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Os efeitos psíquicos da pressão nas empresas, os desafios da fama, a crise do masculino e a urgência de reconstruir vínculos "Desde muito cedo, entendi que o sofrimento humano não vem de dentro. Nasce no encontro das pessoas com o seu tempo, país, condição social e com a sua religiosidade", diz o psicólogo Alexandre Coimbra Amaral. No papo com Paulo Lima no Trip FM, o especialista mergulha em temas urgentes: burnout, masculinidade, pertencimento, infância e medicalização da vida. Com uma trajetória que inclui trabalho clínico, experiência em grandes empresas e participações em programas de TV, Alexandre é autor do best-seller "Cartas de um terapeuta para seus momentos de crise", que vendeu mais de 13 mil exemplares no Brasil. Agora, ele se prepara para lançar seu primeiro livro infantil, "De Onde Nascem as Perguntas?", uma obra poética que convida as crianças a enxergarem a dúvida como um caminho para o crescimento pessoal. Na entrevista, ele reflete sobre os desafios do nosso tempo e compartilha sinais de esperança, como o aumento de grupos masculinos de escuta, movimentos coletivos contra o individualismo e a redescoberta da natureza como forma de cura. O programa fica disponível no play aqui em cima e no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/04/680bc50910a67/alexandre-coimbra-amaral-psicologo-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação; LEGEND=Alexandre Coimbra Amaral; ALT_TEXT=Alexandre Coimbra Amaral]
Em homenagem à turma de amigos mais carismática da TV, o Trip FM reúne trechos de conversas com os três atores numa edição especial O Trip FM desta semana abre espaço para um episódio especial da série Dois de Ouro — que, desta vez, vira Três. O programa reúne trechos de conversas com Wagner Moura, Lázaro Ramos e Vladimir Brichta, três atores que se formaram no teatro baiano e ganharam projeção nacional com a peça A Máquina, no início dos anos 2000. Além da trajetória profissional, os três compartilham uma amizade antiga. “Temos um grupo de WhatsApp ativado diariamente com uma quantidade muito grande de besteira, outra quantidade grande de afeto e outra de assuntos relevantes. Nós três temos apartamento no mesmo prédio em Salvador. Nossos filhos são amigos. São irmãos pro resto da vida”, conta Wagner. Mesmo morando parte do tempo fora do país, Wagner reforça o quanto permanece ligado à sua origem. “Eu sou muito conectado com a Bahia. Quando trabalho fora, sinto que o que me torna interessante é justamente isso: eu vim de Salvador, tenho família do sertão... Meu axé está aí”, diz. Lázaro relembra a influência da tia que o levou para estudar em Salvador. “Minha família toda vem da Ilha do Paty, no Recôncavo Baiano, que até hoje não tem água encanada. Quando minha tia saiu dessa ilha e foi morar em Salvador, a primeira coisa que ela fez foi pegar os sobrinhos e ir levando pra estudar. Essa mulher criou 18 crianças, e eu fui uma delas", conta. “O conceito de felicidade, de sucesso, era se todos estivessem também. Hoje em dia, meu conceito é exatamente esse”. Vladimir também fala sobre o processo de reconhecimento das próprias raízes: “À medida que fui morando no Rio, fui entendendo o quanto eu era baiano. Minhas referências culturais, minha escola, tudo veio de lá. Eu sou muito baiano mesmo, com muito orgulho.” O programa reúne reflexões sobre amizade, identidade, paternidade e arte, costuradas por histórias e visões desses três nomes centrais da cultura brasileira.
O peso da perda da mãe marcou o ator, que lapidou sua leveza no humor, ganhou projeção no Porta dos Fundos e agora se destaca em "Vale Tudo" No ar no remake de “Vale Tudo”, na TV Globo, Luis Lobianco já interpretava diversos papéis desde pequeno, imaginando-se caçador ou cirurgião plástico. Foi no teatro que ele encontrou um lugar de cura quando a perda da mãe marcou profundamente sua infância. "Fui precoce em muitos sentidos, mas também fiquei uma criança eterna, precisando de colo, de amor", diz o ator e humorista. "É uma reconstrução mesmo — de identidade, de autoestima, de se perceber no mundo com esse buraco." Em um papo com Paulo Lima no Trip FM desta sexta-feira (4), Luis relembra sua trajetória pessoal e artística, revelando bastidores do Porta dos Fundos, produtora que o projetou nacionalmente. “O Porta era um grupo de pessoas inadequadas para o mercado. Ninguém imaginava que ia virar o que virou”, conta. Entre risos, memórias e reflexões, ele também reforçou o compromisso de usar sua visibilidade na luta contra a discriminação: "Comecei a construir a minha sexualidade, a entender o que eu era, o que eu gostava, só quando eu saí da escola. É tão injusto largar tão atrás... Um desejo que eu tenho é que crianças e adolescentes possam se expressar livremente, porque isso é um grande adianto na vida, na autoestima, na construção da identidade." O programa fica disponível no Spotify e no site da Trip! [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/04/67eeff53f2456/luis-lobianco-ator-vale-tudo-globo-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação; LEGEND=Luis Lobianco; ALT_TEXT=Luis Lobianco] Trip. De que forma a perda da sua mãe impactou sua infância e autoestima? Com a morte da minha mãe, eu fui uma criança precoce em muitos sentidos. Sei lá, oito anos, eu ia sozinho pra escola, pagava conta no banco. Por outro lado, paralelo a isso, também ficou uma criança eterna, precisando de colo, precisando de amor, querendo que alguém pegue no colo. O mais duro é que você perde completamente a sua autoestima, porque você imagina: você está na escola, todo mundo tem mãe, você não tem. Eu tinha muita vergonha de falar que eu não tinha mãe quando era criança. Eu não falava, sabe? Eu evitava esse assunto. Porque é uma reconstrução mesmo, de identidade, de autoestima, de se perceber no mundo com esse buraco, né? Para onde vai esse luto que se cria na cabeça da criança? Que sinapse que faz ali que depois você não consegue desfazer nunca mais, entendeu? Como foi a sua vivência afetiva e o processo de descoberta da sexualidade na adolescência? Eu não tinha uma vivência que os meus outros amigos e amigas tinham de ter um namorado, uma namorada, ficar apaixonado, escrever no diário. Todo mundo quer um momento dessa descoberta, mas é muito cruel que a gente não podia expressar isso de forma alguma. Eu comecei a construir isso, a minha sexualidade, entender o que eu era, o que eu gostava, quando eu saio da escola. Mas olha só que droga largar tão atrás. É tão injusto. Um desejo que eu tenho é que crianças e adolescentes possam se expressar livremente quando for o momento de ter as primeiras sensações da sexualidade, da orientação, do gênero. Porque isso é um grande adianto na vida, entendeu? É um grande adianto na autoestima, na construção da identidade. Como foi o início da sua trajetória no Porta dos Fundos e o impacto do grupo na sua carreira? Em 2012, YouTube era tudo mato. Fui convidado para o Porta e pensei: 'Olha mais um grupo se reunindo para fazer uma coisa sem dinheiro'. Quase que eu não fui. O Porta era um grupo de pessoas inadequadas para o mercado, porque o mercado não absorvia e não investia nesses atores, autores, diretores, ideias e nesse humor. A gente se juntou para fazer algo que fazia sentido para a gente. O humor, até pela possibilidade do improviso, são palcos mais generosos. Ninguém imaginava que ia virar o que virou. O Porta estreou e, em poucos dias, todas as TVs estavam ligando com convites. Finalmente consegui entrar na bolha do audiovisual. Você acredita que a arte tem um papel de cura? A gente teve um belo demonstrativo aí, na pandemia, do que a arte pode fazer pelas pessoas. A arte no sentido de cura mesmo. E ouvi algumas vezes coisas do tipo: ‘eu pensei em me matar, mas eu assisti o programa, eu vi uma cena, eu vi isso e aí eu ri e aí eu vi que a vida vale a pena'. A gente sabe onde a gente encontra cura. A gente só tem que ceder menos ao medo e ao ódio. E aí a gente tem alguma chance.
Mais de 50 anos depois da queda do voo da Força Aérea Uruguaia na Cordilheira dos Andes, Antonio Vizintín conta com sobreviveu à tragédia “Apesar de tanto ter entrado em contato com a morte nos Andes, a morte de minha esposa foi um golpe duro, me abalou muito mais. Mas a vida segue, não podemos nos deixar prender por esses momentos. Se na montanha não nos permitimos chorar porque isso nos destruiria, aqui também não podíamos”. A frase de Antonio Vizintín, o Tintin, mostra a força que marcou sua trajetória como um dos sobreviventes do famoso acidente aéreo nos Andes. Em outubro de 1972, um erro causou a queda de um avião da Força Aérea Uruguaia no meio da Cordilheira dos Andes. Durante 72 dias, os 28 sobreviventes lutaram pela vida em condições extremas, tomando decisões impensáveis para sobreviver, como se alimentar da carne de seus companheiros falecidos. “Quebramos um tabu religioso, um tabu humano, mas era uma decisão de vida ou morte. Ou nos alimentávamos e sobrevivíamos, ou não nos alimentávamos e morríamos. Foi uma decisão tomada a 3600 metros de altura, com muito frio, muita fome e uma imensa vontade de continuar vivos", conta. Em 1992, vinte anos depois da tragédia, Paulo Lima se encontrou pela primeira vez com Tintin, na época com 38 anos, para uma entrevista que estampou as páginas da Trip. Agora, eles voltam a conversar no Trip FM. Além de relembrar os momentos mais marcantes daquela experiência, o uruguaio compartilha as lições de vida que carregou nos últimos 50 anos.“Não foi por acaso que saímos da montanha. Houve muito raciocínio, planejamento, cálculo, estratégia. Foi a inteligência humana, e não o acaso, que nos permitiu sobreviver", afirma. “As pessoas acham que essa é uma história de sucesso, mas, na verdade, é uma história de muitos fracassos. Tentamos muitas expedições, falhamos, mas ganhamos experiência e aplicamos na tentativa seguinte. Assim é a vida: fracassar, aprender e evoluir”. Você pode conferir esse papo no play aqui em cima ou no Spotify do Trip FM. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/03/67e6ea6f4eccb/antonio-vinzitin-tintin-acidente-aviao-andes-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Reprodução; LEGEND=Em outubro de 1972, por causa de uma falha humana, um avião da Força Aérea Uruguaia perdeu altitude e acabou se chocando contra a Cordilheira dos Andes; ALT_TEXT=Em outubro de 1972, por causa de uma falha humana, um avião da Força Aérea Uruguaia perdeu altitude e acabou se chocando contra a Cordilheira dos Andes] Trip. Depois de viver o que viveu, como você lidou emocionalmente com a perda da sua esposa, anos depois? Antonio Vizintín. A morte de minha esposa foi um golpe muito duro para mim e para meus filhos. Foi uma época muito difícil, em que eu chorava na ducha para que ninguém me visse. Apesar de estar em contato com a morte na montanha, essa perda me atingiu muito mais. A vida parecia ir bem ao lado da família e, de repente, tudo muda. Foi um golpe muito duro, mas a vida segue. Não podemos nos deixar prender por esses momentos, precisamos seguir em frente. O que foi mais difícil durante a experiência na montanha? O frio foi o maior desafio. Foram 72 dias enfrentando temperaturas extremamente baixas, chegando a -40 graus. A necessidade de comer e sobreviver superava qualquer outro pensamento. Nossa sobrevivência dependia da nossa capacidade de lidar com essas adversidades extremas. Como foi o momento em que decidiram se alimentar dos corpos dos companheiros? Foi uma decisão muito difícil, pois rompemos um grande tabu, tanto religioso quanto humano. Mas era uma questão de vida ou morte. Ou nos alimentávamos e sobrevivíamos, ou morríamos. A decisão foi tomada a 3.600 metros de altura, com muito frio e muita fome. Era uma decisão de sobrevivência. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/03/67e6ead1dfa8c/antonio-vinzitin-tintin-acidente-aviao-andes-trip-fm-mh2.jpg; CREDITS=Reprodução; LEGEND=Por 72 dias, os 28 sobreviventes foram obrigados a improvisar pela vida e recorrer à carne de seus companheiros mortos.; ALT_TEXT=Por 72 dias, os 28 sobreviventes foram obrigados a improvisar pela vida e recorrer à carne de seus companheiros mortos.] Em algum momento você voltou a acreditar que Deus estava com vocês na montanha? No início, eu não entendia onde estava aquele Deus todo-poderoso que todos falam. Era difícil compreender por que estávamos passando por tudo aquilo. Para mim, parecia que Deus nos havia abandonado. A minha fé foi abalada profundamente durante aquele tempo. Quais foram os principais fatores que permitiram a sobrevivência do grupo? Nossa sobrevivência foi resultado de muito raciocínio, cálculo e planejamento. Criamos uma logística, nos mantivemos disciplinados e sacrificialmente nos dedicamos uns aos outros. Cada um fez o que podia para ajudar. Foi a inteligência humana e a disciplina que nos permitiram sair vivos dessa situação. Você disse que essa é uma história de fracassos. Qual foi o maior aprendizado que tirou dos fracassos? O maior aprendizado que tiramos dos fracassos foi que precisamos aprender com os erros. Tentamos várias expedições e falhamos em todas, mas cada falha nos ensinou algo novo, algo que aplicamos nas tentativas seguintes. O fracasso é uma parte do processo de aprendizagem. Só assim é possível evoluir e chegar ao sucesso. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/03/67e6eaede900e/antonio-vinzitin-tintin-acidente-aviao-andes-trip-fm-mh3.jpg; CREDITS=Reprodução; LEGEND="Éramos 45 pessoas no total e logo na queda morreram 17 companheiros, restando 28. Durante nossa luta na neve, aos poucos foram morrendo outros. No final, sobraram só 16 de nós com vida."; ALT_TEXT="Éramos 45 pessoas no total e logo na queda morreram 17 companheiros, restando 28. Durante nossa luta na neve, aos poucos foram morrendo outros. No final, sobraram só 16 de nós com vida."] Como a experiência na montanha mudou sua visão sobre o que realmente importa na vida? Quando tudo parece perdido, você começa a dar valor às pequenas coisas: uma ducha quente, um prato de comida, um copo de água. E, principalmente, momentos com as pessoas que amamos. Nunca sabemos quando será o último abraço ou o último beijo. Essas pequenas coisas, que muitas vezes negligenciamos, são as que realmente importam.
A atriz e apresentadora fala sobre família, religião, casamento e conta pra qual de seus tantos amigos ligaria de uma ilha deserta Regina Casé bem que tentou não comemorar seu aniversário de 71 anos, celebrado no dia 25 de fevereiro. Mas o que seria um açaí com pôr do sol na varanda do Hotel Arpoador se transformou em um samba que só terminou às 11 horas da noite em respeito à lei do silêncio. "Eu não ia fazer nada, nada, nada mesmo. Mas é meio impossível, porque todo mundo fala: vou passar aí, vou te dar um beijo", contou em um papo com Paulo Lima. A atriz e apresentadora tem esse talento extraordinário pra reunir as pessoas mais interessantes à sua volta. E isso vale para seu círculo de amigos, que inclui personalidades ilustres como Caetano Veloso e Fernanda Torres, e também para os projetos que inventa na televisão, no teatro e no cinema. Inventar tanta coisa nova é uma vocação que ela herdou do pai e do avô, pioneiros no rádio e na televisão, mas também uma necessidade. “Nunca consegui pensar individualmente, e isso até hoje me atrapalha. Mas, ao mesmo tempo, eu tive que ser tão autoral. Eu não ia ser a mocinha na novela, então inventei um mundo para mim. Quase tudo que fiz fui eu que tive a ideia, juntei um grupo, a gente escreveu junto”, afirma. No teatro, ao lado de artistas como o diretor Hamilton Vaz Pereira e os atores Luiz Fernando Guimarães e Patrícia Travassos, ela inventou o grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, que revolucionou a cena carioca nos anos 1970. Na televisão, fez programas como TV Pirata, Programa Legal e Brasil Legal. "Aquilo tudo não existia, mas eu tive que primeiro inventar para poder me jogar ali”, conta. LEIA TAMBÉM: Em 1999, Regina Casé estampou as Páginas Negras da Trip De volta aos cinemas brasileiros no fim de março com Dona Lurdes: O Filme, produção inspirada em sua personagem na novela Amor de Mãe (2019), Regina bateu um papo com Paulo Lima no Trip FM. Na conversa, ela fala do orgulho de ter vindo de uma família que, com poucos recursos e sem faculdade, foi pioneira em profissões que ainda nem tinham nome, do título de “brega” que recebeu quando sua originalidade ainda não era compreendida pelas colunas sociais, de sua relação com a religião, da dificuldade de ficar sozinha – afinal, “a sua maior qualidade é sempre o seu maior defeito” –, do casamento de 28 anos com o cineasta Estêvão Ciavatta, das intempéries e milagres que experimentou e de tudo o que leva consigo. “Eu acho que você tem que ir pegando da vida, que nem a Dona Darlene do Eu Tu Eles, que ficou com os três maridos”, afirma. “A vida vai passando e você vai guardando as coisas que foram boas e tentando se livrar das ruins”. Uma das figuras mais admiradas e admiráveis do país, ela ainda revela para quem ligaria de uma ilha deserta e mostra o presente de aniversário que ganhou da amiga Fernanda Montenegro. Você pode conferir esse papo a seguir ou ouvir no Spotify do Trip FM. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/03/67d446165a3ce/header-regina-interna.jpg; CREDITS=João Pedro Januário; LEGEND=; ALT_TEXT=] Trip. Além de atriz, você é apresentadora, humorista, escritora, pensadora, criadora, diretora… Acho que tem a ver com uma certa modernidade que você carrega, essa coisa de transitar por 57 planetas diferentes. Como é que você se apresentaria se tivesse que preencher aquelas fichas antigas de hotel? Regina Casé. Até hoje ponho atriz em qualquer coisa que tenho que preencher, porque acho a palavra bonita. E é como eu, vamos dizer, vim ao mundo. As outras coisas todas vieram depois. Mesmo quando eu estava há muito tempo sem atuar, eu era primeiramente uma atriz. E até hoje me sinto uma atriz que apresenta programas, uma atriz que dirige, uma atriz que escreve, mas uma atriz. Você falou numa entrevista que, se for ver, você continua fazendo o mesmo trabalho. De alguma maneira, o programa Brasil Legal, a Val de "Que Horas Ela Volta", o grupo de teatro "Asdrúbal Trouxe o Trombone" ou agora esse programa humorístico tem a mesma essência, um eixo que une tudo isso. Encontrei entrevistas e vídeos maravilhosos seus, um lá no Asdrúbal, todo mundo com cara de quem acabou de sair da praia, falando umas coisas muito descontraídas e até mais, digamos assim, sóbrias. E tem um Roda Viva seu incrível, de 1998. Eu morro de pena, porque também o teatro que a gente fazia, a linguagem que a gente usava no Asdrúbal, era tão nova que não conseguiu ser decodificada naquela época. Porque deveria estar sendo propagada pela internet, só que não havia internet. A gente não tem registros, não filmava, só fotografava. Comprava filme, máquina, pagava pro irmão do amigo fazer aquilo no quarto de serviço da casa dele, pequenininho, com uma luz vermelha. Só que ele não tinha grana, então comprava pouco fixador, pouco revelador, e dali a meses aquilo estava apagado. Então, os documentos que a gente tem no Asdrúbal são péssimos. Fico vendo as pouquíssimas coisas guardadas e que foram para o YouTube, como essa entrevista do Roda Viva. Acho que não passa quatro dias sem que alguém me mande um corte. "Ah, você viu isso? Adorei!". Ontem o DJ Zé Pedro me mandou um TED que eu fiz, talvez o primeiro. E eu pensei: "Puxa, eu falei isso, que ótimo, concordo com tudo". Quanta coisa já mudou no Brasil, isso é anterior a tudo, dois mil e pouquinho. E eu fiquei encantada com o Roda Viva, eu era tão novinha. Acho que não mudei nada. Quando penso em mim com cinco anos de idade, andando com a minha avó na rua, a maneira como eu olhava as pessoas, como eu olhava o mundo, é muito semelhante, se não igual, a hoje em dia. [VIDEO=https://www.youtube.com/embed/rLoqGPGmVdo; CREDITS=; LEGEND=Em 1998, aos 34 anos, Regina Casé foi entrevistada pelo programa Roda Viva, da TV Cultura; IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/03/67d49b0ede6d3/1057x749x960x540x52x40/screen-shot-2025-03-14-at-180926.png] O Boni, que foi entrevistado recentemente no Trip FM, fala sobre seu pai em seu último livro, “Lado B do Boni”, como uma das pessoas que compuseram o que ele é, uma figura que teve uma relevância muito grande, inclusive na TV Globo. Conta um pouco quem foi o seu pai, Regina. Acho que não há Wikipedia que possa resgatar o tamanho do meu pai e do meu avô. Meu avô é pioneiríssimo do rádio, teve um dos primeiros programas de rádio, se não o primeiro. Ele nasceu em Belo Jardim, uma cidadezinha do agreste pernambucano, do sertão mesmo. E era brabo, criativo demais, inteligente demais, e, talvez por isso tudo, impaciente demais, não aguentava esperar ninguém terminar uma frase. Ele veio daquele clássico, com uma mão na frente e outra atrás, sem nada, e trabalhou na estiva, dormiu na rua até começar a carregar rádios. Só que, nos anos 20, 30, rádios eram um armário de madeira bem grandão. Daí o cara viu que ele era esperto e botou ele para instalar os rádios na casa das pessoas. Quando meu avô descobriu que ninguém sabia sintonizar, que era difícil, ele aprendeu. E aí ele deixava os rádios em consignação, botava um paninho com um vasinho em cima, sintonizado, funcionando. Quando ele ia buscar uma semana depois, qualquer um comprava. Aí ele disparou como vendedor dos rádios desse cara que comprava na gringa e começou a ficar meio sócio do negócio. [QUOTE=1218] Mas a programação toda era gringa, em outras línguas. Ele ficava fascinado, mas não entendia nada do que estava rolando ali. Nessa ele descobriu que tinha que botar um conteúdo ali dentro, porque aquele da gringa não estava suprindo a necessidade. Olha como é parecido com a internet hoje em dia. E aí ele foi sozinho, aquele nordestino, bateu na Philips e falou que queria comprar ondas curtas, não sei que ondas, e comprou. Aí ele ia na farmácia Granado e falava: "Se eu fizer um reclame do seu sabão, você me dá um dinheiro para pagar o pianista?". Sabe quem foram os dois primeiros contratados dele? O contrarregra era o Noel Rosa, e a única cantora que ele botou de exclusividade era a Carmen Miranda. Foram os primeiros empregos de carteira assinada. E aí o programa cresceu. Começava de manhã, tipo programa do Silvio, e ia até de noite. Chamava Programa Casé. E o seu pai? Meu avô viveu aquela era de ouro do rádio. Quando sentiu que o negócio estava ficando estranho, ele, um cara com pouquíssimos recursos de educação formal, pegou meu pai e falou: "vai para os Estados Unidos porque o negócio agora vai ser televisão". Ele fez um curso, incipiente, para entender do que se tratava. Voltou e montou o primeiro programa de televisão feito aqui no Rio de Janeiro, Noite de Gala. Então, tem uma coisa de pioneirismo tanto no rádio quanto na televisão. E meu pai sempre teve um interesse gigante na educação, como eu. Esse interesse veio de onde? Uma das coisas que constituem o DNA de tudo o que fiz, dos meus programas, é a educação. Um Pé de Quê, no Futura, o Brasil Legal e o Programa Legal, na TV Globo… Eu sou uma professora, fico tentando viver as duas coisas juntas. O meu pai tinha isso porque esse meu avô Casé era casado com a Graziela Casé, uma professora muito, mas muito idealista, vocacionada e apaixonada. Ela trabalhou com Anísio Teixeira, Cecília Meireles, fizeram a primeira biblioteca infantil. Meu pai fez o Sítio do Picapau Amarelo acho que querendo honrar essa professora, a mãe dele. Quando eu era menina, as pessoas vinham de uma situação rural trabalhar como domésticas, e quase todas, se não todas, eram analfabetas. A minha avó as ensinava a ler e escrever. Ela dizia: "Se você conhece uma pessoa que não sabe ler e escrever e não ensina para ela, é um crime". Eu ficava até apavorada, porque ela falava muito duramente. Eu acho que sou feita desse pessoal. Tenho muito orgulho de ter vindo de uma família que, sem recursos, sem universidade, foi pioneira na cidade, no país e em suas respectivas... Não digo “profissões” porque ainda nem existiam suas profissões. Eu tento honrar. