transformar Angola numa potência regional daqui a 50 ou 30 anos e nós vamos trabalhar nesta direcção com esses vectores. Seja qual for o partido político que chega ao poder, deve entender que não deve descontinuar a estratégia que já foi montada. E daí que nós temos estado a defender que a agenda de Estado deve resultar, não de um programa de governação do partido político dessas eleições, mas ela deve resultar do consenso nacional da discussão pública, onde vários intervenientes do Estado devem participar, as igrejas, a sociedade civil, os partidos políticos, as universidades. Porque existe um grande divórcio em Angola entre o governo ou o Executivo com aquilo que são as universidades, enquanto as universidades deveriam ser, ao meu entender, o mais alto palco do conhecimento e participar activamente naquilo que são as estratégias a serem montadas. Agora não estamos aqui a defender que este documento é um documento estático, porque as relações internacionais dinâmicas, são variáveis. Sempre que houver necessidade, deverá se introduzir reformas consoante o contexto internacional, mas com o objectivo primário, que é atingir determinadas metas. Então, esse deveria ser o pensamento político estratégico de Angola. Por exemplo, na obra também nós fizemos referência que Angola, por ser um dos principais "players" em matéria de gestão e resolução de conflitos em África, já deveria ter um centro de análise e estudo sobre guerra e paz, um centro que analisa os conflitos mundiais ou, se quiser, simplesmente de África. Estuda os conflitos, apresenta prognóstico da resolução desses conflitos, apresenta as soluções e olha as várias doutrinas que existem. E pode até trabalhar também para o surgimento de novas doutrinas sobre matéria de gestão e resolução de conflitos. Isto poderia fazer com que aquilo que é o conhecimento angolano influenciar também a ciência voltada a matérias ligada a guerra e paz, a gestão e resolução de conflitos. Seria também uma forma ou instrumento importante que Angola poderia utilizar para, de facto, se afirmar no continente africano como um país de matriz pacifista, mas como um país que também tem a gestão e resolução de conflitos como um aspecto principal da sua política externa, não simplesmente do ponto de vista da mediação, mas do ponto de vista da construção de conhecimento e observação dos fenómenos e produzir aquilo que podem ser as eventuais soluções.
O primeiro-ministro francês pronunciou esta semana a declaração política na Assembleia Nacional. Michel Barnier disse que a receita para reduzir as dívidas passa pela diminuição da despesa e pelo aumento dos impostos. Em entrevista à RFI, o economista e professor na Universidade Paris Dauphine. Carlos Vinhas Pereira, refere que "os maiores cortes vão ser feitos nas ajudas sociais". RFI: O primeiro-ministro francês, Michel Barnier, disse que a receita para reduzir as dívidas passa pela diminuição da despesa e pelo aumento dos impostos. Quais serão os sectores mais penalizados com estes cortes?Carlos Vinhas Pereira, economista e professor na Universidade Paris Dauphine: Os maiores cortes vão ser feitos nas ajudas sociais. As ajuda passarão a ser feitas tendo em conta a antiguidade e a estabilidade da pessoa que solicitar apoio. Relativamente aos clandestinos, a França é dos únicos paises que mais apoia as pessoas que estão no território em situação irregular. Essa situação também deverá mudar, as autoridades deverão limitar o acesso destes cidadãos aos cuidados de saúde e às ajudas financeiras.Vários especialistas já vieram dizer que essa medida representa um valor ínfimo na despesa pública francesa. Não se está sempre a fazer pagar as mesmas pessoas?Estamos a falar de 1000 milhões de euros. É verdade que- relativamente à dívida- é uma gota de água no oceano. Mas aqui a ideia é prolongar o tempo de trabalho para que essas pessoas tenham direito aos cuidados de saúde e ao subsídio de desemprego.Todavia, quando se fala no sector da Saúde, ouvimos que o sector já não aguenta com mais cortes. Onde é que o primeiro-ministro pensa cortar?Vai cortar na parte administrativa, não na parte operacional. Ele quer aumentar o número de médicos, passando de 7500 para 15.000 estudantes para que estes possam- no futuro- substituir os médicos que vão para a reforma. Nos hospitais podem ser feitos cortes na parte administrativa, considerada como muito pesadaO sector da Educação, da Defesa e da Justiça também sentirão os cortes?A ideia era poupar, nomeadamente o sector da Defesa. Acredito que os grandes cortes serão feitos nas prestações sociais. A França é campeã do mundo na redistribuição das ajudas sociais- foi sistema que escolheu, mas esse modelo tournou-se demasiado pesado para a realidade do país.O primeiro-ministro francês anunciou que quer que os mais ricos ajudem o país a equilibrar as contas públicas, sublinhando que será um esforço limitado no tempo. Qual será o formato desse esforço financeiro?O formato será o de passar de uma taxa de imposto que vai aumentar 6% relativamente à taxa normal e estou a referir-me às empresas com um volume de negócios superior a 1000 milhões.. A ideia é j passar a taxa do IVA, do IRC a uma taxa que vai atingir uns 33%, relativamente à taxa que vigora actualmente.Michel Barnier disse que este imposto será feito de forma a evitar as estratégias de desfiscalização dos grandes contribuintes. Ele vai ser capaz de por esta medida em prática? É simples e fácil de fazer. Ele tem apenas de eliminar certos nichos fiscais, em França há dezenas, que permitem uma exoneração de impostos. Penso que os franceses, em termos gerais, estão a favor da eliminação deste tipo de privilégios que certas pessoas benificiam.Não está em cima da mesa o regresso do imposto sobre as grandes fortunas?Não, isso não! Podemos dizer que era um esforço que toda a gente devia fazer, ou seja, aqueles que têm mais meios para contribuirem para equilibrar as contas, mas será um esforço limitado no tempo. O facto de Michel Barnier ter anunciado que o objectico é atingir-em 2025- os 5% de défice e depois-até 2029-restabelecer os 3% -que é norma europeia- demonstra que que se trata de uma medida que será aplicada até que seja diminuída a dívida francesa.O chefe do Executivo afirmou ainda que quer fazer pagar impostos às empresas com grandes lucros, mas sem colocar em causa a competitividade. Esta equação é possível? Sim, é possível. Michel Barnier apoia-se nos 50 mil milhões de euros que que foram distribuídos em dividendos e que resultaram dos lucros realizados pelas grandes empresas francesas. O primeiro-ministro francês considera que o facto de baixar os dividendos não vai prejudicar a competitividade das empresas. Só vai impactar o montante que os acionistas deverão receber.Foi ainda anunciada a revalorização do SMIC- salário mínimo em 2%, a partir de 1 de Novembro. Este aumento é suficiente para fazer face à inflação que se vive? Já houve aumentos ligados à inflação. Este aumento é um dos primeiros a ser feito sem se ter conta a inflação. Michel Barnier quer aumentar o poder de compra e também agradar os partidos de esquerda. Claro que não aumentou como a esquerda queria, mas trata-se de um gesto como, de resto, fez com a extrema direita na questão da imigração.Relativamente à política de imigração, considera que todas as políticas devem ter em conta que o país precisa de mão-de-obra estrangeira? Sim, a França precisa de mão de obra estrangeira. No entanto, as autoridades querem uma mão de obra regular, que não chegue de forma clandestina. Se pensarmos nos últimos acontecimentos- a morte da jovem Philippine- vieram revelar que há um problema. Que se não existirem os meios adequados, os abusos podem acontecerFoi ainda anunciado um fundo que será utilizado para desenvolver a competitividade das empresas. Há aqui a intenção do executivo de Michel Barnier querer fomentar a competitividade das empresas em França?É uma medida que vai ajudar certas pequenas e médias empresas-PME- que trabalham com o mercado de exportação, para poderem receber ajuda mais facilmente.
