Ciência

Follow Ciência
Share on
Copy link to clipboard

Uma vez por semana, os temas que marcam a actualidade científica são aqui descodificados.

Rfi - Marco Martins


    • Jan 3, 2023 LATEST EPISODE
    • weekly NEW EPISODES
    • 9m AVG DURATION
    • 160 EPISODES


    Search for episodes from Ciência with a specific topic:

    Latest episodes from Ciência

    São Tomé e Príncipe: Escassez de peixe afasta pescadores da costa

    Play Episode Listen Later Jan 3, 2023 9:34


    MARAPA significa Mar, Ambiente e Pesca Artesanal, estas são as três áreas de trabalho da organização que nasceu em São Tomé e Príncipe, em Dezembro de 1999, financiada pela Agência Francesa de Desenvolvimento. Manuel Jorge Carvalho do Rio, engenheiro em pesca industrial e mestre em desenvolvimento rural, é membro fundador da Marapa e actualmente é presidente do Conselho de Administração. Em entrevista à RFI, falou das acções que estão a ser levadas a cabo no terreno para responder às necessidades dos pescadores. O dirigente lembra que os recursos provenientes do mar não são infindáveis e prova disso é a distância cada vez maior que os pescadores são-tomenses têm que percorrer à procura de pescado. Trajecto que, muitas vezes, fazem sem condições e sem equipamento de orientação, o que por vezes se traduz no desaparecimento da embarcação e dos pescadores. Por isso mesmo, a MARAPA, com a ajuda de diferentes parceiros, está a formar pescadores e, também, a fornecer GPS, equipamentos de geolocalização.

    São Tomé e Principe: Mosquito geneticamente modificado pode eliminar o paludismo

    Play Episode Listen Later Dec 26, 2022 9:33


    A iniciativa contra a Malária da Universidade da Califórnia em São Tomé e Príncipe tem como principal missão contribuir para a eliminação do paludismo, através da utilização de mosquitos geneticamente modificados. Uma abordagem inovadora que pretende, a longo prazo, pode significar a eliminação da malária em São Tomé e Príncipe. A abordagem passa pela substituição do mosquito autóctone que transmite o paludismo, por uma população de mosquitos que perde essa capacidade. O mosquito modificado é um mosquito em tudo igual ao mosquito que transmite o paludismo mas que pela modificação de genes perde essa capacidade. Neste momento o projecto encontra-se na fase de “pesquisa sobre a biologia do mosquito em São Tomé e Príncipe, a formação e capacitação de recursos humanos e de infra-estruturas, oferta de bolsas de mestrado e de doutoramento para estudantes de São Tomé irem fazer os seus estudos no Instituto de Higiene e Medicina Tropical e a capacitação de um insectário no Centro Nacional de Endemias". Além disso, na Universidade de São Tomé e Príncipe “temos um laboratório novo que será em breve inaugurado. Será o primeiro laboratório de biologia molecular da Universidade de São Tomé e Príncipe”, sublinhou, ao microfone da RFI, João Pinto, gestor de campo do programa da UCMI em São Tomé. A iniciativa conta com o envolvimento comunitário, Lodney Nazaré, ponto focal para engajamento comunitário do projecto UCMI em São Tomé, explica que é necessário a educação e informação da população para dissipar dúvidas, muitas vezes, relacionadas com o mosquito geneticamente modificado: “Nas comunidades, pensam que estamos a libertar mosquitos geneticamente modificados em São Tomé e há uma certa preocupação sobre como esse organismo pode reagir à natureza.”

    Lecanemab: um medicamento histórico, mas que ainda não traz cura para a Alzheimer

    Play Episode Listen Later Dec 20, 2022 9:27


    O medicamento lecanemab conseguiu atenuar a doença de Alzheimer em 27% dos pacientes durante um ensaio clínico onde participaram cerca de 1.800 pessoas diagnosticadas com esta doença. É a primeira vez que um medicamento mostra este tipo de eficácia no combate às causas da origem da doença de Alzheimer, sendo um passo importante para os pacientes e para as famílias. Este medicamento, concebido pelas farmacêuticas Eisai e Biogen, combate a acumulação da proteína beta-amiloide em placas no cérebro, que muitos investigadores julgam ser a origem da doença, embora esta não seja uma origem consensual entre a comunidade científica. Até agora, com 27% dos pacientes que receberam este medicamento a mostrarem um declínio menos acentuado das funções cognitivas do que os pacientes que receberam o placebo, o lecanemab é o fármaco mais eficaz no combate contra a Alzheimer jamais testados. Segundo as conclusões dos investigadores que levaram a cabo este ensaio clínico, o "lecanemab proporcionará aos pacientes mais tempo para participar da vida diária e viver de forma independente", tal como descreveram num artigo publicado no New England Journal of Medicine em Novembro. Ana Luísa Cardoso, investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Cerebral da Universidade de Coimbra que leva a cabo o seu próprio estudo sobre uma cura para a doença de Alzheimer, considera os resultados deste medicamento históricos, mas avisa que não se trata ainda de uma cura. "Embora não sejam resultados extraordinários, são históricos no sentido em que, até hoje, não tem sido possível em nenhum medicamento que já tenha chegado a ensaios clínicos ter um efeito claramente benéfico e embora este resultado não seja um resultado de cura, é a primeira vez que se está a conseguir intervir de facto na doença, através dos mecanismos descritos para a própria doença", explicou a investigadora. Até agora, os medicamentos prescritos para a Alzheimer não focavam os "mecanismos principais da doença" e servem para "tentar atenuar a sintomatologia", sublinhou Ana Luísa Cardoso, mostrando assim a importância dos resultados do lecanemab. O próximo passo para este fármaco será um estudo ainda mais alargado, com os doentes e as famílias nos Estados Unidos da América a defenderem o rápido desenvolvimento deste medicamento.

    "Cogumelos Mágicos" eficazes na depressão resistente

    Play Episode Listen Later Dec 13, 2022 7:42


    Um estudo publicado na revista “New England Journal of Medicine”, no mês de Novembro, que envolveu o centro Clínico Champalimaud, em Portugal, e mais de duas centenas de doentes de vários países mostrou que a administração da psilocibina, substância sintética encontrada nos cogumelos mágicos, é eficaz no tratamento da depressão resistente. Albino Oliveira Maia, director da Unidade de Neuropsiquiatria no Centro Champalimaud, considera que qualquer nova alternativa para o tratamento da depressão resistente é animadora, embora reconheça que há um longo caminho a percorrer neste tipo de tratamentos. O que é que se pretendeu mostrar com este estudo? O objectivo deste estudo foi avaliar se doses mais altas de psilocibina tinham eficácia anti-depressiva diferencial, em relação às doses mais baixas, presumivelmente inactivas. Ou seja, foi um estudo para encontrar a melhor dose para estudos subsequentes. Como é que foi conduzido este estudo? Quantos doentes participaram nesta investigação? Foram mais de duas centenas de doentes e que foram distribuídos de forma aleatória, por um de três grupos. Um grupo fez um tratamento com uma dose muito baixa de psilocibina, um miligrama, uma dose que não se esperava nenhum efeito biológico significativo. O segundo grupo foi tratado com uma dose que poderia ter efeitos clínicos, com a dose mais alta de 25 miligramas. O terceiro grupo fez uma dose intermédia de 10 miligramas. O que é a psilocibina e quais são os efeitos que provoca a toma desta substância? A psilocibina é uma substância que, originalmente, foi encontrada numa espécie de cogumelos. Esses cogumelos são, muitas vezes, consumidos de forma recreativa, por causa dos efeitos cognitivos, psicológicos e emocionais, que essa substância provoca. Estes cogumelos, em linguagem comum, são denominados cogumelos mágicos, provocando um efeito da alteração do estado da consciência e, em determinado momento, percebeu-se que esta substância poderia ter algum impacto terapêutico no tratamento de algumas doenças psiquiátricas, nomeadamente, no tratamento da depressão. O que se fez, depois disto, foi avançar para um processo de síntese da molécula [psilocibina] para poder criar um medicamento. Em seguida, começaram a fazer-se alguns estudos. Este é o maior, para se avaliar se havia ou não potencial anti-depressivo nesta molécula. Quais foram os resultados? As pessoas que fizeram a dose mais elevada tiveram uma redução dos sintomas da depressão mais significativa do que as pessoas que fizeram a dose intermédia e a dose mais baixa. No entanto, três semanas depois da administração, 29% dos doentes estavam em remissão e, às 12 semanas, esse número baixava para as 20%. Como se explica esse comportamento? Isso explica-se da mesma forma que se explica aquilo que acontece com qualquer tratamento da depressão. É como os vários tratamentos que temos para esta doença crónica, ou seja, sempre que são interrompidos pode verificar-se o regresso dos sintomas. Isso acontece com os anti-depressivos, com a psicoterapia, com a estimulação magnética transcraniana e com a terapia electro-convulsiva. É uma característica típica de qualquer doença crónica. Há a necessidade de manter os tratamentos para obter os benefícios que os tratamentos trazem. Como este era um tratamento novo, havia a expectativa de termos benefícios que fossem mais duradouros no tempo. Mas, infelizmente, para uma percentagem importante dos doentes isso não aconteceu, sugerindo-se que para o futuro possamos vir a ter a necessidade de avaliar se este tratamento poderá ter feitos mais duradouros se for administrado mais do que uma vez. Que feitos secundários se registaram? Foram registados múltiplos efeitos secundários. Um deles, como é óbvio, é o facto de haver uma alteração da consciência. Idealmente, gostaríamos de fazer um tratamento que não se fizesse acompanhar deste tipo de efeitos. Todavia, o efeito mais preocupante, apesar de acontecerem apenas numa pequena minoria dos doentes, fez-se sentir nas pessoas que fizeram as doses mais elevadas, tendo essas pessoas manifestado ideias de suicídio. Esse é um efeito colateral muito significativo e muito preocupante. Apesar de ter sido raro, é algo que vai necessitar de estudos mais detalhados no futuro. Ainda assim, pode afirma-se que as conclusões são animadoras? Seguramente que sim. Qualquer nova alternativa para o tratamento da depressão resistente é animadora. Isto porque a perspectiva que temos neste momento é uma perspectiva pouca animadora. Os medicamentos que temos disponíveis são muito pouco eficazes para estes doentes e as outras alternativas são de muito difícil acesso. Há, por outro lado, novos medicamentos que já estão aprovados para a depressão resistente à medicação, como a Escetamina, mas são medicamentos muito caros, que não têm comparticipação. Medicamentos que os doentes têm muita dificuldade em ter acesso. Agora, taxas de resposta de 30% não são taxas de resposta espectaculares e nós gostaríamos de ter alternativas ainda mais eficazes do que esta. O que se pode fazer para atingir essas taxas. Qual é que será o próximo passo? Perceber se há formas diferentes de administrar este medicamento, tornando-o mais eficaz. Precisamos de trabalhar para melhorar o acesso dos doentes às formas de tratamento que já existem, nomeadamente a estimulação cerebral e o tratamento com a Escetamina. Precisamos, ainda, de desenvolver novos tratamentos que sejam mais eficazes. Isso é um trabalho mais de investigação. Os psicadélicos estão a tornar-se um medicamento ou ainda há ainda um longo caminho a percorre? Ainda há um longo caminho a percorrer, como este trabalho veio a demonstrar. Precisamos de perceber melhor a forma como vamos fazer o tratamento e em que contexto. Depois, se percebermos que se trata de um tratamento seguro, haverá necessidade de começar a trabalhar para o tornar acessível. Essa é a fase que estamos a passar neste momento, em relação à Escetamina, e que, por vezes, pode demorar anos. Por isso, penso que ainda temos um longo caminho pela frente.

    “Cartas com Ciência” continuam a empoderar crianças lusófonas

    Play Episode Listen Later Dec 5, 2022 9:16


    O projecto “Cartas com Ciência” em língua portuguesa, criado há pouco mais de dois anos, continua a inspirar e a empoderar crianças em diferentes países. Há turmas de Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Brasil e Timor-Leste e cientistas espalhados pelo mundo. Até agora, é “o balanço é muito positivo”, conta um dos fundadores, Rafael Galupa. Escrever cartas e falar sobre ciência em língua portuguesa. Até agora, 450 estudantes e 450 cientistas trocaram correspondência através do programa “Cartas com Ciência” que arrancou em Setembro de 2020. Há dois anos falámos com os dois cientistas portugueses que criaram o programa, Mariana Alves e Rafael Galupa, e agora quisemos saber como tem sido a adesão e as principais conquistas. Fomos perguntar a Rafael Galupa, actualmente investigador pós-doutorado em genética e biologia molecular no Centre de biologie intégrative de Toulouse. “Organizamos programas de troca de cartas entre cientistas e estudantes de comunidades de baixos rendimentos nos países de língua portuguesa de forma a promover a literacia científica junto destes estudantes”, começa por recordar. Até agora, “o balanço é muito positivo”, conta. “Já implementámos 14 programas, envolvendo mais de 450 estudantes, dos 8 aos 18 anos, e 450 cientistas. Já organizámos pelo menos um programa em cada um dos países de língua portuguesa”, explica Rafael Galupa. O investigador explica, ainda, que “os interesses científicos de cada estudante” é que vão determinar a escolha do cientista que vai corresponder com ele e, depois, “cada par vai trocar normalmente três cartas”, em que os cientistas falam do seu percurso, de como ultrapassaram obstáculos ao longo da carreira e em que deixam mensagens de empoderamento aos alunos. “O nosso objectivo era aproximar a ciência destas comunidades, de forma a que os estudantes se possam identificar com alguém que faz ciência e, se desejarem, se verem a si próprios como cientistas um dia. De certa forma, o que queremos também é humanizar os cientistas aos olhos dos estudantes”, resume Rafael Galupa. Oiça um pouco do projecto neste programa. Mais informações no Cartas com Ciência. 