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/03/67d49d1e03df5/header-regina-interna6.jpg; CREDITS=Christian Gaul; LEGEND=Em 1999, a atriz e apresentadora estampou as Páginas Negras da Trip; ALT_TEXT=] Você tem uma postura de liderança muito forte. Além de ter preparo e talento, você tem uma vocação para aglutinar, juntar a galera, fazer time. Por outro lado, tem essa coisa da atriz, que é diferente, talvez um pouco mais para dentro. Você funciona melhor sozinha ou como uma espécie de capitã, técnica e jogadora do time? Eu nasci atriz dentro de um grupo. E o Asdrúbal trouxe o Trombone não era só um grupo. Apesar do Hamilton Vaz Pereira ter sido sempre um autor e um diretor, a gente criava coletivamente, escrevia coletivamente, improvisava. Nunca consegui pensar individualmente, e isso até hoje é uma coisa que me atrapalha. Todo mundo fala: "escreve um livro". Eu tenho vontade, mas falo que para escrever um livro preciso de umas 10 pessoas de público, todo mundo junto. Sou tão grupal que é difícil. Ao mesmo tempo, eu tive que ser muito autoral. Eu, Tu, Eles foi a primeira vez que alguém me tirou para dançar. Antes eu fiz participações em muitos filmes, mas foi a primeira protagonista. Quase tudo que fiz fui eu que tive a ideia, juntei um grupo, a gente escreveu junto. Então, eu sempre inventei um mundo para mim. No teatro eu não achava lugar para mim, então tive que inventar um, que era o Asdrúbal. Quando eu era novinha e fui para a televisão, eu não ia ser a mocinha na novela. Então fiz a TV Pirata, o Programa Legal, o Brasil Legal. Aquilo tudo não existia na televisão, mas eu tive que primeiro inventar para poder me jogar ali. Eu sempre me acostumei não a mandar, mas a ter total confiança de me jogar. E nos trabalhos de atriz, como é? No Asdrúbal eu me lembro que uma vez eu virei umas três noites fazendo roupa de foca, que era de pelúcia, e entupia o gabinete na máquina. Eu distribuía filipeta, colava cartaz, pregava cenário na parede. Tudo, todo mundo fazia tudo. É difícil quando eu vou para uma novela e não posso falar que aquele figurino não tem a ver com a minha personagem, que essa casa está muito chique para ela ou acho que aqui no texto, se eu falasse mais normalzão, ia ficar mais legal. Mas eu aprendi. Porque também tem autores e autores. Eu fiz três novelas com papéis de maior relevância. Cambalacho, em que fiz a Tina Pepper, um personagem coadjuvante que ganhou a novela. Foi ao ar em 1986 e até hoje tem gente botando a dancinha e a música no YouTube, cantando. Isso também, tá vendo? É pré-internet e recebo cortes toda hora, porque aquilo já tinha cara de internet. Depois a Dona Lurdes, de Amor de Mãe, e a Zoé, de Todas as Flores. Uma é uma menina preta da periferia de São Paulo. A outra uma mulher nordestina do sertão, com cinco filhos. A terceira é uma truqueira carioca rica que morava na Barra. São três universos, mas as três foram muito fortes. Tenho muito orgulho dessas novelas. Mas quando comecei, pensei: "Gente, como é que vai ser?". Não é o meu programa. Não posso falar que a edição está lenta, que devia apertar. O começo foi difícil, mas depois que peguei a manha de ser funcionária, fazer o meu e saber que não vou ligar para o cenário, para o figurino, para a comida e não sei o quê, falei: "Isso aqui, perto de fazer um programa como o Esquenta ou o Programa Legal, é como férias no Havaí". Você é do tipo que não aguenta ficar sozinha ou você gosta da sua companhia? Essa é uma coisa que venho perseguindo há alguns anos. Ainda estou assim: sozinha, sabendo que, se quiser, tem alguém ali. Mas ainda apanho muito para ficar sozinha porque, justamente, a sua maior qualidade é sempre o seu maior defeito. Fui criada assim, em uma família que eram três filhas, uma mãe e uma tia. Cinco mulheres num apartamento relativamente pequeno, um banheiro, então uma está escovando os dentes, outra está fazendo xixi, outra está tomando banho, todas no mesmo horário para ir para a escola. Então é muito difícil para mim ficar sozinha, mas tenho buscado muito. Quando falam "você pode fazer um pedido", eu peço para ter mais paciência e para aprender a ficar sozinha. Você contou agora há pouco que fazia figurinos lá no Asdrúbal e também já vi você falando que sempre aparecia na lista das mais mal vestidas do Brasil. Como é ser julgada permanentemente? Agora já melhorou, mas esse é um aspecto que aparece mais porque existe uma lista de “mais mal vestidas". Se existisse lista para outras transgressões, eu estaria em todas elas. Não só porque sou transgressora, mas porque há uma demanda que eu seja. Quando não sou, o pessoal até estranha. Eu sempre gostei muito de moda, mais que isso, de me expressar através das roupas. E isso saía muito do padrão, principalmente na televisão, do blazer salmão, do nude, da unha com misturinha, do cabelo com escova. Volta e meia vinha, nos primórdios das redes sociais: "Ela não tem dinheiro para fazer uma escova naquele cabelo?". "Não tem ninguém para botar uma roupa normal nela?". [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/03/67d49c62141c1/header-regina-interna4.jpg; CREDITS=Christian Gaul; LEGEND=Regina Casé falou à Trip em 1999, quando estampou as Páginas Negras; ALT_TEXT=] Antes da internet, existiam muitas colunas sociais em jornal. Tinha um jornalista no O Globo que me detonava uma semana sim e outra não. Eu nunca vou me esquecer. Ele falava de uma bolsa que eu tinha da Vivienne Westwood, que inclusive juntei muito para poder comprar. Eu era apaixonada por ela, que além de tudo era uma ativista, uma mulher importantíssima na gênese do Sex Pistols e do movimento punk. Ele falava o tempo todo: "Estava não sei onde e veio a Regina com aquela bolsa horrorosa que comprou no Saara". O Saara no Rio corresponde à 25 de março em São Paulo, e são lugares que sempre frequentei, que amo e que compro bolsas também. Eu usava muito torço no cabelo, e ele escrevia: "Lá vem a lavadeira do Abaeté". Mais uma vez, não só sendo preconceituoso, mas achando que estava me xingando de alguma coisa que eu acharia ruim. Eu pensava: nossa, que maravilha, estou parecendo uma lavadeira do Abaeté e não alguém com um blazer salmão, com uma blusa bege, uma bolsa arrumadinha de marca. Pra mim era elogio, mas era chato, porque cria um estigma. E aí um monte de gente, muito burra, vai no rodo e fala: "Ela é cafona, ela é horrorosa". Por isso que acho que fiquei muito tempo nessas listas. O filme “Ainda Estou Aqui” está sendo um alento para o Brasil, uma coisa bem gostosa de ver, uma obra iluminada. A Fernanda Torres virou uma espécie de embaixadora do Brasil, falando de uma forma muito legal sobre o país, sobre a cultura. Imagino que pra você, que vivenciou essa época no Rio de Janeiro, seja ainda mais especial. Eu vivi aquela época toda e o filme, mesmo sem mostrar a tortura e as barbaridades que aconteceram, reproduz a angústia. Na parte em que as coisas não estão explicitadas, você só percebe que algo está acontecendo, e a angústia que vem dali. Mesmo depois, quando alguma coisa concreta aconteceu, você não sabe exatamente do que está com medo, o que pode acontecer a qualquer momento, porque tudo era tão aleatório, sem justificativa, ninguém era processado, julgado e preso. O filme reproduz essa sensação, mesmo para quem não viveu. É maravilhoso, maravilhoso. [QUOTE=1219] Não vou dizer que por sorte porque ele tem todos os méritos, mas o filme caiu num momento em que a gente estava muito sofrido culturalmente. Nós, artistas, tínhamos virado bandidos, pessoas que se aproveitam. Eu nunca usei a lei Rouanet, ainda que ache ela muito boa, mas passou-se a usar isso quase como um xingamento, de uma maneira horrível. E todos os artistas muito desrespeitados, inclusive a própria Fernanda, Fernandona, a pessoa que a gente mais tem que respeitar na cultura do país. O filme veio não como uma revanche. Ele veio doce, suave e brilhantemente cuidar dessa ferida. Na equipe tenho muitos amigos, praticamente família, o Walter, a Nanda, a Fernanda. Sou tão amiga da Fernanda quanto da Nanda, sou meio mãe da Nanda, mas sou meio filha da Fernanda, sou meio irmã da Nanda e também da Fernanda. É bem misturado, e convivo muito com as duas. Por acaso, recebi ontem um presente e um cartão de aniversário da Fernandona que é muito impressionante. Tão bonitinho, acho que ela não vai ficar brava se eu mostrar para vocês. O que o cartão diz? Ela diz assim: "Regina, querida, primeiro: meu útero sabe que a Nanda já está com esse Oscar”. Adorei essa frase. "Segundo, estou trabalhando demais, está me esgotando. Teria uma leitura de 14 trechos magníficos, de acadêmicos, que estou preparando essa apresentação para a abertura da Academia [Brasileira de Letras], que está em recesso. O esgotamento acho que é por conta dos quase 100 anos que tenho". Imagina... Com esse trabalho todo. Aí ela faz um desenho lindo de flores com o coração: "Regina da nossa vida, feliz aniversário, feliz sempre da Fernanda". E me manda uma toalhinha bordada lindíssima com um PS: "Fernando [Torres] e eu compramos essa toalhinha de mão no Nordeste numa das temporadas de nossa vida pelo Brasil afora. Aliás, nós comprávamos muito lembranças como essa. Essa que eu lhe envio está até manchadinha, mas ela está feliz porque está indo para a pessoa certa. Está manchadinha porque está guardadinha faz muitos anos". Olha que coisa. Como é que essa mulher com quase 100 anos, com a filha indicada ao Oscar, trabalhando desse jeito, decorando 14 textos, tem tempo de ser tão amorosa, gentil, generosa e me fazer chorar? Não existe. Ela é maravilhosa demais. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/03/67d49b9f0f548/header-regina-interna3.jpg; CREDITS=João Pedro Januário; LEGEND=; ALT_TEXT=] Eu queria te ouvir sobre outro assunto. Há alguns anos a menopausa era um tema absolutamente proibido. As mulheres se sentiam mal, os homens, então, saíam correndo. Os médicos não falavam, as famílias não falavam. E é engraçado essa coisa do pêndulo. De repente vira uma onda, artistas falando, saem dezenas de livros sobre o assunto. Como foi para você? Você acha que estamos melhorando na maneira de lidar com as nossas questões enquanto humanidade? É bem complexo. Tem aspectos que acho que estão melhorando muito. Qualquer família que tinha uma pessoa com deficiência antigamente escondia essa pessoa, ela era quase trancada num quarto, onde nem as visitas da casa iam. E hoje em dia todas essas pessoas estão expostas, inclusive ao preconceito e ao sofrimento, mas estão na vida, na rua. Há um tempo não só não podia ter um casal gay casado como não existia nem a expressão "casal gay", porque as pessoas no máximo tinham um caso escondido com outra pessoa. Então em muitos aspectos a gente avançou bastante. Não sei se é porque agora estou ficando bem mais velha, mas acho que esse assunto do etarismo está chegando ainda de uma maneira muito nichada. Se você for assistir a esse meu primeiro TED, eu falo que a gente não pode pegar e repetir, macaquear as coisas dos Estados Unidos. Essa ideia de grupo de apoio. Sinto que essa coisa da menopausa, do etarismo, fica muito de mulher para mulher, um grupo de mulheres daquela idade. Mas não acho que isso faz um garoto de 16 anos entender que eu, uma mulher de 70 anos, posso gostar de basquete, de funk, de sambar, de namorar, de dançar. Isso tudo fica numa bolha bem impermeável. E não acho que a comunicação está indo para outros lados. É mais você, minha amiga, que também está sentindo calores. [QUOTE=1220] Tem uma coisa americana que inventaram que é muito chata. Por exemplo, a terceira idade. Aí vai ter um baile, um monte de velhinhos e velhinhas dançando todos juntos. Claro que é melhor do que ficar em casa deprimido, mas é chato. Acho que essa festa tem que ter todo mundo. Tem que ter os gays, as crianças, todo mundo nessa mesma pista com um DJ bom, com uma batucada boa. Senão você vai numa festa e todas as pessoas são idênticas. Você vai em um restaurante e tem um aquário onde põem as crianças dentro de um vidro enquanto você come. Mas a criança tem que estar na mesa ouvindo o que você está falando, comendo um troço que ela não come normalmente. O menu kids é uma aberração. Os meus filhos comem tudo, qualquer coisa que estiver na mesa, do jeito que for. Mas é tudo separado. Essa coisa de imitar americano, entendeu? Então, acho que essa coisa da menopausa está um pouco ali. Tem que abrir para a gente conversar, tem que falar sobre menopausa com o MC Cabelinho. Eu passei meio batida, porque, por sorte, não tive sintomas físicos mais fortes. Senti um pouco mais de calor, mas como aqui é tão calor e eu sou tão agitada, eu nunca soube que aquilo era específico da menopausa. Vou mudar um pouco de assunto porque não dá para deixar de falar sobre isso. Uma das melhores entrevistas do Trip FM no ano passado foi com seu marido, o cineasta Estêvão Ciavatta. Ele contou do acidente num passeio a cavalo que o deixou paralisado do pescoço para baixo e com chances de não voltar a andar. E fez uma declaração muito forte sobre o que você representou nessa recuperação surpreendente dele. A expressão "estamos juntos" virou meio banal, mas, de fato, você estava junto ali. Voltando a falar do etarismo, o Estêvão foi muito corajoso de casar com uma mulher que era quase 15 anos mais velha, totalmente estabelecida profissionalmente, conhecida em qualquer lugar, que tinha sido casada com um cara maravilhoso, o Luiz Zerbini, que tinha uma filha, uma roda de amigos muito grande, um símbolo muito sólido, tudo isso. Ele propôs casar comigo, na igreja, com 45 anos. Eu, hippie, do Asdrúbal e tudo, levei um susto, nunca pensei que eu casar. O que aconteceu? Eu levei esse compromisso muito a sério, e não é o compromisso de ficar com a pessoa na saúde, na doença, na alegria, na tristeza. É também, mas é o compromisso de, bom, vamos entrar nessa? Então eu vou aprender como faz isso, como é esse amor, como é essa pessoa, eu vou aprender a te amar do jeito que você é. Acho que o pessoal casa meio de brincadeira, mas eu casei a sério mesmo, e estamos casados há 28 anos. Então, quando aconteceu aquilo, eu falei: ué, a gente resolveu ficar junto e viver o que a vida trouxesse pra gente, então vamos embora. O que der disso, vamos arrumar um jeito, mas estamos juntos. E acho que teve uma coisa que me ajudou muito. O quê? Aqui em casa é tipo pátio dos milagres. Teve isso que aconteceu com o Estêvão, e também a gente ter encontrado o Roque no momento que encontrou [seu filho caçula, hoje com 11 anos, foi adotado pelo casal quando bebê]. A vida que a gente tem hoje é inacreditável. Parece realmente que levou oito anos, o tempo que demorou para encontrar o filho da gente, porque estava perdido em algum lugar, igual a Dona Lurdes, de Amor de Mãe. Essa é a sensação. E a Benedita, quando nasceu, quase morreu, e eu também. Ela teve Apgar [escala que avalia os recém-nascidos] zero, praticamente morreu e viveu. Nasceu superforte, ouvinte, gorda, forte, cabeluda, mas eu tive um descolamento de placenta, e com isso ela aspirou líquido. Ela ficou surda porque a entupiram de garamicina, um antibiótico autotóxico. Foi na melhor das intenções, pra evitar uma pneumonia pelo líquido que tinha aspirado, mas ninguém conhecia muito, eram os primórdios da UTI Neonatal. O que foi para a gente uma tragédia, porque ela nasceu bem. Só que ali aprendi um negócio que ajudou muito nessa história do Estêvão: a lidar com médico. E aprendi a não aceitar os "não". Então quando o cara dizia "você tem que reformar a sua casa, tira a banheira e bota só o chuveiro largo para poder entrar a cadeira de rodas", eu falava: "Como eu vou saber se ele vai ficar pra sempre na cadeira de rodas?". [QUOTE=1221] Quando a Benedita fala "oi, tudo bem?", ela tem um leve sotaque, anasalado e grave, porque ela só tem os graves, não tem nem médio, nem agudo. Mas ela fala, canta, já ganhou concurso de karaokê. Quando alguém vê a audiometria da Benedita, a perda dela é tão severa, tão profunda, que falam: "Esse exame não é dessa pessoa". É o caso do Estêvão. Quando olham a lesão medular dele e veem ele andando de bicicleta com o Roque, falam: "Não é possível". Por isso eu digo que aqui em casa é o pátio dos milagres. A gente desconfia de tudo que é “não”. É claro que existem coisas que são limitações estruturais, e não adianta a gente querer que seja de outro jeito, mas ajuda muito duvidar e ir avançando a cada "não" até que ele realmente seja intransponível. No caso do Estêvão, acho que ele ficou feliz porque teve perto por perto não só uma onça cuidando e amando, mas uma onça que já tinha entendido isso. Porque se a gente tivesse se acomodado a cada “não”, talvez ele não estivesse do jeito que está hoje. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/03/67d49af631476/header-regina-interna2.jpg; CREDITS=João Pedro Januário; LEGEND=; ALT_TEXT=] Eu já vi você falar que essa coisa da onça é um pouco fruto do machismo, que você teve que virar braba para se colocar no meio de grupos que eram majoritariamente de homens, numa época que esse papo do machismo era bem menos entendido. Isso acabou forjando o seu jeito de ser? Com certeza. Eu queria ser homem. Achava que tudo seria mais fácil, melhor. Achava maravilhoso até a minha filha ser mulher. Fiquei assustadíssima. Falei: "Não vou ser capaz, não vou acertar". Aí botei a Benedita no futebol, foi artilheira e tudo, e fui cercando com uma ideia nem feminista, nem machista, mas de que o masculino ia ser melhor pra ela, mais fácil. Mas aí aprendi com a Benedita não só a amar as mulheres, mas a me amar como mulher, grávida, dando de mamar, criando outra mulher, me relacionando com amigas, com outras mulheres. Isso tudo veio depois da Benedita. Mas se você falar "antigamente o machismo"... Vou te dizer uma coisa. Se eu estou no carro e falo para o motorista “é ali, eu já vim aqui, você pode dobrar à direita”, ele pergunta assim: “Seu Estêvão, você sabe onde é para dobrar?”. Aí eu falo: “Vem cá, você quer que compre um pau para dizer pra você para dobrar à direita? Vou ter que botar toda vez que eu sentar aqui? Porque não é possível, estou te dizendo que eu já vim ali”. É muito impressionante, porque não é em grandes discussões, é o tempo todo. É porque a gente não repara, sabe? Quer dizer, eu reparo, você que é homem talvez não repare. Nesses momentos mais difíceis, na hora de lidar com os problemas de saúde da Benedita ou com o acidente punk do Estêvão, o que você acha que te ajudou mais: os anos de terapia ou o Terreiro de Gantois, casa de Candomblé que você frequenta em Salvador? As duas coisas, porque a minha terapia também foi muito aberta. E não só o Gantois como o Sacré-Coeur de Marie. Eu tenho uma formação católica. Outro dia eu ri muito porque a Mãe Menininha se declarava católica em sua biografia, e perguntaram: "E o Candomblé"? Ela falava: “Candomblé é outra coisa”. E eu vejo mais ou menos assim. Não é que são duas religiões, eu não posso pegar e jogar a criança junto com a água da bacia. É claro que eu tenho todas as críticas que você quiser à Igreja Católica, mas eu fui criada por essa avó Graziela, que era professora, uma mulher genial, e tão católica que, te juro, ela conversava com Nossa Senhora como eu estou conversando com você. Quando ela recebia uma graça muito grande, ligava para mim e para minhas irmãs e falava: "Venham aqui, porque eu recebi uma graça tão grande que preciso de vocês para agradecer comigo, sozinha não vou dar conta." Estudei em colégio de freiras a minha vida inteira, zero trauma de me sentir reprimida, me dava bem, gosto do universo, da igreja. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/03/67d49cbe34551/header-regina-interna5.jpg; CREDITS=Christian Gaul; LEGEND=Em 1999, Regina Casé foi a entrevistada das Páginas Negras da Trip; ALT_TEXT=] Aí eu tenho um encontro com o Candomblé, lindíssimo, através da Mãe Menininha. Essa história é maravilhosa. O Caetano [Veloso] disse: "Mãe Menininha quer que você vá lá". Eu fiquei apavorada, porque achei que ela ia fazer uma revelação, tinha medo que fosse um vaticínio... Até que tomei coragem e fui. Cheguei lá com o olho arregalado, entrei no quarto, aquela coisa maravilhosa, aquela presença.. Aí eu pedi a benção e perguntei o que ela queria. Ela falou: "Nada não, queria conhecer a Tina Pepper". Então, não só o Gantuar, o Candomblé como um todo, só me trouxe coisas boas e acolhida. A minha relação com a Bahia vem desde os 12 anos de idade, depois eu acabei recebendo até a cidadania de tamanha paixão e dedicação. É incrível porque eu nunca procurei. No episódio da Benedita, no dia seguinte já recebi de várias pessoas orientações do que eu devia fazer. No episódio do Estêvão também, não só do Gantuar, mas da [Maria] Bethânia, e falavam: "Olha, você tem que fazer isso, você tem que cuidar daquilo". Então, como é que eu vou negar isso? Porque isso tudo está aqui dentro. Então, acho que você tem que ir pegando da vida, que nem a Dona Darlene do “Eu Tu Eles”, que ficou com os três maridos. A vida vai passando por você e você vai guardando as coisas que foram boas e tentando se livrar das ruins. A gente sabe que você tem uma rede de amizades absurda, é muito íntima de meio mundo. Eu queria brincar daquela história de te deixar sozinha numa ilha, sem internet, com todos os confortos, livros, música. Você pode ligar à vontade para os seus filhos, pro seu marido, mas só tem uma pessoa de fora do seu círculo familiar para quem você pode ligar duas vezes por semana. Quem seria o escolhido para você manter contato com a civilização? É curioso que meus grandes amigos não têm celular. Hermano [Vianna] não fala no celular, Caetano só fala por e-mail, é uma loucura, não é nem WhatsApp. Acho que escolheria o Caetano, porque numa ilha você precisa de um farol. Tenho outros faróis, mas o Caetano foi, durante toda a minha vida, o meu farol mais alto, meu norte. E acho que não suportaria ficar sem falar com ele.
Ator do sucesso da Netflix fala sobre sua trajetória e os desafios de representar a periferia no audiovisual “A gente tem que construir um novo jeito de pensar pessoas periféricas dentro do audiovisual", diz Christian Malheiros. “O cinema nacional tira a alma desses personagens, os torna pessoas sem empatia. É muito cruel, cretino. Meu trabalho vai na contramão. O meu personagem sente, tem medo, tem dois filhos. Não é e não pode ser um psicopata. O que fez ele chegar nessa situação?”. Com a chegada da quinta e última temporada da série "Sintonia", o ator que interpreta o Nando trocou uma ideia com o Trip FM sobre a responsabilidade e o significado de dar vida a personagens periféricos. “É fácil me taxarem como preto, favelado e sempre cair nessa caixinha. Não tenho problema em fazer outro bandido, são histórias que precisam ser contadas no cinema. Mas só tem isso pra mim? Por fazer personagens periféricos, as pessoas acham que é o que eu sou. Sou isso e muitas outras coisas", diz. “É uma linha tênue. Por eu ter perdido amigos e primos para o crime, me dá uma consciência do que estou retratando, de qual é esse sentimento, essa dor. Eu tenho uma responsabilidade social de retratar isso de forma digna.” Desde sua estreia no aclamado "Sócrates" (2019) — que lhe rendeu o prêmio APCA de melhor ator — até o estrondoso sucesso em "Sintonia", Malheiros se consolidou como um dos grandes nomes da nova geração de atores brasileiros. A produção, que em 2023 alcançou o topo do ranking global de séries de língua não inglesa mais assistidas da Netflix, chamou atenção pela Num papo com Paulo Lima, o ator também falou sobre sua própria história, sua família e como sua infância influenciou a forma como enxerga o mundo. “Uma figura paterna fez falta, mas eu fui forjado em uma educação feminina. E por isso eu sou muito grato. Fui educado para saber como tratar bem uma mulher, saber o seu valor e que ela é muito mais forte do que o homem: trabalha na rua, faz o serviço de casa, trabalha três vezes mais.” Sobre conquistas materiais, Christian destacou a importância de garantir estabilidade para si e sua família. “Pra quem é de periferia, ter um teto e um carro é uma demonstração de que você está tranquilo na vida. O resto é lucro. Minha mãe sempre me falou para ter o ‘meu teto'. Morar de aluguel e investir o dinheiro, do lugar onde eu vim, é balela. Morar de aluguel é desesperador.” Quer saber o que mais rolou nessa conversa? O programa fica disponível no play aqui em cima e no Spotify [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/02/67c0d86cca8a0/christian-malheiros-sintonia-serie-netflix-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação; LEGEND=Christian Malheiros; ALT_TEXT=Christian Malheiros]
Uma das primeiras a deixar a televisão pra se aventurar no streaming, a atriz fala sobre o que guia suas escolhas, felicidade e maturidade "Decidi ser atriz porque entendi desde cedo que a vida, no curto espaço que ela me oferece, não daria conta de tudo o que eu queria fazer", diz Tainá Müller. Uma das primeiras a deixar a televisão e se aventurar no streaming, para dar vida a uma escrivã de polícia na série "Bom Dia, Verônica" (2020), a atriz bateu um papo sincero com Paulo Lima no Trip FM sobre sua trajetória, felicidade e amadurecimento. "Eu me sinto, de fato, mais inteligente do que quando era mais jovem. A gente costuma falar 'mais sábia', mas é mais inteligente mesmo. Você saca o código de como funcionam as coisas, a vida, as pessoas, as relações", conta. Em cartaz ao lado de Reynaldo Gianecchini na peça “Brilho Eterno”, ela também compartilha experiências sobre a gravação da série “Faro”, para a RTP de Portugal, e promete o lançamento de um documentário emocionante sobre paternidade trans, que acompanha a vida dos artistas Isis Broken e Lourenzo Gabriel. O programa fica disponível aqui no site da Trip e no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2025/02/67b8d43c85233/taina-muller-atriz-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Jorge Bispo; LEGEND=Tainá Müller; ALT_TEXT=Tainá Müller] Trip. Em que momento você decidiu que queria ser atriz? Tainá Müller. Decidi ser atriz porque, desde cedo, entendi que a vida, no tempo que me oferecia, não daria conta de tudo o que eu queria fazer. Ser atriz é como um menu degustação: permite experimentar diferentes vidas e emoções. Em uma entrevista, você mencionou um momento fugaz de felicidade plena que sentiu ao passear com seu marido. O que tornou esse instante tão especial e marcante para você? São aqueles momentos raros que trazem um vigor de alma, mas que também carregam uma dor, porque sabemos que vão passar. Esse paradoxo nos faz querer aprisioná-los. Hoje, com os celulares, filmamos e fotografamos tudo, mas, no fundo, acabamos deixando esses momentos escaparem. Talvez o cinema seja justamente isso: uma arte que tenta capturar o sublime. Como você tem lidado com a passagem do tempo? Na verdade, eu me sinto mais inteligente. Muitas pessoas dizem que ficamos "mais sábios" com o tempo, mas acho que ficamos realmente mais inteligentes — se não nos descuidarmos. Se exercitarmos a mente e fizermos boas escolhas, começamos a entender melhor o código das coisas, das relações, da vida. Acho importante lembrar que tudo é efêmero, tanto a posição de sucesso quanto os momentos difíceis. Isso guia as minhas escolhas.