MILANO (ITALPRESS) - Il cambio dei vertici della Polizia Locale di Milano, dove Gianluca Mirabelli prenderà il posto di Marco Ciacci, “non è assolutamente un downgrade. Ciacci è 7 anni che fa quel mestiere, un mestiere molto usurante, quindi credo sia un cambio importante”.Lo ha dichiarato il sindaco di Milano Giuseppe Sala a margine del convegno dedicato al “Milano Climate City Contract”. Secondo il primo cittadino “per Ciacci questa è anche un'opportunità perché noi fra due anni e mezzo abbiamo finito: se fosse rimasto in quel ruolo dopo già due mandati è difficile che l'avrebbero riconfermato. Ho sempre manifestato fiducia a Marco Ciacci”. “Relativamente al suo successore, è un vigile con una grande tradizione perché ha tramandato questo mestiere di generazione in generazione nella sua famiglia - ha aggiunto Sala - Anche a lui ho fatto un discorso diretto, si gioca in questi due anni e mezzo con un ruolo importante perché il corpo dipendeva da lui. La grande visibilità ti può anche bruciare, ma credo che ne sia molto consapevole”.xh7/pc/gtr
Abrimos o recapitulativo desta semana em África com a celebração da figura de Amílcar Cabral, pai da independência da Guiné e de Cabo Verde, cujo centenário do nascimento se assinalou na passada quinta-feira.Assassinado a 20 de Janeiro de 1973, pouco antes de concretizar o sonho da independência dos dois países, Amílcar Cabral deixou atrás de si um valioso legado político. Todavia, do ponto de vista da viúva, Ana Maria Cabral, pouco se fez desde 1973, para divulgar o pensamento daquele que de acordo com uma lista elaborada em 2020 por historiadores, foi considerado "o segundo maior líder do século XX."Quem também recorda e celebra Amílcar Cabral é o antigo chefe de Estado de Cabo Verde, Pedro Pires que dirige a fundação Amílcar Cabral que nestes últimos dias organizou na Cidade da Praia um simpósio internacional sobre o líder da independência da Guiné e de Cabo Verde. Antigo companheiro de luta de Cabral, ele recordou nas antenas da RFI um amigo "com quem partilhava os mesmos sonhos".Para além do simpósio internacional, Amílcar Cabral foi igualmente homenageado de forma oficial na Cidade da Praia. Na manhã de quinta-feira, o Presidente cabo-verdiano prestou junto do memorial Amílcar Cabral um tributo ao herói nacional, José Maria Neves enaltecendo o seu contributo para a construção de Cabo Verde.Em Bissau, o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embalo, prestou igualmente uma homenagem ao fundador da nacionalidade, durante uma cerimónia oficial no Quartel-General das Forças Armadas, onde aproveitou para anunciar uma série de actividades até o final do ano em torno de Cabral.Relativamente a outro assunto, o que também dominou a actualidade desta semana, foi a aterragem no sábado no aeroporto de Bissau de uma aeronave proveniente da Venezuela carregada com mais de duas toneladas de cocaína. Os cinco ocupantes do avião, dois cidadãos do México, um colombiano, um cidadão do Equador e um do Brasil, foram imediatamente detidos.Numa primeira reacção, Fernando Delfim da Silva, conselheiro político da Presidência da República guineense, anunciou no dia 9 de Setembro que o executivo prevê "medidas severas” contra “todos os implicados” na aterragem do referido avião.Isto não impediu críticas por parte dos adversários políticos de Sissoco Embaló. Para além do Fórum de Salvação da Democracia, na oposição, acusar o poder de «encobrir o tráfico de droga na Guiné-Bissau», a coligação, o PAI-Terra Ranka, que venceu às últimas legislativas, também criticou o poder. Em comunicado divulgado na terça-feira, essa formação disse que “é do conhecimento público” que “altas figuras do Estado” estão envolvidas na “prática recorrente” do tráfico de droga no país, a coligação evocando nomeadamente elementos ligados à Presidência da República.Perante as acusações, o Presidente guineense disse que "tudo isto não passa de teatro" e argumentou que "alguém que já esteve no Congresso norte-americano, na Casa Branca e a quem o chefe de Estado francês empresta o avião para viajar, nunca poderá ser um traficante de droga". Pela mesma ocasião, Umaro Sissoco Embaló disse não tencionar brigar um segundo mandato.Também na actualidade política, mas desta vez em Moçambique, depois de mais de duas semanas de campanha para as eleições gerais de 9 de Outubro, começaram a surgir primeiras críticas, nomeadamente no que tange a actos de violência política e também de utilização indevida de meios públicos no âmbito da caça aos votos.Entretanto, a missão de observação eleitoral da União Europeia já se encontra no país para acompanhar o processo. Garantir a integridade e transparência deste escrutínio e "sem qualquer intromissão para que os resultados sejam aceites por todos", é o principal objectivo invocado pela missão.Por fim, em São Tomé e Príncipe, decorreu no passado fim-de-semana o 7° Congresso extraordinário do MLSTP-PSD, principal força de oposição do país. Durante esta reunião magna cujo objectivo era começar a preparar o partido para as próximas eleições de 2026, o antigo governador do Banco Central de São Tomé e Príncipe, Américo Barros, foi eleito novo presidente do MLSTP-PSD, face a três outros concorrentes.
Na semana passada, a ONU divulgou um relatório pouco auspicioso sobre a qualidade da água a nível mundial. De acordo com este documento, "a metade mais pobre do mundo contribui com menos de 3% dos dados mundiais sobre a qualidade da água". Ou seja, quase 4 mil milhões de pessoas repartidas nomeadamente pela Ásia e a África têm falta de dados sobre a água que consomem. Para termos uma noção, sobre as cerca de 250.000 análises feitas em fontes de água doce a nível mundial, apenas 4.500 fornecem informações sobre a qualidade da água das regiões mais desfavorecidas.Neste sentido, a ONU refere que a falta de dados e os "fracos níveis de vigilância" podem ter uma incidência sobre o cumprimento dos objectivos de desenvolvimento sustentável até 2030. Até lá, segundo o relatório, "mais de metade da Humanidade vai viver em países que não dispõem de dados suficientes para tomar decisões esclarecidas quanto à luta contra a seca, as inundações, os impactos dos caudais de águas usadas e da actividade agrícola".Efectivamente, as Nações Unidas apontam as mudanças climáticas, as actividades industriais, mineiras e agrícolas, como alguns dos factores para a degradação da qualidade de água, que se estabelece em 50% a nível mundial. Daí que os autores do documento recomendem que se desenvolvam programas de vigilância no sentido de estancar a falta de informações em determinadas regiões do mundo.Foi neste contexto que a RFI evocou o caso de Moçambique. No passado mês de Agosto, o Presidente Nyusi constatou melhorias neste aspecto, referindo que neste momento cerca de 60% da população moçambicana tem acesso à água potável.O activista ambiental moçambicano Rui Silva também dá conta de progressos, referindo que determinadas zonas, como Maputo, beneficiam de uma vigilância constante da qualidade da sua água, sendo que noutras zonas do país, isto já não é tão sistemático."No caso particular de Moçambique, obviamente que existem problemas em determinadas zonas. Em Maputo, especificamente, as águas da região de Maputo têm um controlo muito apertado, pelo que não tem havido problemas em termos da qualidade da água. Nesse aspecto têm feito um bom trabalho e o controlo é feito diariamente, várias vezes ao dia. Agora, a qualidade de água neste momento, não só em termos de Moçambique, mas em termos de África, passa muito, primeiro, pelas más condições com que as pessoas têm estado. Se formos pensar nos meios mais recônditos, em qualquer país da África, uma boa parte das pessoas tem os seus furos de água. O que é que acontece, não só com as questões das mudanças climáticas, mas também com o desmatamento das florestas, as queimadas, tudo isso está intervir na qualidade da própria água", começa por esclarecer o especialista.Questionado sobre os diversos desafios enfrentados por Moçambique no que tange à qualidade da sua água, Rui Silva cita o impacto da actividade mineira e também a falta de latrinas apropriadas."Tem sido muito discutido neste momento aqui em Moçambique, a questão da zona de Tete, mais precisamente em Moatize, onde a exploração de minas de carvão a céu aberto, em que de facto a água é completamente impossível de ser consumida, completamente impossível não só água como até o ar que as pessoas vão respirando. Isto, na minha modesta opinião, tem a ver muito com a falta de alguma fiscalização por parte das entidades centrais. Porque esta mina, por exemplo, quando esteve na posse de outra empresa (a brasileira Vale), os efeitos não eram tão graves como estão a ser neste momento (a mina passou a ser explorada pela empresa de capitais indianos Vulcan em 2022). A questão de haver água contaminada por causa das fezes, etc, passa também pela falta de condições que as pessoas têm, nomeadamente nos meios mais pequenos, em que têm as suas próprias latrinas que vão directamente para os solos e que nomeadamente em termos de urina, depois com as chuvas, etc, vão se infiltrando nos solos e podem eventualmente criar problemas, se calham em apanhar linhas de água que depois são enviadas para as habitações", refere o militante ecologista.Relativamente à actividade agrícola que é um dos factores apontados pela ONU para a degradação da qualidade da água, no caso de serem usados produtos como pesticidas e fertilizantes, ou ainda no caso de se efectuarem queimadas, Rui Silva refere que tem havido um esforço de sensibilização para estas problemáticas."Sei que em vários pontos do país tem havido essa consciencialização no sentido de se fazer a compostagem, para evitar também a utilização de fertilizantes químicos, que também pode vir a afectar a água. Por outro lado, as próprias queimadas e o desmatamento feito pelos agricultores que, por uma questão de quererem mais espaço, etc, sem a plena consciência que estão também a criar outros problemas ambientais, isso tem sido um pouco uma realidade, embora tenho consciência que muita coisa está a ser feita no sentido não só de tentarem consciencializar os moçambicanos, os agricultores, mas também tem sido uma aposta, o plantio de árvores nestas zonas. Claro que ainda há muito por fazer, principalmente em termos de consciencialização por parte das populações que muitas vezes, ou na esmagadora maioria das vezes, não têm consciência daquilo que estão a fazer", diz o estudioso.Ao referir que são entidades privadas ou público-privadas que asseguram o controlo da qualidade da água, sob a supervisão do Estado, o activista considera que "há empresas que, cada vez mais, estão empenhadas em termos de responsabilidade social, em termos da qualidade de vida das comunidades, etc. Cada vez há mais. Mas tudo depende sempre de empresa para empresa. Obviamente que há empresas que pensam mais na parte financeira do que na parte ambiental. Aliás, isso é o maior problema do mundo em termos globais. E é principalmente os países mais industrializados em que não conseguem fazer esse equilíbrio entre a parte financeira e a parte ambiental."Por outro lado, embora constate esforços e melhorias no controlo da qualidade da água, Rui Silva não deixa de apontar os desafios que subsistem e que se prendem muito com a falta de capacidade financeira."Moçambique, sendo um país em desenvolvimento, obviamente que tem as suas limitações financeiras e o próprio Estado não consegue chegar a todas as necessidades. E obviamente que pode muita gente começar a pensar 'lá estão em África a estender a mão', mas não tem nada a ver com isso. Passa um pouco por haver também um certo apoio por parte de países mais industrializados, também mais desenvolvidos, até porque Moçambique, como se sabe, é dos países até que menos polui, mas dos mais vulneráveis às mudanças climáticas. E na última COP, já ficou acordado de haver determinadas verbas para ajudarem estes países que estão em desenvolvimento. Dentro das capacidades financeiras que Moçambique tem, que são muito baixas, muito tem sido feito. Na questão do acesso à água potável, muito tem sido concretizado. Claro que não se consegue tudo ao mesmo tempo, como é óbvio. A água de facto é uma prioridade para as populações, mas há outros aspectos que acabam por não ajudar, que é a falta de capacidade financeira por parte do país. Não é a falta de sensibilidade do Estado, mas é mesmo falta de capacidade financeira para poder atingir a totalidade das pessoas a terem acesso a água potável", diz o activista ambiental para quem o país tem poucas hipóteses de responder aos imperativos de sustentabilidade estabelecidos no horizonte 2030."Tudo vai depender de como os apoios que foram também 'prometidos', possam aparecer ou não aparecer. Nós sabemos que, por exemplo, nesta última conferência foi decidido já com a assinatura de todos os países ou praticamente da esmagadora maioria dos países. O apoio aos países em desenvolvimento, no entanto, já é uma questão que tem vindo a ser falada já em várias conferências e só nesta última é que as coisas parecem estar a começar a avançar. Portanto, não vai depender apenas exclusivamente de Moçambique, obviamente. Sinceramente, a mim, pessoalmente, se eu acredito que se vai atingir até 2030, muito sinceramente não acredito", conclui Rui Silva.
