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Na Alemanha, França e Romênia, decisões judiciais tentam conter partidos autoritários — mas isso, por si só, talvez não seja suficiente. A última semana marcou mais um capítulo nas tensões entre a extrema-direita e a justiça — desta vez, na Europa. Thomás Zicman de Barros, analista político, especial para a RFIForam dias de decisões e indecisões. Na Alemanha, na segunda-feira (5), o Escritório de Proteção da Constituição declarou o partido AfD, Alternativa para a Alemanha, como um grupo extremista, citando sua proximidade com setores neonazistas e a negação do princípio de igualdade — de acordo com a lógica do partido, imigrantes seriam cidadãos de segunda classe.Essa classificação tem implicações jurídicas importantes: o partido passa a ser monitorado pelos serviços de inteligência e pode, em última instância, ser banido. Mas, diante da reação e da pressão de apoiadores da AfD, o mesmo órgão recuou na quinta-feira (8), afirmando que o caso ainda precisa ser mais bem avaliado.A indefinição gerou surpresa. Afinal, não é evidente que a AfD é um partido de extrema direita? Por que ainda se hesita em chamá-los pelo nome? Parte da resposta está no esforço — hoje quase reflexo — de acadêmicos e políticos de criar tipologias para grupos reacionários, como se a urgência estivesse em classificá-los, e não em enfrentá-los. Cria-se assim uma taxonomia que termina por complexificar o que, no fundo, deveria ser simples."Cinquenta tons de fascismo"No debate acadêmico, costuma-se distinguir diferentes tipos de ultradireita — os chamados "cinquenta tons de fascismo". Nessa tipologia, separa-se a extrema-direita da direita radical. A diferença teórica entre elas seria esta: a extrema-direita se caracteriza por buscar o poder por meio da força. Já a direita radical, embora também antidemocrática em seus valores, opera prioritariamente dentro das regras eleitorais e institucionais.Essa distinção pode ter alguma utilidade no terreno conceitual. Mas, na prática, tem sido usada para relativizar os riscos concretos que esses grupos representam, normalizando-os. No fim, essa taxonomia pouco nos ajuda a compreender o passado, tampouco o presente — e menos ainda a nos preparar para o futuro.Historicamente, a extrema direita recorreu a todos os meios para chegar ao poder. O caso da Alemanha dos anos 1930 é exemplar: a extrema direita ascendeu por vias legais, com apoio decisivo da centro-direita, que a normalizou e acreditou poder controlá-la.O resultado foi a destruição das instituições republicanas por dentro. Mesmo hoje, líderes eleitos não hesitam em flertar com o autogolpe assim que consolidam sua posição. O debate sobre banir ou não a extrema direita da vida política não se restringe à Alemanha, onde o quadro legal prevê explicitamente essa possibilidade.Na França, no mês passado, Marine Le Pen foi declarada inelegível após ser condenada por desvio de verbas do Parlamento Europeu. Se o veredito for mantido, ela estará fora das eleições de 2027, mesmo liderando as pesquisas.Já na Romênia, as conturbadas eleições de dezembro de 2024 — vencidas no primeiro turno pelo então desconhecido candidato de extrema-direita Călin Georgescu — foram anuladas pela Corte Suprema, após denúncias de manipulação da opinião pública por agentes russos nas redes sociais.Esses episódios nos obrigam a fazer uma pergunta difícil: tais medidas são legítimas? Cada caso tem suas especificidades, mas todos podem ser interpretados à luz de uma doutrina conhecida como democracia defensiva — ou democracia militante.O conceito foi formulado nos anos 1930 pelo jurista alemão Karl Loewenstein, exilado nos Estados Unidos após a ascensão do nazismo. A ideia central é que democracias não devem assistir passivamente à ascensão de forças que, uma vez no poder, trabalham para miná-las desde dentro.Como escreveu Karl Popper — filósofo austríaco e liberal convicto — no famoso paradoxo da tolerância: não se pode tolerar o intolerante, porque, ao ganhar espaço, ele destrói o próprio princípio da pluralidade.Vale lembrar: democracia nunca foi apenas uma questão de votos ou de eleições. Historicamente, o sufrágio universal e a escolha de representantes por meio do voto nem sempre foram considerados mecanismos democráticos — pelo contrário, a eleição era muitas vezes vista como um método aristocrático, destinado à seleção dos “melhores”. Medidas para banir extrema direita não bastamO que importa aqui é o núcleo constante da ideia de democracia: a igualdade. É isso o que está em jogo quando forças extremistas tentam capturar o aparato eleitoral para fins autoritários. Mas então essas medidas para banir a extremadireita bastam? Evidentemente, não. Impedir a participação da AfD, de Le Pen ou de candidatos extremistas em eleições pode ser necessário — mas não é suficiente.É preciso perguntar por que esses grupos têm, afinal, tanta força eleitoral. Nesse ponto, os defensores da democracia liberal também precisam fazer sua autocrítica. É preciso entender que a força da extrema-direita vem da crescente insatisfação de cidadãos precarizados, desamparados, angustiados.Cidadãos que percebem que, em sua forma atual, a democracia liberal não tem sido capaz de oferecer respostas convincentes aos dilemas contemporâneos. Nesse sentido, é preciso não apenas conservar a democracia, mas reconstruí-la em novas bases.Se a extrema direita impõe riscos concretos, não basta a democracia defensiva, é preciso uma democracia ofensiva — capaz de agir, disputar, transformar. Uma democracia que recupere e atualize seu princípio mais fundamental: a igualdade.É apenas com mais igualdade — e mais inclusão — que talvez se encontre, enfim, uma resposta à altura.
A maioria dos católicos franceses, praticantes ou não, ficou agradavelmente surpresa com a escolha do americano Robert Francis Prevost para comandar a Igreja neste momento de guerras ao redor do mundo e incertezas sobre o futuro. Devido ao sobrenome de origem francesa, o papa Leão XIV está sendo considerado por genealogistas "o mais francês dos papas estrangeiros". O perfil multicultural do novo chefe da Igreja Católica, nascido em Chicago (EUA), de mãe espanhola, pai franco-italiano, e ainda moldado pela longa experiência missionária no Peru – e nacionalidade peruana –, foi acolhido com otimismo. Reportagens realizadas nesta quarta-feira (9) em igrejas e escolas católicas, em várias cidades francesas, mostram que a maneira como ele se apresentou ao público, no Vaticano, agradou.O novo líder dos católicos apareceu no balcão central da Basílica de São Pedro com uma fisionomia serena, sorridente, mas ao mesmo tempo visivelmente emocionado. Já na primeira frase, ele falou de paz, gerando muita empatia com o público. Os franceses gostaram de ouvir que ele irá atuar para "construir pontes" de diálogo, em busca de "justiça e paz". Nesta quarta, Leão XIV celebrou a primeira missa de seu pontificado, apenas para os cardeais que o elegeram. Na homilia, ele lamentou o "declínio da fé", preterida em favor de "outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer". Para os praticantes que seguem o evangelho, acreditam na fraternidade e rejeitam o individualismo, esse discurso faz sentido. O jornal católico La Croix, bastante respeitado no país, afirmou em seu editorial que ao levar esse religioso americano de 69 anos para a chefia da Santa Sé, "os cardeais confirmaram a escolha de uma Igreja aberta, multicultural, globalizada e mais do que nunca comprometida com sua doutrina social", em continuidade à abertura iniciada pelo papa Francisco. A maioria dos católicos franceses quer que o pontífice americano continue trabalhando nessa direção. Ancestrais francesesPrevost é um sobrenome de origem francesa bastante comum. Com isso, o papa Leão XIV está sendo considerado "o mais francês dos papas estrangeiros". Desde ontem, genealogistas começaram a pesquisar os ancentrais do novo chefe da Igreja e acharam muitas informações. Apesar dele ter nascido nos Estados Unidos e do avô paterno ter origem italiana, a maior parte da família da avó paterna vem do noroeste da França, principalmente da Normandia. Segundo o genealogista Jean-Louis Bocarneau, que disse ter passado cinco horas na última madrugada pesquisando a árvore genealógica de Leão XIV, o papa tem ancestrais pelo lado materno que foram sapateiros em Nova Orléans, mas provenientes do oeste da França. Existe ainda uma ramificação da família em Marselha, no sul, e parentesco com alguns famosos. Leão XIV seria um primo distante da atriz Catherine Deneuve e do escritor Albert Camus. Desafios do pontificadoEspecialistas no Vaticano e católicos dizem que um dos maiores desafios de Leão XIV será a unificação da Igreja, impactada pelas divisões internas entre ultraconservadores, conservadores e progressistas. A polarização aumentou durante o pontificado de Francisco, e Leão XIV precisará encontrar maneiras de promover a unidade sem abandonar o legado de abertura do papa argentino.O La Croix traz uma lista de 12 trabalhos do papa Leão XIV, como se fossem os 12 trabalhos de Hércules, que envolvem, entre outros questionamentos, o lugar de mulheres e laicos na Igreja, uma abertura iniciada por Francisco em cargos administrativos, mas considerada insuficiente. Questões de ética sexual e familiar, como o acolhimento de famílias homoafetivas na Igreja e o enfrentamento dos escândalos de abusos sexuais, continuam muito sensíveis.Leão XIV precisará se posicionar sobre questões globais, como as mudanças climáticas, guerras, migrações e a pobreza extrema. Reafirmar os laços entre o Cristianismo e o Judaísmo, mantendo um posicionamento equilibrado sobre o conflito na Faixa de Gaza. Como pontífice americano, Leão XIV terá de ser cuidadoso com o presidente Donald Trump e com seu vice JD Vance, que ele criticou publicamente nas redes sociais antes de ser eleito. Outro dossiê urgente é sanear a crise financeira no Vaticano, que teria registrado um déficit de € 87 milhões (€ 554 milhões) no ano passado, segundo estimativas não oficiais. As receitas estão em queda há vários anos e existe um problema crônico de má gestão na Santa Sé, que o papa Francisco começou a tratar, mas não resolveu totalmente.
1752 - Guerras de Religião na França - Profa. Dra. Laura Palma
O Senado francês aprovou na quinta-feira (3) um novo projeto de lei contra as violências sexuais e sexistas, que menciona, pela primeira vez, a noção de “controle coercitivo” que se refere a tipos de abusos emocionais em um casal. O texto suscita um debate na França sobre um tipo de agressão considerada o ponto de partida para feminicídios. Daniella Franco, da RFIOs senadores franceses aprovaram por unanimidade o texto que tem por objetivo reforçar a luta contra as violências sexuais e sexistas. O projeto de lei, de autoria da deputada Aurore Bergé, do partido governista República em Marcha, foi criado na esteira do julgamento da francesa Gisele Pélicot, sedada e abusada pelo marido e por dezenas de desconhecidos que ele recrutava na internet. Já a emenda relativa ao controle coercitivo foi adicionada por iniciativa da deputada centrista Sandrine Josso, vítima de submissão química por parte de um senador francês, Joel Guerriau, em 2023.Apesar da sensibilização da opinião pública sobre a questão, e do apelo de organizações feministas e especialistas em violências domésticas, os senadores retiraram do texto o termo “controle coercitivo”, mantendo apenas a definição deste tipo de abuso. Desta forma, o novo projeto de lei prevê punir “comportamentos repetitivos que tenham como objetivo (…) restringir gravemente a liberdade de ir e vir da vítima”, através de “ameaças ou pressões psicológicas, econômicas ou financeiras”.Os senadores consideram que o conceito sociológico do controle coercitivo é “evolutivo” por natureza, o que pode complicar a interpretação da legislação. Por isso, o Senado francês preferiu não considerar esse tipo de violência como uma infração autônoma. No entanto, ele cita os tipos de abusos emocionais que podem ocorrer em relações conjugais e que são passíveis de punição.As penas previstas no novo projeto de lei para essas agressões vão de três anos a cinco de prisão e entre € 45 mil e € 75 mil de multa (equivalente a R$ 285 mil e 480 mil). O texto ainda volta para a Assembleia de Deputados para uma última leitura antes de ser promulgado e virar lei.Controle coercitivo: conceito que data dos anos 1950Há várias formas de definir o controle coercitivo, que dizem respeito a uma série de táticas que um agressor exerce sobre a vítima, com o objetivo de isolar, degradar, humilhar e ameaçar. Esse abuso psicológico pode ocorrer em diversos tipos de relações, mas é muito mais recorrente em casais.A expressão “controle coercitivo” foi criada em 1957 nos Estados Unidos pelo pesquisador em psicologia social Albert Biderman, para descrever métodos usados com prisioneiros americanos durante a guerra da Coreia. Alguns anos depois, a ideia começou a aparecer na literatura feminista dos anos 1970. Mas a noção de controle coercitivo em relações conjugais abusivas só se tornou uma teoria em 2007, com o sociólogo americano Evan Stark, especialista no combate às violências domésticas.Estudos mostram que o controle coercitivo é a porta de entrada para outras agressões em relações conjugais. A psicóloga e pesquisadora francesa Andreea Gruev-Vintila, defende que esse tipo de abuso é “o precursor de feminicídios, suicídios forçados e de homicídios de filhos e filhas”.Em entrevista à France Info, a advogada Pauline Rongier, especialista em violências contra as mulheres, acredita que a inserção do conceito de controle coercitivo na lei permitirá à sociedade conhecer melhor o fenômeno e às vítimas a se darem conta mais rapidamente desse abuso para poderem agir de forma eficaz.Atualmente a França conta com 271 mil vítimas de violências domésticas, segundo um balanço do jornal Le Monde publicado nesta semana: 85% delas são mulheres. No ano passado, o país registrou ao menos 92 feminicídios. Em 9 de cada 10 assassinatos de mulheres por maridos, companheiros ou namorados, a situação de controle coercitivo já existia antes da morte.Países pioneiros na criminalização do controle coercitivoA Inglaterra e o País de Gales foram os primeiros a criminalizar o controle coercitivo, em 2015. Depois foi a vez da Escócia, em 2018. Nos Estados Unidos, Havaí e Massachusetts inscreveram o controle coercitivo em suas legislações, em 2020 e 2024, respectivamente. A Austrália também conta com dois estados que punem por lei esse tipo de abuso desde o ano passado, New South Wales e Tasmânia.Na Europa, a Bélgica também inseriu a noção do controle coercitivo em sua lei contra as violências sexuais e sexistas, mas sem considerá-lo um delito autônomo.Apesar de os britânicos terem sido pioneiros na questão, o combate ao controle coercitivo no país ainda deixa a desejar, com poucas condenações por esse motivo. Na Escócia, apenas 6% dos casos relacionados à violência doméstica são processados com base nele.
Depois de registrar quedas consecutivas nas vendas na Europa, agora o aumento da oferta de veículos usados Tesla em plataformas de revenda é mais uma amostra de um fenômeno que os analistas do mercado acompanham desde meados de 2024. A cotação da marca de Elon Musk no continente não para de baixar. Na França ou no Reino Unidos, o número de anúncios de usados disparou. Na principal plataforma francesa, La Centrale, a alta foi de 40% no primeiro trimestre no ano, na comparação com o mesmo período de 2024, reporta o jornal Le Parisien.Outros sites de revenda por particulares ou profissionais, como Leboncoin e Aremisauto, também registram aumento de modelos Tesla postos à venda, com preços em queda. Na Inglaterra, a plataforma Gummtree verificou uma alta ainda mais impressionante dos anúncios em um ano, de 128%. Ao mesmo tempo, os números mais recentes da Associação de Fabricantes Europeias de Automóveis constatam que as vendas de Tesla novos despencaram 49% no bloco europeu em janeiro e fevereiro, no período de um ano – e apesar de a comercialização de veículos elétricos em geral ter subido 28% no continente.A entrada de Elon Musk na política e as derivas extremistas do CEO explicam parcialmente essa rejeição, mas o declínio da marca começou antes, ressalta Tomaso Pardi, diretor da rede internacional de pesquisas no setor automotivo Gerpisa, ligado à prestigiosa Paris Saclay.“É preciso ter em mente que o pior inimigo de um carro novo é um carro usado. Para poder diferenciar um do outro, é necessário se renovar sem parar, oferecer novidades, ampliar a oferta para atender a uma demanda que cresceu. Os chineses estão fazendo exatamente isso, a uma velocidade exponencial. Eles lançam novos modelos a cada dois anos, e a Tesla continuou focada em apenas dois modelos, basicamente, o Y e o 3”, aponta.“Isso tudo me lembra quando a Ford foi superada pela General Motors nos anos 1920: temos um pioneiro, mas se ele não se renova suficientemente rápido e se banaliza, a sua participação no mercado pode baixar muito rápido”, afirma o especialista.Impactos a médio prazoOs proprietários buscam se desfazer da mais badalada fabricante de veículos elétricos num momento em que ataques contra os Tesla se multiplicam em diversas cidades europeias. Carros foram queimados em concessionárias ou em plena rua em Toulouse e Deux Sèvres, na França, e em Berlim e Dresde, na Alemanha, nas últimas semanas – em uma repetição na Europa de ataques que começaram nos Estados Unidos.O parisiense R. aderiu à marca em 2023. Coberto por seguro, o pai de família afirma não temer um ataque – mas tem receio do impacto negativo das posturas políticas de Elon Musk sobre a confiança na empresa. Apesar de gostar do veículo, R. pensa seriamente em passar o carro adiante.“Nós pensamos muito e o que nos impede hoje é o preço. Se quiséssemos vendê-lo hoje, provavelmente perderíamos dinheiro. Estamos sem opção, inclusive porque ainda não tem um modelo equivalente no mercado europeu”, alega o cliente. “Quando vejo o último Renault 5, que no papel parecia ser bom, mas que logo depois de sair já teve um recall, ou quando vejo os crossover urbanos que não tem nada a ver com o que eu gosto, percebo que os fabricantes europeias não estão reagindo muito bem neste setor de mercado.”Oferta europeia As fabricantes europeias têm a vantagem de oferecer uma ampla gama de veículos híbridos, que se mostram atraentes para os clientes neste período de transição para a eletrificação. Mas este é justamente o setor em que os chineses também são agressivos. Os aumentos de impostos de importação aplicados na UE no ano passado têm surtido efeito na competitividade, mas o atraso na concepção dos modelos ainda é flagrante, avalia o analista automotivo Guillaume Crunelle, da Deloitte."Hoje, em toda a parte digital, os concorrentes da Ásia ou dos Estados Unidos continuam claramente na frente dos construtores europeus. Por outro lado, os objetivos da UE estão postos, os investimentos estão aí e, pouco a pouco, as marcas europeias fabricam veículos cada vez mais competitivos em termos de oferta tecnológica e eficiência elétrica", diz o analista."O problema é que estamos em uma fase de compensar o atraso, mas os concorrentes não demonstram nenhuma intenção de parar de inovar", adverte. É uma corrida contra o relógio entre as fabricantes históricas e aqueles que estão construindo o automobilismo de amanhã."A principal concorrente da gama Tesla no mercado europeu é a fabricante chinesa BYD – que, em 2024, pela primeira vez, superou a montadora americana nos países da União Europeia. O cliente R. considera a versão chinesa inferior – mesmo assim, ele diz ter certeza que, quando chegar a hora de trocar de carro, não comprará outro Tesla. “Nós ficamos muito em dúvida, mas hoje tenho certeza que não, a menos que tenha alguma mudança no comando da Tesla. Isso ainda pode acontecer, e foi o caso antes da chegada de Musk, aliás. Mas hoje, com ele no comando e essa visão ultraprotecionista americana dele, é certo que o nosso próximo carro não será da marca”, complementa o parisiense.Para o pesquisador Tomaso Pardi, a crise na Tesla parece ser conjuntural, mas pode rapidamente se transformar em estrutural. “É claro que, enquanto empresa e no interesse dos seus acionários, seria melhor trocar de CEO e se dissociar de Elon Musk, mas não sei se isso um dia poderá ocorrer”, indica.
