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Antes mesmo de começar sua residência artística na Ópera de Paris e se tornar a primeira mulher brasileira a integrar a academia da prestigiada instituição, em setembro, Lorena Pires, 25 anos, estreou no palco da tradicional Ópera Bastilha, no recital "Mélodies françaises et Melodias Brasileiras", apresentado na quarta-feira (9). Ela cantou Villa-Lobos ao lado de outros artistas que levaram o público parisiense pela primeira vez a um concerto contendo obras de compositores brasileiros. Luiza Ramos, de Paris “É o sonho de qualquer cantor estar na Ópera de Paris. Eu cantei Villa-Lobos, Nepomuceno e terminei com a Bachianas Brasileiras. O público recebeu muito calorosamente”, contou ela.Além de Lorena, dois brasileiros membros da Academia da Ópera de Paris, Ramon Theobald (pianista e maestro) e Luis Felipe (baixo-barítono), além da cantora lírica brasileira Juliana Kreling, participaram do recital "Mélodies françaises et Melodias Brasileiras".“Acho que ainda não caiu minha ficha, parece que foi coisa da minha cabeça”, disse a jovem à RFI após a apresentação que faz parte da Temporada França-Brasil 2025. Ela voltou a se apresentar em Paris na sexta-feira (11), em um concerto na Embaixada do Brasil.Lorena retorna agora ao Espírito Santo para se preparar para outra etapa: uma residência artística inédita de dois anos na Ópera de Paris, que começa em setembro.Pioneira na Academia da Ópera de ParisLorena detalha que realizou dois processos diferentes, mas explica que uma oportunidade conectou a outra. Em agosto do ano passado, ela participou de uma seleção para cantar neste concerto da Temporada França-Brasil 2025 e passou. Com isso, ela veio a primeira vez a Paris em dezembro de 2024 para fazer aulas e ensaios no âmbito do projeto de intercâmbio entre os dois países.Diante desta oportunidade, concorreu presencialmente em audições para integrar a tradicional Academia da Ópera de Paris. A instituição, que todos os anos abre vagas para jovens talentos de todo o mundo, informou em fevereiro deste ano que a jovem capixaba havia conquistado a desejada vaga para se profissionalizar na Academia francesa. Leia tambémConheça os destaques da programação oficial do Ano do Brasil na França em 2025Lorena se formou ano passado em Canto Erudito na Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames) e sempre morou com os pais. Ela revela grande entusiasmo em mudar-se para a "Cidade Luz" com um contrato que permitirá seu aperfeiçoamento como cantora, sendo a primeira mulher brasileira a frequentar a Academia da Ópera de Paris. “Eu acho que é um privilégio muito grande, mas uma responsabilidade muito grande também”, acredita.“Eu nunca me imaginei nessa posição de ir na frente e ser exemplo para outras pessoas. Eu recebo mensagens de cantores dizendo: ‘eu quero a mesma coisa que você', ‘como você está conseguindo?', ‘você me inspira', mas eu nunca pensei em estar nessa posição. Até hoje eu tenho as minhas referências e eu agora me vejo sendo referência para pessoas da minha idade e pessoas que se parecem comigo, o que é muito surreal”, aponta a jovem. Origens, preconceito e religiosidade Lorena descreve sua raiz familiar como muito simples e que “nunca foi algo possível e imaginável” para seus pais chegar até uma instituição internacional para ser cantora lírica. “Até hoje não consigo acreditar que tudo isso está acontecendo, ainda mais vindo da família que eu venho”, enfatiza a soprano, filha de costureira e motorista de ônibus, natural de Vitória (ES), mas com raízes de sua ancestralidade nos quilombos do sul da Bahia, estado natal de seu pai.Lorena admite que sofreu preconceitos por suas origens na sua trajetória musical, enfrentou racismo, intolerância religiosa e chegou a ter vergonha de falar que seu sonho era ser cantora quando mais nova. Mas sua religiosidade, sua determinação e seu talento a fizeram perseverar e ultrapassar os obstáculos.“Está todo o mundo muito feliz lá no Brasil, todos queriam estar aqui, estou com saudades da família, da minha mãe e do meu pai. Todos os dias eu acordo e agradeço por estar aqui, pois não foi fácil chegar em um local desses (...). Eu acho que ter consciência de quem sou me forma quem eu sou enquanto cantora e, para mim, a questão da espiritualidade é muito forte”, diz ela.Carreira, sonhos e sincronicidadeA soprano começou a cantar com 16 anos, mas só em 2018 se encantou pelo canto erudito. Ela descreve que pulou o caminho comum aos cantores de fora do eixo Rio-São Paulo, que seria morar em uma das capitais para se desenvolver na carreira nacionalmente. O diferencial dela foi vencer concursos de destaque que a ajudaram a ter visibilidade na sua área.Para ela, o concurso Joaquina Lapinha, em São Paulo, porta que a permitiu se apresentar no Teatro Municipal no Estado paulista, foi o mais importante da sua carreira até agora.“O Joaquina Lapinha que ganhei em 2023 foi o concurso que me deu visibilidade, é um concurso voltado para cantores pretos, pardos e indígenas. Eu fiquei em primeiro lugar, com 23 anos, e fui uma das vencedoras mais novas (...). Esse concurso foi um divisor de águas, a partir dele eu conheci vários cantores e brasileiros que sempre admirei e as coisas foram se desenrolando”, explica Lorena que chegou a fazer naquela época uma primeira seleção para cantar no concerto da Ópera Bastilha de quarta-feira da Temporada França-Brasil 2025.“Eu sabia que eu queria ir para fora do país, mas nunca tive o sonho de vir para a Ópera de Paris. Mas antes do concurso eu pesquisei sobre Maria D'Aparecida. Logo depois, no concurso [Joaquina Lapinha], o prêmio que eu ganhei, levava o nome dela”, diz.Lorena destaca a coincidência fazendo referência à cantora que foi a primeira cantora e mulher negra brasileira a se apresentar na Ópera de Paris, em 1966. Também de origem simples, Maria D'Aparecida sofreu racismo no Brasil e morou em Paris até sua morte, em 2017.“Para mim é muito forte isso, pois eu estava escrevendo sobre essa mulher e conheci muitas pessoas através da pesquisa sobre ela. É uma sincronicidade muito forte. Eu não brinco com o destino não!”, relata, bem humorada.“Infelizmente para viver de [cantar] ópera no Brasil é completamente impossível. No Brasil não temos uma estrutura sólida. A cultura no Brasil fica sempre numa corda bamba”, lamenta a jovem cantora lírica.
Antes mesmo de começar sua residência artística na Ópera de Paris e se tornar a primeira mulher brasileira a integrar a academia da prestigiada instituição, em setembro, Lorena Pires, 25 anos, estreou no palco da tradicional Ópera Bastilha, no recital "Mélodies françaises et Melodias Brasileiras", apresentado na quarta-feira (9). Ela cantou Villa-Lobos ao lado de outros artistas que levaram o público parisiense pela primeira vez a um concerto contendo obras de compositores brasileiros. Luiza Ramos, de Paris “É o sonho de qualquer cantor estar na Ópera de Paris. Eu cantei Villa-Lobos, Nepomuceno e terminei com a Bachianas Brasileiras. O público recebeu muito calorosamente”, contou ela.Além de Lorena, dois brasileiros membros da Academia da Ópera de Paris, Ramon Theobald (pianista e maestro) e Luis Felipe (baixo-barítono), além da cantora lírica brasileira Juliana Kreling, participaram do recital "Mélodies françaises et Melodias Brasileiras".“Acho que ainda não caiu minha ficha, parece que foi coisa da minha cabeça”, disse a jovem à RFI após a apresentação que faz parte da Temporada França-Brasil 2025. Ela voltou a se apresentar em Paris na sexta-feira (11), em um concerto na Embaixada do Brasil.Lorena retorna agora ao Espírito Santo para se preparar para outra etapa: uma residência artística inédita de dois anos na Ópera de Paris, que começa em setembro.Pioneira na Academia da Ópera de ParisLorena detalha que realizou dois processos diferentes, mas explica que uma oportunidade conectou a outra. Em agosto do ano passado, ela participou de uma seleção para cantar neste concerto da Temporada França-Brasil 2025 e passou. Com isso, ela veio a primeira vez a Paris em dezembro de 2024 para fazer aulas e ensaios no âmbito do projeto de intercâmbio entre os dois países.Diante desta oportunidade, concorreu presencialmente em audições para integrar a tradicional Academia da Ópera de Paris. A instituição, que todos os anos abre vagas para jovens talentos de todo o mundo, informou em fevereiro deste ano que a jovem capixaba havia conquistado a desejada vaga para se profissionalizar na Academia francesa. Leia tambémConheça os destaques da programação oficial do Ano do Brasil na França em 2025Lorena se formou ano passado em Canto Erudito na Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames) e sempre morou com os pais. Ela revela grande entusiasmo em mudar-se para a "Cidade Luz" com um contrato que permitirá seu aperfeiçoamento como cantora, sendo a primeira mulher brasileira a frequentar a Academia da Ópera de Paris. “Eu acho que é um privilégio muito grande, mas uma responsabilidade muito grande também”, acredita.“Eu nunca me imaginei nessa posição de ir na frente e ser exemplo para outras pessoas. Eu recebo mensagens de cantores dizendo: ‘eu quero a mesma coisa que você', ‘como você está conseguindo?', ‘você me inspira', mas eu nunca pensei em estar nessa posição. Até hoje eu tenho as minhas referências e eu agora me vejo sendo referência para pessoas da minha idade e pessoas que se parecem comigo, o que é muito surreal”, aponta a jovem. Origens, preconceito e religiosidade Lorena descreve sua raiz familiar como muito simples e que “nunca foi algo possível e imaginável” para seus pais chegar até uma instituição internacional para ser cantora lírica. “Até hoje não consigo acreditar que tudo isso está acontecendo, ainda mais vindo da família que eu venho”, enfatiza a soprano, filha de costureira e motorista de ônibus, natural de Vitória (ES), mas com raízes de sua ancestralidade nos quilombos do sul da Bahia, estado natal de seu pai.Lorena admite que sofreu preconceitos por suas origens na sua trajetória musical, enfrentou racismo, intolerância religiosa e chegou a ter vergonha de falar que seu sonho era ser cantora quando mais nova. Mas sua religiosidade, sua determinação e seu talento a fizeram perseverar e ultrapassar os obstáculos.“Está todo o mundo muito feliz lá no Brasil, todos queriam estar aqui, estou com saudades da família, da minha mãe e do meu pai. Todos os dias eu acordo e agradeço por estar aqui, pois não foi fácil chegar em um local desses (...). Eu acho que ter consciência de quem sou me forma quem eu sou enquanto cantora e, para mim, a questão da espiritualidade é muito forte”, diz ela.Carreira, sonhos e sincronicidadeA soprano começou a cantar com 16 anos, mas só em 2018 se encantou pelo canto erudito. Ela descreve que pulou o caminho comum aos cantores de fora do eixo Rio-São Paulo, que seria morar em uma das capitais para se desenvolver na carreira nacionalmente. O diferencial dela foi vencer concursos de destaque que a ajudaram a ter visibilidade na sua área.Para ela, o concurso Joaquina Lapinha, em São Paulo, porta que a permitiu se apresentar no Teatro Municipal no Estado paulista, foi o mais importante da sua carreira até agora.“O Joaquina Lapinha que ganhei em 2023 foi o concurso que me deu visibilidade, é um concurso voltado para cantores pretos, pardos e indígenas. Eu fiquei em primeiro lugar, com 23 anos, e fui uma das vencedoras mais novas (...). Esse concurso foi um divisor de águas, a partir dele eu conheci vários cantores e brasileiros que sempre admirei e as coisas foram se desenrolando”, explica Lorena que chegou a fazer naquela época uma primeira seleção para cantar no concerto da Ópera Bastilha de quarta-feira da Temporada França-Brasil 2025.“Eu sabia que eu queria ir para fora do país, mas nunca tive o sonho de vir para a Ópera de Paris. Mas antes do concurso eu pesquisei sobre Maria D'Aparecida. Logo depois, no concurso [Joaquina Lapinha], o prêmio que eu ganhei, levava o nome dela”, diz.Lorena destaca a coincidência fazendo referência à cantora que foi a primeira cantora e mulher negra brasileira a se apresentar na Ópera de Paris, em 1966. Também de origem simples, Maria D'Aparecida sofreu racismo no Brasil e morou em Paris até sua morte, em 2017.“Para mim é muito forte isso, pois eu estava escrevendo sobre essa mulher e conheci muitas pessoas através da pesquisa sobre ela. É uma sincronicidade muito forte. Eu não brinco com o destino não!”, relata, bem humorada.“Infelizmente para viver de [cantar] ópera no Brasil é completamente impossível. No Brasil não temos uma estrutura sólida. A cultura no Brasil fica sempre numa corda bamba”, lamenta a jovem cantora lírica.
A tradicional Ópera de Paris também entra em ritmo brasileiro neste ano em que se celebra o bicentenário das relações diplomáticas entre a França e o Brasil. A instituição programou vários concertos que integram a temporada cruzada entre os dois países. O primeiro recital, “Melodias Francesas e Brasileiras”, acontece nesta quarta-feira (9), trazendo pela primeira vez à cena da Ópera da Bastilha várias obras de compositores brasileiros. Os ingressos estão esgotados. O concerto “Melodias Francesas e Brasileiras” é uma iniciativa da Academia da Ópera de Paris, braço educativo da instituição de aperfeiçoamento de novas gerações de artistas líricos. A ideia de mostrar músicas do repertório brasileiro pouco tocadas na França, e do repertório francês no Brasil, foi da diretora da Academia, Myriam Mazouzi.Ele pensou em integrar a temporada cultural França-Brasil durante uma primeira viagem ao Brasil no ano passado. “A primeira ideia que tive foi um concerto colocando lado a lado melodias francesas de Poulenc, por exemplo, e melodias brasileiras para apresentar ao público francês e ao brasileiro as melodias de cada um de nossos países”, conta.Myriam Mazouzi reconhece que esse repertório brasileiro “não é uma música que conhecemos muito bem”. Foi necessário fazer uma pesquisa aprofundada para definir o programa do concerto, que conta com cerca de 20 músicas de compositores dos dois países.A França será representada por obras de Francis Poulenc, Erik Satie, Léo Delibes e Pauline Viardot. Do Brasil, serão interpretadas composições de Villa-Lobos, Carlos Gomes, Marlos Nobre, Alberto Nepomuceno, Jayme Ovalle, Hekel Tavares e Carlos Alberto Pinto Fonseca. Destes, o único que teve obras tocadas na Ópera da Bastilha foi Villa-Lobos, o compositor brasileiro mais conhecido na França.“Foi muito interessante ver (essa) riqueza da música brasileira”, avalia Mazouzi.Artistas-residentes brasileiros na Academia da Ópera de ParisPara fazer a escolha, o diretor artístico da Academia, Christian Schirm, contou com a ajuda de dois artistas brasileiros que passaram ou ainda estão se aperfeiçoando na instituição. O pianista e maestro carioca Ramon Theobald foi o primeiro brasileiro a integrar a Academia da Ópera de Paris, de 2021 a 2023. Ele estará no palco no dia 9 de abril e acredita que o repertório escolhido dá um panorama da produção brasileira.“Das melodias brasileiras escolhidas, muitas têm a ver com as nossas origens. Há melodias que falam de Yemanjá, de Xangô, há melodias do Villa-Lobos, que tem o estilo modinha, que é a música popular brasileira que começou com a influência portuguesa. É realmente uma foto geral do Brasil”, afirma Ramon.O baixo-barítono Luis Felipe Sousa, atualmente cantor-residente na Academia da Ópera de Paris, também ajudou a montar o programa e será um dos solistas do concerto “Melodias Francesas e Brasileiras”.Para ele, essa “é uma oportunidade muito especial de poder interpretar a música brasileira nos palcos estrangeiros, especialmente num palco tão importante quanto o da Ópera de Paris”. Luis Felipe ressalta que será "realmente muito emocionante" poder interpretar um repertório "que tem uma certa herança artística” e interpretar "canções que foram escritas por professores dos meus professores”.Além de Ramon Theobald e Luis Felipe, duas cantoras líricas brasileiras, Juliana Kreling e Lorena Pires, também estarão em cena. O concerto Melodias Francesas e Brasileiras contará ainda com a participação de todos os artistas residentes da instituição, que recebe anualmente 30 alunos de vários países do mundo.Primeira soprano brasileiraA soprano capixaba Lorena Pires, aliás, acaba de ser selecionada e será a terceira brasileira a integrar a Academia da Ópera de Paris a partir de setembro. Ramon Theobald lembra que a seleção é dificílima, mas garante que a rica experiência compensa.“Depois que a gente entra, a estrutura é incrível. A Ópera de Paris faz mais de 20 óperas por ano. Para assistir 20 óperas no Brasil, eu teria que ter vivido uns 3 ou 4 anos. Desde que estou aqui, já assisti produções, ensaios, de mais de 60 produções. É um ambiente riquíssimo. Todo o esforço para passar na audição valeu a pena”, relata o pianista que resolveu ficar na Europa. Ele mantém a conexão com a Academia e inicia uma carreira como maestro.A experiência desse aperfeiçoamento parisiense também é considerada fantástica pelo baixo-barítono Luis Felipe que, paralelamente às atividades da Academia, que produz em média um concerto por mês, tem a chance de participar de grandes produções da Ópera de Paris.“Isso não acontece com todos os cantores da Academia”, revela. O baixo-barítono brasileiro teve a oportunidade de cantar no início dessa temporada na ópera “Le Brigands”, de Offenbach, e atualmente está ensaiando “Il Trittico”, de Puccini, que estreia em 29 de abril. “Realmente é muito enriquecedor porque você canta em vários ambientes, com vários repertórios muito diferenciados”, resume.Olhar renovadoA vinda dos artistas-residentes brasileiros à Academia da Ópera, que recebem uma bolsa de estudo, é financiada com o apoio de um grupo de mecenas brasileiras, radicadas na França. E esses artistas trazem um olhar renovado à tradicional Ópera de Paris, diz Myriam Mazouzi.“O que está acontecendo hoje na Europa, na América do Norte, nos faz pensar nas nossas profissões, nossas missões, nossos desafios, nossas ambições, de forma diferente. A contribuição dos artistas brasileiros é trazer um olhar diferente sobre o que estamos vivenciando e sobre o nosso patrimônio. A música clássica, a Ópera de Paris, são instituições que datam de vários séculos atrás e, por isso, ter um olhar renovado, enriquecido, nos traz muito”, salienta a diretora e fundadora da Academia.“Eu diria que essa contribuição brasileira é justamente o que rompe com esse tradicionalismo. A gente traz a diferença, a gente traz a cor, a gente traz o axé. E a gente faz muito bem, jogar com a tradição de uma forma extremamente única, extremamente nossa”, completa Luis Felipe.Os ingressos para a apresentação de “Melodias Francesas e Brasileiras” no anfiteatro da Ópera Bastilha em 9 de abril já estão esgotados. Em setembro, o concerto será apresentado no Rio e em São Paulo. Os artistas-residentes da Academia também participam, em outubro, de três concertos no Teatro Muncipal do Rio, no Teatro Guaíra e no Municipal de São Paulo, em homenagem a Bizet.Ainda como parte da temporada cruzada França-Brasil, haverá em Paris, em julho, e, em São Paulo, em setembro, um concerto conjunto com músicos das orquestras de jovens ADO, da Academia da Ópera, e da paulista Guri. Nesse estreitamento de laços com o Brasil, a tradicional instituição francesa sonha em abrir uma filial da Escola de Dança da Ópera em Curitiba. As discussões começaram no ano passado.
