POPULARITY
Os pais de adolescentes já andavam alarmados com a série “Adolescência”, da Netflix. Uma violação em Loures, com as imagens partilhadas na internet pelos rapazes que cometeram o crime, trouxe para a ordem do dia o debate sobre o uso de telemóveis e sobre as redes sociais. Com eleições à porta, o governo de gestão foi fazer um comíc…, perdão, uma reunião do Conselho de Ministros ao Porto. Onde? No Mercado do Bolhão. Com banho de multidão e tudo. Enquanto a campanha eleitoral entre frutas e hortaliça já está em marcha há quem insista em falar de ética. Mas como disse em tempos uma célebre vedeta televis…, perdão, filósofa: “quem tem ética, passa fome.” Em França, Marine Le Pen foi condenada, vai ter uma pulseira nova e não poderá candidatar-se ao Eliseu. Mas não se ficou: compara-se ao dissidente russo morto Alexei Navalny. Morto por quem? Pelo amigo e financiador de Marine, Vladimir Putin. E que dizer das tarifas de Trump? As bolsas de valores já começaram a pronunciar-se. O adolescente mimado que ocupa a Casa Branca está em roda livre.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Para ajudar a realizar o sonho de alguns residentes num lar de idosos, na região da Guarda, João Pina leva-os a viajar de avião até Paris. Portuguesa vence prémio nos EUA. Edição Isabel Gaspar Dias
O filme Les Habitants estreou esta segunda-feira, 24 de Março, no festival documentário Cinéma du Réel, em Paris. A realizadora Maureen Fazendeiro filma a cidade onde cresceu, Périgny, na região parisiense, onde a instalação de um acampamento de ciganos gera xenofobia e divisões. Através das cartas que recebe da sua mãe, a realizadora retrata o dia-a-dia desta cidade e a solidariedade de alguns habitantes. Maureen Fazendeiro faz um filme sobre "a negação do mal-estar, da pobreza — tudo aquilo que a sociedade não consegue integrar, acolher e acaba por marginalizar". RFI: O filme Les Habitants estreou no Festival de Documentário Cinema du Réel, em Paris. O que a motivou a fazer um filme sobre Périgny-sur-Yerres e sobre a comunidade cigana?Maureen Fazendeiro: Eu vivo em Portugal há dez anos e vejo França ao longe. A minha mãe nunca me escreve cartas, mas quando apareceu uma comunidade de pessoas ciganas na cidade onde ela vive, sentiu a necessidade de me contar o que se estava a passar. A primeira carta foi enviada de maneira completamente espontânea, pedi-lhe para continuar a escrever sempre que fosse visitar o acampamento, porque senti que havia algo a acontecer naquela cidade que, ao mesmo tempo, era muito específico. Era a história da minha mãe, mas também uma história muito comum em França, nos arredores das grandes cidades: famílias que se instalam, constroem bairros de lata e, poucos meses depois, são expulsas, vivendo neste ciclo desde a entrada da Roménia na União Europeia, sem que haja nenhuma transformação, nenhuma reacção ao nível da sociedade, como se fosse algo aceite — que as coisas acontecem assim.Como se fosse normal.Sim, como se fosse normal. E foi isso que quis retratar no filme. Ou seja, a minha mãe conta, nas cartas, o que aconteceu durante os meses em que essas pessoas estavam a viver naquela cidade. Nós vemos o dia-a-dia, a banalidade do quotidiano, tal e qual como é. E a verdade é que o que aconteceu nessa cidade acontece em todas as outras. São 3.000 habitantes e há apenas dez pessoas que vão ver se precisam de mantas, de comida, de alguma coisa. Eu quis retratar esses gestos. Não gosto de falar de doença, mas, para mim, havia um sintoma da sociedade francesa. Ou seja, o filme não é só sobre a comunidade cigana que não é bem recebida, é sobre a maneira como olhamos para os outros, como recebemos aqueles que têm um modo de vida diferente. Acho que o racismo está muito presente na sociedade francesa, e foi isso que quis retratar no filme.É também um filme sobre não olhar para o outro?Sim, é um filme sobre não querer ver os outros. A minha mãe explica, nas cartas, que quase toda a gente naquela cidade queria que eles fossem expulsos, usando palavras muito duras para com essas comunidades. Mas ninguém foi lá ver. Eles estavam escondidos atrás de uma zona de bosque, e ninguém se preocupou em perceber realmente quem eram. Porque acho que, a partir do momento em que fossem ver, perceberiam que são pessoas que vivem numa situação difícil. Eu quis fazer um filme sobre a negação do mal-estar, da pobreza — tudo aquilo que a nossa sociedade não consegue integrar, acolher e acaba por marginalizar.O seu filme Les Habitants procura retratar o dia-a-dia desta comunidade sem a mostrar. Essa comunidade é invisível. O que vemos, durante pouco mais de 40 minutos, é o dia-a-dia da sua mãe, Valérie, que tem um olhar curioso e se aproxima dessa comunidade. Em que momento, na troca de correspondências com a sua mãe, percebeu que havia um filme para fazer?Acho que logo na primeira carta percebi que não sabia se havia um filme, mas havia algo a explorar. Quando lhe pedi para continuar a escrever, ainda não sabia se conseguiria fazer um filme ou que tipo de filme seria, mas queria perceber melhor. As cartas que ela me escreveu tinham descrições muito concretas dos lugares e de tudo o que ela estava a viver. Ela ia buscar roupa suja ao acampamento para lavar em casa e devolvê-la depois. Ia todas as semanas tratar da roupa das pessoas. Achei que as descrições eram tão detalhadas que, através delas, eu já conseguia visualizar tudo. Por isso, percebi que não precisava de filmar o acampamento, mas sim outra coisa: o resto da cidade que decidiu não ver essa comunidade e a forma como essas pessoas vivem. A estrutura do filme só começou a ganhar forma para mim depois de tudo ter terminado — depois de parar de receber cartas, depois da expulsão. Foi então que comecei a filmar e a procurar uma outra maneira de olhar para aquela paisagem.As imagens do filme são muito bonitas. São imagens da natureza, do renascer, da construção. Como é que as escolheu?Procurei explorar a cidade como se fosse um lugar que não conhecia. Aprendi coisas que nem sequer sabia. Por exemplo, que, nos anos 70, a cidade teve uma produção de flores muito importante, exportando rosas para Paris. Isso explica por que havia tantas estufas abandonadas onde as pessoas ciganas montaram o acampamento. Também descobri que as ruas daquela cidade têm nomes de flores. Compreendi melhor a história: campos transformados em estufas para produzir flores lindas, depois abandonadas durante uma crise económica, quando a produção foi deslocada para a Índia e para outros países. O único espaço abandonado que ainda estava de pé foi precisamente onde os ciganos tentaram instalar-se. Há algo de irónico nisso. A rua que ladeava o acampamento chamava-se "Allee de l'Europe" (Rua da Europa), e era exactamente ali que os romenos, não aceites, tentaram viver.Esse acampamento acabou por ser desmantelado em 2018. Acompanhou a história da chegada desta comunidade cigana ao acampamento e ao seu desmantelamento. Chegou a filmar o acampamento, mas não o mostra no filme. Porquê?Sim, fui ao acampamento, conversei com eles, ajudei a minha mãe a ajudar. Mas não achei que mostrar a história de uma relação individual tornaria o filme mais impactante. Eu não acho que o cinema mude a realidade, por isso quis fazer um filme mais seco e talvez mais duro. O final do filme é muito duro, porque percebemos que este é um ciclo sem fim. As cartas terminam porque as pessoas se vão embora, e o filme quase tenta procurá-las, mas elas já não estão lá. Esse fim deixa-me sempre zangada, porque reflecte o ciclo infernal que estas pessoas vivem.O seu filme propõe uma reflexão ao público. Como espera que ele reaja?Espero que o filme seja um espaço para o espectador pensar sobre o seu papel na sociedade. Não quero impor uma opinião, mas sim proporcionar um espaço de reflexão.De que forma é que a sua história pessoal, o facto de ter crescido nesta cidade, influenciou a forma como aborda o tema da habitação e da integração?Bom, eu tenho uma relação complexa com essa cidade porque não foi o melhor lugar para ser adolescente. É muito estranho como essas cidades são construídas sem nenhum lugar para as pessoas estarem juntas. Acho que isso também tem a ver com esse afastamento e essa impossibilidade de se relacionar com os outros. O individualismo é um modelo que domina essa cidade, até na sua construção e na maneira como as pessoas não estão juntas, porque nem sequer há um lugar para estarem juntas.Apesar de tudo, tentei filmar todos os lugares onde as pessoas estavam, mas são muito poucos – uma cascata, uma ponte. Mas não existem cafés, não existem padarias, não há uma vida social local ou, se há, é muito fraca. Nunca pensei que ia filmar esta cidade antes de isso acontecer e, quando aconteceu, achei que tinha que o fazer.Porque é uma cidade também de imigração, não é?É uma cidade de imigração. Todos os arredores de Paris são, não é? Espanhóis, portugueses, italianos que chegaram nos anos 60 e 70 ficaram mais perto de Paris. Depois, com o tempo, segunda e terceira gerações foram-se afastando de Paris e ocupando estas zonas mais suburbanas com casas.Eu questionei um bocadinho o lugar da minha família nesta cidade e o lugar das famílias romenas. A minha mãe escrevia-me: "Eles são como nós". Ela estava a perceber que eles poderiam ser como o meu avô, que chegou ao final dos anos 60 a França. Ou seja, havia um paralelo entre a minha história familiar e o que estava a acontecer agora. Só que, entretanto, os portugueses já se integraram na sociedade e agora estava a ver outra comunidade que ainda não tinha lugar na sociedade francesa.Acha que o facto de termos uma família imigrante nos leva a ter um olhar mais atento em relação às novas comunidades imigrantes?Infelizmente, acho que não. É uma coisa muito triste, mas vejo esse medo. Acho que o filme também fala disso, não é? Do medo do outro. Parece quase que há um receio de que esses recém-chegados ocupem o lugar que nós conquistámos.Essa cidade tem resultados eleitorais em que a extrema-direita é sempre muito forte. Apesar de serem cidades com franceses – são franceses –, quase toda a gente vem de outras origens, tem uma história de imigração. Para mim, é espantoso como esquecemos o nosso percurso, o percurso da nossa família, e como, para defender aquilo que conquistámos, fazemos quase o contrário do que deveríamos fazer ao pensar na nossa história.Les Habitants estreou na segunda-feira aqui no Festival do Réel. O seu filme está em competição. Como é que foi apresentá-lo pela primeira vez ao público? Sim, foi uma noite bonita. Foi importante porque a minha mãe estava na sala. Ela escreveu-me cartas, assim como outras mulheres que foram visitar o acampamento, e elas também estavam presentes. A equipa também estava lá. Foi uma noite bonita. Acho que o filme foi bem recebido.De que forma acompanha e assiste, mesmo à distância, uma vez que vive em Portugal, aos sucessivos cortes orçamentais deste governo? O Orçamento do Estado para a Cultura deste ano teve um corte de 50 milhões de euros. Isto é grave?É grave. Muito grave, e é sempre uma grande preocupação. Vivo há dez anos em Portugal e nós olhamos sempre para França quase como um modelo.É grave porque não é um bom augúrio para os outros países. Ou seja, quando começa assim em França, o risco é que o resto também siga esse caminho. Acho que nem é só sobre França – podemos falar da Europa.Muitos festivais de cinema, por exemplo, são um espaço muito importante para apresentar filmes fora do circuito comercial. Há muitas regiões que têm cortado orçamento e, no próximo ano, muitos festivais não sabem se vão conseguir continuar a funcionar e a existir. Isso é muito grave porque um festival de cinema ou todas as outras formas de arte são maneiras de nos juntarmos, de trocarmos ideias e de estarmos juntos numa sala de cinema.E isso é muito importante. Quanto mais deixamos de estar juntos e de pensar juntos, mais ficamos isolados – e quanto mais ficamos isolados, mais a extrema-direita cresce.
