First President of Angola
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A Ficção como História - este é o título e a premissa do livro de Dorothée Boulanger agora publicado em português, depois de uma primeira edição em inglês. A académica francesa analisou mais de 20 romances de autores angolanos como Pepetela, Manuel dos Santos Lima, Ondjaki, José Eduardo Agualusa ou Sousa Jamba, todos publicados no período pós-colonial. O objectivo era tentar perceber o papel da literatura na formação da identidade nacional nos primeiros anos da independência. O trabalho é o resultado de uma investigação durante o doutoramento na Universidade de Oxford, onde continua como professora. O que levou a Dorothée a viver e a trabalhar em Angola e como é que esse período influenciou esta investigação? Eu morei em Angola de 2009 a 2011, na cidade de Lobito. Foi, primeiro, uma oportunidade pessoal e familiar, mas, anteriormente, tinha-me formado em relações internacionais e estudos de género, especializando-me no assunto dos conflitos armados em África e em assuntos de pós-conflito, reconstrução, reconciliação. Por isso, o contexto angolano era muito interessante para mim. A guerra civil parou menos de uma década antes da minha chegada em Lobito. Morar mais de dois anos nessa cidade foi uma oportunidade preciosa para o meu trabalho, porque eu quero pensar a literatura como uma intervenção estética e política num contexto específico. A minha leitura das obras fez-se a partir da situação do país. Deu-me a possibilidade de ver a especificidade do discurso literário angolano e os desafios que a população enfrentava acerca da liberdade de expressão e da memória da guerra.O que faz de Angola especial para que a literatura de ficção seja útil como fonte da história do país?O papel de muitos escritores angolanos durante a guerra anticolonial, a sua participação na luta armada e dentro do MPLA, tornou-os atores políticos importantes e também testemunhas privilegiadas deste período. Por isso, as narrativas que eles fizeram têm um valor histórico. Também gozavam de um grande prestígio social. O primeiro presidente, Agostinho Neto, era chamado presidente-poeta. E a União dos Escritores Angolanos foi a primeira associação criada pelo Estado independente. Dentro do primeiro governo Neto, havia muitos escritores com função de ministros na saúde, como o Uanhenga Xitu, na cultura, como o António Jacinto. Então, realmente, os escritores estavam dentro do aparelho do poder.O que é que os romances de ficção angolanos ensinam sobre Angola que não está nos manuais de história? Uma das contribuições da literatura angolana é de oferecer um discurso angolano sobre a história do país. Um discurso angolano que se distancia do discurso oficial do regime, que fala das tensões dentro do MPLA, do oportunismo das elites pós-coloniais, das purgas. É importante ter vozes angolanas para contar esta história, centrando perspectivas autóctonas e referências culturais e linguísticas angolanas. Os escritores nem sempre concordam na sua maneira de contar ou analisar certos eventos históricos. Ver estes desacordos e estes conflitos é importante para deixar a história aberta e evitar mistificações. A literatura de ficção permite também transmitir de maneira clara, muito pedagógica, trajetórias históricas complexas, influências múltiplas que construíram a sociedade angolana desde o período da escravidão até hoje. A literatura torna-se um arquivo precioso do período revolucionário angolano. Estou pensando nas histórias de infância do Ondjaki, em Luanda, nos anos 1980, quando a cidade e o país eram fechados ao mundo. O romance de Pepetela, "O Planalto e a Estepe", por exemplo, fala das redes revolucionárias dos anos 1960 e 1970, de Cuba à Argélia e à União Soviética. Por outro lado, às vezes, é nos seus silêncios que a literatura angolana nos ensina muito sobre o papel dos intelectuais. A dificuldade, por exemplo, de falar da tentativa de golpe de Estado do 27 de maio de 1977 por parte dos escritores mais próximos do poder, mostra a dificuldade dos intelectuais em pensar também na sua cumplicidade com a violência do Estado.O que é que descobriu que não estava à espera? Tive várias surpresas. Eu acho que a primeira surpresa foi durante a minha primeira leitura dos romances, num contexto em que a população angolana não se sentia à vontade para falar da guerra ou do governo. Pelo contrário, os escritores contavam histórias difíceis, complexas, faziam acusações a propósito do papel das elites, também sobre a herança da escravidão, a falta de integridade ideológica e ética de muitos líderes políticos ou religiosos. Havia esta liberdade de tom dentro da literatura. A segunda surpresa foi realizar, mais tarde, após ler muitos romances, a centralidade das perspectivas masculinas e a falta de substância de muitos personagens femininos, sobretudo com os escritores da geração da independência. Os seus romances eram anticoloniais, anti-racistas, que denunciam a dominação portuguesa e a propaganda do Estado Novo. Por isto, não pensava que adotariam com tamanha facilidade estereotipos sexistas. Ademais, o MPLA tinha um discurso de inclusão das mulheres na luta. Mas era só isso, discurso. Os romances angolanos revelam que a emancipação das mulheres e o privilégio masculino são pontos cegos para estes autores, todos homens. Estou pensando em "Sim Camarada!", de Manuel Rui, ou "Mayombe", de Pepetela, que são obras sexistas. Mas o que é muito interessante é que parece que estes autores depois tentaram corrigir um pouco esta propensão. "Lueji: O Nascimento de um Império", de Pepetela, "Rioseco", de Manuel Rui, tentam celebrar o papel das mulheres nas lutas e nas guerras em Angola. Mas até hoje há muito pouco mulheres escritoras no país, o que sublinha, eu acho, a persistência de uma atmosfera masculina acerca da literatura.Há aqui um modelo para analisar a história de outros países da África lusófona da perspetiva da literatura? Sim, a literatura africana sempre teve essa vontade de responder ao discurso colonial, de contar a história na perspectiva dos africanos e das africanas. Um dos aspectos do discurso colonial era negar a história africana, dizendo que a sua história começou com a chegada dos europeus. Muitos escritores africanos - Yvonne Vera, Ngugi wa Thiong'o, Assia Djebar e muitos outros - escreveram para contar a sua própria história e revelar a violência e a regressão histórica que constituiu a ocupação europeia do continente africano. Isto sendo dito, eu acho que o caso angolano tem as suas especificidades. No contexto do Estado Novo, a censura política, a propaganda portuguesa deram à literatura um papel importante para fazer ressoar o discurso anticolonial e nacionalista. Daqui, os escritores angolanos, que por razões sociais, familiares, tinham laços fortes com o MPLA, participaram fortemente na luta anticolonial, como escritores e como militantes, às vezes como guerreiros. Esta proximidade com a luta e depois com o aparelho de Estado dá este valor histórico à literatura angolana e à sua especificidade. Analisou a literatura pós-colonial, de 1960 a 2010. A literatura angolana, ou africana em geral, é hoje menos ativista politica e socialmente? É uma pergunta interessante, mas é uma pergunta difícil, porque, como eu expliquei, a literatura africana, de forma geral, tem esta dimensão política. Não se reduz a este discurso político, mas tem essas preocupações com o poder, as desigualdades, a dominação histórica. Eu acho que hoje esta dimensão combativa da literatura africana pode encarnar-se em outras lutas de género ou ambientais. Mas, no caso da literatura angolana, acho que é verdade que não encontramos o mesmo dinamismo, a mesma criatividade que há 30 anos. Angola teve uma geração excepcional de escritores desde os anos 60. É indisputável. Hoje em dia, não são tantos, e a luta encarna-se em outras formas de arte, como o hip-hop, por exemplo. A expressão crítica e criativa faz-se através das redes sociais. E temos também que dizer que a negligência do Estado angolano com a educação e a cultura não permitiu um forte desenvolvimento da leitura e da literatura dentro das gerações mais jovens.O livro "A Ficção como História - Resistência e Cumplicidades na Literatura Angolana Pós-Colonial" publicado pela editora Mercado de Letras vai estar à venda em Angola a partir de Março e vai ficar disponível mais tarde em versão digital graças a uma parceria com a editora francesa Africae.
rWotD Episode 2851: C.D. Universidade Agostinho Neto (basketball) Welcome to Random Wiki of the Day, your journey through Wikipedia’s vast and varied content, one random article at a time.The random article for Saturday, 22 February 2025 is C.D. Universidade Agostinho Neto (basketball).The Clube Desportivo Universidade Agostinho Neto or simply CDUAN, formerly Centro Desportivo Universitário de Angola or CDUA, is a semi-professional basketball club from Luanda, Angola. On March 3, 2005, a decision was made by a General Assembly meeting that the club's name - Centro Desportivo Universitário de Angola (CDUA) - be changed to the current name. The club is attached and sponsored by the state-run Agostinho Neto University, with the university chancellor serving as the club's chairman.This recording reflects the Wikipedia text as of 00:20 UTC on Saturday, 22 February 2025.For the full current version of the article, see C.D. Universidade Agostinho Neto (basketball) on Wikipedia.This podcast uses content from Wikipedia under the Creative Commons Attribution-ShareAlike License.Visit our archives at wikioftheday.com and subscribe to stay updated on new episodes.Follow us on Mastodon at @wikioftheday@masto.ai.Also check out Curmudgeon's Corner, a current events podcast.Until next time, I'm long-form Ruth.
Cabo Verde assinalou, no dia 12 de Setembro, o centenário do nascimento de Amílcar Cabral. Ana Maria Cabral, viúva de Amílcar Cabral, afirma não ter havido justiça quanto à morte do marido e defende ser necessário que as antigas potências assumam a responsabilidade pelos erros do passado. RFI: Como é que era um ambiente em casa durante os momentos mais tensos da luta? Vocês falavam sobre os acontecimentos diários ou tentavam separar o lado político da vida familiar?Ana Maria Cabral: Falávamos sobre tudo, com os nossos filhos tinha que ser uma linguagem mais adaptada para que eles entendessem. Eles tiveram uma grande experiência; por exemplo, em Novembro de 1970, se uma memória não me falha, os colonialistas resolveram atacar Conacri. Bombardearam a nossa casa e nós não morremos, eu e os meus filhos morremos, por um acaso porque a casa foi mesmo atingida. Tínhamos uns vizinhos, uma família da antiga Jugoslávia que um dos filhos apanhou uma bomba que conseguiu separar-lhe a cabeça. Vinha a correr, a sair do quarto -assustou se com o barulho -quis sair do quarto e ir para o quarto dos pais e a bomba apanhou porque a casa deles era igual.Na altura, Sékou Touré era presidente da Guiné-Conacri e cedeu-nos um bairro que existia em Conacri tinha sido feito pelos franceses, que se chamava bairro de La Minière porque o país tem muitos minerais, além da bauxita, tem ferro, tem cobre. Os franceses tinham construído aquele bairro que chamavam minière. Quando os franceses saíram e se foram embora com a independência da Guiné-Conacri, o Sékou Touré deu ao PAIGC esse bairro minièr.Não foi nada fácil. Eu tinha o pressentimento que ele poderia desaparecer de um dia para o outro. Os colonialistas estavam tão desesperados que queriam à força apanhar o Cabral. Ele sofreu várias tentativas até que conseguiram a 20 de Janeiro, 1973. Eu tinha consciência disso e tive quase dois anos a tentar convencê-lo e ele não queria aceitar. Estava preocupada e tinha um pressentimento que não seria nada fácil.Vivia preocupada com a questão da vossa segurança, da segurança, da família?Vivia muito preocupada, embora estivesse completamente engajada no PAIGC, na escola piloto, na elaboração de livros. Vivia muito preocupada com a situação.Como é que vê hoje o legado de Amílcar Cabral em Cabo Verde, aqui, na Guiné-Bissau, em África, 51 anos depois da morte de Amílcar Cabral?Eu acho que em certos países há muito mais preocupação em seguir o legado de Cabral. Em certas universidades, a obra de Cabral foi traduzida para inglês, para o francês. O falecido Mário Andrade, intelectual angolano que era muito próximo do Cabral, começou a traduzir em francês, agora já está publicado em França e na África do Sul, em inglês, na América, na Europa, em vários países. A obra dele tem sido estudada, traduzida e discutida.Nós temos um bocado de culpa porque fizemos muito pouco, depois das independências dos nossos país, para manter vivo o pensamento de Cabral, para o divulgar.Em que sentido é que tem culpa?No sentido de fazer maior divulgação da obra da Amílcar Cabral. Claro que se criou a Fundação Amílcar Cabral, em Santa Catarina e na Assomada há um liceu Amílcar Cabral. Fazem-se exposições com as obras de Cabral, quanto a mim é pouco.Se Amílcar Cabral estivesse vivo hoje, o que é que ele diria aos jovens?Eu penso que eu diria o jovem que tem que estudar e aprender porque a terra já não é uma colónia. É uma terra independente e há muito por se fazer. Há dias, ouvia na nossa rádio, estavam a entrevistar um jovem que estava em Israel e então ele estava a comparar a superfície de Israel: O que é que os judeus já fizeram para reter a água do mar. Nós também já começamos um bocadinho, mas é muito pouco. Temos que continuar a poupar água. Por isso, quando chove é uma alegria. Os camponeses do interior devem estar satisfeitíssimos porque caiu água. Fizeram-se barragens e tenho impressão que foram feitas pelo actual Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, que começou a fazer barragens quando era primeiro-ministro. É preciso saber manter essas barragens.Na altura, íamos de carro dar uma volta para o interior para ver essas barragens, mas agora é preciso mantê-las para conseguir trazer aquela água para a agricultura, para os camponeses poderem ter água.Alguma história que queira partilhar connosco, que não seja conhecida nas narrativas históricas de Amílcar Cabral da vossa história.Apesar de todas essas preocupações, ele dava muita atenção aos nossos filhos. Havia uma refeição que ele fazia questão de comermos todos juntos, em geral era o pequeno-almoço porque depois os meninos iam para a escola e eu para o meu trabalho. Por vezes, mandava-me chamar lá da escola, arranjavam um motorista ou ia mesmo buscar-me.Ele levantava-se muito cedo e tomava um café, um sumo de laranja ou de toranja, havia muita toranja em Conacri, e um cafezinho preto, mas só comia por volta das dez horas. Era nessa altura que vinha buscar-me às aulas e eu ficava furiosa porque tinha de interromper a aula. Tinha de arranjar uma desculpa qualquer aos meninos e ir, porque sua excelência não queria comer sozinho ou queria companhia.Queria partilhar inquietações?Exactamente.De conhecer o seu parecer relativamente a decisões importantes que teria que tomar...Provavelmente era isso e queria. Gostava e tinha de perceber o meu trabalho, tinha de conhecer tudo sobre o meu trabalho: o que eu fazia lá na escola, tudo o que eu não fazia.As grandes reuniões do partido eram lá nessa escola piloto. Ficava mais ou menos a cerca de três quilómetros de entre o secretariado do PAIGC, onde a gente vivia e a Escola Piloto.Depois também parecia assim de repente, na escola, logo de manhã cedo, às 10 horas porque a primeira aula que eles tinham era ginástica e ele incentivava os professores da retenção à ginástica, não só ao intelecto, mas também no físico.Se tivesse oportunidade de rever Amílcar Cabral e contar lhe no que se transformou o mundo, o que é que lhe contaria?Teria de aceitar e dizer-lhe que o mundo evoluiu, Temos um outro mundo, temos o mundo já quase sem colónias - que eu saiba que eu me recordo, assim de repente, não há grandes colónias, os países estão independentes.Claro que há muita coisa ainda por fazer. Há guerras: a guerra ridícula, para mim, da Ucrânia, a guerra da Palestina com Israel, que é outra coisa mais ridícula. Não percebo por que motivo é que não se entendem porque podiam fazer se dois estados o Estado de Israel, o Estado da Palestina. Porque é que ainda há tanta divisão? Por exemplo, o problema do Vietname ficou resolvido, o problema das colónias portuguesas ficou resolvido. Há pequenos conflitos, mas está muito melhor do que era antigamente.Valeu a pena lutar?Valeu a pena, embora com muito sacrifício. Muitos de nós estão com uma saúde completamente estragada e agora é que se estão a revelar os problemas de saúde.Na casa dos estudantes do Império e das reuniões entre Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Mário de Andrade, todos poetas. Consegue explicar essa ligação entre a política e a poesia?O que é a poesia senão relatos da vida, da vida diária?Sente que houve justiça em relação ao que aconteceu a Amílcar Cabral. Pede se investigação séria, transparente para conhecer as circunstâncias, para perceber realmente o verdadeiro papel dos aliados e inimigos internos e externos de Cabral. Sente hoje que houve justiça?Não houve justiça nenhuma, mas há tempo alguém falava - creio que foi o Presidente Marcelo - que era preciso fazer uma reparação. Vários políticos foram contra isso. Ele tem uma certa razão. As antigas potências deveriam fazer uma espécie de reparação. Essa história de uma boa cooperação bilateral não sei o quê, faz parte, mas é pouco ainda. Acho que é pouco.E como é que se repara?Essa, é a questão. Como é que se repara? Se nos sentarmos e pensarmos, analisarmos bem, havemos de encontrar uma maneira.