O episódio que abre a 6ª temporada do podcast traz uma conversa com Felipe Ramos Neves, responsável pelo escritório em São Paulo do Campus France Brasil, agência governamental dedicada à promoção do estudo superior na França, presente em mais de 120 países.Felipe conta como o Campus France pode ajudar brasileiros interessados em estudo superior no país europeu, seja para intercâmbio ou para ingresso em cursos de graduação, mestrado ou doutorado por lá. A agência francesa presta aconselhamento na escolha da universidade, ajuda no processo de obter o visto, nas candidaturas a vagas na universidade e também a bolsas de estudo. Ouça o episódio e se quiser saber mais, acesse o site www.bresil.campusfrance.org ou envie um e-mail para saopaulo@campusfrancebrasil.com.br.Siga também o Campus France Brasil no Instagram: @campusfrancebrasil.
"Antes eu acreditava em uma só espécie: a minha. Mas me decepcionei ao descobrir que somos atrozes, violentos, horríveis, que estamos nos destruindo e a nosso planeta. Descobri também que faço parte de um universo enorme de espécies, e que se a minha desaparecer, não há problema". A frase é do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, homenageado desde o dia 1° de março com uma grande retrospectiva com 166 de suas obras no centro cultural Les Franciscaines, em Deauville, na França. "Descobri que sou parte de tudo isso", insistia Sebastião Salgado, 81 anos, na abertura da grande exposição Sebastião Salgado: Obras da Coleção da MEP, que homenageia não apenas suas séries icônicas de fotografias em preto e branco, mas também sua vida e seu olhar às vezes terno, às vezes dramático, e muitas vezes crítico sobre o mundo. O evento destaca um trabalho de mais de 40 anos percorrendo os quatro cantos do planeta, que resultou em trabalhos como "Exôdos" (1993-2000), sobre as grandes migrações humanas, "Gênesis" (2004-2011), sobre a natureza intocada do planeta, ou "A Mão do Homem" (1986-1992), sobre os trabalhadores, a precarização do trabalho artesanal e as grandes transformações do mundo industrial.A retrospectiva, que faz parte do calendário de comemorações oficiais do ano do Brasil na França, conta com a parceria da Maison Européenne de la Photographie (MEP), entidade que apoiou o fotógrafo brasileiro desde o início de sua carreira, quando trocou a formação de economista em Londres pelas lentes que imortalizariam grandes momentos da humanidade, dos animais e da natureza."Não sou um ser que domina o que está em volta, eu sou parte de tudo isso, dos minerais, dos vegetais", diz, Salgado, quando perguntado sobre o que aprendeu ao realizar a série "Gênesis", que ele afirma ter "reacendido sua esperança na vida e no planeta"."Todos os minerais têm uma inteligência inacreditável, assim como os vegetais. Uma vez fotografei uma árvore na Serra Nevada, nos Estados Unidos. Ela tinha sido parcialmente queimada, e cientistas que me acompanhavam me disseram que ela havia sido tocada pelo fogo de um determinado lado há mais de 1.500 anos. Incrível. Para ficar frente a um ser como esse é necessário muito respeito, e tempo para compreendê-lo, e para que ele possa compreender você também. Para que possamos fotografar a dignidade presente nesta árvore", argumentou um Sebastião Salgado emocionado, mas incansável durante a sequência de perguntas da imprensa internacional. "Não estou 100%"Integrante da Academia de Belas Artes da França desde 2017 e premiado pela Organização Mundial de Fotografia, em Londres, o fotógrafo surpreendeu o público presente no centro cultural Les Franciscaines, em Deauville, na região da Normandia, no norte da França, com um tom emocionado, pedindo "antes de tudo desculpas" e dizendo que não estava "100%". "Fui internado na semana passada num hospital em São Paulo para continuar um tratamento e volto na semana que vem para lá. É uma doença bem forte que eu adquiri há cerca de 15 anos trabalhando no projeto 'Gênesis', na Nova Guiné. Eu peguei malária e os médicos em Paris, no [tradicional hospital] Salpêtrière, me disseram que eu deveria descansar durante seis meses, porque a doença ataca o corpo inteiro, mas eu tive que desligar porque já estava no platô do Colorado", contou Salgado em francês, fazendo a audiência rir."Eu não pude interromper a excursão fotográfica, mas quando voltei a Paris, minha defesa imunológica despencou e eu desenvolvi uma infecção generalizada, tomando doses cavalares de antibiótico. Minha máquina de produzir glóbulos brancos e vermelhos se danificou para sempre. É uma espécie de câncer que adquiri, sou tratado por oncologistas", revelou. "Tomo medicamentos há 15 anos e isso ajuda um pouco, fiz toda a série na Amazônia assim, mas há duas semanas meu corpo começou a rejeitar o remédio e eu tive uma hemorragia no baço. Me desculpem, eu não estou nem com 50% da minha energia", disse Salgado, em meio a aplausos da plateia. O privilégio "enorme" de "estar vivo"Sebastião Salgado chegou a chorar ao lembrar de seus périplos pelo planeta, na abertura do evento, e ao celebrar colegas mortos durante sua trajetória. "O dia mais feliz da minha vida foi quando completei 80 anos... Simplesmente porque eu estava aqui. Eu não estava morto. Quantos amigos perdi, éramos todos amigos durante quatro anos em Goma [,na República Democrática do Congo], quatro fotógrafos foram assassinados, eu estava lá. Então para mim, estar vivo com 80 anos, é um privilégio enorme", confessou.Durante a coletiva, Salgado falou durante 25 minutos sobre suas experiências nos quatro cantos do globo. "Eu tive o privilégio de ir a esses lugares. Algumas vezes as pessoas me dizem que sou um artista, eu digo que não, que sou um fotógrafo. Porque vamos sozinhos a todas essas regiões do mundo, face a todos os problemas que vocês possam imaginar, todos os desafios, e temos dúvidas, questões éticas, de legitimidade, de segurança, e somos nós, fotógrafos, que devemos encontrar respostas para essas perguntas", testemunhou. O fotógrafo lembrou de quando perdeu parte da audição no Kuwait. "Foi quando houve a explosão em quase seiscentos poços de petróleo. Eu estava num barco, fotografando uma história para The New York Times. Eu me lembro que as tropas norte-americanas estavam lá, era a guerra contra Saddam Hussein. Foi um momento terrível e sublime da minha vida", destacou. "Terrível porque foi a maior poluição já vista, tinha dias que não víamos o sol. Era tão surpreendente, porque num determinado momento batia um vento, conseguíamos ver entre as nuvens e podíamos finalmente ver um raio de sol", contou. "Eram homens para mim heróicos aqueles que entravam no fogo do petróleo que tentavam tapar os poços. Havia um medo enorme de ser queimado vivo e o barulho que esses poços produziam era como trabalhar atrás da turbina de um avião", lembrou. "Quando fui embora do Kuwait, havia perdido mais da metade da minha audição", relatou Salgado.A "mão do homem" e as belezas intocadas do planetaA retrospectiva dos trabalhos em preto e branco do fotógrafo brasileiro na França resgata desde suas primeiras reportagens sobre os danos causados pela seca e pela fome na África (1984-1985), até seu trabalho sobre a condição dos trabalhadores imigrantes na Europa, passando na série "Outras Américas" (1977-1984), onde ele revisita a América Latina, com uma visão humanista e universal.Na sequência, a exposição mostra registros captados no final da década de 1980, quando Sebastião Salgado começa a trabalhar seus grandes murais fotográficos. "A Mão do Homem" (1986-1992) é uma homenagem ao trabalho manual e à condição humana. "Eu estudei geopolítica, antropologia, vi que nós estávamos chegando ao fim da primeira grande revolução industrial e que as máquinas inteligentes estavam substituindo o proletariado em toda linha de produção, que os robôs estavam substituindo o homem", declarou em entrevista à RFI em Deauville. "Eu resolvi fazer um retrato da classe trabalhadora antes que ela desaparecesse, e fiz. Minha formação [em economia com ênfase social] me permitiu ver o momento histórico que eu estava vivendo e fotografando", sublinhou."Mas eu pude ver que uma outra maior revolução estava acontecendo. Que o fato da gente estar terminando um tipo de indústria nessa parte sofisticada do planeta, não significava que ela estava acabando, mas se transferindo para a China, para o Brasil, a Indonésia, o México, esses grandes países em território e população. Trabalho barato, mão de obra barata", atestou Salgado.Com "Êxodos" (1993-2000), Salgado documenta os grandes movimentos populacionais ao redor do mundo, relacionados aos conflitos e à pobreza resultante das transformações econômicas que abalam a nossa época. "Eu fui atrás dessa reorganização da família humana que estava acontecendo no mundo. Durante seis anos eu fotografei o que se transformou no livro "Êxodos". "Então essa minha herança visual, histórica, essa minha formação que permitiu me situar. Não que eu seja um militante, não que eu quis fazer coisas diferentes dos outros, mas o que eu fiz, eu fiz com uma certa coerência política", definiu Salgado à RFI.Por fim, "Gênesis" (2004-2012), fruto de oito anos de expedições épicas pelos quatro cantos do globo, mostra a beleza de nosso planeta e permite descobrir paisagens, animais e seres humanos que até então haviam escapado à pressão do mundo contemporâneo. "Cerca de 47% do planeta Terra continua intacto", sublinhou o fotógrafo, feroz opositor ao acordo bilateral entre a União Europeia e o Mercosul. "A Europa quer nos vender produtos industrializados a baixo custo em troca de insumos agrícolas baratos, mas sabemos que as terras cultiváveis que restam no Brasil são indígenas, e deveriam ser preservadas", martelou.O inferno do genocídio em Ruanda"Foi a coisa mais dura que eu vivi na minha vida", disse Sebastião Salgado sobre o genocídio em Ruanda, entre abril e julho de 1994, quando aproximadamente quase 1 milhão de pessoas, a maioria da etnia tutsi, foram brutalmente assassinadas por extremistas hutus. "Não era fácil chegar num campo de refugiados e ver morrer por dia cerca de 20 mil pessoas, com um grande trator que escavava buracos enormes no chão para depositar os cadáveres. Era tão insuportável que cheguei a ficar doente", relatou.Consultado pelo médico indicado por Cartier-Bresson, amigo da família, Salgado conta que o especialista disse que seu corpo "estava perfeito" e que "ele estava morrendo em Ruanda". "Foi quando fomos como Lélia [Wanick Salgado, esposa e parceira do fotógrafo] e os meninos para Trancoso, na Bahia onde alugamos uma casa. Nesse momento, meus pais decidiram nos doar a fazenda onde nasci. Foi quando eu tomei a decisão de abandonar a fotografia. Eu tinha vergonha de ser fotógrafo, porque até então eu havia fotografado apenas uma espécie, a nossa. Então tomei a decisão com a Lélia de me tornar fazendeiro. Começamos a plantar, mas uma enorme chuva destruiu um morro que meu pai havia feito no terreno, matando um riacho onde eu nadava na infância. Lélia me disse então: 'vamos abandonar tudo, vamos pegar essa terra e replantar a floresta", lembra, rememorando as origens do Instituto Terra, que já restaurou cerca de 709 hectares de Mata Atlântica e plantou mais de 2,7 milhões de árvores nativas no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais."Céus dramáticos de Minas Gerais""Se você colocar 300 fotógrafos em um evento, você vai ter 300 fotografias diferentes, porque você só fotografa com a sua herança, com tudo que está dentro de você. As minhas fotografias têm séries, céus dramáticos, carregados. Isso vem de onde eu nasci, vem da chegada da época de chuva naquelas montanhas de Minas Gerais que meu pai me levava para ver... no pico mais alto da nossa fazenda, pra se chegar àquelas nuvens incríveis, para ver o raio de sol passar através dessas nuvens, ver a chuva. Então aquelas imagens ficaram em mim", diz o fotógrafo."Memória da sociedade""Cada vez que você aperta no botãozinho da câmera e faz uma imagem, você faz um corte representativo do planeta naquele momento, e você só o faz naquele momento. Precisa ter a realidade em frente para essa imagem existir, para ela ser vista como fotografia, senão ela vai ser vista como um objeto criado como um artistismo, mas não como fotografia. Fotografia é a memória da sociedade" rebate o fotógrafo."Fotografia é a memória, e a memória tem que existir. E a memória só pode ser feita através da realidade. Uma ficção não pode criar memória, então eu acho que a fotografia jamais perderá sua função", insiste. "Eu não estou querendo tirar o lugar da inteligência artificial. Eu acho que ela vai fazer coisas fantásticas, talvez até melhor do que a gente. Com a nossa inteligência normal o que nós fizemos foi destruir o planeta, fizemos guerra, fizemos violência. Talvez uma inteligência artificial seja realmente inteligente para levar a gente em outra direção", diz."Eu não sou contra a inteligência artificial, mas fotografia mesmo, só é fotografia. Quando você pega a fotografia que você faz no telefone celular, isso não é fotografia. Isso é uma linguagem de comunicação por imagem, mas que não tem nada a ver com a memória", ressalta. "Eu acho que o inteligência artificial não vai mudar absolutamente nada na fotografia porque a inteligência artificial só pode criar a partir do que já existe. Pode imaginar, transformar, mas a fotografia é outra coisa", conclui Salgado.A retrospectiva Sebastião Salgado: Obras da Coleção da MEP fica em cartaz no centro cultural Les Franciscaines, em Deauville, até o dia 1° de junho de 2025.