Esta semana, acentuou-se a crise diplomática entre Paris e Argel. A Argélia recusou a lista de 60 cidadãos argelinos que a França pretende expulsar e o ministro francês do Interior, Bruno Retailleau, prometeu uma “resposta gradual”. O que explica a degradação das relações entre os dois países nos últimos tempos? “A tensão não é de agora”, sublinha o historiador Victor Pereira, apontando para toda a violência do passado colonial francês na Argélia a que se somam, agora, “motivos eleitoralistas em França e políticos na Argélia”. Esta segunda-feira, a Argélia recusou a lista de 60 cidadãos argelinos que a França pretende expulsar, quase um mês depois de o ministro francês do Interior ter revelado que o autor do ataque que matou uma pessoa em Mulhouse, a 22 de Fevereiro, tinha previamente tido várias ordens de expulsão do território, mas foram todas rejeitadas pelas autoridades argelinas.Agora, o ministro francês do Interior, Bruno Retailleau, promete uma “resposta gradual”, que pode passar pela redução de vistos para os trabalhadores argelinos - segundo a ministra do Trabalho – ou até pelo fim dos “vistos diplomáticos” e pela convocação do embaixador de França na Argélia, na opinião do ministro da Justiça.O braço-de-ferro começou, no fim de Julho de 2024, com o reconhecimento pelo Presidente Emmanuel Macron da soberania marroquina sobre o Sahara Ocidental e teve novo episódio com a detenção do escritor franco-argelino, Boualem Sansal, a 16 de Novembro, em Argel e que continua preso.O que se passa entre Paris e Argel? Victor Pereira, historiador especialista das migrações, aponta “motivos eleitoralistas em França e políticos na Argélia”, mas relembra que “a tensão não é de agora” e tem como base todo o passado colonial francês na Argélia.RFI: Quais são os motivos que explicam este braço-de-ferro entre Paris e Argel?Victor Pereira, Historiador: "Há vários motivos, tanto em Argel quanto em Paris. Em Paris, temos um governo dirigido por François Bayrou, com ministros muitos deles de direita. O ministro do Interior, Bruno Retailleau, é da direita republicana e sabe que para uma parte do eleitorado dele e do eleitorado do Rassemblement National, o partido de Jean-Marie Le Pen, o tema da Argélia é sempre um tema que funciona, entre aspas, na oposição à Argélia. Há uma parte do Rassemblement National que foi constituído por antigos colonos ou militares que não queriam a independência da Argélia e que acham sempre que a Argélia não respeita a França, que a Argélia devia ter continuado a ser um departamento francês. O Bruno Retailleau era pouco conhecido há seis meses e tornou-se um dos políticos mais conhecidos em França, ele sabe muito bem que temas abordar para ser conhecido e ele aborda isto. Como o governo está pouco seguro de si próprio, conseguiu passar o Orçamento, mas François Bayrou não parece um primeiro-ministro que imponha uma linha, então há já uma posição bastante importante do ministro de Negócios Estrangeiros, que é um macronista histórico, e o Retailleau joga agora a carta dele e já está a fazer ameaças e chantagens de sair. Depois, na Argélia, obviamente que a própria ditadura argelina não está muito segura depois das manifestações e protestar contra a França, a antiga colónia, falar dos crimes que houve durante a guerra e da colonização, é sempre um tema que pode esconder as tensões internas."Esta tensão então não é de agora. Tem a ver com a própria história e as relações entre França e Argélia? "Não, essa tensão não é de agora. Esta tensão vem de 130 anos da presença francesa na Argélia, uma presença colonial com violências, com guerra, com tortura durante a guerra da Argélia, com repressão, com o facto de a população ter sido colocada à parte no próprio país e ter uma situação subalterna. Desde a independência de 1962, as relações nunca foram completamente pacíficas."Houve pedido de desculpas? Houve "reparação"? "Nos últimos anos, o François Hollande e sobretudo o Emmanuel Macron que, no início do seu primeiro mandato, tentou pacificar as relações entre Argélia e França. Por exemplo, Macron disse que os arquivos deveriam ser abertos para se conhecer a história da colonização da guerra da Argélia, coisa que já tinha feito no fim dos anos 90 o Lionel Jospin, o que tinha permitido ter muitas investigações sobre a guerra da Argélia, nomeadamente sobre o uso da tortura durante a guerra da Argélia. Emmanuel Macron tentou, falando da tortura e do caso do desaparecimento do matemático Maurice Audin, admitindo que tinham sido as forças militares francesas que o tinham raptado e que ele tinha sido morto por militares franceses. Então, ele fez vários sinais. Entretanto, na Argélia, a ditadura argelina conheceu uma contestação muito forte há alguns anos. A FLN está no poder desde 1962, usa o combate contra a França como a principal legitimação, quando a própria população argelina, 60 anos depois, quer a liberdade, quer mais repartição das riquezas. O governo ao usar a colonização na Argélia é uma forma de unir a população à volta da memória contra a presença francesa."O ministro do Interior falou em “resposta gradual”, invoca-se a possibilidade de redução de vistos para os trabalhadores argelinos, por exemplo. Quais é que poderão ser as consequências para a população, nomeadamente para os emigrantes argelinos que vivem em França ou que querem ir para França?"Já há vários anos que o tema dos acordos que existem entre a França e a Argélia são um ponto no debate e muitas vezes num debate que é pouco informado e que é um debate político à direita. Há um ponto importante: para acabar com a guerra da Argélia, houve o Tratado de Evian que permitia o fim da guerra e as relações entre os dois países. Em 1962, franceses e argelinos concordam em pôr em funcionamento uma livre circulação entre Argélia e França. Nessa altura, a França tinha um pouco menos de um milhão de europeus na Argélia. A ideia, quando foi negociado o tratado, é que os europeus na Argélia iriam ficar - ou grande parte deles iriam ficar - na Argélia. O que não aconteceu. Logo em Julho de 1962 houve o regresso maciço de europeus para França e essa livre circulação ficou, mas ficou sobretudo em vantagem dos cidadãos argelinos que continuaram a vir para França. Em 1962, muitos pensavam que como a Argélia se ia tornar independente, a emigração de argelinos para França ia reduzir, mas isso não aconteceu. Então, houve várias tentativas, da parte francesa, de reduzir a emigração argelina para França. Houve um novo acordo em 1965, em 1968 houve limites quantitativos, por isso, os argelinos, que antes de 1962 eram franceses e podiam circular livremente entre a Argélia e a França, desde então, houve vários entraves à livre circulação dos argelinos em França."Quantos cidadãos argelinos vivem em França actualmente?"Teria de verificar, mas imagino que seja por volta de 500 mil, um pouco mais que os portugueses, mas por volta dos 500 mil."O que é que representa em termos de comunidade estrangeiras em França? "É uma das mais antigas. Mas só se conta as pessoas que têm a nacionalidade argelina, não conta as pessoas que também são francesas e os filhos de argelinos em França que tinham nacionalidade francesa porque os pais eram franceses porque a Argélia era francesa até 1962. Se incluirmos os argelinos e os franceses de origem argelina, o número é mais importante. O debate sobre os vistos é um debate antigo que a extrema-direita usa muito com esse discurso de ter um certo controlo sobre a imigração argelina em França, usando o medo que venham demasiados argelinos para França - há pessoas que poderiam vir porque têm tios, pais, primos, amigos. Isso é uma coisa que as autoridades francesas sempre quiseram tentar restringir."Como é que os governos de Paris e Argel estão a lidar com esta crise diplomática e como é que isso pode acicatar a xenofobia contra os argelinos que vivem em França?"Como eu disse no início, estamos num período em que em ambos os países há pessoas que têm interesse em acicatar o conflito. É o caso em França do ministro do Interior e mesmo do próprio Gérald Darmanin [ministro da Justiça]. Então, há uma ala à direita vinda do Partido Les Républicains que acha que é preciso ter uma posição dura contra a Argélia, sabendo que isso é um ponto popular, entre aspas, junto da extrema-direita. E há essa vontade de estar à frente do debate público, de serem conhecidos, como é o caso de Bruno Retailleau e de Gérald Darmanin, com essa ideia de que vão tirar votos ao Rassemblement National, com uma posição muito dura sobre a Argélia, devido a essa posição da Argélia no imaginário da extrema-direita francesa.Na Argélia, há um interesse do governo em mostrar uma dureza perante a França e mostrar que a Argélia é um país autónomo, que a Argélia não vai ter uma posição subalterna perante Paris. Então temos agora todos os ingredientes porque podemos pensar que se Emmanuel Macron tivesse um governo no qual poderia ter mais influência, talvez as tensões seriam mínimas ou menos importantes, mas a configuração actual pode fazer que isso se torne um tema candente nas próximas semanas e nos próximos meses por motivos