Podcasts about partido comunista portugu

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Jones Manoel
Galípolo: ricos decidem futuro do país | Lula esmaga universidades federais | 26.5

Jones Manoel

Play Episode Listen Later May 26, 2025 204:03


O Manhã Brasil desta segunda (26), com o jornalista Mauro Lopes como âncora, tem os seguintes destaques: 1) Gabriel Galípolo afirmou na sexta em evento da FGV que Haddad foi “um democrata” por “ouvir o mercado” e revogar o aumento do IOF para investimentos no exterior. Para ele, democracia é o reino da escuta e decisão dos ricos; 2) Governo Lula 3 realiza ação violenta contra as universidades e institutos federais, sufocando-as com um corte de recursos que chega a 40% do orçamento do anoPessoas convidadas:Roberto Leher, professor da Faculdade de Educação da UFRJ, ex-presidente do ANDES-SN (2000-2002), ex-reitor da UFRJ (2015-2019)Felipe Cezimbra, analista de relações internacionais e jornalista da Multipolar Tv (Portugal)Hugo Dionísio, advogado, militante do Partido Comunista Português e fundador do canal Multipolar Tv (Portugal)

Legislativas 2024: todos os debates
Inês Sousa Real (PAN) vs Paulo Raimundo (CDU)

Legislativas 2024: todos os debates

Play Episode Listen Later Apr 23, 2025 32:21


Rumo às legislativas de 18 de maio, continuam os debates entre líderes políticos. Frente a frente estão Inês Sousa Real, porta-voz do Pessoas–Animais–Natureza, e Paulo Raimundo, secretário-geral do Partido Comunista Português. Oiça aqui o debate, com moderação do jornalista João Póvoa Marinheiro, transmitido na CNN Portugal.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Legislativas 2024: todos os debates
Paulo Raimundo (CDU) vs Pedro Nuno Santos (PS)

Legislativas 2024: todos os debates

Play Episode Listen Later Apr 21, 2025 32:07


Rumo às legislativas de 18 de maio, continuam os debates entre líderes políticos. Frente a frente estão Paulo Raimundo, secretário-geral do Partido Comunista Português, e Pedro Nuno Santos, secretário-geral do Partido Socialista. Oiça aqui o debate, com moderação do jornalista Hugo Gilberto, transmitido na RTP1.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Legislativas 2024: todos os debates
Paulo Raimundo (CDU) vs Rui Tavares (Livre)

Legislativas 2024: todos os debates

Play Episode Listen Later Apr 9, 2025 32:27


Rumo às legislativas de 18 de maio, continuam os debates entre líderes políticos. Frente a frente estão Paulo Raimundo, secretário-geral do Partido Comunista Português, e Rui Tavares, porta-voz do Livre. Oiça aqui o debate, com moderação da jornalista Nelma Serpa Pinto, transmitido na SIC Notícias.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Legislativas 2024: todos os debates
Luís Montenegro (AD) vs Paulo Raimundo (CDU)

Legislativas 2024: todos os debates

Play Episode Listen Later Apr 7, 2025 32:34


Arrancou esta segunda-feira, 07 de abril, a série de debates entre líderes políticos, rumo às legislativas de 18 de maio. Ouça o frente a frente entre o presidente do Partido Social Democrata, Luís Montenegro, e o secretário-geral do Partido Comunista Português, Paulo Raimundo, no primeiro dia da série de debates políticos. A moderação foi da jornalista Sara Pinto, com transmissão na CNN Portugal.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Legislativas 2024: todos os debates
A caminho de 2025: Nelma Serpa Pinto entrevista Paulo Raimundo, do PCP

Legislativas 2024: todos os debates

Play Episode Listen Later Apr 2, 2025 17:36


A caminho das Legislativas 2025, a SIC Notícias publica em podcast as entrevistas aos líderes partidários conduzidas pela jornalista Nelma Serpa Pinto, antes de começarem os debates televisivos. Neste episódio, é convidado Paulo Raimundo, do Partido Comunista Português. Subscreva este podcast e oiça de 07 a 28 de abril todos os confrontos entre os candidatos dos partidos que vão a votos a 18 de maio deste ano.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Clandestinos
Branca Carvalho: no 1.º de Maio distribuiu panfletos que fez na clandestinidade

Clandestinos

Play Episode Listen Later May 1, 2024 27:05


Branca Carvalho até se riu quando viu a propaganda que o irmão mais velho tinha para distribuir no 1.º de Maio de 1974, no Porto. “Abaixo a vida cara! Fim às criminosas guerras coloniais! Por aumentos de salários e melhores condições de vida! Abaixo o Governo fascista! Façamos do 1.º de Maio uma grande jornada de luta!” Passara quase um ano a trabalhar para o Partido Comunista Português (PCP) na clandestinidade. Numa divisão da casa que partilhava com um camarada, em Valbom, Gondomar, tinham montado uma tipografia.  Esta é a história de Branca Carvalho. Clandestinos é uma série coordenada por Inês Rocha que termina neste Primeiro de Maio. Cada episódio traz um jornalista e uma história diferente.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Vida em França
Antigo jornalista do Le Monde lança livro sobre a "Revolução dos Cravos"

Vida em França

Play Episode Listen Later Apr 25, 2024 38:03


O livro “La Révolution Des Oeillets Au Portugal – Du pouvoir populaire au pouvoir parlementaire” ["A Revolução dos Cravos em Portugal – Do poder popular ao poder parlamentar"] de José Rebelo e Maria Inácia Rezola, é lançado, em França, na semana dos 50 anos do 25 de Abril. A obra junta meia centena de reportagens, escritas entre 1975 e 1976 por José Rebelo, então correspondente do jornal francês Le Monde em Lisboa, acompanhadas por uma contextualização histórica. Oiça aqui a entrevista. RFI: Foi para o exílio, em Paris, em 1969, e entra no jornal Le Monde em 1972. Qual foi o ambiente na redacção no dia 25 de Abril de 1974? E como é que era essa primeira página de há 50 anos?José Rebelo, Autor de “La Révolution Des Oeillets Au Portugal – Du pouvoir populaire au pouvoir parlementaire”: O ambiente foi extraordinário, sobretudo da parte de alguns jornalistas franceses do Le Monde que já tinham ido a Portugal. Penso no Marcel Niedergang que conhecia bem Portugal e tinha as suas fontes de informação em Portugal. Foi ele que se encarregou nesse dia de tratar a questão portuguesa. A questão portuguesa ocupou a primeira página do jornal com títulos a toda a largura, à excepção de 'Bulletin Français' que vinha sempre à esquerda, mas em todas as outras colunas o título dizia respeito à revolução, que não se sabia ainda muito bem como é que ela ia ser dirigida. Mas o que se noticiou logo no dia 25, desde a primeira edição do Le Monde, foi que havia um movimento militar em Portugal e que a queda do regime era iminente.Volta para Portugal quando o Le Monde decide criar o posto de correspondente permanente em Lisboa. Inicia funções em Janeiro de 1975 e conta que a partir daí viveu “o período mais exaltante” da sua vida. Porquê?Exactamente. E é, aliás, por isso que escolhemos este período de 1975 e 76. Durante este período, eu escrevi cerca de 240 artigos e nós escolhemos 53 que consideramos mais significativos. E porquê? Porque 1975 foi o período da explosão popular. Foi sobretudo após uma tentativa de golpe de Estado da direita, o 11 de Março. E aí as posições radicalizaram-se à esquerda. Foi quando começaram as ocupações de casas que tinham sido deixadas pelos proprietários, muitos dos quais fugiram para Espanha, para o Brasil. Foi nessa altura que começaram as ocupações das fábricas que passaram a ser geridas por comissões de trabalhadores. Foram ocupadas propriedades agrícolas no Alentejo, os grandes latifúndios, com a criação de unidades colectivas de produção. O Partido Comunista tinha uma posição forte junto destas comunidades, impulsionando e encorajando essas ocupações. Mas o movimento alargou-se muito, não era só o Partido Comunista. Houve uma multiplicidade de organizações da esquerda mais radical que participavam também neste movimento. E, sobretudo, o que é extraordinário é que havia gente que se manifestava e gente que gritava nas ruas sem pertencer a nenhum partido. Foi uma espécie de libertação das vozes e das utopias das pessoas que pensavam que conseguiam tudo realizar e que se juntavam. Juntava-se um grupo e ocupava, mesmo sem ser com um partido político a apoiar. Nessa altura fala-se muito do poder popular, o poder popular que extravasa as próprias dimensões partidárias.O PREC, Período Revolucionário Em Curso, foi marcado por confrontos políticos e pela rivalidade entre a legitimidade revolucionária e a legitimidade eleitoral. Mas o que é certo é que viu emergir esse tal poder popular que levou a que muitos acreditassem que essa via revolucionária popular pudesse vencer. Sentiu isso?Sim, eu senti. Não estava muito claro o que é que as pessoas queriam efectivamente fazer, qual era o modelo político. Quase que podíamos pensar nesse modelo mais pela negativa do que pela positiva, isto é, pensava-se democracia, sim senhor, mas não na democracia tradicional europeia. Daí que alguns grupos e até mesmo militares fossem apelidados de terceiro-mundistas porque pensavam um bocado naquele sonho do terceiro mundo. Não havia uma ideia muito clara quanto às instituições a criar, mas havia uma vontade clara que era de fazer alguma coisa de diferente. No género de economia directa, das tomadas de decisão por grupos de trabalhadores informais, etc, sem serem enquadrados politicamente. Foi extraordinário. Depois, há uma confrontação entre duas legitimidades: a legitimidade eleitoral, sobretudo pelo Partido Socialista, e a legitimidade revolucionária, sobretudo pelo Partido Comunista. O Partido Comunista, que invocava, para defender a sua posição como expressão da legitimidade revolucionária, a resistência contra o salazarismo e os seus heróis e os anos que passaram na cadeia e as torturas a que foram sujeitos. O Partido Socialista não tinha este passado. O Partido Socialista tinha sido criado na Alemanha pouco tempo antes.      O que sucedeu foi que, em 25 de Abril de 1975, um ano imediatamente após a Revolução dos Cravos, houve eleições para a Assembleia Constituinte e o Partido Socialista teve um resultado absolutamente inesperado que ultrapassou os 37%. Quer dizer, as pessoas tinham um bocado a ideia que o poder estava na rua e, portanto, atribuíam ao Partido Comunista uma grande força junto do povo, que não se traduziu em termos eleitorais. Em contrapartida, o PS, que até então estava mais ou menos ausente dessas manifestações de rua, foi o PS que captou essa maior atenção eleitoral. E isso permitiu ao PS assumir-se como representante dessa legitimidade eleitoral. E deu-se a eclosão do chamado 'caso República' que teve uma grande repercussão, nomeadamente em França.Porque foi acompanhado pelo Edgar Morin?Edgar Morin e muitos outros intelectuais que discordavam das posições que o Le Monde teve em relação ao caso República. Quer dizer, houve várias posições no Le Monde, mas a posição dominante não coincidia com a opção do Partido Socialista. O Partido Socialista dizia que o caso República tinha sido uma tentativa do Partido Comunista Português - e diz isso no estrangeiro - para pôr fim à única voz socialista que havia em Portugal. Quando falavam em Portugal, os socialistas diziam que era uma tentativa do Partido Comunista para pôr fim à única voz independente que existia em Portugal. Portanto, mobilizava o discurso.               O Le Monde tinha uma posição diferente a esse respeito, achou que aquilo foi um movimento provocado não pelo Partido Comunista porque já havia muito poucos jornalistas do Partido Comunista. Foi muito mais provocado pelos operários da gráfica, que já vinham de antes, muito antes, e que eram sobretudo republicanos antifascistas. Eles não queriam era um jornal conotado politicamente, nem com o PCP, nem com o PS. Eram republicanos antifascistas e queriam um jornal independente. E depois havia núcleos de extrema-esquerda na administração e foram sobretudo esses núcleos que se impuseram.O Partido Comunista já tinha retirado do jornal República praticamente todos os seus jornalistas que foram transferidos para o Diário de Notícias. Na altura, o Partido Comunista não podia denunciar o que se passava porque denunciar o que se passava era pôr-se em oposição também ao poder popular. São antigas as divergências entre o Partido Comunista e os partidos da esquerda radical ou da extrema-esquerda. Não podia apoiar a extrema-esquerda, mas também não se podia pôr em oposição porque senão perdia uma boa parte da sua base de manifestações, de ocupações, etc.Todo este caso vai marcar o "Verão Quente". O ímpeto revolucionário calou-se a 25 de Novembro de 1975, depois do tal braço-de-ferro marcado por ameaças de guerra civil em Portugal. Numa das reportagens publicadas no livro, o José Rebelo relata que Mário Soares acusou os comunistas e os seus alegados aliados militares de "tentativa de instauração de uma ditadura totalitária" em Portugal. Esta acusação era fundamentada? Sentiu que, de facto, havia esta ameaça de guerra civil ou foi algo instrumentalizado pelos partidos?Eu, pessoalmente, nunca senti que houvesse essa ameaça. Poderá ter existido, mas eu, enquanto jornalista, nunca senti esse risco de um golpe de Estado comunista. Nunca achei que o Partido Comunista tivesse força suficiente para se impor e para tomar o poder em Portugal. Mas houve quem pensasse isso e, se calhar com algum fundamento. Eu não posso negar a existência de algum fundamento nessa espécie de acusação. Eu pessoalmente, não sentia, mas poderá ter acontecido.Parece-me que o Partido Comunista teve mais força e foi mais apoiado pela União Soviética até à independência de Angola. Portanto, o que interessava para os partidos dos outros países que davam o seu apoio ao Partido Comunista era sobretudo a descolonização e a forma como ela se iria fazer. Quando Angola se torna independente, o suporte do Partido Comunista enfraquece. Aliás, é nessa altura também, pouco depois da independência de Angola, que se dá o 25 de Novembro, que é a confrontação entre as duas alas militares, a ala mais radical e a ala mais moderada.E há muitas versões do 25 de Novembro. O que é certo é que o Partido Comunista Português guardou uma atitude de relativa passividade e de muito silêncio em relação ao 25 de Novembro. Ele não se colocou ao lado da ala radical dos militares para evitar a confrontação. Havia dois sectores, sobretudo um onde ele era muito forte, que é o da área dos fuzileiros navais que eram muito controlados por um dos almirantes da esquerda radical, que é o Almirante Rosa Coutinho. E os fuzileiros nunca saíram da sua base.Portanto, as pessoas podem interrogar-se e interpretar das maneiras mais diferentes que se possa imaginar esta atitude relativamente passiva do Partido Comunista. Será que ele não tinha forças para intervir ou será que ele, por análise da própria relação de forças, sentia que já não tinha condições para se impor e preferia a adopção de uma medida que salvaguardasse a sua existência em Portugal? Foi o que aconteceu porque no dia seguinte ao 25 de Novembro, um dos militares, Melo Antunes, que é um dos mais importantes militares do Conselho da Revolução, veio à televisão dizer "Viva a democracia, salvámos o 25 de Abril, mas não pode haver democracia em Portugal sem o Partido Comunista Português". Portanto, foi salva a situação. Quer dizer, não houve, na sequência do 25 de Novembro, um avanço da direita que afastasse claramente o Partido Comunista Português do leque partidário nacional. O Partido Comunista Português continuou a apresentar-se a eleições e a ver os seus resultados eleitorais cada vez mais enfraquecidos.Por que é que as utopias revolucionárias do poder popular desaparecem depois do 25 de Novembro?Quer dizer, já antes aquelas clivagens entre partidos políticos e facções dentro dos militares iam acentuando um clima desagradável. As manifestações contra as condições de vida aumentaram. Por exemplo, nas vésperas de 25 de Novembro, os operários da construção civil cercaram o Parlamento. Aliás, eu fiquei lá dentro e foi do lado de dentro do Parlamento que ditei o meu artigo para o Le Monde pelo telefone da Assembleia da República!Já havia um certo 'clima de malaise', como dizem os franceses, mas depois, quando a situação mudou ao nível do governo, os militares que ganharam no 25 de Novembro, nomeadamente o general Eanes que os comandava, apareceram como os grandes vencedores. Isto contribuiu muito para enfraquecer o movimento que tinha bases pouco organizadas. Então, começaram a acontecer problemas às empresas auto-geridas porque elas podiam produzir enquanto tivessem tecido e também se houvesse importadores. Não havendo importadores, nem havendo onde comprar tecidos, a produção não se podia fazer, de modo que as empresas foram ocupadas mas acabou por acabar ao fim de alguns meses por haver grandes problemas de produção. O mesmo se passa noutros sectores industriais por falta de matéria-prima e falta de comercialização dos produtos que eram produzidos no interior dessas unidades produtivas. Nos campos é a mesma coisa.Mas há um exemplo que dá que é um exemplo de sucesso. Publica uma reportagem, em Dezembro de 1976, de unidade colectiva de produção chamada "a esquerda vencerá", em Pias, no Alentejo. Quer falar-nos sobre esta conquista colectiva derivada da Reforma Agrária?Essa é uma unidade colectiva de produção dirigida por um antigo operário agrícola que se chamava Manuel Carvalho. Eu acho que ele pertencia mesmo ao Partido Comunista Português, tinha uma grande actividade, um grande dinamismo e é muito bem aceite pela comunidade dos trabalhadores que formavam aquela unidade colectiva. Ele, como outros dirigentes de unidades colectivas, fizeram pequenos cursos de meses na República Democrática Alemã e vinham com cursos de aprendizagem acelerada. O que contava, essencialmente, era a capacidade que eles tinham de lidar com os militantes que formavam as unidades exclusivas de produção e beneficiavam também de algum apoio do Partido Comunista enquanto organização do Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas.Quando se começou a desfazer tudo, eles começaram a ver que isto não levava a parte nenhuma. Um ano e tal depois, houve uma reforma agrária que começou a restituir terras aos pequenos proprietários e as unidades colectivas de produção começaram a desfazer-se. Houve algumas que subsistiam, nomeadamente uma chamada Torre Bela que subsistiu durante mais algum tempo.  A Torre Bela era estrategicamente uma unidade de produção muito importante porque estava no limite da metade norte de Portugal, onde predominava o minifúndio, e da metade sul dominada pelo latifúndio. Essa unidade colectiva de produção era dirigida por um revolucionário de um partido político que vinha de antes do 25 de Abril, Camilo Mortágua.     Que era da LUAR, a Liga de União e Acção Revolucionária...Que dirigia a LUAR, exactamente. Era muito interessante porque ele tinha uma forma de organizar aquela unidade colectiva e de os trabalhadores se reunirem todos os dias. Eles ocuparam uma grande propriedade que pertencia, se eu não me engano, aos duques de Lafões, que se foram embora. Foi a gente mais pobre da aldeia e homens com hábitos de alcoolismo e tudo isso que vieram a formar a cooperativa. Camilo Mortágua, todos os dias, à noite, reunia todos na sala de jantar do solar dos duques de Lafões, para dizer: "Bom, então o que é que vamos fazer amanhã?" E eu lembro de uma mulher uma vez dizer: "Ai, muitos de nós que somos católicos queríamos abrir a capela, podemos fazer uma pequena limpeza..." E ele disse: "Não. Se há muita gente, se a gente quer usar a capela, não tem que fazer uma pequena limpeza, tem que se limpar tudo integralmente porque a capela tem que estar em condições de as pessoas a utilizarem como um local de acolhimento e por isso tem que estar integralmente limpa." Foi ele mesmo que incentivou. Isto é quase um dos casos emblemáticos de uma reforma agrária que não era controlada pelo Partido Comunista, era esta esquerda utópica, mas que que revelou também um movimento popular absolutamente insuspeitável.O último artigo do livro é datado de 29 de Outubro de 1982 e fala sobre o fim do Conselho da Revolução, mas, sobretudo, fala das críticas dos Conselheiros da Revolução quanto ao Presidente Ramalho Eanes que reintegrou salazaristas no aparelho militar e não manifestou "o mesmo espírito de abertura" em relação a militares envolvidos no "entusiasmo revolucionário de 75 e 76". Escreve, também, que o ministro do Interior da ditadura, o general Schulz, foi declarado inocente e que a Justiça ia abrir um inquérito à forma como ele foi detido depois do 25 de Abril. A dada altura escreve "Os cravos estão decididamente murchos". Porquê?Bom, a dissolução do Conselho da Revolução, em 1982, é o último episódio daquele sonho revolucionário de 1975. Essas reacções vêm sobretudo do grupo dos militares mais radicais que foram derrotados no 25 de Novembro. O general Eanes representa aquele grupo de militares mais moderados e que eram contra esta ala radical. Houve receio que aquilo implicasse uma reviravolta total na relação de forças e houve desconfianças em relação ao próprio general Eanes quanto à sua orientação política e que ele fosse finalmente a expansão da direita militar.Ele foi o primeiro Presidente da República eleito, apoiado pelo Partido Socialista e pelos partidos que estavam à direita do Partido Socialista, o Partido Popular Democrático e o Centro Democrático Social. Depois, foi ele que proclamou, desde logo, que o momento tinha chegado de fazer regressar os militares às casernas. Portanto, fazer regressar os militares às casernas era acabar com o mito dos capitães.Mas as coisas alteraram-se porque, felizmente para Portugal, não houve um volte-face tão radical. O general Eanes, que em 1975 e nas eleições de 1976 aparecia como representante da direita, foi-se alterando. Mesmo fisicamente. Ele usava umas patilhas muito compridas, uns óculos de lentes grandes, tinha um ar hierático, muito rígido, sempre sério e tal. Depois, ele arranjou lentes de contacto, tirou os óculos, deixou de ter as patilhas compridas, perdeu aquele ar militar, aquele ar duro e passou a vestir-se civilmente como qualquer pessoa. Hoje o general Eanes é um dos grandes senadores ainda vivos de Portugal e é visto com respeito nos mais diversos meios, inclusivamente dentro do Partido Comunista.E o Otelo Saraiva de Carvalho, que também entrevistou antes das presidenciais de 1976, como é que vê a forma como a História e como Portugal o tratou? Ele que libertou Portugal da ditadura?Enquanto o general Eanes e outros generais como o Melo Antunes eram pessoas que tinham uma ideia mais clara quanto àquilo que importava fazer, o Otelo era - até pelo próprio nome - o homem das acções espetaculares. Ele foi fundamental no 25 de Abril, foi o ilustre estratega do 25 de Abril, mas depois tanto dizia que ia meter os sociais-democratas e a direita toda na Praça de Touros de Campo Pequeno (o que fazia com que as pessoas se lembrassem logo do Chile de Pinochet), como dizia, quando se deslocou a um país nórdico, que Portugal iria ter sucesso como um país social-democrata. Portanto, ele era uma pessoa extremamente simpática, extremamente afável, eu era muito amigo dele, mas ele perdeu um bocado o pé depois do 25 de Novembro.Era alguém que gostava de estar sempre na boca de cena. Estava sempre ali sobre o palco e quando perdeu este poder que tinha enquanto chefe do COPCON, cometeu alguns erros graves, como dar cobertura - não digo que ele era dirigente - a grupos de esquerda mais radicais que foram responsáveis de alguns atentados terroristas. Não creio que ele fosse dirigente desses grupos, mas de alguma forma, alguns dirigentes desses grupos reclamavam-se dele e ele olhava-os com complacência, digamos. E quando ele perdeu esse grande prestígio e passou a não ter funções importantes do ponto de vista militar, acabou por ir para o outro lado. Foi condenado a 12 ou 13 anos de prisão, acabou por fazer metade da pena porque houve muitos dirigentes políticos estrangeiros, incluindo François Mitterrand, que fizeram pressão junto do primeiro-ministro de então, o doutor Mário Soares, no sentido de ele ser liberto.Essa justiça também se fez em relação aos torcionários e aos antigos dirigentes do Estado Novo?Não, eu diria que não. Aliás, foram poucos os que foram presos e mesmo uma grande parte dos que foram presos fugiram da prisão de Alcoentre. E é muito estranho como é que, de repente, 80 e tal presos acusados de pertencerem à polícia política fogem. Há várias coisas que se cruzam. Há o pensamento dos militares que o melhor é esquecer essa história toda, não vamos começar com represálias porque nunca se sabe onde é que acabam as represálias e o melhor é deixar isto esquecido. Não houve essa perseguição de elementos da PIDE e houve alguns dirigentes da polícia política que depois apareceram, incluindo um que é responsável pela morte do general Humberto Delgado que foi o último candidato democrata às eleições presidenciais em Portugal e que foi assassinado em Espanha, perto da fronteira com Portugal.Parece que há dois pesos e duas medidas em relação ao Otelo Saraiva de Carvalho e aos antigos responsáveis da ditadura… Porque a situação também se modificou.  A partir do 25 de Novembro, a direita portuguesa pôde aparecer livremente, enquanto que antes toda a direita se refugiava por detrás do Partido Socialista Português.O que é que pensa de este ano terem sido eleitos 50 deputados da extrema-direita e o vice-presidente da Assembleia a ser um antigo membro do MDLP, responsável por vários atentados no pós 25 de Abril?E foi por esse partido. O Chega, em poucos anos, passou de um deputado para 50 deputados, num parlamento que conta 230 deputados. É algo que mostra o mal-estar em Portugal em sectores como a educação, como a saúde, como a habitação, nas forças policiais que ganham salários de miséria. Há descontentamento e o que aconteceu é que aparece um partido populista de extrema-direita que promete tudo e mais alguma coisa.Quer dizer, aconteceu em Portugal, o mesmo sucedeu em França, sucedeu na Holanda, sucedeu em Espanha, sucedeu na Áustria, está a suceder na Alemanha, etc. Direi até que em Portugal sucedeu um bocado mais tarde talvez porque a democracia em Portugal vem na sequência de um acto revolucionário, contrariamente ao que sucedeu nos outros países onde a extrema-direita progrediu rapidamente e muito mais cedo. Portanto, o que sucede em Portugal, neste momento, é algo que que sucedeu também nos outros países. Mas eu direi que mais de 80% dos portugueses votaram por partidos democratas, mesmo a direita que está no poder actualmente é um partido de direita que respeita as regras da democracia, enquanto o Chega diz-se anti-regime, contra a Constituição, contra o 25 de Abril e tudo isso. E a direita há-de continuar a defender o 25 de Abril.Ou o 25 de Novembro...E o 25 de Novembro. Aliás, a direita considera que já não haveria o 25 de Abril se não tivesse havido o 25 de Novembro. Mas o que é certo é que continua a respeitar o 25 de Abril, ao passo que este partido de extrema-direita não. Ele afirma-se contra o 25 de Abril.Há historiadores que defendem que o 25 de Abril foi um golpe de Estado militar que o povo na rua transformou em revolução. O que foi para si a "Revolução dos Cravos"?Essa interpretação é também a minha. O golpe militar inicialmente teve uma dimensão sobretudo corporativista. Havia, por um lado, um grupo de militares de alta patente, coronéis, generais e tal, que consideravam que o Governo de Marcello Caetano não tinha condições para encontrar uma solução que resolvesse a situação porque a posição não era de independência das colónias, era de uma autodeterminação, de uma independência relativa, de tal forma que as colónias pudessem ter alguma autonomia política, mas todas elas no seio de uma comunidade portuguesa que continuasse a ser dirigida por Lisboa. Em Moçambique, até havia quem pugnasse por uma independência do norte de Moçambique, a norte do Zambeze. O livro que Spínola publicou, “Portugal e o Futuro”, um ano antes, já mostrava esse descontentamento e achava que já não havia condições para o Governo português poder resolver a situação africana.Depois, havia um grupo de militares que protestava pelas suas condições de existência, por dificuldades de imaginar a carreira, até porque o Governo português tinha sido obrigado a recrutar estudantes universitários recém-licenciados que partiam todos para as colónias com o título de tenentes e de capitães quando faziam mais do que uma missão em África. Portanto, os capitães de carreira reagiam mal ao verem os capitães que não eram profissionais, que eram universitários e que acabavam por ter as mesmas regalias que eles.Terceiro aspecto, esses universitários que se tornaram capitães, tenentes, etc, também têm um papel de doutrinação política, ideológica junto de muitos oficiais de carreira.Portanto, temos oficiais de carreira que estão dispostos a alinhar numa tentativa de golpe de Estado porque as suas carreiras não oferecem um futuro conveniente; temos oficiais de carreira que alinham também no golpe de Estado porque estão politicamente doutrinados à esquerda pelo seu contacto com os não profissionais que vêm da universidade; e depois temos tenentes, coronéis, generais que também alinham num golpe de Estado para encontrar uma solução que não seja de independência integral para as antigas colónias. Durante bastante tempo estes três grupos coexistiram com as suas contradições, mas coexistiram.O 25 de Abril é a expressão desta espécie de compromisso tácito entre estes três grupos e o Spínola que é nomeado Presidente da República, que dirige a Junta de Salvação Nacional e que representa estes generais que entendem que não há solução dentro do regime, mas que não querem ir muito longe. Depois há as tentativas de golpe de Estado de 28 de Setembro e de 11 de Março que são levadas a efeito por esse grupo de generais. Mas cada vez que há uma tentativa dessa natureza, a ala radical dos capitães ganha posição.Depois, há a rua, há o efeito popular que é enorme. As pessoas saem à rua. Eu estava em Paris nessa altura, mas fui no primeiro voo charter que aterrou no aeroporto de Lisboa. Foi uma viagem organizada em Paris. Tive a ocasião de assistir a esse movimento e ao primeiro de Maio de 1974 que foi uma coisa absolutamente extraordinária. Os militares, os cravos nas espingardas, os cravos nas bocas dos canhões, os militares todos... E depois havia o povo todo na rua. O povo saltou para cima dos blindados.Isto teve nestes militares, tenentes, capitães jovens, um grande impacto. Sentiram-se dignificados, de repente reconquistaram o orgulho de ser militares que tinham perdido porque estavam votados a uma guerra africana que não era popular em Portugal e que aparentemente não tinha solução e que Portugal estava a perder. Portanto, eles ganham prestígio, sentem-se heróis e ganham a dignificação. E é isto também que joga um papel muito importante para que eles cada vez assumam posições mais à esquerda e que o golpe de Estado se transforme mesmo numa revolução.É um exemplo desses militares a quem nós dedicamos o livro, que é o António Marques Júnior, que era tenente no 25 de Abril e foi ele que comandou as tropas que vieram de Mafra, que é o lugar onde se preparavam todos os universitários que iriam tornar-se tenentes e capitães. Ele foi um dos mais jovens militares graduados e foi o mais jovem membro do Conselho da Revolução, que era o órgão de decisão política e administrativa formado pelos militares. Ele morreu muito cedo, morreu há uma dúzia de anos e foi a ele que dedicámos o livro porque achámos que ele representava toda aquela pureza, toda aquela vontade de fazer alguma coisa de novo, toda aquela vontade de evitar retaliações, de procurar consensos e que tudo se passasse bem ou que tudo se passasse o melhor possível.

