Podcasts about Zeca Afonso

Portuguese poet, composer and singer

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Zeca Afonso

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Best podcasts about Zeca Afonso

Latest podcast episodes about Zeca Afonso

Vinil
Vinil: António Macedo – Canta, amigo, canta

Vinil

Play Episode Listen Later Apr 21, 2025 4:34


Era o tempo das baladas. Podia ser de Luís Cília, podia ser de Zeca Afonso… reencontro um velho single de António Macedo, Canta amigo canta. António Macedo | Canta, amigo, canta (single) | 1974

Tarataña
Tarataña - Y en abril estamos y a abril nos debemos - 20/04/25

Tarataña

Play Episode Listen Later Apr 20, 2025 60:06


Continuamos como acabamos ayer, reparando que estamos en abril, al que le faltan escasos diez días para concluir. Mes de revoluciones y claveles y lo hacemos con más de una obviedad, empezando por los Celtas Cortos y escuchando a cantautores como Luis Pastor, Zeca Afonso, Rozalén y Pedro Pastor. Recordamos también, entre otras muchas cosas, dos acontecimientos importantes que van a tener lugar en esta semana pos Santa, la Fiesta de los Comuneros y la decimoquinta edición del Folkarria Eco Festi-Bal.La resurrección se celebra este domingo en La Tarataña con estas canciones:1.- Celtas Cortos, “20 de abril” 3:56, “Túnel de las Delicias” (con Javier Ruibal y Le Bagad bro Kemperlé) 5:07 y “El emigrante” 5:352.- Luis Pastor, “Aguas abril” (con Javier Ruibal) 3:31 y “Abril del desamor” (con Pedro Pastor) 2:433.- Pedro Pastor, “Los olvidados" (con Rozalén) 3:284.- José Climent y David Huerta, “Jota de monique” 3:435.- Miguel Clavel, “Toque de pandereta” 0:486.- Lévid, “Te quiero a mi lado” 2:597.- Hijos del tercer acorde, “Pan y tierra” (con San Miguel Fraser) 5:038.- Zlabya, “Firecrackers” 5:129.- Zeca Afonso, “Grándola Vila Morena” 3:12Escuchar audio

Expresso - A Beleza das Pequenas Coisas
Samuel Úria (parte 1): “Andamos para trás e de forma atroz. A música pode ajudar-nos. Ela congrega, amacia corações, enquanto escancara ouvidos”

Expresso - A Beleza das Pequenas Coisas

Play Episode Listen Later Feb 7, 2025 75:03


Ele é um dos grandes trovadores do nosso país. As suas letras são tão preciosas que deveriam ser ensinadas nas escolas como, noutra geração, as de Sérgio Godinho, José Mário Branco ou Zeca Afonso. Samuel Úria reflete sobre o mundo e sobre si próprio num balanço entre o sagrado e o profano, com o coração na boca e na guitarra, a anca bem colocada na pop e a prosa muito afiada com reflexão, crítica, protesto, mas também fé, amor e esperança. No final de 2024, o cantautor das patilhas lançou o disco 2000 A.D., um álbum que foi beber à sua própria inquietação e que é um espelho dos tempos nebulosos e turbulentos que vivemos. No próximo dia 12 de fevereiro, formará dupla com Manel Cruz em mais uma edição do “Conta-me uma Canção” e em Outubro irá lançar-se à prova de fogo dos Coliseus. Ouçam-no na primeira parte da conversa com Bernardo MendonçaSee omnystudio.com/listener for privacy information.

RLX - Rádio Lisboa
Sebenta do Tempo - 7 de Fevereiro - Programa 110 - António Serra

RLX - Rádio Lisboa

Play Episode Listen Later Feb 7, 2025 43:42


Em relação ao o programa de hoje trago-lhe… alguns dos acontecimentos… que ocorreram a 7 de Fevereiro … de diversos anos… uma pequena crónica da autoria de José Luís Peixoto e no final a habitual sugestão de leitura… tudo isto acompanhado das canções de Zeca Afonso cantada por variados artistas.

Convidado
Marias de Abril: As vozes silenciadas na luta pela liberdade

Convidado

Play Episode Listen Later Dec 4, 2024 31:22


A exposição "Marias de Abril: o cravo no feminino" é inaugurada esta quarta-feira, 4 de Dezembro, na Casa de Portugal André de Gouveia, na cidade universitária de Paris. O vernissage junta a artista plástica Melanie Alves e a cantora A Garota Não, nome artístico de Cátia Oliveira. A exposição homenageia mulheres que resistiram à ditadura do Estado Novo, muitas vezes esquecidas pela história, incluindo pintura, instalações, bordados ou ainda cerâmicas. RFI: Como é que surge este encontro entre os vossos trabalhos?Melanie Alves: Eu acho que é quase o destino. Quando começámos a falar com a Maison du Portugal acerca de fazer uma exposição, e com o aniversário dos 50 anos do 25 de Abril, comecei a ver que não havia vozes de mulheres. A história era sempre contada no masculino. Eram sempre generais, políticos,  polícias, o ditador. Quando comecei a procurar, achei que fazia todo o sentido fazer esta homenagem a mulheres e retirá-las da sombra. Dizem que atrás de um grande homem está sempre uma grande mulher. Comecei a questionar onde é que estavam as grandes mulheres. Sinto que há uma grande ligação com a Cátia, admiro imenso o trabalho dela - ela sabe-o e para mim é importante contar histórias, tentar mexer com as pessoas, tentar mostrar a importância e a valorização da vida humana e neste caso das mulheres, fazer realmente com que haja outras perspectivas, outros pensamentos ou unir comunidades. E sinto que a Cátia fala disto muito bem nas suas canções.Cátia, como recebeu este convite por parte da Melanie?Cátia Oliveira: Tenho de confessar logo à partida que não conhecia de todo a obra da Melanie, muito infelizmente, mas cheguei, como se diz; tarde, mas com muita vontade. Este e-mail da Melanie e da sua produtora fez-me sentir muito lisonjeada. Não é a minha primeira vez em Paris, mas é a primeira vez em Paris no sentido em que vim convidada para trabalhar. Depois lisonjeou-me sobretudo a ideia de poder fazer parte de um encontro que também a mim me significava muito. Não era a ideia de só vir dar um pequeno concerto em Paris. Não era esse o deslumbre, mas era a ideia de vir participar num encontro onde as peças, a ideologia por detrás das peças, a preocupação ambiental, a preocupação activista com o papel da mulher no que é que foi e no que é agora e no que nós queremos que seja agora o papel da mulher.Depois de perceber o percurso da Melanie porque eu também sou um bocadinho exigente com as parcerias que faço, e não tem nada a ver com vaidade, mas com a ideia de precisar de perceber se o nosso encontro vai ser um encontro de almas. Não tem a ver com estatuto ou não ter estatuto. Pode ter começado agora, mas se tem a ideia, se tem a beleza do que quer passar, se me faz sentido, se tem intenção, para mim está tudo bem. Quando fui um bocadinho ao passado da caminhada artística que a Mélanie tem feito, percebi que ela também tem este trabalho muito envolvido com o trabalho social, com esta matriz transformadora do tempo. Um dos projetos que me tocou, que ela tinha feito anteriormente, foi um trabalho grande com mulheres reformadas, com um projecto sobre a terceira idade.Melanie: O projecto As vozes da Avó.Cátia: Esta consciência e este desejo de fazer um trabalho artístico e consequente. Esta parte para mim é que é a ponte que nos faz trabalhar em conjunto aqui em Paris. Depois há uma coisa muito curiosa: num mundo tão imenso e a Melanie é misturada, todos somos, mas ela poderá falar disso melhor, mas viveu muito tempo fora de Portugal, mas somos curiosamente da mesma cidade, Setúbal, que é a coisa curiosa. Temos a mesma idade....Melanie: Temos a mesma idade, somos da mesma cidade, provavelmente até temos as mesmas referências de crescer lá da zona. Dou por mim a pensar que nos cruzamos nos sítios sociais, não no Liceu, mas se calhar nos sítios de convívio. É muito interessante. O destino tem destas coisas.Parte destas oito mulheres que tomaram a palavra a dada altura na História. Estas mulheres representam aquelas que não puderam fazê-lo?Melanie: Com a escolha destas mulheres, tentei demonstrar que no mundo de hoje estamos todos em correria, estamos todos demasiado estimulados pela tecnologia, pelos media, pelas redes sociais e tudo mais, estamos cada vez mais individualistas e estamos a perder o toque humano. Estamos a desvalorizar a vida humana.Acho que ainda há muitas grandes mulheres para saírem da sombra do Estado Novo. Estas foram as que mais tocaram, que mais me intrigaram por certos detalhes, mas o que acho que é importante realçar é que, cada uma à sua maneira, directa ou indirectamente, mais ou menos conhecida, cada uma tem a sua história com valor e importância. Não é só a escritora mais conhecida ou a poeta mais impactante, que realmente tem uma história importante para ser contada.Temos o caso de, por exemplo, da Conceição Ramos, cuja história é pouco conhecida. Ela foi praticamente a vida toda criada de serviço, antes disso trabalhou no campo, desde os 14 anos. No entanto, foi tentando perceber como ajudar, foi encontrando a sua comunidade até na sua paróquia, na igreja e fundou o Sindicato do Trabalho Doméstico. Não estamos a falar de uma pessoa que foi à faculdade, que estudou, que tinha influências a nível familiares, ou seja o que for, não: ela disse basta! E defendeu que ser criada de serviço é um trabalho que decidiu fazer, um trabalho digno...Cátia: Um trabalho com horários e que não implica extras sexuais.Mélanie: Exactamente! Com direitos, defendendo que tinha de haver regras e respeito. Hoje em dia ainda se vê muito isto, infelizmente. Mas é preciso perceber, para o motor gigante do mundo consiga rodar a 24 horas, que todos os trabalhos são importantes; desde a empregada doméstica até ao Presidente da República.No vosso trabalho vocês também dizem basta?Cátia: Dizemos todos os dias. Posso falar com mais propriedade sobre a música e menos das artes plásticas ou de outro sector das artes. Sinto que enquanto música, para ser a música que quero ser, abdico de muita coisa. Também digo que não a muita coisa e isso faz com que as consequências a seguir sejam que haja menos disponibilidade para nos receber, menos visibilidade dada ao trabalho. Fala-se do assédio sexual no cinema, por exemplo, mas também na música. Isto é muitíssimo sentido.Começa a falar-se e, mais recentemente, no jazz português...E o jazz português é um exemplo tristíssimo porque é uma coisa muito mais transversal a qualquer género porque aquilo não é só na casa do jazz. Nós vamo-nos conhecendo enquanto artistas, vamos marcando uma espécie de identidade. É o que tenho de fazer. Muitas vezes é preciso perceber que não quero tocar no Festival X porque aquele festival, para mim, não cumpre nenhum papel cívico, consciente, constructivo, transformador, alargador de consciência.As ligações de que falava no início da entrevista?Sim, claro. Porque determinado evento é patrocinado por pelo banco Y ou pela gasolineira tal. Eu até posso ir a esse festival, mas é importante que eu diga nesse festival que a gasolineira tal me envergonha enquanto cidadã, pelos lucros multimilionários que têm anualmente num país que está a viver com tantas dificuldades e tantas misérias. Depois percebo que isto há de ter consequências.Tem consequências?Sim. Esse festival, por exemplo, a que me refiro, duvido que mais algum dia me convidem para fazer um concerto, mas fico muito mais tranquila se pensar que cumpri o meu papel de artista. Para mim, ser artista tem que ter algum papel de transformação e de provocação.Neste ano em que se assinalam 50 anos de liberdade em Portugal, o que significa para vocês a palavra a liberdade?Melanie: Tenho assim, como se diz em inglês mixed feelings, por um lado, dou graças às mulheres e homens que lutaram, que foram oprimidos, que foram agredidos, que lutaram por nós para pavimentar o nosso caminho, para nós podermos sentir que somos livres hoje. Por outro lado, às vezes sinto-me um bocado desiludida. Sinto-me desiludida de termos que continuar a falar sobre igualdades. Sinto-me um bocado desiludida de sentir que quando estamos a falar de igualdade de direitos estamos a falar de igualdade de direitos perante homem e mulher. Mas eu estou a falar de igualdade perante; empregada doméstica e político. Percebemos que as coisas são diferentes e que isto é tudo muito complexo. Tudo bem que as coisas têm hierarquias diferentes, mas eu acho que há um grande basta: Como é que falamos sobre liberdade e, no entanto, vemos situações no nosso país, em Portugal, de pessoas por causa de taxas, por causa de inflação, seja por que razão, perdem empregos, não podem pagar rendas. Ainda há uma situação muito complexa e sinto-me desiludida por não estar resolvida, passados 50 anos.Cátia, sente que ainda hoje, o impacto da censura e das desigualdades do Estado Novo se refletem nas nossas gerações, 50 anos depois?Cátia: É que nem consigo comparar. Se eu pensar na música e pensar no percurso como o do Zeca Afonso, do Sérgio Godinho, doJosé Mário Branco que tiveram que sair do país porque ali a palavra deles era terminantemente proibida. Acho que não estou num momento em Portugal em que possa sequer comparar. Daí que eu até tenho aqui um problema quando me apresentam como cantora de intervenção, fico com um bocadinho de desconforto porque cantor de intervenção, para mim tem este período cronológico muito marcado e está muito associado àquela pré 25 de Abril, toda aquela fase final da ditadura pela qual contra a qual esta gente lutou muito.Para preparar esta entrevista e ao descobrir este trabalho da Melanie Alves foi impossível não pensar no trabalho do livro pioneiro As mulheres do meu país de Maria Lamas e mais recentemente no filme de Marta Pessoa Um nome para o que sou e no livro da Susana Moreira Marques Lenços Pretos, Chapéus de Palha e Brincos de Ouro. São mulheres que viajaram com um livro para perceber a própria história. É isso que também procura fazer? Mélanie: A certa altura da minha vida não fazia sentido continuar a fazer arte que fosse o eu e eu e o que me acontece a mim mesmo, sentia que faltava qualquer coisa e foi aí que comecei a virar-me para os problemas sociais e para o que acontece em tanto sítios onde estou, como no mundo. Começo logo a sorrir, a pensar nas mulheres do meu país, porque eu sinto uma grande proximidade, relativamente ao facto de Maria Lamas ter dito um basta. Foi um basta também porque estava a ser censurada, simplesmente por estar a demonstrar que a mulher portuguesa era maioritariamente analfabeta camponesa, vivia em situações precárias e trabalhava imenso. Foi censurada por isso e decidiu durante dois anos viajar de norte a sul e descrever essa realidade.Até me arrepio porque quando eu acabei as vozes da avó, essa era a minha ideia; fazer dois anos e provavelmente ainda vai acontecer, mas como eu sentia que os avós e os senhores estavam tão isolados, queria ir de norte a sul as aldeias assim mais remotas, falar e entrevistar e dar a conhecer a história.A exposição para mim não é para ter simplesmente a minha perspectiva ou a minha retórica. É para intrigar e para fazer as pessoas pensar, para terem curiosidade. Porque quando decidi fazer esta exposição sobre as mulheres conhecia muito poucas mulheres que tinham lutado contra a opressão da ditadura. Dei por mim a achar que era ignorância minha de realmente conhecer tão poucas. Mas quanto mais pesquisei, estudei e mais comecei a falar com o meu núcleo de pessoas, notei que não era só minha ignorância. Há uma ignorância geral, muita gente não conhece até os nomes mais mediáticos.Cátia: A Maria Barroso, por exemplo.Mélanie:A Maria Barroso é completamente uma mulher sombra. Ainda hoje, a maioria de nós ainda pensa nela como a primeira-dama, mulher de Mário Soares, mãe de João Isabel. Não fazia ideia que ela foi a única mulher e co-fundadora do Partido Socialista na Alemanha. Pensava que era erro meu, ignorância minha, mas afinal não. É somente isso que eu quero com esta exposição: apreciarmos, ouvirmos, haver mais união, haver mais conversa e intrigar as pessoas para que tenham realmente vontade de saber. Levar as pessoas a querer pesquisa mais acerca da Conceição, da Celeste ou da Maria Barroso.  Até posso lançar aqui um desafio para quem nos estiver a ouvir: pesquisar ainda mais, mais mulheres de Abril, mais Marias de Abril. Porque decerto e eu acredito piamente nisto, que todos temos uma história importante para ser contada. Há aí mais mulheres à espera para serem reveladas.Canta como se nos estivesse a fazer uma confidência, com uma entoação que revela tanto vulnerabilidade como uma força ou uma impulsão. De onde é que vêm?Cátia: Eu acho que até a maior parte das canções que escrevo vêm exactamente desse lugar de vulnerabilidade. Acho muitas vezes que a música salva-me de lugares muito angustiados. Falava há pouco de uma certa desilusão e às vezes a desilusão também me angustia muito. Acho que sou um bocadinho fantasiosa sobre o poder popular e o poder do colectivo. E depois também me desiludo com alguma frequência. Acho que a maneira de transformar isto é fazer canções que possam ser um reflexo ou que possam ter um reflexo disto, mas que sejam as canções que contenham uma certa dose de esperança para não cantar só a angústia e o desespero e o mal-estar, acho que o activismo na música também não passa por aí e eu não penso nada em mim como uma activista, mas estou a pegar mais nisto, até porque é uma palavra que a Mel usa bastante e estou a pregar por aí. Sinto que sim, que a música acaba por reflectir a forma como eu apreendo o mundo e como movimento no mundo. Há muita vulnerabilidade e, às vezes, instabilidade, mas também há uma grande vontade de que isto possa ser sempre um dia melhor.A Cátia Oliveira é hoje uma das cantoras mais ouvidas em Portugal. Ganhou o prémio de Melhor Trabalho Popular em 2024 da Sociedade Portuguesa de Autores. O último trabalho de 2 de Abril foi considerado um dos melhores discos do ano. O que é que este reconhecimento, o que é que estes prémios acrescentam, mudam alguma coisa?Não mudam nada. Não vou dizer que também não sabem nada porque todos nós precisamos de alguma espécie de validação e aquela validação que nos chega no mais imediato. Comigo funciona em mandar música ao meu pai, eu mando um texto que escrevi ao meu pai e ele é um barómetro muito interessante e muito curioso. A validação dele importa. Às vezes não é validação, é opinião dele. O que é que ele sente sobre aquilo porque ele sente bem a coisa, percebe quando a música tem alguma coisa que possa ser interessante.A música chega a si pelo seu pai?Não, acho que vem mais da minha mãe. Eu acho que a minha mãe usava muita música para cantar aquele dia a dia difícil.Cantava?Cantava muito, cantava a fazer a lida da casa, trabalhar na costura. Ela teve tantas amarguras, tantas agruras na vida que o canto realmente espanta alguns demónios. E as mulheres da minha família tem muito isso. A minha avó também adora cantar. Às vezes o mundo estava a cair dentro de casa, mas ela ia para o postigo, no bairro de pescadores, lá em Setúbal, abria o postigo e cantava e as vizinhas juntavam se à porta. É muito engraçado porque há vizinhas que ainda me dizem a tua avó cantava tão bem e às vezes lá dentro aquilo estava tudo assim, muito frágil. Acho que também herdei um bocadinho isso, mas pronto. Voltando à questão dos prémios, não mudam nada, mas há sempre um certo sentimento de que eu, na verdade, só tenho 30.000 ouvintes nas plataformas digitais, o que é um número irrisório para uma população como a de Portugal.As plataformas e o número de seguidores dizem muito?Até diz sobre a minha música e sobre aquilo que eu escrevo, o que é que representa para o outro. Se há 30.000 pessoas a ouvir.30.000 pessoas que têm acesso, mas há quem não tenha acesso ou quem use outras formas para ouvir música?Também e eu vendo muitos CDS. Não muda nada, mas acaba por dar uma espécie de conforto de olha, não tens muitos ouvintes, não tens muitos seguidores, mas há sempre alguém que acha que aquilo que tu estás a fazer é importante e pode acrescentar alguma coisa. Eu acho que é isso.

Dar Voz a esQrever: Pluralidade, Diversidade e Inclusão LGBTI
Ep.209 - Podcast - Marielle Franco, Joe Locke e Agatha All Along & Chappell Roan!

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Play Episode Listen Later Nov 6, 2024 23:00


Convidado
Capitão Fausto em Paris para abrir novos caminhos

Convidado

Play Episode Listen Later Oct 18, 2024 16:20


O vocalista e guitarrista Capitão Fausto, Tomás Wallenstein, está em Paris a participar no MaMA Music & Convention para ouvir e conhecer novos artistas, mas também para representar a banda e apresentar o projecto a futuros parceiros. Tomás Wallenstein explica, ainda, que a internacionalização surge após anos de consolidação em Portugal e está convencido de que conhecer outros artistas e novos públicos pode enriquecer o processo criativo. RFI: Como é que está a ser a experiência de participar no festival MaMA Music & Convention, não só no lado dos artistas, mas no lado do público?Tomás Wallenstein: Em primeiro lugar, Paris está a tratar-me muito bem. Cheguei ontem, tem valido muito a pena estar aqui e não é uma coisa rara para mim e para os Capitão Fausto, em geral, estarmos do lado do público, estarmos do lado de quem vai ver e ouvir música. E a principal razão pela qual eu vim ao Mama este ano foi para isso: para ouvir, para ver o que é que está a acontecer e para conhecer artistas e conhecer um bocadinho mais por dentro o tecido da música aqui da cena musical francesa. Está a ser muito interessante. Ontem, vi concertos muito interessantes, vi salas e está a ser interessante conhecer as salas e ir aprofundando o meu conhecimento. Vamos fazendo amigos e portanto está a ser uma boa experiência até agora.Está do lado do público e, inevitavelmente, está a representar o grupo Capitão Fausto. E é também esse espaço que vai ocupar nestes próximos dias que é fazer contactos?É evidente que temos alguns planos para o próximo ano e que envolvem a cidade de Paris e, portanto, faz todo o sentido vir conhecer pessoas e apresentar o nosso projecto e os nossos planos e ficar com parceiros que possam fazer este caminho connosco, que de certeza que vai correr muito bem. Até agora as pessoas várias que conhecemos ficamos muito impressionados e acho que estamos com boas perspectivas.Os Capitão Fausto preservam e reinventam a música portuguesa mantém o idioma como parte central das canções, abordam questões sociais, pessoais, sempre em diálogo com a realidade portuguesa. Vocês têm mostrado que é possível criar música original, autêntica na língua portuguesa e parece ser fácil de quem vê de fora na forma como o fazem. Como é que os Capitão Fausto são vistos fora de Portugal e conseguem ter essa perceção da vossa música no exterior?Isso é a pergunta que nós também estamos a começar a fazer nós próprios. Mas eu acredito que a linguagem é cada vez menos uma barreira. Acho que nós estamos cada vez mais habituados a ver cinema, a ver televisão, a ver coisas no telemóvel legendadas na sua língua original, o cinema falado nas línguas mais dos sítios dos países de onde vêm com maior exposição é a música também. Existe um lugar que é o lugar que nós também queremos procurar, em que as coisas existem, como elas nasceram no sítio e que se junta no mesmo palco, no mesmo festival, num mesmo circuito. Vários interlocutores a falar da maneira que sabem melhor. E é essa a principal razão pela qual eu escrevo em português. E nós e nós fazemos as canções que fazemos por ser, evidentemente, a maneira de comunicar mais prática.A língua portuguesa não é o entrave neste caso e até pode ser uma descoberta de novas sonoridades para um público francês, por exemplo?Eu acredito que sim. Se eu tivesse só a fazer literatura também existe maneiras da literatura atravessar fronteiras através da tradução e por aí fora. E a música é uma linguagem universal e eu acredito que os Capitão Fausto conseguem mostrar-se num concerto e extravasar o primeiro confronto com uma língua que não se percebe imediatamente. Acho que depois acrescenta camadas à experiência musical e isso tem me acontecido muito com música italiana que vou ouvindo e sueca e é holandesa e francesa - que eu percebo muito bem - mas de outras línguas que não percebo e só à quinta ou sexta escuta é que eu vou retirando cada vez mais camadas e vou descobrir a letra, ao ir ver traduções e perceber o que é que ali está dito. Eu acho que é uma experiência enriquecedora. Acredito piamente que muita gente, muito público esteja esteja para aí virado.Capitão Fausto publicou cinco álbuns, o grupo foi criado em 2009. Por que é que a internacionalização acontece agora?A nossa primeira digressão com a nossa formação original, justamente em 2009 ou em 2010, não foi em Portugal, foi em Ibiza a tocar covers de Elvis e de Beatles e não sei o quê por bares. É sempre uma questão de momento. Nós fizemos uma escolha na nossa carreira de investir muito no nosso país e de investir e consolidar a nossa posição dentro de Portugal. E tivemos a sorte de conseguir criar um público que é muito próximo, que nos acompanha, nos acarinha e que nos dá muita energia para continuar a trabalhar. O momento da internacionalização vem a seguir e esse, vem num gesto de procurar mais público. Vem num gesto de nós podermos conhecer, crescer como artistas, conhecer realidades diferentes. É preciso ter sempre um sentido de oportunidade. E surgiu este. É evidente que os anos da pandemia atrasaram tudo numa gestão de carreira. Qualquer carreira, calculo eu, mas uma carreira artística mais ainda, ficou um bocadinho estagnada com a altura da pandemia. E foi também o nosso caso. Mas felizmente está tudo caminhar bem.Como dizia, conhecer novos artistas vai influenciar e vai criar novas vias, novas estradas para um grupo?Inevitavelmente, conhecer novos artistas sem dúvida é a parte da colaboração, quando se faz colaborações por fora, nós saímos um bocadinho da nossa zona de conforto e estamos a ouvir ideias de outras pessoas, mas também conhecer públicos diferentes, conhecer salas diferentes, cidades diferentes. Tudo isso influencia. A arte é a ciência que estuda a condição humana é o que explica o que é que é nós estarmos vivos e, portanto, qualquer vivência é um acrescento à construção do trabalho artístico.Como é que o público pode influenciar o público?O público influencia de muitas maneiras; da maneira como reage, da maneira como nos dá feedback no fim do concerto, na maneira como aparece ou não aparece. Uma ausência de público também influencia; e eu acho que nós temos de ser seres muito ativos e muito atentos ao que está à nossa volta.O músico brasileiro Tim Bernardes colaborou com vocês neste novo álbum, editado este ano, Subida infinita. Tim Bernardes esteve recentemente nos nossos estúdios, onde falou desta colaboração e da admiração que tem por vocês, por Capitão Fausto. Como é que foi trabalhar com Tim Bernardes e em que medida é que participar neste festival também pode criar novas colaborações?Em primeiro lugar, o Tim seria a pessoa mais óbvia para haver uma primeira colaboração numa gravação de uma música original e que foi o que aconteceu. Em nenhum disco nosso aparece algum featuring, alguma outra voz. O Tim é a escolha mais óbvia, porque nós temos uma amizade que já tem muitos anos e já trabalhamos muito juntos e temos uma espécie de uma vida paralela, separada pelo Oceano Atlântico. O Terno e o Capitão Fausto nasceram no mesmo ano, fizeram faculdade nas mesmas alturas, atravessaram as mesmas fases de vida. Começa a se ver as letras e falam mais ou menos das mesmas coisas em cada fase. Portanto, tivemos assim um crescimento em paralelo e quando nos fomos conhecendo e percebendo estas coincidências, aproximámo-nos muito e trabalhámos muito bem juntos. Tocámos umas versões das músicas do Tim, numa das vezes que ele esteve lá no nosso estúdio em Alvalade, fizemos um concerto em conjunto no Rio de Janeiro com o Terno  que foi uma das experiências mais marcantes porque montámos em quatro dias um espetáculo de uma forma que nunca tínhamos feito antes: duas bandas a fazerem repertório em conjunto, tudo em duplicado, duas baterias, dois baixos e portanto foi um espetáculo muito curioso de montar, muito imediato. E depois viveu só ali e ali aconteceu. Um dia há de ser repetido, espero eu.Editado, quem sabe?Talvez, talvez ... Por acaso não sei se foi gravado, mas pelo menos vamos replicar esse concerto e talvez aqui em Paris. Fausto- Terno, Capitão Fausto é o terno. O Terno que por acaso está a vir a Portugal agora em digressão. A participação do Tim foi muito fácil em termos de trabalhar e calhou numa altura em que ele estava a fazer um concerto no Coliseu, em Janeiro do ano passado, e que já tinha vindo antes.Acompanhou um bocadinho o processo de não estarmos a acabar o nosso disco e nós reservamos este lugar para ele e foi bastante evidente. Parece pelo menos que para ele foi muito fácil, ouvi-lo a cantar parece me que é fácil, parece muito natural, uma naturalidade invejável.E ouvir vos a cantar também parece que é sempre fácil. É fácil?Dá muito trabalho. Eu acho que nós somos um bocadinho exigentes. Há uma tendência crescente quando se trabalha em coisas criativas. Os critérios começaram a ficar cada vez mais apertados e nesse aspecto, acho que a parte que começa a dificultar começamos a por complicações na tomada de decisões, geralmente. A ser cada vez mais exigentes e começa a torna-se difícil encontrar uma ideia de que gostemos à partida. E é com isso que nós temos lidado ultimamente. E eu acho que isso o que faz estende os períodos de criação um bocadinho mais e torna nos um bocadinho mais exaustivos. No entanto, é fácil fazer aquilo que fazemos na perspectiva em que aquilo que gostamos de o fazer e fazemo-lo com alegria. E dar um concerto que continua a ser uma fase alta da nossa semana, estar em conjunto a acabar uma música e a ter a sensação de que cumprimos ainda é uma das grande alegrias e portanto, essa parte sim, é fácil.Como é que tem sido a evolução de Capitão Fausto nos últimos dois álbuns? Neste e no penúltimo álbum dá ideia que se estão a desligar um pouco do rock que se estão a aproximar mais da música portuguesa, com arranjos modernos, mas sempre guardando sons nostálgicos dos anos 60, 70, 80 da música portuguesa. Quem não viveu esses anos consegue ainda assim sentir essa nostalgia. Como é que é possível sentir uma nostalgia de um tempo que não foi vivido?É como ver um filme de Ficção científica (Sci-Fi) ou como ver um filme da Idade Média. Uma pessoa consegue transportar-e para lá, se calhar com mais detalhe e mais realismo do que quando temos uma memória muito fresca. Porque aí não é um mito, é uma realidade, não é? A música dos anos 60 e 70 foi sempre aquilo que nos motivou mais e onde nós regressamos sempre numa espécie de manifesto da música popular, da música pop e do rock. Há muitos períodos da minha vida em que eu já não estou a ouvir propriamente muito estes discos, mas ciclicamente regresso aos Beatles e regresso ao Elvis e regresso ao Zé Mário Branco e ao Fausto e ao Zeca Afonso, para depois voltar às coisas do presente.Mas há uma vontade de reinventar estas sonoridades?Sim, eu acho que existe ali um manifesto nessa época, um manifesto entre aspas, mas existe uma receita basilar que é aquela que se pode sempre aplicar para a música popular, acho eu. Existe uma estética muito cunhada, muito vincada dessa altura que continua a fazer muito sentido em termos de transmitir emoções e transmitir sentimentos e pensamentos. É-nos muito natural e também não é muito escolhido. Acho que é talvez aquilo que nós podemos dizer que é mais constante na nossa música, que já foi feito e que há de vir. É um bocadinho termos uma referência vaga dessa época.Subida Infinita foi lançado no início deste ano. Em média, têm produzido um disco todos os três anos. Há novos planos para breve?Há sem dúvida novos planos. Ainda é cedo para falar no plano mais imediato, mas posso dizer que é uma coisa onde nós saímos um bocadinho mais do nosso contexto e um bocadinho mais fora do nosso universo habitual e um projecto muito grande que já estamos a fazer há muitos anos e que vem para o próximo ano. Eu falarei dele com todo o gosto quando estiver na altura. Temos um projecto também, um projecto que é uma coisa que está a acontecer há dez anos, que é a nossa editora, que é a Cuca Monga, que trabalha com muitos artistas emergentes da de cena, principalmente de Lisboa, mas de Portugal. Isso também tem evoluído nos últimos anos, cresceu muito e criámos um espaço de encontro onde temos um estúdio e temos a editora a trabalhar já com pessoas a tempo inteiro e, portanto, também tem sido um ponto de encontro de pessoas, de pensamentos, de artistas. Temos conhecido muita gente à volta da Cuca Monga e também é um projecto para os próximos tempos que nos ocupa muito. E fazer música nova de há de acontecer. Estamos. Estamos em estúdio todos os dias agora. Portanto, quando puder, virei cá falar sobre isso.