Depois de uma fase experimental, a França ampliará a cobrança, em 2025, de uma multa de € 135 para carros, motocicletas e scooters que emitirem mais de 85 decibéis de ruído nas vias públicas. No câmbio desta sexta-feira (20), esse valor equivale a cerca de R$ 865. A França tem milhares de motoqueiros e motoristas que gostam de ronco de motor, de escapamento aberto, fedido e barulhento, sem o menor respeito pelos ouvidos e pulmões dos outros. Mas esses abusos vão custar caro a partir do ano que vem.O Centro de Informação sobre o Ruído (CidB), uma organização pluridisciplinar de interesse público, que promove uma série de ações e estudos contra a poluição sonora, fez um teste de madrugada em Paris com um scooter sem silenciador no escapamento e chegou a um resultado impressionante. O barulho provocado pelo motoqueiro em um trajeto de 7 km, entre a praça da Bastilha e o Arco do Triunfo, acordou 11 mil pessoas.Em 2025, o combate aos escapamentos barulhentos, adulterados pela remoção dos silenciadores ou por falta de manutenção adequada entra em nova fase. Um novo modelo de radar, chamado Hydra, desenvolvido para multar aqueles que não respeitam o limite de 85 decibéis, está em fase final de homologação e será instalado nas principais cidades do país.O Hydra foi desenvolvido por uma entidade chamada Bruitparif, que desde 2004 reúne representantes da sociedade civil e do poder público para avaliar a poluição sonora causada pelo trânsito, realizar pesquisas e propor soluções na região Île-de-France, onde fica Paris.Esse radar, projetado num poste alto, equipado com câmeras, sensores de ruído e microfones, é capaz de calcular em frações de segundos os decibéis emitidos por veículos, motos e scooters, mesmo em um contexto de tráfego denso. Acima dos 85 decibéis, o radar registra o excesso de ruído, fotografa a placa do infrator e transmite a multa para uma central de arrecadação.Desde 2022, o Hydra é testado em fase experimental em sete cidades francesas, incluindo Paris. O equipamento também mediu a poluição sonora em Berlim, Genebra, Bruxelas e Barcelona. O aparelho está em fase final e homologação e será implantado em todo o território francês no segundo semestre deste ano. Até lá, policiais continuarão a fazer a fiscalização nas ruas e aplicar a multa de € 135.Poluição sonora causa de doenças A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera níveis sonoros acima de 65 decibéis (dB) como poluição. Para o tráfego rodoviário, a recomendação da OMS é de no máximo 53 dB durante o dia e abaixo de 45 dB à noite e de madrugada, portanto bem abaixo do valor de referência adotado neste momento na França.Estudos científicos têm comprovado que o barulho é o segundo fator ambiental que mais causa problemas de saúde e perde apenas para a poluição atmosférica, segundo a OMS. A poluição sonora pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, provocar distúrbios metabólicos, zumbido crônico no ouvido, perda de audição, entre outras patologias.Recentemente, deputados de esquerda tentaram aprovar na Assembleia francesa um imposto adicional na compra de motocicletas, mas perderam a batalha. Por outro lado, as associações da sociedade civil que militam contra o barulho e a poluição no trânsito estão comemorando a instalação desse novo modelo de radar.Sem pegar no bolso do usuário, difícil provocar mudança de hábitoOs lobbies pró e contra medidas de adaptação a cidades mais resilientes e livres de poluição são ativos na França, e as mudanças requerem um tempo de aceitação. Na experiência francesa, as multas caras têm sido dissuasivas. Até abril de 2024, motocicletas e scooters eram isentos de passar por uma vistoria técnica periódica, mas obrigatória para carros há muito tempo. Essa fiscalização feita em oficinas especializadas certificadas pelo governo verifica se as emissões sonoras e de gases estão de acordo com os índices previstos na lei.Os motoqueiros sempre alegaram que já poluíam menos do que os carros e, por isso, não deveriam ser fiscalizados. Durante meses, eles fizeram vários protestos para denunciar a vistoria técnica, que custa em média de € 60 a € 80 (R$ 380 a R$ 507, dependendo das cilindradas), mas foram derrotados.Os franceses reclamam de viver num Estado que “atazana” o cidadão com normas, multas e impostos excessivos. Mas o poder público vem aplicando, em etapas, a Lei da Normatização da Mobilidade, promulgada pelo Ministério da Transição Ecológica em 2019, que visa, entre outros objetivos, promover investimentos de infraestrutura e combater a poluição sonora e atmosférica nas cidades. A prefeitura de Paris, sob a gestão da socialista Anne Hidalgo, tem sido incisiva em suas políticas nessa área. Os carros têm sido banidos do centro da cidade, substituídos por bicicletas e quilômetros de ciclovias. Em fevereiro deste ano, o valor cobrado pela hora de estacionamento dos modelos SUV, considerados mais poluentes, foi triplicado. Contra a incivilidade nas ruas, em 2023, os parisienses aprovaram, em um referendo proposto pela prefeitura, a proibição dos patinetes elétricos de aluguel, porque os usuários não respeitavam os pedestres e causavam acidentes.
Luciana Sagioro, de 18 anos, a primeira bailarina de nacionalidade brasileira a integrar o balé da Ópera de Paris, terá seus primeiros solos no espetáculo 'Paquita', em cartaz na Ópera Bastilha até o dia 4 de janeiro de 2025. Natural de Juiz de Fora, ela entrou para o corpo de baile - com contrato profissional vitalício até sua aposentadoria - no cargo de base Quadrille. Mas em menos de um ano, Luciana foi promovida à Coryphées, se destacando mais uma vez. Luiza Ramos, de ParisA primeira e, até hoje, única brasileira a ingressar na equipe de dançarinos na história do balé da Ópera de Paris foi recentemente promovida e fará seus primeiros solos no clássico 'Paquita', em cartaz na Ópera Bastilha. O espetáculo, criado na própria Ópera de Paris em 1846, faz sucesso devido as suas danças alegres e por ser um balé em que os dançarinos se manifestam por gestos e mímicas.Foi dançando um trecho de 'Paquita' que Luciana Sagioro venceu o concurso Prix de Lausanne, em 2022, aos 16 anos, quando conquistou uma vaga na prestigiada Escola de balé parisiense. Em 2024, ela foi contratada para o corpo de baile no cargo chamado Quadrille. Em menos de um ano, Luciana já foi promovida à Coryphée, se destacando mais uma vez. Como Coryphée, Luciana terá mais destaques no corpo de baile, e por isso, alcançou a possibilidade de realizar alguns solos em 'Paquita' - nos dias 23 e 30 de dezembro e no dia 3 de janeiro.“A Ópera de Paris são 154 bailarinos. Somos muitos e todos muito bons, todos com uma grande excelência. Eu sempre soube que eu tinha minhas qualidades e que eu queria muito ser promovida de ano em ano, de temporada em temporada, para continuar a minha progressão. Mas eu sabia que seria muito difícil com a qualidade de todas as bailarinas do corpo de baile”, reconhece a jovem.“Eu precisei realmente trabalhar muito para isso. Não é muito comum, no primeiro ano de trabalho, já conseguir ser promovida. Então realmente eu sou muito grata por isso. Mas tudo foi pago com muito trabalho, então eu sei que eu fiz muito para chegar lá”, acredita a dançarina.A carreira de bailarinaNa progressão profissional na Ópera de Paris após o Coryphée vêm os Sujets, que são os solistas fixos. Depois, o profissional da dança pode ser promovido a Primeiro Bailarino ou Primeira Bailarina, que fazem os papéis principais dos espetáculos. Por último, o mais alto cargo da companhia, conhecido como Étoile - a Estrela -, ao contrário dos outros cargos, não passa por concurso, e sim por nomeação da diretoria da instituição. Luciana, que estuda balé desde os 3 anos de idade, convenceu seus pais a se mudar para o Rio de Janeiro aos 10 anos com a babá para se profissionalizar em dança. A jovem mora há três anos na capital francesa, enquanto seus pais e suas duas irmãs gêmeas mais novas continuam em Juiz de Fora. Ela, que afirma ter “um orgulho enorme de ser brasileira”, desde criança abdicou do convívio com a família pelo sonho da profissão de bailarina, que lamenta não poder ser vivido no seu país.“Infelizmente, hoje, como bailarina, se você escolhe essa profissão e quer realmente se dedicar a 100% e ser valorizado pela profissão que escolheu, você não consegue ser bem pago no Brasil. Desde pequena eu soube, eu pesquisei que para ser bailarina profissional você vai ter que sair do seu país”, diz Luciana Sagioro. Inclusão de talentos na Ópera de ParisA Ópera de Paris vem, há alguns anos, tentado ser mais inclusiva. Em 2021, a direção tomou a decisão inédita de revisar seus critérios de recrutamento para encorajar a entrada de artistas que não sejam brancos e contratou um "fiscal da diversidade", a exemplo do Metropolitan Opera de Nova York. Em 2023, a tradicional instituição francesa nomeou pela primeira vez em três séculos de existência um bailarino negro como Étoile, Guillaume Diop, um dos raros dançarinos negros ou mestiços da instituição.Como a primeira bailarina brasileira a ingressar na aclamada Ópera de Paris, Luciana afirma que o Brasil é rico em potencial para a dança. “Somos um país de muitos talentos”, confirma ela ao apontar nomes que se destacam no mundo das artes, dança e esportes na cena internacional. Luciana cita dançarinas em quem se espelha:“Eu tenho uma grande inspiração na minha antiga mestre, a Patrícia Salgado, que foi minha mestre de balé, foi uma grande bailarina solista no balé de Stuttgard na Alemanha. Ela me inspirou muito pela forma que aprendeu tudo como bailarina, mas pela forma que ela transmite hoje como professora. A bailarina Mayara Magri, Étoile do Royal Ballet em Londres, brasileira também. E a Dorothée Gilbert, Étoile aqui da Ópera de Paris, é uma grande inspiração e hoje divido o palco com ela. Isso é demais! Marianela Nuñez também, outra grande Étoile do Royal Ballet em Londres. A lista é enorme, mas essas são algumas”, brinca. Sonhar e realizar é possívelA mineira admira muitos artistas, mas também quer inspirar outros jovens brasileiros. Ela planeja em um dia poder ajudar outros bailarinos a alcançarem seus objetivos. “Hoje, com meu papel, sendo bailarina da Ópera de Paris, eu crio a esperança nas pessoas de que elas são capazes de realizar os sonhos delas. E o meu maior sonho como bailarina brasileira, vendo a situação do meu país, que infelizmente é um país que é pobre, não tem muitos recursos, como aqui na França, é criar uma associação que possa ajudar bailarinos que tenham os mesmos sonhos que um dia eu tive, mas não tenham a mesma facilidade, os mesmos recursos que eu tive, graças a minha família”, agradece Luciana.“Eu abdiquei realmente de muitas coisas. Nada disso foi fácil, foi muito trabalho, muita dedicação, muito esforço. É isso que eu quero inspirar nas pessoas. Muitas pessoas desistem porque o caminho é muito difícil e poucas pessoas falam do quão difícil é. A gente fala do glamour que chegar até lá. A gente fala que é muito gratificante, mas a gente esquece que a trajetória, os caminhos, foram difíceis”, pondera. Para Luciana, a força do sonho fala mais alto. “Muitas coisas vão tentar impedir que você alcance seus sonhos. Mas se você não for mais forte que tudo isso, ninguém vai ser por você. Sempre falo [que] tudo é possível, basta só você acreditar”, declara. A temporada de 'Paquita', que começou no início de dezembro e termina em 4 de janeiro de 2025, ainda tem ingressos disponíveis no site oficial da Ópera de Paris. Mas quem não conseguir ver a mineira Luciana Sagioro nesta temporada no clássico palco francês, terá ainda muitas oportunidades em espetáculos futuros. Afinal, a carreira da jovem cheia de brilho nos olhos pela dança está apenas começando.
Esta semana continuou a ser marcada pelos protestos, em Moçambique, contra os resultados das eleições gerais de 9 de Outubro, anunciados pela CNE. Na Guiné-Bissau, o Presidente Umaro Sissoco Embaló adiou a data das eleições legislativas antecipadas e o sul de Angola volta a ser assolado por um grave episódio de seca que deixou quase dois milhões de pessoas com fome. Moçambique continua a ser palco de protestos e greve geral. Depois da quinta-feira de mega manifestações em Maputo, Venâncio Mondlane, o líder da oposição que convocou as manifestações mas acabou por não participar na marcha por questões de segurança, avisou que os protestos “não vão parar se não houver reposição da verdade eleitoral” .Esta sexta-feira de manhã, o Hospital Central de Maputo anunciava que havia, pelo menos, três mortos e mais de 60 feridos, com relatos de disparos de balas reais pela polícia, além do gás lacrimogéneo. Orfeu Lisboa acompanhou o dia de manifestações em Maputo e conta-nos como correu.A diáspora moçambicana também organizou manifestações em várias cidades para pedir justiça eleitoral e para denunciar a violência policial nos protestos em Moçambique. Em Paris, a concentração foi junto à Praça da Bastilha e foi organizada pelo colectivo Indignados – Sociedade Civil dos Moçambicanos da Diáspora.Os moçambicanos de Portugal, Bélgica, Luxemburgo e Países Baixos também se juntaram à causa. Em Bruxelas houve mesmo marcha até à Comissão Europeia.No início da semana, a Associação Médica de Moçambique também saía às ruas em Maputo para dizer “basta” à violência e denunciar que mais de 100 pessoas foram alvejadas pela polícia durante as manifestações e 16 morreram.Esta semana ainda, a Amnistia Internacional pediu ao Governo moçambicano para pôr fim à violenta repressão pós-eleitoral e considerou que a crise em Moçambique “é a pior repressão dos últimos anos contra os protestos no país”, lembrando que a polícia matou “mais de 20 pessoas e feriu ou prendeu centenas de outras”.Outras denúncias que se ouviram incluíram o sequestro e assassínio de um membro da comissão política distrital do partido PODEMOS no distrito de Mogovolas, na província de Nampula, no norte de Moçambique. Enquanto isso, o Primeiro-ministro, Adriano Maleiane, apelava à cessação das manifestações em Moçambique.Na Guiné-Bissau, o Presidente Umaro Sissoco Embaló decidiu adiar a data das eleições legislativas antecipadas, alegando "não haver condições". Sobre as presidenciais, ele aconselhou os candidatos a esperarem pelas eleições dentro de um ano. Umaro Sissoco Embaló também disse que vai "permanecer no poder até 2030 e tal".Entretanto, a justiça guineense instou a coligação PAI-Terra Ranka a retirar o nome do seu líder, Domingos Simões Pereira, da lista de candidatos a deputados. Domingos Simões Pereira diz que é uma manobra para o afastar da corrida às próximas presidenciais. O também presidente eleito e deposto da Assembleia Nacional Popular e do PAIGC disse que a Guiné-Bissau está a três meses de se tornar um “não Estado”, com o fim do mandato de Umaro Sissoco Embaló.Por outro lado, o Supremo Tribunal de Justiça exigiu a renúncia de militância a dirigentes do MADEM G-15 e do PRS para participarem numa coligação às legislativas.O Madem e o PRS encontram-se divididos em duas alas antagónicas. Alguns militantes dos dois partidos apoiam uma eventual candidatura do Presidente guineense a um segundo mandato e um outro grupo é contrário à ideia. Os dirigentes e militantes do Madem e do PRS que não apoiam Embaló juntaram-se à coligação Aliança Patriótica Inclusiva para concorrer às legislativas antecipadas que deveriam ter lugar no dia 24 deste mês, mas que foram adiadas.Nestes últimos meses, o sul de Angola conheceu um novo episódio de seca que colocou milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar. O padre Pio Wakussanga, pároco dos Gambos, na província da Huíla, e coordenador da ONG 'Plataforma' Sul pede que o governo angolano tome medidas para proteger a população local contra a fome.Em São Tomé e Príncipe, o Sindicato dos Médicos suspendeu, na quarta-feira, a greve iniciada em 24 de Outubro por falta de medicamentos e consumíveis. O sindicato instou o Governo “a assumir erros de planificação” e a “incapacidade" face às necessidades do sistema de saúde do arquipélago.A secretária-geral do Sindicato dos Médicos de São Tomé e Príncipe, Benvinda Vera Cruz, disse que os médicos exortam o Governo a “ter coragem de assumir as suas responsabilidades, rever a sua gestão do Sistema Nacional de Saúde e os seus erros de planificação, ter coragem de assumir a sua incapacidade em dar resposta as necessidades reais do sistema de saúde, ter coragem de acabar com a venda ambulante de medicamentos” e “realizar inspecções periódicas às clínicas e farmácias privadas”.Na semana passada, o primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, defendeu a necessidade de “responsabilização de todos os atores do sistema de saúde”, um aumento do controlo, reforço das equipas, melhor articulação com a ordem dos médicos, informatização e, sobretudo, o fim do roubo de medicamentos.Em Cabo Verde, o DjarFogo International Film Festival está a decorrer esta semana em Cabo Verde e nesta edição presta uma homenagem ao centenário de nascimento de Amílcar Cabral, explica o director do festival, Guenny Pires.
Dimas Tivane é um malabarista moçambicano que vive em França e as suas criações são inspiradas no quotidiano de Moçambique. É com “muita dor e com muita frustração” que tem acompanhado a espiral de violência pós-eleitoral no país e sente que esta “quase guerra interna” vai ser representada nos seus próximos espectáculos. Esta quinta-feira, ele vai estar numa manifestação em Paris, no dia em que várias cidades serão palco de acções da diáspora, em solidariedade com a mega-concentração convocada para Maputo. Numa altura em que Moçambique vive protestos e muita violência pós-eleitoral, fomos conhecer Dimas Tivane, um artista moçambicano a viver em França. O jovem é um malabarista confirmado e tem dado espectáculos em várias cidades em França e noutras partes do mundo, com uma arte que Moçambique ainda pouco reconhece e da qual não se pode viver no país. Fomos espreitar um dos seus ensaios no Centquatre, um espaço parisiense onde tantos artistas amadores e profissionais treinam diariamente. O encontro aconteceu na véspera de uma manifestação em Paris da diáspora moçambicana.RFI: A arte é, por ventura, geneticamente política, no sentido de imaginar utopias de um mundo melhor e de denunciar com formas poéticas os males que se vão vivendo. Por isso queria-lhe perguntar como é que tem acompanhado os protestos e a repressão das manifestações em Moçambique?Dimas Tivane, Malabarista: Com muita dor e com muita frustração. O povo moçambicano está a sofrer consequências directas desta opressão e deste assassinato ao povo moçambicano e às pessoas que batalham no dia-a-dia. É uma marca enorme. Moçambique está a atravessar um período único, enorme e extremamente doloroso porque já há mortes. Tudo isto nós sabemos que é por conta da opressão e da não liberdade e da não democracia de que o nosso país é vítima.A diáspora moçambicana também está a organizar manifestações. Vai participar em alguma coisa? Claro que vou participar. É uma tristeza enorme não poder estar em Moçambique agora e, por isso, juntámo-nos entre nós, moçambicanos residentes em França, não só em Paris, e fomos fazendo uma campanha antes do dia 7, que é o grande dia em que as pessoas se vão concentrar em Maputo, a capital. Juntámo-nos entre artistas, estudantes, pessoas civis que estão residentes em França e que queriam, na verdade, manifestar a sua frustração e o seu repúdio à situação actual em Moçambique. Então, esta quinta-feira, dia 7, às 14h, na Praça da Bastilha, nós vamos estar lá a gritar o nome de Moçambique para podermos conseguir fazer chegar as nossas reclamações e a nossa voz a quem de direito. O que é que espera para os próximos tempos em Moçambique? Eu espero que o governo actual perceba que o povo moçambicano é um povo batalhador, mas que agora há uma espécie de cansaço e de fadiga diante das experiências últimas que nós tivemos com as fraudes eleitorais. Eu acho que é altura que o governo oiça mais o povo. Na verdade, o governo deve trabalhar para o povo, não é o caso actual. Eu espero mesmo que esta mensagem chegue às pessoas que têm o poder de mudar a situação actual e que se sintam comprometidas com o povo moçambicano, que é um povo extremamente batalhador. Moçambique é um belo país, então é muito triste estarmos a atravessar isso entre nós mesmos, estarmos quase a viver uma guerra interna, é muito doloroso. Até que ponto é que tudo o que está a acontecer em Moçambique pode, de certa forma, ter eco naquilo que você cria, produz e apresenta em palco?Há sensivelmente dez anos que eu trabalho focado no quotidiano, no dia-a-dia, nas minhas experiências, nas experiências das pessoas que me rodeiam, então a situação actual em Moçambique é nada mais, nada menos que um elemento que já faz parte da minha vida artística. Então, nas minhas criações, de certeza que haverá uma chamada de atenção a esta situação actual que se está a viver em Moçambique. Na minha maneira de escrever, na minha maneira de criar e não só, sendo um artista moçambicano residente em França, tenho também este dever e sinto esta responsabilidade de poder falar de Moçambique, não só das dificuldades, mas também de como é que nós podemos superar este tipo de situações. Pode fazer-nos uma curta apresentação, contar-nos o que leva a palco e que projectos tem em curso? Eu sou malabarista profissional há sensivelmente dez anos. A minha arte consiste em manipular objectos. Eu lanço objectos e tento não os deixar cair, o que não acontece sempre!.. Então, esta é a minha arte. A minha especialidade é o malabarismo musical: eu misturo a música, a dança e o malabarismo. Eu canto, faço malabarismo e danço ao mesmo tempo. Esta é a minha especialidade há sensivelmente 10 anos.Quanto a projectos, eu acabo de estrear um solo que se chama “Nkama”, que significa “Tempo”. Escrevi “Nkama” numa altura extremamente complicada e perturbada da minha vida. Então foi um tempo difícil para mim. Este espectáculo é uma celebração. A vida é o que eu decidi fazer com o meu tempo, o que nós decidimos fazer, apesar das coisas que acontecem em Moçambique, no Afeganistão, no Líbano, na França, em Israel. Eu decidi fazer malabarismo. Por isso é que eu chamo ao espectáculo Tempo.Tenho muitos projectos. Estou agora num enorme projecto em Moçambique de construção de uma escola, de um centro cultural em Moçambique, em Maputo. É um projecto auto financiado. Sempre foi meu sonho fazer este projecto, então acredito que em 2026, se tudo correr bem, teremos a inauguração deste projecto que é, para mim, a culminar destes dez anos de experiência. O projecto é uma escola de artes de circo?Na verdade, nós vamos estar meio divididos entre um projecto de pedagogia e um projecto de criação. Nós não temos ainda em Moçambique estruturas capacitadas para acompanhar uma formação circense. No entanto, vamos tentar instalar, no início, uma prática quotidiana em Moçambique e, claro, dando espaço aos artistas que queiram criar, tanto da dança, do teatro, da música, das marionetas e tentar, com o tempo, conseguir este distintivo de escola de circo e tornar-se na primeira escola de circo de Moçambique. Se tudo correr bem. Se não há escola de circo em Moçambique, como é que você descobriu e desenvolveu a sua vocação? Eu beneficiei de uma formação oferecida pelo Centro Cultural Franco-Moçambicano em 2011. Fiz parte de um grupo de 80 artistas que foram lá batalhar, bater-se para ter um lugar neste estágio que durou quatro semanas. Depois do estágio, os formadores foram-se embora, dois artistas franceses, malabaristas. E depois de eles terem ido embora, eu fiquei tão apaixonado pela prática que decidi continuar, na verdade, a praticar no meu canto. Veio parar a Paris pouco tempo depois. Quanto tempo depois? Eu participei num espectáculo, num espectáculo que se chama “Maputo-Moçambique”, um espectáculo que estreou em 2013. Nós fizemos várias digressões com este espectáculo. Um espectáculo do Thomas Guérinaud... Exacto. Participei neste espectáculo e foi este espectáculo que constituiu uma porta de entrada para a indústria criativa em França. Feito isso, continuei a ter contratos com outras companhias na Inglaterra, na Finlândia, no Brasil e em Portugal. Então, a necessidade de me instalar num lugar onde eu pudesse praticar todos os dias era mesmo urgente e decidi vir a França. Porquê? Porque tinha muitos contratos cá na altura e depois de sete anos a fazer idas e voltas entre Moçambique e França, instalei-me em Janeiro de 2020.Quando estava a ensaiar, contou-me que também está, neste momento, a preparar projectos com o Japão e com outros países. Eu tornei-me artista independente, criei a minha companhia actual, que se chama Companhia Nkama. Esta companhia é uma semente que eu quero lançar para poder chamar os jovens criadores e autores a poderem lutar pela sua autonomia, sendo a minha primeira obra “Nkama”, da qual eu falo com muito orgulho porque é uma obra que engloba música, dança, malabarismo, em changana, que é a minha língua materna...Do sul de Moçambique...Língua do sul de Moçambique, de onde eu venho, onde eu nasci e cresci. Graças a este espectáculo, eu fui actuando em alguns sítios em França. A estreia do espectáculo foi na Guadalupe, em Point-à-Pitre, e com algumas parcerias que eu tive na Suécia, em Guadalupe, em Goiânia e na França, o espectáculo ganhou tanta visibilidade que eu fui convidado a fazer alguns projectos colaborativos em Taiwan, com uma equipa de 15 artistas que vão estar lá a criar e fui convidado a fazer a direcção artística deste projecto. Recentemente, recebi um convite para fazer uma digressão de 15 espectáculos em oito cidades no Japão. É o culminar também de todo este trabalho que venho fazendo de malabarismo, música e dança. Então, abriu-me portas para poder conhecer outros universos, ir à América, à Ásia, África, à Europa e por aí adiante. E tudo começou quase como um acaso... Tinha quantos anos quando descobriu o malabarismo nessa formação em Maputo? Eu comecei o malabarismo muito tarde. Na altura eu tinha 19 anos. Até que ponto acredita que a arte - seja teatro de rua, malabarismo, artes circenses, dança - consegue sacudir as mentalidades e mudar alguma coisa? A arte tem este poder de passar não só pelos textos, mas por suportes visuais que chamam as pessoas a uma reflexão bem ousada, mas, no final das contas, acaba sendo uma porta de saída do que os livros não conseguem dizer, do que os espectáculos não conseguem dizer. Então, a arte, que é, na verdade esta mistura de música, gastronomia, maneira de vestir, pode ser bem forte para poder influenciar mentes, para poder deixar passar mensagens.
