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Quando o Brasil decidiu salvar a Amazônia? No novo livro de Claudio Angelo, com colaboração de Tasso Azevedo, os autores contam como, entre 2005 e 2012, o Brasil promoveu uma redução sem precedentes nos níveis de devastação da Amazônia. Com uma extensa pesquisa documental e mais de 200 entrevistas, Claudio Angelo e Tasso Azevedo detalham esse processo até o momento presente de enfrentamento à crise climática. Neste episódio, Paulina Chamorro conversa com o autor do livro e jornalista Claudio Angelo (inclusive, foi colaborador do Vozes do Planeta durante anos), que conta os bastidores da elaboração e compartilha reflexões importantes após se debruçar na história recente da Amazônia.
Ter um filho é complicado, ninguém quer lançar meu livro, será que só me resta plantar uma árvore? O Vrau Cast recebe hoje o engenheiro florestal Tasso Azevedo, que descobrimos não ser o responsável pelo projeto e execução das obras da Floresta Amazônica e da Tijuca. Mas o que um engenheiro florestal faz, afinal? Aparentemente fala bastante sobre o aquecimento global e desmatamento, dando a entender que a nossa batata tá assando. Mas não se preocupe, informamos que nenhuma árvore foi cortada, machucada ou ofendida neste episódio. #vraucast ELENCO Caíto Mainier Rafael Saraiva PATICIPAÇÃO ESPECIAL Tasso Azevedo ROTEIRO Caíto Mainier Gustavo Vilela Rafael Saraiva DIREÇÃO Bianca Frossard ENTRE NO CANAL DO PORTA NO WHATSAPP https://bit.ly/ZapdoPorta BAIXE O APP DO PORTA Android: http://bit.ly/2zcxLZO iOS: https://apple.co/2IW633j APROVEITA E VAI NO NOSSO SITE https://portadosfundos.com.br/
Este episódio tem o patrocínio da Vivo. Acesse: vivosustentavel.com.br--As florestas tropicais prestam vários serviços à humanidade: elas absorvem e armazenam quantidades enormes de carbono e impedem um aumento ainda maior das temperaturas do planeta. Elas regulam o ciclo da água, liberando vapor que alimenta rios e lençóis freáticos. Além disso, mantêm a biodiversidade de plantas, animais e microorganismos. Enfim, são serviços dos quais todos se beneficiam, mas pelos quais poucos pagam.Não é de hoje que se buscam mecanismos econômicos para compensar países que mantêm florestas, e alguns deles estão em vigor. Mas, apesar desses esforços, o desmatamento ainda é uma realidade. Recentemente, o governo brasileiro apresentou à comunidade internacional uma nova ideia, batizada de Tropical Forests Forever Facility. Em linhas gerais, esse fundo tomaria emprestado recursos de governos de países ricos, organismos multilaterais e investidores institucionais a uma taxa de juro relativamente baixa e investiria em um portfólio de retorno mais alto. O rendimento excedente seria destinado a países que hospedam florestas tropicais.Neste episódio, eu converso com Tasso Azevedo, uma das vozes brasileiras mais respeitadas quando o assunto é floresta. Tasso foi diretor do Serviço Florestal Brasileiro e conselheiro no Ministério do Meio Ambiente, na época em que o Brasil reduziu drasticamente o desmatamento e contribuiu, como nunca um país havia feito, para a redução de emissões de gases do efeito estufa.Tasso foi um dos idealizadores do Fundo Amazônia. Mais recentemente, ele e colegas do Instituto Igarapé e da BVRio sugeriram, por meio da iniciativa Amazônia 2030, a ideia de outro mecanismo inovador para preservar florestas.Parte da ideia de Tasso está refletida na atual proposta do governo brasileiro, que está sendo apresentada a países e investidores, mas também há algumas diferenças cruciais. Nesta conversa, Tasso fala sobre os prós e contras dessas propostas e, de forma mais geral, sobre a difícil tarefa de criar incentivos que funcionem em grande escala para pagar pelos serviços das florestas.-- O EDF é publicado quinzenalmente às quintas. Para contribuir para uma conversa mais construtiva sobre o clima, encaminhe esse podcast para alguém. Para entrar em contato, escreva para: podcast@economiadofuturo.com-- Veja a proposta completa do Tasso Azevedo e seus colegas para um mecanismo de financiamento das florestas tropicais aqui.Support the show
No episódio #134 do podcast do InovaSocial, recebemos Tasso Azevedo, fundador e coordenador do MapBiomas, para uma conversa sobre as mudanças climáticas, o mapeamento dos biomas brasileiros e a conexão das comunidades da Amazônia. Tasso compartilha insights valiosos sobre o impacto do desmatamento, as consequências da perda de cobertura vegetal e como a governança colaborativa pode ajudar a reverter o cenário atual. Uma conversa essencial para quem quer entender melhor a relação entre clima, tecnologia e impacto social. Links relacionados: Site oficial do MAP Biomas Site oficial do projeto Conexão Povos da Floresta Podcast #114: As mudanças climáticas e o futuro da humanidade Podcast #93: A inclusão de idiomas indígenas nas plataformas da Motorola
O Provocast desta semana recebe o engenheiro florestal e empreendedor social Tasso Azevedo. Ele é fundador do MapBiomas. No bate-papo com Marcelo Tas, Azevedo fala sobre o ponto de ruptura climático, o problema com o aumento de temperatura, a energia elétrica no Brasil e a empresa que lidera. Segundo o engenheiro, o Brasil está entre os cinco países que mais emitem gases no mundo Você confere tudo isso e muito mais nesta entrevista!
The following is a conversation between Tasso Azevedo, founder and General Coordinator of MapBiomas, and Denver Frederick, the Host of The Business of Giving.
This podcast is a commentary and does not contain any copyrighted material of the reference source. We strongly recommend accessing/buying the reference source at the same time. ■Reference Source https://www.ted.com/talks/tasso_azevedo_hopeful_lessons_from_the_battle_to_save_rainforests ■Post on this topic (You can get FREE learning materials!) https://englist.me/106-academic-words-reference-from-tasso-azevedo-hopeful-lessons-from-the-battle-to-save-rainforests-ted-talk/ ■Youtube Video https://youtu.be/Wk2LR0IDmJo (All Words) https://youtu.be/t_mfu7ym8qY (Advanced Words) https://youtu.be/IpvWUSzYzLA (Quick Look) ■Top Page for Further Materials https://englist.me/ ■SNS (Please follow!)
O UOL Entrevista desta segunda-feira (29) recebe Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. A entrevista é conduzida pela apresentadora do Fabíola Cidral e pelos colunistas do UOL Leonardo Sakamoto e Tales Faria
Em um tema em que as más notícias se transformaram na regra nos últimos anos, 2022 trouxe uma série de alertas particularmente flagrantes sobre a emergência climática – mas também sobre as incoerências entre o discurso e as práticas para combater as mudanças do clima. Já em fevereiro, a guerra na Ucrânia levou a Europa para um cenário de incertezas sobre o futuro do abastecimento de gás natural russo, até então crucial para países como a Alemanha, a Hungria e a Eslováquia. Mas como a transição energética rumo ao fim dos combustíveis fósseis está mais lenta do que deveria, diversos países não viram outra alternativa a não ser ativar as usinas a carvão, as mais nocivas para o meio ambiente. Face ao risco de apagões e de ficar sem aquecimento nos meses de frio, os europeus deixaram de lado os compromissos ambientais e as promessas de acabar com as centrais a carvão até 2030. Estas usinas respondem por mais de 40% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, que provocam o aquecimento global. Até os países menos dependentes do gás, como a França, dona da mais vasta rede de usinas nucleares da Europa, também não conseguiram evitar o retrocesso. Para Neil Makaroff, coordenador da seção Europa da Rede Ação pelo Clima, hub de organizações ambientais francesas, o contexto geopolítico deveria representar uma oportunidade para o bloco: "Diante da crise exacerbada pela guerra na Ucrânia, a energia nuclear pode parecer uma solução, ao não emitir CO2. Mas não podemos esquecer que para construir uma central nuclear, precisamos de 15 a 20 anos. Por demorar tanto, essa opção não atende aos nossos objetivos climáticos até 2030, de reduzir pelo menos 55% das nossas emissões até o fim da década”, explica. “A única solução facilmente aplicável e barata são as energias renováveis, eólica, solar e biogás. Elas precisam decolar para substituir o gás, o petróleo, mas também o carvão russos." Calorão mais cedo, intenso e persistente Na sequência, como um golpe de ironia do destino, o verão castigou os europeus com temperaturas historicamente elevadas, as segundas mais altas desde o início das medições, em 1900. Os termômetros começaram a subir já em maio, algo totalmente excepcional. Privada de gás, a Europa passou a conviver também com racionamento de água e com incêndios florestais fora de controle, levando a graves prejuízos agrícolas. Em dois meses, a França teve 33 dias de calor além dos padrões. O agricultor francês David Peschard, instalado em Loir-et-Cher, na região central do país, jamais tinha vivido uma situação parecida. “Algumas plantações não estão recebendo água suficiente. Podemos ser otimistas e achar que é apenas uma fase e que voltaremos a períodos mais úmidos. Mas, se enfrentarmos essa situação com frequência, será necessário nos adaptarmos rapidamente”, observa. “Infelizmente, temos uma lição a aprender, e estamos aprendendo muito lentamente. O milho, por exemplo, está condenado a nã ser mais cultivado na nossa região", lamenta. No continente africano, a seca prolongada nas regiões do Sahel e do Chifre da África, além de países como Quênia e Nigéria, acentuou a insegurança alimentar. O Unicef alerta que mais de 20 milhões de crianças africanas chegaram ao fim do ano sob a ameaça da fome e da sede devido às mudanças climáticas, à falta de cereais, aos conflitos e à inflação mundial. Paquistão sob a água A elevação das temperaturas globais também leva ao aumento dos fenômenos extremos como enchentes, que devastaram o Paquistão em agosto. O país teve um terço de seu território inundado, com 33 milhões de pessoas atingidas. As chuvas de 2022 foram quase três vezes mais fortes do que a média dos últimos 30 anos, segundo levantamento da ONU. Em seguida, veio o outono mais quente registrado em décadas na Europa – para mostrar, mais uma vez, que algo está errado com o clima do planeta. Em outubro, os termômetros marcaram de 3 a 7 graus acima do normal para a estação. Em entrevista ao Planeta Verde, o economista ambiental Matthieu Glachant avaliou que, em relação à tomada de consciência sobre o problema, haverá um antes e um depois de 