Desde ontem e até quinta-feira, decorre em Chicago a Convenção Democrata durante a qual Kamala Harris vai ser oficialmente entronizada candidata à Casa Branca, poucas semanas depois de Joe Biden ter desistido de brigar um segundo mandato face ao antigo Presidente Republicano, Donald Trump. Nesta segunda-feira, dia em que discursaram o Presidente cessante, Kamala Harris e outras figuras democratas como Alexandria Ocasio-Cortez ou ainda Hillary Clinton, ostentou-se uma frente unida em torno de aquela que ambiciona ser a primeira mulher Presidente dos Estados Unidos e esboçou-se um balanço destes últimos quatro anos com Joe Biden.As melhorias no desempenho económico do país e as medidas a favor das franjas mais desfavorecidas foram alguns dos aspectos evocados. A política americana no Médio Oriente também irrompeu na Convenção, com militantes pró-palestinianos a manifestarem em Chicago para reclamar o fim do apoio incondicional dos Estados Unidos a Israel.Estes foram alguns dos aspectos que abordamos com o analista político, Germano Almeida, que ao analisar o teor dos discursos pronunciados ontem, começa por evocar o legado de Joe Biden.RFI: Qual é o balanço que se pode fazer do mandato de Joe Biden como Presidente?Germano Almeida: Eu acho que aqui há algum balanço contraditório. Tem aspectos muito positivos e, depois, algumas coisas negativas. Eu acho que em alguns aspectos, Joe Biden faz uma presidência bastante sólida, bastante positiva, no sentido em que, depois dos 'anos Trump', consegue recuperar alguma eficiência e alguma estabilidade na administração americana, depois da qual consegue relançar a economia americana, que é a economia no G7 que mais cresce. Ao fim de dois anos seguidos, consegue reduzir a inflação, que de facto chegou ao nível histórico de 9,1%, mas não foi culpa de Joe Biden. Foi culpa da pandemia, do regresso da actividade com alguma disrupção ainda dos sectores da distribuição e depois do início da guerra da Ucrânia, naturalmente com as sanções à Rússia que isso implicou. Mas em dois anos, com uma política arriscada, mas com a subida dos juros, consegue baixar a inflação para 2,9%. Há um sentimento contraditório e isso porque, mesmo sendo assim, a verdade é que muitos americanos sentem que ainda estão a pagar demais e, portanto, a economia tem esse lado contraditório. No geral, bons índices económicos dos Estados Unidos, mas os americanos não sentem isso. E isso vai ser uma coisa que vai marcar esta eleição, que Kamala está a ganhar nos temas como a defesa do aborto, a mobilização do seu eleitorado, mas corre o risco, mais próximo da eleição, de ter problemas com a questão da economia e também a questão de imigração. Ou seja, nos últimos anos, tem havido um recorde de entrada de imigrantes ilegais, muito também por causa de uma lei de imigração que está obsoleta e que não consegue dar resposta à situação na fronteira sul do Texas com o México. Mas é responsabilidade também da maioria republicana no Congresso, que nunca se manifestou aberta a fazer um acordo sério para resolver a questão.RFI: Kamala Harris é esperada sobre a questão da imigração e sobre a questão da economia. Ela já falou, por exemplo, dos impostos que ela pretende estabelecer, nomeadamente aos mais ricos. Há também a questão do aborto e a questão da política exterior, nomeadamente o Médio Oriente.Germano Almeida: Sim, o caso do Médio Oriente, Joe Biden abordou isso. Enquanto eles falavam, havia protestos à porta da Convenção de manifestantes mais à esquerda, que dizem coisas que eu acho que são injustas, do estilo 'Harris, Joe Biden e Trump é tudo igual'. Não é tudo igual. Pode ser culpada de algumas coisas relativamente ao tema, mas a verdade é que a administração Biden está a liderar os esforços para que haja algum tipo de acordo de cessar-fogo em Gaza e mais globalmente uma solução política para aquela questão. É evidente que, olhando para o tempo que passou, podemos dizer que até agora estão a falhar porque continuam a morrer inocentes em Gaza. É verdade. Mas também me parece que essa ala esquerda tem que pensar muito bem se é assim muito inteligente estar a dizer que são iguais Kamala ou Trump e assim permitir um regresso de Trump que vai dar muito mais espaço para Netanyahu continuar a sua guerra em Gaza. Mas isso é outra questão. Vamos ver. Eu acho que Alexandria Ocasio-Cortez, da ala esquerda do Partido Democrata, foi muito clara ao elogiar Kamala, dizendo que ela fará tudo para haver uma libertação dos reféns e um cessar-fogo em Gaza. Relativamente à questão fiscal, uma questão muito importante também na discussão política da campanha, Kamala está a mostrar-se uma candidata de continuidade em relação a Biden e a Obama, no sentido de defender uma taxação dos mais ricos de modo a permitir um corte fiscal dos americanos com menos rendimentos. Espera-se nas próximas semanas que haja mais detalhes e que haja, já agora, debates entre Trump e Kamala relativamente a este tema, que é um tema muito importante.RFI: Mencionou a presença de Ocasio-Cortez nessa convenção e o elogio a Kamala Harris. Um pouco mais à direita do espectro dos democratas estava também Hillary Clinton, que em 2016 não beneficiou de toda a união que há neste momento em torno de Kamala Harris, quando se apresentou para as presidenciais. De facto, isto é um sinal forte, ver todo o espectro dos democratas com Kamala Harris?Germano Almeida: Sim, é muito importante esse ponto que refere. De facto, Hillary Clinton, à justa não consegue a eleição um pouco por isso. Se nos lembramos, a eleição geral com Hillary Clinton e Trump, decorre depois de umas primárias democratas em que houve muita fractura entre o lado mais centrista dela e o lado mais a esquerda de Bernie Sanders. E apesar de Sanders apelar ao voto em Hillary, houve muita gente que votou nele, sendo que foram 45% dos democratas, que ainda depois não terá votado em Hillary. Isso custou-lhe a eleição e eu acho sinceramente que Kamala não corre esse risco. Acho que ela consegue juntar mais as duas alas esquerda e centrista. Há quem a ache demasiado a esquerda. Eu acho que não. Acho que ela está a integrar-se na tradição dos candidatos presidenciais democratas dos últimos anos, centro-esquerda, com propostas progressistas, com algumas nuances, mas, sobretudo, consegue mobilizar mais a ala esquerda também porque tem um candidato a vice-presidente, Tim Waltz. Mas enfim, o que eu tenho dito, é que que tanto Kamala como Waltz pensam que as mulheres não devem ser criminalizadas se praticarem o aborto e defendem refeições escolares gratuitas para as crianças desfavorecidas. Isso não é ser radical de esquerda. Isso é ser civilizado numa sociedade civilizada.RFI: O campo democrata, em poucas semanas, remodelou completamente a sua estratégia. Como é que podemos analisar a forma como o Trump está a lidar com a situação?Germano Almeida: Não está a conseguir lidar bem. É preciso, para ser justo, dizer que há um mês Trump tinha a eleição ganha. A sua mensagem de que 'Biden não estava em condições' estava a passar. Mas depois, entretanto, com a desistência de Biden, tudo muda e ele ainda não conseguiu refazer isso. Está agora a tentar refazer, focando a mensagem mais na parte económica. Isso claramente é uma estratégia dos seus estrategas de campanha, mas está no sangue de Trump de depois divergir para coisas absolutamente disparatadas, como dizer que ele é mais bonito do que Kamala, que ela tem o riso que é irritante. Enfim, esse tipo de conversa anima os comícios dele. Há quem goste muito, mas sinceramente não acho que seja assim que ele vai ganhar a eleição. Isso é um problema dele. A questão é que realmente tem essa dualidade, entre um caminho que até existe porque as sondagens dizem que há mais americanos a confiar em Trump na parte económica do que em Kamala. Isso é uma oportunidade para o Trump, mas até agora ele não está a saber agarrá-la, embora ele estivesse claramente a liderar a eleição e portanto ainda falta algum tempo. Neste momento, parece-me que Kamala, se as eleições fossem hoje, ganhava. Mas a eleições vão ser daqui a 77 dias. Tudo pode acontecer.RFI: Em paralelo com a Convenção democrata, o campo republicano está a lançar um procedimento para a destituição de Joe Biden. Isto a poucos meses