Paris foi palco de uma manifestação da diáspora moçambicana, em frente à Praça da Bastilha, esta tarde. Tal como em Maputo e em outras partes do mundo, os manifestantes juntaram-se para contestar os resultados das eleições gerais de 9 de Outubro e para denunciar a repressão policial nas manifestações em Moçambique. Nas ruas de Paris ouviram-se coros de “povo no poder”. A mensagem dos moçambicanos em protesto chegou à capital francesa, junto à simbólica Praça da Bastilha. Um grupo de mais de 20 pessoas empunhou cartazes com palavras de ordem e exibiu bandeiras de Moçambique, mas também cantou o hino moçambicano a “Pátria Amada”.Laura Chirrime pertence ao grupo Indignados – Sociedade Civil dos Moçambicanos da Diáspora, um movimento que organizou em Paris e em várias outras cidades manifestações, esta quinta-feira, para pedir justiça eleitoral e para denunciar a violência policial nos protestos em Moçambique.Pretendemos mostrar ao mundo o que está a acontecer em Moçambique. O mundo não sabe o que se passa. Sabemos que muitas organizações estão aqui em Paris, muita gente vai-nos ver. Estamos a gritar ao mundo ‘Socorro, por favor, ajudem-nos, Moçambique não está nada bem.Nos cartazes dos manifestantes podia-se ler, em português e francês, "Povo no poder", “Liberdade para o povo”, “Moçambique igual para todos" e “Voto não é atestado de óbito”, mas também se liam críticas à Frelimo, partido no poder desde 1975.Entre os manifestantes, a cantora Assa Matusse destacou que os artistas também têm o dever de se mobilizar.É a primeira vez, na verdade, que me envolvo desta forma, sempre disse para mim mesma que jamais me iria posicionar politicamente porque a minha missão nesta terra é fazer música, mas chegam situações em que se ultrapassa a arte, ultrapassa todos os limites.Outro artista presente era o músico Samito Tembe que empunhava o cartaz com a frase popularizada pelo rapper Azagaia, “Povo no poder”.Eu não tenho medo. Povo no poder. Povo no poder. Povo no poder todos os dias. Eu não percebo como é tu votas, os dirigentes vivem à custa dos nossos impostos e não podemos reclamar se alguma coisa está mal. Não compreendo. Não vejo porque é que nos estão a atirar gás lacrimogéneo em Moçambique, estão a matar pessoas, não percebo...“Alô mundo, alô Paris, alô França!”, gritou o investigador Anésio Manhiça, de passagem por Paris, que também agarrou no megafone para lembrar que os moçambicanos se reuniram nesta manifestação “por uma questão de direitos humanos e de justiça em Moçambique”.Podemos falar e manifestar em Paris. Aqui, não corremos nenhum perigo, ao contrário dos nossos irmãos que estão em Moçambique. Estamos aqui para lançar esta voz contra a injustiça social em Moçambique, a injustiça eleitoral, os direitos humanos que estão a ser feridos em Moçambique, incluindo direito de liberdade até digital. Estamos aqui para lançar esta voz, ver se somos ouvidos e para poder ver alguma mudança política e social em Moçambique.Entre os manifestantes havia também angolanos, como Lucas dos Santos, movido pela solidariedade com o povo moçambicano e pela luta pela justiça.Somos todos africanos. Temos muitos laços que nos unem, começando pela língua portuguesa porque fomos colónia portuguesa. Somos a favor da liberdade. É injusto aquilo que se vive em Moçambique numa fase como esta. O poder é do povo e o povo é que deve escolher as pessoas que devem governar. Estamos aqui para dizer abaixo os assassinatos, abaixo a ditadura. Como angolanos temos que estar solidários, como sempre estivemos, com o povo moçambicano.Além de Paris, os pedidos de justiça eleitoral e respeito pelos direitos humanos em Moçambique foram repetidos em várias outras cidades onde há diáspora moçambicana e em Maputo, o epicentro das manifestações.Foi o candidato presidencial Venâncio Mondlane, principal rosto da oposição, que convocou, pelas redes sociais, a paralisação geral de sete dias que culminou, esta quinta-feira, com uma manifestação nacional em Maputo e acções na diáspora, naquela que ele descreveu como a “terceira etapa” da contestação aos resultados das eleições gerais de 09 de Outubro. Estes resultados, que ainda devem ser validados pelo Conselho Constitucional, dão a vitória a Daniel Chapo, candidato presidencial da Frelimo, partido no poder, com 70,67% dos votos, enquanto Venâncio Mondlane aparece em segundo lugar, com 20,32%. O candidato apoiado pelo Podemos rejeita os resultados, assim como os outros candidatos na corrida à presidência Ossufo Momade e Lutero Simango.
No décimo segundo episódio do Rota de Paris, Edson Jr. e Rafa Kawachi mergulham na história da Revolução Francesa, destacando suas causas, eventos marcantes e o impacto duradouro que teve na sociedade moderna. Com uma pitada de ironia, eles discutem como os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade continuam a influenciar o mundo, enquanto refletem sobre as contradições e ironias da época e de hoje. Entre risadas e debates, descubra como a queda da Bastilha e a ascensão de Napoleão Bonaparte moldaram a França e o mundo. O episódio também traz comparações divertidas entre o passado e o presente, questionando o que realmente mudou desde então. ---------- O Rota de Paris é um programa especial do Página Laranja que comenta curiosidades e informações sobre a cidade sede das Olimpíadas de 2024, além de mais dados, notícias e informações sobre os jogos em si, com a intenção de levar entretenimento e bom humor. No ar de segunda a sexta, às 20h00, de 22/07 a 09/08/2024. ---------- Compartilhe o nosso conteúdo e nos ajude a alcançar mais pessoas. Não se esqueça de assinar nosso podcast para receber nossos conteúdos. Ajude o Página Laranja a manter seu trabalho a partir de apenas R$ 1 por mês no Apoia.se ou no PicPay: https://paginalaranja.com.br/sobre/#apoie. Participaram deste episódio: Edson Jr (https://www.instagram.com/jrkawachi) e Rafa Kawachi (https://instagram.com/contadorafa). Interaja conosco e acompanhe nosso conteúdo em todas as redes: https://paginalaranja.com.br https://instagram.com/paginalaranja https://youtube.com/@paginalaranja https://facebook.com/PaginaLaranjaOficial
A poucos dias da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, boa parte das ruas nos arredores do rio Sena está cercada por milhares de grades, impedindo a circulação de turistas e complicando a vida de moradores e trabalhadores. O rígido esquema de segurança transformou a paisagem da capital francesa, dividida por barreiras metálicas e sob um alto policiamento. Daniella Franco, da RFIPelo menos até a próxima sexta-feira (26), o perímetro de segurança é dividido em duas zonas, a vermelha e a cinza. Na primeira, apenas a circulação de veículos motorizados está proibida. Na segunda, o acesso foi bloqueado até mesmo a pedestres; apenas moradores e pessoas que trabalham nesta área podem transitar, desde que estejam munidos de um passe em formato de código QR.Devido ao temor de atentados terroristas durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, algumas ruas e os cais do rio Sena estão completamente inacessíveis e vazios. Muitos monumentos, como a torre Eiffel, estão escondidos pelas barreiras de proteção.Os noivos Jonatas Nunes e Ana Paula Lorenzet Nunes, brasileiros radicados em Dublin, vieram até Paris com a família para um ensaio de fotos antes do casamento. O casal estava ciente de que a circulação seria complicada na capital francesa a poucos dias do início da Olimpíada, mas não esperava que o esquema de segurança pudesse ser tão confuso.“Muitos policiais não tem muitas informações ou não conhecem as próprias ruas de Paris”, afirma Jonatas. “Talvez falte um mapa que diga tudo o que está exatamente fechado”, sugere.Ana Paula conta que para conseguir cruzar o centro de Paris, devido aos bloqueios da maioria das pontes que conectam as duas margens do rio Sena, foi preciso caminhar doze quilômetros. “A gente viu um grande contraste na questão da ajuda dos policiais. Vários foram bem solícitos e alguns pareciam até que estavam debochando da gente”, observa.Forte policiamentoA turista mineira Dalvânia Pimenta veio a Paris passar férias com o marido, as duas filhas e uma sobrinha. A família se assustou com a quantidade de policiais fortemente armados nas ruas. “Parece que estamos no Afeganistão!”, brinca.A maior reclamação de Dalvânia é sobre a dificuldade de circulação e a falta de coordenação dos policiais. “Isso atrapalha muito. A gente fica sem saber para onde ir. Tentamos ir em alguns lugares, mas cada vez que perguntávamos aos policiais, eles nos mandavam para lugares diferentes. Ficamos dando voltas e voltas e desistimos de ver a torre Eiffel”, conta.Na região da Esplanada dos Inválidos, a poucos passos de uma das arquibancadas erguidas na Ponte Alexandre III para a cerimônia de abertura, o turista norueguês Paul Bossanga não esconde sua irritação depois de ser barrado pela polícia em uma grade de proteção. Paul trouxe a filha, Jessica, para sua primeira visita à capital francesa, mas se arrependeu."Tem barreira de segurança por tudo, tentamos passar por várias grades, mas tem lugares aos quais não temos acesso”, reclama, classificando o esquema de policiamento como “uma má surpresa”. “Não fomos preparados para encontrar todos esses bloqueios, mas temos que aceitar porque é pela segurança dos Jogos Olímpicos", pondera.Parisienses expressam resiliênciaNa região da Praça da Bastilha, o parisiense Ludovic Duparc viu a rua onde mora, à beira do rio Sena, ser completamente isolada por barreiras metálicas e policiais. O cenário da “zona cinza” o faz lembrar os bloqueios da época da pandemia."É verdade que Paris perdeu um pouco o charme, para ser sincero. Ver grades como essas ao meu lado resulta em uma paisagem um tanto monótona, nos faz pensar na época da Covid. Mas como sabemos que é por causa dos Jogos Olímpicos, para dizer a verdade, não incomoda nosso cotidiano", afirma.Apesar de as restrições não atrapalharem seu dia a sia, Ludovic e sua família não permanecerão em Paris durante os Jogos. "Foi um dilema! Nós chegamos a pensar: por que não assistir à cerimônia de abertura? Mas preferimos estender nossas férias. Deixamos a Olimpíada para os turistas aproveitarem tranquilamente", reitera.Na mesma região da Praça da Bastilha, Sabine Lutton trabalha na “zona vermelha”, com menos restrições, mas também cercada por grades. Em um tom de resiliência, ela diz compreender os bloqueios."Não estamos acostumados a ver Paris assim tão separada, tão vigiada. Mas é preciso cuidar e proteger as pessoas que vêm para a cerimônia de abertura dos Jogos. Acho normal enfrentar essas restrições, que não vão durar, e a Olimpíada será um momento excepcional!”, comemora.
A Polícia Federal (PF) do Brasil integra o grupo de forças internacionais de segurança, composto por cerca de 1.700 agentes de 44 países, que dará suporte aos Jogos Olímpicos de Paris 2024. A convite da França, 20 policiais federais brasileiros atuarão em três principais frentes: segurança pública, troca de informações e inteligência para prevenção ao terrorismo. Dezoito dos 20 policiais federais brasileiros já estão em Paris se preparando, ao lado das forças francesas, para o esquema de segurança dos Jogos Olímpicos (de 26/07 a 11/08) e Paralímpicos (de 28/08 a 08/09). Eles chegaram à cidade no dia 14 de julho, data simbólica da Queda da Bastilha e dia nacional da França, e puderam participar das celebrações.“Foi muito bonito, foi ótimo”, conta a paranaense Selma Cristina Martins, escrivã da PF em Brasília. "Estamos fazendo patrulhamento ostensivo e reconhecimento de locais. Estamos prontos e alinhados com a equipe de segurança francesa para garantir uma participação segura e tranquila nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos", garante Selma, que já conhecia Paris e aprende francês há 3 anos.Segundo o delegado Luiz Ungaretti, adido da PF na embaixada do Brasil na França, os policiais atuarão uniformizados, mas desarmados, ao lado das forças francesas para garantir a segurança em locais estratégicos, como estádios, ginásios e a Vila Olímpica, onde haverá grande concentração de torcedores brasileiros. "Vamos priorizar a segurança dos brasileiros, trabalhando sempre em conjunto com as autoridades policiais francesas", afirmou Ungaretti.Durante o evento, Paris deve receber cerca de 13 milhões de visitantes, principalmente franceses, e atletas de mais de 200 países. Não há ainda um número exato de turistas estrangeiros, mas segundo um levantamento do AirBnb, o Brasil ocupa o oitavo lugar no ranking de países que mais reservaram noites na região parisiense para conferir as Olimpíadas.Em relação à delegação oficial, o Time Brasil é formado por 277 atletas e o país será representado pelo ministro dos Esportes, André Fufuca. No entanto, a primeira-dama, Janja da Silva, participará da cerimônia de abertura no lugar do presidente Lula. Ela chega no dia 25 de julho, assessorada por um grupo de 10 pessoas, mas sua credencial ainda está sendo negociada pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil), junto ao COI (Comitê Olímpico Internacional).Experiência BrasileiraAlém da segurança pública, a PF participará do Centro de Cooperação Internacional (CCI) da França, onde haverá uma constante troca de informações de inteligência com todos os países participantes, visando à proteção de autoridades, atletas e do público em geral. Uma terceira frente será focada na prevenção e repressão ao terrorismo, com dois policiais federais integrando a equipe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).A experiência adquirida pela PF durante os Jogos Olímpicos do Rio 2016 foi um dos fatores determinantes para o convite francês. "O Rio foi um evento emblemático que demonstrou a capacidade do Brasil em organizar grandes eventos com segurança", destacou Ungaretti. Essa expertise será fundamental para contribuir com a segurança em Paris.Os 20 policiais selecionados para essa missão, de vários estados brasileiros, possuem um histórico de participação em grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos no Brasil. O mineiro Flávio Lima, um dos agentes escolhidos, ressaltou a importância da integração entre as forças de segurança de diversos países. "A expectativa é a melhor possível para que tenhamos um evento de grandes proporções, mas com segurança garantida", disse Lima, que visita Paris pela primeira vez e arranha “um tout petit peu” (um pouquinho) o francês.CustosO custo da participação brasileira na segurança dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos está sendo arcado pelo governo francês e pelo Comitê Olímpico Brasileiro, cobrindo passagens, diárias e alimentação dos policiais."A França está bancando passagens, diárias e alimentação, e o Comitê Olímpico Brasileiro está arcando com os gastos dos nossos policiais que vão trabalhar com os atletas e corpo técnico na Vila Olímpica", explicou Ungaretti. O valor dessa participação não foi revelado.Ao contrário de outras nações, como o Catar, que impressionaram os parisienses aos desembarcar na cidade com blindados, o Brasil não traz equipamentos ou armas. “Nós contamos mesmo é com a expertise dos policiais com relação à questão de conhecimentos, da utilização de nossos bancos de dados nas investigações, nas trocas de informações, inteligência, em especial para identificar possíveis criminosos, terroristas, no âmbito da cooperação Internacional”, informa o adido da PF na França.Expectativas e desafiosA segurança dos Jogos Olímpicos de Paris, que promete ser um dos maiores eventos esportivos da história, será garantida por 30 mil policiais, 15 mil militares e 22 mil agentes privados franceses, além dos 1.750 policiais estrangeiros. Somente durante a abertura do evento em 26 de julho, 45 mil homens estarão mobilizados.A presença dos policiais federais brasileiros em Paris pode parecer modesta, mas é vista como uma adição valiosa. "Mesmo com um contingente de 20 policiais, faz toda a diferença a presença da PF, pois hoje a polícia trabalha com inteligência e informação para prevenir crimes", destacou Ungaretti.O maior temor é em relação à ameaça de atentados. Mas o adido da PF, que há meses participa de reuniões, lembra que “há um trabalho muito grande que já vem sendo feito há anos”. Ele diz que “o ambiente está muito seguro em termos de monitoramento e de controle”. Com a cooperação internacional, “reunindo dezenas de países buscando prospectar informações em todo o mundo”, Luiz Ungaretti avalia que o cenário é, “de certo modo, de tranquilidade, mas sempre de alerta”.