Accents d'Europe
Révolution des œillets : le Portugal fête 50 ans de démocratie

Accents d'Europe

Play Episode Listen Later Aug 13, 2024 19:30


Le 25 avril 1974, un coup d'État mettait fin à 48 ans de dictature et ouvrait la voie de la démocratie et de la construction européenne. (Rediffusion) Spéciale 50 ans de la révolution des œillets avec le service lusophone de RFILe 25 avril 74 est resté dans l'Histoire et les mémoires comme le jour de la Révolution des œillets. Une révolution dont les racines et les conséquences s'inscrivent au-delà des frontières du pays, de l'Afrique à l'Europe. En 1974, le dictateur Salazar est mort depuis 4 ans déjà. Sa succession n'a pas permis au pays de revenir à l'État de droit, et les militaires, usés par les guerres coloniales, renversent le régime totalitaire et ouvrent le pays à la démocratie.Avec Yves Léonard, historien spécialiste du Portugal. Auteur de «Sous les œillets la révolution : le 25 avril 1974 au Portugal», 2023.  Juliette Gheerbrant : À l'occasion de l'anniversaire de la Révolution des œillets RFI en portugais publie une riche série de podcasts, « Revoluçao dos Cravos » pour laquelle vous êtes allée à la recherche, de Lisbonne à Paris, de résistants à la dictature ; pouvez-vous partager quelques-unes de ces rencontres ?Témoignages de participants à la révolution par Carina Branco, de Domingos Abrantes, de Marie Teresa HortaCarina Branco :  Il y a d'abord Domingos Abrantes, 80 ans, et son épouse Conceição Matos, qui se sont mariés quand lui était en prison. Il y est resté 11 ans, elle un an et huit mois. Ils ont été torturés par la police politique. Comme tous les opposants au régime dictatorial, ils étaient accusés d'atteinte à la sécurité nationale pour appartenance au Parti Communiste Portugais, interdit. Mais lui a aussi commis « un autre crime » : il a fait partie d'une des évasions collectives les plus spectaculaires de cette époque. C'était en 1961 et avec sept camarades, ils ont forcé le portail principal de la prison de Caxias à bord d'une voiture de luxe, pas n'importe laquelle comme il le raconte : « C'est une histoire digne d'un film. Elle est entrée dans l'histoire. C'était une évasion à connotation politique, d'une prison privée de la PIDE, la police politique, à bord d'un véhicule blindé du dictateur ! On dit que Salazar n'a plus jamais voulu remettre les pieds dans la voiture car elle avait été souillée par des communistes ! Il a fallu 19 mois pour préparer l'évasion, rendue possible grâce à la complicité du mécanicien chargé de ces véhicules, qui avait réussi à gagner la confiance des gardiens. Un pari risqué pour les fugitifs : La voiture a foncé vers le portail et la grande inconnue était : que va-t-il se passer ?… C'est le moment décisif. Si la voiture ne passe pas, nous sommes tous morts. C'est le moment décisif de toute l'histoire, de nos vies. La voiture est passée, elle a défoncé une partie du portail et on a vu le bois voler dans les airs. Elle a été complètement cabossée à l'avant. L'évasion a duré 60 secondes. Il a fallu 19 mois pour atteindre 60 secondes. Mais ces 60 secondes semblent avoir arrêté le temps. »Sous la dictature, vous l'évoquiez la torture était très répandue, que vous ont rapporté les témoins ?Domingos Abrantes est resté des jours et des nuits debout sans pouvoir s'asseoir ni dormir, il a subi des chocs électriques, le « trou » - une cellule où n'entraient ni lumière ni son et où il sentait enterré vivant). « Le rôle de la police, explique-t-il, était de détruire la lutte organisée car le fascisme ne pouvait être renversé que par la lutte. Il n'y avait pas d'autre moyen. Les gens étaient des pauvres, exploités, mais ils étaient capables de tout risquer pour améliorer leur vie et celle des autres. » Son épouse, Conceiçao Matos a, elle aussi, été soumise à la privation de sommeil, à l'interdiction d'aller aux toilettes, humiliée et battue par les gardiennes, comme elle le raconte : « L'une d'elles m'a attrapée, elles m'ont déshabillée et elle a commencé à me donner des coups de pied dans les tibias, à me frapper au visage, à frapper... C'était terrible et je suis tombée par terre. Elles m'ont relevé, et ont continué. Et à un moment donné, au bout de nombreuses heures, la femme a dit : Partons, car cette merde ne parlera pas et si je reste plus longtemps, je vais lui faire la peau ! »  En 1973, Conceiçao Matos et Domingos Abrantes ont pu s'exiler à Paris pour continuer leur lutte. Ils sont retournés au Portugal juste après la révolution à bord ce qu'on a appelé l'avion de la liberté, qui a ramené beaucoup d'exilés politiques de Paris à Lisbonne.Malgré la violence de la répression, la résistance était donc très active ?  Beaucoup des gens que j'ai rencontrés savaient que tôt ou tard, ils iraient en prison, mais ils agissaient chacun à leur niveau, comme le prêtre Francisco Fanhais, qui a soutenu la LUAR, Ligue d'Union et Action Révolutionnaire et qui faisait aussi de la résistance en musique. Il a enregistré, aux côtés du musicien Zeca Afonso, la chanson qui allait devenir le symbole de la révolution : Grândola Vila Morena. Certains s'en prenaient à l'appareil militaire destiné aux guerres coloniales. La résistance était aussi active dans les rédactions et le monde de l'édition. La journaliste Helena Neves m'a expliqué comment il fallait constamment jouer avec la censure dans les journaux pour réussir à raconter le pays entre les lignes. La police politique interdisait les livres considérés comme subversifs. L'un des plus célèbres s'intitule Nouvelles lettres portugaises, aussi connu comme le livre des trois Maria, il raconte la condition des femmes et a été écrit en 1972 par trois d'entre elles, dont Maria Teresa Horta, âgée aujourd'hui de 86 ans, que j'ai rencontrée : « C'est un livre politique, essentiellement politique, écrit dans un pays fasciste par trois femmes. À cette époque, au Portugal, il n'est pas étonnant que ce livre ait fait l'effet d'une bombe. Il a provoqué un scandale. Pour moi, et pour les autres, c'était une lueur car on vivait dans ce pays fasciste avec une tristesse intrinsèque, et aussi un immense sentiment de révolte intérieure et extérieure. En fait, nous avons seulement compris que ce livre pouvait être « dangereux » pour nous quand il a été interdit. »  La dictature a considéré le livre comme « pornographique et offensant pour la morale publique » et les autrices ont été menacées d'une peine allant de six mois à deux ans de prison, parce qu'il y était question sans tabou de sexe, de désir, mais aussi de violence, de viol, d'inceste, d'avortement clandestin, d'oppression domestique, sociale et politique sur les femmes. Mais aussi des guerres coloniales, de la pauvreté, de l'émigration. Publié dès 74 en français, aux éditions du Seuil, c'est un témoignage fort de ce qu'était la société portugaise sous la dictature.Témoignage Guinée-Bissau et le rôle de la lutte anticoloniale dans la révolution des œillets d'Ernesto Dabo.

Accents d'Europe
Révolution des œillets : le Portugal fête 50 ans de démocratie

Accents d'Europe

Play Episode Listen Later Aug 13, 2024 19:30


Le 25 avril 1974, un coup d'État mettait fin à 48 ans de dictature et ouvrait la voie de la démocratie et de la construction européenne. (Rediffusion) Spéciale 50 ans de la révolution des œillets avec le service lusophone de RFILe 25 avril 74 est resté dans l'Histoire et les mémoires comme le jour de la Révolution des œillets. Une révolution dont les racines et les conséquences s'inscrivent au-delà des frontières du pays, de l'Afrique à l'Europe. En 1974, le dictateur Salazar est mort depuis 4 ans déjà. Sa succession n'a pas permis au pays de revenir à l'État de droit, et les militaires, usés par les guerres coloniales, renversent le régime totalitaire et ouvrent le pays à la démocratie.Avec Yves Léonard, historien spécialiste du Portugal. Auteur de «Sous les œillets la révolution : le 25 avril 1974 au Portugal», 2023.  Juliette Gheerbrant : À l'occasion de l'anniversaire de la Révolution des œillets RFI en portugais publie une riche série de podcasts, « Revoluçao dos Cravos » pour laquelle vous êtes allée à la recherche, de Lisbonne à Paris, de résistants à la dictature ; pouvez-vous partager quelques-unes de ces rencontres ?Témoignages de participants à la révolution par Carina Branco, de Domingos Abrantes, de Marie Teresa HortaCarina Branco :  Il y a d'abord Domingos Abrantes, 80 ans, et son épouse Conceição Matos, qui se sont mariés quand lui était en prison. Il y est resté 11 ans, elle un an et huit mois. Ils ont été torturés par la police politique. Comme tous les opposants au régime dictatorial, ils étaient accusés d'atteinte à la sécurité nationale pour appartenance au Parti Communiste Portugais, interdit. Mais lui a aussi commis « un autre crime » : il a fait partie d'une des évasions collectives les plus spectaculaires de cette époque. C'était en 1961 et avec sept camarades, ils ont forcé le portail principal de la prison de Caxias à bord d'une voiture de luxe, pas n'importe laquelle comme il le raconte : « C'est une histoire digne d'un film. Elle est entrée dans l'histoire. C'était une évasion à connotation politique, d'une prison privée de la PIDE, la police politique, à bord d'un véhicule blindé du dictateur ! On dit que Salazar n'a plus jamais voulu remettre les pieds dans la voiture car elle avait été souillée par des communistes ! Il a fallu 19 mois pour préparer l'évasion, rendue possible grâce à la complicité du mécanicien chargé de ces véhicules, qui avait réussi à gagner la confiance des gardiens. Un pari risqué pour les fugitifs : La voiture a foncé vers le portail et la grande inconnue était : que va-t-il se passer ?… C'est le moment décisif. Si la voiture ne passe pas, nous sommes tous morts. C'est le moment décisif de toute l'histoire, de nos vies. La voiture est passée, elle a défoncé une partie du portail et on a vu le bois voler dans les airs. Elle a été complètement cabossée à l'avant. L'évasion a duré 60 secondes. Il a fallu 19 mois pour atteindre 60 secondes. Mais ces 60 secondes semblent avoir arrêté le temps. »Sous la dictature, vous l'évoquiez la torture était très répandue, que vous ont rapporté les témoins ?Domingos Abrantes est resté des jours et des nuits debout sans pouvoir s'asseoir ni dormir, il a subi des chocs électriques, le « trou » - une cellule où n'entraient ni lumière ni son et où il sentait enterré vivant). « Le rôle de la police, explique-t-il, était de détruire la lutte organisée car le fascisme ne pouvait être renversé que par la lutte. Il n'y avait pas d'autre moyen. Les gens étaient des pauvres, exploités, mais ils étaient capables de tout risquer pour améliorer leur vie et celle des autres. » Son épouse, Conceiçao Matos a, elle aussi, été soumise à la privation de sommeil, à l'interdiction d'aller aux toilettes, humiliée et battue par les gardiennes, comme elle le raconte : « L'une d'elles m'a attrapée, elles m'ont déshabillée et elle a commencé à me donner des coups de pied dans les tibias, à me frapper au visage, à frapper... C'était terrible et je suis tombée par terre. Elles m'ont relevé, et ont continué. Et à un moment donné, au bout de nombreuses heures, la femme a dit : Partons, car cette merde ne parlera pas et si je reste plus longtemps, je vais lui faire la peau ! »  En 1973, Conceiçao Matos et Domingos Abrantes ont pu s'exiler à Paris pour continuer leur lutte. Ils sont retournés au Portugal juste après la révolution à bord ce qu'on a appelé l'avion de la liberté, qui a ramené beaucoup d'exilés politiques de Paris à Lisbonne.Malgré la violence de la répression, la résistance était donc très active ?  Beaucoup des gens que j'ai rencontrés savaient que tôt ou tard, ils iraient en prison, mais ils agissaient chacun à leur niveau, comme le prêtre Francisco Fanhais, qui a soutenu la LUAR, Ligue d'Union et Action Révolutionnaire et qui faisait aussi de la résistance en musique. Il a enregistré, aux côtés du musicien Zeca Afonso, la chanson qui allait devenir le symbole de la révolution : Grândola Vila Morena. Certains s'en prenaient à l'appareil militaire destiné aux guerres coloniales. La résistance était aussi active dans les rédactions et le monde de l'édition. La journaliste Helena Neves m'a expliqué comment il fallait constamment jouer avec la censure dans les journaux pour réussir à raconter le pays entre les lignes. La police politique interdisait les livres considérés comme subversifs. L'un des plus célèbres s'intitule Nouvelles lettres portugaises, aussi connu comme le livre des trois Maria, il raconte la condition des femmes et a été écrit en 1972 par trois d'entre elles, dont Maria Teresa Horta, âgée aujourd'hui de 86 ans, que j'ai rencontrée : « C'est un livre politique, essentiellement politique, écrit dans un pays fasciste par trois femmes. À cette époque, au Portugal, il n'est pas étonnant que ce livre ait fait l'effet d'une bombe. Il a provoqué un scandale. Pour moi, et pour les autres, c'était une lueur car on vivait dans ce pays fasciste avec une tristesse intrinsèque, et aussi un immense sentiment de révolte intérieure et extérieure. En fait, nous avons seulement compris que ce livre pouvait être « dangereux » pour nous quand il a été interdit. »  La dictature a considéré le livre comme « pornographique et offensant pour la morale publique » et les autrices ont été menacées d'une peine allant de six mois à deux ans de prison, parce qu'il y était question sans tabou de sexe, de désir, mais aussi de violence, de viol, d'inceste, d'avortement clandestin, d'oppression domestique, sociale et politique sur les femmes. Mais aussi des guerres coloniales, de la pauvreté, de l'émigration. Publié dès 74 en français, aux éditions du Seuil, c'est un témoignage fort de ce qu'était la société portugaise sous la dictature.Témoignage Guinée-Bissau et le rôle de la lutte anticoloniale dans la révolution des œillets d'Ernesto Dabo.

Leituras à Solta
Leituras à Solta - Maio de 2024

Leituras à Solta

Play Episode Listen Later May 26, 2024 17:13


Inspirados pela comemoração dos 50 anos do 25 de abril, no presente ano letivo, todos os programas terão como tema a “Liberdade”. Todos os meses escolhemos um autor português diferente. No mês de maio escolhemos textos e poemas de Zeca Afonso.

Convidado
Western português e a mobilização contra o lítio em cartaz, em Cannes

Convidado

Play Episode Listen Later May 19, 2024 13:47


"A Savana e a Montanha" é uma longa metragem do português Paulo Carneiro em exibição na Quinzena dos cineastas, mostra paralela do Festival de cinema de Cannes. Trata-se de um western que retrata a luta da população de Covas do Barrroso, em Trás-os-Montes, nordeste de Portugal... contra o projecto da maior mina de exploração de lítio da Europa, denunciando as consequências para o meio ambiente e os habitantes. O cineasta Paulo Carneiro começa por se referir à sua presença neste prestigioso certame de cinema do sul da França, onde é candidato com "A savana e a montanha" à distinção "Oeil d'Or"."Para nós foi muito importante, porque este filme serve também, desde o início, é uma espécie de um contrato com as pessoas de Covas do Barroso. Era um bocado a ideia de amplificar a luta, aquilo que se está a passar ali na região, porque é algo que de uma grandeza muito, megalómana que nas cidades, mesmo em Portugal, ninguém quase tem ideia do que é. E estar aqui em Cannes acho que pode ajudar bastante ao filme, pode ajudar bastante à causa. Acho que o cinema não tem a capacidade de mudar nada, mas pelo menos que faça com que as pessoas possam discutir o assunto. E depois, quer dizer, as autoridades competentes lá, talvez de alguma maneira tenham a capacidade de reflectir sobre o que se está a passar e aquilo que querem impor a estas gentes, que é o que mostra o filme e que acho que é um bom microfone para isso."É uma matéria prima que serviu também para uma curta metragem portuguesa que está em exibição precisamente aqui na Quinzena dos Cineastas. Refiro-me à obra do Frederico Lobo "Quando a terra foge". Portanto, é possível vir a explorar-se o lítio em Trás-os -Montes, precisamente como dizia em Covas do Barroso, não muito longe da família do seu lado paterno.Você já tinha feito um filme sobre o seu avô, o "Bostofrio", não muito longe de lá. É um filme militante, pergunto eu? E porquê a opção por um western ?"Na verdade é curioso: eu soube do filme do Frederico quando houve a Selecção porque eu não sabia que o Frederico estava a fazer um filme ali, em Trás-os-Montes, a região do Barroso, que são dois concelhos, Boticas e Montalegre. Curiosamente, o Frederico filma em Montalegre e eu filmei em Boticas, o meu pai, é ali efectivamente de perto de Covas do Barroso, de Bostofrio, que fica a cinco quilómetros. Ou seja, é um sítio que eu já conhecia. Quando se começou a especular um bocado em relação a isto, eu ainda não estava tão informado. Tentei-me informar bastante antes mesmo de avançar para a região. Não para fazer um filme. Mas no início o objectivo era criar algum conteúdo para a internet para, de certa maneira, poder partilhar com outras pessoas, como tinha dito, anteriormente, na cidade. Parece-me importante que nós tenhamos a capacidade de nos rirmos de nós mesmos. Acho que o cinema é sério, é um trabalho sério, mas acho que é importante também não nos levarmos, por vezes tão a sério e conseguirmos rirmo-nos de nós mesmos. E foi daí que parte também a ideia do western. As próprias pessoas de Covas do Barroso encetaram esta coisa dos indígenas contra os cowboys, os cowboys contra os indígenas e de repente fizeram esse jogo. Começámos a escrever juntos e perceber de que forma é que as coisas no filme poderiam funcionar para caminhar para o lado do western, mantendo, ainda assim, uma sobriedade de um filme que, apesar de ser um filme militante, acho que continua a querer trabalhar muito. esta ideia do que para nós é o cinema. O gesto de cinema e a forma, e não relegando apenas para o canto do cinema militante, porque, parece-me a mim, muitas vezes, a ideia que surge com com o cinema militante é uma coisa muito de gueto, muito filmada, com uma forma que não interessa tanto e nós tentamos contrariar isso."Porém, as mensagens são muito claras: "A hora é de morrer ou de matar."  "Agora é hora de lutar !" "A voz do povo". Como é que foi escolher as músicas? Como é que foi trabalhar com o Carlos Libo ?"Na verdade, sim. Eu não nego que seja um filme militante. Só não o empurro para o gueto porque acho que é um filme de cinema, no sentido da forma. Só apenas isso. O Carlos Libo foi uma descoberta no início, quando começámos a ir a Covas do Barroso, frequentemente íamos filmando os conteúdos, que é o que se diz de conteúdos, não é para as redes sociais ? Descobrimos o Carlos Libo e eu percebi que ele gostava muito de ler e gostava muito de Zé Mário Branco, do Zeca Afonso. E encontrávamo-nos lá na carrinha dele, das abelhas, os livros do [Miguel] Torga e comecei a perguntar... Depois vi que tinha uma guitarra e começámos a perceber que ele tocava e compunha umas coisas. E instigando-o a criar umas músicas, não pensando que fossem músicas para o filme. Porque são músicas que são filmadas e gravadas ainda antes da existência da próprio ideia de um filme. E depois quer dizer, tudo muito orgânico e com naturalidade. Queríamos criar e quisemos... Não sei se está criado, se não ? Mas quisemos criar este músico que fosse um músico de referência para a luta ali, na região do Barroso, contra a mineração. E que já se amplificou e que já as músicas dele são palavras tidas em conta quando há manifestações sobre sobre outras explorações noutras regiões do país."E como é que se articulou a constituição do elenco para este filme?"Na verdade, a constituição do elenco também foi com muita naturalidade. São as pessoas que estão mais engajadas na luta. Acabam por ser as pessoas que também acabam por se engajar mais no filme. A comprometer -se mais no sentido que para elas era importante a forma que o filme poderia potenciar ou mostrar aquilo que se estava a passar foi muito natural."E aquele debate entre:  "Isto pode constituir oportunidades de emprego para uma terra que tantas necessidades tem." E, eventualmente, a destruição que isso implicará efectivamente para o património natural local, não é? Eu gostaria também que recuasse um bocadinho no tempo. Eu sei que há cerca de dez anos fazia uma curta metragem na Guiné-Bissau. "Água para Tabatô" e os problemas que ocorriam com uma embarcação. Como é que foi esse projecto que o levou à África Ocidental e à Guiné-Bissau?"Eu, na verdade, fui à Guiné-Bissau a trabalhar enquanto assistente de realização num outro filme. Esse filme a que que se está a referir é um filme com 40 e algo minutos e foi uma coisa que aconteceu efectivamente que eu vivi. Ou seja, não foi... também não foi muito planeado e acaba por ser um episódio que aconteceu, mas eu tenho em mim. Sim, isso acontece mesmo. E é o chamado cinema à "vérité", não é? E, na verdade. Quer dizer, depois isso foi durante a rodagem do outro filme em que eu estava a trabalhar como assistente. E depois quer dizer, as minhas ligações com África sempre foram muito próximas porque acabo por ficar com amigos. Alguns estão em Lisboa, outros ainda vivem na Guiné. Eu já fui à Guiné várias vezes e a outros países africanos, tudo um bocado também a trabalhar noutras áreas de cinema e quer dizer, festivais de cinema. Foi acontecendo."No "Bostofrio" já falava, então, da terra da sua costela paterna, não é? Em "Via Norte" você decidiu mesmo ir até à Suíça e falar, nomeadamente do apetite por muitos imigrantes portugueses, pelos automóveis e pelos bólides, não é? Agora, tem "A savana e a montanha". Tem, também, a sua própria produtora. Trabalha muito com o Uruguai. Sei que teve dificuldades para conseguir financiamentos e, uma vez mais, eles vêm também do Uruguai. Como é que isto se articula?"Na verdade o que acontece é que no cinema nós estamos todos muito... Trabalhamos muito com o coração. Não temos uma estratégia muito definida de como é que vamos... É um bocado e as pessoas querem estar perto umas das outras e as coisas vão surgindo. Eu conheço o Alex: o Alex Piperno, co-produtor, em 2019 quando mostro o Bostofrio no Festival do Uruguai. E depois encontrámo-nos novamente na Berlinale. Eu estava no "Talents", que é um programa de talentos do Festival de Berlim e o Alex estava a mostrar o seu primeiro filme no Festival de Berlim. Encontrámo-nos aí novamente. Começámos a discutir ideias de cinema durante a pandemia. Fomos falando sempre muito, muito, muito activa a discussão. E achámos que podia ser uma possibilidade. Os filmes que nos interessa são os mesmos. Ainda nos interessa mais a forma do que a história do que a narrativa. Queremos procurar novas maneiras, se quisermos, de fazer filmes. E abriu-se uma possibilidade: o Uruguai teve interesse. Acaba por financiar este filme. O filme teve financiamento da Câmara de Boticas e do Uruguai. Foi três vezes rejeitado no apoio à pós-produção. Nós não concorremos à produção, ao ICA (Instituto [português] do cinema e do audiovisual), porque, efectivamente, era um temática urgente e não dava para esperar. E foi começar a filmar e fomos fazendo o filme assim. Esta última vez que foi negado foi a mesma montagem que foi aqui aceite na Quinzena. Ficámos quase em último lugar no apoio à pós produção do ICA. Mas quer dizer: os filmes são o que são, têm a vida que têm. E não é por não termos um apoio do Instituto de Cinema que que iríamos desistir. Foi muito difícil, mesmo estar presente aqui em Cannes. Mas quer dizer, agora vamos para a frente e seguiremos com outros projectos, independentemente do que aconteça. Já temos financiamento também para o próximo filme, que temos apoio do Uruguai e aí temos o apoio do ICA, apesar de nos terem só financiado metade do montante a dividir com outro projecto. Mas, quer dizer, acho que o cinema deve ser pago e nós pagamos às pessoas, mas também não vai ser por não ter o apoio do ICA que não vamos fazer o filme."E há boas notícias, não é? O filme vai estrear em França, já é uma garantia, não é?"Sim, sim. Nós assinámos a distribuição comercial."Cannes está a dar já bons frutos !"Sim, sim, acho que sim.E acho que era isso que nós queríamos na verdade, poder mostrar o filme em mais sítios. E estamos muito contentes com isso, obviamente."Conhece bem esta região. Já houve um governo português que acabou por cair, o do governo socialista de António Costa, indirectamente por causa da exploração do lítio. Qual é o diagnóstico que faz de como estão os habitantes desta área actualmente em 2024? É de pessimismo ? Porque já vimos os pareceres da Agência Ambiental, contraditórios... E o projecto vai para a frente. Eles estão derrotistas ? Como é que eles se posicionam neste momento?"O que acontece é que quanto à queda do governo, o nosso filme já estava rodado. Já tínhamos até terminado a montagem. Ou seja, não houve essa intenção. O que eu verifiquei e acho que também é importante referir isso !O que eu verifiquei é que a nível municipal, tanto em Montalegre como em Covas, em Boticas, o que eu verifiquei e continuo a afirmar com muita força é que, de repente não há forças. Ou seja... nestas regiões, que são coisas muito concretas, em que a própria própria instituição "Câmara Municipal" está tão próxima das pessoas do género... o partido parece que fica mais esquecido. Ou seja, não é porque, sei lá ! É quase como dizer: pode ser oposição, sendo ou não sendo a oposição. O presidente da Câmara... neste momento, o lítio, a exploração do lítio, continua a ser uma prioridade para o novo governo AD. Mas o presidente da Câmara Municipal faz parte, tem a mesma cor e não é por isso que dá um passo atrás. Portanto, eu acho que isso é importante referir, até porque em Montalegre era o oposto e também não dá um passo atrás. E isso é importante.  Nos municípios há muito esta política, muito de proximidade."Como é que as pessoas agora, neste momento, olham para o projecto da Savannah Resources, se ele vai mesmo acabar por avançar, se a serra vai continuar a ser destruída ?"O que o que acontece é que neste momento existem máquinas que estão no vale. Foram feitas prospecções. Não se iniciou a extracção. Há máquinas no vale e eles estão a fazer. As pessoas vão estar cá em Cannes... Mas há outras pessoas lá da aldeia que estão a fazer piquete. Há uma tabela com horários e as pessoas estão a fazer piquete para as máquinas não avançarem para cima dos baldios. Porque a empresa quer avançar e estão numa luta de que os terrenos que são da empresa e os terrenos que são parte do baldio. O baldio ainda é nacional, mas é gerido pelas pessoas dali que têm os seus direitos. E enquanto não houver uma espécie de uma nacionalização e... toda a gente vai lutar contra isso, obviamente. A luta agora faz-se no terreno. Então existem piquetes, há uma máquina. Às vezes estão a jogar às cartas com a própria pessoa que trabalha, que trabalharia nessa máquina... que não está a trabalhar. Porque quer dizer isto também há um filme que é isso. É um filme que trabalha nos cinzentos. Não é porque os trabalhadores que estão com a Savannah [Resources, empresa britânica encarregada da prospecção do lítio] também são povo. Também são de outras aldeias ali perto. Nós nunca vemos o Golias, não é? E essa é uma das grandes coisas do capitalismo."

História Presente
Entrevista 10#- Série Especial 50 anos da Revolução dos Cravos- Revisitando a Revolução dos Cravos 50 anos depois

História Presente

Play Episode Listen Later Apr 29, 2024 68:53


Dando continuidade à Série Entrevistas, lançamos a série especial “50 anos da Revolução dos Cravos”, dedicada ao cinquentenário da Revolução de 25 de abril, ou Revolução dos Cravos, ocorrida em Portugal em abril de 1974. Com o Prof. Dr. Lincoln Secco, da Universidade de São Paulo (USP), você vai acompanhar a entrevista intitulada "Revisitando a Revolução dos Cravos 50 anos depois". Nela, Secco discorre acerca desse evento que foi um dos mais importantes da História de Portugal, uma vez que derrubou o regime ditatorial do Estado Novo, implantado por Antonio Oliveira Salazar, em 1933, dando início a um regime democrático no país. É uma ótima oportunidade para conhecer um pouco do levante militar e popular. Ouça aqui a música "Tanto Mar", de Chico Buarque: https://www.youtube.com/watch?v=OPRamfFppZ0 Ouça aqui a música "Grândola, Vila Morena", de Zeca Afonso: https://www.youtube.com/watch?v=gaLWqy4e7ls Entrevistadora: Ingrid Ladeira (Pesquisadora associada do LPPE) Entrevistado: Prof. Dr. Lincoln Secco (USP) Ficha técnica: Coordenação do Podcast: Flaviano Isolan Coordenação da série: Angela Roberti Roteiro: Fernando Martins e João Paulo Kleinlein (bolsistas LPPE) Edição de áudio: Fernando Martins (bolsista LPPE) Design da capa: Patrick Dansa Divulgação: Alícia Bastos (bolsista LPPE) Acompanhe o LPPE nas redes sociais: Instagram: @lppeuerj Facebook: @lppe.uerj Twitter: @LPPE_UERJ Visite o nosso site: https://www.lppe.uerj.br/ --- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/lppe/message

Expresso - A Beleza das Pequenas Coisas
Tiago Rodrigues (parte 2): “Faço teatro a aproveitar a imperfeição e a rugosidade da tentativa como força vital. Não quero saber de rodapés, quero é janelas abertas”

Expresso - A Beleza das Pequenas Coisas

Play Episode Listen Later Apr 27, 2024 47:45


Nesta segunda parte do episódio, o encenador e dramaturgo Tiago Rodrigues responde aos áudios surpresa da atriz Isabel Abreu e do diretor artístico da Culturgest, Mark Deputter, e revela como lida com a falha e a integra como vantagem na sua vida e nas suas criações. Fala ainda de como a sua experiência e gosto pelo jornalismo o tem ajudado a ter um certo olhar na escrita teatral, e partilha um certo truque que transporta consigo, que faz com que as pessoas acreditem da maneira que acreditam quando estão ao seu lado nas suas criações. Há ainda tempo para Tiago ler - de forma magistral - um artigo assinado pelo seu pai, o jornalista Rogério Rodrigues (um texto insólito, sofisticado e enxuto que deu origem à música “Teresa Torga”, de Zeca Afonso). E poderão ouvir algumas das músicas que o acompanham. Que novas histórias andam na sua cabeça para irem parar a palco? Qual a sua palavra em francês preferida? De que pequenas belas coisas são feitos os dias do Tiago? Tudo para escutarem nesta segunda parte. Boas audições!See omnystudio.com/listener for privacy information.

Convidado
“Que força é essa” Sérgio Godinho?

