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Sobreviver à prisão do Tarrafal

Convidado

Play Episode Listen Later Jun 26, 2025 20:42


Nos 50 anos da independência de Cabo Verde, a RFI publica várias reportagens sobre o tema. Neste oitavo episódio, vamos até ao Museu - Campo de Concentraçao do Tarrafal, na ilha de Santiago, guiados pelos antigos presos políticos Gil Querido Varela e António Pedro da Rosa.  Nesta viagem a um passado não muito distante, Gil Querido Varela, 90 anos, e António Pedro da Rosa, 76 anos, levam-nos ao Campo de Concentração do Tarrafal, convertido em museu com dez salas de exposição. Os dois fazem parte dos 20 “nomes da liberdade” inscritos na sala dos presos cabo-verdianos, onde também estão expostas as suas fotografias. “Ao chegar recordamos o que tínhamos passado por aqui. E, às vezes, também procuramos esquecer o que passámos por aqui”, começa por dizer António Pedro da Rosa à chegada ao Campo de Concentração do Tarrafal. Gil Querido Varela completa: “O passado volta, lembro-me do primeiro dia em que aqui cheguei. Até hoje. Lembro-me também do dia 1 de Maio de 74, quando regressei e estavam saindo todos.” A viagem começa na Praia, com António Pedro da Rosa, e pelo caminho vamos buscar o seu amigo até chegarmos à aldeia de Chão Bom, no Tarrafal. Uma hora de carro a percorrer a ilha de Santiago, em Cabo Verde, para chegar ao local que ficou conhecido como “campo da morte lenta”, numa primeira fase, entre 1936 e 1954, quando 32 opositores políticos à ditadura ali morreram perante condições tenebrosas para os que ali foram desterrados de Portugal. Sobre essa altura, Gil Querido Varela cita um preso: “Aqui no campo não se vive, aguarda-se a morte. Lenta, mas certa.” Quando Gil e António aqui chegaram, o campo já tinha mudado de nome. O ditador português, António de Oliveira Salazar, tinha sido obrigado a desactivar a colónia penal por pressão da comunidade internacional, alertada pelos relatos do tratamento desumano dado aos presos e pelas condições do espaço. Com o início das lutas pela independência, o campo reabre, em 1962, para prender anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Passara a ser “Campo de Trabalho de Chão Bom”. Mas de bom pouco havia a não ser os laços que os presos ali criaram e a própria reinvenção da vida. Até 1974, ali estiveram presos 20 cabo-verdianos, 106 angolanos e 100 guineenses. Quatro morreram lá dentro. Gil Querido Varela, conhecido por "Kid Varela", interessou-se pela política desde pequeno, durante uma das grandes fomes de Cabo Verde, em 1947. “Quem viu aquela fome, não podia ficar indiferente”, conta. Em 1965, concorre a um lugar de professor, mas não consegue o emprego por ter uma classificação negativa da polícia política. Nesse ano, adere ao PAIGC num grupo coordenado por Felisberto Vieira Lopes. Junta-se, entretanto, ao grupo de Fernando Tavares, “Toco”, e foi detido depois dele, em 1968, e no mesmo dia que outros membros desse grupo, incluindo o seu parente José Maria Ferreira Querido. Primeiro foi interrogado e torturado na polícia, no Plateau, a seguir foi transferido para a Cadeia Civil da Praia e entrou no Tarrafal em Abril de 1970 com “Toco” e José Querido. Os três foram logo atirados para as celas disciplinares, na obscuridade, e o director da prisão, Eduardo Fontes, conhecido como “Dadinho”, disse-lhe que “escuridão era bom para a vista”. Gil Querido Varela e os seus companheiros eram acusados de “crime contra a segurança interior e exterior do Estado”, nomeadamente por suspeição de estarem a preparar um possível desembarque de elementos de Amílcar Cabral em Cabo Verde. Foram enviados para julgamento em São Vicente, em Outubro, sendo absolvidos por falta de provas e saindo em liberdade a 9 de Janeiro de 1971. Este foi o último julgamento de presos do Tarrafal. “Eles não tinham provas porque não trabalhávamos com papéis”, acrescenta, em referência aos tempos da luta clandestina. António Pedro da Rosa entrou no Tarrafal sem saber por quanto tempo ficaria preso. Ele e vários outros nacionalistas foram detidos no caso Pérola do Oceano, uma operação planeada pela polícia política portuguesa para prender militantes e responsáveis do PAIGC. Um indivíduo tinha fingido ser um elemento do PAIGC vindo da Guiné e convenceu vários militantes de Santa Catarina, em Santiago, que se iria desviar um barco para se juntarem à luta armada na Guiné. No dia da tomada do barco, a 20 de Agosto, António e vários membros do PAIGC são presos, levados para a cidade da Praia, interrogados e torturados. Durante sete meses estiveram às mãos da PIDE e dos seus interrogatórios nocturnos. António Pedro da Rosa foi para o Tarrafal em Fevereiro  de 1971 e de lá só saiu três anos depois, a 1 de Maio de 1974.  “Veio um senhor chamado José Reis Borges e ele convidou-nos para assaltar o Pérola do Oceano para irmos para o Senegal e, depois, íamos entrar nas fileiras do partido para uma luta da independência na Guiné. Foi assim que viemos parar aqui. Mas o José não era do PAIGC, ele simplesmente veio a mando do próprio Governo português para detectar as pessoas que trabalhavam na clandestinidade pela luta da independência”, lembra. Com a chegada dos presos ligados ao caso do "Pérola do Oceano", o primeiro grupo de cabo-verdianos que lá estava organiza-se para os apoiar nos estudos. As aulas funcionavam na sala comum onde estavam todos os cabo-verdianos. Só tinham direito a sair meia hora de manhã e meia hora à tarde. António Pedro da Rosa conheceu aí referências da luta anticolonial como Lineu Miranda, Luís Fonseca, Carlos Tavares e Jaime Schofield que se ocuparam das aulas. No Tarrafal estudava-se e a luta continuava. Os presos políticos cabo-verdianos aliciaram secretamente para a causa anti-colonialista dois guardas também cabo-verdianos através dos quais conseguiram fazer entrar familiares que lhes passavam informações, mas também um receptor de rádio portátil. Um desses guardas, sobrinho de Gil Querido Varela, ensinou-os até a manejar armas. As escondidas, claro está. “Ele é que nos deu a arma. Ele tirou a munição e entregou-nos a pistola aqui dentro da célula e disse: ‘Quem sabe manejar, ensina os que não sabem.' Assim é que quem não sabia manejar a pistola aprendeu nesta circunstância. Ele trazia consigo um cão que o ajudava se visse o director”, conta António. Gil Querido Varela pensa que foi esse guarda que teria levado o aparelho de rádio para a prisão, o que ajudava a estar a par dos avanços da luta armada na Guiné. Os dois amigos continuam a visita guiada à prisão, como guardiões de um tempo que não querem que seja silenciado. Vamos aos diferentes espaços e vemos a “Holandinha”, uma cela de castigo, minúscula, praticamente sem luz, sem espaço para deitar, em que António tem de baixar a cabeça para estar de pé lá dentro. Esta era a herdeira da ‘frigideira' ou ‘frigorifico', a cela que na primeira fase do campo estava cruelmente exposta ao sol no verão e ao frio no inverno.  A “Holandinha” estava construída dentro da arrecadação anexa à cozinha e era uma estrutura de betão dentro de uma sala. “Era só água para beber, uma lata para defecar e fazia tudo aqui, porta fechada. Davam pão e água uma semana ou conforme o castigo. Se fossem três dias, era três dias a pão e água. Recebia uma lata de cinco litros de água, punham aqui”, acrescenta António, sublinhando que nem ele nem o seu camarada tiveram a “holandinha” como castigo. Porém, por se ter recusado a comer pão azedo, uma vez,  ficou sem poder ter visitas, recorda. Outra das violências mais difíceis era a fome e a subalimentação. O 25 de Abril só chegou ao Tarrafal a 1 de Maio de 1974, quando uma multidão foi ao campo exigir a libertação de todos os presos políticos.  La fora, estava Gil Querido Varela, e lá dentro, António Pedro da Rosa. Os portões abriram-se e os presos foram recebidos em delírio e muitos seguiram em cortejo e festa até à cidade da Praia, a uns 70 quilómetros do Tarrafal, na ponta sul da ilha. “Foi um dia muito feliz”, recorda Gil Varela, enquanto António Pedro da Rosa recorda “a grande emoção” que sentiu. Porém, em Dezembro de 1974, as portas voltaram a fechar-se. No interior ficavam 70 cidadãos cabo-verdianos, adversários do PAIGC e afectos na sua maioria à UDC e à UPICV, formações que não teriam lugar no regime de partido único. Na altura, ainda eram as autoridades portuguesas quem mandava, justificam personalidades do PAIGC. Libertados a pouco e pouco, os últimos presos foram abrangidos por uma amnistia decretada aquando da independência. O campo viria a ser extinto "para sempre" em 19 de Julho de 1975, por uma das primeiras leis de Cabo Verde. No futuro, o Museu do Campo de Concentração do Tarrafal quer ser Património da Humanidade da UNESCO como memória de um dos “cárceres do Império” que tentou condenar ao esquecimento as vozes e as vidas dos resistentes ao colonial-fascismo. A candidatura está a ser trabalhada por Cabo Verde, Portugal, Angola e Guiné-Bissau. No total, entre 1936 e 1974, aqui estiveram encarcerados, na sua maioria sem julgamento, um total de 588 homens, de acordo com o livro “Tarrafal - Campo de Concentração - Presos Políticos e Sociais” de Alfredo Caldeira e João Esteves.   Se quiser aprofundar este assunto, pode ouvir aqui a entrevista integral aos nossos dois convidados.

Convidado
Acordo de Lisboa: A vitória do PAIGC rumo à independência de Cabo Verde

Convidado

Play Episode Listen Later Jun 26, 2025 19:36


Nos 50 anos da independência de Cabo Verde, a RFI publica várias reportagens sobre o tema. Neste nono episódio, falamos da luta política no pós-25 de Abril que se travou dentro e fora de Cabo Verde para culminar no Acordo de Lisboa rumo à independência de 5 de Julho de 1975. Nesta reportagem, vamos ao encontro de Pedro Pires, um dos arquitectos do Acordo de 19 de Dezembro de 1974, e de Silvino da Luz, também dirigente do PAIGC que dirigiu a luta política em Cabo Verde nos meses que se seguiram ao 25 de Abril de 1974. O Acordo de Lisboa foi assinado a 19 de dezembro de 1974 entre o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e o governo Português. O documento representava uma meta histórica na luta de libertação e fixava os termos em que iria decorrer a independência do arquipélago seis meses depois, a 5 de Julho de 1975. Este era o culminar de um intenso processo negocial entre as duas partes e de uma desgastante luta armada, na Guiné- Bissau, de 11 anos. O protocolo de Lisboa surgia meses depois da assinatura dos Acordos de Argel (26 de Agosto), em que o Estado português reconhecia a independência da Guiné-Bissau, proclamada unilateralmente pelo PAIGC, a 24 de Setembro de 1973, reconhecendo também o direito de Cabo Verde à autodeterminação e independência. O Acordo de Lisboa foi rubricado, da parte do PAIGC, por Pedro Pires, Amaro da Luz e José Luís Fernandes Lopes; e, do Estado português, pelos ministros Melo Antunes, Mário Soares e Almeida Santos. O comandante Pedro Pires, hoje com 91 anos, entende que foi feito um “excelente trabalho” por se ter resolvido o conflito e se terem criado condições para relações “amistosas e úteis” com Portugal. “Apesar da nossa inexperiência em matéria de negociações, a nossa inexperiência em matéria de preparação técnica e jurídica para negociações, apesar disso, entendo que fizemos um bom trabalho. Fizemos um excelente trabalho. Está claro que não fizemos o trabalho sozinhos. Tivemos uma assessoria pela qual tenho também muito respeito. Nessa equipa de negociadores, havia duas pessoas que estavam à frente do processo. Eu era o líder ou chefe da delegação, portanto o estratega, e o nosso jurista era o Dr. José Araújo. Eu entendo - é um juízo em causa própria - mas eu entendo que fizemos um bom trabalho porque fizemos duas coisas importantes: resolvemos o conflito, mas, ao mesmo tempo, criámos as condições políticas para o desenvolvimento de relações amistosas com o Estado português, amistosas e úteis com o Estado português”, explica Pedro Pires. Pouco antes do 25 de Abril, em Março de 1974, tinha havido um encontro secreto, em Londres, entre o enviado do governo português, José Manuel Villas-Boas, e três elementos do PAIGC, nomeadamente Silvino da Luz, então representante da Guiné Bissau junto das Nações Unidas. O objectivo era tentar pôr fim à guerra na Guiné, abrir caminho ao reconhecimento da independência desse país, mas a questão de Cabo Verde era colocada na gaveta, conta Silvino da Luz. “Há um facto importantíssimo de que não se fala, um célebre encontro com o enviado de Marcello Caetano em Londres, que teve lugar em Março de 1974. Porque é que não prosseguiu? Porque a nossa delegação continuou as discussões, mas o mandatário não estava legitimado, não tinha instruções para falar de Cabo Verde, só queria falar da Guiné-Bissau e encontrar um meio termo para pôr fim à guerra na Guiné. Quando eu levanto o problema de Cabo Verde, ele diz-me que não tinha instruções, não podia falar sobre isso, e nós, para não dar a missão por falhada, ele aceitou o princípio de regressar a Lisboa, receber instruções, e marcámos a próxima reunião para as primeiras duas semanas de Maio. Isso já não se pôde cumprir porque, entretanto, dá-se o 25 de Abril”, conta Silvino da Luz. Pedro Pires acrescenta, justamente, que “as negociações só foram possíveis com a mudança de regime em Portugal”. “O regime anterior, dirigido por Marcello Caetano e pelo Presidente da República, Américo Tomás, não aceitaria de maneira nenhuma negociar ou, pelo menos, resistiram e não quiseram aceitar. Perderam o poder, foram destituídos e instala-se em Portugal um novo regime e é esse novo regime que decidiu, corajosa mas também inteligentemente, ir para as negociações”, afirma o comandante que tinha participado na luta de libertação de Cabo Verde e Guiné-Bissau e que chefiou a delegação do PAIGC nas conversações de Londres e Argel. O 25 de Abril de 1974 vai acelerar o calendário da história. O Acordo de Lisboa é assinado oito meses depois e, à semelhança dos acordos para os outros territórios independentistas, eles só foram possíveis depois da publicação, a 27 de Julho, em Portugal, da Lei da Descolonização que revogava a norma que impedia o Estado português de qualquer cedência do seu ultramar, conforme a Constituição de 1933. Até à publicação dessa lei, a parte portuguesa tinha dúvidas quanto à forma como realizar essa descolonização: a questão era se deveria consultar as populações, no quadro da chamada autodeterminação dos povos ou se deveria negociar directamente e apenas com os movimentos históricos armados, declarados pela Organização da Unidade Africana e pelas Nações Unidas como os representantes legítimos dos seus povos. De um lado, estavam as forças conservadoras chefiadas pelo general António de Spínola e Presidente da República (a partir de 15 de Maio), que defendera meses antes a tese da federação no livro “Portugal e o futuro”. Do outro, estavam as forças “progressistas” do Movimento das Forças Armadas (MFA), integradas pelos Capitães de Abril. Venceu a tese do MFA no sentido de uma descolonização a mais rápida possível, com a publicação, a 27 de Julho, da Lei da Descolonização. Um diploma que Spínola dirá mais tarde ter sido publicado sem o seu conhecimento prévio e, o mais grave, sem a sua assinatura. Os que hesitavam em entregar o poder ao PAIGC, como Spínola, mas também Mário Soares, argumentavam que do ponto de vista cultural, Cabo Verde estava mais próximo de Portugal que da Guiné e duvidava-se da viabilidade económica do novo Estado, a braços com uma seca desde 1967 e inteiramente dependente de Lisboa para a sua sobrevivência. Por outro lado, no contexto da Guerra Fria, a posição geoestratégica do arquipélago atraía as atenções internacionais e havia quem temesse a sua sovietização. Por isso, o acordo para “Cabo Verde não foi tão fácil como parecia à primeira vista”, admite Pedro Pires. “Cabo Verde não foi tão fácil como parecia à primeira vista porque tendo nós negociado em Argel e fixado algumas ideias no acordo, Cabo Verde era a continuação das negociações de Argel. Ora, só sete meses depois é que conseguimos reiniciar as relações que tinham sido suspensas depois de Argel. Em Cabo Verde entrou um outro factor que durante muito tempo não sei se esteve ausente, mas esteve quase ausente, que é a questão da posição geoestratégica do Cabo Verde. A grande questão dos responsáveis portugueses na altura era: ‘o que é que o PAIGC vai fazer com Cabo Verde? Vai entregar isso aos russos ou aos Soviéticos?'. Porque dentro da campanha de deslegitimação do regime português da altura contra os movimentos de libertação e contra o PAIGC em particular, nós éramos agentes do estrangeiro, serviçais ou serventuários dos comunistas, anticristãos... E subjacente a isso, na mentalidade dos próprios dirigentes ou de alguns dirigentes portugueses, a situação continuava, o risco de nós sermos agentes da Rússia ou da União Soviética e entregássemos essa posição geoestratégica importantíssima ao inimigo ou ao adversário. Isso complicou bastante o processo negocial. Foi precisa muita persistência do nosso lado para vencer esses posicionamentos”, conta o também antigo Presidente de Cabo Verde. Depois de uma guerra de 11 anos, com milhares de mortos, feridos e mutilados, Pedro Pires tinha para a sua orientação, que a soberania da Guiné-Bissau não era negociável e o direito à independência de Cabo Verde também não era negociável. O PAIGC também exigia ser considerado como o único interlocutor válido nos dois territórios. O PAIGC tinha sido o único movimento de libertação a proclamar, ainda que unilateralmente, a independência de uma das colónias portuguesas, a Guiné, e a reivindicar, desde os finais da década de 1960, o controlo de uma parte significativa do território guineense. Porém, não tendo havido luta armada dentro do território de Cabo Verde, os meses que antecederam a proclamação da independência do arquipélago foram de trabalho político intenso e de confronto entre forças políticas nas ilhas.  É que se a nível internacional, o PAIGC era reconhecido tanto pela Organização das Nações Unidas (ONU) como pela Organização da Unidade Africana (OUA) como o único e legítimo representante do povo de Cabo Verde, dois outros partidos queriam mostrar que existiam e participar no futuro do arquipélago: a União do Povo das Ilhas de Cabo Verde (UPICV) e a União Democrática Cabo Verdiana (UDC). Para Pedro Pires, quem lutou pela independência foi o PAIGC e o resto é “fantasia”: “Lutar pela independência é o PAIGC. O resto é fantasia. Toda a gente quer, mas essa coisa é com provas, não basta dizer 'aqui estou eu', mas é preciso provar se fez alguma coisa que credibilize, que dê legitimidade.” Também a historiadora Ângela Benoliel Coutinho, autora de “Os Dirigentes do PAIGC - Da Fundação à Ruptura 1956-1980” diz que falta documentação para se fundamentar a existência enquanto partidos constituídos da UPICV e da UDC e lembra que “o PAIGC foi reconhecido pela OUA como o único legítimo representante dos cabo-verdianos e também foi reconhecido pelas Nações Unidas no dia 5 de Abril de 1974 como o único legítimo representante dos cabo-verdianos”. “Temos conhecimento da actuação de José André Leitão da Graça. Terá fundado a UPICV - a União dos Povos Independentes de Cabo Verde - que tinha como principal objectivo obter a independência política de Cabo Verde, e não estava de acordo com o PAIGC relativamente ao projecto de unidade com a Guiné-Bissau. E sabemos que José André Leitão da Graça actuou com a sua esposa, viveu muito tempo em Dacar, viveu também no Gana, mas eu desconheço um levantamento de arquivo de documentação relativa a esse partido, se é que foi um partido, porque conhecemos duas pessoas, não é? Fala-se de outros militantes sem que se saiba o que terão feito (…) É-nos difícil para nós, como historiadores, compreender a natureza, a actuação desses movimentos, quando são escassos os próprios depoimentos. Não temos livros de memórias, entrevistas das pessoas que terão estado envolvidas no outro dito partido que terá sido criado depois do 25 de Abril, a UDC. São referidos alguns nomes, mas essas pessoas nunca deram uma entrevista longa. Não temos documentos nenhuns. Temos uma ou outra notícia, um panfleto”, explica à RFI, por telefone, Ângela Benoliel Coutinho. No livro “Cabo Verde – Os Bastidores da Independência”, o jornalista José Vicente Lopes foi pioneiro a falar dessas forças políticas que tentavam rivalizar com o PAIGC. Também o historiador José Augusto Pereira fala disso na obra “O PAIGC perante o dilema Cabo-Verdiano”. A UPICV era uma organização fundada em 1959, liderada pelo nacionalista José Leitão da Graça, que teria mais presença em Santiago e um pouco na ilha do Fogo, era a favor da independência mas contra a unidade com a Guiné. A UDC, criada em Maio de 1974, estava localizada em São Vicente e um pouco em Santo Antão, sendo chefiada pelo advogado João Baptista Monteiro e estando inicialmente contra a independência, mas a favor do projecto federativo do general Spínola, ou seja, defendia o estatuto de adjacência para Cabo Verde, como o caso dos Açores e da Madeira. Entre o 25 de Abril e o 19 de Dezembro de 1974, houve meses quentes de intensa luta política. Logo após a Revolução dos Cravos, Silvino da Luz foi o primeiro dirigente do partido a ser enviado para Cabo verde para organizar as estruturas do partido. Ele conta-nos que foi designado como o primeiro responsável do PAIGC a ir para Cabo Verde fazer a luta política e tirar o partido da clandestinidade. Era “o homem do terreno”, como nos conta, em sua casa, no Mindelo. “Nessa altura fui designado como o primeiro responsável do PAIGC que vinha para Cabo Verde para fazer a luta política e tirar o partido da clandestinidade. E depois o 25 de Abril, eu fui o primeiro dirigente a ser enviado e aqui estive até à independência nacional. Criou-se na altura uma comissão de três membros, em Conacri, que eram eu, o Comandante Osvaldo Lopes da Silva e o Comandante Carlos Reis, mas eu era o primeiro responsável, eu é que praticamente dirigia. Regressei à minha terra com essa missão e, felizmente, foi missão cumprida. Eu era o homem encarregado de criar as condições localmente, de fazer a manifestação de forças do PAIGC, tornar o PAIGC o único a ser visto. Eu é que dirigi essa campanha”, descreve. Quanto aos outros partidos, Silvino da Luz afirma que “o UDC foi uma criação do Spínola”. Sobre o UPICV, diz ter “muito respeito” por Leitão da Graça, “um homem sério, nacionalista convicto, africano de gema”, mas que esteve “sempre no exterior, [o partido] era quase um grupo familiar e não tinha bases significativas em Cabo Verde”. Perante a posição de Portugal, o PAIGC vai tentar dominar a situação interna, a nível social e político. Foram criadas milícias pelo PAIGC, integradas também por mulheres, e os quadros do partido regressaram em força para concentrar os seus esforços em Cabo Verde. O braço-de-ferro durou entre Maio e Dezembro e culminou no dia 9 de Dezembro com a tomada, por dirigentes e apoiantes do PAIGC, da Rádio Barlavento que difundia as ideias da UDC, no Mindelo. Por essa altura, eram detidas 70 pessoas para averiguações, a grande maioria era alegadamente da UPICV e da UDC. Eram retidas no temporariamente no reaberto campo do Tarrafal. Silvino da Luz lembra que o PAIGC ainda não estava no poder e diz que o facto de as forças armadas portuguesas as terem colocado no Tarrafal era uma forma de “garantir a segurança” de tanta gente. Reitera, ainda, que essas pessoas estavam guardadas por militares portugueses. Também o jornalista José Vicente Lopes destaca que “a responsabilidade primeira foi das autoridades portuguesas” no que toca aos adversários do PAIGC presos no Tarrafal, admitindo que “são as autoridades portuguesas que acabaram por ajudar o PAIGC a neutralizar os seus adversários políticos”. Com o PAIGC a dominar e a neutralizar as outras forças políticas, a 19 de Dezembro é assinado o Acordo de Lisboa. Determinam-se os termos da transferência da soberania portuguesa para o Estado cabo-verdiano. É estabelecido um governo de transição, chefiado por um alto-comissário português com a categoria de primeiro-ministro, Vicente de Almeida d'Eça, e composto por três ministros escolhidos pelo PAIGC, Carlos Reis, Amaro da Luz e Manuel Faustino, e dois por Portugal. Ficam, também, previstas eleições para uma assembleia constituinte que deveria proclamar a independência a 5 de Julho de 1975. Nesse dia, é proclamada a República de Cabo Verde como Estado Independente e Soberano. Era o fim de cinco séculos de dominação colonial portuguesa.    Se quiser aprofundar este assunto, pode ouvir aqui as entrevistas integrais a Pedro Pires e a Silvino da Luz.    