Depois de uma primeira edição de sucesso ano passado, a Expo Favela Innovation repete a dose em 2025 em Paris com expectativas de maior visibilidade, mais patrocínios e apoiadores. Nesta terça-feira (4), o projeto foi lançado oficialmente pela Cufa France que anunciou o foco da segunda edição do evento na bioeconomia, de olho na agenda climática global e na COP 30, que acontecerá este ano em Belém. Além disso, o evento é parte das programações do ano cultural do Brasil na França. Luiza Ramos, da RFIA feira Expo Favela Innovation, em sua segunda edição internacional agendada para os dias 4 e 5 de julho, dá mais um passo para se firmar na cena cultural parisiense. As palestras de lançamento nesta terça-feira (4) contaram com depoimentos de participantes da versão anterior. Para a diretora da Central Única das Favelas na França (Cufa France), Karina Tavares, o aumento da credibilidade da Expo Favela na Europa vem dos testemunhos dos empreendedores vencedores do ano passado que perceberam maior visibilidade, além de abertura de caminhos para eventos e até financiamentos para seus negócios. “E isso a gente constrói baseado no que foi criado no Brasil. Baseado nessa visão que teve o Celso Athayde (fundador da Cufa no Brasil), a Cufa e a Expo lá no Brasil, de começar a consolidar uma família de empreendedores que vêm das periferias da França. Para esse ano, então, a gente está mais forte, com três patrocinadores a mais e foco em bioeconomia, porque é ano de COP e a gente sabe que é prioridade para o Brasil e para o mundo”, considera Karina Tavares. Segundo ela, nesta edição, a bioeconomia não se resumirá somente em gerenciar recursos econômicos respeitando os ecossistemas: “A gente vai falar de racismo climático e de justiça climática. A gente sabe que as pessoas que moram em territórios vulneráveis estão nas primeiras linhas de combate quando tem muito calor ou quando tem uma chuva. Os primeiros que sofrem vão ser mulheres no Brasil, são negros e pessoas que moram em favelas. A Cufa, nesse ponto, sempre foi visionária e a gente está então trazendo essa mentalidade, essa visão que é realmente uma metodologia. Esta é a primeira e única feira exportada na Europa do Brasil e ela vem da favela, então assim, é um golaço”, comemora a diretora em entrevista à RFI. Valorização maior na FrançaO crescimento do Expo Favela também se dá pelo espaço disponibilizado para evento de 2025. Os expositores e artistas participantes terão uma área cinco vezes maior, no Teatro da Concórdia, na nobre zona dos Champs-Élysées. Algo celebrado pelo diretor artístico do Expo Favela Innovation, Daniel Nicolaevsky, por ser “uma estrutura da cidade de Paris”.“A gente está sendo mais valorizado, a gente está com muito mais espaço, porque o teatro é realmente muito grande, tem várias salas, tem uma sala de 600 lugares, tem uma sala de cinema, tem uma sala de stand up, tem um espaço exterior. Nós temos a mesma quantidade de empreendedores, mas nós vamos ter mais espaço. Nós vamos ter mais artistas também, estamos trabalhando com galerias de artes, com centro de arte, para pegar alguns artistas que estão sendo apresentados durante a temporada France-Brésil (ano do Brasil na França) para nós termos mais vozes. É um evento brasileiro que está ocupando um espaço público do lado da Avenida Champs Elysées, em Paris, então realmente a gente está subindo bastante de nível”, pontuou Daniel, que nasceu na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. “Sendo eu um artista que nasceu numa favela no Brasil, escrever ‘favela' em frente a um teatro em Paris e fazer essa ocupação total já vai ser incrível”, antecipa Daniel Nicolaevsky.O diretor artístico também conta detalhes da produção 2025, que terá a moda como um dos ramos prioritários: “A gente tem esse projeto muito em parceria com Casa 93, que nasceu no Brasil pela Nadine Gonzalez. E nós vamos colocar em honra a moda e a indústria têxtil africana e brasileira, com essa ponte francesa no evento. Nós vamos colocar em honra a Amazônia também”, destaca o diretor. Ele acrescentou que peças poderão ser divulgadas a partir de maio.Leia tambémFloresta desmatada para abrir avenida: obras em Belém para a COP30 falham na sustentabilidadeQuestões sociais vistas de pertoNadine Gonzalez, diretora da Casa 93, em Saint-Denis, coletivo de formação em moda que nasceu de seu desejo que trazer a cultura brasileira para a periferia francesa depois de 12 anos morando no Rio de Janeiro, também falou sobre o projeto de criação de moda que será apresentado no Expo Favela por seus alunos, em criação conjunta com Daniel Nicolaesvsky e Rafaela Pinah, diretora de arte carioca. “Este ano é um pouco maior, porque é um projeto de nove meses, são mais ou 300 horas de sessões para criar essa coleção coletiva entre diferentes alunos da Casa93, que eles nem se conhecem todos, porque eles vêm de várias turmas diferentes, assim como os alunos do Brasil de várias turmas também. Essa vai ser uma coleção eco responsável, porque o foco é o upcycling”, diz ela, fazendo referência ao reaproveitamento de materiais e citou como exemplo o artesanato com latinhas de alumínio, muito comum nas periferias do Rio. Segundo ela, o primeiro passo vai ser apresentar em julho no Expo Favela, e em seguida o projeto completo será apresentado em novembro no Brasil, no Rio de Janeiro. Para o diretor artístico do Expo Favela Innovation, Daniel Nicolaesvsky, existe uma grande importância de situar as populações ribeirinhas nas produções deste ano. “A gente está trazendo esse diálogo que os ribeirinhos e as casas de palafitas, que também são uma forma de favela e que precisam ter uma atenção muito delicada, porque a mudança climática transforma esses lugares num lugar de urgência. Então nós temos que olhar para esses lugares muito atentivamente e muito com muito cuidado”, alerta. 2025: ano cultural Brasil-FrançaA comissária Geral do Ano Cultural Brasil-França 2025, Anne Louyot, também esteve no lançamento da segunda edição da Expo Favela de Paris e confirmou à RFI que a Expo Favela Innovation de Paris é um dos projetos da programação do Ano cultural franco-brasileiro, que segundo ela, deve ser lançado ainda em abril para duas temporadas de quatro meses de cada lado do Atlântico, entre os meses de maio de dezembro de 2025.“Temos dois projetos no âmbito da temporada Brasil-França. Dois projetos cruzados; um projeto durante o momento brasileiro na França e um projeto durante o momento no Brasil, são um projeto no âmbito da moda, com a Cufa e a Casa 93, e o segundo projeto no âmbito da gastronomia na Expo Favela Minas, então em Belo Horizonte, com Cufa Minas. Vão ser convidados vários chefes franceses também das periferias”, disse Anne Louyot.“E vamos desenvolver vários projetos para preparar a COP 30, por exemplo. Vamos organizar em Belém, no final de agosto, na abertura da temporada francesa no Brasil, um grande fórum científico franco-brasileiro, com todos os centros de pesquisa franceses e brasileiros que trabalham a questão do meio ambiente, especialmente na Amazônia”, revelou a comissária. As inscrições para selecionar 40 empreendedores de bairros populares franceses para participar da Expo Favela Innovation estão abertas até 10 de maio no site expofavela.fr
Nos Estados Unidos, a gripe aviária matou 15% das galinhas poedeiras nos últimos quatro meses, fazendo o preço dos ovos no atacado subiu 255%. Tem ainda:- Trump anuncia taxa de 25% sobre importações da UniãoEuropeia, principalmente setores como o automobilístico- 46 pessoas morreram e mais de uma dezena ficaramferidas pela queda de uma aeronave militar em uma área residencial em Cartum, capital do Sudão- Médicos Sem Fronteiras suspendem todas as atividadesno Sudão, dias após líderes do grupo paramilitar RSF assinarem um documento para formar um governo paralelo no país- Na França, começou nesta semana o maior julgamento de abuso infantil da história do país. O ex-cirurgião Joel Le Scouarnec, admitiu ter abusado de 299 crianças, entre 1989 e 2014- Pela primeira vez em uma década, Coreia do Sul registra aumento no número de nascimentos Sigam a gente nas redes sociais Instagram mundo_180_segundos e Linkedin Mundo em 180 Segundos Acompanhem os episódio ao vivo Youtube, Instagram ou Linkedin
A criação de uma memecoin pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o escândalo da ascensão e queda meteórica da criptomoeda Libra na Argentina, sob o estímulo do presidente Javier Milei, ilustram o fascínio de seus apoiadores libertários pelos criptoativos. Mas o crescimento desses ativos também atrai cada vez mais investidores tradicionais, enquanto algumas das criptos mais famosas se consolidaram e um número crescente de transações pode ser realizada apenas por blockchain, sem passar pelo sistema bancário tradicional. Bitcoin, Ethereum ou stablecoins: essas palavras entraram no vocabulário econômico nos últimos anos e ganharam um impulso inédito com a volta ao poder de Donald Trump. O republicano planeja transformar o país na “capital mundial” das criptos e deu a largada à flexibilização da regulação em vigor. Deseja, ainda, instaurar uma “reserva nacional de ativos digitais”, que poderia contar com fundos das reservas de ouro americanas.Resultado: pela primeira vez, o Bitcoin ultrapassou a cotação de US$ 109 mil, em janeiro. “Se olhamos a valorização dos criptoativos nos últimos anos, a começar pelo Bitcoin, que iniciou em 2009, e outros que se seguiram, vemos uma curva exponencial. Mas se olharmos com mais cuidado, precisamos considerar a volatilidade muito alta”, pondera o economista francês Quentin Demé, professor de finanças da Sorbonne e autor de “100 mots pour comprendre les cryptomonnaies” ("100 Palavras para Compreender as Criptomoedas", em tradução livre).“Em 2024, o Bitcoin começou o ano a US$ 50 mil, baixou a US$ 30 mil nos meses seguintes, ou seja, a 40% do seu valor. Na sequência, graças a algumas declarações de Trump, disparou a mais de US$ 100 mil”, resume o especialista, à RFI. Demé relembra que as criptomoedas emergiram sob o impulso de geeks para escapar do controle do sistema tradicional e reencontrar uma forma de liberdade total para as transações financeiras, sem custos, impostos ou sequer registros. Para esses usuários, as moedas são utilizadas pelos Estados para controlar as populações.Entretanto, na medida em que o sistema amadureceu, se tornou um investimento seguro para uma gama variada de interessados, mediante alguns cuidados. “Temos ainda essa ala das pessoas que se dizem libertárias e que, com as criptomoedas, querem se liberar dos bancos centrais, do FMI, etc. Não esqueçamos que elas fazem parte da população mundial”, afirma. “No entanto, uma grande maioria dos usuários fez essa opção como outra qualquer de investimento, para multiplicar as suas economias de uma maneira diferente das que existiam até agora.” Sétimo ativo mais valioso do mundoO economista observa que, apesar dos riscos da sua alta volatilidade, os investimentos em criptoativos já superaram o equivalente ao PIB de países como a França ou o Reino Unido. As criptos são hoje o sétimo ativo mais valioso do mundo – atrás do ouro ou da capitalização da Apple e da Microsoft, mas à frente da Meta.Na França, um a cada oito investidores dispunha de criptoativos em 2024, uma alta de 28% em relação ao ano anterior, conforme levantamento da Associação pelo Desenvolvimento dos Ativos Digitais, com o instituto Ipsos e a consultoria KPMG. Dimitri Yem, diretor-geral do Yem Patrimoine, na região parisiense, se especializou em aconselhar clientes afortunados no universo das criptos, em busca de diversificação patrimonial. Ele nota que, à medida em que as criptomoedas passaram a ser aceitas até no comércio, a confiança também cresceu.“Qualquer pessoa que possui criptos hoje pode viver quase totalmente à margem do mundo bancário tradicional. Ainda precisamos dos bancos, mas eu diria que 75% das nossas necessidades são cobertas sem os bancos, a menos que precisemos de empréstimo para um projeto imobiliário, por exemplo – embora até empréstimos possam ser feitos por criptos, e é bem simples”, explica.Países 'cripto-firendly'Desde novembro, a famosa loja de departamentos Printemps, em Paris, aceita pagamentos diretamente por carteira de criptos. Na União Europeia, Luxemburgo é o país que busca maior abertura para os criptoativos, além da Suíça, que não faz parte do bloco europeu.Os países mais “cripto-friendly” do mundo são as monarquias do Golfo e os Estados Unidos. Outros, ao contrário, buscam restringir este mercado, a começar pela China, mas também Bolívia, Egito ou Vietnã.Leia tambémCriptomoedas, a nova fonte de financiamento do Hamas
Dados do Centro Nacional de Referência dos Meningococos mostram um aumento dos casos de meningites e de outras infecções causadas pela bactéria no país, após o fim das medidas sanitárias adotadas durante a epidemia de Covid-19. Taíssa Stivanin, da RFI em ParisSegundo a agência de saúde francesa Santé Publique France, em 2023 foram notificados 560 casos de meningite meningocócica - um aumento de 72% em relação a 2022. Deste total, 44% estavam relacionados ao meningococo B, 29% ao W e 24% ao Y.Esta alta é preocupante, pois a taxa de mortalidade de uma meningite bacteriana é de 10%, mesmo com um tratamento adaptado. Em média, a cada cinco pacientes, um terá sequelas graves, como explica o clínico-geral Samy Taha, pesquisador do Centro Nacional de Referência dos Meningococos do Instituto Pasteur, em Paris. A doença, transmitida por gotículas e secreções do nariz e da garganta, como tosse, espirro e troca de saliva, ataca as meninges, três membranas que envolvem e protegem o encéfalo, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso central. Ela atinge em uma proporção maior bebês de menos de dois anos, adolescentes e idosos acima de 75 anos. De acordo com o pesquisador francês, o distanciamento social e o uso de máscaras durante a epidemia diminuíram, de forma geral, a circulação dos micróbios, incluindo as bactérias que causam as meningites. Houve também uma queda de 20% nas vacinações, que influenciaram a imunidade de parte da população. Cerca de 10% das pessoas carregam os meningococos nas vias respiratórias, lembra Samy Taha, sem desenvolver infecções, mas podem transmiti-los.Jovens retomaram vida normal mais rápido após a epidemiaA alta de casos na França após a pandemia de Covid-19 atinge principalmente adolescentes e se explica por várias razões, como a vida social mais intensa e a circulação entre populações de faixas etárias diferentes.“Há muitos fatores que entram em jogo. Mas é provável que, após o fim das medidas restritivas, as primeiras pessoas que retomaram a vida social, incluindo viagens ou outros grandes eventos, tenham sido os adolescentes e jovens adultos. É por isso que aumento de número de casos atingiu primeiramente essa faixa etária”, diz o pesquisador francês. Segundo ele, após a pandemia de Covid-19, outros sorogrupos de meningococos, antes raros no território francês, se tornaram mais frequentes nessa população. “Essa é a grande novidade. Depois do fim das restrições relacionadas ao Covid, houve um aumento importante das meningites relacionadas ao sorogrupo W e Y, principalmente na faixa etária entre 15 e 25 anos”. Como os dois sorogrupos provocam infecções graves, as autoridades de saúde francesas decidiram modificar o calendário e a recomendação vacinal na França. As novas regras entraram em vigor no dia 1º de janeiro. “O que mudou é que a vacina contra o sorogrupo C foi substituída pela tetravalente, que protege contra os sorogrupos A, C, W e Y. Ela será obrigatória, com uma dose aos seis e aos 12 meses", explica o pesquisador francês."A Alta Autoridade de Saúde também recomenda um reforço da vacina tetravalente para adolescentes entre 11 e 14 anos, e uma atualização no máximo antes dos 25 anos, com uma dose única. A vacina contra o tipo B, que era apenas recomendada, tornou-se obrigatória para os bebês, em três doses: aos três, cinco e 12 meses”, detalha. Antes, os bebês se vacinavam apenas contra o sorogrupo C, que hoje circula menos na França - apenas oito casos foram registrados em 2022. O sorogrupo B ainda é o mais comum e representa mais de 50% das infecções.Sorogrupos W e Y provocam infecções invasivas mais letaisSegundo Samy Taha, os sorogrupos W e Y provocam um número maior de infecções invasivas por meningococos consideradas “atípicas”, que são doenças diferentes das meningites. "Essas infecções, relacionadas aos sorogrupos W e Y, são mais letais e podem atingir o sistema digestivo e as articulações. São formas mais difíceis de serem diagnosticadas e, infelizmente, estão associadas a uma mortalidade maior, principalmente nas primeiras horas”. Ela destaca que a meningite é apenas uma das formas de infecções graves provocadas pelos meningococos, apesar de ser a mais frequente. “Este é um trabalho de sensibilização que deve ser feito junto à população e aos profissionais de saúde. É importante ter essa noção”. O pesquisador relembra ainda que é essencial também para pais e profissionais suspeitar de uma infecção invasiva diante de certos sintomas, que no início podem ser banais, como: pés e mãos gelados, febre alta, arrepios, intolerância à luz e ao barulho, dores musculares e nas articulações. Muitos vírus estão por trás desses incômodos, mas em função do estado geral do paciente, a infecção pelo meningococo não deve ser totalmente descartada. No caso da meningite, existem outros sinais de alerta mais específicos, como rigidez no pescoço, dor de cabeça forte, vômitos, confusão mental e sonolência também devem alertar. “As infecções invasivas causadas pelos meningococos são mortais sem tratamento. E mesmo se tratadas corretamente, com antibióticos e outros cuidados recebidos no Pronto-Socorro e nas UTIs, elas continuam apresentando uma taxa de mortalidade de 10%, com sequelas graves, neurosensoriais ou que levam a amputações. A melhor maneira de se proteger é a vacinação”, alerta Samy Taha.
