Podcasts about Calouste Gulbenkian

British-Armenian businessman and philanthropist

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Calouste Gulbenkian

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Vida em França
Festival em Paris defendeu que “nova geração está a cumprir Cabral”

Vida em França

Play Episode Listen Later Nov 10, 2025 50:06


Vários artistas “netos das independências” dos países afrolusófonos estiveram reunidos no "Festival Lisboa nu bai Paris", na Gaîté Lyrique, em Paris, a 8 e 9 de Novembro. Esta é “uma nova geração que está a cumprir Cabral”, declarou a investigadora Luísa Semedo, na conferência que marcou o arranque do evento e que teve como mote o legado de Amílcar Cabral. O curador do festival, o músico Dino de Santiago, lembrou o poder transformador da cultura em tempos de extremismos, disse que “o público está afinado, mas quem está no poder está desafinado” e lembrou que “é da responsabilidade de cada um ser um Amílcar Cabral” hoje. Neste programa, gravado ao vivo no dia 8 de Novembro, pode ouvir a conversa que marcou o arranque do “Festival Lisboa nu bai Paris”, na Gaîté Lyrique, em Paris. O festival foi comissariado por Dino d'Santiago que escolheu vários artistas afrodescendentes que têm reinventado, nos últimos anos, a música lusófona. Subiram, assim, ao palco Fattu Djakité, Kady, Nídia & DJ Marfox, Eu.Clides, Umafricana e Soluna, num evento organizado no âmbito dos 60 anos da delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian.  “Os artistas que vão estar connosco vêm precisamente destes lugares de uma periferia, de uma Lisboa onde ainda temos pessoas que vivem à margem, lugares onde a humanidade reside com menos doçura. Mas, ao mesmo tempo, destes lugares conseguimos trazer bons cheiros e esperança com a música, com a força da cultura para nos elevar”, começou por explicar Dino d'Santiago. No ano em que a maioria dos países afrolusófonos celebram os 50 anos das suas independências, o evento teve a força de um manifesto cultural, desde logo pelas palavras que marcaram o seu arranque. “Quando há opressão, há sempre resistência. A cultura, a arte também são uma forma de resistência. Vemos isso a acontecer nos “netos da revolução”. Significa que o trabalho de Amílcar Cabral faz sentido e que ele continua vivo”, considerou a filósofa Luísa Semedo, admitindo que, ao olhar para os nomes do festival, vê-se que “esta nova geração está a cumprir Cabral”. O “regresso às raízes” é algo assumido por esta geração que valoriza o poder criativo do legado musical e cultural que herdou. O próprio Dino d'Santiago - com os discos “Mundo Nôbo”, “Kriola”, “Badiu” - vai ao encontro da “reafricanização dos espíritos” defendida por Amílcar Cabral, o líder das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde e um dos maiores pensadores do anticolonialismo africano para quem as lutas de libertação eram um acto e um factor de cultura. “A minha libertação foi quando senti um verdadeiro orgulho de ser cabo-verdiano também”, confessou o músico nascido em Portugal que se reencontrou nas raízes africanas e admitiu, no debate, que os seus discos “são autobiografias da reafricanização do meu espírito”. Também a directora da delegação francesa da Fundação Calouse Gulbenkian, Teresa Castro, considerou que a cultura e a criação artística têm “esse papel importantíssimo de garantir a libertação dos espíritos” e que o papel da cultura teorizado por Amílcar Cabral é “profundamente actual”. Uma das frases que sintetiza esse pensamento está transcrita no mural de Hélder Batalha na fachada da Fundação Amílcar Cabral, na cidade da Praia: “A luta pela libertação não é apenas um acto de cultura, mas também um factor de cultura”. Quanto ao peso que a arte pode ter em tempos de extremismo e polarização política, Dino d'Santiago lembrou que só é fácil “pilotar” as pessoas se estas tiverem medo, mas que se a coragem imperar “é da responsabilidade de cada um ser um Amílcar Cabral”. Por outro lado, o músico e activista lembrou que “o público está afinado, quem está no poder é que está desafinado”. Pode a música ser um antídoto ao racismo e unir o que a história desuniu? Foram 500 anos de colonialismo e isso “nunca será possível reparar”, mas a reconciliação vai-se esboçando com a arte e é a cantar que Dino d'Santiago responde: “Aqui toda a gente é parente. Terra não é só o lugar onde se nasceu, é também o chão que trazemos na mente. Aqui toda a gente é parente, mesmo quando se nasceu doutro ventre, chamamos mãe ao mesmo continente”. “O público está sempre afinado, por mais que nos tentem desafinar”, sublinhou o curador do Festival "Lisboa nu bai Paris".    De notar que, entre os artistas convidados para o "Festival Lisboa nu bai Paris", a primeira a subir ao palco no sábado foi a cabo-verdiana Kady, neta de Amélia Araújo, a voz da Radio Libertação no tempo da luta pelas independências, e filha de Teresa Araújo, cantora do histórico grupo Simentera que andou na Escola-Piloto de Conacry e conheceu de perto Amílcar Cabral. Kady admitiu à RFI que se sente “de forma visceral” neta da independência. “Eu cresci a ouvir as histórias de Amílcar Cabral, as histórias da luta. Eu sinto-me muito pertencente a esse mundo. É algo mesmo que está nas veias e é uma honra, uma grande honra”, contou. (Oiça aqui a reportagem feita com Amélia Araújo e Terezinha por altura dos 50 anos da independência de Cabo Verde). Por outro lado, a cantora Fattu Djakité admitiu à RFI sentir-se “cem por cento” como “neta de Amílcar Cabral”. “Eu sinto que sou uma representante de Amílcar Cabral porque sou Guiné-Bissau e Cabo Verde. Sinto que tenho dois corações a bater dentro do meu peito que são a Guiné-Bissau e Cabo Verde pelo simples facto de eu nascer na Guiné-Bissau, ir com cinco anos para Cabo Verde e viver lá há trinta anos. Nunca a Guiné-Bissau saiu de mim, falo o meu crioulo muito bem, sei sobre os costumes da Guiné-Bissau e sei também tudo sobre Cabo Verde. Eu sinto que sou o sonho realizado de Amílcar Cabral”, resumiu à RFI Fattu Djakité no final do seu concerto no sábado.

Appleton Podcast
Episódio 180 – “Ontem, hoje e amanhã” – Conversa com Isabel Carlos

Appleton Podcast

Play Episode Listen Later Nov 4, 2025 69:44


Isabel Carlos (Coimbra,1962), é licenciada em Filosofia pela Universidade de Coimbra e mestre em Comunicação Social pela Universidade Nova de Lisboa com a tese «Performance ou a Arte num Lugar Incómodo» (1993). É crítica de arte desde 1991. Assessora para a área de exposições de Lisboa'94 – Capital Europeia da Cultura no âmbito da qual foi curadora das exposições colectivas “Depois de Amanhã” no Centro Cultural de Belém e “Do Sublime” no Museu do Chiado.Foi co-fundadora e subdirectora do Instituto de Arte Contemporânea, tutelado pelo Ministério da Cultura entre 1996 e 2001, onde entre outras tarefas foi responsável pela aquisição da colecção de arte contemporânea mostrada em 2000 no Centro Cultural de Belem na exposição “Initiare”.Foi membro dos júris da Bienal de Veneza em 2003, do Turner Prize em 2010, The Vincent Award em 2013, entre outros. Em 2004 foi directora artistica da Bienal de Sidney e curadora da exposição “On Reason and Emotion” que mostrou no MCA, na Art Gallery of New South Walles, no ArtSpace e no Royal Botanical Gardens. Em 2007 organizou para o Instituto Camões a exposição “Troca de Olhares” que foi mostrada em Maputo, Luanda e Mindelo. Entre 2009 e 2015 foi directora do CAM_Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. Entre as múltiplas exposições que organizou e catálogos que concebeu e em que escreveu, destacam-se:-“Inhabited Drawings”, Drawing Center, New York em 2004 também nesse ano a Bienal de Sidney «On Reason and Emotion».- “Intus” de Helena Almeida, Pavilhão de Portugal, Bienal de Veneza em 2005.- “Provisions for the Future”, Bienal de Sharjah, 2009.- “Plegaria Muda” exposição de Doris Salcedo no CAM em 2011 que teve itinerância no Moderna Museet, Malmo; MAXXI, Roma; MUAC, Mexico; Pinacoteca, S.Paulo.Organizou as seguintes exposições antológicas bem como as respectivas publicações: “Entrada Azul”- Helena Almeida, Casa da America, Madrid 1998; “Tela Rosa para Vestir” - Helena Almeida, Fundacion Telefonica, Madrid 2008; em Lisboa no CAM: “Menina Limpa Menina Suja” – Ana Vidigal, 2010, no mesmo ano “Mais que a Vida” - Vasco Araujo e Javier Tellez, que depois seguiu para o Marco em Vigo; em 2011 “Linha de Montagem” - Miguel Palma”; em 2012 “Frutos Estranhos” – Rosangela Renno, que depois seguiu para o FotoMuseum em Winterthur; “Trabalhos com Texto e Imagem” - João Penalva, a seguir mostrada no Kunsthalle Brandts, Odense; em 2013 Lida Abdul , primeiro no CAM e depois na Fundacao Calouste Gulbenkian em Paris, no mesmo ano “Sob o Signo de Amadeo”, exposição alargada da colecção do CAM e um ciclo de performance; “O Peso do Paraíso”- Rui Chafes, 2014; “Luanda, Los Angeles, Lisboa” - Antonio Ole, 2016. “Todos os Títulos Estão Errados” - Paulo Quintas, Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, EGEAC - Lisboa, 2018; no mesmo ano “O Outro Casal - Helena Almeida e Artur Rosa” no Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, Lisboa. Entre 2023 e 2024 foi administradora delegada deste museu assegurando a transição entre direcções. Em 2019 mostrou a colecção de José Lima, no Palácio de São Bento, Lisboa. Entre 2019 e 2022 integrou a comissão de aquisições de arte contemporânea da Camara Municipal de Lisboa. Em 2023 organizou “Hello! Are You There?” retrospectiva e catalogo raisoné da obra de Luisa Cunha, Maat, Lisboa; “Fotografia Habitada”, antológica de Helena Almeida, Instituto Moreira Sales, S.Paulo, ambas as exposições foram consideradas entre as melhores do ano nos respectivos países.Desde o final de 2024 é Directora do Pavilhão Julião Sarmento, um novo museu da cidade de Lisboa. Links: https://www.pavilhaojuliaosarmento.pt/ https://www.mca.com.au/exhibitions/14th-biennale-of-sydney-on-reason-and-emotion/ https://www.publico.pt/2006/01/20/jornal/intus-de-helena-almeida-agora-em-lisboa-59220 https://www.maat.pt/pt/exhibition/luisa-cunha-hello-are-you-there https://www.artecapital.net/entrevista-160-isabel-carlos https://arquivos.rtp.pt/conteudos/artes-plasticas-34/ https://www.publico.pt/2013/01/23/culturaipsilon/noticia/as-linhas-com-que-uma-obra-se-cose-1658156 Episódio gravado a 22.10.2025 Créditos introdução e final: David Maranha http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / A2P / MyStory Hotels / JD Collection Apoio:Câmara Municipal de Lisboa Financiamento:República Portuguesa – Cultura / DGArtes – Direcção Geral das Artes © Appleton, todos os direitos reservados

Artes
50 anos das independências: "Há uma pluralidade e não uma monocultura histórica que querem 'vender'"

Artes

Play Episode Listen Later Oct 14, 2025 24:44


Neste ano em que são assinalados os 50 anos das independências de Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e de Angola, debruçamo-nos sobre a reflexão que estas celebrações têm ocasionado ao longo das diversas iniciativas que têm sido organizadas nestes últimos meses em Portugal e nos países de África Lusófona. Estas comemorações coincidem, em Portugal, com um momento político de crescente crispação à direita, nomeadamente com a nova lei de nacionalidade que torna mais complexo o acesso à cidadania portuguesa, enquanto nos países de África Lusófona, o balanço dos últimos 50 anos é feito de contrastes, entre as narrativas dominantes e o surgimento de olhares críticos. Foi sobre este momento particular que conversamos com Sheila Khan, socióloga, investigadora e professora na Universidade Lusófona do Porto, especializada nas questões do pós-colonialismo e cidadania no espaço lusófono. Ao considerar que ainda permanece muito por fazer, a estudiosa coloca em destaque o dinamismo das novas gerações dos afro-descendentes em Portugal que têm impulsionado questionamentos e novos ângulos de análise do legado comum de Portugal e África. RFI: Neste ano em que se comemoram os 50 anos das independências de vários países de África Lusófona, em que estado está a reflexão sobre a história colonial em Portugal? Sheila Khan: O estado ainda está muito incompleto, embora já tenhamos muitos avanços. Existem muitos estudiosos que vieram das ex-colónias africanas portuguesas e que fizeram dos seus percursos, quer biográficos, quer académicos, compromissos de memória, de investigação e de uma cidadania maior, isto é, estiveram sempre ligados a partir do espaço português e também europeu. As suas vivências familiares e aos seus países originais, alguns de nascimento, mas outros também de originalidade em termos de família, trouxeram sempre esse pensamento para o seu percurso académico, para a sua investigação, para os seus desafios e também, acima de tudo, para esta interpelação perante vários pactos que são pactos que vão evoluindo ao longo do tempo na sociedade portuguesa. E eu refiro-me aos pactos de silêncio. E era importante aqui sermos muito cuidadosos, porque estes silêncios não foram os mesmos. A sua densidade e a sua especificidade não foi a mesma. Os anos 70 e os anos 80 não são os anos de hoje. Hoje há uma maior visibilidade, uma maior projecção e até um maior espaço de interacção com a esfera pública. Vemos efectivamente várias comemorações. Eu estive recentemente, a semana passada até, na Fundação Calouste Gulbenkian, onde foi organizada pela professora Ana Mafalda Leite e pelo professor Lucílio Manjate, uma iniciativa que foi dedicada aos 50 anos da literatura moçambicana. Isto significa que o espaço público de interacção, de pensamento e de produção do saber histórico entre Portugal e as suas ex-colónias e os legados coloniais tem sido maior e tem sido mais mediatizado e projectado também para fora das academias. E também é preciso não esquecer que nesta janela temporal, que é um caminho também temporal, temos aqui outros sujeitos sociológicos que eu chamaria de sujeitos afro-descendentes diaspórica que são pessoas que ou nasceram em África e vieram de lá muito pequeninos ou então já nasceram aqui, foram formados e educados no espaço português europeu, mas continuam pela partilha e pela relação que têm com os seus familiares, assumem-se como uma espécie de cumpridores e de curadores de uma determinada memória e de um compromisso de memória. E também eles têm feito um trabalho muito importante. Eu chamaria até de vibrante. Neste momento estamos a viver uma altura muito vibrante em termos desta interpelação e destes contributos, vários dos afro-descendentes, interpelando a historicidade portuguesa, interpelando os seus silêncios, interpelando acima de tudo, esta ideia de que a história da democracia portuguesa, tal como a história das independências africanas, tem de ser muito maior, tem que ser muito mais representativa e eles têm um papel a desempenhar na redefinição, na reinterpretação dessas várias histórias. E as manifestações artísticas têm sido infinitamente ricas e infinitamente partilhadas no espaço público. Eu vou citar aqui um exemplo actual, mas é um exemplo que já vem sido construído de uma forma lenta, mas de uma forma robusta e sólida. Começamos lá atrás com o Joaquim Arenas, escritor cabo-verdiano. Depois tivemos, obviamente, o grande "boom" da literatura dos retornados. Tivemos a Isabela Figueiredo e a Dulce Maria Cardoso. Mas, curiosamente, temos aqui um momento excepcional, com várias vozes, nomeadamente a Djamila Pereira de Almeida, a Luísa Semedo, a Gisela Casimiro e hoje temos uma figura que ninguém consegue escapar a ela, que é o Dino D'Santiago, que está a ser uma voz muito representativa dessas outras histórias silenciadas, desses outros pactos de silêncio, quer familiar, quer público, e que estão a vir à superfície da luz e que têm convidado diferentes experiências humanas, sociais e culturais, identitários e geracionais para pensar o estado da arte da maturidade portuguesa e também o estado da arte da maturidade dos países africanos, hoje independentes. Dino D'Santiago, como afro-descendente, tem feito do seu percurso musical também um aqueduto, uma ferramenta de inspiração e de outro tipo de pensamento. Criou uma ópera que é o "Adilson", em que vai efectivamente colocar o dedo em pontos cruciais e que ainda magoam esta ideia de cidadania portuguesa. Portanto, o "Adilson" é a história baseada numa pessoa real que, mesmo tendo crescido e vivido décadas em Portugal, continua sem lhe ser reconhecida a cidadania portuguesa. Mas também agora publicou um livro, "Cicatrizes", que tem percorrido e está a viajar pelo país e está inclusivamente a ser falado, discutido, debatido em pontos importantes e em pontos descentralizados do país. Isto é um caminho lento, mas está a ser um caminho, a meu ver, robusto, sólido e, acima de tudo, um caminho que se espelha nesta ideia de que é preciso que haja uma cidadania representativa, uma cidadania clarividente das muitas histórias dentro das histórias oficiais que estes muitos países ex-colonizados e colonizadores nos quiseram de alguma forma "vender" e de alguma forma manipular as nossas mentes. Acho que este é um momento extraordinário, embora citando Samora Machel, "a luta continua" e vai ter de continuar, porque há muitas questões, muitos assuntos e nós viemos agora com este debate sobre a lei da nacionalidade. Isto vai espicaçar, isto vai magoar, isto vai desafiar muitas sensibilidades, umas que vão no sentido da fraternidade e da hospitalidade e da solidariedade. Mas estamos num contexto que se vai defender essas outras sensibilidades que querem o fechamento, o controlo, a vigilância e, acima de tudo, o discurso da desconfiança, da suspeita e da instabilidade desse outro no tecido social português. RFI: Antes de abordarmos a questão política, queria ainda voltar um pouco atrás. Estava a falar da expressividade das vozes de afro-descendentes na sociedade portuguesa em termos culturais e nomeadamente, na literatura e na música. Qual é essa expressividade numa cultura, digamos assim, mais popular, como, por exemplo, o cinema, as ficções que nós vemos na televisão? Como é que é representado o afro-descendente ou simplesmente a África lusófona? Sheila Khan: Penso que ainda estamos muito aquém daquilo que se poderia falar, de uma representatividade. Nós temos uma representatividade, se me permite, a expressão, muito anoréctica. A RDP África e RDP África efectivamente fazem um trabalho excepcional, assim como a RFI. Em Portugal, os meios de comunicação ainda continuam muito esquecidos ou distraídos desta riqueza sociológica, cultural, identitária e, acima de tudo, geracional. Porque estamos a esquecer que muitos destes contributos que estão a emergir dos afro-descendentes e de gente jovem, embora uma juventude muitas vezes nela já madura, de 30, 40 ou 50 anos, mas a verdade é que os que aparecem é que são nivelados para um estatuto mais visível. São pessoas que já têm uma projecção muitas vezes internacional. Eu falo, por exemplo, dos Calema. Falo, por exemplo, Dino D'Santiago. Falo, por exemplo, da Selma Uamusse. Mas também há muitos outros aqui à volta que têm feito trabalhos muito importantes, mas que não conseguem entrar neste "mainstream". Mas também esse "mainstream" comunicacional ou dos meios de comunicação, também é verdade, não os convida a estar presentes em debates, em espaços de reflexão pública, no espaço da cidadania comunicativa. Portanto, continuamos ainda muito ancorados a meios de comunicação, cujo carácter e personalidade é muito virado para a relação das diásporas africanas e populações africanas. E volto a repetir a RTP África e RDP África. Mas os outros meios de comunicação ainda não têm a representatividade que nos pudesse animar e estimular. Porque, como diz bem o ditado popular "uma andorinha não faz a primavera". Como dizia recentemente numa entrevista o rapper General D, "não é por termos uma pessoa afro-descendente nos partidos políticos principais da sociedade portuguesa que devemos aplaudir e celebrar a representatividade". A representatividade requer uma metodologia da igualdade, de algum equilíbrio na presença daqueles que são convidados a estar para um determinado compromisso, para uma determinada função e papel e, portanto, nos meios de comunicação, neste momento, esse compromisso é ainda muito frágil, muito volátil e, acima de tudo, eu diria profundamente e lamentavelmente desequilibrado. RFI: O que é que diz o momento político que se vive em Portugal sobre o estado da reflexão da sociedade portuguesa relativamente à sua relação com África, com os afro-descendentes e com a sua história comum? Estou a pensar, designadamente naquilo que estava a referir, a lei da nacionalidade, mas também o grau de participação dos afro-descendentes, por exemplo, em termos de candidatos para eleições, etc. Sheila Khan: Este momento político, e ainda bem que faz essa pergunta, porque vivo e habito nesse momento político, como tantos outros de nós, é um momento político que demonstra alguma secura e alguma falta de imaginação sociológica e histórica perante um legado extenso, infinito, de várias narrativas e de várias histórias e, acima de tudo, dos contributos destas antigas colónias e dos contributos das suas populações para a maturidade, para o crescimento de Portugal. E, portanto, eu acho que este contexto político hoje é um contexto que eu não chamaria de "distraído", acho que é muito pouco. Eu chamaria de muito pouco formado eticamente, moral e historicamente mal formado perante estas populações. E esta lei da nacionalidade, que depois põe toda a gente no mesmo saco, demonstra exactamente essa falta de imaginação, de sensibilidade e acima de tudo, de reconhecimento destas populações, porque estamos também armadilhados ou caímos na armadilha de não perceber os muitos "outros" que vêm de diferentes contextos, contextos que nos aproximam, que nos tornam fraternais e contextos que nos distanciam e, portanto, pomos todos no mesmo saco. Nivelamos todas estas pessoas na mesma categoria de "estrangeiro" e "estranho", um "outro" que vem provocar turbulências, instabilidade e insegurança e perdemos um pouco o compromisso perante também aquilo que as instituições nos vêm devolver. É que, estatisticamente, estes "outros" que estão a ser aqui rotulados como agentes potenciais de instabilidade e insegurança têm contribuído para o tecido da Segurança Social. E a pergunta é: como é que um país que se fez a partir de outros países e da relação com outros países -e não foram apenas os países africanos- não consegue hoje compreender e reconhecer esta ideia de que verdadeiramente somos maiores e nobremente maiores, incluindo em nós outras vozes, outras narrativas e reconhecendo-as como nossas. E, portanto, este tipo de contexto político denota, acima de tudo, uma imaturidade. Uma infantilidade histórica. E, finalmente, uma certa arrogância, quase que muito pouco sólida. Porque às vezes há pessoas arrogantes que têm argumentos. Mas esta é uma arrogância pouco fundamentada, pouco estruturada em dados concretos. E depois temos efectivamente, por detrás dos políticos, também temos cidadãos cuja formação e percepção do mundo também não vêm de todo contribuir para esta ideia de uma cidadania maior, muito mais nobre e rica. Bem pelo contrário. É que esquecemo-nos que por detrás dos políticos e por detrás dos governantes, há cidadãos que se formaram, que estudaram, que pertencem a famílias, a grupos e comunidades. E eles trazem também para o espaço da política todas essas percepções, estereótipos, preconceitos que, de alguma forma e infelizmente, porque o contexto também europeu, é o contexto global, assim o favorece. E retomando um pouco a segunda pergunta que me fez, é inevitável a necessidade de uma acção e de um pensamento vibrante, activo, cívico e atento das comunidades afro-descendentes. RFI: Vamos agora fazer um pouco o caminho inverso. Nós falamos do contexto português. Como é que é na África lusófona? Em termos de narrativa, o que é que predomina? Há também essa vitalidade para contar outros lados da história que até agora não tinham sido explorados, pelo menos em Portugal? Sheila Khan: Essa é uma pergunta que se nos liga tanto uns e outros, porque assim como as comunidades diaspóricas e os afro-descendentes e outras populações estão a combater e a refutar e a incomodar a História, também em África o mesmo acontece, nomeadamente na África lusófona, porque nós vemos que, e é preciso não esquecer que o factor demográfico tem aqui uma influência profundíssima e importante, que é os jovens estão a reivindicar a responsabilidade dos seus governantes, porque é preciso não ignorar o seguinte: havia no tempo das independências, a promessa de uma melhoria de vida, de igualdade, de estabilidade, de fraternidade. O que nós vemos nos nossos países lusófonos é que isso não aconteceu e, portanto, tal como estes outros que são os nossos na diáspora, os africanos no continente africano também estão eles a incomodar uma determinada história que foi feita, que é a história de uma determinada hegemonia africana, em que os governantes mantêm-se quase que numa perpetuidade no poder. Basta olhar para Moçambique, para Angola, a Frelimo e o MPLA e, portanto, toda esta cidadania que tem por detrás esta vitalidade de uma demografia jovem está também a incomodar as histórias e as narrativas oficiais destas nações independentes. Basta olhar também para a instabilidade política e não só política que estamos a testemunhar na Guiné-Bissau e com a aproximação das eleições, acho que estamos todos muito preocupados com tudo o que está a acontecer e o que aconteceu recentemente com o ex-presidente da Liga dos Direitos Humanos, que foi espancado, que foi brutalmente violentado. Mas podemos também olhar para outra situação de São Tomé e Príncipe, Cabo Verde. E aqui é importante distinguir isto. Cabo Verde aparece sempre nos rankings internacionais, no que toca a direitos humanos, uma boa governação, é sempre o país da lusofonia que aparece bem melhor. Mas não quero distanciar-me e não quero esquecer a sua pergunta e dizer que, tal como nós, aqui no espaço português e europeu, estamos a querer incomodar a história que traz consigo silêncios, esquecimentos, também os nossos países independentes estão a ser incomodados por esta cidadania activa pró-activa, porque eles também se esqueceram de incluir na história pós-independência muitas outras histórias que foram necessárias, que contribuíram para as independências. Acima de tudo, esqueceram-se dos grandes projectos de igualdade social, igualdade económica e o que nós vemos hoje nos nossos países é o contrário, o oposto de tudo isto que foi prometido e, portanto, de alguma forma, embora com esta distância enormíssima em termos de quilómetros, há uma fraternidade e há uma solidariedade e há uma empatia e uma consciência de ambos os lados. Há a urgência e a premência de incomodar a história e incomodar a hegemonia de uma história que se quer fazer autoritária, que se quer fazer ignorante da diversidade, da riqueza e dos contributos maiores que vêm de uma cidadania representativa e representada no espaço da esfera pública e política destes vários países e diferentes continentes. RFI: Neste ano em que se comemoram os 50 anos das independências de vários países da África lusófona, sente que todas as reflexões que tem havido ao longo destes meses e que ainda vão acontecer até ao final do ano servem para fazer avançar o debate? Sente que há algum contributo maior que emergiu ao longo destes últimos meses? Sheila Khan: Eu penso que as pessoas estão sedentas de debate. As pessoas querem sair dos seus espaços domésticos e estão sedentas de debate. E isso vê-se não só ao nível das redes sociais, mas também se vê ao nível dos múltiplos eventos e actividades que foram feitos. A pergunta é: quantidade e qualidade? Aqui eu vou dizer que sim. Porquê? Porque a qualidade é diversa. Já não estamos fechados num discurso académico. Nestes vários eventos que eu tenho acompanhado, uns à distância e outros presencialmente, o que nós vemos é uma miríade muito rica de gentes de diferentes formações e diferentes enquadramentos. Escritores, investigadores, jornalistas, activistas, pessoas que trabalham para organizações não-governamentais e todos eles acham, e pelo menos é isto que eu tenho sentido e escutado, uma vontade de se ouvirem, de partilhar. Porque as pessoas começam a perceber que sozinhas não vão chegar a lado nenhum e que a solidão não traz contributos a ninguém e que é verdadeiramente importante, à luz daquilo que eu disse, esta ideia de incomodar a história, que é preciso conversar, debater e acima de tudo, trazer para o espaço, para a mesa do diálogo, a presença, muitas vezes ausente de muitas experiências, de muitas narrativas, emoções e memórias que são cruciais para se compreender porque é que as nossas sociedades não evoluem e percebemos isso quando estamos a debater os caminhos da literatura moçambicana. Nós temos ali como convidados não só escritores, mas temos antropólogos, sociólogos, politólogos, pessoas de vários enquadramentos da arte. E, portanto, isso tem um significado muito importante. A diversidade tem de estar presente para a construção de uma maturidade histórica política dos nossos países. E para terminar, dizer que há uma consciência clara, muito bem articulada, que as histórias dos nossos países não são totalmente cumpridas. Se não forem, e se não estiverem entrelaçadas, não há como compreender Portugal sem a sua experiência e todo o seu caminho imperial e colonial. Mas também não há como compreender e enquadrar um conhecimento mais cuidadoso e rigoroso das nossas ex-colónias, se não as relacionarmos com Portugal, porque, efectivamente há uma relação umbilical, histórica, geracional, que se transmite e que circula nos vários meridianos, que é a palavra "legado". Nós estamos constantemente a debater os "legados coloniais", as "heranças coloniais", porque nós ainda não fizemos o luto. E o luto requer conhecimento e requer o entendimento que nós somos múltiplos. Há uma pluralidade e não uma monocultura histórica que nos querem "vender". Nós estamos a incomodar a história refutando essa ideia.