Depois de percorrer a França e ser vista por 4 milhões de pessoas, a tocha olímpica chega a Paris neste domingo, 14 de julho, para dois dias de revezamento nos 20 distritos da capital. Como é o dia da festa nacional francesa, os eventos foram entrelaçados: o tradicional desfile militar acontece durante a manhã, o revezamento dos atletas com a tocha começa logo depois e vai até a noite, quando o céu da capital será iluminado pelo esperado espetáculo de fogos de artifício na Torre Eiffel. A tocha fará um circuito de 31 km nesse primeiro dia, passando por monumentos históricos e culturais, como as sedes da Assembleia Nacional e do Senado, o Panteão, a universidade Sorbonne, a catedral de Notre Dame, a praça da Bastilha, o Jardim de Marielle Franco e o Museu do Louvre, entre outros cartões postais da cidade.O ponto de partida será na avenida Champs-Elysées às 12h50 em horário local (7h50 em Brasília) e quando forem 23h, a tocha encerrará o trajeto na sede da prefeitura de Paris. No dia seguinte, segunda-feira, 15, o revezamento percorre outras áreas famosas da capital. Ao todo 540 atletas vão participar dos dois dias de revezamento. Marielle Franco será homenageada no trajeto da tochaEm vários pontos por onde a tocha olímpica irá passar, a prefeitura de Paris programou atividades – shows de música, performances, jogos e manifestações artísticas. No Jardim de Marielle Franco (10° distrito), a artista plástica Mathilde Guégan criará um retrato em homenagem à vereadora do PSOL que fará parte de um afresco a ser realizado por moradores do bairro antes da passagem do revezamento.Quando a chama chegar ao local, às 18h10, a imagem de Marielle ficará associada à da Olimpíada. A prefeitura de Paris já eternizou a luta de Marielle no combate às discriminações e a defesa dos direitos humanos com a inauguração desse jardim, em 2019, um ano depois do assassinato dela e do motorista Anderson Gomes no Rio de Janeiro. Agora, o retrato de Marielle pintado no jardim entrará para o álbum dos Jogos Olímpicos de Paris.Desfile militarParis não tem um dia de celebração como este 14 de julho de 2024 há muito tempo. No período da manhã, o tradicional desfile militar foi transferido da avenida Champs Elysées para uma outra via famosa da cidade, a avenida Foch, de prédios residenciais de luxo. O presidente Emmanuel Macron estará lá, com ministros e alguns convidados, mas por causa da crise política não dará entrevista no final.O tema do desfile é “Olimpismo e Forças Armadas”, celebrando o início próximo dos Jogos, com a cerimônia de abertura no dia 26, e a Liberação de Paris da ocupação nazista, que completa 80 anos em agosto.Por causa dos preparativos da Olimpíada, a parada militar será mais curta, com 4 mil homens e mulheres compondo os batalhões a pé. Não haverá tanques nem blindados, apenas a cavalaria da Guarda Republicana e demonstrações com aviões e helicópteros, para celebrar os 90 anos de criação da Força Aérea e Espacial francesa. No domingo, a cidade vai ficar praticamente proibida à circulação de carros, exceto em locais distantes do revezamento. O estacionamento nas ruas está proibido em todo o trajeto da tocha olímpica e na área do desfile militar.A prefeitura manteve o espetáculo de fogos de artifício na Torre Eiffel, uma tradição nas comemorações de 14 de julho, mas sem público nos jardins ao redor do monumento. Os fogos serão vistos à distância ou pela televisão. As arenas e arquibancadas nas duas margens do Sena, em frente à torre, já estão instaladas para a Olimpíada.Crise políticaO presidente Emmanuel Macron retornou da cúpula da Otan em Washington e reuniu, nesta sexta-feira, alguns pesos-pesados de seu partido no Palácio do Eliseu. Cinco dias depois da publicação dos resultados do segundo turno das eleições legislativas, em que nenhum partido ou bloco político obteve a maioria de 289 deputados dos 577 da Assembleia, a escolha de um novo chefe de governo segue num impasse. A nova Frente Popular de Esquerda, que venceu o segundo turno em 7 de julho, continua sem chegar a um acordo sobre o nome de um potencial primeiro-ministro. A sigla de esquerda radical França Insubmissa (LFI) não abre mão de impor um chefe de governo da legenda, alegando ter eleito o maior número de deputados dentro da coligação eleitoral de quatro partidos. O fundador do movimento, Jean-Luc Mélenchon, que disputou três vezes a presidência, quer ser primeiro-ministro. Mas ele é o político com maior índice de rejeição entre os franceses.Os socialistas, segundo colocados no interior dessa aliança, buscam impor o secretário-geral Olivier Faure, que já disse estar pronto para assumir a função, uma vez que a oposição de direita, de extrema direita e o bloco de centro de Macron alertaram que irão derrubar um governo liderado pela França Insubmissa.A principal notícia desta sexta-feira (12) é que Macron estaria disposto a aceitar a demissão do primeiro-ministro Gabriel Attal e do governo na terça-feira, dia 16, para que os ministros reeleitos deputados possam assumir seus mandatos na nova Assembleia e Gabriel Attal, a liderança da bancada macronista no plenário. Mas mesmo dentro do partido Renascimento existe atrito: o ministro do Interior, Gérard Darmanin, disputa a liderança da bancada com Attal. A decisão de Macron de liberar os ministros visa reforçar a ala macronista para a sessão inaugural da nova Assembleia, marcada para 18 de julho. O bloco presidencial, apesar de ter perdido a eleição para a esquerda, ainda é a segunda força política da Casa e tentará reeleger a presidente Yahel Braun Pivet e participar dos cargos de direção das comissões mais importantes e da mesa diretora da Assembleia de Deputados.
A primeira semana da campanha das eleições legislativas antecipadas na França foi monopolizada por um crime que chocou o país: o estupro coletivo de uma menina judia de 12 anos por três outros adolescentes. Manifestações contra o antissemitismo estão sendo realizadas em todo o país para denunciar crimes de discriminação e ódio contra a comunidade judaica. Daniella Franco, da RFIAs agressões horrorizaram a França. A polícia francesa revelou detalhes do que classificou de “um calvário” vivido por uma menina judia de 12 anos no último sábado (14) em Courbevoie, na periferia de Paris.Ela foi levada à força por dois adolescentes de 13 anos e um garoto de 12 anos a um imóvel abandonado, onde foi torturada, agredida fisicamente e estuprada ao confirmar ser de confissão judaica. Os três menores foram identificados e detidos para interrogatório.A notícia do estupro coletivo veio à tona no início dessa semana, quando começou oficialmente a campanha das eleições legislativas antecipadas. A agressão monopolizou o debate político, em um momento em que o partido de extrema direita Reunião Nacional lidera as pesquisas, com mais de 30% das intenções de voto.Trocas de farpas entre os partidosLíderes de todos os partidos se manifestaram nesta semana sobre o estupro coletivo e trocaram farpas sobre o problema do antissemitismo no país. No alvo das acusações está o partido França Insubmissa, da esquerda radical. A legenda integra a coligação da esquerda Nova Frente Popular, junto com o Partido Socialista, o Partido Comunista e o Europa Ecologia Os Verdes, formada especialmente para as eleições legislativas antecipadas.Logo após os ataques de 7 de outubro de 2023, que deu início à guerra na Faixa de Gaza, alguns membros do França Insubmissa se recusaram a classificar o Hamas como um grupo terrorista. Recentemente, o líder do partido, Jean Luc Mélenchon, também minimizou o problema do antissemitismo na França.Nesta sexta-feira (21) em entrevista à BFMTV, a deputada Mathilde Panot, do França Insubmissa, argumentou que “nenhum dos membros da Nova Frente Popular foi condenado”. A parlamentar também ressaltou que “o antissemitismo precisa ser combatido em todos os lugares” e lembrou que no programa da coligação há um plano contra o ódio racial e religioso.De fato, entre todos os partidos, é apenas a Nova Frente Popular que tem, até o momento, propostas contra esse problema. Eles propõem a criação de um Observatório contra as Discriminações e oferecer mais meios para que a Justiça possa processar e punir autores de crimes racistas, antissemitas e islamofóbicos.O programa do partido centrista Renascimento, do presidente francês, Emmanuel Macron, que foi apresentado em coletiva de imprensa na quinta-feira (20) pelo primeiro-ministro Gabriel Attal. Embora não conte com nenhuma proposta direta direcionada ao antissemitismo, o premiê convocou as autoridades políticas “a erguerem barreiras ao antissemitismo”.Vários membros do governo, entre eles, o próprio Macron, lembram as declarações controversas dos membros do França Insubmissa, e também as origens do partido Reunião Nacional. A legenda da extrema direita é o antigo Frente Nacional, fundado nos anos 1970 por um movimento neofascista, com integrantes de uma ex-milícia nazista.No entanto, os líderes de hoje do Reunião Nacional alegam que se desvencilharam do passado obscuro. Em uma operação de repaginação, a liderança da legenda foi atribuída a Jordan Bardella, de 28 anos, admirado por parte da juventude francesa. Segundo ele, a comunidade judaica da França sabe que o Reunião nacional é “um escudo aos judeus da França”.Manifestações em toda a FrançaO estupro coletivo suscitou uma onda de indignação na França. Durante toda a semana, organizações judaicas convocaram protestos nas principais cidades do país. Na quinta-feira (20), uma mobilização foi realizada na Praça da Bastilha, no leste de Paris, com o apoio de várias associações, entre elas, a SOS Racismo e a Fundação das Mulheres.Nesta sexta-feira, centenas de pessoas se reuniram diante da prefeitura de Courbevoie, palco do crime. Presente no protesto, o presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (Crif), afirmou que é “urgente soar o alarme” e “enviar uma mensagem à sociedade francesa” diante do antissemitismo.Em um balanço publicado em maio, o Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop) e a Fundação Pela Inovação Política apontaram que, desde o 7 de outubro de 2023 e a retaliação israelense na Faixa de Gaza, os atos antissemitas tiveram um aumento de 1000% na França. A aversão à comunidade judaica é verificada principalmente entre a camada mais jovem da população: 35% dos entrevistados da faixa etária 18-24 anos acredita que esse sentimento é justificado devido à falsa ideia de que todo judeu apoia o governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.A imprensa francesa recolheu depoimentos de judeus e judias nas manifestações contra o antissemitismo nesta semana na França. Membros da comunidade judaica denunciam ser frequentemente alvo de ameaças físicas e verbais. Muitas pessoas afirmam que estão ocultando seus sobrenomes para não terem sua religião identificada.“Há gente que nos persegue”, diz a francesa Rebecca ao jornal Le Figaro. “Tememos por nossas vidas. Tem quem diga que exageramos, mas vivemos um inferno cotidiano desde o 7 de outubro”, reitera.
A banda desenhada “La Révolution des Oeillets - 25 Avril 1974 - Le Jour de la Liberté” [“A Revolução dos Cravos - 25 de Abril de 1974 – O Dia da Liberdade”] conta a história da ditadura portuguesa e do golpe militar que a derrubou a 25 de Abril de 1974. A obra, da autoria de Sandra Canivet da Costa e com ilustrações de Jay Ruivo, está escrita em francês, é destinada a leitores a partir dos seis anos e sai a 24 de Abril em França e na Suíça. RFI: O que conta esta banda desenhada?Sandra Canivet da Costa, Autora da BD “La Révolution des Oeillets - 25 Avril 1974 - Le Jour de la Liberté”: "Quis fazer uma amostra às crianças do que era o salazarismo, a ditadura porque para as crianças que nasceram num país livre como a França ou a Suíça é difícil imaginar o que era. No início, a Matilde, nascida em França, está sempre a fazer comparação entre França e Portugal porque ela foi educada em França. Ela pergunta se o 25 de Abril é como a tomada da Bastilha. Então o avô vai explicar que não havia Bastilha como em França, mas efectivamente houve presos políticos que foram libertos. O avô vai explicar que no salazarismo não se podia ler o que queríamos. Não se podia dizer o que queríamos. Até o Ruben reage quando o avô diz que as mulheres não podiam viajar sem autorização do marido e o Ruben, que nasceu no Luxemburgo, diz que a mãe não teria gostado. Então, é mostrar as realidades do dia-a-dia do salazarismo e depois contar o que aconteceu, como é que os capitães se organizaram. É uma banda desenhada que também dá os factos, hora por hora, desse famoso dia, como esses capitães eram jovens e mostrar às crianças como é que em 24 horas a ditadura acabou. É assim uma viagem para as crianças."Fez uma banda desenhada destinada a crianças, que também é contada por crianças. Em quem se inspirou para fazer a Matilde e o Ruben? E porque é que decidiu contar esta história com duas crianças que viajam no tempo com o avô para perceber como é que era Portugal há mais de 50 anos?"O Ruben e a Matilde nasceram em 2020 e são os heróis do meu primeiro livro, “A Extraordinária História de Portugal”. A Matilde foi desenhada com uma fotografia da minha prima, mas sou eu porque eu fui uma criança da terceira geração aqui em França, e fui uma criança curiosa da história, mas que não tinha muitos livros em português. É por isso que as analogias que sempre faz a Matilde entre a França e Portugal sou eu porque eu sempre fiz assim. O Ruben, que nasceu no Luxemburgo e que é o herói também da “Extraordinária História de Portugal”, foi desenhado com fotografias do meu filho. Mas ele, como não nasceu em França, era para sair desta análise, sempre francesa, porque há portugueses também no Luxemburgo, na Suíça, na Alemanha... E às vezes tenho de pensar o que é que pensaria uma criança nesses países não influenciada pela educação francesa. Então nasceram assim as duas crianças."Foi também uma tentativa de preencher, de certa forma, um vazio na edição juvenil francófona? Fala-se sobre a história de Portugal na literatura juvenil francófona?"Pouco. É justamente isso. Quando escrevi o meu primeiro livro, “A Extraordinária História de Portugal”, foi devido a uma vontade de explicar a história às crianças em francês e procurei livros na internet. Fui ver até em Portugal se havia qualquer livro traduzido em francês e não encontrei. É por isso que agora estou a pensar com a editora Cadamoste Éditions, a minha editora…"Cadamoste Éditions é a editora que a Sandra fundou."Sim, que fundei para o primeiro livro e quero mesmo especializar a Cadamoste Éditions em livros para crianças. Este, por exemplo, “A Revolução dos Cravos”, vai ser o primeiro de uma colecção que se vai chamar “L'Histoire du Portugal avec Matilde et Ruben” [“A História de Portugal com Matilde e Ruben”]. Este é o primeiro número, vai haver dois ou três por ano e também vamos publicar livros para ensinar as crianças a falar português. Então vamos começar com os pequenotes, a aprenderem palavras simples, mas depois desenvolver para crianças mais velhas."A Sandra escreveu o argumento que começa com as perguntas dos netos, a Matilde e o Ruben. E é a pergunta do Ruben que leva o avô a contar a história. A pergunta é: “O povo português apenas é livre há 50 anos?" Porquê partir daqui, neste ano em que se comemoram justamente os 50 anos do 25 de Abril?"Ele é uma criança e 50 anos para uma criança de seis anos é o tempo dos dinossauros! Mas quando se pensa que são crianças que aprenderam a Segunda Guerra Mundial, a Primeira Guerra Mundial, é verdade que 50 anos afinal é muito pouco em comparação com outros eventos. Então vemos o Ruben a fazer cálculos numa tabela porque para ele a Europa é livre depois da Segunda Guerra Mundial. Ele é do Luxemburgo, a Matilde é de França, então porquê só 50 anos? E é por isso que era importante também para as crianças entenderem que todas as pessoas que têm mais de 40 anos ou mais de 30 anos foram educados por pessoas que viveram no salazarismo.Eu mesma, tendo nascido em França, nunca me tinha apercebido da influência da ditadura nas pessoas. Quando vivi em Lisboa, com 22 anos, quando os jovens da minha idade me diziam que “eu não tinha isso quando era pequena, eu não tinha isso”… Eles não tinham nascido no salazarismo, mas os pais tinham hábitos da ditadura e foram educados como se houvesse sempre uma ditadura. Acho interessante as crianças perceberem que os avós nasceram numa ditadura."Em poucas páginas aborda a polícia política, os bufos, a censura, a Mocidade Portuguesa, o partido único, a pobreza, o trabalho infantil, a inferiorização das mulheres, as guerras de libertação, os massacres da Baixa de Cassange em Angola, de Wiriyamu em Moçambique, a emigração massiva para França. Como é que se torna compreensível e digesta esta história para crianças e adolescentes francófonos?"Justamente. Eu tive um trabalho de argumentista de banda desenhada: é tentar não perder a criança, não ser chata ao escrever, e os desenhos do Jay Ruivo são essenciais, mas também falar do mais possível em poucas páginas porque se a banda desenhada é grande demais, a criança de seis anos é como um adulto que vê um romance de 400 páginas e vai hesitar em começar a ler. Uma criança é igual."Também conta as reuniões secretas do Movimento dos Capitães, o golpe militar de 25 de Abril de 1974, lembrando que uma das senhas, a Grândola Vila Morena de José Afonso foi mesmo gravada em França. Faz uma cronologia do 25 de Abril em poucas páginas. Como é que foi seleccionar estes momentos-chave? Contou com a ajuda de um historiador, o Yves Léonard. Ele ajudou-a também a seleccionar?"O Yves Léonard vai ser um co-autor para o segundo número. Para este, não aconteceu assim. Fui eu que fiz o argumento sozinha. Eu documentei-me porque em casa tenho uma grande biblioteca só com livros sobre Portugal e tentei tirar uma cronologia interessante para as crianças em livros portugueses e em livros em francês. Depois, o Yves Léonard leu-me e é, por isso, que eu lhe agradeço no início da banda desenhada porque ele leu e verificou porque o objectivo era não haver erros históricos na banda desenhada. E assim simpatizámos e agora vamos colaborar."Vai colaborar com o historiador Yves Léonard no segundo tomo da colecção. Vai ser sobre o quê?"Napoleão. Vai ser sobre a derrota de Napoleão em Portugal."Ainda relativamente a esta primeira banda desenhada, “A Revolução dos Cravos”, como é que os desenhos de Jay Ruivo tornam apelativa esta história?"Isso foi a minha sorte de arranjar um profissional porque o Jay Ruivo é um desenhador profissional que desenhou para jornais portugueses conhecidos, que tinha um pouco esquecido os desenhos e passado a outras actividades. Contactei muitos desenhadores em Portugal porque para mim era muito importante o desenhador ser educado em Portugal."Porquê? Por estar mais familiarizado com determinadas imagens?"Exactamente."Recorreram a arquivos, a fotografias de época?"Exactamente. Eu já tinha muito material no meu computador que forneci ao Jay Ruivo. Quando faço um argumento de banda desenhada, vou explicar exactamente o que uma personagem diz e depois vou descrever o desenho. “Quero um desenho assim; O Ruben tem de estar aqui; o papi-vovô tem de estar aqui”. Depois é o artista que compõe e que vai tomar liberdades."Esta história é escrita para as crianças, mas os pais e os avós também podem ler com os meninos. Isto também vai permitir, de certa forma, para quem vive na emigração, falar de um assunto que se calhar não falavam assim tanto em casa, nomeadamente a história do salto, ou seja, da emigração clandestina para França?"Foi o objectivo, foi até o objectivo da “Extraordinária História de Portugal”. Era justamente por isso que na contracapa havia uma avó que falava com as crianças. Há avós que sofreram muito e que têm vergonha, que têm a humildade de não falar disso. As únicas pessoas que podem fazer falar os avós são os netos. Eu vejo bem com o meu pai. Ele nunca falou connosco e as únicas pessoas com quem fala são os meus filhos. Quando eu vi isso, pensei que temos que fazer falar os avós com as crianças. Elas são uma ferramenta, as crianças, são elas que vão permitir o debate geracional que não há entre os filhos e os pais."