    Cabo Verde: Empresa transforma lixo em artesanato

    Play Episode Listen Later Nov 28, 2022 10:53


    A empresa cabo-verdiana Ekonatura recolhe garrafas de vidro e plásticos e transforma-os em vários objectos decorativos e materiais para a construção civil. A ambição é “reduzir cerca de 95% do lixo” na comunidade de São Francisco e arredores, na ilha de Santiago, e criar um novo modelo de negócio mais ecológico e que reconheça o impacto das mudanças climáticas, explica João Ferreira, gestor da Ekonatura e presidente da Associação Comunitária de Desenvolvimento de São Francisco. “A nossa missão é reduzir cerca de 95% do lixo, sobretudo plásticos e garrafas, nas comunidades vizinhas e na nossa própria comunidade. Queremos reduzir o máximo possível o dióxido de carbono para o ambiente porque os plásticos produzem dióxido de carbono e as garrafas levam muito tempo para se decomporem na natureza. São essas as nossas preocupações”, resume João Ferreira, gestor da Ekonatura e presidente da Associação Comunitária de Desenvolvimento de São Francisco. O gestor sublinha, ainda, que se pretende “sensibilizar as crianças e também a própria comunidade para dar um melhor tratamento ao lixo”. “Queremos expandir, queremos levar as nossas ideias às outras comunidades para fazerem a mesma coisa”, conta. A Ekonatura nasceu em 2020, na comunidade de São Francisco, a uma dezena de quilómetros da cidade da Praia, na ilha de Santiago, no âmbito do projecto Raiz Azul, financiado pela The Darwin Initiative, do Reino Unido, e implementado pela Associação Cabo-verdiana de Ecoturismo, em parceria com a Universidade de Cabo Verde. Porém, a pandemia atrasou o arraque da produção que começou em Agosto de 2021. Desde então, foram recicladas cerca de 10.000 garrafas e cerca de 500 quilos de plásticos. A empresa recolhe garrafas de vidro e plásticos na comunidade e conta com parcerias com empresas de cerveja e de produção de água e refrigerantes que levam directamente os resíduos à Ekonatura. Pontualmente, os moradores também entregam material directamente na Ekonatura, onde trabalham sete colaboradores. As máquinas trituradoras funcionam 100% à base de energia solar e foram também fabricadas em Cabo Verde. “A Ekonatura é uma empresa comunitária cabo-verdiana, localizada em São Francisco, no concelho da Praia, criada para reciclar vidro e plásticos. O vidro é transformado em areia, dando sequência à produção de vasos e outros objectos decorativos, assim como blocos para construção civil. Com plásticos produzimos objectos artesanais como brincos, porta-copos, chaveiros, peças de revestimento de paredes, etc”, destaca João Ferreira. Para o gestor, este é um passo para a “sensibilização das pessoas” para as questões ambientais, numa altura em que o mundo empresarial começa também a despertar para “o impacto do aquecimento global”.

    Itália: transplante de fígado inédito com recurso a dadora com mais de 100 anos

    Play Episode Listen Later Nov 22, 2022 9:22


    Em Itália, uma equipa médica do Hospital Universitário de Pisa, conseguiu transplantar com sucesso, um fígado proveniente de uma dadora com mais de 100 anos. É a primeira vez na história, que um fígado provém de uma pessoa centenária. Em entrevista à RFI, João Santos Coelho, membro da direcção da Sociedade Portuguesa de Transplantação e cirurgião sénior do centro Hepato-bilio-pancreático e Transplantação no Centro Hospitalar Universitário Central de Lisboa, defende que este passo se trata de um avanço gradual por parte da ciência, com o objectivo de diversificar cada vez mais o leque de dadores disponíveis. "É um avançar progressivo na utilização de fígados marginais. Em todos os centros, a evolução tem sido dramática em termos da utilização de fígados marginais, ou seja, fígados um pouco fora dos critérios que habitualmente utilizamos. Como é sabido, em todo o mundo, há efectivamente uma procura sistemática de todas as formas para podermos aumentar o pólo de dadores porque não temos dadores para todos os doentes que gostaríamos de transplantar e muitos deles acabam por falecer em lista activa", começou por referir o nosso entrevistado. João Santos Coelho reconhece que esta procura pela diversificação de dadores tem vindo a acontecer ao longo dos anos e recorda que, no início da transplantação, em Portugal, no final dos anos 90, início dos anos 2000, o dador era homem, na casa dos 40 anos, e, geralmente, alguém que tinha sido vítima de um acidente de viação. "Nos dias actuais, a caracterização dos dadores fixa-se nos 63 anos, em média, e são pessoas que foram vítimas de acidentes vasculares cerebrais, na sua maioria", explicou. Esta pesquisa e procura por mais dadores levou a que se utilizem fígados com mais idade, nos processos de transplantação, conforme recordou o cirurgião sénior. "No nosso hospital é muito frequente utilizarmos dadores com 80 anos e já transplantámos, inclusivamente, um dador de quase 90 anos. Aqui não é tanto a idade cronológica que conta", salientou. Questionado sobre se o tempo de vida útil do órgão não é, de certo modo reduzido, pelo facto de, neste caso, se tratar de uma dadora centenária, João Santos Coelho é peremptório: o fígado está "programado" para funcionar até aos 150 anos. "Nós verificamos isso nos longos sobreviventes. Temos sobreviventes com 30 anos, que, neste momento, foram transplantados com fígados de 60/70 anos que, neste momento, têm um fígado a funcionar com mais de 100 anos", explicou ainda. João Santos Coelho entende, por isso, que este feito mostra o avanço eficaz e gradual que tem sido feito nos últimos anos na área da medicina. O profissional da área da saúde falou depois, à margem da entrevista, de dois cenários possíveis que considera que, a médio/longo prazo, poderão revolucionar a área da transplantação do fígado: em primeiro lugar, a transplantação de um fígado geneticamente modificado, proveniente de porcos e, em segundo, o fígado artificial, feito em laboratório, com recurso a células da própria pessoa. Ouça a entrevista completa aqui:

    Guiné-Bissau leva projecto de resiliência em Gabu e Bafatá à COP 27

    Play Episode Listen Later Nov 14, 2022 9:59


    A Guiné-Bissau apresenta, em Sharm el Sheikh, na COP 27, as experiências “bem-sucedidas” no campo da mitigação às alterações climáticas. Viriato Soares Cassamá sublinha a importância para os países africanos da discussão “das perdas e danos” e também do financiamento. A Guiné-Bissau apresenta na cidade de Sharm el Sheikh, na COP 27, as experiências “bem-sucedidas” no campo da mitigação às alterações climáticas. A delegação é chefiada pelo Presidente guineense, Umaro Sissoko Embaló, que no início da Convenção do Clima marcou presença no Egipto, na condição de "campeão" dos países menos avançados. A delegação guineense é composta por duas dezenas de técnicos ligados ao ambiente, entre eles o ministro do Ambiente e Biodiversidade, Viriato Soares Cassamá. Ao microfone da RFI, Viriato Soares Cassamá sublinhou que a Guiné-Bissau apresenta no Egipto acções que têm vindo a ser levadas a cabo no país para mitigar as consequências das alterações climáticas.  “Tivemos um projecto que foi implementado entre 2011 e 2017, cujo título é “Projecto de reforço da resiliência e da capacidade de adaptação dos sectores agrário e hídrico às alterações climáticas na Guiné-Bissau”, este projecto visa reforçar os dois grandes sectores, agricultura, florestas e pecuária e o sector dos recursos hídricos, concretamente na gestão de água.  Apesar das vicissitudes das alterações climáticas, na Guiné-Bissau “ainda chove muito”, todavia “grande parte da água que cai não é aproveitada. Neste projecto, tivemos uma experiência de captação e armazenamento das águas pluviais na época das chuvas, que posteriormente serviram para a agricultura e pecuária na época da estiagem.”  O projecto-piloto foi concebido para 18 “tabancas” (aldeia) acabou por ser alargado a 200 “tabancas” e nessa região notou-se uma redução do “tempo de penúria alimentar”.   Este projecto foi levado a cabo na região de Gabu e acabou por ser alargado a Bafatá, no leste do país.  Viriato Soares Cassamá sublinha a importância para os países africanos na discussão da questão “das perdas e danos” e também do financiamento: "Há um preceito máximo da Convenção Quadro das Nações Unidas que é o princípio da responsabilidade comum mas diferenciado. Os países ricos, os países mais desenvolvidos que têm a máxima responsabilidade no aquecimento global devem assumir os seus compromissos”. Todavia, 30 anos após a realização da primeira Convenção do Clima, continua a ser mais fácil a obtenção de financiamento para energias fósseis do que para energias limpas, questionado sobre esta situação o ministro guineense do Ambiente e Biodiversidade apela a “um esforço global” e “eleger como prioridade as energias limpas e renováveis”, sem descurar os fósseis, na medida em que tem que existir uma transição energética sustentável. A Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas decorre até dia 18 de Novembro, em Sharm el-Sheikh, no Egito.

    UNESCO alerta que até 2050 os glaciares em África podem desaparecer

    Play Episode Listen Later Nov 8, 2022 8:48


    Relatório da UNESCO dá conta do provável desaparecimento de pelo menos um terço dos glaciares no Mundo até 2050, incluindo os glaciares em África na República Democrática do Congo, Uganda ou Tanzania, onde se situa o emblemático Monte de Kilimanjaro. Este é o estudo mais completo sobre o futuro dos glaciares, segundo Tales Carvalho Resende, chefe de projeto do Património Mundial da UNESCO, disse em entrevista à RFI. Os glaciares são importantes fontes de água e servem para medir o futuro das alteraçoes climáticas em várias partes do mundo, com muitos destes enormes blocos de gelo a figurarem entre os sítios do Património Mundial da UNESCO. No relatório "Patrímónio Mundial dos glaciares: sentinelas das alterações climáticas", esta organização vem alertar que caso não se consiga limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC, muitos dos glaciares podem desaparecer, especialmente os mais pequenos, que se situam em África. "Este é o relatório mais completo da situação actual dos glaciares no Património Mundial. Eles representam cerca de 10% de todos os glaciares que já foram identificados no Mundo, aí vemos a sua importância. [...] Entre eles temos os últimos glaciares em África, muitos deles que até 2050 vão desaparecer", afirmou Tales Carvalho Resende, chefe de projeto do Património Mundial da UNESCO, em entrevista à RFI. Este glaciares em África continuam a ser "muito importantes" para as comunidades locais, como explicou o especialista da UNESCO. "O que podemos ver é que a perda dos glaciares é algo que está a acontecer a nível global e a uma velocidade acelerada, o relatório permitiu-nos ver que a perda de gelo se está a acelerar e isso é mais visível nos glaciares mais pequenos, como os glaciares africanos, mas também casos similares na Europa, como nos Pirinéus que também podem desaparecer até 2050 e o relatório permitiu-nos ver que um terço desses glaciares podem desaparecer até 2050 e esses número podem ir até 50% em 2100", disse Tales Carvalho Resende. Entre 2000 e 2020, os glaciares do património Mundial perderam cerca de 58 milhões de toneladas de gelo, o equivalente ao consumo de água em Espanha e França durante um ano, o que contribuiu também para o aumento em 5% do nível dos oceanos.

    Cientistas portuguesas descobrem molécula eficaz no combate ao cancro

    Play Episode Listen Later Oct 30, 2022 9:23


    Uma descoberta que pode revolucionar a luta contra o cancro.Três investigadoras portuguesas (Rita Acúrcio, Rita Guedes e Helena Florindo) do Instituto de Investigação do Medicamento, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, e uma investigadora israelita, Ronit Satchi-Fainaro, da Universidade de Telaviv, descobriram uma molécula capaz de estimular o sistema imunitário a combater vários tipos de cancro.  Helena Florindo, uma das autoras do estudo, começou por explicar à RFI que tipo de molécula é que foi descoberta e sintetizada. "Estamos a falar de uma molécula pequena, basicamente é um composto químico, como muitos outros que já existem. No nosso caso, nós quisemos que fosse uma alternativa a anticorpos, que já são administrados na clínica, mas que têm um custo muito elevado e que são administrados por injecção", começou por referir a cientista portuguesa. O objectivo desta equipa de investigação é criar um comprimido, que possa ser mais eficaz e que produza menos efeitos secundários do que as terapias que existem actualmente na luta contra o cancro. "O que queríamos com esta molécula era depois administrá-la, sob a forma de um comprimido, por via oral. O que ela faz é diminuir o bloqueio que o cancro desenvolve à resposta, à protecção que o nosso organismo normalmente desenvolve, que o tumor, ao longo da sua progressão, acaba por ultrapassar e bloquear. O que esta molécula faz é eliminar esses bloqueios", acrescentou. Esta molécula poderá vir a ser uma alternativa mais acessível e eficaz à terapia de anticorpos, utilizada actualmente na luta contra o cancro, conforme explicou a investigadora. "Estamos a falar de uma molécula pequena, que se produz por uma síntese química simples. Por exemplo, nós fazemo-la no nosso laboratório, mas é claro que para depois sintetizar e para administração aos doentes tem de ser em fábricas especializadas e em condições especializadas, enquanto que os anticorpos são moléculas biológicas. É uma produção diferente, mais complexa", referiu ainda. De acordo com Helena Florindo, esta molécula poderá ser eficaz no combate a vários tipos de cancro, entre eles o cancro da mama ou do pulmão. "Estamos a falar, por exemplo de melanoma metastático, de fases muito agressivas deste tumor, cancro do pulmão, da bexiga ou da mama. Já existem vários tipos de tumores a quem este tipo de anticorpos estão aprovados para tratamento. Às vezes, o que acontece é que alguns doentes não conseguem completar a terapêutica (com anticorpos) por causa de alguns efeitos adversos. Nós esperamos que esta pequena molécula possa ser utilizada por esses doentes pela indução de menores efeitos adversos", acrescentou. Até ao momento, os testes produziram efeitos positivos nos ratos de laboratório e o próximo passo assenta no ensaio clínico, nos testes em seres humanos, que poderão demorar cerca de dois anos. Antes disso, a equipa está a tentar optimizar a molécula para que o efeito no tratamento dos tumores possa ser superior àquele que acontece no tratamento com anticorpos.

