Podcasts about chandeigne

  • 25PODCASTS
  • 38EPISODES
  • 25mAVG DURATION
  • 1MONTHLY NEW EPISODE
  • Mar 4, 2025LATEST

POPULARITY

20172018201920202021202220232024


Best podcasts about chandeigne

Latest podcast episodes about chandeigne

Em directo da redacção
"Traducteur de pluies", a primeira coletânea de poemas de Mia Couto em francês

Em directo da redacção

Play Episode Listen Later Mar 4, 2025 9:12


A editora Éditions Chandeigne apresentou a livro Tradutor de Chuvas ao público francês. Traducteur de pluies é a primeira versão francesa de um livro de poesia do escrito moçambicano Mia Couto. A tradutora Elisabeth Monteiro Rodrigues reflecte sobre os desafios da adaptação, destacando o processo criativo e lembra que traduzir a poesia de Mia Couto exige recriar a experiência poética na língua, lidando com palavras inventadas. RFI: O que a levou a traduzir a obra de Mia Couto, especialmente esta primeira coletânea poética publicada em francês?Elisabeth Monteiro Rodrigues: Esta é a continuação do meu trabalho iniciado em 2005, quando comecei a traduzir a obra de Mia Couto para o francês. Para mim, foi uma forma de perceber como o poema constitui o núcleo dos romances e dos contos do Mia, como, na verdade, da poesia nasce a prosa.Imagino que traduzir Mia Couto seja fascinante. Quais são os desafios dessa tradução? É uma continuidade, porque até na prosa a escrita do Mia é imensamente poética. Neste livro, Tradutor de Chuvas, o principal desafio foi encontrar uma forma de simplicidade e delicadeza – algo sempre difícil quando se trata de poesia –, sem perder as imagens e os sons. Além disso, há também algumas criações, como no poema A Casa, que termina assim:E tanto em mim demoraram as esperasQue me fui trocando por soalhoE me converti em sonolenta da janela.Aqui temos a palavra "sonolenta", uma fusão de "sonho" e "sonolento". Para a tradução em francês, recorri ao mesmo processo criativo. Assim, essa palavra foi traduzida como rêvenolante, mantendo a ideia original.O seu trabalho passa também por um exercício de criação?Sim, eu tento. Todo o trabalho de tradução é também um trabalho de criação, porque é necessário recriar, na língua de chegada, aquilo que o autor fez na língua original – neste caso, o português. No caso de Mia Couto, esse processo de invenção de palavras é muito presente, mas não se trata apenas das palavras. Sobretudo em Tradutor de Chuvas, o desafio maior foi encontrar a palavra justa, aquela que surge no momento adequado.Imagino que isso traga dificuldades, mas também deve ser desafiador tentar encontrar a palavra correcta para cada estrofe, respeitando o sentido imaginado pelo autor – neste caso, Mia Couto.Sim, e às vezes temos que esperar que a palavra certa apareça.E ela pode demorar a chegar?Sim, pode demorar meses.Como é o dia a dia de um tradutor?Começo de manhã lendo alguns livros que me acompanham durante o processo de tradução. Depois, começo a trabalhar nas páginas do texto que estou a traduzir. Se não encontro a palavra certa, deixo de lado e faço outra coisa – até tarefas domésticas. E muitas vezes, ao realizar outras actividades, as palavras surgem naturalmente.Foi mais fácil traduzir a coletânea poética Tradutor de Chuvas por já conhecer a escrita de Mia Couto e já ter traduzido a sua prosa?Sim. Mas, na verdade, cada livro é diferente. Mesmo conhecendo bem a obra do Mia – já traduzi cerca de 15 livros –, tento sempre abordá-la como se fosse a primeira vez. Cada texto exige um trabalho diferente, uma disponibilidade própria. O livro impõe a sua forma de escrita e, consequentemente, a sua forma de tradução.Como é que conseguiu manter-se fiel ao texto original e, ao mesmo tempo, torná-lo compreensível para o público francófono?No caso de Tradutor de Chuvas, o desafio foi ainda maior porque se trata de um livro muito pessoal, que aborda a infância de Mia Couto e a memória do seu pai.A memória, a saudade...Sim, exactamente. O próprio Mia Couto dá, neste livro, uma definição muito poética de saudade:Saudade é o que ficou do que nunca fomosE como se traduz saudade para o francês?Diz-se sempre que "saudade" não tem tradução. Depende do contexto. Mas, neste caso específico, mantive a palavra original. Em francês, ficou algo como: "la saudade c est ce qui reste de ce que nous n'avons jamais été".Esse trabalho de mediação entre a língua portuguesa e a francesa é algo presente na sua carreira. Como é para si, que trabalha com vários autores lusófonos, como Lídia Jorge, por exemplo, lidar com estilos tão diferentes? Suponho que precise entrar no universo de cada escritor?Sim, e é isso que torna a tradução tão fascinante. Cada livro é um mergulho no mundo particular do autor. No caso da mediação cultural, um bom exemplo foi a tradução de Terra Sonâmbula, que traz toda a história de Moçambique. A língua portuguesa, tal como falada em Moçambique, tem as suas particularidades. Além disso, Mia Couto faz empréstimos de palavras de línguas africanas, e muitas delas não são traduzidas. Ele costuma incluir glossários nos seus livros, e eu mantive essa abordagem na tradução para o francês. É uma forma de levar outra cultura para o leitor francófono.Em algum momento, entra em contacto com o autor para esclarecer dúvidas sobre passagens específicas?Sim, mantemos contacto por e-mail. Costumo enviar-lhe perguntas sobre certos trechos, às vezes sobre aspectos históricos de Moçambique que não encontrei nas minhas leituras. O diálogo é frequente.Tem expectativas em relação à receção desta primeira coletânea poética de Mia Couto pelo público francês?Sim. Gostaria que os leitores francófonos descobrissem essa vertente poética da obra de Mia Couto, que ainda não tinha sido publicada em França. E que pudessem, através dela, entrar em contacto com essa outra definição de saudade – um conceito tão importante na literatura e na cultura de língua portuguesa.

Vois Lis Voix Là : le Podcast de ActuaLitté
Oplibris : du projet à la solution, en deux années

Vois Lis Voix Là : le Podcast de ActuaLitté

Play Episode Listen Later Feb 21, 2025 71:53


Table-ronde dans le cadre des Deuxièmes Assises de l'édition indépendante, qui se tiennent à Bordeaux les 20 et 21 février. En deux ans, OPlibris, projet ambitieux co-initié par la FEDEl, sera passé d'une jolie idée, présentée aux premières Assises, à une solution opérationnelle pour les maisons d'édition qui souhaitent l'utiliser. Ces deuxièmes Assises seront l'occasion d'annoncer le lancement de la première tranche de fonctionnalités mise à disposition, de présenter l'existant et les perspectives. Ce sera également un moment pour parler de la Société Coopérative d'Intérêt Collectif, qui porte le déploiement du projet, de son mode de gouvernance et de ses ambitions, au-delà de la solution métier proposée. → Une table ronde animée par Anne-Sophie Novel (journaliste), en présence de Véronique Backert (directrice générale, Dilicom), Albert de Pétigny (président et cofondateur OPlibris), Anne Lima (éditrice, Chandeigne & Lima, et administratrice OPlibris) et Geoffroy Pelletier (directeur général, La SOFIA).

Grand Large
Michel Chandeigne

Grand Large

Play Episode Listen Later Aug 24, 2024 6:47


Mention légales : Vos données de connexion, dont votre adresse IP, sont traités par Radio Classique, responsable de traitement, sur la base de son intérêt légitime, par l'intermédiaire de son sous-traitant Ausha, à des fins de réalisation de statistiques agréées et de lutte contre la fraude. Ces données sont supprimées en temps réel pour la finalité statistique et sous cinq mois à compter de la collecte à des fins de lutte contre la fraude. Pour plus d'informations sur les traitements réalisés par Radio Classique et exercer vos droits, consultez notre Politique de confidentialité.Hébergé par Ausha. Visitez ausha.co/politique-de-confidentialite pour plus d'informations.

Reportagem
Última livraria portuguesa e brasileira da França pode fechar as portas em Paris

Reportagem

Play Episode Listen Later Jun 19, 2024 5:18


Nas prateleiras, autoras como Conceição Tavares e Djamila Ribeiro se misturam  a nomes mais tradicionais como Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado. Há 38 anos, a paixão de Michel Chandeigne pelo universo da língua portuguesa mantém abertas as portas azuis da tradicional Livraria Portuguesa e Brasileira de Paris, em frente à pracinha de L'Estrapade, local que se tornou ponto de peregrinação de fãs da série "Emily in Paris": a protagonista "mora" na frente.  "Às vezes eu gostaria de deixar um microfone escondido aqui na frente da porta, para ouvir e gravar o que as pessoas estão dizendo, porque há uma surpresa real das pessoas que passam ao descobrir uma livraria de língua portuguesa. Também é muito divertido ouvir esses comentários", brinca Corinne Saulneron, braço direito (e esquerdo) de Michel Chandeigne na Livraria Portuguesa e Brasileira de Paris. Responsável não só por acolher o público, a francesa Corinne sabe dizer em minúcias de detalhes, com uma incrível miríade de sutilezas, a diferença entre um Jorge Amado de tal época e suas versões mais atuais, o subtexto presente na ironia do baiano, ou ainda quantas vezes aquela obra específica foi republicada."Temos 8 mil títulos disponíveis na livraria e também tentamos dar visibilidade aos novos lançamentos brasileiros. Não estamos preocupados em ter sempre livros novos. O que gostamos mesmo é de ter livros aprofundados, livros que podemos recomendar, livros em que acreditamos e que amamos", detalha Saulneron."Então, tentamos seguir em frente mesmo com os problemas. E também levamos em conta nossos clientes. Temos a sorte de ter parcerias com as grandes bibliotecas, instituições que confiam em nós, como a BNF, a Biblioteca Nacional da França, que nos pede belos livros de arte do Brasil", diz. "Estamos tentando nos tornar mais visíveis gradualmente. Por isso, também gostaríamos de agradecer à [série] Emily in Paris, não é? A famosa série que tirou a Place de l'Estrapade da obscuridade e nos trouxe mais alguns clientes, e uma clientela mais jovem. Sim, temos mais jovens que estão se aventurando pela livraria agora", comemora.Única na França"A Livraria Portuguesa e Brasileira é a única na França", lembra o proprietário, Michel Chandeigne. "E também não há quase nenhuma livraria hispânica, porque as grandes livrarias hispânicas desapareceram há mais de 15 anos. Essa é a evolução normal dos livros estrangeiros na França. As livrarias estrangeiras fecham porque precisam competir com sites on-line diretos em países como Portugal, Espanha, Brasil, e assim por diante", contextualiza. "E também porque os livros estrangeiros podem ser encontrados de segunda mão em tantos sites que os leitores - estudantes - preferem ler em PDFs, eles não compram mais livros. Portanto, há uma queda na demanda, o que torna bastante complicado manter o ritmo", admite Chandeigne. "Somos capazes de manter essa atividade na livraria porque também publicamos livros, e porque dou muitas palestras, e estamos em uma boa localização, um bom endereço", diz o proprietário francês. "E a Corinne [funcionária e produtora de eventos da livraria desde 2015] tem muita energia, além do fato da livraria ter 38 anos. Temos também um site que atende clientes em todo o mundo, portanto, estamos nos mantendo. Mas a tendência é de erosão. Perdemos quase todos os nossos clientes em potencial devido às vendas online. Não se trata apenas da Amazon. São todos os sites que vendem livros online, e os nossos são livros estrangeiros", lembra. Pessoas de todo o mundo"O público é extremamente variado porque temos pessoas de todo o mundo. Temos um site que nos permite fazer entregas. Acabei de enviar livros para os Estados Unidos esta manhã, mas também enviamos para o Japão", conta Corinne Saulneron, que recebe os clientes na livraria há 9 anos. "Fazemos entregas em quase todos os lugares porque, na verdade, a cultura portuguesa semeou admiradores em quase todo o mundo. Isso significa que tenho até vietnamitas que vêm comprar livros comigo no verão, porque eles ainda estão ensinando português no Vietnã", conta."O público é extraordinariamente variado. É por isso que é um prazer. Temos 80% dos livros em português e 20% de traduções de livros lusófonos brasileiros, portugueses ou africanos. E, acima de tudo, também temos livros sobre descobertas, um pouco um hobby, para Michel Chandeigne, que adora histórias de navegação e naufrágios, especialmente naufrágios", diverte-se Corinne Saulneron."As livrarias estrangeiras em todo o mundo, e isto é fenômeno geral, estão desaparecendo, exceto as livrarias francesas, porque são subsidiadas pelo Estado francês, recebem ajuda e apoio", sublinha o livreiro. "Portanto, as livrarias francesas subsistem em todo o mundo. Mas essa é uma política governamental. E, no momento, essa política não contempla o lado brasileiro ou português. Talvez isso mude", analisa."Há 10 anos, não era possível encontrar todos esses livros brasileiros e portugueses online. Agora é possível encontrá-los em sites de segunda mão na França, no exterior, em todos os lugares. Portanto, a concorrência está em toda parte. Não há lei, é uma anarquia. Em Portugal, por exemplo, as editoras podem fazer vendas diretas subtraindo o preço dos livros desde o início, com descontos de 30 a 40%. Eles não têm essa lei de preço único, que protege a rede de editoras e livrarias na França", conclui o proprietário."Diversifiquei as atividades da livraria fazendo muitas conferências, então temos essa fonte adicional de renda. Mas é só isso. O futuro a médio prazo é que essa livraria desaparecerá, sim", lamenta Chandeigne.

Culture en direct
Du Portugal au bidonville de Massy, entretien avec le documentariste et écrivain José Vieira

Culture en direct

Play Episode Listen Later May 11, 2024 28:45


durée : 00:28:45 - L'Entretien littéraire de Mathias Enard - par : Mathias Énard - Mathias Enard s'entretient avec José Vieira à l'occasion de la parution de son premier livre "Souvenirs d'un futur radieux" aux éditions Chandeigne. Une histoire familiale marquée par l'exil, près de 50 ans après la révolution des Œillets au Portugal. - invités : José Vieira Documentariste