2022. "Eu acho que foi importante o que aconteceu porque, do nada, a mudança climática se transformou em uma experiência pessoal. Há muito tempo, conhecemos os relatórios do IPCC que nos alertavam sobre tudo isso – até que chegamos no momento em que as previsões se realizaram diante dos nossos olhos”, constatou. "Acho que isso provocará um verdadeiro impacto nos cidadãos e, por consequência, nos políticos." No Brasil, foco no desmatamento Já no Brasil, na área ambiental, foram os recordes de desmatamento e queimadas, sempre atualizados para pior durante o governo de Jair Bolsonaro, que continuaram a ocupar as manchetes no país e internacionais. Meses como setembro e outubro foram os piores registrados em 12 e sete anos, respectivamente. No período de um ano, 11,6 mil km² da Amazônia foram desmatados, o segundo pior índice desde 2009, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “O desmatamento está crescente nos últimos quatro anos e está se propagando por lugares onde não ocorria antes. A gente não via fogo em grandes quantidades na região de Lábrea, por exemplo, ou no sul do Amazonas. Não era um tema naquela região”, apontou Tasso Azevedo, coordenador-geral do Mapbiomas, plataforma de referência no monitoramento de queimadas. “É um crescimento consistente que é resultado dos sinais que são dados no nível federal que, no fundo, diz que vai acabar com as punições e vai reinar a impunidade em relação aos crimes ambientais.” Esse quadro tem consequências não só para o clima, mas também para a economia. Em 2022 o Brasil deu um passo a mais rumo à perda de mercados para as suas exportações de matérias-primas, em represália à política ambiental destrutiva. Em dezembro, a União Europeia chegou a um acordo sobre uma nova lei para proibir a compra de produtos oriundos de áreas de florestas desmatadas ilegalmente. A medida atinge em cheio alguns dos carros-chefes do comércio internacional brasileiro, como a carne, a soja e a madeira. “É uma legislação muito bem-vinda e esperada por toda a comunidade de cientistas e socioambientalistas. De forma transversal, vejo que o grande impacto vai ser minar a pressão de especulação de terras no Brasil”, disse o cientista de uso da terra Tiago Reis, coordenador na América do Sul da Trase, uma iniciativa internacional especializada em rastrear a origem e o destino das matérias-primas no comércio mundial. “De 90 a 99% do desmatamento global de 2015 a 2019 foi para a agropecuária. Mas de 35 a 55% desse desmatamento foi improdutivo, ou seja, ele foi motivado pela perspectiva de lucro com a venda da terra, de olho nos preços futuros das commodities agropecuárias. Quando a UE define que não vai importar produtos de áreas desmatadas, ela está dizendo que essa terra não vai mais valer tanto assim, já que vai encontrar restrições de mercado”, salientou Reis. Neste contexto, a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em outubro, foi a melhor noticia ambiental do ano para o Brasil. Em sua primeira viagem internacional após o pleito, Lula foi à Conferência do Clima da ONU em Sharm el-Sheikh, no Egito (COP27), anunciar ao mundo o seu comprometimento com a preservação da maior floresta tropical do planeta. “Não há segurança climática para o mundo sem uma Amazônia protegida. Não mediremos esforços para zerar o desmatamento e a degradação de nossos biomas até 2030”, ressaltou. “Os crimes ambientais, que cresceram de forma assustadora durante o governo que está chegando ao fim, serão agora combatidos sem trégua.” Outra boa notícia para o país foi a eleição de duas deputadas indígenas, Sônia Guajajara e Célia Xacriabá, importantes defensoras das causas dos povos originários. “Estaremos juntas, comprometidas com a bancada do cocar, para fortalecer o futuro Ministério dos Povos Indígenas [a ser chefiado por Guajajara]. Se nós somos a solução número 1 para conter as mudanças climáticas, como afirma a própria ONU, nós queremos e precisamos marcar presença nos outros ministérios: no Meio Ambiente, na Cultura, na Educação”, afirmou Célia à RFI, em uma conversa em Sharm el Sheikh. “Nós chegamos para ‘mulherizar' e ‘indigenizar' a política, porque onde existe indígena, existe floresta.” COP27 tem avanço para países pobres, mas falha em responder à altura os desafios A conferência ambiental mais importante do ano ocorreu em novembro. O evento resultou na decisão de criar um financiamento específico para os países em desenvolvimento serem compensados, com recursos das nações desenvolvidas, pelas perdas e danos já sofridos devido às mudanças do clima – uma demanda história dos países pobres. Por outro lado, a conferência, abalada pelos efeitos da guerra na Ucrânia e realizada em um país que deixa a desejar na pasta ambiental, falhou ao paralisar os esforços por reduções de emissões de CO2 e encaminhar a diminuição do uso de combustíveis fosseis. Nos dois aspectos, essenciais para o cumprimento do Acordo de Paris, o texto final da COP27 apenas manteve o que já havia sido acordado na conferência anterior, em Glasgow.
A presença do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva na COP27 (Conferência do Clima na ONU), no Egito, animou ambientalistas e a comunidade internacional, ao levar uma mensagem de forte comprometimento com os objetivos ambientais do Brasil, a começar pelo desmatamento zero nos biomas no país. Entretanto, os resultados das promessas não devem começar a aparecer tão cedo – a herança deixada pelo atual governo inclui cofres vazios e índices alarmantes de “desmatamento contratado”, que entrarão no balanço do primeiro ano do governo Lula 3. Lúcia Müzell, da RFI Na plenária da conferência, em Sharm el-Sheikh, o petista prometeu retomar as ações de monitoramento e controle da devastação das florestas, principais formas de combate a ilegalidades como grilagem, ocupação irregular de terras pelo agronegócio, garimpo e exploração ilegal da madeira na Amazônia. “Não precisamos desmatar sequer um metro de floresta para continuarmos a ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo”, defendeu. A diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade, Ana Toni, celebra a mudança de postura do Brasil na COP, mas pondera que o futuro governo levará tempo para consertar o estrago deixado por Jair Bolsonaro na pasta ambiental. “A gente está vendo que não são só os brasileiros que estão vendo para o futuro, mas é a comunidade internacional inteira olhando para o Brasil com o olhar do futuro. A expectativa é muito grande, mas as pessoas têm que entender, dentro e fora do Brasil, que o desmatamento da Amazônia para o ano que vem já foi contratado pelo governo Bolsonaro, além de que ele e todos os grileiros têm ainda dois meses para continuar desmatando”, salienta. “O desmatamento da Amazônia vai continuar muito alto no ano que vem por ser um legado de Bolsonaro, que o Lula não conseguirá impedir. A gente vai começar a ver as mudanças no outro ano.” Tasso Azevedo, coordenador da plataforma MapBiomas, explica que o desmatamento do período de um ano é medido entre agosto e julho do ano seguinte. “O sistema de detecção mensal está indicando que o desmatamento em agosto, setembro e outubro foram recordes históricos, e novembro será recorde histórico porque o que tivemos nos 10 primeiros dias de novembro já é maior do que qualquer outro mês de novembro inteiro. Ou seja, teria que ter um esforço muito grande nos próximos seis meses de Lula para se poder empatar ou diminuir o desmatamento”, afirma. Orçamento apertado O problema é que a retomada da fiscalização de uma área vasta como a Amazônia vai esbarrar na falta de recursos. O Projeto da Lei Orçamentária Anual enviado pelo atual Executivo ao Congresso prevê que o Ministério do Meio Ambiente terá R$ 2,96 bilhões disponíveis no próximo ano, o que significa 6,4% a menos que em 2022, num contexto em que a pasta só perdeu verbas ao longo do mandato de Bolsonaro. “Tem uma série de coisas possíveis de se fazer, que acontecem no âmbito infralegal, com decretos. Se a gente fizer desocupação de terras indígenas, com ações que demonstrem claramente que é isso que vai acontecer daqui para a frente, e se fizermos o embargo remoto de todas as áreas desmatadas ilegalmente, a gente começa a trocar o sinal da expectativa de impunidade”, pontua Azevedo, lembrando que 98% do desmatamento no país é ilegal. “O maior problema que a gente tem agora é que, literalmente, o orçamento foi desmontado. Não existe, basicamente orçamento para nada na parte ambiental, no próximo ano”, lamenta. Retomada do Fundo Amazônia O texto da PEC (Projeto de Emenda Constitucional) da Transição sobre o Orçamento, enviado ao Congresso na semana passada, prevê que as despesas com projetos socioambientais ou relativos às mudanças climáticas custeadas por recursos de doações poderão romper a regra do teto de gastos, em vigor no país. Na mira, estão os R$ 3,6 bilhões do Fundo Amazônia, bloqueados pelos seus dois maiores financiadores internacionais, Noruega e Alemanha, depois que o desmatamento voltou a subir em 2019. Esse dinheiro poderá ser a solução para o futuro governo Lula começar a combater, já em janeiro, as ilegalidades na maior floresta tropical do mundo. “Infelizmente, os últimos quatro anos foram de chantagem, de o Brasil dizer que só vai fazer o dever de casa se nos pagassem para isso. Agora, o Brasil vai fazer o dever de casa, quer cooperação, mas não condiciona proteger as suas florestas a que nos paguem”, ressaltou a ex-ministra Marina Silva, que tem colaborado na transição de governo e desempenhou um verdadeiro papel de líder da pasta do Meio Ambiente durante a COP27. A deputada federal eleita teve encontros com delegações dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Canadá, Noruega, Banco Mundial, Banco Interamericano e instituições de filantropia voltada para o meio ambiente “que querem colaborar com o Brasil”. “Obviamente que muitos países estão mobilizados par anos ajudar. Nós estamos indicando o Fundo Amazônia como o desaguador inicial dessa cooperação, para que a gente possa mobilizar muito rapidamente os recursos em várias direções, inclusive o combate ao desmatamento”, salientou. Lula havia prometido anunciar durante a COP27 o nome de quem assumirá o Ministério do Meio Ambiente, mas acabou adiando a decisão. Marina Silva ressalta que o foco agora está do trabalho da equipe de transição e na composição de um ministério composto por especialistas e técnicos reconhecidos, “para apresentar resultados já nos primeiros 100 dias de governo”.
