Brasil-Mundo

Follow Brasil-Mundo
Share on
Copy link to clipboard

Reportagens de nossos correspondentes em várias partes do mundo sobre fatos políticos, sociais, econômicos, científicos ou culturais, ligados à realidade local ou às relações dos países com o Brasil.

RFI Brasil


    • May 3, 2025 LATEST EPISODE
    • weekly NEW EPISODES
    • 6m AVG DURATION
    • 139 EPISODES


    Search for episodes from Brasil-Mundo with a specific topic:

    Latest episodes from Brasil-Mundo

    Novo clipe do brasileiro Leopold Nunan transforma dor em beleza e resistência em dança

    Play Episode Listen Later May 3, 2025 4:59


    Quando Leopold Nunan entra em cena, é impossível não dançar com ele. Colorido, intenso, provocador e magnético, ele não apenas ocupa o palco, como domina o espaço com sua presença vibrante, a voz poderosa e uma estética visual que mistura Brasil, Estados Unidos, personalidade e liberdade. É esse espírito indomável que pulsa em "C'est la Music", novo single e clipe do artista, que acaba de ser lançado. É um manifesto que transforma dor em beleza e resistência em dança. Cleide Klock, correspondente em Los AngelesO clipe, que integra seu álbum de estreia, "Leo from Rio", é uma explosão visual e emocional que celebra o poder da arte como salvação."Esse filme — eu chamo de filme — sou eu usando esses personagens como uma defesa para o mundo exterior", conta Leopold, radicado em Los Angeles. “Eu adoro incorporar personagens e transformar o meu invólucro, a minha pele, usar a minha pele realmente como veículo. Isso é do Rio de Janeiro, é do Carnaval, é de ser brasileiro, é do indígena. Meu pai e minha avó têm linhagem indígena, do Piauí."A narrativa começa com uma cena crua e logo emerge pelo renascimento ao som da música. O vídeo mistura artes, dança, símbolos e referências à fauna brasileira e à cultura indígena, com pinturas como escudo e segunda pele — uma metáfora perfeita para o artista que se protege e se fortalece por meio da arte. Em um dos momentos mais simbólicos, Leopold aparece se transformando em uma onça-pintada, com pintura corporal feita por Glen Allen, artista vencedor de três Emmys.“A onça-pintada é um animal em extinção e, mesmo assim, está lá, sobrevivendo. Está lá, vítima do desmatamento e das atrocidades de governos que não querem saber de preservar a nossa natureza. Essa vulnerabilidade com essa força que me interessou", conta. "Nós, LGBT, também somos muito vulneráveis e, ao mesmo tempo, bem resilientes. A gente é forte, a gente se une, se reúne e a gente fica forte com isso", diz o artista.Influência de Ed MottaO álbum "Leo from Rio", lançado em 2024, é seu primeiro projeto completo, totalmente independente. Tem dez músicas e já deu origem a cinco clipes — cada um explorando novas camadas da identidade do artista, que mora há 23 anos nos Estados Unidos, mas que sempre vai ser bem brasileiro.“Eu sou o Brasil. Está dentro de mim, da minha alma, e esse álbum realmente é um raio-x dessa minha vinda para cá. Metade português, metade inglês. Eu era aquele cara carioca influenciado por Ed Motta — e Ed Motta é influenciado pela música americana", explica. "Aqui, o funk já dentro de mim é o soul music. Quando eu fui para Nova York, eu fui aprender a cantar com as cantoras de gospel no Harlem. Então, eu acho que isso também teve soul. Mas é carioca. Você tira o Leo do Rio, mas não tira o Rio do Leo", brinca.Brasileiros ganham espaço na CalifórniaO lançamento oficial de "C'est la Music" aconteceu em abril, no consulado-geral do Brasil em Los Angeles, no primeiro evento de videoclipes musicais de brasileiros. O evento celebrou a força dos artistas independentes e a presença crescente deles na cena criativa da Califórnia.Além do filme de Leopold, o evento exibiu "The One", da cantora paranaense Carol Grando, com produção de Eduardo Orelha; e "Breaking Free", de Raquel Leal Davies, com a atriz Sophia Mayer Pliner — uma obra audiovisual inspirada no flamenco, que aborda libertação e dualidade com força poética e visual arrebatador.

    Beatriz Milhazes: uma jornada abstrata entre passado e futuro no Guggenheim de NYC

    Play Episode Listen Later Apr 20, 2025 6:34


    A exposição Beatriz Milhazes: Rigor e Beleza, no Museu Guggenheim de Nova York, com curadoria de Geaninne Gutiérrez-Guimarães, oferece uma imersão única no universo artístico da renomada artista brasileira. Composta por 15 obras, sendo cinco delas provenientes da coleção permanente do museu, a mostra traça um panorama da trajetória de Milhazes desde os anos 1990 até os dias atuais. Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova YorkA curadora destaca que a exposição não apenas celebra as "joias" da coleção do Guggenheim, mas também oferece uma visão abrangente do desenvolvimento artístico da artista, que integra a linguagem da abstração geométrica com elementos profundamente enraizados na natureza ao seu redor.Milhazes, que vive e trabalha no Rio de Janeiro, descreve a influência dos jardins botânicos, da floresta da Tijuca, das montanhas e até da praia de Copacabana em seu processo criativo. Esses elementos naturais permeiam suas obras, se transformando em formas geométricas e abstrações que, ao longo dos anos, se consolidaram em sua assinatura visual.A exposição abrange uma variedade de obras, incluindo colagens em papel de 2013 a 2021 e pinturas recentes, como Mistura Sagrada (2022), onde elementos naturais, como folhas de árvores e padrões florais, se encontram representados em cores vibrantes e formas geométricas. A paleta de cores, sempre rica e vibrante, é outro ponto de destaque, refletindo a técnica de transferência que Milhazes desenvolveu em 1989 e que permanece central em sua prática até hoje.Milhazes explica como essa técnica inovadora surgiu, um momento crucial para sua evolução artística: "Na verdade, foi o momento, foi em 89, que é quando eu estava precisando encontrar uma forma de expressar, de utilizar a minha linguagem, crescer e se desenvolver com mais força, e na pintura. Tudo o que eu havia anteriormente trabalhado, começou a me limitar ao invés de abrir portas para esse prosseguimento."Ela continua descrevendo o processo experimental que a levou à descoberta de uma nova técnica: "Eu parei para fazer realmente experimentações, através da monotipia, que é uma técnica de gravura que você trabalha com a tinta molhada. A tinta molhada que você imediatamente imprime, você passa para uma outra superfície. Você pode fazer monotipia utilizando materiais diversos", explica.A partir desses experimentos, Milhazes percebeu algo revolucionário sobre sua técnica: "Eu percebi que a tinta que ficava na folha de plástico, eu podia depois transferir para a tela. E isso foi uma descoberta incrível."Além de representar um marco na carreira de Milhazes, com duas importantes exposições recentes em Londres e sua participação na Bienal de Veneza, esta é a primeira exposição dedicada exclusivamente a ela em Nova York. A mostra no Guggenheim, portanto, não só reforça a importância de Milhazes no cenário global, mas também consolida seu papel essencial na narrativa da arte do século 20, traduzindo suas influências culturais e ambientais em um diálogo com a arte contemporânea internacional."Como um panorama para quem não conhece o trabalho, vai ser interessante ver um confronto entre os anos 90, olhando para 2023", comenta Beatriz Milhazes sobre a exposição. Ela segue: "normalmente, em mostras panorâmicas você tem um percurso sobre a evolução da obra, você vai passando ao longo do tempo, por toda a história daquele artista."Ela também reflete sobre o impacto pessoal de ver sua obra dessa maneira: "Nesse caso existe um confronto entre os anos 90 e as obras super recentes, onde tem, no meio disso, uma pequena passagem da segunda década desse século e uma de 2004 do início do século. Então vai ser uma maneira diferente de observar. Também trouxe reflexões importantes vendo essa situação de confronto de duas épocas distantes."Milhazes compartilha uma visão profunda sobre sua carreira: "Eu fico muito feliz, vamos ver o sucesso que alcancei na carreira, também de mercado, mas realmente a minha grande ambição foi introduzir algo de novo, de inovação dentro do percurso da história da arte abstrata."A exposição é uma oportunidade única de acompanhar a evolução de uma artista que, ao longo de três décadas, conseguiu traduzir sua visão do mundo natural em formas abstratas e universais, que continuam a encantar e inspirar públicos ao redor do mundo.

    Henrique Zaga: de Brasília ao campo de batalha em Hollywood

    Play Episode Listen Later Apr 19, 2025 4:58


    Ator brasileiro está no elenco de Tempo de Guerra, uma produção baseada nas memórias traumáticas de quem esteve no front. O diretor Ray Mendoza, um ex-combatente americano, transformou em filme as lembranças de uma missão no Iraque, ocorrida há quase 20 anos. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los AngelesEm parceria com o cineasta Alex Garland (Guerra Civil), Ray Mendoza codirige Tempo de Guerra (Warfare), um drama impactante e realista sobre um grupo de soldados encurralados em território inimigo. No elenco, uma seleção de jovens astros que vêm despontando em Hollywood: Will Poulter (O Urso), Kit Connor (Heartstopper), Joseph Quinn (Stranger Things), Charles Melton (Segredos de um Escândalo) e o brasiliense Henrique Zaga.Os atores dão vida a combatentes mergulhados em missões muitas vezes suicidas, num retrato cru e coletivo da guerra. Para alcançar a autenticidade desejada, o elenco passou por um treinamento inspirado no rigoroso programa da Marinha dos EUA, o BUD/S (curso de demolições subaquáticas dos Navy SEALs, as forças especiais da Marinha) conhecido como um dos mais extremos das Forças Armadas americanas.“Antes de Los Angeles e de ir para Londres filmar, fui até San Diego com meu amigo Mark James, um Navy SEAL, e ele me levou para o circuito de obstáculos militar, para mostrar quais são os treinamentos que eles têm que fazer antes da semana chamada Hell Week, para você realmente virar um SEAL ”, conta Zaga."Depois disso, já em Londres, tivemos três semanas intensas de bootcamp, acordando às 4 da manhã, sem café, aprendendo a trocar munição, etiqueta militar, comunicação por rádio. Três semanas depois, já estávamos filmando”, disse o brasileiro.Tempo de GuerraA trama se passa quase inteiramente dentro de uma única casa, ocupada por soldados americanos e, logo depois, sitiada por forças da Al-Qaeda. O diretor Ray Mendoza viveu esse combate na pele e quis eternizá-lo no filme, após descobrir que um de seus companheiros de pelotão, Elliot Miller, havia perdido a memória daquele dia.Sem heróis ou protagonistas definidos, Tempo de Guerra opta por uma abordagem quase documental: a lente se volta para o grupo e para o terror psicológico vivido coletivamente, em uma tarde de 2006 no Iraque.“Para mim foi uma experiência única, um dos projetos mais sensacionais que já vivi, não só como ator, mas como ser humano. Os Navy SEALS, no set com a gente, foram muito generosos para que nos sentíssemos dentro da missão”, diz Henrique Zaga, que vive um momento importante na carreira internacional.Aos 31 anos, o ator — que nasceu em Brasília e vive em Los Angeles desde os 18 — já acumula participações em grandes produções. Em 2024, atuou em Queer contracenando com Daniel Craig, dirigido por Luca Guadagnino e exibido no Festival de Veneza. No ano passado, também esteve em Guerra Sem Regras, de Guy Ritchie. Antes disso, ficou conhecido em séries adolescentes como Teen Wolf, 13 Reasons Why, e deu vida ao mutante Mancha Solar em Os Novos Mutantes (2020). Em 2022, estrelou Depois do Universo, seu primeiro longa brasileiro, sucesso na Netflix.Zaga faz suspense sobre as cenas dos próximos capítulos na sua trajetória internacional, mas conecta sua ascensão em Hollywood ao orgulho de suas raízes, celebrando o reconhecimento global do cinema brasileiro e o novo espaço que artistas estrangeiros vêm conquistando.“Brasil em Hollywood, para mim, é algo muito pessoal. Três dos meus filmes favoritos são brasileiros. Ver nosso cinema sendo reconhecido tão lindamente, o Walter [Salles] recebendo aquele Oscar, me emociona. Eu sempre disse: nunca foi tão bom ser estrangeiro. Estamos abrindo fronteiras, e as plataformas estão levando filmes brasileiros para lugares onde nunca chegaram antes. É um outro tipo de apreciação — e isso me enche de orgulho,”, conclui.

    Cantora lírica brasileira estreia na Ópera de Paris e se prepara para residência artística na instituição

    Play Episode Listen Later Apr 12, 2025 6:20


    Antes mesmo de começar sua residência artística na Ópera de Paris e se tornar a primeira mulher brasileira a integrar a academia da prestigiada instituição, em setembro, Lorena Pires, 25 anos, estreou no palco da tradicional Ópera Bastilha, no recital "Mélodies françaises et Melodias Brasileiras", apresentado na quarta-feira (9). Ela cantou Villa-Lobos ao lado de outros artistas que levaram o público parisiense pela primeira vez a um concerto contendo obras de compositores brasileiros. Luiza Ramos, de Paris “É o sonho de qualquer cantor estar na Ópera de Paris. Eu cantei Villa-Lobos, Nepomuceno e terminei com a Bachianas Brasileiras. O público recebeu muito calorosamente”, contou ela.Além de Lorena, dois brasileiros membros da Academia da Ópera de Paris, Ramon Theobald (pianista e maestro) e Luis Felipe (baixo-barítono), além da cantora lírica brasileira Juliana Kreling, participaram do recital "Mélodies françaises et Melodias Brasileiras".“Acho que ainda não caiu minha ficha, parece que foi coisa da minha cabeça”, disse a jovem à RFI após a apresentação que faz parte da Temporada França-Brasil 2025. Ela voltou a se apresentar em Paris na sexta-feira (11), em um concerto na Embaixada do Brasil.Lorena retorna agora ao Espírito Santo para se preparar para outra etapa: uma residência artística inédita de dois anos na Ópera de Paris, que começa em setembro.Pioneira na Academia da Ópera de ParisLorena detalha que realizou dois processos diferentes, mas explica que uma oportunidade conectou a outra. Em agosto do ano passado, ela participou de uma seleção para cantar neste concerto da Temporada França-Brasil 2025 e passou. Com isso, ela veio a primeira vez a Paris em dezembro de 2024 para fazer aulas e ensaios no âmbito do projeto de intercâmbio entre os dois países.Diante desta oportunidade, concorreu presencialmente em audições para integrar a tradicional Academia da Ópera de Paris. A instituição, que todos os anos abre vagas para jovens talentos de todo o mundo, informou em fevereiro deste ano que a jovem capixaba havia conquistado a desejada vaga para se profissionalizar na Academia francesa.  Leia tambémConheça os destaques da programação oficial do Ano do Brasil na França em 2025Lorena se formou ano passado em Canto Erudito na Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames) e sempre morou com os pais. Ela revela grande entusiasmo em mudar-se para a "Cidade Luz" com um contrato que permitirá seu aperfeiçoamento como cantora, sendo a primeira mulher brasileira a frequentar a Academia da Ópera de Paris. “Eu acho que é um privilégio muito grande, mas uma responsabilidade muito grande também”, acredita.“Eu nunca me imaginei nessa posição de ir na frente e ser exemplo para outras pessoas. Eu recebo mensagens de cantores dizendo: ‘eu quero a mesma coisa que você', ‘como você está conseguindo?', ‘você me inspira', mas eu nunca pensei em estar nessa posição. Até hoje eu tenho as minhas referências e eu agora me vejo sendo referência para pessoas da minha idade e pessoas que se parecem comigo, o que é muito surreal”, aponta a jovem.   Origens, preconceito e religiosidade Lorena descreve sua raiz familiar como muito simples e que “nunca foi algo possível e imaginável” para seus pais chegar até uma instituição internacional para ser cantora lírica. “Até hoje não consigo acreditar que tudo isso está acontecendo, ainda mais vindo da família que eu venho”, enfatiza a soprano, filha de costureira e motorista de ônibus, natural de Vitória (ES), mas com raízes de sua ancestralidade nos quilombos do sul da Bahia, estado natal de seu pai.Lorena admite que sofreu preconceitos por suas origens na sua trajetória musical, enfrentou racismo, intolerância religiosa e chegou a ter vergonha de falar que seu sonho era ser cantora quando mais nova. Mas sua religiosidade, sua determinação e seu talento a fizeram perseverar e ultrapassar os obstáculos.“Está todo o mundo muito feliz lá no Brasil, todos queriam estar aqui, estou com saudades da família, da minha mãe e do meu pai. Todos os dias eu acordo e agradeço por estar aqui, pois não foi fácil chegar em um local desses (...). Eu acho que ter consciência de quem sou me forma quem eu sou enquanto cantora e, para mim, a questão da espiritualidade é muito forte”, diz ela.Carreira, sonhos e sincronicidadeA soprano começou a cantar com 16 anos, mas só em 2018 se encantou pelo canto erudito. Ela descreve que pulou o caminho comum aos cantores de fora do eixo Rio-São Paulo, que seria morar em uma das capitais para se desenvolver na carreira nacionalmente. O diferencial dela foi vencer concursos de destaque que a ajudaram a ter visibilidade na sua área.Para ela, o concurso Joaquina Lapinha, em São Paulo, porta que a permitiu se apresentar no Teatro Municipal no Estado paulista, foi o mais importante da sua carreira até agora.“O Joaquina Lapinha que ganhei em 2023 foi o concurso que me deu visibilidade, é um concurso voltado para cantores pretos, pardos e indígenas. Eu fiquei em primeiro lugar, com 23 anos, e fui uma das vencedoras mais novas (...). Esse concurso foi um divisor de águas, a partir dele eu conheci vários cantores e brasileiros que sempre admirei e as coisas foram se desenrolando”, explica Lorena que chegou a fazer naquela época uma primeira seleção para cantar no concerto da Ópera Bastilha de quarta-feira da Temporada França-Brasil 2025.“Eu sabia que eu queria ir para fora do país, mas nunca tive o sonho de vir para a Ópera de Paris. Mas antes do concurso eu pesquisei sobre Maria D'Aparecida. Logo depois, no concurso [Joaquina Lapinha], o prêmio que eu ganhei, levava o nome dela”, diz.Lorena destaca a coincidência fazendo referência à cantora que foi a primeira cantora e mulher negra brasileira a se apresentar na Ópera de Paris, em 1966. Também de origem simples, Maria D'Aparecida sofreu racismo no Brasil e morou em Paris até sua morte, em 2017.“Para mim é muito forte isso, pois eu estava escrevendo sobre essa mulher e conheci muitas pessoas através da pesquisa sobre ela. É uma sincronicidade muito forte. Eu não brinco com o destino não!”, relata, bem humorada.“Infelizmente para viver de [cantar] ópera no Brasil é completamente impossível. No Brasil não temos uma estrutura sólida. A cultura no Brasil fica sempre numa corda bamba”, lamenta a jovem cantora lírica.

    Com edição para o Brasil, jornal português dá voz a imigração brasileira crescente no país europeu

    Play Episode Listen Later Apr 6, 2025 6:41


    Nos últimos anos, o fluxo migratório do Brasil para Portugal atingiu níveis históricos, tornando a comunidade brasileira a maior população estrangeira no país, com mais de 550.000 residentes. O crescimento levou à necessidade de ampliar a cobertura jornalística que desse voz a esses imigrantes, refletisse suas experiências e abordasse temas essenciais para sua integração na sociedade portuguesa. Dessa demanda, nasceu o Público Brasil, do tradicional jornal português Público, voltado especialmente para a comunidade brasileira residente em Portugal ou que pretende morar no país. Luciana QuaresmaEm menos de um ano desde seu lançamento, a edição conta com 10 milhões de visualizações, um número significativo para um projeto recente. Em entrevista à RFI, Vicente Nunes, editor-chefe do Público Brasil, reconhece que sempre houve uma lacuna na imprensa portuguesa sobre o espaço crescente da imigração brasileira.“O Público Brasil surge para preencher esse espaço, dando voz a essas comunidades. Nosso projeto não se limita à comunidade brasileira: estamos empenhados em entender também as comunidades angolana e moçambicana, mostrando que estamos ouvindo e falando diretamente com as pessoas", explicou. "É um trabalho totalmente digital, com uma equipe específica. Temos um site vinculado à publicação principal, e sempre que o Público identifica material relevante, ele é levado para a edição impressa, ampliando o alcance e impacto das vozes representadas por nós”, detalha o jornalista.A cobertura busca retratar a realidade dos brasileiros em Portugal e oferecer reportagens aprofundadas sobre temas como imigração, trabalho, educação, cultura e política. Por isso, é feita principalmente por jornalistas brasileiros.“Sabíamos que este espaço teria que ter as mãos de jornalistas que compreendem as nuances da experiência de migrar para Portugal e tudo que envolve este universo”, salienta David Pontes, diretor de redação do jornal Público. “Nosso objetivo é não apenas informar, mas também criar um senso de pertencimento e representatividade.Queríamos algo que partisse de dentro, que falasse a mesma língua e vivenciasse os mesmos desafios, e encontramos isso com nossos colegas brasileiros. Eles trazem uma experiência inestimável, agregando novos leitores apaixonados à nossa comunidade."Reportagens sobre os desafios da imigração Entre os assuntos mais acessados no Público Brasil, destacam-se matérias sobre regularização da documentação, processos de nacionalidade portuguesa e desafios enfrentados por brasileiros recém-chegados ao país. Segundo o jornalista Jair Rattner, que faz parte da equipe, muitos imigrantes chegam a Portugal sem conhecer plenamente os trâmites burocráticos para a permanência no país.“Recebemos diariamente mensagens de leitores pedindo mais informações sobre como conseguir a cidadania portuguesa, quais são seus direitos como trabalhadores ou quais as dificuldades de alugar um imóvel sendo estrangeiro”, conta Rattner. Leia tambémPortugal quer restringir acesso à saúde pública para imigrantes; brasileiros podem ser afetadosAlém das questões burocráticas, o jornal também destaca histórias de sucesso de brasileiros que prosperaram em Portugal, abrindo negócios, ingressando na academia ou se destacando no mercado de trabalho. “Essas narrativas são inspiradoras e mostram que, apesar dos desafios, é possível construir uma vida bem-sucedida aqui”, afirma Nunes.O projeto também tem sido um canal para que a sociedade e o governo portugueses compreendam melhor a realidade dos imigrantes. Segundo Nunes, órgãos governamentais costumam entrar em contato para esclarecer informações e responder a denúncias publicadas.“É incrível como o governo português tem procurado o Público Brasil para se comunicar com a comunidade brasileira", afirma.Desfazendo estereótiposUm estudo recente publicado pelo jornal revelou que, a partir de 2019, o fluxo de imigrantes brasileiros ajudou a reverter a queda populacional em Portugal e contribuiu com cerca de € 1,4 bilhão para o sistema de segurança social do país. Esses dados reforçam a importância econômica e social da comunidade brasileira, desmistificando estereótipos e promovendo uma visão mais equilibrada sobre a imigração.Além disso, o jornal tem um papel importante no combate à desinformação. “Muitos brasileiros chegam a Portugal acreditando em informações falsas, propagadas principalmente em redes sociais. Nosso trabalho é garantir que eles tenham acesso a notícias verificadas e confiáveis”, destaca Rattner, que mora no país europeu há 39 anos.“Já provamos que há um público fiel e ávido por informação de qualidade. O próximo passo é ampliar a equipe, diversificar o conteúdo e continuar a fortalecer esse canal de comunicação entre brasileiros e portugueses”, indica Nunes.

    Adriana Varejão leva a Amazônia para Nova York em exposição inédita na Hispanic Society

    Play Episode Listen Later Mar 30, 2025 5:07


    A artista brasileira Adriana Varejão apresenta, no Hispanic Society Museum & Library, em Nova York, uma exposição que une história, arte e natureza. Sua nova série de pratos em grandes formatos estabelece um diálogo com a coleção de cerâmicas do museu, mas com uma mudança de perspectiva: se antes seu olhar estava direcionado ao oceano, agora ele se volta para a floresta amazônica. Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova YorkVarejão conta que a ideia surgiu após visitar a Hispanic Society e se encantar com o acervo. “Achei um lugar incrível, com uma coleção maravilhosa. Como tenho muito interesse em cerâmica, decidi estabelecer um diálogo com essa coleção. Assim, comecei a desenvolver no meu ateliê, no Rio de Janeiro, essa série de pratos em grandes formatos, que agora estão expostos aqui no meio do salão”, explica.A exposição é inspirada na primeira Bienal das Amazônias, realizada em 2024, e reflete a biodiversidade da região. O animal escolhido para essa nova fase foi a mucura, um marsupial amazônico. Mas a relação da artista com a floresta vem de muito antes. “Desde 2003, realizo projetos na Amazônia. Naquele ano, tive a oportunidade de visitar a Reserva Yanomami e aprender muito sobre o bioma e a cultura local. Desde então, essa relação se fortaleceu e influenciou meu trabalho”, conta Varejão.Natureza versus Colonialismo Um dos destaques da exposição é uma instalação impactante: a representação de uma sucuri abraçando a estátua de El Cid, um embate visual entre natureza e colonialismo. Rodrigo Díaz de Vivar, El Cid, foi um líder militar castelhano do século XI que desempenhou um papel crucial na Reconquista, expulsando os mouros de diversas regiões da Península Ibérica. Para Varejão, a obra é uma provocação à simbologia da dominação. “Quando a gente entra na Hispanic Society, se depara com nomes de conquistadores e a estátua de El Cid, um símbolo de força imperial e dominação. A sucuri vem para subverter essa ordem, abraçando e ameaçando essa simbologia. É um lembrete de que a natureza não pode ser controlada”, reflete a artista.A exposição também desafia as hierarquias entre arte e artesanato, valorizando as influências das artes decorativas na produção contemporânea. “Sempre me interessei muito por artes decorativas. Nos anos 80, me referia ao barroco, depois aos azulejos portugueses, e agora a cerâmica tem um papel fundamental no meu trabalho. Me inspirei, por exemplo, na cerâmica portuguesa de Bordalo Pinheiro e em referências de diferentes períodos e culturas”, revela.Amazônia, crise climática e preservaçãoA relação entre arte e natureza também levanta questões urgentes sobre a crise climática e a exploração da floresta amazônica. Para Varejão, o conhecimento sobre a biodiversidade é um passo fundamental para sua preservação. “A Amazônia é um sistema frágil. Quando a gente se conhece e se aproxima das espécies, elas passam a existir para nós", diz a artista. Adriana Varejão destaca a importância de dar visibilidade à fauna amazônica por meio das peças expostas em Nova York. Segundo a artista, poucas pessoas conhecem a tartaruga matamatá, uma espécie intensamente traficada e ameaçada de extinção. Para chamar atenção para essa realidade, cada prato da exposição recebe o nome de um animal amazônico representado na obra. Entre eles, estão a mucura, o boto vermelho, o guaraná, que traz a presença do sapo que coexa, o urutau, uma ave típica da região, e as borboletas amazônicas. Nomear esses animais, afirma Varejão, é uma forma de dar visibilidade e incentivar o conhecimento sobre a fauna da floresta.O diretor do Hispanic Society Museum & Library, Guillaume Kientz, destaca a importância da exposição para o museu. "Quando eu descobri o trabalho de Adriana Varejão pela primeira vez, fiquei muito interessado no uso que ela fazia do material histórico e na maneira como ela questionava e desafiava o que resta do passado, refletindo sobre como isso é utilizado para aprendermos sobre a história, mas também para sermos melhores no presente e no futuro. Então, achei que estabelecer uma relação com a nossa coleção de cerâmicas e a exposição que ela criou a partir de algumas peças do nosso acervo seria uma ótima maneira de renovar nosso olhar sobre a própria coleção, trazendo-a também para o século 20."Em cartaz até junho e com entrada livreA exposição "Don't Forget, We Come From the Tropics" estará em cartaz no Hispanic Society Museum & Library de 27 de março a 22 de junho de 2025. Esta será a primeira exposição individual de Adriana Varejão em um museu de Nova York e a terceira nos Estados Unidos. Além das pinturas da sua série de pratos, a mostra apresenta uma intervenção escultórica ao ar livre, estabelecendo um diálogo entre passado e presente, história e natureza.

    De empregada doméstica a artista consagrada: Madalena Santos Reinbolt ganha 1ª exposição solo em Nova York

    Play Episode Listen Later Mar 23, 2025 8:28


    A arte popular brasileira conquista espaço nos Estados Unidos com a primeira exposição solo de Madalena Santos Reinbolt fora do Brasil. A mostra "A Head Full of Planets", em cartaz no American Folk Art Museum (AFAM), em Nova York, reúne 42 obras da artista, que foi empregada doméstica antes de se tornar um nome de destaque na arte têxtil. Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova YorkA organização da exposição é de Valérie Rousseau, curadora de arte contemporânea e do século 20 e presidente de curadoria do AFAM, que destacou a importância da mostra para o reconhecimento da artista no cenário internacional.Madalena Santos Reinbolt nasceu em 1919, em Vitória da Conquista, na Bahia, em uma família pobre e numerosa. Desde muito jovem, ela precisou trabalhar, o que a levou, ainda na adolescência, a se mudar para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida. Foi na capital fluminense que Madalena começou a trabalhar como empregada doméstica, primeiro em casas de família, até ser contratada como cozinheira por Lota de Macedo Soares, arquiteta responsável pelo projeto do Parque do Flamengo, e sua companheira, a poeta americana Elizabeth Bishop.Foi nesse ambiente que Reinbolt teve contato com o mundo da arte. Inspirada pelo trabalho de Lota e pelas influências culturais que a cercavam, Madalena começou a criar suas primeiras peças usando materiais simples, como fios de lã e tecidos reaproveitados. A princípio, seus trabalhos eram presentes para amigos e familiares, mas logo começaram a chamar a atenção pela riqueza de detalhes e pela expressividade.“A questão é que precisamos pensar no acesso aos materiais. É interessante quando voltamos ao básico: você vive em uma casa com poucos recursos, mas também tem esse conhecimento de trabalho têxtil. Então, como maximizar isso? E, para uma artista, é muito importante ter acesso a materiais”, explica Valérie Rousseau.Movimento e identidade nas obrasA exposição apresenta 42 obras, entre bordados e pinturas a óleo, que Madalena produziu ao longo de sua vida. As peças apresentam cenas vibrantes, retratando tanto a vida rural quanto as festas e celebrações populares. Entre os destaques, estão painéis de grandes dimensões que mostram dançarinos de samba, lavadeiras, procissões religiosas e festas juninas. A força e o dinamismo das figuras retratadas impressionam pela riqueza de detalhes e pela forma como a artista capturava movimento e emoção com fios de lã e tintas.“O mais impressionante é como Madalena conseguia capturar o movimento. Seus bordados não são estáticos. As figuras dançam, os cenários ganham vida — há uma dinâmica que reflete o que ela via e sentia. Ela usava a arte para contar histórias — histórias que, de outra forma, seriam esquecidas”, comenta Rousseau.De artesanato a arte consagradaMadalena começou a ganhar reconhecimento na década de 1960, quando suas obras foram exibidas em pequenas galerias no Rio de Janeiro. Na época, o trabalho da artista foi classificado como “arte popular”, o que, segundo Rousseau, limitava o entendimento sobre a profundidade e complexidade de sua produção artística.“A arte de Madalena era vista como ‘artesanato', o que subestimava a sofisticação técnica e a força narrativa de suas obras. Hoje, nós a reconhecemos como uma artista completa, que desenvolveu um estilo próprio e uma linguagem artística única. Esse é o valor dessa exposição — tirar Madalena do rótulo de ‘arte popular' e colocá-la no lugar de artista consagrada”, destaca a curadora.Um ato político e culturalA exposição também explora a dimensão política e social da obra de Madalena. Como mulher negra e pobre em um Brasil marcado pela desigualdade, sua arte é um testemunho das lutas e das resistências de seu povo. Os painéis bordados retratam cenas de trabalho rural, festas religiosas e protestos, sempre com um olhar crítico sobre as relações de poder e sobre o papel das mulheres na sociedade.“Essa foi uma oportunidade de trazer uma figura que não recebeu o reconhecimento internacional que merecia para o centro das atenções. Foi muito interessante destacar como Madalena é uma artista que intersecciona diferentes existências: empregada doméstica, mulher negra e artista”, explica Rousseau.Legado e reconhecimento tardioDurante muito tempo, a obra da artista foi desvalorizada e tratada como artesanato em vez de arte. Foi apenas nos últimos anos que seu trabalho começou a receber o devido reconhecimento, especialmente em mostras internacionais. Segundo Valérie Rousseau, essa exposição é um passo importante para corrigir essa injustiça histórica.“A Madalena foi limitada em sua exposição a redes artísticas durante a vida porque ela precisava trabalhar em tempo integral e não tinha acesso ou suporte financeiro para se dedicar exclusivamente à arte. Mas, apesar disso, ela perseverou, e hoje sua obra chega até nós como uma grande inspiração. É uma lição sobre como artistas sem formação formal podem criar trabalhos incrivelmente complexos e cheios de significado”, conclui Rousseau.