Convidado
Luta de libertação de Cabo Verde: “Claro que valeu a pena!”

Convidado

Play Episode Listen Later Jun 26, 2025 20:12


Nos 50 anos da independência de Cabo Verde, a RFI publica uma série de reportagens sobre este tema. Neste 12° e último episódio, fomos perguntar a antigos combatentes e também aos filhos e netos da independência como está Cabo Verde e se a luta valeu a pena. “Claro que valeu a pena”, respondem muitos, de imediato, mas há reservas e alertas de que se podia "estar muito melhor”. Cinquenta anos depois da proclamação da independência, como está Cabo Verde? Fomos perguntar a quem lutou pela libertação nacional, como Pedro Pires, Silvino da Luz, Osvaldo Lopes da Silva, Amâncio Lopes, Maria Ilídia Évora, Josefina Chantre, Marline Barbosa Almeida, Alcides Évora, Manuel Boal, Óscar Duarte. Mas também quisemos saber a opinião dos filhos e netos da revolução, como a historiadora Iva Cabral, o rapper Hélio Batalha e os sociólogos  Redy Wilson Lima e Roselma Évora. “Não se pode negar que Cabo Verde cresceu em várias áreas”, considera Pedro Pires, o comandante que foi alto dirigente do PAIGC durante a luta de libertação e que depois ascendeu a primeiro-ministro e a Presidente da República. Mas é preciso continuar a trabalhar neste que é um “desafio permanente” de desenvolver o país, alerta. “Valeu a pena” é uma frase que se repete em muitos dos antigos combatentes. Comecemos por Silvino da Luz, que foi combatente e ministro nos primeiros governos de Cabo Verde, lembrando que o país é considerado um exemplo. “Fomos um exemplo nos países que acabavam de chegar à independência e, sobretudo, nas nossas condições. Fomos um exemplo a destacar e temos orgulho nisso.” Josefina Chantre, que tinha como frente de batalha a comunicação social quando trabalhava no secretariado do PAIGC em Conacri, também sublinha que valeu a pena, que voltaria a fazer “a mesma coisa de novo”, que foram feitas várias conquistas em todos os quadrantes, nomeadamente no estatuto da mulher. Mas ainda há desafios. “É gratificante comemorar os 50 anos. Os desafios mantêm-se, sobretudo a nível de mudança de mentalidade, para conseguirmos chegar a um patamar maior, porque estamos sempre a querer mais e melhor para as nossas populações, para as nossas crianças. É um desafio que eu faço aqui: que os nossos jovens realmente se apropriem da nossa história e que continuem o legado de Amílcar Cabral.” Iva Cabral, filha de Amílcar Cabral, o líder da luta de libertação, sublinha que a independência cumpriu o desejo essencial do pai: que o povo cabo-verdiano decida a sua história. “Eu acho que cumpriu muito. Estruturou-se um Estado, a educação para todos, saúde e uma sociedade que está avançando, apesar de todos os males. Mas, principalmente, o meu pai lutou por isso: o poder de construção da sua história e que o povo cabo-verdiano decida qual é a história futura dele. Isso era o principal que o meu pai queria, que os africanos tivessem o direito de construir a sua história.” A maior conquista é a auto-estima do povo cabo-verdiano, avalia outro comandante que foi ministro na primeira República de Cabo Verde, Osvaldo Lopes da Silva, apontando outras conquistas alcançadas em 50 anos. “Haverá sempre motivos de queixa. Haverá sempre razões para dizer que podíamos ter feito mais. Mas a verdade é que Cabo Verde era considerado um país inviável. Hoje em dia, ninguém tem dúvidas de que Cabo Verde é um país viável. Para mim, essa é a maior conquista. A autoestima do cabo-verdiano e a convicção de que podemos ir longe." “Claro que valeu a pena” porque de "ilhas esquecidas" se fez um povo, considera Amâncio Lopes, um dos antigos combatentes que lutou na Guiné pela independência da Guiné e Cabo Verde. “Eu considero que valeu a pena porque Cabo Verde eram umas ilhas pura e simplesmente esquecidas. Tornámo-nos um povo e isso vale a pena ou não vale? Vale." Ver as crianças a saírem alegres e numerosas da escola é a maior vitoria de Maria Ilídia Évora, que durante a luta, depois da formação militar, recebeu formação na área de enfermagem e obstetrícia para poder ajudar as mulheres e as crianças no país independente. “Valeu e muito. Uma coisa que preocupava muito o nosso líder em Cabo Verde e na Guiné era a educação, toda a gente ir para a escola, meninas e rapazes. A preocupação principal dele era ver o povo a desenvolver. Ele dizia: ‘Não há nenhum país no mundo que desenvolve com analfabetos, para o país desenvolver, tem que ter quadros.' Fico radiante quando vejo os alunos a saírem da escola e que não tinham essa possibilidade no tempo colonial. Quando eu vejo as crianças a sairem da escola com aquela alegria toda, eu também fico alegre porque eu digo sacrifiquei-me, mas valeu a pena.” Também o médico Manuel Boal, cuja frente de batalha era a saúde, faz um balanço positivo porque apesar dos parcos recursos, Cabo Verde consegue ser um exemplo em África. “Não há dúvida nenhuma que, 50 anos depois, Cabo Verde é um país que, apesar de pobre em recursos materiais, Cabo Verde consegue ter uma política e um programa de desenvolvimento que é considerado exemplar na região africana. Isso para nós, mostra que a luta valeu a pena.” “Evidentemente que a luta valeu a pena”, resume Alcides Évora que também foi treinado com armas mas acabou por fazer a maior parte da luta ao serviço do secretariado do PAIGC em Conacri. Para ele, Cabo Verde vingou-se de todos os que consideravam que seria um país inviável.“Evidentemente que a luta valeu a pena. Nós quando chegámos a Cabo Verde, os cofres do Estado não tinham absolutamente nada lá dentro. Muitos acharam que Cabo Verde era inviável, dada a sua escassez de chuva e falta de quadros. Muitos estrangeiros que chegavam cá diziam: ‘Vocês estão a tentar o impossível'. Mas esse impossível, tornou-se possível.” A luta também valeu a pena para Óscar Duarte, um dos cabo-verdianos que combatia na clandestinidade e que foi preso no campo de São Nicolau, em Angola, conhecido como "o Tarrafal angolano", mas onde as condições de sobrevivência eram bem piores. Meio século depois, admite que “Cabo Verde deu um pulo grande” e vai continuar a crescer.  “Bem, eu penso que Cabo Verde deu um pulo grande porque, como é sabido, Cabo Verde não tem nada em termos de recursos naturais. Na altura, quando nos tornámos independentes, os bancos não tinham dinheiro, portanto não havia praticamente nada. As ajudas começaram a aparecer e foram muito bem empregues. Eu estou contente, a evolução não irá parar e daqui a mais alguns anitos, Cabo Verde vai estar muito melhor ainda." Outra pessoa que tinha estado na clandestinidade em Cabo Verde, mas que não escapou aos temíveis interrogatórios da polícia política, foi Marline Barbosa Almeida. Para ela, 50 anos depois o balanço é também positivo. “Valeu a pena. Claro que valeu a pena. Cabo Verde podia estar melhor, sem dúvida, nós sempre ambicionamos por melhor. Mas eu acho que estamos muito bem e estamos a caminhar para uma vida melhor para todos. Há altos e baixos, como na vida." Os jovens são mais críticos e dizem que “a luta continua”. Claro que o país está melhor, mas é preciso o salto qualitativo para se cumprir Cabral, comenta o sociólogo Redy Wilson Lima. “Falta essa parte qualitativa. Cabo Verde deu um salto enorme, claramente, eu fui crescendo aqui, dá para perceber o progresso que nós fizemos em todos os aspectos. Agora, falta é qualificar este progresso. É isto que falta para realmente realizarmos o sonho de Cabral, que é ter uma terra diferente dentro da nossa terra, que infelizmente ainda não temos. Está melhor, mas ainda faltam desafios. Claro que não se compara com há 50 anos, mas podíamos estar muito, mas muito melhor.” Os ideais dos que lutaram pela libertação dos povos africanos em geral foram traídos, adverte o rapper Hélio Batalha que diz que “o futuro é longe e há que lutar hoje”.  “O legado de Amílcar Cabral, 50 anos depois da independência e 52 anos depois da sua morte, eu acho que deixa muito a desejar. Eu acho que o jovem cabo-verdiano conhece muito pouco a história, o legado e todo o projecto que Amílcar Cabral tinha para Cabo Verde, Guiné-Bissau e para a África no geral. Politicamente, há uma dicotomia de visão, o que atrapalha muito a imersão da juventude, o conhecer da juventude. Eu acho que se precisa fazer mais a nível de a nível dos sucessivos governos do PAICV e do MpD para impulsionar ainda mais o que é a nossa história.” Ainda há grandes desafios, mas também houve muitas conquistas a nível social, económico e político, avalia Roselma Evora, pesquisadora em ciência política e sociologia. Uma das principais é ter ultrapassado o problema histórico das fomes. “Cabo Verde é um país que por causa das secas, sofreu muito com a fome. É um país que teve sempre grandes quantidades de gente a morrer por causa de fome, por causa da seca. Teve alturas em que um terço da população morreu. Eu não digo que não continuemos a ter desafios e famílias a passarem por grandes necessidades de colocar comida à mesa, mas foi ultrapassada a questão da segurança alimentar. É uma conquista deste país.”     Se não for para beneficiar a população, não vale a pena lutar, considerava Amílcar Cabral. Muito se pode fazer ainda, mas muito também já foi feito. Basta olhar para alguns indicadores. Cinquenta anos depois, Cabo Verde está entre os países africanos com melhor classificação no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que mede três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde, encontrando-se, em 2025, na posição 135 de 193 países.            Em 1975, Cabo Verde tinha uma economia muito frágil e uma população de cerca de 270 mil habitantes. A esperança média de vida era de aproximadamente 63 anos. De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas, em 2023, a população é de 509 mil habitantes, a esperança média de vida, segundo o Banco Mundial, é de 74 anos. No início dos anos 80, o desemprego era massivo e generalizado, em 2025, a taxa de desemprego é de 10,3%, de acordo com o INE. Na altura da independência, a taxa de analfabetismo era de 70%. Em 2023, esse valor era de 11,2%. Hoje em dia, a economia de Cabo Verde é impulsionada pelo turismo, que representa 25% do seu PIB, e o crescimento económico tem sido robusto, com 7,3% em 2024 (INE). Ainda de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas, a taxa de pobreza absoluta em Cabo Verde foi de 24,75% em 2023 e a pobreza extrema, segundo o limiar internacional de 2,15 dólares por dia e por pessoa, era de 2,28% em 2023. Cabo Verde é ainda reconhecido pela sua estabilidade democrática, com transições pacíficas entre os dois principais partidos políticos desde a introdução do multipartidarismo em 1991. Por tudo isto, “valeu a pena”, mas “a luta continua”.   Pode ouvir aqui as entrevistas integrais:

Convidado
5 de Julho de 1975: "Grita, povo independente!"

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Play Episode Listen Later Jun 26, 2025 19:35


Nos 50 anos da independência de Cabo Verde, a RFI publica uma série de reportagens sobre este tema. Neste 11° episódio, damos voz aos que lutaram para que o dia 5 de Julho de 1975 se concretizasse e ouvimos as memórias dos que viveram essa jornada histórica no Estádio da Várzea, na cidade da Praia. “Determinação”, “esforço”, “táctica” são algumas das palavras escritas à mão na fachada pintada do Estádio Municipal da Várzea, na cidade da Praia. Foi há 50 anos, a 5 de Julho de 1975 que aí se escreveu um novo capítulo na história de Cabo Verde, fruto de “determinação”, “esforço” e “táctica” e que se virou a página do colonialismo português. Às 12h40, o presidente da Assembleia Nacional recém-eleita, Abílio Duarte, declarou “solenemente a independência do Estado de Cabo Verde”. Que recordações guardam desse dia os que lutaram para que ele se concretizasse? Fomos conversar com algumas das pessoas que estavam na cidade da Praia nesse momento histórico. Osvaldo Lopes da Silva tinha integrado a luta armada de libertação nacional como comandante de artilharia e assumiria a pasta da Economia e Finanças no primeiro governo de Cabo Verde. Perante a falta de instalações, ele andou de casa em casa a pedir aos amigos para as emprestarem para se instalarem as delegações estrangeiras convidadas para a cerimónia. “Eu estava ocupadíssimo nesse dia. Tinha responsabilidade de algumas delegações que vinham para o 5 de Julho e as dificuldades eram enormes porque não tínhamos instalações. A Praia que vemos hoje não tem nada, absolutamente nada a ver, com a Praia de 1975. Em 1975, a Praia era o Plateau, nada mais. Todas essas casas, esses bairros todos, Palmarejo, Prainha, isso tudo não existia. E não tínhamos instalações, de forma que eu tive que andar de casa em casa, a pedir aos amigos para cederem as casas para instalar as diferentes delegações e resolver os problemas de logística ou o próprio fornecimento de electricidade”, recorda Osvaldo Lopes da Silva. A 5 de Julho de 1975, Cabo Verde não tinha praticamente nada para receber os convidados, admite também Josefina Chantre, que tinha lutado pela independência no secretariado e nos media do PAIGC. Ela conta que até houve barcos enviados de Cuba para alojar as pessoas. Porém, esse dia era o culminar de uma longa luta de libertação. “Eu pude testemunhar realmente esse grande momento, o 5 de julho de 1975, que é um momento indescritível, o hastear da bandeira… Mas também foi um momento um bocado complicado porque quando chegámos a Cabo Verde, Cabo Verde não tinha praticamente nada, inclusivamente para recebermos os nossos convidados que vinham festejar connosco essa data. Tivemos que recorrer aos nossos amigos. Eu lembro-me que Fidel Castro, de Cuba, mandou-nos barcos hotéis porque não havia alojamentos na Praia para receber os nossos convidados. Toda a população disponibilizou as suas próprias casas para receber os visitantes que vinham congratular-se connosco dessa vitória”, conta Josefina Chantre. A noite anterior à cerimónia no Estádio da Várzea foi de festa, mas depois de tantos anos na luta, incluindo com armas na Guiné, o comandante Silvino da Luz, que assumiria a pasta da Defesa e Segurança no primeiro governo, ficou sem se poder mexer na cama. No próprio dia, levantou-se já bem de saúde para participar em mais um momento histórico. “Estranhamente, na noite de 4 para 5 de Julho fui atacado por um mal-estar indescritível que os médicos depois vieram dizer que era uma questão nervosa, um estourar de uma situação que me pôs na cama. Eu ouvia naquela noite todo o barulho na rua, as pessoas a gritarem, a dançarem, a tabanca a passar, os tambores a ecoarem um pouco por todo o lado. Eu estava na cama, não podia nem me mexer. No dia seguinte, 5 de Julho, eu levantei-me perfeito e fui participar a cerimónia de passagem do poder. O arriar de uma bandeira e o içar da outra. Fui um dos chamados para ler uma mensagem e eu li uma mensagem em nome das Forças Armadas”, lembra Silvino da Luz. Ver a bandeira de Portugal a ser arriada e a de Cabo Verde hasteada era o resultado do “sacrifício de muita luta” e o momento mais feliz da sua vida, recorda Alcides Évora, que trabalhava no secretariado do PAIGC, em Conacri, onde era responsável por tratar de viagens, documentação e logística. “O momento mais feliz da minha vida foi o içar da bandeira, no Estádio da Várzea, a bandeira de Cabo Verde a ser hasteada e, simultaneamente, a bandeira de Portugal a ser arriada. É algo que não consigo exprimir. Foi um ganho de muita luta, de muito sacrifício e, infelizmente, muitos não tiveram a ocasião de assistir a esse acto”, conta Alcides Évora. A 5 de Julho, houve lágrimas de alegria pela independência alcançada, mas também de tristeza. Nas bancadas, de pé, a acompanhar delegações convidadas, Maria Ilídia Évora, a única cabo-verdiana que teve treino militar em Cuba e que depois esteve nos hospitais de Boké e Kundara para curar os feridos de guerra, foi confrontada com uma pergunta que a deixou profundamente magoada até hoje. “O que é que você está a fazer aqui? E eu disse ‘O que é que eu estou a fazer aqui? Eu estou a trabalhar, eu estou a acompanhar duas delegações'. Mas eu fiquei ofendida. Veio a raiva e as lágrimas. O Vasco Cabral ouviu e viu. Ele quis levantar-se para me dar o lugar. Eu disse: ‘Não, Vasco, desculpe, você é um convidado que está aqui, não pode-me dar o seu lugar para eu me sentar. Eu vou ficar lá onde eu estou. Mas eu tive uma crise, uma crise bem forte. Senti-me humilhada. Uma humilhação grande que nunca esqueci”, revela. Gil Querido Varela, que tinha estado preso no Tarrafal por lutar na clandestinidade pela causa da independência e contra o regime colonial-fascista, também se encontrava no Estádio da Várzea. Tinha sido eleito deputado e não esquece a cerimónia nem a festa que tinha começado durante a noite. O momento mais marcante foi o hastear da bandeira da independência. “Eu estava no Estádio da Várzea assistindo à cerimónia da independência. Foi um dia maravilhoso. Já na véspera, de noite, era difícil passar na praça da Praia, estava completamente cheia. Música, uma rapariga pegava-te, dançava e assim se passou a noite. Depois, no Estádio da Várzea, houve um episódio com a bandeira: ao subir, trancou-se, mas veio uma ventania e toda a gente disse: ‘Foi Cabral!' Foi maravilhoso o 5 de Julho”, lembra, emocionado, Gil Querido Varela. O vento e a bandeira de Cabo Verde também comovem, 50 anos depois, Marline Barbosa Almeida, que tinha sido uma das pessoas anónimas a lutar na clandestinidade em Cabo Verde e que tinha enfrentado a polícia política portuguesa. “O que mais me emocionou foi que, na altura em que a bandeira ia subindo, um vento que em Julho não era normal começou a balançar essa bandeira. Até me comovo ainda. Até que ela subisse ao topo. Aquilo foi para mim o ponto mais comovente de 5 de Julho”, recorda. Quem participou na criação da "bandeira da independência" foi Érico Veríssimo Ramos. A bandeira foi usada durante a primeira República (1975-1991) e os principais símbolos eram a concha, as espigas de milho, a estrela negra, a roda dentada e o livro. “Optou-se por se projectar um brasão da República em que entrariam elementos fundamentais que retratassem o país. O milho é a base da alimentação do povo de Cabo Verde e as suas folhas abraçam uma roda dentada numa perspectiva do desenvolvimento futuro do país. Tinha, ao centro, um livro aberto que indicava que era absolutamente necessário que ao povo fosse dada a oportunidade de ter uma educação que levasse as pessoas a participarem na construção do país em termos de desenvolvimento cultural. Tinha uma concha no fundo, que representava o mar. Grosso modo, foi essa a base que foi tida para o desenvolvimento do escudo de Cabo Verde que assenta sobre três cores: o verde, o vermelho e o amarelo, que já vinham da bandeira do PAIGC e que foi também aproveitado para a bandeira da Guiné-Bissau, e a estrela negra que ficava no centro”, descreve. Porém, depois da abertura ao multipartidarismo em 1991 e com o fim do regime de partido único do PAIGC, Cabo Verde mudou os símbolos nacionais e a bandeira foi alterada. Também o hino “Esta É a Nossa Pátria Bem Amada", escrito em 1963 por Amílcar Cabral e que era usado nos dois países, foi substituído pelo “Cântico da Liberdade” que se torna oficial em 1996. A música acompanhou toda a luta e o alvorar da independência, mas há uma que perdura até hoje e que é vista como uma espécie de hino à liberdade. “Labanta Braço” foi composta por Alcides Spencer Brito e imortalizada pela banda "Os Tubarões" no seu primeiro disco, "Pépé Lopi". O compositor contou-nos a história desta canção. “A composição musical 'Labanta Braço' surgiu de uma forma simples e sem preparação musical prévia. Na noite de passagem do dia 4 para 5 de Julho de 1975, o comité local do PAIGC organizou um sarau cultural na Praça da Preguiça, nos Espargos, Ilha do Sal, para comemorar a independência de Cabo Verde. Eu e mais quatro amigos que tocavam vários instrumentos, tínhamos criado uns meses antes um grupo musical que foi baptizado com o nome de Abel Djassi, em homenagem ao nosso herói nacional Amílcar Cabral, cujo pseudónimo literário era Abel Djassi. Nessa noite, depois da meia-noite, durante a actuação do nosso grupo musical, na euforia do estalar dos foguetes e gritos de liberdade, veio-me à mente uma melodia e letra que reproduziam a vivência do momento. Meses depois, numa altura em que os Tubarões estavam de passagem pela Ilha do Sal, a caminho da Holanda, o cantor Ildo Lobo convidou o grupo musical Abel Djassi para actuar com eles. Depois de ter cantado a música 'Labanta Braço' ficaram encantados e pediram a devida autorização para ser gravado no seu primeiro trabalho discográfico a ser feito na Holanda. Logicamente, depois dessa interpretação gravada pelos Tubarões, essa música tornou-se uma das bandeiras que simboliza a cultura musical pós-independência nacional”, descreve Alcides Spencer Brito. E assim "gritou", a 5 de Julho de 1975, o povo independente de Cabo Verde. A cerimónia oficial foi no Estádio da Várzea, na cidade da Praia, mas os “gritos da liberdade” ouviram-se em todo o país e na diáspora e ecoam até hoje.   Pode ouvir aqui as entrevistas integrais feitas aos nossos convidados.  