Cabo Verde comemora o centenário do nascimento de Amílcar Cabral, figura que liderou a luta pela libertação da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. "Quando conheci Cabral o que me atraiu logo foi o lado político. Nós seguíamos as lutas de todos os povos do mundo. Acompanhámos a libertação de Cuba e precisávamos de gente assim para começar a luta, para mudar o nosso país", conta-nos Ana Maria Cabral, viúva de Amílcar Cabral. RFI: De que forma é que olha para estas celebrações em torno do centenário do nascimento de Amilcar Cabral?Ana Maria Cabral: Foi uma boa iniciativa, mas foi pena não ter oportunidade de mobilizar mais gente, sobretudo jovens. A sala estava muito vazia. Fiquei impressionada, tendo em conta que se realizou no auditório de uma universidade. Claro que as aulas ainda não começaram, mas devíamos ter mobilizado mais alunos, porque foi pena. As intervenções foram muito interessantes. Foi pena realmente a assistência ter sido muito reduzida. Recorda-se do primeiro encontro com Amílcar Cabral?O primeiro encontro foi há muitos anos. Acho que o primeiro encontro terá sido em Lisboa. Havia gente ligada à Casa dos Estudantes do Império, onde eu era muito activa. A Casa dos Estudantes do Império ficava na Rua Actor Vale, 37, onde vivia uma família de São Tomé e Príncipe, se a memória não me falha. Acho que foi nessa casa que eles criaram o Centro de Estudos Africanos, ele, o Agostinho Neto, o Mário de Andrade, já todos falecidos. Mais tarde entrou também o Eduardo Mondlane, de Moçambique, que também já morreu.Organizavam-se bailes, encontros no Natal, porque a maioria não tinha familiares em Portugal e era uma maneira de estarmos juntos. Na Casa dos Estudantes do Império, além das festas, organizavam-se outros actos culturais. Eu conheci o Amílcar numa dessas casas. Um dia disseram que ele era casado com uma portuguesa e eu disse 'ele não quer saber nada da nossa terra'. Foi uma amiga são-tomense que nos apresentou, ela continua a viver em Portugal, chama-se Esperança e também é viúva como eu. Foi ela quem me apresentou o Amílcar Cabral.O que é que a atraiu: o homem ou o político?Quando conheci Cabral o que me atraiu logo foi o lado político, embora fosse um homem extremamente atraente. Nós seguíamos as lutas de todos os povos do mundo. Até acompanhámos a libertação de Cuba e sempre precisamos de gente assim para começar a luta, para mudar o nosso país, libertar os nossos países. Foi interessante.Quais é que foram os maiores desafios de ser esposa de um líder revolucionário?Os desafios foram tantos, tantos, que eu podia ficar um dia inteiro a contá-los. Resumindo: o maior desafio foi acompanhar uma personalidade como ele, com um carácter forte. Além de ter um carácter muito forte, ele era condescendente, aceitava as opiniões de todos, mesmo se ele reparasse que não tínhamos razão. Ele aceitava porque ele aceitava a opinião de toda a gente. Ele dizia que 'todos nós somos úteis para essa nossa luta de libertação' e por isso aceitava a opinião de toda a gente. Lembro-me das reuniões que ele fazia com os mais velhos, com aqueles chefes. A Guiné é um país pequenininho, mas cheio de grupos étnicos, variadíssimos grupos étnicos. Há grupos que são sociedades estratificadas, e ele reunia-se com esses chefes. Uma vez, lembro-me, a propósito das mulheres, ele tinha lançado a ordem de que tínhamos de proteger as nossas mulheres nas áreas já libertadas do colonialismo. Ele insistia que era preciso chamar as mulheres.Integrá-las na luta?Não só integrá-las, havia muitas mulheres. As mulheres foram as primeiras a participar na luta porque elas eram exploradas em casa pelos maridos. Permitia que toda a gente participasse, inclusivamente aqueles que não estivessem de acordo podiam defender os seus ideais, as suas opiniões. Ele aceitou que toda a gente expusesse o seu ponto de vista, mesmo que fossem contrários à opinião dele. Por exemplo, nas áreas libertadas ele e os companheiros dele, se eram cinco membros, três tinham que ser mulheres. Se eram comités pequenos ou de três membros, um tinha de ser uma mulher. Houve muitos protestos da parte dos homens que diziam 'não há mulher para ficar em casa para cozinhar para nós', não sei o quê. Foi muito difícil.Mais tarde, ele e os companheiros dele resolveram criar as milícias, que eram gente que ajudava os combatentes que estavam a participar directamente no combate. Foi também um problema, os homens mais velhos não queriam que a mulher participasse, mas lá se conseguiu. Houve algumas mulheres que se tornaram célebres, como a Carmen Pereira, já falecida, e a Titina Silá, que morreu estupidamente. Ela estava numas áreas libertadas no Norte e como era muito jovem tratava o Cabral como pai. Quando soube da sua morte quis ir a Conacri assistir aos funerais e os portugueses colonialistas acharam que deviam passar por aquele rio, que era um rio cheio de crocodilos. Ela caiu e como não sabia nadar, os companheiros não conseguiram salvá-la e ela terá sido levada e comida pelos crocodilos. Teve uma morte estúpida. A Titina Silá é considerada uma heroína. Todos os anos, depois de 20 de Janeiro, a data em que mataram o Cabral, as pessoas levam as crianças com flores e vão deitar flores a esse rio.O facto de ter vivido ao lado de Amílcar Cabral, de o ter apoiado, como é que vê para o seu contributo na luta de libertação?Eu, como era militante, eu tinha de contribuir, como toda a gente.Mas mais ainda enquanto esposa..Como militante fui professora na Escola Piloto. Depois foram-se criando áreas libertadas e uma das coisas que se fez foi criar pequenas escolas onde a palavra de ordem era 'quem souber ler e escrever tem de ensinar aos outros'. Os combatentes que sabiam escrever e ler, ensinavam. No início, abriram-se pequenas escolas com os meninos sentados no chão e assim começou a alfabetização nas áreas libertadas. Trabalhei na escola piloto como professora com os alunos, tivemos de fazer livros, tivemos de arranjar todo o material para fazer livros. Mais tarde, com o desenvolvimento e com trabalho de Cabral e dos outros, recebemos muito material escolar da parte dos países nórdicos, sobretudo da Suécia, Alemanha, antiga RDC, de Cuba... e às vezes tinha de interromper o meu trabalho porque o Cabral estava cansado de viajar sozinho e pedia que eu o acompanhasse. Fui a muitas conferências, acompanhando o Cabral.
Armando Ribeiro era chamado “comandante” pelos companheiros e “falsificador” pela PIDE. Foi um dos fundadores da LUAR, Liga de União e de Acção Revolucionária, e, aos 80 anos, conta-nos algumas das acções deste grupo de resistência armada à ditadura portuguesa. Armando Ribeiro viveu seis anos na clandestinidade, escapou à prisão, transportou armas 3.000 quilómetros Europa fora, participou na tentativa frustrada de tomada da Covilhã e no assalto a Consulados de Portugal para obter passaportes. Nos 50 anos do 25 de Abril, a RFI falou com vários resistentes ao Estado Novo. Neste programa, ouvimos Armando Ribeiro, um dos fundadores da Liga de União e de Acção Revolucionária (LUAR).Os que o conheciam de perto chamavam-lhe “comandante”. Os que o queriam prender vociferavam: “Esse falsificador!”. Nesses tempos de clandestinidade e de luta contra a ditadura portuguesa, poucos sabiam o nome deste homem, hoje com 80 anos.O Inácio Afonso, que era um tipo da PIDE, dizia: ‘Esse fulano! Esse falsificador! A gente até vai buscá-lo a Paris se for preciso!'. Mal eles sabiam que se a gente quisesse os tínhamos liquidado! ‘A gente vai buscá-lo a Paris, esse falsificador!'. Nem conhecia exactamente o meu nome. Só conhecia ‘comandante'. Ninguém sabia o meu nome. Eu acho que nem o Palma sabia o meu nome completo.Chama-se Armando Ribeiro e foi um dos fundadores do movimento antifascista LUAR, a Liga de União e Acção Revolucionária. Um dos dirigentes do grupo era Hermínio da Palma Inácio que, em 1947, participou na sabotagem de aviões da Força Aérea; em 1961, também participou no desvio de um avião para lançar panfletos contra a ditadura sobre Lisboa e outras cidades, junto com Camilo Mortágua. Este já tinha estado no desvio do paquete Santa Maria, no mesmo ano. Ambos estiveram na linha da frente do assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, em 1967. E foi o assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz que levou à fundação da LUAR, em Paris, onde já se encontrava Armando.O jovem tinha deixado Portugal três anos antes. Estudante do Instituto Comercial do Porto, onde era dirigente da associação académica, Armando Ribeiro ficou em Paris durante uma visita de estudo de finalistas em Março de 1964 porque recusava ir para a guerra colonial combater pessoas que lutavam pela sua independência. Inscreveu-se na escola de Arts et Métiers e trabalhava à noite no PBX de um prédio. Poderia estudar durante o dia, ter uma vida boémia, mas trocou o conforto pela luta.Muito novo ainda, foi o braço direito de Hermínio da Palma Inácio, em Paris, dirigente do Conselho Superior do movimento e criador do seu símbolo - o “L”, com uma seta ascendente. Comprou armamento, transportou um arsenal de armas 3.000 quilómetros Europa fora, participou no assalto a consulados para obter passaportes e ajudou a preparar os chamados “confiscos” para custear muitas vidas na clandestinidade. Como os companheiros, pôs a vida em perigo nome de um ideal e esse ideal chamava-se LUAR.“A LUAR foi uma organização que começou pela luta armada porque todas as pessoas que integravam a LUAR já tinham participado em coisas de luta armada, como o desvio do Santa Maria. Portanto, foi aí que comecei, foi com essa gente toda”, começa por explicar, sublinhando que era uma organização apartidária, claramente “fora do Partido Comunista Português” e que defendia a acção directa e o recurso às armas para o derrube da ditadura e a restauração da democracia. As origens da LUARConta, ainda, que na génese do movimento estiveram personalidades como Henrique Galvão e até Humberto Delgado, com iniciativas de acção directa contra o regime, nomeadamente depois do “terramoto” da candidatura presidencial do “General Sem Medo”. Humberto Delgado esteve directamente envolvido na Revolta de Beja na passagem de ano de 1961 para 1962. Henrique Galvão esteve em várias outras acções com impacto internacional de grande peso, para as quais contou com o apoio essencial da dupla Palma Inácio e Camilo Mortágua.A 23 de Janeiro de 1961, exilado na Venezuela, Henrique Galvão fez tremer o regime com o assalto e desvio do paquete Santa Maria, considerado o primeiro sequestro político de um transatlântico na história contemporânea, uma acção em que participou também Camilo Mortágua. Depois, a partir do Brasil, Henrique Galvão preparou a Operação Vagô, na qual, em Novembro de 1961, Palma Inácio participou no primeiro acto de pirataria aérea da história: o desvio de um avião comercial da TAP, que fazia o percurso Casablanca-Lisboa, e o lançamento sobre Lisboa e outras cidades de panfletos contra o regime. A bordo do avião estava também Camilo Mortágua.Depois do assassínio do General Humberto Delgado, a 13 de Fevereiro de 1965, os opositores que estavam refugiados no Brasil, decidem voltar para a Europa para continuarem a acção contra o regime a partir do exterior.O Palma e uma meia dúzia que tinham participado no avião vieram para a Europa e diziam que a partir do Brasil não se pode fazer nada, é muito longe estar no Brasil e ter acções em Portugal e vieram-se instalar, sobretudo, em França e na Bélgica.A LUAR nasce quando o opositor Emídio Guerreiro, refugiado em Paris, enviou um comunicado ao jornal francês Le Monde, no qual que a LUAR reivindicava o assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, em 1967.A LUAR não existe antes do banco da Figueira da Foz. Quem deu o nome à LUAR foi depois do banco da Figueira da Foz e foi o professor Emídio Guerreiro, que estava aqui refugiado há muito tempo, mas que não pertencia à LUAR porque a LUAR não existia. Ele tinha contacto com os membros da LUAR, especialmente com o Palma Inácio e o Camilo Mortágua. Quando ele soube, quer dizer, ele imaginou que quem poderia fazer aquilo só poderia ser o Palma, não é? E então ele inventou – e bem, que é um nome bonito, LUAR - e mandou um comunicado ao Le Monde a dizer que tinha sido a LUAR que tinha feito.Armando Ribeiro participou, depois, na reunião de fundação da LUAR na casa de Emídio Guerreiro, em Paris. Dissensões internas levariam ao afastamento de Emídio Guerreiro, a que não foi alheio o destino do dinheiro da agência do Banco de Portugal da Figueira da Foz que lhe tinha sido entregue. Porém, uma parte significativa dos 29 mil contos era constituída por notas ainda não postas em circulação e só 4,7 mil contos por notas usadas, tendo outra parte sido recuperada pela PIDE com a colaboração de um infiltrado [Ernesto Castelo Branco] e apenas uma pequena parte do dinheiro se poderia cambiar por caminhos travessos.A LUAR foi um marco na história da resistência armada ao regime ditatorial português. E se um punhado de homens e mulheres dedicaram parte da sua vida a organizar acções revolucionárias para derrubar a ditadura, o preço da coragem era, muitas vezes, pago com a prisão, a tortura, o exílio. Armando não chegou a ser preso, mas, quando ia a Portugal, usava uns sapatos com uma serra no interior para poder serrar as grades da cadeia caso lá fosse parar.Sobreviver na clandestinidade implicava fintar as autoridades e isso também passou pela falsificação de passaportes e bilhetes de identidade. Armando foi um dos responsáveis por essa tarefa que passou pelo assalto a consulados de Portugal em Roterdão e no Luxemburgo em Abril e Junho de 1971. O objectivo era obter documentos de identificação, formulários e selos brancos. Na PIDE, ele ficou conhecido como “falsificador”.Em Roterdão, quando a gente lá foi, a gente não sabia que era o dia da rainha da Holanda e o Consulado estava fechado. De maneira que a gente até teve que abrir a porta ilegalmente porque não estava aberto. No Luxemburgo já foi diferente, estava a funcionar. Tomámos o Consulado e trouxemos passaportes que era o que nos fazia falta. Mais tarde, com os meios financeiros que tínhamos, criámos todo um sistema de contrafacção dos documentos. Tínhamos uma panóplia de documentos perfeitamente iguais.Os documentos falsos eram, depois, usados para os combatentes circularem e, sobretudo, como medida de precaução caso fossem controlados pela polícia.Armando Ribeiro conta, ainda, que só houve um caso em que a polícia neutralizou resistentes da LUAR sabendo, de antemão, que eram da organização. Foi depois da “Operação Primavera” [a 30 de Abril de 1969 e que consistiu na sabotagem de pilares de alta-tensão no Porto e numa explosão junto ao Consulado Americano do Porto] que a PIDE estava à espera em Irun e deteve Seruca Salgado, Júlio Alves e José Paulo Lima Matias. Mas a polícia espanhola não autorizou a extradição porque tinha bem presente o assassínio, pela PIDE, do general Humberto Delgado em território espanhol [13 de Fevereiro de 1965].Serviam para a gente, quando estava em Portugal, com vários nomes, se viesse a autoridade pedir, num controle normal - porque é evidente que se já soubessem que a gente era da LUAR não valia de nada. Mas nunca tivemos esse problema porque, contrariamente ao que se diz, nunca ninguém da LUAR foi presa com a PIDE a saber onde a gente estava. Só houve um caso, mas a prisão foi executada em Hendaia, Irun. Estava lá o Sacchetti, que era o diretor PIDE, à espera deles e eles foram presos em Espanha [Seruca Salgado, Júlio Alves e José Paulo Lima Matias]. Eles pensavam que os espanhóis os iam entregar directamente à PIDE, mas os espanhóis nessa altura não autorizaram que a PIDE pegasse neles e os levasse para Portugal porque, entretanto, o General Delgado tinha sido encontrado assassinado em Espanha. Então, eles não entregaram e esses indivíduos ficaram presos em Espanha e depois foram julgados, foram dados como políticos e, portanto, não foram extraditados para Portugal e foram recambiados para a Argélia que os recebeu. “A gente transportou armas sem nunca ter nenhum problema ao longo de 3.000 quilómetros”Poucos meses depois de vários membros da LUAR terem vivido o Maio de 68 em Paris, inclusivamente participando na ocupação da Casa de Portugal na Cidade Universitária, prepararam nova acção revolucionária: a tentativa de tomada da cidade da Covilhã, em Agosto.A Covilhã é um centro de lanifícios, industrial, e a gente ia tomar a rádio e íamos atacar os bancos todos lá, a guarda republicana, a polícia, íamos tomar a cidade e tínhamos uma declaração para fazer na Rádio Covilhã ao país e à Covilhã. E depois íamos evacuar. Não lhe posso dizer o que é que se ia passar porque nunca chegámos a isso porque o Palma, entretanto, foi preso.Ainda assim, Armando Ribeiro nega que a operação tenha sido um fracasso e diz que foi o azar que levou à detenção de Palma Inácio porque a polícia política estava longe de imaginar o que se iria passar.Não foi fracasso nenhum. Houve vezes em que a gente teve sorte, outras vezes teve azar. A intersecção deu-se em Torre de Moncorvo. Eles tinham saído para tomar um café porque não tinham comido há muito tempo. Foram ao café e, depois, o Palma meteu-se no carro em que vinha, o polícia pediu-lhe os documentos e o Palma não tinha a carta de condução. Ameaçou com uma arma e fugiu com o carro e só depois é que o carro foi interceptado. Veio a guarda republicana e pensavam que eram passadores ou contrabandistas.Armando não foi preso porque iria chegar mais tarde à Covilhã. Ele e outros transportavam “todo um armamento do último grito comprado na Checoslováquia”, com o dinheiro dos “confiscos” aos bancos e aos veículos de transporte de fundos.Fomos várias pessoas que conduziram o carro e os detonadores e todo o material bélico que a gente tinha e plástico que é um explosivo altamente sofisticado que ainda hoje se utiliza, que se chama semtex. Arranjámos automóveis com esconderijos especiais para isso