    BTL 2025: um novo capítulo para o Turismo entre Brasil e Portugal

    Play Episode Listen Later Mar 15, 2025 8:30


    A BTL – Better Tourism Lisbon Travel Market, novo nome da Bolsa de Turismo de Lisboa, retorna à FIL, Feira Internacional de Lisboa, de 12 a 16 de março, para a maior edição realizada até hoje. O Brasil se destaca com a presença de 25 destinos turísticos, refletindo o crescente interesse dos portugueses pelo Brasil como um destino de férias. Luciana Quaresma, correspondente da RFI em LisboaReconhecida como a maior feira de turismo de Portugal e uma das mais importantes do mundo, a BTL conta com 1.500 expositores e 50.000 m² de área de exposição. Esta 35ª edição promete ser a principal plataforma de vendas de viagens em Portugal, reunindo mais de 100 destinos internacionais e mais de 600 eventos.  Do lado brasileiro, o Maranhão participa pela primeira vez da BTL com um estande próprio, uma iniciativa que sinaliza o compromisso do estado em investir no turismo e estreitar laços com Portugal. "Este é um momento importante para o Maranhão, pois buscamos posicionar o estado como um destino turístico atrativo, especialmente para os portugueses. Estamos aqui para fortalecer os laços e mostrar o Maranhão como um destino turístico emergente", afirmou Isabella Barbosa, Superintendente de Promoção da Secretaria Estadual de Turismo do Maranhão.Lençóis Maranhenses: Patrimônio Mundial da UNESCO é a aposta forte do turismoCelebrando 200 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Portugal, este evento assume um caráter ainda mais simbólico. "O Maranhão possui uma rica herança cultural portuguesa, o que o torna um destino convidativo para os turistas lusitanos. A BTL é uma oportunidade única para apresentar nossas belezas naturais, como os Lençóis Maranhenses, que recentemente foram reconhecidos como Patrimônio Mundial pela UNESCO", destacou. "Esta titulação representa tanto uma honra quanto uma responsabilidade de manter um turismo sustentável e responsável. Além dos Lençóis, temos um patrimônio arquitetônico com azulejaria portuguesa, e uma gastronomia rica que ressoa com a tradição portuguesa. Temos o segundo maior litoral do Brasil e um povo hospitaleiro, pronto para receber os visitantes da melhor forma possível."A BTL é considerada fundamental para o crescimento do turismo no Maranhão, especialmente em um contexto em que o estado ainda é pouco conhecido no cenário internacional. "Poucas pessoas conhecem o Maranhão além dos Lençóis, e nosso objetivo é mostrar que estamos prontos para receber turistas de todo o mundo", disse um dos representantes do setor de turismo do estado. A delegação maranhense também está buscando parcerias com companhias aéreas que façam ligações entre as principais cidades portuguesas ao Maranhão. "Atualmente, temos voos diretos que facilitam o acesso ao Maranhão, e estamos trabalhando para aumentar essa conectividade. Além disso, o estado vai contar com um evento pós-BTL no Vila Galé Ópera, em Lisboa, marcado para o dia 18 de março, onde serão discutidas oportunidades de turismo e parcerias com operadores e veículos de comunicação locais. Estamos entusiasmados em promover o Maranhão e suas riquezas, e estendendo o convite a todos para conhecer o que temos a oferecer", finalizou Isabella, reforçando o compromisso do estado em se destacar no cenário turístico global.Piauí reforça laços com PortugalO Piauí também marca presença pela primeira vez na BTL com um estande próprio e a missão de consolidar o estado como um importante destino turístico. José Monteiro, secretário de Turismo do Piauí, destacou a importância dessa participação inédita no evento: "Estamos aqui para mostrar aos turistas europeus, principalmente aos portugueses, as belezas únicas do Piauí. Temos uma conexão afetiva com Portugal, e é hora de fortalecer esses laços."O estado tem investido na promoção de seus atrativos turísticos, que incluem praias, montanhas e cachoeiras. "Descobrimos muita coisa no Brasil, mas ainda falta descobrir o Piauí. As nossas praias, a Serra da Capivara, o Delta do Parnaíba e um rico patrimônio arquitetônico português estão à espera dos portugueses", enfatizou Monteiro.O Piauí, que possui uma extensão territorial comparável ao Reino Unido, é o estado com maior cobertura de parques e reservas fora da Amazônia. Os biomas da caatinga e do cerrado são únicos, assim como os sítios arqueológicos na Serra da Capivara, considerados Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. "Temos mais de 1.000 sítios arqueológicos e o Museu do Homem Americano, que conta a história dos primeiros vestígios humanos na América", explicou Monteiro.A estratégia de promoção na Europa começou em 2023 e foi intensificada este ano. Ela incluiu visitas de operadores portugueses ao estado e uma campanha de mídia em locais estratégicos em Portugal. "Realizamos o showcase Piauí Portugal, onde mostramos não só nossos destinos, mas também nossa gastronomia e cultura, como a famosa cajuína", destacou Monteiro.Com um estande de 80 metros quadrados na BTL, o Piauí busca atrair a atenção de agentes de viagens e operadores turísticos. "Estamos aqui para fazer negócios, criar novas conexões e demonstrar que o Piauí é uma rica opção de turismo que vai além de sol e praia, oferecendo aventura e cultura", afirmou.Monteiro também ressaltou a conectividade aérea como um fator importante para atrair turistas. "Estamos trabalhando para melhorar as ligações aéreas até o Piauí, facilitando o acesso para aqueles que querem explorar nossas belezas naturais e culturais", disse.O secretário acredita que o Piauí tem tudo para agradar o turista português. "Temos uma gastronomia excelente, praias com sol o ano inteiro e esporte popular como o kitesurf. Além disso, nosso interior oferece ecoturismo e aventuras em paisagens únicas", concluiu Monteiro.Com a BTL, o Piauí pretende se destacar no mapa turístico internacional, mostrando que é um destino completo e acessível. A presença no evento é o primeiro passo de muitos na jornada de tornar o Piauí uma escolha frequente entre os turistas portugueses.Paraíba: lançamento de novos produtos turísticosO estado da Paraíba também se destaca com um estande próprio, mostrando que é uma força crescente entre os estados brasileiros presentes no evento. A participação paraibana na BTL representa uma oportunidade estratégica não apenas para aumentar a visibilidade internacional do estado, mas também para atrair investimentos significativos para o setor turístico local.A programação da Paraíba inclui o lançamento de novos produtos turísticos, que vão além da bela capital João Pessoa, abrangendo também os encantos inexplorados do interior do estado.Nesta edição da feira, Cuba é o destino internacional convidado, oferecendo uma diversidade de experiências culturais. O evento conta ainda com áreas temáticas, como a BTL Cultural, que promoverá a cultura e o patrimônio dos destinos, com o fado como destaque, e a fadista Cuca Roseta como embaixadora.Outros focos importantes da BTL 2025 incluem a BTL Emprego, que apresenta oportunidades de carreira no setor de turismo, a BTL Wellness, que se dedica ao turismo de saúde e bem-estar, o espaço BTL LGBTI+, que promove a inclusão e diversidade, e a BTL Wedding, que surge da necessidade identificada pela BTL em acompanhar as tendências do mercado e responder a uma procura crescente no setor dos casamentos.O “Passaporte BTL” está de volta, desafiando os visitantes a explorar os destinos internacionais presentes na feira e competir por prêmios que incluem viagens, vouchers, estadias em hotéis e ingressos para eventos na FIL. Durante os cinco dias de evento, profissionais do setor e o público em geral terão a oportunidade de explorar novas estratégias, firmar parcerias e descobrir novos destinos, reforçando a imagem do Brasil no cenário turístico global.Até domingo a expectativa é que passem pela BTL 2025 mais de 80.000 visitantes.

    Camila Rosa: quem é a brasileira que assina a capa de 100 anos da The New Yorker

    Play Episode Listen Later Mar 8, 2025 5:57


    Do ativismo feminista e pró-democracia em Joinville, Santa Catarina, à capa comemorativa dos 100 anos da revista The New Yorker, a jornada de Camila Rosa é marcada por resiliência, talento e uma forte identidade visual. Ela se instalou definitivamente em Nova York em 2024, mas a relação com a cidade remonta a 2014, quando começou a explorar novas oportunidades na cena artística internacional. Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York"Sempre quis ilustrar para a The New Yorker, mas nunca imaginei que minha estreia seria logo em uma capa", conta Camila. Seu primeiro contato com a publicação ocorreu em 2023, quando a revista a convidou para desenvolver esboços para uma possível capa comemorativa dos 98 anos da publicação. O projeto não foi adiante, mas o interesse permaneceu. Um ano depois, Camila decidiu retomar o contato e, em junho de 2024, enviou um e-mail à editora. A resposta veio em dezembro: "Vamos retomar". O processo foi rápido, com ajustes e definição de cores até que, finalmente, a confirmação chegou: sua ilustração faria parte da histórica edição do centenário da revista.A capa comemorativa teve seis versões, sendo a original de 1925 acompanhada por outras cinco ilustrações contemporâneas. A obra de Camila Rosa foi uma das selecionadas para circular na edição especial e traz um olhar singular e representativo sobre a figura feminina.O ativismo como raiz do trabalhoA trajetória de Camila Rosa na arte tem suas origens no movimento punk e na cultura alternativa de sua cidade natal. Desde muito jovem, participava de eventos onde se discutiam feminismo, direitos das mulheres e questões sociais através de zines e manifestações. "Foi meu primeiro contato com a política e com a necessidade de expressão", lembra.Mesmo sem seguir uma militância formal na fase adulta, sua produção artística manteve-se como um espaço de discussão e representação. "Meu trabalho é minha forma de continuar falando sobre aquilo em que acredito", afirma.A descoberta da identidade latina"Eu nunca tinha parado para pensar sobre ser latina até vir para os Estados Unidos", conta. A experiência de morar em Nova York a fez perceber diferenças culturais e estéticas entre seu trabalho e a produção americana. "Passei a olhar mais para o Brasil, para outras regiões da América Latina e para a comunidade latina daqui", explica.Seu estilo passou a refletir mais diretamente essa identidade. "As mulheres que desenho têm traços latinos, uma força e uma expressão que remetem às pessoas que vejo ao meu redor. Isso aconteceu naturalmente, sem ser algo calculado."Murais e arte urbanaAlém das ilustrações editoriais, Camila também se destaca na street art. Influenciada por amigos da cena do grafite em Joinville, iniciou-se na arte urbana por meio de coletivos de lambe-lambe e posteriormente expandiu para murais de grande escala."A rua tem essa questão do acesso, qualquer um pode ver. É diferente de uma galeria. Fico feliz em ver meu trabalho em formatos grandes e acessíveis", diz. Entre suas obras, destaca-se um mural de 20 metros no Rio de Janeiro, de 2021, e projetos no Brooklyn, em Nova York, onde já participou de iniciativas como o Underhill Walls e Washington Walls. Capas de livrosCamila também tem uma trajetória significativa na ilustração de capas de livros. Um dos projetos de maior sucesso foi a capa de Daughters of Latin America: An International Anthology of Writing by Latine Women, de Sandra Guzmán. A editora HarperCollins identificou seu trabalho e entrou em contato diretamente para utilizar uma ilustração já existente. "Eu já tinha essa ilustração, e eles olharam e falaram: 'A gente queria usar essa ilustração na capa desse livro.' Eu finalizei e mandei para eles, e depois de um ano, quando foi sair, a autora veio falar comigo. Ela disse: 'Camila, a gente vai ter o lançamento do livro, eu queria muito te conhecer.' Fui conhecê-la pessoalmente, super querida."Outro projeto marcante foi o livro 5 Júlias, de Matheus Souza, publicado em 2019. Neste caso, Camila não fez a capa, mas ilustrou partes internas do livro. Ela também colaborou com a coleção Rebel Girls, uma iniciativa europeia traduzida para diversas línguas, que celebra histórias de mulheres inspiradoras ao redor do mundo.Além disso,Camila ilustrou o livro infantil Pelé, escrito por Maria Isabel Sánchez Vegara, parte da coleção Little People, Big Dreams. Essa série, originalmente espanhola, traz biografias ilustradas de personalidades influentes, tornando suas histórias acessíveis para crianças de todas as idades.Seu trabalho com capas e ilustrações de livros reflete seu compromisso em contar histórias visuais que ampliam narrativas sobre identidade, diversidade e representatividade.O impacto da sua trajetóriaPara Camila, ilustrar uma edição histórica da The New Yorker é um marco significativo. "Talvez seja o trabalho mais importante que fiz. É uma revista de 100 anos que ainda preserva a arte da ilustração, algo raro no mundo editorial. Chegar até aqui significa muito para mim como artista."Entre a militância, a identidade e a arte, Camila Rosa segue transformando espaços e narrativas, levando sua voz e suas cores a novos horizontes.

    Feira de arte contemporânea ARCOmadrid traz diversidade da arte amazônica para dialogar com o mundo

    Play Episode Listen Later Mar 8, 2025 9:25


    Os holofotes do mundo das artes estão voltados para Madri. Desde o último dia 5, a capital espanhola recebe a 44ª edição da ARCOmadrid, uma das mais importantes feiras internacionais de arte contemporânea. Em 2025, o evento conta com a presença de cerca de 200 galerias, sendo 20 delas brasileiras, e destaca a Amazônia. Percorrer os pavilhões 7 e 9 do Ifema, centro de eventos que abriga a feira, é encontrar as mais diversas técnicas e mensagens de artistas. Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI em MadriO projeto “Wametisé: ideias para um amazofuturismo” é a seção central da ARCOmadrid 2025. A curadoria, compartilhada entre Denilson Baniwa e María Wills, em colaboração com o Instituto de Estudos Pós-Naturais, convida o público a mergulhar nas múltiplas Amazônias possíveis. Baniwa enfatiza que a Amazônia vai muito além de um espaço geográfico que necessita de proteção. “É um espaço que precisa ser escutado, precisa ser entendido a partir da sua floresta, a partir das pessoas que convivem ali”, pontua.A Manaus Amazônia é uma das galerias representadas. Criada em 2016, a galeria brasileira iniciou suas atividades no mercado local, fomentando a cultura do colecionismo na região. Agora, estreia no circuito internacional na ARCOmadrid, trazendo obras de Duigó, Dhiani Pa'saro e Paulo Desana. Por meio da pintura, marchetaria e fotografia, as obras expostas destacam uma Amazônia que, muitas vezes, ficou à margem de espaços como esse, como analisa Carlysson Sena, fundador da Manaus Amazônia Galeria.Sena observa que a região amazônica esteve muito tempo afastada dos processos de desenvolvimento do mercado da arte. “Nós somos também um grito de resistência dentro da Amazônia. E agora abertos para receber todas as pessoas do mundo”, reforça.Arte amazônica para dialogar com o mundoQuem também promove uma abertura da Amazônia para o mundo, com base em novos paradigmas que permitam que os povos amazônicos falem de si e por si, é a artista Uýra. Ela defende a expressão artística como alternativa para a transmissão de mensagens comumente ignoradas pela política institucional.“A arte tem sido esse caminho possível para dialogar com o resto do mundo. Nos reapresentar de uma forma muito mais real, humana – e também não humana – e menos exótica e colonial”, afirma. A artista argumenta que o “imaginário afixado na cabeça do mundo” sobre a realidade amazônica é perigoso, por limitar a Amazônia a uma floresta verde, contínua, sem culturas e sem saberes.Para Uýra, o protagonismo dos povos amazônicos no processo de reapresentação da Amazônia ao mundo é essencial. “Há mais coisas ditas sobre a Amazônia do que as ditas por nós. O que estamos fazendo é só dizer por nós mesmas quem nós somos e de onde viemos”, explica.Na ARCOmadrid, Uýra apresenta a obra Lama, uma fotoperformance na qual aparece coberta de lama, em meio ao azul da água, entrelaçada com plantas de diferentes tipos. A escolha da mistura de terra e água transmite uma mensagem que vai além da estética. “A obra aborda a importância de construir algo novo, algo bonito, algo relevante a partir das diferenças”, como as que existem entre os dois elementos que formam a lama.Luta coletivaA Carmo Johnson Projects, que também faz parte do espaço curatorial amazônico, representa a artista Naine Terena e o Coletivo Mahku. Naine Terena mescla elementos da natureza com fitas de cetim em tecelagens que evocam histórias ancestrais. Já o Mahku constrói uma identidade visual coletiva para refletir sobre a vida amazônica por meio da pintura.O representante da galeria, Nicolas Davenport, conta que o coletivo Mahku tem um projeto de reivindicação territorial e recuperação histórica da cultura indígena. “O lema é ‘vende tela, compra terra'. Existe esse processo de reivindicação territorial para conseguir preservar o espaço e a cultura deles vivos”, destaca.Galeria veteranaFora do eixo curatorial amazônico, no programa geral da ARCOmadrid, a Galeria Luciana Brito também representa o Brasil. Presente na feira de 1998 até 2019, a galeria retorna à edição de 2025 trazendo artistas históricos como Geraldo de Barros, Waldemar Cordeiro e Regina Silveira, além de Ivan Navarro, Rafael Carneiro, Gabriela Machado, Caio Reisewitz e Bosco Sodi.Segundo a galerista Luciana Brito, a ARCO é uma feira essencial para a arte latino-americana, já que, por estar na Europa, oferece acesso direto a colecionadores, diretores de museus e curadores europeus. Ao mesmo tempo, de acordo com ela, a feira atrai um público latino-americano significativo – incluindo argentinos, colombianos, mexicanos e brasileiros. Identidade negra em focoAlém do programa “Wametisé: ideias para um Amazofuturismo” e do programa geral, a ARCOmadrid apresenta duas outras seções com curadoria especial: “Opening. Novas Galerias”, dedicada a galerias jovens, e “Perfis | Arte latino-americana”, voltada para a valorização da produção artística regional. É justamente nessa última que figura a Galeria Cerrado, mais uma representante brasileira no circuito artístico internacional.A presença da Galeria Cerrado em Madri marca sua estreia em feiras internacionais. A vinda à Espanha aconteceu depois de uma visita do curador José Esparza ao projeto Sertão Negro, do artista Dalton Paula. “Sertão Negro é um ateliê-escola onde ele (Dalton Paula) provê esse espaço, toda essa estrutura para que os artistas com quem convive – que ele chama de residentes – possam produzir ali, de forma conjunta, mas cada um com seu trabalho autoral”, relata Luiza Vaz, diretora da Cerrado.Os visitantes encontram na mostra trabalhos de Dalton Paula e também projetos de artistas jovens que estão sendo mostrados pela primeira vez na capital espanhola, como Tor Teixeira, Abraão Veloso, Genor Sales e Lucélia Maciel. Por meio de técnicas como a pintura, a tapeçaria e a escultura, os residentes do projeto Sertão Negro exploram diversas perspectivas da negritude, enriquecendo o diálogo sobre o tema.Oportunidade para galerias brasileirasAo analisar o panorama da feira, o consultor de arte Brunno Silva observa que a ARCOmadrid serve como uma porta de entrada para colecionadores europeus no mercado brasileiro e latino-americano. Segundo ele, o público é receptivo e interessado nas várias manifestações culturais do Brasil e da América Latina. Ele também destaca a diversidade da representação brasileira no evento. “É interessante observar essas 20 galerias. Quando a gente anda pela feira e observa as obras que elas trouxeram, a gente não vê 20 galerias iguais. Muito pelo contrário, a gente vê diversas formas de ilustrar a pluralidade dessas galerias dos artistas que elas representam”, comenta.“Além do mais, é claro, é sempre importante ver essa profissionalização do mercado de arte brasileiro, e o mercado europeu é bastante importante de um ponto de vista global”, acrescenta Silva. Para ele, a presença das galerias brasileiras na ARCOmadrid contribui para “consolidar a importância da arte brasileira no mundo”.Dezesseis das 20 galerias brasileiras participantes da ARCOmadrid 2025 contaram com o apoio do projeto Latitude, uma parceria entre a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT).A ARCOmadrid, que inicialmente recebeu apenas o público especializado, abriu suas portas para o público na sexta-feira (7). As visitas podem ser feitas até o domingo, 9 de março.

    Conduzidas por sambistas argentinos, rodas de samba do Brasil viram fenômeno musical em Buenos Aires

    Play Episode Listen Later Mar 2, 2025 7:57


    Na Argentina, um fenômeno ganha força, sobretudo nesta época do ano: rodas de samba, típicas do Brasil, multiplicam-se pelo país. Já são 38 rodas, todas conduzidas por argentinos que cantam em português como se estivessem no Brasil. As apresentações acontecem também em bairros de Buenos Aires considerados berços do tango. Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos AiresArgentina. Buenos Aires. Samba. Quem acha que há algum erro nessa sequência, é porque não conhece um movimento que tem ganho, ano a ano, mais e mais adeptos: em toda a todo o país, já são 38 rodas de samba, metade delas em Buenos Aires.“Hoje podemos dizer que o movimento do samba em Buenos Aires é muito importante, e uma coisa notável é que a maioria das rodas de samba é conduzida por argentinos que gostaram de samba, que tiveram a oportunidade de entrar em contato com o ritmo”, explica à RFI Guillermo Schneider, integrante de duas rodas de samba, a “Bom Malandro” e a “Malandragem”, a primeira de argentinos, formada há 25 anos.Guillermo, já rebatizado Guilherme pelos amigos brasileiros, comete um pequeno erro: absolutamente todas as rodas de samba – em bom português – são lideradas por argentinos, assim como a grande maioria dos músicos. No público, os  frequentadores conhecem as letras e têm samba no pé.“Eu estava de viagem pelo Brasil quando escutei, pela primeira vez, um grupo de três pessoas tocando samba ao vivo. Eu nem sabia o que era. Eu fiquei apaixonado. Me aproximei e lhes perguntei o que estavam fazendo. Quando me responderam que faziam samba, pensei que queria aprender", recorda Guilherme, sobre a sua viagem a Porto Seguro, em 1998. "Voltei a Buenos Aires e comecei a estudar. Com o passar do tempo, muitas pessoas que assistiam o nosso samba começaram a formar os seus próprios grupos, e colegas meus, professores de música, passaram o conhecimento adiante para muita gente”, descreve.Mestre RenatoPor trás de tantos músicos argentinos dedicados ao samba, há um brasileiro. O carioca Renato dos Santos chegou a Buenos Aires em 1992 e foi o primeiro brasileiro a revelar aos argentinos como fazer. Na época, não havia rodas conduzidas por argentinos. Hoje, não há mais brasileiros liderando rodas.Renato também foi mestre de Guilherme e continua a ensinar os truques. “Fui o primeiro brasileiro que inventou de dar oportunidade aos músicos argentinos para tocarem. Mas eu não gosto de falar isso, porque eu ensino, mas não sou professor teórico. Não me considero professor deles, mas fui considerado assim por eles", indica Renato à RFI. "Eu explicava: ‘não, esse instrumento se toca assim'. Outra coisa que eu fazia era o ritmo. Um, dois. Marcava o tempo para eles. Em vez de tocar assim, mostrava o ritmo e o tempo, coordenados”, recorda.Hoje, Renato dos Santos é o convidado ilustre de qualquer roda de samba em Buenos Aires. Considerado uma eminência do gênero, é chamado ao palco. Quando aparece entre o público, uma roda de sambistas o cerca.“Eles me fazem chorar. Muitas vezes, estão tocando em lugares importantes. Apareço como cliente, mas não me deixam pagar. Mas eu lhes digo que o que aprenderam comigo já passou. O pessoal não aceita”, emociona-se Renato.O samba e o TangoNão é a canção homônima de Caetano Veloso, mas poderia inspirar outra. Nesse movimento de argentinos que entram num mundo tipicamente brasileiro, como o do samba, existe outra curiosidade: várias apresentações dessas rodas de samba acontecem em bairros historicamente ligados ao tango. É quando a queixa do bandoneon vira o choro da cuíca.Nessa fusão cultural dos dois ambientes, algumas rodas de samba acontecem, por exemplo, a poucos metros da casa onde morou o mítico Carlos Gardel, ao lado de espaços de referência do tango e perto de salões da típica dança argentina. No Centro Cultural Macedônia, num dia se dança tango, no dia seguinte, samba. Esse é um dos palcos do Samba na Calçada, a mais raiz de todas as rodas na Argentina.O líder do Samba na Calçada é o argentino Cristian Mansilla, que bem podia ter estudado o bandoneon do tango, mas preferiu a percussão e cavaquinho do samba.“Tem um paralelismo entre o samba e o tango com base na sofrência. A sofrência na poesia é muito parecida tanto no samba, quanto no tango. A diferença está na música, na forma de lidar com essa sofrência. O tango é uma sofrência de morrer e a música acompanha esse sentimento”, aponta Cristian à RFI.“Já no samba as letras também têm essa sofrência, mas a música é para frente, do tipo ‘levanta, sacode a poeira e dá volta por cima'”, compara.Leia tambémFenasamba e Federação de Carnaval de Paris assinam parceria para promover samba e carnaval na FrançaEnergia vitalMas o que leva um argentino a escolher um ritmo brasileiro, tão distante da própria cultura? “O samba me escolheu”, corrige Cristian. “Foi o samba que me escolheu porque eu sempre ouvi muita música, mas o samba me pegou para eu ficar colado nesse movimento, os instrumentos, a música, a harmonia, a poesia. Isso só me acontece com o samba. Escuto muitos outros gêneros de música, mas, quando escuto o samba, sinto uma coisa batendo aqui no peito que não acontece com nenhuma outra música. Chega a arrepiar”, desabafa Cristian.Laura Peirano tornou-se cantora de samba há três anos, quando formou o grupo Quintal do Galo. Ao falar sobre samba, a argentina abre um imenso sorriso para explicar as razões para a sua decisão.“Principalmente, essa energia que acontece nas rodas de samba, de cantar no formato de roda. Não temos isso aqui na Argentina. No folclore argentino ou no tango, essa energia de cantar em roda é como se fosse um coração, batendo o tempo todo com todas as pessoas ao mesmo ritmo, como um coração gigante”, descreve Laura à RFI.“Na roda de samba, você só precisa caminhar, bater a palma da mão e já está dançando. Todos os sambas têm o ‘laialaiá'. Você pode cantar sem saber a letra toda. Então, é muito mais democrático”, considera. “Essa felicidade do samba é um antídoto para este mundo que tem pego fogo e no qual tentamos sobreviver diante de muitas coisas tristes”, observa Laura.Nível altoE, afinal, as rodas de samba conduzidas por argentinos deixam a desejar ou o nível é alto como no Brasil? Para tirar essa dúvida, o mestre que ensinou a todos, Renato dos Santos, tem a resposta:“São de alta qualidade. As rodas de samba são excepcionais. Você até acha que está no Brasil", constata. "Inclusive tem grupos aqui em Buenos Aires que gravam os seus discos no Rio de Janeiro”, conta Renato.O aluno pioneiro, Guillermo Schneider, naturaliza a universalidade do samba: “Em todo o lugar do mundo, tem alguém que gosta de samba. Em todo lugar da Argentina, tem alguém que gosta de samba. Por quê? Porque o samba não tem fronteira. É um estilo que fala do povo, fala das pessoas, do coração das pessoas", salienta. "Você não tem que falar com o psicólogo do compositor porque ele escreve simples. Ele escreve direto. Ele conta a história da sua vida, conta o seu dia-a-dia. Ele conta o que é a vida no Brasil no morro e, hoje em dia, no asfalto”, conclui Guilherme.

    Oscar 2025: Brasileiro está na disputa por efeitos visuais de “Wicked”

    Play Episode Listen Later Mar 1, 2025 4:58


    Além de Fernanda Torres, mais um brasileiro está na expectativa de colocar no currículo uma estatueta do Oscar. O mineiro Romualdo Amaral faz parte da equipe de efeitos visuais de “Wicked”. O longa, que já arrecadou quase US$ 730 milhões de bilheteria e se tornou a adaptação cinematográfica mais rentável para um musical da Broadway, concorre em dez categorias no Oscar, inclusive Melhor Filme e Efeitos Visuais. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los AngelesHá nove anos nos Estados Unidos, Romualdo já trabalhou em quase três dezenas de produções, como as da Marvel “Falcão e o Soldado Invernal' e “Capitão América: Admirável Mundo Novo”, que acaba de estrear, e nas séries premiadas “Stranger Things” e “Hacks”. Agora, pela primeira vez, teve a emoção de ver um filme para o qual colaborou ter indicações à maior premiação do cinema mundial.“Foi felicidade em dose dupla. Eu estava no Brasil no dia das indicações e naquela expectativa. Começou e de repente saem as indicações de Melhor Filme Internacional, apareceu “Ainda Estou Aqui", fiquei muito feliz. Na sequência veio a de 'Wicked' para Melhores Efeitos Visuais. Fiquei bastante emocionado, vibrando, com a energia lá em cima", relembra. "Depois, Fernanda Torres indicada, surtei também, mas o meu maior surto foi em indicados a Melhor Filme”, diz Amaral, já que o filme do qual participou e a produção brasileira concorrem na categoria principal do Oscar.Romualdo sempre foi fã de cinema. Na adolescência, ele mantinha um blog sobre a sétima arte, no qual falava dos filmes indicados. "Na noite do Oscar, sozinho na frente da TV em casa, eu me vestia de gala para acompanhar tudo", relata. "O Oscar para mim sempre foi uma grande festa, sempre fui apaixonado por cinema. Se 'Wicked' ganhar qualquer Oscar, já vou ficar super-realizado. Não precisa nem ser Efeitos Especiais”, celebra.De Uberlândia para HollywoodNo Brasil, ele se formou em Computação na Universidade Federal de Uberlândia, mas encontrou seu espaço na indústria cinematográfica após um mestrado em Animação e Efeitos Especiais na Academy of Art University em São Francisco, dos Estados Unidos, onde chegou em 2016. "Graças ao meu trabalho no mestrado, que era um curta animado de três minutinhos, “Steve's Catch”, comecei a me candidatar para vários lugares, e logo a Marvel já me chamou. Meu primeiro trabalho foi 'Falcão e o Soldado Invernal'", indica.Desde então, o brasileiro acumula projetos, muitos simultaneamente, já que trabalha para uma empresa que presta serviços para vários dos grandes estúdios de Hollywood. Romualdo conta que, em “Wicked”, trabalhou em diversas sequências fazendo a mágica que vai além do set de filmagens. A primeira cena da produção na qual se debruçou faz parte do filme 2, previsto para ser lançado no final de 2025.“Eu trabalhei com a equipe de efeitos especiais que criou toda a parte falsa do ambiente. Apesar do filme ter vários elementos reais, eu acho que isso foi uma das coisas mais incríveis da produção em si, porque o diretor percebeu que não tinha como contar a história apenas com tela verde [o chroma key, técnica utilizada para modificar digitalmente um cenário]. Precisava fazer uma um processo criativo e teve todo um trabalho de design de produção", aponta. "Por exemplo, eles plantaram nove milhões de tulipas, só que não tinha como fazer tudo, então os elementos extras de fundo a gente recriou no ambiente da computação gráfica", conta.Fernanda Torres e Ariana GrandeO grande favorito na categoria de Efeitos Visuais para o Oscar é “Duna: Parte 2”, mas na premiação tudo pode acontecer. Na expectativa, o brasileiro já comemorou adiantado a espécie de crossover que aconteceu recentemente e viralizou na internet – o encontro de Ariana Grande com Fernanda Torres no Festival de Cinema de Santa Bárbara e quando a atriz brasileira saudou a americana com a icônica jogada de cabelo da personagem Glinda, de "Wicked".  “Na hora que eu vi aquilo, eu falei: ‘eu preciso colocar esse vídeo num potinho e guardar para sempre'. Foi épico, marcante, ver essa energia incrível", diz o artista, que acaba de dirigir mais um curta-metragem, “Small as a Pea". A previsão de lançamento é ainda neste ano.Wicked no OscarO filme francês "Emilia Pérez" lidera as indicações ao Oscar 2025, disputando em 13 categorias. O musical "Wicked", de Jon Chu, empata com "O Brutalista", que também acumula 10 indicações."Um Completo Desconhecido” e “Conclave” vêm na sequência, somando oito indicações cada um.As categorias em que “Wicked” foi indicado são:Melhor FilmeMelhor Atriz por [Cynthia Erivo]Melhor Atriz Coadjuvante por [Ariana Grande]Efeitos VisuaisMelhor FigurinoMelhor Maquiagem e PenteadoTrilha Sonora OriginalDireção de ArteEdição de FilmeMelhor Conquista em Som

    Histórias de superação e inclusão: Brasileiros estreiam nos Invictus Games de Vancouver, no Canadá

    Play Episode Listen Later Feb 9, 2025 5:16


    O Brasil espera ter uma participação histórica nos Invictus Games, evento internacional para militares com deficiência criado pelo príncipe Harry em 2014, que acontece a cada dois anos. A atual edição, em Vancouver, inclui disputas em 11 modalidades, das quais seis são de inverno – biatlo, curling em cadeira de rodas, esqui alpino, esqui nórdico, skeleton e snowboarding – e cinco de verão – basquete em cadeira de rodas, natação, remo indoor, rúgbi em cadeira de rodas e vôlei sentado. Luciana QuaresmaO Brasil se tornou o 24º país filiado aos Invictus Games, torneio que vai até 16 de fevereiro no Canadá. Segundo o tenente-coronel Davi Pavelec, da Comissão Desportiva Militar do Brasil e chefe da missão brasileira, estar em Vancouver “oferece uma plataforma inédita de reconhecimento pessoal e fortalecimento da autoestima para os veteranos”.Fazer parte do torneio é uma demonstração do compromisso do país com a reabilitação e a valorização de seus militares. "Integrar este evento tem como objetivo promover a inclusão social, física e emocional dos nossos militares, oferecendo uma plataforma de superação e reconhecimento pessoal, além de fomentar um ambiente de apoio mútuo entre atletas", destacou Pavelec à RFI.A delegação verde-amarela conta com oito atletas, que irão disputar as provas em duas modalidades: vôlei sentado e natação. No vôlei, o paranaense Alex Witkovski, que ficou em 6° lugar quando a delegação brasileira disputou os Jogos Olímpicos de Paris 2024, volta às quadras animado.O Brasil deve aproveitar esta participação no Canadá para aprender mais com países como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, presentes desde a criação dos Invictus Games.“Esses países já possuem uma forte infraestrutura de apoio aos militares paratletas, tanto para a reabilitação, quanto ao esporte adaptado. O aprendizado está na forma como essas nações estruturam suas equipes, preparam os atletas e utilizam os jogos como uma ferramenta de reintegração social e psicológica", afirma Pavelec.Ele destaca a existência de um intercâmbio com nações mais experientes, por meio de parcerias com organizações internacionais, que ajudam a oferecer capacitação e troca de conhecimento sobre como otimizar programas de esporte para veteranos no Brasil. Pavelec cita os exemplos da Colômbia e da Argentina, que anualmente vêm ao Brasil para o Torneio Internacional Militar de Vôlei Sentado.Formação da equipe: desafios e superaçãoConstruir uma equipe para competir internacionalmente não foi simples. O Brasil enfrentou o desafio de estruturar um treinamento especializado. "Embora tenhamos iniciativas como o Programa de Paradesporto Militar, a cultura do esporte adaptado está em crescimento. Foi necessário um grande esforço para integrar o esporte à reabilitação", explicou Pavelec.O Ministério da Defesa acredita que os Invictus Games atuarão como uma ferramenta crucial na recuperação física e emocional dos militares. "Esses jogos são mais que uma competição, são um gesto de solidariedade e comunidade entre os veteranos", destacou o tenente-coronel.Os atletas foram selecionados com base em rigorosos critérios, considerando as habilidades esportivas e o desejo de superação pessoal. A preparação incluiu treinos frequentes com acompanhamento de técnicos especializados, para que os competidores estejam prontos para enfrentar os desafios com confiança.Futuro planejadoApós a participação nos Invictus Games, o Brasil planeja continuar o investimento no esporte adaptado. "O fortalecimento da cultura esportiva entre os militares com deficiência será uma prioridade, garantindo que eles tenham oportunidades para praticar esportes adaptados e participar de competições promovendo suas reabilitações e integração à sociedade", disse Pavelec.A delegação brasileira é composta por para-atletas das Forças Armadas e Forças Auxiliares. Para o general Paulo Afonso, diretor do Departamento de Desporto Militar, o evento "representa um marco no paradesporto militar brasileiro.Inspirado pelo Warrior Games dos Estados Unidos, o príncipe Harry criou os Invictus Games como um evento internacional que utilizaria o poder do esporte para ajudar na recuperação e reabilitação de veteranos. A primeira edição aconteceu em Londres, no Reino Unido, em 2014, e se expandiu para incluir cidades como Orlando, Toronto e Sydney. Em 2025, a competição reúne cerca de 500 atletas de 24 nações em Vancouver.Como todo bom filho à casa torna, a próxima edição dos Invictus Games acontecerá em Birmingham, em 2027, na Inglaterra.

