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O BdF Entrevista desta quinta-feira (29) recebe a artista Marie Ange Bordas, que se classifica como "artvista". Ela conviveu por anos com comunidades refugiadas em Joanesburgo, em Paris e no campo de refugiados de Kakuma, no Quênia - experiências que viraram fotos, livros e instalações.
Ao contrário do que acontecia há alguns anos, a emigração portuguesa está a meio da tabela da emigração na Europa. Consulado de Portugal em Joanesburgo abre portas para pedidos de documentos. Edição Isabel Gaspar Dias
Possível eleição do conservador Friedrich Merz, da CDU, que flerta com a extrema-direita da AfD, levanta temores sobre o futuro da política de imigração na Alemanha. E mais:- Representantes do G20 se reuniram em Joanesburgo, África do Sul para reagir às recentes tentativas do presidente Donald Trump de subverter a ordem global- Trump ameaça taxar o grupo dos BRICS em 150% caso o bloco tente “destruir o dólar americano”- Visitantes podem nomear baratas-de-Madagascar com o nome de ex-parceiros em zoológico nos Estados Unidos Ouçam Gabriela Brown no Spotify Sigam a gente nas redes sociais Instagrammundo_180_segundos e Linkedin Mundo em 180 SegundosAcompanhem os episódio ao vivo Youtube, Instagram ou Linkedin
Esta sexta-feira marca o segundo e último dia da cimeira dos chefes da diplomacia do G20 em Joanesburgo, no âmbito daquela que é a primeira presidência do bloco a ser assegurada pela África do Sul. Neste encontro, não compareceu o secretário de Estado americano Marco Rubio cujo país pretende sublinhar a sua rejeição da lei sul-africana autorizando a expropriação de terras de Afrikaners, os Estados Unidos querendo também de certa forma "sancionar" Pretória pelo seu apoio à causa palestiniana face a Israel, grande aliado de Washington.Nesta cimeira cuja agenda oficial também previa discussões em torno do clima e de uma maior integração no bloco do G20, também se abordou a situação da Ucrânia. Ao anunciar ter convidado o seu homólogo ucraniano para efectuar muito em breve uma visita à África do Sul, o Presidente Cyril Ramaphosa, defendeu nesta cimeira um processo de paz "que inclua todas as partes", inflectindo ligeiramente a sua política em relação à Rússia, seu tradicional parceiro. Por sua vez, a China, também presente na cimeira, disse que as discussões directas mantidas recentemente entre Moscovo e Washington sobre a Ucrânia, mas na ausência das suas autoridades, representam "uma janela para a paz".Assuntos sobre os quais reflectimos com o economista guineense Carlos Lopes, antigo secretário executivo da Comissão Económica para África e professor na Universidade do Cabo, que começa por evocar a mensagem enviada pelos Estados Unidos ao não comparecer em alto nível na cimeira de Joanesburgo.RFI: Qual era a mensagem dos Estados Unidos ao não participar nesta cimeira do G20?Carlos Lopes: Eu acho que a mensagem é de facto, mais do que a África do Sul, eu acho que os Estados Unidos estão a demonstrar uma grande hesitação em relação ao multilateralismo em geral e, portanto o G20, faz parte de uma dinâmica de contestação de tudo o que seja negociação multilateral. E os Estados Unidos estão, de facto, a demonstrar que o G20 não vai ter a importância que tinha. Há uma erosão da força do G20 que vem até do facto de ter sido vítima um pouco do seu sucesso. Era uma estrutura mais ou menos adormecida em 2008, 2009. Houve a crise financeira internacional que obrigou a que se saísse do quadro do G8 na altura, para se poder responder às dificuldades da economia mundial. Isso acabou por dar grande força ao G20. Mas, depois disso, vítima justamente desse sucesso, multiplicaram-se os apelos para que o G20 interviesse em tudo quanto é coisa. Neste momento, é um conglomerado de reuniões, cerca de 300 por ano, que cada presidência tem que organizar, quase uma por dia. E, portanto, acaba por ser uma perda de foco. E essa perda de foco levou também a uma perda de importância. E agora, com estas decisões por parte da administração Trump, está-se a ver que talvez esteja a chegar ao fim de um ciclo. RFI: Independentemente da posição americana, o que está a dizer, no fundo, é que o G20, com essas reuniões todas, acaba por ter menos impacto nas decisões mundiais. Carlos Lopes: Exacto. E vê-se que, por não ter sido capaz de resolver os grandes problemas da macroeconomia mundial, por exemplo, não houve concertação em relação à resposta pós-pandemia. Os problemas de inflação foram perturbados por falta de capacidade de coordenação macroeconómica mundial. A regulação sobre questões fiscais está neste momento muito tensa. Há um desmantelamento do regime comercial que foi construído à volta da OMC. E, portanto, o G20, em cada uma destas áreas, que são áreas da economia para o qual o seu foco devia ser o mais importante, não está a ter a intervenção que tinha antes e, portanto, acaba por falar de tudo quanto é coisa, mas não daquilo que era, digamos, o seu objectivo principal. RFI: No fundo, o G20, como várias outras entidades formais ou informais a nível internacional, não estará também a ser uma "vítima colateral" da agenda de Trump? Estou a referir-me, por exemplo, ao caso das Nações Unidas, que é o mais flagrante. Carlos Lopes: Sem dúvida. Eu acho que nós estamos a caminhar para um desmantelamento da ordem liberal que vigorou durante bastante tempo e que serviu de base à construção do que é a arquitectura do sistema multilateral e, portanto, a administração Trump neste momento, está a dar demonstrações muito claras de que não quer continuar com essa ordem e, portanto, não sabemos muito bem o que vai emergir. Mas o que é facto é de que, digamos, a pauperização do sistema em termos financeiros vai ser ainda maior e, portanto, a influência destas diferentes agências do sistema internacional e, sobretudo, o papel do Banco Mundial e do FMI vão estar no centro das atenções da administração Trump. Não me admirava nada que nós chegássemos a uma situação de paralisia sobre uma série de programas e uma série de iniciativas que faziam parte do programa ou das intenções de reforma das instituições de Bretton Woods. RFI: O que estamos a observar, por exemplo, é a paralisação da ajuda directa dos Estados Unidos. Estou a pensar nomeadamente na USAID, mas também na ajuda indirecta dada através das instituições da ONU. Isto, no fundo, não será uma espécie de arma de arremesso para fazer com que os parceiros dos Estados Unidos acabem por ceder perante as suas exigências? Carlos Lopes: Eu acho que não funciona. Acho que, antes pelo contrário, a ajuda internacional, ela é sobretudo importante para África, porque nas outras regiões perdeu força. E na África ela foi também descendo em termos de importância, porque nós passamos para um patamar em que representava quase 3 a 4% do PIB africano para, neste momento, cerca de 1%. Portanto, isto são indicações de que a ajuda não tem o peso que tinha antes. Mas mais importante do que isso, temos uma série de novos actores que são agora responsáveis pela principal plataforma de investimentos do continente. Por exemplo, a China é o principal investidor em termos de volume, mas ultimamente foi ultrapassado até por países do Golfo. Nós temos ainda os países europeus que têm a maioria do stock de investimentos, mas não os novos investimentos. Enfim, todas as indicações são de que a ajuda ao desenvolvimento tem perdido também força. O que os Estados Unidos decidiram com praticamente a abolição do seu programa de ajuda ao desenvolvimento tem implicações muito grandes no sistema multilateral, porque a ajuda bilateral vai afectar sobretudo a área da saúde, que era onde estava a grande concentração da ajuda. Portanto, a saída da OMS é uma indicação de que não se vai mais aceitar o que era, digamos, o consenso mundial sobre as questões de saúde. E nós sabemos quais são as posições do secretário de Saúde que acaba de ser nomeado, Robert Kennedy, que é muito céptico sobre a regulação em matéria de saúde, incluindo vacinas. E nós depois temos, digamos, o impacto da saída dos Estados Unidos em termos financeiros das várias agências da ONU. Mas, como eu dizia antes, também a possibilidade de não contribuir para o reforço que foi aprovado há pouco tempo da "arma constitucional" do Banco Mundial. E se isso vier a acontecer -e eu acho que vai acontecer- ou seja, não fazer a contribuição que estava prevista, nós temos um "efeito ricochete", que é do custo de capital para os países africanos ser muito mais elevado por causa do aumento do risco. E, portanto, as consequências acabam por ser importantes, mais do ponto de vista colateral do que do ponto de vista da ajuda directa que era fornecida até agora. RFI: Entretanto, no âmbito desta cimeira, também se falou muito da Ucrânia. Apesar da sua proximidade com Moscovo, a África do Sul defendeu uma solução negociada que "inclua a Ucrânia". A China, por sua vez, considerou que se abriu "uma janela" para negociações, referindo-se ao diálogo directo entre os Estados Unidos e a Rússia. Como é que se podem interpretar estes dois sinais? Carlos Lopes: São sinais de que os países dos BRICS não têm um entendimento comum sobre a geopolítica internacional. Têm interesses comuns, mas também têm diferenças. E, portanto, quando acontecem estas oportunidades de poder mostrar essas diferenças, é importante para assinalar uma certa independência. E penso que foi isso que fez a África do Sul e é isso que faz a China, para não parecer que está todo o mundo no seio dos BRICS, num alinhamento perfeito, o que não é o caso. RFI: Como é que fica a agenda da África do Sul nesta cimeira? Também havia na ementa a questão climática e também uma maior integração no grupo do G20. Carlos Lopes: É evidente que a África do Sul estava a contar com esta presidência, primeiro para pôr a voz da África muito mais vibrante, porque é a primeira ocasião de participação completa integral da União Africana, que foi admitida o ano passado do ponto de vista formal. Segundo, porque queria que as questões que são particularmente prementes para o continente estivessem, digamos, no topo das preocupações mundiais. E daí, portanto, o slogan de ser uma cimeira que deve se concentrar sobre a solidariedade, a igualdade e a sustentabilidade. Era o slogan que a África do Sul escolheu. E atrás desse slogan, as prioridades são de tentar conseguir uma resiliência do ponto de vista da resposta aos desastres climáticos, de conseguir que os minerais críticos sejam objecto de uma "approach" que põe os países africanos no centro também da transformação da cadeia de valor. Ou seja, não mais fazer a exportação de matérias-primas sem transformação local e, portanto, as outras questões que têm a ver também com, digamos, a taxação. As questões da igualdade têm a ver um pouco com a taxação, que foi um tema introduzido pela presidência brasileira quando se deu esta. E eu acho que vai haver linguagem no comunicado final, que vai seguramente nesta direcção, ou seja, dar importância às questões do clima, dar importância às questões da estruturação de uma resposta ao problema da desigualdade e de aumentar a solidariedade que é, digamos, uma linguagem codificada para dar mais atenção a África. Mas eu penso que não vai haver consensos. Normalmente os comunicados são adoptados por consenso. Não sabemos muito bem qual vai ser a reacção dos Estados Unidos porque eles têm dificuldades com este tipo de linguagem e, portanto, é muito provável que haja uma aprovação com uma qualificação de voto, como se faz muitas vezes, onde o aquilo que não está de acordo deixa passar, mas depois faz uma qualificação, fica registado de que não está de acordo. RFI: Mais atenção a África também significa mais atenção aos conflitos que estão neste momento a decorrer em África. Estou a pensar no Sudão, estou a pensar também na RDC, sobre os quais o mundo permanece mudo. Carlos Lopes: Pois, porque nós temos agora uma diminuição muito grande dos meios de intervenção e temos, digamos, uma espécie de abertura para que a lei do mais forte impere. Porque é isto que as relações internacionais nos estão a demonstrar por parte dos países mais poderosos. E, portanto, acaba por ser uma contestação da ordem tradicional. Não há muitas possibilidades de chegar a acordos no seio do Conselho de Segurança e, portanto, as indicações que vêm do Conselho de Segurança das Nações Unidas é de que há divisão. Portanto, quando há divisão, as partes em conflito aproveitam-se dessa divisão para poderem fazer imperar a sua própria interpretação do conflito. E, portanto, nós estamos provavelmente no princípio de uma curva de deterioração das questões de segurança, porque as doutrinas de manutenção da paz estão completamente ultrapassadas com os desenvolvimentos actuais e as novas tecnologias, porque os protagonistas dos vários cenários políticos se sentem um pouco mais à vontade para poder fazer imperar a força. E também porque há um desinteresse e um desengajamento em relação aos conflitos que se consideram serem mais marginais e que não perturbam, digamos, os interesses principais dos grandes países. Então, alguns dos países africanos que estão em conflito não têm muita importância para os grandes e, portanto, acaba por se deixar um pouco acontecer o que tiver que acontecer.
João Fernandes (Bragança, Portugal, 1964) é Diretor Artístico do Instituto Moreira Salles desde agosto de 2019. Antes, foi Subdiretor Artístico do Museu Reina Sofía (Madrid), entre 2012 e 2019. Anteriormente, desempenhou igualmente as funções de Diretor do Museu de Serralves (Porto) entre 2003 e 2012, tendo sido Diretor Adjunto deste Museu entre 1996 e 2002.João Fernandes licenciou-se em línguas e literaturas modernas na Universidade do Porto. Foi professor de Estudos Linguísticos no Instituto Politécnico do Porto entre 1988 e 1995. Como curador independente, programou e organizou as Jornadas de Arte Contemporânea do Porto, diversas representações de Portugal nas Bienais de São Paulo, Veneza e Joanesburgo, assim como várias exposições em Portugal e em vários países europeus. É membro de diversos organismos consultivos de museus internacionais e tem participado de vários júris, assim como publicado numerosos textos em catálogos de exposições, revistas e jornais.*O título é inspirado numa expressão de Mário Pedrosa citado por João Fernandes na conversa “A Arte é um exercício experimental da liberdade”Links: https://ims.com.br/2019/05/10/ims-tem-novo-diretor-artistico/ https://sandravieirajurgens.com/joao-fernandes-entrevista-tudo-e-possivel-quando-falamos-de-arte https://www.dn.pt/lusa/curador-joao-fernandes-na-lista-dos-mais-influentes-na-arte-contemporanea-a-nivel-global-10221061.html/ https://expresso.pt/cultura/2017-11-26-Joao-Fernandes-Os-meus-professores-foram-os-artistas https://www.tsf.pt/portugal/cultura/a-cultura-portuguesa-tem-de-se-descolonizar-da-sua-propria-historia-12537609.html/ https://www.publico.pt/2019/05/10/culturaipsilon/noticia/joao-fernandes-sai-reina-sofia-ir-dirigir-instituto-moreira-salles-brasil-1872240 https://www.youtube.com/watch?v=yzEQ_LfSK5I Episódio gravado a 09.04.2024 Música final: Nhamandu Miri © Memória Viva Guarani, escrita por Sapucai, produzida por MCD(Nhamundi miri significa pequeno sol em guarani) http://www.appleton.pt Mecenas Appleton:HCI / Colecção Maria e Armando Cabral / A2P / MyStory Hotels Apoio:Câmara Municipal de Lisboa
Na madrugada de 14 Fevereiro de 2013, a polícia de Joanesburgo foi chamada à mansão do renomado corredor Oscar Pistorius, onde encontraram sua namorada, Reeva, sem vida no hall de entrada. Coberta de um sangue que não era seu, a cena deixou todos perplexos. Pistorius, um exemplo de superação no esporte, relatou uma história estranha, marcando o início de sua transformação de ícone esportivo a um nome ligado a um crime brutal e enigmático. Conteúdos Exclusivos: https://apoia.se/casosreais Instagram: @erikamirandas e @casosreaisoficial Roteiro: Mariana Nicastro https://casosreaispodcast.com.br/ --- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/casos-reais/message Support this podcast: https://podcasters.spotify.com/pod/show/casos-reais/support
Parlamento angolano discute proposta de Lei de Segurança Nacional. Analista, ouvido pela DW, mostra-se cético quanto aos seus impactos. Cidade de Luanda completa 448 anos com muitos desafios. Ainda neste jornal trazemos a história de uma sul-africana que conseguiu fugir de Gaza e reconstrói a vida em Joanesburgo.
O ano de 2023 chega ao fim com um princípio de luz de fim do túnel na sequência de alta dos juros que marcou o período e atrasou uma retomada econômica mais robusta, em meio à inflação que permaneceu elevada em boa parte do mundo. As incertezas geopolíticas, com o conflito na Ucrânia e a guerra em Gaza, não ajudaram a economia mundial a decolar. O coquetel de juros altos e crescimento baixo, somado à desaceleração da China, foi ainda mais perigoso para os países mais vulneráveis, em especial os africanos. “Nas economias avançadas, vemos que claramente as taxas vão ficar altas durante muito tempo, durante toda a primeira parte do ano 2024, e agora produzem impacto na atividade. Em geral, temos 12 meses de atraso entre o momento em que os bancos centrais sobem as taxas de juros e o momento em que realmente essas taxas afetam a atividade – e elas foram elevadas há pouco mais de um ano”, explicou à RFI Bruno de Moura Fernandes, chefe de macroeconomia da seguradora francesa Coface, presente em mais de 100 países. “Então vamos sentir mais, nos próximos trimestres, o impacto para as empresas, para as famílias”, disse, em entrevista realiza em agosto. A Unctad, Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, previu em abril que o ciclo de aumento de juros vai custar mais de US$ 800 bilhões em perda de renda nos países em desenvolvimento, nos próximos três anos. Além da depreciação cambial, as consequências imediatas nas economias mais vulneráveis – como Zâmbia, Chade, Sri Lanka ou Argentina – foram a explosão das dívidas, a dificuldade de acesso ao crédito e risco de crise monetária, podendo resultar em crise de dívida soberana.Na Ásia, a crise imobiliária chinesa, o crescimento baixo, de 5%, e o alto desemprego dos jovens na segunda maior economia mundial acenderam o alerta para uma piora da conjuntura. “Já vemos que claramente as exportações chinesas estão caindo pela pouca procura por parte dos Estados Unidos e da Europa, e que o consumo das famílias chinesas também é uma grande decepção, porque, afinal, não tem confiança. Por enquanto, não vemos como a recuperação pode acelerar nos próximos meses”, advertiu Fernandes. Esse contexto internacional abalou o mercado mundial de commodities e repercutiu imediatamente no Brasil. Cerca de 30% das exportações brasileiras, essencialmente de matérias-primas, vão para a gigante asiática.Governo sob pressão desde o primeiro diaNo Brasil, o ano começou turbulento, com os ataques aos Três Poderes na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já em 8 de janeiro. A crise política aberta logo na primeira semana do mandato aumentou ainda mais a pressão sobre a agenda econômica do presidente petista, em especial pelo ajuste fiscal, e na contramão da política econômica mais expansionista desejada pelo presidente. “A economia internacional vai desacelerar e, com isso, os preços das commodities não vão continuar altos como estavam. Essa situação reduz a margem de manobra para adotar políticas mais expansionistas”, previu Daniela Magalhães Prates, economista sênior da Unctad, em janeiro. “O embate com o mercado vai ser um problema. A incerteza política pode ser usada para isso: reduzir a margem na política fiscal e monetária”, antecipou. Com o país ainda marcado pela polarização no plano interno, o presidente não demorou para iniciar giros internacionais – a começar pela China. Apesar de ser a maior parceira comercial do Brasil, Pequim vinha sendo desprezada pelo governo de Jair Bolsonaro. "Por uma escolha de Estado, nós saímos da mesa. Essa escolha teve custos, e agora estamos voltando à mesa e isso é extremamente importante, na minha opinião”, disse o pesquisador associado do FGV-Ibre Livio Ribeiro, especializado em economias emergentes e em particular a chinesa. “Tradicionalmente na China, os ritos importam muito – até mais para os chineses do que para a gente. Assim sendo, a presença do presidente muda o nível da discussão e faz toda a diferença.”A viagem oficial de quatro dias se encerrou com a assinatura de 20 acordos comerciais entre as duas potências emergentes. Acordo UE-Mercosul travadoDias depois, ainda em abril, Lula retornou à Europa pelo solo português. Em Lisboa e, na sequência, em Madri, o presidente demonstrou determinação em acelerar a finalização do acordo entre a União Europeia e o Mercosul. As negociações do tratado se arrastaram por 20 anos até serem concluídas em 2019, mas o texto ainda precisa ser ratificado pelos 27 países que compõem a União Europeia e os quatro integrantes do Mercosul.Entretanto, apesar da troca de governo no Brasil, o acordo tomou um balde de água fria logo depois da viagem de Lula a Portugal e Espanha, com os europeus fazendo uma série de novas exigências ambientais dos parceiros sul-americanos. Desde então, diversas séries de rodadas de negociações foram realizadas entre os dois blocos, mas sem conclusão favorável. Na contraproposta do Mercosul, Brasil e Argentina apresentam pontos que significam a reabertura das negociações do texto assinado há quatro anos, assinalou Andrés Malamud, pesquisador da Universidade de Lisboa e especialista em integração regional na América Latina."Se esse acordo se reabre, nunca mais se fecha. Portanto, com as atuais posições, o acordo é impossível. Não vai acontecer – só aconteceria se aceitassem o que está escrito e assinado em 2019, mas ninguém quer, porque os dois lados são protecionistas: a Europa com o seu mercado agrícola e o Mercosul com sua indústria e compras governamentais”, resumiu o pesquisador argentino. Em dezembro, logo depois de se reunir com Lula na COP28 em Dubai, o presidente francês, Emmanuel Macron, externalizou as divergências, apesar do bom entendimento com o líder brasileiro. Macron não hesitou em considerar o tratado de “antiquado” e “mal remendado”. "Esse acordo não funciona e é por culpa da Europa, porque a França é protecionista e tem mais nove amigos que são igualmente protecionistas”, sintetizou Andrés Malamud.Brics terá seis novos membrosPor outro lado, as alianças entre os emergentes prosperaram em 2023. Na Cúpula dos Brics, em Joanesbursgo, em agosto, os líderes do bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e Africa do Sul decidiram ampliar o grupo, formado há 15 anos. Seis novos membros foram convidados, na expectativa de fortalecer um bloco do Sul global: Argentina, Etiópia, Egito, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos passarão a fazer parte do Brics a partir de janeiro. Um dos focos da agenda do bloco foi o uso das moedas nacionais nas transações entre os países integrantes, no lugar do dólar. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), mais conhecido como Banco do Brics, tem papel protagonista neste projeto, ao acelerar os empréstimos nas moedas dos cinco membros fundadores. O sonho antigo dos países em desenvolvimento ganhou força desde que os juros americanos se estabilizaram em um patamar elevado. O presidente do Instituto Brasil-África, João Bosco Monte, acompanhou em Joanesburgo o andamento das negociações de um projeto “complicado”, segundo ele, para sair completamente do papel.“Brigar com os Estados Unidos e o sistema financeiro mundial não é fácil. Mas o fato de o Banco do Brics trazer essa agenda e puxar essa discussão favorece para que, eventualmente, as transações comerciais entre os países possam usar outras moedas”, salientou. Gaza e o temor de um novo choque de petróleo A reta final de 2023 ainda reservaria mais uma surpresa: a eclosão do conflito na Faixa de Gaza, entre Israel e o grupo extremista Hamas. Depois da Ucrânia, mais uma guerra voltou a elevar os preços do petróleo: o risco de expansão para um conflito regional poderia resultar em um novo choque do petróleo, semelhante ao da década de 1970, advertiram analistas. Com parcerias comerciais importantes no Oriente Médio, incluindo uma agenda em ascensão com Israel nos últimos anos, o Brasil fez malabarismos diplomáticos para que a guerra não abalasse os seus negócios com a região. “Não dá para escolher um lado. A população desses países é grande: a do Irã é de 88 milhões de habitantes. A da Arábia Saudita, que as pessoas pensam que é um grande vazio, tem quase 40 milhões de habitantes”, analisou Paulo Ferracioli, professor de políticas de comércio exterior e de economia no FGV Management. “E não é de forma alguma do interesse do Brasil se afastar de Israel, com quem nós estamos fazendo bons negócios na área de agroindústria, mas há muito mais do que isso. Todos os países querem investimentos de Israel em produtos altamente tecnológicos”, destacou.O Oriente Médio respondeu por 5,1% das exportações brasileiras em 2022, num total de US$ 17,2 bilhões, com balança comercial favorável a Brasília.“A partir do momento em que há instabilidade na economia internacional, os investidores se retraem e o comércio é dificultado. Qualquer retração no comércio e nos investimentos internacionais vai ser muito inconveniente para o Brasil”, disse Ferracioli. Em outubro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) manteve inalterada a sua previsão de 3% de crescimento do PIB real mundial neste ano, e revisou para baixo as previsões de 2024. A instituição espera que o mundo vá crescer 2,9% no ano que vem.