Convidado
Clandestinidade: a frente esquecida na luta de libertação de Cabo Verde?

Convidado

Play Episode Listen Later Jun 26, 2025 20:03


Nos 50 anos da independência de Cabo Verde, a RFI publica e difunde várias reportagens sobre este tema. Neste quarto episódio, fomos à procura de pessoas que se dedicaram à luta na clandestinidade, algo que continua a ser uma das frentes menos visíveis na luta de libertação de Cabo Verde. Para conhecermos o trabalho feito nas ilhas, mas também na diáspora, as técnicas para ludibriar a polícia política, assim como as experiências daqueles que a PIDE prendeu nos "cárceres do Império", conversámos com Óscar Duarte, Gil Querido Varela, António Pedro da Rosa, Marline Barbosa Almeida, Adão Rocha e Manuel Faustino. Foi no ano 2000, na cidade da Praia, que os Tubarões Azuis conquistaram a X Edição da Taça Amílcar Cabral, talvez a mais importante vitória da selecção de Cabo Verde. A prova, com o nome do líder da luta pela independência, foi conquistada quando os jogadores eram treinados por Óscar Duarte, um nome que ficou conhecido no futebol português nos finais da década de 70: foi campeão pelo FC Porto em 1979 e chegou a vestir a camisola das Quinas no Parque dos Príncipes, em Paris, em 1978. Antes disso, Óscar Duarte tinha travado uma outra luta, a da libertação de Cabo Verde, o que o levou a estar preso quase dois anos no campo de São Nicolau em Angola, depois de ter passado pelo Tarrafal, da ilha de Santiago, e por Caxias, em Portugal. “Era das piores prisões que havia na era colonial. Quando a pessoa - para eles - cometesse qualquer erro, surravam nas pessoas. A mim também me bateram. Eu sou técnico agrícola e ao trabalhar na agricultura, se tirasse qualquer produto da agricultura batiam-me. Utilizavam esses dois utensílios: palmatória e chicote. Sabe o que é uma pessoa levar às vezes 200 palmatoadas na mão? Quando a mão incha, as veias ficam ensanguentadas. E batiam no rabo com a palmatória. Portanto, houve muita gente que morreu assim. Eu, durante o tempo que lá estive, uma vez houve um problema qualquer e - como era uma prisão natural, não havia prisão lá dentro - eu estive quase três meses numa cela com cinco palmos de comprido, três de largo. Eu sentava-me, esticava a perna e ocupava aquilo tudo. Era sempre escuro, onde fazia as minhas necessidades é que tinha de abrir a torneira também para beber e havia uma refeição por dia”, conta. Essa cela era a “frigideira durante o verão” e “frigorífico na época de cacimbo que é o frio”. “Durante esse tempo que estive na frigideira ou no frigorífico, era uma refeição por dia. Era só o pequeno almoço, fuba, um bocadinho de amendoim e uma chávena de café preto. Depois a pessoa ia perdendo peso. Houve muita gente que foi à loucura. Eu aguentei, mas houve muita gente que morreu por lá. E depois havia uma outra agravante, que era que quando iam buscar uma pessoa à noite, dificilmente apareciam. Matavam-nas”, recorda Óscar Duarte. Era preciso resistir para sobreviver. Resistir à "frigideira" ou "frigorífico", aos espancamentos, à fome, aos trabalhos forçados, à loucura. Óscar Duarte viu muita gente morrer. Um dia, um prisioneiro que tinha tentado fugir foi crucificado para todos verem. Mas Óscar Duarte resistiu. A dada altura, foi transferido do Campo de São Nicolau para o Campo da Foz do Cunene e também aí continuou a resistir e até a jogar à bola, entre lacraus, cobras e jacarés. “Tínhamos de trabalhar todos os dias, era deserto e tal, a temperatura era quase de 50 graus. Hoje, abríamos vala, amanhã tapávamos. Cortávamos pedra, depois arrumávamos. Só para ocupar tempo. Era um castigo. E depois tínhamos muito receio porque não tínhamos sequer uma aspirina, um vidro de álcool. Nada disso. E havia lá muito lacrau, se o lacrau picar uma pessoa é terrível porque tem veneno. Havia lacrau, havia cobras, havia tudo isso. Havia lá um rio e nós fizemos lá alguma agricultura com o limo do rio, misturámos com a terra e tirávamos sempre qualquer coisa. Às vezes íamos para o rio jogar a nossa bola e  jacarés com quatro metros e tal! Uma pessoa se se distrai, até podia ser apanhado pelo jacaré!”, lembra. Criado em 1962, o Campo de Recuperação de São Nicolau situava-se num território desértico no litoral angolano, a norte da então Moçâmedes (Namibe). Para lá eram enviados guerrilheiros suspeitos de actividades subversivas, por vezes acompanhados da família. Em 1964, estavam lá presas 651 pessoas. Em 1972, eram 1.123 prisioneiros. Óscar Duarte foi desterrado para lá por fazer parte da rede clandestina de militantes do PAIGC em Cabo Verde. “Eu fui para São Nicolau porque tínhamos um núcleo e trabalhávamos na clandestinidade. Na altura, a PIDE tinha a coisa muito bem controlada e por cada informação que a pessoa desse, eles pagavam 500 escudos. E nessa altura já era algum dinheiro. Deitámos uns panfletos em São Vicente e houve um indivíduo que pertencia ao nosso núcleo, que foi deitar panfletos no cinema, foi apanhado e depois torturaram-no. Inclusive ele falou-nos de um alicate nos testículos. Portanto, ele teve que 'cantar', teve que dizer tudo”, acrescenta. Óscar foi preso na cidade da Praia e submetido a tortura nos interrogatórios: uma semana virado para uma parede sem dormir e a ter alucinações da mãe a chorar. No Tarrafal da ilha de Santiago, em Cabo Verde, também era preciso resistir. Numa primeira fase, entre 1936 e 1956, ali estiveram presos portugueses que contestavam o regime fascista e o local ficou conhecido como “Campo da Morte Lenta”. Em 1962, passou a chamar-se “Campo de Trabalho de Chão Bom” e foi então que se tornou na cadeia de militantes nacionalistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Em Cabo Verde, a luta na clandestinidade começou a ser forjada, em 1959, por nomes como Abílio Duarte, do PAIGC, e José Leitão da Graça, ligado ao partido UPICV, que são obrigados a deixar o país devido à polícia política. Depois, vários militantes do PAIGC fizeram trabalho político para mobilizar a população em torno da causa independentista e para criar um ambiente favorável ao desembarque no arquipélago de guerrilheiros armados. Isso acabaria por não acontecer, mas foi minuciosamente preparado. A polícia política portuguesa também não permitiu o desenvolvimento da rede clandestina porque foi prendendo, ao longo do tempo, vários dos responsáveis nas ilhas. Foi o caso de Carlos Lineu Miranda, Fernando dos Reis Tavares, Jaime Schofield, Luís Fonseca e vários outros. Gil Querido Varela foi preso em 1968, interrogado e torturado pela polícia no Plateau, transferido para a Cadeia Civil da Praia e entra no Tarrafal em Abril de 1970. Sai em Janeiro de 71. Era suspeito de prática de “crime contra a segurança interior e exterior do Estado”. Gil Querido Varela era militante do PAIGC e fazia a luta política na clandestinidade. “Nós trabalhávamos, visitávamos amigos. Eu, por exemplo, ia à Ribeira da Barca, aproveitava no momento em que estava trabalhando no campo e lá ia fazer o trabalho político, [dizer] que devíamos entrar no PAIGC para libertar a terra. Quem já tinha visto a fome de 1947 - que eu vi uma parte - não ficava sem fazer nada. Vi crianças morrerem de fome, com o corpo inflamado de fome. Mães com crianças mortas nas costas que não tiravam para poderem achar esmola. Os colonialistas troçando da fome do povo. Eu já estava farto deles e entrei rápido no PAIGC. Quem viu aquela fome era impossível não lutar. Só quem não tem sentimento”, afirma Gil Querido Varela, aos 90 anos, enquanto nos mostra o Tarrafal ao lado do camarada António Pedro da Rosa, de 76 anos. O amigo, António Pedro da Rosa, também lutava na clandestinidade e foi detido em Agosto de 1970, interrogado e torturado, transferido para a Cadeia Civil da Praia e enviado para o Tarrafal em Fevereiro de 1971, de onde saiu a 1 de Maio de 1974. “A luta na clandestinidade nós fazíamos da seguinte forma: Eu tinha um colega, Ivo Pereira, que trazia sempre jornais, panfletos e líamos para os rapazes colegas. E tínhamos um livro também que era “Luta Armada”, líamos e explicávamos a alguns rapazes sobre esta situação. Por isso é que fazíamos este trabalho na clandestinidade, através de panfletos e livros que íamos estudar com os rapazes colegas. Íamos sentar aqui num sítio qualquer porque também já sabíamos que havia alguns rapazes que eram informantes da PIDE, porque cada informação que eles levavam para a PIDE eram 500 escudos e 500 escudos na altura era muito dinheiro. Por isso fizemos todo esse trabalho, mas com muito cuidado”, recorda António Pedro da Rosa, na biblioteca do campo de concentração do Tarrafal que vai ser candidato a Património Mundial da UNESCO. Voltaremos ao Tarrafal guiados por Gil Querido Varela e António Pedro da Rosa no oitavo episódio desta série, mas concentremo-nos, por agora, na luta clandestina que se fazia em Cabo Verde. Havia quem fingisse ser namorada de um dos presos do Tarrafal para levar mensagens do exterior. Foi o que fez Marline Barbosa Almeida que trabalhava na célula clandestina do PAIGC na Praia, criada em 1968, sob direcção de Jorge Querido, o coordenador das actividades clandestinas do PAIGC em Cabo Verde, entre 1968 e 1974. Foi assim que ela conseguiu levar para a prisão informação e mensagens, incluindo dentro de tubos de pasta dos dentes. “Nós tínhamos alguns guardas, conseguíamos conversar, então mandávamos bilhetes através de pastas de dentes que nós abríamos com aquela dobrinha. Então nós tirávamos a maioria da pasta, metíamos as informações num plástico, tornávamos a meter lá e mandávamos. Depois, o director da cadeia era cunhado da minha irmã e sabia no que é que eu andava. Mas como ele era católico, presumidamente democrata, eu arranjei “namoro” com um dos presos. E ia lá e nós éramos obrigados a ir com ele assistir à missa e depois eu ia ver o meu noivo. Foi assim que nós tínhamos informações do que se passava na cadeia e transmitíamos informações aos presos”, recorda. Além da pasta de dentes, as mensagens também circularam dentro de bíblias, acrescenta Marline, quando conversa com a RFI em sua casa, na cidade da Praia. “Houve até um caso interessante de um angolano que tinha sido liberto. Eu tinha ido à praia e ao regressar a casa, eu vi-o a sair da igreja do Nazareno com uma Bíblia na mão. Ele dirigiu-se a minha casa e eu estava precisamente a entrar. ‘É a senhora fulana de tal?' ‘Sim.' ‘Eu sou fulano de tal, saí do Tarrafal ontem e vim com mensagens dos seus amigos. E eu ‘Sim, sim, como é que eles estão? Há muito que não os vejo', enrolando porque eu não sabia quem era. Até que ele abriu a Bíblia, descolou as páginas, tirou o bilhete do Carlos Tavares e mostrou-me para certificar que era uma pessoa de confiança”, recorda. Marline Barbosa Almeida chegou a ser presa e a sofrer tortura. A luta na clandestinidade “era um trabalho difícil” porque “numa ilha não havia onde fugir, não há mato, não há onde esconder”. Por isso, serviam-se de “festas, bailes, piqueniques” para trocar informações e atrair mais pessoas para a causa. Depois, procuravam dar informações à sede do PAIGC, em Conacri, sobre as condições dos presos no Tarrafal. No livro “O PAIGC perante o dilema cabo-verdiano [1959-1974]”, o historiador José Augusto Pereira conta que a PIDE/DGS instalou-se em Cabo Verde em 1959 com a criação da subdelegação da cidade da Praia. Em 1961, são criados os postos da PIDE no Mindelo e no aeroporto do Sal. Em 1965 o posto de Chão Bom, na vila de Tarrafal, em Santiago, em 1968 o posto de São Filipe na ilha do Fogo. Teria 33 efectivos em 1973. Em 1974 a cidade da Praia albergava a sede da DGS e no resto da ilha haviam postos em Santa Catarina e Tarrafal. Depois, havia postos nas ilhas de São Vicente, Sal, Santo Antão, Fogo e Boa Vista. Um dos principais golpes da PIDE/DGS acabaria por ser a detenção de Jorge Querido em Janeiro de 1974, depois de anos a fintar a apertada vigilância da polícia política. O elemento básico da luta clandestina eram as células, cada uma tinha um responsável e o conjunto de responsáveis formava uma secção. Por sua vez, os responsáveis de secção formavam um sector e os responsáveis de sector formavam zonas. O trabalho político clandestino em Cabo Verde consistia em fazer agitação política e em capitalizar em prol da causa nacionalista todas as carências, como a pobreza, a fome e as injustiças sentidas pela população. Por outro lado, havia que acicatar o espírito de revolta, predispor as massas para o apoio a acções armadas, recolher e enviar informação para a direcção do PAIGC em Conacri e dar apoio logístico aos guerrilheiros nacionalistas quando se desse o desembarque no arquipélago. O que não viria a acontecer, como já explicámos noutros episódios desta série de reportagens. Havia, ainda, mobilização junto da diáspora cabo-verdiana. Adão Rocha fazia parte do grupo de Lovaina, na Bélgica, e o trabalho político era também essencial. “Tínhamos várias frentes de luta. A frente diplomática, que Amílcar Cabral prezava muito, ele achava que era uma parte importante da luta mesmo. Ele mesmo se distinguiu como um exímio diplomata. No fundo, era tentar contactar as autoridades dessa zona e sensibilizá-las para a justeza da luta de libertação das ex-colónias e, particularmente de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. Também tínhamos uma frente de apoios, mobilização para a luta, o que se conseguia através de organizações não governamentais ali dessa zona, da Bélgica e também da Holanda, que na altura apoiavam as lutas de libertação. Também alguns governos, poucos, já apoiaram a luta ainda antes da independência. Tínhamos, ainda, a frente de divulgação da luta junto da sociedade europeia para sensibilizá-la mais uma vez sobre a questão da repressão colonial, a questão do fascismo em Portugal e criar um ambiente propício para que os seus governos também tivessem uma posição mais favorável em relação à luta. Mas o essencial da nossa luta prendia-se com a mobilização das comunidades emigradas”, conta. Na conversa com a RFI na Fundação Amílcar Cabral, na Praia, onde é membro do Conselho de Administração, Adão Rocha destaca que é preciso que a juventude saiba que, naquela altura, em muitos países, várias pessoas abandonaram os estudos para se juntarem à luta armada ou clandestina. Em Portugal, também havia luta clandestina e a cantiga também foi uma arma para os cabo-verdianos. Manuel Faustino era estudante de medicina em Coimbra quando compôs a primeira música, “Ca bo ba pa tropa”, em 1968, que era um apelo à fuga ao serviço militar. Em 1973, é lançado o LP “Música Cabo-Verdiana-Protesto e Luta”, gravado na Holanda e editado pelo PAIGC, em que aparece outra composição de Manuel Faustino. Chamava-se “Nho Queiton” e era uma denúncia directa à política de Marcello Caetano e à miséria no arquipélago. “Nho Queiton era uma referência a Marcello Caetano que tinha feito uma viagem a Cabo Verde e, então, era uma música que denunciava os propósitos políticos, demagógicos da visita dele. A visita dele inscrevia-se num contexto de tentar seduzir as pessoas, tentar aparecer como um rosto diferente de Salazar. E essa música que vem nesse ‘Long Play' era uma denúncia dessa visita, tentando desmascarar, dizendo que era uma manobra política que serve para nada e que a solução aos problemas era a independência”, conta Manuel Faustino, lembrando que o seu nome não aparece no disco “senão ia preso”.  A historiadora Ângela Benoliel Coutinho, autora de “Os Dirigentes do PAIGC: da fundação à ruptura: 1956-1980” admite que tenham havido algumas centenas de pessoas na luta clandestina, mas diz que é preciso um centro de pesquisa histórica sobre Cabo Verde para se poder estudar todas as temáticas da história contemporânea do país. “Há uma Associação dos Combatentes pela Liberdade da Pátria em Cabo Verde, que tem várias pessoas inscritas. Portanto, serão centenas. Pelas entrevistas que tenho feito, tenho presente o facto de que há pessoas que participaram e alguns até que tiveram um papel importante em dados momentos e não se inscreveram nessa associação. Já pude ter essa conversa com alguns dirigentes e penso que terão sido - entre os que integraram as células - algumas centenas. E depois há todo este apoio por parte da população, não só em Cabo Verde”, sublinha. Em Cabo Verde, em Portugal, na Guiné-Bissau, em Angola, mas também na Bélgica, na Holanda, no Senegal e noutros países para além das fronteiras do então Império Colonial Português, foram muitos os militantes e nacionalistas que lutaram na clandestinidade. Um número ainda não calculado de pessoas foram presas, torturadas e mortas, depois de perseguidas pela PIDE/DGS. Porém, mais de meio século depois, a acção na clandestinidade continua a ser uma das frentes menos visíveis na luta pela independência de Cabo Verde. Se quiser aprofundar este assunto, pode ouvir aqui as entrevistas integrais feitas aos diferentes convidados.

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50 anos da independência: Por que não houve luta armada em Cabo Verde?