    Depois do Grammy, cantora Anna Torres leva mensagem de inclusão para Semana da Moda de Londres

    Play Episode Listen Later Feb 8, 2025 5:05


    Após participar do Grammy 2025 com a música "Um mundo diferente”, na categoria especial da Melhor Canção para Mudança Social, a cantora maranhense Anna Torres, radicada na França, agora vai levar sua mensagem à Semana da Moda de Londres. Ela apresentará a mesma faixa, no final de fevereiro, no evento The Future of Fashion Show (O Futuro dos Desfiles de Moda, em tradução livre). A brasileira usa seu canto e sua experiência pessoal para dar voz a um mundo mais inclusivo. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles “O mundo está muito à deriva. Eu acho que a arte é uma das boas ferramentas que a gente tem para, pelo menos, tentar ajudar a melhorar esse mundo", disse a cantora à RFI em Los Angeles, após a cerimônia do Grammy.A música “Um mundo diferente” foi composta em parceria com o brasileiro Marco Duailibe, e lançada para esquentar o clima dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris, em 2024. Pouco tempo depois, a canção já tem versões em sete idiomas.Em Los Angeles, a cantora se apresentou na noite anterior à grande festa televisionada do Grammy, em um evento dedicado ao prêmio Harry Belafonte, criado há três anos para homenagear compositores que trazem mensagens sobre justiça social e que inspiraram um impacto global positivo.Apesar de o prêmio ter ido para o norte-americano Iman Jordan, com a composição “Deliver”, Anna contou à RFI que o mais importante nessa jornada é dar eco à sua mensagem, que entrelaça a arte com o ativismo.“Essa categoria foi uma homenagem que fizeram ao artista humanitário Harry Belafonte, que é um dos criadores do projeto “We are the world", junto com Quincy Jones, Michael Jackson e Lionel Richie e todos os grandes artistas que participaram do evento. Esse prêmio está dando a oportunidade de a gente estar falando sobre coisas relevantes para a humanidade e eu fico feliz por estar participando desse processo de sensibilização”, contou.A inspiração para a música veio de casa. Anna é mãe de uma adolescente autista e decidiu escrever um pouco do seu sentimento diário. Ela acredita que é preciso enxergar beleza nas diferenças e transformar desafios em motivação.Próxima parada: modaApós quebrar as barreiras do esporte, nos Jogos Paralímpicos, e entrar para os holofotes da música mundial no Grammy, a próxima parada da artista é a Semana da Moda de Londres, onde participa de um show, em um desfile no dia 22 de fevereiro.“Este será um desfile inclusivo organizado pela Samanta Bullock, que é uma grande ativista, na Inglaterra, em prol das pessoas com deficiência. Esse desfile será realizado por modelos profissionais que têm algum tipo de deficiência. Para mim é uma grande honra ser uma das porta-vozes das pessoas com deficiência no Brasil e no mundo", finaliza.

    Alceu Valença faz turnê pela Europa com espetáculo "Valencianas"

    Play Episode Listen Later Jan 31, 2025 8:21


    O cantor e compositor Alceu Valença deu início à sua turnê europeia com o espetáculo "Valencianas". Ele recebeu a RFI em sua casa, em Lisboa, cidade que considera um segundo lar, antes de embarcar para Paris, onde se apresenta neste sábado (1°). Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Lisboa"Lisboa sempre me recebe com um carinho especial, e a energia do público português é incomparável. Adoro caminhar de madrugada pelas ruas do bairro do Castelo de São Jorge, pelo Bairro Alto, com suas ruas estreitas e vibrante vida noturna", descreve Alceu Valença. "Adoro passear pelas margens do Tejo, pelos Sapadores e tomar um café no Dali”, comenta o cantor, que faz questão de sentir a essência musical que permeia a capital portuguesa que serve de inspiração para o artista.O espetáculo "Valencianas" não é apenas uma reapresentação de seus sucessos, mas um projeto ambicioso que busca reinterpretar essas canções atemporais com arranjos orquestrais que ressaltam a riqueza da obra de Alceu. “Estamos trazendo uma nova roupagem para temas que o público já conhece e ama, ampliando as texturas e emoções através da orquestra”, comenta, em referência à colaboração com a Orquestra Ouro Preto.Ele ressalta a emoção de se apresentar ao lado da formação, enfatizando a importância dessa colaboração para trazer uma nova interpretação de seus clássicos. "Estou animado para compartilhar com o público essa fusão entre a música popular brasileira e o rico som da orquestra, criando uma experiência única que eu espero que toque o coração de todos".Os shows em terras lusitanas acontecem nos dias 8 e 9 de fevereiro, na Casa da Música, no Porto, e no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa. Antes disso, ele se apresenta na Sala Pleyel, em Paris, em 1° de fevereiro, segue para Utrecht, na Holanda (dia 3), Barcelona, na Espanha (dia 4) e Berlim, na Alemanha (dia 6).Parceria duradoura com a Orquestra Ouro PretoA colaboração entre Alceu Valença e a Orquestra Ouro Preto já dura mais de uma década e resulta em interpretações memoráveis que conquistam palcos no Brasil e no exterior. A orquestra é formada por trinta músicos e consolida sua reputação como uma das mais respeitadas do cenário musical brasileiro. Sob a direção do maestro Rodrigo Toffolo, a formação é reconhecida pela versatilidade e inovação com projetos como “Valencianas”, que contribuem para atrair novos públicos para este universo. "Valencianas é um projeto que une o sertão e o agreste do Brasil à música de concerto. É uma forma de mostrar que esses gêneros podem dialogar e se enriquecer mutuamente", afirma Toffolo.O maestro elogia a ousadia de Alceu ao explorar novas sonoridades e a importância cultural do artista no cenário musical contemporâneo, destacando que suas composições têm uma contemporaneidade que cativa não apenas fãs, mas também novos ouvintes. “Ele consegue transcender fronteiras e épocas, e essa capacidade nos impulsiona a explorar arranjos que destaquem as nuances emocionais de suas canções”, diz.Para ele, a união de elementos clássicos com ritmos regionais cria uma experiência única que ressoa com o público de diversas maneiras. “É um diálogo que revela a riqueza cultural brasileira e como esses gêneros podem se interconectar”, afirma o maestro. “Trabalhar com Alceu é uma oportunidade extraordinária, pois sua música é uma expressão genuína da cultura brasileira”.Os arranjos orquestrais desempenham um papel crucial no espetáculo. “Buscamos manter a essência das obras de Alceu, mas, ao mesmo tempo, queremos expandir suas texturas através da orquestração”. As adaptações visam revisitar uma nova dimensão emocional, criando um ambiente sonoro que eleva a experiência do público.Com a turnê europeia prestes a começar, a expectativa é alta. “Portugal, em especial, tem uma ligação muito forte com a nossa música e com Alceu", conta Toffolo. As atuações em cidades como Porto e Lisboa, além de outros palcos europeus, devem proporcionar momentos memoráveis, reforçando a tradição da música brasileira no exterior.Com uma carreira de mais de cinquenta anos, Alceu Valença se destaca como um dos mais autênticos e inovadores artistas da sua geração. Reconhecido por sua habilidade em misturar diferentes estilos musicais, ele vê nas turnês internacionais uma oportunidade de se conectar com uma audiência global. “É sempre uma alegria levar minha música para fora do Brasil, especialmente em lugares como Portugal, que considero meu segundo lar pela afinidade com Lisboa, que me comoveu desde a primeira vez que estive aqui, e o carinho que recebo do público”, revela Valença que se divide entre Olinda, Lisboa e Rio de Janeiro.Um repertório que promete emoção "Valencianas" oferece uma imersão nas canções que definem a carreira de Alceu Valença. Além de sucessos como "Eu Vou Fazer Você Voar", “Belle de Jour”, “Tropicana”, “Coração Bobo”, “Girassol”, “Cavalo de Pau”, "Solidão" e o imortal "Anunciação", revisitados sob a luz da orquestra, o repertório inclui também temas criados pelo próprio Alceu e a suíte Valencianas, composta por Mateus Freire a partir de diversas referências do universo do cantor.O concerto reúne temas dos dois álbuns, ao vivo, que formam a essência do projeto: Valencianas I, gravado em Belo Horizonte em 2014 e vencedor do Prêmio da Música Brasileira, e Valencianas II, gravado na Casa da Música, no Porto, em Portugal, em 2020."Quem assistir 'Valencianas' vai entender a musicalidade brasileira no seu esplendor", descreve o maestro. "A poesia do Alceu emociona a gente até nas músicas mais conhecidas como 'Anunciação'. É algo assim que só o Alceu poderia pensar: "a bruma leve das paixões que vem de dentro"... Que coisa linda, que poesia linda, uma música extraordinária! Eu fico ali regendo ao lado dele e aproveitando muito para sair um músico melhor do que entrei em cada concerto com Alceu!”, diz Toffolo.“Esperamos que o público não apenas escute, mas sinta a energia das canções. Queremos provocar emoções e abrir espaço para que cada um possa vivenciar a música de maneira única”, diz o maestro. “Este espetáculo é um convite para redescobrir a música brasileira sob uma nova luz. É uma celebração das nossas raízes, unindo diferentes gerações através da arte”, finaliza.

    Academia Real de Londres abre as portas ao modernismo brasileiro com uma seleção de obras-primas

    Play Episode Listen Later Jan 27, 2025 4:57


    “Brasil! Brasil!, O nascimento do modernismo”, assim mesmo: duas vezes, escrito com S e exclamação é um grito pela riqueza da arte moderna brasileira literalmente para inglês ver. Yula Rocha, correspondente da RFI em LondresA exposição reúne 130 obras de dez artistas brasileiros da velha guarda do modernismo como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Cândido Portinari à Djanira, Volpi, Geraldo de Barros  na prestigiada Academia Real de Artes de Londres (Royal Academy of Arts).O modernismo brasileiro, que buscou sua identidade ao se descolar do colonialismo europeu entre os anos de 1910 e 1970, ocupa todo o primeiro andar do enorme prédio fundado pelo Rei George III no fim do século 18. Uma das curadoras da mostra, Roberta Saraiva Coutinho, que é diretora técnica do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, conversou com a RFI durante o evento aberto à visitação da imprensa e ressaltou a relevância do conjunto das obras expostas diante do contexto político em que o mundo se encontra.“A arte brasileira, o modernismo brasileiro em 2025, neste contexto que a gente está vivendo no mundo é uma coisa extraordinária. É muito comovente entrar nessa exposição e ver esse conjunto de obras emblemáticas do modernismo brasileiro que são as obras das coleções mais importantes do Brasil.”  Roberta Saraiva CoutinhoA curadoria da exposição teve o cuidado de manter algumas palavras em português na descrição das obras como, por exemplo, bandeirinhas das festas de São João no Nordeste. "Cada língua tem uma espécie de visão de mundo", explica Roberta.“A exposição quer trazer essa visão de mundo do Brasil para Londres, esse mundo que é um mundo globalizado, compreendendo também o modernismo como um fenômeno global. Esse é um momento oportuno para se pensar tudo isso”, afirma.A exposição é uma grande vitrine para o Brasil, mas não contou com apoio financeiro do governo. O modernismo chamou a atenção do Centro Paul Klee, que investiu em trazer as obras para Europa no ano passado. Primeiro para Berna, na Suíça, e agora para Londres em parceria com a Academia Real, que reuniu ainda outras sete obras de coleções privadas com quadros de Burle Marx adquiridos na última grande exposição de arte brasileira em 1944 na capital britânica, essa, sim, com apoio do nosso governo à época.“Acho importante dizer que para uma exposição deste porte toda feita por instituições de peso do exterior, sem financiamento público brasileiro, nos coloca num outro nível, isso nos coloca num outro lugar”, acredita Roberta.Os temas explorados por essa gama de artistas brasileiros há sessenta, oitenta anos, como o sincretismo religioso com o quadro dos Orixás de Djanira, a migração, trabalhadores do campo, festas regionais e representação indígena estão mais do que nunca na pauta do dia.“A gente enxerga o mundo contemporâneo nesta exposição com obras de artistas como Djanira cuja voz foi tão pouco vista ao longo dos anos e agora retoma o seu lugar dentro da arte brasileira”, afirma Roberta.A exposição“Brasil! Brasil!, O nascimento do modernismo” abre ao público no dia 28 de janeiro e vai até o dia 21 de abril.

    Brasil é homenageado na Feira Internacional de Turismo e celebra parceria estratégica com a Espanha

    Play Episode Listen Later Jan 27, 2025 12:19


    Nos últimos dias, Madri tem respirado turismo. Entre 22 e 26 de janeiro, a capital espanhola sediou a 45ª edição da Feira Internacional de Turismo, a Fitur. Este ano, o Brasil foi escolhido como país sócio do evento, recebendo destaque internacional. A feira reuniu 884 expositores, 9.500 empresas e representantes de mais de 100 países. Mais de 250 mil pessoas compareceram, entre profissionais do setor e visitantes. Marcelo Freixo, presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), celebrou a parceria com a Espanha neste que é considerado um dos maiores eventos turísticos do mundo. “O Brasil volta para o cenário mundial”, segundo Freixo, dialogando sobre questões como responsabilidade climática, democracia e o combate à fome. Para o presidente da Embratur, é “muito importante” que essas questões fundamentais tenham um “reflexo no Brasil do turismo, o Brasil que recebe o mundo inteiro para conhecê-lo”.Freixo ressaltou ainda a imensa diversidade do Brasil, um país com 6 biomas, que vai muito além de “sol e praia” e que é profundamente plural também em termos culturais. “É isso que a gente apresenta nas feiras, é isso que a gente vem apresentar aqui na Espanha”, pontua.Potência a explorarToda a diversidade que o país possui tem potencial para virar atrativo turístico, segundo o presidente. E, para colher frutos nesse sentido, a Embratur, além de dialogar com as companhias aéreas em busca de aumentar a conexão do Brasil com o mundo, tem trabalhado para uma maior relação com as agências de viagem.Marcelo Freixo explica que foi lançada uma plataforma – em inglês e espanhol –, na qual os trabalhadores do setor turístico na Espanha poderão entrar para compreender melhor os destinos brasileiros e, assim, ter mais ferramentas para vender o país como uma boa opção para os viajantes. “Esse mundo das agências, que é quem na verdade organiza a ida dos turistas para os seus destinos, é um foco muito importante pra gente agora”, destacou.Guia de investimentosOutro produto lançado em Madri durante os dias de Fitur foi o guia Tourism Doing Business: Investindo no Brasil, elaborado pela ONU Turismo e pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) em colaboração com o Ministério do Turismo brasileiro. A publicação tem como objetivo “explorar as diversas oportunidades e facilidades de investimento disponíveis no setor turístico e ressaltar as principais qualidades que fazem do país um destino turístico atrativo”, como é possível ler na introdução do material.Como cinco aspectos mais relevantes para investir no Brasil, o texto elenca: “a diversidade da economia e o potencial de crescimento”; “a inovação e a tecnologia como motor de crescimento”; “a infraestrutura e a conectividade”; “a diversidade cultural e o talento competitivo” e a “abundância de recursos naturais e biodiversidade”.Na última quinta-feira (23), houve evento para apresentar o guia na Embaixada do Brasil em Madri. O embaixador Orlando Leite Ribeiro destacou que a iniciativa tem um propósito bem definido: “Não estamos aqui só buscando turistas. A presença do Brasil na feira visa também atrair investimentos. A Espanha já é o segundo maior investidor no Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos, mas no setor de turismo ainda é um pouco tímida”.Presidência do Conselho Executivo da ONU TurismoDurante os dias de Fitur, o ministro brasileiro do Turismo, Celso Sabino, cumpriu uma agenda intensa em Madri. Além de participar de diversos eventos conectados diretamente à feira, no último dia 23, ele assumiu a presidência do Conselho Executivo da ONU Turismo –  a agência das Nações Unidas que promove o turismo sustentável e acessível para todos. O ministro destacou que o feito representa um marco histórico, já que é “a primeira vez na história dessa entidade, que tem 50 anos, que um brasileiro ocupa esse posto”.Sabino explicou ainda que a ONU Turismo promove um “debate em altíssimo nível” sobre temas como: o avanço do Turismo de forma responsável; a promoção, qualificação e capacitação profissional do setor; a promoção de novos destinos e a sustentabilidade como um todo. “E o conselho executivo da ONU Turismo é o órgão responsável por organizar a pauta, marcar as reuniões, definir as prioridades que serão levadas à assembleia geral”, continuou. “Tenho certeza que o Brasil vai agarrar essa oportunidade com unhas e dentes”.Segundo os dados da Embratur, em 2024, o Brasil bateu um recorde no número de visitantes internacionais. O país alcançou a marca de 6.657.377 turistas estrangeiros, obtendo um crescimento de 12,6% em comparação com 2023. E 2025, segundo Celso Sabino, deve ser mais um grande ano para o turismo brasileiro.“No ano passado, nós tivemos a presidência do G20, esse ano nós vamos ter a presença dos BRICS, vamos ter a Cop30 e, em 2027, vamos sediar o mundial de futebol feminino,”, destaca o ministro, enfatizando que cada um desses eventos contribui para o cenário de ascensão que o Brasil está vivenciando.“Mas o fato é que nós viemos numa tendência”, pondera. “Superamos em 2024, por exemplo, marcas de quando o Brasil sediou as Olimpíadas, de quando o Brasil sediou a Copa do Mundo. O ano de 2024 foi bem melhor do que esses anos, inclusive”. Para o chefe do Ministério do Turismo, o objetivo é alcançar a marca dos 7 milhões de turistas estrangeiros visitando o Brasil, em 2025, e ultrapassar a marca de mais de 300 milhões de viagens domésticas de “brasileiro fazendo turismo dentro do Brasil”.Ainda de acordo com a Embratur, mais de 1,4 milhão de turistas europeus desembarcaram no Brasil em 2024, um aumento de 16% em relação ao ano anterior. Desses, 128 mil viajaram da Espanha, representando uma alta de 12% em comparação a 2023. Já existem voos diretos ligando Madri e Barcelona a grandes cidades brasileiras como São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, Salvador também tem ligação direta com a Espanha, com voos sem escalas a partir de Madri.Estados representadosA Bahia é um dos estados com estande próprio na Fitur. No espaço, uma baiana tradicional atrai todos os olhares. É Lucicleide Nascimento, que participa da feira há mais de 20 anos e encanta os visitantes com sua simpatia e traje típico, gerando grandes filas. São pessoas que querem tirar fotos, conversar e até fazer pedidos, já que a baiana também distribui as famosas fitinhas do Senhor do Bonfim. A gastronomia da Bahia, com seus sabores inconfundíveis, é outro trunfo para chamar a atenção de quem passa pelo estande.“Tem uma degustação de cachaça, uma cachaça muito boa que é produzida na Bahia. E mais tarde vai ter o acarajé. O acarajé é um patrimônio imaterial, então todas as feiras que a gente vai que a gente faz a divulgação da gastronomia baiana”, Lucicleide Nascimento relata orgulhosa.O Paraná também está representado com um espaço exclusivo na Fitur. É a primeira vez do estado com estrutura própria. A estreia acontece num momento em que o governo está investindo fortemente no setor de viagens, segundo conta Eduardo Aguiar, diretor de promoção comercial do Viaje Paraná.Ele destaca que o destino prioritário da promoção turística do estado durante o evento é uma cidade que está em evidência: “A gente quer reforçar especialmente a presença de Foz do Iguaçu. (...) (O município) foi eleito agora pelo TripAdvisor como principal destino da América do Sul, então é um destino que a gente quer reforçar bastante aqui na Europa”.Em frente ao estande do Paraná, está o espaço reservado a Pernambuco. Multicolorido e com a presença de uma dançarina de frevo e da La Ursa – personagem típica do carnaval pernambucano – a área exibe cultura por todas as partes. Afinal, o patrimônio cultural do estado é um fator que diferencia Pernambuco dos outros territórios nordestinos, também cheios de belas paisagens. Pelo menos é isso que afirma Eduardo Loyo, presidente da empresa de turismo de Pernambuco (Empetur).Loyo explica também que a viagem a Madri tem como objetivo promover parcerias estratégicas, focadas em operadores de viagens espanhóis. “A gente já tem um trabalho semelhante a esse em Portugal e muito forte na América do Sul e quer  expandir aqui também para o mercado espanhol e tendo em vista que algumas novas conexões, Pernambuco – Madri, em breve podem ser anunciadas”, estima o presidente da Empetur.Outro estado que também está representado por um estande exclusivo é o Rio Grande do Norte. Na “prateleira” da ativação montada na Fitur, se destacam cinco destinos. Três clássicos – Natal, Pipa e São Miguel do Gostoso – e outros que são apresentados como novidade: Galinhos e o Geoparque Seridó.Reconhecendo que o Rio Grande do Norte não está entre os destinos brasileiros mais famosos, Raoni Fernandes, presidente da Emprotur, a Empresa Potiguar de Promoção Turística, afirma que o estado está focando em ações para aumentar a conectividade aérea com a Europa.Fernandes também destaca a sustentabilidade e o ecoturismo como atrativos. “Toda a energia que está dentro da rede de distribuição do Rio Grande do Norte  é limpa e sustentável. Além disso, nós temos 11 unidades de conservação ambiental e quase todos os produtos turísticos do Rio Grande do Norte estão em áreas de conservação ambiental”, pontua.Segundo o presidente da Emprotur, o tema das áreas de conservação ambiental é um dos que mais pontuam, que mais valorizam a pontuação no crédito de carbono. Por isso, ele diz que a intenção, na feira, é mostrar ao europeu que ele está indo para um destino que se preocupa com a descarbonização do planeta.No estande do Ceará, o artesanato mostra a cara do estado para quem passa pela Fitur. Detalhes em palha, em madeira e no couro – inconfundivelmente trabalhado por Espedito Seleiro – se unem a imagens praianas que acompanham um paisagismo feito com base na vegetação cearense.Há mais de 10 anos participando com estande próprio da Feira Internacional de Turismo, o Ceará está focado, em 2025, em apresentar destinos consolidados – como Fortaleza, Jericoacoara e Canoa Quebrada – e opções turísticas em ascensão como é o caso de Icaraizinho, Taíba e Fortim. Além disso, existe o objetivo de interiorizar o turismo, como explica Thiago Marques, coordenador de marketing da promoção turística do estado.“O Ceará não é só praia, a gente também tem a zona de serras, que é muito interessante, e o sul do estado que já é bem forte na parte de turismo cultural, turismo religioso e ecoturismo também. Então tudo isso a gente tenta trazer aqui nesse estande, a casa do Ceará na Fitur, para as pessoas poderem conhecer um pouquinho mais”, enumera o representante cearense.Maricá, Rio de JaneiroEm meio a tantos estados com estandes próprios na Fitur, está uma cidade. Maricá, localizada a 60km do Rio de Janeiro, também tem um espaço exclusivo para mostrar as belezas naturais e a gastronomia local. O secretário municipal de turismo, José Alexandre Almeida, explica que Maricá tem investido na estrutura do aeroporto, criado há 5 anos, visando melhorar a conectividade com outros destinos.Novos atrativos turísticos também estão sendo idealizados pelo prefeito da cidade, como comenta o secretário: “Ele quer trazer os teleféricos, os parques temáticos. A cidade está conversando aqui com o Puy du Fou, aqui pertinho, em Toledo, para ter uma filial do Puy du Fou no Brasil, em Maricá”. A ideia, segundo ele, é poder “se aliar a marca poderosa que já é o Rio de Janeiro”.Representação interregionalAlém dos estandes exclusivos de cada estado ou cidade, está o enorme espaço de 308 m², montado pela Embratur. Nele, trabalham 37 expositores das cinco regiões do Brasil. Definido como uma “vitrine para a riqueza cultural e as oportunidades de negócios”, o lugar é palco de rodadas de negociação e apresentações ligadas à cultura e à gastronomia do país.Uma das atividades realizadas na edição de 2025 foi a preparação de um prato típico do Maranhão, o camarão no abacaxi. A receita, cujo resultado foi servido para degustação, foi executada pela chef Sarah Lima. Para ela, representar o país diante de um público tão amplo, é “um prazer muito grande”. A missão de levar a gastronomia brasileira mundo afora já foi cumprida por ela, além da Espanha, em países como a França e a Alemanha.Na hora de escolher as delícias que irá reproduzir no palco, ela pensa em gerar interesse e desejo. “A gente busca trazer realmente os sabores do Brasil com receitas que são típicas, fáceis de realizar e que as pessoas tenham vontade de vir ao Brasil descobrir”, compartilha.Ainda como parte da programação do estande da Embratur, visitantes da área Brasil puderam viver uma experiência de realidade virtual de imersão na Amazônia, com uma visão de 360° das belezas únicas da região. Elsa Hernández, que tem uma empresa de turismo no México, ficou encantada com o que viu.“É uma experiência única porque, eu digo a você, é como se você estivesse lá na água. Você está tocando a natureza. Muito, muito bonito. É uma experiência muito bonita, e acho que vale muito a pena tê-la ao vivo” resume.

    Conheça a brasileira Cristina Cordula, umas das pioneiras da consultoria de imagem na televisão francesa

    Play Episode Listen Later Dec 22, 2024 6:40


    Entre as brasileiras que conquistaram o seu espaço em Paris, certamente está a ex-modelo carioca Cristina Cordula. Em 30 anos na França, ela trilhou o seu próprio caminho no disputado mundo da moda. Porém, se engana quem pensa que a passarela até aqui foi um mar de rosas. Ela conta que, no início da carreira, encontrou muitas portas fechadas, mas que tudo mudou quando decidiu cortar o cabelo bem curto, que virou a sua marca registrada. Cristina não desistiu nas primeiras dificuldades e agora é uma referência de elegância, como conta nessa entrevista exclusiva à RFI Brasil. Maria Paula Carvalho, da RFI em ParisRFI: Como foi conquistar o seu espaço, primeiro como manequim e modelo, e agora como consultora no país da moda?Cristina Cordula: Foi difícil. Eu moro aqui há muitos anos e sou consultora de imagem, com um programa na televisão já há 20 anos e vários livros. Tudo na vida é difícil, ainda mais em um país que não é o seu. Foi muito trabalho para poder alcançar os meus objetivos. E talvez a forma que eu tenho de trabalhar, esse lado brasileiro, de ser mais positiva, mais alegre, ajudou. A consultoria de imagem é uma coisa muito particular, muito sensível. Então, uma coisa é você falar de um jeito sério, com gravidade, e outra coisa é você falar de um modo mais positivo: "olha só, você ficar tão mais bonita assim, minha querida, você vai ver!". Isso dá uma certa alegria para as pessoas. Então, acredito que é esse lado brasileiro que as pessoas gostam.  RFI: Você estrelou vários sucessos na televisão, como "Um novo Look para uma nova Vida", "Rainhas do Shopping", entre outros. E você tem os seus bordões: "magnifaïk", "ma chérie", etc. Você não é só uma consultora de moda, mas também empresária, autora, tem a sua marca de maquiagem. Ao olhar para trás, como você avalia esses 30 anos em Paris?  Cristina Cordula: Eu só posso ser muito grata com a minha trajetória de vida, com os programas, os meus livros, a minha linha de maquiagem, que eu lancei há dois anos, e a minha agência de consultoria de imagem. Eu fico muito feliz de ter conseguido alcançar isso aqui. Mas tudo é com muito trabalho. Nada se alcança assim fácil.  RFI: Foi mais difícil ser consultora de imagem na França, um país que é símbolo de elegância e bom gosto?Cristina Cordula: Eu acho que até no Brasil seria o mesmo trabalho, mas aqui tem a barreira da língua, de ter que se expressar de outra forma. Eu fui modelo internacional por muitos anos, eu morei em Nova Iorque, morei em Londres. Depois, eu decidi morar em Paris, fiquei aqui, onde construí a minha família. Eu era muito jovem quando eu saí do meu país, eu tinha 20 anos. Então, esses são momentos difíceis na vida e você precisa de muita coragem para continuar. Mas graças a Deus, com a força do meu trabalho, eu consegui e estou muito feliz aqui, muito feliz mesmo. Eu adoro este país.  RFI: Uma das suas marcas registradas é o cabelo curto. Isso lhe abriu portas?  Cristina Cordula: Meu cabelo curto foi feito quando eu era modelo em Milão, por um cabeleireiro brasileiro chamado Marco. Na época, eu estava chateada porque eu já estava aqui na Europa desde janeiro, nós estávamos em outubro, e eu não tinha conseguido ainda o trabalho que queria, com o glamour dos desfiles, fotos, etc. Eu estava triste, querendo voltar para casa, com saudades da minha família e falei: "Marco, eu vou voltar para o Brasil, porque o Brasil é o meu país. Eu trabalho muito bem lá, todo mundo me conhece, tenho a minha família lá, os meus amigos que amam muito. Não está dando certo para mim aqui, eu não sou feita para cá, o meu tipo não é para ser modelo na Europa". E ele falou: "Cristina, você não consegue trabalhar na Europa por causa do cabelo comprido. Não fica bem em você, é cafona. Você fica muito perua com esse cabelo. Aqui você tem que ter a sua diferença. Você tem que ter um estilo diferente de todo mundo". E aí eu falei: "você quer saber de uma coisa? Corta o meu cabelo, porque pior do que isso não vai ficar e cresce em dois minutos. Não tem problema". Aí, ele cortou e eu fiquei muito feliz com a imagem que eu vi e pensei "porque eu não fiz isso antes?" Gostei muito do meu cabelo e ele abriu muitas portas.A minha carreira de modelo explodiu. Eu fiz os grandes desfiles, de grandes marcas: Chanel, Dior, fotos para as revistas. Depois, a minha carreira, obviamente, quando eu cheguei aos 30 anos, parou e eu, ao mesmo tempo, me casei e tive o meu filho, que é franco- brasileiro, hoje com 30 anos. Eu construí a minha família. Eu queria continuar trabalhando na moda, mas fazendo alguma coisa que fizesse bem para as pessoas.  RFI: Foi então que você se tornou pioneira na consultoria de imagem na França?Cristina Cordula: Eu não queria só vender uma roupa. Eu queria fazer uma coisa que fosse mais humana. E aí eu escutei falar sobre a consultoria de imagem, que já existia nos Estados Unidos e na Inglaterra. Eu pensei: isso é maravilhoso, é um trabalho que eu vou usar o meu conhecimento e democratizar a moda também. Era o começo do fast fashion, no início dos anos 2000, e eu pensei que todo mundo tinha o direito de se vestir bem, de se sentir bonita e bonito. Então, eu trabalhei a minha própria técnica, comecei a estudar, comecei a aprender sobre cores e vi o que se fazia fora. Eu criei a minha própria técnica e abri a minha primeira agência. Era muito difícil na época, pois havia muito tabu, porque os franceses não aceitavam. Porque falar de imagem, de look, é uma coisa que pode ferir até o ego da pessoa. É uma coisa muito sensível. E os franceses têm muita resistência no começo, mas depois relaxam e aceitam. Eu comecei com isso aos poucos, então veio o programa da televisão, dois anos depois que eu abri a minha agência de consultoria e aí foi indo e até hoje estou aqui.   RFI: Uma coisa que você ensina é se aceitar e usar aquilo que a gente tem de melhor. Você poderia dar um conselho aos leitores?  Cristina Cordula: São as nossas diferenças que nos destacam. Essa coisa de ser igual a todo mundo e de estar na moda não serve para todos. Eu corto o cabelo assim porque está na moda, ou uso calça larga porque está na moda. Porém, de repente não fica bem em mim, com a minha morfologia. Essa calça pode não valorizar o seu corpo, os seus ossos, vai fazer você ficar baixinha, vai dar muito ombro, vai torcer o busto. Entendeu? Tem que usar uma roupa que seja obviamente moderna, mas que combine com a sua morfologia e que combine, também, com o seu estilo. Porque, por exemplo, uma pessoa que é descontraída, jamais eu posso propor a ela uma roupa muito chique, salto alto e saia justa, essas coisas muito sofisticadas, porque ela não vai gostar, vai se sentir fantasiada.  RFI: Você tem saudades do Brasil e como é a sua relação com o país?  Cristina Cordula: Claro que eu tenho saudades do Brasil. Nossa, eu sou brasileira! Eu vou ao Brasil sempre no Natal e pelo menos umas duas vezes por ano. Eu tenho uma relação maravilhosa com o Brasil. Eu tenho muitos amigos lá. Eu adoro o meu país e eu sinto muita falta. A coisa que eu tenho mais saudade do Brasil é a maresia. Eu sou carioca e o cheiro da maresia do Rio de Janeiro, aquele cheiro forte... Quando eu chego no Rio, eu digo: "é a minha madeleine de Proust", como a gente fala em francês.  Na França, uma madeleine de Proust é uma espécie de gatilho que traz de volta uma memória de infância. A expressão vem do romance “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust, em que o narrador vê surgir uma lembrança, ao comer uma madeleine, essa iguaria francesa. Mais ou menos o que acontece com a carioca Cristina Cordula ao sentir o cheiro da maresia de sua terra natal, e que ela não esquece, apesar da vida de sucesso em Paris.  