A banda desenhada “La Révolution des Oeillets - 25 Avril 1974 - Le Jour de la Liberté” [“A Revolução dos Cravos - 25 de Abril de 1974 – O Dia da Liberdade”] conta a história da ditadura portuguesa e do golpe militar que a derrubou a 25 de Abril de 1974. A obra, da autoria de Sandra Canivet da Costa e com ilustrações de Jay Ruivo, está escrita em francês, é destinada a leitores a partir dos seis anos e sai a 24 de Abril em França e na Suíça. RFI: O que conta esta banda desenhada?Sandra Canivet da Costa, Autora da BD “La Révolution des Oeillets - 25 Avril 1974 - Le Jour de la Liberté”: "Quis fazer uma amostra às crianças do que era o salazarismo, a ditadura porque para as crianças que nasceram num país livre como a França ou a Suíça é difícil imaginar o que era. No início, a Matilde, nascida em França, está sempre a fazer comparação entre França e Portugal porque ela foi educada em França. Ela pergunta se o 25 de Abril é como a tomada da Bastilha. Então o avô vai explicar que não havia Bastilha como em França, mas efectivamente houve presos políticos que foram libertos. O avô vai explicar que no salazarismo não se podia ler o que queríamos. Não se podia dizer o que queríamos. Até o Ruben reage quando o avô diz que as mulheres não podiam viajar sem autorização do marido e o Ruben, que nasceu no Luxemburgo, diz que a mãe não teria gostado. Então, é mostrar as realidades do dia-a-dia do salazarismo e depois contar o que aconteceu, como é que os capitães se organizaram. É uma banda desenhada que também dá os factos, hora por hora, desse famoso dia, como esses capitães eram jovens e mostrar às crianças como é que em 24 horas a ditadura acabou. É assim uma viagem para as crianças."Fez uma banda desenhada destinada a crianças, que também é contada por crianças. Em quem se inspirou para fazer a Matilde e o Ruben? E porque é que decidiu contar esta história com duas crianças que viajam no tempo com o avô para perceber como é que era Portugal há mais de 50 anos?"O Ruben e a Matilde nasceram em 2020 e são os heróis do meu primeiro livro, “A Extraordinária História de Portugal”. A Matilde foi desenhada com uma fotografia da minha prima, mas sou eu porque eu fui uma criança da terceira geração aqui em França, e fui uma criança curiosa da história, mas que não tinha muitos livros em português. É por isso que as analogias que sempre faz a Matilde entre a França e Portugal sou eu porque eu sempre fiz assim. O Ruben, que nasceu no Luxemburgo e que é o herói também da “Extraordinária História de Portugal”, foi desenhado com fotografias do meu filho. Mas ele, como não nasceu em França, era para sair desta análise, sempre francesa, porque há portugueses também no Luxemburgo, na Suíça, na Alemanha... E às vezes tenho de pensar o que é que pensaria uma criança nesses países não influenciada pela educação francesa. Então nasceram assim as duas crianças."Foi também uma tentativa de preencher, de certa forma, um vazio na edição juvenil francófona? Fala-se sobre a história de Portugal na literatura juvenil francófona?"Pouco. É justamente isso. Quando escrevi o meu primeiro livro, “A Extraordinária História de Portugal”, foi devido a uma vontade de explicar a história às crianças em francês e procurei livros na internet. Fui ver até em Portugal se havia qualquer livro traduzido em francês e não encontrei. É por isso que agora estou a pensar com a editora Cadamoste Éditions, a minha editora…"Cadamoste Éditions é a editora que a Sandra fundou."Sim, que fundei para o primeiro livro e quero mesmo especializar a Cadamoste Éditions em livros para crianças. Este, por exemplo, “A Revolução dos Cravos”, vai ser o primeiro de uma colecção que se vai chamar “L'Histoire du Portugal avec Matilde et Ruben” [“A História de Portugal com Matilde e Ruben”]. Este é o primeiro número, vai haver dois ou três por ano e também vamos publicar livros para ensinar as crianças a falar português. Então vamos começar com os pequenotes, a aprenderem palavras simples, mas depois desenvolver para crianças mais velhas."A Sandra escreveu o argumento que começa com as perguntas dos netos, a Matilde e o Ruben. E é a pergunta do Ruben que leva o avô a contar a história. A pergunta é: “O povo português apenas é livre há 50 anos?" Porquê partir daqui, neste ano em que se comemoram justamente os 50 anos do 25 de Abril?"Ele é uma criança e 50 anos para uma criança de seis anos é o tempo dos dinossauros! Mas quando se pensa que são crianças que aprenderam a Segunda Guerra Mundial, a Primeira Guerra Mundial, é verdade que 50 anos afinal é muito pouco em comparação com outros eventos. Então vemos o Ruben a fazer cálculos numa tabela porque para ele a Europa é livre depois da Segunda Guerra Mundial. Ele é do Luxemburgo, a Matilde é de França, então porquê só 50 anos? E é por isso que era importante também para as crianças entenderem que todas as pessoas que têm mais de 40 anos ou mais de 30 anos foram educados por pessoas que viveram no salazarismo.Eu mesma, tendo nascido em França, nunca me tinha apercebido da influência da ditadura nas pessoas. Quando vivi em Lisboa, com 22 anos, quando os jovens da minha idade me diziam que “eu não tinha isso quando era pequena, eu não tinha isso”… Eles não tinham nascido no salazarismo, mas os pais tinham hábitos da ditadura e foram educados como se houvesse sempre uma ditadura. Acho interessante as crianças perceberem que os avós nasceram numa ditadura."Em poucas páginas aborda a polícia política, os bufos, a censura, a Mocidade Portuguesa, o partido único, a pobreza, o trabalho infantil, a inferiorização das mulheres, as guerras de libertação, os massacres da Baixa de Cassange em Angola, de Wiriyamu em Moçambique, a emigração massiva para França. Como é que se torna compreensível e digesta esta história para crianças e adolescentes francófonos?"Justamente. Eu tive um trabalho de argumentista de banda desenhada: é tentar não perder a criança, não ser chata ao escrever, e os desenhos do Jay Ruivo são essenciais, mas também falar do mais possível em poucas páginas porque se a banda desenhada é grande demais, a criança de seis anos é como um adulto que vê um romance de 400 páginas e vai hesitar em começar a ler. Uma criança é igual."Também conta as reuniões secretas do Movimento dos Capitães, o golpe militar de 25 de Abril de 1974, lembrando que uma das senhas, a Grândola Vila Morena de José Afonso foi mesmo gravada em França. Faz uma cronologia do 25 de Abril em poucas páginas. Como é que foi seleccionar estes momentos-chave? Contou com a ajuda de um historiador, o Yves Léonard. Ele ajudou-a também a seleccionar?"O Yves Léonard vai ser um co-autor para o segundo número. Para este, não aconteceu assim. Fui eu que fiz o argumento sozinha. Eu documentei-me porque em casa tenho uma grande biblioteca só com livros sobre Portugal e tentei tirar uma cronologia interessante para as crianças em livros portugueses e em livros em francês. Depois, o Yves Léonard leu-me e é, por isso, que eu lhe agradeço no início da banda desenhada porque ele leu e verificou porque o objectivo era não haver erros históricos na banda desenhada. E assim simpatizámos e agora vamos colaborar."Vai colaborar com o historiador Yves Léonard no segundo tomo da colecção. Vai ser sobre o quê?"Napoleão. Vai ser sobre a derrota de Napoleão em Portugal."Ainda relativamente a esta primeira banda desenhada, “A Revolução dos Cravos”, como é que os desenhos de Jay Ruivo tornam apelativa esta história?"Isso foi a minha sorte de arranjar um profissional porque o Jay Ruivo é um desenhador profissional que desenhou para jornais portugueses conhecidos, que tinha um pouco esquecido os desenhos e passado a outras actividades. Contactei muitos desenhadores em Portugal porque para mim era muito importante o desenhador ser educado em Portugal."Porquê? Por estar mais familiarizado com determinadas imagens?"Exactamente."Recorreram a arquivos, a fotografias de época?"Exactamente. Eu já tinha muito material no meu computador que forneci ao Jay Ruivo. Quando faço um argumento de banda desenhada, vou explicar exactamente o que uma personagem diz e depois vou descrever o desenho. “Quero um desenho assim; O Ruben tem de estar aqui; o papi-vovô tem de estar aqui”. Depois é o artista que compõe e que vai tomar liberdades."Esta história é escrita para as crianças, mas os pais e os avós também podem ler com os meninos. Isto também vai permitir, de certa forma, para quem vive na emigração, falar de um assunto que se calhar não falavam assim tanto em casa, nomeadamente a história do salto, ou seja, da emigração clandestina para França?"Foi o objectivo, foi até o objectivo da “Extraordinária História de Portugal”. Era justamente por isso que na contracapa havia uma avó que falava com as crianças. Há avós que sofreram muito e que têm vergonha, que têm a humildade de não falar disso. As únicas pessoas que podem fazer falar os avós são os netos. Eu vejo bem com o meu pai. Ele nunca falou connosco e as únicas pessoas com quem fala são os meus filhos. Quando eu vi isso, pensei que temos que fazer falar os avós com as crianças. Elas são uma ferramenta, as crianças, são elas que vão permitir o debate geracional que não há entre os filhos e os pais."
A cantora lírica Ana Vieira Leite estreia-se esta quarta-feira, 10 de Abril, na Ópera de Paris na adaptação de “Medeia” de Marc-Antoine Charpentier, sob a direcção musical de William Christie. A encenação é de David McVicar que transporta a acção para o período da II Guerra Mundial. A soprano portuguesa interpreta o papel de Creusa, numa ópera em cinco actos. "Medeia" foi escrita em 1693 e chega pela primeira vez ao palco do Palácio Garnier. RFI: Para resumir esta história que atravessou mais de três séculos, Medeia é filha do rei Eetes, do reino da Cólquida, será também a filha da deusa Hécate. Medeia tem poderes mágicos, um dia apaixona-se por Jasão, que tem como missão recuperar o velo de ouro do pai de Medeia. Medeia trai o pai, mata o irmão e foge com Jasão para a Grécia. Aqui começa a ópera de Medeia de Charpentier. Como é que descreveria a história?Ana Vieira Leite: É uma história muito dramática, é verdade. Aqui começamos com a chegada de Jasão e Medeia à Grécia, onde encontram o rei e a Creusa, o Créuse. Aí Jasão apaixona-se pela princesa, pela jovem princesa. É aí que começa a grande trama da história, porque Medeia sente-se extremamente traída, enganada, enfurecida e planeia toda uma vingança. Começa com um envenenamento de um vestido que acaba por dar à morte da princesa. Entre esta história surge uma personagem que é o Oronte, que é alguém que tem interesses políticos com o rei, que tenta casar com Creusa, mas ela está perdidamente apaixonada por Jasão. O amor ali é completamente cego, acaba com ela morta. Jasão, extremamente triste com isto tudo, perdido. Para agravar mais esta história, Medeia acaba por matar os seus próprios filhos e foge para Atenas, enquanto deixa Jasão extremamente miserável e sem nada.Medeia mata o irmão, mata o pai de Creusa, os filhos, mata a amante de Jasão, Creusa, papel que interpreta. Como é que apesar disto tudo, sentimos empatia com esta personagem?Acho que é muito humano. Medeia tem muitas fases. Nós temos todos muitas fases e nós conseguimos sentir esta empatia de que nem sempre está tudo bem e nós estamos sempre a ser enganados constantemente. Como é que nós podemos lidar com essa traição, com o facto de sermos de parte; eu acho que é isso. É a nossa parte humana, a nossa parte de nós queremos sempre vingar-nos por tudo e nunca sabemos até que ponto é que podemos lidar com a desilusão, com a traição. Por muito que que a minha personagem seja bastante....Inocente?Eu acho que ela é inocente, mas neste caso ela está extremamente apaixonada e não consegue ver nada. Ela não consegue ver nada, o que ela quer é o que ela vê. Então tudo o que está ao lado Medeia, ela não repara. Ela é uma criança, tem 16 anos, por isso é o primeiro amor. .. é tudo. Ela não consegue sequer reparar que existe uma mulher e que existe uma família por trás. E isso acontece todos os dias, não é, infelizmente.Esta ópera de Medeia tem uma narrativa movida por emoções. Todas as personagens se movem, cantam, actuam com emoções que são levadas até à exaustão?O libreto é riquíssimo e é incrível...O libreto Thomas CorneilleÉ incrível; está muito bem escrito. As emoções estão todas muito bem descritas, mas a música, que neste caso não é uma música comum francesa porque normalmente estamos habituados a um Rameau, Lully que têm uma forma muito mais normal, entre aspas, de expor uma ópera. Charpentier pega numa tragédia musical e tenta exprimir ao máximo as emoções que estão em libreto sem floreados, sem nada de mais, simplesmente há uma cama musical a todas estas emoções, todos estes sentimentos. Um texto rico, uma música que não se sobrepõe ao texto, mas que só ajuda...Completa-se...Completa-se, sem dúvida.Isso acontece na escrita musical de Charpentier porque Charpentier sempre foi renegado pelo rei Luís XIV que gostava muito do seu compositor Lully, o seu compositor favorito. Charpentier acaba por escrever Medéia sete anos depois da morte de Lully.Eu acho que a música de Charpentier difere também da música de Lully porque era uma música experimental, era fora do comum. Nós aqui não temos árias, por exemplo, que é muito habitual em qualquer ópera, estamos à espera dos recitativos e das árias. Este estilo tem tudo a ver com o texto. É sempre intensificar o que está a acontecer porque normalmente numa área, por exemplo, estando muito habituada muito à música barroca, numa ária da capo temos uma frase e vamos explorá-la duas, três vezes e dando ainda mais intenção. Não, ali é muito simples, temos uma frase e nesta frase temos que está tudo. E é isso que é bom na harmonia de Charpentier, por exemplo, é muito mais harmonia do que propriamente a melodia. É por isso que é tão rico. E na altura simplesmente não se fazia isso. Foi ele que veio trazer assim algo novo e na altura não era ele a estrela. Agora tem o seu valor, principalmente nos ensembles franceses que estão a fazer cada vez mais.Estão a fazer cada vez mais música barroca?Sim, música barroca também está muito na moda, digamos, e eu acho que é a altura de percebemos e de compreendemos o porquê de ter havido estas mudanças na altura de Charpentier.Medeia é uma ópera sobre a paixão que destrói ou sobre a vingança libertadora ?Não sei, consigo ver-me dos dois lados. Se bem que lá está, como estamos a falar, é muito humano. Eu diria que a paixão destrói porque quer de um lado, quer Creuse, por exemplo, super apaixonada acabou destruída, Medeia também acaba destruída.E Jasão?Exactamente o mesmo.A Ana interpreta Creusa, a amante de Jasão. Pode escrever se esta personagem?Créuse é filha do rei Creonte. É uma princesa de 16 anos, muito nova, Ela é muito obediente ao seu pai. Ela tem uma relação muito especial com o pai, às vezes um pouco duvidosa. É uma admiração pelo pai e exactamente o contrário. Eu acho que quando ela vê Jasão, é o seu primeiro grande amor. É não saber explicar. Ela sabe que tem que o ter. Não há outra explicação. Obviamente que é isto que ela quer para a vida dela. É um amor que não sabe descrever por isso tudo o resto é esquecido. A tal inocência de 16 anos, de adolescente, em que não temos muita consciência do que se passa à volta. Nessa altura não há explicação e só vê o fim. Ou seja, a minha personagem é muito interessante. Não é a personagem mais interessante porque eu acho que Medeia é, sem dúvida, a personagem mais humana desta ópera, mas tem um arco muito interessante na medida em que ela começa uma jovem adolescente, a descobrir a vida, a descobrir a vida amorosa, a começar a perceber os seus poderes enquanto mulher e acaba uma mulher a ter que enfrentar outra mulher extremamente poderosa.É assassinada...Exactamente e acaba por ser assassinada pelo seu amor a Jasão ou à pátria. É um pouco de tudo e é muito rica.Esta obra é a expressão da dor sob todas as formas. Como é que se entra e se trabalha para depois se transmitir ao público este sofrimento todo?É um processo complicado porque temos que mexer com muita memória, com muita parte nossa, que às vezes não queremos mexer. Para mostrarmos uma personagem humana tem de ser um bocadinho de nós, por muito que seja alguém de fora, tem que ser um bocadinho de nós. Para mim foi mexer com a dor, mais para a parte final, foi reviver um pouco as memórias. Nós tivemos um mês a trabalhar nesta ópera. É muito cansativo e eu sei que saí e saio, ainda, depois de cada ensaio, completamente vazia. Eu deixo tudo porque sinto que esta personagem também o merece. Às vezes até penso não, se calhar está um bocadinho mais, preserva-te.Como é que se encontra este equilíbrio entre não dar demais e de menos...As últimas semanas de ensaios foi esse o meu propósito. Foi encontrar um equilíbrio porque é muito fácil ultrapassarmos. Mas também quando percebemos que ok, se calhar é demasiado, depois fica seco, fica sem nada, fica sem sumo e eu não consigo dar nada sem sentir que estou a sentir pelas minhas próprias mãos este sofrimento desta personagem. Ou seja, não tenho a resposta certa e eu acho que é mesmo ir experimentando, ir vendo o que é que as pessoas também sentem, se sentem alguma coisa, porque às vezes nós estamos a sentir demasiado e não passa assim tanto.Vocês falam disso nos ensaios? Sim falamos muito e ainda bem que tenho uma ligação muito próxima com quase todos os cantores que estão aqui e músicos de orquestra e vamos falando sobre isso. Se sentem o mesmo que eu, se foi um bocadinho de mais, se não foi e acho que é isso também. Essa troca é muito interessante neste meio.Como é que isto tudo acontece?Confesso que pronto, já tinha visto esta produção que é incrível. Não é normal isto acontecer. Eu já tinha visto esta produção, em 2019, em Genebra e foi o meu primeiro contacto com esta obra. Por não ser uma obra extremamente feita ou conhecida, não tinha qualquer ligação.É uma obra que não foi apresentada durante mais de dois séculos.Exactamente, exactamente, por isso é que é interessante também voltar a pegar nisto e trazer ao público esta história tão interessante. Eu vi essa ópera e tinha-me tocado imenso, tanto é que eu já vi imensas produções e essa ficou me na cabeça. Como já trabalho bastantes vezes com Les Arts Florissants [conjunto musical Barroco], tive o convite para fazer a audição, mas era algo que eu não achava que ia acontecer, sinceramente. Era algo mesmo longínquo. Eu pensei; a Ópera de Paris?Mas tentou...Tentei, tentei, mas sem esperanças. Eu lembro que foi na Bastilha e que estava 'pronto mais uma audição', estamos tão habituados a ouvir não a toda a hora e ia fazer a audição para um papel muito mais pequeno. Até que um dia antes, ligaram-me a dizer 'preparar outra ária, pode ser que dê'. Dois dias depois ligarmos a dizer 'o director da ópera quer que sejas tu, por isso estamos todos de acordo".O que é que se sente nessa altura?Foi sem dúvida o poder da responsabilidade: não consigo isto, foi demasiado para mim. Só dizia, 'não era agora que queria ir para a ópera de Paris, ainda preciso de muitos anos de treino, ainda preciso de evoluir imenso. Não tenho capacidade, o síndrome do impostor que está sempre presente, mas ao mesmo tempo foi um conquistar de algo que é muito importante e que muitos anos de trabalho, muitos anos, muitas horas e por isso foi muito especial e estou muito contente por cá estar.Este espaço carrega um peso histórico e isso também se sente quando se sobe ao palco?Sem dúvida, só entrar e ver as pinturas é tudo... A imponência deste deste edifício também incrível. É muito importante. É uma ópera de referência para a Europa e para o mundo. Historicamente é tudo para mim. É incrível estar aqui.No final, o que é que resta, como é que imagino, ao fim destes dois personagens de Medeia e de Jasão?Jasão e Medeia claramente foi algo que foi furado, que não aconteceu, foi um desgosto imenso de amor. Tenho a certeza que Jasão vai ficar perdido para toda a sua vida, perdeu filhos, perdeu quem amava e Medeia sobrevoa por aí. Volta para um sítio longínquo que tenho a certeza que vai continuar com a sua mágoa.E Ana, depois de Medeia.A Ana, depois de Medeia, continua com este sentido de responsabilidade, mas que foi o trabalho mais duro que já tive, foi o trabalho mais compensador e espero continuar por aí, com mais Medeia ou sem Medeia, mas que continuo por aí.
O que foi crescer na clandestinidade durante a ditadura em Portugal? Gonçalo Ramos Rodrigues mergulhou nessa luta ainda criança e, aos 14 anos era, com a irmã, o principal “compositor” das páginas que saíam da tipografia clandestina dos pais. Aos 24 anos, foi obrigado a exilar-se em Paris, onde angariava fundos para ajudar as famílias dos presos políticos em Portugal, mas continuava a sentir a vigilância da PIDE. Gonçalo continua em França, tem 82 anos e contou-nos a sua história. Nos 50 anos do 25 de Abril, a RFI falou com vários resistentes ao Estado Novo. Neste programa, ouvimos Gonçalo Ramos Rodrigues.O que foi viver na clandestinidade durante a ditadura em Portugal? Como se lutava pelo sonho da liberdade perante um regime repressivo em que “até as paredes tinham ouvidos”? Gonçalo Ramos Rodrigues foi resistente antifascista ainda antes de saber que já o era. Também foi e é militante do Partido Comunista Português. Os pais eram do PCP desde os anos 40 e desde criança Gonçalo interiorizou comportamentos para fintar a polícia política porque "os bufos que estavam por todo o lado".Esta militância começa muito cedo, começa mesmo antes de eu saber que militava porque os meus pais eram membros do Partido Comunista Português desde os anos 40 e em 1950 ou 51 foram para a clandestinidade e levaram consigo os quatro filhos. Eu, nessa altura, tinha nove anos. E, é claro, já aí, era obrigado a ter um certo comportamento porque a polícia política estava por todo o lado e, portanto, mesmo jovem, era obrigado a dizer mentiras, ou melhor, a esconder verdades.Aos nove anos, Gonçalo acaba por deixar a escola e por pedir aos pais para aprender um ofício: começou por ser aguadeiro, ou seja, transportava um barril de água – quase tão grande como ele - para dar de beber aos trabalhadores que alcatroavam uma estrada da Moita para Palmela. Depois, endireitou pregos e coseu solas numa sapataria, mas foi, aos 14 anos, que se tornou, ao lado da irmã de nove anos, o compositor das páginas que saíam da tipografia clandestina que tinham os pais.“A actividade mais política começa quando os meus pais assumiram a gestão de uma quinta, onde passou a funcionar uma tipografia clandestina (…) Aí já estávamos na clandestinidade total”, conta. Lá imprimiram muita coisa, desde alguns números do jornal Avante, mas também folhetos e outros jornais como A Terra, Corticeiro, O Camponês, entre outros documentos. Já tinha 14 anos e a minha irmã mais nova tinha nove. Os dois, mesmo crianças, éramos os principais, digamos, compositores. Chamava-se compor os textos com as letras de chumbo que depois eram inseridas no prelo para impressão (…) Era eu quem sabia melhor o português de todos os da casa porque o meu pai quase não sabia ler, a minha mãe só aprendeu a escrever na prisão de Caxias, quando esteve seis anos presa, e a minha irmã ainda menos sabia. Quem corrigia os textos, as gralhas, tudo o que havia, era o Gonçalo.Gonçalo sempre escapou às malhas da polícia política e nem ele nem os irmãos moravam com os pais quando estes foram denunciados e presos em 1963. O pai foi para a cadeia do forte de Peniche e a mãe para a prisão de Caxias. Condenados a dois anos e meio de prisão, só saíram em liberdade em 1969 sem que os filhos, na clandestinidade, pudessem ter informações sobre eles.Como era a regra na clandestinidade, os irmãos também não podiam saber uns dos outros para não haver qualquer risco, em caso de detenção. A irmã mais nova, Veríssima Rodrigues, tinha ido para a Rádio Portugal Livre, outra arma na luta contra o fascismo, e o irmão tinha montado a sua própria tipografia.Todos os cuidados eram poucos para não cair nas mãos da PIDE e para não pôr em perigo a própria família e os camaradas do partido. Quando questionado sobre quais as estratégias que usavam, Gonçalo recorda, emocionado, o reencontro fortuito com o irmão, no Porto, depois de terem estado anos sem se verem. E isso aconteceu duas vezes. Da primeira vez, só deram um abraço. Da segunda, o irmão vinha acompanhado da família e de todo o equipamento domingueiro de pesca que indiciava que ele morava por ali. Consequência: por cautela, o partido mandou imediatamente mudar as instalações da tipografia clandestina que o irmão tinha nessa altura.É que, para viver na clandestinidade, era fundamental seguir determinadas regras e saber o menos possível da vida da família e dos camaradas porque a PIDE estava sempre à espreita e a tortura à espera nas prisões do regime.A ideia é que a pessoa pode não resistir aos interrogatórios e às torturas e pode falar. Portanto, quando menos ela souber, melhor.Outro exemplo, anos antes, quando nasceu o sobrinho, foi quando Gonçalo foi incumbido de inventar uma morada numa rua da Amadora para o registo civil, visto que os pais do bebé viviam na clandestinidade.Gonçalo acabou por estar, também, numa vida clandestina e longe da família. Ficou em Portugal até aos 24 anos e nessa altura exilou-se em França, onde teve notícias dos pais quando estava a descascar batatas numa festa do jornal comunista L'Humanité, em 1966. À sua frente, outro português, também a descascar batatas para o almoço. Ambos eram do PCP e da mesma freguesia algarvia. O camarada prometeu-lhe notícias dos pais e, no dia seguinte, chegou a informação que Gonçalo temia: o pai estava preso em Peniche e a mãe em Caxias há três anos. Foram “três anos sem nenhuma carta, nem qualquer sinal”.Os pais tinham sido denunciados por uma pessoa que estava a viver em casa deles e que quando foi presa “contou tudo”. “Esteve na origem da prisão de muitos camaradas da direcção do partido, foi uma tragédia muito grande na organização e, claro, denunciou também a casa onde vivia e os meus pais que lá viviam. A polícia foi lá, a PIDE, e levou o meu pai e a minha mãe em 1963”, acrescenta Gonçalo. Condenados a dois anos e meio de cadeia, acabaram por só sair em 1969 porque as “medidas de segurança” adicionais eram condicionadas à arbitrariedade do regime.Em Paris, Gonçalo formou um grupo de língua portuguesa da CGT para ajudar os trabalhadores portugueses e que permitia participar nas manifestações do 1° de Maio e contra a guerra no Vietname, por exemplo. Mas a sua actividade principal era angariar fundos para a comissão de auxílio aos presos políticos em Portugal. Um dia, com um grupo de camaradas, às portas de um estádio, estava a distribuir panfletos contra a guerra colonial e andavam também com mealheiros para recolher dons para os presos políticos. A polícia não autorizou e foram levados para a esquadra nos “paniers à salade” [saladeiras] - como eram conhecidas as carrinhas da polícia francesa na altura. Uma outra vez, também fizeram outra viagem até à esquadra por andarem numa feira perto de Bastilha a distribuírem manifestos em português da CGT.A sua actividade militante não passou despercebida e Gonçalo questionou-se se estaria mesmo no que tinha idealizado como “o país da liberdade”. Foi várias vezes interrogado por funcionários da então DST, Direcção de Segurança Territorial – equivalente aos serviços de informações – e desde o primeiro interrogatório percebeu que estavam bem a par do seu percurso de opositor político ao regime português. Gonçalo diz mesmo que desconfia que houve pontes entre este serviço francês e a PIDE. Certo é que, ao contrário da maioria dos emigrantes portugueses, passou nove anos a ter de renovar o título de residência temporária de três em três meses e não conseguiu a tão desejada “carte de séjour” [“autorização de residência”].Eu não sei se todas as autoridades [francesas]. Se calhar não, mas a DST penso que sim, penso que tinham relações muito estreitas com a PIDE em Portugal.O tempo foi passando, Gonçalo viveu o Maio de 68, o mês em que deveria casar com Maria do Céu no Quartier Latin, mas as manifestações e as greves adiaram a boda duas vezes. E foi alguns anos depois, no rádio do primeiro automóvel, um Renault, que chegou a notícia do 25 de Abril. Ainda que a vontade fosse muita de regressar, o partido mandou-o ficar uns tempos em Paris para assegurar a continuação da organização na eventualidade de um volte-face em Portugal. Gonçalo Ramos Rodrigues acabaria por regressar no início de 1975 para o que chama “assegurar a Revolução” e ainda ficou seis anos, mas depois voltou para França. E foi em Levallois-Perret, 50 anos depois do 25 de Abril de 1974, que nos recebeu para partilhar a sua história, a de um militante antifascista que, sempre na sombra, dedicou a sua vida a uma causa: a liberdade.Com tudo isto, aos 82 anos, este militante antifascista diz que teve “sempre uma militância de base” e que não é pessoa “habituada a fazer longas frases e bonitos discursos”. Contrapomos que nem só de discursos reza a história e que as acções de pessoas anónimas tiveram muito peso colectivo na luta contra a ditadura. “É verdade”, admite. “De muitas destas pessoas a história não fala e dedicaram todas as suas vidas à mesma causa: a causa da Liberdade, a causa dos direitos do povo e dos trabalhadores”.