do fim do seu mandato. Qual é o objectivo desta iniciativa, a seu ver?Germano Almeida: É um objectivo político, mas é um disparate pegado. Se a maioria republicana no Congresso quer aproveitar o tempo que falta desta legislatura e deste mandato com isso, acho que faz mal e acho que perde -lá está- o tal centro e os tais moderados. Está a fazer um favor a Kamala que está a agarrar os moderados. RFI: Com toda esta unanimidade que há em torno de Kamala Harris, a seu ver, quais poderiam ser os seus pontos fracos? Germano Almeida: Tem alguns. Para já, ela está a conseguir contornar aquilo que diziam que eram os pontos fracos dela. Ela está a conseguir passar bem a mensagem e acho que se deve continuar a ir por aí. Os pontos fracos: até agora, ela ainda não se dispôs ao contraditório e tem que a fazer naturalmente. Tem que ter entrevistas, tem que ter conferências de imprensa. Não pode ser só situações completamente controladas por ela, como esta convenção. Assim é fácil brilhar, não é? Por outro lado, tem algumas coisas do seu passado que podem ser pontos fracos, nomeadamente o verão de 2020, depois da morte de George Floyd e os tumultos nas cidades americanas, sobretudo no Estado do Minnesota, precisamente já com Tim Waltz como governador, actual candidato a vice-presidente. Waltz foi acusado de não saber lidar bem com a situação e de criticar a polícia, de estar do lado dos manifestantes que estavam a praticar distúrbios. E Kamala, um bocado no calor daquilo, disse também coisas como 'se calhar temos de pensar em defund (deixar de financiar) a polícia' e portanto, naturalmente que isso vai ser usado pela campanha de Trump dizendo que Kamala e Waltz são um 'ticket' que põe em causa a segurança. Será muito por aí. Mas há um pequeno problema se quiser ir por aí, basta recordar várias vezes uma data: 6 de Janeiro de 2021 (data do ataque contra o Capitólio). Portanto, eu acho que o que o eleitorado moderado está a perceber isso, um grande risco para a democracia americana é, naturalmente, um regresso de Trump, perante uma coisa que não é um 'se'. Já aconteceu. Já houve um ataque às instituições democráticas de quem continua a dizer que 'não' a uma eleição que objectivamente perdeu há quatro anos.
Ao vivo, palestra do orientador espiritual Benjamin Teixeira de Aguiar, respondendo a perguntas (14/07/24)
O Primeiro-ministro são-tomense esteve presente na sexta-feira, 14 de Junho, na Conferência sobre "Democracias em África" organizada pela Internacional Democrática do Centro, que decorreu no Senado francês. Em Paris, Patrice Trovoada reagiu às criticas da oposição, afirmando que "a oposição não contribui para encontrar solução para o país", e defendeu que São Tomé e Príncipe "não está numa situação de abismo como a oposição descreve". RFI: Foi um dos intervenientes do segundo painel intitulado "Desafios da Democracia, Estado de Direito e Eleições Transparentes". Que desafios enfrentam os países africanos nas questões de democracia e, nomeadamente, São Tomé e Príncipe?Patrice Trovoada: Felizmente, São Tomé e Príncipe é uma democracia que funciona. Somos poucos exemplos como Cabo Verde e poucos países que têm um sistema que funciona, mas que precisa de ser consolidado. Hoje, de facto, o que nós observamos no mundo, não só em África, mas também na Europa, na América Latina, Ásia é que a democracia está em perigo. No nosso caso, há dois aspectos que eu acho que são fundamentais: o primeiro é continuar a consolidar o sector da Justiça, para que não seja só uma justiça que se manifeste apenas durante as eleições - e, felizmente, no nosso caso, não tem havido problemas - mas que seja uma justiça que as pessoas sintam presente todos os dias. Isso é algo em que estamos empenhados, na reforma do sistema judicial em São Tomé e Príncipe. O outro aspecto é o desenvolvimento económico, como sabe estamos numa situação bastante crítica do ponto de vista financeiro e a comunidade internacional precisa de olhar para países como os nossos, que são bons exemplos de democracia, mas também bons exemplos pelas condições de várias ordem, precisam sempre do concurso financeiro dos outros.Apostamos muito no sector privado em São Tomé e Príncipe, como sendo um dos maiores parceiros para o desenvolvimento do sector privado nacional. O Sector privado é, evidentemente, externo, estrangeiro e que tem mais capitais. Há um certo número de aspectos que só podem ser abordados com financiamento multilaterais, donativos ou concessões para que haja sustentabilidade da dívida. Tem sido cada vez mais difícil os países africanos contarem com esses contributos, não só dos organismos internacionais, mas também de alguns parceiros bilaterais ocidentais, nomeadamente.Na alocução que fez referiu, várias vezes, a palavra "consenso", o consenso que é necessário para o desenvolvimento e para haver democracia num país. Que consenso é esse?Refiro-me ao consenso porque a democracia abre a porta também à alternância. É preciso que os actores políticos tenham o entendimento consensual daquilo que são as grandes obras, os grandes dossiês estruturantes que irão servir fundamentalmente ao povo, mas a qualquer partido político que é chamado a governar como sendo os alicerces fundamentais do desenvolvimento económico.Quais são esses alicerces?Por exemplo em matéria de sustentabilidade das finanças públicas, eu herdei de um país sem reservas cambiais. Um país com inúmeros problemas funcionamento do aparelho do Estado, com uma corrupção que alastrou como uma dívida, nomeadamente, no sector dos combustíveis insustentáveis. Só com Angola quase 300 milhões de dólares e essas questões têm que ser tratadas de modo a que elas não continuam a ser um impedimento. Quando o povo decide pela alternância e você chega e herda numa situação que o povo, depois de dois, três anos, fica com dúvidas sobre a sua escolha. A educação, por exemplo, é fundamental que haja consenso sobre a reforma da educação para perceber o que pretendemos. Falei na questão da Justiça, das infra-estruturas também, é preciso que nós tenhamos modelos consensuais para lidar com as infra-estruturas. É nesse aspecto que eu disse que a alternância não pode ser um recomeçar, no que diz respeito aos alicerces fundamentais de um ponto de vista económico.No primeiro painel sobre democracia foi evocada a forma como a guerra na Rússia e Ucrânia está a criar uma nova configuração de paz e segurança para o continente africano. Qual é que é o seu posicionamento relativamente ao que está a acontecer? Existem impactos em São Tomé e Príncipe?Essa guerra trouxe impactos, nomeadamente, numa primeira fase naquilo que foi a segurança alimentar, mas traz também outros tipos de inquietações; primeiro, os recursos que são disponibilizados para atender essa situação de guerra. Toda a gente vê os números bastante altos que hoje são consagrados ao esforço de guerra por parte de países parceiros com da Europa, nomeadamente, que é um grande parceiro do continente africano. Mas também coloca o problema da corrida aos armamentos e essa questão parece-me um pouco em contradição com aquilo que tem sido a política internacional, que é a resolução pacífica dos conflitos, a primazia do direito internacional e a necessidade de estamos sentados à mesa de negociação e dialogar. Estamos preocupados porque estamos convencidos de que não estamos a evoluir no bom sentido quanto à resolução desse conflito, que nos afecta a todos.No continente africano temos os nossos conflitos também e que, por ordem de ideias, têm sido esquecidos. São conflitos que, do ponto de vista humano e humanitário, são de extrema gravidade. Na RDC são milhões de mortos, no Sudão há centenas de milhares de mortos e eu acho que a humanidade é uma e é preciso termos um pouco de consciência disso - não quero também falar aqui do novo da situação na Palestina e de Israel - ficamos todos a perder porque existe uma categorização do horror, uma categorização da guerra, uma categorização da miséria e faz com que essa grande comunidade que nós éramos há uns anos, comunidade de destino, partilha de princípios que seja a democracia, direitos do homens e liberdade de expressão, está-se a fragmentar em detrimento dos democratas e dos povos.Os tratados de acordo militar que São Tomé e Príncipe