Accents d'Europe
Révolution des œillets : le Portugal fête 50 ans de démocratie

Accents d'Europe

Play Episode Listen Later Apr 25, 2024 19:30


Le 25 avril 1974, un coup d'État mettait fin à 48 ans de dictature et ouvrait la voie de la démocratie et de la construction européenne. Le 25 avril 74 est resté dans l'Histoire et les mémoires comme le jour de la Révolution des œillets. Une révolution dont les racines et les conséquences s'inscrivent au-delà des frontières du pays, de l'Afrique à l'Europe. En 1974, le dictateur Salazar est mort depuis 4 ans déjà. Sa succession n'a pas permis au pays de revenir à l'État de droit, et les militaires, usés par les guerres coloniales, renversent le régime totalitaire et ouvrent le pays à la démocratie.Avec l'historien Yves Léonard, professeur à Sciences Po, spécialiste de l'histoire contemporaine du Portugal. Parmi ses nombreux ouvrages : Sous les œillets la révolution (Chandeigne, Paris, 2023), Salazar, le dictateur énigmatique (Perrin, Paris, 2024), Histoire de la nation portugaise (Taillandier, Paris, 2022).Et les témoignages recueillis par la rédaction de RFI en portugais. Trois questions à Carina Branco, journaliste de la réaction lusophone :Juliette Gheerbrant : À l'occasion de l'anniversaire de la Révolution des œillets RFI en portugais publie une riche série de podcasts, « Revoluçao dos Cravos » pour laquelle vous êtes allée à la recherche, de Lisbonne à Paris, de résistants à la dictature ; pouvez-vous partager quelques-unes de ces rencontres ?Carina Branco :  Il y a d'abord Domingos Abrantes, 80 ans, et son épouse Conceição Matos, qui se sont mariés quand lui était en prison. Il y est resté 11 ans, elle un an et huit mois. Ils ont été torturés par la police politique. Comme tous les opposants au régime dictatorial, ils étaient accusés d'atteinte à la sécurité nationale pour appartenance au Parti Communiste Portugais, interdit. Mais lui a aussi commis « un autre crime » : il a fait partie d'une des évasions collectives les plus spectaculaires de cette époque. C'était en 1961 et avec sept camarades, ils ont forcé le portail principal de la prison de Caxias à bord d'une voiture de luxe, pas n'importe laquelle comme il le raconte : « C'est une histoire digne d'un film. Elle est entrée dans l'histoire. C'était une évasion à connotation politique, d'une prison privée de la PIDE, la police politique, à bord d'un véhicule blindé du dictateur ! On dit que Salazar n'a plus jamais voulu remettre les pieds dans la voiture car elle avait été souillée par des communistes ! Il a fallu 19 mois pour préparer l'évasion, rendue possible grâce à la complicité du mécanicien chargé de ces véhicules, qui avait réussi à gagner la confiance des gardiens. Un pari risqué pour les fugitifs : La voiture a foncé vers le portail et la grande inconnue était : que va-t-il se passer ?… C'est le moment décisif. Si la voiture ne passe pas, nous sommes tous morts. C'est le moment décisif de toute l'histoire, de nos vies. La voiture est passée, elle a défoncé une partie du portail et on a vu le bois voler dans les airs. Elle a été complètement cabossée à l'avant. L'évasion a duré 60 secondes. Il a fallu 19 mois pour atteindre 60 secondes. Mais ces 60 secondes semblent avoir arrêté le temps. »Sous la dictature, vous l'évoquiez la torture était très répandue, que vous ont rapporté les témoins ?Domingos Abrantes est resté des jours et des nuits debout sans pouvoir s'asseoir ni dormir, il a subi des chocs électriques, le « trou » - une cellule où n'entraient ni lumière ni son et où il sentait enterré vivant). « Le rôle de la police, explique-t-il, était de détruire la lutte organisée car le fascisme ne pouvait être renversé que par la lutte. Il n'y avait pas d'autre moyen. Les gens étaient des pauvres, exploités, mais ils étaient capables de tout risquer pour améliorer leur vie et celle des autres. » Son épouse, Conceiçao Matos a, elle aussi, été soumise à la privation de sommeil, à l'interdiction d'aller aux toilettes, humiliée et battue par les gardiennes, comme elle le raconte : « L'une d'elles m'a attrapée, elles m'ont déshabillée et elle a commencé à me donner des coups de pied dans les tibias, à me frapper au visage, à frapper... C'était terrible et je suis tombée par terre. Elles m'ont relevé, et ont continué. Et à un moment donné, au bout de nombreuses heures, la femme a dit : Partons, car cette merde ne parlera pas et si je reste plus longtemps, je vais lui faire la peau ! »  En 1973, Conceiçao Matos et Domingos Abrantes ont pu s'exiler à Paris pour continuer leur lutte. Ils sont retournés au Portugal juste après la révolution à bord ce qu'on a appelé l'avion de la liberté, qui a ramené beaucoup d'exilés politiques de Paris à Lisbonne.Malgré la violence de la répression, la résistance était donc très active ?  Beaucoup des gens que j'ai rencontrés savaient que tôt ou tard, ils iraient en prison, mais ils agissaient chacun à leur niveau, comme le prêtre Francisco Fanhais, qui a soutenu la LUAR, Ligue d'Union et Action Révolutionnaire et qui faisait aussi de la résistance en musique. Il a enregistré, aux côtés du musicien Zeca Afonso, la chanson qui allait devenir le symbole de la révolution : Grândola Vila Morena. Certains s'en prenaient à l'appareil militaire destiné aux guerres coloniales. La résistance était aussi active dans les rédactions et le monde de l'édition. La journaliste Helena Neves m'a expliqué comment il fallait constamment jouer avec la censure dans les journaux pour réussir à raconter le pays entre les lignes. La police politique interdisait les livres considérés comme subversifs. L'un des plus célèbres s'intitule Nouvelles lettres portugaises, aussi connu comme le livre des trois Maria, il raconte la condition des femmes et a été écrit en 1972 par trois d'entre elles, dont Maria Teresa Horta, âgée aujourd'hui de 86 ans, que j'ai rencontrée : « C'est un livre politique, essentiellement politique, écrit dans un pays fasciste par trois femmes. À cette époque, au Portugal, il n'est pas étonnant que ce livre ait fait l'effet d'une bombe. Il a provoqué un scandale. Pour moi, et pour les autres, c'était une lueur car on vivait dans ce pays fasciste avec une tristesse intrinsèque, et aussi un immense sentiment de révolte intérieure et extérieure. En fait, nous avons seulement compris que ce livre pouvait être « dangereux » pour nous quand il a été interdit. »  La dictature a considéré le livre comme « pornographique et offensant pour la morale publique » et les autrices ont été menacées d'une peine allant de six mois à deux ans de prison, parce qu'il y était question sans tabou de sexe, de désir, mais aussi de violence, de viol, d'inceste, d'avortement clandestin, d'oppression domestique, sociale et politique sur les femmes. Mais aussi des guerres coloniales, de la pauvreté, de l'émigration. Publié dès 74 en français, aux éditions du Seuil, c'est un témoignage fort de ce qu'était la société portugaise sous la dictature.

Accents d'Europe
Révolution des œillets : le Portugal fête 50 ans de démocratie

Accents d'Europe

Play Episode Listen Later Apr 25, 2024 19:30


Le 25 avril 1974 un coup d'État mettait fin à 48 ans de dictature et ouvrait la voie de la démocratie et de la construction européenne. Le 25 avril 74 est resté dans l'Histoire et les mémoires comme le jour de la révolution des œillets. Une révolution dont les racines et les conséquences s'inscrivent au-delà des frontières du pays, de l'Afrique à l'Europe. En 1974 le dictateur Salazar est mort depuis 4 ans déjà. Sa succession n'a pas permis au pays de revenir à l'état de droit, et les militaires, usés par les guerres coloniales, renversent le régime totalitaire et ouvrent le pays à la démocratie.Avec l'historien Yves Léonard, professeur à Sciences Po, spécialiste de l'histoire contemporaine du Portugal. Parmi ses nombreux ouvrages :  Sous les œillets la révolution (Chandeigne, Paris, 2023), Salazar, le dictateur énigmatique (Perrin, Paris, 2024), Histoire de la nation portugaise (Taillandier, Paris, 2022).Et les témoignages recueillis par la rédaction de RFI en portugais. Trois questions à Carina Branco, journaliste de la réaction lusophone :Juliette Gheerbrant : À l'occasion de l'anniversaire de la révolution des œillets RFI en portugais publie une riche série de podcasts, « Revoluçao dos Cravos » pour laquelle vous êtes allée à la recherche, de Lisbonne à Paris, de résistants à la dictature ; pouvez-vous partager quelques-unes de ces rencontres ?Carina Branco :  Il y a d'abord Domingos Abrantes, 80 ans, et son épouse Conceição Matos, qui se sont mariés quand lui était en prison. Il y est resté 11 ans, elle un an et huit mois. Ils ont été torturés par la police politique. Comme tous les opposants au régime dictatorial, ils étaient accusés d'atteinte à la sécurité nationale pour appartenance au Parti Communiste Portugais, interdit. Mais lui a aussi commis « un autre crime » : il a fait partie d'une des évasions collectives les plus spectaculaires de cette époque. C'était en 1961 et avec sept camarades ils ont forcé le portail principal de la prison de Caxias à bord d'une voiture de luxe, pas n'importe laquelle comme il le raconte : « C'est une histoire digne d'un film. Elle est entrée dans l'histoire. C'était une évasion à connotation politique, d'une prison privée de la PIDE, la police politique, à bord d'un véhicule blindé du dictateur ! On dit que Salazar n'a plus jamais voulu remettre les pieds dans la voiture car elle avait été souillée par des communistes ! Il a fallu 19 mois pour préparer l'évasion, rendue possible grâce à la complicité du mécanicien chargé de ces véhicules, qui avait réussi à gagner la confiance des gardiens. Un pari risqué pour les fugitifs : La voiture a foncé vers le portail et la grande inconnue était : que va-t-il se passer ?… C'est le moment décisif. Si la voiture ne passe pas, nous sommes tous morts. C'est le moment décisif de toute l'histoire, de nos vies. La voiture est passée, elle a défoncé une partie du portail et on a vu le bois voler dans les airs. Elle a été complètement cabossée à l'avant. L'évasion a duré 60 secondes. Il a fallu 19 mois pour atteindre 60 secondes. Mais ces 60 secondes semblent avoir arrêté le temps. »Sous la dictature vous l'évoquiez la torture était très répandue, que vous ont rapporté les témoins ?Domingos Abrantes est resté des jours et des nuits debout sans pouvoir s'asseoir ni dormir, il a subi des chocs électriques, le « trou » - une cellule où n'entraient ni lumière ni son et où il sentait enterré vivant). « Le rôle de la police, explique-t-il, était de détruire la lutte organisée car le fascisme ne pouvait être renversé que par la lutte. Il n'y avait pas d'autre moyen. Les gens étaient des pauvres, exploités, mais ils étaient capables de tout risquer pour améliorer leur vie et celle des autres. » Son épouse, Conceiçao Matos a, elle aussi, été soumise à la privation de sommeil, à l'interdiction d'aller aux toilettes, humiliée et battue par les gardiennes comme elle le raconte : « L'une d'elles m'a attrapée, elles m'ont déshabillée et elle a commencé à me donner des coups de pied dans les tibias, à me frapper au visage, à frapper... C'était terrible et je suis tombée par terre. Elles m'ont relevé, et ont continué. Et à un moment donné, au bout de nombreuses heures, la femme a dit : Partons, car cette merde ne parlera pas et, si je reste plus longtemps je vais lui faire la peau! »  En 1973, Conceiçao Matos et Domingos Abrantes ont pu s'exiler à Paris pour continuer leur lutte. Ils sont retournés au Portugal juste après la révolution à bord ce qu'on a appelé l'avion de la liberté, qui a ramené beaucoup d'exilés politiques de Paris à Lisbonne.Malgré la violence de la répression, la résistance était donc très active ?  Beaucoup des gens que j'ai rencontrés savaient que tôt ou tard ils iraient en prison, mais ils agissaient chacun à leur niveau, comme le prêtre Francisco Fanhais, qui a soutenu la LUAR, Ligue d'Union et Action Révolutionnaire et qui faisait aussi de la résistance en musique. Il a enregistré, aux côtés du musicien Zeca Afonso, la chanson qui allait devenir le symbole de la révolution : Grândola Vila Morena. Certains s'en prenaient à l'appareil militaire destiné aux guerres coloniales. La résistance était aussi active dans les rédactions et le monde de l'édition. La journaliste Helena Neves m'a expliqué comment il fallait constamment jouer avec la censure dans les journaux pour réussir à raconter le pays entre les lignes. La police politique interdisait les livres considérés comme subversifs. L'un des plus célèbres s'intitule Nouvelles lettres portugaises, aussi connu comme le livre des trois Maria, il raconte la condition des femmes et a été écrit en 1972 par trois d'entre elles, dont Maria Teresa Horta, âgée aujourd'hui de 86 ans, que j'ai rencontrée : « C'est un livre politique, essentiellement politique, écrit dans un pays fasciste par trois femmes. A cette époque, au Portugal, il n'est pas étonnant que ce livre ait fait l'effet d'une bombe. Il a provoqué un scandale. Pour moi, et pour les autres, c'était une lueur car on vivait dans ce pays fasciste avec une tristesse intrinsèque, et aussi un immense sentiment de révolte intérieure et extérieure. En fait nous avons seulement compris que ce livre pouvait être « dangereux » pour nous quand il a été interdit. »  La dictature a considéré le livre comme « pornographique et offensant pour la morale publique » et les autrices ont été menacées d'une peine allant de six mois à deux ans de prison, parce qu'il y était question sans tabou de sexe, de désir, mais aussi de violence, de viol, d'inceste, d'avortement clandestin, d'oppression domestique, sociale et politique sur les femmes. Mais aussi des guerres coloniales, de la pauvreté, de l'émigration. Publié dès 74 en français aux éditions du Seuil, c'est un témoignage fort de ce qu'était la société portugaise sous la dictature.

Grand Large
Michel Chandeigne

Grand Large

Play Episode Listen Later Apr 6, 2024 6:47


Mention légales : Vos données de connexion, dont votre adresse IP, sont traités par Radio Classique, responsable de traitement, sur la base de son intérêt légitime, par l'intermédiaire de son sous-traitant Ausha, à des fins de réalisation de statistiques agréées et de lutte contre la fraude. Ces données sont supprimées en temps réel pour la finalité statistique et sous cinq mois à compter de la collecte à des fins de lutte contre la fraude. Pour plus d'informations sur les traitements réalisés par Radio Classique et exercer vos droits, consultez notre Politique de confidentialité.

Convidado
José Vieira volta aos “bidonvilles” portugueses contra amnésia colectiva