Difícil encontrar um país com mais sol e ventos, e o melhor: durante o ano todo. Mesmo assim, a África do Sul tem uma das matrizes energéticas mais 'sujas' do mundo, dependente do carvão. A gigante emergente do continente africano ilustra o quanto a transição para uma economia de baixo carbono é, ao mesmo tempo, vetor de desenvolvimento e de redução de emissões de gases de efeito estufa. Lúcia Müzell, enviada especial da RFI a Joanesburgo (África do Sul)Há anos, o país convive com as consequências do colapso das usinas a carvão, responsável por mais de 80% do mix energético sul-africano. As infraestruturas antigas e com manutenção deficiente são incapazes de responder à demanda crescente da maior economia do continente. Os apagões viraram rotina e motivaram um movimento da sociedade civil e das empresas por fontes renováveis, em busca de autonomia da rede nacional de energia."Depois do Covid, começou a ser diário, em vários períodos do dia: duas horas de manhã, duas de tarde, duas de noite. Depois, por todos esses problemas de manutenção e outros problemas externos, os cortes passaram a ser de quatro horas a cada vez. Você ficava praticamente o dia inteiro sem energia", lembra a mineira Marília, que vive há mais de 17 anos em Joanesburgo.Marília conta que os load sheddings, como são chamados os apagões regulares programados pela companhia nacional Eskom, levaram inicialmente a uma corrida por geradores a diesel ou gasolina. Mais recentemente, é a procura por instalações particulares de painéis solares que virou moda – pelo menos para quem pode pagar.A casa onde ela mora é equipada com painéis fotovoltaicos que geram energia para atender às principais necessidades, como os eletrodomésticos ou a televisão, durante os apagões. Os equipamentos, de vários tamanhos, também transformaram a iluminação do jardim ou o sistema de alarme da residência autossuficientes em energia."Está virando uma coisa comum. Cada vez mais, você está precisa ficar independente do governo, já que a companhia elétrica não está aguentado", constata. "As pessoas têm painéis, mesmo pequenos como esses nossos, mas que resolvem."Transição em Sowetto e 'pobreza energética'Mas essa realidade que o país começa a viver está longe de beneficiar a todos. A cerca de 50 quilômetros dali, no bairro de Sowetto, na periferia de Joanesburgo, a instalação de painéis fotovoltaicos ainda é um privilégio raro.O restaurante Sakhumzi é um dos poucos estabelecimentos com geração própria sobre os telhados – um investimento feito há quase 10 anos. “Não temos energia suficiente no país, então pensamos que para podermos oferecer uma boa experiência para os nossos clientes, nós teríamos que investir em uma solução de energia renovável, no caso, a solar, que não seja ligada à rede convencional. E essa também é a nossa contribuição para a conservação da Terra”, relata Lebongang Makola, um dos gerentes do local."Já chegamos num ponto em que podemos ver os impactos negativos se não cuidarmos da nossa 'Mãe Terra'. É muito importante para nós, cidadãos, pensarmos nas ideias para podermos renovar os recursos limitados que nós temos, porque se nós esgotarmos os nossos recursos, vamos ter um enorme problema", acrescenta ele.O restaurante é parada obrigatória dos turistas que visitam o emblemático bairro onde viveu o líder antiapartheid Nelson Mandela. O estabelecimento ainda não é totalmente autônomo em energia, mas a ampliação do número de painéis, num futuro próximo, deve levar o Sakhumzi a ser cada vez menos atingido pelos apagões generalizados. "O impacto na conta de luz é claro: ela é bem mais baixa que a dos nossos vizinhos, afinal dependemos menos da rede nacional de energia. E ter energia de reserva nos permite continuar a ter luz por vários dias, quando o país tem blackouts", afirma Makola.A desigualdade do acesso à energia não é de agora, e se perpetua: na construção das infraestruturas sul-africanas, o regime do apartheid teve a política deliberada de deixar de fora os subúrbios e as zonas rurais ocupados pela população negra. Até hoje, ainda são essas as áreas que mais sofrem com os apagões, na comparação com bairros ricos como o Sandton, em Joanesburgo, onde os cortes são bem menos frequentes.O geólogo e gestor de investimentos Clyde Mallinson não tem nenhuma dúvida: vive no lugar mais abençoado do mundo para se tornar uma potência na energia do futuro, o hidrogênio verde, graças ao sol e ventos abundantes e constantes na África do Sul. Ele estima que o país poderá triplicar a oferta de eletricidade até 2035 graças aos parques solares e eólicos que, pouco a pouco, começam a se espalhar pelo país – por enquanto, quase sempre por iniciativa privada. Uma análise do potencial global de geração de energia solar do Banco Mundial confirma que o país oferece uma “oportunidade única” neste setor. "A transição para as renováveis não é um custo, é uma economia. A questão é como nós vamos distribuir essa economia com justiça, e não como vamos financiá-la", salienta. "Custa menos do que produzir energia de carvão, petróleo, diesel e nuclear. É mais barato, e é um investimento que volta. Então, não tem uma verdadeira razão para ainda não estarmos fazendo isso em larga escala."De quebra, essa revolução deve cortar os custos da luz pela metade e poderá tirar 10 milhões de habitantes de uma situação de pobreza energética, garante o especialista. São pessoas que têm dinheiro suficiente para comida, mas não para pagar o uso regular de luz em casa."A transição energética nos oferece uma oportunidade de reduzir a desigualdade. Se você apenas tira as pessoas da pobreza energética, já é ótimo. Mas se você as leva para um pouco mais acima, você gera empreendedorismo", observa. "As pessoas podem produzir comida, podem ter um espaço de trabalho de no pátio. É mágico. A magia acontece se você tem um pouco de energia a mais – e não quando você só tem o suficiente para atender às suas necessidades básicas."Quem pode, banca renováveis com o próprio bolsoNa Universidade de Joanesburgo, o astrofísico Hartmut Winkler mostra o estacionamento coberto por painéis fotovoltaicos como apenas mais um exemplo do que já se torna ‘o novo normal' de grandes empresas, shoppings e até bairros de classe média: aproveitar cada grande espaço exposto ao sol para recuperar a energia."Nós chegamos num ponto em que a energia solar realmente ficou mais barata, assim como a eólica, então o maior problema é a intermitência. Ela precisa funcionar em conjunção com baterias especificas, alternativamente com gás, talvez, e os preços das baterias ainda estão meio caros. Esses têm sido os verdadeiros obstáculos", assinala. "Mas como o país entrou nessa crise energética, já que muitas as usinas a carvão quebraram, tivemos grandes investimentos recentes em energia solar".A crise energética freia o crescimento sul-africano, abala a confiança de investidores no país e afeta a atividade econômica no dia a dia, o que aumenta os custos de produção e do consumo. Em setembro, ao final de uma primeira Cúpula Africana do Clima, os dirigentes do continente pediram ajuda da comunidade internacional para ajudar a África a expandir o potencial excepcional que existe na região. "Nós temos uma situação maluca: até as minas de carvão estão construindo plantas solares nos seus terrenos. A energia solar está acontecendo e vão vejo ela voltando atrás. O maior problema agora é que leva tempo para instalar. Não tem painéis suficientes sendo fabricados na China ou em qualquer outro lugar que os produz", aponta o professor. "E o outro problema é que precisa de pessoas para instalar, e não temos pessoal suficientemente treinado para fazer isso aqui. Eu acho que essa é uma área potencial interessante de crescimento e para a geração de empregos."Clyde Mallinson relembra que, que apesar dos benefícios evidentes, governo sul-africano inicialmente não viu essa revolução energética com a maior das boas vontade. As usinas a carvão são a base econômica em muitas regiões e empregam 100 mil pessoas no país – onde o desemprego passa de 30%.Além disso, os recursos necessários para a expansão das renováveis ainda estão longe de serem alcançados Um estudo da Universidade de Stellenbosch que amparou a Comissão Presidencial do Clima, criada para promover o setor no país, estimou o custo do projeto em US$ 250 bilhões em 30 anos.Neste contexto, a Eskon – que no fim de 2022, só conseguia gerar a metade da sua capacidade devido às infraestruturas deficientes – chegou a tentar proibir que uma cidade rural continuasse a usar um pequeno parque eólico que os habitantes haviam construído, em busca de independência da rede nacional."Do ponto de vista do governo, eles estão preocupados porque se tem gás ou outra fonte fóssil, eles têm direito a royalties. Eles taxam. Se é carvão, eles taxam. Mas como eles vão fazer para taxar a luz do sol, a energia solar?", observa o Mallinson. "Esse é um dos maiores problemas: o governo ainda não entendeu como ele vai extrair renda do vento e do sol, da mesma forma que ele tira dos combustíveis fosseis", salienta o consultor.
Você vai ouvir uma ilustração contada pelo Pastor @Juanribe Pagliarin sobre um fato real ocorrido em Joanesburgo, dentro de um voo. Um fato triste e não pode mais acontecer! Acesse seu app de podcast e ouça! Redes Sociais de Juanribe Pagliarin: ➡️Instagram: https://www.instagram.com/juanribe/ ➡️Facebook: https://www.facebook.com/juanribe ➡️Twitter: https://twitter.com/juanribe ➡️Youtube: https://www.youtube.com/juanribe ➡️TikTok: https://www.tiktok.com/tag/juanribe ➡️Podcast: https://anchor.fm/juanribe-pagliarin .
O governo brasileiro participa da Assembleia Geral da ONU e da Semana do Clima de Nova York, esta semana, com ênfase na implementação da agenda ambiental no Brasil desde janeiro. Os eventos servem de vitrine para o país mostrar para o mundo os primeiros resultados positivos em diversas frentes, como o combate ao desmatamento. No entanto, as contradições dentro do próprio governo, entre a ala ambiental e a desenvolvimentista, não passam em branco. Os estudos com vistas à exploração de petróleo na margem equatorial do país cristalizam esse paradoxo. A insistência da cúpula do Planalto em não abrir mão do projeto, apesar das críticas de ambientalistas, coloca os ministérios do Meio Ambiente e da Fazenda – à frente do recém-lançado Plano de Transformação Ecológica – em uma posição mais que desconfortável.O ministro Fernando Haddad cumpre intensa programação em Nova York, em especial junto a investidores, para apresentar o programa estratégico de descarbonização da economia brasileira e promover os títulos verdes que deverão ser lançados pelo governo, nos próximos meses. O mecanismo visa captar financiamento para projetos sustentáveis no Brasil.Ao mesmo tempo, ao ser questionado por jornalistas, Haddad admitiu que deve “preponderar uma visão cautelosa de que tem mesmo” que explorar a costa do Amapá, onde estima-se que repousam reservas abundantes do óleo. Também alegou que “quilômetros ali do lado, a Guiana já está explorando”.Além de ir na contramão do objetivo de descarbonização – já que o petróleo é considerado uma energia do passado por ser uma das maiores fontes de emissões de gases de efeito estufa –, a perfuração da bacia sedimentar da foz do rio Amazonas ainda acarreta riscos de desastres ambientais na região norte."Ainda tem muita contradição dentro do governo e no país, na agenda de clima. Uma delas é esse desejo desesperado do Brasil de explorar petróleo e ser um campeão dessa exploração no mundo”, resume o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini. "Você tem que escolher: ou vai ser campeão da agenda das mudanças climáticas, ou vai explorar petróleo até a última gota. Não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo.”Outro exemplo é o Plano de Transformação Ecológica, que faz parte do Novo PAC Desenvolvimento e Sustentabilidade, porém contempla interesses contraditórios: um quinto dos recursos (R$ 335 bilhões) ainda serão destinados a projetos de infraestrutura para petróleo e gás.Lula adapta discurso à plateiaIncongruências como essas partem do próprio Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem adaptado o discurso conforme a plateia. Na plenária da ONU nesta terça, destinou boa parte da sua fala ao tema. Mas há um mês, na cúpula do Brics, em Joanesburgo, Lula voltou a denunciar o “neocolonialismo verde europeu” – a ideia segundo a qual o aumento das exigências ambientais da União Europeia a seus fornecedores seria uma mera “medida discriminatória” e protecionista.Na mesma ocasião, o presidente defendeu “replicar” na Savana africana a experiência brasileira de transformar “o Cerrado em uma área de alta produtividade agrícola”, sem mencionar que o bioma brasileiro hoje é desmatado a um ritmo mais acelerado que a Amazônia. Quase a metade da área total do Cerrado já se transformou em área de cultivo extensivo de commodities, como soja e milho."A gente precisa rever conceitos que são antigos. Não há problema nenhum em produzir alimentos na Amazônia ou no Cerrado: você só não pode fazer isso em cima da destruição do bioma. E tem como fazer isso no Brasil”, ressalta Astrini.Resultados na manga, mas à mercê do CongressoO ambientalista reconhece que Lula chega “confortável” a eventos internacionais como a Assembleia Geral da ONU, depois de apresentar resultados efetivos como a queda de quase 50% dos alertas de desmatamento na Amazônia e promover a primeira Cúpula da Amazônia, em Belém. O presidente retoma, ainda, o papel de protagonista do Brasil nas negociações internacionais de clima, ao se colocar como porta-voz dos interesses dos países em desenvolvimento. Na sequência do discurso de Lula na ONU, o Greenpeace também saudou a posição brasileira ante o mundo, porém destacou que "para se firmar nesse lugar e poder cobrar dos demais países de maneira sólida e coerente, precisa abandonar a ideia de abrir novas áreas para exploração de petróleo, lidar com o desmatamento em alta em outros biomas além da Amazônia, como o Cerrado, e superar a visão que o mundo tem do Brasil, de um país exportador de commodities”.Márcio Astrini salienta que, em Brasília, o presidente tem sido um “aliado" da causa ambiental, mas se encontra à mercê de um Congresso profundamente avesso à questão."O Congresso brasileiro é uma bomba-relógio de destruição ambiental. Só no Senado, nós temos projeto de lei que libera agrotóxicos, inclusive cancerígenos e que não são autorizados em outros países. Outro acaba com o licenciamento ambiental, e um terceiro dá anistia para grileiros de terra no Brasil”, observa."Enquanto o presidente faz um discurso na ONU, no Congresso tem um pacote para contradizer tudo que ele está falando e colocar em risco as promessas que ele está fazendo mundo afora. E dentro do governo também tem uma ala que caminha em marcha à ré na agenda de clima”, aponta.Governos progressistas à prova da real politikA ação prática dos líderes progressistas está na mira dos ambientalistas em vários países do mundo. Nos protestos que deram a largada à Semana do Clima em Nova York, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, era um dos principais alvos dos manifestantes.O líder americano é acusado de continuar a aprovar projetos de petróleo e gás, apesar de ter adotado o maior plano de transição energética já visto no país.Na França, o presidente centrista Emmanuel Macron se vende como um exemplo na pauta ambiental, mas internamente é criticado pela lentidão com que promove a redução das emissões francesas.
O paranaense Higor Felipe Vidal tem 26 anos e desde muito menino já saía do país por causa do futebol. O talento do jovem meia era constantemente observado por potências europeias, mas a dificuldade em poder residir fora do Brasil acabou sempre virando empecilho para uma mudança precoce. Depois de passar pela base do Santos FC, Higor acabou ficando perto de casa, jogando anos na base do Paraná Clube e depois na do Londrina. Com menos de 20 anos de idade, acabou indo para a Grécia e por lá jogou 3 temporadas no PAS Giannina. Apesar de sondagens de clubes de diversas partes do mundo, entraves contratuais levaram Higor a um mercado não esperado: a Lituânia. Por lá, jogou no maior time do país, o Zalgiris e teve a chance de se sagrar campeão local. Na temporada 20/21, vinha tendo uma boa sequência de jogos pelo Hapoel Petah Tikva quando viveu uma situação impactante. Em meio a um ataque de mísseis palestinos, sobreviveu a uma explosão que destruiu o apartamento e não pensou duas vezes antes de sair do país no mesmo dia. Tendo superado o trauma no Brasil, Higor teve uma breve passagem na Grécia uma vez mais até ir para ao Persebaya Surabaya, da Indonésia. Vivendo o calor da torcida e convivendo com outros brasileiros no time, o atleta já estava se adaptando à realidade de um país tão loucamente apaixonado pelo esporte, quando acabou presenciando a tragédia de Arema de dentro dos gramados. Meio ano após seu último jogo na Ásia, agora em Joanesburgo o paranaense vive uma realidade tranquila na África do Sul. Atuando por um jovem time na cidade, o TS Galaxy, ele é um raro brasileiro numa liga bem estruturada e de boas oportunidades profissionais. Tendo já deixado sua marca num importante jogo contra o Kaiser Chiefs, Higor gentilmente topou bater um papo e mostrar que a vida de atleta pelo mundo não é nada fácil. #higorvidal #tsgalaxy #persebaya
Neste recapitulativo da Semana em África, demos destaque ao Gabão que foi palco na quarta-feira de um golpe de Estado contra o Presidente Ali Bongo. Pouco depois de ter sido anunciada a sua vitória com mais de 64% dos votos nas presidenciais do passado fim-de-semana, Ali Bongo, foi derrubado por um grupo de militares. No poder durante 14 anos, depois do próprio pai -Omar Bongo- ter estado igualmente na chefia do Estado durante mais de 40 anos, o Presidente gabonês foi detido e os órgãos de soberania dissolvidos.Na sequência do golpe, os militares que tomaram o poder prolongaram até nova ordem o recolher obrigatório já prevalecente e designaram como presidente de transição o general Brice Oligui Nguema que deve ser investido na segunda-feira. A partir da sua residência onde foi colocado sob vigilância, o Presidente deposto pediu ajuda à comunidade internacional.Este que foi o 8° golpe de Estado em África desde 2020 foi condenado por vários países e instituições, nomeadamente a União africana, a Comunidade Económica dos Estados da África Central, a União Europeia, a França ou ainda os Estados Unidos.No Níger, também palco de um golpe de Estado no mês passado, a junta militar no poder anunciou na quinta-feira a suspensão de todas as actividades das ONGs e instituições da ONU em terrenos de operações militares, uma decisão de não deixou de suscitar preocupação das Nações Unidas que deram conta da sua intenção de conversar com as autoridades. O actual poder nigerino também ordenou a expulsão efectiva do embaixador francês baseado em Niamey, depois de o Presidente francês ter recusado acatar uma primeira ordem da junta neste sentido.Entretanto, em São Tomé e Príncipe, os oito arguidos em prisão preventiva depois do prazo legal desde a semana passada no quadro do processo de ataque ao quartel militar de 25 de Novembro do ano passado foram soltos esta sexta-feira, com a sua defesa a admitir que vai processar o Estado são-tomense.Noutro aspecto, no passado fim-de-semana, decorreu a 14a cimeira de chefes de estado e de governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa CPLP, em São Tomé e Príncipe, país que assume a presidência dos próximos dois anos. Durante esta cimeira, ficou igualmente estipulado que a seguir a São Tomé e Príncipe, a presidência rotativa da CPLP seria atribuída à Guiné-Bissau.Relativamente à actualidade da Guiné-Bissau, esta semana, a antiga Ministra guineense dos Negócios Estrangeiros, Suzi Barbosa, oficializou a sua candidatura ao cargo de Presidente da Comissão da União Africana, posto actualmente ocupado pelo chadiano Moussa Faki Mahamat até 2025.Noutras latitudes, na África do Sul, a semana foi marcada pela tragédia, com um incêndio que provocou a morte de pelo menos 74 pessoas e destruiu totalmente um prédio em Joanesburgo, capital económica do país.No vizinho Moçambique, depois de semanas de bloqueio para reivindicar melhores salários e condições de trabalho, os profissionais de saúde retomaram o trabalho mas avisaram que poderão retomar a greve em Novembro, se não obtiverem respostas favoráveis por parte das suas tutelas.Também em Moçambique, continuaram os preparativos para as autárquicas de 11 de Outubro, com denúncias de uma possível preparação de fraudes eleitorais proferidas nomeadamente pelo MDM. A Renamo, também na oposição, que acusa igualmente o partido no poder de pretender adulterar os resultados eleitorais, ameaçou quanto a si retomar as armas, no caso deste cenário se confirmar.Em Angola, o executivo anunciou que a TV Zimbo, Rádio Mais, Jornal O país e os semanários Mercado e Vanguarda, empresas de comunicação social que passaram para a esfera pública, vão ser privatizadas no quadro do processo de recuperação de activos.Por fim, em Cabo Verde, o Sindicato da Polícia Nacional, SINAPOL, denunciou a situação laboral de precariedade na classe e pediu ao governo para atender às suas reivindicações de melhores salários e um alívio da carga horária de trabalho. Em resposta, o governo admitiu que o número de efectivos é ainda insuficiente, mas indicou que prevê mais 324 novos ingressos até ao próximo ano para preencher as lacunas existentes.
O fogo em um edifício de cinco andares no centro de Joanesburgo começou na madrugada desta quinta-feira (31). Segundo serviços de emergência, as causas estão sendo investigadas.
Neste episódio, Américo Martins e Camila Olivo analisam a entrada oficial da Arábia Saudita, da Argentina, do Egito, dos Emirados Árabes, da Etiópia e do Irã como membros plenos dos Brics, bloco de grandes países em desenvolvimento inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O bloco aprovou a entrada dos novos membros durante a 15ª Cúpula dos Líderes dos Brics, realizada em Joanesburgo, na África do Sul, de 22 a 24 de agosto. Américo Martins, que esteve presente no evento, conta sobre os bastidores da escolha dos novos membros. Para ele, a China pretende usar os Brics como contraponto ao G7. De acordo com o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador de Harvard, Vitélio Brustolin, “a China ganha com essa expansão e tem o grupo para ela nesse momento”. O professor explicou que o Itamaraty ficou dividido sobre o aumento do número de membros, porque seria a “entrega do poder do Brasil, que é dissolvido dentro de um grupo claramente dirigido pela China” em um momento em que o Brasil “precisa de uma estratégia de longo prazo como nação”. Ouça também: a visita do presidente Lula à Angola e à São Tomé e Príncipe; a queda do avião em que estaria o chefe do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, e o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pagou fiança para deixar o presídio após se entregar às autoridades. Apresentação: Américo Martins e Camila OlivoProdução: Bruna SalesEdição: Raphael Henrique
São Tomé e Príncipe acolhe a cimeira da Comunidade de Países de Língua Portuguesa. As políticas para a juventude serão a prioridade da presidência rotativa de dois anos do arquipélago. Ainda esta semana, em Joanesburgo, decorreu a cimeira dos BRICS que se traduziu pelo adesão de seis países, o Egito, a Etiópia, o Irão, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e a Argentina, a partir de 1 de Janeiro de 2024. Esta semana, em Joanesburgo, decorreu a cimeira dos BRICS, o bloco juntando o Brasil, Rússia, India, China e a África do Sul. A reunião traduziu-se pelo alargamento do bloco a dois países africanos, o Egito e a Etiópia, para além do Irão, da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e da Argentina, a partir de 1 de Janeiro de 2024.Este alargamento é visto como "uma alternativa" ao peso geopolítico e económico dos Estados Unidos e da Europa, explica o analista político angolano José Gama, em entrevista à RFI."Ela já altera praticamente a ordem mundial porque estamos a falar de países cuja combinação alcança cerca de 41% do PIB do globo. Embora o Presidente Lula [da Silva] tenha dito recentemente que o objectivo não é concorrer com o G7, na prática, estamos a ver aqui que se está a ir buscar uma alternativa e a distanciarem-se também daquela influência americana e também da velha Europa."O Presidente brasileiro, Lula da Silva, saudou este alargamento dos BRICS, bem como o facto de a declaração final mencionar o apoio à reforma do Conselho de segurança da ONU.CEDEAO realizou plano de acção para "intervenção militar" no NígerOs chefes militares da CEDEAO, reunidos na sexta feira 18 de Agosto em Accra no Gana, afirmaram-se prontos para uma "intervenção militar", com plano de acção e efectivos estipulados. No mesmo dia, em Niamey, uma delegação das Nações Unidas encontrou-se com a junta militar para discutir uma saída de crise pacífica do golpe de estado de 26 de Julho. Em declarações à RFI, Leonardo Simão, representante moçambicano do Secretário-Geral das Nações Unidas para a Africa Ocidental e o Sahel, enviado especial Niamey, explicou os objectivos desta deslocação. "As Nações Unidas estão a procurar uma via pacífica que torne desnecessária uma via militar, porque mesmo a CEDEAO diz que é preciso encontrar um caminho por via negocial, utilizando a força em última análise."A União Africana suspendeu o Níger depois do golpe de Estado, mas demonstrou-se reservada quanto à possível intervenção militar da CEDEAO, pedindo à comissão para que se avaliem as consequências económicas, sociais e de segurança da mobilização de tropas da organização regional.Por sua vez, o líder da junta militar Abdurahamane Tiani afirmou não "querer a guerra", alertando no entanto para o facto de o Níger estar preparado para se defender, se necessário, e contar com o apoio do Burkina Faso e do Mali, tendo autorizando os dois países vizinhos a enviar tropas em território nigerino em caso de ataque. Políticas para a juventude serão a prioridade da presidência são tomense na CPLP Na sexta-feira, em São Tomé e Príncipe, reuniram-se os chefes da diplomacia da CPLP, Comunidade dos países de língua portuguesa, a preparar a cimeira de chefes de Estado e de governo da organização lusófona deste domingo. Em declarações à agência Lusa, o primeiro-ministro são-tomense Patrice Trovoada alegou que caso a Guiné-Bissau desista, mesmo, da presidência rotativa do bloco, a Guiné Equatorial tem os mesmos direitos do que qualquer outro país em assumir a presidência do grupo.Patrice Trovoada lembrou ainda que as políticas para a juventude serão a prioridade da presidência de dois anos do arquipélago que deve começar neste fim de semana. Por outro lado, devido à realização da cimeira da CPLP, o Governo são tomense proibiu todas as manifestações por um período de 15 dias. A decisão foi contestada pelo MLSTP-PSD, que apresentou uma queixa-crime.Angola acolhe Presidentes de Cuba e BrasilO Presidente de Cuba, depois de ter participado na cimeira dos BRICS na África do Sul, deslocou-se a Angola e Moçambique para reforçar a cooperação bilateral com estes dois países. O Presidente angolano João Lourenço aceitou o convite do seu visitante para ir a Cuba para a próxima cimeira do Grupo dos 77 e China (um bloco de países em desenvolvimento) a realizar entre 15 e 16 de Setembro em Havana. Angola recebeu ainda a visita do presidente brasileiro na sexta-feira e até sábado 26 de Agosto. O encontro entre os dois chefes de Estado inclui ainda um fórum empresarial reunindo centenas de empresários dos dois países.