assinou com a Rússia não chocam com os princípios e a postura do partido IDC?Não, nós não somos democratas, somos de centro-direita e não choca. Aliás, temos durante esses dias temos [em São Tomé e Príncipe] a visita do Almirante Gouveia Melo, que reafirmou os laços muito estreitos que temos com Portugal, de uma maneira geral, e com todos os países do Atlântico, na defesa daquilo que é o nosso bem comum. É evidente que cooperar no domínio da formação, no domínio de trocas de informações ligadas aos tráficos, ao terrorismo com a Rússia, para nós não constitui problema nenhum. Aliás, eu quero dizer que no domínio da segurança, quando existem ameaças comuns, os países mais teoricamente antagonistas conseguem cooperar.Vou vos dar um exemplo, na situação do Médio Oriente, há países que, por razões específicas, conseguem falar. Por isso não há exclusão. Nós não temos um conflito com a Rússia. Nós condenamos a Rússia por ter violado o direito internacional ao invadir a Ucrânia. Nós estamos presente na conferência na Suíça, mandei o ministro dos Negócios Estrangeiros representar São Tomé e Príncipe, embora a Rússia não esteja presente, mas nós entendemos que era preciso nós estarmos presentes para marcar a nossa solidariedade com a Ucrânia nesse conflito, embora nós pensamos que a via negocial seja a melhor e não continuamos com o conflito armado.Uma questão sobre a política interna: O movimento Basta, que conta com dois assentos no parlamento são-tomense, pede um diálogo nacional para analisar a situação do país que "enfrenta uma crise económica e social sem precedentes". A oposição acusou-o de "não respeitar as instituições democráticas". Como é que responde a estas acusações?Felizmente somos uma democracia com liberdade de palavra, de expressão. A oposição, o MLSTP e o Basta são os principais responsáveis da situação de crise em que se encontra o país e da ruptura das negociações com o FMI. Isso é preciso ser claro. Eu não vejo como o movimento Basta, que tem muitos problemas com a gestão do país, alguns dirigentes que são delinquentes fiscais. O MLSTP que teria que responder também de muitos actos de má gestão, querem vir sentar na mesa da negociação com o FMI. Nós havemos de conduzir essa negociação, defendendo os interesses superiores da nação que foi o mandato que nós recebemos e nós não recebemos o mandato para co-gerir a relação do FMI com esses movimentos. Se é preciso pedimos esforços aos são-tomenses, existem mecanismos de facto para podermos falar com os são-tomenses e pedir-lhes para fazer o esforço necessários, como também os são-tomenses têm mecanismos para poderem manifestar o seu agrado desagrado com o governo. Creio que é uma manobra politiqueira que de momento não interessa, que não vai distrair o governo porque o que nos preocupa agora é o dia-a-dia dos são-tomenses, é o abastecimento em combustível do país, é encontramos, de facto, a melhor via de tornar as nossas finanças sustentáveis. Não se trata de um exercício simplesmente sobre papel. É um exercício que temos que fazer tomando em consideração as consequências sociais para as populações.Portanto, está aberto ao diálogo?Com o FMI, sim. Com a oposição, eu estou aberto, sou uma pessoa muito concreta, sou trabalhador. O país precisa de gente concreta e que falam de coisas concretas, com soluções concretas. A oposição só está realmente a distrair as pessoas e estão com uma agenda política, mas têm tempo. As eleições são em 2026 e até lá o governo governa e o governo realmente vai à procura dos recursos que podem contribuir para uma solução. A postura da oposição hoje não é nenhum recurso que contribui para a solução do país.Quando descrevem que "São Tomé e Príncipe está à beira da derrocada económica", qual é que é a solução para a situação económica do país?São Tomé e Príncipe tem problemas de curto prazo. São Tomé e Príncipe não tem problema de médio prazo. São Tomé e Príncipe é um dos poucos países que é capaz de fazer uma transição energética, uma descarbonização de 40% naquilo que é a produção energética dentro de 12 a 18 meses. Por conseguinte, a médio prazo, o país não tem problema. O país tem sim, uma situação crítica que advém da gestão anterior, que é um país que se encontra sem divisa quando é dependente a 90% das importações. Essas questões têm que ser resolvidas de uma maneira técnica, que seja aquela que não compromete demasiado o futuro. Quer isso dizer que o ideal seria donativos e créditos concessionados para podermos sair da situação em que nos encontramos.No imediato?Sim, no imediato, mas se não é possível, há um preço a pagar. Se você vê hoje qual é a taxa de juro da Federal Reserve nos Estados Unidos, o país com economia forte, a taxa de juro e uma taxa de juro que está se a pedir a São Tomé e Príncipe a encontrar empréstimo a taxa de juro três vezes inferior que a taxa de juro do Fed e com um período de maturidade muito superior. Cabe às autoridades são-tomenses de fazer o esforço e decidir em função das várias oportunidades que lhe aparecem. E vamos fazer isso porque o país não pode parar.Como é que se explica isso aos santomenses que vivem numa precariedade, os são-tomenses que querem deixar o país. Nos últimos meses houve um aumento substancial da taxa de emigração?Sim, a taxa de emigração deve-se a várias razões e isto não me preocupa. Quer dizer, as pessoas saem à busca de melhor e é perfeitamente normal. Agora se olharmos para os índices em São Tomé e Príncipe, comparando com outros países que não quero citar, nós não estamos assim tão mal. Se olharmos para o nível de inflação, posso dar vários exemplos de países que estão com uma inflação muito maior que São Tomé e Príncipe. Se eu falar do salário mínimo em São Tomé e Príncipe, há países cujo PIB e os recursos naturais são 100 vezes superior a São Tomé e não têm o salário mínimo que nós praticamos em São Tomé e Príncipe. A expectativa dos são-tomenses e a exigência dos são-tomenses é normal e apreciável, mas o país não está numa situação de abismo como a oposição quer descrever. Qual é o nosso desafio hoje? É encontrar dinheiro barato, taxas de juro que sejam compatível com sustentabilidade da dívida e com aquilo que o FMI definiu como aceitável.É nisso que o senhor primeiro-ministro está a trabalhar neste momento?É isso que me leva a correr o mundo, a desdobramos em contacto, em reuniões. Vou deixar a conferência agora para me encontrar com instituições financeiras privadas aqui em Paris. Estarei na próxima semana no Médio Oriente também para discutir com autoridades, países árabes e também instituições financeiras, para ver se nós encontramos uma solução. Uma solução terá que haver. Qualquer que seja a solução, não será o penso ideal, mas é um problema de curto prazo que nós temos, porque o médio prazo e longo prazo parece que as perspectivas são muito melhores.Relativamente à concessão do aeroporto ao FB Group de investidores turcos, quando existe financiamento de 100 milhões de dólares na China. Há quem o acuse, nomeadamente o movimento Basta, de fazer uma gestão que "não inspira confiança". Como é que reage?Honestamente, eu tenho dificuldade em comentar o movimento Basta, muito honestamente, Nós encontrámos um projecto de alargamento da pista do aeroporto por 100 milhões de dólares e um alargamento no lado do mar, em que, do ponto de vista dos agregados e do impacto ambiental no espaço é um bocadinho perigoso. Nós definimos que não era prioridade o alargamento da pista com 100 milhões de donativos. Dissemos aos chineses que se houver 100 milhões de donativos, nós preferimos pistas rurais, estradas para permitir aos agricultores do interior do país de trazer, de ter mais motivação em produzir e escoar os seus produtos para a capital e para a exportação. Os chineses entenderam isso perfeitamente. Nós dissemos que, quanto ao aeroporto, nós preferíamos ir para uma solução de parceria público-privada, o que aconteceu de forma tranquila. A China vai investir em duas estradas rurais que vão descentralizar uma parte também do interior do país e está muito contente de intervir nesse sector. E nós temos agora o FB Groupque vai, dentro de 20 meses, dotar São Tomé e Príncipe de um aeroporto da classe internacional para 500.000 passageiros, por isso estamos tranquilos.
