Podcasts about tive

  • 680PODCASTS
  • 1,119EPISODES
  • 34mAVG DURATION
  • 5WEEKLY NEW EPISODES
  • May 10, 2025LATEST

POPULARITY

20172018201920202021202220232024

Categories



Best podcasts about tive

Show all podcasts related to tive

Latest podcast episodes about tive

Radio Futura
Cassiano

Radio Futura

Play Episode Listen Later May 10, 2025 149:21


Lucas Brêda RIO DE JANEIRO Eram os primeiros meses de 1970, e Cassiano desfilava seu "black power" reluzente por São Paulo quando conheceu outro cabeludo chamado Paulo Ricardo Botafogo, de aspecto e ideologia hippie, fã de Marvin Gaye como ele. Nos alto-falantes de uma lanchonete, o locutor da rádio anunciava a nova música de Tim Maia, que deixou seu novo amigo boquiaberto. Ao som de "Primavera (Vai Chuva)", a dupla pagou a conta, mas o dinheiro de Cassiano acabou. Ele estava sem lugar para dormir e pediu abrigo a Botafogo. Voltava de uma excursão, quando viu calças de homem no varal de sua mulher e não quis conversa. Também fez uma revelação. "Olha, essa música é minha, mas por favor não fale para ninguém." Dita como um pedido singelo, a frase se tornou uma maldição para Cassiano. Autor de sucessos na voz de Tim Maia e Ivete Sangalo, o paraibano fascinou músicos, virou "sample" e rima dos Racionais MCs e gravou discos até hoje cultuados. Mas morreu há quatro anos como um gênio esquecido —a dimensão de seu talento é um segredo guardado por quem conviveu e trabalhou com ele.  Reprodução de foto do músico Cassiano, morto em 2021 - Eduardo Anizelli/Folhapress Isso não quer dizer que Cassiano tenha sido um desconhecido. Bastião do movimento black e precursor do soul brasileiro, angariou uma legião de fãs, vem sendo redescoberto por novas gerações e acumula milhões de "plays" no streaming. Sua obra que veio ao mundo, no entanto, é só uma parcela do que produziu de maneira informal durante toda a vida —e que segue inédita até hoje. Cassiano, morto aos 78, deixou um disco de inéditas incompleto, gravado em 1978 e hoje em posse da Sony. Também tem gravações "demo" feitas nas décadas de 1980 e 1990 que há anos circulam entre fãs e amigos. Isso fora o que William Magalhães, líder da banda Black Rio, chama de "baú do tesouro" —as dezenas de fitas cassete com gravações caseiras nunca ouvidas. "Ele nunca parou. Só parou para o mundo", diz Magalhães, que herdou do pai, Oberdan, não só a banda que reativou nos anos 2000, mas a amizade e o respeito de Cassiano. "Todo dia ele tocava piano, passeava com gente simples, trocava ideia. Era tão puro que às vezes a gente duvidava da bondade dele." O tal baú, ele diz, contém "coisas que fizemos em estúdio, composições dele tocando em casa, ideias, tudo inédito". "E só coisa boa. Cassiano nunca fez nada ruim, musicalmente falando. Com ou sem banda, arrasava. A voz, o jeito de compor. Era uma genialidade ímpar." Acervo de Cassiano Esse material está na casa que Cassiano dividiu com a mulher, Cássia, e a filha, Clara, no fim da vida, no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Há também registros escritos de memórias, recortes de revistas e jornais, filmagens de performances no palco e em casa, diversos instrumentos e até desenhos e colagens que ele costumava fazer. A viúva conta que o marido saía às vezes para o bar e para conversar na rua, mas "não era um homem de multidões". "Gostava de música e queria trabalhar o tempo todo, não era tanto de atividade social. Mas, se chamasse para o estúdio ou para o palco, esse era o grande sonho. Ele queria estar entre os músicos." Por volta de 2016, na reunião com o presidente da Sony, Paulo Junqueiro, para negociar o lançamento do disco de 1978, Cassiano estava mais interessado em apresentar o material mais novo que vinha criando. Não se opôs ao lançamento do álbum engavetado, mas suas prioridades eram diferentes daquelas da gravadora, e o papo esfriou. Descoberto antes desse encontro pelo produtor Rodrigo Gorky, hoje conhecido pelo trabalho com Pabllo Vittar, o disco chegou aos ouvidos de Junqueiro, fã declarado do cantor, que logo se interessou. Kassin, produtor que trabalhou na finalização póstuma do álbum "Racional 3", de Tim Maia, foi chamado para ajudar. No primeiro contato com as músicas, ele diz, sentiu que tinha "um negócio enorme na frente". O produtor conta que o trabalho que ele e Gorky fizeram foi apenas de "limpar e viabilizar", além de reorganizar e mixar as músicas, sem edições ou acréscimos. Em sua opinião, o álbum não precisa de muitos retoques para ser lançado. Segundo Junqueiro, ainda há o que ser feito. "Chamei Cassiano para ouvir, ele se lembrava de tudo, mas concordava que faltava muito. O que existe é uma pré-mixagem e, a partir dela, terminar o disco, caso a família queira finalizar. Na minha opinião, não está terminado. Mas, se a família achar que está terminado, tudo bem. Estamos tentando encontrar uma maneira de chegar lá." Um dos impeditivos para que o disco perdido de 1978 seja lançado é a falta de créditos aos músicos que participaram das gravações. Claudio Zoli, no entanto, lembra não só que gravou "backing vocals", mas sabe de vários dos instrumentistas envolvidos no disco. Tinha 14 anos e mal tocava violão, mas Cassiano vislumbrou um futuro para ele na música. "A gente se reunia numa casa lá em Jacarepaguá", diz Zoli. "Era aquele clima meio Novos Baianos, todo mundo dormindo lá, ensaiando. Nos reunimos para gravar esse disco da CBS, que não saiu, e o Cassiano fazia um ‘esquenta' antes de entrar em estúdio. Ficava tocando violão, falando sobre harmonia." Há alguns registros desses momentos de "esquenta" e também de estúdio feitos por Paulo Ricardo Botafogo, que é fotógrafo. Ele acreditava, sem muita certeza, que eram imagens da gravação de "Cuban Soul", disco de Cassiano do qual fez a foto da capa, gravado há 50 anos. Mas é bastante improvável que Zoli, nascido em 1964, tivesse apenas 11 anos nas imagens. Produtor que trabalhou com Tim Maia e foi amigo de Cassiano, Carlos Lemos se mudou da Philips, hoje Universal, para a CBS, hoje Sony, na segunda metade dos anos 1970. Pelas fotos, ele diz ter certeza que as gravações aconteceram no estúdio Haway, que era alugado pela CBS. Ele também confirma as identidades dos músicos lembrados por Zoli. São eles os guitarristas Paulinho Roquette, Paulinho Guitarra, Beto Cajueiro e Paulo Zdan, além de Dom Charles no piano e Paulo César Barros no baixo. Quem também corrobora as lembranças de Zoli é Paulo Zdan, médico de Cassiano, de quem se tornou grande amigo e foi letrista do disco "Cuban Soul". Morto há um ano, ele deu uma entrevista a Christian Bernard, que preparava um documentário sobre Cassiano —o filme acabou não autorizado pela família. A reportagem ouviu uma pré-mixagem desse disco de 1978, que destaca a faceta mais suingada de Cassiano. É um registro coeso de 12 faixas, mais funk do que soul, com vocais simultâneos cheios de candura e um flerte com a música disco daquela época. Para Kassin, é um registro "mais pop". "Se tivesse saído na época, teria feito sucesso", ele diz. Junqueiro, da Sony, concorda que as faixas mantêm uma coerência, mas que não é possível saber se isso se manteria caso Cassiano continuasse o trabalho no álbum. "Não tem nenhuma música que eu imagino que o Cassiano não botaria no disco. Talvez ele colocasse mais músicas. É um disco mais para cima, mas para ser mais dançante faltam arranjos." Clara, filha de Cassiano, lembra que o pai não tinha boas memórias da época que fez esse disco. "Não sei o que ele estava sentindo, mas não era um momento feliz para ele", ela diz. "Ele já não se via mais tanto como aquele Cassiano de 1978. Mas hoje reconheço a importância de lançar. Acho que todo mundo merece, mesmo que ele não tenha ficado tão empolgado assim com a ideia."  Retrato do cantor Cassiano em 1998 As gravações foram pausadas depois que Cassiano teve tuberculose e passou por uma cirurgia para a retirada de uma parte do pulmão. Mas as pessoas ouvidas pela reportagem também relatam um hábito constante do artista —demorar para finalizar seus trabalhos, ao ponto de as gravadoras desistirem de bancar as horas de estúdio e os músicos caros, pondo os projetos na geladeira. Bernard, o documentarista, também afirma que foi logo após as gravações desse álbum da CBS que Cassiano rompeu com Paulo Zdan e ficou 40 anos sem falar com ele. "Zoli depois tocou na banda do Cassiano, no show ‘Cassiano Disco Club'. Mas na verdade não tocou. Só ensaiou e, como nunca faziam shows, ele e o Zdan saíram e montaram a banda Brylho." A década de 1980 marcou o período de maior dificuldade para Cassiano, que passou a gravar esporadicamente, parou de lançar álbuns e enfrentou dificuldades financeiras. Cassiano nasceu em Campina Grande, na Paraíba, e no fim dos anos 1940 se mudou para o Rio de Janeiro com o pai, que ganhava a vida como pedreiro e era também um seresteiro e amigo de Jackson do Pandeiro. O menino acompanhava, tocando cavaquinho desde pequeno. Conheceu Amaro na Rocinha, onde morava, e formou com ele e o irmão, conhecido como Camarão, o Bossa Trio, que deu origem à banda Os Diagonais. O forte do trio eram os vocais simultâneos. Chegaram a gravar até para Roberto Carlos. "Ele era um mestre em vocalização. Era impressionante, um talento", diz Jairo Pires, que foi produtor de diversos discos de Tim Maia e depois diretor de grandes gravadoras. "Foram pioneiros nessa música negra. Esse tipo de vocalização era muito moderna. Ele já tinha essa coisa no sangue. Por isso que o Tim amava o Cassiano." Não demorou até que o lado compositor do artista fosse notado por gente da indústria. Em 1970, ele assinou quatro músicas do primeiro disco de Tim Maia e ainda é tido como um arranjador informal, por não ter sido creditado, daquele álbum. O Síndico havia voltado dos Estados Unidos impregnado pela música negra americana, e a única pessoa que tinha bagagem suficiente para conversar com ele era Cassiano. "Cassiano tinha esse dom", diz Carlos Lemos, que foi de músico a assistente de produção e depois produtor nessa época. "Ele era muito criativo e teve momentos na gravação que ele cantou a bola de praticamente o arranjo todo. Ele não escrevia, mas sabia o que queria. Praticamente nos três primeiros discos do Tim Maia ele estava junto." Dali em diante, o paraibano despontou numa carreira solo que concentra nos anos 1970 sua fase mais influente. São três discos —"Imagem e Som", de 1971, "Apresentamos Nosso Cassiano", de 1973, e o mais conhecido deles, "Cuban Soul: 18 Kilates", de 1976, que teve duas músicas em novelas da Globo. São elas "A Lua e Eu", o maior sucesso em sua voz, e "Coleção", que há 30 anos virou hit com Ivete Sangalo, na Banda Eva. Lemos se recorda de que chegou a dividir apartamento com Cassiano e outros músicos na rua Major Sertório, no centro de São Paulo, nos anos 1970. O artista estava apaixonado por uma mulher chamada Ingrid, para quem compôs algumas músicas. Era uma época inspirada para o cantor, que em 1975 atingiu sucesso com "A Lua e Eu", produzida por Lemos e feita ao longo de seis meses. "Produzir um disco com Cassiano demorava uma infinidade", afirma Carlos Lemos. "Ele entrava em estúdio, falava que queria assim e assado, chamava os músicos. Quando voltava para o aquário [espaço onde se ouvem as gravações], já tinha outra coisa na cabeça. Era difícil gravar. Você tinha que administrar uma criatividade excessiva. Ele falava ‘isso pode ficar muito melhor', e realmente ficava. Mas quem tem paciência? A gravadora quer vender logo. Mas era nessa essência que estava a verdade dele —e também seu sucesso." Lemos calcula que, na época em que faziam "A Lua e Eu", deixaram mais de 20 músicas prontas, mais de 500 horas de gravações em estúdio, uma quantidade de fitas suficiente para encher um cômodo inteiro. Procurada pela reportagem desde o fim do ano passado, a Universal, que hoje detém o acervo da Philips, onde essas gravações aconteceram, não respondeu sobre o paradeiro das fitas. O antigo assistente lembra que Jairo Pires, então um dos diretores da Philips, ficava desesperado com essa situação. "Ele tinha um temperamento difícil", diz Pires. "Fora do estúdio, era maravilhoso, um doce de criatura, mas, quando entrava no estúdio, era complicado." Cassiano era especialmente preocupado com o ritmo e a química entre baixo e bateria, com os quais gastava dias e mais dias fazendo e refazendo. Claudio Zoli diz que ele gravava cada parte da bateria separadamente para depois juntar, o que para Ed Motta era "uma invenção da bateria eletrônica antes de ela existir". Lemos conta que Cassiano tinha uma precisão detalhista. "Ele tinha uma visão de matemática forte, de como as frequências combinavam. E era o grande segredo de tudo, porque nem sempre o resultado da sonoridade é o que está na imaginação. Só vi coisa parecida em João Gilberto. E também com Tim Maia —que não respeitava quase ninguém, mas respeitava Cassiano." Outras duas pessoas ouvidas pela reportagem lembraram o pai da bossa nova para falar de Cassiano. Uma delas é Claudio Zoli, que destaca sua qualidade como compositor. O outro é Ed Motta, que foi amigo do paraibano e tentou diversas vezes viabilizar sua carreira. "Ele era o João Gilberto do soul brasileiro", afirma. "Mas, você imagine, um João Gilberto que não é abraçado pelos tropicalistas. Claro que ele tinha um gênio difícil, mas e a Maria Bethânia não tem?" Cassiano chegou a integrar a mesma gravadora de Bethânia e Caetano Veloso, a Philips, mas no braço da firma dedicado à música mais popular, a Polydor. Lemos, o assistente de produção, diz que o paraibano, na época, era humilde e não tinha rancor, mas não dava tanta importância aos baianos, "porque sua qualidade musical era muito superior à de todos eles".  Capa do álbum 'Cuban Soul: 18 Kilates', de Cassiano, de 1976 - Reprodução "Ainda tinha uma rivalidade interna dentro da Philips, criada naturalmente. Poucos sabem que quem sustentava toda a estrutura da gravadora para os baianos serem os caras eram os artistas da Polydor. A Philips gastava e tinha nome, amava os baianos, mas eles nunca venderam como Tim Maia. Vendiam coisa de 50 mil cópias", diz o produtor. Os desentendimentos com a indústria foram gerando mais problemas com o passar do tempo. Paulo Ricardo Botafogo conta que Cassiano recusava oportunidades de aparecer em programas de TV, dar entrevistas e ser fotografado. "Não sei se foi sacaneado, mas ele era um cara muito fácil de enganar. Era muito puro, quase uma criança", afirma. "Cassiano ganhava dinheiro e distribuía entre os músicos. E imagine o que ele passou. Preto, pobre e nordestino. Ele se achava feio. Chamavam ele de ‘Paraíba'", diz Paulo Ricardo Botafogo. Quando "Cuban Soul" foi lançado, depois das centenas de horas de gravações lembradas por Carlos Lemos, o cantor deixou a gravadora. Há na capa do disco um detalhe que, segundo Botafogo, Cassiano interpretou como uma indireta sutil contra ele —é um espaço entre as sílabas da primeira palavra do título do álbum, deixando um "cu" em destaque. Uma reportagem deste jornal de 2001 retratou a dificuldade de Cassiano para gravar. "Levamos para várias gravadoras, mas nenhuma teve interesse, até por ele estar há muito fora da mídia. Mas sua participação em ‘Movimento' prova que ele está a mil, numa fase criativa. Ele tem umas 150 músicas no baú", disse William Magalhães na época.  CD com músicas inéditas do músico Cassiano, morto em 2021 - Eduardo Anizelli/Folhapress "Movimento", o disco que marcou o retorno da Black Rio sob o comando do filho de Oberdan, traz composições, arranjos e a voz de Cassiano, como a faixa "Tomorrow". É uma das músicas que a dupla trabalhou em conjunto, incluindo uma gravação dela apenas com o paraibano cantando, além de duas canções já famosas de maneira informal entre fãs e amigos do artista, "Pérola" e "Maldito Celular". Feitas entre 1993 e 1995, foram gravadas como "demo" e nunca lançadas comercialmente. Magalhães já havia tocado teclado e piano com Cassiano alguns anos antes. Foi quando Ed Motta conseguiu convencer um italiano chamado Willy David a bancar um disco do cantor. "Falei que ele era um gênio, o Stevie Wonder brasileiro", diz. "George Benson era amigo desse David e ia participar do disco. Chegou até a ouvir algumas músicas." Eles gravaram as "demos" no estúdio de Guto Graça Mello, no Rio de Janeiro. As fitas em melhor qualidade dessas gravações, nunca lançadas, estariam com David, que nunca mais foi localizado depois de ter ido morar em Cuba. Nem mesmo por Christian Bernard, que o procurou exaustivamente nos últimos anos para seu documentário. Há, no entanto, cópias dessas faixas em qualidade pior com amigos do cantor. "São umas oito músicas inéditas, coisas que ele já tinha guardado por anos", diz Ed Motta. "Não era um disco pronto, mas tinha qualidade de disco." Na segunda metade da década de 1980, Cassiano passava por dificuldades financeiras até para conseguir o que comer. Tinha apenas um violão antigo, de estrutura quadrada, que o pai fez, ainda na Paraíba, e que a família guarda até hoje. Morava no Catete, no Rio de Janeiro, e costumava gravar em estúdios liberados por amigos nas horas vagas —caso da estrutura do músico e produtor Junior Mendes, na Barra da Tijuca.  Violão feito pelo pai do músico Cassiano, morto em 2021 - Eduardo Anizelli/Folhapress Cassiano viveu um breve renascimento artístico na virada dos anos 1980 para os 1990. Ele se casou com Cássia, aprendeu a tocar piano e fez um show lotado no Circo Voador, registrado em vídeo. Gravou também o álbum "Cedo ou Tarde", com um repertório de canções antigas, que saiu pela Sony em 1991 e tem participações de Djavan, Marisa Monte, Sandra de Sá e Luiz Melodia, entre outros. Esse álbum não vendeu tão bem, o que frustrou os planos de gravar material novo, mas, com o sucesso de "Coleção" na voz de Ivete Sangalo, há 30 anos, Cassiano conseguiu comprar um apartamento às margens da lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Praticamente não fazia shows e sobrevivia dos direitos autorais que ganhava com suas composições. No início da década de 2000, William Magalhães chegou a viabilizar a gravação de um disco para Cassiano. Diretor da gravadora Regata, Bernardo Vilhena tinha US$ 140 mil para um álbum de Claudio Zoli, que acabou indo para outro selo. Com isso, decidiu redirecionar todo esse dinheiro ao paraibano. "Quando Cassiano soube disso, disse ‘US$ 140 mil é só a luva'", diz Magalhães. "Ele era muito orgulhoso, queria que as pessoas o tratassem à altura que ele se via. Seria o dinheiro para começar a produzir. A gente conseguiria fazer, mas ele recusou por causa dos traumas que tinha da indústria. Quando soube que o dinheiro era do Zoli, ainda se sentiu desmerecido, por ser um discípulo dele. Não tirando o direito dele, mas acho que ele viajou um pouco nesse trauma." Ao longo das últimas décadas, Magalhães diminuiu o contato com Cassiano, mas eles se reaproximaram no fim da vida do cantor. Falaram sobre fazer novos projetos, e o paraibano disse que o líder da Black Rio, que ele admirava por ser um grande músico negro, era uma das poucas pessoas com quem ele aceitaria trabalhar àquela altura. "O que eu posso dizer é que o Cassiano ainda vai dar muito pano para manga", afirma Magalhães. "O dia que a Cássia abrir esse baú dele, eu sou o primeiro da fila." Há muitas razões pelas quais Cassiano não conseguiu deixar uma obra mais volumosa, e elas não têm a ver com o respeito que ele tem até hoje no meio da música. Mas o ícone da soul music brasileira encarava essa devoção com ceticismo. "Mestre é o cacete. Não adianta falar isso. Me bota no estúdio", ele dizia, segundo Cássia, a viúva. "Era assim. Todo mundo pira nas ideias do cara, mas ninguém deixa ele gravar. O empresário André Midani chegou a declarar que as gravadoras devem um disco ao Cassiano", afirma ela. "Tudo bem, é ‘cult', é um nicho, mas é um nicho importante e não é tão pequeno assim." O último "não" que Cassiano ouviu de uma gravadora talvez tenha sido nos momentos posteriores à reunião de 2016 com Paulo Junqueiro. Depois de falar à reportagem, o presidente da Sony pediu para marcar uma nova entrevista, em que admitiu ter ouvido o material novo que o paraibano queria lançar e não quis apostar naquelas músicas. A Sony passava por um período complicado, ele diz. Tinha feito uma reestruturação em que perdeu muita gente de sua equipe. "Do que ouvi, não fiquei tão fascinado e, quando pensei em fazer discos inéditos do Cassiano àquela altura, disse ‘não consigo'. Não tinha estrutura financeira nem emocional." Posto isso, ele acrescenta que se arrepende profundamente. "Ajoelho no milho todos os dias. Tive uma oportunidade de ouro nas mãos, de registrar as últimas obras dele, e a perdi. Não tenho nem palavras para pedir desculpas à família, aos fãs e a mim mesmo. Não tenho como ser mais honesto do que estou sendo. Se gostei ou não, foda-se. Se vai vender para caralho ou não, foda-se." Junqueiro se põe à disposição da família para lançar o disco de 1978, diz que tinha seus motivos para fazer o que fez, mas errou. "Se alguém tivesse me contado essa história, eu ia falar ‘olha que filho da puta, não gravou as coisas do Cassiano'. Então, se eu teria essa visão sobre alguém, eu no mínimo tenho que ter essa visão sobre mim também." Hoje, Cassiano vive no imaginário por sua produção nos anos 1970 e pelos fragmentos que deixou espalhados em fitas e memórias. Dizia que fazer música era como o mar —"ondas que vêm e vão, mas nunca estão no mesmo lugar". Os fãs, por sua vez, aguardam uma movimentação das marés que traga para a superfície pelo menos algumas dessas pérolas submersas.