Íntegra do discurso do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, na Sessão I do Diálogo de Amigos do BRICS, em Joanesburgo, nesta quarta-feira (24). Em seu discurso, Lula disse que os BRICS nos oferecem uma fonte de soluções criativas.
No Jornal PT Brasil, Amanda Guerra entrevistou Carlos Zarattini, deputado federal (PT/SP), que falou sobre a 15ª reunião da cúpula dos BRICS em Joanesburgo, na África do Sul.
Encerrada a cúpula em Joanesburgo com os dirigentes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, a principal novidade do Brics foi o convite para seis novos países integrarem o grupo a partir do ano que vem: Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. A partir da incorporação, o Brics representará 46% da população mundial e 36% do PIB global. A atuação do grupo vai mudar? Será um grupo de embate com os países ricos do Ocidente, como Estados Unidos e integrantes da União Europeia? Como essa mudança afeta o Brasil e seus interesses? Celso Freitas e a repórter Vanessa Lima conversam com o cientista político, professor de Relações Internacionais e pesquisador da Universidade de São Paulo, Pedro Costa Júnior.
Íntegra do discurso do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, na Sessão plenária ampliada da XV Cúpula do BRICS, nesta quarta-feira (23), em Joanesburgo. Lula disse que os BRICS têm de atuar para o entendimento e cooperação.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou com a imprensa em Joanesburgo, África do Sul, nesta terça(23) sobre o arcabouço fiscal aprovado pela Câmara dos Deputados e sobre o crescimento econômico sustentável do Brasil.
Um dos focos da agenda econômica da 15ª Cúpula do Brics, na África do Sul, é o avanço das discussões sobre a adoção de uma eventual moeda única nas transações entre os países integrantes do bloco de emergentes. Um primeiro passo deve ser a ampliação dos fluxos nas moedas nacionais entre os países-membros, com um papel protagonista do chamado Banco do Brics nesta transição. Lúcia Muzell, enviada especial da RFI a JoanesburgoAssim, em um primeiro momento, em vez de usar o dólar para a China investir no Brasil, os dois países poderiam escolher o yuan chinês – que, entre as cinco moedas do bloco, é a mais internacionalizada. O exemplo foi evocado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista nesta terça-feira (22).Desde que assumiu o Planalto, ele tem reiterado o desejo de concretizar o projeto, um sonho antigo dos países em desenvolvimento que ganhou força desde que os juros americanos se estabilizaram em um patamar elevado.“Por que eu faço negócio com a China e preciso de dólar? O Brasil e a China têm tamanho suficiente para fazer negócios nas suas moedas ou em outra unidade de conta, sem desvalorizar a moeda da gente e sem negar. Ela continua existindo, mas a gente cria uma moeda de comércio exterior”, explicou. “O que é importante é que a gente não pode depender de um único país que tem o dólar, e nós somos obrigados a ficar vivendo da flutuação desta moeda. Não é correto.”O presidente ressaltou que o plano não representa “negar o dólar”, mas frisou que os países em desenvolvimento podem desviar da moeda americana para poderem, inclusive, se ajudarem entre si nos momentos de crise. “Há países, como a Argentina, que não podem comprar dólar agora, e estão em uma situação muito difícil, porque não têm dólar. Ora, para vender para o Brasil, não deveria precisar de dólar”, evocou.Passo a passoO presidente do Instituto do Brasil África, João Bosco Monte, acompanha em Joanesburgo o andamento das negociações de um projeto “complicado”, segundo ele, para sair do papel. “Os países têm, naturalmente, a capacidade de transações bilaterais entre si nas suas moedas, e isso talvez seja a gênesis de um novo captulo. A identificação de uma moeda comum é, por enquanto, um desejo que eles têm colocado sobre a mesa”, avalia.Diante de uma plateia de empresários, industriais e integrantes do sistema financeiro, no Fórum Empresarial do Brics, Lula e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, enfatizaram o papel do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês) para acelerar o projeto com as moedas nacionais. O brasileiro sonha que o NDB um dia será “mais forte que o FMI” nos empréstimos para as nações em desenvolvimento.Já o presidente russo, Vladimir Putin, comentou, por videoconferência, que o processo de fim da hegemonia do dólar nas transações comerciais globais era "irreversível". Brics empresta em rands sul-africanosNa semana passada, a instituição realizou a primeira venda de títulos da dívida em rands sul-africanos: um título de cinco anos de 1 bilhão de rands, o equivalente a US$ 53,1 milhões. A presidente do banco, Dilma Rousseff, declarou que o NDB espera emprestar até US$ 10 bilhões este ano para os países membros, dos quais cerca de 30% devem ser nas moedas locais – incluindo ainda o real brasileiro, o rublo russo e a rúpia indiana.“Brigar com os Estados Unidos e o sistema financeiro mundial não é fácil. O fato de o Banco do Brics trazer essa agenda e puxar essa discussão favorece para que, eventualmente, as transações comerciais entre os países possam usar outras moedas. É possível? Sim, depende obviamente da conversa, do entendimento político, mas isso não é uma ação que se esgota nos dois dias de conversas em Joanesburgo”, salienta Bosco Monte.
O presidente da República afirmou que o empoderamento das mulheres é condição fundamental para o desenvolvimento econômico e social dos países. Luiz Inácio Lula da Silva discursou nesta quarta-feira, em Joanesburgo, na África do Sul, no segundo dia da reunião do Brics. Mandatário saudou algumas das mulheres presentes no encontro como a atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento Dilma Rousseff, por exemplo. Lula voltou a defender a reaproximação do Brasil com a África.
Cimeira dos BRICS arrancou em Joanesburgo. Presidente russo promete enviar cereais de forma gratuita para seis países africanos. Greve dos médicos está a levar a altas compulsivas na província moçambicana de Inhambane. FRELIMO é o partido que mais beneficia de financiamentos ilícitos em Moçambique, acusa CIP. Cientista angolano quer usar Inteligência Artificial para prevenir a malária.
Nesta terça-feira (22), o presidente Lula conversa com o jornalista Marcos Uchôa, em Joanesburgo, África do Sul, sobre O encontro do BRICS, fome no mundo, conselho de segurança da ONU, entre outros assuntos.
A 15ª Cúpula do Brics inicia nesta terça-feira (22), em Joanesburgo. O Brasil é pressionado a concordar com a abertura do bloco para novos sócios.
Viaduto Gil Nogueira, no bairro Santa Amélia, será interditado a partir desta segunda-feira (21) para realização de obras. Lula desembarca em Joanesburgo para participar da cúpula do BRICS. "Muçum, o Filmis" foi o grande vencedor do Festival de Cinema de Gramado. See omnystudio.com/listener for privacy information.
Ministro da Justiça, Flávio Dino, liberou hoje a transferência de 39 milhões de reais do Fundo Nacional de Segurança Pública para o estado de Minas Gerais. Ministro do Turismo, Celso Sabino, disse hoje que a 1-2-3Milhas foi suspensa do CadasTur, programa que facilita a obtenção de empréstimos e financiamentos no setor. Presidente Lula desembarcou hoje em Joanesburgo, capital da África do Sul, onde participará da Cúpula do Brics See omnystudio.com/listener for privacy information.
Os líderes dos Brics devem avançar nas discussões sobre o uso de moedas alternativas ao dólar durante a cúpula do bloco em Joanesburgo, na África do Sul, na semana que vem. Uma das ideias é que os países passem a usar suas próprias moedas locais para as transações comerciais intra-bloco.
Confira na edição desta terça-feira (11) do Jornal da Record News: Presidente Lula promete jogar duro contra o desmatamento e ameaça usar as forças armadas para proteger as florestas do país. Novas regras do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida podem aumentar a procura por imóveis em até 76%. Marinha brasileira emite alerta para ressaca com possibilidade de ondas de até 4 metros e meio de altura entre os litorais de Santa Catarina e São Paulo. Joanesburgo, na África do Sul, registra neve pela primeira vez em mais de uma década. Microsoft demite mais 276 funcionários após onda de cortes na gigante da tecnologia em janeiro.
Um convite para trabalhar em uma companhia aérea, tendo um cargo de liderança no setor de transporte de cargas, fez o gaúcho Marcos Brandalise trocar a Alemanha, onde vivia recém-casado com uma alemã, por Angola, em 1988, em plena guerra civil que marcou a história do país lusófono. Vinícius Assis, correspondente da RFI em Adis AbebaCinco anos depois, ele foi transferido para o leste africano. E foi no Quênia, uma das maiores economias africanas, que ele decidiu viver com a família e criar, em 1996, a própria empresa para apresentar, nesta região, as soluções com bons resultados para o Brasil em anos anteriores, especialmente na agricultura. Marcos começou a representar empresas brasileiras por aqui. “A gente viu o que aconteceu no Brasil nos anos 1970, 1980, 1990 e o que ainda está acontecendo. A gente imagina e tem esperança de que a África vai seguir o mesmo caminho do Brasil. O potencial aqui é fenomenal”, disse. Ele representa atualmente cerca de 15 companhias brasileiras e vende de chuveiros elétricos à maquinário agrícola.O Quênia enfrenta uma onda de protestos contra o novo governo por conta do custo de vida no país, que vem aumentando. Mas as recentes manifestações não são as primeiras que ele testemunha e isso não intimida um dos empresários brasileiros mais antigos - se não o mais antigo - investindo e vivendo no complexo e promissor continente africano. Teimoso autodeclarado, é um entusiasta da ideia de que o Brasil deve olhar mais para as oportunidades e desenvolver parcerias com o segundo continente mais populoso do planeta, apesar dos desafios dessa região que, até seis décadas atrás, era dominada por colonizadores europeus. “O processo de se desvencilhar dos colonialistas começou nos anos 1960. Então, são democracias ou governanças recentes. O processo deles é muito mais jovem. Tem muita coisa ainda para eles passarem para chegar em um nível de estabilidade governamental”, disse.Muitas realidadesEste assunto foi abordado na entrevista não só por conta dos protestos recentes no Quênia, mas porque o receio de golpes militares e o clima de instabilidade política acaba sendo um dos motivos para que empresários brasileiros sejam reticentes em se tratando do continente que, até 2050, deverá concentrar 25% da população mundial. O brasileiro reforçou ao longo da entrevista a diversidade da África, que muitos parecem ignorar ao olhar para esta parte do planeta de forma homogeneizada. “São 54 países e cada país é uma cultura”, destaca, embora reconheça que há similaridades. “Cada país é um país, não dá pra generalizar ‘África'. Tem que olhar para cada país de uma forma diferente. Tem uns com muito mais risco, outros com muito menos risco e outros sem risco”, reforça.O brasileiro se mostra otimista em se tratando das novas gerações de africanos. “O continente está experimentando um momento super interessante. As gerações novas, bem educadas, localmente ou internacionalmente, estão voltando com boas ideias e querem inovar. E a agricultura, nos últimos anos, tem sido uma área em que eles têm muito interesse”, disse.Com uma visão pragmática e realista, o brasileiro que vive há mais de 30 anos no continente africano não romantiza o seu discurso para estimular investimentos nesta região. “Tem muitos ‘buracos': o buraco cultural, o buraco político. Por exemplo, em agricultura, a vida animal selvagem é enorme aqui na África, em vários países. Então, isso conta para ter cuidado, para não prejudicar essa vida, que é uma riqueza africana, mas também um desafio para a agricultura”, frisou. O pastoralismo que ainda existe em grande escala é outro “buraco” destacado por Marcos para se ter cuidado, assim como títulos de terras. “Uma das nossas vantagens é que a gente entende a cultura e a gente entende como lidar com comunidades, com a vida animal selvagem e outras coisas. Não dá para ignorar isso porque senão o pessoal falha, como falharam vários projetos de diferentes investidores de diferentes nações”, contou.OportunidadesO Brasil ainda apresenta ótimas oportunidades internas, o que faz com que empresários brasileiros nem sempre se interessem em cruzar o oceano Atlântico para aproveitar novos investimentos. Mas a falta de conhecimento e o fato de se basearem apenas em experiências que não deram certo também afastam investidores brasileiros do continente africano, na opinião do Marcos.Algo que pode estimular a implementação de projetos brasileiros na África seria o BNDES voltar a olhar para o continente. A internacionalização do Banco volta ao centro do debate entre especialistas agora no governo Lula. Embora o BNDES tenha sido criado em 1952, foi nos anos 2000 que se começou a ver apoio à internacionalização de empresas brasileiras. Chegou a ter três escritórios no exterior: em Montevidéu, Londres e Joanesburgo, aberto dez anos atrás. Os três foram fechados pouco depois de Michel Temer ter assumido a presidência. “Conheci o pessoal que tocava o BNDES em Joanesburgo. Fizeram bastante esforços para entrarem no continente e financiar alguns programas, mas eles se depararam com uma coisa óbvia: outros países também têm programas similares. As iniciativas foram boas, o escritório de Joanesburgo era bom. A motivação estava lá, para fazer a coisa acontecer, mas infelizmente, falhou em algum lugar que eu não tenho capacidade de avaliar”, observou.Um assunto sobre o qual a reportagem também ouviu o presidente do Instituto Brasil-África (IBRAF), João Bosco Monte, que destacou duas falhas. “Foram menos de três anos de operação no continente e o banco não disse exatamente qual era seu interesse naquele espaço. Não dá para cobrir todo o continente com o pessoal escasso. Não era uma equipe muito generosa, muito grande. E o segundo erro foi que as empresas brasileiras não sabiam da existência de um banco de financiamento de empresas brasileiras na África. Então, o desconhecimento talvez foi o erro fatal”, esclareceu.O empresário gaúcho destacou que há, ainda, um grande potencial nesta região. “Mas temos que lembrar que têm muitos competidores entrando na África, especialmente agora. Então, tem que haver uma mudança, talvez. Uma reavaliação de como a gente entra com financiamento e tudo mais, que é importantíssimo e pode facilitar muito o investimento do brasileiro no continente e a visão do continente com o Brasil (pode) melhorar também”, disse.Marcos reconheceu que, no passado, o presidente Lula reaproximou o continente africano do Brasil, mas criticou o modo que isso foi feito. “Ele deu muito suporte a grande empreiteiras. Acho que pequenas atividades teriam tido mais resultado”, ponderou.O presidente do IBRAF também acha que não só as “campeãs” podem ter acesso ao financiamento do banco. “Outras empresas médias e pequenas também podem e devem ter condições de conversar e fazer negócios na África com a parceria do BNDES de forma objetiva e direta”, reforçou. Para João Bosco, é preciso repensar o apoio governamental, através de um banco de financiamento para que marcas, produtos e serviços do Brasil cheguem a espaços africanos, mas também colaborando com o outro lado. “Empresas africanas também podem se interessar em fazer negócios com o Brasil e no Brasil a partir de uma representação maior nossa no continente africano”, concluiu.Ao falar com a RFI, Marcos Brandalise disse discordar de algumas políticas do Itamaraty e diz que investidores de países como Itália, Turquia e China, por exemplo, têm mais apoio de seus governos. “O Brasil ainda está em uma fase precoce em se tratando de fazer negócio internacional. Eles ainda têm uma visão, eu diria, arcaica de como fazer negócio internacionalmente”, observa, deixando claro que ainda “tem um grande caminho para ser trilhado pelo governo brasileiro para melhorar as relações entre África e o Brasil”.BRICSO presidente Lula deve fazer a primeira viagem, deste terceiro mandato, para o continente africano somente em agosto, quando participará da cúpula do BRICS, na África do Sul. Na entrevista, Marcos afirmou que acha o BRICS uma associação super interessante, mas que pode ser melhor explorada. Ressalta que ainda é preciso ter cuidado com países do hemisfério norte, que detém hegemonia em vários aspectos. “O Brasil tem que continuar fazendo o papel dele de neutralidade, em vários aspectos, mas tem que ver a parte dele na economia. O BRICS pode ser tão importante para o Brasil como todos os outros blocos econômicos que existem no mundo. O Brasil é e tem que continuar sendo amigo de todos os blocos”, disse.O empresário segue a lógica do quanto maior o risco, maior pode ser a margem de lucro. E destaca que há “um potencial fenomenal” em se tratando da relação do Brasil com o continente africano. “Porque o africano gosta do brasileiro e quer fazer negócio com o Brasil, mas os mecanismos não existem efetivamente”, ressaltou.
Toda semana tem Nóz Comunica, o quadro produzido pelo Nóz com as nutricionistas colaboradoras. Eps rápidos pra trazer novos conteúdos e reflexões para vocês! 21 de março. Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, proclamado pela ONU em memória das 69 pessoas mortas no chamado Massacre de Shaperville, em Joanesburgo, quando participavam de um protesto contra a Lei do Passe em 1960. Sou nutricionista pela UFRGS. Fiz mestrado em ciências da nutrição na UFCSPA, estudando determinantes sociais, discriminação racial, comportamento e consumo alimentar. Atuo na clínica com ênfase em comportamento alimentar, conectando a escuta, o aconselhamento e o reconhecimento da influência da sociedade e do ambiente na alimentação e na relação com o corpo. Trabalhei por 5 anos no TelessaúdeRS-UFRGS, com ações de educação permanente de profissionais da atenção primária do SUS, onde me aprofundei nos temas de saúde coletiva e saúde planetária.Instagram: @ylagram Tem alguma pergunta ou assunto que gostaria de ouvir por aqui? Manda pra gente por dm ou tweet, ou comenta lá no post desse episódio no Instagram! EquipeEdição: Thaiana LindemannProdução: Pablo Couto e Thaiana LindemannPublicação: Thaiana LindemannCapa: Thaiana Lindemann Contatocontato@nozdanutricao.com.brInstagramTiktokTwitterFacebookLinkedin
Álvaro Vasconcelos, antigo director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia, cujas análises sobre Relações Internacionais são frequentemente ouvidas nas antenas da RFI acaba neste mês de Dezembro de publicar o seu mais recente livro, "Memórias em Tempo de Amnésia", um relato na primeira pessoa sobre o seu percurso de vida que nos primeiros anos passou por Moçambique e pela África do Sul. Dividido em dois volumes cujo primeiro é intitulado "Uma campa em África", este livro conta a vivência do autor na cidade da Beira onde chegou aos 9 anos em 1953 e onde residiu durante 12 anos, antes de ir estudar em Joanesburgo durante os anos 60. A violência da época colonial, os debates políticos e culturais que então alimentavam a sua geração estão no centro desta obra cujo objectivo é desconstruir narrativas como, por exemplo, o lusotropicalismo que continua ainda hoje a sustentar discursos políticos de negação do que foi o colonialismo português. Na entrevista concedida por Álvaro Vasconcelos que dividimos em 2 episódios, o estudioso começa por evocar o que o animou na escrita deste livro. RFI: O que o levou a escrever este livro? Álvaro Vasconcelos: Eu escrevi com a seguinte preocupação: vivemos uns tempos -sobre os quais aliás temos conversado- em que há a tentação de "alindar" o passado, esquecer todas as distopias, todos os crimes, toda a violência, toda a desigualdade do passado. Isto é uma realidade em Portugal em relação às colónias, em relação ao que foi o colonialismo, em relação ao que foi a ditadura salazarista. Quando eu vi a extrema-direita crescer um pouco pelo mundo inteiro, com essa narrativa que é uma "retrotopia", mas que é uma narrativa que no fundo sempre existiu em Portugal, de negar os crimes do colonialismo, eu pensei "eu que vivi essa geração, eu que vivi em África, eu que vi os crimes que foram cometidos, tenho um dever de memória". Eu chamo este livro "Memórias em Tempo de Amnésia", referindo-me a esta tentativa de esquecer o passado e de o embelezar, de novamente fazer do colonialismo português uma "obra civilizatória". RFI: No começo deste livro, fala de um episódio ao qual assistiu em Moçambique e que foi um pouco o mote para esta obra. Poderia contar-nos? Álvaro Vasconcelos: Foi um dia com muito sol. Dias de sol é o que havia mais na cidade da Beira onde eu vivia. Vinha do liceu, a caminho de casa e vejo um jovem negro rodeado por um grupo de homens brancos que o pontapeavam e chamavam-lhe todos os palavrões que sabiam acompanhados pela palavra "preto". Eu fiquei extremamente perturbado, senti-me impotente e de certa forma cobarde por não poder ir socorrer este jovem negro cujo único "crime" era ter respondido a um insulto. Cheguei a casa perturbadíssimo e disse ao meu pai, "ó pai, aconteceu isto, eu estava nervosíssimo". O meu pai diz "estás assim tão aflito, tão nervoso, porque tiveste um sentimento de impotência". Eu comecei a pensar sobre isso. Ou seja impotência, porquê? Porque aquele indivíduo que estava a ser brutalmente agredido e que tinha mais ou menos a minha idade, estava a ser agredido porque não tinha direitos. E quem não tem direitos, é vítima de todas as violências. RFI: Isto aconteceu numa altura em que estava a viver em Moçambique. Estamos a falar dos anos 50. Como recorda essa época? Álvaro Vasconcelos: Recordo sem nostalgia, sem pensar que foram os melhores anos da minha vida. Recordo como tendo vivido numa cidade que eram duas: uma cidade 'branca' onde eu vivia, havia acesso à cultura, havia acesso à vida fácil, e uma cidade 'negra' em que os negros viviam num sistema de trabalho forçado que se prolongou até praticamente à minha saída da Beira. Podemos dizer que o trabalho forçado era uma herança directa da escravatura. Aliás, o Bispo da Beira de então, Dom Sebastião Soares Resende, quando chegou à Beira nos anos 40 ele disse "na Beira há escravatura". Nos anos 50, voltou a dizer "na Beira há escravatura e muito dura". Ou seja, aquela qualidade de vida que os brancos tinham na sua "bolha" , tinha de ser sustentada nas costas de pessoas que eram obrigadas a trabalhar por um salário absolutamente miserável, que comiam farinha e peixe seco -quando muito- e que faziam iguarias para as pessoas das casas. Além disso, no exterior da Beira, fora da cidade, na indústria açucareira ou algodoeira, tudo aquilo era baseado em trabalho escravo, trabalho forçado. Havia aquilo que se chamava os "recrutadores" que eram homens que tinham como objectivo -com a ajuda da administração portuguesa- de "recrutar" pessoas para trabalhar. Muitas vezes eram apanhadas à força e levadas para os sítios onde iriam ser obrigados a trabalhar. Portanto era trabalho forçado, quase trabalho escravo. RFI: Como é que se vive essa ambivalência de ser equiparado ao grupo dos opressores e ao mesmo tempo sentir essa opressão? Álvaro Vasconcelos: É complexo. Acho que em parte vive-se porque se vive numa "bolha". Nós, os jovens brancos da Beira, que íamos descobrindo os valores da liberdade, que líamos a grande literatura da pós-segunda guerra mundial, que nos apaixonamos pelo existencialismo, Sartre, Camus, Simone de Beauvoir, despertávamos para o Humanismo. Víamos o grande cinema que se podia ver na Beira -porque na Beira havia mais liberdade de acesso à cultura do que no resto do império português- víamos o "Couraçado Potemkin" do Eisenstein, víamos o neo-realismo italiano, víamos muitos filmes que eram proibidos em Portugal e nós, nessa "bolha", íamos construindo uma cultura Humanista, mas de certa forma, não tirávamos todas as consequências políticas e humanas daquela cultura. O nosso objectivo passou a ser acabar com a ditadura em Portugal. E ao acabar com a ditadura em Portugal, pensávamos que se acabaria com o colonialismo. Portanto, é uma situação de uma grande ambiguidade que evidentemente cria angústia porque vivíamos uma situação de racismo extremo, de 'apartheid'. Depois vivi na África do Sul. O 'apartheid' na Beira não era fundamentalmente diferente daquele que se vivia na África do Sul porque, num banco de jardim em que nos sentássemos na Beira, nenhum negro se sentaria ao nosso lado. Na África do Sul, também não se sentava porque estava escrito no banco que ele não se podia sentar. Essa era a diferença fundamental. Penso hoje que se vivia com grande angústia nesses tempos em que éramos, de facto, agentes do colonialismo. Beneficiávamos dele. Todo o colono de certa forma é agente do colonialismo porque repercute a vontade do colonizador pelo menos no seu meio social. Mas nós vivíamos numa "bolha". Era isso que fazia com que pudéssemos sobreviver naquelas circunstâncias. RFI: Estava a falar da leitura que fez da sua vivência em Moçambique quando passou a viver na África do Sul. A certa altura do livro, diz que o facto de ser confrontado ao racismo totalmente assumido do 'apartheid' na África do Sul fez com que visse mais claramente o que se passava em Moçambique naquela época. Álvaro Vasconcelos: Sem dúvida, porque na África do Sul, o 'apartheid' era assumido como lei, era uma barbaridade absoluta como era em Moçambique, mas ali completamente assumido como lei, sem qualquer tentativa de esconder que se vivia num regime racista, herdeiro no fundo das teorias racistas que levaram ao poder Hitler na Alemanha e que dominaram a Europa no anos 30, que levaram à segunda guerra mundial e ao Holocausto... e portanto, na África do Sul, estas teorias eram aplicadas e eram defendidas. Evidentemente, com o acesso enorme que tínhamos na universidade a toda a informação, a toda a literatura, às grandes revistas internacionais, o ambiente de discussão sobre o 'apartheid' e sobre o racismo era muitíssimo mais aberto, mais profundo do que era em Moçambique, porque em Moçambique estas questões falavam-se, mas nós falávamos mais em Moçambique do que era a ditadura portuguesa, do que era a desigualdade e das questões mais sociais. Não tínhamos uma discussão profunda sobre o racismo. De certa forma, vivíamos naquele ambiente e assumir que vivíamos num ambiente de segregação racial brutal era pôr em causa a nós próprios, às nossas famílias, aos nossos pais. Isto era extremamente doloroso e difícil, apesar de nós em Moçambique, eu e os meus amigos, adoramos a poesia da Noémia de Sousa que dizia "deixem passar o meu povo", líamos a poesia de José Craveirinha que falava "eu sou carvão, carvão da usina do branco". Fizemos um filme de que falo no livro sobre os negros que eram obrigados a ir à esquadra levar palmatoadas por partirem um prato em casa. Essa violência extrema a que nós assistimos em Moçambique, nós condenávamos, mas não discutíamos a questão do racismo e a questão do racismo era central na África do Sul. Era a questão que era discutida por todo o lado, na universidade evidentemente. Era o que era contestado, era a lei do 'apartheid', não era só a violência, a desigualdade, tanto mais que na África do Sul, os brancos tinham determinados direitos e determinadas liberdades democráticas e os negros não tinham esses direitos. Portanto, essa discussão do racismo na África do Sul, de facto, tornou muito mais claro o racismo em Moçambique.