    Brasileira faz sucesso em Lisboa com serviços de limpeza

    Play Episode Listen Later Dec 21, 2024 4:54


    Quando a cearense Analberga Silva trocou Fortaleza por Lisboa, há sete anos, não imaginava que fosse criar uma empresa especializada em limpeza em Portugal, muito menos que teria, em quatro anos, um faturamento equivalente a quase R$ 5 milhões. Fábia Belém, correspondente da RFI em PortugalAnalberga Silva trabalhava como gerente-administrativa do setor de Recursos Humanos de uma empresa no Brasil. Ao se mudar para Portugal, agarrou a primeira oportunidade que surgiu, numa imobiliária, onde era encarregada de alugar imóveis e entregar a casa limpa para os clientes. Mas encontrar pessoal especializado para fazer o serviço de limpeza não era uma tarefa fácil.“Eu percebi que tinha muita dificuldade. Eu não encontrava empresas disponíveis. Por exemplo: eu alugava a casa hoje e queria a limpeza amanhã. Queria entregar [a casa] rápido para o cliente porque quanto mais rápido eu entregasse, mais rápido eu ganhava comissão.”Foi então que Analberga teve a ideia de fazer ela mesma o trabalho com a ajuda de uma amiga. A cearense conta que os clientes que alugavam os imóveis gostavam tanto da qualidade da limpeza que acabavam por contratá-la para terem a casa limpa todas as semanas. A maioria dos clientes era formada por estrangeiros, “e estavam dispostos a pagar bem por esses serviços”, explica.Quando percebeu, a então corretora de imóveis tinha muitos clientes fixos e um rendimento superior ao que ganhava na imobiliária.“Eu só ganhava [comissão] cada vez que eu alugava [um imóvel], e isso demorava. Não era todo mês”, esclarece. Foi assim que, em 2018, ela decidiu abrir a Maid to You, uma empresa especializada em limpezas profissionais.Atenção aos detalhesNo início, todo o trabalho era feito por Analberga e pela amiga, mas com o aumento da demanda, a empresa ganhou mais seis funcionários e também começou a oferecer o serviço de passar roupas a ferro. Atualmente, a Maid to You atende mais de 30 clientes fixos em Lisboa e nas cidades próximas da capital portuguesa. Na lista estão casas, apartamentos, escritórios, clínicas, escolas e condomínios.Ao falar sobre os fatores que contribuíram para o sucesso do negócio, a empresária diz que “a atenção aos detalhes faz, sim, uma certa diferença, com certeza”.  Segundo ela, a disponibilidade dos funcionários para fazerem além do que lhes é pedido e a gentileza também têm cativado os clientes. “É muito nosso isso, muito do brasileiro”.Segundo ela, os bons resultados da empresa também se devem à formação e ao treinamento que a equipe recebe periodicamente. “É um treinamento diferente”, que, de acordo com Analberga, não se restringe às principais técnicas de limpeza, mas também envolve os comportamentos que regem uma boa conduta profissional no ambiente de trabalho. Se a limpeza é na casa de um cliente, é importante ter “discrição” e “respeito à privacidade”, por exemplo.Focada em inovação para melhorar a oferta dos serviços, a cearense de Quixeramobim alinhou as limpezas a práticas sustentáveis. As equipes passaram a utilizar equipamentos com alto desempenho e baixo consumo energético, e a usar produtos que causam menos impacto ao meio ambiente. “Produtos menos agressivos, mais sustentáveis, porque os produtos biodegradáveis são comprovadamente menos agressivos do que os convencionais”, esclarece.Consultorias e formação para imigrantes e refugiadosCom o negócio indo bem, a brasileira começou a dar consultorias a pessoas e empresas que a procuravam porque precisavam aprender ou aperfeiçoar alguma técnica de limpeza. Algumas delas tornaram-se parceiras da empresária. “Se eu for fazer uma limpeza em um prédio inteiro - a limpeza pós-obra - e a minha equipe não for suficiente, faço parceria com a empresa que já fez consultoria comigo”, explica.  Analberga também passou a ser convidada por organizações sem fins lucrativos para dar formações nas áreas de limpeza, mas também para passar e engomar roupas. A última aconteceu em novembro e reuniu mulheres refugiadas e imigrantes, que buscam apoio para a integração em Portugal e capacitação profissional.As participantes “estagiaram nos meus clientes”, conta. Aprenderam técnicas de limpeza profissional e como empreender na área. “A ideia é fazer com que elas sejam autônomas e ganhem dinheiro oferecendo serviços de limpeza. Tem uma demanda muito grande aqui em Portugal para esse serviço. Então, tem muito mercado.”Ao comentar o trabalho nas organizações e a importância do apoio às mulheres refugiadas e imigrantes, Analberga diz que “quis ajudar da forma que pode” por também ser imigrante e ter enfrentado dificuldades quando veio para Portugal.  Para continuar ajudando na inserção profissional de pessoas, a brasileira vai lançar, em fevereiro, um curso on-line de 'engomadoria'. “É um curso só de passar a ferro. Ou seja, é para quem quer empreender sem gastar muito”, avisa.E para quem pensa em ter o seu próprio negócio, a cearense de Quixeramobim aconselha. “Acho que é olhar para inovação. Em qualquer área em que você vai empreender, eu acho que é importante olhar para o que está faltando.”

    Livro de chef brasileiro sobre culinária do Pantanal é lançado em Madri

    Play Episode Listen Later Dec 15, 2024 6:00


    No salão amarelo da Embaixada do Brasil em Madri, dezenas de convidados, brasileiros e espanhóis, se reuniram para provar alguns dos sabores típicos do Pantanal. A carta incluía chipa, sopa paraguaia, caldo de peixe, trouxinha de peixe, arroz carreteiro e doce de leite com queijo, além de uma bebida à base de erva-mate. O menu foi assinado pelo chef Paulo Machado, que viajou à Espanha para apresentar a versão em espanhol do seu livro “Cozinha Pantaneira”. Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI em MadriA publicação “La cocina del Pantanal” é dividida em capítulos que se dedicam às diferentes facetas da gastronomia praticada na região: comida de comitiva, de festa, de fazenda, de “mercadão”, de cidade e comida indígena, como explica o chef Paulo Machado.“A gente resolveu dar essa separada para a pessoa achar gostoso de ler, de entender. ‘Ah, eu tô numa fazenda, vou procurar isso', ‘eu tô numa cidade, eu vou procurar esse ingrediente, essa técnica'. O livro tem uma explicação bem detalhada sobre a história de cada prato e isso também é muito gostoso de ler”, revela o brasileiro.A história do que se cozinha nos territórios pantaneiros se mistura com a própria vida do autor sul-mato-grossense e se reflete em páginas recheadas de textos explicativos, fotos e receitas para que o leitor também possa “cozinhar o Pantanal”, como sugere Paulo. Ele conta que publicar o livro em espanhol é uma tentativa de aproximar o mundo hispanófono dessa culinária tão expressiva.“A gente sentiu essa necessidade de traduzir esse livro para poder falar com o público paraguaio, boliviano, espanhol, argentino. Todos os países latino-americanos que têm interesse em conhecer mais a região. A cozinha peruana me inspirou muito nisso, porque existem muitos livros de vários assuntos. Por que não a gente fazer o nosso livro em espanhol? Quem sabe o próximo sai em inglês ou em chinês”, devaneia o chef, já se projetando em outras oportunidades.  Ultrapassando fronteirasA vontade que existe hoje de levar o Pantanal para o mundo cresceu depois que Paulo Machado saiu pelo mundo para expandir seus horizontes. Ele conta que esteve na França, estudando no Instituto Paul Bocuse, e também no País Basco, no norte da Espanha, onde estagiou num renomado restaurante com três estrelas no guia Michelin. Ao voltar para o Brasil, se reconectou com suas raízes e percebeu que tinha que fazer algo a partir dessas experiências.“Eu tive aquela vocação de falar: ‘Espera aí, eu tenho que olhar a cozinha do Pantanal, a cozinha da minha região', e comecei um trabalho que foi incrível, com pesquisa", recorda. O ponto de partida foram as buscas feitas no Centro de Pesquisas em Gastronomia Brasileira, no núcleo de cozinha pantaneira.“Esse foi o embrião do meu mestrado, que foi sobre a comensalidade no Pantanal", relembra o chef. Na sequência vieram a edição brasileira do livro e a tradução em espanhol, que retraçam toda a trajetória de Machado com cozinha raiz, cozinha caipira, cozinha feminina e cozinha pantaneira.A documentação do Pantanal como projetoA ficha técnica do livro “La cocina del Pantanal” é extensa e conta com nomes como Cristiana Couto, responsável por pesquisa e texto, e Luna Garcia, que assina a fotografia. A realização da publicação ficou a cargo da Documenta Pantanal, uma iniciativa criada por Mônica Guimarães e Teresa Bracher para conectar profissionais de áreas diversas, ambientalistas e ONGs para defender o bioma e sensibilizar o público sobre suas urgências. Mônica veio à capital espanhola acompanhar o autor.Produtora de um festival internacional de documentários chamado ‘É Tudo Verdade', Mônica contou à RFI que conheceu Teresa, dona de terras no Pantanal, "uma conservacionista de carteirinha e educadora social", quando foi procurada por ela para tratar de um assunto específico: o assoreamento dos rios na região, sobretudo do rio Taquari. "Eu fui até o local com o Jorge Bodansky, que é um grande documentarista, fui produzindo o filme, e daí para frente a gente nunca mais parou”, recorda Mônica. O assoreamento do rio Taquari é considerado como o maior desastre ambiental do Pantanal. Depois do documentário, vieram outros filmes, livros e campanhas. O objetivo principal da Documenta Pantanal é proteger a região que acolhe o bioma pantaneiro e difundir as riquezas originárias desses territórios. Este trabalho, desde o início, chegou ao público internacional.“Esse primeiro documentário que o Jorge Bodansky e o [João] Farkas dirigiram, que chama ‘Ruivaldo, o homem que salvou a Terra', foi lançado em Bruxelas exatamente para começar a berrar", recorda Mônica. A equipe queria mostrar que o Pantanal estava secando, apesar de ser a maior planície alagada do mundo. "Foi interessantíssimo a visibilidade que isso trouxe, e agora também para os brasileiros", pontua, ressaltando a importância de fazer o Brasil também enxergar o bioma.Planos futurosA Documenta Pantanal já tem planos futuros para mais ações pela Europa. A exposição “Água Pantanal Fogo”, que esteve no Instituto Tomi Ohtake, em São Paulo, no início de 2024, deve viajar para Alemanha e Portugal. A mostra conta com fotos de Lalo de Almeida e Luciano Candisani e tem curadoria de Eder Chiodetto.“Nós fizemos essa exposição e foi um boom de gente. Quinze mil pessoas foram ao espaço, em menos de dois meses", ressalta Mônica. Com este sucesso em São Paulo, vieram os convites para levar a exposição ao Museu Marítimo de Hamburgo e ao Museu de História Natural em Lisboa. "Em 2025, no primeiro semestre, a Documenta Pantanal vai estar aqui na Europa”, celebra Mônica Guimarães.

    Ator brasileiro estreia peça off-Broadway em Nova York

    Play Episode Listen Later Dec 14, 2024 5:00


    Após percorrer os palcos brasileiros, o ator Ivo Müller traz "Rilke, One Million Words” (“Rilke, Um Milhão de Palavras", em tradução livre para o português) para uma turnê em Nova York. A produção off-Broadway é uma adaptação do monólogo do artista, que ficou em cartaz no Brasil durante cinco anos e promete provocar reflexões sobre identidade, imigração e outras questões que ecoam ao longo dos séculos. O espetáculo estreia em 3 de janeiro. Cleide Klock, correspondente em Los AngelesA peça cria uma ponte entre o ator do presente e o poeta do passado. Esse poeta é Rainer Maria Rilke (1875-1926), escritor que nasceu em Praga, na República Tcheca, numa época em que a cidade vivia sob a dominação do Império Austro-Húngaro. Para alguns, Rilke é considerado austríaco, por outros é visto como alemão."Eu aproveitei que já trabalhava com o Rilke para trazer isso para minhas questões de identidade nos Estados Unidos", diz Ivo Müller. "Eu tenho um nome muito alemão, só que eu não sou alemão, eu sou brasileiro. Aqui nos Estados Unidos você ouve muito 'você não tem cara de brasileiro', porque o brasileiro é um estereótipo", conta o ator.No enredo está a história de um escritor que luta para criar suas poesias e só consegue se expressar por meio de cartas. É por elas que o ator navega para enfrentar os próprios desafios em terras estrangeiras e trazer questões universais e atemporais, como o processo criativo e a sensação de não pertencimento.“Rilke tinha essa questão de identidade e se confundia muito, claro. Aquele era um período que envolvia guerras e ele viveu a Primeira Guerra Mundial. Mas parece que essas histórias se repetem. Agora, com o governo Trump querendo mandar milhões de imigrantes de volta, esse amálgama todo que faz a gente ser imigrante e eu uso isso", explica o ator brasileiro. "Esse poeta que nasceu no século retrasado, mas que a obra reverberou no século passado, se encontra com este ator que está vivendo no presente, para falar de questões de amor, do processo artístico, sobre identidade, que são tópicos que continuam ressoando no mundo de hoje", destaca Müller.A fascinação do brasileiro por Rilke começou quando lecionava em uma escola pública no Brasil. Na biblioteca, ele descobriu vários exemplares do livro "Cartas a um Jovem Poeta", publicado em 1929. Müller começou a usar os textos em suas aulas e, mais tarde, criou dois shows: "Cartas a um Jovem Poeta", que percorreu o Brasil de 2010 a 2013, e uma versão revisada intitulada "Rilke", que ficou em cartaz entre 2018 e 2020. Agora, "Rilke, One Million Words” é uma readaptação para o público dos Estados Unidos.“No Brasil, nos anos 50, teve o movimento do Augusto de Campos que trouxe Rilke de uma maneira muito forte, de volta com a tradução da Clarice Lispector, do Paulo Rónai Cecí. As escolas de teatro, todas mandam ler 'Cartas a um Jovem Poeta', e Rilke é muito conhecido no Brasil por isso, é incrível. Aqui nos Estados Unidos, ele é menos conhecido. Então, existe um trabalho maior para divulgar. Uma diferença também é que eu estou me colocando mais na peça. Aqui é Rilke e Ivo e Ivo e Rilke", diz o ator.Ivo Müller nasceu em Santa Catarina, mas construiu a maior parte de sua carreira na dramaturgia no eixo Rio-São Paulo, onde, além de teatro, fez filmes, séries e novelas. Há cinco anos, o ator mora em Los Angeles e viaja com frequência ao Brasil para participar de produções audiovisuais. Neste ano, fez parte do elenco do longa “Barba Ensopada de Sangue", de Aly Muritiba, e, em 2023, estreou "Proof Sheet", do diretor Richard Kilroy, ainda sem título em português e inédito no Brasil.A peça "Rilke, One Million Words” ficará em cartaz em Nova York de 3 a 25 de janeiro, de quinta a sábado, no Torn Page, um edifício histórico que já foi lar dos atores hollywoodianos Geraldine Page e Rip Torn. Sem patrocínio para a produção, o ator recorreu à prática comum nos Estados Unidos de levantar recursos para projetos culturais em plataformas de financiamento coletivo, conhecidas no Brasil como vaquinhas virtuais. O catarinense ganhou o apoio de artistas que, assim como ele, tentam a carreira em Hollywood. Uma das doações veio do consagrado ator Wagner Moura.Mas, mesmo sem ainda alcançar o valor mínimo para o resgate, Müller já garante a turnê em Nova York e planeja levá-la para outras cidades americanas, como Los Angeles. Em agosto de 2025, ele se apresenta em Edimburgo, na Escócia, onde acontece o maior festival de teatro do mundo.

    Do Brasil para o mundo mágico da Disney: conheça o paulista por trás do fenômeno “Moana 2”

    Play Episode Listen Later Dec 8, 2024 5:43


    “Moana 2” chegou batendo todos os recordes: a animação se tornou a maior estreia de todos os tempos dos estúdios da Disney e, somente nos primeiros cinco dias, arrecadou ao redor do mundo US$ 389 milhões. As aventuras da heroína ou princesa polinésia, como muitos preferem chamar Moana, e do semideus atrapalhado Maui seguem conquistando tanto mares quanto o público. O filme nada contra a corrente da crise que esvazia as salas de cinema, e segue em direção ao bilhão de dólares de faturamento. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los AngelesAssim como a protagonista Moana, que navega por águas desconhecidas em busca de seu destino, Vitor Vilela também deixou a zona de conforto para realizar seus sonhos. O brasileiro, natural de São Paulo, decidiu seguir sua paixão pela animação, se mudou para os Estados Unidos e desde 2015, trabalha nos estúdios da Disney em Burbank, na Califórnia. Ele assina como supervisor de animação de “Moana 2”.“Acho que esse é o legal da Moana: ela é uma personagem independente, tão forte. Tem uma presença tão grandiosa e acho que ela vai trazer essa mensagem de que as coisas são possíveis. É só você quem tem que ir atrás, batalhar para chegar lá. Acho que isso diz um pouco dessa história do imigrante, que chega com a cara e com a coragem e não sabe o que está por vir, mas a gente segue seguindo", confiou à RFI. "Eu me identifico muito com essa personalidade, com essa perseverança da Moana."Vilela se formou em Publicidade na Universidade Metodista de Piracicaba, chegou a trabalhar na Rede Globo e agora, há quase uma década nos estúdios, já traz no currículo outros campeões de bilheterias bilionárias da Disney, como Zootopia (2016) e Frozen 2 (2019), além da primeira animação de “Moana" – o filme mais visto nos serviços de streaming nos Estados Unidos em 2023.A continuação das aventuras de Moana seria, originalmente, uma série para o Disney+, mas a companhia resolver transformá-la em filme.“Eu entrei no time para dar suporte para terminar o filme. Foi uma parte que foi feita em dois estúdios: em Burbank a gente entrou para ajudar a finalizar esse projeto que foi começado pelo outro time", relata Vilela. "Moana foi o meu personagem, que eu supervisionei. Foi bem legal estar interagindo com os dois times e participar desse projeto novamente, interagir com esses personagens. Trouxe para mim boas lembranças e está sendo muito legal ver esse filme finalizado."Conexão e personagens que crescem com o espectador“Moana 2” conquistou esse sucesso estrondoso garças, em parte, à conexão emocional que a personagem estabeleceu com seu público. Assim como Riley, do outro sucesso do ano "Divertidamente 2" (Pixar, que também pertence à Disney), Moana cresceu junto com seus espectadores.As sequências não apenas continuam essas histórias, como celebram o amadurecimento da personagem e do público, oferecendo aos fãs a oportunidade de revisitar um universo familiar e acompanhar a evolução de suas heroínas.“Acho que é uma identificação com o público bem direta. Esse é o legal de acompanhar o personagem: você envelhece junto com ele", diz o brasileiro. "Você acompanha essa jornada, as dificuldades e a aventura vai evoluindo conforme a gente vai crescendo."Cultura polinésia, emoção universalA criação de “Moana 2” foi um processo colaborativo que envolveu não apenas artistas e animadores, mas também consultores que incluem antropólogos, historiadores, linguistas e coreógrafos, para que o projeto fosse culturalmente autêntico com os povos do Pacífico. A direção é assinada por três cineastas, Jason Hand, Dana Miller e David Derrick Jr., e os últimos dois têm sangue polinésio, como a protagonista.Para Vilela, a inspiração vem das ilhas do Pacífico, mas a conexão com essa história é universal. “Se o primeiro filme foi sobre o passado, conectar com os ancestrais dela e conectar com ela mesma e ter aquela descoberta pessoal dela, esse segundo é sobre o futuro. É sobre conectar com a comunidade e conectar com as pessoas que estão ao seu redor", salienta Vilela. "Acho que isso vem muito dessa cultura deles, de unir os povos. É muito bonita essa história de como eles fizeram. Naquele tempo, quão grandioso foi o ato de atravessar oceanos para chegar em outros lugares e descobrir, por exemplo, o Havaí", observa o brasileiro. "É uma cultura que realmente inspira a gente e traz aprendizados muito importantes. Eu me inspiro muito na cultura polinésia também, tanto na música, quanto no contato com a natureza e o oceano. É uma cultura muito linda", finaliza Vilela.

    Professora brasileira leva a Portugal projeto inovador de canto coral

    Play Episode Listen Later Dec 7, 2024 4:59


    Com 46 anos dedicados ao canto coral, a carioca Patrícia Costa criou dois coros na cidade portuguesa de Aveiro: o Relâmpago e o Corisco d'Aveiro. Para o projeto, ela tem atraído portugueses, brasileiros e pessoas de diferentes partes do mundo, com ou sem nenhuma experiência em canto coletivo. De Portugal, Fábia BelémDoutora em Performance Musical pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), a carioca Patrícia Costa construiu, no Brasil, uma carreira sólida e bem-sucedida como professora de música, diretora de coral, arranjadora vocal e diretora de cena para música cênica. Quatro anos atrás, em plena pandemia de Covid-19, ela e o marido trocaram o Rio de Janeiro pela cidade de Aveiro, localizada na região central de Portugal. No final de 2022, ela criou um projeto inovador de canto coletivo, com o apoio do diretor da Oficina de Música de Aveiro (OMA), Zetó Rodrigues.Patrícia lembra exatamente o que sugeriu a Rodrigues dois atrás: “Um coro de prazo curto a que eu vou chamar de ‘Coro Relâmpago'”. O projeto propõe um mês e meio de ensaios semanais, cada ensaio com uma média de duas horas de duração e uma apresentação ao final do projeto.Para a alegria da regente brasileira e da OMA, o Coro Relâmpago deu tão certo que já está na nona edição. Cada vez que as inscrições são abertas, ela consegue juntar de 35 a 40 interessados de diferentes idades e nacionalidades.“Eu tenho cantores portugueses, brasileiros, africanos. Agora, estamos com uma grega, com um venezuelano”, diz. “A ideia é justamente essa mistura. No momento em que o mundo me parece tão tomado por um discurso separatista, eu quero a união, que as pessoas queiram se unir através da música”, explica a regente brasileira.“Acredito que todo mundo pode vir a cantar”Entram no Relâmpago quem já participou de suas edições passadas e quer se manter no coro, e também gente nova – o projeto é aberto a qualquer pessoa que queira experimentar o canto coletivo. “Claro que há umas pessoas que têm mais dificuldades do que outras. Mas eu, de fato, acredito que todo mundo pode vir a cantar”, garante.Ser capaz de cantar foi uma feliz descoberta para o português António Correia, que faz parte do Relâmpago desde a sua quarta edição. Ele conta que sempre gostou muito de música, mas não imaginava que pudesse fazer parte de um projeto musical.“Esta experiência tem mostrado que posso fazer parte disto e que me sinto extremamente feliz. Um ano e meio atrás, se me dissessem que isto iria acontecer, eu diria que não, que era impossível”, ressalta.Já a brasileira Victoria Garbayo dedica-se ao canto coral desde os 9 anos de idade. Ela era aluna da Patrícia Costa no Rio de Janeiro, e juntou-se ao projeto da ex-professora em Portugal, onde mora há sete anos.“Muito bom poder fazer parte desse grupo que está crescendo, se desenvolvendo musicalmente, um grupo unido com pelo menos uma coisa em comum, que é a música”, sublinha.Os ensaios do Coro Relâmpago acontecem na Oficina de Música de Aveiro, que se transformou numa grande parceira da regente brasileira e numa espécie de casa dos coralistas. O repertório reúne músicas de diferentes partes do mundo.Patrícia recorda que, nas comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos, em abril deste ano, ela decidiu “pegar algumas músicas portuguesas, africanas e brasileiras, e fazer misturas”. Ela misturou música do português Antônio Variações com canção do brasileiro Cazuza. Fez o mesmo com o cantor português Vitorino e a dupla brasileira formada pelos irmãos Kleiton & Kledir.“Eu faço essa mistura como uma forma de dizer: 'gente, que lindo que é a gente poder misturar as culturas, trazer à tona coisas que tão no sangue'”, explica Patrícia.O projeto tem feito tanto sucesso que no final de agosto deu o primeiro fruto – o coro “Corisco d'Aveiro”, formado por quem já integrou ou ainda faz parte do Relâmpago e quer se dedicar à música vocal brasileira.Assim como o Relâmpago, o Corisco trabalha em curtas temporadas, embora exija mais tempo de quem participa – de dois a três meses”. O novo coral “tem um voo um pouco mais ambicioso, de pegar um repertório, às vezes, um pouco mais puxado em termos musicais”, esclarece Patrícia Costa.Medalha de ouroNo 5º Festival e Concurso Internacional de Coros da Beira Interior, que aconteceu há dois meses, em Portugal, o Corisco d'Aveiro ganhou a medalha de ouro na categoria folclore. “Folclore brasileiro”, salienta.“E voltamos instigadíssimos para fazermos mais”, avisa a regente. Se depender dela, Victoria Garbayo, António Correia e todos os outros coralistas do projeto vão ter muito o que cantar e viver em grupo.“Eu digo que o coral é uma sociedade sã, onde impera a generosidade, o apoio, a acolhida, onde todos se dão as mãos e vão juntos. E é por aí que tem de ser.”Os coros Relâmpago e Corisco d'Aveiro apresentam concertos de Natal neste sábado (07), no Instituto Pernambuco Porto, na cidade do Porto, domingo (08), no Centro Cultural da vila portuguesa de Góis, e segunda (09), na Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro.

    Por que brasileiros formam a maior comunidade imigrante no Estado americano de Massachusetts?

    Play Episode Listen Later Nov 24, 2024 13:14


    Cerca de dois milhões de brasileiros vivem nos Estados Unidos, a maioria deles na Flórida. No entanto, é em Massachusetts, no nordeste do país, que cidadãos originários do Brasil são a maior comunidade imigrante em um estado do país. A RFI foi até o local conhecê-los e saber os motivos que os levaram até lá.   Daniella Franco, da RFIDados do Instituto Diáspora Brasil, baseado em Boston, capital de Massachusetts, apontam que a história da comunidade brasileira no Estado teve início há mais de 50 anos. Segundo o fundador do instituto, Alvaro de Castro e Lima, essa imigração, "de vai e vem", intensificou-se nos anos 1980, época de recessão econômica e de alto desemprego no Brasil. "Em geral, os brasileiros vinham para trabalhar aqui durante o verão, na maior parte jovens e homens. Eles trabalhavam no setor de serviços da costa de Massachusetts, e quando o inverno chegava, eles voltavam para o Brasil", explica. "Com as mudanças na política imigratória dos Estados Unidos, essas idas e vindas foram ficando impossíveis, e essa política teve como efeito não previsto a permanência dessas pessoas aqui", reitera.Nos anos 1990, a imigração brasileira começou a ter um caráter mais familiar, com a chegada de mais mulheres. "Esse movimento se espalha pelo estado e vai mudando conforme as oportunidades de emprego, com o custo de vida e o preço dos aluguéis, principalmente", diz Lima. Atualmente, cerca de 350 mil pessoas com nacionalidade brasileira vivem no estado. Segundo o fundador do Instituto Diáspora Brasil, os brasileiros nos Estados Unidos se dividem hoje entre profissionais da classe média e pessoas de meios mais desfavorecidos, que desembarcam em Massachusetts em busca de melhores oportunidades de vida. Um futuro melhorO engenheiro civil paulista Eduardo Oliveira faz parte da última onda da imigração brasileira em Massachusetts, onde trabalha com serviços de manutenção e reparos. Ele chegou ao país com o filho adolescente há três anos e não se arrepende de ter trocado o Brasil pelos Estados Unidos."O meu motivo de vir para cá, ao contrário de muitos imigrantes, não foi em busca de dinheiro para mandar para o Brasil, mas vim pensando no futuro do meu filho", diz. "Aqui em Massachusetts estão as melhores universidades do mundo e estou investindo toda a minha vida pensando no futuro dele", acrescenta.Embora nunca tenha sido vítima de xenofobia no país, Eduardo aponta duas principais dificuldades em sua vida de estrangeiro. "Inicialmente, tem o choque da língua e também a convivência com diferentes culturas", diz. "Massachusetts é um Estado que acolhe imigrantes do mundo todo. No trânsito, às vezes você se depara com indianos, que gostam de ficar buzinando o tempo todo, porque lá no país deles o costume é esse", explica. O paulista também destaca a qualidade de vida que tem nos Estados Unidos e o poder de consumo. "Eu consigo comprar uma televisão bonita apenas com o valor que recebo em um dia de trabalho", salienta.Igrejas evangélicasNesse apoio à adaptação em um país estrangeiro, as igrejas evangélicas têm um papel social de peso. Há dezenas de instituições religiosas brasileiras em Massachusetts, entre elas, a igreja Palavra de Vida, em Walpole, ao sul do Boston. Um de seus fundadores, o pastor Hélio Ferreira, detalhou o suporte que concede aos imigrantes brasileiros."Imagine uma pessoa lá do interiorzão do Brasil sozinha. Aqui ela não tem mãe, pai, filhos, esposa. Então, a igreja passa a ser a família dessas pessoas", afirma. "Uma pessoa que está bem socialmente vai contribuir para a comunidade, e nós trabalhamos muito esse aspecto social", destaca. Além do apoio à integração, Ferreira também destaca a ajuda financeira a seus fiéis. "Aquela senhora que eu levei lá na frente e que sobreviveu a um câncer [durante culto em 3 de novembro, acompanhado pela reportagem da RFI]. Nós passamos dois, três anos orando com ela. Quem você acha que sustentou essa pessoa durante três anos? São coisas que a gente não fala em público, mas são coisas que igreja faz", sublinha o pastor. A empresária Marcieli Pastorio, fiel da igreja Palavra de Vida, confirma as palavras de Ferreira. "Eu estava passando por um divórcio muito difícil, tive um problema pessoal e acabei indo para o hospital. Minha mãe encontrou o pastor Hélio e ele, com sua esposa Nani, foram ao hospital me fazer uma visita. Quando eu tive alta, comecei a frequentar aqui", conta.Segundo ela, a instituição é um importante suporte para sua vida espiritual e sua integração. "Quando me divorciei, meus pais decidiram comprar a loja do pastor Hélio, que estava à venda na época para que eu pudesse me sustentar e sair da casa do meu ex-marido. Então, foi onde a relação com a igreja Palavra de Vida se intensificou, porque comecei a ter um papel maior dentro da comunidade brasileira aqui nessa região, e também dentro da igreja", completa.Brasileiros na política de MassachusettsOs brasileiros também marcam presença na vida política de Massachusetts. O Estado conta com três deputados que emigraram do Brasil, todos do Partido Democrata. Entre eles, Priscila Sousa, natural de Ipatinga (MG), que representa na Assembleia Legislativa estadual o distrito que abriga Framingham, conhecida como a cidade mais brasileira dos Estados Unidos."É uma honra representar a nossa comunidade aqui", diz Priscila. "Eu amo essa cidade que abraçou os brasileiros e que deu espaço para empreendermos e crescermos aqui", reitera, destacando a imensa responsabilidade de seu trabalho. "Na nossa comunidade está aumentando o engajamento político. Então, temos também essa obrigação de participar da educação cívica dos brasileiros", sublinha. Marcony Almeida Barros, natural de Maceió (AL), é chefe-adjunto de gabinete da governadora de Massachusetts, a democrata Maura Healey. Em Everett, ao norte de Boston, onde é o idealizador de um programa pioneiro para alunos sem-teto, o alagoano também exerce o cargo de vereador escolar, similar ao de um secretário de Educação estadual no Brasil. "Existe um grande número de alunos em Everett que são considerados 'homeless', ou seja, que não têm casa para morar, inclusive muitos brasileiros. As famílias vêm para cá e quando não dá certo a vida aqui, eles querem voltar para o Brasil. Mas os filhos já se adaptaram aqui, estão falando inglês fluente, e consideram que os Estados Unidos são o país deles. Então tem muitos pais que voltam, mas deixam os filhos aqui", conta.Segundo Barros, várias dessas crianças ficam sob a responsabilidade de outros familiares ou amigos, e acabam indo parar nas ruas. Ao assumir o cargo de vereador escolar, o alagoano contabilizou cerca de cem menores nesta situação em Everett. "A gente paga o aluguel destes jovens, contrata uma agência de assistência social para ajudá-los, e essa agência vai em busca de quartos ou casas para eles. A única condição para continuarem no programa é não deixarem a escola", explica. A ameaça de Trump aos imigrantes brasileirosCom a promessa do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de colocar em prática um projeto de deportação em massa de imigrantes, a comunidade brasileira pode entrar na mira da extrema direita americana, prevê o fundador do Instituto Diáspora Brasil."Muita gente acredita que ele fala essas coisas, mas não vai fazer, que essas declarações dele são só política eleitoral", diz Alvaro de Castro e Lima. "Mas ele é capaz disso", reitera, destacando também a possibilidade do republicano de mobilizar a população contra os imigrantes. "O problema é quando esse caldo que Trump está preparando atingir o ponto de fervura", adverte. Segundo ele, a situação pode piorar nos próximos meses. "A imigração aumentou bastante nos Estados Unidos, e em cidades que não conheciam esse fenômeno. Então, você tem uma massa que pode ser manipulada e que realmente acredita no que Trump diz", observa. "Para eles, o grande problema dos Estados Unidos são os imigrantes", lamenta.

    Fred Martins e Marcos Suzano unem talentos em 'Barbarizando Geral', um álbum de 'samba de resistência'

    Play Episode Listen Later Nov 23, 2024 12:43


    O cantor e compositor Fred Martins, com 14 anos de experiência na música entre Portugal e Espanha, e o renomado percussionista Marcos Suzano, um dos músicos mais respeitados do Brasil, apresentam o álbum "Barbarizando Geral". Este projeto artístico traz um repertório que mescla crítica social e celebração da vida, oferecendo uma obra relevante no contexto cultural brasileiro atual. Luciana Quaresma, correspondente da RFI em PortugalMartins expressou à RFI sua empolgação com a colaboração. "Foi uma honra trabalhar junto com o Suzano neste disco. Ele é um músico muito inquieto, sempre em busca de novos caminhos. Sendo este um disco de samba, algumas das opções que ele sugeriu foram desafiadoras para mim. Muitas vezes, tive que recriar arranjos da guitarra e, consequentemente, do canto para obter o resultado orgânico da interpretação de algumas canções. Foi, sem dúvida, um ganho muito interessante", explica o artista radicado em Portugal.Samba com Temáticas RelevantesO álbum reflete a conexão cultural entre Brasil e Europa, e foi gravado simultaneamente em Lisboa e no Rio de Janeiro. Martins e Suzano abordam temas relevantes como desigualdade social, autoritarismo e destruição ambiental. O trabalho surge da inquietação dos artistas diante do crescimento de um discurso ultraconservador que, segundo eles, promove o ódio e a violência na sociedade. "Eu vivi parte da ditadura brasileira e lembro muito bem do clima de autoritarismo. Assistir a este retrocesso é muito triste e inquietante. Este disco vem desse sentimento de tristeza e revolta", desabafa Suzano.A obra provoca reflexão sobre as questões mais prementes da atualidade, trazendo uma fusão rica de ritmos afro-brasileiros e uma crítica contundente à realidade social contemporânea. Martins destaca ainda o impacto da religiosidade fundamentalista no Brasil, que tem efeito drástico na vida cotidiana. "Trabalhar o disco em forma de samba não foi uma escolha consciente, mas o samba é nossa maior afirmação da base afro-brasileira. É uma resposta potente à opressão que nosso povo vive", acrescenta.Ritmos afro-brasileiros e crítica social"Barbarizando Geral" mescla samba com críticas contundentes, destacando a importância do samba como forma de resistência cultural. Dentre as faixas do álbum, destacam-se "Barbarizando Geral", "Senzala", "Madame Maldade" e "O Rancho da Seita Suicida", que criticam a negação da ciência e os perigos da desinformação. Uma das colaborações mais notáveis é "Além do qualquer", que mistura samba e tango, clamando por um mundo onde a arte e a justiça prevaleçam. O álbum também inclui o samba-de-breque "Ahmed", que oferece uma crítica bem-humorada sobre fake news envolvendo Chico Buarque, evidenciando a capacidade dos artistas de tratar tópicos sérios de forma leve e irônica."Barbarizando Geral" conta com a participação de diversos músicos, entre os quais Martín Sued (bandoneón), Sacha Ambak (teclados), Aquiles Moraes (trompete) e Everson Moraes (trombone), além de vozes de Nani Medeiros e do grupo MPB4. Martins explica que as escolhas para o álbum se basearam na admiração e afinidade, destacando a importância de contar com ídolos da música brasileira. "Contar com a MPB4, que é uma referência para mim, e a participação de Nani Medeiros, uma cantora jovem que admiro muito, acrescentou muito ao projeto", afirma o cantor que nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro.A produção musical é uma co-criação entre Martins e Suzano, refletindo a expertise de ambos. A capa do álbum, desenhada pelo artista Márcio Oliveira, complementa a proposta estética e a temática das músicas, reforçando a conexão com a realidade social abordada."Barbarizando Geral", que foi editado pela Biscoito Fino, já está disponível nas plataformas digitais. O disco é uma expressão da resistência musical e uma chamada à reflexão em um momento crítico da sociedade.