Metadoxos
EP12 - Deep listening to the near future with Paul Zonneveld #METACRISIS

Metadoxos

Play Episode Listen Later May 2, 2025 62:13


PortugueseNeste episódio, recebemos Paul Zonneveld para uma conversa potente sobre as forças invisíveis que moldam os padrões sistêmicos — dentro e fora das organizações. Com uma trajetória que integra inteligência sistêmica, Paul nos convida a enxergar os padrões que se repetem, as exclusões que estagnam e as histórias que seguem atuando, mesmo quando não são contadas — desaguando em traumas geracionais que moldam fusões fracassadas, sucessões familiares conturbadas e lideranças enfraquecidas.Ele afirma: “Os problemas sistêmicos não querem ser resolvidos, mas compreendidos.” E é nesse contexto que os princípios de pertencimento, ordem e equilíbrio atuam como bússolas diante da complexidade. Juntos, debatemos como o propósito pode ser a força vital das organizações — ainda que, muitas vezes, se perca nas engrenagens do mercado.Tive a alegria de ser apresentado ao Paul pelo meu amigo Eduardo Tinoco — que também participa da conversa e traz uma pergunta poderosa: como estar cada vez mais consciente das dinâmicas organizacionais? O conselho que Paul oferece talvez sirva a todos nós.Essa é uma conversa que atravessa corpo, alma e sistemas coletivos. Um convite à escuta daqueles sinais sutis que revelam que talvez o que precise mudar não seja a estrutura, mas o olhar.

Devocionais Pão Diário
Devocional Pão Diário | Força Na Fraqueza

Devocionais Pão Diário

Play Episode Listen Later Apr 10, 2025 2:26


Leitura Bíblica Do Dia: JUÍZES 7:1-9 Plano De Leitura Anual: 1 SAMUEL 15–16; LUCAS 10:25-42  Já fez seu devocional hoje? Aproveite e marque um amigo para fazer junto com você! Confira: Quando meu filho tinha quase 3 anos, precisei de uma cirurgia que exigiu mais de 1 mês de recuperação. Antes dela, imaginava-me na cama enquanto pilhas de pratos sujos se acumulavam na pia. Não sabia como cuidaria de uma criança ativa e não conseguia me ver em pé na frente do fogão cozinhando. Temia o impacto que a minha fraqueza teria no ritmo diário. Deus enfraqueceu Gideão antes de suas tropas confrontarem os midianitas. Primeiro, os que tinham medo puderam ir embora — 22 mil homens foram para casa (JUÍZES 7:3). Depois, dos dez mil restantes, ficaram apenas os que pegaram água para beber com as mãos. Apenas 300 homens ficaram, mas essa desvantagem impediu que os israelitas confiassem em si mesmos (vv.5-6). Eles não puderam dizer que se libertaram: “por sua própria força” (v.2). Há momentos em que muitos de nós nos sentimos exaustos e impotentes. Quando isso aconteceu comigo, percebi o quanto precisava de Deus. Ele me encorajou internamente por meio de Seu Espírito e exteriormente por intermédio de amigos e familiares. Tive que deixar de lado minha independência, mas isso me ensinou a depender mais de Deus. Porque “[Seu] poder opera melhor na fraqueza” (2 CORÍNTIOS 12:9), podemos ter esperança quando não podemos suprir nossas necessidades por conta própria. Por: JENNIFER BENSON SCHULDT

Inglês Todos os Dias
Se ao menos… | Inglês Todos os Dias #618

Inglês Todos os Dias

Play Episode Listen Later Apr 1, 2025


Tive que ouvir os conselhos de um coach de relacionamentos para poder te ensinar a dica no mini-podcast de hoje: Como dizer “se ao menos” em inglês. Veja se você já conhece a estrutura gramatical usada para expressar essa ideia em inglês. FRASES NO MINI PODCAST DE HOJE: They would be an amazing partner if […] The post Se ao menos… | Inglês Todos os Dias #618 appeared first on Domine Inglês.

O Canto Do Desespero
tive um acidente de carro

O Canto Do Desespero

Play Episode Listen Later Mar 26, 2025 11:54


Não se esqueçam de meter o colete no porta luvashttps://www.youtube.com/playlist?list=PLUUWWvtYbyhLPkoCrvl9E-EztY9dbqFKa

Sob Escuta
"Não tive mais interações com Luís Montenegro"

Sob Escuta

Play Episode Listen Later Mar 21, 2025 39:52


Colaboradora da Spinumviva em entrevista exclusiva. Inês Varajão Borges revela conversa, em 2022, sobre saída de Montenegro da empresa e explica como a sua vida mudou desde o início do caso.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Expresso - Blitz Posto Emissor
Bárbara Bandeira: “Recebi a chamada sobre Coldplay às 3 da manhã, só berrava. Depois tive pessoas que não são público meu a falar sobre mim”

Expresso - Blitz Posto Emissor

Play Episode Listen Later Mar 20, 2025 79:58


No momento em que inicia o projeto “Lusa”, o mais ambicioso do seu percurso, Bárbara Bandeira vem ao Posto Emissor falar do sonho da internacionalização, do convite inesperado dos Coldplay ou das amizades com Carminho e Carolina Deslandes. No 229º episódio do podcast da BLITZ, debruçamo-nos ainda sobre o regresso anunciado dos Radiohead, o festival Sónar Lisboa e o novo álbum de Lady Gaga.See omnystudio.com/listener for privacy information.

The Freight Pod
Ep. #58: Krenar Komoni, CEO & Founder of Tive

The Freight Pod

Play Episode Listen Later Mar 18, 2025 88:16 Transcription Available


Andrew welcomes Krenar Komoni, CEO and founder of Tive, to The Freight Pod. Krenar left Kosovo at 17 years old to pursue his education in the U.S., but the aspiring entrepreneur knew he'd be back one day to create jobs in his home country. Krenar went on to earn degrees in computer engineering, math, and electrical engineering and discovered a passion for radio frequencies and wireless communication systems. But it was his father-in-law's trucking company and the constant tracking calls — where's the truck? Will it be on time? — that led Krenar to build him a GPS tracker. And that's how Tive started in 2015. Today, Tive supports more than 900 customers from its offices in Norway, Mexico, South Africa, Boston — and Kosovo.In this episode, Krenar also shares:The early days of Tive: bootstrapping, landing the first customer, and building Tive's innovative trackers.Tive's near-collapse in 2019 and the moment that turned things around.Building a global, remote team and culture across Tive's offices.The biggest mistakes a CEO or founder can make, Krenar's advice for founders and entrepreneurs, the journey to product-market fit, and how Tive has built a moat around its tracking capabilities.Krenar's vision for the future of visibility and AI, and what's next for Tive.Follow The Freight Pod and host Andrew Silver on LinkedIn.*** This episode is brought to you by Rapido Solutions Group. I had the pleasure of working with Danny Frisco and Roberto Icaza at Coyote, as well as being a client of theirs more recently at MoLo. Their team does a great job supplying nearshore talent to brokers, carriers, and technology providers to handle any role necessary, be it customer or carrier support, back office, or tech services. Visit gorapido.com to learn more. *** A special thanks to our additional sponsors: Cargado – Cargado is the first platform that connects logistics companies and trucking companies that move freight into and out of Mexico. Visit cargado.com to learn more. Greenscreens.ai – Greenscreens.ai is the AI-powered pricing and market intelligence tool transforming how freight brokers price freight. Visit greenscreens.ai/freightpod today! Metafora – Metafora is a technology consulting firm that has delivered value for over a decade to brokers, shippers, carriers, private equity firms, and freight tech companies. Check them out at metafora.net. ***

Bom Sai
T2 | Ep.30 - Fui ao teatro, tive pesadelos e aconteceu um milagre

Bom Sai

Play Episode Listen Later Mar 12, 2025 16:14


Adoro ir ao teatro mas desta vez não posso dizer o mesmo (pelo menos deu para rir no meio do susto). Conto-vos sobre um milagre que aconteceu e sobre a importância de cultivarmos o amor próprio. Podcast com a Rita Penteado: https://open.spotify.com/episode/3U9m6D1hypeIitYilyitCU?si=lOrogTCDT8Cf53W3UQAinQ A minha história até à gravidez: https://soundcloud.com/anaruasmelo/episodio-76-o-caminho-ate-a-gravidez -- Entra na Comunidade Vegetal: anaruasmelonutricionista.pt/subscricao-…de-vegetal/ https://anaruasmelonutricionista.pt/ www.instagram.com/anaruasmelo.nutricionista/ www.facebook.com/anaruasmelo.nutricionista/ Contacto: info@anaruasmelonutricionista.pt -- Música: Joseph McDade - Sunrise Expedition

Expresso - Blitz Posto Emissor
Tony Carreira: “Tenho um azulejo na parede da cozinha que diz: ‘eu não pedi para ser português, tive sorte'”

Expresso - Blitz Posto Emissor

Play Episode Listen Later Mar 6, 2025 73:42


A poucos dias de regressar à Meo Arena para dois concertos e de editar um dueto com a fadista Mariza, Tony Carreira estreia-se no Posto Emissor com uma conversa que passa pelo vindouro novo álbum, o seu amor por heavy metal, as acusações de plágio de que foi alvo ou a dor da perda da filha. Neste novo episódio, falamos ainda sobre Óscares, Festival da Canção e Panda Bear. See omnystudio.com/listener for privacy information.

Juntos ao Bilhão Podcast
REFLEXÃO QUE TIVE SOBRE ZONA DE CONFORTO

Juntos ao Bilhão Podcast

Play Episode Listen Later Mar 5, 2025 6:42


Fala pessoal, tudo bem? Matheus Rothe do Juntos ao Bilhão aqui.Tive uma reflexão sobre criação de conteúdo e decidi compartilhar contigo!Se inscreva no canal para não perder nenhum vídeo!

Juntos ao Bilhão Podcast
O MELHOR PROFESSOR QUE TIVE

Juntos ao Bilhão Podcast

Play Episode Listen Later Mar 5, 2025 6:54


Fala galera, tudo bem? Matheus Rothe do Juntos ao Bilhão aqui.O vídeo de hoje, conto quem foi meu melhor professor, sim isso mesmo. Ficou curioso? Então assista esse vídeo!