Confira um dos melhores papos que rolaram no ano enquanto preparamos mais episódios inéditos para 2025 Durante o período de férias de verão, nossa equipe selecionou alguns dos melhores papos do ano de 2024. Se você ainda não ouviu (ou que rever a conversa), aqui está uma das escolhidas. "Estou me aproximando dos 50 e vendo tudo o que aprendi dando uma balançada forte. E aí eu me pergunto: eu ainda sirvo nesse lugar? As pessoas que encontraram o seu espaço para se comunicar na internet falam muito diretamente com esse público, sobretudo o mais jovem. Essa é grande questão: como se adaptar a isso e aceitar sem julgamento", reflete o ator Bruno Mazzeo. Em uma conversa com o Trip FM, o roteirista e humorista conta sobre sua experiência "na selva", referindo-se ao primeiro trabalho fora da Rede Globo, a peça teatral "Gostava Mais dos Pais". Ao lado do tamabém ator Lucio Mauro Filho, o artista analisa, neste espetáculo, as vantagens e desafios de ser filho de uma personalidade famosa — Bruno é filho do eterno humorista Chico Anysio, falecido em 2012. "Nunca foi um fardo, talvez porque tenha construído uma carreira diferente a do meu pai, com um estilo de humor único. Pelo contrário, sempre foi motivo de orgulho, e, por isso, permito-me brincar com isso, inclusive com o fato de as pessoas na rua frequentemente expressarem sua preferência por meu pai, o que acho totalmente justo. É claro, eu também prefiro." Na conversa, Bruno aborda temas como cinema, críticas, jornalismo, humor na internet e muito mais. A entrevista completa você escuta aqui no play aqui em cima ou no Spotify.
Confira um dos melhores papos que rolaram durante este ano enquanto preparamos mais episódios inéditos para 2024 Durante o período de férias de verão, nossa equipe selecionou alguns dos melhores papos do ano de 2024. Se você ainda não ouviu (ou que rever a conversa), aqui está uma das escolhidas. "Estou me aproximando dos 50 e vendo tudo o que aprendi dando uma balançada forte. E aí eu me pergunto: eu ainda sirvo nesse lugar? As pessoas que encontraram o seu espaço para se comunicar na internet falam muito diretamente com esse público, sobretudo o mais jovem. Essa é grande questão: como se adaptar a isso e aceitar sem julgamento", reflete o ator Bruno Mazzeo. Em uma conversa com o Trip FM, o roteirista e humorista conta sobre sua experiência "na selva", referindo-se ao primeiro trabalho fora da Rede Globo. Seu projeto inaugural é a peça teatral "Gostava Mais dos Pais". Ao lado do tamabém ator Lucio Mauro Filho, o artista analisa, neste espetáculo, as vantagens e desafios de ser filho de uma personalidade famosa — Bruno é filho do eterno humorista Chico Anysio, falecido em 2012. "Nunca foi um fardo, talvez porque tenha construído uma carreira diferente a do meu pai, com um estilo de humor único. Pelo contrário, sempre foi motivo de orgulho, e, por isso, permito-me brincar com isso, inclusive com o fato de as pessoas na rua frequentemente expressarem sua preferência por meu pai, o que acho totalmente justo. É claro, eu também prefiro." Na conversa, Bruno aborda temas como cinema, críticas, jornalismo, humor na internet e muito mais. A entrevista completa você escuta aqui no site da Trip ou no Spotify.
Confira um dos melhores papos que rolaram durante este ano enquanto preparamos mais episódios inéditos para 2024 Durante o período de férias de verão, nossa equipe selecionou alguns dos melhores papos do ano de 2024. Se você ainda não ouviu (ou que rever a conversa), aqui está uma das escolhidas. Era julho quando Tamara Klink partiu da costa da França a bordo do Sardinha 2, um veleiro de dez metros de comprimento, rumo à Groenlândia. Há quase um ano, ela navegou por vinte dias entre icebergs para chegar a um dos territórios mais remotos do mundo, onde o sol se esconde durante todo o inverno e o mar se transforma em gelo. Foi ali que aportou sua embarcação para se transformar na primeira mulher a completar o período de invernagem sozinha no Ártico – em outras palavras, passar o inverno isolada no barco preso no gelo. Durante oito meses, a velejadora viveu entre raposas, corvos e ptarmigans em temperaturas que variam entre -20ºC e -40ºC, em contato com a civilização por e-mails curtos e textos publicados por uma amiga em seu Instagram. Aos 27 anos, Tamara descobriu como enxergar através dos pequenos ruídos no meio do silêncio, sentiu falta de um dicionário – e também de algumas palavras para definir os sons, cheiros e gostos que experimentou –, aprendeu a tocar músicas no violão e inventou outras tantas quando as cifras acabaram e viu as pessoas que deixou em terra firme se transformarem em rascunhos abstratos na sua cabeça, tão verdadeiros quanto os personagens dos livros que lia. Filha da fotógrafa e empresária Marina Klink e de Amyr Klink, um dos maiores velejadores do mundo, Tamara escreveu mais um capítulo de uma história que é só sua – e, ao contrário do que muitos esperam, sem contar com conselhos ou orientações do pai. Em sua primeira entrevista depois da invernagem, Tamara Klink bateu um papo exclusivo com Paulo Lima no Trip FM. Ela conta o que aprendeu sobre si e sobre a vida, fala de sexualidade, música, sonhos e os maiores desafios nesse projeto – cair na água congelante ao pisar no gelo fino foi só um deles. Você pode ouvir essa conversa no play nesta página, no Spotify ou ler a seguir.
Confira um dos melhores papos que rolaram durante este ano enquanto preparamos mais episódios inéditos para 2024 Durante o período de férias de verão, nossa equipe selecionou alguns dos melhores papos do ano de 2024. Se você ainda não ouviu (ou que rever a conversa), aqui está uma das escolhidas. Prestes a colocar a sua peça “Ficções” de volta em cartaz em São Paulo, a atriz Vera Holtz bateu um papo com Paulo Lima no Trip FM sobre amor, morte e como conquistou a internet sem precisar expor a sua vida pessoal (o que lhe rendeu o apelido de Vera Viral). “Eu não conseguia pensar na hipótese de ter uma rede social. Até que um dia fiz uma foto com um saquinho na cabeça e pensei ‘vamos trabalhar com isso nas redes sociais'. Quando começamos a desenvolver essa ideia de tirar foto de frente, lado e costas, aí expandiu e não parei mais”, conta ela. “Hoje eu até tenho a ideia, mas como voltei ao teatro não tive mais tanto tempo para produzir. Mas eu gosto do espaço das redes sociais. Só que precisam entender que a Vera Viral é temperamental, só aparece na hora que ela quer. É uma entidade livre.” Diferente da maioria das jovens que nasceram no interior de São Paulo na década de 50, a atriz nunca sonhou em ter marido e filhos. Criada em uma família muito amorosa – e numerosa –, ela ouvia do pai: primeiro você se forma, depois se casa. “Ele dizia: ‘você precisa ter liberdade econômica e não depender do seu parceiro'. Era uma família diferente nesse sentido”. Ainda criança, ela anunciou que não queria ter filhos. “Eu não sei o que deu na cabeça daquela menina jovenzinha de decidir: ‘Ó, não esperem netos de mim. Eu não vou ter filhos'. E foi um escândalo. Minha mãe falou: ‘Ah, lá vem mais uma da Vera”, lembra. A atriz não mudou de ideia nas décadas seguintes e teve que aprender a não escutar os questionamentos e cobranças alheias. “Eu não me preocupava muito com isso, talvez porque eu tivesse a minha escolha bem embasada”, conta. Essa conversa fica disponível no Spotify e no play aqui em cima.
Líder da banda Mundo Livre S/A e um dos criadores do movimento manguebeat fala sobre a efervescência cultural do Recife "A pressão por estar sempre conectado é tão opressiva que se torna um trabalho em tempo integral. Você não usa o aplicativo, você é o aplicado. Um empregado das redes sociais. A música perde o sentido de criação e reflexão e o objetivo vira o seguidor", afirma Fred Zero Quatro em um bate-papo com Paulo Lima no Trip FM. Cantor, jornalista, guitarrista e compositor, Fred é líder da banda Mundo Livre S/A e um dos nomes mais importantes do movimento manguebeat, que revolucionou a cultura brasileira nos anos 1990, ao lado de Chico Science. No programa, Fred fala sobre a decisão de permanecer no Nordeste, a efervescência cultural do Recife, reflexões sobre o Brasil, música e muito mais. O programa fica disponível no Spotify e no play aqui em cima. Trip. Quais condições você acha que permitiram o surgimento do manguebeat? Fred Zero Quatro. A gente cresceu em um estado com uma riqueza cultural absurda. Tinha o legado de Josué de Castro, Gilberto Freyre, Ariano Suassuna, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira... Sem falar no Carnaval, no maracatu. Chega a ser opressiva a efervescência da cultura de raiz em Pernambuco. Mas, em um certo momento, o Nordeste teve sua economia sufocada pela ascensão da indústria no Sudeste. E aí a gente botou na cabeça: “Ou a gente muda de lugar, ou muda esse lugar.” Com você acha que está a música hoje? Mais assustador que o poder da grana é o poder do algoritmo. Como essa geração conhece a música? A primeira coisa que o jovem escuta já o prende no sofá para sempre, porque são 300 mil algoritmos enchendo a sua bolha, cada vez mais limitada. O nível de competição por likes em todo o setor cultural é algo assustador. Discute-se hoje a jornada 6x1, mas o artista ainda está no 24x7. É tão opressiva essa pressão por estar conectado que vira algo full time. Você não usa o aplicativo; você é o aplicado. Você é um empregado das redes sociais. A música perde o objetivo da criação, da reflexão. O objetivo passa a ser somente o seguidor.
Ator de "Bacurau" reflete sobre a arte como resistência e conta sua trajetória do teatro de rua à TV e ao cinema "Quando você diz que é artista, as pessoas te chamam de vagabundo, como se você não fosse nada, alguém sem valor. Mas é exatamente o contrário: também somos parte da construção social. Uma música, uma poesia – tudo isso estimula a mente e nos faz pensar além", diz Thomás Aquino. Parte de uma nova geração de artistas que emergiram nos palcos do Recife, o ator de "Bacurau" e da série "Os Outros" (Globoplay) começou a carreira no teatro. Foi em sua estreia na capital pernambucana, numa montagem da peça "O Grande Circo Místico", que ele aprendeu habilidades que garantiram seu sustento nos primeiros anos de carreira. "Quando eu estava sem trabalho, usava as ferramentas que aprendi no circo pra fazer uma grana na rua. Eu lembro que me contrataram pra fazer eventos no Carnaval e aí pode cuspir fogo. Foi o que me salvou no aluguel. E me trouxe maturidade e humildade", contou ao Trip FM. Em um bate-papo com Paulo Lima, Thomás reflete sobre as diferenças culturais entre São Paulo e Recife, explora o impacto transformador do teatro e do cinema na sociedade e conta seus planos para o futuro – spoiler: em 2025, ele estará na novela "Guerreiros do Sol" e no filme "O Agente Secreto". Você pode ouvir essa conversa no Spotify ou no play aqui em cima. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/11/674a3146c1874/thomas-aquino-ator-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Rayssa Zago (@fotografia.dela); LEGEND=Thomás Aquino; ALT_TEXT=Thomás Aquino] Trip. Como foi o início da sua trajetória no teatro? Thomás Aquino. A minha primeira peça foi "O Grande Circo Místico", de Chico Buarque. Eu fiz lá em Recife e aprendi muita coisa de circo. Enquanto eu não tinha uma peça para fazer ou algum trabalho, usava as ferramentas que aprendi no circo pra fazer uma grana, uma boquinha na rua. Eu lembro que me contrataram pra fazer eventos no Carnaval e, aí, pude cuspir fogo. Se acendesse um fósforo perto de mim, era capaz de eu explodir depois, porque era o tempo inteiro fazendo. Foi o que me salvou no aluguel, sabe? Eu digo que foi um aprendizado e dou graças a Deus que passei por aquilo, porque me trouxe maturidade, humildade, atenção ao trabalho, dedicação e me faz saber que o dinheiro é importante, mas até quando, né? Qual o papel de Recife na sua formação como artista? Recife é uma região muito rica de cultura, uma cultura que nos alimenta pra entender o quão forte você pode ser. Recife foi minha escola de teatro pra estar aqui em São Paulo e construir minha vida, minha história de teatro, de improviso e de cinema. Então, pra mim, Recife é um coração. O fato de eu estar morando em São Paulo realmente foi a vida que me trouxe. E aí eu vi que aqui é outro tipo de cultura, que poderia somar com a cultura que eu já tinha de Recife. Como você lidou com as primeiras críticas na carreira? Depois da minha primeira temporada, saiu uma crítica no jornal falando que eu era a pior coisa da peça. Ao invés de me abalar, eu pensei: "Pô, faz sentido essa crítica?". Eu quero ser ator, porque eu senti que eu queria ser ator. Quando eu senti os primeiros aplausos, quando eu estava naquela peça, mesmo sendo ruim na atuação, eu disse: "Nossa, as pessoas vieram de casa prestigiar o teatro, eu apresentei um personagem e estão aplaudindo". Eu me senti muito vivo. O que Bacurau representou na sua trajetória? Bacurau com certeza foi um divisor de águas pra mim. Não digo que eu estou tranquilo pra que meu corpo não amoleça, porque a batalha da vida ainda é muito grande. Como eu sou um lutador de teatro, eu quero estar com o meu corpo sempre pronto. Eu não sei fazer outra coisa. Eu sou muito insistente, eu sou teimoso. Como você lidou com os padrões estéticos impostos pela sociedade? Em vários momentos eu me sentia o patinho feio. Todo mundo tem sua beleza específica, particular. Só que foi determinado que apenas olhos claros, loiros e loiras, e brancos eram os padrões. Isso, com certeza, vem dessa construção racial, social.
Série comemorativa dos 40 anos de Trip FM traz dois neurocientistas para discutir maconha, sono e o estado de saúde do Brasil Para comemorar 40 anos no ar, o Trip FM lança uma série de programas com os entrevistados que marcaram a trajetória do programa. No terceiro episódio, os neurocientistas Eduardo Schenberg, fundador do Instituto Phaneros, e Sidarta Ribeiro, professor e fundador do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), falam sobre um assunto que segue sendo tabu: o uso medicinal de substâncias psicoativas. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/11/6740e20c027bd/sidarta-ribeiro-eduardo-schenberg-neurocientista-psicodelicos-medicina-cannabis-mdma-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Acervo Trip Transformadores; LEGEND=Sidarta Ribeiro; ALT_TEXT=Sidarta Ribeiro] No episódio que reúne dois dos maiores especialistas brasileiros no assunto, a conversa é sobre cannabis, MDMA, mas não só. Eles discutem o sono, o contato com a natureza para uma mente mais saudável, assim como a relação entre ciência e culturas ancestrais. Você pode ouvir no Spotify ou no play aqui em cima. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/11/6740e2308719d/sidarta-ribeiro-eduardo-schenberg-neurocientista-psicodelicos-medicina-cannabis-mdma-trip-fm-mh1.jpg; CREDITS=Acervo Trip Transformadores; LEGEND=Eduardo Schenberg; ALT_TEXT=Eduardo Schenberg]
Diretor de "A Metade de Nós" transportou para a ficção a experiência real de luto vivida por ele e sua família após a morte de sua irmã No filme “A Metade de Nós”, Flavio Botelho transportou para a ficção a experiência real de luto vivida por ele e sua família após a morte de sua irmã, em 2007, aos 36 anos. Dirigido por ele, o longa conta a história de Francisca e Carlos, que perdem o único filho por suicídio. Enquanto a mãe, assombrada pela culpa, se dedica a desvendar os porquês, o pai se aliena na vida do filho morto e se muda para sua casa. Transportar para o cinema uma experiência pessoal tão dolorosa foi uma jornada difícil, mas necessária. Ao abordar o suicídio de forma sensível e delicada, Flávio encara a importância de falar abertamente sobre o luto, ainda tão cercado de tabus. Para ele, foi também uma forma de cura e reconexão com a memória da irmã. “Eu consegui, eu acho, ficar perto da minha irmã, saber e entender mais esse processo dela, mergulhar na nossa história. Ela era companheirona, super amorosa, carinhosa. Então quando eu falo dela, sinto que ela está perto”, contou em entrevista ao Trip FM. No programa desta semana, o cineasta compartilhou com Paulo Lima os bastidores e os sentimentos que guiaram a criação de seu novo filme. O episódio, disponível no play aqui em cima e no Spotify, é um convite à reflexão sobre como honrar a memória daqueles que se foram e transformar a dor em aprendizado e acolhimento. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/11/672e57682d45e/flavio-botelho-cineasta-diretor-roteirista-filme-longa-a-metade-de-nos-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação; LEGEND=A Metade de Nós, longa metragem do cineasta, diretor e roteirista Flávio Botelho; ALT_TEXT=A Metade de Nós, longa metragem do cineasta, diretor e roteirista Flávio Botelho]
Diretor transportou para a ficção a experiência real de luto vivida por ele e sua família após a morte de sua irmã No filme “A Metade de Nós”, Flavio Botelho transportou para a ficção a experiência real de luto vivida por ele e sua família após a morte de sua irmã, em 2007, aos 36 anos. Dirigido por Flávio, o longa conta a história de Francisca e Carlos, que perdem o único filho por suicídio. Enquanto a mãe, assombrada pela culpa, se dedica a desvendar os porquês, o pai se aliena na vida do filho morto e se muda para a casa dele. Transportar para o cinema uma experiência pessoal tão dolorosa foi uma jornada difícil, mas necessária. Ao abordar o suicídio de forma sensível e delicada, Flávio encara a importância de falar abertamente sobre o luto, ainda tão cercado de tabus. Para ele, foi também uma forma de cura e reconexão com a memória da irmã. “Eu consegui, eu acho, ficar perto da minha irmã, saber e entender mais esse processo dela, mergulhar na nossa história. Ela era companheirona, super amorosa, carinhosa. Então quando eu falo dela, sinto que ela está perto”, contou em entrevista ao Trip FM.No programa desta semana, o cineasta compartilhou com Paulo Lima os bastidores e os sentimentos que guiaram a criação de seu novo filme. O episódio, disponível no play, é um convite à reflexão sobre como honrar a memória daqueles que se foram e transformar a dor em aprendizado e acolhimento. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/11/672e57682d45e/flavio-botelho-cineasta-diretor-roteirista-filme-longa-a-metade-de-nos-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação; LEGEND=A Metade de Nós, longa metragem do cineasta, diretor e roteirista Flávio Botelho; ALT_TEXT=A Metade de Nós, longa metragem do cineasta, diretor e roteirista Flávio Botelho]
Atriz se consolida como um dos principais talentos do audiovisual em ano repleto de estreias importantes “Não acredito em ‘auge', porque é como se você subisse e depois descesse. É muito relativo, a gente se realiza de formas diferentes. Me sinto no auge agora porque consigo ter qualidade de vida, conciliar meu trabalho com a família e os amigos. Mas sei que o auge também vai vir daqui pra frente”, diz Alice Wegmann. Dois dias antes de completar 29 anos, a atriz falou ao Trip FM sobre o ano em que consolida seu espaço nas telas brasileiras. Em cartaz nos cinemas com o filme “A Vilã das 9” e na expectativa da estreia da série “Senna” (Netflix) no fim do mês, Alice se mostra uma figura essencial da nova geração de atores. “A gente não pode pautar talentos e profissões por seguidores de redes sociais. Isso é muito perigoso. O que está acontecendo no mercado do audiovisual é que esses números estão sendo exigidos dos atores na hora da escalação”, afirma. “Isso significa deixar de dar oportunidade para artistas brilhantes que não têm tantos seguidores, e que talvez nunca vão ter”. A atriz bateu um papo com Paulo Lima sobre corpo, fama, mudanças, e lembra a época em que era atleta da ginástica artística. O papo completo está disponível no play aqui em cima e no Spotify.
Atriz se consolida como um dos principais talentos do audiovisual em ano repleto de estreias importantes “Não acredito em ‘auge', porque é como se você subisse e depois descesse. É muito relativo, a gente se realiza de formas diferentes. Me sinto no auge agora porque consigo ter qualidade de vida, conciliar meu trabalho com a família e os amigos. Mas sei que o auge também vai vir daqui pra frente”, diz Alice Wegmann. Dois dias antes de completar 29 anos, a atriz falou ao Trip FM sobre o ano em que consolida seu espaço nas telas brasileiras. Em cartaz nos cinemas com o filme “A Vilã das 9” e na expectativa da estreia da série “Senna” (Netflix) no fim do mês, Alice se mostra uma figura essencial da nova geração de atores. “A gente não pode pautar talentos e profissões por seguidores de redes sociais. Isso é muito perigoso. O que está acontecendo no mercado do audiovisual é que esses números estão sendo exigidos dos atores na hora da escalação”, afirma. “Isso significa deixar de dar oportunidade para artistas brilhantes que não têm tantos seguidores, e que talvez nunca vão ter”. Nesta sexta-feira, a atriz bate um papo com Paulo Lima sobre corpo, fama, mudanças, e lembra a época em que era atleta da ginástica artística. O papo completo está disponível no site da Trip e no Spotify.
Para homenagear o legado do publicitário, o Trip FM resgata seus relatos sobre sucessos, fracassos e os detalhes do sequestro em 2001 Um dos grandes nomes da cultura pop brasileira, o publicitário Washington Olivetto faleceu no último domingo, aos 73 anos, deixando dezenas de campanhas publicitárias que não só fizeram história, mas também conquistaram o imaginário popular – quem não lembra do Garoto Bombril ou do cachorro da Cofap? Para homenagear esse legado, o Trip FM reúne duas conversas gravadas com Olivetto, em 2002 e 2008. Nas entrevistas, ele conta sobre a criação da icônica campanha "Meu Primeiro Sutiã", para a Valisere, e compartilha reflexões sobre envelhecimento, fracasso, mercado publicitário e o sequestro que o manteve em cativeiro por mais de cinquenta dias em 2001 — um episódio sobre o qual ele raramente falava, mas que topou relatar à Trip. Em sua primeira participação no programa, estava ao seu lado no estúdio a estudante de medicina Aline Dota, que descobriu o paradeiro de Olivetto usando um estetoscópio e revelou sua localização à polícia. Você pode ouvir essa e outras histórias no Spotify ou no play aqui na página! [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/10/6712bff6519be/washington-olivetto-publicitario-w-brasil-propaganda-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Jairo Goldfus (@jairogoldflusestudio); LEGEND=Washington Olivetto, publicitário que criou a propaganda do primeiro sutiã, da Valisère, vencedora de vários prêmios internacionais; ALT_TEXT=Washington Olivetto]
Descubra quem é Bruno Santos, o ídolo de Medina, ítalo e Chumbinho especialista em desafiar por dentro as ondas mais perigosas do planeta Muito antes de Gabriel Medina e Tatiana Weston-Webb brilharem ao surfar em Teahupoo, no Taiti, durante as Olimpíadas, outro brasileiro já havia feito história nessa onda, uma das mais perigosas e icônicas do mundo. Em 2008, com quinze pontos recém-aplicados na perna, Bruno Santos, então com 25 anos, derrotou os melhores atletas do planeta e conquistou uma das vitórias mais inesperadas da história do surf. Hoje, aos 41 anos e consagrado como um dos maiores surfistas de tubo do mundo, Bruninho conversou com Paulo Lima no Trip FM sobre sua carreira, estilo de vida, morar na Indonésia, paternidade, pesca submarina, e muito mais. O Trip FM fica disponível no Spotify e no site da Trip. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/10/67097d45ecba8/bruno-santos-surf-big-waves-trip-mh.jpg; CREDITS=@bali_shots / reprodução / instagram; LEGEND=Bruno Santos; ALT_TEXT=] Trip. Você acha que os surfistas hoje estão esquecendo de um lado menos competitivo do surf? O surf hoje é muito grande, tem quem leve para o lado mais competitivo, outros que vivem como uma religião, tem também os que trabalham para poder surfar no tempo livre. Eu sou da parte mais romântica. Depois de ter surfado sei lá quantas horas de tubo na minha vida, ainda continuo viciado, apaixonado por essa busca, essas missões: barco, moto, voa, tudo procurando essa paixão. O que você aprendeu sobre surfar tubo depois de todos esses anos e quanto o fator perigo influencia? O tubo é um mix de técnica, claro, conhecimento, timming. Mais da metade do trabalho é o posicionamento antes. Os melhores tubos são em ondas perigosas, de bancada rasa, então o risco está sempre presente. O fator perigo está presente. É o que o torna especial. Três segundos dentro dele parecem uma eternidade. Você já imagina o que vai fazer quando o corpo não permitir mais pegar essas ondas? Brinco que não gosto de surfar, gosta de pegar tubo. O que me move é a adrenalina, é o coração bater forte. Fico com medo de que a partir do momento em que o meu corpo não estiver bem o suficiente de pegar essas ondas maiores, se eu vou ter o tesão de surfar ou se não vou partir pra outra coisa.