Descubra a intrigante conexão entre o gênio do Iluminismo, Voltaire, e sua associação com a Maçonaria em seus últimos dias. Infância e educação (1694-1711): François-Marie Arouet, mais tarde conhecido como Voltaire, nasceu em 21 de novembro de 1694, em Paris, França. Ele era o caçula de cinco filhos em uma família de classe média e seu pai era funcionário do governo. A mãe de Voltaire faleceu quando ele tinha apenas sete anos. Criado em uma família religiosa, ele recebeu uma educação jesuíta no estimado Collège Louis-le-Grand, onde estudou retórica, filosofia e teologia. Durante seu tempo no Collège, Voltaire foi exposto a uma variedade de discussões intelectuais, incluindo as ciências populares e as obras de filósofos como Pierre Bayle e John Locke. Essas influências mais tarde se tornariam instrumentais na formação de suas ideias filosóficas, enraizadas no ceticismo e na tolerância. Apesar da insistência de seu pai para que ele seguisse a carreira de advogado, a verdadeira paixão de Voltaire era escrever. Iniciou o seu percurso literário com a composição da sua primeira tragédia, “ Édipe ”, ainda na escola. Sua paixão pela escrita e suas habilidades de pensamento crítico tornaram-se evidentes em uma idade jovem e mais tarde contribuiriam significativamente para seu sucesso literário. Carreira Inicial e Prisão (1711-1718) Após completar seus estudos, Voltaire seguiu brevemente os desejos de seu pai e trabalhou como secretário do embaixador francês na Holanda. No entanto, logo abandonou a carreira diplomática e voltou a Paris para seguir sua verdadeira vocação de escritor. Voltaire tornou-se conhecido por sua perspicácia e abordagem satírica das questões sociais e políticas. Suas opiniões bem articuladas sobre religião, governo e outros tópicos lhe renderam a reputação de pensador destemido e influente. Infelizmente, suas críticas implacáveis às normas sociais e ao governo levaram à sua prisão na Bastilha em 1717. Voltaire foi acusado de difamação contra o regente da França, Philippe II, duque de Orléans. Ele passou quase um ano na prisão, período durante o qual escreveu sua peça trágica, “Oedipe”. Libertado em 1718, Voltaire rapidamente ganhou destaque como dramaturgo e poeta. Sucesso literário e defesa das liberdades civis (1718-1733) Na década seguinte, Voltaire alcançou um sucesso literário significativo, produzindo obras de várias formas, incluindo peças teatrais, poemas, ensaios, obras históricas e tratados científicos. Seu talento multifacetado o ajudou a emergir como uma das principais figuras literárias do Iluminismo francês. No cerne das obras de Voltaire está sua defesa inabalável das liberdades civis. Ele era um firme defensor da liberdade de expressão, liberdade de religião e da separação entre igreja e estado. Ele criticou a estreita aliança entre a igreja e o estado, que ele acreditava impedir o progresso da ciência e promover a ignorância, o fanatismo e a perseguição. Suas perspectivas sobre essas questões alimentaram sua missão de educar as massas e melhorar as condições sociais. Os esforços de defesa de Voltaire se concentraram em desafiar dogmas intelectuais, promover a tolerância e abordar injustiças cometidas por poderes religiosos e políticos. Seu compromisso incansável com essas causas contribuiu significativamente para a fundação do movimento iluminista, que de fato mudaria o mundo. Exílio de Voltaire na Grã-Bretanha (1726-1728) Após uma disputa contenciosa com o Chevalier de Rohan-Chabot e um período de prisão na Bastilha, Voltaire solicitou o exílio na Inglaterra como punição alternativa. As autoridades francesas concordaram e, em maio de 1726, Voltaire embarcou em uma jornada que influenciaria significativamente seu desenvolvimento intelectual. Após sua chegada à Inglaterra, Voltaire se estabeleceu em Wandsworth e logo formou conexões com figuras proeminentes como Everard Fawkener . Mais tarde, mudou-se para Maiden Lane, Covent Garden, para ficar mais perto de seu editor. Sua estada na Grã-Bretanha permitiu que ele se envolvesse com mentes ilustres, como Alexander Pope, John Gay, Jonathan Swift e Lady Mary Wortley Montagu, entre outros. Voltaire foi especialmente cativado pela monarquia constitucional britânica, que contrastava fortemente com o absolutismo da França. A maior liberdade de expressão e religião da Grã-Bretanha o impressionou profundamente, assim como seus prósperos esforços literários e científicos. Em particular, Voltaire foi inspirado nas obras de William Shakespeare, embora relativamente obscuro na Europa continental na época. Apesar de sua crítica ao desvio de Shakespeare dos padrões neoclássicos, Voltaire apreciou a capacidade do dramaturgo de criar um drama poderoso e envolvente, algo que ele sentiu que faltava nas produções teatrais francesas. À medida que a influência de Shakespeare começou a se espalhar na França, Voltaire procurou desafiá-la com suas peças, tentando mostrar o equilíbrio entre a profundidade emocional e os padrões teatrais clássicos. O tempo de Voltaire na Inglaterra o expôs ao funeral do visionário cientista, Sir Isaac Newton, deixando uma profunda impressão no escritor francês. Inspirado por nomes como Newton e outros intelectuais britânicos, Voltaire começou a publicar ensaios em inglês que afirmavam sua recém-descoberta apreciação pela sociedade e cultura britânicas. Esses primeiros trabalhos incluem “Sobre as Guerras Civis da França, extraídos de manuscritos curiosos” e “Sobre a poesia épica das nações européias, de Homer Down a Milton”. Depois de dois anos e meio morando na Grã-Bretanha, Voltaire voltou para a França com uma visão transformada sobre política, religião e cultura. Suas experiências na Inglaterra moldaram suas perspectivas sobre liberdades civis, tolerância e os méritos de uma monarquia constitucional, influenciando significativamente seus esforços filosóficos e literários subsequentes. Pouco depois de retornar à França, a admiração de Voltaire pela sociedade britânica culminou na publicação de “Cartas sobre a nação inglesa” (publicado como “Lettres philosophiques” em francês). Esta coleção de ensaios incitou controvérsia devido ao seu elogio à monarquia constitucional da Grã-Bretanha, à liberdade religiosa e ao respeito pelos direitos humanos. Apesar de enfrentar censura e reação em sua terra natal, Voltaire permaneceu inabalável em suas convicções, profundamente influenciado por seu tempo na Grã-Bretanha. Relacionamento com Émilie du Châtelet (1733-1749) No início da década de 1730, Voltaire envolveu-se romanticamente com Gabrielle Émilie le Tonnelier de Breteuil, Marquise du Châtelet. Émilie du Châtelet era uma potência intelectual e uma matemática brilhante, o que era altamente incomum para uma mulher de seu tempo. Ela foi inflexível sobre seu desejo de se envolver no trabalho intelectual e permaneceu dedicada a suas atividades, apesar da pressão social para cumprir os papéis tradicionais de gênero. Apesar de casada e mãe de três filhos, Émilie du Châtelet embarcou em um relacionamento apaixonado e intelectualmente estimulante com Voltaire. Os dois compartilhavam um intenso amor pela ciência, literatura e filosofia que os ajudou a formar um vínculo profundo. Eles trabalharam juntos em vários projetos científicos e realizaram experimentos em sua casa comum, Cirey, um castelo no nordeste da França. A parceria deles foi, sem dúvida, produtiva. Tanto Du Châtelet quanto Voltaire contribuíram para o trabalho um do outro, enriquecendo seus respectivos campos e ampliando os limites da investigação intelectual. Por exemplo, Du Châtelet traduziu e expandiu o Principia Mathematica de Isaac Newton, que foi fundamental na promoção de suas ideias científicas inovadoras na França. Por sua vez, Voltaire aprimorou suas habilidades em matemática sob sua orientação, incorporando essas ideias em seus escritos filosóficos. Seu relacionamento único, baseado na busca intelectual e no respeito mútuo, persistiu até 1749, quando Émilie du Châtelet faleceu tragicamente devido a complicações decorrentes do parto. Voltaire lamentou-a profundamente e continuou a reconhecer seu notável legado como cientista, matemática e figura influente do Iluminismo. Exílio na Prússia (1750-1753) Na década de 1750, Voltaire recebeu um cobiçado convite do rei Frederico, o Grande, da Prússia, que admirava a sagacidade e o intelecto do escritor. Ansioso por buscar oportunidades intelectuais na corte de Frederico, Voltaire deixou a França e mudou-se para a Prússia. Ele foi calorosamente recebido e os dois homens desfrutaram de uma admiração mútua um pelo outro, discutindo literatura, filosofia e política. No entanto, as tensões começaram a surgir entre Voltaire e Frederick devido a divergências sobre o trabalho criativo, filosofia e assuntos pessoais. O relacionamento inicialmente promissor se deteriorou, levando à saída de Voltaire da Prússia depois de apenas três anos. Vida em Genebra e Ferney (1755-1778) Depois de deixar a Prússia, Voltaire se estabeleceu em Genebra, onde continuou a escrever e apoiar causas justas. No entanto, os rígidos regulamentos na cidade protestante tornaram-se sufocantes, o que o levou a se mudar mais uma vez, desta vez para Ferney, um pequeno vilarejo perto da fronteira franco-suíça. Em sua residência em Ferney, Voltaire passou a maior parte das últimas duas décadas de sua vida. Dedicou-se a várias atividades intelectuais, incluindo a construção de uma grande biblioteca e um teatro. Voltaire também continuou a defender indivíduos perseguidos injustamente, emprestando sua voz e influência à causa deles. Anos Finais e Morte (1778) Em 1778, aos 83 anos, Voltaire voltou a Paris para supervisionar a produção de sua peça “Irene”. Ele foi recebido com grande entusiasmo pelo público parisiense, que o saudou como uma figura heróica do Iluminismo. No entanto, a saúde de Voltaire começou a piorar rapidamente e ele faleceu em 30 de maio de 1778. Apesar de suas críticas ao longo da vida à Igreja, Voltaire, ciente do potencial de seus restos mortais serem descartados em solo não consagrado, foi enterrado secretamente em uma abadia em Champagne. Seu túmulo foi posteriormente transferido para o Panteão de Paris, onde seus restos mortais repousam ao lado de outros grandes pensadores franceses, como Rousseau e Victor Hugo. Obras e legado de Voltaire Ao longo de sua vida, Voltaire escreveu inúmeras obras que deixariam uma impressão duradoura nas gerações futuras. Algumas de suas obras mais notáveis incluem "Candide", "Zadig", "The Age of Louis XIV" e "The Maid of Orleans". A escrita prolífica de Voltaire serviu como testemunho de sua genialidade e de sua dedicação incansável à busca do conhecimento e do progresso. Como pioneiro do Iluminismo e feroz defensor das liberdades civis, as ideias e contribuições de Voltaire deixaram uma marca indelével no mundo. Seu compromisso inabalável em desafiar o status quo e promover a liberdade de pensamento continua sendo um exemplo inspirador para todos os que lutam pelo progresso intelectual e social. Voltaire e a Maçonaria La Loge des Neuf Sœurs (As Nove Irmãs), fundada em Paris em 1776, foi uma proeminente Loja Maçônica Francesa do Grande Oriente da França que foi influente na organização do apoio francês à Revolução Americana. O nome se referia às nove Musas, filhas de Mnemosyne/Memory, patronas das artes e das ciências desde a antiguidade e há muito tempo significativas nos círculos culturais franceses. Em 1778, ano em que Voltaire se tornou membro, Benjamin Franklin e John Paul Jones também foram aceitos. Benjamin Franklin tornou-se Mestre da Loja em 1779 e foi reeleito em 1780. Quando Franklin, após uma longa e influente estada na Europa, retornou à América para participar da redação da Constituição, Thomas Jefferson, um não maçom, assumiu o cargo de enviado americano. Voltaire foi iniciado na loja em 4 de abril de 1778, em Paris; seus regentes foram Benjamin Franklin e Antoine Court de Gébelin. Ele morreu no mês seguinte. Sua filiação, no entanto, simbolizava a independência de espírito que Les Neuf Sœurs representava. Benjamin Franklin, um dos Pais Fundadores dos Estados Unidos, foi uma figura chave na loja. Ele serviu como Venerável Mestre da loja de 1779 a 1781. Sua influência e conexões desempenharam um papel significativo na promoção do relacionamento entre a França e os emergentes Estados Unidos durante a Revolução Americana. Em conclusão, Voltaire, Benjamin Franklin e a Loge des Neuf Sœurs em Paris estavam interligados. Todos faziam parte desta influente Loja Maçônica, que desempenhou um papel significativo no cenário cultural e político da época. --- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/malhete-podcast/message
Você sabia que a liberdade de pensamento é garantida pela declaração universal de direitos humanos e também pela constituição brasileira? O Opinião aproveita que no próximo dia 14 de julho é comemorado o Dia da Liberdade de Pensamento para falar sobre o assunto. A data foi instituída em razão da Queda da Bastilha e marca os ideais da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Existe um limite para que essas opiniões sejam manifestadas ou isso pode ser considerados um tipo de censura? Vamos receber dois estudiosos da área do direito que vão falar sobre liberdade de pensamento na Internet e também sobre a PL das Fake News. Estarão conosco os advogados ROFIS ELIAS FILHO, professor e especialista em direito de informática e RENATO OPICE BLUM, professor de direito digital.
O diretor do Lusojornal dá conta do cenário no país, em pleno Dia da Bastilha, e duas semanas depois dos fortes protestos. Carlos Pereira afirma que o reforço "não se nota muito nas ruas de Paris".See omnystudio.com/listener for privacy information.
Em 1669, um homem foi levado à prisão de Pinerolo, uma comuna italiana que pertencia à França na época. Apesar de não aparentar ser um prisioneiro extraordinário, sua chegada e o período que foi mantido encarcerado foram tratados com o mais absoluto sigilo pelos envolvidos no caso. Apenas em 1687 que o mundo saberia sobre a existência desse homem. Um boletim de notícias manuscrito espalhou o rumor de que um prisioneiro usando uma máscara de ferro havia sido levado para a ilha de Sainte-Marguerite, Riviera Francesa. Em setembro de 1698, o jornal Gazette d'Amsterdam noticiou para toda a Europa quando o carcereiro que guardava o homem misterioso foi transferido para a Bastilha, levando o mesmo consigo, tornando assim, esse relato um dos maiores mistérios da França. No episódio de hoje, os investigadores Andrei Fernandes, Ira Croft , Gabi Larocca e Tupá Guerra tentam desvendar: quem seria o homem da máscara de ferro? Vamos?
Em 1669, um homem foi levado à prisão de Pinerolo, uma comuna italiana que pertencia à França na época. Apesar de não aparentar ser um prisioneiro extraordinário, sua chegada e o período que foi mantido encarcerado foram tratados com o mais absoluto sigilo pelos envolvidos no caso. Apenas em 1687 que o mundo saberia sobre a existência desse homem. Um boletim de notícias manuscrito espalhou o rumor de que um prisioneiro usando uma máscara de ferro havia sido levado para a ilha de Sainte-Marguerite, Riviera Francesa. Em setembro de 1698, o jornal Gazette d'Amsterdam noticiou para toda a Europa quando o carcereiro que guardava o homem misterioso foi transferido para a Bastilha, levando o mesmo consigo, tornando assim, esse relato um dos maiores mistérios da França. No episódio de hoje, os investigadores Andrei Fernandes, Ira Croft , Gabi Larocca e Tupá Guerra tentam desvendar: quem seria o homem da máscara de ferro? Vamos?