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Play Episode Listen Later Jun 26, 2025 24:30


Nos 50 anos da independência de Cabo Verde, a RFI publica e difunde várias reportagens sobre este tema. Neste segundo episódio, falámos com antigos combatentes que se prepararam para a luta armada em Cabo Verde através de formações político-militares na Argélia, em Cuba e na antiga União Soviética. Foi planeado um desembarque no arquipélago, mas Cabo Verde acabaria por chegar à independência sem guerrilha no seu território e os cabo-verdianos foram lutar para as frentes de combate na Guiné e também na clandestinidade. Participaram, ainda, em batalhas políticas, de saúde, de formação e de informação. Nesta reportagem, ouvimos Pedro Pires, Silvino da Luz, Osvaldo Lopes da Silva, Maria Ilídia Évora, Amâncio Lopes e Alcides Évora. A 5 de Julho de 1975, depois de cinco séculos de dominação portuguesa, às 12h40, era oficialmente proclamada a independência de Cabo Verde por Abílio Duarte, presidente da Assembleia Nacional Popular, no Estádio Municipal da Várzea, na Praia.   A luta tinha começado há muito e acabaria por ser o PAIGC, Partido Africano da Independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, a consolidar os anseios nacionalistas e a conduzir o arquipélago à independência, quase dois anos depois de a Guiné-Bissau se ter autoproclamado independente. O líder da luta e do partido, Amílcar Cabral, nascido em Bissau e filho de cabo-verdianos, não pôde assistir nem a uma nem a outra por ter sido assassinado em Janeiro de 1973. Considerado como o pai das duas independências, Amílcar Cabral defendeu, desde o princípio, o lema da “unidade e luta”: unir esforços para combater o inimigo comum que era o colonialismo português. No programa, ancorado numa concepção pan-africana de unidade política para o continente, estava a luta pela independência da Guiné e de Cabo Verde e a futura união dos dois Estados, separados por mar alto. Mas ao contrário da Guiné, em Cabo Verde a luta nunca chegou a ser armada, ainda que a intenção tenha estado em cima da mesa. Foi em Julho de 1963, na cidade de Dacar, numa reunião de quadros nacionalistas do PAIGC, que Pedro Pires chegou a dizer não ter cabimento “falar em luta de libertação nacional sem falar em luta armada”. O comandante e destacado dirigente político-militar do PAIGC tinha "dado o salto" em 1961 quando integrou o grupo de dezenas de jovens africanos que abandonou, clandestinamente, Portugal, rumo à luta pela independência.  Mais de meio século depois, com 91 anos, o comandante da luta de libertação recebe a RFI no Instituto Pedro Pires para a Liderança, na cidade da Praia, e recorda-nos o contexto em que se decidiu que o recurso à luta armada “era obrigatório” e como é que ele esteve ligado à preparação da luta em Cabo Verde. “A questão da luta armada, colocámos a seguinte questão: ‘Será obrigatório?' Chegámos à conclusão que era obrigatório. Tinha que se ir nessa direcção por causa daquilo que já tinha acontecido porque não é uma questão de qualquer coisa por acontecer, mas a violência já tinha acontecido em Angola, no Congo Kinshasa, na Argélia, de modo que estávamos obrigados a pensar nessa via. É assim que nós abraçamos o projecto do PAIGC de prepararmo-nos e organizarmos o recurso à violência armada. As tarefas que me foram conferidas no PAIGC estiveram, até 1968, sempre ligadas a Cabo Verde e à preparação da possibilidade da luta armada em Cabo Verde”, conta Pedro Pires [que se tornaria o primeiro primeiro-ministro de Cabo Verde (1975-1991) e, mais tarde, Presidente do país (2001-2011)]. E era assim que, meses depois do anúncio do início das hostilidades pelo PAIGC contra o exército português no território da Guiné, se desenhava a intenção de desencadear também a luta armada em Cabo Verde. A Pedro Pires foi confiado o recrutamento e a preparação política dos combatentes. A ajudá-lo esteve Silvino da Luz que, meses antes, tinha desertado do exército português e sido preso em Kanu, na Nigéria. Aos 86 anos, Silvino da Luz recebe a RFI em sua casa, na cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente e explica-nos por que é que a acção militar em Cabo Verde era necessária. “A grande decisão tomada em 1963, nessa reunião de Dacar, da qual eu saio como um dos responsáveis militares, era a criação de condições para desencadear a luta armada em Cabo Verde porque estávamos absolutamente seguros que os colonialistas, e Salazar em particular, não aceitariam nunca largar as ilhas que já estavam nos radares da NATO que considerava Cabo Verde e Açores como os dois pontos cruciais para a defesa do Ocidente e no Atlântico Médio eram indispensáveis”, explica Silvino da Luz que foi, depois, comandante das Forças Armadas Revolucionarias do Povo (FARP), ministro da Defesa e Segurança (1975-1980) e dos Negócios Estrangeiros (1980-1991) e depois deputado até 1995. Começou a pensar-se num desembarque de elementos do PAIGC no arquipélago e houve preparação de combatentes na Argélia, em Cuba e na antiga União Soviética. O grupo dos militantes nacionalistas, encabeçado por Pedro Pires, preparou-se na clandestinidade total em Cuba, durante dois anos, e é aqui que nascem as Forças Armadas cabo-verdianas, a 15 de Janeiro de 1967, data em que os cabo-verdianos prestam, perante Amílcar Cabral, o juramento de fidelidade à luta de libertação de Cabo Verde. No grupo de Cuba, havia apenas uma mulher, Maria Ilídia Évora, conhecida como Tutu. Aos 89 anos, recebe a RFI em sua casa, no alto de São Nicolau, no Mindelo. À entrada, destacam-se duas fotografias de Amílcar Cabral, mas há ainda muitas fotografias que ela nos mostra dos tempos da formação político-militar em Cuba. Foi em Dacar, onde estava emigrada, que Tutu conheceu Amílcar Cabral e aderiu logo à luta.  “Foi ideia de Cabral. Disse que eu tinha de participar. Em Cuba, os treinos eram de tiro, esforço físico, correr, fazer ginástica, fazer marchas, aprender a lidar com a arma, limpar as armas, e escola também. Tinhamos aulas de matemática e várias aulas porque no grupo havia estudantes que tinham fugido da universidade, eles tinham mais conhecimento do que nós e partilhavam os conhecimentos deles com quem tinha menos”, revela, acrescentando que um camarada lhe disse um dia que “muitas vezes os homens queriam desistir, mas tinham vergonha porque tinham uma mulher no grupo”. Também Alcides Évora, conhecido como “Batcha”, esteve no grupo de Cuba. Entrou na luta pela mão do comandante Pedro Pires, depois de ter estado emigrado em França durante pouco mais de um ano. Viajou para a Argélia e, passados uns meses, seguiu para o treino militar em Cuba. É na Fundação Amílcar Cabral, na Praia, que, aos 84 anos, ele recorda essa missão à RFI. “Nós tivemos uma preparação político-militar intensa. Tivemos aulas militares e também havia aulas de política para complementar o nosso curso. A nossa preparação era para desencadear a luta em Cabo Verde, mas não se efectivou o nosso desembarque porque com a morte do Che Guevara na Bolívia, os americanos passaram a controlar todos os barcos que saíam de Cuba. Então, o Fidel mandou chamar o Amílcar e eles depois chegaram à conclusão que realmente não era aconselhável esse desembarque”, afirma Alcides Évora depois de nos fazer a visita guiada às salas da fundação, onde também se vê uma fotografia dele no escritؚório do PAIGC em Conacri. O desembarque estava a ser preparado no maior dos segredos e estava tudo pronto. Amâncio Lopes, hoje com 86 anos, era também um dos membros do grupo. Tinha sido recrutado junto dos emigrantes cabo-verdianos da região francesa de Moselle, onde se encontrava a trabalhar como operário na siderurgia. Amâncio Lopes começou por receber formação em Argel e depois foi para Cuba. “Era um grupo de 31 que foi maioritariamente recrutado na Europa, em Moselle, no seio da emigração. De lá, recebi preparação militar em Argel, depois fomos reunidos em Cuba porque havia dois grupos. Passados os seis meses de instrução, fomos reunidos todos em Cuba. Foram uns dois anos. Era uma preparação inicial e depois recebíamos ajuda para desembarcar em Cabo Verde. Quando já estávamos preparados para desembarcar em Cabo Verde, Cabral fez uma visita e nessa visita fizemos o juramento em 1967”, recorda Amâncio Lopes, quando recebe a RFI na sua casa, na periferia de Mindelo. Ao fim de quase dois anos de treinos e formação político-militar, o grupo de Cuba encontrava-se pronto para a operação de desembarque. Amílcar Cabral desloca-se a Havana para dar instruções e procede-se ao juramento solene da bandeira, a 15 de Janeiro de 1967, mas a morte de Che Guevara na Bolívia, a 8 de Outubro de 1967, é uma das razões que leva à suspensão da operação. Silvino da Luz recorda que estava tudo a postos. “O assunto foi tratado sempre no máximo sigilo, as informações não escapavam. Tínhamos desaparecido do mundo, as pessoas não sabiam, vivíamos em plena clandestinidade em Cuba, lá pelas montanhas interiores da ilha, em acampamentos com bastante segurança. Recebemos preparação militar bastante avançada. Depois, já tínhamos terminado a preparação, Fidel já se tinha despedido de nós, tinha oferecido uma espingarda a cada um de nós, Amílcar já se tinha despedido, mas houve uma série de desastres que aconteceram, como a queda do Che [Guevara] na Bolívia, uma tentativa de infiltração de revolucionários na Venezuela (…) Nós já estávamos no barco à espera da ordem de partida, mas cai o Che, houve essas infelicidades, o cerco à volta de Cuba aumentou, os americanos quase fecharam a ilha e não havia possibilidade de nenhum barco sair sem ser registado. Naturalmente que, para nós, sair era quase que meter a cabeça na boca do lobo”, relembra Silvino da Luz. Também o comandante Pedro Pires admite que “quando se é jovem se pensa em muitas coisas, algumas impossíveis” e o desembarque era uma delas, pelo que se optou por um “adiamento” e por "criar as condições políticas para continuar a luta". “Quando se é jovem, pensa-se em muitas coisas, algumas possíveis e outras impossíveis. Concebemos um projecto, pusemos em marcha a criação das condições para a concretização do projecto, mas verificou-se que era complicado de mais. Uma das características das lutas de libertação e, sobretudo, das guerrilhas, é a problemática da retaguarda estratégica. Em relação a Cabo Verde, em pleno oceano, não há retaguarda estratégica e você vai desenrascar-se por si. É preciso analisar as condições reais de sustentabilidade dessa ideia, se era possível ou não possível. O nosso apoiante mais entusiasta ficava nas Caraíbas, a milhares de quilómetros de distância, não serve de retaguarda, a não ser na preparação, mas o apoio à acção armada ou possivelmente outro apoio pontual era muito difícil. Por outro lado, o que nos fez reflectir bastante sobre isso foi o fracasso do projecto de Che Guevara para a Bolívia”, explica. Adiado o projecto inicial, os cabo-verdianos continuaram a formação e foram para a União Soviética onde receberam formação de artilharia, algo que viria a ser decisivo para a entrada deles na luta armada na Guiné. Amâncio Lopes também foi, mas admite que sentiu “uma certa tristeza” por não ver concretizado o desembarque em Cabo Verde. “Éramos jovens e todos os jovens ao entrarem numa aventura destas querem ver o programa cumprido. Mas o programa tem de ser cumprido sem risco suicida. Em Cuba fizemos preparação política e de guerrilha mas, depois, na União Soviética, já fizemos preparação semi-militar. (…) Os soviéticos foram taxativos: vocês têm um bom grupo, grande grupo, consciente do que quer, mas metê-los em Cabo Verde é suicidar esse grupo. Então, ali avisaram-nos que já não íamos desembarcar em Cabo Verde. Aí ficámos numa certa tristeza porque em Cuba tínhamos a esperança de desembarcar, na União Soviética durante quase um ano também tínhamos essa esperança, mas depois perdemos a esperança de desembarcar em Cabo Verde”, diz Amâncio Lopes. Entretanto, entre 1971 e 1972, houve também um curso de marinha para uma tripulação de cabo-verdianos que deveria vir a constituir a marinha de guerra do PAIGC. O grupo era chefiado por Osvaldo Lopes da Silva que considera que se o projecto tivesse avançado, teria sido decisivo, mas isso não foi possível devido à animosidade que se sentia da parte de alguns militantes guineenses contra os cabo-verdianos. “Da mesma maneira que os cabo-verdianos entraram para a artilharia e modificaram o quadro da guerra, Cabral pensou: ‘Vamos criar uma unidade com cabo-verdianos, aproveitar os cabo-verdianos que havia, concentrá-los na marinha para ter uma marinha de guerra. Eu estive à frente desse grupo. Esse grupo se tivesse entrado em acção seria para interceptar as ligações entre a metrópole e Cabo Verde e a Guiné e as outras colónias. Seria uma arma letal. Da mesma maneira que a entrada dos mísseis anti-aéreos imobilizou completamente a aviação, a entrada dos cabo-verdianos na marinha com as lanchas torpedeiras teria posto em causa a ligação com a metrópole. Podíamos mesmo entrar em combate em território da Guiné e afundar as unidades que os portugueses tinham que não estavam ao nível do armamento que nós tínhamos”, explica. Então porque não se avançou? A resposta de Osvaldo Lopes da Silva é imediata: “As unidades estavam ali, as lanchas torpedeiras, simplesmente não havia pessoal qualificado. Nós é que devíamos trazer essa qualificação. Quando esse meu grupo regressa em 1972, o ambiente na marinha estava completamente degradado. O PAIGC tinha uma marinha e é nessa marinha que foi organizado todo o complô que veio dar lugar à morte de Cabral.”  A análise retrospectiva é feita em sua casa, no bairro do Plateau, na Praia, onde nos mostra, aos 88 anos, muitas das fotografias dos tempos da luta, quando também foi comandante das FARP, e imagens de depois da independência, quando foi ministro da Economia e Finanças (1975-1986) e ministro dos Transportes, Comércio e Turismo (1986-1990). Houve, ainda, outras tentativas de aproximação de guerrilheiros a Cabo Verde. O historiador José Augusto Pereira, no livro “O PAIGC perante o dilema cabo-verdiano [1959-1974]”, recorda que a URSS, em 1970, cedeu ao PAIGC um navio de pesca de longo alcance, o 28 de Setembro, que reunia todo o equipamento necessário ao transporte e desembarque de homens e armamento. A luta armada no arquipélago não estava esquecida e no final de 1972 foram enviados a Cuba dois militantes provenientes de Lisboa que deveriam ser preparados para desencadear, em Cabo Verde, ações de guerrilha urbana. Um deles era Érico Veríssimo Ramos, estudante de arquitectura em Lisboa e militante do PAIGC na clandestinidade, que sai de Portugal em Dezembro de 1972 em direcção a Cuba. “Em Dezembro de 1972, saio de Portugal com um passaporte português, vou para Cuba receber preparação para regressar para a luta. Não estava ainda devidamente estruturada essa participação para depois dessa formação. Fui eu e mais um outro colega e mais um elemento que veio da luta da Guiné-Conacri. Quando Amílcar Cabral foi assassinado, nós estávamos em Cuba e, logo a seguir, tivemos de regressar”, conta. De facto, o assassínio de Amílcar Cabral a 20 de Janeiro de 1973 levou à saída da ilha dos activistas por ordem das autoridades de Havana. Entretanto, combatentes cabo-verdianos tinham integrado as estruturas militares da luta armada na Guiné, mas sem abandonarem a ideia de um lançamento futuro da luta armada em Cabo Verde. Porém, isso acabaria por não acontecer. Apesar de a luta armada não se ter concretizado em Cabo Verde, a luta política na clandestinidade continuou nas ilhas e a PIDE apertou bem o cerco aos militantes. Muitos foram parar ao Tarrafal e a outras prisões do “Império”, onde também houve resistência. Os cabo-verdianos destacaram-se na luta armada na Guiné, mas também noutras frentes de batalha como a propaganda, a educação, a saúde, a diplomacia e muito mais. Sobre alguns desses temas falaremos noutros episódios desta série. Pode também ouvir aqui as entrevistas integrais feitas aos nossos convidados.

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Cabo Verde: A “bandeira negra da fome” era também “fome de bandeira”

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Play Episode Listen Later Jun 26, 2025 19:04


Nos 50 anos da independência de Cabo Verde, a RFI publica uma série de reportagens sobre este tema. Neste primeiro episódio, abordamos as raízes da revolta com algumas das pessoas que lutaram pela libertação nacional, como Pedro Pires, Osvaldo Lopes da Silva, Alcides Évora, Maria Ilídia Évora e Marline Barbosa Almeida, mas também com o historiador António Correia e Silva e o jornalista José Vicente Lopes. Foram mais de cinco séculos de dominação colonial, uma história marcada pelo comércio de pessoas escravizadas, ciclos de fome, secas e emigração forçada. A independência foi a 5 de Julho de 1975, mas a resistência começou muito antes, ainda que tenha sido a Geração Cabral a desencadear a luta de libertação e a conduzir Cabo Verde à independência. No século XIX, a elite letrada já manifestava uma atitude contestatária face ao poder colonial. Intelectuais como Eugénio Tavares, Pedro Cardoso, Luís Loff e, mais tarde, os chamados “claridosos” denunciaram os problemas que afectavam a população e exaltaram a singularidade e a identidade do povo cabo-verdiano.  Na década de 1940, uma nova geração de intelectuais, inspirados pelos antecessores, passam a reivindicar o direito à independência. O historiador e sociólogo António Correia e Silva sublinha que a Geração Cabral é fruto de lutas anteriores, que o fantasma das fomes foi determinante para desencadear o movimento de libertação e que, nessa altura, a ideia de “independência se torna politicamente credível”. “Gabriel Mariano vai escrever um grande poema sobre a fome que se chama 'Capitão Ambrósio': 'Bandeira negra, negra bandeira da fome…'. Eu costumo dizer aos meus alunos que bandeira, negra e fome é um triângulo virado para o futuro e que a bandeira negra da fome era, na verdade, uma fome de bandeira, uma fome de independência”, descreve António Correia e Silva. “Essa geração de Amílcar Cabral, o grande salto é que, através de uma aliança pan-africana, aproveitando uma conjuntura pós-guerra, a criação das Nações Unidas e a ideia de autodeterminação que surge naquela altura, a ocorrência de algumas independências de países afro-asiáticos, países grandes como a Indonésia, a Índia, o Egipto, etc, tudo isto provoca a passagem, a violação do interdito, a passagem do intransponível limite que era a independência. Isto é, a independência torna-se pensável, mas mais, torna-se politicamente credível”, acrescenta o historiador. As grandes crises de fome em Cabo Verde entre 1941 e 1942 e entre 1947 e 1948 foram de uma violência brutal, com milhares de mortos. Em 1939, a população estava avaliada em 174 mil pessoas e caiu, em 1950, para 139 mil. Os sobreviventes emigravam em massa para as plantações de São Tomé e Príncipe, onde viviam, trabalhavam e muitos morriam em condições semelhantes às da escravatura. Outros conseguiam emigrar clandestinamente para espaços que não o do Império português.  Na memória colectiva há um episódio trágico que não se esquece. Foi a 20 de Fevereiro de 1949, na cidade da Praia e ficou conhecido como o Desastre da Assistência. Centenas de pessoas, que aguardavam pela distribuição de refeições quentes, morreram quando caiu o muro do edifício dos Serviços de Assistência. Estima-se que mais de três mil pessoas se reuniam diariamente nesse espaço para receber a única refeição do dia. Dados oficiais apontavam para 232 vítimas, mas teme-se que o número tenha sido muito superior. Muitas vítimas foram enterradas em valas comuns no Cemitério da Várzea, embrulhadas em lençóis, por falta de caixões. Alcides Évora era uma criança nessa altura, mas lembra-se de ter visto as valas comuns. “Eu comecei a ter uma certa revolta interna desde o início da década de 40. Na altura, eu tinha sete ou oito anos e presenciei a fome de 47. Ainda lembro quando houve o desastre da assistência em que foram transportados, feridos e mortos do local para o Hospital da Praia. Havia tantos mortos. Inclusive muitas casas ficaram fechadas porque não houve nenhum sobrevivente da família que pudesse abrir a porta das suas residências. Da mesma forma, assisti ao enterro na Várzea, na vala comum, em que punham um grupo de cadáveres, depois deitavam o cal e depois punham outra camada de mortos e assim sucessivamente. É algo que ficou gravado na memória. Isto também me fez despertar uma certa revolta interna contra o sistema colonial português”, recorda. Gil Querido Varela também testemunhou a fome de 1947 e viu crianças a morrerem. Por isso, a revolta foi inevitável e quando surgiu a oportunidade aderiu à luta clandestina nas fileiras do PAIGC em Cabo Verde. “Quem já tinha visto a fome de 47 - que eu vi - não ficava sem fazer nada. Vi crianças a morrerem de fome, corpos inflamados de fome. Vi mães com crianças mortas nas costas, não as tiravam para poderem achar esmola. Os colonialistas troçavam do povo, da fome do pobre. Quando veio o PAIGC, entrei rápido. Quem viu aquela fome, era impossível para não lutar. Só quem não tem sentimento”, lembra Gil Querido Varela, que nos leva, num outro episódio ao Campo de Concentração do Tarrafal. A fome também ensombra as memórias de Marline Barbosa Almeida. Foi a partir daí que ela decidiu juntar-se à luta, também na clandestidade. Quis ver a sua terra “livre e independente”. “Nós, que nascemos nos anos 40, 50, vimos aquele período de fome, em que morreram muitas pessoas e o culminar foi o Desastre da Assistência, que matou dezenas, para não dizer centenas de pessoas. Daí cresceu em nós uma certa revolta que não estava classificada politicamente, mas era uma revolta contra a situação de Cabo Verde. Mais tarde, eu, como lia muito - eu devorava livros – fui-me apercebendo das desigualdades, da opressão, do que era necessário para que saíssemos do jugo do colonialismo”, conta Marline Barbosa Almeida, em sua casa, na Praia. No livro “Cabo Verde - Um Corpo que se Recusa a Morrer - 70 anos de fome - 1949-2019”, o jornalista José Vicente Lopes fala sobre o Desastre da Assistência, considerando que a luta de libertação do PAIGC teve como um dos motores a fome que assolava desde sempre o arquipélago. “Este livro fala de um acontecimento que houve em Cabo Verde, que foi o Desastre de Assistência de 1949, e cobre a história de Cabo Verde de 1949 a 2019, numa perspectiva da questão alimentar em Cabo Verde, a história das fomes, o impacto que isto foi tendo nos cabo-verdianos até desembocar inclusive na criação do PAIGC. O PAIGC foi uma reacção à calamidade famélica que foi sucedendo em Cabo Verde desde o século XVI ao século XX porque até 1949, quando se dá o Desastre de Assistência, qualquer seca que acontecesse em Cabo Verde matava no mínimo 10.000, 20.000 pessoas”, sublinha o jornalista, acrescentando que “o espectro da fome não desapareceu porque, apesar de todos os investimentos feitos, apesar de tudo o que se conseguiu fazer, mesmo um bom ano agrícola, um bom ano de chuvas em Cabo Verde, Cabo Verde não consegue produzir mais de 20% das suas necessidades alimentares, logo, 80% tem que ser importado”. As violências coloniais eram de toda a ordem. Maria Ilídia Évora tinha cinco anos quando viu o pai a ser espancado por brancos. A imagem nunca mais a deixou, assim como o medo incontrolável sempre que via alguém de pele branca. Mais tarde, ela viria a integrar um grupo de cabo-verdianos que foi treinado em Cuba para desencadear a guerrilha em Cabo Verde e viria ainda a trabalhar em hospitais durante a guerra na Guiné.  “Uma pessoa a bater em alguém que não fez nada, a bater daquela maneira como baterem no meu pai, uma criança não entende. Eu não entendi. Nunca entendi. Até conhecer o Amílcar, para mim, o branco era o diabo. Eu considerava o branco uma coisa muito ruim. Bater em alguém que não fez nada, que só estava lá porque quis conviver com um patrício amigo, não tinha sentido. Porque para a gente, amizade é amizade. Ele não foi fazer nada, ele não tinha nada nas mãos, nem nos pés, nem em nenhum lugar, e acharam que era um inimigo a ser abatido. Essa coisa nunca me saiu da cabeça”, conta-nos na sua casa, no Mindelo. Todas estas circunstâncias alimentaram a coragem dos que acreditaram na luta. Muitos deles, depois de terem passado no Liceu Gil Eanes, em São Vicente, depois na Casa dos Estudantes do Império, em Portugal, acabariam por "dar o salto". Em 1961, dezenas de angolanos, mas também moçambicanos e cabo-verdianos nacionalistas fogem clandestinamente de Portugal e protagonizam uma fuga massiva histórica para França nas barbas do salazarismo. Vários acabaram por ser figuras de destaque nas lutas de libertação nacional e, mais tarde, ocuparam também postos de relevo nos novos Estados. Pedro Pires foi um dos que escolheu seguir Amílcar Cabral, o líder da luta de libertação da Guiné e Cabo Verde. Era o momento de deixar tudo para trás e arriscar por uma causa. “Chegou um momento em que era preciso alguém correr riscos. Não quer dizer que todos iam correr riscos, mas tinha chegado o momento em que aqueles que achassem que podiam correr riscos ou aqueles que achassem que estivessem no dever de correr riscos, no dever da solidariedade e no dever de serviço em favor do seu país, do seu povo, decidiu correr o risco. Mas o risco é inerente a qualquer decisão e aí nós optamos ou ficar parados e não fazer nada ou então agir e correr riscos. Eu acho que tem sempre resultados, com maiores ou menores dificuldades. O facto de corrermos risco, podemos mudar muita coisa. Foi o que aconteceu connosco. Nós éramos um grupo que saiu na mesma altura ou no mesmo dia, éramos cerca de 60 jovens que decidiram correr o risco”, resume o antigo comandante. Osvaldo Lopes da Silva, comandante de artilharia mobilizado na Guiné, também correu o risco e esteve nessa fuga. Ele recorda esse pontapé de saída para a luta de libertação. “Atravessámos a fronteira de autocarro. Foram vários grupos, cada um foi à sua maneira. Depois, estivemos concentrados nas cercanias de San Sebastian. Quando íamos atravessar a fronteira, o elemento na fronteira que devia facilitar a nossa saída, tinha desaparecido. De forma que fomos presos. Estivemos dois dias na prisão central de San Sebastian e, às tantas, de repente, aparece o director da prisão com um discurso todo terceiro-mundista que 'o povo, o governo da Espanha estiveram sempre ao lado daqueles que lutam pela liberdade, pela independência, etc, etc'. Para nós, foi uma grande surpresa e fomos postos em liberdade. E a verdade é que, pelos documentos que reuniram, viram que essa gente não são maltrapilhos quaisquer, são gente com qualificação”, lembra. Muitos dos que estiveram nessa fuga, tinham frequentado e cultivado a reafricanização dos espíritos num dos principais berços da contestação ao colonial fascismo português: a Casa dos Estudantes do Império. Foi criada em 1944, em Lisboa, pelo próprio regime ditatorial para apoiar os jovens “ultramarinos” que fossem estudar para a “metrópole”, e encerrada em 1965. Duas décadas em que foi uma escola de consciencialização política do nacionalismo africano, fosse na sede lisboeta ou nas delegações de Coimbra e no Porto, ajudando à criação dos movimentos de libertação das colónias portuguesas em África. Outro centro de pensamento anticolonial foi o Centro de Estudos Africanos, em cujo grupo fundador esteve o futuro pai das independências da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. Amílcar Cabral foi também vice-presidente da Casa dos Estudantes do Império em 1951. A sua segunda esposa, Ana Maria Cabral, também por lá passou e recorda a importância do local para a contestação. “Fui levada pelos meus irmãos mais velhos e não havia só bailes, havia encontros, havia reuniões sobre a situação dos nossos países, em especial quando os franceses e os ingleses começaram a dar a independência às suas antigas colónias. Seguimos todo o processo dessas independências. Nós todos éramos Lumumba e Nkrumah. Nós seguíamos a luta dos outros povos, dos povos das colónias e não só das colónias em África”, explica Ana Maria Cabral. Muitos dos que passaram pela Casa dos Estudantes do Império vieram a assumir importantes responsabilidades na luta anticolonial e de libertação dos antigos territórios em África, como Amílcar Cabral, Vasco Cabral, Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade, Eduardo Mondlane, Marcelino dos Santos, Joaquim Chissano e Miguel Trovoada. Pedro Pires também conheceu de perto a Casa dos Estudantes do Império. Aquele que foi comandante e destacado dirigente político-militar do PAIGC na luta de libertação, assim como o principal arquitecto do Acordo de Lisboa para a independência, resume que a luta contra a opressão colonial foi desencadeada pelo próprio colonialismo. “É o próprio sistema colonial, que não dava resposta às necessidades e às dificuldades, enfim, às crises por que passava a Cabo Verde, mas também que não se interessava especialmente em encontrar soluções para esses problemas. O percurso histórico de Cabo Verde é trágico, em certa medida, porque os cabo-verdianos tiveram que enfrentar situações extremamente complicadas e difíceis de fome, secas, fugas, ter que buscar por outras vias as soluções e o próprio sistema que não dava resposta às necessidades e às exigências, para não dizer também aos sonhos daqueles que queriam ver o país numa via diferente. Portanto, o colonialismo era um sistema de bloqueio e era indispensável lutar contra ele, a fim de abrir novas perspectivas ao país para realizar os seus objectivos, os seus sonhos, mas também por uma coisa muito simples: para ter uma vida melhor”, considera Pedro Pires. Foi para buscar essa “vida melhor” que estes homens e mulheres abrem o caminho para a luta de libertação, da qual vamos recordar alguns momentos nos próximos episódios.   Pode ouvir aqui as entrevistas integrais feitas aos diferentes convidados.