Convidado

Play Episode Listen Later Apr 27, 2024 31:05


Sérgio Godinho criou canções que são símbolos de liberdade e de resistência, mas não se revê na etiqueta de música de intervenção. Diz simplesmente que se limita a falar da vida. Nos 50 anos do 25 de Abril, convidámos o músico, cantor, compositor, poeta, escritor, actor, “homem dos sete instrumentos”, para falar sobre os tempos da ditadura, do exílio e da criação dos seus primeiros discos. Sérgio Godinho é o nosso convidado desta edição, no âmbito das entrevistas que temos publicado em torno dos 50 anos do 25 de Abril.Foi em Paris que o músico começou a espelhar as dores e as esperanças dos “Sobreviventes” à ditadura portuguesa. Tinha deixado Portugal em 1965 com “sede de ter mundo” e porque estava determinado em não ir para a guerra colonial. Diz que encontrou a sua voz em português em Paris e foi aí que gravou os dois primeiros discos, “Os Sobreviventes” e “Pré-Histórias”. Ambos no Château d'Hérouville, onde José Mário Branco gravou “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, em que Sérgio Godinho também participou e onde Zeca Afonso gravou o álbum "Cantigas do Maio", nomeadamente a “Grândola Vila Morena”.Sérgio Godinho esteve nove anos fora de Portugal durante a ditadura. Estudou psicologia em Genebra, trabalhou na cozinha de um barco holandês enquanto atravessava o Atlântico, viveu, entre tanta coisa, o Maio de 68 em Paris e no 25 de Abril de 1974 estava em Vancouver, no Canadá.Cinquenta anos depois da Revolução dos Cravos, vamos tentar perceber “que força é essa”, a da música e a das palavras de Sérgio Godinho, que fazem com que as suas canções sejam parte do imaginário colectivo da banda sonora das lutas do antes e do pós-25 de Abril.  RFI: Os seus dois primeiros discos, “Os Sobreviventes” e “Pré-Histórias”, são discos emblemáticos da canção de intervenção. Foram gravados em França. Qual era o estúdio e como é que decorreu toda esta fase? Sérgio Godinho, Músico: Foram gravados em Paris. O meu primeiro disco foi de 71. Quer dizer, gravei em 71. Gravei os dois discos antes do 25 de Abril, “Os Sobreviventes” e depois o “Pré-Histórias”. No “Pré-Histórias” já não estava a viver em França, estava a viver em Amesterdão, mas vim a França para gravar no mesmo estúdio.Eu depois vou falar desse epíteto "canção de intervenção", mas, para já, esse estúdio foi um estúdio que o Zé Mário [José Mário Branco] descobriu. É um estúdio que estava a estrear nos arredores de Paris, chamado Château d'Hérouville, onde também o Zeca [Afonso] gravou e onde se gravou o “Grândola Vila Morena”. Onde os Stones gravaram, o Elton John até tem um disco chamado “Honky Château”, que é uma homenagem, onde muitos depois gravaram porque era um estúdio que estava num sítio isolado e estava-se num bom ambiente.Agora, como parêntesis ou não, quanto a esse epíteto de canção de intervenção, isso é uma coisa que só surgiu a seguir ao 25 de Abril. E também que foi de vida muito curta, mas que deixou uma espécie de rasto como os cometas porque eu nunca compreendi muito bem e nunca me identifiquei muito bem com esse termo, canção de intervenção. Eu acho que é extremamente restritivo. O que é que é intervenção? Nós intervimos a vários níveis, não é?Prefere canção de protesto? Mas pode não ser de protesto. "A Noite Passada", que está no segundo disco, ou o "Pode alguém ser quem não é" não são de protesto. Algumas são canções que têm uma componente social, e até política, mas, sobretudo, são canções que contam o que é a vida e que contam muitas vezes histórias, têm muitas personagens. As minhas canções são canções também de interrogação, de percurso. Há muitas interrogações nas minhas canções. "Pode alguém ser quem não é" ou, nesse disco também, o "Barnabé". “O que é que tem o Barnabé que é diferente dos outros?” é uma interrogação e as respostas são dadas pelas pessoas que ouvem e parte das respostas são dadas por mim.Só para dizer que esse termo pode meter-nos assim numa etiqueta e arrumar convenientemente. Não consigo. Eu tenho canções que falam da vida, de questões sociais, políticas até, e que são canções íntimas. Eu tenho uma canção chamada 'Dancemos no mundo' que é uma canção que foi inspirada numa reportagem que houve na revista Expresso de casais separados por barreiras ideológicas, rácicas, políticas, etc, e do seu desejo de dançarem juntos neste mundo que é só um, no fim de contas, e que tem tantas fronteiras. Portanto, onde é que essa canção se vai posicionar? Isso insere-se nisso tudo, na vida.O disco “Os Sobreviventes” foi logo proibido pela PIDE em Portugal? Não é bem assim. Ele, depois de ter ganho um prémio de melhor letrista da Casa da Imprensa, foi retirado. Ele não foi proibido à partida. Repare que é assim: "Os Sobreviventes", todo "Os Sobreviventes" só saiu em 72 porque saiu em 71 quatro canções do disco, no formato que eles chamavam EP. Mas seja como for, o que acontece é que nessa altura estamos já no período de Marcello Caetano e, nessa altura, a própria censura já não sabia o que fazer com ela própria. Ou seja, havia uma incoerência muito grande. Por um lado, proibiam, mas depois permitiam outras coisas. Houve uma altura em que houve um abrandamento, digamos, naquilo que chamaram Primavera Marcelista, que eu nunca acreditei muito e provou-se.Primeiro sai o disco Os Sobreviventes, depois Pré-Histórias. São dois discos que têm músicas com mensagens muito claras. São discos bastante ousados, corajosos...Acho que sim, mas isso era a maneira como eu escrevia, era aquilo que eu queria dizer.  Quer dizer, a coragem do Zeca que vivia cá [em Portugal] e fez "Os Vampiros" aí sim. Eu estava no estrangeiro. Mas sim, claro que são discos que mexem com o status quo, como é evidente, mas que têm canções de vários géneros, canções mais satíricas, canções que falam de problemas políticos ou sociais. No segundo, talvez a canção que ficou mais seja "A Noite Passada", o "Pode alguém ser quem não é" e "O Homem dos Sete Instrumentos" e não são canções de teor político.E a música "Que força é essa"?"Os Sobreviventes" é começado com o "Que força é essa" e acaba com uma canção com uma letra muito curta chamada “Maré Alta”, em que eu digo “aprende a nadar companheiro, que a maré se vai levantar, que a liberdade está a passar por aqui”. Isto era, a liberdade não estava a passar por aqui, mas era não só um desejo, mas uma afirmação. No fim de contas, por outras palavras, é dizer que o solo que nós pisamos é livre, defendamo-lo!Foi muito emocionante, como é evidente, quando eu voltei, logo a seguir ao 25 de Abril, ter cantado essa canção que nunca tinha cantado em Portugal, para um público que conhecia já porque conheciam esses dois primeiros discos e organizaram-se quase espontaneamente aqueles cantos livres da altura, em que estávamos todos no palco, todos ao molho.O que eram os cantos livres? Foram coisas que foram quase improvisadas na hora, com vários cantores. Estávamos no palco, sentados no chão e depois levantámo-nos para cantar duas ou três canções cada um e depois tornávamo-nos a sentar. Às vezes colaborávamos nas canções uns dos outros, mas foram coisas que foram feitas quase… Há sempre gente que organiza, mas não havia agências organizadas, não havia nada disso, não é? Aliás, durante um tempo, nós andámos, e quando falo de mim, falo do Zé Mário, do Zeca, como é evidente, mais tarde o Fausto, também o Vitorino, o Manuel Freire, o Francisco Fanhais, cantámos em várias terras onde era solicitada a nossa presença.Voltemos a Paris. Que papel é que teve Paris na sua formação musical e também política? Paris, naquela altura, era o epicentro dos cantores que, mais tarde, se viriam a chamar "cantores de intervenção". Mais tarde foram chamados…Eu lá conheci o Luís Cília, de quem sou amigo, um amigo activo. O Zé Mário infelizmente já não está entre nós, mas continuei amigo toda a vida e tivemos muitas parcerias. Nos nossos primeiros discos há parcerias de canções. “O Charlatão” até é uma que é dos nossos primeiros discos e que é comum aos nossos primeiros discos. Mas, claro que o Zeca conheci-o porque ele foi a Paris, por exemplo.Mas há mais que isso porque eu cheguei a Paris já vindo de viagens. Porque, entretanto, eu tornei-me um vagabundo existencial. Andei à boleia por toda a Europa no Inverno. Trabalhei na cozinha de um barco holandês, atravessei o Atlântico, fui até às Caraíbas trabalhando, passando pelos Açores que não conhecia e, nessa altura, já não podia vir a Portugal porque tinha sido chamado para o serviço militar/guerra colonial e não tinha respondido e nunca tive a intenção de responder. Não só porque não me identificava com essa guerra, como realmente não queria fazer isso. E escrevi canções que também acabam por se ligar com isso, para mim e para o Zé Mário.O Zé Mário tem uma canção no primeiro disco que se chama “Cantiga de Fogo e da Guerra” que foi um poema que eu fiz quando tinha 19 anos e que depois mostrei ao Zé Mário e ele disse “Ah, mas eu quero pôr isso em música”. Repare, eu cheguei em 67 a Paris, portanto, levei em cheio com o Maio de 68. E vivi-o intensamente porque eu não tinha compromissos, praticamente vivia na rua e ia dormir a casa! Uma casa que era uma “chambre de bonne” em Paris, era pobrezinho - ainda não sou assim muito rico [risos]! Mas vivi muito do dia-a-dia, dormi várias vezes na Sorbonne, todo aquele movimento. Ocupámos a casa dos estudantes portugueses, eu e muitos outros. Depois, a certa altura, estavam dez milhões de trabalhadores em greve e cantei em fábricas ocupadas na Renault, Citroën, etc.Onde havia muitos portugueses.Onde havia muitos portugueses. Eu, o Luís Cília, com a Colette Magny, uma cantora francesa. E eu ainda não tinha material próprio. Tinha uma canção que fiz na altura até em francês, que sei parte dela, mas nunca a recuperei totalmente, mas era uma canção que falava um bocado de Maio de 68. Comecei a fazer canções e comecei a praticar também o que é fazer musicalmente uma canção e letra também. Mas comecei a escrever em francês ou comecei por escrever em francês.Isso é curioso. Porquê?Porque tudo o que eu fazia em português soava-me a José Afonso ou Alexandre O'Neill. Até encontrar uma voz própria, voz poética, uma voz própria, eu tive dificuldade. Então, comecei a fazer canções porque tinha a necessidade de fazer canções porque estava a descobrir essa arte, chamemos-lhe assim. Tive muitas influências, com certeza francesas, até porque estávamos numa altura em que apareceu o [Jacques] Brel, em que antes tinha havido o [Charles] Trenet que é o pai deles todos. Mas apareceu Brel, apareceu o [Georges] Brassens, que é um artífice de canções absolutamente extraordinário, o [Léo] Ferré. Depois, a seguir o [Serge] Gainsbourg, mas é um bocado mais tarde.E também tinha muitas influências brasileiras, sobretudo o Chico [Buarque] e Caetano [Veloso] e antes a bossa nova. E anglo-saxónicas, com o aparecimento dos Beatles, dos Stones, dos Kinks, do Bob Dylan. Foram extremamente importantes para mim, para a minha formação musical, para os meus gostos musicais.E o José Afonso, para mim, quando apareceu, eu tinha 17 ou 18 anos. Foi quando eu percebi que se podia escrever de outra maneira em português e uma canção, que eu acho que é a canção paradigmática como “Os Vampiros”, é uma canção que é extremamente bem feita, que é uma metáfora poderosa e muito corajosa porque não há nada de mais evidente do que o que é que ele está a falar. Está a falar do regime e dos vampiros que comem tudo e não deixam nada. Aliás, eu canto essa canção bastantes vezes. Este ano, que são os 50 anos do 25 de Abril, estamos a reformular o nosso espectáculo e eu já tinha cantado “Os Vampiros”, uma versão muito pessoal dos "Vampiros", muito diferente, bastante pesada, com guitarras eléctricas bastante densas, pesadas, mas que é muito forte.Todas essas influências cruzadas fizeram com que eu também tivesse vontade de experimentar a canção. E só um pouco mais tarde, antes do meu primeiro disco, é que houve assim uma espécie de dique que se abriu e em que eu, de repente, percebi que podia escrever em português e que era em português que eu queria escrever e que o significado das palavras e das frases e das frases feitas que eu uso muito, era também uma maneira de eu não perder a minha ligação à língua portuguesa e a Portugal. A língua portuguesa sempre foi muito importante para mim, foi algo que se venerou em minha casa.Em 1969, entrei no musical “Hair”. Fiz audições quando soube que havia, já tinha ouvido falar do “Hair” que estreou em Nova Iorque. Isto era a terceira cidade onde estava a estrear e era a encenação da Broadway. E foi um grande sucesso em Paris, no Théâtre de la Porte de Saint-Martin. Houve 6.000 ou 7.000 candidatos, eu fiz audições e acabei por ser escolhido e estive lá muito tempo. Foi um belo estágio do que é estar num palco e também cantar, representar, fazer papéis múltiplos, cantar em várias situações e estar à vontade com isso. E eu acho que, desde sempre, tive esse gosto dos palcos, continuo a ter e continuo a praticá-lo.Em Paris, em 1970, participa no concerto “La Chanson de Combat Portugaise” na Maison de la Mutualité. Foi polémico. Como foi?Quer dizer, o Zeca Afonso veio de Portugal. Havia uma grande contestação por esquerdistas de uma ala maoista ou coisa assim que fizeram inclusivamente um panfleto a denunciar, digamos, o carácter, sei lá, “revisionista” do Zeca, ou “pequeno-burguês” e coisas assim. Enfim, foi uma coisa que foi mesmo lamentável. O Zeca cantou, o Luís Cília, o Tino Flores, eu, não sei se o Vitorino - que ainda não tinha obra - se não cantou também nesse âmbito.E houve pancadaria na sala e contestações, pancadaria entre grupos. Porque depois eram os que eram a favor e os que eram contra, mas tudo portugueses, não é? Quer dizer, aquilo era uma coisa... Havia muito esta coisa dos grupúsculos políticos que se arvoravam em detentores da verdade. E o Zeca ficou bastante incomodado com isso e respondeu e outros responderam também.O Luís Cília já adaptava poemas, fazia música sobre poemas, como outros também fizeram, e sempre fez parte da sua obra. E cantou um poema qualquer e houve alguém que lhe diz “Os operários não percebem isso. Porque é que estás a cantar essas coisas? Os operários não percebem isso”. E o Luís respondeu: “Também há operários estúpidos!” O que eu achei uma resposta lapidar! Como é que a cantiga foi uma arma, como cantava o José Mário Branco, contra o fascismo?Foi uma arma? Não sei, não sei. Eu acho que essa afirmação, “a cantiga é uma arma”, eu acho que é uma afirmação que eu nunca subscrevi isso totalmente. Quer dizer, acho que foi um pauzinho na engrenagem, por um lado, e também foi uma contribuição logo a seguir ao 25 de Abril para congregar as pessoas. Eu acho que isso é útil, mas não acho que isso transforme as pessoas em si.Essas coisas todas juntas podem ter uma influência positiva. Por exemplo, eu sei de amigos meus, alguns até ainda nem os conhecia, só conheci depois, que estiveram na guerra em Angola ou em Moçambique e que levaram cassetes que fizeram com as nossas canções e que mostraram aos soldados e havia uma outra realidade. Isso sim. Aí há uma utilidade. Aí pode-se dizer que é uma arma, digamos, dentro do exército.Um cavalo de Tróia?Um cavalo de Tróia. Mas eu só estava a referir-me à canção especificamente porque é preciso cuidado com a arrogância. E é preciso cuidado com considerar que somos tão transformadores. Eu não sou missionário. Quer dizer, eu acho que todas as coisas juntas podem ter uma utilidade, não é? Eu tenho muita consciência do que também são os limites.Mas a música foi um marco e há músicas que ficaram como símbolos da resistência contra o fascismo. Sim. Sim. Sem dúvida.Portanto, esse papel também foi o vosso. Sim, completamente, foi.  E é por isso que eu continuo a cantar. E que, por exemplo, tenho grande prazer em cantar muitas vezes o “Maré Alta”. Aliás, quando falei de “Os Vampiros”, que canto e que não é meu, mas que é uma canção emblema. Sim, nesse aspecto é um emblema. Mas as canções estimulam as pessoas de tantas maneiras e isso dá-me alegria.Por exemplo, na canção “Espalhem a notícia”, há uma criança que nasce. Há muita gente que teve crianças e que me falou disso, das primeiras impressões e falou da alegria de vir ao mundo uma criança e que se relaciona muito com essa canção. Como é evidente, "O Primeiro Dia” é uma canção que diz muito a muitas pessoas de maneiras diferentes. Isso é o que me interessa. Sim, estimular as pessoas, com certeza, isso é o que me interessa e essas interpretações abertas também. O 25 de Abril foi "o primeiro dia do resto da vida" de muita gente…Sem dúvida, sem dúvida. Foi absolutamente transformador, é uma data charneira. E, para mim, que estive nove anos sem poder vir a este país, não é? Eu estava a viver, na altura, no Canadá, estava a viver em Vancouver, no Oceano Pacífico. Repare: estava pacífico e vim para a balbúrdia! [Risos] Voltei definitivamente em Setembro de 74.Essa data foi uma data em que há um antes e um depois. É o primeiro dia do resto das vidas de muita gente. Depois há muita gente que diz “Afinal de contas, o 25 de Abril não cumpriu todos os seus ideais”. Mas é um momento de revolução, é um momento utópico! Temos muitas insuficiências, estamos num país muito injusto ainda, com muitas desigualdades sociais, mas houve coisas que mudaram. Quando digo aos meus filhos que não havia escolas mistas no ensino oficial, é uma coisa que eles não concebem sequer porque cresceram em turmas que têm rapazes e raparigas! Agora, até há o género neutro.Será que, até certo ponto, também podemos dizer que o "À Queima Roupa" é um filho da Revolução dos Cravos?O “À Queima Roupa” foi gravado em 74 mas sai em 75, mas sim, de certo modo, é quando estava tudo "à queima roupa". De certo modo, é curioso que, sem eu querer, os títulos dos meus três primeiros discos reflectem um bocado um percurso porque “Os Sobreviventes” é todo aquele peso que está para trás…Quem eram “Os Sobreviventes”? Éramos todos nós. Todos nós. Depois, o “Pré-Histórias” é como se estivesse a anunciar que qualquer coisa vai acontecer, as Pré-Histórias. Mas eu, repito, isto não foi… Isto, aconteceu assim. E depois, o “À Queima Roupa” é um bocado tudo a acontecer ao mesmo tempo. Toda esta transformação cheia de erros, cheia de passos atrás e passos à frente.Estamos numa democracia para o bem e para o mal. Pode-se dizer que essa democracia não cumpriu tudo. Pois não, mas é por isso que é preciso continuar não só a votar - porque eu estava impedido de votar e muitos de nós ou então as eleições de Humberto Delgado foram completamente aldrabadas, não é? Portanto, estamos numa democracia com liberdade de imprensa, não há censura, digamos, em livros. Pode haver outros tipos mais insidiosos de censura, mas isso é outra conversa. E, de facto, não estamos nada no mundo ideal. Não. E a ascensão de forças de extrema-direita é muito preocupante pela maneira como se disseminam pela sociedade.O refrão de “Liberdade”, que é uma música que já tem 50 anos, “a paz, o pão, habitação, saúde, educação”… Como é que tanto tempo depois parece que a música foi escrita para os dias de hoje?É o que eu disse. Há muitas situações que continuam de uma extrema gravidade, mas cada um desses itens é um item para o qual se deve lutar para que haja um Portugal melhor, um país melhor. Esses itens e outros porque a justiça também não anda nada bem. Ainda há uma justiça de classe, por outro lado, há coisas que estão a ser feitas a nível da justiça que são corajosas, no desmantelar de muitas corrupções. Mas, isso é assim, é um longo caminho.Agora, eu até tenho composto menos, canto muito, mas tenho composto menos porque tenho estado mais virado, tive necessidade disso, para a ficção narrativa. Sai hoje, no dia em que estamos a fazer esta entrevista [8 de Fevereiro de 2024], o meu terceiro romance que se passa entre Portugal e França, que se chama “Vida e Morte nas Cidades Geminadas”. E essas cidades geminadas são Guimarães, de onde vem uma rapariga que emigrou com os pais para uma cidade perto de Paris chamada Compiègne, a 90 quilómetros de Paris, que é geminada, de facto, com Guimarães e que conhece um rapaz francês, Cédric. Ela chama-se Amália Rodrigues - porque o pai se chamava Rodrigues e adorava a Amália! E também canta fado nas horas vagas, embora esteja a tirar um curso de hotelaria e depois vem para Guimarães. Ele trabalha numa morgue. Fala-se muito da vida e fala-se muito da morte. Digamos que essa necessidade da ficção narrativa começou a aparecer também e não é incompatível com as canções porque as minhas canções também têm, muitas vezes, esboços de histórias, têm personagens, a Etelvina, Alice, Casimiro. O Casimiro é, enfim, uma personagem mítica. Mas fala-se muito de pessoas. Lá está, eu gosto de falar de pessoas.De pessoas e de situações sociais porque sente-se nas músicas esse cunho social e político… É por isso que são músicas intemporais?Mas a Etelvina não é uma canção política. No entanto, é uma canção que está no “À Queima Roupa” e é uma das canções mais fortes do “À Queima Roupa”. Acho que é importante não nos fixarmos num determinado… Continuo a dizer que não sou missionário.

Fora da Política Não há Salvação
Revolução dos Cravos: 50 anos | com João Paulo Avelãs Nunes | 224

Fora da Política Não há Salvação

Play Episode Listen Later Apr 27, 2024 107:30


Neste último 25 de abril completaram-se 50 anos da Revolução dos Cravos, que instaurou em Portugal, pela primeira vez, uma democracia.  Além de derrubar a mais longeva ditadura da Europa Ocidental – o Estado Novo português –, o Movimento das Forças Armadas (MFA) inaugurou a terceira onda de democratização. Em seu âmbito ocorreram as transições à democracia noutros países do sul da Europa (Espanha e Grécia), na América Latina, no Leste Europeu, na África e na Ásia. Hoje, quatro em cada cinco portugueses avaliam positivamente o 25 de Abril, mas ao mesmo tempo ganha terreno no país uma extrema-direita autoritária, racista e xenófoba, representada pelo partido Chega, saudoso do Salazarismo. Qual o significado do 25 de Abril? Qual a natureza do Estado Novo português, derrubado em 1974? Que mudanças a revolução dos capitães permitiu que ocorressem em Portugal desde então?  Para discutir tais temas, este #ForadaPolíticaNãoháSalvação recebe o historiador João Paulo Avelãs Nunes, professor da Universidade de Coimbra e pesquisador de seu Centro de Estudos Interdisciplinares. As músicas deste episódio são "Grândola, vila morena", de Zeca Afonso (hino da Revolução dos Cravos), "Infados", de Kevin Macleod e "A Trip Around the Moon", dos Unicorn Heads. Leia o blog do #ForadaPolíticaNãoháSalvação no site da CartaCapital. Apoie o e ajude o canal e o podcast a se manter e a melhorar! Apoiadores contarão com agradecimentos nos créditos dos episódios (claro, desde que desejem) e terão acesso a brindes relacionados ao tema do canal: a política. Agradecemos aos apoiadores do #ForadaPolíticaNãoháSalvação, Rúbens Tayei Nakashima, Clarice Myiagi, Leandro Gonzaga, Bárbara Mota, Mariana Peçanha, Ana Maria Santeiro, Antonio Silva, Leandro Gonzaga, Marcos Pedro de Carvalho Lima, Ademar Borges, Marisa Yamashiro, Cláudio Graziano Fonseca, Luís Henrique do Amaral Vinha, Pedro Raúl de Paula Goes, Chrystian Ferreira, Clalter Rocha Melgaço, David Ribeiro dos Reis, Camilo Rodrigues Neto, bem como a todos e todas que têm apoiado por meio do botãozinho do "Valeu Demais".

Vinil
Vinil: SITIADOS: A formiga no carreiro

Vinil

Play Episode Listen Later Apr 26, 2024 5:07


É um original de Zeca Afonso, mas vou buscar a versão dos Sitiados, gravada para o álbum “Filhos da Madrugada”. Uma dupla metáfora: a primeira, da formiga que seguia novo rumo, a segunda, a da nova geração que cantava Zeca. Este é um de 5 vinis que me fazem lembrar Abril. Trago-tos esta semana, de

Las noticias de EL PAÍS
Claveles, música y radio: cuando Portugal conquistó la libertad

Las noticias de EL PAÍS

Play Episode Listen Later Apr 25, 2024 32:04


En 1972, el cantautor portugués José Afonso estrenó en público la canción ‘Grandola, vila morena'. Lo hizo en un concierto en la Universidad en Santiago de Compostela que habían organizado cuatro estudiantes gallegos que estaban enamorados de su música. No sabían entonces que dos años después, un 25 de abril de 1974, aquella canción se convertiría en el himno de la revolución que puso fin a la dictadura más longeva de la Europa occidental, la de Portugal. Este año se cumplen 50 años del día en el que los portugueses recuperaron sus libertades y la democracia de forma pacífica. De un día que pasó a la historia por la imagen de los claveles rojos colocados en los rifles de los soldados como símbolo de esperanza. En este episodio de ‘Hoy en EL PAÍS' conversamos con Maite Angulo, viuda de Benedito García Villar, el cantante del grupo gallego Voces Ceibes, que llevó hasta Santiago de Compostela a Zeca Afonso para dar un concierto en la universidad de la ciudad en el que se estrenó ‘Grândola, vila morena' y con Adelino Gomes, periodista portugués que cubrió la Revolución de los Claveles y que estuvo en los principales lugares en los que sucedieron los actos que cambiaron el país. Además, escuchamos los testimonios de José Alves da Costa, el cabo que se negó a disparar contra el capitán Maia y sus tropas sublevadas y l sargento Manuel Correia da Silva, que custodió al dictador, Marcelo Caetano, hacia su exilio para evitar su linchamiento público.  Créditos: Guion y montaje: Dani Sousa Narración y grabaciones: Tereixa Constenla Diseño de sonido: Nacho Taboada Presenta: Ana Fuentes Dirige: Silvia Cruz Lapeña  Edición: Ana Ribera   Sintonía: Jorge Magaz  Más información:  La libertad llegó en abril hace 50 años: https://elpais.com/babelia/2024-04-13/la-libertad-llego-en-abril-hace-50-anos.html  Memorias de la Revolución de los Claveles: el cabo que no disparó, el sargento que custodió a Marcelo Caetano y el capitán que asaltó la radio: https://elpais.com/internacional/2024-04-24/memorias-de-la-revolucion-de-los-claveles-el-cabo-que-no-disparo-el-sargento-que-custodio-a-marcelo-caetano-y-el-capitan-que-asalto-la-radio.html  Si tienes quejas, dudas o sugerencias, escribe a defensora@elpais.es o manda un audio a +34 649362138 (no atiende llamadas)

Accents d'Europe
Révolution des œillets : le Portugal fête 50 ans de démocratie

Accents d'Europe

Play Episode Listen Later Apr 25, 2024 19:30


Le 25 avril 1974, un coup d'État mettait fin à 48 ans de dictature et ouvrait la voie de la démocratie et de la construction européenne. Le 25 avril 74 est resté dans l'Histoire et les mémoires comme le jour de la Révolution des œillets. Une révolution dont les racines et les conséquences s'inscrivent au-delà des frontières du pays, de l'Afrique à l'Europe. En 1974, le dictateur Salazar est mort depuis 4 ans déjà. Sa succession n'a pas permis au pays de revenir à l'État de droit, et les militaires, usés par les guerres coloniales, renversent le régime totalitaire et ouvrent le pays à la démocratie.Avec l'historien Yves Léonard, professeur à Sciences Po, spécialiste de l'histoire contemporaine du Portugal. Parmi ses nombreux ouvrages : Sous les œillets la révolution (Chandeigne, Paris, 2023), Salazar, le dictateur énigmatique (Perrin, Paris, 2024), Histoire de la nation portugaise (Taillandier, Paris, 2022).Et les témoignages recueillis par la rédaction de RFI en portugais. Trois questions à Carina Branco, journaliste de la réaction lusophone :Juliette Gheerbrant : À l'occasion de l'anniversaire de la Révolution des œillets RFI en portugais publie une riche série de podcasts, « Revoluçao dos Cravos » pour laquelle vous êtes allée à la recherche, de Lisbonne à Paris, de résistants à la dictature ; pouvez-vous partager quelques-unes de ces rencontres ?Carina Branco :  Il y a d'abord Domingos Abrantes, 80 ans, et son épouse Conceição Matos, qui se sont mariés quand lui était en prison. Il y est resté 11 ans, elle un an et huit mois. Ils ont été torturés par la police politique. Comme tous les opposants au régime dictatorial, ils étaient accusés d'atteinte à la sécurité nationale pour appartenance au Parti Communiste Portugais, interdit. Mais lui a aussi commis « un autre crime » : il a fait partie d'une des évasions collectives les plus spectaculaires de cette époque. C'était en 1961 et avec sept camarades, ils ont forcé le portail principal de la prison de Caxias à bord d'une voiture de luxe, pas n'importe laquelle comme il le raconte : « C'est une histoire digne d'un film. Elle est entrée dans l'histoire. C'était une évasion à connotation politique, d'une prison privée de la PIDE, la police politique, à bord d'un véhicule blindé du dictateur ! On dit que Salazar n'a plus jamais voulu remettre les pieds dans la voiture car elle avait été souillée par des communistes ! Il a fallu 19 mois pour préparer l'évasion, rendue possible grâce à la complicité du mécanicien chargé de ces véhicules, qui avait réussi à gagner la confiance des gardiens. Un pari risqué pour les fugitifs : La voiture a foncé vers le portail et la grande inconnue était : que va-t-il se passer ?… C'est le moment décisif. Si la voiture ne passe pas, nous sommes tous morts. C'est le moment décisif de toute l'histoire, de nos vies. La voiture est passée, elle a défoncé une partie du portail et on a vu le bois voler dans les airs. Elle a été complètement cabossée à l'avant. L'évasion a duré 60 secondes. Il a fallu 19 mois pour atteindre 60 secondes. Mais ces 60 secondes semblent avoir arrêté le temps. »Sous la dictature, vous l'évoquiez la torture était très répandue, que vous ont rapporté les témoins ?Domingos Abrantes est resté des jours et des nuits debout sans pouvoir s'asseoir ni dormir, il a subi des chocs électriques, le « trou » - une cellule où n'entraient ni lumière ni son et où il sentait enterré vivant). « Le rôle de la police, explique-t-il, était de détruire la lutte organisée car le fascisme ne pouvait être renversé que par la lutte. Il n'y avait pas d'autre moyen. Les gens étaient des pauvres, exploités, mais ils étaient capables de tout risquer pour améliorer leur vie et celle des autres. » Son épouse, Conceiçao Matos a, elle aussi, été soumise à la privation de sommeil, à l'interdiction d'aller aux toilettes, humiliée et battue par les gardiennes, comme elle le raconte : « L'une d'elles m'a attrapée, elles m'ont déshabillée et elle a commencé à me donner des coups de pied dans les tibias, à me frapper au visage, à frapper... C'était terrible et je suis tombée par terre. Elles m'ont relevé, et ont continué. Et à un moment donné, au bout de nombreuses heures, la femme a dit : Partons, car cette merde ne parlera pas et si je reste plus longtemps, je vais lui faire la peau ! »  En 1973, Conceiçao Matos et Domingos Abrantes ont pu s'exiler à Paris pour continuer leur lutte. Ils sont retournés au Portugal juste après la révolution à bord ce qu'on a appelé l'avion de la liberté, qui a ramené beaucoup d'exilés politiques de Paris à Lisbonne.Malgré la violence de la répression, la résistance était donc très active ?  Beaucoup des gens que j'ai rencontrés savaient que tôt ou tard, ils iraient en prison, mais ils agissaient chacun à leur niveau, comme le prêtre Francisco Fanhais, qui a soutenu la LUAR, Ligue d'Union et Action Révolutionnaire et qui faisait aussi de la résistance en musique. Il a enregistré, aux côtés du musicien Zeca Afonso, la chanson qui allait devenir le symbole de la révolution : Grândola Vila Morena. Certains s'en prenaient à l'appareil militaire destiné aux guerres coloniales. La résistance était aussi active dans les rédactions et le monde de l'édition. La journaliste Helena Neves m'a expliqué comment il fallait constamment jouer avec la censure dans les journaux pour réussir à raconter le pays entre les lignes. La police politique interdisait les livres considérés comme subversifs. L'un des plus célèbres s'intitule Nouvelles lettres portugaises, aussi connu comme le livre des trois Maria, il raconte la condition des femmes et a été écrit en 1972 par trois d'entre elles, dont Maria Teresa Horta, âgée aujourd'hui de 86 ans, que j'ai rencontrée : « C'est un livre politique, essentiellement politique, écrit dans un pays fasciste par trois femmes. À cette époque, au Portugal, il n'est pas étonnant que ce livre ait fait l'effet d'une bombe. Il a provoqué un scandale. Pour moi, et pour les autres, c'était une lueur car on vivait dans ce pays fasciste avec une tristesse intrinsèque, et aussi un immense sentiment de révolte intérieure et extérieure. En fait, nous avons seulement compris que ce livre pouvait être « dangereux » pour nous quand il a été interdit. »  La dictature a considéré le livre comme « pornographique et offensant pour la morale publique » et les autrices ont été menacées d'une peine allant de six mois à deux ans de prison, parce qu'il y était question sans tabou de sexe, de désir, mais aussi de violence, de viol, d'inceste, d'avortement clandestin, d'oppression domestique, sociale et politique sur les femmes. Mais aussi des guerres coloniales, de la pauvreté, de l'émigration. Publié dès 74 en français, aux éditions du Seuil, c'est un témoignage fort de ce qu'était la société portugaise sous la dictature.