Um dos projetos económicos mais bem-sucedidos do mundo, a União Europeia evoluiu para uma experiência única de integração política. Adaptando-se a novos desafios, a Europa Ocidental aborda estas questões com influência, diretrizes e financiamento - e talvez seja a primeira vez que os desafios sociais estejam no centro dos debates dos líderes europeus. Na véspera de novas eleições para o Parlamento Europeu, tópicos como o envelhecimento demográfico, a migração, o posicionamento militar e a natureza em mutação do estado de bem-estar social aparecem como temas importantes nos debates. Será que os desafios sociais podem ameaçar uma União que sobreviveu por tanto tempo? Relativamente a Portugal, continuarão dois grandes partidos de centro a serem capazes de coexistir? E qual papel o país pode desempenhar na próxima União Europeia, num momento em que parece estar a se mover mais para leste do que para o Atlântico? Será que estes desafios e frustrações estão a alimentar algumas das propostas mais extremas e a afastar as pessoas de seus padrões de voto clássicos? Participantes: Margarida Davim (Analista Política CNN/TSF) Ricardo Santos Ferreira (Diretor Jornal NOVO e subeditor do Jornal Económico) Luís Tavares Bravo (Presidente IAN) Laura Lisboa (vice-presidente IAN)
O Procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, pediu ontem para que seja lançado um mandado de captura contra o Primeiro-Ministro israelita, Benjamin Netanyahu, o seu Ministro da Defesa, Yoav Gallant, e contra 3 responsáveis do Hamas, designadamente o seu chefe político Ismael Haniyeh, por presumíveis Crimes de Guerra e Crimes contra a Humanidade na Faixa de Gaza. Esta decisão não deixou de suscitar a indignação tanto das autoridades israelitas como dos Estados Unidos, seus aliados, enquanto a França diz apoiar esta iniciativa. A ser confirmado pelos juízes do Tribunal, para além de restringir a liberdade de circulação dos acusados, esse mandado de captura pode sobretudo ter um impacto em termos simbólicos, refere Ivo Sobral, coordenador de mestrado de Relações Internacionais na Universidade de Abu Dhabi.RFI: Que impacto pode ter esta decisão sobre Israel, tendo em conta, nomeadamente que este país não faz parte do TPI e que a acção da África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) contra Israel por genocídio não está propriamente a surtir efeitos?Ivo Sobral: Em termos de reais consequências para Israel, serão poucas, porque basicamente, os líderes israelitas, neste caso o Primeiro-Ministro e o Ministro da Defesa, terão que basicamente evitar visitar a Europa e alguns países da América Latina e do Norte da Europa, também o Canadá e alguns países asiáticos. Mas basicamente, todo o resto podem visitar sem nenhum problema. Não há aqui nenhum impeditivo, como foi o caso, por exemplo, do presidente Putin, que também continua a visitar outros países e inclusive países que se recusam de confirmar o mandato, por exemplo, de captura, como foi o caso da África do Sul. RFI: No caso de efectivamente os juízes promulgarem esta decisão, os países membros do Tribunal Penal Internacional, em termos legais, não podem ficar de braços cruzados se receberem a visita de Netanyahu e os seus co-acusados, nomeadamente os dirigentes do Hamas, que também estão abrangidos nesta acusação? Ivo Sobral: Exactamente. Em teoria, em termos legais -são à volta de cinco pessoas, três pessoas ligadas ao Hamas, duas pessoas ligadas a Israel- este mandato de captura internacional terá que ser efectivamente utilizado por esses mesmos países se forem visitados. Agora, obviamente, isto não é tão automático como parece, pois a separação de poderes, inclusive dentro daqueles mesmos países, e em alguns casos, o poder político poderá inclusive não efectivar esta ordem. Isso já aconteceu várias vezes no passado. Obviamente é tudo uma conjectura, porque, em princípio, por que razão iria Israel mandar o seu líder mais importante visitar um país onde poderá existir um risco de ser capturado. Obviamente é algo que nem sequer passa pela cabeça. No entanto, em termos de reputação internacional, em termos de impacto, é de facto um desenvolvimento muito forte. Neste caso, Israel é o mais visado agora. Relativamente ao Hamas, em alguns países é considerado uma organização terrorista. Já qualquer um dos seus membros, muito provavelmente com algumas excepções, iria ser já capturado se visitasse esses países. Isto é mais uma lista de países onde estes líderes do Hamas não poderão visitar. E não creio que iriam visitar nunca porque seriam capturados na mesma antes. É basicamente um golpe bastante forte para Israel. RFI: O que é que isto pode significar para Joe Biden, que até agora, apesar de tentar fazer alguma pressão sobre Netanyahu, continua a apoiar a sua política?Ivo Sobral: É uma derrota inclusive para a política americana. Muitos dos conselheiros do Tribunal Penal Internacional são de origem norte-americana e o próprio Tribunal Penal Internacional foi criado para evitar este tipo de crimes internacionais, os genocídios. E agora temos o Primeiro-Ministro e o Ministro da Defesa da única Nação judia do mundo que são acusados de genocídio. Passados todos estes anos, é bastante forte. Os Estados Unidos têm tido sempre uma política bastante coerente relativamente a Israel, um apoio quase incondicional. E não mudou muito. Apesar das críticas do Presidente Joe Biden, o apoio continua. Terão existido algumas interrupções na exportação de algum específico armamento, mas já foi retomada. Entretanto, há aqui um vazio bastante importante por ver que os Estados Unidos não conseguem, como conseguiram no passado, desenvolver acções diplomáticas executivas fortes para evitar que Israel seja acusado destes mesmos crimes. Portanto, os Estados Unidos são um pouco um protector de Israel e falham aqui de uma maneira bastante forte. E isto mostra também que este estatuto de superpotência que os Estados Unidos sempre usaram, pelo menos a partir do início dos anos 90 até agora, começa a esvair-se em fumo. E outros países, outras potências, gradualmente, mas inexoravelmente, começam a demonstrar o seu poder. E este falhanço no chapéu-de-chuva de protecção americano a Israel é bastante forte. Mostra um falhanço bastante forte da política externa americana, e isso é algo que irá pesar fortemente nas próximas eleições americanas, onde Joe Biden estará em competição muito provavelmente com o Trump, e isto será utilizado como deficiência notável para atacar Joe Biden nestas próximas eleições. Portanto, é um falhanço externo para os Estados Unidos e é um falhanço interno muito forte para os democratas americanos e para Joe Biden, que muito provavelmente poderá pagar este falhanço nas próximas eleições.RFI: E lá está, Joe Biden ainda tem condições para continuar a sua política de financiar e de armar Israel, tendo em conta que ele está em campanha para a sua reeleição e que há um forte movimento estudantil no seu país contra a guerra em Gaza?Ivo Sobral: São estas pessoas que normalmente votavam em Joe Biden, que votavam nos democratas contra uma oposição normalmente mais tradicional, conservadora, de apoio a Israel, que existia, por exemplo, em Trump. São fracturas graves na política americana. Mexe directamente com a política interna americana, mexe directamente com o poderosíssimo lobby israelo-judaíco nos Estados Unidos, que é bastante forte. Mete estas duas forças fora da equação de suporte de Joe Biden para Israel. Israel está há muito a fazer o que sempre fez, que é o "Rally Flag", ou seja, Israel, internamente vê esta acusação como uma outra perseguição internacional, outra prova do anti-semitismo galopante que está a acontecer pelo mundo. Tanto os moderados, como várias partes do universo político vão dar apoio ao seu Primeiro-Ministro e ao ministro da Defesa israelita. Portanto, há aqui outra medida que não sei se será positiva para um cessar-fogo ou uma paz duradoura em Gaza. Internamente, os políticos israelitas, com esta condenação do Tribunal Penal Internacional, vão ter ainda mais apoio para continuar as suas acções em Gaza.RFI: Portanto, julga que Netanyahu sai reforçado desta iniciativa do TPI e que, por exemplo, figuras como Benny Gantz, que ainda neste fim-de-semana ameaçou demitir-se do governo de união nacional, poderiam recuar?Ivo Sobral: Exactamente, há aqui uma mudança de paradigma que pode-se compreender na lógica interna, fortemente nacionalista de Israel. É muito difícil para nós compreendermos este sentimento israelita que chamam "Sabra", ou seja, pessoas que nasceram em Israel. É um forte sentimento de pertença a Israel, de defesa e protecção do Estado judaico israelita. É um espírito quase de sobrevivência. Isto para Israel é uma outra perseguição e uma perseguição que vem da Europa. A Europa, na mitologia israelita, é o local das perseguições, a base de apoio israelita conservador irá ainda mais reforçar-se e as próprias forças mais à esquerda, forças moderadas de Israel, vão de novo suspender a sua contestação de Netanyahu e apoiar o Estado. Não vão apoiar Netanyahu, é o Estado hebraico. E Israel tem que ser ajudado pela sua própria população e pelas suas forças políticas. Neste momento, isto está a acontecer.RFI: Relativamente às reacções que tem havido pelo mundo fora, a União Europeia disse tomar nota desta iniciativa do Tribunal Penal Internacional, sendo que a França foi mais além e disse que apoia esta iniciativa do procurador do Tribunal Penal Internacional. Isto depois de ter apoiado incondicionalmente Netanyahu, há alguns meses, aquando dos ataques de 7 de Outubro. Há uma reviravolta da França?Ivo Sobral: A França tem sempre uma posição bastante flexível em quase tudo. Isso tem sido sempre visto nas várias políticas externas francesas, pelo menos nos últimos cinco a dez anos. A França utiliza o seu poder geopolítico na zona, a sua tradicional ligação ao Próximo Oriente, ao Líbano, à própria Síria, à própria Palestina. E, obviamente, também tem que apelar também ao grande norte africano. Há uma ligação cultural muito forte ao mundo árabe francês. Relativamente a Israel, apesar do tradicional apoio inicial, a mudança tem sido uma mudança bastante forte nos últimos três meses, onde a França, de facto aponta para que as acções militares israelitas tenham ido longe demais. Essa é a visão que a França terá já tido por várias vezes, de uma moderação solicitada, uma pausa nesta operação militar. Portanto, agora é uma questão de apoiar o TPI nesta acção, porque irá, teoricamente, pôr alguma pressão sobre Israel. Existem muitos países europeus com uma visão ainda mais muito mais radical, como a própria Espanha ou a Irlanda, que será o país europeu que mais criticou Israel desde o início e depois, agora a Espanha. Portanto, estes três países sim, está algo a mudar, mas grande parte da Europa permanece bastante conservadora, inclusive Portugal. O novo ministro dos Negócios Estrangeiros declarou que apoia incondicionalmente a defesa do Estado de Israel contra ataques terroristas e apela um pouco à paz na Palestina, em Gaza, no Médio Oriente. é uma declaração geral que dá continuidade à política de Portugal em Israel e fala de paz, mas nunca fala de Gaza ou especificamente da operação militar de Israel. Há aqui muitas forças em movimento na Palestina, em Israel e a Europa está um pouco fragmentada. Existem posições tradicionais expectáveis, como por exemplo, da Itália ou da Alemanha, que incondicionalmente apoiam Israel, assim como outros estados como a Hungria e ainda a Áustria e outros países que sempre apoiaram Israel e continuam a fazê-lo.