Clandestinos
António Vilarigues, o homem que foi clandestino duas vezes

Clandestinos

Play Episode Listen Later Apr 24, 2024 29:54


António Vilarigues não entrou na clandestinidade. Nasceu na clandestinidade, fruto das circunstâncias dos pais, Alda Nogueira e Sérgio Vilarigues, dois históricos do Partido Comunista Português, que então viviam sob outras identidades. Foi assim que passou os primeiros quatro anos de vida, até que um incidente com jornais Avante clandestinos, com os quais queria brincar, obrigou os pais a decidir que seria melhor que António, hoje com 70 anos, fosse viver com a avó materna. Só anos depois saberia o seu verdadeiro apelido: Vilarigues, nome que lhe passou o pai, o homem que mais tempo passou na clandestinidade. Foram 32 anos, depois de passagens pelas piores prisões do regime, incluindo o Tarrafal.   António cresceu, tornou-se militante do partido, juntou-se com a então companheira, Lígia Calapez Gomes, com quem foi forçado a passar novamente à clandestinidade, em 1971, depois de ambos terem escapado a uma vaga de prisões da PIDE. A revolução apanha o casal numa casa nos Carvalhos, em Gaia, onde imprimiam comunicados a apelar à greve no 1º de Maio. “Só nos apercebemos do 25 de Abril às 13h30 da tarde, porque as rádios no Norte não estavam a transmitir”, diz. A Renascença passava então uma música anti-imperialista do cantor argentino Atahualpa Yupanqui. Foi essa a sua senha. Clandestinos é uma série coordenada por Inês Rocha para acompanhar neste mês de Abril e até ao Primeiro de Maio. Cada episódio traz um jornalista e uma história diferente.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Convidado
Isabel do Carmo, uma mulher de armas contra a ditadura

Convidado

Play Episode Listen Later Apr 23, 2024 23:54


Isabel do Carmo foi co-fundadora das Brigadas Revolucionárias, uma das organizações de resistência armada à ditadura portuguesa. Nos 50 anos do 25 de Abril, ela contou-nos algumas das acções mais emblemáticas das Brigadas Revolucionárias, desde o ataque às instalações da NATO, na Fonte da Telha, à destruição de chaimites destinados à guerra colonial e à largada de porcos vestidos de almirante nas ruas de Lisboa. Nos 50 anos do 25 de Abril, a RFI falou com vários resistentes ao Estado Novo. Neste programa, ouvimos Isabel do Carmo, uma das fundadoras das Brigadas Revolucionárias.“Nós resolvemos que não fazíamos papéis. Fazíamos, antes de tudo, acções. E foi assim que começaram as acções. Houve acções das Brigadas Revolucionárias quase até ao 25 de Abril. E, de facto, é a primeira organização que aparece com uma mulher na direcção”, começa por nos contar Isabel do Carmo, fundadora das Brigadas Revolucionárias.A activista e resistente nasceu em 1940 no Barreiro, uma zona operária onde palpitava, silenciosamente, a contestação ao regime. A sua militância começou muito cedo. Aos 15 anos colaborou com o MUD-juvenil. Aos 17, entrou na Faculdade de Medicina e integrou a Comissão Pró-Associação. Aos 18, entrou para o Partido Comunista Português e passou para a direcção clandestina do PCP na Cidade Universitária. Isabel do Carmo distinguiu-se, ainda, nas lutas académicas de 1962 por pedir a palavra no meio de grandes plenários universitários, focos de “poder masculino”.Eu atrevi-me! Nos grandes plenários no Estádio Universitário, onde falavam só os rapazes, eu pensei: isto não pode ser. E então subi ao palanque e pedi a palavra. Fui realmente a única, com rapazes muito aflitos de me ouvir falar e eu um bocado stressada, não é? Mas cheguei-me à frente e falei de lá de cima e disse que as mulheres não eram só o repouso do guerreiro! Que as mulheres eram o guerreiro também!Guerreira e determinada. Isabel do Carmo esteve presa duas vezes em Caxias, onde foi submetida a regime de isolamento. A primeira vez foi em 1970 e a segunda em 1972 depois de ter escrito um panfleto a denunciar a morte do estudante universitário Ribeiro Santos. Também foi aos temíveis interrogatórios da PIDE e conheceu a agente Madalena “que ficou conhecida de todas as mulheres presas porque era uma mulher completamente psicopata”. Quanto ao tempo que passou na cadeia, para ela, “a pior coisa que pode haver numa prisão é o isolamento”. “Estive num isolamento muito, muito, muito, muito grande porque havia celas voltadas para o campo e havia outras voltadas para um muro onde passeava um soldado em cima. As celas eram mesmo de verdadeiro isolamento. Tiravam o relógio, tiravam livros, ficávamos sem nada. Acho que realmente a pior coisa que pode haver numa prisão é o isolamento. Dei-me verdadeiramente mal com o isolamento”, conta.Isabel do Carmo licenciou-se e doutorou-se pela Faculdade de Medicina de Lisboa, mas foi impedida pela PIDE de integrar o corpo de assistentes da Faculdade. Fez, ainda, parte dos corpos gerentes da Ordem dos Médicos até esta ser fechada pela PIDE em Novembro de 1972. A activista esteve na comissão política da Comissão Democrática Eleitoral (CDE) de Lisboa, em 1969. Depois das "eleições", convenceu-se que era necessária a luta armada para derrubar o fascismo. Em 1970, saiu do PCP porque tinha uma posição anti-estalinista e exigia a luta armada prometida, mas ainda não cumprida. Depois disso, fundou as Brigadas Revolucionárias com Carlos Antunes, que se encontrava em Paris. A organização defendia o recurso à violência revolucionária como arma política, em estreita solidariedade com os povos que lutavam pela sua independência.  A filosofia “era abalar o regime sem matar pessoas”, sublinha.A filosofia era esta: era abalar o regime sem matar pessoas. Foi sempre, desde o princípio, uma orientação nossa que era de não provocar morte de pessoas e ter alvos que realmente abalassem o regime. Sobretudo alvos militares, visto que estávamos em guerra. Este era o núcleo da questão das acções. E, depois, era realmente incutido, dentro do conjunto da organização, esta posição anti-estalinista. Este foi o espírito. Achámos que devíamos fazer acções antes de fazer papéis, documentos e manifestos porque as pessoas gastavam muita energia a fazer papéis, a fazer documentos, a fazer textos e, às vezes, eram presas só porque estavam a fazer isso. Nós resolvemos que não fazíamos papéis. Fazíamos, antes de tudo, acções. E foi assim que começaram as acções. Houve acções das Brigadas Revolucionárias quase até ao 25 de Abril.Além de ter sido “a primeira organização que aparece com uma mulher na direcção”, houve outras mulheres nas Brigadas Revolucionárias.Houve mulheres que integraram directamente os assaltos a bancos e integraram as acções de colocação de bombas para rebentar determinados alvos. Não foram muitas as mulheres que entraram propriamente nas acções, mas todas as acções integraram mulheres. E depois, quando o movimento se alargou aos chamados católicos progressistas, houve bastantes mulheres. A sabotagem à NATO, a destruição de chaimites e os porcos almirantes nas ruas de LisboaA primeira acção das Brigadas Revolucionarias foi a sabotagem às instalações da NATO, na Fonte da Telha, a 7 de Novembro de 1971. Ocorreu poucos dias depois de a ARA, Acção Revolucionária Armada, ter colocado um engenho explosivo nas novas instalações do Quartel-General da NATO em Oeiras, o COMIBERLANT. Ou seja, em poucos dias, duas importantes estruturas da NATO em Portugal eram atingidas por dois grupos de resistência armada contra o regime ditatorial.Foi com uma grande bomba porque, nessa altura, nós não tínhamos acesso a plástico e foi o Carlos Antunes que fabricou. Eu arranjei o nitrato, vários caixotes de nitrato porque a bomba era feita de nitrato com pó de alumínio e depois com o respectivo detonador. Foi uma grande bomba com muitos caixotes de nitrato que foi moído com pó de alumínio pelo Carlos Antunes. Foi ele e uma pessoa das Brigadas do Barreiro que transportaram isto para dentro (...) Fez imensos estragos, mas foi pouco visível porque foi uma coisa subterrânea. Era num sítio completamente isolado. A NATO ficou muito alertada. Tinha havido também uma outra acção da ARA nas instalações da NATO e o regime percebeu que isto era a sério.A 11 de Julho de 1972, as Brigadas Revolucionárias realizam outra acção com grande impacto: a destruição de 15 camiões Berliet do exército que eram destinados à guerra colonial. Esta foi a primeira acção das Brigadas a atingir directamente o aparelho colonial para se oporem à guerra e para demonstrarem a solidariedade com os povos que lutavam pela sua libertação.Houve, ainda, a 1 de Janeiro de 1973, a ligação à vigília da Capela do Rato, efectuada por grupos de católicos e estudantes, e que foi acompanhada pelo rebentamento de vários petardos colocados pelas Brigadas Revolucionárias em diversos pontos de Lisboa e com a distribuição de um documento que pedia o fim da guerra colonial e apelava à deserção.Houve uma acção que foi de desmantelamento de chaimites, carros de combate, e essa foi uma grande acção. Foi simples de fazer porque aquilo tinha pouca vigilância, mas foi importante. Depois, foi também a ligação à greve da fome da Capela do Rato. Foi exactamente uma mulher das Brigadas que anunciou que iam fazer a vigília na Capela do Rato. Além dela, havia outras mulheres envolvidas em apoios, a guardar material e houve quem sofresse muito por as casas serem assaltadas e haver lá material, jornais ou copiadores.Essa acção foi divulgada pouco depois, no dia seguinte nas igrejas, mas também foi divulgada por petardos das Brigadas e foi anunciada pela Rádio Voz da Liberdade que estava em Argel. E aí houve uma internacionalização da informação sobre as Brigadas. Essa acção – que só meteu petardos, não meteu bombas, e que envolveu pessoas que umas eram das Brigadas e outras não sabiam sequer que as Brigadas estavam envolvidas - foi uma acção muito espectacular. Digamos que talvez seja aquela que mais marcou sob o ponto de vista de visibilidade.A acção mais popular acabou por ser uma largada de porcos vestidos de almirante. Estávamos a 25 de Julho de 1972, o almirante Américo Tomás era reeleito Presidente da República por um colégio eleitoral e as Brigadas Revolucionárias lançavam no Rossio e em Alcântara, em Lisboa, dois porcos vestidos de almirante. Ao mesmo tempo, eram distribuídos panfletos a denunciar a farsa eleitoral.Essa foi a mais popular de todas. Até as pessoas que largaram os porcos achavam que aquilo não ia ter graça nenhuma, mas foi a acção mais popular de todas. Eles foram comprar porcos ali a um criador de porcos do Montijo e vestiram os porcos de almirante porque ia haver mais uma eleição do Presidente da República e era uma farsa. E, portanto, os porquinhos vestidos de almirante foram largados no Rossio e depois em Alcântara e os porcos a fugirem e os polícias atrás deles deram um grande espectáculo. Teve uma grande repercussão, teve mais do que aquilo que nós pensávamos. A certa altura já recebíamos telefonemas do estrangeiro a perguntar o que é que se passava com os porcos almirantes!As Brigadas Revolucionárias foram mais longe e Isabel do Carmo conta que um soldado transportou uma bomba de plástico dentro de um queijo de Portugal para o quartel-general do exército português na Guiné-Bissau. Foi a 22 de Fevereiro de 1974. O engenho deflagrou, mas não durante a reunião das chefias militares, e provocou ferimentos com estilhaços no General Galvão de Figueiredo, na altura Comandante em Chefe na Guiné-Bissau. A acção foi também reivindicada pelo PAIGC.Era um camarada nosso que foi mobilizado para a tropa na Guiné-Bissau. Ele transportou a bomba dentro de um queijo e levou o queijo como se fosse do farnel dele. Portanto, no queijo tirou-se a tampinha de cima, o plástico foi metido dentro do queijo e o queijo fechado outra vez. E foi assim que foi levado por um soldado para a Guiné-Bissau, para as instalações da chefia da Guiné-Bissau. Foi lá que rebentou. Não matou ninguém, mas foi estar dentro do coração da guerra.E o medo nisto tudo? Havia medo? Isabel do Carmo diz que havia medo, claro, mas que nunca entrou em pânico e que cumpria todos os cuidados na clandestinidade. Sobre o manejo de armas, ela admite que não aprendeu nada porque “as armas eram muito rudimentares, eram pistolas e não é preciso muita esperteza para saber como é que uma pistola se acciona”. Quanto a Carlos Antunes, aprendeu a fazer os engenhos explosivos em França com um manual para fazer as covas das vinhas... Depois da Revolução de 25 de Abril de 1974, Isabel do Carmo foi uma das figuras mais destacadas do PREC, Período Revolucionário em Curso, mas com o 25 de Novembro verificou que o projecto revolucionário em que acreditara tinha sido derrotado. Ainda esteve presa entre 1978 e 1982, por alegada cumplicidade e encobrimento em assaltos a bancos, mas sublinha que nada foi provado. Em 2004, foi condecorada pelo Presidente Jorge Sampaio com o grau de grande oficial da Ordem da Liberdade, a mais alta condecoração atribuída aos cidadãos que contribuíram para democratizar Portugal.A reputada médica, que quis tratar da saúde da ditadura, fez ainda parte do conselho consultivo do Museu do Aljube e esteve ligada ao movimento “Não Apaguem a Memória”. Em 2017, publicou Luta Armada. Escreveu, ainda, Puta de Prisão com Fernanda Fráguas, Vozes Insubmissas com Lígia Amâncio e Histórias que as mulheres contam, entre muitos outros livros.