Accents d'Europe
Révolution des œillets : le Portugal fête 50 ans de démocratie

Accents d'Europe

Play Episode Listen Later Apr 25, 2024 19:30


Le 25 avril 1974 un coup d'État mettait fin à 48 ans de dictature et ouvrait la voie de la démocratie et de la construction européenne. Le 25 avril 74 est resté dans l'Histoire et les mémoires comme le jour de la révolution des œillets. Une révolution dont les racines et les conséquences s'inscrivent au-delà des frontières du pays, de l'Afrique à l'Europe. En 1974 le dictateur Salazar est mort depuis 4 ans déjà. Sa succession n'a pas permis au pays de revenir à l'état de droit, et les militaires, usés par les guerres coloniales, renversent le régime totalitaire et ouvrent le pays à la démocratie.Avec l'historien Yves Léonard, professeur à Sciences Po, spécialiste de l'histoire contemporaine du Portugal. Parmi ses nombreux ouvrages :  Sous les œillets la révolution (Chandeigne, Paris, 2023), Salazar, le dictateur énigmatique (Perrin, Paris, 2024), Histoire de la nation portugaise (Taillandier, Paris, 2022).Et les témoignages recueillis par la rédaction de RFI en portugais. Trois questions à Carina Branco, journaliste de la réaction lusophone :Juliette Gheerbrant : À l'occasion de l'anniversaire de la révolution des œillets RFI en portugais publie une riche série de podcasts, « Revoluçao dos Cravos » pour laquelle vous êtes allée à la recherche, de Lisbonne à Paris, de résistants à la dictature ; pouvez-vous partager quelques-unes de ces rencontres ?Carina Branco :  Il y a d'abord Domingos Abrantes, 80 ans, et son épouse Conceição Matos, qui se sont mariés quand lui était en prison. Il y est resté 11 ans, elle un an et huit mois. Ils ont été torturés par la police politique. Comme tous les opposants au régime dictatorial, ils étaient accusés d'atteinte à la sécurité nationale pour appartenance au Parti Communiste Portugais, interdit. Mais lui a aussi commis « un autre crime » : il a fait partie d'une des évasions collectives les plus spectaculaires de cette époque. C'était en 1961 et avec sept camarades ils ont forcé le portail principal de la prison de Caxias à bord d'une voiture de luxe, pas n'importe laquelle comme il le raconte : « C'est une histoire digne d'un film. Elle est entrée dans l'histoire. C'était une évasion à connotation politique, d'une prison privée de la PIDE, la police politique, à bord d'un véhicule blindé du dictateur ! On dit que Salazar n'a plus jamais voulu remettre les pieds dans la voiture car elle avait été souillée par des communistes ! Il a fallu 19 mois pour préparer l'évasion, rendue possible grâce à la complicité du mécanicien chargé de ces véhicules, qui avait réussi à gagner la confiance des gardiens. Un pari risqué pour les fugitifs : La voiture a foncé vers le portail et la grande inconnue était : que va-t-il se passer ?… C'est le moment décisif. Si la voiture ne passe pas, nous sommes tous morts. C'est le moment décisif de toute l'histoire, de nos vies. La voiture est passée, elle a défoncé une partie du portail et on a vu le bois voler dans les airs. Elle a été complètement cabossée à l'avant. L'évasion a duré 60 secondes. Il a fallu 19 mois pour atteindre 60 secondes. Mais ces 60 secondes semblent avoir arrêté le temps. »Sous la dictature vous l'évoquiez la torture était très répandue, que vous ont rapporté les témoins ?Domingos Abrantes est resté des jours et des nuits debout sans pouvoir s'asseoir ni dormir, il a subi des chocs électriques, le « trou » - une cellule où n'entraient ni lumière ni son et où il sentait enterré vivant). « Le rôle de la police, explique-t-il, était de détruire la lutte organisée car le fascisme ne pouvait être renversé que par la lutte. Il n'y avait pas d'autre moyen. Les gens étaient des pauvres, exploités, mais ils étaient capables de tout risquer pour améliorer leur vie et celle des autres. » Son épouse, Conceiçao Matos a, elle aussi, été soumise à la privation de sommeil, à l'interdiction d'aller aux toilettes, humiliée et battue par les gardiennes comme elle le raconte : « L'une d'elles m'a attrapée, elles m'ont déshabillée et elle a commencé à me donner des coups de pied dans les tibias, à me frapper au visage, à frapper... C'était terrible et je suis tombée par terre. Elles m'ont relevé, et ont continué. Et à un moment donné, au bout de nombreuses heures, la femme a dit : Partons, car cette merde ne parlera pas et, si je reste plus longtemps je vais lui faire la peau! »  En 1973, Conceiçao Matos et Domingos Abrantes ont pu s'exiler à Paris pour continuer leur lutte. Ils sont retournés au Portugal juste après la révolution à bord ce qu'on a appelé l'avion de la liberté, qui a ramené beaucoup d'exilés politiques de Paris à Lisbonne.Malgré la violence de la répression, la résistance était donc très active ?  Beaucoup des gens que j'ai rencontrés savaient que tôt ou tard ils iraient en prison, mais ils agissaient chacun à leur niveau, comme le prêtre Francisco Fanhais, qui a soutenu la LUAR, Ligue d'Union et Action Révolutionnaire et qui faisait aussi de la résistance en musique. Il a enregistré, aux côtés du musicien Zeca Afonso, la chanson qui allait devenir le symbole de la révolution : Grândola Vila Morena. Certains s'en prenaient à l'appareil militaire destiné aux guerres coloniales. La résistance était aussi active dans les rédactions et le monde de l'édition. La journaliste Helena Neves m'a expliqué comment il fallait constamment jouer avec la censure dans les journaux pour réussir à raconter le pays entre les lignes. La police politique interdisait les livres considérés comme subversifs. L'un des plus célèbres s'intitule Nouvelles lettres portugaises, aussi connu comme le livre des trois Maria, il raconte la condition des femmes et a été écrit en 1972 par trois d'entre elles, dont Maria Teresa Horta, âgée aujourd'hui de 86 ans, que j'ai rencontrée : « C'est un livre politique, essentiellement politique, écrit dans un pays fasciste par trois femmes. A cette époque, au Portugal, il n'est pas étonnant que ce livre ait fait l'effet d'une bombe. Il a provoqué un scandale. Pour moi, et pour les autres, c'était une lueur car on vivait dans ce pays fasciste avec une tristesse intrinsèque, et aussi un immense sentiment de révolte intérieure et extérieure. En fait nous avons seulement compris que ce livre pouvait être « dangereux » pour nous quand il a été interdit. »  La dictature a considéré le livre comme « pornographique et offensant pour la morale publique » et les autrices ont été menacées d'une peine allant de six mois à deux ans de prison, parce qu'il y était question sans tabou de sexe, de désir, mais aussi de violence, de viol, d'inceste, d'avortement clandestin, d'oppression domestique, sociale et politique sur les femmes. Mais aussi des guerres coloniales, de la pauvreté, de l'émigration. Publié dès 74 en français aux éditions du Seuil, c'est un témoignage fort de ce qu'était la société portugaise sous la dictature.

Vinil
Vinil: ZECA AFONSO – Traz outro amigo também

Vinil

Play Episode Listen Later Apr 22, 2024 5:26


Traz outro amigo também, o nome 4º LP de Zeca Afonso e da música que o abria. O estilo traria herdeiros, influenciaria uma geração à época, outras, anos mais tarde, e continua vivo. Este é um de 5 vinis que me fazem lembrar Abril. Trago-tos esta semana, de segunda a sexta, numa edição especial comemorativa

Retratos de Abril
José Afonso (1929-1987)

Retratos de Abril

Play Episode Listen Later Apr 13, 2024 13:47


A 29 de março de 1974, o Coliseu dos Recreios encheu-se para assistir ao primeiro encontro da canção portuguesa. Estavam anunciados nomes como Carlos Paredes, Adriano Correia de Oliveira, Fernando Tordo e José Afonso, quase todos eles com músicas proibidas pela censura. No final, entoaram em conjunto “Grândola vila morena”, música de Zeca Afonso editada em 1971 e que escapou milagrosamente à censura. Dias depois, esta seria uma das senhas do 25 de Abril.  See omnystudio.com/listener for privacy information.

Postal do Dia
Zeca Afonso foi abandonado em vida, é bom que não o esqueçamos

Postal do Dia

Play Episode Listen Later Apr 9, 2024 5:20


As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril celebram os heróis e a voz e talento de Zeca Afonso. Mas convém não esquecer que a maior de todas as vozes da liberdade foi abandonado à sua sorte.

Retratos de Abril
Introdução

Retratos de Abril

Play Episode Listen Later Mar 28, 2024 1:23


Retratos de Abril é uma viagem até ao tempo em redor do 25 de Abril. À escuta dos sons da época, tenta fixar aquele tempo histórico. Encontra militares e políticos mas, também, a sociedade civil que se opôs ao Estado Novo e lutou pela liberdade. Dos generais e capitães aos líderes políticos; de escritores e poetas a advogados, médicos e professores universitários. Retratos de Abril revela uma sociedade que, afinal, não era a preto e branco.  Em 25 episódios, o Expresso conta-nos a História dos protagonistas que, há 50 anos, estavam prontos a construir a democracia. Estreia a 1 de Abril de 2024.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Convidado
Francisco Fanhais e os tempos da gravação de “Grândola Vila Morena”

Convidado

Play Episode Listen Later Mar 12, 2024 26:53


Francisco Fanhais assumiu a música como uma forma de resistência à ditadura portuguesa e diz que “apanhou o comboio dos cantores que lutavam contra o regime”. Em 1971, esteve com José Afonso, José Mário Branco e Carlos Correia no Château d'Hérouville a gravar a música que ainda hoje é o emblema da "Revolução dos Cravos": “Grândola Vila Morena”. Francisco Fanhais recorda-nos esse tempo. Nos 50 anos do 25 de Abril, a RFI publica entrevistas a vários resistentes ao Estado Novo. Neste programa, ouvimos Francisco Fanhais, presidente da Associação José Afonso, uma das vozes da música de intervenção portuguesa e que também foi aderente da LUAR, a Liga de União e de Acção Revolucionária. Francisco Fanhais foi um padre incómodo, assumidamente contra a guerra colonial, que não se calava. Nem na missa, nem nas aulas de religião e moral e muito menos nos discos que fez em Portugal: “Cantilena”, em 1969, e “Canções da Cidade Nova”, em 1970. Foi impedido de dar aulas, suspenso das funções de padre e, muitas vezes, impedido de cantar. Por isso, exilou-se em Paris entre 1971 e 1974. Foi para França à boleia com Zeca Afonso em Abril de 1971, participou em concertos para despertar consciências, esteve na LUAR, uma das organizações de luta armada contra a ditadura portuguesa, e só pôde voltar para Portugal depois da "Revolução dos Cravos".Algures entre Outubro e Novembro de 1971, às três da manhã, no Château d'Hérouville, acompanhou José Afonso, José Mário Branco e Carlos Correia na gravação dos passos que marcam o ritmo da música “Grândola Vila Morena”. Os quatro davam os famosos passos em cima de gravilha e tiveram de o fazer de madrugada para evitar o barulho dos carros ou outros ruídos que surgissem durante o dia. Horas mais tarde, gravavam a música que ficaria para a história e que foi a senha definitiva para o golpe militar que derrubou a ditadura portuguesa a 25 de Abril de 1974.RFI: Recorde-nos como decorreu a gravação de “Grândola Vila Morena”, em 1971, em França.Francisco Fanhais, Presidente da Associação José Afonso: Foi gravado em Hérouville. Estávamos os quatro a fazer os passos. O José Mário Branco, que era o director musical da gravação do “Cantigas do Maio”, o Zeca Afonso, o Carlos Correia, que era quem na altura acompanhava o José Afonso na viola, e eu. Estávamos os quatro então a fazer esses passos no estúdio que era no Château d'Hérouville.E pronto, “O povo é quem mais ordena”. Era a letra do poema que o Zeca tinha composto em 1964, de homenagem à Sociedade Filarmónica Fraternidade Operária e Grandolense. O Zeca tinha lá ido cantar, no dia 17 de Maio de 1964, e gostou muito do ambiente vivido nessa colectividade. E em homenagem a esse espectáculo que ele lá fez e à colectividade fez uns versos. Basicamente, foi o poema que ele compôs de homenagem à Sociedade Filarmónica Fraternidade Operária Grandolense. “O povo é quem mais ordena” e os militares… Imagino que teria sido talvez por causa deste verso - sou eu a imaginar porque se estivesse na pele deles era por estes versos que eu escolheria a música. Tinha sido uma música cantada um mês antes, num espectáculo público no Coliseu dos Recreios que passou à censura. Não repararam naquela. E então, por todas essas razões, foi a música escolhida para o sinal último musical para o desencadear das operações militares do 25 de Abril. Passou à meia-noite e vinte e assim que eles ouviram - todos aqueles que estavam de norte a sul, os militares implicados no Movimento das Forças Armadas para derrubar o fascismo - assim que ouviram na rádio, que era a única maneira de terem contacto de norte a sul era através de uma rádio que se ouvisse no país inteiro, não é? Não podiam telefonar, obviamente, porque estavam os telefones vigiados. Então, à meia-noite e vinte, quando o segundo sinal apareceu - o primeiro tinha sido o Paulo de Carvalho a dizer “E depois do adeus” -  quando eles ouviram aquilo, cada um foi cumprir o papel que lhe estava destinado na folha de serviço para desencadear as operações do 25 de Abril. Mas foi ao som dos passos de pessoas que não são da tropa, neste caso, mas que se ligou bem com o que se estava a passar a nível militar.Também são os seus passos que ouvimos no início da música, portanto, os seus passos são também, entre aspas, os primeiros passos da Revolução dos Cravos? Materializados na música pode ser, mas os passos mais importantes foram dados por aqueles que, estando na guerra, sentiram a injustiça e o anacronismo que significava uma guerra colonial. Portanto, como a única maneira que havia de mudar o regime era pela força das armas - porque o regime tinha as armas, mas para o mudar tinha que haver também armas - quem tinha as armas eram aqueles que estavam na tropa e que, portanto, discordavam, estavam cansados de tanta guerra, uma guerra que levava 40 por cento do Orçamento do Estado, não é?Mas também quem tinha outro tipo de armas eram os que estavam fora a lutar contra essa guerra…Juntando umas armas às outras, digamos assim, fez-se o 25 de Abril, mas se não fosse a força dos militares... Cantar não é talvez suficiente, diz o primeiro verso de um poema do Manuel Alegre que se chama “Apresentação”.  Cantar não era suficiente, portanto, tinha que vir alguém que, com as armas, convencesse que as coisas tinham que mudar.O que é que o Francisco Fanhais, enquanto participante na “Grândola Vila Morena” sentiu quando foi a música que, entre aspas, derrubou o regime? Fico muito contente. Não tenho mérito nenhum em terem sido os militares a escolher aquilo, mas fico contente e tenho um certo orgulho por saber que naquela música estão lá os meus passos e está lá a minha voz também, juntamente com a voz dos amigos que muito prezo. Mas sempre que oiço aquilo, vem-me à memória muita coisa e vem-me à memória a força com que nós cantámos aquilo, a força que nós imprimimos à “Grândola”, ao som, aos passos. E depois a dinâmica toda que envolveu a gravação do Cantigas do Maio, etc, o “Coro da Primavera”, vem-me à memória toda essa gravação, mas não posso deixar de recordar e de sentir com muita emoção essa alegria de saber que aqueles passos que nós demos foram um contributo musical e cultural para o desencadear do mais importante que foi o derrube do fascismo. Cantar não é suficiente, mas, como diz o poeta sul-americano “um grão não enche o celeiro mas ajuda companheiro”. E é isso que nos faz continuar. Porquê? Porque como diz o poema do Manuel Alegre que eu citei há bocadinho, que começa “Cantar não é talvez suficiente” e depois continua “Não porque não acendam de repente as noites tuas palavras irmãs do fogo, mas só porque as palavras são apenas chama e vento. E, contudo, canção. Só cantando por vezes se resiste, só cantando se pode incomodar quem à vileza do silêncio nos obriga”. Etc, etc. Continua o poema e depois, no fim, “Já disse: planto espadas e transformo destinos. E para isso basta-me tocar os sinos que cada homem tem no coração". E a música ajuda a tocar os sinos que cada homem tem no coração.Como é que se tornou cantor de música de intervenção e um padre resistente ao fascismo? Um padre, além de ser padre, é também, e basicamente e antes de tudo, um cidadão. E quando um cidadão vê os problemas que se passam à sua volta, não pode deixar de reagir. Em nome de quê? Em nome do ser humano que tem direito à justiça e à liberdade e à fraternidade e a tudo isso, não é? Portanto, se isso pertence ou faz parte do cidadão que quer ser cidadão vertical e de corpo inteiro, um padre que quer ser cidadão de corpo inteiro tem mais razões ainda para intervir e poder ser actuante na transformação do mundo. Porquê? Porque além de todas as outras razões que um cidadão que quer ser cidadão a sério tem, tem também todo aquele apelo que lhe vem do Evangelho. E, por isso, quando Jesus Cristo fala das injustiças e quando Jesus Cristo enaltece os humildes e rebaixa os ricos e os poderosos, etc, isso é uma mensagem muito forte que vem também ao encontro da outra mensagem interior de um cidadão que quer ser interveniente no seu tempo. Ao aperceber-me de todos os problemas que havia em Portugal, sobretudo o mais grave de todos, a guerra colonial, toda a situação que se vivia de falta de liberdade, de ditadura, de fascismo, de censura, da PIDE, tudo isso, uma pessoa não pode deixar de intervir, não pode deixar de se revoltar contra essa situação. E isso aconteceu-me a mim, como aconteceu a muitos outros colegas meus. Eu não estava isolado nisto, como não estavam isolados uma quantidade enorme de cristãos para quem o Evangelho era mais uma razão para não fecharem os olhos à realidade à sua volta. Portanto, eu, que sempre gostei de cantar, era natural que me exprimisse melhor através das músicas e através das canções, através dos textos, das letras, etc. E foi isso, de facto, que aconteceu.E descobriu a música de intervenção de Zeca Afonso…Para mim, o impulso máximo, não único, mas o máximo, o maior de todos foi justamente por ter-me cruzado um dia com a música do José Afonso, que foi em 1963. Eu ainda era estudante, estava no seminário e um padre amigo mostrou-me uma vez um disco pequenino onde vinha a música do José Afonso. Estávamos no seminário, estávamos em 63 e ele disse-me: “Tu vais ouvir esta música e vais gostar, de certeza, mas uma recomendação que eu te faço é que oiças baixinho, porque não se sabe quem é que pode estar a ouvir mesmo no seminário. Esse foi o meu primeiro encontro estritamente musical com o José Afonso em 63.Mais tarde encontrei-o pessoalmente e desse encontro nasceu uma amizade que durou para o resto da vida. Porquê? Porque eu comecei a pensar: “Como eu gostava de cantar como este homem canta. Gostava de cantar as letras, as músicas, a força, a voz, etc. E foi para mim um estímulo muito grande. E foi através dele que eu depois passei a integrar o grupo dos cantores que usavam a sua voz e a viola, os seus poemas para denunciar as injustiças que nessa altura vivíamos em Portugal.Começou a cantar e as suas músicas começam a ser ouvidas com alguma atenção pela PIDE... Sim. As nossas músicas, sobretudo no primeiro período daquela Primavera Marcelista, passavam um pouco mais nas malhas da censura, mas, a certa altura, a música e as sessões em que nós participávamos passaram a assumir uma proporção tal que era impossível que escapassem à censura e à vigilância da PIDE. Portanto, éramos proibidos de cantar e quando não éramos proibidos de cantar totalmente só podíamos cantar as músicas que a censura visasse. E, às vezes, acontecia o absurdo de, numa música, eles cortarem uma quadra ou outra e dizerem “Esta pode cantar, aquela não pode, esta pode, aquela não pode”. Foi a partir desse momento e, sobretudo, a partir de 1969, quando eu fui a um programa de televisão que havia em Portugal que era o Zip Zip e que foi pela mão do José Afonso que eu fui a esse programa porque ele estava impedido de participar nesse programa, a censura não deixava, mas tentou que outros que cantavam pudessem lá ir. Foi o meu caso. Não fui o único que ele apresentou ao Raúl Solnado que era um dos organizadores do programa, ele apresentou outros também. E foi a partir daí, portanto, 1969, que adquiri uma dimensão um bocado mais pública, mais evidente e passei a ser convidado para cantar um pouco por todo o lado, com consequências na minha vida prática de padre porque havia pessoas que tinham muita influência junto da Igreja e que se foram queixar daquilo que eu cantava, das posições que tomava, das críticas que eu fazia, das homilias em que denunciava as injustiças da guerra colonial, etc, etc. Eu era professor de moral no Liceu do Barreiro, cantava e era coadjutor na paróquia do Barreiro e essas três actividades foram-me completamente vedadas. Estive proibido de dar aulas no Liceu do Barreiro porque nas minhas aulas de religião e de moral, nós com os miúdos falávamos de tudo e até de religião! Estava proibido de exercer as minhas funções de padre, fiquei suspenso das minhas funções de padre e estava proibido de cantar como estavam todos os outros colegas meus, cuja participação e cuja actividade musical estava muito condicionada pela censura.Por estar proibido de cantar, de ser padre, de dar aulas, decidiu vir para França?Foi exactamente isso. Comecei a pensar: “Que rumo é que eu vou dar à vida?” Vim para França e escrevi até a um amigo que vivia em Estrasburgo, pedindo-lhe se me arranjava qualquer coisa para eu poder subsistir e ganhar para a bucha, como se costuma dizer. Ele não me respondeu e, mais tarde percebi porquê. Já depois do 25 de Abril, ao ir à Torre do Tombo ver o meu dossier da PIDE, estava lá a carta que eu lhe tinha escrito. Infelizmente era o corrente nessa época da ditadura e da censura, da repressão. E vim para cá para mudar de ares, enfim, para ver que rumo é que havia de dar à vida. Mas depois assumi, já estando cá, outros compromissos políticos mais radicais. Passei a integrar a organização política da LUAR e, a partir daí, era um bocado complicado, difícil mesmo, se não impossível, voltar a Portugal legalmente. Entretanto, uns amigos meus foram presos em Novembro de 73 e eu percebi que não era efectivamente a melhor altura para voltar a Portugal, tanto mais que depois a polícia me tinha procurado lá em minha casa, onde pensavam que eu estava, que era a casa da minha mãe, em Benfica, em Lisboa., mas eu não estava lá. Só voltei quando aconteceu o 25 de Abril. Fui no dia 29, cheguei lá no dia 30.Quando chegou a Paris, além da actividade na LUAR, pôde, finalmente, cantar livremente?Sim. Eu, quando cheguei, a primeira pessoa com quem contactei, tirando os amigos em casa de quem fiquei,  mas das pessoas ligadas à música, a primeira pessoa com quem eu contactei foi com o Zé Mário e disse-lhe: “Olha, estou cá, não venho aqui para passar férias, gostava de fazer cá aquilo que não posso fazer em Portugal. Portanto, se achares que é oportuno, em sessões que às vezes se organizam de associações de portugueses, se achares que é oportuna e que pode ser necessária e que pode ser integrada a minha participação, eu estou à disposição”. E era isso que acontecia muitas vezes. O Zé Mário comunicava-me: “Tal dia temos uma sessão, estás livre?”. E eu sempre que podia, estava a fazer justamente aquilo que eu não podia fazer em Portugal e que gostava de fazer  que era cantar para os emigrantes, essencialmente para os emigrantes, além de depois ter participado também noutras actividades, tanto políticas como culturais mais vastas. Participação num ou noutro programa na televisão francesa, como o Mosaïque, que era um programa centrado na divulgação das actividades da emigração e participei em duas emissões desse programa.Como era a reacção das pessoas aos concertos?As reacções das pessoas eram muito diversas. Vamos lá ver. Há associações de portugueses em França e dependia muito de quem estava à frente dessas associações de imprimir às manifestações colectivas, culturais, desportivas, etc, um certo cunho também que não fosse exclusivamente para a diversão pura e simples das sardinhadas, do futebol, dos ranchos folclóricos, etc. Tentavam justamente contribuir com o seu dinamismo e com o seu empenho político em dar aos emigrantes qualquer coisa mais para além daquilo que é o mais banal que se lhes dê, que é o fado e o folclore.E conseguia que a cantiga fosse uma arma, como diria o José Mário Branco?Nessas alturas, o nosso objectivo, através das músicas e através daquilo que dizíamos, era contribuir para que na emigração se estabelecesse uma outra dimensão política que não fosse exclusivamente ligada ao interesse perfeitamente legítimo das pessoas realizarem economicamente a sua vida. E contribuir para abrir um pouco os olhos para a situação que se vivia em Portugal, da qual muitas vezes as pessoas, se calhar até legitimamente, queriam esquecer o mais possível porque a vida de sofrimento lá em Portugal era tão grande, tão grande, tão grande, que o que queriam era deixar para trás, não é?Tentávamos contrariar um pouco e fazer um contra-vapor, dizendo que afinal o país precisa do empenho de todos, que as reservas dos emigrantes vão para lá, mas a gente não pode ser só mandar dinheiro e ter lá uma vida feliz, que temos que pensar um pouco colectivamente, etc, etc. As reacções eram diversas. Havia gente para quem isso dizia qualquer coisa, enfim, penso que podemos contribuir para abrirem os olhos para um outro tipo de realidade, uma outra dimensão da emigração. Mas havia outras pessoas que não ligavam nenhuma a isso. Eu lembro-me, uma vez, estava com o Zeca a cantar, o Zeca a falar de todas estas situações, mesmo depois do 25 de Abril, dizendo o que se tinha passado em Portugal, a Revolução, o ambiente que se vivia em Portugal, etc, etc. E estava um emigrante português encostado a uma coluna a ouvir aquilo e, se calhar, não estava a concordar nada ou estava-se perfeitamente nas tintas para aquilo que o Zeca estava a dizer e disse com um ar muito enfastiado: “Eh pá, canta-me um fado!” Eu olhei para o Zeca, o Zeca olhou para mim e ficámos os dois, assim como quem diz, “Eh pa, anda a gente aqui assim a dar o corpo ao manifesto, a tentar dar qualquer coisa mais do que o simples 'Fátima, folclore e futebol' e parece que é tempo perdido!” Mas não era, temos que insistir. As reacções das pessoas eram diversas. A força e a animação que punham na participação com que cantavam significava que aquilo que nós estávamos a sentir, estávamos a conseguir passar-lhes essa sensação.E a mensagem.E a mensagem.A “Cantata da Paz” é uma das músicas que marcou uma geração. Quais foram, para si, as suas músicas mais marcantes? Esta música, “Cantata da Paz”, está associada a um episódio que é o seguinte. A primeira vez foi cantada foi numa igreja, na passagem de ano de 1968 para 1969. O dia 1 de Janeiro é o Dia da Paz. Estávamos em Lisboa e houve uma cerimónia oficial na Igreja de São Domingos para celebrar o Dia Mundial da Paz. Estava o Cardeal Cerejeira, que era o bispo de Lisboa na altura, as autoridades civis e militares também. Isso foi numa igreja e para grande escândalo de um grupo de cristãos que lá estávamos, não houve uma única referência - num país em guerra - não houve uma única referência à situação que se vivia na guerra colonial. O que para nós era extremamente escandaloso e inaceitável.Então, no fim da cerimónia, houve um grupo de pessoas que fomos falar com o bispo e disseram: “Nós agora vamos continuar a vigília à nossa maneira" e fizemos a ocupação da Igreja de São Domingos. Estivemos lá até às cinco da manhã. Eram cerca de 150 pessoas cantando, rezando porque somos cristãos, lendo cartas de soldados e de pessoas que estavam na guerra, testemunhos directos em primeira mão, falando em tribuna livre, cada um falava e dizia o que lhe ia na alma sobre a guerra colonial e sobre essa vigília que estávamos a celebrar. Estava lá muita gente conhecida na altura, entre elas a autora da “Cantata da Paz” que é a Sophia de Mello Breyner. Foi aí que pela primeira vez, foi cantado o “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”. É um refrão simples de fixar. Eu continuo sempre a cantá-lo e é aquele a que as pessoas mais aderem.Falou da Sophia de Mello Breyner. Há uma canção sua que também é incontornável: “Porque”.“Porque os outros se mascaram e tu não”, essa eu gosto sempre de cantar também. Nessa altura, uma que foi muito conhecida também é o poema do Sebastião da Gama, “Cortaram as asas ao rouxinol”. É um poema que se chama “Cantilena”. Depois disso, canto coisas minhas, canto coisas do José Afonso. Gosto muito de cantar “Menino do Bairro Negro” sempre porque foi a primeiríssima música que eu ouvi do Zeca e traz-me à memória situações vividas em que conheci famílias com crianças que não puderam continuar a estudar porque não tinham dinheiro, mas eram inteligentes.Estou-me a lembrar de um episódio nessa fase em que estava proibido dessas três coisas. Apoiei momentaneamente, episodicamente, a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos. Uma vez, com mais duas pessoas amigas, fomos visitar uma senhora que morava numa barraca ao pé da Costa da Caparica. O marido estava preso em Peniche e a senhora trabalhava a noite inteira a coser à máquina com um candeeiro de petróleo ao lado porque não havia luz eléctrica na barraca. Trabalhava para uma fábrica de camisas e ela tinha dois filhos: uma miúda com dez anos que estava na quarta classe e um miúdo que tinha seis ou sete anos. E perguntámos à senhora se quando a miúda acabasse a quarta classe, a miúda ia continuar a estudar. E ela disse-nos: “Como é que vocês querem que eu ponha a minha filha a estudar se aquilo que eu ganho aqui a noite inteira a coser a máquina mal me dá para pagar a renda da barraca? Para ir ver o meu marido todos os domingos a Peniche para que ele não se sinta abandonado pela família, para que ele continue firme nas suas convicções, para a alimentação dos miúdos, para os trazer limpinhos, asseados, etc. O dinheiro não dá para tudo. Quando ela acabar a quarta classe, ela vem trabalhar comigo para arredondar o orçamento familiar”. Os irmãos estavam a brincar em cima da cama, uma sala pequena, uma barraca pequena e pensávamos que eles estavam alheios à conversa. E qual não foi o nosso espanto quando a miúda, ao ouvir a mãe dizer “Como é que vocês querem que eu a ponha a estudar? O dinheiro não chega para tudo”, ela dá um grito em cima da cama a dizer “Oh mãe, mas eu sou inteligente!” Isso foi uma coisa que me marcou para o resto da vida porque eu nunca ouvi ninguém tão pequenino a gritar por justiça como essa miúda. Nunca ouvi ninguém. São situações que as pessoas sentiam na sua vida, como pessoas e como colectivo, como nação, como país, como um pássaro a quem cortaram as asas e o bico.Eram mensagens muito claras contra o fascismo e contra a guerra colonial…Sim, sim, sim. Um dia eu estava a cantar esta no Alentejo, a “Cortaram as asas ao rouxinol” e no fim estava lá um homem: “Oh amigo, podes ter a certeza de uma coisa: é que não há aqui ninguém que não tenha percebido o que é que tu querias dizer!”