Cientistas do clima e ambientalistas reiteram a importância dos resultados das eleições no Brasil, país que guarda 60% da floresta amazônica. Os temas ambientais ganharam destaque no discurso da vitória do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que vai herdar instituições enfraquecidas e um orçamento debilitado para a tarefa gigantesca de combate às queimadas que impactam diretamente nos planos climáticos de todo o planeta. Maria Paula Carvalho, da RFI “Ele se comprometeu a retomar o protagonismo do Brasil frente à crise climática, lutar pelo desmatamento zero na floresta amazônica, combater os crimes ambientais, criar um ministério para tratar dos direitos dos povos indígenas e retomar a cooperação internacional para proteger a Amazônia e ajudar o Brasil nessa tarefa que não vai ser fácil”, analisa Carlos Rittll, especialista em política internacional da Rain Forest Foundation, da Noruega. “É uma mudança de 180 graus em relação ao que o governo Bolsonaro apresentou, entregou e implementou”, completa. “O presidente Bolsonaro declarou guerra contra as florestas, os povos indígenas e as leis ambientais. Ele permitiu que a Amazônia fosse dominada pelo crime organizado ambiental, que agiu com impunidade durante quatro anos, desmantelou políticas ambientais e os planos de desmatamento”, acrescenta Rittll. Para a consultora ambiental internacional, advogada e professora universitária baseada na Espanha Laura Magalhães, o Brasil precisa voltar à liderança da luta contra a crise climática. “Lula recebeu o convite da organização da COP27, a conferência para o clima que será realizada a partir de 6 de novembro, o que demonstra o interesse internacional de que ele esteja presente nessas discussões”, destaca. “Falando sobre dados do governo Lula, tivemos uma redução considerável em termos de desmatamento, de fome, das questões relacionadas à violência, que, infelizmente, no governo Bolsonaro, houve o inverso em termos estatísticos”, ela completa. Lula, que já confirmou presença na COP do Egito, vai assumir a presidência num momento em que a taxa de desmatamento na Amazônia está em alta. “Nos primeiros períodos de [o governo] Lula, houve uma redução acumulada de 70% do desmatamento, entre 2003 e 2010. Depois, continuou caindo no governo Dilma e, no governo Temer, começou a subir discretamente. Mas no governo de Bolsonaro, o desmatamento cresce 70%”, explica Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas. “O que temos hoje é um não-governo na área ambiental, que, além de não fazer nada, ainda opera contra”, sublinha Azevedo. “[Um próximo governo] Deve mudar a forma de tratar os indígenas, os maiores protetores das florestas, que estiveram abandonados durante quatro anos. Temos expectativa de um novo tempo”, ele declara. O papel do Brasil na Cúpula do Clima Lula deverá aproveitar a COP27 em Sharm El-Sheikh para reforçar ao mundo seu compromisso com a agenda ambiental. O petista foi chamado para integrar a comitiva do governador do Pará, Helder Barbalho, em nome do Consórcio de Governadores da Amazônia Legal. O convite para ir ao evento foi reforçado pelo presidente do Egito, Abdel Fatah al-Sissi. De acordo com o porta-voz da presidência egípcia, Al-Sissi espera que o Brasil desempenhe um papel "positivo e construtivo" na cúpula. Aliada de Lula, a ex-ministra do Meio Ambiente e deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP) já havia afirmado que a equipe de Lula pretendia levar para a COP27 uma proposta de revisar os objetivos nacionais de emissão de gases do efeito estufa, com a intenção de tornar mais ambiciosa a meta brasileira. Até o momento, não está prevista a ida do presidente Jair Bolsonaro para a COP27, o que demonstra uma transição acentuada nos planos ambientais do Brasil. “A expectativa está indo no sentido inverso, com compromisso com o desmatamento zero e a volta de uma agenda de clima, como se estivéssemos dando um cavalo de pau para ir para outro lado, o lado em que o Brasil já esteve”, analisa Tasso Azevedo. “O Brasil vinha construindo uma posição e uma estruturação de política ambiental desde a Constituição de 1988, passando por todos os governos”, observa. “Esses quatros anos serviram para mostrar que essa agenda da sustentabilidade, do clima e da Amazônia seja, talvez, o principal softpower do Brasil, junto com o combate à fome. É um tema que é transversal, que está em todo o lugar. Quando o Brasil cuida bem da Amazônia, é percebido com seriedade”, avalia. Fortalecer as instituições de monitoramento e controle do desmatamento deveria ser uma prioridade, na opinião de Laura Magalhães. “Quando falamos em instituições democráticas, eficazes e em transparência, o que tivemos no governo Bolsonaro foi um fechamento dessas relações internacionais, que culminou com uma desconfiança em termos gerais desse governo”, diz. “Já com o governo Lula, que historicamente sempre foi aberto ao diálogo, a expectativa é positiva", ela estima. "Um exemplo prático vem da Noruega, que no dia 31 de outubro declarou que voltará a contribuir para o Fundo da Amazônia, que estava paralisado desde 2019 dentro do governo Bolsonaro, por causa da extinção de colegiados de gestão”, explica a especialista em sustentabilidade. Órgãos de monitoramento denunciam que a extração de madeira e os incêndios florestais cresceram no Brasil nos últimos anos e alertam que a Amazônia começou a liberar mais carbono do que absorve. Ninguém esquece, tampouco, a atuação do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que ocupou o posto entre janeiro de 2019 e junho de 2021 e agora foi eleito deputado federal por São Paulo, e que ficou marcado por propor "passar a boiada" durante uma reunião ministerial. Em contraponto ao que vem sendo feito, o plano de governo da chapa formada por Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) trouxe propostas para combater o "uso predatório dos recursos naturais" e o estímulo às "atividades econômicas com menor impacto ecológico". O documento também promete que o novo governo pretende frear "o crime ambiental promovido por milícias, grileiros, madeireiros e qualquer organização econômica" e "cumprir as metas assumidas na Conferência de 2015 em Paris". Belo Monte sofreu críticas Um olhar para o passado, no entanto, mostra que Lula também foi bastante criticado por ambientalistas em diversos momentos do seu mandato, por supostamente priorizar grandes obras de infraestrutura, em vez da preservação ambiental. Entre os projetos questionados estão as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia, onde ambientalistas alertavam, à época, para os impactos na fauna, na flora e nas comunidades indígenas. “Ao longo da campanha eleitoral, Lula esteve com indígenas que foram impactados por grandes obras de infraestrutura, e espera-se que essas contradições sejam enfrentadas de início, e não quando os projetos estiverem já na mesa, perto de receber recursos”, acredita Carlos Rittll. A Usina Hidrelétrica de Belo Monte, construção autorizada no governo Lula e concluída na gestão da presidente Dilma Rousseff, foi outro ponto que gerou discórdia. “Em Belo Monte, eu tive oportunidade de participar de processos de auditoria ambiental, e a questão é a manutenção e o nosso olhar crítico sobre esses órgãos de fiscalização e controle”, explica Laura Magalhães. “O professor [e economista] Sérgio Besserman Vianna é categórico em dizer que sem sustentabilidade não há economia”, enfatiza. “A degradação ambiental e o agravamento das questões climáticas interferem diretamente na vida das pessoas. Se não há saúde e acesso a serviços públicos básicos, como a garantia da segurança alimentar ou acesso a saneamento básico, a gente não consegue ter uma força de trabalho produtiva que gere riqueza para o país”, analisa a professora de direito ambiental. Nascida em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e doutora em direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Laura trouxe sua experiência prática para oferecer soluções inovadoras de gestão, aprendizagem e métodos organizacionais para a sustentabilidade a empresas espanholas que atuam no Parque Tecnológico da Galícia. Ela também critica a polarização política existente atualmente em nível mundial. “Em resumo, o que temos no mundo é uma polarização entre um bloco progressista e uma ala mais conservadora que pensa em desenvolvimento, em estado mínimo, em um desenvolvimento que paga um preço alto que são as questões sociais e ambientais importantes”, analisa. Para um terceiro mandato como presidente, Lula prometeu levar desenvolvimento sustentável às comunidades que vivem na região amazônica. E aposta nas boas experiências do passado. Foi durante a gestão do petista que nasceu a política nacional sobre a mudança do clima, e que o Brasil assumiu, pela primeira vez, metas de redução de emissões de gases do efeito estufa e do desmatamento. Lula, entretanto, não vai encontrar a mesma situação de quando chegou ao poder em 2003, e o Ministério do Meio Ambiente já era atuante e havia modificado leis, aumentando as regras de proteção de florestas dentro de propriedades privadas, o novo Código Florestal. “Agora ele vai encontrar um pós-terremoto na agenda ambiental do Brasil, instituições muito enfraquecidas ocupadas por pessoas que não têm compromisso com o combate ao crime ambiental e com a proteção de povos indígenas”, alerta Rittll. “A cooperação internacional pode ter um papel muito forte, em especial em 2023. Que vai ser um ano de arrumar a casa e livrar a agenda ambiental dos escombros deixados por uma gestão devastadora que foi o governo Bolsonaro”, conclui.