eleitoralistas em França e políticos na Argélia."Na sexta-feira, no jornal Le Monde, um colectivo de cidadãos franco argelinos, entre os quais o reitor da Grande Mesquita de Paris, lamentou que se tenha “normalizado a ideia que alguns franceses tenham constantemente de provar que pertencem à nação”. Quer comentar?"A população argelina, os filhos de argelinos, os netos e bisnetos têm que provar que são franceses, mas são franceses hávárias décadas. Há um racismo anti-argelino, anti-muçulmano. Os argelinos concentram vários dos ódios que existem na extrema-direita francesa ou em parte da sociedade francesa devido à guerra e ao facto de serem muçulmanos ou vistos como muçulmanos. Essas tensões vêm alimentar esse ódio anti-argelino que existe em França e, obviamente, isso torna a vida de muitos compatriotas franceses muito mais difícil porque há sempre uma suspeição sobre a lealdade deles, a lealdade como franceses, mas também lealdade quando há casos de ataques ou de actos terroristas que envolvam pessoas com família ligada à Argélia. Essas declarações mostram bem a situação muito difícil que vivem pessoas que apenas querem viver pacificamente e trabalhar em França, onde nasceram ou os próprios avós nasceram."A 27 de Fevereiro, o primeiro-ministro falou na necessidade de um largo debate sobre “o que é ser francês” [com o lançamento de “convenções cidadãs descentralizadas”]. Este debate é sensato no contexto político actual? "Essa declaração do primeiro-ministro François Bayrou parece uma repetição do que já aconteceu durante o mandato de Nicolas Sarkozy, quando Nicolas Sarkozy promoveu um debate sobre a identidade nacional e até criou um Ministério da Identidade Nacional. Esse debate não serviu para grande coisa, a não ser alimentar uma certa xenofobia. Muitas vezes, o tema da imigração parece ser o tema usado por políticos em dificuldade. François Bayrou estava em grande dificuldade devido ao caso de Notre-Dame de Bétharram, que é um caso de uma instituição católica onde durante décadas crianças tiveram maus tratos..."E foram vítimas de pedofilia. "Exactamente. E com alegado conhecimento de várias entidades políticas, incluindo o próprio François Bayrou. Quando as situações internas são complicadas, o tema da imigração sempre permite tentar criar uma forma de fugir alguns problemas. Por isso, não sei se esse debate vai avançar e podemos duvidar muito da utilidade deste debate, a não ser o ser uma nova forma de expressão de uma xenofobia."Enquanto historiador, o que é ser francês? "Para um historiador, “o que é ser francês?” não é uma pergunta fácil porque há vários livros de história sobre este tema. Alguns historiadores dizem que é uma coisa muito simples: são pessoas que obtiveram a nacionalidade francesa e há várias formas de obter a nacionalidade francesa - ter nascido em França de pais franceses; ter nascido em França de pais estrangeiros, mas ter pedido a nacionalidade francesa. Isto é, muitas vezes é um falso debate porque há muitos actos feitos por pessoas francesas, netas e bisnetas de franceses, que são contra os valores que a própria República Francesa defende. Há franceses que defendem a monarquia. São menos franceses por isso? Não parece. Em França, há sempre um grande debate sobre a laicidade. Os homens políticos franceses muitas vezes confundem o que é a definição da laicidade e viu-se há pouco tempo com um caso sobre futebol e o Ramadão. Por isso, este não é um debate fácil, é um debate jurídico, mas, muitas vezes, os homens públicos falam de valores e eles próprios não são muito respeitadores e coerentes com esses valores. Por isso, acho que é, em grande parte, um falso debate para tentar não falar de outros problemas."
Um estudo do Instituto Nacional de Estatística e Estudos Económicos indica que o salário médio das mulheres francesas que trabalham no sector privado era, em 2023, 22% inferior ao dos homens. O estudo explica que o salário relativamente baixo das mulheres se deve, em parte, a um volume anual de trabalho 9,3% inferior ao dos homens, uma vez que as mulheres trabalham mais em tempo parcial. Cristina Semblano, economista, afirma que as desigualdades se devem a um problema estrutural que continua a prejudicar as mulheres no mercado de trabalho. Desde 1972 que o princípio da igualdade de remuneração entre mulheres e homens está consagrado na lei francesa. Como é que se explicam estas desigualdades?As desigualdades têm várias explicações. Poderei começar por dizer que elas são gritantes, sabendo, nomeadamente, que a comunidade internacional tinha, há uns anos, dado 2030 como meta para eliminar as diferenças salariais entre homens e mulheres. Todavia, esta desigualdade explica-se por várias razões. Uma delas está ligada ao tempo de trabalho e ao volume de trabalho fornecido pelas mulheres, que é menor, uma vez que estas não estão em plena actividade durante todo o ano. As mulheres trabalham muito mais em tempo parcial do que os homens, um trabalho que lhes é muitas vezes imposto.O estudo diz que são as mulheres que ocupam cargos executivos que são as mais afectadas e que essas desigualdades aumentam à medida que a carreira avança...Esta realidade deve-se a um problema de mentalidade ou a um problema estrutural da diferença de género. E não é só em França que isto acontece. Em Portugal, verificamos exactamente a mesma coisa. Ou seja, à medida que as qualificações das mulheres aumentam -não forçosamente as qualificações, mas o lugar que elas ocupam na hierarquia é mais importante -maior é a disparidade em relação aos homens.Porém, mesmo com horários de trabalho idênticos, o salário médio das mulheres é 14,2% inferior ao dos homens. Porque é que o trabalho dos homens é mais valorizado?É uma boa pergunta, que gostaria de poder responder. Vivemos num país onde o lema do primeiro mandato de Emmanuel Macron era a igualdade de género. Efectivamente, isso não se está a verificar. Basta olhar para as finanças públicas francesas, que não têm nada de feministas.O orçamento do Ministério da Igualdade de Género representa 0,02% do orçamento, deixando claro que não há vontade de diminuir as desigualdades entre homens e mulheres. Trata-se de um sistema que precisa dessa desigualdade entre homens e mulheres, nacionais e imigrantes. É um sistema baseado na exploração e, portanto, a mulher é um produto que vale a pena empregar para explorar.Um outro factor, que é muito importante, está associado ao facto de as mulheres ocuparem cargos em sectores menos valorizados e mesmo precários. A saúde, a educação, os cuidados, a protecção infantil, etc. São os sectores que mais empregam mulheres e são aqueles que lhes pagam menos.É fundamental uma mudança de mentalidade?É fundamental que aqueles que nos governam não desvalorizem estes sectores. São sectores que têm de ser altamente valorizados. São sectores fundamentais do ponto de vista humano, do ponto de vista da coesão social, indispensáveis à vida.Há ainda a questão da maternidade. De que forma é que a maternidade ainda continua a lesar as mulheres no mercado de trabalho?A maternidade continua a agravar a situação das mulheres e a situação tende a piorar. A maternidade é algo incoerente, porque tem a ver com a sociedade inteira. São as mulheres que engravidam, que suportam o tempo da gravidez e o parto... Mas deveria competir à sociedade a resolução dos problemas ligados à maternidade. Ora, não é esse o caso. A mulher tem de ser individualmente menorizada, tem de ser vítima pela sua situação de maternidade.Quando as mulheres denunciam as desigualdades salariais, são muitas vezes acusadas de estar a criar mau ambiente, podendo até ser vítimas de retaliação por parte dos superiores hierárquicos...Exactamente. As mulheres estão abandonadas a elas próprias. Elas lutam, integram colectivos, fazem greve, mas estamos num tempo em que não estar de acordo com o pensamento mainstream ou com as regras vigentes é ser polémico. E não é só no caso das mulheres. Quando exprimo uma opinião que não é a opinião global, quando não somos consensuais, somos acusados de ser polémicos.A seu ver, o que precisa de ser feito? Que regras devem ser alteradas para combater esta desigualdade?Os poderes públicos devem começar por consagrar orçamentos maiores para lutar contra as desigualdades entre homens e mulheres. No caso das empresas, por exemplo, devem ser divulgados os salários. Que tipo de medidas, na sua opinião, devem ser adoptadas nas empresas para acabar com estas desigualdades?Em França, há um grande segredo em relação aos salários. Eu sou a favor da divulgação dos salários nas empresas. Nas empresas, estamos aqui numa relação de dominação. Tanto os homens como as mulheres estão numa situação de submissão e, por conseguinte, é evidente que é muito mais fácil reinar, tendo em conta que as relações de dominação existem.Nesta política de silêncio à volta dos salários, é mais fácil para as empresas terem este poder sobre os assalariados?As empresas têm poder sobre os assalariados. A relação entre o patronato e o assalariado é uma relação assimétrica. É evidente que, em relação à mulher, ela é ainda mais assimétrica.