    Dos números às letras: brasileira doutora em economia lança livro de poesia em Nova York

    Play Episode Listen Later Nov 9, 2024 5:04


    Georgia Rodrigues tem artigos publicados questionando a viabilidade de uma moeda única no Mercosul, escreveu sobre a necessidade de pensar o acordo do bloco com a União Europeia de modo a não comprometer o desenvolvimento justo e sustentável. Ela é doutora em economia com uma passagem pelo Instituto de Estudos Latinoamericanos da Universidade de Columbia, onde começou sua trajetória em Nova York.  Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova YorkDos tempos de doutoranda, interrompidos pela pandemia, ela guarda amigos e uma decepção amorosa que se transformou no impulso para seu primeiro mergulho no mundo da literatura. A economista acaba de lançar "Uma carta para meu ex-futuro amor: a letter to my ex-future love", uma coleção de poesias sobre um coração partido em contexto pandêmico.Sobre a transição dos números para as letras, Georgia explica que "foi uma transição e também não foi". "Desde pequena eu escrevo. Eu aprendi a escrever poesia quando eu tinha 14 anos, na escola de Freda que eu estudava, lá em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. E eu fiquei apaixonada pelos sonetos", conta admirada com a "montagem de 4 em 4" e com "a liberdade de rimar" os versos. "Parece música!" A pandemia frustrou sua experiência de intercâmbio, já que com a ordem de confinamento ela teve de voltar ao Brasil. Buscando uma conexão com o exterior, Georgia entrou no aplicativo de relacionamentos Coffee Meets Bagel para encontrar alguém com quem conversar sobre Nova York e, assim, conheceu o que chama de seu "Ex-Futuro Amor".Como muitos solteiros na pandemia, Georgia descobriu que as dificuldades do namoro pós-Covid-19. Segundo o Pew Research Center, o interesse em encontrar um parceiro permaneceu o mesmo após a pandemia, mas a maioria considera a paquera um processo mais difícil. Estudos mostram que aplicativos de namoro podem afetar negativamente a saúde mental, gerando sentimentos de solidão e ansiedade. No caso da economista, a promessa de um amor resultou em um único encontro e uma dolorosa decepção. Mas com o apoio dos amigos e da poesia, ela conseguiu se reerguer e decidiu financiar seu primeiro livro.Editoras independentes Georgia conta que teve que buscar editoras independentes e lidar com feedbacks desanimadores. Uma das razões era seu desconhecimento do mercado. "Eu comecei a pesquisar um monte de editoras e um dos feedbacks que tive é que eu não era uma pessoa famosa, porque eu não tinha histórico de vendas", relata. Com o incentivo de um fundo cultural, ela cobriu parte dos custos da publicação. "Eu tive que colocar um pouco mais do meu dinheiro, mas não foi muita coisa. O fundo cobriu quase tudo. Neste fundo da cultura, no Rio de Janeiro, na classificação de mulheres e escritoras tinha uma cota para mulheres. Então fui, consegui e fiz." Publicado pela editora Labrador e apresentado na Festa Literária Internacional de Paraty, o livro chegou também aos primeiros lugares de venda de poesia em português na Amazon França. "A internet nos gerou um mundo com menos barreiras, onde você pode ter maior visibilidade. Eu pensei, nossa, o pessoal realmente gostou", Georgia comenta.O caminho da economista pela literatura ilustra como a digitalização dos livros possibilitou que escritores iniciantes alcançassem maior visibilidade e pudessem chegar ao seu público-alvo de modo mais eficaz, como explica um relatório sobre o impacto da digitalização no mercado literário feito pela Pontifícia Universidade do Paraná. "Eu acho que se não tivesse esse ambiente virtual, provavelmente as pessoas no exterior não ficariam sabendo do livro", acredita. As livrarias e editoras especializadas também ampliaram o mercado para novas autoras. Georgia lançou seu livro em Nova York na livraria feminista Cafécon Libros, no Brooklyn. De propriedade de uma mulher afro-latina, a editora se dedica a dar visibilidade a mulheres artistas e minorias."Eu pensei, a história foi aqui no Brasil e lá (Nova York). Tem que ter um desfecho lá também. Tem também que florescer aqui em Nova York. É uma história que ressoa universalmente. Mulheres do Brasil, mulheres em Nova York. Todo mundo passa por um relacionamento tóxico. Todo mundo sofreu na pele as consequências da pandemia", diz. 

    Luana Piovani celebra 35 anos de carreira com espetáculo inédito em Lisboa

    Play Episode Listen Later Nov 3, 2024 9:16


    A atriz brasileira Luana Piovani recebeu a RFI para falar do seu mais novo espetáculo "Cantos da Lua", que está em cartaz no Auditório dos Oceanos, em Lisboa, capital de Portugal. Por Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Portugal“Desde que vim para Portugal quase seis anos atrás, comecei a ter vontade de voltar ao teatro. Eu acredito em formação de plateia e, depois de observar o mercado, achei que não seria prudente tentar entrar em algum grupo ou fazer um texto clássico. A melhor porta de entrada seria usufruir da curiosidade das pessoas e criar algo diferente do que existe no mercado e sempre levando em consideração que estou fazendo 35 anos de carreira. Foi então que veio esta ideia, no fundo um compilado de desejos”, explica a atriz.Esta apresentação marca a celebração dos 35 anos da carreira artística da atriz brasileira e traz um formato intimista e inédito, onde Luana compartilha momentos da sua vida e trajetória. No espetáculo, Luana canta músicas ligadas às histórias que conta, criando uma atmosfera que mescla teatro, musical e stand up. O público divide o palco com a atriz em um formato cabaret o que intensifica a sensação de proximidade e interação.Em “Cantos da Lua”, Luana está “despida”. “O espetáculo é muito dúbio porque entro com uma postura de diva, naquela entrada silenciosa, triunfal e impactante e ao mesmo tempo eu estou pelada, estou humana. Eu rio de mim mesma. Enquanto o mundo se aplaude, se põe em um pedestal, se coloca perfeito, eu estou fazendo exatamente o oposto, o caminho inverso, eu vou para a humanização”, revela.Conexão com o PúblicoDiferente do que fez até agora, "Cantos da Lua" é uma forma da atriz se conectar com o público de maneira mais pessoal. “Essas minhas histórias que conto já são clássicas, pois tenho 35 anos de carreira, mas pelo menos 40 de vida bem vivida. Algumas meus amigos próximos já conhecem, pois são muito antigas e clássicas e outras fui desenterrando”.O espetáculo combina canções e relatos da vida da atriz, proporcionando uma experiência envolvente e reflexiva para os espectadores que ainda podem participar na escolha das músicas antes do espetáculo começar via QR code. Segundo a artista, cantar no palco tem sido o maior desafio.“Eu tenho que ter muita disciplina. Fico muito orgulhosa de mim quando não erro nada e sei que aprendo quando erro alguma coisa”, confessa a artista, que estreou na televisão em 1993.Revelando sua Nova Faceta: Luana Canta no PalcoDurante a apresentação, Luana canta músicas em português e inglês e conversa com a plateia, relembrando momentos marcantes de sua carreira e vida pessoal. As histórias abordadas incluem episódios engraçados e emocionantes, revelando um lado mais íntimo da atriz que o público normalmente não vê.“Eu não conto as minhas vitórias, eu estou no palco dividindo as minhas derrotas. As histórias que eu conto são engraçadas hoje, mas só eu sei o que senti quando abri o olho e acordei ao lado de uma pessoa que nunca vi na vida, num quarto de hotel”, revela.O espetáculo conta com a direção de Ando Camargo, que chegou a Lisboa dois meses antes da estreia para os ensaios, contribuindo com sua experiência para a criação de um ambiente autêntico na apresentação.“É um trabalho de amor, de amizade, mais do que um trabalho profissional. Fiquei muito feliz em fazer parte de todo este processo e de saber que as pessoas conseguiram ver meu trabalho em todas as sutilezas do espetáculo”, comenta Camargo.Luana e Ando começaram a trabalhar na peça em abril deste ano, quando a atriz esteve no Brasil. “Esse espetáculo passou por um processo enorme de transformação desde quando eu tive a ideia de fazê-lo. Acredito que tudo o que vai saindo é para a melhor. As coisas que aconteceram ao longo do tempo foi para deixar no formato perfeito. É impressionante como o universo conspira a favor quando se esta fazendo corretamente, é a lei da física”, diz Luana.A artista se conecta de maneira sincera e autêntica com o público. “Eu não quero mostrar o lado da Luana atriz e sim de uma pessoa que é idealizada dentro de um conceito que o mundo criou. Meu objetivo é desmistificar e mostrar que isso tudo é mentira. Isso é um produto que está sendo vendido, não comprem! Todos esses seres humanos que as pessoas idealizam também passam pelas mesmas coisas e, por exemplo, aqui estão algumas das minhas histórias. O espetáculo é sobre isso”, explica a artista.Para o diretor, a performance da atriz gera muitas emoções.“Isso foi aparecendo durante os ensaios. Fomos percebendo que depois das histórias engraçadas, quando chegava neste lugar da emoção, percebíamos que toda a equipe também se emocionava, isso ainda durante os ensaios”, revela Ando Camargo.Emoção que, segundo a atriz, ela também vê na expressão do público. “Estar no palco aqui em Portugal vem sendo uma experiência extremamente satisfatória. As pessoas têm muito carinho e respeito por mim. Eu tinha uma vaga ideia da proporção deste carinho, mas agora eu estou sentindo realmente. Eu vejo isso na feição das pessoas. O espetáculo tem capacidade para oitenta pessoas e quando saio tem sempre, pelo menos quarenta me esperando. É muito surpreendente”, conta Piovani.Depois de quase seis anos morando em Portugal, a atriz se sente realizada com esta peça. “Não consigo por em palavras como tem sido a minha experiência até agora. Hoje mesmo olhei para dentro da alma do Ando e disse para ele: 'se fui mais feliz, não me lembro'. Este espetáculo era o que faltava para coroar a grande mudança que fiz na minha vida, sair do meu país, ter atravessado um oceano, trazido minha família para Portugal, desfeito minha família aqui, ter reencontrado uma nova receita de família, ter aumentado o meu trabalho como mulher e mãe em, pelo menos 60% a mais do que era”, comenta Luana.Planos de digressão para "Cantos da Lua"As apresentações de "Cantos da Lua" seguem em cartaz nas próximas semanas na capital portuguesa, mas a atriz já tem planos de levar o espetáculo para outros teatros do país em 2025, expandindo a oportunidade de compartilhar suas histórias e experiências com um público ainda mais amplo. Mas levar para o Brasil ainda não está nos planos.“A ideia de levar para o Brasil existe, mas mais para frente. Este espetáculo é pensado para Portugal. Queremos levar para o Cassino do Estoril, Porto, que vamos fazer na mesma dinâmica com o público no palco”, revela Piovani."Quero que mais pessoas possam ver e sentir o que estou vivendo nesse espetáculo", afirma a atriz.

    Fernanda Torres e Selton Mello participam de "missão Oscar" em Los Angeles

    Play Episode Listen Later Nov 2, 2024 5:00


    A dupla de atores brasileiros deu início a uma jornada de 25 dias de campanha nos Estados Unidos para divulgar o filme "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles. O objetivo é conquistar Hollywood e uma vaga na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los AngelesOs atores Fernanda Torres e Selton Mello, protagonistas do filme “Ainda Estou Aqui”, representante brasileiro na corrida pelo Oscar, estão em Los Angeles para uma intensa agenda de 25 dias para essa primeira fase da campanha. A dupla, que tem conquistado o público e a crítica com suas atuações, busca agora ganhar os votos dos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, e tentar uma estatueta inédita para o país. "É igual campanha política, você vai de cidade em cidade. É muito louco!", contou Fernanda Torres à RFI."São muitas sessões, várias sessões fechadas para o SAG, o sindicato dos atores, sindicato dos diretores, dentro de agências, sessões fechadas para convidados, para votantes da academia, é hora de mostrar que o filme existe e conversar com as pessoas. Dizer que estamos aqui trabalhando", completa Selton Mello.A primeira apresentação do filme, em Los Angeles, aconteceu no AFIfest, promovido pelo American Film Institute, que é um dos principais eventos pré-Oscar de lançamentos de filmes que devem aparecer na concorrida lista de indicados à premiação.Já nesta última terça-feira (29), os atores abriram o 16⁠º HBRFF - Hollywood Brazilian Film Festival, que aconteceu no Museu do Oscar."A resposta tem sido linda. Por todos os lugares onde a gente passa, todas as culturas recebem o filme muito bem, porque eu acho que é um filme afetuoso, fala através dessa família, conta a história de um país e isso, acho que o mundo todo acaba se conectando", diz Selton Mello.Ditadura militar"Ainda Estou Aqui" foi dirigido por Walter Salles e mostra a história de Eunice Paiva. O marido dela era o ex-deputado federal Rubens Paiva, que foi torturado e assassinado pela ditadura militar, em 1971. O longa foi baseado no livro do filho deles, o jornalista Marcelo Rubens Paiva.Fernanda Torres interpreta a personagem principal e Selton Mello faz o papel do ex-deputado."É um filme que fala de política, de viver num Estado autoritário, do que significa você escolher viver num Estado autoritário ou não escolher e acabar vivendo, e no que isso pode mudar a sua família, suas relações afetivas. Então o que eu gosto desse filme é que ele vai pelo afeto. É uma resistência pelo afeto, é super bonito", conta a atriz."É um filme que conta a nossa história, um período importante da nossa história e que é importante relembrar para não cometer os mesmos erros", falou o ator.Os atores tentam ao menos passar pelos quase cem filmes que anualmente brigam por uma vaga entre os cinco selecionados na categoria de Melhor Filme Internacional. A última vez que o Brasil apareceu nesta lista foi em 1999, com outro filme de Walter Salles, "Central do Brasil". Na época, Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda Torres, foi indicada a "Melhor Atriz". Fernanda Montenegro também atua em "Ainda Estou Aqui", fazendo o papel de Eunice Paiva mais velha, já com Alzheimer.Agora, a filha dela aparece como uma possível indicação também na categoria de Melhor Atriz, ao lado nomes como Demi Moore, de "A Substância", Nicole Kidman, por "Babygirl", Angelina Jolie, com o filme "Maria Callas" e Karla Sofía Gascón, protagonista de “Emilia Pérez”."Eu acho até que se acontecer alguma coisa, é milagre, porque é um ano de grandes performances", fala a atriz.Para Selton Mello é preciso "ter cuidado para, se isso não acontecer (indicação ou mesmo a vitória), parecer que o filme não rolou. E o filme já está rolando muito pelo mundo todo, então vamos ver até onde a gente vai. E acho que a gente vai longe".Em outubro, Fernanda Torres já recebeu pelo papel um prêmio da "Critics Choice Association", maior organização de críticos e jornalistas de entretenimento da América do Norte, que celebrou os talentos latinos.A atriz também concorreu na categoria de atuação no Festival de Veneza, onde o filme ganhou o prêmio de Melhor Roteiro."Ainda Estou Aqui" chega aos cinemas brasileiros em 7 de novembro. O HBRFF 2024 que encerra neste sábado (2) trouxe ainda para Los Angeles outras oito produções, entre elas "Malu", de Pedro Freire, "Motel Destino", dirigido por Karim Ainouz, "Cidade; Campo" de Juliana Rojas, "Oeste Outra Vez", do diretor Érico Rassi, e "Baby", de Marcelo Caetano.

    Marcelo Macedo apresenta em Lisboa "Cross Roads", com reflexões sobre formas e sustentabilidade

    Play Episode Listen Later Oct 27, 2024 6:10


    Marcelo Macedo, artista carioca, apresenta sua nova exposição intitulada "Cross Roads" na Galeria Eritage, em Lisboa. Conhecido por seu estilo que combina formas geométricas e reutilização de materiais, especificamente madeiras e objetos descartados, Macedo traz à tona questões relevantes sobre a interseção de culturas e a responsabilidade ambiental na arte contemporânea, além de uma nova ótica sobre o autoconhecimento. Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Portugal“Dentro do meu trabalho existe este lugar “de estar perdido”, como uma encruzilhada. Estar perdido e ter caminhos para trilhar. É como se estivéssemos em um mato fechado e sem caminho. Temos que encontrar uma trilha através da intuição e da ação. Vou desbravando, é como se fosse um mergulho para dentro de mim mesmo. Aprendi que você só encontra a trilha quando olha para trás e descobre que já percorreu tudo isso, descobre o caminho que fez até ali”, diz.A exposição "Cross Roads”, a primeira mostra individual do artista na Europa, reúne uma coleção de obras que refletem a identidade urbana e a diversidade cultural, características marcantes da trajetória artística de Macedo. Usando formas geométricas, ele cria padrões que transmitem uma sensação de ordem e reflexão, ao mesmo tempo que dialogam com a estrutura das cidades e de rituais.Segundo ele, a geometria tem muito a ver com a vertigem que “engana o olho”. “Eu fiquei com uma espécie de obsessão em querer mostrar que o tempo de observação do trabalho não é o mesmo tempo de observação da vida corrida do dia a dia. Eu gosto de um outro tempo. A padronagem que escolho está cumprindo esta função de fazer o olho circular pelo trabalho, de compreender a imagem”, explica o artista.Além do uso estético das formas, Macedo se destaca pela prática de dar nova vida a materiais descartados, incorporando madeiras e outros objetos em suas criações. Esta abordagem transforma o que seria considerado lixo em peças de valor artístico e funcional, inserindo uma narrativa profunda sobre consumo e ressignificação.“Faço uma análise sobre uma sociedade de consumo excessivo. Eu me vejo produzindo muito lixo e isso me incomodava. Foi então que comecei a mudar meu comportamento ao fazer compras no supermercado, por exemplo. Compro um vidrinho que sei que depois vou reutilizar. Ou seja, ja não é um sentimento só de consumo pois vou consumir, mas depois vai virar outra coisa. Isso pra mim já é uma revolução e já se tornou uma revolução na minha vida”, afirma.Valorizar artistas emergentesO carioca João Cavalcanti, dono da galeria Eritage e curador da mostra tem desempenhado um papel fundamental na valorização de artistas emergentes e na promoção de diálogos culturais. Em “Cross roads”, Cavalcanti trabalhou lado a lado com Macedo.Segundo ele, essa experiência em Lisboa foi diferente de todas as outras. “ O que estou vivenciando qui eu ainda não tinha tido na minha trajetória, pois não foi apenas uma residência e sim o preparo de uma exposição individual em Lisboa. O convite do João veio em julho e desde então começamos a montar uma estratégia de utilização do espaço da galeria. Foi uma troca muito grande com o João”, explica o artista.  Segundo Macedo, esse foi um trabalho a quatro mãos. “O João começou a catar coisas pela rua. Ele já tinha este espírito, sempre gostou de móveis antigos e acho que isso até o aproximou do meu trabalho. Foi tudo a quatro mãos. Eu precisei muito do João para formular o que dava para fazer”, afirma o artista.Para o galerista carioca, João Cavalcanti, “Cross Roads”, foi um genuíno encontro de caminhos.“ Me dá muito prazer participar deste processo. As residências artísticas são um pilar muito importante dentro da galeria.  O que mais me marcou neste projeto é a beleza dos caminho cruzados. Não conseguimos ter o controle da vida. Temos que usar e confiar nos nossos instintos e acreditar que quando os caminhos se cruzam existe algo muito mais poderoso, permitindo que ele se cruze e se materialize. O que marca para mim no “Cross Roads” é esta simbologia representada através do trabalho do Marcelo em forma de exposição”, explica Cavalcanti.A jornada artística de Marcelo Macedo é marcada por uma evolução contínua e um compromisso com a inovação. Desde suas primeiras exposições no Brasil, ele se firmou como uma voz importante na cena artística contemporânea. “Cross Roads” não é apenas uma manifestação da singularidade de Marcelo Macedo, mas também uma plataforma para diálogo sobre a arte e as questões sociais que a cercam. A exposição promete não apenas encantar os visitantes, mas também instigá-los a refletir sobre suas próprias experiências e a complexidade das interações humanas. A mostra é uma oportunidade de se conectar com a arte contemporânea e os desafios do mundo atual.“Tem pinturas minhas que quando olhamos mais profundamente começam a vibrar. Podemos achar que estamos vendo um túnel mas se continuarmos observando, poucos minutos depois, iremos ver uma pirâmide. Esse lugar, que é o meio do caminho, é o que me interessa pois é como se fosse uma janela para a imaginação. Esse trabalho não cansa, ele permanece e fornece muitas informações ao longo do tempo”, conclui Macedo.“Cross Roads”, de Marcelo Macedo, fica em exibição da galeria Eritage (Rua das Janelas Verdes 128,B), em Lisboa, ate 31 de Janeiro de 2025.

    De Wandinha a Agatha: diretora brasileira Gandja Monteiro assina produções cheias de magia

    Play Episode Listen Later Oct 20, 2024 5:00


    A diretora brasileira Gandja Monteiro acaba de marcar presença no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) com a estreia do sexto episódio de Agatha Desde Sempre, que entrou no ar na última quarta-feira (16), na plataforma Disney+. A cineasta dirigiu este e os capítulos oito e nove, que finalizam a minissérie e estarão disponíveis em 30 de outubro e 6 de novembro, respectivamente. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los AngelesGandja é hoje uma das cineastas brasileiras com maior destaque na direção de séries de TV norte-americanas, com produções que trazem à tona narrativas autênticas e complexas e representam um avanço significativo na busca por uma indústria do entretenimento mais inclusiva. Mas nem por isso é fácil, muito pelo contrário: o sucesso individual da cineasta, embora inspirador, não apaga a realidade de que as mulheres latinas ainda enfrentam desafios sistêmicos em Hollywood."Estamos bem longe de uma representatividade real em Hollywood. Acho que a representatividade latina é bem minúscula e de mulheres também, os números parecem que não sobem. Pré-pandemia, os números estavam mais altos, aí caíram durante a pandemia e isso faz uma diferença muito grande", afirma Gandja."Eu acho que todo trabalho ajuda o próximo, então é lógico que a Marvel tem um certo espaço na indústria. Mas, é interessante porque o estúdio não estava em um lugar tão brilhante nos últimos tempos e eu acho que dirigir uma série como Agatha ajuda, porque ela é uma desconstrução do que a Marvel tem feito", destaca a cineasta brasileira.Agatha Desde Sempre explora a origem e a história da poderosa feiticeira Agatha Harkness, personagem icônica dos quadrinhos. Após sua aparição marcante em "WandaVision" (2021), a série se aprofunda no passado de Agatha, revelando seus segredos, poderes e conexões com outros personagens do MCU. A minissérie foi dirigida por três diretoras."Todas mulheres e muitas roteiristas mulheres, a criadora também é mulher, a executiva da Marvel, também. É bem feminino o universo", constata.Um olhar único para a magiaGandja nasceu em Nova York, mas é filha de pais brasileiros. A cineasta morou no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte quando era criança, e vive há 14 anos em Los Angeles. Apesar de estar há pouco tempo dirigindo produções de TV nos Estados Unidos, já carrega no currículo grandes títulos do universo da fantasia e do terror.Além deste lançamento da Marvel, de 2022 até agora ela dirigiu dois episódios de Wandinha, a série de Tim Burton sobre a adolescente de A Família Addams, e episódios de The Witcher (Netflix) e Dead City, spin-off do sucesso The Walking Dead."Eu ando dirigindo TV nos Estados Unidos há uns 6 anos. Foi a série que menos esperaria que chamou a atenção da Marvel: uma série de terror chamada Brand New Cherry Flavor, que acabou sendo um sucesso underground, um sucesso cult. Eu acho que essa série queria um pouco disso, uma textura um pouco mais cult, mais dark mesmo", revela a cineasta.Cenas dos próximos capítulosGandja revelou à RFI que o foco não é apenas uma carreira em Hollywood, mas internacional. Além de projetos nos Estados Unidos, tem outros no Brasil, onde também já assinou produções como a série documental Outros Tempos e o curta Quase todo dia."Eu acabei de dirigir a série nova do Vince Gilligan, que foi o criador de Breaking Bad. Fiz uma outra série com um ator maravilhoso que é o Sterling K. Brown e a Julianne Nicholson, e estou com vários longas e projetos", antecipa. A atual contração da indústria cinematográfica impacta diretamente o número de empregos e, consequentemente, a representatividade latina e feminina. Com os estúdios priorizando projetos de menor risco, tudo continua "como era antes", avalia a brasileira.Mas, a cineasta é um exemplo de como a resistência e a criatividade florescem mesmo em tempos desafiadores, abrindo caminho para que outras identidades e histórias ganhem mais espaço. "Eu sou brasileira. Nasci nos Estados Unidos, mas meus pais são brasileiros, de Minas. Acho que tudo que eu vivo, tudo que eu penso tem essa pegada. Tem muito Brasil nisso", conclui.

    Carolina Maria de Jesus, uma das mais importantes escritoras negras do Brasil, é homenageada nos EUA

    Play Episode Listen Later Oct 19, 2024 6:20


    Em uma das salas da Universidade de Columbia, em Nova York, um coro entoa uma das canções de Carolina Maria de Jesus, uma das mais importantes escritoras negras do Brasil. Autora do best-seller autobiográfico Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, Carolina foi a primeira brasileira negra a vender mais de um milhão de exemplares no mundo. Carolina faleceu aos 63 anos, deixando três filhos, dos quais apenas Vera Eunice permanece viva. Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York"Quando minha mãe faleceu, ela me deixou uma carta, entregue um dia após sua morte. Dentre os pedidos, ela queria que eu propagasse sua memória. E é isso que eu tenho feito", conta Vera.Apesar de "Quarto de Despejo" ter sido traduzido para 13 idiomas e alcançado cerca de 40 países, esta é a primeira vez que Vera é convidada a falar sobre a mãe no exterior. Ela participou do ciclo de debates "Carolina - A Escritora do Brasil", celebrando a obra da autora em Nova York e Washington, uma iniciativa do coletivo Mulheres na Escrita. "Ela é uma pensadora do Brasil e representa, de alguma forma, a mulher, especialmente a mulher negra, fora do Brasil, como é o caso agora aqui nos Estados Unidos, em Nova York", disse Tom Farias, biógrafo de Carolina e também presente nos debates. Vera, uma das personagens principais de Quarto de Despejo, tinha apenas 21 anos quando Carolina morreu. Foi nesse momento que ela e seus irmãos deixaram de receber os direitos autorais da escritora no Brasil."O que ainda ajudava a gente a sobreviver eram os direitos autorais dos Estados Unidos, que nunca deixaram de pagar", conta Vera.Quarto de Despejo foi publicado nos Estados Unidos como Child of the Dark em 1962 e logo se espalhou pelo mundo. A iniciativa de Mulheres na Escrita, ao revisitar a obra da escritora, busca colocar Carolina de volta no radar literário e incluí-la como leitura obrigatória nos programas de faculdades que estudam obras brasileiras."Espero que, com essa abertura, Carolina volte a ser reconhecida mundialmente, como nos anos 1960", diz a filha, Vera.Quem foi Carolina de JesusCarolina nasceu na cidade de Sacramento, no início do século 1920. Tom Farias, que está reescrevendo uma biografia dea autora a ser lançada no ano que vem, afirma que, ao contrário do que se pensava, Carolina não nasceu em 1914, mas em outubro de 1915. Filha de uma família de lavradores, ela frequentou a escola por apenas dois anos, período no qual se apaixonou pela leitura. Os livros, no entanto, tiveram que esperar, já que ela precisava ajudar a sustentar a família."Ela começou a trabalhar cedo como empregada doméstica, babá e cozinheira, mas nunca perdeu o amor pelos livros e pela escrita", conta Tom.Carolina se mudou para São Paulo em 1937, depois de ser injustamente acusada de roubo em Minas Gerais. Na capital paulista, trabalhou como empregada doméstica na casa do renomado cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini. Nas horas livres, saciava sua sede de leitura na biblioteca da casa."Foi em São Paulo que ela se revelou como escritora, morando na favela do Canindé e criando seus três filhos sozinha", relata o biógrafo.Durante esse período, Carolina acumulou muitos textos em seus diários, que foram descobertos pelo jornalista Audálio Dantas em 1958. Durante uma reportagem em Canindé, seu caminho se cruzou com o da escritora. Dantas ajudou Carolina a publicar suas obras, e em 1960, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada foi lançado."O livro se tornou um sucesso instantâneo, chegando a vender mais de dois mil exemplares por dia", relembra Tom.No mesmo ano, Carolina foi homenageada pela Academia Paulista de Letras e recebeu o título honorífico da Orden Caballero del Tornillo, na Argentina. Publicou outros livros de forma independente, como Pedaço da Fome (1963) e Provérbios (1964), mas nenhum alcançou o sucesso de sua primeira obra."Carolina foi uma figura importante para a literatura brasileira, porque era mulher, negra e favelada", celebra Vera, ao ressaltar que a mãe foi a primeira a contar a história do negro pobre brasileiro em primeira pessoa. Tom Farias destaca que Carolina, ao contrário de pensadores da época como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, conseguiu pensar o Brasil sob a ótica da miséria."Minha mãe tinha tudo para não dar certo,mas ela era ousada. E agora estou aqui para ver sua ascensão no Brasil e no mundo", festeja Vera, que luta para reunir o acervo deixado pela mãe e concretizar o sonho de inaugurar um centro cultural, onde o público possa conhecer melhor a sua obra.

    Brasileira lança projeto que leva tradição da cachaça para a Europa

    Play Episode Listen Later Sep 28, 2024 4:49


    "A cachaça é um projeto 100% brasileiro, único, que só pode ser fabricado nos alambiques brasileiros", afirma Raquel Lopes, brasileira apaixonada pela tradição da cachaça que encontrou em Portugal o palco perfeito para compartilhar sua paixão com o mundo. Luciana Quaresma, correspondente da RFI no PortugalA empreendedora carioca criou a “Casa Cachaça”, um projeto para promover a cachaça brasileira na Europa, em busca de um novo público e de uma oportunidade de mostrar ao mundo a riqueza e a sofisticação da bebida brasileira."A cachaça é muito mais do que uma bebida. É um reflexo da nossa história, da nossa cultura, da nossa gente. É uma tradição que precisa ser preservada e compartilhada com o mundo", explica Raquel.A paixão de Raquel pela cachaça nasceu em sua terra natal, no Rio de Janeiro, onde a bebida faz parte da cultura e da história do povo brasileiro. Raquel sempre se encantou com o sabor único da cachaça, com as festas e tradições que a envolvem, e com o espírito que ela representa.Ao se mudar para Portugal em 2016, Raquel percebeu que a cachaça brasileira era pouco conhecida no país. Ela viu uma oportunidade de compartilhar sua paixão e de mostrar ao mundo a riqueza da bebida brasileira. Assim, criou a “Casa Cachaça”, um projeto que tem como objetivo promover a cachaça brasileira em Portugal e no mundo."Eu queria mostrar ao mundo que a cachaça não é apenas uma bebida barata e de baixa qualidade. Ela pode ser sofisticada, com um sabor único e uma história rica", explica Raquel.A “Casa Cachaça” tem também como objetivo se tornar um ponto de encontro para amantes da cachaça e para aqueles que desejam conhecer mais sobre a cultura brasileira. Raquel realiza degustações, palestras, eventos e promove a cachaça de alta qualidade, produzida com ingredientes e processos tradicionais.Cachaça premium"A minha missão é mostrar a cachaça brasileira como um produto de qualidade, com uma história rica e um sabor único. Trabalho com cachaças premium, cuidadosamente selecionadas no Brasil, para apresentar ao mundo a riqueza e a sofisticação da nossa bebida", afirma Raquel.Raquel viaja pelo Brasil em busca das melhores cachaças, conhecendo produtores que se dedicam  à tradição e à qualidade. Durante sua curadoria, a empresária se encanta com a história de cada alambique, com os processos de produção tradicionais e com o amor que os produtores têm pela cachaça."Cada alambique tem uma história única, um processo de produção próprio e um sabor singular. É fascinante conhecer cada um deles e entender a paixão que move cada produtor", comenta Raquel.A Casa Cachaça já conquistou o paladar de muitos europeus, e Raquel sonha em levar a cachaça brasileira para ainda mais países. Ela acredita que a cachaça tem o potencial de se tornar um símbolo da cultura brasileira no mundo, uma bebida que represente a tradição, a qualidade e a paixão do povo brasileiro. Em um mundo globalizado, a Casa Cachaça “surge como um exemplo de como a tradição e a cultura podem ser compartilhadas e celebradas", diz Raquel. 