Alessandro di Cagliostro (1743 ou 1749 - 1795) é mais um mistério do século XVIII: em sua Carta ao povo inglês de 1786, ele admitiu não ser "conde, nem marquês, nem capitão", embora tenha assumido esses títulos como "aqueles que querem manter o anonimato" fazem. Ao mesmo tempo, ele negou veementemente ser o trapaceiro palermitano Giuseppe Balsamo, nascido em 1743 e desaparecido em 1775, um ano antes da aparição repentina do "Conde de Cagliostro" em Malta em 1776. Cagliostro persistiu nessa negação (assim como na negação da identidade de sua esposa Serafina Feliciani com Lorenza Feliciani, que havia se casado com Balsamo) durante toda a sua vida, afirmando ter nascido em 1749. Essa questão continua a intrigar e dividir os biógrafos até os dias de hoje. Logo ele foi acusado de bruxaria e apropriação indevida do colar de uma cliente (acusação falsa), o que o levou a passar algum tempo na prisão. Em 1777, ele teve que deixar a Inglaterra, onde havia sido iniciado na maçonaria. Ele passou por Haia, Mitau, São Petersburgo, Varsóvia, deixando em todos esses lugares uma reputação de mago e curandeiro. Em 1779, ele chegou a Estrasburgo, importante centro ocultista, onde suas habilidades como taumaturgo lhe garantiram uma recepção triunfal e a amizade do cardeal de Rohan, amigo pessoal do rei Luís XVI. Esse foi um período filantrópico na vida de Cagliostro, que curava e curava - como testemunhas, mesmo as hostis, afirmavam - recusando-se categoricamente a receber pagamento. Em 1783-84, ele passou por Nápoles e Lyon, e nessas duas cidades fundou um novo rito maçónico, a Maçonaria Egípcia, da qual se proclamou Grande Copta. Em 1785, ele chegou a Paris, famoso e participou do congresso dos Filadelfos convocado por Savalette de Langes para unificar o maior número possível de ritos maçónicos, o que, como muitas iniciativas desse tipo, acabou em um fracasso total. Introduzido na corte pelo cardeal de Rohan, ele se envolveu em um dos casos mais obscuros do século, o do colar da rainha, comprado pelo cardeal que acreditava estar agindo secretamente em nome de Maria Antonieta, mas que na verdade havia sido enganado pela condessa de La Motte. Quando a La Motte foi descoberta, ela acusou Cagliostro e sua esposa, que foram presos juntamente com o próprio cardeal de Rohan. Cagliostro (a quem os colares definitivamente não trouxeram boa sorte) conseguiu provar sua inocência no caso e, além disso, demonstrou ter avisado o cardeal sobre a La Motte. Ele foi absolvido após passar quase um ano na Bastilha, mas teve que deixar a França. Ressentido, ele dirigiu seus ataques à Bastilha, profetizando em uma Carta aos franceses que um dia a fortaleza-prisão se tornaria "um passeio público e então será o símbolo da liberdade". Em 1789, com o surgimento do símbolo revolucionário da Bastilha, essa profecia foi lembrada, e isso levantou suspeitas sobre Cagliostro em várias polícias europeias como um perigoso revolucionário. Sua fama, um pouco enfraquecida após o caso do colar, ainda despertava interesse, e ele continuava percorrendo a Europa exercendo a profissão de curandeiro e abrindo lojas maçónicas "egípcias": Londres, Bienne, Turim, Gênova, Rovereto, Trento. Aqui, o bispo Pietro Virgilio Thun o aconselhou, em 1789, a ir para Roma, assegurando-lhe que lá ele não seria tão mal visto. No entanto, o ano foi mal escolhido porque as ideias revolucionárias eram atribuídas à maçonaria egípcia de Cagliostro (segundo alguns, até mesmo o primeiro uso do lema "Liberdade, igualdade ou morte", ancestral de "Liberdade, Igualdade, Fraternidade", que parece ser de origem apenas no século XIX), o que não poderia ser popular no Estado Pontifício em 1789. Além disso, a maçonaria havia sido condenada pela Igreja Católica, e Cagliostro não conseguiu resistir à abertura de uma loja "egípcia" em Roma, o que atraiu poucos adeptos. Poucos, mas o suficiente para chamar a atenção das autoridades, que, obtendo também um testemunho questionável de sua esposa Serafina-Lorenza (que terminaria seus dias em um convento) e mais uma vez identificando o conde como Giuseppe Balsamo, sempre procurado por seus antigos crimes, o prenderam e condenaram em 1791. Encarcerado na fortaleza de San Leo, surgiram todo tipo de lendas, inclusive a de que ele teria escapado disfarçado de monge e ido para os Estados Unidos, onde ainda levaria uma existência imortal. No entanto, parece crível a versão oficial de que ele teria morrido em 1795 devido a um ataque de apoplexia. Cagliostro deixou para o mundo da magia iniciática a figura mítica do iniciado perseguido pelo Trono e pelo Altar, mas também um ritual egípcio destinado a fazer sucesso. --- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/malhete-podcast/message
A tomada da Bastilha: Mulheres na Revolução Francesa --- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/pedro-mendes-ju00fanior/message
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A menos de dois anos para os Jogos de 2024, o Comitê Paralímpico de Paris organizou neste sábado (8) uma grande operação para promover a competição e apresentar algumas modalidades desconhecidas do público. O Dia Paralímpico é uma iniciativa inédita, que contou com o apoio do Comitê Paralímpico Internacional. A Praça da Bastilha, um dos cartões postais da cidade, foi o palco de diversas atividades organizadas para divulgar os Jogos Paralímpicos. Uma grande estrutura foi montada ao redor do Obelisco para que cerca de 100 atletas e para-atletas pudessem se apresentar, ensinar e interagir com o público. O presidente do Comitê Paralímpico Internacional, o brasileiro Andrew Parsons prestigiou o evento. "A ideia é levar o esporte paralímpico para as pessoas que não estão acostumadas, entender como funciona, entender os desafios e isso faz com que tenham uma visão diferente das pessoas que têm deficiências. Por isso que estamos em uma Praça (da Bastilha), um local turístico", disse. "E entendendo mais, você terá mais fãs dos esportes paralímpicos. Um pode gostar mais do ciclismo, do atletismo, do judô… Assim a gente vai conquistando um público cativo maior para as modalidades", explicou o presidente do Comitê Paralímpico Internacional. "É a primeira vez que temos o Dia Paralímpico em duas edições antes dos Jogos, em 2022 e 2023. É muito importante para promover os Jogos Paralímpicos. A gente sabe que nem todos conhecem ainda, mas o mais importante é promover a inclusão, a participação plena de toda a sociedade através dessa plataforma incrível que é o esporte. Então, é importante que todos assistam aos Jogos Paralímpicos, comprem ingressos, assistam na tevê, essa é a mensagem do dia de hoje", completou. No total, as instalações permitiram a apresentação de 15 modalidades paralímpicas, entre vôlei sentado, salto em distância, bocha, basquete em cadeira de rodas, escalada. A maioria dos para-atletas que participaram da operação integra o Comitê paralímpico francês e muitos participaram também para aprender outras disciplinas. A para-atleta Nélia Barbosa, francesa de origem portuguesa, que disputa competição de canoagem, participou das atividades de vôlei, mas espera da próxima vez mostrar sua modalidade. "Este ano a canoagem não foi inscrita, mas espero que possa falar no ano que vem. Esse Dia é importante para divulgar as modalidades paralímpicas e Jogos Paralímpicos na França", defende. Alexandra Nouchet, para-atleta da equipe francesa de natação, também fez questão de se envolver com a jornada. "É um dia histórico, pois é a primeira vez que fazemos um Dia Paralímpico. É um dia para explicar e mostrar as modalidades nas quais somos especialistas. É um grande prazer ensinar a outras atletas e também outras pessoas, crianças, adultos, homens e mulheres como praticar uma modalidade esportiva. A noção de prazer é muito importante, deixar as pessoas se divertiram e ter prazer, é o mais importante". A parisiense Magali trouxe a filha de 10 anos para participar das atividades. "É muito legal, pois podemos aprender disciplinas que não conhecemos, ou pelo menos, praticadas de outras formas. Realmente é uma ótima iniciativa". A garota também aprovou o projeto: "Eu gosto de esporte, fiz um pouco de basquete. E achei muito bom ter oportunidade de aprender e gostei dessa jornada antes dos jogos Olímpicos e Paralímpicos." Normalizar modalidades paralímpicas Cameron Leslie, da equipe nacional de rugby em cadeiras de rodas da Nova Zelândia, de escala em Paris a caminho da Dinamarca para o campeonato mundial, fez questão de prestigiar o evento. "É legal isso, faltando dois anos para os Jogos Paralímpicos. É realmente impressionante ver as pessoas chegando e conhecendo mais sobre esses esportes e para os atletas que estão aqui também. É bom ver as atividades para pessoas com deficiência serem normalizadas e o que todas essas pessoas e atletas podem fazer em um espaço esportivo", declarou. Um dos destaques da programação foi a para-atleta afegã de taekwondo Zakia Khudadadi. Ela se tornou conhecida por conseguir fugir do Afeganistão durante a tomada de Cabul pelos talibãs. A jovem de 23 anos, que nasceu com o braço esquerdo atrofiado, disputou seus primeiros jogos paralímpicos em Tóquio e depois se instalou na França com o restante de seus familiares, retirados pelas forças franceses. Zakia conseguiu apoio e patrocínio de uma instituição bancária e treina no INSEP, o centro de excelência e de alto rendimento para atletas olímpicos e paralímpicos da França. "Todos os dias treino no INSEP com treinador, e muito fisicamente. Por enquanto faço competições como refugiada, mas talvez pela França em 2024", diz, esperançosa em obter a nacionalidade francesa. Ourti Sztantman, seu treinador, elogiou sua atleta: "É uma grande lutadora, uma atleta que quer vencer, muita implicada e determinada. Ela quer vencer por ela mesma, por sua família e pela honra do Afeganistão. Ela representa também o orgulho das mulheres e das pessoas com deficiência que querem vencer. Ela tem muita vontade e é como qualquer outra atleta de alto nível no INSEP. Tem muita vontade de vencer". Os Jogos Paralímpicos de Paris acontece de 8 agosto a 9 de setembro de 2024.
Marcelo (que fez alertas na Saúde), António Costa (que abriu a caça ao nome do novo ministro) e André Ventura (que está a organizar a Tomada da Bastilha no Chega)são o Bom, o Mau e o Vilão.See omnystudio.com/listener for privacy information.
Nesta semana, o historiador Daniel Gomes de Carvalho volta ao Na Trilha da História para explicar os principais acontecimentos de 1789, ano da Revolução Francesa. Neste segundo episódio sobre o tema, o pesquisador aborda temas como a queda da Bastilha e os protestos das peixeiras de Paris, as chamadas “jornadas de outubro”.
Neste episódio, o Na Trilha da História recebe o historiador Daniel Gomes de Carvalho para explicar o contexto da Revolução Francesa. Ele mostra como funcionava a monarquia absolutista e explica os grupos que formavam a sociedade francesa, como a nobreza, o clero e a burguesia. O pesquisador ainda detalha os perfis do rei Luís XVI e da rainha Maria Antonieta. Nas próximas semanas, o historiador volta ao programa para falar sobre a queda da Bastilha e os próximos passos da revolução. O historiador Daniel Gomes de Carvalho é doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), e autor do livro Revolução Francesa, da coleção História na Universidade, lançado recentemente pela editora Contexto.
Hoje falamos sobre a tomada da bastilha, uma antiga fortificação medieval que era símbolo do poder absoluto da monarquia francesa e que caiu por terra. Ela era usada para aprisionar revolucionários e críticos ao governo do rei da França e foi um evento importante da revolução francesa, que não abalou apenas aquele país, mas sim todo o mundo, além de inspirar revoluções de diversos povos. Uma grande batalha marcou esse dia e a vitória foi dos revolucionários que impuseram seu poder para dar um basta a tirania de Luis XVI, que teve sua cabeça cortada por esbanjar enquanto o povo passava fome. MTST, A LUTA É PRA VALER! #Revolução #França #Monarquia #Absolutismo
Os parisienses exasperados pelas restrições e o imobilismo do rei Luis XVI se revoltam. À procura de armas, invadem antes o Hôtel des Invalides e depois se dirigem à prisão da Bastilha. O governador De Launay, que possui as chaves da fortaleza, é forçado a entregá-las aos insurgentes. Entretanto, certos revolucionários conseguem atravessar as muralhas e De Launay ordena que se abra fogo. Mais de 80 parisienses são mortos. No final da tarde, o governador capitula e uma hora mais tarde é fuzilado. A tomada da Bastilha em 14 de julho de 1789 assinala o ponto de partida da Revolução Francesa, uma década de distúrbios políticos e terror, em que o rei Luis XVI foi destronado e dezenas de milhares de pessoas — inclusive sua mulher, Maria Antonieta — foram executadas na guilhotina. O símbolo do arbítrio real cai. O Antigo Regime vai chegando ao fim.Veja a matéria completa em: https://operamundi.uol.com.br/historia/5042/hoje-na-historia-1789-revolucao-francesa-comeca-com-a-queda-da-bastilha-em-paris----Quer contribuir com Opera Mundi via PIX? Nossa chave é apoie@operamundi.com.br (Razão Social: Última Instancia Editorial Ltda.). Desde já agradecemos!Assinatura solidária: www.operamundi.com.br/apoio★ Support this podcast ★
Não é exagero dizer que a Revolução Francesa transformou a história da humanidade. A tomada da Bastilha, que data de 1789, é celebrada a cada dia 14 de julho sendo, há mais de 140 anos, a festa nacional da França. O dia 14 de julho é sinônimo de festa, de dança, de luzes e de fogos de artifício por toda parte! Um dos símbolos da República é Marianne, a figura alegórica de uma mulher. A personificação nacional. O que você sabe sobre ela?
Berço da Revolução Francesa, durante 1991 a 1997, o 11o distrito de Paris foi o palco de uma série de assassinatos a mulheres jovens e atraentes que viviam sozinhas. A falta de experiência e de um banco de dados de DNA possibilitou que o assassino conhecido como Besta da Bastilha atuasse impune por anos. Até que um dia, a ciência venceu... Ei, quer ajudar o Crimenotório a continuar funcionando? Escuta a gente na única plataforma que monetiza podcasters brasileiros, a Orelo. Lá tem conteúdo exclusivo também https://app.orelo.cc/FNtq Para mais informações me segue no instagram @thaicontacasos --- Send in a voice message: https://anchor.fm/thaicontacasos/message
François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire, cujos escritos satíricos faziam chacota da vida íntima de Felipe d'Orleans, é enviado aos 23 anos à Bastilha em 16 de maio de 1717, por ultraje ao príncipe-regente. Ali permaneceria por 11 meses, quando escreveu Oedipus e adotou o pseudônimo de Voltaire, um anagrama de seu nome Arouet LJ (Le Jeune – o jovem). O U e o V, o J e o I se confundiam à época.Veja a matéria completa em: https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/11937/hoje-na-historia-1717-voltaire-e-preso-na-bastilha----Quer contribuir com Opera Mundi via PIX? Nossa chave é apoie@operamundi.com.br (Razão Social: Última Instancia Editorial Ltda.). Desde já agradecemos!Assinatura solidária: www.operamundi.com.br/apoio★ Support this podcast ★
No final do reinado de Luis XIV, em 19 de novembro de 1703, um misterioso prisioneiro morre na prisão da Bastilha, em Paris. É enterrado alguns dias mais tarde sob o nome de Marchiali no cemitério Saint-Paul. A literatura e a lenda iriam fazer uso do personagem e torná-lo célebre sob o epíteto de "o Homem da Máscara de Ferro", já que ninguém havia jamais podido ver seu rosto, coberto sempre por uma máscara de veludo negro, e não de ferro.Veja a matéria completa em: https://operamundi.uol.com.br/historia/32482/hoje-na-historia-1703-morre-o-homem-da-mascara-de-ferro----Quer contribuir com Opera Mundi via PIX? Nossa chave é apoie@operamundi.com.br (Razão Social: Última Instancia Editorial Ltda.). Desde já agradecemos!Assinatura solidária: www.operamundi.com.br/apoio★ Support this podcast ★
As Cruzadas trouxeram o renascimento das rotas comerciais entre Europa e Ásia, mas uma nova classe social emerge fora do feudo. Este é o Diário da Bastilha, do Diplomatas de Sealand! Apoie nosso trabalho em: https://apoia.se/diplomatasdesealand --- Send in a voice message: https://anchor.fm/sociedade-curva-de-rio/message
Em 14 de julho de 1789 ocorreu a Tomada da Bastilha, que foi o estopim para a Revolução Francesa, demarcando o início da nossa Idade Contemporânea! É neste contexto histórico que os termos "esquerda" e "direita" se referindo às posições políticas apareceram pela primeira vez. Se você está cansado de ser chamado de "esquerdista", ou "direitista", às vezes durante a mesma hora do dia, por pessoas que não sabem o que isso significa, nós te entendemos completamente! ;-) Então Vem Cienciar conosco e vamos levar o debate histórico e político de qualidade para a nossa sociedade!
O conteúdo queridinho dos alunos, a Revolução Francesa, tem como início o dia 14 de julho de 1789, quando a Bastilha, prisão particular do rei Luís XVI, era tomada por manifestantes em Paris. Sete prisioneiros políticos eram soltos. A Bastilha era uma espécie de grande símbolo do absolutismo, que ao ser derrubada, representou também a derrubada desse absolutismo. O rei Luís XVI naquele momento ficou com medo do desenrolar dos revolucionários e acabou demonstrando uma certa participação com o movimento. No início os revolucionários não tinham consenso sobre o que mudar na França, mas definitivamente proclamar uma República e ainda por cima guilhotinar o rei não estavam nos planos iniciais. O que aconteceu que mais impactou e radicalizou o movimento foi a tentativa de fuga do rei para os países absolutistas como a Prússia e a Áustria, que temiam que a revolução se alastrasse e chegasse até lá. Quando o rei foi capturado ele foi julgado como traidor da nação e guilhotinado em praça pública. Esse evento marcou uma mudança profunda no mundo ocidental da época. É até hoje considerado por inúmeros historiadores como a grande passagem da Idade Moderna para a Idade Contemporânea - a que vivemos hoje.
As atividades da sua mediateca são uma das melhores maneiras de aprender francês. Além do Blá Blá Café às terças para treinar a língua, o IFP tem a gigante biblioteca virtual Culturethèque. Joana Valente conta-nos mais.
Hoje é dia de saldar a revolução, viva a revolução que mudou o mundo para sempre. É claro que falo da Revolução Francesa de 1789, do 14 de julho há 232 anos da tomada da Bastilha. Ali teve início o fim do antigo regime. A partir dali, a alma desse sistema vigente estrebuchou. Entre processos e excessos o iluminismo contribuiu com ideias que transformaram o mundo.
Pelo menos 1146 migrantes morreram tentando chegar a Europa em 2021; Protestos em Cuba já somam um morto e mais de 100 detidos; França comemora festa do Dia da Bastilha. Uma parceria da Agência Radioweb e da Rádio França Internacional.
O conteúdo queridinho dos alunos, a Revolução Francesa, tem como início o dia 14 de julho de 1789, quando a Bastilha, prisão particular do rei Luís XVI, era tomada por manifestantes em Paris. Sete prisioneiros políticos eram soltos. A Bastilha era uma espécie de grande símbolo do absolutismo, que ao ser derrubada, representou também a derrubada desse absolutismo. O rei Luís XVI naquele momento ficou com medo do desenrolar dos revolucionários e acabou demonstrando uma certa participação com o movimento. No início os revolucionários não tinham consenso sobre o que mudar na França, mas definitivamente proclamar uma República e ainda por cima guilhotinar o rei não estavam nos planos iniciais. O que aconteceu que mais impactou e radicalizou o movimento foi a tentativa de fuga do rei para os países absolutistas como a Prússia e a Áustria, que temiam que a revolução se alastrasse e chegasse até lá. Quando o rei foi capturado ele foi julgado como traidor da nação e guilhotinado em praça pública. Esse evento marcou uma mudança profunda no mundo ocidental da época. É até hoje considerado por inúmeros historiadores como a grande passagem da Idade Moderna para a Idade Contemporânea - a que vivemos hoje. See omnystudio.com/listener for privacy information.
Apresentação: Lucas Agrela O Exame Flash desta quarta-feira, 14, destaca a participação dos representantes da Precisa Medicamentos na CPI da Covid, o debate sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2022 e as medidas de proteção dos franceses no feriado da Bastilha. See omnystudio.com/listener for privacy information.
Ulysse e Léonie chegaram a Lisboa em 2015 para tirar um mestrado. Em 2017, abriram a Fromagerie Maître Renard em Lisboa. Preparam-se para abrir outra loja em Cascais. Léonie Benoist fala-nos desta obsessão por queijos.
Em 2017, o parisiense Benjamin Gonthier abria a Galeria Foco na Rua da Alegria, em Lisboa, e com isso começava um intercâmbio cultural de artistas contemporâneos franceses e portugueses.