Cockpit
Cap-Vert : quelle île choisir ?

Cockpit

Play Episode Listen Later Mar 25, 2025 10:58 Transcription Available


Dans cet épisode, nous vous emmenons au Cap-Vert.Cet archipel volcanique au large de l'Afrique de l'Ouest séduit par ses paysages contrastés et son ambiance envoûtante. Son hospitalité chaleureuse et son atmosphère détendue font du Cap-Vert une destination unique qui invite à l'évasion et à la découverte. Quelles îles visiter au Cap-Vert pour un circuit de 10 jours ?São Vicente, pour sa cultureSanto Antão, pour ses randonnéesSal, pour ses plages.São VicenteSi vous souhaitez réserver un [séjour au Cap-Vert: https://www.selectour.com/cap-vert/sejour] et que vous vous posez la question sur quelle île choisir au Cap-Vert, nous vous conseillons de débuter par São Vicente.C'est une île riche en découvertes, des terres volcaniques et des petits villages perchés. On peut visiter Mindelo, capitale culturelle de l'archipel, classée au patrimoine mondial de l'UNESCO.São Vicente est aussi connu pour son carnaval, c'est sûrement l'événement le plus important de l'île chaque année et il regroupe énormément de visiteurs. Il s'apparente un petit peu au carnaval de Rio. Profitez-en pour monter sur le Monte Verde et surplomber toute l'île. São Vicente est méconnue pour ses plages préservées comme celle de Calo.Santo AntãoSeconde île à choisir si vous voulez visiter le Cap-Vert, il s'agit de Santo Antão.C'est l'île la plus verte et la plus fertile de l'archipel capverdien. Ils sont producteurs de fruits et légumes, connus pour le fromage de chèvre et ont des plats typiques tels que la cachupa.Découvrez Ponta do Sol, un démarrage de randonnée qui va nous permettre de faire le point sur le nord de l'île. Allez jusqu'au Pico da Cruz, une montagne à 1585 mètres de hauteur, où vous aurez une vue à 360 degrés sur Santo Antão et les autres archipels du Cap-Vert.Il y a de jolies plages méconnues comme celle de Tarrafal de Monte Trigo.On terminera par la vallée de Paul comparé à un véritable jardin d'Éden.SalDernière île à choisir si vous voulez visiter le Cap-Vert en 10 jours, direction l'île de Sal.Il y a la plage de Santa Maria où le sable est doré et les eaux sont d'un bleu cristallin. On peut visiter Pedra de Lume, un village où est abrité également les salines. On peut également proposer de faire une sortie en buggy sur la partie sable.On peut aussi aller du côté d'Espargos, capitale de l'île de Sal et ville dynamique où vous trouverez un marché avec des produits frais, des épices, des spécialités locales et des boutiques d'artisanat.Terminez par Buracona qui est surnommé l'œil bleu, c'est une grotte sous-marine qui est vraiment spectaculaire. Pourquoi voyager au Cap-Vert ?C'est une destination qui a plusieurs facettes : le côté nature, le côté randonnée, le côté balnéaire et le fait que ça peut se visiter toute l'année. N'hésitez plus, partez au Cap-Vert !Si vous souhaitez en savoir plus sur la destination et, pourquoi pas, préparer votre prochain [séjour au Cap-Vert: https://www.selectour.com/cap-vert/sejour], n'hésitez pas à faire appel à nos [experts: https://www.selectour.com/agent/recherche?postalCode=&city=&favoriteDestination=CV&page=2] ! À bientôt dans le cockpit !Hébergé par Ausha. Visitez ausha.co/politique-de-confidentialite pour plus d'informations.

Convidado
Músico cabo-verdiano Mário Lúcio lança novo álbum "Independance" em concerto em Paris

Convidado

Play Episode Listen Later Jan 31, 2025 21:08


O músico, autor, compositor e antigo Ministro da cultura de Cabo Verde, Mário Lúcio deslocou-se esta semana aos estúdios da RFI antes de participar no festival musical "Au fil des voix", na sala de concerto 360 aqui em Paris, onde vai tocar e cantar neste sábado 1 de Fevereiro a partir das 20H00. Por ocasião deste certame que homenageia este ano alguns países de África Lusófona pelos 50 anos das suas respectivas independências, Mário Lúcio representa Cabo Verde, com o seu novo álbum lançado oficialmente neste 31 de Janeiro.Este novo trabalho que é o seu sétimo álbum em nome próprio, intitula-se "Independance", com "A" para evocar a palavra "dança". Nele, o músico recorda e retoma alguns dos êxitos do pós-independência. Com 10 anos de idade na altura em que o seu país conquistou a liberdade, Mário Lúcio lembra-se nomeadamente do fervilhar musical daquela época e diz que a sua vida mudou completamente com a independência.RFI: Quais são as sonoridades deste novo álbum?Mário Lúcio: Quando nós falamos de independência ou de qualquer acontecimento, nós temos a parte analítica e depois temos uma memória escondida. E é engraçado que isto só me aconteceu há pouco tempo. Qual é a minha memória da independência? Eu tinha dez anos. Para além de analisar, é bom lembrar-me das festas. Mas qual é a memória? É a música. Portanto, há pessoas que têm memória de lugares através dos cheiros e a música, porque em 1975 chegaram a Cabo Verde músicas desconhecidas para nós. Nós somos um arquipélago de uma música muito particular no contexto africano e mundial. Uma mistura de música, de reminiscências de música africana com música europeia. E de repente, chega-nos a música do continente africano. Até lá, eu ia sempre a uma mercearia muito pequenita, lá no Tarrafal. O senhor tinha um gira-discos. O que é que nós ouvíamos? Era Roberto Carlos, Luiz Gonzaga e também ouvíamos muita música norte-americana, James Brown, Otis Redding, Percy Sledge. Era o que nós ouvíamos. É como se nos negassem o acesso à música do continente. África estava efervescente havia algumas décadas. Vários países foram independentes nos anos 60 e digamos que esconder isso evitava o contágio. Mas, de repente, chega a música da Guiné-Bissau -que nós não conhecíamos- na mesma língua. A música da Guiné-Conacri, aquelas guitarras, a música de Angola e a música do Congo, mais a música do Senegal, Gana, Camarões e Nigéria, mas também a música das Antilhas, Martinica, Guadalupe, Haiti. Então, é como se nós tivéssemos também achado a nossa própria identidade. E por casualidade, nós começamos a tocar essas músicas, aprender no violão os primeiros acordes que eu aprendi de uma música de um cantor chamado Prince Nico Mbarga. E a música chamava-se "Aki". Eram dois acordes. E depois fui tocar no grupo Abel Djassi, na cidade da Praia, quando fui lá estudar. E já tocávamos nos bailes nocturnos. Os bailes duravam das 20h00 às 05h00. Tínhamos repertório com 100 músicas. Fazíamos quatro intervalos e basicamente eram essas músicas. Então, depois que eu tomei a minha profissão do músico, depois de exercer outras profissões, sempre com a música, tinha o sonho de um dia recuperar essas memórias. Eu não sabia como é que haviam de vir e eu lembrei-me que era o som ligado à dança. Essas músicas chegaram com as danças. Eu lembrava no Tarrafal, as casas, umas casas muito velhas, cheias de gente, rapazes e meninas, cada um no seu canto, a dançar essas músicas, a tentar descobrir uma forma de dançar. As nossas danças são sempre muito coladas, o homem e a mulher. E esses ritmos não exigiam muito malabarismo. Então, a palavra "independance" reflecte a minha memória da independência. São músicas ligadas à dança. E esse disco é um disco para dançar. Felizmente, toquei muitos anos em baile. É uma coisa que eu gosto de fazer, então é um testemunho, digamos assim, uma homenagem a essa época.RFI: Como é que foi todo esse trabalho de recolher as músicas do seu baú pessoal e reformulá-las?Mário Lúcio: As coisas têm os seus mistérios, não é? Normalmente, todos os meus discos, eu vou ao baú e lá selecciono às vezes 60, 80 músicas. Depois passa para 40, 20. Levo para o estúdio 20 músicas. E de repente gravo 12. Ou saem as 12, ou saem oito ou dez. Este processo não. Eu compus todas as músicas de uma assentada. Passei duas noites, compus todas as músicas, excepto a música "Independance", que eu compus no estúdio. Mas, como havia ali alguma coisa para dizer, há muito tempo que nós estávamos à espera que venha esse tipo de música, esse tipo de ritmo. Então, foi muito rápido. E eu sabia o que que as músicas estavam a dizer. E vieram já com o seu ritmo, seu balanço. As letras todas desceram rapidamente e a única música que eu gravei é um tema que eu fiz que se chama "Minha Bio", que é exactamente a minha biografia, que é uma música muito icónica na minha vida. Eu nunca tinha feito uma música sobre mim ou para mim. Esta sim conta a história do meu nascimento e também é uma música acústica. É mesmo uma pausa dentro do disco.RFI: é também uma espécie de balanço pessoal de uma longa carreira que começou quase praticamente depois da independência.Mário Lúcio: Obrigado por essa pergunta, porque eu não tinha sentido isso ainda. E é verdade. Acho que sim. A minha vida está muito ligada à independência, isto é, até os nove anos de idade não se sabia na minha aldeia, o que era um menino precoce. Então eu sofri muita protecção, sobretudo das mulheres mais velhas. A minha avó e a minha tia-avó. A minha mãe não ligava muito. Ela estava sempre a parir. Então a minha avó tomava conta. E aos dez anos, de repente, eu encontrei um poema no bolso das calças do meu irmão, um poema sobre Amílcar Cabral. Isto mudou a minha vida. E isso me levou à música, porque detectaram-me na rua a recitar poemas. Tinha uma memória fabulosa. E o Estado adoptou-me: "temos que lhe dar uma educação especial, porque isso ainda vai ser gente, não é?" Ainda há poucos dias encontrei o antigo Primeiro-Ministro Pedro Pires e ele ria muito. Ele foi lá à minha casa ao Tarrafal e dizia "realmente somos amigos há 51 anos, não é?" Ele está com 95, mais ou menos isso. E olhamos para trás, disse "Olha aquele encontro". Parece que ele se sente satisfeito e muito orgulhoso disso. Então, na verdade, estes 50 anos de dependência são 50 anos de um percurso da noite para o dia. Nada do que eu estava a fazer, do que estava previsto, depois eu vim a fazer, que era ser um pescador ou um pedreiro lá da zona, com muito poucas condições, como não tiveram o resto dos meus irmãos ou dos meus vizinhos. A independência trouxe isso. Estudei e tive acesso às artes. Tive acesso à universidade, tive acesso, depois, às condições que foram criadas depois da independência para as crianças, para os adolescentes. E também fui recebendo. Fui reciclando e dando também. Hoje, quando olho para trás, do alto dos meus 60 anos, tenho 50 anos de dádiva e de gratidão. Porque, na verdade, logo que eu comecei, com dez anos, eu já era músico na minha aldeia e também no grupo Abel Djassi, lá no Tarrafal, com instrumentos e dávamos concertos. E já aos 15, eu era profissional, a meio termo porque eu era estudante, mas tocava também nos bailes. De modo que isto também, essa pergunta é uma prenda para mim. Vou agora pensar nisso nos próximos dias. Como é que, na verdade, é um balanço junto com a história do meu país.RFI: E relativamente à História do seu país? Quando olha para esses 50 anos de percurso livre para Cabo Verde, como é que olha para todo este caminho já atravessado?Mário Lúcio: Tem dois lados, a independência, como a descolonização, esses reveses do domínio e também do aprisionamento e do cerceamento da liberdade. Esses reveses são sempre positivos, porque o homem nasceu para ser livre e feliz e dentro disso tem as matizes que é ser amado, amar, ser generoso, ter ética. Várias coisas. Mas, na verdade, tem o outro lado. Muitos países africanos pioraram as suas condições para as suas populações depois da independência. Isso é inaceitável. Um povo livre, um povo autónomo e países com muita riqueza, não é aceitável que passem a viver igual ou pior do que antes da independência. Cabo Verde é uma belíssima excepção. Eu não sei as razões. Evidentemente, podemos analisá-las. A formação desse povo é uma formação diferente, a escolaridade. Cabo Verde, em 1975, tinha uma taxa de analfabetismo de 75%. Hoje tem (uma taxa de alfabetização) acima de 98%. E então isso faz com que seja um país que progride todos os dias. Em Cabo Verde, é o progresso, o desenvolvimento humano. O desenvolvimento económico é apenas um índice. Mas o desenvolvimento humano passa por ter escolas. A escolaridade obrigatória e gratuita é boa, como existe em Cabo Verde, ter saúde, nós temos uma saúde básica boa. Em Cabo Verde, ter liberdade, liberdade de expressão e outras liberdades identitárias, respeita-se isso. Em Cabo Verde, os Direitos Humanos são respeitados e é um país onde todo o mundo trabalha. Não está infestado de corrupção e de ditaduras. Eu tenho uma sorte. Hoje a minha bandeira é as últimas eleições autárquicas em Cabo Verde. Portanto, as eleições foram no domingo e na segunda-feira todo mundo foi trabalhar. Nas minhas palestras falo da democracia de Cabo Verde, mas desta vez falo com mais felicidade porque houve uma região da ilha de Santiago, acho que era São Lourenço dos Órgãos, onde o vencedor saiu por um voto. Está a ver em África ou no mundo, ou nos Estados Unidos, algum candidato que vence o outro por um voto e não houve briga, não houve manifestações? Muito bem. Vamos recontar, contar, recontar. E se alguém tiver dúvidas, existem as instâncias próprias. Isso é saudável, de modo que quando se sente a maturidade para um povo ser livre e cuidar dos seus destinos, os resultados são como os resultados que existem em Cabo Verde e vários outros países. Vale a pena. E esse processo de Cabo Verde valeu a pena.RFI: Algum ponto talvez menos positivo, que também mereça a sua atenção? Alguma coisa que talvez possa melhorar em Cabo Verde, a seu ver?Mário Lúcio: O mundo todo! Eu acho que neste momento há uma desumanização da política, há uma desumanização da economia, há uma desumanização do próprio ser humano. E isso tem a ver com várias situações sociais. Quando o ser humano não tem acesso à cultura, é uma parte de si, principalmente a parte invisível, que é a alma da pessoa, que está a ser menosprezada, desvalorizada. Quando a pessoa não tem acesso à educação, está a ser-lhe negada uma das vias do progresso e do desenvolvimento humano. Em relação ao meu país, o que eu acho é que, também por fazermos parte do mundo, julgo que temos correcções a fazer. Essas correcções têm a ver exactamente com colocar a felicidade e a liberdade e o acesso ao progresso humano no centro das políticas e não ir, digamos assim, na moda e com o vento das várias possibilidades que estão a existir, de tornar o ser humano secundário, em que se dá demasiada importância às máquinas e à ganância. Então, acho que o Cabo Verde também está a sofrer disso nesse momento.RFI: Cabo Verde faz parte dos países que são homenageados pelos 50 anos das suas respectivas independências no festival "Au fil des voix" aqui em Paris. Como se sente por representar o seu país neste festival?Mário Lúcio: Eu nunca pensei ser um "representante oficial". Mesmo quando eu estava no governo. Mas na verdade, no outro dia, na minha aldeia, na minha vila, um historiador parou-me na rua para me cumprimentar e disse "que orgulho! Mas saiba uma coisa tu és património do Tarrafal." E eu disse "olha, eu que nasci com espírito livre e nunca quis pertencer a nenhuma agremiação e não ser nada para nada". Mas eu disse "para a minha pequena vila, eu aceito, então sou património". E quando me dizem que eu represento o meu país, tomo como uma leveza. Isto é o meu país. Representas ou sentes-te representado nas minhas acções. Por isso, também faço as minhas acções com a maior qualidade possível. E faço-as num contexto internacional, mundial, para que a sua representação não seja menos do que a sua realidade. Tenho trabalhado para isso.RFI: Está a lançar neste momento o seu novo disco. Como é que vai ser a sua actualidade nos próximos meses?Mário Lúcio: Bom, esse disco vai-me fazer tocar bastante. Como já não tocava em bailes, festivais, quero fazer bailes mesmo. Vai ser uma descoberta para as novas gerações, porque é um disco para se ouvir de pé. É um disco para libertar energias. Então, vamos fazer muitas turnês. Muitos concertos e já começamos. Agora vou a Cabo Verde descansar. Em Março, retomo e por aí adiante. Em Abril, Maio, Junho, Julho, Agosto. Setembro, Outubro, Novembro, já está tudo encaminhado. Hoje, vivo no Tarrafal, onde eu nasci, na minha cabana, e é onde quero estar mais tempo. Então começo a fazer as turnês de forma diferente. Não longas turnês, mas muito compactas, a vir à Europa, ir a outras partes do mundo, trabalhar e logo regressar para o meu mar, o meu sol, o meu povo, a minha terra.RFI: O que é que gosta de ouvir neste momento?Mário Lúcio: Eu sou muito eclético. Mas eu diria que se me dessem para escolher cinco músicas para ouvir permanentemente, escolheria, "Gracias à La Vida" de Violeta Parra, se possível interpretada por Mercedes Sosa. Ouviria também "Imagine" de John Lennon. Ouviria "What a Wonderful World" do Louis Armstrong e ouviria uma das "chaconnes" e "partidas" de Johann Sebastian Bach para violino e para violoncelo. E também ouviria "Sodade" na voz de Cesária Évora.Eis a programação do festival "Au fil des voix": https://www.aufildesvoix.com/