O primeiro-ministro francês, François Bayrou, abriu a porta à possibilidade de se realizar um referendo sobre a reforma do sistema de pensões, numa altura em que os sindicatos exigem a revogação da lei que estabelece que os franceses devem trabalhar até aos 64 anos. Vários modelos estão em cima da mesa e dividem a sociedade, nomeadamente o aumento das cotizações, a redução do valor da reforma ou o sistema por capitalização. O professor de Finanças da Universidade de Paris, Carlos Vinhas Pereira, afirma que o aumento da idade de reforma e o modelo de capitalização poderão ser as soluções para responder ao desequilíbrio do modelo de repartição, impactado pelo declínio demográfico. O primeiro-ministro francês, François Bayrou, abriu a porta à possibilidade de se realizar um referendo sobre a reforma do sistema de pensões em França. Esta é a melhor solução?Talvez a pergunta devesse ser feita de outra forma: os franceses estão ou não de acordo em arriscar a possibilidade de, a partir de um certo momento, o sistema não ser capaz de pagar as pensões.Neste momento, os franceses recebem as pensões que estão baseadas num equilíbrio financeiro. Nesta reunião, as autoridades, os parceiros sociais e os representantes das empresas tentam encontrar uma solução para não desequilibrar o sistema de repartição, que é o único sistema que a França tem.A verdade é que, actualmente, muitos franceses são favoráveis a que uma parte do sistema seja feita através do modelo de capitalização, uma possibilidade que tem sido, até à data, recusada pelas instituições.O sistema de reformas francês é deficitário desde a década de 70. O que falhou neste sistema de repartição?O modelo de repartição está baseado na demografia, na esperança de vida e indexado à inflação. O que acontece é que, hoje em dia, já não consegue compensar o reforço que é necessário para este sistema.Para as pessoas nos perceberem, o modelo de repartição é um modelo de duplo pagamento, ou seja, uma geração faz descontos que permitem pagar as reformas da geração anterior e também faz descontos para as próprias reformas...Exactamente. Ou seja, podemos dizer que é um financiamento por gerações e também está baseado na taxa de mortalidade. Com o aumento da esperança de vida, o número de anos a pagar a reforma aumentou, mas temos menos pessoas a fazer descontos. Esta situação levou a um desequilíbrio no modelo de repartição.Uma das medidas defendidas passa por baixar o valor das reformas. Esta pode ser a resposta?É uma das possibilidades. Porém, politicamente, é muito complicado. Em França, existem cerca de 24 milhões de reformados e dizer a essas pessoas, que já descontaram, que vão receber menos e perder poder de compra é muito difícil. É mais fácil, efectivamente, entrar dentro do sistema mais tarde.Ou seja, aumentar a idade da partida para a reforma?Sim. Alargar o número de anos para poder partir para a reforma, neste momento, chega para equilibrar o sistema de pensões francês, contando também com uma taxa de crescimento e mais pessoas a cotizar. Aqui, é preciso não esquecer as pessoas que estão no desemprego e que não fazem descontos.A crise no sector do imobiliário e os conflitos mundiais têm contribuído para o aumento do desemprego, o que nos leva a pensar que o Governo também está a considerar que terá de voltar a fazer uma reforma no sistema de pensões em 2030.Todavia, o Governo está a pensar em fazer uma lista de profissões que terão um tratamento diferente, ou seja, não partirão aos 64, mas poderão sair com uma base de trimestres de cotizações, podendo essas pessoas aceder à reforma antes dos 64 anos.Uma das soluções que tem sido também avançada é o modelo de capitalização. Uma das vantagens seria contornar a crise demográfica. Concorda?Sim, permite contornar. Neste momento, os franceses têm nas suas contas poupança cerca de 6 mil milhões de euros que estão colocados em obrigações sem risco. Estas economias não permitem ter um crescimento muito importante, nem são utilizadas no financiamento das empresas, nem no crescimento económico.Se olharmos para o modelo de capitalização, com o horizonte de aplicação dos fundos muito alargado (30 ou 40 anos), é possível fazer aplicações mais arriscadas, ou seja, financiar as empresas, comprar acções com a possibilidade de ter rendimentos muito mais importantes e chegar à reforma com o montante de capitalização que vai compensar uma eventual perda que se poderia ter no sistema de repartição.Porém, muitas são as vozes a afirmar que são os mais ricos que conseguem ter um bom plano de capitalização. Como é que se pode permitir que todas as pessoas tenham acesso a esses planos de poupança reforma, isentos de impostos?Um jovem pode começar, e muitos deles já o fazem. O que está em causa é a proporcionalidade. Os 6 mil milhões de euros a que me refiro não são detidos pelos mais ricos. Estou a falar de pequenas contas, não de grandes fortunas, nem de fundos de investimento.Em vez de pôr as economias num Livret A (conta poupança), poderia ser aplicada num sistema que será criado, com incentivos fiscais e com algum controlo do Estado. Uma espécie de fundo soberano constituído pela França, onde as pessoas pudessem colocar as poupanças, mas com um único objectivo: preparar a reforma.Olhando para a evolução da nossa sociedade, acredita que o sistema de repartição será, no futuro, substituído pelo sistema de capitalização?Com o declínio demográfico, se não houver uma política familiar, não vai ser possível manter o modelo de repartição. A partir de certo momento, terá de haver um sistema de capitalização associado ao modelo de repartição.
A delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian faz 60 anos e o programa de aniversário apoia vários eventos com artistas lusófonos. Há parcerias com o Festival de Avignon, o Festival de Outono, o Théâtre de la Ville de Paris e a Bienal de Dança de Lyon, mas há, também, dois novos festivais: um de músicas da diáspora ("Lisboa nu bai Paris") e outro de dança, filme e artes visuais ("Les Jardins de l'Avenir"). Na prática, a agenda cultural francesa vai contar, ao longo do ano, com nomes como Marlene Monteiro Freitas, Tânia Carvalho, Vera Mantero, Joana Craveiro, Dino D'Santiago, Branko, Maro, Camané, Mário Laginha, B Fachada e muitos mais. O programa foi apresentado esta segunda-feira, no Théâtre de la Ville, em Paris, por Miguel Magalhães, director da delegação em França da Fundação Gulbenkian. Há teatro e dança, com Marlene Monteiro Freitas, Tânia Carvalho, Vera Mantero e Joana Craveiro, música com Dino D'Santiago, Branko, Maro, Camané, Mário Laginha e B Fachada. Há, ainda, cinema, conferências, residências e exposições, entre muitos eventos.Um dos momentos centrais é o apoio ao espectáculo de Marlene Monteiro Freitas que vai abrir a edição deste ano do Festival de Avignon, dirigido pelo português Tiago Rodrigues. A peça vai estar, mais tarde, no Festival de Outono, em Paris, com o qual a delegação francesa da Gulbenkian volta a colaborar. Além da programação de Marlene Monteiro Freitas nesse festival, há, ainda, um espectáculo de dança de Tânia Carvalho e Israel Galvan e outra performance encenada por Tânia Carvalho com alunos dos conservatórios de Paris e Lyon em torno do centenário de Pierre Boulez.No Théâtre de la Ville - Sarah Bernhardt, a Gulbenkian vai apoiar o festival de artes do palco Chantiers d'Europe, que nesta edição reúne artistas de sete países, incluindo de Portugal. A 9 de Junho, o Théâtre de la Ville –Sarah Bernhardt, é palco de um encontro entre música clássica e fado tradicional, com a Orquestra Filarmónica Portuguesa, Camané e Mário Laginha. O autor e compositor B Fachada sobe a palco a 5 de Junho no Théâtre de la Ville-Les Abbesses. De 10 a 15 de Junho, Joana Craveiro apresenta-se, pela segunda vez, neste festival, agora com a peça de teatro “Intimidades com a Terra”. Na dança, Tânia Carvalho e um bailarino do Ballet National de Marselha / (La) Horde sobem ao palco a 28 e 29 de Junho.Ainda no Théâtre de la Ville - Sarah Bernhardt, em Maio e Setembro, estão previstas leituras, encontros e criações em torno da obra que, em 1972, abalou e foi proibida pela ditadura - “Novas Cartas Portuguesas” - de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. A delegação em França da Gulbenkian também apoiou uma nova tradução para francês da obra, por Ilda Mendes dos Santos e Agnès Levecot, a qual chega às livrarias a 18 de Abril.A 7 e 8 de Junho, no Parque Enclos Calouste Gulbenkian, em Deauville, acontece a primeira edição de “Les Jardins d'Avenir”, um festival entre dança, filme e artes visuais. Nestes jardins, vão ser apresentadas, por exemplo, a peça “L'oracle végétal” das coreógrafas Ola Maciejewska e Vera Mantero e a performance participativa de Ana Rita Teodoro e Alina Folini. Há, ainda, uma projeção de filmes de Jorge Jácome e Ana Vaz e obras plásticas de Christodoulos Panayotou e Elsa Sahal.A encerrar o programa de aniversário, está o festival de músicas urbanas de inspiração africana “Lisboa nu bai Paris”, comissariado por Dino D'Santiago e que vai decorrer na Gaité Lyrique, em Paris, no final do ano.Nas artes visuais, a delegação promove várias residências artísticas e curatoriais em França para artistas e comissários lusófonos. Este ano, por exemplo, a artista moçambicana Lizette Chirrime vai estar três meses em Paris no âmbito do programa Gulbenkian -Thanks for Nothing.Para reforçar a divulgação da criação portuguesa em França, a delegação continua o programa “Expositions Gulbenkian”, um apoio que se destina às instituições culturais que pretendam mostrar artistas portugueses.A Biblioteca Gulbenkian de Paris vai organizar, ainda, conferências e jornadas de estudo em torno dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões. Por outro lado, a realizadora francesa Claire Denis está a preparar um filme sobre a “Ode Marítima” de Fernando Pessoa.A agenda dos 60 anos conta, também, com o lançamento do podcast “Parcours d'artistes”, uma série sobre histórias de artistas portugueses que viveram ou vivem entre Paris e Lisboa.
A delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian faz 60 anos e o programa de aniversário apoia vários eventos com artistas lusófonos. Há parcerias com o Festival de Avignon, o Festival de Outono, o Théâtre de la Ville de Paris e a Bienal de Dança de Lyon, mas há, também, dois novos festivais: um de músicas da diáspora ("Lisboa nu bai Paris") e outro de dança, filme e artes visuais ("Les Jardins de l'Avenir"). Na prática, a agenda cultural francesa vai contar, ao longo do ano, com nomes como Marlene Monteiro Freitas, Tânia Carvalho, Vera Mantero, Joana Craveiro, Dino D'Santiago, Branko, Maro, Camané, Mário Laginha, B Fachada e muitos mais. O programa foi apresentado esta segunda-feira, no Théâtre de la Ville, em Paris, por Miguel Magalhães, director da delegação em França da Fundação Gulbenkian. Há teatro e dança, com Marlene Monteiro Freitas, Tânia Carvalho, Vera Mantero e Joana Craveiro, música com Dino D'Santiago, Branko, Maro, Camané, Mário Laginha e B Fachada. Há, ainda, cinema, conferências, residências e exposições, entre muitos eventos.Um dos momentos centrais é o apoio ao espectáculo de Marlene Monteiro Freitas que vai abrir a edição deste ano do Festival de Avignon, dirigido pelo português Tiago Rodrigues. A peça vai estar, mais tarde, no Festival de Outono, em Paris, com o qual a delegação francesa da Gulbenkian volta a colaborar. Além da programação de Marlene Monteiro Freitas nesse festival, há, ainda, um espectáculo de dança de Tânia Carvalho e Israel Galvan e outra performance encenada por Tânia Carvalho com alunos dos conservatórios de Paris e Lyon em torno do centenário de Pierre Boulez.No Théâtre de la Ville - Sarah Bernhardt, a Gulbenkian vai apoiar o festival de artes do palco Chantiers d'Europe, que nesta edição reúne artistas de sete países, incluindo de Portugal. A 9 de Junho, o Théâtre de la Ville –Sarah Bernhardt, é palco de um encontro entre música clássica e fado tradicional, com a Orquestra Filarmónica Portuguesa, Camané e Mário Laginha. O autor e compositor B Fachada sobe a palco a 5 de Junho no Théâtre de la Ville-Les Abbesses. De 10 a 15 de Junho, Joana Craveiro apresenta-se, pela segunda vez, neste festival, agora com a peça de teatro “Intimidades com a Terra”. Na dança, Tânia Carvalho e um bailarino do Ballet National de Marselha / (La) Horde sobem ao palco a 28 e 29 de Junho.Ainda no Théâtre de la Ville - Sarah Bernhardt, em Maio e Setembro, estão previstas leituras, encontros e criações em torno da obra que, em 1972, abalou e foi proibida pela ditadura - “Novas Cartas Portuguesas” - de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. A delegação em França da Gulbenkian também apoiou uma nova tradução para francês da obra, por Ilda Mendes dos Santos e Agnès Levecot, a qual chega às livrarias a 18 de Abril.A 7 e 8 de Junho, no Parque Enclos Calouste Gulbenkian, em Deauville, acontece a primeira edição de “Les Jardins d'Avenir”, um festival entre dança, filme e artes visuais. Nestes jardins, vão ser apresentadas, por exemplo, a peça “L'oracle végétal” das coreógrafas Ola Maciejewska e Vera Mantero e a performance participativa de Ana Rita Teodoro e Alina Folini. Há, ainda, uma projeção de filmes de Jorge Jácome e Ana Vaz e obras plásticas de Christodoulos Panayotou e Elsa Sahal.A encerrar o programa de aniversário, está o festival de músicas urbanas de inspiração africana “Lisboa nu bai Paris”, comissariado por Dino D'Santiago e que vai decorrer na Gaité Lyrique, em Paris, no final do ano.Nas artes visuais, a delegação promove várias residências artísticas e curatoriais em França para artistas e comissários lusófonos. Este ano, por exemplo, a artista moçambicana Lizette Chirrime vai estar três meses em Paris no âmbito do programa Gulbenkian -Thanks for Nothing.Para reforçar a divulgação da criação portuguesa em França, a delegação continua o programa “Expositions Gulbenkian”, um apoio que se destina às instituições culturais que pretendam mostrar artistas portugueses.A Biblioteca Gulbenkian de Paris vai organizar, ainda, conferências e jornadas de estudo em torno dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões. Por outro lado, a realizadora francesa Claire Denis está a preparar um filme sobre a “Ode Marítima” de Fernando Pessoa.A agenda dos 60 anos conta, também, com o lançamento do podcast “Parcours d'artistes”, uma série sobre histórias de artistas portugueses que viveram ou vivem entre Paris e Lisboa.