Convidado

Play Episode Listen Later Mar 22, 2024 26:06


O cineasta José Vieira lança o seu primeiro livro, “Souvenirs d'un Futur Radieux”, no qual fala dos bairros de lata portugueses dos anos 60 e mostra que “a mesma história” se repete hoje com migrantes de outras nacionalidades. José Vieira quer acabar com o silêncio em torno da história dos portugueses em França, sublinhando que essa emigração foi um acto de resistência política e uma fuga em massa à opressão e à ditadura. A emigração portuguesa em massa para França, nos anos 60 e 70, foi “uma sublevação clandestina” contra a ditadura porque “partir é resistir”, escreve José Vieira no seu primeiro livro, “Souvenirs d'un Futur Radieux” [“Memórias de um Futuro Radioso”], publicado nas vésperas dos 50 anos do 25 de Abril de 1974. Aos 66 anos, o autor de vários documentários sobre a emigração regressa aos tempos da lama e das esperanças no “bidonville” em que viveu e leva-nos até aos acampamentos dos migrantes de hoje. José Vieira aborda os sonhos, as humilhações, os medos e as injustiças daqueles que procuram “uma vida melhor” e parte da sua história para tentar abolir fronteiras e acabar com o silêncio em torno da História dos portugueses em França.O livro imprime um cunho político a uma emigração portuguesa tantas vezes etiquetada como meramente económica. José Vieira aponta esse êxodo como um acto de resistência política contra a ditadura e sublinha que os portugueses fugiam de um país “onde nada parecia possível”. Nos anos 60, os portugueses fugiam de um regime político que gerava opressão e miséria, hoje são outros migrantes que fogem de outras ditaduras e de outras misérias. A grande maioria vai parar a “bairros de lata”. Também hoje como ontem. “Toda a emigração é política”, resume José Vieira em conversa com a RFI, insistindo que “a miséria é política”.José Vieira é o cineasta que mais tem quebrado silêncios em torno dos bairros de lata portugueses em França. Fê-lo em busca das suas próprias memórias, mas também porque os “bidonvilles” continuam a ser uma realidade com migrantes de outras geografias. Ele próprio foi para França em 1965, com sete anos, e viveu cinco anos no bairro de lata de Massy, nos arredores de Paris. A sua história levou-o a realizar vários documentários sobre a emigração portuguesa para França e a estabelecer paralelos com o presente. “A Fotografia Rasgada”, “Os Emigrantes”, “O País Aonde Nunca se Regressa”, “Aquele Estranho Mês de Maio”, “Crónica dos Anos de Lama”, “A Ilha dos Ausentes”, "Souvenirs d'un Futur Radieux", “Le Bateau en Carton” e “Nous Sommes Venus” são alguns dos seus filmes que retratam histórias de exílios, silêncios e ausências.Toda a sua obra cinematográfica gira em torno da emigração, com imagens, sons e relatos que saltam de uns filmes para os outros como se tudo fosse uma vasta odisseia filmada. E foram alguns dos textos dos seus documentários que fizeram nascer o livro “Souvenirs d'un Futur Radieux” que, por sua vez, é o título de um dos seus filmes. Os títulos dos capítulos também retomam títulos de filmes, como num ciclo em que tudo recomeça. No fundo, como ele admite, é “sempre a mesma história”, mas agora “mais brutal” contra os migrantes.O livro “Souvenirs d'un Futur Radieux”  inaugura a colecção “Brûle-Frontières” da editora francesa Chandeigne.  "É sempre a mesma história e a história está a ser cada vez mais brutal"RFI: O livro é publicado nos 50 anos do 25 de Abril de 1974. Diz que “há alturas em que partir é resistir” e que “o nosso êxodo foi uma sublevação clandestina contra um poder brutal”. Como é que a ditadura foi responsável por aquilo que chama de “hemorragia humana”, ou seja, de um milhão e meio de pessoas que fugiram de Portugal? José Vieira, Autor de “Souvenirs d'un Futur Radieux”: Primeiro, o que fez partir muita gente foi a guerra colonial na Guiné-Bissau, Angola e Moçambique. Há muita malta nova, mais do que as pessoas muitas vezes pensam, que foi embora por causa da guerra colonial. E depois há muitas pessoas que também foram embora por causa da guerra colonial porque naquela época a guerra come 40% do orçamento do Estado português. Portanto, eu acho que a guerra colonial aqui é muito importante. Depois, há o facto que - eu vi na minha família - a partir dos anos 60, no campo, as pessoas não se safam, não conseguem ganhar a vida com o trabalho no campo porque a ditadura claramente faz a escolha de que os preços da agricultura não aumentem e todos os outros preços industriais vão aumentar e, portanto, as pessoas vão ficar numa verdadeira miséria. E depois há outra coisa que é importante: é que havia uma opressão enorme e há muita malta nova que se vai embora para simplesmente procurar um futuro porque não veem  futuro nenhum. Houve pessoas que me disseram - pessoas que vêm do povo, que mal tinham a quarta classe - que sabiam perfeitamente que em Portugal não tinham nenhuma oportunidade de fazer qualquer coisa na vida deles, que não tinham futuro. E as pessoas vão à procura de um futuro.As mulheres também vão à procura de uma emancipação porque é uma sociedade que é dura com as mulheres, sobretudo nas aldeias e, portanto, há muitas mulheres que vão partir sós e o exemplo que a gente conhece melhor é o da Linda de Suza. Muitas mulheres foram-se embora sozinhas de Portugal.De qualquer maneira, a situação de guerra, de miséria e de opressão que Portugal vivia nos anos 60 era a ditadura, claramente era a ditadura. Quer dizer, o atraso que a gente tinha a todos os níveis, as pessoas analfabetas, o país na Europa onde morriam mais crianças... Portugal parecia um país do terceiro mundo naquela época. Eu acho que a ditadura é completamente responsável. Há aqui uma responsabilidade enorme do regime de Salazar e da ditadura.Mas ainda hoje, quando se fala na emigração portuguesa para França, nos anos da ditadura, fala-se muito em emigração económica. No livro, o José Vieira defende que esta foi essencialmente e intrinsecamente uma emigração política.O problema é que toda a emigração é política. Quer dizer, porque é que as pessoas fogem? Porque é que as pessoas se vão embora? Porque claramente - em Portugal  e hoje o que se está a passar em África, no Afeganistão, na Eritreia, ou não sei onde - são razões políticas que fazem partir as pessoas. A miséria é uma questão política. O meu pai não é responsável da sua miséria! O meu pai fez tudo para sair, para não ser pobre, para se safar na vida, para se governar. É uma questão política! Quer dizer, há uma escolha política de sacrificar essas pessoas, o campo. Para mim, toda a emigração é política.Também mostra que a ditadura continuou a oprimir os portugueses em França. Até tem uma frase, no livro, em que diz que foi na escola republicana francesa que “aprendeu a arte de ser um pequeno fascista”…Na época, era à quinta-feira que tínhamos aulas de português. Eu tirei a quarta classe em França, portanto, era a preparação para a quarta classe, como em Portugal, e tínhamos exactamente os mesmos livros. Quando a gente vê os livros em que aprendeu a ler, a escrever, a geografia, a História, era uma História revista pelo fascismo português, que não tinha nada a ver com a realidade e portanto, estávamos a aprender a ser pequenos fascistas na escola da República Francesa! É um escândalo quando a gente pensa nisso hoje. Parece incrível porque claramente o governo francês apoiava o governo português na questão da guerra colonial, na venda de armas, etc. A gente sabe que havia ligações dos serviços da PIDE com os serviços secretos franceses, mas mesmo assim aqui estávamos numa democracia. O que a gente estava a aprender nos anos 60 eram coisas que os pequenos franceses aprenderam durante a Segunda Guerra Mundial quando estava o marechal Pétain no Governo. Naquela época era o De Gaulle que era o Presidente da República e que tinha lutado contra Pétain. Portanto, é um pouco paradoxal.Começa com um capítulo chamado “Os Anos de Abril”. O que é que são estes “anos de Abril”? Os “anos de Abril” são os anos que vão levar ao 25 de Abril. Os anos de Abril, para mim, são os anos em que, na minha família, pouco a pouco, vamos tomar consciência do que é a ditadura portuguesa. Primeiro, porque estávamos completamente debaixo da propaganda e vamos tomar, pouco a pouco, consciência que a guerra não é para defender uma civilização ou não sei o quê. É claramente para defender interesses dos industriais e de um certo número de pessoas. Depois, ensinaram-nos uma religião que é só para oprimir o Homem, com um Deus inquisidor. E o meu Pai representa isso tudo naquele momento para nós que somos jovens revoltados. Portanto, os anos de Abril é uma revolta contra o patriarcado, contra a propaganda, contra o fascismo, contra o colonialismo.Até que chega o 25 de Abril e cai tudo e o regime desaparece como se fosse um baralho de cartas. São anos que, para mim, foram os anos mais formadores, em que eu conheci jovens que tinham 20 e tal anos. Naquela época, em 1974, eu tinha 16 anos e conheci jovens que tinham fugido da guerra colonial e que me fizeram ter consciência que eu fazia parte de uma classe social, da classe operária.No livro fala de si, fala consigo, mas também fala do seu pai, da sua mãe, fala à sua filha. É a história de uma família, uma história muito pessoal, de muita luta. Por que é que decidiu escrever este livro? Porque a impressão que eu tenho é que se alguém tivesse escrito isto, eu não precisava de o escrever. A impressão que me dá é que eu passei por uma história que não foi escrita. Há tentativas aqui e além, mas tenho a impressão, e mesmo com este livro, que ainda não foi escrita. Eu já fiz bastante filmes sobre a emigração portuguesa e os franceses muitas vezes têm a impressão que não temos história. Quer dizer, que os portugueses chegaram aqui, não tiveram dificuldades nenhumas, que viemos de um país que era uma espécie de fascismo de “operette”.Um fascismo brando, dócil…?Sim e finalmente tenho a impressão que não há nada sobre o que se passou, sobretudo nos anos 60. Há poucos filmes, há pouca literatura. Há aqui um vazio que eu tento preencher e que acho importante preencher.Ou seja, mais uma vez, neste livro, como em grande parte da sua obra cinematográfica, mostra uma realidade que aqueles que a viveram quiseram esconder ou esquecer. Mostra a miséria, mostra a exploração dos portugueses, em contraste com as narrativas, por exemplo, de empresários de sucesso em França. Há uma vontade de mostrar os bastidores, de lutar contra uma certa amnésia colectiva?Primeiro, eu tento simplesmente contar por onde eu passei e por onde passaram as pessoas com quem eu vivi. E depois há uma espécie de “storytelling” à volta da emigração portuguesa a dizer que é uma emigração de sucesso, que é um êxito. Quer dizer, materialmente, claramente é um êxito para a maior parte das pessoas. Mas ao nível humano acho que toda a emigração é uma coisa complicada, é uma dificuldade e deixa traumas nas pessoas. E é isso que tento contar, que a coisa não se passou assim tranquilamente, que houve bastantes problemas.Fala em traumas. Recorde-nos com que idade é que chegou a França e como foram os primeiros anos no bairro de lata de Massy.Tinha sete anos e meio e cheguei a um bairro de lata que era um pouco um caos ao princípio, sobretudo com as pessoas todas a chegarem de Portugal, foi um momento, em 1965, em que estava a emigração mesmo a acelerar. E no meio da lama... Esses dois primeiros anos, sobretudo, foram um pouco complicados. Quer dizer, não houve hospitalidade da parte dos franceses. Às vezes é melhor a gente esquecer as coisas também, não é? Eu compreendo que haja pessoas que tenham vontade de esquecer o que se passou. Foi bastante complicado e fomos mal acolhidos, às vezes mal acolhidos. Muitas vezes ouvi dizer que se não estamos contentes em França, podem fazer melhor e regressar ao vosso país. Quer dizer, a gente ouviu um certo número de coisas e é verdade que para agir é preciso esquecer um pouco. Se a gente está sempre a pensar no que passou e as dificuldades por que passou pode ser um pouco paralisante. Eu acho que a gente relembrar e partir da nossa memória para fazer a história, confrontar essa história com a história dos outros, tentar fazer a história de uma emigração e confrontar também a nossa história de emigração com outras migrações, eu acho que é importante para a gente avançar porque o que eu vejo na emigração portuguesa é muito silêncio. E esse silêncio não faz avançar nada. Quer dizer, esse silêncio só põe problemas. Por exemplo, o meu pai nunca me falou da infância dele. O meu pai só me dizia que eu não sabia o que era ter fome. Mas eu compreendi que ele passou fome. Mas não me dizia mais que isso. Eu acho que esse silêncio não ajuda em nada. O problema é que as pessoas se sentem culpadas pelo que passaram. Se as pessoas tivessem reflectido um pouco mais sobre isto ter uma dimensão colectiva, que não é só uma emigração individual ou um destino individual, se as pessoas tivessem compreendido isso e tivessem reflectido sobre isto, também seria mais fácil para toda a gente avançar junta.  Encontrei muitos filhos de emigrantes a quem falta história, palavras, imagens da emigração e isso vai-se transmitindo nas gerações. E não é bom porque depois, não estando a reflectir sobre isso, as pessoas são capazes de fechar a porta. De fechar a porta aos outros emigrantes e votar por pessoas que só propagam o ódio.O José Vieira fala nos bairros de lata, nas injustiças que viu e que viveu enquanto emigrante. Ainda assim, muitas vezes fala de uma “infância feliz”. Como é que é possível ter uma infância feliz num bairro de lata? Eu era uma criança que queria brincar. Quando a gente chegava de Portugal, havia coisas aqui que não existiam em Portugal. Vivíamos em barracas durante o inverno, no meio da lama, tínhamos frio durante o Inverno, mas, quando chegava a primavera e o verão, íamos à descoberta de um país que para nós era praticamente tudo desconhecido. Era tudo novo e havia tantas coisas aqui que não havia em Portugal, por exemplo, jogos. Os livros que a gente encontrava no lixo porque naquela época não eram os nossos pais que compravam isso, a gente desenrascava. O facto de ter um pouco de dinheiro que a gente em Portugal não tinha…No meio disto tudo, éramos crianças e estávamos sempre a brincar no bairro de lata. Eu acho que em todos os bairros de lata do mundo inteiro as crianças continuam a brincar. E foi o que se passou. A gente simplesmente continuou a brincar porque éramos crianças que queríamos jogar aos índios e aos cowboys, que queríamos arranjar um pouco de dinheiro para comprar rebuçados. Era uma vida de criança. Quando filmei os romenos, por exemplo, no dia da expulsão, eu lembro-me muito bem que chegou a polícia às seis da manhã, deitou as pessoas todas fora. Em cinco minutos, deitaram tudo para fora do bairro de lata e as pessoas instalaram-se lá mesmo ao pé, num parque de estacionamento. A primeira coisa que as crianças fizeram foi começar a brincar. E a polícia ainda estava ali, à volta daquilo tudo. E as crianças começaram logo a brincar porque é uma reacção de sobrevivência, é para viver.O livro chama-se “Souvenirs d'un Futur Radieux” que é o nome de um documentário em que filma, justamente, os migrantes romenos, assim como o fez no filme “Le Bateau en Carton”. O que é que são estas “memórias de um futuro radioso”? É uma coisa muito simples. Nos anos 60, eu tinha 7, 8,9,10 anos. Muitos livros diziam que no ano 2000 já não haveria miséria no mundo, que já não haveria injustiça no mundo, que já haveria vilas no espaço, vilas submarinas, que seria o progresso total e que a humanidade seria feliz simplesmente. Se procurar hoje arquivos dessa época, é o que é dito na televisão e nos livros, que o ano 2000 seria um futuro radioso, que não haveria injustiças, que não haveria miséria e que não haveria emigração. Eu era miúdo, acreditei nisso, claro. E todos os miúdos da minha geração acreditaram nisso. Isso nunca existiu. Passado o ano 2000, estamos cada vez pior. Por isso é que é “souvenirs” porque tenho lembranças de um futuro que seria radioso, mas que não foi. Os anos 60 para mim foram isso. Quer dizer, a gente morava num bairro de lata, em condições um pouco difíceis, mas para nós o futuro era radioso. Quando a gente é criança, o mais importante é o futuro. Quer dizer, estamos sempre a projectarmo-nos. Eu acreditava e estava convencido que o futuro seria radioso. Não foi.E a prova é que ainda há bairros de lata e o José Vieira continua a filmá-los… Eu nunca imaginei, mesmo quando tinha 20 e tal anos, que filmaria bairros de lata nos arredores de Paris. Nunca imaginei...O que mais dói no livro é que o relato da sua vida, da sua família nos bairros de lata, das injustiças permanentes, da xenofobia, dos preconceitos relativamente aos migrantes que atravessam fronteiras em busca de uma vida melhor acabam por esbarrar nas fronteiras humanas. Meio século depois, outros migrantes estão a passar pela mesma história. É sempre a mesma história?É sempre a mesma história. E é pior que isso. É uma história cada vez mais complicada para as pessoas. É cada vez mais complicado chegar à Europa. É cada vez mais complicado sair do seu país, arranjar papéis nos Estados Unidos, na Europa, etc. É sempre a mesma história e ao mesmo tempo, a história está a ser cada vez mais brutal. O que vive hoje um jovem que sai de África, por exemplo, que leva um ano ou dois anos a atravessar África e a atravessar o Mediterrâneo quando chega à Europa – se chegar porque muitos morrem – é a mesma história. Mas, ao mesmo tempo, é muito mais complicado que aquilo que a gente viveu, que o que viveram os nossos pais. Atravessar os Pirenéus, atravessar a Espanha e também houve mortos. Mas não tem nada a ver, agora é muito mais brutal o que se está a passar, muito mais brutal.É por isso que faz filmes? Para recordar o que foram os bairros de lata e fazer com que as fronteiras sejam finalmente abolidas?Estou convencido de uma coisa: se hoje estivéssemos numa situação em que houvesse pouca emigração, em que as coisas se passassem bem, em que as pessoas tivessem a possibilidade de viver no país delas - porque é isso que as pessoas querem,  ninguém quer emigrar - eu estou convencido que não falaria do que se passou. Porque é que eu digo isto? Porque é o facto de eu ver o que se está a passar hoje, as odisseias das pessoas a emigrarem para a Europa, isso é que desperta a minha memória.Muitas vezes, quando escuto um africano a falar, penso: “Eu não pensei nesse aspecto. Já ouvi portugueses a dizer isso quando eu era pequeno. Hoje, se vivêssemos num mundo um pouco melhor, eu não precisava de estar a contar o que a gente passou. Não precisava, não havia necessidade, simplesmente diria que passámos um momento difícil, mas está tudo bem agora. Mas o problema é que passámos por um momento difícil, mas está tudo cada vez pior. Hoje, a França e a Europa estão a tratar cada vez pior os estrangeiros que estão a chegar. A gente não foi assim muito bem tratada, mas agora? A maior parte dos portugueses chegavam clandestinos, sem papéis. As pessoas chegavam sem papéis - havia explorações e havia patrões que aproveitavam a situação para explorar os emigrantes - mas as pessoas tinham papéis rapidamente, não é? Agora são precisos 10, 15 anos para arranjar os papéis. E durante esses 10, 15 anos, as pessoas são exploradas e não podem viver normalmente. É terrível. Para mim é terrível. Eu não sei como é que as pessoas aguentam isso.A dada altura, no livro escreve: “Sabes, minha filha, nunca se emigra impunemente. Todas as fronteiras que foi preciso abolir para chegar aqui deixaram sequelas”. Que sequelas são essas? Ou, voltando à mesma questão: porque é que é preciso que o José Vieira lance a cada filme uma pedra no charco ao lembrar o que são os bairros de lata, as dificuldades, as migrações, as infâncias roubadas, as vidas adultas exploradas... Digo isto à minha filha porque, muitas vezes, ela não compreende... Ela é francesa, também tem a identidade portuguesa. Eu sinto-me de cultura francesa, mas não digo que sou francês. Não sou porque sou emigrante, a minha filha é francesa, nasceu aqui, etc. Para ela, é difícil compreender isto porque não me sinto como ela em França e, ao mesmo tempo, a França é o país onde eu vivo, onde vou viver e é o país onde habito no presente. E o que é que são essas fronteiras? Quer dizer, a fronteira geográfica é passarmos de Portugal para a Espanha, de Espanha para a França. Ok. Mas quais são essas fronteiras que a gente tem de passar? Quando chega aqui? A primeira fronteira é a língua. Ora, para uma criança não é complicado, mas para o meu pai foi uma fronteira que ele nunca saltou. É a gente se sentir, à frente da administração, sempre desprezada. foi uma coisa que eu vivi muito com o meu pai porque eu ia traduzir porque ele não falava francês e vivi coisas complicadas.Humilhantes?Humilhantes. Humilhação é uma palavra que é importante para mim. Como criança, uma pessoa chegar a França, ter sete anos e chegar à escola e a professora dizer: “Senta-te ali ao fundo da classe e depois verás”, quer dizer, sem me dizer nada, sem dizer nada às crianças à minha volta, tudo isso são fronteiras que a gente tem de passar. E a primeira fronteira que eu tive de passar foi na escola. As crianças são cruéis com as outras crianças. Gozavam connosco, com a maneira como estávamos vestidos, etc. Há muitas fronteiras. Depois há aquela fronteira que a gente tem de ultrapassar, mas isso dura mais tempo, que é dizer “vou ficar aqui, vou viver aqui, não vou viver por procuração, não vou viver num sonho de voltar para um país que já não existe, que acabou”. Pronto, foi o país da infância, mas é viver no presente. Cada um tem as suas fronteiras. Há tanta fronteira a atravessar para chegar aqui.Várias vezes refere-se a Portugal como “o país da infância”, mas tem um capítulo e um filme chamado “A Ilha dos Ausentes”. Como é que “o país da infância” se transforma na “Ilha dos Ausentes”? Com o tempo, simplesmente com o tempo. Passamos os primeiros anos a pensar em regressar. Há pessoas que se vão embora e que nunca mais pensam em regressar a Portugal ou a outro país. Mas a maior parte da emigração parte daquela ideia de regresso. Porquê?  A gente precisa desse mito - porque é um mito - para enfrentar a vida aqui porque a vida ao princípio é complicada. Portanto, a gente passa esses primeiros anos na ideia que vamos regressar. A gente vai lá de férias e, a pouco e pouco, compreende que para os que ficaram, somos os ausentes, simplesmente. E que o país é uma ilha. Para mim é como se houvesse uma enorme ponte entre Paris e o sítio onde eu nasci. Entre os dois não há nada, não há realidade, quer dizer, é mesmo aquela ideia que o regresso é uma utopia, que a utopia é uma ilha, uma ilha no meio do mundo.Essa ilha é o passado ao qual não se pode voltar porque é passado?O Fernando Pessoa, num poema que tem um título francês, “Là-bas, je ne sais où”, diz que o lugar onde se regressa é sempre outro. Há escritores que dizem que a partir do momento em que a gente se vai embora, fecha a porta e a relação que a gente tinha com o país acabou. Claro que vai nascer outra relação, mas a realidade em que a gente vivia, desaparece. Desaparece no momento em que a gente parte.É “o país onde nunca se regressa”? Exactamente.