Um seminário internacional realizado nesta quinta-feira (13), na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS), na região parisiense, visa trazer debates artísticos, antropológicos e sociais a partir da produção audiovisual contemporânea dos povos indígenas na América Latina. Em paralelo, a associação Autres Brésils organiza a exibição especial Caméra-Flèche, no sábado (15), que irá apresentar quatro curtas inéditos do cinema indígena brasileiro, com a presença dos cineastas Olinda Yawar Tupinambá e Ziel Karapotó. Luiza Ramos, da RFIO seminário internacional “Motyrõ: artes indígenas e cinema na América Latina” contou com a apresentação de projetos de pesquisadores e professores da França e do Reino Unido sobre povos originários da Bolívia, México e Brasil, que abriram os debates sobre o tema nesta quinta-feira, antes da exibição dos filmes.Esse é o primeiro seminário sobre a produção audiovisual indígena que Christian Fischgold, pesquisador e professor na EHESS desde 2023, organiza em conjunto com Jamille Pinheiro Dias, da Universidade de Londres, e a professora Lúcia Sá, da Universidade de Manchester. “Para debater sobre esse tema temos a presença de dois cineastas e artistas indígenas brasileiros que são: a Olinda Tupinambá e o Ziel Karapotó. São dois artistas jovens que participaram da última Bienal de Veneza representando o pavilhão brasileiro, são dois artistas com uma obra que dialoga com diversas questões acerca do colonialismo, de novas linguagens, de questões de gênero, de corpo e então são artistas realmente muito interessantes para falar com a comunidade acadêmica nesse evento”, diz Christian Fischgold. Nova geração de artistas indígenas “em todos os lugares”Olinda Tupinambá, artista, cineasta e jornalista, que faz parte da Rede Katahirine, uma rede audiovisual dirigida por mulheres indígenas, foca seu trabalho em questões ambientais. Ela, que é originária do sul da Bahia, detalhou à RFI a importância da atual visibilidade da produção audiovisual dos povos originários brasileiros, principalmente para indígenas da região Nordeste, que muitas vezes são desvalorizados, segundo ela, por não serem parte do biotipo do indígena amazônico.“Nós, povos indígenas, vivemos por muitos anos sendo vistos com o que as outras pessoas falavam sobre nós. Então existia um certo romantismo, de alguma forma coisa mais caricaturesca do que as pessoas esperam do que é indígena. E eu acho que quando a gente entende a importância dessa ferramenta, que é o audiovisual, a gente usa ela para mostrar quem nós somos e essa diversidade. Ao mesmo tempo, dizer que nós estamos em todos os lugares”, destaca Olinda Tupinambá.Para a jornalista, no Brasil ainda “é difícil para as pessoas entenderem a complexidade do que são os povos indígenas. Então existia sempre um olhar que era um olhar do colonizador sobre a gente. Muitas vezes preconceituoso, de que só existe indígena, por exemplo, na Amazônia. O meu trabalho também vem para descontextualizar e falar: nós somos indígenas do Nordeste e a gente está nesse contexto”, aponta. Olinda vê no audiovisual indígena “uma ferramenta de denúncia”, que se iniciou com a luta pela terra e hoje tem como prioridade a questão ambiental.Olinda Tupinambá apresentará no evento de sábado seu filme 'Ibirapema', feito para uma exposição de arte da Pinacoteca de São Paulo. A obra conta a história de uma mulher indígena que vivia num tempo mítico e ao comer carne humana é transportada para a cidade de São Paulo e tem seus primeiros contatos com a arte ocidental. “Eu costumo dizer que foi um filme divisor de águas na minha carreira de artista porque, de fato, foi a primeira vez que eu começo a trabalhar com essa questão de pesquisa de arte”, conta a documentarista. A sofisticação da arte indígena contemporâneaZiel Karapotó, que teve seu trabalho apresentado na última Bienal de Veneza em 2024, exibirá no sábado seu documentário ficcional ‘Paola', ao lado de sua colega Olinda Tupinambá e outros artistas indígenas convidados. Ele também contou à RFI sobre sua produção artística e suas influências. “Eu sou formado em artes visuais pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mas eu tive a oportunidade de transitar e trabalhar com muitas linguagens. Porque hoje eu tenho consciência que eu já nasci imerso. A gente já nasce cantando, dançando ali [na aldeia], imerso sobre nossas relações culturais, e hoje, eu entendo isso como arte, uma arte potente, uma arte realmente forte”, descreve.Karapotó, que também é artista plástico e realiza performances, comentou ainda sobre as novas ferramentas de artes integradas à produção indígena contemporânea, sobretudo no cinema. Para ele, a arte indígena vai muito além do artesanato tradicional, e faz refletir sobre diversas temáticas sociopolíticas que dizem respeito às comunidades originárias brasileiras. “A gente vem para romper esse lugar e esse entendimento do que é a arte indígena. A arte indígena é sempre colocada em um lugar muito rudimentar, no passado, do início da história da arte brasileira. E a minha geração vem mostrar que a arte indígena é orgânica, é sofisticada e é capaz de usar as novas linguagens e novos códigos a seu favor. Sempre mantendo códigos tradicionais, sua base tradicional e cultural”, sublinha o jovem artista.Intitulada 'Caméra-Flèche: Caminhos do cinema indígena no Brasil', a exibição de quatro curtas ocorre neste sábado, às 18h, no cinema L'Ecran de Saint Denis, que vende ingressos para a sessão que deve seguir com debates na presença dos diretores presentes.No programa: - Rami Rami Kirani - o poder transformador da ayahuasca nas mãos das mulheres Huni Kuin - Minha Câmera, Minha Flecha - a câmera como arma de luta e memória - Paola - uma jornada entre o documentário e a ficção no coração da amizade e das raízes Karapotó - Ibirapema - uma jornada poética entre a mitologia indígena e a modernidade urbana Christian Fischgold adiantou à RFI que um segundo seminário na temática das artes indígenas deve acontecer na EHESS ainda no primeiro semestre de 2025.
A França aprovou uma lei que proíbe a venda e a distribuição do cigarro eletrônico descartável no país. Há anos a Liga contra o Câncer e outras entidades médicas denunciavam os riscos para a saúde do consumo de vapes descartáveis de sabores variados, uma febre entre os adolescentes franceses. Mas a lei demorou para ser votada, devido ao lobby exercido pela indústria do tabaco na Europa. Na França, os adolescentes chamam o vape ou pod de "puff". Apesar das advertências sobre a alta e rápida dependência que esses produtos à base de sais de nicotina criam no fumante, o Senado francês só conseguiu aprovar sua proibição definitiva nesta quinta-feira (13).O projeto de lei francês passou por uma avaliação da Comissão Europeia, que aprovou globalmente os termos antes da votação final no Senado, mas recomendou excluir da lei francesa os cigarros eletrônicos recarregáveis, que continuam a ser vendidos nas tabacarias. Com essa legislação, a França se torna o segundo país no bloco europeu a proibir a venda do vape descartável, depois da Bélgica. O Reino Unido pretende proibir o comércio do produto até junho desse ano. O texto francês tem semelhanças com a regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), revista em abril de 2024 para incluir estudos recentes.A fórmula dos vapes descartáveis, com aroma de menta, morango ou chocolate, à base de sais de nicotina, um derivado muito mais concentrado que a nicotina tradicional, potencializa a absorção dessa substância pelo organismo. Por isso, causa uma dependência precoce e intensa, segundo os médicos. Em 2023, uma pesquisa feita pela Aliança Contra o Tabaco mostrou que 15% dos adolescentes franceses de 13 a 16 anos já haviam usado vapes descartáveis e, destes consumidores, 47% disseram que começaram, em seguida, a fumar cigarros convencionais ou passaram para os cigarros eletrônicos recarregáveis. Círculo viciosoReportagens realizadas nesta sexta-feira (14) em colégios da região parisiense, para repercutir a proibição da venda dos vapes, mostrou fumantes, principalmente meninas de 12, 13, 14 anos de idade, nervosas com a perspectiva de não encontrar o produto à venda num futuro próximo. Algumas contaram que, depois de ficarem dependentes do vape, passaram a fumar cigarros e maconha.O vape descartável irá sair das prateleiras das tabacarias francesas, mas a venda clandestina não deve desaparecer tão cedo. Os adolescentes que consomem o produto dizem que não compram o "puff" no comércio de rua por custar mais caro. Os preços por unidade variam de R$ 48,00 a R$ 120,00, dependendo do modelo. Os estudantes preferem se abastecer online ou com fornecedores pelas redes sociais por um preço mais em conta. O problema é que nessa relação, os adolescentes já são apresentados a outros produtos, como cigarros contrabandeados e maconha. O Comitê Nacional contra o Tabagismo (CNTC), uma associação independente, acredita que os fabricantes vão driblar a lei recém-aprovada e adaptar os vapes com aroma para aparelhos com um número limitado de recarga das baterias, para continuar atraindo os jovens ao consumo, uma vez que os aparelhos recarregáveis continuam autorizados. Essa indústria vive da dependência.Em média, 200 pessoas morrem por dia na França por doenças decorrentes do tabagismo.Problema de saúde pública e ambientalDurante os debates na Assembleia e no Senado, os parlamentares discutiram estudos que mostram que a alta concentração de sais de nicotina, e de outras substâncias tóxicas encontradas nas fórmulas líquidas dos vapes, como o mercúrio, causam aumento da pressão arterial e alterações no sangue, com risco de infarto e de derrame cerebral, infecções e lesões pulmonares, e câncer a longo prazo. É um produto nocivo, viciante, que depois de um certo tempo de consumo requer ajuda médica para parar.Além da questão de saúde pública, existe o aspecto ambiental, com as milhares de baterias à base de lítio que equipam esses aparelhos de uso único e acabam descartadas nas ruas e na natureza, causando poluição ambiental. Parlamentares ecologistas estiveram na iniciativa do projeto de lei. A ministra da Saúde e do Trabalho, Catherine Vautrin, disse que a aprovação unânime da lei pelos deputados e senadores demonstra "uma consciência coletiva" da necessidade de proteger os jovens. Mas falta um trabalho de polícia na cadeia de distribuição.Novo canabinoide sintético preocupa autoridadesA Agência Francesa de Medicamentos (ANSM) publicou um alerta na semana passada sobre os "sérios riscos para a saúde" provocados por um canabinoide sintético conhecido como "Buddha Blue" ou "Explode Crânio", como vem sendo chamado entre os franceses (PTC - Pète ton Crâne). Essa substância é vendida na forma líquida para inalação no cigarro eletrônico, que acelera seus efeitos. O usuário encontra o produto à venda nas redes sociais ou por meio de traficantes que rondam as saídas das escolas. Por enquanto, o consumo de "Buddha Blue" foi identificado nos arredores de escolas na região parisiense e no leste da França. O custo para um usuário frequente é de cerca de € 10,00, aproximadamente R$ 60,00, quatro vezes menos que alguns gramas de maconha. Os efeitos colaterais do "Buddha Blue" descritos pelos médicos são de arrepiar: alucinações, ataques de pânico, náusea, vômito, taquicardia, dor abdominal e no peito, problemas renais, amnésia, perda de consciência, convulsões, síndrome de abstinência. O monitoramento desse canabinoide sintético, iniciado em 2019, aponta 215 casos de intoxicação e uma morte na França. É mais um caso de fabricação e venda clandestina de um produto que imita uma droga e desperta a curiosidade dos jovens.
“Malu” é um pequeno grande filme. Pequeno mesmo, só o orçamento e o calendário apertado. Mas o primeiro longa de Pedro Freire, na verdade, é enorme, com atuações transbordantes, direção certeira e tudo mais de que precisa um grande filme. O filme fez sua estreia francesa nesta sexta-feira (7), no festival Regards Satellites que acontece em Saint Denis, na região parisiense. Patrícia Moribe, em ParisO filme conta os últimos anos da atriz Malu Rocha (1947-2013), mãe do cineasta, que fez carreira no teatro, trabalhando com nomes como Gianfrancesco Guarnieri, Plínio Marcos e Flávio Rangel. Ela estreou no palco em 1969, no Teatro Oficina, de José Celso Martinez Correa. Figurativamente, Malu Rocha nasceu e morreu no Oficina, pois seu velório também aconteceu no local icônico.“Foi um velório muito peculiar, com vinho, baseados de maconha”, relembra Freire. “Foi quase uma encenação, com o caixão dela no meio do palco com uma luz bem teatral e várias fotos da carreira dela espalhadas. A questão da maconha era importante para ela. Nem eu, nem minha irmã somos maconheiros, mas ela era muito maconheira. Então resolvemos no velório dela distribuir baseado para as pessoas. Foi uma festa muito bonita, muito pagã. E nesse velório eu pensei ‘cara, essa mulher precisa de um filme'. E aí passei alguns anos elaborando até conseguir escrever o roteiro.”“Malu” traz no elenco atrizes com trabalho sólido em teatro. Yara de Novaes, premiada atriz e diretora de teatro, com pouca passagem no audiovisual, faz o papel principal. Juliana Carneiro da Cunha, um dos grandes nomes do teatro francês (Théâtre du Soleil), faz a mãe, dona Lili. E Carol Duarte, que despontou no filme “A Vida Invisível de Euridice Gusmao”, de Karim Ainouz, é a filha Joana – que é, na verdade, uma personagem que é uma fusão do próprio diretor e de sua irmã, a atriz e diretora Isadora Ferrite.Freire conta que optou por atrizes de teatro porque buscava profundidade psicológica, de profissionais acostumadas a ensaios. “Foram três semanas de ensaio e três semanas de filmagem”, explica.Luminosa"Minha personagem é uma mulher maravilhosa, uma atriz brasileira, sobretudo de teatro, que nasceu na década de 40 e viveu o auge da sua profissão durante a ditadura militar", conta Yara de Novaes. "Ela compreendeu que o palco poderia ser também um lugar de luta. O filme tem um recorte temporal, que é o momento em que a Malu já está um pouco decadente, social e fisicamente, com o início de uma doença neurodegenerativa. Há um embate geracional muito interessante e profundo no filme, dela com a filha e a mãe. Malu foi uma mulher libertária e contraditória, maravilhosa, luminosa, intensa, insubmissa."“Malu” é o primeiro longa de Pedro Freire, apesar da bagagem de muitos anos trabalhando no cinema brasileiro. Ele dirigiu oito curtas e trabalhou em 17 longas de outros diretores em funções diversas: assistente de direção, diretor de casting e preparador de elenco, além de escrever roteiros.Freire apresentou a ideia à produtora Tatiana Leite há quase oito anos, pouco antes do desmonte da cultura brasileira na era bolsonarista. “Durante alguns anos, a gente ficou no desenvolvimento do roteiro. Ele escrevendo e eu dando feedback”, conta Leite. “E não tinha nenhuma perspectiva de captação – alguns estados, durante o caos total, tinham mantido uns fundos regionais, mas na época, o Rio estava parado e foi muito duro. Assim, é muito difícil passar o pires no exterior quando você não tem nada nacional para dar uma credibilidade – sobretudo sendo um primeiro longa-metragem”.Pouco dinheiro, muita garraO projeto saiu do papel após ganhar um edital da Rio Filme. Na sequência, Tatiana Leite foi atrás de parceiros. Com capital mínimo, a equipe foi se formando e as atrizes, se juntando ao projeto. “Eu fiquei muito impressionada com a força da Yara, da Carol e da Juliana. E também tem cenas tipo monólogo da Juliana, que todo mundo ficou de cara, a equipe inteira parada, hipnotizada por essa mulher”, relata a produtora. A estreia foi no festival de Sundance, nos Estados Unidos, seguido de outros no mundo todo, com muitos prêmios e críticas positivas. A distribuição na França ainda está sendo negociada. A produtora conta, um pouco chateada, que alguns compradores alegam que o filme não apresenta os elementos típicos que esperam de um produto brasileiro: miséria, violência urbana, indígenas ou universo queer. “Acho idiossincrático porque, ao mesmo tempo, acho o filme muito brasileiro”, diz. “Malu” foi apresentado na França no festival Regards Satellites, em Saint Denis, região parisiense, com presença das atrizes Yara de Novaes, Juliana Carneiro da Cunha e Carol Duarte, além da produtora Tatiana Leite.
Licença menstrual na França by Rádio BandNews BH
A França aprovou na quinta-feira (6) um projeto de lei que pode restringir o chamado “direito de solo” na ilha de Mayotte, território francês no sudeste da África, para tentar conter a imigração no local. Nesta sexta-feira (7), o primeiro-ministro François Bayrou e o ministro da Justiça Gérald Darmanin mencionaram a possibilidade de estender o debate sobre a questão para o resto do país. “O debate público deve ser aberto sobre o direito de solo na França”, declarou Darmanin diante da Assembleia Nacional de Deputados. O ministro se disse até mesmo favorável a uma modificação das leis sobre essa questão na Constituição francesa.Já François Bayrou defendeu, em entrevista à rádio francesa RMC, a ideia de “um amplo debate”, que abordaria também outro assunto sensível, sobre “o que é ser francês”. “O que isso traz como direitos? O que isso impõe como deveres? O que isso implica em vantagens? (…) No que acreditamos quando somos franceses?”, questionou.As declarações ocorrem um dia depois que a Assembleia Nacional de deputados adotou, em primeira leitura, um projeto de lei, de autoria do partido de direita Os Republicanos, que pode restringir o “direito de solo” em Mayotte, onde metade da população é estrangeira.Neste território francês, as regras para a obtenção da nacionalidade são diferentes do resto do país. Atualmente, filhos de estrangeiros que nascem na ilha recebem a cidadania se a mãe ou o pai estiverem vivendo no local por ao menos três meses.Caso o projeto seja definitivamente adotado, as regras dificultarão o processo, já que tanto pai e mãe precisarão morar ao menos três anos em Mayotte para que seus filhos obtenham a nacionalidade francesa ao nascer.Na França metropolitana as regras são diferentes: a nacionalidade é atribuída automaticamente à criança que nascer em solo francês e tiver ou a mãe francesa ou pai francês. Um bebê de mãe e pai estrangeiros que vivem na França só obtém a nacionalidade se a família provar que reside na França durante ao menos cinco anos e a partir dos 11 anos da criança. Muitos menores filhos de estrangeiros optam também por esperar até os 18 anos para receber a cidadania, desde que estejam vivendo na França.Discurso anti-imigraçãoA aprovação do projeto de lei ocorre na esteira do aumento do discurso anti-imigração na França. Bayrou não poupa críticas às regras de naturalização no país. Segundo ele, “milhares de pessoas chegam com a ideia de que se colocarem crianças no mundo, elas serão francesas”.Há duas semanas, o primeiro-ministro chocou parte da classe política e da opinião pública ao utilizar o termo “submersão imigratória”, durante uma entrevista a um canal de TV francês. Segundo ele, "contribuições estrangeiras são positivas para um povo, desde que não excedam uma proporção". "A partir do momento que você tem o sentimento de submersão, de não reconhecer mais o seu país, os modos de vida ou a cultura, você tem a rejeição", reiterou.A expressão “submersão imigratória” foi criada nos anos 1980 por Jean-Marie Le Pen, ícone da extrema direita francesa, falecido em janeiro, fundador do partido ultranacionalista Frente Nacional (atualmente Reunião Nacional, dirigido pela filha, Marine Le Pen).Nas últimas décadas, o termo expressão foi utilizado por políticos, militantes e simpatizantes da extrema direita na França, com o objetivo de criar uma sensação alarmista sobre a imigração.A atitude de Bayrou foi alvo de uma enxurrada de críticas pela esquerda francesa. Para a deputada ecologista Cyrielle Chatelain, a utilização da expressão "submersão imigratória" é "vergonhosa", principalmente da parte de um chefe de governo.No canal de TV LCI, Manuel Bompard, coordenador do partido da esquerda radical França Insubmissa, classificou de "extremamente chocante" as afirmações do premiê francês que "não correspondem absolutamente à realidade". "Jamais teria feito essas afirmações e elas me incomodam", declarou a presidente da Assembleia de Deputados da França, Yaël Braun-Pivet, do partido governista Renascimento, em entrevista ao canal BFMTV e à rádio RMC. "Estamos falando de homens e mulheres, de nosso país, a França, que por meio de sua história, sua geografia, sua cultura, sempre acolheu e se construiu por meio desta tradição", reiterou. França está "submersa" por imigrantes?O Ministério do Interior da França divulgou nesta semana o relatório anual sobre a imigração no país. Números do próprio governo mostram que a quantidade de entradas de estrangeiros no país é estável há 15 anos.Em 2024, 337 mil carteiras de residência temporária foram emitidas pela França a estrangeiros, com um leve aumento de 1,8% em relação ao ano anterior. Um terço desses documentos (109 mil) foram destinados a estudantes. Quase 91 mil estrangeiros receberam as chamadas “cartes de séjour”, os vistos que autorizam a estadia, por motivos familiares e 55 mil por razões econômicas e humanitárias.Pouco mais de 31 mil pessoas que viviam em situação ilegal na França foram regularizadas em 2024: número que registrou queda de 10% em relação ao ano anterior. Além disso, o governo francês recebeu pedidos de asilo de quase 156 mil pessoas em 2024, em queda de 5,5% em comparação a 2023.Segundo dados do Instituto Francês de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee), 10,7% da população francesa é imigrante. Entre eles, estão incluídos 3,5% de pessoas originárias de outros países da Europa.Em comparação com as nações vizinhas, a França é um dos países que menos recebe estrangeiros. Na Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Irlanda e Suécia, cerca de 20% da população é imigrante.