Nesta segunda-feira, assinalam-se os três anos da invasão russa do território ucraniano, 2025 marcando igualmente os 11 anos do início da ofensiva de Moscovo contra o leste do país. Anos de incerteza recordados hoje em Kiev pelo Presidente Volodymyr Zelensky na presença de líderes europeus, seus aliados, nomeadamente a Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, e também o Presidente do Conselho Europeu, António Costa. Três anos depois da invasão da Ucrânia, a situação no terreno continua difícil para as tropas ucranianas que enfrentam a falta de meios para combater. No aspecto político, o regresso de Donald Trump à Casa Branca marcou também uma viragem completa do posicionamento dos Estados Unidos relativamente ao conflito, com o Presidente americano a dialogar com Vladimir Putin sobre um possível processo de paz, na ausência da Ucrânia e do resto da Europa.Para além destes aspectos, o dia 24 de Fevereiro de 2022 também marca o começo do exílio para muitos ucranianos que a guerra empurrou para fora do seu país.De acordo com as Nações Unidas, desde o início da invasão russa e até sensivelmente Julho do ano passado, a Europa acolheu mais de 6 milhões de refugiados ucranianos que se repartiram maioritariamente nos países circundantes.Em França, chegaram quase 67.000 e Portugal acolheu um pouco mais de 63.000 ucranianos, sendo que esta comunidade abrange actualmente mais de 117.000 pessoas de norte a sul de Portugal.Abraão Veloso fundou o Centro Social e Cultural Luso-Ucraniano em Braga em 2015 pouco depois da invasão do leste da Ucrânia. "Esta associação nasceu em resposta à invasão do Donbass. Um amigo ucraniano, um dia, veio pedir-nos ajuda porque o país dele estava em dificuldade e nós dissemos que estávamos disponíveis para mobilizar a sociedade e depois surgiu esta associação, porque sem uma associação não é possível fazer nada", conta o líder associativo."Havia muitos deslocados, sobretudo do Donbass. E nós procuramos, na medida do possível, enviar ajuda. Nesse tempo era muito mais difícil, uma vez que a sociedade não estava muito virada para a questão ucraniana. Era uma questão lateral. Mas nós, nesse período, fizemos isso. Trabalhámos muito com a comunicação social para alertar que havia ali uma guerra que estava a consumir muitas vidas. Naqueles anos antes da invasão, fala-se em cerca de 15.000 mortos, portanto um número muito elevado", refere Abraão Veloso.Ao evocar o acolhimento de refugiados ucranianos no extremo norte de Portugal, o activista social diz que "em Braga foram acolhidos excelentemente, porque houve aqui um acordo entre as diversas instituições a Câmara, a Cruz Vermelha e outros e a associação. Um hotel foi colocado ao serviço da chegada desses ucranianos refugiados. Foram diversos autocarros, nomeadamente a Cracóvia, buscar refugiados. E quando chegaram a Portugal tinham um hotel todo por sua conta para os acolher. E depois foi feito o encaminhamento uns para as famílias, outros para os amigos. (...) Um técnico fez o primeiro embate dos ucranianos com as instituições para terem um acolhimento temporário. Iam com eles a Segurança Social, ao Centro de Emprego, aos diferentes organismos aqui da região, às escolas".Desde 2015 e sobretudo, nestes últimos três anos, chegaram milhares de ucranianos a Portugal, o líder associativo recordando ter chegado a apoiar duzentas pessoas ao mesmo tempo. "Neste momento, o número é muito menor, porque eles, tal qual os portugueses, têm vontade de voltar à sua terra."O regresso à Ucrânia é, de facto, o horizonte de muitos refugiados que se encontram em Portugal, constata também Roman Grymalyuk que vive no Algarve hà vinte anos e que contrariamente aos seus compatriotas, pretende prosseguir o seu caminho em terras lusas.Contudo, isto não significa que se tenha desligado do seu país de origem, Roman Grymalyuk tendo criado há dois anos e meio a Oranta, Associação de Apoio à Comunidade Ucraniana no Algarve. Para além de apoiar os refugiados que chegam a Portugal, esta associação também fornece algum apoio logístico à Ucrânia."Nós estamos a trabalhar com vários batalhões e com várias instituições médicas na Ucrânia. Estamos a transformar vários tipos de veículos, principalmente veículos 4X4 para carrinhas de resgate dos feridos da zona de combate, tanto como os carros para transportar os feridos do centro de estabilização para hospitais", explica o activista que ao regozijar-se com o facto de "muitos municípios do Algarve entenderem o que está a acontecer no país", refere ter tido "a possibilidade de ajudar os ucranianos -para já- na tradução da língua porque nem todos os que vão (a Portugal) têm a mínima ideia da língua portuguesa. Começámos a falar com escolas, começámos a falar com municípios. Tivemos muita sorte porque tivemos muitas respostas positivas"."Até não há muito tempo atrás, nós estivemos a fazer algumas contas da quantidade de coisas que aconteceram só no município de Lagos. Por exemplo, tivemos mais de 740 pessoas que receberam apoio aqui na nossa zona", constata ainda o líder associativo ucraniano que não deixa de observar, tal como Abraão Veloso que a tendência é frequentemente tentar regressar ao país"No fim do primeiro ano da invasão russa na Ucrânia, voltaram mais ou menos à volta de 20% das pessoas que chegaram nos primeiros tempos da invasão. Claro que temos várias pessoas que já se sentem muito bem em Portugal, porque já é o terceiro ano. Há algumas pessoas que já tomaram a decisão que vão continuar a viver em Portugal, gostaram do sítio ou até algumas já montaram famílias aqui em Portugal. Mas também temos ainda muito pessoas que têm a esperança de que isto acabe o mais rápido possível, porque querem voltar para a Ucrânia", constata Roman Grymalyuk.Questionado sobre a sua recente estadia na Ucrânia no ano passado, depois de um longo período de ausência, o activista social dá conta da sua dor."Para mim foi um bocado complicado, porque foi por um caso muito triste para mim, pelo falecimento do meu pai. Foi por isso que eu voltei à Ucrânia. Mas, como já durante os últimos três anos, estava completamente envolvido nos apoios e em contacto com militares e com médicos, tinha tomado a decisão de fazer a minha viagem para a linha de frente, para ver tudo lá no sítio, para falar como eles mesmo lá no sítio, para perceber melhor o que é que falta", recorda Roman Grymalyuk."Quando cheguei, vou dizer a verdade, fui a algumas zonas que não foram afectadas pela guerra. Fiquei muito surpreendido porque o país ficou muito mais evoluído nalgumas partes, mas também fiquei muito triste ao ver em vilas e cidades, onde as pessoas mesmo assim tentavam fazer uma vida normal. E houve momentos em que me vieram lágrimas, porque não podia perceber como é possível crianças crescerem com este barulho, a ouvir os disparos, os bombardeamentos e estar tão tranquilo", conta o responsável associativo."Hoje em dia, estamos numa situação muito grave. Não é só para a Ucrânia. Estamos numa situação muito perigosa, tanto para a Europa, como para o futuro mundial, porque hoje estamos em risco de passar de um mundo democrático para um mundo de ditadura", conclui Roman Grymalyuk.