SBS Portuguese - SBS em Português
Programa de domingo | 16 de fevereiro | SBS Portuguese

SBS Portuguese - SBS em Português

Play Episode Listen Later Feb 18, 2024 57:28


O programa que foi ao ar pelo dial da SBS 2 da Austrália. Entrevista com o cantor e ator não-binário brasileiro Loro Bardot, morador de Perth, que participou do filme 'Levante', que estreia em circuito nacional no Brasil e será exibido no Mardi Gras de Sydney; As mudanças nas leis trabalhistas que o governo australiano está implementando; Os casos de sífilis na Austrália triplicaram em uma década, com alta mais acentuada em mulheres; De Portugal, no início das celebrações dos 50 anos da Revolução dos Cravos, nosso correspondente em Lisboa, Francisco Sena Santos, conversou com o historiador e jornalista João Céu e Silva, sobre o livro que mudou tudo naquele ano, escrito pelo general António de Spínola. Na música, Zeca Afonso.

Cultura Erudita
De Mário Viegas a Zeca Afonso

Cultura Erudita

Play Episode Listen Later Dec 13, 2023 5:35


Em directo da redacção
Livro mostra 25 de Abril como “revolução social” e abana “visão idealizada” da História

Em directo da redacção

Play Episode Listen Later Dec 8, 2023 36:20


O livro “C'est le peuple qui commande - La Révolution des Oeillets 1974-1976”, do historiador Victor Pereira, mostra que o 25 de Abril não foi apenas o derrube da ditadura e de um império colonial, mas foi também “uma revolução social”. A obra abana uma certa “visão idealizada” da História e quebra tabus nas narrativas institucionalizadas sobre o 25 de Abril, alertando contra as ameaças da extrema-direita nas vésperas dos 50 anos da Revolução dos Cravos. Neste programa, falámos com o historiador Victor Pereira sobre o seu livro, publicado em França, “C'est le peuple qui commande - La Révolution des Oeillets 1974-1976”. A obra desempoeira uma certa “visão idealizada do 25 de Abril” e mostra que “o 25 de Abril não falhou”, mas os cravos das “utopias revolucionárias” murcharam. O livro lembra como a violência do colonialismo e as lutas de libertação também levaram ao 25 de Abril, à queda da ditadura e de um império e recorda os meses e os anos que se seguiram à “Revolução dos Cravos” e que acabaram com “sonhos revolucionários”, para uns, e com ameaças de “ditaduras comunistas”, para outros. A obra recorda os bastidores, as dinâmicas e as lutas internas do processo revolucionário português, as preocupações diplomáticas internacionais e os diferentes movimentos sociais que acreditaram numa transformação radical da sociedade portuguesa.Para o investigador, a revolução de 25 de Abril de 1974 não foi apenas o derrube da ditadura e de um império, mas foi também “uma revolução social” e até “a última revolução na Europa ocidental que que quis acabar com o capitalismo”. Porém, “o ímpeto revolucionário”, que chegou a ser comparado ao Maio de 68 em França, calou-se a 25 de Novembro de 1975, depois de um braço-de-ferro marcado por ameaças de guerra civil em Portugal.Hoje, a extrema-direita ensombra as comemorações dos 50 anos da “Revolução dos Cravos” e Victor Pereira espera que este aniversário permita a divulgação de trabalhos que interroguem a “visão encantada que uma grande parte da população portuguesa conserva do seu passado colonial”. Em causa, a herança lusotropicalista que persiste em torno da ideia de uma “ditadura e colonialismo brandos” alimentada, em parte, pelo paradoxo que “os militares que fizeram a revolução e que libertaram o povo português e permitiram a descolonização, foram os mesmos que fizeram a guerra”.RFI: O livro sobre o fim da ditadura em Portugal termina com uma parte intitulada “um 50° aniversario sob a ameaça da extrema-direita”. Até que ponto este alerta é premente hoje?Victor Pereira, Autor de “C'est le peuple qui commande - La révolution des Oeillets 1974-1976”: Este livro foi escrito e publicado antes do anúncio da demissão do António Costa e das próximas eleições, em 10 de Março, mas mesmo apesar das eleições e o peso talvez mais importante que o partido da extrema-direita poderá ter na Assembleia, quando escrevi este livro, no verão, já tinha em mente que para o Chega, a extrema-direita, ia ser uma forma de ter alguma cobertura mediática.Isto porque o Chega é um dos partidos que mais critica o 25 de Abril, nomeadamente uma das consequências do 25 de Abril que é a descolonização e o retorno de populações brancas que viviam em Angola e Moçambique principalmente, e que coloca em questão a democracia tal como ela existe desde 1976, falando de corrupção, falando de sistema e tudo.É quase irónico que, algumas semanas antes do 25 de Abril, haja essas eleições e talvez - ainda não sabemos - onde o partido Chega talvez vá ser um partido essencial para garantir uma maioria à direita ou que pode até impedir que haja uma solução governativa clara logo depois das eleições.Deixa um desejo que as comemorações dos 50 anos sirvam para a divulgação de trabalhos de investigadores que há anos interrogam o que chama de “visão encantada que uma grande parte da população portuguesa conserva do seu passado colonial”. O Víctor Pereira sublinha que há mesmo duas narrativas perigosas que persistem sobre o 25 de Abril. Quais são elas?Sim, porque depois do 25 de Abril houve alguns estudos que tentaram descrever o que foi o colonialismo a partir do século XV, digamos, até ao fim da guerra colonial, nomeadamente os massacres que houve durante a guerra colonial. Conhecemos alguns, mas talvez alguns ainda não são bem conhecidos. Dos mais conhecidos talvez seja o do Wyriamu, em Moçambique, com 400 pessoas civis mortas por tropas portuguesas.Se bem que durante a guerra colonial, no exílio, por exemplo, em França havia alguns partidos e movimentos que tentavam alertar a opinião pública internacional sobre a guerra e os massacres que aconteciam, depois do 25 de Abril, um dos paradoxos da revolução é que são os militares que fazem a revolução e que libertam o povo português que permitem a descolonização, mas são os mesmos militares que fizeram a guerra e que depois do 25 de Abril não tiveram propriamente vontade que fossem expostos os crimes que foram cometidos - não por eles pessoalmente muitas vezes, mas por outras pessoas com as quais trabalhavam e com alguma ligação de confraternidade dentro das Forças Armadas.Isso é uma coisa que fez com que depois do 25 de Abril não se falou muito dos massacres. Ou se houve alguns estudos nem sempre tiveram acesso às fontes úteis para isto e foi difícil para eles divulgarem esses trabalhos.O outro ponto é a ideia de uma “ditadura branda”?Exactamente e, sobretudo, do colonialismo brando. Isto é, uma das coisas também que ficou depois do 25 de Abril - e que é um enigma para os historiadores - é que antes do 25 de Abril, nos anos 50, e sobretudo 60 e 70, a ditadura de Salazar retomou os trabalhos do antropólogo-sociólogo brasileiro, Gilberto Freire, que tinha desenvolvido o lusotropicalismo, essa ideia que os portugueses eram diferentes dos outros povos colonizadores, no sentido em que eles não eram racistas. Segundo o Gilberto Freire e o lusotropicalismo, os portugueses não são racistas e não houve violência colonial, houve encontros coloniais feitos de mestiçagens, de trocas. Isso tudo foi uma narrativa que branqueou a violência do colonialismo. Os portugueses conseguiram impor-se pela força, não por outros meios.E o Victor fala também da narrativa de um PREC violento que tentou impor um regime totalitário…Sim. Por um lado, uma ditadura em que não foram assim tão duros, não eram repressivos em comparação, por exemplo, com outro regimes como a Alemanha nazi, etc. Por outro lado, colocando a ênfase sobre a violência, sobre a eventual deriva para uma ditadura de esquerda, e sobretudo comunista ou de extrema-esquerda e os abusos por parte de alguns militares, como Otelo Saraiva Carvalho, com o COPCON. Então, houve um discurso de banalização da ditadura e do colonialismo e de colocar a revolução, apresentá-la como um momento perigoso, onde as liberdades e a democracia foram colocadas em risco.Diz que o 25 de Abril não foi só a queda de 48 anos de ditadura e o fim de um império de cinco séculos. O que é que foi para si o 25 de Abril?Foi a libertação de todo um povo, de todos uns povos. Foi a libertação do povo português da ditadura que durou 48 anos. O que se vê logo no 25 de Abril – e que foi uma surpresa para os próprios militares - é que o povo sai à rua para apoiar, incentivá-los e ninguém sai à rua para defender a ditadura. E eu disse ‘todos os povos' porque depois é a libertação de Angola, Moçambique e da Guiné-Bissau e Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Mais tarde, de Timor e de Macau. Por um lado, é uma libertação, por outro, sabemos bem que, por exemplo, em Angola houve uma guerra civil, em Moçambique também houve conflitos e na Guiné houve várias dificuldades, isto é, houve a libertação, mas que não foi vivida logo e com todos os benefícios para as populações civis em certos países.Há uma grande mobilização social, há um sopro de liberdade a seguir ao 25 de Abril, com os comitês de moradores, as comissões de trabalhadores, as greves de trabalhadores e ocupações de terras, de casas, de fábricas, há lutas estudantis... No livro, cita o caricaturista francês Cabu, que no Charlie Hebdo, em Maio de 1975, escreve “os portugueses vivem o seu Maio de 68 e um tempo em que tudo parece possível e imaginável”. Porquê?Portugal ficou nas bocas do mundo no sentido em que muitos jornalistas, intelectuais, estudantes, homens políticos seguiram a revolução de perto e até foram ver a revolução e alguns foram viver a revolução. Alguns estudantes foram a algumas cooperativas do sul do país ajudar os trabalhadores ou vieram para Lisboa, para o Porto ver essa revolução.Muitas vezes, uma revolução é uma sucessão de eventos que não se compreende e, em períodos instáveis, a História é usada para tentar compreender o que é que se passa e muitos fizeram essa analogia – muitos franceses nomeadamente – com o Maio de 68, mostrando que havia uma libertação da palavra. As pessoas falavam, havia comícios, havia manifestações, as pessoas depois de 48 anos sem poder falar, há uma libertação e as pessoas querem debater, querem falar política, querem falar de tudo o que podem falar e por isso é que é muitas vezes ligada ao Maio de 68, em que houve grandes debates, grandes comícios, na Sorbonne, no Odéon, etc.Mas alguns fazem outras analogias. Por exemplo, com 1917, com a ideia de uma revolução que pode impor um poder comunista e o fim do capitalismo e o fim da propriedade privada. Outros fazem uma ligação com 1945 em França, depois da guerra, onde é preciso sanear o Estado das pessoas que colaboraram com a Alemanha e com Vichy e criar um pacto entre as forças democráticas para reconstruir o país. E havia muito essa ideia em Portugal, depois de 74, que é preciso reconstruir o país a bem do povo português.Hoje também fazem uma analogia com 1962 porque Portugal também conhece uma descolonização, como a França conheceu em 62, com a vinda de milhares de franceses que estavam na Argélia, Portugal também tem que lidar com o regresso ou a vinda de populações, 700 mil mais ou menos, que viviam em Angola e Moçambique e que querem voltar para Portugal e sair desses países que vão entrando em guerra.No livro começou por falar da fachada imaculada do Convento do Carmo, que não guarda qualquer impacto de balas do 25 de Abril. Diz que esta é uma revolução mundialmente conhecida como “uma revolução pacífica”. Esta é uma narrativa que ainda hoje se ensina nas escolas. O 25 de Abril foi uma revolução sem mortos e pacífica?Houve cinco mortos, quatro deles foram pessoas mortas pela PIDE, pela polícia política, que na altura chamava-se DGS, que vendo uma multidão juntar-se em frente da sede na rua António Maria Cardoso, atirou sobre a população ferindo varias pessoas e matando quatro. Também nesse dia há um quinto morto, que é um agente da polícia política que tenta fugir e que é morto pelos militares do MFA, que é a única pessoa que foi morta pelo MFA.Então, são 5 mortos, mas a ideia que vingou logo é que foi uma revolução pacífica porque não houve muitos mortos. E a ideia que, às vezes, é repetida é que os próprios militares, quando saíram à rua na manhã do 25 de Abril, que eles queriam fazer uma revolução pacífica. Obviamente que não era o caso: eles tinham armas e sabiam que talvez deviam usá-las se fosse preciso.O plano do Otelo Saraiva de Carvalho, que fez o plano das operações, tentou implicar o máximo de forças com o MFA, conseguindo neutralizar os oficiais que não acompanhariam o golpe. Tentou neutralizar as forças que não queriam participar por vários motivos, a Força Aérea, a Marinha e ele conseguiu ver mais ou menos quais eram as forças que iam ser fiéis ao regime e tentar limitar a força de resposta destas entidades. O que funcionou mais ou menos bem.O Otelo tenta ao máximo reduzir os conflitos, mas quando saem à rua, eles acham que vão ter que usar as armas. Então, ela tornou-se pacífica porque o povo saiu à rua, o que fez com que as forças que ainda eram fiéis ao regime, muitos soldados desertaram porque não querem usar as armas contra o Salgueiro Maia, por exemplo, perto do Terreiro do Paço, porque vêm que a revolução é apoiada pelo povo e eles não querem combater com outros portugueses. Isso foi um dos principais motivos.Há esse célebre caso onde um navio de guerra chega em frente do Terreiro do Paço, tem ordens para atirar sobre as forças do Salgueiro Maia e acaba por não o fazer. Se ele tivesse cumprido as ordens, parte da Baixa teria sido destruída e podia haver centenas de mortos porque da parte das forças ainda fiéis ao regime, alguns indivíduos recusaram obedecer às ordens que lhes eram dadas. E isso tudo fez que não houve mais que cinco mortos e que houve pouca troca de balas no dia 25 de Abril.Depois, também houve muita violência durante o colonialismo, durante as guerras de libertação que também levaram ao 25 de Abril...Sim, sim, esses militares que saem à rua e que querem organizar o golpe de Estado, um dos motivos principais é que eles querem pôr fim à guerra, sabendo que o regime não vai aceitar qualquer negociação com os movimentos de libertação. O [António de] Spínola, que era governador até 73 na Guiné-Bissau, tinha proposto ao [Marcello] Caetano uma negociação com o Senghor, presidente da República do Senegal, e com o Amílcar Cabral, coisas que o Caetano recusou radicalmente, dizendo que as Forças Armadas são feitas para fazer a guerra, podem perdê-las ou ganhá-las, mas era inconcebível negociar com pessoas que eram tomadas como terroristas.Obviamente, muitos militares estavam fartos da violência que eles próprios tinham que usar e que os próprios jovens que eles comandavam tinham que sofrer. Era a morte que estava sempre com eles. A morte, o ser preso, ser magoado, e nós sabemos que, décadas depois do fim da guerra, há sempre homens que ainda têm traumas desse período.Não foram só os soldados portugueses que teriam contribuído para o 25 de Abril, também os próprios movimentos de libertação contribuíram, ou não?Há essa ideia, que é um lema, que o 25 de Abril começou em África, isto é, que o 25 de Abril aconteceu porque houve movimentos de libertação em Angola, Moçambique e na Guiné-Bissau principalmente, que lutaram contra o colonialismo português com um discurso que era: nós não lutamos contra o povo português, nós lutamos contra a ditadura portuguesa que nos impede de ser livres, mas que também impede os portugueses de serem livres. Então nós lutamos contra o fascismo de Salazar, de Marcello Caetano, mas não lutamos contra o povo português.Essa propaganda teve algum efeito sobre alguns militares, por exemplo, o Otelo Saraiva de Carvalho que trabalhava na propaganda na Guiné-Bissau sob o comando do Spínola. Alguns questionaram radicalmente o que era a presença portuguesa nessas colónias. Eles viam bem que os povos africanos não viviam bem, que viviam muitas vezes sob a arbitrariedade da administração e dos colonos, eram explorados onde trabalhavam nas explorações de café, por exemplo, em Angola, nos campos de algodão.Então eles compreenderam que tinham que libertar-se da ditadura para poder libertar o povo português e os povos colonizados.A “Revolução dos Cravos” despertou muitos episódios de violência política no pós-revolução. “25 de Abril, dia inicial, inteiro e limpo” é um verso da Sophia de Mello Breyner Andresen que chamou a título de um dos capítulos do seu livro, mas com um ponto de interrogação. Porquê este ponto de interrogação?Porque temos, muitas vezes, uma visão idealizada do 25 de Abril que, de facto, é um grande dia no sentido que conseguiu acabar com uma ditadura que durou 48 anos. Só que, nesse dia, o que se passa é que nem todos os objectivos do MFA são conseguidos porque aparece uma personagem que é o António de Spínola que consegue apoderar-se do poder, o que não era propriamente o que tinha sido pensado pelo MFA.Quando o MFA organizou vários encontros no tempo da ditadura, os oficiais do MFA tinham votado para ser chefe do movimento, em caso de avançar, o Costa Gomes, que era o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, mas que no dia 25 de Abril esconde-se, está no hospital com a mulher, sabia que alguma coisa ia acontecer e nesse dia não aparece. A pessoa que consegue aparecer, mexendo vários cordelinhos ou várias pessoas mexem alguns cordelinhos, é o próprio Spínola que joga um jogo duplo nesse dia 25 de Abril, sabendo que havia um golpe de Estado em preparação, sabendo do programa do MFA, dizendo que tinha algum receio que no MFA houvesse pessoas ligadas ao partido comunista ou comunistas e que no 25 de Abril consegue ir ao Carmo ficar com o poder dado pelo Marcello Caetano e tenta impor durante a noite o programa dele.Alterando um dos pontos fundamentais do programa do MFA.Exactamente. Ele tinha lido e colocado algumas mudanças no programa do MFA nos dias que antecederam o 25 de Abril e já havia algumas tensões entre o MFA e próprio Spínola e a grande tensão era sobre as colónias. O Spínola apareceu como o líder natural em caso de golpe porque ele tinha publicado o livro “Portugal e o Futuro”, publicado em Fevereiro de 1974 que é uma bomba no sentido onde ele diz que a solução à guerra colonial não é militar, mas é política e é preciso tentar encontrar uma solução com os movimentos que combatem em África e, nomeadamente, ir para mais autonomia das colónias e criar uma federação lusíada, isto é, tentar manter um império, mas sem as formas que existiam até 74. Isto é um Portugal unido do Minho a Timor. Ele quer manter alguma ligação com as colónias, enquanto que muitos militares do MFA querem a autodeterminação das colónias, que elas possam decidir o que elas querem e provavelmente vão querer a independência.Logo na noite de 25 para 26 de Abril, o Spínola apenas aparece na televisão à uma da manhã porque há um desentendimento muito forte entre os oficiais do MFA e o Spínola que quer impor o programa dele e diz que o programa do MFA não conta e os oficiais do MFA que dizem: não, nós temos um programa, você lê o programa e é esse programa que vamos propor ao povo português.Há esse desencontro à volta, sobretudo, das colónias, há outros pontos onde eles não concordam, nomeadamente sobre o fim da PIDE-DGS nas colónias. A PIDE-DGS não desaparece nas colónias, desaparece na metrópole, mas não nas colónias.Mas o grande ponto de desentendimento é a descolonização e, aliás, à uma da manhã quando o Spínola fala na televisão, uma das primeiras coisas que ele diz é que o 25 de Abril se fez para manter um Portugal pluricontinental, isto é, continuar com uma forma colonial que ainda se tem que discutir. Isso vai abrir um conflito entre o Spínola e o MFA que vai durar até Setembro de 74 até ao Spínola sair da Presidência da República.Diz que a expressão “Revolução dos Cravos” é usada para designar os eventos que decorrem do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Abril de 1976, mas que depois de Março de 75 aparece o PREC, Período Revolucionário em Curso, em que o MFA quer “transformar radicalmente as estruturas económicas e sociais do país” e fala em “revolução na revolução”. Porquê “revolução na revolução”?Sim, porque, no início, o MFA tinha como objectivo pôr fim à ditadura e entregar o poder aos civis, aos partidos políticos. Só que isso não vai acontecer logo porque há um conflito entre o Spínola e o MFA e parte dos oficiais do MFA acha que o Spínola quer ir contra o espírito do 25 de Abril e foram eles que fizeram o golpe de Estado, não foi o Spínola - ele aproveitou-se, mas não o fez.Então há um conflito. A comissão de coordenação do MFA não desaparece e vai tentando defender a sua visão do 25 de Abril, aliás, consegue a partir de Julho de 74 impor um dos oficiais como primeiro-ministro, o Vasco Gonçalves. Esse conflito vai durar até Setembro, à volta, nomeadamente, da descolonização, e depois o próprio Spínola tenta um golpe de Estado em 11 de Março de 75 e isto vai desembocar numa radicalização da revolução, isto é, uma institucionalização de um MFA com o Conselho da Revolução. O MFA com o Conselho da Revolução pretende ter um papel motor na revolução e transformar radicalmente Portugal.O que antes era visto por certas partes do MFA como não sendo possível - é preciso esperar que o povo português vote para saber o que os portugueses querem e depois veremos as mudanças, não podemos fazer mudanças de vulto - depois do 11 de Março há mudanças de vulto: a nacionalização dos bancos, dos seguros, parte da indústria, o desenvolvimento da reforma agrária no sul do país. Então, o MFA torna-se um agente revolucionário, coisa que não era de todo previsto em Março, Abril de 74.Tem um capítulo intitulado “uma Cuba na Europa?” em referência ao período entre 11 de Março de 1975 e 10 de Julho de 1975. Recorda que o secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, disse que o governo português “é cada vez mais dominado por comunistas”, que têm o apoio do MFA, segundo ele constituído pelo que chamava de “marxistas autodidactas”. Havia realmente o risco de Portugal ser uma Cuba em plena Europa ocidental?Alguma parte do MFA e alguns movimentos políticos esperavam que Portugal fosse um país que não seria uma social-democracia à alemã ou à sueca que achavam demasiado moderada; também não queriam, alguns deles, o princípio popular como na Europa de leste; mas estavam à procura de um novo modelo, de uma via original para um socialismo português e havia muito fortemente um discurso anti-imperialista, que Portugal não era propriamente um país europeu e alguns não queriam que Portugal se juntasse mais tarde à União Europeia, à CEE, mas também não queriam que fosse um satélite de Moscovo.Então, houve várias propostas durante o ano de 74, mas sobretudo 75, sobre o que deveria ser Portugal e houve a célebre caricatura de João Abel Manta que é um quadro com o mapa de Portugal e várias pessoas, o Lenine, o Kissinger, a Rosa Luxemburgo, o Mao a verem Portugal e a não compreenderem o que é que se passa em Portugal porque havia muitas ideias, muitas propostas, muitas soluções, muitas vias para o socialismo.Obviamente, do lado dos Estados Unidos, da França, mas sobretudo dos Estados Unidos, havia um medo que Portugal se tornasse comunista porque o Partido Comunista estava no poder, estava no governo. Muitos viam em Álvaro Cunhal, o secretário-geral do PCP, uma pessoa com capacidade para tentar impor uma revolução comunista, uma tomada de poder comunista. Então, havia muito essa ideia que Portugal seria um país anti-ocidental ou anti-americano na Europa, o que colocava outro problema porque Portugal estava na NATO. Então, como é que se poderia aceitar que um país que está na NATO e que pode ter informações importantes para Moscovo, pudesse continuar na NATO? Outro ponto importante para o Kissinger era os Açores, isto é, como é que podemos aceitar que um país que tem os Açores, que é um ponto estratégico fundamental para os Estados Unidos para controlar o Atlântico do Norte, se torne comunista?Então, havia essas propostas de encontrar uma solução portuguesa para um regime socialista e esse medo dos Estados Unidos que, de facto, houvesse uma tomada de poder da extrema-esquerda e que fosse necessário ficar, pelo menos, com os Açores.Depois o Kissinger teve várias ideias sobre Portugal, uma delas era a teoria da vacina. Era a ideia que Portugal está perdido, os comunistas vão ficar no poder em Portugal ou então vamos perder Portugal no campo ocidental. Outra consequência é uma guerra civil por parte do povo português, que nomeadamente, se viu que não queria o Partido Comunista que apenas conseguiu 12,5 % dos votos em Abril de 75.Então, se houvesse uma guerra civil em Portugal, isso seria uma vacina noutros países, como a Itália, como em França, porque nesses países o Partido Comunista era forte e conseguiu juntar-se aos partidos. Em Itália, havia o compromisso histórico entre o Partido Comunista italiano e a Democracia Cristã. Em França, havia a União da Esquerda entre o Partido Comunista, o Partido Socialista e os radicais de esquerda. Então, havia uma possibilidade que, nesses países, o Partido Comunista pudesse estar no governo, o que não queriam os Estados Unidos. Se em Portugal corresse mal, não era assim tão mau. Perdíamos Portugal - sobretudo Portugal ia viver momentos difíceis e até trágicos -, mas pelo menos isso fazia que, em Itália e em França, o Partido Comunista fosse menos forte.Essa ameaça de uma guerra civil em Portugal foi permanente. No “Verão Quente”, assistiu-se a muitas lutas entre os que temiam a tomada de poder comunista e a imposição de uma democracia directa e os que acusavam a direita de querer repor a ditadura. Quer recordar-nos o que foi o “Verão Quente”?O Verão Quente foi que, a partir de 10 de Julho de 75, o Partido Socialista deixa o governo, nomeadamente por causa do jornal República, um jornal que era controlado pelo Partido Socialista e onde os tipógrafos conseguem pôr de lado a direcção socialista do Raul Rego, que era um próximo de Mário Soares. O Partido Socialista considera que o caso República é uma peça suplementar à tentativa do Partido Comunista de ficar com a imprensa, de não deixar falar os socialistas e que faz parte do plano para ficar com o poder. Os socialistas deixam o governo em Julho de 75 e, dias depois, no norte do país, de Rio Maior, a norte, há vários movimentos mais ou menos espontâneos que vão atacando sedes do Partido Comunista, sedes de partidos de extrema-esquerda, queimando as sedes, queimando a documentação. Por vezes, há confrontos com militantes comunistas. Em Julho e Agosto de 75, há vários ataques a sedes em todo o norte.Como é visto por parte da população? Houve eleições no 25 de Abril de 75 e nessas eleições o Partido Socialista chegou em primeiro e o PPD, partido de centro-direita, chegou em segundo, foi a expressão do povo que votou de forma livre, mas o PS e PPD já não estão no governo em Julho, então, são manifestações contra o que eles acham ser um desvio da vontade popular pelo MFA e pelo Partido Comunista.Essas violências anticomunistas do Verão Quente vão deixar pensar que talvez vai haver uma guerra civil que vai dividir o norte e o centro do país, mais moderados - alguns diziam mais conservadores - e Lisboa, o Alentejo, o Ribatejo, Setúbal, onde o peso do Partido Comunista e da extrema-esquerda é muito mais forte.O Processo Revolucionário em Curso acaba a 25 de Novembro e escreve que, para muitos, acabam também “as utopias revolucionárias”. Porquê?Sim, o 25 de Novembro é uma data importante. A partir de Setembro, Outubro, Novembro, os militares moderados e o PS tinham regressado ao governo e o Vasco Gonçalves tinha deixado de ser o primeiro-ministro. Era um primeiro passo para uma certa moderação da revolução e uma solução moderada que seguia os resultados das eleições do 25 de Abril de 75. Mas, houve uma radicalização da extrema-esquerda civil e militar, que temia que a revolução acabasse e que a reação, a extrema-direita, voltasse.Então, há um confronto entre os militares moderados à volta de Melo Antunes e as partes mais radicais, nomeadamente o Otelo Saraiva de Carvalho, que tem um poder muito importante, porque ele é que dirige o COPCON que é uma espécie de polícia militar.Em Setembro, Outubro, Novembro, há muitas mobilizações sociais, grandes manifestações ligadas ao PC e à extrema-esquerda. Há, nomeadamente, o cerco da Assembleia Constituinte, em Novembro de 75 por operários da construcção civil e alguns vêm nesse cerco uma vontade de acabar com a Constituinte e de impor um poder popular. Parte dos moderados, como o Melo Antunes, o Vasco Lourenço, o Ramalho Eanes preparam uma solução militar para tentar pôr de lado os mais radicais, os militares que estão à volta do Otelo Saraiva de Carvalho.Então, há várias provocações que fazem com que parte dos militares radicais tentem sair à rua no 25 de Novembro de 75, o que os moderados estavam à espera e conseguem parar essa saída dos militares mais radicais, prendê-los e prender os vários oficiais que eram da extrema-esquerda. O próprio Otelo vai ser preso algumas semanas depois. O 25 de Novembro é uma neutralização da extrema-esquerda militar e a tomada de poder dos militares moderados do MFA à volta do Melo Antunes, do Vasco Lourenço. Eles vão dizer que é o regresso aos ideais do 25 de Abril e que é o fim dos excessos, dos desvios que foram impostos tanto pelo Vasco Gonçalves quanto pelo Otelo Saraiva de Carvalho.Mas é também o fim das “utopias revolucionárias”...Em grande parte, no sentido que vários militares são presos. O que alguns esperavam é que talvez parte da extrema-esquerda e parte da população que estava nessas comissões de moradores e trabalhadores, iriam à rua para defender essa revolução, mas não saíram a rua. Não houve um confronto, não houve guerra civil e, de facto, depois a ideia que se impõe é que tem que se respeitar o trabalho da Assembleia Constituinte. A nova Constituição é votada em 2 de Abril de 76, mas essa Constituição é muito - agora com o nosso olhar - é muito progressista porque defende as nacionalizações, defende a reforma agrária, defende a participação popular. Obviamente, para algumas pessoas, esse texto era apenas papel, isto é, que não ia impor-se, pois na prática esse ímpeto revolucionário acabou no 25 de Novembro de 75.Depois do 25 de Novembro de 75, multiplica-se a expressão “os cravos murcharam”. Esta é uma questão que também coloca no livro. Os cravos murcharam mesmo?Para a extrema-esquerda e para as pessoas que viveram a revolução, a revolução foi um momento sem igual porque as pessoas iam à rua, falavam de política, achavam que eram as próprias pessoas que deviam agir para mudar as suas vidas, ocupar um imóvel para fazer uma creche, ocupar uma propriedade agrícola. Então, era a ideia da democracia popular e directa - não temos apenas que votar para que representantes decidam por nós, devemos decidir em plenários. Era uma forma de viver a política muito intensa e, de facto, depois do 25 de Novembro e, a partir de 76, essa visão muito dinâmica, muito de democracia popular vai-se esvaziando e Portugal torna-se uma democracia liberal com a ideia que as pessoas votam, que têm direito a um Estado de direito, mas as pessoas não vão participar activamente na vida comum, na vida política. E há um distanciamento entre o povo e a classe política. De facto, para alguns que tinham essa utopia do povo activo politicamente, isso desaparece.No entanto, várias das promessas, várias dos compromissos de Abril foram ficando: o Estado social, o Estado providência, a saúde tendencialmente gratuita para todos, a escola para todos, essas conquistas de Abril foram ficando. Obviamente houve várias políticas que tentaram limitar algumas vantagens, viu-se durante os anos de 2010 com a Troika. Viu-se também, durante os anos da Troika, que um dos cantos que foi usado foi a “Grândola” porque as pessoas pediam que se respeitassem os valores de Abril e as conquistas de Abril. Então, obviamente murcharam, mas não houve um regresso para trás e houve várias conquistas que foram possíveis durante o 25 de Abril que ficaram.É por isso que o livro se chama “o povo é quem mais ordena”? Porque tantos anos depois, as pessoas voltam à rua para lembrar ao governo as conquistas de Abril?Sim, o título era uma referência à canção do Zeca Afonso, mas também era para mostrar os movimentos sociais, que a revolução não foi apenas o 25 de Abril e um golpe de Estado militar. Muitas vezes, parte da historiografia, nem toda obviamente, descreve o 25 de Abril como uma divisão entre o Partido Socialista do Soares e o Partido Comunista do Cunhal, como resultado das tensões do MFA e do Vasco Gonçalves, do Otelo, do Melo Antunes.Mas o 25 de Abril e o PREC foi uma revolução social, foi a última revolução na Europa ocidental que colocou em dúvida ou até que quis acabar com o capitalismo, com a propriedade privada. Foi uma revolução com uma dimensão social, até socialista, muito importante e isso é o que o título quis mostrar. Obviamente que, desde 74 e desde as eleições de 75, Portugal é uma democracia, com eleições, com direitos, direito de manifestação e é sempre o povo que ordena.Na altura, chegou a haver o turismo revolucionário, pessoas que queriam ir para Portugal para ver a revolução. Disse que teria sido “a última revolução que quis acabar com o capitalismo” e, nesse sentido, eu pergunto, o 25 de Abril falhou?Não acabou com o capitalismo, isso é certo. Nesse sentido falhou. No entanto, antes do 25 Abril, a grande maioria dos militares não queriam acabar com o capitalismo, queriam era pôr políticas sociais que favorecessem as populações mais pobres que eram uma parte importante de Portugal. Então, queriam tentar pôr em prática estas políticas sociais que reduzissem as desigualdades. Portugal ainda é uma sociedade desigual em vários sentidos, mas já não é assim tão desigual como antes do 25 de Abril. Há a redistribuição por via dos impostos, há políticas sociais e, nesse sentido, não se pode dizer que o 25 de Abril falhou.Obviamente que o que fez a força do 25 de Abril durante o PREC é que houve várias interpretações do 25 de Abril. Várias pessoas tinham interpretações completamente diferentes do 25 de Abril: o Spínola tinha a sua visão do 25 de Abril, o Otelo tinha a sua visão do 25 de Abril, o Vasco Lourenço tinha a sua visão do 25 de Abril, o Soares, o Cunhal... Mas, ao fim e ao cabo, o que nós temos agora é um país muito mais desenvolvido do que era em 74, onde a população vive melhor. Não digo que tudo seja perfeito, sobretudo porque desde os últimos anos há uma grande pressão sobre a população que vive nas grandes cidades em termos de alojamento e obviamente que há sempre coisas a melhorar. Mas o que permite uma democracia é o protesto e dizer que as coisas não estão bem, que têm que ser mudadas, coisas que era impossível no tempo de ditadura e, nesse sentido, o 25 de Abril não falhou. Mas, obviamente, que muitos que tinham sonhos revolucionários não se podem conformar com o que se passou depois porque muitos deles queriam ir muito além do que Portugal se tornou.