    Cancro da mama mata pelo menos 3 mil mulheres por ano em Moçambique

    Play Episode Listen Later Oct 24, 2022 23:55


    Está prestes a terminar o mês de Outubro, o período em que -como todos os anos a nível mundial- se dá especial atenção à luta contra o cancro da mama. Moçambique tem registado anualmente uma média de 25 a 26 mil casos de cancro, um dos mais frequentes sendo o cancro da mama. De acordo com dados oficiais, são diagnosticados por ano cerca de 5 mil cancros da mama no país, 3 mil desses casos sendo letais. A associação moçambicana 'Outubro Rosa' é uma das organizações que lutam a nível nacional para sensibilizar as comunidades, prevenir a doença e também apoiar as pacientes em tratamento. Ao evocar as dificuldades inerentes à prevenção e ao acompanhamento médico, Leia Liquidão, presidente desta organização, começa por recordar os sintomas que devem despertar a atenção das mulheres e levá-las a consultar. "O conhecer o nosso corpo, quando se trata de cancro da mama, é necessário conhecer a zona das nossas mamas, a zona das axilas, a zona da clavícula, e vermos se há alguma coisa diferente, seja no tamanho, seja na textura da pele, seja no formato do mamilo, como está apresentado, mas acima de tudo, o que é o maior sinal que é a presença ou não de um nódulo", refere a activista social especificando que esta doença diz respeito a todas as mulheres. "Antigamente, até se falava que era uma doença para mulheres um bocadinho mais velhas, mais adultas, mas infelizmente em Moçambique estamos a ter registo de adolescentes que são diagnosticadas com cancro da mama. Qualquer mulher que já esteja com o seu período menstrual, deve ter esta atenção, deve ser ensinada a fazer o auto-exame", recomenda. Questionada sobre as dificuldades encontradas pelas organizações que lutam contra o cancro da mama, Leia Liquidão refere que "existe uma necessidade urgente de nós, associações ligadas à saúde, haver esta unidade em levar esta mensagem mais longe possível, para os distritos mais recônditos que não têm acesso às informação no geral", a presidente de 'Outubro Rosa' mencionando, por outro lado, barreiras culturais que impedem as mulheres de receberem um diagnóstico. "Quando uma mulher vai fazer o rastreio numa unidade sanitária, vai ter que ser feito o toque e o toque é a palpação da mama. Nós temos várias zonas aqui em Moçambique onde a cultura não permite que um outro homem faça isso. Então, por esta barreira cultural, a mulher pode -mesmo tendo sintomas- não se dirigir à unidade sanitária" lamenta a activista que no entanto não deixa de sublinhar que "não são somente homens que fazem esse exame, há mulheres que podem fazê-lo". Relativamente ao acesso aos tratamentos contra o cancro da mama, Leia Liquidão dá conta de uma cobertura sanitária deficiente. "O tratamento é feito nos hospitais centrais. Na zona sul, é o hospital central de Maputo. Na zona centro, é o hospital central da Beira e na zona norte, é o hospital central de Nampula. Não temos ainda muitas unidades sanitárias devidamente preparadas para tratar com efectividade os casos de cancro da mama", constata a líder associativa para quem é necessário o governo precisa informar mais sobre as suas acções e também aumentar o acesso aos tratamentos. "O governo criou um programa em quase todas as unidades sanitárias a nível do país, mas acredito que o governo pode tornar ainda mais público a existência deste programa. Pode tornar mais acessíveis os serviços de tratamento do cancro da mama nas outras províncias. O governo pode juntar ainda mais associações que trabalham com esta causa por forma a tornar a actividade das associações mais acessível, mais abrangente e a gente poder levar esta mensagem de prevenção, de diagnóstico precoce a um maior número de pessoas, um maior número de distritos possível", conclui Leia Liquidão.

    Investigadores portugueses descobrem bário na atmosfera de dois exoplanetas

    Play Episode Listen Later Oct 18, 2022 8:38


    Uma descoberta inédita fora do sistema solar. Em Portugal, um grupo de cientistas liderado por investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, da Universidade do Porto, descobriu a existência do elemento químico bário, nas atmosferas de dois exoplanetas gigantes, denominados por WASP-76b e Wasp-121b. Trata-se de um achado inédito, que poderá abrir caminho para outras descobertas importantes na área da astronomia. O bário é o elemento químico mais pesado já encontrado na atmosfera de exoplanetas (planetas que orbitam estrelas fora do nosso Sistema Solar). Tomás Azevedo Silva, estudante de doutoramento no Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e um dos autores do estudo em questão, explicou, em entrevista à RFI, como é que se deu esta descoberta e falou sobre os caminhos futuros no campo da investigação sobre este tema.

    Homem de Neandertal conseguia fazer "praticamente tudo" que o Homem actual há 40 mil anos

    Play Episode Listen Later Oct 11, 2022 9:19


    O Prémio Nobel da Medicina reconheceu este ano a pesquisa de Svante Pääbo que conseguiu sequenciar o ADN do Homem de Neandertal alargando assim o espectro da investigação sobre esta espécie humana desaparecida há mais de 35 mil anos, que apesar de muitas diferenças físicas, não seria assim tão diferente de nós na forma como agia e resolvia problemas. Para o investigador João Cascalheira, que trabalha no Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano da Universidade do Algarve, a atribuição deste prémio ao seu colega sueco é um "marco muito significativo" para quem estuda a pré-história e reconhece uma série de descobertas que não só permitem conhecer o genoma do Homem de Neandartal, mas também perceber porque é que só o homem actual chegou aos nossos dias. "Agora temos praticamente o genoma completo, o que significa que podemos fazer uma série de outras análises para perceber porque somos a única espécie [de hominídeo] hoje em dia a sobreviver no planeta. Uma das descobertas que se veio a fazer depois de sequenciar o genoma dos neandertais foi, por exemplo, que hoje em dia, com excepção do continente africano, a maior parte das pessoas, tem em média 2% de ADN de Neandartal", afirmou João Cascalheira. Os vestígios mais antigos do Homem de Neandertal indicam que esta espécie terá cerca de 400 mil anos, tendo-se extinguido há cerca de 35 mil anos. Com diferenças acentuadas a nível físico, como uma cabeça inclinada e um corpo mais quadrado e mais robustos do que o homem actual, o Homem de Neandertal teria uma capacidade cognitiva como a nossa, segundo João Cascalheira. "Do ponto de vista cognitivo, há muito debate, mas o que se tem vindo a descobrir é que poderá não haver diferença nenhuma [em relação ao homem actual] porque do ponto de vista dos vestígios arqueológicos que se tem encontrado, os neandartais conseguiam fazer praticamente tudo que nós fazíamos há 40 mil anos. Um dos grandes exemplos disto, é a arte Neandartal, encontrada há alguns anos em Espanha", indicou o investigador. João Cascalheira e a sua equipa de pesquisa da Universidade do Algarve receberam recentemente uma bolsa de 1,9 milhões de euros para através do projecto FINISTERRA descobrir as causas do desaparecimento desta espécie, com a pesquisa a situar-se no Sul da Península Ibérica. "A primeira hipótese são as alterações climáticas, porque sabemos que nos período do desaparecimento dos neandartais há um acentuar das condições mias drásticas de clima, mais frio, mais seco. A segunda hipótese é a competição directa com o homo sapiens sapiens, já que a partir do momento em que estas populações estão no mesmo território e competem com os mesmos recursos talvez os homo sapiens sapiens tivessem uma vantagem  adaptativa. E a última hipótese é a questão demográfica, porque ao contrário da nossa espécie, os neandartais parecem ter tido tendência para viver em grupos mais isolados", concluiu João Cascalheira.

    Infecção por malária pode ser detectada pelo cérebro

    Play Episode Listen Later Oct 7, 2022 9:48


    A descoberta revolucionária que as células do cérebro são capazes de detectar a presença do parasita da malária no sangue, aconteceu após seis anos de investigação liderada por cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Portugal. A malária cerebral afecta principalmente crianças com menos de 5 anos e é uma das principais causas de morte nesta faixa etária em países da África Subsariana. Aquelas que sobrevivem são frequentemente afectadas por sequelas neurológicas debilitantes. As conclusões do estudo abrem uma porta de esperança ao revelar novos alvos de terapias coadjuvantes que poderão travar os danos no cérebro em fases iniciais da doença e evitar sequelas neurológicas. A RFI foi até ao Instituto Gulbenkian de Ciências, em Oeiras, para falar com Carlos Penha Gonçalves, líder do grupo Genética de Doenças que conduziu o estudo. Carlos Penha Gonçalves começa por nos falar da preocupação de saúde que a malária cerebral representa, uma complicação grave da infecção por Plasmodium falciparum, o mais letal dos parasitas que causam malária. Eis o link para o artigo da revista científica PNAS - Proceedings of the National Academy of Sciences: https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.2206327119

    Missões DART e Hera são precauções da Terra face a possível embate de asteróide

    Play Episode Listen Later Oct 4, 2022 9:18


    A primeira fase da missão Dart foi bem sucessidade, com a sonda a embater no asteróide Dimorphos há uma semana, tal como estava previsto pela NASA, constituindo assim a primeira missão defesa planetária da Terra para uma eventual colisão com um asteróide. O astrónomo e investigador Nuno Peixinho reforça que não há qualquer perigo actual e que esta experiência é importante para precaver impactos no futuro. "A missão Dart é a primeira missão teste de defesa planetária, é o princípio destas missões relativamente ao perigo de colisão de algum asteróide que venha do espaço. Nós precisamos de nos precaver contra um pos´sivel impacto no futuro e temos tecnologia para antecipadamente fazermos alguma coisa", disse Nuno Peixinho, em entrevista à RFI. O objectivo do impacto desta sonda é perceber se vai ou não alterar a órbita do Dimorphos, asteróide de 163 metros que gira à volta de uma asteróide maior, o asteróide Didymos, conseguindo assim estudar se, em caso de verdadeira ameaça à Terra, esta seria uma forma de evitar uma colisão. "Esta missão é para nos precaver e começar a estudar, num cenário real, quanto é que conseguimos desviar um asteróide só com um impacto de uma sonda e quanto é que ele se vai mexer daqui a uns anos", explicou Nuno Peixinho. A órbita do asteróide Dimorphos continuará a ser acompanhada pelo satélite italiano LICIACube, que se libertou da Dart uma semana antes, e filmou todo o impacto, recolhendo informação preciosa que será agora analisada por astrónomos de todo o Mundo. Em 2024, partirá a sonda Hera, sob a égide da Agência Espacial Europeia que vai analisar de perto os desenvolvimentos junto a Dimorphos e a Didymos. Nuno Peixinho, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, disse que por enquanto, os habitantes terrestres podem estar "sossegados" não havendo qualquer ameaça real vinda do espaço através de asteróides ou cometas. "Nós monitorizamos milhares de asteróides que passam realtivamente perto da Terra, sendo 2.000 aqueles que são considerados mais perigosos, que estamos sempre a seguir com detalhe par anão termos uma surpresa daqui a 100 ou 200 anois. Nas próximas décadas não há nada que esteja em rota de colisão com a Terra, quanto a isso podemos estar  sossegados, claro que é verdade que poderá sempre aparecer algum que não tínhamos visto", indicou.  

    Guiné-Bissau efectua campanha de luta contra a fístula obstétrica

    Play Episode Listen Later Sep 27, 2022 9:01


    Desde o passado dia 21 de Setembro até ao próximo fim-de-semana, o Ministério da Saúde Pública da Guiné-Bissau está a efectuar uma campanha visando operar 30 mulheres afectadas pela fístula obstétrica. Esta doença que se traduz por uma ruptura do canal vaginal provocada por partos demorados e conduzidos de forma inapropriada pode provocar incontinência urinária e em casos mais extremos vazamento de fezes, sendo que na ausência de tratamento, pode desembocar em infecções crónicas e inclusivamente infertilidade. Segundo estimativas oficiais, calcula-se que esta doença diga respeito a cerca de 2 milhões de mulheres no mundo e que 50 mil a 100 mil mulheres sejam vítimas deste mal todos os anos. No caso da Guiné-Bissau, de acordo com o Hospital Simão Mendes, unidade de saúde de referência do país, as regiões de Bafatá e Gabú, no leste, assim como Bissau, são as zonas com maior prevalência da fístula obstétrica, uma doença que segundo dados da ONU, atinge 64 mulheres por ano na Guiné-Bissau, esta entidade referindo ainda que desde 2009, pelo menos 347 mulheres guineenses foram submetidas a cirurgias em elo com este problema. Apesar de os líderes africanos terem como meta erradicar esta doença no continente no horizonte 2030, este objectivo é impossível de cumprir sem campanhas de sensibilização, do ponto de vista de Siuna Guad, Director dos serviços de cirurgia geral do Hospital Simão Mendes. Ao insistir que esta doença pode ser tratada e sobretudo prevenida de forma simples, o urologista que é especialista da fístula obstétrica e trabalha nesta área há trinta anos, considera que a falta de informação é o principal obstáculo ao combate eficaz à doença. "Esta é uma doença que se encontra nos países subdesenvolvidos, porque as parturientes não vão às consultas pré-natais para que se possa detectar desde o início a capacidade pélvica da mulher" refere o médico que ao admitir que o "casamento precoce é uma das causas do aparecimento de fístulas obstétricas" identifica também outros factores."Faço consultas pré-natais mas há mulheres que não vão, estão mal informadas. Há também um tabu. Mulheres mais velhas que sempre fizeram o parto em casa começam a dizer 'fiz todos os partos em casa sem que me aconteça nada' e 'faça força, faça força, faça força!'. São pessoas que não têm conhecimento disso", lamenta o especialista. "Só a operar, não se pode acabar com a fístula. Só a sensibilização e a prevenção, mesmo o porta-a-porta por todo o território nacional, dessa forma é que podemos acabar com a fístula no país" considera Siuna Guad que cita a título de exemplo o caso de Cabo Verde. "Neste momento, Cabo Verde não tem fístula obstétrica porque a população é bem instruída e sabe que durante a gravidez, a grávida tem de ir ao centro de saúde ou ao hospital mais próximo para ser atendida" refere o médico vincando que "é uma doença curável".

    Europa continua em seca e água residutal tratada "pode e deve ser reutilizada"

    Play Episode Listen Later Sep 20, 2022 8:12


    Assinala-se desde domingo e até 8 de Outubro a Semana Europeia do Desenvolvimento Sustentável. Os objectivos da Organização das Nações Unidas (ONU) estarão a ser cumpridos? Para Susana Fonseca, vice-presidente da associação ambientalista portuguesa Zero, continua a ser "um enorme desafio", mas acredita que Europa continue a ser "um promotor do desenvolvimento sustentável", apesar das crises.   O verão deste ano de 2022 foi, na Europa, o mais quente desde que há registo. Em agosto, a Comissão Europeia estimava que a seca era já a pior dos ultimos 500 anos e um relatório europeu mostrava que metade do território dos 27 países que constituem o bloco comunitário tinha níveis de pluviosidade abaixo do normal. Em 2015, para promover a transição ecologica, as Nações Unidas compromoteram-se trabalhar em torno de uma agenda com 17 objectivos para serem alcançados até 2030. Entre os quais, aumentar o uso das energias renováveis e tornar universal o acesso à água potavel, bem cada vez mais escasso. Susana Fonseca, vice-presidente da associação ambientalista portuguesa Zero defende que é urgente que os paises europeus aprendam a gerir melhor a água. Por exemplo, através da reutilização das águas residuais tratadas. Países como Portugal ou França apenas usam cerca de 1% das águas que chegam às estações de tratamento.