e a gente trouxe. A gente não veio directo, mas de Praga a Paris são 1.000 quilómetros, de Paris a Portugal são mais ou 1.700 - 2.000 praticamente, com os caminhos ‘détournés' que a gente fez. Portanto, a gente transportou armas sem nunca ter nenhum problema, nunca foram capturadas ao longo de 3.000 quilómetros. São 3.000 quilómetros, é muita coisa, portanto, estávamos relativamente bem organizados.Depois da tentativa frustrada da tomada da Covilhã e perante a prisão dos companheiros, Armando entra na clandestinidade até à Revolução dos Cravos. Um período em que continuou a acreditar que a LUAR poderia derrubar a ditadura, tanto é que se a tomada da Covilhã tivesse funcionado, o regime poderia ter tremido: “O que se diz é que o Salazar ficou preocupado e que ainda gritou lá com os tipos da PIDE a dizer “O Palma outra vez?! Outra vez o Palma?!” A LUAR quis ser “o detonador da revolução”Na “nova concepção de luta” da LUAR, estava a violência revolucionária e acções armadas contra o regime, também com sabotagem de meios usados na guerra colonial. Porém, era rejeitado o recurso a actos terroristas e o assassínio de pessoas, mesmo se fossem agentes da PIDE. A prová-lo estão alguns episódios que Armando Ribeiro nos conta.Aqui em Paris, havia rapazes que trabalhavam em hotéis e havia um hotel que era o Lisboa que era de um tipo da PIDE. A gente tinha lá um tipo que trabalhava, que era da LUAR, e eles iam lá dormir e ele viu que eram da PIDE, uma brigada, eram três ou quatro da PIDE. Ele telefonou ao Palma a dizer: ‘Estão lá os tipos da PIDE, o que é que a gente faz? Damos-lhes um tiro?' e o Palma: ‘Não vamos dar tiro nenhum. Só nos traz problemas e não vamos resolver problema nenhum.'O mesmo aconteceu com um informador da PIDE no restaurante Ribatejo, mas Hermínio da Palma Inácio rejeitava matar pessoas porque “não se faz a revolução dessa maneira”. Um membro da LUAR chegou a ter à frente um agente da PIDE que tinha torturado barbaramente uma companheira do movimento, mas “não conseguiu disparar”.Na LUAR nunca existiu a coisa dos tiros, da violência pela violência. A gente nunca pôs bombas para matar pessoas.Depois de novas prisões, incluindo mais uma vez do chefe histórico Palma Inácio, foi preciso reafirmar os grandes princípios norteadores da organização. O objectivo era continuar a luta, avançar com acções para alertar a opinião pública nacional e internacional e continuar a publicar o jornal Fronteira, a partir de Paris. Em Janeiro de 1974, a LUAR publica o manifesto “Por uma utilização correcta dos novos métodos de luta, pela Revolução Socialista”, redigido sobretudo por Armando Ribeiro, Fernando Pereira Marques e Rui Pereira. “A gente não queria a ditadura do proletariado, éramos pela democracia directa”, reitera o seu co-autor.No fundo, a LUAR queria ser “o detonador da revolução” em Portugal e a revolução acabou por chegar, mas através do Movimento das Forças Armadas.A gente pensava que íamos conseguir ser o detonador da revolução. Quer dizer, o MFA foi isso. Eles fizeram aquilo que, se calhar, não estavam à espera. Ninguém estava à espera no 1° de Maio que houvesse um milhão de pessoas em Lisboa. O 1° de Maio foi logo a seguir ao 25 de Abril e ninguém estava à espera.O ‘comandante' afirma, mesmo, que “o programa do MFA é uma cópia do primeiro documento que a LUAR mandou para a rua, o documento número 1, com o que a gente queria fazer” e os objectivos eram “democratizar, dar a independência às colónias, acabar com a guerra colonial”.Em Abril de 1973, Hermínio da Palma Inácio e Armando Ribeiro foram à Conferência Internacional de Apoio às Vítimas do Colonialismo, em Oslo, onde se encontraram com Agostinho Neto e Manuel Jorge do MPLA, Marcelino dos Santos, da Frelimo, e os irmãos de Amílcar Cabral que já tinha sido assassinado. A revolta de Armando ainda se lê no rosto e na voz quando diz que a PIDE matou “um dos maiores dirigentes africanos do século 20” e “o maior amigo dos portugueses”. Não o conheceu, mas lembra que “houve malta da LUAR que desertava da Guiné e que o conheciam porque os desertores eram enviados para Argel e Argel é que distribuía e via se eles eram pessoas infiltradas, se eram pessoas que pura e simplesmente não estavam de acordo com a guerra, ou se se tinham lá chateado com os capitães ou com alguns tipos militares, estilo generais do tempo do Spínola e antes do Spínola”.O capitão Ernesto Melo Antunes, membro da direcção do MFA e co-autor do seu programa político, chegou a encontrar-se com Palma Inácio e Armando Ribeiro em Paris.O Melo Antunes veio falar com o Palma e disse: ‘Vocês não façam nada, eu sei que vocês estão equipados, mas vocês não façam nada porque isto agora vai mesmo para a frente'. E o Palma disse: ‘Olha, a primeira vez que eu que eu me meti nisso foi em 1947' [O Palma tomou parte e sabotou os aviões da base de Sintra em 1947] ‘Em 1947, já me vieram com essa conversa, mas está bem. Ficamos assim, vocês façam lá, andem para a frente que a gente apoia-vos'. Que eles fizessem, mas que nós íamos continuar a fazer aquilo que a gente achava porque, desde 1947, ele tinha-se metido nisso e o exército, no último momento, tinha sempre falhado.A Revolução acabou mesmo por ser feita pelo Movimento das Forças Armadas, com o apoio em massa do povo.“Os tanques todos na rua e milhares de portugueses na rua e fez-se uma revolução que é das coisas mais espectaculares que existe na segunda metade do século 20. E o resto é conversa. O 25 de Abril foi uma coisa exemplar”, resume.Depois do 25 de Abril, Armando Ribeiro fez parte da Comissão da Extinção da PIDE-DGS, ao lado, nomeadamente, do companheiro de luta também exilado em Paris Fernando Oneto. Desarmar, tratar dos arquivos e interpelar agentes da PIDE eram algumas das funções. Armando diz que, pessoalmente, só prendeu Silva Pais, que era o director da PIDE/DGS, o agente Domingues que era “o assassino do pintor Dias Coelho que a PIDE tinha morto a tiro” e um português em Paris “que era o Manuel não sei quantos que andava com o “Portugal Livre” e que andava a enganar as pessoas, a dizer que era antifascista e era um tipo que era pago pela PIDE”. Houve, ainda, um agente infiltrado da PIDE na LUAR, Ernesto Castelo Branco, que acabou por ser entregue ao MFA.Quanto aos torcionários das prisões do fascismo, Armando Ribeiro só pode condenar a actuação da justiça portuguesa: “O sistema judicial português, que ainda hoje é aquela miséria que a gente conhece, puseram-nos na rua e os PIDES todos que foram presos, depois fugiram e fizeram 30 por uma linha!”Durante mais de um ano, Portugal viveu e acreditou na sua revolução, com comissões de trabalhadores, associações de moradores, ocupações de terras e de empresas, nacionalizações, etc. Porém, a demissão, em Setembro de 1975, do primeiro-ministro Vasco Gonçalves, Capitão de Abril e rosto do Processo Revolucionário em Curso, anunciava o fim de uma época. Armando Ribeiro percebeu que o ideal revolucionário acabara e decidiu deixar novamente Portugal e instalar-se em França, onde ficou até hoje e onde nos recebe. Meio século depois, avisa: “É no solo podre que nascem os cravos”.
Armando Ribeiro era chamado “comandante” pelos companheiros e “falsificador” pela PIDE. Foi um dos fundadores da LUAR, Liga de União e de Acção Revolucionária, e, aos 80 anos, conta-nos algumas das acções deste grupo de resistência armada à ditadura portuguesa. Armando Ribeiro viveu seis anos na clandestinidade, escapou à prisão, transportou armas 3.000 quilómetros Europa fora, participou na tentativa frustrada de tomada da Covilhã e no assalto a Consulados de Portugal para obter passaportes. Nos 50 anos do 25 de Abril, a RFI falou com vários resistentes ao Estado Novo. Neste programa, ouvimos Armando Ribeiro, um dos fundadores da Liga de União e de Acção Revolucionária (LUAR).Os que o conheciam de perto chamavam-lhe “comandante”. Os que o queriam prender vociferavam: “Esse falsificador!”. Nesses tempos de clandestinidade e de luta contra a ditadura portuguesa, poucos sabiam o nome deste homem, hoje com 80 anos.O Inácio Afonso, que era um tipo da PIDE, dizia: ‘Esse fulano! Esse falsificador! A gente até vai buscá-lo a Paris se for preciso!'. Mal eles sabiam que se a gente quisesse os tínhamos liquidado! ‘A gente vai buscá-lo a Paris, esse falsificador!'. Nem conhecia exactamente o meu nome. Só conhecia ‘comandante'. Ninguém sabia o meu nome. Eu acho que nem o Palma sabia o meu nome completo.Chama-se Armando Ribeiro e foi um dos fundadores do movimento antifascista LUAR, a Liga de União e Acção Revolucionária. Um dos dirigentes do grupo era Hermínio da Palma Inácio que, em 1947, participou na sabotagem de aviões da Força Aérea; em 1961, também participou no desvio de um avião para lançar panfletos contra a ditadura sobre Lisboa e outras cidades, junto com Camilo Mortágua. Este já tinha estado no desvio do paquete Santa Maria, no mesmo ano. Ambos estiveram na linha da frente do assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, em 1967. E foi o assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz que levou à fundação da LUAR, em Paris, onde já se encontrava Armando.O jovem tinha deixado Portugal três anos antes. Estudante do Instituto Comercial do Porto, onde era dirigente da associação académica, Armando Ribeiro ficou em Paris durante uma visita de estudo de finalistas em Março de 1964 porque recusava ir para a guerra colonial combater pessoas que lutavam pela sua independência. Inscreveu-se na escola de Arts et Métiers e trabalhava à noite no PBX de um prédio. Poderia estudar durante o dia, ter uma vida boémia, mas trocou o conforto pela luta.Muito novo ainda, foi o braço direito de Hermínio da Palma Inácio, em Paris, dirigente do Conselho Superior do movimento e criador do seu símbolo - o “L”, com uma seta ascendente. Comprou armamento, transportou um arsenal de armas 3.000 quilómetros Europa fora, participou no assalto a consulados para obter passaportes e ajudou a preparar os chamados “confiscos” para custear muitas vidas na clandestinidade. Como os companheiros, pôs a vida em perigo nome de um ideal e esse ideal chamava-se LUAR.“A LUAR foi uma organização que começou pela luta armada porque todas as pessoas que integravam a LUAR já tinham participado em coisas de luta armada, como o desvio do Santa Maria. Portanto, foi aí que comecei, foi com essa gente toda”, começa por explicar, sublinhando que era uma organização apartidária, claramente “fora do Partido Comunista Português” e que defendia a acção directa e o recurso às armas para o derrube da ditadura e a restauração da democracia. As origens da LUARConta, ainda, que na génese do movimento estiveram personalidades como Henrique Galvão e até Humberto Delgado, com iniciativas de acção directa contra o regime, nomeadamente depois do “terramoto” da candidatura presidencial do “General Sem Medo”. Humberto Delgado esteve directamente envolvido na Revolta de Beja na passagem de ano de 1961 para 1962. Henrique Galvão esteve em várias outras acções com impacto internacional de grande peso, para as quais contou com o apoio essencial da dupla Palma Inácio e Camilo Mortágua.A 23 de Janeiro de 1961, exilado na Venezuela, Henrique Galvão fez tremer o regime com o assalto e desvio do paquete Santa Maria, considerado o primeiro sequestro político de um transatlântico na história contemporânea, uma acção em que participou também Camilo Mortágua. Depois, a partir do Brasil, Henrique Galvão preparou a Operação Vagô, na qual, em Novembro de 1961, Palma Inácio participou no primeiro acto de pirataria aérea da história: o desvio de um avião comercial da TAP, que fazia o percurso Casablanca-Lisboa, e o lançamento sobre Lisboa e outras cidades de panfletos contra o regime. A bordo do avião estava também Camilo Mortágua.Depois do assassínio do General Humberto Delgado, a 13 de Fevereiro de 1965, os opositores que estavam refugiados no Brasil, decidem voltar para a Europa para continuarem a acção contra o regime a partir do exterior.O Palma e uma meia dúzia que tinham participado no avião vieram para a Europa e diziam que a partir do Brasil não se pode fazer nada, é muito longe estar no Brasil e ter acções em Portugal e vieram-se instalar, sobretudo, em França e na Bélgica.A LUAR nasce quando o opositor Emídio Guerreiro, refugiado em Paris, enviou um comunicado ao jornal francês Le Monde, no qual que a LUAR reivindicava o assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, em 1967.A LUAR não existe antes do banco da Figueira da Foz. Quem deu o nome à LUAR foi depois do banco da Figueira da Foz e foi o professor Emídio Guerreiro, que estava aqui refugiado há muito tempo, mas que não pertencia à LUAR porque a LUAR não existia. Ele tinha contacto com os membros da LUAR, especialmente com o Palma Inácio e o Camilo Mortágua. Quando ele soube, quer dizer, ele imaginou que quem poderia fazer aquilo só poderia ser o Palma, não é? E então ele inventou – e bem, que é um nome bonito, LUAR - e mandou um comunicado ao Le Monde a dizer que tinha sido a LUAR que tinha feito.Armando Ribeiro participou, depois, na reunião de fundação da LUAR na casa de Emídio Guerreiro, em Paris. Dissensões internas levariam ao afastamento de Emídio Guerreiro, a que não foi alheio o destino do dinheiro da agência do Banco de Portugal da Figueira da Foz que lhe tinha sido entregue. Porém, uma parte significativa dos 29 mil contos era constituída por notas ainda não postas em circulação e só 4,7 mil contos por notas usadas, tendo outra parte sido recuperada pela PIDE com a colaboração de um infiltrado [Ernesto Castelo Branco] e apenas uma pequena parte do dinheiro se poderia cambiar por caminhos travessos.A LUAR foi um marco na história da resistência armada ao regime ditatorial português. E se um punhado de homens e mulheres dedicaram parte da sua vida a organizar acções revolucionárias para derrubar a ditadura, o preço da coragem era, muitas vezes, pago com a prisão, a tortura, o exílio. Armando não chegou a ser preso, mas, quando ia a Portugal, usava uns sapatos com uma serra no interior para poder serrar as grades da cadeia caso lá fosse parar.Sobreviver na clandestinidade implicava fintar as autoridades e isso também passou pela falsificação de passaportes e bilhetes de identidade. Armando foi um dos responsáveis por essa tarefa que passou pelo assalto a consulados de Portugal em Roterdão e no Luxemburgo em Abril e Junho de 1971. O objectivo era obter documentos de identificação, formulários e selos brancos. Na PIDE, ele ficou conhecido como “falsificador”.Em Roterdão, quando a gente lá foi, a gente não sabia que era o dia da rainha da Holanda e o Consulado estava fechado. De maneira que a gente até teve que abrir a porta ilegalmente porque não estava aberto. No Luxemburgo já foi diferente, estava a funcionar. Tomámos o Consulado e trouxemos passaportes que era o que nos fazia falta. Mais tarde, com os meios financeiros que tínhamos, criámos todo um sistema de contrafacção dos documentos. Tínhamos uma panóplia de documentos perfeitamente iguais.Os documentos falsos eram, depois, usados para os combatentes circularem e, sobretudo, como medida de precaução caso fossem controlados pela polícia.Armando Ribeiro conta, ainda, que só houve um caso em que a polícia neutralizou resistentes da LUAR sabendo, de antemão, que eram da organização. Foi depois da “Operação Primavera” [a 30 de Abril de 1969 e que consistiu na sabotagem de pilares de alta-tensão no Porto e numa explosão junto ao Consulado Americano do Porto] que a PIDE estava à espera em Irun e deteve Seruca Salgado, Júlio Alves e José Paulo Lima Matias. Mas a polícia espanhola não autorizou a extradição porque tinha bem presente o assassínio, pela PIDE, do general Humberto Delgado em território espanhol [13 de Fevereiro de 1965].Serviam para a gente, quando estava em Portugal, com vários nomes, se viesse a autoridade pedir, num controle normal - porque é evidente que se já soubessem que a gente era da LUAR não valia de nada. Mas nunca tivemos esse problema porque, contrariamente ao que se diz, nunca ninguém da LUAR foi presa com a PIDE a saber onde a gente estava. Só houve um caso, mas a prisão foi executada em Hendaia, Irun. Estava lá o Sacchetti, que era o diretor PIDE, à espera deles e eles foram presos em Espanha [Seruca Salgado, Júlio Alves e José Paulo Lima Matias]. Eles pensavam que os espanhóis os iam entregar directamente à PIDE, mas os espanhóis nessa altura não autorizaram que a PIDE pegasse neles e os levasse para Portugal porque, entretanto, o General Delgado tinha sido encontrado assassinado em Espanha. Então, eles não entregaram e esses indivíduos ficaram presos em Espanha e depois foram julgados, foram dados como políticos e, portanto, não foram extraditados para Portugal e foram recambiados para a Argélia que os recebeu. “A gente transportou armas sem nunca ter nenhum problema ao longo de 3.000 quilómetros”Poucos meses depois de vários membros da LUAR terem vivido o Maio de 68 em Paris, inclusivamente participando na ocupação da Casa de Portugal na Cidade Universitária, prepararam nova acção revolucionária: a tentativa de tomada da cidade da Covilhã, em Agosto.A Covilhã é um centro de lanifícios, industrial, e a gente ia tomar a rádio e íamos atacar os bancos todos lá, a guarda republicana, a polícia, íamos tomar a cidade e tínhamos uma declaração para fazer na Rádio Covilhã ao país e à Covilhã. E depois íamos evacuar. Não lhe posso dizer o que é que se ia passar porque nunca chegámos a isso porque o Palma, entretanto, foi preso.Ainda assim, Armando Ribeiro nega que a operação tenha sido um fracasso e diz que foi o azar que levou à detenção de Palma Inácio porque a polícia política estava longe de imaginar o que se iria passar.Não foi fracasso nenhum. Houve vezes em que a gente teve sorte, outras vezes teve azar. A intersecção deu-se em Torre de Moncorvo. Eles tinham saído para tomar um café porque não tinham comido há muito tempo. Foram ao café e, depois, o Palma meteu-se