Os vencedores do Festival Internacional do Curta-Metragem de Clermont-Ferrand serão conhecidos neste sábado (8). Nesta edição de 2025, os organizadores receberam cerca de 8 mil filmes de 51 países. Na sessão especial do Mercado do Filme dedicada à apresentação de cinco produções brasileiras, seguida de um debate com o público, o curta Quase Trap! arrancou risadas da plateia, Carlinha e André despertou questões sobre o HIV na terceira idade, enquanto o filme de ação 2 Brasis foi um sucesso. Três filmes brasileiros concorrem a prêmios na competição internacional de Clermont-Ferrand e outros cinco curtas, selecionados pelo festival Kinoforum e a Spcine, de São Paulo, foram exibidos a distribuidores e produtores em uma sessão especial na tarde de quinta-feira (6).Quase Trap!, filme de iniciação dirigido pelo paulistano Filipe Barbosa, e Anastácia, da mineira Lilih Curi, elaborado a partir de uma longa pesquisa da cineasta com mulheres que sofreram violência doméstica na Bahia, são produções da Rede Afirmativa, da Spcine. Já 2 Brasis, de Carol Aó e Helder Fruteira, ganhou destaque por ser um filme de ação sobre a distopia de um país dividido, com uma produção bem elaborada. Filipe Barbosa abraçou o cinema em 2018, primeiro fazendo formações em oficinas, como as organizadas pelo festival Kinoforum na comunidade de Paraisópolis, depois abrindo um cineclube com os amigos em Cidade Tiradentes, distrito da periferia de São Paulo. Seu curta narra a história de Tiunai, um jovem negro de 16 anos que mora na periferia e se vê pressionado a afirmar sua identidade masculina.O realizador disse à RFI que jamais imaginou estar no maior evento do mundo de curtas. "O Fabio Rodrigo, que é um roteirista, escreveu esse projeto. Ele a uma pessoa um pouco mais velha do que eu e vem da Vila Ede, na zona norte de São Paulo. Eu já sou de uma outra geração e também vivenciei isso. É uma pauta que muitas vezes não tem sido falada. Falar sobre a questão de virilidade, a questão da masculinidade, principalmente negra. A maioria dos debates sobre masculinidade não tem esse enfoque na periferia", destaca Barbosa.O próximo projeto do diretor paulistano é o curta de terror Passado Presente, filme que contará a história de um jovem que pega o tênis de outro jovem, já falecido, e isso irá desencadear uma série de acontecimentos sobrenaturais. Com essa trama, Barbosa quer trazer para discussão a questão do pertencimento dentro da periferia, num cenário "funk" de 2010. HIV chega à meia-idadeRicky Mastro, selecionado para participar pela primeira vez da sessão brasileira no Mercado do Filme, é uma das principais vozes do cinema queer no Brasil. Roteirista e diretor de dez curtas-metragens LGBTQIA+, atuante no circuito nacional e internacional de festivais, Ricky mostrou seu curta Carlinha e André, estrelado por Divina Núbia, André Guerreiro Lopes e Gregório Musatti. O filme retrata a história de amor de uma mulher transgênero na meia-idade que está esperando a volta do marido para casa, depois dele ter revelado a ela que estava com Aids.Mastro conta que a inspiração para essa história veio na esteira de um longo projeto que desenvolve sobre pessoas que vivem com HIV, chamado Os Invisíveis. "Com o Carlinha e André, é interessante porque muitas pessoas falam que eu quis falar sobre viver com o HIV, falar sobre um casal sorodiscordante, mas na verdade eu falo sobre se tornar mais velho, sobre os medos e preocupações [que aparecem] ao envelhecer". Muitos questionamentos de Carlinha refletem preocupações pessoais do cineasta como homem gay cis chegando perto dos 40 anos, e a relação próxima que ele tem com a mãe, que completará 75 anos neste ano. Roteirista e realizador engajado, Mastro passa a metade do ano em Toulouse, onde aperfeiçoou sua formação no cinema, e a outra metade em São Paulo. No Festival de Clermont, ele faz contatos com produtores e coprodutores internacionais para seu longa-metragem Tarzan. Nessa nova ficção, dois michês, o bailarino Tarzan e o traficante Gabo, aplicam golpes digitais para realizar o sonho de viver na Europa. Ele também procura coprodutores para a série Mundinho, que explora a juventude queer na vida noturna de São Paulo, produzida pela Manjericão Filmes.Violência doméstica Em Anastácia, a mineira Lilih Curi leva às telas um drama de violência doméstica baseado em uma longa pesquisa feita com mulheres na Bahia. "É um filme curto, de 15 minutos, com uma narrativa disruptiva, não linear, mas que resolve ao fim o drama dessa mulher, Anastácia, que sofre violência doméstica na relação abusiva e terrível com o marido. É um filme que trata transversalmente de feminicídio, de racismo, de agressões múltiplas que a mulher sofre. Anastácia, por conta do trauma, sofre de mutismo e ela busca uma maneira de ter saúde de novo e de voltar a viver de novo", descreve Lilih."Eu espero que várias mulheres e homens que assistam esse filme se sensibilizem e consigam diminuir o impacto das violências em suas próprias vidas", acrescenta a diretora mineira. Recém-finalizado, o curta de Lilih Curi deve estrear em breve no Brasil.O curta Migué, de Rodrigo Ribeyro, vencedor do prêmio Revelação no festival de curtas de São Paulo no ano anterior, completou a lista de produções apresentadas no Mercado do Filme, ao contar a história de uma garota paulistana trabalhadora que resolveu tirar um dia de folga. Animação brasileira concorre a prêmioEm sua estreia num curta de animação, o diretor niteroiense Angelo Defanti, conhecido por seus filmes de ficção e documentários, conta ter ficado "espantado" e "lisonjeado" de ter sua produção Eu Sou um Pastor Alemão selecionada na competição internacional de Clermont-Ferrand."Eu comecei a desenvolver um projeto de longa-metragem de animação, mas, para chegar no longa, também pensei que eu podia me exercitar num curta e descobrir um pouco mais desse universo da animação, que não é tão simples assim. Sempre gostei muito dos quadrinhos do Murilo Martins e decidi dar esse pontapé inicial na animação com dois quadrinhos dele: um chamado Eu Sou um Pastor Alemão e o outro, Eu Era um Pastor Alemão", explicou Defanti à RFI.O cineasta recorda que é 'dificílimo' ser selecionado na programação oficial do festival francês e revela estar impressionado com a atmosfera da mostra. "É realmente espantoso. A quantidade de filas, o tamanho das salas sempre cheias para ver curta-metragem. É uma cultura do curta-metragem já muito difundida, você vê que isso vem de muito tempo", diz Defanti com admiração e entusiasmo. Os outros títulos que concorrem a prêmios em Clermont são Amarela, de André Hayato Saito, e Jacaré, de Victor Quintanilha.A seleção dos curtas trazidos à França foi definida por Anne Fryzsman, programadora internacional do Festival de Curtas de São Paulo – Kinoforum. Ao lado do coordenador Marcio Miranda Perez, Anne dá continuidade ao trabalho iniciado há décadas pela diretora da mostra paulistana, Zita Carvalhosa, que abriu as portas do mercado global de produtores e distribuidores aos cineastas brasileiros. O Brasil está representado no Mercado do Filme de Clermont-Ferrand desde 2011, em uma parceria que envolve, na edição de 2025, a equipe do Kinoforum, a Spcine, o Instituto Guimarães Rosa e a Embaixada do Brasil em Paris.
O Brasil perdeu para a França fora de casa, com direito a momentos polêmicos, e o Podcast TenisBrasil convidou Paulo Cleto, ex-capitão da Copa Davis, e Luiz Mattar, um dos maiores nomes do tênis nacional e semifinalista da competição entre países, para analisar o que aconteceu em Orléans neste final de semana. Cleto viu bom desempenho dos brasileiros, tanto em simples quanto nas duplas, ressaltando a dificuldade que é se adaptar a pisos tão velozes, enquanto Mattar enxerga João Fonseca como um tenista com perfeitas características para a Davis. Os dois ainda analisam a polêmica entre Bélgica e Chile, e Mattar relembra o quão duro é jogar o torneio, especialmente no aspecto emocional.
O festival Regards Satellites realizado em Saint Denis, na região parisiense, destaca em sua terceira edição o cinema periférico brasileiro. De 29 de janeiro a 9 de fevereiro serão exibidos filmes de vários países e realizados debates e encontros com cineastas, com o objetivo de fomentar linguagens inovadoras de cinema. O festival Regards Satellites (Olhares Satélites, em tradução livre) começou quarta-feira (24) com a exibição do longa "A cidade é uma só?" (2013) do cineasta brasileiro Adirley Queirós, precedido pelo curta "O cinema acabou" (2024), do diretor paulistano Lincoln Péricles.Queirós é conhecido por filmes como "Mato seco em chamas", realizado com Joana Pimentel, premiado no Festival Cinema du Réel, em Paris, e parte da seleção oficial da Berlinale, em 2022.Exibido na abertura do festival, "A cidade é uma só?", primeiro longa de Queirós, retrata a criação da Ceilândia, bairro onde o diretor cresceu e onde ainda vive. A cidade-satélite do Distrito Federal, que inspira toda a obra do cineasta, foi fundada, na década de 1970, dentro da Campanha de Erradicação de Invasões (CEI), projeto implementado para retirar trabalhadores pobres que se instalaram no entorno de Brasília. Um processo histórico pouco conhecido, exposto pelo filme que mistura documentário e ficção.“Eu acho que as periferias de Brasília, durante muito tempo, foram, obviamente, afastadas do processo, assim como no Brasil todo. Não só Brasília”, diz o cineasta, observando que o interesse por um cinema feito na periferia ou com essa temática é recente. “Na verdade, isso tem menos de 20 anos [...] O processo do cinema periférico brasileiro foi crescendo aos poucos”, analisa.Linguagens inovadorasO festival Regards Satellites tem o objetivo de fomentar linguagens inovadoras de cineastas independentes, como explica Claire Allouche, uma das curadoras do evento e especialista em cinemas brasileiro e argentino contemporâneos.“A ideia é de não pensarmos que estamos nos confins do mundo. O problema da palavra periferia é que às vezes dá a sensação de que cineastas periféricos, ou de lugares periféricos, sempre vão estar do lado do centro. E a ideia não é essa”, explica. “Claramente a proposta do festival é de revalorizar as potências das periferias e de reivindicar a palavra periferia como outro centro”, diz.“Eu acho que esse é o cinema contemporâneo”, diz Adirley Queirós. “A importância é muito grande. Primeiro pelas pessoas que estão envolvidas na coordenação do festival, pelos temas que são abordados, pelas pessoas que circulam por aqui. São várias periferias do mundo que estão aqui”, diz, destacando que o evento abre espaço para a posição política, mas também para questões estéticas.“Pouco se fala sobre a estética do cinema periférico. Eu acho que é o mais importante, na verdade. A estética é, hoje em dia, muito mais do que a formalidade, muito mais importante do que o conteúdo”, defende o cineasta. “O conteúdo pode ser abordado de várias maneiras, mas essa ideia de um cinema periférico mundial, que entra com a nova possibilidade de estética, é bem diferente”, afirma.“Oscar é um desserviço”Adirley Queirós é crítico sobre a importância dada no Brasil ao Oscar. “Acho que o Oscar é um desserviço para a gente. O que o Oscar representa é, na verdade, um processo colonial muito forte. Você pensar que a gente está envolvido num processo de legitimar a indústria americana, sendo que a indústria americana historicamente foi perversa contra a gente”, lamenta.“Eu acho que, obviamente, o Walter Salles e o filme dele têm uma importância, mas o Oscar não tem importância nenhuma para mim”, acrescenta.Outro cineasta brasileiro com filmes exibidos durante o festival é Lincoln Péricles. Esta será a primeira vez que suas obras são apresentadas na França. Natural de Capão Redondo, comunidade periférica da capital paulista, o realizador ficará em residência em Saint-Denis entre janeiro e abril.Além disso, com Adirley Queirós, Lincoln Péricles realiza uma masterclass na segunda-feira (3). Em fevereiro, o paulista realiza a programação de filmes de várias “quebradas” do Brasil, dentro do projeto da diretora franco-senegalesa Alice Diop, La Cinémathèque idéale des banlieues du monde (A Cinemateca ideal das periferias do mundo), realizado conjuntamente pelos Ateliers Médicis (centro que acolhe artistas do mundo inteiro e de todas as áreas em residência) e o Centro Georges Pompidou. Alguns desses filmes serão acessíveis on-line.O Regards Satellites também vai exibir o filme “Malu”, de Pedro Freire, “Baby” de Marcelo Caetano e longas de diretores poloneses, franceses e americanos.
Socorristas tentam resgatar mineiros presos em mina de carvão na Índia; 3 podem estar mortos. Morre Jean-Marie Le Pen, líder histórico da extrema direita na França. Em dois anos, STF condenou 371 pessoas por incitação ou execução dos atos golpistas de 8/1. Termina nesta terça prazo para justificativa de quem não votou no segundo turno; entenda punições. Bahia e Paraíba lideram crescimento entre os destinos mais procurados para o verão.
Sobrevivente de estupro em massa obteve justiça após ter sido drogada e abusada pelo próprio marido e outros 72 homens durante décadas; especialista da ONU diz que história serve de alerta sobre nível de violência contra mulheres, impunidade dos estupradores e riscos da indústria pornográfica e da oferta de drogas.