Pilha de Livros
408. O dia em que tive a GNR à porta

Pilha de Livros

Play Episode Listen Later Mar 5, 2025 7:53


Transformei uma crónica num episódio. This is a public episode. If you'd like to discuss this with other subscribers or get access to bonus episodes, visit www.pilhadelivros.pt/subscribe

Convidado
Angola: a literatura ao serviço da história

Convidado

Play Episode Listen Later Feb 24, 2025 9:26


A Ficção como História - este é o título e a premissa do livro de Dorothée Boulanger agora publicado em português, depois de uma primeira edição em inglês. A académica francesa analisou mais de 20 romances de autores angolanos como Pepetela, Manuel dos Santos Lima, Ondjaki, José Eduardo Agualusa ou Sousa Jamba, todos publicados no período pós-colonial. O objectivo era tentar perceber o papel da literatura na formação da identidade nacional nos primeiros anos da independência. O trabalho é o resultado de uma investigação durante o doutoramento na Universidade de Oxford, onde continua como professora. O que levou a Dorothée a viver e a trabalhar em Angola e como é que esse período influenciou esta investigação? Eu morei em Angola de 2009 a 2011, na cidade de Lobito. Foi, primeiro, uma oportunidade pessoal e familiar, mas, anteriormente, tinha-me formado em relações internacionais e estudos de género, especializando-me no assunto dos conflitos armados em África e em assuntos de pós-conflito, reconstrução, reconciliação. Por isso, o contexto angolano era muito interessante para mim. A guerra civil parou menos de uma década antes da minha chegada em Lobito. Morar mais de dois anos nessa cidade foi uma oportunidade preciosa para o meu trabalho, porque eu quero pensar a literatura como uma intervenção estética e política num contexto específico. A minha leitura das obras fez-se a partir da situação do país. Deu-me a possibilidade de ver a especificidade do discurso literário angolano e os desafios que a população enfrentava acerca da liberdade de expressão e da memória da guerra.O que faz de Angola especial para que a literatura de ficção seja útil como fonte da história do país?O papel de muitos escritores angolanos durante a guerra anticolonial, a sua participação na luta armada e dentro do MPLA, tornou-os atores políticos importantes e também testemunhas privilegiadas deste período. Por isso, as narrativas que eles fizeram têm um valor histórico. Também gozavam de um grande prestígio social. O primeiro presidente, Agostinho Neto, era chamado presidente-poeta. E a União dos Escritores Angolanos foi a primeira associação criada pelo Estado independente. Dentro do primeiro governo Neto, havia muitos escritores com função de ministros na saúde, como o Uanhenga Xitu, na cultura, como o António Jacinto. Então, realmente, os escritores estavam dentro do aparelho do poder.O que é que os romances de ficção angolanos ensinam sobre Angola que não está nos manuais de história? Uma das contribuições da literatura angolana é de oferecer um discurso angolano sobre a história do país. Um discurso angolano que se distancia do discurso oficial do regime, que fala das tensões dentro do MPLA, do oportunismo das elites pós-coloniais, das purgas. É importante ter vozes angolanas para contar esta história, centrando perspectivas autóctonas e referências culturais e linguísticas angolanas. Os escritores nem sempre concordam na sua maneira de contar ou analisar certos eventos históricos. Ver estes desacordos e estes conflitos é importante para deixar a história aberta e evitar mistificações. A literatura de ficção permite também transmitir de maneira clara, muito pedagógica, trajetórias históricas complexas, influências múltiplas que construíram a sociedade angolana desde o período da escravidão até hoje. A literatura torna-se um arquivo precioso do período revolucionário angolano. Estou pensando nas histórias de infância do Ondjaki, em Luanda, nos anos 1980, quando a cidade e o país eram fechados ao mundo. O romance de Pepetela, "O Planalto e a Estepe", por exemplo, fala das redes revolucionárias dos anos 1960 e 1970, de Cuba à Argélia e à União Soviética.    Por outro lado, às vezes, é nos seus silêncios que a literatura angolana nos ensina muito sobre o papel dos intelectuais. A dificuldade, por exemplo, de falar da tentativa de golpe de Estado do 27 de maio de 1977 por parte dos escritores mais próximos do poder, mostra a dificuldade dos intelectuais em pensar também na sua cumplicidade com a violência do Estado.O que é que descobriu que não estava à espera? Tive várias surpresas. Eu acho que a primeira surpresa foi durante a minha primeira leitura dos romances, num contexto em que a população angolana não se sentia à vontade para falar da guerra ou do governo. Pelo contrário, os escritores contavam histórias difíceis, complexas, faziam acusações a propósito do papel das elites, também sobre a herança da escravidão, a falta de integridade ideológica e ética de muitos líderes políticos ou religiosos. Havia esta liberdade de tom dentro da literatura. A segunda surpresa foi realizar, mais tarde, após ler muitos romances, a centralidade das perspectivas masculinas e a falta de substância de muitos personagens femininos, sobretudo com os escritores da geração da independência. Os seus romances eram anticoloniais, anti-racistas, que denunciam a dominação portuguesa e a propaganda do Estado Novo. Por isto, não pensava que adotariam com tamanha facilidade estereotipos sexistas. Ademais, o MPLA tinha um discurso de inclusão das mulheres na luta. Mas era só isso, discurso. Os romances angolanos revelam que a emancipação das mulheres e o privilégio masculino são pontos cegos para estes autores, todos homens. Estou pensando em "Sim Camarada!", de Manuel Rui, ou "Mayombe", de Pepetela, que são obras sexistas. Mas o que é muito interessante é que parece que estes autores depois tentaram corrigir um pouco esta propensão. "Lueji: O Nascimento de um Império", de Pepetela, "Rioseco", de Manuel Rui, tentam celebrar o papel das mulheres nas lutas e nas guerras em Angola. Mas até hoje há muito pouco mulheres escritoras no país, o que sublinha, eu acho, a persistência de uma atmosfera masculina acerca da literatura.Há aqui um modelo para analisar a história de outros países da África lusófona da perspetiva da literatura? Sim, a literatura africana sempre teve essa vontade de responder ao discurso colonial, de contar a história na perspectiva dos africanos e das africanas. Um dos aspectos do discurso colonial era negar a história africana, dizendo que a sua história começou com a chegada dos europeus. Muitos escritores africanos - Yvonne Vera, Ngugi wa Thiong'o, Assia Djebar e muitos outros - escreveram para contar a sua própria história e revelar a violência e a regressão histórica que constituiu a ocupação europeia do continente africano. Isto sendo dito, eu acho que o caso angolano tem as suas especificidades. No contexto do Estado Novo, a censura política, a propaganda portuguesa deram à literatura um papel importante para fazer ressoar o discurso anticolonial e nacionalista. Daqui, os escritores angolanos, que por razões sociais, familiares, tinham laços fortes com o MPLA, participaram fortemente na luta anticolonial, como escritores e como militantes, às vezes como guerreiros. Esta proximidade com a luta e depois com o aparelho de Estado dá este valor histórico à literatura angolana e à sua especificidade.  Analisou a literatura pós-colonial, de 1960 a 2010. A literatura angolana, ou africana em geral, é hoje menos ativista politica e socialmente?  É uma pergunta interessante, mas é uma pergunta difícil, porque, como eu expliquei, a literatura africana, de forma geral, tem esta dimensão política. Não se reduz a este discurso político, mas tem essas preocupações com o poder, as desigualdades, a dominação histórica. Eu acho que hoje esta dimensão combativa da literatura africana pode encarnar-se em outras lutas de género ou ambientais. Mas, no caso da literatura angolana, acho que é verdade que não encontramos o mesmo dinamismo, a mesma criatividade que há 30 anos. Angola teve uma geração excepcional de escritores desde os anos 60. É indisputável. Hoje em dia, não são tantos, e a luta encarna-se em outras formas de arte, como o hip-hop, por exemplo. A expressão crítica e criativa faz-se através das redes sociais. E temos também que dizer que a negligência do Estado angolano com a educação e a cultura não permitiu um forte desenvolvimento da leitura e da literatura dentro das gerações mais jovens.O livro "A Ficção como História - Resistência e Cumplicidades na Literatura Angolana Pós-Colonial" publicado pela editora Mercado de Letras vai estar à venda em Angola a partir de Março e vai ficar disponível mais tarde em versão digital graças a uma parceria com a editora francesa Africae. 

Pr Marcos Bomfim
#404 - A Oração Altruísta (A Oração dos Santos 6/8)

Pr Marcos Bomfim

Play Episode Listen Later Feb 22, 2025 40:56


Neste episódio, importância da prática regular da oração intercessora para o crescimento espiritual. Orar por outros pode mudar sua própria vida e fortalecer orelacionamento com Deus.A série "A Oração dos Santos" foi transmitida para todo Portugal a partir da Igreja Central de Lisboa, entre os dias 11-18 de Janeiro de 2025.Minhas anotações:Como Ele nos amou? Efésios 2:4-5 - “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, ..."  1 Joao 3:16 - “Porque Deus amou ao mundo ....”  1 Joao 3:16 - “Nisto conhecemos o amor: ...”  1 Joao 4:7-12 - “Amados, amemo-nos uns aos outros, ...”  Joao 13:34-35 - “Novo mandamento vos dou: ...” Que acontecerá se eu não amar aos outros da mesma maneira? Mat 18:23-35 - “... o reino dos céus é semelhante a um rei ....” 1Coríntios 4:1-2 -  “Assim, pois, importa que os homens nos considerem...”  É pecado não orar por outros: 1 Samuel 12:23-25 - “... longe de mim que eu peque contra o Senhor, deixando de orar por vós; ....” A oração intercessora muda a vida de quem ora!!! Jó 42:10 - “Mudou o Senhor a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos; ....” Pode ser que vc não seja bem recebido Mateus 5:43-48 - “... Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; ...”Dois breves testemunhos:11/Out/24 Haviaenviado o carro para revisão. Em casa sempre oramos para que o Senhor nos faça úteis para Seu Reino. Isso significa que precisamos estar atentos às necessidades das pessoas ao nosso redor, procurar supri-las e então conduzi-las a Cristo. Quando fui buscar o carro, percebi que havia esquecido de trazer os livros missionários. Semanas depois precisei levar o carro (que é muito confiável e conservado) outra vez para manutenção. Quando o fui buscar outra vez percebi que estava sem os livros. Pensei em leva-los outra hora (eram duas pessoas), mas esqueci completamente. Um mês depois o carro parou completamente.Tive que chamar um guincho e deixa-lo outra vez à porta da oficina. Na noite anterior ao dia de busca-lo acordei de repente no meio da noite com um só pensamento: os livros. Durante o dia, ao sair de casa pensei, “Deixa eu entregar logo estes livros para que este carro pare de quebrar. Deus pode estar precisando deles dentro da oficina e não acha quem os entregue.” Procurei um “Grande Conflito” em Português, mas não encontrei. Só achei um “Caminho a Cristo.” Ao entregar, depois de pagar pelo serviço, disse a uma das pessoas, “Este livro é para quando você quiser uma leitura que lhe traga paz etranquilidade.” Ele me respondeu, “E eu estou precisando mesmo. Hoje mesmo pensei que precisava de um livro assim.” E me agradeceu muito! Quando saímos para buscar o carro, eu lhe contei que havia acordado no meio da noite com o pensamento fixo de entregar um livro especificamente a ele. Então le me disse que estava passando uma semana muito difícil. Que naquele dia mesmo havia dito a sua companheira de trabalho que iria comprar um livro que lhe devolvesse a paz e a tranquilidade. Tomou minhas mãos e agradeceu outra vez!11/Out/24 Mari me pede para perguntar aos mecânicos do carro se por acaso acharam seus óculos. Estes óculos, os preferidos, estavam perdidos há dias. Não perguntei aos mecânicos porque sabia que eles não teriam mexido nos óculos se estivessem no carro. Ao buscar o carro, examinei atentamente, mas nada dos óculos. Voltando à casa, resolvi cortar a grama e carregar o telemóvel em uma pequena bolsa à cintura. Quandotomo a bolsa, encontro um par de óculos. Quando os entrego à Mari, ela me olha incrédula. Havia acabado de orar ao Senhor dizendo: “Senhor, é uma coisa sem importância, mas sei que se queres podes trazer-me estes óculos de volta.” Momentos depois eu a encontro ajoelhada e nos unimos em oração.

Eleven Sports
EP. 27 - Especial Domingos Duarte: “Graças a Deus tive a coragem de sair de Portugal"

Eleven Sports

Play Episode Listen Later Feb 21, 2025 34:13


Domingos Duarte, defesa central do Getafe, aceitou o convite de participar num episódio especialíssimo onde falou sobre a formação no Sporting e sobre a experiência de jogar a LaLiga.Um episódio com Pedro Castelo, Marinho e Beatriz Manaia.

The VentureFizz Podcast
Episode: 369: Krenar Komoni - CEO & Founder, Tive

The VentureFizz Podcast

Play Episode Listen Later Feb 16, 2025 54:05


Episode 369 of The @Venturefizz Podcast features Krenar Komoni, CEO & Founder of Tive. The question: “What led you down the path to start this company?” is always interesting, as you never know what ultimately inspired the entrepreneur. It could be years of experience working in an industry, maybe it is a personal experience, or it could be a tremendous amount of research to find a problem that's worth solving… or in the case of Krenar and Tive, it could be your family as the idea stems from his father-in-law's trucking company and the manual process of located its drivers. From Krenar's point of view, it is a problem that could be fixed with a tracking system and oh… it is a problem that Krenar just happens to be uniquely qualified to solve based on his expertise and background with wireless connectivity, hardware, and chipsets. Fast forward to today, Tive is a leading provider of supply chain and logistics visibility technology. Trusted by over 900 customers, the company recently announced a $40M Series C round of funding led by WiL (World Innovation Lab) and Sageview Capital. Chapters 00:00 Intro 02:23 Advice for Raising Follow On Rounds of Venture Capital 08:47 Krenar's Background Story in Kosovo 11:11 Landing in Vermont & Experience at Startups 19:45 Background Story of Tive 23:32 Industry Trends 25:22 Naming the Company 28:25 Landing First Customers 30:50 Early GTM Approach & Learning from the Sales Team 36:08 Picking the Right Industry Vertical 43:19 The Latest at Tive 46:35 The Question that Entrepreneurs Need to Ask Themselves. 48:09 The Culture at Tive 48:20 New Chapter 50:06 Apps & Book Recommendations

Alta Definição
Anabela: “No ano em que o meu pai faleceu tive um cancro da mama. Caiu o mundo, chorei, mas tentei levar tudo com mais ligeireza”

Alta Definição

Play Episode Listen Later Feb 15, 2025 50:23


Anabela é a convidada de Daniel Oliveira no 'Alta Definição'. A cantora recorda com saudades as memórias de infância, o prazer que tinha em estar em palco a cantar. Aos 12 anos, num acidente “na estrada onde morreu Carlos Paião”, partiu as pernas. Mas o apoio dos pais foi fundamental para prosseguir uma carreira na música. Relembra ainda a morte do pai, que trouxe “tristeza”, mas também “paz”, por ter conseguido expressar o seu amor e revela ainda que enfrentou um “cancro da mama”, informação que manteve privada até hoje. Um dos mais recentes desafios foi participar no programa “A Máscara”. Tentou disfarçar a voz, mas o próprio filho conseguiu perceber que Anabela estava por trás do Relógio. Oiça aqui a conversa em podcast, emitida na SIC a 15 de janeiro.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Juntos ao Bilhão Podcast
UMA REFLEXÃO ENQUANTO EU CAMINHAVA

Juntos ao Bilhão Podcast

Play Episode Listen Later Feb 6, 2025 8:49


Fala pessoal! Matheus Rothe do Juntos ao Bilhão aqui.Tive uma reflexão enquanto estava caminhando ontem e decidi compartilhar com você, para mim fez total sentido.Assista ao vídeo completo! Se inscreva no canal!

Convidado
Músico cabo-verdiano Mário Lúcio lança novo álbum "Independance" em concerto em Paris