Álvaro Vasconcelos, antigo director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia, cujas análises sobre Relações Internacionais são frequentemente ouvidas nas antenas da RFI acaba neste mês de Dezembro de publicar o seu mais recente livro, "Memórias em Tempo de Amnésia", um relato na primeira pessoa sobre o seu percurso de vida que nos primeiros anos passou por Moçambique e pela África do Sul. Dividido em dois volumes cujo primeiro é intitulado "Uma campa em África", este livro conta a vivência do autor na cidade da Beira onde chegou aos 9 anos em 1953 e onde residiu durante 12 anos, antes de ir estudar em Joanesburgo durante os anos 60. A violência da época colonial, os debates políticos e culturais que então alimentavam a sua geração estão no centro desta obra, para além da sua experiência pessoal, o autor fala muito dos livros que o marcaram. Na entrevista concedida por Álvaro Vasconcelos que dividimos em 2 episódios e cujo primeiro ouviram ontem, o estudioso aborda agora a presença muito forte da literatura na sua vida, nomeadamente na Beira, onde relata ter sentido menos a censura do que em Portugal, o que lhe permitiu conhecer os principais escritores europeus para, em seguida mergulhar na contra-cultura americana que conheceu quando foi estudar a Joanesburgo nos anos 60. RFI: "Memórias em Tempo de Amnésia" fala dos seus primeiros anos, em Portugal, em Moçambique e na África do Sul, mas fala também muito dos livros que o acompanharam naquela época. Álvaro Vasconcelos: É verdade que a literatura foi algo extremamente importante na minha vida. Foi pela literatura, sobretudo a literatura Europeia -e não só, também a literatura moçambicana- que eu fui descobrindo aquilo que eu chamei Humanismo radical, ou seja, o dever de se ter posição de se assumir um compromisso com a sociedade. O livro que mais me marcou na minha juventude foi a "Guerra e Paz" de Tolstoi. No fundo, comecei a identificar-me com o Pedro da "Guerra e Paz". Lia este livro todos os anos e o Pedro, para mim, era um herói, mas um herói que lutava pelos ideais da Revolução Francesa. É verdade que pensou que Napoleão representava esses ideais e depois compreendeu que as guerras napoleónicas eram guerras imperiais que nada tinham a ver com os ideais da Revolução Francesa. Mas a descoberta dos ideais da Revolução Francesa através de Victor Hugo, de Tolstoi em particular, tiveram uma grande influência para mim. Depois, comecei a ler a literatura que o meu pai lia, da segunda guerra mundial, de Erich Maria Remarque, Stefan Zweig, escritores alemães, austríacos, que falavam das circunstâncias da subida do Fascismo e do Nazismo. Isso evidentemente foi muito importante na minha formação. Depois, toda a literatura francesa ligada ao movimento existencialista. Nós na Beira, começamos a pensar que éramos existencialistas porque líamos Sartre, Camus, Roger Vailland, Simone de Beauvoir, mas fundamentalmente Sartre. Devo dizer que foi fundamentalmente Sartre que teve um grande impacto em nós. Ao dizer que "todo o homem nasce livre e é capaz de fazer a sua escolha, tem a liberdade de escolher", Sartre teve em nós uma grande influência. Passávamos horas nos cafés, no "Capri" (na Beira), a discutir sobre Roger Vailland, "A cabra cega", sobre o Sartre, "A náusea", "as mãos sujas", o Camus evidentemente, para nós era muito importante, toda a problemática da angústia. Tudo isto fez parte da nossa formação que era acompanhada -para grande sorte que tínhamos na Beira- de ter um cineclube que nos dava a conhecer o grande cinema europeu do pós-guerra, o neo-realismo italiano, a "Nouvelle Vague" francesa, o cinema soviético e evidentemente também os escritores americanos. Estou a lembrar-me, por exemplo, da importância de Steinbeck, das "Vinhas da ira". Ao nos dar uma perspectiva das questões sociais que estavam menos presentes nesta literatura que acabo de referir, que era uma literatura mais sobre a liberdade e sobre o perigo do nazismo, do fascismo, do racismo, Steinbeck conta-nos uma história da crise dos anos 30, da extraordinária desigualdade social, fala daqueles que não tinham voz. Tenho-me lembrado disso, quando Annie Ernaux recebeu o Prémio Nobel de Literatura que, no fundo, há aqui -e ela própria o diz- uma relação entre a sua literatura e esta literatura americana que eu lia quando estava na Beira. RFI: Na África do Sul, contacta mais com a contracultura americana que influencia muito o meio universitário de Joanesburgo. Álvaro Vasconcelos: Sem dúvida. Quando eu cheguei a África do Sul, era em 1966 e vivia-se o auge da contracultura americana, o movimento Hippie nos Estados Unidos, Bob Dylan, Joan Baez, da marcha sobre o Capitólio, os movimentos contra a guerra do Vietname e uma reflexão sobre os jovens, a juventude que dizia "não" e o pôr em causa a sociedade de consumo, Andy Warhol, o Pop Art, tudo isto estava muito presente na África do Sul. Eu mergulhei nessa contracultura americana e encontrei nela de facto uma resposta para muitas das minhas questões. No fundo, fui aprendendo a olhar o mundo num primeiro momento através da contracultura americana, das canções do Bob Dylan, da poesia da contracultura americana e tudo isto era absolutamente extraordinário no ambiente em que vivíamos na África do Sul. Por exemplo, a poesia do Allen Ginsberg -eu refiro isso no livro- "O peso do mundo é o amor, o peso que carregamos é o amor", jovens, como somos todos um pouco românticos, que nos sentíamos sós num mundo em que não revíamos, o mundo da guerra do Vietname, e as canções do Bob Dylan, as suas canções contra a bomba atómica, tudo isto batia completamente certo com aquilo que nós víamos. Depois, na África do Sul, líamos "Os condenados da Terra" de Frantz Fanon e eu que estava mergulhado naquele movimento da contracultura americana e no movimento Hippie pacifista, ao ler este livro e ver a razão pela qual as pessoas se revoltavam, tinham direito de se revoltar e tinham inclusivamente o direito de resistirem de armas na mão se fosse necessário às tropas coloniais, evidentemente ganhei uma consciência diferente. Fui-me aproximando daquilo que é o tema do segundo volume deste livro, que são os meus anos de exílio na Bélgica e em França em que me fui aproximando do marxismo, nessa mistura entre o marxismo e a contracultura americana que foram as ideias libertárias dos anos 70 na Europa. RFI: No epílogo deste livro, conta uma visita virtual que fez recentemente na Beira. Como foi este regresso virtual à cidade da Beira? Nunca tinha lá regressado? Álvaro Vasconcelos: Eu não tinha regressado à Beira. De certa forma, não me sentia bem. Achava que a Beira era uma cidade-fantasma. Já ninguém do meu tempo vivia lá. Só me fazia lembrar as coisas mais cruéis que vivi ou às quais assisti na minha juventude. Portanto, regressar à Beira, era como regressar a uma cidade-fantasma. Metia-me medo, provocava-me angústia. Portanto não fui à Beira quando fui a Moçambique depois da guerra civil (em 1992). Organizei uma série de seminários em Maputo sobre as transições democráticas que aliás também organizei na África do Sul, no fim do apartheid. Não fui à Beira, mas agora tinha pensado que como agora tinha finalmente decidido escrever sobre o período que tinha vivido na Beira, que devia ir lá. Mas como veio o covid, não pude ir à Beira. Então, imaginei uma visita guiada pelo Marcelino Francisco que é um famoso youtuber da Beira, uma viagem virtual em que eu visitasse a cidade. De facto, é extraordinário. Com o youtuber Marcelino Francisco, fui de facto à cidade da Beira. Evidentemente que não tinha os cheiros, não havia o calor que sentia quando vivia na Beira, tinha que imaginar, mas eu falava com as pessoas, entrava nas livrarias, entrava nos cafés, entrava nos clubes que tinha frequentado. Portanto, foi uma experiência muito interessante. RFI: Pensa que um dia vai regressar "em carne e osso" à cidade da Beira? Álvaro Vasconcelos: Penso regressar à Beira. Existe lá uma livraria que é a Fundza, que é a única livraria da cidade e que é a propriedade de um escritor, livreiro e editor. ele quer organizar lá uma apresentação do livro naquele espaço e eu estou a imaginar ir lá, voltar à Beira depois destes anos todos. Da Beira restam só da nossa passagem como de muitas famílias portuguesas, o túmulo da minha avó que foi morrer à Beira. Acho que isto também é uma característica do colonialismo. Deixou para trás túmulos. Túmulos de colonos, túmulos de soldados que morreram na guerra colonial e túmulos de africanos que foram mortos na guerra colonial. A herança do colonialismo, em grande parte, são túmulos. Por isso é que eu chamei o primeiro volume do meu livro "Uma campa em África", porque é a campa da minha avó, Amélia Clara Vasconcelos, que foi morrer à Beira porque já estava muito doente e foi ter connosco, morreu lá.
Neste ano, 3.332 brasileiros poderão participar da eleição presidencial estando em 17 países africanos. O número de cadastrados no continente é quase 22% maior que o de 2018. Na eleição passada, 2.734 eleitores se registraram, só que no segundo turno mais da metade (54,2%) nem sequer apareceu nos locais de votação africanos. O percentual de abstenção ficou acima de 50% em 11 desses países. Vinícius Assis, correspondente da RFI na África do Sul Em 2018, Jair Bolsonaro recebeu no segundo turno 57,5% dos votos de brasileiros residentes na África. Os dados são do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF), responsável por zonas eleitorais no exterior, e de embaixadas e consulados do Brasil em países africanos. A maior parte do eleitorado brasileiro no continente está na África do Sul, uma das maiores economias da região. Adalton e Fernanda Barbosa são originários de Salvador (BA) e se mudaram para a Cidade do Cabo em 2019. Além de trabalharem como modelos, os dois abriram um negócio próprio e vendem comida brasileira. Neste ano votarão pela primeira vez no exterior. “É muito importante”, frisou Fernanda. Ela acredita que este seja o meio de alguém dar o melhor para a própria nação estando longe dela. O casal acabou justificando o voto em 2018 por estar viajando, mas não quis perder a chance de votar desta vez. “Não estou feliz com este atual governo e estou com uma expectativa grande de mudança", disse Adalton. "Meu voto é muito importante para contribuir para isso”, destacou. O casal está entre os 1.016 brasileiros que neste ano podem votar na África do Sul, número aproximadamente 19% superior ao pleito de quatro anos atrás. Na última eleição presidencial, 855 brasileiros se cadastraram para votar no país (605 em Pretória e 250 na Cidade do Cabo). No próximo dia 2 de outubro, haverá urnas eletrônicas em cada uma dessas duas cidades. A maioria dos brasileiros residentes na África do Sul vive em Pretória, Joanesburgo e Cidade do Cabo. Os perfis são diversos. Há estudantes, empresários, servidores públicos, pesquisadores, militares, missionários e acompanhantes de expatriados. No país africano que tem Cuba e China como dois dos principais aliados, alguns brasileiros se mostram mais próximos do socialismo, enquanto outros demonizam o comunismo. A empresária Ana Karato nasceu em Salesópolis, interior de São Paulo, e mora na África do Sul desde 2008. Ela votou no exterior pela primeira vez na eleição passada. Casada, mãe de três filhas, Karato conta que apenas a mais nova da casa, de 3 anos, não irá votar neste ano. A eleitora paulista estima que o presidente Jair Bolsonaro correspondeu em seu governo ao favoritismo que teve no continente na última eleição. Quando a reportagem pediu um exemplo de ação, inicialmente ela se referiu “a aviões fretados para que brasileiros fossem repatriados” durante a pandemia. Na verdade, em 2020, a embaixada brasileira no país contratou apenas um avião da South Africa Airways – e não vários – por cerca de R$ 2 milhões, para repatriar em torno de 250 brasileiros. Os passageiros foram dispensados de pagar diretamente os bilhetes. A empresária brasileira disse ainda que não tem motivos para reclamar sobre a atual relação bilateral entre Brasil e África do Sul. “Quem estiver no governo, independente de quem for, precisa colocar os interesses do país em primeiro lugar. Eu teria que fazer uma análise para ver o que que seria interessante para o Brasil“, afirmou. Ela diz achar “interessante que o Brasil não está mandando dinheiro para outro país”. “O importante é o Brasil se desenvolver. Então, para você se desenvolver, é como no meio dos negócios: você vende alguma coisa, a pessoa precisa comprar. Tem que haver uma troca, não pode ser somente de um lado”, disse. Governos brasileiro e sul-africano mais distantes Os 12 voos semanais que ligavam São Paulo e Joanesburgo até antes da pandemia já não existem mais, o que para Kika Ermel, operadora de turismo que vive na África do Sul há 15 anos, é um dos exemplos do crescente distanciamento entre os dois países. Aliás, ela disse que a relação Brasil-África do Sul parece estar indo ladeira abaixo. “Politicamente falando, vejo uma falta de conexão entre os dois países”, lamenta Ermel. “Cadê o BRICS?”, pergunta ela, indignada, referindo-se ao bloco do qual Brasil e África do Sul fazem parte, junto com Rússia, China e Índia. Especificamente sobre a falta dos voos diretos, ela lembra que o assunto não é apenas uma questão comercial. “Há que ter a vontade política”, frisou. Kika conta que antigamente se programava para viajar para o Brasil e votar, mas há anos desistiu de fazer isso e prefere justificar sua ausência das urnas. Com perfil assumidamente conservador, ela declara que se identifica mais com Bolsonaro do que com Lula, os dois favoritos nesta eleição brasileira, mas evita partidarizar suas respostas em se tratando de expectativas para o próximo governo. Ela acredita que a pressão de Bolsonaro para tentar nomear o bispo licenciado da igreja Universal Marcelo Crivella como embaixador do Brasil em Pretória talvez possa ter criado um certo mal-estar na relação entre os dois países. O que também tem deixado a empresária do ramo de turismo indignada é o fato da embaixada brasileira na capital sul-africana estar há meses sem um embaixador. Falta de embaixadores e queda de exportações no governo Bolsonaro Atualmente, outras embaixadas africanas estão com o posto de embaixador brasileiro vago, como, por exemplo, Moçambique. Depois do constrangimento diplomático com Crivella, o governo da África do Sul aceitou a indicação do diplomata Benedicto Fonseca Filho, o primeiro embaixador negro do Brasil, que atualmente é cônsul-geral em Boston, nos Estados Unidos. Mas ele ainda precisa passar pela sabatina do Senado. “Certamente isso só acontecerá depois das eleições”, disse à reportagem uma fonte do Itamaraty. Na avaliação de Mario Schettino Valente, professor de Relações Internacionais do Ibmec da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a ausência de um embaixador em um país indica falta de prioridade. Em sua premiada tese de doutorado, defendida em 2020, Valente estudou os efeitos da política externa brasileira sobre o comércio exterior. “A tese comprova, de forma estatística, que a abertura de embaixada aumenta o fluxo comercial, principalmente as exportações”, afirmou. Atualmente, o que o Brasil mais envia para a África do Sul são óleos combustíveis de petróleo e carnes. E o que mais compra dos sul-africanos são minerais: prata, platina e alumínio representam mais da metade das importações brasileiras na pauta bilateral. Ainda de acordo com Valente, em 2019, o Brasil registrou o menor valor de participação nas exportações para a África do Sul em 20 anos. No primeiro ano do governo Bolsonaro, este percentual foi de 0,50%, maior apenas que o registrado em 1999 (0,49%). A constatação de recuo comercial é a mesma ao se analisar dados da África Subsariana. “Os piores anos da participação da África Subsaariana nas exportações brasileiras, desde 2000, foram em 2019 (1,628%) e 2018 (1,654%)”, informou. Ele acredita que a redução das atividades da Petrobras no continente tenha afetado este fluxo. Política externa minimizada na campanha A política externa não parece ser uma prioridade para os candidatos à presidência em 2022, muito menos em se tratando da África. Dos 11 candidatos que disputam a corrida presidencial, três citaram o continente africano em seus planos de governo: Léo Péricles (UP), Lula (PT) e Sofia Manzano (PCB). Pablo Marçal até fez referência à região no seu programa de governo, mas o PROS retirou a candidatura dele. Enquanto países como Turquia, Estados Unidos, Rússia e China seguem buscando cada vez mais espaço no continente africano, o presidente do Instituto Brasil-África (IBRAF), João Bosco Monte, lembra que o Brasil vem se afastando desta região desde 2015, e esse distanciamento se intensificou no atual governo. Brasília não deu à África a atenção correspondente ao resultado das urnas no continente em 2018. Para o presidente do IBRAF, a imagem do Brasil no exterior não é a mesma de anos atrás e isso se dá, muito, pela forma com que o presidente Bolsonaro conduz sua política externa. Na África não é diferente. “O Brasil não está bem representado. O presidente Bolsonaro, durante os seus quase quatro anos de governo, sequer pensou e, de forma objetiva, materializou a relação próxima que o Brasil tinha com a África. Ele nunca viajou para nenhum dos países africanos. Isso é muito ruim, porque não demonstra uma aproximação e interesse do Brasil em conversar com a África”, analisou. Engana-se quem associa a África a um lugar que apenas precisa de ajuda humanitária. Especialistas consideram este “o continente do futuro”. Não se fala em produção de carros elétricos, por exemplo, sem colocar na discussão a República Democrática do Congo, um dos maiores produtores mundiais de coltan, ingrediente fundamental para a produção de baterias, inclusive de telefones celulares. Brasileiros esperam reaproximação entre Brasil e África No segundo turno, em 2018, o petista Fernando Haddad venceu a votação em seis países africanos: Cabo Verde, Costa do Marfim, Marrocos, Nigéria, Tanzânia e Quênia, para onde o missionário católico Pedro Mariano Pinheiro se mudou há sete meses. Ele também é de Salvador (BA) e vive a cerca de 170 km da capital queniana, Nairóbi. Pinheiro já está se programando para ir até a capital, a fim de votar no dia 2 de outubro. “Acho que cada voto é importante para fazer a diferença e tirar esse governo que está acabando com nosso país. Mesmo aqui eu preciso exercer meu dever de eleitor”, afirma. O missionário disse ainda que espera mais diálogo entre o Brasil e o continente africano no próximo governo. O desejo dele é o mesmo da professora universitária Ivanise Gomes. Há 8 anos, ela vive em Moçambique, que terá neste ano o segundo maior eleitorado brasileiro no continente africano: 673 inscritos, apenas dois eleitores a menos do que em 2018. A brasileira, que antes optou por justificar sua ausência, decidiu não deixar de votar desta vez. “Eu acho que o Brasil está passando por uma situação muitíssimo delicada, política e socialmente. Para mim, é como um grito de socorro. Espero que meu voto faça diferença para que essa situação se reverta, que as coisas melhorem para o Brasil. Acreditar nessa melhora também vai reverberar nos países africanos, porque existia um diálogo entre Brasil, Moçambique, África do Sul, os países do sul global, e que foi esvaziado, cessado nesse último governo. Eu acredito que isso possa voltar a acontecer”, declarou a professora. Ela ainda criticou a atual falta de incentivos a pesquisadores brasileiros e moçambicanos, como existia quando ela chegou à região. “Que essa relação (entre os dois países) volte a ser como era antes, com bastante intercâmbio de saberes, professores, estudantes, além de outras áreas onde há cooperação entre Brasil e Moçambique”, completou. Voto com cédula de papel Durante a produção desta reportagem, vários brasileiros que vivem em países africanos e demonstram apoio ao atual governo em redes sociais foram contatados, mas muitos deles disseram que não fizeram o cadastramento eleitoral a tempo. Por isso, não poderão votar no exterior. Em nove países africanos, o voto será com cédulas de papel, uma vez que o número de eleitores brasileiros cadastrados não passou de 100. Após o fim da votação e a contagem local dos votos, todos os resultados serão imediatamente enviados a Brasília.
Na tarde desta sexta-feira, o Brasil venceu a África do Sul por 3 a 0, no Estádio Orlando Pirate, em Joanesburgo. Os gols brasileiros foram marcados por Geyse, Adriana e Tamires.
Com a Copa do Mundo Feminina 2023 no horizonte, as duas equipes focam na preparação para a competição. A bola rola nesta sexta-feira, às 13h (Horário de Brasília), no Estádio Orlando Pirates, em Joanesburgo.
A técnica Pia Sundhage anunciou, nesta sexta-feira, a lista das 25 atletas convocadas para defender a Seleção Brasileira Feminina nos amistosos diante da África do Sul, na Data FIFA, entre os dias 29 de agosto e 6 de setembro. As duas seleções se enfrentarão em duas oportunidades, no dia 2, em Joanesburgo, e no dia 5, em cidade sul-africana a ser definida.