Entre as brasileiras que conquistaram o seu espaço em Paris, certamente está a ex-modelo carioca Cristina Cordula. Em 30 anos na França, ela trilhou o seu próprio caminho no disputado mundo da moda. Porém, se engana quem pensa que a passarela até aqui foi um mar de rosas. Ela conta que, no início da carreira, encontrou muitas portas fechadas, mas que tudo mudou quando decidiu cortar o cabelo bem curto, que virou a sua marca registrada. Cristina não desistiu nas primeiras dificuldades e agora é uma referência de elegância, como conta nessa entrevista exclusiva à RFI Brasil. Maria Paula Carvalho, da RFI em ParisRFI: Como foi conquistar o seu espaço, primeiro como manequim e modelo, e agora como consultora no país da moda?Cristina Cordula: Foi difícil. Eu moro aqui há muitos anos e sou consultora de imagem, com um programa na televisão já há 20 anos e vários livros. Tudo na vida é difícil, ainda mais em um país que não é o seu. Foi muito trabalho para poder alcançar os meus objetivos. E talvez a forma que eu tenho de trabalhar, esse lado brasileiro, de ser mais positiva, mais alegre, ajudou. A consultoria de imagem é uma coisa muito particular, muito sensível. Então, uma coisa é você falar de um jeito sério, com gravidade, e outra coisa é você falar de um modo mais positivo: "olha só, você ficar tão mais bonita assim, minha querida, você vai ver!". Isso dá uma certa alegria para as pessoas. Então, acredito que é esse lado brasileiro que as pessoas gostam. RFI: Você estrelou vários sucessos na televisão, como "Um novo Look para uma nova Vida", "Rainhas do Shopping", entre outros. E você tem os seus bordões: "magnifaïk", "ma chérie", etc. Você não é só uma consultora de moda, mas também empresária, autora, tem a sua marca de maquiagem. Ao olhar para trás, como você avalia esses 30 anos em Paris? Cristina Cordula: Eu só posso ser muito grata com a minha trajetória de vida, com os programas, os meus livros, a minha linha de maquiagem, que eu lancei há dois anos, e a minha agência de consultoria de imagem. Eu fico muito feliz de ter conseguido alcançar isso aqui. Mas tudo é com muito trabalho. Nada se alcança assim fácil. RFI: Foi mais difícil ser consultora de imagem na França, um país que é símbolo de elegância e bom gosto?Cristina Cordula: Eu acho que até no Brasil seria o mesmo trabalho, mas aqui tem a barreira da língua, de ter que se expressar de outra forma. Eu fui modelo internacional por muitos anos, eu morei em Nova Iorque, morei em Londres. Depois, eu decidi morar em Paris, fiquei aqui, onde construí a minha família. Eu era muito jovem quando eu saí do meu país, eu tinha 20 anos. Então, esses são momentos difíceis na vida e você precisa de muita coragem para continuar. Mas graças a Deus, com a força do meu trabalho, eu consegui e estou muito feliz aqui, muito feliz mesmo. Eu adoro este país. RFI: Uma das suas marcas registradas é o cabelo curto. Isso lhe abriu portas? Cristina Cordula: Meu cabelo curto foi feito quando eu era modelo em Milão, por um cabeleireiro brasileiro chamado Marco. Na época, eu estava chateada porque eu já estava aqui na Europa desde janeiro, nós estávamos em outubro, e eu não tinha conseguido ainda o trabalho que queria, com o glamour dos desfiles, fotos, etc. Eu estava triste, querendo voltar para casa, com saudades da minha família e falei: "Marco, eu vou voltar para o Brasil, porque o Brasil é o meu país. Eu trabalho muito bem lá, todo mundo me conhece, tenho a minha família lá, os meus amigos que amam muito. Não está dando certo para mim aqui, eu não sou feita para cá, o meu tipo não é para ser modelo na Europa". E ele falou: "Cristina, você não consegue trabalhar na Europa por causa do cabelo comprido. Não fica bem em você, é cafona. Você fica muito perua com esse cabelo. Aqui você tem que ter a sua diferença. Você tem que ter um estilo diferente de todo mundo". E aí eu falei: "você quer saber de uma coisa? Corta o meu cabelo, porque pior do que isso não vai ficar e cresce em dois minutos. Não tem problema". Aí, ele cortou e eu fiquei muito feliz com a imagem que eu vi e pensei "porque eu não fiz isso antes?" Gostei muito do meu cabelo e ele abriu muitas portas.A minha carreira de modelo explodiu. Eu fiz os grandes desfiles, de grandes marcas: Chanel, Dior, fotos para as revistas. Depois, a minha carreira, obviamente, quando eu cheguei aos 30 anos, parou e eu, ao mesmo tempo, me casei e tive o meu filho, que é franco- brasileiro, hoje com 30 anos. Eu construí a minha família. Eu queria continuar trabalhando na moda, mas fazendo alguma coisa que fizesse bem para as pessoas. RFI: Foi então que você se tornou pioneira na consultoria de imagem na França?Cristina Cordula: Eu não queria só vender uma roupa. Eu queria fazer uma coisa que fosse mais humana. E aí eu escutei falar sobre a consultoria de imagem, que já existia nos Estados Unidos e na Inglaterra. Eu pensei: isso é maravilhoso, é um trabalho que eu vou usar o meu conhecimento e democratizar a moda também. Era o começo do fast fashion, no início dos anos 2000, e eu pensei que todo mundo tinha o direito de se vestir bem, de se sentir bonita e bonito. Então, eu trabalhei a minha própria técnica, comecei a estudar, comecei a aprender sobre cores e vi o que se fazia fora. Eu criei a minha própria técnica e abri a minha primeira agência. Era muito difícil na época, pois havia muito tabu, porque os franceses não aceitavam. Porque falar de imagem, de look, é uma coisa que pode ferir até o ego da pessoa. É uma coisa muito sensível. E os franceses têm muita resistência no começo, mas depois relaxam e aceitam. Eu comecei com isso aos poucos, então veio o programa da televisão, dois anos depois que eu abri a minha agência de consultoria e aí foi indo e até hoje estou aqui. RFI: Uma coisa que você ensina é se aceitar e usar aquilo que a gente tem de melhor. Você poderia dar um conselho aos leitores? Cristina Cordula: São as nossas diferenças que nos destacam. Essa coisa de ser igual a todo mundo e de estar na moda não serve para todos. Eu corto o cabelo assim porque está na moda, ou uso calça larga porque está na moda. Porém, de repente não fica bem em mim, com a minha morfologia. Essa calça pode não valorizar o seu corpo, os seus ossos, vai fazer você ficar baixinha, vai dar muito ombro, vai torcer o busto. Entendeu? Tem que usar uma roupa que seja obviamente moderna, mas que combine com a sua morfologia e que combine, também, com o seu estilo. Porque, por exemplo, uma pessoa que é descontraída, jamais eu posso propor a ela uma roupa muito chique, salto alto e saia justa, essas coisas muito sofisticadas, porque ela não vai gostar, vai se sentir fantasiada. RFI: Você tem saudades do Brasil e como é a sua relação com o país? Cristina Cordula: Claro que eu tenho saudades do Brasil. Nossa, eu sou brasileira! Eu vou ao Brasil sempre no Natal e pelo menos umas duas vezes por ano. Eu tenho uma relação maravilhosa com o Brasil. Eu tenho muitos amigos lá. Eu adoro o meu país e eu sinto muita falta. A coisa que eu tenho mais saudade do Brasil é a maresia. Eu sou carioca e o cheiro da maresia do Rio de Janeiro, aquele cheiro forte... Quando eu chego no Rio, eu digo: "é a minha madeleine de Proust", como a gente fala em francês. Na França, uma madeleine de Proust é uma espécie de gatilho que traz de volta uma memória de infância. A expressão vem do romance “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust, em que o narrador vê surgir uma lembrança, ao comer uma madeleine, essa iguaria francesa. Mais ou menos o que acontece com a carioca Cristina Cordula ao sentir o cheiro da maresia de sua terra natal, e que ela não esquece, apesar da vida de sucesso em Paris.
Programas de capacitação serão realizados em modalidade presencial em Lyon e através de uma plataforma online para todo o mundo; investimento pretende melhorar aptidões de profissionais de saúde em nível global.
A maternidade tem um poder transformador. Cris viu o mundo de um jeito diferente depois que o seu filho Koto nasceu. Com seis meses de gestação, ela descobriu que ele tinha o lábio leporino, uma fissura do lábio superior, causando uma abertura anômala para dentro do nariz. Como você recebe a notícia de que seu bebê com dois meses de vida vai passar por uma cirurgia? Modelo, radicada na França, Cris conta como lidou com o diagnóstico, relembra a dor do parto, o lindo encontro com seu filho e o baby blues que tomou conta dela durante quinze dias. Ela fala do seu puerpério com um bebê de cinco meses e da recente transformação da sua vida. Obrigada Cris por mostrar que falar do lábio leporino não deveria ser um tabu.
Confira na edição do Jornal da Record desta quarta (4): Pobreza cai ao menor nível no Brasil desde 2012. Arthur Lira diz que governo não tem votos suficientes para aprovar urgência do pacote fiscal. Supremo retoma julgamento e ministro Dias Toffoli defende responsabilizar plataformas digitais por conteúdos publicados. Nossos repórteres flagram o comércio ilegal de produtos nas estações de metrô. Executivo de seguradora é morto a tiros em frente a hotel de luxo em Nova York. Na França, deputados se unem e derrubam o primeiro-ministro. Na Coreia do Sul, oposição apresenta pedido de impeachment do presidente.
As negociações para o primeiro Tratado Global contra a Poluição por Plásticos entram na fase decisiva – até domingo (1o), os 175 países reunidos em Busan, na Coreia do Sul, deverão chegar a um consenso sobre o texto negociado na ONU há dois anos. O chamado bloco do petróleo, liderado pela Arábia Saudita, faz pressão para que qualquer menção sobre a redução da produção dos plásticos não faça parte do acordo. O derivado do petróleo se tornou onipresente na vida moderna, ao ponto que hoje é encontrado até na corrente sanguínea de seres humanos e animais. Na natureza, os microplásticos – as menores partículas em que eles podem ser produzidos ou transformados, inferiores a 5 milímetros – poluem o meio ambiente e causam danos à saúde dos seres vivos.O tratado incluirá todo o ciclo de vida do produto e será o primeiro juridicamente vinculante sobre o tema – ou seja, os países signatários terão a obrigação de adotá-lo."Chegamos à metade da negociação com um tratado inteiro ainda para ser consensuado. Acho que não estou no meu dia mais otimista”, desabafa Lara Iwanicki, gerente sênior de Advocacy e Estratégia da organização internacional Oceana, que tem acompanhado o processo. "Desde os início das negociações, a gente sente muita resistência dos países que formam o bloco do petróleo. Mas a gente vai sair daqui com um acordo, porque existe um mandato da ONU que traz essa responsabilidade para os países."Do outro lado, países europeus afirmam que não aceitarão assinar um tratado que não aborde a causa do problema: a produção e a utilização excessiva de plásticos, principalmente os de uso único, como os descartáveis. Muitos destes produtos não são recicláveis ou ou têm baixa reciclabilidade. Nos países mais pobres, eles ainda são fabricados com substâncias perigosas para o meio ambiente e a saúde.Brasil busca acordo possívelNeste impasse, países como o Brasil têm procurado encontrar um equilíbrio entre as duas posições divergentes, em busca de um acordo possível. Ao lado da Alemanha, o país media as negociações em um dos grupos de trabalho mais delicados, o de produção de polímeros, produtos químicos e plásticos problemáticos."A indústria química de plásticos do Brasil, da Arábia Saudita, da Rússia e da China são muito parecidas. Elas usam aditivos mais antigos. Na Europa ou nos Estados unidos, alguns desses aditivos já foram retirados e outros foram criados para substituí-lo”, explica Adalberto Maluf, secretário nacional do Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental."Os europeus querem proibir esses aditivos usados por nós, e é claro que nós também queremos, se eles fazem mal para a saúde. Mas a gente precisa de uma transição, porque se a gente simplesmente proibir, vamos obrigar a indústria brasileira a pagar patentes para os aditivos alemães, americanos ou japoneses”, pondera o representante do Ministério do Meio Ambiente nas reuniões.Financiamento para a transiçãoAssim como nas conferências sobre o clima ou a biodiversidade, a de plásticos também esbarra na delicada questão do financiamento para os países em desenvolvimento conseguirem modernizar a sua indústria, melhorar a gestão de resíduos e aumentar a reciclagem. O Brasil apoia a criação de um fundo específico para essa finalidade, para o qual o setor privado também seria incitado a contribuir. Os valores, entretanto, não devem ser definidos neste primeiro acordo.Adalberto Maluf avalia que o atual texto em negociação deixa a desejar na Responsabilidade Estendida do Produtor (EPR, na sigla em inglês). "O tratado provavelmente vai sinalizar que todos os países do mundo deverão ter seus sistemas de logística reversa [que pode incluir metas de recuperação de resíduos, reciclagem e reuso dos plásticos]. A briga é se vai ser vai obrigatório ou uma recomendação", indica Maluf.“Outro tema é dos plásticos problemáticos: a gente nunca vai resolver a poluição se não tiver uma maneira de sinalizar para o setor privado, para os fabricantes de plásticos e investidores deste setor, de que alguns tipos devem ser eliminados mais rápido, porque eles não têm reciclabilidade, têm misturas de produtos, multicamadas, ou porque têm químicos de preocupação ou aditivos que fazem com que a reciclagem não seja possível”, complementa.Leia tambémQuarto maior consumidor de plásticos, Brasil busca avanços de acordo global de redução da poluição'Gestão de resíduos não é a solução'O acordo poderá incluir uma lista inicial de químicos a serem banidos dos plásticos, mas até este ponto é alvo de divergências. Avessa a diminuir a produção, a indústria petroquímica tem insistido para que o tratado seja ambicioso na gestão dos resíduos – hoje, em média 38% deles têm destino inadequado e vão parar nos solos e oceanos.Lara Iwanicki, entretanto, adverte que esta não é uma falsa solução: nem os países mais ricos conseguiram ser exemplares na reciclagem. Na França, por exemplo, apenas 25% dos plásticos são reciclados."Foi por isso que a gente chegou num estado de poluição plástica que está transbordando para questões de saúde. Foi porque ficamos apostando nessas medidas que estamos aqui hoje, negociando um tratado”, critica. "É preciso pensar além de gestão de resíduos, reciclagem, aumentar o conteúdo reciclado. Tudo isso é parte da solução, mas não são as medidas que vão resolver a poluição por plásticos”, argumenta.Com frequência, o uso do polímero virgem sai mais barato do que a reciclagem. Hoje, o mundo fabrica 460 milhões de toneladas de plásticos por ano – mas esse número pode triplicar até 2060, se nenhuma ação mais efetiva para reduzi-los for adotada no âmbito internacional.
Cenário de preços ainda é favorável para arroba do boi com descompasso entre oferta e demanda até início de 2025
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O capitão do exército francês Alfred Dreyfus é uma das grandes figuras do fim do século XIX, devido a uma acusação falsa de espionagem. O escritor Émile Zola saiu em sua defesa, num texto histórico.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Emmanuel Macron realizou nesta segunda-feira (23) sua primeira reunião com o novo conselho de ministros do novo governo, formado por maioria conservadora de partidos de direita, mesmo que a maior parte dos deputados eleitos na disputa legislativa de julho tenha tenha sido do bloco de esquerda. O Durma com Essa mostra os rumos tomados pelo presidente francês e as sinalizações feitas pelo político centrista, inclusive à extrema direita de Marine Le Pen. O programa tem também Marcelo Montanini comentando os ataques de Israel ao Líbano. Learn more about your ad choices. Visit megaphone.fm/adchoices
Um acidente de carro na fronteira da França com a Suíça provocou a morte de quatro brasileiros. E ainda: cidade de São Paulo pode ter índice extremo de radiação ultravioleta nesta semana.
Depois de ver seu partido perder a maioria na Assembleia Nacional, Emmanuel Macron disse que só escolheria um novo primeiro-ministro para a França após as Olimpíadas de Paris. Os Jogos terminaram, e o presidente francês ainda não dá sinais de resolver o impasse político. O Durma com Essa desta segunda-feira (12) relembra o resultado das eleições francesas e o que está em jogo na formação de um novo governo no país. O programa traz também Marcelo Roubicek falando sobre a morte do economista Delfim Netto, que foi ministro da Fazenda e da Agricultura na ditadura militar. Learn more about your ad choices. Visit megaphone.fm/adchoices
O programa Os Pingos nos Is dessa sexta-feira (26) debateu ataques na França. Linhas de trens são alvos de sabotagem em Paris. Aeroporto na Basiléia é evacuado após um alerta de bomba. Zico tem mala roubada em frente a hotel em Paris e tem prejuízo estimado de R$ 3 milhões. Ex-jogador é embaixador do Time Brasil nos Jogos Olímpicos. Em clima de guerra, eleição na Venezuela pode acabar com o chavismo. Maduro disse que, em caso de derrota, haverá ‘banho de sangue'. Pesquisas divergem e ampliam dúvidas em eleição. Parte das sondagens indica vitória da oposição sobre Maduro. Lula confirma viagem de Celso Amorim para acompanhar pleito. Maduro manda fechar fronteiras antes do pleito. Panamá: voo com observadores foi impedido de entrar no país. Eleições nos Estados Unidos: Barack e Michelle Obama declaram apoio à Kamala Harris. Ex-presidente ligou para a pré-candidata confirmando endosso. Reajuste no mínimo e o impacto na inflação geraram uma nova discórdia entre Lula e Campos Neto. Após pagamento de multa, Daniela Silveira volta a pedir regime semiaberto. Multa foi paga com dinheiro doado por apoiadores de ex-deputado. Chefes de cartel mexicano são presos nos Estados Unidos. Criminosos dirigem o grupo mais violento e dominante no México. Na Zona Leste de São Paulo, PCC movimenta R$ 130 milhões com carros de luxo. Ferrari, Porsche e McLaren. Em um endereço, havia 55 veículos. Essas e outras notícias você confere nessa edição de Os Pingos no Is.
Os Jogos Olímpicos estão prestes a começar e hoje vou compartilhar um pouco, em francês, sobre esse momento tão importante para a França. Este episódio é inteiramente em francês, com o objetivo de aprimorar seus ouvidos enquanto você aprende mais sobre como a França está se preparando para receber este grande evento esportivo. Não deixe de me contar o que achou! Confira agora outros canais do Francês Ativo e materiais pra alavancar seu francês ► https://linktr.ee/francesativoavecelisa
merci
Recebemos o professor Thomás Zicman de Barros (Sciences Po) para analisar e comentar o pleito francês.Também passamos pela cúpula da OTAN e por outras notícias do velho continente.No mais, demos um pião pela nossa quebrada latino-americana, com destaque para a cúpula do MERCOSUL - sem a presença de Javier Milei - a visita de Lula à Bolívia.
Na França, o grupo de Emmanuel Macron ficou em segundo lugar nas eleições Legislativas, depois de um resultado surpreendente que mergulhou o país em incertezas e deixou a extrema-direita em terceiro. No Reino Unido, os conservadores amargaram uma derrota acachapante, depois de 14 anos no poder. Na Índia, apesar de ter conseguido um novo mandato, Narendra Modi sentiu gosto de derrota ao ver seu partido conquistar menos votos do que o esperado e ter que fazer coalizões para conseguir governar. Até em países autoritários, como é o Irã, as urnas deram vitória a um reformista. Para entender a maré de resultados que mostram uma insatisfação com os atuais governos, Natuza Nery conversa com Marcelo Lins, apresentador e comentarista da GloboNews. Lins analisa os resultados recentes da França e do Reino Unido – onde partidos de oposição aos governos nacionais tiveram êxito nas últimas eleições. E aponta os motivos econômicos e políticos para as ondas de descontentamento popular.
O 3 em 1 dessa terça-feira (09) debateu as falas de Rodrigo Pacheco sobre as dívidas dos Estados, desoneração da folha e autonomia do Banco Central. Pacheco defende a ‘divergência respeitosa e civilizada'. O grupo de trabalho, contrariando o governo, sugere imposto sobre herança de previdência privada. Após reunião com Lira, Haddad fala sobre regulamentação da Reforma Tributária. Lula se encontra com o presidente da Bolívia. Conversa com Luis Arce envolve Mercosul e exploração de gás. Às vésperas do recesso parlamentar, com foco na Reforma Fiscal, comissões são esvaziadas. As propostas tramitam em regime de urgência na Câmara. Apuração do 3 em 1: Lira pode assumir relatoria da Reforma Tributária. Possibilidade de protagonizar a proposta gera incômodo. Governo paga R$ 8,6 bilhões em emendas antes das eleições. Ministros buscam cúpula do PT para evitar fogo amigo. Para governar na França, frente de esquerda discute aliança com o centro. 63% dos municípios não realizam concurso para professor há mais de 5 anos. Aumento dos combustíveis e novo recorde do PIX são outros temas debatidos pela bancada.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Assine a Brasil Paralelo: https://sitebp.la/bp-cartas-na-mesa ___________ Nosso programa de análise política, para começar a semana bem informado. As principais notícias do Brasil, comentadas por Luiz Philippe de Orleans e Bragança, Adriano Gianturco, Christian Lohbauer e Renato Dias. Esse é o Cartas Na Mesa. Ao vivo, todas as segundas, às 20h. Nesta edição: O que aconteceu na França?__________ Precisa de ajuda para assinar? Fale com nossa equipe comercial: https://sitebp.la/yt-equipe-de-vendas Já é assinante e gostaria de fazer o upgrade? Aperte aqui: https://sitebp.la/yt-equipe-upgrade __________ Siga a #BrasilParalelo: Site: https://bit.ly/portal-bp Instagram: / brasilparalelo Facebook: / brasilparalelo Twitter: / brasilparalelo Produtos oficiais: https://loja.brasilparalelo.com.br/ ___________ Sobre a Brasil Paralelo: Somos uma empresa de entretenimento e educação fundada em 2016. Produzimos documentários, filmes, séries, trilogias, cursos, podcasts e muito mais. Nosso foco é o conteúdo informativo e educativo relacionado ao contexto social, político e econômico brasileiro.