Appleton Podcast
Episódio 177 – “Folklore” – Conversa com Pedro Barateiro

Appleton Podcast

Play Episode Listen Later Oct 3, 2025 77:25


Pedro Barateiro vive e trabalha em Lisboa. Desenha desde muito cedo, e a sua formação em desenho, escultura, vídeo e escrita foi ampliada na Escola António Arroio, na ESAD, nas Caldas da Rainha, no Programa de Estudos Independentes na Maumaus, em Lisboa, e com o mestrado na Academia de Arte de Malmö, na Universidade de Lund, na Suécia, com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Fez residências artísticas no Pavillon – Palais de Tokyo, em Paris; na AIR, em Antuérpia; no ISCP em Nova Iorque; na Galeria Zé dos Bois e na Spike Island, em Bristol.As suas primeiras exposições individuais em contexto museológico aconteceram em 2008 no Pavilhão Branco, em Lisboa, com a exposição "Domingo"; seguida de "Teoria da Fala" na Casa de Serralves em 2009. Destacam-se ainda exposições individuais em Portugal na Kunsthalle Lissabon, no Museu Coleção Berardo, Parkour, Lumiar Cité, CIAJG, Fundação Carmona e Costa, Rialto6 e nas Galerias Pedro Cera e Filomena Soares. Das suas exposições individuais fora do país, destaco as apresentadas no Kunsthalle de Basel, em 2010; na REDCAT em Los Angeles, em 2016, e no Kunsthalle de Münster, em 2023.O seu percurso foi-se definindo por muitas participações em exposições colectivas no estrangeiro como a Bienal de Performance de Vilnius em 2023, a 13ª Bienal de Sharjah, 20º Festival SESC–Videobrasil, 29ª Bienal de São Paulo, 16ª Bienal de Sidney e 5ª Bienal de Berlim, e em museus e centros de arte como Palais de Tokyo, ARTER, em Istambul, o Museu de Arte Contemporânea de Antuérpia, o CGAC Santiago de Compostela, a Fundação Gulbenkian, MAAT, Fondazione Giuliani, Le Plateau – Frac Île-de-France, entre muitos outros.As suas performances foram apresentadas em várias instituições como TNDMII, Centre Pompidou, Théâtre de la Ville e Fondation Ricard, 98 Weeks, Centro Cultural São Paulo, Cinema Batalha, Teatro Rivoli, Teatro Praga e Teatro São Luiz, entre outros.Editou vários livros de artista, e também as monografias “Como Fazer uma Máscara", editada pela Kunsthalle Lissabon e Sternberg Press; “É só uma ferida”, pela Documenta/ Mousse Publishing), e publicou parte da sua tese de mestrado "O Artista como Espectador" pela Mousse Publishing. Barateiro organiza eventos e exposições na Spirit Shop, que começou no seu atelier na Rua da Madalena em 2017. E em 2020, juntamente com um grupo de artistas, iniciou a primeira associação de artistas visuais em Portugal, a AAVP. Links: https://pedrobarateiro.tumblr.com/ https://www.gfilomenasoares.com/artists/pedro-barateiro/ https://pedro-barateiro.blogspot.com/ https://contemporanea.pt/edicoes/04-05-06-2020/pedro-barateiro-abismo https://www.moussemagazine.it/magazine/pedro-barateiro-opening-monologue-absent-artist-exhibition-jozef-netwerk-aalst/ https://gulbenkian.pt/cam/agenda/movimento-pedro-barateiro/ https://www.p55.art/blogs/p55-magazine/pedro-barateiro-na-1%C2%AAedicao-da-bienal-de-arte-performatica-de-vilnius?srsltid=AfmBOooFbnLuYz3hGwqyh0Pb8n5cK6rD1nbQiU39JT7DyaFWdnUaPyae https://www.cracalsace.com/en/569_love-song-pedro-barateiro Episódio gravado a 16.09.2025 Créditos introdução e final: David Maranha http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / A2P / MyStory Hotels / JD Collection Apoio:Câmara Municipal de Lisboa Financiamento:República Portuguesa – Cultura / DGArtes – Direcção Geral das Artes © Appleton, todos os direitos reservados

Artes
Ídio Chichava leva “o poder da dança” moçambicana à Bienal de Dança de Lyon

Artes

Play Episode Listen Later Sep 22, 2025 14:21


O coreógrafo e bailarino moçambicano Ídio Chichava apresenta dois projectos na Bienal de Dança de Lyon, considerada como o principal evento de dança contemporânea do mundo. “Vagabundus” é apresentado em Lyon esta quarta, quinta e sexta-feira, depois de ter estado em vários palcos internacionais, incluindo em Paris. Ídio Chichava também criou uma peça participativa durante a bienal, “M'POLO”, em que transformou os espectadores em intérpretes de rituais e danças moçambicanas. Ídio Chichava acredita profundamente no que chama de “poder da dança”, um lugar onde “o corpo tem capacidade para mudar o mundo”. É na “força do colectivo” que reside essa magia, alimentada por tradições ancestrais, mas também por saberes e vivências impressas nos próprios corpos. Ídio Chichava descreve Vagabundus como “uma experiência humana, uma experiência de vida sobre fronteiras e sobre raízes”. A força da peça reside nesse poder do colectivo, na exigência técnica dos bailarinos e da escrita coreográfica, não havendo decoração ou cenários. Uma simplicidade aparente que diz muito sobre a falta de financiamento para a cultura em Moçambique, mas que, com o tempo, se transformou “numa riqueza”, conta Ídio Chichava. Vagabundus tem corrido mundo e revelado o coreógrafo nos circuitos internacionais da dança contemporânea. Pelo caminho, Chichava venceu o Salavisa European Dance Award da Fundação Calouste Gulbenkian e com o prémio espera abrir uma escola de dança em Maputo. Agora, apresenta, pela primeira vez, Vagabundus na Bienal de Dança de Lyon, o ponto de encontro de programadores, directores de festivais e artistas, que decorre durante o mês de Setembro. O caminho para Lyon foi feito com o convite de Quito Tembe, director artístico da KINANI, Plataforma de Dança Contemporânea, em Maputo, e que é um dos cinco curadores internacionais nesta 21ª edição da bienal francesa. Cada curador podia escolher um artista dos seus países e Quito Tembe foi buscar Ídio Chichava e os seus bailarinos para representarem Moçambique. Além das conferências em que falou sobre a potência e as dificuldades da dança em Moçambique, Ídio Chichava criou, ‘in loco', um “espectáculo participativo”, segundo as palavras da bienal, “um ritual de encontro”, de acordo com o artista. Em três dias, transformou dezenas de espectadores em intérpretes e quis “desconstruir essa compreensão sobre o que é o espectáculo e a dança contemporânea”. O resultado tem como título M'POLO, Rituais do corpo vivo e insuflou uma rajada de liberdade, alegria, cânticos e dança para todos. Nas palavras de Ídio Chichava, o tal “ritual de encontro” pretendeu “reconectar o ser humano com ele próprio” e foi “um lugar onde todos podem estar juntos”.   Ídio Chichava: “Sou alguém que acredita muito no poder da dança” RFI: Como é que descreve “Vagabundus”, essa força da natureza que vos tem levado mundo fora? Ídio Chichava, coreógrafo e bailarino: “Eu descrevo como uma espécie de movimento que pensa muito colectivo e tenta encontrar sempre a força do colectivo a partir do olhar que eu tenho sobre cada indivíduo e a forma como nós vemos a relação inter-humana. ‘Vagabundus' é mais uma experiência humana, mais uma experiência de vida sobre fronteiras e sobre o sobre lugar, sobre raízes mesmo.” “Vagabundus” é profundamente ancorado em Moçambique, na sua ancestralidade. Quer falar-nos sobre isso? “Sim, está muito fixo nisso, muito apegado a isso. Primeiro, há um lugar que nós não podemos fugir. Eu não posso fugir, nem os intérpretes, nem qualquer pessoa que faça parte deste projecto ‘Vagabundus' pode fugir pelo facto de sermos todos formados em danças tradicionais. Somos pessoas que têm uma formação, que têm fundamentos sobre danças tradicionais e desenvolvemos o nosso trabalho sempre com essa consciência de quem somos e que queremos partilhar com os outros. Depois, é pelo facto de Moçambique também ter uma história de migração muito forte, principalmente com a África do Sul. A outra coisa é pelo facto de eu próprio ter escolhido ‘Vagabundus' não só como uma peça, mas também como um projecto que vai, de certa forma, afirmar aquilo que são as nossas vontades, a minha vontade, de criar uma instituição de dança, criar uma estrutura de dança, como eu sempre venho dizendo. ‘Vagabundus' foi a porta para isso. Sinto realmente essa ancoragem com Moçambique, essa base forte.” Como está o projecto dessa instituição? Já está criada? “Quer dizer, primeiro na ideia e no funcionamento já está criada. Quando criei a companhia, ainda não tinha bases, uma administração, então, sim, ela está criada. Existe uma espécie de estrutura e uma espécie de agenda. O que nós estamos a discutir ainda, mesmo com relação ao prémio da Gulbenkian que é um reforço maior para essa agenda, é um lugar. Então, ela existe pelo seu funcionamento, mas não existe ainda o físico. Nós estamos ainda a trabalhar no físico e principalmente agora, com a ajuda da Gulbenkian, que nos faz, pelo menos, ao meio do caminho. Só para contextualizar, recordo que é o prémio Salavisa European Dance Award da Fundação Calouste Gulbenkian. Eu gostava também que falássemos sobre as escolhas do espectáculo. São mesmo escolhas ou é porque tinha mesmo que ser assim? Não tem luzes, não tem cenários, é uma coisa muito natural e muito despojada… “Primeiro de tudo, eu faço confiança ao corpo. Eu penso que o corpo, ele é inteligente, ele próprio. Segundo, são as vivências do próprio corpo, não o corpo como lugar de memória, mas o corpo como um espaço tecnológico.” Como assim? “O corpo tem saberes a partir das experiências que passou, vai acumulando saberes. Então, eu acredito que o corpo, ele próprio, pode comunicar com qualquer outro corpo. Penso sempre o corpo como um lugar tecnológico que tem capacidade de desenvolver e de nos fazer aceder a outros lugares de forma emocional, de forma espiritual e também de uma forma física. Então, acredito o corpo como esse espaço com capacidade para mudar o mundo também.” No momento em que vivemos toda a aceleração tecnológica, em que passamos para a inteligência artificial, em que qualquer espectáculo tem tanta coisa, até ruído visual, vocês vão ao essencial. É político? “É político porque nós viemos de um lugar e temos opinião só por isso, mas sem uma intenção clara de reivindicação. A intenção clara é demonstrar justamente com o que nós fazemos, com o que nós desenvolvemos e do lugar que eu venho e de onde os Vagabundus vêm não há condições de criação técnica. A peça é forte justamente porque essa simplicidade, essa falta, é uma riqueza para nós. Usamos isso como riqueza, de certa forma. Por isso é que os ‘Vagabundus' têm essa exigência tão técnica, sem muita decoração e sem cenários. Essa simplicidade, nós usamos como riqueza porque é o que nós temos.” Mas isso não corre o risco de ser visto como uma ode à precariedade? Vocês não deveriam sempre pedir mais? “Pois, poderíamos sempre pedir mais. Só que aí é que está. Temos vindo a discutir muito sobre a falta, sobre co-produções, sobre quem nos ajuda. É sempre o meu pensamento, principalmente com relação aos nossos produtores e às pessoas que produzem a Vagabundus ,que produzem o nosso trabalho, nós estamos sempre a discutir isso. Apesar de eu estar sempre a precisar de dinheiro - mesmo para esta última peça que eu estou a desenvolver, preciso de dinheiro para desenvolver figurinos e tudo - preciso procurar dinheiro em algum lugar. Mas também me trava um bocadinho e sempre fico a pensar nesse lugar de dependências e interdependências.” Não quer perder a autonomia, a liberdade? “De que forma continuamos a guardar a nossa autonomia, de que forma continuamos a desenvolver, como queremos fazer apesar do dinheiro não ser nosso, mas justamente por esse lugar inter-humano.” É um espectáculo novo? “Sim, eu estou a preparar um espectáculo que eu chamo de ‘Dzudza', uma palavra em changana para dizer vasculhar.  ‘Dzudza-se' muito nos mercados, nas ruas caóticas de Maputo, cada um à procura de uma peça melhor para si, é dizer mais ou menos isso. Eu vejo o ‘Dzudza' como o oposto do ‘Vagabundus'. ‘Vagabundus' é mais energético, mais interno e é completamente alegre. É uma acção de graças. Na verdade, toda a peça é uma acção de graças. Canta-se todo o tempo, a expressão é a mesma, a estética é a mesma, mas com perspectivas totalmente diferentes de levar à sala e ao público. Há momentos mais alegres. Há momentos mais ecléticos da vida.” Numa das conferências no Fórum da Bienal de Dança de Lyon disse que não via o “Vagabundus' como uma peça, como uma obra, mas como “uma lógica moçambicana de fazer as coisas”. O que quer isso dizer? “Quer dizer que a forma como ‘Vagabundus' foi constituído, as coisas acontecem porque o colectivo tem vontade de fazer. E ‘Vagabundus' foi feita por essa força do colectivo e por essa força individual. Cada um sempre contribuía com o seu transporte até ao lugar, justamente porque acreditava nisso. Uma das características de Moçambique é realmente confiar no colectivo. Para te dar um exemplo muito claro, económico, social e político disso, tem um termo e tem uma acção de empréstimos e de crédito que se chama xitique. Isso só existe em Moçambique. Eu vou explicar. É um grupo de pessoas que se juntam, vão guardar dinheiro para ajudar-se uns aos outros. Eles vão dizer que têm um xitique mensal ou semanal e cada um tem que tirar um valor por semana que vai ajudar um do grupo. Existe essa lógica de confiança que tu tiras o teu dinheiro, dás a alguém e ficas à espera da tua vez chegar. E sempre chega. Mas eu não consigo encontrar nenhuma lógica para isso, senão uma lógica moçambicana de confiança mesmo.” Falemos agora do outro projecto, o espectáculo participativo que fez na Bienal de Dança de Lyon. Como foi a criação?   “O ponto de partida é esse mesmo, a palavra espectáculo, performance. Quando o Quito [Tembe, co-curador do Forum] me escolheu, a ideia era desconstruir essa compreensão que temos sobre o espectáculo e sobre a dança contemporânea. Para mim, espectáculo é convidar alguém para assistir. Na minha ideia, nestes ‘Rituais do Corpo Vivo', eu não tenho público, tenho participantes. Pensar o público como participante da acção que partilhamos e que, se ele participa, também chega a ser um membro que tem algo a partilhar e que dessa partilha se cria uma energia. Então ‘M'Polo' é inspirado de um de um termo maconde de rito de iniciação, que é o espaço onde os iniciados se vão concentrar durante essa formação para passarem para a vida adulta. Vão-se iniciar, vão-se conhecer. Então, esse espectáculo é muito ligado a isso e muito ligado a se reconectar o ser humano com ele próprio. É um lugar onde todos possam respirar juntos, um lugar onde todos possam estar juntos. É um lugar aonde cada um é importante. Então, é isso que nós partilhamos aqui, nessa ideia de desconstruir essa ideia de espetáculo.” E é uma festa também. “Tentamos celebrar o momento, tentamos celebrar esse encontro. Na verdade, eu não sei se podemos chamar isso de uma performance, um espectáculo, mas é mais um ritual de encontro mesmo em que o público não sabe o que é que vai ser. O público não sabe que ele também é participante deste espaço.” E o público como aderiu? Pode ser intimidante… “Sim. Pode ser intimidante, mas por causa do preconceito do que é que é um espectáculo, na verdade, porque eles vão para assistir alguma coisa e isso também cria uma resistência interna, uma luta interna. Eu não sei se eles têm consciência até agora, não sei se eles têm a resposta se eles viram um espectáculo ou se eles participaram do espectáculo.” Neste contexto do ritual colectivo, como é que a dança pode fazer corpo colectivo e ser ferramenta de resistência neste mundo cada vez mais polarizado e individualista? “Eu acho que a dança tem que ser isso, tem que ser um espaço ou tem que ser uma expressão ou um motor que convida as pessoas a dançarem. Também tem que ser um espaço onde as pessoas se sintam no lugar de doadores também, doadores da sua presença. Um espaço que qualquer pessoa pode, de certa forma, mudar uma situação. Eu vejo a dança como isso. Para mim, a dança tem que ser esse espaço que acolhe pessoas. Um espaço acolhedor.” Para terminarmos, para quem ainda não o conhece – e depois de ter ouvido aqui na Bienal que o Ídio Chichava é a moda do momento – quer falar-nos um pouco sobre si? “Sou formado em danças tradicionais. Sou alguém que viveu parte da sua formação como artista e bailarino na França, alguém que viajou muito pelo mundo sempre através da dança. E alguém que acredita muito no poder da dança.”    

Em directo da redacção
Ídio Chichava levou “o poder da dança” moçambicana à Bienal de Dança de Lyon

Em directo da redacção

Play Episode Listen Later Sep 22, 2025 14:21


O coreógrafo e bailarino moçambicano Ídio Chichava apresenta dois projectos na Bienal de Dança de Lyon, considerada como o principal evento de dança contemporânea do mundo. “Vagabundus” chega a Lyon a 24, 25 e 26 de Setembro, depois de ter estado em vários palcos internacionais, incluindo em Paris. Ídio Chichava também criou uma peça participativa durante a bienal, “M'POLO”, em que transformou os espectadores em intérpretes de rituais e danças moçambicanas. Ídio Chichava acredita profundamente no que chama de “poder da dança”, um lugar onde “o corpo tem capacidade para mudar o mundo”. É na “força do colectivo” que reside essa magia, alimentada por tradições ancestrais, mas também por saberes e vivências impressas nos próprios corpos. Ídio Chichava descreve Vagabundus como “uma experiência humana, uma experiência de vida sobre fronteiras e sobre raízes”. A força da peça reside nesse poder do colectivo, na exigência técnica dos bailarinos e da escrita coreográfica, não havendo decoração ou cenários. Uma simplicidade aparente que diz muito sobre a falta de financiamento para a cultura em Moçambique, mas que, com o tempo, se transformou “numa riqueza”, conta Ídio Chichava. Vagabundus tem corrido mundo e revelado o coreógrafo nos circuitos internacionais da dança contemporânea. Pelo caminho, Chichava venceu o Salavisa European Dance Award da Fundação Calouste Gulbenkian e com o prémio espera abrir uma escola de dança em Maputo. Agora, apresenta, pela primeira vez, Vagabundus na Bienal de Dança de Lyon, o ponto de encontro de programadores, directores de festivais e artistas, que decorre durante o mês de Setembro. O caminho para Lyon foi feito com o convite de Quito Tembe, director artístico da KINANI, Plataforma de Dança Contemporânea, em Maputo, e que é um dos cinco curadores internacionais nesta 21ª edição da bienal francesa. Cada curador podia escolher um artista dos seus países e Quito Tembe foi buscar Ídio Chichava e os seus bailarinos para representarem Moçambique. Além das conferências em que falou sobre a potência e as dificuldades da dança em Moçambique, Ídio Chichava criou, ‘in loco', um “espectáculo participativo”, segundo as palavras da bienal, “um ritual de encontro”, de acordo com o artista. Em três dias, transformou dezenas de espectadores em intérpretes e quis “desconstruir essa compreensão sobre o que é o espectáculo e a dança contemporânea”. O resultado tem como título M'POLO, Rituais do corpo vivo e insuflou uma rajada de liberdade, alegria, cânticos e dança para todos. Nas palavras de Ídio Chichava, o tal “ritual de encontro” pretendeu “reconectar o ser humano com ele próprio” e foi “um lugar onde todos podem estar juntos”.   Ídio Chichava: “Sou alguém que acredita muito no poder da dança” RFI: Como é que descreve “Vagabundus”, essa força da natureza que vos tem levado mundo fora? Ídio Chichava, coreógrafo e bailarino: “Eu descrevo como uma espécie de movimento que pensa muito colectivo e tenta encontrar sempre a força do colectivo a partir do olhar que eu tenho sobre cada indivíduo e a forma como nós vemos a relação inter-humana. ‘Vagabundus' é mais uma experiência humana, mais uma experiência de vida sobre fronteiras e sobre o sobre lugar, sobre raízes mesmo.” “Vagabundus” é profundamente ancorado em Moçambique, na sua ancestralidade. Quer falar-nos sobre isso? “Sim, está muito fixo nisso, muito apegado a isso. Primeiro, há um lugar que nós não podemos fugir. Eu não posso fugir, nem os intérpretes, nem qualquer pessoa que faça parte deste projecto ‘Vagabundus' pode fugir pelo facto de sermos todos formados em danças tradicionais. Somos pessoas que têm uma formação, que têm fundamentos sobre danças tradicionais e desenvolvemos o nosso trabalho sempre com essa consciência de quem somos e que queremos partilhar com os outros. Depois, é pelo facto de Moçambique também ter uma história de migração muito forte, principalmente com a África do Sul. A outra coisa é pelo facto de eu próprio ter escolhido ‘Vagabundus' não só como uma peça, mas também como um projecto que vai, de certa forma, afirmar aquilo que são as nossas vontades, a minha vontade, de criar uma instituição de dança, criar uma estrutura de dança, como eu sempre venho dizendo. ‘Vagabundus' foi a porta para isso. Sinto realmente essa ancoragem com Moçambique, essa base forte.” Como está o projecto dessa instituição? Já está criada? “Quer dizer, primeiro na ideia e no funcionamento já está criada. Quando criei a companhia, ainda não tinha bases, uma administração, então, sim, ela está criada. Existe uma espécie de estrutura e uma espécie de agenda. O que nós estamos a discutir ainda, mesmo com relação ao prémio da Gulbenkian que é um reforço maior para essa agenda, é um lugar. Então, ela existe pelo seu funcionamento, mas não existe ainda o físico. Nós estamos ainda a trabalhar no físico e principalmente agora, com a ajuda da Gulbenkian, que nos faz, pelo menos, ao meio do caminho. Só para contextualizar, recordo que é o prémio Salavisa European Dance Award da Fundação Calouste Gulbenkian. Eu gostava também que falássemos sobre as escolhas do espectáculo. São mesmo escolhas ou é porque tinha mesmo que ser assim? Não tem luzes, não tem cenários, é uma coisa muito natural e muito despojada… “Primeiro de tudo, eu faço confiança ao corpo. Eu penso que o corpo, ele é inteligente, ele próprio. Segundo, são as vivências do próprio corpo, não o corpo como lugar de memória, mas o corpo como um espaço tecnológico.” Como assim? “O corpo tem saberes a partir das experiências que passou, vai acumulando saberes. Então, eu acredito que o corpo, ele próprio, pode comunicar com qualquer outro corpo. Penso sempre o corpo como um lugar tecnológico que tem capacidade de desenvolver e de nos fazer aceder a outros lugares de forma emocional, de forma espiritual e também de uma forma física. Então, acredito o corpo como esse espaço com capacidade para mudar o mundo também.” No momento em que vivemos toda a aceleração tecnológica, em que passamos para a inteligência artificial, em que qualquer espectáculo tem tanta coisa, até ruído visual, vocês vão ao essencial. É político? “É político porque nós viemos de um lugar e temos opinião só por isso, mas sem uma intenção clara de reivindicação. A intenção clara é demonstrar justamente com o que nós fazemos, com o que nós desenvolvemos e do lugar que eu venho e de onde os Vagabundus vêm não há condições de criação técnica. A peça é forte justamente porque essa simplicidade, essa falta, é uma riqueza para nós. Usamos isso como riqueza, de certa forma. Por isso é que os ‘Vagabundus' têm essa exigência tão técnica, sem muita decoração e sem cenários. Essa simplicidade, nós usamos como riqueza porque é o que nós temos.” Mas isso não corre o risco de ser visto como uma ode à precariedade? Vocês não deveriam sempre pedir mais? “Pois, poderíamos sempre pedir mais. Só que aí é que está. Temos vindo a discutir muito sobre a falta, sobre co-produções, sobre quem nos ajuda. É sempre o meu pensamento, principalmente com relação aos nossos produtores e às pessoas que produzem a Vagabundus ,que produzem o nosso trabalho, nós estamos sempre a discutir isso. Apesar de eu estar sempre a precisar de dinheiro - mesmo para esta última peça que eu estou a desenvolver, preciso de dinheiro para desenvolver figurinos e tudo - preciso procurar dinheiro em algum lugar. Mas também me trava um bocadinho e sempre fico a pensar nesse lugar de dependências e interdependências.” Não quer perder a autonomia, a liberdade? “De que forma continuamos a guardar a nossa autonomia, de que forma continuamos a desenvolver, como queremos fazer apesar do dinheiro não ser nosso, mas justamente por esse lugar inter-humano.” É um espectáculo novo? “Sim, eu estou a preparar um espectáculo que eu chamo de ‘Dzudza', uma palavra em changana para dizer vasculhar.  ‘Dzudza-se' muito nos mercados, nas ruas caóticas de Maputo, cada um à procura de uma peça melhor para si, é dizer mais ou menos isso. Eu vejo o ‘Dzudza' como o oposto do ‘Vagabundus'. ‘Vagabundus' é mais energético, mais interno e é completamente alegre. É uma acção de graças. Na verdade, toda a peça é uma acção de graças. Canta-se todo o tempo, a expressão é a mesma, a estética é a mesma, mas com perspectivas totalmente diferentes de levar à sala e ao público. Há momentos mais alegres. Há momentos mais ecléticos da vida.” Numa das conferências no Fórum da Bienal de Dança de Lyon disse que não via o “Vagabundus' como uma peça, como uma obra, mas como “uma lógica moçambicana de fazer as coisas”. O que quer isso dizer? “Quer dizer que a forma como ‘Vagabundus' foi constituído, as coisas acontecem porque o colectivo tem vontade de fazer. E ‘Vagabundus' foi feita por essa força do colectivo e por essa força individual. Cada um sempre contribuía com o seu transporte até ao lugar, justamente porque acreditava nisso. Uma das características de Moçambique é realmente confiar no colectivo. Para te dar um exemplo muito claro, económico, social e político disso, tem um termo e tem uma acção de empréstimos e de crédito que se chama xitique. Isso só existe em Moçambique. Eu vou explicar. É um grupo de pessoas que se juntam, vão guardar dinheiro para ajudar-se uns aos outros. Eles vão dizer que têm um xitique mensal ou semanal e cada um tem que tirar um valor por semana que vai ajudar um do grupo. Existe essa lógica de confiança que tu tiras o teu dinheiro, dás a alguém e ficas à espera da tua vez chegar. E sempre chega. Mas eu não consigo encontrar nenhuma lógica para isso, senão uma lógica moçambicana de confiança mesmo.” Falemos agora do outro projecto, o espectáculo participativo que fez na Bienal de Dança de Lyon. Como foi a criação?   “O ponto de partida é esse mesmo, a palavra espectáculo, performance. Quando o Quito [Tembe, co-curador do Forum] me escolheu, a ideia era desconstruir essa compreensão que temos sobre o espectáculo e sobre a dança contemporânea. Para mim, espectáculo é convidar alguém para assistir. Na minha ideia, nestes ‘Rituais do Corpo Vivo', eu não tenho público, tenho participantes. Pensar o público como participante da acção que partilhamos e que, se ele participa, também chega a ser um membro que tem algo a partilhar e que dessa partilha se cria uma energia. Então ‘M'Polo' é inspirado de um de um termo maconde de rito de iniciação, que é o espaço onde os iniciados se vão concentrar durante essa formação para passarem para a vida adulta. Vão-se iniciar, vão-se conhecer. Então, esse espectáculo é muito ligado a isso e muito ligado a se reconectar o ser humano com ele próprio. É um lugar onde todos possam respirar juntos, um lugar onde todos possam estar juntos. É um lugar aonde cada um é importante. Então, é isso que nós partilhamos aqui, nessa ideia de desconstruir essa ideia de espetáculo.” E é uma festa também. “Tentamos celebrar o momento, tentamos celebrar esse encontro. Na verdade, eu não sei se podemos chamar isso de uma performance, um espectáculo, mas é mais um ritual de encontro mesmo em que o público não sabe o que é que vai ser. O público não sabe que ele também é participante deste espaço.” E o público como aderiu? Pode ser intimidante… “Sim. Pode ser intimidante, mas por causa do preconceito do que é que é um espectáculo, na verdade, porque eles vão para assistir alguma coisa e isso também cria uma resistência interna, uma luta interna. Eu não sei se eles têm consciência até agora, não sei se eles têm a resposta se eles viram um espectáculo ou se eles participaram do espectáculo.” Neste contexto do ritual colectivo, como é que a dança pode fazer corpo colectivo e ser ferramenta de resistência neste mundo cada vez mais polarizado e individualista? “Eu acho que a dança tem que ser isso, tem que ser um espaço ou tem que ser uma expressão ou um motor que convida as pessoas a dançarem. Também tem que ser um espaço onde as pessoas se sintam no lugar de doadores também, doadores da sua presença. Um espaço que qualquer pessoa pode, de certa forma, mudar uma situação. Eu vejo a dança como isso. Para mim, a dança tem que ser esse espaço que acolhe pessoas. Um espaço acolhedor.” Para terminarmos, para quem ainda não o conhece – e depois de ter ouvido aqui na Bienal que o Ídio Chichava é a moda do momento – quer falar-nos um pouco sobre si? “Sou formado em danças tradicionais. Sou alguém que viveu parte da sua formação como artista e bailarino na França, alguém que viajou muito pelo mundo sempre através da dança. E alguém que acredita muito no poder da dança.”    