Convidado

Play Episode Listen Later Jan 31, 2025 21:08


O músico, autor, compositor e antigo Ministro da cultura de Cabo Verde, Mário Lúcio deslocou-se esta semana aos estúdios da RFI antes de participar no festival musical "Au fil des voix", na sala de concerto 360 aqui em Paris, onde vai tocar e cantar neste sábado 1 de Fevereiro a partir das 20H00. Por ocasião deste certame que homenageia este ano alguns países de África Lusófona pelos 50 anos das suas respectivas independências, Mário Lúcio representa Cabo Verde, com o seu novo álbum lançado oficialmente neste 31 de Janeiro.Este novo trabalho que é o seu sétimo álbum em nome próprio, intitula-se "Independance", com "A" para evocar a palavra "dança". Nele, o músico recorda e retoma alguns dos êxitos do pós-independência. Com 10 anos de idade na altura em que o seu país conquistou a liberdade, Mário Lúcio lembra-se nomeadamente do fervilhar musical daquela época e diz que a sua vida mudou completamente com a independência.RFI: Quais são as sonoridades deste novo álbum?Mário Lúcio: Quando nós falamos de independência ou de qualquer acontecimento, nós temos a parte analítica e depois temos uma memória escondida. E é engraçado que isto só me aconteceu há pouco tempo. Qual é a minha memória da independência? Eu tinha dez anos. Para além de analisar, é bom lembrar-me das festas. Mas qual é a memória? É a música. Portanto, há pessoas que têm memória de lugares através dos cheiros e a música, porque em 1975 chegaram a Cabo Verde músicas desconhecidas para nós. Nós somos um arquipélago de uma música muito particular no contexto africano e mundial. Uma mistura de música, de reminiscências de música africana com música europeia. E de repente, chega-nos a música do continente africano. Até lá, eu ia sempre a uma mercearia muito pequenita, lá no Tarrafal. O senhor tinha um gira-discos. O que é que nós ouvíamos? Era Roberto Carlos, Luiz Gonzaga e também ouvíamos muita música norte-americana, James Brown, Otis Redding, Percy Sledge. Era o que nós ouvíamos. É como se nos negassem o acesso à música do continente. África estava efervescente havia algumas décadas. Vários países foram independentes nos anos 60 e digamos que esconder isso evitava o contágio. Mas, de repente, chega a música da Guiné-Bissau -que nós não conhecíamos- na mesma língua. A música da Guiné-Conacri, aquelas guitarras, a música de Angola e a música do Congo, mais a música do Senegal, Gana, Camarões e Nigéria, mas também a música das Antilhas, Martinica, Guadalupe, Haiti. Então, é como se nós tivéssemos também achado a nossa própria identidade. E por casualidade, nós começamos a tocar essas músicas, aprender no violão os primeiros acordes que eu aprendi de uma música de um cantor chamado Prince Nico Mbarga. E a música chamava-se "Aki". Eram dois acordes. E depois fui tocar no grupo Abel Djassi, na cidade da Praia, quando fui lá estudar. E já tocávamos nos bailes nocturnos. Os bailes duravam das 20h00 às 05h00. Tínhamos repertório com 100 músicas. Fazíamos quatro intervalos e basicamente eram essas músicas. Então, depois que eu tomei a minha profissão do músico, depois de exercer outras profissões, sempre com a música, tinha o sonho de um dia recuperar essas memórias. Eu não sabia como é que haviam de vir e eu lembrei-me que era o som ligado à dança. Essas músicas chegaram com as danças. Eu lembrava no Tarrafal, as casas, umas casas muito velhas, cheias de gente, rapazes e meninas, cada um no seu canto, a dançar essas músicas, a tentar descobrir uma forma de dançar. As nossas danças são sempre muito coladas, o homem e a mulher. E esses ritmos não exigiam muito malabarismo. Então, a palavra "independance" reflecte a minha memória da independência. São músicas ligadas à dança. E esse disco é um disco para dançar. Felizmente, toquei muitos anos em baile. É uma coisa que eu gosto de fazer, então é um testemunho, digamos assim, uma homenagem a essa época.RFI: Como é que foi todo esse trabalho de recolher as músicas do seu baú pessoal e reformulá-las?Mário Lúcio: As coisas têm os seus mistérios, não é? Normalmente, todos os meus discos, eu vou ao baú e lá selecciono às vezes 60, 80 músicas. Depois passa para 40, 20. Levo para o estúdio 20 músicas. E de repente gravo 12. Ou saem as 12, ou saem oito ou dez. Este processo não. Eu compus todas as músicas de uma assentada. Passei duas noites, compus todas as músicas, excepto a música "Independance", que eu compus no estúdio. Mas, como havia ali alguma coisa para dizer, há muito tempo que nós estávamos à espera que venha esse tipo de música, esse tipo de ritmo. Então, foi muito rápido. E eu sabia o que que as músicas estavam a dizer. E vieram já com o seu ritmo, seu balanço. As letras todas desceram rapidamente e a única música que eu gravei é um tema que eu fiz que se chama "Minha Bio", que é exactamente a minha biografia, que é uma música muito icónica na minha vida. Eu nunca tinha feito uma música sobre mim ou para mim. Esta sim conta a história do meu nascimento e também é uma música acústica. É mesmo uma pausa dentro do disco.RFI: é também uma espécie de balanço pessoal de uma longa carreira que começou quase praticamente depois da independência.Mário Lúcio: Obrigado por essa pergunta, porque eu não tinha sentido isso ainda. E é verdade. Acho que sim. A minha vida está muito ligada à independência, isto é, até os nove anos de idade não se sabia na minha aldeia, o que era um menino precoce. Então eu sofri muita protecção, sobretudo das mulheres mais velhas. A minha avó e a minha tia-avó. A minha mãe não ligava muito. Ela estava sempre a parir. Então a minha avó tomava conta. E aos dez anos, de repente, eu encontrei um poema no bolso das calças do meu irmão, um poema sobre Amílcar Cabral. Isto mudou a minha vida. E isso me levou à música, porque detectaram-me na rua a recitar poemas. Tinha uma memória fabulosa. E o Estado adoptou-me: "temos que lhe dar uma educação especial, porque isso ainda vai ser gente, não é?" Ainda há poucos dias encontrei o antigo Primeiro-Ministro Pedro Pires e ele ria muito. Ele foi lá à minha casa ao Tarrafal e dizia "realmente somos amigos há 51 anos, não é?" Ele está com 95, mais ou menos isso. E olhamos para trás, disse "Olha aquele encontro". Parece que ele se sente satisfeito e muito orgulhoso disso. Então, na verdade, estes 50 anos de dependência são 50 anos de um percurso da noite para o dia. Nada do que eu estava a fazer, do que estava previsto, depois eu vim a fazer, que era ser um pescador ou um pedreiro lá da zona, com muito poucas condições, como não tiveram o resto dos meus irmãos ou dos meus vizinhos. A independência trouxe isso. Estudei e tive acesso às artes. Tive acesso à universidade, tive acesso, depois, às condições que foram criadas depois da independência para as crianças, para os adolescentes. E também fui recebendo. Fui reciclando e dando também. Hoje, quando olho para trás, do alto dos meus 60 anos, tenho 50 anos de dádiva e de gratidão. Porque, na verdade, logo que eu comecei, com dez anos, eu já era músico na minha aldeia e também no grupo Abel Djassi, lá no Tarrafal, com instrumentos e dávamos concertos. E já aos 15, eu era profissional, a meio termo porque eu era estudante, mas tocava também nos bailes. De modo que isto também, essa pergunta é uma prenda para mim. Vou agora pensar nisso nos próximos dias. Como é que, na verdade, é um balanço junto com a história do meu país.RFI: E relativamente à História do seu país? Quando olha para esses 50 anos de percurso livre para Cabo Verde, como é que olha para todo este caminho já atravessado?Mário Lúcio: Tem dois lados, a independência, como a descolonização, esses reveses do domínio e também do aprisionamento e do cerceamento da liberdade. Esses reveses são sempre positivos, porque o homem nasceu para ser livre e feliz e dentro disso tem as matizes que é ser amado, amar, ser generoso, ter ética. Várias coisas. Mas, na verdade, tem o outro lado. Muitos países africanos pioraram as suas condições para as suas populações depois da independência. Isso é inaceitável. Um povo livre, um povo autónomo e países com muita riqueza, não é aceitável que passem a viver igual ou pior do que antes da independência. Cabo Verde é uma belíssima excepção. Eu não sei as razões. Evidentemente, podemos analisá-las. A formação desse povo é uma formação diferente, a escolaridade. Cabo Verde, em 1975, tinha uma taxa de analfabetismo de 75%. Hoje tem (uma taxa de alfabetização) acima de 98%. E então isso faz com que seja um país que progride todos os dias. Em Cabo Verde, é o progresso, o desenvolvimento humano. O desenvolvimento económico é apenas um índice. Mas o desenvolvimento humano passa por ter escolas. A escolaridade obrigatória e gratuita é boa, como existe em Cabo Verde, ter saúde, nós temos uma saúde básica boa. Em Cabo Verde, ter liberdade, liberdade de expressão e outras liberdades identitárias, respeita-se isso. Em Cabo Verde, os Direitos Humanos são respeitados e é um país onde todo o mundo trabalha. Não está infestado de corrupção e de ditaduras. Eu tenho uma sorte. Hoje a minha bandeira é as últimas eleições autárquicas em Cabo Verde. Portanto, as eleições foram no domingo e na segunda-feira todo mundo foi trabalhar. Nas minhas palestras falo da democracia de Cabo Verde, mas desta vez falo com mais felicidade porque houve uma região da ilha de Santiago, acho que era São Lourenço dos Órgãos, onde o vencedor saiu por um voto. Está a ver em África ou no mundo, ou nos Estados Unidos, algum candidato que vence o outro por um voto e não houve briga, não houve manifestações? Muito bem. Vamos recontar, contar, recontar. E se alguém tiver dúvidas, existem as instâncias próprias. Isso é saudável, de modo que quando se sente a maturidade para um povo ser livre e cuidar dos seus destinos, os resultados são como os resultados que existem em Cabo Verde e vários outros países. Vale a pena. E esse processo de Cabo Verde valeu a pena.RFI: Algum ponto talvez menos positivo, que também mereça a sua atenção? Alguma coisa que talvez possa melhorar em Cabo Verde, a seu ver?Mário Lúcio: O mundo todo! Eu acho que neste momento há uma desumanização da política, há uma desumanização da economia, há uma desumanização do próprio ser humano. E isso tem a ver com várias situações sociais. Quando o ser humano não tem acesso à cultura, é uma parte de si, principalmente a parte invisível, que é a alma da pessoa, que está a ser menosprezada, desvalorizada. Quando a pessoa não tem acesso à educação, está a ser-lhe negada uma das vias do progresso e do desenvolvimento humano. Em relação ao meu país, o que eu acho é que, também por fazermos parte do mundo, julgo que temos correcções a fazer. Essas correcções têm a ver exactamente com colocar a felicidade e a liberdade e o acesso ao progresso humano no centro das políticas e não ir, digamos assim, na moda e com o vento das várias possibilidades que estão a existir, de tornar o ser humano secundário, em que se dá demasiada importância às máquinas e à ganância. Então, acho que o Cabo Verde também está a sofrer disso nesse momento.RFI: Cabo Verde faz parte dos países que são homenageados pelos 50 anos das suas respectivas independências no festival "Au fil des voix" aqui em Paris. Como se sente por representar o seu país neste festival?Mário Lúcio: Eu nunca pensei ser um "representante oficial". Mesmo quando eu estava no governo. Mas na verdade, no outro dia, na minha aldeia, na minha vila, um historiador parou-me na rua para me cumprimentar e disse "que orgulho! Mas saiba uma coisa tu és património do Tarrafal." E eu disse "olha, eu que nasci com espírito livre e nunca quis pertencer a nenhuma agremiação e não ser nada para nada". Mas eu disse "para a minha pequena vila, eu aceito, então sou património". E quando me dizem que eu represento o meu país, tomo como uma leveza. Isto é o meu país. Representas ou sentes-te representado nas minhas acções. Por isso, também faço as minhas acções com a maior qualidade possível. E faço-as num contexto internacional, mundial, para que a sua representação não seja menos do que a sua realidade. Tenho trabalhado para isso.RFI: Está a lançar neste momento o seu novo disco. Como é que vai ser a sua actualidade nos próximos meses?Mário Lúcio: Bom, esse disco vai-me fazer tocar bastante. Como já não tocava em bailes, festivais, quero fazer bailes mesmo. Vai ser uma descoberta para as novas gerações, porque é um disco para se ouvir de pé. É um disco para libertar energias. Então, vamos fazer muitas turnês. Muitos concertos e já começamos. Agora vou a Cabo Verde descansar. Em Março, retomo e por aí adiante. Em Abril, Maio, Junho, Julho, Agosto. Setembro, Outubro, Novembro, já está tudo encaminhado. Hoje, vivo no Tarrafal, onde eu nasci, na minha cabana, e é onde quero estar mais tempo. Então começo a fazer as turnês de forma diferente. Não longas turnês, mas muito compactas, a vir à Europa, ir a outras partes do mundo, trabalhar e logo regressar para o meu mar, o meu sol, o meu povo, a minha terra.RFI: O que é que gosta de ouvir neste momento?Mário Lúcio: Eu sou muito eclético. Mas eu diria que se me dessem para escolher cinco músicas para ouvir permanentemente, escolheria, "Gracias à La Vida" de Violeta Parra, se possível interpretada por Mercedes Sosa. Ouviria também "Imagine" de John Lennon. Ouviria "What a Wonderful World" do Louis Armstrong e ouviria uma das "chaconnes" e "partidas" de Johann Sebastian Bach para violino e para violoncelo. E também ouviria "Sodade" na voz de Cesária Évora.Eis a programação do festival "Au fil des voix": https://www.aufildesvoix.com/

Cultura
Artista brasileira expõe em Paris obras inspiradas no combate de Frans Krajcberg

Cultura

Play Episode Listen Later Jan 24, 2025 5:22


Radicada na França desde 1986, a brasileira Janice Melhem Santos expõe “Hors-Sol”, uma meditação pictórica sobre a natureza, inspirada pelo espírito eco-militante de Frans Krajcberg. A exposição pode ser vista até 22 de fevereiro, em Paris. Patrícia Moribe, em ParisA exposição “Hors-Sol” acontece no espaço Frans Krajcberg (1921-2017), fincado em uma simpática vila arborizada, escondida do burburinho próximo da enorme estação de Montparnasse. Era nessa ruela que Krajcberg mantinha um estúdio em Paris. O espaço com o nome do artista foi inaugurado em 2004.A exposição permanente traz várias obras que o artista doou à prefeitura de Paris, acompanhando sua trajetória pelo mundo, começando pela fuga da perseguição aos judeus em sua Polônia natal, passando por Paris e finalmente se apaixonando pela natureza em perigo do Brasil.“Hors sol” quer dizer, ao pé da letra, fora do solo. “Tive a ideia de dar esse título à série e à exposição porque remetia a outras situações, como a minha própria situação de ser, de estar fora do meu país, e a situação do Krajcberg de ter saído também do país dele e ser uma pessoa fora do solo”, explica a artista.Janice lembra também que Krajcberg tinha uma casa nas arvores, em Nova Viçosa (BA). Ela faz um paralelo com uma casa em malha de metal, exposta em Paris, uma maquete em malha de metal, suspensa no ar e batizada de Héstia. “É a deusa do lar na mitologia grega. É uma casa, mas que não tem base. É a casa que você pode levar em qualquer lugar que você está, porque o seu lar é o que você carrega em você. Não é a casa que você mora, mas ela simboliza isso em uma dentro da outra e dentro da outra. Assim como nós sempre guardamos fases, e pedaços até formar o nosso lar interno”, relata.Ao longo dos anos, a artista cruzou o caminho de Krajcberg algumas vezes. Em 2010, ele visitou uma exposição de Melhem em Brasília. “Eu tenho a fotografia dele olhando para esse trabalho e eu sei que ele apreciou. Ele não era uma pessoa de fazer grandes elogios e tudo, mas quando ele apreciava, ele ficava. E essa presença dele para mim era importante”, explica.  “A obra do Krajcberg mostra essa destruição que está sendo feita, mas ele transforma em obra de arte as raízes que estavam sendo queimadas e tudo isso que a gente vê aqui, que é incrível. “De um lado temos aqui a obra de Krajcberg, do outro lado, uma exposição que cumpre o seu objetivo, o de trazer artistas que têm uma relação com o Krajcberg ou que trabalham diretamente ligados com o meio ambiente, a proteção da natureza, das minorias.”

Vida em França
Limbo: "Não somos nem portugueses, nem moçambicanos"