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As lutas estudantis contra a ditadura

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Play Episode Listen Later Apr 23, 2024 23:38


Em vários momentos, os estudantes enfrentaram o Estado Novo e as suas forças repressivas. Reclamaram liberdade de expressão e de associação, criticaram o autoritarismo do regime e pediram o fim da guerra colonial. Neste programa, ouvimos algumas pessoas que participaram nas crises académicas de 1962, de 1965 e no movimento contestatário dos liceus no início da década de 70. A luta estudantil é outro dos capítulos da resistência ao regime ditatorial português. Foi na década de 1960 que conheceu maior intensidade, radicalização e repressão.O Estado Novo teve, em 1962, um ano negro de agitação universitária e a crise académica constituiu o baptismo político de muitos jovens. O Governo de Salazar tinha proibido as comemorações tradicionais do Dia do Estudante a 24 de Março e, nesse dia, a polícia de choque invadiu a Cidade Universitária de Lisboa, carregando sobre centenas de jovens. Em reacção, os estudantes declaram luto académico, na prática, greve geral às aulas.Presente nas lutas estudantis de 1962, esteve Isabel do Carmo, que viria a ser co-fundadora das Brigadas Revolucionárias, uma das organizações de luta armada contra a ditadura portuguesa. Tinha entrado para o Partido Comunista Português com 17 anos e era dirigente estudantil. No meio dos plenários essencialmente masculinos, mostrou que as mulheres também contavam.Eu atrevi-me. Havia os grandes plenários no Estádio Universitário, onde falavam só os rapazes, rapazes meus amigos, que eu conheço bem. E eu pensei: “Isto não pode ser, isto não pode ser”. E então subi ao palanque e pedi a palavra. Fui realmente a única, com rapazes muito aflitos e eu um bocado stressada, não é? Mas cheguei-me à frente e falei de lá de cima e disse que as mulheres não eram só o repouso do guerreiro, que as mulheres eram o guerreiro também.Em Lisboa, a 9 de Maio de 1962, um plenário de estudantes aprovou uma greve de fome colectiva na cantina da Cidade Universitaria. A 11 de Maio, chegou a polícia de choque e os estudantes foram detidos, cerca de 1200 no total, segundo Helena Pato, que foi parar aos calabouços do Governo Civil junto com um grupo de 50 alunas, enquanto as centenas de rapazes foram para o quartel da PSP.Aquilo começou a encher, a encher, a encher. Era estudantes por todo o lado, sentados nas cadeiras, à beira das mesas. Lá em cima, aquilo tem uma galeria com cadeiras e mesas, montes de estudantes sentados no chão porque já não havia mais espaço. Eram 1200 e foram todos presos. Tudo preso, tudo preso!A repressão de 1962, em Lisboa e em Coimbra, acabou por aumentar a politização dos estudantes portugueses e a consciencialização de que a luta ia para além dos interesses meramente estudantis e associativos. Surgia a defesa de uma "nova Universidade" que rompesse com a perpetuação de uma elite moldada pelos interesses da ditadura e que pusesse em causa o próprio regime. Os estudantes começaram a criticar o fraco índice democrático na frequência das universidades, a guerra colonial e o autoritarismo do regime.A participar nas lutas estudantis de 1962 esteve também Fernando Rosas que, em 1965, viveu outro momento de força do movimento académico e foi preso pela primeira vez quando o governo ordena à PIDE a detenção dos principais líderes estudantis. Andava no segundo ano da Faculdade de Direito e fazia parte da direcção do sector universitário do Partido Comunista Português para o qual tinha sido recrutado em 1961. Tinha 18 anos e completou 19 na cadeia. A repressão acabaria por ser um tiro no pé do próprio regime, desencadeando uma onda de protestos no meio universitário português e com ecos fora de fronteiras. Nós fomos julgados. Foi um grande processo. Foram 30 e tal, não me lembro bem, mas 36 ou 37 estudantes presos. Juntaram-se todos os principais advogados que defendiam presos políticos em Portugal, e que trabalhavam “pro bono”, juntaram-se na defesa e o julgamento transformou-se num grande episódio da denúncia do regime, da polícia política, da situação na universidade. Depuseram, como testemunhas de defesa dos presos, figuras como Maria Barroso, o professor Lindley Cintra, uma série de personalidades ligadas à cultura e, portanto, foi um momento político que se virou contra a própria polícia política, contra o regime. Até porque combinámos entre nós, cada um de nós, denunciar na sala de audiências, apontando-os a dedo, os polícias que nos tinham torturado e, portanto, isso teve um grande impacto.Enquanto a luta se fazia em Portugal, de França vinham os ventos da contestação do Maio de 68, em que participaram muitos exilados portugueses. Nesse ano, em Portugal, a PIDE ocupou a Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico de Lisboa, acusada pelo regime de ser subversiva, e desencadeando novo “luto académico”. Em 1969, a crise académica continua e tem como epicentro a Universidade de Coimbra.Em 1971, a reforma educativa promovida por Veiga Simão determinou o encerramento de quase todas as associações de estudantes e a colocação de elementos do Ministério do Interior nas universidades, que viriam a ficar conhecidos como "gorilas". Um ano depois, a 12 de Outubro de 1972, um estudante universitário era assassinado por um agente da PIDE durante um protesto contra a repressão e o imperialismo em Económicas (actual ISEG), em Lisboa.Ainda que tenha havido uma certa fragmentação do movimento estudantil, houve lutas que continuaram, nomeadamente no ensino secundário.Octávio Espírito Santo fez o Liceu Passos Manuel, em Lisboa, onde iam parar os estudantes e professores considerados mais problemáticos para o regime. Esta foi uma escola que ele descreve como “um sítio de revolução”. Aí circulavam vários jornais, de mão em mão, a denunciar a política repressiva do ensino. Octávio integrou a CEDL, Comissão de Estudantes Democratas de Lisboa, que era uma organização ligada à CDE, Comissão Democrática Eleitoral, em tempo de eleições. Pertenceu também à organização clandestina da União de Estudantes Comunistas.Fazíamos documentos e, pronto, eu tinha a responsabilidade de encontrar contactos e falar com malta de liceus. Cada um tinha as suas tarefas (…) Por exemplo, lembro-me que depois da morte do Amílcar Cabral, sozinho, entrei à noite no Passos Manuel. Os liceus estavam fechados, mas como havia treinos da Associação de Andebol do Passos Manuel, entrei com o argumento de ir assistir a um treino. Entrei no recinto e, no outro dia, estava tudo pintado. “Contra a guerra colonial, a denunciar a morte do camarada Amílcar Cabral, contra o fascismo, por um ensino igualitário e popular.Naquela altura, havia uma multiplicidade de tendências estudantis que alimentavam a contestação nas escolas e que se movimentavam no MAEESL (Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa), criado em 1967, depois da desagregação da Comissão Pró-Associação dos Estudantes do Ensino Liceal de Lisboa.A 16 de Dezembro de 1973, a polícia do Estado Novo prendeu 151 estudantes do ensino secundário de Lisboa que se reuniam na Faculdade de Medicina. Tinham entre 13 e 18 anos e foram levados nas carrinhas da polícia para os calabouços do governo civil naquela que ficou conhecida como “a noite da carecada”. Durante a noite, 12 estudantes do ensino secundário e cinco do ensino superior são conduzidos à prisão de Caxias.Octávio Espírito Santo não foi preso porque, como era filho de um oposicionista, tinha sido aconselhado a não participar na reunião. Em contrapartida, esteve nos chamados “acantonamentos” criados para receber os camaradas que tinham estado detidos.Cada um de nós teve os seus acantonamentos para receber os camaradas que sofreram essa humilhação. Era à estudante, quer dizer, a polícia, às tantas, com aquela coisa toda, controlava certamente. Por exemplo, o meu foi na praia, ao pé da Trafaria, de noite, com fogueiras, com tendas na praia, a receber os camaradas, vindos da prisão, com canções.A resistência dos estudantes de liceu, entre 1970 e 1974, foi tema de uma exposição na Torre do Tombo, em Lisboa, intitulada “Há Sempre Alguém Que Diz Não! A oposição estudantil à ditadura no ensino secundário de Lisboa (1970-1974)” entre Dezembro e Fevereiro. A exposição vai estar, até final de Maio, na câmara municipal de Grândola. O tema é também tratado no livro “A Urgência da Palavra Impressa – A imprensa dos “intrépidos adolescentes” contra a ditadura (1970 – 1974)" de Rui M. Gomes e Jorge Ramos do Ó.Em vários momentos, os estudantes enfrentaram o Estado Novo e as suas forças repressivas. Reclamaram liberdade de expressão e de associação, criticaram o autoritarismo do regime e pediram o fim da guerra colonial. E, acima de tudo, fizeram tremer a matriz ideológica da ditadura que estava inculcada em todo o sistema de ensino português.

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Casal “revolucionário” da ARA lembra história do braço armado do PCP

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Play Episode Listen Later Apr 23, 2024 16:03


Raimundo Narciso, um dos fundadores da ARA, o braço armado do PCP que esteve em actividade entre 1970 e 1973, e Maria Machado, a esposa que ajudava a preparar os engenhos explosivos na cozinha, contaram à RFI algumas das histórias desta organização de resistência armada à ditadura. Cinquenta anos depois do derrube da ditadura em Portugal, o casal “revolucionário” recorda, ainda, como era viver na clandestinidade e na luta permanente. Nos 50 anos do 25 de Abril, a RFI falou com vários resistentes ao Estado Novo. Neste programa, ouvimos Raimundo Narciso, fundador da Acção Revolucionaria Armada (ARA), e Maria Machado, que já era combatente antifascista antes de se juntar ao futuro marido.Raimundo Narciso e Maria Machado, conheceram-se em Moscovo, nos anos 60, e escreveram juntos uma história de resistência armada à ditadura portuguesa. Hoje, aos 85 e 74 anos, contam-nos alguns desses episódios.Maria Machado trabalhou, desde jovem, na tipografia clandestina dos pais, depois integrou a Acção Revolucionária Armada, em que Raimundo Narciso era um dos membros do comando central, com Jaime Serra e Francisco Miguel. A ARA foi o braço armado do Partido Comunista Português e esteve em actividade entre 1970 e 1973. O objectivo era lutar contra a guerra colonial, derrubar a ditadura e conquistar a liberdade.“O objectivo da ARA era acções armadas contra o esforço da guerra colonial, mas com a preocupação de não atingir pessoas, de não matar pessoas. Não fazer terrorismo, nem atingir objectivos civis e, portanto, atacar apenas o aparelho militar, a estrutura militar, mas não os militares porque a ARA não queria matar ninguém”, começa por contar Raimundo Narciso.A 26 de Outubro de 1970 surgiu um comunicado que reivindicava a primeira acção armada da ARA contra o navio Cunene, em Lisboa, que era usado no transporte de tropas, armamento e mercadorias para a guerra colonial. O navio, o mais moderno cargueiro das linhas de África, foi então alvo de duas explosões.“Eles aqui tentaram abafar um pouco, mas lá fora houve repercussões”, recorda Maria Machado.Uma das maiores operações da ARA, e com enorme impacto político, foi a sabotagem na base aérea de Tancos, na madrugada de 8 de Março de 1971. A operação "Águia Real" destruiu ou danificou 28 aeronaves e helicópteros destinados às guerras nos territórios colonizados.“Foi a acção de Tancos. Fomos lá destruir os helicópteros quase todos que havia na base aérea. Aquilo foi uma coisa portentosa”, exclama Raimundo Narciso, acrescentando que se destruíram mais helicópteros do que o esperado porque estavam todos no mesmo hangar. Maria Machado recorda que a preparação dessa acçao começou na cozinha de casa.Eram bombas incendiárias que eles depois espalharam pelos helicópteros. Essas bombas fizemos nós lá em casa, com pó de alumínio, nós os dois. Fiquei toda prateada!Houve ainda, a destruição de parte do Quartel-General da NATO, em Oeiras, o Comiberlant, em Outubro de 1971, nas vésperas da sua inauguração. Era aí que passaria a funcionar um sofisticado centro de comunicações da NATO, algo que a ARA considerava como um acto de provocação e uma prova da colaboração dos países da NATO com a ditadura portuguesa e a guerra colonial. O objectivo da acção era alertar a atenção da comunidade internacional para os problemas políticos portugueses, dada a presença da comunicação social estrangeira na inauguração. Na preparação, o casal levou, inclusivamente, a filha para as imediações do local.A nossa filha também andou connosco a vigiar. Ela era pequenina, ia no carrinho e a gente andava ali, junto à estrada, a olhar para lá, para ver como é que aquilo andava, que vigilância é que aquilo tinha. Ninguém desconfiava.A ARA foi, ainda, responsável por várias outras acções que pretendiam fragilizar o regime ditatorial. A 12 de Janeiro de 1972, a organização fez nova operação contra a guerra colonial, tendo como alvo equipamento pronto para embarcar para África no navio Muxima, no Cais de Alcântara, em Lisboa. A 9 de Agosto, no dia de tomada de posse de Américo Tomás, a ARA consegue cortar a energia no país com acções de sabotagem.Todas as acçoes estão descritas no livro ARA: Acção Revolucionária Armada. A História Secreta do Braço Armado do PCP, que Raimundo Narciso publicou no ano 2000. A obra conta também o tormentoso processo da criação da ARA, a perseguição da PIDE e mostra como “as pessoas que iam para a clandestinidade” não eram “heróis, loucos ou mártires”, apenas “pessoas como as outras”, mas “talvez mais informadas, mais indignadas ou mais trituradas pelo sistema”.Enquanto preparavam e realizavam as operações, Raimundo Narciso e Maria Machado tiveram de mudar várias vezes de casa. Estavam a viver juntos, na clandestinidade, desde 1968. Em 1972 e 1973, a PIDE procurava intensamente a direcção da ARA e colocou a fotografia dos três membros do Comando Central nos jornais e na televisão, oferecendo um prémio a quem ajudasse a encontrá-los. O casal revolucionário seguia à risca as regras da clandestinidade. Ainda que Maria tenha participado no reconhecimento de várias acções e na preparação técnica de outras, muita coisa ela não sabia. Ainda assim, na cozinha, ela estava aos comandos.Ele tinha trabalho de organização, reunia com fulano, beltrano, sicrano, mas eu não. Eu estava em casa. Eu só tinha contacto com os camaradas que iam a casa reunir com ele. Reunir para discutir as coisas das acções armadas em que eu não participava também. Eu ajudava, mas, por exemplo, nem essa do Comiberlant eu desconfiei, quando andei lá a verificar as coisas com a minha filha. Eu ajudava [a preparar os engenhos explosivos], mas não tinha que saber quais eram os objectivos. Imagine, sei lá, se fôssemos presos?Estar grávida na clandestinidade foi outro desafio. O parto da filha acabou por acontecer numa maternidade pública, com muitas peripécias pelo meio e invenções de moradas e dados biográficos. Quanto ao filho, foi das últimas crianças a nascer na clandestinidade no Estado Novo, pouco tempo antes da revolução que derrubou a ditadura, a 25 de Abril de 1974.Maria Machado “mergulhou” na clandestinidade aos 11 anos. Os pais eram funcionários do PCP e tinham uma tipografia clandestina, onde ela e a irmã imprimiam, por exemplo, o Avante! e O Militante. Os pais e a irmã acabariam por ser presos meses depois de ela ter saído de casa.Eu escapei quando me juntei com ele [Raimundo Narciso] porque até à altura em que me juntei com ele, eu estava com os meus pais e a minha irmã mais nova na clandestinidade. E eu juntei-me com ele em Março de 68 e os meus pais e a minha irmã mais nova foram presos nesse ano, em Agosto. A casa deles foi assaltada e tinha uma tipografia.Por sua vez, Raimundo Narciso entrou na clandestinidade em 1964. Deixou o curso e adoptou uma identidade falsa e uma residência secreta para criar o braço armado do PCP. Nessa altura, um amigo ofereceu-lhe uma bússola para ele se orientar e, de facto, durante os dez anos de clandestinidade nunca foi preso.Ele disse: toma lá esta bússola que é para te orientares na clandestinidade.Sessenta anos depois, Raimundo Narciso mostra-nos a bússola que o orientou na luta contra a ditadura até à Revoluçao dos Cravos. Um objecto que quer doar ao Museu do Aljube, Resistência e Liberdade para que não se perca o rumo da democracia e porque “não há futuro sem memória”.

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Montenegro à procura da censura que não virá?

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Play Episode Listen Later Apr 11, 2024 10:46


Na primeira prova de fogo parlamentar do novo primeiro-ministro, o debate do programa do Governo, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos trocaram acusações de “arrogância” sobre a ausência de diálogo. Nesta sexta-feira, o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda avançam com moções de rejeição, mas o PS viabiliza Governo. Até quando?See omnystudio.com/listener for privacy information.