Artes
Português Valério Romão com novas obras no mercado francês

Artes

Play Episode Listen Later Mar 12, 2024 12:45


Valério Romão, embora nascido em França, vive desde criança em Portugal.Tem-se ilustrado na literatura com uma série de obras que têm vindo a singrar também no mercado francês.O lançamento da tradução francesa de "Dez razões para aspirar a ser gato", publicado em Portugal em 2015 pela editora Mariposa azual, e que agora chega ao mercado francês através da editora Chandeigne, foi um dos pretextos para voltarmos a falar com o autor. Valério Romão aqui em "Dix raisons de vouloir être chat" volta a ser traduzido por João Viegas, uma colaboração à qual o autor começa por se referir.Valério Romão: É sempre um prazer trabalhar com o João, porque ele é um tradutor exímio, muito interessado naquilo que faz e em perceber o que é que está diante dele. Não só em termos de linguagem, ou de semântica, ou gramatical, mas também em termos de estilo. Ele dá muita atenção à musicalidade e ao ritmo dos textos. E depois isso é muito fácil, porque há duas ou três dúvidas que surgem e rapidamente são dirimidas. E pronto, é um prazer !Que relação é que você tem ou teve com os felinos para optar pela escrita desta obra, nomeadamente ?Sou grande fã de gatos e tudo o que tenha a ver com gatos e achei que era uma forma engraçada e interessante de homenageá los literariamente, como tantos escritores já o fizeram.Pedir lhe ia para ter a amabilidade de nos ler um excerto. Você evoca dez razões, não é? Para efectivamente aspirarmos a ser gatos !Com prazer. Vou ler a primeira razão do primeiro conto deste livro:A gata passeia a sua indiferença elegante por entre as pernas dos convivas. A gata abre e fecha a bocarra de sono, recosta-se na almofada e avia, em silêncio, mais 06h00 de merecido repouso. Às vezes gostava de ser aquela gata distraída. Às vezes gostava que o meu único sobressalto ocasional adviesse de um cio incontrolável, um cio que me fizesse miar noites a fio, um desassossego de bicho, um cio que devolvesse aos donos a vontade secreta de um espancamento nocturno.Muito obrigado. Então nós evocamos aqui dez razões para aspirarmos a ser gato. Quer sintetizar-nos algumas delas ? Há uma razão oftalmológica, psicológica...Sim, basicamente o livro, embora, embora seja centrado nos gatos, o gato não está sempre em primeiro plano. O gato é um ponto de aplicação do desejo ou da frustração, ou da vontade de o humano de aspirar a uma vida mais simples ou com mais sentido. É uma espécie de espelho no qual o humano se vê e percebe que, embora seja aparentemente o ser mais completo ou mais avançado neste planeta, essa completude ou essa evolução não lhe traz a tranquilidade que os gatos têm, por exemplo.Nota-se, de facto, aqui a sua postura ligado à filosofia. Você é formado em Filosofia, tornou-se informático, chegou à escrita e dedica-se à escrita a tempo inteiro, enntão, desde 2017, como é que foi o encadeamento de circunstâncias para se chegar a este patamar da sua trajectória?Fui-me ajeitando com aquilo com que me deparando, não é? Eu tiro filosofia sabendo que não vou propriamente trabalhar em filosofia, acabo por ir parar ao mundo da informática por ter algumas competências de sistemas e tendo sempre no horizonte a vontade e a possibilidade de um dia dedicar-me só àquilo que gostava mesmo de fazer, que é a escrita. E quando isso aconteceu, embora tenha perdido alguma segurança e conforto financeiro, não posso dizer que esteja arrependido, porque fiz a única escolha que me pareceu possível.Não nos esgotamos neste livro "Dix raisons de vouloir être chat", a tradução para francês pela Chandeigne de "Dez razões para aspirar a ser gato" porque ao mercado francês chegou agora uma obra já traduzida do francês para português no passado. Refiro-me ao "Autismo", que estreou em 2012 em Portugal, mas em 2016 em França e que chegou agora ao formato de bolso, não é ? Em relação ao "Autismo", porque, eu sei, este livro tem muito de autobiográfico. É também, de alguma forma, o retrato da implosão de uma família. Um casal, o Rogério, a Marta, mas também várias gerações, inclusive a dos avós, em torno de uma criança autista que é o Henrique. Como é que foi escrever "Autismo" ? A primeira da sua trilogia das Paternidades Falhadas, da qual já falámos aqui sobre os dois livros que se lhe seguiram.Foi um livro relativamente inesperado porque eu ainda estava a trabalhar em informática e senti que já não escrevia há bastante tempo. Senti que precisava de voltar a escrever qualquer coisa, pelo que comecei a escrever aquilo que eu imaginava ser um conto que, depois, se transformou muito rapidamente num romance precisamente com elementos autobiográficos sobre o qual eu estive sempre preocupado porque não queria que fosse um registo de um diário.Mas quando terminei, fiquei relativamente satisfeito com o processo e com o resultado. Porque de facto não é um diário. E não é lamechas ?Acho que seria de facto fabuloso poder ouvir um curto excerto, então, da sua escrita no "Autismo".Claro. Este é do terceiro capítulo.O primeiro sítio a que Rogério acorreu foi ao balcão de informações do hospital, afogueado no pingo de uma corrida interminável que começara quando recebera da escola o telefonema em que lhe diziam, entre soluços e pedidos de desculpa, que o filho tinha sido atropelado e que seguira para o hospital de urgência numa ambulância que fazia gemer as sirenes para que se percebesse, nos cruzamentos e nos semáforos, a emergência vital da carga. No balcão de informações estava uma senhora de provecta idade a perguntar pela consulta de reumatologia. Rogério, inquieto, olhava por cima do ombro da mulher que, para além de ter problemas nas articulações do corpo, devia também já sofrer de alguma audição selectiva, pelo que obrigava a rapariga que padecia de uma espécie de olheiras de panda atrás do guichê, a repetir monocordicamente, mas cada vez mais alto que a reumatologia ficava no décimo piso, mesmo atrás do laboratório. E dizia isto de cada vez, como se lhe houvesse entrado um Sísifo na língua e a repetição fosse um karma impossível de ser interrompido no seu fluxo.Obrigado. O que é que lhe evoca se alguém pensar em Eugène Ionesco, no Teatro do absurdo, em relação aos universos que você constrói, por exemplo, nomeadamente em relação a tudo o que vai ocorrer no banco de urgências daquele hospital ?Sim, tenho uma dívida para com o absurdo e com o absurdo não só de Ionesco, mas de Kafka, de Gogol. Mas esta urgência é também uma espécie de Castelo de Kafka. Não é uma coisa de que se fala muito, mas não se chega lá, não se chega a entrar lá propriamente. E é um dispositivo que funciona bem no sentido de manter a tensão e deixar que o resto do romance vive de prolepse e de analepse se esprai à volta desta coluna vertebral que são as urgências e faça o resto do esqueleto do livro.E, portanto, quando escreveu o "Autismo", porventura não tinha ainda noção de que escreveria posteriormente "O da Joana" e o "Cair para dentro"; o segundo e o terceiro tomo, por assim dizer, desta trilogia das paternidades falhadas ?Eu sabia que queria escrever uma trilogia porque parecia me interessante explorar esse tema. Não sabia exactamente sobre o que é que seria.Como é que é agora voltar a estes livros que, graças à tradução e adaptação para outros mercados que não o português, tanto tempo depois. Portanto, volto a recordar que dez razões para aspirar a ser Gato já saiu em 2015, , portanto praticamente nove anos, e o "Autismo" em 2012.Sim, é engraçado porque algumas coisas envelheceram bem e outras nem por isso. Agora estava a ler e estava a ver o que é que estava ao mesmo tempo a pensar que havia coisas aqui que teriam de ser mudadas. Mas claro que não vão ser porque eu não vou reescrever um livro que está escrito. Mas. Mas na minha escrita, pronto, não será já exactamente assim.E como é que olha então para esta "segunda vida", em França do "Autismo", que tinha integrado a selecção final do Prémio Femina Estrangeiro de 2016 e que teve tradução de Elisabeth Monteiro Rodrigues.Acho muita piada porque, no fundo, somos todos muito semelhantes, não é? As pessoas vão fazendo perguntas. Quando tenho encontros com os meus leitores, acabam por ir fazendo perguntas que os leitores portugueses também fizeram. E acho muito interessante isso: haver essa comunidade de leitores, uns mais interessados no tema do autismo, outros mais interessados no tema da literatura, que acabam por partilhar perguntas muito semelhantes.Nos livros que comentámos anteriormente, tínhamos falado muito das conversas que tive precisamente com pessoas, por exemplo, que aspiravam a ser mães. No caso de "O da Joana", que é o nascimento de um nado morto. O "Autismo" falámos que tinha muito de autobiográfico na sua família. Você tem um filho que é autista. Foi também um assunto que comentou sobejamente com pessoas que partilhem consigo este dia a dia ligado ao autismo?Sim e não. Ou seja, acho que acabei por falar do livro e acabei por falar do tema, mas não partilhámos assim tanto.Mas na última vez que nos vimos você disse-me que estava a germinar um livro sobre uma epidemia de lesbianismo em Lisboa. Perguntar-lhe-ia, dois anos depois, em que pé que está este projecto ou porventura outros projectos que terão surgido ?Eu acabei por escrever uma centena de páginas de que não gostei. Portanto, estou à espera de ter algum tempo para mim, no sentido de ter dinheiro suficiente para estar uns meses sem precisar de trabalhar para voltar a ele, porque não o abandonei.

Si loin si proche
Sur le chemin des vierges enceintes

Si loin si proche

Play Episode Listen Later Dec 24, 2023 48:30


On part à la découverte d'un chemin original, tracé par la photographe Viviane Lièvre et l'écrivain nomade français Jean-Yves Loude. Ensemble, les deux ethnologues sont partis du Puy-en-Velay jusqu'en Galice en passant par le Portugal, en quête de vierges enceintes, faisant du voyage une quête de vérité, de justice et d'égalité. Après nous avoir emmené sur les traces des mémoires silenciées des Afriques, dans le monde lusophone, des Açores à Lisbonne, ou sur le continent africain, l'écrivain nomade français Jean-Yves Loude publie aux Éditions Chandeigne son dernier récit « Le chemin des vierges enceintes ». Pour ce livre, Jean-Yves Loude s'est longuement plongé avec la photographe et ethnologue Viviane Lièvre dans les textes saints, dans le Nouveau Testament, ses évangiles canoniques mais aussi apocryphes, avant de se lancer physiquement en voyage, en quête de représentations bien particulières de la Vierge Marie, le ventre rond, enceinte, allaitante ou parturiente. Des statuettes parfois disparues ou cachées car jugées « irregardables » par le Concile de Trente en 1563.Pour lui comme pour sa compagne Viviane, ce voyage va alors prendre des allures de jeu de pistes entre la France, le Portugal et l'Espagne, en quête de ces statuettes qu'il faut aller chercher dans les recoins de l'histoire, dans des églises, des musées ou des chapelles isolées. Chemin faisant, sur cette voie de Compostelle bien à eux, nos deux inspecteurs-voyageurs remontent aux sources du discours misogyne de l'Église et interrogent la faiblesse du rôle dévolu aux femmes, à commencer par Marie, une figure pourtant populaire qui a su traverser les âges et les interdits.Une rencontre initialement diffusée en octobre 2022En savoir plus :- Sur le récit de Jean-Yves Loude, paru aux Éditions Chandeigne.- Sur le chemin des vierges enceintes, un site internet avec près de 450 photos de Viviane Lièvre vient compléter le livre. 

Si loin si proche
Sur le chemin des vierges enceintes

Si loin si proche

Play Episode Listen Later Dec 24, 2023 48:30


On part à la découverte d'un chemin original, tracé par la photographe Viviane Lièvre et l'écrivain nomade français Jean-Yves Loude. Ensemble, les deux ethnologues sont partis du Puy-en-Velay jusqu'en Galice en passant par le Portugal, en quête de vierges enceintes, faisant du voyage une quête de vérité, de justice et d'égalité. Après nous avoir emmené sur les traces des mémoires silenciées des Afriques, dans le monde lusophone, des Açores à Lisbonne, ou sur le continent africain, l'écrivain nomade français Jean-Yves Loude publie aux Éditions Chandeigne son dernier récit « Le chemin des vierges enceintes ». Pour ce livre, Jean-Yves Loude s'est longuement plongé avec la photographe et ethnologue Viviane Lièvre dans les textes saints, dans le Nouveau Testament, ses évangiles canoniques mais aussi apocryphes, avant de se lancer physiquement en voyage, en quête de représentations bien particulières de la Vierge Marie, le ventre rond, enceinte, allaitante ou parturiente. Des statuettes parfois disparues ou cachées car jugées « irregardables » par le Concile de Trente en 1563.Pour lui comme pour sa compagne Viviane, ce voyage va alors prendre des allures de jeu de pistes entre la France, le Portugal et l'Espagne, en quête de ces statuettes qu'il faut aller chercher dans les recoins de l'histoire, dans des églises, des musées ou des chapelles isolées. Chemin faisant, sur cette voie de Compostelle bien à eux, nos deux inspecteurs-voyageurs remontent aux sources du discours misogyne de l'Église et interrogent la faiblesse du rôle dévolu aux femmes, à commencer par Marie, une figure pourtant populaire qui a su traverser les âges et les interdits.Une rencontre initialement diffusée en octobre 2022En savoir plus :- Sur le récit de Jean-Yves Loude, paru aux Éditions Chandeigne.- Sur le chemin des vierges enceintes, un site internet avec près de 450 photos de Viviane Lièvre vient compléter le livre. 

Reportagem
Fotos do brasileiro Alécio de Andrade sobre Revolução dos Cravos são publicadas em livro na França

Reportagem

Play Episode Listen Later Nov 22, 2023 10:57


O livro “Lumière d'Avril (Luz de Abril), Portugal 1974” é publicado na França a poucos meses do aniversário de 50 anos da Revolução dos Cravos, que pôs fim a mais de 40 anos de ditadura no país. A obra, editada pela Chandeigne, traz 56 fotos, muitas inéditas, feitas pelo fotógrafo brasileiro Alécio de Andrade, que revelam os primeiros meses do movimento revolucionário português, e um texto do historiador francês, especialista em Portugal, Yves Léonard. A ideia inicial para a publicação do livro “Lumière d'Avril”, ainda inédito em português, foi de Patricia Newcomer, viúva de Alécio de Andrade e responsável por preservar o arquivo e perpetuar a obra do marido, morto em 2003. Muito antes de Sebastião Salgado, o carioca, radicado em Paris a partir de 1964, era o fotógrafo brasileiro mais conhecido na França.Ele era correspondente da revista “Manchete” na Europa e foi o primeiro brasileiro a integrar a prestigiosa agência Magnum do mestre Cartier Bresson, que ele conhecia. Alécio deixou em seus arquivos centenas de fotos em P & B e a cores do período de transição democrática portuguesa, registradas durante três viagens a Portugal, entre julho de 1974 e meados de 1975.A primeira escolha para a publicação do livro foi feita por Patricia Newcomer, seguindo as indicações deixadas pelo próprio Alécio. “Ao todo, ele deixou 3 mil clichês em Preto & Branco e 300 slides a cores dessas três viagens a Portugal. Eu fiz a primeira escolha partindo de indicações que ele deixou nas cópias contato, com lápis vermelho ou branco”, conta.Cotidiano do período revolucionárioPatricia Newcomer separou cerca de 100 fotografias. A escolha final coube a Anne Lima, da Editora Chandeigne, e ao historiador Yves Léonard, professor do Instituto de Ciências Políticas de Paris, a Sciences Po, e autor do texto de introdução.“A ideia foi mostrar a diversidade do trabalho de Alécio. É uma seleção com figuras muito emblemáticas da Revolução dos Cravos, nomeadamente os capitães, os homens políticos, e também com figuras do cotidiano de Portugal”, indica o historiador.Ao lado dos líderes do Movimento da Forças Armadas (MFA), que orquestraram a Revolução dos Cravos, como o tenente-coronel Otelo Saraiva de Carvalho, e o general Antonio Spínola, primeiro presidente português pos-25 de Abril, as fotos de Alécio de Andrade mostram manifestações nas ruas por mais direitos, pessoas e soldados retornados das ex-colônias africanas, devotos em Fátima, agricultores e moradores de Lisboa. Para o historiador, as fotografias de Alécio revelam, para além dos fatos e figuras históricas, “o pensamento e a vida cotidiana dos portugueses durante o processo revolucionário”, não só em Lisboa, mas em outras regiões do país.Yves Léonard reassalta, por exemplo, as fotos do general Spínola de férias. “As fotos do general Spínola são muito originais, diferentes. É uma série de fotografias feitas durante o verão (julho-agosto) de 74 em Buçaco. (...) É muito interessante ver a realidade do quotidiano durante esse ano de 74”, salienta.A Revolução portuguesa de 25 de Abril que derrubou décadas de ditadura salazarista, foi rápida, pacífica e inesperada, lembra o historiador. Os portugueses reconquistaram direitos que haviam perdido, iniciou-se o processo de descolonização de países africanos e Portugal passou por um conturbado Processo Revolucionário em Curso, que organizou as primeiras eleições diretas, vencidas pelos socialistas em 1975. Yves Léonard aponta a importância da dimensão do sonho nesse processo revolucionário e pede o despertar do 25 de abril que “não é muito claro para os jovens”.Ele acredita que a Revolução dos Cravos “é uma lição muito importante para as jovens não só em Portugal, mas também na Europa e na América do Sul. É muito importante lembrar da importância da ação política para derrubar um regime ditatorial. É importante lembrar que, no mundo de hoje, a democracia é alguma coisa de frágil e difícil de estabelecer, de conservar, especialmente na Europa”.  Formato acessível“Lumière d'Avril” foi publicado em formato menor, mais acessível ao público em geral. Patricia Newcomer ficou feliz com o resultado. Segundo ela, “o livro tem um ritmo visual, mas também um ritmo humano e cronológico. Os fatos históricos são revelados, mas ao mesmo tempo descritos de uma maneira diferente”.As negociações com editoras portuguesas e brasileiras já estão sendo feitas para que "Lumière d'Avril", com fotos de Alécio de Andrade e texto de Yves Leonard, seja publicado em português em 2024, ano em que se comemora os 50 anos da Revolução dos Cravos.  