Vida em França

Play Episode Listen Later Jan 23, 2025 19:17


O espetáculo Limbo está em cena até ao dia 8 de Fevereiro, no Teatro de la Colline, em Paris. A peça foi apresentada em Portugal em 2021, onde recebeu os prémios para Melhor Espectáculo de Teatro e Melhor Texto Português Representado pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). O encenador e actor Victor de Oliveira nasceu em Moçambique, cresceu em Portugal e vive em França. "Não sabemos quem somos, e fechamo-nos num limbo. Não somos nem somos portugueses, nem moçambicanos", afirma o encenador. RFI: Em palco, conta a sua história familiar, os conflitos entre gerações, o impacto da herança colonial. Menciona que foi "um acidente" nascer noutro lugar, porquê?Victor de Oliveira: Quando faço essa citação do Achille Mbembe, que diz que é um acidente nascer num dado lugar é apenas para dizer que todos nós nascemos num determinado espaço e depois temos toda a vida para criar algo, para criar uma vida e para ver como é que o facto de termos nascido numa época determinada, num país determinado, como é que essa história faz parte de nós e como é que nós nos construímos com essa história. E, obviamente, eu, tendo nascido numa colónia portuguesa durante o período colonial, sendo neto de colonos brancos portugueses e colonizadas negras moçambicanas, como é que eu cresço e como é que eu me defino e como é que eu avanço na minha vida, fazendo parte dessa história, e dessa história que é uma história extremamente complicada, extremamente difícil, que é a história da colonização portuguesa.Mas hoje já estamos em 2025. O ano passado, Portugal comemorou os 50 anos do 25 de Abril. Este ano, Moçambique vai comemorar os 50 anos da independência. Como é que avançamos, sabendo o que foi a colonização, sabendo o que houve de terrível, e como é que hoje nos definimos? Como é que hoje conseguimos criar algo para além do horror que foi a colonização, sem negar aquilo que aconteceu, mas dizendo: ok, aconteceu. Mas hoje, como é que nós fazemos para ir além dessa história e para construir algo que esteja ligado a essa história comum que é nossa e tentar avançar com tudo isso?Todas essas questões são questões que me acompanham, para as quais não tenho respostas precisas, digamos assim. Mas, as questões em si já são suficientemente interessantes para que elas me acompanhem e para que eu tente, no palco, com o limbo, por exemplo, dar algumas respostas ou, pelo menos, fazer com que as pessoas que estejam na plateia e que ouçam e que vejam o que está a acontecer se possam questionar também. E, eventualmente, que essas histórias possam ecoar na própria história de cada um, de cada uma delas.Em palco, durante 1h15 compartilha episódios traumáticos da infância; como o desejo de se esconder do próprio pai, e reflecte sobre a procura de um sentimento de pertença. Pensar no passado é uma forma de sair deste limbo?Sim, é uma forma de voltar a olhar para esse limbo de que eu falo com um pouco mais de distância. Também tem a ver com a idade que eu tenho hoje e com o facto de, há um tempo, todas essas questões andarem à minha volta. E tem a ver com essa distância e com essa maneira de dizer: "Ok, isto aconteceu assim, assim, assim. E por que é que aconteceu assim? Por que é que houve esta reação? Por que é que isto aconteceu?" Não para tentar encontrar respostas, mas porque eu tenho a impressão de que essas situações, digamos, de que eu falo durante o espetáculo, fazem parte dessa dramaturgia, que essas situações são representativas de toda uma parte da história portuguesa e colonial. No meu caso, com Moçambique, mas podia ser com Angola, com Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe.Mas tem a ver com essa relação com as ex-colónias portuguesas. Sim, é uma maneira de olhar para essas situações, de tentar compreendê-las hoje, com a idade que eu tenho e com o trabalho que tentei fazer de dramaturgia e de compreensão enquanto artista, para dizer: "Ok, isto aconteceu assim, porque isto, isto, isto". E, obviamente, há menos sofrimento, um certo apaziguamento, digamos assim, que vai surgindo pouco a pouco, porque a história mesmo se conta a partir de mim. Ela não é apenas a minha história.Quando eu fiz em Lisboa e fiz em Guimarães, e no dia 28 de Março, vou fazê-la no Teatro Circo de Braga, enquadrado no Dia Mundial do Teatro. E toda essa relação é para que as pessoas que venham ver. Cada um faz o seu caminho, mas as questões que estão lá são partilhadas, e cada um de nós pode encontrar as suas respostas.Você recua até 1977 para falar de uma viagem de carro onde viu brancos a serem queimados num Fiat vermelha. Nunca se esquece o que se vê?Quer dizer, quando são coisas tão traumatizantes, é difícil esquecer. E depois tem a ver com o que se passou depois. Porque havia esse período, depois da independência, havia, como eu digo, uma raiva extremamente forte contra os brancos portugueses, contra os mestiços. É por isso que eu conto que, num autocarro em Maputo, de repente, eu estava com os meus pais e com o meu irmão, e as pessoas começaram a gritar: "Abaixo o mulato! Mulato não tem bandeira! Abaixo o mulato!"Tudo isso, obviamente, são coisas que, quando somos crianças, não percebemos muito bem o que se passa, mas percebemos que há uma agressividade extremamente forte e que as pessoas nos têm como responsáveis de algo. Enquanto criança, não percebia muito bem, mas depois consegui compreender. Tinha tudo a ver com o tipo de colonização portuguesa, com o facto de que os mestiços, obviamente, tinham mais direitos que os negros e menos direitos que os brancos. E essa hierarquia das raças, que foi instaurada pela colonização portuguesa, fez com que, de repente, os mestiços estivessem entre dois lados e fossem insultados. De um lado e do outro.Para uma criança da minha idade, nessa altura, era extremamente traumatizante, porque, de repente, não sabemos quem somos, e aí fechamo-nos num limbo, fechamo-nos em algo. Não temos identidade, não sabemos quem somos, e estamos no entre-dois, entre o paraíso e o inferno, que é uma das definições religiosas do que é o limbo. Mas no entre-dois racial também: não somos nem brancos, nem negros. Estamos no entre-dois. Nem somos portugueses, nem moçambicanos. Não somos nada. E esse "não sermos nada" que nos é imputado, que nos é dado, que nos é mostrado, quer seja pelos brancos, quer seja pelos negros, foi, não apenas para mim, mas também para milhares de outras pessoas, extremamente difícil durante anos e anos e anos, mesmo depois, quando chegamos a Portugal, pelas mesmas razões.Em palco, interpreta também Francisco, o seu pai. Foi importante trazê-lo para a peça?Sim, sim, era extremamente importante, porque o espetáculo começou a ser pensado a partir de uma conversa que tive com ele. Uma das conversas, das discussões que tive durante uma parte da minha adolescência e mesmo durante a minha vida de adulto com o meu pai. Conversas extremamente difíceis, como acontece com muitos pais e filhos. Conflitos de gerações, mas não apenas isso, também sobre o olhar que cada um de nós tinha sobre a colonização e sobre o que se tinha passado em Moçambique.E, de repente, a partir de uma dessas conversas, eu disse: "Não, eu tenho que fazer algo no palco. Eu sou um artista, tenho que tentar encontrar uma maneira de contar tudo isto, porque nunca vi um espetáculo sobre este assunto em palco em Portugal". E a voz, o percurso de todos estes milhares de mestiços, mulatos, como éramos chamados, é importante. E eu penso que há muita gente que se vai identificar, que vai reconhecer e que será tocada pelo facto de estarmos a falar disso. E foi exactamente o que aconteceu em Lisboa, no Porto. Fizemos também no FITEI, no Porto, e em Guimarães. Espero que o mesmo aconteça em Braga, em Março.Essa relação traz toda uma história. E é verdade que, de repente, o pai existe. O meu pai fala assim ainda hoje. É um homem que viveu metade da sua vida em Portugal, mas que continua a ter um sotaque moçambicano, continua a falar com uma musicalidade, com um ritmo próprio que é o dele. Com o seu sotaque moçambicano. Ainda hoje, em Portugal, quando eu o imito, as pessoas percebem logo que ele é moçambicano. E há palavras que só ele diz. E há palavras que os portugueses reconhecem como típicas dos moçambicanos ou angolanos.Houve, no entanto, um trabalho de tradução e de adaptação para que isso pudesse ser ouvido hoje aqui por um público francês. Como é que eu consigo dar um sotaque? Eu não podia, por exemplo, tentar criar um sotaque francófono, quer dizer, um sotaque do Congo ou dos Camarões, ou de outra antiga colónia francesa, porque não é exactamente a mesma coisa. Eu tinha muito receio de cair num clichê. Tive que encontrar uma maneira de dar um ritmo à voz dele, dar um ritmo à sua maneira de falar, para que as pessoas percebessem que tem muito a ver com ele.E, ao mesmo tempo, há pequenas expressões que têm a ver, obviamente, com o facto de ser um africano que fala. Tudo isso, sim, era extremamente importante para que as pessoas pudessem ver que é um homem já de uma certa idade e, sobretudo, um homem que é representativo. Mais uma vez, representativo de pessoas da geração dele, mesmo um pouco mais novas, que continuam a interrogar-se e a olhar de uma certa maneira para aquilo que foi o colonialismo português. E como isso é importante de ser ouvido.Na peça fala também sobre o facto de ter crescido a admirar os brothers americanos e a força do Black Power e dos Black Panthers. De onde vem essa identificação?Tem muito a ver, porque está relacionado com toda a segregação racial. A história da segregação racial americana é uma história que, na Europa, conhecemos relativamente bem. Mas a verdade é que nasci numa colónia portuguesa, numa colónia que enviou bastantes escravos para o Brasil e para os Estados Unidos. Aliás, eu falo disso no espectáculo: digo que a minha avó nasceu em 1910 e que o último barco negreiro clandestino que saiu do porto de Lourenço Marques, na altura, foi em 1920. Quer dizer, a minha avó tinha dez anos. Isso significa que é algo que está presente, que está lá.Essa relação com os americanos é importante. E depois, falo de outra questão: quando nós chegámos a Portugal, nos anos 80, como as séries americanas tratavam esse tema. Falo, por exemplo, de Raízes, que era uma série daquela altura. De repente, víamo-nos nós próprios, víamos os nossos antepassados. E depois há a música americana: Havia uma identificação que era extremamente importante, algo que não existia em Portugal. Não havia, na época, algo semelhante em relação aos negros moçambicanos, porque nessa altura não havia muita produção cultural visível — nem na televisão, nem na rádio, nem na música.Eu falo da música negra americana, que me acompanhou e que acompanhou toda a minha família. Essa identificação era extremamente importante. Como para os americanos, o mestiço é negro — one drop of Black Blood, como eles dizem —, para mim, de repente, veio a conclusão: "Ok, afinal, eu sou negro mesmo". Mesmo que antes já não soubesse muito bem o que era. Toda essa indefinição era extremamente difícil. Mas, quando me conectava à música negra americana, havia algo que trazia orgulho nos meus antepassados, orgulho na minha cor de pele, orgulho na minha história.Os americanos tinham - e ainda têm hoje - uma relação muito forte com esse orgulho. E, ao olhar para a história da colonização moçambicana, eu sentia dificuldade em encontrar essa mesma relação. Era difícil sentir orgulho daquilo que sou e das minhas raízes.Portugal demorou muito a falar abertamente sobre as antigas colónias...Não, não havia. Não havia muita abertura. Não se falava da guerra colonial, nem dos moçambicanos que chegaram a Portugal. Porque, como eu digo no espetáculo, nós obviamente não éramos pessoas escravizadas - isso já tinha acabado há muito tempo. Não éramos retornados, que eram os colonos que tinham voltado para Portugal. E não éramos, como diziam em Portugal, "portugueses de gema". O que significa que não éramos nada disso. Então, o que éramos? Essa indefinição tornava extremamente complicado e difícil encontrar uma identificação própria, ter orgulho naquilo que eu era.A cultura negra americana era uma bóia de salvação, porque havia algo lá, algo muito claro e forte naquilo que eles diziam. Quando eu falo de James Brown e da música I'm Black and I'm Proud, por exemplo, era isso - uma música incrível, Black and Proud. E os meus primos e eu ouvíamos isso e dizíamos: “Sim, sim, sim!” Mesmo naquela época, quando estávamos no Norte, numa aldeia, fosse em São Pedro do Sul ou depois na Serra do Caramulo, ou no Barreiro, ou mais tarde em Sintra. Tudo isso, mesmo que o que estava à nossa volta não fosse aquilo, fazia-nos ver quem éramos, apesar dos insultos que nos rodeavam.Havia os insultos com os quais eu e os meus primos crescemos: "preto" e todas essas coisas terríveis. Crescemos com isso, mas, pouco a pouco, surgiu uma vontade de ir além disso, de nos construirmos enquanto homens, enquanto adultos, e de dizermos: “Ok, tudo bem, nós somos isso tudo. Mas isso tudo é importante, porque tem a ver com a minha história”.Essa história está ligada à história das minhas avós, ao facto de eu ter nascido numa colónia. Mas, ao mesmo tempo, não posso esquecer que há outra parte de mim - a história dos meus avós, que eram brancos, colonos do Norte de Portugal, do centro de Portugal. Isso também faz parte da minha história. É necessário encontrar um equilíbrio, um equilíbrio que me permita caminhar com serenidade e deixar o limbo para trás.Na peça, fala de agressões que sofreu e menciona a morte de Bruno Candé. Apesar de avanços, ainda há muito trabalho pela frente em Portugal?Ainda há muito trabalho, como mencionou António de Almeida Mendes, o historiador, porque, embora em Portugal se tenha feito um grande esforço, especialmente nos últimos 20 anos, para olhar para a colonização e questionar a história comum enquanto sociedade, ainda persistem velhos hábitos. Há ainda uma forma de olhar para as pessoas que vieram das ex-colónias e para os seus descendentes, os afrodescendentes, que vivem e nasceram em Portugal, de uma maneira que perpetua preconceitos. E isso é extremamente difícil de superar.Quando menciono o Bruno Candé, faço-o porque, antes, falei de Alcindo Monteiro, que morreu em 1995, três anos após eu próprio ter sido agredido por skinheads no Porto. Tudo isso serve para reflectir sobre como a sociedade portuguesa lida com estas questões. A morte do Bruno Candé, que ocorreu em 2020, é algo que eu trago à tona porque foi muito recente. 2020 foi ontem. E, ainda hoje, vemos episódios chocantes, como o que aconteceu recentemente em Lisboa, onde pessoas foram encostadas à parede numa rua do centro da cidade. São situações que, para mim, são incompreensíveis e me deixam em estado de choque. Não sou o único - felizmente, muitos ficaram igualmente chocados, porque é algo que não conseguimos aceitar.Não consigo entender como, em pleno 2025, a sociedade portuguesa e o Estado português ainda possam justificar acções que são absolutamente horríveis, absolutamente terríveis. Que algo assim possa acontecer... É como se estivéssemos a recuar no tempo, para períodos de segregação racial. Falávamos antes sobre os Estados Unidos nos anos 40 e 50, mas agora estamos em 2025. Não é admissível que, hoje, em Portugal, ainda haja formas de menosprezar, rotular e rebaixar o outro de maneira tão flagrante. Isso deixa-me completamente desamparado.Sei que houve uma grande manifestação em Lisboa, onde as pessoas saíram às ruas para dizer: "Não nos encostem à parede". Este tipo de resposta é essencial, porque não é possível que, num país como Portugal, que faz parte da União Europeia há tantos anos, ainda hoje estejamos presos a uma mentalidade que menospreza o outro, que rebaixa, e que mantém uma relação racista tão profundamente enraizada. Não é possível. Não é aceitável.Imagino que acompanhe a actualidade moçambicana. Como é que observa os recentes protestos e agitações políticas?Olho com grande preocupação, porque é uma outra história que, embora não tenha directamente a ver com esta peça, de certa maneira tem, já que está ligada ao período da colonização. Quer dizer, Moçambique é um país extremamente jovem. Este ano, Moçambique festeja 50 anos de independência. Desde 1975, o mesmo partido tem gerido todo o país. Até 1992, sob um regime marxista-leninista, e, a partir de 1992, deixou de ser a República Popular de Moçambique para se tornar a República de Moçambique. Portanto, é uma democracia em que há eleições. Durante muitos anos, essas eleições eram fraudulentas. As pessoas sabiam, mais ou menos, que eram fraudulentas. Mas tudo isso era feito com o aval, digamos assim, quer de portugueses, quer de outros países, porque era necessário que o país continuasse num caminho para a democracia.E isso não é apenas a história de Moçambique; está ligado a muitas outras democracias no continente africano pós-independência. Mas a verdade é que, 50 anos depois, estamos num caminho que, infelizmente, vejo como um beco sem saída. Não apenas porque houve outra pessoa que ganhou as eleições - e está provado, não sou só eu que digo isto, está provado que Venâncio Mondlane ganhou as eleições - mas, por outro lado, também porque há uma juventude que já não quer absolutamente continuar da mesma maneira. E o que estamos a assistir é a uma juventude extremamente forte, que diz "Basta, basta! Não podemos continuar assim".Essa forma de os jovens, essencialmente jovens, irem para a rua e serem mortos - com mais de 200 mortos - é absolutamente terrível. Mas há uma vontade extremamente grande de fazer com que isso mude, porque um país com uma riqueza natural tão grande, como é que ainda hoje pode ser um dos países mais pobres do mundo? Obviamente, isso também está relacionado com a forma como a descolonização foi feita e como os países europeus e o Ocidente olharam para a descolonização feita pelos países africanos. Tudo isso está ligado à história.Estou bastante preocupado porque não consigo prever o que poderá acontecer. Sei que houve uma tomada de posse com os deputados do partido Podemos e, ao mesmo tempo, Venâncio, que foi quem realmente ganhou, diz que "Não, isto não é possível". As pessoas voltam novamente para a rua e, novamente, são baleadas. O que é que poderá acontecer para que tudo isso termine e para que haja algo em que as pessoas aceitem que o país tem que mudar? Por enquanto, confesso que não sei muito bem o que poderá acontecer. Estou bastante inquieto.

Rádio Comercial - Ouvir Falar de Amor
A história da Sara Norte e do Vasco Cruz: "Aí tive a certeza: Se ele ficou depois disto... tem tudo para dar certo!"

Rádio Comercial - Ouvir Falar de Amor

Play Episode Listen Later Jan 17, 2025 41:45


Dizem que é nos momentos mais difíceis que percebemos com quem podemos contar. Foi o que aconteceu com Sara Norte. Após a morte da irmã, entrou num período de autodestruição. "Ninguém tinha de aguentar aquilo. E o Vasco não me deixou. Aí tive a certeza: Se ele ficou depois disto... Tem tudo para dar certo". A verdade é que dá certo há oito anos e meio, e estão prestes a casar. Não quer com isso dizer que tenha sido sempre fácil. A atriz, de 39 anos, e o produtor, de 35, já tiveram de fazer vários ajustes. Ela era uma "party animal", ele não gostava tanto desse registo. Após discussões e até uma curta separação, perceberam que se encontram nas diferenças e até nas etapas mais complicadas. Não tivessem eles percebido que estavam apaixonado na rodagem do filme "Fátima", de João Canijo. Aí, os caminhos de ambos mostraram que a peregrinação dos dois só tinha um destino: o amor. (Ah, e um quarto de hotel e também karaoke... Mas para saber isso nada como ouvir o mais recente episódio do podcast "Ouvir Falar de Amor").

The Hard Corps Marketing Show
Why ABM Platforms Are Wasting Your Time! ft. Steve Bonadio | Hard Corps Marketing Show | Ep. # 391

The Hard Corps Marketing Show

Play Episode Listen Later Jan 2, 2025 49:50


In this action-packed episode of The Hard Corps Marketing Show, I sit down with Steve Bonadio, VP of Global Marketing at Tive, to uncover the truth behind common misconceptions in B2B marketing. Steve, with over 25 years of experience, dives into the real challenges marketers face, including the overhyped promises of ABM (Account-Based Marketing) platforms, and the importance of focusing on orchestration, data quality, and a back-to-basics approach.One of the key takeaways in this episode is how relying too heavily on ABM platforms and Martech tools can lead to disconnected, siloed marketing efforts that fail to connect with the customer journey. Steve emphasizes the critical need for a more integrated, human-centered approach to marketing — one that focuses on orchestration, clear messaging, and truly understanding your Ideal Customer Profile (ICP). We explore key topics like:The truth about ABM platforms: Overpromised, underdelivered?The power of marketing orchestration and data qualityBuilding a strong foundation with your Ideal Customer Profile (ICP)The evolving Martech landscape and where to focus your effortsReal-world advice for refining your B2B marketing strategyWhether you're a seasoned marketer or just starting out, this episode is packed with actionable insights, candid opinions, and strategies to help you elevate your B2B marketing game.