Dona de um extenso currículo no cinema e na televisão, atriz colhe os frutos de seu primeiro filme como diretora “Comecei a perceber que tenho uma representatividade como amazônida, mas sou de uma brasilidade que alcança esse país inteiro. São 42 longas-metragens plurais. Agora, quando se fala em TV, só a partir de 2022 o olhar do protagonismo começou a ser ampliado dessa beleza importada que a gente vê por aí”, diz Dira Paes. Dona de um extenso currículo no cinema e na televisão, a convidada do Trip FM vive a emoção de colher os frutos de seu primeiro filme como diretora, que também é roteirizado e protagonizado por ela. Em cartaz nos cinemas brasileiros, “Pasárgada” acompanha o dilema de Irene, uma solitária ornitóloga, profissional dedicada ao estudo de aves, que, durante uma viagem de pesquisa numa floresta remota, passa a questionar sua ligação com o tráfico internacional de animais. “Eu queria abordar o absurdo do Brasil ser esse grande fornecedor de animais silvestres e pássaros para o tráfico internacional. É um fetiche até hoje. A gente convive com gaiolas e não se admira”, afirma a atriz. “Essa personagem me trouxe outro movimento, algo que não sou muito convidada a fazer. Eu queria essa vilania.” Dira também está no elenco de “Manas”, longa-metragem premiado no Festival de Veneza que fará sua estreia nacional no Festival do Rio neste final de semana. Gravado na região amazônica, o filme acompanha uma jovem em meio ao cenário de violência na Ilha do Marajó, no Pará. Na conversa com Paulo Lima, Dira também falou sobre seu ativismo, que precede a carreira artística. “Como vamos dar conta das demandas do Brasil se ficarmos passivos às demandas governamentais? Como vamos transformar alguma coisa se não somos ativistas capazes de criar demandas? O que eu vejo hoje é que a Amazônia precisa ser ouvida através dos amazônidas: artistas, cientistas, todas as excelências do mundo. Não dá pras pessoas irem lá pra falar o que a gente precisa fazer.” Você pode ouvir esse papo no Spotify e no play aqui em cima. Trip. Porque decidiu partir agora para a direção? Dira Paes. Eu queria estar presente em todas as etapas da feitura de um filme. Encarei essa minha primeira aventura cinematográfica como uma graduação, quando é preciso estar a par de toda a artesania do processo. Eu estou muito realizada: colocar um filme na praça é um grande desafio. É um trabalho de uma apropriação do seu desejo ao ponto de você contaminar todos que estão à sua volta. Como foi desenvolver uma personagem para você mesma interpretar? Eu estava pensando um lado meu mais lunar – justo eu que sou uma pessoa extrovertida, fui buscando meus avessos. Essa personagem me trouxe outro movimento, algo que não sou muito convidada pra fazer. Eu queria essa vilania. Com o tempo, sua beleza virou um ativo muito forte, mas imagino que no começo, quando o padrão de beleza era muito mais europeu, você tenha tido mais dificuldade. No começo da carreira eu achei que esse meu lado Amazônia era algo que me deixaria em um nicho. Hoje me orgulho de ser um farol para muita gente. Nós não éramos um padrão de beleza, era uma coisa exótica. Mas eu sempre tive minha autoestima muito bem resolvida, e sempre me achei muito especial. Comecei a perceber que tenho uma representatividade como amazônida, mas sou de uma brasilidade que alcança esse país inteiro. São 42 longa-metragens plurais. Agora, quando se fala em TV, só agora a partir de 2022 o olhar do protagonismo começou a ser ampliado dessa beleza importada que a gente vê por aí. O quanto você mergulhou nesse mundo do estudo dos passarinhos para fazer esse filme? Eu queria abordar com esse filme o absurdo que é o Brasil ser esse grande fornecedor de animais silvestres e pássaros para o tráfico internacional. É um fetiche até hoje. A gente convive com gaiolas e não se admira. Não acha um absurdo que eles se autodenominem passarinheiros. Eles são gaioleiros. Os pássaros não nasceram para ficarem na gaiola e nem sozinhos. São animais que vivem em dupla a vida inteira. Dentro de uma gaiola eles não estão cantando, eles estão chorando, sofrendo. Imagine um bicho que nasceu para voar sobre uma floresta, ficar preso. Como nós vamos monitorar a Amazônia se não for com a ajuda do terceiro setor? Como vamos dar conta das demandas do Brasil se a gente ficar passivo às demandas governamentais? Como vamos transformar se não somos ativistas capazes de fazer demandas? Hoje o que eu vejo é que a Amazônia precisa ser ouvida através dos amazônidas: artistas, cientistas, todas as excelências desse mundo.
Dona de um extenso currículo no cinema e na televisão, atriz colhe os frutos de seu primeiro filme como diretora “Comecei a perceber que tenho uma representatividade como amazônida, mas sou de uma brasilidade que alcança esse país inteiro. São 42 longas-metragens plurais. Agora, quando se fala em TV, só a partir de 2022 o olhar do protagonismo começou a ser ampliado dessa beleza importada que a gente vê por aí”, diz Dira Paes. Dona de um extenso currículo no cinema e na televisão, a convidada do Trip FM desta sexta-feira vive a emoção de colher os frutos de seu primeiro filme como diretora, que também é roteirizado e protagonizado por ela. Em cartaz nos cinemas brasileiros, “Pasárgada” acompanha o dilema de Irene, uma solitária ornitóloga, profissional dedicada ao estudo de aves, que, durante uma viagem de pesquisa numa floresta remota, passa a questionar sua ligação com o tráfico internacional de animais. “Eu queria abordar o absurdo do Brasil ser esse grande fornecedor de animais silvestres e pássaros para o tráfico internacional. É um fetiche até hoje. A gente convive com gaiolas e não se admira”, afirma a atriz. “Essa personagem me trouxe outro movimento, algo que não sou muito convidada a fazer. Eu queria essa vilania.” Dira também está no elenco de “Manas”, longa-metragem premiado no Festival de Veneza que fará sua estreia nacional no Festival do Rio neste final de semana. Gravado na região amazônica, o filme acompanha uma jovem em meio ao cenário de violência na Ilha do Marajó, no Pará. Na conversa com Paulo Lima, Dira também falou sobre seu ativismo, que precede a carreira artística. “Como vamos dar conta das demandas do Brasil se ficarmos passivos às demandas governamentais? Como vamos transformar alguma coisa se não somos ativistas capazes de criar demandas? O que eu vejo hoje é que a Amazônia precisa ser ouvida através dos amazônidas: artistas, cientistas, todas as excelências do mundo. Não dá pras pessoas irem lá pra falar o que a gente precisa fazer.” O Trip FM fica disponível no Spotify e aqui no site da Trip. Trip. Porque decidiu partir agora para a direção? Eu queria estar presente em todas as etapas da feitura de um filme. Encarei essa minha primeira aventura cinematográfica como uma graduação, quando é preciso estar ao par de toda a artesania do processo. Eu estou muito realizada: colocar um filme na praça é um grande desafio. É um trabalho de uma apropriação do seu desejo ao ponto de você contaminar todos que estão à sua volta. Como foi desenvolver uma personagem para você mesma interpretar? Eu estava pensando um lado meu mais lunar, justo eu que sou uma pessoa extrovertida, fui buscando meus avessos. Essa personagem me trouxe outro movimento, algo que não sou muito convidada pra fazer. Eu queria essa vilania. Com o tempo você a sua beleza virou um ativo muito forte, mas imagino que no começo, quando o padrão de beleza era muito mais europeu, você tenha tido maior dificuldade. No começo da carreira eu achei que esse meu lado Amazônia era algo que me deixaria em um nicho. Hoje me orgulho de ser um farol para muita gente. Nós não éramos um padrão de beleza, tínhamos uma coisa exótica. Mas eu sempre tive minha autoestima muito bem resolvida, e sempre me achei muito especial. Comecei a perceber que tenho uma representatividade como amazônida, mas trabalhei no Brasil inteiro, eu sou de uma brasilidade que alcança esse país inteiro. São 42 longa metragens plurais. Agora quando se fala em TV, só agora a partir de 2022, o olhar do protagonismo começou a ser ampliado dessa beleza importada que a gente vê por aí. O quanto você mergulhou nesse mundo do estudo dos passarinhos para fazer esse filme? Eu queria abordar com esse filme o absurdo que é o Brasil ser esse grande fornecedor de animais silvestres e pássaros para o tráfico internacional. É um fetiche até hoje. A gente convive com gaiolas e não se admira. Não acha um absurdo que eles se autodenominem passarinheiros. Eles são gaioleiros. Os pássaros não nasceram para ficarem na gaiola e nem sozinhos. São animais que vivem em dupla a vida inteira. Dentro de uma gaiola eles não estão cantando, eles estão chorando, sofrendo. Imaginem um bicho que nasceu para voar sobre uma floresta, ficar preso. Como nós vamos monitorar a Amazônia se não for com a ajuda do terceiro setor? Como vamos dar conta das demandas do Brasil se a gente ficar passivo às demandas governamentais? Como vamos transformar se não somos ativistas capazes de fazer demandas? Hoje o que eu vejo é que a Amazônia precisa ser ouvida através dos amazônidas: artistas, cientistas, todas as excelências desse mundo.
Série comemorativa “2 de Ouro” traz dois arranjadores fundamentais para a evolução da MPB Em comemoração aos 40 anos de história, o Trip FM preparou a série especial 2 de Ouro, reunindo entrevistados que marcaram a trajetória do programa. São sempre duas conversas distintas, gravadas em épocas diferentes, mas conectadas por coincidências marcantes. No segundo episódio, você ouve o papo com o exímio compositor, letrista, violonista, cantor, arranjador e produtor Lenine ao lado do violoncelista Jaques Morelembaum, uma potência da MPB com mais de 800 discos gravados. Eles falam de fama, dos segredos para uma boa parceria, de infância, das dificuldades no início da carreira e muito mais. O episódio já está disponível no Spotify e no play aqui em cima.
Figura central no rap brasileiro, DJ Zegon conta sua história do início no Largo São Bento ao encontro com o Dr. Dre Moldado pelo skate e pelos encontros no Largo São Bento no início dos anos 1980 – berço do hip-hop paulistano, que também revelou nomes como Os Gêmeos e o rapper Thaíde – o DJ Zegon é uma figura importante na história do rap brasileiro. Ele já produziu grandes artistas, como os Racionais e Sabotage, e integrou o Planet Hemp quando a banda estourou. "No começo dos anos 1980, o skate era influenciado pelo new wave, pós-punk, hardcore, mas depois, tanto no Brasil quanto nos EUA, começou a se aproximar do hip-hop. Os primeiros discos foram produzidos pelo pessoal do Ira!, Dudu Marote, pelos new waves e pós-punks. Houve uma identificação entre o punk e o hip-hop, um verdadeiro encontro de tribos. O skate se tornou muito eclético, com skatistas ouvindo de Madonna a Run-D.M.C., e eu sempre me identifiquei com isso", relembra Zegon. Toda essa trajetória é abordada na conversa com Paulo Lima, no Trip FM desta semana. Zé também fala sobre seu trabalho com o Tropkillaz, dupla formada com o beatmaker e compositor Laudz, e compartilha histórias de estúdio com grandes nomes como Dr. Dre, Kanye West, Tom Waits, entre outros. O episódio está disponível no Spotify e aqui no site da Trip. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/09/66edbbb548b55/dj-zegon-planet-hemp-produtor-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Igaronovich / Divulgação; LEGEND=Dj Zegon; ALT_TEXT=Dj Zegon] Trip. A gente pode começar pelo estopim da sua carreira. Como foi viajar com o Planet Hemp na época em que a banda era mais perseguida? Quando o Planet hemp cresceu começaram as perseguições, até com polícia esperando em aeroporto. A gente viajava com advogado e habeas corpos pronto. Isso até o grande incidente de Brasília que deixou a gente uma semana preso. A intenção do Planet sempre foi essa, a mensagem era muito importante. Ainda a gente precisa falar sobre isso, melhorou um pouco, mas está longe do ideal. A quantidade de pessoa que é presa injustamente é grande. Os jovens não sabem que não podia falar de qualquer coisa naquela época. Não era comercial, era uma missão na qual a gente acreditava. E como foi a sua entrada no rap e principalmente o trabalho com o Sabotage? O Mano Brown foi um padrinho da sua carreira, não foi? Eu aprendi muito com o Mano Brown, de simplicidade, do menos é mais, de como suingar. E ele me testou antes de me aceitar, primeiro me pedindo para produzir o 509-E, depois o Sabotage, pra só então trabalhar com o Racionais. O Sabotage era muito para frente do seu tempo, reunia influencias de chorinho a rock. Ele não era nada duro, não tinha nada de gangster, que era a tendência da época. Ele era metáfora, abstração. Muito para frente em levada e musicalidade. Gravou com o Sepultura, era fã da Sandy e não ligava. O que exatamente faz um produtor? Existem várias escolas de produção, do psicólogo que tira o melhor do músico ao beatmaker e ao maestro que cria uma determinada sonoridade de uma banda. A minha escola é a de criar os beats. Quando caiu a ficha do tamanho dos trabalhos que você estava fazendo? No Planet Hemp caiu a minha ficha de que estava realizando um sonho de moleque, de fazer um som como Cypress Hill ou Beastie Boys, como meus ídolos, e do lado de amigos. Quando eu vi que estava vivendo disso, eu percebi que tinha cumprido uma etapa. Depois, gravando com Talking Heads, George Clinton, Tom Waits e ter meu nome junto com esses caras... Eu nunca pude sonhar com isso. Mas gosto de ficar com esse friozinho na barriga , com 55 anos, ainda achando que vou fazer coisas que eu nunca fiz. Que conselhos você acha que pode dar aos jovens que estão começando nesse caminho? O que eu tento falar para os beatmakers mais novos é pra não seguir tendência: você vai chegar atrás de todo mundo que já foi. Encontre a sua assinatura. Faz parte aprender olhando os outros, mas encontrar o seu caminho é a dica de ouro.
Figura central no rap brasileiro, DJ Zegon conta sua história do início no Largo São Bento ao encontro com o Dr. Dre Moldado pelo skate e pelos encontros no Largo São Bento no início dos anos 1980 – berço do hip-hop paulistano, que também revelou nomes como Os Gêmeos e o rapper Thaíde – o DJ Zegon é uma figura importante na história do rap brasileiro. Ele já produziu grandes artistas, como os Racionais e Sabotage, e integrou o Planet Hemp quando a banda estourou. "No começo dos anos 1980, o skate era influenciado pelo new wave, pós-punk, hardcore, mas depois, tanto no Brasil quanto nos EUA, começou a se aproximar do hip-hop. Os primeiros discos foram produzidos pelo pessoal do Ira!, Dudu Marote, pelos new waves e pós-punks. Houve uma identificação entre o punk e o hip-hop, um verdadeiro encontro de tribos. O skate se tornou muito eclético, com skatistas ouvindo de Madonna a Run-D.M.C., e eu sempre me identifiquei com isso", relembra Zegon. Toda essa trajetória é abordada na conversa com Paulo Lima, no Trip FM desta semana. Zé também fala sobre seu trabalho com o Tropkillaz, dupla formada com o beatmaker e compositor Laudz, e compartilha histórias de estúdio com grandes nomes como Dr. Dre, Kanye West, Tom Waits, entre outros. O episódio está disponível no Spotify e aqui no site da Trip. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/09/66edbbb548b55/dj-zegon-planet-hemp-produtor-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Igaronovich / Divulgação; LEGEND=Dj Zegon; ALT_TEXT=Dj Zegon] Trip. A gente pode começar pelo estopim da sua carreira. Como foi viajar com o Planet Hemp na época em que a banda era mais perseguida? Quando o Planet hemp cresceu começaram as perseguições, até com polícia esperando em aeroporto. A gente viajava com advogado e habeas corpos pronto. Isso até o grande incidente de Brasília que deixou a gente uma semana preso. A intenção do Planet sempre foi essa, a mensagem era muito importante. Ainda a gente precisa falar sobre isso, melhorou um pouco, mas está longe do ideal. A quantidade de pessoa que é presa injustamente é grande. Os jovens não sabem que não podia falar de qualquer coisa naquela época. Não era comercial, era uma missão na qual a gente acreditava. E como foi a sua entrada no rap e principalmente o trabalho com o Sabotage? O Mano Brown foi um padrinho da sua carreira, não foi? Eu aprendi muito com o Mano Brown, de simplicidade, do menos é mais, de como suingar. E ele me testou antes de me aceitar, primeiro me pedindo para produzir o 509-E, depois o Sabotage, pra só então trabalhar com o Racionais. O Sabotage era muito para frente do seu tempo, reunia influencias de chorinho a rock. Ele não era nada duro, não tinha nada de gangster, que era a tendência da época. Ele era metáfora, abstração. Muito para frente em levada e musicalidade. Gravou com o Sepultura, era fã da Sandy e não ligava. O que exatamente faz um produtor? Existem várias escolas de produção, do psicólogo que tira o melhor do músico ao beatmaker e ao maestro que cria uma determinada sonoridade de uma banda. A minha escola é a de criar os beats. Quando caiu a ficha do tamanho dos trabalhos que você estava fazendo? No Planet Hemp caiu a minha ficha de que estava realizando um sonho de moleque, de fazer um som como Cypress Hill ou Beastie Boys, como meus ídolos, e do lado de amigos. Quando eu vi que estava vivendo disso, eu percebi que tinha cumprido uma etapa. Depois, gravando com Talking Heads, George Clinton, Tom Waits e ter meu nome junto com esses caras... Eu nunca pude sonhar com isso. Mas gosto de ficar com esse friozinho na barriga , com 55 anos, ainda achando que vou fazer coisas que eu nunca fiz. Que conselhos você acha que pode dar aos jovens que estão começando nesse caminho? O que eu tento falar para os beatmakers mais novos é pra não seguir tendência: você vai chegar atrás de todo mundo que já foi. Encontre a sua assinatura. Faz parte aprender olhando os outros, mas encontrar o seu caminho é a dica de ouro.
Série comemorativa “2 de ouro” estreia com Rickson Gracie e Aretha Duarte Em comemoração aos 40 anos de história, o Trip FM lança uma série de episódios especiais, reunindo duplas de entrevistados que marcaram a trajetória do programa. Cada episódio traz duas conversas distintas, gravadas em épocas diferentes, mas conectadas por coincidências marcantes. No episódio de estreia, você ouvirá Aretha Duarte, a primeira mulher negra latino-americana a escalar o Everest, ao lado de Rickson Gracie, um dos maiores ícones das artes marciais. Apesar de terem níveis de exposição e reconhecimento distintos, ambos compartilham algo em comum: transformaram suas vidas e a maneira como se relacionam com o mundo por meio do esporte. No programa, eles falam sobre temas como família, treinamento, superação do medo e a importância da natureza. O episódio fica disponível no Spotify e no site da Trip.
Série comemorativa estreia com a primeira mulher negra latino-americana a escalar o Everest e um dos maiores ícones das artes marciais Em comemoração aos 40 anos de história, o Trip FM preparou uma série de episódios especiais, reunindo duplas de entrevistados que marcaram a trajetória do programa. São sempre duas conversas distintas, gravadas em épocas diferentes, mas conectadas por coincidências marcantes. No episódio de estreia, você ouve o papo com Aretha Duarte, a primeira mulher negra latino-americana a escalar o Everest, ao lado de Rickson Gracie, um dos maiores ícones das artes marciais. Eles compartilham algo em comum: transformaram suas vidas e a maneira como se relacionam com o mundo por meio do esporte. No programa, eles falam sobre temas como família, treinamento, superação do medo e a importância da natureza. O episódio fica disponível no Spotify e no play aqui em cima.
Conheça Antonio Saboia, o ator que vive Marcelo Rubens Paiva no aclamado filme “Ainda Estou Aqui”, com Fernanda Montenegro e Fernanda Torres Depois de ser aplaudido por dez minutos no Festival de Cinema de Veneza, na Itália, o filme "Ainda Estou Aqui" se tornou um dos assuntos mais comentados da semana – especialmente por marcar o retorno do diretor Walter Salles após mais de uma década sem novos lançamentos. As atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro dão vida à Eunice Paiva, que enfrentou a violência do período da ditadura militar no Brasil depois do desaparecimento do marido, o deputado Rubens Paiva, preso em 1971 e assassinado pelos torturadores no Rio de Janeiro. O livro homônimo, escrito por seu filho, Marcelo Rubens Paiva, inspirou o longa que ainda não tem data de estreia no Brasil. O ator Antonio Saboia, que interpreta o escritor, falou ao Trip FM sobre a importância de essa história ser contada nos cinemas. "É essencial relembrarmos esses momentos dramáticos da nossa história para educar e evitar que se repitam. No entanto, o filme não é panfletário; o foco está na trajetória daquela família. Trata-se de memória", afirma. Destaque no cinema nacional, com papéis em produções aclamadas como "Bacurau" e "Deserto Particular", ele bateu um papo com Paulo Lima sobre o novo trabalho, além de relembrar sua infância e falar de Fernanda Montenegro. O programa está disponível no Spotify e aqui no site da Trip. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/09/66db4b2b8fbdb/antonio-saboia-walter-salles-cinema-veneza-filme-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Fabio Audi (@fabioaudi) / Divulgação; LEGEND=Antonio Saboia; ALT_TEXT=Antonio Saboia] Trip. A procura cada vez maior por atores com grande número de seguidores nas redes sociais é algo que o preocupa? Antonio Saboia. É um equívoco achar que um vídeo de uma dancinha ou algo engraçado vai atrair pessoas para o cinema. As pessoas dão like porque consomem isso nas redes sociais, mas o que elas querem é uma boa história. A gente tem tantos exemplos na nossa filmografia de longas com elenco desconhecido, como "Cidade de Deus" ou o próprio "Bacurau". As pessoas querem ser mexidas. "Ainda Estou Aqui" fez um barulho imenso no Festival de Veneza. Já dá pra dizer que é a sua obra mais importante? Como foi contracenar com a Fernanda Montenegro? Eu tenho muito orgulho desse filme, de poder ter chamado a Fernanda Montenegro de mãe e de interpretar o Marcelo Rubens Paiva. A Fernanda é extremamente interessada, humilde. Depois de gravar com ela eu nunca mais vou reclamar de nada. Fizemos diárias de horas com moletom, no calor, e ela nunca reclamou. Esteve ao meu lado até em cenas em que não precisava estar. Por muito, muito menos eu já vi atores reclamarem. E o Walter Salles é muito preciso, sutil, pode estar tudo desmoronando e ele mantém a calma. A gente se sente muito seguro. Como você enxerga a importância desse filme, principalmente pensando que estamos há poucos dias do 7 de setembro, uma data que tem se tornando uma desculpa para alguns irem às ruas pedindo a volta da ditadura militar? É fundamental a gente contar sobre esses momentos dramáticos da nossa história. Tentar educar para que isso não aconteça mais. Por outro lado, "Ainda Estou Aqui" não é panfletário. Em primeiro plano está a história daquela família, que não pediu nada para ninguém, e é impactada por aquela violência. É um filme também sobre memória.