    Eficácia dos ensaios da nova vacina contra as malária é "muito boa notícia"

    Play Episode Listen Later Sep 13, 2022 9:17


    A malária é ainda hoje a sexta causa de morte no Mundo, com grande incidência em África e sobretudo nas crianças com menos de cinco anos. Um estudo divulgado há poucos dias dá conta que a vacina que está a ser criada pelos investigadores da Universidade de Oxford mantém uma alta eficácia após reforço da imunização, prolongando assim até dois anos uma protecção de cerca de 80%, aumentando a esperança de uma forma verdadeiramente eficaz de prevenir esta doença. Miguel Prudêncio, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular, que também está a desenvolver uma vacina contra malária, considera em entrevista à RFI que os avanços de Oxford são "uma muito boa notícia" no combate contra esta doença. "É uma boa indicação que se consegue uma boa resposta imunitária duradoura e sobretudo uma protecção também duradoura contra a malária, é obviamente uma muito boa notícia", indicou o investigador. A nova fase do estudo desta nova vacina foi publicada no final da semana passada na revista da especialiadade Lancet e veio reforçar os primeiros resultados desta nova vacina, conhecidos em 2021, que já davam conta d euma imunização após um ano de cerca de 80%. Assim, após três imunizações de reforço, passado mais um ano, as crianças que estão a participar no estudo apresentam ainda uma protecção que se situa a cerca de 80%. "Aquilo que este artigo agora pubicado nos vem mostrar confirma um resultado que já era bastante positivo no primeiro ensaio que foi feito com esta vacina modificada, que dava conta de uma protecção na ordem dos 75-80% ao fim de um ano após a vacinação. O que foi feito agora, foi que as acrianças sujeitas a este esquema inicial de vacinação, com três imunizações separadas de um mês, passado um ano desse processo, receberam um reforço vacinal e foi-se analisar a proteção depois deste reforço e dois anos depois do esquema inicial, o que o dados nos mostram é que esta protecção permanece elevada na ordem do 78%", explicou Miguel Prudêncio. Atualmente existe uma vacina contra a malária aprovada pela Organização Mundial da Saúde em Outubro de 2021, a RTS,S/AS01 que apesar da sua fraca imunização é uma das vacinas mais eficazes encontrada até agora. Já terão sido criadas cerca de 140 vacinas desde 1910, altura em que um artigo científico sobre uma vacina foi publicado, mas o facto de o parasita que causa esta doença ser "complexo" tem dificultado a vida dos investigadores. Só em 2020 matou mais de 640 mil pessoas no Mundo, entre elas muitas crianças, especialmente abaixo dos cinco anos.

    Desertificação culpada por incêndio “catastrófico” na Serra da Estrela

    Play Episode Listen Later Sep 6, 2022 8:31


    Em Agosto, a Serra da Estrela, pulmão de Portugal, ardeu durante 11 dias, queimando 52% desta região que inclui cerca de 2.200 quilómetros de Parque Natural, classificado como Geopark Mundial da UNESCO. Uma das principais causas destes grandes incêndios, segundo a organização não-governamental do Ambiente, Quercus, uma das razões é a desertificação do interior do país e abandono da agricultura. Um incêndio “terrível” e “catastrófico”, segundo classificou Rui Cunha, membro da direção Nacional da Quercus. Esta organização Não Governamental de Ambiente dedicada à preservação do Ambiente pediu que as razões deste grande incêndio fossem esclarecidas, assim como a ação da AGIF - Agência para a Gestão Integrada dos Fogos. "Quem vai à Serra da Estrela hoje vai ver um território todo queimado, uma grande parte do Parque Natural ardeu e é a primeira vez que a Serra da Estrela tem um incêndio desta envergadura nos últimos anos. É terrível e é catastrófico e tem a ver também, quanto a nós a nível da Quercus, coma forma como têm sido geridas as áreas protegidas", explicou o especialista. Em entrevista à RFI, Rui Cunha, diz que a desertificação deste Parque, a introdução de arvores exóticas como o eucalipto e o fim das práticas da agricultura vão continuar a ameaçar não só a Serra da Estrela, mas todas as florestas de Portugal. "As áreas protegidas, especialmente os parques naturais em Portugal, caracterizam-se por ter população e a população residente nestes parques tem vindo a decair e tem também vindo a abandonar a agricultura tradicional. Isto que acontece não só na Serra da Estrela, mas no país inteiro tem muito a ver com este exôdo demográfico porque de facto eram as populações residentes que em grande parte faziam com que não houvesse estes fogos de grande intensidade", indicou Rui Cunha. Rui Cunha, membro da direção Nacional da Quercus, que recomenda ao Governo português um mapeamento das florestas e um reforço da floresta autóctone para evitar grandes fogos nos próximos anos. Do forma a lidar com as consequências deste incêndio, o Governo declarou a situação de calamidade por um ano para o Parque Natural da Serra da Estrela, com o Executivo a reconhecer a necessidade de intervenção urgente junto dos concelhos mais afectados, onde tenha ardido mais de 10% do teritório como Manteigas, Guarda, mas também Covilhã, Celorico da Beira e Gouveia.

    São Tomé e Príncipe inicia introdução de energia limpa na rede eléctrica nacional

    Play Episode Listen Later Aug 30, 2022 9:48


    São Tomé e Príncipe acaba de inaugurar a primeira central fotovoltaica do país. Custou 700 mil euros e nesta fase produz 540 kilowatts de potência. A central situada no recinto da central de Santo Amaro, enquadra-se num projecto financiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). A segunda fase do projecto passa pela instalação de painéis solares, na zona sul da central de Santo Amaro, com capacidade estimada de 1,7 megawatts pico de produção (MWp), aumentando a capacidade da central para a produção de dois megawatts. Para o Ministro das Infra-estruturas e Recursos Naturais, Osvaldo Abreu, trata-se de um passo importante porque é o início da introdução de energia limpa na rede eléctrica nacional: “A inauguração desta pequena central significa muito para São Tomé e Príncipe porque marca o início da era da introdução na rede eléctrica nacional da energia de origem solar fotovoltaica”. “Em termos económicos as vantagens são imensas. Nos cálculos que temos, já há algum tempo, a introdução de 1.2 megas de energia solar representaria uma poupança de um pouco mais de meio milhão de dólares anuais, portanto, se nós vamos colocar 2 megas nesta fase inicial, estaríamos a ter cerca de quase dois milhões de dólares anuais de poupança em termos de consumo do diesel”, acrescenta o governante. Mas se com esta acção São Tomé e Príncipe está a apostar em energia limpa, o arquipélago procura ao mesmo tempo investir na exploração petrolífera. Questionado sobre esta dupla aposta "contraditória", Osvaldo Abreu justificou com a necessidade de financiamento da economia são-tomense.

    Moçambique refém das mudanças climáticas

    Play Episode Listen Later Aug 23, 2022 9:53


    Em Moçambique, as mudanças climáticas traduzem-se na extinção de várias espécies, desertificação e o aumentodo nível do mar, este último pode ser visto nas cidades de Nacala, Beira e Pemba. Estas são algumas das consequências desencadeadas pelo aumento das temperaturas. Moçambique não é apenas um dos países mais expostos às tempestades tropicais em África, como também um dos países mais vulneráveis pelos efeitos das alterações e das mudanças climáticas. Os desastres naturais têm tido um impacto muito negativo, sobretudo na agricultura, que tem impacto na subsistência das famílias e empurram milhares de pessoas para a pobreza e a fome. "Somos um dos países que sofre mais com os impactos da crise climática, ao mesmo tempo também somos um país que está a explorar combustíveis fósseis, investimento que vai piorar a nossa situação e isso é ignorância. Sabemos que já estamos a sofrer com os desastres naturais e estamo-nos a esquecer que isto pode ter impactos na vida das pessoas", afirma Anabela Lemos, directora da ONG moçambicana Justiça Ambiental (JA). O ciclone "Idai foi a evidência clara das mudanças climáticas no mundo e a tendência vai ser que estes desastres se ampliem", alerta Anabela Lemos, directora da JA. "Quando existem estes eventos ambientais, como é o caso dos ciclones, ou mesmo tempestades tropicais, não existe um sistema suficiente para avisar todos os camponeses. Não conseguimos antecipar, mas as pessoas que vivem na cidade sabem que vem aí [uma tempestade ou um ciclone], mas o que é que nós podemos fazer? absolutamente nada. É esperar e esperar que quando entrem em Moçambique não façam tantos estragos", descreve. A directora da JA explica ainda queo IDAI foi o primeiro de vários ciclones a atingir Moçambique. "Dizem que foi uma perfeita tempestade. Isto é, saiu, deu uma volta e depois veio com uma intensidade nunca vista. Já aconteceu, muitas vezes que um ciclone perca força, isso tem muito a ver com o mar. O aquecimento das águas pode provocar uma intensidade maior dos ciclones. O nível das águas estão a aumentar por causa das alterações climáticas". Em Moçambique mais de "70% das pessoas vivem no campo, onde as casas e os seus modos de vida são muito rudimentares. Não são casas que estão preparadas para ciclones. Isso devia ser uma procupação para o governo", acrescenta a ambientalista. Anabela Lemos alerta para o facto de "as áreas que são afectadas serem sempre as mesmas. É sempre naquela faixa norte entre a Beira e Cabo Delgado. Temos que começar a ser conscientes, se não somos conscientes estamos a pôr pessoas em riscos. Há pessoas a morrer e estamos a ser assassinos. É isso que estamos a fazer, estamos a criar mais pobreza num país que já é pobre. Só pensamos em megaprocjetos em infra-estruturas, que não têm nada a ver com a nossa realidade".

    Cabo Verde com futuro Serviço de diagnóstico de infertilidade masculina

    Play Episode Listen Later Aug 10, 2022 10:35


    A capital cabo-verdiana deve passar a contar brevemente com um serviço de diagnóstico da infertilidade masculina. Por detrás do MinLab está Emanuel Moreira que é técnico em laboratório clínico. Ele tem estado atento à questão, que mexe com muitos tabus, desconstruindo as razões da impossibilidade de um casal ter filhos... onde as causas ficam divididas tanto pelo homem, como pela mulher. Em Cabo Verde, porventura, como noutras realidades africanas e do mundo os homens pouco consultam os cuidados de saúde. No entanto a infertilidade estaria a ganhar terreno, internacionalmente, enquanto o esperma dos cabo-verdianos teria estado, também, a perder qualidade. Assuntos de sobra para abordarmos com Emanuel Moreira, pois, que começa por nos falar da génese do projecto.

    ONG quer restaurar 300 hectares de floresta em 3 anos no centro de Moçambique

    Play Episode Listen Later Aug 8, 2022 16:16


    Em Moçambique, uma ONG ambientalista, a 'Livaningo' está juntamente com outra organização da sociedade civil, a ADRA Moçambique, a efectuar desde o ano passado e ainda até 2023 um trabalho de restauro florestal nas regiões de Lamego e Chirassicua, no distrito de Nhamatanda, na zona centro do país, o objectivo sendo reabilitar cerca de 300 hectares de florestas numa zona que tem sido bastante danificada pelos ciclones e igualmente pela actividade humana. Este projecto de restauro e conservação das florestas comunitárias em Sofala associa os imperativos ambientais, com a reintrodução de espécies nativas, mas também económicos das populações locais, explica Olinda Cuna, coordenadora de projectos da área de recursos naturais da ONG 'Livaningo', que ao falar das diversas etapas deste projecto evocou também a importância que reveste para os habitantes da zona. "A província de Sofala é uma das províncias que têm sido drasticamente afectadas pelas mudanças climáticas. Só no último ano, foram cerca de três eventos climáticos, três ciclones que afectaram a província e têm destruído os recursos naturais que existem, estamos a falar das florestas, mas também da componente da terra. Sabemos que aqui em Moçambique, muitas comunidades dependem exclusivamente da agricultura para o seu sustento. Outra coisa que temos percebido e que tem sido uma das acções do Homem que tem afectado muito as florestas, tem sido desmatamento. Os homens infelizmente dependem muito dos bens que a floresta oferece, dependem da lenha, dependem das estacas que retiram das florestas para construir as suas casas" explica Olinda Cuna ao mencionar igualmente o fenómeno das "queimadas descontroladas" como factor para a destruição das florestas na região centro de Moçambique. Ao referir que o trabalho levado a cabo pela sua organização é feito em parceria com as comunidades locais, Olinda Cuna explica que "quando entram numa comunidade, o interesse não é só de implementar as acções do projecto, mas também pensar na sustentabilidade. Então, é preciso entrar num acordo com a comunidade e estar todos a defender a mesma causa". Com efeito "como organização, integramos o que se chama de sistemas agro-florestais. Se não pensarmos nas necessidades económicas destas comunidades, não vamos conseguir atingir o nosso objectivo" sublinha a técnica ao referir que neste âmbito, a 'Livaningo' faz uma combinação de culturas que integra no restauro florestal o cultivo de árvores de fruto. "As próprias comunidades poderão beneficiar-se das fruteiras como o cajueiro, a papaieira, a tangerineira ou o limoeiro para poder fazer a venda (...) e a definição das espécies que nós estamos a usar foi feita nos encontros com as comunidades", explica a coordenadora de projectos. Referindo-se por outro lado ao desempenho das entidades públicas na protecção do meio ambiente e em particular das florestas, a activista ambiental dá conta de algum cepticismo. "Na nossa lei, está estipulado que o governo deveria canalizar ou disponibilizar 15% dos impostos (direccionados para o ambiente) para a componente do reflorestamento, mas a realidade é que isto não está a acontecer" lamenta a técnica referindo que "a perspectiva (da sua ONG) é de o governo parar, reflectir e reconhecer que tem sido feita uma má gestão das florestas em Moçambique e poder promover projectos públicos nas comunidades, porque sabemos que na estratégia nacional, o governo tem uma abordagem de que dentro das comunidades, o líder deveria proteger uma floresta, mas se ele não tem os recursos necessários, não vai ser possível." A gestão da floresta que segundo o Ministério Moçambicano da Terra e do Ambiente ocupa cerca de 32 milhões de hectares do território nacional, o que representa cerca de 40% da sua superfície total, representa um desafio importante para o país. De acordo com dados oficiais, o Estado moçambicano perde cerca de 196 milhões de Euros por ano, somente com a exploração ilegal de madeira, isto numa altura em que o governo acaba de constatar no mês passado que os crimes ambientais têm disparado neste último ano.