#NaReal_SandraGioffi
“Mudança com propósito.” Podcast Líderes que me Inspiram #45 - Marcelo Buzato

#NaReal_SandraGioffi

Play Episode Listen Later Nov 28, 2024 49:00


Nesse episódio, entrevistei alguém que admiro profundamente, não apenas pelo talento, mas pela coragem de viver com autenticidade: Marcelo Buzato. Muitas pessoas só mudam de carreira quando a situação exige — quando tudo desmorona ou os desafios se tornam insustentáveis. Mas Marcelo escolheu ressignificar sua jornada por conta própria, priorizando sua verdade, sua família e seus valores. Essa decisão reflete um dos traços mais inspiradores da geração Y: a busca por propósito e alinhamento entre vida e trabalho. Tive o privilégio de trabalhar com o Buzato por anos, e sempre me impressionei com sua consistência. Era evidente na forma como lidava com clientes, na dedicação ao trabalho, na interação com os colegas e, principalmente, na verdade que carregava em cada fala e atitude. Consistência — uma qualidade que, como Simon Sinek destaca, é fundamental para o sucesso em qualquer papel ou jornada. Recentemente, ele traduziu essa experiência no livro VENCER, um guia indispensável para quem deseja superar desafios com coragem e propósito. Se você está precisando daquele empurrãozinho para transformar seu futuro, não deixe de conferir nosso bate-papo. Tenho certeza de que Marcelo também vai inspirar você, assim como sempre me inspirou. Buz, gratidão por compartilhar sua história aqui!

Não Morda a Maçã
Não tive um pai presente | Fernando Ortega

Não Morda a Maçã

Play Episode Listen Later Nov 25, 2024 38:01


Você já deve ter escutado que "DEUS É PAI", mas a pergunta que fica é: Você sente Deus como pai???Você pode assistir essa pregação com imagens no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=E9TVl6vVFHISiga no instagram:- www.instagram.com/naomordamaca- www.instagram.com/fernandortegaNosso canal no YouTube:- https://www.youtube.com/@naomordamacaVocê pode agendar seminários e ministrações através do e-mail contato@naomordamaca.com ou enviar inbox pelo nosso Instagram.Não deixa de acessar nosso site! Todo dia tem texto novo para abençoar sua vida!www.naomordamaca.com

Supply Chain Now Radio
Confronting Ever-Changing Dynamics in Freight Security

Supply Chain Now Radio

Play Episode Listen Later Nov 6, 2024 53:38 Transcription Available


In this episode of Supply Chain Now, hosts Scott W. Luton and Karin Bursa are joined by Richie Daigle, Enterprise Account Executive at Tive, and David Shillingford, Co-founder of Everstream Analytics. Together, they discuss the critical challenges of freight security and how the ever-evolving threat landscape impacts global supply chains.Richie and David share their expertise on the latest trends in cargo theft, the importance of building strategic technology stacks, and how digitization and IoT devices are revolutionizing freight visibility. The discussion also covers the vital role of partnerships and trust across the supply chain ecosystem and how a culture of awareness and collaboration is vital to staying ahead of opportunistic and organized cargo thieves.Tune in to learn actionable insights on improving supply chain resilience, protecting high-value freight, and responding effectively to rising security threats with advanced technology and strategic planning.Jump into the conversation:(00:00) Intro(02:06) Addressing freight risks in supply chain(06:38) Rising cargo theft and security trends(10:41) Case study: cargo theft in Illinois(14:18) Technology's role in preventing cargo theft(19:22) Digitization and its impact on freight security(24:26) Building a strategic tech stack for security(29:01) Enhancing visibility and quick response(34:42) The cultural element of security awareness(38:17) Data analytics and predictive capabilities in freight security(40:12) Implementing standard operating procedures for security(44:29) The importance of partnering with external experts(48:49) Success stories and overcoming security challengesAdditional Links & Resources:The ABCs of Cargo Security and Loss Prevention webinar: https://bit.ly/3zAirpTConnect with Richie Daigle: https://www.linkedin.com/in/richiedaigle/Connect with David Shillingford: https://www.linkedin.com/in/shillingford/Learn more about Tive: https://www.tive.com/Learn more about Everstream Analytics: https://www.everstream.ai/Connect with Karin: https://www.linkedin.com/in/karinbursa/Connect with Scott: https://www.linkedin.com/in/scottwindonluton/ Learn more about Supply Chain Now: https://supplychainnow.com Watch and listen to more Supply Chain Now episodes here: https://supplychainnow.com/program/supply-chain-now Subscribe to Supply Chain Now on your favorite platform: https://supplychainnow.com/join Work with us! Download Supply Chain Now's NEW Media Kit: https://bit.ly/3XH6OVkWEBINAR- Supply Chain in 2025: Top 5 Labeling and Packaging Artwork Trends to Watch: https://bit.ly/3Y9FWiZWEBINAR- Future-Proof Your Logistics: AI-Powered Solutions for Competitive Edge: https://bit.ly/3BouB5EWEBINAR- The Cold Chain Dilemma: Why Visibility Falls Short and What Really Works: https://bit.ly/4hpu8k9This episode was hosted by Scott Luton and Karin Bursa, and produced by Amanda Luton. For additional information, please visit our dedicated show page at: https://supplychainnow.com/confronting-ever-changing-dynamics-freight-security-1347

Futebol de Verdade
FDV #2025/17: Volta de aquecimento

Futebol de Verdade

Play Episode Listen Later Nov 4, 2024 85:10


Olá a todos! O Futebol de Verdade de hoje foi mais acidentado do que a 10ª jornada da Liga para os candidatos. Tive de começar o programa ontem e de o acabar hoje, por causa da instabilidade da ligação de internet, mas os candidatos, esses, ganharam os jogos sem grandes dificuldades. Aqui fiz as análises às goleadas de Sporting e FC Porto e às vitórias tangenciais trazidas por Benfica e SC Braga das suas deslocações, a servirem de aquecimento para a jornada que vai colocar os quatro frente-a-frente. E, com o apoio da ⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠MaderTools⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠, ainda respondi a uma pergunta sobre a possibilidade de Rúben Amorim se abastecer em Portugal de reforços para o Manchester United. Vamos! O Futebol de Verdade está disponível logo ao domingo e à quinta-feira à noite no ⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠meu canal de YouTube⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠. Para acompanharem todo o meu trabalho, visitem ⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠https://tadeia.substack.com/⁠⁠

Meio Ambiente
Como a COP16 da Biodiversidade busca compensar a ‘biopirataria digital'

Meio Ambiente

Play Episode Listen Later Oct 31, 2024 6:37


A 16ª Conferência da ONU sobre a Diversidade Biológica se encaminha para o fim nesta sexta-feira (1º) em Cali, na Colômbia, com um impasse sobre a delicada questão da repartição dos benefícios genéticos da natureza. Os países megadiversos, como o Brasil, insistem para a criação de mecanismos justos de compensação pelo uso desses recursos naturais – com os quais multinacionais agroalimentares, farmacêuticas ou cosméticas fazem fortunas, principalmente nos países desenvolvidos. Lúcia Müzell, da RFI em ParisA solução não poderia ser simples para um problema que, com o avanço das tecnologias, se tornou ainda mais complexo. O sequenciamento genético digital (DSI, na sigla em inglês) de plantas, animais e microrganismos, postos à disposição da comunidade científica, agora dispensa que eles sejam extraídos diretamente da natureza para serem utilizados pelas diferentes indústrias e pela academia, em pesquisas científicas.“Se, antes, existia a prática de biopirataria de ir a um país como o Brasil e pegar uma determinada semente, como aconteceu bastante no passado, e levá-la para um outro país, desenvolver um novo produto e patenteá-lo, hoje isso não acontece mais”, explica a advogada Bruna Maia, que desenvolve uma tese sobre este assunto na universidade Panthéon-Assas, em Paris, e é consultora jurídica da 3Bio, especializada em regulação internacional de biotecnologia.“Hoje, os cientistas codificam o genoma de toda essa semente, de uma planta, um animal ou, muitas vezes, um microrganismo, que eles armazenam em nuvens em depositários internacionais e, para desenvolver novos produtos, as empresas simplesmente usam esse sequenciamento genético. Muitas empresas do agronegócio, como Syngenta ou Bayer, fazem uso intensivo disso e não precisam mais de recursos físicos”, complementa Maia. “Elas não precisam mais de uma semente de tomate: precisam simplesmente do código genético da variedade dele e desenvolvem novas, que podem ser, por exemplo, resistentes à seca.”Novas regras para atualizar Protocolo de NagoyaOs três principais bancos de dados ficam na Inglaterra, no Japão e nos Estados Unidos. Esta configuração obriga as 193 nações signatárias da Convenção sobre a Diversidade Biológica, assinada em 1992, a encontrarem novas formas de retribuir os países que abrigam e conservam estes valiosos recursos na natureza.A repartição dos benefícios está prevista no Protocolo de Nagoya, de 2010, mas o documento se aplica apenas ao material genético físico. Na última COP, em 2022, ao assinarem o primeiro Marco Global da Biodiversidade, os países concordaram com a criação de um mecanismo multilateral para a repartição dos benefícios, “incluindo um fundo global”. Até agora, entretanto, as discussões em Cali não chegaram a um consenso.Sobre a mesa, encontram-se alternativas como a instauração de uma taxa de até 1% sobre o valor de varejo destes produtos, ou um percentual inferior sobre os lucros anuais das multinacionais que utilizam sequenciamentos genéticos da natureza. Também está em aberto como esta compensação seria efetivada: se por meio de projetos específicos de proteção da biodiversidade ou por financiamento direto aos países detentores das riquezas.  Pressa por decisão O tema é prioritário para as nações florestais, como a anfitriã, Colômbia, o Brasil, que abriga a maior área de floresta tropical e a maior biodiversidade do mundo, mas também os países africanos e do sudeste asiático. A negociação envolve, ainda, as comunidades locais e indígenas, que preservam muitos destes recursos.“A negociação de DSI está muitíssimo intensa. Tive acesso ao último rascunho de acordo, mas eles já incluíram uma nova possibilidade – o que mostra que está ficando cada vez mais complexo”, nota Bruna Maia. “É difícil ter uma decisão até sexta, mas, ao mesmo tempo, percebo que existe uma vontade política muito grande para que saia algum resultado nesta COP. O meu medo é que saia uma decisão, porém não seja a melhor possível, principalmente para os países detentores de biodiversidade. De sair qualquer coisa, só porque querem decidir alguma coisa”, salienta a especialista.Um dos argumentos dos lobbies industriais e alguns países ricos para não compensar financeiramente os países florestais é que são eles próprios que sustentam a existência dos bancos de dados genéticos, para o benefício de toda a comunidade internacional. Outros, como a Suíça ou o Japão, têm batalhado para que a repartição dos benefícios seja voluntária, uma alternativa amplamente rejeitada pelos países em desenvolvimento.

The Triple Threat
Jerry Jones Got SEN-SI-TIVE During a Radio Interview Tues Lolol

The Triple Threat

Play Episode Listen Later Oct 15, 2024 9:02


Jerry Jones Got SEN-SI-TIVE During a Radio Interview Tues Lolol full 542 Tue, 15 Oct 2024 21:55:07 +0000 RzPTZr1ARNhuoAyFB83nE4GlLLCglHp5 sports The Drive with Stoerner and Hughley sports Jerry Jones Got SEN-SI-TIVE During a Radio Interview Tues Lolol 2-6PM M-F 2024 © 2021 Audacy, Inc. Sports False https://player.amperwavepodca

Sai da Média - Podcast | Geronimo Theml
Do zero ao sucesso: minha TRANSIÇÃO de carreira (o que você NUNCA SOUBE) | Podcast Sai da Média #208

Sai da Média - Podcast | Geronimo Theml

Play Episode Listen Later Oct 12, 2024 57:39


“Sucesso sem felicidade é fracasso.” Quando eu era advogado da União, ganhando um salário que jamais havia imaginado ganhar na minha vida, essa frase do Tony Robbins me fez tomar uma atitude radical… Largar aquele emprego que me trazia segurança financeira, mas me deixava extremamente infeliz. Embora muitas pessoas ao meu redor tenham achado essa decisão uma loucura, eu não poderia ter feito uma escolha melhor. Porque hoje eu tenho um reconhecimento financeiro ainda melhor do que tinha como advogado da União e tenho também muito mais realização profissional e pessoal! Mas para conseguir tudo isso, eu tive que me planejar… Tive que entender por que mudar de carreira faria sentido, quando seria o momento ideal para fazer essa transição e o passo a passo para fazer uma transição de forma segura. Five… eu não sei se você está na mesma situação que eu estava lá atrás… com reconhecimento financeiro, mas sem realização profissional. Ou se até tem realização profissional, mas não tem o retorno financeiro que gostaria. Ou ainda se o seu caso é o mais difícil de todos: você não gosta do que faz e não ganha bem. Independentemente de qual é o seu caso, talvez você esteja considerando fazer uma transição de carreira assim como eu fiz. E eu quero compartilhar contigo como eu consegui fazer essa transição de forma rápida e segura para hoje ser extremamente realizado em todas as áreas da minha vida. Bora bater esse papo no episódio #208 do Sai da Média, o podcast de produtividade mais ouvido do país? “Do zero ao sucesso: minha transição de carreira (o que você nunca soube)”. Dá o play e confere! → Inscreva-se grátis no Treinamento “A Melhor Profissão do Mundo”, que acontece online e ao vivo nos dias 28, 30 e 31/10: https://geronimotheml.site/melhor-profissao-do-mundo-sdm-208 → Para mais conteúdos gratuitos sobre produtividade e desenvolvimento pessoal, se inscreve aqui no canal e me segue no Instagram: https://www.instagram.com/geronimotheml/ → Segue a Paty no Instagram se quiser descobrir os segredos de um evento ao vivo que gera alta transformação e conversão em vendas: https://www.instagram.com/patyaraujo.oficial/ #SaiDaMédia #VidaNoComando #GeronimoTheml

FreightCasts
Running on Ice EP105 Cargo Theft Trends In Cold Chain

FreightCasts

Play Episode Listen Later Oct 11, 2024 27:21


In this episode, we break down some of the more common cargo theft trends. Our guest, Orlando Candelaria, account executive at Tive shares his expertise in cargo theft trends and ways to work smarter while reducing risk. For more information subscribe to Running on Ice the newsletter or podcast. Follow the Running on Ice Podcast Other FreightWaves Shows Learn more about your ad choices. Visit megaphone.fm/adchoices

Expresso - A Beleza das Pequenas Coisas
Luísa Costa Gomes (parte 1): “O que vemos em massa são livros de autoajuda, proselitismo e didatismo. Um livro não é uma couve lombarda!”

Expresso - A Beleza das Pequenas Coisas

Play Episode Listen Later Oct 11, 2024 73:07


É uma das vozes literárias portuguesas mais marcantes. Enquanto Luísa Costa Gomes prepara um romance de ficção científica, acaba de lançar uma nova colecção de histórias breves: “Visitar amigos e outros contos”. Neste podcast fala de como não cede à pressão do tempo, é crítica da produção massiva de “uma certa evangelização, moralismo e didatismo” nas obras que enchem as livrarias, fala da televisão como uma “espiral descendente” de “vileza” e "estupidificação geral” e alerta para o perigo dos dogmas e da morte da democracia. Esclarece ainda que não viveu nenhum renascimento, após um percalço: “Tive pneumonia, nada de mais. A vida tem umas sacudidelas. Penso na morte desde que nasci, faz parte”. Ouçam-na aqui nesta primeira parte da conversa com Bernardo Mendonça no podcast A Beleza das Pequenas CoisasSee omnystudio.com/listener for privacy information.

The Digital Supply Chain podcast
AI, Real-Time Visibility, and Sustainability: The Future of Supply Chains!