no carro em que vinha, o polícia pediu-lhe os documentos e o Palma não tinha a carta de condução. Ameaçou com uma arma e fugiu com o carro e só depois é que o carro foi interceptado. Veio a guarda republicana e pensavam que eram passadores ou contrabandistas.Armando não foi preso porque iria chegar mais tarde à Covilhã. Ele e outros transportavam “todo um armamento do último grito comprado na Checoslováquia”, com o dinheiro dos “confiscos” aos bancos e aos veículos de transporte de fundos.Fomos várias pessoas que conduziram o carro e os detonadores e todo o material bélico que a gente tinha e plástico que é um explosivo altamente sofisticado que ainda hoje se utiliza, que se chama semtex. Arranjámos automóveis com esconderijos especiais para isso e a gente trouxe. A gente não veio directo, mas de Praga a Paris são 1.000 quilómetros, de Paris a Portugal são mais ou 1.700 - 2.000 praticamente, com os caminhos ‘détournés' que a gente fez. Portanto, a gente transportou armas sem nunca ter nenhum problema, nunca foram capturadas ao longo de 3.000 quilómetros. São 3.000 quilómetros, é muita coisa, portanto, estávamos relativamente bem organizados.Depois da tentativa frustrada da tomada da Covilhã e perante a prisão dos companheiros, Armando entra na clandestinidade até à Revolução dos Cravos. Um período em que continuou a acreditar que a LUAR poderia derrubar a ditadura, tanto é que se a tomada da Covilhã tivesse funcionado, o regime poderia ter tremido: “O que se diz é que o Salazar ficou preocupado e que ainda gritou lá com os tipos da PIDE a dizer “O Palma outra vez?! Outra vez o Palma?!” A LUAR quis ser “o detonador da revolução”Na “nova concepção de luta” da LUAR, estava a violência revolucionária e acções armadas contra o regime, também com sabotagem de meios usados na guerra colonial. Porém, era rejeitado o recurso a actos terroristas e o assassínio de pessoas, mesmo se fossem agentes da PIDE. A prová-lo estão alguns episódios que Armando Ribeiro nos conta.Aqui em Paris, havia rapazes que trabalhavam em hotéis e havia um hotel que era o Lisboa que era de um tipo da PIDE. A gente tinha lá um tipo que trabalhava, que era da LUAR, e eles iam lá dormir e ele viu que eram da PIDE, uma brigada, eram três ou quatro da PIDE. Ele telefonou ao Palma a dizer: ‘Estão lá os tipos da PIDE, o que é que a gente faz? Damos-lhes um tiro?' e o Palma: ‘Não vamos dar tiro nenhum. Só nos traz problemas e não vamos resolver problema nenhum.'O mesmo aconteceu com um informador da PIDE no restaurante Ribatejo, mas Hermínio da Palma Inácio rejeitava matar pessoas porque “não se faz a revolução dessa maneira”. Um membro da LUAR chegou a ter à frente um agente da PIDE que tinha torturado barbaramente uma companheira do movimento, mas “não conseguiu disparar”.Na LUAR nunca existiu a coisa dos tiros, da violência pela violência. A gente nunca pôs bombas para matar pessoas.Depois de novas prisões, incluindo mais uma vez do chefe histórico Palma Inácio, foi preciso reafirmar os grandes princípios norteadores da organização. O objectivo era continuar a luta, avançar com acções para alertar a opinião pública nacional e internacional e continuar a publicar o jornal Fronteira, a partir de Paris. Em Janeiro de 1974, a LUAR publica o manifesto “Por uma utilização correcta dos novos métodos de luta, pela Revolução Socialista”, redigido sobretudo por Armando Ribeiro, Fernando Pereira Marques e Rui Pereira. “A gente não queria a ditadura do proletariado, éramos pela democracia directa”, reitera o seu co-autor.No fundo, a LUAR queria ser “o detonador da revolução” em Portugal e a revolução acabou por chegar, mas através do Movimento das Forças Armadas.A gente pensava que íamos conseguir ser o detonador da revolução. Quer dizer, o MFA foi isso. Eles fizeram aquilo que, se calhar, não estavam à espera. Ninguém estava à espera no 1° de Maio que houvesse um milhão de pessoas em Lisboa. O 1° de Maio foi logo a seguir ao 25 de Abril e ninguém estava à espera.O ‘comandante' afirma, mesmo, que “o programa do MFA é uma cópia do primeiro documento que a LUAR mandou para a rua, o documento número 1, com o que a gente queria fazer” e os objectivos eram “democratizar, dar a independência às colónias, acabar com a guerra colonial”.Em Abril de 1973, Hermínio da Palma Inácio e Armando Ribeiro foram à Conferência Internacional de Apoio às Vítimas do Colonialismo, em Oslo, onde se encontraram com Agostinho Neto e Manuel Jorge do MPLA, Marcelino dos Santos, da Frelimo, e os irmãos de Amílcar Cabral que já tinha sido assassinado. A revolta de Armando ainda se lê no rosto e na voz quando diz que a PIDE matou “um dos maiores dirigentes africanos do século 20” e “o maior amigo dos portugueses”. Não o conheceu, mas lembra que “houve malta da LUAR que desertava da Guiné e que o conheciam porque os desertores eram enviados para Argel e Argel é que distribuía e via se eles eram pessoas infiltradas, se eram pessoas que pura e simplesmente não estavam de acordo com a guerra, ou se se tinham lá chateado com os capitães ou com alguns tipos militares, estilo generais do tempo do Spínola e antes do Spínola”.O capitão Ernesto Melo Antunes, membro da direcção do MFA e co-autor do seu programa político, chegou a encontrar-se com Palma Inácio e Armando Ribeiro em Paris.O Melo Antunes veio falar com o Palma e disse: ‘Vocês não façam nada, eu sei que vocês estão equipados, mas vocês não façam nada porque isto agora vai mesmo para a frente'. E o Palma disse: ‘Olha, a primeira vez que eu que eu me meti nisso foi em 1947' [O Palma tomou parte e sabotou os aviões da base de Sintra em 1947] ‘Em 1947, já me vieram com essa conversa, mas está bem. Ficamos assim, vocês façam lá, andem para a frente que a gente apoia-vos'. Que eles fizessem, mas que nós íamos continuar a fazer aquilo que a gente achava porque, desde 1947, ele tinha-se metido nisso e o exército, no último momento, tinha sempre falhado.A Revolução acabou mesmo por ser feita pelo Movimento das Forças Armadas, com o apoio em massa do povo.“Os tanques todos na rua e milhares de portugueses na rua e fez-se uma revolução que é das coisas mais espectaculares que existe na segunda metade do século 20. E o resto é conversa. O 25 de Abril foi uma coisa exemplar”, resume.Depois do 25 de Abril, Armando Ribeiro fez parte da Comissão da Extinção da PIDE-DGS, ao lado, nomeadamente, do companheiro de luta também exilado em Paris Fernando Oneto. Desarmar, tratar dos arquivos e interpelar agentes da PIDE eram algumas das funções. Armando diz que, pessoalmente, só prendeu Silva Pais, que era o director da PIDE/DGS, o agente Domingues que era “o assassino do pintor Dias Coelho que a PIDE tinha morto a tiro” e um português em Paris “que era o Manuel não sei quantos que andava com o “Portugal Livre” e que andava a enganar as pessoas, a dizer que era antifascista e era um tipo que era pago pela PIDE”. Houve, ainda, um agente infiltrado da PIDE na LUAR, Ernesto Castelo Branco, que acabou por ser entregue ao MFA.Quanto aos torcionários das prisões do fascismo, Armando Ribeiro só pode condenar a actuação da justiça portuguesa: “O sistema judicial português, que ainda hoje é aquela miséria que a gente conhece, puseram-nos na rua e os PIDES todos que foram presos, depois fugiram e fizeram 30 por uma linha!”Durante mais de um ano, Portugal viveu e acreditou na sua revolução, com comissões de trabalhadores, associações de moradores, ocupações de terras e de empresas, nacionalizações, etc. Porém, a demissão, em Setembro de 1975, do primeiro-ministro Vasco Gonçalves, Capitão de Abril e rosto do Processo Revolucionário em Curso, anunciava o fim de uma época. Armando Ribeiro percebeu que o ideal revolucionário acabara e decidiu deixar novamente Portugal e instalar-se em França, onde ficou até hoje e onde nos recebe. Meio século depois, avisa: “É no solo podre que nascem os cravos”.
I thought I had a hot take in response to the Little Mermaid discourse last year, but predictably I'm not the first one to think of reading the Isle of Venus in Camões' Lusiads against the Age of Exploration diary entries in which roving European savages discuss their adventures in more complex Indigenous kinship structures where sex was not commodified and the family was not specialized to pass down private property—as well as (what one suspects was actually much more common) rolling up on Indigenous women around the world and committing sexual violence. Sure enough, my guest Min has written an entire scholarly thesis on two different poetic re-imaginings of the Isle of Venus which highlight the colonial violence that Camões' poem works to conceal: one by a white Anglo woman in Brazil, and another by the leader of the Angolan revolution against Portuguese domination, António Agostinho Neto. Hosted on Acast. See acast.com/privacy for more information.
A Ministra da justiça de Moçambique responsabilizou os agentes da polícia que dispararam mortalmente contra cidadãos que participavam nas manifestações de protesto contra os resultados das eleições autárquicas. Helana Kida defendeu que as pessoas que foram identificadas devem ser responsabilizadas, sublinhado, não ter ainda acesso aos processos. A ministra da justiça de Moçambique não avançou com o número de pessoas que perderam a vida nas manifestações. O governo moçambicano fala em dois óbitos, enquanto a sociedade civil contabiliza pelo menos seis vítimas mortais.Esta semana, os partidos extra-parlamentares contestam os resultados divulgados pela Comissão Nacional de Eleições, que dão vitória à Frelimo nas eleições autárquicas, e pedem a dissolução da Comissão Nacional de Eleições e do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral. O presidente da União Eleitoral, Hipólito Couto, defendeu que as eleições autárquicas não foram livres justas e muito menos transparentes, sublinhando que a única solução é a impugnação dos resultados anunciados pela CNE.O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, está em Riade, na Arábia Saudita, onde participou esta sexta-feira, 10 de Novembro, na primeira cimeira Arábia Saudita / África. A Arábia Saudita já assinou acordos no valor de mais de 500 milhões de dólares com países africano para reforçar a cooperação política, económica e social entre este gigante petrolífero e o continente africano.Na Guiné-Bissau, a situação no Supremo Tribunal de Justiça continua na berlinda depois da demissão do respectivo presidente, num braço de ferro com outros juízes do órgão. O chefe de Estado pronunciou-se esta semana pela primeira vez sobre o caso.Cabo Verde anunciou na terça-feira, 7 Novembro, em Genebra, que pretende candidatar-se ao Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, anunciou a ministra da Justiça, Joana Rosa. A candidatura fechou a intervenção da ministra da Justiça cabo-verdiana na sessão da Revisão Periódica Universal, em que destacou algumas das metas alcançadas desde 2018, data da última avaliação, e que serviram para mostrar como o país tem respondido à maioria das 159 recomendações colocadas na altura.Cabo Verde anunciou esta semana dois casos de dengue, confirmados em laboratório. No total, são seis os casos suspeitos, localizados em diferentes bairros da Praia, capital do país, e notificados pelo Hospital Agostinho Neto. Ângela Gomes, a directora-nacional de Saúde, disse que o alerta é geral e pediu colaboração de todos para eliminar qualquer foco de mosquitos, portadores da doença. O Aeroporto António Agostinho Neto foi inaugurado esta sexta-feira em Luanda pelo Presidente, João Lourenço. Um empreendimento que a prazo vai acolher voos comerciais, domésticos a partir de Fevereiro, e , a partir de Junho, com voos internacionais, substituindo o actual aeroporto, construído em 1954. Numa primeira fase o Aeroporto acolhe apenas voos de carga, explicou o ministro dos transportes, Ricardo d'Abreu.
durée : 00:57:40 - Les décolonisations africaines - par : Pierre ASKI - Voyage au sud-ouest du continent africain à la rencontre d'Agostinho Neto, poète, médecin et premier président de l'Angola. Un récit de Pierre Haski émaillé d'archives et de musiques, éclairé par l'historien Yves Léonard.
Estima–se que em Cabo Verde existem cerca de 2 mil pessoas com paralisia cerebral e menos da metade é conhecida. A presidente da Associação das Famílias e Amigos das Crianças com Paralisia Cerebral (Acarinhar), Teresa Mascarenhas, considera que "muitas coisas já foram feitas, mas ainda temos um longo caminho a percorrer". A associação Acarinhar é uma ONG de solidariedade social criada em 2007 por um grupo de pessoas preocupadas pela situação em que vivem as crianças e jovens com paralisia cerebral. A presidente da Associação das Famílias e Amigos das Crianças com Paralisia Cerebral (Acarinhar), Teresa Mascarenhas, considera que "muitas coisas já foram feitas, mas ainda existe um longo caminho a percorrer".A maioria das crianças com limitações motoras vivem em zonas de difícil acesso. "Os desafios são muitos, principalmente no que diz respeito à sustentabilidade da própria organização porque trabalhar nesta área exige recursos económicos e humanos. A situação geográfica de Cabo Verde impõe barreiras. O que é feito numa ilha deveria ser feito nas outras ilhas", defende Teresa Mascarenhas. Em Cabo Verde, as crianças e adultos com paralisia cerebral ainda não têm o acompanhamento que deveriam ter, afirma a responsável da associação Acarinhar. "O hospital Agostinho Neto já conta com uma equipa que dá respostas a um grupo de crianças, um grupo muito reduzido. A nível nacional não existe esta equipa, quanto muito há um ou dois casos, mais agudos, que se deslocam à Cidade da Praia para fazer tratamentos, mas que depois regressam para a ilha de origem", descreve. As crianças com paralisia cerebral dificilmente têm acesso a profissionais, falta pessoal técnico especializado; "não temos terapeutas ocupacionais, os terapeutas da fala, também existem em número reduzido e nem todas as pessoas têm acesso à fisioterapia", sublinha Teresa Mascarenhas."Vamos continuar a acompanhar as famílias, mas é necessário fazer-se um registo das crianças com paralisia cerebral. Temos algumas referências, dadas pelo Instituto Nacional de Estatísticas, mas são dados não publicados. É preciso ter registos do número de crianças, onde se encontram e como estão para podermos intervir", afirma a presidente da Associação das Famílias e Amigos das Crianças com Paralisia Cerebral.Teresa Mascarenhas lembra, ainda, que há casos de sucesso como uma criança conheceu com 8 anos de idade. "Esta criança não andava nem falava. Houve uma intervenção pluridisciplinar intensiva e esta criança começou a andar, a falar. Neste momento esta crianças é um jovem que está no ensino secundário. Se houver intervenções com continuidade é possível haver muitas evoluções", concluiu.
Até ao dia 17 de Dezembro as portas do Teatro Elinga em Luanda, Angola, abrem-se no âmbito do Festival Nacional da Cultura (Fenacult) cuja edição deste ano é alusiva ao centenário de Agostinho Neto. No Elinga a actividade começou este fim-de-semana com a peça “A Errância de Caim”, uma adaptação da obra “Caim” de José Saramago, com encenação, cenografia e direcção de José Mena Abrantes. Até ao dia 17 de Dezembro as portas do Teatro Elinga em Luanda, Angola, abrem-se no âmbito do Festival Nacional da Cultura (Fenacult) cuja edição deste ano é alusiva ao centenário de Agostinho Neto. No Elinga a actividade começou este fim-de-semana com a peça “A Errância de Caim”, uma adaptação da obra “Caim” de José Saramago, com encenação, cenografia e direcção de José Mena Abrantes, tal como explicou à RFI o director do Elinga-Teatro. “No âmbito do centenário de nascimento do primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, o Governo Provincial de Luanda e governos de outras províncias estão a levar a cabo um Festival Nacional de Cultura, o Fenacult, que já teve edições anteriores. Este ano, o Fenacult é dedicado precisamente ao centenário de nascimento de Agostinho Neto e para diversificar a apresentação de peças, o Elinga foi também escolhido para apresentar no seu espaço algumas das peças que já foram levadas a cena em alusão precisamente a Agostinho Neto. De Junho a Setembro, o Circuito Internacional de Teatro (CIT) levou a cabo 100 obras alusivas ao Presidente Neto em três províncias: Huíla, Bengo e Luanda. Em Luanda, como há uma grande dificuldade de espaços de representação, o CIT pediu que o Elinga cedesse as instalações para a apresentação de 43 espectáculos, quase todos, dedicados à figura do Presidente Neto. Entretanto, se assinala também o centenário de José Saramago e há algumas afinidades de biografia entre os dois, quisemos repor “A errância de Caim”, uma adaptação que fiz do romance “Caim” [de José Saramago] e explorar, precisamente, essa ligação de ambos que se dedicaram, toda a vida, a causas nobres, à luta por uma humanidade pacífica e de desenvolvimento.” Entretanto, no próximo dia 17 de Dezembro, o Elinga-Teatro fecha este festival com uma apresentação que se chama "8 Poetas no Poeta Agostinho Neto". “Essa selecção de poemas também já tinha sido feita há alguns anos, chegámos a fazer esse recital num hotel aqui em Luanda com a participação de vários actores do Elinga. Entendemos repor esse recital minimamente teatralizado com oito poemas que são uma construção, uma montagem de poemas. A minha selecção tem o poeta revoltado, o poeta solidário, o poeta da amizade, o poeta da esperança, o poeta do outro, o poeta do amor, o poeta do futuro e o poeta ele só. Portanto, em função destes temas foram seleccionados, montados e entrelaçados às vezes vários poemas para expressar a dimensão humana e literária do Agostinho Neto enquanto escritor. Por exemplo, no termo da selecção eu escolhi um poema que para mim é o talvez o mais conseguido sobre Agostinho Neto, que é um poema de Arnaldo Santos que se chama “Canto a Um Homem que não era árvore”. Foi publicado logo a seguir à morte do Presidente Neto.”