De Eder Jofre a Elza Soares, de Lama Michel a Renato Russo, programa faz sobrevoo por algumas de suas entrevistas mais marcantes No dia 28 de agosto de 1984 entrava no ar o Trip FM. O programa, que completa 40 anos sob o comando de Paulo Lima, chamava-se Surf Report quando estreou na rádio 97 FM em Santo André. Transmitido há 20 anos pela Rádio Eldorado, já recebeu convidados como Elza Soares, Contardo Calligaris, Renato Russo, Sócrates, Lama Michel e outras centenas de pessoas que têm algo a dizer e se destacam nas mais diversas áreas da sociedade brasileira para conversas que misturam a profundidade do jornalismo com a leveza e o humor de uma conversa entre amigos íntimos. Para celebrar essa trajetória, o relembramos algumas de suas entrevistas mais marcantes, selecionadas de um acervo de quase 2 mil arquivos. São personalidades do esporte, da música, da saúde e das artes em papos que refletem o desejo do programa de explorar a natureza humana em suas diversas expressões. Confira abaixo uma amostra do programa ou ouça o episódio completo no Spotify e aqui no play aqui em cima. “A felicidade é uma piada fundamentalmente desinteressante. O que é interessante é ter uma vida animada, com momentos de grande alegria e outros de tristeza. Isso é viver”Contardo Calligaris, psicanalista, em entrevista ao Trip FM em 2009 [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66d22ea64bef6/trip-fm-40-anos-aniversario-mh9.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=] ______________ “Eu cheguei no Ary Barroso e a plateia riu muito. Eu muito magrela, com a roupa da minha mãe, parecia um ET. Quando estava cantando, o Ary me abraçou e disse: 'Senhoras e senhores, neste momento nasce mais uma estrela'”Elza Soares, cantora, em entrevista ao Trip FM em 2007 [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66d22f127cb71/trip-fm-40-anos-aniversario-mh10.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=] ______________ “Dinheiro é um sofrimento. No budismo nós chamamos de 'os três sofrimentos do dinheiro': o sofrimento de acumular, de manter e de aumentar”Lama Michel, mestre budista, em entrevista ao Trip FM em 2007 [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66d22f275591b/trip-fm-40-anos-aniversario-mh8.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=] ______________ “Eu não acredito que alguém pode dizer que quem faz esporte é alienado. Com a sociedade do jeito que está, com o corre-corre dos centros urbanos e o consumismo desenfreado, se dedicar a uma coisa saudável, principalmente a um esporte de ação, não pode ser considerado algo alienante”Renato Russo, músico, em entrevista ao Trip FM em 1988 [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66d22f48f0ab6/trip-fm-40-anos-aniversario-mh7.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=] ______________ “Medo todo mundo tem, controlar é que é difícil"Rickson Gracie, lutador, em entrevista ao Trip FM em 2008 [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66d22f8b54ec8/trip-fm-40-anos-aniversario-mh5.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=] ______________ “O jogador de futebol é tratado como criança. A concentração é um exemplo bem claro disso. Por que você isola um profissional pra ele produzir naquilo que lhe diz respeito? Se fosse assim, um cirurgião cardíaco, que opera todo dia, não poderia ter família”Sócrates, jogador de futebol, em entrevista ao Trip FM em 2008 [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66d2460d1e160/trip-fm-40-anos-aniversario-mh3.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=] ______________ "Falar sobre grana sendo artista é um tabu. A gente precisa dizer que é rico. Tem muita gente linda na música que não ganha dinheiro"Rodrigo Amarante, músico, em entrevista ao Trip FM em 2021 [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66d22eb21b304/trip-fm-40-anos-aniversario-mh1.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=] ______________ "A morte não me assusta. Viva e deixe para pensar na morte depois de enterrado, quando for sobrar tempo. Esse paredão da finitude só serve pra gente olhar para trás e perceber a vida que levou. E aí que história eu vou contar?"Ana Michelle Soares, fundadora da Casa Paliativa, em entrevista ao Trip FM em 2022 [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66d22fae87cf4/trip-fm-40-anos-aniversario-mh4.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=] ______________ "A aposentadoria foi o momento infinitamente mais difícil da minha carreira. Dá um vazio muito grande enterrar algo em que você foi o melhor do mundo, que trouxe muita alegria. Eu vejo as competições e ainda quero ganhar, mas já não quero pagar o preço para chegar até lá"Cesar Cielo, nadador, em entrevista ao Trip FM em 2023 [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66d22fc17d7db/trip-fm-40-anos-aniversario-mh2.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=] ______________ "A fama foi algo muito maluco. Ainda bem que o sertão me ensinou muita coisa. A seca me ensinou a separar a realidade da mentira. Não tivesse tomado cuidado, eu poderia ter achado que era aquilo tudo que se escrevia nas revistas"Jackson Antunes, ator, em entrevista ao Trip FM em 2024 [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66d22fdbbf1bb/trip-fm-40-anos-aniversario-mh6.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=]
William Ury conta sobre os bastidores de algumas das negociações mais famosas do mundo O fantasma da guerra nuclear, que assombrou uma geração, sempre esteve presente na mente de William Ury. A ansiedade gerada por eventos como a crise dos mísseis em Cuba foi uma das razões que o levaram a se dedicar à resolução de conflitos. Antropólogo de formação, ele passou os últimos 40 anos envolvido em negociações tão complexas quanto o conflito entre a Rússia e a Chechênia, a guerra civil que desintegrou a ex-Iugoslávia, o apartheid na África do Sul, a crise entre o presidente venezuelano Hugo Chávez e a oposição, entre muitos outros. Fora do cenário político internacional, Ury também ganhou prestígio ao mediar conflitos no mundo dos negócios, como no notório caso de Abilio Diniz contra Jean-Charles Naouri. Autor do livro “Sim, é possível: Sobreviver e prosperar em uma era de conflitos”, que acaba de ser lançado no Brasil, Ury é o convidado do Trip FM. No papo com Paulo Lima, ele compartilha suas experiências em negociações famosas e fala sobre tecnologia, Ucrânia, Faixa de Gaza, Kim Jong-un e os conflitos atuais. “Nesse momento estamos em crise, são muitas mudanças tecnológicas, geopolíticas. É muito para a mente e o coração humano. Estamos olhando para uma tempestade, com ondas gigantes. Como vamos surfar? As ondas não vão diminuir, mas podemos aprender a nadar”, diz. O programa está disponível no play aqui em cima e no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66c8eca21eb58/william-ury-escritor-antropoligo-mediador-conflitos-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação; LEGEND=William Ury; ALT_TEXT=William Ury] Trip. Você, que prega muito o ouvir, como vê essa valorização crescente do falar, se expor e gritar nas redes sociais? William Ury. Nesse momento estamos em crise, são muitas mudanças para a humanidade, tecnológicas e geopolíticas. É muito para a mente e o coração humano. Estamos olhando para uma tempestade com ondas gigantes. Como vamos surfar? As ondas não vão diminuir, mas podemos aprender a nadar. É preciso respirar um pouco para saber para onde queremos ir. O mundo está muito reativo. As mídias sociais querem que a gente fale mais, entre mais em conflito. É o momento para nós, na família, no emprego, pararmos um pouco para enxergar novas possibilidades. Como neste momento, por exemplo, aqui nos EUA. Dois meses atrás, não havia esse sentimento de esperança, de possibilidade, que agora temos com a vice-presidente Kamala Harris. Há dois meses estávamos todos deprimidos. Isso mostra que em pouco tempo pode mudar tudo. Quanto mais próximo ao interlocutor, mais difícil negociar? A negociação, quanto mais interna, mais difícil. Negociar com o banco é muito mais fácil do que com a família, são muitas emoções envolvidas. Essas discussões são mais difíceis subjetivamente, mas ao mesmo tempo o ouvir se torna ainda mais eficaz. Ouvir com empatia, sem julgar, com paciência, com calma interior. Escutar é um gesto recebido como forma de respeito. Escutar é a concessão mais barata que existe. Existem pessoas que são inegociáveis? Ninguém é inegociável. Todos somos humanos, todos temos nossos interesses e você pode influir esses interesses. Mas em algum momento é muito difícil negociar, então é preciso ter um plano B. Como proteger seus interesses frente ao Putin, por exemplo? O que ele entende é o poder, somente. Há possibilidades ali para proteger a Ucrânia através da negociação, assim como há na Faixa de Gaza. Mas é preciso trabalhar, usar todos os recursos para a negociação que nós trazemos para a guerra.
William Ury conta sobre os bastidores de algumas das negociações mais famosas do mundo O fantasma da guerra nuclear, que assombrou uma geração, sempre esteve presente na mente de William Ury. A ansiedade gerada por eventos como a crise dos mísseis em Cuba foi uma das razões que o levaram a se dedicar à resolução de conflitos. Antropólogo de formação, ele passou os últimos 40 anos envolvido em negociações tão complexas quanto o conflito entre a Rússia e a Chechênia, a guerra civil que desintegrou a ex-Iugoslávia, o apartheid na África do Sul, a crise entre o presidente venezuelano Hugo Chávez e a oposição, entre muitos outros. Fora do cenário político internacional, Ury também ganhou prestígio ao mediar conflitos no mundo dos negócios, como no notório caso de Abilio Diniz contra Jean-Charles Naouri. Autor do livro “Sim, é possível: Sobreviver e prosperar em uma era de conflitos”, que acaba de ser lançado no Brasil, Ury é o convidado do Trip FM. No papo com Paulo Lima, ele compartilha suas experiências em negociações famosas e fala sobre tecnologia, Ucrânia, Faixa de Gaza, Kim Jong-un e os conflitos atuais. “Nesse momento estamos em crise, são muitas mudanças tecnológicas, geopolíticas. É muito para a mente e o coração humano. Estamos olhando para uma tempestade, com ondas gigantes. Como vamos surfar? As ondas não vão diminuir, mas podemos aprender a nadar”, diz. O programa está disponível no play aqui em cima e no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66c8eca21eb58/william-ury-escritor-antropoligo-mediador-conflitos-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação; LEGEND=William Ury; ALT_TEXT=William Ury] Trip. Você, que prega muito o ouvir, como vê essa valorização crescente do falar, se expor e gritar nas redes sociais? William Ury. Nesse momento estamos em crise, são muitas mudanças para a humanidade, tecnológicas e geopolíticas. É muito para a mente e o coração humano. Estamos olhando para uma tempestade com ondas gigantes. Como vamos surfar? As ondas não vão diminuir, mas podemos aprender a nadar. É preciso respirar um pouco para saber para onde queremos ir. O mundo está muito reativo. As mídias sociais querem que a gente fale mais, entre mais em conflito. É o momento para nós, na família, no emprego, pararmos um pouco para enxergar novas possibilidades. Como neste momento, por exemplo, aqui nos EUA. Dois meses atrás, não havia esse sentimento de esperança, de possibilidade, que agora temos com a vice-presidente Kamala Harris. Há dois meses estávamos todos deprimidos. Isso mostra que em pouco tempo pode mudar tudo. Quanto mais próximo ao interlocutor, mais difícil negociar? A negociação, quanto mais interna, mais difícil. Negociar com o banco é muito mais fácil do que com a família, são muitas emoções envolvidas. Essas discussões são mais difíceis subjetivamente, mas ao mesmo tempo o ouvir se torna ainda mais eficaz. Ouvir com empatia, sem julgar, com paciência, com calma interior. Escutar é um gesto recebido como forma de respeito. Escutar é a concessão mais barata que existe. Existem pessoas que são inegociáveis? Ninguém é inegociável. Todos somos humanos, todos temos nossos interesses e você pode influir esses interesses. Mas em algum momento é muito difícil negociar, então é preciso ter um plano B. Como proteger seus interesses frente ao Putin, por exemplo? O que ele entende é o poder, somente. Há possibilidades ali para proteger a Ucrânia através da negociação, assim como há na Faixa de Gaza. Mas é preciso trabalhar, usar todos os recursos para a negociação que nós trazemos para a guerra.
Bob Burnquist, dez vezes campeão mundial, fala sobre os prós e contras da modalidade na maior vitrine do esporte no planeta Um dos maiores nomes do skate brasileiro, Bob Burnquist pavimentou com muito suor a estrada que transformou o país numa das principais potências do esporte. Aos 47 anos – e 48 ossos quebrados na conta –, está sempre em busca de alguma novidade. “Eu preciso viver inspirado, interessado e aprendendo”, diz. Ele aprendeu a pilotar helicóptero, avião, paraquedas, se envolveu no mercado de NFTs e, agora, está prestes a ganhar uma série documental sobre sua vida. “Bob Burnquist: A Lenda do Skate” estreia na Max no dia 13 de agosto. Convidado do Trip FM, ele bateu um papo com Paulo Lima sobre a evolução do skate dentro e fora do cenário olímpico, Rayssa Leal e muito mais. Essa conversa fica disponível no Spotify e aqui no site da Trip. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66ad41fd79896/bob-burnquist-skatista-olimpiadas-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação / Bob Burnquist: A Lenda do Skate; LEGEND=Bob Burnquist; ALT_TEXT=Bob Burnquist] Trip. Com 48 ossos quebrados, você é um especialista em dor. Mas tem um tipo dor que deve ser ainda mais difícil para o atleta, que é a da aposentadoria. Como você, que já saiu de alguns circuitos competitivos, encara como essa fase? Não existe finalizar a carreira de um skatista. Existe você se desligar de certas situações, como a pressão das competições. Eu não necessariamente parei, diminuí o ritmo um pouco, mas estou me sentindo feliz, bem, em cima do skate, não tenho uma pressão performática, eu vou lá e ando, faço projetos, vídeos, filmes. O skate tem esse lado cultural, de criação de conteúdo que não é igual você ser um atleta de natação, que você tem que estar sempre super condicionado para estar ativo. Chega um momento que o ganhar já não é o que te move, porque você já está ganhando. Você tem que achar outras maneiras e outras formas de se inspirar. E isso se cria, se constrói, é como uma 'obra de arte skatável' e uma visão que eu tenho, uma expressão do skate, como skatista, para o mundo. As pessoas meio que me inspiram. Isso não acaba nunca. E o skate é interessante por causa disso. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66ad42130f396/bob-burnquist-skatista-olimpiadas-trip-fm-mh2.jpg; CREDITS=Divulgação / Bob Burnquist: A Lenda do Skate; LEGEND=Bob Burnquist; ALT_TEXT=Bob Burnquist] A exposição que o skate ganha com as Olimpíadas acaba mostrando apenas um lado de um esporte que é multifacetado. Isso te incomoda? O importante é a gente aumentar o número de skatistas, não por uma questão de mercado, mas porque skatistas são pessoas mais resilientes, criativas, e que têm essa pegada contracultural, que é importante para a evolução de qualquer coisa, é importante você ter uma rebeldia para inovar. A criação requer coragem. Eu era um dos que era contra o skate nas Olimpíadas, e hoje, pra mim ainda parece que a gente não se encaixa lá. Mas eu entendia que era parte do trabalho, e entrei como presidente da Confederação Brasileira de Skate (CBSK) para construir a seleção brasileira. Mesmo com o desgaste que isso me causou, foi importante. Na primeira Olimpíada do skate, eu sentia que cada medalha que nossos atletas ganhavam entrando no meu pescoço. Toda vez que acontecia, eu ficava tão feliz como se eu tivesse recebendo as medalhas. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66ad421d1fca4/bob-burnquist-skatista-olimpiadas-trip-fm-mh3.jpg; CREDITS=Divulgação / Bob Burnquist: A Lenda do Skate; LEGEND=Bob Burnquist; ALT_TEXT=Bob Burnquist] Hoje a distribuição da grana entre os esportes é mais justa? A Olimpíada levou o skate pra outro patamar, é legal de ver tudo o foi feito a partir disso, como mais pistas sendo construídas, os skatistas ganhando a bolsa atleta e mais suporte. Mas nem todo mundo precisa ser olímpico. O skate tem um tamanho que independe de Olimpíada, é uma família enorme que tem várias personalidades. Tudo bem se ele deixar de ser modalidade olímpica, se for para manter a nossa integridade. O inspirador é a Rayssa Leal fazendo o que ela faz, os skatistas indo lá, interagindo, trazendo de volta o espírito olímpico, que o espírito do skate é mais olímpico que o olímpico. Porque no skate não tem essas brigas todas, é uma cultura completamente nova. Isso é um orgulho pra gente. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66ad42279ff82/bob-burnquist-skatista-olimpiadas-trip-fm-mh4.jpg; CREDITS=Divulgação / Bob Burnquist: A Lenda do Skate; LEGEND=Bob Burnquist; ALT_TEXT=Bob Burnquist]
O pediatra Daniel Becker explica os três vilões de uma infância saudável: o vício em telas, a alimentação ultraprocessada e o confinamento Quem tem filhos sabe que as redes sociais podem se transformar em um emaranhado de conselhos parentais que, na maioria das vezes, têm muito pouco a ver com ciência e servem mais para confundir do que ajudar. Por isso, ao trazer informação de qualidade e explicações bem didáticas, o pediatra Daniel Becker se tornou um dos médicos mais influentes do Instagram, somando mais de um milhão de seguidores. Mas as redes sociais não são poupadas de suas críticas, especialmente quando falamos da relação das crianças com as telas. "Não há argumento que fique de pé sobre a permanência do celular na escola. Na sala ele destrói o aprendizado, cria situações de bullying e assédio ao professor. O celular transforma o recreio, que é o último reduto do brincar – porque em casa tem celular, não tem mais pracinha ou encontro com os amigos –, em um funeral", afirma. "É preciso regulamentar as redes sociais. Cerca de 70% das crianças de nove e dez anos têm conta pessoal no TikTok, quando os termos de uso só admitem pessoas acima de 13 anos. Precisamos de uma legislação que coíba a falta de verificação da idade do usuário e também crimes como pedofilia, golpes, racismo e intolerâncias". Em entrevista ao Trip FM, o médico compartilhou sua trajetória, marcada por uma forte atuação humanitária, e explicou os três grandes vilões de uma infância mais saudável: o vício precoce em telas, a alimentação ultraprocessada e a diminuição do espaço da criança no mundo, que vai das praças e parques ao confinamento do quarto. Você pode conferir o papo completo no play acima ou no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/66a40984481dc/dbecker-interna.jpg; CREDITS=Arquivo pessoal; LEGEND=; ALT_TEXT=] Trip. Como a gente resolve o problema do vício das crianças nas telas quando nós mesmos estamos doentes? Daniel Becker. A primeira coisa que precisamos entender é que não são as famílias, individualmente, que vão resolver o problema do vício nas telas. Nós estamos enfrentando as empresas mais poderosas do mundo, que investem bilhões em neurociência e programação para nos viciar. Isso resultou na maior crise de negacionismo científico, vacinal, climático da história – e que ameaça a nossa sobrevivência como espécie. Aí você olha para as crianças. Além de os pais estarem viciados, a vida moderna não favorece o contato e o vínculo fundamental no desenvolvimento da criança. Isso porque se chega tarde em casa, é preciso fazer tarefa e cozinhar. A criança se sente cada vez mais desvalorizada. Claro que a solução pra gente descansar um pouco é deixar os pequenos na tela e então eles passam cinco, seis horas, no TikTok, sendo formados por esse bando de imbecis, idiotas, golpistas, pedófilos e influenciadores de toda a sorte de malefícios, exposta a riscos incalculáveis, sem proteção ou supervisão. A infância está cada vez mais encolhida. O território que antes era o bairro, virou um quartinho e aquela plaquinha de metal e plástico, o celular. Com isso você encolhe as experiências fundamentais da infância que são aquelas que vão definir a sua vida adulta, com saúde física e mental. A vivência infantil é a base da saúde mental do ser humano. E o celular nas escolas? Não há argumento que fique de pé sobre a permanência do celular na escola. É fundamental deixar o celular quando entra e pegar quando sai. Na sala ele destrói o aprendizado, cria situações de bullying e assédio ao professor. O celular transforma o recreio – que é o último reduto do brincar, porque em casa tem celular, não tem mais pracinha, não encontra mais os amigos – em um funeral. Quais são algumas das soluções? A gente precisa regulamentar as redes sociais, o que muita gente não quer para continuar a construir essas muralhas de fake news. É preciso passar uma legislação que regulamente os crimes cometidos, entre eles o crime de não verificar idade de usuário. Cerca de 70% das crianças de nove e dez anos têm conta pessoal no TikTok, quando os termos de uso só admitem pessoas acima de 13 anos. Precisamos de uma lei que coíba pedofilia, golpes, racismo e intolerâncias.
De Xuxa a Tom Jobim, o multiartista Gringo Cardia já trabalhou com grandes personalidades, mas seu olhar sensível enxerga muito além De Xuxa a Tom Jobim, de Cássia Eller a Pedro Cardoso, o multiartista Gringo Cardia já trabalhou com uma vasta gama de personalidades, seja como designer, cenógrafo ou diretor. Responsável por alguns dos videoclipes e capas de discos mais impactantes da história nacional, como o icônico "O Segundo Sol", de Cássia Eller, Gringo encontrou um espaço em sua concorrida agenda para bater um papo com o Trip FM. “Nunca acreditei na arte para poucos. O papel do artista é falar com todos, e não com uma turma de intelectuais. Tudo já está criado na natureza, nas pessoas, nas ruas, mas para ser um artista visual você precisa saber ver. Meu papel é de observador, de tradutor, quase como um psicólogo visual”, reflete. Na conversa com Paulo Lima, ele falou sobre a potência da cultura popular, o conceito de fracasso, a importância da educação e as dificuldades de administrar a Spetaculo, uma escola de arte e tecnologia para jovens da periferia do Rio de Janeiro. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/66916d7c0f852/interna.jpg; CREDITS=; LEGEND=Ellie Kurttz; ALT_TEXT=] Trip FM. Gringo é um apelido, baseado na sua aparência física, mas tem também aí um atributo, não tem? A questão do olhar de fora, daquele que enxerga o que os outros não estão vendo? Gringo Cardia. Mais do que ser artista, o meu trabalho é de observador. Tudo já está criado na natureza, no mundo, nas pessoas, nas ruas, no pipoqueiro, mas para ser um artista visual você precisa saber ver. Meu papel é ser um tradutor. Já trabalhei de Tom Jobim a Xuxa porque sempre tive muita curiosidade. Eu acho que a gente precisa valorizar as pessoas e não ter preconceito. O Brasil é do cult ao popular. Tudo que tem público é porque tem sinergia com a alma do povo. Meu trabalho é quase de um psicólogo visual, de mostrar as pessoas para o mundo. Qual o segredo de juntar o elegante como o popular? O principal é ter respeito pelas pessoas. Ver um trabalho de arte popular e olhar como se estivesse no Moma e não porque é moda, mas é preciso entender que aquilo tem valor. Nunca acreditei na arte para poucos. O papel do artista é falar com as pessoas, e não com a turma de intelectuais. Esse pessoal é importante para fazer a nossa cabeça na escola, mas é uma bolha. Conhecimento é não perder o olhar de criança, quando você fica com o olhar de adulto já está velho. A arte tem o papel de educar? A geração que nasceu depois da explosão da computação, nasceu com a noção de que a imagem fala tudo, mas a imagem não fala tudo. A imagem atrai os olhos para depois você pensar. O olhar bate, vai no coração, e depois chega na cabeça. Tudo o que eu aprendi para sensibilizar as pessoas através da arte, eu descobri, tem que servir ao conhecimento e de uma maneira que seja construtiva para o mundo. Tudo é para educar.