    Livro de jornalista brasileira lançado nos EUA revela expansão do movimento evangélico no Sul Global

    Play Episode Listen Later Sep 21, 2024 4:28


    O movimento religioso pentecostal, surgido nos Estados Unidos no começo do século 20, espalhou-se rapidamente pelo Sul Global, desafiando o Vaticano a intensificar seus esforços de evangelização entre muçulmanos, principalmente depois dos atentados extremistas de 11 de setembro de 2001. Com as guerras no Afeganistão e no Iraque tornando perigosa a presença de missionários americanos, cristãos latino-americanos foram mobilizados para dar continuidade a essa missão global. Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova YorkNo livro Soul by Soul (Columbia Global Reports, 2023), a jornalista Adriana Carranca aborda a expansão do cristianismo evangélico pentecostal usando como fio condutor a experiência de uma família missionária brasileira que se muda para o Afeganistão. Carranca é uma jornalista conhecida por seu trabalho como correspondente de guerra, tendo coberto conflitos no Oriente Médio, na Ásia e na África, além de temas como direitos humanos, questões de gênero e política internacional.A Rádio França Internacional conversou com a autora durante o lançamento de sua primeira obra em inglês no teatro Martin E. Segal, na Universidade da Cidade de Nova York, na última terça-feira (17). Ela falou sobre as razões para o crescimento exponencial do número de missionários brasileiros no Brasil e no exterior.Segundo ela, um movimento pouco conhecido vem ganhando força nos últimos anos: famílias brasileiras estão indo, de forma clandestina, para países de maioria muçulmana, como Afeganistão, Iraque e Síria, com o objetivo de evangelizar esses povos. Por isso, o encontro com um casal brasileiro, dono de uma pizzaria em Cabul, levantou as suspeitas da experiente repórter: "Na época, pensei que eles poderiam ser mercenários, pessoas independentes que vão lutar nesses países por contrato, ou então traficantes, porque o Afeganistão tem muito ópio", relembra. No entanto, logo ficou claro que essa família tinha outro propósito: disseminar a fé cristã em regiões de difícil acesso.O Brasil, embora tenha uma forte tradição católica, desponta como o segundo país que mais envia missionários evangélicos ao exterior. "É um número absurdo de pessoas", comenta Adriana. Esse crescimento tem suas raízes no movimento pentecostal, que, no início, se espalhou pela América Latina com a premissa de que a palavra de Deus estava sendo distorcida pela Igreja Católica. "Eles começaram a traduzir a Bíblia para várias línguas, com a ideia de que precisavam espalhar a palavra de Deus, pois acreditavam que a Igreja Católica estava distorcendo essa mensagem", explica.O pentecostalismo encontrou terreno fértil na América Latina, em parte devido à mistura de influências culturais e religiosas. "Foi facilmente aceito, também pela influência africana na região. O pentecostalismo prega que não há hierarquia na igreja, que todos são filhos de Deus e qualquer pessoa pode receber o Espírito Santo", aponta a autora. Esse modelo igualitário atraiu muitas pessoas, especialmente nas comunidades mais pobres. "No Brasil, a mensagem era: 'Você pode se tornar pastor, mesmo que não saiba ler ou escrever, porque o poder do Espírito Santo vai te guiar'", conta.Reserva de missionários na América LatinaA expansão desse movimento foi significativa, e, em 2002 e 2003, líderes começaram a ver os perigos de enviar missionários americanos para regiões de conflito, como o Afeganistão. "Houve muitos casos de assassinatos, e os líderes se perguntavam o que fazer. Foi quando perceberam que tinham um 'exército' não utilizado na América Latina. Decidiram enviar latino-americanos, pois eles não eram alvos de ataques como os americanos", explica Adriana.Após o atentado de 11 de setembro de 2001, o cenário se tornou ainda mais arriscado para os americanos. "O campo ficou muito perigoso, e então começaram a enviar latino-americanos em massa para o Oriente Médio e a Ásia", acrescenta. Os missionários latino-americanos, sem depender de grandes recursos, encontravam maneiras de se sustentar. "Eles não precisavam do dinheiro das igrejas americanas para sobreviver. Arranjavam o que fazer por lá", comenta.O trabalho missionário, no entanto, é cercado de complexidades. No Afeganistão, por exemplo, a maioria dos convertidos eram hazaras, uma minoria étnica e religiosa historicamente perseguida pelos talibãs. "Os talibãs são de etnia pashtun, enquanto os hazaras são uma minoria xiita. Eles são historicamente massacrados e perseguidos", diz Adriana. Ela não tem dúvidas de que parte das conversões acontece por necessidade de segurança, ajuda humanitária e pelo sentimento de estarem sendo abandonados por seus próprios irmãos de fé. "Os irmãos muçulmanos estão me matando, estão me perseguindo", relata.Pobreza no Afeganistão não assusta brasileirosUm outro fator curioso quanto à facilidade de adaptação dos missionários brasileiros em zonas de conflito é que a realidade de violência e pobreza no Afeganistão não choca tanto os missionários brasileiros quanto os americanos. "A pobreza no Afeganistão não é tão chocante para o brasileiro como é para os americanos. A própria violência também não assusta tanto. O Brasil, em termos de assassinatos, é o país com o maior número", ressalta Adriana. Em comparação, segundo ela, o Afeganistão, em números, é mais seguro do que o Brasil.Além do Oriente Médio, muitos missionários brasileiros tais como os que compõem a família central do livro de Carranca passam a ver a crise dos refugiados como uma oportunidade para evangelizar na Europa. "Viram isso como uma bênção", explica a jornalista. Para esses missionários, tudo faz parte de um plano maior. "Para eles, tudo era um plano de Deus desde o começo", conclui Carranca.

    De Belém para Milão, estilista Val Valadares apresenta moda amazônica contemporânea

    Play Episode Listen Later Sep 14, 2024 5:50


    De Belém para a Semana da Moda de Milão, a estilista Val Valadares esperou mais de 25 anos pela realização de um sonho antigo: mudar a cara do Pará a partir das roupas. Ela sempre quis saltar do folclórico regional para o cosmopolitismo carregado de ancestralidade e alta qualidade. No início deste ano, foi escolhida para formar a Cápsula Marajó, iniciativa que deve ser pontapé inicial do polo de moda da capital paranese e que ganhou espaço em uma das principais semanas de moda do planeta, na Itália.  Vivian Oswald, correspondente da RFI em BrasíliaVal chegou ali por uma série de coincidências e por estar nos lugares certos, na hora certa – mas jamais terá sido por acaso. Por insistência de uma amiga, inscreveu-se em cima da hora em um curso de capacitação do Sebrae e, desde então, seu trabalho de anos ganhou visibilidade. Perguntada sobre quando começou a costurar, Val diz que é como se o fizesse desde que nasceu.Neta de artesã, aos quatro anos já costurava as roupas das próprias bonecas, que fazia desfilar em uma tábua que equilibrava entre açaizeiros na comunidade quilombola onde cresceu. Val sonhava grande, mas não tinha ideia do que era empreendedorismo. Foi alfabetizada aos 13 anos."Aos 14 anos, quando eu fiz a minha primeira peça de roupa, eu tive certeza que era isso que eu queria fazer a vida inteira”, conta.Ela garante lembrar-se como se fosse hoje de cada detalhe do modelo. Era uma blusa vermelha e branca listrada com um laço vermelho no bolso que promete replicar em breve. Autodidata, Val imagina uma peça e vai trabalhando diretamente o tecido.O que produz são peças diferenciadas, contemporâneas, inspiradas na cena amazônica que viu desde a infância. A coleção uirapuru tem as linhas garça, guará, sururina, bicho-chato e marreca."Montei o meu primeiro ateliê aos 25 anos, quando eu mudei para um projeto da vale do Rio Doce, no interior do Pará, chamado mineração Rio do norte, em Oriximiná. Foi quando eu realmente me empenhei em fazer peças, mesmo sendo desacreditada pelas pessoas que me procuravam, devido a minha aparência de menina”, acha graça.Quando chegavam no ateliê, as potenciais clientes perguntavam onde estava a sua mãe. Com 1,5m de altura, era magrinha e tinha jeito de adolescente. "Mesmo assim, consegui provar que era capaz de trabalhar com moda. De lá para cá, eu não parei mais”, diz.Anos mais tarde, de volta a Belém, aumentou a clientela, sobretudo depois de desenhar peças medievais a pedido de uma menina de boa família que organizava seu trabalho de escola, uma peça de teatro. Recebeu o pagamento em um saquinho de dinheiro, com as moedas e notas picadas que a autora conseguira arrecadar pela entrada. Tirou nota máxima. Era a primeira vez Val que fazia roupas estilizadas – passou para o tecido o que a menina colocou no papel.A estilista não parou nem quando teve o primeiro filho, aos 41 anos, até que veio a pandemia, que a obrigou a fechar o ateliê, mas não a paralisar suas atividades. Dedicou-se a peças casuais e leves e chegou a fazer 60 kaftans em uma única semana. Manteve ateliê em casa, e, quando a situação melhorou, tinha 10 costureiras trabalhando com ela. No desfile de 20 de setembro, no Museo della Scienza, na Meca da moda italiana, vai contar a história do caso de amor do Padre Giovani Gallo com a Amazônia, onde o sacerdote atuou desde a década de 1970 até morte, no ano passado. A coleção que Val vai apresentar aos italianos tem o nome dele.Em seus projetos sociais, Padre Giovani Gallo ficou conhecido como "o padre marajoara": ajudou a transformar as tramas marajoaras das cerâmicas encontradas em escavações em pontos perfeitos com que as bordadeiras pudessem trabalhar.“Estou colocando na passarela o desejo de um padre italiano, que vai ser representado por uma evangélica brasileira", afirma.Moda paraense tipo exportaçãoA coleção se baseia na história dele e nas roupas que usava. Será uma releitura de batinas em kaftans e quimonos, um estilo “mais litúrgico”, como explica a estilista. "A coleção Giovanni Gallo é uma moda leve, simples, onde quem vai protagonizar é o grafismo, motivos marajoaras nos quais ele se empenhou tanto”, diz.Desde aquele primeiro curso de capacitação no Sebrae, para o qual foi escolhida com outras 10 empresas, Val quase não acredita na velocidade de sua trajetória. O próximo passo é exportar.Até chegar à Europa, no final do mês, pretende estar 100% pronta para vender no exterior moda sustentável: nada de sintético, só algodão. Parte do grafismo de suas blusas fica por conta dos botões que mandou fazer sob encomenda com pau Brasil reciclado. Foi assim que foi descoberta pela Brasil Eco Fashion Week."Espero que esse desfile possa me dar espaço para eu contar não só para a Itália, mas para todos os outros países da Europa, a riqueza do nosso bordado, do nosso grafismo, a história linda do padre Giovanni Gallo. Que os italianos possam conhecer esse italiano mais paraense do que muitos paraenses”, garante.O sonho de Val agora é ter um ateliê-escola no qual possa ensinar o povo paraense a fazer moda com qualidade. Hoje, emprega 18 costureiras independentes, que produzem só para ela."Eu desejo muito mudar a cara do Pará com relação à produção de moda. Mesmo que não vá ser grande polo de moda, ou referência, mas que seja moda com qualidade.”

    Museu da Suíça realiza exposição com obras-primas do modernismo brasileiro

    Play Episode Listen Later Sep 8, 2024 5:01


    Pela primeira vez, o modernismo brasileiro vai ser tema de uma exposição em um museu da Suíça. O renomado “Centro Paul Klee” (Zentrum Paul Klee), de Berna, abriu as portas, no sábado (7), para “Brasil! Brasil! O nascimento do modernismo”, exposição que tem como uma das curadoras a brasileira Roberta Saraiva Coutinho, que falou com a RFI.  Valéria Maniero, correspondente da RFI em LausanneRoberta Saraiva Coutinho conta que a ideia surgiu depois de uma exposição do Centro Paul Klee no Brasil, antes mesmo da pandemia. A surpresa com a boa recepção do público fez com que a curadora-chefe do museu, Fabienne Eggelhoefer, fosse ao país e tivesse contato com a pintura moderna brasileira. “É importante falar que o Centro Paul Klee é um museu dedicado a um artista que é um grande expoente do modernismo mundial. Também é um museu que vê o modernismo de forma bastante ampla, o modernismo global. Quando ela chega ao Brasil e vê o modernismo brasileiro, ela pensa, 'como essas obras não são conhecidas na Europa?' Gostaríamos de fazer essa exposição", conta Roberta Saraiva Coutinho. A curadora explicou que foram mais de cinco anos de trabalho, “olhando essas obras do Brasil, conhecendo o modernismo brasileiro e preparando esse projeto que agora chega em Berna”. O que os visitantes vão encontrar Roberta explica quem são os representantes do modernismo presentes na exposição e que foi "duro" fazer a seleção.“Foi uma escolha dura. Fazer uma exposição é sempre fazer uma escolha. Então, o que pensamos e, sobretudo, a Fabienne, com um olhar muito dedicado ao público suíço, foi escolher dez artistas, se debruçar sobre a obra deles, para  poder mostrar um pouco mais sobre a obra de cada um", diz."A gente começa com um conjunto de artistas que estão consagrados no cânone modernista brasileiro: Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Tarsila do Amaral, Lasar Segall e, claro, Candido Portinari. Depois, os que vêm de uma espécie de segunda geração, aqueles que só posteriormente foram incluídos no cânone. E aí a gente tem um conjunto importante de obras do Flávio de Carvalho, do Volpi, da Djanira, do Rubem Valentim e do Geraldo de Barros”, descreve a curadora. “Um velho amigo na parede de um museu”Quem visitar o Centro Paul Klee “vai ter essa sensação linda, que é quase como encontrar um velho amigo na parede de um museu da Suíça”, diz Roberta.“É uma exposição muito emocionante: o conjunto completo e esse passeio pela obra de cada artista."A importância de uma exposição como essaRoberta, que também é diretora técnica do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, falou com a RFI sobre a importância de ter uma exposição sobre o modernismo brasileiro num museu na Suíça.“Eu carrego esse desejo muito grande de ver o Brasil brilhando no exterior. Então, sempre, minha carreira tem sido dedicada a esses intercâmbios para fora e para dentro do Brasil. Nesse sentido, a primeira alegria é ver o Brasil escrito no Centro Paul Klee”, afirma.Mas, além disso, ela diz que “a gente sabe que a arte brasileira tem sido pouco vista fora do Brasil”.“Então, acho que é uma oportunidade maravilhosa poder trazer para o público suíço esse conjunto de obras que são, de fato, obras-primas do nosso modernismo”, diz. Segundo Roberta, o grande idealizador e organizador é o Centro Paul Klee, “que inventou toda essa história maravilhosa”. Mas, como o projeto é feito em colaboração com a Royal Academy of Arts, de Londres, ela também vai receber a mostra.“É uma trajetória muito bonita, porque a gente tem a chance de expandir para o público londrino. Uma oportunidade maravilhosa poder disseminar esse conjunto de obras e mesmo a imagem do Brasil no exterior”, comemora.Muita gente envolvidaRoberta explica que uma exposição como essa não é feita com pouca gente. Também contou com a presença e o apoio de uma quantidade enorme de instituições. “Você imagina cada primeira visita, cada conversa. A gente conta com um catálogo, com especialistas. Você pode imaginar a quantidade de pessoas envolvidas direta e indiretamente em um projeto como esse e de instituições nacionais, o próprio ministério, instituições na Suíça”, enumera.O modernismo brilhando fora do Brasil De acordo com a curadora, o “mais bonito de tudo é poder ter um projeto em que a gente mostre o Brasil na sua máxima potência”.“O modernismo brasileiro, enfim, está brilhando na Suíça e a gente consegue mostrar essas obras para um público mais amplo, que teve pouca oportunidade de ver. Mas, sobretudo, é um projeto que conta com a participação de muita gente. Então, é quase um prestígio em cascata. Para mim, é uma grande alegria”.  A exposição “Brasil, Brasil! O nascimento do modernismo” vai até 5 de janeiro no Centro Paul Klee. Interessados podem comprar as entradas para a mostra no site do museu 

    Pescador brasileiro leva história de amizade com pinguim a Hollywood

    Play Episode Listen Later Aug 31, 2024 6:53


    Pinguins não são bichinhos de estimação, não é possível adotar um deles. Mas, nessa história, foi um desses animais - de andar apaixonante - que, bendizer, adotou um pescador. Uma trama inusitada, de uma amizade extraordinária, que viralizou e chamou a atenção de produtores de Hollywood, que levaram às telas o enredo inspirado em fatos que aconteceram no Brasil. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles"Meu Amigo Pinguim" chega às telas com a direção de David Schurmann e elenco multinacional. Filme já está em cartaz nos EUA e na França. A data de estreia no Brasil é em 12 de setembro"Tô muito feliz de levar o Brasil para o mundo com essa história. Nós estamos lançando nos Estados Unidos no país inteiro. Esta, acredito, vai ser uma das histórias brasileiras mais vistas nos cinemas americanos. Fico muito orgulhoso de ser brasileiro, de contar essa história brasileira e levar o Brasil para o mundo com uma história muito bonita e com uma mensagem também sobre o meio ambiente, que eu acho que o Brasil tem esse papel tão forte e tão importante", contou o diretor David Schurmann à RFI.A história de amor de Seu João Pereira de Souza e do pinguim teve início em 2011, quando a ave chegou na Ilha Grande (município de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro). O animal muito debilitado e cheio de óleo foi encontrado na praia de Provetá, o pescador o levou para casa, deu banho, comida e muito amor e carinho. Mas, isso foi só o começo de uma amizade inusitada: o pinguim ganhou o nome de Dindim, e assim como todo amor incondicional que tem laços fortes, sobreviveu à liberdade e à distância.Seguindo a premissa de que o bom filho à casa torna, Dindim, nas suas viagens de inverno - já que os pinguins migram durante essa época do ano do extremo sul da América do Sul para o Brasil em busca de águas menos gélidas - retornou durante oito anos seguidos para visitar o amigo em Angra dos Reis.A amizade viralizou e chamou a atenção de produtores norte-americanos, que contrataram o brasileiro David Schurmann para dirigir o filme. Conhecido por "Pequeno Segredo", filme indicado pelo Brasil para concorrer ao Oscar de 2017, aos 13 anos Schurmann começou a demonstrar sua paixão pelo cinema ao filmar as aventuras a bordo do veleiro de seus pais, durante a primeira volta ao mundo da família Schurmann, o que o conecta ainda mais com essa história."Eles falaram, nós temos essa história, a gente quer fazer uma ficção, mas vai ser em inglês. Perguntei onde queriam filmar e disseram que seria na Espanha, um lugar completamente fora. Eu falei 'não, precisamos filmar no Brasil, essa história é brasileira'. Tudo bem filmar em inglês, porque eles tinham pesquisado e não havia atores mundialmente conhecidos na idade que precisavam, mas eu falei: vamos fazer no Brasil e acabamos filmando a maior parte em Ubatuba", relembra o diretor.Estão no elenco os brasileiros Pedro Urizzi, Thalma de Freitas, a argentina Alexia Moyano, e nos papéis principais a atriz mexicana indicada ao Oscar, Adriana Barraza, e o francês Jean Reno, que contou que achou a história muito tocante."Eu gosto do fato de que um animal tem uma alma, de alguma forma, e pode me salvar da minha solidão, da minha dor. No filme falamos sobre preservar os animais, preservar o mar e não destruir o planeta. Nós temos muitos objetivos com esse filme e como humanos temos muitos objetivos, e queremos viver juntos, essa é a ideia", contou o ator francês.Os pinguinsPara fazer o papel de Dindim vários pinguins de verdade se revezaram, mas alguns robôs e a tecnologia também entraram em cena."A gente usou todas as técnicas, a gente se resguardou. Quando eu encontrei o Fabian Gabelli, que foi o treinador de pinguins, um cara que se comunica com pinguins, ele me disse: o pinguim faz tudo. Eu não sei se acreditei imediatamente. A gente sempre sabe: 'não faça filme com crianças, animais e na água', que são os três perigos maiores. E a gente tinha os três nesse filme. Então eu falei, vamos garantir também ter animatronics, robôs, pinguins digitais para o que não for possível fazer com robôs, e foi isso que aconteceu", detalha."Mas a gente conseguiu utilizar em 80% do tempo pinguins reais e foi incrível. Por mais que tenha sido um desafio, foi absolutamente lindo filmar com pinguins reais porque eles são muito inteligentes. Para a nossa sorte, em Ubatuba, tem o Instituto Argonauta para Conservação Costeira e Marinha e o aquário que resgatam pinguins que vem parar na costa brasileira, nessa época do ano. Eles resgatam, alimentam esses pinguins e os devolvem para o mar. Há alguns pinguins que eles não conseguem devolver, que os que têm problemas na asa, por exemplo, e foram esses pinguins que a gente acabou usando no filme", conta Schurmann.Algumas cidades brasileiras já tiveram pré-estreias e outras acontecerão nas próximas semanas. Mas, "Meu Amigo Pinguim" chega oficialmente aos cinemas do país em 12 de setembro com muito da história do Seu João, mas também liberdade cinematográfica."Esta é uma história baseada em fatos. Como toda ficção baseada em fatos, a gente toma uma liberdade artística. O Seu João, por exemplo, tem uma história com o filho dele que é diferente um pouco da nossa, a gente comprimiu o tempo, a gente toma essas liberdades. Mas eu acredito que está muito fiel dentro da história, principalmente da amizade do Seu João e do Dindim. Se você procura na internet, você vai ver os vídeos de verdade e se assiste ao filme, a proximidade é muito grande das duas histórias", finaliza o diretor.

    Conheça o trabalho da brasileira que é finalista do prêmio Medalha de Educação da América Latina

    Play Episode Listen Later Aug 25, 2024 5:00


    Dois brasileiros, Tatiana Klix, diretora-executiva e fundadora do Instituto Porvir, e Jair Ribeiro, fundador e presidente da Parceiros da Educação, estão entre os finalistas da premiação criada pela T4 Education e pela HP, que realiza este ano sua primeira edição na América Latina. A medalha reconhece o trabalho de pessoas que impactam positivamente a educação na região. A RFI entrevistou a jornalista Tatiana Klix, que há 15 anos atua neste setor. Larissa Werneck, correspondente da RFI no MéxicoAs indicações para a Medalha de Educação da América Latina (Latin America Education Medal) foram abertas em fevereiro de 2024 para pessoas que trabalham para melhorar o ensino nas diferentes etapas da escolarização, desde o pré-escolar até o ensino superior. Podem ser educadores, gestores, líderes da sociedade civil, funcionários públicos, autoridades governamentais, empreendedores ou empresários.A premiação é uma das três Medalhas da Educação Mundial, criadas pela T4 Education e pela HP, e se junta à Medalha de Educação da África, fundada em 2022, e à Medalha de Educação da Ásia, que também foi lançada este ano. "A Medalha de Educação da América Latina homenageia os agentes de mudança onde a mudança é mais necessária. Onde as lacunas de aprendizado persistem em realidades de profundas desigualdades. Se quisermos enfrentar esses desafios colossais e desbloquear o futuro do continente, precisamos construir uma comunidade de líderes de todas as esferas da sociedade comprometidos com a transformação educacional.", disse em um comunicado Vikas Pota, fundador e CEO da T4 Education.Entre os finalistas da premiação na América Latina, estão profissionais de países como México, Colômbia, Equador, Uruguai e Chile, além dos brasileiros Tatiana Klix, diretora executiva e fundadora do Instituto Porvir, e Jair Ribeiro, fundador e presidente da Parceiros da Educação.Comunicação em benefício da educaçãoCom mais de 15 anos de carreira dedicados à cobertura da educação no Brasil, Tatiana Klix foi uma das responsáveis por transformar, em 2019, a plataforma jornalística Porvir em uma organização independente que tem a missão de impulsionar transformações que garantam qualidade, equidade e contemporaneidade na educação brasileira.“A gente acredita que isso acontece repensando o modelo de escola, as maneiras como as pessoas ensinam, como as pessoas aprendem, os tempos, os espaços, as abordagens, os diálogos, a organização da escola e também as relações dentro da escola. A gente acredita que precisa de uma transformação profunda que demanda criatividade e que demanda inovação.”, explica Tatiana.A plataforma, que continua mapeando as tendências e políticas educacionais brasileiras, é livre e gratuita para professores, gestores e para todas as pessoas que se preocupam com educação. Além da produção de conteúdos especializados, o portal oferece atividades práticas e dicas para professores em sala de aula, sempre com o objetivo de promover a reflexão sobre a educação brasileira.Outra vertente desse trabalho ocorre na Agência de Soluções do Instituto Porvir, que cria estratégias de comunicação, conteúdo, experiências e plataformas digitais para apoiar os educadores e empresas que desenvolvem projetos educacionais.“Nós somos uma equipe de comunicadores, principalmente. Nós não somos educadores, a gente trabalha a comunicação a serviço da educação. Como que a comunicação contribui para essa transformação, fazendo essas mensagens e esses conteúdos chegarem mais longe e de uma forma mais atrativa, mais objetiva e mais mobilizadora.”, diz a jornalista.Premiação forma rede de profissionais preocupados pela educação na América LatinaA Medalha da Educação da América Latina proporciona o intercâmbio de ideias entre os finalistas, que atuam em diferentes áreas relacionadas com o universo educacional.María Victoria Varela, do Uruguai, é professora e vice-diretora de uma escola localizada em Montevidéu. Ela acompanha cerca de 200 alunos com deficiência e dificuldades de aprendizagem severas em suas jornadas educacionais, garantindo a inclusão no ensino regular.Já o mexicano Leo Schlesinger é ex-CEO da Aliat Universidades, um grupo de sete instituições de ensino superior que atua em 13 estados do México. Schlesinger foi pioneiro em abordagens de aprendizado personalizado, com melhorias significativas no desempenho, retenção e taxas de graduação dos alunos.Os vencedores das Medalhas da Educação Mundial serão anunciados no dia 17 de outubro. Eles serão convidados a participar Cúpula Mundial das Escolas, em Dubai, nos dias 23 e 24 de novembro. No entanto, além do reconhecimento internacional, a premiação possibilita a criação de uma rede de líderes comprometidos com a transformação da educação em toda a região.“É uma oportunidade ótima a gente se conectar com esses líderes. A gente vai poder trocar e prestar mais atenção nas soluções que estão sendo criadas nesses países. Tudo é aprendizado e tem soluções que podem ser observadas, modificadas e podem surgir inspirações muito interessantes a partir de contextos onde temos desafios comuns”, finaliza Tatiana Klix.Conheça os outros finalistas da Medalha de Educação da América Latina 2024:● Arturo Condo, presidente, Earth University, Costa Rica● Darío Álvarez Klar, fundador e CEO, Itínere Education Network, Argentina● Freddy Vega, CEO e fundador, Platzi, Colômbia● Jair Ribeiro, presidente, Parceiros da Educação, Brasil● Juan Pablo Mena, CEO, uPlanner, Chile● Leo Schlesinger, ex-CEO da Aliat Universidades, México● Marcela Suárez, diretora de Projetos, Escola Johannes Kepler, Equador● María Victoria Varela, professora e diretora adjunta, Escola 240 Paul Harris, Uruguai● Tatiana Klix, diretora executiva, Porvir, Brasil● Verónica Cabezas, diretora executiva, Elige Educar, Chile

    Escritoras brasileiras lançam livros em Los Angeles e compartilham experiências como imigrantes

    Play Episode Listen Later Aug 24, 2024 6:56


    Neste sábado (24), escritoras brasileiras, cada uma com a própria jornada e vivência como imigrante, unem suas vozes, em Los Angeles, para celebrar o Dia Nacional da Latina. Além de ser um evento dedicado à troca de experiências fora do país natal, cinco mulheres brasileiras lançam seus livros em uma das mais conhecidas livrarias da cidade, a Barnes & Noble, do shopping The Grove. As publicações abordam temas como autoconhecimento, superação, saúde, busca por identidade e há até ficção de terror, inspirada em uma experiência de ser babá nos Estados Unidos. Este é o terceiro ano que a editora WeBook Publishing, criada pela catarinense Ana Silvani, promove este evento com lançamentos durante as comemorações do Dia Nacional da Latina. Ana, por encontrar dificuldades para lançar seus próprios manuscritos, criou um selo editorial para apoiar seus sonhos e de outras escritoras imigrantes."Há três anos, a Webook é a ponte que conecta autores e leitores a esse novo espaço, agora ocupado por outras mulheres que se uniram a mim e estão contando as histórias delas para o mundo e isso é lindo, isso não tem preço", contou Ana à RFI.Um dos lançamentos desta edição é "Change", escrito pela atriz Daniela Escobar, que mora há quase duas décadas nos Estados Unidos. Conhecida por fazer novelas como "O Clone", "América" e a minissérie "A Casa das Sete Mulheres", Daniela relata na publicação a experiência de mudar de país e se reinventar."Eu narro minha vida, como cheguei aqui, por que escrevi este livro, por que eu meio que mudei de profissão, mudei de país. Eu não larguei minha carreira, mas se você sai do seu país, da sua língua e vai para outro, e fica anos aprendendo só a língua e não trabalha naquilo, os rótulos vêm, as cobranças vêm e tudo faz parte das mudanças", diz Daniela. O livro "Change", segundo ela, abre a cabeça das pessoas para a possibilidade de viver algo novo e melhor.A mudança de Daniela foi além, pois ela também se tornou terapeuta de saúde, nos Estados Unidos, depois de receber um diagnóstico de câncer em estágio 4, há sete anos. Ela transformou o modo de vida e agora compartilha o que a curou."Foram vários fatores, eu fui separando nas caixinhas à medida que eu fui aprendendo sobre isso, estudando. O desejo hoje é levar esse conhecimento para as pessoas. A gente altera quimicamente o nosso organismo, isso causa inflamação. No meu caso era a comida, eram os doces, o açúcar, o excesso, o emocional, tudo junto, tudo misturado. Eu conto algumas coisas. É voltar para a avó, pensar que tudo que é natural e fresco, é o que nos nutre, nos protege. Tudo que não é fresco, que é congelado, industrializado, encaixotado, engarrafado é bom só para o bolso de quem vende", fala a escritora.Patricia East, que trabalha como executiva de recursos humanos e com formação de líderes, compartilha a experiência como imigrante com o título "Passport to Growth". O livro traz dicas para expatriados se inspirarem e buscarem seus próprios caminhos para o sucesso.Já a jornalista Larissa Rinaldi, autora de "City Echoes", traz uma coleção de textos sobre as lições vividas e aprendidas em cinco anos de moradia em Nova York."São textos curtos, alguns são muito intensos, alguns são de humor. É sobre como é que a gente lida com essas emoções, com as questões que a gente também não tem muito controle. A vida do imigrante é não ter muito controle. Esse limbo pois não sou nem americana, nem estou mais tão integrada na nossa sociedade, na nossa cultura", diz Larissa.Ficção e autoestimaFoi em uma noite cuidando de um bebê que veio a inspiração para "The Baby Seeker", uma ficção de terror, que já se transformou em um curta-metragem e agora vira livro, escrito pela atriz Deborah Liss. Ela trabalha como babá para pavimentar seus sonhos na terra do Tio Sam e foi daí que veio também a inspiração para o enredo."Eu estava trabalhando como babysitter de noite, e o bebê já estava dormindo. Eu estava no meu celular na sala e de repente, sabe quando a bateria de um brinquedo está acabando? O brinquedo começa a tocar, eu demorei para encontrá-lo, mas desliguei e voltei para o sofá. Mas logo antes de eu sentar no sofá, o brinquedo tocou de novo. Aí eu pensei, 'imagina se eu estou aqui e tem alguma presença aqui comigo? Ao invés de eu ficar com medo da situação, comecei a criar uma história e escrever", relembra Deborah.Viviane Williams, autora de "Dress Yourself", faz uma ponte entre estilo, bem-estar e autoconhecimento. Ela usa a psicanálise e a consultoria de imagem para melhorar a autoestima e buscar a essência de cada um."Ao escrever o meu livro, eu quis trazer essa visão, mostrando como vestir-se pode ser um processo de dentro para fora que envolve não só nossa mente mas o nosso corpo e principalmente o nosso coração, onde estão ali os nossos valores e os nossos princípios", destacou Viviane. É dessa forma que ela encara a jornada como imigrante, o que lhe permitiu compreender de uma forma muito única as complexidades de viver entre culturas e como isso pode influenciar a maneira como nos vemos e como nós nos apresentamos ao mundo, afirma a consultora de estilo.Além de Los Angeles, os lançamentos também vão acontecer em São Francisco, no próximo dia 30, e em Nova York, nos dias 20 e 21 de setembro.

    Brasileira de Duque de Caxias é candidata no concurso Miss Universo Suíça

    Play Episode Listen Later Aug 17, 2024 9:00


    A brasileira Bárbara Suter, de 33 anos, de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, é uma das candidatas do concurso Miss Universo Suíça 2024. A modelo de olhos verdes, cabelos castanhos e 1,75 m de altura não só atende as exigências da competição, como vai além, quebrando estereótipos: Bárbara é formada em medicina veterinária no Brasil, está fazendo mestrado na área na Suíça, fala cinco idiomas e trabalha numa clínica veterinária. Valéria Maniero, correspondente da RFI na SuíçaBárbara é filha de uma brasileira e de um suíço, nascida e criada em Duque de Caxias, no estado do Rio de Janeiro. Sua mãe era passista da Vila Isabel e da Grande Rio. Ela mora atualmente com o pai no cantão de Schwyz, na Suíça, para onde se mudou em 2017 para fazer mestrado.“Eu me formei em medicina veterinária, fiz bacharelado no Brasil, e decidi vir para cá para poder finalizar um dos meus grandes sonhos na área da medicina veterinária: fazer um mestrado. Decidi juntar o útil ao agradável”, conta à RFI.O concurso Miss Universo Suíça será realizado em setembro. Se ganhar, Bárbara representará o país na edição global, que será no México.“Eu me inscrevi. Você recebe a resposta, falando que em tal dia, tal hora tem que aparecer para uma um casting, que é uma pré-seleção, como se fosse uma peneira. Lá, você é entrevistada, faz fotos, conversa com a diretora (Lina Poffet)", explica à RFI."Passei, graças a Deus, na primeira fase. Depois você participa de um desfile de biquíni, vestido de gala, e é reavaliada. Dois ou três dias depois você recebe um retorno, dizendo se realmente é finalista ou não. Eu fui escolhida. No total, somos em torno de 20 meninas da Suíça, todas selecionadas para essa grande final”, diz.Voz e atitudeBárbara acha que uma miss ou candidata à coroa deve “ter uma voz, uma atitude”.“Eu acho que nós, concorrentes e futuras misses, temos que mostrar esse nosso lado intelectual, através das nossas opiniões, tentar mudar um pouquinho o pensamento da sociedade em relação a tudo o que esse mundo miss abrange, porque acho que vai além da beleza", defende."A gente também é profissional. Eu, por exemplo, já estou atuando na minha área da veterinária. Então, consigo conciliar o concurso com a minha vida profissional”, explica.Se depender dela, a inveja, o estresse e a competição acirrada que já viu em outros concursos devem ficar de lado.“Acho que a gente precisa deixar tudo isso para trás. Tem aquela questão da sororidade entre as mulheres. Eu queria muito que continuasse, independentemente de ser uma competição. Minha maior rival sou eu mesma, não é a menina que vem da parte francesa ou da parte italiana da Suíça. Tenho que ser melhor do que ontem, melhor do que hoje, para amanhã eu conseguir dar a minha melhor versão. Espero que seja um concurso tranquilo”, diz.Ela admite que está ansiosa e “claro que espera ganhar”. Mas se não der, paciência. “Não vai ser o fim do mundo, óbvio. Acho que isso não resume quem eu sou, se eu perder, e quem eu irei ser”, afirma ela, que espera que a família toda esteja lá, incluindo a mãe, Dona Lecy, que mora no Brasil, os amigos e o namorado.“A ansiedade e o coração estão batendo forte”, reconhece. Entre a passarela e a clínica veterináriaO dia a dia da Bárbara é intenso, que divide a vida de modelo em eventos, com o trabalho na clínica veterinária. “Eu não vou dizer que é estressante, porque foi um caminho que escolhi. São coisas que eu amo fazer", afirma.Ela também arranja tempo para encontrar os amigos, tentar ir a algumas festas brasileiras – para ela, a cultura tem que estar presente, independentemente de onde esteja.Bárbara gosta de estar rodeada dos amigos, da irmã, do pai, que estão na Suíça, “esses pequenos grandes detalhes”, diz. Também sente muita falta da mãe, que mora no Brasil.Ela diz que ama comida brasileira, “uma das minhas maiores saudades”. “Eu não me privo de experimentar coisas ou de me alimentar bem com as coisas que eu gosto, porque acho que se você pensar só em emagrecer, te privar de tanta coisa, vai te trazer algum malefício. Se não for físico, vai ser mental”, diz ela, que treina em academia.Quando olha para o futuro, Bárbara afirma que, daqui a alguns anos, gostaria de ter a própria clínica veterinária e ter a formação de cirurgiã, “quem sabe cirurgiã cardiologista”.“Eu sei que é muita coisa, mas a vida é uma só, então, eu quero dar o máximo para conquistar os meus sonhos. Ah, e que também eu ganhe o Miss Universo Suíça 2024, que eu vá para o México, em novembro, e quem sabe ganhar o Miss Universo 2024”, diz otimista.Saudades da terrinhaQuando o assunto é Brasil, ela diz que sente muita falta da espontaneidade dos brasileiros, do calor humano, que é “inigualável”.“Aqui, se eu tiver que ligar e marcar alguma coisa com um amigo, vamos ver na agenda para daqui a um mês. No Brasil é: vamos? Vamos! Também dos amigos, das praias, principalmente no Rio", diz. "O Brasil faz parte da minha personalidade. Então, não tem como apagar isso, nem quero mudar nada disso, pelo contrário, vou carregar para sempre”.