Vinil
Vinil: Sitiados – A formiga no carreiro

Vinil

Play Episode Listen Later Oct 5, 2023 5:07


É um original de Zeca Afonso mas vou buscar a versão dos Sitiados, gravada para o álbum “Filhos da Madrugada”. Uma dupla metáfora: a primeira, da formiga que seguia novo rumo, a segunda, a da nova geração que cantava Zeca. Sitiados | Filhos da madrugada cantam José Afonso (vários – 2x LP) | 1994 |

Artes
Filme lembra “invisíveis” que lutaram contra a guerra colonial

Artes

Play Episode Listen Later Aug 8, 2023 17:20


O filme “As Mãos Invisíveis” conta algumas das histórias de portugueses que, a partir de Paris, ajudaram desertores e refractários da guerra colonial. O documentário parte de uma casa que foi um dos locais de acolhimento e de resistência à ditadura de Salazar e ao colonialismo. O realizador Hugo dos Santos quis tirar da clandestinidade a memória dessa resistência invisível e falou com a RFI sobre o filme que acaba de passar num festival de documentário português. RFI: Porque é que o filme se chama “As Mãos Invisíveis”? Hugo dos Santos, Realizador de “As Mãos Invisíveis”: O filme chama-se “Les Mains Invisibles” porque, de uma certa forma, conta a história de um grupo de pessoas invisíveis que eram emigrantes clandestinos, desertores, dentro de uma emigração que em França é chamada de invisível. Por isso, falei de invisibilidade e o facto de remeter para as mãos é remeter para as pessoas que vão ter uma acção: não só trabalhar, mas também pode ser o punho levantado ou pode ser simplesmente muitas pequenas acções invisíveis que remetem para acções que têm impacto na história.No filme ouvimos que 200.000 jovens portugueses fugiram para não irem à guerra colonial/das independências. A maioria foi para França, mas só uma parte era politizada e o filme centra-se mais nessas pessoas. Porque é que quis dar rostos a estas pessoas e porque é que fala, às vezes, de memória clandestina? São muitas perguntas! Para já, eu achei que era uma história bonita simplesmente. Eu acho que era uma bela coisa de contar uma história pouco conhecida, que é um exemplo, porque houve muitas histórias em volta da emigração portuguesa e da recusa da guerra colonial. Como eu conhecia algumas personagens, achei que esta história valia a pena ser contada.É também uma forma de reparar alguma injustiça histórica, digamos assim?Sim e não. Eu acho que pensar a emigração portuguesa ou representar em filmes documentários ou ficções a emigração portuguesa sem falar da recusa da guerra colonial é incompleto porque há pessoas que recusaram a guerra colonial de forma estruturada politicamente - quer dizer num partido, por exemplo, já tinham decidido e sabiam o que fazer - e há pessoas que simplesmente foram-se embora porque não queriam ir à guerra, não queriam matar outras pessoas. Eu acho que isto vai muito além de um grupo mais ou menos politizado que aparece no filme. Eu também não faço esta diferença entre emigração política e emigração não política porque eu acho que a maior parte das pessoas que emigraram tinham uma percepção política das coisas. Ser uma percepção política não quer dizer uma percepção partidária, mas simplesmente pensar: “Neste país não dá, temos que sair, esta guerra não dá, temos que sair”.E recusaram, justamente, a guerra…Exactamente. Não são só os grupos politizados. Eu quis falar deste grupo porque era também um grupo que estava na acção. No filme, não me interessou falar verdadeiramente do partido político ou do micropartido ou dos grupos políticos que estavam mesmo envolvidos. Para mim, interessava simplesmente um grupo de pessoas, um grupo de jovens portugueses e franceses que pensaram que era injusto fazer uma guerra em Angola, Moçambique, Guiné, achavam que era uma coisa horrorosa, que não queriam matar africanos e pensaram simplesmente desertar e depois apoiar as pessoas que desertavam. Eu acho que partiu de uma sensação muito sincera, muito natural, muito além de uma estruturação política. Para dizer a verdade, mesmo uma parte da estruturação, da ideologia política daquela época, uma parte, eu acho que hoje em dia pode-se dizer que era justa e outra parte não tinha muito sentido, por isso, também não quis pôr o debate sobre o sexo dos anjos politicamente porque não fazia sentido.O meu filme fala de um grupo, mas não só, fala das mãos invisíveis que são todas aquelas pessoas que partiram daquele país para não fazerem a guerra ou que tiveram que partir para a guerra porque também se vê no filme imagens de pessoas que foram e, de uma certa forma, é outro lado da mesma moeda.E houve quem fosse e desertasse, inclusivamente com armas, como se apelava a partir de Paris, nomeadamente… Mas vamos agora ver alguns dos principais rostos do filme, por exemplo, um testemunho marcante é o de Vasco Martins. Quer falar-nos da importância dele nesta rede de mãos invisíveis que acabou por funcionar a partir de uma casa parisiense?O Vasco é, antes de tudo, um amigo, não é da mesma idade, mas é um amigo que eu conheci na Associação Memória Viva. Foi pouco a pouco que eu comecei a conhecer a história dele porque era uma pessoa discreta, pelo menos no início do processo memorial, e foi pouco a pouco que comecei a entender a importância das acções que tinha tido o Vasco, nomeadamente, na criação de redes de apoio aos desertores que passaram pela casa dele e como uma pessoa de contacto. O Vasco era e é uma pessoa que faz. Quer dizer, há uma coisa para fazer, estamos à espera que se faça, estamos a decidir, mas já está feito, o Vasco já fez. Há uma personagem que não se vê no filme que me disse que o Vasco é um activista “low profile”, quer dizer, que é uma pessoa que não dá nas vistas e, mesmo assim, é aquele que faz. Politicamente, de uma forma geral, além desta história de emigração e da recusa da guerra colonial, é uma coisa que tem importância para mim porque eu acho que o que tem impacto politicamente não são só as pessoas que gritam, não são só as pessoas que são estruturadas num partido, são as pessoas que fazem e que, às vezes, são invisíveis.As tais “mãos invisíveis”. Exactamente e no filme vê-se o Vasco Martins, mas também se vê a Thérèse Martinet, do lado francês, que é a pessoa que estruturou, como ele, esta rede de apoio aos desertores, uma rede informal. Hoje em dia, se não fosse o filme, seria uma pessoa completamente desconhecida. Ela teve uma importância essencial nesta história de forma global.Era a proprietária da casa…Era a proprietária da casa onde o Vasco criou a rede, mas era também a pessoa que vivia lá e que aceitou viver com um grupo de desertores e era uma pessoa que teve uma vida colectiva com estas pessoas, como também foi uma pessoa que foi além de acolher. Há uma parte das coisas que nem sei porque ela infelizmente começou a perder a memória depois de uma doença, mas ela fez idas e voltas para Portugal, meteu-se em perigo, também ajudava muito os portugueses a aprenderem francês, a encontrarem trabalhos. Mãos invisíveis é do lado português como do lado francês.Ela chegou inclusivamente a levar material para Portugal. É o que se diz no filme. O filme também fala um pouco dos bastidores da luta desta rede de resistentes, das armas que foram encontradas, dos apelos à deserção com armas. A casa foi um epicentro dessa luta  invisível?Não sei se o lado da luta armada, que é uma coisa que existiu nos anos 60, 70, um pouco nos anos 80, será propriamente uma acção invisível, de uma certa forma era quase uma acção de propaganda porque estas armas eram pouco usadas obviamente. Há um paradoxo do qual falo no filme: este grupo, que era profundamente pacifista, contra a guerra, contra todas as guerras, achava que naquele momento da ditadura, a única forma lógica de desertar era desertar com armas. Mas desertar com armas, o que é que queria dizer? Queria dizer que supostamente o desertor devia ir com armas ou enterrá-las num sítio qualquer para que no dia que fosse necessário, quando as massas estivessem organizadas ou uma coisa dessas, se pudessem usar aquelas armas. Mas a ideia não era sustentar uma luta armada frontal contra o regime, não era nada disso. Era simplesmente que dentro de um regime tão repressivo, acharam que desertar com armas era o caminho mais secreto, mas não quer dizer que usavam armas, que estavam na luta armada.O filme também mostra que a música, nomeadamente o Tino Flores, e o teatro foram fundamentais nesta luta contra a guerra. Quer contar-nos como? Eu acho que os anos 60, 70, em Portugal e também em França, havia uma percepção que as artes – cinema, música, teatro - deviam ter um empenho político. Obviamente que na luta contra a ditadura de Salazar, contra o colonialismo, estas artes foram usadas. O que não se sabe tanto é que os emigrantes portugueses em França produziram muitíssimas coisas, organizaram muitíssimos concertos, grupos de teatro, peças que foram apresentadas em associações, conversas, palestras e festas simplesmente. É isso que eu mostro um pouco no filme que é uma coisa que não se sabe tanto. Sabe-se que houve o Zeca Afonso, o Sérgio Godinho ou o Tino Flores, que é um pouco menos conhecido, mas sabe-se pouco que aquilo maturou na emigração porque tanto o Sérgio Godinho como o José Mário Branco, como o Tino Flores, estiveram na emigração em França e é ali nestas conversas de cafés, nestas organizações políticas, nas associações também, que conseguiram criar uma nova onda musical. Tanto que o Zeca Afonso grava o “Cantigas do Maio” em França - não é a única razão, mas é uma das razões. Há, em França, uma onda de artistas políticos. No filme vê-se o Tino Flores que é um cantor e também se vê o Hélder Costa que escreve peças de teatro, escrevia e ainda escreve, e que organizou muitos grupos de teatro nas associações de emigrantes.O filme recorre a imagens de arquivo, como documentários nos bairros de lata. Como é que foi este trabalho para chegar a imagens que são tão pouco conhecidas do público, excepto as fotografias…Não sei se há muito poucas imagens. O problema é saber olhar para as imagens que temos. Por exemplo, nos arquivos do INA, da televisão francesa, existem muitíssimas imagens da emigração portuguesa dos bairros de lata e outras coisas. Às vezes, o problema é saber o que estamos a ver, pensamos que estamos a ver um bairro de lata e estamos a ver um filme militante, ou estamos a ver um processo de expulsão do bairro de lata. Não entendemos, às vezes, o que estamos a ver e eu acho que no filme tento sempre dar o contexto das imagens porque eu acho que é ali que as imagens se tornam autónomas, quase como personagens, e também se tornam mais políticas.Ali estás a ver, por exemplo, quer o olhar de um militante francês, quer  o olhar de um militante português, quer o olhar da televisão francesa ou holandesa e isto é bastante importante para saber o que estamos a ver. No filme, eu não quis usar imagens para ilustrar. Nunca estou a ilustrar. Sempre dou a importância completa às imagens.Relativamente à pesquisa, foi uma pesquisa extensa em toda a Europa à procura das personagens, a ver se conseguia encontrar tal ou tal personagem em tal ou tal filme. Para fazer este filme não havia uma matéria extensa no início porque são memórias, não havia uma matéria extensa: a casa foi destruída nos anos 90, já não existe; vários personagens também perderam um pouco a memória ou algumas lembranças porque foi há muito tempo e é também uma memória traumática. Eu tive que reflectir na forma de contar aquela história e, para mim, a forma certa de contar aquela história não era contar a grande história ou encher todos os buracos. Era deixar aparecer os espaços vazios. Com as imagens de arquivo ou com algumas conversas com as personagens ou também com a minha voz, com o meu raciocínio, consigo dar mais ou menos o fio da história para se poder entender o que se passou. Mas não se sabe tudo porque eu acho que é também uma forma de encarar a história que é específica. Quando se faz um documentário histórico, a ideia de não é contar exactamente como é que foi, a ideia é deixar entender às pessoas como talvez foi. Então, uso os arquivos desta forma, os arquivos permitem entender como talvez foi. Não estão ali para dar uma prova. O filme “Les Mains Invisibles” [“As Mãos Invisíveis”] estreou no DOClisboa em Outubro do ano passado, esteve, a 1 de Agosto, no Festival Internacional do Documentário de Melgaço, em Portugal e chega a França no próximo ano.

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História da emigração portuguesa para França chega a Avignon

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Play Episode Listen Later Jul 8, 2023 14:17


A peça “Saudade, ici et là-bas” conta a história da emigração portuguesa para França nos anos 60 e 70 e como os lusodescendentes cresceram com uma dupla cultura. É também uma história de transmissão, de memória e de heranças afectivas. O espectáculo está no Festival Off Avignon de 7 a 29 de Julho e a RFI falou com a sua autora Isabel Ribeiro e com o músico Dan Inger dos Santos. RFI: O espetáculo fala de emigração portuguesa mas abre com a saudade da cabo-verdiana Cesária Évora. Porquê?Isabel Ribeiro: Nessa canção, eu acho que há uma dimensão que reflete bem o que é a saudade e que possa ser transmitida a pessoas que não sabem a definição exacta da palavra saudade. Eu até acho que só os portugueses é que entendem mesmo o que saudade quer dizer e fora já não, eles querem uma coisa mais específica, mais detalhada. Essa canção tem essa atmosfera que traduz a definição dessa palavra.Qual é a história de “Saudade, ici et là-bas”?Isabel Ribeiro: É uma viagem de dois irmãos, o Idálio e a Joana, que estão em Portugal para vender a casa da família porque os pais faleceram e eles tiveram que tomar essa decisão de vender a casa. Então, estão lá em Portugal, com o sobrinho deles que vem da Bélgica. Aí começam a falar da casa, das lembranças que eles têm, da ligação que eles têm com essa cultura portuguesa, da lembrança dos pais. Na segunda parte da peça de teatro, vamos ao passado e aí vemos os pais antes de irem embora de Portugal. A vida deles em Lisboa e essa tensão antes de irem embora.Porque decidiu escrever e levar a palco um espectáculo sobre os portugueses que vivem em França? É um texto biográfico?Isabel Ribeiro: Sim. Há muitas coisas que são da minha história e outras que são coisas que eu ouvi porque tive a oportunidade de fazer entrevistas a pessoas. Escutando as histórias todas, pensei que é mesmo uma parte histórica de França e que temos que transmitir porque não falamos muito nesse tema. É muito importante. É um tema que me tocava desde sempre mas, crescendo, tinha essa vontade de falar e de testemunhar o que é ser um filho ou uma filha de emigrante e como é que vivemos essa situação de ver os pais partilhados entre a vida que eles vivem em França e as lembranças todas e a vontade de irem embora para Portugal.Qual é a mensagem do espetáculo? Uma homenagem aos emigrantes?Isabel Ribeiro: É. Porque é uma geração que falávamos deles com uma comunidade silenciosa e, para mim, é uma comunidade que teve muito muita força, muita coragem de ir embora do país deles e não falamos muito neles. Eu queria justamente agradecer-lhes a todos, aos meus pais, à família e também aos outros à volta, por esse sacrifício porque graças a eles nós temos uma vida diferente e mais fácil. A peça também quer mostrar o que é viver entre dois mundos, em busca de raízes, mas também a tentar transmitir essas mesmas raízes às gerações de agora e às futuras?Dan Inger dos Santos: As novas gerações não sabem muito porque a primeira ficou com pudor. Esse pessoal queria esquecer o salto [passagem clandestina para França] e a vida dura desse momento quando chegaram nos bairros de lata. Para mim é um reconhecimento que é dado ao povo português, mas que pode ser uma mensagem também muito universal e tocar também o coração dos italianos, dos espanhóis, dos argelinos… Ambos são franco-portugueses e o tema da dupla cultura dos filhos de portugueses que vivem em França é-vos intrínseco. O tema já foi tratado – antigamente menos, mas agora começa - em filmes, em livros, em fotografia… O que acrescenta o teatro a esta história?Dan Inger dos Santos: Até agora, o teatro português é muito elitista, só toca o pessoal que conhece mesmo o âmbito do teatro. Penso que a nossa ideia era dar coisa mais popular. Muitas pessoas vêm depois do espectáculo dizer que era a história deles que estava no palco. Não conheço todas as peças de teatro, mas acho que é a primeira, de facto, em França a ser um pouco mais popular e acessível.Isabel Ribeiro: Também é verdade que, pelo facto de estar em palco, há uma coisa que se passa em directo com as pessoas. No cinema, o ecrã traz um relacionamento diferente à situação que se está a passar mas no teatro é tudo ao mesmo tempo. Nós queríamos tocar as pessoas em directo e o teatro tem essa possibilidade. Este é um espectáculo musical. A Isabel escolheu fazê-lo com o Dan Inger dos Santos para trabalhar consigo. Como é que construíram essa parte musical? Como fizeram a escolha do repertório? Isabel Ribeiro: Primeiro, eu escolhi as canções. Um certo número de canções que me tocavam, mas que tinham, não é bem um relacionamento com o tema, um pouco, mas era uma coisa que se passava em mim e que até me ajudava na escrita. E depois eu escrevia à volta dessa canção e via que tinha coisas na canção que podiam ligar-se. Depois disso ao Dan: “Quero essas canções. Que pensas tu?” E ele até gostou!Há Amália Rodrigues, Zeca Afonso, António Variações, Cesária Évora, Mayra Andrade… Vocês interpretam estas músicas em palco. Como foi esse trabalho?Isabel Ribeiro: Quisemos trazer a lusofonia para o palco e tivemos ensaios.Dan Inger dos Santos: De facto, era dar os temas à nossa maneira e que podiam entrar na história. E foi a escrever a história, mesmo o nosso colega belga por ser belga há coisas que foram escritas quase para ele.Depois, há a própria escolha dos instrumentos. Há concertina, guitarra e um instrumento de cordas em que se dá também à corda. Que instrumento é? Dan Inger dos Santos: É um instrumento medieval que a gente pode encontrar também na música tradicional portuguesa. O último tema, por exemplo, “Horizonte”, dá uma piscadela aos navegadores e não é um instrumento que a gente ouça todos os dias. Em termos cénicos, quais foram as escolhas para sustentar essa ideia de viver entre dois mundos? Há o desenho de som com os sinos da igreja que me remetem imediatamente para as aldeias portuguesas com melodias reconhecíveis, mas também há projecção de fotografias dos bairros de lata de Gérald Bloncourt. Porquê essas escolhas?Isabel Ribeiro: Eu queria que esse espetáculo fosse em muitas dimensões. Queria imagens, queria som, queria música, queria o texto claro, queria dança também. Eu queria que os franceses, os portugueses também, mas os franceses - porque estamos, por enquanto, em França a fazer essa peça - descobrissem quem é esse povo português. Quem ele é, de onde vem, o que é que ele viveu chegando em França. Para mim, era importante mostrar essas fotografias que são um tesouro de documentação para essa parte da história. Esses sons eram uma viagem que eu queria fazer, uma viagem em Portugal para nós porque temos essa saudade do país e para os que descobrem a nossa cultura. Uma viagem ali no teatro. Disse que por enquanto o espectáculo está em França. Há o objectivo de o levar a Portugal? Isabel Ribeiro: Ai gostaríamos muito! Sim, claro! Há muitas pessoas que já estão reformadas lá. Há pessoas francesas que moram lá e também fazer descobrir essa parte da história aos portugueses.O espectáculo já andou em digressão. Como surgiu a oportunidade de o apresentarem no Festival Off Avignon e quais foram as dificuldades?Isabel Ribeiro: Nós nunca tínhamos pensado vir cá, mas parece que tudo foi posto para nós virmos cá, sem que nós pedíssemos qualquer coisa. Houve uma pessoa que se interessou pela nossa peça e disse gostaria de nos ter no seu teatro e de nos ajudar em tal e tal aspecto da publicidade. Então, tudo foi posto assim, como estrelas que ficassem todas alinhadas. Agora nós trabalhamos para que esse trabalho todo tenha resultado. Dan Inger dos Santos: Como a gente esteve com a peça em Paris, houve alguns amigos que fizeram também uma aposta sobre esta nossa história, que é a história de cada um, e alguns empresários vieram a ajudar. Há uma fé nesta peça que esperamos levar a Portugal, mas também à Bélgica, Canadá, Luxemburgo, onde a gente pode falar em francês e dar essa história.O espetáculo fala da emigração clandestina portuguesa em massa para França nos anos 60 e 70 para fugir à guerra colonial, à ditadura, mas também fala das esperanças goradas. No espectáculo dizem: “Lá é a liberdade”, “Um dia vamos voltar” mas acabam por não voltar. Este tema é intemporal quando vemos que a emigração forçada continua a ser um drama de tantos povos. Também querem passar essa mensagem? Isabel Ribeiro: Sim, é claro que falámos dessa emigração, das esperanças, das desilusões também. Vemos que a história se repete, não é? O que se passa agora no mundo é exactamente a mesma coisa e muitas populações de outros países vivem a mesma coisa. Chegam também de maneira clandestina ou não e depois eles têm essa vontade de voltar para o país deles também. É uma história universal mesmo. É isso que é importante nesta peça. Há uma frase do Tolstoi que eu encontrei quando estive a começar a escrita da peça e para mim queria dizer tudo. Era: “da tua história tu podes fazer uma coisa universal e para falar do universal tens de falar de ti primeiro”. A frase não é exactamente esta, mas é esse o sentido. É universal esta história, é igual para todos.Ou seja, o íntimo acaba por ser político… Ambos nasceram em França e cresceram com esta dupla cultura franco-portuguesa. Como é que ela vos construiu?Isabel Ribeiro: Está por todo o lado! Não sei, quando somos mais pequenos não nos toca assim muito e queremos ser como os outros, mas crescendo, a personalidade construindo-se, vemos bem que há outra coisa dentro de nós que está a querer mais espaço na nossa vida e que nos dá essa riqueza e é o que nos diferencia também dos outros. Dan Inger dos Santos: Quando se chega a uma certa idade e quando familiares se vão embora, há um um apelo das raízes, não sei, é uma coisa natural. Posso pensar que sou francês, mas não posso esquecer essa parte portuguesa.

Quoi de neuf en Histoire ?
Episode 54, "Sous les oeillets la révolution", Yves Léonard

Quoi de neuf en Histoire ?

Play Episode Listen Later Jun 5, 2023 69:35


Le Portugal du début des années 1970 est en pleine tourmente. A la mort du dictateur Salazar, le régime résiste et la timide tentative de libéralisation ne prend pas. Les guerres coloniales en Angola, au Mozambique et en Guinée mobilisent de plus en plus la jeunesse sans paraître gagnables. C'est dans ce contexte que la journée du 25 avril 1974, lancée par la diffusion à la radio de la chanson de Zeca Afonso, "Grandola, vila morena", voit des capitaines prendre le contrôle des centres de pouvoir dans tout le pays. En une journée, le régime salazariste est renversé. Ce qui reste à faire n'est rien de moins que la transition vers la démocratie, la décolonisation, le développement économique. Dans ce court essai, Yves Léonard analyse le "jour initial", la rupture qu'il a représenté et les défis qui y ont fait suite.

Liberdade para Pensar
1983: quando a crise e a Europa juntaram PS e PSD no Governo

Liberdade para Pensar

Play Episode Listen Later Jun 2, 2023 61:35


A 4 de junho de 2023 completam-se 40 anos sobre a assinatura de um acordo de Governo entre PS e PSD que ficou para a história como Bloco Central. Cristina Figueiredo conversa com Daniel Proença de Carvalho, 81 anos, advogado, testemunha privilegiada de como se forjou esse acordo, e Francisco Assis, 58 anos, presidente do Conselho Económico e Social desde 2020, que sempre defendeu o diálogo entre os dois maiores partidos portugueses mas nem sempre foi bem entendido. Ouça o podcast Liberdade para Pensar sobre o ano de 1983. See omnystudio.com/listener for privacy information.

Dito e Feito
#45 PT Miguel Cardoso - “Utopia” de Zeca Afonso: Os amanhãs de ontem e o grão histórico da voz

Dito e Feito

Play Episode Listen Later May 31, 2023 33:27


Esta sessão glosa a canção ‘Utopia', de Zeca Afonso (do álbum Como se fora seu filho, de 1983) à luz dos escritos do teórico inglês Mark Fisher sobre a temporalidade desconcertada da música e da sua recusa em desistir do futuro perante o seu aparente bloqueio. Tenta dar a ouvir as contradições da ressaca do processo revolucionário no início dos anos 1980 em Portugal e os ecos que ainda hoje nos chegam. Em 1983, o futuro da revolução era passado. Mais passado é agora. Que temporalidade é a da ‘Utopia' de Zeca Afonso, quarenta anos depois? Que futuro ainda se ouvem nos amanhãs perdidos, nas promessas incumpridas, de então? Pode ainda a ‘Utopia' soar e ressoar no presente, conter futuros nas entrelinhas da sua repetição ritual na forma da comemoração de “Abril?” Miguel Cardoso é tradutor e poeta. Tem poemas, ensaios e outros textos publicados em diversas antologias e periódicos. Concebeu este episódio do Fito e Feito no contexto de uma sessão da Conferência Kismif (Porto, 2022) com o título “MARK FISHER & MUSIC: A COLLECTIVE LISTENING SESSION”, com Simon Reynolds, Ana Bigotte Vieira, David Wilkinson, Felipe Felizardo, Matthew Worley, Miguel Cardoso, Paula Guerra e Pedro Quintela. Música Utopia”, Zeca Afonso, Como se fora seu filho (1983) Trechos breves de (por ordem de audição) “Fireworks, Siouxsie and the Banshees – um single de 1982 “Grândola, Vila Morena”, Zeca Afonso, Cantigas do Maio (1971) “Canção da Jorna”, Casal do Leste, Guardador de Ódios (2013) Casal do Leste – Guardador de Ódios (2013, File) - Discogs Banda sonora do filme Bom Povo Português, de Rui Simões (1981) (especificamente a partir de 4'30'') “Papuça”, Zeca Afonso, Como se fora seu filho (1983) “Nature Boy”, John Coltrane, New Wave in Jazz (1965) Estúdio PontoZurca Estúdio Música original do podcast Dito e Feito Raw Forest Edição sonora do podcast Dito e Feito Pedro Macedo / Framed Films

Dito e Feito
#45 EN Miguel Cardoso - Zeca Afonso's "Utopia"

Dito e Feito

Play Episode Listen Later May 31, 2023 32:59


This session glosses Zeca Afonso's song 'Utopia' (from the 1983 album Como se fora seu filho) in the light of English theorist Mark Fisher's writings on the disconcerted temporality of music and its refusal to give up on the future in the face of its apparent blockage. It attempts to make heard the contradictions of the hangover from the revolutionary process in Portugal in the early 1980s and the echoes that still reach us today. In 1983, the future of the revolution was past. More past is now. What is the temporality of Zeca Afonso's 'Utopia', forty years later? What future can still be heard in the lost tomorrows, in the unfulfilled promises of that time? Can 'Utopia' still sound and resonate in the present, contain futures between the lines of its ritual repetition in the form of the commemoration of "Abril"?" Miguel Cardoso is a translator and poet. He has published poems, essays and other texts in several anthologies and journals. He conceived this episode of Fito e Feito in the context of a session of the Kismif Conference (Porto, 2022) entitled "MARK FISHER & MUSIC: A COLLECTIVE LISTENING SESSION", with Simon Reynolds, Ana Bigotte Vieira, David Wilkinson, Felipe Felizardo, Matthew Worley, Miguel Cardoso, Paula Guerra and Pedro Quintela. Songs and sounds used in this episode Utopia”, Zeca Afonso, Como se fora seu filho (1983) “Fireworks, Siouxsie and the Banshees – um single de 1982 “Grândola, Vila Morena”, Zeca Afonso, Cantigas do Maio (1971) “Canção da Jorna”, Casal do Leste, Guardador de Ódios (2013) Casal do Leste – Guardador de Ódios (2013, File) - Discogs Soundtrack from the film Bom Povo Português, by Rui Simões (1981) “Papuça”, Zeca Afonso, Como se fora seu filho (1983) “Nature Boy”, John Coltrane, New Wave in Jazz (1965) Recorded at PontoZurca Estúdio Dito e Feito original music Raw Forest Dito e Feito sound editing Pedro Macedo / Framed Films

EL GUATEQUE
EL GUATEQUE T09C089 Celebramos el Día del Libro, regalamos rosas, y hablamos de Amor eterno (24/04/2023)

EL GUATEQUE

Play Episode Listen Later Apr 24, 2023 53:44


Y a las 22,05 tenemos Guateque en Onda Regional de Murcia (orm.es). Celebramos el Día del Libro, regalamos rosas, y hablamos de Amor eterno con Bob Dylan, The Beatles, Jefferson Airplane, The Rolling Stones, The Zombies, Luis Aguilé, Leonardo Favio, Fórmula V, Love Affaire, Concha Vekasco, Karina, Zeca Afonso.