CNC: 75 ANOS NAS ARTES, NAS LETRAS E NAS IDEIAS
Miguel Serras Pereira - "Poesia Exemplar" - Colóquio Internacional Sophia de Mello Breyner, 2011

CNC: 75 ANOS NAS ARTES, NAS LETRAS E NAS IDEIAS

Play Episode Listen Later Jun 27, 2025 14:29


"Poesia Exemplar" é o título da intervenção de Miguel Serras Pereira proferida no Colóquio Internacional Sophia de Mello Breyner Andresen, promovido pelo Centro Nacional de Cultura no dia 28 de Janeiro de 2011 nas instalações da Fundação Calouste Gulbenkian.

Vida em França
Lizette Chirrime apresenta “Identidade Perdida” em Paris

Vida em França

Play Episode Listen Later Jun 24, 2025 8:31


Até ao final do mês de Junho, o espaço POUSH, em Aubervilliers, arredores de Paris, acolhe o trabalho da artista moçambicana Lizette Chirrime, que desenvolveu a instalação “Lost Identity”. O feminino é um eixo central no trabalho de Lizette Chirrime que vê a mulher como a “magia do mundo”, mas acredita que lhe falta espaço para se expressar e para libertar essa força. Até ao final do mês de Junho, o espaço POUSH, acolhe o trabalho da artista moçambicana Lizette Chirrime. Uma residência artística em Paris, no âmbito da iniciativa Gulbenkian & Thanks for Nothing – Criação e Compromisso, promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela associação francesa Thanks for Nothing e que conta com a parceria do Centre Pompidou e da KADIST (organização dedicada à arte contemporânea). A iniciativa distingue artistas cujas práticas abordam temáticas sociais e ambientais, incentivando ainda a inclusão de públicos afastados da cultura. Na capital francesa, a artista moçambicana desenvolveu a instalação “Lost Identity” (“Identidade Perdida”) criada a partir de materiais reutilizados dos workshops que conduziu no Centre Pompidou com mulheres em situação de vulnerabilidade – vítimas de violência doméstica, com doenças crónicas –, jovens com síndrome de Down e estudantes. O exercício consistia em criar dois corações: um para depositar tudo o que é negativo, outro para encher de energia positiva. “Havia mensagens muito assustadoras”, contou à RFI Lizette Chirrime, que decidiu reaproveitar todo esse material e transformá-lo numa instalação agora patente no POUSH, onde se podem ver os tubos que contêm todas as mensagens recolhidas, formando casulos, numa alusão ao processo de transformação das larvas em borboletas, como “uma forma de começo da cura”. Embora nascida de um processo colectivo, a obra é também autobiográfica: “É minha, é das senhoras, é de muita gente. É um problema global: a perda da identidade. O facto de permitirmos que nos abusem ou nos maltratem é porque, em algum momento, nos esquecemos de quem somos”, afirma. A instalação é, assim, uma espécie de espelho partilhado, onde a dor, a cura e a transformação coexistem. Sobre a residência artística em Paris, Lizette Chirrime acredita que “foi o universo que conspirou a meu favor e mandou esta luz para o meu túnel.” Para pagar as contas, Chirrime tem de conciliar o lado artístico com o design de moda: “Sou mãe solteira e vivo num país onde a arte não é reconhecida. Faço muito esforço para continuar. Mal consigo pagar as contas. Já estive muito doente, mas recuperei.” O feminino é um eixo central no trabalho de Lizette Chirrime que vê a mulher como a “magia do mundo”, mas acredita que lhe falta espaço para se expressar e para libertar essa força. “Uso a minha voz para dar voz a essas mulheres sem voz”, explica. Mas não é só na questão social que se centra: o seu trabalho também incorpora uma forte consciência ambiental. “Nós sujamos o planeta com o nosso consumismo. Eu decidi fazer a minha parte.” Ser artista e mulher em Moçambique continua a ser um desafio imenso. Apesar de avanços, as condições continuam precárias: “Muitas desistem porque é muito doloroso. Às vezes considero-me uma maluca em continuar, mas não tenho escolha, porque a arte me escolheu.”

Artes
"da desigualdade constante dos dias de leonor*” de Leonor Antunes no CRAC Occitanie

Artes

Play Episode Listen Later Jun 17, 2025 9:04


O CRAC Occitanie, em Sète, França, acolhe até ao dia 31 de Agosto, a exposição les inégalités constantes des jours de Leonor*, da artista portuguesa Leonor Antunes. Trata-se de uma exposição desenvolvida a partir da mostra da desigualdade constante dos dias de Leonor*, apresentada no Centro de Arte Moderna Gulbenkian (CAM), em Lisboa, entre Setembro de 2024 e Fevereiro de 2025. Concebida e produzida pelo CAM – Fundação Calouste Gulbenkian, a mostra conta com curadoria de Leonor Antunes, Marie Cozette (directora do CRAC Occitanie - Centro Regional de Arte Contemporânea) e Rita Fabiana, esta última responsável pela curadoria da versão portuguesa. Distribuída por seis salas no rés-do-chão do CRAC, a exposição reafirma o percurso de mais de 25 anos da artista lisboeta, conhecida pelas esculturas suspensas que dialogam com a arquitectura e a história dos espaços onde se inserem. No CRAC, o público é convidado a circular livremente entre os trabalhos de Leonor Antunes, pisando um chão que é ele mesmo também obra da artista. As peças tomam forma no espaço. E aqui tudo foi adaptado às características do edifício: a ausência de janelas, as divisões, o chão, que reaproveitei da exposição de Lisboa. Este chão – feito de cortiça, latão e linóleo – é um dos elementos que liga as diferentes salas da exposição. Outro elemento é a corda de cânhamo que percorre todos os espaços, presa no tecto e suportando as peças: “Cada sala tem o seu novelo, reciclado de outras exposições. Esta linha vai-se desenrolando e cria uma malha onde tudo se liga.” O título da exposição parte de um desenho de Ana Hatherly, artista, escritora e cineasta portuguesa, realizado em 1972 — ano de nascimento de Leonor Antunes — e onde surge o nome “Leonor”. Os títulos das obras de Leonor Antunes são quase sempre citações ou nomes que carregam ecos de histórias esquecidas. A artista interessa-se pela forma como a história da arte, do design e da arquitectura tem deixado figuras femininas na sombra. Um desses casos é o de Sadie Speight, arquitecta e designer modernista britânica, que colaborou com o arquitecto Leslie Martin na concepção do edifício do CAM, mas cujo nome raramente é mencionado: “Ela teve um papel fundamental no projecto, mas nunca teve o reconhecimento que merecia.” Essa aproximação entre obras e nomes pouco conhecidos é parte de um trabalho de investigação contínua da artista, que dedica “metade do tempo passado nessa pesquisa, nessa busca incessante” por figuras femininas que ficaram à margem da história da arte. Leonor Antunes não procura vitimizar essas mulheres, mas “situar o trabalho destas pessoas”. Não é uma obsessão, mas um trabalho de situar estas figuras no tempo. Nomeá-las é uma forma de não deixar que desapareçam. A história da arte que nos ensinaram é patriarcal, masculina. Mas há muitas outras histórias por contar. A exposição les inégalités constantes des jours de Leonor*, de Leonor Antunes, pode ser vista no CRAC Occitanie, em Sète, França, até ao dia 31 de Agosto. A mostra conta com curadoria de Leonor Antunes, Marie Cozette e Rita Fabiana.

Convidado
Bienal de Dança de Lyon vai mostrar que “a dança fala português”

Convidado

Play Episode Listen Later May 14, 2025 14:11


A 21ª edição da Bienal de Dança de Lyon, de 6 a 28 de Setembro, vai contar com vários artistas lusófonos. Destaque para os portugueses Marco da Silva Ferreira e Tânia Carvalho, mas também para o moçambicano Ídio Chichava e a brasileira Lia Rodrigues, numa edição que vai ecoar com a temporada cruzada França-Brasil. “A dança fala português de uma forma muito forte”, admitiu à RFI Tiago Guedes, o director artístico da bienal, sublinhando também que a dança pode ser uma resposta colectiva de resistência e de ternura face a um mundo em crise. No programa desta 21ª edição da Bienal de Dança de Lyon sobressai uma linha de força lusófona. “Brasil Agora” é um dos pilares desta edição, com oito projectos de artistas brasileiros, no âmbito da temporada Cruzada França-Brasil. Destaque para Lia Rodrigues, Volmir Cordeiro e Davi Pontes & Wallace Ferreira, entre muitos outros.O português Marco da Silva Ferreira – artista associado da Maison de La Danse - apresenta F*ucking Future, em estreia mundial, e Fantasie Minor, que já tinha mostrado na última Bienal.No centenário do nascimento de Pierre Boulez, há também uma homenagem dançada a esta figura emblemática da musica contemporânea mundial, num espectáculo em estreia da portuguesa Tânia Carvalho (Tout n'est pas visible/Tout n'es pas audible).O coreógrafo moçambicano Ídio Chichava apresenta Vagabundus e M'POLO, este último numa curadoria do director da bienal moçambicana Kinani, Quito Tembe.Será que a dança fala português? “A dança fala português de uma forma muito forte”, responde Tiago Guedes, o director artístico da Bienal. Adança é, também,“um espelho da sociedade e um acto político em si”, sublinha Tiago Guedes, apontando a imagem do evento - braços que se se abraçam - como a resposta colectiva de resistência e de ternura a um mundo em crise.O programa tem 40 espectáculos, incluindo 24 criações e estreias. Há figuras emergentes e nomes bem conhecidos. Há espectáculos dentro e fora das salas, em espaços públicos e outros inesperados. O objectivo é reunir o público em torno da dança e mostrar esta arte como “um bem comum”.Há, ainda, uma parceria com o Centro Pompidou, em que as coreógrafas Eszter Salamon, Dorothée Munyaneza  e Gisèle Vienne cruzam a dança, as artes visuais, a música e a literatura.A 21ª edição da Bienal de Dança de Lyon vai decorrer de 6 a 28 de Setembro na cidade francesa e prolonga-se até 17 de Outubro na região Auvergne-Rhône-Alpes.No dia em que apresentou a programação no Ministério da Cultura, em Paris, Tiago Guedes esteve à conversa com a RFI.RFI: Quais são as principais linhas de força desta edição?Tiago Guedes, Director artístico da Bienal de Dança de Lyon: “Esta edição faz-se de uma forma muito colaborativa. Essa é uma das forças desta bienal, num contexto mais duro para as artes em geral, é muito importante que as instituições, que os artistas, que os parceiros de programação criem esforços e criem forças para manter o nível destes grandes eventos. Desde logo, um grande foco que se chama ‘Brasil Agora!', com oito projectos de artistas brasileiros, feito no âmbito da temporada cruzada Brasil em França. É uma parte muito importante para a nossa programação, é uma espécie de actualização do que é a dança e a coreografia brasileira hoje em dia, com espectáculos de várias dimensões e artistas de várias gerações. Por exemplo, o espectáculo de abertura de Lia Rodrigues, uma das grandes coreógrafos brasileiras, mas também muitos jovens que vão apresentar o seu trabalho. Isto é uma parte muito importante da Bienal.”Como Volmir Cordeiro, que dançou para Lia Rodrigues também... “Volmir Cordeiro, que dançou com ela também, e outros artistas.Outro pilar importante da nossa programação é uma grande parceria com o Centro Pompidou. O Centro Pompidou estará em obras nos próximos cinco anos e, com alguns parceiros, nomeadamente connosco, decidiu imaginar um foco à volta de três coreógrafas mulheres: a húngara Eszter Salamon, a ruandesa Dorothée Munyaneza e a francesa Gisèle Vienne e, à volta do universo destas três mulheres coreógrafas, nós e o Centro Pompidou imaginámos projectos inéditos que vão ser apresentados durante a Bienal de Lyon. Gisèle Vienne, por exemplo, vai remontar a sua peça ‘Crowd' XXL nos Les Grandes Locos, que é um antigo armazém de montagem de comboios, um espaço gigante que nós temos em Lyon. Dorothée Munyaneza vai fazer uma ocupação da Villa Gillet, que é o centro literário de Lyon. A Esther Salomon, para além de um espectáculo, apresenta também uma instalação ao longo da Bienal. São verdadeiramente coreógrafas que partem do corpo para se conectar com outras disciplinas: artes visuais, música e literatura.”Há também criadores portugueses. Um deles é Marco da Silva Ferreira, que apresenta dois espectáculos, um que já esteve na última bienal. Porquê Marco da Silva Ferreira e como é que descreve o trabalho dele? “Há dois artistas portugueses, Marco da Silva Ferreira e Tânia Carvalho. O Marco é nosso artista associado à Bienal e à Maison de la Danse e representa novas criações durante a Bienal e espectáculos em repertório que nós voltamos a apresentar. De facto, a peça que ele apresentou há dois anos, ‘Fantasie Minor', com dois jovens bailarinos, foi um tal sucesso que nós vamos voltar a apresenta-la na região -não em Lyon porque já apresentámos em Lyon, mas como a Bienal tem um programa que se chama “Rebond”, vamos apresentar esta peça do Marco com cinco parceiros fora da área metropolitana de Lyon. Depois, há uma criação mundial muito aguardada. O Marco é um dos grandes coreógrafos da actualidade e a sua peça vai ser apresentada também no Les Grandes Locos. É uma peça com um formato especial quadrifrontal, um ringue que não tem boxeurs, mas bailarinos, onde o Marco vai trabalhar sobre as questões da masculinidade, fragilidade e poder que nós encontramos nos homens também. É uma peça muito aguardada pelo mundo coreográfico internacional. O Marco, de facto, tornou-se um coreógrafo muito aguardado e é um dos grandes nomes da coreografia mundial deste momento e nós estamos muito contentes e orgulhosos que este coreógrafo possa estrear na nossa Bienal.”A Bienal de Dança de Lyon, em parceria com o Festival de Outono, encomendou um espectáculo com a assinatura da coreógrafa portuguesa Tânia Carvalho. Este é um dos projetos principais do programa. Quer falar-nos sobre este projecto?“Sim, é um projecto muito importante. Desde logo, é uma encomenda da Bienal, não é um projecto que a Bienal coproduza, é verdadeiramente uma encomenda. Nós, no âmbito do centenário do nascimento de Pierre Boulez, achámos que seria muito interessante fazer um desafio a um coreógrafo, neste caso uma coreógrafa, para trabalhar a dois níveis, a nível artístico, mas também ao nível da transmissão. A Tânia gosta muito de trabalhar com jovens bailarinos e, neste caso, vai trabalhar com jovens bailarinos e jovens músicos; dois conservatórios: Conservatório Nacional de Lyon e Conservatório Nacional de Paris; duas áreas: dança e música; dois festivais: Bienal de Dança de Lyon e Festival de Outono de Paris; dois museus: Museu de Belas Artes em Lyon e Museu de Arte Moderna em Paris; uma coreógrafa, Tânia Carvalho, que trabalha desde o início numa relação muito forte com a música, ela própria é cantora e música. Achámos que seria muito interessante também devido ao seu universo coreográfico muito específico, muito expressionista, mas tecnicamente muito exigente, de trabalhar com estes jovens bailarinos que acabam a sua formação antes de serem bailarinos profissionais, numa deambulação em dois museus muito diferentes. Um museu mais dedicado à arte do século XIX e início do século XX e, depois em Paris, um museu mais dedicado à arte moderna e contemporânea, sendo que tanto os bailarinos e músicos de Lyon como de Paris vão estar nos dois lados. Os museus são diferentes, os festivais são diferentes, mas são 40 músicos e bailarinos que nos vão fazer visitar o museu de forma diferente também através das obras que são apresentadas e do universo sonoro de Pierre Boulez.É, de facto, uma produção que nós aguardamos e que tem um pouco o ADN da Bienal, que é um pouco esta questão de, por um lado, a criação - porque as criações são muito importantes para a Bienal, há 40 espectáculos, 24 criações mundiais ou criações francesas. Mas também esta relação com o ensino, com os jovens, a forma como a dança pode ser vista de uma forma muito menos elitista e abrir muito mais portas de entrada para o que nós defendemos.”Houve um coreógrafo que também já fez essa experiência de dançar num museu, no Museu de Orsay. Foi o coreógrafo moçambicano Ídio Chichava que vai estar também em destaque no programa da bienal. Depois de ele ter impressionado em Paris, com ‘Vagabundus' e depois outras peças, o que é que ele traz à bienal e porquê Ídio Chichava?“Ídio Chichava foi uma descoberta. Eu vi o seu espectáculo em contexto, em Maputo, onde ele trabalha com os seus bailarinos, onde ele faz um trabalho artístico, social, político, de militância, de força do corpo, o corpo também como um corpo contestatário. É uma peça muito política sobre o que é a sociedade moçambicana, sobre o que é ser bailarino hoje em dia e o que é este poder do corpo também como manifesto social e político.O Ídio é, de facto, uma grande descoberta. Ele  foi laureado do Prémio SEDA [Salavisa European Dance Award] da Fundação Calouste Gulbenkian, do qual fazemos parte, ele e a Dorothée Munyaneza foram os primeiros laureados deste prémio que a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu lançar em homenagem ao Jorge Salavisa que foi o primeiro director do Ballet Gulbenkian. A Bienal é parceira e apresenta estes dois coreógrafos. Vai ser um dos nossos espectáculos também de destaque, embora ele já tenha sido apresentado em França, mas nunca apresentou o seu trabalho em Lyon. E é um espectáculo muito, muito forte, que concilia um lado coreográfico muito interessante, mesmo um lado de retrato social, quase um espectáculo antropológico do que é hoje a sociedade moçambicana. É também, para mim, um dos grandes destaques desta Bienal.”Na última edição tinha prometido um fórum com curadores de vários cantos do mundo, incluindo o moçambicano Quito Tembe, director artístico da Plataforma de Dança Kinani de Moçambique. Este projecto como se concretiza agora? “Este projecto concretiza-se finalmente. Ou seja, ele iniciou-se na Bienal 2023 com o encontro dos curadores e dos artistas e durante estes dois anos eles foram-se encontrando e imaginando o que é que seria este fórum, que é a parte mais reflexiva da Bienal e tudo o que acontece à volta dos espectáculos, nomeadamente a parte mais de discussão e de reflexão do que é a dança fora de um contexto privilegiado do centro da Europa.Efectivamente, um artista aborígene australiano ou um artista brasileiro que viva num dos Estados mais pobres, como é, por exemplo, o Piauí, o seu trabalho de dança é muito diferente. Muitas das vezes, para poderem ser bailarinos e coreógrafos, têm mais dois ou três trabalhos complementares e a relação com o tempo é outra, a relação com o dinheiro é outra, a relação com as instituições é outra. Eu acho que é muito importante para a Bienal se inspirar de outras práticas, de outras formas também de fazer. Este fórum é constituído, de facto, por cinco curadores e artistas vindo de Taiwan, Austrália, Moçambique, Brasil e Estados Unidos, com cinco grandes temáticas e à volta dessas temáticas há uma data de actividades que se ligam a estas temáticas que vêm das pesquisas coreográficas destes cinco artistas. Por exemplo, a artista americana é enfermeira e coreógrafa e o seu trabalho é sobre o cuidado, o cuidado que se tem que ter com o corpo quando se é coreógrafo, mas quando se é enfermeiro também. Então, são mesmo outras formas de mostrar o que o corpo pode para além do que ele faz num palco.”Uma das linhas de força desta Bienal talvez seja a criação lusófona. A dança também fala português?“A dança fala português de uma forma muito, muito forte. Há artistas coreógrafos portugueses ou que estão em Portugal que são grandes nomes da dança. Podemos falar de dois grandes nomes da dança: Marlene Monteiro Freitas e Marco da Silva Ferreira. Marlene não vai estar na Bienal, mas está logo a seguir na temporada da Maison de la Danse. São mesmo artistas que contam. Quando se fala em dez grandes nomes de coreógrafos actuais, o Marco e a Marlene aparecem sempre...”A Marlene Monteiro Freitas que vai abrir o Festival de Avignon este ano… “Abre o Festival de Avignon exactamente com essa peça da qual somos co-produtores também e que apresentamos depois na Maison de la Danse. De facto, há um grande interesse pelo que se passa por Portugal e há uma grande particularidade que é: são artistas que são autores. O trabalho é muito, muito autoral, ou seja, não se parece com nada de outro. Muitas das vezes nós vemos filiações, nós vemos muitos artistas - e nada contra, há artistas excelentes, mas que tu percebes de onde é que eles vêm. Tu vês um trabalho da Marlene Monteiro Freitas e não se parece com nada, tu vês e dizes que é um trabalho da Marlene. Isso é muito interessante, é algo que distingue porque, para além de serem coreógrafos, são verdadeiramente autores. Autores com um universo completamente identificado e muito particular. Estes três - a Tânia, a Marlene e o Marco – assim o são e nós temos que ter muito orgulho desta nova geração de coreógrafos e de coreógrafas portuguesas.”Relativamente à filosofia e ao conceito desta Bienal, no editorial de apresentação do programa, o Tiago Guedes escreve que “a Bienal reafirma a importância do colectivo em diferentes locais, seja em palco, na rua ou em espaços inesperados”… Num mundo em crise e face aos abalos ecológicos, políticos, sociais, o que é que pode a dança nestes palcos políticos? “Desde logo, o que é que pode o corpo? O corpo neste momento está em perigo. Ele está em perigo nas guerras que estão às nossas portas. Ele está em perigo quando no Brasil são assassinados corpos trans, corpos não normativos -  aliás, nós apresentamos Davi Pontes & Wallace Ferreira que falam exactamente nisso, um corpo em combate, o que é que pode ser uma coreografia quando um corpo tem que estar completamente em combate? Eu acho que uma Bienal quer mostrar toda a diversidade da dança e a dança é um espelho da nossa sociedade e é um acto político em si. Quando tu expões o corpo desta maneira, quando o corpo está em perigo em muitas geografias do nosso mundo, é muito importante, de facto, colectivamente, defender este posicionamento do corpo e estes olhares outros que os corpos podem fazer na nossa sociedade. É certo que, nesta edição, à imagem da imagem que escolhemos para a nossa Bienal, que são braços que se agarram uns aos outros, é esta ideia de estar juntos e como é que colectivamente os corpos podem ter mais força do que um corpo individual. É uma imagem ao mesmo tempo de resistência e uma imagem de ternura também. Isso é algo que é muito importante hoje em dia: como é que, em conjunto, nós podemos fazer face a uma sociedade que, a meu ver, está bem complicada a vários níveis e a arte, em si, não deve só ser uma fruição da beleza, ela deve sublinhar, por um lado, os males do mundo, mas como é que o corpo responde de uma forma mais sensível, de uma forma menos directa, e como é que nós podemos ter momentos de suspensão, mas que, por vezes, eles nos dão também uma visão do mundo bastante dura, mas os corpos podem responder de outra forma.”