    Projeto jornalístico dedicado à comunidade brasileira em Portugal faz sucesso entre imigrantes do país

    Play Episode Listen Later Jul 13, 2024 9:25


    Um dos jornais mais antigos da Europa, o Diário de Notícias, de Portugal, criou um projeto jornalístico voltado para a comunidade brasileira no país e lançou o primeiro número do DN Brasil, um suplemento mensal com notícias escritas em português do Brasil, um site com atualizações diárias dedicados a comunidade brasileira residente no país e acaba de estrear um podcast também voltado para os brasileiros que moram em Portugal. Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Lisboa“Todo o nosso conteúdo de uma maneira multimídia, tanto o que está no papel quanto o que está no digital, bem como o que está nas redes sociais, é voltado para os brasileiros, mas que não exclui as demais nacionalidades. E aqui são dois pontos: o primeiro é que nós temos muitos portugueses interessados nas notícias relevantes para a comunidade brasileira por vários fatores, seja porque são amigos de brasileiros, seja porque são casados com brasileiros ou com brasileiras”, explica Amanda Lima, editora-chefe do DN Brasil em entrevista à RFI.A edição em papel já pode ser encontrada nas bancas juntamente com o Diário de Notícias. Segundo Amanda, o objetivo do DN Brasil é valorizar os imigrantes que escolheram Portugal para viver e promover a integração na sociedade portuguesa. “É um projeto muito antigo que tínhamos em mente e era uma vontade muito grande já há muito tempo. E agora foi o momento em que se concretizou. O início desse olhar voltado para a comunidade de língua portuguesa, além dos portugueses, começa com os brasileiros que moram aqui em Portugal”.Lançamento do DN Brasil acontece no ano em que o Diário de Notícias completa 160 anos“É uma responsabilidade muito grande para nós, para nossa equipe, estarmos nesse projeto, com uma empresa tão importante, tão tradicional no jornalismo europeu como é o Diário de Notícias. E, ao mesmo tempo, isso também facilita um pouco o trabalho, porque as pessoas já conhecem a marca do Diário de Notícias e naturalmente nos traz leitores”, explica.Além do jornal, acaba de ser lançado o podcast do DN Brasil como mais um veículo de informação e integração. “O nome é podcast Brasil Global. Nessa primeira temporada, semanalmente, nós teremos um brasileiro ou uma brasileira que faça alguma coisa relevante para a comunidade aqui em Portugal no nosso estúdio. Vamos lançar também a newsletter”, adianta a jornalista.Voz da comunidade brasileiraEste novo projeto jornalístico do Diário de Notícias, que faz parte do Global Media Group, acontece em um momento em que a comunidade brasileira é a maior e a que mais cresce em Portugal.“Claro, isso faz com que o projeto se torne ainda mais estratégico, porque não faria sentido nenhum ter um jornal brasileiro se não tivéssemos um elevado número de brasileiros aqui. São mais de 615 mil brasileiros que já possuem documento, fora aqueles que estão no processo, fora aqueles com dupla cidadania”, detalha.A esteticista Zenaide Silva, que vive em Portugal há 24 anos, aprova a integração promovida pelo projeto: “Acho muito importante esta integração da comunidade brasileira que está sendo feita dentro de um jornal português muito antigo. A partir de agora finalmente a comunidade brasileira terá uma voz mais ativa dentro da comunidade portuguesa”, comenta.Há 25 anos em Lisboa, a paulista Elis Nery não tem dúvida da importância deste projeto para os brasileiros. “Eu acho que agora é o momento ideal para se ter uma imprensa com esta preocupação. A comunidade brasileira tem aumentado exponencialmente, nunca vi tantos brasileiros assim, então acho que faz todo o sentido ter um jornal focado nos assuntos relevantes para os brasileiros que vivem aqui”.A brasileira Bianca Almeida acredita que o jornal tem um papel importante de reduzir a xenofobia contra a comunidade brasileira em Portugal. “Moro em Portugal há cinco anos e meio. Acho, sim, que teremos mais voz, pois o jornal é um meio de informação que chega principalmente as pessoas mais velhas do país, e dessa forma eles também conseguirão entender um pouco mais da nossa cultura, motivos da nossa imigração, e desta forma, podem vir a aceitar melhor nossa presença no país. Temas relacionados a leis imigratórias, trabalhistas, matérias envolvendo o crescimento pessoal e econômico de imigrantes em Portugal e como nossa cultura agregou na nação portuguesa”, comenta."Jornalismo para todos"Segundo a editoria do jornal, as notícias serão selecionadas conforme a atualidade, interesse público e proximidade, tendo como audiência principal os brasileiros, mas também todos os que convivem com a comunidade imigrante.“São muitas famílias que se misturam culturalmente. Existem centenas de empresários que empregam brasileiros e por isso é do interesse de toda a comunidade e de toda a sociedade portuguesa saber as notícias que envolvem esta comunidade crescente. E, além disso, nós também recebemos muitos e-mails de outras comunidades imigrantes da língua hispânica”, destrincha Amanda Lima.Para ela, o jornal quer criar uma comunicação direta com o maior número de brasileiros possível e se insere no contexto. “Nós somos para todos os brasileiros, desde aqueles que chegam aqui e movem esse país, trabalhando nas limpezas, nos restaurantes e na área de serviços, como também naqueles que têm grandes empreendimentos ou trabalham em multinacionais", acrescentando que o DN Brasil tem o intuito de ser "jornalismo para todos" com a intenção de "mostrar como é viver em Portugal a partir da ótica de todos os brasileiros" que moram no país "independente da sua classe social, da sua profissão, da sua idade”O jornal e as plataformas digitais do DN Brasil têm como foco notícias de serviço público e de utilidade com o objetivo de simplificar o dia a dia dos imigrantes em Portugal.“Quando eu escrevo uma reportagem que elucida dúvidas de imigração pode também beneficiar outros imigrantes que moram aqui e que também precisam de informação. Eu recebo e-mails em vários idiomas, dá para ver também que alguns usam a inteligência artificial para traduzir. Acho isso fantástico, porque nós vemos que há um esforço e uma necessidade dessas pessoas em se comunicar e especialmente em agradecer por se sentirem representadas, por ter um jornal brasileiro que não é especificamente para elas, mas, no fundo, é um jornal para todos, com foco na comunidade imigrante, porque acaba dando voz aos imigrantes, não só aos brasileiros, mas outros imigrantes”, explica.Jornalismo de serviço é o foco da editoria“Queremos prestar serviço, dar a informação que as pessoas precisam. Quando as pessoas precisam de informação essencial, mas não tem ou não sabem onde encontrar ficam apreensivas em relação ao seu futuro.  Isso ficou muito claro na semana passada, quando estava muito gente esperando um decreto-lei do governo para renovar os documentos que estão vencidos. Havia muita expectativa. Nós demos essa informação em primeira mão, acompanhamos todo o caso e também já recebemos vários e-mails, vários feedbacks e mensagens de pessoas que estavam realmente ansiosas e apreensivas e desde então ficaram um pouco mais tranquilas ao lerem a informação, porque só quem é imigrante entende a importância de estar com seus documentos em dia”.Zenaide Silva acredita que matérias informativas são essenciais para os imigrantes. “ E preciso que haja esclarecimento da realidade econômica portuguesa e de como obter documentos legalmente desta forma muitos imigrantes que pretendem sair do Brasil vão poder entender melhor a situação do país e poder se planejar devidamente antes de tomar a decisão de se mudar, pois muitos chegam aqui desinformados e mal preparados para a nova vida acreditando que será tudo fácil e a realidade é completamente outra”, afirma.Equipe de jornalistas formada apenas por brasileiros“Eu costumo dizer que para nós é fácil, porque enquanto imigrantes, sabemos quais são os problemas e sabemos como ir atrás das respostas. Queremos também dar voz a brasileiros que fazem coisas fantásticas aqui. E às vezes eu digo que o simples fato de sobreviver em Portugal já é uma coisa sensacional para um imigrante”, afirma.Segundo Lima, todas as reportagens e textos são escritos em português do Brasil, como forma de valorização da língua portuguesa, mas também para aproximar ainda mais os dois países.“Iremos, contudo, em cada um dos conteúdos publicados do DN dar nota aos leitores de que estes, assinados pelos jornalistas do DN Brasil, estarão escritos na versão brasileira do idioma. Além do suplemento e do site, o DN Brasil irá ter também uma newsletter semanal e um podcast, sempre com histórias que mostrem a grande diversidade dos imigrantes brasileiros em Portugal”, conclui. 

    Novos Baianos revisitados: trio Gilsons celebra legado familiar em turnê americana

    Play Episode Listen Later Jul 7, 2024 6:55


    Sintonizados pela musicalidade que mistura ritmos, gerações, herança, nostalgia e brasilidade, o grupo Gilsons está em turnê pelos Estados Unidos e Canadá. Os primeiros shows aconteceram na Califórnia, nas cidades de San Francisco, San Diego, além de dois em Los Angeles. Serão 15 apresentações na América do Norte com uma agenda que vai até dia 20 de julho. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los AngelesO grupo formado por José, filho de Gilberto Gil, e os netos do cantor baiano, Francisco e João, conversou com a RFI após o primeiro show em Los Angeles."Está maravilhoso. A gente está indo para cidades tão emblemáticas do nosso imaginário, lugares com culturas tão fortes que tomaram o mundo. O Brasil é muito influenciado por isso aqui de alguma forma. Meu pai gravou um disco aqui, tem uma história com essa cidade de Los Angeles", contou José. "Estamos muito felizes com o começo de uma turnê, a nossa primeira nos Estados Unidos, só esperando shows melhores", disse."Queremos que nossa música se espalhe pelo maior número de lugares possível e os Estados Unidos são um grande marco para a gente", completou João Gil, filho da cantora Nara Gil.Sucesso meteóricoEsta turnê representa não apenas uma expansão geográfica, mas também um marco significativo para a banda, que conquistou um sucesso meteórico no Brasil desde sua formação há seis anos. No ano passado, a banda fez a primeira turnê internacional pela Europa, um circuito de 63 dias que consolidou seu status como uma das mais promissoras bandas da nova geração da música brasileira."Tem coisas que acontecem na nossa carreira antes mesmo de almejar de alguma forma. Então a grande verdade é que é uma surpresa. Não esperávamos vir aqui tão rápido", disse Francisco, filho de Preta Gil, sobre a passagem pela Califórnia.O trio chega, segundo João e José, com o peso do sobrenome ilustre que abre portas, um privilégio que traz reconhecimento instantâneo, mas também responsabilidades."É um grande privilégio nosso, não tem como não ser outra palavra. Nós somos privilegiados nesse lugar de ter nascido na família que a gente nasceu. O que a gente preza muito, na verdade, é usar ele como um veículo para transportar a gente e divulgar a nossa musicalidade. A gente quer fazer o nosso, ter a nossa identidade, as nossas características", disse João."Uma responsabilidade, ainda mais aqui fora do Brasil, onde ele (Gilberto Gil) é um grande representante da música brasileira fora do país. Então a gente tem essa responsabilidade de alguma forma de manter esse legado. Mas jamais numa perspectiva de se comparar ou de preencher uma lacuna, porque são épocas muito diferentes", analisou José. "Ele é incomparável, é uma pessoa que a gente não tenta, não dá nem para entrar nessa questão. A gente tem muito do nosso trabalho, conquista nossas coisas, faz o nosso caminho. Claro que desde pequeno vivendo no meio musical, sabendo como isso funciona, a gente já tem essa expertise de saber como as coisas acontecem atrás dos palcos, como é essa vida de estrada. Então tudo isso, claro, é para a gente um corte de caminho. Mas a gente sempre também está buscando nosso espaço, com as nossas canções."Dançando e cantando com a saudadeNo repertório, de tudo um pouco. Canções autorais, músicas de referências da MPB como as do pai e avô Gilberto Gil, Dona Ivone Lara, Jorge Aragão e Olodum. Na plateia, repleta na maioria por brasileiros expatriados, o coral mais forte ainda é com referências que balançam a nostalgia de quem está longe de casa."Existe um lugar muito grande quando a gente toca fora do Brasil, um lugar de saudosismo, uma saudade, uma nostalgia de casa. A gente aprendeu que o nosso som de certa forma ocupa esse lugar, de uma forma de matar a saudade de casa", revela Francisco.Identidade própriaMas apesar do pouco tempo de carreira, a banda já possui sucessos com milhões de reproduções nas redes sociais e plataformas de streaming. E, mesmo tendo no público pessoas que estão há anos fora do Brasil, as músicas mais famosas do trio já são acompanhadas em coro. A canção mais conhecida da banda é, na verdade, uma releitura de "Várias Queixas", do Olodum. O hit acumula quase 30 milhões de visualizações no YouTube e mais de 172 milhões de reproduções no Spotify.Em um misto de tradição e renovação, José nos revela que eles também enfrentam os desafios de se dedicar completamente à música, conscientes de todas as alegrias que o palco proporciona e dos sacrifícios que são necessários para seguir esse caminho."(O palco) sempre fez parte da nossa vida e também sempre foi um lugar de muita incerteza. Estar muito perto, muito inserido naquele contexto, de achar que de certa forma aquilo seria um caminho natural. Mas tem uma idade que você percebe que, na verdade, aquilo necessita muita dedicação, muito empenho e muito esforço. Você entende que é uma profissão árdua, às vezes de fazer escolhas, de estar longe da família, fazer turnês. Ano passado, a gente fez uma turnê de 63 dias, então é uma escolha, mas é incrível e muito especial", disse José. O filho de Gil ainda completa "Somos três integrantes com uma enorme diversidade de gostos enorme. Então os Gilsons acaba sendo essa interseção desses gostos musicais, um encontro. E a interseção está justamente nessa música afro-baiana, com as coisas tradicionais da música popular brasileira, o violão de náilon, o trompete, essa mistura de elementos eletrônicos. Isso é Gilsons. 

    “Viagra eletrônico” inventado por brasileiro na Suíça entra em fase de testes

    Play Episode Listen Later Jul 6, 2024 4:45


    Uma empresa suíça, comandada por um cientista brasileiro, desenvolveu um dispositivo com controle remoto contra a impotência sexual, uma espécie de “Viagra eletrônico”. Em fase de testes, o dispositivo contra impotência sexual apresenta “resultados muito promissores”. Valéria Maniero, correspondente da RFI na SuíçaO brasileiro Rodrigo Fraga Silva, CEO e cofundador da empresa Comphya, é o inventor do CaverSTIM. Segundo ele, o aparelho, que já em fase de testes no Brasil e na Austrália, propõe aos homens com disfunção erétil uma alternativa aos tratamentos tradicionais disponíveis no mercado. Em entrevista à RFI, o mineiro de Belo Horizonte explica que o dispositivo funciona “como se fosse um marcapasso". Segundo ele, trata-se de "um neuroestimulador em que os eletrodos são implantados na região pélvica e o estimulador entrega estímulos nervosos que podem ativar e reabilitar os nervos”. Quem poderá usar o dispositivo Hoje, no mundo, são 150 milhões de pacientes que sofrem de disfunção erétil, de acordo com Fraga - 66 milhões deles entre Europa e os Estados Unidos. Segundo o cientista, 30% dessa população não respondem às terapias orais e usam injeções ou implantes penianos.O alvo principal do projeto, explica Rodrigo, são os pacientes que fizeram a prostatectomia, ou seja, que removeram a próstata para tratar o câncer. “Hoje, esses pacientes não respondem bem à terapia oral, com o Viagra e o Cialis, e a única terapia que funciona são injeções penianas ou próteses penianas, soluções bem dolorosas. O que a gente busca hoje é uma solução muito mais confortável e melhor para esses pacientes. O que a gente observa é que quando há um estímulo de baixa intensidade nesses nervos, ocorre uma reabilitação e, pós-cirurgia, eles conseguem reabilitar a função sexual normal”.O criador do dispositivo explica que, além dos pacientes com prostatectomia, existem outros segmentos que a empresa pretende beneficiar no futuro, como, por exemplo, os lesionados medular, pacientes com diabetes, hipertensão, entre outros. O que indicam os testes feitos em dois países “A gente começou dois testes até agora – um, na Austrália, onde estamos testando em pacientes que fizeram prostatectomia", conta o cientista. "A gente implanta o dispositivo no momento da prostatectomia e aí os resultados são fantásticos. O que a gente observa é que os pacientes recuperam completamente a função sexual, pós-prostatectomia, ou seja, eles voltam ao estado em que estavam antes da cirurgia", detalha. "A empresa também está fazendo outro teste no Brasil em pacientes lesionados medular. A gente implanta esse dispositivo e observa também uma melhora na função sexual desses pacientes. É claro que ambos os testes estão em fase inicial, ainda em execução, mas os resultados preliminares são muito promissores”. No Brasil, os testes em pacientes com lesão medular estão sendo realizados no Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André. Segundo o cientista, o CaverSTIM é implantado durante a prostatectomia, ou seja, não existe uma intervenção cirúrgica adicional. “Tem a cirurgia de próstata, que o paciente está tratando o câncer e, no momento em que ele a remove, o dispositivo é implantado no assoalho pélvico e conectado, o que leva, aproximadamente, 20 minutos adicionais. E os novos pacientes agora, na Austrália, voltam para casa no dia seguinte. É uma cirurgia simples, não observamos nenhum efeito colateral até o momento, um procedimento bem tranquilo”, diz. Como todo dispositivo médico, o aparelho precisa demonstrar segurança e eficácia nas fases de teste clínico. É necessário acompanhar esses pacientes por algum tempo e, após essa etapa, será pedida autorização para as agências reguladoras, como Anvisa, EMA (Europa), para que o produto seja aprovado para comercialização. A expectativa é de que os dispositivos estejam disponíveis para venda em 2027, segundo Rodrigo. Como surgiu a ideia do produto Rodrigo já estudava disfunção erétil. Na Suíça, conheceu o sócio, Nikos Stergiopulos, professor da EPFL (Escola Politécnica Federal de Lausanne).  “A gente juntou as ideias - eu trazendo a parte médica da disfunção erétil e o Nikos, o conhecimento de desenvolvimento de dispositivo médico. Foi assim que desenvolvemos esse produto”. Formado em Farmácia pela UFMG, Rodrigo estudou no Brasil até o doutorado. Depois, foi para os Estados Unidos fazer o primeiro pós-doutorado. Em 2011, se mudou para a Suíça para continuar estudando biologia vascular e disfunção erétil. Foi aí que surgiu o dispositivo. “A EPFL (Escola Politécnica Federal de Lausanne), onde estudei, é um ambiente de muita pesquisa nessa parte de dispositivos médicos. Então, esse ambiente inovador, com várias tecnologias imergindo, estimulou muito o desenvolvimento da Comphya e do CaverSTIM. Foi fundamental para o desenvolvimento do produto”, explica. 

    Emoções à flor da pele: a brasileira que ajudou a criar as aventuras de "Divertida Mente 2"

    Play Episode Listen Later Jun 23, 2024 5:14


    "Divertida Mente 2" acaba de chegar aos cinemas brasileiros. No mundo, já arrasta multidões e, só no primeiro final de semana de estreia, rendeu quase US$ 300 milhões em bilheteria, a mais rentável do ano até agora. É também um recorde para uma animação no mercado fora dos Estados Unidos, com US$ 140 milhões em ingressos vendidos nos três primeiros dias. Dentre os que comemoram o já grande sucesso da sequência que ganhou o Oscar de Melhor Animação em 2016, está a carioca Bruna Berford. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los AngelesBruna trabalha na Pixar desde 2020 e, no último ano, fez parte da equipe de animadores de "Divertida Mente 2". Para esse segundo final de semana em cartaz, a expectativa é bater US$ 600 milhões – um alívio para Hollywood, que enfrenta desafios para atrair o público para as salas, e uma alegria para a equipe que tem nesse sentimento um dos maiores trunfos do filme."A gente era encarregado de fazer toda a encenação, a atuação dos personagens que estavam em cena. Cada animador recebe uma quantidade 'x' de cenas para animar e desta vez conseguimos fazer três sequências diferentes", conta ela à  RFI em Emeryville, na Califórnia, nos estúdios fundados por Steve Jobs e que foram comprados pela Disney há 18 anos. "Fiz uma sequência com a Ansiedade, que tem um pedacinho do meu coração. Foi muito divertido fazer, com a Ansiedade e com a Joy, a Alegria. Foi um momento especial poder animar esse personagem que eu tanto queria", disse a brasileira.Além de "Divertida Mente 2", Bruna trabalhou em outras cinco produções do estúdio, entre elas "Luca" (2021) e "Red: Crescer É uma Fera" (2022). Formada em design gráfico pela PUC-Rio, ela chegou a trabalhar nessa área no Brasil, mas descobriu que queria mesmo investir no mundo da animação. "Foi um caminho longo. Vim para os Estados Unidos em 2012, meu sonho era trabalhar aqui, mas aí a realidade bateu, com a questão de visto. Trabalhei em outras empresas antes, com outras mídias, com realidade virtual, até que tive a oportunidade de vir trabalhar aqui e não pensei duas vezes", relembra. "Desde que assisti ao primeiro filme, fiquei impressionada. Amei a forma como conseguiram contar uma temática tão difícil, um assunto pesado e muito abstrato. E você pode contar isso de uma forma divertida, leve, com humor. Então, quando soube que teria 'Divertida Mente 2', disse: preciso trabalhar nesse filme", relata. Quem senta para ver duas horas de animação não imagina quanto tempo leva para cada cena. Quadro a quadro, essa arte é um artesanato minucioso e detalhado. O talento, muita imaginação e paciência tecem a magia."Meus pais brincam comigo dizendo que às vezes eu gasto um mês, um mês e meio para fazer uns 15 segundos de animação", explica.Um ode à AnsiedadeNo novo filme, que mostra a entrada da personagem principal, Riley, na puberdade, o enredo apresenta novos sentimentos além dos já conhecidos do primeiro filme, Alegria, Tristeza, Nojo, Medo e Raiva. Agora, na adolescência, a menina encontra a Ansiedade, o Tédio, a Inveja, a Vergonha e flashes de Nostalgia.Pouco depois de começar a trabalhar no longa, Bruna descobriu que estava grávida da primeira filha. "Ela me deu boas referências para a Ansiedade, porque quando a gente anima, a gente tenta gravar referências para deixar a personagem mais crível. Estar grávida, com toda a ansiedade, foi ótimo", brinca.Em tempos ansiosos no mundo, a trama é uma forma divertida para não só as crianças, mas também os adultos pararem para pensar e avaliar seus sentimentos. Bruna relembra o quanto a pandemia mexeu com a saúde mental das pessoas. "Virou um assunto de conversa, talvez até um pouco mais aberto do que era antes, com menos tabu. Acho que da forma como demonstramos e trazemos esses conceitos que são abstratos de uma maneira tão leve e divertida, fica mais fácil abrir um diálogo com as pessoas", avalia. "E não é só para adolescentes, mas em qualquer fase da vida, acho que você pode se ver representado neste filme. Acho que é mais fácil abrir um diálogo para conversar sobre o que você está sentindo, qual emoção está controlando sua mente no momento, ou o que você pode fazer para dar espaço para outra emoção", disse a animadora, à RFI.A filha de Bruna, Victoria, estreou no mundo antes do filme. Quem assistir aos créditos finais poderá ver o nome dela na lista entre os 35 bebês da produção – que inspiraram, acalentaram ou despertaram sentimentos entre os artistas que assinaram a trama.

    Artista brasileira faz sua estreia solo no MoMA em Nova York

    Play Episode Listen Later May 26, 2024 4:56


    O primeiro voo solo da ave negra de Tadáskía, artista plástica brasileira, aconteceu nesta semana em Nova York em uma das salas do renomado Museu de Arte Moderna (MoMA). A exposição Projects: Tadáskía abriu ao público nesta sexta-feira (24). Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova YorkEm exposição com curadoria conjunta com o The Studio Museum no Harlem, sob a coordenação de Thelma Golden, a curadora Ana Torok, mente por trás da mostra, conta que a parceria pretende colocar em evidência as promessas da arte. "Queremos dar uma plataforma, mostrar artistas emergentes, ou artistas que pensamos ter um estilo singular. Nesse caso, muitos dos meus colegas viram a mostra da Tadáskía na Bienal de São Paulo do ano passado", conta.O trabalho da artista foi um dos principais destaque da 35ª Bienal de São Paulo, com "Coreografias do Impossível" (2023), uma instalação de grande porte com seus desenhos murais e esculturas.Na perspectiva da artista carioca, a estreia no MoMA é também um sonho sendo realizado. "É realmente uma situação quase fantasiosa se tornando verdade", diz.Uma poesia, nascida em um momento de hospitalização durante a infância de Tadáskía, foi transformada em um livro, cujas 61 páginas se espalham pelas paredes, acompanhadas de desenhos feitos em papel e, finalmente, envolvidos pelo grande mural feito em lápis carvão e coloridos com a ajuda de 5 assistentes. Um trabalho de amor, como define Ana Torok, sobre as três semanas de confecção da instalação. No audioguia da mostra, Tadáskía compara os desenhos feitos na parede a um livro de colorir gigante através do qual ela convida outros artistas a colorir livremente.Uma fluidez que a artista explica fazendo uma analogia a sua própria experiência de vida. "Acredito que, de novo, seja a passagem de uma coisa a outra. Então, no livro, Ave Preta Mística, que é o meu primeiro livro, dá para ver uma passagem de sensações a qual essa ave se depara. Muitas vezes ela se depara com o sol, com a montanha, e com outros seres que parecem familiares, mas são desconhecidos, é a luz, é a linha, tem momentos de alegria, mas também tem momentos mais solitários", conta a artista.  Em seu trabalho, Tadáskia mistura desenho, poesia e escultura, e têm preferência por materiais vivos e perecíveis como vegetais, temperos, frutas, bambus e até casca de ovo. Ela diz que "as esculturas têm essa natureza" e "que o tempo de vida de cada elemento nessas esculturas passa de maneira diferente. Então um líquido evapora, o pó renasce, as frutas cedem ao tempo", explica. A ave negra que voou até o MoMAA curadora Thelma Golden apresenta Tadáskía explicando que nos Estados Unidos, as pessoas pretas nascem sabendo que é preciso estar pronto para enfrentar todo o tipo de situação, e que a brasileira é um bom exemplo de alguém que já nasceu pronta para a vida.Suas palavras se dirigem a uma artista que teve de enfrentar muitos desafios até descobrir seu caminho para a liberdade. Preta e Trans, Tadáskía faz questão de reforçar sua identidade e diz que é "extremamente emocionante" chegar onde chegou e que espera "que as pessoas vejam - através de seu exemplo - que há muitas possibilidades de ser trans e negra, não existe só uma maneira determinada pela sociedade". Ave Negra Mística, segundo ela, evoca essa liberdade, "que é uma liberdade individual, e também coletiva".Seu voo solo ao MoMA, teve algumas paradas internacionais anteriores como Espanha, Portugal e Holanda. Generosa, a artista diz esperar que com seu trabalho "o desejo de alçar voos alcance muitas das pessoas em situações de exclusão social e política".A obra agora faz parte da coleção permanente do MoMAEm março deste ano, o MoMA incluiu Ave Preta Mística em sua coleção permanente. "A obra que eu disse ter sido destaque da Bienal de São Paulo entrou na coleção do museu em março", conta Ana Torok. A sala onde a obra está montada é um dos espaços de acesso gratuito do museu de Nova York. Por isso, a expectativa é que esta seja uma mostra com grande apelo popular, que o público possa interagir com o mural e também se ater aos desenhos que, como explica Ana Torok, formam uma trajetória mais intimista que aberta para ser reconstruída pelo expectador.  "O livro não está fechado, as páginas estão soltas, partindo da decisão da artista de que tudo pode mudar de ordem, de que não há uma ordem fixa", diz a curadora. Essa é a quinta exposição feita pelo MoMA em parceria com o Museu Studio do Harlem, que está em reforma, e atende a um desejo de expansão em direção à América Latina. "Parte da nossa missão é ter mais representação da arte da América Latina e Tadáskía nos parece uma voz contemporânea muito interessante dessa região", pontua Ana Torok.As asas de Tadáskía permitiram que ela trouxesse as cores do Rio de Janeiro a Nova York, e em uma noite primaveril em Manhattan ela descansou as penas para celebrar junto aos amigos, como diz outro poeta - Caetano Veloso - a dor e a delícia de ser o que é.  "Eu sinto como se as minhas asas estivessem abertas prontas para voar a todo tempo, e estou aproveitando e comemorando essa oportunidade que a vida me ofereceu para voar". 

    Brasileiros na Suíça mobilizam avião para entrega de roupas de inverno ao Rio Grande do Sul

    Play Episode Listen Later May 19, 2024 4:37


    Brasileiros que moram fora se mobilizam numa rede de solidariedade para ajudar as vítimas das chuvas catastróficas que deixaram milhares de desabrigados no estado do Rio Grande do Sul. Na Suíça, há cinco pontos de coleta de roupas de inverno, que só foram possíveis através da motivação de brasileiros que conseguiram até um avião para enviar as vestimentas na próxima semana. Valéria Maniero, correspondente da RFI em LausanneCom os esforços de um grupo de brasileiros, um avião vai partir da Suíça contendo doações para o Rio Grande do Sul, que enfrenta a maior tragédia climática da história do estado. A ideia principal da mobilização é para enviar roupas de frio às vítimas das chuvas que precisam de ajuda nesse momento.Felipe Eidam, da empresa de turismo Swiss Xperience, que mora no cantão de Zurique há 18 anos, e trabalha na área de receptivo de luxo, contou à RFI detalhes da organização da iniciativa. Ele é um dos brasileiros que tornaram essa ação possível. Felipe explicou como foi possível conseguir um avião para apoiar a entrega das doações.“Isso tudo começou com uma iniciativa minha e do Casal sem CEP (dupla de brasileiros que viaja o mundo), tentando achar uma forma de ajudar. Aí eu contactei um amigo meu, que tem um cargo importante na UPS (empresa internacional de logística e entregas). Ele, internamente, fez uma movimentação e conseguiu dos superiores essa autorização, disponibilizando uma carga para que nós pudéssemos conseguir (enviar)”, contou.Ele diz que essa ajuda de tão longe pode ser pequena, mas “tem muito valor para gente se sentir parte desse corpo que está ajudando o nosso povo lá do Rio Grande do Sul”. Segundo Felipe, a iniciativa se espalhou muito rápido, “de uma forma que não estávamos esperando”.Com a ajuda da Bruna Aeppli, jornalista e influenciadora digital que mora na Suíça, criadora do canal 'Do outro lado do Mundo' nas redes sociais, a iniciativa foi rapidamente divulgada.“Todo mundo abraçou a causa e está funcionando muito bem. Hoje, nós estamos com muitos voluntários trabalhando aqui na parte administrativa. São muitos grupos de WhatsApp espalhados por região, pessoas empenhadas em buscar doações de quem não tem carro para levar até os pontos de coleta”.Felipe explicou que há cinco pontos de coleta em toda a Suíça disponibilizados pela UPS: “A empresa vai fazer a logística interna aqui, juntando tudo em um depósito e, após isso, nós faremos uma triagem em Genebra, na semana que vem, para então dar continuidade na parte de logística. E essa parte será feita toda feita pela empresa”, detalhou.Brasileiros de vários países da Europa se mobilizamSobre a participação da comunidade brasileira que mora em outros países da Europa, Felipe revelou que há uma mobilização de diversos grupos com intenção de doar roupas, principalmente de inverno.“Tem muita gente doando, está difícil até para nós ponderarmos isso porque o pessoal da Europa está se mobilizando, tanto os meus números como os dos administradores dos grupos de WhatsApp não param com pedidos da Itália, de Portugal, da França, da Alemanha. Todo mundo querendo trazer doações para a Suíça. Já tivemos pedidos de carretas. Infelizmente, nós não podemos atender por ser uma carga limitada”, explica Felipe.Leia tambémBrasileiros na França se mobilizam para ajudar vítimas das inundações no Rio Grande do SulUm pedido: mais empresas para ajudarDe acordo com Felipe, o intuito é tentar mobilizar outras empresas e mais parceiros para ajudar na ação.  “Pedimos que outras empresas se mobilizem e nos ajudem para que essas doações cheguem lá no Brasil. São doações bem importantes: roupas de inverno somente. O nosso intuito é contribuir com algo que não esteja já no padrão das doações lá (no Brasil). E as nossas roupas de inverno daqui da Suíça, com certeza, farão diferença para o inverno que está chegando na região Sul do Brasil”, acredita ele. Ainda não há data definida para que as doações saiam da Suíça. O próximo passo, segundo ele, vai ser avaliar a quantidade de peças recebidas.“Quando fecharmos toda essa doação na quarta, dia 22, iremos avaliar e fazer uma triagem. Assim que estiver definida essa triagem, no próximo dia, a carga já deve estar partindo para o Brasil. A questão da distribuição está sendo acertada com a UPS. Nosso intuito é que chegue essa carga em boas mãos, que nós possamos saber que ela foi entregue para as pessoas que realmente necessitam e, por isso, estaremos depositando toda a nossa confiança nessa empresa parceira que está viabilizando o envio”.Famílias de brasileiros apoiam a açãoA brasileira Sandra Ruthes, que é do Paraná e mora na Suíça há quatro anos e meio, foi uma das brasileiras que se uniram ao projeto. A professora de dança separou roupas dela, do marido e da filha para doar para as famílias do Rio Grande do Sul. Sandra destacou a importância em ajudar, mesmo vivendo em outro país. “Eu vibrei quando soube desse avião saindo da Suíça com destino ao Brasil com o apelo de levar, daqui para lá, as roupas de frio. Eu nasci no sul, vivi muitos anos lá e, agora chegando o inverno, nós sabemos que a gente lá no Brasil não está preparado, não é como aqui que você chega em casa e está tudo quentinho”, relembrou.“E essas pessoas perderam praticamente tudo. Isso deixa a gente muito triste, de mãos amarradas aqui. E o que a gente mais gostaria era de estar lá na linha de frente, ajudando essas pessoas, então, o coração fica muito apertado. Essa história do avião veio a calhar”, disse a professora.Sandra mostrou à reportagem da RFI como separou com o uso de etiquetas os tipos de “roupas quentinhas” para doar, indicando os tamanhos e se as peças eram femininas ou masculinas.“A gente está começando o processo com as roupas da minha filha, mas eles estão precisando muito de roupas de adultos, tamanho grande, então, eu vou catar também no armário do meu marido. Estou lavando todas as roupas para mandar tudo limpinho porque eles estão com essa dificuldade lá também, de não ter muito recurso para lavar roupa. Quando mais organizado, mais separadinho, limpinho a gente conseguir mandar, melhor. É aquela velha história: é pouquinho, mas de pouquinho em pouquinho, a gente consegue fazer muito", animou-se paranaense.