50 anos de Expresso

O resumo das principais notícias de 1987, pela voz de Carlos Paes, motion designer e editor de vídeo do Expresso. O texto é de José Cardoso, a edição do áudio pertence a João Martins e a sonoplastia a João Luís Amorim. A coordenação é de Mónica Balsemão e Joana Beleza. See omnystudio.com/listener for privacy information.

#oPutoDeBarba
Episódio 212: Golpes & Seitas

#oPutoDeBarba

Play Episode Listen Later Jan 16, 2023 59:07


Começo o episódio a apontar o dedo ao maior caso de fanatismo da sociedade portuguesa, e acabo com um dos nomes da nova música portuguesa a cantar um clássico de Zeca Afonso, acho que não preciso de elaborar mais para ouvirem este episódio. Além de que o título poderia na boa ser o nome de uma banda de rock dos anos 80. | músicas: Iggy Pop - Neo Punk | Belle and Sebastian - Juliet Naked | Tomás Wallenstein - Cantar Alentejano | | Obrigado aos patronos: @teixeirasilvaa | @o_joseglopes | @_joaomsilva_ | @eduardo_andre_silva | João Ferreira | | O HABITAT NATURAL DA MÚSICA: | SPOTIFY: https://open.spotify.com/show/6bnGj0gzycHyLXXRhR3LRC?si=38feceb76b1948c8 | | APPLE PODCASTS: https://podcasts.apple.com/ca/podcast/o-habitat-natural-da-m%C3%BAsica/id1598561980 | | PERSONAS: | SPOTIFY: https://open.spotify.com/show/7uGCHJj3mcZgo3BC4E98LS?si=sDpCDH6bRRWPurFyKeKAyQ&dl_branch=1&nd=1 | | APPLE PODCASTS: https://podcasts.apple.com/us/podcast/personas/id1587488000 | | PRÉ_CONCEITO: | SPOTIFY: https://open.spotify.com/show/7G0FdzIPuzahmk22NnQxAe?si=HYBEdZASSeWtm27eAEZtFg&nd=1 | | APPLE PODCASTS: https://podcasts.apple.com/pt/podcast/pr%C3%A9-conceito/id1527672333 | | VINTE e SEIS: | SPOTIFY: https://open.spotify.com/show/2BX3uYVrBlEetAs4MCkaSW?si=pz2kuv8uRbi9bPf8mQ3X_g&nd=1 | | APPLE PODCASTS: https://podcasts.apple.com/us/podcast/vinte-e-seis/id1479865138 | | FRACTURA EXPOSTA: | SPOTIFY: https://open.spotify.com/show/6TDwOuybTArgNKhB42cs0j?si=msGtCN17T3iD8yG4WkzPyw&nd=1 | | APPLE PODCASTS: https://podcasts.apple.com/pt/podcast/fractura-exposta/id1539978398 | | Torna-te patrono em: https://www.patreon.com/oPutoDeBarba |

CarneCruda.es PROGRAMAS
El Prestige: memoria de una catástrofe (CARNE CRUDA #1091)

CarneCruda.es PROGRAMAS

Play Episode Listen Later Sep 19, 2022 81:11


Programa en directo desde el Festival Internacional de Cortometrajes de Bueu, Galicia Un año más volvemos al Festival Internacional de Cortometrajes FIC BUEU desde Galicia. Un programa en el que hablamos de los 20 años del Prestige con el actor Miguel de Lira y la compañía de teatro Chevere. Del cine gallego, de la cara B de la conquista de América y la movida viguesa con las cineastas Lucía Estévez y Helena Girón. Todo acompañado con la banda sonora del trío Nacho Faia Lar y su homenaje a Zeca Afonso, el cantautor que puso música a la revolución de Portugal. Más información aquí: http://bit.ly/CCFicBueu22 Defiende tu altavoz aquí: http://bit.ly/ProduceCC

Em directo da redacção
Temporada França Portugal: Música erudita e obras originais em intercâmbio

Em directo da redacção

Play Episode Listen Later Aug 3, 2022 13:40


A Temporada França Portugal, em curso, contempla também a música erudita e um intercâmbio entre a região de Limoges, sudoeste da França, e a segunda maior cidade portuguesa, o Porto. Os maestros Jean-Christophe Gauthier e Eliseu Silva são os principais actores de um projecto que leva partituras e textos conceituados de autores de ambos os países, nomeadamente, tanto ao público francês, como português. Esta semana fica desde já marcada por uma série de concertos em Rochechouart, Abadia de Aubazine e Bénévent l'Abbaye, em três distritos da província da Nova Aquitânia, sudoeste da França. Idêntico programa, incluindo partituras originais, será contemplado no final de Outubro em Portugal, no Porto.  O jovem compositor português Rodrigo Pinto compôs uma obra "Paradis artificiels" (Paraísos artificiais), em torno de um texto do poeta francês Charles Baudelaire de 1860. Por seu lado Jean-Christophe Gauthier, director musical do coro "Madrigal", da zona de Limoges, compôs, para o efeito, uma obra musical em torno do poema "Mar português" da célebre "Mensagem" do poeta luso Fernando Pessoa. Ele começa por levantar o véu sobre a génese deste projecto. Há três anos fizemos um projecto com o Eliseu, na altura eu era director do Conservatório do distrito de Tarn, e ele era maestro do Curso da música Silva Monteiro no Porto. Tanto um como o outro apreciámos muito trabalhar juntos em torno da música. Decidimos, por isso, voltar a trabalhar juntos musicalmente assim que possível. O que nos tinha unido, nessa altura, tinha sido o famoso concerto de Vasks, que é um compositor letão. O concerto que se chama "Distinct light" e que é uma magnífica obra contemporânea, onde o Eliseu era primeiro violino e eu dirigia a orquestra.  Infelizmente durante dois anos, com a pandemia, tal não foi possível. Pelo que, assim que eu soube da Temporada França Portugal, aproveitei a oportunidade para aderirmos a este programa, cientes da sua projecção. Além disso a nossa vontade de trabalhar juntos em torno da música e de intercambiar as práticas entre a França e Portugal, os repertórios, as gerações (porque o Eliseu tem idade para ser meu filho), isso motivou-nos a levar avante este projecto. A cereja no topo do bolo, para mim, foi propôr duas obras originais para este projecto: uma de um jovem compositor de apenas 20 anos que compôs a partir do autor francês Baudelaire e eu que tive a pretensão, por assim dizer, de compor a música para o famoso poema "Mar português" de Pessoa. Deve ter sido um desafio deveras estimulante pegar, precisamente, em "Mar português", da "Mensagem", de Fernando Pessoa, um mito fundador do universo lusitano ! E de que maneira ! E quanto mais tomava consciência da importância do texto mais isso me motivava ! Para mim o que fiz foi uma homenagem ao povo português, a Portugal e à sua língua, que, para mim, é uma única entidade. E, em mais lado nenhum, da literatura portuguesa, eu encontrei isso, embora não conheça bem !  Ainda por cima um texto extraído de uma recolha de poemas na qual Pessoa trabalhou praticamente a vida inteira ! E, parece-me, que aliás foi o único a ser publicado ainda em vida, que é um verdadeiro livro de história de Portugal e da sua cultura, é extraordinário ! Um outro aspecto que me seduziu em Pessoa, já nem sei onde li isso, é quando ele fala da cultura do seu país e dos conquistadores. Ele dizia que Portugal poderia ser uma solução universal para a Europa, certo de inspiração bíblica, mas sobretudo, que ele queria substituir a espada do conquistador pela pena do poeta ! E isso seduziu-me sobremaneira ! Para falar um pouco das várias componentes que integram o projecto, no que diz respeito à parte francesa, há, nomeadamente, o coro Madrigal e também os Ateliers da companhia La tempête de Brive. Pode apresentar-nos, resumidamente, um e outro ? Com certeza ! O coro Madrigal é um efectivo que eu voltei a criar ao voltar à região Limousin, porque trabalhei na província da Occitânia, embora vivendo em Limoges, o que não era muito prático, mas na altura não trabalhava na área musical em Limoges. O grupo coral Madrigal era um antigo colectivo profissional que tive de deixar por não ter tempo na altura. Mas já havia a estrutura, é um colectivo que se compõe daquilo que se chama "grandes amadores", pessoas que aspiram à excelência, de estudantes e também de pessoas que estão em formação profissional. Há profissionais da música, não necessariamente do canto, mas todos sabem cantar muito bem.  Quanto aos Ateliers La Tempête é o grupo prático / amador da companhia La Tempête que é um grupo com residência em Brive La Gaillarde que é dirigida por Simon Pierre Bestion. Por seu lado o maestro Eliseu Silva dirige a Orquestra António Fragoso do Porto, que se deslocou a França, para o efeito. Para além do programa franco-português em causa ele compôs "Os 24 caprichos do fado", inspirado nos "Caprichos" do compositor italiano Niccoló Paganini. Eliseu Silva começa por nos revelar como surgiu a Orquestra António Fragoso, com uma forte componente social, na cidade do Porto, no norte de Portugal. A orquestra António Fragoso começou de um projecto que teve a sua origem há cerca de quinze anos atrás. Este projecto do qual desembocou este projecto da Orquestra de António Fragoso porque foi um projecto, acima de tudo, que teve uma raíz humana e social de integração social muito grande. Portanto comecei um projecto de orquestra há quinze anos num dos bairros mais difíceis da cidade do Porto e pelos seus resultados humanos diferenciadores e marcantes, foi alargado para outros termos, para outros quarteirões ou para outros bairros da cidade do Porto, também difíceis e desfavorecidos, como o caso do Viso e do Cerco. E a orquestra cresceu bastante ! E estes alunos acabaram muitos deles por seguirem a carreira profissional de músicos e, entretanto, pediram-me e sugeriram a criação de uma orquestra. Assim como alguns profissionais, que eram os professores destes alunos, que sugeriam criar uma orquestra mais avançada e uma orquestra profissional. E assim em 2018 criámos a Orquestra António Fragoso porque António Fragoso foi um jovem que morreu muito novo, um jovem promissor. Um compositor que há quem diga que terá sido um dos maiores génios da música portuguesa ! Em 2018 criámos a orquestra com o nome deste compositor, também de certa forma estava a ganhar notoriedade e a verdade é que também foi no centenário da sua morte. Portanto morreu com 21 anos na pandemia 1918. Não sabíamos nós que a pandemia, o COVID, iria rebentar em 2019, portanto foi uma coincidência muito dura para uma orquestra e para jovens artistas. Mas aproveitámos isto da melhor forma, invertemos um bocadinho as regras do jogo, levamos a arte a casa das pessoas. Inclusivamente fizemos um trabalho de laboratório em que compusemos várias obras. Uma delas com o Rodrigo, este jovem compositor compôs os “Paraísos artificiais”. O Víctor Gomes, um compositor já com alguma experiência, compôs um concerto para violino, em homenagem às vítimas do COVID. Gravámos o nosso CD com várias obras, inclusivamente obras minhas inspiradas no fado. Revisitámos também compositores como o Nicolau Medina Ribas que faz curiosamente 190 anos este ano, que foi o Paganini português ! Um grande músico internacional e, portanto, esta orquestra acabou por ter uma dimensão ainda mais plena e mais transversal também muito devido a essas circunstâncias em que aproveitámos estas circunstâncias difíceis para crescer. E assim criámos este projecto também com o Jean-Christophe e, de certa forma, impulsionando vários jovens e menos jovens na música e, acima de tudo, redescobrindo e colocando no panorama internacional compositores portugueses que não eram tão conhecidos com obras absolutamente maravilhosas ! Temos, por exemplo, este autor anónimo do de um cancioneiro do século XVI, não é ? Mas também Manuel Cardoso ! Manuel Cardoso ! Como é que foi para si, pronto, como maestro que é ouvir “Mar português”, agora com a partitura de Jean-Christophe Gauthier ? É absolutamente maravilhoso ! E, depois, o coro, inclusivamente, canta muito bem em português com um sotaque fantástico ! E e eu estou a pensar inclusivamente como é o Jean-Christophe que está a dirigir… Eu estou a pensar inclusivamente juntar-me ao grupo dos baixos no próximo concerto. Portanto com imenso gosto ! Está uma obra absolutamente maravilhosa ! Até estávamos a pensar inclusivamente poder gravá-la porque tem que ser uma obra que tem que ficar de certa forma plasmada para o futuro porque é algo único: absolutamente raro e muito bonito ! É uma homenagem à cultura portuguesa de uma forma brilhante e muito elegante também ! E depois claro há também Ravel, Debussy, Messiaen que são já, obviamente, notabilizados mais que não seja aqui em França e que vão também poder ser ouvidos em território português para além de Vasks não é? Este compositor letão ao qual também Jean-Christophe Gauthier já fez referência. Portanto a primeira fase é agora em território francês, até ao final desta semana. No mês de outubro será um programa idêntico, ou semelhante na cidade do Porto ? Exactamente. É isso mesmo: o que nós iremos tocar em alguns locais na cidade do Porto. Vamos tocar numa igreja de São João da Foz, portanto no centro da cidade do Porto. Iremos tocar também num festival em Felgueiras e também na Cupertino de Miranda, na fundação, com um reportório muito semelhante. E eu sei que também aqui este projeto deu azo a programa especifico seu que você propôs “Os vinte e quatro caprichos do fado”. O que é que é isto? Foi uma loucura muito grande porque eu como músico estava habituado a viver intensivamente a tocar com colegas, com amigos portanto eu de repente vi-me enfiado em casa sem poder sair e decidi escrever os “24 Caprichos” também em homenagem ao Paganini, que este ano faz 240 anos da comemoração do seu nascimento, e também a comemorar os 10 anos do Fado como Património imaterial da humanidade. Portanto foi escrito nessa altura. Portanto é uma homenagem através do violino solo, como são os “24 Caprichos” de Paganini, é uma homenagem à cultura portuguesa. Portanto invoco e inspiro-me em músicas da Amália Rodrigues, de grandes músicos como o Zeca Afonso, Carlos Paredes e obras centrais. Mas também música popular portuguesa de várias regiões de Portugal: desde a Madeira, ao Minho, ao Alentejo, Coimbra também. E, acima de tudo, sempre com uma linguagem virtuosística, violinística, muito virtuosa mas também muito bonita e muito próxima. É essencialmente, também, uma elevação do instrumento do violino como um instrumento polifónico com recursos modernos com recursos interessantes e diferentes. Eliseu Silva, maestro da Orquestra António Fragoso do Porto, e Jean-Christophe Gauthier, maestro do coro Madrigal de Limoges acompanharam-nos neste magazine. Eles que representam duas instituições que protagonizam, no âmbito da Temporada França Portugal, uma série de concertos incluindo monstros consagrados da música e da literatura de ambos os países.

Los conciertos de Radio 3
Los conciertos de Radio 3 - Versiones 5 - 15/07/22

Los conciertos de Radio 3

Play Episode Listen Later Jul 15, 2022 30:02


Quinto y último capítulo veraniego de versiones de esta temporada: escuchamos a Sinatra & Jobim Project con 'My Way' (Frank Sinatra), Morreo con 'Be My Baby' (The Ronettes), Gilipojazz con 'Focus II' (Focus), Reyko con 'Unbeliebable' (EMF), True Enemy con 'The Wolf Bites Back' (Orange Goblin), y Moura con 'Ronda das mafarricas' (Zeca Afonso). Escuchar audio

PNL 2027
Regina Gouveia, "Diversidade", Lucas Arruda de Oliveira, 9 anos, Brasil, EB Zeca Afonso, AE José Maria dos Santos, Pinhal Novo

PNL 2027

Play Episode Listen Later May 6, 2022 1:07


TSF - Postal do Dia - Podcast
Zeca Afonso foi explorado até ao último dia da sua vida

TSF - Postal do Dia - Podcast

Play Episode Listen Later May 2, 2022


edição de 2 maio 2022

Tarataña
Tarataña - Abril de claveles y esperanza, a pesar de todo - 24/04/22

Tarataña

Play Episode Listen Later Apr 24, 2022 59:39


El mes de abril siempre parece que viene cargado de esperanza, la primavera estalla, las revoluciones se hacen con claveles y se canta al amor de corazón. Pero también son frustrantes: el mundo sigue siendo un lugar feo, aunque lleno de gente hermosa. Le cantamos al amor y al desamor, no todo está perdido, y hay que estar siempre armados de valor. Estas canciones pueden ayudar a ello: Luis Pastor y Javier Ruibal, “Aguas abril”; Luis Pastor, “Abril del desamor” (con Pedro Pastor); Domingo Henares, “Paloma desesperada”; Uxía y Javier Ruibal, “Romance de la luna, luna” y “Falares de amor”; Mercedes Sosa, “Yo vengo a ofrecer mi corazón”; Pía Tedesco, “Celebración”; Ixo Rai!, “Romance la Guardia Civil Española” y “Donde quisimos vivir”; Matta Rough, “Jota de Hecho” y “Ball de Benás”; y Zeca Afonso, “Grándola vila morena”. Escuchar audio

Ahora Jazz
Ahora Jazz (20/04/22)

Ahora Jazz

Play Episode Listen Later Apr 20, 2022


Con Clifford Brown & Max Roach, Marina Eco, Nicholas Payton, Ze Eduardo y Kenny Drew & N.H.O.P entre otros. Acudimos una semana más al sello del colectivo valenciano Sedajazz en nuestro tiempo de estrenos estatales. Así, presentamos nueva entrega y publicación en su catálogo que nos sirve para conocer a la cantante Marina Eco. "Smoke Sessions", de Nicholas Payton para el sello del club de jazz neoyorkino de mismo nombre, protagoniza el capítulo de estrenos internacionales. Es su última grabación como líder hasta la fecha. Tiempo también para la agenda de conciertos como cada miércoles y para nuestros obligados de la semana; "Grándola, Vila Morena", la ya mítica composición de Zeca Afonso que acompañó y sirvió de himno al movimiento revolucionario "25 de abril" de nuestro país vecino, en grabación del no menos referente del jazz en Portugal (y España) Zé Eduardo, es nuestro "Favorito de la semana" y "Do you know what it means to miss New Orleans", de L.Alter y E.de Lange a través de la dupla K.Drew y N.H.O.P, el "Estándar".  Con Javier del Barco.

Néo Géo
L'intégral : L'Universalisme de Mame Fatou Niang et Julien Suaudeau, un Musikactu congolais et les Worldmix caribéens de Dj Bé et Judah Roger

Néo Géo

Play Episode Listen Later Mar 21, 2022 101:48


VENT D'AILLEURS Un vent d'ailleurs souffle sur Néo Géo avec le musicien brésilien Caetano Veloso. Il organisait le 9 mars une manifestation devant le Parlement de Brasilia contre la politique environnementale du président Jair Bolsonaro. Appelé « Ato pela terra » (Acte pour la Terre), ce mouvement dénonce notamment les projets de loi permettant l'utilisation prochaine de terres autochtones pour des exploitations minières. Les artistes Seu Jorge, Daniela Mercury, Emicida, Criolo, Duda Beat ou encore Nando Reis étaient présents. Un événement que nous raconte Bintou. MUSIKACTUCette semaine, le Musikactu nous emmène au Congo, de Kinshasa à Brazzaville avec le chroniqueur Olivier Mukiandi.Trois découvertes avec la nouvelle scène rap inspirée de la rumba congolaise, qui oscille habilement entre les deux genres (avec groupe MPR , Innoss'‘B et Young Ace Wayé). LE MAG D'ICI ET D'AILLEURS Rencontre avec Julien Suaudeau et Mame-Fatou Niang, pour leur essai Universalisme, paru aux éditions Anamosa le 3 février. Enseignants et documentaristes, leur ouvrage propose une lecture de la société qui n'efface pas l'histoire de La France et de ses ex-colonies, et n'occulte pas son héritage. LE COUP DE CŒUR DE BINTOU “La France enchantée” au Trianon le 28 mars. Bintou échange avec la journaliste Élodie Maillot qui a entrepris de produire un grande soirée rassemblant musiciens, chanteurs et chanteuses qui vont former des duos inédits (Frànçois and The Atlas Mountains et Cindy Pooch, Arandel et Emmanuelle Parrenin, etc.) et interpréter des morceaux qu'ils portent au fond du cœur. LE CLASSICO Pour ce Classico, la journaliste Véronique Mortaigne revient avec Bintou sur le titre “Grandola, vila morena” du musicien militant portugais Zeca Afonso. WORLDMIX : Les nouveautés reggae jamaïcaines de Judah Roger Cette semaine, Judah Roger livre un Worldmix cent pour cent reggae avec de nouvelles trouvailles dont lui seul a le secret. Avant son envol vers la Nouvelle-Calédonie, direction la Jamaïque pour cette sélection « reggae roots et moderne, qui tend vers le dancehall ». Voir Acast.com/privacy pour les informations sur la vie privée et l'opt-out.

Altamont
Rádio Clube Altamont #2 - Zeca Afonso | Black Country, New Road | Dave Grohl

Altamont

Play Episode Listen Later Mar 2, 2022 60:05


Rádio Clube Altamont, parceria Altamont.pt e Futura - Rádio de Autor coloca este mês em cima da mesa "Cantigas do Maio", disco de Zeca Afonso que será alvo de re-edição, o novo disco de uma das bandas britânicas do momento - "Ants From Up There" dos Black Country, New Road e por fim o livro de memórias de Dave Grohl, um dos grandes.

Emotipod: Emotions in the Arts

Portuguese singer Claudia Aurora and Frances dig down into the essence of Fado, that powerful, emotion-packed song tradition from Portugal.  Claudia also shares  her own story; how she started singing Fado, how with her husband Javier Moreno she has branched out with a new project called Auroora, and touches on the necessity for a healthy work/life balance.Auroora YouTubeClaudia Aurora YouTubeAuroora on SpotifyClaudia Aurora on SpotifyClips of Claudia's songs in this episode:Mãos de LuarPoemaAmarSou capazDespedidaClaudia's influences:From Portugal:Amália Rodrigues, Zeca Afonso, Sergio Godinho, Jorge Palma, Dulce Pontes, Antonio Variações.-From Brazil:Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethania, Dolores Doran-Rock:Janis Joplin, Led Zeppelin, Lou Reed, Bob Dylan, Neil Young, Neil Diamond, Cowboy Junkies-Jazz:Billie Holiday, Nina Simone, Etta James, Dinah Washington, Maria João & Mario Laginha--Recorded October 2021--WHOLE SERIES AVAILABLE ON MOST PODCAST PLATFORMS.Subscribe for news and updates on https://www.francesbutt.com/emotipod 

Grandes Voces do Noso Mundo
Ep. 251: NOVO TRIBUTO GALEGO AO ZECA AFONSO [Grandes Vozes]

Grandes Voces do Noso Mundo

Play Episode Listen Later Nov 28, 2021 60:42


O livro intitulado José Afonso, Todas as Canções. Partituras, Letras, Cifras reúne estes materiais relativos a 159 canções da autoria do Zeca Afonso, compiladas e transcritas por Guilhermino Monteiro, José Mário Branco, João Lóio e Octávio Fonseca. Nestes dias, o novo tributo ao cantor da revolução foi celebrado com diversos eventos culturais celebrados nas cidades galegas de Vigo, Vila Garcia, Corunha, Ferrol e Compostela. Com a colaboração do Xico de Carinho, nós conversamos com Guilhermino Monteiro e com Henrique Marques.

Os 230
Isabel Oneto - PS 84/230

Os 230

Play Episode Listen Later Nov 27, 2021 43:48


Deputada à Assembleia da República pelo Partido Socialista, a deputada Isabel Oneto diz-nos que desde cedo entendeu que a política deve ser discutida a qualquer momento e em qualquer lugar. Entende que a "política não se vive à distância" e que o futuro deverá ser planeado e não imposto.

Artes
Artes - Grândola Vila Morena revoluciona “A Casa de Papel” da Netflix

Artes

Play Episode Listen Later Oct 5, 2021 9:56


É uma canção histórica para os portugueses e está agora a fazer história numa das séries mais populares da Netflix, “A Casa de Papel”. Cinquenta anos depois de Grândola Vila Morena ter sido gravada em Paris por Zeca Afonso, a cantora que a reinterpreta, Cecilia Krull, está também em Paris a gravar o primeiro disco e deverá incluir a canção que descreve como “uma ode à liberdade”. Foi em 1971, no célebre estúdio do Château d'Hérouville, a 30 quilómetros de Paris, que Zeca Afonso gravou Grândola Vila Morena, a canção que três anos depois seria uma das senhas para a Revolução dos Cravos. Símbolo de liberdade e de resistência contra a ditadura, Grândola Vila Morena aparece reinterpretada, em 2021, numa das séries mais populares da Netflix, "A Casa de Papel". A voz é de Cecilia Krull, que também interpreta a música do genérico da série, “My Life is Going On”. A cantora franco-espanhola está em Paris a gravar o seu disco de estreia, que deverá incluir uma versão de Grândola Vila Morena. “A verdade é que não sabia que Zeca Afonso tinha gravado a Grândola aqui e parece-me, mais uma vez, uma obra maravilhosa do destino, uma coincidência fantástica e fico muito contente e muito feliz (...) O meu disco é pessoal, fora da série, fora dos filmes, é um projecto pessoal com canções muito melódicas, com tons de electrónica analógica, mas também é um disco orgânico, com muita musicalidade. Estou muito feliz de poder lançar o meu primeiro disco e a Grândola creio que sim, que vai entrar no disco”, contou a cantora à RFI, em Paris. Nas primeiras temporadas, o hino da série era "Bella Ciao" e agora surge a "Grândola Vila Morena". Para Cecília Krull, ambas as músicas são "odes à liberdade", à imagem de uma série que se apresenta como um manifesto pela resistência. “O que o Álex Pina quis transmitir é a mensagem da própria canção. É uma mensagem que fala da liberdade, creio que também tem a ver com a resistência: a resistência tanto do grupo da série como do povo, afinal de contas. É como a representação do povo através dessa equipa de ladrões com nomes de cidades do mundo, incluindo Lisboa”, considerou. Como transformar um hino de uma revolução histórica pacífica numa canção épica de uma série Netflix? Para Cecilia Krull, o segredo é jogar com o contraste: “é contrastar imagens tão violentas com uma canção que fala de liberdade e de paz”, explicou a cantora, sublinhando, a sorrir, que é uma pergunta a que só o realizador Álex Pina poderia responder. E de acordo com Gisela Chaló Gomes, agente de Cecilia Krull em Portugal e no Brasil, bastaram “24 horas” para que a reinterpretação da Grândola Vila Morena fosse “uma das músicas mais buscadas no Youtube”. Portugal aparece em destaque nesta quinta temporada. Lisboa aparece várias vezes, continua a ser o nome de uma das personagens e há a "Grândola Vila Morena" a marcar o compasso de um dos episódios mais marcantes. O próximo capítulo está "fechado a sete chaves" mas a "Casa de Papel" promete voltar a piscar o olho a Portugal. A 3 de Dezembro, surgem os novos episódios que deveriam pôr um ponto final na história. No entanto, como insiste uma das protagonistas enquanto se ouve a Grândola Vila Morena, há “muitas vidas por viver” e não é de excluir que a Netflix produza um ‘spin-off' a partir da vida de uma das personagens.

Clepsidra: Conversas de Café à Mesa da Rádio
Clepsidra de 3 de setembro de 2021

Clepsidra: Conversas de Café à Mesa da Rádio

Play Episode Listen Later Sep 3, 2021 59:40


A música do Zé Mário Branco, do Zeca Afonso e dos Trovante abrem caminho a esta Conversa de Café à Mesa da Rádio. As trotinetas e a sua perigosidade, os vampiros, acertar num boi com pistola Walther, lanchas encalhadas da GNR, coisas deste mundo e do outro povoam esta emissão. Fica plasmado, neste programa, o espanto sobre o estado das coisas no Estado do Texas, onde o direito de usar armas é inalienável e a denúncia dessas terríveis criminosas que praticam o aborto um dever sagrado, além do mais pago... com 10.000 dólares. Recupera-se, ainda, a discussão sobre a Europa, um possível futuro exército europeu, etc. e tal.

Quintas do Avante!
Episódio 17: Daniel Pereira Cristo (Músico)

Quintas do Avante!

Play Episode Listen Later Aug 26, 2021 42:14


Especialista em cordofones tradicionais, o músico Daniel Pereira Cristo fala-nos da sua missão de divulgador da música do noroeste peninsular, da necessidade de outras formas de apoiar e divulgar a cultura e do papel da Festa do Avante em apostar em artistas e expressões culturais com menos projecção mediática. Uma conversa por onde passou Zeca Afonso, a necessidade de investir no Serviço Nacional de Saúde e a ideia de que o capitalismo não é verde.Fica ainda a promessa de novo disco no início do próximo ano.

Conversas de Fim de Tarde
Pedro Jóia: "Vou atrever-me a pegar nesse material sagrado"

Conversas de Fim de Tarde

Play Episode Listen Later Jun 18, 2021 12:01


Pedro Jóia vai arriscar na música barroca. "Vou pegar no barroco e transportá-lo para a minha guitarra". É o que promete o artista que o ano passado lançou um disco em homenagem a Zeca Afonso. See omnystudio.com/listener for privacy information.

Tarataña
Tarataña - La fraternidad - 25/04/21

Tarataña

Play Episode Listen Later Apr 25, 2021 60:06


En cada esquina un amigo, en cada rostro, igualdad. 25 de abril, 47 años después. Pero seguimos descubriendo el eco mediterráneo de Galicia, reivindicamos las dulzainas, tan ibéricas frente a la globalización, y disfrutamos los aromas de geranio, romero y claveles en esta primavera que queremos seguir viviendo en una tierra de fraternidad, aunque cada día parezca más lejana. Y elegimos este repertorio: Jako el Muzikante, “Ven al Luna Park”; Xurxo Fernandes, “Maneo de Rabo de Lobo” y “O pato”; Rompiendo el baile, “Entradilla”; Escuela de Folklore Plaza de Castilla, “Pasacalles de Algora” y “Pasacalles del Corpus de Sienes”; Entavía, “Esta noche ha llovido” y “Ajechao del Frejol”; Ringorrango, “Geranio” y “Romero”; Zeca Afonso, “Grándola Vila Morena”; y Alicornio, “Las despedidas” (25/04/2021) Escuchar audio

Mesokosmos Historia
Capitanes de abril. La Revolución de los Claveles

Mesokosmos Historia

Play Episode Listen Later Apr 22, 2021 56:31


¿Quiénes eran los capitanes de Abril? ¿Qué papel tuvo Salgueiro Maia? ¿Qué fue la revolución de los claveles? ¿Qué consecuencias tuvo en Portugal y en sus colonias dicha revolución? ¿Dónde nos puedes encontrar?  Somos iVoox Originals Facebook: Mesokosmos Historia Twitter: @mesokosmos2019  Instagram: Mesokosmos Historia Linkedin: Mesokosmos Historia Correo electrónico: mesokomoshistoria@gmail.com   Nos puedes patrocinar a través de iVoox en la pestaña azul de apoyar y tendrás acceso a sorteos, material adicional y podcast exclusivos Cada jueves tienes una cita con la Historia a partir de las 20:00 hora española. Atribuciones musicales  1- Zorro by Tulio Borges 2 - Blue Dreems by Cheel 3 - Contours by Anitek 4 - Grandola Vila Morena by Zeca Afonso https://archive.org/details/GrandolaVilaMorena 5 - Please listen carefully by Jahzzar 6 - Dichotomie by Alicia Sevilla 7 - Nosso Fado by Kutu https://www.youtube.com/watch?v=0ptwEgcN7qA CAPITANES DE ABRIL. LA REVOLUCIÓN DE LOS CLAVELES Capítulo: 56; Super8: 14; Temporada: 2 Escucha el episodio completo en la app de iVoox, o descubre todo el catálogo de iVoox Originals

Grandes Voces do Noso Mundo
Ep. 218 - Dario Rocha [Grandes Vozes do Nosso Mundo]

Grandes Voces do Noso Mundo

Play Episode Listen Later Apr 10, 2021 60:19


Dario Rocha [Vila Nova de Gaia | 1 de Março de 1980] estudou Guitarra Clássica com Francisco Gomes na Academia de Música de Viana do Castelo, onde concluíu o Curso Secundário de Música. Prosseguiu os estudos com Román González, Begoña Larriba e António Rocha, no Conservatório Superior de Música de Vigo, sob a orientação de Margarita Escarpa. Paralelamente frequentou aulas de Guitarra Jazz com Carlos Mendes, de Guitarra Acústica com Rui Vilhena e concluiu os cursos: Electric Guitar LEVEL 3 (Grade 8) e Popular Music Theory LEVEL 3 (Grade 8) RSL (Rockschool Limited, United Kingdom). Leciona guitarra em várias escolas do Alto Minho. Integra vários projetos musicais e tem uma sólida carreira a solo como intérprete. Destaque para o seu projeto de homenagem a Zeca Afonso: “De Não Saber O Que Me Espera”, constituido por músicos do Alto Minho. Também, para o duo aMar&Dar, com a sua esposa Marlene Rodrigues, onde revisitam repertorios em vários idiomas e de vários estilos. A sua recente aventura pelo fado, integrando várias formações e acompanhando vários fadistas. Integra a Big Band da Zé Pedro - Associação Musical (Viana do Castelo). Recentemente participou como músico convidado nos projetos galegos: Xardin Desordenado e ISGACollective, este ultimo no Festival InterFado 2020 na cidade de Lleida. Colabora com outros artistas como músico, arranjador e produtor. É licenciado em Design do Produto (ESTG/IPVC).