Aos 27 anos, a velejadora se tornou a primeira mulher a completar o período de invernagem no Ártico Era julho quando Tamara Klink partiu da costa da França a bordo do Sardinha 2, um veleiro de dez metros de comprimento, rumo à Groenlândia. Há quase um ano, ela navegou por vinte dias entre icebergs para chegar a um dos territórios mais remotos do mundo, onde o sol se esconde durante todo o inverno e o mar se transforma em gelo. Foi ali que aportou sua embarcação para se transformar na primeira mulher a completar o período de invernagem sozinha no Ártico – em outras palavras, passar o inverno isolada no barco preso no gelo. Durante oito meses, a velejadora viveu entre raposas, corvos e ptarmigans em temperaturas que variam entre -20ºC e -40ºC, em contato com a civilização por e-mails curtos e textos publicados por uma amiga em seu Instagram. Aos 27 anos, Tamara descobriu como enxergar através dos pequenos ruídos no meio do silêncio, sentiu falta de um dicionário – e também de algumas palavras para definir os sons, cheiros e gostos que experimentou –, aprendeu a tocar músicas no violão e inventou outras tantas quando as cifras acabaram e viu as pessoas que deixou em terra firme se transformarem em rascunhos abstratos na sua cabeça, tão verdadeiros quanto os personagens dos livros que lia. Filha da fotógrafa e empresária Marina Klink e de Amyr Klink, um dos maiores velejadores do mundo, Tamara escreveu mais um capítulo de uma história que é só sua – e, ao contrário do que muitos esperam, sem contar com conselhos ou orientações do pai. Em sua primeira entrevista depois da invernagem, Tamara Klink bateu um papo exclusivo com Paulo Lima no Trip FM. Ela conta o que aprendeu sobre si e sobre a vida, fala de sexualidade, música, sonhos e os maiores desafios nesse projeto – cair na água congelante ao pisar no gelo fino foi só um deles. Você pode ouvir essa conversa no play nesta página, no Spotify ou ler a seguir. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/66870771e74c4/tamara-klink-velejadora-groenlandia-congelada-artico-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação / Arquivo pessoal; LEGEND=Tamara Klink; ALT_TEXT=Tamara Klink] Trip. Imagina que você encontrou uma menininha de 10 anos que quer saber o que você andou fazendo nos últimos meses. Eu queria que você contasse para ela que projeto é esse. Tamara Klink. O meu projeto era ficar no Ártico de um verão até o seguinte, então passei aqui também outono, inverno e primavera. Agora é verão de novo. E viver. Eu queria viver e descobrir o que acontece quando o mar congela, quando os animais vão embora, quando os sons, os cheiros e a luz desaparecem. Durante o inverno, o sol se põe. Eu fiquei sem vê-lo durante 3 meses, e toda a paisagem muda quando some a luz. Durante o verão é o contrário: o sol não se põe mais, está o tempo todo no céu, o tempo todo é dia. Eu queria fazer essa travessia do tempo. Dessa vez não era mais eu que ia atravessar o oceano para ir de um lugar ao outro, eu ia de um lugar ao outro atravessando o tempo. Você está falando com a gente da Groenlândia. Me conta um pouquinho como é esse país? A Groenlândia é uma ilha enorme, a maior do mundo. Dois terços são cobertos por uma calota polar e nas bordas existem vilarejos. As primeiras pessoas chegaram aqui há milhares de anos, mas a ocupação humana mais recente aconteceu ao redor de mil anos atrás com pessoas que vieram andando no mar congelado durante o inverno. O mar congela durante seis meses por ano, mais ao norte por quase 11 meses e às vezes o ano inteiro. Então essas mudanças extremas de temperatura faz parte da vida das pessoas que moram aqui desde sempre. Mas para mim isso era uma novidade. Aprendi muito com os groenlandeses que encontrei no caminho. Eles me ensinaram, por exemplo, como andar e navegar no meio de icebergs e o perigo de se aproximar de um. Os icebergs quebram, às vezes derivam em cima do barco, podem capotar em cima de nós. Várias vezes durante a noite, mesmo ancorada, eu tinha que acordar aqueles que se aproximavam do barco. O que você encontrou no caminho até o Ártico? Eu estava acostumada a navegar com uma precisão cartográfica maior. Aqui eu precisei entrar em uma baía sem saber se ia ter fundo suficiente para ancorar, naveguei em lugares com muita neblina, ser enxergar nada. Usava só o radar, mas eu sabia que ele não ia mostrar os icebergs pequenos, que também são perigosos. Ao longo dessas navegações eu fui trabalhando a musculatura da frustração, aprendendo a lidar com os imprevistos constantes, com o risco. No começo foi extremamente exaustivo, mas depois encontrei o ritmo. Eu ria. Eu batia numa pedra, eu ria. Eu falava: é isso, se o barco não afundou, então nós seguimos, teremos aprendido a posição de mais uma das muitas pedras que a gente ainda vai encontrar. Acho que fui criando uma espécie de olhar irônico ou cômico para a desgraça. E aí eu comecei a ver que a parte mais tranquila da viagem seria o inverno. Eu não via a hora de poder simplesmente ancorar e estar em paz por oito meses. A ideia de ficar sozinho é aterrorizante para muita gente. Como foi pra você pensar que ficaria muitos meses só com os seus pensamentos? Você sempre gostou disso? Não sei se eu sempre gostei, mas eu via a invernagem como uma chance de descobrir a verdade com V maiúsculo. A verdade sobre o que acontece quando chega o inverno e o mundo se transforma, quando um espaço que antes era navegável se torna terra firme, quando os animais vão embora, quando o som vai embora e a gente fica no silêncio. A verdade sobre quem eu sou quando não tem ninguém ao redor, quem eu sou quando ninguém vai dizer o meu nome, quando ninguém vai me salvar, quando ninguém vai me dar carinho, quem eu sou sem meu sobrenome. Eu nunca tinha vivido sem nome próprio, sem idade, sem gênero. Essa busca e essa pesquisa foi o que me motivou a vir e o que alimentou os dias. Eu vi a solidão muito mais como uma chance de descoberta sobre mim como humana, como indivíduo, como ser vivo, do que como uma punição ou uma dificuldade. Como foi enfrentar a solidão? Muitas pessoas vivem a solidão sem desejar, mas eu pude escolher. É muito diferente se expor à solidão por escolha e sabendo que tenho um lugar para voltar, onde vou encontrar pessoas. Eu tive que vir até aqui, tão longe, e ficar presa numa placa de gelo para poder estar só. E para os groenlandeses que conheci, a solidão não é algo bom. Eles tentaram me desencorajar. Falavam: "Fica num vilarejo, leva mais alguém"; "Vai faltar abraço, vai faltar homem"; "Vai com um homem que você não vai dar conta"; "Você vai ser fraca demais, não tem experiência, vai morrer congelada". Você disse querer estar em contato com seus ângulos mais profundos e a sua existência de uma forma diferente. Isso aconteceu? Você se encontrou nesse período da invernagem sozinha? Sim, mas eu não precisava estar aqui para ter encontrado essa iluminação, essa paz. Poderia ter encontrado em qualquer lugar do mundo, porque as coisas que me permitiram sentir mais em paz e mais feliz por estar viva foram coisas que existem em todos os lugares: o céu, a caminhada, o acesso a esse infinito que está na nossa cabeça, esse espaço amplo que ocupa todos os nossos vazios. Um dia, depois de seis ou sete meses ancorada, abri a cadeira de acampamento em cima do gelo e fiquei olhando o céu. Fechei o olho e fiquei só sentindo o calor, a radiação solar na cara, e pensei que a palavra que melhor definia aquele momento era paz. E tudo o que eu tinha vivido de ruim e de difícil, ao longo da preparação, mas também ao longo de toda a vida, e tudo que eu tinha vivido de bom, de feliz, de brilhante, tinha servido para aquela hora. E entendi que era para isso que servia estar viva. Não para fazer coisas grandiosas, mudar a história da humanidade, escrever livros, ganhar prêmio, aparecer em revista, podcast. A vida servia simplesmente para sentir. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/668708127e59c/tamara-klink-velejadora-groenlandia-congelada-artico-trip-fm-mh2.jpg; CREDITS=Divulgação / Arquivo pessoal; LEGEND=Tamara Klink; ALT_TEXT=Tamara Klink] Eu queria que você falasse mais sobre o silêncio. Como é estar num lugar de silêncio absoluto? O que ele te ensinou? Quando o mar congelou, os sons que definiam a paisagem sonora pararam de ocupar o ar. O barulho das ondas, a água batendo nas pedras, gaivotas passando, às vezes uma foca, uma baleia… Só sobraram os sons do meu próprio corpo. E tinha um barulho que me incomodava muito, um ruído que eu acho que vem do sangue, da efervescência, das bolhas, não sei. Por mais que eu tivesse todo o silêncio, aquilo parecia estar sempre gritando no meu ouvido. Meus passos pareciam muito barulhentos, e eu ficava aliviada de ouvir um corvo passando. Durante muito tempo, eu conhecia os meus vizinhos muito mais pelo som: a raposa, o corvo, o ptarmigan. Eu comecei a gostar desse silêncio, que era um silêncio vasto, de quilômetros. E isso mudou a minha relação também com o medo, porque os sons que antes me assustavam – do vento catabático, dos icebergs na borda – eram os que agora faziam me sentir mais confortável. Eu ouvia um barulho e falava: "Ah, deve ser isso ou aquilo, o vento deve estar a 15 nós". Eu via muito mais a paisagem por esses pequenos e sutis ruídos do que pelos signos visuais. E como é difícil colocar o som em palavras. A gente tem um vocabulário muito rico para definir o que vê, mas muito pobre para os sons, os cheiros, os gostos. A descoberta foi da insuficiência das palavras. Existe a crença de que o ser humano é um animal gregário, que precisa estar em grupo. Queria saber como foi a carência de gente. Houve uma curva de gradação do aumento ou diminuição dessa dependência? Você acha que se uma pessoa, por alguma razão, viver isolada, isso vai deixando de ser importante com o tempo? No começo da viagem eu sofri um pouco por estar ainda associada a um modo de vida das pessoas que estavam em terra, em que a vida era garantida – ou aparentemente garantida. Mas no ambiente em que eu estava bastava que o barco pegasse fogo e era certo que eu ia morrer. Ou bastava ter uma apendicite, quebrar uma perna, bater a cabeça, cair na água… Como a minha vida nunca estava garantida, muitas coisas começaram a parecer fúteis. Ao longo do tempo, as pessoas começaram a se tornar cada vez mais abstratas na minha cabeça. Eu não lembrava como era meu namorado, minha mãe, meu pai, minhas irmãs. Eu lembrava muito mais de frases fora de contexto e algo como um rascunho do rosto da pessoa, e menos de como ela era de fato. Era como se as pessoas começassem a virar conceito, um resumo distante. Um dia, meu namorado mandou um e-mail e eu falei: "Desculpa, não quero mais ser sua namorada, porque eu não vejo mais nada, eu nem lembro como você é". Eu sentia que eu não queria mais esses vínculos, essa dependência, nem gerar expectativa. Porque tudo o que importava pra mim fazia parte do presente, fazia parte do lugar onde eu estava: os animais, a neve, as condições meteorológicas, as mudanças dos elementos, a minha própria existência. O resto era tão verdadeiro quanto os personagens dos livros que eu lia. A ficção e a realidade eram muito próximas. Receber um e-mail de alguém da minha família era como ler sobre Diadorim, personagem do "Grande Sertão: Veredas" [livro de Guimarães Rosa]. Enquanto eu lia o livro, aqueles eram os personagens com quem eu convivia nos meus pensamentos, tanto quanto os personagens dos e-mails. Você falou sobre essa mixagem entre a ficção e a realidade, como isso foi acontecendo na sua cabeça, inclusive com relação ao seu relacionamento afetivo. Achei surpreendente essa coisa de você não saber mais quem era a pessoa que estava do outro lado. Eu queria, sem ser invasivo, tratar um pouco também da sexualidade. Como era esse aspecto? O que você pode me contar da sexualidade humana quando o indivíduo é colocado nessa condição que é completamente diversa à que a gente está acostumado? Não posso falar por toda a espécie, mas posso falar por mim. Eu não tinha nenhum desejo sexual, eu não tinha vontade de estar com meu namorado. Eu diria até o contrário. Eu comecei a identificar, e não só do ponto de vista sexual, todas as vezes em que eu abri mão do meu prazer pelo prazer do outro. Quantas vezes eu usei roupas que apertam para ser mais bonita, mais agradável, mais desejada, mais querida ou mais respeitada. Quantas vezes eu fiz coisas desconfortáveis, ou que eu não queria fazer, para agradar outra pessoa. Porque ser mulher passa também por ser aceita, por ser reconhecida por algo que não são simplesmente as nossas capacidades de pensar, nossas ideias, nossas habilidades, mas também por qual é a cara que a gente tem, qual é o corpo que a gente tem, e quantas vezes a gente só consegue acessar certos lugares porque a gente aparenta ser alguma coisa – sendo ou não aquilo. E de repente eu não precisava mais parecer. Eu podia apenas ser. Eu não precisava mais gastar tanta energia quanto numa cidade para aparentar alguma coisa ou para agradar. Quando a gente para de pensar em qual é a cara que a gente tem, se a gente está apresentável, se a gente está vestida do jeito certo ou não, de repente sobra muito tempo para o nosso próprio prazer. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/6687082044b6c/tamara-klink-velejadora-groenlandia-congelada-artico-trip-fm-mh3.jpg; CREDITS=Divulgação / Arquivo pessoal; LEGEND=Tamara Klink; ALT_TEXT=Tamara Klink] Eu vivia em função do meu corpo como uma ferramenta, tanto para me levar nos lugares quanto para me dar prazer de muitas formas. E o prazer era algo muito mais plural do que o sexo. Era o prazer de ir onde eu queria com as minhas próprias pernas, de escorregar uma montanha e dar risada quando eu chegava no final. Era o prazer de ver um bicho, de comer uma comida. Eram vários outros prazeres que percebi que renunciava na vida na cidade porque a gente não reconhecia isso como prazer válido. Quantas vezes já não abrimos mão de comer uma comida por causa do número de calorias, porque não é saudável, por medo de o dente ficar sujo ou porque a gente aprendeu que não era a coisa certa? Quantas vezes a gente, principalmente as mulheres, usou roupas que restringem a nossa mobilidade? Por que as roupas de esporte femininas são tão apertadas? Por que os nossos bolsos, às vezes, são falsos? Por que a gente usa sapatos que incomodam tanto? De repente eu só me vestia para ter mais mobilidade, para me dar prazer, para estar confortável. E eu percebi que, quando eu ligava a câmera fotográfica, que era para mim o acesso ao mundo exterior, eu pensava: "Meu Deus, minhas sobrancelhas estão juntas de novo, quando eu voltar vão ficar falando que eu sou monocelha"; "Meu cabelo está com caspa, o que eu faço agora?"; "Ih, tem uma meleca no meu nariz". Óbvio que tem, o ar é muito seco, o nariz fica escorrendo o tempo inteiro. E eu só lembrava dessas coisas quando via a câmera fotográfica e começava a imaginar o que a outra pessoa ia pensar sobre mim quando visse aquela foto. Porque a gente aceita ver o explorador polar com duas estalactites escorrendo do nariz, mas eu nunca vi foto de uma mulher com meleca no nariz, com pelo na cara, cabelo oleoso. Ela tem que estar sempre arrumada, não importa onde está. Então a câmera fotográfica era o inimigo, esse olhar externo da sociedade. Mas também era bom poder lembrar como era e deixar de lado, desligar a câmera e ser humana, que é mais era libertador. E acho que a liberdade vem de ir superando esses limites, alguns limites que nos foram impostos pelas pessoas, outros que foram impostos por nós mesmos. Como foi o fim do isolamento, sair desse lugar em que você se encontrou? Eu até me incomodei com os primeiros encontros com pescadores groenlandeses, porque era sinal que o inverno tinha acabado mesmo. Até que eu comecei a desejar voltar para a sociedade, encontrar outras pessoas e rever as que eu tinha deixado. Porque eu entendi que a minha viagem fazia sentido, era bonita, feliz, também porque ela era provisória. A solidão era provisória. E eu não era o único ser vivo que começava a encontrar pessoas. Quando a primavera chegou e o mar começou a derreter, apareceram os primeiros animais e eu notei que eles passaram a estar em grupo. As raposas, antes solitárias, cantavam para se encontrar. Os ptarmigans estavam juntos, as baleias sempre em par, os patos eram milhares reunidos. E eu continuava só. E aí eu comecei a entender que a solidão não era a resposta e a minha vida só fazia sentido dentro do contexto da minha espécie. Eu podia morrer, tinha até perdido esse medo, mas a minha vida só faria sentido depois de ter passado por tudo isso se ela tornasse melhor a vida dos outros indivíduos da minha espécie. Porque é assim, a gente acaba e vira carne e osso e pronto. E o que faz a vida ser além de carne, osso e pele? São as ideias, é a imaginação, são esses sentidos. E a vida serve para isso, não para os objetos que nos rodeiam. Estamos falando em vínculos e a gente lembra de você desde pequenininha, esperando a chegada das expedições de seu pai, Amyr Klink. E é muito interessante o quanto você está construindo a sua própria história. Você falou em entrevista ao Provoca sobre a dificuldade que seu pai teve de entender esse projeto. Como é que você lê isso hoje? Me deu muita liberdade, hoje eu vejo, meu pai dizer desde sempre que não me ajudaria. Ao mesmo tempo foi aquele empurrão do ninho: "Você quer navegar? Então vá. Mas saiba que eu não vou te dar barco, conselho, dinheiro, não vou te dar nada. Simplesmente crie o seu caminho". Então eu fui buscar tudo isso em outros lugares. Eu aprendi outra língua, porque eu vi que tinham muitos livros de navegação escritos em francês, e fui pra França, onde conheci outras pessoas, naveguei em outros barcos e tive a oportunidade de não ser mais a filha do meu pai. No Brasil eu tinha muito medo de errar, porque se eu fosse uma velejadora ruim, putz, eu tava carregando um nome que não era só o meu. Era muito intimidador, porque eu sentia que as pessoas já esperavam que eu soubesse muito mais do que eu sabia. Como a gente aprende, como é que a gente começa quando todos esperam que a gente já saiba? Na França eu errava, fiz um monte de escolha ruim, e isso foi me dando a experiência necessária. Eu acho que é o meu jeito de fazer as coisas, que talvez seja ingênuo, mas eu me coloco em situações em que não sei como eu vou encontrar as respostas, mas eu me coloco. Me jogo na água e falo: "Bom, agora que eu tô aqui, eu sei que eu vou ter que aprender a nadar, não tenho outra opção". Isso foi algo que eu fui fazendo, principalmente no começo. E o que me permitiu comprar a Sardinha 1, um barco velho que custava o preço de uma bicicleta lá na Noruega. E que eu sabia que não teria nem como pagar o combustível ao longo da viagem. Aí eu negociava venda de vídeos na internet, no meu canal do YouTube, fui lendo um livro sobre negociação para aprender a negociar, aí conseguia comprar combustível para poder ir até uma baía específica e comprar a polia que eu precisava para levantar a vela mestra. No começo era tudo muito no limite. E acho que se meu pai soubesse tudo o que eu ia viver por causa e graças àqueles "não", ele se questionaria se foi a melhor coisa. Porque eu realmente me expus a muito mais do que provavelmente ele esperava – e do que eu esperava também. Mas foi o que me trouxe aqui e estou feliz de ter chegado. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/6687082ebbf98/tamara-klink-velejadora-groenlandia-congelada-artico-trip-fm-mh4.jpg; CREDITS=Divulgação / Arquivo pessoal; LEGEND=Tamara Klink; ALT_TEXT=Tamara Klink] Depois desse processo, será que você vai ter mais ou menos paciência para lidar com as pessoas? A sabedoria que você adquiriu vai te dar mais complacência e tolerância ou as pessoas vão te irritar? Essa é uma boa pergunta. Eu acho que a gente precisa refazer esse encontro daqui a uns seis meses para saber a resposta. Eu fiquei dois, três dias na cidade e a minha impressão foi que tinha objetos demais, coisas demais. Eu via as pessoas correndo trabalhando, seguindo horários. Mas por que as pessoas trabalham tanto? Ah, para ganhar dinheiro, todo mundo precisa ganhar dinheiro para viver. Mas será que tanto assim? O que a gente vai fazer com tantas horas de trabalho, com tantos dinheiros, com tantos objetos? Pra que servem tantos objetos que a gente vai carregando? Tem um livro que chama "Walden, ou A vida nos bosques", do Henry David Thoreau, em que ele fala sobre os objetos serem essa armadilha que a gente vai carregando. De repente a raposa fica com o rabo preso na armadilha e precisa escolher se ela fica ali porque o rabo está lá, e morre, ou se corta e deixa o rabo pra trás para viver sem ele. Os objetos são esse lastro, né? As gerações vão passando e a gente vai acumulando e acumulando móveis antigos. E a vida vai ficando mais pesada, a gente vai perdendo a mobilidade ao longo dos anos. Em todos os cantos do planeta a gente tem a mania de acumular, de precisar. Quantas necessidades não são vícios, mais do que necessidades? Não sei se eu vou ter mais paciência ou menos. Não sei se eu vou ser iludida com os confortos, com o banho quente, com a possibilidade ter objetos que aqui eu não tive, ou se vai ser o contrário. Vou ter que voltar pra descobrir. De todos os objetos que você levou com você, quais você guardaria porque são fundamentais pra você? Se eu tivesse que escolher um objeto pra manter nesse momento, seriam as botas, pra poder continuar a caminhar. E se eu tivesse que deixar pra trás tudo e só pudesse levar uma coisa, seria o diário. Como foi o papel da música no seu isolamento? A música e o sonho são mais que um teletransporte, porque quando a gente sonha e quando a gente ouve música vivemos coisas que vão além do lugar onde a gente está, do que a gente sente ou consegue alcançar com a imaginação. Eu ouvia bastante música e aprendi algumas músicas no violão. Quando acabaram as cifras, eu tive que ir inventando e criando as minhas. As músicas que eu ouvia criavam outros espaços dentro dessa vasta banquisa de mar congelado, desse lugar hostil. Elas criavam companhias e personagens. Eu via as coisas de forma diferente, sob outro olhar, me sentia às vezes compreendida, ou provocada, ou querida, ou confortável. A música é essa ferramenta quase mágica que a gente ainda tem. A gente pode tirar todos os objetos e ferramentas do nosso lugar, mas um brasileiro longe do Brasil vai se sentir em casa ouvindo Jorge Ben Jor, Maria Bethância, Alcione. Eu como escritora eu morro de ciúmes, inveja e admiração pelos compositores porque pra ser lida, eu preciso que o leitor queira muito. Mas os compositores eles conseguem ser recitados sem o leitor nem querer, e isso é algo que eu acho muito poderoso da música. Queria te perguntar sobre aquilo que a gente convencionou chamar de espiritualidade, essa ideia de transcendência, de alguma coisa que não é objetiva, que não é palpável. Nesse período você viveu algo nesse sentido? A ideia de transcendência, de forças maiores, ficou mais ou menos presente na sua cabeça? O momento em que eu mais tive essa sensação de transcendência ou de existir algo maior foi quando eu quase morri. Quando eu caí na água, no mar congelado, e sobrevivi por sorte, ou por determinação, ou por vontade de sobreviver. Acho que muito por sorte mesmo, porque às vezes não basta querer muito, ter conhecimento ou fazer de tudo. Às vezes o que te salva, e no caso foi o que me salvou, é ter um pedaço de gelo podre ali por perto, onde eu consegui fazer buracos e me puxar pra cima. Se o gelo não fosse podre o suficiente, se fosse mais firme, eu não teria conseguido fazer buracos e me arrastar. E durante alguns dias eu não sabia se estava viva ou morta. Eu fiquei me perguntando: será que meu corpo ficou lá na água e só minha alma veio aqui sozinha? Será que se eu dormir acaba a magia e eu não acordo mais? Será que eu preciso ficar acordada pra conseguir continuar viva? Será que se eu morrer aqui as raposas ou os corvos vão comer meu corpo? Quanto tempo será que eu vou durar? Alguém vai sentir saudade de mim? Pra que vai ter servido tudo isso? Terá valido a pena ou não? Bom, em algum momento eu percebi que estava viva mesmo, concretamente, porque uma pessoa morta não conseguiria escrever e-mail pra avisar que estava bem. Então vieram todos esses questionamentos sobre o que é a vida, se a vida precisa do corpo ou não. E uma das maiores experiências de transcendência que tive foi a do sonho. Os sonhos me permitiam viver coisas. Às vezes eu sonhava com animais que eu via no dia seguinte, às vezes eu sonhava com coisas que aconteceram. O sonho, ao mesmo tempo que me preparava, me fazia digerir o que eu tinha vivido, e às vezes enxergar de outras maneiras coisas que eu já tinha vivido ou que eu ainda ia viver, permitindo me antecipar também. E o sonho não era apenas uma ferramenta, às vezes o sonho também era fim. Muitas vezes eu fiz coisas pra sonhar com elas. Muitas vezes eu fiz perguntas pro sonho sobre decisões que eu queria tomar e não tava conseguindo. Quando a gente está sonhando, a gente vive, sente, foge, reage, corre e vive. E quando a gente acorda, está com o nosso corpo e volta pro lugar de onde a gente dormiu. Essa é a transcendência e a criação de novos espaços dentro do próprio corpo, do próprio espírito, que acontece todas as noites. Para encerrar em grande estilo, faço uma homenagem para o mestre Antônio Abujamra, que muitas vezes terminava seu programa com uma pergunta instigante: Tamara Klink, o que é a vida? A vida é uma palavra curta. Acho que é uma palavra que nos leva pra muitos lugares, mas ela é uma palavra. E é isso, a primeira letra do alfabeto é a última letra da palavra vida. E acho que essa é a graça, é chegar no final e encontrar com o começo da nossa descoberta do que a vida é.
Com 50 anos de profissão, João Farkas lança livro sobre as belezas e perigos que ameaçam o país “Descobri que a única maneira de mobilizar as pessoas é através da beleza. Meu livro segue essa linha: lindo, lindo, lindo e, de repente, ‘pá!', surgem os problemas. Ter um olhar benevolente é uma forma de sobrevivência, pois ninguém aguenta tanta desgraça, e também uma estratégia, porque só cuidamos do que amamos e só amamos o que conhecemos”, diz João Farkas. Um grande astro da fotografia, há 50 anos ele observa o Brasil de maneira única. Com uma série de livros publicados, João lança agora o volume: “Enquanto há Tempo”, onde a beleza e os riscos que nosso país enfrenta convivem lado a lado. Com uma visão amorosa, mas ao mesmo tempo real, sobre nossa sociedade e tudo o que nos cerca, o fotógrafo bateu um papo com o Trip FM sobre a Amazônia, o garimpo, a história da rede Fotótica criada por seu avô, o desenvolvimento destrutivo do litoral de São Paulo e muito mais. A entrevista você pode conferir no play aqui no site e no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/06/6675ed292264f/joao-farkas-fotografo-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Arquivo pessoal; LEGEND=João Farkas; ALT_TEXT=João Farkas] Trip. São muitos anos presenciando as desgraças desse país. Como você ainda tem uma produção tão esperançosa? João Farkas. Eu bebi na fonte dos meus pais de acreditar muito no Brasil e no ser humano. A gente é bom em fazer coisa errada nesse país, e talvez tenhamos uma das piores elites do mundo, mas também temos um povo maravilhoso, com uma capacidade grande de aceitar o outro, com um DNA de tolerância. A gente sabe transformar desgraça em risada. Foi assim que eu aprendi a ver o mundo. Se você souber olhar, tudo é sagrado, o mundo é maravilhoso. Eu prefiro olhar por esse lado, de outra forma fica insuportável. Eu não vou ficar mergulhado na depressão. O que dá pra fazer? Apostar na beleza, no amor, na amizade. Isso aparece no seu livro, mas ele também carrega um alerta. Eu descobri que a única maneira de mobilizar as pessoas era pela beleza. Qual é a estratégia? A gente só cuida do que a gente ama e a gente só ama o que a gente conhece. Meu livro é assim. Lindo, lindo, lindo, e de repente "pá", existem problemas. Ter um olhar benevolente é uma forma de sobrevivência interna, pois ninguém aguenta tanta desgraça. Por outro lado, é estratégico, para despertar o cuidado pela beleza. Uma das grandes vantagens da fotografia é que, por ela não ser racional, falada, é mais aberta a interpretações. Você não conduz o pensamento, você mostra. Mas é claro que dá para esconder, mentir, é possível. O que você descobriu com os garimpos na Amazônia? O ouro desperta uma loucura nas pessoas, é uma doença. As pessoas vão morrer de malária e de tiro por essa riqueza súbita, que é um ouro de tolo, na verdade, porque o garimpeiro geralmente gasta imediatamente aquele valor.