A política externa não está no centro das atenções dos presidenciáveis, muito menos o continente africano, na análise do presidente e fundador do Instituto Brasil-África (IBRAF), João Bosco Monte. Para ele, poucas linhas dos planos de governo são destinadas a explicar como o Brasil vai se comportar no cenário internacional e isso fica mais claro ainda em se tratando de África. “Há pouca definição de como o Brasil vai conversar com um continente tão grande, com 54 países”, destacou. Vinícius Assis, correspondente da RFI na Etiópia Dos candidatos que se lembraram do território africano em seus programas de governo, um é negro: Léo Péricles, do UP. Os outros são brancos: Lula, do PT e Sofia Manzano, do PCB. Antes do PROS anunciar a retirada da candidatura de Pablo Marçal e o apoio a Lula, Marçal também era um dos que citaram a África no programa de governo. “Acho que é pouco”, lamentou o professor de Política Internacional e Comparada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dawisson Belém Lopes, diante da quantidade de candidatos que se lembraram de governos africanos em seus programas. Ele ressaltou o grande potencial do segundo continente mais populoso do planeta ao falar que, além de ter um passado em comum, Brasil e África deveriam ter um futuro em comum como prioridade. “Uma região com 1,2 bilhão de seres humanos, com um crescimento econômico acima da média global, com potencialidades evidentes em qualquer esfera das relações internacionais, com um plano arrojado de desenvolvimento, que é encabeçado pela União Africana, a Agenda 2063, um continente que tem despertado um interesse e a atenção das grandes potências do mundo deveria receber do Brasil também um tratamento prioritário”, avaliou. “A África não é só dívida histórica, não é só um passado em comum. África é presente e África é, sobretudo, o futuro.” África nos planos de governo Ao tratar do assunto, Lula (PT) fala em defesa da soberania brasileira e da recuperação de uma “política externa ativa e altiva” que alçou o Brasil à condição de protagonista global no passado. “Reconstruiremos a cooperação internacional Sul-Sul com América Latina e África. Defendemos a ampliação da participação do Brasil nos assentos dos organismos multilaterais”, diz o documento, que ainda fala na “implementação de um amplo conjunto de políticas públicas de promoção da igualdade racial e de combate ao racismo estrutural”. O candidato Léo Péricles (UP) se mostra anti-imperialista e deixa claro no plano de governo dele que pretende “aprofundar as relações multilaterais entre os países vizinhos na América Latina e retornar aos esforços diplomáticos contra hegemônicos, com os parceiros estratégicos africanos e asiáticos. Voltar a exportar influência e excelência técnica nas áreas em que o Brasil é referência e intensificar o intercâmbio com as experiências internacionais de transformação social, sobretudo para a superação do subdesenvolvimento”. Já Pablo Marçal (PROS) resume seus planos para a pasta de Relações Internacionais em dois tópicos: blocos econômicos com países prósperos e influentes nas decisões globais e um bloco Brasil-África. “Assumimos o compromisso de aproximar as relações políticas e econômicas com o continente africano, por meio de cooperação comercial e empresarial, visando o desenvolvimento mútuo através do bloco econômico Brasil-África, que buscará o trabalho direto com as 54 nações africanas”, traz o documento. A candidata Sofia Manzano (PCB), por sua vez, se compromete a “estabelecer relações diplomáticas e econômicas com os países em África levando em conta as vantagens mútuas, trabalhando para quebrar a relação subimperialista da burguesia brasileira com esses países. Pautar a criação de uma organização de Países Exportadores de Energia, Petróleo e Riquezas Minerais em âmbito latino-americano e africano, para proteger os interesses dessas regiões frente às investidas imperialistas”. Os programas de Jair Bolsonaro (PL) e Simone Tebet (MDB) até citam o BRICS, bloco do qual a África do Sul faz parte, junto com Brasil, Rússia, Índia e China, mas não se referem em momento algum ao continente africano especificamente. Todas as candidaturas ainda aguardam validação. Enquanto potências globais, como Rússia, Estados Unidos e China, buscam cada vez mais parceiros africanos, de olho no futuro, o professor Dawisson Belém Lopes, que também é pesquisador visitante na Universidade de Oxford, diz ter a impressão de que o Brasil está ficando para trás ao menosprezar o continente africano. “Acho que transcende nossos laços históricos, culturais e identitários com a África. Todo candidato à presidência da República Federativa do Brasil deveria, por óbvio, enfatizar a África quando tratar de política externa. Acho que é o mínimo”, destacou. O advogado sul-africano Emile Myburgh, que defende interesses de quase todas as grandes empresas brasileiras na África do Sul e também de empresários africanos no Brasil, disse que o fato de dois terços dos candidatos à presidência ignorarem o continente não o surpreende. “Dos dois lados há muita ignorância sobre o outro. Tem muita falta de conhecimento sobre nossos continentes. E os candidatos apenas refletem quem os apoiam. ¨Por isso tem uma minoria que fala sobre África”, disse. Racismo estrutural e institucional Para a doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo Paola Prandini, que atualmente mora em Maputo, capital de Moçambique, o fato diz muito sobre o racismo estrutural e institucional ao qual o povo brasileiro está submetido. “Infelizmente, essa estrutura desigual e extremamente injusta a que nós temos vivido historicamente, desde o processo de colonização portuguesa, no caso do Brasil, tem mostrado o quanto não se conhece do continente africano, mesmo sendo este o berço da humanidade. E sem África não existiria Brasil, uma vez que falamos de um país em que 56% da população se autodeclara negra e, portanto, afrodescendente”, afirma. Paola Prandini disse ainda que essa postura da maioria dos candidatos à presidência no Brasil “também demonstra o silenciamento proposital que acontece em relação a essa estrutura verticalizada e muito condicionada pela branquitude brasileira, o que também faz com que haja essa falta de interesse de perceber a obrigatoriedade e a emergência de se tratar de um continente que tem sido considerado globalmente como o continente mais importante do mundo nos próximos anos”. Brasil vem se afastando da África Nos últimos anos, o Brasil se distanciou do continente africano – um recuo brasileiro que começou antes do atual governo, de acordo com o presidente do IBRAF, João Bosco Monte. "O Brasil, desde o governo da presidente Dilma, depois passando pelo presidente Temer e, agora, com o presidente Bolsonaro, não olhou com a atenção devida para o continente africano. As relações se esfriaram”, disse. Para ele, isso ocorreu por decisão direta dos governantes. “Não houve uma intenção direta de fazer com que os movimentos de um lado e outro do atlântico se potencializassem. Ao contrário”, disse. Bosco lembra que a Dilma Rousseff teve poucas experiências com o continente africano e isso se repetiu com Michel Temer. “Não houve uma deliberada intenção de priorizar, de viabilizar as relações diretas”, reforçou, antes de destacar que a relação do Brasil com a região piorou com o presidente Bolsonaro. “Não houve uma única intenção de ter uma conversa mais direta com o continente africano. O presidente Bolsonaro nunca viajou para a África. Isso é muito ruim nos seus quase quatro anos de governo”, lamentou. Desde 2012, anualmente o IBRAF organiza o Fórum Brasil-África, com o objetivo de unir interesses em comum dos dois lados do oceano atlântico entre empresários, organizações, pesquisadores e, claro, governos. “Haveria de existir uma intenção de conversar com economias grandes, como Nigéria, África do Sul, Quênia, Marrocos, República Democrática do Congo, que têm, certamente, muito a contribuir com a agenda comercial do Brasil. Infelizmente, isso foi relegado e o ruim é que alguns países ocuparam, de uma forma muito direta, espaços que o Brasil já tinha estabelecido, como parcerias com alguns países do continente africano”, disse João Bosco Monte. Recados ao próximo governo Além de advogado, Emile Myburgh também é piloto de avião e acredita que o próximo governo, independentemente de quem vencer, deve se envolver na retomada de voos diretos entre o Brasil e a África do Sul. Dos 12 voos operados por duas companhias aéreas que semanalmente ligavam São Paulo e Joanesburgo até 2020, suspensos por conta da pandemia, nenhum voltou a operar. Incentivar o restabelecimento desses voos por uma ou mais companhias aéreas deve ser um objetivo do próximo governo, na opinião dele. Atualmente, passageiros que viajam do Brasil para a África do Sul, e vice-versa, a negócios ou a passeio, precisam fazer escalas em locais como Dubai, Doha, Adis Abeba, Turquia e Luanda, deixando a viagem mais longa, cansativa e cara. “Isso não é bom para a aproximação dos dois países e, visto a falta de conhecimento entre os dois países, eu não vejo esses voos sendo retomados sem um incentivo político”, disse. Em seguida, o advogado recomenda que o próximo a ocupar o Planalto se lembre da primeira década deste século, quando as maiores empresas e bancos sul-africanos se estabeleceram no Brasil e as maiores empresas brasileiras vieram para África. “Isso pode ser retomado e repetido”, lembrou. “Aquela relação que se deu naquele momento foi muito importante para que interesses africanos pudessem ser também interesses brasileiros”, destacou João Bosco Monte. Na opinião da doutora Paola Prandini, investir em conhecimento sobre países africanos deve ser prioridade. Ela destaca a necessidade de se fazer cumprir a lei federal 10.639, de 2003, que instituiu que todas as escolas brasileiras devem ter conteúdos relativos à história e cultura africana e afro-brasileira como parte dos currículos. “Infelizmente, quase 20 anos após a aprovação dessa lei, nós ainda sofremos com uma não viabilidade periódica da aplicação dessa lei”, lembra A educação, para ela, é essencial em qualquer processo político. “Para que tenhamos cidadãs e cidadãos conscientes, e que ajam de forma coerente com a sociedade em que vivem, não há como desconectar o Brasil do continente africano”, concluiu.
Feito por Enzo, Matheus Torres e Bruno
Localização,história,importância e muito mais!
A galeria Le Salon H, em Paris, tem patente, até 26 de Março, uma exposição da moçambicana Eurídice Zaituna Kala. A artista apresenta fotografias, esculturas, vídeo e instalações sonoras inspiradas no naufrágio de um navio de escravos moçambicanos no século XVIII. Uma viagem ao passado com sons e imagens do presente. A artista moçambicana Eurídice Zaituna Kala expõe na galeria Le Salon H, em Paris, “Sea (E) scapes – DNA: Don't (n)ever ask”, uma mostra que reúne fotografias, esculturas, vídeo e instalações sonoras para devolver à História uma história esquecida. Em causa, o naufrágio do São José Paquete-d'África, em 1794, um navio que levava 400 escravos moçambicanos para São Luís do Maranhão, no Brasil. “Esta exposição trata, de uma maneira estética, de um trabalho de pesquisa sobre o navio São José Paquete-d'África que partiu da Ilha de Moçambique, em 1794, com escravos moçambicanos e naufragou na costa da Cidade do Cabo, na África do Sul. Duzentos escravos foram dados como desaparecidos, mortos e 200 escravos foram recuperados, levados para o Cabo ou continuaram a viagem até ao Maranhão, no Brasil. Esta exposição trata da história desse navio, mas também trata da história da escravatura a partir do Oceano Índico, de Moçambique”, explicou à RFI Eurídice Zaituna Kala. Para contar essa história, há uma espacialização de fotografias Polaroid, esculturas sonoras, feitas com vidro e ferro, vasos transparentes com desenhos do povo maconde e um vídeo com imagens que mostram as transições dos diferentes espaços por onde a artista passou durante as pesquisas. A investigação e o início da recolha de arquivos - dos oficiais da Torre do Tombo, por exemplo, aos que ela criou em imagens – começou em 2015. Quando foi descoberto o navio, os objectos encontrados foram para a Smithsonian Institution, nos Estados Unidos. “Para mim, foi estranho como é que esses aspectos históricos não foram directamente para os museus etnográficos de Moçambique, porque é que tinham de ir para os Estados Unidos? Eu queria também abrir, nestes sete anos de pesquisa, uma abertura para uma história essencial que é a descoberta da África pelos portugueses e Moçambique como história central da entrada no continente africano”, explica. Além dos horrores da escravatura, a exposição questiona a mecânica da memória, explorando e criando arquivos para escrever narrativas complementares aos relatos oficiais. “Os arquivos foram todas essas imagens que eu coleccionei durante os sete anos de pesquisa. É uma colecção de imagens privadas mas que, para mim, começam a criar rastos de uma história de um navio de que Moçambique não tem um registo oficial. E eu posso dar ao povo moçambicano uma perspectiva de origem moçambicana, de uma certa forma”, descreve. A tragédia do navio foi esquecida pelos próprios moçambicanos e a artista quis reinvestir essa história e contá-la sob um prisma moçambicano e pessoal e não simplesmente através dos arquivos portugueses. O seu trabalho de investigação começou em Lisboa, levou-a à Ilha de Moçambique e depois à Cidade do Cabo. Mais do que contar a história dos escravos do São José Paquete-d'África, Eurídice Zaituna Kala quis “incarnar esse navio e mesmo as pessoas que estavam lá dentro”. Por isso, a exposição é preenchida com ruídos metálicos e de mar, indícios sonoros para imaginar a viagem de pessoas transformadas em escravos. A arte tem de ser política: “É importante que artistas, pensadores, escritores e escritoras, pensem em criar espaços políticos entre as peças que apresentam e como essas peças podem ter um eco nas histórias de um país.” Eurídice Zaituna Kala vive em Paris, mas Moçambique continua a ser “um espaço de inspiração imenso”. A artista nasceu em Maputo, em Fevereiro de 1987 e formou-se como fotógrafa na Market Photo Workshop em Joanesburgo, na África do Sul. O seu trabalho artístico centra-se nas metamorfoses culturais e históricas, nas manipulações e adaptações, do século XV até ao início do século XX. Em Paris, Euridice teve exposições individuais no Jardin des Tuilleries, na secção hors-les-murs da FIAC (Feira Internacional de Arte Contemporânea de Paris), em 2021, e na Villa Vassilieff, em 2020. Também participou em exposições colectivas na Cidade do Cabo, Maputo, Dacar, Casablanca, Lisboa, Berlim, entre outras cidades. A exposição “Sea (E) scapes – DNA: Don't (n)ever ask” está patente na galeria Le Salon H, em Paris, até 26 de Março. De 21 de Março a 21 de Maio, Euridice Zaituna Kala vai integrar o festival de arte contemporânea Fata Morgana no Jeu de Paume, também na capital francesa.
Uma experiência que vai além de uma viagem a passeio. É um momento de conhecer uma cultura desbravadora, imergir em cenários que não só encantam, mas transformam a sua forma de ver o mundo. Essa é a África do Sul, que em seu extenso território escreveu uma história que até hoje impacta a cena mundial. E é sobre esse incrível país que o Seu Podcast de Turismo irá falar no episódio de hoje, que tem como entrevistado Sergio Maciura, da Premier Club, operadora de turismo especializada em destinos exóticos. Com seus belos safaris, praias, museus e, claro, lendária figura de Nelson Mandela, a África do Sul tem um roteiro singular para qualquer tipo de viagem, seja com amigos, família ou até mesmo sozinho. Dividida em províncias, a viagem para a África do Sul se inicia no Aeroporto Internacional de Oliver Tambo, em Joanesburgo, repleto de atividades para passar o tempo (salas vips, acomodações para noite). Após desembarcar no principal aeroporto do país, que tal visitar o Museu do Apartheid, também em Johannesburg, que conta a história do apartheid por meio de fotos, filmes e objetos? Ou, se preferir, você pode seguir para Sun City, uma província que abriga o The Palace, um luxuoso resort com quatro hotéis e que oferece uma infinidade de atividades, como golfe, festas, compras e até passeio de balão. "As pessoas que vão para a África nunca têm a verdadeira dimensão de como é esse destino. Quando voltam, é surpreendente como elas relatam as suas experiências nesse destino. É raríssimo alguém reclamar dessa viagem. E nesse momento em que vivemos, de muita informação, viajar para a África é se desconectar do mundo e se conectar a sua própria essência", diz Sergio Maciura. Conhecendo os safaris E essa conexão ocorre, muita das vezes, em meio a natureza. Por isso, é essencial ter os safaris no topo da sua lista de pontos a serem visitados. Pois, nesse imenso lugar, você tem contato com diferentes tipos de animais, aves e um momento de aventura único. Na África, os safaris são divididos em reservas privadas e parques nacionais, cada um com as suas próprias regras. Por exemplo, nos safaris de reservas privadas você pode percorrer cada canto em um jeep, embarcando totalmente nas savanas, emoção diferente do parque nacional, em que você só pode andar pela estrada demarcada. As maravilhosas vinícolas E todo esse roteiro pede um vinho, certo? Na África do Sul, você irá encontrar fantásticas vinícolas, como a La Motte, em Franschhoek, complexo que tem restaurante, degustação de vinho, loja, fazenda, museu e trilha. Ou como a Waterford Wine Estate, uma vinícola rústica localizada Stellenbosch. Que maravilhosa é a África do Sul, é uma emoção inesquecível! Confira a entrevista completa através do Seu Podcast de Turismo, nas plataformas Spotify, Google Play e Apple. https://www.brasiltravelnews.com.br/wp-content/uploads/2022/01/Seu-Podcast-de-Turismo-113-1-1.mp3 Dessa forma Já que Com isso Com o intuito de Por exemplo Entretanto Assim Dessa forma Já que Com isso Com o intuito de Por exemplo Entretanto Assim
Uma experiência que vai além de uma viagem a passeio. É um momento de conhecer uma cultura desbravadora, imergir em cenários que não só encantam, mas transformam a sua forma de ver o mundo. Essa é a África do Sul, que em seu extenso território escreveu uma história que até hoje impacta a cena mundial. E é sobre esse incrível país que o Seu Podcast de Turismo irá falar no episódio de hoje, que tem como entrevistado Sergio Maciura, da Premier Club, operadora de turismo especializada em destinos exóticos. Com seus belos safaris, praias, museus e, claro, lendária figura de Nelson Mandela, a África do Sul tem um roteiro singular para qualquer tipo de viagem, seja com amigos, família ou até mesmo sozinho. Dividida em províncias, a viagem para a África do Sul se inicia no Aeroporto Internacional de Oliver Tambo, em Joanesburgo, repleto de atividades para passar o tempo (salas vips, acomodações para noite). Após desembarcar no principal aeroporto do país, que tal visitar o Museu do Apartheid, também em Johannesburg, que conta a história do apartheid por meio de fotos, filmes e objetos? Ou, se preferir, você pode seguir para Sun City, uma província que abriga o The Palace, um luxuoso resort com quatro hotéis e que oferece uma infinidade de atividades, como golfe, festas, compras e até passeio de balão. "As pessoas que vão para a África nunca têm a verdadeira dimensão de como é esse destino. Quando voltam, é surpreendente como elas relatam as suas experiências nesse destino. É raríssimo alguém reclamar dessa viagem. E nesse momento em que vivemos, de muita informação, viajar para a África é se desconectar do mundo e se conectar a sua própria essência", diz Sergio Maciura. Conhecendo os safaris E essa conexão ocorre, muita das vezes, em meio a natureza. Por isso, é essencial ter os safaris no topo da sua lista de pontos a serem visitados. Pois, nesse imenso lugar, você tem contato com diferentes tipos de animais, aves e um momento de aventura único. Na África, os safaris são divididos em reservas privadas e parques nacionais, cada um com as suas próprias regras. Por exemplo, nos safaris de reservas privadas você pode percorrer cada canto em um jeep, embarcando totalmente nas savanas, emoção diferente do parque nacional, em que você só pode andar pela estrada demarcada. As maravilhosas vinícolas E todo esse roteiro pede um vinho, certo? Na África do Sul, você irá encontrar fantásticas vinícolas, como a La Motte, em Franschhoek, complexo que tem restaurante, degustação de vinho, loja, fazenda, museu e trilha. Ou como a Waterford Wine Estate, uma vinícola rústica localizada Stellenbosch. Que maravilhosa é a África do Sul, é uma emoção inesquecível! Confira a entrevista completa através do Seu Podcast de Turismo, nas plataformas Spotify, Google Play e Apple. http://brasiltravelnews.com.br/wp-content/uploads/2022/01/Seu-Podcast-de-Turismo-113-1-1.mp3 Dessa forma Já que Com isso Com o intuito de Por exemplo Entretanto Assim Dessa forma Já que Com isso Com o intuito de Por exemplo Entretanto Assim
O traíra Sergio Iscariotes Morno pode ser alvo de uma CPI, os moradores de rua em SP aumentam 31% nos últimos 2 anos, um clandestino sobrevive à viagem Joanesburgo Amsterdã nas rodas de um cargueiro, e muito mais. //•••//•••//•••//Inscreva-se no novo canal! O link é...https://www.youtube.com/c/CLNews1955//•••//•••//•••//Colabore com o CL News!•PIX – Chave: 61-98347-3357•PIX – Chave: 61-98114-9428•BANCO DO BRASILAgência 5977-3 • Conta Poupança 6005-4 • Variação 51•CAIXA ECONÔMICA FEDERALAgência 2304 • Produto 1288 ou 013 • Conta Poupança 853121664-6•ITAÚ Agência 0919 • Conta Poupança 41250-2 • Complemento 500•BRADESCOAgência 7979 • Conta Poupança 1000097-1•NUBANKAgência 0001 • Conta Corrente 76140333-2•SANTANDERAgência 4289 • Conta Poupança 60013762-6*****LINKS DE ACESSO AO CL NEWS*****•YouTube: www.youtube.com/c/ClaudioLessa1955•Minds: www.minds.com/claudiolessa/•https://gettr.com/user/clnews• Odysee: https://odysee.com/@CLNews:7•Twitter, @ClaudioLessa•Instagram, @claudiolessajornalista e @claudiolessajornalista2•Linkedin, www.linkedin.com/in/claudio-lessa-13101955•Vimeo: Claudio Lessa•Gab, https://gab.com/claudiolessa1955 •BitChute, www.bitchute.com/channel/ClaudioLessa •Patriotnet, https://patriotnet.com/profile/226•MeWe, https://mewe.com/join/videoslessa•Telegram, https://t.me/claudiolessaoficial•Podcast - Apple, Spotify, Deezer e Spreakerhttps://www.spreaker.com/user/claudiolessa
Denúncias de tortura nas celas de Menongue, Angola. " Várias vezes tive de fugir de Moçambique", diz Denise Namburete. Mpho Phalatse é a primeira mulher negra na presidência da câmara de Joanesburgo.
A prefeitura do Rio de Janeiro aguarda o resultado da análise de uma amostra suspeita da variante ômicron, na cidade. O material analisado pela Fiocruz é de uma paciente de 29 anos que chegou na África do Sul no dia 21 de novembro e viajava com o marido, que testou negativo. Antes de desembarcar no Rio, ela fez escala em Joanesburgo e Etiópia, na África, e em São Paulo. A mulher está vacinada com as duas doses da Pfizer.Ainda nesta quinta-feira, a prefeitura do Rio passa a exigir o passaporte de vacina em bares, restaurantes, boates, festas, salões de beleza, hotéis, cinemas e outros espaços. Até o fechamento deste boletim há três casos confirmados da variante ômicron no Brasil, todos no estado de São Paulo e com pacientes vindos da África.
A variante Ômicron foi detectada na Holanda em testes coletados nos dias 19 e 23 de novembro, antes de a África do Sul relatar a nova cepa à Organização Mundial de Saúde no dia 24 de novembro.De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Pública da Holanda, pelo menos 14 pessoas em voos de Joanesburgo e da Cidade do Cabo chegaram ao aeroporto de Amsterdã no dia 26 de novembro com a nova variante.Cerca de 71, dos mais de 600 passageiros nos voos da África do Sul, foram infectados com coronavírus e entraram em isolamento desde a última sexta-feira. As autoridades holandesas também querem testar cerca de 5.000 outros passageiros que partiram da África do Sul, Botswana, iswatini, Lezoto, Moçambique, Namíbia ou Zimbábue.A descoberta da Ômicron gerou preocupações em todo o mundo sobre a possibilidade de resistência da cepa às vacinas e um prolongamento da pandemia de Covid-19, que já dura quase dois anos, então, na Holanda, novas medidas restritivas entraram em vigor no último domingo (28) para conter as taxas de infecções e óbitos diárias e aliviar a pressão sobre os hospitais.
Autoridades de Saúde da Austrália estão testando passageiros que pousaram em Sydney vindos da África do Sul, e que são casos confirmados de Covid 19. A luta contra o relógio é para saber se os dois contraíram a variante Ômicron. Em entrevista coletiva, o diretor de saúde de Victoria disse que é impossível evitar que a nova variante do coronavírus entre no país. Aeroportos de Joanesburgo ficaram lotados após viajantes saberem da nova variante. As notícias da Austrália e do Mundo da Rádio SBS para este domingo.