A destruição da Amazônia se acelera neste segundo semestre, com um mês de setembro que já tem as piores queimadas da floresta em 12 anos, conforme novos dados revelados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Também a área ocupada ilegalmente pelo garimpo nunca foi tão grande, quase dobrando entre 2010 e 2021, apontou o Mapbiomas na semana passada. Lúcia Müzell, da RFI Esses e outros números refletem o que pode ser o apagar das luzes do governo que “passou a boiada” da regulamentação e fiscalização ambientais. Para ficar na analogia feita pelo ex-ministro do Meio Ambiente em plena pandemia, agora, a porteira pode estar prestes a se fechar – e os atores que protagonizam a ilegalidade nos biomas brasileiros aceleram para conquistar novas terras. “A gente não via fogo em grandes quantidades na região de Lábrea, por exemplo, ou no sul do Amazonas. Não era um tema naquela região, e a gente está vendo um fogo que as pessoas nunca viram antes. Tem uma nova frente de desmatamento muito grande por ali, especialmente no entorno da estrada que liga Porto Velho a Manaus, a BR-319”, explica Tasso Azevedo, coordenador-geral do Mapbiomas, plataforma de referência no monitoramento de queimadas em tempo real. “Nesse ano, particularmente, como o desmatamento está crescente, tem bastante material combustível. Nesses lugares, a gente está vendo muito fogo.” Recorde atrás de recorde Os recordes de queimadas se sucedem a registros igualmente alarmantes de desmatamento em agosto – um processo é a sequência do outro, no ciclo da ocupação ilegal de terras da Amazônia. O sistema Deter do Inpe mostrou que, em um ano, a devastação aumentou 81%. No acumulado de janeiro a meados de setembro, os incêndios já superam o total registrado em 2021. O ambientalista João Paulo Capobianco, presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), lembra que, historicamente, o desmatamento tende a crescer em época eleitoral, em consequência ao relaxamento da atenção aos crimes ambientais no período. “Os únicos anos em que isso não aconteceu foram nos anos de atuação reforçada do PPCDAM (Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia), em 2005, 2009 e 2013. Em geral, existe uma correlação, mas o que nós estamos vendo neste ano é uma explosão”, ressalta. “Há uma perspectiva de que não haverá punição, portanto ocorre uma espécie de liquidação, ou seja, os agentes grileiros, principalmente, correndo para tentar obter a maior área possível de grilagem.” ‘Revogaço' à vista Existe a expectativa de que a direção poderá mudar 180° em um eventual governo com Lula, que assumiu um conjunto de propostas de Marina Silva para a pauta ambiental. O candidato já antecipou a intenção de promover um “revogaço” de medidas do governo Bolsonaro, que deve incluir instruções normativas, decretos e portarias ambientais. “Isso está levando a uma verdadeira correria por lá, uma espécie de Black Friday do desmatamento. É uma coisa inacreditável, mas infelizmente, nós estamos verificando isso mesmo”, salienta Capobianco. Anulação do cancelamento de multas ambientais, reforço do Ibama e o ICMBio, aceleração das verificações dos Cadastros Ambientais Rurais, embargo comercial das áreas suspeitas de desmatamento ilegal, desobstrução de áreas indígenas invadidas por garimpo e de exploração ilegal. O rol de medidas que podem estar na mira do revogaço é amplo. “É um pouco o fim de festa. Se o presidente Bolsonaro for reeleito, temos a tranquilidade de que qualquer coisa que a gente faça agora não será penalizada. Mas se há uma alternância de poder, então é a nossa última chance de criar o fato consumado e depois contar com algum tipo de anistia que vai acontecer mais à frente", observa Azevedo. Entretanto, em caso de mudança de presidente, o clima não vai mais ser tão favorável para a redução do desmatamento quanto foi nos primeiros anos do governo Lula, salienta Capobianco. “Na época, houve um certo efeito surpresa, com uma ação muito incisiva e rápida do governo, integrada, com vários ministérios. Hoje, espera-se que haverá muita reação, por parte de lideranças que tiveram muitas vantagens nesses últimos três anos e vão querer mantê-las”, frisa o presidente do IDS, que coordenou a criação do PPCDAM em 2003. “Há também a questão da liberação do acesso a armas, que permitiu que as armas se espalhassem de forma descontrolada no Brasil inteiro e na Amazônia em particular. E a criminalidade, de forma geral, aumentou muito na Amazônia”, lamenta. Para saber mais, ouça o podcast
Estudo lançado na terça-feira (3) pelo MapBiomas - uma rede de ONGs, universidades e start-ups que estuda a transformação ambiental no território brasileiro - faz um alerta sobre a possível adoção pela União Europeia (EU) da definição de florestas usada pela FAO, a Agência da ONU para a Agricultura, para evitar a importação de produtos que causam desmatamento. Caso esse conceito seja adotado, 3 milhões de quilômetros quadrados de vegetação nativa ficariam desprotegidos. Ambientalistas temem que essa área equivalente a mais de cinco vezes o tamanho da França seja alvo de desmatamento para agricultura e pecuária. “O estudo avaliou o quanto de ecossistemas da América do Sul ficariam protegidos com o escopo da lei europeia, que é a definição de floresta da FAO,” explica Jean-François Timmers, da WWF Brasil, co-autor do estudo. De acordo com a definição da agência, uma floresta é um terreno cujo índice de densidade da cobertura arbórea é superior a 10 % e que tem superfície maior que 0,5 hectares. As árvores devem atingir uma altura mínima de 5 metros quando maduras. "Mas há muitos ecossistemas que não estão dentro dessa categoria e que têm um amplo valor biológico e também são muito ameaçados pela expansão da agricultura e da produção de commodities”, alerta. O especialista mostra que nem sempre é possível pensar em “classificações fechadas”, quando falamos da natureza, pois “há muitos ambientes intermediários”. Em geral, “você tem transições entre os diversos ecossistemas que dificultam esse limite do que é floresta ou não”, diz Timmers. “Outra coisa importante, é que esses ecossistemas dependem um do outro. Não há um valor maior para um ecossistema porque ele tem árvores maiores, já que você pode ter um ecossistema baixo, mas com uma grande riqueza de plantas, como orquídeas e plantas endêmicas, além de fauna endêmica”, acrescenta. É o caso do pantanal, um patrimônio da Humanidade, lar de jacarés, onças e jaburus, que tem apenas 24% de sua área coberta por florestas que atendem à definição da FAO. O assunto ganha relevância diante do desafio climático e de uma crise sem precedentes de extinção de espécies. Evitar a expansão do desmatamento sobre os ecossistemas restantes no planeta deveria ser uma prioridade. Iniciativa da EU é um primeiro passo Ainda que a iniciativa europeia seja um avanço para evitar a entrada no bloco de produtos oriundos do desmatamento, os esforços ainda não são suficientes, explica Tasso Azevedo, coordenador-geral do MapBiomas. “Nesse estudo, nós pegamos os sete principais biomas da América do Sul, Amazônia, Cerrado, Chaco, Pantanal, Pampa, Mata Atlântica e Caatinga e, para cada um deles, aplicamos qual seria a área protegida do bioma, para que não houvesse desmatamento, ou os produtos não entrariam na Europa”, explica. “E vimos que cerca de 30% desses sete principais biomas não seriam protegidas. Ou seja, se houvesse desmatamento nessa área que não entra na definição da FAO, não haveria problema para os produtos entrarem na Europa. Essa é a questão central”, alerta. De acordo com Tasso Azevedo, 16% da Amazônia ficaria de fora das ações de proteção; 25% do Chaco, 70% do Pampa, do Pantanal e do Cerrado. Já no caso da Caatinga, mais de 90% não teriam qualquer proteção. A solução, explicam os ambientalistas, seria considerar todos os ecossistemas naturais remanescentes e que já são bem mapeados. “Muitas vezes, quando se fala do Brasil no exterior se pensa na Amazônia. E ela é realmente um grande desafio global de conservação. Mas você tem o Cerrado, o Pampa, o Pantanal e a Caatinga que são ecossistemas muito valiosos e que não estão no radar”, reforça Jean-François Timmers. Expandir a agricultura sem desmatar Além das florestas, esses outros biomas, incluindo campos naturais e as savanas, também estocam muito carbono. Porém, diferentemente das florestas, o acúmulo de carbono se dá abaixo da terra. Para um dos autores do estudo, o desafio atual é inspirar o setor econômico a ter um compromisso com a eliminação do desmatamento nas cadeias produtivas. “Até hoje, não existe na Europa uma restrição legal sobre a importação de produtos oriundos de desmatamento. A legislação europeia em discussão introduz uma inovação muito importante de você criar uma demanda de mercado para fazer expansão agrícola sem desmatar”, explica Timmers. “E existe possibilidade para isso. No Cerrado, uma terra apta a expansão de soja, dá para duplicar ou triplicar a produção sem cortar uma árvore”, destaca. A legislação proposta pela EU, ele explica, “cria um precedente para que o sistema alimentar global, aos poucos, possa se tornar sustentável, se diversificar e ser eficiente sem destruir os ecossistemas que sobraram”. No entanto, se não houver uma adaptação das normas, o risco é de haver ainda mais pressão sobre os biomas que não estão contemplados na lei.