Grandes Voces do Noso Mundo
Ep. 217 - Néboa [Grandes Vozes do Nosso Mundo]

Grandes Voces do Noso Mundo

Play Episode Listen Later Apr 3, 2021 61:19


Fanse chamar Néboa. Teñen un disco de título moi acorde co nome do grupo -A realidade enganosa- e dedícanse a facer materia prima para a festa: unha música resultado da síntese estilística do pop ao rock e da fusión da "de antes" e da "de agora". Acaban de ser finalistas no Certame Aritmar onde foron valorados por nada máis e nada menos que cinco mil persoas. No Grandes Vozes queremos coñecelos en primeiro plano. "Venham mais cinco", como diría o Zeca Afonso!

Campus Grenoble
Intrinsèque #5 – Février 2020

Campus Grenoble

Play Episode Listen Later Feb 5, 2021


    FÉVRIER BANCAL. Voici la possibilité de réécouter l’émission intrinsèque du mois de février. Avec dans son propre contenu intrinsèque: Zeca Afonso, Brigitte Fontaine, La Saumure, Sheldon, Puzz Mama & Etik, Henri Salvador, Selda Bagcan, Gilles Servat, Les Frères... Continue Reading →

Radio Résonance
Rencontres Lusophones 30 01 21

Radio Résonance

Play Episode Listen Later Jan 30, 2021 60:00


01 - Emmy Curl & Salto Rio Seco - De Que Morir   4 34 02 - JP Simoes & Norberto Lobo - Cancao da Paciencia   2 29 03 - Sergio Godinho - A Noite Passada   4 23 04 - Zeca Afonso - Os Bravos   2 51 05 - Zeca  Afonso - Ronda dos Paisanos   3 05 06 - Tiago Bettencourt - Ouve-Bem    3 48 07 - Tiago Betencourt - Aquilo Que Eu Na o Fiz   3 32 08 - Zeca Afonso & UHF - A Morte Saiu Rua   4 46 09 - Virgem Suta - Não Sou Deste Lugar   3 38 10 - Emmy Curl - Maio Maduro Maio    3 05 11 - Sergio Godinho - Romance de um dia na Estrada   4 02

Radio Résonance
Rencontres Lusophones 30 01 21

Radio Résonance

Play Episode Listen Later Jan 30, 2021 60:00


01 - Emmy Curl & Salto Rio Seco - De Que Morir   4 34 02 - JP Simoes & Norberto Lobo - Cancao da Paciencia   2 29 03 - Sergio Godinho - A Noite Passada   4 23 04 - Zeca Afonso - Os Bravos   2 51 05 - Zeca  Afonso - Ronda dos Paisanos   3 05 06 - Tiago Bettencourt - Ouve-Bem    3 48 07 - Tiago Betencourt - Aquilo Que Eu Na o Fiz   3 32 08 - Zeca Afonso & UHF - A Morte Saiu Rua   4 46 09 - Virgem Suta - Não Sou Deste Lugar   3 38 10 - Emmy Curl - Maio Maduro Maio    3 05 11 - Sergio Godinho - Romance de um dia na Estrada   4 02

Artes
Artes - Vhils expõe "fósseis contemporâneos" e pára o tempo em Paris

Artes

Play Episode Listen Later Oct 9, 2020 15:19


Vhils está de volta a Paris com a exposição “Momentum” na Galeria Danysz, de 13 de Outubro a 23 de Dezembro. A mostra fala sobre “a condição humana num momento em suspenso” de pandemia e de confinamentos. O artista apresenta cerca de 30 obras inéditas que são “fosseis contemporâneos” de um presente quase distópico e que ditou a compressão do espaço social, individual e urbano. Do "amor pela ruína" à arqueologia do presente, a conversa com Alexandre Farto (Vhils) começa com a explicação da mostra “Momentum” na Galeria Danysz, em Paris. Momentos antes da entrevista, o artista português mostrava a exposição a um amigo, um ilustre conhecido no mundo da arte urbana internacional, o francês JR, com quem trabalhou e deve voltar a trabalhar. “Momentum é um reflexo do momento em que vivemos, em suspenso. Todo o trabalho que está aqui vinha de uma reflexão de quase dois anos de pesquisa e materializou-se nos últimos seis a oito meses quando basicamente fiquei sem projectos e viagens e fiquei fechado no atelier. Parte do trabalho que está aqui foi um bocadinho uma reflexão sobre isso. Sobre a condição humana no tempo em que vivemos – o meu trabalho sempre fez essa pesquisa da condição humana no espaço urbano – mas, acima de tudo, o momento de suspensão em que vivemos e também o impacto que tem na nossa saúde mental e todas as questões que se estão a levantar”, começa por descrever Alexandre Farto. Entre as questões “que estavam presentes mas que estavam latentes na sociedade” e que, “de repente ficaram mais visíveis e expostas”, está a exposição “como nunca antes a todos os estímulos visuais, de comunicação, de publicidade, até em termos políticos” e a privação de coisas básicas por causa da crise sanitária. “O trabalho que eu tentei fazer aqui foi um bocadinho criar os fósseis contemporâneos do momento em que vivemos, quase como uma reflexão sobre o momento em suspenso em que vivemos”, continua. “Momentum” conta com mais de 30 obras feitas a partir de “materiais que a cidade vai expelindo ou esquecendo”, num despertar para a “maneira como a sociedade está montada de forma descartável” e “o quão aquilo que nos rodeia é efémero e abandonado”. “Há aqui um processo de reaproveitamento e de amor à ruína, de dar valor à ruína e de trazer aquilo que nós não damos valor ao de cima. Isso também é um acto político no seu sentido lato”, explica. Nesta abordagem de arqueólogo do presente, Vhils vai buscar restos das cidades ou esculpe rostos em paredes monumentais. Aqui, em “Momentum”, os materiais são mais compactos e delicados. As pilhas de cartazes de rua são coladas entre resina e flutuam num espaço transparente, um quadro ou uma escultura sobre suporte metálico, deixando ver as diferentes camadas voluntariamente fossilizadas pelo artista. “Todos esses materiais que vou buscar são materiais da contemporaneidade e também trabalho sobre os desafios da sustentabilidade toda do planeta neste momento. São materiais que representam esta era, com tudo de mau e de bom”. A maior peça da exposição está à entrada, na fachada da galeria, com lâmpadas florescentes alinhadas na diagonal e que quando se iluminam, por intermitência, revelam um rosto. “Vem um bocadinho nesta coisa de utilização de materiais mundanos, a que não damos valor. São basicamente lâmpadas florescentes que é uma coisa massificada altamente tóxica e que ali não são feitas desta forma, são feitas de outra, mas também é algo que nos representa. Por outro lado, é também a suspensão e a intermitência da Humanidade. É o ponto em que estamos, a intermitência das nossas liberdades, do nosso momento de viver, com as grandes questões que estão a ser levantadas com toda a situação em que estamos. É nessa peça que está maioritariamente desligada que, de vez em quando, se consegue ver a Humanidade, mas é como se a nossa Humanidade ficasse em suspenso nestes últimos tempos”, afirma. Outra peça em exposição é uma compressão que faz pensar nos trabalhos do escultor neo-realista francês César, mas aqui são rostos e olhares que são comprimidos porque se está a esgotar um modelo de sociedade. “Ultimamente, com todo o modelo de desenvolvimento global, com a eficiência máxima do uso do espaço dentro da cidade, com as casas cada vez mais pequenas, com o espaço do ser humano a ser cada vez mais eficiente mas também cada vez mais apertado, esta compressão está a chegar a um limite em que ainda não percebemos bem o que vai acontecer a seguir mas, principalmente com a pandemia, todo esse processo foi acelerando cada vez mais.” Há obras que, pelo contrário, sugerem uma certa expansão, com diferentes camadas que sobressaem de um suporte translúcido à medida que o visitante se aproxima ou se afasta. São obras que “têm um olhar mais positivo”, mas também têm “a componente humana que se mistura com as cidades, com os anúncios de publicidade”. “Ou seja, a própria identidade que muitas vezes estava presente no meu trabalho de uma forma muito pura e clara, em quase todos os trabalhos está a caminhar para uma abstracção e uma mistura com uma série de paisagens urbanas ou de grafismos ou de imagens às quais somos expostos todos os dias. Nessa perspectiva, cada peça tem nela todos os medos e todas as ambições e esperanças.” Neste ano atípico, Alexandre Farto esculpiu um mural de Zeca Afonso, no dia 25 de Abril, numa das paredes de sua casa para lembrar a importância das liberdades “num tempo de pandemia em que todos estavam restringidos”. Fez, ainda, um mural no Hospital de São João no Porto dedicado aos profissionais de saúde que combatem a covid-19 e convidou vários artistas para exporem obras criadas durante o confinamento na sua galeria em Lisboa, a Underdogs. Vhils foi, ainda, um dos seleccionados para um apoio da Netflix e do Instituto do Cinema e Audiovisual para avançar com o documentário “Paredes Brancas, Povo Mundo”. “A ideia é falar sobre as manifestações artísticas, legais ou ilegais, no espaço público em Portugal desde 1974 até hoje. A meu ver é algo que está muito esquecido. Há muito esta ideia que o graffiti e a ‘street art’ só surgiram agora, mas a história que existe com as paredes em Lisboa e Portugal vem de muito atrás, desde os azulejos, às políticas questionáveis do Estado Novo de arte no espaço público, até aos muralistas de 74, às pinturas colaborativas que existiam e que aconteceram em vários sítios em Lisboa, aos movimentos anarcas e okupas que durante os anos 80 pintaram muito no espaço público, ao graffiti que surgiu nos anos 90, à ‘street art’ que surgiu em 2000… Tende-se a esquecer um pouco a riqueza histórica que existe das paredes de Portugal e que foram sempre espaço de liberdade, manifestação pessoal, política, artística.”    

Abertamente
Episódio 2 - Cultura e Economia com Ana Paula Laborinho

Abertamente

Play Episode Listen Later Oct 8, 2020 45:36


No segundo episódio de abertamente recebemos Ana Paula Laborinho, directora da OEI Portugal, para uma conversa sobre dois temas aparentemente distantes mas muito próximos - cultura e economia. Neste episódio escutamos música de José Mário Branco, Zeca Afonso e por motivos que só a nossa convidada poderá explicar um manifesto muito especial por Mário Viegas. 

Vida em França
Vida em França - Sou Alam, o regresso aos palcos do cantor português e mirandês

Vida em França

Play Episode Listen Later Sep 10, 2020 9:36


As actividades artísticas em França têm uma retoma um pouco aquém das expectativas, isto devido às medidas sanitárias cada vez mais drásticas e também ao medo que o público pode sentir por ficar em contacto com outras pessoas num recinto fechado. O desconfinamento ocorreu em Maio, no entanto as actividades artísticas recomeçaram só em Julho. Desde então as críticas chovem sobre o Governo, visto que os profissionais dessas mesmas actividades querem medidas mais leves nos recintos de  concertos, espectáculos, ou ainda nos cinemas e museus. No entanto com o recrudescimento de casos em França, várias províncias e distritos estão novamente em zona vermelha, o que significa que o vírus está activo e continua a circular. Os artistas têm sofrido dessa falta de trabalho sobretudo ao nível financeiro. Sou Alam, de seu verdadeiro nome Alain Paulo, vai realizar o seu segundo concerto a 19 de Setembro na Comédia Nation em Paris. Sou Alam, que nasceu em França em 1970, tem a particularidade de ser um artista que canta em português, mas também na língua específica da região de onde é originário em Portugal, o mirandês. Para a RFI, o lusodescendente abordou as dificuldades que os cantores têm com a falta de concertos, começando por abordar esse regresso aos palcos a 19 de Setembro. Sou Alam, filho de imigrantes portugueses em França, vai interpretar a 19 de Setembro um repertório constituído de música de Zeca Afonso, mas igualmente de melodias em mirandês, segunda língua oficial de Portugal, o toque especial deste artista.

Domínio Público Extra
Já é lei. A Direção-Geral do Património Cultural publicou em Diário da República a abertura do processo de classificação da musica gravada de Zeca Afonso como património nacional. É a primeira vez que gravações são consideradas património. O Daniel Belo

Domínio Público Extra

Play Episode Listen Later Sep 2, 2020 8:29


as ABOVE so BELOW
AQUI CABEM BRUNO CANDÉ, WISLAWA SZYMBORKSA E ZECA AFONSO-EP.BÓNUS

as ABOVE so BELOW

Play Episode Listen Later Aug 2, 2020 4:21


Celebremos a vida destes 3 incríveis com um poema. Político. Over n'out --- Send in a voice message: https://anchor.fm/margarida-rodrigues2/message

Imperdíveis
“Tenho a sorte de conseguir chorar”

Imperdíveis

Play Episode Listen Later Jun 21, 2020 47:30


Zé Pedro Gil, músico, canta, toca, faz negócios, cria marcas e tem 3 filhos. Demorou a mostrar-se ao público por trabalhar com grandes músicos. Fascinado pelo património lírico-poético de Zeca Afonso, canta as suas canções. Está a preparar um disco de originais e vai prestar homenagem ao Bernardo Sassetti no dia em que ele faria 50 anos.

Expresso - A Beleza das Pequenas Coisas
Germano de Sousa: “A maioria de nós vai apanhar covid-19”

Expresso - A Beleza das Pequenas Coisas

Play Episode Listen Later May 15, 2020


Ele é patologista e administrador de uma rede de laboratórios privados que está na linha da frente na realização de testes de diagnóstico e serológicos para a covid-19. Desde março, só nos seus laboratórios foram realizados mais de 87 mil testes, alguns a pedido do SNS. Sobre as acusações de faturar milhões com a pandemia, Germano de Sousa nega o que considera serem "bocas perfeitamente parvas" e diz-se "farto desse tipo de conflitos com a verdade, de origem ideológica". O antigo bastonário da Ordem dos Médicos prevê uma vacina até à próxima primavera e faz um reparo à DGS: "Deveríamos ter começado a usar máscaras mais cedo." E ainda recorda as peripécias passadas com Zeca Afonso, em Coimbra, os momentos difíceis durante a guerra em Angola, como lá teve de fazer o primeiro parto da sua mulher ou as partidas que o amigo e atual Presidente Marcelo Rebelo de Sousa lhe pregava de madrugada, em Cascais. No final, canta-nos um fado à capela. E para que serve um podcast senão para momentos destes? Ouça e subscreva a “A Beleza das Pequenas Coisas"

Radio Résonance
Rencontres Lusophones 02 05 20

Radio Résonance

Play Episode Listen Later May 2, 2020 60:00


01 - Luís Severo - Planície (Tudo Igual) 02 - Duarte Pestana - Angola é nossa 03 - Joao Maria Tudela - Marcha do Soldado Português 04 - Zeca Afonso - Ronda dos Paisanos 05 - Zeca Afonso - Menina dos Olhos Tristes 06 - Adriano Correia de Oliveira - Canção com Lágrimas  07 - Monsieur-le-baron-alda-espirito-santo 08 - Paulo de Carvalho - Mae negra 09 - Zeca Afonso - Menino do Bairro Negro 10 - Soldat Anonyme - Hino do Lunho 11 - Paulo de Carvalho - Nambuangongo meu Amor  12 - Zeca-Afonso-os-bravos 13 - José Màrio Branco - Ronda do soldadinho 14 - Francisco- Fanhais-Porquê

Actualidade - Renascença V+ - Videocast
25 de abril em quarentena. Portugueses cantaram "Grândola Vila Morena" à janela

Actualidade - Renascença V+ - Videocast

Play Episode Listen Later Apr 25, 2020 1:35


Em pleno estado de emergência, e sem comemorações na rua, portugueses um pouco por todo o país (e não só), seguiram o apelo da Associação 25 de Abril e cantaram "Grândola Vila Morena", de Zeca Afonso, à janela.

Tarataña
Tarataña - Claveles de abril - 25/04/20

Tarataña

Play Episode Listen Later Apr 24, 2020 59:11


Este fin de semana, nos gustaría llenar la Tarataña, y el mundo entero, de claveles. Para eso, empezamos recordando que tal día como hoy de hace 46 años la península ibérica empezó a cambiar de verdad. Un grándola en el corazón que nos lleva después a otra revolución, la de los Comuneros de Castilla unos siglos antes. Pero tratamos otros asuntos añorando, entre otros, festivales como N’Ca Mayalde y Poborina, que no se van a poder celebrar. Esto es un repertorio hermoso para una primavera confinada: Banda Futrica, “Grándola Vila Morena”; Amalia Rodrígues, “Grándola Vila Morena”; Zeca Afonso, “Grándola Vila Morena”; Ángel Lévid, Divertimento Folk, Abrojo Folk, Los Dulzaineros de Tierra de Pinares, La Atalaya, Alquitara y Jaime Vidal, “Castilla, tierra de esperanza”; Ronda Astí queda ixo!, “Poborina Folk” y “El tren del olvido”; Mayalde, “Preso en la prisión de Burgos” y “La regadera”; Cuadrilla de Aledo, “Luis”, “Parrandas largas” y Estrella Morente, “Manuel” Escuchar audio

Paroles d'histoire
79. L’histoire en chansons sur l’Histgeobox, avec Julien Blottière

Paroles d'histoire

Play Episode Listen Later Nov 5, 2019 57:10


L’invité : Julien Blottière, professeur d’histoire-géographie et animateur de l’Histgeobox La discussion : Comment est né le blog Histgeobox, et son principe de fonctionnement Quelles pratiques pédagogiques pour associer chansons et histoire ? Un parcours à travers les chansons : Bob Dylan, The Death of Emmet Till (1962) Zeca Afonso, Grândola Villa Morena (1972) Bob Marley, Zimbabwe (1979) Fela … Continue reading "79. L’histoire en chansons sur l’Histgeobox, avec Julien Blottière"

Radio Résonance
Rencontres Lusophones 14 09 19

Radio Résonance

Play Episode Listen Later Sep 14, 2019 60:00


01 - Capitão Fausto - Ideias   3 39 02 - Yolanda Soares - Lianor 03 - Zeca Afonso - endechas a Barbara 04 - Teresa Silva Carvalho - Verdes sao os campos 05 - Amalia Rodrigues - Erros meus 06 - Nelson Dejanny - o amor é um fogo que arde 07 - Amalia Rodrigues - com que voz 08 - Jose Mario Branco - mudam-se os tempos, mudam-se as vontades 09 - Fausto - Lembra-me um Sonho Lindo

Expresso - Palavra de Autor
Palavra de Autor #26 Adelino Gomes: “O Zeca Afonso era a normalidade em tempos anormais”

Expresso - Palavra de Autor

Play Episode Listen Later Jul 3, 2019


Gravações de dois concertos de José Afonso ficaram esquecidas durante anos nos arquivos pessoais de dois homens: Jorge Rino e Manuel Mina. Não são gravações profissionais, e estão separadas por alguns anos e uns tantos acontecimentos políticos, nomeadamente, a Crise Académica, o 25 de Abril e o PREC. Foram feitas no entusiasmo do momento. Primeiro em Coimbra, a 4 de Maio de 1968, apenas um dia depois do Maio de 68 em Paris, antes da luta académica ganhar fulgor, depois em Carreço, a 13 de Fevereiro de 1980, depois da direita ter ganhado as primeiras eleições democráticas. As gravações inéditas são alvo de uma edição que reúne dois CDS e um Vinil, “José Afonso Ao Vivo”, e inclui uma investigação de Adelino Gomes que contextualiza o momento em que estes concertos aconteceram

Ponto Final, Parágrafo
Episódio 13 - José Ribeiro - Ulmeiro

Ponto Final, Parágrafo

Play Episode Listen Later Apr 30, 2019 49:59


“O difícil comércio das palavras” – este é um verso que Eugénio de Andrade envia a José Ribeiro. José aproveita-o para o título de um dos seus livros e resume bem esta conversa. Gravado no dia mundial do livro, dia 23 de abril, celebra-se a literatura junto de um dos alfarrabistas com mais histórias para contar. A Ulmeiro não só é a única livraria em Benfica, como o é há 50 anos. José Ribeiro é o dono daquela que é também editora e distribuidora. É no número 13 da Avenida do Uruguai que conversamos sobre o livro em tempo de censura. A dois dias do 25 de abril, reconstituimos o caminho de Zeca Afonso, amigo da Ulmeiro e de José, que se escondia perto da livraria, tal como os livros proibidos, que tinham esconderijos para que a PIDE não os confiscasse. É uma conversa sobre resistência: a de José e a de uma livraria independente em tempo de ditadura.

ORINOCO
Musiques Lusophones: Portugal

ORINOCO

Play Episode Listen Later Feb 20, 2018


Entre chant d’intervention et Fados en compagnie de Zeca Afonso, Amalia Rodrigues et Mariza. Lire la suite

Prestes A Ver
Episódio Dezasseis - Os Mutantes (c/Rodrigo Nogueira)

Prestes A Ver

Play Episode Listen Later Oct 30, 2017 70:46


Rodrigo Nogueira (do podcast Até Tenho Amigos Que São e do site joseraposo.pt) junta-se a nós para uma conversa em que, pelo meio de muitas divagações, analisamos o filme "Os Mutantes" de Teresa Villaverde. Logótipo de Joana Cardoso. Tema de Mundo Lego. Música final: “Que Amor Não Me Engana" de Zeca Afonso. 

epis log os mutantes zeca afonso rodrigo nogueira teresa villaverde
TSF - TSF à Mesa - Podcast
Edição de 21 de Junho 2017 - Espaço beirão perpetua canção de Zeca Afonso

TSF - TSF à Mesa - Podcast

Play Episode Listen Later Jun 20, 2017


Edição de 21 de Junho 2017 - Espaço beirão perpetua canção de Zeca Afonso

Facemos historia
1467: Galiza ceibe, poder popular. Os irmandiños

Facemos historia

Play Episode Listen Later May 4, 2017 25:02


EPISODIO 20. TEMPORADA 01Un 25 de abril de 1467 producíase a toma e o derrubamento de Castelo Ramiro, en Ourense. Hai, exactamente, 550 anos, unha data redonda, mais que pasou inadvertida tanto para os medios de comunicacións como para a axenda institucional do noso país.E por que é tan importante este acontecemento? Castelo Ramiro é a primeira das máis de 130 fortalezas medievais, castelos señoriais, que serán derrubados por un movemento popular coñecido coma os Irmandiños. Esta gran revolta, esta revolución irmandiña, gobernará Galiza durante dous anos, entre 1467 e 1469, alterando a estrutura social da Galiza medieval. Por primeira vez na historia de Galiza será o conxunto da poboación, autoorganizada na Xunta Xeral do Reino de Galiza, a que concentre todo o poder, executivo, lexislativo e xudicial.Podemos dicir, sen temor a nos equivocar, que nunca, na historia de Galiza, foi máis acaída utilizar a expresión "Galiza ceibe, poder popular", ese lema tan repetido en diferentes manifestacións de signo nacionalista na actualidade.Mais non forcemos a historia: os Irmandiños non foron un movemento nacionalista ou independista contra o reino de Castela. Esta visión non responde ás fontes históricas. Mais os Irmandiños fixeron realidade unha Galiza ceibe, mais ceiba do exercicio arbitrario do poder feudal. O inimigo non se atopaba fóra, era unha nobreza laica malfeitora, usurpadora e culpable de todo tipo de delictos contra os resto de grupos sociais, eclesiásticos, habitantes da cidade e, fundamentalmente, o campesiñado.Malia que haxa quen non goste de falar de revolucións fóra do período contemporáneo, esta gran revolta Irmandiña, tivo efectos sociais revolucionarios durante os dous anos que estivo vixente, restaurando a xustiza, mantendo a paz e a orde na nosa terra.E o movemento irmandiño fálanos da clara existencia de Galiza coma unha realidade cultural, política, econonómica e social a fins da Idade Media, unha Galiza construída desde os grupos populares e non o resultado dunha construción política das elites na Constitución do 1978.Acompáñanos ao Ourense de 1467.CRÉDITOS (todos os audios distribúense con licenza Creative Commons):Música da sintonía: http://audionautix.com/ (The voyage, PennyWhistle, TriumphantReturn).AS MÚSICAS DE FACEMOS HISTORIA:Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso: https://www.youtube.com/watch?v=3V6s6JMURlk

Facemos historia
1467: Galiza ceibe, poder popular. Os irmandiños

Facemos historia

Play Episode Listen Later May 4, 2017 25:02


EPISODIO 20. TEMPORADA 01Un 25 de abril de 1467 producíase a toma e o derrubamento de Castelo Ramiro, en Ourense. Hai, exactamente, 550 anos, unha data redonda, mais que pasou inadvertida tanto para os medios de comunicacións como para a axenda institucional do noso país.E por que é tan importante este acontecemento? Castelo Ramiro é a primeira das máis de 130 fortalezas medievais, castelos señoriais, que serán derrubados por un movemento popular coñecido coma os Irmandiños. Esta gran revolta, esta revolución irmandiña, gobernará Galiza durante dous anos, entre 1467 e 1469, alterando a estrutura social da Galiza medieval. Por primeira vez na historia de Galiza será o conxunto da poboación, autoorganizada na Xunta Xeral do Reino de Galiza, a que concentre todo o poder, executivo, lexislativo e xudicial.Podemos dicir, sen temor a nos equivocar, que nunca, na historia de Galiza, foi máis acaída utilizar a expresión "Galiza ceibe, poder popular", ese lema tan repetido en diferentes manifestacións de signo nacionalista na actualidade.Mais non forcemos a historia: os Irmandiños non foron un movemento nacionalista ou independista contra o reino de Castela. Esta visión non responde ás fontes históricas. Mais os Irmandiños fixeron realidade unha Galiza ceibe, mais ceiba do exercicio arbitrario do poder feudal. O inimigo non se atopaba fóra, era unha nobreza laica malfeitora, usurpadora e culpable de todo tipo de delictos contra os resto de grupos sociais, eclesiásticos, habitantes da cidade e, fundamentalmente, o campesiñado.Malia que haxa quen non goste de falar de revolucións fóra do período contemporáneo, esta gran revolta Irmandiña, tivo efectos sociais revolucionarios durante os dous anos que estivo vixente, restaurando a xustiza, mantendo a paz e a orde na nosa terra.E o movemento irmandiño fálanos da clara existencia de Galiza coma unha realidade cultural, política, econonómica e social a fins da Idade Media, unha Galiza construída desde os grupos populares e non o resultado dunha construción política das elites na Constitución do 1978.Acompáñanos ao Ourense de 1467.CRÉDITOS (todos os audios distribúense con licenza Creative Commons):Música da sintonía: http://audionautix.com/ (The voyage, PennyWhistle, TriumphantReturn).AS MÚSICAS DE FACEMOS HISTORIA:Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso: https://www.youtube.com/watch?v=3V6s6JMURlk

Prestes A Ver
Episódio Quatro - Capitães De Abril (c/Luís Miguel Lago)

Prestes A Ver

Play Episode Listen Later Apr 24, 2017 56:44


Um episódio especial para comemorar a revolução mais fixe de 1974. O convidado é Luís Miguel Lago e discutimos "Capitães De Abril", de Maria de Medeiros. Logotipo de Joana Cardoso (http://jo-the-monster.tumblr.com/). Tema de Mundo Lego. Música final: "Coro Da Primavera" de Zeca Afonso. A lista em que nos baseamos pode ser consultada aqui: http://www.tasteofcinema.com/2014/20-essential-films-for-an-introduction-to-portuguese-cinema

As Donas da Casa (Entrevistas)
Especial Zeca Afonso com B Fachada e Tiago Pereira

As Donas da Casa (Entrevistas)

Play Episode Listen Later Feb 23, 2017 39:32


Rádio Defusão
#7.24 Embarquei Para Portugal

Rádio Defusão

Play Episode Listen Later Feb 22, 2017 82:14


Mariano Marovatto faz-nos companhia no dia que completa três décadas em que fez falta um Zeca Afonso para avisar e animar a malta. Consigo, traz «Selvagem», o disco conceptual recém-editado em Portugal em que explora a sua enciclopédica paixão pela lusofonia. Entre semifinais do Festival da Canção e com a cerimónia dos Oscars à porta, […]

Rádio Comercial - Chichi Cama

Versão do clássico de Zeca Afonso, que a Marisa canta aos dois filhos. A mais velha tem 8 anos; o mais novo tem 2 anos e ri-se com esta canção de embalar.

EL GUATEQUE
EL GUATEQUE T07 (24/04/2016)

EL GUATEQUE

Play Episode Listen Later Apr 23, 2016 53:34


En El Guateque (domingos, 15:05h), recordamos "300 Millones" y el "25 de Abril" con Pepe Domingo Castaño, Enrique Guzmán, Roy Orbison, Everly Brothers, Ella Fitzgerald, Lita Torello, Los 4 de la Torre, Los Mitos, Los Ángeles, Los Pekenikes, Los Mustang, Los Íberos, Los Gritos, Marta Baizán, Dolores Vargas, Benito Moreno, Zeca Afonso...

Café Brasil Podcast
040 – Portugal dos Cravos

Café Brasil Podcast

Play Episode Listen Later Jun 4, 2007 25:00


No podcast da semana, Luciano Pires busca suas raízes em Portugal. E escolhe contar a história da Revolução dos Cravos, que libertou Portugal da ditadura Salazarista em Abril de 1974. A história é contada enquanto as músicas de Chico Buarque falam do reflexo daquele movimento no Brasil dos anos de chumbo. Um momento de emoção está na reprodução da música “Grândola, vila morena”, de Zeca Afonso, a música que foi a senha para que os revoltosos dessem a largada à revolução. Na trilha sonora, o fado de Mariza, Chico Buarque e Ruy Guerra, Zélia Duncan e Carlos Paredes. Um banho de Portugal e de liberdade.