Appleton Podcast
Episódio 166 – “Curar é Cuidar” – Conversa com Adelaide Ginga

Appleton Podcast

Play Episode Listen Later Apr 17, 2025 84:12


Adelaide Ginga.Historiadora de arte, curadora e museóloga, assume atualmente a direção do MACAM – Museu de Arte Contemporânea Armando Martins.Licenciou-se em História da Arte pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova deLisboa e obteve o grau de mestre em História Contemporânea pela mesma instituição, como bolseira da FCT. A sua dissertação publicada foi distinguida com o Prémio Vítor de Sá (1999), atribuído pela Universidade do Minho, e com uma Menção Honrosa da Fundação Mário Soares. Posteriormente, concluiu um mestrado em Curadoria e Organização de Exposições na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e, atualmente, é doutoranda em Arte Contemporânea no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Iniciou a sua carreira em 2001 como especialista em arte contemporânea no Instituto de Arte Contemporânea do Ministério da Cultura de Portugal. Mais tarde, coordenou o Departamento Internacional do Instituto das Artes, sendo responsável por diversas representações nacionais em eventos como a Bienal de Veneza, a Bienal de São Paulo e a Quadrienal de Praga. Em 2006, foi nomeada Subdiretora do Instituto das Artes de Lisboa. Em 2007, liderou a renovação da Bienal Internacional de Arte e Cultura de São Tomé e Príncipe, desempenhando as funções de Comissária-Geral das suas 5.ª (2008) e 6.ª (2011) edições. Foi curadora do MNAC (Museu Nacional de Arte Contemporânea) de 2008 a 2021. Entre 2012 e 2016, foiprofessora na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, onde lecionou a disciplina de Curadoria e Gestão Artística. Em 2016, como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, desenvolveu um projeto de investigação internacional em Born Digital/Software-Based Art. É autora de diversosprojetos curatoriais, publicações e ensaios de história da arte, tendo igualmente apresentado conferências e palestras em eventos nacionais e internacionais. Links: https://macam.pt/en https://www.publico.pt/2024/12/30/culturaipsilon/noticia/museu-colecao-arte-armando-martins-inaugurado-marco-2025-2117273 https://www.timeout.pt/lisboa/pt/noticias/macam-visto-por-dentro-entramos-no-museu-mais-aguardado-de-lisboa-060224 https://www.goodreads.com/book/show/23633123-a-aventura-surrealista https://www.linkedin.com/in/adelaide-ginga-432252235?trk=public_profile_samename-profile&originalSubdomain=pt https://www.buala.org/pt/autor/adelaide-ginga https://www.rtp.pt/play/p11558/e841352/destacavel https://www.publico.pt/2025/03/21/culturaipsilon/noticia/macam-museu-coleccao-privada-tera-hotel-pagarlhe-contas-2126943 https://www.timeout.pt/lisboa/pt/noticias/um-bar-numa-capela-um-hotel-e-mais-de-200-obras-de-arte-e-o-macam-e-abre-finalmente-no-sabado-031825 https://lisboasecreta.co/macam-museu-hotel/ Episódio gravado a31.03.2025 Créditos introdução efinal: David Maranha - Flauta e percussão http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria eArmando Cabral / A2P / MyStory Hotels Apoio:Câmara Municipal de Lisboa Financiamento:República Portuguesa –Cultura / DGArtes – Direcção Geral das Artes © Appleton, todos os direitos reservados

Em directo da redacção
Delegação em França da Gulbenkian apresentou programa dos 60 anos

Em directo da redacção

Play Episode Listen Later Mar 3, 2025 10:14


A delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian faz 60 anos e o programa de aniversário apoia vários eventos com artistas lusófonos. Há parcerias com o Festival de Avignon, o Festival de Outono, o Théâtre de la Ville de Paris e a Bienal de Dança de Lyon, mas há, também, dois novos festivais: um de músicas da diáspora ("Lisboa nu bai Paris") e outro de dança, filme e artes visuais ("Les Jardins de l'Avenir"). Na prática, a agenda cultural francesa vai contar, ao longo do ano, com nomes como Marlene Monteiro Freitas, Tânia Carvalho, Vera Mantero, Joana Craveiro, Dino D'Santiago, Branko, Maro, Camané, Mário Laginha, B Fachada e muitos mais. O programa foi apresentado esta segunda-feira, no Théâtre de la Ville, em Paris, por Miguel Magalhães, director da delegação em França da Fundação Gulbenkian. Há teatro e dança, com Marlene Monteiro Freitas, Tânia Carvalho, Vera Mantero e Joana Craveiro, música com Dino D'Santiago, Branko, Maro, Camané, Mário Laginha e B Fachada. Há, ainda, cinema, conferências, residências e exposições, entre muitos eventos.Um dos momentos centrais é o apoio ao espectáculo de Marlene Monteiro Freitas que vai abrir a edição deste ano do Festival de Avignon, dirigido pelo português Tiago Rodrigues. A peça vai estar, mais tarde, no Festival de Outono, em Paris, com o qual a delegação francesa da Gulbenkian volta a colaborar. Além da programação de Marlene Monteiro Freitas nesse festival, há, ainda, um espectáculo de dança de Tânia Carvalho e Israel Galvan e outra performance encenada por Tânia Carvalho com alunos dos conservatórios de Paris e Lyon em torno do centenário de Pierre Boulez.No Théâtre de la Ville - Sarah Bernhardt, a Gulbenkian vai apoiar o festival de artes do palco Chantiers d'Europe, que nesta edição reúne artistas de sete países, incluindo de Portugal. A 9 de Junho, o Théâtre de la Ville –Sarah Bernhardt, é palco de um encontro entre música clássica e fado tradicional, com a Orquestra Filarmónica Portuguesa, Camané e Mário Laginha. O autor e compositor B Fachada sobe a palco a 5 de Junho no Théâtre de la Ville-Les Abbesses. De 10 a 15 de Junho, Joana Craveiro apresenta-se, pela segunda vez, neste festival, agora com a peça de teatro “Intimidades com a Terra”. Na dança, Tânia Carvalho e um bailarino do Ballet National de Marselha / (La) Horde sobem ao palco a 28 e 29 de Junho.Ainda no Théâtre de la Ville - Sarah Bernhardt, em Maio e Setembro, estão previstas leituras, encontros e criações em torno da obra que, em 1972, abalou e foi proibida pela ditadura - “Novas Cartas Portuguesas” - de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. A delegação em França da Gulbenkian também apoiou uma nova tradução para francês da obra, por Ilda Mendes dos Santos e Agnès Levecot, a qual chega às livrarias a 18 de Abril.A 7 e 8 de Junho, no Parque Enclos Calouste Gulbenkian, em Deauville, acontece a primeira edição de “Les Jardins d'Avenir”, um festival entre dança, filme e artes visuais. Nestes jardins, vão ser apresentadas, por exemplo, a peça “L'oracle végétal” das coreógrafas Ola Maciejewska e Vera Mantero e a performance participativa de Ana Rita Teodoro e Alina Folini. Há, ainda, uma projeção de filmes de Jorge Jácome e Ana Vaz e obras plásticas de Christodoulos Panayotou e Elsa Sahal.A encerrar o programa de aniversário, está o festival de músicas urbanas de inspiração africana “Lisboa nu bai Paris”, comissariado por Dino D'Santiago e que vai decorrer na Gaité Lyrique, em Paris, no final do ano.Nas artes visuais, a delegação promove várias residências artísticas e curatoriais em França para artistas e comissários lusófonos. Este ano, por exemplo, a artista moçambicana Lizette Chirrime vai estar três meses em Paris no âmbito do programa Gulbenkian -Thanks for Nothing.Para reforçar a divulgação da criação portuguesa em França, a delegação continua o programa “Expositions Gulbenkian”, um apoio que se destina às instituições culturais que pretendam mostrar artistas portugueses.A Biblioteca Gulbenkian de Paris vai organizar, ainda, conferências e jornadas de estudo em torno dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões. Por outro lado, a realizadora francesa Claire Denis está a preparar um filme sobre a “Ode Marítima” de Fernando Pessoa.A agenda dos 60 anos conta, também, com o lançamento do podcast “Parcours d'artistes”, uma série sobre histórias de artistas portugueses que viveram ou vivem entre Paris e Lisboa.

Artes
Delegação em França da Gulbenkian apresentou programa dos 60 anos

Artes

Play Episode Listen Later Mar 3, 2025 10:14


A delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian faz 60 anos e o programa de aniversário apoia vários eventos com artistas lusófonos. Há parcerias com o Festival de Avignon, o Festival de Outono, o Théâtre de la Ville de Paris e a Bienal de Dança de Lyon, mas há, também, dois novos festivais: um de músicas da diáspora ("Lisboa nu bai Paris") e outro de dança, filme e artes visuais ("Les Jardins de l'Avenir"). Na prática, a agenda cultural francesa vai contar, ao longo do ano, com nomes como Marlene Monteiro Freitas, Tânia Carvalho, Vera Mantero, Joana Craveiro, Dino D'Santiago, Branko, Maro, Camané, Mário Laginha, B Fachada e muitos mais. O programa foi apresentado esta segunda-feira, no Théâtre de la Ville, em Paris, por Miguel Magalhães, director da delegação em França da Fundação Gulbenkian. Há teatro e dança, com Marlene Monteiro Freitas, Tânia Carvalho, Vera Mantero e Joana Craveiro, música com Dino D'Santiago, Branko, Maro, Camané, Mário Laginha e B Fachada. Há, ainda, cinema, conferências, residências e exposições, entre muitos eventos.Um dos momentos centrais é o apoio ao espectáculo de Marlene Monteiro Freitas que vai abrir a edição deste ano do Festival de Avignon, dirigido pelo português Tiago Rodrigues. A peça vai estar, mais tarde, no Festival de Outono, em Paris, com o qual a delegação francesa da Gulbenkian volta a colaborar. Além da programação de Marlene Monteiro Freitas nesse festival, há, ainda, um espectáculo de dança de Tânia Carvalho e Israel Galvan e outra performance encenada por Tânia Carvalho com alunos dos conservatórios de Paris e Lyon em torno do centenário de Pierre Boulez.No Théâtre de la Ville - Sarah Bernhardt, a Gulbenkian vai apoiar o festival de artes do palco Chantiers d'Europe, que nesta edição reúne artistas de sete países, incluindo de Portugal. A 9 de Junho, o Théâtre de la Ville –Sarah Bernhardt, é palco de um encontro entre música clássica e fado tradicional, com a Orquestra Filarmónica Portuguesa, Camané e Mário Laginha. O autor e compositor B Fachada sobe a palco a 5 de Junho no Théâtre de la Ville-Les Abbesses. De 10 a 15 de Junho, Joana Craveiro apresenta-se, pela segunda vez, neste festival, agora com a peça de teatro “Intimidades com a Terra”. Na dança, Tânia Carvalho e um bailarino do Ballet National de Marselha / (La) Horde sobem ao palco a 28 e 29 de Junho.Ainda no Théâtre de la Ville - Sarah Bernhardt, em Maio e Setembro, estão previstas leituras, encontros e criações em torno da obra que, em 1972, abalou e foi proibida pela ditadura - “Novas Cartas Portuguesas” - de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. A delegação em França da Gulbenkian também apoiou uma nova tradução para francês da obra, por Ilda Mendes dos Santos e Agnès Levecot, a qual chega às livrarias a 18 de Abril.A 7 e 8 de Junho, no Parque Enclos Calouste Gulbenkian, em Deauville, acontece a primeira edição de “Les Jardins d'Avenir”, um festival entre dança, filme e artes visuais. Nestes jardins, vão ser apresentadas, por exemplo, a peça “L'oracle végétal” das coreógrafas Ola Maciejewska e Vera Mantero e a performance participativa de Ana Rita Teodoro e Alina Folini. Há, ainda, uma projeção de filmes de Jorge Jácome e Ana Vaz e obras plásticas de Christodoulos Panayotou e Elsa Sahal.A encerrar o programa de aniversário, está o festival de músicas urbanas de inspiração africana “Lisboa nu bai Paris”, comissariado por Dino D'Santiago e que vai decorrer na Gaité Lyrique, em Paris, no final do ano.Nas artes visuais, a delegação promove várias residências artísticas e curatoriais em França para artistas e comissários lusófonos. Este ano, por exemplo, a artista moçambicana Lizette Chirrime vai estar três meses em Paris no âmbito do programa Gulbenkian -Thanks for Nothing.Para reforçar a divulgação da criação portuguesa em França, a delegação continua o programa “Expositions Gulbenkian”, um apoio que se destina às instituições culturais que pretendam mostrar artistas portugueses.A Biblioteca Gulbenkian de Paris vai organizar, ainda, conferências e jornadas de estudo em torno dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões. Por outro lado, a realizadora francesa Claire Denis está a preparar um filme sobre a “Ode Marítima” de Fernando Pessoa.A agenda dos 60 anos conta, também, com o lançamento do podcast “Parcours d'artistes”, uma série sobre histórias de artistas portugueses que viveram ou vivem entre Paris e Lisboa.

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Episódio 160 – “Que um erro, em tantos erros, é concerto*” – Conversa com António Poppe

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Play Episode Listen Later Feb 28, 2025 59:53


António Poppe (Lisboa, 1968)Artista visual, performer e poeta, vive e trabalha em Lisboa. Concluiu o curso avançado de artes visuais do Ar.Co, em Lisboa, e estudou escultura e desenho no Royal College of Arts, em Londres. Fez o mestrado em Arte Performativa e Cinema na School of the Art Institute of Chicago, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.Autor de um trabalho híbrido entre artes visuais, performance e poesia, que apresenta desde 1991 em instituições como o Museu de Serralves, MAAT, Culturgest, Gulbenkian, Fundação Carmona e Costa, Museu Soares dos Reis, Galeria ZDB, Galeria 111, Casa Fernando Pessoa e GIAJG, entre outras. Publicou cinco livros: "Torre de Juan Abad" (Assírio & Alvim), "Livro da Luz" (Documenta), "Medicin" (Douda Correria), "Come Coral" (Douda Correria) e "O Agitador e a Corrente" (com Mumtazz, Mariposa Azual). Destacam-se a exposição antológica "Mil Órbitas" (2019) na ZDB, com curadoria de Natxo Checa, e a participação no projeto performativo "DE CORPO PRESENTE" (2022), a convite do Museu da Cidade do Porto. Trabalhou com o grupo de performance Goat Island (Chicago) e colaborou com artistas como Vera Mantero (Porto 2001, Capital Europeia da Cultura), Mumtazz (6ª edição dos "Encontros para Além da História", CIAJG, Guimarães), Musa Paradisíaca (Quetzal Art Centre, Holanda) e La Familia Gitana (Boca Bienal e Futurama Alentejo, 2021). Nos últimos anos, tem-se dedicado ao projeto "EM VOZ ALTA", desenvolvido com apoio da DGArtes em parceria com BOCA, Osso, Casa de Gigante, Aderno e ZDB, aprofundando a fusão entre as várias disciplinas que compõem a sua prática. Links: https://www.miguelnabinho.com/pt/antonio-poppe https://www.youtube.com/watch?v=uvqUwh_i0Ug https://www.youtube.com/watch?v=KAF5lQSyBec https://gulbenkian.pt/agenda/musica-cigana-camoes-yanomani-a-soma-dos-seus/ https://www.agendalx.pt/events/event/em-voz-alta/ https://contemporanea.pt/edicoes/03-04-2019/antonio-poppe-mil-orbitas https://www.flad.pt/finalistas-do-premio-flad-de-desenho-2023/ https://contemporanea.pt/edicoes/comunidade-enquanto-imunidade/manuscritos-da-comunidade-enquanto-imunidade Episódio gravado a 27.02.2025 Créditos introdução: David Maranha - Flauta e percussão Créditos música final: The Homeless Wanderer · Tsegue-Maryam Guebrou Ethiopiques, vol. 21: Emahoy (Piano Solo) ℗ Tsegue-Maryam Guebrou / Buda Released on: 1963-01-01 Composer: Tsegue-Maryam Guebrou *verso de Canção IV, Luís Vaz de Camões http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / A2P / MyStory Hotels Apoio:Câmara Municipal de Lisboa Financiamento:República Portuguesa – Cultura / DGArtes – Direcção Geral das Artes © Appleton, todos os direitos reservados

Em directo da redacção
Manuela Marques “documenta poeticamente o mundo” em colecção de fotografia portuguesa

Em directo da redacção

Play Episode Listen Later Feb 11, 2025 16:47


Manuela Marques é a mais recente autora a entrar na colecção dedicada aos fotógrafos portugueses contemporâneos, a “Série Ph.". A obra foi apresentada nas Éditions Loco, em Paris, a 7 de Fevereiro, e foi a oportunidade para a RFI conversar com a artista que assume “documentar poeticamente o mundo”. Neste programa, falámos também com a crítica de arte Teresa Castro e com o editor da colecção Cláudio Garrudo sobre “a arte da atenção” da fotografia de Manuela Marques. A coleção Ph., editada pela Imprensa Nacional, publicou, desde 2017, monografias de Helena Almeida, Paulo Nozolino, Jorge Molder, Fernando Lemos, Daniel Blaufuks, Rita Barros, Jorge Luís Neto, António Júlio Duarte, Alfredo Cunha, Jorge Guerra, Ernesto de Sousa e José M. Rodrigues.Agora, o foco é dado a Manuela Marques, artista nascida em Portugal em 1959 e a viver em Paris há largos anos. Cláudio Garrudo, o editor da coleção, conta que o objectivo é “ter todos os grandes nomes da fotografia portuguesa” e Manuela Marques faz parte.Nós queremos, com esta colecção, ter todos os grandes nomes da fotografia portuguesa. Obviamente, não podíamos deixar a Manuela de fora com o trabalho que tem desenvolvido ao longo destes anos.Neste “Ph.13”, podemos ver obras realizadas por Manuela Marques entre 1986 e 2024, nas quais um dos fios condutores é a sua visão sobre a paisagem, sublimada para além da realidade imediata e dotada de uma visão intimista e poética.O livro conta com um texto da crítica de arte Teresa Castro, que descreve a fotografia de Manuela Marques como “a arte da atenção”, em que os espaços fotografados são habitados “física e emocionalmente” pela artista. Em conversa com a RFI, Teresa Castro descreve que essa “arte da atenção” está presente na forma de conceber processo criativo, mas também numa certa “ética do olhar” que se poderia resumir - talvez -no facto de ela "fotografar com a natureza" e não se limitar a tirar fotografias da natureza. A expressão ética da atenção parece-me englobar duas coisas muito importantes no trabalho da Manuela Marques. Por um lado, o próprio processo criativo está intimamente ligado a esta ideia da atenção e, e ao mesmo tempo, a uma ética do olhar. Há uma forma de a Manuela trazer, para o centro das imagens e para o primeiro plano, elementos naturais ou fenómenos naturais ignorados ou pouco valorizados pela imagem e, por isso, é que eu acho que o processo de criação tem a ver com uma exploração que é uma forma de tomar atenção às coisas da natureza, de atentar nos elementos naturais, de atentar na matéria. Esta forma de atenção é também uma forma de estar disponível para o mundo (…)Para mim, a ética do olhar é uma forma de fazer com que a nossa atenção não seja apenas um fenómeno perceptivo, mas é convidar-nos também a tomar atenção, por exemplo, aos seixos, aos pedregulhos, à luz, às plantas, às árvores. De facto, há uma série de elementos naturais que estão muito presentes no trabalho da Manuela Marques, mas eu diria que ela não faz tanto fotografias da natureza, ela fotografa com a natureza. Por isso, eu acho que há uma ética ambiental. Teresa Castro sublinha, ainda, à RFI que as imagens de Manuela Marques são “uma experiência completamente sensorial e poética”, ligadas não apenas aos jogos de reflexos, de luz, de enquadramentos e de matérias mas, também, “a uma dimensão quase alquímica”. Tanto é que, no texto do Ph.13, podemos ler que “as fotografias de Manuela Marques têm frequentemente o efeito de uma revelação. Vemos como se víssemos pela primeira vez”. Uma ideia que reforçou na entrevista.É isso mesmo. É ver como se víssemos, por exemplo, uma nuvem, uma pedra, um lago, como se o víssemos pela primeira vez. Como se essas coisas ainda fossem virgens no nosso olhar. A fotografia da Manuela tem essa capacidade de nos fazer sentir isso, que nunca tínhamos visto uma coisa até ela ter sido fotografada pela Manuela Marques. Muitas vezes, são coisas da natureza, mas não só. O trabalho da Manuela Marques não se exclui na questão da natureza, mas as imagens, as fotografias que ela faz têm essa capacidade de nos fazer sentir essa emoção de ver pela primeira vez. Fotografar é “documentar poeticamente o mundo”Para Manuela Marques, fotografar é “documentar poeticamente o mundo”, uma abordagem, talvez “alquímica”, que lhe foi revelada ainda em menina. Quanto à natureza e à paisagem, é aí que a magia opera e que o mistério do processo criativo acontece.Eu acho que há alguns pontos que são para mim essenciais nesta questão da natureza, da paisagem, que é uma matéria viva e em constante transformação. Para mim, no meu trabalho, suscita muito questionamento. É um questionamento que não pára. Eu nunca páro numa ideia da paisagem ou numa ideia da natureza. É uma constante questão, para mim, devido à ligação que temos de uma maneira muito forte e que esquecemos completamente. Então, essa questão reactiva um fio que se perdeu.Eu não tenho medo da palavra ‘poética'. Não acho que seja uma palavra feia, ou suja, ou não sei quê. Eu assumo totalmente a palavra. A questão é que eu não estou muito interessada por uma arte em que a pessoa compreende exactamente o que está a ver à primeira vista. Eu prefiro estar num campo que coloca mais questões do que dá respostas ao que está a ver. Eu acho que é, por isso, que escapa um pouco a essa questão da representação imediata do que se está a ver. É documentar poeticamente o mundo. Vencedora do Prémio BESPHOTO de fotografia, em 2011, Manuela Marques tem exposto em vários países. Em Portugal, por exemplo, destacam-se as exposições “Echoes of Nature”, no Museu Nacional de Arte Contemporânea de Lisboa (2022/2023), “Weather Station”, no Centro de Arte Arquipélago, nos Açores, (2019), “La face cachée du soleil”, na Fundação Calouste Gulbenkian (2017), “Temporada”, na Appleton Square, em Lisboa (2011), “Lá Fora”, na Fundação EDP, e “She is a Femme Fatale”, no Museu Coleção Berardo, ambas em 2009.Em França, expôs no Museu André Malraux, Le Havre (2022), no Centro de Arte Domaine de Kerguéhennec (2022), no Museu de Lodève (2019), no Centro de Arte Cyel em La Roche-sur-Yon (2019), no Centro Fotográfico Île-de-France, FRAC Auvergne e FRAC Normandie. O seu trabalho foi também exposto no Museu SAMoCA, em Riad, na Arábia Saudita (2024). No Brasil, teve uma exposição individual na Pinacoteca de São Paulo (2011) e participou em várias exposições colectivas no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Museu de Arte Moderna de Brasília e no Centro de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro. A sua obra está representada em várias colecções nacionais e internacionais, públicas e privadas.Oiça a entrevista neste programa.

Clube dos 52
Direitos civis: os maiores avanços do século XX

Clube dos 52

Play Episode Listen Later Dec 30, 2024 24:01


Num paralelismo com a ideia de sociedade igualitária norte-americana, António Feijó, atual presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, fala da "ficção" do igualitarismo da sociedade portuguesa.See omnystudio.com/listener for privacy information.

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Episódio 154 – “Por trás do Sol” – Conversa com Sara Bichão e Luísa Especial

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Play Episode Listen Later Dec 26, 2024 49:01


O processo de trabalho de Sara Bichão liga-se a canais emocionais: curar, purgar, perpetuar, brincar. As obras são escultóricas com uma atmosfera cromática própria que, por vezes, são activadas pela artista através de acções performativas. Os materiais utilizados são muitas vezes recolhidos/oferecidos/roubados, ou provenientes de outros recursos reciclados e orgânicos. Mais recentemente, Sara Bichão tem vindo a explorar também a escrita experimental.Sara Bichão está atualmente a desenvolver uma colaboração a longo prazo com La S Grand Atelier - Art Brut et Contemporain, na Bélgica.Foi artista residente na Residency Unlimited (Nova Iorque, EUA) e Finisterrae (Ouessant, FR) em 2022, e participou noutras residências nos últimos anos, incluindo: Porta 33 (2020, Madeira, Portugal); Cité Internationale des Arts (2019, Paris, FR); Artistes en Résidence (2017, Clermont Ferrand, FR). Recebeu bolsas de estudo do Instituto Francês (2019, 2022), da Fundação Calouste Gulbenkian (2014) e da Fundação Luso-Americana (2022).Uma seleção das suas exposições individuais inclui: Lightless, Fundação de Serralves, (2024, Porto); Before I Get Sick na MEEL, Press (2021, Lisboa); What is the thing, What is it na Galeria Filomena Soares (2020, Lisboa); Find me, I kill you na Fundação Calouste Gulbenkian (2018, Lisboa); (2017) Coastal na Barbara Davis Gallery (2017, Houston); My Sun Cries na Fundação Portuguesa das Comunicações (2016, Lisboa); Somebody's Address na Rooster Gallery (2014, Nova Iorque).Participou em exposições colectivas no Museu de Arte Contemporânea de Lyon (2019 e 2024, França); na Galeria Martin Janda (Viena, 2023); no 68 Art Institute (2022, Copenhaga); Passerelle Centro de Arte Contemporânea (2022, França); Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia MAAT (2017 e 2022, Portugal); BoCA - Bienal de Artes Contemporâneas (2021, Portugal); Porta33 (2021, Portugal); Centro de Arte Contemporânea em Troyes (2019, França); Atelier-Museu Júlio Pomar (2018, Portugal); Diagrama (2015, México); Kulturni Centar Beograda (2015, Sérvia); Galeria Rita Urso (2014, Itália) e Galeria Arevalo (2012, EUA). Sara Bichão foi selecionada para o Prémio de Desenho FLAD (2021), Anteciparte'09 (2009), Fidelidade Mundial - Jovens Pintores (2009), BPI - FBAUL (2008).O seu trabalho faz parte de colecções de arte como: Fundación ARCO, Espanha, Coleção Antoine de Galbert, França; MidFirst Bank Collection, Arizona, EUA, CACE (Coleção de Arte Contemporânea do Estado); FLAD (Fundação Luso Americana); Fundação PLMJ; Fundação EDP - MAAT; Fundação Calouste Gulbenkian; Fundação Carmona e Costa; em Portugal Links: https://sarabichao.com/ https://www.gfilomenasoares.com/artists/sara-bichao/ https://www.youtube.com/watch?v=aN-R_8gJj0k https://gulbenkian.pt/museu/agenda/sara-bichao/ https://www.bocabienal.org/artistas/sara-bichao/ https://contemporanea.pt/edicoes/2024/sara-bichao-quando-nao-ha-luz https://air351.art/residencies/sara-bichao/ https://sarabichao.com/umbigo-20-years/ Episódio gravado a 20.12.2024 Créditos introdução: David Maranha - Flauta e percussão Créditos música final: Things Behind the Sun - Brad Mehldau - Live in Tokyo ℗ 2004 Nonesuch Records Inc. Writer: Nick Drake http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / A2P / MyStory Hotels Apoio:Câmara Municipal de Lisboa Financiamento:República Portuguesa – Cultura / DGArtes – Direcção Geral das Artes © Appleton, todos os direitos reservados

Convidado
O mundo poético e político de Ídio Chichava subiu ao palco do Museu de Orsay

Convidado

Play Episode Listen Later Dec 20, 2024 19:28


A dança é um lugar de liberdade e também de luta política no universo do coreógrafo moçambicano Ídio Chichava. Esta quinta-feira, o artista apresentou o espectáculo “Sentido Único” no Museu de Orsay, em Paris, e mostrou que o poético também é político e que a liberdade em palco é o eco dos anseios das ruas de Moçambique. Numa altura em que Moçambique vive as consequências de mais um ciclone tropical e em que a repressão continua a tentar calar os protestos de rua, os artistas moçambicanos relembram a força da criativa da liberdade. O palco é esse espaço de transmissão de valores para o coreógrafo Ídio Chichava, que cruza rituais tradicionais com inspirações contemporâneas. Os movimentos transcendem o tempo e ascendem num “sentido único” habitado por emoções e memórias das lutas que os moçambicanos também travam ainda hoje.A peça “Sentido Único” foi apresentada no auditório do Museu de Orsay, em Paris, no âmbito do projecto “Carnets d'Esquisses” e foi nesse espaço que fomos conversar com Ídio Chichava e também com os intérpretes do espectáculo, Osvaldo Passirivo e Mai-Júli Machado. [Uma conversa que pode ouvir neste programa na reportagem áudio.]Perante os protestos pós-eleitorais no seu país, que duram há dois meses e em que morreram pelo menos 130 pessoas, Ídio Chichava começou por nos contar que está solidário com o povo que manifesta nas ruas e admitiu que os seus bailarinos “não dançam vazios” mas “carregados de todas as emoções e a memória” dos moçambicanos que morreram nas manifestações. O palco é o seu espaço de liberdade e também o lugar que lhe permite mostrar a sua indignação e dizer “basta”.“É deste lugar, como artista, que nós temos a possibilidade de poder amplificar as nossas vozes e dar voz, através deste microfone, para que outros entendam que Moçambique precisa de ajuda e precisa que outros manifestem para que a situação mude. Existe um regime que quer manter o país em suas mãos e nós não queremos. Então, eu digo basta como artista e vamos continuar, sempre que pudermos, a dar voz a nós próprios e aos moçambicanos porque precisamos realmente que o mundo manifeste ao nosso lado e que diga, junto com as nossas vozes, Basta!”, declarou o coreógrafo.Dançar talvez seja o “sentido único”, a única direcção possível quando a realidade é demasiado dura. “Se eu olhar muito, a história de Moçambique, com a guerra colonial, a guerra civil, nós como moçambicanos usamos a nossa forma de estar como ondas que vão sempre lavando as nossas almas, as nossas memórias. Tudo se traduz em cantos. E nós vamos cantar, vamos dançar”, diz Ídio Chichava.“Sentido Único” é precisamente o nome do espectáculo que agora apresentou e que, apesar de já ter sido criado há algum tempo, assume novos tons à leitura do que se passa hoje em Moçambique. “Agora estamos no sentido único e eu, como povo, não vou recuar. Não vou recuar”, acrescenta o coreógrafo. “Sentido Único” é também o caminho de dois corpos que se provocam, se alinham e desalinham, que estão sozinhos lado a lado, ou que se encontram e se prendem, antes de se desprenderem, mas que, no final, crescem sempre. Esta é também uma criação que surgiu quando o governo moçambicano aprovava uma lei que condenava casamentos prematuros, um flagelo para as meninas em Moçambique.A peça foi apresentada no âmbito do “Carnet d'Esquisses” [“caderno de esboços”] que propõe, uma vez por mês, no Museu de Orsay e na Livraria 7L, em Paris, espectáculos de jovens coreógrafos. Ídio Chichava foi convidado para integrar a programação, depois de também a bailarina Mai-Júli Machado ter apresentado uma peça em nome próprio na Livraria 7L. Esta é uma das várias iniciativas artísticas do "Paris Dance Project", um projecto que tira a dança dos teatros e que a leva para espaços urbanos alternativos, como uma pista de patinagem ou o tecto da Philarmonie de Paris, onde Ídio Chichava apresentou duas outras obras no âmbito de “La Ville Dansée”. Os fundadores do "Paris Dance Project", Solenne du Haÿs Mascré e Benjamin Millepied, estiveram em 2023, em Maputo, na Bienal de Dança de África, e foi aí que conheceram Ídio Chichava.“Conheci-o na Bienal de Dança em Moçambique no ano passado. Vi a peça ‘Vagabundus' que é simplesmente uma peça que me deslumbrou porque em uma hora tive a impressão de aprender a conhecer esta sociedade, a história deste povo através da dança, da emoção, do canto. É também uma peça de arte total com vestuário simples, corpos diversos, imagens realmente comoventes. Para mim, foi a iniciação a um grande coreógrafo, por isso era essencial convidá-lo e convidá-lo sempre que possível”, contou à RFI o coreógrafo Benjamin Millepied.Ídio Chichava volta a Paris, em Fevereiro, para dançar com Benjamin Millepied no espectáculo “Plenum/Anima” e, em Abril, regressa à capital francesa com o espectáculo “Vejo Anjos que atravessam o sol na minha sala”.Também director artístico da companhia Converge+, que promove o ensino gratuito da dança junto de comunidades locais em Moçambique, Ídio Chichava venceu, no final de Novembro, o prémio Salavisa European Dance Award da Fundação Calouste Gulbenkian, e graças a ele já começou “a projectar o primeiro estúdio de criação coreográfica independente na periferia de Maputo”. A ideia é criar o primeiro estúdio de criação “virado para bailarinos com uma capacidade criativa de outro nível”, concluiu Ídio Chichava.