Vida em França
"Compreender os cravos de Abril sem a dimensão dos sonhos é impossível"

Vida em França

Play Episode Listen Later Nov 15, 2023 10:58


O livro "Luz de Abril Portugal 1974" foi apresentado esta quarta-feira, 15 de Novembro, na livraria Tschann, em Paris. "Compreender os cravos de Abril sem a dimensão dos sonhos é impossível", defende o historiador francês, Yves Léonard. Publicado pela editora Chandeigne, o livro "Luz de Abril Portugal 1974" é o resultado de vários encontros; entre o fotógrafo brasileiro Alécio de Andrade e a Revolução dos Cravos em Portugal, mas também entre o trabalho de Alécio de Andrade e o historiador francês, Yves Léonard.Encontros que acontecem também entre o historiador e a esposa do fotógrafo, Patrícia Newcomer, um encontro "agradável com as fotografias de Alécio de Andrade", que faleceu em 2003, por isso é "um encontro post mortem".Mais do que retratar a revolução dos cravos, "Luz de Abril" recolhe 54 fotografias dos rostos de 1974 em Portugal. "Fazer uma selecção de fotografias é sempre difícil, mas por outro lado foi fácil porque fomos três a fazer esta selecção", conta. Ao longo de um ano, Patrícia Newcomer, Ana Lima e Yves Léonard revisitaram o trabalho do fotógrafo brasileiro.Alécio de Andrade é conhecido por ser o mestre do preto e branco ou mestre do instante. O fotógrafo tem 36 anos quando acompanha a transição revolucionária. "É importante lembrar que é uma selecção com figuras muito importantes, homens políticos, mas também com figuras do dia-a-dia. O talento de Alécio de Andrade é imortalizar o instante imediato. A vida do dia-a-dia dos portugueses era muito dura, com pessoas sem dinheiro e com vidas humildes", descreve Yves Léonard.Eduardo Lourenço descreve uma revolução como "algo em que não se sabe bem para onde se vai, mas vamos levados por sonhos mais fortes do que nós". O fotógrafo Alécio de Andrade conseguiu mostrar que o povo português é diverso, lembra Yves Léonard, acrescentando que a ideia do sonho é um ponto muito importante, "compreender os cravos de Abril sem a dimensão dos sonhos é impossível". O historiador lembra, ainda, que a "poesia também foi muito importante, como a dimensão cultural e política, mas que a revolução foi pacífica; usaram-se cravos, vermelho, cantos e murais". Em todas as revoluções houve desilusões, lembra o historiador francês, sublinhando que em todos os processos revolucionários houve "grandes ideias e esperanças com resultados que não correspondiam exactamente ao projecto inicial". "A revolução dos cravos é muito bela. O dia 25 de Abril também, o processo é muito interessante porque trouxe esperança no domínio social, cultural, intelectual e foi um modelo na Europa do fim do século XX. Entre o Chile de 1973 e outras transições como a espanhola ou grega. Hoje, resta-nos uma certa ideia da política porque tudo é possível com vontade e com visão. O 25 de Abril é uma grande lição da vontade política e da determinação da vontade de mudança de sistema", concluiu.

Artes
Isabela Figueiredo: "A minha literatura reflecte a voz do Mundo"

Artes

Play Episode Listen Later Sep 13, 2023 9:52


Isabela Figueiredo, escritora portuguesa nascida em Moçambique, esteve nos estúdios da RFI para falar sobre o lançamento em França do seu romance "A Gorda" e considera que numa altura em que o politicamente correcto quer apagar certas palavras da literatura, é importante mantê-las de forma a conservar a memória que leva muitas vezes a saltos civilizacionais, como acontece, por exemplo, no período da colonização portuguesa. A autora já publicou em Portugal o "Caderno de Memórias Coloniais", A Gorda e mais recentemente "Um Cão no Meio do Caminho", tendo lançado em França em 2021 uma tradução do "Caderno de Memórias Coloniais" e agora "A Gorda", ou "La Grosse", os dois editados pela editora Chandeigne.Com um título que actualmente pode gerar alguma controvérsia, por ser considerado um insulto, Isabela Figueiredo garante que já no lançamento em Portugal, em 2016, tinha ponderado se este seria um título apropriado, tendo explicado que a personagem do romance, Maria Luísa, se apodera de potencial insulto, para se assumir e para se aceitar.Na tradução em francês do livro que fala sobre o percurso de Maria Luísa, nascida em Moçambique, tal como Isabel Figueiredo e com um questionamento sobre o papel da sua família no colonialismo português, a autora preferiu manter algumas palavras como a designação preto, uma forma como muitos portugueses na diferentes colónias tratavam os nativos e uma marca de racismo em Portugal."A minha literatura reflecte a voz do Mundo. Eu sou muito sensível aquilo que ouço à minha volta. Eu estou imersa no Mundo, não estou à parte. E quero reflecti-lo, porque se eu for um reflexo das vozes do Mundo então os meus leitores podem sublimar a realidade, podem transformá-la, mas a realidade não pode ser escondida. Nós não podemos esconder o que se passou na Segunda Guerra Mundial, nos campos de concentração, para podermos ultrapassar e para mostrarmos às gerações seguintes o que se passou e o que não pode voltar a acontecer. Portanto se alguma coisa de politicamente incorrecto e de difícil surge nos meus livros, não é porque eu queira manter essa situação, é porque eu quero reflectir a voz do Mundo", afirmou a escritora.Assim, apagar estas palavras dos livros, como se tem feito em obras de vários autores anglo-saxónicos não é para Isabela Figueiredo uma opção já que nesse caso se estaria a apagar a memória que levou à mudança e à condenação dessa conduta nas ex-colónias."Acho que as palavras do passado que são hoje em dia completamente desajustadas e desadequadas não podem desaparecer da literatura, porque se desaparecem, desaparece a  memória histórica daquilo que nos levou a desejar dar um salto civilizacional", defende.Em 2017, Isabela Figueiredo voltou a Moçambique. O desenraizamento, temática recorrente nos seus livros, tendo vivido até aos 12 anos neste país africano continua a atormentá-la, mas o regresso a Maputo fê-la compreender a sua identidade."Não consegui muito bem fazer as pazes [com o vazio], mas consegui uma coisa muito importante que foi perceber quem eu sou, onde é que pertenço e tornou-se para mim muito claro que fui uma colonialista, como o meu pai, não uma agente colonial violenta como ele, mas o Mundo colonial também me contaminou. Senão, eu não teria chegado em 2017 a Moçambique e não teria recebido aquele grande choque. Eu sentir-me-ia africana e não me senti africana, portanto percebi a minha identidade. Sou portuguesa, uma portuguesa com infância africana e isso também me marca, também sou um bocadinho colorida como os panos africanos", indicou.A autora tem agora uma série de apresentações de "A Gorda" em França durante esta semana, onde muitas livrarias lhe estão a dar destaque como "coup de coeur" ou livro favorito. Isabela Figueiredo vai voltar a França em Dezembro onde vai realizar durante um mês uma residência literária na Ville Marguerite Yourcenar, na fronteira entre a França e a Bélgica, após ter ganho em 2022 o prémio do público no Festival de literatura europeia de Cognac.

Convidado
A morte de D.Sebastião "não é nada misteriosa", constata livro de historiador português

Convidado

Play Episode Listen Later Jun 29, 2023 13:54


Ao longo de cinco séculos, muitos mitos e rumores envolveram a morte do jovem rei D.Sebastião na batalha de Alcácer Quibir em 1578, mas no seu livro “Le roi Sebastien de Venise, histoire d'une rumeur”, André Belo defende que esta morte não é misteriosa e que um dos mais persistentes rumores sobre a fuga do rei português para Itália não passou disso mesmo. André Belo, historiador e professor na Universidade de Rennes, que lançou em França, em Maio, a adaptação do livro “Le roi Sebastien de Venise, histoire d'une rumeur” sobre a morte de D.Sebastião e o movimento criado à volta da possibilidade do retorno deste rei de 24 anos, desmentiu desde logo em entrevista à RFI qualquer ambiguidade sobre o destino do monarca luso."A morte do rei não é nada misteriosa. Quando lemos os relatos, e há vários, que podemos cruzar, já que assim como so jornalistas cruzam informação, os historiadores também cruzam entre si informação e verificamos que há várias testemunhas oculares que falam sobre o reconhecimento do cadáver do rei no dia a seguir à batalha de Alcácer Quibir. Esta espécie de mistério que estaria na base de um rumor plausível porque nunca se teria encontrado o corpo do rei é falso", indicou o historiador.O livro de André Belo fala sobre este movimento de suspeição criado à volta da morte do rei, que conheceu várias vagas até chegar até aos nossos dias. Um dos episódios mais marcantes nesta história com quase cinco séculos é o aparecimento, em 1598, de um homem em Veneza que disse ser D.Sebastião. O historiador português passou por Portugal, França, Espanha e Itália onde cruzou os documentos de época necessários para chegar à conclusão que este episódio, já na época, e apesar de apoiado por uma parte da elite portuguesa, nunca foi credível."O que mais me surpreendeu em relação a este homem que declarava ser D.Sebastião, foi que na literatura secundária havia muita gente que escrevia que havia dúvidas, havia mistério, havia quem dissesse que ele era muito parecido com o D.Sebastião, que o próprio rei de França teria hesitado, ou seja, que a reinvindicação tinha crédito, mas não me parece nada que isso tenha acontecido", declarou o investigador.Com a morte do rei D.Sebastião a abrir uma guerra na sucessão do trono português que levou ao poder a dinastia filipina que fez com que Portugal estivesse sob o controlo castelhano durante cerca de 80 anos, as dúvidas plantadas à volta da morte do monarca alimentaram uma série de informações falsas que chegaram até aos dias de hoje, fazendo pensar nas notícias falsas que correm hoje nas redes sociais."Por um lado, podemos dizer que não há nada novo sob o Sol e desde que há informação, há rumores, notícias não confirmadas e isso sempre existiu e sempre existirá. O que temos hoje em dia é devido à proliferação de notícias na internet uma maior consciência do que outras gerações. Por outro lado, é sempre importante pensar que a forma como os rumores se espalham e os valores associados a esses rumores são sempre diferentes", concluiu o autor.O livro foi publicado em Portugal em 2021 com título "Morte e Ficção do Rei Dom Sebastião", editado pela Tinta da China. Em França, o livro foi editado em Maio deste ano com o título “Le roi Sebastien de Venise, histoire d'une rumeur”, pelas edições Chandeigne.

Histoire Vivante - La 1ere
Le grand voyage de Magellan, entre réel et imaginaire 2/5 - Le périple de Magellan et de son équipage

Histoire Vivante - La 1ere

Play Episode Listen Later May 23, 2023 29:57


L'explorateur Magellan reste directement associé au premier tour du globe. Pourtant, il meurt au cours de son périple sans avoir réalisé un tel exploit et, paradoxalement, sans qu'il n'en ait jamais été question. Son objectif était de trouver une route pour l'Asie et les îles Moluques, les fameuses îles aux épices d'où provenaient la noix de muscade et le clou de girofle, sources de richesses. Laurent Huguenin-Elie reçoit Michel Chandeigne, éditeur et auteur, spécialiste du Portugal, des pays lusophones, de leur littérature et de leur histoire, également connu sous son nom de plume: Xavier de Castro. Il a publié de nombreux ouvrages dont "Le voyage de Magellan" et "Idées reçues sur les Grandes découvertes", parus aux éditions Chandeigne. Illlustration: portrait anonyme de Fernand de Magellan, XVIe ou XVIIe siècle, Mariners' Museum, Newport News (Virginie). Le 27 avril 1521, le roi de l'île de Mactan, en face de Cebu, (aujourd'hui aux Philippines), refuse de se soumettre aux envahisseurs européens qui viennent de débarquer. Magellan mène alors une expédition contre lui et est mortellement blessé par une flèche empoisonnée.

Histoire Vivante - La 1ere
Le grand voyage de Magellan, entre réel et imaginaire 1/5 - Mais qui est donc Fernand de Magellan?

Histoire Vivante - La 1ere

Play Episode Listen Later May 22, 2023 29:46


Le 8 septembre 1522 à Séville, une poignée d'hommes décharnés débarquent du Victoria, l'un des navires de l'expédition de Magellan. Ils viennent d'effectuer le premier tour du globe de l'histoire... Histoire Vivante explore le voyage et la personnalité de Magellan et s'intéresse plus largement aux "grandes découvertes". Dans ce premier épisode sur Magellan, Laurent Huguenin-Elie reçoit Michel Chandeigne, éditeur et auteur, spécialiste du Portugal, des pays lusophones, de leur littérature et de leur histoire, également connu sous son nom de plume: Xavier de Castro. Il a publié de nombreux ouvrages dont "Le voyage de Magellan" et "Idées reçues sur les Grandes découvertes", parus aux éditions Chandeigne. (rediffusion de la série d'août 2022) Photo: réplique de la Victoria, premier navire à avoir accompli la circumnavigation du globe. 237 hommes répartis sur cinq navires accompagnaient la Victoria lors de son périple: la Trinidad, nef amirale commandée par Magellan; le San Antonio; la Concepción et la Victoria. Les équipages étaient formés d'Espagnols, de Portugais, d'Italiens de Grecs et de Français. (© Gnsin/wikimedia)

L'heure bleue
Mia Couto : "Le chasseur d'éléphants invisibles"

L'heure bleue

Play Episode Listen Later Apr 13, 2023 52:17


durée : 00:52:17 - L'Heure bleue - Mia Couto, l'écrivain mozambicain, qui s'engagea dans la lutte pour l'indépendance de son pays, publie un recueil de nouvelles joliment intitulé "Le chasseur d'éléphants invisibles" (Chandeigne). À découvrir dans l'Heure Bleue.

Histoire Vivante - La 1ere
Portugal, de la dictature à la démocratie (1/5)

Histoire Vivante - La 1ere

Play Episode Listen Later Mar 6, 2023 29:49


Au Portugal, le 25 avril 1974, la révolution des Œillets balaie en une journée le salazarisme, du nom du dictateur Salazar, qui aura développé l'un des plus longs régimes autoritaires qu'a connu l'Europe au XXe siècle. Pour obtenir quelques clés de compréhension, il faut remonter le temps et parcourir le XIXe siècle, essentiel pour mieux appréhender le Portugal d'aujourd'hui. Laurent Huguenin-Elie a rencontré Yves Léonard, historien, spécialiste du Portugal contemporain, auteur de "Salazarisme et fascisme", "Histoire du Portugal contemporain" (Chandeigne) et "Histoire de la nation portugaise" (Tallandier). Illustration: lithographie de l'artiste Cândido da Silva représentant les événements révolutionnaires de la nuit du 3 octobre 1910 qui ont conduit à la proclamation de la République portugaise. Deux jours plus tard, le 5 octobre 1910, le jeune roi Manuel II s'exile en Angleterre. Après plusieurs années d'instabilité politique marquées par des luttes de travailleurs, des tumultes, des homicides politiques et des crises financières, l'armée prend le pouvoir en 1926.

Artes
Codice Casanatense ou o encontro de civilizações entre os Oceanos Índico e Pacífico

Artes

Play Episode Listen Later Dec 30, 2022 10:44


O historiador indiano, Sanjay Subrahmanyam, acaba de lançar em França um livro sobre o "Codice casanatense", uma obra que ilustra o encontro de civilizações entre Portugal e os povos que vão do Cabo da Boa Esperança, no extremo sul de África, à China, a Leste, a meados do século XVI. Este livro, com a chancela da editora Chandeigne, levanta um pouco o véu sobre uma obra única que muitos mistérios continua a encerrar. "Les peuples de l'Orient au milieu du XVIe siècle: Le codex Casanatense par Sanjay Subrahmanyam" [Os povos do Oriente a meados do século XVI por Sanjay Subrahmanyam], em tradução livre para português permite apreender a dimensão da obra única que é este Codice casanatense. Uma obra conservada na Biblioteca Casanatense de Roma, em Itália, sobre a qual não se têm grandes certezas sobre o/os autor/es nem mesmo do seu proprietário. O primeiro proprietário conhecido foi João da Costa do Colégio de São Paulo de Goa, na Índia, tendo a obra sido enviada para Lisboa em 1627. As aguarelas ilustram os povos de latitudes tão diversas como povos africanos do Oceano Índico (caso da Abíssinia, actual Etiópia), mas também do Médio Oriente (Estreito de Ormuz, Pérsia [actual Irão], Turquia, Índia, Myanmar, Malaca (na actual Malásia), Indonésia e China, por exemplo. São retratados ofícios, profissões, costumes, preceitos religiosos, incluindo sacrifícios rituais ou preceitos do hinduismo, desconhecidos na época na Europa. E isto para além de elementos da flora ou da fauna, com legendas em português, de todos os povos africanos e asiáticos, do Oceano Índico ao Oceano Pacífico, com os quais os portugueses teriam, na altura, estabelecido contactos ou erigido feitorias. Sanjay Subrahmanyam é um conceituado historiador indiano, com cátedra no Colégio de França, ligado à Escola francesa de Altos estudos em ciências sociais e também às universidades de Louvain (Bélgica), Oxford (Reino Unido) ou da Califórnia (Los Angeles, Estados Unidos), ele publicou um vasto rol de obras sobre a presença portuguesa no Sul da Índia. Ele é, pois, o autor de um novo livro, editado pela Chandeigne em França sobre este encontro de civilizações que a expansão portuguesa veio proporcionar. Em conversa com a RFI ele levanta-nos um pouco o véu sobre esta obra etnográfica ímpar que, tantos séculos volvidos, muita curiosidade continua a suscitar.