A Companhia de Dança Contemporânea de Angola apresenta, esta quinta-feira, na UNESCO, em Paris, o espectáculo "Isto é uma mulher?", das coreógrafas Ana Clara Guerra Marques e Irène Tassembédo. A peça é interpretada por homens que dançam e questionam o género, em mais uma criação que rejeita cristalizações de conceitos, corpos e identidades. A coreógrafa e directora artística da Companhia de Dança Contemporânea de Angola, Ana Clara Guerra Marques, conversou com a RFI sobre a história, a evolução, as dificuldades e a resistência da companhia que cumpre 31 anos em Dezembro e que se apresenta, pela primeira vez, em França. RFI : Quer começar por descrever-nos a peça que a Companhia de Dança Contemporânea de Angola apresenta em Paris ? Ana Clara Guerra Marques, directora artística da Companhia de Dança Contemporânea de Angola: "A peça que nós viemos apresentar foi a última criação do CDC que é uma co-autoria entre mim e a coreógrafa Irène Tassembédo e chama-se 'Isto é uma mulher?'" E o que é "uma mulher" para a Companhia de Dança Contemporânea de Angola? "Esta peça não é uma peça feminista, é uma peça que pretende pôr as pessoas a pensar e a reflectir sobre algumas questões ligadas ao género, mas, também, sobre a condição da mulher. Acho que é interessante porque a companhia é masculina, são sete homens que dançam a mulher ou interpretam – não imitam, não reproduzem – interpretam." Ser interpretada por bailarinos, homens, não é contraditório? Quem deve falar de mulheres não são as mulheres? "Não. Nós não achamos nada disso e também achamos que mulher não se circunscreve a um aspecto físico e discutimos isso na peça. Toda a gente deve falar de toda a gente. Sobretudo, o que nos interessa aqui é a nossa condição de ser humano, ser mulher, homem ou qualquer outro género. Com tanto discurso feminista, no nosso país chegou-se a um exagero: põem mulheres porque é preciso ter mulheres independentemente da sua competência ou da sua não competência e são homens que fazem isto, que promovem, que nomeiam, que põem. Nós também não temos que estar sujeitas a esta magnanimidade masculina. Nós devemos aceder às coisas pelo nosso mérito e não por sermos mulheres. Esta peça anda muito à volta disto. Obviamente que existem situações em que as mulheres são altamente discriminadas em algumas culturas, mas também há outros géneros que também são discriminados. Tudo isto vem acima na peça. Para quem quiser ver." Além disso, as coreógrafas são mulheres. "São mulheres, mas são mulheres de fibra." Em termos de vocabulário plástico e de coreografia, como é essa dança? "A companhia é de dança contemporânea, inclusiva. A linguagem é uma linguagem mista porque são duas linguagens, duas coreógrafas. O nosso trabalho não pretende ser uma reprodução daquilo que estamos habituados a ver como sendo a dança contemporânea que se vê sobretudo na Europa, aquela forma de movimentar. Nós trabalhamos com os nossos bailarinos que têm uma formação diferente destes bailarinos daqui, ou seja, não têm uma formação convencional - a formação é-lhes dada dentro da companhia. E, portanto, eles têm uma forma de mover, cada um deles. Obviamente que eles têm técnica e têm aulas de técnica, etc, mas nós investimos no lado artístico deles e a linguagem é muito feita a partir dos corpos deles, dos movimentos que eles trazem e trabalhando isso, depois, com as coisas de cada coreógrafo." Como é que surge a apresentação na UNESCO? A Clara é membro do Conselho Internacional de Dança da UNESCO. É a partir daí que surge o convite ? "Não. A companhia também é membro, somos os dois, mas o convite foi feito pela nossa Embaixadora de Angola na UNESCO, a doutora Ana Maria de Oliveira, que conhece o trabalho da companhia, que aprecia bastante o trabalho da companhia, que está desde o início da criação da companhia - quando a companhia foi formada, ela era ministra da Cultura. É uma pessoa que tem vindo a acompanhar o nosso trabalho e tem um grande apreço. Convidou-nos no âmbito das comemorações da Independência de Angola e do Centenário de Agostinho Neto." Também há outra data redonda. Os 30 anos da Companhia de Dança Contemporânea de Angola. Que balanço faz? "Em realidade, nós vamos fazer 31 anos agora em Dezembro. Foi um percurso difícil, muito sofrido e continua a ser, como se diz no livro, de grande resistência, ou seja, o nosso país talvez não esteja ainda preparado para um trabalho desta desta natureza, com estas linguagens. Mas foi, ao mesmo tempo, um percurso que marcou a dança, marcou a mudança, marcou a diferença e continua a marcar a diferença num país que é, de certa forma, conservador em relação a estas propostas mais contemporâneas da arte. Tem sido uma grande luta, mas tem sido também um desafio. Nós podemos saldar como positivo. Apesar de, repito, de um caminho completamente tortuoso, completamente difícil, muitas vezes sem lugar para ensaiar, sem possibilidades para produzir. Mas nós somos lutadores e se achamos que é preciso fazer, que é preciso modificar, que é preciso pôr Angola no caminho do progresso, no campo das artes, então é isso que nós fazemos." Precisamente, vocês também apresentaram na Embaixada de Angola em França dois livros sobre a companhia, "Lugares Incorporados" e "Companhia de Dança Contemporânea de Angola - 30 Anos de Resistência". Olhemos para este título - "30 anos de resistência". É preciso resistir para se ter dança contemporânea em Angola ? "É. É preciso resistir para conseguir levar um trabalho novo, propostas às quais as pessoas não estão habituadas e que, muitas vezes, são rejeitadas porque as pessoas, muitas vezes, pensam ou acham que o nosso trabalho não é suficientemente africano para representar um país africano. Ou seja, há uma certa confusão, há uma certa falta de cultura, há uma certa ignorância, uma certa falta de sensibilidade porque as pessoas, sobretudo a nível institucional, são muito progressistas em relação a outros aspectos mas, de repente, quando chega a parte das artes e, sobretudo, da dança, pensa-se que a dança angolana tem que ser exclusivamente a dança patrimonial, ou seja, nós devemos apenas mover-nos no terreno etnográfico e das danças tradicionais e populares. Nós temos sempre que resistir. Esta palavra resistência tem também a ver com o facto de nós resistirmos a este movimento, digamos, quase contra o nosso trabalho, mas fazendo um novo, apresentando um novo. É, no fundo, um trabalho de vanguarda, se é que ainda podemos utilizar esta palavra numa altura destas, mas é neste sentido também." É um trabalho de vanguarda, um trabalho contemporâneo, mas, ao mesmo tempo, que se inspira em danças tradicionais, em danças populares angolanas… "Às vezes. Nós temos duas linhas de criação: por um lado, intervenção social e esta é a nossa preferência, uma companhia que intervém, é quase um trabalho político; e também temos esse trabalho baseado no nosso acervo patrimonial, não apenas nas danças, em que eu utilizo o trabalho de investigação que eu tenho feito justamente neste campo etnográfico. Nós trabalhamos nestas duas vertentes, digamos assim." A dança inclusiva é algo fundamental no seu trabalho também. "Sim. Angola, com as várias guerras e sucessivas guerras, tem um grande número de pessoas mutiladas e com deficiências, etc, e há alguma discriminação também em relação às pessoas portadoras de deficiências. Nós achamos que é importante mostrar que um corpo diferente pode dançar também e num país como o nosso, em que há realmente esta discriminação, a companhia tem feito um trabalho importante nesse sentido, mostrando realmente que a diferença não é um problema, não é uma limitação." A companhia contribuiu para alterar a história da coreografia e da dança em Angola? "Completamente, completamente. Nós trouxemos a dança contemporânea, a dança inclusiva, a utilização de espaços não convencionais. Nós trouxemos realmente novas linguagens para um panorama que tinha apenas as danças populares, as danças sociais, naturalmente, as festas, etc, e o acervo tradicional. Não havia mais nada. Mesmo da época colonial para depois da Independência, não passou nenhuma estrutura. Não havia no tempo colonial nenhuma companhia de dança em Angola, havia de teatro mas não havia de dança. Raramente éramos visitados por companhias de dança. Eu lembro-me de lá ter ido a Gulbenkian nos anos 70, eu era miúda, andava na escola de dança já. Nós inovámos também. Trouxemos o regime de temporadas, o profissionalismo mesmo em dança porque os bailarinos são profissionais, são formados, dominam linguagens, dominam léxicos. Tudo isto foi realmente completamente inovador. Eu acho que também daí, às vezes, há algum medo de assumir este colectivo e o nosso trabalho, sim." Porque no fundo, a companhia fundada em 1991 foi a primeira companhia profissional em Angola. E em África ? "Foi das primeiras em África nascidas no continente. Havia, e continua a haver, muitos coreógrafos africanos que estão radicados em Paris, na Alemanha, aqui e ali, e têm as suas companhias e fazem o seu trabalho. Mas, a surgir no continente, a nossa deve ter sido a quarta ou a quinta companhia e em Angola, sim, foi a primeira e neste momento é a única companhia profissional que Angola tem. Os bailarinos vivem da sua profissão." Conseguem sobreviver da dança? "Sim, sim, sim. Dedicam-se, com exclusividade ao trabalho da companhia, trabalham seis, sete, oito horas por dia. Ou seja, é um trabalho profissional." Em termos de apresentações, limitam-se a Angola ou conseguem exportar o vosso trabalho? "Nós conseguimos fazer 'tournées'. De há uns anos para cá, nós fazemos, pelo menos, uma tournée por ano e fazemos as temporadas em Angola. É difícil fazer digressões dentro de Angola. Quando conseguimos apoios, preferimos trazer o trabalho cá fora, preferimos divulgar e internacionalizar o nosso trabalho." Quantas peças têm no vosso repertório ao longo destes 31 anos? Quais as que mais marcaram a companhia e, até, Angola? "Se nós pensarmos que desde 1991 até agora fizemos, pelo menos, uma peça por ano, temos 0 peças mais ou menos. É difícil escolher. Imagina-te com vários filhos, não podes gostar mais de um do que de outros! Em relação ao público, tem graça, porque as peças mais críticas, mais agressivas, digamos assim, são as peças que marcam mais o público. Obviamente que nós somos um produto do público também. 'Palmas, por favor!' foi uma peça que marcou bastante. O 'Agora não dá! Tou a bumbar…' também porque era uma crítica cheia de humor porque essa é uma das características do nosso trabalho. 'O Homem que chorava sumo de Tomates' foi mesmo, mesmo muito forte. O 'Ceci n'est pas une porte' foi outra peça em que não havia teatros – e não há - então nós construimos uma série de caixas e encostámo-las a uma parede e os bailarinos dançaram nessa parede de caixas. Foi na altura em que prenderam 15 activistas, portanto, eles estavam confinados numas caixas, não podiam falar, não tinham espaço..." Uma mensagem política, portanto? "Sempre. Sempre. Eu divido, claramente, o entretenimento da arte. Já que existimos, os artistas, não temos que existir para o deleite de pessoas. Nós devemos existir para intervir, para estar presente e para dar o nosso contributo para mudar."
Arrivé aux affaires au lendemain de la mort du président Agostinho Neto en cette fin d'année 1979, José Eduardo dos Santos est aussitôt confronté à la guerre qui secoue l'Angola. Six jours seulement après sa prise de pouvoir, le régime de Pretoria déclenche une attaque aérienne de grande envergure, avec pour principal objectif la destruction des infrastructures de la ville de Lubango. À la recherche de solutions diplomatiques, Dos Santos va aussi devoir faire face à Washington qui arme son adversaire, le chef rebelle Jonas Savimbi.
Tandis que la plupart des colonies françaises et anglaises accèdent en cascade à l'indépendance en cette année 1960, dans l'Afrique portugaise rien ne bouge. L'administration coloniale durcit même le ton en Angola et réprime systématiquement et impitoyablement les nationalistes. Les principaux leaders comme Agostinho Neto sont arrêtés et déportés. Le jeune José Eduardo dos Santos travaille lui aussi clandestinement, parmi les étudiants, au renversement de la domination coloniale portugaise.
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Ao domingo um tema social ou cultural angolano, saúde com a Dra. Graça e a rubrica “Fala África” em que conversamos com jovens influencers, músicos, líderes comunitários, jovens com novas ideias e projectos. Horário: Sáb-Dom Hora UTC: 1700 Duração: 60 min
Tandis que la plupart des colonies françaises et anglaises accèdent en cascade à l'indépendance en cette année 1960, dans l'Afrique portugaise rien ne bouge. L'administration coloniale durcit même le ton en Angola et réprime systématiquement et impitoyablement les nationalistes. Les principaux leaders comme Agostinho Neto sont arrêtés et déportés. Le jeune José Eduardo dos Santos travaille lui aussi clandestinement, parmi les étudiants, au renversement de la domination coloniale portugaise.