Artes
O mundo poético e político de Ídio Chichava subiu ao palco do Museu de Orsay

Artes

Play Episode Listen Later Dec 20, 2024 19:28


A dança é um lugar de liberdade e também de luta política no universo do coreógrafo moçambicano Ídio Chichava. Esta quinta-feira, o artista apresentou o espectáculo “Sentido Único” no Museu de Orsay, em Paris, e mostrou que o poético também é político e que a liberdade em palco é o eco dos anseios das ruas de Moçambique. Numa altura em que Moçambique vive as consequências de mais um ciclone tropical e em que a repressão continua a tentar calar os protestos de rua, os artistas moçambicanos relembram a força da criativa da liberdade. O palco é esse espaço de transmissão de valores para o coreógrafo Ídio Chichava, que cruza rituais tradicionais com inspirações contemporâneas. Os movimentos transcendem o tempo e ascendem num “sentido único” habitado por emoções e memórias das lutas que os moçambicanos também travam ainda hoje.A peça “Sentido Único” foi apresentada no auditório do Museu de Orsay, em Paris, no âmbito do projecto “Carnets d'Esquisses” e foi nesse espaço que fomos conversar com Ídio Chichava e também com os intérpretes do espectáculo, Osvaldo Passirivo e Mai-Júli Machado. [Uma conversa que pode ouvir neste programa na reportagem áudio.]Perante os protestos pós-eleitorais no seu país, que duram há dois meses e em que morreram pelo menos 130 pessoas, Ídio Chichava começou por nos contar que está solidário com o povo que manifesta nas ruas e admitiu que os seus bailarinos “não dançam vazios” mas “carregados de todas as emoções e a memória” dos moçambicanos que morreram nas manifestações. O palco é o seu espaço de liberdade e também o lugar que lhe permite mostrar a sua indignação e dizer “basta”.“É deste lugar, como artista, que nós temos a possibilidade de poder amplificar as nossas vozes e dar voz, através deste microfone, para que outros entendam que Moçambique precisa de ajuda e precisa que outros manifestem para que a situação mude. Existe um regime que quer manter o país em suas mãos e nós não queremos. Então, eu digo basta como artista e vamos continuar, sempre que pudermos, a dar voz a nós próprios e aos moçambicanos porque precisamos realmente que o mundo manifeste ao nosso lado e que diga, junto com as nossas vozes, Basta!”, declarou o coreógrafo.Dançar talvez seja o “sentido único”, a única direcção possível quando a realidade é demasiado dura. “Se eu olhar muito, a história de Moçambique, com a guerra colonial, a guerra civil, nós como moçambicanos usamos a nossa forma de estar como ondas que vão sempre lavando as nossas almas, as nossas memórias. Tudo se traduz em cantos. E nós vamos cantar, vamos dançar”, diz Ídio Chichava.“Sentido Único” é precisamente o nome do espectáculo que agora apresentou e que, apesar de já ter sido criado há algum tempo, assume novos tons à leitura do que se passa hoje em Moçambique. “Agora estamos no sentido único e eu, como povo, não vou recuar. Não vou recuar”, acrescenta o coreógrafo. “Sentido Único” é também o caminho de dois corpos que se provocam, se alinham e desalinham, que estão sozinhos lado a lado, ou que se encontram e se prendem, antes de se desprenderem, mas que, no final, crescem sempre. Esta é também uma criação que surgiu quando o governo moçambicano aprovava uma lei que condenava casamentos prematuros, um flagelo para as meninas em Moçambique.A peça foi apresentada no âmbito do “Carnet d'Esquisses” [“caderno de esboços”] que propõe, uma vez por mês, no Museu de Orsay e na Livraria 7L, em Paris, espectáculos de jovens coreógrafos. Ídio Chichava foi convidado para integrar a programação, depois de também a bailarina Mai-Júli Machado ter apresentado uma peça em nome próprio na Livraria 7L. Esta é uma das várias iniciativas artísticas do "Paris Dance Project", um projecto que tira a dança dos teatros e que a leva para espaços urbanos alternativos, como uma pista de patinagem ou o tecto da Philarmonie de Paris, onde Ídio Chichava apresentou duas outras obras no âmbito de “La Ville Dansée”. Os fundadores do "Paris Dance Project", Solenne du Haÿs Mascré e Benjamin Millepied, estiveram em 2023, em Maputo, na Bienal de Dança de África, e foi aí que conheceram Ídio Chichava.“Conheci-o na Bienal de Dança em Moçambique no ano passado. Vi a peça ‘Vagabundus' que é simplesmente uma peça que me deslumbrou porque em uma hora tive a impressão de aprender a conhecer esta sociedade, a história deste povo através da dança, da emoção, do canto. É também uma peça de arte total com vestuário simples, corpos diversos, imagens realmente comoventes. Para mim, foi a iniciação a um grande coreógrafo, por isso era essencial convidá-lo e convidá-lo sempre que possível”, contou à RFI o coreógrafo Benjamin Millepied.Ídio Chichava volta a Paris, em Fevereiro, para dançar com Benjamin Millepied no espectáculo “Plenum/Anima” e, em Abril, regressa à capital francesa com o espectáculo “Vejo Anjos que atravessam o sol na minha sala”.Também director artístico da companhia Converge+, que promove o ensino gratuito da dança junto de comunidades locais em Moçambique, Ídio Chichava venceu, no final de Novembro, o prémio Salavisa European Dance Award da Fundação Calouste Gulbenkian, e graças a ele já começou “a projectar o primeiro estúdio de criação coreográfica independente na periferia de Maputo”. A ideia é criar o primeiro estúdio de criação “virado para bailarinos com uma capacidade criativa de outro nível”, concluiu Ídio Chichava.

Appleton Podcast
Episódio 152 – “A vida é amiga da arte*” – Conversa com Nuno Crespo

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Play Episode Listen Later Dec 6, 2024 82:30


Nuno Crespo nasceu em Lisboa em 1975. É licenciado e doutorado em filosofia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É professor e director da Escola das Artes, Universidade Católica Portuguesa, e investigador do Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes (CITAR).É crítico de arte e membro do conselho editorial do Ípsilon (suplemento cultural do jornal Público). A sua actividade de investigação tem sido dedicada, principalmente, ao cruzamento entre arte, arquitectura e filosofia, e a autores como Kant, Wittgenstein, Walter Benjamin, Peter Zumthor e Adolf Loos. De entre as suas publicações podem destacar-se trabalhos sobre Adriana Molder, Axel Hütte, Bernd e Hilla Becher, Candida Höffer, Daniel Blaufuks, Fassbinder, Gerhard Richter, Luísa Cunha, Miguel Ângelo Rocha, Nuno Cera, Rui Chafes, Vasco Araújo, entre outros, bem como os livros publicados: “Textos Públicos. Arte Portuguesa Contemporânea 2003-2023” (2024), “Julião Sarmento: Olhar Animal” (2014), “Wittgenstein e a Estética” (2011) e “Corpo Impossível” (2007). Fez parte do colectivo de comissários do Prémio EDP – Novos Artistas (2006-2011) e BESPhoto (2007-2009). Como curador, foi responsável pelas exposições «Fantasmas», de Nuno Cera (CCB) , «Corpo Impossível», com Adriana Molder, Noé Sendas, Rui Chafes e Vasco Araújo (Palácio de Queluz), «Encontro Marcado», de Adriana Molder (Museu de Belas Artes de Oviedo, Espanha), pela exposição antológica de Pires Vieira no Museu da Cidade de Lisboa, «Involucão», de Rui Chafes (Casa-Museu Teixeira Lopes), «Serralves», de João Luís Carrilho da Graça (Appleton Square), «Fragmentos. Arte Contemporânea na Colecção Berardo» (Museu de Arte Contemporânea de Elvas), «Aires Mateus. Voids» (Appleton Square), «Riso: Uma Exposição a Sério», Museu da Eletricidade Lisboa, «Paisagem Como Arquitectura» Garagem Sul do CCB, Lisboa, «Antes e Depois» (Miguel Ângelo Rocha), Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, «Haus Wittgenstein. 90 anos», MAAT, Fundação EDP (em coprodução com a associação de arquitetura austríaca), Lisboa, «O que pode a arte? 50 anos do maio de 68», Atelier- Museu Júlio Pomar, Lisboa, «Arenário» (Francisco Tropa), Sala de Exposições da Escola das Artes, Porto e «Julião Sarmento. Film Works», Sala de Exposições da Escola das Artes, Porto, entre outras.Links: https://artes.porto.ucp.pt/pt-pt/pessoa/nuno-crespo https://umbigomagazine.com/pt/blog/2021/07/07/entrevista-a-nuno-crespo-diretor-da-escola-das-artes-da-universidade-catolica-portuguesa/ https://www.rtp.pt/programa/tv/p33458/e4 https://www.publico.pt/autor/nuno-crespo https://www.buala.org/pt/cara-a-cara/os-nacionalismos-nao-sao-discursos-inocuos-tem-raca-e-genero-entrevista-a-lilia-schwarcz https://www.maat.pt/pt/exhibition/haus-wittgenstein-arte-arquitetura-e-filosofia https://contemporanea.pt/edicoes/09-10-2019/pensar-escola-alem-da-escola Episódio gravado a 14.11.2024 *o título é um verso da música escolhida pelo convidado Créditos introdução: David Maranha - Flauta e percussão Créditos música final: Força Estranha / Interpretação Gal Costa / Letra Caetano Veloso / Produção Guilherme Araújo e Roberto Menescal http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / A2P / MyStory Hotels Apoio:Câmara Municipal de Lisboa Financiamento:República Portuguesa – Cultura / DGArtes – Direcção Geral das Artes © Appleton, todos os direitos reservados

Soundbite
Gouveia e Melo em campanha de farda: ninguém cala o almirante

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Play Episode Listen Later Dec 5, 2024 10:49


Vem sendo apontado como um potencial candidato às presidenciais de 2026 e, mais recentemente, surge como favorito ao cargo por na sondagem da Intercampus. O almirante Gouveia e Melo ainda não confirmou uma possível candidatura e tem evitado falar sobre o assunto, mas, esta quinta-feira, aproveitou a sua presença nas IV Jornadas de Defesa + Saúde Militar, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, para responder a alguns comentadores que tentam "menorizar o papel das Forças Armadas" no processo de vacinação. "Não foi só logística, não foi só uma folha de Excel e não era qualquer militar que fazia aquilo", garantiu, em declarações transmitidas pela CNN Portugal. O almirante está a fazer a pré-campanha de farda?See omnystudio.com/listener for privacy information.

Bitalk
#208: PROFESSORES COM MEDO DO CHATGPT E O SEGREDO DO ENSINO NÓRDICO c/ Pedro Oliveira

Bitalk

Play Episode Listen Later Dec 4, 2024 88:42


Appleton Podcast
Episódio 151 – “A pintura tocada pela escultura” – Conversa com Manuel Caldeira

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Play Episode Listen Later Nov 30, 2024 50:12


Manuel Caldeira nasceu em Oeiras em 1979, estudou Pintura na Byam Shaw School of Art, Londres e no Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual, onde foi aluno bolseiro da Bolsa José de Guimarães e da Fundação Carmona e Costa, terminando em 2006 o Curso Avançado de Artes Plásticas. Participou no curso de Artes Visuais do programa Criatividade e Criação Artística da Fundação Calouste Gulbenkian. É tutor no Curso Avançado de artes plásticas do Ar.Co. Em 2015 foi finalista do Prémio EDP Novos Artistas , em 2023 foi finalista do Prémio FLAD Desenho. O seu trabalho tem tido o Desenho como disciplina central, que depois se ramifica para outros médios como a escultura e pintura. Das exposições que integrou destacam-se Break a Leg e Acapella na Rui Freire Fine Arts; Vapor2 em Rockaway Beach NY; Spettacolo na Galeria João Esteves de Oliveira, 2017; Prémio EDP Novos Artistas no Museu da Electricidade em 2015; Araruta (colaboração com Ana Jotta) na Galeria João Esteves de Oliveira; Antes que me lembre na Fundação Carmona e Costa em 2012).Links: https://www.manuelcaldeirastudio.com/ https://www.fundacaoedp.pt/pt/artista/manuel-caldeira https://www.artecapital.net/exposicao-753-manuel-caldeira-acapella https://www.rui-freire.com/en/artists/45-manuel-caldeira/works/ https://www.flad.pt/finalistas-do-premio-flad-de-desenho-2023/ Episódio gravado a 28.11.2024 Créditos introdução: David Maranha - Flauta e percussão Créditos música final: Beneath the Rose de Micah P. Hinson http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / A2P / MyStory Hotels Apoio:Câmara Municipal de Lisboa Financiamento:República Portuguesa – Cultura / DGArtes – Direcção Geral das Artes © Appleton, todos os direitos reservados

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Episódio 150 - "Com desassombro" - Conversa com Nuno Faria

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Play Episode Listen Later Nov 23, 2024 71:38


Nuno Faria (Lisboa, 1971)É professor na Escola Superior de Design das Caldas da Rainha. Trabalhou no Instituto de Arte Contemporânea do Ministério da Cultura de Portugal (1997-2003) e na Fundação Calouste Gulbenkian (2003-2009). Viveu e trabalhou no Algarve entre 2007 e 2012, onde fundou (em Loulé, em 2009) o projecto Mobilehome - Escola de Arte Nómada, Experimental e Independente. Em 2012-2013 foi-lhe atribuído o Prémio de Crítica e Ensaística de Arte e Arquitectura AICA/Fundação Carmona e Costa. Foi diretor artístico do Centro Internacional das Artes José de Guimarães, em Guimarães (2013-2019) e do Museu da Cidade do Porto (2019-2022). Ao longo de 20 anos, como curador, trabalhou com artistas de várias gerações, portugueses e estrangeiros, em contexto institucional e independente, em localizações centrais e mais periféricas, em Portugal e no estrangeiro. Em 2024 foi nomeado director do Museu Arpad Szenes Vieira da Silva, em Lisboa. Links: https://www.publico.pt/2024/02/22/culturaipsilon/noticia/nuno-faria-novo-director-museu-fundacao-vieira-silva-2081314 https://www.jn.pt/6163604021/entre-palavras-e-imagens-um-exercicio-de-curadoria-de-nuno-faria/ https://www.ciajg.pt/ https://www.galeriamunicipaldoporto.pt/pt/edicoes/quatro-elementos/ https://museudoporto.pt/recurso/nuno-faria-em-entrevista-os-museus-passam-por-fases-de-transformacao-ao-longo-do-tempo/ https://contemporanea.pt/edicoes/01-2018/entrevista-com-nuno-faria https://www.artecapital.net/entrevista-163-nuno-faria Episódio gravado a 10.10.2024 Créditos introdução: David Maranha - Flauta e percussão Créditos música final: Metamorfose Ambulante / Interpretada e escrita por Raul Seixas / Produzida por Mazola e Raul Seixas http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / A2P / MyStory Hotels Apoio:Câmara Municipal de Lisboa Financiamento:República Portuguesa – Cultura / DGArtes – Direcção Geral das Artes © Appleton, todos os direitos reservados

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Festival Olá Paris! quer mostrar em França "uma nova página" do cinema português

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Play Episode Listen Later Nov 13, 2024 10:52


Olá Paris! quer ser o primeiro festival de cinema português em Paris a mostrar a nova geração de actores e realizadores lusos, preenchendo um vazio até agora existente em França. Tiago Guedes, Marco Martins ou Claúdia Varejão vão estar na capital francesa para discutir com os cinéfilos que venham até ao Club de l'Étoile, onde vai decorrer este evento. O festival Olá Paris! vai trazer à capital francesa filmes, realizadores e actores portugueses, criando um evento da 7ª arte que quer fazer perdurar no tempo. A primeira edição deste festival decorre já de 29 de Novembro a 01 de Dezembro e Wilson Ladeiro, co-organizador e programador deste festival, explicou em entrevista à RFI as suas motivações para a criação deste certame."Eu gosto muito de cinema em geral, mas gosto particularmente do cinema português. Eu achava que aqui em França, em Paris, o cinema português não é que seja invisível, mas é passa pouco. Passa. E eu achava que o cinema português merecia muito mais, porque tem uma óptima qualidade. E não havia nenhum festival português de cinema em França. Pronto, então decidi que vamos íamos um festival de cinema português em França. E assim foi", indicou.Juntamente como o irmão, Fernando Ladeiro-Marques, criaram o Olá Paris! com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Caixa Geral de Depósitos, que vai decorrer durante três dias no Club de l'Étoile, no 17º bairro de Paris. Para a escolha dos filmes, Wilson Ladeiro, que é luso-descendente e trabalha no meio do audiovisual, viu centenas de filmes e acabou por escolher destacar quatro realizadores."O tema do festival é o cinema actual e da geração actual que o realiza, realizadores que estão a trabalhar agora. Está-se a escrever uma nova página página da história do cinema português, portanto, queria apresentar esta geração actual, os cineastas, os actores e as actrizes. Vamos ter "Alma Viva", da Cristèle Alves Meira, o documentário "Ama-San" de Cláudia Varejão, o filme "Restos do Vento" de Tiago Guedes e ainda “Great Yarmouth: Provisional Figures” de Marco Martins", descreveu.Muitos destes realizadores vão estar em Paris, assim como os actores que os protagonizam como Isabel Abreu, Albano Jerónimo ou Beatriz Batarda. O festival mostrará ainda em ante-estreia o filme "Banzo" de Margarida Cardoso.Este festival terá ainda uma mostra dedicada ao 25 de Abril, onde serão mostrados os o documentário "La Nuit du coup d'État - Lisbonne, avril 1974" de Ginette Lavigne e os "Capitães de Abril" de Maria de Medeiros. A lendária actriz portuguesa é ainda a madrinha deste evento e no quadro do festival estará com os alunos do Liceu Montaigne, também na capital francesa, para um debate sobre o 25 de abril e o cinema português.O Olá Paris! conta ainda com outros eventos ligados às artes, como sessões de autógrafos do ilustrador Nuno Saraiva - que fez o cartaz do festival -  e também de Madeleine Pereira, autora da banda desenhada "Borboleta". O street artist Glaçon vai ainda mostrar algumas das suas obras durante o festival.

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ASSEMBLEIA DE CIDADAOS PARA O CLIMA JUNTA 50 VOLUNTARIOS

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Play Episode Listen Later Nov 12, 2024 9:50


O Projeto ASSEMBLEI@CLIMA.VFXIRA decorreu da candidatura do Município ao Concurso Ação Climática e Participação Pública da Fundação Calouste Gulbenkian, Que iniciativa de Participação Climática é esta?

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Episódio 146 – “Não há luta sem Festa*” – Conversa com João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira

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Play Episode Listen Later Oct 25, 2024 100:04


João Pedro Vale (Lisboa, 1976) licenciou-se em Escultura na FBAUL, e estudou na Maumaus, em Lisboa. Nuno Alexandre Ferreira (Torres Vedras, 1973) estudou Sociologia na Universidade Nova de Lisboa.Iniciaram a sua atividade artística no final da década de 1990, começando desde cedo a trabalhar em conjunto e realizando projetos que se destacam pela diversidade de meios, suportes e linguagens. Inauguraram no dia 10 do passado mês de julho a Casa Vale Ferreira, a sua primeira exposição antológica, ocupando a quase totalidade da Casa de Serralves, no Porto; e inauguraram Climacz, este sábado na Appleton Square, em Lisboa.De entre os seus projetos mais recentes, inclui-se a participação em festivais como Fabric, Fall River (EUA) em 2022; Walk&Talk, São Miguel, Açores (Portugal) em 2021; e MOVE19, Centre Pompidou, Paris (França), e LIAF19 — Lofoten International Art Festival, Svolvær (Noruega) em 2019. Destacam-se as exposições individuais na Rialto6, Lisboa (Portugal) em 2022; no MAAT, Lisboa, e no Museu Marítimo de Ílhavo, Ílhavo (Portugal) em 2019; na Galeria Presença, Porto, e na Galeria Cristina Guerra, Lisboa (Portugal) em 2018; e a criação de um espetáculo de circo para a primeira edição da BoCA em 2017. Participaram em exposições em locais como Haus der Kunst, Munique (Alemanha); Frac Nouvelle-Aquitaine MÉCA, Bordeaux (França); Galeria Leme, Estação Pinacoteca e Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, São Paulo (Brasil); NURTURart, Nova Iorque, e Smithsonian Museum, Washington (EUA); Museo de Arte Contemporáneo Unión Fenosa, Corunha, (Espanha); Centre d'art Pasquart (Suíça); Gasworks, Londres (Reino Unido); Museu de Serralves, Porto, Galeria Filomena Soares, Fundação PLMJ, Museu do Chiado, Museu Coleção Berardo e CAM – Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (Portugal). Os seus filmes foram apresentados em festivais como Artprojx Cinema, Nova Iorque (EUA), Cineport, João Pessoa (Brasil), Temps d'Images, Queer Lisboa e Lisbon and Estoril Film Festival (Portugal). Realizaram inúmeras residências artísticas: em 2008, ISCP – International Studio and Curatorial Program, Nova Iorque (EUA); em 2019, em Lofoten (Noruega); em 2018 e 2020, Cité International des Arts, Paris (França). A sua obra está representada em diversas coleções nacionais e internacionais, como Tate, Fundação EDP, Fundação de Serralves, Museu do Chiado ou Fundação Calouste Gulbenkian. Entre 2014 e 2017, criaram o projeto BREGAS, em Xabregas, com o objetivo de apoiar e promover projetos de artistas e curadores locais. Atualmente, a programação decorre no ateliê que partilham na Curraleira, em Lisboa. Links: https://www.joaopedrovale.com/ https://www.serralves.pt/ciclo-serralves/casa-vale-ferreira/ https://umbigomagazine.com/pt/blog/2024/10/01/casa-vale-ferreira-joao-pedro-vale-nuno-alexandre-ferreira-na-casa-do-museu-de-serralves/ https://www.rtp.pt/noticias/cultura/a-arte-e-o-amor-casam-se-em-serralves-com-exposicao-casa-vale-ferreira_n1585166 https://www.bocabienal.org/joao-pedro-vale-nuno-alexandre-ferreira/ https://www.cristinaguerra.com/artist/ferreira-alexandre-joao-pedro-vale-nuno-1642702346636/ https://www.johnromao.com/Joao-Pedro-Vale-Nuno-Alexandre-Ferreira https://umbigomagazine.com/pt/blog/2018/03/09/artclip-joao-pedro-vale-e-nuno-alexandre-ferreira/ https://artfacts.net/exhibition/joao-pedro-vale-nuno-alexandre-ferreira:-climacz/1212792 Episódio gravado a 23.10.2024 * O título é uma apropriação da frase de José CarlosTavares, que participou na festa em 1995 no Climacz. Testemunho recolhido pelos artistas. Créditos introdução: David Maranha - Flauta e percussão Musica final: Dance with Me / Underground Sound Of Lisbon / Escrita por DJ Vibe e Doctor J http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / A2P / MyStoryHotels Apoio:Câmara Municipal de Lisboa Financiamento:República Portuguesa – Cultura / DGArtes – Direcção Geraldas Artes

Vida em França
9ª edição da feira AKAA contou África no presente

Vida em França

Play Episode Listen Later Oct 24, 2024 12:29


A 9ª edição da feira de arte e design africanos AKAA - Also Know as Africa - decorreu entre os dias 18 e 20 de Outubro no Carreau du Temple, em Paris. Esta é a primeira e principal feira de arte contemporânea centrada em África que conta com artistas da diáspora, afro-descendentes, africanos do continente que contam África no presente. Como reinscrever a representação africana na história da arte? Esta é uma questão que muitos artistas exploram, combinando cores vivas dos têxteis com o preto da pele, como é o caso do nigeriano Sanjo Lawal. O trabalho do nigeriano foi apresentado na feira pela galeria portuguesa THIS IS NOT A WHITE CUBE.Este ano temos dois artistas revelação: o Ibrahim Kébé, do Mali, e o Sanjo Lawal, da Nigéria, que é a figura central da imagem da própria feira. São duas novas revelações de países que também não são muito habituais nestas feiras internacionais. A verdade é que o encontro com estes artistas vem de múltiplas formas através da pesquisa. Um deles estava em exposição com um outro artista representado por nós. A certa altura, e através dessa pesquisa do cruzamento de plasticidade noutros projectos curatoriais, acabamos por encontrar novas revelações com quem vamos trabalhando do ponto de vista da direcção artística e da curadoria. Graça Rodrigues, da THIS IS NOT A WHITE CUBE, explica-nos que foi criado um projecto para esta feira, procurando entrar em diálogo entre países com afinidades coloniais e históricas, reflectindo sobre o conceito de descolonização.A feira transforma-se consoante as mudanças que se operaram na própria cidade, com a presença de outras grandes feiras. [No fim-de-semana 19 e 20 de Outubro] existiu um programa muitíssimo activo e, portanto, por um lado, a feira beneficia disso e, por outro lado, talvez também seja algo prejudicada. Esta é uma feira satélite, mas efectivamente permite destacar estes jovens que depois terão o seu percurso e, eventualmente, estarão noutras posições num momento mais à frente.A Perve Galeria voltou a marcar presença na mais importante feira de arte contemporânea africana europeia, AKAA - Also Know as Africa. A galeria portuguesa apresentou obras de Ernesto Shikhani (1934 - 2010, Moçambique), João Donato (n. 1953, Moçambique), Malangatana Ngwenya (1936-2011, Mocambique), Manuel Figueira (1938-2023, Cabo-Verde), Reinata Sadimba (1945, Moçambique) e Teresa Roza d'Oliveira (1945-2019, Moçambique)Este ano, a Perve galeria presta homenagem ao legado do artista cabo-verdiano, Manuel Figueira, explicou-nos o galerista português, Carlos Cabral Nunes.Quisemos fazer uma homenagem ao mestre cabo-verdiano Manuel Figueira, que faleceu há um ano. Quer aqui em Paris, quer em Londres, na semana passada, quisemos destacar a obra dele e depois estamos a apresentar pela primeira vez em Paris, a obra de dois artistas com quem trabalhamos: a Manuela Jardim, da Guiné-Bissau, com quem já começámos a trabalhar há uma série de anos e que levámos também a Londres. E o João Donato de Moçambique, ceramista. Depois temos os repetentes, chamemos-lhe assim, que nós já apresentámos noutros contextos, aqui em Paris, mas com obras que não tínhamos mostrado antes. No caso do Malangatana, temos uma obra dele que estamos a mostrar e que que é uma obra paradigmática daquilo que foi o chamado período feliz dele depois da independência e de ter passado no campo de reeducação. Depois de Moçambique se tornar independente, foi criado um campo de reeducação à moda soviética. O Malangatana era considerado burguês porque vendia as obras. Portanto, o novo governo achou que ele tinha que ser reeducado para trabalhar para o povo.Malangatana foi forçado a ensinar pintura neste campo de reeducação, vivendo afastado da família durante vários anos. Em 1981, deixa de ser forçado a fazer este trabalho e começa a produziu obras que celebram momentos felizes, incluindo um auto-retrato com a sua esposa, símbolo de amor e devoção.Ele foi obrigado a fazer trabalho comunitário para as populações e ensinar as pessoas a pintar. O que é certo é que aquilo era forçado porque ele foi afastado da família. Depois houve uma altura em que o deixavam ir a casa durante um período, mas tinha que voltar para o campo de reeducação. As pessoas que eu conheço em Moçambique e que eram amigas de Malangatana, achavam que aquilo tinha durado uns meses, mas não, aquilo durou anos.  O mercado da arte está a viver um processo de transformação, especialmente devido às novas tecnologias e das novas gerações. Carlos Cabral Nunes acredita que as feiras de arte precisam ser repensadas, destacando que Portugal pode desempenhar um papel interessante nesse contexto.O mercado da arte é um mercado que sofre muito com as oscilações geopolíticas e com o que se passa no mundo e, portanto, não é alheio à questão das guerras. O mercado da arte é quase como uma bolha, porque o mundo em si está em crises profundas; a eleição norte-americana, a guerra no Médio Oriente, a guerra na Ucrânia. Portanto, há uma série de situações que afectam, obviamente, a questão do mercado. O mercado está a viver um tempo de mudanças; há a questão das próprias tecnologias, das novas gerações. A nós, tem corrido bem. Não tenho razão para me queixar. As coisas têm estado a correr bem.A feira de arte africana AKAA contou com mais de quarenta expositores, 36 galerias, entre elas a galeria Movart, que ofereceram durante quatro dias uma mostra da criação contemporânea ligada, de uma forma ou de outra, a África.Esta feira tem levantado cada vez mais interesse pela arte africana, especialmente para a arte dos países lusófonos, com ligações importantes, com entidades como a Fundação Calouste Gulbenkian. Há uma crescente valorização da arte africana, que começa a ser reconhecida pelas suas histórias, incluindo experiências de guerra e descolonização, explicou-nos Janire Bilbao responsável pela galeria Movart.Os franceses adoram a arte africana e também começam a conhecer a arte africana dos países lusófonos, que é um pouco o nosso foco. Temos algumas ligações com a delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris. Estamos a construir pontes entre a África lusófona e a arte africana.Durante muitos anos estivemos focados na arte europeia e agora, de repente reparamos que há histórias a contar, histórias muito legítimas, como nos conta o artista Márcio Carvalho, que nos está a representar com obras sobre a descolonização das memórias e são histórias que preciso de contar. Chegou  o momento de contar histórias que ficaram muitos anos em silêncio. Haverá um momento em que chegaremos a um equilíbrio, mas agora é preciso cobrir 500 anos de ausência.