Entramos no mês de dezembro e o Vozes do Planeta está na reta final de 2021. Neste episódio do podcast, Paulina Chamorro entrevista Tasso Azevedo, do Mapbiomas, sobre os últimos dados do desmatamento publicados pelo INPE, nos quais outros números assustadores são revelados, como a quantidade de árvores derrubadas por dia no bioma amazônico. Paulina conversa também com Juliana Aguilera, jornalista do Modefica. Ela conta sobre um relatório que relaciona o consumo de couro em marcas de luxo com o desmatamento na Amazônia. Começa agora o primeiro diálogo do final de ano do Vozes do Planeta. Vamos nessa?
Quer entender o funcionamento do mercado de carbono, as problemáticas que envolvem a Amazônia e a relação entre política e meio ambiente? Dê o play! Com acordos assinados por diversos países -- incluindo o Brasil, a COP26 terminou neste final de semana em Glasgow. O texto final da conferência é alvo de críticas e questionamentos por parte de ativistas, que não ficaram satisfeitos com o resultado. Nesta edição do Conversas com o Meio, o coordenador do Observatório do Clima, Tasso Azevedo, analisa a atual política ambiental brasileira e explica os resultados produzidos pela COP26.
Coordenador do MapBiomas cita alta preservação pelas comunidades originárias e explica que água e energia estariam garantidas a preços mais baixos com o freio do desmatamento
Desmatamento, mudanças climáticas, criação de represas privadas e falta de preservação de mananciais têm dificultado que a água venha dos oceanos e caia em forma de chuva. O resultado disso é que da década de 90 até os dias de hoje, o Brasil perdeu quase 16% da água doce do território nacional. Para falar sobre a relação destes fatores com o agronegócio, a repórter Mariana Grilli (@grillimari) conversa com Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, responsável pelo estudo.
Ondas de calor extremo, tempestades, secas históricas... estes e outros eventos já se tornaram frequentes no mundo todo. E a culpa é nossa. Neste episódio do podcast Isso É Fantástico, você vai ouvir como as queimadas prejudicam o ecossistema das florestas, principalmente no Pantanal, que pode até secar. Ele é, proporcionalmente, o bioma que mais sofre com o fogo no país. Lá, os incêndios se propagam com muita facilidade por causa da riqueza de matéria orgânica no solo. Na Amazônia, o problema são as consequências drásticas que os incêndios criminosos causam na produção agropecuária, a influência no aumento do aquecimento global e o que podemos fazer para evitar a piora desse cenário também são tema da conversa. O mais preocupante é que a Amazônia está deixando de retirar gás carbônico da atmosfera e passando a emitir, tamanha é a devastação no maior patrimônio florestal do país. Renata Capucci recebe a repórter Sônia Bridi, que estreia a série 'Brasil: Colapso Ambiental', e o coordenador do Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil, o MapBiomas, Tasso Azevedo, para falar sobre a responsabilidade das ações humanas no aumento da temperatura da Terra. Isso é Fantástico.
Tasso Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima, fala sobre os destaques do evento e as perspectivas para o país daqui em diante
Em 2019, as emissões de gases de efeito estufa no Brasil, grandes responsáveis pelo aquecimento global, tiveram seu maior aumento anual desde 2003. O país jogou na atmosfera uma quantidade de gases equivalente às emissões anuais de todos os 1,4 bilhão de carros em circulação no planeta. E, segundo monitoramento do Observatório do Clima, as emissões de gases de efeito estufa no Brasil estão intrinsecamente ligadas à dinâmica de uso da terra, em especial ao desmatamento: quando aumenta o desmatamento, aumentam as emissões. No ano passado, os índices de desmatamento atingiram recorde na Amazônia. As projeções para 2020 apontam que o recorde de 2019 será batido. Soma-se a isso, as queimadas no Pantanal, Cerrado e outros biomas. Neste episódio, Monalisa Perrone conversa com o coordenador da MapBiomas e ex-diretor do Serviço Florestal Brasileiro, Tasso Azevedo, sobre a gestão ambiental brasileira e seus efeitos, além da pressão internacional para uma mudança de rumos nas políticas de preservação do meio ambiente. See omnystudio.com/listener for privacy information.
Preserving the Amazon rainforest is critical not only because of the incredible biodiversity there, but also the Amazon's role in meeting global climate targets. Join Buzz Thompson for a conversation with Tasso Azevedo -- former forestry manager and social environmental entrepreneur who has dedicated most of his career to preserving the Amazon rainforest -- to hear more about how deforestation in the Amazon affects regional and global climate, how we can better value all of the ecosystem services the Amazon provides, and how we can discourage deforestation by making informed consumer choices. Azevedo was the first chief and director general of the Brazilian Forest Service. Under Azevedo's innovative leadership, the rate of deforestation in the Amazon decreased by 75%, and Brazil's greenhouse gas emissions decreased by 35%. Azevedo has spearheaded efforts to annually map land use and land cover changes in the Amazon. This project has become the longest and most detailed effort to monitor and map changes in land cover and land use in any country in the world. His work has inspired similar efforts around the world.
Ele é um especialista em Amazônia, e o Mapbiomas, uma das ONGs mais respeitadas que trabalham na região. Tasso ajudou a viabilizar o Fundo Amazônia em 2008. Quem se beneficia com o desmatamento na Amazônia? Para o governo seria um processo normal comandado por caboclos e índios que procuram limpar suas terras. Tasso aborda a questão e dá a sua versão.
A antropóloga Aparecida Vilaça e o engenheiro florestal Tasso Azevedo, da rede MapBiomas, discutem as ameaças ao nosso maior bioma e à sua população, em especial indígena: Covid, garimpo, fogo e grilagem. As soluções em vista envolvem tecnologia, redes colaborativas e saberes tradicionais.
Neste episódio, Tasso Azevedo apresenta os modelos de exploração que aconteceram até agora na Amazônia. Alguns deram certo, outros fracassaram. Outros foram criminosos. E há ainda os que talvez contenham as melhores oportunidades, mas nunca foram tentados. Tasso fala sobre todos eles. Mais importante, porém, são as pinceladas sobre o futuro: a transformação da Zona Franca de Manaus em uma zona franca da sustentabilidade; o cluster do tambaqui (e também do pirarucu, tucunaré, ...), que pode fazer nossa Amazônia produzir riquezas como o salmão cria no Chile; a oportunidade de projetarmos o negócio gastronômico da Amazônia como uma marca de alto valor intrínseco transferido para seus insumos; o turismo experiencial que só o ambiente amazônico permite, com viagens ao passado, ao conhecimento nativo e à natureza inexplorada. Nessa conversa com o Tasso, passamos por projetos bem intencionados, projetos fracassados e, mais importante, vimos que as melhores oportunidades ainda estão para serem tentadas. A Amazônia é promissão brasileira. Ou, se quiserem, o nosso Silicon Valley que preserva e gera vida além de riquezas para serem distribuídas.