A RFI leva a cabo uma serie de reportagens intituladas Façamos História e esta sexta-feira, 19 de Agosto, propomo-vos explorar um pouco da história de Angola com o historiador Bruno Júlio Kambundo. Bruno Júlio Kambundo é um investigador que se interessa particularmente pela história dos trabalhadores angolanos, que viveram um período de opressão e, segundo o historiador, desempenharam um papel importante na consolidação do regime colonial português. RFI: "Recuperar vozes silenciadas" tem sido o seu trabalho enquanto investigador, por que motivo se interessa por este tema? Bruno Júlio Kambundo: Interesso muito pela história dos trabalhadores. Porquê? Porque é uma linha de pesquisa que sigo e que estou a terminar o meu trabalho de doutoramento em relação ao estudo sobre o papel da mão-de-obra africana na construção do caminho-de-ferro, no período compreendido entre os anos de 1905 e 1971, porque entendo que, independentemente, dos angolanos terem vivido um período de opressão, eles jogaram um papel preponderante naquilo que foi a consolidação do regime colonial português. Embora com muitas vezes, essas vozes são silenciadas e tal eu costumo trabalhar, geralmente, na ideia de recuperar essas vozes silenciadas. Faz-se trabalho de investigação no campo, no terreno encontra-se com trabalhadores alguns destes trabalhadores que trabalharam na construção das linhas de ferros de Moçâmedes ainda estarão vivos. Quais é que são os relatos que ouviu que ouve? Na verdade a metodologia que temos estado a usar é fazer um cruzamento daquilo que existe em relação às fontes que foram produzidas pelo regime colonial português, mas também uma ligação com os periódicos da época. Para o o último período, nós felizmente ainda encontrámos algumas pessoas que trabalharam nos últimos anos no caminho-de-ferro de Moçâmedes e que têm relatos interessantíssimos. Relatos que muitas vezes os registos deixado pelo regime colonial não narram. Procuramos fazer dialogar e perceber que influência e que eles jogaram nesse processo. Qual é que foi essa influência? É que sem essa mão-de-obra africana não seria possível Portugal consolidar o seu projecto colonial de várias formas. Para ter uma ideia, Portugal quando colocou em prática o projecto da construção do caminho-de-ferro de Moçâmede, independentemente dos demais objectivos que tinha, o principal era a salvaguardar aquele território que já tinha, de alguma forma, conquistado fruto da pressão que vinha sofrendo que era da Alemanha como da Inglaterra. Desta forma Portugal estava a tentar garantir por si só que os alemães e os ingleses não ocupassem o território que já estava na sua posse. Desta forma conseguimos compreender, por exemplo, que Portugal traça uma estratégia e que conta com os africanos para consolidar a mesma. Essa estratégia surge no século dezanove, quanto Portugal já vai sentindo a pressão de outras potências que viam um grande potencial em Angola? Na verdade os problemas não começam nos anos 30 e 40 são anteriores. Desde o último quartel do século, Portugal vai sentido a pressão das potências coloniais. Depois da conferência do Berlim, há uma corrida desenfreada para África e para o caso de Angola não foi diferente e aqui Portugal, que não tem o mesmo poderio económico e financeiro que tem a França que tem a Inglaterra, começa a sentir apertado. Tal é que no caso de algumas construções no capítulo financeiro elas tiveram a mão da Inglaterra e noutros casos mesmo da França. Neste âmbito, Portugal precisava de garantir que as posições que possuía e que não as fosse perder. Da mesma forma que Portugal conseguiu administrar regiões e encontrou muita resistência dos nativos e é percebida pelo conjunto de acções legislativas que Portugal fez. Se olhar para o regulamento indígena, os diferentes códigos que Portugal fez sair é sempre numa forma de fazer com que o africano de Angola se submetesse àquilo que era a sua estratégia colonial. Desta forma também se quisermos perceber que Portugal nesta altura não tem em termos populacional o número considerável para ocupar e garantir a ocupação nos territórios como Angola, Moçambique e nas outras colónias portuguesas só se pode perceber desta forma que é com os próprios nativos que Portugal arquitectou toda a sua agenda de dominação. Falou de submissão ainda existe a seu ver um sentimento de submissão relativamente aos países exteriores, às relações com outros países? Penso que a relação histórica que é os angolanos tiveram com os portugueses ainda hoje se faz sentir no dia-a- dia dos angolanos, no lidar com os agentes portugueses. Não podemos descurar que de alguma forma se faz sentir sobre várias maneiras os angolanos submetem-se por exemplo no capítulo educacional, em muitas vezes mesmo no capítulo da saúde, mesmo sem querer acabámos submetendo. Se eu olhar, por exemplo, para aquilo que são os códigos eh legais do país que é a Angola é como se fosse um copy paste do que que se vive em Portugal e em muitos casos deixámos de assumir aquilo que é a nossa identidade, assumindo uma identidade e um olhar do ocidente que é esse imaginário de Portugal. Qual é a identidade de Angola? A identidade de Angola é dos angolanos e é aquilo que os caracteriza da verdade. Não é muito normal, por exemplo, que os jovens angolanos hoje não consigam falar o quimbundo ou o bundo e não tenham históricos sobre o seu passado. Sabe que a relação Angola Portugal fez com que muitos dos nossos antepassados, os mais velhos conhecessem mais os rios de Portugal do que os rios de Angola. Se for ter com adulto lá que eu tenha vivido até antes de 1975 e que tenha feito a sua formação neste período. Conhece melhor o rio Tejo e outros do que o rio Cuanza ou ao rio Luei porque era assim ensinado. E o modelo de vida é orientado naquilo que era a base do organismo colonial português. Hoje tentámos fazer diferente, mas há ainda uma prisão muito forte. Além de um regime colonial que se prolongou durante muitas décadas há depois as lutas de libertação. A independência de Angola e depois vem a guerra civil. Angola teve alguma dificuldade em reconstruir-se. Sem sombra de dúvidas. Quando se pensava que à saída de Portugal e o fim do colonialismo se é assim entendermos fosse um período de dar passos para a para a frente, na verdade a guerra civil surge para encravar ainda mais este projecto de desenvolvimento dos angolanos. Sempre tal e qual ao período colonial é um processo tem a cabeça ao ocidente. Infelizmente a guerra civil levou muitos angolanos e destruiu e não permitiu que os angolanos se encontrassem. Hoje estamos a tentar fazer um país, que precisa de referências, que precisa de modelos. Há que se criar uma estratégia de reconstrução destes modelos para que possamos de facto construir a Angola que queremos. Mas esses modelos e essas referências existem na história de Angola, nomeadamente, com Agostinho Neto ou Nito Alves. Costumo dizer assim e não. Acabam sendo referências porque são aquelas pessoas que nos dirigiram a alcançar a independência, mas também são os mesmos que nos fizeram entrar para esse processo de guerra civil. Então precisamos olhar para cada modelo e retirar neles apenas os aspectos positivos daquilo que na verdade queremos. Falou da conferência de Berlim e da corrida para África na altura. Hoje está-se a reproduzir um pouco isso, uma corrida para criar cooperações? Inevitavelmente, a África é o continente do futuro. A África é aquele continente pouco desbravado ainda. África é o continente jovem, mas agora precisamos de ter uma estratégia da África e dos Africanos. Precisamos de nos alinhar para dialogar de igual para igual com o ocidente porque muitas relações que têm sido estabelecidos ainda neste prisma. A África entra sempre num papel inferior e que precisa mudar. A África precisa-se afirmar, mas sempre dentro de uma estratégia de grupo porque não podemos continuar a fazer protocolos a título individual quando depois temos problemas que afectam o geral. Os laços que nos unem são maiores do que aqueles que nos separam. Então precisamos andar juntos.
Hip Fractures are challenging and complex medical challenges in the elderly. Their management require early intervention and consume significant resources from the Health system and add significant burden to the Family. Special challenges exist in Cabo Verde. Listen to this fascinating discussion with participation of Drs. Timothy Johnson and David Johnson two Cabo Verdean American Orthopedic surgeons.
É um memorial que não atrai multidões, mas que simboliza uma das maiores viragens da história de Angola. Duas mãos juntas, abertas, viradas para o céu, onde pousa uma pomba de asas abertas. Um trabalho original de Clément Bonnerot para a France 24, com a participação de Dombaxi Sebastião, Evan Claver e Juliette Dubois. Estamos em Luena, capital da província de Moxico. Foi aqui que, a 4 de Abril de 2002, a UNITA (oposição) e o MPLA (poder) puseram fim a 27 anos de guerra civil com a assinatura de um acordo de paz. Dorca Kavui era tenente das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), a ala armada da Unita e lembra-se bem do dia em que soube da morte de Jonas Savimbi. "Naquela altura, não tínhamos televisão. Só ouvimos as pessoas daqui, do Moxico, a começar a regozijar-se, estavam a fazer barulho, estavam a gritar, e perguntei o que se estava a passar. Disseram-me: ‘o Savimbi morreu'. (...) Eu sabia que a guerra ia acabar assim, porque ele próprio disse: vamos entrar num ponto de viragem, muitas pessoas vão morrer debaixo das balas, outras vão morrer à fome e outras serão capturadas... Por isso, quando vi que este momento tinha chegado, lembrei-me do que ele tinha dito." Após a guerra, tal como dezenas de milhares de combatentes por todo o país, Dorca foi integrada no exército nacional, depois desmobilizada e aposentada. Agora, a ex-tenente da FALA, ala armada da UNITA, vive nesta modesta casa com uma das suas filhas e quatro netos, onde conta com dias pacíficos. “Naquela altura, era muito difícil: havia crianças que sofriam, crianças que morriam... Fui uma mulher activa durante a guerra, pesquei para alimentar os meus filhos, para que não morressem. Essa vida que levamos foi muito difícil, mas agora acabou-se. Hoje, vou para o campo, trabalho um pouco, trago algo para viver para os meus filhos. A vida de hoje tornou-se um pouco normal, porque estamos em paz." Uma lei, aprovada em 2002, garante direitos sociais e económicos a todos os antigos soldados, com uma pensão básica de 23.000 kwanzas, ou seja 50 euros. Mas 20 anos depois, o Estado ainda não terminou de contar os seus veteranos. Em Luena, antigos membros do MPLA e da UNITA raramente se encontram, todavia unem as suas vozes para exigirem, em conjunto, os mesmos direitos. Muitas mulheres, em particular, que se mobilizaram durante a guerra nunca viram o seu passado de combatente reconhecido. Inês Sónia Jackson, antiga Chefe da Juventude da UNITA, denuncia a falta de apoio: "O meu marido abandonou-me porque não trabalhava, sou desempregada. Mas estou aqui com os meus filhos, tenho cinco filhos e não tenho apoio de ninguém. (...) Hoje vivo a trabalhar nos campos. Se não o fizesse, talvez estivesse à procura de comida no lixo." Henrique Branco, conhecido por "Helicóptero", lutava pelo MPLA, partido no poder desde 1975. Primeiro contra os portugueses, depois contra a UNITA. Depois de 34 anos ao serviço do seu país, hoje este ex-comandante da FAPLA, ala armada do MPLA diz-se abandonado. "Quando estivemos com Agostinho Neto, na guerrilha, ele dizia: quando Angola for independente, vocês não vão pagar a renda das casas, não vão pagar a água (...) Mas até hoje, ninguém cumpriu estas promessas. Os antigos combatentes são tratados como lixo, ‘é tapete para pisar'. Já não se lembram que hoje, se têm o que têm, se podem ser ministros ou não sei o quê, é graças aos antigos combatentes. Mas já não se lembram disso." 20 anos depois, a guerra permanece profundamente enraizada na memória dos angolanos. A 500 quilómetros de Luena, o Huambo foi o reduto da UNITA e de Jonas Savimbi. É uma das cidades que mais sofreu durante os combates. Testemunho desse tempo é a Casa Branca, a casa do antigo líder, destruída por bombas do MPLA após as contestadas eleições de 1992. Memória Ekulica é sociólogo e escritor: "O Huambo foi quase completamente destruído. Muitas casas foram destruídas, como esta (...). Foi o primeiro andar, mas tudo desmoronou." Até agora, não foi feito nenhum esforço para reconstruir a casa de Jonas Savimbi. A figura daquele que foi apelidado de "galo negro" continua a ser controversa em Angola. O corpo de Jonas Savimbi só foi enterrado em 2019, depois de 17 anos de negociações entre o Governo e a sua família. Hoje, a UNITA vê nesta casa um símbolo de guerra. Mas para este sociólogo, estas ruínas são uma ferida aberta para o país. "Estamos em paz há 20 anos. Não há motivos para isto acontecer. Ao não reconstruírem esta casa, estão a fomentar o nosso ódio em relação ao outro. Penso que é isso que deve ser superado. (...) Acho que há outras formas de manter esta casa como símbolo de guerra... tirar fotografias, fazer filmes e colocar tudo num museu”. A poucas centenas de metros da Casa Branca, o Huambo oferece uma paisagem contrastante. Por um lado, o centro da cidade que foi quase completamente reconstruído, com as casas renovadas, calçada pavimentada e jardins elegantes. Por outro, nos bairros periféricos, vários edifícios ainda testemunham a brutalidade dos combates. Um pouco mais longe, o parque industrial. Antes da guerra, albergava uma dúzia de fábricas. Todas foram destruídas e nunca mais retomaram a actividade, tal como esta antiga fábrica de telhados. Memória Ekulica, sociólogo e escritor, sublinha que Angola deveria ter aproveitado o pós-guerra para políticas de reconstrução: "Deveria ter sido o momento para lançar políticas públicas ou privatizações. A reconstrução é um todo, tudo deve ser em conjunto: agricultura, pecuária, industrialização (...) Quando a reconstrução significa ter casas para as pessoas viverem, para mim não é reconstrução. Portanto, numa palavra, o Huambo não está reconstruído." Se o Huambo pena para se reconstruir, os seus habitantes tentam viver com as cicatrizes da guerra. Celestino Elias é um dos 80.000 angolanos que perderam um membro devido uma mina antipessoal. Tinha dois anos. Hoje, é campeão do mundo de futebol amputado, medalhas e troféus que orgulhosamente guarda na sua casa. "Este é o troféu 2019 do campeonato africano em Benguela... E esta é a medalha de 2018, quando fui coroado o melhor jogador do mundo." Nascido numa família pobre, Celestino Elias António não beneficiou de qualquer acompanhamento médico durante a infância. Descobriu o futebol aos oito anos, quando o pai o inscreveu no clube da aldeia, apesar da sua incapacidade. "Quando via os outros jogadores, também queria jogar, mas eles não aceitavam (...) Depois juntei-me a um clube no Huambo, comecei a treinar lá com outras pessoas com deficiência, e adaptei-me." Hoje, Celestino Elias António é um defesa da Selecção Nacional Paralímpica. Treina cinco vezes por semana no Huambo. Por todo o país, há dezenas de equipas desportivas para amputados. Hélder Gomes, treinador, fala do desporto como vector de integração social: "É importante promover o desporto entre pessoas com deficiência, porque o desporto é, sem dúvida, a forma mais fácil de inserção e integração social (...) Se conseguirmos integrar estas pessoas na sociedade, se realmente elas se sentirem confortáveis, então sim, teremos beneficiado dos 20 anos de paz que vivemos no nosso país." Uma integração que permanece, no entanto, muito limitada. Em Angola, a esmagadora maioria das pessoas com deficiência vive sem recursos e sem assistência do Estado, denuncia Josué Sabino Ekuikui, jogador. "Gostaria que o Governo fizesse mais para ajudar as pessoas com deficiência (...) Acredito que, como pessoas com deficiência, temos muito a dar ao país. Eu, por exemplo, sou técnico médio de educação, estou a fazer o segundo ano do ensino primário... Mas até agora, não há oportunidades de emprego." 20 anos após o fim da guerra civil, Angola continua a ter muitas dificuldades em virar a página, mesmo se na década de 2000, o país registou um boom económico, graças ao aumento dos preços do petróleo, que representam 70% das receitas do Estado. A capital, Luanda, é testemunha disto. Com arranha-céus e a frente ribeirinha renovada. Luanda projecta a imagem de uma Angola próspera e moderna. Mas por detrás desta bela imagem, metade da população ainda vive com menos de dois dólares por dia. Mesmo assim, para o MPLA, vencedor da guerra civil, e no poder por quase meio século... os resultados dos últimos 20 anos são positivos, nas palavras de Rui Falcão, porta-voz do MPLA. "Um país vai-se fazendo (...) Um país como o nosso que ainda não tem a estabilidade necessária e onde os efeitos da guerra ainda se sentem, o engraçado é que quem mais reclama é quem destruiu. Mas nós, que temos a obrigação de reconstruir e melhorar, estamos plenamente conscientes de que já fizemos bastante, mesmo que ainda haja muitos problemas por resolver." Eleito há 5 anos, o Presidente João Lourenço fez do combate à corrupção uma prioridade. Prometeu virar a página sobre a era do seu antecessor, José Eduardo Dos Santos, que governou de 1979 a 2017. Porém, apesar da multiplicação de processos, o país continua entre os mais corruptos e desiguais do planeta. Hitler Samussuku é um dos mais conhecidos activistas políticos em Angola. Escolheu o hip hop para exigir mudanças no país. "Sempre que vier a noite, desejarás o dia E quando vier o dia, desejarás a noite… Um aviso para a polícia: não entrem no processo Ou entrem e que seja da nossa parte." Nos seus textos, não hesita em atacar directamente o Presidente da República e encoraja os angolanos a saírem à rua: "Vivemos numa sociedade onde a participação política é baixa e as pessoas têm muito medo de falar porque têm medo de represálias e repressão governamental. Encontramos no movimento do hip-hop uma porta, uma janela de oportunidade para fazer passar a nossa mensagem." Hitler é filho de Dorca, a veterana que conhecemos em Luena. Se ela abandonou a política traumatizada por 27 anos de guerra, ele considera que a paz não pode ser limitada a um mero silêncio de armas. Do seu bairro, Hitler Samussuku, activista da sociedade civil exige uma vida melhor para os angolanos. "Estamos no município de Cacuaco, zona norte de Luanda... É um bairro com índices muito elevados de pobreza, criminalidade, prostituição e analfabetismo (...). Este é o portão de uma casa e o esgoto passa por aqui fora e todos pensam que é normal." O activismo já o levou à sua prisão várias vezes. Em 2015, ao lado de outros 16 activistas, por liderarem um grupo de reflexão em torno do conceito de resistência não-violenta e, novamente, em 2019, acusado de insultar o presidente. "Para mim, viver em paz seria viver numa sociedade com justiça, não digo numa sociedade justa, mas pelo menos com justiça, com a separação dos poderes legislativos, executivos e judiciais (...). Tenho um compromisso. Tal como a minha mãe estava comprometida em lutar pela paz, eu tenho o compromisso de lutar pela saída do poder do MPLA, para termos alternância em Angola e contribuir para o desenvolvimento do país." Para Hitler e os seus camaradas, 20 anos depois do fim da guerra... a paz ainda precisa de ser construída. "Água, luz, saúde, educação! Água, luz, saúde, educação!"