Kalimba
O concerto do Tarrafal (reprise)

Kalimba

Play Episode Listen Later Jan 21, 2025


Vous m'en direz des nouvelles
Le RNB, Ronisia y va franco

Vous m'en direz des nouvelles

Play Episode Listen Later Oct 4, 2024 48:30


En marge de la francophonie, les festivaliers sont invités dans la grande salle à une soirée « poésie sonore ». VMDN accueille l'un des nouveaux visages du RnB francophone, la chanteuse cap-verdienne Ronisia. Son dernier album Era 24 est un cocktail d'influences musicales et de sonorités afro et caribéennes parfois teintées de rap. Ronisia est née à Tarrafal, au nord de l'île de Santiago, au Cap-Vert, il y a 24 ans. Elle a surtout grandi en France, dans la région parisienne. Son premier single posté sur les réseaux sociaux a affolé les compteurs. Elle revendique aujourd'hui de plus d'1,8 millions d'abonnés sur TikTok, 944.000 followers sur Instagram, plus d'1 million d'auditeurs mensuels sur Spotify. Sans oublier le prix de la Révélation féminine à la cérémonie des Flammes en 2023. Ses musiques sont teintées de sonorités afro-caribéennes et ses paroles sont parsemées de créole cap-verdien.Ronisia est l'invitée de VMDN en direct de la Gaîté Lyrique. Café GourmandSolène Gardré nous fait découvrir l'exposition « Ce qui nous rassemble, langues, langages etimaginaires » dont les œuvres questionnent leur rapport à la langue française, aux langues et aux imaginaires des mondes francophones.Emma Garboud Lorenzoni a assisté à la première soirée du festival de la Francophonie, le Francomédie Club. Dédiée à l'humour, elle y a rencontré les talents francophones de la comédie.José Marinho a rencontré Lo'Jo. La bande de Denis Péan revient avec un treizième disque, Feuilles fauves.

Vous m'en direz des nouvelles !
Le RNB, Ronisia y va franco

Vous m'en direz des nouvelles !

Play Episode Listen Later Oct 4, 2024 48:30


En marge de la francophonie, les festivaliers sont invités dans la grande salle à une soirée « poésie sonore ». VMDN accueille l'un des nouveaux visages du RnB francophone, la chanteuse cap-verdienne Ronisia. Son dernier album Era 24 est un cocktail d'influences musicales et de sonorités afro et caribéennes parfois teintées de rap. Ronisia est née à Tarrafal, au nord de l'île de Santiago, au Cap-Vert, il y a 24 ans. Elle a surtout grandi en France, dans la région parisienne. Son premier single posté sur les réseaux sociaux a affolé les compteurs. Elle revendique aujourd'hui de plus d'1,8 millions d'abonnés sur TikTok, 944.000 followers sur Instagram, plus d'1 million d'auditeurs mensuels sur Spotify. Sans oublier le prix de la Révélation féminine à la cérémonie des Flammes en 2023. Ses musiques sont teintées de sonorités afro-caribéennes et ses paroles sont parsemées de créole cap-verdien.Ronisia est l'invitée de VMDN en direct de la Gaîté Lyrique. Café GourmandSolène Gardré nous fait découvrir l'exposition « Ce qui nous rassemble, langues, langages etimaginaires » dont les œuvres questionnent leur rapport à la langue française, aux langues et aux imaginaires des mondes francophones.Emma Garboud Lorenzoni a assisté à la première soirée du festival de la Francophonie, le Francomédie Club. Dédiée à l'humour, elle y a rencontré les talents francophones de la comédie.José Marinho a rencontré Lo'Jo. La bande de Denis Péan revient avec un treizième disque, Feuilles fauves.

Kalimba
KALIMBA Sete anos no ar – O concerto do Tarrafal

Kalimba

Play Episode Listen Later Sep 25, 2024


Artes
Festival Pela Paz decorreu no Tarrafal, "num lugar de liberdade"

Artes

Play Episode Listen Later Sep 17, 2024 9:32


O Tarrafal assinalou no fim-de-semana passado o centenário do nascimento de Amílcar Cabral com o festival Pela Paz. "Com este festival queremos reforçar a referência do Tarrafal como um lugar de paz e símbolo de liberdade", conta-nos porta-voz do festival, Madair Feire. O curador do evento, músico, escritor e antigo ministro da cultura de Cabo Verde, Mário Lúcio Sousa, explica a sua relação com Amílcar Cabral, líder revolucionário e intelectual que lutou pela independência de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. Uma inspiração na obra, literatura e música de Mário Lúcio. "Tenho uma relação espiritual com Cabral, em dimensões que nem eu entendo bem. Vejo-o com frequência e quando escrevi o romance sobre ele, tivemos vários diálogos. O livro apareceu por acaso, mas foi Amílcar Cabral que mudou a minha vida. Um dia encontrei um poema dele, recitava-o na rua e viram em mim uma criança um pouco precoce. Ajudaram-me a ter acesso a uma educação porque os meus pais eram pobres", conta.Cabral mudou a vida de "todos os cabo-verdianos, ao dar a sua própria vida em troca da liberdade e da independência, defendendo sempre uma filosofia sem ódio. A guerrilha foi necessária, sim, mas ele tinha uma noção de paz. Escreveu várias cartas ao governo português a pedir diálogo, mas nunca obteve resposta. E quando a repressão aumentou, os outros tiveram que se defender e ele continuou a defender a via da paz", acrescentou.Mário Lúcio nasceu e vive no Tarrafal e fez questão que a primeira edição do festival Pela Paz decorresse nessa vila: "Costumam dizer que temos um coração de pescador porque os pescadores têm uma enorme paciência; deitam a linha na água e ficam ali horas e horas sem apanhar um peixe. Aqui encontramos uma paz natural".A cultura foi um dos pilares fundamentais no processo de libertação e desenvolvimento de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. Amílcar Cabral acreditava que a cultura era um dos principais elementos de resistência contra o colonialismo, defendendo a ideia de que a preservação e valorização da identidade cultural de um povo eram essenciais para o sucesso da luta pela independência. "No Tarrafal tivemos a prisão e estiveram cá muitos prisioneiros. Conseguiram a liberdade com a luta de Amílcar Cabral e o Tarrafal tornou-se num símbolo de liberdade. Com este festival queremos reforçar a referência do Tarrafal como um local de paz e o símbolo da liberdade", sublinha o porta-voz do festival, Madair Feire.A cantora cabo-verdiana, Mayra Andrade, subiu ao palco no sábado, 14 de Setembro. No final do concerto, contou-nos que a música é para ela a sua "forma de respirar, forma de ser". "Como cabo-verdiana, acho que é muito claro para mim que a cultura alimenta a música cabo-verdiana. Ela é a nossa maior bandeira no mundo. Fazer parte desta constelação de artistas que levam o nome de Cabo Verde, alimenta em mim um sentimento de muita gratidão pela oportunidade que eu tenho de poder fazer disto a minha vida", concluiu.O festival Pela Paz foi organizado por Mário Lúcio em parceria com a Câmara Municipal do Tarrafal, com objectivo de reforçar mensagem de paz através da arte e homenagear o centenário de Amílcar Cabral.

Noticiário Nacional
Noticiário

Noticiário Nacional

Play Episode Listen Later May 1, 2024 10:35


13h00 - Tarrafal 50 anos depois

Noticiário Nacional
Noticiário

Noticiário Nacional

Play Episode Listen Later May 1, 2024 8:45


14h00 - Placa assinala 50 anos do Tarrafal

Linhas Vermelhas
Governo sem misericórdia de membros da Santa Casa

Linhas Vermelhas

Play Episode Listen Later Apr 30, 2024 24:10


No Linhas Vermelhas em podcast, Catarina Martins e Cecília Meireles fazem a análise dos principais temas em mais um arranque de semana. A três dias de completarem um ano no cargo, o governo anunciou a exoneração dos membros da mesa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa por “se ter revelado incapaz de enfrentar os graves problemas financeiros e operacionais da instituição.” Em que medida seria esta uma decisão justificável por parte do executivo de Luís Montenegro? Programa emitido na SIC Notícias no dia 29 de abril. See omnystudio.com/listener for privacy information.

Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer
Livro da semana: Matos Gomes, Scruton, Tarantino e Pina

Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer

Play Episode Listen Later Apr 6, 2024 5:53


Na estante desta semana, as memórias do capitão de Abril Carlos de Matos Gomes são o retrato da "Geração D",  a que trouxe Portugal da ditadura à democracia; a nostalgia da infância leva o conservador Roger Scruton - em "Inglaterra - Uma Elegia" - a traçar um retrato sombrio do seu país; a BD está ao serviço da cinefilia em “Quentin por Tarantino"; e o fotógrafo João Pina encontrou no espólio da família um testemunho pungente do sofrimento no campo de concentração do "Tarrafal".See omnystudio.com/listener for privacy information.

Zuga Podcast
O Verdadeiro Vencedor das Eleições! | c/ Bruno Fialho (Líder do ADN) no pós-eleições! - ZugaTalks

Zuga Podcast

Play Episode Listen Later Mar 15, 2024 84:20


Vamos conversar com o Bruno no pós eleições e descobrir quantas pessoas afinal ele quer mandar para o Tarrafal ;) ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Se desejas contribuir para o canal podes fazê-lo utilizando uma das opções abaixo. Muito obrigado pela tua ajuda!-Torne-se membro do nosso canal: https://www.youtube.com/channel/UCPvHjnk3mt4jrGSvQkUSBWA/join-PIX: 11716796709-MBWAY: +351 915167672-Paypal: https://www.paypal.com/donate?hosted_button_id=H6PFSR9EE9T5L-Bitcoin Address: 15LCdXiRWBZGVFtFLU2Riig7poZKDQ35L3-Ethereum Address: 0x69f7f2732CB0111c249765ea5631fC81dFF23dB4___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ANFITRIÕES:Rodrigo - Instagram https://www.instagram.com/rodrigofrontMarco - Instagram https://www.instagram.com/marcoacpinheiro/___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ CONTATO: zugapodcast@gmail.com___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ O Zuga Podcast é uma produção original Estúdio Zuga Produções Audiovisuais.Estamos em Vila Nova de Famalicão - Braga - Portugal.Para maiores informações:E-mail: estudiozuga@gmail.comTelemóvel/Whatsapp: +351 914374850

Os Homens do Fraque
#56 - O ADN do ADN (Feat. Bruno Fialho - presidente do partido ADN)

Os Homens do Fraque

Play Episode Listen Later Mar 6, 2024 148:26


A pedido de tantas e tantas famílias, tivemos por fim a companhia de Bruno Fialho - o presidente do partido ADN (Alternativa Democrática Nacional). Falámos sobre as ideias e o trabalho do ADN, concretamente de como está a decorrer a actual campanha eleitoral. Lá fora, discutimos os fetiches beligerantes dos governantes ocidentais e analisámos os protestos no Brasil e a falta de cobertura mediática em Portugal.No final, gravámos um bónus só para vocês: uma terceira parte que versa sobre tópicos relacionados com um certo bicharoco e respectivo circo - sendo ainda um tabu, teve de ficar de fora do Youtube, para evitarmos o Tarrafal. Um episódio disruptivo e bombástico! Conhece o partido ADN - https://adn.com.pt ⁠⁠https://www.youtube.com/channel/UCkwMeAtN-M9Y_-mdMUhgNUw/join⁠⁠⁠⁠ Subscreve o nosso canal no Youtube - ⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠https://www.youtube.com/@oshomensdofraque?sub_confirmation=1⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠ ⁠⁠⁠⁠Encomenda na Prozis com descontos exclusivos - usa o código homensdofraque no checkout. ⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠https://⁠⁠⁠⁠www.prozis.com/Npvr⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠ ⁠Encomenda o livro "Visto de Fora - Crónicas sobre Portugal e o mundo" do Gonçalo Galvão Gomes. ⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠https://www.wook.pt/livro/visto-de-fora-cronicas-sobre-portugal-e-o-mundo-goncalo-galvao-gomes/29476587?fbclid=IwAR2i7qbJOO7-VMcwH3VLMudycSuLW8niGxw0avH_QRpqj0ZQ1DBrGvMbEoQ⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠⁠ --- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/os-homens-do-fraque/message Support this podcast: https://podcasters.spotify.com/pod/show/os-homens-do-fraque/support

E o Resto é História
Tarrafal: a pior prisão do Estado Novo

E o Resto é História

Play Episode Listen Later Feb 7, 2024 65:53


Há 70 anos, a 26 de janeiro de 1954, foi encerrada a mais mortífera prisão do Estado Novo: o campo do Tarrafal, em Cabo Verde, inaugurado em 1936 e onde morreram 34 pessoas. Esta é a sua históriaSee omnystudio.com/listener for privacy information.

Convidado
Maior Feira de Artesanato e Design decorre até este domingo em São Vicente

Convidado

Play Episode Listen Later Dec 1, 2023 11:51


A Praça Amílcar Cabral, na cidade do Mindelo, ilha de São Vicente, acolhe até este domingo, a 8ª edição da URDI – Feira do Artesanato e Design de Cabo Verde. Decorre sob o lema “Emigração na poética das ilhas”, onde busca reflectir sobre a condição atlântica dos ilhéus, intrinsecamente ligada às diversas influências culturais que moldaram as ilhas ao longo dos tempos. “É uma feira que incentiva a partilha do saber-fazer e troca de experiência para que haja uma união dos artistas que temos em Cabo Verde” refere a técnica do Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design, Elisangela Monteiro, afirmando que 145 artesãos dos 22 municípios de Cabo Verde participam da Feira do Artesanato e Design.Este ano, a URDI destaca os municípios do Tarrafal de São Nicolau e de São Filipe na ilha do Fogo, pela ligação histórica com a emigração, tendo em conta o lema “Emigração na poética das ilhas”.Em Tarrafal de São Nicolau, os primeiros emigrantes foram para São Tomé e Príncipe, de onde surgiu a inspiração para o compositor, natural da localidade de Praia Branca, Armando Zeferino Soares, da célebre morna interpretada por Cesária Évora - Sodade.O presidente da Câmara Municipal de Tarrafal de São Nicolau, José Freitas, disse que trouxe para a Feira do Artesanato e Design de Cabo Verde o melhor do Tarrafal de São Nicolau, como a farinha de mandioca, a farinha de pau e o atum enlatado.São Filipe, na ilha do Fogo, com a tradição de emigração para os Estados Unidos da América é o outro município em destaque na 8ª edição da URDI – Feira do Artesanato e Design de Cabo Verde. A vereadora da cultura da Câmara Municipal de São Filipe, Lia Barbosa, disse que a participação do município na URDI é uma mais-valia para os artesãos e também dar a conhecer as festas das bandeiras e dos santos que começam em Janeiro e vão até Dezembro, bem como o vinho do Fogo.Os artesãos que participam no certame consideram a URDI com sendo um espaço onde o artesão bem como o artesanato são dignificados. A programação 8ª edição da URDI – Feira do Artesanato e Design de Cabo Verde que é desenvolvida até este domingo das 9h às 22 horas é bastante diversificada, para além da feira em si e dos concertos musicais, na Praça Amílcar Cabral, inclui a exposição 6.1, enquadrada no “Salão created in Cabo Verde”, em que as peças do concurso de design dos anos anteriores estão expostas em diversas montras, na Rua de Lisboa.Este evento inclui igualmente a exposição “Pasárgada” do artista plástico cabo-verdiano residente na Escócia, Irineu Rocha que acontece na Gare Marítima do Porto Grande; a Urdi Júnior, em que alunos do 10º ao 12º anos de Artes e Design Gráfico, da Escola Industrial e Comercial do Mindelo, embarcam no tema da emigração, propondo a reflexão e reinterpretação criativa deste fenómeno.Noutro aspecto, a URDI abrange igualmente o Food Design com a gastronomia tradicional das ilhas, o Urdi Depôs d'Hora com as noites musicais nos espaços de diversão da ilha de São Vicente e ainda “Grandes Conversas” no Centro Cultural do Mindelo, que buscam reflectir sobre a arte e a criatividade relacionadas à emigração, explorando seu papel no desenvolvimento criativo.Podem percorrer a feira aqui em imagens:

Convidado
“Passeio Alma das Ilhas” em São Vicente, eterniza figuras da cultura cabo-verdiana

Convidado

Play Episode Listen Later Nov 24, 2023 12:02


Com o objectivo de homenagear e eternizar, na Rua de Lisboa, no coração da cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente, ilustres da arte e cultura cabo-verdiana, o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas criou o “Passeio Alma das Ilhas”. Até este momento, 51 nomes de figuras cabo-verdianas estão fixados na Rua de Lisboa. Em conversa com a RFI, Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, começou por explicar como surgiu a ideia de fazer o "Passeio Alma das Ilhas" na Rua de Lisboa.“A ideia era fazer um passeio de estrelas. Um passeio de consagração dos grandes nomes imitando o passeio da fama de Hollywood, Los Angeles, com as estrelas, coisa básica. No entanto, a equipa do CNAD - Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design – em parceria com o Atelier Pika Pedra veio com a ideia por que não homenagear Cesária Évora na sua ilha. Fizeram várias propostas sempre com Cesária Évora como figura central, guia para o ‘Passeio Alma das Ilhas' foi assim que nasceu o primeiro protótipo. Cada uma das pedras têm uma história com as pedras das ilhas e várias tonalidades mais bronze com a ideia de consagrar algo que apesar de ser usado no dia-a-dia, pisado, um pouco maltratado está presente no convívio do Mindelo, na Rua de Lisboa. Começamos com o nome dos imortais, pessoas que não tínhamos dúvidas de que estamos consagrados para sempre. A começar pelos que já faleceram e pouco a pouco ir introduzindo nomes de pessoas que estão vivas. Faltam ainda muitos nomes. Nós já ocupamos apenas um lado da estrada, mas a ideia é ocupar os dois lados da Rua de Lisboa e dar a volta se for necessário. O objectivo principal é que a Câmara Municipal de São Vicente tome posse do projecto para ser municipal, na perspectiva que a Rua de Lisboa um dia se torne uma via pedonal”, disse o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente.O símbolo escolhido para o "Passeio Alma das Ilhas", foi o pé, que representa a “Diva dos pés descalços”, Cesária Évora que recai, também, sobre a representatividade do percurso tanto da cultura pela via da simplicidade, como o do homem e da mulher cabo-verdiana nas suas lutas, conotado pela simbologia da resistência e resiliência, feito pelo Atelier Piká Pedra. Abraão Vicente disse que Cesária Évora foi um pretexto para homenagens aos grandes nomes de Cabo Verde, como músicos, compositores, cantores, escritores, cientistas, jornalistas, artistas plásticos e tantos outros que podem vir a ser homenageados no "Passeio Alma das Ilhas".“A Cesária Évora é somente um pretexto, o artesão Albertino Silva quando apresentou a imagem do pé era para fazermos algo com as características da ilha, com alguma identidade nacional, nós podíamos optar por algum muito simples, uma estrela, eu achei brilhante a ideia do Albertino Silva de usar a figura principal que internacionalizou a música cabo-verdiana, mas um pouco do percurso do povo cabo-verdiano. Cesária é pretexto para fazer esta homenagem com esse formato e não copiarmos taxativamente a ideia americana, por isso, Cesária é um pretexto” disse Abraão Vicente acrescentando que junto a cada nome será colocado um QR Code, que direcciona os visitantes para uma página com informações do artista, em português, francês e inglês.De entre os 51 nomes afixados no "Passeio Alma das Ilhas" da Rua de Lisboa, para além de Cesária Évora estão nomes de Codê di Dona, Celina Pereira, Luís Morais, Manuel D'Novas, Tito Paris, Tazinho, Paulino Vieira, Morgadinho, Nha Nacia Gomi, Bela Duarte, Orlando Pantera, Luísa Queiroz, Alex Silva, Travadinha, Dona Tututa, Vasco Martins, Oswaldo Osório, Aurélio Gonçalves, João Vário, D'Novas, Corsino Fortes, Bana, Titina, Ti Goi, Jorge Barbosa, Baltazar Lopes, Ildo Lobo, Eugénio Tavares, B.Leza, Ana Procópio, Maria Bárbara, Armando Tito, Luís Romano, Bibinha Cabral, Betú, Luís Rendall, Ano Nobu, Humbertona, Norberto Tavares, Ovídio Martins, Armênio Vieira, Manuel Figueira, Ntoni Denti D'Oru, Orlando Pantera, Jorge Barbosa, Vasco Martins, Aurélio Gonçalves, Jotamont, Titina, Katchás, Frank Cavaquinho e Germano Almeida.Ao ser abordado pela RFI, o escritor e prémio Camões de 2018, Germano Almeida, que ao longo desta semana foi homenageado em São Vicente pela extensão da Escritaria, o festival literário de Penafiel, em Portugal, refere estar feliz por ter o seu nome no “Passeio Alma das Ilhas” porque, a seu ver, é uma forma de lembrar a todos que São Vicente é uma ilha de cultura.“Acho que é sobretudo uma forma de nos lembrar que São Vicente é uma ilha de cultura e que tem gente que se lembrou de dar a conhecer a cultura cabo-verdiana, não somente a cultura mindelense, mas é uma ilha com cultura muito própria” disse Germano Almeida que disse que fica “muito contente, mas o mais importante é Cabo Verde, as nossas ilhas através dos seus filhos” disse o escritor Germano Almeida.O Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente disse que Cabo Verde ensaiou “uma espécie de Passeio da Fama com alguns nomes da diáspora mas a ideia é estender todo o passeio na rua de São Bento, em Lisboa”.A ilha de São Nicolau também conta com o seu passeio, denominado “Passeio Artístico”. Iniciativa da Câmara Municipal de Tarrafal de São Nicolau que contou com parceria do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas.Foram colocados 10 nomes de músicos daquela ilha: Paulino Vieira, Toy Vieira, Toy Djack, Toy Domingos, Vicente Cabral, Matias Santos Vieira, Maninho Almeida, Armando Cabral, Armando Zeferino e Francisco Santiago.A concepção deste “Passeio Artístico” contou com parceria financeira do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, no âmbito de um protocolo assinado entre o titular da pasta da cultura e das indústrias criativas, Abraão Vicente e o presidente da Câmara Municipal de Tarrafal, José Freitas, em Março deste ano.O projecto "Passeio Alma das Ilhas" da Rua de Lisboa está inserido num programa maior do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, que consiste na colocação de bustos de grandes nomes da cultura cabo-verdiana em pontos estratégicos dos municípios, nalguns casos já conta com o envolvimento das autarquias locais.Confiram aqui alguns dos nomes dos homenageados do “Passeio Alma das Ilhas”:

Néo Géo
Mag d'Ici et d'Ailleurs : Carte Blanche musicale à Elida Almeida & Helio Batalha

Néo Géo

Play Episode Listen Later May 9, 2023 35:05


Le MusikactuIsadora Dartial de retour de l'Atlantic Music Expo festival à Praia au Cap Vert nous confie ses découvertes en deux temps. Premier acte : le Musikactu, à la rencontre d'une future grande voix de la Morna : Bertânia Almeida !Elle commence son projet musical en 2019 et vient de sortir un premier disque accompagnée par Bau l'ancien guitariste de Cesària Évora. Bertânia Almeida a grandi à Tarrafal de São Nicolhau l'une des îles de l'archipel et a commencé dans des concours de chants d'enfants. Elle rend ici hommage avec ce disque aux mornas qui ont bercé son enfance. “La Morna, balade capverdienne, dans laquelle s'exprime pleinement la saudade, cette douce nostalgie. Un lyrisme qui a le mérite de nous offrir un aller simple au cœur des émotions” nous raconte Isadora DartialAutre lyrisme repéré à l'AME tout droit venu du sublime littoral italien et de sa capitale bouillonnante, Naples. Le trio Suonno Dajere, dont le nom est un clin d'œil à une chanson de Pino Daniele, perpétue l'héritage de la chanson italienne.À la guitare, la mandoline et à la voix ils encensent la ville et la chanson napolitaine, notamment inspirés par la musique classique traditionnelle qui remonte au 18e siècle. De retour sur l'île de de Santiago dans l'archipel du Cap-Vert, où Isadora Dartial, installée dans le quartier du plateau à Praia, nous rapporte l'ambiance de l'Atlantic Music Expo, marché musical et culturel avec conférences et concerts dans une ambiance très détendue. Les personnalités les plus populaires du pays arpentent la ville en simple spectateurs. Nos guides s'appellent Elida Almeida et Helio Batalha et nous confient leurs coups de cœur musicaux.Elida Almeida, la jeune star adulée par la jeunesse capverdienne et au-delà vient de sortir en janvier dernier un album chez LusAfrica “Di Lonji”. Très enthousiaste sur la nouvelle génération d'artistes capverdiens, fraîche et moderne, elle nous en joue plusieurs titres.Le rappeur Helio Batalha remporte un concours à la radio en 2007. Après plusieurs mixtapes, il sort son premier disque en 2016. Il nous fait part de son parcours, ses influences et nous partage sa sélecta made in Cabo Verde. Hébergé par Acast. Visitez acast.com/privacy pour plus d'informations.

Literatura Oral
#95 O FATO COMPLETO DE LUCAS MATESSO, LUANDINO VIEIRA

Literatura Oral

Play Episode Listen Later Feb 21, 2023 50:17


José Luandino Vieira é o pseudônimo de José Vieira Mateus da Graça, que nasceu em Portugal, em 1935. Logo aos três anos a família muda para Angola, então colônia de Portugal. A ligação do escritor com a capital, Luanda, é tanta, que ele usa como nome artístico Luandino. E não fica só na admiração, não. Luandino foi ativo na luta pela independência de Angola em relação a Portugal, e por esse motivo foi preso político por mais de uma década, sendo que ficou preso oito anos no campo de concentração Tarrafal, em Cabo Verde. Boa parte de sua obra literária foi produzida durante o confinamento. Este ano o autor faz 88 anos e atualmente mora em Portugal. Antes de falar mais sobre Luandino Vieira, vamos entender um pouco da história de Angola. A República da Angola é um país africano, do oeste da África, de território extenso e com litoral voltado ao Oceano Atlântico. Portugal chega a Angola no período das grandes navegações, em 1482. Angola foi colônia portuguesa desde o século XV até a independência, em 1975. Tem a Língua Portuguesa como idioma oficial, portanto. Outros países que foram colônias portuguesas na África foram Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. Só que não são territórios contíguos.

Oleti
EP 49 - Tout quitter par amour pour vivre en bateau

Oleti

Play Episode Listen Later Nov 5, 2022 41:55


✨ Si toi aussi tu es fan de SUP yoga ou que tu aimerais t'y mettre, je t'ai préparé un épisode inédit, accessible uniquement par mail où je décortique pour toi les 10 clefs d'une première séance réussie.   ——————— La femme que j'invite aujourd'hui au micro d'Oleti n'avait apriori rien d'une aventurière des mers et pourtant c'est bien de ce qu'elle est devenue.  J'ai croisée pour la première fois le grand sourire communicatif de cette cap verdienne à l'énergie solaire sur le mouillage de Tarrafal au cap Vert.  A l'époque nous n'avons toutes les deux qu'un enfant et c'est le début de nos aventures respectives à la voile.  Quatre ans plus tard, après une longue escale en Polynésie prévue pour nous, imposée par le destin pour Sophia et sa famille, c'est sur un autre mouillage du bout du monde à Fidji que je retrouve avec joie mon amie et vous propose de découvrir son parcours incroyable. Dans cet épisode, on te parle : de manteaux épais en Suisse de mal de mer de grossesse en traversée d'échouage en pleine nuit de résilience, de joie et de de déconvenues Bref la vie quand on a décidé de la croquer à pleines dents quoi qu'il arrive.  Outil cité dans cet épisode : la formation SUP yoga teacher training  le pack SUP yoga starter Réserve ton cours de yoga à Nouméa en me contactant au 53 62 28 Si tu as apprécié cet épisode, n'hésite pas à laisser une note et un commentaire sur iTunes, Apple Podcast ou la plateforme d'écoute de ton choix ! Cela aide le podcast à se faire connaitre et ça me fait plaisir de te lire ! ————————————— ✨ Plus de contenu sur mon site internet  ✨ Suivez mon tour du monde en voilier à la recherche des plus beaux spots de glisse  ✨ Mon actualité sur instagram  ✨ Ma page facebook  ✨ Notre newsletter salée    "Avec du coeur tout est possible »

Deixar o Mundo Melhor
Artur Santos Silva

Deixar o Mundo Melhor

Play Episode Listen Later Sep 16, 2022 44:05


Nasceu no Porto a 22 de maio de 1941 e cresceu na zona oriental da cidade, "o Porto menos desenvolvido". Filho de um advogado da oposição ao regime do Estado Novo, Artur Santos Silva conta que o pai o matriculou no colégio onde os primos andavam para "não ter de pertencer à Mocidade Portuguesa" - que, à época, era obrigatória no ensino público. O banqueiro que durante muitos anos foi o rosto do BPI - Banco Português de Investimento recorda o seu professor de Francês, Manuel Francisco Rodrigues, que escreveu o livro "Tarrafal, Aldeia da Morte", fala da sua vida na Faculdade de Direito de Coimbra onde se licenciou e foi assistente, dos primeiros anos do BPI, da sua curta passagem pelo PPD (hoje PSD) quando o partido foi criado, e do brinde que fez em casa de Francisco Sá Carneiro no dia 25 de Abril de 1974 com um "champanhe que ele tinha guardado para esta ocasião". Aos 81 anos está à frente da Fundação "La Caixa", cujo trabalho social inclui a criação de uma "rede de cuidados paliativos,  porque o sistema de saúde português não estava a funcionar bem nesta área". Foi presidente da Fundação Calouste Gulbenkian (2011-2017) e da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, e secretário de Estado do Tesouro no VI Governo Provisório (1975-1976).See omnystudio.com/listener for privacy information.

Convidado
Djy Indiferente prepara lançamento de "Malu"

Convidado

Play Episode Listen Later Sep 5, 2022 13:33


Djy Indiferente, artista cabo verdiano actualmente a viver em França, que acaba de lançar a música “Marie”, a primeira faixa musical do seu segundo álbum, intitulado “Malu”. Djy Indiferente, nome artístico de Mário Levy, um artista cabo-verdiano, natural do concelho de Tarrafal. Actualmente a viver em França, este jovem de 31 anos acaba de lançar “Marie”, a primeira faixa musical do seu segundo álbum, intitulado “Malu”. Disponível em todas as plataformas digitais, “Marie” é uma declaração de amor e um pedido de casamento. Djy Indiferente começou no mundo da música em ritmos como o rap e R&B, todavia para este segundo álbum promete “músicas diferentes”. O segundo disco de Djy Indiferente vai ser lançado online, ao ritmo de uma faixa por mês, todas elas com nomes de mulheres. 

TSF - A Paixão do Povo - História do Futebol em Portugal - Podcast
Selecionador preso no Tarrafal pelo regime de Salazar (Episódio 116)

TSF - A Paixão do Povo - História do Futebol em Portugal - Podcast

Play Episode Listen Later Aug 29, 2022


Edição de 26 de Agosto 2022

Quintas do Avante!
Episódio 10: Pedro Neves (realizador e documentarista)

Quintas do Avante!

Play Episode Listen Later Jun 30, 2022 26:32


O nosso convidado d' “As Quintas do Avante!” desta semana é Pedro Neves. Documentarista e fundador da produtora Red Desert Films. Da sua filmografia, destacam-se documentários como “Água Fria” “Esquecidos” ou “Tarrafal”. O cinema documental e os novos projetos do realizador estão no centro da conversa que pode ouvir nesta edição.

Famille & Voyages, le podcast
[EXTRAIT] Céline - Randonner en famille au Cap-Vert - Tarrafal & le jour préféré des enfants

Famille & Voyages, le podcast

Play Episode Listen Later Jun 27, 2022 12:58


Extrait - Épisode 65 Céline, aka maman ours vit dans un petit village Haut-Savoyard avec Papa ours et leurs deux mini loupiots. C'est là, loin de la ville, qu'ils ont créé les Petits Baroudeurs, un site qui inspire, conseille et équipe les familles pour leurs activités nature. Leur mission depuis 7 ans : aider les enfants - et leurs parents - à passer plus de temps dans la nature. Exit les écrans et les jeux sur le bitume, Céline propose de chouettes expériences en famille au grand air autour d'un bivouac ! Vous avez une impression de déjà entendu ? C'est normal, Céline nous a raconté ses escapades avec des ânes dans nos montagnes et aussi son superbe voyage en Laponie dans l'épisode 51. Cette fois, on part randonner au Cap-Vert, et plus particulièrement sur l'île de Santo Antão, entre paysages arides, vallées verdoyantes et plage de sable noir. Dans cet extrait, on parle de Tarrafal et de pourquoi le jour 4 a été la journée préférée des enfants. Je vous souhaite une belle écoute :-)  ------------ Pour retrouver Céline instagram : @lespetitsbaroudeurs et celine__lacombe le site Allibert Trekking ------------

Em directo da redacção
Cabo Verde: A história esquecida do campo de concentração de São Nicolau

Em directo da redacção

Play Episode Listen Later Apr 12, 2022 19:34


O escritor cabo-verdiano José J. Cabral tem trabalhado, nos últimos anos, para a divulgação de uma história “esquecida durante muito tempo”: a do antigo campo de concentração de São Nicolau, em Cabo Verde. Por lá teriam passado “mais de 250” resistentes antifascistas e foi, em 1931, um dos primeiros espaços de encenação de um campo de concentração para deportados políticos portugueses, poucos anos antes do Campo de Concentração do Tarrafal da ilha de Santiago. Esta é uma história que “ficou lá esquecida durante muito tempo”, começa por explicar o escritor cabo-verdiano José J. Cabral que se tem dedicado a estudar e a tentar reabilitar a memória do antigo campo de concentração da ilha de São Nicolau. Uma história que gostaria de ver integrada na candidatura do antigo Campo de Concentração do Tarrafal da ilha de Santiago a Património da Humanidade. Mas já lá vamos.   Lembrando a tese de mestrado de Victor de Barros, “Campos de concentração em Cabo Verde: as ilhas como espaços de deportação e de prisão no Estado Novo”, José J. Cabral explica que, em 1931, a ilha de São Nicolau foi um dos primeiros espaços de encenação de um campo de concentração para deportados políticos portugueses desterrados para Cabo Verde. Mais ainda, foi aí que se fez a montagem do primeiro cenário para a fortificação de uma prisão para deportados políticos, ou seja, para a materialização do primeiro modelo de prisão especial em que a ilha deixava de ser simplesmente uma “Ilha Prisão” para se passar a ter uma verdadeira “Prisão na Ilha”. “Eu admito que seja o regime político que terá destruído os arquivos. Não há bibliografia sobre a história de São Nicolau e, por isso, ficou lá esquecida durante muito tempo até surgir uma conferência promovida pela Fundação Mário Soares e que tinha como recomendação ‘Destapar os Tarrafais', em 2009. Quando comecei a falar disso houve muita contestação, com pessoas aqui, académicos inclusivamente, a defenderem que não houve um campo de concentração na ilha de São Nicolau, mas prova-se, afinal, que houve sim um campo de concentração”, afirma José J. Cabral. O escritor sublinha, então, que esta “foi a primeira experiência portuguesa de encarceramento em regime fechado” porque “até esta altura, Portugal utilizava ilhas como prisões, portanto, não havia prisões físicas de parede”. “Vai-se ensaiar em São Nicolau o novo modelo prisional. De facto, existiu e precisa de ser conhecido esse campo”, sublinha. O campo de concentração de São Nicolau foi concebido devido à necessidade de internamento dos revolucionários que tomaram parte activa na revolta da Madeira de 1931, um movimento que – como lembra Victor de Barros “também se propagou aos Açores e à então colónia da Guiné”. “Se, historicamente, uma das respostas da Ditadura foi a deportação em massa da maioria dos revoltosos envolvidos, também não é menos verdade que o regime endurece os mecanismos repressivos através do internamento dos deportados na ilha de S. Nicolau. Reprimir a revolta através da deportação constituía um dos meios de abortar novas investidas contra o regime e contra a ordem política”, pode ler-se na tese. É o que nos reitera José J. Cabral, ao explicar que "depois da revolta da Madeira, em 4 de Abril de 1931, decide-se tentar um outro modelo para prender as pessoas”. Primeiro, vão parar ao “Lazareto, um espaço confinado que havia na Praia, mas não tinha grande segurança”. Depois, decidem transformar o antigo Seminário-Liceu de São Nicolau, “um edifício amplo, de dois pisos, com várias dependências e que era fechado, com muros à volta de três, quatro metros” no “primeiro ensaio de confinamento, de deportação em regime fechado”. “Quando o campo esgotou a sua capacidade, construiu-se um outro campo de concentração no Tarrafal de São Nicolau com casernas pré-fabricadas alemãs para onde vão parte dos deportados que entretanto continuaram a chegar”, acrescenta. Neste campo, teriam passado “mais de 250 pessoas”, porque “havia remanejamento, de vez em quando os presos de São Nicolau eram enviados para Angola ou Timor-Leste”, mas “fixos havia mais de 100 ou 150”. As condições de vida dos deportados portugueses “eram terríveis”, num “regime fechado e muito severo”, com cerca de 70 guardas angolanos - “armados até aos dentes” - a vigiar o campo, no qual “morria gente de tuberculose”, a comida era "podre", “não havia saneamento, pouca água” e zero informação. Ou quase. “A entrada de informação era de tal forma censurada que essa gente presa – alguns deles gente notória: general de exército, médicos, professores universitários, advogados – tinham que ficar à espera que viesse um pedaço de papel de jornal, com que o carcereiro ou oficial tivesse limpado, para limpar o papel de fezes para ter um pouco de informação. Chamavam a isso Rádio de Merda”, continua José J. Cabral. Com os problemas de logística, decide-se regressar “a um regime semi-aberto” para os deportados e desenvolve-se “uma tremenda interação social na ilha com namoros e mudança de hábitos, comportamentos”. Cerca de um ano e meio depois e, por “pressão internacional de jornais L'Humanité, Le Monde e do Colonial New Bedford”, dá-se uma amnistia a 5 de Dezembro de 1932 que “liberta parcialmente deportados”. Porém, “é uma amnistia um bocado esquisita porque decreta simultaneamente residência fixa para alguns”, ou seja, “uma parte ficou ainda presa na ilha-prisão e vai ficar até 1951, mais vinte anos, até ter uma segunda amnistia”. Mas, nessa altura, “boa parte deles que estavam lá já tinham constituído família".   O que resta, hoje, do campo de concentração da ilha de São Nicolau? Na altura, o campo estava dividido em dois segmentos: um era o edifício do antigo Seminário-Liceu que está “mais ou menos preservado” e o outro era em Tarrafal onde havia “casernas pré-fabricadas alemãs” que eram “de madeira sob pilastras” e de que sobram apenas as bases porque as casernas tinham sido transferidas para o Tarrafal de Santiago, inaugurado em 1936. Ou seja, do Tarrafal de São Nicolau sobram apenas “uns pequenos vestígios neste momento” e o espaço está “totalmente abandonado, sem uma placa”. José J. Cabral sublinha que até “é contraditório porque na vila do Tarrafal de São Nicolau encontram-se placas a indicarem o campo de concentração e chega lá e não há rigorosamente nada”. O escritor espera que o antigo campo de concentração de São Nicolau integre a candidatura do Tarrafal de Santiago a Património da Humanidade, algo por que tem lutado desde 2011. Nesse ano, ele explica que, com base no trabalho de Victor de Barros, se assinou “um protocolo tripartido entre a Câmara Municipal do Tarrafal de São Nicolau, a Câmara Municipal do Tarrafal de Santiago e o Instituto do Património Cultural para trabalhar esse pacote como uma coisa só porque, na realidade, é o mesmo campo com duas fases”. “São Nicolau é o ensaio do que a vem a suceder no Tarrafal [ilha de Santiago], portanto, estamos perante o mesmo projecto e faria todo o sentido”, sustenta. Porém, José J. Cabral diz não ter feedback por parte do governo. “Eu já escrevi ao ministro, já escrevi a toda a gente, estou à espera que eles considerem essa possibilidade porque, do meu ponto de vista, só enriquece a candidatura pela notoriedade das figuras que estiveram em São Nicolau, pelo facto de ser um ensaio, pelo facto de remeter-nos para a Primeira Guerra Mundial”, acrescenta.   Quem são os "heróis esquecidos"? Este é um outro capítulo essencial à história do campo de concentração de São Nicolau: muitos dos deportados portugueses tinham lutado na Primeira Guerra Mundial, como “o general Adalberto Gastão Sousa Dias, o tenente Camões e o Silvo Pélico”. Além de terem estado na Primeira Grande Guerra, José J. Cabral diz não ter dúvidas que eles foram, depois, “precursores do 25 de Abril” porque “começaram a revolta de 1926 no Porto, a outra revolta de 1927, a revolta da Madeira”. “Depois, houve sucessivas revoltas, mas eles foram os que começaram a lutar e terão sido eles os precursores. Eu acredito absolutamente, não duvido disso”, sublinha. São “heróis esquecidos”, resume o escritor. Por exemplo, o tenente Camões tem “uma história de vida fantástica”. Ele “pediu ao pai para o emancipar para ir para a Primeira Guerra Mundial” e, no regresso, depois de terminar o curso de Medicina na Universidade de Coimbra, foi para o exército lutar contra o regime do interior e aquando da revolta da Madeira, em que ele era suposto “ir lá para abafar a rebelião”, juntou-se à revolta. Daí ter sido deportado para Cabo Verde. O tenente Camões “é rigorosamente esquecido em Portugal” mas em São Nicolau “era conhecido e venerado como o doutor do povo” que “palmilhava a ilha a pé para cuidar das pessoas” e “nos anos 40, vinham os pobres, com fome, sem dinheiro para comprar medicamentos, e ele dava um bilhete e dizia: vá à farmácia, vá aviar, que eu pago no final do mês”. Maria Teresa, filha do tenente Camões, corrobora o relato, lembrando que “contam que ele organizava filas para distribuir um bocado de comida às pessoas famintas”. Em contrapartida, o pai “não falava muito” da Primeira Guerra, nem da revolta da Madeira, nem do campo de concentração, mas “falava muito da fome, das doenças, da miséria que o povo de São Nicolau sofreu”. “E ele lutou muito” para ajudar, relembra. Mas “não era homem que andasse atrás de homenagens”, conclui.