O tamanho da área da Amazônia sob alerta de desmatamento bateu recorde no mês de junho. O Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), usado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apontou uma área de 1.034 km². Para especialistas ouvidos pela RFI, a linha de desmatamento é ascendente e sem sinais de reversão. O resultado é 10% maior do que o registrado no mesmo mês do ano passado e 24% maior do que em maio, que já havia sido um recorde para o período. Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, uma iniciativa de entidades encarregadas de analisar os alertas de desmatamento gerados por satélite, destaca a constância dos avisos. “Todos os meses, desde maio do ano passado, têm havido desmatamentos superiores ao mesmo período do ano anterior. Então, estamos num período de aceleração do desmatamento que não acontecia de forma contínua, assim, desde o final dos anos 1990, início dos anos 2000”, calcula. “Os 1.034 km² que tivemos no mês de junho equivalem a cem mil campos de futebol em apenas um mês, ou um pouco mais de cem campos de futebol por hora que foram desmatados nesse período. É uma quantidade muito grande de desmatamento e ele ocorre, basicamente, para a conversão da floresta para uso agropecuário”, completa. O problema é que, depois de usadas, muitas dessas áreas acabam sendo desprezadas. “86% daquilo que foi destruído e desmatado na Amazônia foi abandonado ao longo dos últimos 30 anos ou ocupado por pastagens de baixíssima produtividade”, explica Carlos Rittll, pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados em Sustentabilidade de Potsdam, na Alemanha. “Quem desmata tem um lucro imediato, depois abandona aquela área e fica um passivo para sociedade, pois ela não é aproveitada. Há casos de menos de um boi por hectare, um boi num campo de futebol”, compara. No acumulado do semestre, os alertas do INPE indicam sinais de devastação em 3.069,57 km² da Amazônia. Isso equivale a um aumento de 25%, em comparação com o primeiro semestre de 2019. Atividade especulativa O sistema Deter indica às equipes de fiscalização onde pode estar havendo crime ambiental. “Quando a gente cruza esses dados com as autorizações, áreas protegidas, vemos que a vasta maioria desse desmatamento está acontecendo de forma ilegal. Aproximadamente de 95 a 99% têm fortes elementos de ilegalidade”, afirma Tasso Azevedo, acrescentando que, como toda atividade ilegal e especulativa, o desmatamento também vive de expectativas. “Se eu tiver uma perspectiva baixa de ser pego e de sofrer consequências, ser penalizado, e eu tenho uma expectativa alta de me beneficiar daquele ato ilegal, ou seja, eu consigo vender o meu produto, consigo regularizar a terra, eu estou criando condições para que o desmatamento aumente”, afirma. “Se eu quiser parar o desmatamento, eu tenho de parar as expectativas. Eu tenho de gerar expectativas de que você será pego e levado às consequências, pagar multa, recuperar os danos etc., e que você não vai conseguir se beneficiar; não vai receber créditos, nem vender o seu produto”, acrescenta. “E por que não está acontecendo isso agora no Brasil? Porque todos os elementos que existem montados para fazer com que esse final seja dado, no sentido correto, foram sendo, de diferentes formas, contidos ou colocados na direção contrária”, conclui. Carlos Rittl acredita que o aumento da área em alerta de desmatamento tem relação com os sinais emitidos pelo Planalto, através de suas políticas públicas. “O desmatamento continua em alta. A gente tem dois meses de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), com soldados do Exército, em tese, combatendo crime ambiental, ao custo de R$ 60 milhões por mês - e diga-se, entre parênteses, que dois meses deste custo seriam suficientes para pagar os salários de mil agentes ambientais do Ibama por um ano. Mesmo com a GLO, mesmo com Exército, o desmatamento continua subindo”, diz. Para Rittll, o governo brasileiro não tem demonstrado um compromisso de combate ao crime ambiental. “Há um incentivo, ou pelo menos no discurso do governo, quando o presidente constrange os órgãos ambientais, quando o ministro do Meio Ambiente demite o chefe de fiscalização do Ibama e outros agentes que estavam combatendo a invasão de terras indígenas e o desmatamento provocado pelo garimpo ilegal; quando se reúnem com madeireiros ilegais, quando recebem pressão da bancada ruralista e mandam para o Congresso projetos de lei para tornar o que é ilegal em legal, eles estão dando uma mensagem muito clara. Quem comete crime ambiental se sente respaldado por Brasília”, observa. Em resposta aos dados publicados, o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, que comanda o Conselho da Amazônia, disse em entrevista que o recorde de alerta de desmatamento na região, em junho, ocorreu porque as ações do governo federal começaram “tarde”. O mercado cobra Em encontro recente com empresários, Mourão criticou o que considera ser uma campanha difamatória contra o agronegócio do país. Brasília enfrenta pressão de investidores para reduzir a devastação da floresta, enquanto empresários cobram ações concretas que garantam a melhoria nos indicadores de desmatamento e queimadas. No mês passado, um grupo de fundos internacionais de investimento, que gerenciam cerca de R$ 20 trilhões em recursos, enviou carta aberta às embaixadas brasileiras de oito países (Estados Unidos, Japão, Noruega, Suécia, Dinamarca, Reino Unido, França e Holanda) para tratar da questão ambiental. No texto, eles manifestaram preocupação com o aumento do desmatamento no Brasil e apontaram uma incerteza generalizada sobre as condições para investir e fornecer recursos financeiros ao país. O movimento aconteceu depois da divulgação da gravação de uma reunião ministerial do governo Bolsonaro, ocorrida no dia 22 de abril. Nela, o ministro brasileiro de Meio Ambiente, Ricardo Salles, sugere ao presidente que, com a atenção da imprensa voltada para a Covid-19, o momento seria propício para passar reformas. “Nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, declarou Salles. “Existe um total descontrole do desmatamento e todo e qualquer discurso do governo dizendo que está agindo é mera retórica diante dos fatos e dos dados, porque os satélites não mentem”, observa Carlos Rittll. “É preciso reconhecer que esse não é um problema de direita e de esquerda. Não é um problema político, ideológico. É um problema prático”, adverte Tasso Azevedo. O coordenador do MapBiomas explica que “o Brasil é um país dependente desses recursos naturais, seja para a geração de energia, com sua dependência das hidroelétricas, seja para o motor da economia atual, o agronegócio, ou seja, ainda, pela economia como um todo, pois mesmo fatores que não têm relação direta com a floresta estão sendo afetados”. Para Carlos Rittll, o que está em jogo é a imagem do Brasil. “O desmatamento vem muito associado à violência contra comunidades extrativistas, povos indígenas, pequenos produtores e agricultores familiares. Tudo isso, associado ao desmatamento, aos dados e as imagens de queimadas e destruição, é muito prejudicial para a imagem do Brasil e para a reputação das empresas brasileiras que estão exportando”, afirma. “Ninguém quer que o seu negócio acabe gerando lucro e leve para prateleiras europeias produtos ligados à devastação da Amazônia, violência contra povos indígenas e aumento de emissões de gases de efeito estufa. E é isso que o governo Bolsonaro tem gerado”, acrescenta. Acordo UE-Mercosul Há um ano, a União Europeia e os países do Mercosul fecharam o maior acordo entre blocos econômicos da história, e que deveria impulsionar fortemente o comércio entre as duas regiões. Carlos Rittll destaca que “nesse acordo está o compromisso de não retrocesso ambiental, de combate ao desmatamento, de respeito aos povos indígenas e implementação do acordo de Paris. Mas estamos na contramão desse caminho”. “É por isso que eurodeputados do parlamento europeu se manifestaram de forma crítica, após o vídeo da reunião ministerial em que o ministro Ricardo Salles fala, de maneira imoral, de aproveitar a pandemia e atenção da mídia aos mortos para ‘passar a boiada’, ou seja, para enfraquecer leis e desregulamentar muita coisa. Os parlamentares disseram que há um risco para a implementação do acordo por causa do Brasil”, analisa Rittll. “A imagem do Brasil já vinha péssima no ano passado e ela se consolida, cada vez mais, como a de um país que é um pária ambiental no mundo, um dos grandes inimigos do meio ambiente no planeta”, observa. Taxa anual deve ser mais alta A estimativa é de que a taxa oficial de desmatamento, medida de agosto de 2019 a julho deste ano, seja ainda maior do que a registrada no período encerrado no ano passado, até então a maior em 11 anos. “No período que consideramos o período anual do desmatamento, em que se contabilizam os dados anuais e que vai de agosto até julho do outro ano, o crescimento projetado, atualmente, gira em torno de 60%. Então, quando forem divulgados os dados do desmatamento entre 2019 e 2020, deveremos ter um desmatamento bem superior ao desmatamento de 2019, que já foi bem superior ao de 2018. Estamos, infelizmente, num processo de aceleração do desmatamento sem sinais de retração”, diz. O Brasil já fez melhor Quem defende o meio ambiente no Brasil fortalece sua esperança no fato de que o país já conseguiu ter melhores resultados na proteção às florestas antes, mesmo em tempos de crise, e sem detrimento da economia e do agronegócio. “A taxa caiu, entre 2004 e 2012, em mais de 80% com ações de comando, controle e fiscalização. E neste período, a economia do Brasil cresceu, inclusive o PIB agrícola do país cresceu, demonstrando que existe uma dissociação entre o desmatamento e o benefício econômico que esse desmatamento traz para o país”, observa Carlos Rittll, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados em Sustentabilidade. “Da mesma forma como a gente aprendeu a controlar a inflação, lá em 1990, e até hoje a gente usa os instrumentos que foram implementados de controle fiscal, de ajuste fiscal e controle da moeda, a mesma coisa a gente sabe fazer para o desmatamento”, completa Tasso Azevedo. Potência ambiental Atualmente, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking do desmatamento mundial. Os dados de 2019 mostram que o país devastou mais florestas do que a área desmatada pelos outros dois países que o acompanham no topo da lista, Congo e Indonésia, juntos. Isso ocorre no momento em que poderia estar aproveitando seus ativos naturais para se tornar uma superpotência ambiental do século 21, frisa Azevedo. “No momento em que o mundo está preocupado com a questão ambiental, era o momento de o Brasil brilhar”, diz o coordenador do MapBiomas. “Mas se a gente destrói aquilo que é o nosso ativo, nossa bandeira e a posição do Brasil no mundo, isso vai contra os nossos interesses”, acrescenta. “Quando o desmatamento vira uma ameaça para as atividades em geral, isso acaba se cristalizando nas palavras dos investidores internacionais que fizeram a sua carta, nas palavras dos CEOS das empresas brasileiras que se colocaram contra e até dos ex-ministros da economia e gestores do Banco Central pedindo que o Brasil pense a sua economia de forma mais sustentável”, conclui.
Neste episódio, tem participação do podcast Copio Parente, do Instituto Socioambiental, trazendo os grandes destaques do #ATL2019, a grande mobilização indígena que rolou em Brasília. Tem também uma conversa com Tasso Azevedo, do Observatório do Clima, e com o diretor Fernando Meirelles sobre a produção do vídeo ¨Fatos Florestais¨, que traz informações sobre unidades de conservação no Brasil, sobre florestas e uso do solo e sobre produção no Brasil. Tudo pode caminhar junto. Produção e conservação. No Minuto do Clima, Claudio Angelo trata do compromisso de 10 governadores com o Acordo de Paris e sobre a carta de mais de 600 cientistas na Science alertando sobre os vínculos do mercado europeu com o desmatamento no Brasil.
No episódio #64, Renata Lo Prete conversa com Tasso Azevedo, coordenador da ONG Mapbiomas, que analisa as intenções apresentadas pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para combater o desmatamento. Azevedo responde à pergunta: o quanto estamos perto de a devastação da Amazônia não ser revertida? Participa também João Paulo Capobianco, que foi secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente e participou da implementação de um programa que reduziu o desmatamento em mais de 80% em oito anos.
Bienvenidos a una edición especial del podcast de TED en Español donde converso con alguno de nuestros oradores. Soy Gerry Garbulsky. Uno de los grandes desafíos que tenemos como humanidad es cómo combatir la crisis climática - la crisis del clima, y el calentamiento global. Una de las variables claves de eso son los bosques. Hoy platiqué con Tasso Azevedo. Tasso fue jefe del servicio nacional de bosques de Brasil hace algunos años. En el año 2014 dio una charla TED sobre los avances que habían hecho para revertir la deforestación y también hoy se considera un emprendedor socioambiental. Para más ideas de TED en Español, te esperamos en TEDenEspanol.com.