El cantante Lorenzo Santamaría cuenta en la Ventana su trayectoria musical y el trasfondo de algunas de sus letras.
En entrevista con Pamela Cerdeira, para MVS Noticias, en su sección ‘Economía para todxs', Sofía Ramírez, directora general de "México, ¿Cómo vamos?" habló de cómo vamos en las cifras de empleo.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Sumario Informe Enigma Dirige y Presenta: Jorge Ríos Escúchanos cada viernes de 23:00h a 01:00h en directo en Radio Platja d'Aro. Síguenos a través de nuestras redes sociales o contacta con nosotros en el siguiente correo electrónico: enigma-rpa@hotmail.com https://danielortegaescritor.com/ Contacto Yolanda Martínez: 647552954 Contacto Beatriz Artola: +49 1525 9736982 / kera.coach@gmail.com No olvides apoyarnos en el apartado de mecenas. 1/ Relativamente habituales en el siglo XX, las operaciones “de falsa bandera” son llevadas a cabo de forma clandestina para hacer culpable de éstas al enemigo. La referencia a este tipo de operaciones, de las cuales en este programa encontraremos algunos ejemplos, es algo habitual en el discurso conspirativo. – Noche del 27 al 28 de febrero de 1933. El Parlamento alemán, el Reichstag, se incendia. Los nazis, en el poder, acusan a un joven militante comunista y aprovechan la ocasión para suspender las libertades individuales. ¿Fueron ellos mismos los que causaron el incendio?¿Lo manipularon? ¿O, simplemente, dejaron que continuara? Quedan aún algunas zonas sombrías pero con la ayuda de Héctor Montoya, Iván Montoya y Olga Roldán (Planeta Incógnito) descubriremos que se esconde detrás de este y otros muchos atentados de falsa bandera.
Enrique Quintana
No Antes pelo Contrário em podcast, Daniel Oliveira e Francisco Mendes da Silva fazem a análise e a avaliação dos intervenientes nos debates CDU vs Livre e PCP vs Chega. PCP permanece com uma posição pouco popular no que diz respeito aos conflitos Rússia Ucrânia e Israelopalestiniano. Em que efeitos este aspecto se traduzirá nas urnas? Os comentadores exploram ainda um prognóstico do debate BE vs Chega. Programa emitido na SIC Notícias no dia 13 de fevereiro.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Variações no preço do bezerro devem ser observadas, já que podem afetar o preço da arroba bovina no primeiro semestre
En Reino Unido se ha detectado el primer caso de gripe porcina en un humano y, aunque ha levantado todas las alarmas, el Doctor Óscar de la Calle ha señalado en el 24 Horas de RNE que la transmisión de enfermedades de animales a humanos es algo que ocurre de manera frecuente y que no tiene porqué suponer un riesgo para la salud: “Probablemente es algo que ocurre varias veces al año, pero como no suele dar problemas, pasa invisible”, ha indicado.Explica también que “el problema es cuando se transmite de persona a persona”, y aunque es cauto porque “todavía se está investigando”, dice que desde la Sociedad Española de Inmunología no esperan que pueda trascender más y llegar a nuestro país.Escuchar audio
Neste recapitulativo da Semana em África, demos destaque ao Gabão que foi palco na quarta-feira de um golpe de Estado contra o Presidente Ali Bongo. Pouco depois de ter sido anunciada a sua vitória com mais de 64% dos votos nas presidenciais do passado fim-de-semana, Ali Bongo, foi derrubado por um grupo de militares. No poder durante 14 anos, depois do próprio pai -Omar Bongo- ter estado igualmente na chefia do Estado durante mais de 40 anos, o Presidente gabonês foi detido e os órgãos de soberania dissolvidos.Na sequência do golpe, os militares que tomaram o poder prolongaram até nova ordem o recolher obrigatório já prevalecente e designaram como presidente de transição o general Brice Oligui Nguema que deve ser investido na segunda-feira. A partir da sua residência onde foi colocado sob vigilância, o Presidente deposto pediu ajuda à comunidade internacional.Este que foi o 8° golpe de Estado em África desde 2020 foi condenado por vários países e instituições, nomeadamente a União africana, a Comunidade Económica dos Estados da África Central, a União Europeia, a França ou ainda os Estados Unidos.No Níger, também palco de um golpe de Estado no mês passado, a junta militar no poder anunciou na quinta-feira a suspensão de todas as actividades das ONGs e instituições da ONU em terrenos de operações militares, uma decisão de não deixou de suscitar preocupação das Nações Unidas que deram conta da sua intenção de conversar com as autoridades. O actual poder nigerino também ordenou a expulsão efectiva do embaixador francês baseado em Niamey, depois de o Presidente francês ter recusado acatar uma primeira ordem da junta neste sentido.Entretanto, em São Tomé e Príncipe, os oito arguidos em prisão preventiva depois do prazo legal desde a semana passada no quadro do processo de ataque ao quartel militar de 25 de Novembro do ano passado foram soltos esta sexta-feira, com a sua defesa a admitir que vai processar o Estado são-tomense.Noutro aspecto, no passado fim-de-semana, decorreu a 14a cimeira de chefes de estado e de governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa CPLP, em São Tomé e Príncipe, país que assume a presidência dos próximos dois anos. Durante esta cimeira, ficou igualmente estipulado que a seguir a São Tomé e Príncipe, a presidência rotativa da CPLP seria atribuída à Guiné-Bissau.Relativamente à actualidade da Guiné-Bissau, esta semana, a antiga Ministra guineense dos Negócios Estrangeiros, Suzi Barbosa, oficializou a sua candidatura ao cargo de Presidente da Comissão da União Africana, posto actualmente ocupado pelo chadiano Moussa Faki Mahamat até 2025.Noutras latitudes, na África do Sul, a semana foi marcada pela tragédia, com um incêndio que provocou a morte de pelo menos 74 pessoas e destruiu totalmente um prédio em Joanesburgo, capital económica do país.No vizinho Moçambique, depois de semanas de bloqueio para reivindicar melhores salários e condições de trabalho, os profissionais de saúde retomaram o trabalho mas avisaram que poderão retomar a greve em Novembro, se não obtiverem respostas favoráveis por parte das suas tutelas.Também em Moçambique, continuaram os preparativos para as autárquicas de 11 de Outubro, com denúncias de uma possível preparação de fraudes eleitorais proferidas nomeadamente pelo MDM. A Renamo, também na oposição, que acusa igualmente o partido no poder de pretender adulterar os resultados eleitorais, ameaçou quanto a si retomar as armas, no caso deste cenário se confirmar.Em Angola, o executivo anunciou que a TV Zimbo, Rádio Mais, Jornal O país e os semanários Mercado e Vanguarda, empresas de comunicação social que passaram para a esfera pública, vão ser privatizadas no quadro do processo de recuperação de activos.Por fim, em Cabo Verde, o Sindicato da Polícia Nacional, SINAPOL, denunciou a situação laboral de precariedade na classe e pediu ao governo para atender às suas reivindicações de melhores salários e um alívio da carga horária de trabalho. Em resposta, o governo admitiu que o número de efectivos é ainda insuficiente, mas indicou que prevê mais 324 novos ingressos até ao próximo ano para preencher as lacunas existentes.
Análise do cenário do dia com a economista Lorena Dourado.
A pocas horas de que comiencen a presentar resultados los bancos de EEUU, apunta Roberto Moro a que la temporada va a ser “relativamente buena”. En el Consultorio de Bolsa aseguraba el analista de Apta Negocios, que tiene muchas ganas de “poder analizar los índices con el precio de cierre de hoy”. Aseguraba Moro que cree que las cuentas serán buenas porque el consenso las ha “engordado mucho a la baja”. Sobre la situación general en los mercados, Roberto Moro lo tiene claro: “EEUU para arriba, Europa está más estancado”. Y nos daba el experto varios valores para incorporar a nuestras carteras. Dentro de la Renta Variable española, Moro cree que hay muchas y buenas opciones, como Inditex, Grifols, Indra, Natury, Acerinox o el Sabadell. En Wall Street, Robero Moro recomienda General Motors, AIG, Amazon, Meta, Netflix y Nvidia, sólo para los más arriesgados.