Manuela Marques é a mais recente autora a entrar na colecção dedicada aos fotógrafos portugueses contemporâneos, a “Série Ph.". A obra foi apresentada nas Éditions Loco, em Paris, a 7 de Fevereiro, e foi a oportunidade para a RFI conversar com a artista que assume “documentar poeticamente o mundo”. Neste programa, falámos também com a crítica de arte Teresa Castro e com o editor da colecção Cláudio Garrudo sobre “a arte da atenção” da fotografia de Manuela Marques. A coleção Ph., editada pela Imprensa Nacional, publicou, desde 2017, monografias de Helena Almeida, Paulo Nozolino, Jorge Molder, Fernando Lemos, Daniel Blaufuks, Rita Barros, Jorge Luís Neto, António Júlio Duarte, Alfredo Cunha, Jorge Guerra, Ernesto de Sousa e José M. Rodrigues.Agora, o foco é dado a Manuela Marques, artista nascida em Portugal em 1959 e a viver em Paris há largos anos. Cláudio Garrudo, o editor da coleção, conta que o objectivo é “ter todos os grandes nomes da fotografia portuguesa” e Manuela Marques faz parte.Nós queremos, com esta colecção, ter todos os grandes nomes da fotografia portuguesa. Obviamente, não podíamos deixar a Manuela de fora com o trabalho que tem desenvolvido ao longo destes anos.Neste “Ph.13”, podemos ver obras realizadas por Manuela Marques entre 1986 e 2024, nas quais um dos fios condutores é a sua visão sobre a paisagem, sublimada para além da realidade imediata e dotada de uma visão intimista e poética.O livro conta com um texto da crítica de arte Teresa Castro, que descreve a fotografia de Manuela Marques como “a arte da atenção”, em que os espaços fotografados são habitados “física e emocionalmente” pela artista. Em conversa com a RFI, Teresa Castro descreve que essa “arte da atenção” está presente na forma de conceber processo criativo, mas também numa certa “ética do olhar” que se poderia resumir - talvez -no facto de ela "fotografar com a natureza" e não se limitar a tirar fotografias da natureza. A expressão ética da atenção parece-me englobar duas coisas muito importantes no trabalho da Manuela Marques. Por um lado, o próprio processo criativo está intimamente ligado a esta ideia da atenção e, e ao mesmo tempo, a uma ética do olhar. Há uma forma de a Manuela trazer, para o centro das imagens e para o primeiro plano, elementos naturais ou fenómenos naturais ignorados ou pouco valorizados pela imagem e, por isso, é que eu acho que o processo de criação tem a ver com uma exploração que é uma forma de tomar atenção às coisas da natureza, de atentar nos elementos naturais, de atentar na matéria. Esta forma de atenção é também uma forma de estar disponível para o mundo (…)Para mim, a ética do olhar é uma forma de fazer com que a nossa atenção não seja apenas um fenómeno perceptivo, mas é convidar-nos também a tomar atenção, por exemplo, aos seixos, aos pedregulhos, à luz, às plantas, às árvores. De facto, há uma série de elementos naturais que estão muito presentes no trabalho da Manuela Marques, mas eu diria que ela não faz tanto fotografias da natureza, ela fotografa com a natureza. Por isso, eu acho que há uma ética ambiental. Teresa Castro sublinha, ainda, à RFI que as imagens de Manuela Marques são “uma experiência completamente sensorial e poética”, ligadas não apenas aos jogos de reflexos, de luz, de enquadramentos e de matérias mas, também, “a uma dimensão quase alquímica”. Tanto é que, no texto do Ph.13, podemos ler que “as fotografias de Manuela Marques têm frequentemente o efeito de uma revelação. Vemos como se víssemos pela primeira vez”. Uma ideia que reforçou na entrevista.É isso mesmo. É ver como se víssemos, por exemplo, uma nuvem, uma pedra, um lago, como se o víssemos pela primeira vez. Como se essas coisas ainda fossem virgens no nosso olhar. A fotografia da Manuela tem essa capacidade de nos fazer sentir isso, que nunca tínhamos visto uma coisa até ela ter sido fotografada pela Manuela Marques. Muitas vezes, são coisas da natureza, mas não só. O trabalho da Manuela Marques não se exclui na questão da natureza, mas as imagens, as fotografias que ela faz têm essa capacidade de nos fazer sentir essa emoção de ver pela primeira vez. Fotografar é “documentar poeticamente o mundo”Para Manuela Marques, fotografar é “documentar poeticamente o mundo”, uma abordagem, talvez “alquímica”, que lhe foi revelada ainda em menina. Quanto à natureza e à paisagem, é aí que a magia opera e que o mistério do processo criativo acontece.Eu acho que há alguns pontos que são para mim essenciais nesta questão da natureza, da paisagem, que é uma matéria viva e em constante transformação. Para mim, no meu trabalho, suscita muito questionamento. É um questionamento que não pára. Eu nunca páro numa ideia da paisagem ou numa ideia da natureza. É uma constante questão, para mim, devido à ligação que temos de uma maneira muito forte e que esquecemos completamente. Então, essa questão reactiva um fio que se perdeu.Eu não tenho medo da palavra ‘poética'. Não acho que seja uma palavra feia, ou suja, ou não sei quê. Eu assumo totalmente a palavra. A questão é que eu não estou muito interessada por uma arte em que a pessoa compreende exactamente o que está a ver à primeira vista. Eu prefiro estar num campo que coloca mais questões do que dá respostas ao que está a ver. Eu acho que é, por isso, que escapa um pouco a essa questão da representação imediata do que se está a ver. É documentar poeticamente o mundo. Vencedora do Prémio BESPHOTO de fotografia, em 2011, Manuela Marques tem exposto em vários países. Em Portugal, por exemplo, destacam-se as exposições “Echoes of Nature”, no Museu Nacional de Arte Contemporânea de Lisboa (2022/2023), “Weather Station”, no Centro de Arte Arquipélago, nos Açores, (2019), “La face cachée du soleil”, na Fundação Calouste Gulbenkian (2017), “Temporada”, na Appleton Square, em Lisboa (2011), “Lá Fora”, na Fundação EDP, e “She is a Femme Fatale”, no Museu Coleção Berardo, ambas em 2009.Em França, expôs no Museu André Malraux, Le Havre (2022), no Centro de Arte Domaine de Kerguéhennec (2022), no Museu de Lodève (2019), no Centro de Arte Cyel em La Roche-sur-Yon (2019), no Centro Fotográfico Île-de-France, FRAC Auvergne e FRAC Normandie. O seu trabalho foi também exposto no Museu SAMoCA, em Riad, na Arábia Saudita (2024). No Brasil, teve uma exposição individual na Pinacoteca de São Paulo (2011) e participou em várias exposições colectivas no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Museu de Arte Moderna de Brasília e no Centro de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro. A sua obra está representada em várias colecções nacionais e internacionais, públicas e privadas.Oiça a entrevista neste programa.
O que há de comum entre todas as comunidades lusófonas, para além de uma língua e de um passado histórico? Num evento organizado em Paris pela associação de jovens lusodescendentes Cap Magellan, esteve em debate o futuro das juventudes e comunidades lusófonas e lusodescendentes, um termo aberto às interpretações. Durante um fim de semana de workshops e conferências organizado pela associação de jovens lusodescendentes Cap Magellan, sociólogos, empreenderores e membros de associações participaram no desafio de questionar e valorizar a lusodescendência, assim como a comunidade lusófona em França. Numa das conferências, a escritora e activista guineense Lizidória Mendes apresentou o projecto Girl Out Loud, que coordena na Guiné-Bissau junto das populações femininas e que procura replicar em França para a diáspora feminina guineense.O projecto, criado em 2017 na Colômbia e replicado na Guiné-Bissau em 2020 visa "criar um espaço de meninas para meninas, com objectivo de terem um espaço para poderem expressar assuntos que lhes dizem respeito", desde a utilização de métodos contraceptivos, à violência doméstica, ao casamento precoce ou forçado... Vários são os temas abordados. "Na Guiné-Bissau, é muito difícil encontrar famílias que tenham o hábito de falar com os seus filhos à volta da intimidade e sexualidade. Então as crianças procuram um refúgio, as adolescentes falam com colegas sobre as dúvidas que têm", expõe Lizidória Mendes, coordenadora deste projecto que conta também com actividades de empoderamento económico e que conta actualmente com cerca de 70 meninas. Em França há quatro meses no âmbito de um mestrado em sociologia focado em estudos de género, Lizidória Mendes explora questões ligadas à participação cívica das mulheres, e mais especificamente à volta dos impactos da lei da paridade, adoptada na Guiné-Bissau em 2018. Um tema sobre o qual publicará um livro em Maio deste ano.A escritora e estudiosa guineense foi convidada a este evento organizado pela associação Cap Magellan também enquanto lusófona e guineense na diáspora. A propósito do termo "lusofonia", Lizidória Mendes considera que existe na comunidade uma conexão através da língua e da cultura. "Para mim, a lusofonia tem que ser vista na perspectiva da conexão, da língua, da cultura. Porque é só assim que nos podemos aproximar. Foi o que este evento conseguiu fazer porque não foi feito só a pensar nas pessoas nascidas em Portugal", considera a escritora guineense. Comunidades lusófonas: um passado comum Em 2025, logo após os cinquenta anos da Revolução de Abril, celebram-se as independências luso-africanas. Uma data comum a várias nações, que não terá sido vivida da mesma forma por todos, mas que representa um elo histórico partilhado por todos os países lusófonos de Africa e por Portugal. Marta Bernardino é historiadora lusodescendente, nascida em Bruxelas de pais portugueses e tem como área de predilecção a história colonial e pós-colonial. Em que medida é que a sua origem lusodescendente terá influenciado a escolha do percurso académico e profissional? "Tem a ver numa certa medida com as conversas que tinha com o meu pai, que me falava da história colonial e principalmente das guerras coloniais. Foi algo que impactou quase todas as famílias portuguesas, inclusive a dele", recorda a investigadora. Apesar de trabalhar sobre a história colonial belga na República Democrática do Congo, Marta Bernardino confronta-se também com questões ligadas à lusofonia e nomeadamente à questão de saber o que liga todas as comunidades lusófonas em França, que sinergias existem e o que as liga entre si para além da língua portuguesa. A história colonial, este passado comum a Portugal e às antigas colónias é algo que, cinquenta anos depois, ainda influência as nossas formas de ser e de pensar, de acordo com a historiadora. E neste contexto, a lusofonia, "espaço cultural e multicultural fantástico", diz Marta Bernardino, "consegue reunir comunidades diversas". "O primeiro ponto que liga as comunidades lusófonas entre si é a história. O passado colonial e pós-colonial faz com que haja uma grande ligação entre todas estas comunidades, há um passado comum, seja ele qual for. As pessoas vão transmitindo geração após geração e acho que são principalmente essas memórias que fazem com que haja uma ligação", considera a historiadora.Precisamente devido a esta bagagem comun, "é importante conseguirmos ter um diálogo apaziguado sobre este passado e compreender os dois pontos de vista" diz ainda a investigadora ligada à Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. Espaços e vivências comuns Também presente no evento, a antropóloga Sónia Ferreira trabalhou sobre o conceito de "invisibilidade" da comunidade dos emigrantes portugueses em França. Uma invisibilidade que, diz a investigadora, pode ser replicada no contexto das diásporas luso-africanas em França. Já entre si, as diásporas de língua portuguesa vão-se cruzando, seja em espaços lúdicos como associações ou espaços administrativos, ou mesmo em espaços profissionais. Em França há por exemplo uma grande presença cabo-verdiana, chegada nos anos 60 e vinda através de Portugal como porta de entrada na União Europeia, assinala a antropóloga portuguesa. "No mercado de trabalho, por exemplo na construção e obras públicas, sabemos que havia trabalhadores lusófonos, nomeadamente portugueses e cabo-verdianos. O que acontece é que em termos associativos, cada grupo constrói as suas próprias redes", explica Sónia Ferreira.A língua, a história e uma certa ideia da cultura são portanto factores comuns às nações lusófonas. Mas as diferenças que as