Invité du matin
Retour de Lula au pouvoir: Jair Bolsonaro «lègue un Brésil dans un état pitoyable»

Invité du matin

Play Episode Listen Later Dec 28, 2022 8:33


Ce dimanche 1er janvier, Lula da Silva retrouvera le palais du Planalto à Brasilia. À quelques jours de la cérémonie d'investiture, un attentat a été déjoué. Entretien avec Armelle Enders, professeure à l'université Paris 8, chercheuse à l'Institut français de géopolitique, historienne du Brésil contemporain et autrice du livre Histoire du Brésil (Chandeigne, 2016). ► À lire aussi : Au Brésil, un partisan de Jair Bolsonaro arrêté pour tentative d'attentat à la bombe

Si loin si proche
Sur le chemin des vierges enceintes

Si loin si proche

Play Episode Listen Later Oct 30, 2022 48:30


À l'occasion du Festival du documentaire et du livre « Le Grand Bivouac » qui vient de se tenir à Albertville, on part à la découverte d'un chemin original, tracé par la photographe Viviane Lièvre et l'écrivain nomade français Jean-Yves Loude, invité du festival. Ensemble, les deux ethnologues sont partis du Puy-en-Velay jusqu'en Galice en passant par le Portugal, en quête de vierges enceintes, faisant du voyage une quête de vérité, de justice et d'égalité. Pour sa 21ème édition qui vient de s'achever, le festival français d'Albertville a décidé de célébrer les « identités remarquables », mais aussi de « prendre le monde à témoin ». Témoin du monde et de ses coulisses, Jean-Yves Loude, en est un assurément, tant cet écrivain sillonne le monde -lusophone surtout- depuis plus de 30 ans pour le comprendre et surtout en témoigner à son retour.  Depuis de nombreuses années, on le suit à Si loin si proche, avec sa compagne Viviane Lièvre, à travers des récits qui nous emmènent sur les traces des mémoires silenciées des Afriques, des Açores à Lisbonne en passant par le continent africain, ou encore dans l'Hindou Kouch où ils ont tous les deux longuement séjourné en tant qu'ethnologues.  Pour son dernier récit « Le chemin des vierges enceintes », paru aux Éditions Chandeigne, Jean-Yves Loude s'est longuement plongé avec Viviane Lièvre dans les textes saints, dans le Nouveau Testament, ses évangiles canoniques mais aussi apocryphes, avant de se lancer physiquement en quête de représentations bien particulières de la Vierge Marie, le ventre rond, enceinte, allaitante ou parturiente. Des statuettes parfois disparues ou cachées car jugées « irregardables » par le Concile de Trente en 1563. Leur voyage long de 14 stations, entre la France, le Portugal et l'Espagne, prend alors des allures de jeu de pistes, en quête de ces statuettes qu'il faut aller chercher dans les recoins de l'histoire, dans des églises, des musées ou des chapelles isolées. Chemin faisant, sur cette voie de Compostelle bien à eux, nos deux inspecteurs-voyageurs remontent aux sources du discours misogyne de l'Église et interrogent la faiblesse du rôle dévolu aux femmes, à commencer par Marie, une figure pourtant populaire qui a su traverser les âges et les interdits.   En savoir plus : - Sur le récit de Jean-Yves Loude, paru aux Éditions Chandeigne. - Sur le chemin des vierges enceintes, un site internet avec près de 450 photos de Viviane Lièvre vient compléter le livre.  

Chemins d’histoire
Chemins d'histoire-Exils portugais au XXe siècle, avec V. Pereira, 30.10.22

Chemins d’histoire

Play Episode Listen Later Oct 29, 2022 48:57


Cent vingt-neuvième numéro de Chemins d'histoire, neuvième numéro de la quatrième saison, émission animée par Luc Daireaux Émission diffusée le dimanche 30 octobre 2022 Thème : Exils portugais au temps du salazarisme Invité : Victor Pereira, chercheur à l'Institut d'histoire contemporaine (Université nouvelle de Lisbonne), préfacier de Exils. Témoignages d'exilés et de déserteurs portugais, Chandeigne, 2022.

Histoire Vivante - La 1ere
Le grand voyage de Magellan, entre réel et imaginaire - Le périple de Magellan et de son équipage (2/5)

Histoire Vivante - La 1ere

Play Episode Listen Later Aug 30, 2022 30:10


L'explorateur Magellan reste directement associé au premier tour du globe. Pourtant, il meurt au cours de son périple sans avoir réalisé un tel exploit et, paradoxalement, sans qu'il n'en ait jamais été question. Son objectif était de trouver une route pour l'Asie et les îles Moluques, les fameuses îles aux épices d'où provenaient la noix de muscade et le clou de girofle, sources de richesses. Laurent Huguenin-Elie reçoit Michel Chandeigne, éditeur et auteur, spécialiste du Portugal, des pays lusophones, de leur littérature et de leur histoire, également connu sous son nom de plume: Xavier de Castro. Il a publié de nombreux ouvrages dont "Le voyage de Magellan" et "Idées reçues sur les Grandes découvertes", parus aux éditions Chandeigne. Illlustration: portrait anonyme de Fernand de Magellan, XVIe ou XVIIe siècle, Mariners' Museum, Newport News (Virginie). Le 27 avril 1521, le roi de l'île de Mactan, en face de Cebu, (aujourd'hui aux Philippines), refuse de se soumettre aux envahisseurs européens qui viennent de débarquer. Magellan mène alors une expédition contre lui et est mortellement blessé par une flèche empoisonnée.

Histoire Vivante - La 1ere
Le grand voyage de Magellan, entre réel et imaginaire - Mais qui est donc Fernand de Magellan? (1/5)

Histoire Vivante - La 1ere

Play Episode Listen Later Aug 29, 2022 31:27


Le 8 septembre 1522 à Séville, une poignée d'hommes décharnés débarquent du Victoria, l'un des navires de l'expédition de Magellan. Ils viennent d'effectuer le premier tour du globe de l'Histoire. Cinq cents ans plus tard, cette date anniversaire continue de travailler les mémoires nationales. Histoire Vivante explore le voyage et la personnalité de Magellan et s'intéresse plus largement aux grandes découvertes. Dans ce premier épisode sur Magellan, Laurent Huguenin-Elie reçoit Michel Chandeigne, éditeur et auteur, spécialiste du Portugal, des pays lusophones, de leur littérature et de leur histoire, également connu sous son nom de plume: Xavier de Castro. Il a publié de nombreux ouvrages dont "Le voyage de Magellan" et "Idées reçues sur les Grandes découvertes", parus aux éditions Chandeigne. Photo: réplique de la Victoria, premier navire à avoir accompli la circumnavigation du globe. 237 hommes répartis sur cinq navires accompagnaient la Victoria lors de son périple: la Trinidad, nef amirale commandée par Magellan; le San Antonio; la Concepción et la Victoria. Les équipages étaient formés d'Espagnols, de Portugais, d'Italiens de Grecs et de Français. (© Gnsin/wikimedia)

Européen de la semaine
Portugal: Antonio Costa, socialiste record

Européen de la semaine

Play Episode Listen Later Jul 30, 2022 3:30


Le Premier ministre portugais Antonio Costa a été reconduit dans ses fonctions en février dernier, après la victoire surprise de son parti lors des élections législatives anticipées. L'usure du pouvoir n'a pas eu de prise sur Antonio Costa, qui gouverne depuis 2015 et que tous les sondages donnaient perdant. Portrait d'un politique que certains socialistes européens regardent avec envie. (Rediffusion du 6/02/2022) « La majorité absolue n'est pas le pouvoir absolu, ça ne signifie pas gouverner seul. » Antonio Costa a déjoué tous les pronostics des instituts de sondage et contredit les analyses des éditorialistes mais il affiche une victoire modeste et veut rassurer. Avocat, mélomane, gastronome et fan de puzzle, Antonio Costa est tombé dans la marmite politique dès l'enfance. Sa mère est l'une des premières femmes journalistes, militante féministe engagée dans la lutte pour la dépénalisation de l'avortement ; son père est un écrivain communiste, originaire de Goa. Il surnomme son fils Babush, le gamin. Babush apprend le français en lisant le Nouvel Observateur et colle des affiches pour le PS dès l'âge de 14 ans. Le pays vient de vivre la révolution des œillets, la dictature de Salazar est tombée, « on militait jour et nuit, se souvient Margarida Marques, députée européenne socialiste portugaise, amie d'Antonio Costa. Nous étions aux jeunesses socialistes, il avait 14 ans, moi 21. C'était quelqu'un de très engagé, avec un grand sens politique. En 1981, j'ai été élue secrétaire générale du mouvement. Lui était alors la tête pensante du courant rival. Sa mère m'a envoyé un télégramme de félicitations. Quelques années plus tard, elle m'a confié qu'il n'avait pas apprécié son geste ! » Tacticien affable Le jeune Costa apprend vite et gravit rapidement les échelons du parti. À 34 ans, il est secrétaire d'État aux affaires parlementaires du gouvernement d'Antonio Guterres. « Ça a été quelque chose de très formateur », analyse Yves Léonard, historien, auteur d'une Histoire du Portugal Contemporain (éditions Chandeigne). « Il a été plongé dans les méandres du système politique portugais où il a révélé les qualités de fin tacticien et d'habileté qui sont un peu sa marque de fabrique ». Il est ensuite ministre de la Justice, ministre de l'Intérieur et brièvement député européen. Puis maire de Lisbonne entre 2007 et 2014, « une expérience très importante qui lui a servi de tremplin pour prendre la présidence du Parti socialiste en 2014. » Parcours sans faute pour un homme populaire qui cultive la simplicité. Comme Angela Merkel, Antonio Costa aime faire ses courses seul, et à Lisbonne, il avait installé en tant que maire un bureau dans un quartier déshérité. Son fauteuil de maire, il le doit à l'union de la gauche. Cette expérience lui a été utile lorsqu'il s'est lancé dans la bataille des législatives en 2015. « Antonio Costa a toujours fait preuve d'une grande subtilité, matinée de beaucoup de bonhomie, c'est un homme affable qui dégage de l'empathie, détaille Yves Léonard. Il allie donc à la fois de l'habilité tacticienne, une personnalité avenante et aussi de la fermeté et la capacité à trancher sans avoir la main qui tremble quand il le faut ». Union politique et miracle économique Cette année-là il fait du rassemblement l'instrument de sa victoire. Margarida Marques, alors fonctionnaire européenne, se souvient qu'il lui propose alors une tête de liste dans sa région d'origine - oubliées, les rivalités de jeunesse. « Il ne divise pas, il essaie de rassembler explique l'eurodéputée. En 2015, il est allé chercher des gens qui n'étaient pas avec lui sur le plan politique. Il a essayé d'unifier les différents courants de pensées au sein du parti, je pense que c'est un trait important de sa personnalité. » Un sens du rassemblement qui lui permet surtout de prendre la tête du gouvernement en s'assurant du soutien de la gauche de la gauche : les Portugais baptisent cette majorité « geringonça », « bidule improbable » en français. « Ce n'était pas une coalition, c'était un gouvernement socialiste, et le PS avait intégré les exigences négociées avec le Parti communiste et le Bloc de Gauche. Des exigences qui tenaient en quelques pages. Ça n'a pas été une période facile, se rappelle Margarida Marques, qui siège alors au parlement à Lisbonne. Nous étions bien conscients d'être en désaccord sur les affaires européennes par exemple. Mais chaque fois qu'il y avait une loi à voter il fallait négocier avec eux. Ça a renforcé le rôle du parlement. » Nouvelle victoire socialiste au scrutin de 2019, le PS choisit de gouverner en minorité, sans accord formel cette fois-ci avec les partenaires de gauche. Antonio Costa a des résultats à faire valoir : c'est l'époque de ce que les commentateurs appellent le « miracle portugais ». Après les années d'austérité imposées par les institutions internationales suite à la crise de 2008, sous le gouvernement de Pedro Passos Coelho (PSD, droite), Antonio Costa parvient à sortir le pays de la récession. Il relève les salaires des fonctionnaires, le salaire minimum, les retraites, et à réhabiliter les 35 heures. Le tout en contrôlant les déficits, et même en renouant avec les excédents budgétaires. « Antonio Costa a cette capacité à concilier des objectifs qui peuvent paraitre antinomiques, juge Yves Léonard. Il a très clairement dit en prenant ses fonctions fin 2015 "on va tourner la page de l'austérité en respectant pleinement nos engagements européens". D'abord par fidélité au contrat, à l'appartenance à l'Union européenne, mais aussi parce que le Portugal est très dépendant des aides communautaires. Il lui a fallu être habile et il a donné des gages, et il a rassuré ». L'extrême droite en embuscade Le miracle a son revers. Les contrats précaires, le prix du logement et la question des bas salaires nourrissent le mécontentement et ont été au cœur de la campagne des législatives anticipées. « La gauche de la gauche a beaucoup reproché à Antonio Costa de ne pas aller assez loin sur un certain nombre de ces thèmes : la protection sociale, la lutte contre la précarité, le droit du travail », poursuit Yves Léonard. Sans compter que la pandémie a stoppé net les avancées des années précédentes. Et s'il a gagné le pari des urnes, Antonio Costa aura fort à faire dans les quatre ans à venir : répondre aux Portugais qui lui ont fait massivement confiance, mais aussi composer avec l'irruption de l'extrême droite au parlement : le parti Chega est passé de un à douze élus. « Heureusement qu'il y a une majorité absolue, souffle Margarida Marques car le leader de la droite, Rui Rio, était ouvert à faire un gouvernement soutenu par l'extrême droite au parlement, il l'a dit dans un entretien vendredi soir en toute fin de campagne. » Du jamais vu au Portugal. Et ensuite, après trois mandats de Premier ministre, un record depuis le retour à la démocratie, à quoi pourrait aspirer Babush ? Européen convaincu, il s'est beaucoup engagé au sein du Conseil, Notamment pour obtenir les ressources propres nécessaires au plan de relance. « Évidemment quand je regarde ses compétences, je le vois bien président d'une institution européenne, concède l'eurodéputée Margarida Marques. Mais je ne sais pas s'il a le calendrier approprié. Une chose est claire, il a la compétence mais aussi la confiance de ses pairs. Et pas seulement des socialistes, je peux le dire. Il a une image très positive, l'image de quelqu'un capable de construire des compromis de convaincre de persuader, et les autres leaders lui font confiance ». D'ici là, le travail ne manque pas : l'amateur de puzzle Antonio Costa va devoir agencer les 16 milliards du plan de relance de façon à redonner vie au miracle portugais.