Convocar a História
Abertura do Campo do Tarrafal

Convocar a História

Play Episode Listen Later Oct 20, 2021


Num momento em que passam 85 anos da abertura do Campo de Concentração do Tarrafal, convidámos o investigador Víctor Barros para nos falar das diferentes vidas de um local que se tornou símbolo da repressão, mas também da resistência, à ditadura e ao colonialismo. Conversa com Víctor Barros conduzida por Fernando Rosas e Miguel Cardina. 

PNL 2027
Tarrafal | Mariana Azevedo, 17 anos, Portugal

PNL 2027

Play Episode Listen Later Apr 26, 2021 1:55


Mariana Azevedo,17 anos, Portugal

Alta Voz
Cândido de Oliveira, das torturas da PVDE ao Tarrafal

Alta Voz

Play Episode Listen Later Jan 4, 2021


Selecionador nacional, treinador, jogador e jornalista desportivo, Cândido de Oliveira é um nome conhecido no mundo do futebol. Álvaro Arranja, neste artigo lido por Mariana Carneiro, conta-nos o resto da história deste lutador pela liberdade que enfrentou a tortura da polícia política de Salazar e o Tarrafal.

Alta Voz
19 de novembro de 1933: Os “150 mais perigosos” saem para Angra do Heroísmo

Alta Voz

Play Episode Listen Later Dec 14, 2020


Uma leva de prisioneiros políticos estreia a nova prisão da PIDE em 1933. Esta é uma antecâmara experimental do Tarrafal. Luís Farinha conta-nos esta história num artigo lido por Joana Louçã.

Ready. Gap. Go!
T1 E6 | Manuel Clemente - Se Sentes, Não Hesite

Ready. Gap. Go!

Play Episode Listen Later Nov 20, 2020 34:08


Até aos 26, o Manuel nunca tinha parado para pensar. Estava há 5 anos no mercado de trabalho quando decidiu despedir-se e ir para o Tarrafal, em Cabo Verde, onde fez voluntariado durante 3 meses. Essa decisão foi o ponto de viragem de que precisava e uma das razões pelas quais, hoje, é escritor e autor do livro "Se Sentes, Não Hesites" que já chegou ao top nacional de vendas!Acompanha a Gap Year Portugal nas redes sociais Instagram @gapyearportugal e Twitter @gapyearportugal. Esta temporada foi gravada em parceria com a Rádio Autónoma.

Alta Voz
Mário Castelhano morreu no Tarrafal há 80 anos

Alta Voz

Play Episode Listen Later Nov 2, 2020


Mário Castelhano era um trabalhador ferroviário, militante anarco-sindicalista, diretor do jornal A Batalha e um anti-fascista que lutou por uma frente comum de opositores ao regime salazarista. Foi um dos 32 portugueses que morreram no campo de concentração do Tarrafal. Uma história contada por Álvaro Arranja e lida por Carlos Carujo.

Convidado
Convidado - Autárquicas de Cabo Verde: a mensagem dos eleitores aos políticos

Convidado

Play Episode Listen Later Oct 26, 2020 8:26


Em Cabo Verde, nas eleições autárquicas deste Domingo, o MpD conservou a liderança da maior parte dos 22 municípios do país, o partido no poder tendo contudo passado de 18 para 14 câmaras municipais em proveito do PAICV que reconquistou terreno a nível local. O partido de oposição que nas autárquicas de 2016 tinha apenas conservado a mão sobre duas autarquias, tomou agora o controlo de um total de oito, designadamente localidades como Tarrafal em Santiago onde o PAICV nunca tinha sido a primeira escolha, a conquista da Cidade da Praia, a capital, tendo sido o principal feito deste partido. Outro aspecto a ter em conta, quando faltam poucos meses para as presidenciais e legislativas previstas em princípio para o ano que vem, foi a taxa de abstenção que ultrapassou os 41%, sendo que na capital até foi superior a 50%, como começa por observar José Maria Semedo, professor na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV),na Cidade da Praia.  

Toma Aí um Poema: Podcast Poesias Declamadas | Literatura Lusófona
# 174 António Jacinto - Poema Declaração | Poesia Angolana

Toma Aí um Poema: Podcast Poesias Declamadas | Literatura Lusófona

Play Episode Listen Later Aug 26, 2020 0:51


António Jacinto do Amaral Martins foi um poeta nacionalista angolano. Ele nasceu em Luanda em 1924. Esteve preso, por atividades políticas anti-coloniais, de 1962 a 1972, a maior parte do tempo no Campo de Concentração de Tarrafal, em Cabo Verde. Faleceu em 1991. >> Por 5,99 você aceita um adicional de Soneto para acompanhar? Apoie o projeto! =P https://www.amazon.com.br/dp/B08DJ61J4R/ Autor: António Jacinto Poema: Declaração Voz: Jéssica Iancoski / @Euiancoski As aves, como voam livremente num voar de desafio! Eu te escrevo, meu amor, num escrever de libertção. Tantas, tantas coisas comigo adentro do coração que só escrevendo as liberto destas grades sem limitação. Que não se frustre o sentimento de o guardar em segredo como liones, correm as águas do rio! corram límpidos amores sem medo. Ei-lo que to apresento puro e simples - o amor que vive e cresce ao momento em que fecunda cada flor. O meu escrever-te é realização de cada instante germine a semente, e rompa o fruto da Mãe-Terra fertilizante. Descubra mais em www.jessicaiancoski.com Está servido? Fique! Que tal mais um poeminha? ___ >> Quer ter um poema seu aqui? É só preencher o formulário! Após o preenchimento, nossa equipe entrará em contato para informar a data agendada. https://forms.gle/nAEHJgd9u8B9zS3u7

Revue de presse Afrique
Revue de presse Afrique - À la Une: le nouveau gouvernement français vu d’Afrique

Revue de presse Afrique

Play Episode Listen Later Jul 9, 2020 3:52


Trente et un ministres, dont Élisabeth Moreno, ministre déléguée en charge de l’Égalité femmes-hommes, de la Diversité et de l’Égalité des chances, une Franco-Capverdienne de 49 ans. « Elisabeth Moreno, apportera sans doute le charme et la chaleur de Tarrafal, sur l’île de Santiago au Cap-Vert », s’exclame WakatSéra à Ouagadougou. Le Point Afrique nous brosse un long portrait de cette femme d’affaires : « Tout commence le 20 septembre 1970 dans l'île de Santiago, donc, la principale de l’archipel volcanique qui forme le Cap-Vert à quelque 644 km au nord-ouest du Sénégal. Fille aînée d’un papa ouvrier sur les chantiers et d’une maman femme de ménage, Élisabeth Moreno voit sa vie bouleversée quand, en 1977, sa famille émigre en France pour trouver une structure hospitalière afin que soit soignée une de ses sœurs gravement brûlée dans un accident domestique. 'Je cochais toutes les cases de l'impossibilité, affirme-t-elle : des parents qui ne savent ni lire ni écrire, une femme, noire, élevée dans une cité et par la suite évoluant dans le bâtiment puis dans les techs'. » En effet, des études de droit des affaires, co-gérante d’une PME ; puis une carrière chez France Telecom-Orange, une reprise des études avec un MBA ; puis de nouvelles opportunités dans le monde de l’informatique avec des postes de direction… « En 2015, poursuit Le Point Afrique, elle ajoute une corde à son arc. Après une formation à l'École nationale de magistrature, la voilà juge consulaire bénévole au tribunal de commerce de Bobigny. Cette facette ajoutée aux implications dans des associations à impact illustre un engagement au-delà du professionnel : un engagement citoyen, un engagement pour construire avec les autres. » Dupont-Moretti l’Africain Autre figure du gouvernement français qui a des liens étroits avec l’Afrique : le Garde des sceaux, Eric Dupont-Moretti… Il ne s’agit pas de liens du sang, cette fois, mais de liens d’affaires. Ainsi, pointe le quotidien Aujourd’hui, « le célèbre pénaliste a défendu Moïse Katumbi, l’opposant congolais, pendant sa traversée du désert. Il a mis sa verve et son verbe au service de Maurice Kamto, le challenger du président camerounais. Le leader du MRC avait été défendu lors de son procès par le cabinet Dupont-Moretti-Vey et par William Bourdon (autre avocat renommé). Au Congo-Brazzaville, le général Jean-Marie Michel Mokoko, poursuivi pour 'détention illégale d’arme', avait aussi à ses côtés Dupont-Moretti. Le ténor du barreau de Paris est également l’avocat du souverain alaouite du Maroc, Mohammed VI. Désormais ministre de la Justice, Eric Dupont-Moretti pourra-t-il continuer, via son cabinet, à être aux côtés des Africains, dans les travées des Palais de justice ? Non, sans doute…, répond Aujourd’hui. « Pas sûr qu’on verra sa silhouette massive et sa barbe se promener aux côtés de clients africains. » Tidjane Thiam pressenti pour Bercy Autre expert, dans son domaine, qui a failli entrer au nouveau gouvernement : le Franco-Ivoirien Tidjane Thiam… En effet, relève Jeune Afrique, « cité par la presse française comme possible entrant dans le gouvernement français remanié, Tidjane Thiam n’est pas ministre, mais il a bien été approché par le chef de l’État, Emmanuel Macron. Selon nos informations, poursuit JA, Emmanuel Macron a proposé à Tidjane Thiam le poste de ministre de l’Économie et des Finances, finalement conservé par son titulaire, Bruno Le Maire. Macron connaît bien l’ancien directeur général du Crédit Suisse. Tous deux se sont rencontrés avant que le premier n’entre à l’Élysée, et ils sont depuis restés en contact régulier. 'Il fait partie des personnes à hautes compétences qui sont dans le radar du président', explique une source à l’Élysée. Après avoir été contraint de quitter la direction du Crédit Suisse, début de février, Tidjane Thiam, à qui certains prêtent des ambitions politiques en Côte d’Ivoire, a fait en juin son entrée au conseil d’administration de Kering, géant mondial du luxe. » Et on revient à WakatSéra qui estime en effet que « peut-être, l’avenir politique de l’ancien ministre ivoirien du Plan et du Développement se trouve sur les bords de la lagune Ebrié, où certains le voient bien dans la peau d’un présidentiable. »

Revue de presse Afrique
Revue de presse Afrique - À la Une: le nouveau gouvernement français vu d’Afrique

Revue de presse Afrique

Play Episode Listen Later Jul 8, 2020 4:05


Trente et un ministres, dont Élisabeth Moreno, ministre déléguée en charge de l’Égalité femmes-hommes, de la Diversité et de l’Égalité des chances, une Franco-Capverdienne de 49 ans. « Elisabeth Moreno, apportera sans doute le charme et la chaleur de Tarrafal, sur l’île de Santiago au Cap-Vert », s’exclame WakatSéra à Ouagadougou. Le Point Afrique nous brosse un long portrait de cette femme d’affaires : « Tout commence le 20 septembre 1970 dans l'île de Santiago, donc, la principale de l’archipel volcanique qui forme le Cap-Vert à quelque 644 km au nord-ouest du Sénégal. Fille aînée d’un papa ouvrier sur les chantiers et d’une maman femme de ménage, Élisabeth Moreno voit sa vie bouleversée quand, en 1977, sa famille émigre en France pour trouver une structure hospitalière afin que soit soignée une de ses sœurs gravement brûlée dans un accident domestique. "Je cochais toutes les cases de l'impossibilité, affirme-t-elle : des parents qui ne savent ni lire ni écrire, une femme, noire, élevée dans une cité et par la suite évoluant dans le bâtiment puis dans les techs". » En effet, des études de droit des affaires, co-gérante d’une PME ; puis une carrière chez France Telecom-Orange, une reprise des études avec un MBA ; puis de nouvelles opportunités dans le monde de l’informatique avec des postes de direction. « En 2015, poursuit Le Point Afrique, elle ajoute une corde à son arc. Après une formation à l'École nationale de magistrature, la voilà juge consulaire bénévole au tribunal de commerce de Bobigny. Cette facette ajoutée aux implications dans des associations à impact illustre un engagement au-delà du professionnel : un engagement citoyen, un engagement pour construire avec les autres. » Dupont-Moretti l’Africain Autre figure du gouvernement français qui a des liens étroits avec l’Afrique : le Garde des sceaux, Éric Dupont-Moretti. Il ne s’agit pas de liens du sang, cette fois, mais de liens d’affaires. Ainsi, pointe le quotidien Aujourd’hui, « le célèbre pénaliste a défendu Moïse Katumbi, l’opposant congolais, pendant sa traversée du désert. Il a mis sa verve et son verbe au service de Maurice Kamto, le challenger du président camerounais. Le leader du MRC avait été défendu lors de son procès par le cabinet Dupont-Moretti-Vey et par William Bourdon (autre avocat renommé). Au Congo-Brazzaville, le général Jean-Marie Michel Mokoko, poursuivi pour "détention illégale d’arme", avait aussi à ses côtés Dupont-Moretti. Le ténor du barreau de Paris est également l’avocat du souverain alaouite du Maroc, Mohammed VI. Désormais ministre de la Justice, Éric Dupont-Moretti pourra-t-il continuer, via son cabinet, à être aux côtés des Africains, dans les travées des palais de justice ? Non, sans doute, répond Aujourd’hui. Pas sûr qu’on verra sa silhouette massive et sa barbe se promener aux côtés de clients africains. » Tidjane Thiam pressenti pour Bercy Autre expert dans son domaine qui a failli entrer au nouveau gouvernement : le franco-ivoirien Tidjane Thiam. En effet, relève Jeune Afrique, « cité par la presse française comme possible entrant dans le gouvernement français remanié, Tidjane Thiam n’est pas ministre, mais il a bien été approché par le chef de l’État, Emmanuel Macron. Selon nos informations, poursuit JA, Emmanuel Macron a proposé à Tidjane Thiam le poste de ministre de l’Économie et des Finances, finalement conservé par son titulaire, Bruno Le Maire. Macron connaît bien l’ancien directeur général du Crédit Suisse. Tous deux se sont rencontrés avant que le premier n’entre à l’Élysée, et ils sont depuis restés en contact régulier. "Il fait partie des personnes à hautes compétences qui sont dans le radar du président", explique une source à l’Élysée. Après avoir été contraint de quitter la direction du Crédit Suisse, début de février, Tidjane Thiam, à qui certains prêtent des ambitions politiques en Côte d’Ivoire, a fait en juin son entrée au conseil d’administration de Kering, géant mondial du luxe. » Et on revient à WakatSéra qui estime en effet que « peut-être, l’avenir politique de l’ancien ministre ivoirien du Plan et du Développement se trouve sur les bords de la lagune Ebrié, où certains le voient bien dans la peau d’un présidentiable. »

Convidado
Convidado - "Elisabeth Moreno olha para cada dificuldade como uma oportunidade"

Convidado

Play Episode Listen Later Jul 7, 2020 9:01


Elisabeth Moreno é a nova ministra da Igualdade entre Homens e Mulheres, da Diversidade e da Igualdade de Oportunidades. Tomou posse esta terça-feira, 7 de Julho, no Palácio do Eliseu no novo governo francês dirigido por Jean Castex. Concluiu estudos em Direito das empresas, foi responsável por pequenas e médias empresas da France Telecom, seguiram multinacionais como a Dell ou HP em África. Em 2018, foi nomeada empreendedora do ano em Cabo Verde. Elisabeth Moreno nasceu no Tarrafal de Santiago, tem 49 anos. No livro de Martine Blanchard diz sentir-se "profundamente francesa, cabo-verdiana, europeia e não esconde a vontade de um dia ser Presidente de Cabo Verde". A ministra francesa da Igualdade entre Homens e Mulheres, da Diversidade e da Igualdade de Oportunidades"Elisabeth Moreno foi sempre muito próxima da diáspora cabo-verdiana". O embaixador de Cabo Verde em França, Hércules Cruz, tem recebido mensagens e chamadas de muita alegria por esta nomeação.

Artes
Artes - Tarrafal: arte e memória

Artes

Play Episode Listen Later Feb 18, 2020 18:07


O Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra recebeu esta semana dois pensadores e promotores da cultura cabo-verdina na conferência "Tarrafal: arte e memória". O artista visual cabo-verdiano César Schofield Cardoso e a arquitecta Patti Anahory apresentaram as instalações artísticas desenvolvidas no Campo de Concentração do Tarrafal em 2017. Um projecto de reflexão sobre as memórias do campo do Tarrafal, hoje conhecido por museu da resistência. "O Campo do Tarrafal teve três fases" começou por lembrar César Schofield Cardoso. O projecto envolveu a população alojada ao redor e no campo do Tarrafal e houve um entrelaçar entre a memória do espaço e da população, conta por sua vez a arquitecta Patti Anahory.

Ready. Gap. Go!
#06 Manel Clemente – Se Sentes, Não Hesites

Ready. Gap. Go!

Play Episode Listen Later Jun 20, 2019 34:08


Até aos 26, o Manel nunca tinha parado para pensar. Estava há 5 anos no mercado de trabalho quando decidiu despedir-se e ir para o Tarrafal, em Cabo Verde, onde fez voluntariado durante 3 meses. Essa decisão foi o ponto de viragem de que precisava e uma das razões pelas quais, hoje, é escritor e

Podcast Al otro lado del espejo
Al Otro Lado del Espejo #332-23-03-19

Podcast Al otro lado del espejo

Play Episode Listen Later Mar 23, 2019 139:19


Programa #332 - Plan de Inmersiones - Briefing 00,06’15” - Comenzaremos charlando con Mónica Alonso, activista y divulgadora del Medio Marino y autora del blog “Protejamos las Maravillas del Mar”... 00,29’18” - ¡Mis amigos los peces! El espacio dedicado a la biología Marina desde la Escuela de Buceo Zoea de Madrid, con Inés García… 00,46’00” - ¡Psicología en el Buceo!, atentos a las reflexiones del instructor de buceo y psicólogo, Toni Bermejo... 01,04’21” - ¡Cuéntame un Pecio! un buceo muy especial en los restos de la hisstoria, con Alejandro Gandul... 01,33’55” - ¡Materia Reservada! Reservas Marinas, garantía de Futuro, el espacio de Océano Alfa que presenta Gloria Delgado… 01,53’27” - ¡Proa al Viento!... a bordo de la patrullera del Servicio Marítimo de la Guardia Civil, con el Sargento Román Revilla… Y con nuestra agenda de propuestas para la semana, hasta una nueva inmersión en las ondas, nos daremos por buceados… La foto de la semana es una curiosa Morena Moteada afotada en Tarrafal, Cabo Verde y es cortesía de Jordi Miró… Si estás listo para la inmersión… comprobamos equipo con el compañero, o el tuyo mismo… deco-birra, pinganillo en la oreja… un ok y saltamos al agua…

Podcast Al otro lado del espejo
Al Otro Lado del Espejo #332-23-03-19

Podcast Al otro lado del espejo

Play Episode Listen Later Mar 23, 2019 139:19


Programa #332 - Plan de Inmersiones - Briefing 00,06’15” - Comenzaremos charlando con Mónica Alonso, activista y divulgadora del Medio Marino y autora del blog “Protejamos las Maravillas del Mar”... 00,29’18” - ¡Mis amigos los peces! El espacio dedicado a la biología Marina desde la Escuela de Buceo Zoea de Madrid, con Inés García… 00,46’00” - ¡Psicología en el Buceo!, atentos a las reflexiones del instructor de buceo y psicólogo, Toni Bermejo... 01,04’21” - ¡Cuéntame un Pecio! un buceo muy especial en los restos de la hisstoria, con Alejandro Gandul... 01,33’55” - ¡Materia Reservada! Reservas Marinas, garantía de Futuro, el espacio de Océano Alfa que presenta Gloria Delgado… 01,53’27” - ¡Proa al Viento!... a bordo de la patrullera del Servicio Marítimo de la Guardia Civil, con el Sargento Román Revilla… Y con nuestra agenda de propuestas para la semana, hasta una nueva inmersión en las ondas, nos daremos por buceados… La foto de la semana es una curiosa Morena Moteada afotada en Tarrafal, Cabo Verde y es cortesía de Jordi Miró… Si estás listo para la inmersión… comprobamos equipo con el compañero, o el tuyo mismo… deco-birra, pinganillo en la oreja… un ok y saltamos al agua…

Biblioteca de Bolso
Ep. - 84 José Luiz Tavares

Biblioteca de Bolso

Play Episode Listen Later Dec 6, 2017 32:30


Esta semana recebemos José Luiz Tavares, um poeta que nasceu a 10 de Junho, dia do poeta maior da nossa língua, Luiz Vaz de Camões. Cabo-verdiano de 50 anos, natural do lugar de Chão Bom, no concelho do Tarrafal, ilha de Santiago, estudou literatura e filosofia. A sua bibliografia, iniciada com o livro "Paraíso Apagado por um Trovão", inclui títulos como "Agreste Matéria Mundo", “Coração de Lava“, "Polaroides de Distintos Naufrágios" e "Rua Antes do Céu", que acaba de ser lançado numa edição conjunta da Abysmo e da Rosa de Porcelana. Faz ainda parte, desde a edição deste ano, do júri que atribui o Prémio Camões.  Trouxe-nos: Odisseia - Homero Exemplos - João Vário Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa

Saotiago in session podcast.
[Return to Tarrafal 2] Episode 2

Saotiago in session podcast.

Play Episode Listen Later Aug 27, 2009 106:37


Return to Tarrafal. Es una nueva línea de Remixes de Dj Bruno Soares. En los cuales, por capítulos, podrémos escuchar la Evolución del estilo Tribal House.

Saotiago in session podcast.
[Return to Tarrafal] Episode 1

Saotiago in session podcast.

Play Episode Listen Later Jun 8, 2009 74:14


Return to Tarrafal. Es una nueva línea de Remixes de Dj Bruno Soares. En los cuales, por capítulos, podrémos escuchar la Evolución del estilo Tribal House.