separam são inúmeras. Afrodescendentes e lusodescentes não têm as mesmas experiências da emigração, recorda a filósofa e investigadora em estudos Afro-Queer Luisa Semedo."Existe uma duplicidade. Pegando por exemplo na questão do racismo. É uma realidade que os portugueses podem viver de certa forma mas não séao tão racializados como os luso-africanos", realça a também cronista no jornal Público sobre temas ligados às minorias e à extrema-direita. E no entanto, por ironia histórica, "os portugueses já viveram muitas coisas que vivem neste momento pessoas árabes ou negras. Houve uma fase da história em que a comunidade portuguesa estava em conjunto com comunidades estrangeiras a lutar contra o racismo", recorda Luísa Semedo.Recorde-se por exemplo, em França, os "bidonvilles" ou bairros de lata onde viviam emigrantes portugueses que nos anos 1960 fugiam da ditadura salazarista e ali estavam aglutinados. O bidonville de Champigny-sur-Marne chegou a ver habitar 14 mil pessoas naquele período. "A partir do momento em que Portugal entrou na União Europeia [em 1986], os portugueses passaram a estar numa outra categoria da emigração. Como se os portugueses já não pudessem ser alvo de discriminação ou de racismo", considera a investigadora e titular de um doutoramento em filosofia. A experiência da emigração é portanto outro ponto comum entre Portugal e países luso-africanos como Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau. A relação entre ex-colonizador e ex-colonizado é por vezes menos conflituosa do que aquela que França entretém com a Argélia ou com os países francófonos de Africa Ocidental. "A raíz do racismo, sexismo, homofobia... é a mesma em todo o mundo"Luísa Semedo aproveitou a intervenção no painel intitulado "Liberdade e igualdade: luta contra o racismo, xenofobia e discriminações, luta pela igualdade dos géneros, movimentos feministas e defesa dos direitos LGBTQIA+" para alertar sobre a vulnerabilidade crescente destes direitos, aludindo directamente à extremização de vários poderes políticos pelo mundo.O perigo, segundo Luísa Semedo, vem do facto de todas estas discriminações terem uma raíz comum. "A raíz do racismo, do sexismo, da homofobia é a mesma quer estejamos em Portugal, quer estejamos em França. É aliás por isso que estamos tão fascinados com o que acontece nos Estados-Unidos, porque sabemos que nos vai tocar também a nós", considera. Durante este evento, a associação de jovens lusodescentes Cap Magellan distribuiu um formulário a todos os participantes com o objectivo de recolher informações e testemunhos anónimos sobre as comunidades lusófonas a viver em França.Perguntas como "é favorável a uma maior presença da língua portuguesa no sistema educativo francês?" ou "considera que a comunidade lusófona (família, associações, imprensa) é inclusiva para com as pessoas LGBTQIA+?". Os dados resultantes deste formulário serão depois transmitidos a instituições francesas e portuguesas, para que estas respondam melhor às necessidades e às vivências das comunidades lusófonas em França.
A escritora Maria Teresa Horta, uma das “Três Marias” do livro revolucionário “Novas Cartas Portuguesas”, morreu esta terça-feira, aos 87 anos. Há um ano, Maria Teresa Horta recordava à RFI como essa obra fez tremer a ditadura, num programa que aqui voltamos a publicar. O livro “Novas Cartas Portuguesas”, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, foi uma revolução que, em 1972, ajudou a denunciar o regime ditatorial português ao mundo. A obra foi apreendida e as “Três Marias” foram para tribunal. A 5 de Fevereiro de 2024, aos 86 anos, Maria Teresa Horta recebeu a RFI na sua casa em Lisboa e falou-nos sobre os tempos em que as suas palavras tiveram um “efeito de bomba” sobre o fascismo. Um programa feito no âmbito dos 50 anos do 25 de Abril, em que a RFI falou com vários resistentes ao Estado Novo. “Eu acho que, naquela altura, em Portugal, não era nada estranho que este livro fosse tivesse esse efeito de bomba”, começa por dizer Maria Teresa Horta. E, de facto, o livro Novas Cartas Portuguesas, escrito por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, teve o “efeito de uma bomba” durante o Estado Novo. Foi uma revolta sem armas que ajudou a denunciar o regime fascista português ao mundo.A obra foi publicada em 1972 e, pouco depois do lançamento, a primeira edição foi recolhida e destruída pela censura, dando origem ao processo judicial das “Três Marias”, movido pelo Estado português. A ditadura considerou o livro como “insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública” e as autoras estavam ameaçadas com uma pena entre seis meses a dois anos de prisão.Em causa, uma obra literária em que as mulheres falavam sem tabus do seu corpo, do desejo, mas também da violência e do estatuto social e político inferior de que eram vítimas. Denunciavam, também, a guerra colonial, a pobreza, a emigração, a violação sexual, o incesto, o aborto clandestino. O livro era, por isso, um perigo para o regime repressivo, retrógrado e fascista português e fez tremer o tecido político e social do país.Este livro, para mim, continua a ter o efeito da claridade. Naquela altura, num país fascista em que, na realidade, todos nós tínhamos uma tristeza intrínseca, uma revolta interior imensa, e exterior, nós só demos por que este livro até poderia ser perigoso, entre aspas, para nós, depois de ele ter sido proibido e ter havido aquilo tudo.As autoras de Novas Cartas Portuguesas já tinham publicado livros que considerados ousados no que toca àquilo que era esperado das mulheres. Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno tinham lançado, em anos anteriores, livros que denunciavam a opressão e a secundarização da mulher: Maina Mendes (1969) e Os Legítimos Superiores (1970). Em 1971, Maria Teresa Horta também publicava Minha Senhora de Mim e desafiava a moral e os bons costumes do regime fascista com uma escrita revolucionária e erótica. Por causa da sua poesia, Maria Teresa Horta foi perseguida pela PIDE, violentamente espancada por três homens e foi parar ao hospital. Em vez de a calar, o episódio bárbaro foi um motor de revolta e incitou a escrita de Novas Cartas Portuguesas. “É um livro político, essencialmente político, feito num país fascista"“Quanto mais me proíbem, mais eu faço”, resume Maria Teresa Horta na sua sala estofada de livros, em Lisboa. O livro “parte de uma realidade horrível” que foi simplesmente esta: “No tempo do fascismo, eu fui espancada na rua pelos fascistas”. Depois, no encontro semanal com as amigas Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno, ela contou-lhes o que aconteceu e, na semana seguinte, surge o primeiro texto de Novas Cartas Portuguesas. Assim começava a aventura literária e política desta obra escrita a seis mãos.A partir daqui partem as ‘Novas Cartas Portuguesas'. O começo é este. É muito importante. Não é um começo intelectual. É, na realidade, aquilo que o livro tem de mais interessante porque é realmente um livro de ficção, porque é realmente um livro intelectual, mas se for ver bem - e não é preciso vasculhar muito - é um livro político, essencialmente político, feito num país fascista.Em Maio de 1971 começa o processo de escrita do livro que durará nove meses. Em Abril de 1972 eram publicadas as Novas Cartas Portuguesas, pela editora Estúdios Cor, sob a direcção literária de Natália Correia, a escritora que em 1966 tinha sido condenada a três anos de prisão com pena suspensa pela publicação da Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, considerada “ofensiva dos costumes”. Ou seja, a obra que faz tremer o regime é escrita por três mulheres e editada por outra mulher. “Se a mulher se revolta contra o homem, nada fica intacto”, lê-se numa das cartas...“O livro foi feito por três mulheres e publicado por outra mulher e, naquela altura, estamos a falar de fascismo. Era fascismo puro e não havia mais ninguém que fosse capaz de fazer uma coisa dessas [publicar o livro] a não ser uma mulher”, acrescenta Maria Teresa Horta, lembrando que “as mulheres eram consideradas perigosas” se fugissem ao que se esperava delas socialmente.Recuemos no tempo: naquela altura [passaram pouco mais de 50 anos], na escola, a quarta classe apenas era obrigatória para os rapazes e os conteúdos curriculares reproduziam a lógica de submissão da mulher à esfera do lar e ao marido. Várias profissões estavam vedadas às mulheres, como a magistratura, a aviação e as forças de segurança. As discriminações salariais estavam consagradas na lei e o marido podia ficar com o ordenado da mulher e até proibi-la de trabalhar. Em 1946, o direito de voto foi alargado às mulheres chefes de família, mas retirado às mulheres casadas; o Código Civil de 1967 definia a família como chefiada pelo marido; era proibido o divórcio no casamento católico; a mulher precisava de autorização do marido para pedir passaporte e sair do país e a violência sobre as mulheres e as crianças não era criminalizada.Não espanta, por isso, que a censura se tenha apressado a retirar e a proibir Novas Cartas Portuguesas pouco depois da publicação. A seguir, “foi uma loucura”. Maria Teresa Horta recorda-se de ter sido surpreendida, na televisão, pelas palavras do presidente do Conselho, Marcello Caetano, no programa “Conversa em Família”. A poeta estava, precisamente, em família e ficou incrédula com o que ouviu.Marcello Caetano estava a fazer a ‘Crónica em Família', como se chamava e, de repente, diz: ‘Mas hoje tenho outra coisa a dizer: há três mulheres que não são dignas de ser portuguesas, Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa, que publicaram um livro que é uma vergonha para qualquer português'... Extremamente indignada, foi aí que Maria Teresa Horta percebeu que “isto vai dar um sarilho desgraçado”. Mas foi muito mais do que um sarilho. Foi a tal bomba contra o regime e respondeu a uma das perguntas que as autoras deixam no livro “O que podem as palavras?” Vitória literária e política contra a ditaduraDepois da censura, da proibição e do processo judicial instaurado contra Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa, surgiu uma enorme solidariedade que ultrapassou fronteiras e desencadeou protestos em vários países. Depois de banido, o livro foi imediatamente traduzido em França, Itália, Alemanha, Estados Unidos e é, até hoje, uma das obras portuguesas mais traduzidas em todo o mundo.Em França, Simone de Beauvoir, Marguerite Duras e Christiane Rochefort promoveram várias acções de luta, como a distribuição de panfletos, recolha de assinaturas para um abaixo-assinado entregue na Embaixada de Portugal em Paris e uma procissão das velas diante da Catedral de Notre-Dame. Também nos Estados Unidos e na Suécia se realizaram manifestações de apoio às “Três Marias”, e, nos Países Baixos, houve mulheres a ocuparem a Embaixada de Portugal. Em Junho de 1973, em Boston, na Conferência Internacional da National Organization of Women, em que participaram cerca de 400 mulheres, a luta das “Três Marias” constituiu-se como “a primeira causa feminista internacional”. Outro momento emblemático foi a leitura-espectáculo, a 21 de Outubro de 1973, “La Nuit des Femmes”, no Palais de Chaillot, em Paris, que deu origem ao documentário “Les Trois Portugaises” Delphine Seyrig (1974).A primeira sessão do julgamento decorreu no Tribunal da Boa Hora, em Lisboa, em Julho de 1973. No dia seguinte, começavam as férias judiciais, por isso, durante três meses as escritoras não voltaram ao tribunal. O início oficial ficou marcado para 25 de Outubro e a imprensa internacional estava de olhos postos nas “Três Marias”.Após sucessivos incidentes e adiamentos, o julgamento acabou por não acontecer graças à Revolução dos Cravos. Poucos dias depois do 25 de Abril de 1974, a 7 de Maio, a sentença foi lida, determinando a absolvição das “Três Marias”. O juiz Acácio Lopes Cardoso defendeu, então, que “o livro não é pornográfico, nem imoral” mas sim “obra de arte, de elevado nível, na sequência de outros que as autoras já produziram”.Para a história, ficou uma vitória literária e política de um livro escrito por três mulheres, com textos que cruzam poesia, romance, ensaio, contos e cartas, esbatendo noções de autoria e géneros literários e denunciando todos os temas censurados em plena ditadura.