The Digital Supply Chain podcast

Play Episode Listen Later Oct 7, 2024 39:46 Transcription Available


Send me a messageIn this episode of the Sustainable Supply Chain podcast, I spoke with Krenar Komoni, the CEO and founder of Tive, about the transformative impact of real-time tracking on supply chain sustainability. We explored how Tive's technology is enabling companies to reduce waste by providing immediate data on the location and condition of shipments, particularly for temperature-sensitive goods like perishables and pharmaceuticals.Krenar shared compelling examples of how real-time monitoring can prevent spoilage. For instance, companies like Alpine Fresh have used Tive's trackers to detect temperature excursions during transit, allowing them to correct issues in real-time and save entire shipments. Similarly, Optimised Courier was able to intervene when a pharmaceutical shipment was delayed on a tarmac, ensuring the products remained within their stability budget.We also discussed the surprising reliance on outdated methods, such as spreadsheets, in billion-dollar supply chain operations. Krenar emphasised the necessity of practical and simple technological solutions to drive industry-wide adoption and efficiency.Looking ahead, we delved into the potential of AI and machine learning in shaping the future of supply chains. While these technologies offer significant opportunities for predictive analytics and increased autonomy, Krenar noted that geopolitical risks pose substantial challenges to global sustainability efforts.Additionally, Krenar recommended the documentary "Beyond Zero", which has significantly influenced his approach to sustainability by highlighting the importance of waste reduction and sustainable manufacturing practices.Tune in to this episode to gain valuable insights into how real-time data and innovative technologies are essential for building more sustainable and efficient supply chains.Elevate your brand with the ‘Sustainable Supply Chain' podcast, the voice of supply chain sustainability.Last year, this podcast's episodes were downloaded over 113,000 times by senior supply chain executives around the world.Become a sponsor. Lead the conversation.Contact me for sponsorship opportunities and turn downloads into dialogues.Act today. Influence the future.Support the showPodcast supportersI'd like to sincerely thank this podcast's generous supporters: Lorcan Sheehan Olivier Brusle Alicia Farag And remember you too can Support the Podcast - it is really easy and hugely important as it will enable me to continue to create more excellent episodes like this one.Podcast Sponsorship Opportunities:If you/your organisation is interested in sponsoring this podcast - I have several options available. Let's talk!FinallyIf you have any comments/suggestions or questions for the podcast - feel free to just send me a direct message on LinkedIn, or send me a text message using this link.If you liked this show, please don't forget to rate and/or review it. It makes a big difference to help new people discover it. Thanks for listening.

Alta Definição
Francisco Pedro Balsemão: “Tive um colega de escola a querer ser meu amigo por indicação do pai. Foi aí que percebi a dimensão do meu apelido e me tornei mais inseguro”

Alta Definição

Play Episode Listen Later Oct 5, 2024 51:10


Francisco tem 44 anos e é, desde março de 2016, o CEO do Grupo Impresa, a maior empresa de media em Portugal. Sempre quis ser jornalista, mas a vida encarregou-se de lhe mostrar outros caminhos. É o filho mais novo de Francisco Pinto Balsemão e foi pela mão do pai que fez as primeiras viagens que lhe trariam mundo. “Fiz, com seis anos a minha primeira viagem. Ainda hoje me lembro de Gibraltar, do Estreito de Messina e de Corfu”. Recorda também a liberdade que trazia felicidade, nos anos 80, década que o viu nascer e crescer. “Brincava muito fora de casa, hoje é tudo muito mais controlado”. Ainda guarda berlindes em casa, por fazer questão de mostrar aos filhos, altamente digitais, heranças de outrora de um mundo muito mais palpável. Com 13 anos foi aos MTV Awards, onde se cruzou com Kurt Cobain, um dos seus ídolos, e que quase o fez cair para o lado. Foi-lhe sempre passada a mensagem, pelos pais, de que deveria ser grato por ter “a sorte de ter nascido num mundo de privilégios”, mas que, só por si, esse fator não seria determinate para nada. “O facto de ter partido à frente de outras pessoas que não tiveram as oportunidades que eu tive, só me trouxe, ainda mais, a convicção de ter de dar tudo, trabalhar, dar o litro.”  See omnystudio.com/listener for privacy information.

BBC Lê
O procurador que foi Uber por 4 meses em Salvador: 'Não tive sensação de ser meu próprio chefe'

BBC Lê

Play Episode Listen Later Oct 2, 2024 25:37


Ilan Fonseca tirou licença do Ministério Público do Trabalho para viver cotidiano de motoristas do aplicativo e entender melhor a relação deles com as plataformas.

Supply Chain Now Radio
Unpacking Cargo Security: Defining What Puts Freight at Risk

Supply Chain Now Radio

Play Episode Listen Later Sep 25, 2024 45:56 Transcription Available


How are supply chain leaders responding to the growing challenge of cargo theft in 2024?In this episode, hosts Scott W. Luton and Karin Bursa are joined by Richie Daigle, Enterprise Account Executive at Tive, to discuss the alarming rise in cargo theft—up 50% this year—and the steps companies are taking to protect their freight. Richie shares how Tive's real-time tracking technology is enabling businesses to secure shipments, minimize disruptions, and ensure goods arrive on time and intact.The conversation includes real-world examples of how businesses are using data to tackle both accidental and intentional risks in the supply chain. Richie highlights the importance of strong partnerships with suppliers and carriers, the critical role that buyers play in procurement, and how technology is reshaping supply chain visibility. Learn actionable steps to help safeguard your shipments and reduce losses in today's unpredictable supply chain environment.Jump into the conversation:(00:00) Cargo theft trends in 2024 and its impact on supply chains(05:51) Richie Daigle's professional journey and Tive's mission(09:17) How cargo thieves are using technology to target shipments(16:17) The critical role of buyers in mitigating supply chain risks(22:33) Building trust and strong relationships in supply chain security(24:58) Real-world example: Reducing costs in the automotive industry with Tive(26:34) Leveraging technology to address supply chain risks(29:31) The importance of awareness: Known vs. unknown risks(35:19) Actionable steps for supply chain leaders to protect their freightAdditional Links & Resources:Cyber Scams & High-Tech Heists: Securing Freight in the Age of Strategic Cargo Theft: https://bit.ly/3XqVLQGConnect with Richie Daigle: https://www.linkedin.com/in/richiedaigle/ Learn more about Tive: https://www.tive.com/ Connect with Karin: https://www.linkedin.com/in/karinbursa/ Connect with Scott: https://www.linkedin.com/in/scottwindonluton/ Learn more about Supply Chain Now: https://supplychainnow.com Watch and listen to more Supply Chain Now episodes here: https://supplychainnow.com/program/supply-chain-now Subscribe to Supply Chain Now on your favorite platform: https://supplychainnow.com/join Work with us! Download Supply Chain Now's NEW Media Kit: https://bit.ly/3XH6OVk WEBINAR- Mastering Shipping: Insider Tips for Reliable and Cost-Effective Deliveries: https://bit.ly/3XdC3t5WEBINAR- Creating the Unified Supply Chain Through the Symbiosis of People and Technology: https://bit.ly/3XDtrejWEBINAR- Defending Your Business from Ransomware and Cyber Threats: https://bit.ly/4d0VGcfWEBINAR- End-to-End Excellence: Integrating Final Mile Logistics: https://bit.ly/3ZlpE7UWEBINAR- AI for SMBs: Unlocking Growth with Netstock's Benchmark Report: https://bit.ly/3AWtoCDThis episode was hosted by Scott Luton and Karin Bursa. For additional information, please visit our dedicated show page at: https://supplychainnow.com/unpacking-cargo-security-defining-puts-freight-risk-1329

onda.podcast
# 48 ERIN GELD - "TIVE UM FILHO COM O MEU AMIGO": CONCEBER, COPARENTAR E AMAR

onda.podcast

Play Episode Listen Later Sep 17, 2024 50:38


Alguns dias antes do Samuel nascer, Erin sentiu muita luz. Tudo estava mais vivo. É talvez porque esse menino foi muito desejado pela mãe e por Gilad, o pai. Erin e Gilad nunca estiveram juntos, nem hoje nem ontem, mas eles se amam - como amigos. Então como se faz um bebê com um amigo? Erin conta aqui a importância da família para ela, como engravidou do Samuel e chegou a fazer um contrato de parentalidade com o pai, o primeiro a ser homologado no Brasil. Ela fala da gravidez sem parceiro romântico e dos medos que sentia ao pensar como ela, uma mulher com uma deficiência auditiva, ia conseguir cuidar do seu bebê. Samuel chegou bem e veio amplificar o amor e respeito entre os pais. Esse menino de um ano e três meses vive cercado do amor dos avós, tios e do carinho da sua babá.Obrigada Erin pela sua sinceridade e por mostrar uma outra maneira de construir uma família.

Supply Chain Now Radio
The Buzz for September 13th: Digital Transformers Edition

Supply Chain Now Radio

Play Episode Listen Later Sep 13, 2024 46:19


The Buzz is Supply Chain Now's regular Monday livestream, held at 12 noon ET each week. This show focuses on some of the leading stories from global supply chain and global business, always with special guests – the most important of which is the live audience!In this week's Digital Transformers edition of The Buzz, hosts Scott Luton and Kevin L. Jackson discuss the state of the manufacturing industry, the impact of AI and digitization on supply chain visibility, and the role of transportation management technology in supply chain success. Listen and learn more about: How manufacturers are propelling their partners into the digital supply chain eraHow today's shippers are demanding effective transportation managementUniversities that are empowering high school students with AI and manufacturing skillsAnd much more!Additional Links & Resources:Most recent edition of With That Said: https://bit.ly/3zklhz19/10 Webinar- Optimizing Procurement Operations with Group Purchasing Organizations: https://bit.ly/3z1fTAXJoin us for our livestream with Tive on Thursday, as we unpack cargo security: https://bit.ly/3B5OOwRMost recent episode of Digital Transformers: https://bit.ly/3zbGD1AUS manufacturing mired in weakness; construction spending falls: https://bit.ly/4ee1VKJManufacturers propel partners Into the digital supply chain era: https://bit.ly/3zfLMppHow AI and Digitization Impact Supply Chain Visibility: https://bit.ly/3MFJcfmToday's Shippers Demand Effective Transportation Management: https://bit.ly/3XkCe4zManufacturing Intelligence: Deltia AI Delivers Assembly Line Gains With NVIDIA Metropolis and Jetson- https://bit.ly/4edYTGuAuburn empowers high school students with AI, manufacturing skills- https://bit.ly/4cXzn7wLearn more about our hosts: https://supplychainnow.com/aboutLearn more about Supply Chain Now: https://supplychainnow.comLearn more about Digital Transformers: https://supplychainnow.com/program/digital-transformersWatch and listen to more Supply Chain Now episodes here: https://supplychainnow.com/program/supply-chain-nowSubscribe to Supply Chain Now on your favorite platform: https://supplychainnow.com/joinWork with us! Download Supply Chain Now's NEW Media Kit: https://bit.ly/3XH6OVkWEBINAR- Mastering Shipping: Insider Tips for Reliable and Cost-Effective Deliveries:

Digital Transformers
The Buzz for September 13th: Digital Transformers Edition

Digital Transformers

Play Episode Listen Later Sep 13, 2024 46:19


The Buzz is Supply Chain Now's regular Monday livestream, held at 12 noon ET each week. This show focuses on some of the leading stories from global supply chain and global business, always with special guests – the most important of which is the live audience!In this week's Digital Transformers edition of The Buzz, hosts Scott Luton and Kevin L. Jackson discuss the state of the manufacturing industry, the impact of AI and digitization on supply chain visibility, and the role of transportation management technology in supply chain success. Listen and learn more about: How manufacturers are propelling their partners into the digital supply chain eraHow today's shippers are demanding effective transportation managementUniversities that are empowering high school students with AI and manufacturing skillsAnd much more!Additional Links & Resources:Most recent edition of With That Said: https://bit.ly/3zklhz19/10 Webinar- Optimizing Procurement Operations with Group Purchasing Organizations: https://bit.ly/3z1fTAXJoin us for our livestream with Tive on Thursday, as we unpack cargo security: https://bit.ly/3B5OOwRMost recent episode of Digital Transformers: https://bit.ly/3zbGD1AUS manufacturing mired in weakness; construction spending falls: https://bit.ly/4ee1VKJManufacturers propel partners Into the digital supply chain era: https://bit.ly/3zfLMppHow AI and Digitization Impact Supply Chain Visibility: https://bit.ly/3MFJcfmToday's Shippers Demand Effective Transportation Management: https://bit.ly/3XkCe4zManufacturing Intelligence: Deltia AI Delivers Assembly Line Gains With NVIDIA Metropolis and Jetson- https://bit.ly/4edYTGuAuburn empowers high school students with AI, manufacturing skills- https://bit.ly/4cXzn7wLearn more about our hosts: https://supplychainnow.com/aboutLearn more about Supply Chain Now: https://supplychainnow.comLearn more about Digital Transformers: https://supplychainnow.com/program/digital-transformersWatch and listen to more Supply Chain Now episodes here: https://supplychainnow.com/program/supply-chain-nowSubscribe to Supply Chain Now on your favorite platform: https://supplychainnow.com/joinWork with us! Download Supply Chain Now's NEW Media Kit: https://bit.ly/3XH6OVkWEBINAR- Mastering Shipping: Insider Tips for Reliable and Cost-Effective Deliveries:

Alta Definição
Salvador Sobral: "Pergunto-me se a minha filha vai ter uma doença como a que tive. Devia ser ilegal no mundo haver crianças doentes. É completamente inumano"

Alta Definição

Play Episode Listen Later Sep 7, 2024 51:45


Sete anos depois, “com menos 25 quilos e com outro coração, o músico Salvador Sobral regressa ao Alta Definição para conversar com Daniel Oliveira. A vida do músico alterou-se, principalmente desde 2017. "Parece um ano louco. A Eurovisão mudou a minha vida para sempre e o transplante de coração obviamente também", recorda o cantor. O artista confessa que não se reconhecia ao espelho antes da operação, mas com o tempo, a pouco e pouco, conseguiu recuperar a imagem em que se reconhecia. "Lembro-me de acordar da operação e não querer acordar, querer morrer, porque é uma agonia pura. Pode acontecer-me tudo na vida, os concertos mais stressantes, pode cair um piano em cima de mim, que eu acho que nunca vou sentir a dor que senti no pós-operatório", relembra Salvador Sobral. Apesar de reconhecer que terá um lugar na história por ter vencido a Eurovisão, ambiciona ser "considerado um intérprete importante no nosso país" e acredita que "isso ainda não está atingido." O Alta Definição foi exibido na SIC a 7 de setembro.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Category Visionaries
Krenar Komoni, CEO & Founder of Tive: $82 Million Raised to Build the Future of Supply Chain Visibility

Category Visionaries

Play Episode Listen Later Jul 30, 2024 27:32


Welcome to another episode of Category Visionaries — the show that explores GTM stories from tech's most innovative B2B founders. In today's episode, we're speaking with Krenar Komoni, CEO & Founder of Tive, a supply chain visibility platform that's raised $82 Million in funding. Here are the most interesting points from our conversation: Founding Story: Krenar started Tive in 2015 after witnessing the inefficiencies in tracking shipments in his father-in-law's trucking business. Product Innovation: Tive's launch of the world's first single-use 5G-ready tracker in 2020 significantly improved product-market fit and customer adoption. Customer Shift: Initially targeting VP-level supply chain executives, Tive's ideal customer profile shifted to logistics managers and transportation coordinators who handle shipment operations. Sales Strategy: Cold calling and direct customer engagement were crucial in understanding market needs and iterating the product for better market fit. Market Discovery: Tive found a significant market in produce logistics, where real-time temperature tracking ensures product quality upon delivery. Core Value: Krenar emphasizes transparency with customers, building trust by proactively communicating issues and maintaining high customer support standards. Actionable Takeaways:  Adapt Your Target Customer Profile: Initially targeting VP-level executives may not always be the best approach. Identify and engage directly with the individuals who handle the day-to-day operations, as they may have a greater need for your product. Leverage Cold Calling for Customer Insights: Don't underestimate the power of cold calling and direct engagement with potential customers. This approach can provide valuable insights into market needs and help refine your product offering. Innovate Cost-Effective Solutions: To succeed, especially in hardware products, it's crucial to find ways to reduce costs without sacrificing quality. Tive achieved this by working closely with manufacturers in China to produce affordable, high-quality trackers. Prioritize Transparency with Customers: Building trust through transparency is essential. Proactively communicate any issues and maintain high standards in customer support to foster strong, long-lasting relationships. Understand and Adapt to Market Needs: Flexibility and willingness to pivot are key. Tive initially targeted the pharma industry but shifted focus to produce logistics when they found a more immediate and accessible market opportunity. //   Sponsors: Front Lines — We help B2B tech companies launch, manage, and grow podcasts that drive demand, awareness, and thought leadership. www.FrontLines.io The Global Talent Co. — We help tech startups find, vet, hire, pay, and retain amazing marketing talent that costs 50-70% less than the US & Europe.  www.GlobalTalent.co

Expresso - A Beleza das Pequenas Coisas
Tozé Brito (parte 1): “Se eu tive uma vida de rock'n'roll? Fiz as asneiras todas. O catálogo completo. Mas nunca me levei demasiado a sério”

Expresso - A Beleza das Pequenas Coisas

Play Episode Listen Later Jul 26, 2024 61:21


É um dos nomes incontornáveis da história da música portuguesa. Tozé Brito fez-se músico no tempo em que as cantigas eram uma arma e os artistas da canção ligeira faziam parar o país no Festival da Canção. Com um ouvido certeiro para a música, Tozé Brito, a quem chamaram ‘senhor festival', foi responsável por largas centenas de sucessos musicais como Carlos Paredes, Doce, Paulo de Carvalho, Jorge Palma e José Cid. Aos 70 anos deu que falar com dois discos especiais: um a celebrar a longa amizade com José Cid, que resultou no álbum “Tozé Cid”, e outro que enaltece as suas canções mais icónicas interpretadas por uma nova geração de músicos, “Tozé Brito (de) Novo”. Agora abre o livro sobre si e o romance de autoficção que está a terminar. Ouçam-no aqui nesta primeira parte da conversa com Bernardo MendonçaSee omnystudio.com/listener for privacy information.