    Varíola dos macacos: "Não penso que esta doença possa vir a tornar-se endémica"

    Play Episode Listen Later Aug 2, 2022 9:38


    Em todo o mundo, são já mais de 20 mil os casos de infecção do vírus monkeypox, que causa a varíola dos macacos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a doença já está presente em pelo menos 78 países. A OMS classificou a doença como uma emergência de saúde pública de preocupação internacional no passado dia 23 de Julho. Nos últimos dias, foram registadas as quatro primeiras mortes relacionadas com este vírus fora do continente africano, local onde a doença é endémica. Há registo de dois óbitos em Espanha, um no Brasil e outro na Índia. Em entrevista à RFI, Miguel Prudêncio, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa, em Portugal, explicou qual é a estratégia de vacinação que está a ser utilizada contra este vírus.  "Não existe uma vacina específica para a varíola dos macacos. A varíola humana foi durante muitos anos uma doença perigosa e que foi possível erradicar graças à existência de vacinas eficazes", começou por recordar, explicando depois que estas mesmas vacinas também apresentam eficácia contra o vírus Monkeypox. "Estas vacinas e, em concreto, uma destas vacinas que era utilizada para prevenir a varíola humana tem também uma eficácia muito substancial na prevenção do Monkeypox, isto porque o vírus que causava a varíola humana e este vírus que causa a Monkeypox têm algumas semelhanças e, por isso, a vacina que era utilizada contra a varíola humana, tem também eficácia na protecção contra este vírus", explicou.  Neste momento, existe ainda um número limitado de vacinas disponíveis. A OMS aconselhou uma vacinação dirigida a determinados grupos que têm maior risco de vir a contrair a infecção. "Estamos a falar de prestadores de cuidados de saúde, de pessoas imunodeprimidas e dos contactos próximos de pessoas infectadas", salientou Miguel Prudêncio, que recordou que, regra geral, são administradas duas doses da vacina, com um intervalo de quatro semanas, entre a primeira e a segunda inoculação. A vacinação destes grupos permitirá, segundo o investigador, reduzir as cadeias de transmissão. A eficácia destas vacinas ronda os 80-85%, complementou ainda. Não penso que estejamos numa situação de endemia, tal como na Covid-19" O também especialista em vacinas defendeu que a doença não se tornará endémica. "Há o risco desta doença se transmitir a um conjunto cada vez mais alargado de pessoas, mas não penso que possa vir a tornar-se endémica, no sentido em que nós hoje entendemos, por exemplo, a Covid-19, isto é espalhada por toda a população". Miguel Prudêncio explicou depois os motivos: "O modo de transmissão do vírus da Covid-19 dá-se por via área" e é "difícil conter estas cadeias de transmissão" porque o vírus "se transmite muito facilmente de uma pessoa para outra". "No caso do Monkeypox, a forma de transmissão dá-se por contactos próximos com pessoas infectadas e com as lesões que estas pessoas apresentem. E, portanto, não penso que estejamos numa situação de endemia, tal como aquela de que falamos hoje sobre a Covid-19", acrescentou. O investigador salientou também que as cadeias de contágio do Monkeypox serão mais facilmente identificadas e controladas do que as cadeias da Covid-19 e defende que, como tal, existirão condições para conseguir conter a transmissão. A Organização Mundial da Saúde continua a fazer a monitorização da doença e tomará mais medidas, de acordo com a evolução do vírus.

    Alterações climáticas agravam ondas de calor

    Play Episode Listen Later Jul 26, 2022 8:29


    O Relatório do Centro de Investigação Comum da União Europeia publicado recentemente diz que as ondas de calor responsáveis pela seca em várias regiões do mundo podem causar uma diminuição das colheitas. Marta Leandro, vice-presidente da Quercus, em Portugal, refere que este cenário se deve às alterações climáticas e alerta que "se nada for feito, podemos vir a ter cenários de fome em geografias inusitadas". RFI: Como se explicam estas ondas de calor que estão a atingir várias regiões do mundo? Marta Leandro: Todo este cenário de ondas de calor e de falta de precipitação, que está a atingir o país e várias regiões do mundo, está associado ao facto de vivermos uma situação de alterações climáticas, com efeitos já muito visíveis. A montante da alteração climática está a dependência dos combustíveis fósseis que estão a causar todos estes fenómenos, cada vez mais frequentes e extremos. Precisamos de apostar nas energias renováveis para que o recurso ao carvão, ao gás fóssil e ao petróleo seja dissociado no futuro, se possível já no presente. É óbvio que não podemos fazer uma transição brusca, temos de nos adaptar, mas é muito importante que as pessoas percebam que se continuarmos a utilizar as fontes de energia fóssil, de forma massiva, vamos estar a contribuir para o aumento destes fenómenos. A falta de precipitação terá também um impacto nas colheitas? Se nada for feito, podemos vir a ter cenários de fome em geografias inusitadas. Em Portugal, vemos que até as espécies autóctones, os sobreiros, as quercíneas e os carvalhos dão sinais de estarem afectados por esta situação de stress hídrico. A Direcção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural da Comissão Europeia estima que em 2022 a produção de cereais será 2,5% mais baixa do que em 2021... Tudo isto já está a ter consequências na nossa segurança alimentar. Portugal é um país que importa dois terços dos alimentos que consome. É importante que a questão da segurança alimentar seja encarada de uma forma mais resoluta e com a urgência que se coloca. Não faz sentido estarmos a promover cadeias de média e longa distância na distribuição, uma vez que essas cadeias têm um impacto no aumento da temperatura global. O racionamento da água pode ser uma das soluções? Precisamos reduzir os nossos consumos, mas o principal consumo de água está ligado à agricultura e às enormes perdas que existem na exploração de regadio, sobretudo nas mais antigas. Em vez de fazermos tanto regadio, recordo que está prevista a construção da barragem do Pisão, que para além da brutal destruição da paisagem e do habitat que temos no Alentejo norte, vai replicar um sistema de agricultura intensiva, altamente agressiva para o solo. Estamos, no fundo, a insistir num modelo de regadio em detrimento das culturas tradicionais de sequeiro, muito mais adaptadas às condições climáticas e às condições do solo que temos, num país que é um dos mais vulneráveis do mundo, toda a região mediterrânica é vulnerável, às alterações climáticas. Precisamos de apostar numa agricultura mais amiga do ambiente, que contamine menos os aquíferos- as grandes massas de água subterrâneas- também com fortes perdas, uma vez que não há chuvas suficientes que permitam a recarga natural [do solo]. Até porque quando há períodos de precipitação, nesta altura do ano, já não chegam a tempo para fazer a recarga dos solos…. O próprio solo, sobretudo a sul do Tejo, está desertificado. O que é que significa a desertificação do solo? É um processo químico e físico em que o solo vai perdendo nutrientes, a sua capacidade produtiva e a capacidade de reter água. Esta agricultura que dilapida os recursos naturais e a biodiversidade é agressiva para o solo que perde a capacidade de reter água. Em Portugal, por exemplo, a energia hidroeléctrica armazenada nos reservatórios de água está a cerca de metade, obrigando a uma imposição de restrições de consumo e suspensões de produção de electricidade?   Nós temos, neste momento, responsáveis da Agência Portuguesa do Ambiente que reconhecem que a construção de novas barragens, quando não há água, não faz sentido. O que faz sentido é construir pequenos reservatórios, diques de pequena e média dimensão, nos sítios onde há maior pluviosidade ao longo do ano.  São importantes os hábitos individuais, apesar de o consumo das famílias ser muito menor do que o consumo industrial, em particular o consumo agrícola. Precisamos de soluções mais estruturais, aproveitar as chamadas águas cinzentas e utilizá-las para determinado tipo de lavagens, regas e até nos autoclismos das residências. Temos de aprender a gerir, mesmo a nível doméstico, os nossos recursos hídricos de uma forma muito mais eficiente.  Se nada for feito os habitantes desta parte da Europa, afectada pela seca extrema, correm o risco de se tornarem refugiados climáticos?  Em Portugal, estudos indicam que o território nacional a sul do Tejo poderá, até ao final do século, tornar-se num deserto. Eu acho que esse risco existe, se de facto não forem adoptadas medidas. É muito importante que até ao final desta década se perceba que mitigar as alterações climáticas é fundamental. Vemos com muita preocupação o facto da União Europeia- a guerra na Ucrânia não ajudou- a Comissão e o Parlamento Europeu terem adoptado uma classificação de energias sustentáveis para o gás e energia nuclear. A nível político há aqui sinais díspares que não vão ajudar a resolver esta questão que se coloca em Portugal de uma forma acutilante.

    Imagens do Universo do telescópio James Webb são "históricas"

    Play Episode Listen Later Jul 19, 2022 7:33


    O telescópio James Webb mostrou pela primeira à Humanidade as profundidades do Universo a cores, enviando fotografias de galáxias constituídas 13 mil milhões de anos após o Big Bang ou o nascimento de estrelas em nebulosas a cerca de 7600 anos-luz da Terra. Estas são imagens históricas, segundo os investigadores. Para a investigadora portuguesa, Susana Barros, estas imagens são "históricas" e o telescópio vai "conseguir chegar ainda mais longe", especialmente no projecto de estudos de exoplanetas que vai desenvolver a partir dos dados do telescópio James Webb. "Este telescópio é seis vezes maior que o Hubble e é muito complicado leva-lo para o espaço, além disso, o Hubble já foi construído há muitos anos e o James Webb foi construído agora e tem instrumentos dedicados à investigação que queremos fazer", explicou a investigadora portuguesa. A capacidade de penetrar no espaço vai permitir a este telescópio recolher dados sobre galáxias a 100 milhões de anos do Big Bang, o mais próximo que a Humanidade já chegou do início do Universo. "Uma das coisas mais importantes é que está adequado à astronomia de ponta que queremos fazer agora", indicou. Susana Barros é membro do projecto "TOI-178: o melhor laboratório para testar as teorias de formação de planetas" que vai utilizar dados do telescópio James Webb na sua pesquisa.

    França submersa pela sétima vaga da Covid-19

    Play Episode Listen Later Jul 8, 2022 6:20


    A França debate-se com um aumento exponencial de casos da covid-19. Uma sétima vaga que já levou à reintrodução de medidas restrictivas, caso da obrigatoriedade do uso da máscara nos transportes públicos na cidade de Nice, no sul. Em causa está a sub-variante BA.5, da estirpe Omicron, uma variante que se teria notabilizado numa primeira fase em Portugal, e que se traduziria em sintomas ligeiros, mas de alto contágio.  Paulo da Silva Moreira, médico e autarca no leste da França, comentou à RFI este cenário, alegando que este aumento de casos era previsível.

    Parque Natural Obô, um mosaico de ecossistemas únicos

    Play Episode Listen Later Jul 5, 2022 9:00


    O Jardim Botânico de Bom Sucesso foi criado em 1993 para conservar espécies raras ou ameaçadas e para sensibilizar o público da flora das ilhas e da sua biodiversidade. A Associação Monte Pico está a desenvolver um projecto "para recuperar a reflorestação natural de São Tomé e Príncipe", explica Francisco da Graça Lamu, eco guia no parque Natural Obô e técnico do Jardim Botânico. O Jardim Botânico foi criado em 1993 na roça Bom Sucesso, localizado no centro da ilha de São Tomé. A cerca de 1120 metros de altitude encontra-se uma das maiores colecções de orquídeas e de plantas endémicas ou nativas do arquipélago num espaço de um hectare. Um viveiro que permite estudar as capacidades de adaptação das plantas às novas condições de cultura fora do seu ecossistema natural. Além de permitir a renovação da colecção existente com vista a projectos de reflorestação. O Herbário Nacional de São Tomé e Príncipe O Jardim Botânico abriga o Herbário Nacional de São Tomé e Príncipe que serve de referência às actividades científicas. O herbário conta com mais de 2000 amostras colhidas pela Associação Monte Pico em parcerias com Universidades e Institutos (Université Libre de Bruxelles, Missouri Botanical Garden, Centro Botânico de Lisboa e a Faculdade de Coimbra, California Academy of Sciences).  Parque Natural Obô de São Tomé Criado em 2006 pelo Estado de São Tomé e Príncipe, o parque Natural Obô de São Tomé cobre uma superfície de cerca de 235 quilómetros, o que representa 30% da ilha. O parque estende-se nas regiões centrais até à costa sul e ocidental. Em crioulo, o termo "Obô" significa "bosque selvagem, impenetrável. O parque distingue-se pela riqueza florestal, paisagens e pela diversidade biológica. Conhecido por ser um "castelo de água", o parque protege as nascentes dos principais rios existentes na ilha. O parque protege sobretudo, o património natural e cultural a nível internacional através do ecoturismo, criando possibilidade para as populações viverem na sua periferia. O parque Natural Obô hospeda um grande riqueza animal: morcegos, musaranhos, 12 espécies endémicas de répteis, sete espécies endémicas de anfíbios, 28 espécies endémicas de pássaros dos quais o célebre néospize de São Tomé. Os principais ecossistemas protegidos são a densa floresta de altitude até 800 metros, a floresta de montanha entre 800 e 1400 metros e a floresta de nevoeiro que se estende a altitude superior aos 1400 metros. O parque protege ainda uma extensa savana ao Norte da ilha e ao sul o mais importante mangal do país. O parque Nacional oferece percursos pedestres a partir de Bom Sucesso. A Lagoa Amélia é a cratera do antigo vulcão.

    Varíola dos macacos: "Não há razões para entrar em pânico"