O documentário “Sita: a vida e o tempo de Sita Valles”, da realizadora Margarida Cardoso, parte da história de uma das vítimas mais conhecidas do 27 de Maio de 1977 em Angola para falar de toda uma geração destruída e calada à força. O filme devolve-lhes a voz e vai ter a primeira exibição pública no festival IndieLisboa, a 6 de Maio, estreando nos cinemas portugueses a 12 de Maio. É um documentário esmagador e desconcertante. “Sita: a vida e o tempo de Sita Valles”, da realizadora Margarida Cardoso, parte da história de uma das vítimas do 27 de Maio de 1977 em Angola, Sita Valles, para lembrar todos os que foram assassinados nos dois anos que se seguiram a esse dia. A 27 de Maio, manobras militares e apelos a manifestações populares a favor de uma mudança ideológica no seio do MPLA são reprimidas pelas forças leais ao presidente Agostinho Neto. A versão oficial que perdurou no tempo é que foi uma tentativa de golpe de Estado. Seguiram-se dois anos de perseguição brutal aos chamados fraccionistas ou nitistas, com milhares de mortos. O silêncio começou a ser quebrado há poucos anos, há um processo de reconciliação nacional em curso, o Presidente de Angola pediu perdão em nome do MPLA em 2021, há promessas de entrega de ossadas e certificados de óbito, mas a luta continua. É o que mostra o último plano do filme. A luta continua. Porquê? É por esta pergunta que começamos a conversa com Margarida Cardoso. RFI: “A luta continua” é a frase que se lê no último plano do filme, acompanhado pelo discurso do Presidente a pedir desculpas às vítimas dos conflitos políticos, nomeadamente do 27 de Maio. Por que escolheu terminar com este plano? Margarida Cardoso, Realizadora: A luta continua tem um significado muito especial porque eu acho que esta luta para se descobrir a verdade, para se tentar a reconciliação, não está fechada com um pedido de desculpas. Eu acho que este processo de tentativa de reconciliação de um povo, do próprio povo com os seus irmãos, é uma coisa que tem que continuar. E já num filme anterior que eu tenho, “Kuxa Kanema - O Nascimento do Cinema”, eu também termino com essa frase. Os acontecimentos de 27 de Maio de 1977 provocaram uma purga em Angola que levou à morte de mais de 30.000 pessoas, de acordo com a Amnistia Internacional, mas os números variam e o filme aponta que possam ter sido até 70.000. Porque é que escolheu partir da história desta mulher, Sita Valles, na altura com 25 anos, mãe há poucos meses, que segundo vários relatos estaria novamente grávida quando desapareceu e que foi acusada de ser uma das cabecilhas do alegado golpe? Eu encontrei a história da Sita quando fazia a investigação para um filme de ficção que fiz, “Yvone Kane”, e eu estava muito interessada em como as pessoas nessa altura, sobretudo nos anos 60 e 70, se empenhavam tanto nas lutas ideológicas e como esses conflitos ideológicos tinham uma importância tão grande nessa geração. Encontrei a figura da Sita e, claro, quis logo fazer alguma coisa com a história dela. Era um personagem bastante contraditório, quer dizer, para uns era uma revolucionária que levou a luta política até ao extremo, para muitos que a levou longe demais. Interessou-me muito essa questão tão complexa da própria personalidade da Sita e de como ela, no fundo, também tinha passado por três fases. Foi uma pessoa que viveu no tempo colonial, numa sociedade colonial em Angola muito cheia de regras e ela até era de uma família bastante burguesa, estava bem ali com os brancos apesar de ser goesa. Depois, ela também veio para Lisboa e passou uma fase da luta anticolonial em Lisboa. E, depois, o seu fim em Angola, nos primeiros anos da independência. Portanto, o facto de ela ter atravessado estas três fases interessou-me também muito porque são fases que ando a estudar há muito e que me interessam nos filmes. O processo foi muito longo porque o assunto ainda era tabu em Angola quando fui a primeira vez e comecei a entrevistar pessoas. Também porque era muito difícil contar esta história sem contar outras coisas, mas penso que consegui uma coisa que muitas pessoas podem aderir sem conhecerem os pormenores da história que são muitos. Como disse e vemos no filme, muitos testemunhos descrevem Sita Valles como uma revolucionária profissional, uma agitadora, uma temerária, uma activista que desafiava o perigo. Ela lutou contra o regime fascista em Portugal, era comunista, lutava na clandestinidade dos bancos da faculdade de medicina e depois da Revolução dos Cravos foi para Angola e integra o MPLA. Por que é que ela foi uma das principais visadas pela repressão e como é que hoje a descreve? Um fantasma incómodo? Para responder à primeira questão eu acho que temos de contar que, no fundo, de todas estas vítimas dos acontecimentos do 27 de Maio, a Sita foi a pessoa que acabou por ter mais projecção penso que pelo facto de ser uma mulher. No filme vê-se a lista dos cabecilhas e das pessoas que o MPLA procurava na altura como os cabecilhas do alegado golpe e a Sita é a única mulher. A família dela também fez um grande esforço para não se esquecer a história dela. No filme, mostra, por exemplo, alguns planos em que lemos: “É preciso apanhar já estes assassinos” e em que se vêem os rostos de Nito Alves, José Van Dunem, Bakalof, Sita Valles, Luís Passos… Sim, sim, sim. Isso eram panfletos ou era no Jornal de Angola? Não, era do Jornal de Angola, mas também havia muitos panfletos e havia inclusivamente panfletos à porta das lojas e tudo, mas disso não tenho imagens. Há muito poucas imagens disponíveis destes acontecimentos, o que é natural. Mas respondendo à questão anterior, eu acho que a Sita foi muito mais visada porque foi considerada uma figura quase diabólica, de certa forma. Eu acho que foi porque nunca a consideraram angolana. Apesar de a Sita ter nascido em Angola, ela nunca teve a nacionalidade angolana, nunca lhe foi concedida essa nacionalidade e foi sempre considerada a estrangeira que se intrometeu um pouco nos assuntos internos - o que é absolutamente injusto visto que ela nasceu em Angola mas nunca conseguiu a sua nacionalidade pós-independência. Depois, eu acho que o facto de ser mulher foi um dos factores para que ela fosse uma das figuras mais perseguidas e mais diabolizadas, de certa forma. E como é que hoje a descreve, como é que olha para ela? Uma heroína trágica? Sim. Eu olho com todas as contradições do que é uma heroína trágica, como dizes. Ela tinha uma série de qualidades imensas, de conseguir juntar pessoas, de conseguir modificar as coisas, pôr coisas a andar, uma capacidade oratória muito grande. Mas, ao mesmo tempo, tinha também dentro dela um lado um pouco de uma falta de abertura em relação a outras coisas, tinha um lado demasiado focado nalgumas coisas. Eu acho que é isso, que é uma heroína trágica e que traz com ela, dentro da tragédia da sua muito curta vida, toda a tragédia de uma certa geração. Sobretudo as questões identitárias, aquilo que eu referi no início de ela nunca ter conseguido ter a sua nacionalidade. Aconteceu com muita gente e aconteceu com muitas pessoas que estão a ser entrevistadas no filme. Esse problema, essa divisão que houve nessa altura, essa confusão que havia num mundo numa turbulência incrível, eu acho que marca muito não só a personagem da Sita mas também a personagem de uma geração. Por isso, o filme se chama, talvez de uma forma um pouco pomposa, “A vida e o tempo de Sita Valles” porque ela também representa um tempo. O tempo em que é mostrado este filme é um tempo em que se quebra o silêncio em torno do 27 de Maio. O filme estreia em ano de eleições gerais em Angola. É uma coincidência ou há uma parte de activismo e de reparação de o fazer em ano de eleições? Em relação ao filme, não coordenei nada. Realmente o filme sai agora porque foi a altura em que eu acabei. Curiosamente, eu já tinha acabado o filme quando o Presidente João Lourenço fez aquele pedido de desculpas do 27 de Maio, que aparece no final do filme, porque juntei-o ao final. Sai agora, numa altura em que realmente vai haver eleições, mas não foi com nenhum propósito. Como há tantas forças e tantas coisas tão sensíveis, eu tentei focar toda a história muito na biografia da Sita. Claro que me posiciono do lado em que temos que denunciar a purga que se seguiu a este alegado golpe, que foi uma coisa brutal – é considerada até hoje a maior purga ideológica em África – e eu estou do lado de apoiar todas as pessoas e todas as associações que ainda lutam pela verdade e, sobretudo, para se continuar a falar deste assunto. Mas sei que há várias formas de pensar, várias formas de abordar este assunto que ainda tem tantos segredos, tantas coisas escondidas. As pessoas entrevistadas têm alguma expectativa em torno do processo de reconciliação nacional? Uma das pessoas que fala diz que é apenas uma forma de "passar uma esponja sobre o assunto"… Sim, quem diz isso é o próprio irmão da Sita. Aquele anúncio da devolução das ossadas ou da identificação das ossadas de certas pessoas que são nomeadas como cabecilhas do alegado golpe… Eu não tenho seguido muito pormenorizadamente porque tenho estado a filmar em São Tomé já há mais de quatro meses e estou um bocadinho fora das últimas notícias, mas penso que esse processo também não está a correr muito bem, está a correr de uma forma sempre um pouco obscura e pouco transparente. Eu acho que, sinceramente - e também há uma pessoa no filme que diz isso, a Maria Eugénia Varela Gomes - talvez isto seja um pouco como a guerra civil de Espanha, nunca se consegue realmente chegar a uma reconciliação, isso não existe, é difícil. O perdão e a reconciliação, nestes casos, pode-se fazer muitas coisas mas vai ser difícil essa reconciliação. Eu acredito sinceramente que se houvesse mais transparência nos processos, tudo seria melhor. Se não houvesse tentativa de calar as pessoas, de manipular aquilo que elas dizem ou questionam. Eu sei que este filme vai ser um filme que muitas pessoas vão dizer que “não foi assim” ou que “isto não é assim”. Eu sei esse tipo de coisas. Mas estes filmes e estas abordagens têm que continuar a existir. Eu comecei o filme há dez anos e hoje consegue-se falar do 27 de Maio. Acho isso muito importante. Escolheu fazer um filme em forma de documentário, recorreu a fotografias, a imagens de arquivo e foi buscar testemunhos de sobreviventes do 27 de Maio e o irmão de Sita Valles. Isto corresponde a uma tentativa de se aproximar um pouco mais daquilo que pode ter acontecido? Em vez de fazer uma ficção, por exemplo? Eu acho que não estamos na altura ainda de ficcionar uma coisa em que ainda há tantas coisas para se saber, para se ouvir e tudo isso. Para mim é a forma de dar a voz às pessoas que estiveram caladas tantos anos. Eu tenho também entrevistas antigas feitas há quase 11 anos em que as pessoas ainda tinham um certo receio de dizer algumas coisas e, para mim, faz todo o sentido que o filme tenha essa forma de testemunho, de dar a voz. Tenho também pessoas que morreram entretanto mas que tiveram a hipótese de falar sobre isto e de dar entrevistas e essas entrevistas, mesmo que eu as use 5 ou 10 minutos, pelo menos fiquei com um espólio sobre o 27 de Maio, com entrevistas longuíssimas que às vezes têm três e quatro horas. Eu valorizo muito ter ouvido essas pessoas, ter gravado e ter registado. Até porque o filme fala de Sita Valles mas é “o tempo” de Sita Valles, ou seja, está omnipresente o 27 de Maio de 1977 e, com ele, todas as vítimas da repressão. Depois de todas as suas investigações e de ter realizado o filme, como é que resume o 27 de Maio de 1977 e os dois anos que se seguiram? A percepção que eu tenho – e acho que passa um pouco no filme – é que é como se se tivesse criado uma espécie de tempestade perfeita para se conseguir aniquilar tantas pessoas, por vezes de uma forma mais sistemática e mais organizada e, depois, dentro desse espírito da tempestade perfeita, houve milhares de pessoas que foram assassinadas por nada, porque alguém queria a casa, por intrigas pessoais, etc. Por várias razões, criou-se ali uma tempestade perfeita a nível de violência, de vingança. Eu não tenho nenhuma explicação, também não me cabe a mim fazer esse tipo de julgamentos, mas eu queria dar no filme a ideia disso. Eu sei que a história nunca se corrige e nós vimo-lo hoje com a guerra na Ucrânia. Nós continuamos sempre a cometer os mesmos erros históricos, mas eu gostava muito que o filme transmitisse isso, transmitisse a ideia que tenhamos sempre cuidado porque estas tempestades podem acontecer. Aconteceram nessa altura, mas podem acontecer hoje em qualquer sítio. Essa explosão de violência aleatória é uma coisa que a mim me assusta muito porque me faz desacreditar muito na natureza humana. Gostava que o filme funcionasse como um pequeno aviso para que isso não volte a acontecer. O que resta da Sita Valles em nós? Ela resta em nós como uma espécie de pedra no sapato. Qualquer coisa que está ali, que não foi resolvida e que nos faz sempre pensar em como as pessoas podem ser apanhadas em mecanismos históricos com vários links porque também no momento em que ela foi para Angola todas as forças geopolíticas que estavam em jogo eram extraordinárias, eram terríveis. Eu acho que o que resta dela em nós é isso. O facto de ela ter desaparecido, e ter desaparecido naquelas circunstâncias, faz com que ela seja hoje para nós esse grãozinho de areia que nos faz sempre pensar no que correu mal, no que se poderia ter sido feito melhor e no que se pode fazer melhor para o futuro. O filme tem estreia prevista em Angola? Não sei, francamente não sei. Vai estrear em Portugal, temos a estreia no Indie, depois uma estreia em sala no Cinema Ideal. O filme vai passar na RTP2 em duas partes nos dias 26 e 27 de Maio deste ano e também vai estar disponível depois na plataforma Filmin logo a partir do momento da estreia. Espero que seja uma forma de poder divulgar o filme. Se não houver uma estreia em Angola, há muitas maneiras de ver o filme e quem estiver interessado pode aceder ao filme. Tenho muita esperança que mesmo que não haja estreia, as pessoas possam aceder ao filme.
Guterres alerta para as consequências da crise alimentar em África no contexto da guerra na Ucrânia. Angola: Sobreviventes do caso 27 de Maio exigem a reposição da verdade. Guiné-Conacri: Junta Militar propõe período de transição de 3 anos. Emitimos mais um episódio da radionovela Learning by Ear – Aprender de Ouvido.
In this episode, host Meg Arenberg chats with Walter Bgoya, towering Tanzanian intellectual, long time progressive publisher, and founder of the country's long-running independent press, Mkuki na Nyota (Spear and Star). Bgoya describes his early years as a publisher amid the radical ferment of Dar es Salaam in the 1970s and the porous boundaries between publishing, activism, and public intellectualism. As director of the parastatal Tanzania Publishing House from 1972 to 1990, Bgoya oversaw the publication of such influential anti-imperialist texts as Walter Rodney's How Europe Underdeveloped Africa, Agostinho Neto's Sacred Hope, Samora Machel's Establishing People's Power to Serve the Masses, and Issa Shivji's Class Struggle in Tanzania. He is also a founding member of the African Books Collective, a member-owned international distribution collective for African publishers across the continent. Joined by his son and successor, Mkuki na Nyota's Creative Director Mkuki Bgoya, midway through the interview, the discussion shifts to the press's more recent projects, the challenges and opportunities of the digital age, audio books, film adaptations, and the dynamic duo's ideas for strengthening independent publishing and building reading culture in Tanzania and across the continent. https://mkukinanyota.com/ (https://mkukinanyota.com/) https://www.africanbookscollective.com/ (https://www.africanbookscollective.com/) Meg Arenberg is the Managing Director of the Radical Books Collective and the host for their BookRising podcast.
PREFEITO DE CANOAS JAIRO JORGE: AGOSTINHO NETO, O ARTICULADOR, NO PSD - Podcast
A exposição "Resistência Visual Generalizada", de Catarina Boieiro e Raquel Schefer, mostra fotografias, vídeos e livros realizados junto dos movimentos de libertação dos anos 60 e 70 em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Cabo Verde. A mostra abriu ao público a 24 de Novembro e está patente até 15 de Janeiro no Instituto Nacional de História de Arte, em Paris. “Résistance Visuelle Généralisée — Livres de photographie et mouvements de libération (Angola, Mozambique, Guinée-Bissau, Cap-Vert)” é o nome da exposição inaugurada esta semana no Instituto Nacional de História de Arte, em Paris. Uma resistência política e cultural que remonta ao tempo das lutas de libertação que aspiravam tanto à descolonização política quanto à descolonização estética. Uma resistência que encontra ecos em obras que denunciam o racismo estrutural hoje em dia, como o filme “Eu não sou Pilatus” do guineense Welket Bungué. A mostra tem a curadoria de Catarina Boieiro e Raquel Schefer. “Um dos objectivos da exposição é criar uma cartografia das formas visuais e de formas visuais que assentam numa imbricação entre resistência política e resistência estética porque, na altura, se concebia a descolonização num sentido vasto. Ou seja, enquanto processo político e económico, mas também um processo de ordem cultural, estética, cognitiva. Teria de haver, segundo a visão daquele período, uma descolonização cultural, cognitiva, pedagógica”, explicou à RFI Raquel Schefer. A exposição acontece no âmbito de um projecto intitulado “Sismografia das lutas” que junta publicações anti-imperialistas de diferentes geografias. Catarina Boeiro e Raquel Schefer reuniram fotografias, vídeos e livros realizados no âmbito dos movimentos de libertação dos anos 60 e 70 em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Cabo Verde. Na altura, fotógrafos e cineastas, como Sarah Maldoror e Jean-Luc Godard, interessaram-se pelas lutas de libertação e tanto os livros, como a fotografia e o cinema eram vistos como armas para mobilizar apoio e internacionalizar lutas. Eram também meios para mostrar zonas libertadas do colonialismo português onde se experimentavam novas formas de organização económica, social e pedagógica. Foi o que descobriu e fotografou a italiana Augusta Conchiglia em Angola em 1968. “Na altura, a vontade era de participar e fazer conhecer uma situação que era muito pouco acessível ao público porque ninguém falava de Angola na altura. O nosso ponto de partida foi a relação de amizade com uma tradutora italiana de vários poetas no mundo e ela escolhia expressamente aqueles que sofriam a repressão dos regimes autoritários. Quando soube que havia um certo Agostinho Neto na prisão de Aljube, ela conseguiu ter os papéis para chegar lá e ter autorização de um grande editor italiano para ir recuperar os manuscritos que traduziu depois. As primeiras edições internacionais de Neto foram na Itália em 1963. Esta relação com ela fez-nos pensar que havia ali um tema interessante”, recorda Augusta Conchiglia à RFI. As imagens da guerra de libertação, desta vez na Guiné-Bissau, forjaram o olhar de uma criança que, anos e anos mais tarde, continua um caminho académico e artístico aberto pelas fotografias que o pai trouxe da Guiné. Daniel Barroca expõe uma peça que rodopia, escondendo e revelando ora um retrato de um menino, ora uma imagem de um cadáver. “De um lado, sou eu quando era criança. Do outro lado, é a fotografia de um supostamente guerrilheiro do PAIGC morto por soldados portugueses à pancada. Tem a ver com esse momento em que eu encontrei essa fotografia, quando era criança, em que vi aquela imagem pela primeira vez e nunca mais me esqueci e que marcou muito a minha vida, o meu percurso de vida, a minha relação com o meu pai. Foi uma fotografia que eu continuo a trabalhar basicamente e que marca, de uma forma brutal, a minha descoberta em criança do poder de uma imagem. Eu descubro o que é que é a violência da guerra e ao mesmo tempo descubro o que é uma imagem”, conta Daniel Barroca. A exposição “Résistance Visuelle Généralisée” vai ficar patente até 15 de Janeiro no Instituto Nacional de História de Arte em Paris.