Depois de um acidente que o deixou temporariamente tetraplégico, o cineasta se dedica a jogar luz em questões sociais e ambientais É difícil falar do cineasta Estêvão Ciavatta sem lembrar do acidente que ele sofreu há 15 anos, quando caiu de um cavalo e teve uma lesão de medula que o deixou temporariamente tetraplégico. Naquele momento, aos 40 anos, ele soube que precisaria usar tudo o que já tinha aprendido para encarar a nova realidade. “A recuperação foi um processo triste e doloroso, mas também de tomar as rédeas da vida. O acidente me mostrou como eu posso contribuir com o mundo”, contou em entrevista ao Trip FM. O apoio da esposa, Regina Casé , foi essencial para que ele conseguisse recuperar cerca de 85% de seus movimentos – uma mistura, segundo ele, de sorte, milagre e esforço. “Ela foi uma onça que me defendeu, que não acreditou em vários prognósticos médicos e esteve o tempo todo ao meu lado com um amor incondicional. Isso fez com que a nossa relação crescesse ainda mais”, diz. Diretor, roteirista e fundador da Pindorama Filmes, Estêvão acredita que as histórias têm um poder transformador, de mobilizar as pessoas e mudar realidades. Já acostumado a olhar, antes que se tornasse moda no mundo corporativo, para as questões ambientais, o cineasta empurrou ainda mais a sua empresa para a produção de conteúdos ligados às questões sociais e ambientais. No papo com Paulo Lima, ele falou da série “Línguas de nossa língua”, que acaba de estrear na Max, e também sobre vida, corpo, natureza e amor. A conversa fica disponível aqui no site da Trip e no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/06/666354ea9d9cd/estevao-ciavatta-diretor-cinema-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Daniel Mattar; LEGEND=Estevão Ciavatta; ALT_TEXT=Estevão Ciavatta] Trip. Como você conseguiu sair da situação tão grave que o acidente de cavalo o colocou há quinze anos? Estêvão Ciavatta. Eu vivi a sensação da tetraplegia, a sensação de estar no chão e nada se mexer. O primeiro pensamento que me veio foi: “Estêvão, você vai ter que usar tudo o que aprendeu para sair dessa, é uma situação limite”. É um processo triste e doloroso e eu vivi momentos de inconformismo, de achar que estava em um pesadelo. Mas também tive a habilidade de entender que, como nós estamos falando de sistema nervoso, quanto mais eu ficava chateado e revoltado, piores eram os meus movimentos. Eu não podia deixar a tristeza corporal tomar conta do meu humor, da minha vontade de viver. Foi um processo de reconexão com o corpo, de tomar as rédeas da vida depois de uma queda de cavalo. Acha que o processo o tornou uma pessoa melhor? É preciso saber se colocar nesse lugar de “você é especial”. E você é especial porque passou pelo que passou, mesmo que seja uma situação de sofrimento, que te doa e frustre em muitos lugares. Esse momento de aceitação, de ser como eu sou, me ensinou sobre outras coisas. A ciência é boa para entender, mas não é boa para explicar. Meu acidente me levou para a minha essência, me mostrou onde eu posso contribuir com o mundo. Em que parte o amor fez parte desta equação? Minha relação com a Regina Casé é muito profunda. Eu gosto de pensar na natureza como uma grande mestra e nela, por mais que os ciclos seja de vida e morte, o que proporciona a vida existir é a estabilidade para que as coisas se desenvolvam. Eu gosto muito dessa ideia do amor perene. Até porque o nosso perene, diante dos ciclos do Universo, é muito curto.
Trip FM resgata entrevista de 2007 para homenagear ator histórico do cinema brasileiro "Eu sou a pessoa mais pacífica do mundo e se alguém for mais pacífico do que eu já vou cobrindo de porrada", declarou Paulo César Pereio em entrevista ao Trip FM em 2007. O ator que fez história no cinema brasileiro e faleceu no último dia 12, aos 83 anos, é o homenageado do programa desta semana. Com mais de 60 filmes no currículo e inúmeras peças de teatro, foi dirigido por nomes como Glauber Rocha, Arnaldo Jabor, Hugo Carvana, Ruy Guerra e Hector Babenco. Figura polêmica, arrumou muitas brigas com diretores devido a sumiços e atrasos, e ficou marcado por sua ironia, irreverência e pela expressão "porra", com a qual costumava pontuar o final de cada frase. Como ele mesmo não gostaria de uma despedida muito sentimental, o Trip FM relembra uma entrevista de 2007 cheia de bom humor e muito palavrão — uma das suas marcas registradas. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/05/665779dac320f/pereio-paulo-cesar-ator-tripfm-mh.jpg; CREDITS= Marcelo Bormac (@marcelo_bormac); LEGEND=Paulo César Pereio; ALT_TEXT=Paulo César Pereio] Trip. É verdade que você não assiste aos seus trabalhos? Eu sempre detestei me ver. Só boto defeitos, me prejudica de fazer outras coisas. Inclusive criticar os outros também não é nada bom, porque você joga tudo para dentro. Aquilo que você disse que é babaquice entra na sua consciência e você passa a se proibir de fazer a mesma coisa. E como enxerga essa nova leva de filmes brasileiros? O cinema nacional está ganhando o universo. As coisas mais regionais são as que melhor refletem o universo. O funk é algo fantástico, oxigenado, com vida. O morro está descendo. Como você reage às críticas ao período da pornochanchada? Pornochanchada não era pornô porque a censura era muito rigorosa. Seio tinha que ser singular, só podia um, bunda ia até certo ponto e pentelho nem pensar. Piroca então… Mas foi a escola fundamental do cinema brasileiro. O que é uma estética? Começa com uma obra e depois a imitação da imitação vai resultar numa tendência, uma escola. Os filmes do Mel Brooks e outros de Hollywood se apropriaram dessa irresponsabilidade, dessa imitação do real, das coisas como realmente são. Já o cinema novo não foi enraizado na cultura brasileira, uma cultura muito vigorosa.
Trip FM resgata entrevista de 2007 para homenagear ator histórico do cinema brasileiro "Eu sou a pessoa mais pacífica do mundo e se alguém for mais pacífico do que eu já vou cobrindo de porrada", declarou Paulo César Pereio em entrevista ao Trip FM em 2007. O ator que fez história no cinema brasileiro e faleceu no último dia 12, aos 83 anos, é o homenageado do programa desta semana. Com mais de 60 filmes no currículo e inúmeras peças de teatro, foi dirigido por nomes como Glauber Rocha, Arnaldo Jabor, Hugo Carvana, Ruy Guerra e Hector Babenco. Figura polêmica, arrumou muitas brigas com diretores devido a sumiços e atrasos, e ficou marcado por sua ironia, irreverência e pela expressão "porra", com a qual costumava pontuar o final de cada frase. Como ele mesmo não gostaria de uma despedida muito sentimental, o Trip FM relembra uma entrevista de 2007 cheia de bom humor e muito palavrão — uma das suas marcas registradas. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/05/665779dac320f/pereio-paulo-cesar-ator-tripfm-mh.jpg; CREDITS= Marcelo Bormac (@marcelo_bormac); LEGEND=Paulo César Pereio; ALT_TEXT=Paulo César Pereio] Trip. É verdade que você não assiste aos seus trabalhos? Eu sempre detestei me ver. Só boto defeitos, me prejudica de fazer outras coisas. Inclusive criticar os outros também não é nada bom, porque você joga tudo para dentro. Aquilo que você disse que é babaquice entra na sua consciência e você passa a se proibir de fazer a mesma coisa. E como enxerga essa nova leva de filmes brasileiros? O cinema nacional está ganhando o universo. As coisas mais regionais são as que melhor refletem o universo. O funk é algo fantástico, oxigenado, com vida. O morro está descendo. Como você reage às críticas ao período da pornochanchada? Pornochanchada não era pornô porque a censura era muito rigorosa. Seio tinha que ser singular, só podia um, bunda ia até certo ponto e pentelho nem pensar. Piroca então… Mas foi a escola fundamental do cinema brasileiro. O que é uma estética? Começa com uma obra e depois a imitação da imitação vai resultar numa tendência, uma escola. Os filmes do Mel Brooks e outros de Hollywood se apropriaram dessa irresponsabilidade, dessa imitação do real, das coisas como realmente são. Já o cinema novo não foi enraizado na cultura brasileira, uma cultura muito vigorosa.
Com as previsões trágicas dos cientistas cada vez mais se tornando realidade, conversamos com um dos mais importantes pesquisadores do clima “A Covid mostrou que um setor científico inteiro pode se mobilizar para solucionar um problema. Então, por que na emergência climática não fazemos o mesmo?”. Apesar de alertar sobre a crise climática há décadas, muitas vezes bradando ao vazio, o climatologista Carlos Nobre ainda mantém a calma mesmo quando descreve cenários em que nós, seres humanos, teremos apenas os polos como alternativas para viver. Um dos cientistas mais importantes do mundo quando se fala em aquecimento global, ele foi um dos autores do Quarto Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), trabalho tão impactante que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2007. Em um momento em que o Brasil parece, diante do impacto de uma tragédia, estar atento aos impactos do aquecimento global, Nobre é o convidado do Trip FM. Ele bateu um papo com Paulo Lima sobre o temido ponto de não retorno para o meio ambiente, explicou a relação do clima com doenças pandêmicas e falou sobre a Amazônia e a sabedoria ancestral na relação com a natureza. Confira no play aqui da página ou no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/05/6650dc303a400/carlos-nobre-climatologista-pesquisador-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação; LEGEND=Carlos Nobre, pesquisador Sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP e Copresidente do Painel Científico para a Amazônia; ALT_TEXT=Carlos Nobre, pesquisador Sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP e Copresidente do Painel Científico para a Amazônia, falando com um microfone em um evento] Trip. Há entrevistas suas de décadas atrás alertando sobre as consequências do aquecimento global. Cansa ficar falando para o vazio? Carlos Nobre. A ciência já mostrou com toda clareza: nós somos os responsáveis pelo aumento enorme desses eventos climáticos extremos, como chuvas excessivas, deslizamentos, inundações, secas, incêndios, ondas de calor. Não é uma variabilidade natural que sempre existiu no clima do planeta. Está mais do que na hora de levarmos isso a sério e começarmos a impedir que o planeta se torne inabitável no próximo século. E sabendo que esses eventos vão continuar a acontecer, é preciso tornar a população mais resiliente. Muita gente não gosta que a gente fale, porém a ciência mostra todos os riscos, e é por isso que os países se comprometeram no acordo de Paris. O problema é que a velocidade de mudança está muito lenta, não estamos indo na direção certa. O planeta vai chegar em 2050 cerca de 2,4 graus mais quente. O enorme desafio que o Brasil tem é de liderar uma discussão que faça os países colocarem suas metas muito mais ambiciosas. Por mais tristes que sejam essas catástrofes que vivemos hoje, você acha que elas devem servir para mudar a atuação política frente a este assunto? As catástrofes precisam ser um fator que não nos permita mais atrasar as ações. A Covid mostrou que um setor científico inteiro, o da medicina, pôde se mobilizar para solucionar um problema. Então por que na emergência climática o setor industrial não faz o mesmo? Existem soluções. O setor dos combustíveis fósseis, da agricultura, precisam ser convencidos. Nos salvamos da Covid, então vamos salvar o planeta da emergência climática.
Psicóloga de formação e especialista em desenvolvimento humano, Flávia Camanho reflete sobre o novo mundo do trabalho “Essa premissa de metas, de avaliação de desempenho vai criando um sentimento de exaustão que é contraproducente e incoerente com o momento que vivemos hoje. Ninguém quer mais fazer 60 anos rico e jogar golfe, as pessoas têm uma ótica de viver uma vida de qualidade e as empresas não estão proporcionando isso”, diz Flávia Camanho. Em um papo com Paulo Lima no Trip FM, a psicóloga de formação e especialista em desenvolvimento humano que coleciona credenciais de dar inveja a qualquer CEO refletiu sobre um novo mundo do trabalho que emerge no pós-pandemia, onde as empresas precisam valorizar o tempo de seus funcionários. “Há um desafio enorme de repensar o que é uma dinâmica saudável de atuação e principalmente de conexão com o ecossistema. Parte de uma sociedade com impacto nessa sociedade. Chamam isso de ESG [governança ambiental, social e corporativa], mas é apenas uma clareza de que não existe plano B.” Flávia também é uma referência na discussão do papel das mulheres nas grandes corporações. "Na história das empresas familiares, os homens recebiam ações e as mulheres uma máquina de costura. E, quando chegavam no auge da carreira, a família chamava a mulher de volta", explica. "O caminho incentivado no empreendedorismo, até hoje, não é o primeiro para elas. O primeiro plano é a governança da própria família. Os negócios são sempre ofertados primeiro aos meninos.” No papo, ela ainda falou das tensões entre gravidez e trabalho, respondeu se riqueza estraga as pessoas e contou por que a profissão de coach virou piada pública. Confira no play aqui da página ou no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/05/66479fd31a389/flavia-camanho-coach-psicologa-empresas-rh-mentora-tripfm-mh.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=] Trip. Depois de trabalhar muito com famílias donas de empresas, como você enxerga a forma como a sucessão é apresentada para os meninos e para as meninas herdeiras? Flávia Camanho. Na história antiga das empresas familiares, os homens recebiam ações e as mulheres uma máquina de costura. Existia um conceito de que a mulher não é naturalmente uma sucessora. Isso gerou um caminho forte pelo empreendedorismo, ou seja, essas meninas sempre começam por um caminho externo ao negócio. Quando chegam no auge da carreira, a família chama de volta. Mas o caminho incentivado, até hoje, não é o primeiro para elas. Os negócios são sempre ofertados primeiro aos meninos. Ainda é muito infantil a maneira como as corporações enxergam o papel feminino e masculino? Antigamente, para chegar chegar às cadeiras de poder, a mulher ia para um caminho masculinizado e masculinizante. Ela usava das habilidades ditas masculinas para se sentir legitimada naquela cadeira. Usar das habilidades femininas significava perder credibilidade. Hoje em dia, se um homem chora em uma reunião é lindo, sensível. Se uma mulher chora é porque não dá conta. Para ele, a skill feminino é um adicional. Mas isso tem sido questionado, o mundo está exigindo as características ditas femininas. Visto os índices de estresse, o mundo do trabalho está doente? Essa premissa de metas, de avaliação de performance, vai criando um sentimento de exaustão que é contraproducente e incoerente com o momento que vivemos hoje. Ninguém quer mais fazer 60 anos rico e jogar golfe. As pessoas tem uma ótica de viver uma vida de qualidade, e as empresas não estão proporcionando isso. Há um desafio enorme de repensar o que é uma dinâmica saudável de atuação e, principalmente, de conexão com o ecossistema. Chamam isso de ESG, mas é apenas uma clareza de que não existe plano B. Somos do mesmo planeta e impactamos ele, então eu também tenho responsabilidade. Gravidez no trabalho ainda é um tabu? As empresas ainda cobram esse pênalti das mulheres que querem engravidar. É uma dor presente na construção da carreira. Depois que você passa desse primeiro momento, você volta uma mulher muito mais potente, mais interessante, ponderada. Eu tenho certeza de que mulheres voltam da licença com muito mais qualidade, mas o dado que não é publicado em lugar nenhum é que 45% das mulheres são desligadas após a licença. Esse pênalti não é uma fantasia, ele é grande e ainda existe. O que as grandes empresas precisam fazer para conseguir manter esse novo tipo de funcionário, que não vai aturar deixar a sua vida na empresa? Em um outro momento de vida, nós vivíamos o isolamento corporativo, eramos abduzidos pela corporação. Aquilo era valioso: contar que dormiu na empresa era muito legal. Hoje isso é divergente, as redes mostram um mundo de possibilidades, de ter uma vida equilibrada. As empresas estão tendo que humanizar o processo de gestão. A geração mais nova não está a fim nem de começar essa conversa sobre a modelagem antiga. E não é colocar mesa de pingue pongue e fliperama pra dizer que ali é mais equilibrado. É abrir mão de horário de trabalho para que o funcionário tenha outra composição de vida. Riqueza estraga as pessoas? O exercício de criar uma criança na riqueza é fazer ela entender que vive numa bolha e que precisa de um esforço maior de compreensão de mundo. A riqueza faz você ficar ensimesmado. E nem sempre é culpa da pessoa.
Psicóloga de formação e especialista em desenvolvimento humano, Flávia Camanho reflete sobre o novo mundo do trabalho “Essa premissa de metas, de avaliação de desempenho vai criando um sentimento de exaustão que é contraproducente e incoerente com o momento que vivemos hoje. Ninguém quer mais fazer 60 anos rico e jogar golfe, as pessoas têm uma ótica de viver uma vida de qualidade e as empresas não estão proporcionando isso”, diz Flávia Camanho. Em um papo como Paulo Lima no Trip FM, a psicóloga de formação e especialista em desenvolvimento humano que coleciona credenciais de dar inveja a qualquer CEO refletiu sobre um novo mundo do trabalho que emerge no pós-pandemia, onde as empresas precisam valorizar o tempo de seus funcionários. “Há um desafio enorme de repensar o que é uma dinâmica saudável de atuação e principalmente de conexão com o ecossistema. Parte de uma sociedade com impacto nessa sociedade. Isso chamam de ESG [governança ambiental, social e corporativa], mas é apenas uma clareza de que não existe plano B. Somos do mesmo planeta e impactamos ele, então temos responsabilidade frente a isso.”Flávia também é uma referência na discussão do papel das mulheres nas grandes corporações. "Na história das empresas familiares, os homens recebiam ações e as mulheres uma máquina de costura. E, quando chegavam no auge da carreira, a família chamava a mulher de volta. O caminho incentivado no empreendedorismo, até hoje, não é o primeiro para elas. O primeiro plano é a governança da própria família. Os negócios são sempre ofertados primeiro aos meninos.”No papo, ela ainda falou das tensões entre gravidez e trabalho, respondeu se riqueza estraga as pessoas e contou porque a profissão de coach virou piada pública. Confira no play aqui da página ou no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/05/66479fd31a389/flavia-camanho-coach-psicologa-empresas-rh-mentora-tripfm-mh.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=] Trip. Você que trabalhou muito com famílias donas de empresas, de que forma a sucessão é apresentada para os meninos e para as meninas herdeiras? Na história antiga das empresas familiares os homens recebiam ações e as mulheres uma máquina de costura. Existia um conceito de que a mulher não é naturalmente uma sucessora. Isso gerou um caminho forte pelo empreendedorismo, ou seja, essas meninas sempre começam por um caminho externo ao negócio. Quando chegam no auge da carreira a família chama de volta. Mas o caminho incentivado, até hoje, não é o primeiro para elas. Os negócios são sempre ofertados primeiro aos meninos. Ainda é muito infantil a maneira como as corporações enxergam o papel feminino e masculino? A mulher para chegar as cadeiras de poder, antigamente, ia para um caminho masculinizado e masculinizante. Ela usava das habilidades ditas masculinas para se sentir legitimada naquela cadeira. Usar das habilidades femininas era como se você perdesse credibilidade. Hoje em dia se um homem chora em uma reunião é lindo, sensível. Se uma mulher chora é por que não dá conta. Para ele o skill feminino é um adicional. Mas isso tem sido questionado, o mundo está exigindo as características ditas femininas. O mundo do trabalho, visto os índices de estresse, está doente? Essa premissa de metas, de avaliação de performance vai criando um sentimento de exaustão que é contraproducente e incoerente com o momento que vivemos hoje. Ninguém quer mais fazer 60 anos rico e jogar golfe, as pessoas tem uma ótica de viver uma vida de qualidade e as empresas não estão proporcionando isso. Há um desafio enorme de repensar o que é uma dinâmica saudável de atuação e principalmente de conexão com o ecossistema. Isso chamam de ESG, mas é apenas uma clareza de que não existe plano B. Somos do mesmo planeta e impactamos ele, então eu tenho responsabilidade frente a isso. Gravidez no trabalho ainda é um tabu? As empresas ainda cobram esse pênalti das mulheres que querem engravidar. É uma dor presente na construção de carreira. Depois que você passa desse primeiro momento, você volta uma mulher muito mais potente, mais interessante, ponderada. Eu tenho certeza de que mulheres voltam da licença com muito mais qualidade, mas o dado que não é publicado em lugar nenhum é que 45% das mulheres são desligadas após a licença. Esse pênalti não é uma fantasia, ele é grande e ainda existe. O que as grandes empresas precisam fazer para conseguir manter esse novo tipo de funcionário, que não vai aturar deixar a sua vida na empresa? Em um outro momento de vida, nós vivíamos o isolamento corporativo, eramos abduzidos pela corporação. Aquilo era valioso: contar que dormiu não empresa era muito legal. Hoje isso é divergente, as redes mostram um mundo de possibilidades, de ter uma vida equilibrada. As empresas estão tento que humanizar o processo de gestão. A geração mais nova não está afim nem de começar essa conversa sobre a modelagem antiga. E não é por mesa de pingue pongue e fliperama pra dizer que ali é mais equilibrado. É abrir mão de horário de trabalho para que o funcionário tenha outra composição de vida. Riqueza estraga as pessoas? O exercício de criar uma criança na riqueza é fazer ela entender que vive numa bolha e que precisa de um esforço maior de compreensão de mundo. A riqueza faz você ficar ensimesmado. E nem sempre é culpa da pessoa.
Atriz fala sobre como conquistou a internet sem precisar expor a sua vida pessoal (o que lhe rendeu o apelido de Vera Viral), morte e amor Prestes a colocar a sua peça “Ficções” de volta em cartaz em São Paulo, a atriz Vera Holtz bateu um papo com Paulo Lima no Trip FM sobre amor, morte e como conquistou a internet sem precisar expor a sua vida pessoal (o que lhe rendeu o apelido de Vera Viral). “Eu não conseguia pensar na hipótese de ter uma rede social. Até que um dia fiz uma foto com um saquinho na cabeça e pensei ‘vamos trabalhar com isso nas redes sociais'. Quando começamos a desenvolver essa ideia de tirar foto de frente, lado e costas, aí expandiu e não parei mais”, conta ela. “Hoje eu até tenho a ideia, mas como voltei ao teatro não tive mais tanto tempo para produzir. Mas eu gosto do espaço das redes sociais. Só que precisam entender que a Vera Viral é temperamental, só aparece na hora que ela quer. É uma entidade livre.” Nascida em Tatuí, no interior de São Paulo, Vera era diferente da maioria das jovens da década de 1950 e revela que nunca sonhou em ter marido e filhos. Criada em uma família muito amorosa — e numerosa —, ela ouvia do pai: primeiro você se forma, depois se casa. “Ele dizia: ‘você precisa ter liberdade econômica e não depender do seu parceiro'. Era uma família diferente nesse sentido”. Essa conversa fica disponível no Spotify e aqui no site da Trip. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/05/6635149222984/vera-holtz-atriz-teatro-ficcoes-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação; LEGEND=Vera Holtz; ALT_TEXT=Vera Holtz] Trip. A gente tem muita informação sobre a sua carreira, mas nem tanto sobre a sua vida pessoal. Você amou muito ou ficou mais tranquila neste aspecto? Sou leonina, a paixão é a minha bandeira, meu território de expansão. E eu sempre vivi em estado de paixão. Nunca deixei de amar os homens que compartilharam tempo de vida comigo e não deixo de amá-los por ter me afastado deles. Eu não separo, eu só desalinho, cada um vai para o seu lado, mas ainda cuidamos uns dos outros. E como foi essa história de falar de cima de uma cadeira, aos 14 anos, que não queria filhos? Sofreu muito por essa decisão? Nunca dei muita bola para a pressão por ter filhos. Talvez eu estivesse bem embasada na minha escolha: eu me estruturei para isso. Existiu um momento na minha vida em que me questionei, mas logo percebi que era apenas uma história que estava tentando virar ideia, ou talvez fosse eu querendo criar mais uma personagem na minha vida. A ideia de ter filhos é individual. Quem não tem o desejo de ter filhos, não precisa ter. É ouvir o chamado do seu corpo, ter uma escuta do seu corpo, uma intuição. Eu sempre escutei o que o meu corpo me indicava. O que é a morte para você? A morte é sensacional, magnífica. O melhor dia para se viver. Eu não tenho a menor questão com a pós-produção da vida. A morte e a vida são o mesmo lado.
Ator volta a novela "Renascer" mais de 30 anos após a primeira versão e divide suas memórias da infância e loucuras que já fez por um papel Ao lado de Marcos Palmeira, Jackson Antunes é um dos dois atores na nova versão da novela “Renascer” que também participou da produção original, em 1993. Aos 63 anos, o artista, que também é escritor e violeiro, tem muito a contar. Ele nasceu no sertão mineiro e foi engraxate, pintor, letrista e ator de circo antes de chegar à televisão. "Fazia aulas de atuação de graça no Teatro Martins Pena, porque limpava o chão. A turma me abraçou porque gostava de me ver declamar cordéis de Patativa do Assaré, Zé da Luz, Tonho Sapateiro. O verso me salvou", conta. “A fama foi algo muito maluco. Ainda bem que o sertão me ensinou muita coisa. A seca me ensinou a separar a realidade da mentira. Não tivesse eu tomado cuidado, eu poderia ter achado que era aquilo tudo que se escrevia nas revistas." Jackson é o convidado do Trip FM e bate um papo com Paulo Lima. Numa conversa cheia de riso, ele divide suas memórias da infância, as loucuras que já fez por um papel e fala sobre dinheiro, música caipira e muito mais. Esta entrevista divertida e cheia de risada fica disponível aqui, no play, e também na página do programa no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/04/662bc3eb5e2e3/jackson-antunes-ator-renascer-globo-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação / Globo / Fabio Rocha; LEGEND=Jackson Antunes; ALT_TEXT=Jackson Antunes] Trip. Você aprendeu muita coisa com o professor Hermógenes. Como foi essa experiência? Ele foi o exemplo do homem bom. No sertão a gente tem uma relação muito próxima com Deus. Quando não há mais onde buscar forças, a gente olha pro céu. Minha irmã era assim, meu pai era assim… Se começasse a trovoar, minha mãe pegava o rosário. Me fez compreensivo diante das dores, das perdas, daquilo que não posso mudar. E o Hermógenes sempre disse que ele era apenas um veículo que processava a mensagem de Deus e colocava na literatura, então eu me dei muito bem com isso. Quando você era adolescente foi ao Rio para ter aulas de atuação. Isso deu certo? Quando comecei, fiz aulas de atuação de graça na Martins Pena, porque limpava o chão. E todo dia tinha alguém que me levava para almoçar. A turma me abraçou porque gostava de me ver declamar seu Patativa do Assaré, Zé da Luz, Tonho Sapateiro, cordéis... O verso me salvou. E da dificuldade financeira. Como foi encarar a fama em "Renascer", lá em 1993? A fama foi algo muito maluco. Ainda bem que o sertão me ensinou muita coisa, ainda bem das caminhadas indo e voltando para o rio, a fome. Ainda bem que a seca me ensinou a separar a realidade da mentira. Era muito forte. Não tivesse eu tomado cuidado, a minha vida tinha acabado ali, eu poderia ter achado que eu era aquilo tudo que se escrevia nas revistas. E como é a sua relação hoje com dinheiro? Sempre fui muito inteligente com o dinheiro. Tenho um Fiat ano oitenta e alguma coisa. Que era bom ter o salário fixo da Globo, era bom. Mas conforto é uma merda, conforto nunca. Quando eu não estou fazendo um personagem costumo colocar um cinto apertado, uns três furos a mais, pra sentir que tem algo incomodando. Quando tá muito confortável a gente esquece de fazer o checkup, quando tá muito confortável a gente acha que todo mundo é subordinado e trata o outro mal, deixa de olhar para o próximo, de ser criativo.