A Nova Frente Popular se consolidou como o maior partido do Parlamento da França, após os resultados de domingo, com 182 assentos conquistados.A sigla, porém, não conseguiu formar maioria e terá de negociar para governar.O Ensemble, de Emmanuel Macron, ficou em segundo lugar, com 168 cadeiras, seguido pelo Rassemblement National, de Marine Le Pen, com 143. A Nova Frente Popular se consolidou como o maior partido do Parlamento da França, após os resultados de domingo, com 182 assentos conquistados.A sigla, porém, não conseguiu formar maioria e terá de negociar para governar.O Ensemble, de Emmanuel Macron, ficou em segundo lugar, com 168 cadeiras, seguido pelo Rassemblement National, de Marine Le Pen, com 143. Felipe Moura Brasil e Duda Teixeira comentam:Ser Antagonista é fiscalizar o poder. Apoie o jornalismo Vigilante: https://bit.ly/planosdeassinatura Acompanhe O Antagonista no canal do WhatsApp. Boletins diários, conteúdos exclusivos em vídeo e muito mais. https://whatsapp.com/channel/0029Va2S... Ouça O Antagonista | Crusoé quando quiser nos principais aplicativos de podcast. Leia mais em www.oantagonista.com.br | www.crusoe.com.br
Recentemente tivemos eleições na França e no Reino Unido e os resultados não são os melhores, mas será que acabou tudo para a direita e para a liberdade? A França era um caso perdido já, e o resultado não é uma surpresa. O país afundou na esquerda e estatismo e não tem mais o que fazer. Já no Reino Unidos, tivemos uma ascensão da liberdade, com um partido com pautas liberais chamado Reform UK com 14% dos votos. Vamos falar sobre as propostas deles, que incluem redução de impostos, desenvolvimento econômico e União Europeia. Além disso, temos uma boa notícia sobre o pacote de reformas do Milei na Argentina. Lançamento da minha pré-campanha a vereador de SP: https://forms.gle/FuqdVD4TPTi39Fwk7 Seja um Pré-candidato Radical: https://forms.gle/UhHbFsAGaZrqJby37 Loja Radical: https://tomandopartido.com.br/ideiasradicais Quer relatórios sobre quando comprar ou vender Bitcoin e uma plataforma de educação junto com isso? https://bit.ly/RelatoriosRadicais Cansou de estar sozinho como Libertário? https://www.catarse.me/apoiadoresradicais Quer fugir do Brasil? Nos contate: https://www.settee.io/ https://youtube.com/c/Setteeio Nos acompanhe no Telegram: https://t.me/ideiasradicais
O 3 em 1 dessa segunda-feira (08) debateu a retirada, pelo STF, do sigilo do inquérito no caso das joias sauditas. Procuradoria-Geral da República tem 15 dias para analisar o caso. Segundo o inquérito da Polícia Federal, Bolsonaro teria usado avião presidencial para enviar joias e teria acionado aliados para vender itens e receber. Relatório da PF diz que esquema das joias desviou bens de R$ 25,2 milhões. Documento pede indiciamento de ex-presidente e 11 aliados. Em discurso na Cúpula do Mercosul, Lula diz que ‘é preciso ficar vigilante com falsos democratas'. O presidente também fez críticas à tentativa de golpe na Bolívia. Lula também celebrou vitórias da esquerda na Europa. Ele disse que França e Reino Unido deveriam servir de inspiração para a América Latina. Dívida dos Estados: Pacheco deve apresentar nova versão do projeto. Petrobras anuncia aumento do preço da gasolina a partir dessa terça-feira. Valor do gás de cozinha para distribuidoras também terá reajuste. Sucessão na Câmara: deputados organizam festas para consolidar candidaturas. Datena adia pré-campanha pela prefeitura de São Paulo. Durante discurso em Santa Catarina, Valdemar Costa Neto diz que ‘Bolsonaro é quem decide a vida do PL'. Cúpula do Mercosul e Reforma Tributária são outros temas debatidos pela bancada.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Análise do cenário do dia com a economista Lorena Dourado.
Aos 27 anos, a velejadora se tornou a primeira mulher a completar o período de invernagem no Ártico Era julho quando Tamara Klink partiu da costa da França a bordo do Sardinha 2, um veleiro de dez metros de comprimento, rumo à Groenlândia. Há quase um ano, ela navegou por vinte dias entre icebergs para chegar a um dos territórios mais remotos do mundo, onde o sol se esconde durante todo o inverno e o mar se transforma em gelo. Foi ali que aportou sua embarcação para se transformar na primeira mulher a completar o período de invernagem sozinha no Ártico – em outras palavras, passar o inverno isolada no barco preso no gelo. Durante oito meses, a velejadora viveu entre raposas, corvos e ptarmigans em temperaturas que variam entre -20ºC e -40ºC, em contato com a civilização por e-mails curtos e textos publicados por uma amiga em seu Instagram. Aos 27 anos, Tamara descobriu como enxergar através dos pequenos ruídos no meio do silêncio, sentiu falta de um dicionário – e também de algumas palavras para definir os sons, cheiros e gostos que experimentou –, aprendeu a tocar músicas no violão e inventou outras tantas quando as cifras acabaram e viu as pessoas que deixou em terra firme se transformarem em rascunhos abstratos na sua cabeça, tão verdadeiros quanto os personagens dos livros que lia. Filha da fotógrafa e empresária Marina Klink e de Amyr Klink, um dos maiores velejadores do mundo, Tamara escreveu mais um capítulo de uma história que é só sua – e, ao contrário do que muitos esperam, sem contar com conselhos ou orientações do pai. Em sua primeira entrevista depois da invernagem, Tamara Klink bateu um papo exclusivo com Paulo Lima no Trip FM. Ela conta o que aprendeu sobre si e sobre a vida, fala de sexualidade, música, sonhos e os maiores desafios nesse projeto – cair na água congelante ao pisar no gelo fino foi só um deles. Você pode ouvir essa conversa no play nesta página, no Spotify ou ler a seguir. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/66870771e74c4/tamara-klink-velejadora-groenlandia-congelada-artico-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação / Arquivo pessoal; LEGEND=Tamara Klink; ALT_TEXT=Tamara Klink] Trip. Imagina que você encontrou uma menininha de 10 anos que quer saber o que você andou fazendo nos últimos meses. Eu queria que você contasse para ela que projeto é esse. Tamara Klink. O meu projeto era ficar no Ártico de um verão até o seguinte, então passei aqui também outono, inverno e primavera. Agora é verão de novo. E viver. Eu queria viver e descobrir o que acontece quando o mar congela, quando os animais vão embora, quando os sons, os cheiros e a luz desaparecem. Durante o inverno, o sol se põe. Eu fiquei sem vê-lo durante 3 meses, e toda a paisagem muda quando some a luz. Durante o verão é o contrário: o sol não se põe mais, está o tempo todo no céu, o tempo todo é dia. Eu queria fazer essa travessia do tempo. Dessa vez não era mais eu que ia atravessar o oceano para ir de um lugar ao outro, eu ia de um lugar ao outro atravessando o tempo. Você está falando com a gente da Groenlândia. Me conta um pouquinho como é esse país? A Groenlândia é uma ilha enorme, a maior do mundo. Dois terços são cobertos por uma calota polar e nas bordas existem vilarejos. As primeiras pessoas chegaram aqui há milhares de anos, mas a ocupação humana mais recente aconteceu ao redor de mil anos atrás com pessoas que vieram andando no mar congelado durante o inverno. O mar congela durante seis meses por ano, mais ao norte por quase 11 meses e às vezes o ano inteiro. Então essas mudanças extremas de temperatura faz parte da vida das pessoas que moram aqui desde sempre. Mas para mim isso era uma novidade. Aprendi muito com os groenlandeses que encontrei no caminho. Eles me ensinaram, por exemplo, como andar e navegar no meio de icebergs e o perigo de se aproximar de um. Os icebergs quebram, às vezes derivam em cima do barco, podem capotar em cima de nós. Várias vezes durante a noite, mesmo ancorada, eu tinha que acordar aqueles que se aproximavam do barco. O que você encontrou no caminho até o Ártico? Eu estava acostumada a navegar com uma precisão cartográfica maior. Aqui eu precisei entrar em uma baía sem saber se ia ter fundo suficiente para ancorar, naveguei em lugares com muita neblina, ser enxergar nada. Usava só o radar, mas eu sabia que ele não ia mostrar os icebergs pequenos, que também são perigosos. Ao longo dessas navegações eu fui trabalhando a musculatura da frustração, aprendendo a lidar com os imprevistos constantes, com o risco. No começo foi extremamente exaustivo, mas depois encontrei o ritmo. Eu ria. Eu batia numa pedra, eu ria. Eu falava: é isso, se o barco não afundou, então nós seguimos, teremos aprendido a posição de mais uma das muitas pedras que a gente ainda vai encontrar. Acho que fui criando uma espécie de olhar irônico ou cômico para a desgraça. E aí eu comecei a ver que a parte mais tranquila da viagem seria o inverno. Eu não via a hora de poder simplesmente ancorar e estar em paz por oito meses. A ideia de ficar sozinho é aterrorizante para muita gente. Como foi pra você pensar que ficaria muitos meses só com os seus pensamentos? Você sempre gostou disso? Não sei se eu sempre gostei, mas eu via a invernagem como uma chance de descobrir a verdade com V maiúsculo. A verdade sobre o que acontece quando chega o inverno e o mundo se transforma, quando um espaço que antes era navegável se torna terra firme, quando os animais vão embora, quando o som vai embora e a gente fica no silêncio. A verdade sobre quem eu sou quando não tem ninguém ao redor, quem eu sou quando ninguém vai dizer o meu nome, quando ninguém vai me salvar, quando ninguém vai me dar carinho, quem eu sou sem meu sobrenome. Eu nunca tinha vivido sem nome próprio, sem idade, sem gênero. Essa busca e essa pesquisa foi o que me motivou a vir e o que alimentou os dias. Eu vi a solidão muito mais como uma chance de descoberta sobre mim como humana, como indivíduo, como ser vivo, do que como uma punição ou uma dificuldade. Como foi enfrentar a solidão? Muitas pessoas vivem a solidão sem desejar, mas eu pude escolher. É muito diferente se expor à solidão por escolha e sabendo que tenho um lugar para voltar, onde vou encontrar pessoas. Eu tive que vir até aqui, tão longe, e ficar presa numa placa de gelo para poder estar só. E para os groenlandeses que conheci, a solidão não é algo bom. Eles tentaram me desencorajar. Falavam: "Fica num vilarejo, leva mais alguém"; "Vai faltar abraço, vai faltar homem"; "Vai com um homem que você não vai dar conta"; "Você vai ser fraca demais, não tem experiência, vai morrer congelada". Você disse querer estar em contato com seus ângulos mais profundos e a sua existência de uma forma diferente. Isso aconteceu? Você se encontrou nesse período da invernagem sozinha? Sim, mas eu não precisava estar aqui para ter encontrado essa iluminação, essa paz. Poderia ter encontrado em qualquer lugar do mundo, porque as coisas que me permitiram sentir mais em paz e mais feliz por estar viva foram coisas que existem em todos os lugares: o céu, a caminhada, o acesso a esse infinito que está na nossa cabeça, esse espaço amplo que ocupa todos os nossos vazios. Um dia, depois de seis ou sete meses ancorada, abri a cadeira de acampamento em cima do gelo e fiquei olhando o céu. Fechei o olho e fiquei só sentindo o calor, a radiação solar na cara, e pensei que a palavra que melhor definia aquele momento era paz. E tudo o que eu tinha vivido de ruim e de difícil, ao longo da preparação, mas também ao longo de toda a vida, e tudo que eu tinha vivido de bom, de feliz, de brilhante, tinha servido para aquela hora. E entendi que era para isso que servia estar viva. Não para fazer coisas grandiosas, mudar a história da humanidade, escrever livros, ganhar prêmio, aparecer em revista, podcast. A vida servia simplesmente para sentir. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/668708127e59c/tamara-klink-velejadora-groenlandia-congelada-artico-trip-fm-mh2.jpg; CREDITS=Divulgação / Arquivo pessoal; LEGEND=Tamara Klink; ALT_TEXT=Tamara Klink] Eu queria que você falasse mais sobre o silêncio. Como é estar num lugar de silêncio absoluto? O que ele te ensinou? Quando o mar congelou, os sons que definiam a paisagem sonora pararam de ocupar o ar. O barulho das ondas, a água batendo nas pedras, gaivotas passando, às vezes uma foca, uma baleia… Só sobraram os sons do meu próprio corpo. E tinha um barulho que me incomodava muito, um ruído que eu acho que vem do sangue, da efervescência, das bolhas, não sei. Por mais que eu tivesse todo o silêncio, aquilo parecia estar sempre gritando no meu ouvido. Meus passos pareciam muito barulhentos, e eu ficava aliviada de ouvir um corvo passando. Durante muito tempo, eu conhecia os meus vizinhos muito mais pelo som: a raposa, o corvo, o ptarmigan. Eu comecei a gostar desse silêncio, que era um silêncio vasto, de quilômetros. E isso mudou a minha relação também com o medo, porque os sons que antes me assustavam – do vento catabático, dos icebergs na borda – eram os que agora faziam me sentir mais confortável. Eu ouvia um barulho e falava: "Ah, deve ser isso ou aquilo, o vento deve estar a 15 nós". Eu via muito mais a paisagem por esses pequenos e sutis ruídos do que pelos signos visuais. E como é difícil colocar o som em palavras. A gente tem um vocabulário muito rico para definir o que vê, mas muito pobre para os sons, os cheiros, os gostos. A descoberta foi da insuficiência das palavras. Existe a crença de que o ser humano é um animal gregário, que precisa estar em grupo. Queria saber como foi a carência de gente. Houve uma curva de gradação do aumento ou diminuição dessa dependência? Você acha que se uma pessoa, por alguma razão, viver isolada, isso vai deixando de ser importante com o tempo? No começo da viagem eu sofri um pouco por estar ainda associada a um modo de vida das pessoas que estavam em terra, em que a vida era garantida – ou aparentemente garantida. Mas no ambiente em que eu estava bastava que o barco pegasse fogo e era certo que eu ia morrer. Ou bastava ter uma apendicite, quebrar uma perna, bater a cabeça, cair na água… Como a minha vida nunca estava garantida, muitas coisas começaram a parecer fúteis. Ao longo do tempo, as pessoas começaram a se tornar cada vez mais abstratas na minha cabeça. Eu não lembrava como era meu namorado, minha mãe, meu pai, minhas irmãs. Eu lembrava muito mais de frases fora de contexto e algo como um rascunho do rosto da pessoa, e menos de como ela era de fato. Era como se as pessoas começassem a virar conceito, um resumo distante. Um dia, meu namorado mandou um e-mail e eu falei: "Desculpa, não quero mais ser sua namorada, porque eu não vejo mais nada, eu nem lembro como você é". Eu sentia que eu não queria mais esses vínculos, essa dependência, nem gerar expectativa. Porque tudo o que importava pra mim fazia parte do presente, fazia parte do lugar onde eu estava: os animais, a neve, as condições meteorológicas, as mudanças dos elementos, a minha própria existência. O resto era tão verdadeiro quanto os personagens dos livros que eu lia. A ficção e a realidade eram muito próximas. Receber um e-mail de alguém da minha família era como ler sobre Diadorim, personagem do "Grande Sertão: Veredas" [livro de Guimarães Rosa]. Enquanto eu lia o livro, aqueles eram os personagens com quem eu convivia nos meus pensamentos, tanto quanto os personagens dos e-mails. Você falou sobre essa mixagem entre a ficção e a realidade, como isso foi acontecendo na sua cabeça, inclusive com relação ao seu relacionamento afetivo. Achei surpreendente essa coisa de você não saber mais quem era a pessoa que estava do outro lado. Eu queria, sem ser invasivo, tratar um pouco também da sexualidade. Como era esse aspecto? O que você pode me contar da sexualidade humana quando o indivíduo é colocado nessa condição que é completamente diversa à que a gente está acostumado? Não posso falar por toda a espécie, mas posso falar por mim. Eu não tinha nenhum desejo sexual, eu não tinha vontade de estar com meu namorado. Eu diria até o contrário. Eu comecei a identificar, e não só do ponto de vista sexual, todas as vezes em que eu abri mão do meu prazer pelo prazer do outro. Quantas vezes eu usei roupas que apertam para ser mais bonita, mais agradável, mais desejada, mais querida ou mais respeitada. Quantas vezes eu fiz coisas desconfortáveis, ou que eu não queria fazer, para agradar outra pessoa. Porque ser mulher passa também por ser aceita, por ser reconhecida por algo que não são simplesmente as nossas capacidades de pensar, nossas ideias, nossas habilidades, mas também por qual é a cara que a gente tem, qual é o corpo que a gente tem, e quantas vezes a gente só consegue acessar certos lugares porque a gente aparenta ser alguma coisa – sendo ou não aquilo. E de repente eu não precisava mais parecer. Eu podia apenas ser. Eu não precisava mais gastar tanta energia quanto numa cidade para aparentar alguma coisa ou para agradar. Quando a gente para de pensar em qual é a cara que a gente tem, se a gente está apresentável, se a gente está vestida do jeito certo ou não, de repente sobra muito tempo para o nosso próprio prazer. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/6687082044b6c/tamara-klink-velejadora-groenlandia-congelada-artico-trip-fm-mh3.jpg; CREDITS=Divulgação / Arquivo pessoal; LEGEND=Tamara Klink; ALT_TEXT=Tamara Klink] Eu vivia em função do meu corpo como uma ferramenta, tanto para me levar nos lugares quanto para me dar prazer de muitas formas. E o prazer era algo muito mais plural do que o sexo. Era o prazer de ir onde eu queria com as minhas próprias pernas, de escorregar uma montanha e dar risada quando eu chegava no final. Era o prazer de ver um bicho, de comer uma comida. Eram vários outros prazeres que percebi que renunciava na vida na cidade porque a gente não reconhecia isso como prazer válido. Quantas vezes já não abrimos mão de comer uma comida por causa do número de calorias, porque não é saudável, por medo de o dente ficar sujo ou porque a gente aprendeu que não era a coisa certa? Quantas vezes a gente, principalmente as mulheres, usou roupas que restringem a nossa mobilidade? Por que as roupas de esporte femininas são tão apertadas? Por que os nossos bolsos, às vezes, são falsos? Por que a gente usa sapatos que incomodam tanto? De repente eu só me vestia para ter mais mobilidade, para me dar prazer, para estar confortável. E eu percebi que, quando eu ligava a câmera fotográfica, que era para mim o acesso ao mundo exterior, eu pensava: "Meu Deus, minhas sobrancelhas estão juntas de novo, quando eu voltar vão ficar falando que eu sou monocelha"; "Meu cabelo está com caspa, o que eu faço agora?"; "Ih, tem uma meleca no meu nariz". Óbvio que tem, o ar é muito seco, o nariz fica escorrendo o tempo inteiro. E eu só lembrava dessas coisas quando via a câmera fotográfica e começava a imaginar o que a outra pessoa ia pensar sobre mim quando visse aquela foto. Porque a gente aceita ver o explorador polar com duas estalactites escorrendo do nariz, mas eu nunca vi foto de uma mulher com meleca no nariz, com pelo na cara, cabelo oleoso. Ela tem que estar sempre arrumada, não importa onde está. Então a câmera fotográfica era o inimigo, esse olhar externo da sociedade. Mas também era bom poder lembrar como era e deixar de lado, desligar a câmera e ser humana, que é mais era libertador. E acho que a liberdade vem de ir superando esses limites, alguns limites que nos foram impostos pelas pessoas, outros que foram impostos por nós mesmos. Como foi o fim do isolamento, sair desse lugar em que você se encontrou? Eu até me incomodei com os primeiros encontros com pescadores groenlandeses, porque era sinal que o inverno tinha acabado mesmo. Até que eu comecei a desejar voltar para a sociedade, encontrar outras pessoas e rever as que eu tinha deixado. Porque eu entendi que a minha viagem fazia sentido, era bonita, feliz, também porque ela era provisória. A solidão era provisória. E eu não era o único ser vivo que começava a encontrar pessoas. Quando a primavera chegou e o mar começou a derreter, apareceram os primeiros animais e eu notei que eles passaram a estar em grupo. As raposas, antes solitárias, cantavam para se encontrar. Os ptarmigans estavam juntos, as baleias sempre em par, os patos eram milhares reunidos. E eu continuava só. E aí eu comecei a entender que a solidão não era a resposta e a minha vida só fazia sentido dentro do contexto da minha espécie. Eu podia morrer, tinha até perdido esse medo, mas a minha vida só faria sentido depois de ter passado por tudo isso se ela tornasse melhor a vida dos outros indivíduos da minha espécie. Porque é assim, a gente acaba e vira carne e osso e pronto. E o que faz a vida ser além de carne, osso e pele? São as ideias, é a imaginação, são esses sentidos. E a vida serve para isso, não para os objetos que nos rodeiam. Estamos falando em vínculos e a gente lembra de você desde pequenininha, esperando a chegada das expedições de seu pai, Amyr Klink. E é muito interessante o quanto você está construindo a sua própria história. Você falou em entrevista ao Provoca sobre a dificuldade que seu pai teve de entender esse projeto. Como é que você lê isso hoje? Me deu muita liberdade, hoje eu vejo, meu pai dizer desde sempre que não me ajudaria. Ao mesmo tempo foi aquele empurrão do ninho: "Você quer navegar? Então vá. Mas saiba que eu não vou te dar barco, conselho, dinheiro, não vou te dar nada. Simplesmente crie o seu caminho". Então eu fui buscar tudo isso em outros lugares. Eu aprendi outra língua, porque eu vi que tinham muitos livros de navegação escritos em francês, e fui pra França, onde conheci outras pessoas, naveguei em outros barcos e tive a oportunidade de não ser mais a filha do meu pai. No Brasil eu tinha muito medo de errar, porque se eu fosse uma velejadora ruim, putz, eu tava carregando um nome que não era só o meu. Era muito intimidador, porque eu sentia que as pessoas já esperavam que eu soubesse muito mais do que eu sabia. Como a gente aprende, como é que a gente começa quando todos esperam que a gente já saiba? Na França eu errava, fiz um monte de escolha ruim, e isso foi me dando a experiência necessária. Eu acho que é o meu jeito de fazer as coisas, que talvez seja ingênuo, mas eu me coloco em situações em que não sei como eu vou encontrar as respostas, mas eu me coloco. Me jogo na água e falo: "Bom, agora que eu tô aqui, eu sei que eu vou ter que aprender a nadar, não tenho outra opção". Isso foi algo que eu fui fazendo, principalmente no começo. E o que me permitiu comprar a Sardinha 1, um barco velho que custava o preço de uma bicicleta lá na Noruega. E que eu sabia que não teria nem como pagar o combustível ao longo da viagem. Aí eu negociava venda de vídeos na internet, no meu canal do YouTube, fui lendo um livro sobre negociação para aprender a negociar, aí conseguia comprar combustível para poder ir até uma baía específica e comprar a polia que eu precisava para levantar a vela mestra. No começo era tudo muito no limite. E acho que se meu pai soubesse tudo o que eu ia viver por causa e graças àqueles "não", ele se questionaria se foi a melhor coisa. Porque eu realmente me expus a muito mais do que provavelmente ele esperava – e do que eu esperava também. Mas foi o que me trouxe aqui e estou feliz de ter chegado. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/6687082ebbf98/tamara-klink-velejadora-groenlandia-congelada-artico-trip-fm-mh4.jpg; CREDITS=Divulgação / Arquivo pessoal; LEGEND=Tamara Klink; ALT_TEXT=Tamara Klink] Depois desse processo, será que você vai ter mais ou menos paciência para lidar com as pessoas? A sabedoria que você adquiriu vai te dar mais complacência e tolerância ou as pessoas vão te irritar? Essa é uma boa pergunta. Eu acho que a gente precisa refazer esse encontro daqui a uns seis meses para saber a resposta. Eu fiquei dois, três dias na cidade e a minha impressão foi que tinha objetos demais, coisas demais. Eu via as pessoas correndo trabalhando, seguindo horários. Mas por que as pessoas trabalham tanto? Ah, para ganhar dinheiro, todo mundo precisa ganhar dinheiro para viver. Mas será que tanto assim? O que a gente vai fazer com tantas horas de trabalho, com tantos dinheiros, com tantos objetos? Pra que servem tantos objetos que a gente vai carregando? Tem um livro que chama "Walden, ou A vida nos bosques", do Henry David Thoreau, em que ele fala sobre os objetos serem essa armadilha que a gente vai carregando. De repente a raposa fica com o rabo preso na armadilha e precisa escolher se ela fica ali porque o rabo está lá, e morre, ou se corta e deixa o rabo pra trás para viver sem ele. Os objetos são esse lastro, né? As gerações vão passando e a gente vai acumulando e acumulando móveis antigos. E a vida vai ficando mais pesada, a gente vai perdendo a mobilidade ao longo dos anos. Em todos os cantos do planeta a gente tem a mania de acumular, de precisar. Quantas necessidades não são vícios, mais do que necessidades? Não sei se eu vou ter mais paciência ou menos. Não sei se eu vou ser iludida com os confortos, com o banho quente, com a possibilidade ter objetos que aqui eu não tive, ou se vai ser o contrário. Vou ter que voltar pra descobrir. De todos os objetos que você levou com você, quais você guardaria porque são fundamentais pra você? Se eu tivesse que escolher um objeto pra manter nesse momento, seriam as botas, pra poder continuar a caminhar. E se eu tivesse que deixar pra trás tudo e só pudesse levar uma coisa, seria o diário. Como foi o papel da música no seu isolamento? A música e o sonho são mais que um teletransporte, porque quando a gente sonha e quando a gente ouve música vivemos coisas que vão além do lugar onde a gente está, do que a gente sente ou consegue alcançar com a imaginação. Eu ouvia bastante música e aprendi algumas músicas no violão. Quando acabaram as cifras, eu tive que ir inventando e criando as minhas. As músicas que eu ouvia criavam outros espaços dentro dessa vasta banquisa de mar congelado, desse lugar hostil. Elas criavam companhias e personagens. Eu via as coisas de forma diferente, sob outro olhar, me sentia às vezes compreendida, ou provocada, ou querida, ou confortável. A música é essa ferramenta quase mágica que a gente ainda tem. A gente pode tirar todos os objetos e ferramentas do nosso lugar, mas um brasileiro longe do Brasil vai se sentir em casa ouvindo Jorge Ben Jor, Maria Bethância, Alcione. Eu como escritora eu morro de ciúmes, inveja e admiração pelos compositores porque pra ser lida, eu preciso que o leitor queira muito. Mas os compositores eles conseguem ser recitados sem o leitor nem querer, e isso é algo que eu acho muito poderoso da música. Queria te perguntar sobre aquilo que a gente convencionou chamar de espiritualidade, essa ideia de transcendência, de alguma coisa que não é objetiva, que não é palpável. Nesse período você viveu algo nesse sentido? A ideia de transcendência, de forças maiores, ficou mais ou menos presente na sua cabeça? O momento em que eu mais tive essa sensação de transcendência ou de existir algo maior foi quando eu quase morri. Quando eu caí na água, no mar congelado, e sobrevivi por sorte, ou por determinação, ou por vontade de sobreviver. Acho que muito por sorte mesmo, porque às vezes não basta querer muito, ter conhecimento ou fazer de tudo. Às vezes o que te salva, e no caso foi o que me salvou, é ter um pedaço de gelo podre ali por perto, onde eu consegui fazer buracos e me puxar pra cima. Se o gelo não fosse podre o suficiente, se fosse mais firme, eu não teria conseguido fazer buracos e me arrastar. E durante alguns dias eu não sabia se estava viva ou morta. Eu fiquei me perguntando: será que meu corpo ficou lá na água e só minha alma veio aqui sozinha? Será que se eu dormir acaba a magia e eu não acordo mais? Será que eu preciso ficar acordada pra conseguir continuar viva? Será que se eu morrer aqui as raposas ou os corvos vão comer meu corpo? Quanto tempo será que eu vou durar? Alguém vai sentir saudade de mim? Pra que vai ter servido tudo isso? Terá valido a pena ou não? Bom, em algum momento eu percebi que estava viva mesmo, concretamente, porque uma pessoa morta não conseguiria escrever e-mail pra avisar que estava bem. Então vieram todos esses questionamentos sobre o que é a vida, se a vida precisa do corpo ou não. E uma das maiores experiências de transcendência que tive foi a do sonho. Os sonhos me permitiam viver coisas. Às vezes eu sonhava com animais que eu via no dia seguinte, às vezes eu sonhava com coisas que aconteceram. O sonho, ao mesmo tempo que me preparava, me fazia digerir o que eu tinha vivido, e às vezes enxergar de outras maneiras coisas que eu já tinha vivido ou que eu ainda ia viver, permitindo me antecipar também. E o sonho não era apenas uma ferramenta, às vezes o sonho também era fim. Muitas vezes eu fiz coisas pra sonhar com elas. Muitas vezes eu fiz perguntas pro sonho sobre decisões que eu queria tomar e não tava conseguindo. Quando a gente está sonhando, a gente vive, sente, foge, reage, corre e vive. E quando a gente acorda, está com o nosso corpo e volta pro lugar de onde a gente dormiu. Essa é a transcendência e a criação de novos espaços dentro do próprio corpo, do próprio espírito, que acontece todas as noites. Para encerrar em grande estilo, faço uma homenagem para o mestre Antônio Abujamra, que muitas vezes terminava seu programa com uma pergunta instigante: Tamara Klink, o que é a vida? A vida é uma palavra curta. Acho que é uma palavra que nos leva pra muitos lugares, mas ela é uma palavra. E é isso, a primeira letra do alfabeto é a última letra da palavra vida. E acho que essa é a graça, é chegar no final e encontrar com o começo da nossa descoberta do que a vida é.
Análise do cenário do dia com o economista Pedro Renault.
O Papo Antagonista analisa as eleições parlamentares na França, a vitória de Donald Trump na Justiça americana e a nova ofensiva de Lula contra o Banco Central, a imprensa e o agronegócio.Ser Antagonista é fiscalizar o poder. Apoie o jornalismo Vigilante: https://bit.ly/planosdeassinatura Acompanhe O Antagonista no canal do WhatsApp. Boletins diários, conteúdos exclusivos em vídeo e muito mais. https://whatsapp.com/channel/0029Va2S... Ouça O Antagonista | Crusoé quando quiser nos principais aplicativos de podcast. Leia mais em www.oantagonista.com.br | www.crusoe.com.br
nesse episódio, conversamos sobre a terrível pl 1904, mas a incrível ação da deputada erika hilton e equipe, que agiram de forma organizada com vários fandoms brasileiros. falamos também sobre a instabilidade política na frança e o posicionamento do mbappé. além disso, comentamos o trailer no novo filme da franquia alien e a experiência coletiva de assistir ao vivo o primeiro episódio da segunda temporada de house of the dragon. _ razão do extremismo na frança, pela bbc https://youtu.be/M4KYyluAdOM resumo da situação na frança, pelo estadão https://youtu.be/BYrsjOxlVVU trailer de alien: https://youtu.be/OzY2r2JXsDM – ouça episódios exclusivos na orelo ou no catarse!
A votação para o Parlamento Europeu mobiliza mais de 370 milhões de eleitores em 27 países - é o segundo maior processo eleitoral do mundo. Além de definirem quem serão os 720 ocupantes das cadeiras do parlamento, as urnas funcionam como um termômetro da aprovação dos governantes dentro de seus próprios países. E a temperatura do pleito realizado no último domingo (9) indica uma extrema-direita mais forte, apesar de os partidos de centro terem mantido maioria. Na França, o partido de Emmanuel Macron sofreu uma derrota tão acachapante que o presidente convocou eleições parlamentares antecipadas. Na Alemanha, na Itália e na Áustria, o avanço do discurso ultranacionalista também foi visto. Para entender o que as urnas da Europa revelam sobre o futuro político da região, Julia Duailibi conversa com Kai Lehmann, professor de Relações Internacionais da USP. Ele explica como o avanço da extrema-direita mexe no jogo político europeu e analisa as possíveis consequências para a relação do Brasil com o continente.
A votação para o Parlamento Europeu consolidou o avanço de partidos de extrema direita nos três países mais populosos do bloco. Na França, o bom desempenho do Reunião Nacional fez o presidente Emmanuel Macron dissolver a Assembleia Nacional e convocar novas eleições legislativas. Na Itália, o Irmãos da Itália, da primeira-ministra Giorgia Meloni, foi a legenda mais votada. Na Alemanha, a AfD teve o segundo melhor resultado nas urnas mesmo diante de escândalos associando seus integrantes a causas nazistas. O Durma com Essa desta segunda-feira (10) fala sobre a nova configuração do Parlamento Europeu, que ainda tem maioria de perfil centrista, e da guinada à direita do continente. O programa também traz Marcelo Roubicek explicando como foram os seis primeiros meses do governo de Javier Milei na Argentina. Learn more about your ad choices. Visit megaphone.fm/adchoices
A Direita vence na Europa. Nas eleições do parlamento da União Europeia, a maioria dos eleitos são de direita. Na França, Emmanuel Macron perdeu para Marine Le Pen, taxada pela mídia de "extrema-direita". Então quer dizer que nós vencemos na Europa? Não. Nesse vídeo, explico como essas personalidades não representam a direita com as suas personalidades estatistas e como não vai mudar nada, além de mostrar dados sobre o desenvolvimento de países europeus e as consequências das imigrações. Seja um Pré-candidato Radical: https://forms.gle/UhHbFsAGaZrqJby37 Loja Radical: https://tomandopartido.com.br/ideiasradicais Quer relatórios sobre quando comprar ou vender Bitcoin e uma plataforma de educação junto com isso? https://bit.ly/RelatoriosRadicais Cansou de estar sozinho como Libertário? https://www.catarse.me/apoiadoresradicais Quer fugir do Brasil? Nos contate: https://www.settee.io/ https://youtube.com/c/Setteeio Nos acompanhe no Telegram: https://t.me/ideiasradicais 00:00 - A vitória da Direita na União Europeia 00:42 - O Contexto Europeu 05:49 - Maioria de direita, vai dar boa? 11:32 - O problema de imigração na Europa 18:35 - Macron deu golpe de estado? 21:47- Nenhum país europeu tem salvação?