    Play Episode Listen Later Jun 21, 2022 10:30


    O vírus da varíola dos macacos continua a espalhar-se pelo mundo. A Organização Mundial da Saúde anunciou esta semana que já existem mais de 2 mil casos da doença em pelo menos 42 países mundiais. Em entrevista à RFI, Celso Cunha, professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, explicou-nos o que já se sabe até ao momento sobre a doença. RFI: A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse esta semana que o número de casos superou os 2 mil em 42 países fora do continente africano, onde a doença é endémica. Começo por perguntar-lhe porque é que só agora o vírus se está a espalhar pelo mundo, já que em África já circula há vários anos. Celso Cunha: Não penso que a OMS tenha uma resposta concreta e rigorosa acerca dessa questão porque nós não conhecemos ainda qual foi o contexto em que surgiu o primeiro caso e, portanto, é difícil estarmos a especular porque é que o vírus saiu de África e se está a espalhar por outras zonas, onde não é endémico. Neste momento, o que verificamos é que há surtos, em diferentes países, que têm diferentes origens, provavelmente. Em Portugal, nós temos uma concentração na comunidade de homens que fazem sexo com outros homens e isso também se passa na maior parte dos casos que têm sido escritos, fora de África, e isso pode levar a crer que o caso inicial tenha surgido dentro de alguma comunidade e esteja a ser espalhado devido a alguns comportamentos de risco que estejam a ser efectuados, neste momento, portanto, ou seja pessoas que, neste momento, estão infectadas e que, não estando elas próprias também muito alerta para os sintomas iniciais, estejam a contribuir para espalhar o vírus. Eu penso que é uma questão transitória nesta altura e que, em breve, iremos voltar a uma certa normalidade em relação a este assunto. RFI: A OMS vai discutir, ainda este mês, se deve ou não classificar a varíola dos macacos como "uma emergência de saúde pública de dimensão internacional". Se isto acontecer, o que é que muda daí para a frente? CC: Em termos de doença não muda nada. O que muda é em termos de medidas que poderão ser tomadas ou que poderão ser aconselhadas a ser tomadas pelos governos e autoridades locais. Neste momento, penso que ainda é cedo. Há cerca de 2 mil casos em todo o mundo. Em Portugal, cerca de 300 e em França também já existem dezenas de casos. Neste momento, sendo uma doença que tem um curso clínico relativamente benigno, comparado com a varíola normal, em que as taxas de mortalidade são relativamente baixas, não há, neste momento ainda, um perigo de se tornar uma grande pandemia, como foi a Covid-19. Esse perigo continua a não existir, neste momento, até porque, em relação à Covid-19, quando o vírus começou não tínhamos vacinas nem nenhum tratamento eficaz. Aqui, à partida, já temos vacinas, já temos alguns fármacos que são eficazes para tratar esta doença. Não é uma emergência, chamamos-lhe assim, como havia na Covid-19. Não há nenhuma razão para entrar em pânico, nesta altura.  RFI: Há o risco deste vírus sofrer mutações ou esse factor ainda não é claro? CC: Este vírus é um vírus em que o seu material genético está numa molécula diferente do que, por exemplo, o SARS-COV2, que causa a Covid-19. A Covid-19, como sabemos, é uma molécula que se designa por RNA. Neste caso, este vírus está numa molécula que é o DNA, semelhante à que nós temos dentro das nossas células. Quando esta molécula, o DNA, se multiplica, também ocorrem mutações, mas essas mutações são bastantes pequeninas para as corrigirmos. A taxa de mutação dos vírus DNA é muito inferior à dos vírus de RNA, como o caso do SARS-COV2, o HIV ou até o vírus da gripe, por exemplo. Neste caso, embora, por exemplo, o material genético deste vírus, a molécula onde estão os genes seja 6 vezes maior do que o SARS-Cov2, que causa a Covid-19, não é expectável que existam mutações muito relevantes, que surjam durante este surto, nos próximos tempos. Não é expectável que haja uma grande diferença no material genético e que possam surgir variantes ou estirpes, que sejam mais infecciosas ou que provoquem uma doença mais severa, com uma taxa de mortalidade mais elevada. Isso não é esperado em relação a este vírus. RFI: A forma de disseminação do vírus leva a crer que a doença aconteça por contacto muito próximo. Quais são as formas de transmissão mais comuns? CC: A transmissão dá-se através de contactos de grande proximidade entre uma pessoa que está infectada e uma pessoa que não está infectada. Esse contacto de proximidade tem de ser um contacto prolongado, em princípio, e a transmissão é feita através de gotículas respiratórias ou através do contacto com fluídos contaminados, ou seja, que contenham partículas virais de pessoas infectadas. Por exemplo, se nós tocarmos numa daquelas pequenas borbulhas, que têm vírus lá dentro, portanto, aquele líquido que surge nas pessoas que estão doentes, aí podem transmitir a doença. Esta doença transmite-se pela transmissão de fluídos corporais de pessoas infectadas, nomeadamente, através de gotículas respiratórias. Mas, uma outra diferença em relação à Covid-19 é que aqui, para uma pessoa ser infectada por alguém contaminado é necessário um contacto de proximidade mais prolongado, bastante mais prolongado. Nós não estamos pertante o risco de irmos, por exemplo, no autocarro, e estar uma pessoa infectada ao nosso lado e de apanhar a doença. É muito pouco provável que isso aconteça. Não é uma impossibilidade, mas é uma improbabilidade bastante elevada. O contacto dá-se, sobretudo, entre pessoas que coabitam, que ocupam os mesmos espaços durante muito tempo. RFI: Quais são os principais sintomas? Como é que se pode indentificar a doença? CC: Nos primeiros três dias, os sintomas são relativamente inespecíficos, ou seja, podem ser confundidos com outra doença viral, até com uma gripe porque os sintomas são febre, dores musculares ou dores de cabeça e, às vezes, uma pequena erupção que pode surgir um bocadinho depois já, mas os sinais iniciais são relativamente inespecíficos. O que diferencia esta doença, por exemplo, da varíola normal, a que estávamos habituados e que foi erradicada é que aqui os gânglios linfáticos têm tendência a aparecer bastante inchados. Isso é o que diferencia, sobretudo, esta varíola dos macacos da varíola clássica. Tirando isso, eu diria que os primeiros sintomas são inespecíficos e depois começam a aparecer as pequenas erupções cutâneas, que vão evoluindo e que começam por ser umas pequenas manchas, relativamente planas, e depois vão surgindo pequenas borbulhinhas que vão ficando com um líquido transparente e, numa fase mais tardia, com um líquido mais amarelo escuro. Depois, elas rebentam e tornam-se uma crosta. Depois quando caem, as pessoas são consideradas curadas. Todo este processo, desde a infecção até à cura, pode durar entre 2 a 4 semanas, aproximadamente. RFI: Até ao momento, só se têm registado formas leves da doença. Há risco de morte associado a este vírus? CC: Há sempre risco de morte, mas é muito baixo. O risco de morte na varíola dos macacos é substancialmente inferior ao da varíola clássica. Na varíola clássica, poderíamos ter taxas de mortalidade, muito acima dos 30% e aqui estamos a falar de cerca de 10 vezes menos, aproximadamente. Estes casos fatais ocorrem, infelizmente, apenas, sobretudo, em países com sistemas de saúde débeis porque nos países em que os sistemas de saúde são mais ricos, robustos e onde há melhores condições de tratamento, a taxa de mortalidade da varíola dos macacos aproximou-se bastante do 0 quase. RFI: Os casos registados em vários continentes afectam mais homens do que mulheres. Porque é que os homens têm um sistema imunitário menos resistente a este vírus? CC: Não estou de acordo com isso, ou seja, eu estou de acordo que afectam mais homens, são, sobretudo, homens, mas isso deve-se, segundo aquilo que sabemos, hoje em dia, ao facto do vírus ter começado a dissiminar-se dentro de uma comunidade de homens que faziam sexo com outros homens e não tem a ver propriamente com diferenças entre o sistema imunitário de homens e mulheres, mas sim com comportamentos e à respectiva transmissão, através dos comportamentos. RFI: O director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, lamentou há poucos dias o facto de só se ter dado a devida atenção ao vírus quando este começou a afectar países ricos e desenvolvidos, uma vez que em África o vírus já circula há vários anos. Qual é o seu ponto de vista sobre o assunto? CC: O vírus circula em África há vários anos, é verdade. Ele foi identificado pela primeira vez em 1970, o primeiro caso humano. Nós sabemos que na África Central, ele é endémico, e que, periodiamente, surgem alguns surtos, mas estes têm sido muito limitados.  Apesar de, às vezes apareceram algumas dezenas, ou até mesmo centenas de casos, a doença tem vindo a concentrar-se naquela região. Isso tem a ver também com o facto de também nesses países, existirem reservatórios de animais porque este é um vírus zoonótico, ou seja, o vírus pode estar no reservatório dos animais e esses animais podem transmiti-lo ao Homem também. Esses reservatórios não existem nos países ocidentais em estado selvagem e, portanto, o risco de contaminação, através do contacto com animais não existia, pelo menos no Ocidente e em África existia, daí haver uma endemicidade nestas regiões. O que acontece aqui é que passamos de um vírus que estava circunscrito a uma região e com uma taxa de mortalidade que era cerca de 10/15%, mas isso mais relacionado com a debilidade dos sistemas de saúde, não pela gravidade da doença ser maior do que está a ser agora. Agora, o que está a acontecer de diferente é que o vírus se está a espalhar por todo o mundo e, em consequência disso, se estar a dar mais atenção. RFI: Para terminar e falando agora no caso concreto de Paris e de outras cidades europeias, o número de casos tem vindo a aumentar substancialmente. É preocupante, numa altura em que os contágios de Covid-19 estão também eles a aumentar? CC: É preocupante porque poderá ser um peso para os sistemas de saúde, embora a maior parte dos casos da varíola dos macacos que nós temos registados não obrigue a nenhuma hospitalização e possam ser tratados em ambulatório, através do isolamento das pessoas em casa e à restrição de contactos. Apesar de tudo, não é prevísivel que esta doença venha a ter um peso significativo nos sistemas de saúde. Poderá ter um peso económico devido à abstenção de trabalho porque as pessoas vão faltar ao trabalho e estar de 2 a 4 semanas, em casa. Se o vírus se espalhar muito poderá existir algum peso económico, mas para os sistemas de saúde não penso que vá existir uma pressão tão grave como aconteceu com a Covid-19 porque não vai obrigar a internamentos em tão grande número. Para os sistemas de saúde, em princípio, não vai ser um grande problema.

    Activista guineense cria pensos higiénicos reutilizáveis

    Play Episode Listen Later Jun 14, 2022 7:57


    A educadora menstrual e activista guineense, Haua Embaló, lançou recentemente a marca “Nha Lua” que disponibiliza produtos reutilizáveis de higiene feminina. Para além dos copos e das cuecas menstruais -artigos importados- a marca fabrica pensos higiénicos feitos a partir do tecido de algodão africano. O projecto pretende quebrar tabus, contrariar o absentismo escolar e oferecer produtos sustentáveis para que “as meninas e as mulheres possam gerir a menstruação com dignidade”. RFI: Como é que surge este projecto? Haua Embaló: Este projeto surgiu no contexto de trabalho de uma ONG guineense, da qual faço parte, que estava a tratar as questões de higiene nas escolas e a componente de higiene menstrual. A partir daí, começo a aperceber-me de que [na Guiné-Bissau] há muito pouca informação e poucos produtos sustentáveis que permitam às mulheres gerir a sua menstruação com dignidade. Considera que a menstruação continua a ser um tabu em África? Eu creio que a menstruação não é só um tabu em África. A menstruação é um tabu pelo mundo todo, provavelmente será o tabu mais antigo do mundo. Na Europa, quando se fazem publicidades de produtos menstruais, por exemplo, pensos higiénicos, o líquido que simulam sendo a menstruação nunca é vermelho, é azul. Agora, naturalmente que em África os tabus são mais exacerbados porque têm a ver com questões culturais muito fortes, questões religiosas e outras. Na Guiné-Bissau, particularmente, há muitos tabus e esses tabus fazem com que as meninas não tenham informações. Fizemos um estudo, há uns anos, que mostrou que mais da metade das meninas só soube o que era a menstruação quando teve a sua “menarca”, ou seja, a primeira menstruação e mesmo assim não foi informada da maneira mais aconselhável. A menstruação também acaba por estar ligada ao absentismo escolar? Muitas meninas faltam às aulas por sofrerem de dores menstruais não tratadas porque a sociedade acha que as dores associadas ao ciclo menstrual são “um fardo” que a mulher deve aguentar, esta é a primeira causa. A segunda causa está ligada à falta de produtos menstruais que permitam a esta menina circular livremente, sem medo de ser gozada na escola ou na rua. Nós sabemos como é que são os adolescentes e se uma menina fica manchada é logo alvo de várias piadas. Este tipo de situação pode até fazer com que a menina desista da escola. Apresenta um penso higiénico “inovador”. Como é que ele é feito? O penso higiénico “Nha Lua” é uma modernização dos trapos que as nossas mães, as nossas avós usavam há algum tempo. Nós chamamos-lhe “retalho”, um pedaço de pano e o que nós fizemos foi aprimorar esse “retalho”. O penso higiénico é feito de quatro camadas. Um tecido de algodão respirável, um tecido impermeável, uma camada de turco e uma camada de um tecido de algodão que entra em contacto directo com as partes íntimas. Trata-se de um produto ecologicamente mais sustentável, uma vez que não vai deixar resíduos no ambiente. Sabemos que África tem graves problemas de saneamento e apostar em produtos sustentáveis talvez seja o caminho a seguir. E o que pretende com este produto? Eu gostaria de proporcionar -às meninas e às mulheres- um conforto. Que elas sintam que o ciclo menstrual é um processo biológico natural nas mulheres e que se sintam confortáveis com a menstruação. Para além do penso higiénico, que outros produtos disponibiliza a marca “Nha Lua”? O produto penso menstrual reutilizável é feito por nós aqui na Guiné-Bissau, mas importamos outros produtos que consideramos inovadores no mercado guineense. Refiro-me ao copo ou colector menstrual, também sustentável, e às cuecas menstruais feitas com material adaptado e com riscos mínimos da mulher se manchar, artigos que são importados. Qual é o feedback que está a ter desses produtos? Começámos com os colectores menstruais, há já algum tempo, e a aceitação é muito boa. Com os pensos higiénicos, que estamos a começar agora, lançamos a marca e os pensos no dia 28 de Maio, dia em que assinala o dia da saúde e da higiene menstrual. Tenho recebido muitas mensagens de pessoas que estão interessadas em adquirir estes produtos. Estes produtos estão no mercado a um preço acessível? Sim, estão. Eu diria que se compararmos um penso reutilizável com um penso descartável podemos pensar que é caro, mas se pensarmos que temos de adquirir, no mínimo, um pacote de pensos higiénicos todos os meses, diria que em cinco meses nós pagamos uma cueca ou um colector menstrual. Quanto aos pensos, estes são mais baratos. São produtos que depois podem ser reutilizáveis...   São produtos que podem ser usados entre dois a cinco anos. Estes produtos estão disponíveis em todo o país? Não, por enquanto só em Bissau. A nossa ambição é poder chegar a mais meninas e mulheres, sobretudo às que vivem em zonas rurais- onde os meios são mais escassos para adquirir os produtos de higiene feminina e o nível ecónomico é inferior ao da capital- para que elas também possam ter acesso a estes produtos. Quais são os desafios da educação menstrual na Guiné-Bissau? Eu creio que o maior desafio é o tabu que cerca a menstruação. No entanto, penso que aos poucos vamos quebrando barreiras, quebrando os tabus e podendo falar destes assuntos. É muito importante que os próprios pais e educadores possam quebrar as barreiras, pois só assim conseguiremos formar as meninas e também os homens mais independentes no futuro. Para que quando eles forem adultos, tenham uma visão mais descomplexada das questões menstruais. Oiça aqui a rubrica ciência

    Estocolmo reviu ambiente do planeta meio século depois

    Play Episode Listen Later Jun 3, 2022 10:02


    O planeta acaba de assinalar o Dia mundial do ambiente. Uma efeméride antecedida por uma conferência das Nações Unidas em Estocolmo, para assinalar os 50 anos de um primeiro fórum, na mesma capital sueca, em 1972, sobre a promoção do bem estar ambiental. Francisco Ferreira, da ong ambientalista portuguesa Zero, participou nos trabalhos da conferência Estocolmo+50. A partir da capital sueca ele relatou-nos o ambiente em que decorreu o fórum: entre ambições de metas por atingir, permtindo salvar o planeta, e o alarmismo da constatação da degradação da biodiversidade e o acentuar das alterações climáticas.

    Moçambique: "A nossa dependência tem de acabar senão vai destruir o nosso país"

    Play Episode Listen Later May 31, 2022 8:04


    O Governo moçambicano  está a fazer uma revisão da Política Nacional de Terras e da Lei de Terras com vista a  promover um quadro regulatório que assegure um acesso equitativo, posse segura e uso sustentável da terra, ao serviço da sociedade e da economia moçambicana. Organizações da sociedade civil moçambicana como a Justiça Ambiental apontam críticas à forma como o governo tem conduzido as consultas públicas sobre a legislação da terra. Anabela Lemos, directora da JA denuncia a alegada falta de transparência e acusa o executivo de se acomodar os interesses do sector privado e das multinacionais no acesso e ocupação da terra. O governo assegurou que Moçambique tem stocks de trigo suficientes para fazer face às necessidades do país até Junho, mas país pode viver uma escassez de produto a partir do mês de Julho. Apesar de o governo ter dado indicações para que tanto importadores e distribuidores de trigo para fazerem reservas do produto, a directora da Justiça ambiental defende ser necessário que Moçambique  termine com dependências que podem destruir o país.