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Episódio 145 – “O duplo e o acaso” – Conversa com Jorge Molder

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Play Episode Listen Later Oct 18, 2024 57:52


Jorge Molder, Lisboa, 1947. Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A partir do final dos anos 70 dedica-se à fotografia, alicerçando todo o seu trabalho na pesquisa sobre a auto-representação, frequentemente evocando personagens do mundo literário e artístico como Joseph Conrad, Samuel Beckett, Lucian Freud e Francis Bacon, através da construção de narrativas seriadas ficcionadas. As diferentes séries articulam-se numa sequência performativa na qual o artista constrói um universo a partir das suas referências filosóficas, cinematográficas e literárias. Neste jogo de ambivalências encontramos também a própria fotografia e a sua história, no confronto entre o registo documental da realidade e a sua dimensão espectral. Entre 1990 e 2009 foi o diretor do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian. O artista representou Portugal nas Bienais de São Paulo (1994) e de Veneza (1999). Em 2007, recebeu o prémio da AICA/Associação Internacional de Críticos de Arte, em 2010 o Grande Prémio EDP/Arte, e em 2014 o Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores.A sua obra tem sido exibida em exposições nacionais e internacionais em instituições de renome, entre outros, MAAT, Lisboa, Centre Georges Pompidou, Paris, Centro Cultural de Belém, Lisboa; Serralves, Porto, Hamburger Kunsthalle, Hamburgo, Palazzo Fortuny Veneza, Palais des Beaux-arts de Bruxelas, e Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; e está representada em diversas coleções públicas e privadas, nacionais e internacionais. Links: https://www.miguelnabinho.com/jorgemolder/ https://www.publico.pt/1999/05/28/jornal/o-fotografo-e-o-seu-duplo-em-veneza-134104 https://rr.sapo.pt/noticia/vida/2023/04/10/jorge-molder-revela-22-obras-ineditas-na-exposicao-grandes-planos/327107/ https://www.publico.pt/2013/01/26/culturaipsilon/noticia/fotografia-de-jorge-molder-e-primeira-obra-de-arte-portuguesa-a-entrar-na-colecao-da-unesco-1582181 https://aica.pt/awards/aica-mc-millennium-bcp https://www.fundacaoedp.pt/pt/edicao-premio/grande-premio-fundacao-edp-arte-2010 https://gulbenkian.pt/cam/artist/jorge-molder/ https://contemporanea.pt/edicoes/04-05-06-2023/conversa-com-jorge-molder https://www.serralves.pt/ciclo-serralves/2104-jorge-molder-obras-da-colecao-de-serralves/ Episódio gravado a 26.09.2024 Créditos introdução: David Maranha - Flauta e percussão Música final: Nardis, Interpretado por Bill Evans Trio, Escrita por Miles Davis, Produzida por Orrin Keepnews http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / A2P / MyStory Hotels Apoio:Câmara Municipal de Lisboa Financiamento:República Portuguesa – Cultura / DGArtes – Direcção Geral das Artes

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Episódio 144 – “Embate no feminino” – Conversa com Francisca Aires Mateus

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Play Episode Listen Later Oct 11, 2024 37:39


Francisca Aires Mateus (1992) vive e trabalha em Lisboa. O seu trabalho desenvolve-se na interseção entre as esferas das artes visuais e da música. Nesta confluência de linguagens e processos, Francisca Aires Mateus utiliza vários tipos de práticas e dispositivos, desde o desenho e performance até ao vídeo e som.Aires Mateus concluiu com Distinção o seu mestrado em Fine Art Media na Slade School of Fine Art - University College London, em 2017. Em 2015, licenciou-se em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e obteve o seu diploma de licenciatura em Violino pelo Associated Board of the Royal Schools of Music, Londres, Reino Unido. Recentemente, concluiu uma Pós-graduação em Arte Sonora na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.Francisca Aires Mateus venceu o Prémio Santander Edifício dos Leões em 2021 e foi nomeada para o Prémio Sonae Media Art em 2019. Em 2018, foi-lhe atribuída uma bolsa integral para uma residência artística na Universidade Batista de Hong Kong e foi também uma das vencedoras do concurso Jovens Artistas Portugueses Emergentes. Em 2016, recebeu uma bolsa integral da Fundação Calouste Gulbenkian. É actualmente uma das 10 finalistas do Prémio Norberto Fernandes 2024, na categoria Jovens ArtistasRecentemente, Aires Mateus apresentou as exposições individuais ESTENDAL, Casa Azul (2022), ARACNE, NoNo (2021), Rainha da Noite, Armário (2019) e One Centimetre Apart, Águas-Livres 8 (2018). Participou também em várias exposições coletivas em lugares como: Arbag, Lisboa, Set, Londres, Brotéria, Lisboa, Zaratan, Lisboa, OSSO, Caldas da Rainha, MNAC, Lisboa HKBU, Hong Kong, Bloomsbury Studio Theatre, Londres, Cript Gallery Londres e Chalton Gallery, Londres.Francisca Aires Mateus também desenvolveu vários projetos de curadoria e produção, como São Roque em Londres e Casa da Dona Laura em Lisboa. Estes projetos contaram com a participação de mais de 150 artistas nacionais e internacionais em várias exposições coletivas e individuais. Links: https://www.franciscaairesmateus.com/ https://o-armario.a-montra.com/armario.php?artista=francisca-aires-mateus https://www.altice.pt/pt/media/comunicados/2024/abril/premio-de-arte-da-fundacao-altice-ja-tem-finalistas https://umbigomagazine.com/pt/blog/2020/01/21/sonae-media-art-2019-francisca-aires-mateus/ https://www.sonae.pt/pt/media/press-releases/premio-sonae-media-art-2019-exposicao-das-obras-dos-cinco-artistas-finalistas/ https://www.santander.pt/pdfs/investor-relations/imprensa/2021/Vencedor_Premio_de_Arte_Edificio_dos_Leoes.pdf https://umbigomagazine.com/en/blog/2024/09/25/percepcao-de-embate/ Episódio gravado a 09.10.2024Créditos introdução: David Maranha - Flauta e percussãoMúsica final: Symphony No. 8 in E Flat Major "Symphony of a Thousand" / Pt. 1: Veni, creator spiritus / Performed by Gustavo Dudamel Los Angeles Master Chorale Los Angeles Philharmonic Pacific Chorale / Written by Gustav Mahler / Produced by Dmitriy Lipay http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / A2P / MyStory Hotels Apoio:Câmara Municipal de Lisboa Financiamento:República Portuguesa – Cultura / DGArtes – Direcção Geral das Artes© Appleton Associação Cultural, todos os direitos reservados

45 Graus
[BEST OF] #146 Raquel Vaz Pinto - Estamos a entrar numa guerra fria entre os EUA e a China?

45 Graus

Play Episode Listen Later Aug 14, 2024 100:55


O 45 Graus está de férias, por isso não há episódios novos. É uma boa altura para re-publicar alguns dos melhores episódios das últimas temporadas (os mais ouvidos e que mais feedback tiveram dos ouvintes). Este, um regresso da Raquel Vaz-Pinto ao podcast, é um belo exemplo disso; e, com este tema, é um episódio que -- feliz ou infelizmente -- vai manter-se actual ainda por muito tempo. A quem não teve oportunidade de ouvir na altura, espero que gostem! Raquel Vaz-Pinto é Investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa e Prof. Auxiliar Convidada da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da mesma Universidade, onde lecciona as disciplinas de Estudos Asiáticos e História das Relações Internacionais. Foi consultora do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian de 2020 a 2022 e Presidente da Associação Portuguesa de Ciência Política de 2012 a 2016. Autora de vários artigos e livros entre os quais A Grande Muralha e o Legado de Tiananmen, a China e os Direitos Humanos editado pela Tinta-da-China e Os Portugueses e o Mundo editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.  Os seus interesses de investigação são Política Externa e Estratégia Chinesa; os EUA e o Indo-Pacífico; e Liderança e Estratégia. É analista residente de política internacional da SIC e da TSF. Actualmente, está a terminar um livro, que será publicado pela Tinta-da-china, sobre os desafios colocados pela China às democracias liberais europeias, incluindo a portuguesa. -> Apoie este podcast e faça parte da comunidade de mecenas do 45 Graus em: 45grauspodcast.com -> Inscreva-se aqui nas sessões de setembro e outubro dos workshops de Pensamento Crítico, módulo "Desinformação e Números que Enganam. _______________ Índice (com timestamps): (0:00) Introdução ​(9:47) O que mudou na rivalidade CN-EUA desde o nosso episódio de 2018? | Wolf warrior diplomacy | Os diplomatas chineses mal-comportados | Índia | Quad (30:18) A política externa dos EUA em relação à China começou por ser complacente e tornou-se demasiado agressiva? | Artigo de John Mearsheimer | Estratégia dos G7 em relação à CN: do decoupling ao de-risking | Matérias primas críticas e terras raras (e aqui) (42:10) Já podemos falar de uma Guerra Fria entre EUA e CN? | A Armadilha de Tucídides (Livro: História da Guerra do Peloponeso)| Houve uma crença exagerada no Ocidente nos efeitos da abertura económica? | Como os manuais de economia americanos sobrevalorizam a economia da URSS | Frase atribuída a Deng Xiaoping: «Hide your strength, bide your time» (55:26) Comparação China vs URSS | O papel da ideologia na guerra fria vs na nova ‘ordem chinesa' | Aumento do autoritarismo do regime chinês | Digital Dictators | Cimeira da Ásia Central, sem a Rússia | Nova política externa defendida pelo SPD alemão | A nova ambição da China para o Ártico (1:18:37) O que esperar do futuro -- e o que fazer para evitar uma escalada do conflito? | Tese do ‘peak China' | O problema demográfico da china (e os telefonemas aos recém-casados) | Livro: Leftover Women, de Leta Hong Fincher | Episódio com Hu Jintao no congresso do CCP | European Critical Raw Materials Act | A integração económica é um garante de que não ocorre uma guerra ou é, pelo contrário, uma fonte permanente de tensões? _______________ Obrigado aos mecenas do podcast: Francisco Hermenegildo, Ricardo Evangelista, Henrique Pais João Baltazar, Salvador Cunha, Abilio Silva, Tiago Leite, Carlos Martins, Galaró family, Corto Lemos, Miguel Marques, Nuno Costa, Nuno e Ana, João Ribeiro, Helder Miranda, Pedro Lima Ferreira, Cesar Carpinteiro, Luis Fernambuco, Fernando Nunes, Manuel Canelas, Tiago Gonçalves, Carlos Pires, João Domingues, Hélio Bragança da Silva, Sandra Ferreira , Paulo Encarnação , BFDC, António Mexia Santos, Luís Guido, Bruno Heleno Tomás Costa, João Saro, Daniel Correia, Rita Mateus, António Padilha, Tiago Queiroz, Carmen Camacho, João Nelas, Francisco Fonseca, Rafael Santos, Andreia Esteves, Ana Teresa Mota, ARUNE BHURALAL, Mário Lourenço, RB, Maria Pimentel, Luis, Geoffrey Marcelino, Alberto Alcalde, António Rocha Pinto, Ruben de Bragança, João Vieira dos Santos, David Teixeira Alves, Armindo Martins , Carlos Nobre, Bernardo Vidal Pimentel, António Oliveira, Paulo Barros, Nuno Brites, Lígia Violas, Tiago Sequeira, Zé da Radio, João Morais, André Gamito, Diogo Costa, Pedro Ribeiro, Bernardo Cortez Vasco Sá Pinto, David , Tiago Pires, Mafalda Pratas, Joana Margarida Alves Martins, Luis Marques, João Raimundo, Francisco Arantes, Mariana Barosa, Nuno Gonçalves, Pedro Rebelo, Miguel Palhas, Ricardo Duarte, Duarte , Tomás Félix, Vasco Lima, Francisco Vasconcelos, Telmo , José Oliveira Pratas, Jose Pedroso, João Diogo Silva, Joao Diogo, José Proença, João Crispim, João Pinho , Afonso Martins, Robertt Valente, João Barbosa, Renato Mendes, Maria Francisca Couto, Antonio Albuquerque, Ana Sousa Amorim, Francisco Santos, Lara Luís, Manuel Martins, Macaco Quitado, Paulo Ferreira, Diogo Rombo, Francisco Manuel Reis, Bruno Lamas, Daniel Almeida, Patrícia Esquível , Diogo Silva, Luis Gomes, Cesar Correia, Cristiano Tavares, Pedro Gaspar, Gil Batista Marinho, Maria Oliveira, João Pereira, Rui Vilao, João Ferreira, Wedge, José Losa, Hélder Moreira, André Abrantes, Henrique Vieira, João Farinha, Manuel Botelho da Silva, João Diamantino, Ana Rita Laureano, Pedro L, Nuno Malvar, Joel, Rui Antunes7, Tomás Saraiva, Cloé Leal de Magalhães, Joao Barbosa, paulo matos, Fábio Monteiro, Tiago Stock, Beatriz Bagulho, Pedro Bravo, Antonio Loureiro, Hugo Ramos, Inês Inocêncio, Telmo Gomes, Sérgio Nunes, Tiago Pedroso, Teresa Pimentel, Rita Noronha, miguel farracho, José Fangueiro, Zé, Margarida Correia-Neves, Bruno Pinto Vitorino, João Lopes, Joana Pereirinha, Gonçalo Baptista, Dario Rodrigues, tati lima, Pedro On The Road, Catarina Fonseca, JC Pacheco, Sofia Ferreira, Inês Ribeiro, Miguel Jacinto, Tiago Agostinho, Margarida Costa Almeida, Helena Pinheiro, Rui Martins, Fábio Videira Santos, Tomás Lucena, João Freitas, Ricardo Sousa, RJ, Francisco Seabra Guimarães, Carlos Branco, David Palhota, Carlos Castro, Alexandre Alves, Cláudia Gomes Batista, Ana Leal, Ricardo Trindade, Luís Machado, Andrzej Stuart-Thompson, Diego Goulart, Filipa Portela, Paulo Rafael, Paloma Nunes, Marta Mendonca, Teresa Painho, Duarte Cameirão, Rodrigo Silva, José Alberto Gomes, Joao Gama, Cristina Loureiro, Tiago Gama, Tiago Rodrigues, Miguel Duarte, Ana Cantanhede, Artur Castro Freire, Rui Passos Rocha, Pedro Costa Antunes, Sofia Almeida, Ricardo Andrade Guimarães, Daniel Pais, Miguel Bastos, Luís Santos _______________ Esta conversa foi editada por: Hugo Oliveira  

História em Meia Hora
Olimpíadas

História em Meia Hora

Play Episode Listen Later Jul 27, 2024 33:32


Desde a antiguidade os Jogos Olímpicos unem os povos! Separe trinta minutos do seu dia e aprenda com o professor Vítor Soares (@profvitorsoares) sobre as Olimpíadas. - Se você quiser ter acesso a episódios exclusivos e quiser ajudar o História em Meia Hora a continuar de pé, clique no link: www.apoia.se/historiaemmeiahora Compre o livro "História em Meia Hora - Grandes Civilizações"! https://www.loja.literatour.com.br/produto/pre-venda-livro-historia-em-meia-hora-grandes-civilizacoesversao-capa-dura/ Compre meu primeiro livro-jogo de história do Brasil "O Porão": https://amzn.to/4a4HCO8 Compre nossas camisas, moletons e muito mais coisas com temática História na Lolja! www.lolja.com.br/creators/historia-em-meia-hora/ PIX e contato: historiaemmeiahora@gmail.com Apresentação: Prof. Vítor Soares. Roteiro: Prof. Vítor Soares e Prof. Victor Alexandre (@profvictoralexandre) REFERÊNCIAS USADAS: - FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Editora Contexto, 2023. - PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Estudos de História da Cultura Clássica. Cultura Grega. I. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. - SWADDLING, Judith. The Ancient Olympic Games. Texas: University of Texas Press, 2000

Appleton Podcast
Episódio 136 – Residências FARRA na Torre parte 2 – Conversa com Eugénia Mussa e António Poppe

Appleton Podcast

Play Episode Listen Later Jul 18, 2024 24:03


Episódio 6 da temporada especial do Appleton Podcast - FARRA - numa parceria com o MACE, Centro de Arte Oliva e Córtex Frontal. António Poppe Poeta, artista visual, performer, vive e trabalha em Lisboa. Concluiu o curso avançado de artes visuais do Ar.Co, em Lisboa, e estudou desenho e escultura no Royal College of Arts, Londres. Fez o mestrado em Arte Performativa e Cinema pela School of the Art Institute of Chicago, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento. Autor de um trabalho híbrido entre as artes visuais, a performance e a poesia, que tem apresentado desde 1991, em várias instituições culturais e galerias como, o Museu de Serralves, MAAT, Culturgest, Gulbenkian, Fundação Carmona e Costa, Museu Soares dos Reis, Galeria ZDB, Galeria 111, Casa Fernando Pessoa, GIAJG, entre outros. Publicou cinco livros : Torre de Juan Abad (Assírio e Alvim), Livro da Luz (Documenta), Medicin (Douda Correria), Come Coral (Douda Correria), O Agitador e a Corrente (escrito com Mumtazz e publicado na Mariposa Azual). Eugénia Mussa (Maputo, 1978) vive e trabalha em Lisboa. A sua infância passa por entre os bairros de Matola e Polana em Maputo, Moçambique, durante a guerra civil moçambicana. Apenas no ano de 1983 mudou-se para Portugal, criando um leque de trabalhos reflexo do seu percurso de vida e memória do que havia sido o seu contexto. Nas suas pinturas, a artista não confronta diretamente o tema da identidade africana por si, optando por abordar figurativamente através de elementos que remetam memórias, imagens e sentimentos colhidos ao longo do seu percurso. Eugénia Mussa emprega uma técnica impressionista de pintura a óleo com aleatoriedade musical, flutuando livremente entre estilos, géneros, ou paradigmas pré-estabelecidos. Links: https://www.monitoronline.org/eugenia-mussa/ https://www.rtp.pt/programa/tv/p29872/e17 https://umbigomagazine.com/pt/blog/2024/06/18/release-the-chicken-eugenia-mussa-na-monitor/ https://contemporanea.pt/edicoes/03-04-2019/antonio-poppe-mil-orbitas https://ifyouwalkthegalaxies.com/antonio-poppe/ https://bocabienal.org/en/artistas/antonio-poppe-e-la-familia-gitana/ https://farra.pt/portfolio-item/residencias-farra/ Episódio gravado a 11.07.2024 Créditos introdução e final:David Maranha - GuitarraManuel Mota - Guitarra http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / A2P / MyStory Hotels Apoio:Câmara Municipal de Lisboa Financiamento:República Portuguesa - DGArtes

SBS Portuguese - SBS em Português
Obra do arquiteto Álvaro Siza Vieira ganha exposição em Lisboa

SBS Portuguese - SBS em Português

Play Episode Listen Later May 21, 2024 3:13


A exposição "Siza" destaca a importância do desenho na extensa obra do arquiteto Álvaro Siza Vieira e é inaugurada na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Bitalk
#184: SER ARTISTA É ACEITAR A POBREZA? c/ Pedro Freitas (O Poeta da Cidade)

Bitalk

Play Episode Listen Later May 21, 2024 103:33


Neste bitalk vamos descobrir se ser artista em Portugal é aceitar a pobreza, com Pedro Freitas, também conhecido pelo seu nome artístico O Poeta da Cidade. Por que é que o acordo ortográfico é tão controverso?

M80 - Agora ia
Siza, o Incontornável Siza em Exposição

M80 - Agora ia

Play Episode Listen Later May 17, 2024 5:42


É uma das mostras mais aguardadas do ano e que podes ver na Calouste Gulbenkian até agosto. Mas neste Agora Ia há Siza e muito mais.

Appleton Podcast
Episódio 125 – “As sequências de micro-eventos” – Conversa com António Júlio Duarte

Appleton Podcast

Play Episode Listen Later May 2, 2024 69:19


António Júlio Duarte (Lisboa, 1965) vive e trabalha em Lisboa.Nas suas palavras: “Fotografo cidades movimentadas e pessoas atribuladas, criaturas encurraladas e coisas improváveis. São o meu mapa do mundo. Sou atraído por elas, movido pela simpatia e pelo desassossego que partilhamos. Travo conhecimento com estes seres inquietos nos seus afazeres triviais e disposições quotidianas, neles pressinto e tento captar a tensão vital que é o desejo universal pela vida e pelo sentido.”Estudou fotografia na AR.CO, em Lisboa e no Royal College of Art em Londres, através de uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian.O seu trabalho é exibido regularmente, em Portugal e no estrangeiro, desde 1990, participando com uma das vozes mais singulares e consistentes na compreensão da fotografia hoje. Destacam-se as seguintes exposições individuais: Guiné-Bissau 1990 (Galeria Bruno Murias, Lisboa, 2023), FEBRE (Museu de Arte Contemporânea – Fundação de Serralves, Porto, 2023), CRIATURA (O Armário, Lisboa, 2021), Eclipse (Galeria Bruno Múrias, Lisboa, 2020), White Noise (Quartel da Arte Contemporânea de Abrantes, Coleção Figueiredo Ribeiro, Abrantes, 2017), América (Galeria Pedro Alfacinha, Lisboa, 2017), Suspension of Disbelief (CAV, Coimbra, 2016), Mercúrio (Galeria Zé dos Bois, Lisboa, 2015) e Japão 1997 (Centro Cultural Vila Flor, Guimarães, 2013).É autor de vários livros, entre outros: Guiné-Bissau 1990 (2023), Against the Day (2019), Japan Drug (2014), Deviation of the Sun (2013) e White Noise (2011), publicados pela Pierre von Kleist Editions.A sua obra integra diversas e prestigiadas coleções privadas e institucionais em Portugal e no estrangeiro. Links: https://antoniojulioduarte.pt/ https://www.brunomurias.com/pt-pt/artists/antonio-julio-duarte/ https://www.serralves.pt/ciclo-serralves/antonio-julio-duarte-febre/ https://gulbenkian.pt/cam/artist/antnio-jlio-duarte/ https://www.rtp.pt/programa/tv/p30791/e1 Episódio gravado a 26.04.2024 http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / A2P / MyStory Hotels Apoio:Câmara Municipal de Lisboa

Vida em França
Pompidou expõe Amadeo de Souza-Cardoso em diálogo com Sonia e Robert Delaunay