Estamos batendo recordes, mas não há nada para se orgulhar. Entre janeiro e agosto deste ano, as queimadas aumentaram 83% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Inpe. O número é o maior em sete anos, com quase 73 mil pontos de incêndios registrados. As queimadas atingiram a tríplice fronteira entre Brasil, Bolívia e Paraguai, consumindo mais de 20 mil hectares de vegetação. A causa? A ação de desmatadores. Em um artigo no Estadão, o engenheiro ambiental Tasso Azevedo explica: “É parte da dinâmica do desmatamento em regiões tropicais. Primeiro, se põem abaixo as grandes árvores; depois passa o correntão para derrubar a vegetação mais baixa; e depois de algumas semanas secando, ateia-se fogo a fim de terminar o serviço”. Essa estratégia chamou mais atenção pelo planejamento no Pará, onde no dia 10 de agosto aconteceu o “Dia do Fogo”, quando produtores rurais começaram um movimento via WhatsApp para atear fogo nas áreas da Floresta Amazônica para plantar pasto. A cobertura midiática nacional não focava muito nos incêndios até que, na segunda-feira, dia 19 de agosto, São Paulo viveu um momento inesquecível: algo escureceu o céu da cidade e fez com que o “dia virasse noite” às 3 da tarde. Neblina? Tempestade? Que nada. Era uma camada densa de fumaça. O fenômeno atingiu também outras cidades do Brasil e da Bolívia. O assunto explodiu. Noticiários do mundo inteiro estão destacando o aumento dos incêndios na Amazônia e as declarações de Bolsonaro sobre essa questão. O G7, grupo que reúne os países mais industrializados do mundo, ofereceu 20 milhões de dólares para ajudar a cobrir os custos da operação para apagar os incêndios. Jair Bolsonaro ainda não comunicou se aceitará a ajuda. A atenção mundial para as queimadas nos leva à reflexão sobre os custos da pecuária para o meio ambiente. Todo esse investimento nos torna um dos principais produtores e exportadores mundiais de carne. A pecuária corresponde a 6,6% do PIB nacional em 2018, movimentando cerca de 264 bilhões de reais. A gravidade da emergência que estamos enfrentando nos ajuda a trazer para a pauta uma discussão incômoda, que sempre protelamos. Será que está na hora de repensar nosso consumo de carne e de outros produtos de origem animal? Essa já é uma tendência de comportamento crescente e também é um mercado cheio de potencial: 55% dos entrevistados pelo IBOPE disseram que consumiriam mais produtos sem qualquer ingrediente de origem animal. Para construir a ponte entre quem não consegue considerar a hipótese de abrir mão do seu bife e quem é ativista da causa animal, escolhemos abordar o tema através do relato de três pessoas que fizeram a escolha pelo vegetarianismo a partir de diferentes perspectivas e por motivos diversos. E pra costurar essas histórias com a gente, convidamos um xodó da audiência pra quebrar o gelo. Na mesa, contamos com a presença de Eduardo Jorge, médico sanitarista, ex-deputado estadual, federal e ex-Secretário da Saúde e do Meio Ambiente de São Paulo. Vem com a gente e dá o play neste Mamilos! ======== BRADESCO AJUDA VOCÊ A EMPREENDER Hoje o recado do Bradesco é mão na massa: quantas de nós não estamos tentando fazer virar um negócio? Tem muita gente nesse momento de vida, imaginando e fazendo do seu jeito o seu próprio ganha-pão. Lembro da história linda da Ana Paula Xongani sobre como ela passou por esse processo de imaginar um negócio, ter medo, mas seguir e criar. Pra apoiar, o Bradesco construiu uma oferta de conta MEI – que é o micro empreendedor individual. Você confere mais sobre isso em banco.bradesco/mei! O filme que o Bradesco fez pra essa campanha tá lindo, cheio de referências da força e atitude que a gente precisa pra enfrentar e colocar de pé uma empresa individual. 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Será no dia 21 de setembro, na praia de Copacabana, de 09h às 13h, em frente ao hotel Marriot. Pra você saber mais, entre lá no site institutoaqualung.com.br! E não se esqueça de seguir o Instagram da FARM (@AdoroFARM) e conferir o site farmrio.com.br! ======== FALE CONOSCO . Email: mamilos@b9.com.br . Facebook: aqui . Twitter: aqui ======== CONTRIBUA COM O MAMILOS Quem apoia o Mamilos ajuda a manter o podcast no ar e ainda recebe toda semana um apanhado das notícias mais quentes do jeito que só o Mamilos sabe fazer. É só R$9,90 por mês! 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Pressionados pela pecuária, moradores da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes , em Xapuri, no Acre, estão abandonando a cultura da castanha e da borracha para adotar a criação de gado como fonte de renda. E, como é necessário limpar a área de floresta para acomodar o gado, a Resex Chico Mendes está liderando o ranking de focos de incêndio entre as unidades de conservação do Acre. Diretamente do estado, o repórter Leandro Prazeres relata os desafios para preservar o legado do líder seringueiro, assassinado em 1988. E o engenheiro ambiental Tasso Azevedo aponta o caminho das queimadas na Amazônia e analisa os prejuízos nos últimos 30 anos. Já no quadro BOA VIAGEM, um roteiro completo de Los Angeles, incluindo um parque de Star Wars.
Dados recolhidos de satélites da Nasa em duas décadas revelaram que as superfícies verdes aumentaram 5% de 2000 a 2017, o que significa ganhar uma área equivalente a uma Amazônia, em 17 anos. O planeta está cada vez mais verde – mas isso não necessariamente é uma boa notícia. A informação foi confundida por muitos céticos sobre as mudanças climáticas como um sinal de que o combate ao aquecimento global não passa de uma farsa dos “ecochatos”. No entanto, a realidade é que o “esverdeamento” crescente dos últimos anos é um resultado direto da destruição acentuada das florestas, um dano ambiental que, além de irreparável, torna ainda mais difícil conter a elevação da temperatura global. Por quê? A RFI ouviu dois especialistas para entender a questão. Para começar, a maior parte das áreas verdes surgiu pelo aumento da área cultivada, principalmente na Índia. “Temos, realmente, um aumento das áreas verdes, mas a maior parte desse aumento é das áreas de agricultura, pecuária, irrigação ou áreas que não eram cultivadas e passaram a ser, com novas tecnologias. É a substituição de um verde por outro”, explica doutor em ecologia Ben Hur Marimon Junior, pesquisador da Universidade do Estado do Mato Grosso (Unimat) e especialista na floresta Amazônica. “Quando derrubamos florestas tropicais, as que mais têm sido convertidas em outros usos, aquela área vai ser usada de outra forma, também verde. Mas o que era uma floresta primária, intacta, passa a ser uma outra coisa, com menos qualidade.” Reflorestamento não compensa o desmatamento Outro fator que influencia – esse, mais positivo -, é a expansão do reflorestamento. Na China, a questão virou política de Estado para evitar a desertificação, com o projeto Grande Muralha Verde. Segundo a pesquisa, publicada na revista Nature Sustainability, 42% das novas áreas verdes no país asiático são resultado do replantio de florestas, que compensam, em parte, as emissões colossais de gases nocivos pelo maior poluidor do planeta. O problema é que, por mais louvável que seja esse esforço, uma mata replantada jamais será como a original, ressalta o engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG) e do Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas). “Em sua grande maioria, são florestas para uso comercial. Florestas simples, como dizemos, de baixa diversidade e de monoculturas de árvores para o uso da madeira”, sublinha Azevedo. “E o que também tem muito são áreas em regeneração: áreas que foram abandonadas, depois de serem desmatadas, e agora se regeneram naturalmente. Acontece muito nos países desenvolvidos, na Europa, num longo processo que pode levar 30 anos.” Conforme a Nasa, uma das regiões onde houve maior alta da superfície verde é no extremo norte do planeta. Campos pobres em vegetação ocuparam espaços onde, antigamente, só havia neve. Equilíbrio da temperatura global A queda da superfície das florestas gera consequências diretas no equilíbrio da temperatura global, já que a produção de chuvas é atingida. A capacidade de uma grande árvore de transpirar é muito maior do que uma lavoura de cana de açúcar ou uma pastagem, ressalta Ben Hur, que trabalha há mais de 30 anos na maior floresta tropical do mundo. “Pela maioria das árvores da Amazônia, por exemplo, nós temos um efeito muito maior de transpiração e umedecimento da atmosfera. É vapor de água sendo transferido do solo para atmosfera”, indica o especialista. “Para se ter uma ideia, uma arvore adulta, grande, tem capacidade de até mil litros de água por dia de transpiração. A meu ver, esse é um dos maiores serviços da Amazônia.” A floresta amazônica ajuda na regulação térmica de todo o continente sul americano. Além disso, ela também desempenha o papel de um gigantesco filtro de ar, ao retirar o excesso de gás carbônico da atmosfera e devolver oxigênio. “Até pouco tempo atrás, a Amazônia conseguia neutralizar todas as emissões anuais de gás carbônico da América do Sul. Esse efeito está diminuindo, porque a floresta tem um limite”, lamenta o pesquisador da Unimat. Questionamento “perverso” da ciência ambiental O questionamento da degradação ambiental acompanha a história dessa ciência, mas ganhou força com a ascensão de líderes populistas no mundo ocidental. Informações científicas são retiradas do contexto para fortalecer as teses segundo as quais as mudanças climáticas não existem. Ao noticiar o estudo da Nasa, por exemplo, a emissora conservadora americana Fox News ressaltou como positivo o papel da atividade humana no aumento das áreas verdes. As explicações dos estudiosos sobre o quanto a atuação do homem é, na realidade, a causa original do problema, foram ignoradas. “Enquanto estavam questionando com ciência, poderia fazer sentido. Mas o que vemos hoje é uma desonestidade intelectual, que é você distorcer dados ou até omiti-los, para falar sobre uma determinada tese – e é uma tese moralmente muito perversa, porque é um tema que ameaça a humanidade como um todo”, avalia Tasso Azevedo. Apesar da sensação de caça às bruxas aos ambientalistas, Ben Hur Marimon Junior prefere ver o lado positivo das polêmicas: jamais se falou tanto sobre o meio ambiente. “Apesar das informações contrárias, negando a ciência e as descobertas científicas, a gente tem o debate – e é do conflito que surge o fogo, a luz. Dentro do debate, a gente consegue colocar as ideias.”