Neste programa vamos até Joanesburgo para ouvir as últimas sobre a nova variante do coronavírus que está a provocar restrições de viagens internacionais. Em Moçambique, as atenções vão para o ministro dos Recursos Minerais que adiantou que se está a estudar o regresso da Total a Cabo Delgado. Esta semana, destaque, ainda, para o Dia Internacional contra a Violência Doméstica e para o novo disco de Dino d'Santiago.
Joanesburgo é a maior cidade da África do Sul, país situado no continente africano. Joanesburgo não é a capital da Africa do Sul (como muita gente pensa), mas é a maior cidade e a única do continente africano a estar entre os 50 principais centros comerciais do mundo. Hoje nós vamos conversar com Marília Martone, a Lila, uma mineira que há 17 anos foi para a Africa do Sul.
A psicóloga brasileira Mara Perrotti acompanha de casa, em Joanesburgo, as últimas notícias sobre a onda de violência na África do Sul, como se já não bastassem as consequências da pandemia na vida de quem mora no país que registrou quase 40% dos casos de Covid-19 no continente africano. A paulistana se disse triste e surpresa ao ver isso acontecendo, mas nada que a abale psicológicamente ou a impessa de continuar pensando em ajudar os outros. Por Vinícius Assis, correspondente da RFI na África do Sul Por ter morado em São Paulo ela diz que, “infelizmente”, já está um pouco familiarizada com manifestações violentas. “Lá acontece também. É um desastre isso, triste de se ver. Em São Paulo, a gente já convive com violência. Então, a gente fica meio 'casca grossa' com isso”, afirmou. Mas ela sabe que outros brasileiros vivendo no país ou que pensam em ir para a África do Sul acabaram ficando preocupados. “É ruim, pois a pessoa já começa a pensar em ir embora”, lamentou. Um dia antes de o governo sul-africano impor um dos confinamentos nacionais mais rígidos do mundo, no fim de março do ano passado, por conta da pandemia, ela desembarcou em Joanesburgo, onde vive com o noivo (também brasileiro). Há mais de dois anos a psicóloga trabalha remotamente, antes de boa parte da população mundial ter sido forçada a aderir a esta rotina. Ao contrário de outros psicólogos, a brasileira não vê problema em chamar quem ela atende de paciente, pois acredita que isso não significa tratá-los como doentes. “A gente parte da premissa de que paciência é a ciência da paz. Então, eles estão vindo buscar a paz. Tem gente que os chamam de clientes. Me agrada muito esse cunho de vir buscar a paz”, explicou. Logo no início da entrevista, virtual, a brasileira se revelou apaixonada pelo único filho, que tem 23 anos e está no Brasil, pela profissão e se mostra íntima da ideia de se olhar para outro ser humano como se estivesse vendo a própria imagem refletida no espelho. Não por acaso escreveu no perfil dela em uma rede social uma frase de apresentação atribuída a Gandhi que resume esse conceito:"Eu e tu somos um só, não posso te magoar sem me ferir". Atendimento gratuito Tendo percedido o quanto a pandemia estava deixando muita gente ansiosa e preocupada, Mara fez um anúncio oferecendo atendimento psicológico gratuito a brasileiros na África do Sul. O post se espalhou em redes sociais e dez mulheres procuraram a psicóloga. Quatro ainda moravam no país. Outras tinham acabado de voltar para o Brasil. Mas o anúncio dela chegou também a brasileiras no Canadá e na Austrália. Todas se sentindo sem rumo. “Eu queria muito contribuir com alguma coisa neste momento que estamos vivendo. Achei que utilizar meu trabaho, minha escuta, ia confortar um pouco coração das pessoas”, contou. Mara preza pela privacidade das pacientes, mas revelou que quase todas estavam bem mais carentes afetivamente. E como o distanciamento físico passou a ser regra de comportamento, a saída para algumas brasileiras foi se aventurar nos aplicativos de relacionamentos. Isso escancarou uma realidade enfrentada por muitas no exterior: ter que lidar com o esteriótipo de mulher fácil. “Brasileiro tem um esteriótipo internacional meio complicado, principalmente as mulheres. A mulher brasileira é vista como muito sensual, muito sexualizada. Elas acabam recebendo propostas que passam do limite do que seria gentil”, analisou. A psicóloga tem pacientes homens, mas disse que durante a pandemia só foi procurada por mulheres querendo atendimento e que a inquietação nos pacientes homens tem sido mais em relação à questão financeira. Solidão O lockdown aumentou a solidão das pessoas, ainda mais na África do Sul que, em março do ano passado, implementou um dos mais rígidos planos de confinamentos nacionais do mundo por conta da pandemia. A “falta de troca” pesou, de acordo com a psicóloga. “O ser humano é um ser social. A gente precisa do outro para saber quem a gente é, para ter essa troca. Isso começou a gerar uma ansiedade, agitação. Muitas (pacientes) apresentaram quadro de insônia porque não aguentavam mais ficar em lockdown”, contou. A brasileira explica que o movimento psíquico sabe ligar as defesas do ser humano, os instintos de cada um para sobrevivência, para se reagir a crises. “A gente só precisa usar de criatividade para reinventar esse nosso cotidiano”, completou. Mas o que era para ter sido uma alternativa criativa de solução acabou gerando ainda mais complicação para as brasileras. “Quando a gente imagina que a gente está em lockdown e a gente está querendo fazer amigos para trocar experiências para se sentir um pouco mais socialmente ativo necessariamente a gente não precisa chegar a uma conversa de cunho sexual”, disse. A psicóloga contou que todas relataram que buscaram esse recurso relataram a mesma situação: chega um momento em que o “jeito” brasileiro entra em campo na conversa, exaltando quase sempre o carnaval, o biotipo da mulher e o desempenho sexual delas. “É muito triste. Há quatro ou cinco que querem muito se relacionar mas não conseguem. Não sei te dizer se essa é mesmo uma condição para que isso não aconteça. Essa realidade foi algo que me chocou bastante. Eu tinha ideia do que era, mas agora ficou muito claro para mim”, analisou. A psicóloga diz que como profissional ela não orienta, mas ajuda cada paciente a pensar no próprio bem estar, trazendo recursos que cada um tem para lidar com isso. “Vou questionando, ajudando a pensar nesse assunto”, disse. Como experiência pessoal, ela conta que nem usa na África do Sul algumas roupas que costumava usar no Brasil, por exemplo. “Eu me adaptei com o que eu quis me adaptar”, ressaltou. Crises nos casamentos e dificuldades de se relacionarem com os filhos também foram problemas enfrentados pelas novas pacientes brasileiras, muitas distantes do resto da família e nem sempre dominando o idioma falado onde vivem atualmente. Porém, Mara disse que nenhuma delas continuou a procurar a psicóloga. “Senti que estavam só querendo apagar incêndio. Elas vinham mais para desabafo do dia a dia”, lamentou. Um hábito que ela adotou para si e recomenda a todos, ainda mais na pandemia, é fazer uma revisão da vida, se perguntando sempre se está feliz. “Eu enxergo a vida como uma viagem. Como vou aproveitar essa viagem? O que quero viver neste período? O que faz sentido para mim, o que me deixaria feliz?”, colocou. Ela revelou que ainda deseja viver tempo suficiente para ser avó, mas que é saudável pensar na possibilidade de estar vivendo o último dia sempre se perguntando: "Se hoje fosse seu último dia de vida estaria feliz com aquilo que construiu?".
A Linda Pereira é minha convidada no programa "7 Bases do Sucesso com...", nada melhor do que finalizar o dia com esta super série e com mais uma excelente profissional, Empresária, Consultora Internacional, Oradora, Professora Universitária e Expert em Meeting Industry. Linda Pereira é sócia principal e CEO da Consultadoria Internacional Advantage Consultants. Para além da sua longa e respeitável carreira como uma das vozes mais influentes na Meeting Industry, é também Diretora Executiva da CPL Meetings & Events. Respeitada internacionalmente enquanto oradora, escritora e professora, tem sido convidada como oradora em mais de 143 cidades em todos os continentes. É igualmente a única mulher convidada como oradora num evento nacional na Arábia Saudita, país do qual neste momento é consultora estratégica para o setor do turismo de negócios. Conhecida internacionalmente como a Destination Diva dado o seu trabalho como expert em captação de eventos sendo uma concorrente temida. É frequentemente contratada por uma variedade de Destinos para apresentar candidaturas em seu nome. Tem tido um papel ativo em grandes eventos e candidaturas para eventos mundiais que marcaram o mundo moderno. Trabalhou em grandes eventos como a EXPO '98, o EURO 2004, o Campeonato Mundial de Esgrima Artística e várias Presidências Europeias, entre outros. É igualmente convidada como professora em três Universidades Internacionais diferentes onde leciona Gestão Estratégica de Eventos. Absolutamente apaixonada por associações e pertence ao Board de uma variedade de Associações Internacionais. Linda é também consultora para vários Governos e Associações Internacionais. Em 2008 foi considerada uma das 5 Pessoas da Indústria mais influentes em Portugal e recebeu o prémio anual da Educação dos EUA – sede do IAHMP. Em 2009 galardoada com a medalha de honra de responsabilidade empresarial pelo seu compromisso em promover a cultura e o património e pelas iniciativas de CSR. Em 2012 foi votada umas das 100 melhores PCO's no Mundo pelo terceiro ano consecutivo e foi listada entre as 100 melhores Mulheres CEOs de empresas de eCommerce pela “WE Magazine” dos EUA. Em 2014 foi eleita Personalidade dos Eventos do Ano em Portugal e recebeu o Prémio Personalidade de Marketing Global pela WE Magazine nos EUA. Em 2015 foi eleita presidente do Global Council for Women in Leadership. Foi assessora do Ministro da Economia de Cabo Verde até 2020. Atualmente Embaixadora Europeia para a cidade de Joanesburgo na África do Sul e Ekaterinburg na Rússia e lidera a equipa de organização da participação de Cabo Verde na EXPO 2021. Atualmente pertence a vários Advisory Boards, o mais notável o UK Meetings Show bem como o Comité de Educação do IAHMP ao qual preside e, foi Presidente do International & European Association Congress durante três anos.. É atualmente Presidente da Spring Up Europe que capta investimento para empresas fundadas e detidas por mulheres. É mãe de duas filhas que considera o seu projeto de maior sucesso!
É de seda pura, decorada com 150 gramas de ouro e 217 diamantes. O homem que viajou 11 horas no trem de avião de Joanesburgo a Londres e sobreviveu. E a palvra robot que nasceu… há cem anos. See omnystudio.com/listener for privacy information.
No nosso episódio dessa semana, teremos a presença do jornalista Fábio Zanini. Nessa Live vamos falar de Jornalismo, ética, fake news e as possibilidades de uma terceira via nas próximas eleições. Fabio Zanini é formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes da USP, mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Londres. É ex-editor do caderno Mundo da Folha de S. Paulo. Foi correspondente internacional em Londres e Joanesburgo. Autor do blog Saída pela Direita, também da Folha. Cadastre o seu e-mail na mailing list pelo link https://neoliberais.com/participe/ para ter acesso a muitos artigos sobre política e economia e também informações relevantes do Bem-Estar Capital. Contribua com nosso padrim: www.padrim.com.br/bemestarcapital
Abrimos esta Imprensa Semanal com L'OBS, que titula, Jospin que pensa que Macron tem um chip anacrónico. Em 2017 houve uma estrondosa reviravolta no sistema político francês e a situação não melhorou porque há insatisfação no país. Durante muito tempo enquanto membro do Tribunal constitucional, o antigo primeiro ministro socialista, respeitou o direito de reserva, mas, agora, numa longa entrevista ao L'OBS, analisa, o enfraquecimento do sistema político e define as condições duma renovação da esquerda entre ecologia e justiça social. Jospin, disse que uma vez terminado o seu mandato de 4 anos na instituição constitucional, recuperou a sua liberdade de expressão para dizer nomeadamente que em 2017 houve uma estrondosa reviravolta no sistema político francês e a situação não melhorou porque há insatisfação no país. Sobre a eleição de Macron, o antigo primeiro ministro afirma que é preciso não se esquecer o quadro em que ele foi eleito, referência ao afastamento da corrida presidencial de François Fillon, devido a um escândalo financeiro, que ele teria ido à segunda volta e hoje era ele o Presidente da República, porque ganharia eleições. E se o presidente cessante François Hollande tivesse mantido a sua promessa de ser candidato, Macron, não teria ganho a primeira volta porque uma boa parte do eleitorado socialista não teria votado nele. Macron é um jovem cheio de energia, talentoso, mas ele enganou-se sobre a sua verdadeira força, pois, só conseguiu os votos de 24% dos franceses. Jospin, diz ainda ao L'OBS, não conhecer Macron, que viu só uma vez na apresentação dos votos de ano novo, mas que o observa a agir a comportar-se e que é um homem que o deixa muito intrigado. Por seu lado, L'EXPRESS, destaca na sua capa, Islamismo, vivemos num terror intelectual. Cinco anos depois dos atentados de Charlie Hebdo, a ex-jornalista franco-marroquina, Zineb El-Rhazoui, denuncia um clima de terror intelectual levado a cabo pelos radicais islâmicos e os seus cúmplices. Deixou de haveer contradição possível entre os defensores do islamismo e aqueles que os criticam já que estes últimos têm um kalachnicov apontado à cabeça. Liberdade de expressão amordaçada e terrorismo intelectual COURRIER INTERNATIONAL, faz a sua capa perguntando se ainda temos direito de não estarmos de acordo, para analisar a liberdade de expressão em torno da defesa das minorias, censura de personalidades ou a censura que impede o debate livre e aberto. O filme "E tudo o vento levou" retirado de plataformas digitais "streaming", um chefe de redação do New York Times forçado a demitir-se por ter publicado uma tribuna ultraconservadora tida como uma ofensa, estátuas demolidas um pouco por todo o mundo, artistas acusados de apropriação cultural convidados a pedir desculpas, há alguns meses que um tsunami se abateu nos sectores da cultura, história, comunicação social mas também no simples cidadão. É um fenómeno chamado "cancel culture" ou cultura de apagamento da história que consiste em censurar, boicotar ou humilhar publicamente personalidades que defendem uma opinião diferente ao politicamente correcto sobre o racismo, o sexismo ou a homofobia. Mudando de assunto, o mesmo COURRIER INTERNATIONAL, retoma de Sunday Times de Joanesburgo, Zimbabué, a impossível fronteira. Construída às pressas por causa do Covid-19, a barricada fronteiriça com a África do sul já está a cair aos bocados. Confrontados com uma inflação recorde milhares de zimbabuanos vão à procura do ganha pão no país vizinho. Três meses e meio dos primeiros buracos no muro de arame farpado, as brechas se multiplicam e nalgumas delas pode passar um camião. Um polícia de fronteira do lado sul-africanoo afirma mesmo que têm videos gravados onde vêem pessoas idas do Zimbabué passando pelos buracos entrando na África do sul, acrescenta, COURRIER INTERNATIONAL. Enfim, LE POINT, aproveita a próxima temporada das feiras para fazer a uma capa com os vinhos, como ter uma boa garrafeira, seleccionando os bons e verdadeiros vinhos e pondo de lado os falsos. Também, o semanário, CHALLENGES, que pelo contrário, faz a sua capa, com as boas relações entre França e Alemanha, traz, na sua rúbrica de empresas, um dossiê sobre as feiras de vinhos, com, um detalhe importante: no topo da página duma selecção de vinhos, uma bela fotografia da ministra delegada para a igualdade e diversidade, a franco-caboverdiana, e esta frase, encontro para o café da manhã, com Elisabeth Moreno.
A situação no Níger, a braços com o terrorismo, ou nos bairros pobres perto de Joanesburgo em torno do Covid-19, na África do Sul, são destaque na imprensa francesa. O comunista "L'Humanité" dedica, por seu lado, uma página a Cabinda, o "cofre colonial de Angola". O drama no Iémen e o duelo das meias-finais da Liga dos campeões europeus de futebol merecem também a atenção dos diários franceses. Começamos com o diário comunista "L'Humanité": este refere que a África ocidental e o Sahel passam à cor vermelha. O mapa das zonas acessíveis da região está cada vez mais reduzido enquanto as áreas vermelhas não páram de crescer, sintetiza o jornal. E isto segundo novas directrizes do Ministério francês dos negócios estrangeiros que se seguem ao atentado a 9 de Agosto no Níger matando oito pessoas, incluindo seis humanitários franceses numa área até agora tida como segura. Fonte judicial citada pela AFP afirmava que os visitantes nigerinos da reserva de girafas palco do massacre não foram importunados pelo que o que pretenderiam os insurrectos seria aumentar as zonas de insegurança para militares como para civis e obter a partida dos humanitários estrangeiros. Ora a respectiva presença seria fundamental sobretudo nos países mais pobres da faixa do Sahel. Pelo que os humanitários pretenderiam lá se poder manter, e o próprio primeiro-ministro francês na sexta-feira passada referia que abandonar o Níger seria abandonar populações inteiras a assassinos. Um diário que dá destaque a Cabinda. Com uma página de uma rubrica estival intitulada "Terras contestadas, terras ignoradas" o jornal diz que Cabinda é o cofre "colonial" de Angola. O enclave contestado saído do império português entalado entre o Congo e a República democrática do Congo assegura a Angola grande parte dos seus rendimentos petrolíferos. Os portugueses na altura da descolonização teriam oferecido Cabinda ao MPLA de inspiração marxista em vez de apoiar a independência da província até então conhecida como o "Congo português". Grande parte das infraestruturas avultadas da capital angolana ficar-se-iam a dever às benesses do ouro negro de Cabinda, a 800 kms de Luanda. Os 700 000 habitantes de Cabinda coabitariam com dezenas de milhares de soldados angolanos estacionados no território para afastar qualquer vontade de independência. De outro país do continente negro rezam as páginas do vespertino "Le Monde". Com uma reportagem dos tempos de Covid-19 num bairro pobre de Alexandra, perto de Joanesburgo. A doença seria, apenas, um infortúnio a mais do que tantos outros... escreve o jornal descrevendo a pequenez das habitações onde as pessoas ficam confinadas em apenas 9 metros quadrados. O cansaço e a fúria imperam, pode ler-se. Mais do que 500 000 casos de novo coronavírus foram diagnosticados, pelo que a África do Sul consta agora da lista das cinco nações do mundo mais atingidas pela pandemia. Passamos para o conservador "Le Figaro" cuja manchete se prende com o Iémen, drama à porta fechada, pode ler-se. O país mais pobre do mundo árabe acaba por ficar cada vez mais prisioneiro da espiral da guerra, da fome e da pandemia de Covid-19 com a ONU a lançar um alerta. O Iémen que é refém de uma guerra sem fim. Já o popular "Le Parisien" dedica o seu título garrafal ao futebol e ao jogo desta noite opondo em Lisboa o PSG ao Leipzig. Os parisienses estão a dois passos da glória e da final da prestigiosa competição, seria algo de inédito, uma proeza grandiosa, escreve o diário. Este descreve os alemães do Leipzig como "surpreendentes". Obviamente que este é também o tema de manchete do desportivo "L'Equipe". Este afirma que o PSG está às portas da história, e esta noite é uma oportunidade única perante o Leipzig que peca por falta de experiência para que o clube da capital francesa chegue mesmo à final. Neymar e Mbappé seriam uma dupla muito temida de cumplicidade, rivalidade e eficácia ! O futebol a colocar um ponto final neste olhar pela imprensa diária francesa.
Novas notas de kwanza sem rosto de José Eduardo dos Santos entram, esta quinta-feira (30.07), em circulação em Angola. Inhambane na rota do tráfico de pessoas. África do Sul está a ficar sem espaço para enterrar vítimas da Covid-19.