Vida em França

Play Episode Listen Later Apr 3, 2024 16:20


O Centro Pompidou, em Paris, acolhe entre esta quarta-feira, 3 de Abril, e 9 de Setembro, uma exposição sobre as cumplicidades dos pintores Amadeo de Souza-Cardoso, Sonia e Robert Delaunay. O “triângulo artístico” começou em Paris e continuou em Portugal durante a Primeira Guerra Mundial. Helena de Freitas, uma das curadoras da exposição, destaca que este é um “ponto de viragem" no  reconhecimento da obra do pintor português, oito anos depois da grande retrospectiva no Grand Palais. A exposição “Amadeo de Souza-Cardoso, Sonia et Robert Delaunay. Correspondances" abre ao público esta quarta-feira, 3 de Abril, e está patente até 9 de Setembro. Cerca de trinta obras mostram as “correspondências” formais, temáticas e conceptuais dos três artistas, numa escolha que resultou das “correspondências” de três curadoras - Helena de Freitas, Sophie Goetzmann e Angela Lampe – e de duas instituições – o Centro Pompidou e a Fundação Calouste Gulbenkian.Além de ilustrar as cumplicidades deste “triângulo artístico”, a exposição volta a colocar Amadeo de Souza-Cardoso [1887-1918] entre os nomes que fizeram a história da arte do século XX. A mostra surge oito anos depois da retrospectiva do pintor português no Grand Palais, também comissariada por Helena de Freitas, que encara esta nova exposição como “um ponto de viragem” no reconhecimento internacional de Amadeo de Souza-Cardoso. No fundo, é mais uma tentativa de “colocar o artista neste complicado puzzle da História da Arte, onde ele era uma peça que não existia”.A Curadora do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian fez uma visita guiada à RFI e mostrou como o pintor português esteve no centro das vanguardas do seu tempo e como o casal Delaunay se deixou influenciar pela cultura e artesanato popular portugueses.RFI: A exposição está num dos principais museus de arte moderna e contemporânea do mundo e acontece oito anos depois da retrospectiva no Grand Palais, também em Paris. O que representa para o reconhecimento do pintor Amadeo de Souza-Cardoso?Helena de Freitas, Curadora: A exposição do Grand Palais foi muito importante para que esta fosse possível. Esta tem, de facto, para mim, para nós, Fundação Gulbenkian, um significado muito especial porque está no coração de uma grande colecção francesa e internacional. Não é uma exposição à parte, ela está integrada no percurso da colecção e isso é uma das questões mais importantes porque é o patamar de reconhecimento internacional de Amadeo enquanto artista, integrado numa grande colecção internacional.Foi preciso esperar oito anos para voltarmos a ter Amadeo de Souza-Cardoso em Paris…Sim, foi preciso esperar algum tempo. Seja como for, Amadeo tem sido bastante solicitado para empréstimos um pouco por todo o lado. Portanto, há que fazer um trabalho em continuidade e esta exposição, na sequência da grande exposição de 2016, no Grand Palais, vem de alguma maneira estabelecer mais um passo importante nesse caminho que é o caminho de colocar o artista neste complicado puzzle da História da Arte, onde ele era uma peça que não existia. É um trabalho muito difícil, para o qual é preciso muita persistência e muita continuidade. Aqui traça-se um caminho. Este é um ponto muito importante. É uma espécie de ponto de viragem no reconhecimento do artista.Um ponto de viragem? Eu acho que sim, que é um ponto de viragem porque está no coração do Pompidou, durante vários meses. Digamos que é uma pequena grande exposição porque vai estar de 3 de Abril a 9 de Setembro nas salas da colecção do Pompidou. Isto é muito importante.O que conta a exposição? A exposição é a história do encontro entre o artista português Amadeo de Souza-Cardoso e Sonia Delaunay e Robert Delaunay que já se tinham encontrado em Paris durante o período em que o Amadeo viveu em Paris, de 1906 a 1914. Mas durante o período da guerra, quando Amadeo regressa a Portugal, em 1914, Sonia e Robert Delaunay, como refugiados de guerra, instalam-se em Vila do Conde, muito perto de onde o artista português viveu de 1914 até 1918, o ano da sua morte.Portanto, neste período, entre 1915 e 1917, eles desenvolveram projectos e contactos com alguma regularidade. Estes projectos têm um nome chamado “Corporation Nouvelle”, “Nova Corporação”. É uma ideia que nasce em Portugal e que era, de alguma maneira, uma forma de romper as fronteiras desta condição de guerra e de fechamento de fronteiras. Foi um projecto que foi pensado pelos Delaunay, onde Amadeu se inscreveu e era um projecto bastante utópico de realização de “expositions mouvantes”, de exposições itinerantes. São projectos que, de alguma maneira, deslocavam e faziam uma inversão daquilo que fazia a agora chamada Ecole de Paris, do centralismo parisiense. Era uma ideia de quebrar um pouco com essa rigidez de colocar tudo ao centro. É um projecto bastante original, muito moderno e bastante antecipador.E que se concretiza? Eles fazem essas exposições itinerantes?Infelizmente não se concretizaram. Podemos seguir toda a correspondência trocada entre estes três artistas. Estamos aqui a falar deste triângulo artístico, mas há outros artistas neste grupo. Esta exposição só se foca nos três, com as duas colecções: a colecção Gulbenkian e a Colecção Pompidou. A correspondência começou por ser muito amistosa, mas acaba por esfriar no final, quando Amadeo percebe que faz um esforço enorme para participar neste grupo - inclusive fazendo um trabalho que ele considera medíocre, que não lhe interessa, que é um trabalho com aguarelas para fazer uns álbuns de promoção para tentar encontrar meios financeiros para a realização destas exposições. Mas, no final, as exposições não se realizaram e a ideia utópica de desfazer este centralismo acaba por não se concretizar.Este triângulo artístico dá origem a uma exposição mais de 100 anos depois. Como é que surgiu a ideia da exposição e porquê concretizá-la agora?Há um passado nesta exposição. Esta exposição não teria acontecido se não tivesse havido, em 2016, no Grand Palais, uma grande exposição do artista Amadeo de Souza-Cardoso. As coisas, na verdade, acabam por pegar umas nas outras. Eu fui fazer uma conferência sobre o Amadeo, a convite da Fundação Giacometti. Nessa conferência estava uma pessoa que eu não conhecia e que me colocou uma questão pertinente: « Como é que pensa continuar a internacionalização de um artista que ainda é bastante desconhecido do público francês e internacional? » Eu disse: “Olhe que eu tenho pensado bastante no assunto e parece-me que um formato possível seria concretizar pequenos depósitos em museus internacionais e, de alguma maneira, desfazer a reunião de um peso enorme de obras de Amadeo num só museu ou em dois ou três. Portanto, tentar deslocalizar a obra e torná-la mais ampla no sentido da sua geografia, da apresentação ao público.” Esta senhora chama-se Angela Lampe. Acabámos por nos encontrar para falarmos do assunto. E começou então a nossa correspondência, que até está no título desta exposição. Portanto, é uma correspondência entre os três artistas e que está no catálogo - enfim, uma selecção dessa correspondência - e a correspondência das três curadoras para chegarmos a este formato, que é um formato muito leve, bastante ecológico.Na verdade, as obras vieram todas de Lisboa, da Fundação Gulbenkian, para o Museu Pompidou, nesta solução de três artistas de duas colecções e que aqui é apresentada como se fosse em espelho:   de um lado, vemos o desenvolvimento, a base de Amadeo de Souza-Cardoso e, do outro, vemos pontuações muito importantes de Robert e de Sonia Delaunay.À entrada encontramos um grande painel com duas fotografias muito importantes destas correspondências. É uma fotografia de Amadeo em Manhufe, olhando-nos de alto, com o seu olhar superior - como ele gostava de estar em Portugal e em França, como sempre esteve – e, ao lado, da família Sonia e Robert Delaunay e do seu filho Charles, como ele dizia “Le Petit Peintre”. Há aqui a construção deste “élan” familiar entre os três nas duas fotografias.Ambas as fotografias são em Portugal, portanto?Ambas as fotografias são em Portugal. Eu imagino que a fotografia da família Delaunay seja na sua casa de Vila do Conde, que se chamava La Simultanée e que ainda existe com uma placa em Vila do Conde.Porquê “La Simultanée”?Porque era o movimento que eles teorizaram e desenvolveram do ponto de vista artístico, o Simultaneísmo, e portanto, chamaram a casa “La Simultanée”, com uma placa na casa que regista essa memória.Como é que é as cumplicidades deste triângulo artístico são articuladas no percurso da exposição?Tentámos, nesta exposição, sinalizar os pontos de encontro, as ressonâncias, os ecos no trabalho de cada um. Houve períodos em que o trabalho oferece muitas cumplicidades no orfismo, na descoberta da cor e da luz, mas, ao mesmo tempo, também as divergências, os pontos de desencontro e a autonomia de cada um dos artistas. Do lado do Amadeo, tentámos localizar, por exemplo, os discos órficos que ele desenvolve entre 1912 e 1913, mas que já estavam inscritos no seu programa artístico. Por exemplo, há uma pequena aguarela chamada “Clown, Cavalo, Salamandra”, que é uma das aguarelas mais icónicas de Amadeo, em que vemos já inscritos os tais círculos. Portanto, é um trabalho muito precoce, onde se percebe que é desde logo um símbolo, um sinal já do seu trabalho.Um trabalho que Amadeo desenvolve em múltiplas soluções mais próximas dos Delaunay, mas também mais afastadas, quando ele, na fase final, recupera esses círculos, mas objectificando-os, incluindo mesmo, de uma forma um pouco irónica, com moscas lá dentro ou transformando-os em alvos de tiro ao alvo ou em padrões de tecidos. Cada artista, na verdade, apresenta aqui uma autonomia muito forte.Mas vemos semelhanças, como as influências da arte decorativa e popular portuguesa, não é?É muito forte, sem dúvida, porque foi o período em que, de facto, eles estiveram mais próximos, quando o Roberto e Sonia Delaunay se encantaram e se maravilharam com a luz de Portugal, com todo a arte popular, e Amadeo, Eduardo Viana, enfim, há um grupo que de se formou e que iam às feiras, aos mercados, compravam as bonecas populares. Havia um maravilhamento com a arte popular. A Sonia Delaunay reconheceu a luz, os padrões, os objectos da sua Ucrânia e, portanto, há aqui um encontro entre as duas periferias.Quais são as obras em que mais vemos essa influência portuguesa?Temos aqui a pintura talvez mais reveladora desta cumplicidade - “Chanson populaire, la Russe et le Figaro”. As canções populares alimentaram a própria iconografia de Amadeo, de Robert e de Sonia Delaunay. Aquela boneca é uma boneca popular, mas também é a Sónia. Nós sabemos que ela é “a russa”.É um retrato de Sonia Delaunay?É um retrato de Sonia Delaunay evidentemente, embora não seja explícito.  “Le Figaro” é o jornal que ambos liam em Vila do Conde. Depois, nestas pinturas de Amadeo [“Título desconhecido (Máquina registadora)” e “Título desconhecido (Entrada)”] também é importante perceber a introdução de publicidade, tecidos, padrões que depois encontramos em Sonia Delaunay. A ideia das marcas está aqui também presente, mas sobretudo nestas duas pinturas “Nature Morte Portugaise [1916], onde nós vemos a sugestão dos frutos, dos mercados e, sobretudo, a luz e a vibração das formas, articuladas com a luz muito presente e muito forte, os potes…E aqui uma mesa claramente portuguesa [‘La Verseuse', 1916], com a melancia, com a representação dos frutos, com as cerâmicas, o pano que evidentemente brilhou nos olhos de Sonia Delaunay porque são, de facto, muito próximos de uma cultura popular também ucraniana, a que ela evidentemente era muito ligada.Portanto, há aqui algumas pinturas que são muito próximas. Como também este trabalho de Sonia Delaunay [“La Prose du Transsibérien et de la Petite Jehanne de France”] se encontra com “A Lenda de São Julião Hospitaleiro”, o manuscrito que Amadeo fez a partir de Flaubert, em 1913. Amadeo foi até mais antecipador nessa articulação entre texto e imagem no manuscrito de Flaubert, “A Lenda de São Julião Hospitaleiro” e esse manuscrito está aqui aberto e passamos todas as páginas em vídeo de modo a que o público possa aperceber-se da riqueza e da modernidade daquelas soluções que são muito avançadas para o seu tempo e muitíssimo precoces.Também nesta aguarela de Amadeo [“Canção d'Açude - Poema em Cor”], de 1913, na mesma data da prosa do Transiberiano, vemos um poema, mas um poema absolutamente articulado com as representações figurativas, em que as próprias letras, as próprias palavras já têm uma dimensão de imagem. Portanto, tudo isto é muitíssimo antecipador no seu tempo. Aqui é um grande sinal luminoso da criatividade e da inventividade do artista Amadeo de Souza-Cardoso.Por que é que Robert e Sonia Delaunay vão para Portugal? Quanto tempo lá ficam?Eles ficam durante dois anos, em períodos entrecortados, porque foi uma passagem muito atribulada. Eles são refugiados da guerra. Claramente, o Roberto teve que ser refugiado, ele era reformado, tinha problemas cardíacos e a ideia era mesmo estar refugiado. Foi, segundo eles, uma passagem de sonho pela Península Ibérica, em Vila do Conde e, mais tarde, em Espanha.Sonia Delaunay chegou a estar presa em Portugal, uma semana?Sim, é verdade. Houve uma confusão com os seus círculos. Imaginou-se que eles seriam códigos cifrados de mensagens para os alemães. Enfim, os círculos que sempre fizeram parte do seu trabalho! Portanto, foi um gigantesco equívoco e acabou por estar fechada e prisioneira. Revistaram-lhe todas as coisas. Foi um momento muito difícil para o casal e, na verdade, foi o Amadeo quem intercedeu, quem a ajudou e conseguiu resolver esse problema e esse equívoco. Sonia e Robert Delaunay ficaram-lhe muito gratos.

CNC: 75 ANOS NAS ARTES, NAS LETRAS E NAS IDEIAS
Nuno Júdice - "Luz e desenho na poética de Sophia" - 2011

CNC: 75 ANOS NAS ARTES, NAS LETRAS E NAS IDEIAS

Play Episode Listen Later Mar 22, 2024 15:15


"Luz e desenho na poética de Sophia" é o título da intervenção de Nuno Júdice proferida no Colóquio Internacional Sophia de Mello Breyner Andresen, promovido pelo Centro Nacional de Cultura no dia 27 de Janeiro de 2011, nas instalações da Fundação Calouste Gulbenkian.

TSF - Encontros com o Património - Podcast
Exposição "O Tesouro dos Reis" na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa

TSF - Encontros com o Património - Podcast

Play Episode Listen Later Dec 17, 2023


45 Graus
#150 José Manuel Garcia - O que faz da viagem de Fernão de Magalhães um dos maiores feitos da História Mundial?

45 Graus

Play Episode Listen Later Sep 27, 2023 109:38


José Manuel Garcia doutorou-se em História pela Universidade do Porto. Pertence à Academia Portuguesa da História e à Academia de Marinha, sendo presentemente investigador no Gabinete de Estudos Olisiponenses da Câmara Municipal de Lisboa. Investiga sobretudo sobre temas de História de Portugal e dos Descobrimentos, tendo publicado livros sobre o infante D. Henrique, Cristóvão Colombo, D. João II, D. Manuel, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Afonso de Albuquerque — e ainda o livro Fernão de Magalhães - a história do primeiro homem a abraçar o mundo, que foi o pretexto para este episódio. Foi também Único português a participar no melhor documentário sobre o tema, «A Odisseia de Fernão de Magalhães» (cujo título roubei para este episódio), uma grande produção da televisão francesa difundida em vários países.  -> Apoie este podcast e faça parte da comunidade de mecenas do 45 Graus em: 45grauspodcast.com -> Registe-se aqui para ser avisado(a) de futuras edições dos workshops. _______________ Índice (com timestamps): (1:49) Início da INTRODUÇÃO ao episódio  (8:02) INÍCIO do episódio. Quem era Fernão de Magalhães? (15:07) De onde veio a ideia da viagem? | Francisco Serrão | Rui Faleiro | Paolo Toscanelli | João de Lisboa  (32:13) Havia mesmo um anti-lusitanismo na oposição dos nobres espanhóis a Magalhães? | Juan de Cartagena, Bispo Juan Rodríguez de Fonseca (47:49) A passagem do estreito de Magalhães. | O mapa que Magalhães usou. | António Pigafetta  (1:02:38) Porque eram tão importantes as especiarias? (1:07:10) Foi uma proeza ter conseguido passar o estreito à 1ª tentativa? (1:10:43) A 2ª fase da viagem: como foi o processo de decisão de avançar e atravessar o Oceano Pacífico? (1:12:52) Como era a personalidade de Magalhães? (1:22:44) Chegada às Filipinas e a estranha morte de Magalhães (1:32:28) A 3ª e última fase da viagem. | O pós-morte de Magalhães. A traição. A separação da armada em duas. | A chegada de Elcano  Livro recomendado: Damião Peres - A História dos Descobrimentos _______________ Como sabem, o 45 Graus é para mim, em grande medida, um pretexto para aprender mais sobre temas que me interessam. E há um tema da nossa História — e, mais importante, da História Mundial — que já há muito tinha vontade de explorar melhor: a viagem de circunavegação de Fernão de Magalhães.  Todos nós aprendemos os factos básicos na escola: que Magalhães foi a primeira pessoa a dar a volta ao Mundo, e assim ficar a conhecer a verdadeira extensão da Terra, e, de caminho, a perceber que o Mundo é muito mais água do que terra. Mas quando começamos a escavar o tema, percebemos que há nesta história muito mais do que esses factos.  Para além de dar a volta ao Mundo, a armada liderada por Magalhães conseguiu a proeza de passar à primeira o estreito que contorna o sul da América (hoje ‘Estreito de Magalhães'), um estreito desconhecido, labiríntico e cheio de correntes traiçoeiras. É argumentável dizer que foi um feito maior do que a ida à Lua. Basta pensar que o equivalente do lado norte do continente americano, a chamada Passagem do Noroeste, no Canadá, só foi atravessada no início do século XX! Além disso, aqueles marinheiros foram também os primeiros europeus a atravessar o oceano Pacífico, um oceano desconhecido até então. Por isso, é fácil de adivinhar que a ideia de Magalhães que deu origem à viagem -- chegar às ilhas Molucas, hoje na Indonésia, pelo Ocidente -- foi vista por muitos, à época como inusitada e lunática.  Só isto já tem os ingredientes de uma grande história. Mas há também os contornos políticos em torno da viagem. O facto de Magalhães ter ido propor o projecto aos reis de Castela causou escândalo e foi visto por muitos em Portugal como traição. Ao mesmo tempo, muitos em Espanha viam-no como um agente duplo, na verdade ao serviço da coroa portuguesa.  E depois há os detalhes da viagem em si, recheada de grandes façanhas, mas também de obstáculos, privações, violência, motins, traições e mesmo aspectos bizarros -- tudo condimentado pela personalidade ‘larger than life' de Magalhães, um homem visionário e determinado, mas também autoritário e com tiques de loucura, disposto a tudo para conseguir o objectivo. Tudo isto está, portanto, mesmo a pedir ser transformado num filme — ou numa série de televisão, como fez a Amazon que lançou no ano passado a série Sem Limites, com Rodrigo Santoro no papel de Magalhães (com um sotaque português irrepreensível!). Mas, mais do que isso, tudo isto está mesmo a pedir… um episódio do 45 Graus. Foi por isso que decidi convidar uma das pessoas que mais sabem sobre a viagem de Fernão de Magalhães. Durante a nossa conversa, percorremos vários aspectos da viagem, desde o contexto às várias etapas, e fui perguntando ao convidado várias dúvidas que me surgiram ao ler o seu livro e ver o documentário. Espero que gostem. ______________ Obrigado aos mecenas do podcast: Francisco Hermenegildo, Ricardo Evangelista, Henrique Pais João Baltazar, Salvador Cunha, Abilio Silva, Tiago Leite, Carlos Martins, Galaró family, Corto Lemos, Miguel Marques, Nuno Costa, Nuno e Ana, João Ribeiro, Helder Miranda, Pedro Lima Ferreira, Cesar Carpinteiro, Luis Fernambuco, Fernando Nunes, Manuel Canelas, Tiago Gonçalves, Carlos Pires, João Domingues, Hélio Bragança da Silva, Sandra Ferreira , Paulo Encarnação , BFDC, António Mexia Santos, Luís Guido, Bruno Heleno Tomás Costa, João Saro, Daniel Correia, Rita Mateus, António Padilha, Tiago Queiroz, Carmen Camacho, João Nelas, Francisco Fonseca, Rafael Santos, Andreia Esteves, Ana Teresa Mota, ARUNE BHURALAL, Mário Lourenço, RB, Maria Pimentel, Luis, Geoffrey Marcelino, Alberto Alcalde, António Rocha Pinto, Ruben de Bragança, João Vieira dos Santos, David Teixeira Alves, Armindo Martins , Carlos Nobre, Bernardo Vidal Pimentel, António Oliveira, Paulo Barros, Nuno Brites, Lígia Violas, Tiago Sequeira, Zé da Radio, João Morais, André Gamito, Diogo Costa, Pedro Ribeiro, Bernardo Cortez Vasco Sá Pinto, David , Tiago Pires, Mafalda Pratas, Joana Margarida Alves Martins, Luis Marques, João Raimundo, Francisco Arantes, Mariana Barosa, Nuno Gonçalves, Pedro Rebelo, Miguel Palhas, Ricardo Duarte, Duarte , Tomás Félix, Vasco Lima, Francisco Vasconcelos, Telmo , José Oliveira Pratas, Jose Pedroso, João Diogo Silva, Joao Diogo, José Proença, João Crispim, João Pinho , Afonso Martins, Robertt Valente, João Barbosa, Renato Mendes, Maria Francisca Couto, Antonio Albuquerque, Ana Sousa Amorim, Francisco Santos, Lara Luís, Manuel Martins, Macaco Quitado, Paulo Ferreira, Diogo Rombo, Francisco Manuel Reis, Bruno Lamas, Daniel Almeida, Patrícia Esquível , Diogo Silva, Luis Gomes, Cesar Correia, Cristiano Tavares, Pedro Gaspar, Gil Batista Marinho, Maria Oliveira, João Pereira, Rui Vilao, João Ferreira, Wedge, José Losa, Hélder Moreira, André Abrantes, Henrique Vieira, João Farinha, Manuel Botelho da Silva, João Diamantino, Ana Rita Laureano, Pedro L, Nuno Malvar, Joel, Rui Antunes7, Tomás Saraiva, Cloé Leal de Magalhães, Joao Barbosa, paulo matos, Fábio Monteiro, Tiago Stock, Beatriz Bagulho, Pedro Bravo, Antonio Loureiro, Hugo Ramos, Inês Inocêncio, Telmo Gomes, Sérgio Nunes, Tiago Pedroso, Teresa Pimentel, Rita Noronha, miguel farracho, José Fangueiro, Zé, Margarida Correia-Neves, Bruno Pinto Vitorino, João Lopes, Joana Pereirinha, Gonçalo Baptista, Dario Rodrigues, tati lima, Pedro On The Road, Catarina Fonseca, JC Pacheco, Sofia Ferreira, Inês Ribeiro, Miguel Jacinto, Tiago Agostinho, Margarida Costa Almeida, Helena Pinheiro, Rui Martins, Fábio Videira Santos, Tomás Lucena, João Freitas, Ricardo Sousa, RJ, Francisco Seabra Guimarães, Carlos Branco, David Palhota, Carlos Castro, Alexandre Alves, Cláudia Gomes Batista, Ana Leal, Ricardo Trindade, Luís Machado, Andrzej Stuart-Thompson, Diego Goulart, Filipa Portela, Paulo Rafael, Paloma Nunes, Marta Mendonca, Teresa Painho, Duarte Cameirão, Rodrigo Silva, José Alberto Gomes, Joao Gama, Cristina Loureiro, Tiago Gama, Tiago Rodrigues, Miguel Duarte, Ana Cantanhede, Artur Castro Freire, Rui Passos Rocha, Pedro Costa Antunes, Sofia Almeida, Ricardo Andrade Guimarães, Daniel Pais, Miguel Bastos, Luís Santos _______________ Esta conversa foi editada por: Hugo Oliveira _______________ Bio: José Manuel Garcia doutorou-se em História pela Universidade do Porto. De entre as suas atividades destacam-se as que manteve na Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e na Fundação Calouste Gulbenkian, além de ter colaborado com universidades portuguesas e estrangeiras. Pertence à Academia Portuguesa da História e à Academia de Marinha, sendo presentemente investigador no Gabinete de Estudos Olisiponenses da Câmara Municipal de Lisboa. Participou na organização de numerosas exposições e congressos; na edição de catálogos e atas; proferiu inúmeras conferências; publicou abundante bibliografia sobre temas de História de Portugal e dos Descobrimentos, em que se contam nomeadamente livros sobre o infante D. Henrique, Cristóvão Colombo, D. João II, D. Manuel, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Fernão de Magalhães, Afonso de Albuquerque, Fernão Mendes Pinto, o Tratado de Tordesilhas, cartografia, fortalezas no Oriente, forais manuelinos e Lisboa.  

il posto delle parole
Roberto Francavilla "Babel Festival"

il posto delle parole

Play Episode Listen Later Sep 14, 2023 12:34


Roberto Francavilla"Babel Festival"www.babelfestival.comRoberto Francavilla insegna Letteratura portoghese e brasiliana presso l'Università di Genova, dopo aver sviluppato progetti di ricerca per l'Instituto Camões e per la Fundação Calouste Gulbenkian di Lisbona e aver insegnato a lungo all'Università di Siena. Collabora con alcuni atenei portoghesi e brasiliani. Coordinatore del Progetto “Oltre i margini. Il Brasile e la letteratura di favela”, è membro fondatore di “Jacaranda, Associazione di Studi brasiliani”. Di recente, ha curato l'edizione de Il secondo Libro dell'Inquietudine di Fernando Pessoa (Feltrinelli). Fra le ultime traduzioni, Clarice Lispector, Chico Buarque, João Guimarães Rosa e un'antologia di Carlos Drummond de Andrade per Adelphi. È autore dei progetti Hotel Sodade (con il fotografo Filippo Romano) e Pessoa / Persona (con l'artista António Jorge Gonçalves).A Babel: “Mi piace essere definito uno ‘scrittore delle Azzorre'. L'idea che ci sia una correlazione tra il mio lavoro e il posto dove sono cresciuto mi rende orgoglioso. Non temo ciò che è locale, regionale. Non temo il legame tra la mia scrittura e un pezzo di terra definito.”Sono parole di Nuno Costa Santos, e non ce ne sono di migliori per descrivere il rapporto tra questo scrittore poliedrico – poeta, romanziere, drammaturgo, sceneggiatore –, la sua lingua e le sue isole. Con lui, Roberto Francavilla, che per Babel lo ha tradotto per la prima volta in italiano.Babel Festival, BellinzonaSabato 16 Settembre 2023AzzorrreNuno Costa Stanos con Roberto FrancavillaNuno Costa SantosOriginario delle Azzorre, Nuno Costa Santos è poeta, romanziere e drammaturgo, nonché autore radiofonico e televisivo. Nato e cresciuto a São Miguel, ha studiato e vissuto per ventisette anni a Lisbona prima di tornare nelle Azzorre per scrivere della vita e della cultura delle isole. Ha pubblicato il romanzo Céu Nublado com Boas Abertas, la raccolta di poesie Morrer é Não Ter Nada nas Mãos, e l'opera teatrale I Don't Belong Here. Il suo libro più recente è Como um Marinheiro Eu Partirei – Uma Viagem com Jacques Brel. Dirige la rivista letteraria Grotta e il festival letterario Arquipélago de Escritores.IL POSTO DELLE PAROLEascoltare fa pensarewww.ilpostodelleparole.itQuesto show fa parte del network Spreaker Prime. Se sei interessato a fare pubblicità in questo podcast, contattaci su https://www.spreaker.com/show/1487855/advertisement

Falando de História
Miscelânea Histórica #52

Falando de História

Play Episode Listen Later Jul 17, 2023 13:37


Esta semana relembramos o historiador José Mattoso (1933-2023) e falamos do desastre da latrina de Erfurt, a 26 de Julho de 1184, e da criação da Fundação Calouste Gulbenkian, a 18 de Julho de 1956. Sugestões da Semana 1. José Mattoso - A identificação de um país. Lisboa: Temas e Debates, 2015. 2. José Mattoso - A história contemplativa. Lisboa: Temas e Debates, 2020. ----- Obrigado aos patronos do podcast: Andrea Barbosa, Oliver Doerfler; Domingos Ferreira, Pedro Ferreira, Vera Costa, Gilberto Abreu, Daniel Murta, João Cancela, Rui Roque; João Diamantino, Joel José Ginga, Nuno Esteves, Carlos Castro, Simão Ribeiro, Tiago Matias, João Ferreira, João Canto, António Silva, Gn, André Chambel, André Silva, Luis, João Barbosa, António Farelo, Fernando Esperança, Tiago Sequeira, Rui Rodrigues, André Marques, João Félix, Soraia Espírito Santo. ----- Ouve e gosta do podcast? Se quiser apoiar o Falando de História, contribuindo para a sua manutenção, pode fazê-lo via Patreon: https://patreon.com/falandodehistoria ----- Música: "Five Armies" e “Magic Escape Room” de Kevin MacLeod (incompetech.com); Licensed under Creative Commons: By Attribution 4.0 License, http://creativecommons.org/licenses/by/4.0 A edição de áudio é de Marco António.