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Fundador da LUAR conta tempos de resistência armada à ditadura

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Play Episode Listen Later Apr 6, 2024 35:33


Armando Ribeiro era chamado “comandante” pelos companheiros e “falsificador” pela PIDE. Foi um dos fundadores da LUAR, Liga de União e de Acção Revolucionária, e, aos 80 anos, conta-nos algumas das acções deste grupo de resistência armada à ditadura portuguesa. Armando Ribeiro viveu seis anos na clandestinidade, escapou à prisão, transportou armas 3.000 quilómetros Europa fora, participou na tentativa frustrada de tomada da Covilhã e no assalto a Consulados de Portugal para obter passaportes. Nos 50 anos do 25 de Abril, a RFI falou com vários resistentes ao Estado Novo. Neste programa, ouvimos Armando Ribeiro, um dos fundadores da Liga de União e de Acção Revolucionária (LUAR).Os que o conheciam de perto chamavam-lhe “comandante”. Os que o queriam prender vociferavam: “Esse falsificador!”. Nesses tempos de clandestinidade e de luta contra a ditadura portuguesa, poucos sabiam o nome deste homem, hoje com 80 anos.O Inácio Afonso, que era um tipo da PIDE, dizia: ‘Esse fulano! Esse falsificador! A gente até vai buscá-lo a Paris se for preciso!'. Mal eles sabiam que se a gente quisesse os tínhamos liquidado! ‘A gente vai buscá-lo a Paris, esse falsificador!'. Nem conhecia exactamente o meu nome. Só conhecia ‘comandante'. Ninguém sabia o meu nome. Eu acho que nem o Palma sabia o meu nome completo.Chama-se Armando Ribeiro e foi um dos fundadores do movimento antifascista LUAR, a Liga de União e Acção Revolucionária. Um dos dirigentes do grupo era Hermínio da Palma Inácio que, em 1947, participou na sabotagem de aviões da Força Aérea; em 1961, também participou no desvio de um avião para lançar panfletos contra a ditadura sobre Lisboa e outras cidades, junto com Camilo Mortágua. Este já tinha estado no desvio do paquete Santa Maria, no mesmo ano. Ambos estiveram na linha da frente do assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, em 1967. E foi o assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz que levou à fundação da LUAR, em Paris, onde já se encontrava Armando.O jovem tinha deixado Portugal três anos antes. Estudante do Instituto Comercial do Porto, onde era dirigente da associação académica, Armando Ribeiro ficou em Paris durante uma visita de estudo de finalistas em Março de 1964 porque recusava ir para a guerra colonial combater pessoas que lutavam pela sua independência. Inscreveu-se na escola de Arts et Métiers e trabalhava à noite no PBX de um prédio. Poderia estudar durante o dia, ter uma vida boémia, mas trocou o conforto pela luta.Muito novo ainda, foi o braço direito de Hermínio da Palma Inácio, em Paris, dirigente do Conselho Superior do movimento e criador do seu símbolo - o “L”, com uma seta ascendente. Comprou armamento, transportou um arsenal de armas 3.000 quilómetros Europa fora, participou no assalto a consulados para obter passaportes e ajudou a preparar os chamados “confiscos” para custear muitas vidas na clandestinidade. Como os companheiros, pôs a vida em perigo nome de um ideal e esse ideal chamava-se LUAR.“A LUAR foi uma organização que começou pela luta armada porque todas as pessoas que integravam a LUAR já tinham participado em coisas de luta armada, como o desvio do Santa Maria. Portanto, foi aí que comecei, foi com essa gente toda”, começa por explicar, sublinhando que era uma organização apartidária, claramente “fora do Partido Comunista Português” e que defendia a acção directa e o recurso às armas para o derrube da ditadura e a restauração da democracia. As origens da LUARConta, ainda, que na génese do movimento estiveram personalidades como Henrique Galvão e até Humberto Delgado, com iniciativas de acção directa contra o regime, nomeadamente depois do “terramoto” da candidatura presidencial do “General Sem Medo”. Humberto Delgado esteve directamente envolvido na Revolta de Beja na passagem de ano de 1961 para 1962. Henrique Galvão esteve em várias outras acções com impacto internacional de grande peso, para as quais contou com o apoio essencial da dupla Palma Inácio e Camilo Mortágua.A 23 de Janeiro de 1961, exilado na Venezuela, Henrique Galvão fez tremer o regime com o assalto e desvio do paquete Santa Maria, considerado o primeiro sequestro político de um transatlântico na história contemporânea, uma acção em que participou também Camilo Mortágua. Depois, a partir do Brasil, Henrique Galvão preparou a Operação Vagô, na qual, em Novembro de 1961, Palma Inácio participou no primeiro acto de pirataria aérea da história: o desvio de um avião comercial da TAP, que fazia o percurso Casablanca-Lisboa, e o lançamento sobre Lisboa e outras cidades de panfletos contra o regime. A bordo do avião estava também Camilo Mortágua.Depois do assassínio do General Humberto Delgado, a 13 de Fevereiro de 1965, os opositores que estavam refugiados no Brasil, decidem voltar para a Europa para continuarem a acção contra o regime a partir do exterior.O Palma e uma meia dúzia que tinham participado no avião vieram para a Europa e diziam que a partir do Brasil não se pode fazer nada, é muito longe estar no Brasil e ter acções em Portugal e vieram-se instalar, sobretudo, em França e na Bélgica.A LUAR nasce quando o opositor Emídio Guerreiro, refugiado em Paris, enviou um comunicado ao jornal francês Le Monde, no qual que a LUAR reivindicava o assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, em 1967.A LUAR não existe antes do banco da Figueira da Foz. Quem deu o nome à LUAR foi depois do banco da Figueira da Foz e foi o professor Emídio Guerreiro, que estava aqui refugiado há muito tempo, mas que não pertencia à LUAR porque a LUAR não existia. Ele tinha contacto com os membros da LUAR, especialmente com o Palma Inácio e o Camilo Mortágua. Quando ele soube, quer dizer, ele imaginou que quem poderia fazer aquilo só poderia ser o Palma, não é? E então ele inventou – e bem, que é um nome bonito, LUAR - e mandou um comunicado ao Le Monde a dizer que tinha sido a LUAR que tinha feito.Armando Ribeiro participou, depois, na reunião de fundação da LUAR na casa de Emídio Guerreiro, em Paris. Dissensões internas levariam ao afastamento de Emídio Guerreiro, a que não foi alheio o destino do dinheiro da agência do Banco de Portugal da Figueira da Foz que lhe tinha sido entregue. Porém, uma parte significativa dos 29 mil contos era constituída por notas ainda não postas em circulação e só 4,7 mil contos por notas usadas, tendo outra parte sido recuperada pela PIDE com a colaboração de um infiltrado [Ernesto Castelo Branco] e apenas uma pequena parte do dinheiro se poderia cambiar por caminhos travessos.A LUAR foi um marco na história da resistência armada ao regime ditatorial português. E se um punhado de homens e mulheres dedicaram parte da sua vida a organizar acções revolucionárias para derrubar a ditadura, o preço da coragem era, muitas vezes, pago com a prisão, a tortura, o exílio. Armando não chegou a ser preso, mas, quando ia a Portugal, usava uns sapatos com uma serra no interior para poder serrar as grades da cadeia caso lá fosse parar.Sobreviver na clandestinidade implicava fintar as autoridades e isso também passou pela falsificação de passaportes e bilhetes de identidade. Armando foi um dos responsáveis por essa tarefa que passou pelo assalto a consulados de Portugal em Roterdão e no Luxemburgo em Abril e Junho de 1971. O objectivo era obter documentos de identificação, formulários e selos brancos. Na PIDE, ele ficou conhecido como “falsificador”.Em Roterdão, quando a gente lá foi, a gente não sabia que era o dia da rainha da Holanda e o Consulado estava fechado. De maneira que a gente até teve que abrir a porta ilegalmente porque não estava aberto. No Luxemburgo já foi diferente, estava a funcionar. Tomámos o Consulado e trouxemos passaportes que era o que nos fazia falta. Mais tarde, com os meios financeiros que tínhamos, criámos todo um sistema de contrafacção dos documentos. Tínhamos uma panóplia de documentos perfeitamente iguais.Os documentos falsos eram, depois, usados para os combatentes circularem e, sobretudo, como medida de precaução caso fossem controlados pela polícia.Armando Ribeiro conta, ainda, que só houve um caso em que a polícia neutralizou resistentes da LUAR sabendo, de antemão, que eram da organização. Foi depois da “Operação Primavera” [a 30 de Abril de 1969 e que consistiu na sabotagem de pilares de alta-tensão no Porto e numa explosão junto ao Consulado Americano do Porto] que a PIDE estava à espera em Irun e deteve Seruca Salgado, Júlio Alves e José Paulo Lima Matias. Mas a polícia espanhola não autorizou a extradição porque tinha bem presente o assassínio, pela PIDE, do general Humberto Delgado em território espanhol [13 de Fevereiro de 1965].Serviam para a gente, quando estava em Portugal, com vários nomes, se viesse a autoridade pedir, num controle normal - porque é evidente que se já soubessem que a gente era da LUAR não valia de nada. Mas nunca tivemos esse problema porque, contrariamente ao que se diz, nunca ninguém da LUAR foi presa com a PIDE a saber onde a gente estava. Só houve um caso, mas a prisão foi executada em Hendaia, Irun. Estava lá o Sacchetti, que era o diretor PIDE, à espera deles e eles foram presos em Espanha [Seruca Salgado, Júlio Alves e José Paulo Lima Matias]. Eles pensavam que os espanhóis os iam entregar directamente à PIDE, mas os espanhóis nessa altura não autorizaram que a PIDE pegasse neles e os levasse para Portugal porque, entretanto, o General Delgado tinha sido encontrado assassinado em Espanha. Então, eles não entregaram e esses indivíduos ficaram presos em Espanha e depois foram julgados, foram dados como políticos e, portanto, não foram extraditados para Portugal e foram recambiados para a Argélia que os recebeu. “A gente transportou armas sem nunca ter nenhum problema ao longo de 3.000 quilómetros”Poucos meses depois de vários membros da LUAR terem vivido o Maio de 68 em Paris, inclusivamente participando na ocupação da Casa de Portugal na Cidade Universitária, prepararam nova acção revolucionária: a tentativa de tomada da cidade da Covilhã, em Agosto.A Covilhã é um centro de lanifícios, industrial, e a gente ia tomar a rádio e íamos atacar os bancos todos lá, a guarda republicana, a polícia, íamos tomar a cidade e tínhamos uma declaração para fazer na Rádio Covilhã ao país e à Covilhã. E depois íamos evacuar. Não lhe posso dizer o que é que se ia passar porque nunca chegámos a isso porque o Palma, entretanto, foi preso.Ainda assim, Armando Ribeiro nega que a operação tenha sido um fracasso e diz que foi o azar que levou à detenção de Palma Inácio porque a polícia política estava longe de imaginar o que se iria passar.Não foi fracasso nenhum. Houve vezes em que a gente teve sorte, outras vezes teve azar. A intersecção deu-se em Torre de Moncorvo. Eles tinham saído para tomar um café porque não tinham comido há muito tempo. Foram ao café e, depois, o Palma meteu-se no carro em que vinha, o polícia pediu-lhe os documentos e o Palma não tinha a carta de condução. Ameaçou com uma arma e fugiu com o carro e só depois é que o carro foi interceptado. Veio a guarda republicana e pensavam que eram passadores ou contrabandistas.Armando não foi preso porque iria chegar mais tarde à Covilhã. Ele e outros transportavam “todo um armamento do último grito comprado na Checoslováquia”, com o dinheiro dos “confiscos” aos bancos e aos veículos de transporte de fundos.Fomos várias pessoas que conduziram o carro e os detonadores e todo o material bélico que a gente tinha e plástico que é um explosivo altamente sofisticado que ainda hoje se utiliza, que se chama semtex. Arranjámos automóveis com esconderijos especiais para isso e a gente trouxe. A gente não veio directo, mas de Praga a Paris são 1.000 quilómetros, de Paris a Portugal são mais ou 1.700 - 2.000 praticamente, com os caminhos ‘détournés' que a gente fez. Portanto, a gente transportou armas sem nunca ter nenhum problema, nunca foram capturadas ao longo de 3.000 quilómetros. São 3.000 quilómetros, é muita coisa, portanto, estávamos relativamente bem organizados.Depois da tentativa frustrada da tomada da Covilhã e perante a prisão dos companheiros, Armando entra na clandestinidade até à Revolução dos Cravos. Um período em que continuou a acreditar que a LUAR poderia derrubar a ditadura, tanto é que se a tomada da Covilhã tivesse funcionado, o regime poderia ter tremido: “O que se diz é que o Salazar ficou preocupado e que ainda gritou lá com os tipos da PIDE a dizer “O Palma outra vez?! Outra vez o Palma?!” A LUAR quis ser “o detonador da revolução”Na “nova concepção de luta” da LUAR, estava a violência revolucionária e acções armadas contra o regime, também com sabotagem de meios usados na guerra colonial. Porém, era rejeitado o recurso a actos terroristas e o assassínio de pessoas, mesmo se fossem agentes da PIDE. A prová-lo estão alguns episódios que Armando Ribeiro nos conta.Aqui em Paris, havia rapazes que trabalhavam em hotéis e havia um hotel que era o Lisboa que era de um tipo da PIDE. A gente tinha lá um tipo que trabalhava, que era da LUAR, e eles iam lá dormir e ele viu que eram da PIDE, uma brigada, eram três ou quatro da PIDE. Ele telefonou ao Palma a dizer: ‘Estão lá os tipos da PIDE, o que é que a gente faz? Damos-lhes um tiro?' e o Palma: ‘Não vamos dar tiro nenhum. Só nos traz problemas e não vamos resolver problema nenhum.'O mesmo aconteceu com um informador da PIDE no restaurante Ribatejo, mas Hermínio da Palma Inácio rejeitava matar pessoas porque “não se faz a revolução dessa maneira”. Um membro da LUAR chegou a ter à frente um agente da PIDE que tinha torturado barbaramente uma companheira do movimento, mas “não conseguiu disparar”.Na LUAR nunca existiu a coisa dos tiros, da violência pela violência. A gente nunca pôs bombas para matar pessoas.Depois de novas prisões, incluindo mais uma vez do chefe histórico Palma Inácio, foi preciso reafirmar os grandes princípios norteadores da organização. O objectivo era continuar a luta, avançar com acções para alertar a opinião pública nacional e internacional e continuar a publicar o jornal Fronteira, a partir de Paris. Em Janeiro de 1974, a LUAR publica o manifesto “Por uma utilização correcta dos novos métodos de luta, pela Revolução Socialista”, redigido sobretudo por Armando Ribeiro, Fernando Pereira Marques e Rui Pereira. “A gente não queria a ditadura do proletariado, éramos pela democracia directa”, reitera o seu co-autor.No fundo, a LUAR queria ser “o detonador da revolução” em Portugal e a revolução acabou por chegar, mas através do Movimento das Forças Armadas.A gente pensava que íamos conseguir ser o detonador da revolução. Quer dizer, o MFA foi isso. Eles fizeram aquilo que, se calhar, não estavam à espera. Ninguém estava à espera no 1° de Maio que houvesse um milhão de pessoas em Lisboa. O 1° de Maio foi logo a seguir ao 25 de Abril e ninguém estava à espera.O ‘comandante' afirma, mesmo, que “o programa do MFA é uma cópia do primeiro documento que a LUAR mandou para a rua, o documento número 1, com o que a gente queria fazer” e os objectivos eram “democratizar, dar a independência às colónias, acabar com a guerra colonial”.Em Abril de 1973, Hermínio da Palma Inácio e Armando Ribeiro foram à Conferência Internacional de Apoio às Vítimas do Colonialismo, em Oslo, onde se encontraram com Agostinho Neto e Manuel Jorge do MPLA, Marcelino dos Santos, da Frelimo, e os irmãos de Amílcar Cabral que já tinha sido assassinado. A revolta de Armando ainda se lê no rosto e na voz quando diz que a PIDE matou “um dos maiores dirigentes africanos do século 20” e “o maior amigo dos portugueses”. Não o conheceu, mas lembra que “houve malta da LUAR que desertava da Guiné e que o conheciam porque os desertores eram enviados para Argel e Argel é que distribuía e via se eles eram pessoas infiltradas, se eram pessoas que pura e simplesmente não estavam de acordo com a guerra, ou se se tinham lá chateado com os capitães ou com alguns tipos militares, estilo generais do tempo do Spínola e antes do Spínola”.O capitão Ernesto Melo Antunes, membro da direcção do MFA e co-autor do seu programa político, chegou a encontrar-se com Palma Inácio e Armando Ribeiro em Paris.O Melo Antunes veio falar com o Palma e disse: ‘Vocês não façam nada, eu sei que vocês estão equipados, mas vocês não façam nada porque isto agora vai mesmo para a frente'. E o Palma disse: ‘Olha, a primeira vez que eu que eu me meti nisso foi em 1947' [O Palma tomou parte e sabotou os aviões da base de Sintra em 1947] ‘Em 1947, já me vieram com essa conversa, mas está bem. Ficamos assim, vocês façam lá, andem para a frente que a gente apoia-vos'. Que eles fizessem, mas que nós íamos continuar a fazer aquilo que a gente achava porque, desde 1947, ele tinha-se metido nisso e o exército, no último momento, tinha sempre falhado.A Revolução acabou mesmo por ser feita pelo Movimento das Forças Armadas, com o apoio em massa do povo.“Os tanques todos na rua e milhares de portugueses na rua e fez-se uma revolução que é das coisas mais espectaculares que existe na segunda metade do século 20. E o resto é conversa. O 25 de Abril foi uma coisa exemplar”, resume.Depois do 25 de Abril, Armando Ribeiro fez parte da Comissão da Extinção da PIDE-DGS, ao lado, nomeadamente, do companheiro de luta também exilado em Paris Fernando Oneto. Desarmar, tratar dos arquivos e interpelar agentes da PIDE eram algumas das funções. Armando diz que, pessoalmente, só prendeu Silva Pais, que era o director da PIDE/DGS, o agente Domingues que era “o assassino do pintor Dias Coelho que a PIDE tinha morto a tiro” e um português em Paris “que era o Manuel não sei quantos que andava com o “Portugal Livre” e que andava a enganar as pessoas, a dizer que era antifascista e era um tipo que era pago pela PIDE”. Houve, ainda, um agente infiltrado da PIDE na LUAR, Ernesto Castelo Branco, que acabou por ser entregue ao MFA.Quanto aos torcionários das prisões do fascismo, Armando Ribeiro só pode condenar a actuação da justiça portuguesa: “O sistema judicial português, que ainda hoje é aquela miséria que a gente conhece, puseram-nos na rua e os PIDES todos que foram presos, depois fugiram e fizeram 30 por uma linha!”Durante mais de um ano, Portugal viveu e acreditou na sua revolução, com comissões de trabalhadores, associações de moradores, ocupações de terras e de empresas, nacionalizações, etc. Porém, a demissão, em Setembro de 1975, do primeiro-ministro Vasco Gonçalves, Capitão de Abril e rosto do Processo Revolucionário em Curso, anunciava o fim de uma época. Armando Ribeiro percebeu que o ideal revolucionário acabara e decidiu deixar novamente Portugal e instalar-se em França, onde ficou até hoje e onde nos recebe. Meio século depois, avisa: “É no solo podre que nascem os cravos”.