    Varíola dos macacos: OMS alerta para novas infecções

    Play Episode Listen Later May 24, 2022 6:10


    A Organização Mundial da Saúde disse esta terça-feira, 24 de Maio, que foram identificados 131 casos de varíola dos macacos, desde o ressurgimento da doença no início do mês de Maio. Há ainda outros 106 casos suspeitos e a OMS acredita que novas infecções vão surgir nos próximos tempos.  A Organização Mundial da Saúde avança que foram identificados 131 casos de varíola dos macacos, desde o ressurgimento da doença no início do mês de Maio. Há ainda outros 106 casos suspeitos e a OMS acredita que novas infecções vão surgir nos próximos tempos.  Apesar do pico de infecções, em mais de dez países, a OMS considera que a situação permanece “controlável”, porém aconselha as pessoas a manterem-se informadas junto das autoridades de saúde nacionais, sobre a extensão do surto na sua comunidade, sintomas e prevenção. Em entrevista à RFI, Ricardo Mexia, médico de saúde pública em Portugal, refere que a varíola do macaco, uma doença viral observada até agora em África, não é nova, todavia admite que a grande questão é “a disseminação maior da doença em pessoas que não têm história de viagem ao continente africano”. O primeiro caso humano foi registado em 1970 na República Democrática do Congo, durante um período de esforços intensos para eliminar a varíola. A varíola dos macacos transmite-se através do contacto com um animal ou com uma pessoa infectada ou com material que esteja contaminado. A transmissão entre humanos ocorre principalmente através de grandes gotículas respiratórias, sendo para isso necessário um contacto prolongado, mas também através de fluidos corporais. Ricardo Mexia explica que os sintomas da doença são “cefaleias, febre, cansaço, depois as pessoas acabam por ter uns gânglios aumentados nas axilas e a doença evoluiu para as lesões na pele, erupção cutânea”. Muitos casos foram relatados entre a comunidade homossexual, a OMS defende a importância de tentar evitar a transmissão sexual da doença. Numa altura em que o foco e rota de contágio da varíola dos macacos ainda não foram estabelecidos, o médico de saúde pública alerta para a importância de se reforçarem os sistemas de vigilância. “É fundamental reforçar os sistemas de vigilância e tentar perceber junto dos doentes o que há em comum para assim conseguirmos identificar a via de transmissão”, justificou. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a maioria das pessoas infectadas com a varíola dos macacos recuperam em poucas semanas, porém o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças admite que as pessoas imunocomprometidas estão especialmente em risco de ter doença grave provocada por este vírus.

    Liderança científica da Europa na matéria e energia escuras ameaçada pela guerra na Ucrânia

    Play Episode Listen Later May 17, 2022 10:01


    A missão Euclid, que visa mapear o Universo de forma a descobrir as propriedades da matéria e energia escuras, vai ser adiada pelo menos um ano devido à guerra na Rússia, já que apesar de tudo estar pronto para o lançamento deste telescópio de infra-vermelhos, com o fim dos protocolos com Moscovo, não há lançadores disponíveis para levar este dispositivo até ao Espaço, como relatou o investigador António da Silva, em entrevista à RFI. "A missão está praticamente pronta e íamos lançar daqui a um ano. Entretanto o que acontece é que com a guerra da Ucrânia houve a quebra deste protocolo que existia entre a ESA e a Roscosmos, esquivalente russa. Não temos esses lançadores e a Euclid, como é uma missão do programa científico da ESA, na prioridade de lançamento é a primeira missão que não vai ser possível lançar e vai ter imensos atrasos", explicou António da Silva, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Este investigador português é membro da direção do consórcio da missão Euclid, cujo satélite devia ser lançado entre 2022 ou 2023 e agora vê a sua partida para o espaço adiada um ano devido à quabra de procolos entre a União Europeia e a Rússia, após a invasão russa da Ucrânia. Este atraso tem impacto nos mais de 1.500 cientistas que em vários países estão envolvidos nesta missão, que deverá durar cerca de seis anos, mas também para a Europa como líder na exploração da matéria e energia escuras. "A situação é complexa e tem dimensões a nível do consórcio. A missão, estando pronta, não temos possibilidade de a lançar sem grande atrasos, traz problemas anível da motivação dos cientistas, com cerca de 1.5000 cientistas envolvidos e, no fundo trata-se de uma questão de liderança científica nesta área", detalhou. Saber mais sobre a matéria e energia escuras significa compreender melhor a dinâmica do universo. Este é um domínio que resta desconhecido para os cientistas.  "Actualmente, quer a matéria escura, quer a energia escura são duas grandes incógnitas na área da física fundamental, não sabemos a sua origem. A energia escura é aquilo que faz o Universo expandir de forma acelerada", detalhou o investigador. Quanto à matéria escura, é ela que permite a configuração das galáxias. "A matéria escura tem sido uma grande incógnita. A matéria escura é algo que tem massa, a energia tem uma massa, mas é algo que não é da mesma natureza. Na nossa galáxia vemos as estrelas, a dinâmica dessas estrelas requer a existência de matéria escura para compreendermos como elas se movem", concluiu.

    Instalação de base com humanos em Marte adiada "décadas" devido à guerra na Ucrânia

    Play Episode Listen Later May 10, 2022 8:40


    A invasão da Ucrânia pela Rússia não se limita às fronteiras geográficas destes dois países, enviando ondas de choque que se traduzem no aumentos dos preços dos combustíveis em todo o Mundo, criou uma escassez de certos produtos alimentares e chegou mesmo ao Espaço. O investigador português, Pedro Machado, explica em entrevista à RFI qual o impacto do conflito na exploração de Marte. "Eu não pensava que ia ver este tipo de situações no Mundo, nem a afectarem a Europa directamente até em processos aos quais eu estou ligado. O que conheço, por exemplo, da missão ExoMars da Agência Espacial Europeia, onde havia uma colaboração russa que foi cancelada e, por isso, a missão está em perigo, a missão está em vias de ser cancelada", disse o investigador português. Pedro Machado é investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, participando na missão Mars Express, também da Agência Especial Europeia (ESA), trabalhando de perto com os dados recolhidos pela ExoMars. A ExoMars é a missão europeia para averiguar se já houve vida em Marte e também a possibilidade da existência de água neste planeta. Constituída por duas fases, a primeira levada a cabo em 2016 com um orbitador que visa avaliar os gases que rodeiam Marte, e uma segunda fase com o envio de um rover, um robot explorador, em 2022. No entanto, esta missão era levada a cabo em conjunto com a agência espacial russa, a Roscosmos, e em Março a ESA anunciou que o rover já não seria enviado para o espaço em Setembro, como estava previsto, devido à invasão da Ucrânia por parte da Rússia, o que dificulta a cooperação com Moscovo. "Em consequência desta falta de ética internacional da parte de pessoas que têm demasiado poder e pouca ética, a nossa missão a Marte para trazer uma amostra de volta vai estar adiada muito tempo. Isto tem como impacto, obviamente, que a exploração espacial no seu todo, mas no caso específico da ida a Marte e da possível instalação de uma base com humanos em Marte vai estar adiada mais duas ou três décadas", lamentou o cientista português. Pedro Machado lamenta não poder continuar a cooperar com os colegas russos, defendendo que a ciência tem "uma bandeira de irmandade" e uma utopia que têm como objetivo avançar o conhecimento global. No entanto, o investigador, apesar de dizer que haverá uma desaceleração da dinâmica especial fruto das pontes cortadas com a Rússia, reconhece que esta poder ser uma oportunidade para maiores avanços neste campo, sobretudo com a entrada de actores privados que querem também fazer parte da corrida espacial. "Desaceleração vai haver com certeza, eram utilizados muitos lançadores, muitos foguetões russos. Mas eu não acho que havia uma dinâmica na exploração espacial, eu acho que continua a haver neste momento, e de que maneira, uma grande proliferação de missão espaciais, com o advento de companhias privadas. O que eu acho é que isto [a exclusão da Rússia] vai ter o efeito contrário, em vez de desacelerar vai acelerar a entrada de companhias internacionais para substituir os lançadores russos que estavam a ser usados até agora, irá ficar mais barato e mais rápido, além de se passar a usar tecnologia mais recente e talvez até mais fiável", concluiu.

    Moçambique: "Explorar gás natural é uma escolha errada"

    Play Episode Listen Later May 2, 2022 9:17


    "Moçambique deveria estar na frente das decisões em não querer explorar energias fosseis", defende a directora da ONG moçambicana JA!, que sublinha o facto de os combustíveis fósseis serem "o caminho para o fim do planeta, da humanidade e da economia".  As Alterações climáticas estão a levar à erosão da costa de cada vez mais países insultares do sul e de baixa altitude. A situação é cada vez mais dramática na região do Pacífico, onde com a subida do nível do mar, há países insulares que correm o risco de desaparecer. O relatório dedicado aos oceanos, o Painel Inter-governamental para as Alterações Climáticas (IPCC), de 2019, alertava para o facto de os países mais vulneráveis serem os que menos poluem. Os especialistas alertam para a necessidade dos países do norte terem de inverter esta tendência e apostar mais em energias sustentáveis. A subida do mar vai ter impactos em Moçambique, não só na erosão, como na destruição das insfra-estruturas que estão perto do mar, aponta Anabela Lemos, directora-executiva da Justiça Ambiental (JA!).

    São Tomé e Príncipe admite não conseguir eliminar o paludismo até 2025

    Play Episode Listen Later Apr 26, 2022 30:33


    Assinalou-se esta segunda-feira o dia internacional de luta contra a malária, uma doença originada pela picada de um mosquito que em 2020 afectou mais de 241 milhões de pessoas e causou mais de 627 mil mortos pelo mundo fora, na sua grande maioria (95%) na África subsariana e mais especificamente crianças com menos de cinco anos. Apesar de existir desde 2002 um Fundo Mundial de Luta contra a Sida a Tuberculose e o Paludismo, um fundo que permitiu já grandes progressos no combate a estas doenças, esta continua a ser uma luta desigual. Isto tanto mais que durante estes últimos dois anos em que o mundo esteve a braços com a covid-19, as outras doenças e nomeadamente a malária ficaram um pouco para trás, muito embora existam tratamentos e inclusivamente vacinas a serem desenvolvidas. São Tomé e Príncipe, país com fraca incidência desta doença, tem sido um dos terrenos de pesquisas para encontrar vias alternativas de combate ao paludismo. Uma equipa de cientistas da Universidade da Califórnia tem estado a analisar os mosquitos existentes no país com vista a eventualmente explorar a possibilidade de criar um mosquito transgénico que contribua para eliminar a doença. A eliminação do paludismo é precisamente um objectivo que ainda há poucos meses, em Novembro passado, o governo são-tomense considerava acessível em 2025. Mas isto era antes das intempéries que favoreceram o surgimento de mais casos, como refere João Alcântara, coordenador nacional da luta contra o paludismo em São Tomé e Príncipe, o nosso convidado neste magazine.

    "Quantas pessoas não estão a sofrer porque o nuclear existe?"

    Play Episode Listen Later Apr 19, 2022 8:53


    A União Europeia importou mais de metade da energia que consumiu em 2020. De acordo com os números divulgados pelo Eurostat, os 27 importaram 58% da energia consumida. Em média, a produção doméstica garante apenas 42% da energia necessária.  A Rússia tem sido o principal fornecedor da União Europeia de energia, com 24,4% das importações de energia como o gás natural, petróleo e carvão. Em 2020, a Europa precisou de 35% de petróleo e produtos derivados, 24% de gás natural, 17% de energias renováveis, 13% de energia nuclear e 11% de combustíveis fósseis sólidos. Apesar das críticas apontadas por ambientalistas de países como a Alemanha, a Comissão Europeia aprovou em Fevereiro um projecto que viabilizar a energia nuclear e o gás como fontes de energia sustentáveis. Ambos vão ser incluídos na regulamentação de taxonomia, um sistema de classificação que visa direccionar os investimentos no sector para as energias verdes. Berlim posicionou-se contra a energia nuclear, que conta com o apoio de países como França – onde 70% da electricidade é de origem nuclear – e do Norte, Centro e Leste Europeu. Polónia, Hungria, República Checa, Bulgária, Eslováquia e Finlândia estão do lado da França, enquanto Áustria, Dinamarca e Luxemburgo concordam com a Alemanha. Especialistas em energia mostram-se preocupados com "os impactos ambientais que pode resultar", no caso de um acidente nuclear, apontando que a construção de novas centrais nucleares levaria demasiado tempo para atingir os objectivos de neutralidade climática, projectados para 2050. "Quando falamos de energia nuclear, estamos a falar de mudar a fonte de energia que no fim vai aquecer a água para produzir vapor e por fim para produzir electricidade", explica o Presidente do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear, Bruno Soares Gonçalves. "Para cumprir a meta de 2050, garantidamente, uma aposta forte agora com múltiplas centrais (nucleares), substituindo as centrais mais poluentes, sobretudo as  de carvão, terá um efeito positivo", aponta o Presidente do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear. "Quando se fala do nuclear, vai-se buscar os acidentes como Fukushima, Chernobil e as vítimas dos acidentes. Os números são sempre muito controversos, quantas mortes prevenimos ao não produzir tanto CO2? Fazendo as contas de quantas centrais de carvão foram substituídas pelas centrais nucleares, estamos a falar de menos vítimas de problemas de saúde, devido à queima de combustíveis fosseis da ordem dos milhões. É preciso saber o balanço de quantas pessoas não estão a sofrer porque o nuclear existe?", questiona Bruno Soares Gonçalves. O investigador é também autor de "Fusão Nuclear na era das alterações climáticas". Neste livro, o autor questiona-nos sobre o nosso consumo energético e sobre o seu acesso limitado. "Nem sempre nos questionamos do impacto que o nosso consumo tem no ambiente e como poderemos reduzir esse impacto. Enquanto cidadãos temos a responsabilidade de consumir a energia da forma o mais eficiente possível (...)  Quantos mais gases houver, mais a temperatura sobe. E uma vez que os gases estejam na atmosfera ficam lá por um longo período de tempo. Cerca de um quinto dos gases emitidos hoje ainda estarão lá daqui a 10000 anos. Por esta razão temos de inovar para zero gases. É nossa obrigação deixar um planeta habitável às futuras gerações", escreve o autor.