    Empreendedora brasileira é a única mestre cavista estrangeira no setor de vinhos da França

    Play Episode Listen Later May 5, 2024 9:01


    Marina Giuberti, 45 anos, é uma capixaba de origem italiana que há cerca de duas décadas vem moldando sua reputação no ramo dos vinhos na França. Ela formou-se nutricionista no Rio de Janeiro na virada dos anos 2000 e chegou à Europa em 2005, onde pôde seguir suas paixões profissionais e pessoais. Luiza Ramos, da RFIDepois de passar por várias cidades, restaurantes e formações, em 2013 Marina fundou sua primeira loja, a cave Divvino Paris, quase ao mesmo tempo em que dava à luz seu casal de filhos gêmeos. Simultaneamente, Marina foi se tornando uma especialista de referência em vinhos e formou uma bela família trilíngue. "Em casa, os meus filhos (hoje com 11 anos) falam italiano com pai, português comigo e francês para as demais situações. Se falam em francês comigo, eu mando voltar e repetir em português. Já o pai diz 'non capisco'. Minha casa, minhas regras", brinca ela, que também é tutora da cachorrinha Petite.Determinada em se estabelecer no mercado francês de vinhos, ela abriu sua segunda loja em 2016. O site especializado em entrega bebidas por toda a Europa surgiu durante a pandemia da Covid-19. Recentemente, Marina alcançou o mérito de ser a primeira e única mestre cavista (maître caviste) estrangeira da França, tendo sido apenas a terceira mulher a conquistar o Brevet Professionnel de l'Etat de Sommelerie (Certificado de Sommelier Profissional do Estado Francês). Tais títulos fazem atualmente da capixaba uma referência em vinhos raros e artesanais.Apesar da atual carreira de sucesso, ela enfrentou preconceito da família no início ao demonstrar seus objetivos. "Eu sempre quis trabalhar com restaurantes, mas meu pai era médico. Então para a minha família enxergar essa mudança do ramo de saúde para o ramo de restaurante, tinha um pouco de preconceito. Essa é a palavra certa. Então acabou que entrei para a gastronomia pela nutrição", conta a empreendedora, que exala paixão pelo que faz em seu discurso."Até hoje eu uso a nutrição. Para mim, o vinho alimenta a alma. Nós precisamos ter nossos momentos sociais para equilibrar nossa vida corrida. Eu sou muito grata de trabalhar alegrando os casamentos, os finais de semana, os jantares, os eventos dos nossos clientes", diz Marina Giuberti.Na França, vinho não é luxoNo eixo Rio-São Paulo, as caves são mais conhecidas como enotecas e a profissão de sommelier começa a ser aos poucos mais prestigiada. Enquanto na França, o vinho é considerado item básico nas mesas das famílias. Para Marina, a circunstância facilita a entrada no mercado dos vinhos do país."Como aqui o vinho é um produto essencial, na época da pandemia, por exemplo, nós, junto com farmácias, padarias e supermercados, ficamos abertos como comércio essencial. Na França, o vinho é taxado como produto agrícola, então tem uma diferença grande nessa relação em comparação com o Brasil. E é um produto local, normal, não é um produto de luxo", destaca ela, que acrescenta sua atuação com cerca de 1.200 referências de bebidas, incluindo pequenos produtores e vinhos biodinâmicos.Além da venda direta aos clientes, a capixaba oferece também cursos de vinhos e viagens de imersão gastronômica, enológica e cultural, as chamadas Wine-Champagne Day. A sommelier foca no público brasileiro que ama vinhos e organiza os passeios de forma personalizada. Em um dia de imersão é possível conhecer mais de 15 rótulos raros em vinícolas que não costumam abrir as portas para turistas comuns, como a familiar Pierre Paillard, em Bouzy, e a Domaine Jacques Selosse, em Avize, ambas na região de Champanhe. "Na França, a gente usa uma frase que diz 'choisir c'est renoncer' (escolher é renunciar). Fazer essas wine-trips demanda muito trabalho, muito comprometimento, conseguir essas reservas com os produtores é uma tarefa árdua", revela.Destaque no tradicional mercado francêsMarina Giuberti esclarece que ser brasileira e manter seu sotaque não a prejudicam, mas sim acabam por diferenciá-la entre as mais de 6 mil caves do país. Seu perfil atípico instiga a curiosidade do seu público, que passa a respeitá-la ainda mais pelo fato de não ser francesa e mesmo assim obter destaque no setor.Profissionalmente, a empreendedora enfatiza o respeito é mútuo entre ela e seus colegas, sendo Marina a única estrangeira com tal nível de especialização na área. Mas além do trabalho, a mestre cavista aparenta ter cativado também o coração da clientela com seu carisma cotidiano nas consultorias de compra de vinhos."(Conquistei) através também do reconhecimento de clientes brasileiros, dos produtores franceses e todos os clientes de bairro franceses, já que o francês compra vinho três a quatro vezes por semana. O cliente francês não vem uma vez no mês, é um produto diário. É a baguete, o queijo e o vinho", pontua Marina.As caves Divvino de Marina Giuberti ficam no 3° e 11° distritos (3ème e 11ème arrondissements) da capital francesa.

    Companhia brasileira de Teatro Munganga completa 37 anos de presença na Holanda

    Play Episode Listen Later Apr 20, 2024 5:00


    A companhia, dirigida por Carlos Lagoeiro e Claudia Maoli, se apresenta levando ao público os mais diversos tipos de espetáculos e temas, nos palcos da Holanda e até de outros continentes. Clivia Caracciolo, da HolandaCarlos e Claudia já eram profissionais no Brasil quando vieram para a Holanda. O casal, sentado no tablado do palco da Casa Munganga, lembra como decidiu assentar as raízes do Munganga em solos pantanosos de Amsterdã há quase quatro décadas.Claudia revela que Munganga, palavra de origem africana, “significa comunicação sem a palavra, que se dá através dos gestos, da expressão facial, das caretas, dos movimentos exuberantes.”  O diretor Carlos Lagoeiro conta que a companhia se estabeleceu na Holanda, “quase que por acaso” quando vieram apresentar na Europa o espetáculo Parei na curva, em 1986. Ao passarem por Amsterdã os espetáculos fizeram sucesso e esta foi a motivação para o grupo se estabelecer na Holanda.Público diversificadoClaudia diz que o público que frequenta o local é variado: “há shows noturnos para adultos e aos domingos de manhã as atividades são para crianças a partir de um ano e meio até 5 anos, aos sábados à tarde, os concertos são para crianças a partir dos 6 anos”.No passado, o público infanto-juvenil da Holanda e da Bélgica, recebia atenção da companhia de teatro, “que levava até os jovens temáticas para esta faixa de idade”.A programação do Munganga se destaca pela variedade de atividades temáticas e de estilos diferentes. De acordo com Carlos Lagoeiro, “acontecem shows de Jazz, música clássica, tango, gafieira, flamenco, fado, além das apresentações de peças teatrais, festivais de filmes, incluindo cinema de diretores indígenas e de povos da floresta, rodas de debates com temas que vão desde a nova ordem mundial, até a retirada das tropas estadunidenses do Afeganistão e a pandemia da Covid, na ocasião. Ou seja. Munganga tem as portas abertas para todos que nela baterem e “vierem nos visitar”, resume Carlos.Casa Munganga comemora 10 anosA Casa Munganga, em 2024, comemora 10 anos de existência e com a principal característica em “ser um espaço de encontros”, como enfatiza Claudia Maoli. Presenças ilustres já passaram pela sala do Munganga, como, por exemplo, líderes indígenas brasileiros, incluindo o cacique Dadá, o ativista e escritor Ailton Krenak, o pajé Kamarati entre outros.Recentemente foi feita uma homenagem a Rita Lee, no show Ela por Elas com seis cantoras brasileiras baseadas na Holanda, cantando músicas da cantora, falecida ano passado.A programação para este ano de decênio está se adaptando e prosseguem os encontros fixos mensais como as rodas de choro, a montagem do Cabaré Brasil, shows de forró e ainda, mais uma edição do festival de dança butô, com a participação de bailarinos vindos do mundo inteiro para participar.A terceira margem do rioO que vem lotando a Casa Munganga é a apresentação da peça solo A Terceira margem, uma adaptação de Carlos Lagoeiro do conto de Guimarães Rosa, "A Terceira margem do rio". Os bonecos são os personagens das histórias contadas ao longo do rio São Francisco.Segundo Carlos, o “espetáculo foi baseado na obra de Guimarães Rosa, e ele criou a própria história e foi apresentada pela primeira vez em 2003 com enorme sucesso e recentemente, a convite, foi ao Brasil para se apresentar em um festival de teatro e agora, com bilheteria esgotada, na Casa Munganga”.Munganga pelo mundo representando a HolandaA companhia de teatro Munganga, apesar de ser brasileira, sempre teve suas montagens com repercussão internacional e representou a Holanda em festivais de teatro em outros continentes, como no Japão, em 2005, com o espetáculo Mama Pia, representado por Claudia Maoli no papel principal e no Paquistão, em 2007 com a peça Mimo, sem contar as participações em várias cidades na Europa. De acordo com Carlos, “os espetáculos do Munganga são físicos com apelo imaginístico muito forte e é o que possibilita a apresentação em várias partes do mundo”.Convite para a festa de São João com traço cultural“A Casa Munganga é um lugar de celebração, de inclusão, onde as pessoas se reúnem e se se sentem muito bem, e é muito importante colocar as pessoas neste contexto social”, nas palavras de Carlos Lagoeiro.Aproveitando a ocasião, Claudia Maoli já convida a todos para a festa de São João, “padrinho eleito do Munganga”, no dia 23 de junho. Será mais um dos eventos em que haverá a possibilidade de trazer até Amsterdã uma face cultural genuinamente brasileira.

    Conheça o brasileiro que integra equipe de designers de um dos principais times de hóquei do Canadá

    Play Episode Listen Later Apr 14, 2024 5:00


    O designer André Finhana, de 40 anos, decidiu deixar o Brasil há cerca de dois anos e se instalar em Vancouver. Com apenas três meses morando no Canadá, ele entrou para a equipe de criação do Canucks Sports & Entertainment, do Vancouver Canucks, time canadense da Liga Nacional de Hóquei no gelo. Luciana Quaresma, de Vancouver, para a RFI“Foi por puro amor ao esporte. Sou um cara de futebol", diz Finhana. "Até brinco com todo mundo aqui, pois eles dizem ‘soccer' mas eu explico que é futebol. O que eles chamam de futebol aqui é um jogo com a bola oval", ri.O brasileiro conta que quando chegou ao Canadá, precisava encontrar um emprego para poder fazer o pedido do visto de residência. Nesta busca, apareceu a oportunidade de trabalhar como motion graphics designer do Vancouver Canucks."Meu perfil se encaixava perfeitamente e eu achei incrível, pois trabalhar com esporte é tudo o que eu mais quero na minha vida. Apliquei, me chamaram e depois de um mês de entrevistas consegui a vaga e estou aqui", diz.Finhana é designer há 18 anos e, ao longo da carreira, trabalhou nas principais agências de publicidade do Brasil, chegando a participar de muitos projetos premiados. O brasileiro diz que entrou para o mundo da publicidade por influência de um primo. Como sempre gostou de desenhar, acabou por encontrar espaço para a criação na área do motion graphics. No Vancouver Canucks, ele é responsável por todo o conteúdo de animação do time canadense. "Sou um animador, ou seja, tudo em um vídeo que não for pessoas se mexendo, basicamente é o motion graphics que faz. Na verdade, até pessoas se mexendo, às vezes. Efeitos especiais, letreiros, fundos, basicamente tudo tem um pouco de animação”, explica. Segundo Finhana, o trabalho é complexo e essencial para causar impacto visual aos torcedores que vão ao estádio Rogers Arena, a casa do Canucks, em Vancouver, acompanhar as partidaa da liga nacional de hóquei. "Este ano, todos os vídeos do Vancouver Canucks que aparecem nos gols e animação do telão no fundo para as redes sociais foram feitos por mim. No estádio, quando aparece no telão um jogador com número na apresentação também é um trabalho feito por mim, assim como tudo que aparece nas redes sociais. Tudo dos Canucks em termos de animação sou eu quem faço", aponta. Sem dificuldade para adaptaçãoFinhana conta que, apesar das diferenças culturais, a adaptação ao novo país não foi difícil. "No geral, eu sempre fui muito querido pelas pessoas. Noto uma paciência com as diferenças culturais, pois eventualmente você pode dar um deslize. No Brasil você pode comentar algo, mas em outro país pode soar meio rude algumas palavras você troca”, observa.Esta é a primeira vez que Finhana mora fora do Brasil. A língua é um desafio constante para ele, o que chegou a abalar sua autoestima no começo. "Apesar de ser bem familiarizado com o inglês, o dia a dia é bem diferente. Mas eu venho aprendendo muito, as pessoas aqui são muito pacientes comigo”, afirma.Segundo ele, xenofobia e racismo não fazem parte do dia a dia em Vancouver. “Eu senti mais preconceito no Brasil do que aqui no Canadá, pois sou filho de nordestinos. Morei em Pernambuco por três anos e, quando voltei para São Paulo, sofri muito preconceito”, lembra.Longe da família e da terra natal, Finhana faz questão de mostrar um pouco de suas raízes brasileiras. "Eu me sinto muito responsável por trazer um pouco da minha cultura aqui para o Canadá. Sinto que muita gente tem curiosidade em saber como o Brasil é. Isso é motivo de muito orgulho para mim."Segundo o designer, a curiosidade sobre o Brasil dos colegas de trabalho canadenses também é grande. “Sinto que sou quase uma atração. A diferença cultural é grande, eles são mais sérios por natureza."Já a experiência que trouxe na bagagem e as aptidões que desenvolveu no Brasil são fundamentais neste novo desafio profissional. "Eu costumo dizer que no Brasil a gente tem um teste de guerra, principalmente na minha posição no final da linha criativa no setor de publicidade: deadlines sempre muito curtas, fins de semanas de trabalhos e noites sem dormir. Com isto acabei por desenvolver habilidades por conta de um processo muito estressante, mas que hoje eu colho os frutos."São Paulo e Canucks: times do coraçãoSão-paulino de carteirinha, além do trabalho que desenvolve com os Canucks, Finhana se tornou um torcedor ferrenho do time para o qual trabalha. “Eu torço para o São Paulo no Brasil e teve uma época em que o time ganhava tudo. Nos últimos anos, não ganha nada e foi exatamente o momento em que eu cheguei no Canadá e conheci o Canucks, que já chegou a algumas finais da liga nacional, mas nunca foi campeão", lamenta.O brasileiro conta no ano passado o clube estava na 26a posição na Liga Nacional de Hóquei no gelo. Atualmente está em segundo lugar no ranking. "Tenho a sorte de agora o time estar jogando bem! Tem sido uma temporada ótima pois criativamente estou explodindo, o time de criação é ótimo e é um momento muito bom para toda a empresa”, comenta.Finhana agora também veste a camisa dos Canucks, dentro e fora do gelo. “Esses dias eu parei o jogo do São Paulo para ver o Canucks. Go, Canucks, go!”, brinca o designer.

    Mostra de cinema em Madri homenageia José Mojica Marins, o Zé do Caixão

    Play Episode Listen Later Apr 6, 2024 5:00


    A mostra Novocine de cinema brasileiro, que acontece tradicionalmente em Madri, está na sua 17ª edição e este ano ganha uma versão especial. É a Novocine Cult, que ocorre entre os dias 8 e 11 de abril e homenageia o cineasta e ator José Mojica Marins, popularmente conhecido pelo nome do seu personagem mais famoso, o Zé do Caixão. O evento será inaugurado com a exibição do documentário “Maldito – O estranho mundo de José Mojica Marins”, assinado pelos jornalistas André Barcinski e Ivan Finotti. Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI em MadriA mostra terá a apresentação de três dos mais importantes filmes de Mojica Marins. Codiretor do documentário e coautor da biografia do cineasta, Finotti conversou com a RFI sobre a experiência de registrar a vida e obra do artista que é conhecido como o pai do cinema de terror brasileiro.Finotti começou sua carreira jornalística em 1991 no periódico Notícias Populares, “aquele que, se você espremesse, saía sangue”, recorda. O jornal já era o preferido de Mojica, que quando ía à redação para divulgar algum novo trabalho, era entrevistado pelo repórter. Foi no Notícias Populares que Finotti conheceu André Barcinski, “um grande jornalista de cultura” e que também era fã do cineasta paulista.“O André me convidou: ‘vamos fazer uma biografia do José Mojica Marins'”, lembra Finotti. “Muita gente não entendia que o Mojica não era apenas um ator, não era apenas um personagem. Ele foi um grande diretor de cinema, inovador. Trabalhando com muito pouco, conseguiu fazer filmes de terror fantásticos nos anos 1960 e 1970. Então nós resolvemos contar essa história”, relata.Para contá-la bem, os dois jornalistas fizeram cerca de 30 horas de entrevistas com Mojica. Eles ainda conversaram com outras 120 pessoas, porque o livro “Maldito” traça um panorama do cinema brasileiro a partir dos anos 1960, além de contar detalhes sobre a trajetória de Mojica.Depois do extenso trabalho realizado para o lançamento da biografia, adaptar as descobertas acerca de Mojica para o audiovisual foi uma tarefa relativamente fácil. “A gente fez esse documentário usando as melhores histórias que a gente tinha levantado para o livro. Repetimos algumas entrevistas, desta vez filmando. E deu esse documentário muito bacana que foi, inclusive, convidado e premiado no Festival de Sundance de 2001”.Cenas originaisEm pouco mais de 60 minutos, o documentário traz cenas originais das películas de Mojica, além de entrevistas com ele e com pessoas que o cercavam, permitindo que o público se aproxime de diferentes aspectos da realidade e da produção cinematográfica do criador paulista. As contradições humanas estão presentes no relato documental, assim como períodos difíceis para Mojica, como o da ditadura militar em que a obra dele foi censurada. Com o lançamento do filme, a riqueza de detalhes impressionou até grandes conhecedores do cinema.“Quando o nosso filme ficou pronto, a gente mandou para o festival É Tudo Verdade, no ano 2000, dirigido pelo Amir Labaki. Ele estava no cinema há décadas e ficou muito impressionado porque com nosso documentário mostrava cenas do Mojica, das histórias que ele contava antes dos anos 1960, antes do Zé do Caixão. Ele tinha filmado dezenas de curtas-metragens (...) As pessoas não acreditavam muito no Mojica, que ele tinha feito tantos filmes – 40 longas. Ao ver o documentário, ele viu cenas disso”, explica o codiretor.Finotti comenta que esse era o principal propósito do documentário: revelar ao público a carreira de Mojica e contribuir para que a sua obra ocupasse o lugar que lhe é devido. A ideia era “mostrar que o cara era digno de respeito, era um cineasta e não um ‘verme', como ele disse que se sentia no Brasil”.Reconhecimento no exteriorA meta foi alcançada, segundo Finotti, por uma soma de fatores. “Além da biografia e do documentário, nos anos 1990, oito fitas VHS dele foram lançadas no mercado americano com o nome Coffin Joe. Ele passou a ser analisado por críticos do exterior, tanto da Europa como dos Estados Unidos, que nunca o haviam visto, e ficaram de cara. Até críticos e cineastas japoneses ficaram muito impressionados com o Mojica e ele passou a ser respeitado no mundo todo”, conta.Foi também uma somatória de diferentes circunstâncias que permitiram a Finotti estar em Madri para apresentar “Maldito – O estranho mundo de José Mojica Marins” na abertura de uma mostra dedicada ao criador do Zé do Caixão.“Eu fiquei feliz de saber que a Embaixada [do Brasil em Madri] já tinha o projeto de fazer uma mostra do Zé do Caixão e, por acaso, eu sou o correspondente europeu da Folha de S.Paulo e estou morando em Madri. Quando eu cheguei, há um ano e meio, conheci a Embaixada e o pessoal que faz essa mostra percebeu que eu era o biógrafo do Zé do Caixão. Foi uma coincidência incrível e estou muito feliz por estar aqui”, celebra o jornalista.A mostra Novocine Cult marca o retorno da obra de Mojica à Espanha. Filho de um espanhol e de uma argentina que decidiram emigrar para o Brasil, ele já foi homenageado na Espanha em diferentes situações, como no festival de Sitges, em 1978, e na Semana de Cine Fantástico e de Terror de San Sebastián, em 2002.Confira mais informações sobre a programação no site da mostra Novocine.

    ‘Do Sertão a Hollywood': estilista alagoana Martha Medeiros lança livro de sua trajetória nos EUA

    Play Episode Listen Later Mar 17, 2024 8:03


    O cenário é o do filme "Uma Linda Mulher". Em uma das suítes do famoso hotel Beverly Wilshire com vista para a Rodeo Drive, Martha Medeiros montou um ateliê improvisado. Agora a mistura é de rendas, cristais e livros, já que a estilista está em Los Angeles para lançar a obra que narra sua trajetória inspiradora. "Do Sertão a Hollywood", escrito pela jornalista Eliane Trindade, ganhou versão em inglês ("From the Hinterland to Hollywood") e conta desde as raízes de Martha, em Maceió, quando fazia roupas para bonecas até o estrelato com vestidos nos tapetes vermelhos mais famosos do mundo, com peças que adornam diversas celebridades. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los AngelesUma dessas estrelas escreveu o prefácio da obra, a colombiana Sofia Vergara. A atriz, uma das mais bem pagas da TV americana, conhecida mundialmente por "Modern Family" e que acaba de estrear "Griselda" (Netflix), encontrou Martha nas redes sociais, e em 2015, encomendou seu vestido de casamento com o ator Joe Manganiello.No momento da entrevista à RFI, na suíte transformada em ateliê, Martha Medeiros finalizava peças que entregaria pessoalmente no dia seguinte à Sofia Vergara, junto com um exemplar do livro.Além de Sofia, Beyoncé, Jessica Alba, Patricia Arquette e diversas outras celebridades são clientes da alagoana, que já teve suas peças em filmes Hollywoodianos como "Um Príncipe em Nova York" e séries como "The Crown". A estilista também assinou o enxoval do papa Francisco, quando ele passou pelo Brasil, em 2013."Do Sertão a Hollywood"As pesquisas para o livro começaram em 2019. O trabalho de campo levou Eliane Trindade aos locais de onde vem a obra-prima para os vestidos de alta-costura."Uma das coisas que me atraiu para o projeto foi o fato de que as rendas eram também a geração de lucro para as rendeiras. Eu trabalho nessa área de empreendedorismo social na Folha de São Paulo, então isso me conectou com o trabalho da Martha. Além do glamour, do talento dela, tinha esse lado do sertão. Acho que uma das coisas mais importantes que a gente fez para o livro foi conhecer aquela realidade, mergulhar e ver como a renda foi resgatada das feiras, de um tecido que já foi nobre, deixou de ser e voltou para alta-costura", conta a jornalista.O livro é um convite para uma viagem onde a simplicidade se encontra com o luxo, e a força da tradição se reinventa em cada criação. Não é apenas o trabalho de Martha que está descrito na obra e chega a Hollywood, mas o de centenas de mulheres do sertão que entrelaçam os fios para que a estilista os transformem em verdadeiras obras de arte, em vestidos que levam um ano para serem feitos e podem custar US$ 25 mil (cerca de R$ 125 mil).No projeto social há 400 mulheres, sendo uma parte com dedicação ainda maior à renda. "Cada vez mais a gente está aumentando esse outro grupo voltado para peças ainda mais especiais e peças de laboratório onde a gente está usando a cor e outras coisas que a gente não usava. Esse é o propósito, além de resgatar coisas antigas, procurar o que nunca foi feito com a renda feita à mão no Brasil", relata Martha.Da barraca da feira à alta-costuraMartha Medeiros mostra com orgulho as mulheres que representa aqui em Hollywood: rendeiras como a Dona Lalinha, que a estilista faz questão de mostrar uma foto. Ela compra as rendas de antigas artesãs, que antes faziam peças como toalhas e porta copos e as coloca em artigos cheios de glamour. A alagoana teve barraca por mais de 10 anos na feira de artesanatos em Maceió, na praia de Pajuçara, e depois que ganhou o mundo nunca deixou de voltar para transformar as vidas de quem ficou por lá. Agora mostra que a beleza pode brotar nos lugares mais áridos."Eu fui ver o percurso, para ver como ela chegou e descobriu isso. Ela percorria quilômetros e ia nos lugares mais inacessíveis atrás de rendeiras. Ela descobria que tinha uma rendeira num município tal, não tinha nem endereço, nem nome completo, ia bater na porta das pessoas e comprava o estoque daquela família de anos. Aquilo mudava a vida daquelas pessoas, ela conseguiu dar escala e agregou valor para um produto que estava subestimado", conta. A estilista continua seu relato: "Às vezes eu vou com uma pessoa do lado e a pessoa fala assim: 'você vai comprar isso, eu não acredito, isso está amarelo, esverdeado, preto, isso faz 25 anos que está ali e ainda está rasgado.' Eu falo, vou comprar e eu sei que eu tenho o dom de Deus de pegar aquilo ali e transformar numa coisa linda. Então eu compro sem medo, sem pena, sabendo o que eu estou fazendo e essa energia é maravilhosa".Das freiras francesas ao tapete vermelhoNo século 19, com a ida ao Brasil de freiras francesas, a renda renascença chegou ao nordeste do País e o ofício foi ensinado às mulheres humildes do sertão. A técnica acabou sendo responsável pela inserção delas no mercado de trabalho e representa, muitas vezes, a única fonte de renda para muitas famílias.É com essa força da tradição entrelaçada que Martha transforma vidas. Com seu dom e informações de moda, a simplicidade se torna sofisticação, o ordinário, extraordinário, o invisível, visível. Assim, a arte do sertão conquistou Hollywood."Foi um trabalho de muitos anos, fazendo aos pouquinhos e vendo resultado e voltando e dizendo para elas: 'Olha que bacana a gente já consegue ter esse resultado'. A gente acredita muito nisso, que o futuro tem um coração antigo, que essa é a verdadeira joia, o verdadeiro luxo que as marcas de luxo estão desesperadas. Procuramos as rendeiras mais antigas e resgatamos várias técnicas que não existem mais, você olha a própria renda Renascença no Brasil ela não tem mais isso. O que eu quero é isso cada vez mais, trazer essa informação de moda que a gente tem para essa arte e mostrar ao mundo o verdadeiro luxo brasileiro", conclui a estilista.

    Projeto musical em português criado por compositor brasileiro conquista público de Madri

    Play Episode Listen Later Mar 16, 2024 6:52


    No Salón de Embajadores, uma sala dourada da Casa de América, no centro de Madri, gente de toda parte tem se reúne para apreciar concertos musicais em português. O projeto Rua das Pretas, idealizado pelo cantor e compositor brasileiro Pierre Aderne, conquistou um lugar cativo na cena cultural da capital espanhola. Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI em MadriOs shows, que começaram em fevereiro e vão até o início de abril, fazem parte de uma residência artística que o grupo está vivenciando na cidade e revelam ao público, entre histórias e canções, o DNA do Rua das Pretas, nasceu na sala da casa de Pierre Aderne, em Lisboa, Portugal, há 12 anos.O que inicialmente era um encontro íntimo e caseiro entre artistas de diferentes nacionalidades, hoje ganha os palcos internacionais levando a música brasileira mundo afora – mas não só ela, como conta Pierre, um fiel defensor do encontro entre os estilos musicais em língua portuguesa.“A gente passou demasiado tempo colocando a bandeira à frente da língua quando a música era cantada em português”, pontua o artista, que também é autor do filme “MPB – Música Portuguesa Brasileira: uma conversa musical entre Portugal, Brasil e Cabo Verde”.Para Pierre, a vida em Lisboa, onde se dedica a promover encontros de artistas lusófonos, trouxe de volta a união dos países que fazem música em português. “E eu estive no meio disso tudo. Com as minhas passagens pelos estados do Brasil, pelos artistas que eu conheci, pelos compositores que me ajudaram a trilhar um caminho como compositor. Pelas outras culturas que eu provoquei, fui provocado. Acho que é uma colcha de retalhos”, descreve.Segundo ele, essa trilha — que gera uma rede composta por cada experiência compartilhada e por cada ideia trocada —, não é, nem de longe, milimetricamente calculada. O que há é menos estratégia e mais intuição: “não é pensado, as coisas vão surgindo à flor da pele”.Metamorfose contínuaUma das características mais marcantes do “Rua das Pretas” é a constante transformação da composição do grupo. Entre os residentes, que se revezam na condução da festa, e os muitos convidados que já estiveram nesta “sala de casa” itinerante, mais de 200 artistas do mundo lusófono passaram pelo Rua das Pretas. Nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, José Eduardo Agualusa e Valter Hugo Mãe estão nesta lista.O percurso que o projeto tem traçado em Madri não foge à regra. A cada encontro, novos convidados sobem ao palco para acrescentar os seus próprios tons ao espetáculo. Num dos shows desta temporada espanhola, a cantora Valéria Lobão teve a oportunidade de cantar, pela primeira vez ao vivo, uma canção que já tinha gravado: “No coração de Mariana”. A faixa tem letra de Pierre Aderne e música de Carlos Fuchs e foi composta em homenagem a Ian Guest, mestre húngaro de diversos artistas brasileiros.Entre histórias e cançõesNo palco, ao perguntar a Valéria com qual música ela queria iniciar sua participação no show, Pierre brincou dizendo que “o repertório é espiritual” e escutou da artista como resposta: “por falar em espiritual, podíamos fazer primeiro aquela música incrível, que você fez depois de uma inspiração”.O anfitrião começou, então, a contar sua história com Ian Guest, que se iniciou ainda na infância – quando este frequentava reuniões de um grupo de teatro da família de Pierre – e culminou numa música escrita como ode a Ian. “Ano passado, eu tive a sensação de perceber a presença do Ian Guest e fiquei a noite inteira pensando nele. Tive a certeza, naquela noite, de que se ele não fosse a Lisboa, eu iria a Tiradentes encontrá-lo”, introduziu Pierre.Ele seguiu relatando que, na ocasião, escreveu uma letra pensando em Ian Guest e, na manhã seguinte, ligou para o parceiro musical Nilson Dourado para contar que queria convidar Ian para o Rua das Pretas e estar perto deles. “E o Nilson disse assim para mim: ‘eu acabei de receber a notícia de que ele faleceu esta noite'”, continuou Pierre Aderne, anunciando na sequência que Valéria Lobão cantaria a música composta na madrugada em questão.Viver esse improviso banhou Valéria de emoção: “Toda a história foi muito emocionante. Eu acho que a plateia também acabou se contagiando. Pela história e pela música, né? A história do Ian e essa música tão bonita do Pierre com o Carlos Fuchs”.Conexão Brasil-Portugal-EspanhaQuem também tem o rosto estampado no álbum de fotografias da residência artística do Rua das Pretas em Madri e já acumula suas próprias histórias com o grupo, é a cantora Maia Balduz. Ela é portuguesa e, depois de fazer várias participações nos shows do grupo, se tornou residente do projeto.Quanto à estrada percorrida junto ao Rua das Pretas, Maia diz que pode aprender bastante. “Tem sido muito bom porque trabalhar com músicos que já estão dentro do círculo há muitos anos é completamente diferente do que com pessoas da minha idade que, embora também sejam muito profissionais e toquem muito bem, não têm a bagagem toda de como nós falamos com o público, como interagimos. Portanto, é aquela bagagem de palco, não é só a bagagem instrumentista ou vocalista. Tem sido uma viagem intensa”.Entre indas e vindas de Lisboa a Madri, a cantora tem representado o fado na equação multifatorial que é o Rua das Pretas. O estilo musical, tipicamente português, é integrado à vida e ao repertório de Maia — e de grande parte dos que vivem em Portugal. Fora do país, no entanto, a força e a emoção do fado costumam surpreender.“As pessoas ficam sempre muito impressionadas quando ouvem fado, porque acham que é uma coisa muito diferente, muito profunda. Mesmo que elas não entendam, no caso dos espanhóis, a letra, elas estão a sentir tudo”, afirma Maia.Falando em sensações que podem atingir a plateia, não é raro ver no público rostos emocionados ao final dos shows. O espetáculo toca de diferentes formas a quem o assiste. A consultora de marketing Mónica Juanas é espanhola e não escondeu o contentamento com o que ouviu: “nos encantou”.O fascínio foi tanto que ela buscou, ao final da apresentação, uma forma de levar a música que havia escutado para casa: “Achamos muito especial, muito emocionante, com um contato muito direto com o público. Inclusive, estávamos procurando uma forma de comprar um disco, porque nós gostamos muito”.Parceria em som e corQuem, assim como Mónica, vai a um dos espetáculos do projeto Rua das Pretas na Casa de América, encontra a arte brasileira também nas cores e formas dos quadros de Gonçalo Ivo. O pintor é responsável pelas obras que compõem o cenário dos shows. A parceria entre Gonçalo e Pierre Aderne é antiga.“Eu fiz todos os cenários do Pierre em Portugal. E são enormes tecidos que confeccionamos, de três metros, dois metros, que eu chamo de bandeiras e que ficaram no Coliseu dos Recreios, em todos os lugares onde ele dá concerto. Eu que faço os cenários e essa é uma associação que tem mais de 12 anos”, relembra Gonçalo.Comentando os tantos encontros que acontecem envolvendo o projeto Rua das Pretas, Pierre Aderne lembra que muitos se dão pela primeira vez em cima de um palco. Faz parte do jogo de cena, de acordo com o que conta ele, que os músicos convidados não cumpram uma rotina rigorosa de ensaios.“Nunca temos tempo para ensaiar. Eu acho que é até uma desculpa. É como se fosse um primeiro date, um primeiro encontro em que você não sabe muito bem o que vai acontecer. Eu acho que esse suspense faz muito bem à música para não ficar igual. A gente pode tocar 20, 200 vezes uma canção e a ideia é que ela vá se modificando como a gente se modifica também”, arremata.PRÓXIMOS SHOWS:Quarta-feira,  20 de março de 2024. Artista convidado: Moacyr Luz.Quarta-feira, 3 de abril de 2024. Artista convidada: Roberta NistraHorário: 19h30Salón Embajadores de Casa de América, acesso pela Plaza de Cibeles, S/N.Mais informações sobre os concertos e a compra de bilhetes no site da Rua das Pretas

    Claim Brasil-Mundo

    In order to claim this podcast we'll send an email to with a verification link. Simply click the link and you will be able to edit tags, request a refresh, and other features to take control of your podcast page!

    Claim Cancel