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Resistir com letras de chumbo e muita luta na clandestinidade

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Play Episode Listen Later Mar 31, 2024 20:47


O que foi crescer na clandestinidade durante a ditadura em Portugal? Gonçalo Ramos Rodrigues mergulhou nessa luta ainda criança e, aos 14 anos era, com a irmã, o principal “compositor” das páginas que saíam da tipografia clandestina dos pais. Aos 24 anos, foi obrigado a exilar-se em Paris, onde angariava fundos para ajudar as famílias dos presos políticos em Portugal, mas continuava a sentir a vigilância da PIDE. Gonçalo continua em França, tem 82 anos e contou-nos a sua história. Nos 50 anos do 25 de Abril, a RFI falou com vários resistentes ao Estado Novo. Neste programa, ouvimos Gonçalo Ramos Rodrigues.O que foi viver na clandestinidade durante a ditadura em Portugal? Como se lutava pelo sonho da liberdade perante um regime repressivo em que “até as paredes tinham ouvidos”? Gonçalo Ramos Rodrigues foi resistente antifascista ainda antes de saber que já o era. Também foi e é militante do Partido Comunista Português. Os pais eram do PCP desde os anos 40 e desde criança Gonçalo interiorizou comportamentos para fintar a polícia política porque "os bufos que estavam por todo o lado".Esta militância começa muito cedo, começa mesmo antes de eu saber que militava porque os meus pais eram membros do Partido Comunista Português desde os anos 40 e em 1950 ou 51 foram para a clandestinidade e levaram consigo os quatro filhos. Eu, nessa altura, tinha nove anos. E, é claro, já aí, era obrigado a ter um certo comportamento porque a polícia política estava por todo o lado e, portanto, mesmo jovem, era obrigado a dizer mentiras, ou melhor, a esconder verdades.Aos nove anos, Gonçalo acaba por deixar a escola e por pedir aos pais para aprender um ofício: começou por ser aguadeiro, ou seja, transportava um barril de água – quase tão grande como ele - para dar de beber aos trabalhadores que alcatroavam uma estrada da Moita para Palmela. Depois, endireitou pregos e coseu solas numa sapataria, mas foi, aos 14 anos, que se tornou, ao lado da irmã de nove anos, o compositor das páginas que saíam da tipografia clandestina que tinham os pais.“A actividade mais política começa quando os meus pais assumiram a gestão de uma quinta, onde passou a funcionar uma tipografia clandestina (…) Aí já estávamos na clandestinidade total”, conta. Lá imprimiram muita coisa, desde alguns números do jornal Avante, mas também folhetos e outros jornais como A Terra, Corticeiro, O Camponês, entre outros documentos. Já tinha 14 anos e a minha irmã mais nova tinha nove. Os dois, mesmo crianças, éramos os principais, digamos, compositores. Chamava-se compor os textos com as letras de chumbo que depois eram inseridas no prelo para impressão (…) Era eu quem sabia melhor o português de todos os da casa porque o meu pai quase não sabia ler, a minha mãe só aprendeu a escrever na prisão de Caxias, quando esteve seis anos presa, e a minha irmã ainda menos sabia. Quem corrigia os textos, as gralhas, tudo o que havia, era o Gonçalo.Gonçalo sempre escapou às malhas da polícia política e nem ele nem os irmãos moravam com os pais quando estes foram denunciados e presos em 1963. O pai foi para a cadeia do forte de Peniche e a mãe para a prisão de Caxias. Condenados a dois anos e meio de prisão, só saíram em liberdade em 1969 sem que os filhos, na clandestinidade, pudessem ter informações sobre eles.Como era a regra na clandestinidade, os irmãos também não podiam saber uns dos outros para não haver qualquer risco, em caso de detenção. A irmã mais nova, Veríssima Rodrigues, tinha ido para a Rádio Portugal Livre, outra arma na luta contra o fascismo, e o irmão tinha montado a sua própria tipografia.Todos os cuidados eram poucos para não cair nas mãos da PIDE e para não pôr em perigo a própria família e os camaradas do partido. Quando questionado sobre quais as estratégias que usavam, Gonçalo recorda, emocionado, o reencontro fortuito com o irmão, no Porto, depois de terem estado anos sem se verem. E isso aconteceu duas vezes. Da primeira vez, só deram um abraço. Da segunda, o irmão vinha acompanhado da família e de todo o equipamento domingueiro de pesca que indiciava que ele morava por ali. Consequência: por cautela, o partido mandou imediatamente mudar as instalações da tipografia clandestina que o irmão tinha nessa altura.É que, para viver na clandestinidade, era fundamental seguir determinadas regras e saber o menos possível da vida da família e dos camaradas porque a PIDE estava sempre à espreita e a tortura à espera nas prisões do regime.A ideia é que a pessoa pode não resistir aos interrogatórios e às torturas e pode falar. Portanto, quando menos ela souber, melhor.Outro exemplo, anos antes, quando nasceu o sobrinho, foi quando Gonçalo foi incumbido de inventar uma morada numa rua da Amadora para o registo civil, visto que os pais do bebé viviam na clandestinidade.Gonçalo acabou por estar, também, numa vida clandestina e longe da família. Ficou em Portugal até aos 24 anos e nessa altura exilou-se em França, onde teve notícias dos pais quando estava a descascar batatas numa festa do jornal comunista L'Humanité, em 1966. À sua frente, outro português, também a descascar batatas para o almoço. Ambos eram do PCP e da mesma freguesia algarvia. O camarada prometeu-lhe notícias dos pais e, no dia seguinte, chegou a informação que Gonçalo temia: o pai estava preso em Peniche e a mãe em Caxias há três anos. Foram “três anos sem nenhuma carta, nem qualquer sinal”.Os pais tinham sido denunciados por uma pessoa que estava a viver em casa deles e que quando foi presa “contou tudo”. “Esteve na origem da prisão de muitos camaradas da direcção do partido, foi uma tragédia muito grande na organização e, claro, denunciou também a casa onde vivia e os meus pais que lá viviam. A polícia foi lá, a PIDE, e levou o meu pai e a minha mãe em 1963”, acrescenta Gonçalo. Condenados a dois anos e meio de cadeia, acabaram por só sair em 1969 porque as “medidas de segurança” adicionais eram condicionadas à arbitrariedade do regime.Em Paris, Gonçalo formou um grupo de língua portuguesa da CGT para ajudar os trabalhadores portugueses e que permitia participar nas manifestações do 1° de Maio e contra a guerra no Vietname, por exemplo. Mas a sua actividade principal era angariar fundos para a comissão de auxílio aos presos políticos em Portugal. Um dia, com um grupo de camaradas, às portas de um estádio, estava a distribuir panfletos contra a guerra colonial e andavam também com mealheiros para recolher dons para os presos políticos. A polícia não autorizou e foram levados para a esquadra nos “paniers à salade” [saladeiras] - como eram conhecidas as carrinhas da polícia francesa na altura. Uma outra vez, também fizeram outra viagem até à esquadra por andarem numa feira perto de Bastilha a distribuírem manifestos em português da CGT.A sua actividade militante não passou despercebida e Gonçalo questionou-se se estaria mesmo no que tinha idealizado como “o país da liberdade”. Foi várias vezes interrogado por funcionários da então DST, Direcção de Segurança Territorial – equivalente aos serviços de informações – e desde o primeiro interrogatório percebeu que estavam bem a par do seu percurso de opositor político ao regime português. Gonçalo diz mesmo que desconfia que houve pontes entre este serviço francês e a PIDE. Certo é que, ao contrário da maioria dos emigrantes portugueses, passou nove anos a ter de renovar o título de residência temporária de três em três meses e não conseguiu a tão desejada “carte de séjour” [“autorização de residência”].Eu não sei se todas as autoridades [francesas]. Se calhar não, mas a DST penso que sim, penso que tinham relações muito estreitas com a PIDE em Portugal.O tempo foi passando, Gonçalo viveu o Maio de 68, o mês em que deveria casar com Maria do Céu no Quartier Latin, mas as manifestações e as greves adiaram a boda duas vezes. E foi alguns anos depois, no rádio do primeiro automóvel, um Renault, que chegou a notícia do 25 de Abril. Ainda que a vontade fosse muita de regressar, o partido mandou-o ficar uns tempos em Paris para assegurar a continuação da organização na eventualidade de um volte-face em Portugal. Gonçalo Ramos Rodrigues acabaria por regressar no início de 1975 para o que chama “assegurar a Revolução” e ainda ficou seis anos, mas depois voltou para França. E foi em Levallois-Perret, 50 anos depois do 25 de Abril de 1974, que nos recebeu para partilhar a sua história, a de um militante antifascista que, sempre na sombra, dedicou a sua vida a uma causa: a liberdade.Com tudo isto, aos 82 anos, este militante antifascista diz que teve “sempre uma militância de base” e que não é pessoa “habituada a fazer longas frases e bonitos discursos”. Contrapomos que nem só de discursos reza a história e que as acções de pessoas anónimas tiveram muito peso colectivo na luta contra a ditadura. “É verdade”, admite. “De muitas destas pessoas a história não fala e dedicaram todas as suas vidas à mesma causa: a causa da Liberdade, a causa dos direitos do povo e dos trabalhadores”.

Convidado
Os "invisíveis" de Paris que lutaram contra a guerra colonial e a ditadura

Convidado

Play Episode Listen Later Mar 30, 2024 27:23


Paris foi um abrigo para muitos exilados portugueses e inscreveu-se no mapa das lutas políticas contra a ditadura e a guerra colonial. Comités de apoio a desertores, jornais, concertos de música de intervenção, teatro, angariação de fundos para as famílias de presos políticos e para os trabalhadores em luta em Portugal foram algumas das formas encontradas na emigração para resistir à ditadura portuguesa. Nos 50 anos do 25 de Abril, a RFI falou com vários resistentes ao Estado Novo. Neste programa, ouvimos, em Paris, Vasco Martins e Artur Monteiro de Oliveira.Entre 1961 e 1974, houve cerca de 9.000 desertores e 20.000 refractários, aos quais se juntaram 200.000 homens que nunca compareceram quando chamados pelos regimentos. Os dados são do historiador Miguel Cardina, baseado nos arquivos do exército português e retomados na obra “Refuser la Guerre Coloniale” (2019). A maioria exilou-se em França, outros instalaram-se no Luxemburgo, na Suécia, nos Países Baixos, na Dinamarca, na Alemanha, na Bélgica e no Reino Unido. Paris era quase sempre um local de passagem obrigatório e muitos jovens eram ajudados por redes familiares ou de amizade, organizações políticas e caritativas francesas e comités de apoio aos desertores.“Algumas dezenas” de exilados portugueses passaram pelo 15 Rue du Moulinet, em Paris, a casa onde vivia Vasco Martins depois do Maio de 68. Eram insubmissos, desertores e refractários que recusavam a guerra colonial. A história de Vasco Martins é contada no documentário “As Mãos Invisíveis”, de Hugo dos Santos, porque Vasco foi um desses anónimos que ajudou o movimento de apoio aos desertores.Fomos à Associação Memória Viva, presidida por Vasco Martins, em Paris, para viajarmos até àqueles tempos de luta. Ele começa por contar que foi viver para o número 15, Rue du Moulinet, depois de ter participado no Comité de Acção de Paris 14 durante o movimento de Maio de 68.No fim desse ano, fui para uma casa em Paris e nessa casa tive a oportunidade de começar a receber. Eu tinha condições possíveis para receber refractários e desertores e foi assim que começou. Quer dizer, não era realmente um comité nessa altura, mas foi aí que começou realmente a desenvolver-se. Eram refractários e desertores que vinham de Portugal, que atravessavam a Espanha clandestinos e que chegavam a França. E era a maneira de poder albergar e tentar arranjar-lhes trabalho de maneira a que as pessoas se pudessem desenrascar.Vasco Martins não sabe, ao certo, quantas pessoas acolheu, mas diz que foram “algumas dezenas”, não apenas jovens que saíam de Portugal antes de serem mandados para a guerra nos territórios colonizados, mas também “desertores que vinham da frente dos combates, nomeadamente da Guiné-Bissau”.Anos mais tarde, Vasco Martins descobriu que estava na mira da PIDE, assim como a sua casa na rua do Moulinet.Foi uma coisa que só vi muitos anos depois, na Torre do Tombo, onde estava realmente o meu mandado de captura pela PIDE. O 15 Rue du Moulinet foi denunciado e no comunicado da PIDE estava o meu nome completo. A PIDE dizia que tinha desmantelado uma rede de apoio aos refractários e desertores, que essa rede ia até o 15 Rue du Moulinet. Realmente estava um comunicado da PIDE, onde exigiam a minha captura. Houve jovens que falaram no café ou noutros sítios e chegou à PIDE através de bufos.O que o motivava a abrir a sua casa a tanta gente era, em primeiro lugar, “a vontade de acabar com a guerra colonial”. Depois, porque esperava que “em Portugal se criasse um regime realmente democrático que defendesse os interesses dos trabalhadores”. Por outro lado, acreditava simplesmente que era o seu “dever”.Vasco Martins era também refractário. Em Abril de 1961 foi à inspecção e em Setembro deveria começar a tropa. Totalmente contra a guerra colonial, que começou em Fevereiro desse ano, em Angola, Vasco deixou Setúbal rumo a Paris no Verão, a bordo de uma carrinha de ostras. Se a polícia perguntasse, era simplesmente o ajudante para carregar e descarregar a mercadoria que ia de Setúbal para Turim, na Itália.Pouco tempo depois de chegar a França, Vasco Martins começou a participar nos comités de apoio às famílias dos presos políticos em Portugal.A minha primeira actividade, logo nos primeiros anos em que eu cheguei a Paris, foi participar no apoio às famílias dos prisioneiros políticos. Havia reuniões, nomeadamente na Rua Vaugirard, onde - na altura não me tinha apercebido, mas depois apercebi-me -  havia realmente pessoas ligadas ao Partido Comunista Português e também a uma parte da Igreja Católica, padres, operários portugueses que participavam activamente nas campanhas que eram feitas. Vendíamos senhas e o dinheiro angariado era levado para Portugal para ajudar as famílias dos presos políticos.O combate continuou com a angariação de fundos para os trabalhadores em luta em Portugal e com a ajuda aos portugueses que já estavam ou chegavam a França.Nas associações e clubes, não só havia as actividades do futebol, havia as actividades de música, teatro e também procurávamos dar uma certa ajuda social no sentido de preencher os documentos em relação à assistência social e tudo isso. Por outro lado, era também falar a propósito da situação em Portugal. Criámos boletins e também jornais, nomeadamente o Jornal do Emigrante. Foi um dos primeiros a serem criados. Era graças ao apoio da Liga Portuguesa do Ensino e da Cultura Popular que distribuíamos e vendíamos também nos mercados e à volta de Paris e dentro de Paris também.Os fundos também eram angariados em festas, nas quais participavam cantores como José Mário Branco, Tino Flores, Francisco Fanhais e outros. O montante angariado e o destino do dinheiro era depois afixado nas associações e também, por exemplo, no jornal O Alarme, criado em 1972, em Grenoble, e que era vendido em Paris e noutras cidades.No clube da juventude franco-portuguesa, Vasco Martins também participou na campanha de denúncia internacional da deportação do opositor Mário Soares para São Tomé e Príncipe, assim como na campanha para libertar outro resistente à ditadura, o dirigente da LUAR Hermínio da Palma Inácio, quando este conseguiu fugir da prisão da PIDE no Porto e foi capturado em Espanha. “Estava absolutamente decidido em não fazer a guerra”  Como Vasco Martins, também Artur Monteiro de Oliveira saiu de Portugal determinado em não ir para a guerra colonial. Chegou a França em 1966, a salto, ou seja, clandestinamente, como tantos milhares de portugueses fizeram durante a ditadura. Entre 1957 e 1975 chegaram a França 900.000 portugueses, 550.000 dos quais o fazem ilegalmente e arriscando a vida, de acordo com dados publicados na obra “Refuser la Guerre Coloniale”.Estava absolutamente decidido em não fazer a guerra, portanto ao sair da cadeia, tinha 19 anos, tinha que ir para a tropa. Recebi uma ordem de apresentação no quartel-general e depois ia para Penamacor, que era para onde iam as pessoas que tinham saído de prisão. As pessoas que tinham questões políticas, e que passavam por Penamacor, iam directamente para a Guiné-Bissau.Artur foi obrigado a desistir dos estudos e começou a trabalhar aos 13 anos na firma Neolux, que produzia anúncios luminosos. Aos 15 anos começou a colaborar com o Partido Comunista Português e, a partir dos 17, iniciou actividade clandestina mais séria. A certa altura, pedem-lhe que acolha uma funcionária do partido em casa da mãe, que alugava quartos. Ainda que tenha abrandado o trabalho partidário para não levantar suspeitas, acabou por ser preso pela PIDE em Outubro de 1965. Tinha 19 anos e ficou na prisão da polícia política no Porto até Fevereiro de 1966.A tortura que tive foi o que se chamava, na altura, a estátua. Quer dizer, durante sete dias não pude dormir. Era uma tortura muito banal, frequente. Houve uma altura que apanhei assim uns abanões. Há pessoas que foram muito torturadas. Conheci pessoas que foram torturadas, o que não foi, portanto, o meu caso, a não ser a estátua, que foram sete dias e seis noites, de pé na cela, com um polícia que se revezava porque eu não podia estar sozinho, não me deixavam sentar, não me deixavam encostar à parede.Quando saiu da prisão, Artur decide, então, “dar o salto” e aventura-se, meses depois, rumo ao exílio. Iniciou a viagem para França na noite de São João em 1966 e chegou a Paris no início de Julho. Graças a alguns contactos, foi parar ao Quartier Latin e começou a trabalhar na fábrica da Renault. Inscreve-se na CGT e vive a sua primeira revolução: o Maio de 68. Foi escrevendo para jornais a alertar para a situação portuguesa e integrou a Liga Portuguesa do Ensino e da Cultura Popular.Criada em 1965, a Liga organizava conferências sobre Portugal, fundou uma companhia de teatro e publicou o Jornal do Emigrante. Nos anos seguintes, vários movimentos dirigem-se aos trabalhadores emigrantes através de jornais como O Salto, Fronteira, A Voz do Imigrado; através de companhias de teatro, como O Teatro Português de Paris e o Teatro Operário Português; festas nas quais participam cantores exilados como Luís Cília, José Mário Branco, Sérgio Godinho e Tino Flores. Em Maio e Junho de 68, a casa dos estudantes portugueses na Cidade Universitária de Paris foi ocupada e tornou-se um espaço de discussões e debates.A partir de Paris, Artur Monteiro de Oliveira também arregaçou mangas para denunciar o que se passava em Portugal e para ajudar os que tinham fugido da ditadura. Fê-lo através de artigos em jornais, de acção social, do teatro e do apoio ao movimento dos desertores e refractários. Escreveu, muitas vezes com pseudónimos, para O Trabalhador e o Jornal do Emigrante, difundidos junto da emigração, para O Comércio do Funchal, que descreve como “um jornal de resistência”, e para o República. Porém, aquilo que considerava a sua “actividade principal” era a “acção social junto da emigração”.O facto de ter uma actividade social junto da emigração era, para mim, uma forma de entrar em contacto com a emigração, distribuir os jornais que nós fazíamos aos portugueses, dar informações sobre o que se passava em Portugal, informações que em Portugal não saíam e  que, por vezes, eram traduzidas dos jornais franceses.Ainda que Artur diga que a sua “contribuição foi muito modesta”, a PIDE não pensava da mesma forma. Na fronteira portuguesa, havia um caderno com fotografias de indivíduos considerados “perigosos” e ele fazia parte. Por isso, não podia regressar a Portugal.Paris foi um abrigo para muitos exilados portugueses e inscreveu-se no mapa das lutas políticas contra a ditadura e a guerra colonial. Alguns nomes fizeram história em Portugal, outros ficaram anónimos e preferiram continuar a viver em França e a abraçar novas lutas até hoje. Vasco Martins e Artur Monteiro de Oliveira continuam no mundo associativo. O primeiro dirige a Associação Memória Viva que faz actividades para a recolha e transmissão da memória da emigração portuguesa em França e o segundo está na associação Seuil que acompanha jovens em contexto social e educativo difícil e na associação Anticor de luta contra a corrupção. 