Cultura
Exposição em Paris revela a força da diáspora judaica portuguesa no Brasil

Cultura

Play Episode Listen Later Jun 17, 2022 6:41


Em 1497, a comunidade judaica em Portugal foi batizada à força na fé católica. A perseguição deu início a um longo período de imigração forçada para estes "novos cristãos", que se intensificou com o estabelecimento da Inquisição portuguesa, em 1536. Mas essa diáspora marcou territórios e continentes por onde passou, interagindo como agente criador desse "Novo Mundo", como conta a exposição em Paris “Diáspora judaico-portuguesa: cristãos-novos, cripto-judeus, marranos e gente da Nação”. Do século 16 ao 18, a diáspora judaico-portuguesa esteve no centro das profundas transformações sócio-econômicas, religiosas e intelectuais do mundo europeu e participou do surgimento de uma "certa modernidade" no Ocidente. Mas que ameaça os judeus representavam para o poder e a sociedade portuguesa no final do século XV, a ponto de serem perseguidos e fugirem numa diáspora global? “Na verdade, os judeus não representavam nenhuma ameaça para a Coroa portuguesa, muito pelo contrário", explica Livia Parnes, historiadora especializada na história judaica e curadora da exposição “Diáspora judaico-portuguesa: cristãos-novos, cripto-judeus, marranos e gente da Nação”, em cartaz na subprefeitura do 3° distrito da capital francesa. "A Coroa portuguesa, desde a fundação de sua monarquia, foi estabelecida a partir da integração de judeus em Portugal; podemos dizer que tudo que era administração da Coroa ou finanças recaía sobre os judeus, dos quais havia dinastias inteiras que coletavam impostos para o Rei”, diz Parnes. Segundo ela, o problema “começa em Portugal, alguns anos após a expulsão dos judeus da Espanha”. “Depois de 1492, muitos judeus espanhóis se refugiam em Portugal, especialmente os mais ricos. Os que ficavam se tornavam escravos", relata a historiadora. "Mas o grande problema começa em 1496 quando o Rei português contrai um contrato de casamento com a filha dos reis católicos da Espanha. Uma das cláusulas dessa união era expulsar os judeus. Um decreto de “pureza do sangue” destinado a essa expulsão é então emitido em Portugal. Como cerca de 10% da população portuguesa era judia, e a economia portuguesa dependia de uma certa classe de judeus portugueses, o Rei decide suprimir a existência do judaísmo, sem expulsar os judeus”, diz. A solução foi então a conversão forçada de todos os judeus de Portugal. Eles se tornarão os novos cristãos e poderão ter acesso a diversas profissões que eram proibidas aos judeus. A raiva e o preconceito anteriores contra os judeus, foram então acrescidos de uma inveja, conta a historiadora. “Haverá um massacre de judeus em Lisboa em 1506”, lembra Parnes. "Ao mesmo tempo, o que é extraordinário em Portugal é que o Rei queria que esses novos cristãos fossem assimilados à sociedade portuguesa. Eles proíbem o judaísmo oficialmente, mas permitem que vivenciem sua fé tranquilamente e secretamente em suas vidas privadas, praticando uma forma de judaísmo”, detalha a curadora da exposição, idealizada pela editora francesa Chandeigne, especializada em literatura de língua portuguesa na França. “Em 1536, começa a Inquisição em Portugal, e, neste momento, todos os novos cristãos, mesmo aqueles que já haviam perdido contato com o judaísmo, serão suspeitos de ‘judaizar', de serem ‘cripto-judeus', ou seja, de praticar o judaísmo em segredo, e então começam os três séculos de Inquisição e perseguições ferozes em Portugal, que serão depois estendidas às colônias portuguesas”, relata a historiadora.  Os "novos cristãos" no Brasil “Desde que os portugueses chegam ao Brasil para colonizar este vasto território, os ‘novos cristãos', que já tinham experiência com a cultura da cana de açúcar, farão parte dos primeiros colonos que importarão essa cultura da ilha da Madeira para o Nordeste brasileiro, criando os famosos “engenhos”. Eles participarão de toda a produção e a comercialização da cana de açúcar, eles serão os grandes senhores dessa ‘indústria', sendo, evidentemente e infelizmente, envolvidos no tráfico negreiro. Uma grande quantidade de escravos era necessária para fazer funcionar os engenhos de cana de açúcar”, conta Livia Parnes. O Brasil parecia, a princípio, o local ideal para se fugir da terrível Inquisição. “O que vai acontecer é que, no começo, no Brasil, eles estam longe da Inquisição, mas a Inquisição vai conseguir chegar até eles...", lembra a historiadora. "Haverá visitas da Igreja Católica no país que vai deixá-los inquietos e que vai levá-los a Lisboa para serem julgados. No século 17, em 1630, serão os holandeses com a Companhia das Índias Ocidentais que vão conquistar o Nordeste brasileiro, criando um momento de descanso e alívio para esses novos cristãos, que poderão retornar ao Judaismo. É dessa época que data a fundação da primeira sinagoga no continente americano, em Recife, na ‘rua dos Judeus', que antes era a rua do Bom Jesus”, relata.   No Brasil, a calmaria durou pouco, cerca de 25 anos. “Com o retorno dos portugueses ao Brasil, haverá um novo êxodo, um novo período de perseguições que vai durar até o século 18. Mas entre esses novos cristãos, que voltaram a ser judeus e que serão obrigados a partir do Brasil, alguns irão à chamada ‘Nova Amsterdã', que se tornará posteriormente a cidade de Nova York. A primeira comunidade judaica do continente americano, é, portanto, uma comunidade de judeus vindos do Brasil”, conclui a curadora. A exposição “Diáspora judaico-portuguesa: cristãos-novos, cripto-judeus, marranos e gente da Nação (séculos XV-XXI)” fica em cartaz em Paris dentro da programação do Festival de Culturas Judaicas até o dia 4 de julho de 2022.

Le goût du monde
Vanilles !

Le goût du monde

Play Episode Listen Later Jun 11, 2022 48:30


Il doit y avoir un peu de magie dans ces fleurs pour que la vanille séduise ainsi toute âme qui vive ! La sauvageonne, découverte, il y a des siècles, par les toltèques dans l'État de Vera Cruz au Mexique – ils s'en servaient alors pour apporter un peu de douceur à leur cacao brut et plein de caractère - a conservé le secret de sa culture pendant plus de trois siècles après son premier voyage en Europe et la révélation : pour avoir une gousse, il fallait polliniser la fleur et se substituer à la fameuse abeille pour permettre à la nature de nous offrir ce cadeau.   La vanille a voyagé, à Madagascar, à La Réunion, à Tahiti, en Ouganda, en Nouvelle-Calédonie, ou encore aux Comores ou aux Tonga, mais matière première vivante et agricole, elle ne se laisse pas cultiver en quantité et les gousses récoltées sont autant de trésors. La terre où sa liane prend racine lui donnera son caractère, la main de l'homme qui l'étuve l'affine, la sèche au soleil et en prend soin, révélera son parfum et son goût.   Salée sucrée, la vanille habille les sucres, imprègne la crème, le beurre, la graisse de son parfum et de sa saveur, à l'image des fleurs dont on fit les concrète en parfumerie. Elle surprendra mariée à un poisson, un homard ou une coquille saint-Jacques, et fait fondre depuis des décennies les enfants du monde, leurs parents avant eux.   Vanille délicate, surprenante, enveloppante, elle a changé le cours de la vie de notre invité, le pâtissier chocolatier Luis Roblebo Richards : « la première fois que j'ai goûté la vraie vanille de Vera Cruz, ça a fait boum ! Une révélation ! J'avais 15 ans, je peux dire qu'il y a eu un avant et un après ».    Luis Robledo Richard a  fondé «Tout chocolat», une pâtisserie chocolaterie. Il a 3 boutiques à Mexico, il est aussi l'auteur du Larousse del Chocolate. Ximena Velasco est la directrice du festival Que Gusto. La 8ème édition du festival se tient du samedi 11 juin au 19 juin 2022.   Dans cette émission, un détour par La Réunion et la commune de Bras Banon où la pollinisation artisanale des fleurs de vanille nous est expliquée par Emmanuelle Etale, directrice de communication de la coopérative Provanille à La Réunion.   Reportage dans La cave à vanilles de l'épicerie Roellinger se trouve à Paris, 51 rue sainte Anne à l'Épicerie. Il s'agit de l'une des rares si ce n'est la seule cave à vanille d'Europe. Vous pourrez y découvrir les différentes vanilles et apprendre de la culture de cette orchidée particulière. La cave peut être visitée, pour plus de renseignements : Epices Roellinger et Taxons Vanilles. Reportage de Clémence Denavit avec Romain Cœur pour guide.          En liens : - Pâtisserie française dans le Goût du monde   - Géographie des plantes au Centre culturel mexicain de Paris - Le voyage des plantes et les grandes découvertes, de José E. Mendes Ferrao, publié aux éditions Chandeigne  - Vanille, de Christophe Adam, aux éditions de la Martinière  - Mayotte les défis agricoles de l'île aux parfums, d'Igor Strauss.   Programmation musicale    Mi terra Veracruzana de Nathalie Lafourcade   WATER IT de JACQEE. 

Le goût du monde
Vanilles !

Le goût du monde

Play Episode Listen Later Jun 11, 2022 48:30


Il doit y avoir un peu de magie dans ces fleurs pour que la vanille séduise ainsi toute âme qui vive ! La sauvageonne, découverte, il y a des siècles, par les toltèques dans l'État de Vera Cruz au Mexique – ils s'en servaient alors pour apporter un peu de douceur à leur cacao brut et plein de caractère - a conservé le secret de sa culture pendant plus de trois siècles après son premier voyage en Europe et la révélation : pour avoir une gousse, il fallait polliniser la fleur et se substituer à la fameuse abeille pour permettre à la nature de nous offrir ce cadeau.   La vanille a voyagé, à Madagascar, à La Réunion, à Tahiti, en Ouganda, en Nouvelle-Calédonie, ou encore aux Comores ou aux Tonga, mais matière première vivante et agricole, elle ne se laisse pas cultiver en quantité et les gousses récoltées sont autant de trésors. La terre où sa liane prend racine lui donnera son caractère, la main de l'homme qui l'étuve l'affine, la sèche au soleil et en prend soin, révélera son parfum et son goût.   Salée sucrée, la vanille habille les sucres, imprègne la crème, le beurre, la graisse de son parfum et de sa saveur, à l'image des fleurs dont on fit les concrète en parfumerie. Elle surprendra mariée à un poisson, un homard ou une coquille saint-Jacques, et fait fondre depuis des décennies les enfants du monde, leurs parents avant eux.   Vanille délicate, surprenante, enveloppante, elle a changé le cours de la vie de notre invité, le pâtissier chocolatier Luis Roblebo Richards : « la première fois que j'ai goûté la vraie vanille de Vera Cruz, ça a fait boum ! Une révélation ! J'avais 15 ans, je peux dire qu'il y a eu un avant et un après ».    Luis Robledo Richard a  fondé «Tout chocolat», une pâtisserie chocolaterie. Il a 3 boutiques à Mexico, il est aussi l'auteur du Larousse del Chocolate. Ximena Velasco est la directrice du festival Que Gusto. La 8ème édition du festival se tient du samedi 11 juin au 19 juin 2022.   Dans cette émission, un détour par La Réunion et la commune de Bras Banon où la pollinisation artisanale des fleurs de vanille nous est expliquée par Emmanuelle Etale, directrice de communication de la coopérative Provanille à La Réunion.   Reportage dans La cave à vanilles de l'épicerie Roellinger se trouve à Paris, 51 rue sainte Anne à l'Épicerie. Il s'agit de l'une des rares si ce n'est la seule cave à vanille d'Europe. Vous pourrez y découvrir les différentes vanilles et apprendre de la culture de cette orchidée particulière. La cave peut être visitée, pour plus de renseignements : Epices Roellinger et Taxons Vanilles. Reportage de Clémence Denavit avec Romain Cœur pour guide.          En liens : - Pâtisserie française dans le Goût du monde   - Géographie des plantes au Centre culturel mexicain de Paris - Le voyage des plantes et les grandes découvertes, de José E. Mendes Ferrao, publié aux éditions Chandeigne  - Vanille, de Christophe Adam, aux éditions de la Martinière  - Mayotte les défis agricoles de l'île aux parfums, d'Igor Strauss.   Programmation musicale    Mi terra Veracruzana de Nathalie Lafourcade   WATER IT de JACQEE. 

Conflits
Heurts et grandeur de la nation portugaise - Yves Léonard

Conflits

Play Episode Listen Later Jun 8, 2022 44:27


Historien, membre du centre d'histoire de Sciences Po Paris et chercheur associé à l'université de Rouen Normandie, Yves Léonard a notamment publié aux éditions Chandeigne une Histoire du Portugal Contemporain (2016) ainsi que Salazarisme et Fascisme en 1996 réédité en 2020. Il publie cette année une remarquable Histoire de la nation portugaise aux éditions Tallandier, somme d'érudition mais aussi de réflexion sur le rapport du Portugal vis-à-vis du monde et de ses mythes fondateurs. Dans ce podcast Yves Léonard revient sur les singularités de l'Histoire de cette grande nation euro-atlantique dont les frontières terrestres n'ont quasiment pas bougé depuis le XIIIe siècle.  Emission présentée par Tigrane Yégavian.

Artes
França conta com nova tradução de livro do português Valério Romão

Artes

Play Episode Listen Later Feb 22, 2022 22:16


Acaba de ser lançado em França um novo livro do escritor português Valério Romão. "Manquer à l'appel", traduzido por João Viegas, é, pois, o derradeiro volume da trilogia das paternidades falhadas a chegar ao mercado francófono, através da editora Chandeigne. E isto praticamente 4 anos após ter sido publicado em Portugal, sob a batuta da abysmo, com o título de "Cair para dentro". Valério Romão, o autor, e o respectivo tradutor, João Viegas, estiveram à conversa connosco nos estúdios da RFI.  "Cair para dentro" ou "Manquer à l'appel", na sua versão francesa, versa sobre uma relação entre uma mãe e a sua filha, Virgínia e Eugénia, respectivamente, com, em pano de fundo, a doença de Alzheimer. A mãe, antiga presidente da junta de freguesia, avessa a qualquer poesia, tentou condicionar, por completo, a filha que, ainda assim, consegue tornar-se professora de filosofia. A perda da independência da mãe, sob os efeitos da doença de Alzheimer e da perda de memória e de demais faculdades, levará, pela primeira vez, a que a filha possa gerir os destinos da mãe. É num estilo pouco ortodoxo, em termos de pontuação, que o texto é estruturado, um verdadeiro murro no estômago, porventura o clímax de uma feminização progressiva dos volumes desta trilogia sobre as paternidades falhadas. A família, ou as famílias disfuncionais, foram o prato forte da série do autor, nascido na província francesa de Auvergne, mas a residir desde a meninice em Portugal, nomeadamente no Algarve. Antes de "Cair para dentro/Manquer à l'appel" o primeiro volume "Autismo/Autisme" versava sobre essa doença, o segundo "O da Joana/Les eaux de Joana" sobre o desejo de maternidade e o nascimento de um nado morto. Os três livros passam, agora, a estar disponíveis no mercado francófono através da editora Chandeigne. No entanto o derradeiro volume da trilogia já foi lançado há praticamente 4 anos em Portugal pela abysmo. Valério Romão e o seu tradutor para francês, João Viegas, passaram na RFI a pente fino a escrita, a tradução e o impacto deste livro que tanto interpela o leitor. O autor que, em 2019, também já passou por latitudes africanas, tendo estado em Moçambique, na Feira do Livro de Maputo. O escritor tem, mesmo, novo projecto na manga, em curso. Fique a saber mais sobre o livro e a obra na entrevista aqui disponível em áudio e em vídeo. Com a colaboração de Yann Bourdelas e Dusko Sekulic.