Rússia e Migrações: As duas questões mais bicudas de uma agenda relativamente redonda
Monica Longobardi“Premio Ostana”Scritture in Lingua MadreOstana, dal 23 al 25 giugno 2023https://premioostana.itQui ten la lenga, ten la clau”Premio Ostanascritture in lingua madre – ecrituras en lenga maireè un appuntamento con le lingue madri del mondo che ogni anno riunisce a Ostana, paese occitano di 85 abitanti in Valle Po ai piedi del Monviso, autori di lingua madre da tutto il mondo, per un festival della biodiversità linguistica.Venerdì 23 giugno 2023dopo la presentazione del libro Aidre dë vitto – Mirtilli di Vita di Marco MastrocolaL'occitano e l'università: un rapporto complessoConversazione con Monica Longobardi, Premio TraduzioneA cura di: Matteo RivoiraMonica Longobardi si è formata all'Università degli Studi di Pisa, vincendo poi un Dottorato di ricerca presso L'Università “La Sapienza” di Roma. Da docente di Materie letterarie e Latino ai Licei, ha pubblicato molti saggi e volumi di didattica dell'italiano e del latino, tra cui uno dedicato alla ludolinguistica (Vanvere, Carocci, 2011). Dal 1992 ha collaborato con l'IRRSAE Emilia-Romagna in qualità di docente formatore.Dal 1996 al 2021 ha insegnato Filologia Romanza presso le Università di Siena e di Ferrara. Nel suo ruolo di docente universitaria, si occupata di lirica provenzale, di letteratura francese medievale, di retorica e dialettica, di traduzione letteraria delle lingue romanze. Ha tradotto anche il Satyricon di Petronio (Barbera, 2008; Rusconi, 2015) e le Metamorfosi di Apuleio (Rusconi, 2019).Dal 2011 ha cominciato ad interessarsi alle riscritture novecentesche della letteratura romanza medievale, inaugurando un nuovo insegnamento dedicato alla posterità del medioevo. Tra i vari saggi sui medievalismi, annoveriamo quelli sulla versione poetica in neovolgare del Roman de la Rose, di Franco Scataglini, uno dei poeti più grandi del XX secolo (Il giardino e la rosa, Mimesis, 2018).Nell'ambito della valorizzazione delle lingue minoritarie, dal 2015 ha inserito lo studio della letteratura occitanica moderna e contemporanea nei corsi di Filologia Romanza; ha diretto tesi sull'occitano e organizzato a Ferrara convegni internazionali e incontri con poeti e scrittori occitani. Ha studiato i lasciti trobadorici nella poesia di Antonio Bodrero, Claudio Salvagno e Ida Vallerugo (Lengas, 79 / 2016).Relativamente alla letteratura occitanica moderna e contemporanea, annoveriamo Viaggio in Occitania (VirtuosaMente, 2019); Joan Ganhaire, Voi che mi avete uccisa, VirtuosaMente, 2021; Joseph d'Arbaud, La Bestia del Vacarés, La Noce d'Oro, 2022 (Prefazione).IL POSTO DELLE PAROLEascoltare fa pensarehttps://ilpostodelleparole.itQuesto show fa parte del network Spreaker Prime. Se sei interessato a fare pubblicità in questo podcast, contattaci su https://www.spreaker.com/show/1487855/advertisement
L'Italia sta crescendo più di tutte le altre economie avanzate. Infatti, l'Istat ieri ha registrato un vero e proprio balzo in avanti, dopo che la nostra economia aveva già accumulato un progresso del 10,9% nel biennio 2021-2022. In questo primo trimestre del 2023 l'Italia precede tutte le principali economie europee avanzate: Spagna +0,5% (sempre rispetto al quarto trimestre del 2022), Francia +0,2%, Gran Bretagna +0,1%, Germania -0,3%. Non solo. Fa meglio anche di Giappone +0,4% e Stati Uniti +0,3%.Se prendiamo come riferimento il quarto trimestre 2019, precedente lo scoppio del Covid-19, il Pil italiano è oggi del 2,5% sopra i livelli precrisi. Oggi in un suo editoriale sul Sole 24 Ore il professor Fortis ricorda che l 11 ottobre scorso il Fondo monetario internazionale diffondeva il suo World Economic Outlook nel quale si prevedeva che nel 2023 due sole grandi economie del mondo, a parte la belligerante Russia, sarebbero finite in recessione: la Germania -0,3% e l Italia -0,2%. Ancora una volta le previsioni, quando si tratta di Italia, sono state completamente sbagliate. Ne parliamo con Marco Fortis, docente di Economia industriale e Commercio estero presso la Facoltà di Scienze politiche dell'Università Cattolica di Milano, è anche direttore e vicepresidente della Fondazione Edison.Manager in Italia, crescono anche in tempo di crisiIl prossimo 13 giugno si terrà a Roma la Centesima assemblea di Manageritalia, la Federazione nazionale dirigenti, che associa oltre 41.000 manager. Tra gli aspetti più interessanti che verranno discussi anche l'elemento positivo che i profili manageriale crescono anche in tempi di crisi: Dirigenti privati secondo ultimi dati disponibili INPS sono cresciuti nel 2021 del 5,4%: +13,5% le donne +3,6% gli uomini. Rispetto ai settori: +9% il terziario, +1% quelli dell industria. Nel 2022 i dati sui dirigenti del terziario confermano crescita con +8,3% in totale; +12,2% delle donne. Ne parliamo con Mario Mantovani, presidente Manageritalia.Brennero. Salvini contro l'Ausitra. Anche Berlino chiede una risoluzione"Il Consiglio prenda atto della insostenibilità economica e ambientale della situazione al Brennero e invitiamo la Commissione a intervenire come custode dei Trattati per ripristinare il diritto alla piena libertà di circolazione per tutti i cittadini europei". Così il vicepremier Matteo Salvini al Consiglio Trasporti in corso in Lussemburgo. "O la libera circolazione di uomini e merci vale per tutti oppure i Trattati per qualcuno valgono un po' di meno", ha sottolineato Salvini, aggiungendo che "il corridoio del Brennero non appartiene solo all'Austria, all'Italia o alla Germania ma è essenziale per l'intera Europa". Berlino, tramite il ministro dei trasporti tedesco Volker Wissing ha risposto: "La situazione al Brennero è drammatica, abbiamo code di 50 chilometri in Baviera e, senza una soluzione, saranno ancora più lunghe nelle aree confinanti. Dobbiamo evitarlo. E' necessario trovare una soluzione comune per assicurare la fruibilità di questo collegamento tra il Nord e il Sud" dell'Europa. Ne parliamo con Paolo Uggè, Presidente di FAI-Conftrasporto.Pnrr, il governo sposta il controllo della Corte dei Conti ex postIntorno alle 16 è iniziato a Palazzo Chigi l'incontro tra governo e Corte dei Conti, dopo che l'esecutivo ha presentato alla Camera un emendamento al decreto P.a. che esclude il Pnrr dal controllo concomitante della Corte e ha prorogato di un anno lo scudo per il danno erariale. "Relativamente al Pnrr la disciplina sul controllo della Corte dei Conti sui progetti del piano è regolato dall'art.7 del decreto legge 77 del 2021 approvato dal governo Draghi che affida alla magistratura contabile il controllo dei fondi del Pnrr nella modalità del controllo successivo sulla gestione e non nel controllo concomitante". Lo ha detto il ministro Raffaele Fitto al question time in Senato ribandendo che il Governo non vuole limitare "le competenze e il ruolo della corte dei Conti",ma anzi "vuole attuare una politica di coordinamento con l'amministrazione contabile" nel quadro di quanto previsto dal decreto 77 per il Pnrr. A tal proposito il presidente della Corte dei Conti Guido Carlino rispondendo stamattina in commissione Affari Costituzionali ha dichiarato che "Non si può parlare di bavaglio" alla Corte da parte del Governo. "Abbiamo potuto intervenire con delle relazioni". E che "Il controllo concomitante in corso di gestione ha un valore propulsivo" e "tende ad accelerare i tempi dell'azione" amministrativa. Approfondiamo il tema con Gianni Trovati, del Sole 24 Ore.
En colaboración Luis Miguel González, director editorial de "El Economista", "Se hablaba de desabasto en las gasolineras de México, porque venían consumidores de EU a llenar su tanque", dijoSee omnystudio.com/listener for privacy information.
Hablamos con personas que han apostatado, o que lo han intentado, y con varios expertos en Derecho Eclesiástico sobre esta práctica que es más frecuente de lo que parece.
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Aerovía entrevista al doctor Francisco Marín Ortuño, cardiólogo clínico, profesor titular de la Universidad de Murcia y miembro del Grupo de Trabajo de Trombosis Cardiovascular de la Sociedad Española de Cardiología. Escucha la entrevista completa en el capítulo 76 de Aerovía.