Em directo da redacção
Fundador da LUAR conta tempos de resistência armada à ditadura

Em directo da redacção

Play Episode Listen Later Mar 12, 2024 35:33


Armando Ribeiro era chamado “comandante” pelos companheiros e “falsificador” pela PIDE. Foi um dos fundadores da LUAR, Liga de União e de Acção Revolucionária, e, aos 80 anos, conta-nos algumas das acções deste grupo de resistência armada à ditadura portuguesa. Armando Ribeiro viveu seis anos na clandestinidade, escapou à prisão, transportou armas 3.000 quilómetros Europa fora, participou na tentativa frustrada de tomada da Covilhã e no assalto a Consulados de Portugal para obter passaportes. Nos 50 anos do 25 de Abril, a RFI falou com vários resistentes ao Estado Novo. Neste programa, ouvimos Armando Ribeiro, um dos fundadores da Liga de União e de Acção Revolucionária (LUAR).Os que o conheciam de perto chamavam-lhe “comandante”. Os que o queriam prender vociferavam: “Esse falsificador!”. Nesses tempos de clandestinidade e de luta contra a ditadura portuguesa, poucos sabiam o nome deste homem, hoje com 80 anos.O Inácio Afonso, que era um tipo da PIDE, dizia: ‘Esse fulano! Esse falsificador! A gente até vai buscá-lo a Paris se for preciso!'. Mal eles sabiam que se a gente quisesse os tínhamos liquidado! ‘A gente vai buscá-lo a Paris, esse falsificador!'. Nem conhecia exactamente o meu nome. Só conhecia ‘comandante'. Ninguém sabia o meu nome. Eu acho que nem o Palma sabia o meu nome completo.Chama-se Armando Ribeiro e foi um dos fundadores do movimento antifascista LUAR, a Liga de União e Acção Revolucionária. Um dos dirigentes do grupo era Hermínio da Palma Inácio que, em 1947, participou na sabotagem de aviões da Força Aérea; em 1961, também participou no desvio de um avião para lançar panfletos contra a ditadura sobre Lisboa e outras cidades, junto com Camilo Mortágua. Este já tinha estado no desvio do paquete Santa Maria, no mesmo ano. Ambos estiveram na linha da frente do assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, em 1967. E foi o assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz que levou à fundação da LUAR, em Paris, onde já se encontrava Armando.O jovem tinha deixado Portugal três anos antes. Estudante do Instituto Comercial do Porto, onde era dirigente da associação académica, Armando Ribeiro ficou em Paris durante uma visita de estudo de finalistas em Março de 1964 porque recusava ir para a guerra colonial combater pessoas que lutavam pela sua independência. Inscreveu-se na escola de Arts et Métiers e trabalhava à noite no PBX de um prédio. Poderia estudar durante o dia, ter uma vida boémia, mas trocou o conforto pela luta.Muito novo ainda, foi o braço direito de Hermínio da Palma Inácio, em Paris, dirigente do Conselho Superior do movimento e criador do seu símbolo - o “L”, com uma seta ascendente. Comprou armamento, transportou um arsenal de armas 3.000 quilómetros Europa fora, participou no assalto a consulados para obter passaportes e ajudou a preparar os chamados “confiscos” para custear muitas vidas na clandestinidade. Como os companheiros, pôs a vida em perigo nome de um ideal e esse ideal chamava-se LUAR.“A LUAR foi uma organização que começou pela luta armada porque todas as pessoas que integravam a LUAR já tinham participado em coisas de luta armada, como o desvio do Santa Maria. Portanto, foi aí que comecei, foi com essa gente toda”, começa por explicar, sublinhando que era uma organização apartidária, claramente “fora do Partido Comunista Português” e que defendia a acção directa e o recurso às armas para o derrube da ditadura e a restauração da democracia. As origens da LUARConta, ainda, que na génese do movimento estiveram personalidades como Henrique Galvão e até Humberto Delgado, com iniciativas de acção directa contra o regime, nomeadamente depois do “terramoto” da candidatura presidencial do “General Sem Medo”. Humberto Delgado esteve directamente envolvido na Revolta de Beja na passagem de ano de 1961 para 1962. Henrique Galvão esteve em várias outras acções com impacto internacional de grande peso, para as quais contou com o apoio essencial da dupla Palma Inácio e Camilo Mortágua.A 23 de Janeiro de 1961, exilado na Venezuela, Henrique Galvão fez tremer o regime com o assalto e desvio do paquete Santa Maria, considerado o primeiro sequestro político de um transatlântico na história contemporânea, uma acção em que participou também Camilo Mortágua. Depois, a partir do Brasil, Henrique Galvão preparou a Operação Vagô, na qual, em Novembro de 1961, Palma Inácio participou no primeiro acto de pirataria aérea da história: o desvio de um avião comercial da TAP, que fazia o percurso Casablanca-Lisboa, e o lançamento sobre Lisboa e outras cidades de panfletos contra o regime. A bordo do avião estava também Camilo Mortágua.Depois do assassínio do General Humberto Delgado, a 13 de Fevereiro de 1965, os opositores que estavam refugiados no Brasil, decidem voltar para a Europa para continuarem a acção contra o regime a partir do exterior.O Palma e uma meia dúzia que tinham participado no avião vieram para a Europa e diziam que a partir do Brasil não se pode fazer nada, é muito longe estar no Brasil e ter acções em Portugal e vieram-se instalar, sobretudo, em França e na Bélgica.A LUAR nasce quando o opositor Emídio Guerreiro, refugiado em Paris, enviou um comunicado ao jornal francês Le Monde, no qual que a LUAR reivindicava o assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, em 1967.A LUAR não existe antes do banco da Figueira da Foz. Quem deu o nome à LUAR foi depois do banco da Figueira da Foz e foi o professor Emídio Guerreiro, que estava aqui refugiado há muito tempo, mas que não pertencia à LUAR porque a LUAR não existia. Ele tinha contacto com os membros da LUAR, especialmente com o Palma Inácio e o Camilo Mortágua. Quando ele soube, quer dizer, ele imaginou que quem poderia fazer aquilo só poderia ser o Palma, não é? E então ele inventou – e bem, que é um nome bonito, LUAR - e mandou um comunicado ao Le Monde a dizer que tinha sido a LUAR que tinha feito.Armando Ribeiro participou, depois, na reunião de fundação da LUAR na casa de Emídio Guerreiro, em Paris. Dissensões internas levariam ao afastamento de Emídio Guerreiro, a que não foi alheio o destino do dinheiro da agência do Banco de Portugal da Figueira da Foz que lhe tinha sido entregue. Porém, uma parte significativa dos 29 mil contos era constituída por notas ainda não postas em circulação e só 4,7 mil contos por notas usadas, tendo outra parte sido recuperada pela PIDE com a colaboração de um infiltrado [Ernesto Castelo Branco] e apenas uma pequena parte do dinheiro se poderia cambiar por caminhos travessos.A LUAR foi um marco na história da resistência armada ao regime ditatorial português. E se um punhado de homens e mulheres dedicaram parte da sua vida a organizar acções revolucionárias para derrubar a ditadura, o preço da coragem era, muitas vezes, pago com a prisão, a tortura, o exílio. Armando não chegou a ser preso, mas, quando ia a Portugal, usava uns sapatos com uma serra no interior para poder serrar as grades da cadeia caso lá fosse parar.Sobreviver na clandestinidade implicava fintar as autoridades e isso também passou pela falsificação de passaportes e bilhetes de identidade. Armando foi um dos responsáveis por essa tarefa que passou pelo assalto a consulados de Portugal em Roterdão e no Luxemburgo em Abril e Junho de 1971. O objectivo era obter documentos de identificação, formulários e selos brancos. Na PIDE, ele ficou conhecido como “falsificador”.Em Roterdão, quando a gente lá foi, a gente não sabia que era o dia da rainha da Holanda e o Consulado estava fechado. De maneira que a gente até teve que abrir a porta ilegalmente porque não estava aberto. No Luxemburgo já foi diferente, estava a funcionar. Tomámos o Consulado e trouxemos passaportes que era o que nos fazia falta. Mais tarde, com os meios financeiros que tínhamos, criámos todo um sistema de contrafacção dos documentos. Tínhamos uma panóplia de documentos perfeitamente iguais.Os documentos falsos eram, depois, usados para os combatentes circularem e, sobretudo, como medida de precaução caso fossem controlados pela polícia.Armando Ribeiro conta, ainda, que só houve um caso em que a polícia neutralizou resistentes da LUAR sabendo, de antemão, que eram da organização. Foi depois da “Operação Primavera” [a 30 de Abril de 1969 e que consistiu na sabotagem de pilares de alta-tensão no Porto e numa explosão junto ao Consulado Americano do Porto] que a PIDE estava à espera em Irun e deteve Seruca Salgado, Júlio Alves e José Paulo Lima Matias. Mas a polícia espanhola não autorizou a extradição porque tinha bem presente o assassínio, pela PIDE, do general Humberto Delgado em território espanhol [13 de Fevereiro de 1965].Serviam para a gente, quando estava em Portugal, com vários nomes, se viesse a autoridade pedir, num controle normal - porque é evidente que se já soubessem que a gente era da LUAR não valia de nada. Mas nunca tivemos esse problema porque, contrariamente ao que se diz, nunca ninguém da LUAR foi presa com a PIDE a saber onde a gente estava. Só houve um caso, mas a prisão foi executada em Hendaia, Irun. Estava lá o Sacchetti, que era o diretor PIDE, à espera deles e eles foram presos em Espanha [Seruca Salgado, Júlio Alves e José Paulo Lima Matias]. Eles pensavam que os espanhóis os iam entregar directamente à PIDE, mas os espanhóis nessa altura não autorizaram que a PIDE pegasse neles e os levasse para Portugal porque, entretanto, o General Delgado tinha sido encontrado assassinado em Espanha. Então, eles não entregaram e esses indivíduos ficaram presos em Espanha e depois foram julgados, foram dados como políticos e, portanto, não foram extraditados para Portugal e foram recambiados para a Argélia que os recebeu. “A gente transportou armas sem nunca ter nenhum problema ao longo de 3.000 quilómetros”Poucos meses depois de vários membros da LUAR terem vivido o Maio de 68 em Paris, inclusivamente participando na ocupação da Casa de Portugal na Cidade Universitária, prepararam nova acção revolucionária: a tentativa de tomada da cidade da Covilhã, em Agosto.A Covilhã é um centro de lanifícios, industrial, e a gente ia tomar a rádio e íamos atacar os bancos todos lá, a guarda republicana, a polícia, íamos tomar a cidade e tínhamos uma declaração para fazer na Rádio Covilhã ao país e à Covilhã. E depois íamos evacuar. Não lhe posso dizer o que é que se ia passar porque nunca chegámos a isso porque o Palma, entretanto, foi preso.Ainda assim, Armando Ribeiro nega que a operação tenha sido um fracasso e diz que foi o azar que levou à detenção de Palma Inácio porque a polícia política estava longe de imaginar o que se iria passar.Não foi fracasso nenhum. Houve vezes em que a gente teve sorte, outras vezes teve azar. A intersecção deu-se em Torre de Moncorvo. Eles tinham saído para tomar um café porque não tinham comido há muito tempo. Foram ao café e, depois, o Palma meteu-se no carro em que vinha, o polícia pediu-lhe os documentos e o Palma não tinha a carta de condução. Ameaçou com uma arma e fugiu com o carro e só depois é que o carro foi interceptado. Veio a guarda republicana e pensavam que eram passadores ou contrabandistas.Armando não foi preso porque iria chegar mais tarde à Covilhã. Ele e outros transportavam “todo um armamento do último grito comprado na Checoslováquia”, com o dinheiro dos “confiscos” aos bancos e aos veículos de transporte de fundos.Fomos várias pessoas que conduziram o carro e os detonadores e todo o material bélico que a gente tinha e plástico que é um explosivo altamente sofisticado que ainda hoje se utiliza, que se chama semtex. Arranjámos automóveis com esconderijos especiais para isso e a gente trouxe. A gente não veio directo, mas de Praga a Paris são 1.000 quilómetros, de Paris a Portugal são mais ou 1.700 - 2.000 praticamente, com os caminhos ‘détournés' que a gente fez. Portanto, a gente transportou armas sem nunca ter nenhum problema, nunca foram capturadas ao longo de 3.000 quilómetros. São 3.000 quilómetros, é muita coisa, portanto, estávamos relativamente bem organizados.Depois da tentativa frustrada da tomada da Covilhã e perante a prisão dos companheiros, Armando entra na clandestinidade até à Revolução dos Cravos. Um período em que continuou a acreditar que a LUAR poderia derrubar a ditadura, tanto é que se a tomada da Covilhã tivesse funcionado, o regime poderia ter tremido: “O que se diz é que o Salazar ficou preocupado e que ainda gritou lá com os tipos da PIDE a dizer “O Palma outra vez?! Outra vez o Palma?!” A LUAR quis ser “o detonador da revolução”Na “nova concepção de luta” da LUAR, estava a violência revolucionária e acções armadas contra o regime, também com sabotagem de meios usados na guerra colonial. Porém, era rejeitado o recurso a actos terroristas e o assassínio de pessoas, mesmo se fossem agentes da PIDE. A prová-lo estão alguns episódios que Armando Ribeiro nos conta.Aqui em Paris, havia rapazes que trabalhavam em hotéis e havia um hotel que era o Lisboa que era de um tipo da PIDE. A gente tinha lá um tipo que trabalhava, que era da LUAR, e eles iam lá dormir e ele viu que eram da PIDE, uma brigada, eram três ou quatro da PIDE. Ele telefonou ao Palma a dizer: ‘Estão lá os tipos da PIDE, o que é que a gente faz? Damos-lhes um tiro?' e o Palma: ‘Não vamos dar tiro nenhum. Só nos traz problemas e não vamos resolver problema nenhum.'O mesmo aconteceu com um informador da PIDE no restaurante Ribatejo, mas Hermínio da Palma Inácio rejeitava matar pessoas porque “não se faz a revolução dessa maneira”. Um membro da LUAR chegou a ter à frente um agente da PIDE que tinha torturado barbaramente uma companheira do movimento, mas “não conseguiu disparar”.Na LUAR nunca existiu a coisa dos tiros, da violência pela violência. A gente nunca pôs bombas para matar pessoas.Depois de novas prisões, incluindo mais uma vez do chefe histórico Palma Inácio, foi preciso reafirmar os grandes princípios norteadores da organização. O objectivo era continuar a luta, avançar com acções para alertar a opinião pública nacional e internacional e continuar a publicar o jornal Fronteira, a partir de Paris. Em Janeiro de 1974, a LUAR publica o manifesto “Por uma utilização correcta dos novos métodos de luta, pela Revolução Socialista”, redigido sobretudo por Armando Ribeiro, Fernando Pereira Marques e Rui Pereira. “A gente não queria a ditadura do proletariado, éramos pela democracia directa”, reitera o seu co-autor.No fundo, a LUAR queria ser “o detonador da revolução” em Portugal e a revolução acabou por chegar, mas através do Movimento das Forças Armadas.A gente pensava que íamos conseguir ser o detonador da revolução. Quer dizer, o MFA foi isso. Eles fizeram aquilo que, se calhar, não estavam à espera. Ninguém estava à espera no 1° de Maio que houvesse um milhão de pessoas em Lisboa. O 1° de Maio foi logo a seguir ao 25 de Abril e ninguém estava à espera.O ‘comandante' afirma, mesmo, que “o programa do MFA é uma cópia do primeiro documento que a LUAR mandou para a rua, o documento número 1, com o que a gente queria fazer” e os objectivos eram “democratizar, dar a independência às colónias, acabar com a guerra colonial”.Em Abril de 1973, Hermínio da Palma Inácio e Armando Ribeiro foram à Conferência Internacional de Apoio às Vítimas do Colonialismo, em Oslo, onde se encontraram com Agostinho Neto e Manuel Jorge do MPLA, Marcelino dos Santos, da Frelimo, e os irmãos de Amílcar Cabral que já tinha sido assassinado. A revolta de Armando ainda se lê no rosto e na voz quando diz que a PIDE matou “um dos maiores dirigentes africanos do século 20” e “o maior amigo dos portugueses”. Não o conheceu, mas lembra que “houve malta da LUAR que desertava da Guiné e que o conheciam porque os desertores eram enviados para Argel e Argel é que distribuía e via se eles eram pessoas infiltradas, se eram pessoas que pura e simplesmente não estavam de acordo com a guerra, ou se se tinham lá chateado com os capitães ou com alguns tipos militares, estilo generais do tempo do Spínola e antes do Spínola”.O capitão Ernesto Melo Antunes, membro da direcção do MFA e co-autor do seu programa político, chegou a encontrar-se com Palma Inácio e Armando Ribeiro em Paris.O Melo Antunes veio falar com o Palma e disse: ‘Vocês não façam nada, eu sei que vocês estão equipados, mas vocês não façam nada porque isto agora vai mesmo para a frente'. E o Palma disse: ‘Olha, a primeira vez que eu que eu me meti nisso foi em 1947' [O Palma tomou parte e sabotou os aviões da base de Sintra em 1947] ‘Em 1947, já me vieram com essa conversa, mas está bem. Ficamos assim, vocês façam lá, andem para a frente que a gente apoia-vos'. Que eles fizessem, mas que nós íamos continuar a fazer aquilo que a gente achava porque, desde 1947, ele tinha-se metido nisso e o exército, no último momento, tinha sempre falhado.A Revolução acabou mesmo por ser feita pelo Movimento das Forças Armadas, com o apoio em massa do povo.“Os tanques todos na rua e milhares de portugueses na rua e fez-se uma revolução que é das coisas mais espectaculares que existe na segunda metade do século 20. E o resto é conversa. O 25 de Abril foi uma coisa exemplar”, resume.Depois do 25 de Abril, Armando Ribeiro fez parte da Comissão da Extinção da PIDE-DGS, ao lado, nomeadamente, do companheiro de luta também exilado em Paris Fernando Oneto. Desarmar, tratar dos arquivos e interpelar agentes da PIDE eram algumas das funções. Armando diz que, pessoalmente, só prendeu Silva Pais, que era o director da PIDE/DGS, o agente Domingues que era “o assassino do pintor Dias Coelho que a PIDE tinha morto a tiro” e um português em Paris “que era o Manuel não sei quantos que andava com o “Portugal Livre” e que andava a enganar as pessoas, a dizer que era antifascista e era um tipo que era pago pela PIDE”. Houve, ainda, um agente infiltrado da PIDE na LUAR, Ernesto Castelo Branco, que acabou por ser entregue ao MFA.Quanto aos torcionários das prisões do fascismo, Armando Ribeiro só pode condenar a actuação da justiça portuguesa: “O sistema judicial português, que ainda hoje é aquela miséria que a gente conhece, puseram-nos na rua e os PIDES todos que foram presos, depois fugiram e fizeram 30 por uma linha!”Durante mais de um ano, Portugal viveu e acreditou na sua revolução, com comissões de trabalhadores, associações de moradores, ocupações de terras e de empresas, nacionalizações, etc. Porém, a demissão, em Setembro de 1975, do primeiro-ministro Vasco Gonçalves, Capitão de Abril e rosto do Processo Revolucionário em Curso, anunciava o fim de uma época. Armando Ribeiro percebeu que o ideal revolucionário acabara e decidiu deixar novamente Portugal e instalar-se em França, onde ficou até hoje e onde nos recebe. Meio século depois, avisa: “É no solo podre que nascem os cravos”.