A bailarina clássica Monike Cristina Macedo de Souza tem 28 anos, é paulista da cidade de Piracicaba e participou de seminários de dança em Berlim e Nova Iorque. Já profissional, trabalhou no Rio de Janeiro e em São Paulo, excursionou pela Rússia e Ucrânia com o balé Bolshoi, dançando o Cisne Negro. Há quatro anos mora em Joanesburgo, África do Sul, e é solista do balé da cidade. Correspondente da RFI em Joanesburgo Monike Cristina interpretava o personagem principal do clássico Dom Quixote, quando o mundo foi surpreendido pela pandemia da Covid-19. A temporada do espetáculo foi suspensa, depois que o governo sul-africano decretou estado de calamidade pública e o país entrou em quarentena. Monike falou à RFI sobre a nova rotina e os desafios em tempos de pandemia. Balé na pandemia Nada mais promissor do que começar o ano com o espetáculo do clássico Dom Quixote. A bailarina paulista e solista principal do balé da cidade de Joanesburgo, Monike Cristina, no papel da camponesa Kitri estava radiante. De repente tudo mudou. O mundo foi surpreendido pela pandemia da Covid-19, a companhia entrou em isolamento e cada um foi para a sua casa, viver uma nova rotina. “Estamos tendo aulas de balé clássico todos os dias. Como a gente está fazendo aula em pisos não apropriados é perigoso escorregar e se machucar. Então, a gente está fazendo aulas adaptadas, para o espaço que cada um tem”, conta. Dança: Brasil X África do Sul Dançar profissionalmente no Brasil é muito difícil. A profissão não é vista como trabalho profissional e isso faz com que grandes talentos sejam obrigados a procurar emprego em companhias internacionais, deixando de representar o Brasil. “Falta ao governo olhar para a arte como algo que vai acrescentar. E não somente pensar, ‘são vagabundos que não querem estudar!’ Pra você ser um bom artista, tem que estudar muito. É triste! Muitos bailarinos brasileiros acabam saindo do país para fazer a vida onde tem reconhecimento”, ressalta a paulista. Bolshoi e Cisne Negro Aos 18 anos, Monike tinha concluído o ensino médio, já tinha experiência internacional e profissional, e trabalhava há um ano contratada em uma companhia. Um coreógrafo, integrante do Bolshoi Brasil, ficou impressionado com Monike, filmou um ensaio e mostrou para seu diretor. A jovem foi contratada e passou a trabalhar no Bolshoi Brasil, com sede em Joinville, Santa Catarina. Em um determinado momento, a mais famosa companhia de balé do mundo estava procurando uma bailarina negra para fazer um solo no Cisne Negro, e o Bolshoi Brasil recebeu o coreógrafo russo Ruslan Nurtdinov para comandar as audições. Monike foi a escolhida para viver o personagem, mas, antes o Bolshoi Brasil fez uma excursão internacional, que começou em Schaffhausen, na Suíça. Em seguida, viajou durante dois meses, pela Rússia e Ucrânia respirando o jeito Bolshoi de ser, e pode vivenciar a sua cor em perspectiva diferente. “Foi uma surpresa para mim. Achei que iria enfrentar algumas resistências. Mas não! Fui super bem recebida. As pessoas me olhavam com admiração pelo meu trabalho, pela minha simplicidade, por tudo que eu apresentei no palco. Não tive problema nenhum com a questão racial. Fiquei impressionada”. Onde tudo começou Tudo começou quando a sua mãe a levou, com cinco anos de idade, para ver um espetáculo de encerramento do ano letivo de uma escola de dança da sua cidade. Era uma típica confraternização de final de ano, onde as crianças apresentam aos pais o que aprenderam durante o ano. Tinha números de sapateado americano, dança moderna, jazz e balé clássico. Ao final, diante da pergunta “De qual você mais gostou?” A menina não titubeou, e saiu dando saltos e piruetas pelo meio da casa, demonstrando a sua preferência. A mãe, pensando em sapatilhas, maiôs, meias e mensalidades, sabendo ser essa a opção mais cara, tentou dissuadir a menina: “Não gostou dos sapatinhos que fazem barulho?”. “Não!!”. O balé foi paixão à primeira vista. Com o passar dos anos, essa paixão só cresceu, e nada nem ninguém conseguiu convencê-la a fazer outra coisa na vida. Gosto por música clássica A mãe trabalhava como vigilante de um hospital. Do pai, pouco sabe, ela era muito pequena quando eles se separaram, e perderam o contato. A família sempre foi a mãe, a avó, o avô, tios e primos. O avô ficou órfão muito cedo, foi criado por uma família rica da cidade de Piracicaba e teve acesso à educação de qualidade, livros e música. Na faculdade se apaixonou por uma estudante, cantora lírica, com quem se casou. Monike foi ninada com arias que sua avó cantava e a música clássica tocada na casa. Adolescência e a descoberta das diferenças Como muitos adolescentes, a jovem preenchia o tempo de espera em filas de ônibus ou no recreio da escola ouvindo música clássica. A pergunta dos curiosos se repetiu muitas vezes: “Tá ouvindo o quê?” A resposta gerava surpresas, desdéns e deboches. “Eu não era riquinha. Era negra, humilde, estudava em escola pública...”. Parecia que o direito de ser erudita lhe era proibido, e que deveria ter um comportamento de acordo com o que sua condição social impunha. Sua preferência musical se tornou um problema. A turma da escola, do bairro, da igreja, da comunidade negra, todas as turmas a considerava metida. “Muita gente achava que eu me achava, mas essas coisinhas que vinham de fora eram, pra mim, somente comentários, nunca levei a sério, porque eu tinha apoio total em casa”. Consciência negra O avô historiador ministrava palestras em eventos como o Dia da Consciência Negra e a família sempre se fazia presente. Muitas vezes a pergunta se repetiu: “E a garota, quando vai começar a dançar com a gente?” “Ela tá fazendo balé clássico”. “Balé? Por que não uma dança mais próxima das raízes? Ah! já sei, ela quer ser branquinha...” “O preconceito no Brasil sempre esteve presente e explícito”, denuncia. Hora de decisão A adolescência de Monike não teve festinhas com a turma, cinema à tarde, beijos roubados ou festa de 15 anos. Com 14 anos, falou para a mãe que seu sonho era ser bailarina profissional. A mãe, sabendo ser muito cedo para uma decisão definitiva, juntou as economias e a mandou para o seminário anual e internacional de Brasília, para que ela tivesse contato com a realidade da profissão. Durante um mês, professores de diversas partes do mundo ministram aulas para bailarinos profissionais e aspirantes. Realizam audições e os mais qualificados recebem convites para outros seminários ou contratos de trabalho em companhias nacionais e internacionais. O dinheiro da garota dava somente para pagar algumas aulas. Fez as aulas possíveis. Ver e ser parte atuante da dança foi somente a confirmação de que queria se tornar profissional. O mundo do balé Construir carreira no balé, além da disciplina física para atingir um nível técnico de alto padrão, o aspirante também precisa de um maître, um mestre. É necessário dinheiro para contratar um. Na impossibilidade de encontrar um professor em Piracicaba, a sua mãe entrou em contato com a mestre Camilla Pupa, na capital São Paulo. Porém, era muito caro para a família. A mãe conseguiu então um professor amigo, e Monike passou a viajar três vezes por semana à capital para ter aula e orientação com o mestre. Uma jornada longa e arriscada para uma garota que acordava às 5h da manhã, ia para o colégio; ao meio-dia, corria para a rodoviária, pegava o ônibus e viajava por 2h30. Em São Paulo, pegava o metrô e chegava ao estúdio, que sua mãe tinha conseguido, sem pagar mensalidade e alojamento, quando necessário. O tempo para realizar a façanha era cronometrado. Um desvio e perdia o ônibus da volta para Piracicaba, às 21h. Sob a orientação do mestre, conseguiu o primeiro convite para um seminário internacional, em Berlim. “Convite”, no mundo do balé, significa que a pessoa tem nível técnico para concorrer com bailarinos de alto padrão, mas tem que arcar com as despesas do seminário, passagens aéreas, hospedagem, muitas vezes em hotéis cinco estrelas, e alimentação, inclusive do mestre. Tudo parecia impossível, mas as ajudas foram surgindo de todos os lados e a garota também vendeu muita rifa. Depois de Berlim, no mesmo ano, fez audição para um seminário em Nova Iorque e foi aceita. O desafio foi mobilizar novamente amigos e familiares em torno da causa, mas valeu a pena, porque ganhou a competição, com prêmio em dinheiro. Entretanto, o fato de ter sido selecionada para seminários importantes, em tempo recorde, gerou ciúmes no grupo e a relação com o mestre se desgastou e acabou de forma melancólica. Nova mestre De volta a sua rotina em Piracicaba, a mestre paulista que a sua mãe tanto queria e não podia pagar, acabava de se instalar na cidade, abrindo uma companhia semiprofissional e Camilla Pupa abraçou a garota com imensos braços de mãe. A mestre Camilla sempre frisou que o talento era muito importante, a cor da pele era mero detalhe. A preparação mental no balé é tão importante quanto a física. Monike conviveu com interjeições jocosas ao longo do percurso: “Você é bailarina clássica, negra!?” “Minha resposta, já mais experiente, era: Ah! eu sou diferente, é?” “Dançar para mim sempre foi tão natural, que eu só me lembrava de cor, se alguém falasse”. Mas, chegou uma hora que recebia conselhos tipo: “O perfil de tal audição não é o seu. Não vale a pena fazer”. “Eu ouvia e no dia seguinte ia, fazia e era aceita. Isso foi bom? Foi bom e ruim, como tudo na vida. Eu fui criando certos inimigos, probleminhas”. A minha mestre falava: “Você tem físico de bailarina branca, é longilínea com uma pele fora do comum. Em qualquer lugar do mundo tem lugar para você, pelo seu diferencial, versatilidade e paixão natural, sem revolta”. Com a mestre Camilla ainda recebeu sete convites internacionais. Juntas analisavam. E a mestre sempre disse: “Não se deslumbre com o país, veja o que estão lhe oferecendo”. E veio o primeiro contrato profissional, com uma companhia na cidade de Campos, no Rio de Janeiro. Projetos e sonhos As companhias de balé também estão sentindo a crise, como qualquer empresa e Monike Cristina está participando de uma campanha para arrecadar fundos para os profissionais de dança que ficaram desempregados. “Fui convidada pela primeira-bailarina do American Ballet Theatre, Misty Copeland, para me juntar ao projeto "A Morte do Cisne". São 32 bailarinas, de diferentes países, dançando solos de "A Morte do Cisne". As pessoas podem doar e ajudar as companhias de balé, que como outras empresas, estão em crise. Muitos bailarinos ficaram sem emprego”. Apesar de viver em um mundo paralelo, Monike é uma jovem adulta e tem sonhos como qualquer pessoa. Deseja subir mais um degrau na carreira e ser primeira-bailarina, mas também deseja ser mãe. Tem uma relação de amor estável com um bailarino brasileiro que, por coincidência, trabalha neste momento na mesma companhia, mas já viveram em diferentes partes do mundo. “Acredito que, na vida, nada acontece por acaso. Reencontrei um conterrâneo bailarino, passamos a nos admirar mutuamente. É possível ter uma família planejada”. Como sobreviver à competição diária “Na companhia, como nas escolas, tem os mesmos ciúmes, os preferidos, os protegidos, os que se sentem injustiçados. A diferença é que, como profissional, você não pode falhar. E tem que aceitar não ter sido escalada para tal papel, tecnicamente a escolhida é melhor do que você. É preciso ter a cabeça muito no lugar. Ser muito focado, porque senão a pessoa se perde”. Inspiração Monike admira as russas Uliana Lopatkina, Darcey Bussel, a brasileira Daniela Severian, os russos Mikhail Baryshnikov e Vadim Muntagirov, o italiano Roberto Bolle, o cubano Carlos Acosta, mas a sua grande musa inspiradora se chama Cristiane Berenice de Macedo Silva, sua mãe. Depois de ter dedicado boa parte da vida a Monike, Cristiana se formou em fisioterapia, casou novamente e lhe deu uma irmãzinha de presente, hoje com seis anos de idade.
Abrimos esta Imprensa Semanal, com o semanário JEUNE AFRIQUE, que faz a sua capa, com a Costa do Marfim, Guilaume Soro, pode voltar à ribalta? Simples deputado depois de ter sido presidente da Assembleia nacional está em plena travessia do deserto. A um ano e meio das presidenciais, não está disposto a sair de cena. Soro acaba de ser condenado a 20 de anos de prisão por corrupão por um tribunal de Abidjan. E mais, privado dos seus direitos cívicos durante um período de cinco anos. "É uma sentena que não nos comove de modo nenhum. Tudo não passa duma paródia que nos vem provar que o Estado de direito está definitivament enterrado pelo presidente Uatara, reagiu Guillaume Soro após a sua condenação. Ele indicou igualmente que se mantém na corrrida às eleições presidencias de outubro, escreve, JEUNE AFRIQUE. Por seu lado, L'OBS, que faz a sua capa com o coronavírus e economia, dá a palavra ao intelectual camaronês, Achille Mbembe, historiador na Universidade de Joanesburgo,que conta a epidemia, que suscita medos, e suas esperanças duma reinvenção política. Com base nos conhecimentos nos domínios de epidemiologia e virologia, o intelectual, acredita que o governo sul-africano está muito aberto à inicativa participativa, esforça-se por consolidar a sua legimitidade e, reconfigura a instância de protecção de vidas de pessoas e tratamentos. Vê-se no horizonte uma reconciliação entre a economia e a vida, lá onde imperativos de crescimento e lucro excessivo tendiam a engolir o sector de cuidados de saúde, escreve Achille Mbembe. Por cá na Europa, o mesmo L'OBS, destaca a Suécia, o estranho cocktail de Dr Tegnel. Fronteiras, escolas, bares abertos... apesar das críticas dos seus vizinhos a Suécia escolheu para lutar contra a pandemia uma estratégia original orquestrada pelo chefe dos epidemiologistas da Saúde Pública. E se os suecos tivessem razão?. Eles não adoptaram o confinamento geral. Em Estocolmo, a atmosfera reinante é diferente daquela de Paris,Londres ou Roma. Tudo está aberto, as fronteiras não foram encerradas. Não houve estado de emergência e menos ainda autorização de circulação ou recolher obrigatório. Resultado o número de vítimas é inferior aos de França ou Itália, a economia vai bem e com boas perspectivas. Crise financeira e económica mundial Por seu lado, L'EXPRESS, destaca crise financeira e económica, para o era o economista, Nicolas Baverez, fechar as fronteiras será um suicídio para a França. O economista recusa as acusações contra a globalização e sublinha que ou há uma refundação da Europa ou é o seu desmoronamento. Esta crítica era inevitável mas é absurda. A crise que vivemos é única e sem precedentes por causa da sua violência e do seu carácter universal. Mas não é a globalização que a provocou, sublinha o economista. Por seu lado, o demógrafo Todd, defende que não se pode sacrificar os jovens e os que produzem para salvar os velhos, acrescentando que há um risco de explosão social. O pessimismo de Todd, nao é novo. O que é novo é haver um úumero crescente de intelectuais e especialistas que predizem, como ele, um futuro negro, nota, L'EXPRESS. Para COURRIER INTERNATIONAL, a China, país onde a epidemia começou coloca-se hoje como modelo de gestão da crise. Mas, retomando a imprensa americana, a revista, acrescenta que nestes tempos de pandemia mundial, está-se a exagerar o lugar da China no tabuleiro mundial. Cada um por si, deverá no entanto beneficiar Trump como o próprio acredita. Um dos temas recorrentes nas contra utopias geopolíticas geradas pelo coronavírus é o do fim da dominação americana associada à ascenção da China. A mesma publicação, refere-se igualmente a Portugal, citando o Público, escrevendo que temos um primeiro de maio para que se oiça a angústia crescente nas vésperas do desconfinamento que segue com incerteza. O dia internacional dos trabalhadores ilustra os seus constrangimentos impostos pela pandemia.
A notícia de que a economia sul-africana acaba de entrar novamente em recessão não fez a brasileira Magali da Silva Rebola desistir de continuar investindo no país, onde a cabeleireira e empresária vive há 15 anos com o marido e as três filhas. Em 2005, eles cruzaram o oceano Atlântico pela última vez, e hoje vivem em Boksburg, a cerca de 20 km de Joanesburgo. O dia começa cedo para a brasileira: às 5h30 ela já está na academia. Três horas depois, Magali está com o salão de beleza aberto e pronta para colocar a mão na massa – ou melhor, nos cabelos das clientes. A decoração do ambiente de trabalho é inspirada no Brasil, com foto do Cristo Redentor decorando as paredes. Magali faz jus à fama de ser boa de serviço e está com a agenda lotada até o fim do mês – foi até difícil marcar uma entrevista com ela. A técnica ela aprendeu em um curso aos 18 anos, que na sequência aplicou no salão de uma tia. Depois, estudou magistério, na tentativa de realizar o sonho de ser professora. Nascida em São Paulo, casada com um sul-africano filho de uma brasileira e um português, ela conta que chegou a dar aulas para crianças quando chegou à África do Sul. Mesmo tendo já se passado mais de uma década após o fim do Apartheid, ela lembra que a segregação estava presente no dia a dia das dezenas de alunos que tinha em uma classe multirracial.“Eu fiquei frustrada em dar aula na África do Sul para as duas culturas (negra e branca). Minha classe era misturada, mas era complicado, até para eu dar minha opinião”, diz a brasileira de pele morena, considerada mulata no país de Mandela. “Cresci com as duas raças. Quando eu vim para cá pela primeira vez, meu esposo falou 'eu não vou te falar nada, mas quando chegar você vai ver o que é'. Foi dolorido para mim saber que as duas culturas ainda não eram tão próximas”, disse. Virada Essa realidade a levou a abandonar o magistério, em 2012, e a investir na carreira de cabeleireira. Magali parou de atender apenas amigas e pessoas próximas para conquistar clientes, abrindo o próprio negócio. A primeira sociedade, idealizada com uma portuguesa e especializada na venda de produtos brasileiros, faliu dois anos depois. Entretanto, levando ao pé da letra o ditado que diz que “brasileiro não desiste nunca”, a paulistana recomeçou o negócio em 2014 – desta vez, sozinha. Aprendeu novas técnicas para não ser apenas mais uma no setor e poder se destacar. Em um dos cursos que fez, cerca de 20 anos após o fim do Apartheid, mais uma vez as feridas causadas pelo regime se mostraram abertas. “Um dia, alunas negras estavam no fundo da sala fazendo trancinha uma na outra e eu as chamei para aprender a fazer luzes. Elas disseram que não faziam isso na cultura delas”, recorda-se. “O pior são as brancas que não conseguem fazer o cabelo nem do mulato. Por isso, não consigo contratar ninguém e trabalho sozinha”, disse.Magali garante que hoje os negócios vão de vento em popa, apesar do quadro recessivo no país. Além do salão em Boksburg, ela mantém um espaço em Durban, a quase 600 quilômetros, para onde viaja uma vez por mês para atender clientes. Negras buscam alisamentos ou recorrem a perucas A brasileira estima ter quase 100 clientes fiéis. No site e nas redes sociais do salão, Magali exibe fotos de antes e depois de mulheres atendidas por ela. Quase todas aparecem com cabelos mais lisos do que antes – porém, Magali nega que pregue o alisamento dos cabelos das negras.“Muitas delas querem alisar, mas meu objetivo é tratar e dar mais vida ao cabelo e valorizar o cacheado”, diz, ressaltando que tem poucas clientes negras. A brasileira compartilhou em suas redes sociais a animação Hair Love, que venceu o Oscar da categoria este ano exaltando o cabelo encaracolado. Ela também vibrou quando uma sul-africana, de cabelo naturalmente crespo, foi eleita Miss Universo.“A gente repara que, depois disso, muitas estão aceitando mais o próprio cabelo. Mas o problema é o bullying. Elas vão para escola e os outros dão risada do cabelo duro, afro, algo que acontece até no Brasil. Torço para que isso mude um dia”, comenta.As negras, explica, tendem a preferir usar perucas, em geral lisas, que são muito populares em países africanos. O acessório é considerado mais versátil, ao possibilitar visuais diferentes com facilidade. Além disso, é mais barato, na comparação com tratamentos capilares. Escova progressiva é “brazilians” na África do Sul A escova progressiva, comum no Brasil, é chamada de “brazilians” nos salões sul-africanos. Magali conta que chega a fazer de três a quatro por dia, a preços que variam de R$ 230 a R$ 1.500. “Tenho cliente já marcada para o fim do ano”, comemora. Com as três filhas e o marido empregados na África do Sul, a empresária não pensa em voltar para o Brasil agora, apesar do assunto de vez em quando surgir em casa. Ela planeja, ao contrário, investir mais no país que a família escolheu para viver, com a abertura de uma franquia na Cidade do Cabo e de um salão só para clientes negras. “Acredito que eu ainda tenha muita oportunidade aqui na África do Sul, mesmo com a crise. Sou muito positiva, nem fico muito pensando na crise. Vou levando, bem brasileira.”
Nesta edição especial, falei sobre o fim das operações da South African Airways (SAA) no Brasil. Confira todas as informações que apurei junto ao escritório da companhia aérea em São Paulo.
Maria da Conceição Lima da Silva tem 48 anos e há 11 trocou Natal por Joanesburgo. Deixou no Brasil seis filhos, 13 netos, a mãe, amigos e outros parentes para ser missionária evangélica na Cidade do Ouro. O projeto foi cheio de contratempos, mas, em compensação, possibilitou que ela abrisse uma microempresa de gastronomia. Conceição estudou pouco, trabalhou muito, teve filhos muito jovem e quase nenhuma ajuda dos companheiros. O emprego mais constante foi o de empregada doméstica. Para completar o salário, fazia catering, sua paixão. Em Natal, participava da comunidade da igreja evangélica do seu bairro. Até que soube da possibilidade de realizar missões em outros países. Começou a pensar em sair do Brasil, em busca de uma vida melhor. Em 2008, soube que a congregação precisava de um chef de cozinha em Joanesburgo. O trabalho era tomar conta do Centro de Aperfeiçoamento para Pregação do Evangelho (Ceape). Sem falar inglês, se tornou uma espécie de faz tudo: faxineira, cozinheira e governanta do centro. O pacote incluía somente passagem e moradia no trabalho - não previa aulas de inglês, plano de saúde, transporte, permissão de trabalho, pagamento ou ajuda de custos. Os futuros missionários estudavam a Bíblia, interpretação dos seus textos e treinavam falar em público. A maioria dos noviços pagava o dízimo e ainda tinha que contribuir com as contas de água, luz, internet, alimentação etc. “Eu vim somente com a fé. Não pagava dízimo, mas trabalhava muito e não tinha dinheiro para nada”, relembra. Decepções com a igreja Com visto de turista, acabou visitando países como Botsuana, Moçambique e Suazilândia. E em 2010, chegou a retornar ao Brasil, onde ficou somente seis meses. Ao voltar a Joanesburgo, preferiu não procurar mais a igreja, abalada por desavenças entre os irmãos do Brasil e da África do Sul. “Vim somente com a coragem e a certeza de que tinha alguma chance no país. Por isso insisti”, afirma. O primeiro trabalho na África do Sul foi em uma fábrica de salgados de um português. Depois, uma colega portuguesa propôs abrir um negócio de comida – Conceição topou na hora, mas logo percebeu que fazia tudo e ganhava uma miséria. “Então comecei a trabalhar para mim. Passei a frequentar o grupo das brasileiras na África do Sul. Assim, as pessoas foram me chamando e surgiu o ‘Lar das Delícias’, que hoje é ‘Sabores, Great Gastronomy’”, conta a brasileira, que tem entre os clientes as embaixadas do Brasil, do México, da Argentina e da Holanda. Exploração A experiência fez com que, hoje, Conceição seja crítica ao trabalho missionário. Em geral, afirma, os candidatos não sabem exatamente o que os espera. No exterior, se deparam com problemas básicos. “As pessoas hoje ganham dinheiro através da palavra de Deus. Acho isso o cúmulo do absurdo!”, avalia. “Mas a minha fé continua maior do que antes, porque se não fosse Deus, eu não estaria na África do Sul e nem teria o que tenho: ou respeitada pelo meu trabalho e a qualidade de vida que tenho, não encontro no meu país.”
Emile Myburgh (47) tenta convencer a Justiça do país dele a conceder a guarda de uma criança de 5 anos à avó brasileira que vive no Rio de Janeiro. O menino atualmente mora em Joanesburgo e é alvo da disputa entre a auxiliar de enfermagem carioca Silvana Reis Almeida (53) e a família do ex-genro, que está preso por ter matado a própria esposa (filha de Silvana) e guardado o corpo em casa por quase 20 dias. Vinícius de Assis, correspondente da RFI na África do Sul O crime aconteceu em fevereiro do ano passado. A criança é fruto do casamento da vítima, Valéria de Almeida Franco Schmid, com o sul-africano condenado Johan Oswald Schmid (48). O menino estava no apartamento na hora em que o pai estrangulou a mãe. Atualmente ele vive com uma tia paterna. Este caso é considerado pelo advogado o mais complexo da carreira dele. E por este trabalho não está cobrando sequer um centavo da família brasileira, que o conheceu por intermédio da embaixada do Brasil. “Eu queria ajudar, queria fazer alguma diferença. Nem tudo os clientes podem pagar. Conto com a ajuda de outros dois advogados neste processo. Se eu fosse cobrar, pensando muito rápido, seria algo em torno de R$300 mil em honorários”, disse. O sul-africano abraçou a causa da brasileira e criticou a pena recebida pelo assassino confesso. Oswald, que está preso há mais de um ano, desde que se entregou, acaba de ser condenado a 5 anos de prisão. O que causou indignação, porque a pena mínima para homicídios na África do Sul é de 15 anos. A defesa defendeu a tese de que o assassino viveu um relacionamento abusivo com a brasileira. “Acho que a pena está totalmente equivocada. O juiz julgou que os abusos que ele teria sofrido contam como motivo para se desviar da pena mínima. Reduzir de 15 para 5 anos com direito a prisão domiciliar daqui a menos que um ano torna o nosso sistema jurídico uma piada”, disse, deixando claro que isso pode abrir precedentes para outros casos semelhantes. Com 22 anos de profissão, Emile é consultor de direito sul-africano da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) e tem uma vasta clientela de brasileiros, entre pessoas físicas, empresas multinacionais e a Embaixada do Brasil. Desbravando novos horizontes Ele não tinha vínculo algum com o Brasil - sequer falava português - até que uma oportunidade de trabalho o fez cruzar o oceano Atlântico. Era um jovem advogado sul-africano de 28 anos quando foi contratado por um escritório brasileiro. Além de inglês e africâner, falava italiano e confiou também nas aulas de latim que teve na escola para encarar o desafio no maior país da América do Sul. Durante dois anos, o endereço de Emile foi a capital São Paulo. A ideia era que ele, depois do biênio de treinamento, abrisse uma filial do escritório em Joanesburgo. Mas os planos de quem o contratou mudaram pouco antes da primeira eleição do presidente Lula, em 2000. “As expectativas sobre o futuro do Brasil eram péssimas e o escritório desistiu dos planos de abrir a filial. A economia brasileira, na época, estava indo mal. Então, eu pedi demissão, voltei para a África do Sul e montei meu próprio escritório para atender clientes brasileiros e, eventualmente, sul-africanos em Angola e Moçambique”, disse. Na entrevista o advogado revelou que tem sido cada vez mais procurado por brasileiros, principalmente empresários, que estão sendo alvos de golpistas na África do Sul. “Eu sempre recebi uma ou duas vezes por ano alguma consulta de alguém que foi vítima de algum estelionatário. Neste ano o número disparou. Já recebi sete ou oito consultas. Em agosto cheguei a receber duas em um mesmo dia”, contou. Os referidos golpes acontecem de diferentes formas. Uma delas é: alguém entra em contato com um brasileiro afirmando que há uma herança no nome dele no exterior. Mas diz que, por algum motivo, esta herança não pode ser transferida se não houver um pagamento de uma taxa. Agora, mais recentemente, outra forma de estelionatário tem vitimado empresários brasileiros. Emile falou de uma situação que tem se agravado ao contar que empresários brasileiros que buscam negócios na África do Sul acabam entrando em contato com falsos fornecedores. Os negócios parecem legítimos, mas não são. “Os estelionatários são bem espertos. Preparam contratos de compra e venda, documentos que parecem ser de frete e as vítimas mandam dinheiro porque acreditam que eles realmente compraram a mercadoria que estavam procurando. Depois descobrem que a mercadoria nunca chegará ou que precisam pagar mais taxas”, detalha. Emile conta que desembarcou do outro lado do Atlântico sem se guiar por estereótipos, mas ao chegar percebeu que os brasileiros não tinham a mesma postura em relação ao país dele. “Muitos brasileiros pensam na África como se fosse uma entidade única. Quando eu falei que era da África do Sul muitos ficaram perplexos quando eu expliquei que era um país dentro da África. Até hoje eu escuto brasileiro dizendo 'vou para a África´. E eu pergunto: para onde? Tem mais de 50 países na África”, disse ao revelar o que o irritou ao chegar ao Brasil. “Hoje não ligo mais. Vejo como uma oportunidade para explicar como é a realidade aqui na África, continente com muitos países, como a África do Sul”, completou. Racismo e xenofobia O país onde ele nasceu foi chamado de Raibow Nation (Nação arco-íris) pelo arcebispo Desmond Tutu após o fim do Apartheid, regime de segregação que marcou a história sul-africana, separando brancos dos não-brancos. O termo foi usado para celebrar a primeira eleição totalmente democrática do país, em 1994, que terminou com a vitória de Nelson Mandela, o primeiro presidente sul-africano negro. A expressão reforça a ideia de que todos são bem-vindos no país. Pelo menos na teoria. As últimas notícias publicadas na imprensa internacional mostram que na prática este conceito parece não estar sendo refletido no comportamento de todos. Recentes ataques contra estrangeiros em Joanesburgo deixaram mortos, feridos, empresas de imigrantes saqueadas e até incendiadas. Episódios que Emile viu com tristeza e colocaram as palavras xenofobia e África do Sul nas mesmas manchetes. “Por mais que o novo governo se ache sem preconceito, a nossa política de imigração atual tem as raizes na politica de segregação dos anos do Apartheid. Enquanto outros países africanos aceitam os chamados irmãos africanos de braços abertos, a África do Sul é o único país que quase se fecha totalmente para estrangeiros” disse antes de explicar que existe um mito de que estrangeitos se mudam para a África do Sul em busca de trabalho e mulheres sul-africanas. Este mito sustentaria até hoje a aversão de parte da população a outros africanos. O advogado conta que pessoalmente já sofreu por ser casado com uma estrangeira (brasileira). “Essa política se vê na nossa legislação de imigração, que dificulta tanto a convivência entre sul-africanos e estrangeiros. Estou falando de casais. A mentalidade é que um estrangeiro não se casa com um sul-africano por amor, mas porque quer vir pegar o emprego de um sul-africano. Isso é uma mentalidade totalmente absurda, mas está nas leis”, diz. Ele também contou que como grande parte da população tem “medo” de estrangeiros, os políticos não têm outra escolha: acabam concretizando essa xenofobia em legislação. “A xenofobia vai de baixo para cima. É uma coisa absurda contra a qual eu luto como posso”, conclui. Emile faz parte da minoria branca que representa quase 8% da população da África do Sul, país ainda lembrado pelo Apartheid, regime de segregação racial que terminou no início dos anos 90. Um tema que ainda parece incomodar. “Não é mostrado quando crianças de várias raças nas escolas brincam juntas, mas se por dois segundos formam um grupo negro e outro branco, tira-se uma foto e isso é mostrado como se fosse a realidade de que brancos e negros não se misturam”, disse Emile, que também reconheceu – lamentando - que ainda existem problemas entre as raças na África do Sul e problemas de desigualdade que se manifestam em linhas raciais. “Grande culpa disso é a herança do Apartheid, sem dúvida, e também a corrupção recente na África do Sul”, completou. Para o advogado tensões raciais não fazem parte do dia a dia dos sul-africanos. “Só que quando há um único evento de racismo, que lamentavelmente existe ainda, essa excessão é levada como regra, como se todo o branco odiasse os negros, e isso não é verdade”, disse. Emile é pai de uma menina de 7 anos, branca, que segundo ele frequenta escolas multiraciais desde os 3 anos. “Ela cresce com crianças negras, brincam, já foi chamada de namoradinha de um menino negro”, ressaltou. A meta dele como pai é deixar que a filha cresça vendo isso acontecer de forma natural, se relacionando com quem ela gostar e não julgando os outros pela aparência, cor ou orientação sexual. Um tipo de educação bem diferente da que ele mesmo disse ter recebido dos pais. Aposentadoria no Brasil Peças verde e amarelo não faltam no guarda-roupas dele que é casado com a brasileira Dalva Estela de Azevedo. Os dois se conheceram em uma festa em Joanesburgo, em 2010. Estão juntos desde então. Um dos acessórios preferidos da filha do casal, Verônica, é um chapéu com a estampa da bandeira do Brasil que o advogado comprou quando morava em São Paulo. Emile já esteve em 17 estados brasileiros e conta que não pretende envelhecer no próprio país. Os planos são se aposentar e viver no interior da Bahia com a família. Preferencialmente na região da Chapada Diamantina. A avó de Dalva, que tem quase cem anos, mora nesta parte da Bahia que chama atenção do sul-africano pela tranquilidade e a beleza da natureza. “Talvez na cidade de Mucugê, onde estivemos no ano passado”, frisa o sul-africano que é fã de pão de queijo, creme de papaia e guaraná. Emile também é piloto de avião. Um hobby que o faz frequentemente alugar aviões monomotor e sobrevoar paisagens sul-africanas. Ele ainda alimenta um sonho: sobrevoar todo o litoral brasileiro. “É possível aprender muito em uma viagem dessas, que pode levar de dez a 15 dias”, ressaltou. Bom, tempo certamente ele terá de sobra para planejar este vôo sem pressa, no melhor estilo baiano de ser e viver.