FreightCasts
Running on Ice EP95 Chilly cargo theft

FreightCasts

Play Episode Listen Later Jul 12, 2024 26:21


In this episode, we dive into the ins and outs of cold chain cargo theft. Our guest Richie Daigle, enterprise account executive at Tive breaks down steps to take to reduce the likelihood of cargo theft as well as what theft items are on the rise. For more information subscribe to Running on Ice the newsletter or podcast. Follow the Running on Ice Podcast Other FreightWaves Shows Learn more about your ad choices. Visit megaphone.fm/adchoices

Mamilos
Mamilos Café #7 - Lela Brandão: tive anorexia e usava exercício para me punir

Mamilos

Play Episode Listen Later Jul 4, 2024 50:04


Lela Brandão tem uma marca de roupas, é podcaster, palestrante e influencer com inúmeras publicidades na agenda. É formada em arquitetura e já atuou como artista plástica e ilustradora. Passa um café e embarca nesse papo saboroso com a criadora do podcast Gostosas também Choram que passa por comer, amar e rezar e o que é afinal essa tal de “energia de gostosa”. Lela abre o coração sobre a jornada para diagnosticar e conviver com a fibromialgia e a importância de fazer exercício para ter saúde mental e qualidade de vida. Tem também reflexões sobre como a moda trata o corpo das mulheres, e o que um designer precisa para desenvolver roupas para todos os corpos. Vem com a gente! _____ Contato: mamilos@mamilos.me

The Logistics of Logistics Podcast
The CRO Perspective: Growing FreightTech Sales with Ryan Sullivan

The Logistics of Logistics Podcast

Play Episode Listen Later Jul 3, 2024 55:31


Ryan Sullivan and Joe Lynch discuss the CRO perspective - growing freighttech sales. Ryan is the CEO and Founder of Ratchet Ventures, a fractional CRO firm specializing in the logistics and freighttech space. Summary: The CRO Perspective: Growing FreightTech Sales In this podcast, Ryan Sullivan, Founder of Ratchet Ventures and an experienced Chief Revenue Officer (CRO), shares his insights on growing sales in the freight tech and logistics industry. He discusses the importance of revenue management, transitioning from founder-led sales to a scalable process, and the three levers to increase sales: larger deals, more opportunities, and higher conversion rates. Ryan emphasizes understanding the ideal customer profile, building genuine relationships, and specializing in a specific niche to improve sales performance. He also addresses the challenges growing companies face in finding the right sales leadership and how fractional CRO services can help. Throughout the podcast, Ryan shares his unconventional journey and expertise in helping companies and individuals navigate the increasingly competitive supply chain technology industry. #FreightTechSales #RevenueGrowthStrategies #LogisticsSalesExpertise About Ryan Sullivan Ryan Sullivan is the CEO & Founder of Ratchet Ventures. With over a decade of experience in supply chain tech, Ryan partners with seed to Series B companies to revamp sales strategies, optimize pipelines, and enhance forecasting. A proven leader with success at Kuebix and Tive, he specializes in transitioning from founder-led sales to scalable processes, achieving 5-10x revenue growth. As a 2x founder, 2x corporate exit, and 3-time founding sales leader, Ryan's expertise includes channel partnerships, sales playbooks, prospecting, and CRM enablement. Passionate about innovation in logistics and transportation, he actively shares industry insights on LinkedIn and is committed to transparency and authenticity in all business interactions. Based in Boston, Ryan drives growth and innovation in the supply chain industry. About Ratchet Ventures Ratchet Ventures, led by CEO & Founder Ryan Sullivan, empowers supply chain technology leaders to scale, secure funding, and drive profitable revenue through comprehensive growth services. With over 15 years of experience, Ryan partners with seed to Series B companies to transition from founder-led sales to scalable processes, achieving significant growth. Ratchet Ventures specializes in Fractional CRO services, strategic growth planning, and go-to-market strategies. As a 2x founder, 2x corporate exit, and 3-time founding sales leader, Ryan's expertise is instrumental in navigating startup complexities and driving innovation in the supply chain sector (Ryan Sullivan ). Key Takeaways: The CRO Perspective: Growing FreightTech Sales Gain insights from a Chief Revenue Officer on growing sales in the freight tech industry. Learn about the importance of building relationships with customers. Understand the growing significance of revenue management in companies. Discover how to transition from founder-led sales to a scalable sales process. Hear about Ryan Sullivan's unconventional journey to becoming a successful tech sales leader. Learn three key levers to grow sales in freight tech and logistics companies. Understand the value of genuine expertise and personal connections in the era of AI-generated content. Timestamps (00:00:01) The CRO Perspective on Freight Tech Sales (00:00:20) Fractional CRO for Early Stage Companies (00:01:35) The Growing Importance of Revenue Management (00:04:00) Scaling Sales Beyond Founder-Led Efforts (00:08:05) Accidental Entrepreneur Discovers Supply Chain Tech (00:14:18) Three Levers to Grow Freight Tech Sales (00:16:03) Selling Larger Deals in Freight Brokerage (00:19:34) The Value of Authentic Expertise (00:22:17) Boost Sales Conversion Through Customer Understanding (00:24:32) Niching Down for Higher Conversions (00:32:34) Focusing on the Ideal Customer Profile (00:39:35) Fractional CRO: Helping Companies Overcome Growth Barriers (00:43:21) Fractional CRO: Driving Strategic Sales Growth (00:47:03) Navigating Sales Leadership Challenges in Growing Companies (00:51:48) Three Ways to Grow Freight Tech Sales (00:52:52) Navigating Supply Chain Technology and Capital Learn More About The CRO Perspective: Growing FreightTech Sales Ryan Sullivan | Linkedin Ratchet Ventures | Linkedin Ratchet Ventures The Logistics of Logistics Podcast If you enjoy the podcast, please leave a positive review, subscribe, and share it with your friends and colleagues. The Logistics of Logistics Podcast: Google, Apple, Castbox, Spotify, Stitcher, PlayerFM, Tunein, Podbean, Owltail, Libsyn, Overcast Check out The Logistics of Logistics on Youtube

Alta Definição
Clemente: “Sentia-me o dono disto tudo, ganhava muito dinheiro a cantar, era muito conhecido. Foi a pior altura da minha vida, perdi a noção dos meus valores, até a fé eu perdi”

Alta Definição

Play Episode Listen Later Jun 29, 2024 49:55


Daniel Oliveira recebe o cantor Clemente, no Alta Definição em podcast. Nascido em 1955, em Setúbal, sempre quis partir e conhecer o mundo. “É com a música que conheço o mundo, há 54 anos que dou voltas ao mundo consecutivamente a cantar para os portugueses e não só", confessa. A entrevista decorre no Forte de Albarquel, junto à praia da sua infância. “Tive um problema de saúde aos 4 anos na garganta, pré cancerígeno. Podia ter morrido, o ar e o iodo da Praia de Albarquel foram muito importantes”, recorda. O artista relembra ainda a infância, quando o pai passava muito tempo fora de casa a trabalhar no mar, para garantir uma vida estável para a família. “Tinha noção do meu privilégio. Aos 7 anos, fui para a escola com uma sanduíche de fiambre e a maior parte dos miúdos não sabiam sequer o que era. Lembro-me da surpresa, queriam dar uma dentada”. O Alta Definição foi emitido na SIC a 29 de junho.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Let's Talk Supply Chain
409: Achieve End-to-End Visibility, Tracking and Monitoring For Your Shipments, with Tive

Let's Talk Supply Chain

Play Episode Listen Later May 27, 2024 51:11


Krenar Komoni talks about Tive; understanding the condition, as well as location, of shipments; sustainability; and why every shipment matters. IN THIS EPISODE WE DISCUSS:   [07.19] Krenar's education, his passion for start-ups, and the career journey that led him from space stations, chips, and wireless to founding Tive. “I've always worked for start-ups since I was a kid… I fell in love with this idea that you can build something out of nothing.” [12.13] An overview of Tive – who they are, what they do, and how they help their customers. “We make sure our customers have the least amount of shipping problems as they can!” [13.42] The ideal client for Tive. [18.08] From theft to compliance, the biggest logistics challenges currently faced by Tive customers. “Theft is huge right now in the market… just with one company, every week we're catching two or three events.” [20.57] Visibility – what it means to Tive, and why it's so important that we recognize its value and translate that into effective supply chain strategies, processes, and tools. “Better quality conversations build a better quality of supply chain.” [24.31] A closer look at Tive trackers, the technology, and what sets them apart from the competition. “We've really built them purposefully for supply chain and logistics – and for the people who use this every single day. We've built a device, at the right cost, with the right features and right outputs that customers want.” [26.51] Why Tive has coined the phrase ‘ground truth' and what it means to them, and to customers. [28.14] A closer look at Tive tags; how clients can use them to monitor what's happening to their product as it moves through its journey; and why it's just as important to know what condition your shipments are in, as exactly where they are. [31.08] Tive's ‘every shipment matters' motto, and the impact the industry could make if every organization and professional truly honored that motto. “In order to make supply chain, and the whole planet, more efficient, you have to live by it – every single shipment matters. If we take care of every shipment the way we do high-value ones… if every shipment got the care it deserves, we'd be in much better shape.” [33.44] The importance of sustainability, and how Tive weaves it through everything they do, creating products that are better for the environment, and better for their customers. “Our non-lithium trackers are much better for the environment… and you don't have to use a ‘dangerous goods' sticker. So, you have sustainability, plus a better customer experience.” [37.37] Two case studies show how Tive trackers helped highlight a mistake with temperature-controlled cargo, saving a half-million-dollar shipment, and locating a missing million-dollar shipment. [43.25] The future for Tive, and the industry. “Customers are realizing that, to get 100% visibility and really understand their supply chains, they have to start embracing IoT.”   RESOURCES AND LINKS MENTIONED:   Head over to Tive's website now to find out more, download their FREE State of Visibility 2024 report, and discover how they could help you too. You can also connect with Tive and keep up to date with the latest over on LinkedIn, YouTube and X (Twitter), or you can connect with Krenar on LinkedIn. If you want to hear more from Tive, they were first on the show way back in 2020! Check out what's changed by listening to Episode 131: Forget Surprises! In Transit Visibility Is Here.

Fábrica de Crimes
121. Caso Robinho - Sem Mais Pedaladas

Fábrica de Crimes

Play Episode Listen Later May 15, 2024 38:55


Do AC Milan à Tremembé.  O episódio de hoje te conta o que aconteceu entre esses dois extremos da vida de Robson de Souza, o Robinho.  Sem mais dribles ou pedaladas, hoje, o  ex-jogador cumpre pena na Penitenciária de Tremembé, em São Paulo. O caso de hoje conta em detalhes a trajetória do ex- “menino da vila”. Gostaria de aparecer em um dos episódios do Fábrica? Então manda uma mensagem de áudio pelo direct no nosso Instagram @podcastfabricadecrimes  A gente só publica com a sua autorização =) Hosts: @mari.host e @rob.host Edição: @ovitoivtovito Link para doação - Enchentes Rio Grande do Sul: https://www.paraquemdoar.com.br/  Links com Pontos de Coleta de Doação no Rio de Janeiro:  https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/01/14/temporal-no-rio-veja-os-pontos-de-apoio-e-de-doacoes-para-a-populacao-atingida-pelas-chuvas.ghtml  https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/05/07/veja-como-ajudar-no-rj-vitimas-das-chuvas-no-rio-grande-do-sul.ghtml  FONTES: UOL, Justiça italiana pedirá inclusão de Robinho em lista vermelha da Interpol, disponível aqui: Metrópoles, Condenado, Robinho diz: “Tive meus direitos constitucionais violados”, disponível aqui: Agência Senado, Seleção brasileira de futebol poderá ser considerada patrimônio cultura, disponível aqui: Exame, Gigante do futebol e insuperável: veja a lista de recordes do rei Pelé, disponível aqui: ESPN, Santos centenário: Mentor da base revela as lições que fazem do clube um celeiro de craques, disponível aqui: G1, Caso Robinho: imprensa italiana repercute decisão do STJ de mandar prender ex-jogador, disponível aqui: G1, Filho de Robinho faz homenagem após golaço no Paulista sub-17: 'melhor pai do mundo'; VÍDEO, disponível aqui: G1, Robinho completa um mês na prisão; saiba a rotina do ex-atleta que pode jogar futebol e trabalhar no 'presídio dos famosos', disponível aqui: G1, Perfil de Robinho tem post dizendo 'sou inocente' e repercute entre seguidores: 'tem internet de boa aí?', disponível aqui: Globo Esporte, As gravações do caso Robinho na justiça italiana: "A mulher estava completamente bêbada", disponível aqui: UOL Esporte, Robinho aconselha amigo: "Volta pro Brasil, pelo menos tu não fica em cana", disponível aqui: Terra, Boate em Milão passa por ampla reforma após 'caso Robinho', disponível aqui: R7, Exclusivo: Robinho quebra o silêncio e fala pela primeira vez sobre condenação de estupro na Itália, disponível aqui: Globo Esporte, Robinho deve ficar preso cerca de 3 anos e meio antes de progredir para o semiaberto, disponível aqui: BBC News Brasil, Robinho é preso por estupro: entenda por que Justiça decidiu que ex-jogador cumprirá no Brasil sentença da Itália, disponível aqui: UOL Esporte, Vítima de Robinho fala pela 1ª vez: 'Não tenham medo de seus agressores, disponível aqui: Globo Esporte, Em 2002, Robinho, do Santos, era revelação do futebol brasileiro, disponível aqui: YouTube, Golaço de Robinho pelo Santos em 2004, disponível aqui: Folha de S. Paulo, Presos 4 pelo seqüestro da mãe de Robinho, disponível aqui: YouTube, Holanda 2x1 Brasil - Copa do Mundo 2010 - Melhores Momentos, disponível aqui: Globo Esporte, Oficial: Robinho assina com o Milan, disponível aqui: O Gol, Milan, disponível aqui: Corriere dello Sport, L'ex attaccante del Milan Robinho indagato per uno stupro di gruppo, disponível aqui: Globo Esporte, Jornal: Robinho é investigado na Itália por estupro coletivo de brasileira, disponível aqui: ESPN, Polícia inglesa arquiva acusação de estupro contra Robinho, disponível aqui: Nexo, Condenado a 9 anos por estupro, Robinho é preso em Santos, disponível aqui: O Tempo, Após condenação, o que acontecerá com Robinho? Especialista explica, disponível aqui: G1, Prisão de Robinho repercute na imprensa italiana, disponível aqui: UOL Esporte, Por que os 4 amigos de Robinho não foram condenados por estupro na Itália?, disponível aqui: --- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/fabricadecrimes/message

The Logistics of Logistics Podcast
Driving Sales Pipeline with Jim Waters

The Logistics of Logistics Podcast

Play Episode Listen Later Apr 24, 2024 47:16


Jim Waters and Joe Lynch discuss driving sales pipeline. Jim is the Founder of FreighTech, an advisory and fractional CMO service that helps logistics technology providers acquire more customers. About Jim Waters Jim Waters is a Boston-based B2B marketing executive with a proven track record of building robust sales pipelines. His passion lies in driving meaningful conversations, understanding customer pain points, and creating compelling content that generates active pipeline velocity. A results-driven innovator, Jim was an early employee at both FRAYT and Tive, where he spearheaded Global Marketing. Jim's entrepreneurial spirit led him to build successful marketing teams at Coveo, (CVO.TO), FAST (MSFT) and StreamServe (NASDAQ: OTEX). He earned an MBA from Northeastern University and is now Founder of FreighTech Advisors fractional CMO and advisor services to companies in the Logistics Technology industry. About FreighTech FreighTech is a company that delivers fractional CMO consulting, content development, marketing and advisory services specifically to logistics technology businesses. The company was founded in 2023 by Jim Waters, a logistics and supply chain marketing veteran. Key Takeaways: Driving Sales Pipeline Jim Waters and Joe Lynch discuss the 3 keys to driving sales pipeline. Demand Creation (top of the funnel) Active Pipeline (prospects that seem promising after the discovery call) Closing Deals  FreighTech customers gain the following benefits: Industry Leader: Led by logistics veteran Jim Waters, FreighTech offers logistics tech companies the combined power of advisory services and fractional CMO expertise to drive customer acquisition. Fractional CMO Advantage: Access senior marketing leaders for strategic guidance and execution, saving costs compared to a full-time CMO. Growth Focus: Target key areas like lead generation, brand awareness, demand creation, and sales growth. Data-Driven Results: Track KPIs and measure ROI to demonstrate the effectiveness of your marketing efforts. Scalable Support: Adjust service hours based on your company's needs. Learn More About Driving Sales Pipeline Jim Waters | Linkedin FreighTech | Linkedin FreighTech The Key to Effective Last Mile Delivery with Jim Waters | The Logistics of Logistics Every Shipment Matters With Jim Waters | The Logistics of Logistics The Logistics of Logistics Podcast If you enjoy the podcast, please leave a positive review, subscribe, and share it with your friends and colleagues. The Logistics of Logistics Podcast: Google, Apple, Castbox, Spotify, Stitcher, PlayerFM, Tunein, Podbean, Owltail, Libsyn, Overcast Check out The Logistics of Logistics on Youtube