    Alterações Climáticas: "É essencial agir agora"

    Play Episode Listen Later Apr 12, 2022 7:55


    O Grupo Intergovernamental de Peritos sobre as Alterações Climáticas (GIEC) publicou o último volume do 6° relatório, no qual descreve medidas drásticas a serem adoptadas para limitar a 1.5°C o aquecimento global. Este relatório é “uma longa enumeração de promessas climáticas não cumpridas. É um arquivo de vergonha, que cataloga as promessas vazias que nos colocam no caminho para um mundo inabitável”, descreveu o secretário-geral da ONU, António Guterres. O relatório propõe a redução da utilização de combustíveis fósseis, a plantação de florestas e a redução do consumo de carne. Entre 2010 e 2019 a média anual das emissões globais de gases com efeito de estufa atingiu os níveis mais elevados na história da humanidade, apesar de se ter verificado um abrandamento na taxa de crescimento.  "É essencial agir agora, isso já se sabia há muito, porque para atingirmos a temperatura que os Estados se comprometeram a atingir no Acordo de Paris, dos 2°C ou se possível 1,5°C, não é possível esperarmos mais. Depois será tarde demais", afirma Bárbara Maurício, gestora de projectos de políticas climáticas na Organização Não Governamental portuguesa, zero.

    Açores: Actividade sísmica em São Jorge, "é imprevisível"

    Play Episode Listen Later Apr 5, 2022 7:28


    Desde 19 de Março que a actividade sísmica registada na parte central da ilha de São Jorge, localizada entre Velas e a Fajã do Ouvidor, se encontra acima do normal. O maior sismo foi registado no dia 29 de Março com uma magnitude de 3,8 na escala de Ritcher.  Desde o início da crise, foram registados mais de 26.348 sismos e um total de 225 sismos sentidos. A ilha de São Jorge está no nível de alerta vulcânico de V4 (ameaça de erupção) de um total de sete, sendo que V0 significa "estado de repouso" e V6 "erupção em curso". "Este sistema vulcânico tem pelo menos duas erupções bem conhecidas desde o povoamento dos Açores; uma ocorreu em 1580 e a outra em 1808. Além das indicações de que a crise sísmica que ocorreu em 1964 poderá ter dado uma erupção vulcânica submarina, ainda assim não haver provas a cem por cento que terá acontecido", explicou Rui Marques, presidente do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (Civisa). Esta situação é "totalmente imprevisível. É necessário monitorizar o máximo de parâmetros possível para tentar verificar se existem alterações, que se possa traduzir numa possível erupção vulcânica", descreve o presidente do Civisa.

    Macau mantém "bolha" mais de dois anos após o início da pandemia de covid-19

    Play Episode Listen Later Mar 29, 2022 8:08


    Numa altura em que o número de casos na China e na vizinha Hong Kong bateram recordes, Macau continua a ser "uma excepção" no panorama global da covid-19 mundo devido a uma política de covid zero que não permite a entrada de estrangeiros no território, como relatou à RFI Mário Évora, cardiologista no Centro Hospitalar Conde de São Januário, em Macau. "A situação está controlada, Macau continua a ser uma excepção, penso que é dos poucos sítios no Mundo em que podemos dizer que a infeção não chegou a entrar na comunidade. Os casos que temos foram importados,  não há transmissão, o que faz de Macau uma bolha, o que é uma raridade no que vemos no Mundo e mesmo aqui ao lado em Hong Kong e na China", garantiu o médico Mário Évora. Tal como na Europa, a covid-19 está a ter um grande ressurgimento na China e Hong Kong. Particularmente em Hong Kong, o território vive há cerca de um mês sob um forte dispositivo de medidas restritivas, incluindo a proibição de voos de e para este território que até a este fim de semana registava mais de 10 mil casos novos casos diários. Em Macau, desde o início da pandemia foram registados apenas 82 casos, com as restrições mais duras a perdurarem ainda neste território autónomo da China, incluindo a proibição de entrada a quem não é chinês ou residente em Macau. "As pessoas têm de vir com um teste negativo e estão testados à chegada. Mesmo que sejam casos negativos, do aeroporto vão directamente para um hotel onde ficam em isolamento 21 dias e a boa notícia é que vão diminuir os dias de isolamento para 14", explicou. Estas medidas previnem a covid-19, mas têm também efeitos para a economia de Macau muito dependente do turismo, já que antes da pandemia, entravam por ano neste território entre 20 a 25 milhões de turistas por ano. "Isto reflecte-se na economia, especialmente a economia de Macau que se baseia fundamentalmente no jogo, nos casinos, que têm tido uma queda abrupta de receitas desde que começou a pandemia. Podemos imaginar que os casinos possam suportar melhor isso que as pequenas empresas ou o comércio, montes de restaurantes já fecharam porque não têm clientes", relatou Mário Évora.  Sem covid, o médico cabo-verdianos diz que o que observa nos seus pacientes, especialmente nos que não são originalmente de Macau, casos de depressão devido às medidas que limitam as visitas aos estrangeiro e isolam os habitantes deste território. De forma a abrir Macau ao exterior e passar a uma política em que "se viva com o vírus", o médico disse à RFI que é preciso apostar na vacinação, algo que não teve muita adesão por parte da população nem em Macau e nem em Hong Kong. Segundo Mário Évora, este será mesmo o maior fator que levou ao surto em Hong Kong. "Na Europa e noutros locais já começou a haver uma abertura e uma forma diferente de viver com a pandemia, mas isso implica uma coisa muito importante que é a vacinação da população, isso é fundamental para se poder abrir. Infelizmente aqui, em relação a Macau e a Hong Kong, esse processo não foi imediato. Em Macau, a princípio, a adesão à vacinação começou por ser baixa, felizmente já atingirmos um patamar bastante seguro, o que não acontecia em Hong Kong e Hong Kong foi apanhado de surpresa com uma percentagem de vacinação bastante baixa e daí a mortalidade", afirmou o cardiologista.

    Guerra na Ucrânia: "É necessário encontrar fornecedores alternativos"

    Play Episode Listen Later Mar 22, 2022 9:27


    A guerra na Ucrânia fragilizou o sistema de abastecimento alimentar na Europa e no mundo e o risco de uma eventual escassez global de produtos do sector agrícola afigura-se cada vez mais como uma forte possibilidade, de acordo com a ONU. A RFI entrevistou Luís Capoulas Santos, ex-ministro da agricultura português e actual deputado europeu, que nos falou sobre o impacto desta guerra no sector agroalimentar. A Rússia e a Ucrânia são dos maiores exportadores mundiais, por exemplo, de cereais ou oleaginosas, alimentos que subiram de preço de forma exponencial, no último mês, pelo que existe a necessidade de se encontrar "fornecedores alternativos", conforme nos explicou o ex-ministro. Luís Capoulas Santos referiu ainda não ter dúvidas de que com esta guerra as relações internacionais ficarão "profundamente alteradas", o que prejudica igualmente o "comércio internacional".

    Culturas em Portugal “irremediavelmente perdidas” devido à seca extrema

    Play Episode Listen Later Mar 15, 2022 8:56


    A seca extrema e severa chegou a quase 90% do território de Portugal, com muitas culturas, nomeadamente as culturas de cereais, a estarem "irremediavelmente perdidas". No entanto, Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal, considera que ainda podem ser tomadas medidas para reverter uma parte das consequências deste fenómeno ligado às alterações climáticas. Em Portugal, grande parte do país está em seca extrema. Um fenómeno ligado às alterações climáticas, mas que se tornou recorrente em todo a Península Ibérica nos últimos anos. Luís Mira, secretário-geral da secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal, considera que as autoridades nacionais já deviam ter feito mais para evitar esta situação extrema no país, que associada às dificuldades da escassez de cereais e os preços dos combustíveis derivados do conflito na Ucrânia, vêm agravar a situação dos agricultores e dos consumidores na Europa. "Portugal precisa de encarar a questão da seca como uma questão estrutural que precisa resolver, mas não foi isso que o Governo fez quando tomou decisões para o Plano de Resiliência. É preciso trazer água de onde ela existe, no Norte do país, para todo o interior do país criando uma auto-estrada da água de maneira a minimizar este fenómeno", explicou Luís Mira em entrevista à RFI. Alguma das culturas em Portugal já estão mesmo irremediavelmente perdidas, disse o líder dos agricultores em entrevista à RFI. "Reverter [a seca] não é possível. Agora é possível atenuar alguma coisa se chover nas próximas semanas, mas não deve chover muito. Para chover é em março e abril, se chover em junho vai estragar tudo. Mas aqueles que tiveram prejuízos e têm limitações, nomeadamente nas culturas de cereais que não tiveram água nos últimos meses já dificilmente recuperarão. Alguma estão irremediavelmente perdidas", afirmou o dirigente. Luís Mira espera agora medidas mais rápidas por parte das autoridades portuguesas e de Bruxelas para contrariar a seca extrema em Portugal, pedindo alterações Política Agrícola Comum, a PAC, de forma a garantir a segurança alimentar na Europa.

    Segurança alimentar deve vista com a mesma seriedade que a paz e segurança em África

    Play Episode Listen Later Mar 8, 2022 10:16


    Reforçar a resiliência na nutrição e segurança alimentar no continente africano é o tema do ano da União Africana. A agricultura assume o principal papel para acabar com a fome e a má-nutrição no continente. Em entrevista à RFI, Josefa Sacko, comissária para a Economia Rural e Agricultura da União Africana sublinha a necessidade de “acelerar a transformação da agricultura" em África. Reforçar a resiliência na nutrição e segurança alimentar no continente africano: acelerar o sistema agro-alimentar, a saúde e a protecção social para o desenvolvimento do capital humano e sócio-económico, é o tema do ano da União Africana. O continente tem grande potencial agrícola, mas continua a depender dos alimentos que importa. Por ano, a factura da importação de bens alimentares ronda os 45 mil milhões de dólares. Um preço demasiado elevado quando África possui 60% das terras cultiváveis do planeta. De acordo com o Relatório da Organização de Meteorologia Mundial, publicado no final do ano passado, até 2030, 118 milhões de pessoas extremamente pobres no continente africano estarão expostas à seca, inundações e calor extremo. O aquecimento global do planeta e consequentemente o aumento da variabilidade do tempo e do clima perturba vidas e economias. Na África Subsaariana, as mudanças climáticas podem reduzir ainda mais o produto interno bruto em até 3%, até 2050. A isto, somam-se ainda as feridas abertas deixadas pela pandemia da Covid-19. Em entrevista à RFI, Josefa Sacko, comissária para a Economia Rural e Agricultura da Comissão da União Africana sublinha a necessidade de “acelerar a transformação da agricultura no continente para conseguirmos ter a auto-suficiência alimentar e nutricional”. A comissária angolana alerta que é preciso que os estados olhem para esta questão com os mesmos olhos com que encaram a “paz e segurança no continente”. A falta de soberania e segurança alimentar no continente africano “também são formas de conflitos e formas de migração”, acrescenta.

    Guiné-Bissau prolonga por mais 15 dias o estado de alerta perante covid-19

    Play Episode Listen Later Mar 5, 2022 11:45


    Na Guiné-Bissau, o executivo decidiu prolongar por mais quinze dias, a contar deste domingo, o estado de alerta em vigor no âmbito do combate à covid-19. Continua por exemplo a ser obrigatório o uso de máscara na via pública e nos locais fechados, mas por outro lado, é doravante possível participar em eventos culturais e políticos como comícios e reuniões, desde que sejam respeitadas as distâncias de segurança de um mínimo de um metro entre cada participante devidamente protegido com máscara. O país registou desde o começo da pandemia mais de 8 mil casos e cerca de 170 óbitos, as autoridades sanitárias estimando que a taxa de prevalência está situada em um pouco mais de 6%. Em entrevista recentemente concedida em Bissau à RFI, Plácido Cardoso, secretário do Alto-Comissariado para a covid-19 evocou o objectivo de se chegar aos 70% da população adulta com o quadro vacinal completo até ao final do ano, deu conta dos meios de tratamento e também de diagnóstico de que a população guineense dispõe actualmente. «A gestão clínica tem sido melhorada com a formação e equipamento dos diferentes centros de isolamento. Isso é um aspecto importante que vai em direcção ao nosso propósito de fazer da pandemia um meio de reforço do Sistema Nacional de Saúde» refere este responsável que por outro lado garante que «a disponibilização de oxigénio» para os casos mais graves «é maior do que em outros momentos» e que «quase todos os centros de tratamento têm à disposição botijas de oxigénio». Questionado sobre as consequências dos bloqueios que têm ocorrido no sector da saúde, Plácido Cardoso reconhece que «efectivamente tem tido um importante impacto na resposta à covid na Guiné-Bissau. Algumas vezes, tem faltado um ou outro técnico importante na assistência mas, têm-se desenvolvido intervenções alternativas para suprir essas faltas» com «médicos existentes no próprio país», este responsável recordando contudo que o país teve «assistência técnica recrutada por iniciativa da OMS» e que «em algum momento, houve o apoio das equipas médicas cubanas». No tocante às operações de vacinação, Plácido Cardoso refere que até ao final do ano passado se tinha chegado a uma taxa de imunização de 49% da população adulta, a meta sendo de chegar aos 70% até ao final de 2022. Este responsável não deixa contudo de reconhecer que algumas metas não foram atingidas, «porque o processo de vacinação começou um pouco tarde. Tivemos dificuldades não só na disponibilização das vacinas mas também na mobilização dos técnicos de saúde para essa actividade. Esperemos que as coisas se normalizem e que possamos atingir e ultrapassar as metas», conclui Plácido Cardoso.

    Lab in a Suitcase, o laboratório portátil criado em Portugal com o contributo dos PALOP

    Play Episode Listen Later Feb 25, 2022 9:54


    O Lab in a Suitcase é um laboratório portátil, de baixo custo e fácil manutenção que permite a realização de actividades educacionais e de investigação científica de forma independente e resulta de uma iniciativa pioneira promovida pelo IGC – Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, Portugal. O projecto do IGC foi criado em parceira com investigadores e professores dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e contribui para a democratização da ciência, impulsionando a investigação científica e o ensino da ciência de forma mais inclusiva e global. Para ficarmos a saber um pouco mais sobre o Lab in a Suitcase, que já está a ser usado com sucesso nos PALOP, a RFI foi até ao IGC e falou com a coordenadora do projecto Lab in a Suitcase, Leonor Ruivo, e com o responsável pelo serviço de Making e Micro fabricação do IGC, Jorge Carvalho. Equipa Lab in a Suitcase: Nuno Moreno, Leonor Ruivo, Jorge Carvalho, Yara Rodrigues, Bernardo Monteiro, Carolina Almeida, Joana Sá. Lista de investigadores parceiros: • Baltazar Cá, Projecto de Saúde de Bandim, Guiné Bissau • Dizimalta Miquitaio e Milagre Américo Pele, Universidade de Púnguè, Moçambique • Hailton Lima, Universidade de Cabo Verde • Hugulay Maia, Universidade de São Tomé e Príncipe • Lara Gomez, Universidade Jean Piaget de Cabo Verde • Neidy Rodrigues, Universidade de Cabo Verde • Osuwela, ONG, Moçambique • Yara Rodrigues, Universidade Técnica do Atlântico, Cabo Verde https://www.facebook.com/PGCD.IGC/videos/819805095407066/ https://gulbenkian.pt/ciencia/pt-pt/lab-in-a-suitcase/como-fazer/