A feira gastronômica Neighbourgoods Market e a artista Esther Mahlangu são os destaques do oitavo episódio do Bastante Sotaque. Veja também a programação de shows e exposições de novembro em Cape Town e Joanesburgo. https://bastantesotaque.com/podcast
Como hoje é o Dia Internacional da Música, o assunto do podcast sobre a África do Sul não poderia ser outro. Descubra qual banda sul-africana o Obama adora (e você também). Confira um papo sobre saudades musicais com a Larissa Cabral. E veja quais shows e festivais rolarão em Cape Town e Joanesburgo nas próximas semanas. Fale com o pessoal do Bastante Sotaque: podcast@bastantesotaque.com. BLOG: https://bastantesotaque.com INSTAGRAM: @bastantesotaque
Neste "Explica-me" falamos dos ataques violentos das últimas semanas contra cidadãos estrangeiros na África do Sul. O correspondente da DW África no país, Milton Maluleque, e o académico sul-africano André Thomashausen ajudam-nos a responder às dezenas de questões enviadas pelos nossos ouvintes sobre o tema.
Neste mês de agosto de 2019 passei 10 dias na África do Sul, nas cidades de Cape Town e Joanesburgo e conto neste podcast o roteiro dia-a-dia e outras dicas para quem está pensando em embarcar para este destino! Esse é o CAROLCAST! Entre em contato comigo através do meu Instagram, @carolfcr ou do e-mail podcastdacarol@gmail.com. Obrigada por ouvir! ♥
Nelson Mandela e o Apartheid====================Esta semana temos diversas datas importantes relacionadas à cultura, entre elas, o nascimento de Ingmar Bergman, na segunda-feira, dia 14 de julho, os filósofos Walter BENjamin, Jacques DerriDA e o pintor Rembrandt no dia 15, temos também o pintor francês Degas, o sociólogo e filósofo Marcuse, o guitarrista Brian May do Queen no dia 19 além do aniversário do primeiro pouso na lua, o nascimento de Alexandre, o Grande e do inventor brasileiro Santos Dumont no dia 20.Mas o tema de nossa semana é uma importante figura histórica do século XX. Alguém que lutou a luta política, a luta armada, foi preso como terrorista, quando na verdade lutava pela libertação e igualdade de todo um povo, passou 27 anos na cadeia, foi libertado e ainda levou seu país a uma reconstrução democrática com uma tentativa de inclusão. Vencedor do prêmio NoBEL da paz de 1993. Sim, ouvintes, esta semana, vamos falar de Nelson Mandela, cujo aniversário de nascimento será comemorado nesta semana, no dia 18 de julho.Nelson Rolihlahla Mandela, nasceu no dia 18 de julho de 1918 (há, portanto, 101 anos) na pequena vila de Mvezo, Cabo Oriental, na África do Sul e morreu dia 5 de dezembro de 2013 em Joanesburgo). A trajetória dele nos faz compreender o Apartheid, o terrível regime racista que excluía a imensa maioria da população negra do país.A África do Sul é uma nação multiétnica, com muitas tribos antigas que habitam a região do país, entre elas, os povos San, ou um dos povos que falam uma das 11 línguas oficiais do país, como o Bantu, o Swahili, o Zulu, o Swazi ,o Xhosa, entre outras.No final do século XVIII os britânicos iniciam a conquista da região por sua localização estratégica e pela descoberta de metais preciosos levando os africâneres, descendentes de europeus protestantes de origem alemã, escandinava e, principalmente, holandesa, cada vez mais para o interior.Em 1910, após vitórias britânicas contra bôeres e zulus é criada a União Sul-Africana, unificando os territórios existentes. O racismo latente fazia com que as relações entre os povos fosse extremamente complexa e cheia de ressentimentos. É desta época o “Natives Land Act” ou “ato de terras nativas” que vigorou por 80 anos que regulava as terras propícias à agricultura. Esta lei dizia que só 8% das terras cultiváveis do país eram disponíveis aos negros, embora 80% da população fosse negra ou miscigenada.É desta época que se forma também o African National Congress, ou o Congresso Nacional Africano, o partido de Mandela. Em 5 de outubro de 1960 é realizado um referendo em que os eleitores decidem pela separação da África do Sul com a coroa Britânica e a declaração da República da África do Sul. Nos próximos 30 anos o debate sobre o Apartheid seria intenso (no país e ao redor do mundo)O Apartheid era caracterizado por uma combinação de autoritarismo do estado com uma ideologia racial de supremacia branca (o baasskap). As pessoas, seres humanos, foram serradas entre brancas e não-brancas, incluindo os indianos (Gandhi, por exemplo, morou na África do Sul por duas décadas e foi lá que ele iniciou seu ativismo).As leis racistas proibiam casamentos interraciais, estabeleciam onde cada pessoa poderia viver ou trabalhar, criando 10 reservas para as populações não-brancas. Estima-se quem entre 1960 e 1983, 3,5 milhões de pessoas foram deslocadas de forma forçada.A violência física foi outro elemento do Apartheid, com o uso da polícia e do exército contra a população negra que organizou grupos armados para resistência. A violência era tanto interracial quanto ideológica. Um dos grupos armados era a Lança da Nação, fundado por Mandela. Ele foi preso e condenado à prisão perpétua pelo regime do Apartheid e passou 27 anos preso. Nos anos 1980 o país vivia sanções econômicas e esportivas, além de tensão interna, com um estado de emergência entre 1985 e 1989. Esse cenário faz com que o presidente de Klerk liberte Mandela que negociou o fim do regime do Apartheid e que juntamente com seu partido organizaram as eleições de 1994, as primeiras democráticas da história da África do Sul em que Mandela foi vitorioso.Ele buscou uma nova constituição e criou uma Comissão de reconciliação em que ele defendia a não-violência e que o momento era a de a criação de uma nova nação multiétnica, baseada no perdão.Mandela, foi portanto, um exemplo de reconstrução de uma sociedade, um político que marcou profundamente seu país e a história do século XX. Seu legado se estende por todo o mundo e por todos aqueles que lutam por uma sociedade mais igualitária, com oportunidades para todos, livre do racismo e mais humana.Há inúmeros livros, filmes e documentários sobre Mandela, dos quais eu indico os livros, O Sorriso de Mandela, de John Carlin (que eu li este ano em espanhol) e Longa Caminhada até a liberdade, sua autobiografia e os filmes Invictus (2009) com Morgan Freeman e Matt Damon e Mandela: Luta pela liberdade (2007).Que a história de Mandela nos inspire a criar uma cultura de paz, de respeito, de liberdade, sem racismo e mais humana.
Renata Larroyd nasceu em Florianópolis, morou em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e em sete países. Formada em administração, ela decidiu mudar de profissão e hoje, aos 29 anos, é fotógrafa do Mail & Guardian, principal jornal sul-africano. À RFI, ela falou sobre sua experiência no país e comparou a segregação racial da África do Sul à do Brasil. Kinha Costa, correspondente da RFI em Joanesburgo A catarinense Renata Larroyd sempre gostou de fotografar. A primeira câmera profissional comprou com suas economias, ainda muito jovem. Outra paixão era conhecer culturas diferentes. Morou nos Estados Unidos, Alemanha, Uruguai, Chile, Rússia, Espanha e agora vive na África do Sul. A jovem sempre foi convidada para fotografar eventos familiares e festas dos amigos. Fotografou muitos casamentos, formaturas e bebês recém-nascidos. Para ela, a fotografia era até então uma atividade semiprofissional. Mas, em 2015, quando morava em Belo Horizonte, decidiu investir na fotografia como profissão. E começou a procurar cursos profissionais fora do Brasil. Entre Nova York, Havana e Joanesburgo, foi na "Cidade do Ouro" - como é chamada a metrópole sul-africana - que descobriu o fotojornalismo.“É uma terra de muitas texturas, diversidade, muitas histórias e o custo de vida é relativamente baixo”. A relação de Renata com a África do Sul já era antiga, pois, durante a sua adolescência, no Brasil, sua família recebeu uma jovem sul-africana de intercâmbio cultural. Desde então, ela alimentou o sonho de um dia conhecer o país. Missão: fotógrafa A experiência no Mail & Guardian, o principal jornal da África do Sul, se deu através do curso de Fotojornalismo e Fotografia Documental que fez durante o ano de 2018, na Escola Market Photo Workshop. O ano letivo da escola é dividido em quatro trimestres e, no início do terceiro, Renata foi enviada para o jornal com a missão de fotografar e publicar o seu trabalho. Na época, ela não tinha a menor ideia do alcance e da importância do jornal, mas gostava da linha editorial e principalmente da qualidade das fotos. Em sete semanas, mais de 40 imagens clicadas pela jovem foram publicadas, principalmente retratos de artistas, mas também notícias e histórias de pessoas simples, inseridas em diferentes contextos sociais. Cobertura do carnaval brasileiro Neste mês de fevereiro, Renata está no Brasil para rever a família e cobrir o carnaval 2019 para o jornal sul-africano. Com suas fotos, ela pretende mostrar o que existe por trás de um dos maiores eventos populares do planeta e “desmontar os estereótipos que a maioria das pessoas têm, principalmente com relação ao papel da mulher, e retratar as verdadeiras histórias de superação e de comunidades por trás dessa grande festa”. O plano é voltar a tempo de cobrir as eleições sul-africanas, que serão realizadas no início de maio. “Será bem interessante voltar, poder registrar o acontecimento e fazer um paralelo entre o que aconteceu em 2018 no Brasil. As histórias se repetem, apenas mudam de endereço. O Brasil e a África do Sul são muito parecidos até no ambiente político. Eu pretendo fazer esse paralelo entre esse jogo político que existe tanto no Brasil como na África do Sul”, conta. Questão racial À RFI, a fotógrafa também falou sobre racismo. “O ambiente na África do Sul, em geral, é extremamente segregado, infelizmente. Sou uma mulher branca, nunca usei a minha raça como argumento para conquistar nada. Aqui a questão racial é sempre pauta. As pessoas usam para qualquer tipo de argumentação. O racismo é muito presente, claro, explícito. No Brasil o racismo é implícito", avalia. Segundo ela, o que a levou a conquistar uma vaga no jornal Mail & Guardian, foi a sua capacidade de se adaptar rápidamente e de conseguir transitar em qualquer ambiente. O sucesso nas relações com os sul-africanos, independentemente de cor, status social ou crença, será a sua contribuição para o mundo da mídia e para a sociedade sul-africana em geral, diz a jovem: “Acho que pude mostrar para os meus amigos que se relacionar com pessoas de diferentes origens, sem preconceitos, é bacana”. Ela conta o que mais aprendeu em sua experiência fora do Brasil. “Hoje sou mais sensível à questão da justiça social. Todas as pessoas deveriam ter a oportunidade de viajar para o exterior, ter outras vivências, pra desmitificar conceitos e preconceitos, fazer novas amizades e abrir a mente. Eu não tinha essa percepção no meu mundo privilegiado de Florianópolis. Hoje sou uma pessoa melhor. Estou lutando mais pelas minorias e para equilibrar a igualdade social no Brasil e no mundo, através da minha fotografia", conclui.
Filho de pais portugueses, Tim Vieira nasceu em Joanesburgo, na África do Sul e desde cedo o interesse nos negócios esteve sempre muito presente na vida dele. Com 18 anos lançou uma cervejaria, na África do Sul, onde fabricou uma das primeiras cervejas independentes da África do Sul. Em 2001, o empresário mudou-se para Angola e investiu na área dos Media onde juntamente com o seu sócio Nuno Traguedo, abriu uma empresa que emprega mais de 500 colaboradores: a Special Edition Holding. Em 2015, ficou conhecido do público português depois de ter participado como investidor na primeira temporada do programa Shark Tank Portugal e foi considerado como o “tubarão” que mais investiu em startups e que provou que é possível ter sucesso apenas com intuição. Atualmente é CEO da Bravegeneration, tendo investimentos em diversas áreas tais como: produção de framboesas e mirtilos, produtos nutricionais, distribuição de energia, serviços de motoristas, cinema, entre outras atividades. Em novembro de 2018 passou a ser membro do Advisory Board da Nova School of Business & Economics e membro honorário dos SA Rugby Legends.
A carioca Ana Terra Skosana, casada com o sul-africano Tshepo Skosana, membro da etnia zulu, o maior grupo étnico da África do Sul, considera que ainda existem fortes discriminações contra os negros mais de duas décadas depois do fim do Apartheid, o regime de segregação racial. O casal multirracial recebeu a reportagem da RFI em sua casa em Joanesburgo. Kinha Costa correspondente da RFI na África do Sul Na época do regime de supremacia branca, eles seriam um casal ilegal e sujeitos a multa ou prisão, porque existia a Lei de Imoralidade que proibia qualquer relação afetiva, sexual ou o casamento entre pessoas de diferentes raças. Felizmente, com o fim do regime separatista, essa e outras leis foram extintas e, hoje, a África do Sul tem uma Constituição (1996) considerada uma das mais modernas do mundo. No entanto, os resquícios do antigo regime ainda são muito evidentes, apesar dos novos tempos, do esforço do governo e da sociedade para integrar seu povo e criar a Nação Arco-Íris, tão sonhada por Nelson Mandela. A grande maioria da população de 56 milhões de sul-africanos continua vivendo separada em grupos raciais. As famílias multirraciais ainda causam desconforto, desdém, pena, cochichos e as mais inesperadas e bizarras reações, como a do juiz de paz, branco, que não queria realizar o casamento deles. Muitos africânderes, como são chamados os descendentes dos holandeses que colonizaram a região, ficam indignados porque pensam que Ana é sul-africana e, portanto, descendente de holandeses. Negros de diferentes etnias também estranham o casal, pela razão mesma razão, como se ela estivesse casada com um inimigo. O casal se formou sem pensar em cor de pele, racismo e discriminação. Ela, com 19 anos, brasileira e branca. Ele, com 21 anos, negro, sul-africano, zulu. Para dois jovens apaixonados nada demais. Para a estrutura familiar e a sociedade em geral, um bicho de sete cabeças. Ana e Tshepo se depararam com o racismo desde o início. O casal teve que amadurecer e lidar com o preconceito racial dos seus pais e familiares. E identificar o racismo brasileiro, que não é explícito, mas que está enraizado na sociedade. Não foi fácil enfrentar a rejeição familiar, a dissimulação social, os olhares e os comentários sem sutileza. Expulso de casa pelo pai da noiva “No Brasil foi duro. Na África do Sul, eu era somente um jovem mimado que vivia em uma bolha. O racismo era algo sabido, mas nunca vivido explicitamente. Me perceber rejeitado pela família da moça por quem estava apaixonado, foi chocante", conta Tshepo. Por ter a pele clara, ele era considerado mulato no Brasil, e a questão profunda e discriminatória ficava escondida, apesar dos seus dreadlocks. A discriminação se manifestava em situações simples. Por exemplo, a família de Ana não entendia por que o jovem negro sul-africano, que mais parecia um garoto das favelas cariocas, escolheria morar em Ipanema, bairro chique da zona sul do Rio de Janeiro. Ser fino, instruído, educado e ter bom gosto não estava no programa. "Um dia, o pai da Ana me expulsou da casa dela. Era carnaval, sem ter para onde ir, fiquei dois dias perambulando pelas ruas do Rio", se recora Tshepo. "Mas, revendo tudo, acho que tivemos sorte. Sem falar português, arrumei um emprego bacana, em uma empresa de assessoria financeira para expatriados, que viviam no Rio de Janeiro. Com um bom salário. Foi aí que mandamos todos às favas. Fomos morar juntos, num bairro bucólico da Zona Sul do Rio de Janeiro, em um apartamento no bairro do Cosme Velho. Tenho um carinho enorme pelo Brasil. Tudo que acontece lá me afeta, porque foi no Brasil que me tornei o homem que sou.” "No Brasil, as discriminações são de classe social" Na África do Sul, os familiares zulus, o maior grupo étnico do país, são orgulhosos de sua cultura e tradições. Ritos que para muitos são caducos, como o dote que o rapaz tem que pagar aos pais da noiva, o teste de virgindade para as meninas ou ser reservado ao pai do noivo o direito de escolher o nome do primeiro filho do casal. Ana e Tshepo dispensaram formalidades e tradições e criaram o núcleo familiar baseado em seus valores e suas formas de ver o mundo. Eles sofreram e sofrem, mas o casal tem encontrado mais paz e sossego depois de 13 anos juntos. Não que a aceitação seja plena e que, por alguns momentos, eles possam esquecer que têm uma família diferente. Mas, porque sabem que mudanças estruturais demoram muito tempo e que a luta é diária. E que por terem um filho, planejado e esperado, precisam olhar para o futuro com esperança. Para Ana, “o racismo na África do Sul é bem claro. As etnias que existem no país são diferentes e as pessoas se identificam com quem gostam e com quem desgostam. É assim que ela vê as pessoas se expressando, quando são racistas. Para Ana, "no Brasil, as discriminações são voltadas para a classe econômica, a posição social. A situação geográfica também influencia. Se é nordestino, sulista ou nortista. Um branco pode hostilizar outro branco por ele ser mais pobre. Ou um negro ser racista com um pardo, porque ele é nordestino e o outro carioca", comenta. O racismo brasileiro tem similaridades com o sul-africano, mas é mais "hipócrita” na avaliação de Ana. Já para Tshepo, na África do Sul, “a discriminação é bem visível. A gente tem que viver com isso todos os dias. É um assunto bastante discutido aqui. Acho que temos que estar somente abertos para lidar com tão importante e delicado assunto”. Na África do Sul, a segregação é feita pela cor. No Brasil a miscigenação é um fato, mas infelizmente é uma faca de dois gumes porque disfarça o racismo existente, estima a brasileira.
Uma paixão além-mar levou a empresária paulistana Kika Ermel para a África do Sul em 2007, guiada também pelo sonho de empreender e tocar o próprio negócio. Foi num cruzeiro pelo Caribe que ela conheceu o futuro marido e sócio, João Freitas, nascido em Maputo. Há 11 anos, o casal toca a Route 66 Escapade Tours, que orienta turistas lusófonos e hispânicos em Joanesburgo. Kinha Costa, correspondente em Joanesburgo O funcionário do navio e a turista se conheceram em 1995. Viveram uma paixão que estava destinada a acabar com o fim das férias, mas sobreviveu à distância e aos poucos encontros, por mais de uma década. A África do Sul vivia um momento político especial com Mandela presidente: a esperança no futuro se renovava, a conjuntura econômica tornava-se mais atrativa, os exilados voltavam. Foi o caso de João Freitas, que em 1996 se reinstalou no país onde cresceu. Na capitalm sul-africana, ele abriu a empresa de turismo, focada na clientela em português e espanhol. Enquanto isso, o namoro virtual com Kika era alimentado por encontros de férias. Na época, ela administrava a empresa Ausplix, uma confecção especializada em camisetas de alto nível em São Paulo. Apesar do conforto profissional, resolveu que era hora de dar uma guinada em sua vida. A entrada da paulistana na sociedade expandiu os horizontes da Route 66 Escapade Tours, que passou a oferecer hospitalidade para turistas brasileiros. Kika e João, conhecidos como “desenhadores de viagens”, são operadores especializados em destinos de safáris por toda África do Sul e organizam transporte, hospedagem e passeios. São guias culturais credenciados e atendem de forma personalizada. As viagens valorizam a rica fauna e a abundante flora sul-africana, privilegiando os safáris de luxo, assim como passeios culturais e experiências interativas – é possível até tocar em animais selvagens, como elefantes, leões e girafas.
Ao dirigir em Joanesburgo um dia, Tapiwa Chiwewe percebeu uma nuvem gigantesca de poluição atmosférica pairando sobre a cidade. Ele estava curioso e preocupado, mas não era especialista ambiental - então ele fez umas pesquisas e descobriu que quase 14% de todas as mortes no mundo em 2012 foram causadas por poluição atmosférica doméstica e ambiental. Com este conhecimento e um impulso para fazer algo sobre isso, Chiwewe e seus colegas desenvolveram uma plataforma que revela tendências em poluição e ajuda planejadores urbanos a tomarem melhores decisões. "Às vezes apenas uma nova perspectiva, novas habilidades, podem tornar as condições corretas para algo marcante acontecer" Chiwewe diz. "Mas você precisa ser corajoso o suficiente para tentar."
CNA AO VIVO 130 | REVIEWS, OPINIÕES E JOANESBURGO by por Corrida no Ar