Legislativas 2024: todos os debates
Rui Rocha (IL) vs Paulo Raimundo (PCP)

Legislativas 2024: todos os debates

Play Episode Listen Later Feb 14, 2024 35:27


Ouça o frente a frente entre o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, e o secretário-geral do Partido Comunista Português, Paulo Raimundo, neste décimo dia da série de debates políticos. A moderação foi do jornalista João Adelino Faria, com transmissão na RTP3.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Legislativas 2024: todos os debates
Paulo Raimundo (PCP) vs Rui Tavares (Livre)

Legislativas 2024: todos os debates

Play Episode Listen Later Feb 13, 2024 32:01


Ouça o frente a frente entre o secretário-geral do Partido Comunista Português, Paulo Raimundo, e o coordenador do Livre, Rui Tavares, neste nono dia da série de debates políticos. A moderação foi do jornalista João Póvoa Marinheiro, com transmissão na CNN Portugal.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Legislativas 2024: todos os debates
Mariana Mortágua (BE) vs Paulo Raimundo (PCP)

Legislativas 2024: todos os debates

Play Episode Listen Later Feb 11, 2024 32:35


Ouça o frente a frente entre a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, e o secretário-geral do Partido Comunista Português, Paulo Raimundo, neste sétimo dia da série de debates políticos. A moderação foi da jornalista Rosa de Oliveira Pinto, com transmissão na SIC Notícias.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Legislativas 2024: todos os debates
Luís Montenegro (PSD) vs Paulo Raimundo (PCP)

Legislativas 2024: todos os debates

Play Episode Listen Later Feb 10, 2024 33:20


Ouça o frente a frente entre o presidente do Partido Social Democrata, Luís Montenegro, e o secretário-geral do Partido Comunista Português, Paulo Raimundo, neste sexto dia da série de debates políticos. A moderação foi do jornalista João Adelino Faria, com transmissão na RTP.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Legislativas 2024: todos os debates
André Ventura (Chega) vs Paulo Raimundo (PCP)

Legislativas 2024: todos os debates

Play Episode Listen Later Feb 9, 2024 33:09


Ouça o frente a frente entre o presidente do Chega, André Ventura, e o secretário-geral do Partido Comunista Português, Paulo Raimundo, neste quinto dia da série de debates políticos. A moderação foi do jornalista João Póvoa Marinheiro, com transmissão na CNN.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Abril conversas mil
Abril conversas mil #5 - Manuel João Vieira e Anabela Mota Ribeiro

Abril conversas mil

Play Episode Listen Later Jan 10, 2024 65:04


Neste episódio de Abril conversas mil juntamos o músico e artista multifacetado Manuel João Vieira e a jornalista e escritora Anabela Mota Ribeiro, com o anfitrião Bruno Dias, deputado do Partido Comunista Português à Assembleia da República. Manuel João Vieira reflete sobre o mito do progresso, que ainda hoje está patente na sociedade, bem como sobre a utopia e a melancolia.Relembra a importância da liberdade na criação artística, conquistada com a Revolução, e da elevação cultural das pessoas, onde há ainda muito caminho para andar. Anabela Mota Ribeiro, ancorada na questão da guerra colonial, afirma que a revolução de Abril lhe devolveu o pai, que era combatente na guerra. Declara-se feminista, invocando a figura da sua mãe e a presença do seu nome, e filha da escola pública, que marcou a sua formação. Anabela Mota Ribeiro – apesar de só ter memórias suas em liberdade – recorda a Revolução com recurso a um cravo feito de papel feito pelos alunos da Escola Secundária Camilo Castelo Branco, em Vila Real. Este cravo foi-lhe oferecido pelos alunos quando a escritora foi apresentar o seu livro “Filhos da Madrugada”. Manuel João Vieira trouxe consigo o busto do Lenine, que era do seu tio, com o qual recordou a ideia da liberdade e o entusiasmo pelo 25 de Abril e do 1 de Maio de 1974  50 anos depois estarão na rua a celebrar Abril, combatendo o medo, propagando a música e a amizade. Disponível nas redes sociais do PCP e nas plataformas:

Ana Gomes
“Os portugueses têm boa memória da geringonça. Foi Pedro Nuno Santos que esteve sempre a negociar com o PCP e o BE”

Ana Gomes

Play Episode Listen Later Jan 7, 2024 24:39


No seu habitual espaço de comentário na SIC Notícias e em podcast, Ana Gomes analisou o novo ciclo do PS marcado pelo congresso deste fim de semana. A diplomata defende que o novo secretário-geral reafirmou no seu discurso "valores socialistas", assumiu uma "bússola moral" e que sublinhou a "noção de comunidade", por oposição à visão liberal de pouco Estado. Notável apoiante de Pedro Nuno Santos, Ana Gomes lembra o impacto do ex-ministro durante o primeiro Governo de António Costa, em que fez as pontes parlamentares e programáticas com o Partido Comunista Português e com o Bloco de Esquerda. Esta emissão é de 07 de janeiro, na SIC Notícias.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Abril conversas mil
Abril conversas mil #4 - Carmo Afonso e Paulo Furtado

Abril conversas mil

Play Episode Listen Later Dec 28, 2023 58:08


Neste episódio de ‘Abril conversas mil' juntamos o vocalista e músico Paulo Furtado e a advogada e jornalista Carmo Afonso, com o anfitrião João Oliveira, membro da comissão política do Comité Central do Partido Comunista Português. Paulo Furtado reflete os valores da igualdade, da qualidade de vida e da liberdade de expressão, particularmente neste último, no que diz respeito a um artista expressar uma opinião diferente da dominante sem consequências. Carmo Afonso afirma que as pessoas perderam o amor a determinados valores das conquistas de Abril e que é importante lutar, perante uma ameaça à Revolução, através da defesa da democracia, da paz e do livre sufrágio. Carmo Afonso recorda a Revolução de Abril através de um LP de José Afonso, “ao vivo no coliseu”, onde se emociona com a personificação de Abril numa das maiores figuras da música portuguesa. Paulo Furtado trouxe consigo “As Vozes do 25 de Abril”, também num disco que relata os momentos da Revolução – narrados pelo radialista Luís Filipe Costa – e que o remete para esse dia em 1974. 50 anos depois estarão a lutar e a defender a democracia e os valores de Abril, em liberdade. Disponível nas redes sociais do PCP e nas plataformas:

Abril conversas mil
Abril conversas mil #3 - Moullinex e Leonor Teles

Abril conversas mil

Play Episode Listen Later Nov 27, 2023 46:12


Neste episódio de Abril conversas mil juntamos a cineasta Leonor Teles e o músico Luís Clara Gomes, Moullinex, com a anfitriã Margarida Botelho, do secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português. Moullinex reflete sobre a capacidade de sonhar ancorada na cultura, que é intrínseca à felicidade, e afirma que as conquistas de Abril ainda estão por cumprir. Leonor Teles afirma a importância da memória, pessoal e colectiva, e traz a fotografia de um passeio clandestino no Tejo, com Álvaro Cunhal. Moullinex escolhe o LP das “Cantigas do Maio” de José Afonso para recordar a Revolução de Abril e, influenciado pela sua família, reflete sobre a plenitude dos actos criativos através da liberdade. 50 anos depois estarão a descer a Avenida da Liberdade, no “feriado mais bonito do ano”, a lutar pela igualdade, por mais empatia e pelos direitos dos trabalhadores para continuar a cumprir Abril. Disponível nas redes sociais do PCP e nas plataformas:

Palavras em Vermelho
#10: A Superioridade Moral dos Comunistas (Álvaro Cunhal, 1974)

Palavras em Vermelho

Play Episode Listen Later Nov 15, 2023 41:08


Álvaro Barreirinhas Cunhal, nascido em Coimbra a 10 de novembro de 1913, dedicou toda a sua vida ao ideal e projeto comunista, à causa da classe operária, dos trabalhadores e à solidariedade internacionalista. Com a sua exemplar atuação ao longo de mais de 74 anos com o Partido Comunista Português, desempenhou um papel significativo na história de Portugal do século XX. Como descrito, foi corajoso e activo na resistência anti-fascista, na luta pela liberdade e pela democracia, e desempenhou um papel fundamental nas transformações revolucionárias de Abril. O camarada Álvaro Cunhal defendeu uma sociedade livre da exploração e opressão, buscando a construção de uma sociedade socialista. Para terminar o episódio, "Verdes Anos". Tema instrumental de Carlos Paredes, um dos temas mais reconhecidos do seu repertório. Carlos Paredes foi um activo militante do Partido Comunista Português desde 1958, tendo sido preso pelo regime Salazarista nesse mesmo ano. -- Discord do colectivo ESPECTRO: https://discord.gg/5u3ccFu9

Fumaça
[Republicação] Margarida Tengarrinha sobre a vida na clandestinidade (Entrevista)

Fumaça

Play Episode Listen Later Nov 2, 2023 105:19


Soubemos da triste notícia da morte de Margarida Tengarrinha, militante anti-fascista que esteve na clandestinidade cerca de 20 anos. Em conjunto com o seu então companheiro, o artista José Dias Coelho, criou uma oficina de falsificação de documentos para os camaradas do Partido Comunista Português, incluindo Álvaro Cunhal, já fugido da prisão de Peniche. Durante a década de 1950, as casas de Margarida e José foram dos mais importantes núcleos de resistência à ditadura. Para recordar a sua vida e luta, republicamos a entrevista que lhe fizemos em 2018, ao vivo, no evento em que anunciámos a profissionalização do Fumaça enquanto órgão de comunicação social.Ajuda-nos a ser a primeira redação profissional de jornalismo em Portugal totalmente financiado pelas pessoas: https://fumaca.pt/contribuir/?utm_source=podcast+appSee omnystudio.com/listener for privacy information.

Vida em França
Lançado o 2° volume das "Memórias em Tempo de Amnésia" de Álvaro Vasconcelos

Vida em França

Play Episode Listen Later Oct 12, 2023 35:11


Álvaro Vasconcelos, antigo director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia, cujas análises sobre Relações Internacionais são frequentemente ouvidas nas antenas da RFI acaba no passado domingo 8 de Outubro de lançar aqui em Paris o segundo volume das suas "Memórias em Tempo de Amnésia", poucos meses de depois de ter lançado o primeiro em que relata os primeiros anos de vida em Portugal, Moçambique e África do Sul. Intitulado "Exílio sem saudade", o segundo e último volume das "Memórias em Tempo de Amnésia", leva-nos para os finais dos anos 60 e os primórdios da década de 70, primeiro na Bélgica e depois em França, onde o autor recorda a atmosfera que se viveu em Maio de 68 em Paris, a vida dos imigrantes portugueses em França, a luta contra o regime colonialista e fascista de Salazar e, por fim, o regresso a Portugal com o 25 de Abril de 1974.Em entrevista à RFI, Álvaro Vasconcelos evoca estes anos de revolução e de fervilhar cultural, começando por explicar por que escolheu o título "Exílio sem Saudade"."Não tinha saudade de um Portugal ditatorial, de um Portugal da miséria. Eu saí muito novo da Régua para ir para África. Em África, eu vivi a brutalidade do colonialismo e, depois, exilei-me por oposição à guerra colonial. Portanto, o Portugal da ditadura não era algo de que sentisse saudades. A segunda razão foi ter compreendido nesses anos de exílio que a saudade era um das componentes do lusotropicalismo em relação aos emigrantes", refere o autor.Questionado sobre o período da revolta estudantil e operária de Maio de 68 que constitui o ponto fulcral do segundo volume das suas "Memórias em Tempo de Amnésia", Álvaro Vasconcelos considera que foi um "privilégio" o facto de "ter vivido a revolução cultural dos anos 60 (...) para alguém que vinha de África, que era um opositor do regime ditatorial português, viver uma revolução cultural em que os valores que tinha compreendido em África eram essenciais, os Direitos Humanos, o direito à igualdade, liberdade, o direito de palavra, a recusa da violência sobre os estudantes, tudo isto estava no centro dessa revolução".Durante esse período, o autor refere ter também contactado de perto com a numerosa comunidade portuguesa de França. Então dirigente de um jornal destinado à comunidade portuguesa, "O Salto", ele recorda os momentos passados com os emigrantes, muitos deles homens com poucas habilitações que tinham fugido da miséria e da opressão."Quando cheguei a Paris, vindo de Bruxelas, deparei-me com o Portugal da minha infância agora em liberdade, porque muitos homens -sobretudo homens- tinham abandonado Portugal por causa da miséria e vinham com uma consciência muito forte do que tinha sido a sua situação em Portugal que os obrigava a fugir (...) e nessa altura ainda viviam em situação muito precária, nos bairros da lata dos arredores de Paris. Mas viviam em liberdade. Portanto, tínhamos a possibilidade de falar com eles e conversar sobre o que era Portugal, mas eles tinham um enorme medo da política", recorda o estudioso referindo contudo ter observado nos emigrantes portugueses daquela altura uma apetência por convívios, peças de teatro e concertos organizados no seio da comunidade.Questionado sobre as utopias que guiaram a sua geração, nomeadamente o maoismo, doutrina que seguiu naquela época e sobre a qual fala longamente num capítulo do seu livro, Álvaro Vasconcelos explica ter aderido a essas ideias por não se identificar com o Partido Comunista Português."Pessoas como eu e como outros que não se reviam na União Soviética, que não se reviam no Partido Comunista Português porque o PCP estava ligado à União Soviética e, por outro lado, defendia a participação na guerra colonial a que nós nos opúnhamos absolutamente, encontramos no maoismo a alternativa. (...) O maoismo era uma coisa muito distante. Nos anos 60, na China estava a ter lugar a 'Revolução Cultural'. Ao mesmo tempo que estava a haver uma revolução cultural na Europa, estava a haver uma revolução cultural na China, contra a burocracia, contra os professores. Hoje, nós sabemos que isto tudo foi manipulado por Mao Tse Tung e que não correspondia a nenhuma tentativa de pôr em causa a estrutura totalitária dos Estado chinês. Mas não era assim que era percebido na Europa e o maoismo europeu não era exactamente a mesma coisa que o maoismo chinês. Era um maoismo mais libertário. Mas esse movimento tinha outra dimensão que é esta tentação totalitária dos intelectuais, que é a necessidade dos intelectuais e das pessoas em geral de encontrarem uma alternativa para Deus" diz Álvaro Vasconcelos ao considerar que o maoismo chegou a assumir uma dimensão quase religiosa junto de uma franja de activistas e intelectuais daquela altura.Quando se dá o 25 de Abril de 1974, Álvaro Vasconcelos decide regressar imediatamente a Portugal, depois de mais de 20 anos de ausência do país que deixara ainda criança. Ele conta que a viagem se fez num clima de incerteza sobre a eventualidade de ser preso, já que ele era procurado pela polícia política e tinha poucas informações sobre os contornos daquilo que então era visto apenas como um golpe militar."Nós decidimos vir a salto. Eu cheguei na madrugada do dia 1 de Maio a Lisboa. (...) Passamos a fronteira a salto, mas um colega nosso que era "legal", não tinha dificuldade nenhuma, não era exilado, não era perseguido pela polícia, atravessou a fronteira na sua carrinha. Ao apanhar-nos do outro lado da fronteira em Vilar Formoso, ele disse 'cheguei à fronteira, toda a gente gritava 'viva a liberdade' e dava-me um cravo!'. Depois cheguei e foi extraordinário. Cheguei no dia 1 de Maio de 1974, quando o golpe militar se transformou numa revolução popular e depois, sucessivamente, pôs termo à ditadura", recorda.Com o 25 de Abril abriram-se novas oportunidades, nomeadamente no que tange às modalidades da descolonização, depois de vários anos de guerra. Ainda assim, para alguns, subsistia ainda a ideia de que o império colonial poderia manter-se sob a forma de uma federação."O que temos que entender é que, por um lado, a descolonização era inevitável. O exército português já não estava preparado para combater, tinha-se chegado à conclusão que não havia solução militar para a guerra, mas havia sectores do poder português, inclusive do poder militar, como o general Spínola, que pensavam que era possível reconstruir o império em novas fórmulas. Era a ideia de uma federação de Estados. No fundo, isto está muito ligado a uma questão que é fundamental que eu coloco no livro e que se põe desde o 25 de Abril, que é assumirmos de forma plena os crimes coloniais. Isso, os capitães de Abril, os militares que fizeram a revolução, não queriam abrir esse dossier. É fácil perceber porquê, porque eles próprios tinham estado envolvidos na guerra colonial e teriam que se auto-incriminar. Portanto, é um assunto que passou a ser absolutamente tabu, os crimes da guerra colonial, e com ele, de certa forma, o colonialismo. Depois, o segundo aspecto é que o poder que surgiu do 25 de Abril manteve a mesma retórica lusotropicalista do contributo português para a civilização mundial através dos descobrimentos e isso está presente em todo o debate pós-25 de Abril", considera Álvaro Vasconcelos ao recordar a época que veio a seguir à Revolução dos Cravos e que marca também o epílogo do segundo volume das suas "Memórias em Tempo de Amnésia", obra que vai agora ser apresentada também nos próximos dias 18 e 19 de Outubro, respectivamente em Lisboa e no Porto.

Documentos RNE
Documentos RNE - General Humberto Delgado, un crimen de estado portugués en España - 26/05/23

Documentos RNE

Play Episode Listen Later May 26, 2023 55:43


El 13 de febrero de 1965, la policía política de la dictadura portuguesa, la PIDE, asesinó al general Humberto Delgado, uno de los más activos miembros de la oposición. Fue en España, en Villanueva del Fresno (Badajoz), a unos dos kilómetros de la frontera. Esa muerte, junto con la de su secretaria brasileña, Arajaryr Moreira de Campos, enturbió las relaciones, formalmente cordiales, entre las dictaduras de Franco y Salazar. En este programa, Luis Zaragoza traza la compleja biografía de unos de los personajes más singulares de la historia reciente de Portugal, y que desde la Revolución de los Claveles ha ascendido a la categoría de mito. Además, repasa las similitudes y las diferencias entre las dos dictaduras ibéricas, con ideología y objetivos comunes, pero surgidas en circunstancias distintas. Nacido en 1906, militar de vocación y de carrera, Humberto Delgado apoyó con entusiasmo la dictadura militar que derribó la república en 1926 y al Estado Novo forjado por Salazar en 1933. Ocupó importantes cargos en el régimen, como el de Director General de Aviación Civil o el de agregado militar en la embajada en Washington y representante de Portugal ante la OTAN. Pero, después, pasó a la oposición abierta a la dictadura. En 1958 se enfrentó al candidato del régimen en las elecciones presidenciales. Su campaña aunó a la oposición comunista y no comunista y se planteó como una confrontación con el régimen que arrastró a cientos de miles de personas. Perdió, oficialmente, aunque los resultados fueron controvertidos y siempre se consideró el presidente legítimo. Meses después, acosado por la dictadura, se exilió, primero en Brasil y luego en Argelia. A pesar de haber sido anticomunista visceral, terminó aliándose con el Partido Comunista Portugués y presidió la organización unitaria opositora Frente Patriótico de Liberación Nacional. Pero Delgado siempre quiso derrocar a la dictadura mediante un golpe militar, lo que le apartó de muchos de sus aliados. Dotado de un carácter impetuoso y aislado fuera de Portugal, Delgado se mostró impaciente por actuar. En esas circunstancias, la PIDE logró atraerlo a una trampa: debería entrevistarse con unos supuestos militares dispuestos a dar un golpe de Estado para acabar con Salazar, pero la entrevista ocurriría no en Portugal, sino en Badajoz. Allí lo mataron el 13 de febrero de 1965. Para la realización de este programa hemos contado con Frederico Delgado Rosa, nieto del general Delgado y autor del libro Humberto Delgado: biografía do general sem medo; Juan Carlos Jiménez Redondo, historiador y autor de libros como El caso Humberto Delgado o El otro caso Humberto Delgado; Manuel Loff, profesor de la Universidad de Oporto y especialista en la historia contemporánea portuguesa; e Hipólito de la Torre, historiador y autor de obras como Portugal y España contemporáneos. También, agradecemos la colaboración de la Universidad de Oporto y la corresponsalía de RTVE en Lisboa, que facilitaron las entrevistas realizadas en el país vecino. Además, gracias al Archivo de RTVE y a documentos cedidos para la ocasión por la RTP, podemos escuchar las voces de Humberto Delgado, Salazar y de colaboradores del general como Mário Soares Escuchar audio

Alta Definição
José Milhazes sobre os tempos passados na Rússia: "Podem chamar-lhe cegueira ideológica. Não fico chateado"

Alta Definição

Play Episode Listen Later Apr 9, 2023 46:46


José Milhazes vem da aldeia piscatória de Caxinas, na Póvoa de Varzim, e cresceu a ouvir que "filho de burro não pode ser cavalo". Da infância, onde acabar no mar, como o pai e o irmão, parecia uma fatalidade, conseguiu trazer o que de melhor encontrou. Estudou para ser padre, mas desistiu do seminário e alistou-se no Partido Comunista Português. Ainda jovem, foi para a União Soviética à procura da sociedade ideal, mas não a encontrou. Sobre esses tempos, diz que não fica chateado se lhes chamarem cegueira ideológica. "Não tenho problema em reconhecer que estou errado. Fico surpreendido com aquelas pessoas que já têm ideias acabadas para toda a vida". José Milhazes, numa grande entrevista de vida com Daniel OliveiraSee omnystudio.com/listener for privacy information.

P24
Ana Sá Lopes: "Num prazo de 20 anos podemos assistir à extinção do PCP"

P24

Play Episode Listen Later Feb 27, 2023 18:16


Depois de não se ter visto uma mudança no discurso do PCP sobre a invasão russa da Ucrânia e com um recorde negativo (4%) nas intenções de voto na última sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (Cesop) da Universidade Católica para o PÚBLICO, RTP e Antena 1, Ana Sá Lopes vem ao P24 falar sobre o futuro do Partido Comunista Português.

Deixar o Mundo Melhor
Ricardo Araújo Pereira

Deixar o Mundo Melhor

Play Episode Listen Later Oct 28, 2022 47:46


Nasceu três dias depois do 25 de Abril de 1974, estudou em colégios de freiras vicentinas, frades franciscanos e padres jesuítas, é ateu, foi militante do Partido Comunista Português, e ainda hoje acha que a sua "performance não é grande coisa". Ricardo Araújo Pereira, um português que todos conhecem - e de quase todos gostam - desconcertantemente sério nesta entrevista, em que nem sequer tentou fazer rir o entrevistador. Lisboeta, benfiquista e pai de família, licenciou-se na Universidade Católica Portuguesa, porque "era um percurso natural para quem saía do Colégio São João de Brito. Quanto ao curso de Comunicação Social, escolhi-o por não haver um curso para o que queria fazer. Uma pessoa que quer escrever textos humorísticos, tem de fazer o seu próprio curso, e foi isso que fiz. Tinha uma obsessão por ver o que acontece ao rosto de uma outra pessoa quando se ri". Não esqueceu o estágio feito no Jornal de Letras quando tinha 23 anos, a entrevista a Sophia em que a poetisa lhe ofereceu "chá com bolinhos", mas foi no humor que se encontrou profissionalmente. Gosta do riso "porque faz o tal barulho que me pagam para produzir, e porque é uma espécie de válvula da panela de pressão". Do Gato Fedorento ao Isto é Gozar com quem Trabalha, o humorista tornou-se a oposição alternativa ao estado da governação em Portugal. "Rir e chorar podem ser emoções vizinhas que representam um alívio de tensão", e é isto.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Efeito Borboleta
O Povo Unido,

Efeito Borboleta

Play Episode Listen Later May 10, 2022 38:16


Há muito que o Partido Comunista Português não estava sob escrutínio público como está desde a invasão da Ucrânia. Porquê, afinal? O que é o comunismo hoje? E o que foi?