Ediane Ribeiro vem ganhando espaço no Instagram por sua forma leve, carismática e esclarecedora de falar sobre saúde mental Uma psicóloga que se dedica profundamente a estudar e a tratar os mais diferentes tipos de trauma, Ediane Ribeiro vem ganhando espaço no Instagram por sua forma leve, carismática e esclarecedora de falar sobre saúde mental. “As redes sociais, a medida que fomos nos isolando na arquitetura das grandes cidades, surgiram como uma cópia mal acabada da dinâmica de apego e vínculo. Eu teoricamente me relaciono com pessoas que teoricamente me curtem, mas que preciso alimentar um personagem para que essa conexão continue”, diz ela. A experiência atendendo pacientes, sobretudo mulher negras, atrelada às habilidades que desenvolveu como comunicadora e palestrante, conta ela, a proporcionou refletir nas redes sociais também sobre racismo. “Quando a gente pensa a questão do racismo no Brasil, é preciso saber que ele está muito ligado a leitura social que essa pessoa tem como negra. Então quanto mais preta, mais desigual. O fato de eu ser uma mulher negra de pele clara me leva a vários níveis de passabilidade dentro da nossa sociedade, o que me levou também a uma dificuldade de compreensão das microviolências do racismo que vivi.” Na conversa com o Trip FM, a psicóloga ainda falou sobre a importância do contato com a natureza, a substituição de vínculo real pela atenção passageira nas redes sociais e, principalmente, sobre como o universo corporativo derruba a população do Brasil e do mundo como peças de um tabuleiro. “No mundo corporativo, as pessoas estão adoecendo cada vez mais. Os índices de burnout, depressão e ansiedade nos mostram que as pessoas estão caindo como peças de um tabuleiro. De alguma forma, o mundo do trabalho descobriu que um pouco de estresse aumenta o desempenho. O problema é que essa curva não sobe ao infinito. Esse desempenho sobe até a pessoa colapsar.” Confira o programa completo no play aqui em cima ou no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/04/6622c0ee773e8/ediane-ribeiro-psicoloca-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação; LEGEND=Ediane Ribeiro; ALT_TEXT=Ediane Ribeiro] Trip. Como você lidou com as questões raciais no desenvolvimento da sua profissão? E quais nuances esse desafio toma ao ser uma pessoa negra de pele mais clara? Ediane Ribeiro. Quando a gente pensa a questão do racismo no Brasil, é preciso saber que ele está muito ligado à leitura social que essa pessoa tem como negra. Então quanto mais preta, mais desigual. O fato de eu ser uma mulher negra de pele clara me leva a vários níveis de passabilidade dentro da nossa sociedade, o que me trouxe também a uma dificuldade de compreensão das microviolências do racismo que vivi. Entendi como racismo algumas coisas que vivi apenas na vida adulta. De que forma enxerga o crescente adoecimento das pessoas dentro das grandes corporações? No mundo corporativo, as pessoas estão adoecendo cada vez mais. Os índices de burnout, depressão e ansiedade como causas principais de afastamento do trabalho, além de uma série de adoecimentos que vejo na minha prática clínica, nos mostram que chegamos em um ponto em que as pessoas estão caindo como peças de um tabuleiro. Esse cenário foi arduamente construído por décadas. De alguma forma, o mundo do trabalho descobriu que um pouco de estresse aumenta o desempenho. O problema é que essa curva não sobe ao infinito. Esse desempenho sobe até a pessoa colapsar. Estresse por si só é um auxílio para darmos conta dos desafios da vida, mas no longo prazo causa dano. A forma como fomos associando realização profissional à identidade pessoal, despersonalizando as pessoas das outras esferas importantes da vida, tudo isso em um ambiente que não incentiva a colaboração, nos trouxe a esse cenário. Para sair dele vamos precisar trabalhar muito: grandes problemas exigem grandes soluções. Faz diferença amar a profissão? O estresse, mesmo advindo de uma situação prazerosa, como um trabalho que eu gosto, se chega a uma sobrecarga do sistema nervoso, vai ser tão danoso quanto o estresse daquela situação que eu não acredito e não gosto. Porém, quando eu gosto da situação, eu tenho elementos para mitigar o estresse, fazer uma regulação dele. Essa é a diferença. Mas o fato de eu gostar do meu trabalho não me protege de ter uma sobrecarga que vai me adoecer. A busca excessiva do esporte como uma solução para esse estresse do trabalho pode ser danosa também? Quando a gente olha de perto, qualquer excesso funciona como uma tentativa de esconder algum vazio, alguma dor. Estresse sustentado no tempo é trauma. Na atividade física, o que inicialmente foi usado como um alívio pode se tornar causador. O discurso de que você precisa ser forte e imbatível dá sustentação a esse excesso. Isso coloca as pessoas a testar os limites sem proteção. Às vezes o mais saudável é respeitar os nossos limites. Pensar em saúde é pensar em equilíbrio dinâmico.
Sem medo de desafios, a atriz que acaba de participar de um episódio da série "Grey's Anatomy" fala da vida em Hollywood, fama e esporte Não estranhe ao se deparar com Bianca Comparato na vigésima temporada de “Grey's Anatomy”. A atriz e produtora, que acaba de gravar participação em uma das séries mais aclamadas do mundo, faz parte de uma geração de talentos que ganha cada vez mais espaço e destaque não só no audiovisual brasileiro, mas também em Hollywood. “Eu sempre sinto um frio na barriga, que acho que não quero perder. É o que deixa a coisa viva”, conta. Bianca nunca escolheu os caminhos mais fáceis – ou óbvios. Quando protagonizou a série da Netflix 3%, pouca gente apostava no futuro do streaming. “Na época eu recebi muitas opiniões contrárias: ‘você tá doida, é uma empresa pequena que vende DVD nos Estados Unidos', ‘ninguém vê isso aqui', 'você devia ficar e fazer novela na Globo”', lembra. “Mas eu sempre tive muita clareza dos projetos que gostaria de fazer, sempre fui movida pelos personagens e pelas pessoas envolvidas nessas séries”. No papo com o Trip FM, Bianca falou de fama, glamour, sobre como seu papel em “João Sem Deus” a fez repensar questões de religião e política, e ainda compartilhou suas percepções sobre a vida em Los Angeles e a mais recente paixão, o surf. Ouça essa conversa na íntegra no Spotify e no play aqui em cima ou leia um trecho abaixo. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/04/6619a4ff59a05/bianca-comparato-atriz-tripfm-mh.jpg; CREDITS=foto: Manuel Nogueira (@manuelnogueira); beleza: Simone Barcelos (@simonebarcelos); LEGEND=Bianca Comparato; ALT_TEXT=Bianca Comparato] Trip. Como tem sido esse tempo morando em Los Angeles? Isso ajuda a acessar o mercado norte-americano? Bianca Comparato. Eu sou movida a desafios e sempre tive uma curiosidade enorme de saber como funciona essa meca do cinema e das séries que é Los Angeles. Eu achava que era só chegar e falar inglês para acessar alguma porta, mas você precisa absorver a cultura e isso leva tempo. Meu sonho sempre foi fazer uma mulher que não fosse latina e isso eu realizei o ano passado. O filme ainda vai sair e foi fruto de eu ficar lá nos Estados Unidos, de entender como o mercado funciona, com funcionam os agenciamentos. Em 2016, você protagonizou a série da Netflix 3%. Você saiu na frente, deixou as novelas para estrear uma das primeiras séries do streaming no Brasil. Como foi esse movimento? Na época eu recebi muitas opiniões contrárias: "você tá doida, é uma empresa pequena que vende DVD nos Estados Unidos", "ninguém vê isso aqui", "você devia ficar e fazer novela na Globo". Mas eu sempre tive muita clareza dos projetos que gostaria de fazer, sempre fui movida pelos personagens e pelas pessoas envolvidas nessas séries. Minha meta era abrir a porteira para produções no Brasil, não importa a crítica, não importa nada. Hoje o streaming deu uma encolhida, mas houve muitas produções brasileiras de qualidade. Você tem 1,54m de altura. Já sofreu bullying na escola por ser muito pequena? Não sofri bullying por ser baixa, mas participei de um bullying contra outra Bianca da minha sala que era muito alta (e por isso eu sempre peço desculpas publicamente quando posso). O meu sofrimento veio muito mais por ser gay e tentar não parecer gay. Eu nem percebia, na verdade, fui entender isso mais velha. Hoje eu sinto o resultado disso, como isso afeta as minhas decisões. Eu me escondia muito, por isso o bullying era mais interno do que vindo de fora. Eu vejo que essa nova geração de atores é muito menos deslumbrada com o sucesso. De onde vem isso? O público ficou muito mais próximo da gente. O lado íntimo do artista de cinema era muito mais isolado. O mundo real mudou isso desde Marcel Duchamp e o seu mictório: a arte mais perto. É a Anitta sem maquiagem na cama, o Caetano tomando um chá. Isso ajuda a nos tirar de um pedestal. O trabalho do dia a dia também ajuda a fugir do hype: fazer a cena, errar, pisar num palco. É perigoso acreditar no glamour. Pode até ir pra banheira com champanhe, mas aí volta pro mundo real.
Da França, onde vive, a atriz falou sobre casamento, capitalismo, a amizade entre os presidentes Lula e Macron e terapia ocupacional A renomada atriz Maria Fernanda Cândido se prepara para estrear, no próximo dia 11 de abril, o filme “A Paixão Segundo G.H.”, longa-metragem baseado no livro da escritora Clarice Lispector e dirigido por Luiz Fernando Carvalho. A obra se passa no Rio de Janeiro de 1964 e narra a jornada de uma escultora que questiona sua identidade e algumas convenções sociais que aprisionam o feminino. “Na arte, a gente transforma vidas de uma maneira sutil. Saúde e arte correm muito perto uma da outra”, diz ela, em um papo com o Trip FM. Formada também em terapia ocupacional, Maria Fernanda tem propriedade para discorrer sobre intervenções que mudam a vida das pessoas. Como terapeuta, ela garante que o que aprendeu nessa profissão ainda tem muita influência em sua vida. "Nossa concepção de saúde é muito utilitária: ou está curado, ou está doente. Aprendi a lidar com o conceito de melhora. Às vezes, uma pequena melhora pode representar muito em uma vida.” Diretamente de Paris, na França, onde vive há cerca de seis anos, a atriz falou ainda sobre casamento, sua experiência como a única mulher em um grupo de empreendedores que fundou a Casa do Saber e como é criar filhos adolescentes. Ela também refletiu sobre temas como capitalismo e a amizade entre Lula e Macron, o presidente da França. O programa está disponível aqui no site da Trip (é só dar o play) e o Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/04/6610305156482/maria-fernanda-candido-atriz-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Patricia Soransso (@patriciasoransso); LEGEND=Maria Fernanda Candido; ALT_TEXT=Maria Fernanda Candido] Trip. Neste tempo em que você esteve em Paris, já deu para entender o francês? Deu. Seis anos já é um tempo legal, mas para mim é um esforço. Eu ainda preciso fazer um esforço para estar dentro desta cultura. Meus filhos não, eles têm o chip brasileiro e francês. Eu só tenho o brasileiro. Nós brasileiros somos acolhedores, temos a disposição para o encontro. Temos menos medo do diferente. É muito inexplicável e emocionante ser brasileira. Eu amo ser brasileira e comecei a entender melhor a minha brasilidade estando fora do meu país. Quando você perde o seu dia a dia, aí passa a dar muito mais valor. Como ser formada em terapia ocupacional influenciou a sua carreira? Nossa ideia de saúde é muito utilitária: ou está curado, ou está doente, mas como terapeuta ocupacional aprendi a lidar com o conceito de melhora. Às vezes, uma melhora pequena pode representar muito dentro de uma vida. Esse fascínio pelo outro eu carrego nas artes, nas artes também a gente transforma vidas de uma maneira sutil. Saúde e arte correm muito perto uma da outra. A teoria dos setênios vê os 49 anos como um momento muito especial. Como está vivendo esta idade? Aos 49 anos foi a primeira vez que consegui parar, olhar para trás e pensar: caramba, eu tenho uma história. Aos 20 você não tem nada para ver lá atrás; aos 30 eu estava criando meus filhos, alimentando, ensinando a andar, também não dava para fazer esse exercício. Hoje, assisto o meu filme e é bonito, dá uma sensação de uma passagem por aqui. Mas ainda tenho muito para continuar, tenho muita cede. Mas como alguém que sempre foi conhecida pela beleza lida com a passagem do tempo? Dá uma tristeza, sim, olhar para aquela foto de 25 anos. Aquela pessoa já não existe para mais ninguém, nem para mim, nem para o público. É preciso ter uma aceitação, tudo muda, mas também tem a minha história toda. Eu quero fazer a trajetória, eu quero percorrer o caminho. Estando aí, acha que o consumismo atingiu menos os países europeus? O consumo invadiu todas as áreas da vida. Consumir bens é uma coisa, mas quando a gente vê que educação e saúde viraram mercadorias é mais complicado. Tudo virou produto, esse mundo está em um esgotamento. Você não quer se sentir cliente em uma escola, a gente quer que os princípios estejam acima disso. Ter um parceiro de outra nacionalidade, com outros costumes e cultura, pode gerar dificuldades. Concorda? Sim, muitas dificuldades. Em um casamento longo às vezes é preciso viver com um desconforto, mas ficar com esse desconforto pode ser uma bela aventura, de descoberta, aceitação e criação de parceria. Agora a minha amizade com meu marido cresceu, isso não caiu no nosso colo do nada, a gente lutou para chegar aqui. É terapia para todo lado aqui em casa, a gente trabalha muito. É uma característica importante da nossa família.
Primeira mulher negra brasileira a se tornar doutora em física e a lecionar no ITA, ela falou sobre o papel da militância na ciência Se no quesito pesquisa, tecnologia e infraestrutura o Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o ITA, é uma das mais renomadas universidades do mundo, no que diz respeito à diversidade de gênero e raça, a instituição deixa muito a desejar. Vinculada ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, o local de ensino superior público da Força Aérea Brasileira proibiu que mulheres estudassem até 1996. Naquela época, porém, a paulista Sonia Guimarães surgiu para mudar esse cenário. Em 1993, Sonia entrou para o ITA como professora — três anos antes de autorizarem que mulheres estudassem física aeronáutica. Primeira mulher negra brasileira a se tornar doutora em física, ela também foi a primeira mulher negra a lecionar no instituto. Mais de 30 anos atuando como professora, uma coleção de títulos acadêmicos e sendo reconhecida como uma das 100 pessoas mais inovadoras da América Latina, Sonia diz que ainda tem que lutar contra a misoginia e o racismo na academia. “Sou formada em física pela UFSCar, a Universidade Federal de São Carlos, PHD em física na Inglaterra e ainda as pessoas dizem que eu não sei física. É frustrante. Por que não acreditam? Na avaliação dos estudantes, tem coisas que eu não consigo ler. Tem aluno que não me olha na cara. Eles não têm a obrigação de ter respeito por mim. É terrível”, indaga ela. Em um papo como Trip FM, a física que adora roupas coloridas e de carnaval, contou com muito bom humor a sua história e discutiu ainda o papel da militância na ciência, a importância do sistema de cotas, moda, saúde e muito mais. O programa fica disponível aqui no site da Trip e no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/03/65fdb9c45573f/sonia-guimaraes-professora-negra-ita-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Dalila Dalprat / Divulgação; LEGEND=Sonia Guimarães; ALT_TEXT=Sonia Guimarães] Trip. Com o sucesso do filme "Oppenheimer", muito tem se discutido sobre a relação ciência e militarismo. Como você lida com isso? As pessoas ficam impressionadas quando descobrem que ajudei a desenvolver uma tecnologia para mísseis, mas nós também precisamos nos proteger. Infelizmente faz parte do trabalho, sinto muito: somos um país imenso, com muitas riquezas. Por outro lado, meus alunos do ITA dão aulas para adolescentes e mostram o laboratório, mostram que a física não é uma ciência dura para crianças que não querem saber nada de ciência. Após décadas de ensino, você ainda luta para ser reconhecida dentro do ITA? Formada em física pela UFSCar, PHD em física na Inglaterra e ainda as pessoas dizem que eu não sei física. É frustrante. Por que não acreditam? Na avaliação dos estudantes, tem coisas que eu não consigo ler. Tem aluno que não me olha na cara. Eles não têm a obrigação de ter respeito por mim. É terrível. Como você avalia o sistema de cotas no Brasil? Política de cotas no Brasil começou tarde demais e ainda é muito pequena. Cerca de 35% de vagas para negros na USP é pouco. Com essas comissões ainda dizendo que gente preta não é preta, é uma confusão. Estou proibida de falar sobre as cotas de um certo instituto que conheço muito, mas um lugar que tinha que ter 20% de pessoas negras, eu não vi nem um por cento ainda. Precisa de fiscalização. Por outro lado, o que a gente já vai vendo desses lugares minimamente respeitando, é uma delícia. Como anda a educação superior no país? Antigamente eu queria muito que meus alunos escrevessem artigos científicos. Hoje, com o ChatGPT, eu quero que eles falem, que me digam tudo o que conseguiram aprender. Texto hoje já não passa por pesquisa nenhuma, isso já é real. Algumas escolas estão atrasadas, o ensino precisa se modernizar, a mudança é radical e é seria.
Pela primeira vez longe da emissora onde trabalhou por três décadas, ator debate sobre cinema, jornalismo e humor na internet "Estou me aproximando dos 50 e vendo tudo o que aprendi dando uma balançada forte. E aí eu me pergunto: eu ainda sirvo nesse lugar? As pessoas que encontraram o seu espaço para se comunicar na internet falam muito diretamente com esse público, sobretudo o mais jovem. Essa é grande questão: como se adaptar a isso e aceitar sem julgamento", reflete o ator Bruno Mazzeo. Em uma conversa com o Trip FM, o roteirista e humorista conta sobre sua experiência "na selva", referindo-se ao primeiro trabalho fora da Rede Globo. Seu projeto inaugural é a peça teatral "Gostava Mais dos Pais", em cartaz em São Paulo, no Teatro Porto Seguro (sexta e sábado, às 20h, domingo, às 17h). Ao lado do tamabém ator Lucio Mauro Filho, o artista analisa, neste espetáculo, as vantagens e desafios de ser filho de uma personalidade famosa — Bruno é filho do eterno humorista Chico Anysio, falecido em 2012. "Nunca foi um fardo, talvez porque tenha construído uma carreira diferente a do meu pai, com um estilo de humor único. Pelo contrário, sempre foi motivo de orgulho, e, por isso, permito-me brincar com isso, inclusive com o fato de as pessoas na rua frequentemente expressarem sua preferência por meu pai, o que acho totalmente justo. É claro, eu também prefiro." Na conversa, Bruno aborda temas como cinema, críticas, jornalismo, humor na internet e muito mais. A entrevista completa você escuta aqui no site da Trip ou no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/03/65eb6a840f099/bruno-mazzeo-ator-tripfm-mh2.jpg; CREDITS=Francio de Holanda ; LEGEND=Bruno Mazzeo na peça teatral "Gostava Mais dos Pais", atualmente em cartaz em São Paulo, no Teatro Porto Seguro (sexta e sábado, às 20h, domingo, às 17h), ao lado de Lucio Mauro Filho; ALT_TEXT=Bruno Mazzeo e Lucio Mauro Filho sentados em cadeiras num palco de teatro ] Trip. Como você analisa o momento da produção audiovisual no Brasil? Estamos passando por um momento delicado, por isso é fundamental a lei da cota de telas para o streaming, isso foi feito lá atrás com a TV a cabo e foi maravilhoso. Por que vai se gastar milhões produzindo aqui se é muito melhor comprar os direitos de um time da Copa do Brasil e isso vai gerar mais assinantes? Essa lei é o que vai sacudir o mercado. Como você define o seu humor? É um humor carioca, um humor de classe média? Como criador, naturalmente escrevo em cima do universo que eu conheço. Coisas cotidiana acabam sendo em cima do meu olhar, é inevitável. Alguém me escreveu: “Pô, mas é sempre o olhar do branco da Zona Sul?”. É o que eu posso oferecer. E sobre esse novo humor das redes sociais. Isso o assusta de alguma forma? Estou me aproximando dos 50 e vendo tudo o que aprendi dando uma balançada forte. E aí eu me pergunto: eu ainda sirvo nesse lugar? As pessoas que encontraram o seu espaço para se comunicar na internet, falam muito diretamente com esse público, sobretudo mais jovem. Não sei se eu conseguiria me comunicar dessa forma. Essa é grande questão: como se adaptar a isso e aceitar sem julgamento. É um grande perigo do artista ficar rancoroso com o jovem que vem chegando. Eu vou ter que me encaixar aí. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/03/65eb52778a5e7/bruno-mazzeo-ator-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Fernando Young Brasileiro (@_fernandoyoung_); LEGEND=Bruno Mazzeo; ALT_TEXT=Bruno Mazzeo]
Atriz, que será uma das protagonistas da nova série “No Ano Que Vem”, do Canal Brasil, reflet sobre etarismo, crises conjugais e maternidade “Eu nunca dei importância para o que falavam de mim. Não vai me trazer nada de bom, vai me confundir, me deixar angustiada. Entendo a curiosidade, mas sempre fui discreta com a minha vida e claro que as pessoas não aguentam, começam a cavar buracos para encontrar coisas. Mas isso é problema dos outros”, disse a atriz Julia Lemmertz em um papo com o Trip FM. A artista será uma das protagonistas da nova série “No Ano Que Vem”, que estreia na próxima segunda-feira (4) no Canal Brasil. A trama abordará temas como etarismo, sororidade, crises conjugais, e maternidade, temas que também surgiram na conversa com a atriz. “Foi tudo muito rápido, minha mãe faleceu em 1986, eu tinha 23 anos, e com 24 engravidei da minha filha. Quando vi tinha alguém para sustentar e uma carreira para dar conta”, revelou Julia, comentando o início de sua premiada jornada de mais de 50 anos trabalhando no teatro, na TV, e no cinema. “Gosto de pensar que sou uma mulher real e que faz personagens de pessoas reais. Eu já vivi 60 anos da minha vida, eu tenho que ter uma bagagem comigo, que seja no corpo, na minha cara. E eu tenho orgulho dela. Não me interessa apagá-la.” A entrevista completa está disponível aqui no site da Trip e no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/03/65e22df1cfbc2/julia-lemmertz-atriz-tripfm-mh.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=] Trip. Você nasceu no mundo das artes cênicas já sabendo — através da profissão dos seus pais — que vida de ator não é fácil. Como é a sua relação com o dinheiro? Foi tudo muito rápido na minha vida: minha mãe faleceu em 1986, eu tinha 23 anos, e com 24 engravidei da minha filha. Quando vi tinha alguém para sustentar e uma carreira para dar conta. Fui fazendo as coisas que gostaria de fazer, mas que também me sustentavam e a família que eu estava criando, sozinha. A televisão entrou na minha vida não só pela grana, mas também porque me proporcionava uma liberdade para fazer outras coisas. Sempre fiz teatro. Era uma contrapartida, eu nunca sustentei só a mim, sempre ajudei a família. E crescer diante da fama, casar e se separar perante as lentes da televisão. Como lida com isso? Eu nunca dei importância para o que falavam de mim. Não coloco meu nome no Google. Quando fiz isso me arrependi amargamente: tem coisas elogiosas, mas tem coisas horríveis. Resolvi me abster desse lugar. Já e muita coisa para dar conta, se for dar conta ainda do que os outros estão pensando, eu não iria viver. Não vai me trazer nada de bom, vai me confundir, me deixar angustiada. Entendo a curiosidade, mas sempre fui discreta com a minha vida e claro que as pessoas não aguentam, começam a cavar buracos para encontrar coisas. Mas isso é problema dos outros. E o envelhecimento para você, dói ou é tranquilo? Envelhecer não dói, e também não é tranquilo: não tem outro jeito, é isso. A outra opção é não estar aqui ou tentar retardar de uma forma que você se torne uma pessoa que não condiz com o seu tempo de vida, que não está presente no momento em que você vive. Sempre me interessou a passagem do tempo. É bonito, não é fácil, você fica mais cansado, mas qual o problema? Os homens ficam lindos grisalhos, com barriguinha, e as mulheres precisam estar em forma o tempo todo e ninguém fala sobre isso. Não condiz com a realidade. Gosto de pensar que eu sou uma mulher real e que faz personagens de pessoas reais. Eu já vivi 60 anos da minha vida, eu tenho que ter uma bagagem comigo, que seja no corpo, na minha cara. E eu tenho orgulho dela. Não me interessa apagá-la.