Européen de la semaine
Portugal: Antonio Costa, socialiste record

Européen de la semaine

Play Episode Listen Later Feb 5, 2022 3:30


Le président de la république du Portugal a officiellement reconduit Antonio Costa dans ses fonctions de Premier ministre cette semaine. Dimanche dernier le socialiste a créé la surprise : son parti a remporté la majorité absolue des suffrages aux législatives anticipées, convoquées après que les partenaires d'extrême gauche avaient refusé de voter le budget 2022. Le scrutin a été marqué par un effondrement de la droite classique et de l'extrême gauche, et par une forte poussée de l'extrême droite. L'usure du pouvoir n'a pas eu prise sur Antonio Costa, qui gouverne depuis 2015 et que tous les sondages donnaient perdant. Portrait d'un politique que certains socialistes européens regardent avec envie. « La majorité absolue n'est pas le pouvoir absolu, ça ne signifie pas gouverner seul. » Antonio Costa a déjoué tous les pronostics des instituts de sondage et contredit les analyses des éditorialistes mais il affiche une victoire modeste et veut rassurer. Avocat, mélomane, gastronome et fan de puzzle, Antonio Costa est tombé dans la marmite politique dès l'enfance. Sa mère est l'une des premières femmes journalistes, militante féministe engagée dans la lutte pour la dépénalisation de l'avortement ; son père est un écrivain communiste, originaire de Goa. Il surnomme son fils Babush, le gamin. Babush apprend le français en lisant le Nouvel Observateur et colle des affiches pour le PS dès l'âge de 14 ans. Le pays vient de vivre la révolution des œillets, la dictature de Salazar est tombée, « on militait jour et nuit, se souvient Margarida Marques, députée européenne socialiste portugaise, amie d'Antonio Costa. Nous étions aux jeunesses socialistes, il avait 14 ans, moi 21. C'était quelqu'un de très engagé, avec un grand sens politique. En 1981, j'ai été élue secrétaire générale du mouvement. Lui était alors la tête pensante du courant rival. Sa mère m'a envoyé un télégramme de félicitations. Quelques années plus tard, elle m'a confié qu'il n'avait pas apprécié son geste ! » Tacticien affable Le jeune Costa apprend vite et gravit rapidement les échelons du parti. À 34 ans, il est secrétaire d'État aux affaires parlementaires du gouvernement d'Antonio Guterres. « Ça a été quelque chose de très formateur », analyse Yves Léonard, historien, auteur d'une Histoire du Portugal Contemporain (éditions Chandeigne). « Il a été plongé dans les méandres du système politique portugais où il a révélé les qualités de fin tacticien et d'habileté qui sont un peu sa marque de fabrique ». Il est ensuite ministre de la Justice, ministre de l'Intérieur et brièvement député européen. Puis maire de Lisbonne entre 2007 et 2014, « une expérience très importante qui lui a servi de tremplin pour prendre la présidence du Parti socialiste en 2014. » Parcours sans faute pour un homme populaire qui cultive la simplicité. Comme Angela Merkel, Antonio Costa aime faire ses courses seul, et à Lisbonne, il avait installé en tant que maire un bureau dans un quartier déshérité. Son fauteuil de maire, il le doit à l'union de la gauche. Cette expérience lui a été utile lorsqu'il s'est lancé dans la bataille des législatives en 2015. « Antonio Costa a toujours fait preuve d'une grande subtilité, matinée de beaucoup de bonhomie, c'est un homme affable qui dégage de l'empathie, détaille Yves Léonard. Il allie donc à la fois de l'habilité tacticienne, une personnalité avenante et aussi de la fermeté et la capacité à trancher sans avoir la main qui tremble quand il le faut ». Union politique et miracle économique Cette année-là il fait du rassemblement l'instrument de sa victoire. Margarida Marques, alors fonctionnaire européenne, se souvient qu'il lui propose alors une tête de liste dans sa région d'origine - oubliées, les rivalités de jeunesse. « Il ne divise pas, il essaie de rassembler explique l'eurodéputée. En 2015, il est allé chercher des gens qui n'étaient pas avec lui sur le plan politique. Il a essayé d'unifier les différents courants de pensées au sein du parti, je pense que c'est un trait important de sa personnalité. » Un sens du rassemblement qui lui permet surtout de prendre la tête du gouvernement en s'assurant du soutien de la gauche de la gauche : les Portugais baptisent cette majorité « geringonça », « bidule improbable » en français. « Ce n'était pas une coalition, c'était un gouvernement socialiste, et le PS avait intégré les exigences négociées avec le Parti communiste et le Bloc de Gauche. Des exigences qui tenaient en quelques pages. Ça n'a pas été une période facile, se rappelle Margarida Marques, qui siège alors au parlement à Lisbonne. Nous étions bien conscients d'être en désaccord sur les affaires européennes par exemple. Mais chaque fois qu'il y avait une loi à voter il fallait négocier avec eux. Ça a renforcé le rôle du parlement. » Nouvelle victoire socialiste au scrutin de 2019, le PS choisit de gouverner en minorité, sans accord formel cette fois-ci avec les partenaires de gauche. Antonio Costa a des résultats à faire valoir : c'est l'époque de ce que les commentateurs appellent le « miracle portugais ». Après les années d'austérité imposées par les institutions internationales suite à la crise de 2008, sous le gouvernement de Pedro Passos Coelho (PSD, droite), Antonio Costa parvient à sortir le pays de la récession. Il relève les salaires des fonctionnaires, le salaire minimum, les retraites, et à réhabiliter les 35 heures. Le tout en contrôlant les déficits, et même en renouant avec les excédents budgétaires. « Antonio Costa a cette capacité à concilier des objectifs qui peuvent paraitre antinomiques, juge Yves Léonard. Il a très clairement dit en prenant ses fonctions fin 2015 "on va tourner la page de l'austérité en respectant pleinement nos engagements européens". D'abord par fidélité au contrat, à l'appartenance à l'Union européenne, mais aussi parce que le Portugal est très dépendant des aides communautaires. Il lui a fallu être habile et il a donné des gages, et il a rassuré ». L'extrême droite en embuscade Le miracle a son revers. Les contrats précaires, le prix du logement et la question des bas salaires nourrissent le mécontentement et ont été au cœur de la campagne des législatives anticipées. « La gauche de la gauche a beaucoup reproché à Antonio Costa de ne pas aller assez loin sur un certain nombre de ces thèmes : la protection sociale, la lutte contre la précarité, le droit du travail », poursuit Yves Léonard. Sans compter que la pandémie a stoppé net les avancées des années précédentes. Et s'il a gagné le pari des urnes, Antonio Costa aura fort à faire dans les quatre ans à venir : répondre aux Portugais qui lui ont fait massivement confiance, mais aussi composer avec l'irruption de l'extrême droite au parlement : le parti Chega est passé de un à douze élus. « Heureusement qu'il y a une majorité absolue, souffle Margarida Marques car le leader de la droite, Rui Rio, était ouvert à faire un gouvernement soutenu par l'extrême droite au parlement, il l'a dit dans un entretien vendredi soir en toute fin de campagne. » Du jamais vu au Portugal. Et ensuite, après trois mandats de Premier ministre, un record depuis le retour à la démocratie, à quoi pourrait aspirer Babush ? Européen convaincu, il s'est beaucoup engagé au sein du Conseil, Notamment pour obtenir les ressources propres nécessaires au plan de relance. « Évidemment quand je regarde ses compétences, je le vois bien président d'une institution européenne, concède l'eurodéputée Margarida Marques. Mais je ne sais pas s'il a le calendrier approprié. Une chose est claire, il a la compétence mais aussi la confiance de ses pairs. Et pas seulement des socialistes, je peux le dire. Il a une image très positive, l'image de quelqu'un capable de construire des compromis de convaincre de persuader, et les autres leaders lui font confiance ». D'ici là, le travail ne manque pas : l'amateur de puzzle Antonio Costa va devoir agencer les 16 milliards du plan de relance de façon à redonner vie au miracle portugais.

Mort à la poésie
Mort à la poésie - Épisode 86 : La Poésie du Portugal

Mort à la poésie

Play Episode Listen Later Dec 6, 2021 6:51


Salut à vous, En 2012 paraissait un livre absolument sublime : La Poésie du Brésil, 1 500 pages de curiosité, de bonheur. Les mêmes éditions Chandeigne et le même Max de Carvalho font paraître aujourd'hui La Poésie du Portugal, 1 800 pages, plus de 280 poètes. Une somme considérable, un travail remarquable. Cela démarre au XIIe siècle avec la poésie des troubadours, et court sur huit siècles, jusqu'au XXe. Le fil rouge, si l'on peut dire, de cette poésie, serait peut-être la Saudade, cette oscillation indéfinissable entre le vague à l'âme et un sentiment doux-amer. Hormis Fernando Pessoa, Luís de Camões et Eugénio de Andrade, les poètes portugais sont très peu connus en France. Voici une bonne séance de rattrapage. J'ai choisi de vous lire trois extraits de poètes contemporains : Maria Teresa Horta, née en 1937 à Lisbonne, Luiza Neto Jorge, née en 1939 à Lisbonne (décédée en 1989), et Helder Moura Pereira, né à Setúbal en 1949. Bonne écoute ! Retrouvez tous les épisodes de Mort à La Poésie sur : https://addict-culture.com/mort-a-la-poesie/

Littérature sans frontières
Littérature sans frontières - Isabela Figueiredo, souvenirs sans filtre de son enfance au Mozambique

Littérature sans frontières

Play Episode Listen Later Oct 30, 2021 29:00


Isabela Figueiredo est née à Maputo en 1963, (anciennement Lourenço Marques), de parents portugais. Elle quitte le Mozambique au moment de l'indépendance du pays en 1975. Ses parents restent, et elle vit seule avec sa grand-mère pendant une dizaine d'années au Portugal. Professeure, journaliste, elle publie en 2009 son premier livre «Carnet de mémoires coloniales» qui a grand retentissement au Portugal, puis Isabela Figueiredo publie «La grosse» (A Gorda), à venir aux éditions Chandeigne en 2022. "Carnet de mémoires coloniales est le premier livre d'Isabela Figueiredo. Dans ce récit biographique, elle revient sur son enfance à Lourenço Marques, devenu Maputo depuis l'indépendance du Mozambique en 1975. Elle y dépeint sa relation aux adultes, à ses parents, à son père. Entre grande tendresse, amour filial et une certaine admiration de cet homme fort et protecteur, s'ajoute très jeune chez la jeune Isabela le rejet de ce qu'il est aussi, un colon, raciste, sexiste et violent. La grande force de ce texte réside dans cette ambiguïté dévoilée. Elle aime sans pouvoir s'empêcher de condamner et condamne sans pouvoir s'empêcher d'aimer." (Présentation des éditions Chandeigne) Un livre traduit du portugais par Myriam Benarroch et Nathalie Meyroune et préfacé par Léonora Miano.

Vida em França
Vida em França - Publicada em França antologia de poesia portuguesa

Vida em França

Play Episode Listen Later Oct 26, 2021 12:44


É publicada hoje em França uma antologia de poesia portuguesa das origens até ao século XX. Uma obra bilingue, português e francês, coordenada pelo escritor e tradutor brasileiro Max de Carvalho, radicado em França há largos anos. Uma antologia que reúne, de forma inédita nas últimas cinco décadas em França, quase 1 100 poemas de mais de 280 autores, um trabalho publicado pela editora Chandeigne. Max de Carvalho, responsável do projecto, e Anne Lima, editora da Chandeigne, levantaram-nos o véu sobre uma obra que contempla também poetas cabo-verdianos. "La poésie du Portugal: des origines au XXe siècle" chega, agora, ao mercado francês.

Carrefour de l'Europe
Carrefour de l'Europe - Le Portugal, un eldorado ébranlé par le Covid

Carrefour de l'Europe

Play Episode Listen Later Apr 23, 2021 48:30


En ce dimanche 25 avril 2021, le Portugal fête la Révolution des œillets de 1974 et, pour la première fois, les Portugais ont vécu plus longtemps en démocratie que sous la dictature salazariste. Le miracle portugais conduit par une coalition de gauche improbable baptisée «geringonca» (en français : le machin, le bidule), s’est enlisé avec la pandémie du Covid particulièrement meurtrière lors de la deuxième vague de février 2021.  Avec les touristes qui ont déserté le pays, l’économie s’est effondrée et le chômage s’est envolé. Témoin d’un certain désenchantement, la poussée de l’extrême droite lors de la récente élection présidentielle a mis fin à «l’exception portugaise» en Europe.  Le Portugal reste-t-il un eldorado alors que Lisbonne assure, en ce moment, la présidence tournante de l’Union européenne ?  Avec :  - Yves Léonard, historien, enseignant à Sciences-Po Paris. Co-auteur de «Histoire du Portugal» aux éditions Chandeigne. Plus d’infos : ici  - Ana Navarro Pedro, journaliste portugaise à Paris. Son compte Twitter : ici  - Antonio Costa Pinto, professeur à l’Institut des Sciences Sociales à l’Université de Lisbonne. En ligne de Lisbonne. Son site : ici  Avec Vincent Barros de Courrier International. 

Passion Modernistes
Épisode 17 – Sabrina et les voyages d’Antoine Galland

Passion Modernistes

Play Episode Listen Later Nov 29, 2020 40:04


Écrivain, traducteur, voyageur, diplomate… Embarquez avec Antoine Galland dans cet épisode ! Passion Modernistes RSS jQuery(document).ready(function($) { 'use strict'; $('#podcast-subscribe-button-498 .podcast-subscribe-button.modal-60b4074aed82c').on("click", function() { $("#secondline-psb-subs-modal.modal-60b4074aed82c.modal.secondline-modal-498").modal({ fadeDuration: 250, closeText: '', }); return false; }); }); Portrait Sabrina Vincent Dans cet épisode de Passion Modernistes, Sabrina Vincent vous parle d’Antoine Galland et de ses voyages. Elle a étudié cette personnalité au cours de son mémoire soutenu en 2018 à l’université de Reims Champagne Ardennes, sous la direction d’Aurélien Girard et Mathieu Grenet. La France et la Méditerranée à la fin du XVIIème siècle Dans cet épisode nous sommes à l’époque du règne de Louis XIV (1643-1715). Antoine Galland ne connaitra rien d’autre, puisqu’il naît en 1646 et décède en 1715. Après 1650 la France est de plus en plus présente en Méditerranée. La multiplication des travaux dans le domaine naval et portuaire démontre une volonté de se tourner vers l’espace méditerranéen. On est ici dans la politique mercantiliste de Jean Baptiste Colbert qui souhaite favoriser les exportations et faire affluer les métaux précieux dans le royaume de France. Colbert fonde d’abord la Compagnie des Indes en 1664 et la Compagnie du Levant en 1670 qui vise à organiser les relations commerciales entre les ports français (Marseille, Sète) avec les ports de l’Empire ottoman. C’est dans ce contexte que Jean-Baptiste Colbert fonde, sous tutelle du gouvernement, une grande Compagnie qui reçoit le nom de « Compagnie du Levant ». Antoine Galland, un érudit français intéressé par l’Orient Antoine Galland naît le 6 avril 1646 à Rollot (Somme) et meurt le 17 février 1715 à Paris. Il est surtout connu sous la postérité comme étant le traducteur des Mille et Une Nuits, véritable best-seller du début du XVIIIème siècle même si pour lui c’est le fait le moins illustre de sa carrière. Il écrira d’ailleurs : Ce qu’il y a, c’est que cet ouvrage de fariboles (les Mille et Une Nuist) me fait plus d’honneur dans le monde que ne le ferait le plus bel ouvrage que je pourrais composer sur les médailles, avec des remarques pleines d’érudition sur les antiquités grecques et romaines. Tel est le monde : on a plus de penchant pour ce qui divertit que pour ce qui demande de l’application, si peu que ce puisse être. Sabrina Vincent pense qu’Antoine Galland aurait préféré qu’on le présente comme un orientaliste. Même si en réalité il est anachronique d’utiliser le terme d’orientaliste qui apparait au XIXème siècle, Aurélien Girard utilise d’ailleurs le terme de « professionnels » de l’Orient, et l’explique par le fait que ces érudits puisqu’ils maitrisaient les langues orientales avaient par conséquent, une capacité et une légitimité à étudier l’Orient. C’est aussi l’antiquaire du Roi, membre de la récente Académie Française puis professeur de langues arabes du Collège royal. On peut dire qu’avec un chemin de vie plutôt atypique et par sa grandeur intellectuelle, Antoine Galland a su se hisser au plus haut rang du monde érudit français au tournant du XVIIème et XVIIIème siècle. Carte du troisième voyage d’Antoine Galland, réalisée par Sabrina Vincent Des voyages en Levant Sabrina Vincent vous raconte dans cet épisode les différents voyages d’Antoine Galland, et notamment son troisième voyage fait en Levant aulequel elle a consacré ses recherches à partir d’un manuscrit particulier. Dans son premier voyage, Antoine Galland se rend à Constantinople en 1670 et voyage jusqu’en 1675, en Thrace, en Macédoine, en Roumélie orientale, en Asie mineure, dans les îles Égéennes, en Ionie, en Syrie et en Palestine. Puis il fait son deuxième voyage à Smyrne sur une très courte période sur l’année 1678. Son troisième et dernier voyage fait en Levant débute le 11 septembre 1679 à Toulon dans la suite du nouvel ambassadeur de la Porte, Gabriel de Guilleragues. Le 23 octobre 1679, Antoine Galland arrive à Milos et quitte le convoi de l’ambassadeur qui part vers Constantinople. D’octobre 1679 à octobre 1680, il essaye de rejoindre Constantinople le plus rapidement possible à ses propres frais. Néanmoins, les conditions météorologiques difficiles et les risques liés à la Course rallongent considérablement son voyage.  Le 18 octobre 1680, il arrive enfin à Constantinople et apprend que la compagnie du Levant est dissoute. Cependant, Guilleragues garde Galland auprès de lui. La troisième lettre se termine le 1er novembre 1680 mais la mission se poursuit. De 1680 à 1685, il séjourne à Constantinople. Il recherche des manuscrits et des médailles, et donne des leçons de grec à Mademoiselle de Guilleragues. Elle deviendra plus tard la marquise d’O à qui Galland dédiera les Mille et une Nuits. Gabriel de Guilleragues décède le 4 mars 1685 et le 1er septembre 1685, Antoine Galland est nommé antiquaire du Roi et chargé de continuer ses recherches de médailles en Orient pour le cabinet du Roi. De 1686 à 1688, il débute un voyage dans les îles de l’Archipel, séjourne de nouveau à Smyrne, fait une courte visite à Alexandrie et Rosette. Puis il retourne à Smyrne où il survit de peu au tremblement de terre du 8 juillet 1688. Suite à cela, il perd tous ses biens et ses relations de voyage et décide de rentrer en France en décembre 1688, clôturant ainsi près de dix-huit années d’aventures. Pour en savoir plus sur Antoine Galland et ses voyages, on vous conseille de lire : Feuillet de manuscrit de la main d’Antoine Galland Sur Antoine Galland : Antoine GALLAND, Le voyage à Smyrne, Paris, éd. Chandeigne, 2000. Antoine GALLAND, Voyage à Constantinople, Paris, Maisonneuve et Larose, 2002. ABDEL-HALIM Mohamed, Antoine Galland : sa vie et son œuvre, Paris, A.G. Nizet, 1964 Sur l’ « orientalisme » : GIRARD Aurélien, Connaître l’Orient en Europe au XVIIe siècle, dossier thématique de XVIIe siècle, 2015 HEYBERGER Bernard, « L’Orient et l’islam dans l’érudition européenne du XVIIème siècle », Dix- septième siècle , 2015/3 (n° 268), p. 495-508. Sur la Course méditerranéenne et le commerce des captifs: KAISER Wolfgang, Le commerce des captifs : les intermédiaires dans l’échange et le rachat des prisonniers en Méditerranée, XVe-XVIIIe siècle, Paris, Collection de l’école française de Rome, 2008 FONTENAY Michel, La Méditerranée entre la Croix et le Croissant. Navigation, commerce, course et piraterie (XVIe-XIXe siècle), Paris, Classiques Garnier, 2010 Sur le commerce en Méditerranée : PANZAC Daniel, La caravane maritime : marins européens et marchands ottomans en Méditerranée (1680-1830), CNRS Éditions, Paris, 2004 Dans cet épisode vous avez pu entendre les extraits des œuvres suivantes : Jean Baptiste Lully – Marche pour la cérémonie des Turcs Rimski-Korsakov – Shéhérazade Nuits d’Arabie – Aladdin Si cet épisode vous a intéressé vous pouvez aussi écouter : Hors-série 1 – La Méditerranée au XVIIème siècle avec Guillaume Calafat Épisode 9 – Elise et les chasseurs du Mississippi Épisode 7 – Virginie et les origines de New York Ce très beau générique a été réalisé par Julien Baldacchino (des podcasts Stockholm Sardou, Radio Michel, Bulle d’art…) et par Clément Nouguier (du podcast Au Sommaire Ce Soir).