A tendência é para o crescimento, considera presidente da Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa. Actualmente são 55 mil as empresas com capitais portugueses em França. Edição Isabel Gaspar Dias
Sessão em Paris para esclarecer muitas dúvidas dos portugueses em França sobre onde, como e quando pedir a reforma, tanto a francesa, como a portuguesa. Edição Isabel Gaspar Dias
As crises políticas na Alemanha e em França são o tema deste episódio. Gonçalo Moura Martins e António Ramalho explicam as diferenças entre as duas maiores economias da zona euro, analisam o impacto da atual instabilidade no resto da Europa e apontam incertezas quanto à forma como vão conseguir encontrar soluções.
Caiu o regime de Bashar al-Assad na Síria, o paradeiro do presidente é incerto. Governou o país durante 24 anos, reprimindo de forma sangrenta uma rebelião que se transformou em guerra. A Turquia congratula-se com vitória dos rebeldes islâmicos e com o fim de cinco décadas do governo do partido Baath. De momento ainda são mais as perguntas do que as respostas, mas “Rússia, Irão e Coreia do Norte são três dos grandes perdedores da queda do regime na Síria”, afirma Nuno Rogeiro. Na Europa, está instalado o grande mistério romeno, com o Tribunal Constitucional a declarar nula a primeira volta das eleições presidenciais, vencida por um candidato pró-russo. Em França, a reconstrução de Notre Dame reuniu em Paris vários líderes políticos, com especial foco no encontro entre Zelensky e Trump, mediado por Macron. Na Ucrânia a guerra continua, a caminho de mais um triste Natal marcado pelo conflito. Em Kharkiv a cidade ofereceu alguma esperança às crianças que passam a vida em escolas subterrâneas. Ouça a análise de Nuno Rogeiro na versão podcast do programa Leste/Oeste, emitido na SIC Notícias a 8 de dezembro e conduzido pela jornalista Nelma Serpa PintoSee omnystudio.com/listener for privacy information.
O regime sírio está em risco sério de cair e na guerra da Ucrânia já se sabe: “Não se pode confiar em Putin". Barnier não conseguiu “reanimar” a política francesa e o caos instala-se na Europa.See omnystudio.com/listener for privacy information.
No Antes Pelo Contrário em podcast, Pedro Delgado Alves e José Eduardo Martins debatem a possibilidade de Portugal voltar a ter um candidato presidencial proveniente das Forças Armadas, na figura de Gouveia e Melo. Em França, o governo de Michel Barnier caiu após uma moção de censura aprovada pela coligação de esquerda Nova Frente Popular, com apoio da extrema-direita. Emmanuel Macron, que não pode ser deposto pela Assembleia Nacional, prometeu continuar no cargo até 2027. Agora, os franceses e o resto do mundo esperam para ver que novo executivo sairá desta nova crise. O Antes Pelo Contrário foi emitido a 05 de dezembro.See omnystudio.com/listener for privacy information.
O Natal chegou! O Pai Biden perdoou o filho e Le Pen aguarda um presente eleitoral debaixo do sapatinho na sequência da queda do governo francês.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Neste episódio analisamos o acordo alcançado para colocar um ponto final no mecanismo de capital contingente que está em vigor no Novo Banco desde que este foi vendido ao fundo norte-americano Lone Star, projetando qual será o futuro desta instituição financeira. Na segunda parte analisamos a crise política em França, ainda sem desfecho conhecido, que está também a lançar a incerteza junto dos mercados. Com o diretora Diana Ramos e o editor de Economia Paulo Ribeiro Pinto. Hugo Neutel é o anfitrião.
Bombeiros sapadores de várias regiões do país protestaram em Lisboa contra o Governo, enquanto sindicatos e o executivo negociavam. Os petardos, tochas e cordão policial furado levaram à interrupção das discussões. Como pode o Governo chegar a acordo com os bombeiros? Houve um falta de respeito pelas instituições? Em França acentua-se a crise política, com uma moção de censura ao governo de Michel Barnier aprovada. Que repercussões existirão na Europa e em Portugal? A análise de Miguel Prata Roque e Miguel Morgado no Linhas Vermelhas, em podcast, emitido a 4 de dezembro na SIC NotíciasSee omnystudio.com/listener for privacy information.
Edição de 05 Dezembro 2024
O correspondente da SIC em Telavive diz que o ataque a adeptos israelitas foi preparado com antecedência e diz não entender a razão que leva o secretário-geral das Nações Unidas, a propósito do que se passou em Amesterdão, a falar em antissemitismo e fanatismo anti-muçulmano. Na próxima quinta-feira, joga-se o França-Israel, em Paris, para a Liga das Nações. Em França estão as maiores comunidades de judeus e muçulmanos, o jogo é de alto risco.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Em França: o Teatro de Avignon e o Teatro da Política.
O governo completou 100 dias no poder, sem saber quantos mais lá estará. No verão prepara-se o outono e os preparativos incluem o fandango de uma troca de galhardetes marialva: “atreve-te!”, diz um; “não penses que tenho medo!”, responde o outro. Enquanto isso, a Procuradora-Geral da República, que não gosta de “espalhafato”, deu a primeira entrevista desde que está no cargo. Não admite erros na actuação do Ministério Público, não tem desculpas a pedir e abriu guerra ao poder político. Em França, “c'est le bordel”, sem perspectivas de uma solução de governo. E Joe Biden, cercado pelos seus próprios correligionários, continua a resistir. Mesmo chamando Putin a Zelensky e Trump a Kamala.See omnystudio.com/listener for privacy information.
O estado da Justiça, de Biden e da França em análise no Eixo do Mal em podcast, com Daniel Oliveira, Luís Pedro Nunes, Pedro Marques Lopes e Clara Ferreira Alves. À mesa desta emissão de quinta-feira está a entrevista à procuradora-Geral da República, que disse que António Costa continuará sob investigação e que o Ministério Público se considera vítima de uma "campanha orquestrada". Em França, a Nova Frente Popular foi a vencedora e assegurou 182 deputados na Assembleia Nacional, seguida pela coligação de Macron, com a União Nacional de LePen a cair para terceiro lugar. O Eixo do Mal foi emitido na SIC Notícias a 11 de julho.See omnystudio.com/listener for privacy information.
A Nova Frente Popular conseguiu 182 lugares nas eleições de França. O Juntos, 168, e a União Nacional, que ficou em terceiro, conseguiu 143. O que aconteceu para este resultado que surpreendeu, na verdade, não só os franceses, mas toda a Europa? Que responsabilidades tem agora a Nova Frente Popular com este resultado? Terminou ontem a Cimeira da Nato, em Washington, com promessas de reforço de ajuda à Ucrânia, isto numa semana marcada por um violento ataque da Rússia à Ucrânia, que visou um hospital pediátrico em Kiev. Um dos pontos de interesse nesta Cimeira foi também a prestação de Joe Biden. Nos últimos dias, começaram a surgir apelos de figuras democratas a pedirem que o presidente dos EUA desista da corrida. Nancy Pelosi foi um dos mais recentes.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Incêndio deflagrou na catedral de Rouen em Françae81680e1-903f-ef11-86c3-000d3a43e68
Em França ninguém sabe quem vai governar, nem o Presidente, que escreveu uma carta aos franceses pedindo-lhes paciência para que os partidos se entendam. No partido de Macron querem um governo do centro-esquerda à direita, deixando os extremos livres para fazerem oposição até às presidenciais de 2027. Neste episódio, conversamos com Clara Ferreira Alves, colunista no Expresso e comentadora na SIC.See omnystudio.com/listener for privacy information.
O resultado surpreendente das eleições legislativas deixou a Assembleia Nacional francesa bloqueada. Quem pode ser o próximo primeiro-ministro? A análise de Vítor Gabriel Oliveira, da SEDES.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Hermano Sanches Ruivo destaca o alívio dos franceses após a derrota da extrema-direita. Paulo Dentinho fala dos desafios de Macron e das posições díspares entre o França Insubmissa e os socialistas.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Eleições em França. Novo governo trabalhista no Reino Unido. Edição de Mário Rui Cardoso.
See omnystudio.com/listener for privacy information.
Uma eleição dramatizada e a resistência no Festival de Avignon. Na crónica de Francisco Sena Santos.
Uma eleição que hoje está a transformar-se em referendo. Na crónica de Francisco Sena Santos.
Hoje é dia de eleições em França. No Reino Unido há eleições na quinta-feira. E em novembro Presidenciais nos EUA, mas o kick-off começou já esta semana com o primeiro debate entre os candidatos.