Carretando
2x05|En Portugal pasou o que pasou

Carretando

Play Episode Listen Later Feb 18, 2022 63:47


Neste episodio especial de Carretando falamos sobre o resultado electoral das últimas eleccións portuguesas. A maioría absoluta de Costa e o Partido Socialista, o fracaso do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Portugués, o ascenso do Chega, a derrota do PSD... Para analizar todo isto temos connosco a Tereixa Constenla, corresponsal de El País en Lisboa e a Anxo Luxilde, escritor e xornalista. Neste faladoiro, ademáis de examinar os efectos dos comicios lusos, tratamos os posibles paralelismos e diferenzas con respecto do panorama político español.

Odemira livre podcast
#2 Legislativas 2022 - João Dias, Partido Comunista Português

Odemira livre podcast

Play Episode Listen Later Jan 14, 2022 100:09


À conversa com João Dias, nº1 da lista da CDU à assembleia da República pelo círculo elitoral de Beja

Os 230
Duarte Alves - PCP 99/230

Os 230

Play Episode Listen Later Jan 12, 2022 37:38


Nesta entrevista contamos com a presença do deputado Duarte Alves, do Partido Comunista Português (PCP), que foi eleito pelo círculo eleitoral de Lisboa. Aproximou-se da Juventude Comunista Portuguesa, desde cedo, o que levou à sua inscrição no período do seu ensino superior. Conta que foi após a sua formação na área da economia que quis "colocar-se ao serviço da causa do PCP", na Assembleia da República.

Podcast Conversa
#290 Chumbo do Orçamento de Estado 2022, Eleições Antecipadas. Quem ganha? Quem perde?

Podcast Conversa

Play Episode Listen Later Oct 31, 2021 39:48


O Orçamento de Estado para 2022 foi chumbado, com votos contra do PSD, CDS-PP, Chega, Iniciativa Liberal, Bloco de Esquerda, Partido Comunista Português, Partido Ecologista Os Verdes. O Partido Socialista votou sozinho a favor e o PAN absteve-se, uau, que novidade... assim como as deputadas não inscritas Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues, que à partida não estarão de volta ao Parlamento, pois já não estão nos seus partidos. Quem irá ganhar as próximas eleições? A Esquerda está estável a nível de lideranças, já a Direita está em processo de escolha de lideranças, no PSD a disputa é entre Rui Rio e Paulo Rangel, no CDS-PP é entre Francisco Rodrigues dos Santos e Nuno Melo. Marcelo Rebelo de Sousa irá agora com os partidos a fim de marcar as eleições antecipadas após a dissolução da Assembleia da República.

Polititank
Redação Polititank: Um filme para ver, A Aprovação do Orçamento

Polititank

Play Episode Listen Later Oct 26, 2021 6:54


Artigo de José Costa sobre "Um filme para ver, A Aprovação do Orçamento" Narrado por Emanuel Almeirante. : Chega-se a esta altura e começa o drama e a encenação do costume no Parlamento. A votação do Orçamento de Estado. Vemos, por um lado, a esquerda parlamentar com o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista Os Verdes (que ninguém sabe bem o que é nem quanto vale, mas que está lá no parlamento à boleia da CDU) e o PAN a dizer, todos os dias, que vão chumbar o orçamento e que este não serve. Estranho é que o mesmo BE e PCP andaram a aprovar orçamentos do Partido Socialista desde 2016, mas ironicamente os orçamentos nunca serviram e está tudo errado. Não sei em que ponto ficamos, então andaram a aprovar orçamentos anteriores, mas agora dizem que está tudo mal e que o governo não deu respostas aos problemas do país? Ora estes partidos à esquerda têm uma dificuldade que é aceitar que se tem de controlar a despesa e apresentar contas certas. Depois ao mesmo tempo, vemos o Partido Socialista a tentar, em jeito malabarista, para o qual tem muito talento, agradar a Gregos e a Troianos. ...

JE Notícias
Marcelo: “É muito simples: ou há Orçamento ou avanço para a dissolução” do Parlamento | O Jornal Económico

JE Notícias

Play Episode Listen Later Oct 25, 2021 1:00


As afirmações surgem depois do Partido Comunista Português ter anunciado que irá votar contra o OE2022, garantido assim a sua inviabilização na votação na generalidade agendada para esta quarta-feira na Assembleia da República.

Polititank
#14 Cuba; Voting Rights; G20 E Fim de Paraísos Fiscais;Vieira Sai do Benfica; Cabrita Culpa Sporting

Polititank

Play Episode Listen Later Jul 19, 2021 99:26


Chegou o episódio 14, com alguns temas que tiveram início na semana passada, mas que só nesta semana tiveram um desfecho. Em Cuba o povo saiu à rua em protesto, querendo a liberdade, fartos do regime e da ditadura comunista, por cá o Partido Comunista Português conseguiu dar a volta ao texto e dizer que tu é manipulação dos Estados Unidos da América e culpa do embargo, sendo que Cuba negoceia com o resto do mundo, incluindo Portugal. Os Voting Rights estão uma vez mais em cima da mesa, com Republicans e Democrats em cada lado da barricada, Kamala Harris diz que as pessoas não têm Xerox em casa, como forma de desculpar, que as pessoas não sejam identificadas. Ninguém verifica se é realmente aquela pessoa a votar, o racismo é logo posto em cheque, nós por cá conseguimos ter um simples cartão do cidadão, que resolve a situação. O G20 juntou-se e parecem estar a entrar na economia mundial, qual novo governo mundial, procurando assim pôr fim aos paraísos fiscais para as empresas. Luís Filipe Vieira demite-se de Presidente do Sport Lisboa e Benfica, onde começa e onde acaba o Benfica, Cláudio Fonseca e Emanuel Almeirante fizeram os seus statements, mostrando os seus cachecóis do Benfica. Eduardo Cabrita volta à vaca fria e culpabiliza o Sporting Clube de Portugal pelos festejos, dizendo que houve um abuso do direito à manifestação e que por tal, as regras e a lei tem que ser alterada, parece um caminho perigoso. Segue o Polititank nas nossas Redes Sociais.

Podcast Conversa
#262 Candidatos a Lisboa - Análise De Cada Cabeça De Lista - Beatriz Gomes; João Ferreira; Fernando Medina; Bruno Soares; Carlos Moedas e Nuno Graciano

Podcast Conversa

Play Episode Listen Later Mar 30, 2021 45:44


#politica​ #portugal​ #lisboa​ Episódio dedicado à análise sobre os candidatos às Eleições Autárquicas 2021 na Câmara Municipal de Lisboa. Fernando Medina será o candidato do Partido Socialista, sendo que é um privilégio Fernando Medina ser comentador na TVI, pois dá-se ao luxo de comentar os candidatos , que vão aparecendo. Carlos Moedas candidato apoiado pelo PSD pelo CDS-PP e Aliança. Carlos Moedas foi comissário europeu, rotulado também como o candidato da Troika, seguidor de Passos Coelho, pretende trazer a candidatura apelidada de Novos Tempos. Bruno Soares apresenta candidatura pela Iniciativa Liberal, vamos esperar para ver o que a sua campanha vai trazer, sabendo nós como é a IL. Beatriz Gomes é a candidata do Bloco de Esquerda, já foi autarca e é deputada do Bloco de Esquerda na Assembleia da República. João Ferreira representará a CDU, tal como o vem a fazer desde 2013 e 2017, pelo meio candidaturas ao Parlamento Europeu e Presidência da República, estaremos assim a ver quem será o próximo Secretário Geral do Partido Comunista Português? Nuno Graciano no Chega, começou com a sua apresentação junto ao Padrão dos Descobrimentos e começou logo com a gafe do seu "currículo político". Como sempre, as eleições vão trazer momentos interessantes, como sempre. Segue nas Redes Sociais o teu Podcast Conversa.

Convocar a História
O PCP e as mulheres

Convocar a História

Play Episode Listen Later Mar 24, 2021


Com este programa, o Convocar a História encerra a série dedicada à história do Partido Comunista Português. O ciclo termina com uma conversa com Margarida Tengarrinha, resistente antifascista e dirigente histórica do Partido, sobre o PCP e as mulheres.

Cassete Pirata
Cassete Pirata #3 - O Centenário do PCP

Cassete Pirata

Play Episode Listen Later Mar 23, 2021 82:53


O terceiro episódio do podcast do Manifesto74 tem como tema central as comemorações dos 100 anos do Partido Comunista Português. Na rubrica Megafone o destaque para as lutas dos trabalhadores da Groundforce, o 8 de Março (Dia Internacional da Mulher) e as lutas dos trabalhadores da Administração Pública. A fechar o podcast a rubrica Rewind com comentários sobre notícias e publicações na imprensa e redes sociais. O terceiro episódio teve a participação de: - Álvaro Figueiredo (Moderador), André Solha, Maria Neto e Miguel Tiago Segue o podcast em:

Convocar a História
O PCP e a questão colonial

Convocar a História

Play Episode Listen Later Mar 17, 2021


Num momento em que passam 60 anos sobre o início da guerra colonial, convidámos José Manuel Lopes Cordeiro para uma conversa sobre o Partido Comunista Português e os modos como foi abordando a questão colonial.

Podcast Conversa
#259 100 Anos do Partido Comunista Português (PCP). O Que é afinal o PCP?

Podcast Conversa

Play Episode Listen Later Mar 10, 2021 18:22


#Comunismo #Podcast #Política O PCP fez 100 anos e multiplicaram-se as mensagens de parabéns, mas também as bandeiras do PCP espalhados pelos vários municípios do país. Mas afinal o que é o PCP?

Radicais Livres (2ª Série)
100 anos do Partido Comunista Português.

Radicais Livres (2ª Série)

Play Episode Listen Later Mar 6, 2021 45:19


E o Resto é História
100 anos do PCP e 150 anos da Comuna de Paris

E o Resto é História

Play Episode Listen Later Mar 3, 2021 50:16


Porque é que uma experiência de governo que durou apenas 70 dias deixou uma marca tão perene, a eficácia das ideias de Karl Marx e o centenário do Partido Comunista Português. See omnystudio.com/listener for privacy information.

Convocar a História
100 anos do PCP: História e historiografia

Convocar a História

Play Episode Listen Later Mar 3, 2021


Nos cem anos do Partido Comunista Português, o Convocar a História assinala a efeméride com uma série de quatro programas centrados na história deste partido. O ciclo inicia-se com uma conversa com José Pacheco Pereira precisamente sobre história e historiografia. 

Os 230
Alma Rivera - PCP 8/230

Os 230

Play Episode Listen Later Nov 9, 2020 44:22


Francisco Cordeiro de Araújo entrevista Alma Rivera, a deputada mais nova do Partido Comunista Português. Vê o video no youtube ou redes sociais. https://www.youtube.com/channel/UCimv0t46wzAIsbBrjqIwc8A?view_as=subscriber

Alguém
Presidenciais 2021- Candidato do PCP- João Ferreira

Alguém

Play Episode Listen Later Sep 24, 2020 20:18


Uma análise ao Partido Comunista Português e ao seu candidato para as Presidenciais de 2021, João Ferreira.

Fumaça
[Republicação] Margarida Tengarrinha sobre a vida na clandestinidade (É Apenas Fumaça)

Fumaça

Play Episode Listen Later Jul 9, 2020 106:42


É uma militante anti-fascista de 92 anos que esteve, durante a ditadura, cerca de duas décadas na clandestinidade. Em conjunto com o seu companheiro, o artista José Dias Coelho, criou uma oficina de falsificação de documentos para os camaradas do partido, incluindo Álvaro Cunhal, eleito líder do Partido Comunista Português em 1961, já depois de ter fugido da prisão de Peniche, um ano antes. Durante a década de 1950, os lares de Margarida e José foram dos mais importantes núcleos de resistência ao fascismo. Ficar em casa e apenas sair “para fazer coisas inadiáveis” foi exatamente a sua vida, durante duas décadas. Há pouco mais de dois meses, no final de abril, o Ricardo Esteves Ribeiro telefonou a Margarida Tengarrinha. Ela disse-lhe: “Oh Ricardo, eu sou das pessoas menos afetadas com isto, tive vários anos de prática!” Estava saudável, com energia e até voltou a pintar. Recorda a entrevista que hoje republicamos e que foi gravada ao vivo, no evento de comemoração do segundo aniversário do Fumaça. Support the show: https://www.patreon.com/fumaca

The Learn Portuguese Online Podcast
LPOP ep. 64 - Partido Socialista vence eleição legislativa em Portugal

The Learn Portuguese Online Podcast

Play Episode Listen Later Oct 12, 2019 6:18


Partido Socialista vence eleição legislativa em Portugal Apesar da vitória, partido do primeiro-ministro António Costa não vai ter maioria no Parlamento. O Partido Socialista comandado pelo atual primeiro-ministro, António Costa, venceu a eleição legislativa de Portugal realizada neste domingo (6). Com quase 99% das urnas apuradas, o partido de Costa recebeu 36,65% dos votos e conquistou 106 cadeiras. Já o Partido Social Democrata (PSD, centro-direita), do atual líder da oposição Rui Rio, ficou em segundo lugar, com 27,9% dos votos e 77 assentos. O Bloco de Esquerda teve 9,67% dos votos e conquistou 19 cadeiras. A Coligação Democrática Unitária - formada pelo Partido Comunista Português e pelo Partido Ecologista Os Verdes - ficou na quarta colocação, com 6,46% dos votos e 12 cadeiras. Apesar da vitória deste domingo, o Partido Socialista não vai ter maioria no Parlamento - eram 230 cadeiras em disputas - e será obrigado a compor com outras agremiações para conseguir governar. Depois do resultado, Costa anunciou que deve procurar outros partidos para formar uma aliança. "A estabilidade é essencial para a credibilidade internacional de Portugal e para atrair investidores. O PS vai se esforçar para estabelecer soluções que possam assegurar essa estabilidade em toda a legislatura", afirmou Costa. No mandato atual, o Partido Socialista é apoiado pelo Bloco de Esquerda e pela Coligação Democrática Unitária. Na eleição passada, o Partido Socialista recebeu 32,38% e conquistou 85 cadeiras. A votação foi encerrada às 20h, do horário local (16h do horário de Brasília), com o fechamento das urnas no arquipélago dos Açores. Economia ajudou Partido Socialista Costa, de 58 anos chegou ao poder em 2015 graças a uma aliança com a esquerda radical. Com bons resultados na economia, o Partido Socialista era apontado como favorito para vencer a disputa eleitoral. Portugal é um dos únicos países europeus onde a extrema direita não ganha espaço. O socialista prometeu junto a seus aliados virar a página da austeridade no país onde o desemprego atingiu um pico de 17% em 2013. Costa consolidou a recuperação econômica, adotando medidas como aumento dos salários dos serviços públicos e aposentadorias, que haviam sofrido fortes cortes durante a crise econômica. O resultado dessa política foi um crescimento de 3,5% em 2017 e 2,4% em 2018. Já o desemprego caiu pela metade e voltou ao seu nível anterior à crise (6,4% em julho). O déficit, que atingiu 11,4% do PIB em 2010, e ainda era de 4,4% em 2015, deve ser de apenas 0,2% neste ano - algo nunca visto desde o retorno da democracia ao país, em 1974. "Este contexto excepcional é o sonho de todo governo", sintetiza o economista João Duque, para quem a economia portuguesa desfrutou da situação europeia e do "boom do turismo", que representa cerca de 10% do PIB. Source: G1 --- Send in a voice message: https://anchor.fm/learnportugueseonline/message Support this podcast: https://anchor.fm/learnportugueseonline/support

Fumaça
Legislativas 2019: Como salvar o Estado Social? (Perguntar Não Ofende)

Fumaça

Play Episode Listen Later Sep 7, 2019 128:21


Para responder à pergunta “Como salvar o Estado Social?”, o podcast Perguntar Não Ofende, produzido por Daniel Oliveira e por João Martins, juntou representantes dos seis partidos com assento parlamentar candidatos às legislativas de outubro: Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, João Oliveira, do Partido Comunista Português, Alexandra Leitão, do Partido Socialista, Inês de Sousa Real, do Pessoas-Animais-Natureza, Carlos Silva, do Partido Social Democrata e Nuno Magalhães, do CDS – Partido Popular.  Este debate, assim como várias entrevistas que iremos publicar, está integrado no projeto Eleições em Rede 2019, que junta projetos independentes, meios de comunicação locais e universitários na cobertura da campanha para a votação do próximo Parlamento. Support the show.

Poder Público
A Caixa saiu de Alhandra, o Mário saiu do PCP (e tudo começou com um assalto)

Poder Público

Play Episode Listen Later Dec 19, 2018 16:08


Neste episódio, a história de como a Caixa Geral de Depósitos saiu da vila de Alhandra, no concelho de Vila Franca de Xira, e como este episódio levou a que Mário Cantiga saísse do Partido Comunista Português, ao fim de 30 anos de militância. Subscreva o programa Poder Público no iTunes, SoundCloud, Spotify e nas aplicações para podcasts. Descubra outros programas em publico.pt/podcasts.

Perguntar Não Ofende
Jerónimo de Sousa: “O PCP acredita na geringonça?”

Perguntar Não Ofende

Play Episode Listen Later Oct 29, 2018


Elogiados por serem confiáveis, os comunistas têm sabido negociar medidas e, com todos os limites que eles próprios denunciam, ter vitórias num tempo em que esquerda é sinónimo de derrota. Neste episódio, conversamos com o secretário-geral do Partido Comunista Português, Jerónimo de Sousa. Foi o homem que, com António Costa e Catarina Martins, fez história, conseguindo construir […]

Velo Culture - Gazeta do Ciclista
Ep 04. O Futuro da Mobilidade em Matosinhos e na AMP

Velo Culture - Gazeta do Ciclista

Play Episode Listen Later Jun 14, 2018 62:42


Entrevista com o vereador da Mobilidade e Transportes da Câmara Municipal de Matosinhos. O José Pedro Rodrigues foi eleito pelo Partido Comunista Português e este é o seu segundo mandato à frente desta pasta. Há obra feita, mas muitos projectos e desafios ainda pela frente. Um agradecimento especial aos nossos anfitriões no Manifesto - omanifesto.pt Alguns recursos: Proposta do Movimento pela Linha de Leixões: https://readymag.com/u94212582/mpll/ A LdL no Público: https://www.publico.pt/2018/02/10/local/noticia/todos-de-acordo-com-reabertura-da-linha-de-leixoes-ao-trafego-de-passageiros-1802474 Ciclovia no Vale do Leça: https://www.dn.pt/lusa/interior/camara-de-matosinhos-investe-10-me-para-devolver-rio-leca-a-populacao-8620357.html This podcast is powered by Pinecast.

Izquierda Unida
#029 - Escuela de Invierno IU 2017 :: 05 Análisis del avance extrema derecha en Europa y propuestas desde el sur

Izquierda Unida

Play Episode Listen Later Feb 6, 2017 102:55


Taller "Análisis del avance extrema derecha en Europa y propuestas desde el sur" de la Escuela de Invierno de Izquierda Unida 2017 organizada por la FEC. Intervienen: · Henar Moreno - Secretariado Político del PIE · Marina Albiol - Eurodiputada y Responsable Federal de Relaciones Internacionales de IU · Yann Lelann - Espace Marx de Francia · Miguel Viegas - Eurodiputado del Partido Comunista Portugués · Fabio Amato - Rifondazione Comunista de Italia

Izquierda Unida
#017 - "¿Qué pasa en Portugal? El acuerdo de Gobierno del que nadie habla", con José Gusmão y Yolanda Díaz

Izquierda Unida

Play Episode Listen Later Nov 19, 2016 56:02


Charla organizada por la FEC sobre lo que está pasando en Portugal tras el acuerdo de gobierno entre el Partido Socialista, el Bloco de Esquerda y el Partido Comunista Portugués. Participan: Marga Ferré - Presidenta de la FEC José Gusmão - Dirigente del Bloco de Esquerda Yolanda Díaz - Diputada por En Marea y Coordinadora de Esquerda Unida