Chegou a hora da COP 21: a grande conferência internacional sobre o clima começa nesta segunda-feira (30), com os pronunciamentos de 147 chefes de Estado e de Governo em Le Bourget, na periferia de Paris. Em seguida, os negociadores dos 195 países da ONU ficarão reunidos por duas semanas para tentar chegar a um novo acordo mundial para limitar as mudanças climáticas e o aquecimento global. Entenda por que o evento é tão importante. O que é a COP 21?A sigla COP21 nada mais é do que um resumo para o complicado nome oficial do encontro: 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. Esse texto (a convenção) surgiu quando os cientistas perceberam que a intensa poluição gerada depois da Revolução Industrial, no século 19, tem consequências devastadoras para a natureza e até para a sobrevivência humana. “A Convenção do Clima foi assinada em 1992 e, desde então, temos COPs anuais. A primeira foi em 1994 e, agora, estamos na 21ª. Em alguns momentos, essas reuniões tomam proporções mais importantes. Foi o caso em 1997, quando se assinou um novo protocolo, o Protocolo de Quioto, para limitar as emissões de gases poluentes, principalmente pelos países desenvolvidos”, explica Tasso Azevedo, consultor ambiental e coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG). A COP 21 é, antes de mais nada, uma ampla negociação diplomática internacional, com vistas a um entendimento entre os países sobre o futuro do clima. Quais os principais objetivos do acordo para o clima?O principal é renovar e gerar um novo acordo em substituição ao Protocolo de Quioto, cuja validade se encerra em 2020. O texto deve incluir compromissos e metas de todos os países do mundo, no esforço coletivo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Desta maneira, espera-se evitar que o aumento da temperatura média do planeta ultrapasse os 2°C, considerado o “limite de segurança” além do qual os efeitos das mudanças climáticas seriam irreversíveis. Essa temperatura foi estabelecida pelo painel de cientistas da ONU que analisam esse tema, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre mudanças Climáticas). Segundo os climatologistas, gases como o CO2 geram o aquecimento global. Para se ter uma ideia, se nada fosse feito para limitar as emissões de gases, a Terra poderia sofrer um aumento de até 4°C até 2100, o que tornaria diversas regiões do mundo inabitáveis. A poluição que já foi gerada ao longo da história provocou um aumento de 0,85°C da temperatura global, o que resultou no derretimento de quase metade das calotas polares do Ártico e a desintegração dos glaciares do oeste da Antártida. Por que é tão difícil de os países chegarem a um acordo?Até hoje, desenvolvimento ainda é sinônimo de poluição para muitos governos. Para se desenvolver, os países precisam de intensa de atividade industrial e consumir grandes volumes de energia, que são as maiores fontes de emissões de gases de efeito estufa. Neste ano, pela primeira vez, os maiores poluidores do planeta, a China e os Estados Unidos, indicam estar dispostos a fazer mais para limitar a quantidade de poluentes jogados na atmosfera. Pequim indica que o seu pico de poluição será em 2030 e depois garante que vai começar a reduzir as emissões. Já Washington se compromete a diminuir de 26 a 28% até 2025, em relação ao que poluía em 2005. Pode parecer pouco, mas é uma mudança considerável em relação à postura desses países nos anos anteriores. É por isso que há esperança de que a Conferência de Paris termine com um bom acordo. “O fracasso sempre é possível, mas hoje estou confiante porque um grande país, a China, nos apoia, e os Estados Unidos estão comprometidos com um acordo. Países tão diversos quanto os do sul, como os africanos e os latino-americanos, estão participando do acordo”, declarou o presidente francês, François Hollande. Você vai ouvir falar bastante sobre INDCs nos próximos dias. O que é isso? É mais uma abreviação do extenso vocabulário climático: é a sigla em inglês para Contribuições Internacionais Nacionalmente Determinadas. São os planos de ação apresentados por cada país em preparação para a COP21, com as suas propostas para reduzir as emissões de gases em nível nacional e lutar contra as mudanças climáticas. Isso pode ocorrer de diversas maneiras: substituindo as energias fósseis (como o carvão e o petróleo) por energias renováveis (como eólica ou hidráulica) ou promovendo o transporte público em vez do transporte particular (mais poluidor). O Brasil, por exemplo, foca a sua redução de emissões no combate ao desmatamento. Até o final de outubro, 155 países já tinham apresentado as suas INDCs, o que representa 90% das emissões globais de CO2. Qual é a proposta do Brasil?O Brasil colocou a sua proposta na mesa durante a última cúpula da ONU, em setembro. A presidente Dilma Rousseff anunciou que o país se compromete a reduzir 37% das emissões de gases de efeito estufa até 2025 e 43% até 2030, tendo como base as emissões que ocorriam 2005. O país promete acabar com o desmatamento ilegal em 2030 - a devastação das florestas é a maior fonte de emissões pelo Brasil. Brasília também quer garantir 45% de fontes renováveis no total da matriz energética . Por que há tanta divergência entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento e emergentes em relação a este tema? O principal entrave é financeiro. Os países desenvolvidos até agora não disponibilizaram todo o financiamento prometido para os mais pobres se recuperarem dos estragos causados pelas mudanças climáticas – danos gerados justamente pela poluição dos ricos, no passado. Os países em desenvolvimento também precisam de dinheiro para adaptar as suas economias de maneira a poluir menos, por exemplo: trocando as usinas a carvão por outras de fontes renováveis, como hidráulica ou eólica. Essa é a chamada economia de baixo carbono. A promessa era oferecer US$ 100 bilhões por ano até 2020, mas até agora apenas US$ 65 bilhões foram garantidos – sem falar dos recursos necessários para depois de 2020. Além disso, os países em desenvolvimento e emergentes querem o direito de continuar poluindo para, um dia, poderem chegar no mesmo nível de desenvolvimento que os ricos já atingiram. O problema é que o planeta já não aguenta mais tanta poluição. O que poderá ser considerado um bom acordo na COP21?Tasso Azevedo analisa: “A gente precisa ter um objetivo claro, de médio-longo prazo, como sabermos o que teremos que fazer até 2050. A segunda característica é ter um mecanismo para a gente poder revisar os compromissos dos países periodicamente, provavelmente a cada cinco anos. Desta forma, vamos avaliar se os compromissos e as ações implementadas estão sendo cumpridas e se elas estão realmente nos levando a limitar o aumento da temperatura do planeta em 2°C”, afirma o especialista. “Por fim, precisamos ter garantias de que os recursos, o financiamento e a capacitação se concretizarão, para que os avanços necessários realmente aconteçam.” O dia mais esperado da Conferência do Clima de Paris é o do encerramento, 11 de dezembro. É quando vai ser divulgado o novo acordo, que será assinado em 2016. Quem vai participar da conferência?Barack Obama, Vladimir Putin, Narendra Modi, Xi Jinping e Dilma Rousseff são alguns dos nomes confirmados. Apesar da ameaça terrorista estar no nível máximo depois dos atentados em Paris, todos os principais líderes internacionais confirmaram presença do evento. Desta vez, ao contrário dos anos anteriores, os presidentes vão participar logo no início da COP. Foi um pedido pessoal do presidente Hollande, para reforçar já no primeiro momento a importância do evento. Mas a conferência é muito mais do que discursos de políticos: no total, 40 mil participantes são esperados para o evento, incluindo integrantes da sociedade civil e empresarial, organizações, personalidades e até celebridades engajadas na proteção do planeta. Para entrar no centro de conferências de Bourget, é preciso estar credenciado. A tradicional Marcha pelo Clima, que acontece sempre na véspera das COPs, foi cancelada. Não haverá manifestações?As limitações por causa da ameaça de terrorismo vão impedir a realização da marcha. Mas, mesmo assim, dezenas de eventos paralelos vão acentuar a pressão para que o acordo de Paris seja o mais influente possível. Protestos alternativos vão acontecer na capital francesa, como um percurso sonoro pelas ruas pelas quais a marcha deveria passar. Além disso, os manifestantes vão colocar pares de calçados na praça da República, para simbolizar a presença deles na marcha, que foi proibida por questões de segurança. Os protestos também prometem agitar as redes sociais. Para quem quiser participar de conferências paralelas, haverá uma intensa programação sobre o meio ambiente, na capital e em outras cidades francesas. A lista completa de atividades pode ser consultada aqui. A COP 21 não se restringe a Paris. Em todo o mundo, estão previstas 2.176 manifestações para chamar a atenção para a importância da proteção do planeta. Os países que não cumprirem o acordo podem ser punidos?A Convenção do Clima não prevê nenhum tipo de punição. Entretanto, todos os países signatários são obrigados a fornecer um relatório sobre o que está sendo feito para diminuir as emissões. Esse relatório é analisado por uma comissão independente e internacional e, se não estiver conforme com as promessas, o país recebe uma advertência. “Cria-se um constrangimento. Como participante da comunidade internacional, você não está entregando aquilo com o que se comprometeu”, observa Azevedo. “Isso não é pouca coisa. O constrangimento tem muito valor nesse tipo de processo internacional, porque se você não cumpre o que promete, você tem menos chances de ter as suas proposições aceitas em outras negociações internacionais.”