45 Graus
#146 Raquel Vaz Pinto - Estamos a entrar numa guerra fria entre os EUA e a China?

45 Graus

Play Episode Listen Later May 31, 2023 100:55


Raquel Vaz-Pinto é Investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa e Prof. Auxiliar Convidada da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da mesma Universidade, onde lecciona as disciplinas de Estudos Asiáticos e História das Relações Internacionais. Foi consultora do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian de 2020 a 2022 e Presidente da Associação Portuguesa de Ciência Política de 2012 a 2016. Autora de vários artigos e livros entre os quais A Grande Muralha e o Legado de Tiananmen, a China e os Direitos Humanos editado pela Tinta-da-China e Os Portugueses e o Mundo editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.  Os seus interesses de investigação são Política Externa e Estratégia Chinesa; os EUA e o Indo-Pacífico; e Liderança e Estratégia. É analista residente de política internacional da SIC e da TSF. Actualmente, está a terminar um livro, que será publicado pela Tinta-da-china, sobre os desafios colocados pela China às democracias liberais europeias, incluindo a portuguesa. ->Workshop de Pensamento Crítico: sessões de Lisboa, Porto e online esgotadas! Inscreva-se aqui para ser avisado(a) de futuras edições. -> Apoie este podcast e faça parte da comunidade de mecenas do 45 Graus em: 45grauspodcast.com _______________ Índice (com timestamps): ​(9:47) O que mudou na rivalidade CN-EUA desde o nosso episódio de 2018? | Wolf warrior diplomacy | Os diplomatas chineses mal-comportados | Índia | Quad (30:18) A política externa dos EUA em relação à China começou por ser complacente e tornou-se demasiado agressiva? | Artigo de John Mearsheimer | Estratégia dos G7 em relação à CN: do decoupling ao de-risking | Matérias primas críticas e terras raras (e aqui) (42:10) Já podemos falar de uma Guerra Fria entre EUA e CN? | A Armadilha de Tucídides (Livro: História da Guerra do Peloponeso)| Houve uma crença exagerada no Ocidente nos efeitos da abertura económica? | Como os manuais de economia americanos sobrevalorizam a economia da URSS | Frase atribuída a Deng Xiaoping: «Hide your strength, bide your time» (55:26) Comparação China vs URSS | O papel da ideologia na guerra fria vs na nova ‘ordem chinesa' | Aumento do autoritarismo do regime chinês | Digital Dictators | Cimeira da Ásia Central, sem a Rússia | Nova política externa defendida pelo SPD alemão | A nova ambição da China para o Ártico (1:18:37) O que esperar do futuro -- e o que fazer para evitar uma escalada do conflito? | Tese do ‘peak China' | O problema demográfico da china (e os telefonemas aos recém-casados) | Livro: Leftover Women, de Leta Hong Fincher | Episódio com Hu Jintao no congresso do CCP | European Critical Raw Materials Act | A integração económica é um garante de que não ocorre uma guerra ou é, pelo contrário, uma fonte permanente de tensões? _______________ Pode parecer estranho o que vou dizer -- tendo em conta que a política internacional parece estar  dominada pela Guerra da Ucrânia desde fevereiro do ano passado -- mas a verdade é que, muito provavelmente, não será este o tema central das Relações Internacionais da nossa época.  O tema que vai marcar, muito provavelmente, as próximas décadas é outro: a rivalidade entre os Estados Unidos e a China, que se vai instalando à medida que esta vai ascendendo na ordem internacional e disputando a ordem unipolar até aqui dominada pelos norte-americanos. Há mesmo quem ache que já estamos a viver uma nova Guerra Fria entre as duas potências. Esta ideia não será novidade para os mais atentos a estas lides, e sobretudo não o é para quem ouviu o episódio #38 do 45 Graus, publicado em 2018, cuja convidada foi Raquel Vaz Pinto. O tema geral desse episódio foi a China e um dos tópicos que discutimos foi, precisamente, até que ponto a rivalidade entre Pequim e Washington iria marcar as próximas décadas. Ora, se já na altura, há quase 5 anos, isso era uma probabilidade forte, hoje é quase uma certeza. Ao mesmo tempo, passou-se entretanto muita coisa na relação entre os dois países, desenvolvimentos esses que nos vieram dar uma ideia mais clara (embora ainda repleta de incógnitas) sobre a forma que esta rivalidade poderá tomar nos próximos anos. Além disso, ao longo destes anos, fui recebendo muitos elogios ao episódio -- não só pela relevância do tema (que justificava mais do que um episódio), mas, sobretudo, pela convidada. A Raquel não só sabe muito, como é uma excelente comunicadora.  Por isso, decidi convidá-la para regressar ao 45 Graus para discutir este tema: com mais profundidade do que na 1ª conversa e tirando partido da informação adicional que hoje temos. E ela teve a gentileza de aceitar. Raquel Vaz-Pinto é Investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa e Prof. Auxiliar Convidada da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da mesma Universidade, onde lecciona as disciplinas de Estudos Asiáticos e História das Relações Internacionais. Foi consultora do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian de 2020 a 2022 e Presidente da Associação Portuguesa de Ciência Política de 2012 a 2016. Autora de vários artigos e livros entre os quais A Grande Muralha e o Legado de Tiananmen, a China e os Direitos Humanos editado pela Tinta-da-China e Os Portugueses e o Mundo editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.  Os seus interesses de investigação são Política Externa e Estratégia Chinesa; os EUA e o Indo-Pacífico; e Liderança e Estratégia. É analista residente de política internacional da SIC e da TSF. Actualmente, a terminar um livro, que será publicado pela Tinta-da-china, sobre os desafios colocados pela China às democracias liberais europeias, incluindo a portuguesa. Quando gravámos a nossa conversa em 2018, estas tensões entre os EUA e a China estavam ainda, de certa forma, no início. Donald Trump tinha tomado posse apenas no início do ano anterior, pondo em prática uma mudança radical na postura americana em relação à China, impondo tarifas a uma série de bens chineses. Essa medida gerou uma réplica do lado chinês, dando início a uma guerra comercial entre os dois países.  Mas, desde então, já muita tinta correu. A guerra comercial -- mesmo já com a Administração Biden -- acentuou-se e estendeu-se a outras áreas, e os dois países têm acumulado várias divergências na arena internacional, nomeadamente em relação à Guerra da Ucrânia, na qual a China tem adoptado uma postura no mínimo ambivalente. teoricamente neutra mas, na prática, próxima da Russia. Ao mesmo tempo, a retórica belicosa que Trump tinha inaugurado do lado norte-americano tem sido mais do que correspondida do lado chinês, com líderes políticos e diplomatas a adoptarem um discurso cada vez mais assertivo (e, em alguns casos, mesmo agressivo). Estas disputas comerciais e divergências geopolíticas são, no entanto, segundo muitos analistas, apenas as causas próximas do aumento da conflitualidade entre CN e EUA. A causa última – o factor fundamental por trás desta mudança – reside, para muitos, na denominada ‘Armadilha de Tucídides', de que falámos também no episódio de 2018.  A ‘armadilha' tem este nome porque foi postulada pela primeira vez pelo historiador ateniense Tucídides, na sua História da Guerra do Peloponeso, que opôs Atenas a Esparta. Segundo ele, a guerra entre os dois era inevitável, uma vez que Atenas estava a crescer e ganhar poder, o que fazia aumentar a sua ambição, enquanto essa situação gerava em Esparta, o poder incumbente uma forte ansiedade.  Esta ideia tem sido amplamente discutida nos últimos tempos, a propósito da rivalidade CN-EUA, por académicos e analistas, tanto do lado norte-americano como também do chinês. Um dos mais conhecidos é Graham Allison, que popularizou o conceito no seu livro: Destined for War: Can America and China Escape Thucydides's Trap? , Segundo os proponentes da “Armadilha”, sempre que uma potência emergente ameaça substituir uma potência hegemónica existe uma tendência inexorável para a guerra entre as duas. Aplicada à relação entre a China e os EUA, isto implica que à medida que o poder económico e militar da primeira se vai aproximando do dos EUA, isso cria-lhe, inevitavelmente, um sentimento de auto-importância crescente e de direito a ter um papel mais activo na política global. Ao mesmo tempo, cria nos Estados Unidos, a potência incumbente, medo, insegurança e uma determinação de defender o status quo a todo o custo .  Esta visão da Armadilha de Tucídides enquanto espécie de “lei das relações internacionais” atinge o seu pináculo em académicos da chamada escola ultra-realista das RI. O maior exemplo -- de quem falamos no episódio -- é talvez John Mearsheimer (de quem também falei no episódio sobre a Guerra da Ucrânia, com Lívia Franco).  Para Mearsheimer, esta armadilha é de tal modo uma inevitabilidade, que afirma que o governo norte-americano deveria ter antecipado o perigo do crescimento económico acelerado da China e, simplesmente, tentado impedi-lo.  Ancorados nesta ideia, há, assim, um número crescente de analistas e oficiais -- tanto nos Estados Unidos como na China -- que discutem hoje, abertamente, a possibilidade de um conflito entre os dois países, seja ele uma guerra directa (de maior ou menor escala) ou uma guerra fria, como a com a URSS, sem conflitos directos mas com as charadas “guerras por procuração”.  No entanto, como a Raquel chama a atenção, as RI são demasiado complexas para podermos tomar esta armadilha como lei de forma simplista. Há factores que contribuem para este desenlace, mas outros há que não e, sobretudo, persistem ainda muitas incógnitas sobre o que pode acontecer.  Espero que gostem! _______________ Obrigado aos mecenas do podcast: Francisco Hermenegildo, Ricardo Evangelista, Henrique Pais João Baltazar, Salvador Cunha, Abilio Silva, Tiago Leite, Carlos Martins, Galaró family, Corto Lemos, Miguel Marques, Nuno Costa, Nuno e Ana, João Ribeiro, Helder Miranda, Pedro Lima Ferreira, Cesar Carpinteiro, Luis Fernambuco, Fernando Nunes, Manuel Canelas, Tiago Gonçalves, Carlos Pires, João Domingues, Hélio Bragança da Silva, Sandra Ferreira , Paulo Encarnação , BFDC, António Mexia Santos, Luís Guido, Bruno Heleno Tomás Costa, João Saro, Daniel Correia, Rita Mateus, António Padilha, Tiago Queiroz, Carmen Camacho, João Nelas, Francisco Fonseca, Rafael Santos, Andreia Esteves, Ana Teresa Mota, ARUNE BHURALAL, Mário Lourenço, RB, Maria Pimentel, Luis, Geoffrey Marcelino, Alberto Alcalde, António Rocha Pinto, Ruben de Bragança, João Vieira dos Santos, David Teixeira Alves, Armindo Martins , Carlos Nobre, Bernardo Vidal Pimentel, António Oliveira, Paulo Barros, Nuno Brites, Lígia Violas, Tiago Sequeira, Zé da Radio, João Morais, André Gamito, Diogo Costa, Pedro Ribeiro, Bernardo Cortez Vasco Sá Pinto, David , Tiago Pires, Mafalda Pratas, Joana Margarida Alves Martins, Luis Marques, João Raimundo, Francisco Arantes, Mariana Barosa, Nuno Gonçalves, Pedro Rebelo, Miguel Palhas, Ricardo Duarte, Duarte , Tomás Félix, Vasco Lima, Francisco Vasconcelos, Telmo , José Oliveira Pratas, Jose Pedroso, João Diogo Silva, Joao Diogo, José Proença, João Crispim, João Pinho , Afonso Martins, Robertt Valente, João Barbosa, Renato Mendes, Maria Francisca Couto, Antonio Albuquerque, Ana Sousa Amorim, Francisco Santos, Lara Luís, Manuel Martins, Macaco Quitado, Paulo Ferreira, Diogo Rombo, Francisco Manuel Reis, Bruno Lamas, Daniel Almeida, Patrícia Esquível , Diogo Silva, Luis Gomes, Cesar Correia, Cristiano Tavares, Pedro Gaspar, Gil Batista Marinho, Maria Oliveira, João Pereira, Rui Vilao, João Ferreira, Wedge, José Losa, Hélder Moreira, André Abrantes, Henrique Vieira, João Farinha, Manuel Botelho da Silva, João Diamantino, Ana Rita Laureano, Pedro L, Nuno Malvar, Joel, Rui Antunes7, Tomás Saraiva, Cloé Leal de Magalhães, Joao Barbosa, paulo matos, Fábio Monteiro, Tiago Stock, Beatriz Bagulho, Pedro Bravo, Antonio Loureiro, Hugo Ramos, Inês Inocêncio, Telmo Gomes, Sérgio Nunes, Tiago Pedroso, Teresa Pimentel, Rita Noronha, miguel farracho, José Fangueiro, Zé, Margarida Correia-Neves, Bruno Pinto Vitorino, João Lopes, Joana Pereirinha, Gonçalo Baptista, Dario Rodrigues, tati lima, Pedro On The Road, Catarina Fonseca, JC Pacheco, Sofia Ferreira, Inês Ribeiro, Miguel Jacinto, Tiago Agostinho, Margarida Costa Almeida, Helena Pinheiro, Rui Martins, Fábio Videira Santos, Tomás Lucena, João Freitas, Ricardo Sousa, RJ, Francisco Seabra Guimarães, Carlos Branco, David Palhota, Carlos Castro, Alexandre Alves, Cláudia Gomes Batista, Ana Leal, Ricardo Trindade, Luís Machado, Andrzej Stuart-Thompson, Diego Goulart, Filipa Portela, Paulo Rafael, Paloma Nunes, Marta Mendonca, Teresa Painho, Duarte Cameirão, Rodrigo Silva, José Alberto Gomes, Joao Gama, Cristina Loureiro, Tiago Gama, Tiago Rodrigues, Miguel Duarte, Ana Cantanhede, Artur Castro Freire, Rui Passos Rocha, Pedro Costa Antunes, Sofia Almeida, Ricardo Andrade Guimarães, Daniel Pais, Miguel Bastos, Luís Santos _______________ Esta conversa foi editada por: Hugo Oliveira

Histoire Vivante - La 1ere
Portugal, de la dictature à la démocratie (4/5)

Histoire Vivante - La 1ere

Play Episode Listen Later Mar 9, 2023 29:06


En 1968 au Portugal, le nouvel homme fort du pays Marcelo Caetano initie un "changement dans la continuité" mais fait face à la lassitude de l'armée, à une population de plus en plus désenchantée et à la grogne des industriels. La révolution dite des Œillets couve et l'insurrection est déclenchée le 25 avril 1974. Pour évoquer cette période, Laurent Huguenin-Elie retrouve deux historiens spécialistes du Portugal: Yves Léonard, membre du centre d'histoire de Science Po en France et Victor Pereira, chercheur à l'Université nouvelle de Lisbonne. Sur cette photo prise entre 1940 et 1944, la cérémonie est présidée par Marcelo Caetano (à droite), futur président du Conseil des ministres. C'est suite à un coup d'État militaire, survenu le 25 avril 1974, que le gouvernement dirigé par Marcelo Caetano depuis 1968 est renversé. Les jours suivants, les prisonniers politiques sont libérés, la censure de la presse est levée et le secrétaire général du parti socialiste, Mário Soares, rentre de son exil en France. (© Edgar Medina/Art Library Fundação Calouste Gulbenkian/flickr)

Falando de História
Miscelânea Histórica #37

Falando de História

Play Episode Listen Later Nov 28, 2022 10:23


Nesta Miscelânea falamos da nova exposição da Fundação Calouste Gulbenkian, Faraós Superstars, e chamamos a atenção para a série de pseudo-arqueologia/ciência da netflix Ancient Apocalypse / Revelações Pré-Históricas (referência aos artigos: The Conversation; Slate; The Guardian). Sugestões da semana Ciclo de cinema: Luz e Sombra - Representações da Idade Média no Cinema, Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, 2 a 30 de Dezembro 2022; mais informações: https://iem.fcsh.unl.pt/section.aspx?kind=noticia&id=2426 Geoffrey Parker - O Rei Imprudente. A vida de Filipe I de Portugal e II de Espanha. Lisboa: Desassossego, 2022. >> Ouve e gosta do podcast? Se quiser apoiar o Falando de História, contribuindo para a sua manutenção, pode fazê-lo via Patreon: https://patreon.com/falandodehistoria Música: "Hidden Agenda" Kevin MacLeod (incompetech.com) - Licensed under Creative Commons: By Attribution 4.0 License, http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

Deixar o Mundo Melhor
Artur Santos Silva

Deixar o Mundo Melhor

Play Episode Listen Later Sep 16, 2022 44:05


Nasceu no Porto a 22 de maio de 1941 e cresceu na zona oriental da cidade, "o Porto menos desenvolvido". Filho de um advogado da oposição ao regime do Estado Novo, Artur Santos Silva conta que o pai o matriculou no colégio onde os primos andavam para "não ter de pertencer à Mocidade Portuguesa" - que, à época, era obrigatória no ensino público. O banqueiro que durante muitos anos foi o rosto do BPI - Banco Português de Investimento recorda o seu professor de Francês, Manuel Francisco Rodrigues, que escreveu o livro "Tarrafal, Aldeia da Morte", fala da sua vida na Faculdade de Direito de Coimbra onde se licenciou e foi assistente, dos primeiros anos do BPI, da sua curta passagem pelo PPD (hoje PSD) quando o partido foi criado, e do brinde que fez em casa de Francisco Sá Carneiro no dia 25 de Abril de 1974 com um "champanhe que ele tinha guardado para esta ocasião". Aos 81 anos está à frente da Fundação "La Caixa", cujo trabalho social inclui a criação de uma "rede de cuidados paliativos,  porque o sistema de saúde português não estava a funcionar bem nesta área". Foi presidente da Fundação Calouste Gulbenkian (2011-2017) e da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, e secretário de Estado do Tesouro no VI Governo Provisório (1975-1976).See omnystudio.com/listener for privacy information.

Crime Time FM
MARK ELLIS In Person With Paul

Crime Time FM

Play Episode Listen Later Aug 18, 2022 56:07


MARK ELLIS chats to Paul Burke about the latest Frank Merlin mystery DEAD IN THE WATER, wartime London, the American army in the UK, what makes good historical writing and the richest man in the world at the time Calouste Gulbenkian.DEAD IN THE WATER: Summer, 1942. The Second World War rages on but Britain now faces the Nazi threat with America at its side.In a bombed-out London swarming with gangsters and spies, DCI Frank Merlin continues his battle against rampant wartime crime. A mangled body is found in the Thames just as some items of priceless art go mysteriously missing. What sinister connection links the two?Merlin and his team follow a twisting trail of secrets and lies as they investigate a baffling and deadly puzzle .MARK ELLIS is a thriller writer from Swansea and a former barrister and entrepreneur. Mark grew up under the shadow of his parents' experience of the Second World War. His father served in the wartime navy and died a young man. His mother told him stories of watching the heavy bombardment of Swansea from the safe vantage point of a hill in Llanelli, and of attending tea dances in wartime London under the bombs and doodlebugs.In consequence, Mark has always been fascinated by World War II and, in particular, the Home Front and the fact that while the nation was engaged in a heroic endeavour, crime flourished. Murder, robbery, theft and rape were rife. Mark is author of the DCI Frank Merlin series, Mark is also a member of the Crime Writer's Association and Crime Cymru.Recommendations:Nigh and the City - Gerald Kersh. Film by Jules DassinA Place of Greater Safety - Hilary MantelThe Accursed Kings - Maurice DruonMy Friend Maigret - Georges Simenon(mentioned Citizens - Simon SchamaHereward the Wake - Charles Kingsley)Produced by Junkyard DogMusic courtesy of Southgate and LeighCrime TimePaul Burke writes for Crime Time, Crime Fiction Lover and the European Literature Network. He is also a CWA Historical Dagger Judge 2022 .

45 Graus
#117 Fernando Alexandre - “Do made in ao created in: um novo paradigma para a economia portuguesa”

45 Graus

Play Episode Listen Later Mar 9, 2022 70:06


Fernando Alexandre é professor de economia na Universidade do Minho, vice-presidente do Conselho Económico e Social e consultor da Fundação Francisco Manuel dos Santos.  -> Apoie este projecto e faça parte da comunidade de mecenas do 45 Graus em: 45graus.parafuso.net/apoiar A economia portuguesa leva já mais de duas décadas de fraco crescimento, algo que não se verificava desde que existem dados oficiais do PIB, meados do sec XIX. Em consequência, o nosso PIB per capita caiu em 20 anos da 16.ª posição entre os países da UE a 28, para o 21º lugar, correspondendo a 77% do valor médio da União. Por outras palavras, o caminho de convergência do PIB com a média europeia não só não tem continuado como se tem revertido este século. Este abrandamento tem, obviamente, vários efeitos negativos no nível de vida da população e na preparação do país para lidar com desafios futuros, como o envelhecimento da população ou as alterações climáticas. Depois de anos em que este assunto foi mais ou menos ignorado, nos últimos anos este tem finalmente ganho peso no debate público, tal como foi visível na campanha das últimas eleições legislativas. E, independente da opinião em relação às culpas e causas deste estado de coisas, existe hoje um relativo consenso no espectro político e em quem pensa o país que este é um problema que temos de resolver. Claro que reflectir, desenhar e implementar políticas públicas para pôr o país a crescer não nos garante que consigamos fazê-lo; mas se não planejarmos aí é que é quase certo que a situação não vai mudar.  A reboque da maior visibilidade que este tema ganhou, saíram também nos últimos tempos vários estudos vindos de instituições da sociedade civil com propostas para pôr a economia a crescer. Assim de repente, lembro-me de um documento discutido no último congresso da SEDEs, em Outubro; do relatório publicado há um mês pela Fundação Gulbenkian com cenários para o futuro do país; e do estudo de que vamos falar neste episódio, publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e coordenado pelo convidado, Fernando Alexandre: “Do made in ao created in: um novo paradigma para a economia portuguesa”.  O estudo tem por base um trabalho de investigação feito por uma equipa de economistas nacionais -- coordenada pelo convidado -- cujo trabalho foi acompanhado por um Comité de especialistas nacionais e internacionais, de diferentes áreas. É, por isso, mais do que um levantamento de dados, um estudo abrangente baseado em análises académicas com um «policy paper» para cada uma das sete áreas analisadas. O relatório propõe, como o nome indica, um novo paradigma de crescimento para a economia portuguesa, menos baseado em oferecer mão-de-obra barata e mais baseado na inovação. As propostas de políticas públicas dividem-se em três pilares: Instituições e ambiente económico; Investigação, ensino superior e qualificações; e infraestruturas.  Durante a nossa conversa, discutimos algumas destas propostas em profundidade e falámos de alguns problemas de fundo que o país deve corrigir. Claro que tanto o estudo como esta discussão são apenas um contributo para uma discussão que tem de ser ampla e que vai necessariamente demorar tempo.  _______________ Índice da conversa: (4:27) Porque é importante discutir este tema? O que é especial neste estudo? Empresas-fronteira (19:46) Porque é tão importante melhorar a qualidade das instituições? | Melhorar a governação dos reguladores. Validar os ministros no parlamento e manter a configuração dos ministérios (27:02) Porque precisamos de empresas maiores? | Melhorar ambiente económico | Aumentar acesso a capital | Parceria Bosch - Universidade do Minho (35:16) A nossa dificuldade (cultural) em fazer escolhas na afectação de fundos | O caso da Outsystems em Franca (39:08) Regras para aplicar bem fundos do Estado / da UE. (45:31) O problema das “empresas zombie” (48:34) Uma mudança de paradigma nas Universidades | Ranking de Shanghai. | Programa Horizon da UE (57:30) A importância de ter universidades e regiões estrela. E a necessidade de fazer escolhas. (1:00:22) Em que áreas deve Portugal apostar? | Vantagem comparativa nas energias renováveis Livro: O Poder da Destruição Criadora (Inovação, crescimento e o futuro do capitalismo), de Philippe Aghion, Simon Bunel e Céline Antonin  (1:05:57) O mistério da China | Paper do convidado: The political economy of productivity growth _______________ Obrigado aos mecenas do podcast: Julie Piccini, Ana Raquel Guimarães Galaró family, José Luís Malaquias, Francisco Hermenegildo, Nuno Costa, Abílio Silva, Salvador Cunha, Bruno Heleno, António llms, Helena Monteiro, BFDC, Pedro Lima Ferreira, Miguel van Uden, João Ribeiro, Nuno e Ana, João Baltazar, Miguel Marques, Corto Lemos, Carlos Martins, Tiago Leite Tomás Costa, Rita Sá Marques, Geoffrey Marcelino, Luis, Maria Pimentel, Rui Amorim, RB, Pedro Frois Costa, Gabriel Sousa, Mário Lourenço, Filipe Bento Caires, Diogo Sampaio Viana, Tiago Taveira, Ricardo Leitão, Pedro B. Ribeiro, João Teixeira, Miguel Bastos, Isabel Moital, Arune Bhuralal, Isabel Oliveira, Ana Teresa Mota, Luís Costa, Francisco Fonseca, João Nelas, Tiago Queiroz, António Padilha, Rita Mateus, Daniel Correia, João Saro João Pereira Amorim, Sérgio Nunes, Telmo Gomes, André Morais, Antonio Loureiro, Beatriz Bagulho, Tiago Stock, Joaquim Manuel Jorge Borges, Gabriel Candal, Joaquim Ribeiro, Fábio Monteiro, João Barbosa, Tiago M Machado, Rita Sousa Pereira, Henrique Pedro, Cloé Leal de Magalhães, Francisco Moura, Rui Antunes7, Joel, Pedro L, João Diamantino, Nuno Lages, João Farinha, Henrique Vieira, André Abrantes, Hélder Moreira, José Losa, João Ferreira, Rui Vilao, Jorge Amorim, João Pereira, Goncalo Murteira Machado Monteiro, Luis Miguel da Silva Barbosa, Bruno Lamas, Carlos Silveira, Maria Francisca Couto, Alexandre Freitas, Afonso Martins, José Proença, Jose Pedroso, Telmo , Francisco Vasconcelos, Duarte , Luis Marques, Joana Margarida Alves Martins, Tiago Parente, Ana Moreira, António Queimadela, David Gil, Daniel Pais, Miguel Jacinto, Luís Santos, Bernardo Pimentel, Gonçalo de Paiva e Pona , Tiago Pedroso, Gonçalo Castro, Inês Inocêncio, Hugo Ramos, Pedro Bravo, António Mendes Silva, paulo matos, Luís Brandão, Tomás Saraiva, Ana Vitória Soares, Mestre88 , Nuno Malvar, Ana Rita Laureano, Manuel Botelho da Silva, Pedro Brito, Wedge, Bruno Amorim Inácio, Manuel Martins, Ana Sousa Amorim, Robertt, Miguel Palhas, Maria Oliveira, Cheila Bhuralal, Filipe Melo, Gil Batista Marinho, Cesar Correia, Salomé Afonso, Diogo Silva, Patrícia Esquível , Inês Patrão, Daniel Almeida, Paulo Ferreira, Macaco Quitado, Pedro Correia, Francisco Santos, Antonio Albuquerque, Renato Mendes, João Barbosa, Margarida Gonçalves, Andrea Grosso, João Pinho , João Crispim, Francisco Aguiar , João Diogo, João Diogo Silva, José Oliveira Pratas, João Moreira, Vasco Lima, Tomás Félix, Pedro Rebelo, Nuno Gonçalves, Pedro , Marta Baptista Coelho, Mariana Barosa, Francisco Arantes, João Raimundo, Mafalda Pratas, Tiago Pires, Luis Quelhas Valente, Vasco Sá Pinto, Jorge Soares, Pedro Miguel Pereira Vieira, Pedro F. Finisterra, Ricardo Santos _______________ Esta conversa foi editada por: Hugo Oliveira _______________ Bio: Professor Associado com Agregação da Universidade do Minho, vice-presidente do Conselho Económico e Social e consultor da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Na Universidade do Minho exerceu as funções de Pró-Reitor, presidente da Escola de Economia e Gestão e director do Departamento de Economia. Foi presidente do Conselho de Administração da SBS Startup Braga, SA, e secretário de Estado Adjunto do ministro da Administração Interna no XIX Governo Constitucional. Autor e coordenador de sete livros sobre a economia portuguesa e de artigos publicados em revistas científicas internacionais como a «World Economy», «Open Economies Review», «Regional Studies», «CESifo Economic Studies», «Journal of Technology Transfer» ou «Higher Education». Colaborou como consultor com entidades públicas e privadas, como a Comissão Europeia, o Governo português, a Fundação Francisco Manuel dos Santos, a Fundação Calouste Gulbenkian, o Tribunal de Contas, a Confederação Empresarial de Portugal (CIP), a Associação Portuguesa de Seguradores ou a Associação Comercial do Porto. É membro do painel de comentadores do programa 360º da RTP3 e colabora regularmente com os media.

Expresso - Expresso da Manhã
Que país queremos ter? Portugal precisa da sua opinião

Expresso - Expresso da Manhã

Play Episode Listen Later Feb 18, 2022 13:25


A Fundação Calouste Gulbenkian apresenta hoje um estudo de prospetiva, coordenado pelo economista José Manuel Félix Ribeiro, que faz previsões sobre o futuro do país com base em diferentes cenários, sempre com a ideia de que não podemos continuar a fazer tudo da mesma maneira, esperando resultados diferentes. A Gulbenkian, partindo deste trabalho, vai levar o debate a todo o país. Conversamos com Miguel Poiares Maduro. See omnystudio.com/listener for privacy information.