Africa has over 1000 native languages (some are on the verge of extinction) and because of colonialism European languages are also spoken. Our multilingual guest speakers Bagou (Guinea, Conakry), Nzinga (Angola) and Wilson (Mozambique) helped us tackle this topic. In this episode, we tackle the importance of learning one's local language and why these shouldn't be repressed in modern day Africa. We also discuss two opposing concepts that illustrate the role of language; "Kill the tribe to build the nation" by Samora Machel (signifying unity) or "We shall return" by Agostinho Neto (signifying identity). You can find this episode on youtube, please subscribe, share, like and comment. https://youtu.be/LgKgfForPks
Trazendo o livro Teoria da Organização Política, de Ademar Bogo (editora: Expressão Popular), apresentamos um pouco da vida e luta deste grande militante pela Libertação do Continente Africano. . "Quem é o inimigo? O que é o inimigo? Qual é o nosso objetivo?" - Agostinho Neto . Não se esqueça de nos seguir nas redes sociais para ficar sempre por dentro dos nossos conteúdos: . Twitter/instagram: @morcego_marcos_ e @yibamberadio Site: Yibambecorp.com.br Twitch: twitch.tv/cavernamorcego . Colabore com a Caverna do Morcego, seja um apoiador: Apoio coletivo: apoia.se/cavernamorcego apoia.se/niverdomorcego picpay: @ marcos.morcego . Equipe: Roteiro/edição : Marcos Morcego Voz/Postagem: Marcos Morcego Capa: Naely Barros Abertura: Odair Junior
Entrevista à historiadora Maria Paula Meneses, coordenadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Uma reflexão sobre o papel dos movimentos de libertação africanos em tempos de Guerra Fria e de como foram determinantes para que o 25 de Abril de 1974 tivesse derrubado a ditadura e o império portugueses. Dos “três D” proclamados pelo Movimento das Forças Armadas – Democratizar, Descolonizar, Desenvolver –, entende que Portugal nunca cumpriu o da Descolonização. Analisa também o apoio da Europa ao projeto colonial em África, cujo “último representante da supremacia branca era o regime sul-africano”. É por essa razão, defende, que a guerra foi tão longa e que “Portugal não podia sair de Angola e de Moçambique”. Ouve aqui. Ajuda-nos a ser o primeiro projeto de jornalismo português totalmente financiado pelas pessoas: https://www.fumaca.pt/contribuir See omnystudio.com/listener for privacy information.
A triste realidade da vuda escravagista.
Angola: Jovem que promovem manifestações negam acusações de que vandalizaram a estátua de Agostinho Neto. Partidos da oposição acusam o Presidente de Angola de falta de vontade política para a realização das eleições autárquicas. Começou esta terça-feira a campanha de registo dos deslocados moçambicanos em Cabo Delgado.
A Independência de Angola deu-se no dia 11 de Novembro de 1975, quando o então primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, proclamou a independência de Angola, de jure e de facto de Portugal.
Angola: PGR decreta prisão preventiva do empresário Carlos São Vicente no caso "900 milhões de dólares". Moçambique: CIP aponta desvio de fundos da proteção social durante a pandemia. Mali: Conheça quem é o Presidente de transição.
Neste programa falamos sobre a dimensão cultural do fundador da nação, António Agostinho Neto. Albino Malungo modera um painel de convidados que inclui Adriano Mixingue, Jomo Fortunato, Canguimbo Ananás e mais.
António Agostinho Neto (Ícolo e Bengo, 17 de setembro de 1922 — Moscou, 10 de setembro de 1979) foi um médico, escritor e político angolano, principal figura do país no século XX.
Um grito de liberdade contra a escravatura no Brasil.
Toma Aí um Poema: Podcast Poesias Declamadas | Literatura Lusófona
António Agostinho Neto foi um médico, escritor e político angolano, principal figura do país no século XX. Foi Presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola e em 1975 tornou-se o primeiro Presidente de Angola até 1979. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o Prêmio Lenine da Paz. >> Por 5,99 você aceita um adicional de Soneto para acompanhar? Apoie o projeto! =P https://www.amazon.com.br/dp/B08DJ61J4R/ Autor: Agostinho Neto Poema: Noite Voz: Jéssica Iancoski / @Euiancoski "Eu vivo nos bairros escuros do mundo sem luz nem vida. Vou pelas ruas às apalpadelas encostado aos meus informes sonhos tropeçando na escravidão ao meu desejo de ser. São bairros de escravos mundos de miséria bairros escuros. Onde as vontades se diluíram e os homens se confundiram com as coisas. Ando aos trambolhões pelas ruas sem luz desconhecidas pejadas de mística e terror de braço dado com fantasmas. Também a noite é escura." Descubra mais em www.jessicaiancoski.com Está servido? Fique! Que tal mais um poeminha? ___ >> Quer ter um poema seu aqui? É só preencher o formulário! Após o preenchimento, nossa equipe entrará em contato para informar a data agendada. https://forms.gle/nAEHJgd9u8B9zS3u7
Ché Guevara, Amilcar Cabral, Agostinho Neto and Samora Machel. These are just some of the well-known freedom fighters with whom Nelson Mandela secretly trained in 1962 in northern Africa. There, they learnt the art of guerrilla warfare to liberate their countries. When Mandela was released from jail about 30 years later, he first revisited the continent to thank his African allies for their support and solidarity. Miranda Strydom and Angie Kapelianis compiled this feature on Mandela and Africa. Credits: Miranda Strydom, Angie Kapelianis, Habs Habedi, Danny Booysen and the SABC Media Library © SABC 2020. No unauthorised use, copying, adaptation or reproduction permitted without prior written consent of the SABC.
Novas notas de kwanza sem rosto de José Eduardo dos Santos entram, esta quinta-feira (30.07), em circulação em Angola. Inhambane na rota do tráfico de pessoas. África do Sul está a ficar sem espaço para enterrar vítimas da Covid-19.
O nosso programa "Semana em África" tem como principal destaque a guerra acesa entre pastores angolanos e brasileiros na Igreja Universal do Reino de Deus. Num movimento sem precedentes, os pastores angolanos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) anunciaram uma cisão com os pastores da liderança brasileira da igreja. Os pastores angolanos da IURD tomaram as igrejas do país por não se reverem com a gestão brasileira, que acusam de desviar recursos para o exterior, discriminar funcionários locais e de promover a vasectomia de sacerdotes africanos como aponta o pastor angolano Silva Matias. A polícia está a patrulhar desde o início da semana vários templos da Igreja Universal do Reino de Deus desde que parte do clérigo angolano contesta a liderança brasileira do movimento evangélico, com igrejas a serem ocupadas ou ameaçadas de ocupação por uma ou outra ala. Nestor Goubel, porta-voz da polícia de Luanda, faz-nos o ponto da situação. Os cenários de ocupação de templos pela ala de pastores locais ou brasileiros da Igreja Universal do Reino de Deus leva o jurista Catumbela de Sá, que acompanha de perto o processo, a denunciar a prática de crimes por parte dos pastores angolanos descontentes. O Procurador Geral da República de Angola, Hélder Pitta Grós, no caso das desavenças em curso no seio da Igreja Universal do Reino de Deus opondo pastores angolanos e brasileiros admite que o SIC, Serviço de investigação criminal, tem um processo crime em tramitação enquanto os advogados da instituição apresentaram uma outra queixa-crime. Continuamos com o resto da actualidade na África Lusófona, Uma publicação do semanário Folha 8 dando a entender que o primeiro presidente angolano, Agostinho Neto, era escravocrata, tem estado no centro de uma ampla controvérsia, o MPLA repudiou a informação. William Tonet é o director do Folha 8 e afirma-se estarrecido com o posicionamento do partido no poder sobre uma publicação no Facebook. O MPLA, partido no poder, repudia uma publicação no Facebook do semanário Folha 8. Jorge Valentim, nacionalista angolano, antigo membro da UNITA, e agora parte do comité central do MPLA, alega que tal se trata de uma prova do desconhecimento da história de Angola e da história universal. Na Guiné-Bissau, o Procurador Geral da República, Fernando Gomes, convocou para o próximo dia 29, sete juízes conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça. Os juízes vão ter que ser ouvidos perante um magistrado sobre os contornos da sua reunião plenária do passado dia 17 em que deveriam ter tomado uma decisão sobre o contencioso eleitoral decorrente das eleições presidenciais, cujos resultados foram contestados na justiça por Domingos Simões Pereira, candidato declarado derrotado no escrutínio. A sessão plenária do Supremo Tribunal ficou inconclusiva e agora os juízes do órgão vão ter que se explicar perante a Procuradoria-Geral da República. O advogado e analista político Luís Vaz Martins diz que é tudo uma estratégia do actual poder político na Guiné-Bissau para destituir o Supremo Tribunal de Justiça. Em Moçambique a polícia de Nampula, no Norte, interpelou no distrito de Rapale, 25 jovens que se suspeita iam juntar-se aos grupos terroristas que actuam na província de Cabo Delgado. Este foi um anúncio feito pelo porta-voz da polícia de Nampula como nos relata Orfeu Lisboa, o nosso correspondente. Os são-tomenses vão brevemente beber água mineral produzida localmente. A fábrica com um historial de 11 anos entre a sua concepção e a conclusão das obras, entrará em funcionamento no segundo semestre deste ano e vai produzir 12 mil litros diários de água. Chegamos assim ao fim desta Semana em África.
Os artistas angolanos Kiluanji Kia Henda, Yonamine e Binelde Hyrcan têm obras expostas na exposição “China-África”. Uma das obras que abre a exposição “China-África” pertence a Kiluanji Kia Henda. O artista angolano filma uma palanca - um dos símbolos nacionais de Angola - e conta a condição como objecto simbólico, como artefacto etnográfico que cruzou tempo e memória perturbados por uma guerra civil. Na exposição "China-África", o Centro Pompidou dá voz a dez artistas africanos, asiáticos, mas também europeus, que procuram compreender a relação entre os dois continentes. O primeiro Presidente angolano Agostinho Neto detido em Lisboa escreve o poema, "Havemos de voltar", uma ode à beleza de Angola e à riqueza do seu país. As belezas selvagens da palanca do Museu Nacional de História Natural, que o artista Kiluanji Kia Henda usou na instalação que veste o nome do poema de Agostinho Neto e onde a palanca também parece estar nostálgica. "Havemos de voltar À bela pátria angolana Nossa terra, nossa mãe Havemos de voltar", escreve o presidente-poeta. Foi entre estas duas definições da riqueza que se escreveu a história de África, absorvida nesta exposição pelo artista angolano explica Kiluanji Kia Henda.
Na Guiné-Bissau, continua a campanha para a segunda volta das eleições presidenciais, marcadas para 29 de Dezembro. O candidato Domingos Simões Pereira considera que o Presidente José Mário Vaz decidiu apoiar o seu adversário porque “tem medo” de vir a ser responsabilizado na Justiça e promete colocar o lugar de presidente do PAIGC à disposição se perder. Já Umaro Sissoco Embaló admitiu que se for presidente vai acabar com a mediação da CEDEAO e exigir a retirada da sua força militar do país, a ECOMIB. O candidato prometeu nomear o seu adversário Domingos Simões Pereira como primeiro-ministro. Em Moçambique a policia e o serviço nacional de investigação criminal confirmam a detenção de 12 traficantes de droga nas águas territoriais. A nova família do kwanza, a a moeda nacional de Angola, foi apresentada ontem no Parlamento e vai contar apenas com o rosto do primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto. Em Angola, a Assembleia Nacional aprovou esta semana a proposta de Lei Orgânica sobre as Eleições Autárquicas. O país pretende realizar as suas primeiras eleições autárquicas em 2020. Na Ilha do Príncipe, um sismo de magnitude 5,5 na escala de Richter, ontem, gerou “algum pânico numa “grande parte” dos habitantes da cidade de Santo António que passaram a noite num ponto mais alto da ilha com medo de um tsunami.
Neste episódio, recebemos a Prof. Carmen Tindó, professora titular de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da UFRJ, para conversar sobre a produção literária dos países lusófonos africanos. A professora falou de aproximações e oposições entre esses países e o Brasil, no âmbito da cultura e da literatura; destacou a necessidade de se pensar a pluralidade linguística e cultural do continente africano e fez algumas reflexões sobre a presença das literaturas africanas nas escolas e universidades brasileiras. >>> SUMÁRIO 00:00:00 a 00:12:04Recados iniciais; leitura do poema Grito Negro; apresentação da convidadaBloco 1 >>> 00:12:05 a 00:35:19Lusofonia: aproximações e diferenciações culturais e literárias entre os países de língua oficial portuguesa; ligações entre Brasil e ÁfricaBloco 2 >>> 00:35:20 a 01:11:46As várias Áfricas e literaturas africanas; o papel da literatura como ferramenta de resistência políticaBloco 3 >>> 01:11:47 a 01:35:15Educação e ensino de cultura e literaturas africanas e afro-brasileiras – impactos da Lei 10.639/03; o lugar das literaturas africanas nos níveis de ensino básico e superiorRecomendações e encerramento >>> 01:35:16 a 01:56:40Leitura de conto por alunos do CP2/SC3 >>> 01:56:41 a 02:07:22Leitura do conto angolano A Menina Vitória, de Arnaldo Santos >>> NOSSOS CONTATOS APOIE O LÍNGUA LIVRE > PARTICIPARAM DO EPISÓDIO REFERÊNCIAS DO EP RECOMENDAÇÕES CRÉDITOS PLAYLIST COMO CITAR ESTE EPISÓDIO
Asinalam-se esta segunda-feira (27/05) 42 anos sobre a oficialmente designada "intentona" de 27 de maio de 1977 em Angola, que causou entre 30 e 80 mil mortos e milhares de presos, com em pano de fundo o "fraccionismo" de que o então Presidente Agostinho Neto acusou os líderes do MPLA Nito Alves e José Van Dunen, expulsos do CC do partido a 21 de Maio e pouco depois uzilados. Desconhecem-se ainda as verdadeiras razões da chacina que antecedeu e se seguiu ao 27 de Maio de 1977, de golpe de Estado a intentona, passadno por acerto de contas entre facções e líderes do MPLA liderado por Agostinho Neto. Para Fundação 27 de Maio criada por sobreviventes tratou-se de um "genocídio" , mas até há pouco era tabú em Angola falar do 27 de Maio, apesar de José Eduardo dos Santos, na altura ministro do Plano, ter sido nomeado por Agostinho Neto para coordenadar uma comissão de inquéritro, cujos resultados nunca foram desvendados. No passado mês de Abril o Presidente Joao Lourenço criou uma comissão para homenagear as vítimas dos conflitos políticos em Angola desde 11 de novembro de 1975 - data da independência - até 4 de Abril de 2002 - fim da guerra civil - e evocou um monumento em homenagem aos mesmos e em Genebra o ministro da Justiça e Direitos Humanos Francisco Queirós reiterou estes propósitos. Para falar sobre isto conversamos com Rui Tukayana um dos fundadores da Associação M27, criada em 2018 em Portugal sobretudo pororfãos de vítimas do 27 de Maio de 1977, caso do seu pai Rui Coelho, que foi fuzilado e era naaltura chefe de gabinete do então primeiro-ministro Lopo do Nascimento. Rui Tukayana começa por referir que não esquecer é importante, mas os familiares das vítimas querem os respectivos certificados de óbito, saber onde foram enterrados, a restituição dos seus restos mortais para um funeral condigno, um monumento em sua homenagem e sobretudo perceber o porquê desta chacina. Luanda também assinalou 27 de Maio de 1977 com uma mesa redonda Por outro lado, o sociólogo angolano Nelson Pestana "Bonavena", director do Centro de Estudos Africanos da Universidade Católica de Angola, sublinhou esta segunda-feira (27/05) durante uma mesa redonda sobre o 27 de Maio de 1977 ocorrido esta segunda-feira, que "só haverá reconciliação entre os angolanos, se for feita justiça e reparação em relação à memória das vítimas". Com a colaboração da Neidy Ribeiro.
O memorial Dr. António Agostinho Neto na passada terça-feira, 28 de Agosto, um workshop sobre fotografia organizado pela empresa JM-Comunicação. A reportagem foi emitida na RNA, programa "A CASA DA RÁDIO", rubrica "MUJIMBOS DO VIZINHO" Técnica: Luís Faria Voz: Israel Campos
Reportagem #17: O que sabem os mais novos sobre Dr. António Agostinho Neto? by Israel Campos
Em visita oficial à Angola, Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal, inclui na sua agenda de visitas uma ida à faculdade de Direito da UAN. Como dito por ele "um regresso à casa...". Siga! Publicado em 2017 - RNA
我与非洲文学"——访《忙碌的一生:安哥拉国父阿戈斯蒂纽.内图传》中文版译者尚金格/Entrevista com o tradutor chinês do livro: Uma Vida sem Trégua, a biografia do primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto.
CHSS Dean's Lecture Series: Language, Love, and A Nação: The Portuguese Language and Angolan National Identity through the Poetry of Agostinho Neto, Ana Paula Tavares, and Luís Kandjimbo Robert Simon, Associate Professor of Spanish and Portuguese, Kennesaw State University (Time: 3:30 pm, Location: SO 5074)