A gente tá palpiteira! A gente quer comentar e se posicionar! Kkkkkk. Fizemos uma seleção de assuntos enviados pelos ouvintes para darmos nossa opinião com Thiago Guimarães e Diego Bargas. O que achamos do Canal de Suez? Qual nosso posicionamento na redução da caixa de bombons? Faustão e Selena se aposentarão juntos? A queda da Bastilha forçou por likes? LOTUS Chamar preconceito de “mimimi” Vestidos virtuais Mosca de banana MERYL Montero (Call Me By Your Name) Ratchet and Clank Maya Rudolph de Minnie Riperton INTERESSANTENEY CLIPES: “Vogue”, “Express Yourself”, “Oh Father” e “Bad Girl” da Madonna SÉRIE: Histórias para Vestir TIKTOK: Kevin James Thorton ARTISTA: Arlo Parks ME AJUDA, WANDA! O boy é perfeito mas as cuecas são PODRES! Dopada de remédio, tive as nudes vista pela minha mãe. Quero amarrar ele mas ele tem medo de eu desmaiar! Wanda, minha vida virou um “Eu Me Importo” real! Podcast #338 apresentado por: @phelipecruz @eusousamir @santahelena @orathiago @diegobargas Edição / Produção: Felipe Dantas (dantas@papelpop.com / @apenasdantas) Quer ter seu caso lido em nosso podcast? Mande um desabafo, uma rapidinha, ou pergunte curiosidades para o e-mail redacao@papelpop.com. Coloque qualquer coisa com "Wanda" no assunto! Toda quinta-feira, às 13h17, um episódio novo, exclusivamente no Spotify Learn more about your ad choices. Visit podcastchoices.com/adchoices
A artista portuguesa Cátia Esteves vai participar, pela primeira vez, na Noite Branca de Paris, este sábado, com uma instalação de 12 esculturas monumentais suspensas na Ponte de Notre-Dame. As obras, que representam nuvens, são iluminadas do interior e vão irradiar sombras e volumes num ambiente imersivo junto ao rio Sena. É a primeira vez que a artista portuguesa Cátia Esteves, de 32 anos, vai expor na Noite Branca de Paris. Para este sábado, ela preparou uma instalação chamada “Sweat Dreams”, que vai estar sob um dos arcos da ponte de Notre-Dame. São 12 esculturas feitas de papel reciclado, iluminadas por uma cor dourada e que projectam sombras e movimentos no espaço. “Sweat Dreams é uma instalação que vai estar em baixo da ponte de Notre-Dame, em Paris. É uma instalação luminosa. Vai ser composta por 12 esculturas que vão estar suspensas em baixo da ponte. Essas esculturas em forma de nuvem estarão iluminadas e vão criar toda uma atmosfera dentro dessa ponte que vai receber os visitantes, proporcionando um momento de calma, de reflexão. É um lugar íntimo e o meu desejo é de poder permitir aos espectadores um momento de paz entre a água do rio Sena que vai estar a correr e estas nuvens suspensas assim com um universo meio de sonho”, descreve a artista. Arquitecta de formação, Cátia Esteves teve necessidade de se exprimir através da gestualidade, da materialidade e da sensibilidade da escultura, mantendo-se fiel às noções de espaço e “cenografias habitáveis” em que convida o espectador para “fazer parte integrante deste universo”. Por isso, as esculturas jogam com a luz, as sombras, os volumes e com a própria arquitectura da Ponte de Notre-Dame. No seu trabalho, Cátia Esteves usa “materiais do quotidiano”, como papel, fio metálico, esferovite ou cartão, e transforma-os em peças nobres, em autênticas obras de arte. Em “Sweat Dreams” triturou, manuseou e moldou ao detalhe papel reciclado. Para a artista, esta é uma forma de lembrar que “os recursos naturais vêm de uma fonte que não é inesgotável”. “Eu transformo esse papel por um processo bastante longo em que ele é triturado, depois é manuseado para ficar uma pasta e é esse novo material que aplico sobre moldes de um só uso – portanto são peças únicas – e este material rigidifica e dá corpo à obra. É a minha forma de dar uma resposta também à nossa forma de consumir, à nossa percepção do valor das coisas e dos materiais que nos envolvem.” No seu atelier, perto de Bastilha, as suas obras parecem flutuar no espaço, entre grandes candeeiros de papel que parecem de filigrana, tiras que dançam no espaço, nuvens que parecem corais... A natureza é omnipresente, assim como a noção de tempo - quer no que é representado, quer no papel que o tempo tem na fabricação e vida das suas obras. Cátia Esteves saiu de Portugal há 10 anos, esteve no Brasil a concluir a tese de mestrado de arquitectura e depois foi para a Bélgica para trabalhar como arquitecta. Foi aí que começou a fazer escultura porque “sentia a necessidade” de se “expressar quanto aos recursos naturais e criar coisas que fossem palpáveis”. Graças às primeiras esculturas, as “gotas”, começou a ser convidada para participar em exposições em França, para onde se mudou há seis anos. Actualmente, Cátia está também a trabalhar numa escultura monumental para a Mairie du 11ème, em Paris e a preparar uma “floresta” no Boulevard Daumesnil, em Paris, com Gérard Desquand, presidente do júri Artesanato de Arte da Fondation Banque Populaire e autor de gravuras em baixo relevo sobre latão. Em Março de 2021, a artista vai expor no Museu Mobilier National/Les Gobelins, em Paris.
O Ministério Público francês abriu uma investigação ao ataque desta sexta-feira por suspeita de terrorismo, depois de duas pessoas terem sido esfaqueadas perto das antigas instalações do jornal satírico Charlie Hebdo. "Este não foi um ataque ao acaso. O autor está a ser interrogado por isso logo veremos o que dirá. O que vivemos hoje foi exactamente a cena comparável aos ataque de Janeiro de 2015", aponta um dos responsáveis da agência de imprensa e de produção de conteúdos para a televisão francesa Premières Lignes, Paul Moreira. Também Pedro Brito da Fonseca, realizador na agência Premières Lignes, sentiu que o cenário de 2015 se estava a repetir. "Em 2015 estava a acompanhar tudo pela rádio, mas hoje estava ao telefone com um colega da Premières Lignes quando ouvi, em directo, que estavam a ser atacados. Vim até à redacção e a polícia estava a marcar um perímetro de segurança", descreveu. Na redacção da produtora encontrava-se Paul Moreira que nos descreveu o que viveu esta manhã perto da avenida Richard Lenoir; "houve um ataque com arma branca de um terrorista contra duas pessoas da nossa agência, que tem sede no prédio onde se encontravam as instalações do Chalie Hebdo". Os dois jornalistas da agência ficaram feridos com gravidade "segundo o que nos foi dito, as duas vítimas não correm risco de morte", confirma o responsável da agência. As duas vítimas encontravam-se na rua, a fumar um cigarro, "tudo aconteceu de forma muito rápida. O autor tinha uma arma branca e tentou fazer o máximo de ferimentos", explica Paul Moreira, A polícia conseguiu localizar os autores do ataque com recurso às imagens das câmaras de vigilância instaladas na cidade de paris. "Foi uma intervenção rápida", descreve o responsável da produtora "Este sempre foi um lugar que permaneceu como um símbolo da liberdade de expressão e como um alvo das pessoas que querem manifestar vontade inversa", explica Paul Moreira. "A redacção do Charlie Hebdo está num lugar desconhecido, mas o que permanece acessível são os nossos escritórios", lembra. Duas pessoas foram detidas e estão sob custódia das autoridades, confirmaram o primeiro-ministro francês, Jean Castex, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, e o procurador-geral Jean-François Ricard. O principal suspeito do ataque tem 18 anos, nacionalidade paquistanesa já reconheceu a autoria do ataque. O homem é conhecido das autoridades por crimes, nomeadamente, por posse ilegal de arma. Foi detido na Praça da Bastilha com vestígios de sangue na roupa. O segundo suspeito tem 33 anos e foi detido horas mais tarde, junto à estação de metro Richard-Lenoir. O ataque acontece na terceira semana do julgamento dos atentados terroristas de Janeiro de 2015 e depois do jornal satírico Charlie Hebdo ter recebido novas ameaças do grupo terrorista Al Quaeda, depois de voltar a publicar as caricaturas de Maomé.
A convocação dos Estados Gerais e a queda da Bastilha.
Qual a importância histórica da Grande Revolução Francesa de 1789? Quais seus impactos na história da humanidade? Quais são suas lições para o movimento revolucionário da classe trabalhadora? Para discutir tudo isso conosco na transmissão de hoje, que faz parte da série "Revoluções de Julho", convidamos o camarada Pedro Henrique, psicanalista, bacharel pela PUC do Rio de Janeiro, mestre e doutorando em Saúde Coletiva pela UERJ, dirigente da Esquerda Marxista e coordenador do site Crítica Comunista. O Pedro fará a exposição desse evento, desde a Queda da Bastilha, até a queda da monarquia e início do governo jacobino. Acesse e conheça o site de cursos online, de conteúdo marxista, impulsionado pelos nossos militantes: https://www.criticacomunista.com/ ------------------------------------------------- EXPEDIENTE: Locução, técnica, produção musical, gravação e edição de áudio: André Mainardi Editoria e roteiro: André Mainardi, Evandro Colzani e Luiz Bicalho. Música: Sinfonia nº 3 em mi bemol maior (opus 55): Sinfonia Eroica, Ludwig van Beethoven.
Em 1791, mais de cem mil escravizados, liderados por Dutty Boukman, davam início ao maior processo revolucionário da América Latina. Até então conhecida como pérola do caribe, responsável por um lucro inimaginável aos cofres da coroa francesa, a ilha da Saint Domingue se lançava no caminho sem volta da Revolução. Após quase dois séculos de domínio francês, contando com quase meio milhão de escravizados, o Haiti pegava em armas. Inspirados pelo Vodú, organizados pelas guerrilhas, utilizando o próprio corpo como arma, derrotaram franceses, ingleses e espanhóis. Nem o exército e marinha do poderoso Napoleão Bonaparte puderam resistir. Toussaint L'Overture, Joseph Berkley, Vincent Ogé, Jean Jacques Dessalines: "permitam que eles falem, não somente suas cicatrizes". Para quem não esquece um 4 de Julho e adora postar foto da Bastilha no dia 14 do mesmo mês, nós apresentamos a Revolução Negra, Anti Racista e Anti Imperialista, do século XVIII. Contada por CLR James, Michel-Rolph Truillot e muitos outros intelectuais que saíram da região do Caribe. Com vocês, nosso 10 episódio, a parte 1 da Revolução Haitiana.
O setor cultural global usa de muita criatividade para sair da paralisia imposta pela epidemia do coronavírus. O universo digital foi o terreno propício para essas invenções. As lives de artistas são um sucesso, mas iniciativas de instituições mais tradicionais e elitistas, como a tricentenária Opéra de Paris, ajudaram e ajudam a animar os longos dias de quarentena. Opéra de Paris, que já tinha tido um início de temporada complicado por causa da greve contra a reforma da Previdência na França, foi obrigada com o confinamento no país, em 17 de março, a suspender todos os espetáculos previstos até julho. As famosas salas do Palácio Garnier e Bastilha ficarão fechadas até setembro, início da nova temporada. Os prejuízos são enormes, mas a Ópera National de Paris, uma instituição pública, aproveitou esse momento para se reinventar. Ela já tinha um projeto original com a realização de vídeos voltado exclusivamente para a internet chamado de “3ème Scène” (Terceiro palco). Mas com a crise do coronavírus redinamizou seu site na internet, reformou suas páginas nas redes sociais, e se abriu para o mundo, mostrando que, mesmo isolados, seus artistas continuam a trabalhar. Momentos do confinamento vividos pelos dançarinos e cantores líricos foram filmados e compartilhados. O vídeo “Dire merci” (dizer obrigado), realizado para agradecer os profissionais de saúde que lutam na linha de frente contra a Covid-19, foi postado em 16 de abril e viralizou. A montagem, assinada pelo cineasta Cédric Klapisch, mostra os bailarinos treinando em casa, sob a cadência da expressiva Romeo e Julieta, de Prokofiev, interpretada pela Orquestra da Ópera Nacional de Paris. Outros vídeos, postados semanalmente, propõem entrevistas ou perfis dos artistas da casa, que também dão aulas de balé clássico e de canto remotas. A ideia é fazer coisas simples para que mesmo amadores possam acompanhar os cursos, em francês. Espetáculos da temporada Mas a principal oferta da Ópera de Paris durante a quarentena é a disponibilibilização integral de espetáculos de dança e ópera da temporada. A cada semana, um novo espetáculo, filmado em parceria com o canal público France TV, é postado e disponível no mundo inteiro durante sete dias. A iniciativa permite que espectadores assíduos, como o professor de balé Marcos Verzani, brasileiro radicado em Paris há 30 anos, possam assistir aos espetáculos cancelados. Para ele, a oferta agrega potencialmente um público muito mais amplo e democratiza a oferta cultural, principalmente para quem não mora em Paris. “A Ópera, que é uma instituição difícil de aceitar mudanças, foi obrigada a se reiventar (...) Tem esse mito que os espetáculos da Ópera são impraticáveis, mas para quem mora aqui em Paris, que é o nosso caso, todo mundo que quer, a partir de € 10, € 20, consegue entrar. O grande lado positivo é justamente para as pessoas que não moram aqui. Que normalmente teriam que vir, pagar um hotel, transporte para poder chegar e ter acesso. Nesse sentido, é uma democratização muito bem-vinda”, diz Verzani. Até o momento, mais de 2,5 milhões de internautas já assistiram os vídeos, segundo a Ópera de Paris. Os espetáculos são filmados para serem, normalmente, exibidos em sessões especiais em salas de cinema. A qualidade das montagens e das filmagens dos vídeos disponibilizadas no site operadeparis.fr é elogiada por Marcos Verzani. “Eu tenho muitos alunos que preferem ir assistir no cinema do que estar num lugar não muito favorável na plateia da Ópera. Eu acho que isso também é uma bela maneira de permitir às pessoas que nunca viram, que nunca puderam ir, de ter uma ideia pelo menos do que acontece nessas grandes casas de produção de dança e de ópera.” Aproximação com o público Outro lado positivo apontado pelo professor da Academia de Dança de Montparnasse é a aproximação que os vídeos permitem entre os artistas e o público. “Cada dia um oferece uma entrevista, uma aula. É uma maneira de personalizar as pessoas que fazem parte dessa instituição”. No entanto, Marcos Verzani tem algumas reservas sobre as aulas remotas de balé propostas pelos primeiros bailarinos. “Aula é uma coisa que tem uma relação pessoal, um contato físico necessário entre o professor e o aluno para ver de que maneira você pode fazer evoluir o trabalho. Essas aulas de vídeo podem te dar a impressão que você é capaz de tudo e não tem ninguém para te dizer o contrário, sobretudo em se tratando de amadores. Há um risco muito grande que é o de dar a ilusão de que o amador é capaz de fazer coisas que ele ainda não está preparado para fazer”, alerta. Como todas as outras escolas de dança da França, a Academia de Dança de Montparnasse está fechada desde meados de março e reabre em setembro, mesmo que o governo tenha autorizado a retomada das atividades a partir de 22 de junho. “Foi terrível, sobretudo no início. De um dia para o outro, todo os 250 alunos que frequentavam as aulas tiveram que encontrar outras maneiras de continuar trabalhando”, conta. Por causa de suas ressalvas, Marcos Verzani hesitou no início em dar aulas remotas, mas por insistência das alunas, acabou entrando no mundo virtual. “Como toda a crise obriga uma aceleração e uma transformação, depois de alguns dias de teste, sobretudo com os alunos que frequentavam os cursos de maneira regular, vimos que existem algumas plataformas que permitem, além de dar aula, ver os alunos. Isso mudou a minha maneira de ver e de aceitar essa nova proposta. No início a ideia era só fazer um teste. Três semanas depois, eu estou vendo que é possível continuar um trabalho”. Mundo pós-pandemia Apesar da criatividade e da existência digital, muitos artistas estão em situação de vulnerabilidade. Marcos Verzani ainda não sabe se as aulas digitais serão rentáveis e poderiam substituir os cursos tradicionais. Ele salienta que muitos professores e escolas de dança não vão sobreviver a essa crise. O bailarino brasileiro lembra que não só a Ópera como outras grandes companhias francesas (Philharmonie, Comédie Française...) estão usando a internet para chegar até o público durante a quarentena e espera que essa oferta digital “continue mesmo depois de uma volta ao normal”. Enquanto isso, veja e reveja os belos espetáculos da Ópera de Paris como a Traviata, de Verdi, e sua bela ária Adeus do Passado, aqui interpretada por Pretty Yende, em uma montagem assinada pelo badalado diretor de teatro Simon Stone.
Um dos momentos da história mais importantes, afinal, a tomada da Bastilha marcou o início do mundo que vivemos hoje. Separe trinta minutos do seu dia e aprenda com o professor Vítor Soares sobre a Revolução Francesa. --- Support this podcast: https://anchor.fm/histria-em-meia-hora/support
O candidato do partido do presidente Emmanuel Macron à prefeitura de Paris, Benjamin Griveaux (A República em Marcha – LREM), renunciou à disputa nesta sexta-feira (14), depois da divulgação de vídeos de conteúdo sexual na internet. Imagens e prints de mensagens de celular revelam que ele mantinha uma relação extraconjugal. O material foi divulgado pelo site "Pornopolítica", criado por um ativista russo que recebeu asilo político em Paris, em 2017. O escândalo abala a campanha municipal e levanta questionamentos sobre o papel das redes sociais no processo político. Griveaux, 42 anos, deputado da Assembleia Nacional, ex-ministro e ex-porta-voz do governo, teve divulgadas imagens em que aparece se masturbando e trocando mensagens de conteúdo sexual com uma amante. Casado, pai de três filhos, ele não negou a autoria dos vídeos e das conversas, preferindo renunciar para proteger sua família. "Minha família não merece isso. Ninguém deveria ser alvo de tanta violência", afirmou Griveaux em coletiva de imprensa nesta sexta-feira. "Um novo limite foi ultrapassado. Sites realizaram ataques absurdos questionando minha vida privada", declarou o deputado, um dos principais aliados de Macron. O que causa surpresa no caso é a descoberta do site “Pornopolítica”, fundado pelo artista russo Piotr Pavlenski, de 35 anos. Contestador, ele se declara um opositor do governo russo e, agora, do governo Macron. O ativista ficou famoso ao praticar a automutilação como forma de expressão artística. Pavlenski já usou pregos para fixar os próprios testículos na calçada do Kremlin, em protesto ao Dia da Polícia na Rússia. Costurou os lábios em apoio ao grupo de rock Pussy Riot, perseguido pelo presidente Vladimir Putin. No ano em que recebeu asilo político na França, incendiou uma agência do banco central francês na praça da Bastilha, em Paris, na performance "Iluminação”. Na época, ele explicou que "os banqueiros tomaram o lugar dos monarcas" e solicitou uma “nova e grande revolução francesa”. Por este crime, Pavlenski foi condenado em janeiro de 2019 a três anos de prisão, com direito a surcis. "Fonte pornográfica com participação de autoridades" O site "Pornopolítica", hospedado no Canadá desde novembro do ano passado, é a nova empreitada do ativista russo. Na página de apresentação, Pavlenski descreve a plataforma como "a primeira fonte pornográfica com a participação de autoridades e representantes políticos". O texto menciona ainda que "apenas funcionários públicos e políticos que ‘mentem’ para seus eleitores ao impor o puritanismo à sociedade, enquanto eles o desprezam, interessam à pornopolítica". Pavlenski disse ter obtido o material que derrubou Griveaux com uma 'fonte' que mantinha uma relação consentida com o deputado. O russo afirma ter feito isso para "denunciar a hipocrisia" de Griveaux, que posa para capas de revistas com a mulher e os filhos e se apresentou na campanha municipal como “o candidato das famílias”. “Mas faz o contrário de tudo isso", segundo Pavlenski. O ativista nega ter feito um julgamento moral; fala que só quis denunciar um político mentiroso. "Não me incomoda que as pessoas tenham a sexualidade que queiram. Elas podem mesmo transar com animais, não tem problema para mim. Mas as pessoas têm que ser honestas", enfatiza o artista russo. Nojento, odioso, ignóbil Depois de o site divulgar as imagens, um deputado dissidente do partido de Macron, Joachim Son-Forget, republicou o vídeo no Twitter, o que analistas interpretaram como um acerto de contas. Ao mesmo tempo, a condenação dos partidos políticos ao golpe baixo foi unânime e imediata. Historicamente, os franceses têm aversão a misturar vida privada com vida pública. Porém, as redes sociais abalaram esse equilíbrio. O caso gerou uma forte indignação: “ignóbil”, “imundo”, “nojento”, “odioso”, repetiram dezenas de parlamentares. Da extrema direita à extrema esquerda, líderes partidários repudiaram a divulgação dos vídeos. Todos condenam a violência que representa essa invasão da esfera íntima de um homem público num contexto eleitoral. O porta-voz do partido de extrema direita de Marine Le Pen, deputado Sébastien Chenu, disse que “os parisienses vão às urnas em março para escolher um projeto político e não um padre”. O líder de extrema esquerda Jean-Luc Mélenchon tuitou que a publicação de imagens íntimas para destruir um adversário é odiosa. “Vamos rejeitar o naufrágio voyeurista da vida pública do país. Não, nem todas os golpes são permitidos”, destacou Mélenchon. Outros falam em "americanização da política francesa", por causa da evocação do "puritanismo". Esse comportamento pode ter importância para os americanos, mas não tem lugar no debate político na França. Há também quem desconfie de ingerência externa e tentativa de desestabilização da democracia francesa, lembrando que a campanha de Macron à presidência sofreu ataques de hackers russos. Candidato vai processar autor do site Griveaux vai prestar queixa na Justiça por violação da vida privada, o que pode resultar em condenação a um ano de prisão e multa de € 45.000. Desde outubro de 2016, a divulgação específica de imagens sexuais capturadas em locais públicos ou privados é punida com dois anos de prisão e multa de € 60.000. Esse artigo foi incorporado à Lei Digital para lidar com o crescente fenômeno da chamada “vingança pornográfica”, que se tornou frequente nas redes sociais após o fim de relacionamentos. Todas as pessoas que compartilharam os vídeos divulgados por Pavlenski nas redes sociais podem ser condenadas. O ativista russo considerou a renúncia de Griveaux uma vitória, a primeira operação bem-sucedida de seu site, e promete criar constrangimentos a outros políticos franceses. O partido A República em Marcha (LREM) deve indicar um substituto para Griveaux nos próximos dias. O prazo para registro de candidaturas às municipais, que vão acontecer em 15 e 22 março, vai até o final de fevereiro. O deputado da sigla LREM estava em terceiro lugar nas pesquisas, atrás da atual prefeita socialista, Anne Hidalgo, que lidera as sondagens, e da conservadora Rachida Dati, do partido Os Republicanos. Hidalgo pediu o respeito da vida privada e das pessoas. "As parisienses e os parisienses merecem um debate digno", insistiu a socialista.
Confira os destaques internacionais desta segunda-feira (15/07/19) no EstadãoSee omnystudio.com/listener for privacy information.
Ouça as principais notícias do jornal O Estado de S. Paulo desta segunda-feira (15/07/19)See omnystudio.com/listener for privacy information.
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Terror, sangue, desespero e mortos-vivos. Sobreviventes do apocalipse em um mundo aterrorizado por zumbis e pessoas tão monstruosas quanto essas criaturas. Obituário 793 é uma série de 2015 do Forte RPG
Vamos entender como estava a Europa Ocidental ali pelo final do Século XVIII. Em 1789, com a tomada da Bastilha, a França entrava na revolução que deixaria profundas marcas no mundo. A maioria dos países do continente eram governados por monarquias absolutistas (O Reino Unido não era mais uma monarquia absolutista desde a Guerra Civil Inglesa, por exemplo). O próprio conceito de Estado Nação, conforme já citamos em outros episódios, estava nascendo nessa época...
Edição de 07 de maio 2012
Edição de 7 de maio 2012 - Governo Sombra na Bastilha - especial França 2012